SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · Desse modo, reconhecer a reciclagem como forma de...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

ARTE E VIDA – A RECRIAÇÃO PELA RECICLAGEM ELETRÔNICA

Vera Cristina Ferreira1

Orientador: Prof. Marcos Cesar Danhoni Neves2

RESUMO

No trabalho com a disciplina de Arte pode-se inovar, apontando os perigos do lixo eletrônico e o que é possível fazer para sua reutilização, mostrando seu valor para o meio ambiente, gerando a consciência ambiental. Este artigo centra-se no tema Reciclagem como forma de Conscientização Ambiental na Escola por meio de atividades artísticas a serem desenvolvidas por alunos de 1º ano do Ensino Médio do Colégio Rui Barbosa de Japurá, PR. Para tanto, realizaram-se pesquisas bibliográfica, debates e socialização do tema e coleta de materiais eletrônicos, desenvolvendo hábitos de reciclagem para demonstrar a importância do ambiente limpo que se pode produzir integrando a disciplina de Arte, bem como se procurou auxiliar o aluno a reconhecer a necessidade de cuidar do ambiente com respeito e criatividade através da reciclagem, envolvendo atividades artísticas. Como o espaço escolar deve ser estímulo de criatividade e conscientização, este trabalho buscou expor aos alunos a importância da reutilização de materiais eletrônicos sucateados. A metodologia utilizada foi a mobilização dos alunos para leituras de textos, observação de vídeos, produção de objetos artísticos a partir de materiais recicláveis, especialmente o lixo eletrônico. A produção de trabalhos foi apresentada à comunidade escolar durante a realização da Semana Cultural do Colégio Rui Barbosa de Japurá, PR, cujos resultados são aqui apresentados. Palavras-Chave: Arte; reciclagem eletrônica; criatividade.

1 Pós-Graduação em Didática e Metodologia do Ensino; graduada em Educação Artística pela

Unoeste, Colégio Estadual “Rui Barbosa”, Japurá, PR. 2 Doutor em Educação para a Ciência pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Titular do

Laboratório de Criação Visual da Universidade Estadual de Maringá – UEM.

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1 INTRODUÇÃO

Cada vez mais cresce a necessidade de se planejar espaços sustentáveis e

que não agridam o meio ambiente, articulando-se criação com qualidade de vida. A

preocupação com o meio ambiente nasce à medida que se percebe que os recursos

são finitos e que seu uso indevido gera consequências de grandes impactos à

sociedade. Nessa perspectiva, aparece o conceito de desenvolvimento sustentável.

A modernidade trouxe avanços e progressos, mas trouxe, sobretudo, o

problema do descarte de lixo. Esse fato gera apreensões em nível planetário

(economia, política, meio ambiente, etc.) e especialmente no ambiente educativo.

Essa temática merece muita atenção, uma vez que o sujeito depende da qualidade

do meio em que vive, e pode interferir na forma como esse ambiente vai se

configurar, tornando-o saudável. Se o indivíduo aprende e se desenvolve de acordo

com suas relações sociais e se a arte faz parte dessas relações, é certo que, por

meio dela, muito se pode avançar. A diminuição do lixo eletrônico, por exemplo,

torna-se indispensável, sendo necessário que as pessoas, as empresas e as

autoridades competentes estejam conscientes e dispostas a controlar a produção

desse lixo e também a reciclar a maior quantidade possível.

A problematização que se estabelece refere-se à necessidade de

identificação e compreensão de que o lixo eletrônico configura-se como um

problema que requer solução imediata diante do acelerado acréscimo desses

rejeitos no meio ambiente. O conhecimento da situação na qual o desperdício, o

acúmulo e o rejeito do lixo são vitais, no sentido de alertar para a agressão contínua

da natureza, bem como o conhecimento e a produção artística podem despertar e

sensibilizar o aluno do Ensino Médio para as questões sociais próprias do lugar em

que vive. Vislumbraram-se atividades do despertar da razão/emoção/sensibilização

entranhados no desenvolvimento afetivo-cognitivo, crítico e cultural dos alunos para

que mudanças possam ocorrer em um quadro que, infelizmente, está delineado na

quase sempre caótica situação escolar.

