Selecção Nacional: necessidade de um projecto para a formação. · José Mourinho, desconhecido...
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Selecção Nacional: necessidade de um projecto para a formação.
Henrique Andrade da Rocha
Porto, Dezembro 2008
Henrique Andrade da Rocha
Porto, Dezembro 2008
Selecção Nacional: necessidade de um projecto para a formação.
Rocha, H. (2008). Selecção Nacional: que identidade (colectiva) formar? Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL; SELECÇÃO NACIONAL; MODELO DE JOGO; MODELO DE JOGADOR.
Agradecimentos
I.
AGRADECIMENTOS
Este momento, de final de curso, assume-se como um marco na minha
vida, pelo que não posso deixar de demonstrar a minha gratidão para com
aquelas pessoas que comigo deram «passos» importantes.
Ao meu orientador, por me «obrigar» a caminhar, e não me levar ao
objectivo deste trabalho,
Ao meu entrevistado, pela considerável disponibilidade que demonstrou,
Ao «Rocha» e à mãe, pela confiança e incentivo,
Aos manos, porque são os meus manos,
À abó e madrinha, porque sempre foi «muito amiga»,
À tia Fati, por toda a ajuda que disponibilizou,
Aos amigos que entraram nesta monografia, de forma mais ou menos
directa: Ângelo, Andrézinho, Luís “Menotti”, ao Johnny e ao Nuno “animal”,
Aos marcoenses Toninho e Vany,
Aos colegas de estágio, Jorge e Daniel,
E a si, que demonstra interesse em ler o meu trabalho…
…Muito Obrigado!
Índice
Índice
AGRADECIMENTOS I
RESUMO V
ABSTRACT VII
1. INTRODUÇÃO 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 5
2.1. A nossa Selecção ................................................................................................................ 5
2.2. A importância de um Modelo de Jogo............................................................................... 7
2.2.1. A construção do Modelo de Jogo 10
2.3. Modelo de Jogador, Modelo de Treinador e um Modelo de Treino .............................. 13
2.4. Modelo de Formação ......................................................................................................... 16
2.4.1. Dificuldades na implementação do Modelo de Jogo na Formação 17
2.5. Selecção dos Talentos. ..................................................................................................... 19
3. OBJECTIVOS 23
4. MATERIAL E MÉTODOS 25
4.1 Metodologia de Investigação ............................................................................................. 25
4.2 Recolha de Dados ............................................................................................................... 25
5. APRESENTAÇAO E DISCUSSÃO DOS DADOS 27
5.1. A Selecção Nacional é um contexto particular .............................................................. 27
5.2. O Modelo de Jogo Português ........................................................................................... 30
5.2.1. O inicio 30
5.2.2. O Jogador português 31
5.2.3. A escolha dos Jogadores 34
5.2.4. O estilo português 35
5.3. A continuidade de jogadores, treinadores e do estilo Nacional .................................. 37
5.4. È necessária Sincronia da Federação com os clubes e Associações......................... 39
5.4.1. Os Clubes 39
5.4.2. Com as Associações 43
5.5. Modelo de Treino ............................................................................................................... 44
5.6. A necessidade da Formação, pois não se pode comprar ............................................. 46
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51
8. ANEXOS I
Resumo
V.
RESUMO
Ter uma Selecção Nacional a jogar como equipa é mais do que juntar
os melhores jogadores da mesma nacionalidade. É necessário que estes
jogadores actuem como equipa, dotando-os de uma organização colectiva. Um
jogador pode percorrer vários escalões da Selecção Nacional, pelo que se
todas as Selecções tiverem identidade comum, este caminho será melhor
realizado, permitindo ainda identificar jogadores com o perfil que sirva as ideias
de jogo, comuns a todos os escalões.
Considerando a Selecção um contexto particular, os objectivos presos
à realização deste trabalho passam por i) aferir a existência de um estilo de
jogo e de jogador nacionais, que se assumam como identidade nacional; ii)
perceber a singularidade do contexto Selecção; iii) definir como são
potenciadas as características dos «nossos» jogadores, quer ao nível de ideias
de jogo, quer ao nível de treino; iv) entender qual a base das opções de um
Seleccionador Nacional; v) identificar a existência de um Modelo de Jogo
utilizado nas Selecções portuguesas como «farol» orientador de todo o
processo de formação.
Tendo como metodologia a entrevista realizada ao coordenador dos
escalões de formação da Selecção Nacional, o estudo permitiu considerar que
a) no contexto Selecção existe a possibilidade de escolher os melhores
jogadores da nacionalidade portuguesa, mas onde o tempo de reunião é
normalmente reduzido; b) existirá um «Projecto Modelar» que servirá de
referencial de actuação e terá em consideração diversos factores como a
história das Selecções, características dos seus jogadores, assim como as
tendências de jogo apresentadas pelos clubes que fornecem jogadores à
Selecção; c) as decisões dos seleccionadores nacionais deverão ser coerentes
com a ideia de jogo proposta pela Federação Portuguesa de Futebol; d) os
escalões de formação têm em vista a inclusão dos jogadores na equipa
principal, dotando as suas equipas de uma identidade comum.
Palavras-chave: FUTEBOL; SELECÇÃO NACIONAL; MODELO
DE JOGO; MODELO DE JOGADOR.
Abstract
VII.
ABSTRACT
To engage a National Team to play as one team it´s more than having
the best players of the same nationality playing together. It is necessary that
they act like a team, and for that it is required that they acquire a collective
organization. A player can perform in several age bands of the National Team
so, if a similar identity is preserved, allowing the players to be chosen according
to the profile of the game model, this path will be eased up.
Considering the National Team a particular framework, the goals
promoted by this paper are i) assess the existence of a national game and
player profile, assuming it as national identities; ii) realize the singularity of the
National Team Framework; iii) define how the “our” players´ characteristics are
enhanced, both at game´s concept level and training level; iv) recognize the
basis of the National Coach´s options; v) identify the existence of a Game
Model, used in the National Teams as a guideline for all the development
process.
The study performed, basing the methodology on the interview
performed to the National Team Development Coordinator, allowed to realize
that:
a) the National Team has the possibility to choose the best
Portuguese players, but the gathering moments are always limited;
b) the “Projecto Modelar” will be created to be the guideline of
performance and will consider different parameters as history of
National Teams, players characteristics and also game tendencies
presented by the clubs that provide players to the National Team;
c) National Coaches decisions must be coherent with the game´s
concept proposed by the national organism ("Federação
Portuguesa de Futebol”);
d) developing younger age bands aims to include players in Portugal´s
main team, enabling their teams of a common identity.
Key-Words: FOOTBALL; NATIONAL TEAM; GAME MODEL; PLAYER
MODEL
Introdução
1
1. INTRODUÇÃO
No meu percurso universitário fui aprendendo a estabelecer
comunicação com a realidade que me rodeia. Com a tarefa de realizar o centro
de treino no 4º ano, a faculdade tenta colocar-nos no seio do mundo onde os
problemas nos vão surgindo. As metodologias aprendidas seriam as nossas
armas para que conseguíssemos ser melhores sucedidos.
Com os primeiros ensinamentos que recebi, na ainda FCDEF,
considerava que para iniciar a época deveria realizar uns testes da condição
física dos jogadores, determinar o mês em que iria acontecer o pico de forma, e
em seguida periodizar o treino de modo a que tal acontecesse. Assim! Fácil,
onde a única aleatoriedade para o sucesso seria acertar no mês certo para
atingir o pico de forma.
Mais tarde comecei a equacionar o fenómeno do Futebol como algo
mais complexo, em que o rendimento é constituído por mais componentes,
físico, psicológico, técnico, táctico, etc. Todos estes factores não podem ser
alienados do treino, surgindo em mim as primeiras noções do treino integrado.
Treinar todas essas componentes era por mim já afirmado como condição
obrigatória, e a introdução da bola nos treinos, parecia tornar os exercícios
mais específicos. Porém era um exercício específico para a técnica, um
exercício específico para a condição aeróbia, etc. Como tinha a bola, ou
respeitava os estudos de caracterização do esforço específico do futebol, era
específico.
Mais tarde, com a «Periodização Táctica» aprendi melhor a noção de
Especificidade, e desde logo entendi que as componentes deveriam todas ser
elementos objectivável no treino, mas não de forma separada. Todas ao
mesmo tempo, no mesmo momento de exercitação. O mesmo exercício era
técnico, físico, porque não treinávamos sentados, era psicológico, era a
contemplação do homem nas suas distintas, mas não dissociáveis, dimensões.
Segundo Frade (2004), esta contemplação das diferentes dimensões
faz emergir a táctica como uma Supra-dimensão. Quando estruturamos o treino
em função dos padrões de comportamento que desejamos para a nossa
Introdução
2
equipa, os nossos exercícios estarão a contemplar as diversas dimensões
especificamente, isto é, apesar de não ser o nosso objectivo principal, o físico,
o psicológico, o técnico, também fazem parte do treino, e deste modo estarão a
ser recrutados no regime mais específico para a organização colectiva que
desejamos. Pois nada será mais específico para o que desejamos, do que
realizar precisamente o que desejamos.
Deste modo, a forma do jogador/equipa não é definida para um
momento específico da época, pois segundo a Periodização Táctica não são
considerados picos de forma (Frade, 2004).
Em 2006, no segundo semestre do meu 3º ano tive a sorte de ir num
programa de intercâmbio para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Lá frequentei as aulas de Futebol e ainda consegui que me fosse facilitada a
presença nos treinos do Internacional de Portalegre, clube que realizou uma
excelente época desportiva, vencendo a Copa dos Libertadores e,
posteriormente a taça intercontinental frente ao Barcelona, do tão idolatrado
Ronaldinho.
Durante as aulas de Futebol que fui tendo na Faculdade de lá muita da
atenção do professor era para mim, principalmente porque eu falava de um tal
José Mourinho, desconhecido por todos da turma! Quando, comecei a explicar
aos aficionados de Bompa, Weineck, Matweiev, como era José Mourinho, um
vencedor que já havia conquistado a taça UEFA, a liga dos Campeões, etc, foi
quando me questionaram: “se é assim tão bom, porque é que vocês levaram o
nosso «Filipão»?” ora, a minha resposta foi de que possivelmente não é um
trabalho que o atraía muito nesta fase da sua carreira, pois não existe o
trabalho diário. Não acharam que era uma boa desculpa, até porque o
preparador físico do Internacional era em simultâneo da Selecção brasileira, o
famoso Paulo Paixão.
Tinha já na minha cabeça que o processo de treino numa Selecção não
seria igual ao do clube e começaram as dúvidas.
Assim defino como objecto do meu trabalho as Selecções nacionais,
procurando entender as decisões de um treinador nesse contexto particular.
Introdução
3
O trabalho será composto por uma revisão bibliográfica, onde procuro
encontrar estudos sobre a temática da Selecção, assim como encontrar
referencias sobre o processo de construção de equipa. Neste capítulo será
definido como objectivo do estudo aferir a existência de um estilo de jogo e de
jogador que se assume como identidade nacional; perceber a singularidade do
contexto Selecção; definir como são potenciadas as características dos
«nossos» jogadores, quer ao nível de ideias de jogo, quer ao nível de treino;
entender qual a base das opções de um Seleccionador Nacional; identificar a
existência de um Modelo de Jogo utilizado nas Selecções portuguesas como
«farol» orientador de todo o processo de formação.
Após definidos os objectivos, são escolhidos e definidos os materiais e
métodos a utilizar para recolher os dados desejados.
Segue-se a fase de análise e discussão dos resultados, de onde
posteriormente podermos elaborar o nosso próximo capítulo das considerações
finais.
Por fim apresentamos a revisão bibliográfica de qual nos socorremos, e
ainda em anexo a entrevista realizada.
Partimos para este trabalho sem o objectivo de obter respostas
universais, mas sim as mais contextualizadas ao meu problema pois essas
parecem-me as mais acertadas. Procuraremos atender à singularidade do
processo das Selecções pois será retratada a singularidade do seu jogo.
Revisão Bibliográfica
5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. A nossa Selecção
“Quando os treinadores eram menos importantes,
as Selecções se pareciam mais com o seu país”
Valdano, 1998.
A Selecção Nacional, “equipa de todos nós”, é a equipa que nos
representa, pois através do futebol será possível conhecer um povo, como
refere G. Haldas (1981 in Costa 2004:56) ”é possível fazer juízo sobre o
temperamento de um povo, sobre a sua mentalidade e até sobre a sua história
só pela maneira como os seus representantes, actuando numa equipa
Nacional, se comportam num campo de futebol”. Na mesma linha Costa
completa dizendo “os jogadores são, no terreno, uma imagem do seu povo”
(Costa 2004:59).
É comum associar-se, empiricamente, um estilo de jogo a um
determinado país, como o exemplo da Itália, com bloco baixo e transições
rápidas em profundidade, ou o Brasil com um jogo apoiado, fortes no 1x1. E a
Selecção portuguesa?
Costa (2004:59) considera que cada povo tem estilos distintos: “Os
portugueses não jogam como os alemães. Os brasileiros não jogam como os
europeus, etc.” Embora sejamos diferentes dos alemães, isso não nos
identifica. Costa (2004:60) diz que “somos os brasileiros da Europa como no
Brasil o futebol tem técnica, criatividade e imaginação”. Sugerindo aqui uma
semelhança com o futebol brasileiro.
Recentemente, Queiroz (2008a), seleccionador Nacional, refere que
durante o jogo desejava “ver Portugal impor o seu estilo de jogo, o seu sistema,
os seus valores”, levando-nos a questionar de novo, qual é esse estilo
português?
Estudando as Selecções nacionais, Ribeiro (1999) interrogou os
treinadores nacionais Rui Caçador e Agostinho Oliveira e observou dois jogos
das Selecções sub-17, sub-18, sub-20 e equipa A. Concluiu que existe uma
coerência entre as equipas nacionais quanto à organização defensiva e ao jogo
Revisão Bibliográfica
6
ofensivo. Deste modo o autor percebeu que as equipas portuguesas que as
equipas portugueses demonstram comportamentos semelhantes entre si,
sendo que utilizam preferencialmente o ataque rápido, isto é, com uma rápida
transição da bola para as zonas de finalização, com a fase de finalização a ser
mais elaborada que no caso de contra ataque, acontecendo a organização da
equipa adversária (Castelo, 1996).
Esta coerência entre os diversos escalões leva-nos a considerar as
palavras de Pinto (1996:53) quando refere que “cada equipa ganha uma
identidade própria que lhe advém de uma cultura organizacional específica” e
que “é essa existência de uma idêntica cultura organizacional específica que
distingue duas equipas diferentes”, ou assemelha outras.
Essa identidade de equipa é como o “ADN” de uma equipa. Todos os
seres humanos tem ADN com os mesmos componentes, porém todos somos
distintos, pois todos apresentamos organizações de ADN distintas. Pareceu-
nos pertinente estudar o caso da Selecção Portuguesa, investigando os
«cromossomas» que a constituem, e em que organização se encontraram para
obter o «todo».
Para Michels, antigo formador das escolas do Ajax, (in Kormelink &
Seeverens 1997:5) “a cultura do clube é melhor expressa no modo de jogar”,
sendo o modo de jogar o «todo» resultante da organização das partes que
procuramos identificar.
Parece-nos legítimo questionar se as gerações que agora, em 2008,
vestem a camisola das quinas, ainda se comportam de forma semelhante ao
diagnosticado por Ribeiro em 1999, há quase 10 anos atrás.
Analisando o historial de seleccionadores da FPF, pode-se verificar
que, nos últimos 20 anos, os seleccionadores nacionais, na equipa A, têm um
período de permanência que não ultrapassa os 2 anos, com a excepção de
Luís Filipe Scolari que teve um período prolongado por 6 anos, levando a
considerar que com a alteração “constante” de seleccionadores, o estilo de
jogo possa, eventualmente também ser alterado. Como alerta Bento, (2001:25)
“cada treinador tem a sua filosofia e um sistema de jogo que quer que a sua
equipa pratique.”
Revisão Bibliográfica
7
2.2. A importância de um Modelo de Jogo
A equipa que o seleccionador tem que criar será tão mais forte quanto
mais conseguir funcionar como um «todo», e não pelas capacidades individuais
que contém, até porque como diz Michels (in Kormelink & Seeverens 1997:7) o
processo moderno de Team Building (construção de equipa) exige jogadores
que, “com todas as suas habilidades, estão dispostos a jogar eficazmente ao
serviço da equipa como um todo”.
Baseando-nos na perspectiva da complexidade apresentada por Edgar
Morin (2003), quando equacionamos a equipa, teremos de a entender como
um «todo» constituído por diferentes partes - os jogadores, e não considerar os
jogadores isoladamente. Potenciar a capacidade de cada uma das partes
(jogador) isoladamente é cair num reducionismo enganador, uma vez que o
jogador não se expressa separado dos restantes companheiros de equipa.
Formar uma equipa não se apresenta como um processo simples,
menos o é no caso das Selecções, pois aí o treinador não tem tempo para
sistematizar as suas ideias da mesma forma que o treinador nos clubes tendo
de lidar com a possível variabilidade de culturas tácticas que os jogadores
transportam consigo.
No seu estudo, Alves (2006) pesquisou sobre as congruências entre
Selecção e clube, chegando à conclusão que pouca comunicação existe.
Contudo verificou uma preocupação com o binómio esforço/recuperação dos
jogadores, mas os hábitos metodológicos do clube não são levados em
consideração. O jogador não chega às mãos dos treinadores nacionais como
uma «tábua rasa», isto é, são «apanhados» a meio dos processos de treino
das respectivas equipas e que, para além de poderem contemplar diferentes
metodologias de treino, podem incluir também diferentes entendimentos de
jogo.
Costa, P. (2006:66) considera que no momento de construção de uma
equipa temos de considerar que “os jogadores estão «amarrados» a pré-
conceitos que foram sendo consolidados em experiências anteriores, como tal,
o ponto de vista sobre o «jogar» de cada um dos jogadores que compões a
Revisão Bibliográfica
8
equipa é diverso”. O que nos leva a pensar que a leitura de um dado momento
de jogo irá ser influenciado pelas experiencias anteriores vividas pelos
jogadores (Garganta & Cunha e Silva, 2000).
Assim, o problema ganha relevo pois o seleccionador Nacional tem na
sua realidade, muito provavelmente, jogadores com distinto entendimento de
jogo e tem como função formar uma equipa.
O seleccionador nacional deseja construir uma equipa, mas a equipa
será mais que juntar as partes, os jogadores. O seleccionador necessita de
juntar os jogadores em função de um objectivo, com determinada organização.
Para melhor entendimento, e servindo-nos de Von Bertalanfly (1977 in
Frade, 1990:3) por este definir um sistema em «complexos elementos em
interacção», sendo por isso legítimo considerar uma equipa um sistema. Os
jogadores são elementos complexos e que se encontram em interacção.
No seguimento desta visão, Morin (2003) na sua teoria da
complexidade refere que o todo é mais que a soma de todas as partes, pois é o
todo, o sistema, a equipa, será o resultado da relação das diferentes partes. O
resultado dessas interacções de cooperação dos jogadores apresenta-se como
o «jogar» da equipa.
A identidade da equipa que o seleccionador criar, será o resultado da
forma como os jogadores interagirem entre si. E como irá então o
seleccionador Nacional conseguir construir uma organização colectiva?
