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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

ÂNGELA DEROCCO FRAZZATO

UNIDADE DIDÀTICA

A FÁBULA COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA DE ATENDIMENTO A ALUNOS “PROBLEMAS”.

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MARINGÁ – PR2011

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

ÂNGELA DEROCCO FRAZZATO

A FÁBULA COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA DE ATENDIMENTO A ALUNOS “PROBLEMAS”.

Trabalho realizado como apresentação do Projeto do Programa de Desenvolvimento Educacional.

Orientador: Jorge Cantos

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MARINGÁ – PR2011

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

PROFESSOR PDE: Ângela Derocco Frazzato

ÁREA/ DISCIPLINA: Professora Pedagoga

NRE: Cianorte

PROFESSOR ORIENTADOR: JORGE CANTOS

IES VINCULADA: UEM

ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Escola Estadual Emílio de Menezes - Ensino

Fundamental

MUNICÍPIO: Japurá-Paraná

PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: Alunos da 5ª série do Ensino Fundamental

1 INTRODUÇÃO

A concepção histórico-cultural tem no educador o organizador do meio social

educativo. É ele quem regula e controla a sua finalidade com o educando. É o meio

social que se constitui em um recurso para o processo pedagógico, cabendo aos

professores e pedagogos direcionar esse recurso (FACCI, 2004). Partindo dessa

visão de educação, nada pode ser realizado de maneira improvisada na escola.

Assim, sendo, tudo passa a ter significado, porque cada ação está ligada a fins

comuns.

Daí a necessidade de investir num novo saber, que nasce da relação orgânica

com a realidade concreta, da reflexão sobre a ação, que exige rigor objetivo e

comprometimento. O rigor objetivo e a ação consciente e intencional desencadeiam

possibilidades criativas para o contexto educacional. Soluções práticas como o uso

das fábulas pode dar respostas aos problemas da sala de aula na relação professor-

aluno, ampliando-se para o grupo sócio-cultural, podendo se multiplicar em

conformidade com a diversidade cultural e a participação ativa e criadora dos

alunos.

Lidar com as diferenças na escola é requisito fundamental que leva os

educadores a repensar a escola e sua função. A grande necessidade de dinamizar o

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processo de aprendizagem nas escolas faz pensar em uma proposta didática

alternativa capaz de mediar a formação de valores dos alunos, tendo em vista

também ser da escola a responsabilidade de formar cidadãos ativos e conscientes

que possam agir na sociedade para transformá-la (SAVIANI, 1985).

Ao pensar que o papel do pedagogo consiste em mediar e articular a

complexidade da realidade político-pedagógica das escolas, a este cabe a

responsabilidade de atuar no sentido de garantir que a função social da escola seja

plenamente realizada, ou seja, formar o sujeito para o mundo produtivo e social.

Com esse entendimento, o foco do trabalho do professor pedagogo deve ser

predominantemente de domínio mais aprofundado das questões educacionais e

pedagógicas presente na escola, para que este profissional possa intervir nos

momentos que o processo ensino e aprendizagem apresentarem dificuldade.

Fazer pedagogia, conforme explicita Gadotti (2007) exige uma prática

coerente com a transformação, implicando em descobertas e elaboração de

instrumentos de ação, articulando a teoria e a prática. Isso pressupõe que o

professor pedagogo não pode ficar neutro frente à realidade do cotidiano da escola,

necessitando intervir sempre que necessário, aprendendo com a realidade em

constante processo de mudança.

Por isso, o pedagogo precisa estar preparado para agir em situação de

conflito que fazem parte da base o trabalho pedagógico. O pedagogo é o articulador

do trabalho coletivo da escola, cabendo a esse profissional utilizar alternativas

didático-metodológicas com a intenção de antever o diálogo e possibilitar a

mediação, estimulando os alunos a avançarem frente a situações desafiadoras. A

função do pedagogo é viabilizar a reflexão sobre as ações enquanto prática social

(LIBÂNEO, 1996).

Dentre as funções do professor pedagogo, cabe-lhe promover a construção

de estratégias pedagógicas efetivas para a superação de todas as formas de

discriminação preconceito e exclusão social, contribuindo para a formação de

valores humanos necessários à mediação de conflitos diversos.

Em meio a muitas alternativas metodológicas, a fábula é recurso didático

privilegiado utilizado nesta proposta de intervenção, na tentativa de subsidiar o

trabalho do pedagogo no atendimento aos alunos em situações de conflito na escola

e que comumente são encaminhados a este profissional pelos professores regentes.

As reflexões presentes nas fábulas conjugam a sensibilidade, ingenuidade,

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humildade, amor, obediência e outros atributos que contribuem para entreter e

aconselhar.

Enquanto alternativa metodológica no atendimento aos alunos encaminhados

pelos docentes regentes ao professor pedagogo, as fábulas contribuem para a

familiarização com as virtudes e defeitos do caráter humano, que é personificado por

animais que assumem suas características. Este tipo de texto apresenta temas

variados como a vitória da bondade sobre a astúcia, da inteligência sobre a força, a

derrota dos presunçosos, sabichões e/ou orgulhosos e atitudes como inveja, gula,

medo, preguiça, mentira, violência (bullying), entre outras.

Contribuir para a formação de valores, despertar nos alunos o interesse para

a aprendizagem e lidar com a diversidade em sala de aula, são desafios constantes

com os quais os pedagogos se deparam no cotidiano da escola. Reconhecer a

importância pedagógica e didática das fábulas e seu emprego na formação de

valores dos alunos no Ensino Fundamental é um meio efetivo para auxiliar a prática

do professor pedagogo.

Portanto, a presente Unidade Didática pretende subsidiar o trabalho do

professor pedagogo, tendo os gêneros textuais fábulas como recurso metodológico

eficiente para a atuação de conflitos junto aos alunos. A intenção da proposta é

inovar a atuação dos professores pedagogos, tendo as fábulas como alternativa

metodológica de atendimento a alunos “problemas” que lhes são encaminhados

pelos docentes regentes do Ensino Fundamental da Escola Estadual Emílio de

Menezes.

2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ESCOLA

A função do professor pedagogo é fundamental no auxílio aos professores no

aperfeiçoamento da sua ação na sala de aula, contribuindo para a ação e reflexão

em relação à seleção de conteúdos, métodos, técnicas, formas de organização da

classe, análise e entendimento das situações do cotidiano escolar, no sentido de

mediar e articular as áreas do conhecimento pedagógico à prática na sala de aula

(LIBÂNEO, 1996). Para o autor, o pedagogo é o profissional com competência

teórico-prática para lidar com situações relacionadas à prática educativa em suas

várias modalidades e manifestações.

