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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

ANA MARIA DA SILVA NOBREGA

CADERNO TEMÁTICO

A (IN) SATISFAÇÃO NO AMBIENTE DA ESCOLA PÚBLICA

CURITIBA 2011

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ANA MARIA DA SILVA NOBREGA

A (IN) SATISFAÇÃO NO AMBIENTE DA ESCOLA PÚBLICA

Caderno Temático apresentado como Produção Didático - Pedagógica à coordenação do PDE/SEED Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010 – Área: Pedagogia – IES: UFPR – Orientadora: Professora Doutora Sônia M. Chaves Haracemiv

CURITIBA 2011

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Insatisfação (Bem ou Mal)

Satisfeito ou insatisfeito!

Bem ou mal!

Não importa a situação,

Trate a todos com amor

E verás tudo perfeito

Não fique preso na insatisfação

Veja a vida com encantamento

E luz no coração.

Pois se tratar a todos

Com igualdade

Tudo vai ficar um mar azul

Sem a máscara da maldade

O mundo é seu e de todos

Com ternura e respeito

Tudo fica direito.

Vem à satisfação,

A alegria do ser,

Para uma sociedade fazer

E ao mundo acontecer!

Ana Maria Camilo Mehl

30/06/2011

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 5 05

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 6 0

CADERNO TEMÁTICO: A (IN) SATISFAÇÃO NO AMBIENTE A ESCOLA PÚBLICA - EM BUSCA DE UM CAMINHO A MAXIMIZAR A SATISFAÇÃO PROFISSIONAL.............................................................................................

UNIDADE I - MEMÓRIAS DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO REVENDO OS PAPEIS................................................................................ 8

UNIDADE II - (RE) CONHECENDO A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR........... 16

UNIDADE III - O DIA A DIA DA ESCOLA E OS MOMENTOS DE (IN) SATISFAÇÃO: (RE) ENCANTAMENTO E ALEGRIA DE SER E ESTAR COMO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO............................................. 23

REFERÊNCIAS............................................................................................29

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APRESENTAÇÃO

O presente caderno temático é um material produzido como parte

integrante do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do

Paraná- SEED, turma 2010, com a orientação da Professora Doutora Sônia Maria

Chaves Haracemiv, do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná.

A escolha do tema, a (in) satisfação no ambiente da escola pública, veio

ao encontro do anseio da autora como pedagoga da escola pública há 17 anos e

que almeja realizar sua função com dignidade e competência.

Compreender um pouco mais sobre os fatores que geram as (in)

satisfações e como os mesmos afetam os profissionais professores, pedagogos e

diretores, assim como, as possibilidades de minimizar esses fatores de

insatisfação e maximizar os de satisfação, passa por um estudo teórico e prático

mais aprofundado, devendo ser articulado junto a esse grupo de profissionais da

educação.

Parte-se então a uma abordagem introdutória sobre as expectativas que o

tema oferece, apresentando pontos de estudos considerados relevantes para o

desenvolvimento da intervenção a ser realizada, passando pelo papel do

profissional, sua identidade, seu valor na sociedade, as exigências da profissão, a

organização escolar, seguindo pelas (in) satisfações e resgate do reencantamento

e da alegria de ser e estar profissional da educação.

Assim sendo, o caderno temático conjugado por suas unidades, não tem a

pretensão de esgotar o tema, contudo, é parte significativa desse caminhar como

instrumento de apoio, reflexão e diálogo; suscitando novas indagações e

deslocamentos no pensar e no fazer pedagógico, buscando avanços na

realização da profissão e na qualidade de ensino, começando por nós.

A autora

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INTRODUÇÃO

A presente produção didática que se formou como caderno temático, almeja

apoiar a reflexão dos profissionais da escola pública sobre suas satisfações e

insatisfações no ambiente escolar, na realização da sua profissão. Cabe aqui

ressaltar que a (in) satisfação é subjetiva ao sujeito, ou seja, o que pode trazer (in)

satisfação para uma pessoa pode não trazer para outra, pois é uma relação pessoal,

individual.

Mesmo a (in) satisfação sendo subjetiva ao sujeito, ressaltar que nos estudos

e pesquisas sobre o tema, tem-se revelado a desesperança, o sentimento de

desamparo, esgotamento, ansiedade, estresse, absenteísmo e outros sentimentos

de desconcerto e insatisfação ante os problemas reais da prática educativa.

No ambiente escolar, onde aparecem no dia a dia, as mazelas, a falta de

estrutura organizacional, as relações fragilizadas, a falta de clareza dos papéis

profissionais, fecunda em um aprofundamento teórico que respalde e purifique essa

realidade.

Discutir o tema abordado no caderno, com os profissionais da escola, tem o

intuito de possibilitar o rever-se como profissional diante do tempo transcurso, a

caminhada e a intensidade em que se deu ou dá essa trajetória. As relações

estabelecidas, as memórias, os exemplos a que seguiu ou descartou (referências

positivas e negativas) e como se vê hoje, partindo da sua própria história, até

mesmo como aluno.

Através de relatos, observações, pistas e indícios, procurar-se-á identificar

os fatores geradores de (in) satisfação; procurando visar possibilidades e a

identificação de novos horizontes de desenvolvimento.

A unidade I aborda o papel do profissional da escola como um todo, na

busca de sua identidade e seu valor perante ele e a sociedade, na unidade II, é

realçada a importância da organização escolar como forma de funcionamento da

escola, a cultura escolar e os processos de gestão, e por último, na unidade III,

segue com o reencantamento da educação como possibilidade de avanço da

insatisfação profissional.

As abordagens das três unidades didáticas aqui apresentadas intencionam

apoiar a caminhada do profissional da educação, fortalecendo a relação teoria e

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prática, num ambiente de trabalho favorável ao bem estar na realização da prática

educativa, através de conceitos, estudos, reflexões, instigando novas buscas, não

deixando imobilizar-se.

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UNIDADE I

MEMÓRIAS DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO: REVENDO OS PAPÉIS

Entramos no século XXI, com características de uma sociedade que afetam

o exercício da atividade educativa. A rapidez das mudanças são características

desse momento, o acesso à informação e ao conhecimento, as mudanças das

famílias, os valores sociais, entre outra série de fatores que advém dessa “evolução”

da sociedade, colaboram para o cenário das pressões sobre o ensino, seus

enfrentamentos e desafios na prática educativa. “Na sociedade do século XXI, as

ênfases estão na capacidade de ter acesso e de selecionar a informação, na

flexibilidade, na inovação e na capacidade das pessoas e das instituições de

ampliarem seus conhecimentos” (CASTELL, 1977; HARGREAVES, 2003 apud

MARCHESI, 2008, p.8).

