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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

SUPERITENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANÁ

ARTIGO FINAL

A DANÇA NA CONTRADANÇA DO CONTEXTO ESCOLAR

PROFESSOR: GILMAR DE GOUVEA

ORIENTADORA: DEIVA MARA DELFINI BATISTA RIBEIRO

CAMPO MOURÃO

2012

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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

SUPERITENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANÁ

A DANÇA NA CONTRADANÇA DO CONTEXTO ESCOLAR

PROFESSOR: GILMAR DE GOUVEA

Artigo final apresentado à Universidade Estadual de Maringá – UEM e a Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito para a conclusão de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob orientação da professora Deiva Mara Delfini Batista Ribeiro.

CAMPO MOURÃO

2012

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A DANÇA NA CONTRADANÇA DO CONTEXTO ESCOLAR

Gilmar De Gouvea 1

Deiva Mara Delfini Batista Ribeiro2

O que aconteceria se, em vez de apenas construir

nossa vida, nós nos entregássemos à loucura ou à

sabedoria de dançá-la. (Roger Garaudy).

RESUMO

Trabalhar a dança como conteúdo de ensino da Educação Física tem sido um desafio

na escola pública. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi de estudar e analisar, com

outros professores da escola, a dança no contexto escolar utilizando a Teoria Histórico-

Cultural e a Cultura Corporal e especificamente, proporcionar vivências aos alunos do

ensino médio que culminou com uma apresentação pública na escola. Este estudo

caracteriza-se como um estudo de caso (MOLINA NETO; TRIVINÕS, 1999) e a análise

se deu pelos apontamentos e filmagens do processo. Os resultados apontam que,

quando a ação pedagógica é bem fundamentada, com os professores cumprindo seu

papel de mediador entre o conhecimento e a apreensão deste pelo aluno, os conteúdos

podem ser concretizados.

1 Professor de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Paraná Núcleo Campo Mourão

2 Professora Mestre do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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Palavra Chave: Dança. Cultural Corporal. Teoria Histórico-Cultural.

1 INTRODUÇÃO

A história da Educação Física no Brasil aponta que a mesma esteve atrelada a

diferentes concepções e tendências, de acordo com o contexto social, político,

econômico, educacional que demonstram o caráter conservador ou progressista da

área (SOARES, et al 1992; CASTELLANI FILHO, 1944; SOARES, 2004).

Nas Diretrizes Curriculares do Paraná – Educação Física (2008) estão marcados

estas tendências e trazem que, no final dos anos 80, com o início do processo de

redemocratização social, marcadamente como fim da ditadura militar, o sistema

educacional passou por um processo de reformulação.

Tal reformulação deve-se em grande parte ao acesso da comunidade científica

da Educação Física a outras áreas, que não aquelas fundamentadas somente nas

ciências naturais e biológicas, mas também á área humana, mais especificamente em

educação, passando a subsidiar as teorizações e a renovações do pensamente

pedagógico, com tendências progressistas e posteriormente críticas em Educação

Física.

As tendências críticas especificamente contextualizam a Educação Física na

sociedade capitalista, presentes nas abordagens crítica-superadora e crítico-

emancipatória.

A abordagem Crítico-Superadora presente na obra Metodológia do ensino da

Educação Física, de 1992 é proposta por um coletivo de autores e traz como matriz o

materialismo Histórico-Dialético, a abordagem metodológica é denominada crítico-

superadora, o objeto de estudo é a cultura corporal e no campo educacional se situa na

Pedagógica-Crítica. (ALBUQUERQUE, et al, 2007).

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A abordagem crítico-emancipatória baseia-se no processo comunicativo

(dialógico) sustentada pela corrente teórica da fenomenologia e criada na década de 90

por Eleonor Kunz (PARANÁ, 2008).

Estas abordagens subsidiaram a construção do Currículo Básico do Paraná

(1990) e também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), com críticas a este

último pelas incoerências na proposta (PARANÀ, 2008).

Para estas Diretrizes Curriculares que desde 2004 vem sendo estudada, propõe-

se um projeto mais amplo de educação para o Estado do Paraná, entendendo a escola

como um espaço que, dentre outras funções, deve garantir o acesso aos alunos ao

conhecimento produzido historicamente pela humanidade.

Para a Educação Física, neste sentido, “partindo do seu objeto de estudo e de ensino, cultura corporal, a educação física se insere neste projeto ao garantir o acesso ao conhecimento e a reflexão crítica das inúmeras manifestações ou práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito que é produto, mas também agente histórico, político, social e cultural (PARANÁ, 2008, P.49).

