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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

UM MODELO DE MELHORIA CONTNUA APLICADO REDUO DE RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO

MARCELO FONTANELLA WEBSTERDissertao submetida Universidade Federal de Santa Catarina para obteno do grau de Mestre em Engenharia

Orientador: Prof. Gregrio Jean Varvaquis Rados, PhD

FLORIANPOLISAGOSTO DE 2001

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UM MODELO DE MELHORIA CONTNUA APLICADO REDUO DE RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO

MARCELO FONTANELLA WEBSTER

Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia, especialidade em Engenharia de Produo, rea de concentrao produtividade e qualidade e aprovada em sua forma final, pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo.

_______________________________________ PROF. RICARDO MIRANDA BARCIA, Ph.D. Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

_______________________________________________ PROF. GREGRIO JEAN VARVAQUIS RADOS, Dr. Orientador

_______________________________________________ PROF. VERA LCIA D. DO VALLE PEREIRA, Dra.

_______________________________________ PROF. EDSON PACHECO PALADINI , Dr.

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Cleoni, minha esposa, e ao Marcelo meu filho, pessoas que tanto amo. Dedico.

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AGRADECIMENTOSAo Prof. Gregrio, meu orientador, por ter aceito minha proposta de pesquisa, e pelo apoio incondicional durante sua elaborao. A meus pais, Flvio e Neide, pela vida, pelo incentivo, pela torcida.... Ao amigo Waldemar Pacheco Jr., por ouvir-me e, sempre atencioso, compartilhar de seus conhecimentos. Aos amigos Anglica Miranda, Eugnio Luiz Gonalves, Leonor Queiroz Lima, Ricardo Luiz Machado, e a todos que de uma forma ou de outra contriburam com a minha caminhada. Universidade Federal de Santa Catarina e a seus dirigentes, que proporcionou-me duplamente realizar este trabalho, tanto como aluno, quanto como funcionrio. Ao Restaurante Universitrio, sua direo e funcionrios, pelo apoio durante a verificao prtica do modelo proposto nesta dissertao. Aos colegas de trabalho da PRAC/DRH/GSHST, pelo apoio e incentivo. Aos professores do PPGEP/UFSC, com quem adquiri conhecimentos e experincias. Aos professores Vera Lcia Duarte do Valle Pereira e Edson Pacheco Paladini, que gentilmente participaram da banca de avaliao desta dissertao, pelas crticas construtivas e conhecimentos emprestados. Deus, princpio de tudo.

Foi to gratificante realizar este trabalho, que meu testemunho e nem de no de sofrimento dificuldades

maiores, apenas o sentimento teimoso de que poderia fazer melhor.... O autor.

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SUMRIORelao de Siglas.................................................................................................... viii Lista de Figuras ....................................................................................................... ix Lista de Quadros ..................................................................................................... x Lista de Tabelas ...................................................................................................... xi Resumo ................................................................................................................... xiii Abstract.................................................................................................................... xiv CAPTULO 1 (Consideraes Iniciais) 1- Introduo.......................................................................................................... p.01 1.1 Importncia do Tema.................................................................................. p.01 1.2 Motivao e Justificativas para o Trabalho ................................................ p.03 1.3 Objetivos do Trabalho ................................................................................ p.05 1.4 Estrutura da Dissertao ............................................................................ p.06 1.5 Limitaes do Trabalho .............................................................................. p.07 1.6 Metodologia Empregada ............................................................................. p.07 CAPTULO 2 (Consideraes Tericas) 2- Introduo.......................................................................................................... p.08 Primeira Seo: Segurana do Trabalho 2.1- Do Trabalho (laboral) .............................................................................. p.09 2.2- Da Segurana do Trabalho ..................................................................... p.10 2.2.1- Evoluo histrica .......................................................................... p.10 2.2.2- Conceitos e Princpios ................................................................... p.12 2.2.3- Prevencionismo.............................................................................. p.16 2.2.3.1- Evoluo ............................................................................ p.16 2.2.3.2- Eng. de Segurana de Sistemas........................................ p.16 2.2.4- Poltica de Segurana de Trabalho................................................ p.17 2.2.5- Aspectos da Legislao Brasileira ................................................. p.17 2.3- Dos Acidentes do Trabalho.................................................................... p.19 2.3.1 Conceitos e Consideraes ......................................................... p.19 2.3.2 Gnesis do acidentes de trabalho................................................ p.22 2.4- Dos Riscos ............................................................................................. p.24 2.4.1- Conceitos (riscos, perigo, dano...) ................................................. p.24 2.4.2- Natureza dos riscos ....................................................................... p.28 2.4.3- Gerenciamento de riscos ............................................................... p.30 2.4.3.1- Conceitos e princpios.......................................................... p.30 2.4.3.2- Processos de gerenciamento............................................... p.32 2.4.4- Tcnicas de anlise de risco.......................................................... p.33 2.4.4.1- Consideraes sobre as tcnicas ........................................ p.34 2.5- O Homem e o Risco .............................................................................. p.37 2.5.1- Erro Humano. ................................................................................. P.38 2.5.2- A Percepo................................................................................... p.39 2.5.2.1- A percepo do risco ............................................................ p.40 Segunda Seo: Gerenciamento de Processos 2.6- Gerenciamento de Processos GP......................................................... p.41 2.6.1- Processos ...................................................................................... p.42 2.6.2- Melhoria Contnua.......................................................................... p.46 2.6.3- Gesto da Qualidade no Processo ................................................ p.47 2.6.4- A Tcnica de Gerenciamento de Processos .................................. p.48

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2.7- Tecnologia............................................................................................. p.52 2.7.1- Hardware....................................................................................... p.53 2.7.2- Orgware ........................................................................................ p.54 2.7.3- Software ........................................................................................ p.54 Terceira Seo: Consideraes tericas finais 2.8- Consideraes Tericas Finais............................................................... p.55 2.8.1- Segurana do Trabalho e o Gerenciamento de Processos ............. p.55 2.8.2- Argumentos sobre o referencial terico ........................................... p.58 CAPTULO 3 (O Modelo Proposto) 3.1- Introduo................................................................................................. p.62 3.1.1- Etapas bsicas do modelo ............................................................. p.63 3.1.2- Diagrama das etapas bsicas do modelo ...................................... p.64 3.2- Etapa Preliminar...................................................................................... p.65 3.2.1- Formao da equipe tcnica.......................................................... p.65 3.2.2- Coleta de dados gerais .................................................................. p.65 3.3- Etapa 1: Conhecer .................................................................................. p.66 3.3.1- Fase C1-Processos........................................................................ p.67 3.3.2- Fase C2-Tecnologia....................................................................... p.68 3.3.2.1- Passo 1/3- Hardware ........................................................... p.69 3.3.2.1- Passo 2/3- Orgware ............................................................. p.70 3.3.2.1- Passo 3/3- Software............................................................. p.71 3.3.3- Consideraes finais sobre a etapa 2............................................ p.72 3.4- Etapa 2: Investigar .................................................................................. p.72 3.4.1- Fase I1-Coleta de dados tcnicos.................................................. p.73 3.4.1.1- Passo 1/3- Acidentes do trabalho ........................................ p.74 3.4.1.2- Passo 2/3- Riscos no ambiente de trabalho ........................ p.76 3.4.1.3- Passo 3/3- Percepo dos riscos......................................... p.77 3.4.2- Avaliao dos dados ...................................................................... p.78 3.4.3- Consideraes finais sobre a etapa 3............................................ p.80 3.5- Etapa 3: Identificar .................................................................................. p.80 3.5.1- Fase Id1-Gerao de idias........................................................... p.81 3.5.2- Fase Id2-Definio de solues timas ......................................... p.82 3.5.3- Fase Id3-Plano de implementao ................................................ p.83 3.5.4- Consideraes finais sobre a etapa 4............................................ p.84 3.6- Etapa 4: Atuar ......................................................................................... p.84 3.6.1- Fase A1-Envolver pessoas ............................................................ p.85 3.6.2- Fase A2-Implementar..................................................................... p.86 3.6.3- Fase A3-Garantir a continuidade ................................................... p.87 3.6.4- Consideraes finais sobre a etapa 5............................................ p.88 3.7- Consideraes finais do captulo 3...........................................................p.88 CAPTULO 4 (Instrumentos Prticos) 4.1- Introduo ............................................................................................... p.90 4.2- Etapa Preliminar...................................................................................... p.92 4.2.1- Formao da equipe tcnica.......................................................... p.92 4.2.2- Coleta de dados gerais .................................................................. p.93 4.3- Etapa 1: Conhecer .................................................................................. p.94 4.3.1- Fase C1-Processos........................................................................ p.94 4.3.2- Fase C2-Tecnologia....................................................................... p.96 4.3.2.1- Passo 1/3- Hardware ........................................................... p.96

