Seção de cultura do "Brasil Econômico"

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Por meio da Lei Rouanet, o Mi- nistério da Cultura (Minc) viabi- lizou R$ 1,285 bilhão em proje- tos ao longo de 2011. Para este ano, está previso na Lei Orça- mentária Anual (LOA) o desem- bolso de R$ 1,642 bilhão. Mas uma das iniciativas mais benefi- ciadas pelo incentivo do gover- no à cultura está sob ameaça: os projetos de arte- educação. Pouco viçosas para a visibilida- de das empresas quando compara- das a filmes e pe- ças de teatro, es- sas iniciativas cos- tumam ter 100% de reembolso por meio da Lei. Porém, o mode- lo de patrocínio viabilizado inte- gralmente pelo Estado pode aca- bar, caso seja aprovado o con- junto de propostas conhecido como Reforma da Lei Rouanet, em discussão em Brasília. Também integram o novo pa- cote projetos para instituir o Fun- do de Investimento Cultural e Artístico e o Vale-Cultura (tíque- te de R$ 50 reais para trabalhado- res terem o acesso a bens cultu- rais ampliados), por exemplo. A Casa de Cultura e Cidada- nia da periférica Vila Guacuri, no limite entre de São Paulo e Diadema, parceria do governo com a AES Brasil, foi palco on- tem de uma dicussão conjunta entre o Minc e grandes organiza- ções, mediadas pela H.Melillo, um grupo de articulação social. Estiveram lá contando suas experiências a Microsoft — que não recorre à Lei Rouanet e só atua na área filantrópica por meio da doação de softwares — e a Companhia Si- derúrgica Nacio- nal (CSN), que re- conheceu o quan- to o patrocínio de filmes garante mais visibilidade à empresa que os projetos sociais. O exemplo mais notório foi o apoio a “Tropa de Elite” (2007), de José Padrilha. “O maior desafio é ultrapas- sar a barreira dos departamen- tos de marketing que ainda tem a mentalidade de que proje- to sociocultural é ‘coisa pra po- brinho’”, afirma Heloisa Meli- llo, presidente e fundadora da H.Melillo. “Se faz um projeto meia-boca porque eles nem olham para os resultados, que também ficam meia-boca, cla- ro.” As sete Casas de Cultura e Cidadania custam à AES R$ 20 milhões ao ano, 100% viabiliza- dos via Lei Rouanet. José Gabriel Navarro [email protected] Programas sociocultuais na berlinda com mudanças na lei Fotos: Pedro Saad Grupo de articulação entre empresas e terceiro setor se reúne com executivos para debater rumos da filantropia A AES Brasil banca com R$ 20 milhões anuais as Casas de Cultura e Cidadanias, tudo recompensado via Lei Rouanet 2 1 4 CULTURA 3 1 A apresentação de arte circense da Casa de Cultura e Cidadania inclui números de dança moderna; 2 As acrobacias são demonstradas ao som de música épica; 3 Por trás do espetáculo, há uma mensagem de superação de obstáculos, cara aos jovens da periferia; 4 Os palhgaços, personagens mais próximos da realidade, interagem com a plateia. 36 Brasil Econômico Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de abril, 2012

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Por meio da Lei Rouanet, o Mi-nistério da Cultura (Minc) viabi-lizou R$ 1,285 bilhão em proje-tos ao longo de 2011. Para esteano, está previso na Lei Orça-mentária Anual (LOA) o desem-bolso de R$ 1,642 bilhão. Masuma das iniciativas mais benefi-ciadas pelo incentivo do gover-no à cultura estásob ameaça: osprojetos de arte-educação.

Pouco viçosaspara a visibilida-de das empresasquando compara-das a filmes e pe-ças de teatro, es-sas iniciativas cos-tumam ter 100% de reembolsopor meio da Lei. Porém, o mode-lo de patrocínio viabilizado inte-gralmente pelo Estado pode aca-bar, caso seja aprovado o con-junto de propostas conhecidocomo Reforma da Lei Rouanet,em discussão em Brasília.

Também integram o novo pa-cote projetos para instituir o Fun-do de Investimento Cultural eArtístico e o Vale-Cultura (tíque-te de R$ 50 reais para trabalhado-res terem o acesso a bens cultu-rais ampliados), por exemplo.

A Casa de Cultura e Cidada-nia da periférica Vila Guacuri,

no limite entre de São Paulo eDiadema, parceria do governocom a AES Brasil, foi palco on-tem de uma dicussão conjuntaentre o Minc e grandes organiza-ções, mediadas pela H.Melillo,um grupo de articulação social.

Estiveram lá contando suasexperiências a Microsoft — quenão recorre à Lei Rouanet e sóatua na área filantrópica pormeio da doação de softwares —

e a Companhia Si-derúrgica Nacio-nal (CSN), que re-conheceu o quan-to o patrocíniode filmes garantemais visibilidadeà empresa que osprojetos sociais.O exemplo maisnotório foi o

apoio a “Tropa de Elite” (2007),de José Padrilha.