Torna-se possível admitir que a arte faz parte do nosso mundo e de nossas

experiências, pois é parte integrante de nossas personalidades, nossas vivências,

nossas compreensões de mundo (Weltauschaung, DANHONI NEVES, 2005). É por

intermédio da arte que um povo pode expressar suas emoções, seu modo de viver,

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em um caleidoscópio que a tornou tão diversificada, fascinante e potencializadora

em seus infinitos modos de compreensão/apreensão/educação. Diante de sua

expressividade, a arte pode facilitar o encontro intercultural de escola e comunidade

na luta, por exemplo, contra o aumento da produção de lixo, somando experiências

com o fito de contribuir para a construção de novas consciências e o respeito pela

vida.

Compreender a arte apenas como produto de um empreendimento, como

resultado de uma determinada ação é restringi-la a um conceito muito vago. A arte

deve ser entendida como um processo e não somente como produto. Há que se

reconhecer na arte uma visão estética, mas também um fazer artístico apoiado na

expressão de sentimentos e na sensibilidade.

Essa reflexão traz um apelo para que a arte seja tratada em todos os seus

aspectos – social, cultural, econômico – como uma fonte enriquecedora da prática

que proporciona a construção de sentido, de significado, resgatando a totalidade da

pessoa e de sua concepção de mundo, deixando para trás o senso comum,

aproximando-se de uma visão mais ampla e considerando a arte como via de

conhecimento capaz de causar uma experiência singular no sujeito transformador.

A sensibilidade e o respeito humano se desenvolvem a partir da infância, no

contato familiar e nas primeiras experiências escolares. Todo o aprendizado

acontece conforme o ambiente em que o indivíduo está inserido. É nato do ser

humano viver em sociedade, como atestam os primórdios de sua evolução,

eternizado nas figuras rupestres em cavernas de todo o mundo: Lascaux, na França;

Altamira, na Espanha, e S. Raimundo Nonato, no Brasil.

A influência do meio em que o indivíduo está inserido é concebida nas teorias

do psicólogo e pensador russo Lev Vygotsky (IVIC & COELHO, 2010). O paradigma

vygotskiano aponta como fatores relevantes para o desenvolvimento e a

aprendizagem a interação social, a dimensão histórica do desenvolvimento mental e

os aportes culturais.

Se houvesse que definir a especificidade da teoria de Vygotsky por uma série de palavras e formulas chave, seria necessário mencionar, pelo menos as seguintes: sociabilidade do homem, interação social, signo e instrumentos, cultura, história, funções mentais superiores [...] poder-se-ia dizer que a teoria de Vygotsky é uma ‘teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais

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superiores’ ainda que ela seja chamada mais frequentemente de ‘teoria histórico-cultural’ (IVIC; COELHO, 2010, p. 15).

Assim, essa tese de sociabilidade conduz à ideia de que a arte, relacionada

com a realidade do sujeito e com o conhecimento próprio que o individuo busca

sobre sua espécie, alia-se ao meio que o rodeia. A arte, nesse âmbito, não pode

estar desprendida da ciência, pois o conhecimento não surge do nada, e sim da

busca, da investigação e da pesquisa. Nesse patamar, pode-se harmonizar a arte, a

ciência e o conhecimento. Sob essa ótica, justifica-se a manifestação artística

criadora de peças construídas com lixo eletrônico.