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4.3.2.1- Passo 2/3- Orgware ............................................................. p.97 4.3.2.1- Passo 3/3- Software............................................................. p.98 4.4- Etapa 2: Investigar .................................................................................. p.99 4.4.1- Fase I1-Coleta de dados tcnicos.................................................. p.99 4.4.1.1- Passo 1/3- Acidentes do trabalho ........................................ p.99 4.4.1.2- Passo 2/3- Riscos no ambiente de trabalho ........................ p.101 4.4.1.3- Passo 3/3- Percepo dos riscos......................................... p.102 4.4.2- Avaliao dos dados ...................................................................... p.104 4.5- Etapa 3: Identificar .................................................................................. p.107 4.5.1- Fase Id1-Gerao de idias........................................................... p.107 4.5.2- Fase Id2-Definio de solues timas ......................................... p.107 4.5.3- Fase Id3-Plano de implementao ................................................ p.108 4.6- Etapa 4: Atuar ......................................................................................... p.109 4.6.1- Fase A1-Envolver pessoas ............................................................ p.109 4.6.2- Fase A2-Implementar..................................................................... p.109 4.6.3- Fase A3-Garantir a continuidade ................................................... p.110 4.7- Consideraes finais do captulo 4...........................................................p.111 CAPTULO 5 (Verificao Prtica) 5.1- Introduo ............................................................................................... p.113 5.2- Etapa Preliminar...................................................................................... p.115 5.2.1- Formao da equipe tcnica.......................................................... p.115 5.2.2- Coleta de dados gerais .................................................................. p.115 5.3- Etapa 1: Conhecer .................................................................................. p.117 5.3.1- Fase C1-Processos........................................................................ p.117 5.3.2- Fase C2-Tecnologia....................................................................... p.119 5.3.2.1- Passo 1/3- Hardware ........................................................... p.119 5.3.2.1- Passo 2/3- Orgware ............................................................. p.120 5.3.2.1- Passo 3/3- Software............................................................. p.122 5.4- Etapa 2: Investigar .................................................................................. p.123 5.4.1- Fase I1-Coleta de dados tcnicos.................................................. p.123 5.4.1.1- Passo 1/3- Acidentes do trabalho ........................................ p.123 5.4.1.2- Passo 2/3- Riscos no ambiente de trabalho ........................ p.125 5.4.1.3- Passo 3/3- Percepo dos riscos......................................... p.133 5.4.2- Avaliao dos dados ............................................................................ p.135 5.5- Etapa 3: Identificar .................................................................................. p.141 5.5.1- Fase Id1-Gerao de idias........................................................... p.141 5.5.2- Fase Id2-Definio de solues timas ......................................... p.144 5.6- Consideraes finais do captulo 5...........................................................p.150 CAPTULO 6 (Consideraes Finais e Recomendaes) 6.1- Consideraes finais............................................................................... p.152 6.1.1- Principais dificuldades encontradas................................................. p.154 6.2- Propostas para novos trabalhos ............................................................. p.156 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... p.158 ANEXOS Anexo 1 (formulrios propostos) Anexo 2 (aspectos tericos sobre a evoluo da segurana do trabalho)

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LISTA DE SIGLAS

1- AT- Acidente do Trabalho 2- CAT- Comunicao de Acidente de Trabalho 3- CIPA- Comisso Interna de Preveno de Acidentes 4- CLT- Consolidao das Leis do Trabalho 5- CNAE- Cdigo Nacional de Atividades Econmicas 6- dB(A)- Expressa o nvel de rudo na curva de compensao A. 7- FUNDACENTRO- Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho (MTE). 8- GAV- Garantia da Anlise de Valor/Grupo de Pesquisa da Engenharia de Produo. 9- GP- Gerenciamento de Processos 10- GSHST- Gesto de Sade, Higiene e Segurana do Trabalho 11- IBUTG- ndice de Bulbo mido Termmetro de Globo 12- INSS- Instituto Nacional de Seguridade Social 13- LUX- Unidade de medio de nvel de iluminamento 14- MTE- Ministrio do Trabalho e Emprego 15- NBR- Normas Tcnicas Brasileiras 16- NHT- Norma de Higiene do Trabalho da FUNDACENTRO 17- NR- Normas Regulamentadoras do Ministrio do Trabalho e Emprego 18- RU- Restaurante Universitrio 19- SHST- Sade, Higiene e Segurana do Trabalho 20- SEESMT- Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho. 21- UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Distino entre perigo e risco segundo Skiba ......................................... p.22 Figura 2.2 Modelo de Kirchmer ............................................................................... p.23 Figura 2.3 Etapas bsicas do processo de gerenciamento de riscos ......................... p.32 Figura 2.4 Hierarquia do processo............................................................................ p.44 Figura 3.1 Macro etapas do modelo proposto .......................................................... p.63 Figura 3.2 Hierarquia da estrutura de apresentao ................................................. p.64 Figura 3.3 Diagrama das etapas, fases e passos do modelo .................................... p.64 Figura 3.4 Estrutura bsica da etapa 1: Conhecer .................................................... p.67 Figura 3.5 Estrutura bsica da etapa 2: Investigar.................................................... p.73 Figura 3.6 Estrutura bsica da etapa 3: Identificar ................................................... p.81 Figura 3.7 Estrutura bsica da etapa 4: Atuar .......................................................... p.85 Figura 5.1 Diagrama em blocos do macroprocesso do RU ...................................... p.117 Figura 5.2 Processo de coco do RU e seus subprocessos ..................................... p.118 Figura 5.3 Lay-out do setor de frituras do RU ......................................................... p.119 Figura 5.4 Estrutura hierrquica do RU ................................................................... p.120

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 Evoluo histrica da segurana do trabalho ........................................ p.11 Quadro 2.2 Natureza dos riscos empresariais........................................................... p.28 Quadro 2.3 Natureza dos resultados de algumas tcnicas de anlise de riscos........ p.33 Quadro 4.1 Demonstrativo dos instrumentos prticos por etapa do modelo............ p.92 Quadro 5.1 Resumo do nmero de acidentes no RU (1998 a 2001) ........................ p.114 Quadro 5.2 Equipamentos utilizado na avaliao quantitativa de riscos ................. p.126 Quadro 5.3 Reconhecimento de riscos: Rudo ......................................................... p.126 Quadro 5.4 Reconhecimento de riscos: Calor .......................................................... p.127 Quadro 5.5 Reconhecimento de riscos qumicos: Gases e vapores.......................... p.130 Quadro 5.6 Nveis de iluminamento no setor de fritadeiras do RU ......................... p.132 Quadro 5.7 Avaliao dos dados: Riscos fsicos- Rudo.......................................... p.135 Quadro 5.8 Avaliao dos dados: Riscos fsicos- Calor........................................... p.136 Quadro 5.9 Avaliao dos dados: Riscos qumicos.................................................. p.137 Quadro 5.10 Avaliao dos dados: Riscos ergonmicos........................................... p.138 Quadro 5.11 Avaliao dos dados: Riscos de acidentes............................................ p.139 Quadro 5.12 Lista de idias para o risco rudo......................................................... p.142 Quadro 5.13 Lista de idias para o risco calor .......................................................... p.142 Quadro 5.14 Lista de idias para os riscos de acidentes ........................................... p.143 Quadro 5.15 Lista de idias para os riscos ergonmicos .......................................... p.143 Quadro 5.16 Lista de idias para os riscos qumicos................................................. p.144 Quadro 5.17 Soluo exeqvel: Rudo.................................................................... p.145 Quadro 5.18 Soluo exeqvel: Calor..................................................................... p.146 Quadro 5.19 Soluo exeqvel: Acidentes.............................................................. p.148

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Estudo probabilstico referente aos riscos segundo a causa ................... p.27 Tabela 5.1 Nmero de trabalhadores no RU por setor e por turno........................... p.116 Tabela 5.2 Coeficiente de freqncia de acidentes no RU (setor de frituras) ......... p.124 Tabela 5.3 Nmero de acidentes quanto causa, no setor de frituras...................... p.124

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Voc erra 100% das tentativas que no faz. (Walt Disney)

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RESUMO

A segurana do trabalho vista como algo fatalista e/ou apenas legalista, est com seus dias contados. No cabe mais, nos dias de hoje, a aceitao de que acidentes e doenas ocupacionais simplesmente ocorrem, fazendo parte da vida laboral e, remetendo empregados e empregadores a uma inrcia submissa ao acaso. Assim, mais e mais, o enfoque preventivo, e at preditivo, est no centro das atenes atuais, em detrimento ao enfoque corretivo que por muitos anos foi dado segurana do trabalho. Os riscos no ambiente de trabalho, so iminentes. Isso exige do homem, a necessidade premente de reconhecer os perigos que o cerca, e atuar sobre os mesmos, no sentido de criar condies para o seu controle. A reduo de riscos no ambiente de trabalho, e por conseqncia a melhoria das condies de trabalho, um objetivo que deve transcender a prpria existncia das organizaes; onde todos, o homem, a organizao e a nao, saiam ganhando. Assim, o presente trabalho prope uma forma sistemtica de reconhecimento, avaliao e controle de riscos no ambiente de trabalho, a partir de um modelo voltado melhoria contnua. Acredita-se que as aes apresentadas no modelo proposto, aproxime a rea de segurana do trabalho s demais reas de atuao das organizaes, a partir da participao efetiva das pessoas envolvidas com os riscos laborais, independente de seu nvel hierrquico, culminando, inclusive, com a disseminao de conhecimentos especficos relacionados rea de sade, higiene e segurana do trabalho.

Palavras-chave: Segurana do trabalho; Reconhecimento e controle de riscos; Melhoria contnua.

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ABSTRACT

Work security viewed as something fatalist and/or just legalist, is about finishing. It is no more accepted today that occupational accidents and diseases just happen, that they are part of workers life, keeping employers and employees at inertia submitted to eventuality. Thus, preventive view, and also predictive view, is the center of attentions today, instead of corrective view given to work security during many years. Risks at work environment are imminent. It demands from man to urgently recognize surrounding perils, and to act on them, creating conditions to control them. Risks reduction at work environment, and consequently improvement of work conditions, is an objective that must transcend the very existence of organizations; where all, man, organization and nation, win. Then, present work suggests a systematic way of recognizing, evaluating and controlling risks at work environment, starting with a model intended to continuous improvement. We believe that presented actions in this suggested model would approximate work security area to all other organizations action areas. Starting with effective participation of persons involved with work risks, and finally sharing specific knowledge related to health, hygiene, and work security.

Keywords: Work security, risk recognition and control, and continuous improvement.

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Captulo 1

CAPTULO I1- INTRODUO 1.1- Importncia do TemaA segurana, como princpio da prpria sobrevivncia, inerente vida do homem deste o momento de seu nascimento, e est presente em todas as suas atividades, das mais simples s mais complexas. Os perigos, no seu dia a dia, so iminentes. Isso exige do homem, a necessidade premente de reconhecer os perigos que o cerca, e atuar sobre os mesmos, no sentido de criar condies para o seu controle. Sem dvida alguma, que estes aspectos quando colocados frente a uma situao de trabalho, so ampliados, podendo gerar consequncias desagradveis ao homem, organizao e, at nao. Nenhuma organizao que busca uma viso estratgica da melhoria contnua, pode deixar de lado as questes de segurana do trabalho. Portanto, para o bom desempenho da rea de Sade Higiene e Segurana do Trabalho-SHST, h a necessidade da compreenso que isto no ocorrer de forma casual. Desta forma, as organizaes necessitam, mais e mais, dispensar a mesma importncia dada aos demais aspectos de suas atividades empresariais, SHST, com o objetivo de alcanar altos padres de melhoria, a partir de uma viso sistmica. A segurana do trabalho tradicional, est fundamentada em soluo de problemas de forma sintomtica, ou seja, um verdadeiro corre-corre para apagar incndios, onde todas as fichas so jogadas na experincia e no sentimento de quem atua nesta rea. Neste sentido, as tcnicas existentes de antecipao, reconhecimento e controle de riscos so utilizadas, normalmente, de forma isoladas num problema especfico, sem estarem includas em uma metodologia que seja reconhecida pelas demais reas de atuao (administrativa, produo, manuteno, entre outras) e, que, oportunize a participao de todas as pessoas envolvidas na organizao.