Por este prisma, estas Diretrizes convergem com a abordagem metodológica

crítico-superadora, pois a Educação Física deve tratar pedagogicamente destas

práticas, denominada cultura corporal, que são agregadas nas diferentes manifestações

tais como: jogos, lutas, danças, esportes, ginásticas, e outros, que se transformam em

conteúdos de ensino.

Isto significa reconhecer que a gênese da cultura corporal, que reside na

atividade humana para garantir a existência da espécie, está relacionada à vida em

sociedade, que foram se desenvolvendo nas “relações homem-natureza e homem-

homem, isto é, pelas relações para a produção de bens e pelas relações de troca”

(PARANÁ, 2008, p. 51).

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Nestas relações os homens desenvolveram habilidades e, por serem sociais,

produziram diferentes manifestações corporais e culturais que foram sendo retraçados

pelas gerações seguintes.

A cultura então deve ser entendida como o “aprender o processo de

transformação do mundo natural a partir dos modos históricos da existência real dos

homens nas suas relações na sociedade e com a natureza” (ESCOBAR, 1995, p. 93)

Daí o conceito de cultura estar atrelado ao do trabalho. Não do trabalho alienado,

próprio da sociedade capitalista, mas como categoria fundante da relação do ser

humano/natureza e do ser humano/ser humano, pois este da sentido à existência

humana e á materialidade corpórea.

É neste sentido que entendemos que as Diretrizes propõem que a ação

pedagógica da educação física deve estimular a reflexão sobre o acervo de formas e

representações do mundo que o ser humano tem produzido, exteriorizados pela

expressão corporal (jogos e brincadeiras, danças, lutas, ginásticas, esportes) tal como

propostos na abordagem crítico-superadora.

Tais formas são consideradas no documento como conteúdos estruturantes e

devem estar articulados a elementos que se fazem presentes em cada um dos

conteúdos tais como: cultura corporal e corpo; ludicidade; saúde; mundo do trabalho;

desportivização; técnica e tática; lazer; diversidade e mídia.

Em relação ao conteúdo estruturante-Dança, pude perceber, como professor de

escola pública e com experiência anterior em dança, que este tema gerava um certo

desconforto, tanto para os professores trabalharem quanto para os alunos

incorporarem-na como um conteúdo de ensino da Educação Física.

Pude detectar ao longo dos anos que, ora esta manifestação se apresentava

como essencialmente feminina, ora vinculada à erotização dos corpos, de forma que

acabava acontecendo somente em período específico do calendário escolar,

descontextualizada, carecendo de reflexão e sistematização.

Procurei desta forma, abordar e utilizar diferentes atividades rítmicas e

ginásticas, com o recurso da música, para incentivar os alunos à participação efetiva

nas aulas.

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Especificamente, utilizei o universo do fitness (step), como recurso de transição

para abordar outras formas de danças. Desta experiência surgiu a ideia de um festival

que vem ocorrendo anualmente com a participação maciça dos alunos.

Esta experiência gerou a temática deste trabalho e, ao mesmo tempo suscitou

questões-problema: Como compartilhar esta experiência com outros professores?

Como subsidiar esta experiência a partir da perspectiva Histórica-Cultural?

A teoria Histório-Cultural foi eleita para subsidiar este estudo, pela convergência

de seus postulados para com as Diretrizes Curriculares do Paraná – Educação Física

(2008), com a abordagem crítico- superadora e com os objetivos deste trabalho pois

procura explicar o aprendizado do ser humano a partir da sua natureza social.

Segundo Vygotsky (1984), o ser humano é entendido como um ser social e

histórico.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é estudar e analisar, com outros dois

professores desta mesma escola pública o conteúdo dança no contexto escolar.

Utilizando os princípios da teoria Histórico-Cultural e da Cultura Corporal e,

especificamente, proporcionar vivências da dança aos alunos do ensino médio a partir

do referencial estudado, culminando com uma apresentação pública do trabalho

elaborado pelos mesmos e, analisar, a partir da apresentação, e do processo de estudo

com os professores, se a ação pedagógica implementada promoveu o salto qualitativo

dos alunos no trato com o conhecimento da dança.

Metodologicamente, para atender aos objetivos e a problemática deste estudo,

foi proposto o estudo de caso.

