SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - Operação de … · 2014-04-22 · (ALBERT EINSTEIN) 5...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

Vânora Marla Buim de Andrade

RELEITURA... O MUNDO MÁGICO, CAMINHOS

DIVERSOS: CONTOS CLÁSSICOS E CONTEMPORÂNEOS.

CAMPO MOURÃO 2011

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

Vânora Marla Buim de Andrade

RELEITURA... O MUNDO MÁGICO, CAMINHOS DIVERSOS: CONTOS CLÁSSICOS E

CONTEMPORÂNEOS

Produção Didático-Pedagógica em forma de Unidade didática apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão – UNESPAR e à Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED) para o Programa de Formação Continuada intitulado Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação da Profª Me. Wilma dos Santos Coqueiro.

CAMPO MOURÃO 2011

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: Vânora Marla Buim de Andrade

Área PDE: Língua Portuguesa

NRE: Campo Mourão

Professora Orientadora: Wilma dos Santos Coqueiro

IES Veiculada: UNESPAR

Escola de Implementação do projeto: Colégio Estadual Luzia Garcia Villar –

EFM

Município: Barbosa Ferraz

Público objeto da Intervenção: Alunos do 6º ano

Tipo de Produção Didático - Pedagógica: Unidade didática

TEMA ESTUDO DO PROFESSOR PDE

Ensino e aprendizagem de leitura.

TÍTULO

Releitura... O mundo mágico, caminhos diversos: contos clássicos e

contemporâneos

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“A palavra progresso não terá qualquer

sentido enquanto houver crianças infelizes”

(ALBERT EINSTEIN)

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SUMÁRIO

Apresentação...................................................................................................06

1 Introdução.....................................................................................................07

2 Objetivos........................................................................................................08

3 Proposta Metodológica Recepcional..........................................................08

4 Contos de Fadas – Charles Perrault...........................................................09

5 Contos Contemporâneos – Maria Colassanti............................................11

6 Psicanálise dos Contos de Fadas – Bruno Bettheim...............................12

7 Valores Educacionais dos Contos..............................................................14

8 DCEs – Leitura/Oralidade/Escrita................................................................16

9 Clássicos.......................................................................................................16

9.1 A Bela Adormecida............................................................................17

9.2 A Gata Borralheira.............................................................................24

9.3 O Chapeuzinho Vermelho.................................................................29

9.4 Contemporâneos...............................................................................31

10 Sugestões de Atividades...........................................................................34

10.1 Atividade 1.......................................................................................34

10.2 Atividade 1.......................................................................................35

10.3 Atividade 1.......................................................................................36

10.4 Atividade 1.......................................................................................37

10.5 Atividade 1.......................................................................................38

10.6 Atividade 1.......................................................................................39

10.7 Atividade 1.......................................................................................40

10.8 Atividade 1.......................................................................................42

10.9 Atividade 1.......................................................................................44

11 Avaliação.....................................................................................................45

12 Anotações....................................................................................................45

Referências Bibliográficas..............................................................................46

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Apresentação

O trabalho da professora Vânora Marla Buim de Andrade, voltado para

infância, com a temática dos contos de fadas clássicos e contemporâneos,

assume um valor inestimável em tempos, diríamos, pós-modernos em que a

criança, não raras vezes, perde o direito à infância, vestindo-se, comportando-

se e lendo “literatura para adultos”.

A relevância do trabalho com os contos de fadas na contemporaneidade

surge do fato de, como bem assinala Bruno Bettelheim, as crianças poderem

vivenciar seus próprios conflitos existenciais, por meio de narrativas simbólicas,

num processo constante de amadurecimento e interação com o mundo.

Dessa forma, tanto os contos clássicos de Charles Perrault quanto os

contemporâneos de Marina Colasanti, apresentam essa intrínseca relação

entre a realidade e a fantasia, mostrando à criança modos de atuar no mundo.

São histórias perenes e universais que fazem reviver em cada um de nós a

magia da infância apesar dos percalços da existência e da inexorabilidade da

morte.

Professora Wilma dos Santos Coqueiro (UNESPAR)

Doutoranda em Estudos Literários (UEM)

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1 Introdução

Se me permitem o material didático por mim a ser apresentado narra

uma pequena história que ter como objetivo cativar e provocar sorriso nas

crianças e reflexões nos adultos. A alegria, a vivacidade, o sorriso, são a saúde

da alma das pessoas.

Tudo isso é o começo da sabedoria, os contos lidos, relidos, analisados,

tem uma existência real, o que os tornam imortais, foram consagrados através

dos tempos e em vários países.

As obras aqui trabalhadas estão entre a razão e o coração, as palavras

tem objetivo duplo: ser breves e conquistar o espírito. Transmitidas de geração

em geração as histórias presentes nos contos de fadas são verdadeiras fontes

de sabedoria que narram à trajetória de vida dos seres humanos.

Nas principais histórias, os protagonistas são crianças ou adolescentes,

que dão ênfase aos problemas ligados à infância ou à juventude. Nos contos,

como no mundo real, as personagens passam por provações; são profundos e

empolgantes.

Os contos de fadas tratam de pessoas simples, de tipos humanos

caracterizados pelos mesmos anseios de qualquer homem ou mulher

modernos; os ideais que transmitem são os ideais a que a maioria das pessoas

aspira. Eles são muito parecidos com os sonhos, e como os sonhos refletem a

vida e a personalidade da pessoa que sonha; e tanto o sonho como os contos

usam a linguagem da imaginação inconsciente e tratam de questões da alma.

E acredito que os contos de fadas clássicos ou contemporâneos irão

deleitar as crianças com magia, suspense, drama e emoção. Mexer com a

inocência e desenvolver o encanto a um mundo que os esqueceu. O fim

equivale ao princípio iluminado.

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2 Objetivos

O material, seguindo o que propõe o método recepcional tem claros os

objetivos de: efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a novos

textos e leituras questionar as leituras realizadas no que diz respeito a seu

próprio horizonte cultural e transformar os próprios horizontes de expectativas,

bem como o do professor, da escola, da família e da comunidade.

E complementando o método:

Solucionar problemas de adaptação à sua realidade;

Manusear e identificar livros e contos conhecidos, suscitando o

prazer e envolvendo emocionalmente as crianças;

Manifestar-se sobre as suas impressões diante de situações

narrativas nas atividades de recontação e releituras de histórias e

contos;

Provocar debate coletivo, comparando às suas vivências com as

experiências dos contos.

3 Proposta Metodológica Recepcional

O Método Recepcional se inicia numa aproximação entre o leitor e o

texto. Enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o

distante no tempo e no espaço. O processo de recepção textual implica na

participação ativa e criativa do leitor. Diferentes tipos de textos e leitores

interagem de modos variados.

Segundo as autoras Bordini&Aguiar (1988, p. 87), o processo de

recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto. O leitor possui um

horizonte que o limita, mas que pode transformar-se continuamente, abrindo-

se. Esse horizonte é o mundo de sua vida, com tudo que povoa: vivências

pessoais, culturais, sócio-históricas, filosóficas, religiosas, estéticas, jurídicas,

ideológicas, que orientam ou explicam tais vivências. Munidos dessas

referências, o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquadro de

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seu horizonte de valores. Por sua vez, o texto pode confirmar ou perturbar esse

horizonte.

É por isso que o papel do texto, no processo receptivo, é fundamental.

Sua construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa

atuar e seja estimulada a fazê-lo.

O diálogo com a obra depende da identificação ou do distanciamento do

leitor com a mesma. O reconhecimento dos procedimentos textuais que atraem

o leitor se dá por uma tomada de consciência entre a própria visão de mundo e

a da obra. O que requer uma formação do leitor.

Ele precisa conhecer o gênero, começa então a capacidade de análise,

complementa-se com a comparação, que abrange suposições extra literárias

que a conduzem à compreensão e valorização.

O processo de recepção se completa quando o leitor, compara e inclui a

obra ou não como componente de seu horizonte de expectativas, mantendo-a

como ela era ou preparando-a para novas leituras ou novas experiências de

rupturas.

Quanto mais o aluno lê, maior a possibilidade de modificar seus

horizontes. Este método insiste em qualificar leitores interando-os ativamente

com outros textos e com a sociedade.

4 Contos de Fadas – Charles Perrault

Charles Perrault, foi um escritor genial, mexeu e mexe com o imaginário

das crianças, nasceu em Paris em 1628 e faleceu em 1703. Sua família era de

posses e ele foi um estudante brilhante. Formou-se em Direito, trabalhou como

Advogado, escreveu obras para adultos, foi membro da Academia Francesa de

Letras.