Diante dessa concepção e da reflexão realizada até o momento efetivou-se se

a escolha do tema, pois se acredita que a partir da conscientização do problema é

possível, por intermédio da arte, equacionar, ainda que em uma dimensão pequena,

a quantidade de lixo, reduzindo os gastos com energia, colocando em pauta temas

transdisciplinares, como, por exemplo, as questões relativas ao aquecimento global

e suas consequências apresentadas no decorrer do dia-a-dia através dos noticiários.

Desse modo, reconhecer a reciclagem como forma de conscientização

ambiental na escola configura-se como uma temática relevante e pertinente para o

tempo presente, em que se observa a quantidade elevada de lixo eletrônico no

Planeta Terra causada pela constante evolução científica e tecnológica.

Com esse horizonte socrático, desenvolver a criatividade, unindo a

construção de um conhecimento dinâmico e inter/transdisciplinar, é o caminho que

deve ser trilhado para apaziguar as vontades do espírito que anima a interrogação

da natureza.

Em busca da construção desse conhecimento dinâmico, as experiências

escolares tornam-se campo vasto para que os alunos tornem-se disseminadores de

práticas conservacionistas do meio ambiente. Objetiva-se, assim, auxiliar o aluno a

reconhecer a verdadeira necessidade de cuidar do ambiente com respeito e

criatividade mediante a reciclagem, envolvendo atividades artísticas. Nesse bojo,

levar os alunos do Ensino Médio do Colégio Rui Barbosa de Japurá, PR, a construir,

recriar com arte o material escolhido e reciclado para diminuir a produção de lixo do

entorno escolar e da comunidade, sensibilizando-os para a percepção e a prática no

que tange ao meio ambiente, sua preservação e a necessidade das gerações

vindouras e procurar a construção de situações que estimulem o desenvolvimento

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da criatividade, canalizando-a para trabalhos práticos tanto para a escola quanto

para o meio social em que vive o aluno.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Durante o trabalho, pensou-se em explorar a seguinte vertente: o nível de

conscientização a partir dos rejeitos derivados da exaustão do uso de produtos

eletrônicos e de informática.

Uma das grandes possibilidades de reciclagem de lixo na escola é a envolve

as atividades de Arte. Desenvolver com os alunos atividades desse gênero que

possam levá-los a reciclar produzindo arte, valorizando a experiência e contribuindo

para a diminuição do lixo permite a conscientização, a informação e o treinamento.

Essa dinâmica alia conhecimento e aprendizado, potencializando ações que possam

despertar o senso estético e o surgimento de futuros artistas.

Temos que aprender a ver e ouvir, a entender as formas de representação, a decifrar as mensagens para podermos nos emocionar com elas. Todos nascem dotados de sensibilidade e da capacidade de fruição estética, mas temos que ajustá-las à produção artística com a qual entramos em contato (COSTA, s/d. p. 60).

Desse modo, a possibilidade de criar obras de arte a partir de sucata

eletrônica como CPUs e monitores de computador, CDs e outros objetos deve ser

aproveitada não apenas como forma de conscientização ambiental, mas também

como produção de conhecimento artístico, demonstrando o aspecto intrínseco do

caráter artístico, científico e socioambiental.

Nesse sentido, Neves e Pereira (2006, p.12) oferecem sugestões para a

confecção de materiais que podem subsidiar atividades educativas desenvolvidas

por professores, afirmando que ‘toda proposta pedagógica de ensinar e divulgar a

ciência não deve perder de vista o sujeito na construção do conhecimento’.

A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumentos da sociedade. A peculiaridade essencialíssima do homem, diferentemente do animal, consiste em que ele introduz e separa do seu corpo tanto dispositivo da técnica quanto o dispositivo do conhecimento científico, que se tornam instrumentos da

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sociedade. De igual maneira, a arte é uma técnica social do sentimento, um instrumento da sociedade através do qual incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais íntimos e pessoais do ser (VIGOSTSKI, 1925, apud TOASSA, 2009, p. 315).

