Seguro - mecanismo indispensável O país do vinho ... Rural Dezembro 2009 5 A lém da neve e das...

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Panorama Rural Dezembro 2009 1 www.panrural.com.br Ano XI · Nº 130 · Dezembro/2009 · R$ 9,90 Superprecoce: jovem, enxuto e com peso de boi Seguro - mecanismo indispensável O país do vinho espumante Integração na avicultura As musas da lavoura As frutas embelezam e geram renda no campo. Mas o Brasil pode explorar muito mais esse filão do agronegócio

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Panorama Rural Dezembro 2009 1

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90Superprecoce: jovem, enxuto e com peso de boi

Seguro - mecanismoindispensável

O país do vinhoespumanteIntegração

na avicultura

As musasda lavouraAs frutas embelezam e geram rendano campo. Mas o Brasil pode explorar muito mais esse fi lão do agronegócio

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Panorama Rural Dezembro 2009 5

Além da neve e das roupas pesadas do Papai Noel, os tradicio-nais alimentos das ceias de Natal e Ano Novo também desto-

am de nosso cenário tropical. Segundo os profissionais de saúde, os alimentos que compõem as ceias de Natal e Ano Novo também não combinam com o nosso clima quente. O ideal é substituir os alimentos calóricos por outros mais leves como frutas e peixes.

No entanto, não é fácil realizar mudanças culturais, ain-da mais quando envolve alimentos apetitosos e o significado da comemoração, que propiciam a sensação de que nestas datas o pecado da gula é perdoado. Seguir a tradição das engordativas ceias natalinas não só pode afetar a saúde, mas também o bolso, já que grande parte dos produtos utilizados é importada, e mesmo com o dólar desvalorizado ainda impacta o custo.

Mas para a felicidade geral da nação, o agronegócio brasi-leiro vem se aprimorando para oferecer aos consumidores vários produtos que sintonizam sabor, saúde e, ainda, mais barato do que o importado. De nossas lavouras saem belas e suculentas frutas que além de embelezar a mesa são dicas saudáveis para pratos sofisticados e sobremesas.

No quesito amêndoa, o Brasil está bem representado pela castanha-do-pará, conhecida internacionalmente como Brazil nut, uma semente, que saiu da Floresta Amazônica para conquistar o mundo. A castanha-do-pará é uma fruta oleaginosa, composta em boa parte de gorduras benéficas, que ajudam a evitar o colesterol alto e protegem o coração. Além disso, é rica em proteínas e nu-trientes, um deles o selênio, mineral antioxidante, que combate os radicais livres, fortalece o sistema imunológico e, segundo pesqui-sas, ajuda a evitar tumores. A quantidade de selênio na castanha-do-pará é tão grande que apenas uma unidade supre a necessidade diária do corpo.

Ainda nesta área, o Brasil oferece o tradicional amendoim, as pesquisas de melhoramento varietal aumentam cada vez mais sua qualidade. O mesmo acontece com a castanha-de-caju, cujo desenvolvimento de variedades feito pela Embrapa, como o caju-anão precoce, contribui para elevar a produtividade dos pomares. Outra opção é a australiana macadâmia, que desembarcou no

Ceia tropical

O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas, vamos saboreá-las

Brasil há menos de 50 anos e, hoje já emplacamos como quinto maior produtor do mundo.

O brasileiro que for seguir a sugestão dos nutricionistas e servir peixe na ceia contará com várias espécies, principalmente, as de água doce, que têm sido abundantes graças aos investimen-tos na produção de peixes em tanques-redes. Em relação à carne branca, uma escolha que cabe na maioria dos bolsos brasileiros é o frango. O Brasil é o terceiro maior produtor e o maior exportador de frangos. Quem quiser uma ave maior pode eleger o chester ou o peru, afinal somos o terceiro maior produtor dessas aves.

Mas se você é daqueles que não abre mão de celebrar o natal com uma leitoinha, tudo bem, também, o mercado oferece o porco light, com baixa caloria.

Para brindar, o brasileiro pode fazer um tim tim nacional, 70% do mercado de vinhos espumantes são de produtos brasi-leiros, que a cada ano se supera em qualidade e reconhecimento internacional. Quem não pretende consumir álcool ou preocupa-se com as calorias, pode brindar sem susto, já existem as sidras sem álcool ou com zero de açúcar.

Depois disso tudo, mais do que nunca devemos e podemos celebrar brindando a chegada de um novo ano. Saúde e prosperi-dade para todos. E que nosso agronegócio cada vez mais ofereça mesa farta aos brasileiros e demais cidadãos do mundo.

Luciana PaivaEditora

Uberaba, 16 de novembro de 2009.

Acabo de receber – e ler – os exem-plares de novembro/2009 das revis-

tas CanaMix e Panorama Rural (duas publicações editadas pela PC & Baldan)

Parabéns pelos excelentes conte-údos abordados. Gostaria de registrar

CARTA DO LEITOR e cumprimentar de maneira particular a Luciana, que desta vez extrapolou ao “mergulhar a fundo” no “oceano” da cana-de-açúcar em nosso país.

Sua longa – porém interessantíssi-ma - reportagem de capa da revista Pa-norama Rural constitui-se numa “aula cabal” sobre esta estratégica cultura para a economia brasileira.

Luciana, depois deste seu compe-tente “mergulho” no universo da cana,

respondo com honestidade à sua pergun-ta: Ainda há dúvidas sobre a evolução da cultura canavieira? NENHUMA

Abraços a toda família CanaMix / Panorama Rural!

Cordialmente,

Lécio SilvaDiretor/MarketingUby Agroquímica

PR

As frutas embelezam e geram rendano campo. Mas o Brasil pode explorar muito mais esse fi lão do agronegócio.46

CAPA

AS MUSASDA LAVOURA

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ENTREVISTA O momento da retomadaESTRATÉGIA Fatos, dados e os rumos da economiaBEIRA D’áGUA A Sereia do BananalAGROINFORMáTICA A automação na alimentação animalLUIz AUBERT NETO Até quando?ESTRELAS RURAIS Vale Ouro é recorde mundial de preço do Gir LeiteiroESPECIAL - SEGURO AGRíCOLA Um mecanismo indispensávelCOLUNA DATAGRO Bagaço: energia próxima ao mercado consumidorTENDêNCIAS Superprecoce - jovem, enxuto e com peso de boiGESTãO DE NEGóCIOS Avicultura industrialPESqUISA & DESENVOLVIMENTO Sistema com microtubos promove irrigação de forma precisa CULTURA Caminhos ruraisBIBLIOTECA RURAL MARkETING RURAL Novidades, tendências e destaquesAGENDA Feiras, exposições, eventos e leilões

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NEGÓCIOSUSTENTÁVELTecnologia deinclusão social

Página 62

NEGÓCIOSO país dovinho espumante

Página 28

CURIOSIDADESPassagem parao desconhecido

Página 24

LEIA TAMBéM

8 Panorama Rural Dezembro 2009

Ricardo Barbosa

Os efeitos da crise econômi-

ca mundial chegaram ao

Brasil um pouco mais for-

te do que uma marolinha, frase um

tanto quanto positivista defendida

pelo presidente Lula, mesmo assim,

felizmente, não foi o tsunami anun-

ciado, pelo menos para alguns seto-

res, como no caso do agronegócio,

que mesmo abaixo das expectativas

tem conseguido obter bons resulta-

dos.

De acordo com dados da Com-

panhia Nacional de Abastecimento,

Conab, a safra de grãos 2009/10

deverá variar de 139,04 e 141,69

milhões de toneladas, registrando

um crescimento que variará de 3%

a 5%. Caso seja confirmado o inter-

valo superior da intenção de plantio

- de 11,4% a mais que o período

passado, este será o segundo me-

lhor resultado da história. A área

a ser plantada em todo o País deve

ficar entre 47,44 milhões (-0,5%)

e 48,18 (+1,1%) milhões de hec-

tares. A perspectiva para o milho

primeira safra é de 32,79 milhões a

34,06 milhões de toneladas. O fei-

jão primeira safra, em fase de ma-

turação e frutificação em algumas

regiões, está entre 1,39 (+2,9%) e

1,43 milhão (+6,3%) de toneladas.

O arroz terá redução de 3,8%, en-

tre 12,06 e 12,18 milhões de tone-

ladas. No caso da soja, a produção

nacional deverá ficar entre 62,50 e

63,60 milhões de toneladas. Para

2010, a soja continuará na posição

de carro-chefe, estima-se que essa

cultura deva ocupar áreas de milho

e trigo, que não estão apresentando

o mesmo desempenho da soja em

relação a preços.

A soja é a principal consumi-

dora de defensivos no Brasil, sendo

responsável por 45,8% da quanti-

dade vendida em produto comercial

em 2008. No segundo lugar apare-

ce o milho (14,7%) e, em seguida,

cana-de-açúcar (7,5%). Esse au-

mento na área com plantio de soja

já está impactando o segmento de

defensivos agrícolas, segundo ana-

listas, grande parte dos produtores

rurais deixou para última hora a

compra dos defensivos agrícolas

para o plantio da safra 2009/10.

A grande procura teve início na

segunda quinzena de setembro e

crescendo no mês de outubro. A

demanda se concentrou em produ-

ENTREVISTA

José Otávio Menten

O momento da retomada

8 Panorama Rural Dezembro 2009

O Diretor-Executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Andef, fala sobre a atual situação do setor de defensivos agrícolas

Mercado de defensivos agrícolas deve crescer 5% na próxima safra, aumento da área plantada de soja é um dos motivos do sucesso do setor

Panorama Rural Dezembro 2009 9

ENTREVISTA

Panorama Rural Dezembro 2009 9

tos utilizados em lavouras de soja,

o que reflete o aumento de plantio

desta cultura na safra que se inicia.

O efeito dominó que esse

crescimento de safra vai trazer

na economia agrícola já é eviden-

te, apenas em relação ao setor de

defensivos agrícolas, na próxima

safra esse segmento deverá crescer

cerca de 5% em comparação com a

safra anterior, mesmo com a redu-

ção de preço em praticamente to-

dos os produtos que contêm Glifo-

sato como ingrediente ativo, o que

favorece ainda mais os produtores

de soja transgênica.

Em entrevista à Panorama

Rural, José Otávio Menten, diretor-

executivo da Associação Nacional

de Defesa Vegetal, Andef, explica

a atual situação do setor, mostran-

do as conquistas do segmento em

nosso País. Durante a conversa, ele

também fala sobre a descoberta fei-

ta pela Petrobras de uma jazida de

potássio na região do rio Madeira.

Panrural - 2010 será mesmo

a volta do crescimento do setor

de defensivos agrícolas?

Menten - A crise econômica

mundial já faz parte do passado,

agora estamos com a expectativa

positiva para a safra 2009/10. Para

este ano, esperamos que a receita

do setor de defensivos agrícolas fe-

che com os mesmos números do ano

passado (em 2008, as vendas totais

de defensivos agrícolas no Brasil em

valor cresceram 24% em relação ao

ano anterior, totalizando R$12,7

bilhões, de acordo com dados do

SINDAG), o que não é o adequado,

mas ainda satisfatórios para as in-

dústrias de defensivos agrícolas. As

receitas em dólares sofreram uma

queda, devido às oscilações da taxa

cambial. Mas a partir de 2010, a

expectativa é positiva, aparente-

mente, a soja será um dos grandes

líderes de mercado para o próximo

ano, e se trata da principal cultura

consumidora de defensivos. Outro

ponto fundamental para o positivis-

mo em 2010 é porque o Brasil se

colocará como líder sustentável na

produção de alimentos.

De 2010 em diante, o crescimento

deverá voltar algo em torno de 5% a

6% nos próximos anos.

Panrural – Conservação de

espécies transgênicas é a “bola

da vez”, por isso foi criado um

programa voltado para a con-

servação dessas espécies. Qual

a adesão da Andef ao programa

Plante Refúgio?

Menten - Todas as inovações

e desenvolvimentos que as pesqui-

sas trazem devem ser apoiadas e

estimuladas por todos os agricul-

”“A partir de 2010, a expectativa é positiva, porque o Brasil se

colocará como líder sustentável na produção de alimentos

Panrural - Como foi o mer-

cado de defensivos na safra an-

terior?

Menten - Nas últimas duas

safras vínhamos mantendo um cres-

cimento acentuado no mercado, isso

devido à implantação de novas tec-

nologias desenvolvidas no setor que

chegaram ao homem do campo, que

percebeu um aumento significativo

na produtividade de sua lavoura ao

utilizá-las. Com a crise econômica

mundial, o algodão e o milho, por

exemplo, tiveram um decréscimo de

produção, devido à baixa utilização

de defensivos, ou seja, tecnologia.

tores, pois, só com isso, consegui-

remos ser líder no setor produtivo

de alimentos. O refúgio é uma das

técnicas que devem ser utilizadas

para produzirmos nossos alimentos

de forma sustentável, mostrando

para o mundo que o nosso País foi

o que mais investiu em tecnologias

de produção de alimentos. Quando

falamos em sustentabilidade, es-

tamos falando em todo o conheci-

mento gerado pelos pesquisadores.

Destinar uma pequena parte da

área para o plantio convencional da

cultivar que manterá o equilíbrio é

uma tendência.

10 Panorama Rural Dezembro 2009

PR

ENTREVISTA

10 Panorama Rural Dezembro 2009

Panrural - O agricultor bra-

sileiro tem a consciência de que

o refúgio é uma das saídas para a

produção sustentável?

Menten - A mudança de há-

bito e cultura requer a necessidade

de certo tempo de adaptação, isso

também acontece na agricultura.

Temos no Brasil agricultores alta-

mente qualificados, que estão sem-

pre atentos ao desenvolvimento de

novas pesquisas, pois acredito que

eles irão assimilar facilmente essas

inovações com bastante rapidez.

Preocupamos bastante com a opi-

nião dos agricultores, pois valori-

zamos cada vez mais as técnicas

de extensão rural para os pequenos

produtores. Por isso, contamos com

os investimentos do governo, por

meio das instituições voltadas para

extensão rural, fundamental para

que essas tecnologias sejam rapi-

damente incorporadas por todos os

agricultores. Não temos que sepa-

rar a agricultura empresarial da fa-

miliar, pois todos devem praticar a

sustentabilidade, do ponto de vista

econômico, social e ambiental. As

novas tecnologias estão disponíveis,

mas agora é só uma questão de che-

gar aos agricultores. Certamente,

as tecnologias trarão um grande

avanço para o nosso setor.

Panrural - Qual é o principal

gargalo que o setor de defensi-

vos agrícolas enfrenta?

Menten - Um dos nossos

principais gargalos é a morosidade

no registro de produtos. Existem

muitas moléculas que foram de-

senvolvidas em 10 ou 12 anos de

pesquisas, com altos investimentos,

que variam de US$ 250 milhões

até US$ 300 milhões, mas que de-

moram de três a cinco anos para

serem registrados no Brasil. O pro-

dutor brasileiro não pode avançar

no desenvolvimento de tecnologias,

comparando-se aos países desen-

volvidos como os EUA e Japão,

os quais têm uma liberação mais

rápida, além de estarem à frente.

Os nossos agricultores usam produ-

tos antigos, que ainda apresentam

problemas ambientais, o que pode

ocasionar uma possível restrição

dos produtos brasileiros no merca-

do externo.

não aumentar os custos de pro-

dução na agricultura. São jazidas

profundas, que precisam ser bem

dimensionadas, estimando, prin-

cipalmente, o custo de produção.

Mas é claro que isso nos traz uma

segurança maior, se pensarmos no

nosso setor. Isso nos trará uma

grande segurança para o nosso

País. Temos água, clima e solo de

qualidade, se tivermos essa sobe-

rania no setor de insumos, teremos

mais uma vantagem competitiva.

Isso nos coloca à frente, principal-

mente no suprimento na demanda

mundial de alimentos.

Panrural – Como as osci-

”“Os nossos agricultores usam produtos antigos,

que ainda apresentamproblemas ambientais...

Panrural - A recente desco-

berta de potássio na região do

Rio Madeira com o Amazonas no

Norte do País vai nos tornar mais

independentes no setor de ferti-

lizantes?

Menten - É claro que depen-

der só do mercado interno é uma

boa, principalmente se trouxer be-

nefícios para o agricultor brasilei-

ro, tudo isso deve ser estimulado.

Os custos da extração de potássio

devem ser bem estudados, para

lações da taxa cambial têm pre-

judicado a importação de insu-

mos?

Menten - O maior problema

da taxa cambial é que ela afeta di-

retamente a agricultura. Quando

a agricultura vai bem, o setor de

defensivos também, por isso deve

haver vantagens na taxa cambial.

O elevado volume de exportações,

mesmo com as taxas desfavoráveis

de moeda, ainda nos torna líderes

de mercado.

Panorama Rural Dezembro 2009 11

12 Panorama Rural Dezembro 2009

Retaliando Tio Sam

A Câmara de Comércio Exterior – Camex - tem até o dia 10 de dezembro para analisar as sugestões encaminhadas

durante consulta pública aberta este ano relativa às medidas de retaliação a serem adotadas pelo Brasil contra os Estados Unidos por subsídios ilegais aos seus produtores de algodão. O conselho de ministros deverá se manifestar definitivamente até o final do ano, inclusive acerca do valor a ser retaliado. A secretária executiva da Camex, Lytha Spíndola, estima este valor em aproximadamente US$ 450 milhões. São mais de 100 produtos dos Estados Unidos que poderão sofrer uma so-bretaxa de até 100% do imposto de importação. O governo brasileiro, no entanto, pretende dosar a retaliação para que não haja risco de desabastecimento interno.

Algodão: definição sobre retaliação brasileira pode sair até fim de dezembro A

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Rastreabilidade gratuita?

Depois da apresentação do chip de rastreamento bovino 100% nacional, em novembro deste ano – em fase de tes-

te final em Minas Gerais -, fica a expectativa pela alternativa apregoada há meses pelo Mato Grosso do Sul. Enquanto o chip desenvolvido pelo Centro Nacional de Tecnologia Avançada (Ceitec) custará ao fazendeiro de R$ 2,50 a R$ 3,00 a unidade – 60% mais barato que similares internacionais – o governo sul-mato-grossense estuda um sistema de rastreabilidade sem custos para o pecuarista do Estado. No entanto, a secretária de Produção e Turismo do MS, Teresa Cristina Corrêa da Cos-ta Dias, vem encontrando severos obstáculos para viabilizar a ideia. A conferir.

Você já imaginou criar um frango caipira que atinja um metro de comprimento e até três quilos de peso

em apenas 120 dias? Este “frangão” já é realidade em experimentos realizados pela Empaer de Mato Grosso, no município de Juína (730 km de Cuiabá). Trata-se do desenvolvimento da raça Índio Gigante que vem ga-nhando fama diante do desempenho do frango caipira tradicional, que demora de seis meses a um ano para

atingir maturidade de abate. Os técnicos garantem que o animal oferece rusticidade, beleza, carne macia e saborosa além de tamanho e precocidade. Seus ovos estão sendo comercializados a R$ 30,00 a dúzia e os pintinhos por R$ 5,00 a unidade. O campo experimen-tal da Empaer/MT está comercializando um reprodutor de apenas três meses por R$ 50,00. Mais informações pelo fone: (66) 3566-1708.

Frango gigante e precoce

Na fase final de teste, chip 100% brasileiro implantado em vaca em Minas Gerais

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ulga

ção

Panorama Rural Dezembro 2009 13

Multiplicaçãodo guaraná

Adubação correta, cultivares adaptados e muita tecnologia

são os ingredientes de uma aceleração produtiva do guaraná que pode revo-lucionar o cultivo da fruta no Ama-zonas. Orientações da Embrapa Ama-zônia Ocidental vêm fazendo com que fruticultores do município de Maués, AM aumentem em até 600% a pro-dutividade do guaraná. De uma média na região de 150 gramas de frutos secos por planta/ano, alguns produto-res vêm atingindo a faixa de um quilo por planta. A ideia é garantir escala produtiva aos fruticultores para aten-dimento à demanda. Neste aspecto a adubação correta, com carga adequa-da de micro e macronutrientes tende a assegurar a estabilidade da produção em safras diferentes. Mais informa-ções sobre as pesquisas e resultados práticos podem ser obtidas pelo fone (92) 3621-0300.