Mas foi o seu trabalho com crianças que o tornou tão famoso, conhecido

e admirado por tanto tempo. Seus contos são universais, lidos e adorados por

inúmeras pessoas.

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Contemporâneo de La Fontaine. Sua principal obra “Contos da Mamãe

Gansa” – 1697 inaugurou o gênero literário “Contos de Fadas”, divulgando

histórias tradicionais e outras que integravam o folclore europeu usando uma

linguagem simples.

Perrault foi chamado na época de “Homero burguês”, pela propriedade

com que retratou a sociedade da sua época, a partir da metamorfose de certos

símbolos dos contos populares.

Foi imortalizado, pois sua literatura caiu no gosto infantil, tornou-se

popular e tinha a aprovação dos adultos. Seu trabalho consistiu em transformar

os monstros e animais – aos quais os camponeses atribuíam poderes mágicos

– em fadas

Utilizou o confronto dualista entre bons e maus, belos e feios, fracos e

fortes, como exercício de crítica à corte. Não raramente, os personagens que

representam as classes discriminadas se tornam superiores à nobreza pela

inteligência.

Suas histórias tinham uma redação de cunho simples, eram adaptações

que traziam ao final, conceitos morais em forma de verso. Perrault demonstra

em sua obra, desde o início, na chamada literatura infantil; um teor pedagógico

associado ao lúdico.

Ao pensarmos em contos de fadas lembramos com carinho das

narrativas mágicas que ouvíamos quando éramos crianças e que, por

conseguinte tornaram nossa infância mais feliz.

Esses contos continuam sendo editados, lidos e relidos por crianças do

mundo todo e de diversas gerações.

Os contos que falam de princesas, bruxas e fadas trazem histórias que

habitam o imaginário infantil, Charles Perrault recuperou da tradição oral alguns

desses contos eternos com mais de trezentos anos:

A Bela Adormecida (A Bela Adormecida no Bosque*)

Chapeuzinho Vermelho (O Chapeuzinho Vermelho*)

Cinderela (A Gata Borralheira ou A Sapatilha de Vidro*)

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*Nome original da história por Charles Perrault

“Tudo é belo naquilo que amamos. Tudo o que amamos tem espírito”. (Charles

Perrault)

5 Contos Contemporâneos – Marina Colassanti

Marina Colassanti Sant’Anna nasceu em 26 de setembro de 1937, em

Asmara, Eritréia, Etiópia. Passou sua infância na África, depois foi para a Itália,

onde viveu por 11 anos. Chegou ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial, em

1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro. Possui nacionalidade

brasileira e italiana.

Os livros trouxeram à sua vida aventura e beleza. Na infância lia os

clássicos e fábulas. Formou-se pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de

Janeiro, dedicou-se durante alguns anos à gravura depois ao jornalismo. Foi

repórter,redatora, editora e atuou em publicidade, em televisão e realizou

traduções.

Lançou seu primeiro livro em 1968, “Eu sozinha”, dedicou-se a literatura

infantil, juvenil e adulta; desde então publicou mais de 30 títulos. Aborda em

suas obras temas que tratam da condição da mulher e dos problemas sociais

brasileiros. Marina ilustra também alguns de seus livros.

Sobre seus contos de fadas afirma que eles vêm de muito longe e de

muito perto. Muito longe, por que tratam dos sentimentos antigos dos seres

humanos: o amor, o medo, o ódio, a inveja, o desejo, o sonho que o ser

humano tem de abrir as asas da alma e voar. Muito perto porque o sentimento

que permite alcançar essas lonjuras é despertado por uma atitude, um gesto,

uma imagem.

Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis.

Em suas obras a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação

feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com extrema

sensibilidade.

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“Mas amor e sofrimento são vida, e negando-se a eles você se nega a si

mesmo”. (Marina Colasanti)

6 Psicanálise dos Contos de Fadas – Bruno Bettlheim

Bruno Bettlheim nasceu na Áustria m 1903 e faleceu nos Estados

Unidos em 1990. Reconhecido em todo o mundo como um dos maiores

psicólogos infantis, conhecido pelo seu louvável trabalho com crianças autistas.

Discípulo de Freud, graduado na Universidade de Viena foi para os

Estados Unidos em 1939, depois de viver um ano nos campos de concentração

de Dachau e Buchenwald.

Foi um dos especialistas que mais estudou a influência dos contos de

fadas, para ele a grande diferença entre este tipo de contos e os modernos, é

que os primeiros, não remetem apenas ao encantamento, mas tratam também

dos problemas existenciais, o que permanece inalterável com o passar dos

anos.

Em seu livro “A Psicanálise dos Contos de fadas”, Bruno Bettlheim faz

uma radiografia das mais famosas histórias infantis, arrancando-lhes seu

significado. Mostra as razões, as motivações psicológicas, os significados

emocionais, a função divertimento, a linguagem simbólica do inconsciente que

estão subjacentes nos contos infantis.

A psicanálise permitiu a Bruno o acesso ao significado mais profundo

das histórias. E para que uma história prenda a atenção da criança deve

entretê-la e despertar sua curiosidade; para enriquecer sua vida, deve

estimular sua imaginação, desenvolver seu intelecto e tornar claras suas

emoções; harmonizar ansiedades e aspirações; reconhecer as dificuldades e

sugerir soluções para possíveis problemas que a perturbem.

Através dos contos de fadas pode-se aprender mais sobre os problemas

mais íntimos dos seres humanos e sobre as soluções corretas para suas

dificuldades.

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Aplicando o modelo psicanalítico da personalidade humana, os contos

de fadas transmitem mensagens importantes à mente, e que pó conseguinte

ajudam a dominar os problemas psicológicos do crescimento, superando

decepções narcisistas, dilemas edipianos, rivalidades fraternas, tornando-se

capaz de abandonar dependências infantis; adquirindo um sentimento de

individualidade e de auto estima e um sentido de obrigação moral. A criança

precisa entender o que está se passando dentro de seu eu consciente para

que possa também enfrentar o que se passa em seu inconsciente.

A mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma

variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte

intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida e se

defronta com as provações inesperadas e por muitas vezes injustas, dominará

todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa.

Enquanto diverte, o conto de fadas a esclarece sobre si próprio e

favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Os contos de fadas, como

todas as verdadeiras obras de arte, possuem uma riqueza e profundidade

multifárias que transcendem de longe aquilo que mesmo o mais cuidadoso dos

exames pode extrair deles.

Em sua obra, “A psicanálise dos contos de fadas”, (2010, p. 67), Bruno

Bettlheim afirma que tanto os mitos como as histórias de fadas respondem a

questões eternas: Como é realmente o mundo? Como viver minha vida nele?

Como posso de fato ser eu mesmo?

Os contos de fadas deixam para a própria fantasia da criança a decisão

de se e como aplicar a si própria aquilo que a história revela sobre a vida e a

natureza humanas.

“O Mundo só está vivo para a pessoa que desperta para ele. Só o

relacionamento com os outros nos desperta do perigo de deixar nossa vida

adormecida”. (Bruno Bettelheim)

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7 Valores Educacionais dos Contos

Os valores são universais e regem o comportamento dos seres

humanos, são essenciais para nossa vivência, convivência e evolução. Os

contos são úteis na transmissão dos valores, pois dão razão de ser ao

comportamento humano.

Os contos aliviam as pressões exercidas por problemas do dia a dia;

favorecem a recuperação, incutindo coragem na criança, mostrando que é

sempre possível encontrar saídas; os contos ensinam e muito; o “final feliz”,

que tantos consideram “irreal” e “falso” é a grande contribuição que os contos

fornecem à criança, encorajando-a a lutar por valores amadurecidos a uma

crença positiva na vida.

Segundo Vania Dohme (2010, p. 20), a criança percebe que existe

momento para tudo: brincar, se divertir e também para prestar atenção. Isto

contribuirá para o aumento de uma atitude crítica em relação ao seu

comportamento e aos demais, ou seja, levará a uma disciplina consciente e

assumida pela própria criança.