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A atuação do pedagogo implica em uma concepção dialética de educação,

que abarca o processo de produção do conhecimento como resultado da relação

entre os sujeitos e o cotidiano das relações sociais, porquanto:

[...] em seu conjunto, através da atividade humana – ou do trabalho como práxis humana e como práxis produtiva. Descolado do movimento de sua historicidade, o conhecimento dificilmente terá significado para um estudante que recebeu a tarefa de incorporá-lo a partir de sua expressão mais formalizada e estática. Isso aponta outro princípio educativo: é preciso privilegiar a relação entre o que precisa ser conhecido e o caminho que precisa ser trilhado para conhecer, ou seja, entre conteúdo e método, na perspectiva da construção da autonomia intelectual e ética. Se o homem só conhece aquilo que é objeto de sua atividade, e conhece porque atua praticamente, o conhecimento tem de adquirir corpo na própria realidade sob a forma de atividade prática, e transformá-la (TAQUES et al, 2011, p. 15).

Com esse entendimento, o pedagogo tem uma função de mediar o trabalho

pedagógico, atuando nos espaços de contradição para transformar a prática escolar.

Como mediador entre aluno e o meio social, cabe ao professor pedagogo abordar os

problemas que fazem parte do contexto sócio-político, econômico e cultural em que

vivem os seus alunos. Por meio da problematização, Gasparin (2005) acredita que é

possível levá-los a estabelecer relações práticas do cotidiano da escola.

O lócus onde se desenvolve o trabalho do pedagogo é a escola enquanto

instituição organizada para agenciar a educação (LIBÂNEO, 2011). Por isso, é

preciso assegurar aos alunos condições favoráveis à formação da cidadania crítica,

considerando que:

Educar é intervir na capacidade de ser e de agir das pessoas. Para isso, são providas as mediações culturais, isto é, as ferramentas simbólicas e materiais, mediante um processo de comunicação. É disto que trata a Pedagogia: a mediação de saberes e modos de agir. O papel da Pedagogia é promover mudanças qualitativas no desenvolvimento e na aprendizagem das pessoas, visando ajudá-las a se constituírem como sujeitos, a melhorar sua capacidade de ação e as suas competências para viver e agir na sociedade e na comunidade (LIBÂNEO, 2011, p. 01).

Nesse contexto, o pedagogo é o profissional que cuida da formação humana

em todos os lugares onde essa formação acontece de forma intencional e

sistematizada. De acordo com Facci (2004), a pedagogia abarca um processo

intencional e sistematizado de transmissão desses conhecimentos, possibilitando ao

aluno ir além dos saberes cotidianos, portanto, superados pela incorporação dos

conhecimentos científicos.

As DCEs – Paraná (2008, p. 23) entendem a escola “[...] como espaço de

confronto de diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do

cotidiano popular. Essas são as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua

complexidade”. Por isso, a prática pedagógica, diferentemente de uma educação

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espontânea, precisa se constituir na mediação entre a formação dos alunos e as

experiências da vida cotidiana.

Gasparin (2005) salienta que as palavras utilizadas pelos adultos, em suas

interações com os sujeitos, possuem graus de generalidade e operações mentais

que são novos para ela. Isso interfere em sua atividade mental, despertando neles

um sistema de processos complexos de entendimento ativo e responsivo, sujeitos às

experiências e habilidades que eles já dominam. Nas experiências escolares, ainda

que os alunos ainda não compreendam toda a significação atribuída às palavras

pelo adulto, é na continuidade dessas palavras que eles passarão a organizar seu

processo de elaboração mental. O significado de diferentes palavras para as

crianças e jovens na escola é formado, portanto, com a mediação da palavra do

docente, em uma ação conjunta.

No contexto escolar, a ação do educador tem como objetivo criar condições

para a atividade de análise e das demais operações mentais do aluno necessárias

para a realização do processo de aprender. “Depois, ambos seguem juntos numa

ação interativa na qual o educador, como mediador, apresenta o conteúdo científico

ao educando, enquanto este vai, aos poucos, tornando o seu objeto de

conhecimento” (GASPARIN, 2005, p. 107).

Por isso, o objetivo da escola não consiste em interferir apenas na vida

particular dos sujeitos, mas possibilitar que estes provoquem mudanças num âmbito

maior da sociedade. Conforme Saviani (1987):

É necessário elevar a prática desenvolvida do nível do senso comum à consciência filosófica, o que significa passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada (SAVIANI, 1987, p. 10).

Em razão de sua complexidade, enquanto prática social, a prática

educativa, é fenômeno típico da existência, por isto mesmo, consiste em um

fenômeno meramente humano (FREIRE, 2007). Daí pensar que a prática educativa

seja histórica e tenha historicidade. Com base nisso, ao pedagogo cabe também

ensinar. Contudo, para o autor, ensinar não se constitui em um ato mecânico de

transferir aos educandos o conceito do objeto. “Ensinar é, sobretudo, tornar possível

aos educandos que, epistemologicamente curiosos, vão se apropriando da

significação profunda do objeto somente como, apreendendo-o, podem aprendê-lo”

(FREIRE, 2007, p. 70).

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A aprendizagem entendida como processo permanente de elaboração

do sujeito e do coletivo de sujeitos, no enfrentamento dos problemas da prática

resulta em saberes. Em decorrência, são aprendizagens para a mudança, caso a

aprendizagem seja compreendida como respostas elaboradas pelos sujeitos aos

problemas. Nesse caso, segundo Gadotti (2007), a aprendizagem não é decorrente

apenas de elaborações individuais. Os sujeitos em interação com o conhecimento,

com a cultura, por meio da linguagem, da ação, da experiência, dos processos

internos de elaboração do pensamento e do enfrentamento das contradições

produzem outras respostas; em última instância, conquistam, produzem

conhecimentos.

Por isso, em nome de uma pedagogia que propõe a transformação,

Freire (2007, p. 124) afirma que a prática educativa “[...] desafia a nossa curiosidade

crítica e estimula o nosso papel de sujeito do conhecimento e da reinvenção do

mundo”. Com essa visão, os saberes da experiência são os conhecimentos

adquiridos durante a prática, portanto, são os resultantes do fazer.

O autor supracitado entende que a educação precisa contribuir para

desvendar e se contrapor às situações que marcam a existência dos sujeitos,

situações essas em que se deformam e se desumanizam, concebendo-a numa

relação mais humana, rompendo com o modelo conservador, que torna o

conhecimento como algo acabado em si mesmo, neutro e destituído de

subjetividade.

A proposta educacional de Freire (1996) revela sua visão de mundo e de

homem. O mundo como processo em construção e os homens, enquanto sujeitos

portadores de potencialidades. Na concepção do autor, a educação possui um

caráter libertador, sem o poder de dominação de um sujeito sobre o outro, devendo

pautar-se num processo interativo, simbiótico, humanizado, onde os educadores e

alunos entendem que a constituição de um, só se dá pela importância do outro.

