Sebrae – 2013...9.6. Marketing Esportivo 105 9.6.1. Inter Lança Marca Própria de Café com a...

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  • 2013 · Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas · Sebrae

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    Carmen Lúcia Lima de Sousa

    Consultor Técnico

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    Editoração

    Eye Design

  • SUMÁRIO

    I. PANORAMA ATUAL DO MERCADO DE CAFÉS GOURMET E ORGÂNICO 71. Introdução 81.1. Objetivo Geral 91.2. ObjetivosEspecíficos 91.3. Coleta de Informações 91.4. Diagnóstico Setorial 92. História: Mundo e Brasil 102.1. O Café no Mundo 112.2. Origens do Cultivo do Café 112.2.1. O Cultivo no Brasil 122.3. Consumo do Café como Bebida 132.3.1. Formas de Consumo da Bebida 132.4. Cafeterias 152.5. Curiosidades 152.5.1. Dia Nacional do Café 152.6. Características Principais do Café no Brasil 162.6.1. Espécies: Arábica e Robusta 162.6.1.1. Arábica 162.6.1.2. Robusta 162.6.1.3. Arábica x Robusta 172.6.2. Misturas 172.7. Tipos de Café 172.8. Preparo da Bebida Café 182.8.1. Filtragem 192.8.2. Percolação 192.8.3. Prensagem 192.8.4. Pressão 202.9. Caracterização do Café Especial 202.10. Caracterização do Café Gourmet 212.11. Caracterização do Café Orgânico 223. Evolução Histórica do Mercado 243.1. Mercado Mundial de Café 253.2. Mercado Brasileiro de Café 273.3. Mercado de Café Gourmet (Brasil) 283.4. Mercado de Café Orgânico 293.5. Importação e Exportação 303.5.1. Importação 303.5.2. Exportação 313.5.2.1. Exportação de Café Gourmet 313.5.2.2. Exportação de Café Orgânico 313.6. Mercados de Destino 323.6.1. Mercados de Destino de Café Gourmet 333.6.2. Mercados de Destino de Café Orgânico 333.6.3. Tendências para o Mercado Externo 333.6.4. Projetos do Setor 343.6.4.1. Projeto Setorial Integrado de Promoção de Exportação de Café Industrializado 343.7. Consumo Interno 353.7.1. Consumo per Capita de Café 363.7.2. Perspectivas para o Consumo Interno 373.7.3. Razões para o Aumento de Consumo 373.7.4. Ameaças para o Aumento do Consumo 374. Cadeia Produtiva do Café 384.1. Cadeia de Suprimento 394.2. Etapas-chave da Cadeia de Café 404.2.1. Café – Espécies Cultivadas no Brasil 404.2.2. Escolha do Local 414.2.3. Sistemas de Plantio 414.2.4. Formação das Mudas 414.2.5. Conservação do solo 424.2.6. Preparo do Terreno 424.2.7. Preparo das Covas 434.2.8. Plantio 434.2.9. Adubação e Calagem 434.2.10. Cultivo 43

