Segurança ineficaz nos ônibus

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5 | SALVADOR | SALVADOR, QUINTA-FEIRA , 15/3/2007 & região metropolitana TRANSPORTE Desde que passou a operar, em 2006, sistema de vigilância nunca identificou um assaltante, por isso será trocado Segurança ineficaz nos ônibus VITOR PAMPLONA | A TARDE ON LINE [email protected] Prestes a completar um ano em operação, o sistema de vigilância eletrônica implantado em cerca de um terço dos ônibus de Salvador caminha rumo a uma aposentado- ria precoce. Vai ser trocado para unificar as duas redes de monito- ramento existentes, uma adminis- trada pela prefeitura e outra dire- tamente pelas empresas de trans- porte coletivo. Tudo depende de um acerto en- tre os empresários do setor e a Aton Engenharia, vencedora da licita- STP acredita na redução de ocorrências WELTON ARAÚJO O monitoramento não garante a diminuição dos assaltos Para o superintendente da STP, Gervásio Carvalho, é tudo uma questão de tempo: “Não tenho dúvida de que, quando toda a frota estiver monitorada, o número de crimes vai diminuir”, diz . Horácio Brasil não é tão otimista: “Implantar cofres com abertura programada, tirar a publicidade dos vidros traseiros e instalar câmeras são iniciativas importantes. Mas juntas representam apenas 20% do esforço para reduzir os roubos”, calcula. “O resto depende da ação da polícia”, assegura. O delegado do Gercc, Antônio Cláudio Oliveira, concorda sem pestanejar. “As câmeras têm efeito positivo. Mas o que coíbe é a ação da polícia. Estamos aumentando a atividade nas ruas e intensificando o número de blitzen”, diz. Sobre a média diária de assaltos, de cinco a seis por dia desde 2004, Oliveira tem uma explicação curiosa: “A população cresceu, a frota cresceu e os assaltos se mantiveram no mesmo patamar nos últimos anos. Pelo menos não aumentaram”. A afirmação não significa que a polícia tenha entregado os pontos: “Já requisitamos aumento no efetivo, vamos organizar um curso sobre técnicas de abordagem e tiro, e devemos implantar um SI (Serviço de Investigação) permanente”, diz o delegado do Gerrc. Segundo o superintendente do Setps, ainda restam “dúvidas de cunho tecnológico e financeiro” para o negócio com a Aton ser fechado. Até hoje, os empresários investiram com recursos próprios R$ 625 mil para equipar 250 ônibus (R$ 2,5 mil em cada), fora os R$ 57 por veículo que gastam mensalmente com manutenção. Os cofres públicos estão a salvo, pois o sistema licitado pela prefeitura foi pago num rateio entre as empresas de ônibus e outras instituições, entre elas o Banco do Brasil. O mesmo deve ocorrer com os novos equipamentos. E a julgar pela declaração do titular da STP, o Executivo municipal acompanha a distância as modificações. “A prefeitura não se envolve nessa negociação. Embora seja do nosso interesse a questão da segurança pública, há interesse também deles (empresários), pois existe a necessidade de preservar o patrimônio”, observou o superintendente da STP. Sistema se mostrou ineficiente FERNANDO VIVAS | 5/4/2006 Câmeras não diminuíram os assaltos nos coletivos Não é a primeira vez que um dirigente da STP ressalta a lógica empresarial. Ano passado, ao justificar o resultado da licitação que escolheu o fornecedor das câmeras, o antecessor de Gervásio Carvalho à frente da STP, Antônio Lomanto Netto, disse ao A TARDE On Line que a Aton foi escolhida por ter oferecido melhor preço com tecnologia de qualidade. A afirmativa ignorava as deficiências no sistema, agora admitidas por prefeitura e empresários. A Aton Engenharia, diretamente beneficiada pela compra dos equipamentos, foi procurada para esclarecer quanto cobrará pelo serviço. Na segunda-feira, ficou acertado que a empresa atenderia A TARDE On Line no dia seguinte. Desde terça-feira, porém, os funcionários autorizados a receber a reportagem estiveram “em reunião”, “em horário de almoço” ou “fora da empresa”, segundo informado por telefone. “O sistema serve para verificar a relação entre passageiros e tripulação em caso de briga” Horácio Brasil, superintendente da Setps ção para fornecer o equipamento da rede pública. Caso a negociação se confirme, a Aton irá concretizar um grande negócio: depois de co- brar R$ 2 milhões para instalar câ- meras e transmissores, vai receber um valor extra para substituir uma tecnologia que ela mesma implan- tou. Mas, ao contrário do que pos- sa indicar, a transação não tem na- da de imprevista. Desde que passou a operar, em 30 de março do ano passado, o sis- tema de vigilância nos ônibus de Salvador é incompatível com dire- trizes mínimas de segurança. As câmeras usadas na rede da prefei- tura só registram imagens quando acionadas por meio de um “botão de pânico”, o que dificilmente ocorre. Motoristas e cobradores te- mem represálias. Resultado: em onze meses e meio de funciona- mento, nunca identificaram um assaltante sequer, segundo os re- gistros do Gerrc (Grupo Especial de Repressão a Roubos de Coleti- vos), da Polícia Civil. “Estamos evoluindo para supe- rar algumas dificuldades de natu- reza operacional, que deixam os operadores com receio de acionar o sistema”, avalia o superintenden- te de Transportes Públicos, Gervá- sio Carvalho. O equipamento das empresas, por sua vez, filma sem interrup- ções o interior dos veículos e já au- xiliou os policiais. Mas não possui GPS, aparelho existente nas câme- ras da prefeitura que permite de- terminar a localização dos carros via satélite. Atualmente, 790 dos 2.282 ônibus em circulação em Salvador são equipados com câ- meras – 540 deles integram a rede pública e o restante a das empre- sas. “Queremos aproveitar o que os dois sistemas têm de bom. O da prefeitura possui a vantagem da localização por GPS. O das empre- sas tem os seguintes benefícios: serve para verificar a relação entre passageiros e tripulação em caso de briga, inibir a entrada pela porta da frente e testemunhar acidentes de trânsito”, enumera o superin- tendente do Sindicato das Empre- sas de Transportes de Passageiros de Salvador, Horácio Brasil. Tantas vantagens, contudo, não escondem a ineficácia das câme- ras contra o crime. Desde que o sis- tema foi instalado, há uma média diária de cinco assaltos por dia. Educação Estudantes terão cursinho grátis Direcionado a estudantes que tenham freqüentado a rede pública da 5ª série ao 3º ano, as inscrições para a seleção do pré-vestibular gratuito da organização não-governamental Oficina da Cidadania já estão abertas. A ONG oferece 150 vagas e os candidatos farão prova de 40 questões, com conteúdo de português, matemática, química, física, biologia, história e geografia. Outras informações no site www.consultec.com.br ou pelo telefone (71) 3273-4302. Meio ambiente Encontro regional sobre o mangue De 29 de abril a 5 de maio Itaparica sedia o V Encontro Regional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal. O evento se propõe a resgatar a educação, as formas de vida e a beleza do manguezal. O projeto é uma parceria da Ufba com a prefeitura. A expectativa é que, a exemplo das edições anteriores, participem do evento cerca de 400 pessoas. CURTAS