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Captulo 1

Assim, alguns pressupostos bsicos referentes a segurana do trabalho, ficam evidentes no contexto atual. A segurana do trabalho tradicional vista de forma legalista e/ou fatalista; As tcnicas de controle de risco normalmente so especficas; Raramente ocorre a participao dos trabalhadores; Informalidade (e at descaso) com que as anlises de risco so tratadas; Aspectos puramente tecnicista, isolados de aes conjuntas; A orientao da segurana do trabalho centrada em s prpria; O enfoque puramente corretivo; e, Os SEESMTs tomaram para si a responsabilidade pela segurana do trabalho Porm, o cenrio do ambiente organizacional no mundo atual, esta indicando para aes integradas, de forma que: A segurana do trabalho seja pensada de forma global, em todos os nveis da organizao; Que a segurana do trabalho esteja engajada nos programas de qualidade; Que a segurana do trabalho seja encarada sob a tica estratgica; Que pensar em melhoria de forma contnua necessrio em qualquer processo empresarial atual; Que a participao dos trabalhadores fundamental para a gerao de compromisso com as questes de segurana do trabalho; Que nas questes de segurana do trabalho seja priorizado o enfoque preventivo e preditivo; e, Que a segurana do trabalho ajude aos demais processos organizacionais a agregar valor, a partir de um desempenho integrado. Desta forma, acredita-se que exista uma necessidade crescente, por parte das organizaes, de mtodos e ferramentas que ajudem as mesmas a desenvolverem uma nova abordagem de gerenciamento das questes de segurana do trabalho, que permita a

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Captulo 1

proteo de seus recursos humanos e, consequentemente, a normalidade do sistema produtivo. Segundo a norma Britnica BS 8800, muitas das caractersticas do gerenciamento eficaz de SHST, se confundem com prticas slidas de gerncia defendidas por proponentes da excelncia da qualidade e dos negcios. Assim, as orientaes devem ter por base os mesmos princpios gerais da boa gerncia, e devem ser concebidos para capacitar a integrao das aes de SHST, com os demais sistemas de gerenciamento em geral, adotados na organizao. Com o advento da busca incessante pela qualidade e produtividade - to importantes para a sobrevivncia das organizaes no mundo de hoje- conhecer profundamente os processos envolvidos em todas as reas de atuao e, tirar proveito das melhorias potenciais existentes nos mesmos, passaram a ser objetivo de toda organizao. A partir disso, muitas ferramentas de melhoria contnua surgiram, cujos princpios devem ser aproveitados e/ou adaptadas a outras reas de conhecimento. Assim, este estudo encaminha-se no sentido de apresentar um modelo a partir de ferramentas j conhecidas e reconhecidas pela rea da qualidade e da produtividade, s aes preventivas e, at preditivas, de segurana do trabalho.

1.2- Motivao e Justificativas para o TrabalhoA partir da experincia adquirida por este profissional em sete anos de trabalho, exclusivamente na rea de segurana, exercendo atividades na Universidade Federal de Santa Catarina, mais especificamente no Departamento de Sade, Higiene e Segurana do Trabalho; realizando percias para a Justia, a partir de reclamatrias trabalhistas, relacionadas s condies de trabalho em empresas; e, executando atividades de consultoria nesta rea para empresas privadas, pde-se constatar as dificuldades que a rea de segurana do trabalho enfrenta para tornar-se efetiva. Assim, muitas perguntas ficavam no ar, entre elas: Por que as aes de segurana no tinham conseqncias prticas? Por que

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Captulo 1

segurana do trabalho no era dada a importncia devida, tanto por empregadores quanto empregados? Enfim, porqu a prtica era completamente diferente do discurso? Neste cenrio, verifica-se que, na verdade, ocorre um descompasso entre a rea de segurana do trabalho e as demais reas de atuao das organizaes. Um dos fatores que acredita-se que corrobora para isso, o fato da segurana do trabalho, culturalmente, ser vista de forma legalista, porque h uma legislao a cumprir, e fatalista, porque somente a partir de algo grave, como os acidentes, que se d a importncia devida. Alm disso, verifica-se, tambm, que as tcnicas aplicadas para reconhecimento, avaliao e controle de riscos so utilizadas de forma dissociadas de programas e mtodos de melhorias mais amplos. No raro, muitas sugestes da rea de segurana do trabalho so propostas no levando em conta a opinio e a percepo dos trabalhadores, o impacto que podero gerar sobre a produo e tambm sobre a qualidade. Assim, o setor de segurana do trabalho acaba, de uma forma ou de outra, atuando isoladamente frente s questes que deveriam ter a participao de todos os setores da organizao. Verifica-se, entretanto, que nas organizaes que possuem um tipo de gesto preconizado a partir do advento dos programas de qualidade, segurana do trabalho j dado uma importncia diferenciada. Portanto, acredita-se que os aspectos amplos de qualidade e produtividade esto intimamente relacionados com as questes de segurana do trabalho. Isto fica evidenciado, no fato de que doenas ocupacionais, incidentes e acidentes do trabalho, serem responsveis por perda de tempo, perda de materiais, diminuio da eficincia do trabalhador, aumento do absentesmo, prejuzos financeiros, alm, claro, de todos os fatores sociais da advindos. V-se, ento, despertado o interesse pelo desenvolvimento de um modelo que ajude as organizaes, e os profissionais da rea de segurana do trabalho, a desenvolverem uma nova abordagem de gerenciamento das questes de segurana do trabalho, que permita a proteo de seus recursos humanos e, consequentemente a normalidade do sistema produtivo, e que seja reconhecida pelas demais reas de atuao das organizaes.

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Captulo 1

1.3- Objetivos do TrabalhoA partir da constatao pessoal do mestrando, de dois aspectos bsicos: (1) A segurana do trabalho tem dificuldades de se tornar efetiva e de interagir com as demais reas de atuao das organizaes e, (2) que nos processos de resoluo dos problemas, no dado a devida importncia percepo que os trabalhadores tem dos riscos nos seus ambientes laborais. Viu-se a necessidade de estudar e desenvolver uma metodologia a partir de uma nova abordagem de gerenciamento das questes de segurana do trabalho. O presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver um modelo voltado segurana do trabalho, formulado a partir dos princpios da melhoria contnua, j reconhecidos por diversas reas de atuao das organizaes modernas (administrativas e produtivas), e que leve em conta fatores humanos, como a percepo dos riscos pelos trabalhadores, e suas opinies na definio de controles dos mesmos. De forma especfica, o presente trabalho objetiva propor um modelo que auxilie o gerenciamento das questes de risco no ambiente de trabalho, que contemple os seguintes aspectos: Conhecer o processo produtivo e de trabalho, geradores de perigos em potencial; Analisar a tecnologia envolvida nos processos de trabalho, sob o ponto de vista de orgware, hardware e software; Propor uma forma de investigao dos riscos no ambiente laboral, levando-se em conta os acidentes/incidentes j ocorridos, e a anlise luz das tcnicas e das normas existentes das condies de perigos existentes e, pela verificao da percepo que os trabalhadores e as chefias tem dos riscos identificados; Propor instrumentos/ferramentas para a aplicao prtica do modelo apresentado (formulrios, check-list, roteiro de entrevistas, outros); e,

- Indicar ferramentas possveis de serem utilizadas na definio de medidas de controle,com foco na melhoria contnua.

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Captulo 1

1.4- Estrutura da DissertaoO presente trabalho est estruturado em seis (06) captulos. Neste primeiro captulo, destacado a importncia do tema, as motivaes e justificativas para a escolha do mesmo, define seus objetivos, ressalta os resultados esperados, define limitaes e, por fim, apresenta a metodologia empregada. No captulo II, os aspectos tericos referentes ao tema so expostos. Este captulo foi dividido em trs sees. Na primeira seo so analisadas as questes referentes segurana do trabalho no contexto atual. A segunda seo, apresenta o mtodo de gerenciamento de processos, que ser base de nosso estudo. Na terceira seo, explicada as relaes possveis entre a segurana do trabalho e o gerenciamento de processos, e para finalizar, so abordados, de forma geral, os referenciais tericos apresentados. No captulo III, o mtodo proposto desenvolvido. O modelo apresentado em quatro macro etapas: Conhecer, Investigar, Identificar e Atuar. Estas etapas esto divididas em fases, que por sua vez, quando necessrio, subdivididas em passos. No captulo IV, so apresentados os instrumentos propostos, com o objetivo de facilitar a aplicao prtica do modelo (formulrios, fluxogramas, reunies para definio de equipe, reunio de equipe, roteiro para entrevistas, entre outros). A verificao prtica, do mtodo proposto, est apresentada no captulo V. Por ltimo, no captulo VI, so apresentadas as consideraes finais decorrentes do desenvolvimento do presente trabalho, bem como so apresentadas algumas sugestes para outros trabalhos de pesquisa relacionados com este tema. Os anexos foram divididos em duas partes. No anexo 1 so apresentados os formulrios, em nmero de dezenove, referentes aos instrumentos prticos propostos para o modelo, e descritos no captulo IV. No anexo 2 ocorre a apresentao de aspectos tericos referentes evoluo da segurana do trabalho, do prevencionismo, das legislaes e das polticas de segurana, conforme referenciado no captulo II.

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Captulo 1

1.5- Limitaes do TrabalhoEste trabalho apresenta algumas etapas cuja execuo de fases exigem uma pesquisa de cunho qualitativo. Assim, por se tratar de um modelo que prev tambm aspectos qualitativos, mister que apresente alguma carga de subjetividade, cujas dificuldades e/ou facilidades no podem ser generalizadas a partir da verificao prtica apresentada. O fato de ser levantada a questo da percepo dos riscos no ambiente laboral pelos trabalhadores dos mais diversos nveis hierrquicos, no quer dizer que ser realizada uma anlise profunda deste quesito. O objetivo maior, apresentar a importncia deste aspecto, e aproveitar o momento mgico das entrevistas com os trabalhadores, como agente de participao dos mesmos, na procura da identificao e proposio de soluo aos possveis riscos no ambiente laboral.