  • 4.2.10.1. Culturas intercalares 434.2.10.2. Capinas 434.2.10.3. Poda 444.2.10.4. Desbaste 444.2.10.5. Cobertura Morta 444.2.10.6. Sombreamento 444.2.11. Pragas e Doenças 454.2.12. Colheita 454.2.12.1. Processamento 454.2.13. Beneficiamento 464.2.13.1. Via Seca 464.2.13.2. Limpeza e Separação 464.2.13.3. Secagem 464.2.13.4. Via Úmida 474.2.13.5. Despolpamento 474.2.13.6. Mucilagem 474.2.13.7. Fermentação 484.2.13.8. Lavagem 484.2.13.9. Secagem 484.2.13.10. Armazenamento 484.2.14. Beneficiamento 484.2.15. Rebeneficiamento 494.2.16. ArmazenamentodoCaféBeneficiado 494.3. ClassificaçãoComercial 494.4. Café Orgânico 504.4.1. Fundamentos da Agricultura Orgânica 504.4.2. Conversão 504.4.3. CertificaçãoeComercializaçãodeCaféOrgânico 514.5. Café Gourmet 514.6. Ameaça Climática à Produção 524.7. Café Sustentável 535. Produtores 545.1. Origem da Produção 575.2. Cooperativas de Café 595.2.1. APL – Arranjo Produtivo Local 595.3. Maquinistas 605.4. Torrefadoras 605.5. Cadeia de Distribuição 625.5.1. Tendências no Canal de Distribuição Off-Trade 645.5.1.1. Supermercados e Hipermercados 645.5.2. Tendências no Canal de Distribuição On-Trade 645.5.2.1. Cafeterias 645.5.2.2. Restaurantes 655.5.2.3. E-commerce 656. Consumidor 666.1. Caracterização dos Entrevistados 676.2. Não Consumidores 676.3. Consumidores de Café 676.4. Detalhamento sobre o Consumo 686.4.1. Determinantes 686.4.2. Tipos Consumidos 686.4.3. Local de Consumo 696.4.4. Preparo da Bebida e Compra do Café 706.4.4.1. Preparo 706.4.4.2. Compra 706.4.4.3. Embalagem 706.4.4.4. Expectativa quanto ao Produto 717. Análise do Produto 727.1. DesafiosemRelaçãoàQualificação 737.2. ProgramadeQualidadedoCafé−PQC 737.3. DefiniçãodoProduto 747.4. CCQ–CírculodoCafédeQualidade 747.5. Características do Produto 747.5.1. Aspecto 747.5.2. Características Físicas 757.5.3. IdentificaçãodoPadrãodeQualidade 75

  • 7.5.4. Café Orgânico 767.5.5. CaféEspecial−BSCA 777.5.6. PadrõesMínimosdeQualidade 787.5.7. ClassificaçãoNacionaldeAtividadesEconômicas 787.6. Embalagens 807.6.1. Embalagem Primária 807.6.2. Tipos de Embalagens – Cafés Processados 817.6.3. Tipos de Embalagens – Preferência do Consumidor 837.6.4. Embalagem Secundária 847.6.5. Rotulagem 857.7. Legislação 857.8. Principais Marcas 887.8.1. ProdutoresdeCaféOrgânicoedeCaféSustentávelCertificados 927.8.2. Principais Marcas de Café no Brasil 938. Análise de Preços 948.1. Café Commodity 958.2. Café Industrializado – Preço ao Consumidor 968.3. Café Especial e Exótico 978.4. Tributação 989. Análise da Comunicação 1009.1. Introdução: As Sete Arenas da Comunicação 1019.2. Propaganda Tradicional 1029.2.1. Sabor do Café da Vovó, da Mamãe... 1029.2.2. Café Radiante 1029.3. Cadeias de Varejo 1039.3.1. MaisCriatividadenasGôndolas 1039.3.2. Supermercado Opa Inicia Trabalho com Marca Própria 1049.4. Mundo do Entretenimento 1049.4.1. Café Bob Marley é Lançado no Reino Unido 1049.5. Mundo da Moda 1059.5.1. Grife Carioca Lança Parceria com Café 1059.6. Marketing Esportivo 1059.6.1. Inter Lança Marca Própria de Café com a Spezzo 1059.6.2. Café Especial: Copa Aproxima Empresários Brasileiros e Estrangeiros 1069.7. Grandes Eventos Promocionais (Feiras, Congressos etc.) 1069.7.1. EventosEspecíficosdoSetor 1079.7.2. Eventos ABIC 1079.8. Telecentros, Varejo Digital, Internet, etc.. 1089.8.1. Apple Divulga os Top Apps de 2011 1089.8.2. Pilão Cria Talk Show de um Minuto com Narcisa 10810. Turismo e Café 11010.1. Turismo Rural 11111. Análise da Concorrência 11411.1. Momentos x Bebidas Consumidas 11511.2. Concorrência Indireta 11611.3. Concorrência Direta 11611.4. Concorrência entre Cafés 116

    II. CONCLUSÕES SOBRE O MERCADO DE CAFÉS GOURMET E ORGÂNICO 1171. Análise Estrutural da Indústria 1181.1. Forças Competitivas 1191.1.1. Entrada de Concorrentes 1191.1.2. Ameaça de Produtos Substitutos 1201.1.3. Poder de Barganha dos Fornecedores 1201.1.4. Poder de Barganha dos Compradores 1201.1.5. Rivalidade entre Concorrentes 1201.2. Complementadores 1212. Análise PFOA 1242.1. Principais Conclusões 1262.2. Setor 1262.3. Produtores 1263. Estratégia Competitiva 1284. Considerações Finais 132

    III. REFERÊNCIAS 133

  • I. PANORAMA ATUAL DO

    MERCADO DE CAFÉS GOURMET

    E ORGÂNICO

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    t 1.INTRODUÇÃOO presente estudo tem como propósito traçar um

    panorama atual sobre o mercado de café no Brasil,

    com os seguintes objetivos intrínsecos.