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Matéria sobre a troca do sistema de vigilância eletrônica nos ônibus de Salvador

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5| SALVADOR |SALVADOR, Q U I N TA - F E I R A , 15/3/2007

& região metropolitana

TRANSPORTE ❚ Desde que passou a operar, em 2006, sistema de vigilância nunca identificou um assaltante, por isso será trocado

Segurança ineficaz nos ônibusVITOR PAMPLONA | A TARDE ON LINEv p a m p l o n a @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

Prestes a completar um ano emoperação, o sistema de vigilânciaeletrônica implantado em cerca deum terço dos ônibus de Salvadorcaminha rumo a uma aposentado-ria precoce. Vai ser trocado paraunificar as duas redes de monito-ramento existentes, uma adminis-trada pela prefeitura e outra dire-tamente pelas empresas de trans-porte coletivo.

Tudo depende de um acerto en-tre os empresários do setor e a AtonEngenharia, vencedora da licita-

STP acreditana reduçãode ocorrências

WELTON ARAÚJO

O monitoramento não garantea diminuição dos assaltos

Para o superintendente daSTP, Gervásio Carvalho, é tudouma questão de tempo: “Nãotenho dúvida de que, quandotoda a frota estivermonitorada, o número decrimes vai diminuir”, diz .Horácio Brasil não é tãootimista: “Implantar cofrescom abertura programada,tirar a publicidade dos vidrostraseiros e instalar câmerassão iniciativas importantes.Mas juntas representamapenas 20% do esforço parareduzir os roubos”, calcula. “Oresto depende da ação dapolícia”, assegura.

O delegado do Gercc,Antônio Cláudio Oliveira,concorda sem pestanejar. “Ascâmeras têm efeito positivo.Mas o que coíbe é a ação dapolícia. Estamos aumentandoa atividade nas ruas eintensificando o número deblitzen”, diz. Sobre a médiadiária de assaltos, de cinco aseis por dia desde 2004,Oliveira tem uma explicaçãocuriosa: “A população cresceu,a frota cresceu e os assaltos semantiveram no mesmopatamar nos últimos anos.Pelo menos não aumentaram”.

A afirmação não significaque a polícia tenha entregadoos pontos: “Já requisitamosaumento no efetivo, vamosorganizar um curso sobretécnicas de abordagem e tiro,e devemos implantar um SI(Serviço de Investigação)permanente”, diz o delegadodo Gerrc.

Segundo o superintendentedo Setps, ainda restam“dúvidas de cunhotecnológico e financeiro” parao negócio com a Aton serfechado. Até hoje, osempresários investiram comrecursos próprios R$ 625 milpara equipar 250 ônibus(R$ 2,5 mil em cada), fora osR$ 57 por veículo que gastammensalmente comm a n u t e n ç ã o.