Para Molina Neto; Trivinôs( org) (1999), no âmbito educativo, o estudo de caso

pode ser definido como

Um processo que tenta descrever e analisar algo em termos complexos e compreensivos que desenvolve durante um período de tempo. Também poder ser definido como um exame particular de uma situação, programa, acontecimento ou fenômeno específico que proporciona uma valiosa descrição (p.96).

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Para este estudo, o “caso” refere-se à Escola Pública Estadual Dom Bosco,

situada na cidade de Campo Mourão-Pr.

A escolha desta escola se deu de forma intencional por ser o local onde trabalho

desde 1993 e desenvolvo meus projetos.

A opção pelas turmas de primeiro, segundo e terceiro anos do Ensino Médio

também foi intencional por considerar que estes alunos já vêem com uma vivência com

a dança dos anos anteriores e também por estarem na fase de realizar uma síntese, ou

seja, quando o aluno reflete sobre o assunto e consegue estabelecer regularidades dos

objetos, carecterizando o salto qualitativo.

A participação dos professores foi pelo interesse e disponibilidade dos mesmos.

Os procedimentos de pesquisa aconteceram em 3 fases: 1) Encontros Semanais

de estudo com os dois professores de Educação Física da referida escola, participantes

do estudo.

Estes encontros aconteceram duas vezes por semana, nos horários das 19:30 às

21:30 na própria escola, totalizando 64 horas.

Os textos estudados constam na unidade didática, além de outros.

Ao final da sessão de estudos, os professores apontavam as necessidades,

prioridades e dificuldades bem como ajudavam a construir coletivamente as vivências e

intervenções. Esses apontamentos foram utilizados pelo pesquisador para análise.

Concomitante aos estudos, foram proporcionados as vivências (fase 2) com os

alunos utilizando o referencial teórico estudado. Estas aconteceram as segundas,

terças e quartas feiras, nos horários de aula, com a participação de aproximadamente

35 alunos do primeiro, segundo e terceiro séries do Ensino Médio.

O conteúdo das vivências se deu através da modalidade de step, onde por meio

de pesquisas e debates em aula, chegou-se á necessidade da abordagem política e

social a serem retratadas nas coreografias.

As vivências foram ministradas por nós três professores de Educação Física.

Na fase 3, ocorreu então apresentação pública das coreografias (festival) no

Teatro Municipal de Campo Mourão com a participação de aproximadamente 100

alunos.

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Os alunos apresentaram dez coreografias que abordavam temas como,

movimentos sócias, desemprego, drogas, gravidez precoce, explicitados no desenho

coreográfico e que serviram de material para a análise, por meio da apresentação e

filmagem.

Inicialmente o projeto previa como instrumentos de coleta de dados, a aplicação

de um questionário semi-estruturado aplicado aos alunos-sujeitos da pesquisa, no

entanto, pela escassez de tempo e pela dificuldade de encontrá-los para responder em

tempo hábil, o pesquisador e os professores participantes decidimos por fazer a análise

do processo (apontamentos, vivências e festivais)

As imagens coletadas permitiram uma observação mais detalhada, dando

elementos para a análise de acordo com os objetivos propostos e o referencial

estudado.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A Teoria Histórico-Cultural

Em uma perspectiva crítica, o trabalho dentro da escola, em aulas de educação

física, é feito levando em conta o desenvolvimento histórico dos conteúdos assim como,

suas implicações políticas e econômicas na sociedade, ou seja, todo esse percurso de

desenvolvimento deve ser transmitido ao aluno como forma de conteúdo (FUGI, 2009,

p.94).

Entende-se por teoria crítica aquela que, dentre outros elementos, compreende a

formação humana como fenômeno histórico e socialmente dado e mediado pela

Educação, buscando a superação das relações de dominação que são reproduzidas

pela escola e que compreende o dialético presente nas mediações entre escola e

sociedade.

O conhecimento científico é referenciado pela ciência na instância da pesquisa.

Esse é um dos motivos pelos quais se afirma que não cabe a escola básica formar o

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historiador, o geógrafo, o matemático, o lingüista, enfim o cientista. Cabe-lhe formar o

cidadão crítico e consciente da realidade social em que vive, para poder nela intervir na

direção dos seus interesses de classe (SOARES ET al, 1992, p.36).

No espaço escolar a criança se apropria ativamente dos conhecimentos

acumulados e sistematizados historicamente pela humanidade, formulando conceitos

científicos. A escola tem um papel insubstituível nessa apropriação enquanto instituição

formadora do individuo na sua totalidade. Deve ter a intencionalidade e o compromisso

de tornar acessível o conhecimento a todos os alunos.