1.6- Metodologia EmpregadaA presente pesquisa tem cunho qualitativo, exploratria e utiliza-se acidentes do trabalho, legislao pertinente, entre outros). A metodologia adotada no desenvolvimento do presente estudo seguiu os seguintes passos: 1- Definio do tema; 2- Pesquisa bibliogrfica destinada contextualizao da segurana do trabalho, o conhecimento do gerenciamento de processos e, suas interfaces; 3- Elaborao de um modelo para reduo de riscos no ambiente laboral, baseado nos princpios da melhoria contnua; 4- Descrio de instrumentos prticos para a implantao do modelo; e, 5- Verificao prtica do modelo proposto, a partir de sua aplicao em um setor de trabalho. Observa-se que muitas das fases apresentadas acima, se interpem . de dados

primrios (levantamento de campo), dados secundrios (fontes bibliogrficas, registros de

8 Captulo 2 _________________________________________________________________________

CAPTULO II- CONSIDERAES TERICAS 2- INTRODUONeste captulo, as contribuies tericas que sero utilizadas para a estruturao e compreenso deste estudo, so apresentadas. Neste sentido, o mesmo est dividido em trs sees, num encadeamento de assuntos selecionados de acordo com o eixo central que rege este estudo. Na primeira seo, delimitada entre os itens 2.1 a 2.5, so apresentadas as questes relacionadas segurana do trabalho. Inicialmente so compiladas informaes sobre o trabalho humano, fonte de toda a preocupao envolvida com os riscos da advindos. Na sequncia, discorre-se mais especificamente sobre segurana do trabalho, a sua evoluo, conceitos e princpios, o prevencionismo como novo direcionamento da segurana, bem como os aspectos de poltica e da legislao envolvidos com a segurana do trabalho. Em seguida os aspectos relacionados aos acidentes do trabalho, seus conceitos e sua gnesis, so apresentados. Os riscos aos quais o homem est exposto no ambiente laboral, o seu reconhecimento, a forma de gerenciamento e as tcnicas mais utilizadas pela rea de segurana do trabalho, tambm fazem parte desta seo. Ao final desta seo, so levantadas algumas consideraes gerais sobre a relao do homem com o risco, destacando-se o erro humano e a percepo que o homem tem do mesmo. A segunda seo, delimitada entre os itens 2.6 e 2.7, apresenta o Gerenciamento de Processos-GP, que ser a base de nosso estudo. Inicialmente, os aspectos referentes a importncia do GP num processo de melhoria contnua da qualidade, analisado. Na sequncia, so apresentadas definies e conceitos de processos de produo e, dos respectivos tipos de tecnologias envolvidas (orgware, software e hardware), que serviro de base para o conhecimento do ambiente de estudo. Na terceira seo, item 2.8, referenciado as questes relacionadas com a integrao entre a segurana do trabalho e o gerenciamento de processos, a partir de uma proposta de metodologia que se destina implementao da melhoria contnua em organizaes, com enfoque na segurana do trabalho, e tendo como base os princpios do GP. Para finalizar esta seo, aborda-se alguns argumentos sobre o referencial terico aqui apresentado.

9 Captulo 2 _________________________________________________________________________

2.1- DO TRABALHODesde os mais remotos tempos, o homem sempre procurou intervir na natureza para tirar dela o necessrio vida. No incio esta atividade consistia exclusivamente na coleta de alimentos para sua sobrevivncia. A evoluo ocorreu e, de meros coletadores a espera da me natureza, passamos a intervir na mesma. Estava iniciando a era da agricultura onde o homem passou a tirar o seu sustento, plantando e colhendo. Assim, os primeiros passos para a organizao do trabalho teve incio. Da em diante a evoluo foi mais rpida e consistente. A agropecuria e consequentemente a era industrial foram os momentos mais significantes da vida do homem, uma vez que a produo de excedentes passou a ser uma meta a ser atingida. Quando o homem passou a produzir mais do que o necessrio sua sobrevivncia e desenvolveu a idia de guardar os excedente, duas coisas importantes nasceram: a troca e a noo de posse, que por sua vez foram as responsveis imediatos pelo intercmbio entre povos. A noo de propriedade, a princpio grupal, depois privada, mudou radicalmente os paradigmas da vida humana (Oliveira,1999). A propriedade privada foi a grande responsvel pelo surgimento de uma forma de vida fundamentada na organizao e no controle. Assim, o trabalho passou a ser a fonte de criao de excedentes, e o homem o principal instrumento de ao, e sua trajetria no mundo foi totalmente modificada. Novas culturas, novos modelos de organizao, novos conhecimentos e principalmente novos papis na sociedade, marcaram a trajetria do homem. E, esta trajetria aconteceu por meio do trabalho, fonte de valor supremo em nossa vida atual. A histria humana essencialmente a histria do trabalho. Por intermdio dele, o homem construiu e constri no apenas os bens que sustentam as bases da vida material, em pocas distintas- como no primitivismo, na idade antiga, no perodo medieval e na era moderna assim como toda sua estrutura econmica, poltica, social, religiosa e cultural. impossvel imaginar qualquer manifestao da vida humana que no seja expresso do trabalho. O gesto de construir coisas precisamente o mesmo gesto de construir a vida, em todas as suas dimenses. O homem o que conseguiu fazer e faz. E o trabalho sempre foi e continuar sendo a medida de todas as coisas. (Oliveira, 1999 p.113).

10 Captulo 2 _________________________________________________________________________

O mundo do trabalho sofreu, e ainda sofre, mudanas profundas uma vez que os sistemas produtivos esto cada vez mais dinmicos, levando o homem que precisa permanecer no mercado de trabalho, a exposio a determinados riscos que no fazem parte da sua natureza. Na verdade, muitos foram os avanos no campo de trabalho, porm no encontrou-se ainda a harmonia de uma vida plena de xito nos aspectos poltico, econmico e social, tendo o trabalho no como um peso ou um risco a mais em nossas vidas, e sim, um agente de crescimento global. Infelizmente, mesmo com a descoberta de novas tecnologias, o homem sempre teve que se adaptar ao trabalho, e no o contrrio. Isto, de uma forma ou de outra, leva a inseparabilidade do trabalho e do homem que o realiza, de forma que este passa a sofrer todo e qualquer risco inerente quele. Portanto, comum primeiro surgirem novas formas de trabalho para depois observar suas conseqncias em relao ao homem e, por fim, a tentativa de resoluo do problema. Enquanto isso, o homem fica na maioria das vezes a merc da sorte. Neste sentido, pode-se afirmar que j nos primrdios, e ainda hoje, o homem sofre as conseqncias dos perigos encontrados nas atividades tanto de sobrevivncia, quanto do trabalho formal. Portanto, a presena de uma srie de riscos em potencial que permeiam a vida do homem, acabam, freqentemente, levando-o ao sofrimento fsico e mental. O estudo dos mtodos de trabalho, seus resultados e suas conseqncias, tornam-se cada vez mais importante nos dias atuais. Assim sendo, rea de conhecimento de sade, higiene e segurana do trabalho surge como um agente integrador entre o trabalho e o homem.

2.2- DA SEGURANA DO TRABALHO 2.2.1- Evoluo HistricaAtravs dos sculos, os problemas relacionados com o trabalho acompanham o homem de forma sistemtica. Os acidentes do trabalho e/ou doenas ocupacionais que tantos custos sociais trazem a uma nao, no so problemas apenas contemporneos. Anteriormente revoluo industrial os acidentes mais graves eram devidos afogamentos, queimaduras, quedas e leses devido a animais. Hoje, com o desenvolvimento de novas tecnologias e o

11 Captulo 2 _________________________________________________________________________

aparecimento de novas formas de trabalho, uma extensa gama de situaes perigosas veio a reboque. A industria qumica um exemplo claro disso; quantos produtos qumicos em forma de poeiras, gases, nvoas e lquidos surgiram, acrescentando novos riscos no nosso dia a dia, inclusive domstico? Embora encontra-se atualmente os mais variados tipos de controle, ou tentativa de controle, de um risco, a histria nos mostra que, apesar dos esforos de alguns abnegados, muito pouco se sabia ou se fazia em relao sade e segurana do trabalho. Somente a pouco mais de duzentos anos atrs, no sculo XVI que algumas observaes de cunho mais cientfico afloraram, trazendo evidncias de que o trabalho pudesse ser o gerador de doenas, antes classificadas como um problema daquelas pessoas consideradas fracas. No Quadro 2.1, so apresentados, cronologicamente, os principais fatos da histria da segurana do trabalho no mundo. Estes e outros fatos, tambm so descritos no anexo 2 desta dissertao. Quadro 2.1- Evoluo Histrica da Segurana do Trabalhopoca OrigemAristteles (384-322 AC) Plato Sculo IV AC Plnio (23-79 DC) Hipcrates (460-375 AC) Galeno (129-201 AC) Avicena (908-1037) Ulrich Ellembog Paracelso (1493-1541) Europa Inglaterra Rei Carlos II (1630-1685) Bernardino Ramazzini (1633-1714) Inglaterra Inglaterra Inglaterra

ContribuioCuidou do atendimento das enfermidades e preveno das enfermidades dos trabalhadores nos ambientes de minas Constatou e apresentou enfermidades especficas do esqueleto que acometiam determinados trabalhadores no exerccio de suas profisses. Publicou a histria natural, onde pela primeira vez foram tratados temas referentes segurana do trabalho. Discorreu sobre o chumbo, mercrio e poeiras. Menciona o uso de mscaras pelos trabalhadores dessas atividades. Revelou a origem das doenas profissionais que acometiam os trabalhadores nas minas de estanho. Preocupou-se com o saturnismo. (metais pesados) Preocupou-se com o saturnismo e indicou-o como causa das clicas provocadas pelo trabalho em pinturas que usavam tinta base de chumbo. Editou uma srie de publicaes em que preconizava medidas de higiene do trabalho. Divulgou estudos relativos s infeces dos mineiros do Tirol. Foram criadas corporaes de ofcio que organizaram e protegeram os interesses dos artifcios que representavam. Criada a Lei dos pobres. Em virtude do grande incndio de Londres foi proclamado de que as novas casas fossem construdas com paredes de pedras ou tijolos e a largura das ruas fosse aumentada de modo a dificultar a propagao do fogo. Divulgou sua obra clssica De Morbis Articum Diatriba (As doenas dos trabalhadores). Lei da Sade e Normas dos Aprendizes Dermhan, atravs de Robert Baker, cria o primeiro servio mdico industrial. Aprovada a Lei das Fbricas