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    et1.1. OBJETIVO GERAL

    Tornar disponível aos empresários de micro e pequenas empresas do setor de café um

    instrumento de análise de mercado setorial, obtido por meio de dados secundários, em âmbito

    regional e nacional, com foco no mercado interno de café orgânico e gourmet.

    1.2. OBJETIVOS ESPECíFICOS

    · Fornecer ao empresário um diagnóstico nacional e regional do mercado de café que lhe permita

    ter uma visão estratégica do mesmo, identificar as oportunidades e incrementar a produção e a

    comercialização de seu produto;

    · Consolidar um banco nacional de informações desse setor, atualizado e acessível ao empresário e

    instituições relacionadas aos setores produtivos;

    · Contribuir para a disseminação de informações atualizadas e confiáveis sobre o mercado de café.

    Isso porque o estudo é uma atualização do Estudo de Mercado SEBRAE/ESPM Café Gourmet e Orgânico, realizado em 2008. Disponível em .

    1.3. COLETA DE INFORMAÇõES

    As informações constantes da Análise de Mercado de Café foram obtidas junto a diversas fontes

    secundárias, de de caráter nacional, regional, de acesso público.

    1.4. DIAGNóSTICO SETORIAL

    O diagnóstico geral do mercado setorial de café, com foco em cafés gourmet e orgânico, no mercado brasileiro, destaca suas principais características, benefícios, oportunidades, produção

    e comercialização, bem como os pontos críticos existentes na cadeia produtiva. Apresenta uma

    análise de oportunidades e ameaças externas e fraquezas e forças internas referentes ao setor, bem

    como identificação dos FCS – Fatores Críticos de Sucesso – para o mercado analisado. Além disso,

    especifica os principais aspectos mercadológicos: produtos, promoção, distribuição e política de

    preços. Destaca também as tendências do mercado setorial e recomenda estratégias para o setor.

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    t 2.HISTóRIA:MUNDO E BRASIL1

    1 Fonte: ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café.

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    et2.1. O CAFÉ NO MUNDO

    Muito se comenta sobre a real origem da planta, mas o indício mais frequentemente adotado

    está ligado a uma lenda tradicional, que se refere a um pastor que viveu na Etiópia (antiga Abissínia),

    por volta do século III d.C., chamado Kaldi. Durante as caminhadas pela região, conduzindo seu

    rebanho de cabras, testemunhou uma mudança de comportamento dos animais que ingeriam um

    fruto amarelo-avermelhado; os animais ficavam alegres, saltitantes e dotados de uma energia extra.

    Esse comportamento incomum foi atribuído a “forças sobrenaturais”, que fizeram com que o pastor

    buscasse ajuda em um monastério próximo.

    Os monges Sciadli e Aidro, ao testemunharem o fato, concluíram que se tratava de “obra do

    demônio” e imediatamente atearam fogo ao arbusto. O aroma agradável resultante dessa queima

    despertou a atenção de outros monges, que, após análise do ocorrido, decidiram levar alguns

    frutos para o monastério. A fim de avaliar o conteúdo e ação do fruto, transformaram-no em uma

    bebida, por meio de infusão. Os resultados foram surpreendentes: a bebida os ajudava a resistir ao

    sono, enquanto oravam ou durante longos períodos de leitura do breviário – surgia, assim, o café

    como bebida.

    A história rapidamente atingiu outros monastérios, iniciando o ciclo de demanda pela bebida. A

    partir daí, o fruto despertou interesse da população em geral, motivando o cultivo da planta.

    Manuscritos antigos registram a cultura do café por volta de 575 d.C., no Iêmen, para consumo in

    natura, e apenas por volta do século XVI, na Pérsia, a bebida passa a ter representatividade, sendo

    consumida a partir de grãos de café torrados.

    2.2. ORIGENS DO CULTIVO DO CAFÉ

    O café é nativo da Etiópia (África), mas foi o povo Árabe que impulsionou a cultura cafeeira.