Exige-se então um profissional que atenda as expectativas e necessidades

da escola condizente com o que está posto. Mas a realidade educacional nos aponta

controvérsias sobre tais expectativas, pois, as respostas esperadas não são em

curto prazo e demanda muita reflexão em busca das soluções e do caminho a ser

seguido. Contextualizando,

(...) muitos dos problemas manifestam-se em posições antagônicas, ou pelo menos divergentes, que evidenciam a existência de opções ideológicas, educacionais e profissionais diferentes. Não pode ser de outra maneira e é normal que existam essas controvérsias, expressão das diferenças ideológicas que ocorrem na sociedade: conservadores e progressistas, crentes e agnósticos, integradores e seletivos (...) (MARCHESI, 2008, p.11).

É nessa conjuntura de opiniões diferentes, de pensamentos contraditórios

e de desafios constantes que se dá a atividade educativa e onde se encontram os

profissionais da educação, deixando-os muitas vezes desorientados do papel a

ser desempenhado na escola. A tarefa de educar as novas gerações, em uma

sociedade em constante transformação, onde a falta de clareza quanto ao que

envolve educar, e como deve ser feito, as incertezas dessa formação, remontam

sobre o ato educativo.

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Na realidade que se apresenta, inclui-se o preparo dos profissionais da

educação, como fator de análise e busca de seu papel na atualidade, onde sua

competência é questionada, havendo uma expressiva desvalorização social de

sua profissão. Questiona-se o sentido do trabalho, a contradição em que vive,

tornando dúbia a postura por encontrar-se vulnerável a essa nova situação

educacional.

Conforme Sônia Penin (2009) supõe, a profissionalidade tem vivido

momentos de desequilíbrio e complementa com a suposição sobre a relação

entre melhorar a imagem e as condições objetivas da profissão; esta entendida

como aspectos exteriores (salário, prescrições legais, condições concretas de

trabalho, etc.), como forma positiva sobre a profissão e seu papel social.

A relação pessoa/profissão ocorre ao longo da vida produtiva, num

processo contínuo, eivado, como é comum, de experiências tanto estimulantes como tensas e conflituosas. O termo profissionalização indica o processo de formação de um sujeito numa profissão, que se inicia com a formação inicial e atravessa todos os momentos de formação continuada. Impossível que esse processo se dê sem a transformação do próprio sujeito, que por sua vez dialoga com a transformação da realidade. Formação inicial e continuada são partes, portanto, de um mesmo processo de formação profissional (PENIN, 2009, p.25).

Nesse encontro entre formação inicial e continuada, em que se dá o

processo de formação profissional e transformação do próprio sujeito, se dinamiza

o fazer e o ser da ação que se desenvolvem no dia a dia de sua prática. São

através das ações que emergem as necessidades, as conquistas, experiências,

reflexões, avaliações e ou reavaliações, e onde demanda a busca real e

consciente da qualificação profissional embasada pelo estudo teórico

permanente.

Na realização de sua profissão, reencontrando o significado do seu papel,

do seu valor e do sentido do seu trabalho, percorrer os espaços vagos,

fragilizados, levam a busca que devem revelar suas competências. A qualidade de

seu trabalho é base de sustentação de seu profissionalismo.

Revela-se nas muitas análises realizadas sobre a educação e o ensino,

que apesar da sociedade questionar a competência do educador, é demonstrada

com evidência a necessidade desse profissional e a relevância de seu trabalho.

Mas também revela a complexidade de sua atividade.

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O professor tem um grande papel dado que trabalha com dois elementos da maior importância para a espécie: as novas gerações e o conhecimento. Sua atividade envolve conceitos, imagens, a produção de valores, ideais, deveres, direitos, visão de mundo, decifração e desvelamento da realidade, projetos, propostas. Não se trata absolutamente de uma tarefa fácil, mas, com certeza, é muito bonita! É uma das experiências mais fortes e significativas do ser humano: poder participar da formação do outro. Tudo isso pede, pois, do professor uma revisão de compreensão de sua atividade e de sua atitude profissional (VASCONCELLOS, 2007, p.48).

Compreender a sua atividade passa pela compreensão do que é educar

através da escola e a relevância dessa formação educativa, e quando se tem claro o

motivo de sua escolha profissional, acredita-se no seu papel e no melhor

desempenho dele. Há convicção, competência e compromisso, consolidando o

sentido de seu trabalho e do seu valor.

O profissional da educação precisa de uma visão ampla, integral e completa

do que é ensinar, o que ensinar e como ensinar, de forma a amplificar seu

conhecimento e suas habilidades na condução e execução de seu papel. Como

aponta Celso Vasconcellos (2007, p.56), “A tarefa cotidiana do professor é

localizada. Mas, para que possa acontecer com sucesso, é preciso reconhecer e

fazer sua vinculação com a totalidade”. O ensino para ser bem desenvolvido exige

ligar-se a vários aspectos que vão além do limite da sala de aula.

A formação do educando passa por toda sua existência, exigindo do

profissional muito preparo, pois, a complexidade de sua atividade assim demanda.

Sua prática deve produzir uma ação dinâmica do ontem, do hoje e do amanhã,

ampliando as possibilidades de desenvolvimento e formação humana do educando.

O papel mediador entre o aluno, o objeto do conhecimento e a realidade é essencial:

Se a tarefa do professor fosse simplesmente transmitir informações, seria muito simples e fácil, aliás, seria totalmente descartável, visto que um CD-ROM poderia fazer o mesmo, com muito mais recursos, a custos baixíssimos e com possibilidade de haver repetição quantas vezes fosse preciso, sem reclamação (...). Assim, o acesso facilitado à informação ao invés de tornar o professor descartável faz com que, mais do que nunca, seja necessário, face ao excesso de informação, ao lixo, ao estresse informacional. O educando tem necessidade de estruturas de conhecimento (organização das informações), de capacidade crítica, de ser despertado para outros campos do saber, o que pede uma mediação qualificada (VASCONCELLOS, 2007, p.60 e 61).

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Reforçam-se as necessárias qualificações que se deve exercer como

mediador do ensino, utilizando-se do conhecimento como instrumento do seu

trabalho na escola, movimentando, tencionando e construindo formas de

aprendizagens.

É ao fazer bem o seu papel que se fortalece como profissional, usando sua

autoridade, constituída por sua formação, experiência e práxis, dando credibilidade a

sua atividade.

O importante papel que desenvolve, perpassa pela compreensão e pelo

desenvolvimento dos processos de aprendizagem, pois, não há bom ensino sem

uma boa aprendizagem. Como posiciona Meirieu (1998, p. 79) “(...) a aprendizagem

põe frente a frente, em uma interação que nunca é uma simples circulação de

informações, um sujeito e o mundo, um aprendiz que já sabe sempre alguma coisa e

um saber que só existe porque é reconstruído”.

Conhecer o como o aluno aprende, parece simples, mas é essencial.

Compreender o processo que se dá a aprendizagem, os estímulos, desejos,

entraves, passos, é um desafio em que o profissional deve aprimorar-se. A

organização escolar, pedagógica, administrativa, metodológica, avaliativa, de

planejamento, e todas as atividades do seu trabalho, devem ser bem fundamentadas

numa formação contínua, numa atitude de pesquisa, comprometidas com os

resultados de sua ação.