Turismo rural em rede

Já está em funcionamento a Rede Nacional de Turismo Rural. Trata-se de um fórum de informações, troca de experiências, debates e reuniões,

tudo via Internet. A idealização foi do Governo Federal mas podem parti-cipar todas as pessoas interessadas no assunto. O foco, logicamente, são agricultores, pecuaristas, empreendedores de hotéis-fazenda, transporta-dores rurais, operadores e agências de viagem. Ao fazer o registro, basta ter uma conta de e-mail para obter o login. Não há custo para navegar na rede. A página está inserida nas comunidades do Portal da Cidadania, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e pode ser acessada pelo endereço: http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/redenacional deturismo/one-community?page_num=0Feijão comprometido

Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumi-

dor (Idec) sobre 33 marcas de feijão comercializadas em várias partes do Brasil atestou que nove delas (quase um terço) não poderiam ser vendidas. Nas embalagens, as marcas apresen-tavam impurezas acima dos níveis permitidos. E o mais grave: em sete delas foram encontrados insetos e larvas misturados aos grãos. Outras seis ainda apresentaram classificação equivocada e prejudicial ao consumi-dor. O feijão vendido como tipo 1 na verdade pertencia à classe 2 ou 3. Ao todo o Idec reprovou 20 (60%) das marcas analisadas. Todas as 28 em-presas responsáveis pelas 33 marcas foram notificadas dos resultados.

Fale com o editor desta coluna: [email protected]

Turismo rural brasileiro ganha canal para discussão e aperfeiçoamento da atividade

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De olho nos futuros agrônomos

O programa “De olho no Futuro”, que tem o objetivo de apresentar uma visão global sobre as possibilidades de atuação que a carreira de en-

genheiro agrônomo oferece, foi iniciado pela Bayer CropScience na Uni-versidade de Passo Fundo, RS.

Este mês, a primeira turma de agrônomos participou do programa, com duração de três dias. Durante o curso, são contempladas áreas téc-nicas, que envolvem o futuro do agronegócio e tendências do mercado, e também as comportamentais. Segundo Flávia Salmeron, gerente de Trei-namento e Desenvolvimento da Bayer CropScience para o Brasil e Amé-rica Latina, “há inúmeras possibilidades de atuação no mercado que as vezes o estudante de agronomia não se interessa justamente por não co-nhecer”, afirma.

14 Panorama Rural Dezembro 2009

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16 Panorama Rural Dezembro 2009

Walter do Valle

O caminhoneiro Lupércio Di Bia-gi, do Expresso Boiadeiro, ado-ra refrescar a cabeça em pesca-

rias alongadas pelas bandas do Brasil Central, rio Araguaia, rio das Mortes, Alto Xingu, Ilha do Bananal.

Foi lá que, com meia dúzia de amigos, nos idos de 1981 realizou a proeza de capturar 12 belíssimos pira-rucus, alguns pesando mais de 150 kg. Criativo, irreverente, Lupércio inven-tou uma fantasia prateada feita com couro de peixe. A tarefa foi executada na beira de um corixo da Ilha do Ba-nanal, onde ergueram acampamento. Depois de esfolar no capricho o maior dos pirarucus, conseguiu tirar o couro intacto e, transformado em costureiro de alta moda, ou num Joãosinho Trinta do Sertão, confeccionou a fantasia, ba-tizada de Sereia do Bananal. Incrível, não usou nem linha, nem agulha, nem máquina de costura. Apenas cortou o rabo do peixe, abriu buraco nas laterais do couro do bicho, por onde passou os braços na hora de vestir. A manga ca-vada ficou perfeita. A fantasia de sereia

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A Sereia do Bananal

Boiadeiro e pescador, Lupércio Di Biagi é um poço de criatividade. Depois de capturar gigantesco pirarucu no rio Araguaia, Alto Xingu, o Joãosinho Trinta do Sertão abriu o peixe, tirou o couro e improvisou uma fantasia de extasiar Buda

Lupércio de sereia

Panorama Rural Dezembro 2009 17Panorama Rural Dezembro 2009 17

o vestiu de alto a baixo, como se fosse um longo noturno moldando o corpinho esguio.

Houve um momento de perple-xidade quando Lupércio apareceu, de repente, vestindo a fantasia. Refeita do susto, a plateia o ovacionou quando ele foi para a trave, estrategicamente er-guida na prainha. Na cabeça, ao invés de plumas e paetês, a cabeçorra do pei-xe monumental pendurada na engenho-ca e amarrada com arame. Foi só se en-caixar nela para virar cobiçada sereia.

Aí Lupércio improvisou o “gran finale”: soltou gritinhos em falsete, voz de Joan Baez, a musa da música de pro-testo dos EUA nos anos de 1960 (Woo-dstock), imitando o canto enfeitiçado das sereias. Nem é preciso dizer: Lupér-cio Di Biagi campeão absoluto, nota 10 em originalidade.

Nó do Brasil – quando voltavam da pescaria os seis amigos passaram por Guaratinga e resolveram acampar outra vez, a pedido do comerciante Ar-mando Rodrigues Moraes. Enquanto a turma fisgava pirararas tricolores, Mo-raes foi conferir a vizinhança. Levou co-quinho na cabeça atirado por um bando de macacos, correu de onça, e, por aca-so, encontrou o “nó do Brasil”, a prova nua e crua de que o mundo é redondo como uma melancia.

Ele conta: “Descobri, gente! Des-cobri o nó do Brasil! Fica aqui perto de Guaratinga, Goiás. Do lado de cima, quer dizer, no Norte, o Rio Garças se encontra com o Araguaia e vai embora para capturar o Rio das Mortes e desa-guar no Amazonas. A apenas um quilo-metro dali passa o Rio São Lourenço. Esse vai para o Sul, pega o baixadão e segue até o Rio Paraguai, na altura do Pantanal, e de lá para a Bacia do Prata, confluência de Brasil, Argentina

e Uruguai.”Vocês entenderam? Um rio nasce

pertinho de onde o outro nasce, só que um sobe pro Amazonas, o outro desce para a Argentina, do Maradona. Bem, se você está de canoa e motorizado, pode escolher entre “subir” pelo Rio Garças, ou “descer” o São Lourenço e ir para o Sul. Com índios, onça, anta, macaco, veado campeiro, e tudo quanto é bicho no caminho. Fora as aves e jaca-rés para lhe fazer companhia.

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Arq

uivoO rio São Lourenço segue

para o Sul até o rio Paraguai

Lupércio, na cabeça, ao invés de plumas e paetês, a cabeçorra do peixe monumental

PR

18 Panorama Rural Dezembro 2009

A automação na alimentação animal

Programa de computador calcula ração balanceada

para animais

Da redação

Pesquisadores da área de Me-dicina Veterinária da Unesp de Araçatuba desenvolveram

planilhas eletrônicas que calculam as

formulações de rações e de suplemen-tos vitamínicos e minerais de várias categorias de animais. O programa é gratuito e pode ser baixado pelo com-putador no endereço: http://www.foa.unesp.br/downloads/categoria.

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O programa também faz formulação de suplementos vitamínicos e minerais, segundo o modelo linear

Panorama Rural Dezembro 2009 19

asp?CatCod=4&SubCatCod=138 A planilha eletrônica PPFR

(Programa Prático para Formulação de Rações) foi criada para encontrar soluções eficientes para o cálculo das quantidades de alimentos que são ne-cessárias para nutrição dos animais. O software executa o cálculo para a ali-mentação de frango de corte, poedei-ras, codornas, peixes, bovinos de leite

e corte, suínos, equinos, ruminantes (gado de corte e leite) e coelhos, entre outros.

O programa também faz formu-lação de suplementos vitamínicos e mi-nerais, segundo o modelo linear (dietas de custo mínimo) e não linear (dietas de lucro máximo). No caso do gado lei-teiro, por exemplo, o programa realiza formulação com base no lucro máximo.

Relaciona a ingestão de ração como custo e a produção de leite como a fonte de lucro. A diferença entre a for-mulação do lucro máximo e produção máxima se torna mais próximas quan-do o preço do leite aumenta. Quando o preço é baixo e o custo alto, a diferença torna-se mais expressiva entre os pro-cedimentos de formulação.

Na piscicultura o sistema calcula os níveis adequados de aminoácidos, vi-taminas e minerais. Os peixes apresen-tam baixa exigência em energia (tem o sangue frio) e cálcio (não precisam de suporte físico), o que, proporcionalmen-te, precisa elevar os níveis dos teores de proteína e aminoácidos. De acordo com o professor Manoel Garcia Neto, do departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal da Medicina Veterinária da Unesp de Araçatuba, “o Brasil é uns dos maiores produtores mundiais de carne. Por esta razão, a formulação de dietas é extremamente importante na economia do sistema de produção, que deseja desempenho, uniformidade, pro-dutividade e maximização do lucro”.

O programa PPFR utiliza o sof-tware Excel e permite várias funções como listar, introduzir, alterar e elimi-nar dados. As dietas formuladas pelo PPFR para aves e suínos seguem as recomendações da Tabelas Brasileiras Para Aves e Suínos, de 2005.

Na piscicultura o sistema calcula os níveis adequados de aminoácidos, vitaminas e minerais

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Há anos ouvimos falar que o Brasil é o País do futuro. Só que, sinceramente, acho

que a grande tarefa da nossa gera-ção é torná-lo o Brasil do presente, para que possamos construir uma ponte bem alicerçada para as próxi-mas gerações. Precisamos agir com sabedoria e inteligência para mudar o curso das nossas próprias histórias, sob pena de não podermos continuar olhando para o espelho e nos respei-tando como cidadãos. Não podemos mais continuar omissos, sem cumprir o nosso papel social.

Até quando?LUIz AUBERT NETO

Enquanto isso, atraímos, há décadas, o capital especulativo com as maiores taxas de juros do mun-do, e somos ainda mais generosos, pois esse capital quase não é tributa-do!!!. Só para exemplificar, no ano de 2008, nós pagamos mais de R$ 175.000.000.000 (isso mesmo, BI-LHÕES!!), a título de juros da dívida pública, e investimos menos de 20% desse valor em educação. Poucos sa-bem que a cada redução de 1% da taxa básica de juros, a famosa SELIC, o setor financeiro deixa de receber algo em torno de R$ 10.000.000.000,00

”“

desempenho social?Na educação, por exemplo, no

último ranking internacional mais respeitado, os estudantes brasileiros aparecem em situações vexatórias, em 53º lugar em matemática e 52º em ciências, em uma lista que envolve 57 países. Até quando vamos aceitar essas condições de ensino no País?

Até quando vamos trabalhar quatro meses do ano para pagar im-postos e termos um ensino público de péssimo nível (Salvo raríssimas exceções)? Até quando vamos reco-lher alíquotas altíssimas de INSS e

Até quando poderemos calar diantede tantas notícias de corrupção?

Como cidadãos devemos nos perguntar, sempre, até quando pode-remos ouvir falar que o Brasil é o País do futuro sem fazer nada a respeito? Até quando poderemos calar diante de tantas notícias de corrupção? Até quando poderemos conviver com as mais altas taxas de impostos e juros do mundo?

A Associação Comercial de São Paulo tem um impostômetro para fa-zer a população saber quanto de im-postos já foram recolhidos no País. Até o final de agosto esse total havia atingido R$ 698 bilhões.

Até quando poderemos conviver com uma das mais altas cargas tribu-tárias e, em contrapartida, conviver com um dos mais baixos índices de

termos uma rede pública de saúde, onde a maioria da nossa população é pessimamente atendida? Até quando vamos disputar o nosso mercado com os concorrentes internacionais em condições totalmente desfavoráveis (tributos, juros, câmbio, etc..)?

O Brasil é o único país do mun-do que tributa quem investe em bens de capital (em média 30% ao longo da cadeia produtiva). Até quando vamos suportar os efeitos adversos dessa postura no dia-a-dia das nossas empresas? Até quando vamos convi-ver com empresas que diariamente se tornam importadoras, porque é mais fácil de sobreviver nessa condição do que como fabricantes de bens de ca-pital?

(dez BILHOES!!) de juros anuais, e ainda temos os maiores spreads ban-cários do mundo. Assim, fica fácil de entender quais são as forças ocultas que são a favor desse sistema que in-viabiliza todo um sistema produtivo em prol do sistema financeiro. Até quando vamos aceitar isso?

Em nosso setor, especificamen-te, os tributos representam um ter-ço da máquina produzida no país. Até quando poderemos conviver com isso? Até quando poderemos esperar do governo a desoneração dos inves-timentos? Ou seja, que o componente imposto seja expurgado no custo dos investimentos? E sabemos que isso poderia ser feito através da compen-sação rápida desses impostos pelos

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Luiz Aubert Neto é Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)

”“ O Brasil é o único país do mundo quetributa quem investe em bens de capital

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adquirentes das máquinas. Mas até quando poderemos esperar?

Da década de 80 para cá o Bra-sil caiu no ranking de produtores de bens de capital. De quinto maior pro-dutor de bens de capital do mundo caímos para a 14ª posição, porque o investimento no Brasil é muito caro. Até quando poderemos esperar por uma isonomia, que valeria também para o bem importado, para criar um clima de investimento no país.

Quando algum fabricante se tor-na importador está gerando emprego lá fora. Até quando vamos conviver com isso?E até quando podemos con-viver com o real valorizado em relação ao dólar, que acaba inibindo o aumen-to das exportações e impulsionando as importações? Um exemplo claro é a China que já pulou para a terceira colocação entre os países que mais ex-

portam para o Brasil, desbancando o Japão que passou para o quarto lugar. Até quando vamos aceitar isso? Hoje a indústria brasileira de bens de capital enfrenta seu maior desafio, que é o da sobrevivência. Houve um aumento con-siderável das importações, o que é bas-tante preocupante porque grande parte dessas importações (cerca de 85%) foi de bens com tecnologia similar e até inferior aos produzidos internamente. Até quando viveremos com essa espada sobre as nossas cabeças?

Tudo isso gera uma perda enor-me de competitividade e a consequên-cia disso é o baixíssimo nível da taxa de investimento, sendo que nossa mé-dia nos últimos 10 anos foi de 17%, quando o ideal seria uma taxa superior a 25% (a média mundial foi de 24%), É esse investimento que gera riquezas para um País. Até quando vamos con-

tinuar com essa mediocridade?Até quando decidirmos verda-

deiramente tomarmos uma atitude e concluirmos que depende de nós. Se não conseguirmos mudar o mundo, vamos começar mudando a nós mes-mos, depois a nossa família, a nossa empresa, a nossa entidade de classe e assim sucessivamente. Iremos nos surpreender com os resultados.

No momento em que toda a so-ciedade civil entender que temos um papel importante a desempenhar na construção da nossa história, come-çaremos a caminhar em alguma dire-ção e, talvez, de maneira organizada e consciente, começaremos a mudar o destino desse País.

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O reprodutor Vale Ouro, da bateria de reprodutores da Alta Genetics teve metade de

sua propriedade comercializada em cinco cotas de 10%. Durante leilão realizado pela Estância Silvânia. O evento aconteceu em 3 de novembro, durante a Feileite 2009 e foi trans-mitido pelo canal Terra Viva. Du-rante o evento foram oferecidos 30 lotes de animais com média de R$ 90.000,00, de acordo com informa-ções da fazenda.

Com a venda de metade de sua

Vale Ouro é recorde mundial de preço do Gir Leiteiro

propriedade o reprodutor tornou-se o exemplar da raça Gir Leiteiro com maior valor de comercialização já re-gistrado no mundo. A cota de 10% ficou avaliada em R$ 172.500,00, to-talizando um valor de mercado de R$ 1.725.000,00. O touro é recorde em venda de sêmen, sendo o reprodutor que comercializou o maior número de doses na raça na Alta este ano.

Proprietária do touro a Estância Silvânia fica agora com metade da propriedade sobre o animal, a outra parte foi dividida em cotas entre Alta

Genetics (5%), Agropecuária Tropical (5%), José Alves Neto (10%), Júlio Pereira Vilela (10%) e Valdir Albino de Figueiredo (20%).

A FEILEITE – Feira Interna-cional da Cadeia Produtiva do Leite – aconteceu de 3 a 7 de novembro na cidade de São Paulo. Em sua terceira edição, a feira recebeu mais de 20 mil visitantes entre pecuaristas, profissio-nais liberais e técnicos, executivos, estudantes, zootecnistas, veterinários, agrônomos, consultores, tratadores e outros interessados no setor.

Vale Ouro é recorde mundial

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Passagem para o DESCONHECIDO

Walter do Valle

Um plano que vai além da ima-ginação malogrou em Barra do Garças, MT, cidade de

140 mil habitantes aos pés da Ser-ra do Roncador, confluência dos rios Garças e Araguaia. Os preparativos para a construção de moderno campo de pouso para discos voadores foram

interrompidos depois que parte da po-pulação protestou contra a iniciativa em 1975. “Não há garantia alguma de que discos voadores vão descer no discoporto”, justificou Arlindo Arnal-do de Souza, morador da cidade.

A iniciativa da construção par-tiu do vereador Valdo Varjão, autor e mentor do projeto de lei que autori-zava a prefeitura a construir um “Ae-

ródromo de Pouso Para Objetos Voa-dores não Identificados”. A Câmara Municipal aprovou o projeto por una-nimidade e o prefeito da época, Ru-bens Massucio, sancionou a lei e até fixou verba orçamentária para a exe-cução da obra, que seria erguida em área de cinco hectares da Serra Azul, um braço da Serra do Roncador, pe-rímetro urbano de Barra do Garças.

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expedições entre 1906 e 1924 tentan-do encontrar a passagem. Seus rela-tos e seu repentino fim (desapareceu misteriosamente em 1925 na Serra do Roncador, juntamente com seu filho Jack Fawcett e um amigo dele, Raleigh Rimmell) provocaram forte onda de credibilidade em suas teorias.

Congestionamento no céu – há motivos de sobra para se acre-ditar em OVNIs na pacata Barra do Garças. Lá, quase todo mundo já viu disco voador nos céus e arredores da cidade. Centenas de relatos esmiúçam detalhes de objetos luminosos, ora em vertiginosa velocidade, ora parados em cima da Serra Azul, “como se procurando um lugar para descer”,

explica o ufólogo e ex-ve-reador Valdo Varjão. “Por que então não construir um discoporto?”, pergunta ele.

Passagem para a 4.a dimensão – na verdade a crença sobre ETs, discos voadores e uma miste-riosa passagem para a quarta dimensão em al-gum ponto da Serra do Roncador vem de longe. Em 1925, o coronel Percy Fawcett, oficial da Real Artilharia Bri-tânica, arqueólogo e explorador, fez expe-dições pela Serra do Roncador e anunciou ter encontrado ali indícios de uma civi-lização, remanescente da cidade per-dida de Atlântida. Fawcett era arque-ólogo, tinha currículo de viagens pelo Ceilão e Tibete e conhecido na Europa como cientista místico, pois dedicava-se a pesquisar fenômenos que fugiam às explicações da ciência.

Em artigos que escreveu para jornais ingleses, Fawcett insistiu na existência de uma passagem à Quarta Dimensão em Barra do Garças, Mato Grosso, Brasil”. O inglês liderou sete

A falta do discoporto

na Serra do Roncador provoca congestionamento de discos voadores

explica o ufólogo e ex-ve-reador Valdo Varjão. “Por que então não construir um discoporto?”, pergunta ele.