Para a autora, os valores podem e devem ser trabalhados com as

crianças através dos contos de fadas e dos contos contemporâneos:

Autoestima: confiar na capacidade própria e ter coragem para

enfrentar possíveis obstáculos;

Confiabilidade: ser verdadeiro e capaz de conquistar a

confiança dos demais;

Caráter: construir referências através dos conteúdos que

encerram lições de vida;

Comunicação: expressar ideias no momento certo e de maneira

correta;

Cooperação: atuar e conviver com o outro de maneira produtiva

e cooperativa;

Criatividade: quanto mais se imagina mais se estimula a

criatividade;

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Coragem: é necessária a firmeza e a perseverança diante de

novos desafios e conquistas;

Convivência: respeitar pessoas, estilos, valores e crenças

diferentes facilitam a nossa vida;

Disciplina: a partir do momento em que se trabalha algo que se

gosta, com carinho e de maneira especial a participação e a

atenção aumentam;

Escolha: decisões; valorizar e analisar a opinião de cada um é

essencial, prós e contras;

Honestidade: estabelecer limites, ser coerente e verdadeiro;

Iniciativa: ser espontâneo, surpreender, ter vontade própria e ser

respeitado;

Igualdade: respeitar e reconhecer os direito do próximo e não ser

preconceituoso;

Justiça: capacidade de dar a cada um, o que lhe pertence;

Lealdade: ser fiel; incapaz de trair ou enganar;

Maturidade: saber diferenciar querer e precisar; e diferenciar

disciplina e responsabilidade;

Misericórdia: aceitar, compreender a limitação dos outros; ter

compaixão;

Paciência: ser consciente que cada um tem seu “ritmo” seu

“tempo” e saber entender; ter resistência e tranquilidade;

Respeito: considerar e respeitar a opinião e a atitude de outras

pessoas;

Responsabilidade: compromisso com as obrigações e com o

comportamento;

Solicitude: estar disposto a ser voluntário ao próximo;

Tolerância: aceitar e respeitar as opiniões e atitudes dos demais;

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8 DCEs – Leitura/Oralidade/Escrita

As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, tem um novo

posicionamento em relação a pratica de ensino; tanto na discussão crítica

dessa prática como no envolvimento do professor na construção da mesma.

Para Silva (2005, p. 24),

[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o

leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar

sabendo quais são suas obrigações e também pode defender

os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros

direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e

feliz.

As DCEs resultaram numa proposta reflexiva e produtiva, considerando

as práticas linguísticas que o aluno traz; incluindo seus saberes ao uso da

norma padrão.

Cabe a Escola possibilitar diferentes práticas sociais, utilizando a leitura,

a oralidade e a escrita; inserindo de forma ativa as vozes de seus alunos no

contexto em que tiverem inseridos.

No que diz respeito ao ensino-aprendizagem, quanto maior contato com

a linguagem, nas diferentes esferas sociais mais possibilidades se tem de

entender o texto.

Devemos lembrar que a criança quando chega à Escola já domina a

oralidade. O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de

diferentes gêneros, quando escreve ele diz de si e de sua leitura de mundo. A

leitura é individual, através dela o aluno demonstra suas experiências e seus

conhecimentos prévios. Confronta-se com o saber, com sua experiência de

vida.

9 Clássicos

Perrault criou um mundo fantástico, o dos contos de fadas. Até hoje

viajamos pelo mundo da fantasia, A Bela Adormecida, A Sapatilha de Vidro, O

Chapeuzinho Vermelho, entre tantos outros clássicos que nos remetem à

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infância. Sua leitura agrada o espírito, transcende gerações, é uma viagem

passageira, instrutiva e divertida; nos leva a amar e admirar as narrativas que

tanto nos encantam.

9.1 A Bela Adormecida

Era uma vez um Rei e uma Rainha que estavam tão aborrecidos por não

terem filhos, tão aborrecidos que nem se pode dizer. Tinham ido a todas as

estações de águas do mundo; votos, peregrinações. devoçõezinhas miúdas,

tudo foi posto em prática, e nada resolvia. Finalmente, entretanto. a Rainha

ficou grávida, e deu a luz uma filha: foi feito um belíssimo Batizado: deram

como Madrinhas a Princesinha todas as Fadas que foi possível encontrar no

País (encontraram sete), a fim de que cada uma delas lhe fizesse um dom,

como era costume das Fadas naquele tempo, de modo que a Princesinha teve

todas as perfeições imagináveis. Depois das cerimônias do Batismo, todo o

cortejo voltou para o Palácio do Rei, onde havia um grande festim para as

Fadas. Diante de cada uma delas foram postos talheres magníficos, com um

estojo de ouro macro, onde havia uma colher, um garfo e uma faca de fino

ouro, incrustado de diamantes e de rubis. Enquanto cada um ia se colocando

em seu lugar a mesa, eis que entra uma velha Fada que não tinha sido

convidada porque fazia mais de cinquenta anos que ela não saia de uma Torre

e se pensava que tinha morrido, ou tinha sido encantada. O Rei mandou que

lhe dessem talheres, mas não houve meio de lhe dar um estojo de ouro macro,

como as outras, porque só tinham mandado fazer sete para as sete Fadas. A

velha acreditou que a estavam desprezando e resmungou algumas ameaças

entre os dentes. Uma das Fadas jovens que se encontrava perto dela ouviu-a

falar e, achando que ela podia fazer mal um dom nocivo à Princesinha, foi, logo

que as pessoas saíram da mesa esconder-se atrás da tapeçaria, a fim de falar

por último e de reparar, tanto quanto possível, o mal que a velha teria feito.

Entrementes as Fadas começaram a dizer seus dons à Princesa. A mais jovem

lhe deu como, dom que ela seria a pessoa mais bela do mundo; a que veio

depois, que ela teria o espírito como de um Anjo; a terceira, que teria graça

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admirável em tudo que fizesse: a quarta, que ela dançaria perfeitamente bem;

a quinta, que ela cantaria como um Rouxinol e a sexta, que ela tocaria todos os

instrumentos com a maior perfeição. Chegando a vez da Fada velha, ela disse,

balançando a cabeça mais ainda por despeito do que por velhice, que a

Princesa iria furar o dedo com um fuso e morreria disso. Esse terrível dom fez

estremecer todos os presentes e não houve quem não chorasse. Nesse

momento, a Fada jovem saiu de trás da tapeçaria e disse bem alto estas

palavras: "Ficai tranquilos, Rei e Rainha, vossa filha não morrerá disso; e

verdade que não tenho poder bastante para desfazer inteiramente o que a mais

velha fez. A Princesa vai furar a mão com um fuso; mas em vez de morrer, ela

apenas cairá num sono profundo que durará cem anos, ao fim dos quais o filho

de um Rei virá acordá-la". O Rei, para tentar evitar a desgraça anunciada pela

velha, mandou publicar um Edito pelo qual ficava proibido a todas as pessoas

de fiar com fuso ou ter fusos em casa sob pena de morte. Ao cabo de uns

quinze ou dezesseis anos, como o Rei e a Rainha tivessem ido a uma de suas

casas de descanso, aconteceu que um dia, correndo pelo Castelo e subindo de

quarto em quarto, a Princesa chegou até o alto de uma torre num quartinho de

despejo, onde uma boa velhinha estava sozinha fiando na roca. Essa mulher

não tinha ouvido falar das proibições que o Rei havia feito de fiar com fuso.

"Que está fazendo aí, boa senhora: disse a Princesa. "Estou fiando, minha bela

menina", respondeu-lhe a velha, que não a conhecia. - "Ah! Como é bonito",

retomou a Princesa, "como é que a senhora faz? Dê aqui, quero ver se consigo

fazer tão bem. Mal ela pegou o fuso que, como era muito viva, um pouco

estouvada mesmo, e aliás o Decreto das Fadas assim ordenava, ela furou a

mão e caiu desmaiada. A boa velhinha, em apuros, grita pedindo socorro:

chega gente de todos os lados, jogam água no rosto da Princesa, desapertam-

lhe as roupas, batem-lhe nas mãos, esfregam-lhe as têmporas com vinagre da

Rainha da Hungria; mas nada a fazia voltar a si. Então o Rei, que subira com o

ruído, lembrou-se da predição das Fadas e, achando que era preciso que isso

acontecesse, já que as Fadas haviam dito, mandou colocar a Princesa no mais

belo aposento do Palácio, sobre um leito de ricos bordados de ouro e prata.

Parecia um Anjo, de tão bonita que ela estava. Pois o desmaio não lhe havia

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tirado as cores vivas da pele: as maçãs do rosto estavam encarnadas, e os

lábios como coral; apenas estava com os olhos fechados, nas ouvia-se a sua

respiração suave, o que mostrava que não estava morra. O Rei ordenou que a

deixassem dormir sossegada, até que chegasse a sua hora de despertar. A

boa Fada que lhe havia salvado a vida condenando-a a dormir cem anos.