Nesse contexto, materializar o sentimento social externando-o por meio de

objetos de arte instrumentaliza o sujeito para a criatividade, para a produção e

reprodução artística capaz de incorporar os aspectos da realidade inerentes ao

sujeito. Desta maneira, produzir arte por meio da reciclagem aponta para duas

vertentes: a criação artística e a defesa da natureza – e da vida humana.

Ter consciência ambiental é fazer menção no agir do dia a dia, tendo a

máxima atenção referente às atitudes ambientais corretas. É incluir responsabilidade

social, escolher alternativas com inteligência ao gerar resíduos. É saber discernir a

curto, médio e longo prazo o saldo de seu relacionamento com a natureza. Uma

pessoa que tem consciência pensa e não age no impulso, sempre imaginando o

direito à vida futura.

Apoiada nos conhecimentos que serão transformados e amadurecidos, a

compreensão da arte poderá alcançar grande significado para o entendimento dos

sentidos múltiplos da arte com relação a um objeto, a um acontecimento, a um

significado. Julga-se que esse processo possa favorecer o aluno no momento de

suas escolhas, agindo e interagindo em favor de mudanças em seu relacionamento

com a escola, com o professor, com o colega e consigo mesmo. Acredita-se que,

auxiliando o aluno a conhecer profundamente aquilo que estuda lhe propicie o

encontro do prazer e da construção do sentido estético. A arte, como linguagem da

vida, deve encontrar na escola seu locus privilegiado. É dever do professor construir

alguns de seus fundamentos.

Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado da natureza (HUIZINGA, 1980, p. 7).

O processo expressivo é constituído pela linguagem que o ser humano

aprendeu a mediar entre os objetos de conhecimento e si próprio. É fundamental

que se conheçam os materiais de forma que se tornem veículos de expressão,

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oferecendo aos alunos a concretude que merecem no ambiente e na educação

escolar. O ensino de Arte deve acontecer de forma gradativa, com a soma dos

elementos (materiais e instrumentos) que possibilitará a construção de uma

linguagem gráfico-plástica, exigindo uma ação do sujeito sobre o objeto a ser

conhecido. Imitação e jogo são estratégias que enriquecem os reflexos necessários

para um apropriar-se, enquanto atitude reflexiva, das ferramentas da arte e da

educação. Não há como criar, transformar sem uma base ou objeto de linguagem,

posto que se trata de uma atividade racional, em que a intuição exerce papel

fundamental.

O ensino da Arte acontece de forma gradativa com a soma dos elementos,

como materiais e instrumentos que propiciarão a linguagem gráfica/ prática e o

processo expressivo se constitui através da linguagem do ser humano com os

objetos do conhecimento. O conhecimento exige uma ação do sujeito sobre o objeto

a ser conhecido e essa atividade transforma-se em um jogo que contribui para

despertar os alunos na atenção, na criatividade, na concentração e na

responsabilidade. O professor deve estar preparado e saber dosar o conteúdo para

que os alunos não percam o interesse e tenham boa receptividade no jogo de

aprendizagem.

As relações entre a arte e a sociedade possuem um movimento recíproco e

dinâmico. O homem com sua conduta, seu pensamento e seus atos faz a história e

a Arte a transmite. A história estuda os fenômenos que ocorrem ao longo do tempo,

e as obras realizadas pelo homem ajudam a interpretá-la (OSINSKI, 2002).

Na pré-história, o homem lutava pela subsistência, concentrando-se em

problemas práticos como caça e a coleta. No Renascimento, houve incontáveis

progressos na arte e na ciência. Na arte, o ideal humanista e a preocupação com o

rigor científico expressavam a racionalidade do homem. O artista renascentista

buscava compreender o mundo em uma perspectiva da nova ciência. Todas essas

mudanças ocorridas no Renascimento propiciaram novas condutas sociais que

implicaram em novos comportamentos, e essa nova concepção aparece nitidamente

nas obras de arte (OSINSKI, 2002).