Passagem para a 4.a na verdade a

crença sobre ETs, discos voadores e uma miste-riosa passagem para a quarta dimensão em al-gum ponto da Serra do Roncador vem de longe. Em 1925, o coronel

lização, remanescente da cidade per-Coronel Percy Fawcett: cidade perdida de Atlântida

Orlando Villas Boas (ao centro) em 1952 e a possível ossada de Fawcett

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Villas Boas encontra ossada – em 1952, os sertanistas Cláudio e Or-lando Villas Boas encontraram uma ossada humana num trecho da Ser-ra do Roncador, próximo ao Rio das Mortes. A ossada passou por inúme-ros testes, no Brasil e na Inglaterra,

cheia de grutas e cavernas com ins-crições pré-históricas, grandes gale-rias com estalactites, estalagmites e lagos subterrâneos de água calcária azul profundo. Seus cannyons “ron-cam” com a passagem do vento (daí o nome Roncador) e se estendem por

dezas. Ou outra dimensão.Já apareceram na região cen-

tenas de estudiosos do desconhecido, entre eles o naturalista americano Carl Huni. Ele relata ter encontrado uma tribo de pequenos “índios morce-gos” que moravam em cavernas sub-terrâneas no Roncador. Num cemité-rio indígena encontrou um esqueleto que é um misto de homem e morcego, com asas nos braços e antebraços. E também uma múmia indígena, cabeça humana descomunal e seis dedos no pé retorcido.

Por tudo isso o ex-vereador e depois ex-senador Valdo Varjão acredita que foi um erro não cons-truir um discoporto na Serra do Ron-cador. “Com certeza os ETs desce-riam ali, pois não há clareira no alto da serra.”

mas não se chegou a uma conclusão satisfatória. Atualmente, os ossos es-tão no Instituto Médico Legal da Uni-versidade de São Paulo. Foi realizado exame de DNA mitocondrial, mas a família Fawcett se recusa a submeter-se a este exame. Em 1996, os índios Kalapalo capturaram uma expedição inglesa que visava solucionar o misté-rio. Eles foram libertados após decla-rarem desistência. Ao todo, cerca de 100 exploradores já morreram desde 1926 tentando procurar pelo paradei-ro de Fawcett. Três expedições de res-gate também desapareceram na Serra do Roncador, região inóspita que con-tinua inexplorada até os dias atuais.

O ronco dos ventos – a Serra do Roncador, que começa em Barra do Garças e se estende até o Pará, é

uma área de mil quilômetros. Nos limites da Serra Azul existe área de onze milhões de hectares destinada à preservação do cerrado.

Gruta dos Pezinhos – Ronca-dor possui sítios arqueológicos pouco explorados. Um desses lugares é co-nhecido como a Gruta dos Pezinhos, com pegadas parecidas com humanas, mas com seis dedos. Há quem afirme que sejam vestígios da presença de ETs. Ali perto está a Lagoa Encan-tada, lugar sagrados dos índios xa-vantes, que não permitem a visita de brancos. Nessa lagoa de águas crista-linas de azul intenso não há sinal de vida. Nem peixes, nem répteis, nem microorganismos. Os xavantes têm medo de nadar na lagoa, achando que podem ser “sugados” para as profun-

Em cemitério indígena foi encontrado um esqueleto que é um misto de homem e morcego, com asas nos braços e antebraços

Suposto esqueleto de ET – cabeça humana descomunal e seis dedos no pé retorcido

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O Brasil possui o segundo melhor terroir do mundo para a produção de vinhos espumantes. Boa notícia, pois

o consumo da bebida está em alta

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O Brasil possui o segundo melhor

O país do vinho espumante

Luciana Paiva

Com a proximidade das festas de fim de ano os brasileiros intensi-ficam a corrida para aquisição de champagnes, vinho espumante ou de sidras. A tradição de brindar a chegada do novo ano com o

estouro desses vinhos borbulhantes é o mesmo em qualquer classe social, o que difere é o tipo de espumante. Depois da França, o Brasil é o país em que mais se consome espumante. O consumo dessa bebida no Brasil cresceu 40% nos últimos dois anos e a preferência pelo produto nacional é uma forte tendência, 70% das espumantes que são consumidas no Bra-sil são de empresas nacionais. No Brasil, 20% das uvas são destinadas à produção de vinhos espumantes, enquanto a média mundial é de 4%.

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A maioria das pessoas ainda se refere a esse tipo de vinho como champagne ou champanha, mas o vinho espumante só pode ter o nome de champagne quando elaborado na região do próprio nome na França, porque este país estipulou uma lei que conserva a eles o direito deste nome - champagne. A saída para outros pa-íses foi encontrar um outro nome. Na Itália tem o Prosecco produzido com uvas tipo Pinot Noir e Chardonnay, mas tem também o Asti, este segundo é mais doce e utiliza a uva Moscatel, já na Espanha são os Cava que utili-zam as uvas Macabeo, a Xarel-lo e a Parellada.

O Brasil ainda não encontrou sua denominação, mas um grande passo já foi dado, a maioria das vi-nícolas não fala mais champagne e está usando no rótulo, por enquanto, apenas vinho espumante. “O que exis-te hoje é o selo de procedências para vinhos e espumantes elaborados no Vale dos Vinhedos, mas estamos tra-balhando para buscar essa denomina-ção de origem a partir de um trabalho realizado pela Associação dos Produ-tores do Vale dos Vinhedos (Aprova-le)”, diz Adriano Miolo, diretor-técni-co da Vinícola Miolo, que hoje ocupa a posição de 3ª maior produtora de espumantes do Brasil e a líder na pro-dução pelo método champenoise (é quando a fermentação se dá dentro da própria garrafa. O outro método é o charmat, a fermentação acontece em tanques de aço inoxidável). A Miolo tem dois projetos de espumantes, um no Vale dos Vinhedos, o Miolo Cuvvè Tradition, e um no Vale do São Fran-cisco, o Terranova.

O segundo melhor terroir do mundo – terroir é uma expressão francesa que identifica os quatro ele-mentos fundamentais para a produção de um bom vinho: o solo, o clima, a

casta e a interferência do homem. Se-gundo os especialistas em viticultura, a região da Serra Gaúcha apresenta o segundo melhor terroir do mundo para a produção de vinhos espumantes, só perde para a região de Champagne na França. A cidade de Garibaldi é popu-larmente conhecida como a “Capital do Champanhe Brasileiro”, pois lá estão sediadas várias empresas espe-cialistas na produção desses vinhos, inclusive a pioneira na elaboração de champanhes no Brasil, a Peterlongo, que produz a bebida da mesma ma-neira artesanal desde 1915. Garibaldi é responsável pela elaboração de mais de 60% do champanhe nacional e 50% dos vinhos finos nacionais. A ci-dade também é sede de outras marcas de vinhos espumantes tradicionais, como a Georges Albert e a Chandon do Brasil.

Karina Quarita, gerente de co-municação da Moët Hennessy do Bra-sil (Chandon) explica que os vinhedos encontram-se na Serra Gaúcha, re-gião montanhosa com elevações osci-lando entre 400 e 800 metros sobre o nível do mar. Os solos caracterizam-se por resultar da degradação do subs-

trato basáltico e apresentam varia-ções em sua textura que vão do fran-co ao pedregoso. “Na verdade, o que mais determina a qualidade das uvas na região são as condições climáti-cas. De modo geral, a adversidade das mesmas (precipitação pluviométrica elevada e alto índice de umidade) cos-tuma comprometer a maturação ideal das uvas para produzir grandes vinhos brancos e tintos, mas acabam se tor-nando muito adequadas quando o des-tino das uvas é o espumante”, diz.

Os meses determinantes do ci-clo vegetativo das videiras, quando se foca a elaboração de espumantes, são dezembro, janeiro e fevereiro. Du-rante este período, o número de dias de chuvas bastante elevado reduz a insolação. Ao mesmo tempo, as noi-tes ficam frescas com temperaturas noturnas bem abaixo dos 20°C. Es-tes dois fatos fazem com que as uvas mantenham um bom teor de acidez com um teor moderado de açúcar. Este perfil de maturação caracteriza perfeitamente as uvas destinadas a espumantização. Por outro lado, esta maturação, por acontecer lentamente, favorece a formação de aromas extre-

Parellada.O Brasil ainda não encontrou

sua denominação, mas um grande passo já foi dado, a maioria das vi-nícolas não fala mais champagne e está usando no rótulo, por enquanto, apenas vinho espumante. “O que exis-te hoje é o selo de procedências para vinhos e espumantes elaborados no Vale dos Vinhedos, mas estamos tra-balhando para buscar essa denomina-ção de origem a partir de um trabalho realizado pela Associação dos Produ-tores do Vale dos Vinhedos (Aprova-le)”, diz Adriano Miolo, diretor-técni-co da Vinícola Miolo, que hoje ocupa a posição de 3ª maior produtora de espumantes do Brasil e a líder na pro-dução pelo método champenoise (é quando a fermentação se dá dentro da própria garrafa. O outro método é o charmat, a fermentação acontece em

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Parreirais da Chandon na Serra Gaúcha

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mamente finos e delicados. Teor mo-derado em açúcar com boa acidez e formação de aromas finos são os dois fatores essenciais de qualidade dos espumantes, inclusive do champagne.

“Champagne das Américas” – enólogos acreditam que a Serra Gaúcha oferece todos os ingredien-

& Chandon optou por investir no Bra-sil basicamente por três razões. A pri-meira é enológica: a região da Serra Gaúcha tem uma vocação nata para o cultivo de uvas com grande aptidão para a elaboração de espumantes de qualidade classe mundial. “Aliás, temos que reconhecer a ousadia e a

Brasil, especialmente, quando nessa década o País vivia seu “milagre eco-nômico”. E a terceira reside no fato que o Brasil era muito fechado nesta época; o champagne importado carre-gava impostos e taxas que multiplica-vam seu preço até três vezes tornando seu consumo proibitivo. Tendo estas dificuldades para alimentar o merca-do por fora, pensou-se em trabalhá-lo de dentro.

Maior qualidade e investimen-tos – o aumento da preferência pelo espumante nacional deve-se muito a melhoria da qualidade do produto. Hoje, as melhores vinícolas da Serra Gaúcha utilizam cepas nobres e con-tam com a mais avançada tecnologia, idêntica à utilizada nos principais países vinícolas da Europa. O vinho espumante produzido na Serra em degustações às cegas tem superado os italianos e espanhóis. Já aconteceu até de bater champagnes franceses.

A melhoria da qualidade tem li-gação direta com o aumento dos inves-timentos no setor. Líder no segmento de espumantes Super Premium, a Chandon, de acordo com Karina, logo após instalar-se em Garibaldi, acli-matou as variedades europeias que hoje fornecem matéria prima para

Negócios

tes para a produção do “Champagne das Américas”. A região possui solos apropriados e clima onde as estações são bem marcantes: frios invernais prolongados que possibilitam o des-canso das videiras e o acúmulo de reservas, primavera com temperatu-ras em lenta elevação facilitando a floração e fecundação completa com a formação dos frutos, e verão quen-te, com noites frias, que proporciona condições perfeitas para a total matu-ração das uvas. “A Serra Gaúcha pos-sui uma diversidade imensa de micro climas extremamente particular. Os solos também são muito relevantes e implicam na diferenciação de um lo-cal para outro dentro da Serra Gaú-cha. Clima e o terroir muito próximos ao da região de champagne unido ao “Savoir faire” dos italianos que colo-nizaram a região, foi determinante”, salienta Adriano Miolo.

Segundo Karina, a Maison Moët

façanha dos enólogos da matriz, a Maison Moët & Chandon que detec-taram este potencial no início dos anos 1970, permitindo então que a Chandon se estabelece naquela região a partir de 1973”, diz. A segunda razão, destaca Karina, é o atrativo de um mercado com o tamanho do

Adriano Miolo: terroir e o “Savoir faire” dos italianos

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seus vinhos espumantes. Trouxe da França – para ter certeza de contar com mudas sãs e isentas de viroses – o Chardonnay e o Pinot Noir, sen-do que este segundo tipo, apesar de tinto, foi introduzido para ser vinifi-cado em branco. Apostou no Riesling Itálico, já adaptado a Serra Gaúcha e desenvolveu muitos trabalhos para melhorar esta variedade embaixadora desta região. Além da introdução de variedades importadas de uvas, os es-pecialistas da Chandon metodizaram a poda dos vinhedos próprios, bem como a dos viticultores parceiros. Nesse sentido, estabeleceram como rotina o método de condução vertical das videiras, em “espaldeira”, já em-pregado com êxito na França, sendo o mais apropriado para a obtenção de uvas de qualidade superior.

A empresa também investe em equipamentos de última tecnologia e o processo é todo acompanhado pelo quadro de enólogos da casa, que man-têm rigoroso controle de qualidade em cada etapa do processo. Estes pro-fissionais, observa Karina, são todos engenheiros agrônomos ou enólogos com cursos de pós-graduação especí-ficos em viticultura e enologia, e res-pondem por todas as fases do proces-

determinou a automatização de todo o sistema da vinificação com alta tecnologia objetivando viabilizar um sistema artesanal em escala de pro-dução. A tecnologia foi importada da Europa e desenvolvida no Brasil. “O mérito do projeto da Miolo foi inovar na atividade de vinhos espumantes”, afirma Murilo Azevedo, chefe do de-partamento de agronegócios da Finep.

Demanda crescente – Karina salienta que a demanda por espu-mantes no Brasil vem crescendo ano após ano e que o setor não sentiu a crise financeira mundial. Adriano Miolo tem a mesma opinião, nos úl-timos três anos a Miolo vem elevan-do a produção, hoje é acima de dois milhões de garrafas de espumantes.

Todo o cuidado no recolhimento das caixas de uva

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A Pinot Noir é uma variedade tinta, mas foi introduzida para ser vinificada em branco

so, desde a escolha das videiras mais apropriadas a cada fim e os tratos culturais a que devem ser submeti-das no campo, passando pela colhei-ta e seleção das uvas, até culminar na demorada fase de processamento, envolvendo prensagem, fermentação e maturação. Viajam pelas diversas re-giões vitícolas do mundo onde o grupo atua, reforçando o processo de inter-câmbio de experiências que tradicio-nalmente interliga todas as unidades do grupo, além de participar de semi-nários de atualização permanente.

Enquanto a Chandon destina 100% de suas uvas para a produção de espumante, a Miolo direciona 20% das uvas produzidas no projeto do Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha), e 80% no projeto do Vale do São Fran-cisco. A empresa concluiu este ano in-vestimentos de aproximadamente R$ 5 milhões realizado a partir de uma parceria com a Financiadora de Estu-dos e Projetos (Finep) visando buscar a excelência na produção de espu-mantes e triplicar a elaboração destes na Miolo no Vale dos Vinhedos para 1,5 milhões de garrafas. Os recursos foram aplicados na modernização dos vinhedos e em máquinas especí-ficas para o champenoise. O projeto

“O espumante é uma das bebidas que têm apresentado maior crescimento no seu consumo entre os brasileiros. Este ano, a expectativa é comerciali-zar 1,8 milhão de garrafas, cerca de

32 Panorama Rural Dezembro 2009 Panorama Rural Dezembro 2009

18% a mais do que no ano anterior”, diz Adriano.

No Brasil, segundo Karina, as principais praças consumidoras de vinho espumante são: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Brasília. Adriano destaca as praças de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mas, os dois salientam o Nordeste como região emergente. A Chandon não atende o mercado exter-no, pois, de acordo com Karina, ainda há um grande potencial para o merca-do interno. Já a Miolo, em 2002, par-tiu para a busca de mercados inter-nacionais com o objetivo de mostrar para o mundo a vocação brasileira de produzir vinhos finos sofisticados.

Atualmente, está presente em mais de 20 países. É a maior exportadora de vinhos finos em faturamento do Bra-sil. Atualmente, os espumantes são exportados para os seguintes países: USA, Alemanha, Suíça, Japão, etc. Adriano salienta que o mercado ainda pode ser muito desenvolvido.

As qualidades que o consumidor deve encontrar nos vinhos espumantes – o aspecto visual é muito importan-te. A limpidez e o brilho da cor devem ser vivos e intensos. A borbulha ideal é fina, com bolinhas pequenas e boa espuma. Claro que a espuma depende muito das taças utilizadas. Sabão, por exemplo, acaba com qualquer bebida. Na boca, deve esbanjar harmonia e

equilíbrio, deve-se perceber a acidez e o frescor, mas nunca em demasia. As borbulhas devem cutucar as papilas, numa sensação de comichão na boca. Sentir bem os aromas frutados e ter um final que motive a tomar a segun-da taça.

Incentivar o consumo do produ-to durante o ano todo passou a ser um dos focos das vinícolas. “Buscamos democratizar o consumo dos espu-mantes que antes era elitizado. Fazer com que ele seja um produto de consu-mo usual e não somente para as come-morações de final de ano”, diz Adria-no. A Chandon passou a divulgar o consumo do produto em taças como aperitivo, acompanhando refeições e em coquetéis. Também desenvolve ações em boates utilizando grandes formatos com um ritual especial de serviço ou na versão baby para consu-mo individual. Assim, cada vez mais brasileiros provarão que o vinho espumante é uma bebida refres-cante, descontraída e que acompanha muito bem a refeição duran-te o ano todo, não ape-nas nas festas de final de ano.

Variedades de uvas brancas como a Riesling e Chardonnay também utilizadas na produção de espumantes

Cuvee Tradition brut, uma

das opções de vinho

espumante produzidos pela Miolo

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O país da sidra

O Brasil também se apresen-ta como o país da sidra – suco fermentado de frutas.

Um bom exemplo é a Cereser, tra-dicional fabricante brasileira de bebidas há 83 anos no mercado, que inaugurou, recentemente, a maior linha de produção de espu-mantes do mundo, na sua fábrica em Jundiaí, interior de São Paulo. Com 2 mil m² de área construída e dotada de tecnologia italiana de ponta, a nova instalação poderá processar cerca de 26 mil garrafas de bebida por hora ou 36 mil gar-rafas de tamanho individual (entre 250 e 350 ml), cerca de 25% a mais do que as maiores fábricas do gênero.

Segundo José Fontelles, di-retor comercial da Cereser, a nova estrutura de produção está apta a suprir a demanda de suas marcas que crescem a uma taxa de 8% ao ano. Será envasada nessa linha a Chuva de Prata (agora também na versão sem álcool), a tradicional Sidra Cereser, e suas versões nos sabores Morango, Pêssego e Uva, todas com ou sem álcool, e a nova Cereser Zero.

Totalmente automatizada, a nova linha de produção permitirá à Cereser suprir a sua sazonalida-de, fazendo com que possa aten-der a sua demanda de final de ano num período de apenas 90 dias. Na unidade de Jundiaí, será fa-bricada uma quantidade superior a 2,2 milhões de caixas no mes-mo período, o que corresponderá a mais de 26 milhões de garrafas de bebidas, reforçando a liderança

da empresa na categoria em que atua. Deste volume, 16% são ex-portados para países da América Latina (como Paraguai, Uruguai, Cuba e Venezuela), da África (en-tre eles, Moçambique e Nigéria) e Oriente Médio. Vale dizer que as marcas Chuva de Prata, Sidra Ce-reser, Cereser Sabores e Cereser Zero correspondem a 30% do fa-turamento da empresa. No Brasil, a região Norte/Nordeste, de acor-do com Fontelles, a Sidra Cereser tem maior apelo, já no Sul e Su-deste a preferência é pela Chuva de Prata. O nicho da sidra sem ál-cool está em plena expansão. “En-quanto a convencional apresenta uma taxa de crescimento de 8% ao ano, a sem álcool cresce na ordem de 20%. O maior consumo deve-se a religiões que não consomem álcool e também a lei seca.

O público preferencial das sidras da Cereser pertence às clas-ses C e D, justamente as que ele-varam a condição de consumo, o que incentivou a empresa a pros-seguir com o projeto de instala-

ção da maior linha de espumantes do mundo que foi concebido em 2007. “Apesar das incertezas dos mercados interno e externo, a Ce-reser apostou no aumento do poder de compra dos seus consumidores e concluiu a obra”, diz Fontelles. A empresa acertou e agora deve estar brindando a iniciativa. TIM TIM!