Nessa visão, o processo de conscientização, aliado à disposição de

transformação da realidade precisa se constituir como base de formação dos

educandos, para retirá-los de sua condição de oprimidos. No entanto, essa

desigualdade social não será sanada, enquanto a baixa autoestima e o complexo de

inferioridade que acompanham os educandos, jovens e adultos pertencentes às

classes populares, não forem discutidos e trabalhados com o objetivo de superação

pessoal e transformação de suas vidas.

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É por isso que a perspectiva histórico-social se embasa na concepção de que

o sujeito se constrói e (re)constrói. A dinâmica do processo dialético e dialógico

possibilita compreendê-lo em sua dimensão humana, suas necessidades, limitações

e potencialidades. Reconhecer o outro como ele é, significa acolhê-lo como tal faz

repensar uma pedagogia voltada para a alteridade, refletindo de forma aprofundada

sobre o pensamento teórico e das práticas pedagógicas. A alteridade é

compreendida por Freire (1992), como a capacidade de apreender e respeitar o

outro como ser humano, como pessoa que pensa, sente e age, considerando-o em

seu contexto histórico, social e individual e valorizando seus conhecimentos e

experiências de vida. Para este autor, vincular a prática pedagógica a uma relação

mais humana é considerar, antes de tudo, cada sujeito em sua singularidade, com a

sua trajetória e história de vida.

O reconhecimento pelo outro, no entanto, não se restringe ao campo

semântico que envolve somente os pares. É diante do reconhecimento mútuo que

cada aluno pode se constituir como um sujeito ativo do processo de conhecimento.

Pensando assim, a educação precisa apresentar em sua proposta curricular um

ensino de caráter horizontal, onde professores, pedagogos e alunos interajam

buscando um mesmo objetivo, na troca de experiências, valores e ideias (GADOTTI,

2007).

Freire (1996) propõe que a educação seja repensada na escola como um

processo de interação e trocas, através do diálogo e questionamentos, entremeando

a teoria ao conhecimento prévio trazido pelos educandos, dando sentido ao

aprendizado e proporcionando aos mesmos, condições de uma leitura de mundo

menos homogênea e banalizada que estabelece o seu lugar social como lugar

natural.

Nesse sentido, ao professor pedagogo cabe atuar como orientador e

articulador das discussões, socializando seus conhecimentos e agregando-os aos

dos alunos e, numa relação bilateral, consequentemente, poderá aprender com eles.

Essa relação encontra sentido na proposta idealizada por Freire (1996), quando

afirma que educadores e alunos participando e interagindo num mesmo processo de

construção do conhecimento são capazes de aprender e crescer juntos.

A relação estabelecida entre professores, pedagogos e alunos constitui-se em

um diferencial do processo pedagógico. O docente comprometido com a educação e

com a formação de seus alunos tem consciência que é impossível desvincular a

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realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelos mesmos, pois eles trazem

um conjunto de histórias de vida para o interior da escola.

A riqueza proporcionada por essas experiências eleva a autoestima dos

alunos, incentivando-os às discussões, às reflexões e à socialização com os colegas

e professores, tornando-os protagonistas na construção do seu processo de

conhecimento. Vale ressaltar a importância de o professor pedagogo se colocar em

posição de aprendiz, para fomentar a relação de troca que, naturalmente, acaba se

estabelecendo.

Para pôr em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem se pretende detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber (GADOTTI, 1999, p. 02).

Enquanto processo dinâmico e formativo, o ensino não pode se apresentar de

forma unilateral. A sala de aula não se constitui somente em um espaço para a

transmissão de conteúdos teóricos. Concomitantes aos conteúdos programáticos, os

valores e posturas precisam ser articulados para propiciar a aquisição da

mentalidade científica lógica e participativa, possibilitando aos educandos a

intervenção efetiva no meio social em que convivem. Para o autor supracitado, toda

metodologia seja qual for o objetivo a que se proponha atingir, e por mais evidente,

preciso, restrito, que este se apresente, tem sempre uma repercussão mais ou

menos ampla, no comportamento e no pensamento dos alunos.

O respeito e empatia entre professor pedagogo, alunos e professor regente

contribuem para estabelecer um vínculo afetivo. Isso tem consequências na

aprendizagem e autonomia do educando, uma vez que os mesmos podem se fazer

ouvir, adquirindo segurança na relação que estabelecem entre si. Entretanto, é

necessário ressaltar que a afetividade não deve intervir no cumprimento e

posicionamento ético do professor pedagogo ou regente, devendo estes aprender a

combinar diálogo e afeição, sem desobrigar-se de sua responsabilidade enquanto

educador/orientador, tendo em vista a formação do ser humano em sua plenitude.

Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos [...] a afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele (FREIRE, 1996, p. 159-160).

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O autor supracitado ensina que conhecimento e sentimento podem caminhar

na mesma direção, destacando que um fato não exclui o outro. Ambos devem ser

dosados e respeitados, para que haja equilíbrio e harmonia no processo educativo.

Os procedimentos regulares que ocorrem na escola, demonstração, assistência,

fornecimento de pistas e instruções são fundamentais para a promoção de um

ensino capaz de promover o desenvolvimento. A intervenção do professor

pedagogo, pois, um papel central na trajetória dos indivíduos que passam pela

escola.

Vygotsky (1984) aponta que os processos pedagógicos intencionais,

deliberados, dirigidos à construção de seres psicológicos que são membros de uma

cultura específica são marcados por parâmetros culturalmente definidos. Os

mecanismos de desenvolvimento estão atrelados aos processos de aprendizado,

essenciais à emergência de características psicológicas tipicamente humanas, que

transcendem a programação biológica da espécie.

Em Vygotsky (1984), o papel central do aprendizado para o desenvolvimento

está vinculado à ideia que tem particular relevância para a reflexão na área da

educação, ou seja, a importância da atuação dos outros membros do grupo social na

mediação entre a cultura e o indivíduo e na promoção dos processos

interpsicológicos que serão posteriormente internalizados.

Isto é, primeiramente o indivíduo realiza ações externas que serão

interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de acordo com os significados

culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação, é possível para o indivíduo

atribuir significados culturalmente estabelecidos.

Com base no processo de interpretação, o indivíduo passa a estabelecer

significados às suas próprias ações, passando a desenvolver processos psicológicos

internos, que poderão ser interpretados por ele próprio, por meio dos mecanismos

estabelecidos pelo grupo cultural e comprometidos por meio dos códigos

compartilhados pelos membros desse grupo (VYGOTSKY, 1984).

O indivíduo não tem instrumentos internos para percorrer, sozinho, o caminho

do pleno desenvolvimento. O mero contato com objetos de conhecimento não

garante a aprendizagem, assim como a simples imersão em ambientes informadores

não promove, necessariamente, o desenvolvimento, demarcado por metas

culturalmente definidas. A intervenção deliberada dos membros mais maduros da

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cultura no aprendizado dos educandos é fundamental ao seu processo de

desenvolvimento.