Esse profissional de grande valor que se dispõe a educar deve identificar-se

como profissional que tem algo a dizer, que pode ensinar e que o outro pode

aprender.

Profissionais da educação são necessários sim. Porém, novas exigências

educacionais suscitam:

(...) um professor capaz de ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos diversos universos culturais, dos meios de comunicação. O novo professor precisaria, no mínimo, de uma cultura geral mais ampliada, capacidade de aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional, saber usar meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e multimídias (LIBÂNEO, 2007, p.10).

Considerando os apontamentos de Libâneo, é preciso resgatar, ou seja,

recuperar a profissionalidade, reconfigurar as características de sua profissão na

busca da identidade profissional. Esse resgate passa por salários dignos e

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condições de trabalho, mas também passa pela formação de qualidade, por sua

prática coerente, de modo que se ganhe mais credibilidade e dignidade

profissional.

Grande parte da identidade profissional depende da valorização social percebida. O sentimento de perda da estima e do reconhecimento social corrói as bases da identidade profissional e reduz os vínculos entre os membros da profissão e o seu senso de pertencimento a ela. Quando os objetivos da atividade docente se tornam difusos, ocorre o mesmo ao mesmo tempo, com seus sinais de identidade. Quando se destacam, por vezes, os conflitos e as carências da educação escolar, envia-se uma mensagem de desconfiança sobre a competência dos professores e sobre a eficácia de sua ação. Em ambos os casos, infelizmente cada vez mais presentes, ocorre uma perda progressiva da identidade dos professores e existe uma probabilidade maior de que estejam insatisfeitos com eles mesmos e com o trabalho que devem realizar. A perda da autoestima provoca, também, a perda da sua identidade e leva, inevitavelmente, à insatisfação e ao mal-estar emocional (MARCHESI, 2008, p.120).

A compreensão do trabalho a realizar, concomitante a identidade

profissional, complementa o exercício da profissão com qualidade, essa busca

eminente no valor de seu papel. Cabe ressaltar, que essa qualidade integra-se a

formação continuada, prescrevendo ações políticas, sociais e econômicas, mas

também solicita o comprometimento individual, através de uma aprendizagem

contínua, de um desejo e uma busca de sempre querer aprender, estar mais bem

preparado, com olhares voltados para os requisitos de uma melhor qualidade de

seu trabalho e do seu próprio ser.

Como diz Sônia Penin (2009, p.35), “a formação e autoformação são

processos que se intercomunicam continuamente, contribuindo para a

constituição da profissionalidade”.

É nesse movimento de busca e resgate, que a identidade profissional

educativa deve resplandecer. É possível que tenham dificuldades de propor outra

escola, outra prática, questionando crenças tão arraigadas. Porém, flexibilizar o

pensar, engendrar-se no fazer, aprender, querer, desejar, lutar, buscar, pode

fortalecer o enfrentamento aos desafios da atualidade educacional reconstituindo

sua identidade.

Confiança e autoestima estão intimamente relacionados e ambos constituem o núcleo básico da identidade profissional (HARGREAVES, 2003; ZEMBYLAS, 2005). A identidade profissional não pode ser entendida como algo que adquire no momento em que se inicia uma determinada atividade de trabalho, mas como um longo processo de experiências

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vividas, de encontro com os outros e de reflexão sobre a própria prática, sobretudo em uma época em que as mudanças na educação são permanentes. Por essa razão, não há dúvida de que o sentido da identidade profissional deve adequar-se continuamente às novas condições sociais e educacionais (MARCHESI, 2008, p.120).

O repensar, o rever-se, contribui para essa identidade, num fortalecimento

necessário ao crescimento profissional, como ser humano que também se constitui

em formação e que precisa de apoio da instituição, na cultura escolar que permeia

seu trabalho, onde seja demonstrado interesse pelas demandas profissionais dos

seus integrantes, e cuidado com os mesmos.

E complementando esse proceder profissional, que constitui um árduo

caminho a percorrer, é preciso formar cidadãos participantes em todas as instâncias

da vida social contemporânea, (um belo desafio!).

(...) articular os objetivos convencionais da escola – transmissão-assimilação ativa dos conteúdos escolares, desenvolvimento do pensamento autônomo, crítico e criativo, formação de qualidades morais, atitudes, convicções – às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada: maior competência reflexiva, interação crítica com as mídias e multimídias, conjunção da escola com outros universos culturais, conhecimento e uso da informática, formação continuada (aprender a aprender), capacidade de diálogo e comunicação com os outros, reconhecimento das diferenças, solidariedade, qualidade de vida, preservação ambiental. Trata-se de conceber a escola de hoje como espaço de integração e síntese (...) (LIBÂNEO, 2007, p.8).

Ainda como o próprio autor salienta, poucos educadores discordam desse

leque de tarefas da educação escolar. Assumir essa vasta gama de tarefas é que

faz da prática um desafio ainda maior, mas que deve ser assumida com

profissionalismo. A formação educativa é ampla e complexa, cabe aos

profissionais da educação, a escola, uma grande responsabilidade com sua

atividade e com o resultado da mesma.

Nesse compromisso, a escola tem um papel insubstituível com as novas

gerações, prepará-los para se defrontarem com as exigências postas pela

sociedade moderna. Nesse enfrentamento necessário, cabe esclarecer, que não

deve ser a escola sozinha, pois ela não é detentora da “salvação do mundo”, mas

ela é essencial nesse processo.

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O compromisso da escola com seus alunos é extremamente importante,

insubstituível e possível. Ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos pensantes, com

compreensão crítica da realidade é tarefa fundamental a ser conquistada.

É preciso que a escola contribua para uma nova postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais como a justiça, a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento da diversidade e da diferença, o respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de convicções democráticas. A partir disso, a escola tem um grande papel no fortalecimento da sociedade civil, das entidades, das organizações e movimentos sociais. Ora, tudo o que esperamos da escola para os alunos são, também, exigências colocadas aos professores (LIBÂNEO, 2007, p.09).

Essas novas exigências apontadas para a escola e esperadas dos

educadores são coerentes com a vulnerabilidade que a classe tem se defrontado,

pois há uma contradição entre os objetivos que a escola defendia, e que deve ter

hoje, engessando muitas vezes a prática pedagógica em uma segurança que

outrora funcionava.

Mas, entender o seu trabalho, ou a função profissional da educação que

exerce é uma forma de adentrar na evolução do processo vivido. Compartilhar

essas necessidades, refletir, dialogar, estudar (em grupo e individualmente),

ajudam a trilhar os novos objetivos. Buscar segurança através da formação

continuada é condição essencial, ter interesse com o saber e, assumir-se

profissional, mais do que isso, um profissional qualificado para as atuais

necessidades é fundamental no resgate de seu valor e de sua identidade.