Nova linha de espumantes da Cereser

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José Fontelles e o produto Chuva de Prata: demanda em ascensão

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Um mecanismo indispensável

Para cobrir as perdas com a seca, por exemplo, o produtor rural deve se prevenir assegurando a lavoura

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Adair Sobczack

Brasil. País em que “plantando, tudo dá”, desde que se faça o manejo adequado e a produ-

ção seja assegurada, é claro. A cada nova safra, o produtor tem sido obri-gado a recorrer ao seguro rural como uma ferramenta em defesa da instabi-lidade daquele que é considerado o seu maior aliado: o clima. No entanto, o que deveria ser uma garantia para o setor, ainda demonstra algumas fragi-lidades e regras não claras, o que tem gerado insegurança e críticas por par-te dos agricultores. Já as seguradoras alegam que há falta de informação ao produtor sobre o que é o seguro rural e as diretrizes que o regem e reconhe-cem que por ser um sistema ainda em fase de expansão, necessita de ajustes de readequação, voltados não apenas às necessidades de cada região, mas principalmente de cada produtor e ati-vidade.

De acordo com o diretor técnico da Companhia de Seguros Aliança do Brasil – empresa do Banco do Brasil –, Wady José Mourão Cury, o mercado de seguro agrícola no Brasil ainda está em formação, atingindo apenas 7% do seu potencial futuro. “É um segmento

O mercado de seguro agrícola no Brasil ainda

está em formação. é preciso que se

fortaleça como uma opção para

cobrir as perdas e garantir renda

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36 Panorama Rural Dezembro 2009

promissor, que movimentou em 2008, cerca de R$ 320 milhões em prêmios e R$ 7,3 bilhões em cobertura. De olho nisso, o Governo deu um passo impor-tante para a consolidação do produto ao abrir espaço para discutir o assunto com agricultores, entidades do setor, seguradores e resseguradores”, revela.

Segundo Cury, que, também preside a Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais, FenSeg, a ideia do seguro ru-ral surgiu em 1954, com a criação da Companhia Nacional de Seguro Agrí-cola, que ficou responsável pelo desen-volvimento e promoção do produto em todo território brasileiro. “Dez anos depois, constataram-se as dificuldades na sua operacionalização. Os riscos eram grandes demais para as segura-doras, por isso o custo ficou muito alto para o produtor”, diz.

Em 2004 – cinquenta anos de-pois –, a lei de subvenção ao prêmio foi aprovada, promovendo o subsídio fede-ral de 50% do valor do seguro. Para a Aliança do Brasil, esta medida foi de

extrema importância para o mercado, pois enquanto os outros seguros não trabalham com riscos catastróficos, o rural, fundamentalmente, considera este cenário. “Um período de seca, por exemplo, não impacta somente em uma ou duas plantações, mas na região inteira. Isso gera a correlação entre os riscos segurados ou não segurados, elemento essencial da natureza catas-trófica”, comenta Cury. Segundo ele, é importante lembrar que o seguro rural, além de dar tranquilidade aos produ-tores rurais em situações de grandes perdas, pode ser considerado uma pro-teção ao crédito, uma vez que oferece segurança para que o agricultor honre seus compromissos. “Permite também, que o empréstimo bancário seja am-pliado mesmo em um momento de cri-se econômica, já que a instituição tem garantias de retorno do investimento. Outro fato importante é o incentivo que ele gera no incremento tecnológico do agricultor”, ressalta.

dendo cerca de um bilhão de reais em prêmios e R$ 21 bilhões em cobertura, o que deve atrair a atenção de mais seguradores e resseguradores. “Hoje, por ser um setor de alto risco que exige alta especialização das seguradoras, apenas seis empresas atuam no ramo”, aponta Cury.

Fundo de catástrofe – segun-do a Aliança do Brasil, o governo vem reforçando sua política agrícola e atuação no seguro rural. “Este mer-cado é dependente, essencialmente de três fatores: uma política consistente para que a iniciativa privada sinta-se confortável em investir no segmento, subvenção ao prêmio e, a capacidade de subscrição”, revela Cury, acres-centando que, o custo de uma safra gira em R$ 160 bilhões, o que torna praticamente inviável a cobertura do investimento exclusivamente por meio das resseguradoras. “Assim, mais uma vez, o governo entrou em cena e colo-cou em pauta, no Congresso, a discus-

Wady José Mourão Cury: “o mercado de seguro agrícola no Brasil ainda está em formação, atingindo apenas 7% do seu potencial futuro”

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A expectativa do Ministério da Agricultura é de que este ano sejam assegurados 7,5 milhões de hectares, frente a 4,7 milhões em 2008. Para 2011, a estimativa é de que 220 mil agricultores sejam beneficiados, ren-

são sobre o fundo de catástrofe, me-canismo que garante às seguradoras a proteção patrimonial e a estabilidade nos resultados em caso de eventos ca-tastróficos, bem como estabelece um programa que gera a certeza da ma-

O fundo de catástrofe cobriria operações de seguro rural contra efeitos de doenças, pragas...

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Panorama Rural Dezembro 2009 37

nutenção do seguro rural como um dos principais instrumentos da política agrícola”, comenta.

que isto tem um preço estabelecido regionalmente pelo zoneamento agrí-cola, assim, o agricultor terá então a

para a consolidação desse importante instrumento de estabilidade e desen-volvimento da agricultura, é necessá-rio criar um sistema eficiente de gestão que potencialize as sinergias entre o governo, a iniciativa privada, os pro-dutores e as entidades do setor. “Hoje, é indiscutível que as partes não medem esforços para atingir esse objetivo. Co-lheremos amanhã o que estamos plan-tando hoje e, com certeza, serão bons frutos”, diz Cury.

No entanto, a cada safra, o pro-dutor se depara com um cenário de incertezas. Como se não bastasse à volatilidade mercadológica, há ainda, a instabilidade climática. Assim, hoje, “nem tudo que se planta, colhe”. “Mi-nha previsão era colher 25 mil sacas de trigo, mas em função das geadas e do excesso de chuvas, colhi apenas 4,8 mil”, revela o triticultor de Cascavel,

Segundo o projeto de lei comple-mentar (PLP 374/08), o fundo de ca-tástrofe cobriria operações de seguro rural contra efeitos climáticos, doen-ças e pragas e deverá ser constituído na forma de consórcio privado, poden-do contar com subvenção pública. “O objetivo é aperfeiçoar o seguro para a proteção da produção agrícola, pecu-ária, florestal e aquícola”, explica o relator do projeto, deputado Moacir Micheletto (PMDB/PR). “Estamos com o projeto de lei do seguro agrícola já aprovado, mas não adianta termos a lei se não temos o fundo para criar o próprio seguro. O fundo de catástrofe é um projeto que vem atender defini-tivamente a situação da agricultura e da pecuária brasileira. Queremos ter dinheiro para pagar inclusive as perdas que nós temos na agricultura brasilei-ra”, diz o deputado.

De acordo com Micheletto, se o produtor tiver um alqueire de feijão que renderia 100 sacas e ele perder a produção em função de doenças, pra-gas, chuvas ou com qualquer outra ação climática, o fundo cobrirá, inclu-sive as 100 sacas pedidas. “É lógico

sua renda garantida”, comenta.As metas do fundo são elevar a

cobertura do seguro rural dos atuais

Moacir Micheletto: projeto aprovado, falta o fundo

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3% para até 70% dos produtores nos próximos 20 anos. “O fundo deve ser “autossuficiente” e “autorregulado” como uma Socieda-de de Propósito Es-pecífico, gerida em sistema de parceria público-privada. Se os sinistros supera-rem o valor do pa-trimônio do fundo, a União bancará a di-ferença. Os recursos cobrirão eventuais perdas e indenizarão o produtor”, salien-ta.

Perdas pelas intempéries – para o diretor da Alian-ça do Brasil, 2009 foi decisivo para o seguro rural, mas

38 Panorama Rural Dezembro 2009

PR, Valdir Lazarini. Não bastasse a quebra de 80,8% na produção, Laza-rini ainda está sendo obrigado a amar-gar outro prejuízo. “Como meu trigo não tinha qualidade para panificação foi destinado à ração animal. Com isto, o preço caiu de R$ 31,80 para R$ 12,00 a saca, um prejuízo de R$ 95 mil”, desabafa o produtor.

O produtor comenta que reali-zado um seguro total da lavoura pela média de produtividade da região, mas que até agora, não teve definição algu-ma do que ira acontecer. “Ainda não sei o que vou receber da seguradora. Eles apenas estão analisando a região para ver o que vão pagar, enquanto isso, estou com parcelas dos financia-

mentos vencendo e não sei como vou pagar”, critica Lazarini. Segundo ele, falta responsabilidade e seriedade para com o produtor, que depende do clima para produzir, pois deveria haver uma estrutura de amparo quando o tempo não coopera. “Quando contratamos o seguro, pagamos o prêmio à vista. Hoje, não pensamos em tirar vanta-gens como faziam os produtores de antigamente. Então, precisamos de garantias, apoio, pois somos uma em-presa e temos obrigações a cumprir”, justifica, esperançoso que a segurado-ra, no mínimo, o indenize pela média da região (33 sacas/ha) e ao preço de R$ 31,80. “Já ajudaria bastante”, revela.

Medidas anti-cíclicas – de acor-do com o diretor de riscos financeiros e agrícolas da Mapfre Seguros, Gláucio Toyama, nos últimos anos a sociedade vem pressionando o governo para que adote medidas anti-cíclicas para agri-cultura, de forma a suportar os movi-mentos de estresse de mercado, como quebras de safras, volatilidades de preço e câmbio e a escassez de crédito. “Estas pressões geram um custo muito

Gláucio Toyama: “seguro agrícola deveria ser obrigatório em todas as instituições financeiras”

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Excesso de chuvas prejudicou a qualidade do trigo no Paraná

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grande para o governo, para a socieda-de e para o próprio produtor rural. As atividades agropecuárias têm alta de-manda de capital e a baixa capitaliza-ção da maioria dos produtores faz com que os Bancos ou empresas do agrone-gócio sejam os grandes financiadores deste setor e, consequentemente, toma-dores do risco climático”, explica. Se-gundo ele, os grandes Bancos seriam os principais veículos de distribuição de seguros agrícolas, pois as operações de crédito teriam nesta ferramenta um grande mitigador de inadimplências. “Desta forma, acredito que o seguro agrícola deveria ser obrigatório em todas as instituições financeiras, nas operações de mercados de capitais e tomada de qualquer empréstimo”, res-salta Toyama.

Atualmente, a Mapfre trabalha com seguros para mais de 60 diferen-tes cultivos agrícolas, sete espécies flo-restais e, num projeto piloto, a empresa lançou, neste ano, também um seguro pecuário, cobrindo a vida dos animais destinados à produção de carne e leite.

Para a Mapfre, hoje, existem se-guros que garantem um único evento (granizo, por exemplo) ou vários even-tos climáticos (multi-risco). “Estas possibilidades podem cobrir os custos de produção ou, um percentual da pro-dutividade esperada. No seguro de pro-

dutividade, por exemplo, dependendo do perfil e da safra, já estão inclusos também os custos de produção”, diz Toyama enfatizando que, a cultura de seguros deve ser fortemente trabalha-da, para que o mercado agrícola ad-quira o conceito do negócio e conheça as diversas modalidades de seguros rurais, pois muitas pessoas não sabem que existem seguros agrícolas e muito menos que as seguradoras estão dis-postas e conhecer melhor seus clientes. “Sabemos também que, do lado das seguradoras existe um grande distan-ciamento da realidade do campo e que precisamos melhorar muito”, aponta.

Outra questão levantada por Toyama, é que as seguradoras não po-dem disponibilizar produtos de seguros iguais em regiões distintas, pois o Bra-sil é um país continental e a exposição de riscos de um Estado da região Sul, por exemplo, é muito diferente de um Estado do Centro-Oeste. “É óbvio que o produtor tem a percepção do que é risco climático para sua lavoura e o que preço de risco. Entretanto, os pro-dutores não podem e não devem consi-derar que as companhias seguradoras tenham pleno conhecimento do risco de cada região, microregião e produtor”, diz. Segundo ele, nestas situações que o produto não tem aderência, é neces-sário que as partes (seguradoras e pro-

dutores) caminhem juntas para criar e ter os produtos de seguros adequados.

Na safra de trigo que acabou de ser colhida, os produtores paranaenses

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tiveram sérios problemas em função do clima. Além das geadas, o excesso de chuvas causou o surgimento de doen-ças que destruíram varias lavouras e prejudicaram a qualidade do grão que foi colhido. Os triticultores que asse-guraram suas lavouras com o seguro privado, operação que contou com a subvenção do governo ao prêmio de seguro, limitado em 70% do valor, re-

Modesto Félix Daga: índices do IBGE abaixo da realidade do produtor tecnificado

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40 Panorama Rural Dezembro 200940 Panorama Rural Dezembro 2009

clamaram que não tiveram cobertas as perdas decorrentes do excesso de chu-vas. No entanto, Toyama explica que, o seguro cobre a produtividade, mas, não a qualidade do grão. “Os produ-tores que tiveram perdas na qualidade – o que resultou em baixo preço pago pela indústria – acabaram discutindo a origem dos prejuízos e buscaram a ne-gociações com as seguradoras para ter amparo do seguro. Porém, esta situa-ção deverá ser tratada nas próximas safras, considerando a precificação do risco de qualidade nas apólices, possi-bilitando a contratação desta cobertu-ra”, ressalta.

Seguro personalizado – o próxi-mo passo das seguradoras, segundo a Mapfre, é pensar no desenvolvimento de seguros com o perfil de cada produ-tor e região, alinhados com a realidade. “Por exemplo, no seguro de produtivi-dade, normalmente se trabalha com os índices apontados pelo IBGE, porém já estamos utilizando, com determinados clientes, os índices de produtividade médios de cada produtor, e não apenas o que o IBGE aponta, pois nosso objeti-vo é atender o perfil específico de cada agricultor de acordo com a sua região.

Mesmo porque, hoje, a maioria requer um seguro que atenda às suas necessi-dades específicas”, comenta.

De acordo com o engenheiro agrônomo e produtor em Cascavel, PR, Modesto Félix Daga, o fato de o seguro brasileiro estar atrelado às estatísticas do IBGE, acaba prejudicando os pro-dutores. “Os índices apontados pelo Instituto milho e na soja, por exemplo, estão bem abaixo da produtividade real dos agricultores que adotam tec-nologia na maioria das regiões brasi-leiras”, revela, apontando que, o obje-tivo do seguro agrícola seria cobrir os custo de produção e dar sustentação à família. “O mundo faz isto”, ressalta.

Hoje, o produtor pode optar por assegurar de 50% a 70% da produtivi-dade média divulgada pelo IBGE para o município. “Na cultura do milho, por exemplo, se o índice do IBGE for de 10 mil kg/ha e o produtor contrata 70% e colher 3,5 mil kg/ha, ele tem uma per-da de 50%. Neste caso, o seguro paga

50% do valor financiado (assegurado), o restante do valor, o produtor pagará com a venda da produção obtida (3,5 mil kg/ha). Isso se a produção cobrir os custos, caso contrário, o produtor fica-rá devendo ao Banco”, explica Daga. Outro agravante, segundo ele, é que, na cultura do trigo, quando o produ-tor opta pelo seguro de percentual da produtividade, este não leva em conta a perda de qualidade do grão. “O se-guro só cobre eventos climáticos, mas não cobre doenças e pragas como a giberela e a bruzone. Então, estamos tentando enquadrá-las nos laudos téc-nicos periciais como causas incidentes em função das chuvas excessivas”, ex-plica.

Seguro de animais de elite – outra modalidade que vem ganhando destaque é o seguro para animais de elite. Para a secretaria administrati-va da Ruete de Oliveira Corretora de Seguros, Patrícia Leite de Moraes, o seguro proporciona uma segurança ex-

No caso dos equinos de elite o dono fica assegurado de uma cobertura de reembolso clínico e cirúrgico

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tra ao segurado, pois garante o valor do animal coberto na apólice. “Grande parte dos clientes que busca um seguro possui animais de elite de alto valor, de destaque internacional”, explica Patrí-cia. Segundo ela, um animal com valor próximo a R$ 600 mil, traz um bene-ficio mensal na faixa de R$ 20 mil ao proprietário, dependendo da atividade a qual o animal está destinado. “No caso dos equinos, os animais de elite voltados ao hipismo ou adestramento, ficam muito suscetíveis a acidentes, que inclusive podem por em risco a suas vidas. Nestes casos, o dono fica assegurado de uma cobertura de reem-bolso clínico e cirúrgico”, ressalta.

Nos bovinos de elite, a procura por seguro alavancou a partir de 2006, quando um animal da raça Girolando adquirido por R$ 2,8 milhões em um leilão em Alagoas, acabou morrendo acidentalmente em Araras, no interior de São Paulo, o que repercutiu muito no mercado de melhoramento genéti-co, aumentando a procura por seguros desta natureza. “O Brasil é considera-do o país com o segundo rebanho de elite mais caro do mundo e, hoje, gran-de parte deste rebanho possui algum tipo de seguro, o que inclusive repre-senta um selo de garantia nas exporta-ções de embriões”, diz Patrícia.

Localizada em Itapira, no in-

terior de São Paulo, a corretora está em uma região que concentra excelen-tes criadores das raças equinas como Quarto de Milha e os Puro Sangue Lusitano e Inglês, animais premiados e exportados mensalmente para a In-glaterra, França, Alemanha, Espanha, Estado Unidos, Portugal entre outros. “Estes animais, em sua maioria, são utilizados para rédias, adestramento, saltos, equitação, pólo e exposições”, ressalta Patrícia. Segundo ela, a re-gião também possui criadores das ra-ças bovinas de elite, como o Nelore, Anelorado, Braford, Brahman e Ca-racu, utilizados em exposições, apre-sentações, shows e corte. “São animais exportados para o exterior, porém sua

venda nacional supera a internacio-nal”, destaca.

De acordo com a corretora, o se-guro de animais de elite cresceu nestes últimos anos e hoje, além de cobrir a vida, também possui coberturas adi-cionais. Nos equinos, abrange a vida e transporte (cobertura básica), re-embolso clínico e cirúrgico, cirurgia eletiva (consulta prévia), reembolso de necropsia, extensão para território in-ternacional e função (consulta prévia).

Nos bovinos de elite, as cobertu-ras atingem a vida (cobertura básica), transporte, premunição, reembolso cirúrgico e de Necropsia, fertilidade e extensão para território internacio-nal.

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O seguro de animal de

elite além de cobrir a vida,

também possui coberturas adicionais

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Plinio Mario Nastari*

Ponto Especial: O País precisa discutir uma agenda para diversificar a matriz elétrica com o intuito de mitigar

os riscos relacionados à dependência de uma fonte de energia distante do mercado consumidor e fortemente vinculada às incertezas climáticas.

Na noite de quarta-feira (11/Nov) a falha em linhas de transmissão de energia elétri-

ca proveniente de Itaipu comprometeu o fornecimento para 12 Estados e Distrito Federal. Foram afetados pelo apagão quase a totalidade do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goi-ás, Mato Grosso do Sul, Paraná e parte do Paraguai.

Não é factível que 12 Estados que possuem mais de 60% da população bra-

temente vinculada às incertezas climáti-cas. No entanto, continuamos cometendo os mesmos erros, a linha de transmissão das hidrelétricas do rio madeira, em pro-jeto, terá 2.375 Km até Araraquara.

O Brasil possui grande potencial de geração de eletricidade através das fontes renováveis de energia como eóli-ca, solar e a proveniente do bagaço da cana-de-açúcar. Neste caso, a geração de eletricidade a partir do bagaço se apresenta como um importante coadju-vante na geração de eletricidade, devido a suas principais características como: (I) redução nas perdas de distribuição; (II) baixa dependência das unidades pro-dutoras; (III) complementaridade com a hidroeletricidade; e (IV) geração de ex-ternalidades ambientais positivas.