“O maior desafio é ultrapas-sar a barreira dos departamen-tos de marketing que aindatem a mentalidade de que proje-to sociocultural é ‘coisa pra po-brinho’”, afirma Heloisa Meli-llo, presidente e fundadora daH.Melillo. “Se faz um projetomeia-boca porque eles nemolham para os resultados, quetambém ficam meia-boca, cla-ro.” As sete Casas de Cultura eCidadania custam à AES R$ 20milhões ao ano, 100% viabiliza-dos via Lei Rouanet. ■

José Gabriel [email protected]

Programas sociocultuais naberlinda commudanças na lei

Fotos: Pedro Saad

Grupodearticulaçãoentreempresase terceiro setor se reúnecomexecutivosparadebater rumosda filantropia

A AES Brasilbanca com R$ 20milhões anuais asCasas de Cultura eCidadanias, tudorecompensadovia Lei Rouanet

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CULTURA

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1A apresentação dearte circense da Casa de

Cultura e Cidadania incluinúmeros de dança moderna;

2 As acrobaciassão demonstradas aosom de música épica;

3 Por trás do espetáculo,há uma mensagem de

superação de obstáculos,cara aos jovens da periferia;4 Os palhgaços, personagensmais próximos da realidade,

interagem com a plateia.

36 Brasil Econômico Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de abril, 2012

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Três anos após o Massacre de Co-lumbine - quando em abril de1999, dois alunos dessa escolaamericana atiraram contra cole-gas -, o cantor Marilyn Mansonse pronunciou no documentá-rio “Tiros em Columbine”, deMichael Moore. À época, acusa-vam suas músicas de incitaremcomportamentos superagressi-vos como o dos jovens assassi-nos do colégio do Colorado.

Manson disse: “Nós nos es-quecemos da influência do di-nheiro, e de que o presidente[BILL CLINTON\] estava atiran-do bombas sobre o mar. Entãoeu sou um cara mau, porquecanto rock 'n' roll. Mas quem éa influência maior: o presiden-te ou Marilyn Manson? Eu gos-taria de me escolher, mas vouficar com o presidente”.

O tom político, superficial-mente raro nesse artista, ficamais claro quando se entendeque suas canções falam do queele chama de “campanha de me-do e consumismo”. É o timbreapocalíptico de quem nãoaguenta muito bem convivercom as contradições dos Esta-dos Unidos.

E é esse discurso que nova-mente se pode ouvir com graçano álbum “Born Villain” (algocomo “Vilão de Nascença”),que “vazou” na madrugada daúltima quarta-feira, alastran-do-se pelas redes sociais. Se“The High End of Low”, de2009, empolgou muito pouco acrítica e os fãs, já se sente deimediato que “Born Villain”causa um bom barulho.

Nada comparável ao desem-penho do auge da banda (que le-va o nome do vocalista), entre1995 e 2005, quando era precisogarimpar para descobrir um fil-

me de terror americano semmúsicas de Manson na trilha so-nora. Mas, desta vez, a primeirafaixa demonstra uma animaçãoantes ausente. “Hey, CruelWorld” critica a necessidade defixar destinos num mundo emque o futuro raramente se mos-tra promissor - e ele canta so-bre isso com refrão pegajoso.

“Overneath The Path Of Mi-sery” parece uma tentativa deManson, que está com 43anos, se manter ligado aos jo-vens, com uma canção que re-corre a personagens clássicaspara desancar relações familia-res (“Seu Macbeth confessou

complexo de Édipo, fora dotempo presente / Seu Macbethconfessou complexo de Édipo,fora de pré-sentença”).

IroniaOutro destaque é “Slo-Mo-Tion”, uma espécie de ironia so-bre a sociedade do espetáculo,cada vez mais veloz (“Este émeu belo show, e tudo é exibi-do em câmera lenta”). A faixa-título dá o recado essencial:“Nasci vilão / Não finja ser umavítima”. É sobre isso que Man-son versa: assumir responsabili-dades e posições diante de ummundo que, às vezes, faz muitopouco sentido. A treva e a posede malvado revestem uma poe-sia que clama por lucidez, aindaque ele já tenha feito isso commais graça em outros tempos.