Os cofres públicos estão asalvo, pois o sistema licitadopela prefeitura foi pago numrateio entre as empresas deônibus e outras instituições,entre elas o Banco do Brasil. Omesmo deve ocorrer com osnovos equipamentos. E ajulgar pela declaração dotitular da STP, o Executivomunicipal acompanha adistância as modificações. “Aprefeitura não se envolvenessa negociação. Emboraseja do nosso interesse aquestão da segurança pública,há interesse também deles(empresários), pois existe anecessidade de preservar opatrimônio”, observou osuperintendente da STP.

Sistema sem o s t ro uineficiente

FERNANDO VIVAS | 5/4/2006

Câmeras não diminuíram osassaltos nos coletivos

Não é a primeira vez que umdirigente da STP ressalta alógica empresarial. Anopassado, ao justificar oresultado da licitação queescolheu o fornecedor dascâmeras, o antecessor deGervásio Carvalho à frente daSTP, Antônio Lomanto Netto,disse ao A TARDE On Line quea Aton foi escolhida por teroferecido melhor preço comtecnologia de qualidade. Aafirmativa ignorava asdeficiências no sistema, agoraadmitidas por prefeitura eempresár ios.

A Aton Engenharia,diretamente beneficiada pelacompra dos equipamentos, foiprocurada para esclarecerquanto cobrará pelo serviço.Na segunda-feira, ficouacertado que a empresaatenderia A TARDE On Lineno dia seguinte. Desdeterça-feira, porém, osfuncionários autorizados areceber a reportagemestiveram “em reunião”, “emhorário de almoço” ou “forada empresa”, segundoinformado por telefone.

❛“O sistema serve para verificar arelação entre passageiros etripulação em caso de briga”

Horácio Brasil, superintendente da Setps ❚

ção para fornecer o equipamentoda rede pública. Caso a negociaçãose confirme, a Aton irá concretizarum grande negócio: depois de co-brar R$ 2 milhões para instalar câ-meras e transmissores, vai receberum valor extra para substituir umatecnologia que ela mesma implan-tou. Mas, ao contrário do que pos-sa indicar, a transação não tem na-da de imprevista.

Desde que passou a operar, em30 de março do ano passado, o sis-tema de vigilância nos ônibus deSalvador é incompatível com dire-trizes mínimas de segurança. Ascâmeras usadas na rede da prefei-

tura só registram imagens quandoacionadas por meio de um “botãode pânico”, o que dificilmenteocorre. Motoristas e cobradores te-mem represálias. Resultado: emonze meses e meio de funciona-mento, nunca identificaram um

assaltante sequer, segundo os re-gistros do Gerrc (Grupo Especialde Repressão a Roubos de Coleti-vos), da Polícia Civil.

“Estamos evoluindo para supe-rar algumas dificuldades de natu-reza operacional, que deixam os

operadores com receio de acionaro sistema”, avalia o superintenden-te de Transportes Públicos, Gervá-sio Carvalho.

O equipamento das empresas,por sua vez, filma sem interrup-ções o interior dos veículos e já au-xiliou os policiais. Mas não possuiGPS, aparelho existente nas câme-ras da prefeitura que permite de-terminar a localização dos carrosvia satélite. Atualmente, 790 dos2.282 ônibus em circulação emSalvador são equipados com câ-meras – 540 deles integram a redepública e o restante a das empre-sas. “Queremos aproveitar o que os

dois sistemas têm de bom. O daprefeitura possui a vantagem dalocalização por GPS. O das empre-sas tem os seguintes benefícios:serve para verificar a relação entrepassageiros e tripulação em casode briga, inibir a entrada pela portada frente e testemunhar acidentesde trânsito”, enumera o superin-tendente do Sindicato das Empre-sas de Transportes de Passageirosde Salvador, Horácio Brasil.

Tantas vantagens, contudo, nãoescondem a ineficácia das câme-ras contra o crime. Desde que o sis-tema foi instalado, há uma médiadiária de cinco assaltos por dia.

EducaçãoEstudantes terãocursinho grátisDirecionado a estudantes quetenham freqüentado a redepública da 5ª série ao 3º ano, asinscrições para a seleção dopré-vestibular gratuito daorganização não-governamentalOficina da Cidadania já estãoabertas. A ONG oferece 150vagas e os candidatos farãoprova de 40 questões, comconteúdo de português,matemática, química, física,biologia, história e geografia.Outras informações no sitewww.consultec.com.br ou pelotelefone (71) 3273-4302.

Meio ambienteEncontro regionalsobre o mangueDe 29 de abril a 5 de maioItaparica sedia o V EncontroRegional de EducaçãoAmbiental em Áreas deManguezal. O evento se propõea resgatar a educação, as formasde vida e a beleza domanguezal. O projeto é umaparceria da Ufba com aprefeitura. A expectativa é que,a exemplo das ediçõesanteriores, participem doevento cerca de 400 pessoas.

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