A potência instalada que cada usina sucroalcooleira agrega individu-almente ao sistema elétrico é relativa-

cia entre a localização da produção e o mercado consumidor. Desta forma, a proximidade das usinas aos mercados consumidores é de suma importância para a otimização da distribuição de sua energia.

O Brasil não pode perder a oportu-nidade de diversificar sua matriz elétrica com uma fonte localizada próxima ao maior mercado consumidor, com bene-

Bagaço: energia próxima ao mercado consumidor

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”“O Brasil não pode perder a oportunidade dediversifi car sua matriz elétrica com uma fonte localizada

próxima ao maior mercado consumidor

fícios ambientais comprovados, comple-mentar à principal fonte de eletricidade, mitigando os riscos de desabastecimento de energia elétrica.

* Plinio Mário Nastari, Ph.D. em eco-nomia agrícola e presidente da Data-

gro, é um dos autores do Consenso de Biocombustíveis Sustentáveis,

elaborado em Bellagio, Itália.

mente pequena quando comparada, por exemplo, com uma hidrelétrica. Desta forma, os riscos de insucesso de cada projeto ou a falha de operação localiza-da não causarão impactos significativos no sistema.

Vale ressaltar que as perdas de dis-tribuição da hidroeletricidade, em 2007, foram de 18,3% da produção interna devido, principalmente, à longa distân-

sileira tenham o abastecimento de ener-gia prejudicado devido a problemas em linhas de transmissão que transportam para São Paulo a energia proveniente de Itaipu.

O País precisa discutir uma agenda para diversificar a matriz elétrica com o intuito de mitigar os riscos relacionados à dependência de uma fonte de energia distante do mercado consumidor e for-

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As musas da lavoura

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A laranja é a campeã no Brasil em relação a valor de produção

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Terceiro maior produtor mundial de frutas, o Brasil possui todos os fa-tores de produção que podem elevá-lo ao primeiro posto no ranking mundial, pois além do clima e da biodiversidade – que possibilitam

uma produção diversificada e em várias épocas do ano –, o País é também sinônimo em pesquisa e tecnologia produtiva, fatores que têm propiciado a ampliação do Brasil no mercado externo e alavancado a economia das regiões produtoras, como no semiárido brasileiro. Por outro lado, a volatilidade do mercado e a falta de políticas públicas, principalmente de assistência técnica, têm afastado o pequeno produtor da atividade.

Embora o Brasil seja o terceiro maior produtor mundial de frutas, tem participação inferior a 2% no mercado mundial de frutas frescas. A maior parte da produção é consumida internamente e apenas pequena parte tem sido processada em sucos, polpas, doces, frutas secas e outros produtos. Mesmo sem uma política direcionada, o setor está em ascensão, o volume da produção de frutas no Brasil passou de 35,4 milhões de toneladas, em 2001, para 45 milhões de toneladas, em 2008. Isso significa que a disponibilidade de frutas por habitante aumentou 27% nesse período, representando, em 2008, 185 quilos por pessoa ou 506 gramas por dia para cada brasileiro. A produção nacional é suficiente para atender a demanda diária, recomendada pelo Mi-nistério da Saúde, de 400 gramas/dia de legumes, frutas e verduras.

O governo federal admite que há deficiências ao longo dos canais de comercialização que causam perdas de alimentos. “Por isso, o Mapa se empe-nha em fomentar a comercialização do setor”, ressalta Gustavo Araújo, chefe da Divisão de Culturas Permanentes e Florestas Cultivadas do Ministério da Agricultura Pecuária e abastecimento (Mapa). Segundo Araújo, o Mapa pre-tende promover a agroindustrialização para fortalecer as cadeias produtivas de frutas e, com isso, agregar valor e melhorar a qualidade do produto final.

As frutas embelezam e

geram renda no campo.

Mas o Brasil pode

explorar muito mais esse

fi lão do agronegócio

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Araújo explica que essa ação contribui para diminuir as perdas ao longo do processo de comercialização e permite o estoque da produção em épocas de preços baixos. Para apoiar o desenvolvimento sustentável da fru-ticultura brasileira, o Mapa oferece crédito para investimento, custeio e comercialização, de forma a agregar valor ao sistema agroalimentar da fruticultura. Em 2008, dos R$ 361,7 milhões aplicados em comercializa-ção de frutas, 50% foram por Em-préstimo do Governo Federal (EGF) destinados à vitivinicultura e 40% para a Linha Especial de Crédito (LEC), sendo R$ 132 milhões para a cadeia produtiva da maçã e R$ 11,5 milhões para a do pêssego.

As principais frutíferas do Bra-

sil, em termos de valor da produção, são laranja, banana, uva, abacaxi, mamão, coco, maçã e manga. Uvas, melões, mangas, maçãs, bananas e mamões papaia são as principais fru-tas in natura exportadas.

Qualidade – de acordo com o doutor em fitotecnia e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Alexan-dre Hoffmann, o País se destaca não apenas nos fatores quantitativos da produção, mas principalmente nos qualitativos, onde a imagem de qua-lidade e respeito ao meio ambiente e ao consumidor e do controle fitossa-nitário da produção, tem ganhado a confiança do mercado importador. “Este resultado é o reflexo do avan-ço nas políticas públicas e nas estra-tégias da iniciativa privada, voltadas

ao controle dos processos produtivos, especialmente nos aspectos fitossani-tários”, revela Hoffmann.

Segundo a Embrapa, diversos problemas enfrentados no passado quanto à qualidade das frutas, estão praticamente solucionados graças à melhora significativa que houve no know how da cadeia produtiva. “Hoje, a maior fatia das exportações pertence às empresas e cooperativas com alto grau tecnológico nos pro-cessos produtivos, garantindo um diferencial no mercado externo”, ex-plica Hoffmann, apontando que, as exigências dos países importadores refletem positivamente no setor na-cional, já que estimulam a constante readequação dos processos produti-vos.

O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas

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Araújo explica que essa ação contribui para diminuir as perdas ao longo do processo de comercialização

Panorama Rural Dezembro 2009 49

Um dos marcos mais impor-tante para a fruticultura nacional, segundo Hoffmann, foi a adoção da Produção Integrada de Frutas, PIF, criada como resultado de uma par-ceria entre instituições públicas e o setor privado. Seu objetivo é utilizar o que há de mais moderno em tecno-logia, respeito ao fruticultor, ao meio ambiente e ao trabalhador do campo por meio da definição, controle e re-gistros de práticas culturais e da apli-cação de insumos químicos, criando as bases para a rastreabilidade e cer-tificação, garantindo a sustentabili-dade das cadeias produtivas. “Ou o Brasil organizava a sua produção ou estava fora do mercado”, revela. No entanto, o pesquisador aponta que a PIF não tem como objetivo a re-muneração adicional, mas sim, uma maior garantia de acesso ao merca-do. Enquanto a União Europeia paga subsídios aos produtores que adotam o sistema, no Brasil suas vantagens são outras, voltadas especialmente para o atendimento de requisitos am-bientais e da exigência por produtos

mais seguros pelo consumidor. “O mercado, de um modo geral,

não paga adicional pela fruta certifi-cada e mesmo assim, os fruticultores adotam os princípios da produção in-tegrada que repercutem positivamen-te em qualidade, economia e respeito ao ambiente”, comenta Hoffmann. “Hoje, a PIF só não é adotada inte-

gralmente e em larga escala por cau-sa dos custos com a certificação”, diz.

Segundo o pesquisador, experi-ências-piloto com maçã e pêssego re-velaram que o consumidor até paga a mais pela fruta certificada, o proble-ma é que pouca gente sabe o que é a PIF. “O que precisa é que o consumi-dor saiba o que é certificação, quais seus benefícios para a cadeia pro-dutiva e, principalmentes para sua própria saúde”, enfatiza. “Temos um grande benefício em potencial para setor produtivo, falta apenas que ele seja adotado por quem vende e con-some a fruta”, finaliza.

Maior demanda – pesquisa-dora socioeconômica da Embrapa Uva e Vinho, Loiva Maria Ribeiro de Mello revela que o consumidor bra-sileiro vem mudando seus hábitos, partindo em busca de uma melhor qualidade de vida e, um dos fatores decisivos é a adoção de uma alimen-tação balanceada, com produtos sau-dáveis. “A população passou a valo-rizar o consumo de produtos frescos, sem o uso de agroquímicos e a incluir

Alexandre Hoffmann: “o País se destaca não apenas nos fatores quantitativos da produção, mas principalmente nos qualitativos”

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Loiva Maria Ribeiro de Mello: sem subsídio e juros altos

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mais frutas e sucos de frutas em sua dieta, o que ocasionou um aumento no consumo e na demanda por frutas”, explica Loiva Maria. Mas, segundo ela, ainda há uma camada da popula-ção de menor renda com dificuldades no acesso a este tipo de alimentação. “Portanto, um aumento na renda des-ta população acarretaria também um aumento no consumo de frutas”, diz.

No mercado da maçã, segundo a pesquisadora, após o Brasil iniciar a produção em grande escala, houve um grande aumento no consumo, já que o sabor da fruta nacional é mais atrativo. “No caso da uva, a produ-ção da variedade Niágara na entres-safra, por exemplo – fruto de tec-nologia desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho –, apresenta excelentes perspectivas de mercado, pois além de ser apreciada pelos consumidores, necessita de menos tratamentos fi-tossanitários”, revela.

A disponibilidade de terras, diversidade ambiental e tecnologia disponível são fatores perfeitamente viáveis para elevar o Brasil ao posto

de maior produtor mundial de frutas. No entanto, Loiva Maria alerta que há outros pontos fundamentais que precisam ser solucionados, como por exemplo, a infraestrutura de estra-das, a logística e os preços dos fa-tores de produção, o custo da mão de obra, entre outros. “Vale men-cionar o desempenho da China nesta área, que em poucos anos tornou-se o maior produtor mundial de maçãs (mais de 40% do total) e o segundo maior produtor de uvas (10% do to-tal). No Brasil, há possibilidade de produzir frutas em qualquer época do ano, podendo abastecer o mercado externo na época da entressafra dos países de destino. Foi o que ocorreu com a produção de uvas sem semen-tes no Vale do São Francisco, torna-do-se a principal fruta de exportação em valor, mas que atualmente, com a crise internacional, estes produtores estão passando por sérias dificulda-des”, revela.

compra pelo governo, quando o pro-duto está inserido na política de pre-ços mínimos, como no caso da uva, os preços mínimos estabelecidos pelo governo, normalmente acabam sen-do os preços pagos pelo mercado. Os produtores desenvolvem atividades de alto risco e não dispõem de políti-cas adequadas nas mais diversas áre-as, como assistência técnica oficial, seguro agrícola, preços, escoamento da produção, infraestrutura e logís-tica, em especial para exportação”, ressalta.

Exportações – em 2008, o Brasil exportou US$ 658,27 milhões em frutas e importou US$ 218,93 milhões, um superávit de US$ 439,34 milhões. Na maçã, o Brasil colheu, na temporada 2008/09, a melhor safra da história, atingindo 1,023 milhão de toneladas. No en-tanto, o excesso de chuvas de granizo reduziu o fator qualitativo da fruta, o que interferiu no mercado interno,

Com incentivos, em poucos anos a China se tornou o maior produtor mundial de maçã

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Para a pesquisadora, é preci-so mudanças nas políticas de apoio à produção agrícola, pois o País não trata o setor da mesma forma que os outros países. “Não há subsídios, os juros são elevados e a garantia de

gerando inclusive, desconfiança por parte dos compradores, que acusam as agroindústrias de estarem expor-tando a fruta de melhor qualidade. “Isto não é verdade, pois tivemos uma queda nas exportações de 17%,

“A mão de obra, por exemplo, representa aproximadamente 50% do custo da fruta no campo”, diz Pérès

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em comparação ao ano anterior, mo-tivada pela recessão mundial e pelo câmbio baixo”, explica o diretor da Pomagri Frutas, de Fraiburgo, SC e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã, ABPM, Pierre Nicolas Pérès. Francês que adotou o Brasil desde 1985, Pérès é mestre em Administração Interna-cional pela University of Dallas do Texas, EUA, licenciado em Comér-cio Internacional pela EDC de Paris e, ex-presidente e atual membro da World Apple and Pear Association, WAPA, com sede em Bruxelas.

A volatilidade de mercado e

a queda na qualidade deixaram as indústrias em uma situação delica-da, pois enquanto a receita caia, os custos de produção apresentavam tendência de alta. “A mão de obra, por exemplo, representa aproxima-damente 50% do custo da fruta no campo e ao contrário da produção de cereais, na fruticultura não há como mecanizar a maioria das tare-fas”, justifica Pérès, revelando que na França, até existe a automação da colheita, processo que utiliza a mesma tecnologia adotada na fabri-cação de mísseis inteligentes, mas que, dificilmente chegará ao Brasil

em função do custo.Para safra 2009/10, embora

as expectativas sejam animadoras, a ABPM revela preocupação com o dó-lar, pois se as empresas tiverem que exportar ao câmbio de US$ 1,77 te-rão prejuízo. “Além do dólar, perce-be-se que há uma deflação no preço das frutas no mercado mundial. Hoje, recebemos na exportação, menos (em reais) que nos últimos anos. Porém, não podemos abandonar as vendas externas, porque os importadores irão buscar a fruta em outros países e assim, perderemos os clientes que conquistamos e que compram desde 1985”, justifica o presidente.

Especialista no setor, Pérès en-fatiza que é necessário que o Brasil desenvolva campanhas educativas de estímulo ao consumo de frutas, pois trata-se de uma questão de seguran-ça alimentar e qualidade de vida e, que implante seguros eficazes que cubram toda a atividade agrícola, além de políticas de garantia de renda familiar. “Temos juros favorecidos, mas ainda são altos se comparados a outros países. O produtor precisa de garantias para sua atividade, pois se ele não puder pagar suas contas,

A laranja: terceiro produto mais importante no agronegócio paulista

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deixará de produzir e abandonará o campo”, comenta.

A laranja – terceiro produ-to mais importante no agronegócio paulista, a laranja é sinônimo de em-prego e renda no campo. No entanto, embora o Brasil controle o mercado mundial de suco de laranja, a citri-cultura brasileira enfrenta a sua pior crise, onde o preço – abaixo de R$ 6,00 a caixa – não cobre sequer os custos de produção – superiores a R$ 15,00. De acordo com o produtor e presidente da Associação Brasileira de Citricultores, Associtrus, Flávio Viegas, a queda nos preços é reflexo da excessiva concentração e da verti-calização das esmagadoras de citros. “O mercado de suco de laranja é di-vidido entre São Paulo e Flórida. As quatro empresas que controlam mais de 90% da produção de suco em São Paulo controlam também cerca de 50% da produção da Flórida, o que lhes dá um enorme poder sobre o mercado mundial”, revela.

De acordo com a Associtrus, este mercado vem apresentando um comportamento muito estranho já há alguns anos, pois os preços do suco

vêm aumentando para o consumidor apesar da baixa do preço da laranja e essa é uma das principais causas da queda da demanda. “Esta queda, está concentrada nos Estados Uni-dos, onde estão 85% dos estoques mundiais, porém os citricultores da Flórida estão obtendo preços remu-neradores. Na safra passada, recebe-ram acima de US$9,00 e para a pró-xima safra há previsão de aumento de preços”, aponta Viegas, acrescen-tando que, o preço do suco na Bolsa

de Nova York tem se mantido abaixo do custo de produção da laranja.

Segundo Viegas, parte desse comportamento pode ser explicada pela parceria das indústrias brasilei-ras com as grandes engarrafadoras, que asseguram a elas uma remunera-ção alta, ligada ao preço do suco ao consumidor final, muito superior ao preço da bolsa.

Os reflexos das manobras mer-cadológicas estão atingindo o setor produtivo, pois com a inexistência de concorrência, os produtores acabam submetidos às condições impostas pelas indústrias. “Desde meados da década de 90, mais de 20 mil citri-cultores foram ‘expulsos’ do setor, exclusão que continua, com produ-tores endividados perdendo suas pro-priedades”, denuncia Viegas.

Cartel e sanidade – segundo a Associação, algumas medidas estão sendo gestadas, porém a efetivação está sendo muito lenta e dificilmen-te resolverão o problema da maioria dos citricultores. “Estamos reivindi-cando uma maior celeridade na in-vestigação da cartelização do setor, sob responsabilidade da Secretaria de Direito Econômico e do Ministé-rio da Justiça desde 1999, e também a limitação do plantio dos pomares próprios das indústrias, estimados em mais de 45% do parque citrícola de São Paulo. Defendemos também, a criação do Consecitrus, para asse-gurar ao produtor uma participação nos rendimentos da cadeia produti-va proporcional aos investimentos e riscos assumidos”, ressalta Viegas, acrescentando que, é preciso reorga-nizar e fortalecer o mercado interno

“Desde meados da década de 90, mais de 20 mil citricultores foram ‘expulsos’ do setor”, diz Flavio Viegas

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Ao contrário da produção de cereais, na fruticultura não há como mecanizar a maioria das tarefas

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deixará de produzir e abandonará o campo”, comenta.

A laranja –

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de laranja e suco, investindo em ma-rketing dos produtos. Os problemas fitossanitários também precisam ser enfrentados com urgência e determi-nação para buscar soluções de cur-to, médio e longo prazo para o setor. “Emergencialmente, é preciso tam-bém buscar uma renegociação das dívidas dos pequenos e médios produ-tores”, reivindica.

De acordo com o gerente de hor-tifruti e citrus da Bayer CropScience, Fábio Maia, é preciso que haja mais integração na cadeia produtiva e po-líticas de incentivo ao consumo de frutas e hortaliças, favorecendo as-sim, a disponibilidade constante de produtos com qualidade, contribuin-do para elevar os índices de consu-mo no Brasil. “A Bayer CropScience promove diversas ações que buscam

contribuir com uma maior integra-ção da cadeia, oferecendo ao merca-do frutas produzidas com sustentabi-lidade e aplicação correta e segura de produtos, valorizando o produtor e o consumidor, já que ambos se pre-ocupam com o fator qualitativo da produção”, explica, revelando que, a empresa desenvolve diversas ações junto ao fruticultor com objetivo de agregar valor à produção, contribuin-do para a obtenção de características valorizadas no mercado, como quali-dade e que contribuem para uma me-lhor remuneração ao agricultor.

De acordo com Maia, através de altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a empresa busca trazer novas soluções de alto desem-penho para o controle de pragas e doenças, contribuindo para a susten-

tabilidade da fruticultura brasilei-ra. “A Bayer CropScience trabalha intensamente para a divulgação de informações técnicas e treinamento

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“É preciso que haja mais integração na cadeia produtiva e políticas de incentivo ao consumo de frutas e hortaliças”, diz Fabio Maia

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sobre as culturas frutícolas, capaci-tando técnicos, tanto para controle dos problemas fitossanitários, quan-to para o manejo da cultura em si”, revela. Segundo ele, através de ações

lizados no mercado interno têm seu valor depreciado devido às pintas”, comenta Maia. Estas doenças, se-gundo ele, ocorrem quando há muita umidade, pois favorece o desenvolvi-

do por um processo de readequação, com os produtores adotando mais tecnologia e ampliando as áreas. Por outro lado, isto tem afastado os mini produtores da atividade, pois muitos não possuem recursos para investir em tecnologia. “Ou eles se tecnifi-cam ou estão fora do mercado, pois geralmente não possuem estrutura adequada, a produção é de baixa qualidade e com pequena escala, o que os deixa nas mãos dos grandes fruticultores”, explica o pesquisa-dor da Epagri de Videira, SC, Mar-co Antônio Balbó. Segundo ele, isto se deve em grande parte à falta de assistência técnica. “A fruticultura exige uma assistência especializada, porém o Estado dispõem de pouco pessoal, então a maioria dos mini e pequenos produtores acaba desassis-tida”, revela.