Entendemos que a função do treinador, durante o processo, passa por
intervir sobre a forma como essas interacções acontecem (Campos, 2008).
Garganta (2004:230) salienta que “uma equipa é um concerto de
cumplicidades, expressa na vinculação de uma visão, a um modelo, a um
ideal”, sendo a equipa a união de todos os jogadores em função de algo. Há
então a necessidade de condicionar as interacções existentes entre os
jogadores, de forma a obtermos o resultado pretendido. O seleccionador
funcionará como um cozinheiro, que junta ingredientes em função do prato que
deseja obter no final. O cozinheiro como guia utiliza a uma receita, enquanto no
futebol, o treinador/seleccionador deve ter um Modelo.
Revisão Bibliográfica
9
No dicionário de língua portuguesa MODELO tem como definição,
”imagem ou desenho que representa o objecto que se pretende reproduzir
esculpindo, pintando ou desenhando” ao que, neste caso, poderíamos
acrescentar jogando. Mas esta definição ainda tem mais uma descrição
interessante pois modelo é um “esquema teórico em matéria científica
representativo de um comportamento, de um fenómeno ou conjunto de
fenómenos”, encaixando naquilo que um treinador deseja ver os seus
jogadores realizar durante o jogo.
Na continuação desta ideia, Resende (2002:22) refere que “as
decisões/comportamentos dos jogadores, durante o jogo, não podem acontecer
de forma casual, mas ter por base certos princípios, que farão com que a
equipa actue com uma lógica interna de funcionamento”. Para que os
comportamentos dos jogadores não aconteçam de forma alheia, concordamos
que exista um Modelo de Jogo a ter como referência que determine todas as
relações dos jogadores, concorrendo para a organização colectiva desejada.
Mourinho (2002) considera que “o mais importante numa equipa é ter
um Modelo de Jogo, um conjunto de princípios que dêem organização à
equipa”.
Neste contexto Teodorescu (1984:164) entende que construir uma
equipa “Trata-se, portanto, da realização de «modelo» de jogo, que reproduza
o sistema de relações e inter-relações entre os jogadores da própria equipa
(entre as suas acções), o qual funcione adaptado à relação de adversidade
concretizada no sistema de relações constituído, por sua vez, pela equipa
adversária”.
Construir uma equipa, assume-se como “controlar” as interacções que
os jogadores estabelecem entre si, confinando a um objectivo comum, o
Modelo de Jogo. Frade (1985:14) refere: “Uma interacção é o que faz com que
um fragmento de matéria não seja insensível à presença de outro” pelo que o
comportamento de um indivíduo é uma acção que tem influência sobre o
colega de equipa, pelo que deve obedecer a um padrão definido pelo
treinador/seleccionador.
Revisão Bibliográfica
10
2.2.1. A construção do Modelo de Jogo
Consideramos ser importante que a tarefa primeira do treinador seja
construir o Modelo de jogo para a sua equipa, pois este será o orientador de
todo o processo de treino (Carvalhal 2001).
Frade (2000) refere “Futebol é um saber fazer, é um hábito que se
adquire na acção” e como tal, para que os jogadores realizem os
comportamentos desejados, consciente ou inconscientemente, estes (os
comportamentos) terão de ser treinados, sistematizados.
Concordamos com o anteriormente referido, contudo, aqui reside o
principal problema que um seleccionador encontra, pois os períodos de
concentração com os jogadores são bastante reduzidos no tempo de duração
condicionando a tarefa de implementar o seu Modelo de Jogo.
Segundo Teodorescu (1984:190), para o seleccionador Nacional a
maior dificuldade é de ter de “realizar num espaço de tempo aquilo que num
clube se consegue após vários anos de trabalho, isto é, uma equipa”.
Numa Selecção as fases de preparação não são homogéneas,
podendo ser de curta ou longa duração, apresentando diferentes objectivos nos
distintos momentos (Teodorescu, 1984). A mesma ideia foi concluída por
Rodrigues (1997), pois os seleccionadores questionados afirmam que períodos
menos de 1 mês se tornam insuficientes, pois em períodos de 5 semanas tem
conteúdos que não são contemplados em períodos de menor duração.
Como o período de tempo é reduzido, o treinador tem de fazer opções
para desenvolver o Modelo de Jogo. Teodorescu (1984: 191) sugere que sejam
seleccionados aqueles que se encontram “mais em forma”, contudo de pronto
alerta que é uma opção “insegura” pois “a presença de individualidades bem
definidas não garante a realização de uma verdadeira equipa, com as
aquisições funcionais necessárias à luta colectiva”. O autor (1984) em questão
parece concordar connosco no sentido de escolher jogadores em forma, não
garante a formação de uma equipa. Existe a necessidade dos elementos
interagirem entre eles de forma a se apresentarem como equipa e assim
responder às necessidades do jogo.
Revisão Bibliográfica
11
No nosso entendimento, no momento de seleccionar os jogadores o
treinador deve ter como fundamento o «todo» que deseja atingir,
A escolha dos jogadores não deve ser feita em vão, uma vez que a
relação é a possibilidade de comunicação entre as partes. Ao considerarmos
uma equipa como um conjunto de «partes» em interacção, assumimos que
alterando uma parte, as restantes são sensíveis a essa mudança, alterando
também o «todo» final. O mesmo autor (1985:15) completa: “Todas as partes
tem um papel a desempenhar. Mesmo alterar apenas um dos elementos pode,
às vezes, ter consequências completamente inesperadas.” Assim sendo, a
integração de um elemento na nossa equipa terá efeitos mais ou menos
desejados, mas é certo é que terá influência sobre os restantes.
Teodorescu (1984:191), quanto à questão de Selecção de jogadores
para uma equipa Nacional deve acontecer de acordo com a “orientação geral
do jogo colectivo (táctica especial), em função de diversos critérios como a
especificidade dos adversários e das particularidades dos próprios jogadores;
as qualidades motoras e perspectiva do seu desenvolvimento; a duração da
preparação”. Para o mesmo autor (1984), se nos encontrarmos perante uma
equipa que nos permita estar mais tempo no momento ofensivo, os jogadores
escolhidos devem apresentar qualidades ofensivas, caso o caso se inverta, isto
é, a equipa contrária ser aquela que costuma ter mais posse de bola, os
nossos jogadores serão escolhidos por apresentarem melhores qualidades
defensivas. No caso da equipa adversária ser desconhecida o treinador deverá
estabelecer medidas de prevenção.
Concordamos com Teodorescu (1984) conclui que o importante é ter
uma orientação táctica de jogo e consequentemente seleccionar os jogadores
que melhore se adaptem à táctica preconizada, porém colocamos algumas
dúvidas quanto ao alterar os nossos comportamentos dependendo do
adversário que se apresenta.
Parece-nos que o ideal será o treinador estabelecer uma ideia de jogo,
um Modelo de Jogo, e seleccionar os jogadores que satisfaçam esse modelo.
Revisão Bibliográfica
12
Defendemos até agora a hipótese do treinador possuir um critério a
quando das suas escolhas, tentando encontrar um Modelo de Jogador que
sirva o seu Modelo de Jogo.
Campos (2008:43) considera que a “criação de um modelo de jogo
deve ter em conta um sem número de factores como o conhecimento do clube,
da equipa e do respectivo nível de jogo, as características dos jogadores
individualmente ou mesmo os objectivos a atingir”. O autor enumera as
características dos jogadores como factor a considerar no momento de
construção do Modelo de Jogo. Pelo que vínhamos a aferir, as características
dos jogadores seleccionados seriam, à partida, escolhidas em função do nosso
Modelo de Jogo, contudo num contexto de Selecção o seleccionador tem de
considerar a geração que tem disponível e ainda a hipótese de existir o caso de
«super-estrela (s)» fugir (em) à concepção de jogo definida. Neste caso o
treinador poderá simplesmente ignorar o (s) jogador (es) e não o (s) incluir na
sua equipa, ou definir o Modelo de Jogo já tendo em conta as características
individuais do (s) «super-estrela (s)»
Pensamos ser mais coerente, o seleccionador, sempre que possível
definir as suas ideias face ao contexto que encontra, e que os jogadores da sua
equipa sejam escolhidos o mais próximo da ideia de jogo por ele pretendida, e
não a necessidade de adaptar a ideia do treinador aos jogadores existentes. A
existência de jogadores excepcionais apareceria como excepção à maioria do
todo, tendo consciência que seria uma parte descontextualizada da
organização da equipa, mas que pelas suas mais valias poderia ter relevância
em momentos do jogo.
Revisão Bibliográfica
13
2.3. Modelo de Jogador, Modelo de Treinador e um Modelo de Treino
“O futebol pode atingir uma beleza que se pode tornar arte realmente. Ao mesmo
tempo, uma arte individual, mas sobretudo arte colectiva”
Wenger s.d.
Se pretendemos entender o Modelo de Jogo português, deveremos
entender melhor o jogador português, pois essa será a «matéria-prima» do
seleccionador. Entre a população, apesar de não muito vasta
comparativamente à maioria dos países do topo do futebol, existe muita
diversidade, contudo Cabrita em 1987 referiu que o jogador português
distinguia-se dos «futebolistas-atletas» pela facilidade que mudam de direcção,
caracterizando o jogador português por ser habitualmente baixo, “sem grande
envergadura física para o drible dinâmico” (Cabrita 1987:36).
O autor anteriormente referido parece evidenciar características
identificadoras da globalidade dos jogadores da mesma nacionalidade.
Contudo, não nos é possível afirmar que tais características sejam intemporais,
e que ainda hoje se verifiquem tal e qual eles as referem.
Menotti (1978), quando se encontrava no processo de formação da
Selecção argentina, refere que o seu objectivo seria de defender o jogador
argentino, as suas características únicas e distintas dos restantes do mundo.
Este treinador optou por seleccionar os jogadores que tinham uma cultura
semelhante, o mesmo entendimento de jogo o que permitiu a construção de um
jogar.
Um treinador tem por um lado a opção de aculturar os jogadores ao
seu Modelo de Jogo, o que requer tempo, ou por outro recrutar jogadores que
facilitem essa aproximação. Havendo características específicas dos jogadores
portugueses, essas particularidades devem ser consideradas a quando da
delineação de um Modelo de Jogo.
Entendemos por Modelo de Jogador o perfil de jogador que serve o
Modelo de Jogo e, o perfil de jogador que é formado quando o jogador está
inserido num processo que obedece, também ao Modelo de Jogo (Pinto &
Garganta, 1996).
Revisão Bibliográfica
14
Leal & Quinta (2001) consideram que, se todos os treinadores do
departamento de formação não apresentarem a mesma concepção de modelo
de jogador, deixa de existir a coerência.
Consideramos importante conter jogadores com perfil semelhante na
equipa, pois diferenciando as equipas e diferenciando os seus «jogares». A
capacidade de um indivíduo seleccionar a melhor resposta no jogo revelará a
sua inteligência e a resposta só poderá ser considerada boa ou má face ao
contexto da cultura que a equipa assume. Podemos diferenciar, também, as
inteligências específicas de cada Modelo de Jogo (Maciel 2008).
A definição de um Modelo de Jogo assume-se como essencial,
consequentemente um Modelo de Jogador não pode ser descurado. O perfil do
jogador desejado mesmo quando escolhido deverá continuar a ser
desenvolvido. Logo se a preparação feita for concordante com a ideia de jogo
do treinador, o jogador sofre adaptações a esse treino (Maciel, 2008) que são o
objectivo
Segundo Moita (2008:41) “o treino deverá ser um espaço em que o
treinador reproduz exercícios que induzirão a sua equipa a fazer aquilo que ele
quer que a mesma faça no jogo”. Podemos afirmar que para desenvolver o
perfil do jogador, e consequentemente o Modelo de Jogo, o treino deve
assentar sobre um Modelo de Treino, pois só assim o treinador poderá
sistematizar, treinar os comportamentos ou interacções desejadas para obter a
organização desejada.
Gaiteiro (2006) esclarece que para si as adaptações sofridas pelos
jogadores assumem diferentes planos, pois “o modelo é a articulação de tudo,
do consciente e do subconsciente”. Damásio (2003) explica que as acções que
acontecem, ou tem início sem termos consciência de tal, têm como base as
nossas vivências anteriores, e a cultura de cada um. Neste sentido o Modelo
de Jogo deverá estar presente também no inconsciente dos jogadores pela
importância que o inconsciente tem na tomada de decisão durante o jogo.
Oliveira, Amieiro, Resende, & Barreto, (2006:129) elucidam-nos «Como
a esfera fundamental do saber fazer é de domínio não consciente e o hábito é
um saber fazer que se adquire na acção, o treinar – a aprendizagem pela
Revisão Bibliográfica
15
repetição – é um processo de construção do ser capaz de jogar em que o
saber adquirido é dominantemente património do não consciente».
Em suma, objectiva-se determinada forma de jogar, contida no Modelo
de Jogo, e os exercícios de treino terão de ser concordantes com essa
organização colectiva desejada, levando o jogador a melhor entender o jogo
(Oliveira, Amieiro, Resende, & Barreto, 2006) e assim realizar melhores
respostas motoras durante o jogo.
Se a ideia de jogo pretendida é transversal a todas as Selecções
nacionais, entende-se que um Modelo de Jogador e de Modelo de Treino
também farão sentido estar implementados, por ser no treino que, nos
jogadores, se dá vida os comportamentos desejados no jogo, obtendo-se deste
modo um treino mais específico.
Na mesma lógica, Teodorescu (1984) alerta para a necessidade de se
escolher os seleccionadores com determinado critério para evitar quebras ou
descontinuidades na sua evolução. Se a escolha dos seleccionadores for feita
com critérios, evitará a introdução de ideias díspares perigosas para o
desenvolvimento do Modelo de Jogo (Leal & Quinta, 2001) deve ser definido
um Modelo de Treinador que sirva o Modelo de Jogo ao qual está subjugado
um Modelo de Treino, formando ou potenciando o Modelo de Jogador
existente.
È então a existência de um Modelo de Jogo que definirá o perfil de
jogador e de treino a utilizar no processo (Pinto e Garganta 1996:86).
A realidade de Selecção não facilita a tarefa do treinador, tal seria
ainda mais difícil se não «remassem todos para o mesmo lado», ou se
existirem «partes» distintas do padrão desejado. Nos casos em que as partes
não obedecem a uma organização, podemos dizer que o «todo» será menor
que a soma de todas as partes (Morin, 2003).
Todo o trabalho deve então ser alicerçado numa filosofia que
contemple a existência de um Modelo de Jogo, o qual, por sua vez, orientará a
concepção de um Modelo de Treino e de um complexo de exercícios, de um
Modelo de Jogador e mesmo de um Modelo de Treinador. (Leal e Quinta,
2001)
Revisão Bibliográfica
16
2.4. Modelo de Formação
Os jogadores que integram a Selecção principal, normalmente já têm
um passado nas equipas nacionais, percorrendo parte ou totalidade os
escalões da formação.
A equipa A «alimenta-se» de jogadores das gerações mais jovens que
vão surgindo para ocupar o lugar dos jogadores que se retiram. Em contexto de
Selecção, a equipa sénior é só uma, logo um jovem português aspira a integrar
aquela equipa principal e deste modo esta aspiração afirma-se como uma das
preocupações da formação.
Vieira (2004) no seu estudo questionou vários orientadores da
formação de clubes de topo sobre o objectivo do processo de formação,
confirmando que todos os seus entrevistados têm como objectivo colocar
jogadores nas equipas seniores. Numa Selecção, normalmente, não se coloca
a hipótese de representar outra equipa sénior, porém é igualmente pertinente
ter isso em consideração quando se lidera todo o processo, pois assim o
treinador tem um objectivo.
Nesta lógica, Leal e Quinta (2001) consideram a formação deve
sempre ter o Modelo de Jogo como orientação. A existência de um documento
deste tipo é considerada por Mourinho (2003 in Lourenço, 2003) como
“extremamente importante” pois consiste nas ideias-chave de todo o processo.
Podemos afirmar que o Modelo é o que se aspira, a direcção para onde
“caminhamos”. O futuro (Modelo de jogo) torna-se o elemento causal do
presente, do processo (Frade, 1985:19).
Cabe ao coordenador técnico assumir a responsabilidade pela ligação
entre equipa principal e a formação (Mourinho in Lourenço, 2003), tendo um
papel activo em todas as actividades (Neves, 2003). O coordenador assume-se
assim como o barómetro entre as diferentes equipas, aferindo se existe
coerência com o Modelo de Jogo. Com esta preocupação, a formação irá servir
a equipa principal permitindo a melhor integração dos jogadores nas diferentes
equipas, incluindo a equipa A.
Revisão Bibliográfica
17
2.4.1. Dificuldades na implementação do Modelo de Jogo na
Formação
Vários são os problemas apresentados para que a implementação de
uma Concepção de Jogo (Lemos, 2005). A instabilidade do treinador da equipa
A é apontado com ao principal razão para não ser possível seguir o Modelo de
Jogo da primeira equipa por parte de todos os escalões (Leandro 2003), pois
mudando o treinador, mudam as ideias e consequentemente o modelo de
jogador subentendido. Lemos (2005), aponta que a estabilidade dos elementos
que constituem as equipas técnicas, existindo um projecto com regras bem
definidas, favorece a implementação de ideias comuns aos diferentes escalões
do mesmo clube.
Desta forma, e para dar resposta a esta problemática, mais
recentemente muitos processos de formação passaram a ser orientados por
um Modelo de formação independente da equipa sénior levando a que o
jogador se forme capaz de integrar diversos modelos de jogo nas etapas mais
avançadas. (Sá cit por Lemos 2005). Deixa de existir portanto um Modelo de
Jogo único para o clube, mas um independente da equipa principal.
Leandro (2003) fez um estudo de caso do F.C. Porto onde concluiu que
o objectivo seria de formar um jogador que sirva vários modelos (Vale, 2003).
Também Jean Paul (2003), coordenador da formação do Sporting, diz que o
objectivo do clube passa por formar jogadores quer para integrarem a equipa
sénior quer para serem jogadores vendidos, ou até emprestados. Parece
pertinente esta pluralidade num jogador, pois um jogador tem de jogar em
vários modelos de jogo, pois alterando o treinador este tem de ser capaz de se
adaptar as ideias do novo treinador. (Mourinho, 2002)
Como já referimos anteriormente, na Selecção os jogadores não são
vendidos, nem são emprestados, tendo de ser formados para integrar a equipa
principal. Porém, a questão de alternância de treinadores é uma realidade,
podendo as suas ideias de jogo alterar aquilo que seria o Modelo de Jogo
estável e assim inviabilizar o produto da formação, uma vez que caso um
jogador seja formado para um modelo de jogo específico e de um momento
Revisão Bibliográfica
18
para o outro tudo se alterar, a sua integração na equipa fica em causa. O que
nos leva a considerar uma formação mais ampla, dando uma cultura táctica
rica ao jogador, permitindo a sua adaptação e assim “sobreviver”.
Daí que Jean Paul (2003 In Neves 2003) conclui que “não faz sentido
que a formação esteja constantemente a adaptar-se ao que se passa na
equipa A. O que faz sentido é que nós sejamos capazes de formar jogadores
aptos para se adaptarem a qualquer modelo de jogo ou sistema, isso sim, faz
sentido”.