Quem tiver coragem de confe-rir os gemidos e os sintetizadorestenebrosos pode recorrer à Ama-zon. “Born Villain” está à vendapor US$ 11,99 (R$ 22,50). ■

O filme é baseado no livro dememórias de Colin Clark(1932-2002), “Minha Semanacom Marilyn”. Jovem aristocra-ta, Colin (Eddie Redmayne) ti-rou a sorte grande, em seu pri-meiro trabalho profissional nocinema, ao receber como umpresente do destino a missão deassistente pessoal de MarilynMonroe (Michelle Williams) emviagem à Inglaterra para atuarem “O Príncipe Encantado”

(1957). O filme do diretor e pro-dutor britânico Simon Curtissoube contornar clichês. O lon-ga deixa nas entrelinhas algu-mas emoções de um primeiroamor entre Marilyn e Colin co-mo uma sequência que apresen-ta uma travessura da estrela, es-capando ao trabalho com o assis-tente, para uma divertida visitaa uma escola, seguida por ummergulho num lago. A política,que pode ou não ter tido algumpapel em sua morte precoce,em 1962, aos 36 anos, não é obje-to deste filme, que aborda umoutro tempo. ■ Reuters

Em 2008, 30 anos após a estreiade uma de suas criações mais ce-lebradas, “Kontakthof”, a co-reógrafa alemã Pina Bausch de-cidiu remontar o número comum elenco formado por adoles-centes sem nenhuma experiên-cia anterior em dança.

A fascinante iniciativa foiacompanhada, ao longo de umano, no documentário “Sonhosem Movimento”, dos diretoresAnne Linsel e Rainer Hoffman,

que registraram também as últi-mas imagens filmadas de Pina,morta em junho de 2009.

De diversas maneiras, “So-nhos em Movimento” dialogacom um outro documentário,intitulado“Pina”, de Wim Wen-ders. Isto acontece especial-mente porque o filme de Wen-ders, que realiza um amplo ba-lanço do trabalho da coreógra-fa, até por ter sido feito apóssua morte, inclui também al-guns trechos de “Kontakthof”,que foi remontado em 2000,com um elenco de maiores de65 anos. ■ Reuters

O professor da Università Vita-Salute San Raffaele de Milão, eescritor italiano Edoardo Bonci-nelli lança no Brasil seu livro“Carta a um menino que viverá100 anos - Como a ciência nosfará (quase) imortais”, pela edi-

tora Guarda-Chuva. Com umalinguagem acessível, o autorsustenta a ideia de que 50% dosmembros da chamada geraçãoZ - nascidos a partir da segundametade da década de 1990, vãochegar aos cem anos.

“O livro pode ser útil para osjovens começarem a pensar emum mundo diferente deste, on-

de as pessoas mais velhas de-vem encontrar motivações epropósitos para viver”, afirmaBoncinelli. O livro apresenta es-tudo sobre o que foi feito, estáacontecendo e provavelmenteocorrerá no campo da biomedi-cina, com especial atenção aoproblema do envelhecimento.O autor é geneticista. ■

“Girimunho”, que estreia hojedepois de uma boa carreira porfestivais internacionais, não éapenas um filme sobre o tempoe a saudade. O primeiro longade Clarissa Campolina e Helvé-cio Marins Júnior mistura docu-mentário e ficção ao abordar anostalgia do não vivido, a per-da e a capacidade do ser huma-no de se redescobrir e reencon-trar. Tudo isso no meio do míti-co sertão mineiro, à la Guima-

rães Rosa, onde o real e o fantás-tico nem sempre se definem.Quem são esses personagensque viveram diante das câme-ras e agora estão na tela?

Aos poucos, o filme dá di-cas, mostra uma coisinha aqui,outra ali, mas nunca os misté-rios são completamente des-vendados, permitindo ao públi-co compartilhar a vida dessaspessoas. Mais do que interpre-tar, as mulheres, homens, jo-vens e crianças vivem seus pe-quenos dramas cotidianos e en-frentam suas grandes dúvidasexistenciais. ■ Reuters

Amor em “Setedias com Marilyn”

Pina ganha“Sonhosem Movimento”

Manson retorna comalgum sangue novo

A imortalidade sob a ótica da genética

Longa baseado no livro dememórias de Colin Clarkconsegue livrar-se de clichês

Documentário de Linsele Hoffman mostra as últimasimagens da coreógrafa alemã

“Girimunho” querinvestigar nostalgia

Destaque na programação daOlimpíada

Divulgação

José Gabriel [email protected]

Longa mistura documentário eficção ao abordar capacidadedo ser humano de se redescobrir

Ronald Martinez/AFP

Roqueiro volta a clamar, com classe, pela lucidez emmeio às trevas

“Hey, Cruel World”critica a necessidadede fixar destinosnum mundo em queo futuro raramentese mostra promissor

ESTREIAS - CINEMA

Gabriela [email protected]

A programação para o Festival Londres 2012 foi anunciada ontemem uma grande celebração cultural organizada para coincidir coma Olimpíada e a Paraolimpíada. Serão 12 semanas (de 21 de junhoa 9 de setembro) de espetáculos de música, dança, teatro, cinema eartes plásticas. Entre os grandes nomes confirmados estão o cantorbritânico Damon Albarn, a atriz australiana Cate Blanchett, o artistaplástico e ativista chinês Ai Weiwei e o rapper norte-americano Jay-Z.

ÁlbumBornVillain“vazou” esealastrounasredessociais

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