Sculo XIII Sculo XV Sculo XVI

1601 1606 1700 1802 1830 1833

12 Captulo 2 _________________________________________________________________________1844-1848 1862 1865 1883 1897 Inglaterra Frana Alemanha Emlio Muller Inglaterra Frana 1903 1919 1921 1927 1943 1977 EUA Tratado de Versalhes Brasil EUA Frana Brasil Brasil Aprovao das primeiras Leis de Segurana no Trabalho e Sade Pblica, regulamentando os problemas de sade e de doenas profissionais. Regulamentao da higiene e segurana do trabalho. Lei de indenizao obrigatria aos trabalhadores, que responsabiliza o empregador pelo pagamento de acidentes. Fundou em Paris a Associao de Indstrias contra Acidentes do Trabalho. Aps o incndio de Cripplegate, foi fundado o Comit Britnico de Preveno e iniciou-se uma srie de pesquisas relativas a materiais aplicados em construes. Aps catstrofe do Bazar da Caridade, foram dadas maiores atenes aos problemas de incndio. Promulgada primeira Lei sobre indenizao aos trabalhadores Criao da OIT, com sede em Genebra. Decreto 3724, trata da assistncia mdica e da indenizao Estendidos os benefcios da Lei de 1903 a todos trabalhadores Foram iniciados estudos em laboratrios relacionados com a inflamabilidade de materiais e primeiros regulamentos de SHST. Decreto 5452/43, regulamenta captulo V do Ttulo II da CLT, relativo segurana e medicina do trabalho. Lei 6514/77, aprova as Normas regulamentadoras referente a SST.

Fonte: Aspectos da Segurana no Ambiente Hospitalar. WWW.anvs1.sade.gov.br (modificada)

2.2.2 Conceitos e PrincpiosCom o advento da participao do Estado nas questes relacionadas aos efeitos malficos do trabalho, at ento realizado sem organizao e conseqente descaso para com o homem, fez surgir um novo campo de atuao, a segurana do trabalho. A segurana do trabalho surge para fazer frente aos excessos praticados pelas corporaes contra a fora de trabalho, na tentativa de soluo de problemas a partir da identificao de perigos. Kletz (1884), coloca que tradicionalmente os perigos sempre foram reconhecidos numa fase posterior implantao da planta industrial, de forma que esperava-se ocorrer alguma disfuno, no caso acidentes, para depois tomar-se medidas corretivas. Este mtodo apesar de inadmissvel nos dias atuais, ainda encontrado na maioria das empresas brasileiras. Apesar da tentativa de muitos profissionais da rea de segurana, na reduo dos acidentes de trabalho, estas aes so normalmente empregadas no ps-fato, de forma que estes profissionais esto sempre correndo atrs do controle destes acidentes e suas consequncias, no raro, em aes solteiras numa verdadeira atitude por tentativa e erro. O enfoque preventivo subestimado, sendo o enfoque corretivo o centro das atenes.

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Este modelo tradicional de reconhecimento de perigos est baseado em princpios questionveis, como atos inseguros; preveno de leses; aceitao do acidente como fatos fortuitos e/ou incontrolveis e, que s especialistas podem tratar, entre outros. Desta forma, o processo segurana centrado apenas no homem e a preocupao maior com aqueles acidentes que acarretavam leses corporais graves e incapacitantes para o trabalho. Os acidentes, e/ou os incidentes, que no envolvem pessoas, no so levados em conta em termos de registro, anlise e divulgao, apesar de poderem conter as mesmas causas bsicas daqueles que causam leses. Tambm pertinente neste modelo, o fato da aceitao de que acidentes simplesmente ocorrem; so oriundos de fatos inesperados, de causas fortuitas, desconhecidas. Ora, esta submisso ao acaso contribui negativamente para a correta definio do ocorrido, levando a atitudes inerciais de trabalhadores e empregadores, frente aos acidentes, uma vez que cria-se um modelo mental de que nada pode ser feito para evit-lo. Outro fato importante, a criao de verdadeiras ilhas especializadas em segurana do trabalho, que contribuem, na prtica, para o distanciamento entre os setores produtivos e os servios especializados em segurana do trabalho. Estes servios especializados, tomaram para s a responsabilidade pela segurana, ficando a impresso de que os demais setores produtivos da empresa no mais precisassem se preocupar com o tema segurana. Isto acarretou, e ainda acarreta, muitos desdobramentos negativos nas organizaes. Segundo Novaes (1991), a responsabilidade pela melhoria da segurana do trabalho nas empresas passou a ser creditada e centralizada exclusivamente nos profissionais de segurana e sade, que passaram a atuar como se fossem mgicos ou salvadores da ptria.... A partir disso, observa-se que criou-se um circulo vicioso, onde uns tentam centralizar e serem os executores da segurana do trabalho, afastando culturalmente a participao dos demais profissionais da empresa no processo de responsabilidade pela segurana, e outros, vindo a reboque desta cultura instalada, tentam desresponsabilizar-se pelo tema, tornando a segurana uma especialidade margem das demais atividades da organizao. fato, que desde h 30 anos, os estudiosos da rea de segurana conheciam as limitaes dos mtodos tradicionais de segurana do trabalho. Alberton (1996), coloca que mesmo tendo-se conscincia das limitaes deste modelo tradicional, no deve-se,

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sobremaneira, desprez-lo ou minimizar sua importncia. Numa aluso que este modelo, pelo simples fato de existir j um fator importante, e que o mesmo serviu de base para as modernas tcnicas de anlise de risco, com carter mais preventivo. De acordo com Oliveira & Lima (1996), a partir de um estudo sobre segurana do trabalho nas empresas brasileiras para a FUNDACENTRO, os empregadores habituaram-se a ver a segurana do trabalho sob uma tica essencialmente legalista, e no como um item integrante do sistema de gesto empresarial, bem como, a preocupao com a proteo dos trabalhadores, como uma garantia de continuidade dos seus processos produtivos. Pelo contrrio, o que se observou foi uma viso equivocada, de achar que a segurana do trabalho era uma questo trivial, simples e de fcil soluo. Pior ainda, muitos gerentes insistiam na tese de que a maioria esmagadora dos acidentes causada pelo comportamento inadequado dos trabalhadores, expresso na imprudncia e/ou na negligncia em relao s normas da empresa (Oliveira & Lima, 1996). Hoje em dia, os conceitos de segurana do trabalho aceitos por muitos profissionais, e at pelo Estado, passam por conceituao do tipo: segurana a preveno de perdas, aqui referenciada a todo tipo de ao tcnica ou humana, que possam resultar numa diminuio das funes laborais tanto produtivas quanto humanas. Ou ento: segurana um conjunto de normas, tcnicas e procedimentos voltados a preservao da integridade dos recursos humanos, materiais e do meio ambiente. Sem dvidas que estas conceituaes so um avano em relao aquelas definidas no modelo tradicional, porm, tambm estas, sofrem crticas de estudiosos no assunto. Reuter (1989), coloca que este ltimo conceito, abstrato porque pressupe que a simples existncia dos meios (normas, tcnicas) assegura o fim, no caso a preservao da integridade, e prope novas conceituaes sobre o tema: Segurana do trabalho um estado de convivncia pacfica e produtiva dos componentes do trabalho (recursos materiais, humanos e meio ambiente). As funes de segurana so aquelas intrnsecas as atividades de qualquer sistema (gerncia), subsistema (diviso de setores) ou clula (profissionais), e que devem compor o universo do desempenho de cada um destes segmentos(Reuter,1989).

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A engenharia parte importante no processo especializado em que se encontra a segurana em nossos dias. Conceitualmente aceito, a segurana do trabalho, a parte da engenharia que trata de reconhecer, avaliar e controlar as condies inseguras, os atos e os fatores humanos de insegurana nos ambientes de trabalho, com o intuito de evitar acidentes com danos materiais e principalmente sade do trabalhador. Tambm aqui, Reuter (1989) prope uma reconceituao quanto aos objetivos da engenharia de segurana: Ampliar e favorecer a constncia do estado de segurana nos complexos de trabalho, mediante a promoo de mtodos e otimizao da administrao voltada ao controle de preveno de perdas. Avaliar e favorecer a compatibilidade das condies ambientais necessrias ao trabalho com a preservao da condio de sade ocupacional dos recursos humanos ali presentes, mediante identificao, medio e anlise da presena de agentes agressores fsicos, qumicos, biolgicos e ergonmicos e encaminhamento da promoo de estudos de engenharia necessrios soluo. notrio, que a segurana vem sendo, a cada dia, tratada com mais seriedade pelas organizaes, principalmente a partir do advento dos programas de qualidade, e o tipo de gesto por eles preconizados. A partir disso, a segurana do trabalho tambm tem sido percebida como fator de produo, uma vez que acidentes, e at incidentes, influem de forma negativa em todo o processo produtivo, tendo em vista que o mesmo responsvel por perda de tempo, perda de materiais, diminuio da eficincia do trabalhador, aumento do absentesmo, prejuzos financeiros, enfim, fatores que resultam em sofrimento para o homem mas que tambm afetam a qualidade dos produtos ou servios prestados. Portanto, fazer segurana desvinculada das demais aes que constituem o sistema produtivo, no mais aceito nos dias atuais. Definitivamente, a segurana do trabalho deve ser encarada sob a tica estratgica, como um objetivo da organizao na busca do melhor aproveitamento dos recursos disponveis, satisfazendo, por completo, os clientes internos e externos. Segurana traduz-se, basicamente, em confiana.