Para Gasparin (2005), a mediação pedagógica posssibilita ao sujeito realizar

o processo de internalização que constiste na reconstrução interna, subjetiva,

psicológica de uma operação externa, social, por meio do uso de signos, ou seja,

por intermédio da palavra que designa coisas do cotidiano. Nesta ação, o educando

reconstrói para si, com a ajuda do professor como mediador social, o que é comum

para todo o grupo.

3 A FÁBULA COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA DE ATENDIMENTO A

ALUNOS “PROBLEMAS”.

As ações serão desenvolvidas na escola estadual Emílio de Menezes –

Ensino Fundamental da cidade de Japurá junto aos professores pedagogos. Os

eventos propostos para essa unidade constituem-se em um conjunto de atividades,

procedimentos, ideias, vivências e práticas, a partir de observações, debates,

trabalhos em grupo, dinâmicas, leituras, interpretação e compreensão de fábulas. Os

professores pedagogos vivenciarão, na prática, as propostas que subsidiarão o

trabalho futuro no atendimento aos alunos “problema”. Tais atividades poderão servir

também como modelo aos professores regentes no sentido de trabalharem em sala

de aula preventivamente a possíveis conflitos.

3.1 MÓDULO 1: CONVERSA INICIAL COM OS PROFESSORES PEDAGOGOS

Inicialmente, será realizada uma apresentação do projeto aos professores

pedagogos e regentes participantes da proposta de intervenção. Será discutido o

papel do pedagogo na prática cotidiana, com trocas de opiniões entre os

participantes, visando um conhecimento mais amplo sobre a importância das fábulas

como alternativa metodológica.

Os professores serão provocados a refletir sobre sua prática a partir de 04

vídeos, todos de curta duração.

O primeiro vídeo será: “Como uma onda: O papel do professor do século

XXI”, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=BctNAFD32T8. Em seguida,

“Rubem Alves - O Papel do Professor”; “Rubem Alves: A Escola Ideal”

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http://www.youtube.com/watch?v=IEX9bOeTMZg&feature=related; e a “Tarefa do

Professor” http://www.youtube.com/watch?v=DgBPEnkL1fI&feature=related.

Após a apresentação dos vídeos, os professores farão uma síntese do

conteúdo apresentado em resposta para a seguinte indagação:

• Qual é o papel do professor pedagogo na escola atual?

Toda escola verdadeiramente compromissada com o exercício da cidadania

precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da

linguagem do aluno, de forma a satisfazer às suas reais necessidades, que podem

estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, desde a transmissão e busca de

informação ao exercício da reflexão.

As fábulas são histórias que, a exemplo do conto popular e do conto

maravilhoso, segundo Arruda (2011) são narrativas curtas que têm animais como

personagens no mundo das fábulas. Os animais pensam, se emocionam falam e

agem como se fossem seres humanos.

As fábulas se constituem em um recurso valioso para o professor pedagogo

suscitar o diálogo com os alunos, oferecendo aos mesmos situações práticas das

noções de valores implícitas nos textos. Para além do campo teórico e

metodológico, as fábulas falam da conduta humana. Ética, lealdade, tolerância,

respeito mútuo, solidariedade, diálogo, justiça e determinação são algumas delas,

valores que esta unidade didática contempla. Nas relações estabelecidas entre os

educadores e alunos, “[...] o sucesso está menos naquilo que é dito e mais em como

é dito” (MARCUSCHI, 2008, p. 11).

Tal opção considera a necessidade de pensar o trabalho do pedagogo na

escola como uma proposta de ação e reflexão, no sentido de contribuir para

despertar nos alunos o respeito aos outros e a si mesmos, especialmente, nas

relações de convivência mútua. Uma fábula geralmente apresenta um diálogo entre

bichos encerrando com uma mensagem, provérbio ou ditado popular, ensinando as

pessoas a agirem com sabedoria.

As fábulas apontam mensagens sábias que levam as pessoas a olhar a vida

de maneira diferente, uma vez que a moral da história contribui para uma reflexão

sobre novas formas de estabelecer relações harmoniosas com os sujeitos, com o

mundo e com a vida. “Práticas discursivas comprovam que a língua cria o mundo,

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não o reproduz; confirmam que ela é dialógica, que é uma atividade sócio-histórica,

cognitiva e interativa (MARCUSCHI, 2008, p. 164).

Como atividade Prática para levar os professores à reflexão sobre a

importância das fábulas, será utilizado o vídeo da fábula “A Cigarra e a Formiga”,

disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=9v8VjXkhZdo&feature=related.

Na sequência os professores refletirão sobre:

• O que você sentiu? • Qual a importância dessa fábula e das fábulas em geral?• Qual o objetivo da leitura dessa e de outras fábulas?• Qual a intenção do autor?• Quais as circunstâncias que determinaram a produção desse texto?• Quais os valores apresentados?• Qual a importância dessa atividade para os alunos?• Qual a importância dos vídeos como alternativa metodológica para o trabalho com as fábulas na escola?

Os professores responderão, em dupla, as questões para apresentação geral,

colocando em seus registros os seus conhecimentos prévios. Será apresentado o

seguinte texto para reflexão sobre a importância das fábulas.

As Fábulas

Como alternativa metodológica, as fábulas são histórias que, a exemplo dos contos populares e do conto maravilhoso são narrativas curtas que têm os animais como personagens. Os animais pensam, se emocionam falam e agem como se fossem seres humanos.

Essa narrativa de natureza simbólica tem origem remota e incerta, pois se mescla à necessidade do homem de criar e de contar histórias para transcender as atividades cotidianas e recriar o mundo. Algumas fontes indicam que a fábula começou a ser contada na Suméria, no Século 8 a.C. Mas foi na Grécia Antiga, em meados do século 5 a.C., pelas mãos do escravo Esopo, que ela ganhou a fórmula atual: sintética, alegórica, tendo animais demonstrando sentimentos e uma pitada de humor.

Esopo sempre terminava as fábulas explicando a moral e, assim, ensinava valores. Graças ao francês Jean de la Fontaine (1621-1692), a fábula introduziu-se definitivamente na literatura ocidental, dessa vez de forma menos sintética e mais contextualizada. Ontem e hoje, com nuanças e autorias diferentes, as histórias se repetem. A principal proposta do gênero é a fusão de dois elementos, o lúdico e o pedagógico.

Por isso, as fábulas se constituem em um recurso valioso para o professor pedagogo suscitar o diálogo com os alunos, oferecendo aos mesmos situações práticas das noções de valores implícitas nos textos. Para além do campo teórico e metodológico, as fábulas falam da conduta humana: ética, lealdade, tolerância, respeito mútuo, solidariedade, diálogo, justiça e determinação são algumas delas (MARCUSCHI, 2000).