Atuar com capacidade, seriedade, prazer e envolvimento, sem melindrar-

se com as questões contraditórias a sua crença, prevalecendo sobre tudo uma

postura profissional, nas relações de trabalho, nos conflitos, fortalecendo a sua

atividade.

Podemos abordar aqui o compromisso ético, pois afinal de contas, somos

referência aos nossos educandos ou não?Por tanto, a mudança de postura é

essencial, de acordo com Libâneo, em vários aspectos como: em relação aos

problemas e ao compromisso com a mudança, ao poder de intervenção em

relação ao educando (em reforçar o que está dado ou em contrapor-se a este), à

responsabilidade pelo enfrentamento do problema e a postura frente às

contradições da realidade. É de interesse também uma postura dialética e

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transformadora nessa busca, sabendo que só se dará se este a desejar,

procurando assim reflexões rumo ao caminho que deve seguir. Comprometer-se

ao conjunto de valores, aos compromissos assumidos, pessoal e coletivamente,

integrando-se ao projeto político pedagógico da escola.

Diferentemente de outros campos de atuação profissional, especialmente de natureza técnica, nenhuma transformação substantiva em educação prescinde do envolvimento pessoal dos educadores. E como os instrumentos fundamentais de que dispõem para educar são a si próprios, toda mudança, nesse terreno, significa, a princípio, mudança de atitude (ROSA, 1994, p.19 apud VASCONCELLOS, 2007, p.154).

Aborda-se a necessidade da mudança de atitude, sua melhor

compreensão reverte-se positivamente não em mera alteração de

comportamento, limitando-se ao simples fazer; mas algo mais complexo que é

substantivo frente às circunstâncias e ao mundo, significando o aumento do grau

de consciência. ”O desejável é que faça, tanto quanto possível, por opção,

fundamentado, consciente, inteiro, crítico. Não basta vivenciar a situação, é

preciso atribuir significado” (VASCONCELLOS, 2007, p.155).

Compreender esse significado de forma mais precisa, passa por entender

que as práticas e os instrumentos utilizados em uma determinada realidade, não

são suficientes por si mesmos, pois, essa prática e instrumentos se completam

pelas atitudes tomadas pelos sujeitos frente a eles.

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UNIDADE II

(RE) CONHECENDO A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR

A escola é um espaço privilegiado por fazer parte da formação do ser

humano. Sendo imprescindível ser, portanto, um lugar de ações intencionais e

pedagógicas em que todos seus profissionais devam prepara-se adequadamente

para contribuir nesse contexto educativo.

Todos os espaços e profissionais que lá se encontram, de alguma maneira

fará parte da formação do educando. A prática consciente e responsável deve

permear todo seu ambiente. As menores atitudes têm seu valor e significado,

partindo da clareza de que é um espaço eminentemente pedagógico.

Toda ação da escola deve ser pensada em função do seu fim. A tarefa

básica da escola é o ensino e a aprendizagem de seus alunos. Para cumprir com

sua finalidade e objetivos, é preciso organizar-se, enfrentar os desafios educativos.

Há problemas materiais, estruturais, relacionais, pedagógicos, administrativos;

enfim, uma gama de situações que requer uma logística de funcionamento que deve

ser bem pensada.

Cabe à escola introduzir certo rigor, evitando na medida do possível ações

improvisadas, vagas, que fragilize sua estrutura de funcionamento. É necessário

fortalecer-se através de sua organização.

(...) A organização é um espaço de aprendizagem profissional, na medida em que os professores participam ativamente da organização do trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe de trabalho, aprendendo novos saberes e competências, assim como um modo de agir coletivo, em favor da formação dos alunos. Ou seja, a organização escolar funciona com base em dois movimentos inter-relacionados: de um lado, a estrutura organizacional, as relações profissionais e as normas e regras, atuam na produção das idéias, modos de agir, práticas profissionais dos professores, comportamento dos alunos; de outro, os professores e alunos são participantes ativos da organização, contribuindo para a definição de objetivos, formulação do projeto pedagógico-curricular, atuação nos processos de gestão e tomadas de decisão e nas formas de funcionamento. As pessoas mudam com as organizações e as organizações mudam com as pessoas (LIBÂNEO, 2008, p.13).

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Conhecer a realidade em que se está inserida, fazendo seu diagnóstico,

levantando suas dificuldades, peculiaridades, retratando o que existe, a situação

que se vive e a que deseja viver, o objetivado pela instituição.

Traçar o plano de ação como projeto educativo a ser desenvolvido, numa

sistematização delineada, nunca definitiva, mas passível de mudanças, que se

aperfeiçoa e se concretiza na caminhada. Através de um planejamento

participativo, definir claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.

No processo de transformação da realidade, no caminho ao alcance dos

objetivos a organização escolar é de extrema relevância, pois inclui em seu

contexto a administração, e como aborda Libâneo, sendo a instituição escolar

elevada a um sistema de relações, com características interativas, sua

organização é mais abrangente.

(...) o sentido amplo de organização, ou seja, unidade social que reúne pessoas que interagem entre si e que opera por meio de estruturas e processos organizativos próprios, a fim de alcançar os objetivos da instituição. (...) As escolas são, portanto, organizações, e nela sobressai a interação entre as pessoas, para a promoção da formação humana (LIBÂNEO, 2008, p.100).

O bom funcionamento das organizações escolares requer a tomada de

decisões, a direção e controle dessas decisões, através da gestão, caracterizando

sua ação por processos intencionais, sistemáticos e humanos.

Oriundo do campo da administração empresarial, o conceito de cultura organizacional se mostra adequado a analise da escola, na medida em que, privilegiando os elementos relacionais e simbólicos, permite superar a percepção burocrática da unidade de ensino, limitada a consideração de suas estruturas formais e da sua ordenação racional, trazendo à consideração os fatores humanos integrantes da gestão escolar. Nesse sentido, a escola será concebida como um sistema sociocultural constituído de grupos relacionais que vivenciam códigos e sistema de ação. Essa percepção aponta intencionalmente para uma nova visão de organização escolar, por meio da qual a escola passa a ser concebida como uma cultura (FERREIRA, 2009, p.24 e 25).

No desenvolvimento da escola, fica clara a significância que tem a

organização e a gestão, como a cultura que nela se constitui. Nesse

desenvolvimento, realidades escolares demonstram ações remediativas,

decorrentes de um fazer sem pensar, sem planejamento das suas ações,

contradizendo o que é posto como espaço de formação, de conhecimento e

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aprendizagem significativa, onde devam prevalecer o diálogo, a reflexão e os

estudos.

As atividades pedagógicas, mesmo fazendo parte do discurso, e sendo a

razão de ser da escola, às vezes são deixadas de lado, “caindo no

esquecimento”, ficando só a cargo do pedagogo, havendo uma separação do

processo educativo como um todo.