Já que no caso da Selecção, a equipa sénior a representar é a mesma
que da formação, pensamos ser pertinente que as ideias de jogo sejam
comuns, e não de forma tão diversa como os autores defendem. Os jogadores
apresentam-se com ideias diferentes, e o objectivo será faze-los confluir para
uma ideia de jogo comum, e não para diversas ideias.
A formação mais global tacticamente aconteceria no caso de, se com a
mudança do seleccionador da equipa principal, também alterarem as ideias de
jogo e consequentemente o Modelo de Jogo, o que não se apresenta como
uma boa solução.
É preciso definir o que tem prioridade, se as ideias dos
seleccionadores, características dos jogadores ou até a cultura da Selecção.
Revisão Bibliográfica
19
2.5. Selecção dos Talentos.
A Selecção é, teoricamente composta por jogadores considerados
como talentos.
A definição de talento, apesar de não ser estranha a ninguém, sofre
algumas alterações consoante o autor que a considera.
Ora vejamos, para Araújo (2004) talento é algo que um indivíduo, neste
caso um jogador, possui que permite explicação de obter bons resultados. Já
Marques (2005) caracteriza um talento como alguém com “características
endógenas especiais que por sua vez, acrescem da necessidade “condições
exógenas óptimas” para que exista possibilidade de bons desempenhos
desportivos. Esta definição de Marques (2005) por um lado enaltece as
características do indivíduo que o torna especial, mas por outro lado ressalva a
importância do meio para que essas características se possam fazer notar
distinguindo-o como talento. Sabendo que as características «genéticas» do
indivíduo são determinantes para prestações excepcionais, não se devem
considerar que a resposta está nas diferenças fisiológicas, anatómicas,
psicológicas, etc., pois o jogador é um todo que não deve ser fragmentado
(Maciel 2008).
Silva (2008 in Maciel 2008) diz entender por talento “uma
predisposição” contudo a existência ou não de um meio propício é
determinante para o sucesso. A mesma treinadora (2008 in Maciel 2008: 366)
diz que “bons são aqueles que têm predisposição e que depois têm um meio
propício a esse desenvolvimento”.
Como alerta Massada (2008 in Maciel, 2008: 377) “não podemos estar
a espera que os genes façam tudo”.
Deste modo podemos então perceber melhor porque determinados
talentos, mudando de equipa, e consequentemente mudando de contextos não
se manifestam do mesmo modo.
Daí que pensamos ser importante proporcionar ao talento um contexto
adequado para sua exaltação, porém não descoramos a capacidade de
adaptação que os talentos comportam. Malson (1988, in Maciel 2008) descreve
Revisão Bibliográfica
20
o homem como um ser com capacidade de inventar, tendo Silva (2008 in
Maciel, 2008) considerado que talento também comporta criatividade. Esta
criatividade transmite-se na capacidade de adaptação contextual (Maciel 2008).
Ao definirmos um Modelo de Jogador, estaremos a considerar já as
características do talento que desejamos, pelo que o contexto, para exaltação
de tais capacidades, é a organização colectiva que desejada pelo treinador. o
talento deve então disponibilizar a sua técnica ao serviço da equipa como um
todo (Michels cit por Kormelink & Seeverens 1997:xiii).
Segundo Queiroz (2003) a técnica tem influência sobre dois
importantes elementos do jogo, o tempo e espaço. Um jogador com qualidades
técnicas acima da média controla a bola melhor e mais rápido. Contudo, o
mesmo autor ao ser questionado se tendo jogadores com qualidade técnica
elevada se adaptam mais facilmente a qualquer táctica, este considera que
essa capacidade de adaptação depende de muitas outras coisas e não apenas
de um factor isolado, apesar de este ser bastante importante.
Deste modo concluímos que a qualidade dos jogadores é um dos
aspectos a ter em consideração quando delineamos as ideias de organização
colectiva que desejamos.
Teoricamente, na Selecção, deparamo-nos com um conjunto de
jogadores possuidores de capacidades excepcionais, quer para ter
desempenhos elevados, quer por serem dotados de criatividade e
consequentemente adaptabilidade. A capacidade de fazer as suas virtudes
crescerem dentro de uma colectividade valoriza o Talento. Segundo Frade
(2003) um talento deve emergir num ambiente de Auto-Hetero evolução, isto é,
desenvolvendo o plano individual (auto), contudo não de forma abstracta, num
seio de uma equipa (hetero).
O processo de formação de um Talento deve contemplar assim a
interacção com os restantes elementos da equipa, sendo esta interacção
condicionada pela cultura ou culturas de jogo (Maciel, 2008).
A exaltação de qualquer talento ocorre num contexto, numa equipa, e
nesta equipa está em interacção com outros talentos enquanto que forma como
ocorrerão as interacções será norteada pelo Modelo de Jogo proposto (Silva
Revisão Bibliográfica
21
2008). A existência de uma referência no processo de treino leva a que o
jogador desenvolva capacidades na formação, mas capacidades específicas do
jogar a que está submetido (Mota, 1998).
Nesse sentido e concluindo, a formação do jogador na Selecção,
deverá ser realizada com a orientação do Modelo de Jogo da equipa principal,
visando uma exaltação dos talentos num contexto de equipa, e submetidos a
um a organização colectiva específica. A formação quer-se um projecto de Co-
auto-hetero, onde o «Co» se refere ao estar subordinado à organização
específica desejada.
Objectivos
23
3. OBJECTIVOS
Ao longo do que fomos apresentando fica evidente que uma equipa,
deve reger-se por ideias comuns a fim de se apresentar como equipa composta
por jogadores que concorrem para um mesmo objectivo e para isso partilharem
uma cultura (de jogo) comum.
Com base no que foi exposto, ponderamos sobre a realidade
específica de “Selecção” e, para este trabalho, definimos os seguintes
objectivos:
a) Aferir a existência de um estilo de jogo e de jogador nacionais,
que se assumam como identidade nacional.
b) Perceber a singularidade do contexto Selecção.
c) Definir como são potenciadas as características dos «nossos»
jogadores, quer ao nível de ideias de jogo, quer ao nível de treino.
d) Entender qual a base das opções de um Seleccionador Nacional.
e) Identificar a existência de um Modelo de Jogo utilizado nas
Selecções portuguesas como «farol» orientador de todo o processo de
formação.
Material e Métodos
25
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Metodologia de Investigação
O suporte teórico deste trabalho foi sustentado por uma revisão
bibliográfica, onde se procurou encontrar estudos que contemplassem o
contexto particular que nos preocupa, porém recorremos também a
considerações sobre o entender do futebol, o processo de formação,
competição, treino e da construção de equipas.
Assente a importância de que as ideias do treinador devem contemplar
o contexto específico em que se encontra, procuramos entender as decisões
tomadas num contexto de Selecção.
Desta forma, surgiu o interesse e oportunidade de analisar a situação
da formação das Selecções portuguesas. Deste modo questionamos o
coordenador de formação, obtendo respostas de quem coordena as decisões.
Assim, após este momento e a consequente delimitação dos
objectivos, elaboramos uma entrevista que possibilitasse a exploração de uma
visão prática e concreta acerca do mesmo assunto. As questões foram, por
isso mesmo, construídas de forma aberta, sempre com uma linha orientadora
formada pelas questões elaboradas, mas permitido sempre alguns desvios,
possibilitando ao entrevistado a exposição do seu ponto de vista de forma
segura, mas também pessoal, clara e profunda.
4.2 Recolha de Dados
A entrevista foi realizada ao coordenador da formação das Selecções
de nacionais, Professor Agostinho Oliveira, no dia 6 de Novembro de 2008,
tendo tido lugar na residência particular do entrevistado, em Guimarães.
Para gravação foi utilizado um computador portátil Toshiba com o
software Gravador de Áudio do Windows, tendo sido posteriormente transcrita
para o papel, com devido conhecimento e consentimento do entrevistado.
Apresentação e Discussão dos Resultados
27
5. APRESENTAÇAO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Depois de realizada a revisão da literatura sobre o tema em questão e
a entrevista, procura-se neste ponto, efectuar o cruzamento de informação
obtida no sentido de daí advir uma reflexão e discussão acerca da problemática
que resulta na consecução dos objectivos propostos
5.1. A Selecção Nacional é um contexto particular
“É uma equipa que se constitui para representar o país, para representar o desporto
português, para representar a modalidade, para representar a Federação com a maior
dignidade possível o que cada um deles assume.”
Teotónio Lima, 1989
Para Agostinho Oliveira, o contexto da Selecção, relativamente a um
clube, apresenta diferenças consideradas como “abismais” já que o
entrevistado que considera que o desafio de trabalhar na Selecção “Implica a
formação da noção de grupo, equipa, a partir de jogadores de origem diversa”.
O facto de serem jogadores de origem diversa consiste numa
contrariedade (Monge da Silva, 1989), pois como refere P. Costa (2006:68) os
jogadores vêm “amarrados” a pré-conceitos e o desejável é que os jogadores
da mesma equipa tenham entendimentos comuuns num mesmo momento de
jogo.
O factor «tempo», para os técnicos nacionais intervirem sobre os
jogadores convocados apresenta-se assim como uma contrariedade pois a
falta de tempo é um problema para conhecer os jogadores (Queiroz 2008b) já
como esclarece o entrevistado, os períodos de estágio nas Selecções
consistem em ”normalmente dois dias de mês a mês, que são três sessões de
treino: segunda de tarde, terça de manhã e terça de tarde e depois o jogo!”.
Agostinho Oliveira considera ainda que a grande diferença está, que
nas Selecções “… tu vais lidar com um jogador que não é do teu trabalho
diário. Não tens uma continuidade diária” e que por isso o trabalho se resigna
“…um trabalho que sociologicamente é mais no entendimento das
particularidades dos pequenos grupos, das tribos existentes daquele grande
Apresentação e Discussão dos Resultados
28
núcleo”. Queiroz (2008b), quando questionado sobre quanto tempo desejaria
ter disponível, este responde que necessitava do tempo “suficiente para
consolidar a equipa”.
O tempo disponível para o seleccionador Nacional parece escasso
para qualquer tentativa de implementação de comportamentos, pelo que
Teodorescu (1984) distingue as fases de curta preparação das de duração
prolongada. Nos momentos de curta reunião, para o referido autor, devem
seleccionar-se jogadores em “forma óptima” e com experiência de competição.
Apesar de se seleccionarem os melhores (para o momento), não
significa que se obtém a melhor equipa (Lima, 1989), sendo que o nosso
entrevistado vai de encontro ao que nós defendemos, ou seja, é necessário dar
uma organização colectiva aos jogadores para que se obtenha rendimento no
jogo.
Nos períodos de curta duração, segundo o nosso entrevistado, o que é
feito ”não é um trabalho com uma modelagem física, com uma modelagem
muito forte a nível táctico, embora, logicamente, nós queiramos”. Apesar de
nos períodos de curta duração o seleccionador Nacional não ter o tempo
desejado para criar adaptações, o nosso entrevistado defende que o conteúdo
dos treinos continuam a ser a organização colectiva desejada pois é importante
que o jogador comece a ouvir “conceitos novos”, caso não os traga já do seu
clube para serem reforçados. Existe sempre o risco de o jogador voltar para o
clube e esse “tipo de intervenção desaparece”.
O entrevistado evidencia que é desejado um trabalho de modelação
táctico, ou seja, “um trabalho de organização posicional, porque são jogadores
de diferentes índoles” e, como tal, carecem de um trabalho de modelação
(táctica) que os dote de uma plataforma comum de entendimento do jogo.
O tempo disponível parecer não ser suficiente para que tal modelação
aconteça, mas apesar disso, o objectivo dos treinos mantêm-se o mesmo, pelo
que o entrevistado diz que não deixam de “…colocar valores teóricos nos
jogadores, não deixamos de corrigir em campo. Muito destes treinos são
organizacionais e estruturais, quer dizer, como queres que o lateral direito
suba, em que circunstancias, a pressão sobre o portador da bola como se faz,
Apresentação e Discussão dos Resultados
29
como é que se abre o campo quando temos a posse de bola, sector defensivo,
sector médio…”
Mas, a limitação do factor «tempo» não ocorre sempre, isto é, existem
momentos de concentração mais prolongados. Nesses períodos o entrevistado
considera que “as questões são um bocado diferentes”. O mesmo parece
evidenciar que existindo disponibilidade de tempo, não alterando o teor do
treino, o resultado poderá ser distinto, isto é, podem ser desenvolvidos os
comportamentos desejados.
É evidente que os treinadores nacionais tentam dotar os jogadores,
daquilo que Frade (1989) chama, o «saber sobre um saber fazer», sentindo
uma dificuldade imensa em dotar os jogadores do «saber fazer», saber esse
que se adquire na acção, treinando, e que pela limitação de tempo não é
atingido com sucesso.
A falta de tempo para treinar põe em causa a aquisição da organização
colectiva desejada. Os jogadores até podem vivenciar organizações
semelhantes nos seus clubes, o que o nosso entrevistado considera
importante, contudo, o jogador está a crescer num «hetero» distinto daquele
desejado. O jogador necessita de evoluir, de ser modelado, em coexistência
com os colegas de equipa com quem irá, posteriormente jogar.
Como refere Frade (2003), a evolução do «auto», do jogador, deve
acontecer em função do «hetero», isto é, da equipa.
Apresentação e Discussão dos Resultados
30
5.2. O Modelo de Jogo Português
5.2.1. O inicio
O seleccionador Nacional tem de, com períodos de tempo reduzido,
tentar alcançar os mesmos objectivos que num clube, isto é, construir uma
equipa (Teodorescu, 1984).
Nas palavras do entrevistado pode-se notar que, apesar das
contrariedades do contexto que o trabalho nas Selecções comporta, existe
sempre a intenção de desenvolver, nos distintos estágios, determinada
organização colectiva, ou seja, de transmitir ideias aos jogadores convocados e
de os fazer vivenciar determinados comportamentos concordantes com o
desejado.
O mesmo afirma estar a ser elaborado, na condição de coordenador da
formação, um “Projecto Modelar”, iniciado na década de 80 conjuntamente com
Carlos Queiroz e retomado recentemente, que confirma a existência de um
conjunto de normas que venham a ser orientadoras das decisões dos diversos
seleccionadores, ou seja, a existência de um Modelo de Jogo.
Agostinho Oliveira defende que “temos condições de potenciação e
desenvolvimento da qualidade do futebol Nacional”, e que para tal foi elaborado
um Modelo de Jogo que teve como referência:
”- A história;
- As características dos nossos atletas;
- A matriz cultural dos clubes, Associações e Selecção.”
No mesmo sentido encontramos Campos (2008:43) que acrescenta
que a “criação de um modelo de jogo deve ter em conta um sem número de
factores como o conhecimento do clube, da equipa e do respectivo nível de
jogo, as características dos jogadores individualmente ou mesmo os objectivos
a atingir”.
Ainda sobre o Modelo de Jogo, o entrevistado refere que ele nunca se
assume como fechado pois, como refere, são sempre consideradas “as
tendências do futebol júnior dos clubes nacionais, a tendência do jogo de
Apresentação e Discussão dos Resultados
31
futebol Nacional e da Selecção A”, no sentido de melhor aproveitar essas
tendências, quer dos jogadores, quer das equipas em si.
5.2.2. O Jogador português
A necessidade de um Modelo de Jogo, segundo Agostinho Oliveira
surgiu à 20 anos atrás no referido trabalho conjunto com Carlos Queiroz que
tinha como objectivo “construir uma estrutura que se adaptasse à realidade do
jogador português”. Para melhor cumprimento de tal objectivo iniciaram a
análise das características do jogador português determinando, posteriormente,
qual a distribuição geográfica (entenda-se estrutura de jogo) que melhor servia
tais características.
Segundo o entrevistado, a origem do, também já referido, «Projecto
Modelar» teve início na “discussão da melhor maneira de fazermos o
aproveitamento do jogador Nacional (…) Foi isto a grande base que iniciou de
alguma maneira o projecto estrutural das Selecções nacionais”, acrescentando
ainda: “Aliás eu falo e abordo sempre a matriz do nosso jogador, ou seja,
temos uma matriz e em função dessa matriz vamos explicar ou aplicar
determinado de tipo de sentidos”.
Ao se seleccionar uma geração de jogadores como amostra para o
estudo das características do jogador português corria-se o risco de obter
gerações diferentes, porém o entrevistado afirma “que de alguma maneira era
pensar nas características que eram globalizantes”.
Para o entrevistado os jogadores portugueses caracterizam-se por
serem “Indivíduos rápidos, baixinhos, com bom ponto gravitacional, a cinta, a
romper bem, a desequilibrarem bem, a darem profundidade”. O jogador
português apresenta um perfil que segundo o entrevistado é contínuo na
história do jogador português.
Não querendo por isto dizer, no nosso entender, que estas sejam por
um lado, características exclusivas do jogador português e, por outro lado, que
não existam jogadores portugueses que não se enquadrem em tal perfil. Ou
seja, trata-se de uma imagem do jogador «tipo» que funciona como uma
Apresentação e Discussão dos Resultados
32
ferramenta mais no sentido de melhor aproveitar o “quem somos” e “como
somos”, mas não se constitui como factor de integração ou exclusão de
qualquer uma das Selecções. Até que porque podemos constatar, este perfil
pode, como tem acontecido, ir-se alterando de geração para geração.
O nosso entrevistado refere que situações pontuais, como a
convocação de jogadores com perfil distinto dos demais, podem acontecer
quando as qualidades dos jogadores existentes na geração respectiva não
contemplam as posições e princípios pretendidos, pois a “regra” é de
seleccionar jogadores que estejam de acordo com o perfil segundo o qual
Modelo de Jogo foi definido e, como tal, melhor servirá esse mesmo modelo.
O Modelo de Jogo que contemplou na sua definição as características
do jogador português, exige agora que esse Modelo de Jogador o sirva, pelo
que o entrevistado refere que “não se vai buscar coisas [entenda-se jogadores]
que não tenham a ver com aquilo que a gente anda à procura”, e que a escolha
dos melhores não é feita em abstracto mas sim “com base num determinado
perfil”. No mesmo sentido encontramos Pinto e Garganta (1996) salientando
que o Modelo de Jogo permite definir os critérios de detecção e Selecção dos
jogadores.
Não querendo ser reducionistas na abordagem do problema, pode-se
afirmar pelo anteriormente exposto que o Modelo de Jogo que serve de
orientação aos treinadores nacionais, teve como fundamento as características
específicas e história do jogador português.
Numa entrevista recente Queiroz (2008b) refere que a decisão sobre a
convocatória de um jogador tem a ver com: o mérito, a atitude, momento de
forma, qualidade técnica, necessidade de realizar uma avaliação mais próxima
do jogador. Contudo, parece que para o nosso entrevistado, o jogador
convocado tem de cumprir mais premissas pois, como refere: “essa chamada
de jogadores é sempre feita em função da ideia de jogo, nunca há ver por ver…
Não, não, não! O nosso lateral direito é um lateral direito que tem um
determinado tipo de características, logicamente!”. Assim, um jogador pode
estar em bom momento de forma, mas se não encaixar na concepção de jogo
definida, não parece ter lógica ser convocado.
Apresentação e Discussão dos Resultados
33
Em suma, a elaboração do Modelo de Jogo teve como objectivo definir
uma concepção de jogo que potenciasse as capacidades (ou perfil) do jogador
português, num dado momento. Cria-se portanto uma ideia de jogo para
determinado perfil. A partir desse momento, procuram-se jogadores que sirvam
essa mesma ideia de jogo.