Estava no Reino de Mataquim há doze mil léguas da quando aconteceu o

acidente com a Princesa; mas foi avisada num instante por um Anãozinho, que

calçava botas de sete léguas (eram botas com as quais podia dar passos de

sete léguas). A Fada partiu imediatamente e foi vista ao cabo de uma hora

numa carruagem toda de fogo, puxada por dragões. O Rei foi dar-lhe a mão

para ela descer da carruagem. Ela aprovou tudo que ele havia feito; mas como

era muito previdente, pensou que, quando a Princesa, viesse a acordar, ficaria

muito atrapalhada estando sozinha naquele velho Castelo. Ela fez o seguinte:

tocou com sua varinha tudo que estava no Castelo (menos o Rei e a Rainha),

Governantas, Damas de Honra. Camareiras, fidalgos, Oficiais, Mordomos,

Cozinheiros, Auxiliares de cozinha. Mensageiros, Guardas, Suíços, Pajens,

Lacaios; tocou, também todos os cavalos que estavam nas Estrebarias, os

Palafreneiros, os grandes mastins no pátio e a pequena Pufe, cachorrinha da

Princesa, que estava perto dela na cama. Logo que os tocou, adormeceram

todos, para só acordar junto com sua Senhora, a fim de estarem prontos para

servi-la quando precisasse; mesmo os espetos que no fogo, cheios de

perdizes e de faisões adormeceram, e o fogo também. Tudo isso se fez num

momento; as Fadas não eram demoradas em seu trabalho. Então o Rei e a

Rainha, depois de terem beijado a filha querida sem que a acordasse, saíram

do castelo e mandaram publicar proibições a quem quer que fosse de se

aproximar do local. Tais proibições não eram necessárias, pois um quarto de

hora depois, cresceu em torno do parque tão grande quantidade de árvores

grandes e pequenas, de urzes e espinheiros entrelaçados, uns aos outros, que

nem bicho nem homem poderia passar por ali. De sorte que não se viam sendo

as altas Torres do Castelo, mesmo assim só de bem longe. Não se duvidou de

que, também nisso, a Fada tivesse feito um trabalho de sua profissão, a fim de

que a Princesa, enquanto dormisse, não tivesse nada a temer dos Curiosos.

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Passados cem anos o Filho do Rei, que então reinava, e que era de outra

família, que não a da Princesa adormecida, tendo ido caçar por aqueles

lados, perguntou o que eram ocultas Torres que ele via por cima da grande

mata muito espessa; cada qual respondeu segundo tinha ouvido falar. Uns

diziam que era velho castelo onde apareciam Assombrações, outros, que

todos Feiticeiros da região faziam ali seu sabá. A opinião mais comum era

de que um Bicho Papão Morava lá,.e para lá levava todas as crianças que

conseguia roubar, para comê-las a vontade, e sem que se pudesse segui-lo,

sendo ele o único capaz de abrir caminho através do matagal. O Príncipe não

sabia mais o que pensar quando um velho Camponês tomou a palavra e

disse: "Meu Príncipe, há mais de cinquenta anos, ouvi meu pai dizer que

havia naquele Castelo uma Princesa, a mais bela do mundo; que ela devia

ficar dormindo ali por cem anos, e que seria despertada pelo filho de um Rei,

a quem estava reservada". O jovem Príncipe, diante do que ouviu, sentiu-se

todo afogueado. Acreditou sem pestanejar que ele poria fim a tão bela

aventura; e, conduzido pelo amor e pela glória, resolveu ir ver no local o que

de fato havia. Mal ele avançou mato adentro, todas aquelas grandes árvores,

urzes e espinheiros se apartaram por si mesmos para deixá-lo passar: ele

caminhou na direção do Castelo que avistava no fim de uma grande avenida

na qual entrou, e o que o deixou um pouco surpreso foi que nenhum de seus

homens pôde segui-lo, porque as árvores se juntaram de novo logo que ele

passou. Nem por isso deixou de prosseguir em seu caminho: um Príncipe

jovem e enamorado e sempre valente. Entrou num grande pátio frontal onde

tudo que viu era de molde a gelá-lo de temor: era um silêncio pavoroso, a

imagem da morte apresentava-se por toda parte, e só havia corpos

estendidos de homens e de animais que pareciam mortos. Reconheceu,

entretanto, pelo nariz espinhoso e pela face vermelha dos Suíços que

estavam apenas dormindo, e suas taças, que ainda continham umas gotas de

vinho, mostravam que tinham adormecido bebendo. Atravessa um grande

salão pavimentado de mármore, sobe a escada na sala dos Guardas, que

estavam dispostos em fileiras, de carabina ao ombro e roncando forte.

Atravessa vários quartos cheios de Fidalgos e de Damas, todos dormindo,

21

uns de pé, outros sentados; entra num quarto todo dourado e vê numa cama,

cujas cortinas estavam abertas de todos os lados, o mais belo espetáculo que

jamais tinha visto: uma Princesa que parecia ter quinze ou dezesseis anos, e

cujo brilho resplandecia com algo de luminoso e de divino. Aproximou-se a

tremer e admirado, e pôs-se de joelhos ao lado dela. Então, como chegará o

momento do fim do encantamento, a Princesa acordou; e olhando-o com olhos

mais ternos do que uma primeira vista parecia permitir: "Sois vós, meu

Príncipe?" disse ela: _”Vós me fizestes esperar muito". O Príncipe, encantado

com essas palavras, e mais ainda pela maneira como foram ditas, não sabia

como testemunhar-lhe sua alegria e felicidade; garantiu-lhe que a amava mais

do que a si mesmo. Essas falas foram mal-arranjadas, por isso mesmo

agradaram mais: pouca eloquência, muito amor. Ele estava mais embaraçado

do que ela, o que não deve surpreender; ela havia tido tempo de sonhar o que

iria dizer porque, parece (embora a História não diga nada a esse respeito), a

boa Fada, durante tão, longo sono, lhe havia proporcionado o prazer dos

sonhos agradáveis. final havia quarto horas que estavam conversando e ainda

não tinham dito nem a metade das coisas que tinham para se dizer.

Entretanto todo o Castelo havia despertado juntamente com a princesa; cada

qual pensava em cumprir a sua tarefa, e como nem todos estavam

apaixonados, estavam morrendo de fome; a Dama de Honra, apressada como,

as outras, perdeu a paciência e disse bem alto a Princesa que a refeição

estava servida. O Príncipe ajudou a Princesa a levantar-se; ela estava toda

vestida e magnificamente; mas ele evitou dizer-lhe que ela estava vestida a

moda da vovó e ainda usava uma gola alta do tempo antigo; nem por isso ela

estava menos bela. Passaram para um Salão de espelhos e ali jantaram,

servidos por Oficiais da Princesa; os Violinos e os Oboés tocaram velhas árias,

mas excelentes, embora não fossem tocadas havia mais de cem anos; e após

o jantar, sem perder tempo, o Capelão-mor casou-os na Capela do Castelo, e a

Dama de Honra abriu para eles as coronas do leito nupcial: dormiram pouco, a

Princesa não precisava muito disso, e o Príncipe deixou-a logo cedo, para

voltar à Cidade, onde seu Pai devia estar preocupado com ele. O Príncipe lhe

disse que, estando a caçar, perdera-se na floresta, e que tinha dormido na

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cabana de um Carvoeiro, que lhe havia dado para comer pão preto e queijo. O

Rei, seu pai, que era homem simples, acreditou, mas sua Mãe não ficou muito

persuadida e, vendo que quase todo dia ele ia caçar, e que sempre tinha um

motivo a mão para se desculpar, quando ele tinha já dormido fora umas duas

ou três noites, não teve mais dúvida de que ele tinha arranjado algum

namorico; pois ele viveu com a Princesa mais de dois anos inteiros e teve com

ela dois filhos, o primeiro dos filhos, que foi uma menina, se chamou Aurora, e

o segundo filho, que se chamou Dia, porque parecia ainda mais belo do que a

irmã. A Rainha disse várias vezes ao filho, para fazê-lo explicar, que era

preciso procurar ficar contente na vida, mas ele nunca quis confiar-lhe o seu

segredo; ele a temia, embora a amasse, pois ela era de raça Ogra, e o Rei só

a tinha desposado por causa da abundância de seus bens; dizia-se até, a boca

pequena na Corte, que ela possuía as tendências dos Ogros e que, ao ver

passar crianças tinha a maior dificuldade do mundo para se conter e não se

atirar pobre elas: assim, o Príncipe nunca quis dizer-lhe nada. Mas quando o

Rei morreu, o que aconteceu ao cabo de dois anos, e ele se viu senhor,

declarou publicamente o seu Casamento e foi, em grande cerimônia, buscar a

Rainha, sua mulher. no Castelo dela. Fizeram-lhe uma recepção magnífica na

velha Capital. Onde entrou ladeada de seus dois filhos. Algum tempo depois o

Rei foi guerrear contra o Imperador Cantalabute, seu vizinho. Deixou a

regência do Reino a Rainha sua mãe e lhe recomendou muitíssimo sua mulher

e seus filhos; ele devia ficar na guerra todo o verão e, logo que partiu, a Rainha