Após analisado os aspectos educacionais, é indispensável a influência do meio e

de todos os seus aparatos ao comportamento e ação do indivíduo, bem como ao seu

desenvolvimento, conforme sugere e teoria de Vygotsky.

Vigotski utilizou princípios e métodos do materialismo histórico-dialético, o qual

busca compreender a realidade a partir de suas contradições e dentro do processo

histórico em constante transformação - para organizar o novo sistema psicológico. Seus

estudos foram profundamente influenciados pelas idéias de Marx e Engels (ANTONIO,

2008).

Por este prisma, dentre as diferentes vertentes pedagógicas e psicológica que

permeiam o âmbito educativo, os estudos de Vygotsky, fundamentada na pisicologia

soviética, nos parece apropriada para abordar os conteúdos. Para isso é necessário

considerar os fundamentos filosóficos subjacentes as suas idéias, reconhecendo o

caráter marxista que fundamenta suas investigações. É preciso buscar as bases dessa

teoria para explicar a formação social (VYGOTSKY, 1984).

Nessa abordagem o homem é visto como alguém que transforma e é

transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura. O que ocorre

não é uma somatória entre fatores inatos e adquiridos e sim uma interação dialética que

se dá, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que se

insere. Assim é possível constatar sob o ponto de vista de Vygotsky que o

desenvolvimento humano é compreendido não como a decorrência de fatores isolados

que amadurecem, nem tampouco de fatores ambientais agindo sobre o organismo

controlando seu comportamento, mas as trocas recíprocas que se estabelecem durante

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toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro

proporcionando o desenvolvimento do processo de organicidade do pensamento. Neste

sentido, são as trocas que possibilitam as interações entre os alunos com os objetos de

conhecimento (REGO, 2002, p. 115).

Para o desenvolvimento do indivíduo, as interações com o outro social são, além

de necessárias, fundamentais, pois delas emergem signos e sistemas de símbolos que

são portadores de mensagens da própria cultura, os quais, do ponto de vista genético,

têm primeiro uma função de comunicação e logo uma função individual, à medida que

são utilizados como instrumentos de organização e controle da conduta do indivíduo

(VYGOTSKI, 1998).

Antonio (2008), abordando a questão da relação Homem-mundo afirma que,

A teoria de Vygotsky tem como perspectiva o homem como um sujeito total enquanto mente e corpo, organismo biológico e social, integrado em um processo histórico. A partir de pressupostos da epistemologia genética, sua concepção de desenvolvimento é concebida em função das interações sociais e respectivas relações com processos mentais superiores, que envolvem mecanismo de mediação. As relações homem-mundo não ocorrem diretamente, são mediados por instrumentos ou signos fornecidos pela cultura.

Vygotsky demonstrou, em seus estudos, grande preocupação por compreender e

descrever o processo de desenvolvimento do indivíduo, de modo que sua teoria baseia-

se neste aspecto sob influência de fatores externos do meio e da interação desse

indivíduo com outros indivíduos desse meio (ANTONIO, 2008).

Assim, ao formular a sua teoria, Vygotsky abordou conceitos que são

essencialmente importantes em seu trabalho por serem necessários à compreensão do

processo de desenvolvimento. Os conceitos abordados por ele são: mediação

simbólica, signos, sistemas de símbolos, zona de desenvolvimento proximal,

desenvolvimento e aprendizado (ANTONIO, 2008).

Ao transformar um objeto da natureza em instrumento, o homem teve que se

apropriar da natureza e da sua realidade social e conhecer as propriedades dessa

realidade para transformar o objeto em instrumento.

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2.2 A Dança na Contra Dança3 do Contexto Escolar

A dança é considerada uma das artes mais antigas. É a única que dispensa

qualquer material como ferramenta, pois depende somente do corpo e da vitalidade

humana para cumprir sua função. A Dança é a arte de mexer o corpo, através de uma

cadência de movimentos e ritmos, criando uma harmonia própria.

Na Grécia Clássica, a dança era frequentemente vinculada os jogos, em especial

aos olímpicos. Com o renascimento, a dança teatral, virtualmente extinta em séculos

anteriores, reapareceu com força nos cenários cortesãos e palacianos. No século XIX

apareceram a Contradança, a Valsa, a Polca, a Mazurca, o Scottish, o Pas-de-quatre,

etc. No século passado surgiu o Boston, só destronado pelas danças exóticas. A

divulgação da dança se deu também fora do espetáculo, principalmente nas tradições

populares (BARRETO, 2004).