Segundo o nosso entender, vão surgindo, entre os talentos
portugueses, variações a esse primeiro perfil de jogador, no que toca, por
exemplo, ao nível da estatura, já que o nosso entrevistado definiu o jogador
português como um jogador “baixinho” e podemos observar bastantes
jogadores, quer na formação quer na equipa principal, que não cumprem essa
premissa de serem «baixinhos». Nesta questão o entrevistado refere que “É
capaz de não ser o nosso ponta-de-lança, mas há momentos no jogo e há
jogos que exigem um ponta-de-lança daquele tipo”. O mesmo explica que
mesmo que se “Pretendes jogar com dois pontas de lança, mas no entanto, às
tantas, tu começas a ver algum desequilíbrio no meio campo”, alertando que a
inclusão de jogadores de perfil diferente não é recusada, porém necessita de
cuidados pois pode causar desequilíbrios.
Quando o entrevistado descreveu o perfil de jogador português,
considerou, possivelmente, uma geração de jogadores particular. Não quer
com isso dizer que outras características não sirvam também o mesmo estilo
de jogo
Pensamos que no perfil de jogador deva entrar todo aquele jogador
que contribua para o mesmo entendimento de jogo, e não eliminar um jogador
apenas por um factor, como a sua dimensão física.
Nesse sentido, entendemos que cabe aos responsáveis analisar se
perfis aparentemente distintos podem servir igualmente ser incluídos no
Modelo de Jogo proposto. Um seleccionador, no nosso entendimento, não
deve à partida excluir as excepções e perceber até que ponto elas podem
servir, ou até mesmo enriquecer, o Modelo de Jogo delineado.
Apresentação e Discussão dos Resultados
34
5.2.3. A escolha dos Jogadores
Se entendermos que a Selecção Nacional é o espaço onde estão os
melhores - os talentos, tal como o nosso entrevistado afirma que “a realidade
das Selecções é particular, decorre da escolha dos melhores com base num
determinado perfil”, contudo, como o mesmo refere um talento por si só não
chega para servir os intuitos de uma Selecção nacional, quando nos diz que
“Um talento (…) tem um préstimo ao serviço do colectivo bastante forte”. Tal
como Michels (1997), quando este refere que um bom jogador é aquele que
coloca as suas qualidades em função do colectivo, e não aquele que tenta
adornar as jogadas com malabarismos abstractos.
O entrevistado parece entender portanto, que a técnica deverá ser
colocada ao serviço do colectivo e não manifestar-se em acções abstractas,
isto é, sem um sentido colectivo pois como o mesmo refere a qualidade técnica
é importante “porque se o jogador é bom tecnicamente, pode dar mais
soluções em termos Tácticos”. Campos, (2008) concorda, considerando a
qualidade técnica uma das premissas essenciais para a definição do Modelo de
Jogo dos jogadores, e que esta determinará a riqueza do mesmo.
Campos (2008) apresenta ainda outra premissa a ter em atenção, é que
o jogador tem capacidade enorme de adaptação, sendo de aproveitar essa
capacidade para moldar o jogador em função da organização colectiva
desejada.
A ideia de equipa é o mais forte também no contexto de Selecção, pelo
que o entrevistado explica que “O modelo de jogo adoptado deverá ser definido
no plano colectivo. Desenvolver a noção que o importante é a equipa”.
Pelo exposto podemos concluir que um jogador com nível técnico
acima da média, se não for um jogador que saiba colocar essas capacidades
em função do objectivo da equipa não é considerado talento pelo nosso
entrevistado, e por isso não faz sentido ser convocado. Jogadores que nas
suas equipas parecem estar a funcionar segundo a lógica da equipa, no
contexto da Selecção, são incapazes de reproduzirem as mesmas prestações
porque possivelmente não a sentem (Selecção) como tal (equipa) mas sim
Apresentação e Discussão dos Resultados
35
como uma agregação de jogadores reunidos para representar o país em
determinado jogo. Logo, determinado jogador, segundo esta perspectiva,
poderá ser considerado como uma mais valia não pela sua qualidade técnica
(em abstracto) ou pela sua preponderância na sua equipa mas sim em função
do papel que poderá desempenhar no acrescentar de qualidade à organização
de jogo da Selecção.
Porque, parece diferente o reunir dos melhores jogadores para
determinada posição de campo e o reunir aqueles que, uma vez juntos,
poderão produzir ou interpretar o Modelo de Jogo delineado (a melhor equipa!).
O responsável pela Selecção dos jogadores a representar a equipa
Nacional é sempre o treinador (Serpa, 1990). Se atendermos que contratando
um treinador contratamos também as suas ideias (Bento, 2001), os jogadores a
seleccionar poderiam ter perfil distinto. Quanto a isto, Valdano (1997) diz que
“conhecer, respeitar a sensibilidade do país ou cidade onde trabalha é sinal de
inteligência de um treinador”.
Assim, devem ser escolhidos os melhores e que consigam colocar as
suas capacidades em função da equipa, mas não de uma equipa em abstracto,
mas sim da Selecção nacional e do entendimento de jogo que esta comporta.
5.2.4. O estilo português
Frade (2000) considera que um jogador com a qualidade técnica de
Ortega talvez jogasse de caras numa Selecção como o Brasil, porém se fosse
holandês, poderia não ser internacional se jogasse do mesmo modo. O autor
parece evidenciar que cada uma das Selecções referidas tem necessidades
diferentes (perfis de jogador), porque o seu Modelo de Jogo também o é.
Para o entrevistado, o perfil de jogador que ele definiu seria melhor
potenciado pelo estilo de jogo específico. Assim, para o mesmo, a realidade do
futebol português passa, ou passou, por “termos rapazinhos nas alas rápidos e
com sentido de profundidade ofensiva bastante forte, até porque normalmente
tínhamos qualidade. Duas alas também muito velozes, rápidas e numa primeira
fase, quase que tentamos andar a regressar a ela, em que tínhamos 3 homens
Apresentação e Discussão dos Resultados
36
na frente rápidos com teor técnico-individual bastante forte e começar a derivar
nos sentidos das alas e tudo aquilo fosse em turbilhão, ou seja, houvesse
possibilidades de confundir muitas vezes o adversário porque o
posicionamento não era muito claro”. A imagem dada pelo nosso entrevistado
parece encontrar aproximações a um estilo de jogo de ataque rápido, como foi
constatado por Ribeiro (1999).
Com a definição do Modelo de Jogo é definido um padrão de
comportamentos desejados onde vários «sistemas» (estruturas) podem ser
utilizados, quer pela disponibilidade de jogadores com determinado perfil, quer
pelas imposições que o adversário durante o jogo impõe: “tu estás a adaptar-te
à equipa contrária e estás-te a servir da não posse para destruir alguns dos
teus conceitos, alguns daquilo que é a tua estrutura, para beneficiar dos
princípios globais que tens na equipa”.
De notar que apesar dessa adaptação (parcial) “os princípios gerais
são sempre de manter. Tu podes definir princípios de ordem específica que
se podem eventualmente ter que alterar em função de, mas aqueles que são
globais, aqueles que são gerais, servem para qualquer situação”. O
entrevistado completa que “Tu não diferencias num 3x4x3 ou num 4x3x3 ou
num 4x4x2 aqueles (princípios) que modelaste como operacionalidade global
da equipa. Aquilo que ela tem que fazer em todas as situações”. Dentro de um
Modelo de jogo, não o padrão de comportamento desejado para os nossos
jogadores, podem-se ter diferentes estruturas. A alteração de estrutura leva a
que as sub-dinâmicas sejam distintas, isto é, por estarem dispostos de forma
distinta, obedecendo aos mesmos princípios, os jogadores terão acções
distintas.
Quanto à definição de diferentes princípios de jogo, Agostinho Oliveira
refere que “o nosso interesse [da FPF] e sentido ter-se-á que fazer dentro
deste Modelo”. O mesmo considera que se um treinador pensar em
implementar outros princípios distintos “devia ser um momento de alguém que
era um bocadinho estereotipado e que fugia a questões que estão de alguma
maneira radicalizada no nosso futebol”.
Apresentação e Discussão dos Resultados
37
Pelo exposto, o entrevistado salienta que os princípios do Modelo de
Jogo foram definidos com base nas características dos jogadores portugueses,
pelo que é esse padrão de comportamentos que melhor proveito retira das
características dos jogadores.
Por existir um Modelo de Jogo delineado não parece sensato alterar
todo um conceito ou uma ideia de jogo coordenadora de todo o trabalho
efectuado. Quando existe a indisponibilidade momentânea de determinado
“tipo” de jogador, em determinada geração, o nosso entrevistado considera a
possibilidade de adoptar novos princípios de jogo em função das carências
encontradas, pois “Não há barreiras, há situação que pontualmente pode
acontecer”. Considera-se, portanto, a possibilidade de uma geração «fugir» ao
Modelo de Jogo, porém tratar-se-á da excepção à regra, visto essa geração,
por alguma razão apresentar um perfil de jogador diferente daquele que o
entrevistado considera normalmente se verificar nas equipas nacionais.
Segundo o entrevistado o padrão de comportamento definido no
Modelo de Jogo faz sentido, “Porque beneficiamos, em função das qualidades
dos jogadores até descobrirmos ou redescobrimos outra qualidade
completamente diferente”. O entrevistado parece voltar a salientar que todo o
Modelo de Jogo foi construído com base nas características dos jogadores
portugueses, e que em parte eles continuam a apresentar as mesmas
qualidades, que apesar de pensarmos terem existido algumas alterações, são
potenciadas por estas mesmas ideias de jogo.
5.3. A continuidade de jogadores, treinadores e do estilo Nacional
Recentemente o seleccionador Nacional, Carlos Queiroz (2008d) diz
que não pretende fazer muitas alterações nos jogadores eleitos para jogar, pois
existe a necessidade de aproveitar o que vem sido feito nos estágios. Estamos
de acordo, pois é coerente aproveitar as interacções desenvolvidas nos treinos
para obter melhor rendimento nos jogos.
Quanto à estabilidade dos jogadores convocados o nosso entrevistado
refere que “existe um núcleo, uma área nuclear, um núcleo forte” de jogadores
Apresentação e Discussão dos Resultados
38
que fazem parte das convocatórias. Esse núcleo, segundo o entrevistado
assume-se como 60% dos jogadores e explica que esses jogadores são
referenciados pois “são jogadores com um perfil identificado de jogadores de
Selecção Nacional”, e só em “áreas de fragilidade” é que se recorre a
adaptações. Deste modo, parece-nos que durante a formação diferentes
jogadores podem ser convocados para serem alvo de observação, contudo, é
objectivo das Selecções identificar os jogadores que possuem o perfil
pretendido e mantê-los ao longo das convocatórias. Os jogadores são
identificados com o perfil desejado, pelo que servem o Modelo de Jogo e assim
pretende-se uma continuidade desses mesmos jogadores.
Quanto à estabilidade observada nos treinadores nacionais dos
escalões de formação, o entrevistado explica que acontece no sentido de
existir um acompanhamento de uma geração ao longo dos anos com o mesmo
treinador pois “trabalhando pouco, eu entendo que aproveitar tudo aquilo que já
se fez, porque caso contrário era uma nova adaptação, levaria o seu tempo”. O
entrevistado explica-nos que o seleccionador Nacional acompanha a mesma
equipa “porque o jogador já está mais ou menos adaptado ao treinador, já o
conhece”, facilitando deste modo a transmissão de ideias de jogo que o
treinador possui. Contudo não existe uma separação entre os escalões, pelo
que o entrevistado refere procurar que estejam “todos num estágio com um
escalão, sempre”.
Quando questionamos se existe a implementação de um Modelo de
Treinador, este refere que quanto à escolha dos treinadores nacionais
“Infelizmente muito do que são as contratações para técnicos da Selecção não
dependem, e como deveria ter acontecido, de quem coordena”, e o que
acontece é que “Eles são feitos em função daquilo que são as disponibilidades
momentâneas e depois é normalmente a direcção que se compromete com
esse tipo de contratações. É claro que aqui já há um desígnio negativo, como é
evidente.”
Partilhamos da opinião do entrevistado quanto ao facto de não ser
escolhido o seleccionador Nacional tendo em vista as ideias orientadoras de
todo o processo, o Modelo de Jogo.
Apresentação e Discussão dos Resultados
39
Concluímos que há definido um Modelo de Jogo, e que fugas a essa
linha orientadora, normalmente, não são justificadas, logo o perfil de jogador
eleito é sempre semelhante. Deve-se estabelecer os critérios dos treinadores
de diferentes escalões, evitando discrepâncias na Selecção e formação de um
jogador para a sua equipa sénior (Leal e Quinta, 2001).
5.4. È necessária Sincronia da Federação com os clubes e Associações.
5.4.1. Os Clubes
Neste ponto o entrevistado salienta que os clubes são muito
importantes, porque segundo o mesmo “estamos a falar da realidade que «dá»
o jogador [para a Selecção] ”, evidenciando que a realidade da Selecção
“decorre do aproveitamento das outras realidades [clubes e associações] ”.
A construção de um Modelo de Jogo não pode ser entendida de forma
redutora, pois as decisões não se resumem a um único factor, assim, o
entrevistado afirma que na definição do Modelo de Jogo não se pode estar
alheio às realidades de onde os jogadores resultam, isto é, ”os modelos a
seguir presumem de onde provém os jogadores. Não é muito coerente definir
princípios de jogo gerais que não sejam coerente aos da maioria das equipas
onde eles [jogadores] jogam”. Quanto a esses princípios, o entrevistado
elucida-nos que “quase todas as equipas nossas [clubes] passaram a jogar
mais próximas, ou se não com deambulações que não era muito longe destes
modelos”, isto é, do modelo definido pela Federação.
Pensamos que se não se observasse aproximação entre a maneira de
jogar dos clubes e Selecções, seria pertinente existirem alterações no Modelo
de Jogo, pois como o próprio entrevistado referiu, o Modelo de Jogo tem em
atenção a história, mas também são consideradas “as tendências do futebol
júnior nacional”. O modelo não se assume como algo fechado, e alheio ao
mundo que o rodeia.
Apresentação e Discussão dos Resultados
40
As declarações do nosso entrevistado salientam que também os
princípios de jogo das equipas que fornecem os jogadores são considerados no
momento de elaboração do Modelo de Jogo.
Consideramos que uma coisa é o Modelo de Jogo da Selecção ter em
atenção os princípios das equipas de onde derivam os jogadores, outra medida
mais radical é fazer o que sugere Teodorescu (1984) ao considerar que quando
o seleccionador Nacional não tem tempo de reunir os jogadores e com eles
desenvolver uma organização colectiva, se deve recrutar o maior número de
jogadores do mesmo clube. O nosso entrevistado parece não discordar pois “a
realidade do nosso trabalho (na Selecção) não tinha consistência se nós não
aproveitássemos o que era feito de bem nos clubes”, explicando que para
aproveitar o que se faz de bom no clube pode passar por “arrastar um bloco
directo desse clube implicaria necessariamente menor dificuldade em relação a
via organizacional que devíamos ter, ou que não tínhamos tempo para poder
fazer.”
Alves (2006), entrevistando treinadores nacionais, não obteve uma
resposta unânime sobre o aproveitamento de uma espinha dorsal de um clube
como meio facilitador da modelação dos jogadores.
A sugestão anteriormente apresentada, quer por Teodorescu (1984),
quer pelo entrevistado parece ter como objectivo principal o resultado imediato,
e não a formação dos jogadores. Já Alves (2006) apresenta resultados em que
incluiu a opinião dos treinadores da formação, e que foi distinta.
Consideramos que na formação esta questão deva ser ponderada de
forma particular, não envergando por este facilitismo. Se falamos da equipa
sénior, não nos opomos a que essa estratégia aconteça, todavia na formação o
objectivo é formar os jogadores e o facto de os jogadores pertencerem a clubes
diferentes isso não os deve excluir. Devem ser eleitos os melhores deve-se
evitar recorrer a este facilitismo, em prol de permitir aos jogadores uma
evolução, ou melhor uma hetero evolução, pois acontecerá em co-existência
com os restantes jogadores e em função das ideias de jogo desejadas.
Os clubes são a realidade onde o jogador está mais tempo inserido,
logo é aquela que mais o «moldará». A referida semelhança entre os princípios
Apresentação e Discussão dos Resultados
41
de jogo dos clubes e da Selecção vem contribuir para o sucesso da Selecção,
pelo que existirá um melhor fluxo dos jogadores entre as diferentes realidades,
não tendo de «obrigar» os jogadores a vivenciar situações distintas. A ligação
entre clube e Selecção assume-se assim nos dois sentidos, sendo que o
entrevistado considera que “os jogadores que trabalhavam connosco nas
Selecções eram capazes de levar alguma correspondência” para os clubes.
Segundo o entrevistado “o sucesso depende da cumplicidade que
orienta as esferas de intervenção sobre as acções dos jogadores” pelo que a
Federação Portuguesa de Futebol procura ter intervenção sobre a realidade
dos clubes, pois existe a intenção de «moldar» os jogadores quando estes
estão na Selecção, mas urge também uma intervenção directa ou indirecta
sobre a realidade onde eles passam mais tempo, os clubes.
Enquanto coordenador da formação, o nosso entrevistado propôs
“quadros competitivos novos para o futebol jovem”. Pela falta de dinheiro
sempre apresentada como “óbice”, Agostinho Oliveira considera que se deva
”mexer naquilo que já está constituído dando maior carga, maiores níveis
competitivos”. Reformulam-se as competições no sentido de aumentar a
competitividade do futebol jovem, mesmo que para isso seja necessário retirar
as equipas do interior, pois, segundo o entrevistado, uma equipa do interior
aparece apenas na segunda divisão, e “se estamos a falar de competitividade,
temos cada vez mais de alicerçar onde está a competitividade reforça-la e dar
lhe cunho”, pois “é ali [a 50km da costa] que tens o jogador de alta
competição”.
Esta intenção de melhorar o quadro competitivo dos clubes parece-nos
pertinente, contudo ainda só foi alterada a competição do escalão júnior. Esta
medida contribui para uma melhor formação do jovem jogador que vivencia
situações de competição mais elevadas.
Apresentada uma solução para melhorar o cenário competitivo dos
jogadores é salientado um novo problema que está a condicionar a eficiência
desta medida. Como vimos, espera-se que os jogadores que vão à Selecção
na realidade dos clubes vão desenvolvendo os comportamentos desejados,
quer treinando, quer jogando de determinada forma com a qual estão
Apresentação e Discussão dos Resultados
42
identificados, contudo, uma nova realidade é a inclusão de muitos jovens
jogadores “estrangeiros aos trabalhos das equipas também jovens”. O
entrevistado informa que tem “uma estatística que nos leva a considerar que
temos trinta por cento, já, de jogadores estrangeiros” a actuar nas equipas
jovens portuguesas. Este facto torna-se preocupante pois retiram a
possibilidade dos jogadores nacionais jogarem. É uma decisão dos clubes
sobre a qual, o entrevistado diz a Federação “não pode legitimamente actuar
naquilo que é o conceito estrito e jurídico e se quiseres particular da estrutura
do clube”.