“Nosso maior problema é a fal-ta de assistência técnica pública. A única saída é recorrer aos amigos e conhecidos que nos ajudam, porque se dependêssemos do governo, já teríamos abandonado a atividade”, desabafa o pequeno fruticultor de Fraiburgo, SC, Leodir Francescatto. “Quem dá algum auxílio são as em-presas multinacionais, que realizam dias de campo. Porém, o interesse delas é apenas vender seus produ-tos”, complementa a filha Poliana, engenheira agrônoma e mestre em fruticultura de clima temperado. Se-gundo ela, um dos fatores que agra-va esta situação é a resistência dos produtores à formação de associa-ções. “Falta espírito associativista entre os próprios produtores. Em sociedade haveria mais empolgação e, principalmente, a possibilidade de contratarem uma assistência técni-ca particular, já que o governo não subsidia”, revela Poliana. Concepção esta, também compartilhada pelo

preventivas, o produtor obtém me-lhores resultados no controle de pra-gas e doenças, práticas que evitam o aparecimento de doenças e melho-ram o aspecto das frutas, aumento da produtividade e geram mais valor agregado.

Na cultura da laranja, as prin-cipais doenças são: a estrelinha e a pinta-preta. “A estrelinha afeta dire-tamente a florada, pois as flores são abortadas, resultando em um baixo índice de “pegamento” da florada, acarretando baixa produtividade. Já a pinta-preta danifica o fruto na ár-vore, pois causa sua queda precoce, resultando em diminuição significa-tiva de produtividade. Além disso, os frutos que não caem e são comercia-

mento dos fungos.Para o controle da estrelinha, a

recomendação da Bayer CropScience é utilizar o “Nativo”, solução inova-dora com dois modos de ação, que contribuem para melhor eficiência no controle, pois possui maior resis-tência à chuvas, o que é muito impor-tante, já que a estrelinha ocorre em períodos chuvosos e úmidos. Já para a pinta-preta, a indicação é o Flint, um fungicida diferenciado para o manejo, contribuindo na melhora da qualidade da fruta e no aumento da produtividade, permitindo que as fru-tas permaneçam no pé pelo período adequado para o desenvolvimento.

Mais tecnologia – em Santa Catarina, a fruticultura vem passan-

“Ou os produtores se tecnificam ou estão fora do mercado”, avisa Dalbó

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sobre as culturas frutícolas, capaci-tando técnicos, tanto para controle dos problemas fitossanitários, quan-

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pesquisador da Epagri, pois segun-do Dalbó, através de associações, os produtores teriam maior competitivi-dade na hora de negociar a produção.

Na propriedade de seu Frances-catto são cultivados 2,5 hectares de maçã, 1,4 hectares de ameixa e 0,7 hectares de nectarina. As chuvas na época da floração causaram perdas de 20% na maçã e 50% na amei-xa. Mesmo assim, o produtor espe-ra colher 80 toneladas de maçã, 20 de ameixa e 25 de nectarina. “Tudo depende do ano. Se o clima prejudi-car, não dá lucro, mas, se der uma supersafra, também não sobra nada. Dependemos do clima e de uma pro-dução equilibrada e com qualidade, caso contrário, não ganhamos di-nheiro, porque dependemos dos atra-vessadores”, explica o produtor.

O produtor também denuncia a burocracia enfrentada na tomada do crédito. “O governo disponibiliza o

o financiamento”, critica Frances-catto.

Em muitos casos, o valor anun-ciado pelo governo não cobre os custos propostos. “Para cobrir um hectare de pomar de ameixas com o telado – sistema utilizado para prote-ger a fruta – o custo é de R$ 28 mil. Porém, o governo só disponibiliza R$ 20 mil, o restante temos que tirar do bolso”, contabiliza o fruticultor. “O governo deveria ter um seguro que cobrisse todas as intempéries climá-ticas e não apenas para alguns casos, como o granizo, pois há anos que ocorrem perdas de até 100%, e não temos garantia alguma”, acrescenta o filho, Guilherme.

“A fruticultura brasileira, mes-mo a passos lentos, está crescendo, mas se não houver um incentivo econômico e técnico para o agricultor familiar, a tendência é que a pequena proprieda-de se extingua”, ressalta Poliana, que

interno, esta não é viável em função do alto custo de implantação, mas que mesmo assim, os produtores re-alizam o próprio controle através do caderno de campo.

Para o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Ru-ral da Secretaria Estadual de Agri-cultura e Abastecimento do Paraná, Paulo Andrade, a grande parte dos fruticultores do Estado possui em média dois hectares de pomares. “A fruticultura possui papel fundamen-tal na diversificação das pequenas propriedades e na agregação de va-lor à produção”, explica Andrade. No entanto, ele aponta que embora a importância da fruticultura familiar, o que ainda impera o avanço do se-tor é a cultura de individualismo dos produtores. “Muitos ainda impõem resistência ao trabalho em grupo, o que acaba dificultando a assistência técnica e, principalmente, a obtenção de vantagens competitivas na hora da comercialização. A produção de fru-tas carece de uma visão coletiva de trabalho”, ressalta.

dinheiro, mas há muitas exigências e encargos adicionais. O banco exige, inclusive, que o produtor faça uma aplicação para que seja liberado o empréstimo, caso contrário, não sai

também já trabalhou em empresas do setor de frutas na Nova Zelândia.

Frente a questão da certifica-ção, Poliana revela que para o pe-queno produtor, que atua no mercado

A família Francescatto reclama da burocracia para a liberação do crédito

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Poliana e as belas nectarinas produzidas pela família

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Frutas no semiárido – região aonde mais de 70% da população está abaixo da linha de pobreza, o se-miárido brasileiro vem mudando esta realidade graças à agricultura irriga-da. Dados do Banco Mundial apon-tam para um crescimento de 6,43% no PIB nas áreas que utilizam pro-jetos irrigação, frente a 2,53% nas áreas desassistidas.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Semiárido, Pedro Carlos Gama da Silva, o desenvolvimento da fruticultura no semiárido iniciou na década de 70, com a implantação dos plantios irrigados, principalmente no Vale do São Francisco. “Foram im-plementados vários empreendimentos, com plantios comerciais de frutas de-mandadas pelos mercados externo e interno. Mas, é no Vale do Submédio

do São Francisco, SMSF, que a fru-ticultura encontra o seu campo mais fértil para prosperar”, explica.

Segundo o pesquisador, estima-se que nos 120 mil hectares irrigados do SMSF são gerados 240 mil em-pregos diretos e produzidas, anual-mente, mais de um milhão de tonela-das de frutas. São 12 mil hectares de uva e 23 mil hectares de manga e o restante, dividida goiaba, coco verde, melão, melancia, acerola, maracujá, banana, cebola, entre outras.

“Estas culturas geram um fa-turamento de mais de R$ 2 bilhões anuais, sendo R$ 500 milhões rela-tivos às exportações de uva e manga. Há quem diga que seriam necessários 48 milhões de hectares de soja para gerar os mesmos 240 mil empregos, mais que o dobro da atual área cul-

tivada – 21 milhões/ha”, contabiliza Silva, revelando que, em 2007, o SMSF representou 39,1% do valor total das exportações brasileiras de frutas. “Atualmente, o setor reclama de políticas públicas de apoio, como a renegociação de dívidas, agilidade de acesso ao crédito, desoneração das exportações, recuperação do ca-pital de giro e por consequência a re-tomada do crescimento, adequando o setor à nova realidade cambial e cli-mática”, ressalta Silva.

O consumo de frutas e sucos ten-de a crescer no mundo, alavancado pela mudança de hábitos e à saúde, e, no Brasil, pelo incremento na ren-da per capita da população. Motivos mais que suficientes para que o País invista e para assumir o posto de maior produtor mundial de frutas.

Mamão papaia produzido no semiárido do São Francisco

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Frutas no semiárido –aonde mais de 70% da população está abaixo da linha de pobreza, o se-

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Pecuaristas revertem tradição arcaica e já abatem novilhos de um ano pesando 482 kg, graças

a pioneiro programa de pesquisa realizada no Câmpus do Lageado

da Faculdade de Medicina Veterinária de Botucatu (Unesp)

Superprecoce Jovem, enxuto e

com peso de boi

Texto e fotos: Walter do Valle

Todo ano os frigoríficos brasileiros abatem cerca de 30 milhões de bovinos com o mesmo peso, entre 450 kg e 480 kg, e idade variando de 3 a 4 anos. Essa arcaica de-

mora de tempo, que dá imenso prejuízo à pecuária nacional, está sendo reduzida drasticamente graças a um vitorioso trabalho de pesquisa do Câmpus do Lageado da Faculdade de Medicina Veterinária de Botucatu, SP. O agrônomo Antonio Carlos Sil-

Os novilhos só têm 15 meses e já pesam 17 arrobas

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veira, 66 anos, titular do Departamen-to de Nutrição Animal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é pioneiro de pesquisa que está revolucionando a pecuária brasileira. Desde 1992 Silvei-ra chefia equipe de 28 profissionais in-tegrantes do programa Crescimento de Bovinos de Corte no Modelo Biológico Superprecoce.

Nesses 17 anos de aprimoramen-to já foram criados e abatidos 15 mil animais de l2 a 14 meses, resultantes do cruzamento industrial do gado ne-lore, de origem indiana, com as raças europeias angus, hereford, simental, braunvieh, charolês e limousin.

Os resultados foram espetacula-res: os primeiros 300 superprecoces nos anos de 1990 pesavam 450 kg; os últimos 380 novilhos, em 2009, pesa-ram 482 kg cada um. “O diferencial é que a maioria desses animais requer 3 a 4 anos para chegar a esses 450 kg, enquanto os bovinos do Câmpus do Lageado o fazem quando ainda novi-lhos de 1 ano. E sem receber anaboli-zante, prejudicial à saúde dos consu-midores”, ensina o mestre.

De tão macia, pode derreter – a espessura de gordura na carcaça desses jovens novilhos sempre alcan-ça os 3 milímetros, permitindo que o resfriamento da carcaça no frigorífi-co não prejudique a maciez inegável da carne. “A maciez é tanta que não seria recomendada para churrascos, a carne simplesmente derreteria”, ad-verte o pesquisador.

O sistema se destaca pela quei-ma de etapas. Por exemplo, só precisa de 35% da área de pastagem usada na pecuária nacional, já que os bezerros são desmamados aos sete meses com 230 kg – idade em que normalmente só teriam 200 kg – e vão direto para a engorda no confinamento para ace-lerar o abate. “Não passam, portanto, pela fase comum de recria, que costu-ma durar de 2 a 3 anos e que é geral-mente onerosa”, explica.

Um boi comum em pasto bom (de outubro a abril, mês das chuvas) ganha 500 gramas a 700 gramas por dia. “Se eu dou suplementação pro-teica/energética ele passa a ganhar mais de 1 kg/dia. Assim você antecipa o abate.”

De Norte a Sul – repassado a mais de 250 fazendas do País, o Sis-tema Novilho Superprecoce demorou a pegar, mas já está consolidado.

Entre os grandes e médios pro-dutores que aderiram ao Sistema estão as fazendas Damha (Pereira Barreto e São Carlos, SP), Brascan (Primavera d’Oeste, MT), Grupo Sabó (Rondônia, RO e Terenos, MS), Gru-po Fisher (Matão), Fazenda Galera,

“A maciez é tanta que não seria recomendada para churrascos, a carne simplesmente derreteria”, adverte Antonio Carlos Silveira

Carcaça de bovinos

superprecoce

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(Nova Lacerda, MT), Condomínio Agrícola de Ivã Aidar (Severínia, SP e no Maranhão, onde cultivam soja e criam o superprecoce). Para tanto foi preciso cuidar de detalhes, como mo-nitorar o crescimento do tecido mus-cular esquelético dos novilhos desde o nascimento até o desmame. E daí até a terminação – maturidade para o abate. “Mas tudo começa, preferen-cialmente, com o cruzamento indus-trial. Com o nelore sem cruzamento o mesmo sistema demora 16 meses até o abate”, quatro meses mais.

Vermelho-cereja brilhante – além das 16,5 arrobas e 4,55 mm de capa de gordura, o novilho super-precoce apresenta carne de coloração vermelho-cereja-brilhante, simples-mente espetacular. Silveira pergunta: “O que quer o consumidor?” Para saber a resposta ele foi com seus alu-nos e auxiliares pesquisar nos super-mercados de São Paulo. “Ficamos es-condidos observando as bandejas nas

gôndolas. As mulheres olhavam a car-ne e escolhiam pela cor. Carne escura era descartada, queriam o vermelho-cereja”, constatou. Mais: “A dona-de-casa só voltará a comprar a carne vermelho-cereja se ela for macia. E nosso superprecoce é muito macio”, detalha.

Vitelo branco – a equipe de Sil-veira constatou que, quanto mais novo for o vitelo, mais branca será a carne. Aos três meses (100 dias) a carne é branca. Aos 200 dias é rosada. “Com um ano ou mais, vira vermelho-cereja, desde que tenha alimentação adequa-da”, ensina o especialista.

Berrando – o sistema superpre-coce começa com o desmame. “O be-zerro com 240 kg vai berrando para o confinamento. De 140 a 160 dias de-pois ele será abatido com, no mínimo, 460 kg de peso”, diz. Durante cinco meses um bezerro consome de 7,7 kg a 8 kg de matéria seca, mais ração, concentrado e volumoso juntos. Um boi

erado come em média, durante o con-finamento, de 11 kg a 12 kg por dia. E engorda menos. Na década de 1980, o confinamento era assim: 60% de vo-lumoso e 40% de concentrado (cana, silagem, feno, até capim). Naquela época, o volumoso era mais barato e o concentrado muito caro. Hoje, o Brasil cresceu muito na produção de grãos, deu um salto de qualidade e quantidade e o concentrado ficou muito mais bara-to. Por isso o número inverteu: hoje são 20% de volumoso e 80% de concentra-do, que é mais rico em energia, os bois terminam mais rapidamente. Tudo isso tornou viável o superprecoce.

Gene da obesidade – nenhum país tem para bovino de corte um modelo biológico para estudo tão efi-ciente e rápido como esse. “Nossas pesquisas são inusitadas”, diz o pes-quisador da Unesp. Ele vem aprimo-rando o estudo do processo de maciez da carne. “A enzima Calpastatina, que inibe a maciez, está presente em todos os animais, mas é mais frequen-te nas raças zebuínas, como o nelore. Três projetos, em parceria com o De-partamento de Química e Bioquímica do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu e Departamento de Tec-nologia da UNESP de Jaboticabal estão estudando o crescimento de di-ferentes grupos genéticos em associa-ção com as características da carne, principalmente o estudo molecular da atividade proteolítica de enzimas responsáveis pelo amaciamento da carne pós-abate. O grupo desenvolve também estudos de característica de carcaça, como a investigação da exis-tência dentro das raças de polimorfis-mo do hormônio do crescimento, e o gene da obesidade.

Carne marmorizada – as carac-terísticas da carne e o grau de marmo-rização (presença de gordura na car-caça) dependem da herança genética.

Crescimento dos confi namentosTotal de animais confi nados no Brasil (1999-2008)

Panorama Rural Dezembro 2009 61

O nelore não tem precocidade sexual e de terminação, mas mostra enorme rusticidade e adaptação ao clima tro-pical e à alimentação precária. Já o

15 mm de gordura.Carne de prato – Silveira lem-

bra que o Brasil não produz a cha-mada “carne de prato”, que é mais

sa acelerar o abate através da suple-mentação no próprio pasto, nos coxos (quatro ou cinco, instalados estrate-gicamente). Neles podem ter mistura de carboidratos, milho, sorgo, cana, milheto, soja e até óleo de girassol, que é bastante energético. “Não da-mos quantidade suficiente de ração, o que obriga o gado a se completar no pasto”, diz o especialista.

Castração – os frigoríficos que-rem que o pecuarista castre o boi, pois isso representa garantia de capa de gordura de proteção. Silveira é contra a castração, pois ela interrompe o cres-cimento e o boi começa a “terminar”.

Apesar de o programa do Novi-lho Superprecoce já estar concluído e consolidado, Silveira diz que a ciência não para. “Nosso trabalho continua, pois não se sabe os limites do boi na antecipação de abate. Como os recor-des de Usain Bolt e Yelena Isimbaieva no atletismo, as marcas conquistadas por nós vão cair, com certeza, nos próximos anos”, concluiu.

Carne ½ sangue – Nelore x Angus – bovino com 13 meses

ServiçoMais informações sobre o Programa Crescimento de Bovinos de

Corte no Modelo Superprecoce falar com Antonio Carlos Silveira(14) 3811-7187 / (14) 3882-6120 / (14) 9671-6500

gado europeu é precoce sexualmente e se desenvolve em muito menos tempo, mas se ressente da restrição alimentar imposta pelo nosso clima. Por isso, o cruzamento nelore com gado europeu resulta em filhos mestiços genetica-mente superiores aos pais.

Há outra vantagem nesse vitorio-so sistema: ele antecipa não só a idade do abate dos machos para, no máximo, 14 meses, como também a primei-ra parição das fêmeas – preservadas em parte para a reprodução –, que já pode ocorrer aos dois anos de idade, enquanto na criação tradicional o pri-meiro parto só acontece aos três anos.

Japão pede gordura – quem exporta carne bovina precisa saber: a Europa gosta de boi mais novo, com menos gordura. A Austrália quer gor-dura branca. O Japão gosta de gor-dura amarela, muita gordura. Até recomenda (e paga mais) por bois mais velhos, de até 400 dias no con-finamento, que acumulem capa de até

macia, de animal mais novo. “Em condições naturais nossa carne é pior do que a carne de Uruguai e Argenti-na. Isso independe da raça”, explica.

Para mudar isso o Brasil preci- PR

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Negócio Sustentável

TECNOLOGIA de inclusão social

Com apoio da Fundação Odebrecht, comunidade assentada da Mata do Sossego, em Igrapiúna, transformou-se em pólo agricultor produtivo

Com 420 cooperados e cerca de 1.200 hectares de área produtiva, a Cooperativa dos

Produtores de Palmito do Baixo Sul (Coopalm) se apresenta como um mo-delo inovador de tecnologia de inclu-são social. O Projeto conquistou o re-conhecimento do Instituto Ethos e foi um dos destaques da Mostra de Tec-nologias Sustentáveis, realizada pelo Ethos de 16 a 18 de junho, no Hotel Transamérica, em São Paulo.

A Coopalm integra o Modelo de Desenvolvimento Integrado e Sus-tentável da Área de Proteção Am-biental (APA) do Pratigi, fomentado pela Fundação Odebrecht na região do Baixo Sul da Bahia. Criada em 2004, a Coopalm tem como objetivo orientar técnica e financeiramente os agricultores familiares de palmito de pupunha. Com o apoio da Funda-ção Odebrecht, a Coopalm elabora os projetos de financiamento agrí-

cola dos cooperados e encaminha ao Banco do Brasil. A verba de todos os projetos é liberada de uma só vez na conta da Coopalm. Os cooperados te-rão acesso aos recursos à medida que o trabalho for executado no campo, eliminando os riscos da não concilia-ção do cronograma físico com o fi-nanceiro e da não utilização adequa-da dos recursos.

Outra forma de financiamento, que também ressalta o modelo inova-

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Cooperados: maior renda e ganhos socioambientais

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dor de tecnologia de inclusão social da cooperativa, são os Fundos Rota-tivos. Esse meio de aplicação finan-ceira permite que a Coopalm execute as práticas agrícolas nas propriedades dos cooperados, independentemente do cronograma de liberação de verba do Banco do Brasil. “O eterno des-casamento entre os tempos da agri-cultura, determinado pelas estações climáticas, e o tempo do banco, de-terminado pela burocracia do crédito agrícola, deixa de ser um fator limi-tante”, diz Roberto Lessa, responsá-vel pela Coopalm.