É preciso mudar a lógica do fazer, fazer, de forma remediada, para a do

pensar, agir, refletir. A escola precisa de uma reflexão na ação, dialogando com os

enfrentamentos e situações problemáticas, uma intervenção concreta, avançando

para a reflexão sobre a reflexão na ação.

Mudar a lógica de sempre estar “correndo atrás do prejuízo”, considerar o

planejamento das ações como alvo, comprometendo-se com o mesmo,

priorizando sua execução, pois foi pensada, decidida.

(...) as pesquisas que buscam saber que características de uma escola fazem diferença no que diz respeito ao nível da qualidade de ensino, e que ganham reputação na comunidade, mostram que o modo como a escola funciona – suas práticas de organização e gestão – faz diferença em relação aos resultados escolares dos alunos (LIBÂNEO, 2008, p.10). É consenso hoje que os professores gostam de trabalhar em escolas bem dirigidas e organizadas, constituindo a gestão democrática um componente decisivo em todo processo coletivo de construção do planejamento, organização e desenvolvimento do Projeto Político- Pedagógico e de um ensino de qualidade. Todavia, é realidade, ainda, que a compreensão teórico-prática da gestão democrática da Educação ainda está se fazendo, no próprio processo de construção do Projeto Político-Pedagógico e da autonomia da escola, que, embora já seja uma convicção e uma prática em desenvolvimento, ainda não é uma realidade da vida social e profissional. Há que reforçar esse valor, seus significados e suas práticas (FERREIRA, 2009, p.20).

O entendimento da necessária organização escolar e uma boa gestão leva

a valorizar muito mais suas práticas, procedimentos administrativos, e formas de

funcionamento. “Gestão é administração, é tomada de decisões, é organização,

direção. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir

seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel” (FERREIRA, 2009,

p.11).

Gestão pressupõe liderança, tarefa bastante complexa e desafiadora. A

atividade do líder traz a importância do outro. Lidar com os colegas de trabalho,

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professores, funcionários, equipe pedagógica, na interação permanente com os

alunos, na busca necessária e significativa da participação dos pais, parcerias com

a comunidade e a sociedade como um todo.

É relevante compreender que a gestão da educação acontece e se

desenvolve em todos os âmbitos da escola, inclusive e fundamentalmente, na

sala de aula, no desenvolvimento do planejado e como fonte de novas tomadas

de decisões, para o estabelecimento de novos direcionamentos.

Ressalta-se que a gestão educacional; em caráter amplo e abrangente do sistema de ensino, e a gestão escolar, referente à escola, constituem-se em área estrutural de ação na determinação da dinâmica e da qualidade de ensino. Isso porque é pela gestão que estabelece unidade, direcionamento, ímpeto, consistência e coerência à ação educacional (...). Porém, é importante ter em mente que é uma área-meio e não um fim em si mesma. Em vista disso, o necessário reforço que se dá à gestão visa, em última instância, a melhoria das ações e processos educacionais, voltados para a melhoria da aprendizagem dos alunos e sua formação, sem o que aquela gestão se desqualifica e perde a razão de ser (LÜCK, 2009, p.17 e 18).

Os bons resultados fazem parte do funcionamento de uma gestão e

nessa responsabilidade que se faz necessário à formação do trabalho em equipe.

O princípio da gestão é considerar as pessoas e não recursos humanos

(isso é só administração). É um trabalho participativo de responsabilidade

conjunta. Gestão é liderança que mobiliza as pessoas, não para fazer certas

coisas, mas certas coisas com amor e carinho, com entusiasmo e crença, com

envolvimento.

A constituição de um grupo de trabalho envolvido é de suma importância

para o alcance dos objetivos. Um grupo de profissionais que faça uma adesão

consciente e disponível a construir uma equipe, de participar da coletividade, em

suas decisões, pondo em prática o que foi decidido, cumprindo sua parte. Dentro

de uma prática unida, firme e estável, consolidando sua razão.

(...) o trabalho em equipe apenas ganha sentido dentro de um conjunto articulado e consistente de práticas escolares: uma estrutura organizacional sólida, processos de gestão definidos e eficazes, práticas participativas, projeto pedagógico-curricular, formas de avaliação da escola e da aprendizagem, formação continuada. (...) para que o trabalho em equipe funcione, os membros da escola precisam aprender determinadas competências: capacidade de comunicação e expressão oral, habilidades de trabalhar em grupo, capacidade de argumentação, formas criativas de enfrentar problemas e situações difíceis. Por parte dos diretores e coordenadores pedagógicos, é preciso capacidade de liderar e gerir

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práticas de cooperação em grande grupo, de modo a criar uma outra cultura organizacional, ou seja, uma mentalidade de organização escolar instituída a partir de concepções, modos de pensar e agir, práticas, próprias da cultura existente entre os integrantes da equipe escolar (LIBÂNEO, 2008, p.103).

Dessa forma, o trabalho em equipe de forma participativa e coletiva, vai

caracterizando a cultura da escola. As regras, normas, acordos, e tudo que

acontece em seu contexto vão singularizando o modo como as coisas se dão no

interior da escola.

A cultura da organização apoia a resolução de seus problemas, e

contribui para a redução dos níveis de ansiedade no seu interior, proporcionando

mais segurança a seus profissionais. Essa cultura vai se construindo ao longo da

história da escola, (...) “por intermédio do compartilhamento e da aprendizagem

coletiva de construção de um “modelo” de pensamentos, crenças, sentimentos e

valores que passam a ser assumidos e desenvolvidos pelo conjunto de atores da

escola” (FERREIRA, 2009, p.25).

Em todo esse ambiente que vai se dando a cultura escolar, favorece a

construção da identidade do profissional, pois é nele que desenvolve seu

trabalho. É importante que a escola se preocupe com essa formação, com projeto

compartilhado, interessado pelas demandas profissionais dos seus integrantes,

protegendo e cuidando dos seus membros atuais e antigos mantendo-os

vinculados a ela.

É importante que a direção propicie um clima de trabalho favorável, de

relações de confiança, de incentivo para que todos se envolvam com a escola,

com coesão e espírito grupal, contribuindo para seu melhor funcionamento.

(...) a partir da interação entre diretores, coordenadores pedagógicos, professores, funcionários e alunos, a escola vai adquirindo, na vivência do dia-a-dia, traços culturais próprios, vai formando crenças, valores, significados, modos de agir, práticas. É o que estamos denominando cultura da escola ou cultura organizacional. Essa cultura própria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas, de pensar os problemas, de encontrar soluções. É claro que isso não se dá sem conflitos, diferenças, discordâncias, podendo haver até quem destoe dessa cultura. Mas há em cada escola uma forma dominante de ação e interação entre as pessoas, que poderia ser resumida na expressão: “temos a nossa maneira de fazer as coisas por aqui” (LIBÂNEO, 2008, p.109).