Quanto ao problema apresentado, já em 1988 Garganta, em ironia
sugeria que a formação em Portugal assumisse como objectivo habituar os
jogadores à condição de suplentes. O nosso entrevistado acrescenta que “o
Porto (Futebol Clube do Porto, equipa principal), neste momento, tem três
jogadores portugueses na equipa principal, há cinco ou seis anos atrás tinha
oito e jogava só com 3 estrangeiros”, demonstrando como as realidades se tem
vindo a alterar, de forma negativa para o jogador nacional em prol da
introdução de estrangeiros no nosso futebol.
Em nosso entendimento, tal situação apresenta-se como factor
negativo, pois a competição é um factor muito importante na formação do
jovem, (Marques 2003). Pensamos que o facto de ser titular leva a que um
jogador se relacione de forma mais positiva com a identidade da sua equipa,
entre outras razões, pela motivação que sente. Os jogadores de nível acima da
média encontram estímulos motivantes, quase apenas, nos jogos difíceis, jogos
que normalmente são vivenciados quando representam a Selecção,
aumentando o nível competitivo dos clubes, leva a que também no clube estes
jogadores estejam sobre estímulos que os façam evoluir.
Uma intenção de aumentar o nível competitivo, contribui em muito para
a evolução do jogador, porém não irá ter influência sobre quais os
comportamentos vivenciados pelos jogadores no clube. Essa decisão continua
a ser da exclusiva dos treinadores do clube.
Consideramos que a aquisição de comportamentos é, de uma forma
geral, melhor atingida na realidade dos clubes, contudo é utópico que a
Apresentação e Discussão dos Resultados
43
Federação Portuguesa de Futebol, para conseguir a “cumplicidade entre as
esferas de intervenção”, pense em intervir nos clubes, de forma a alterar os
princípios que estes praticam. A ligação pode, então acontecer no outro
sentido. O nosso entrevistado parece salientar que, no intuito de tornar
próximas as diferentes “esferas de intervenção”, na definição da ideia de jogo
que melhor serve os jogadores portugueses, também devem ser considerados
os princípios de jogo dos clubes de onde derivam os jogadores. Deste modo a
Selecção faria um melhor proveito do trabalho que é realizado na realidade
clube, aproveitando alguns dos seus princípios mais gerais.
5.4.2. Com as Associações
Não só do clube se serve a Selecção para preparação dos jogadores.
Antes de participar dos trabalhos da Selecção o jogador, por norma é chamado
a representar uma das Selecções da Associação de Futebol a que a sua
equipa pertence pelo que o entrevistado informa “o primeiro trabalho é das
Associações”. Assim sendo, achamos que se existe mais um espaço onde se
trabalha com o jogador, esse trabalho deve contribuir também para o objectivo
da Federação, isto é, contribuir para se obter uma equipa.
O entrevistado explica “as Selecções Regionais de sub-15 vão a Lisboa
fazer o campeonato inter-Associações. Nesse campeonato inter-Associações
tu vais escolher 44 jogadores, 4 por cada posição, dessas todas Selecções que
estiveram a trabalhar em Lisboa. A jogar umas contra as outras para haver um
campeão, mas para nós, interessa-nos é o jogador. A análise do jogador… Vai-
te acontecer que tu vais ter 44 jogadores de onde fazes a primeira Selecção
Nacional, a Selecção Nacional sub-15” Os jogadores aos 15 anos começam a
ser convocados para a Selecção Nacional, contudo é possível, dos 13 aos 15
anos o jogador já vivenciar as nuances desejadas. Se não for nos seus clubes,
nas suas participações na Selecção de Associação.
Esta situação assemelha-se ao realizado por Menotti (1978) no
comando da Selecção Argentina, cirando 4 Selecções Regionais, onde podia
Apresentação e Discussão dos Resultados
44
observar um maior número de jogadores para posteriormente criar a Selecção
Nacional Argentina.
As associações apresentam-se como espaço de prospecção onde são
identificados pela primeira vez os talentos portugueses que posteriormente
serão incluídos nos trabalhos da Selecção.
O nosso entrevistado, na condição de coordenador da formação
informa que pretendia-se com a “apresentação do documento orientador
estarmos a começar a perspectivar que o trabalho teria de ser uno e unívoco,
ou seja com um sentido só para que pudéssemos estar a trabalhar no sentido
sempre de que trabalha a Selecção Nacional”.
Concluindo, o entrevistado salienta que o jogador “antes de chegar à
Associação, antes de chagar à Federação, está no clube”, existindo por isso a
“necessidade da articulação simbiótica entre clubes, Associação, Federação. O
sucesso depende da cumplicidade que orienta as esferas de intervenção sobre
as acções dos jogadores”, isto é, quanto mais coerente for esse trabalho,
obedecendo ao mesmo «farol orientador», obedecendo ao Modelo de Jogo que
se pretende criar. Pretende-se com esta unificação das intervenções sobre o
jogador que este se venha a apresentar já nas Selecções das Associações
identificado com o Modelo de Jogo da Federação.
Agostinho Oliveira deseja «controlar» todas a intervenção sobre o
jogador pois “rejeitamos a ideia de perdermos a nossa identidade”.
O referido pelo entrevistado vai de encontro com o que nós tínhamos
concluído, isto é, todo o processo (de treino e formação) deve ser ter um
Modelo de Jogo como orientação (Leal & Quinta, 2001; Carvalhal, 2001).
5.5. Modelo de Treino
Segundo Gianni (1984), o tempo disponível é um factor que determinará
os meios e métodos de treino a utilizar. Deste modo reflectimos sobre qual a
metodologia a utilizar num contexto de Selecção.
O treino deve fazer-se em especificidade, e isto é, contemplar no treino
as exigências próprias da modalidade no momento de competição. O nosso
Apresentação e Discussão dos Resultados
45
entrevistado parece concordar quando refere que “eu pretendo no treino aquilo
que pretendo no jogo, e do jogo faço diagnósticos para o treino”. Quanto à
noção de especificidade o nosso entrevistado refere que “É muito mais fácil
estares a fazer um aquecimento em regime táctico porque de algum modo já
estas a organizar para aquilo que pretendes como sais, como desdobra. O
sentido da especificidade estava já lá colocado”.
O treino integrado defende a especificidade objectivando desenvolver as
exigências físicas específicas do Futebol, mas assemelhando a sua condição
de exercitação o máximo ao jogo (presença da bola, etc.) (Ferreira & Queiroz,
1982). No nosso entender, as exigências que o treino deve contemplar, devem
ser aquelas que o nosso estilo de jogo exige, sendo a organização colectiva
específica da nossa equipa a referência do processo de treino (Frade 2003).
Assim, para nós, a especificidade no treino será contemplar não as
exigências da modalidade em geral, mas sim as exigências que organização
colectiva por nós desejada comporta. Se uma equipa procura jogar em ataque
rápido, para os jogadores o realizarem necessitam de exigências distintas de
uma equipa que joga tendencialmente em ataque organizado. Essas
exigências são distintas quer ao nível técnico, físico, psicológico, etc.
Para Monge da Silva (1989), o contexto da Selecção, por conter
jogadores de diferentes contextos (clubes) necessita de certos cuidados. Para
o autor, como os jogadores são provenientes de diferentes contextos
apresentam diferentes momentos de «forma física», necessitando de treino
individualizado. O nosso entendimento é contrário, pois a prestação dos
jogadores não ocorre de forma individualizada, devendo ser considerada a
«forma» da equipa, isto é, o nível de organização colectivo atingido e não de
um jogador. O nível de organização colectiva será tanto melhor quanto mais os
jogadores actuarem em conjunto, tendo princípios de acção comuns.
No «Projecto Modelar», para explicar aos jogadores os comportamentos
a ter nos diferentes momentos de jogo (organização ofensiva ou defensiva e
transições), o entrevistado explica que “Cada momento destes tem exercícios,
ou então por imagens que fomos buscar”. Estão previstos exercícios padrão
para desenvolver determinados momentos de jogo, sendo os comportamentos
Apresentação e Discussão dos Resultados
46
desejados para cada um desses momentos o objecto de treino, pois atentamos
ao que refere “Foi aí que começamos a dar essa consistência, começamos a
rotinar, se quiseres, a sistematizar determinadas atitudes em rotina no jogo e
no treino para que pudessem mais ou menos, pronto. Esse tipo de trabalho
com a coerência que era sobreposto, rotinas consistentes e coerente e
contínuas, começamos a trabalhar o nosso modelo”. Parece evidente a que o
objecto de treino consiste no Modelo de Jogo específico quando o entrevistado
refere “o nosso modelo” e não um qualquer, sendo esse periodizado de forma a
ser sistematizado e assimilado pelos jogadores.
Quando anteriormente, questionamos o entrevistado sobre a
possibilidade de um jogador mudar de escalão, este refere que “Como os
treinos são, mais ou menos, uniformizados, como o trabalho é, mais ou menos
uniformizado, não vejo grandes males”. No sentido de tal se verificar na prática
o entrevistado diz que a sua “intervenção era muito mais na área do treino, e
porquê? Na área do treino no sentido de estimular todos aqueles colegas que
eventualmente não estivessem no domínio, de um acerto mais moderno e
actualizado para o poder fazer no sentido da correcção na intervenção de
treino”.
Podemos concluir que o treino sofre orientações marcantes do Modelo
de Jogo. Penso que Garganta (2004: 228) traduz o entendimento de «treinar»
com o qual concordamos: “treinar implica transformar comportamentos, e
sobretudo atitudes, optando por um modelo entre outros possíveis”, assim o
treino que o jogador vivencia nos diferentes escalões assim como nas
diferentes realidades por que passa (Selecção, associação e clube) deverá
potenciar adaptações específicas do estilo de jogo desejado, o estilo de jogo
português. A metodologia contida pelo Modelo de Treino deverá ter como
objecto do treino o essencial, isto é, a organização colectiva desejada e não
perder tempo, já que este escasseia na Selecção, em coisas acessórias e
descontextualizadas (Oliveira, Amieiro, Resende, & Barreto, 2006)
5.6. A necessidade da Formação, pois não se pode comprar
Apresentação e Discussão dos Resultados
47
Queiroz (2008b) na condição de seleccionador Nacional distingue o
contexto da Selecção ao do clube referindo que “enquanto num clube chego à
beira do presidente e peço X milhões para comprar jogadores, na Selecção
isso não é possível. Temos de formar”.
Queiroz (2008b) evidencia ainda que “é necessário dotar os jovens
jogadores de uma cultura comum”, pois tem em vista a integração na equipa
principal a médio prazo.
O nosso entrevistado concorda referindo que para a formação, no
contexto da Selecção, “A melhor solução e a mais justa é sempre, de facto,
formar jogadores tendo em vista a Selecção Nacional “A”. É este o grande
objectivo”. Até porque, segundo o nosso entrevistado o sentido da formação é
de projectar o mais cedo possível um jogador num escalão superior,
fornecendo “cenários diferenciados com mais competitividade”, e para isso “nós
temos na Selecção sub-19 vários jogadores que são sub-18, na sub-17 sub-
16”.
Se atendermos ao que foi anteriormente referido, entendemos que o
maior responsável pela formação do jogador é o clube, daí que o objectivo
próximo da federação é chegar a essa realidade, estando mais próximos dos
«seus» jogadores (Queiroz, 2008c).
A nível de formação, o nosso entrevistado lamenta as condições
precárias existentes no nosso país, pois “quando vamos falar quem é que tem
instalações aqui para trabalhar convenientemente a formação? Porto, Benfica,
Sporting e o Guimarães, não tens mais ninguém! Enquanto qualquer equipa de
primeiro nível na Inglaterra ou na Alemanha, obrigatoriamente tem que ter uma
academia”. Esta diferença em relação aos países com quem vamos competir
leva o entrevistado a confessar que o “nivelamento das Selecções estrangeiras
esconde a nossa porque de facto começam a trabalhar bem. Tem academias e
academias e academias”. Existindo clubes com melhores condições, estão
mais próximos de poder formar melhor jogadores dos quais as Selecções terão
proveito.
Fica salientado que, aceitando o facto de que quem forma o jogador é o
clube, os clubes portugueses apresentam um desnível considerável quanto às
Apresentação e Discussão dos Resultados
48
condições que possuem comparativamente a países como a Alemanha, França
ou Inglaterra, os quais tentamos, mesmo assim, sempre superar nas
competições que participamos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Colocamos o problema, aprofundamos conhecimentos com a revisão e
definimos os objectivos. Após apresentar e discutir os dados procuramos tecer
considerações finais sobre a temática.
Começando por tentar identificar a existência de uma Identidade
Nacional que se reflectisse no estilo de jogo e de jogador português. Apesar do
entrevistado ter definido, na década de 80, um estilo de jogo e de jogador
português, estas características não permitem distinguir o estilo e o jogador
português dos demais, pelo que jogadores de diferentes nacionalidades podem
incluir esta mesma Selecção, ou ainda porque as nossas Selecções contém
jogadores de diferente perfil ao definido.
Pensamos também ser pertinente caracterizar a singularidade do
contexto «Selecção», descobrindo o que o torna particular e distinto da
realidade dos clubes, para depois ponderar se tais diferenças exigem
diferentes decisões por parte dos seleccionadores. Quer pelo investigado, quer
pelo que o nosso entrevistado respondeu, concluímos que o trabalho de
Selecção apresenta diferenças marcantes relativamente ao trabalho de clube.
Descrevemos o contexto Selecção por ser uma realidade que tem a
possibilidade de escolher os melhores jogadores portugueses. Esta realidade
contempla diferentes períodos de reunião, sendo a maioria deles de curta
duração (2 dias, 3 sessões de treino). Estas diferenças tornam óbvio que as
preocupações do seleccionador terão de ser distintas.
Quanto à potenciação das características dos jogadores, entendemos
que as características dos nossos jogadores são sempre consideradas, no
momento da definição das ideias de jogo que se pretende implementar.
Podemos ainda considerar que é intenção da Federação Portuguesa
de Futebol vir a aproximar as intervenções de que o jogador é alvo nas
diferentes realidades, levando a que os princípios de jogo dos clubes sejam
também considerados na definição de um referencial de actuação.
Na realidade Selecção. essa uniformização de estímulos contempla
também a uniformização dos exercícios de treino, desejando-se uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS
50
concepção de treino, que já é parcialmente aplicada e aferida pelo coordenador
da formação, o nosso entrevistado.
As decisões dos seleccionadores, ao escolherem jogadores, deverão
ser em função da ideia de jogo proposta pela Federação Portuguesa de
Futebol, que é comum a todos os escalões incluindo a equipa A.
Os escalões da Formação têm em vista a inclusão dos jogadores na
equipa A, partilhando de uma cultura de jogo comum. O «Projecto Modelar»
aparecerá no sentido de aproximar os diferentes escalões, contudo ainda não
se pode considerar que todo o trabalho das Selecções lhe obedeça. O referido
projecto, pretende-se que venha a constituir o referencial de actuação incluindo
as directrizes orientadoras para a definição do Modelo de Jogo da Federação,
o Modelo de Jogador pretendido, o Modelo de Treinador que o aplica e até o
Modelo de treino que o operacionaliza.
Referências Bibliográficas
51
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Monografia apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação
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Cabrita, F. (1987) Jogador Português e as suas Caracteristicas. Futebol em
Revista, Agosto, nº24
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Anexos
I
8. Anexos
ENTREVISTA AO COORDENADOR DA FORMAÇÃO DAS SELECÇÕES NACIONAIS
- AGOSTINHO OLIVEIRA -
6 DE NOVEMBRO DE 2008
H: Consegue descrever o futebol português de uma forma geral e
sucinta? Se as nossas equipas apresentam alguma característica
especifica
As “nossas”, selecção?
H: Sim
Ora bem, eu acho que é preciso fazer um bocadinho de história, fazer
um aproveitamento dessas história e logicamente fazer uma localização
daquilo que é o sentido possível daquilo que é o modelo. Eu neste momento
até tenho um trabalho sobre a área de modelação da federação em que aplico
um modelo bastante forte. Já um bocado da verbalidade actual e baseado nas
transições nos princípios, etc.
Ora bem, há uma realidade que de alguma maneira eu tive a
oportunidade e a felicidade de pertencer que foi a discussão da melhor maneira
de fazermos o aproveitamento do jogador nacional. Ou seja, o jogador nacional
tinha determinadas características, éramos capazes de não estar confinados
aos anglo-saxónicos nem uma maturação de ordem táctica tão forte quanto,
por exemplo, os italianos ou até aquelas reminiscências que os espanhóis vem
colidindo porque os espanhóis jogam num 4x4x2 porque desde o berço
qualquer equipa espanhola, a não ser em determinadas alturas o Barcelona,
porque a riqueza técnico individual dos jogadores dá para criar outro tipo de
modelo mais assente na criatividade, no aproveitamento dessa mesma
criatividade, no 1x1, nos desequilíbrios, etc. Todo o resto e quando a gente fala
no catenacio italiano e tudo aquilo que eles aproveitaram de uma sólida defesa
Anexos
II
e depois o partir num âmbito de misto entre a qualidade técnica e o lançamento
mais tenso e mais comprido… nós estávamos rigorosamente, ora isto… estou
a regressar há vinte anos e qualquer coisa atrás quando o Carlos, mais ou
menos, ficou à frente dos destinos das selecções e eu tive a oportunidade de
ser convidado, já em oitenta e nove, para fazer a análise aqui do Norte e
depois posteriormente ser convidado para participar e para trabalhar com a
Federação Portuguesa de Futebol. Eu estava aqui no Braga, era coordenador
da Associação de Futebol de Braga e tinha conhecido o Carlos num curso de
treinadores anterior e então tive a oportunidade de fazer parte do grupo e de
fazer uma discussão profunda sobre o que é que a gente pretendia. Entrando
na funcionalidade do teor, ou seja, o que é que a gente pretendia? Era construir
uma estrutura que se adaptasse à realidade do jogador português. Essa da
realidade qual era? Podíamos falar de em termos ofensivos termos
determinada consistência ofensiva, pelo menos por dentro. Termos rapazinhos
nas alas rápidos e com sentido de profundidade ofensiva bastante forte, até
porque normalmente tínhamos qualidade. Duas alas também muito velozes,
rápidas e numa primeira fase, quase que tentamos andar a regressar a ela, em
que tínhamos 3 homens na frente rápidos com teor técnico-individual bastante
forte e começar a derivar nos sentidos das alas e tudo aquilo fosse em
turbilhão, ou seja, houvesse possibilidades de confundir muitas vezes o
adversário porque o posicionamento não era muito claro, não era muito
definido e então rodávamos, rodávamos, e aquelas coisas todas próprias para.
Muito bem, então estávamos naquela fase em que alguns dos ícones
portugueses do treino falavam da falta dos 30 metros. Que faltavam 30 metros,
que íamos bem até ali e tal. Então para que isso acontecesse nós começamos
a estabilizar um bocadinho geograficamente ou posicionalmente o jogador no
terreno. Tínhamos quatro defesas, três médios, um com teor para os
desequilíbrios mais defensivos, às vezes o triângulo invertia-se, 2:1, 1:2, com
dois médios mais fluentes quando tínhamos uma equipa que não era, se calhar
era fácil, hipoteticamente, de vencer. Alguns cuidados defensivos com os dois
médios mais um ofensivo, quando nos confrontávamos com uma equipa mais
forte. Na frente três homens, muita velocidade nas alas e um ponta-de-lança,
Anexos
III
como não era… não tínhamos o poste, um individuo alto, mas andamos
sempre à procura dele, sempre, sempre, não tínhamos então normalmente era
um indivíduo que também era rápido, se pudesse conjugar as duas vertentes
melhor, caso contrário também era um indivíduo capaz de incluir-se numa ala e
depois quando tivesse na ala fazia o trabalho que tinha a fazer na ala, o
trabalho táctico que tinha a fazer na ala e o outro passava a ponta-de-lança e
isso continuava.