Mãe enviou a sua Nora e as crianças a uma casa de campo no bosque, para

poder melhor saciar o seu horrível desejo. Depois de alguns dias foi para lá e

disse uma tarde a seu Mordomo: "Amanhã quero comer a pequena Aurora no

jantar". - "Ah! Senhora", disse o Mordomo. - "Eu quero!" disse a Rainha (e o

disse num tom de Ogra que quer comer carne fresca), e quero comê-la ao

Molho Robert'. Esse pobre homem, vendo que não devia brincar com uma

Ogra, tomou do facão e subiu para o quarto da pequena Aurora; esta tinha na

época uns quatro anos e veio, saltitante e risonha, atirar-se ao seu pescoço

pedindo bombons. Ele se pôs a chorar, o facão lhe caiu das mãos, e ele foi ao

terreiro cortar o pescoço de um cordeirinho, e fez um molho tão bom que a

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Senhora garantiu nunca ter comido nada tão bom. Ao mesmo tempo levara

embora a pequena Aurora e a entregara a sua mulher para que a escondesse

num alojamento que tinha no fundo do terreiro. Oito dias depois a Rainha má

disse ao seu Mordomo: "Quero comer no jantar o pequeno Dia". Ele não

replicou, resolvido a enganá-la como da outra vez; foi buscar o pequeno o Dia

e encontrou-o com um floretezinho na mão e com ele estava lutando com um

enorme Macaco; só tinha, no entanto, três anos. Levou-o para sua mulher e

escondeu-o junto com a pequena Aurora, e serviu, no lugar do pequeno Dia,

um cabritinho bem tenro, que a Ogra achou admiravelmente bom.

Até então tudo se passara muito bem; mas, uma tarde, aquela malvada Rainha

disse ao mordomo: "Quero comer a Rainha com o mesmo molho das crianças".

Foi então que o coitado do Mordomo perdeu a esperança de poder continuar

enganando-a. A jovem Rainha tinha vinte anos completos, sem contar os cem

anos em que tinha dormido: a pele dela estava um pouco dura, ainda que

branca e bonita; e como iria encontrar entre a Criação um animal tão duro

assim? Para salvar a própria vida, tomou a resolução de cortar o pescoço da

Rainha, e subiu ao quarto dela, com a intenção de fazer isso de uma só vez;

fazendo esforço para ficar furioso, entrou no quarto da jovem Rainha de punhal

na mão. Não quis, entretanto, surpreendê-la, e disse-lhe, com muito respeito, a

ordem que havia recebido da Rainha-Mãe. "Fazei o que e de vosso dever",

disse ela, apresentando-lhe o pescoço; "eu irei rever os meus filhos, os meus

pobres filhos que amei tanto"; porque ela acreditava que eles estavam mortos

desde quando os haviam levado sem nada lhe dizer: "Não, não, minha

Senhora", respondeu o Mordomo enternecido, não morrereis e não deixareis de

ir rever os vossos filhos queridos, mas será na minha casa, onde os escondi, e

enganarei de novo a Rainha, dando-lhe para comer uma corça em vosso

lugar". Logo levou-a ao seu quarto e, deixando-a abraçar os filhos e chorar com

eles, foi arranjar Lima corça, que a Rainha comeu no jantar, com o mesmo

apetite como se fosse a jovem Rainha. Sentia-se bem contente de sua

crueldade e preparava-se para dizer ao Rei, quando ele voltasse, que os lobos

ferozes tinham devorado a Rainha sua mulher e seus dois filhos.

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Uma tarde, enquanto andava como de costume pelos pátios e quintais do

Castelo para farejar alguma carne fresca, ela ouviu numa sala baixa o pequeno

Dia a chorar, porque a Rainha sua mãe queria dar-lhe umas chicotadas, por ele

ter feito alguma má-criação, e ouviu também a voz da pequena Aurora que

pedia perdão pelo irmão. A Ogra, reconheceu a voz da Rainha e de seus filhos

e, furiosa por ter sido enganada, ordenou logo na manhã seguinte, com uma

voz horrenda que fazia tremer toda a gente, que se trouxesse para o meio do

pátio uma grande cuba, que ela mandou encher de sapos, víboras, cobras e

serpentes, para dentro dela lançar a Rainha e seus dois filhos, o Mordomo, a

mulher e a criada dele. Tinha dado ordem para que fossem trazidos com as

mãos amarradas atrás das costas. Eles estavam ali, e os carrascos se

preparavam para lançá-los na cuba quando o Rei, que não era esperado tão

cedo, entrou pátio adentro em seu cavalo; ele tinha viajado com cavalos de

posta e perguntou espantado o que queria dizer aquele horrível espetáculo;

ninguém estava com coragem de dizer-lhe, quando a Ogra, enraivecida por ver

o que via, lançou-se ela própria, de cabeça dentro da cuba, e foi devorada de

imediato pelos bichos horríveis que ela mandara colocar lá. O rei não deixou de

ficar aborrecido com isso: era a mãe dele; mas logo se consolou com sua

mulher e filhos.

9.2 A Gata Borralheira

Era uma vez um Gentil homem que desposou em segundas núpcias

uma mulher, a mais altiva e orgulhosa que se tenha jamais visto. Tinha ela

duas filhas com seu temperamento e que se pareciam com ela em tudo. O

Marido, por sua parte, tinha uma filha jovem, mas de uma doçura e de uma

bondade sem par; nisso ela puxara à mãe, que era a melhor pessoa do mundo.

Mal se tinham celebrado as núpcias, a Madrasta deu largas ao seu mau humor;

não podia suportar as boas qualidades daquela moça que tornavam as suas

filhas ainda mais odiáveis. Encarregou-a das ocupações mais vis da Casa: era

ela quem limpava a louça e as escadas, que esfregava o quarto da Senhora e

das Senhoritas suas filhas; dormia no lugar mais alto da casa, no sótão, num

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miserável colchão de palha, enquanto suas irmãs estavam em quartos

assoalhados, onde tinha leitos da última moda e espelhos onde se viam dos

pés a cabeça. A pobre moça sofria tudo com paciência, e não ousava queixar-

se ao pai que iria ralhar com ela, porque a sua mulher o governava

inteiramente. Quando terminava o trabalho, ia colocar-se no canto da lareira e

sentar-se nas cinzas do borralho, o que fazia com que, de costume,

chamassem-na em casa de Buncinzela. A caçula, que não era tão mal-

educada como a primogênita, chamava-a de Gata Borralheira ou Cinderela,

que lembra cinza; entretanto Gata Borralheira, com suas roupas horrorosas,

era mesmo assim cem vezes mais bonita que as irmãs, ainda que estas se

vestissem magnificamente.

Aconteceu que o filho do Rei deu um baile e convidou todas as pessoas

de boa estirpe: nossas duas Senhoritas foram também convidadas, pois faziam

bela figura na Região. Lá estão elas muito felizes e ocupadíssimas em escolher

as roupas e os penteados que lhes ficassem melhor; novo sacrifício para a

Gata Borralheira, pois era ela quem passava as roupas das irmãs e engomava

os seus punhos e plissados. Só se falava da maneira como iriam se vestir.

"Eu", diz a mais velha, "porei o meu vestido de veludo vermelho e minhas

rendas da Inglaterra". "Eu", diz a caçula, "só terei a minha saia simples; mas,

em compensação, porei o meu manto de flores de ouro e meu barrete de

diamantes, que não é dos mais comuns." Mandaram chamar a boa chapeleira

para arrumar os chapéus de duas camadas e comprar pintas de tafetá preto na

melhor Artesã: chamaram a Gata Borralheira para pedir-lhe a opinião, pois

tinha muito bom gosto. Borralheira as aconselhou o melhor que pode e até se

ofereceu para penteá-las, o que elas aceitaram. Enquanto eram penteados,

elas diziam: "Cinderela, você gostaria de ir ao baile?" - "Ora, Senhoritas, vocês

estão zombando de mim. Aquele não é o lugar que me convém." "Tem razão,

iriam dar muita risada se vissem a Buncinzela chegando no Baile." Qualquer

outra que não Cinderela lhes teria feito penteados bem tortos; mas ela era

boazinha e penteou-as perfeitamente bem. Elas ficaram uns dois dias sem

comer de tanta alegria que sentiam. Foram arrebentados mais de doze cordões

de tanto apertá-los para tornar a cintura mais fina. e ficaram o tempo todo na

26

frente do espelho. Finalmente chegou o feliz dia, saíram. E Cinderela as

acompanhou com o olhar enquanto pode: quando não as viu mais, começou a

chorar. Sua Madrinha, ao vê-Ia toda em prantos, perguntou o que tinha. "Bem

que eu gostaria... bem que eu gostaria..." Ela chorava tanto que não conseguia

terminar a frase. A Madrinha, que era uma Fada, disse-lhe: "Você gostaria de ir

ao baile, não é?" - "Ah, sim!" disse Cinderela suspirando. - "Pois bem, você vai

ser uma boa menina?” disse a Madrinha, "eu farei com que você vá ao baile".