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2.2.3- Prevencionismo2.2.3.1- Evoluo A evoluo do prevencionismo se confunde com a prpria evoluo da segurana, e teve seus primrdios a partir da Revoluo Industrial. As novas legislaes recm surgidas, preocupavam-se mais com a questo social, indenizatria e de reparao de danos, do que propriamente dito com a necessidade da preveno de acidentes. Porm, em meados do sculo passado, vrios estudiosos comearam a apontar para um novo direcionamento da segurana, no sentido de aes de preventivas, alm claro, da manuteno dos programas de seguros sociais. Entre estes estudiosos podemos citar, Heinrich, Blake, Bird, alm de empresas de seguro que se interessaram pelo assunto, como a Insurance Company of North America. No Brasil, as questes prevencionistas confundem-se com as primeiras Leis referente proteo dos direitos trabalhistas, conforme apresentado no Quadro 2.1. Apresenta-se no anexo 2, maiores detalhes referentes a evoluo do prevencionismo no mundo. 2.2.3.2- Engenharia de Segurana de Sistemas A engenharia de segurana de sistemas aquela que procura dar um enfoque mais tcnico da infortunstica, buscando solues tcnicas para problemas tcnicos. As tcnicas de segurana de sistemas, bem como os profissionais envolvidos, surgiram da necessidade imperiosa de segurana total. Portanto, seus fundamentos, foram primeiro experimentados pela rea aeroespacial americana, onde a necessidade de segurana total, ponto crtico em todo o processo. Assim, a engenharia de segurana de sistemas passa a ser uma ferramenta metodolgica para o reconhecimento, avaliao e controle dos riscos laborais, importante nos desdobramentos quanto a preservao dos recursos humanos e materiais dos sistemas de produo.

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De acordo com De Cicco e Fantazzini (1977), a engenharia de segurana de sistemas, teve como precursor na Amrica Latina, o engenheiro Hernn H. Bastias. Bastias a denominava de Engenharia de Preveno de Perdas, e pode ser definida como: Uma cincia que se utiliza de todos os recursos que a engenharia oferece, preocupando-se em detectar toda probabilidade de incidentes crticos que possam inibir ou degradar um sistema de produo, com o objetivo de identificar esses incidentes crticos, controlar ou minimizar sua ocorrncia e seus possveis efeitos. Todo controle de riscos, depende, no mnimo, da eficincia e do comprometimento dos profissionais envolvidos, bem como dos recursos disponibilizados e do envolvimento da alta administrao da empresa. Sem estas condicionantes mnimas, passa a ser impossvel a segurana total de sistemas.

2.2.4- Poltica de Segurana do TrabalhoA poltica de segurana do trabalho de uma organizao, pode ser entendida como as diretrizes bsicas que regem e sustentam o programa geral e, os programas especficos de preveno de acidentes; ou seja, seria a linha de conduta adotada pela empresa para o desenvolvimento, o desempenho e os objetivos das suas atividades preventivas. A poltica de segurana dever estar pautada nos dispositivos legais vigentes e os interesses sociais e econmicos envolvidos. Porm, uma poltica de segurana definida a partir da participao ativa de todos os elementos que compem a organizao, tem maiores chances de sucesso em relao aquela definida por uma s pessoa, ou por um pequeno grupo de pessoas. No anexo 2 so apresentados dez (10) itens considerados bsicos para a definio de uma poltica de segurana para uma organizao, porm sem a pretenso de o mesmo ser encarado como um modelo padro.

2.2.5- Aspectos da LegislaoUbirajara (1985), define bem o esquema brasileiro de segurana do trabalho, que divide as responsabilidades pela preveno dos acidentes entre trabalhadores, empresrios e

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governo. A este ltimo, cabendo as atividades normativas, fiscalizadoras, judicirias, assistencial e educativa. notrio, no Brasil, a dificuldade de mudanas nas normas regulamentadoras, quer por desinteresse, quer por questes corporativistas de todos nveis, governamental, empresarial e trabalhistas. Este fato, emperra, em muito, a atualizao destas normas, de forma que sua atualizao est sempre muito atrs das novas descobertas que ocorrem a cada dia. De acordo com Ubirajara (1985), apesar do carter tripartite do modelo brasileiro de segurana do trabalho, os trabalhadores acabam sendo os mais prejudicados. A princpio este esquema parece no puxar a brasa para nenhuma sardinha. Mas, ao se verificar o que realmente feito por cada um dos agentes listados, esta impresso logo desaparece. O autor deixa claro que no pretende abordar todos os agentes envolvidos, mas faz referncia a alguns: A Delegacia Regional do Trabalho-DRT, orgo regional do Estado responsvel pela fiscalizao na rea de sade e segurana do trabalho, teria uma atuao paternalista, talvez pelo fato dos empresrios terem o poder para interferir na escolha dos delegados regionais, alm de ser um orgo institucionalmente desprovido de meios necessrios ao desempenho de suas tarefas- falta de pessoal, equipamentos, etc. Por outro lado, no campo educativo, criou-se no Brasil a cultura do ato inseguro onde a culpa dos acidentes atribuda aos trabalhadores. Desta forma a classe patronal acaba tomando conta das rdeas do processo. Tambm importante o fato de muitos empregadores ainda no terem se tocados para o fato de que segurana tambm um bom negcio. O estabelecimento das normas de segurana, e demais instrumentos legais, no garantem, por s s, a segurana e sade no ambiente laboral. Portanto, as aes de segurana devem ter nos aspectos legais referncias importantes, necessrias, porm insuficientes. A viso puramente legalista da segurana do trabalho, acaba, de uma forma ou de outra, gerando conflitos entre os interesses estabelecidos. H a necessidade de patres e empregados, tratarem a segurana como algo vital para o ser humano e, tambm, como uma garantia da continuidade do processo produtivo. No anexo 2 so apresentados outros detalhes referentes s normas brasileiras.

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2.3- DOS ACIDENTES DO TRABALHO 2.3.1- Conceitos e ConsideraesNo Brasil durante a dcada de 80, segundo o Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, teve-se 10.374.247 acidentes do trabalho, dos quais 254.550 resultaram em invalidez e 47.251 em bitos. S no ano de 1991, foram 640.790 acidentes para um total de 22.792.858 segurados. Neste mesmo ano a letalidade foi cerca de 7 bitos por 1.000 acidentes. Em Santa Catarina, no ano 1998, ocorreram 22.095 acidentes do trabalho, com respectiva emisso de CAT- Comunicao de Acidente de Trabalho. Destes, 51 foram fatais, sendo que 68% foram acidentes tpicos e 32% de trajeto. Estes dados, por s s, revelam a importncia social e econmica relacionada aos acidentes do trabalho, justificando, plenamente, a preocupao dos profissionais da rea de segurana do trabalho, e os constantes estudos necessrios ao assunto. Assim como a segurana do trabalho, os acidentes tambm precisam ser interpretados como algo inserido no sistema de trabalho, em que todos as possveis fatores intervenientes, sejam avaliados. De acordo com De Cicco e Fantazzini (1994), um sistema um arranjo ordenado de componentes que esto interrelacionados e que atuam e interatuam com outros sistemas, para cumprir uma tarefa ou funo, num determinado ambiente. A tarefa de trabalho, entrada, pessoas, meios de produo, processo (decurso de trabalho), fatores ambientais e sadas, so fatores bsicos do sistema de trabalho. Estes fatores tem carter tcnicos, e/ou organizacional e/ou individuais, ou seja, relacionados com pessoas. Sell (1995), define que num sistema de trabalho, em seu estado ideal, os fatores tcnicos, organizacionais e humanos esto em harmonia. Por ocasio de um acidente ou quase acidente, essa harmonia perturbada. Estritamente falando, no existiria causas tcnicas e/ou organizacionais para um acidente, em ltima anlise, os mesmos dependeriam da conduta de pessoas. Essas pessoas poderiam ser os projetistas, os construtores, os organizadores do trabalho, os mantenedores, e/ou os prprios trabalhadores. A lgica dominante no Brasil em relao aos acidentes do trabalho, apontam para caractersticas pessoais de atos e/ou condies inseguras, como desencadeadores deste infortnio, definindo estritamente, a culpabilidade vtima do acidente. A prpria

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previdncia social acaba pautando-se mais na tentativa de negar o direito do acidentado, do que em punir as organizaes que expem seus trabalhadores riscos, muitas vezes inaceitveis. De acordo com Ubirajara (1985), vrios estudos calcados na ideologia de atos inseguros foram desenvolvidos, cuja preocupao principal era a de evitar problemas na produo. Porm, estes estudos sempre foram realizados levando em conta os aspectos ambientais e das aes dos trabalhadores, no momento em que o acidente tinha ocorrido, no levando em conta outros aspectos intervenientes, que poderiam estar por trs destes fato. A viso sistmica do acidente do trabalho passa a ser fundamental para a compreenso total da questo. No congresso sobre epidemiologia de doenas no infectocontagiosas realizado na Alemanha, j em 1979, o Professor R.H. Elling fez as seguintes observaes: ..O que se verifica que os acidentes e doenas ocupacionais no decorrem apenas das condies tcnicas de segurana do trabalho, mas tambm do cansao inerente s tarefas industriais, agravado ainda pelas jornadas de trabalho prolongadas e pelas contingncias da vida do trabalhador fora da fbrica, como tempo de deslocamento, a subnutrio e o prprio nvel de sade (Elling apud Ubirajara,1985). Introduzindo os aspectos scio-polticos aos acidentes e doenas ocupacionais. A conceituao de acidentes de trabalho, passa por vrias facetas relacionadas com a formao e o objetivo do estudioso no assunto. Sell (1995), define acidente como: uma coliso repentina e involuntria entre pessoa e objeto, que ocasiona danos corporais, e/ou danos materiais. Um acidente uma ocorrncia, uma perturbao no sistema de trabalho, que impede o alcance do objetivo do trabalho. Vidal (1991) conceitua acidente do trabalho, a partir da contribuio de Faverge, como um fenmeno de encontro entre uma situao de trabalho que contm em s um acidente potencial e um evento disparador que forneceria as condies concretas de passagem de potencial ao real. Cuny, et al (1993) apud Bacelar (1999), ressaltam o acidente do trabalho como,