Foi isto a grande base que iniciou de alguma maneira o projecto
estrutural das selecções nacionais. A partir daí, a partir dessa altura mais ou
menos começamos a trabalhar sempre baseados naquilo que tínhamos
entendido independentemente de numa ou outra situação criarem-se
alternativas dentro do próprio jogo. Ou na aproximação do segundo ponta-de-
lança que também tinha um trabalho um bocado mais defensivo, mas
ficávamos sempre assim com um ponta-de-lança mais ou menos escondido
que eu costumo dizer que não é nove nem dez, é nove e trinta e cinco. Andava
ali entre as duas áreas, os dois modelos e prontos, passávamos um bocadinho
de problemas porque os nossos alas tradicionalmente eram alas mais de
profundidade do que trabalho táctico e alas, médios-alas, tinham essa
dificuldade. Mas foi a partir daí que nós começamos a dar configuração e
consistência ao modelo…
H: …com base naqueles jogadores, daquela geração…
Não, penso que de alguma maneira era pensar nas características que
eram globalizantes. Indivíduos rápidos, baixinhos, com bom ponto
gravitacional, a cinta, a romper bem, a desequilibrarem bem, a darem
profundidade. A fazerem aquele tal trabalho de rotina, que tinha a ver com o
trabalho de recuo, os médios internos a saber que tinham de fazer diagonais
faziam, e daí saíram aquelas nossas célebres jogadas, a 1 a 2 a 3a, 3b, 3c a
4a e 4b e a 5 que tradicionalmente era a circulação de bola, pronto muito bem.
Foi aí que começamos a dar essa consistência, começamos a rotinar, se
quiseres, a sistematizar determinadas atitudes em rotina no jogo e no treino
Anexos
IV
para que pudessem mais ou menos, pronto. Esse tipo de trabalho com a
coerência que era sobreposto, rotinas consistentes e coerente e contínuas,
começamos a trabalhar o nosso modelo.
H: Continuando, quais é que considera serem as particularidades
do contexto selecção, que o distinga do clube? Quais são as diferenças,
que sente mais dificuldade ou facilidade?
São abismais. E porquê? Porque tu vais lidar com um jogador que não é
do teu trabalho diário. Não tens uma continuidade diária e isto cria um
pressuposto que será que não será mais importante, passo o reforço, e eu
tenho debatido isto muitas vezes por questões de ordem interna, e qual é o
papel das selecções, qual o papel do timoneiro, qual o papel de quem dirige,
qual o papel da hierarquia? É mais psicológico ou é mais táctico? Ou mais
físico?
Não tem sentido absolutamente nenhum estar a incorporar este trabalho
de físico ou táctico, e porquê? Porque tu podes dar umas nuances, corrigir,
mais ou menos quando tens os jogadores mais dias no teu trabalho. Porque,
normalmente, no futebol de formação, quando um jogador te chega há
segunda-feira e vai-te embora há terça-feira, segunda de tarde e vai-te embora
há terça, tu não tens mais nada do que fazer o enquadramento que é mais no
trabalho da aproximação, do convívio, de estarmos mais, não esquecermos as
caras, e fazermos um trabalho que sociologicamente é mais no entendimento
das particularidades dos pequenos grupos, das tribos existentes daquele
grande núcleo. A tentativa de veres um jogador mais uma vez porque só o viste
uma vez e ele jogava ali, e não é da selecção, mas encostou-se ao grupo e
terá ou não terá lugar na conferência de referências e de capacidades para
fazer… Mas entendo sempre que não é um trabalho com uma modelagem
física, com uma modelagem muito forte a nível táctico, embora, logicamente,
nós queiramos.
Uma realidade se passou nos últimos tempos, que fez a questão de
fazer aproximações, ou seja, quase todas as equipas nossas passaram a jogar
Anexos
V
mais próximas, ou se não com deambulações que não era muito longe destes
modelos, e portanto, trabalhando bem no clube nós íamos obter o resultado
desse trabalho no clube, ou então quando os jogadores trabalhavam connosco
nas selecções eram capazes de levar alguma correspondência nas mais-valias
dos princípios e dos conhecimentos e da teorização, etc. No sentido de clube e
cresciam mais rapidamente. Estamos a falar de jogadores, nunca estamos a
falar de equipas, porque nós com esta vertente de aproximação de muito
estrangeiro aos trabalhos das equipas também jovens, já temos uma estatística
que nos leva a considerar que temos trinta por cento, já, de jogadores
estrangeiros no mínimo, ainda no outro dia num jogo Benfica Sporting em
juniores estavam a jogar 13 estrangeiros, só isto. Isto torna cada vez difícil e
complicado a aproximação e isto já atendendo aos outros problemas, as
fragilidades profissionais que nós temos, os laterais esquerdos, ponta-de-lança,
os guarda-redes, etc.
H: Nomes como Vítor Frade e Mourinho defendem que nos períodos
de preparação para o Europeu e Mundial deve ser trabalhada a
organização. A selecção tem momentos da competição que coincide com
o campeonato, tendo períodos de concentração curtos, de 2, 3 dias…
A não ser nessas situações em que acabam os clubes, acaba a época e
vamos para uma competição mais alargada, Mundial e Europeu. Aí as
questões são um bocado diferentes, mas eu continuo a acreditar e de alguma
forma a concordar que é muito mais um trabalho de recuperação de um
jogador e um trabalho de organização posicional porque são jogadores de
diferentes índoles.
Aliás, tive uma discussão com Scolari precisamente por isso. Numa
tentativa de lhe dizer que a realidade do nosso trabalho não tinha consistência
se nós não aproveitássemos o que era feito de bem nos clubes. Mas fazer bem
nos clubes significava arrastar-se um maior número de jogadores do mesmo
clube e mais se esse clube estivesse em êxito, como o caso do Futebol Clube
do Porto na altura, actuais campeões europeus. Arrastar um bloco directo
Anexos
VI
desse clube implicaria necessariamente menor dificuldade em relação a via
organizacional que devíamos ter, ou que não tínhamos tempo para poder fazer.
H: Quando o período é curto fica difícil implementar ideias…
Não deixamos de o fazer. Não deixamos de colocar valores teóricos nos
jogadores, não deixamos de corrigir em campo. Muito destes treinos são
organizacionais e estruturais, quer dizer, como queres que o lateral direito
suba, em que circunstancias, a pressão sobre o portador da bola como se faz,
como é que se abre o campo quando temos a posse de bola, sector defensivo,
sector médio, isso é lógico, se ele vier com essa carga avoluma essa carga, se
não vier começa a ouvir conceitos novos e à medida que, e sabes que o
trabalho é sistemático. E claro que muitas das vezes o jogador vai para o clube
e desaparece este tipo de intervenção, se o clube não tiver qualidade de
trabalho. Ou pela qualidade dos jogos, ou pela qualidade…
H: Uma coisa é saber, outra é saber fazer.
Os indicativos normalmente não são muito fortes nessas alturas, Não te
esqueças que nós temos também trabalho de campeonato da Europa, as
situações em que temos o apuramento para o campeonato da Europa, a fase
do torneio de elite como normalmente somos apurados para pelo menos essas
duas, temos períodos mais dilatados onde normalmente… e depois vamos
procurar jogadores de alguma maneira com incidências integrantes daquilo que
a gente pretende, ou seja, não vais buscar… às vezes as coisas tornam-se
difíceis pela qualidade do jogador, mas não se vai buscar coisas que não
tenham a ver com aquilo que a gente anda à procura não é?
H: Tendo em conta as suas funções de coordenador da formação,
quais são as suas áreas de intervenção?
Anexos
VII
Tu sabes que não sou, quer dizer, sou um bocado esbatidamente, estou
a fazer a coordenação mas estou afastado porque não tenho tempo para fazer
o trabalho…
H: Mas como já foi…
Sim. Sim, continuo nesse sentido, mas não num sentido tão interventivo
como era anteriormente. Estava sempre com as selecções jovens e a
acompanhava-as. Agora não posso, não tenho tempo e a marginalização de
alguns factos implica necessariamente isso.
Continuo a fazer a coordenação de uma maneira um bocadinho por cima
estás a perceber? Continuo a fazer o quadro de observações semanais,
continuo a fazer o quadro das grelhas dos treinadores, quem trabalha quem
não trabalha, quem trabalha com quem, aquela equipa é para tal, tudo isso,
todos esses acertos. Nós estamos num período de transformação…
H: E em que áreas tinha intervenção?
A intervenção era muito mais na área do treino, e porquê? Na área do
treino no sentido de estimular todos aqueles colegas que eventualmente não
estivessem no domínio, de um acerto mais moderno e actualizado para o poder
fazer no sentido da correcção na intervenção de treino. Depois dos jogos
aqueles percursos e aquelas definições e ultimamente na apresentação de um
PROJECTO MODELAR.
Fiz um grande documento, de facto muito rico. É denso, é rico para que
pudéssemos explorar futuramente uma sequência de aproximação a esse
mesmo documento.
Portanto das áreas de intervenção, não tem só as coordenadas técnico-
tácticas, mas também da maneira como trabalhas na defesa, da maneira como
trabalhas no ataque, da maneira que trabalhas, que lhes dás sequência, vá lá,
ligação entre os sectores.
Anexos
VIII
H: Existe a implementação de um Modelo de treino, que querem que
os treinadores utilizem? Uma metodologia…
Estávamos naquela fase em que discutíamos Modelo, discutíamos treino
e discutíamos o jogo, ou seja, a área de intervenção era sempre uma área que
não era na referência do caos, mas essa era uma referência de que o jogo,
independentemente das suas atribulações, eu pretendo no treino aquilo que
pretendo no jogo, e do jogo faço diagnósticos para o treino. Sempre com uma
noção actualizada. Eu… os tipo de intervenção, de área de formatização do
treino já estava muito mais, logicamente, actualizada. Já se fazia os
enquadramentos…o aquecimento em regime táctico, até pelo tipo de trabalho
que a selecção exige. E muito mais fácil estares a fazer um aquecimento em
regime táctico porque de algum modo já estas a organizar para aquilo que
pretendes como sais, como desdobra. o sentido da especificidade estava já lá
colocado.
H: Há pouco quando falávamos há pouco de recuperar o jogador,
essa recuperação pode ser feita neste enquadramento?
Logicamente, precisamente. Não era norma fazermos, na selecção, isso,
menos na selecção A, que era um regime de trabalho. Não tinha a ver
anteriormente com esse tipo de situações. Não, rigorosamente nada.
H: o que utiliza para definir o Modelo de jogo, em que se baseou
para delinear?
Na definição dos princípios e aplicação dos princípios a tudo isto. Se tu
tens princípios.
H: Mas escolheu baseado nas características dos jogadores?
Anexos
IX
Sim, nas características dos jogadores. Aliás eu falo e abordo sempre a
matriz do nosso jogador, ou seja, temos uma matriz e em função dessa matriz
vamos explicar ou aplicar determinado de tipo de sentidos.
H: E o futebol onde está inserido?
Se me deres um minuto, isto vai ajudar a uma melhor compreensão da
tua parte…
Visionamento dos slides referentes ao Documento orientador.
Em 88 para 89 os propus quadros competitivos novos para o futebol
jovem que só são aprovados na assembleia-geral em 91. Dessa aprovação só
os juniores é que estão no novo modelo. Neste momento, no ano passado,
logo que peguei nisto, tentei aplicar um novo modelo, ou seja, recuperar
aqueles que estavam aprovados e não tinham entrado, nomeadamente os
juvenis passarem de 4 series para duas, e passar os juniores de 16 mais 16,
para duas series de 12 mais 12 e com um playoff forte de 4 mais 4. Neste
momento a nível da federação, porque não há dinheiro, não há dinheiro, não há
dinheiro… só está em vigor o quadro de juniores. Naquele modelo 16 mais 16.
H: em que sentido essas alterações dos quadros iriam influenciar a
qualidade dos jogadores?
A questão, é de alguma maneira o providenciar a valorização dos
quadros competitivos e suponhamos tentar conjugar se a eles, e muito mais de
respeitar… isto é um bocado falacioso, mas tem de ser assim. Não tem outra
hipótese. Tu estas de alguma maneira a tentar atribuir um quadro competitivo
forte, a uma realidade que tu não a tens se não a colocares… num
levantamento que eu fiz a nível nacional onde é que está o quadro competitivo
da primeira e segunda divisão? Está a 50 km da costa. Não há uma equipa do
interior na segunda divisão. Passou este ano a haver uma, mas não havia. se
Anexos
X
tu tens tudo ali, vais ao futebol jovem e quando tens uma densidade
extraordinária na costa, não a tens no interior. Se tu valorizas competitivamente
este campeonato, é no sentido que esta valorização te possa valorizar mais o
Benfica Sporting porto Boavista. É ali que tu tens o jogador da alta competição.
O outro tem que trabalhar, tem que trabalhar, terá que ter classe.
O teu problema não poderá estar a ser jogos florais, tu não podes estar
a espera que um espaço competitivo esteja a ser aquilo que pretendes ele não
seja. Quer dizer, brincadeira entre miúdos, jogar só ao domingo, solteiros
contra casados. Acabou. Se estamos a falar de competitividade, temos cada
vez mais de alicerçar onde está a competitividade reforça-la e dar lhe cunho.
Eu coloco aqui (no documento) o facto de por exemplo de não haver
equipas B. como alicerce de uma transição mais sustentada. eu tive na génese
da criação das equipas B para que entre os juniores e os seniores para que
houvesse ali uma almofada. Para que pudesses verificar na casa mãe aquilo
que era a qualidade do jogador para o poder projectar, como não tens,
perderam se as equipas B. Tu perdeste inclusive este espaço. Então onde tens
que ir procurar? Ao último escalão. Ou criar um campeonato de intercalar, de
reservas que já aparecem nesse sentido ou então…Estou a dizer Campeonato
Nacional de Reservas, e dinheiro? Não há dinheiro. O dinheiro aparece sempre
como óbice disto tudo. Tu dizes que não importa que não haja dinheiro, tu
propões tecnicamente, mas depois é desajustado, em termos mentais, tu
estares a propor tecnicamente, não havendo dinheiro porque sabes que não
vai resolver. Então onde podes mexer? Podes mexer naquilo que já está
constituído dando maior carga, maiores níveis competitivos.
Está aí só o segredo? Não, mentira, não está. Mas, agora uma das
realidades porque precisa de passar é precisamente essa. Estará só no
documento? Não, mentira, não está, mas uma das realidades porque tens de
passar é precisamente por isso.
(documento)
O modelo de Jogo adoptado deverá ser definido no plano colectivo.
Desenvolver a noção que o importante é a equipa.
Anexos
XI
Cada momento destes tem exercícios, ou então por imagens que fomos
buscar.
O nivelamento das selecções estrangeiras esconde a nossa porque de
facto começam a trabalhar bem. Tem academias e academias e academias. A
academia igual ao Sporting em Inglaterra não é uma academia, é um centro de
excelência, e eles tem 56 centros de excelência. E tem mais 40 academias que
é uma coisa que ultrapassa isto em muito. Vais a Alemanha ou França é a
mesma coisa, ou seja, a tua realidade é uma realidade incompatível em termos
daquilo que tu defines, porque tu defines o jogador e estás a partir de um
modelo único e básico, o jogador. Qualidade no trabalho com ele e vamos para
a frente. Porque no fundo não temos outra hipótese, a nível de espaços físicos
a nível de infra-estruturas é um engano maior. É a maior mentira que existe é o
nosso país. Porque comparativamente com os grandes países que a sente se
quer equilibrar e comparar temos duas permanentes discussões que tem a ver
com quê? Tu tens a ver com uma realidade que não te permite que num
espaço de 10 milhões não te permite que vás buscar 74 milhões de jogadores.
Não te admite que num espaço de 80 milhões tu possas ter 20 milhões na
procura não é? Aqui não tens, e não tens ainda mais pela abertura do mercado
comum. Tu numa dimensão e num espaço circunstancialmente mais dilatado
tinhas onde ir procurar. Aqui não tens onde procurar. Temos lugar aqui onde tu
começas a ficar atónito, preocupado porque não existe, e depois quando
vamos falar quem é que tem instalações aqui para trabalhar convenientemente
a formação? Porto, Benfica, Sporting e o Guimarães, não tens mais ninguém!
Enquanto qualquer equipa de primeiro nível na Inglaterra ou na Alemanha,
obrigatoriamente tem que ter uma academia. E da segunda liga, uma
academia. Mas estamos a falar de quê? Eu costumo dizer que isto é de um
cinismo puro, porque estamos a tentar discutir questões que não tem nada que
discutir. As evidências não se discutem. Então como é que tu consegues
discutir com um país que tem 50 academias, 50 …. Ou no fundo, tem 100
centros de bom trabalho, com 8 campos, 9 campos, tudo do que há de bom.
Onde eles dormem, comem, estudam. Como é que tu podes discutir isto? Não
Anexos
XII
podes. Nós estamos a fazer um exercício de boa vontade. Isto é um exercício
de boa vontade com um milagre misturado.
H: Mas essas academias, lá fora, funcionam para os clubes?
São os clubes, mas estamos a falar da realidade que dá o jogador. Eu
em 2003, quando estávamos na preparação para o campeonato da Europa, eu
ainda era seleccionador nacional, propus-me a dizer em um ou outro colóquio
dizer que esta realidade, da construção dos 10 estádios para um campeonato
da Europa era um exagero, não no sentido que era um exagero para a ordem
pública, para a economia, não estou a falar disso, não estou a falar que o
dinheiro era um exagero. Estou a falar que foi um erro não termos aplicado em
8 estádios e o dinheiro de 2 estádios revertessem para tu colocares por
exemplo 3 centro de trabalhos no país, ou 1 centro. Fala-me de um centro, só!
Em Lisboa, e dizermos assim, temos uma casa das selecções. Fui chamado ao
senhor presidente porque estava a insubmeter. Tens alguma coisa neste país
para a selecção poder trabalhar? Temos usado os hotéis, e andamos por aí
fora. Estádio nacional… Não temos uma casa própria para trabalharmos em
condições. E estamos nós a falar de qualidade, equilíbrio?!
(documento orientador)
A realidade das selecções é particular, decorre da escolha dos melhores
com base num determinado perfil. Decorre do aproveitamento das outras
realidades. Associações pomos sempre aqui porque como sabes, o primeiro
trabalho é das associações.
As selecções das associações são feitas em contributo de normalmente
as selecções fazem aos 13 e aos 15 anos. Quando fazem aos 15 anos já
fazem depois de terem começado a trabalhar, algumas pois outras se calhar
ainda não tem este tipo de situações bem pré formadas, umas vezes fazem,
outras vezes não fazem, mas esse trabalho é feito no sentido de que quando
fazes as selecções regionais de sub 15, depois vão a Lisboa no final de esse
ano fazer o campeonato inter-associações. Nesse campeonato inter-
Anexos
XIII
associações tu vais escolher 44 jogadores, 4 por cada posição, dessas todas
selecções que estiveram a trabalhar em Lisboa. A jogar umas contra as outras
para haver um campeão, mas aí…para nós, interessa-nos é o jogador. A
análise do jogador. Então o que é que vai acontecer? Vai-te acontecer que tu
vais ter 44 jogadores de onde fazes a primeira selecção nacional, a selecção
nacional sub-15.