Levou-a ao seu quarto lhe disse: "Vá até a horta e me traga uma abóbora”.

Cinderela foi logo colher a mais bonita que pode encontrar e a trouxe para a

Madrinha, não entendendo como é que aquela abóbora poderia fazê-la ir ao

baile. A Madrinha tirou o miolo da abóbora e, deixando apenas a casca, bateu

nela com sua varinha, e a abóbora foi imediatamente transformada em uma

bela carruagem toda dourada. Em seguida, foi olhar na ratoeira e ali encontrou

seis ratinhos todos vivos; pediu a Cinderela que levantasse um pouco a tampa

da ratoeira, e a cada ratinho que saia ela dava uma pancada com sua varinha e

o ratinho imediatamente transformado num belo cavalo; o que fez um belo trio

de seis cavalos, com uma bela cor cinza-camundongo tordilho. Como estava

ela com alguma dificuldade para arranjar algo de que pudesse fazer um

Cocheiro: 'Eu vou ver", disse Cinderela, "se não caiu algum ratão na ratoeira,

ele faremos - Cocheiro". - "Você tem razão", disse a Madrinha: vá ver Cinderela

trouxe-lhe a ratoeira com três ratos grandes dentro. A Fada escolheu um deles

por causa da senhora barba que tinha e, tocando-o, transformou-o num

Cocheiro corpulento, com um dos mais belos bigodes que jamais se viu. Em

seguida ela disse: "Vá até a horta; você vai achar seis lagartos atrás do

regador; traga-os para mim". Logo que os trouxe, a Madrinha os transformou

em seis Lacaios, que logo subiram atrás da carruagem com suas librés

engalanadas, ali ficaram, como se nunca tivessem feito outra coisa a vida toda.

A Fada disse então a Cinderela: "Pois bem, você já tem tudo de que precisa

para ir ao Baile; está contente agora?" -"Estou sim. Mas eu vou ao baile assim,

com estas roupas feias?" A Madrinha só a tocou com sua varinha e na mesma

hora umas roupas foram transformadas em roupas de tecido de ouro e de prata

incrustado de pedrarias; deu-lhe, em seguida um par de sapatilhas de vidro, as

27

mais bonitas do mundo. Uma vez assim bem arrumada, subiu na carruagem;

mas a Madrinha recomendou-lhe acima de tudo que não passasse da meia

noite, avisando-a de que, se ficasse no Baile um instante a mais, sua

carruagem voltaria a ser abóbora. Os cavalos ratinhos, os lacaios lagartos, e

que as suas roupas velhas retomariam a sua primeira forma. Ela prometeu a

Madrinha que não deixaria de sair do Baile antes de meia-noite. Então ela

parte, não cabendo em si de alegria. O filho do Rei, a quem foram avisar que

estava chegando uma grande Princesa que ninguém conhecia, correu a

recebê-la; deu-lhe a mão para ela descer da carruagem e levou-a ao saldo

onde estavam os convidados. Fez-se então um grande silêncio; todos pararam

de dançar e os violinistas não tocaram mais, tão atentas estavam a contemplar

as grandes belezas daquela desconhecida. Ouviu-se um ruído confuso: "Oh!

como é bela!" O próprio Rei, embora já idoso, não parava de olhar para ela e

de dizer baixinho à Rainha que fazia muito tempo que não via uma mulher tão

bela e amável. Todas as Damas estavam atentas a considerar o seu penteado

e as suas roupas para mandar fazer iguais no dia seguinte, desde que

encontrassem tecidos tão bonitos e artesãos tão habilidosos. O Filho do Rei

colocou-a no lugar de honra e em seguida tirou-a para dançar. Ela dançou com

tanta graça que foi admirada ainda mais. Foi servida uma belíssima ceia, mas o

jovem Príncipe nada comeu, de tão ocupado que estava em contemplá-la. Ela

foi sentar-se ao lado das irmãs e lhes fez mil gentilezas: repartiu com elas as

laranjas e os limões que o Príncipe lhe havia dado, o que as espantou muito,

pois não a reconheciam. Enquanto conversavam assim, Cinderela ouviu tocar

onze horas e três quartos. Imediatamente fez uma grande reverência aos

presentes e saiu o mais depressa que pode. Logo que chegou, procurou pela

sua Madrinha e, depois de tê-la agradecido, disse-lhe que gostaria muito de ir

de novo ao, baile no dia seguinte, pois o filho do Rei lhe havia pedido.

Enquanto estava ocupada em contar a Madrinha tudo que ocorrera no Baile, a

duas irmãs bateram a porta; Cinderela foi abrir. "Como vocês demoraram a

voltar!" disse-lhes ela bocejando, esfregando os olhos e espreguiçando como

se tivesse acabado de acordar; no entanto, ela não tinha tido vontade de dormir

desde que as havia deixado. "Se você tivesse ido ao Baile", disse uma das

28

irmãs, "teria gostado”: Chegou lá uma Princesa belíssima, a mais bela que se

possa jamais ter visto; ela nos cobriu de amabilidades, deu-nos laranjas e

limões". Cinderela não cabia em si de alegria: perguntou-lhes o nome dessa

Princesa; mas elas responderam que ninguém a conhecia. que o Filho do Rei

estava muito sentido por isso, e que daria tudo neste mundo para saber quem

ela era. Cinderela sorriu e lhes disse: "Então ela era muito bonita mesmo? Meu

Deus, como vocês tem sorte! Será que eu não poderia vê-la? Pobre de mim!

Senhorita Javota, empreste-me o seu Vestido amarelo que você usa todos os

dias." - "Realmente", disse Senhorita Javota, "só faltava essa! Emprestar seu

vestido a essa Buncinzela.. feiosa: era preciso que eu estivesse

completamente maluca". Cinderela já esperava essa recusa, e gostou da

resposta, pois iria ficar bastante embaraçada se a irmã lhe emprestasse o

vestido. No dia seguinte as duas irmãs foram ao Baile e Cinderela também, mas

ainda mais bem vestida do que na primeira vez. O Filho do Rei ficou o tempo

todo perto dela e não parou de lhe dizer palavras doces; a Mocinha estava se

divertindo muito e se esqueceu do que a Madrinha lhe havia recomendado, de

maneira que ouviu tocar a primeira pancada da meia-noite quando achava que

ainda eram onze horas: levantou-se e fugiu rapidamente quando faria uma

gazela. O Príncipe foi atrás dela, mas não conseguiu pegá-la; ela deixou cair

uma de suas sapatilhas de vidro, que o Príncipe recolheu cuidadosamente.

Cinderela chegou a casa esbaforida, sem carruagem, sem lacaio, e com suas

roupas feias, nada lhe restando da magnificência, a não ser uma das sapatilhas,

o par daquela que deixara cair. Perguntaram aos Guardas do Palácio se não

tinham visto sair uma Princesa; disseram que não tinham visto sair ninguém, a

não ser uma moça mal vestida que mais parecia uma Camponesa do que uma

Fidalga. Quando suas duas irmãs chegaram do Baile, Cinderela perguntou se

elas tinham se divertido bastante, e se a Dama tinha estado lá; responderam-lhe

que sim, mas que ela havia fugido quando deu meia-noite, tão as pressas que

deixara cair uma de suas sapatilhas de vidro, a mais linda do mundo; que o Filho

do Rei a havia recolhido e que, durante o resto do Baile, não tinha feito outra

coisa sendo olhar para ela, e que certamente ele estava muito apaixonado pela

bela moça a quem pertencia a sapatilha. Elas disseram a verdade, pois poucos

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dias depois, o filho do Rei mandou publicar ao som das trombetas que se casaria

com a moça cujo pé se ajustasse perfeitamente a sapatilha. Começaram a

experimentá-la nas Princesas, depois nas Duquesas, e em toda a Corte, mas

inutilmente. Levaram-na a casa das duas irmãs, que fizeram o possível para que

seus pés entrassem na sapatilha, mas não conseguiram nenhum resultado.

