SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO … · que contribuíram para o desenvolvimento da cidade,...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL Fundação Universidade Estadual de Maringá – UEM MATERIAL DIDÁTICO – PEDAGÓGICO ÁREA: HISTÓRIA PROFESSORA PDE TITULADA: CACILDA ESTEVÃO DOS REIS ORIENTADORA: Profa. Dra. SOLANGE RAMOS DE ANDRADE MARINGÁ/2008

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Fundação Universidade Estadual de Maringá – UEM

MATERIAL DIDÁTICO – PEDAGÓGICO

ÁREA: HISTÓRIAPROFESSORA PDE TITULADA: CACILDA ESTEVÃO DOS REISORIENTADORA: Profa. Dra. SOLANGE RAMOS DE ANDRADE

MARINGÁ/2008

A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA E O ENSINO DE HISTÓRIA

Peças e utensílios expostos no Museu municipal - São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007.

Fonte: Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Cacilda Estevão dos Reis Solange Ramos de Andrade

Considerando a proposta das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio que visa a formação do aluno pesquisador, percebe-se que os alunos deste nível de ensino encontram dificuldades no desenvolvimento de pesquisas e estudos ainda que em livros didáticos. Quando realizam atividades desta natureza, reproduzem através de cópias o que está nos livros, ou seja, trazem as informações sem as contribuições que caracterizam o processo de aprendizagem e quando se pede aos mesmos que façam comentários sobre o tema da pesquisa, não têm argumentos

O trabalho com fontes documentais possibilitará a aprendizagem e o desenvolvimento da pesquisa, pois os alunos terão contato com outras fontes de estudo que não o livro didático, de modo a contribuir para o processo da aprendizagem uma vez que o trato com as fontes documentais requer a atenção e empenho dos mesmos.

A proposta de estudo a partir de fontes documentais tais como: os discursos políticos proferidos no Parlamento Brasileiro durante o Segundo Império, as leis de imigração e colonização, os relatos de viagens, as memórias, as fotografias, os discursos políticos proferidos na Câmara de Vereadores, Câmara dos Deputados (Estadual e Federal) e no Senado, proporciona aos alunos o conhecimento de outras fontes para estudar a história, além do livro didático.

Outras fontes documentais, entre elas a fotografia podem ser utilizadas em sala de aula como um dos meios de estudar a história na perspectiva de contribuir para o desenvolvimento do processo de aprendizagem e estimular a formação do aluno pesquisador no ensino de História para os alunos do Ensino Médio.

Peças e utensílios expostos no Museu municipal - São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007. Fonte: Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira.

A fotografia se constitui uma fonte de estudo que já faz parte da vida dos alunos e despertará seu interesse em estudar uma dada realidade quer do presente, quer do passado, seja com um recorte amplo visando o estudo de um tema da História Geral ou do Brasil, seja um recorte para a História Regional ou Local, como a cidade onde vivem os alunos.

Peças e utensílios expostos no Museu municipal - São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007.

Fonte: Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Essa possibilidade de estudo proporciona o envolvimento dos mesmos e o professor poderia elaborar uma proposta de trabalho interdisciplinar ou não sobre a história do município, envolvendo alunos e comunidade, onde a coleta de fotos e documentos poderia ser feita junto à comunidade, de modo que sua história fosse contada por aqueles que contribuíram para o desenvolvimento da cidade, descobrindo e redescobrindo a trajetória das famílias que se estabeleceram ali, num trabalho de resgate da memória e identidade da cidade e o fortalecimento do sentimento de pertença àquela comunidade.

Peças e utensílios expostos no Museu municipal - São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007.

Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira.

Boris Kossoy salienta que a fotografia “além de ser um resíduo do passado, é também um testemunho visual onde se pode detectar – tal como ocorre nos documentos escritos - não apenas os elementos constitutivos que lhe deram origem do ponto de vista material” (1989:99).