Os avanços da ciência entremeiam-se com o conhecimento e a valorização

da arte. É o que demonstra Neves et al. (2010, p. 33) recordando as obras de

Leonardo da Vinci: “um dos grandes nomes trabalhados na fronteira da arte e da

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ciência, é Leonardo da Vinci, que acredita que uma obra de arte deve expressar

toda a realidade’. Da Vinci defende o valor da experiência e o olhar científico ligado

à paixão pelo conhecimento, porque:

[...] para ele, o essencial é o concreto e imediato, o circunstancial e o possível [...]. O espaço, a natureza, a perspectiva, a análise sistemática, a nítida objetividade, o valor da experiência, o olhar ‘científico’ e a latência primordial das coisas dão vigor a sua arte [...]. Da Vinci descobre, [...] a paixão da alma pelos confins do conhecimento ao transpor o limiar da beleza (PRIETO e TELLO, 2007 apud NEVES et al, 2010, p. 33).

Pensando ainda sob o olhar de ciência e arte, Silva (2010, p.135) assevera

que “arte e ciência não podem ser ‘pensadas’ separadamente, e tanto uma quanto

outra influenciam-se simultaneamente, propiciando ao homem adquirir novos

conhecimentos e até mesmo alterar sua visão de mundo”.

Nesse contexto, ao tratar da consciência ambiental, remete à ideia de que a

mudança de comportamento dos indivíduos diante de questões como ecologia e

reciclagem pode ter sua origem em manifestações ou criações artísticas,

particularmente se essa mudança germinar na escola.

Evidencia-se a assertiva de Neves & Silva (2010, p.143) questionando a arte

como evolução ou revolução ao destacar as transformações da arte entre os séculos

XVIII e XIX: “A arte foi entendida como uma tomada de posição frente à sociedade

[...]”. Assim, entende-se que a arte pode ser uma preciosa aliada à ciência diante do

desafio do tempo presente que busca formas de amenizar os malefícios causados

pela degradação ambiental causada muitas vezes por lixo eletrônico, buscando

também a contribuição da sociedade para a preservação do meio ambiente.

Ao relacionar a arte com a reciclagem, torna-se necessário reconhecer que

em tempos remotos, segundo Silva (2010, p.167), a arte foi uma importante aliada

para a realização de estudos e pesquisas no Brasil.

E a autora acrescenta,

A história da arte nos apresenta as diferenças entre as diferentes manifestações artísticas, mas dentro destas, existem pontos em comum, que passam pela mudança do próprio homem a partir do seu entendimento de mundo. [...] No impressionismo verifica-se, de forma mais evidente, a influencia da ciência sobre a arte [...] (SILVA, 2010, p. 167).

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Ao considerar–se que o entendimento de mundo pode favorecer a mudança

do próprio homem, seu comportamento e suas ações, torna-se possível reconhecer

que as diferentes manifestações artísticas possibilitam aos indivíduos uma nova

forma de ser diante da realidade do seu tempo. Ou seja, um entendimento de

mundo que precisa de consciência ambiental, de respeito à natureza, de valorização

da ciência que procura meios de assegurar a vida no Planeta. A esse respeito, Silva

(2010, p. 166) pontua que “a arte é uma das formas de manifestação social e sua

análise favorece a própria compreensão da sociedade ao qual pertence”. Tendo em

vista o crescente aumento de lixo eletrônico na contemporaneidade, a valorização, a

revelação da vida pode ser representada por meio da arte.

Conforme Bosi (1991, p. 27), se há um conhecimento que advenha da arte,

ele não deve se encontrar separado, mas existir enquanto forma particular, sensível

e concreta, existindo harmonia entre o processo do conhecimento e o da criação

artística e união entre fazer e conhecer, visto que o trabalho do artista, ou de quem

vivencia uma experiência em arte desenvolve-se no plano do conhecimento de

mundo, na revelação da vida e na construção da arte.