    Esse fato explica por que o nome “café” não tem ligação com o local de origem, Kaffa, mas sim com a

    palavra árabe qahwa, que significa ‘vinho’. Os árabes dominaram o processo de cultivo e preparação

    da bebida e estabeleceram uma verdadeira reserva de mercado, não permitindo que estrangeiros se

    aproximassem das plantações.

    A partir do século XVI, o café começou a ser saboreado no Continente Europeu e, em função da

    referência com os árabes, que detinham o plantio, passou a ser conhecido como “vinho da Arábia”.

    Muitos povos europeus se interessaram pelo produto e intencionaram cultivá-lo em suas colônias,

    com destaque para os alemães, franceses e italianos. Entretanto, os holandeses obtiveram as

    primeiras mudas e as cultivaram nas estufas do jardim botânico de Amsterdã, tornando a bebida uma

    das mais consumidas na Europa.

    Com o desenvolvimento dessas mudas, os holandeses realizaram experiências de plantio em Java

    (1699), que surtiram resultados financeiros positivos; essa nova oportunidade de negócio chamou

    imediatamente a atenção de outros países da Europa. Dessa forma, os holandeses ampliaram o cultivo

    para Sumatra, e os franceses iniciaram testes nas ilhas de Sandwich e Bourbon.

    A partir do sucesso dos dois países e do aumento da aceitação pelo produto, o cultivo de café foi

    estimulado em outras colônias europeias, com expansão por países africanos e pelo Novo Mundo.

    Assim, o café levado pelos colonizadores europeus chega a vários países, como Suriname, São

    Domingos, Cuba, Porto Rico, Guianas e, de lá, até o Brasil.

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    2.2.1. O CULTIVO NO BRASIL

    O Brasil, assim como vários países do mundo, tinha grande expectativa em relação ao café e ao

    acesso às mudas. Entretanto, foi somente em 1727 que uma muda chegou ao país, mesmo assim de

    forma pouco ortodoxa. Incumbido da tarefa de obter uma muda, pelo governador do Maranhão e

    Grão-Pará, o Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta viaja à Guiana Francesa. Uma vez no país,

    o sargento aproxima-se da esposa do governador de Caiena, capital da Guiana Francesa, e obtém

    clandestinamente, uma pequena muda de café arábica, trazida escondida na bagagem até Belém: era

    o começo da trajetória de um dos produtos com maior associação com o Brasil.

    O café, a despeito da forma com que entrou no país, expandiu-se rapidamente, graças ao clima

    favorável, e passou a ocupar um lugar de destaque na geração nacional de riquezas. A cultura

    desenvolve-se por várias regiões, passando por Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais

    e Paraná, mas foi em São Paulo, no Vale do Rio Paraíba, em 1825, que essa atividade deu origem

    a um novo ciclo econômico no país. Assim, durante cerca de um século, o café constitui-se na

    principal atividade econômica brasileira, que não apenas gerou divisas, mas inseriu o país no

    mercado internacional.

    Com o crescimento da atividade, da infraestrutura envolvida e da necessidade de mão de

    obra, foram criadas campanhas no exterior, que resultaram na chegada de um grande número

    de imigrantes. Esse movimento ajudou na consolidação e expansão da classe média e até mesmo

    intensificou movimentos culturais.

    Além da classe média, fortaleceu-se uma nova classe rica no país, em substituição à monárquica

    anterior, demonstrada por meio das mansões dos fazendeiros. Entre os principais fazendeiros

    de destaque estava Alberto Santos Dumont, que, além de seu empenho nas atividades ligadas à

    aviação, projetou mundialmente o café brasileiro conhecido como tipo Santos (a maioria das pessoas

    acreditava que o nome “Santos” derivava da cidade e do porto exportado e não do “pai da aviação”).

    Apesar do forte crescimento da atividade, o cultivo do café sofreu vários reveses, em função do

    pouco conhecimento inicial da cultura e técnicas adequadas (ocasionando erosão e inviabilização da

    continuidade do plantio), da forte geada de 1870 e da crise de 1929 (queda dos preços pela quebra

    na bolsa de Nova Iorque). Dessa forma, e em busca de alternativas e de melhores resultados, o café

    migra por várias regiões do país, até se concentrar em quatro principais estados, como apresentado

    na figura 1.