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Todo esse processo vai delineando “a cara da escola”, e em todas as suas

ações vai se concretizando em características próprias. As normas disciplinares, a

relação dos professores com seus alunos, na cantina, na distribuição dos

alimentos, nas formas de reuniões, na sala dos professores na forma de

tratamento com os pais, na metodologia de trabalho. Essa cultura própria que se

forma pode ser modificada por seus membros, ela é moldável.

Aqui se fortalece a formulação coletiva do Projeto Político-Pedagógico da

escola, sua importância, como cerne dessa cultura organizacional colaborativa,

em que se caminham unidos na mesma direção.

“A organização e os processos de gestão, incluindo a direção, assumem

diferentes significados conforme a concepção que se tenha dos objetivos da

educação em relação à sociedade e à formação dos alunos” (LIBÂNEO, 2008,

p.101). Se for uma concepção tecnicista, a direção é centralizada em uma

pessoa, decisões são tomadas de cima para baixo, sem participação dos outros

integrantes da escola, cumpra-se; e uma concepção democrático participativa, as

decisões são tomadas de forma coletiva e participativa, é possível uma direção

individualizada, coletiva ou participativa.

(...) um modelo de gestão democrático-participativa tem na autonomia um dos seus mais importantes princípios, implicando a livre escolha de objetivos e processos de trabalho e a construção conjunta do ambiente de trabalho. Nesse modelo de gestão, é indispensável à introdução do trabalho em equipe. Uma equipe é um grupo de pessoas que trabalha junto, de forma colaborativa e solidária, visando à formação e a aprendizagem dos alunos. Do ponto de vista organizacional, é uma modalidade de gestão que, por meio da distribuição de responsabilidades, da cooperação, do diálogo, do compartilhamento de atitudes e modos de agir, favorece a convivência, possibilita encarar as mudanças necessárias, rompe com as práticas individualistas e leva a produzir melhores resultados de aprendizagem dos alunos (LIBÂNEO, 2008, p.102 e 103).

Fazer parte, numa ação conjunta a que se destina a todos, ensinar o

exercício de ser, exercitando a cidadania, responsabilizando quem faz, sobre o

que faz e o que necessita ser feito, colaborando com as pessoas, aperfeiçoando a

convivência com os demais, em contínuo crescimento.

Nesse proceder, não podem, nem devem refletir interesses individualistas.

A atuação das lideranças aqui é relevante, como articuladores do alcance dos

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objetivos traçados, diagnosticando as atuações, reforçando os pontos fortes e

corrigindo os rumos, quando necessário.

“O significado mais poderoso da democracia não é formado pela capciosa

retórica política, mas nos detalhes da vida cotidiana” (APPLE & BEANE, 1997, p.

154-155, apud FERREIRA, 2009, p.57). Cultivar o compromisso e desenvolver a

“cultura do nós”, construindo uma gestão democrática na escola, respaldando o

desenvolvimento de alunos cidadãos.

Educar para este tipo de cidadania exige conviver e aprender numa instituição educativa na qual os processos de tomada de decisão sejam transparentes e onde a participação não seja reprimida, mas sim incentivada, onde exista uma abertura de pensamento e não haja temor à mudança e à inovação, um espaço escolar no qual todos os membros participem e se responsabilizem pela organização e gestão da escola. Uma escola, na qual as leis e as normas regem a vida cotidiana sejam fruto de debate e de consenso democrático, o que contribui para que todas essas pessoas adquiram compromissos e assumam responsabilidades que convertam a vida nessa instituição num incentivo pra seguir em frente, uma vez que os direitos de todas as pessoas que ali desenvolvem a sua vida e o seu trabalho são respeitadas. Alunos, professores e demais profissionais que ali convivem, responsabilizam-se por qualquer dos serviços imprescindíveis para que a escola funcione e se sintam participantes de um projeto de política educativa destinado a formar uma cidadania mais comprometida com o bem-estar e a justiça social sobre a qual se devem construir e melhorar as nossas comunidades, bairros,

povos, cidades, em suma, a sociedade (SANTOMÉ, 2006, p.87).

A realidade ainda aponta uma estrutura educacional e de gestão

fragilizada, burocratizada, que dificulta a prática de uma gestão participativa, mas

há espaços e forças de mudança.

Fortalecer os indivíduos, que unidos criem novas formas de articular o

mundo real e os problemas reais que a escola se defronta, são formas de ampliar

e defender a democracia, na construção coletiva da cidadania.

Numa consciência de que as condições ideais não se concretizam, e que

os obstáculos como acesso mais amplo, precisam ser enfrentados até serem

transformados.

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UNIDADE III

O DIA A DIA DA ESCOLA E OS MOMENTOS DE (IN) SATISFAÇÃO: (RE)

ENCANTAMENTO E ALEGRIA DE SER E ESTAR COMO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

A realidade nos aponta uma escola fragilizada, onde o sistema educativo é

criticado, demonstrando esfacelamento de sua estrutura, estendendo ao

profissional da educação. Nesse processo revela-se o mal estar profissional, de

acordo com pesquisa feita por Esteve Zaragoza (1999); há sentimentos de

desconcerto e insatisfação na prática pedagógica, contradição com a imagem

ideal de seu trabalho, corte na implicação pessoal com sua atividade, desejo de

abandonar a docência, absenteísmo, esgotamento, ansiedade, depreciação do

ego, estresse, depressões...

As insatisfações existem e são muitas, mas precisamos nos revestir

delas? É uma escolha? Há também satisfações. Como questiona HASSMANN

(1998, p.22) “Será que ser educador/a é ainda uma opção de vida

entusiasmante? Dá para falar em reencantamento da educação sem passar por

ingênuo?” Enxergar a “luz no fim do túnel” também é uma escolha.

A suspeita do mero corporativismo já se alastrou. Não dá mais para silenciar o fato de que, também nas instituições educativas, há muita gente encalhada no mero negativismo. Onde esse clima se instaura, os reclamos profissionais deixam de ser convincentes, porque a estagnação na mediocridade pedagógica transforma esses reclamos em pretextos frívolos. Somente educadores/as entusiasmados/as com seu papel na sociedade conseguem criar uma opinião pública favorável a seus reclamos (HASSMANN, 1998, p.23).

O ambiente de trabalho, ou seja, o ambiente da escola num todo pode e

deve ser renovado; e é a partir de nós, de cada indivíduo, que possibilidades

podem ser concretizadas. O trabalho em equipe, o apoio mútuo, objetivos em

comum dentro da organização escolar devem preponderar. As críticas vazias, que

partem do egoísmo da verdade própria devem ser anuladas e, a parceria, o

companheirismo, a relação social saudável deve ser instaurada e privilegiada. De

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fato, não é fácil, é uma caminhada árdua, exigente, decidida, que pede

comprometimento. E tem seu valor.