Cinderela, que estava olhando a cena e reconheceu a sapatilha, disse rindo:

"Deixe-me ver se ela não serve em mim!" As irmãs puseram-se a rir e a zombar

dela. O nobre Cavalheiro que fazia experimentar a sapatilha, olhando

atentamente para Cinderela e achando-a muito bonita, disse que era justo e que

tinha ordem de experimentar a sapatilha em todas as moças. Mandou Cinderela

sentar-se e, aproximando a sapatilha de seu pezinho, viu que entrava sem

dificuldade e que se ajustava como cera. O espanto das duas irmãs foi enorme,

mas maior ainda foi quando Cinderela tirou do bolso a outra sapatilha e a calçou

no outro pé. Nesse momento chegou a Madrinha que, com um toque de sua

varinha, transformou as roupas de Cinderela e as fez ficar ainda mais lindas do

que as outras.

Então as duas irmãs a reconheceram como sendo a bela moça que tinham

visto no Baile. Lançaram-se aos seus pés para pedir-lhe perdão de todas os

maus-tratos por que a tinham feito passar. Cinderela as ergueu e lhes disse,

abraçando-as, que lhes perdoava de coração e que lhes pedia que a amassem

muito e sempre. Levaram-na para junto do Príncipe, arrumada como estava;

ele achou que ela estava mais linda do que nunca e, poucos dias depois,

casou-se com ela. Cinderela, que era tão boa quanto bela, trouxe suas irmãs

para morar no Palácio e fez com que se casassem, no mesmo dia, com doiss

grandes Senhores da Corte.

9.3 O Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma menina de Aldeia, a mais bonita que se poderia ver; sua

mãe era louca por ela, e a avó, mais louca ainda. Essa boa senhora mandou

fazer para ela um chapeuzinho vermelho que lhe ficava tão bem que todos a

chamavam de Chapeuzinho Vermelho.

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Um dia, sua mãe, tendo acendido o forno para assar pães, e tendo feito

também umas broas, disse-lhe: "Vai ver como esta a saúde da tua avó, pois me

disseram que ela andava adoentada: leva para ela uma broa e este potinho de

manteiga. Chapeuzinho vermelho pôs-se imediatamente a caminho para ir a

casa da vovó, que morava numa outra Aldeia. Ao passar por um bosque,

encontrou o compadre Lobo, que ficou com uma enorme vontade de comê-la;

mas não quis arriscar, por causa de alguns Lenhadores que estavam na

Floresta. Perguntou aonde ela ia; a pobre criança, que não sabia que era

perigoso parar para ficar escutando um Lobo, disse-lhe: "Vou visitar a minha

vovó, e levar-lhe uma broa com um potinho de manteiga que a minha Mãe

mandou para ela". "Ela mora muito longe?" perguntou o Lobo. "Ah! Sim",

disse o Chapeuzinho Vermelho, "e depois daquele moinho que você está

vendo lá longe, longe, na primeira casa da Aldeia". - "Pois bem", disse o

Lobo, "eu também quero ir visitá-la; eu vou por este caminho aqui, e tu, por

aquele ali, e a gente vai ver quem chega primeiro". O Lobo saiu correndo com

toda a força pelo caminho que era mais curto, e a menina foi pelo mais

comprido, brincando de colher flores e avelãs, correndo atrás das borboletas

e fazendo brinquedos com as florezinhas que encontrava. O Lobo não

demorou a chegar na casa da Vovó; bateu a porta: Toc, toc. - "Quem é?" - "É

a sua netinha, Chapeuzinho Vermelho (disse o Lobo imitando a voz da

menina); estou lhe trazendo uma broa e um potinho de manteiga que a

Mamãe mandou para a senhora". A boa Vovó, que estava acamada porque

se sentia um pouco mal, gritou-lhe: "Puxa o barbante que o trinco se abre". O

Lobo puxou o barbante e a porta se abriu. Ele se atirou sobre a boa senhora e

devorou-a num abrir e fechar de olhos, pois fazia três dias que não comia. Em

seguida fechou a porta, foi deitar-se na cama da Vovó e ficou esperando

Chapeuzinho Vermelho que, algum tempo depois, veio bater a porta. Toc, toc.

"Quem é?" O Chapeuzinho Vermelho, que ouviu a voz grossa do Lobo, ficou

com medo de início, mas julgando que a Vovó estivesse resfriada, respondeu:

"E sua neta, o Chapeuzinho Vermelho, que está lhe trazendo uma broa e um

potinho de manteiga que a Mamãe mandou para a senhora". O Lobo gritou,

afinando um pouco a voz: "Puxa o barbante que o trinco se abre". O

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Chapeuzinho Vermelho puxou o barbante e a porta se abriu. O Lobo, vendo-a

entrar, disse, escondendo-se na cama, debaixo das cobertas: "Põe a broa e o

potinho de manteiga em cima da arca e vem deitar-te comigo". Chapeuzinho

Vermelho despe-se e vai por-se na cama, onde ficou muito espantada com o

jeito como a Vovó era sem roupa. Então lhe disse: "Vovozinha, como a

senhora tem braços grandes!" - "É para to abraçar melhor, minha netinha." - -

Vovozinha como a senhora tem pernas grandes!" - "É para correr melhor mi-

nha netinha." - "Vovozinha, como a senhora tem orelhas grandes" – “É para

melhor te escutar, minha netinha. "- "Vovozinha, como a senhora tem olhos

grandes!." _ "É para te ver melhor, minha netinha." _ "Vovozinha, como

senhora tem dentes grandes!" - "É para te comer". E dizendo isso, o Lobo

mau se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho e a comeu.

9.4 Contemporâneos

A contemporaneidade dos contos de Marina Colasanti transforma-os

em atuais e através deles transmite valores, com um olhar moderno e repleto

de sentimentos. Nestes contos, o leitor é levado a sentir, dialogar e

apreender.

No conto “A Primeira Só”, a princesa filha única do rei, não tinha com

quem brincar. Chorava, não queria brinquedos, queria uma amiga. O Rei

acabou co a tristeza e encomendou um espelho e o colocou no pé da cama.

No outro dia, ela acordou e saltaram as duas. Tudo que uma fazia a outra

fazia.

Brincaram e o Rei providenciou brinquedos novos. E com uma bola

uma jogou para a outra e estilhaçou a amizade. Tristeza. Lágrima. Agora

tinha muitas amigas. Quebrava e mais amigas fazia. Cada vez menores. Até

ficar pó brilhante. Só, chorava.

Saiu do castelo. Correu. Na beira de um lago o reflexo da amiga.

Queria outras. Então atirou-se na água com os braços abertos para estilhaçar

como o espelho, e as amigas afundaram com ela.

32

Para ler o conto na íntegra acesse:

http://contosdetodomundo.blogspot.com/2005/06/primeira-s.html

No conto “Entre a Espada e a Rosa”, Marina mostra o drama da

princesa que é prometida por seu pai, um Rei a um chefe velho e feio. A

princesa chorou e implorou ao seu corpo uma solução. Dormiu e acordou com

algo estranho, uma barba. O Rei a expulsou, a princesa fez a trouxa com

suas joias e seu vestido vermelho.

Nenhuma aldeia a acatara, achavam que ela era um homem. Tornou-

se então um guerreiro. Chegou a um castelo governado por um jovem rei,

tornou-se conselheiro. Mas estava apaixonada, usava um elmo, mas o jovem

rei queria ver o rosto escondido.

Até que um dia implorou ao seu corpo que a libertasse e desse uma

solução. Ao acordar espantou se, no lugar da barba, rosas rodeavam o rosto.

As rosas murcharam e apareceu um delicado rosto de mulher. E no 5º dia a

princesa com seu vestido vermelho, cabelos soltos foi ao encontro do jovem

rei e o perfume de rosas se espalhou pelo castelo.

Para saber mais sobre este conto acesse:

http://nucleoatmosfera.blogspot.com/2009/07/entre-espada-e-rosa-conto-de-marina.html

E por último, no conto “Sete anos e mais Sete”, Marina faz uma

releitura do clássico “A Bela Adormecida”. O Rei tinha uma filha. Ela gostou

mais do príncipe do que do pai. O rei achou que o príncipe era pobre e não

terminou os estudos. Não era o marido ideal.

Chamou a fada madrinha e colocou a moça para dormir. Sete portas,

sete fossos, sete trepadeiras, sete guardas. O príncipe fez o mesmo, deitou-se

33

e começou a dormir. E passaram sete anos e mais sete. A princesa sonhou

com o príncipe e ele com ela.

Até que um dia os dois sonharam a hora de se casar e sonharam que

foram felizes para o resto da vida.