O conhecimento, desta forma, não pode estar dissociado da transformação da

realidade social. As Diretrizes Curriculares Estaduais para os Anos Finais do Ensino

Fundamental e Ensino Médio – DCN – para o ensino de Arte (PARANÁ, 2008, p. 21)

preconizam que ‘a produção científica, as manifestações artísticas e o legado

filosófico da humanidade [...] possibilitam um trabalho pedagógico que aponte na

direção da totalidade e sua relação com o cotidiano’. Nesse contexto, a relação com

o cotidiano supõe o respeito à natureza, a preservação do meio em que se vive e

sobrevive, a conscientização da necessidade de reciclagem como forma de garantia

de vida no presente e no futuro.

As DCN (2008, p. 22) assinalam também que ‘a dimensão artística é fruto de

uma relação específica do ser humano com o mundo e o conhecimento’, afirmando

ainda que

Como conhecimento da realidade, a arte pode revelar aspectos do real, não em sua objetividade – o que constitui tarefa especifica da ciência -, mas em sua relação com a individualidade humana. Assim, a existência humana é o objeto específico da arte, ainda que nem sempre o homem seja o objeto da representação artística. A arte, como forma sensível, apresenta não uma imitação da realidade, mas uma visão de mundo socialmente construída através da maneira

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específica com que a percepção do artista a apreende’ (PARANÁ, DCE, 2008, p.57).

Notadamente no ambiente escolar, o conhecimento da arte e as atividades

artísticas favorecem o despertar de emoções, a admiração pelo belo e a valorização

da beleza, mas não se resumem a isso. A arte na escola oportuniza a construção de

conhecimento e o despertar da consciência para a vivência de mundo, a consciência

do potencial de cada um diante de sua presença no mundo como sujeito atuante e

transformador.

Muschg (apud Neves & Silva, 2010, p. 132) assevera que,

O abuso indiscriminado da natureza, a destruição do meio ambiente [...] e muitos dos horrores que vivemos hoje [...] não seriam possíveis dentro do paradigma moldado pela visão de totalidade da natureza, de Goethe, em que o homem e natureza, sujeito e objeto, espírito e matéria, não estão separados.

A arte assume, portanto, uma dimensão de encontro do indivíduo com seu

meio, seus anseios, com a natureza e consigo mesmo, não podendo ser reduzida à

contemplação estética, função técnica ou passatempo. Certamente, as práticas

escolares que apontam para a necessidade de reciclagem de lixo não restringirão

aos muros da escola. A tendência natural (e esperada) é que esse conhecimento

transforme-se em práticas cotidianas na realidade diária do aluno. A esse respeito,

lembram-se as afirmações vigotskynianas:

Vygotsky afirma que a aprendizagem inicia-se muito antes de o aluno frequentar os bancos escolares. Nas práticas sociais cotidianas, a criança aprende conceitos espontâneos formados nas experiências diárias com as interações que estabelecem com as pessoas de seu meio, com a cultura, com as situações concretas. [...] as pessoas lidam com esses conceitos, mas não estão conscientes de seu próprio ato de pensamento (SILVA; MIRANDA, 2010).

Na atualidade, as atividades corriqueiras dos seres humanos estão muito

ligadas à tecnologia, informática, maquinarias e aparelhos eletroeletrônicos,

diferindo de épocas anteriores, quando as atividades desenvolvidas eram mais

ligadas à natureza e o lixo produzido denominado ‘orgânico’ não causava tanto

impacto devido a sua decomposição mais rápida.

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3 DESENVOLVIMENTO

O lixo eletrônico está crescendo de maneira exagerada e causando sérios

problemas ao ambiente e a toda a vida na Terra. Se não há como diminuir o lixo,

devem-se encontrar alternativas e amenizar seus impactos; uma delas é

conhecimento da situação e a conscientização acerca da necessidade de

reciclagem.