Está na hora de fazermos, sem ingenuidades políticas, um esforço para reencantar deveras a educação, porque nisso está em jogo a autovalorização pessoal do professorado, a autoestima de cada pessoa envolvida, além do fato de que, sem encarar de frente o cerne pedagógico da qualidade de ensino, podemos estar sendo coniventes no crime de um apartheid neuronal que, ao não propiciar ecologias cognitivas, de fato está destruindo vidas (HASSMANN, 1998, p.23).

De fato, deve haver esforço e envolvimento efetivo na busca da qualidade

da educação e no resgate da profissão e não deixar-se acomodar, tornando-se

conivente de tal realidade e até incoerente com a própria fala. Compreendendo

Hassmann (1998), precisamos de ambientes propiciadores de experiência do

conhecimento, ao que ele chama de ecologias cognitivas. É com esse ambiente

que a escola deve ser um lugar gostoso. Pois, “Educar é fazer experiências de

aprendizagem pessoal e coletiva” (BOFF, apud HASSMAN, 1998, p.12).

Nossa satisfação profissional perpassa pelos educandos, nossas relações,

as experiências vividas e compartilhadas, os resultados obtidos e os almejados.

Criar conscientemente experiências de aprendizagem, envolvendo nossos

educandos, possibilitando vida nesse espaço de conhecimento que forma o SER.

Resgatar nossa alegria de ensinar, de reencantar a educação e nos

satisfazer no exercício da profissão, nos leva a questionar como estamos

contribuindo na formação de nossos educandos? Como estamos enriquecendo o

pensar, o agir, o sentir deles?

A vida “se gosta”. Por isso os/as educadores/as deveriam analisar de que forma a vida dos/as alunos/as é uma vida concreta que, em seu mais profundo dinamismo vital e cognitivo, sempre gostou de si, ou ao menos tentou e volta a tentar gostar de si. A não ser que a própria educação cometa o crime de anular essa dinâmica vital de desejos de vida, transformando os aprendentes em mero receptáculos instrucionais, pensando apenas na “transmissão de conhecimentos” supostamente já prontos (HASSMANN, 1998, p.29).

Restaurar a formação profissional e até humana, as memórias que temos,

as motivações que nos levaram a nos tornar tais profissionais, são reflexões

profundas que resgata a nossa verdadeira identidade. A valorização profissional

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está vinculada a nossa prática e a conseqüência da mesma. Precisamos fazer os

enfrentamentos necessários para superar os desafios e alcançar metas.

Nesse enfoque, entra a revisão do trabalho: metodologia de ensino,

conteúdos, concepção de homem, mundo, sociedade, regimento escolar,

proposta curricular e pedagógica... E todas as necessidades da complexa função

de ser um profissional da educação, passando também pela dedicação e o

profundo sentido das responsabilidades.

Para os educadores/as, a militância e a intervenção política primordial deveria consistir, principalmente, na própria melhoria da qualidade pedagógica e socializadora dos processos de aprendizagem. De posse dessa bandeira, aumenta a credibilidade para exigir atenção para os demais reclamos. As demais lutas – como a melhoria salarial, dignificação da profissão docente, infraestrutura e recursos de apoio, etc. – devem estar ancorados em propostas pedagógicas (HASSMANN, 1998, p.24).

Envolver-se, proclamar a escola como “minha”, como lugar de acertos e

erros na construção de um caminho estruturado e planejado, tendo como finalidade

a educação de qualidade. Fazendo parte do processo, ousando visar à grandeza e

apostando na grandeza do ser. Uma atitude pessoal coerente, como exemplo ético

no comportamento, seguro na orientação do juízo crítico e autônomo, sensível aos

problemas dos educandos, contribuindo com a formação da capacidade da defesa

de seus direitos e a responsabilidade em cumprir com suas obrigações.

Não podemos nos afastar da essência do ser humano. Um ser entusiasmado

e entusiástico, confiantes de seu trabalho e de seus resultados. Não podemos deixar

nos desanimar, nos deixar abater pelo desamparo ou até por nossa própria

negligência. Precisamos nos revestir de esperança e atitude para superar a força

contrária que possa vigorar.

É preciso, por um lado, que realizemos nossa atividade com suficiente distância profissional, para mantermos o equilíbrio emocional e não nos esgotarmos no empenho imediato. Mas também é necessário, ao mesmo tempo, viver com dedicação e entusiasmo o trabalho que estamos envolvidos. Para isso, precisamos perguntar continuamente a nós mesmos para que e por que educamos e buscar com afinco uma resposta que nos ajude a manter nosso compromisso com a educação (MARCHESI, 2008, p.125 e 126).

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Conscientes do objetivo que se quer alcançar, preparados para assim proceder

com segurança e colher os resultados do que “plantamos”. Relacionar-se de forma

consciente de onde quer chegar e como. Saber ser e estar profissional da educação.

A ação educadora não é simplesmente uma atividade técnica, que pode repetir uma e outra vez, praticamente sem se refletir, nem uma ação desprovida de comunicação e de contato social. Exige, pelo contrário, uma estreita e confiada relação pessoal entre o professor e os alunos, a qual não pode desenvolver de forma satisfatória sem a consciência por parte dos docentes dos objetivos que se pretende alcançar (MARCHESI, 2008, p.127).

O trabalho educativo exige envolvimento pessoal, pois possui uma

dimensão afetiva, na qual a empatia, a sensibilidade e o cuidado com os sujeitos são

os elementos constitutivos. Daí a importância das relações e do vínculo afetivo. Por

isso a implicação pessoal no trabalho se torna relevante, sendo foco de atenção da

prática realizada.

Amar o que se faz encher-se dessa verdade e caminhar por uma trilha mais

alegre, segura, confiante e encorajadora, tomando as rédeas da educação nas

mãos. Mãos suaves e dóceis com o projeto de ensinar e aprender, onde o coração

também atende, pois somos humanos, profissionais, mas, humanos. Lidamos com

vidas, vidas em que deixamos a nossas marcas, então que sejam conscientes

competentes e responsáveis.

Essas reflexões nos levam a novamente perguntarmos qual é a razão de tantos professores conseguirem manter o bom ânimo e a dedicação contínua, apesar do desgaste que esse esforço pessoal significa. E a razão principal, do meu ponto de vista, não está tanto nas gratificações de todo tipo que podem ser obtidas no ensino - quem já não se sentiu satisfeito pelo esforço de um aluno, por suas palavras agradecidas depois de passados os anos, pela constatação de seus progressos -, mas na intuição às vezes mediada e consciente, de que ensinar os outros é uma tarefa que vale a pena. Tarefa que estabelece uma ligação com o que há de mais nobre no ser humano e situam-nos, os professores, no lugar adequado para promover o bem-estar das novas gerações. De alguma maneira, essa intuição desvela (...) o caráter moral da profissão docente e a necessidade de descobrir seu valor e seu sentido para exercê-la com rigor e vivenciá-la com satisfação (MARCHESI, 2008, p.128).