A história da dança retrata que seu surgimento se deu ainda na Pré-História,

quando os homens batiam os pés no chão. Aos poucos, foram dando mais intensidade

aos sons, descobrindo que podiam fazer outros ritmos, conjugando os passos com as

mãos, através das palmas (SUCENA, 1989).

O surgimento das danças em grupo aconteceu através dos rituais religiosos, em

que as pessoas faziam agradecimentos ou pediam aos deuses o sol e a chuva. Os

primeiros registros dessas danças mostram que elas surgiram no Egito, há dois mil

anos antes de Cristo (SUCENA, 1989).

Para o ensino da dança, há que se considerar que seu aspecto expressivo se

confronta necessariamente com a formalidade da técnica para sua execução o que

pode virar esvaziar o aspecto verdadeiramente expressivo. Nesse sentindo, deve se

entender que a dança como arte não é uma transposição da vida se não sua

representação estilizada e simbólica. Mas, como arte deve encontrar os seus

3 O termo contradança foi usado como trocadilho para entender que a cultura Corporal-Dança ér pouco trabalhada na escola.

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fundamentos na própria vida, concretizando-se numa expressão dela e não uma

produção acrobática (COLETIVO DE AUTORES, p.82, 1993).

A dança engloba conceitos, procedimentos e atitudes e precisa ser abordada em

toda a sua dimensão, possibilitando aos alunos: adquirir habilidades e preparo corporal

básicos para a criação e interpretação em dança; desenvolver a percepção cinestésica,

espacial e temporal; desenvolver a consciência corporal, enfatizando o reconhecimento

do seu corpo, o esquema e a imagem corporal; adquirir conhecimentos teórico-práticos

sobre os elementos da dança; articular as experiências pessoais dos alunos com as

informações de outras produções em dança (locais, nacionais e internacionais) nos

aspectos da criação, interpretação e apreciação em dança; compreender as relações

que são estabelecidas entre corpo, dança, cultura e sociedade (SUCENA, 1989).

É importante que compreendam que existem diferentes visões de mundo e

diferentes formas de perceber, vivenciar e significar o corpo na dança, na sua cultura e

na de outros povos. Contribuindo para que a diferença de corpo, de idéias e de valores

seja respeitada e valorizada, para que a escola seja um local de transformação e

emancipação social.

O Brasil é um país que tem na sua cultura popular expressões significativas, que

possibilitam inúmeras oportunidades de aprendizagem através de músicas, danças e

festas populares.

A dança, enquanto manifestação artística, não poderia ter surgido de forma

diferente e, assim como as artes em geral, nunca perdeu inteiramente esse caráter

coletivo, mesmo muito depois da quebra da comunidade primitiva e da sua substituição

por uma sociedade dividida em classes (BARRETO, 2004).

A dança na perspectiva da cultura corporal é promotora de desenvolvimento e

autonomia corporal que segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998)

– PCNs de Educação Física, a dança se classifica como um de seus conteúdos,

possibilitando o desenvolvimento da cultura corporal na comunidade escolar.

2.3 5,6,7 e 8 – Step Dance

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As Diretrizes Curriculares (2006) defendem que o professor, ao trabalhar com a

dança no espaço escolar, deve tratá-la de maneira especial, considerando-a conteúdo

responsável por apresentar as possibilidades de utilizar esta linguagem social em que o

corpo é o suporte da comunicação. O professor poderá aprofundar com os alunos uma

consciência crítica e reflexiva sobre seus significados, criando situações em que a

representação simbólica, peculiar a cada modalidade de dança, seja trabalhada de

forma contextualizada, pois a dança é uma manifestação da cultura corporal

responsável por tratar o corpo e suas expressões artísticas, estéticas, criativas e

técnicas que se concretizam em diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais

e regionais), danças folclóricas, danças de rua, danças clássicas entre outras.

Na prática, o professor poderá aliar aos aspectos culturais, vivências de

diferentes estilos de dança, possibilitando a liberdade de criação coreográfica e a

expressão livre dos movimentos (step dance). É importante que o professor reconheça

que a dança se constitui como elemento significativo da disciplina de educação física,

pois contribui para desenvolver a criatividade, a sensibilidade, a expressão corporal, a

cooperação, a partir de materiais, como, step (fitness), jornais, e o próprio piso da sala

e de fazer com que os alunos se organizem e sistematizem o conhecimento, o que

possibilita a comunicação e o diálogo com os diferentes movimentos, ampliando a visão

de mundo do educando por meio da cultura corporal.