Uma fábula geralmente apresenta um diálogo entre bichos e encerra com uma mensagem (provérbio ou ditado popular) que é colocada em destaque no final do texto, sendo ideal para trabalhar com alunos(as) que apresentam comportamentos indisciplinados em sala de aula e que, na maioria das vezes, são encaminhadas aos professores pedagogos para “dar um jeito” na situação (LAGO, 1998).

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Após a leitura pelo grupo e discussões iniciais sobre o texto, os professores

farão um levantamento sobre os principais fatores implicados no encaminhamento

dos alunos ao atendimento pedagógico, lembrando que as crianças que não têm

ainda desenvolvida sua competência, sobretudo, na modalidade escrita da língua,

normalmente, se sentem rejeitadas, sem nenhum destaque positivo dentro do seu

ambiente escolar.

Para compensar tal rejeição, encontram na indisciplina uma forma de serem

percebidas, de chamarem atenção, atrapalhando as aulas, perturbando colegas, até

o professor as colocar para fora da sala de aula, atitude bastante comum na escola

em que atuamos. Assim, pensamos que cabe aos professores, antes de qualquer

iniciativa, refletir sobre o porquê da atitude rebelde, tentando, com o recurso das

fábulas, contribuir para a educação da criança ou adolescente.

Segundo Ribeiro (2011), geralmente, os alunos denominados ‘problemas” na

sala de aula não o são por opção, não por não quererem aprender, mas por serem

crianças carentes, desprovidas de atenção dos pais que, normalmente, trabalham o

dia inteiro; educadas pela rua, pelos colegas, com o sentimento de autossuficiência

crescendo dentro delas, precisam de uma figura adulta para lhes mostrar limites e

caminhos.

A organização da proposta de intervenção propõe capacitar os professores

pedagogos e regentes participantes para a obtenção de maior êxito, quer na

antecipação e resolução de conflitos em sala de aula, por parte dos segundos, quer

em situações de atendimento, por parte dos primeiros. Tais ações pretendem

beneificiar alunos “problema” no que refere à mudança de comportamento, não

mecânica, mas por convicção.

No início deste trabalho, é importante os professores compartilhar com os

alunos o produto final e os objetivos pretendidos (aquilo que se espera que

aprendam ao realizar as atividades). É importante esclarecer que haverá diferentes

momentos para refletir, compartilhar e construir novos conhecimentos sobre as

fábulas.

Durante a apresentação de uma fábula o professor pedagogo ou regente

poderá resgatar com eles a vivência de leitores ou ouvintes de fábulas, anunciando

a importãncia deste gênero para a aprendizagem em valores. É muito importante

que, além das atividades sugeridas nessa unidade didática, os alunos sejam

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orientados à leitura de muitas outras fábulas para eles possam contar com um bom

repertório desses textos.

Sugerimos nessa Unidade Didática algumas fábulas.

3.2 FÁBULAS A TRABALHAR COM OS PARTICIPANTES

Acreditando nas fábulas como recurso didático valioso, far-se-á uma atividade

com os participantes do curso, em duplas, da fábula “O Leão e o Rato”.

Primeiramente, far-se-á a leitura dessa fábula contada por três autores

diferentes – Esopo, na Grécia Antiga, cerca do século IV a.C., La Fontaine, no

século XVII, e Monteiro Lobato, no início do século XX.

O Leão e o Rato

Esopo

O leão era orgulhoso e forte, o rei da selva. Um dia, enquanto dormia, um minúsculo rato correu pelo seu rosto. O grande leão despertou com um rugido. Pegou o ratinho por uma de suas fortes patas e levantou a outra para esmagar a débil criatura que o incomodara.

- Ó, por favor, poderoso leão – pediu o rato. Não me mate, por favor. Peço-lhe que me deixe ir. Se o fizer, um dia eu poderei ajudá-lo de alguma maneira.Isso foi para o felino uma grande diversão. A idéia de que uma criatura tão pequena e assustada como um rato pudesse ser capaz de ajudar o rei da selva era tão engraçada que ele não teve coragem de matar o rato.

- Vá-se embora – grunhiu ele – antes que eu mude de idéia.Dias depois, um grupo de caçadores entrou na selva. Decidiram tentar capturar o leão. Os

homens subiram em suas duas árvores, uma de cada lado do caminho, e seguraram uma rede lá em cima.

Mais tarde, o leão passou despreocupadamente pelo lugar. Ato contínuo, os homens jogaram a rede sobre o grande animal. O leão rugiu e lutou muito, mas não conseguiu escapar.

Os caçadores foram comer e deixaram o leão preso à rede, incapaz de se mover. O leão rugiu por ajuda, mas a única criatura na selva que se atreveu a aproximar-se dele foi o ratinho.

- Oh, é você? – disse o leão. Não há nada que possa fazer para me ajudar. Você é tão pequeno!

- Posso ser pequeno – disse o rato. -Mas tenho os dentes afiados e estou em dívida com você.

E o ratinho começou a roer a rede. Dentro de pouco tempo, ele fizera um furo grande o bastante para que o leão saísse da rede e fosse se refugiar no meio da selva

Moral: Às vezes o fraco pode ser de ajuda ao forte.

Fonte: Esopo (1994)

Em segundo lugar, instigar-se-á os participantes a pensar sobre que ações,

atitudes e comportamentos tipicamente humanos são praticados pelas personagens

desta fábula.

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Os professores refletirão em conjunto a respeito da mensagem final do texto,

trocando ideias e trazendo a mensagem do texto para o contexto vivenciado, a partir

das seguintes indagações:

• Você concorda com a mensagem do texto? Por quê?• Que valores está fábula cultiva? Qual é o principal valor?• A que situações de conflito essa fábula se aplica?

Em seguida, proceder-se-á a leitura das fábulas do Leão e o Rato na versão

de La Fontaine e na de Monteiro Lobato:

O Leão e o Rato

La Fontaine

Vale a pena espalhar razões de gratidão: Os pequenos também têm sua utilidade. Duas fábulas mostrarão que eu não estou falando senão a verdade. Ao sair do buraco, um rato. Entre as garras terríveis de um leão, se achou.

O rei dos animais, em mui magnânimo ato. Nada ao ratinho fez, e com vida o deixou. A boa ação não foi em vão. Quem pensaria que um leão

alguma vez precisaria de um rato tão pequeno?Pois é, meu amigo, Leão também corre perigo. E aquele ficou preso numa rede, um dia.Tanto rugiu, que o rato ouviu e acudiu, roendo o laço que o prendia.Mais vale a pertinaz labuta. Que o desespero e a força bruta.