Colaborando com o sentido da profissão, o rigor que ela enseja e vivenciá-la

com satisfação requer profissionais que aprendam a investigar e a trabalhar em

equipe, colaborando com os colegas, sempre em discussão com suas opiniões,

modos de agir, pensar. Numa cultura de colaboração, reunindo-se para fazer

análises conjuntas das situações vivenciadas, as estratégias que deram bons ou mal

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resultado, adequações, teorias, modelos e práticas que sirvam de apoio a sua

prática e a todo o processo educativo que a escola está inserida.

O viés do trabalho conjunto e comum a seus integrantes, é uma vertente

facilitadora de enfrentamento dos problemas complexos a que se defronta no dia a

dia da escola. A comunicação ativa, que partilha a informação, colabora com um

ambiente de tolerância com a experimentação e com os erros a que estamos

sujeitos e que faz parte do processo de avanço, propiciando então uma interação em

que todos podem colher os resultados de um ambiente e de uma prática mais

satisfatória.

Contribuir com essa interação e atender as exigências da atualidade, passa

pela atenção da formação inicial e a permanente atualização dos profissionais, como

prescrição do mundo, onde as transformações sociais, culturais, econômicas,

políticas e de trabalho são constantes. Cabe também nos envolvermos com o

enfoque político da educação principalmente, dada à incerteza que acompanha o

exercício da profissão.

O trabalho profissional exerce-se fundamentado numa ampla base de conhecimentos teóricos que, também foram construídos tendo em consideração diversos resultados de experiências e práticas. “A teoria é um meio para pensar de outra forma, é uma plataforma para hipóteses não convencionais e para provocar crítica” (Ball, 1995:266). Ë uma via para fomentar uma profissionalidade crítica dado que contribui para abrir espaços de reflexão colocando em questão as práticas que se vem desenvolvendo, assim como para a criação e a inovação com outras novas. A importância da teoria, em educação, radica na sua potencialidade pra explorar novas vias, para incorporar novas visões com as quais se repensa a validade do que se vem fazendo (SANTOMÉ, 2006, p.53).

Profissionais reflexivos têm que converter sua atividade em práticas

reflexivas, geradoras de novas possibilidades teóricas, que forcem a estar sempre

alertas com o que advém da sua ação prática. Complementando com Santomé,

(2006, p.53), “quando determinados docentes declaram que as teorias não sevem

para nada, apenas chamam a atenção para os grandes déficits da sua formação”.

Como profissionais devemos estar abertos à crítica, sem ficar zangados ou

na defensiva, considerando o erro como o caminho dos acertos, compreendendo as

limitações, percebendo as inseguranças e medos que nos paralisa ou nos deixa

conformados com uma prática que não nos satisfaz. Mas mobilizados pelo orgulho,

egoísmo do nosso próprio proceder, perdemos grandes possibilidades de avanço

profissional e pessoal.

É bom sermos humildes o bastante para recebermos a correção, tendo

assim uma atitude de sabedoria, porém confiantes o suficiente para não permitirmos

que as opiniões dos outros nos controlem, mas nos apóie ao repensar.

Abrir-se para novas portas, novos olhares, novas descobertas, construindo caminhos mais sólidos. Como escreve a autora Joyce Mayer (2011, p.228) “Quando ficar desapontado, você poderá decidir começar de novo!”.

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Todos esses pontos passam pela formação contínua do profissional da educação e resultam na satisfação dos mesmos no exercício de seu trabalho. Ressaltando a confiança e autoestima como o núcleo básico da identidade profissional, num longo processo de experiências vividas, de encontros com os outros e de reflexão sobre a própria prática. O bem-estar dos profissionais da educação depende fortemente do seu equilíbrio emocional, pois há implicação pessoal na realização do trabalho, razão pela qual se deve estar atento ao seu cuidado.

Se o trabalho dos professores está repleto de emoções e se elas desempenham um papel determinante na satisfação profissional dos docentes, é necessário preocupar-se com seu bem-estar emocional. Não é, portanto, uma responsabilidade acidental ou passageira, nem uma idéia dos psicólogos ou de pessoas que são sensíveis à dimensão afetiva da existência. É uma necessidade proveniente do próprio sentido da atividade docente e da constatação de que, em grande medida, a força da educação reside no encontro, na comunicação, na cumplicidade, nos projetos compartilhados, na sensibilidade, nos objetivos alcançados e na preocupação com os outros. É difícil vivenciar esses vínculos e emoções – experiências que levam à ação, mas que são, ao mesmo tempo, resultado da própria atividade profissional – sem que simultaneamente o professor perceba a si mesmo satisfeito, vivo e, apesar dos inúmeros vendavais emocionais aos que está sujeito, em um razoável equilíbrio emocional. O bem-estar emocional é uma condição necessária para a boa prática educativa. É preciso sentir-se bem para educar bem, ainda que sem esquecer que o bem-estar emocional deve vir acompanhado do saber e da responsabilidade moral, para que a atividade docente atinja sua maturidade (MARCHESI, 2008, p.121).

Como ainda esclarece Marchesi (2004), apud Marchesi (2008, p.122)

“Nesse âmbito, a responsabilidade deve ser compartilhada pelas administrações

educacionais e pelos próprios docentes”. As administrações devem conscientizar-se

de que o desenvolvimento profissional e a qualidade do ensino e da educação como

um todo, dependem em grande medida, de que seus profissionais se sintam

compreendidos, valorizados e apoiados, favorecendo o desenvolvimento

profissional.

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REFERÊNCIAS

ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2ª edição, 1998.

ESTEVE, J.M. O mal-estar docente: a sala-de-aula e a saúde dos professores;

tradução Durley de Carvalho Cavicchia - Bauru, SP: EUSC, 3a edição, 1999. FERREIRA, Naura S.C. Gestão Educacional e Organização do Trabalho Pedagógico. Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2009.

LIBÂNEO, José C. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências

educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 10ª edição, 2007. (Coleção Questões da Nossa Época) LIBÂNEO, José C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: MF

Livros, 5ª edição, 2008. LÜCK, Heloísa. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 4ª edição, 2009. MARCHESI, Álvaro. O bem-estar dos professores: competência, emoções e

valores; tradução Naila Tosca de Freitas – Porto Alegre: Artmed, 2008. MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim, mas como?; tradução Vanise Pereira Dresch

Porto Alegre: Artes Médicas, 7ª edição, 1998. PENIN, Sonia; MARTÍNEZ, Miguel. Profissão docente: pontos e contrapontos; org. Valéria Amorim Arantes – São Paulo: Summus, 2009. (Coleção pontos e contrapontos) PATTO, M. H. S. Exercícios de indignação: escritos de educação e psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1a edição, 2005. SANTOMÉ, Jurjo T. A Desmotivação dos Professores; tradução João M.

Paraskeva/Isabel Vasconcelos – Portugal: Edições Pedago, 2006. VASCONCELLOS, C. S. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como

sujeito de Transformação. São Paulo: Libertad, 12a edição, 2007.