    FIGURA 1 | CULTIvO DO CAFÉ NO BRASIL

    Fonte: Elaboração do pesquisador, baseado em ABIC (Os primeiros cultivos de café).

    RIO DE JANEIRO SÃO PAULO

    · Matas da Tijuca; · Vale do Paraíba;· Angra dos Reis; · Divisa com MG;· Parati. · Campina; · Ribeirão Preto.

    PÓS-GEADA DE 1870 E CRISE DE 1929

    MINAS GERAIS

    SÃO PAULO

    ESPÍRITO SANTO

    PARANÁ

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    etNos dias atuais, o café ainda mantém sua posição de destaque na economia nacional: o Brasil é o

    maior produtor mundial, com destaque para os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo,

    Bahia, além de Paraná e Rondônia.

    O volume da produção2 em 2012 foi de 50,8 milhões de sacas de 60 kg. A estimativa para 2013-

    2014 é que a produção caia entre 1,6% e 7,6%, resultando entre 46,9 milhões e 50,1 milhões de

    sacas. Apesar da queda, tem-se percebido uma queda cada vez menor entre as safras, fruto de

    tratos culturais mais adequados, crescente aumento na utilização de irrigação, manejo de podas e a

    renovação constante dos cafezais.

    2.3. CONSUMO DO CAFÉ COMO BEBIDA

    A forma inicial de consumo do café foi como fruta, seja fresca, seja posteriormente macerada

    e misturada à gordura animal (para consumo durante viagens), com o objetivo de se obterem os

    benefícios estimulantes do fruto. Os árabes deram novo uso ao fruto ao consumi-lo como bebida,

    pelo resultado de uma infusão (1000 d.C.), mas foi apenas nos século XIV que a bebida resultante

    apresentou similaridade com a atual, a partir do início do processo de torrefação.

    Em anos mais recentes, com a popularização das modernas máquinas de café expresso, o hábito

    de tomar café tomou um novo rumo, assim como a percepção sobre qualidades sensoriais, o valor

    agregado e o próprio preço final do produto.

    2.3.1. FORMAS DE CONSUMO DA BEBIDA

    O café, seja filtrado, seja instantâneo ou expresso, é uma bebida consumida principalmente pura.

    No Brasil, desenvolveu-se há alguns anos o hábito do consumo com a inclusão de chantili, leite ou

    espuma de leite, com bebidas alcoólicas (como licores), adicionado de chocolate (em pó, líquido ou em

    pedaços), canela ou no formato de drinques elaborados. Além disso, pode ser acompanhado por água

    com gás, chocolate, biscoitos e doces.

    Ao redor do mundo, o café foi absorvendo as características das culturas locais, adaptando-se e

    sendo tratado de forma diferenciada, conforme necessidades e o hábitos.

    Dessa forma, identificam-se diversas versões na forma de consumo e de ingredientes adicionados,

    como apresentado na tabela 1.

    2 Fonte: Conab (2013)

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    t TABELA 1 | FORMAS MAIS COMUNS DE CONSUMO AO REDOR DO MUNDO

    PAíS DESCRIÇÃO INGREDIENTES ADICIONAIS ACOMPANHAMENTO

    Alemanha Forte (coado ou expresso) Leite condensado e chantili

    África Coado Especiarias (cardamomo, canela, canela, alho ou gengibre)

    Áustria Forte (coado ou expresso) Chantili Figo seco, doces e bolos

    Bélgica Coado Pedaço de chocolate colocado no interior da xícara

    Brasil Coado, forte e puro Leite e chantili Biscoitos e chocolate

    Cuba Forte e adoçado

    Escócia Coado Licor de creme de café, whisky escocês e creme de leite, nata e pistache

    Espanha Coado Licor de creme catalão e leite condensado (algumas regiões)

    Estados Unidos Fraco (aguado) e expresso Chantili e leite Cookies, muffins e doughnuts

    França Forte ou expresso Chicória

    Grécia Coado Água gelada

    Índia (sul) Coado Açúcar e leite Doces

    Inglaterra Coado Pão de açúcar, café quente e conhaque, flamba-se e cobre-se com nata

    Irlanda Coado Whisky e nata

    Itália Expresso, longo ou curto Tiras de limão

    Japão Coado ou expresso Leite condensado, licor 43, brandy, canela, uma rodela de limão e alguns grãos de café

    México Coado fraco (como o americano)

    Oriente Médio Coado Especiarias (cardamomo, canela, alho ou gengibre)

    Portugal Coado ou expresso Açúcar (Bica)3

    Suíça Coado Bebida alcoólica (Kirsch)

    Turquia Bebido sem coar Açúcar

    Fonte: Elaboração do autor baseada em material da ABIC, Café Damasco e em experiência própria.