H: Funciona como prospecção…
É o espaço de prospecção. As associações trabalham com os seus
jogadores…
H: E há algum tipo de indicações para o tipo de trabalho que tem de
fazer?
Era isto o que nós cada vez íamos começar a trabalhar…
H: …a selecção do Porto jogar igual a selecção de Lisboa?
O nosso problema era de agora na medida da apresentação do
documento orientador estarmos a começar a perspectivar que o trabalho teria
de ser uno e unívoco, ou seja com um sentido só para que pudéssemos estar a
trabalhar no sentido sempre de que trabalha a selecção nacional.
H: Dependendo da geração poderá não existir a qualidade para…
O problema é sempre este. Tu começas a trabalhar, vais tendo as
gerações, há colheitas boas e colheitas más, até no vinho e aqui também há. E
há cada vez menos porque somos uma população reduzida e ao mesmo temos
as dificuldades que temos, infra-estruturais e económicos, não é? Isso são tudo
problemas.
Anexos
XIV
H: Pode-se considerar que a colheita é má para esta forma de jogo,
mas poderia ser boa se jogássemos de outra forma?
Não está posto de parte isso. Sem sombra de dúvida. Ainda ontem
estive a discutir com um técnico precisamente essa situação, o técnico sub-19.
Vamos embora, criamos uma perspectiva de trabalho que temos ou não temos
jogadores para, mas ganhando também formamos. Quer queiramos quer não,
e ganhar e formar são perspectivas que, numa estrutura diferenciada, poderão
acontecer.
( documento)
Decorre do trabalho de outras realidades (associações e clubes) e dá
continuidade ao trabalho dessas mesmas realidades. Implica a formação da
noção de grupo, equipa, a partir de jogadores de origem diversa. Assim sendo
necessidade da articulação simbiótica entre clubes, associação, federação. O
sucesso depende da cumplicidade que orienta as esferas de intervenção sobre
as acções dos jogadores. Aqui ali e acolá. Logicamente, porque? Porque
rejeitamos a ideia de perdermos a nossa identidade. Isto é o que vem detrás, a
história e tal. Porque temos condições de potenciação e desenvolvimento da
qualidade do futebol nacional, referências: é a história; as características dos
nossos atletas; a matriz cultural, dos clubes, associações e selecção.
Preocupações com a definição do Modelo de jogo, os modelos a seguir
presumem de onde provem os jogadores. Não é muito coerente definir
princípios de jogo gerais que não sejam coerente aos da maioria das equipas
onde eles (jogadores) jogam. Mas a realidade é que as nossas equipas de topo
já jogam neste tipo de coerência de princípios. Lógica da modelação: Modelo
de Jogo, Modelo de Jogador, Modelo de Treino, Modelo de Exercício.
As características culturais que se associam os trabalhos com as
selecções, as características dos melhores talentos, as tendências do futebol
júnior dos clubes nacionais, a tendência do jogo de futebol nacional e da
selecção A.
Anexos
XV
É denso, é rico, mas tem tudo, como é que saí do guarda-redes, tudo.
Todas as adaptações, bloco médio, bloco alto.
H: Não considera que isto possa ser demais, para um trabalho na
selecção, de curto espaço de tempo?
Não, isto é trabalho para exploração com os outros técnicos, técnicos
nacionais e técnicos regionais. É evidente que depois isto tem de ser
mastigado e diluído para poder ser apresentado aos jogadores com as devidas
condições.
H: Vi que falava em 4x3x3, mas se não existissem os extremos,
mantinham-se os princípios de jogar em ataque rápido, ataque
organizacional, mantinham-se alterando a estrutura?
Logicamente, até porque os princípios gerais são sempre de manter. Tu
podes definir princípios de ordem específica que se podem eventualmente ter
que alterar em função de, mas aqueles que são globais, aqueles que são
gerais, servem para qualquer situação. Definires os espaços entrelinhas,
definires a definição sobre o portador da bola reduzir o espaço entre a primeira
e a segunda estação, na primeira o que tens de fazer para que não passe na
segunda, etc. Isto é global. Jogas com 3 à linha, 4 à pesca e 5 ao anzol, como
jogas num 4x4x2 ou 4x3x3, ou até se jogares com mais um, num 4x4x3.
H: Muitas equipas formam um jogador, e para essa formação
baseiam-se no Modelo de Jogo da equipa A, equipa sénior, pois o
objectivo é colocar lá o jogador. Aqui, estão a forma-los para a equipa
sénior, para formar um bom jogador?
… Sempre, sempre. Aliás temos até uma perspectiva é que, à medida
que nos vão aparecendo, temos uma modelação diferenciada, porque à
medida que nos vão aparecendo e que nós vamos rotulando, colocamos um
Anexos
XVI
selo que o nível de intervenção está acima da média, nós vamos começar ou
tentar projectar esse jogador mais cedo num escalão seguinte por exemplo,
imagina. Numa tentativa de dar o máximo de carga competitiva a esse jogador
e vai funcionar como uma diferenciação bastante grande, sempre no tal sentido
unívoco, de que a projecção se faça dentro desse tipo de cenário, cenários
diferenciados com mais competitividade, etc. E para quê? Para que ele subir e
avançar mais rapidamente sobre.
H: Mas alterando o seleccionador não se alteram as ideias?
Mudando o seleccionador da equipa principal não mudam as ideias? Ou
ele trabalha sempre sobre as mesmas ideias?
O nosso interesse e sentido ter-se-á que fazer dentro deste Modelo. Não
significa que tu depois encontres uma barreira ou um muro não é? Apesar que
é uma coisa curiosa, independentemente de tudo aquilo que acontecia
anteriormente, e eu estou à vontade porque fui adjunto e depois estive como
seleccionador nacional e a realidade é que não conhecendo, não sabendo, eles
não deixavam de aceitar os princípios que estavam determinados num tipo de
jogo. Tanto é que quando vieram no inicio, tinham uma noção dos 3 centrais e
do medo sobre a zona defensiva, etc, o que de facto não é… Embora eu como
seleccionador tenha actuado com 3 centrais em situações muito próprias. O
caso de jogares com equipas anglo-saxónicas que normalmente jogam com
dois ponta-de-lança em bloco. Aí eu nunca tive problema pessoalmente de
jogar com 3 centrais e não estava a fugir. Jogava com 3 centrais, dois laterais
um bocadinho com mais corda e fazia o 3x4x3 em vez de fazer o 4x3x3.
H: Mas isso só alterava a estrutura.
Não altera tanto a estrutura. Porque um 3x4x3 não altera tanto. Tens os
3 na mesma na frente, tens os 4 só a providenciar ou não, 2 médios internos e
2 laterais a servir de defesas ou de…
Anexos
XVII
H: Mantêm-se sempre os princípios segundo os quais se quer
jogar. Mesmo mudando a estrutura.
Logicamente. Tu não diferencias num 3x4x3 ou num 4x3x3 ou num
4x4x2 aqueles (princípios) que modelaste como operacionalidade global da
equipa. Aquilo que ela tem que fazer em todas as situações. Porque ela
também se vai enquadrar com o modelo de forma diferenciada. Porque imagina
que definimos o 4x3x3, não deixa de ter que se moldar em função da equipa
contrária. Ao modelar-se aquando da posse da bola, vamos fundamentalmente
só reduzir as situações e radicaliza-las, ao eles terem a posse da bola é notório
que tu “destróis” toda a realidade estrutural que tens na tua equipa. Não
expliques a forma dos outros, explica a forma do nosso sentido. Tu sabes o
sentido de aproveitamento do adversário ali, ele obriga-te porque movimentou
mais este ou te aproxima mais um jogador para a zona de finalização. Tu és
obrigado a obedecer a outros princípios. Ter superioridade numérica, ou
confrontares-te com a igualdade numérica, seja o que for, tu não deixa de ter
que arrastar determinado tipo de situações e dizer aos teus jogadores “cuidado
se o gajo se aproximar…”, porque temos que ter sempre alguém na sobra, na
compensação, etc. Ao fazeres isto, tu estás a adaptar-te à equipa contrária e
estás-te a servir da não posse para destruir alguns dos teus conceitos, alguns
daquilo que é a tua estrutura, para beneficiar dos princípios globais que tens na
equipa.
H: Nos últimos anos a equipa A parece ter jogado de forma
semelhante…
Nos últimos anos tens sempre o 10, que às vezes não é o 10, agora até
é. Na altura que parti para conversar com o Deco, era seleccionador nacional,
precisamente porque verificava que a nossa estrutura estava muito dependente
da ligação e da inteligência que aquele homem tinha no risco, no passe de
risco, no passe mais em profundidade, de facto não existia, o Rui Costa estava
no momento de quebrar. E parti precisamente com esse sentido, ou seja, a
Anexos
XVIII
substituição possível de alguém que fizesse o transite de… com a preocupação
de manter o regime estrutural que existia.
H: Foi buscar um jogador em função das ideias…
Desaparece-te este homem, vais muito antecipadamente, que ele está
com 30 anos ou ele não joga, não pode jogar, toda a equipa se ressente desta
situação. Ainda agora contra a Albânia, ias para um lado, corrias para o outro,
independentemente de não haver sorte, a bola batia-te aqui, batia-te na trave,
foi ter à mão do guarda-redes, bateu no pé, bateu no joelho do guarda-redes,
mas utilizaste muito mais, porque tinhas que circundar, vinhas para trás, não
dava rodava e vinha para o outro lado, fizeste 64 ataques! A maior parte deles
tinham maior produtividade se tu entrasses por dentro e tivesses alguém com
qualidade para te ter o risco próprio da envolvente interna.
H: se a selecção A escolhesse jogar num estilo italiano, mais
directo, toda a formação teria de se adaptar a isso?
Eu acho que não. Sinceramente acho que não. Devia ser um momento
de alguém que era um bocadinho estereotipado e que fugia a questões que
estão de alguma maneira radicalizada no nosso futebol. Porque nós não temos
esse tipo de…. Muitas vezes, actualmente a jogar com o Hugo Almeida, muitas
vezes o nosso futebol, o futebol de participação, não é sempre bola pé no pé.
O adversário existe, por vezes estamos aprisionados futebolisticamente, pelo
próprio adversário, pela qualidade física dele, a maneira como ele pressiona
alto e tudo, e temos que sair a maior parte das vezes com um futebol mais
directo. O facto de ter, por exemplo o Hugo Almeida, explica, ou por exemplo o
facto de termos um jogador com qualidade em velocidade e possa fazer em
golos, e possa sair nas costas de um lateral possibilita um futebol mais directo,
que já estava previsto quando fizemos a celebre saída 4a e 4b, ou seja, 4a o
que é? É a possibilidade de sairmos nas costas do lateral contrário em futebol
directo, do lateral ao outro central para a frente. Sendo o ponta-de-lança que
Anexos
XIX
arrasta a marcação e vai numa diagonal aparecer atrás do lateral, ou até do
médio.
H: Quanto aos treinadores das equipas mais jovens tem-se
verificado que existe uma estabilidade entre nomes como Ilidio Vale,
Edgar Borges… Qual o objectivo dessa estabilidade?
Tem dois sentidos. Infelizmente muito do que são as contratações para
técnicos da selecção não dependem, e como deveria ter acontecido, de quem
coordena ou de quem dirige.
H: Há também um Modelo de treinador…
…Logicamente. Eles são feitos em função daquilo que são as
disponibilidades momentâneas e depois é normalmente a direcção que se
compromete com esse tipo de contratações. É claro que aqui já há um desígnio
negativo, como é evidente.
Quando o técnico está lá, normalmente, não só um sentido de espaço de
continuidade, até por exemplo normalmente ponho o treinador, e tenho posto
neste pré período que estive a frente da coordenação não deixar de dar
continuidade ao treinador continuidade nos escalões, ou seja, se este ano está
nos sub-16 para o ano está nos sub-17. Isto é discutível, mas entendo que nas
selecções, atendendo ao pouco tempo que temos com o jogador é muito mais
identificativo, a imagem, a maneira de ser, a própria personalidade do treinador
e pedagogicamente, sendo a pedagogia um acto de transformação,
automaticamente tu podes estar e deves estar muito mais localizado nas
nossas necessidades que temos do que estar a destruir porque este princípio
era capaz de não ser tão bom quanto outro mais moderno mais actual. Não,
mas o problema de eles terem outras versões, outra vertente de treino. Como
os treinos são, mais ou menos, uniformizados, como o trabalho é, mais ou
menos uniformizado, não vejo grandes males. Vejo antes valores positivos
neste tipo de acompanhamento porque o jogador já está mais ou menos
Anexos
XX
adaptado ao treinador, já o conhece. A gente trabalha pouco tempo, se
trabalhasse muito, é natural que isso até pudesse ter uma descontinuidade.
Trabalhando pouco, eu entendo que aproveitar tudo aquilo que já se fez,
porque caso contrário era uma nova adaptação, levaria o seu tempo. O
treinador está algum tempo, não tem acontecido muitas saídas dos técnicos da
Federação, mas penso que isso irá mudar eventualmente, futuramente.
H: Existe interacção entre os diferentes escalões durante o ano?
Que tipo de comunicação é feita e com que intuito?
Sim, existe. Nós temos na selecção sub-19 vários jogadores que são
sub-18, na sub-17 sub-16, e todos os treinadores, dado o cálculo de
aproximação que eu faço, é por exemplo por o treinador dos sub-17 com os
sub-16, o sub-19 com os sub-18 há parcerias próximas para fazer esse tipo de
contabilidade.
H: Algum tipo de reunião?
Normalmente reunimos sempre, para o tipo de intervenção, situações,
sempre. Agora quebrou um bocadinho por causa desta minha situação
transitória, mas temos normalmente, às vezes é todos os estágios, ou seja,
estamos em todos os estágios com um escalão, sempre. E às vezes reunimos
todos para dar continuidade.
H: Existem as orientações impostas pela Federação, comuns a
todos os escalões. Qual a liberdade que um treinador tem para adaptar à
sua realidade, à sua geração?
Eu não vejo grande necessidade disso a não ser pontualmente. Porque
beneficiamos, em função das qualidade dos jogadores até descobrirmos ou
redescobrimos outra qualidade completamente diferente.
Anexos
XXI
Imagina que ponho-te uma discussão breve e singela que há bocado já
toquei nela logo no inicio e que serve para definir isso. Tu na qualidade dos
nossos Alas tens muito menos alas Médios, ou alas com comportamento
táctico forte para um 4x4x2 do que tens os Alas para um 4x3x3. Normalmente o
que tens? Tens os Alas para o 4x3x3, rápidos, não muito preocupados, só
preocupados com o lateral e tal… o que acontece é que o estereótipo do nosso
futebolista, quer queiramos quer não, naquelas posições, naquele espaço
gráfico do campo eles estão muito mais adaptados a. Só isto bastava para nós
não corrermos muito risco, o nosso Ala não está habituado a trabalhar sobre a
zona, e normalmente com pulmão ainda para dar profundidade ao sector. Não
temos jogadores com outras características e por isso rejeitamos.
Falei-te da discussão ontem do técnico dos sub-19 comigo a propósito
disso e eu a dizer-lhe que atendendo às características, e eu conheço bem, era
preferível momentaneamente começarmos a perspectivar outro tipo, porque os
nossos Alas, não são muito Alas, são mais médios trabalhados para o sítio.
Não há barreiras, há situação que pontualmente pode acontecer.
H: Os jogadores que são seleccionados, por exemplo, nos sub-13, o
lote que vai surgir…
Quando estás a falar nisso, estás a falar nas associações, quando estás
a falar das associações estás a falar que isto se vai garantir, já existe e de facto
todas as associações trabalham praticamente como nós, mas à medida que um
documento poderá passar e uniformizar todos esses critérios, muito mais
poderá acontecer… o sentido é precisamente esse: que as associações
trabalhem, de alguma maneira, no enquadramento dos princípios globais que
nós trabalhamos.
H: Há uma tendência que se defina, por exemplo, até uma certa
idade, observar os jogadores e a partir daqui manter sempre o mesmo
lote de convocados?
Anexos
XXII
Existe um núcleo, uma área nuclear, um núcleo forte, que se mantém,
por motivos óbvios. Se não se vêem melhores, e de facto temos sempre um
espaço restrito para a selecção, é evidente que tens que manter ali sempre um
núcleo duro de vinte e poucos jogadores, que são aqueles que normalmente
são chamados para um estágio, há ali 60% que são residuais já, não têm
problemas.
H: Porque já são considerados mesmo bons jogadores…
São jogadores com um perfil identificado de jogadores de Selecção
Nacional, a não ser em situações, em casos que têm acontecido, em áreas de
fragilidade, onde nós, se não temos uma espingarda de dois canos, temos que
pôr uma espingarda só com um cano! Principalmente no lateral esquerdo, tem-
nos acontecido isso muitas vezes. Temos que adaptar um jogador, temos que
pôr um central como lateral, porque de facto não temos…
H: E essa constante, manter esses 60%, até ajuda para a tal
adaptação ao treinador, às ideias…
Precisamente. E até para manter alguma estabilidade na continuidade, não é?
Nessa tal sistematização que nós pretendemos.
H: Então, um dos objectivos, dos escalões de formação, é dotar os
jogadores das ideias que se querem para a equipa principal.
Lógico!
H: Para além deste, que outros objectivos é que se podem ter? É
habituar às ideias, observar maior número de jogadores…
É evidente que tudo aquilo que eu abordei anteriormente…não temos
um espaço tão rico, actualmente, que possamos estar… Não!! A abordagem ao
jogador novo, que soubemos de um jogador…Viu-se no Domingo jogar, há um
jogador que se naturalizou, há um jogador que é filho de pais portugueses, e
Anexos
XXIII
tal… É nossa preocupação manter esta acuidade visual bastante ampla, para
que possamos estar atentos a tudo isto. Agora soube de um jogador, sub 16,
que estava a actuar no Roma e é português, parti imediatamente para ele para
tentar ver se ele vem cá; um jogador que estava no Estrasburgo! E tudo isto
porquê? Porque o nosso naipe de prospecção reduziu imenso e temos que
partir para outras áreas. Estamos atentos! Há um jogador novo que apareceu,
por exemplo ainda no Domingo, um dos nossos técnicos foi ver um jogo, o
Ribeirão, sénior, contra o Maria da Fonte, e porquê? Porque há um jogador
anunciado que tinha qualidade e…muito bem! Lá foi o técnico, deslocou-se lá,
para ver se de facto correspondia. Sim senhor, chamou-o ao estágio! Agora no
confronto com os outros vai-se verificar se ele tem capacidade para entrar
naquele lote de vinte, vinte e um, vinte e dois, ou se, eventualmente,
confundido com os outros, terá espaço de afirmação: poderá ser chamado uma
vez, duas, três.