Fonte: La Fontaine: Fábulas (1992)

O Leão e o RatinhoMonteiro Lobato

Ao sair do buraco viu-se o ratinho entre as patas do leão. Estacou, de pêlos em pé paralisado pelo terror.

O leão, porém, não lhe fez mal nenhum.- Segue em paz, ratinho; não tenhas medo do teu rei.Dias depois o leão caiu numa rede. Urrou desesperadamente, debateu-se, mas, quanto mais

se agitava, mais preso no laço ficava.Atraído pelos urros, apareceu o ratinho.- Amor com amor se paga – disse ele lá consigo e pôs-se a roer as cordas.Um instante conseguir romper uma das malhas. E como a rede era das tais que rompida a

primeira malha e fugir.Mais vale paciência pequenina do que arrancos de leão.

Fonte: Lobato 1994

Após a leitura, os participantes farão uma comparação das três fábulas, da

seguinte forma:

a) Que variação há em relação à moral nas três versões?

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b) Que situações problemas elas podem resolver?

b) Como completar o quadro abaixo, apontando os valores condenados, os

aceitos e as situações de conflito a serem superadas:

VALORES ACEITOS VALORES CONDENADOS SITUAÇÕES DE CONFLITOFidelidade, Lealdade Traição Discussão calorosa

Humildade Arrogância, orgulho Agressão física

A seguir, os professores pedagogos refletirão sobre a fábula “A Abelha

Chocolateira”:

A Abelha Chocolateira

Era uma vez uma abelha que não sabia fazer mel. - Mas você é uma operária! - gritava a rainha - Tem que aprender. Na colméia havia umas 50 mil abelhas e Anita era a única com esse problema. Ela se

esforçava muito, muito mesmo. Mas nada de mel... Todos os dias, bem cedinho, saía atrás das flores de laranjeira, que ficavam nas árvores

espalhadas pelo pomar. Com sua língua comprida, ela lambia as flores e levava seu néctar na boca. O corpinho miúdo ficava cheio de pólen, que ela carregava e largava, de flor em flor, de árvore em árvore.

Anita fazia tudo direitinho. Chegava à colméia carregada de néctar para produzir o mais gostoso e esperado mel e nada! Mas um dia ela chegou em casa e de sua língua saiu algo muito escuro.

- Que mel mais espesso e marrom... - gritaram suas colegas operárias. - Iac, que nojo! - esbravejaram os zangões. Todo mundo sabe que os zangões se zangam à toa, mas aquela história estava ficando feia

demais. Em vez de mel, Anita estava produzindo algo doce, mas muito estranho. - Ela deve ser expulsa da colméia! - gritavam os zangões. - É horrorosa, um desgosto para a raça! - diziam outros ainda. Todas as abelhas começaram a zumbir e a zombar da pobre Anita. A única que ficou ao lado

dela foi Beatriz, uma abelha mais velha e sábia.Um belo dia, um menino viu aquele mel escuro e grosso sobre as plantas próximas da

colméia, que Anita tinha rejeitado de vergonha. Passou o dedo, experimentou e, surpreso, disse: - Que delícia. Esse é o mais saboroso chocolate que eu já provei na vida! - Chocolate? Alguém disse chocolate? - indagou a rainha, que sabia que o chocolate vinha de

uma fruta, o cacau, e não de uma abelha.

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Era mesmo um tipo de chocolate diferente, original, animal, feito pela abelha Anita, ora essa, por que não...

Nesse momento, Anita, que ouvia tudo, esboçou um tímido sorriso. Beatriz, que também estava ali, deu-lhe uma piscadela, indicando que tinha tido uma idéia brilhante.

No dia seguinte, lá se foram Anita e Beatriz iniciar uma parceria incrível: fundaram uma fábrica de pão de mel, juntando o talento das duas para produzir uma deliciosa combinação de mel com chocolate.

Moral: as diferenças e riquezas pessoais, que existem em cada um de nós, são singulares e devem ser respeitadas.

Fonte: Canton (2011).

Após a leitura da fábula, os participantes serão novamente levados a

perceber que, por meio de pequenos textos, o diálogo pode surgir como uma

alternativa para lidar com os conflitos nas relações humanas, estabelecidas no

contexto escolar.

Na oportunidade será enfatizado que a fábula é uma história de ficção,

escrita em verso ou em prosa. O fato de os animais, plantas e objetos animados

ganharem características humanas, faz com que essa forma alegórica de contar

uma história apresente as virtudes e os defeitos do mundo dos homens. Isso leva a

interpretações sociais para ilustrar um ensinamento e/ou uma regra de conduta. É

por isso que toda fábula tem, no desfecho, uma moral.

A leitura de “A Abelha Chocolateira pode contrubuir para que os professores

pedagogos possam auxiliar os alunos encaminhados para o seu atendimento a

compreenderem os valores implícitos nos textos das fábulas, melhorarando suas

condutas.

Destacar-se-á que sempre antes de apresentar a fábula ao(aos) aluno(os) é

importante que o professor pegagogo suscite a discussão sobre o comportamento

dos animais em seu ambiente e a relação com o comportamento humano.

Ao atender mais de um aluno, pode-se solicitar que os dois dialoguem a

respeito da fábula, questionando sobre as funções que cada animal da fábula exerce

no seu grupo, discutindo a moral da história, trazando-a para o contexto da situação

de conflito que os levaram até o atendimento pedagógico. Por exemplo:

• Qual a maior virtude da abelha?• Por que é importante respeitar as diferenças? • Para ser feliz todos precisam fazer a mesma coisa?• Seria bom se todas as pessoas do mundo gostassem das mesmas coisas?

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• O que se espera das pessoas na sociedade?• O que acontece com as pessoas que têm coragem de fazer coisas diferentes na sociedade?

A seguir, alertar-se-á que é importante que o professor pedagogo escute

atentamente as respostas dos alunos. Poderá, por exemplo, indagar:

• O que vocês perceberam quando compararam as atitudes do animal em seu hábitat natural e o conflito vivenciado por vocês?

Aqui, pode-se observar que, na natureza, a abelha age de um jeito e no texto

ela se comporta mais como as pessoas. Assim, as discussões poderão ser

conduzidas sempre de forma que os(as) aprendizes percebam a relação entre a

fábula e os valores necessários para a convivência em grupo.

Retomando o texto, os professores pedagogos podem refletir sobre a moral

da história. Depois, individualmente, seria interessante propor que os alunos

refletissem sobre o que a autora pretendeu dizer com a frase: "Anita fazia tudo

direitinho". Como as outras abelhas operárias reagiram ao comportamento de Anita?

No final da fábula, Anita esboçou um tímido sorriso. Pode-se perguntar:

• Como ela estava se sentindo ao produzir um mel diferente? • Alguma vez você já esboçou um tímido sorriso por algum sentimento?• Conte em detalhes como foi.