    3 Para minimizar a rejeição à bebida de origem brasileira, que era considerada amarga ao ser ingerida sem açúcar, uma cafeteria criou um slogan: “Beba isso com açúcar”; hoje, em Portugal, ao pedir um café, basta pedir uma Bica. (Comentário do pesquisador a partir do material da ABIC e de experiência com o consumo da bebida in loco).

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    et2.4. CAFETERIAS

    O hábito de consumir café encontrou grande estímulo a partir da criação das cafeterias, que

    proporcionavam não apenas espaço para consumo, mas também para interação com outras pessoas,

    desempenhando papéis diferentes em cada cultura.

    As primeiras cafeterias foram criadas em Meca, denominadas Kaveh Kanes, atendendo a uma

    necessidade muito similar à observada nas cafeterias dos dias atuais, qual seja, a confraternização: local

    onde era possível passar a tarde conversando, ouvindo música e bebendo café. Esses estabelecimentos

    também destacaram-se no Oriente (Constantinopla, Síria e regiões próximas) pela ambientação de luxo

    e por propiciar um local de encontro aos comerciantes, seja a negócios, seja a lazer.

    A partir da Itália, em 1615, o café ganha papel na vida social dos europeus. Em Veneza, a partir dos

    Botteghe Del Caffè, a bebida vira sinônimo de consumo associado a encontros sociais e música.

    Na Áustria, o café chega de forma curiosa. Após uma tentativa de invasão de Viena, os turcos

    derrotados batem em retirada e abandonam várias sacas de café (1687), que passam a simbolizar um

    marco pela vitória. Surge, então, a primeira cafeteria de Viena, onde a bebida passa a ser consumida

    após ser coada e adicionada de açúcar e leite, conhecida hoje como café vienense.

    A partir daí, as cafeterias expandiram-se pela Europa, especialmente no século XVII, enquanto

    florescia o Iluminismo e se planejava a Revolução Francesa. Durante tardes inteiras, jovens reuniam-

    se em torno de várias xícaras de café, discutindo o destino das nações, declamando poemas, lendo

    livros ou simplesmente passando o tempo. Atualmente, algumas casas famosas como o Café Procope,

    em Paris, e o Café Florian, em Veneza, ainda preservam o glamour dessa época.

    Atualmente, os cafés, apesar de terem passado por profundas transformações em termos de

    conceito de loja e do mix de produtos oferecidos (vide a figura 2), são locais que ainda desempenham

    o papel de ser o ponto de encontro para pessoas se reunirem, confraternizarem ou discutirem

    assuntos importantes, tendo como pano de fundo o antigo hábito e ritual do consumo do café.

    FIGURA 2 |

    BUTIqUE NESPRESSO EM PRAGA – REPúBLICA TCHECA

    (Cafeteria do Grupo Nestlé)

    Fonte: (acesso em 10/5/07).

    2.5. CURIOSIDADES

    2.5.1. DIA NACIONAL DO CAFÉ

    Apesar de o dia 14 de abril ser o dia internacional do café, por iniciativa da ABIC, desde 2005, o dia

    24 de maio foi incorporado ao calendário nacional de eventos como sendo o “Dia Nacional do Café”, e

    desde então a data vem sendo comemorada em todo o país.