Para entender o final feliz deste conto acesse:

http://pt.scribd.com/doc/7177654/Marina-Colasanti-Uma-Ideia-Toda-Azul

34

10 SUGESTÕES DE ATIVIDADES

10.1 Atividade 1

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Faça um resumo sobre o conto “A Primeira Só” de Marina Colasanti.

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2) O que levou o Rei, no conto “Entre a Espada a Rosa” a expulsar sua

filha de casa? O quê aconteceu após este incidente? Comente?

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3) No conto “Sete anos e mais sete”, quais as razões que levaram o rei a

colocar a princesa para dormir? E qual a reação do príncipe?

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4) Desenhe como você imaginou o espelho que o Rei mandou construir

para a Primeira Só.

35

10.2 Atividade 2

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Depois de ler a história do chapeuzinho vermelho lembre-se quais

personagens fazem parte da história. Escreva o nome de cada personagem e o

que cada um fazia.

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2) Que palavras o autor usou para descrever como era:

a) O lobo

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b) O chapeuzinho vermelho

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c) A vovó

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3) Reproduza a conversa entre o lobo e a chapeuzinho quando ela o

encontrou no quarto da vovó.

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36

10.3 Atividade 3

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Lembre-se quais os personagens do conto da gata borralheira e escreva

os nomes nos balões, em seguida pinte os balões com os personagens que

você considera mais importante e escreva quais os motivos.

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2) Você conhece alguma música que a chapeuzinho vermelho cantava ao ir

visitar a vovozinha? Escreva-a.

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37

10.4 Atividade 4

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Escreva, olhando no desenho, o título e o início das histórias.

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10.5 Atividade 5

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Das 3 histórias de Charles Perrault, qual você mais gostou? Porque?

_______________________________________________________________

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2) Qual seu personagem preferido? E a qual conto de fadas ele(a)

pertence?

Personagem: ___________________________________________________

Conto de fada: __________________________________________________

3) Você vai reler os contos de fadas e vai descobrir de qual personagem

são estas falas.

― Que está fazendo aí, boa senhora?

_______________________________________________________________

― Ela mora muito longe?

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― Vá até a horta e me traga uma abóbora.

_______________________________________________________________

― Puxa o barbante que o trinco se abre.

_______________________________________________________________

― Deixe me ver se ela não serve em mim!

_______________________________________________________________

4) Escreva o nome dos personagens e objetos que aparecem desenhados:

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39

10.6 Atividade 6

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Comparação entres os 3 contos de fadas.

Diferenças e semelhanças Chapeuzinho

Vermelho

A Gata

Borralheira

A Bela

Adormecida

Personagens do conto:

Onde se passa o conto?

Com quem acontece?

O que acontece?

Como é o final do conto?

Que final você daria?

40

10.7 Atividade 7

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) A Bela Adormecida recebeu sete fadas madrinhas, cada uma revelou-lhe

um dom. Escreva os sete dons revelados.

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2) Havia uma fada velha que fora esquecida, e que se achou desprezada.

Qual foi o “dom” que ela ofereceu à princesa? E qual a reação das pessoas ao

ouvir a fada?

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3) Você acredita que como a fada velha, também existem pessoas más,

que querem o mal das pessoas? Por que elas fazem isto?

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4) O que fez a fada jovem para que a princesa não morresse?

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5) Como a Princesa caiu no sono profundo?

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6) Por quais motivos todos dormiram, menos o rei e a rainha?

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7) Descreva em poucas linhas, o encontro do Príncipe com a Bela

Adormecida.

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8) Como se chamaram os filhos da Bela Adormecida?

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9) Desenhe a parte da História que você mais gostou, em seguida pinte-a:

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10.8 Atividade 8

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:_____

1) Escreva o nome dos personagens do conto A Gata Borralheira:

_______________________________________________________________

2) Você acha correta a atitude da madrasta deixar somente Cinderela fazer

todo o serviço da casa. Comente.

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3) Na sua opinião por que Cinderela não reclamava para o pai como era

tratada pelas irmãs e pela madrasta? Explique.

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4) O que a fada madrinha proporcionou à Cinderela?

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5) Quem a fada madrinha transformou em:

Carruagem___________________ Cavalos ___________________

Cocheiros ___________________ Lacaios ___________________

6) Por qual motivo a cinderela tinha que deixar o baile antes da meia-noite?

Explique.

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7) Na saída do baile o que Cinderela deixou pra trás? Por quê?

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8) Após o baile, o que o príncipe tornou público? E o que ele buscava?

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9) Depois do baile, o que aconteceu com a Sapatilha de Vidro?

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10) Qual o final da história? Que outro final você daria?

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11) Desenhe a Carruagem e a Sapatilha de Cristal:

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10.9 Atividade 9

Aluno(a):_______________________________________________________

Data:___/___/___ Série:____

1) Os personagens a seguir também são bastante frequentes nos contos de

fadas. Em dupla, produza um texto expondo características que são comuns a esses

personagens.

2) Agora, escolha alguns personagens dos contos de fadas que você leu,

inclua outros que você inventou e crie seu conto de fadas. Ao produzir seu

texto, não se esqueça de contar:

O lugar em que a história ocorre;

Quem são os personagens que participam da história e quais suas

características;

Quem é o protagonista;

Qual é o conflito da história e como esse conflito se resolve.

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11 Avaliação

Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (2008, p. 81) é

imprescindível que a avaliação em Língua Portuguesa seja um processo de

aprendizagem contínuo e dê prioridade à qualidade e ao desempenho do aluno

ao longo do ano letivo.

A avaliação deve ser formativa, pois considera que os alunos possuem

ritmos e processos de aprendizagem diferentes, e por ser contínua e

diagnóstica, aponta dificuldades, possibilitando que a intervenção pedagógica

aconteça a todo tempo.

Será feita através da oferta pelo professor de diferentes leituras, para

que os alunos as problematizem; proporcionando aos mesmos experiências

para distinguir diferentes formas de organização dos contos de fadas clássicos

e contemporâneos, incitando-os a refletir e instaurar a mudança através de um

processo contínuo.

12 Anotações

Papel do Educador consciente;

Se deixar levar pelo caminho da fantasia e da imaginação;

Importância dos Contos de Fadas em nossas vidas;

Compreensão do significado da nossa existência;

A criança, à medida que se desenvolve deve aprender a se entender

melhor e a entender os outros;

Abandonar atitudes infantis e adquirir atitudes maduras e estabelecer

vínculos com os outros;

.

46

Referências Bibliográficas

AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor, alternativas metodológicas. 2ªed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. 21ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. CHINEN, Allan B. - E FORAM FELIZES PARA SEMPRE - Contos de fadas para adultos São Paulo: Cultrix, s.d. 1989 COLASANTI, Marina. Uma idéia toda azul. 8ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979. COLASANTI, Marina. Entre a espada e a rosa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1992. COLASANTI, M. Longe como o meu querer. 2 ed. São Paulo: Ática, 1997. COLASANTI, Marina - DOZE REIS E A MOÇA NO LABIRINTO DO VENTO. 12ª. Ed. São Paulo – Global Editora. 2006 COLASANTI, Marina. Do seu Coração Partido. 2ª ed. São Paulo: Global, 2010. Contos de Perrault. Introdução de P. J. Stahl. Trad. Regina Regis Junqueira. 2. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985. [Contos incompletos: apesar de a tradução ser boa, os textos estão sem a “Moral” com os quais Perrault encerrou as narrativas] DOHME, Vânia. Técnicas de Contar Histórias. Rio de Janeiro: Vozes, 2010. LAJOLO, M. O texto não é pretexto. In: AGUIAR, V. T. (org.) Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 8 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Português. Curitiba, 2008. PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985 PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Tradução de Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Paulus, 2005 PERRAULT, Charles. Contos e fábulas. Tradução e posfácio de Mário Laranjeira. São Paulo: Iluminuras, 2007.

47

PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho e outras histórias. Adapt.Walcyr Carrasco. Il. Suppa. São Paulo: Amarylis, 2009. SILVA, V. M. T. E por falar em Marina... Estudos sobre Marina Colasanti. Goiânia: Cânone, 2003. ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da Literatura. 1ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2009. Disponível em: <http://contosdetodomundo.blogspot.com/2005/06/primeira-

s.html> Acesso em 07 agosto /2011

Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/7177654/Marina-Colasanti-Uma-Ideia-

Toda-Azul> Acesso em 07 agosto 2011

Disponível em: <http://nucleoatmosfera.blogspot.com/2009/07/entre-espada-e-rosa-conto-de-marina.html> Acesso em 07 agosto 2011