A moral da história deve ser trabalhada com os alunos(as) sempre como

consequência da situação que a fábula apresenta e nunca isoladamente.

3.3 FÁBULAS QUE OS PROFESSORES PEDAGOGOS PODEM TRABALHAR

COM OS ALUNOS A ELES ENCAMINHADOS

Nesta unidade é apresentada uma coletânea de fábulas para o trabalho do

professor pedagogo junto aos alunos que são encaminhados pelos professores

regentes para atendimento individual ou em grupo.

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A causa da chuva

Millôr Fernandes

Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegavam a uma conclusão. - Chove só quando a água cai do telhado de meu galinheiro - esclareceu a galinha. - Ora, que bobagem! - disse o sapo de dentro da lagoa. - chove quando a água da lagoa começa a borbulhar suas gotinhas. - Como assim? - disse a lebre.

- Está visto que só chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as gotas d'água que têm dentro. Nesse momento começou a chover. - Viram? - gritou a galinha. - O telhado de meu galinheiro está pingando. Isso é chuva! - Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? - disse o sapo. - Mas, como assim? - tornou a lebre - Parecem cegos! Não vêem que a água cai das folhas das árvores?

Moral: Todas as opiniões estão erradas.

Fonte: Fernandes (2007)

A fábula “A causa da Chuva” trata das diferentes maneiras de enxergar uma

determinada situação. Nela é possível observar alguns posicionamentos que podem

ser considerados certos ou errados nas relações, dependendo da perspectiva que

se olha.

- A inquietude;

- Fala-se muito e age pouco;

- O lugar de onde se fala;

- Falta de conhecimento sobre o assunto;

- Discussão em vez de diálogo.

A Raposa e as uvas

Millôr Fernandes

De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do real do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas.

Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: "Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes." E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia o risco de despencar, esticou a pata e. . . conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes!

Moral: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outraFonte: Fernandes (2007).

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A fábula “A raposa e as uvas” aponta como moral que a frustração é uma

forma de julgamento tão boa como qualquer outra. Nesta fábula, é possível explorar:

- É importante não desistir, mas insistir;

- Só porque algo não é bom para a gente, não significa que não é bom para

os outros;

- Raiva;

- Insistência, determinação para atingir os objetivos;

- Nem sempre o que a gente deseja é a melhor escolha;

- Frustração nem sempre é prejudicial.

- Propor reflexões sobre a importância de saber fazer boas escolhas na vida,

do diálogo com os outros quando existem dúvidas a respeito do que pretendemos

fazer.

Prova de amor (À maneira dos turcos)

Millôr Fernandes

Na ensolarada manhã de abril a jovem vinha andando pelo campo, trazendo à cabeça a bilha da fresca recém-apanhada no córrego. Tentava aqui e ali proteger-se nesta e naquela sombra das árvores que margeavam a estrada gramada. Assobia uma melodia entre triste e alegre. Eis senão quando, do alto da colina num só galopar, desce, com a fúria que se acende na raça ao meio-dia, um Fauno, completo e acabado, no corpo, no espírito e na flautinha. Facetamente pôs-se a acompanhar a senhoritinha no passo e na melodia. Ela tentou não dar atenção, fingiu ignorá-lo, parou de assobiar, pensou em outra coisa. O Fauno então disse, num tom de voz de ardor e sinceridade incomparáveis:

- "Tenho paixão por você. Amo-a como ninguém jamais amou ninguém. Não poderia viver sem você.

E a moça respondeu: - "Não vejo por que alguém se apaixonaria por mim dessa maneira, eu sem graça e sem

beleza, quando logo ali atrás vem minha irmã que é mais linda e encantadora de Bethgarem". O Fauno olhou e não viu vivalma: - "Por que me engana dessa maneira?" perguntou. "Não

vejo ninguém". "Bem" - respondeu a senhorinha - porque queria experimentar a sua sinceridade. "Se você

me amasse realmente não olharia para trás.Moral: Mais vale um urubu na mão do que um faisão inventado pela malandra imaginação do

urubu.

Fonte: Fernandes (2007)

A ideia é observar se há identificação dos alunos(as) com a moral da fábula

“Prova de Amor” tem como moral da história que mais vale um urubu na mão do que

um faisão inventado pela malandra imaginação do urubu. Podem-se trabalhar

questões como:

- As aparências enganam;

- Importância da sinceridade;

- Valor do amor;

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- Não podemos nos desvalorizar;

Propor uma reflexão crítica sobre a sinceridade e o amor que devem estar

acima de tudo em qualquer relação humana.

A Cigarra e a FormigaA cigarra, sem pensar em guardar, a cantar passou o verão.Eis que chega o inverno, e então, sem provisão na despensa, como saída ela pensa em

recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga, pedindo a ela, emprestado, algum grão, qualquer bocado, até o bom tempo voltar.

“Antes de agosto chegar, pode estar certa a Senhora: pago com juros, sem mora.”Obsequiosa, certamente, a formiga não seria.“Que fizeste até outro dia?”“Eu cantava, sim Senhora, noite e dia sem tristeza.”“Tu cantavas? Que beleza! Moral: Muito bem: pois dança, agora...”.

Fonte: La Fontaine (1992)

A fábula “A cigarra e a formiga”, em verso, mostra a importância do trabalho

na vida. A partir dela é possível discutir:

- O trabalho do aluno (estudo);

- A vida não é feita só de diversão;

- Em tempo de fartura é preciso guardar para outras ocasiões;

- Evitar o desperdício.

Para tanto:

- propor reflexões sobre o que o(a) aluno(a) pensa a respeito de pessoas

esforçadas e que gostam de trabalhar.

- Lembrar sobre a família (pai, mãe) que trabalha para dar o sustento

enquanto os filhos estão na escola.

- Aproveitar as oportunidades.

- Trazer para o contexto escolar: Enquanto um trabalha, o outro canta –, isso

gera o conflito.

- Discutir o desfecho trágico da história: “Tu cantavas? Que beleza! / Muito

bem: pois dança, agora...”.

O Menino que Mentia

Um pastor costumava levar seu rebanho para fora da aldeia. Um dia resolveu pregar uma peça nos vizinhos.

— Um lobo! Um lobo! Socorro! Ele vai comer minhas ovelhas!Os vizinhos largaram o trabalho e saíram correndo para o campo para socorrer o menino.

Mas encontraram-no às gargalhadas. Não havia lobo nenhum.Ainda outra vez ele fez a mesma brincadeira e todos vieram ajudar. E ele caçoou de todos.Mas um dia o lobo apareceu de fato e começou a atacar as ovelhas. Morrendo de medo, o

menino saiu correndo.