Além da estrutura de financia-mento, a Coopalm introduziu novos tratos culturais à produção do pal-mito, como a condução de touceiras e a colheita no ponto ótimo de matu-ração da haste de palmito. Essa nova metodologia beneficiou a qualidade e rendimento industrial do palmito, re-fletindo na valorização do produto: de R$ 0,65, a haste da pupunha passou a valer R$ 1,00. As hastes, entregues à Cooperativa, são beneficiadas na Ambial, indústria prestadora de ser-viços. Os palmitos são envazados nas modalidades inteiro, picado e rodela, com sabores diferentes, totalizando 13 tipos.

O palmito, produzido no Baixo Sul, já foi exportado para a França

e Estados Unidos e tem certificados ISO 9001 (Gestão da Qualidade), ISO 14001, APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), além do Rainforest Alliance Certified - cer-tificação que auxilia o consumidor a identificar produtos agrícolas de origem responsável, que observam a conservação dos recursos naturais e as condições socioeconômicas de pro-dutores e suas famílias. A Coopalm tem uma produção anual de 2,8 mi-lhões de hastes/ano. A expectativa é de um crescimento na produção de 15% para 2010.

Comunidade da Mata do Sos-sego – responsável por 5% da pro-dução da Coopalm, a comunidade da Mata do Sossego, no município de Igrapiúna, na região do Baixo Sul, é modelo de desenvolvimento sustentá-vel. Até 2004, as 82 famílias assen-tadas na Mata do Sossego formavam uma comunidade improdutiva, desar-ticulada e com altos índices de violên-cia. Com a chegada da Fundação Ode-brecht à região, a comunidade evoluiu em renda e em capital humano, social e ambiental. Tornou-se exemplo de assentamento produtivo, em uma co-munidade agora estável, receptiva e organizada.

Ao chegar à Mata do Sossego, a Fundação Odebrecht disponibilizou a assistência técnica, qualificada e com-prometida aos assentados. Das 82 fa-mílias, após processo de mobilização e seleção, inclusive das áreas aptas ao cultivo da lavoura, 39 iniciaram os trabalhos na cadeia produtiva do pal-mito. Com financiamento suficiente para implantar 39 hectares de terra, conseguiram, com o gerenciamento financeiro da cooperativa, plantar 50,

A Coopalm introduziu novos tratos culturais à produção do palmito

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A renda média mensal das unidades-família evoluiu de R$ 150 para R$ 600 com a lavoura de pupunha

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28% a mais do contratado. Com 11 meses de plantio, realizaram os pri-meiros cortes.

Após mais de três anos de tra-balho, a Mata do Sossego apresenta uma produtividade similar a iniciati-va privada na região. A renda média mensal das unidades-família evoluiu de R$ 150 para R$ 600 com a lavou-ra de pupunha. O sucesso da implan-tação da cadeia produtiva do palmi-to na Mata do Sossego foi tamanho que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) convidou a equipe da Fundação Odebrecht e da Coopalm para fazer o mesmo com ou-tros dois assentamentos que reúnem 75 famílias. A Fundação Odebrecht vem adotando esta tecnologia, aceita pelo Banco do Brasil e outros parcei-ros, no apoio a outros assentamentos.

Fundação Odebrecht – cria-da em 1965, a Fundação Odebrecht é uma instituição privada, sem fins lucrativos, mantida pela Organiza-ção Odebrecht. Desde 1988, direcio-

munidades da zona rural. Os projetos em andamento promovem o desenvol-vimento dos Capitais Produtivos (ge-ração de trabalho e renda), Humano (educação rural de qualidade), Social (construção de uma sociedade mais justa e solidária) e Ambiental (conser-vação do meio ambiente), que intera-gem e se complementam. Entre 2003 e 2008, o investimento realizado foi superior a R$ 97 milhões.

Com informações da assessoriade imprensa da Fundação.

nou sua atuação para a promoção da educação de jovens. O conjunto de ações, que já beneficiou direta e in-diretamente cerca de 9.700 pessoas, concentra-se no Baixo Sul da Bahia, região formada por 11 municípios e composta por um mosaico de Áreas de Proteção Ambiental (APA). O Modelo de Desenvolvimento Integrado e Sus-tentável da APA do Pratigi, que in-tegra todas as iniciativas, privilegia o jovem e sua interação com a família e busca transformar a realidade de co-

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Os palmitos são envazados nas modalidades inteiro, picado e rodela, com

sabores diferentes, totalizando 13 tipos

O palmito, produzido no Baixo Sul, já foi exportado para a França e Estados Unidos e tem várias certificações

Negócio Sustentável

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gestão de negócios

AviculturaIndustrial

Sistema de integração entre frigorífi cos e produtores contribui para estabilidade no setor avícola

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Oitenta e cinco por cento da produção brasileira de frangos têm como base o sistema de integração com os frigoríficos

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Ricardo Barbosa

Dados da União Brasileira da Avicultura, UBA, revelam que o mercado nacional aví-

cola gera cinco milhões de empregos indiretos no Brasil. Um dos carros chefe da agroindústria brasileira, o setor, que atualmente passa por mo-mentos difíceis, devido à queda nas exportações mundiais de frango, se mostra cada vez mais confiante quan-to ao seu sistema produtivo, principal-mente com a utilização de sistemas integrados de produção, os quais têm trazido para o setor inúmeras van-tagens, tanto para a agroindústria, quanto para o avicultor.

Elaborado na década de 50 nos EUA, a integração do sistema produ-tivo, que nada mais é que a parceria entre criadores e indústria, hoje já chega a atingir boa parte de toda a produção nacional, sendo focada prin-cipalmente na criação de corte. Com a integração, o produtor é responsável pela construção do galpão, compra de equipamentos básicos das granjas, como os bebedouros, e demais insta-lações, entre elas; energia elétrica e obras estruturais. Por sua vez, a in-dústria que receberá e processará os animais, ficam responsáveis pelo for-necimento dos pintainhos, rações, as vacinas, o transporte e a assistência zootécnica.

Segundo especialistas do setor, esse sistema, que chegou ao Brasil há algumas décadas, foi um dos princi-pais motivos que fez do País o tercei-ro maior produtor de carne de frango do mundo, com taxa de crescimento de 15% ao ano desde 2000. Oitenta e cinco por cento da produção brasilei-ra de frangos têm como base o siste-ma de integração com os frigoríficos. De acordo com a Associação Brasi-leira dos Produtores de Pintainhos,

Apinco, a região Sul, cujo sistema de parcerias com frigoríficos é mais atuante, chega a produzir quase três vezes mais que a região Sudeste.

José Roberto Bottura, diretor técnico da Associação Paulista de Avicultura, APA, diz que a integra-ção ajudou a melhorar a remunera-ção do homem do campo. “Noventa e oito por cento dos nossos produtores são integrados, o que torna o setor mais competitivo”, enfatiza. Bottura aposta na tecnologia para cada vez mais fomentar o sistema produtivo. O diretor técnico diz que a integração entre produtor e frigoríficos possibi-litou o acesso de pequenos proprie-tários rurais, os quais contam, além da ajuda da agroindústria, de linhas de créditos específicas para que ele inicie o seu negócio, que, neste caso, são mais fáceis de conseguir, devido ao aval da indústria para com as fi-nanceiras.

Integração – o sistema de pa-gamento depende do acordo de cada frigorífico com o seu fornecedor. No entanto, é importante que o produtor preste muita atenção na hora de assi-

nar um contrato, para que não tenha prejuízos. Ciliomar Tortola, diretor executivo da Frangos Canção, com sede em Maringá, PR, é um dos in-centivadores da integração em seu Estado.

Segundo ele, a acessibilidade de pequenos produtores tem sido uma das grandes conquistas do setor aví-cola paranaense, pois a empresa, que tem a capacidade de abater mais de 160 mil aves por dia, ajuda em todo o processo de liberação de linhas de créditos junto às financeiras, quando o fornecedor não tem condições. “Da-mos toda a assistência técnica para o nosso fornecedor, temos um corpo técnico que sempre está disposto a atendê-los”, explica.

De acordo com o representante da Frangos Canção, a integração na-quela região se intensificou a partir de 2002, quando aumentaram a capaci-dade de abate do frigorífico, que hoje suporta até 210 mil cabeças por dia, com expectativas de ampliação para os próximos meses, devido a inves-timentos em ampliação. Tortola ob-serva que o sistema de integração na

O sistema de integração facilita o acesso dos pequenos produtores a equipamentos que facilitam o desenvolvimento do negócio

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68 Panorama Rural Dezembro 2009

avicultura só funciona com o empenho mútuo. “Para que a atividade seja lu-crativa, principalmente nos aviários, é preciso dedicação plena. Noventa por cento dos nossos fornecedores estão satisfeitos com o que recebem, mas sempre há os insatisfeitos, que são ge-ralmente aqueles que não se dedicam à atividade, consequentemente, tem uma menor margem de lucro”, diz.

O sistema de pagamento dos fornecedores da empresa, como em muitos frigoríficos, funciona por meio da qualificação da carcaça recebi-da. Quanto melhor for o rendimento de carcaça de um lote, melhor será a pontuação do avicultor, o que gerará um melhor pagamento. O cálculo é feito com base no Fator de Eficiência

de Produção, FEP, que inclui o nível de mortalidade do aviário, o consumo de ração dos animais e o ganho de peso diário.

“A cada trezentos pontos do to-tal da avaliação, por exemplo, o pro-dutor ganha R$ 0,32 por cabeça, se o número de pontos for para trezentos e oitenta, o avicultor passa a ganhar R$ 0,50” por cabeça, diz Tortola. Esses cálculos são devidamente explicados no contrato entre o aviário e o frigorí-fico, por isso é importante, novamen-te, que o produtor preste atenção na hora de assinar o contrato. Os espe-cialistas nesse setor dizem que quanto mais o produtor se empenha na quali-dade de seu aviário, melhor será o seu rendimento. A falta de empenho pode

custar caro ao avicultor, pois terá seu faturamento, a remuneração por ca-beça poderá ser de R$ 0,25, ou até menos.

Os especialistas também adver-tem que a integração, tanto na avi-cultura, quanto na suinocultura, onde esse processo também pode ser feito, gera um grande fluxo de caixa para o produtor, porque diferente das cultu-ras anuais, ele tem a cada 60 dias o rendimento partilhado, o que possibi-lita a melhor administração da renda da propriedade. Outro ponto impor-tante na integração é a não dependên-cia do produtor perante as oscilações de preços do mercado.

Dados da Associação Brasilei-ra das Indústrias Exportadoras de

Para a atividade ser lucrativa é preciso dedicação plena

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gestão de negócios

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Frango, ABEF, revelam que a taxa de inadimplência no setor de integrados é baixíssima, se comparado com o in-dependente, pois eles sempre contam com o respaldo da indústria, que, por sua vez, poderá fomentar um bom flu-xo de caixa nos aviários. Francisco Turra, presidente da ABEF, salienta que a avicultura integrada é a melhor e mais justa reforma agrária já rea-lizada no País, com distribuição de renda e garantia de qualidade de vida para os parceiros.

Alto crescimento – de acordo com dados da ABEF, cada aviário de 1.200 m² gera uma receita que ultra-passa de R$ 46 mil por ano, se utiliza-da todo o sistema de integração. Para se ter uma ideia do potencial desse segmento, de acordo com o diretor in-dustrial da Frangos Canção, Ciliomar

Tortola, uma pequena propriedade, que possua apenas um galpão, pode gerar uma renda para a família que passa de R$ 1 mil.

Erico Pozzer, presidente da câmara setorial de aves e ovos do Instituto de Economia Agrícola, IEA, diz que a boa relação entre o frigorífico e o avicultor, principal-mente no setor financeiro, é uma das principais chaves para o sucesso da parceria, pois, segundo ele, produ-tor mal remunerado gera insatisfa-ção, que, consequentemente, deverá ocorrer uma queda na dedicação do avicultor perante a sua granja, dimi-nuindo a produção.

“O pequeno produtor foi o que mais ganhou com a implantação des-se processo, sem a menor sombra de dúvida, pois ele conta com o apoio da

indústria para fomentar a sua pro-dução”, diz. Para ele, o futuro, em curto prazo, é positivo, mesmo com as quedas das exportações brasileiras de frango, que não vão prejudicar o setor, pois acredita que isso é apenas uma fase.

Com a adoção do sistema de integração, a avicultura conseguiu crescer consideravelmente. Na região Sul, por exemplo, segundo dados da Apinco, no ano 2000, havia 1,8 mi-lhão de alojamentos de pintos. Em 2008 foram mais de 3 milhões de alo-jamentos. Na região Sudeste, no ano de 2000, havia cerca de 1 milhão de alojamentos. Já em 2008, ultrapas-sou a marca de 1,2 milhão.

Integração e o mercado – a compra da Perdigão pela Sadia, a fusão entre o grupo Berdin e o JBS

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70 Panorama Rural Dezembro 2009

Friboi, ambos ocorridos neste ano, não deverá comprometer o sistema de integração avícola nacional. Um dos receios dos avicultores é que haja uma resistência quanto ao preço pago ao produtor, mas segundo o especialis-ta do IEA, Erico Pozzar, nada disso deverá ocorrer porque existem outras empresas competindo no mercado, e que também estão crescendo.

“Mercado é mercado, existe uma palavra chave para amenizarmos a preocupação do produtor, que é a lei da oferta e demanda”, aponta. Os pre-ços pagos aos produtores, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Cepea, indi-cou, em outubro, uma estabilidade no preço do frango vivo, que se manteve na média de R$ 1,55 o quilo no mês. É fato que a integração trouxe muitos benefícios para o País, pois, de janei-ro a setembro, já foram produzidos mais de 5,3 mil toneladas de carne de frango, no entanto, o mercado deve fi-car atento, porque alta produção for-

ça queda de preço.Com relação ao mercado inter-

nacional, a integração, de acordo com o presidente da UBA, Ariel Mendes, com o impulso que o setor está toman-

do nas últimas décadas, o mercado mundial avícola representa 38,26% se comparado aos setores de suínos e bovinos. Segundo ele, o Brasil tem uma boa oportunidade de aumentar cada vez mais sua participação no mercado externo.

Durante o Congresso Latino-americano que ocorreu na primeira quinzena de outubro, em Havana, Cuba, o presidente da UBA, disse a líderes do setor do mundo inteiro que, além de o País ter uma produção al-tamente qualificada, é também autos-suficiente no fornecimento de milho para a fabricação de ração, o que possibilita um mercado seguro. Basta apenas que o setor avícola continue a fazer o dever de casa, empregando esforços em prol da constante melho-ria da qualidade e sanidade de nossa produção. “O Continente terá uma oportunidade de crescimento única nos próximos dez anos”, diz. Pelos registros, somente o Brasil e os EUA fomentam a integração como base do setor produtivo.

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Os ganhos com a integração também possibilitam aumento na capacidade de abate

Cada aviário de 1.200 m² gera uma receita que ultrapassa de R$ 46 mil por ano, se utilizada todo o sistema de integração

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Caio Albuquerque

Estudos apontam que até 70% da água consumida pelo ho-mem é destinada à agricultu-

ra e, desse montante, a maior parcela é escoada na irrigação. E não é de hoje que técnicas de microirrigação contribuem para que haja economia hídrica no campo. “Os métodos que consomem mais água no meio agrí-cola estão sendo substituído gradati-vamente por métodos que consomem menos água, o que mostra uma sig-nificativa conscientização por parte de produtores e da comunidade cien-tífica”, comenta Tarlei Arriel Bo-trel, professor do departamento de Engenharia Rural (LER) da ESALQ e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem.

Botrel é responsável por uma série de pesquisas que caminham na mesma direção: utilizar menos água e obter a mesma eficiência produti-va. Este é o maior desafio dos pós-graduandos envolvidos na tarefa de encontrar novos métodos de irrigação utilizando microtubos, material feito de polipropileno que varia de 0,6 a

Sistema com microtubos promove irrigação de forma precisa

Pesquisas da ESALQ buscam utilizar menos água e obter a mesma eficiência produtiva

1,5mm de diâmetro interno. Na mi-croirrigação ou irrigação localizada, existe o sistema por microaspersão e por gotejamento. Na microaspersão, a vantagem é que se consegue atender às necessidades hídricas das plantas, tanto nos solos argilosos como nos arenosos. A água é lançada sob a copa das plantas, mas para compensar a ir-regularidade de pressão ao longo da tubulação, até chegar a cada planta, os pesquisadores da ESALQ constru-íram um sistema de microaspersão com microtubos. “O microtubo é um emissor simples, de baixo custo, com o grande benefício de melhor adapta-ção em condições de topografias on-duladas e montanhosas”, lembra Ce-res Duarte Guedes Cabral de Almeida, que em seu doutorado abordou essa questão e fora premiada, na categoria Agronegócio, na Olimpíada USP de Inovação em 2008.

Outro desafio vencido foi garan-tir a vazão constante de água ao lon-go dos tubos, de modo que toda a área de raízes receba a quantidade ideal de água. “Quando a irrigação não é ho-mogênea, há perda de água ou queda na produtividade”, lembra Botrel. Te-

mos no mercado vários sistemas dispo-níveis, como o gotejador autocompen-sante, que apresenta uma membrana de silicone para controlar a liberação de água de modo homogêneo. “Esse dispositivo, embora eficiente, apre-senta as desvantagens de encarecer o emissor e de sofrer fadiga, perdendo qualidade com o tempo de uso”, afir-ma Alexsandro Claudio dos Santos Al-meida, pós-graduando que investigou a aplicação dos microtubos para hor-tas agrícolas. As pesquisas partem do princípio da variação do comprimento dos tubos ao longo da matriz, sendo que os primeiros são mais compridos, o que garante uma vazão homogênea, uma vez que a queda de pressão ao longo do percurso é compensada pela variação no comprimento. Está ga-rantido assim o mesmo efeito de um equipamento autocompensante, sendo ofertado por um sistema mais barato (atualmente o custo por hectare da irrigação localizada gira em torno de R$3 a R$4 mil), que não sofre ataque químico e apresenta uma durabilidade estendida.

Os resultados obtidos em labora-tório atendem ao conceito da irriga-ção de precisão. A premissa considera que cada planta se desenvolve de ma-neira particular, processo atrelado a fatores como clima, solo e variabilida-de genética, por exemplo. Então é fei-ta uma análise da planta em questão e fica estabelecida a demanda hídri-ca, atendendo a ela especificamente. A variação topográfica também deixa de ser um problema a partir da defini-ção de comprimentos dos microtubos que estejam adequados às ondulações do terreno. “Inovamos sob dois enfo-ques: permitir a mesma vazão, inde-pendente da variação da pressão, e variar a vazão de modo controlado, possibilitando assim irrigação de pre-cisão”, finaliza Botrel.

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PR

Alicia Nascimento Aguiar eCaio Albuquerque

Terra com cultura...Terra lavra-da... duas pequenas frases que, se fossem lançadas em meio

a nossa frenética rotina, certamente seriam interpretadas sob a ótica do desenvolvimento, do agronegócio, da economia de um País, principalmente quando ditas ou realizadas no âmbito de uma Escola Superior de Agricultu-ra. Porém, vejamos com outros olhos. Olhos que percebam a poesia, o lirismo

O Camponês francês e o caipira brasileiro:

semelhanças

Exposição no Museu Luiz de Queiroz traça paralelo entre o caipira do Brasil e o camponês da França

e o encantamento peculiar de expres-sões que traduzem a alma do homem do campo, presente em todo coração urbano, na busca de sensações como sons, cheiros e cores, continuamente ausentes de nossas cinzentas rotinas.

“Em qualquer parte da TerraUm homem estará sempre plantando,

Recriando a Vida.Recomeçando o Mundo”.