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    t Para as comemorações, em 2013 houve várias ações previstas, como as divulgadas por algumas cafeterias (VEJA SÃO PAULO, 2013):

    · Starbucks: oferecerá gratuitamente em todas as unidades xícaras do blend comemorativo de 40 anos da rede, reunindo grãos da Colômbia, Papua Nova Guiné, Sumatra e Etiópia;

    · Café Raiz: degustação a xícara de expresso de graça;

    · Cafeteria Cafezal: oferecerá gratuitamente o temático BOB Ristretto, expresso curto e encorpado

    com creme de avelã e abacaxi;

    · Tag and Juice: apresentará uma criação da Martins Café: o Johnny5 cremoso, café coado com

    cardamomo mais creme de manga e cupuaçu;

    · Octavio Café: quem for à cafeteria do Itaim (São Paulo) ganhará uma muda da planta e poderá ver

    uma exposição de fotografias sobre o tema;

    · Caffè Latte: oferece desconto de 20% nas bebidas elaboradas com café, exceto o expresso:

    hits como o expresso macadâmia (com chocolate e macadâmia); o expresso bombom, com leite condensado; e o expresso cacau, que leva licor de cacau e chantili, vão custar R$ 5,10;

    · Suplicy Cafés Especiais: na compra de qualquer pacote de cafés da rede, os clientes ganharão de

    cortesia uma xícara da bebida e poderão escolher o método de extração da sua escolha: expresso,

    prensa francesa, coador ou turco.

    2.6. CARACTERíSTICAS PRINCIPAIS DO CAFÉ NO BRASIL

    2.6.1. ESPÉCIES: ARáBICA E ROBUSTA

    Apesar da existência de várias espécies de café no mundo, o Brasil cultiva apenas duas, que são

    as que efetivamente representam importância econômica no mercado mundial: o arábica (Coffea arabica) e o robusta (Coffea canephora).

    2.6.1.1. ARÁBICA

    O café arábica possui maior valorização em função de sua melhor qualidade, oferecendo aroma

    intenso e diferentes sabores, com variações de corpo e acidez. Com origem no oriente (Etiópia),

    apresenta grãos de cor esverdeada e é cultivado em regiões com altitude acima de 800 metros.

    Há diversas variedades dessa espécie, com destaque para o Bourbon, Mundo Novo e Catuaí. Além

    dessas, podem-se citar: Icatu Vermelho e Amarelo, Iapar 59, Tupi, Obatã, Catuaí Rubi, Topázio, Katipó,

    Catucai Vermelho e Amarelo, Oeiras-MG 6851 e outras ainda com diversas linhagens.

    2.6.1.2. ROBUSTA

    O robusta não é rico em sabores, não apresenta o refinamento do arábica, mas possui um teor

    maior de cafeína, acidez mais baixa e mais substâncias solúveis, que faz com ele seja muito utilizado

    nos cafés solúveis. Com origem na África Central, tem um trato mais rude e pode ser cultivado ao

    nível do mar (em altitudes inferiores a 400 metros).

    Apesar de seu menor valor em termo econômicos, possui grande aceitação nos mercados norte-

    americano e europeu (grandes consumidores de café solúvel).

    A variedade mais cultivada é o Conillon, cuja produtividade é considerada boa. Além disso, tem

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    etsido utilizado como porta-enxerto, resultando em mudas com maior resistência.

    Como dito, o robusta tem sido utilizado como porta-enxerto, visando a resistência aos nematoides4

    do gênero Meloidogyne spp, que atacam as raízes do cafeeiro e, através da sucção da seiva, diminuem a produção para níveis irrisórios. A técnica da enxertia em garfagem tem sido muito utilizada pelos

    produtores, na qual o robusta serve como cavalo (com sua raiz), e o cavaleiro (copa) será uma variedade

    da espécie arábica que melhor se adaptar à região ou ao esquema de plantio do produtor.

    2.6.1.3. ARÁBICA x ROBUSTA

    Ambas espécies possuem características intrínsecas que podem servir a diferentes objetivos

    de produtores e consumidores. Dessa forma, a fim de oferecer uma comparação entre elas, foi

    desenvolvida a tabela 2.

    TABELA 2 | DIFERENÇAS ENTRE ESPÉCIES

    ITENS ARÁBICA ROBUSTA

    Aroma Intenso Suave

    Sabor Maior variedade de nuances Único

    Grãos Esverdeados Marrons

    Acidez Alta Baixa

    Cafeína Menor quantidade Maior quantidade

    Cultivo Entre 400 e 1000 metros Abaixo de 400 metros

    Fonte: Adaptação de Grupo 3 Corações (2013) e CafePoint (2013).

    2.6.2. MISTURAS

    A fim de minimizar características negativas, acrescentar traços complementares ou obter

    produtos diferentes dos envolvidos, utiliza-se a técnica de mistura. Dessa forma, grãos de diferentes

    variedades, origens e tipos de preparo são combinados a fim de obter diferentes blends para um produto final. Um dos principais diferencias utilizados por produtores encontra-se no blend (mistura),

    capaz de oferecer maior qualidade da bebida e características e qualidade específicas de determinada

    marca de café.