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— Um lobo! Um lobo! Socorro!Os vizinhos ouviram, mas acharam que era caçoada.Ninguém socorreu, e o pastor perdeu todo o rebanho.Moral: Ninguém acredita quando o mentiroso fala a verdade.

Fonte: Bennett (1997).

A fábula “O menino que mentia” mostra a importância de se falar sempre a

verdade. Depois da leitura da fábula é possível discutir as seguintes temáticas;

- A verdade é sempre melhor;

- Quem mente perde a credibilidade das pessoas;

- A confiança é uma conquista gradativa na vida.

- A fábula traz seres humanos como personagens –, poderíamos pensar em

situações vivenciadas pelos alunos na sala de aula. Nesse caso, poderíamos pensar

em um aluno que fosse brincalhão, enganador. O que acontece com pessoas

assim?

A Rosa e a BorboletaUma vez, uma borboleta se apaixonou por uma linda rosa. A rosa ficou comovida, pois o pó

das asas da borboleta formava um maravilhoso desenho em ouro e prata. Assim, quando a borboleta se aproximou, voando, da rosa e disse que a amava, a rosa ficou coradinha e aceitou o namoro. Depois de um longo noivado e muitas promessas de fidelidade, a borboleta deixou sua amada rosa. Mas, ó desgraça! A borboleta só voltou um tempo depois.

— É isso que você chama de fidelidade? – choramingou a rosa. – Faz séculos que você partiu, e, além disso, você passa o tempo de namoro com todos os tipos de flores. Vi quando você beijou dona Gerânio, vi quando você deu voltinhas na dona Margarida até que dona Abelha chegou e expulsou você... Pena que ela não lhe deu uma boa ferroada!

— Fidelidade!? – riu a borboleta. – Assim que me afastei, vi o senhor Vento beijando você. Depois você deu o maior escândalo com o senhor Zangão e ficou dando trela para todo besourinho que passava por aqui. E ainda vem me falar em fidelidade!

Moral: Não espere fidelidade dos outros se não for fiel também.Ash e Higton (1990)

A fábula “A Rosa e a Borboleta” mostra que não podemos esperar a

fidelidade de alguém quando não se é fiel também.

Aqui cabe:

- Refletir em torno de situações que envolvem amor, ciúme e fidelidade

(próprios da natureza e comportamento humanos).

- Propor discussões sobre a impossibilidade de exigir fidelidade dos outros,

tal como a imaginamos, trabalhando com a questão que envolve o exemplo.

- Ninguém é dono de ninguém;

- Só podemos exigir dos outros, aquilo que também somos capazes de

oferecer.

- Nossas atitudes servem de modelo para outras pessoas.

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-. Indagar: que outros seres teriam características semelhantes às das

personagens?

A Raposa e a CegonhaA Comadre Raposa, apesar de mesquinha, tinha lá seus momentos de delicadeza. Num dos

tais, convidou a cegonha, vizinha, a partilhar da sua mesa.Constava a refeição de um caldo muito ralo, servido em prato raso. Não pôde prová-lo a

cegonha, por causa do bico comprido. A raposa, em segundos, havia lambido todo o caldo. Querendo desforrar-se da raposa, a comadre um dia a convidou para um jantar. Ela aceitou com deleite do qual não fez disfarce.

Na hora marcada, chegou à casa da anfitriã. Esta, com caprichoso afã, pedindo desculpas pelo transtorno, solicitou ajuda pra tirar do forno a carne, cujo cheiro enchia o ar.

A raposa, gulosa, espiou o cozido: era carne moída – e a fome a apertar!Eis que a cegonha vira, num vaso comprido e de gargalo fino à beça, todo o conteúdo da

travessa! O bico de uma entrava facilmente, mas o focinho da outra era bem diferente; assim, rabo entre as pernas, a correr, foi-se a raposa.

Moral: Espertalhão, atente: quem hoje planta, amanhã vai colher!

Fonte : La Fontaine (1992).

A Raposa e a CegonhaUm dia a raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na outra, serviu

sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o menor problema, mas a pobre da cegonha com seu bico comprido mal pôde tomar uma gota. O resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome. A raposa fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.

Assim que chegou, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra. Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para casa, faminta, pensava: “Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro”.

Moral: Trate os outros tal como deseja ser tratado.

Fonte: Ash e Bernard (1990).

Após a leitura das duas fábulas “A raposa e a borboleta” pelo professor

pedagogo, pode-se questionar:

- Esses animais são amigos?

- O que você entende por amizade?

- O que é preciso fazer para ter amigos de verdade?

- Propor uma reflexão crítica sobre a importância do respeito para uma boa

amizade.

- Importância de se colocar no lugar do outro.

- Fazer ao outro o que gostaríamos que ele nos fizesse também.

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- Quando as pessoas não se respeitam, qual a possibilidade de elas se darem

bem?

- Relacionar a história com o conflito vivenciado pelo (a) aluno (a) e

questionar sobre a possibilidade de estabelecer relações saudáveis.

- Discutir sobre o cuidado que devemos ter com quem nos elogia em demasia

para não cairmos em armadilhas.

- Pensar sobre os perigos de nos deixarmos dominar pela vaidade e pelo

orgulho.

.

O Corvo e o Pavão

O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo ao corvo: - Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores, que maravilhosa plumagem! Sou das

aves a mais formosa, a mais perfeita, não? - Não há dúvida que você é um belo bicho -- disse o corvo. Mas, perfeito? Alto lá! - Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau

agouro... Que falha você vê em mim, ó tição de penas? O corvo respondeu:- Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhes deu um par de patas que, faça-

me o favor, deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre diabo como eu...

O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma.

Tinha razão o corvo: *não há beleza sem senão*.

Fonte: Lobato (1994)Na fábula “O corvo e o pavão” é possível propor:

- Discussão sobre o preconceito e discriminação.

- Relação entre o que foi dito pelas aves e o que é dito pelas pessoas.

- Reflexão crítica sobre os defeitos que vemos nos outros.

- Discussão sobre a perfeição física: bulimia, anorexia e esteriótipo de beleza.

4 CONCLUSÃO

Do exposto, esperamos contribuir para a formação de valores das crianças

encaminhadas pelos professores regentes à sala do professor pedagogo para

atendimento às suas necessidades. O reconhecimento da importância pedagógica e

didática das fábulas, bem como do seu emprego na formação de valores dos alunos

no Ensino Fundamental é um meio efetivo para auxiliar a prática do professor

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pedagogo que precisa lidar continuamente com uma variedade de conflitos no

cotidiano escolar.

ARRUDA, S. da S. O uso das fábulas no processo de ensino e aprendizagem no ensino fundamental. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/o-uso-das-fabulas-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-no-ensino-fundamental/46948/> Acesso em: jan. 2011.

ASH, R.; HIGTON, B. Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

BENNETT, W. Livro das virtudes para crianças. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

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GADOTTI, M. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1999.

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