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um sinal de uma disfuno do sistema de trabalho, que revela problemas de adaptao do sistema s suas finalidades. Fialho (1996), utilizando a arquitetura de J. F. Richard, define acidente como: um tipo de soluo inadequada a um problema tendo como conseqncia algum tipo de sada, que causa outro problema. O ciclo do problema se fecha podendo haver perdas e danos de vrios nveis de gravidade. Mas, novamente, se colocarmos a varivel tempo, ele deixa de ser visto como fatalidade e passa a pertencer ao rol do aprendizado, de como no para fazer. Todo acidente , normalmente, uma ocorrncia violenta e repentina, com conseqncias normalmente imprevisveis e, s vezes, at catastrficas, em que todos, trabalhadores, empregadores e a prpria nao, saem perdendo. O acidente do trabalho, poder gerar problemas sociais de toda monta, como; sofrimento fsico e mental do trabalhador e sua famlia, perdas materiais intensas, reduo da populao economicamente ativa, entre outros custos patrocinados pela insegurana laboral. No Brasil, o conceito legal acidente do trabalho est definido na Lei 8213/91, da seguinte forma, aquele que ocorre pelo exerccio do trabalho, a servio da empresa, provocando leso corporal, perturbao funcional ou doenas, que cause a morte ou perda, ou reduo permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho. Um conceito tcnico/prevencionista bastante aceito entre os profissionais da rea de higiene ocupacional, define acidente do trabalho como uma ocorrncia no programada, inesperada ou no, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo til e/ou leses nos trabalhadores e/ou danos materiais. Observa-se que o fator perda de tempo foi includo, de forma que a definio fica mais completa, e principalmente passa a dar margem ao pensamento dos quase-acidentes. Por quase-acidente, tambm chamado de incidente crtico, entende-se qualquer evento ou ocorrncia que, embora com potencialidade de provocar danos corporais e/ou materiais graves, no manifesta estes danos. Ou seja, um quase-acidente uma ocorrncia inesperada que apenas por pouco, deixou de ser um acidente.

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2.3.2- Gnesis do Acidente do TrabalhoSkiba (1973), desenvolveu a Teoria dos Portadores de Perigos, e apresentada por Sell (1995). Esta teoria parte da sistematizao do evento chamado acidente. Um perigo uma energia danificadora, a qual, se ativada, pode provocar danos corporais e/ou materiais, e esta energia poder estar associada tanto a uma pessoa quanto a um objeto. O risco seria gerado pela interseco entre os perigos advindos do objeto e, o perigo advindo do homem, conforme apresentado na figura 2.1.

Figura 2.1- Distino entre perigo e risco segundo Skiba (1973)

Fonte: SELL (1995)

Kirchener (1980), define a energia de perigo relacionado ao objeto, como sendo direta, e ao homem como sendo indireta. E, a partir da Teoria de Portadores de Perigo, desenvolveu um modelo para a representao da gnesis de acidentes de trabalho (Figura 2.2).

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Figura 2.2- Modelo de Kirchner

Fonte: SELL (1995)

De acordo com Sell (1995), o objetivo deste modelo evidenciar que tanto pessoas quanto um objeto, ou a combinao de ambos, podem ser portadores de perigos. Quando a interao direta entre o objeto portador de perigos e a pessoas periclitante, a condio de risco se estabelece. Quando a pessoa periclitante ela mesma portadora dos perigos, com certeza h uma condio de risco. Portanto, a pessoa e/ou o objeto, passam a exercer influncia sobre a gerao de risco.

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Um acidente ocorre, quando houver, juntamente com a realizao das condies de risco, uma ou mais pr-condies crticas na atividade, que favorecem a ocorrncia do evento. As pr-condies crticas na atividade so influenciadas pelos modos de conduta das pessoas envolvidas e pela atividade em s. As pr-condies crticas na atividade, so tambm chamadas de acaso. Delas depende, se o evento ser um acidente ou um quase-acidente (Sell 1995). De acordo com Nichele (1999), talvez a maior falha, em todos os episdios de acidentes que ocorrem, e que ainda iro ocorrer, advm da dificuldade intrnseca que se tem em aprender.

2.4- DOS RISCOS 2.4.1- ConceitosDe Cicco e Fantazzini (1994 a), define que antes de um estudo especfico sobre riscos e seu gerenciamento, h a necessidade de se definir alguns conceitos bsicos, sobre termos corriqueiramente aceitos. Alberton (1996), compilou os termos bsicos mais aceitos entre os profissionais e estudiosos no assunto. RISCO: O risco poder ter pelo menos trs significados: - Hazard*: Uma ou mais condies de uma varivel com potencial necessrio para causar danos como: leses pessoais, danos a equipamentos e instalaes, danos ao meio-ambiente, perda de material em processo ou reduo da capacidade de produo. A existncia do risco implica na possibilidade de existncia de efeitos adversos. - Risk: Expressa uma probabilidade de possveis danos dentro de um perodo especfico de tempo ou nmero de ciclos operacionais, podendo ser indicado pela probabilidade de um acidente multiplicado pelo dano em valores monetrios, vidas ou unidades operacionais - Incerteza: Quanto ocorrncia de um determinado acidente. ______________________________________________________________________Nota: * No modelo proposto nesta dissertao, adotamos o conceito de hazard para os riscos laborais.

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PERIGO: - Danger: Expressa uma exposio relativa a um risco que favorece a sua materializao em danos. Se existe um risco, face s precaues tomadas, o nvel de perigo pode ser baixo ou alto, e ainda, para riscos iguais pode-se ter diferentes tipos de perigo. CAUSA: a origem de carter humano ou material relacionada com o evento catastrfico resultante da materializao de um risco, provocando danos. DANO: a severidade da perda tanto humana, material, ambiental ou financeira. a consequncia da falta de controle sobre um determinados risco. O risco (probabilidade) e o perigo (exposio), podem manter-se inalterados e mesmo assim existir diferena na gravidade do dano. PERDA: o prejuzo sofrido por uma organizao sem garantia de ressarcimentop atravs de seguros ou por outros meios. ACIDENTE: Conforme discutido no item 3.2 deste documento, e tomando o conceito

prevencionista, acidente uma ocorrncia no programada, inesperada ou no, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo til e/ou leses nos trabalhadores e/ou danos materiais. QUASE-ACIDENTE: Ou incidente crtico, qualquer evento ou ocorrncia que, embora com potencialidade de provocar danos corporais e/ou materiais graves, no manifesta estes danos. Ou seja, um quase-acidente uma ocorrncia inesperada que apenas por pouco, deixou de ser um acidente. SEGURANA: o antnimo de perigo. a situao em que haja iseno de riscos. Como a eliminao completa de todos os riscos praticamente impossvel, a segurana passa a ser um compromisso acerca de uma relativa proteo da exposio a riscos.

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Estes termos bsicos apresentados, tem como objetivo as interrelaes e o entendimento inicial do que seja o risco, e so muito utilizados em gerenciamento de riscos. Portanto, no existe uma definio universal para o risco. Ansell (1992) apud Souza (1995), define vrios significados da palavra risco em vrios idiomas. A palavra risq em rabe, significa algo que lhe foi dado e do qual voc tirar proveito, sendo portanto, um aspecto favorvel ao ser humano. Em latin, riscum tem conotao de algo inesperado e desfavorvel ao homem. Em grego, a palavra risq, pressupe uma probabilidade de algo que pode ser positivo ou negativo. No francs, risque tem significado negativo, mas poder ocasionalmente ser relacionado a algo positivo. Em ingls, risk tem conotao puramente negativa. Muitos autores, diferem tambm, quanto a objetividade e a subjetividade dos riscos. Bastias (1977), define risco como probabilidade de perdas num determinado perodo, num determinado sistema Risco uma ou mais condies de uma varivel, que possui o potencial suficiente para degradar um sistema, seja interrompendo e/ou ocasionando o desvio das metas, em termos de produto, de maneira total ou parcial, e/ou aumentado os esforos programados em termos de pessoal, equipamentos, instalaes, materiais, recursos financeiros, etc.. De Cicco e Fantazzini (1994), apresentam dois significados palavra risco. No primeiro definem risco como: uma probabilidade de possveis danos dentro de um perodo especfico de tempo ou nmero de ciclos operacionais; Na segunda, associam risco a: uma ou mais condies de uma varivel com potencial necessrio para causar danos, que podem ser entendidos como leses a pessoas, danos a equipamentos e instalaes, danos ao meio-ambiente, perda de material, em processo ou reduo da capacidade de produo.

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Todos concordam, porm, que o conceito de risco est associado com uma falha do sistema, e a potencialidade de danos. Portanto, o risco pode ser definido objetivamente, ou seja, o risco representa a probabilidade de ocorrncia de um evento indesejvel, podendo ser quantificvel atravs de ferramentas estatsticas; ou subjetivamente, estando relacionado possibilidade de ocorrncia de um evento indesejvel, sendo pouco quantificvel e dependente de uma avaliao individual a cada situao. Na tabela a seguir, apresentado um estudo probabilstico referentes ao risco de morte segundo a causa, de indivduos, no seu dia a dia. Tabela 2.1- Estudo probabilstico referente aos riscos, segundo as causas.CAUSAS Todas as causas Doenas do corao Cncer Todos os acidentes Acidentes do trabalho Veculos automotivos Homicdios Quedas Afogamentos Queimaduras Envenenamento por lquidos Sufocao Acidentes com armas e esportes Trens Aviao civil Transporte martimo Envenenamento por gs Fonte: De Cicco (1989)/US.DOT PROBABILIDADE 9,0 x 10-3 3,4 x 10-3 1,6 x 10-3 4,8 x 10-4 1,5 x 10-4 2,1 x 10-4 9,3 x 10-5 7,4 x 10-5 3,7 x 10-5 3,0 x 10-5 1,7 x 10-5 1,3 x 10-5 1,1 x 10-5 9,0 x 10-6 8,0 x 10-6 7,8 x 10-6 7,7 x 10-6

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2.4.2- Natureza dos RiscosA partir dos estudos de vrios autores na rea de gerenciamento de riscos, tem-se classificado os riscos quanto a sua natureza, em riscos puros (estticos), e riscos especulativos (dinmicos), conforme a descrio feita por De Cicco e Fantazzini (1994a). O quadro 2.2, abaixo, mostra a taxionomia destes riscos. Quadro 2.2- Natureza dos riscos empresariais pessoas Puros RISCOS de inovao Especulativos polticos administrativosFonte: De Cicco e Fantazzini, 1994a

propriedade por responsabilidade

de mercado financeiro de produo

O diferencial bsico entre estes dois tipos de risco, est no fato de que os riscos especulativos envolvem a possibilidade de perda ou ganho. J os riscos puros, apresentam sempre a possibilidade de perda. Observa-se que a segurana do trabalho atravs da gerncia de riscos tem seu foco de preocupao, voltada aos riscos puros. Os riscos especulativos, so divididos em trs tipos: administrativos, polticos e de inovao, sendo que os administrativos ainda subdividem-se em de mercado, financeiro e de produo. Os riscos polticos so aqueles referentes a uma ameaa organizao, advindos de leis, decretos, portarias, resolues, tanto da esfera federal, Estadual ou Municipal.