Segundo estudo da Anatel, o mercado interno brasileiro de eletroeletrônicos

está em franco crescimento: chegou-se a 180 milhões de celulares, com a

expectativa de se passar dos 200 milhões no próximo ano, sem contar com outros

tipos de resíduos.

O desperdício e o acúmulo de lixo eletrônico estão aumentando porque há um

círculo vicioso entre adquirir produtos novos com durabilidade reduzida e a procura

de mais aparelhos que substituam os modelos ultrapassados ou inadequados para

acompanhar os avanços tecnológicos, escravizando o homem no ter mais e melhor,

surgindo problemas ainda maiores para os órgãos que buscam solucionar esse

desafio. Salienta-se que é dever de todos aderir e contribuir com pequenos gestos

como conscientizar-se dos perigos e adquirir bons hábitos de reciclagem,

reutilização de produtos, reduzindo os gastos de recursos naturais.

Na ocasião da coleta e do contato com a sucata, torna-se essencial a ciência

dos perigos de manuseio do lixo eletrônico.

De acordo com Gabriel (2011),

Na composição dos equipamentos eletrônicos existem substâncias tóxicas como mercúrio, chumbo, cádmio, belírio e arsênio – altamente perigosos à saúde humana, para ela, a alta concentração de metais pesados existentes nos equipamentos eletrônicos tanto pode contaminar o ser humano durante a sua fabricação como após, mas principalmente quando jogados sem controle em aterros sanitários ou lixões, pois “os metais tóxicos podem contaminar o solo e atingir o lençol freático, interferindo na qualidade dos mananciais.

Computadores e celulares são originados de metais que podem ser

extremamente danosos; um computador mediano é composto de elementos básicos,

conhecidos de todos, como plásticos e metais, mas também de componentes

extremamente danosos ao bem estar, como o chumbo, cádmio, belírio, mercúrio.

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Destaca-se que durante o manuseio desses materiais torna-se importante o uso de

proteção adequada.

O ensino de Arte possibilita a transformação de um povo, passando pela

criatividade e desenvolvendo mudanças de comportamento, visando à

conscientização e ao respeito.

A aplicação do Projeto ocorreu durante o segundo semestre do ano letivo de

2011 envolvendo alunos do 1º ano do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual

Rui Barbosa, de Japurá, PR.

Para iniciar a implementação, realizou-se a apresentação do Projeto aos

alunos; as estratégias de ação tiveram como fundamento a importância da relação

da Arte com a conscientização e a preservação ambiental, e para que esse

reconhecimento fosse efetivado, os alunos realizaram uma discussão e socialização

do conceito de Arte e Reciclagem. Algumas questões foram sugeridas para nortear a

socialização das ideias: a) O que você (aluno) entende sobre reciclagem? b) Você

tem hábito de reciclar? c) Você conhece os benefícios de reciclar?

Analisando as respostas

24 (vinte e quatro) alunos responderam às questões; 12 (doze) responderam

que não têm o hábito de reciclar; 04 (quatro) alunos responderam “às vezes” e

apenas 06 (seis) informaram que possuem o hábito de reciclar. Questionados sobre

o que entendem por reciclagem, a maioria informou que “é o reaproveitamento de

lixo reciclável para confecção de novos objetos’ ou ‘é o reaproveitamento do lixo

para preservar o meio ambiente”. Acerca dos benefícios da reciclagem,

responderam que ‘preserva o meio ambiente’; ‘deixa o planeta mais limpo’; ‘diminui a

poluição’; ‘ajuda o meio ambiente’; ‘recicla e produz de novo’.

Fazendo o uso dos recursos midiáticos oferecidos pelo Laboratório de

Informática foi apresentado o vídeo ‘Ilha das flores’ (documentário que aponta o

problema ambiental que o lixo causa e a proposta de mudança de atitude diante da

discrepância entre progresso e desenvolvimento humano, apresentando a relação

entre progresso criativo e tecnológico), demonstrando a relevância da

conscientização ambiental e a destinação certa dos lixos eletrônicos.