A relação homem/terra/vida/universo, concebida por Cora Corali-

na em “Poema do Milho”, mostra que o ser humano, personagem universal, caminha em diferentes espaços geo-gráficos tão próximos pela humaniza-ção que os valores da terra estimulam. A bucólica e imponente Escola Supe-rior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) abrigou, em 2005, a exposição “Retratos da Roça”, exi-bindo em telas e poesias de autoria de Sônia Maria De Stefano Piedade, Carmen Maria da S. Fernadez Pilotto e de outros autores brasileiros, a sim-plicidade da rotina do campo. Hoje,

Caminhos rurais

em comemoração ao Ano do França no Brasil, esse panorama campestre foi reeditado e transformado na ex-posição “Pelos caminhos rurais do Brasil e da França: onde o camponês e o caipira se encontram”, com a pro-posta de promover um encontro dos países nas diferentes expressões da Arte. A exposição aconteceu de 6 e 30 de outubro, no Museu e Centro de Ciência, Educação e Artes “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, SP.

Forma, saberes e sabores comuns se consistem no mote da exposição. In-tertextualidade na Arte, expressadas na pintura, literatura, fotografia, mú-sica e gastronomia. Ao lado das telas que retratam cenários e utensílios do nosso caipira, inserem-se figuras hu-manas de camponeses franceses com-patíveis com a realidade adorável do campo. A artista plástica, engenheira agrônoma e professora da ESALQ, Sô-nia Piedade, revela que a exposição é fruto de cinco anos de trabalho. “Trago 16 telas para a exposição, todas pinta-das ao vivo ou inspiradas em cenários do meio agrícola como canaviais, ca-fezais, plantações de milho e outros. Chegamos a montar cenários no ateliê para representar o meio rural, a ativi-dade do caipira”, explica.

Na exposição, a veracidade ao transmitir o ambiente rural pode ser contemplada em duas telas que foram pintadas no escuro, apenas com ilumi-nação de velas, representando a madru-gada do bóia-fria, hora em que o tra-balhador arruma sua marmita antes de partir para mais uma jornada. “O Bra-sil tem que ser representado assim, pois grande parte da nossa população ainda trabalha duro no campo e esses perso-nagens tem uma extrema importância socioeconômica. Lá dentro, ainda te-mos muito do caipira e pra que perder isso? Essa é nossa origem e temos que nos orgulhar disso”, conclui a artista.

Piracicaba (CLP). Por exemplo, o texto “Louvação

aos temperos”, de Maria Cecília Ga-ner Fessel, tem sua interface com a tela “Canto da Cozinha” e com a foto que retrata um garoto inserido em uma cesta de cebolas. “A interação é imediata e optamos por não traduzir nem os textos franceses (que acom-panham as fotos), nem os brasileiros (que acompanham as telas) para evi-tar qualquer erro de interpretação, uma vez que são textos poéticos. Nós temos um cotidiano muito próximo, cada atividade diária elucida hábitos, utensílios e retratos bastante seme-lhantes”, conclui Carmen.

Um cardápio musical sob res-ponsabilidade da maestrina Cíntia Pi-notti, fez parte da abertura da expo-sição, e o Grupo Vocal do Coral Luiz de Queiroz apresentou músicas folcló-ricas das duas nações. “Com relação à música, a proximidade pode ser ci-tada com o caso do acordeon, que é muito tocado nos campos franceses e no interior paulista, ou seja, há cer-tamente essa interação, somos sepa-rados apenas geograficamente, mas o homem do campo é o mesmo, seja na França ou aqui”, lembra a curadora Carmem Pilotto.

Onde o francês e o brasilei-ro se assemelham – para a poetisa Carmen Pilotto, a ideia foi encontrar onde o francês e o brasileiro se asse-melham. “Pensamos em resgatar a nossa identidade caipira que é muito parecida com a realidade do campo-nês francês. Valores, hábitos, sons e saberes são muito próximos”, revela. A partir da publicação “Paysans 366 proverbes et dictons au rythme des saisons”, Carmem selecionou imagens que retratam paisagens da França e que completam a sinergia com o am-biente rural brasileiro. “Assim, nota-mos que o elemento humano da França se insere nas nossas cenas e utensílios e concluímos a exposição a partir da intertextualidade entre fotos, qua-dros e textos franceses e brasileiros, gastronomia, danças e músicas”. Na prática, a exposição é um convite que funde uma imagem do livro francês e uma tela de Sonia Piedade. O ele-mento humano é retratado na mesma posição e com a mesma ferramenta. Ainda no mesmo plano, o visitante se depara com textos que passam por au-tores como Cora Coralina e Cornélio Pires, devidamente conciliados com produções de escritores piracicabanos pertencentes ao Centro Literário de

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Canto da Cozinha

Madrugada do bóia-fria

cultura

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76 Panorama Rural Dezembro 200976 Panorama Rural Dezembro 2009

Série Produtor Rural aborda:

“Mirtáceas com frutos

comestíveis do

Estado de São Paulo”

A série Produtor Rural, editada

pela Divisão de Biblioteca e

Documentação (DIBD), da Escola

Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz” (USP/ESALQ), acaba de

lançar um novo título. “Mirtáceas

com frutos comestíveis do Estado

de São Paulo: conhecendo algu-

mas plantas / Parte2” é o tema do

exemplar nº 45 da publicação. A

edição aborda a família Myrtace-

ae, que compreende 100 gêneros e

3500 espécies de árvores e arbustos

distribuídos por todos os continen-

tes, predominando em regiões de

clima tropical e subtropical, sendo

Territorial Rural (ITR)

Como adquirir os livros – os

exemplares da coleção pode ser ad-

Sugestões de publicações que não podem faltar na biblioteca das pessoas que são do campo ou gostam das coisas da terra

considerada uma das famílias mais

importantes em território brasilei-

ro. A maior parte dessas plantas

são produtoras de frutos comes-

tíveis e algumas são exploradas

comercialmente em maior escala,

como a goiabeira e a jaboticabeira,

mencionadas no exemplar nº 31 da

Série Produtor Rural.

Nesta segunda parte, os auto-

res reuniram informações escassas

e que se apresentam muitas vezes

confusas na literatura como a clas-

sificação e nome científico, com in-

tenção de destacar outras plantas

da mesma família com potencial

de exploração econômica como o

araçá-azedo, cereja-do-rio-grande,

gabiroba, guabiju, entre outras.

* * *

“Propriedades rurais

e código fl orestal”

A série Produtor Rural acaba de

lançar um novo título. “Pro-

priedades rurais e código florestal:

esclarecimentos gerais sobre áreas

de preservação permanente” é o

tema do exemplar nº 44 da publi-

cação. A edição aborda a importân-

cia da conservação das formações

florestais, destacando as principais

funções da vegetação ciliar e con-

textualizando a redução do Imposto

quiridos na Biblioteca ou por envio

postal. Outros títulos já publicados

podem ser obtidos pelo telefone

(19) 3429.4140, e-mail: biblio@

esalq.usp.br ou pelo site www.esalq.

usp.br/biblioteca em “Publicações

para Venda”.

* * *

Agronegócio: comércio do

Brasil com 30 países é

detalhado em publicação

O desempenho do agronegócio

brasileiro no contexto mun-

dial, as exportações por produtos e

Panorama Rural Dezembro 2009 77

Sugestões de publicações que não podem faltar na biblioteca das pessoas que são do campo ou gostam das coisas da terra

Panorama Rural Dezembro 2009 77

mercados e a participação de desta-

que do País junto aos principais im-

portadores agrícolas são algumas

das informações reunidas na nova

edição do Intercâmbio Comercial

do Agronegócio - Principais Mer-

cados de Destino. A publicação,

lançada em 21 de outubro, é uma

iniciativa da Secretaria de Rela-

ções Internacionais do Agronegócio

(SRI) e da Assessoria de Comuni-

cação Social (ACS), do Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abaste-

cimento (Mapa).

Intercâmbio Comercial do

Agronegócio mostra que os produ-

tos agropecuários do País vêm con-

quistando cada vez mais mercados

em todo o mundo e que o cresci-

mento médio anual das vendas ex-

ternas superior a 20%, nos últimos

anos, é consequência do aumento

da presença brasileira no mercado

mundial de 4,8%, em 2000, para

6,7% em 2007.

São detalhados os 30 mer-

cados de maior expressão para os

produtos do agronegócio brasileiro,

englobando os temas sanitários e

fitossanitários com cada país, além

do regime tarifário para os vinte

principais produtos agrícolas ex-

portados. Importante fonte de con-

sulta para agentes do agronegócio,

profissionais de comércio exterior e As sugestões de livros com foto da capa em alta resolução

devem ser enviadas para: [email protected]

estudantes, a publicação permite,

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cultura, www.agricultura.gov.br, os

interessados podem acessar o forma-

to digital do livro, por meio do link In-

tercâmbio Comercial do Agronegócio

2009.

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Centro de Distribuição de Peças CNHserá referência mundial em logística

Ilustração do Centro de Distribuição de Peças da CNH

A Case New Holland (CNH) constrói o maior Centro de Distribuição de Peças da América Latina e um dos

mais modernos do mundo, em Sorocaba, SP. O empreen-dimento vai contar com o que existe de mais eficiente em termos de logística e distribuição baseado no conceito de World Class Logistics (Classe Mundial em Logística), no qual se busca atingir os mais altos níveis de excelência.

Com área total de 125 mil m² e área construída de 56 mil m², podendo chegar a 76 mil m², a estrutura foi planejada para alcançar a maior rapidez operacional em toda a cadeia logística, desde o fornecedor até o cliente final, em mais de 300 pontos da América Latina. O inves-timento total previsto até 2011 – que engloba também a reativação da fábrica da Case no local – será de R$ 987 milhões.

A capacidade de estocagem é de 180 mil locações, com possibilidade de expansão para 250 mil. Para dar conta de tudo isso com a devida agilidade, novos softwa-res de ponta estão sendo implantados. Um deles consiste em um novo sistema de entrada de pedidos, planejamento e compra de peças. Este sistema integra todos os depó-sitos de peças da CNH no mundo, o que garante maior

agilidade na disponibilização de peças para os clientes finais.

Este centro de Sorocaba, que conta com 300 empre-gados com previsão de ampliar este quadro para 450 até 2012, vai trabalhar na distribuição de peças das quatro marcas da CNH– New Holland Agriculture, Case IH, New Holland Construction e Case Construction – além de peças Iveco, fabricante de veículos pesados do Grupo Fiat.

A MWM InternationaL Motores renovou contrato com a fabricante e distribuidora de equipamentos agrícolas

AGCO. A empresa continuará fornecendo propulsores, que serão produzidos na planta de Canoas, RS, para equipar os tratores e retroescavadeiras da marca Massey Ferguson.

O contrato entre as companhias tem valor estimado em R$ 500 milhões, duração de três a quatro anos, e previ-são de fornecimento anual de cerca de 20 mil propulsores. Hoje, a fabricante de motores diesel é líder no segmento de tratores de rodas, com 55,6% de market share. A empresa também mantém a liderança na produção de motores die-sel no Mercosul com 35% de participação.

O diretor de Vendas e Marketing da MWM Interna-tional, Michael Ketterer, ressalta que a parceria entre as

MWM International fechanovo contrato com a AGCO

duas companhias completa 48 anos. “Desde 1961 forne-cemos motores para equipar os tratores Massey Ferguson e temos muito orgulho dessa parceria, que neste ano vai atingir a marca de 700 mil propulsores entregues”, afirma Ketterer.

O grupo AGCO detém marcas reconhecidas no setor como a Massey Ferguson, Valtra, Fendt, Challenger, entre outras. Os tratores Massey Ferguson fabricados no Brasil são exportados para mais de 80 países. A MWM Inter-national possui três plantas localizadas em Santo Amaro, SP, Canoas, RS e Jesús Maria, em Córdoba, na Argentina. Hoje, atende mais de 30 países na América do Sul, Amé-rica do Norte, América Central, Europa, Ásia, África e Oceania. PR

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acesso à mecanização de pequenos e médios fornecedores de cana, que colhem em torno de 60 mil toneladas de cana por ano.

A Baldan Agri-Tillage também engordou sua linha canavieira, são 12 produtos à disposição dos clientes, entre eles, subsoladores, cobridor de cana e sulcador adubador. A Baldan além de trazer novidades nas novas séries de sul-cador adubador e cultivador adubador múltiplo Baldan, também lançou o seu transbordo de arrasto.

Inauguração da novasede da Comingersoll

No dia 14 de outubro, aconteceu a inauguração da nova sede da Comingersoll, distribuidora dos equipamentos da marca Doosan, em Sorocaba, SP. As novas instalações têm uma área de mais

de 30 mil m². A Comingersoll vem conquistando mercado e tem dobrado seus níveis de faturamento, graças à qualidade dos equipamentos Doosan e à eficiência de sua equipe de colaboradores na gestão de atendimento e pós-venda. Este ano duas novas filiais foram inauguradas, em Serra, ES e Ribeirão Preto, SP. A Comingersoll distribui os produtos Doosan (escavadeiras Doosan, carregadeiras Doosan, miniescavadeiras e carregadeiras Bobcat, compressores de ar portáteis, torres de iluminação), além de geradores de nitrogênio e oxigênio. Está presente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Es-pírito Santo e Mato Grosso do Sul.

A expansão dos negócios da Comingersoll aliado ao favorável momento econômico que o país atravessa levou a Doosan a considerar em seu plano estratégico de crescimento a construção de uma fábrica no Brasil, e Sorocaba é uma forte candidata a sediar este empreendimento no futuro.

2009 apresentou muitos lançamentos voltados para a área agrícola canavieira. Os exemplos vão de peque-

nas a grandes máquinas, mas todas de fundamental im-portância. Um pequeno exemplo que faz a diferença é a Afilatrice, uma máquina para afiar facões que possibilita incremento na produtividade no corte, pois deixa de ocor-rer paradas por acidentes durante a afiação com a lima ou pedra de amolar. Com a máquina Afilatrice, o ângulo de afiação restringe-se ao necessário para refazer o gume e propiciar o melhor corte com o menor esforço para o tra-balhador, mantendo a linha de corte e o peso da lâmina. “A vida útil do facão tem sido de 200 toneladas com o sistema tradicional de afiação pelo próprio trabalhador, com isto, em uma empresa em que a média de corte de cana seja nove toneladas por dia a empresa deverá oferecer facões novos a cada 30 dias. Com isto, a vida útil dos facões passa a ser pelo menos 25% maior trazendo economia para a em-presa produtora”, explica Edmundo Coelho Barbosa, quem desenvolveu o protótipo da Afilatrice.

Entre as grandes máquinas, a Case IH lançou as co-lhedoras de cana A8000 e A4000, essa última, desenvol-vida para colher uma linha por vez em áreas plantadas com espaçamentos reduzidos. A A4000 apresenta-se como uma nova categoria de colhedoras e pretende ser a porta de

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2009 apresentou bons lançamentosna área canavieira

Transbordo de arrasto para cana, um dos lançamentos da Baldan em 2009

80 Panorama Rural Dezembro 2009

Texto e fotos: Caio Campanhão

O Grupo de Motomecanização das Usinas Sucronergéticas (Gmec) realizou, no dia 21 de outubro, uma reunião na fá-

brica da Valtra, em Mogi das Cruzes, SP. Participaram do en-contro 45 técnicos em motomecanização das usinas que foram recepcionados pelo gerente de vendas da Valtra, Paulo Beraldi e pelo diretor da AGCO na América Latina, Ricardo Huhtala. Os técnicos puderam opinar sobre os produtos da empresa e sugerir melhorias.

Outro ponto forte da visita à fábrica foi a apresentação do novo modelo de trator da Valtra, equipado com motor Dual Fuel AGCO Sisu Power e com o sistema Delphi de injeção eletrônica Multi Fuel Diesel + Etanol. Para isso, os convidados foram levados a um salão onde o gerente da Delphi, Luís Henrique Verginelli, explicou o funcionamento do motor, movido tanto a diesel quanto a etanol, utilizando um protótipo transparente que permitia a visualização completa de seu funcionamento.

O motor consiste em um sistema que controla o fluxo de diesel da bomba rotativa e a quantidade de etanol injetada pe-los injetores montados no coletor de admissão. O sistema con-trola a quantidade dos dois combustíveis, otimizando o uso de etanol para evitar falhas na combustão e detonação.

Após verificarem o novo modelo, os representantes das usinas foram convidados a conhecer a fábrica onde os tratores são montados. Lá, a equipe da Valtra mostrou todos os pro-

Técnicos de motomecanização sucroenergética visitam a Valtra

cessos pelos quais os tratores passam durante o processo de montagem como a área de lavagem, zona de empapelamento, pintura, zona de evaporação, estufa resfriadora, área de pneus, entre outras.

Em seguida, foi realizada uma visita à fábrica de moto-res da AGCO – multinacional que incorporou a Valtra. Por lá também foi possível conhecer todos os processos pelos quais os motores passam antes de integrar os tratores. Para Paulo Be-raldi, o encontro é importante já que permite que a empresa entre em contato direto com os usuários do produto. “É através de reuniões como estas que podemos sentir o que está bom e o que precisa ser melhorado em nossos produtos. Tenho certeza de que o encontro foi muito proveitoso para todos”, afirmou.

Protótipo de motor que permite a mistura de Diesel com Etanol

Integrantes do Gmec na fábrica da Valtra

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XXII Curso de Brucelosee Tuberculose Animal Local: Funep – Jaboticabal/SP Data: 07 a 11 de dezembro de 2009 Contato: (16) 3209-1300 [email protected]

Workshop sobre IntegraçãoLavoura-Pecuária-Florestano Bioma Pampa Local: Embrapa Clima Temperado – Pelotas/RSData: 08 e 09 de dezembro de 2009 Contato: (53) 3275-8488 [email protected]

Leilão Sela Brasil Nova Fase Local: Jockey Clube – São Paulo/SP Data: 10 de dezembro de 2009 Informações: (11) 3815-4949

IX Seminário Nacionalde Gestão de Resíduos eRecursos Hídricos no Brasil

Local: Auditório Senador Antonio Carlos Magalhães – Brasília/DF Data: 10 de dezembro de 2009 Contato: (61) 3468-5696 [email protected] V Seminário BrasileiroSobre Pequenas Frutas Local: Mercado Público Municipal – Vacaria/RS Data: 10 e 11 de dezembro de 2009 Contato: (54) 3455-8000 [email protected] Curso de Odontologia paraProprietários de Cavalos,Cavaleiros e Interessados Local: Universidade do Cavalo –Sorocaba/SP Data: 12 e 13 de dezembro de 2009 Contato: (15) 3292-6633 [email protected]

Nelore Fest 2009 Local: Espaço Rosa Rosarum –São Paulo/SP Data: 14 de dezembro de 2009 Contato: (11) 3293-8900 [email protected]

Curso Oficial de Formação e deHabilitação de Classificadores deMilho, Feijão, Trigo e Soja Local: Castro/PR Data: 14 a 22 de dezembro de 2009 Contato: (41) 3365-6535 [email protected]

Curso de Mistura Equestre Local: Universidade do Cavalo –Sorocaba/SP Data: 19 e 20 de dezembro de 2009 Contato: (15) 3202-7866 [email protected]

Ventres e Novilhos Local: São Borja/RS Data: 10 de dezembro de 2009 Contato: (55) 3431-3588

5ª Exposição Especialde Caprinos e OvinosLocal: Nova Soure/BA Data: 10 a 13 de dezembro de 2009 Contato: (71) 3375-4575

V Expomandaguaçu Local: Mandaguaçu/PR

XII Expovinos de Verão Local: Cachoeira do Sul/RS Data: 04 a 12 de dezembro de 2009 Contato: (51) 2123-6200

1ª Teresina Agroshow e59ª Expoapi Local: Teresina/PI Data: 08 a 13 de dezembro de 2009 Contato: (86) 3216-2160 [email protected]

II Feira de Verão de

Data: 10 a 13 de dezembro de 2009 Contato: (44) 3245-1122

VII Feira do Cordeiro Missioneiro Local: São Borja/RS Data: 18 de dezembro de 2009 Contato: (55) 3431-3588

XXXII Exposiçãode Ovinos de Verão Local: Bagé/RS Data: 18 a 20 de dezembro de 2009 Contato: (51) 2123-6200

Eventos & Leilões

Feiras & Exposições fale com o editor:[email protected]

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