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Os riscos de inovao so aqueles decorrentes da incerteza quanto a aceitao, por parte dos consumidores, de novos produtos ou servios demandados pela organizao. Para Ansell e Wharton (1992), as empresas so compelidas a investir no desenvolvimento de novos produtos e servios e no uso de novas tecnologias. Portanto, os riscos de inovao representam a estratgia de ao frente ao mercado para a sua sobrevivncia. Na tomada de deciso quanto ao correto investimento de capital, que reside a incerteza de um possvel ganho ou perda. Os riscos administrativos, por sua vez, esto relacionados ao processo de tomada de decises gerenciais, podendo ser subdivididos em: de mercado, de produo e financeiros. Os riscos financeiros dizem respeito as incertezas em relao as decises quanto poltica econmico-financeira da empresa; os riscos de mercado esto relacionados a incerteza quanto a aceitao, pelos consumidores, de um produto ou servio; e os riscos de produo, dizem respeito s incertezas quanto ao processo produtivo das organizaes, tanto na fabricao de produtos ou prestao de servios, quanto na utilizao de tecnologias, materiais, mquinas e equipamentos e na mo de obra. Os riscos puros, por sua vez, esto relacionados apenas a possibilidade de perdas. Portanto pode-se agrup-los em: danos pessoa, e/ou `a propriedade e/ou terceiros. De acordo com Garcia (1994), no h a necessidade do evento se materializar em acidente ou sinistro, apenas a potencialidade do evento gerador de perdas, j representa este tipo de risco. Os riscos s pessoas so aqueles que podem resultar em doenas ocupacionais ou acidentes do trabalho, levando a leses, incapacidades ou at a morte. Os prejuzos decorrentes de danos propriedade, so oriundos de incndio, exploso, vandalismo, roubos, sabotagem, etc. Os riscos de responsabilidades so aqueles que contribuem para prejuzo por danos terceiros, com respectiva necessidade de indenizao, bem como danos ambientais, to em voga atualmente. Sell (1995), subdivide os riscos puros em trs classes: pequenos, mdios e grandes. Os riscos pequenos so aqueles que apenas obrigam a empresa a uma correo de rumo nos meios usados para atingir seus objetivos. Os riscos mdios so aqueles que, quando ocorrem, impedem a empresa de atingir seus objetivos. Os riscos grandes so aqueles que ameaam a prpria existncia da empresa, caso ocorram.

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2.4.3- Gerenciamento de Riscos2.4.3.1- Conceitos e Princpios Tambm conhecida como risk management, do ingls, o gerenciamento de riscos a administrao atravs do controle de um determinado risco. Segundo CAMPOS (1998), no h atividade sem risco, portanto, no h alternativa aos empresrios a no ser administrar, gerenciar ou criar um sistema de gerenciamento para os riscos existentes em suas organizaes. At porque, no existe modelo em que se obtenha bons resultados sem forte implicao por parte da alta direo. Segundo De Cicco e Fantazzini (1994), Gerncia de Riscos a cincia, a arte a funo que visa a proteo dos recursos humanos, materiais e financeiros de uma empresa, quer atravs da eliminao ou reduo de seus riscos, quer atravs do financiamento dos riscos remanescente, conforme seja mais economicamente mais vivel. O gerenciamento de riscos teve forte interesse por parte de pesquisadores, a partir da Segunda Guerra Mundial, tanto nos Estados Unidos como na Europa. A preocupao e a necessidade de se estudar formas de reduzir os prmios de seguro por acidentes, com o intuito da proteo das empresas frente a estes eventos, foram a mola propulsora para o gerenciamento de riscos. De acordo com Fernandez (1972), a segurana do trabalho no pode mais ser vista como um satlite parte dos demais processos da empresa, de forma que h a necessidade de transform-la em uma funo cujas fontes comuns de perdas sejam melhor compreendidas, controladas e prevenidas, utilizando-se os princpios bsicos da administrao: planejar, organizar, dirigir e controlar. Sell (1995), afirma que o gerenciamento de riscos feito a partir do levantamento, da avaliao e do domnio sistemtico dos riscos da organizao, fundamentados em princpios

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econmicos. Salienta tambm a importncia do domnio dos riscos pela direo da empresa, de forma que seu gerenciamento garanta os objetivos da organizao, minimizando a possibilidade de eventos que ameacem a normalidade de seu funcionamento. De uma forma mais ampla, Garcia (1994), define que a gerncia de riscos deve obedecer vrios planos de observao: humano, social, poltico, legal, econmico, tcnico e empresarial. Desta forma o autor divide a sistemtica de anlise de riscos em trs elementos bsicos: riscos, sujeito e efeitos. O primeiro relacionado as causas geradoras; o sujeito a representao sobre quem poder incidir os riscos e , por ltimo, os efeitos dos riscos sobre o sujeito. Todo o processo de gerenciamento de risco dever partir do princpio que os gerentes estejam engajados de corpo e alma na reduo dos riscos, como uma estratgia de competitividade da empresa. Alberton (1997), porm, coloca que no basta os gerentes de riscos estarem engajados nos programas, As noes de qualidade e segurana esto estritamente relacionadas. A gerncia de riscos deve fazer parte da cultura interna da empresa e ser integrada a todos os nveis. O gerente de riscos e a equipe que os gestiona devem, isto sim, funcionar como catalizadores das atuaes da empresa frente aos riscos. A gerncia de riscos uma rea de conhecimento relativamente nova, e ainda suscita divergncias entre os estudiosos. Os aspectos aqui discutidos, e que so defendidos pelos autores brasileiros, De Cicco e Fantazzini, so fundamentados em conceitos americanos e espanhis. Acredita-se que com o gerenciamento de riscos, possvel a otimizao de custos de seguros, bem como na maior proteo dos recursos humanos, materiais, financeiros e ambientais. Porm, sabe-se que quando da existncia de riscos puros, s se perde. Portanto, h a necessidade de investimentos para o seu controle, e estes devero ser, com certeza, de menor monta do que aqueles necessrios ao desembolso no ps-fato indesejvel.

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2.4.3.2- Processos de Gerenciamento de Riscos A definio clara e objetiva das etapas de um processo de gerenciamento de risco, no fato unnime entre os diversos estudiosos. Oliveira (1991), faz uma diviso do gerenciamento de risco, fundamentado em trs etapas: identificao, anlise, avaliao e tratamento de dados, conforme apresentado na figura 2.3. As tcnicas de anlise de risco apresentadas nas etapas, sero descritas no item 2.4.4 e no anexo 2. Figura 2.3- Etapas bsicas do processo de gerenciamento de riscos(TIC,WI)

IDENTIFICAO DE PERIGOS

(APR,AMFE,HAZOP) (AAE,ADB,ACC,AAF)

ANLISE DE RISCOS

AVALIAO DE RISCOS

PREVENO

FINANCIAMENTO

Eliminao de Riscos

Reduo de Riscos

Auto-seguro

Auto-adoo

Transferncia p/ Terceiros

Fonte: Oliveira (1991)

De acordo com Sell (1995), o processo de gerenciamento de riscos deve ser dividido em quatro etapas: anlise e avaliao dos riscos (reconhecer os potenciais de perturbaes dos riscos); identificao das alternativas de ao (deciso quanto a evitar, reduzir, transferir, ou assumir os riscos); elaborao da poltica de riscos (estabelecimento dos objetivos e programas de preveno); e a execuo e controle das medidas de segurana adotadas (execuo das etapas anteriores e seu controle).

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De Cicco e Fantazzini (1994a), concordam com Oliveira (1991), e tambm dividem as etapas bsicas do processo de gerenciamento de riscos, como apresentadas na figura 2.3 acima. Observa-se que, mesmo no havendo um consenso quanto as etapas bsicas de gerenciamento de riscos, os autores mantm uma coerncia quanto aos objetivos inerentes ao processo. No anexo 2 apresentamos as etapas de gerenciamento de riscos segundo Oliveira (1991) e por De Cicco e Fanatzzini (1994a).

2.4.4. Tcnicas de Anlise de RiscosAnteriormente, as tcnicas de anlise de riscos eram utilizadas somente nas reas militares e aeroespacial, suas precursoras. A partir dos anos 70 muitas aplicaes foram desenvolvidas para as organizaes, que estavam em pleno estgio de consolidao do processo de gerenciamento de riscos. Souza (1995), define que a anlise de riscos tem por objetivo responder a uma ou mais de uma das seguintes questes, relativas uma determinada instalao industrial: 1) Quais os riscos presentes na planta, e o que pode acontecer de errado?; 2) Qual a probabilidade de ocorrncia de acidentes devido aos riscos presentes?; 3) Quais os efeitos e as consequncias destes acidentes?; 4) como poderiam ser eliminados ou reduzidos estes riscos?. Portanto, a adoo de uma metodologia estruturada e sistemtica de identificao e avaliao de riscos, so necessrias. As principais tcnicas de anlise de riscos esto demonstradas no quadro abaixo: Quadro 2.3- Natureza dos resultados de algumas tcnicas de Anlise de RiscosTCNICA SR- Srie de Riscos APP- Anlise Preliminar de Perigos WIC- What-If/ Checklist TIC- Tcnica de Incidentes Crticos HAZOp- Estudo de Operabilidade e Riscos AMFE- Anlise de Modos de Falhas e Efeitos AAF- Anlise de rvore de Falhas AAE- Anlise de rvore de EventosFonte: Souza (1995), modificada