Essa chamada de jogadores é sempre feita em função da ideia de jogo,
nunca há ver por ver… Não, não, não! O nosso lateral direito é um lateral
direito que tem um determinado tipo de características, logicamente! Nós
pedimos dois centrais que, eu costumo dizer que os dois melhores centrais
nunca serão os dois melhores centrais. Os dois melhores centrais, é o melhor
casamento entre eles! Se eles não cruzarem bem, não adiantada nada serem
os dois melhores centrais por motivos óbvios. Então, seria desejo teu, ter por
exemplo sempre um central com o pé esquerdo, para que, por exemplo, em
caso da compensação a um lateral mais subido, a recepção e a orientação
entrasse num espaço mais aberto e a celeridade da cedência da bola…aquelas
coisas todas que nós sabemos. Ora bem, por vezes tu não o tens! És capaz de
ter, mas é capaz de ser um central que não combina tão bem com o outro
quanto isso! Então, tu não pões um central esquerdo porque ele é esquerdo,
pões um central porque, eventualmente, ele combina ou casa bem com o outro.
H: Se lhe perguntassem a si quais os objectivos para as camadas
jovens responderia a qualificação para um mundial ou formar jogadores
para…
Anexos
XXIV
A melhor solução e a mais justa é sempre, de facto, formar jogadores
tendo em vista a Selecção Nacional “A”. É este o grande objectivo. Agora, no
caminho, surgem muitas situações que divido hierarquicamente. E porquê?
Primeiro, porque nós começamos a ficar distantes da realidade europeia,
principalmente da mais forte, daquela que está no primeiro patamar. Não
deixamos de ter um jogador com qualidade, baseado num determinado grupo
de princípios psico-somáticos, que de facto é importante, mas não somos, de
alguma maneira, já, uma Selecção de equilíbrio entre a detecção, a formação,
infra-estrutura, as qualidades para potencializar e formar, porque não são,
porque não evoluímos na quantidade de jogadores, evoluímos no sentido da
presença do estrangeiro cada vez maior cá e não aumentamos, não investimos
em infra estruturas passíveis de possibilitarem fazer um trabalho correcto,
numa extensão com maior dimensão, portanto para dar quantidade em
qualidade. Portanto, isso implica necessariamente que tu tenhas mais
dificuldades em ganhar, vais ter cada vez mais, é evidente. Eu lembro-me que
fui Campeão da Europa três vezes como treinador principal, depois tenho um
colega que foi duas, um colega que foi uma e o último Campeonato foi em
2003, eu era Coordenador, há cincos anos! E vai ser muito difícil daqui para a
frente, porque de facto nós estamos a anos-luz já! Ou seja, os outros tiveram o
nosso elemento participativo, aproveitaram muito do trabalho que nós fazíamos
e entraram numa área competitiva que, por vezes nem é do Campeonato, mas
é nos clubes, por exemplo…ainda há dias falava com o Inaki, que é o
Coordenador de toda a formação espanhola, e quando ele dizia assim “o
Governo espanhol neste momento tomou conta de todo o futebol de formação
em Espanha. Paga-o, mesmo! Mas faz os seus campeonatos, regionais etc…”
e eu dizia “mas tu agora vais ter um problema dos diabos para ter uma
Selecção sub-16, por exemplo, porque colide com o escalão etário, o topo”, e
ele diz me assim “não, porque o nosso sub-16, bom, joga nos sub-18, e vais a
esses tenho quarenta”. Ou seja, quarenta miúdos com sub-16 que já têm tanta
qualidade que jogam nos sub-18, e os sub-18 já jogam nas equipas B, satélites
dos seus clubes. Toda a equipa espanhola tem uma equipa B e uma equipa C.
Anexos
XXV
Quer dizer, seremos capazes de corresponder e de competir com situações
destas? Mentira! Completamente!
H: Mas, quando há pouco falamos que o Seleccionador de sub 19
queria alterar as ideias tendo em conta a geração que ele tinha, ele não
está a ir contra esse objectivo de em breve aqueles jogadores integrarem
a equipa A?
Pois, mas… Ora bem, tu não deixas de perspectivar que, em momentos
do jogo… Ainda há pouco tempo dizia, a propósito do Makukula, quando eu o
chamei nas Esperanças e se naturalizou para que pudesse estar e depois ele
veio à Selecção Nacional, lembras-te, no ano passado, e fez um golo? É capaz
de não ser o nosso ponta-de-lança, mas há momentos no jogo e há jogos que
exigem um ponta-de-lança daquele tipo! Fiz-me entender? Ou seja, sendo uma
situação pontual, não vejo nisso problemas. E porquê? Porque há momentos e
há jogos em que de facto nós teremos necessidade desse tipo. Quando por
exemplo, tu juntas a um Hugo Almeida um Nuno Gomes, por exemplo, estamos
a falar de Selecção “A” para ser mais fácil o entendimento, o que é que tu
pretendes? Pretendes jogar com dois pontas de lança, mas no entanto, às
tantas, tu começas a ver algum desequilíbrio no meio campo e começas a dizer
“Cuidado! De vez em quando, quando eles estiverem em posse da bola, vem
um bocadinho dar apoio ao sector intermédio!”. Ou seja, tu não deixas de estar
a pôr um 9 disfarçado de 10, estás a perceber? Portanto, esta realidade não
deixa de ser comummente, aliás até devemos estar, é um grupo de trabalho
que, pela primeira vez, tem dois, três pontas de lança e homenzinhos a
gravitacionar por aquela zona, altinhos, com bom jogo aéreo, boa capacidade
de investimento no jogo, que não tínhamos há uma série de anos. Um deles é
o do Arsenal e o outro é o Nelson Oliveira que eu projectei no ano passado dos
sub 17 já para os sub 19.
H: E até forma jogadores com uma riqueza, com uma variabilidade
Táctica maior…
Anexos
XXVI
Logicamente! É evidente!
H: Há pouco falamos que é pretendido dar maior competição aos
jogadores. Como é que a Selecção, a Federação, atende à promoção do
jovem talento português que surge na Selecção porque, como falamos há
pouco, às vezes ele nem na própria equipa tem lugar, começamos a ver
muitos estrangeiros até nas camadas jovens…O que é que a Federação
faz para inverter isso, para promover o jovem?
Não tens muito espaço para esse tipo de promoção, porque isto tem
uma sequência lógica e a sequência, quer queiras, quer não, está no clube.
Antes de chegar à Associação, antes de chagar à Federação, está no clube. As
determinantes que oferecem ao clube, através destas novas noções, de irem
buscar jogadores estrangeiros jovens, eu ainda não vi nenhum, sinceramente,
fala-se, o único que se fala é o Anderson que foi para Inglaterra que é um
jogador que já vinha com dois anos de sénior e que chega aqui faz dois anos
de sénior. Eu ainda não vi foi nenhum jogador de juniores, trabalhar nos
juniores ou nos juvenis e ter subido para os seniores, dos estrangeiros. Porque,
de certeza absoluta, eu faço esta afirmação que é um bocadinho forte e
assumo-a, e porquê? Porque há instabilidades para um jovem que o conceito
de estabilidade social, estabilidade familiar, estabilidade escolar, sócio
envolvente, que não é fácil de ultrapassar! Estar a oito mil quilómetros da casa
dos pais… Não é nada fácil de ultrapassar! Em ambientes completamente
diferentes, em línguas muito diferentes, ou algo diferentes, e isto tudo implica,
necessariamente, desajustamentos. Ou seja, quando o jogador estiver próximo
a fazer uma adaptação, de certeza absoluta que o clube o vai mandar ao ar
porque o sistema também. E isto são tudo irrealidades que se estão a cometer
neste momento para benefício não sei de quem, há outros dados…talvez haja
alguma coisa que me esteja a falhar nesta compreensão, mas a que não falha
é a que dificilmente, alguns destes jogadores poderão dar em capital. E
porquê? Porque anteriormente a estabilidade não passava pelos espaços
Anexos
XXVII
físicos. Agora tens espaços físicos e não se aposta na formação nacional. E
até porque as regras estão definidas na Selecção Nacional, porque um defesa
esquerdo do Vila Real bom, ao levar-se, paga-se aquilo que a lei determina,
não é um negócio, não é? É um bom negócio feito em função daquilo que se
apostou na formação desse mesmo jovem, mais nada. E isso é
problematicamente um problema que temos que ultrapassar. Não podemos
passar juridicamente, porque não temos habilitação jurídica nenhuma para dar
a volta, nenhuma. A única hipótese era de facto haver um acordo tácito entre
os clubes para reduzir substancialmente, porque ter neste momento já mais de
30% de estrangeiros nas nossas três grandes equipas é um bocado
desajustado. É claro, e depois passamos para uma realidade completamente
subjacente: é que neste momento já temos 52,3 de jogadores estrangeiros no
nosso campeonato.
H: O jovem deixa de ter competição, deixa de ter lugar no clube,
pode não jogar e isso é muito prejudicial e isso deveria ser um ponto
onde a Federação poderia pensar com actuar…
Mas a Federação não pode legitimamente actuar naquilo que é o
conceito estrito e jurídico e se quiseres particular da estrutura do clube. Não
consegue, não tem hipótese nenhuma! Nenhuma! Só tem por informação, só
tem por sequência. Por tentarmos chegar até eles, mas só aos técnicos, não
até às entidades que gerem superiormente essa instituição.
H: Detectam o jogador tendo aquelas características. Tentam alterar
e no final o modelo de jogador português tem que ter algumas
características?
Tem que ter algumas que são, genericamente, atribuídas a todos os
jogadores. Porque, nomeadamente o nosso jogador apresenta um alto valor
potencial, e de potencial bastante grande, em termos técnico-individuais,
normalmente, e com um determinado tipo de características motrizes para a
Anexos
XXVIII
prática do Futebol, mas depois muitas vezes chocamos com outras situações
não co-existentes com este tipo de jogador. Ou seja, um jogador talentoso
nesta área, mas não tanto nas outras: na maneira como se empenha, na
maneira como treina, na maneira como se concentra no jogo, na maneira de
conseguir agarrar o jogo, na maneira como se distribui e investe no jogo. E aí
temos, dicotomicamente, o nosso jogador! Ou seja, temos bons jogadores,
potencialmente, mas que por um motivo ou outro passam sempre um
bocadinho ao lado porque não reúnem este número de atributos. Têm
condições fabulosas que, costumo dizer, não se compram na farmácia, e as
outras, do apego, de uma atitude mais forte, de um domínio de personalidade
competitiva mais forte, de um equilíbrio em relação a tudo isso, são atracções
externas…porque os estímulos externos para um miúdo que tem duzentos
contos no bolso, por pouco que seja para uma sociedade, para um miúdo
destes é muito dinheiro e se começa com estímulos desta grandeza e não sabe
suportá-los, normalmente…
H: Mas a Federação tenta alterar isso?
Tenta, obviamente cada um de nós também é um orientador, é um
humano, é um gestor da matéria humana, é um pedagogo e tenta sempre,
sempre, orientar os atletas.
H: As selecções, normalmente, têm sempre os melhores jogadores,
tem sempre os talentos. O que é que entende por “talento”?
Para mim, um talento é, na realidade, aquele que conjuga diversos
factores de acção: aquilo que nós pedimos na equipa e aquilo que ele
responde nessa mesma equipa. Isso para mim é um talento, porque o talento,
aquele que faz a 87, a 34…é o número de fintas… nunca chega a ser porque,
fecha para obras, senta, pede café e copo de água e os outros que…não! Um
talento é sempre aquele que, de facto, tem essas qualidades mas também tem
um préstimo ao serviço do colectivo bastante forte, ao serviço da equipa
Anexos
XXIX
bastante forte, quando ela está sem a posso da bola, quando ela está a
defender, quando há necessidade de trabalho táctico, quando há necessidade
de muita solidariedade, muita humildade em campo, etc, valores da área
volitiva, esses são importantes para que esse jogador…
H: E a capacidade para ele ser um talento no clube, adaptar-se e ser
também um talento na selecção? Essa capacidade de se adaptar? Faz
dele um talento, ou um bom jogador tem que ser sempre um bom jogador
nas duas realidades?
Há alguma diferenciação, por vezes, em sentir a camisola das quinas!
Agora parece que está um bocadinho ao contrário, não é? Os jogadores
vivenciam determinadas envolvências relacionadas com os clubes, têm uma
preocupação maior, dominante, em relação ao clube e não tanto em relação à
Selecção. Mas ainda vamos tendo casos de indivíduos que, pela Selecção,
pela Instituição em si e pelos seus símbolos, sentir o Hino Nacional, a cor das
camisolas, a bandeira, todas essas realidades que são inerentes à pátria, à
nação, ao país, etc., eles vivem aquilo, chorar pelo Hino Nacional! Tudo isso
são realidades que são importantes, não deixando no entanto de ser realidades
exclusivas: podemos ter um indivíduo emotivamente apaixonado por esta
situação, envolver-se e de facto não produz e não joga! Temos que ter um
indivíduo que tenha talento, e esse talento é providenciado pelas
características que ele possui, tem que conjugar com uma atitude forte, com
uma determinação bastante exacta; o capítulo da solidariedade vem através
disso: da maneira como ele faz o aproveitamento das características dele,
como ele põe e predispõe essas atitudes ao serviço da selecção e tudo isto é
conveniência, ou não, de podermos ter o perfil ideal no nosso futebolista.
H: Os talentos, por terem essas condições especiais têm maior
facilidade em assimilar a Táctica que se exige? Li uma vez, numa questão
colocada ao Professor Carlos Queiroz, se os jogadores fossem evoluídos
tecnicamente isso facilitaria a aquisição das variantes tácticas, ou não.
Anexos
XXX
Eu pessoalmente, sou da opinião que sim, de uma maneira proporcional,
porque se o jogador é bom tecnicamente, pode dar mais soluções em termos
Tácticos. Imagine uma situação: um jogador a fazer uma recepção errada,
tacticamente, estragou tudo! O implicativo da noção de jogo, daquela noção de
corrente filosófica que eu, e que alguns autores que nos rodeiam abordam do
Caos e da Organização do Caos, a realidade do jogo é que, por momentos…
Tu viste ontem o jogo do Porto: a equipa contrária falha um golo, manda a bola
ao poste, desorganiza-se… Há uma realidade que tu colocas para que a
qualidade técnica, e estava a falar há pouco, por exemplo, no âmbito da
recepção, tu uma bola qualquer recepcionas e orientas essa recepção porque
tens qualidade técnica melhor, então tu podes dar outro sentido ao jogo;
recepcionas mal, o jogador pode-te aprisionar ali, dentro daquele espaço e tu
automaticamente não deste sequência à jogada. Ora bem, temos aqui um
atributo, pode ser por exemplo ser o 344000, que tecnicamente, se não criou a
sua própria evolução, ele não contribui para que, Tacticamente, possas sair
rapidamente para um contra-ataque, etc. Por exemplo, o problema do lateral
esquerdo com o pé direito recebe sempre com o pé direito e quando pretendes
dar velocidade pelo corredor, ele já está todo ocupado e já perdeste o sentido
de surpresa que tu pretendias. Ao deixá-lo de ter, automaticamente verificas
uma coisa: é que tecnicamente, ao evoluíres, pode-te ajudar a criar outro tipo
de alicerces, dentro de outras áreas que são as quatro componentes de jogo.
H: E vendo o talento não só por aquele que tem maiores recursos
técnicos? Pode ser aquele que tem melhor leitura de jogo, por exemplo.
Logicamente, é evidente! Mas eu continuo a dizer-te na perspectiva que
te apresentei há pouco: é que tudo isso, visto isoladamente, para mim não
chega para definir talento. Para mim não chega para definir talento. Eu julgo
que o talento é aquele que conjuga diferentes factores nas diferentes áreas.
Pode estar melhor numa, pior noutra, mas ele tem que corresponder. Porque tu
não tens, hoje em dia, um jogador que seja só um desequilibrador por natureza
Anexos
XXXI
e que esteja ali…Pronto, entra o desequilibrador e o desequilibrador entrou e
às tantas já não é preciso e o desequilibrador sai. O Futebol não exige esse
tipo de personalidade. Exige o desequilibrador, mas aquele que ou é um
desequilibrador espectacular e tu tens que o ter ali só para ele receber a bola e
te fazer…!!! Um jogador desse tipo e tu tens que te vergar um bocadinho por
vezes à maneira como eles faz o passe, à maneira como ele faz uma rabiola ou
uma ratuola. E ele ao fazer isto o que é que implicou? Implicou
necessariamente com determinado tipo de momento em que tu julgas que
aquele momento é mais importante ele estar, não correr, não dar o seu
contributo. Então, tu fazes isso, pões essa questão e muito bem, defines que o
grau de influência do jogador tendo esse tipo de comportamentos é superior
àquilo que ele não faz, então a definição para o treinador é que ele é um
talento de tal ordem que é exigível a presença dele. Falares do Maradona, do
Hagi, do Messi, etc., são indivíduos que, com talento deles, são necessários.
Então, é um talento! Porque o nível de talento existente, ou co-existente, é
superior àquilo que ele não tem nas outras áreas.
H: A “Geração de Ouro” foi uma forma de preparar os jovens um
pouco diferente da realidade de hoje. Os jogadores passavam muito mais
tempo na Selecção. Aí, o tempo, como já falamos, é determinante. E hoje
em dia, acha isso impossível porquê? Por causa dos clubes?
Dos clubes e dos valores económicos que se justapõe neste momento!
Na altura era uma situação onde tínhamos poucas selecções, era uma fase de
crescimento bastante importante que nós estávamos a ter, havia condições
para suportar isso. Depois, os clubes na altura… tratava-se de jogadores que
na altura estavam, quase todos eles, no primeiro ano de sénior e portanto não
havia grandes preocupações e limitações à sua participação e a partir daí,
necessariamente, foram momentos que eu julgo que não se vão repetir, de
certeza absoluta. Neste momento, não vamos estar quinze dias, não estamos
duas semanas com os jogadores! Estamos normalmente dois dias de mês a
mês que são três sessões de treino: segunda de tarde, terça de manhã e terça
Anexos
XXXII
de tarde e depois o jogo! E agora até com problemas com as competições
intercalares, e as coisas não deixam de ser importantes, porque se começa a
equacionar-se a possibilidade de nós podermos, por exemplo, treinar à terça-
feira quando os jogadores têm jogo à quarta. Ora bem, tudo o que foi e
aconteceu naquela altura, que eu tive a oportunidade de estar e quando
ganhamos o Campeonato do Mundo, de facto trabalhamos muito e num regime
de entendimento que podíamos trabalhar em sistematização. E ao trabalhar na
sistematização, de certeza que muito daquilo que era falado, sentido,
trabalhado, que tinha agrupamentos contínuos e que ia ter uma resposta
posterior.
H: E a “receita” de ter tempo, conjugada com o talento dos jovens
portugueses hoje em dia, permitia chegar ao sucesso?
Julgo que estamos, e já te disse: as maiores dificuldades na prospecção.
Tu vês, na Selecção Nacional vês uma equipa que, por exemplo, em 2004, o
Porto dava-nos, mais coisa menos coisa, quase 70% de jogadores à Selecção
Nacional “A”. Actualmente tem pouco mais de 30%! Quer dizer, há qualquer
coisa que tem significado! O Porto, neste momento, tem três jogadores
portugueses na equipa principal, há cinco ou seis anos atrás tinha oito e jogava
só com 3 estrangeiros. Há um tipo de incidência completamente diferente que
explica este tipo de orientação noutro sentido! Há que criar uma nova entidade,
reguladora, mental também, no sentido de poder gerir isto de uma maneira
completamente diferente. Há um espaço de aproveitamento, lógico, mas que
vai ser diferenciado, de certeza absoluta, porque os tempos exigem, os tempos
são de mudança e exigem esse tipo de adaptação.