A origem do step, assim como a aeróbica e outras disciplinas relacionadas ao

fitness, teve sua origem nos Estados Unidos. A ex-ginasta e professora de aeróbica Gin

Miller, após sofrer uma grave lesão nos ligamentos do joelho, teve de passar por uma

série de tratamentos que incluia fisioterapia para ajudar no reforço dos membros

inferiores. As atividades de Gin consistiam na execução de movimentos repetitivos

como o subir e descer de escadas por exemplo. Após o tratamento que resultou na sua

recuperação, a ex-atleta decidiu adaptar os movimentos às sua aulas de aeróbica.

A utilização do step foi uma maneira de inovação nas aulas de Educação Física

como forma de desenvolver a motivação e assim indiretamente o ritmo e a

coordenação. Sabemos que o ritmo pode ser produzido de diversas maneiras, pois este

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se constitui como uma série de movimentos ou ruídos que ocorrem no tempo a

intervalos regulares, com acentos fortes ou fracos, que num arranjo harmônico entre

melodia e ritmo constituem a música no nosso cotidiano, e no ato de subir e descer a

contar os tempos rítmicos, a coordenação.

O step é um degrau em que a coreografia é feita em cima e ao redor deste

degrau, que dependerá da criatividade do professor. Quando orientada, sua prática não

causa lesões nas articulações, utiliza menos espaços e os alunos não se esbarram

durante as aulas.

Aliar o step com a linguagem da dança, parece-nos apropriado como unidade

didática, como elemento técnico para desenvolver o ritmo, a coordenação, a energia

fundamentais no trabalho com a dança.

A dança engloba conceitos, procedimentos e atitudes e precisa ser abordada em

toda a sua dimensão, possibilitando aos alunos: adquirir habilidades e preparo corporal

básicos para a criação e interpretação; desenvolver a percepção cinestésica, espacial e

temporal; adquirir conhecimentos teórico-práticos sobre os elementos da dança;

articular as experiências pessoais dos alunos com as informações de outras produções

(locais, nacionais e internacionais) nos aspectos da criação, interpretação e apreciação;

compreender as relações que são estabelecidas entre corpo, dança, cultura e

sociedade.

É importante que compreendam que existem diferentes visões de mundo e

diferentes formas de perceber, vivenciar e significar o corpo na dança, na sua cultura e

na de outros povos, contribuindo para que a diferença de corpo, de idéias e de valores

seja respeitada e valorizada, para que a escola seja um local de transformação e

emancipação social.

3 ANÁLISE E RESULTADOS

Os resultados apresentados referem-se à articulação de todos os eixos previstos

para este programa. Desta forma, desde os cursos, as orientações, as elaborações do

projeto foram sendo pensados dentro de uma complexidade crescente.

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No caso deste estudo, a produção Didático-Pedagógico, na forma de Unidade

Didática, subsidiou a implementação do Projeto de Intervenção na escola, bem como o

processo de estudos.

Como resultado, levantamos textos, filmes, vídeos, conforme segue:

* A Dança no Contexto da Sociedade e da Escola. Revista Brasileira de Ciências e

Movimento – vo. 2, 1988, disponível em

http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/424. Acessado em 06/06/2011.

* MARQUES, Isabel Dançando na Escola – disponível em

http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/03n1/artigo3.pdf, acessado em 06/06/2011.

Nas discussões aponta-se para o compromisso que se deve ter enquanto

educador, assumindo uma atitude consciente na busca de uma prática pedagógica

mais coerente com a realidade, em que a dança leva o indivíduo a desenvolver sua

capacidade criativa numa descoberta pessoal de suas habilidades.

Num segundo momento professores e alunos assistiram o filme, STEPHEN,

Daldry. Billy Elliot. Inglaterra, 2000, que mostra a luta se um menino, filho de pai

trabalhador, por um ideal pouco aceito, que é a dança clássica. Este vai de encontro ao

preconceito e a discriminação perante a família e a sociedade. Por fim, sua luta é aceita

pela sua família, que o ajuda na conquista do seu sonho. O contexto do filme fez

pensar, refletir, analisar, organizar e estabelecer relações entre as diversas formas de

vivências.