Este autor segue afirmando ainda que a imagem fotográfica traz uma série de dados reveladores de uma determinada situação que pode não ser tratada nos documentos escrit os, quer dizer, “uma série de dados poderão ser reveladores, posto que jamais mencionados pela escrita da história” (1989:99).

Nessa direção a fotografia constitui-se uma fonte histórica que utilizada em sala de aula permite o olhar de outro agente (o aluno), sobre um determinado contexto histórico e assim desenvolver a capacidade de análise desse agente sobre questões sociais, culturais, políticas e econômicas.

Artesanato Guarani e Kaingang - Museu Municipal - São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007.

Fonte: Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Nesse sentido cabe observar o que diz Josep Fontana: “As nossas recordações não

são restos descoloridos de uma imagem fotográfica que reproduz fielmente a realidade, mas sim uma construção que fazemos a partir de fragmentos de conhecimentos que já eram, na sua origem, interpretações da realidade e que, ao voltarmos a reuni-los, reinterpretamo-lo à luz de novos pontos de vista” (1998:267).

Monumento ao Tropeiro - Cidade da Lapa – Paraná – Novembro de 2007

Fonte: Arquivo particular das professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Desde a sua invenção no século XIX à sua ampla utilização em todas as classes sociais a fotografia propicia muitas interpretações, o que faz com que muitos autores a tratem com certas observações, levantando uma série de questionamentos, pois há que se considerar que a fotografia foi produzida sob o olhar e intencionalidade de quem registrou aquele momento.

Nesse sentido, cabe ressaltar que a fotografia, assim como outras fontes documentais, é portadora de um discurso e não pode ser vista como reveladora da verdade ou como algo transparente. O que torna pertinente a observação de que ao analisar um documento, o historiador deve estar atento para o modo através do qual se apresenta o conteúdo histórico a ser examinado, (Cardoso e Vainfas, 1997, p. 377).

Centro Histórico da Lapa – Paraná – Novembro de 2007 Fonte: Arquivo professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Observadas as afirmações acerca do cuidado em utilizar a fotografia como um dos recursos metodológicos para o desenvolvimento da aprendizagem e propiciar o interesse

pela pesquisa ressaltamos como afirma Jacques Le Goff que a fotografia é uma das manifestações importantes ou significativas da memória coletiva. Para ele, a “fotografia, revoluciona a memória: multiplica-a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingidas, permitindo, assim, guardar a memória do tempo e da evolução cronológica” (2003: p.460).

Tomamos a fotografia como um documento histórico passível de ser estudado em sala de aula por alunos do Ensino Médio, considerando a especificidade deste documento sem perder de vista que “o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder” (Le Goff, 1996:545).

São Jerônimo, santo padroeiro do município de São Jerônimo da Serra - Outubro de 2007.

Fonte: Arquivo professoras PDE Tituladas Cacilda E. dos Reis e Suely M. Peres de Oliveira

Nessa perspectiva, ao propor aos alunos um trabalho de pesquisa sobre a história do município onde vivem estaria possibilitando aos mesmos analisar não somente as fotografias, mas outros documentos relevantes para o trabalho, sem perder de vista o contexto em que foram produzidas essas fontes e os interesses aos quais estavam submetidas, os detalhes, as intenções, sua utilização, bem como entender que enquanto indivíduos desse tempo, não podemos esquecer que nosso olhar por mais que se pretenda imparcial está arraigado de valores com os quais pensamos e agimos em nossa sociedade e que portanto difere do olhar e valores daqueles que estão à nossa volta ou sob nossa responsabilidade de ensino.

CONCLUSÃO

A possibilidade do uso da fotografia enquanto fonte de estudos, bem como a utilização de outras fontes documentais em sala de aula enriqueceria o processo de ensino e aprendizagem e desenvolveria o interesse pela pesquisa e pela história local que nos permite ampla exploração das temáticas em estudo e considerando ainda acontecimentos

importantes como os duzentos anos da abertura dos portos ou o centenário da imigração japonesa, o professor dispõe de ricas fontes documentais pertencentes às famílias imigrantes não somente japonesas como de outras famílias estrangeiras.

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