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3.1 COLETA DE SUCATA ELETRÔNICA

Foram coletados materiais eletrônicos que estão em desuso, como aparelhos

de telefone, aparelhos de telefone celular, CPU de computador, monitores de

computador e de televisor, CDs inutilizados, dentre outros.

A coleta proporcionou uma reflexão e uma percepção mais aprimorada da

situação que se encontra o ambiente e sobre a correta postura a respeito desse

assunto. A coleta foi realizada sob orientação do professor no tocante aos riscos

devido à quantidade de metais pesados que os materiais contenham, e ainda a

observação do ambiente em que encontra esses materiais descartados pelos

humanos.

3.2 BRAINSTORM DE IDEIAS ENVOLVENDO SUCATA E ARTE

Como atividade preliminar para a realização da Oficina “arte e reciclagem’,

realizou-se uma ‘tempestade’ de ideias em que os alunos expuseram suas opiniões

e sugestões para confeccionar objetos utilizando lixo eletrônico.

Para a abertura da Oficina, foi apresentado o vídeo “Arte em sucata

eletrônica” (www.youtube.com/watch?v=ilbW80EPe6A).

Os alunos confeccionaram objetos sob a supervisão do professor, tendo

ciência de que para sobreviver o homem precisa se ajustar à natureza e à vida

social e criar ferramentas de acordo com suas necessidades.

Utilizando lixo eletrônico, os alunos puderam construir peças como adornos,

objetos de decoração, brinquedos e criações diversas, reutilizando o material

coletado com criatividade.

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Os trabalhos dos alunos revelaram a importância de rever os hábitos, as

mudanças de atitudes e buscar soluções cabíveis e de fácil alcance; e a arte

contribui para isso.

O conhecimento faz o homem crescer e o torna mais criativo. Partindo dessa

premissa, conclui-se que através da arte o ser humano se sensibiliza, observa,

contempla e pode aumentar as expectativas no que diz respeito à sua capacidade

de mudanças de hábitos que possa assegurar o respeito à vida no planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final da implementação, foi possível observar que as ações envolvendo a

arte de reciclar ainda são modestas. Observou-se que os alunos são portadores de

informações, conhecem teoricamente a necessidade de reciclar o lixo eletrônico, no

entanto ainda são modestas as atitudes diante dessa necessidade.

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Na trajetória do PDE, verificaram-se as etapas colocadas como horizontes do

trabalho:

Construir, recriar com arte o material escolhido e reciclado para diminuir a

produção de lixo do entorno escolar e da comunidade;

Propiciar ao aluno um conhecimento de realidade ambiental, ou seja, de sua

escola e de seu entorno e de sua cidade;

Sensibilizar os alunos para percepção e a prática no que diz respeito ao meio

ambiente, sua preservação e a necessidade das gerações vindouras;

Realizar leituras como temas de reflexão sobre o respeito e convivência

social;

Reciclar e construir atividades didáticas e lúdicas que valorizem o respeito

pela vida;

Procurar a construção de situações que estimule o desenvolvimento da

criatividade, canalizando-a para a trabalhos práticos tanto para a escola

quanto para o meio social em que vive o aluno;

Produção de trabalhos para que sejam divulgados na comunidade escolar,

como parte do ensino da disciplina de Arte.

Conclui-se, enfim, que os alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio

Rui Barbosa de Japurá demonstraram interesse e envolvimento no Projeto. Todavia,

essa ação apresentou-se como uma contribuição ainda inicial, servindo de base

para futuros projetos ou programas que reforcem ainda mais a possibilidade de fazer

arte com reciclagem eletrônica e contribuir, portanto, para a preservação do meio

ambiente.

Fonte: Internet

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REFERÊNCIAS

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