No terceiro momento, foi lido e debatido o texto de Nascimento, Diego Ebling e

Flávia Marchi. O Homem na dança: um estudo comparativo do sexo masculino nos

meios formais e não formais de ensino na cidade de pelotas, permitiu analisar que o

mundo da Dança, parece pertencer em grande parte ao sexo feminino, embora grandes

ícones da Dança mundialmente reconhecidos sejam do sexo masculino. Desta forma,

existe a necessidade de pesquisar a participação masculina na dança, assim como

desvendar a modalidade mais praticada por esse público. O objetivo principal do

trabalho neste texto foi comparar a prática do homem na dança, considerando os

estudos feito na cidade de Pelotas e fazendo uma comparação com nossa cidade,

utilizando uma possível pesquisa com nossos alunos, em suas preferências na

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modalidade de dança. A conclusão deste estudo, enriqueceu o conhecimento a cerca

do homem que dança com a finalidade de dar subsídios para que se desenvolva em

âmbitos diferenciados sem que motivos sócio-culturais sejam fortemente impeditivos

para que os meninos e homens sejam podados desta prática tão importante para o

desenvolvimento das pessoas.

A intenção foi buscar um sentido diferente do que está posto ao conteúdo de

dança no espaço escolar, ressalta-se a idéia de valorização da reflexão e da discussão

sobre: a letra, da música, as coreografias, as questões que envolvem a mídia, a

discriminação, o significado da dança para o homem e para a mulher na sociedade.

Quanto aos livros lidos:

• COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São

Paulo, Editora Cortez, 1993. Coleção do Magistério 2º grau. Série Formação do

Professor.

• HASELBACH, Bárbara. Dança, improvisação e movimento: expressão

corporal na Educação Física/ Rio de janeiro, Ao Livro técnico, 1988

Os professores analisaram que a pedagogia histórico crítica funciona como suporte

didático, para melhor entendimento e compreensão dos alunos no ensino-

aprendizagem crítica. Segundo Haselbach há várias maneiras e formas de trabalhar as

temáticas na forma de expressão corporal, através de oficina de improvisação e

movimentos.

Em último momento foi apresentados aos professores os vídeos:

• Araújo Lindomar. História da Dança. Disponível no site

http://educovideos.blogspot.com/2010/12/historia-da-danca.html, acesso dia

17/06/2011.

• LucianoJS . Dança criativa - PROJETO VIDANÇA, disponível no site

http://www.youtube.com/watch?v=KBmS3p8zfa4&feature=related, acesso

18/06/2011

Estes vídeos possibilitaram explorar diversos materiais em relação ao corpo que

dança. Os objetos ajudaram a experiência na dança para os mais tímidos e estimulam a

todos a criação de possibilidades de movimento pela sua própria materialidade,

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desenho, cor, forma, maleabilidade. Alguns foram de fácil contato, outros “estranhos”,

outros mais orgânicos. Porém todos os materiais de exploração e criação possibilitaram

o equilíbrio, tanto ao segurá-lo dançando com partes do corpo, bem com ficar sobre ele,

em diversas posições.

Durante a implementação do material pedagógico com os professores percebeu-

se a possibilidade da abordagem de temáticas políticas e sociais através das aulas de

educação física onde os estudantes após as leituras, debates e vídeos realizados em

sala, contemplassem os temas nas coreografias montadas para o festival anual

realizado pelo colégio.

O processo educacional atrelado a essa concepção de corpo visa,

conseqüentemente, aprimorar, controlar, vencer o corpo e seus limites físicos. Não há

preocupação com processo criativo corporal individual, muito menos em traçar relações

entre corpo, dança e sociedade. O produto é objetivo último da educação, como

podemos verificar pela presença de inúmeros festivais e concursos de dança em todo o

mundo em que o valor da dança está na performance e nas medalhas e troféus. Em

geral, nessa concepção, é privilegiado o ensino de técnicas já codificadas pelo mundo

da dança que caracteriza e marca o processo educativo. (MARQUES, p. 111, 2007)

O resultado do trabalho com os estudantes foi surpreendente, temas como:

movimentos sociais, desemprego, drogas e gravidez precoce foram retratados nas

coreografias. Percebeu-se a assimilação do conhecimento e o empenho dos estudantes

na pesquisa retratada nas músicas, vestuários e nas concepções coreográficas.

Podemos verificar, pelos apontamentos, discussões, vivencias e festival, que

houve um salto qualitativo dos alunos na compreensão da dança como conteúdo de

ensino que deve ocorrer de forma sistemática no cotidiano escolar.

Apreender a expressão corporal como linguagem que “expressam um

sentido/significado onde se interpenetram dialeticamente a intencionalidade/objetivo do

homem e as intenções, objetivos da sociedade” (Soares, et al, 1992, p. 62) foi

fundamental para a mudança de concepção durante a implementação do projeto.

Tratar o corpo sua totalidade, identificar a influência da mídia na padronização e

erotização dos corpos, desmistificar a questão de gênero, romper com o aspecto

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predominantemente técnico, resgatar a historicidade da dança formam elementos

imprescindíveis para a reflexão crítica.

É neste sentido que Vigotsky (1984) aponta a função do professor como

mediador entre o conhecimento produzido e a apreensão do mesmo pelo aluno.

De acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008), “a dança é a

manifestação da cultura corporal responsável por tratar o corpo e suas expressões

artísticas, estéticas, sensuais, criativas e técnicas que se concretizam em diferentes

práticas” (p. 70).

Tais práticas emergem sempre dentro de um contexto social, político, cultural,

daí a diversidade e a particularidade de cada manifestação dançante e a necessidade

de conhecê-las e retratá-las, buscando a identidade social dos alunos.

Na dança, o trabalho criador também é uma característica que nos remete à

idéia da arte e da dimensão artística como de fundamental importância para a formação

humana.

A arte, associada a conceito de trabalho, de história e da dialética pode ser

considerada como uma forma de trabalho e neste prisma tem uma função social (A

Dança... 1988).

Para Lukács (1978 apud A Dança... 1988)

O objeto do trabalho artístico não é o conceito em si, não é o conceito em sua pura e imediata verdade objetiva, mas o modo pelo qual ele se torna fator concreto da vida em situações concretas de homens concretos, pelo qual ele se torna parte dos esforços e lutas, das vitórias e das derrotas, das alegrias e das tristezas, como meio importante para tornar sensível o específico caráter humano, a particularidade típica de homens e situações humanas (p. 45).

Isso vai ao encontro do que Leontiev (1988) coloca sobre a criação, ou seja,

quanto mais se conhece sobre o que se cria, mas amplas são as experiências e quanto

mais experiência mais se cria.

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Isto pôde ser comprovado neste estudo na medida em que, ao utilizar as aulas

de Step Dance como recurso para a aproximação com a realidade dos alunos

proporcionando um ambiente de menos resistência, a abordagem não se limitou aos

aspectos técnicos da modalidade.

A contextualização histórica da modalidade fez surgir questionamentos e, cada

questão-problema levantada incitava o ato da criação.

A realização do Festival foi considerada como elemento fundamental para a

análise e resultado do projeto, pois representou a síntese dos alunos em relação ao

conteúdo trabalhado.

Evidenciou também a importância da mediação dos professores, com objetivos

claros, sistematizados, proporcionando o salto qualitativo dos alunos na passagem do

conhecimento do senso comum para o saber elaborado.

A teoria da “Zona de Desenvolvimento Proximal” de Vigotsky (1984) se confirma

pois, ao interferir nesta zona, o professor provoca avanços nas funções psíquicas dos

alunos ajudando-os em seu desenvolvimento.

O resultado claro do processo pode ser detectado nas elaborações coregráficas

dos alunos.

A partir de um conteúdo técnico como o Step Dance, sugiram temáticas sociais e

políticas que permeiam a realidade social destes sujeitos.

Neste sentido, consideramos que esta formação continuada concretizada pelo

projeto indica um caminho para uma nova transformação da escola publica paranaense.

Embora com várias dificuldades e ajustes a serem feitos, pode-se dizer que estamos

também dando o salto qualitativo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após levantamento bibliográfico, implementação do projeto e análise, verificamos

que a dança é um conteúdo que pode ser aplicado nas escolas nas aulas de Educação

Física, pois além de ser uma vivência corporal prazerosa e saudável, poderá

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proporcionar o bem-estar, a interação, trabalhando aspectos motores, psicológicos e

cognitivos, contribuindo para o fortalecimento do vínculo social e afetivo.

Analisou-se mediante estudo de VYGOTSKI que a criação do ser depende muito

de como este será mediado em sua vida escolar, onde os fatores externos são

totalmente relevantes para o desenvolvimento.

A dança pode favorecer a formação humana, fazendo com que os alunos

conheçam essa arte, vivenciando suas diferentes manifestações.

Espera-se que com este estudo possa contribuir para uma reflexão sobre a

manifestação cultural da dança e, por conseguinte, a possibilidade do trato desse

conhecimento nas aulas de Educação Física. Ressalta-se ainda a importância de

novas pesquisas na área, para ampliar os referenciais teóricos acerca da dança no

contexto escolar.

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