    2.7. TIPOS DE CAFÉ

    Podem-se encontrar diversos “tipos” de café no mercado, com base em critérios de apresentação,

    classificação, adição/extração de características sensoriais e cultura, que podem se combinar sob

    diversas formas.

    4 “Os nematoides são vermes que parasitam o homem, os animais e as plantas. Nas plantas, são vermes microscópicos, caracterizados pela presença de uma estrutura chamada estilete, com o qual sugam o conteúdo das células vegetais e injetam toxinas nas plantas. [...] No cafeeiro, os nematoides mais danosos são Meloidogyne spp. (Nematoide das Galhas) e Pratylenchus spp. (Nematoide das Lesões Radiculares). Para Me-loidogyne spp. têm-se cinco espécies principais em ordem: M. coffeicola, M. paranaensis, M. incognita, M. goeldii e M. exigua. Para Pratylenchus tem-se P. coffeacomoomaisimportante.Assim,sãochamadosdefitonematóides.”–Fonte:InformativoGarcafé,maiode1998−CarlosE.de M. Otoboni.

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    t Para tanto, encontram-se as seguintes caracterizações de variáveis.· Em função da apresentação.

    » Em pó (torrado e moído): dependendo do grau de moagem, esse tipo pode ser utilizado para

    preparar o café de coador ou o expresso.

    » Em grãos torrados: apesar de mais comum para café expresso, esse tipo de produto também

    está na preferência de consumidores de café coado que não dispensam pó sempre fresco.

    » Café solúvel: grãos torrados e moídos, dos quais são extraídos os sólidos solúveis solubilizados,

    resultando em produto em forma de grânulos ou pó.

    · Em função da classificação (CNC, 2013).

    » Café tradicional: são os mais comuns; podem ser formados por diferentes espécies de grão,

    a torra geralmente é mais escura, e o gosto não é muito adocicado. O equilíbrio (doçura e

    amargura) é variável.

    » Café superior: apresenta certa flexibilidade no “blend” (mistura de grãos), podendo ter até 20%

    da variedade de grão robusta, mais utilizada em cafés solúveis. A torra não é muito escura, e o

    sabor é suave, porém mais amargo que o do gourmet;» Gourmet (ou especial): é produzido com 100% de grãos do tipo arábica, considerado o mais

    nobre dos cafés. Produz uma bebida normalmente mais doce, chegando muitas vezes a

    dispensar o uso de açúcar. O aroma e o sabor podem lembrar cereais torrados, flores, frutas

    ou achocolatados. São encontrados geralmente em embalagens valvuladas, com mecanismo

    interno que impede a saída dos gases do café e a entrada de ar. A torra varia de moderadamente

    clara a moderadamente escura.

    » Café aromatizado: contém aromatizante de amêndoa, chocolate com trufas, creme irlandês,

    menta, canela, damasco, entre outros.

    » Café funcional: fazem parte desse grupo os descafeinados, com baixo teor de cafeína, e os

    orgânicos, produzidos sem uso de agrotóxicos e sem prejudicar o ambiente.

    » Café inovador: levam esse título os cafés do tipo cappuccino, “mocaccino” (café quente, com

    espuma de leite e um bombom de chocolate sem recheio ou tablete de chocolate meio amargo),

    gelado, entre outros.

    · Em função de adição/extração.

    » Aromatizado: café com adição de aroma.

    » Descafeinado: produto que teve a cafeína extraída dos grãos verdes, antes de eles serem torrados.

    Para ser chamado de descafeinado, um café tem de ter mais de 97% de sua cafeína retirada.

    · Em função da cultura.

    » Orgânico: produzido em lavouras sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos.

    2.8. PREPARO DA BEBIDA CAFÉ5

    O processo de preparo do café foi aprimorado com o passar dos anos, sempre em busca de novas

    opções e experiências sensoriais, aliadas à praticidade envolvida. Sendo assim, a bebida pode ser

    obtida pela adição de água quente ao café torrado e moído, por meio de infusão. Esse processo pode

    ser obtido pela filtragem, percolação, prensagem ou pressão.

    5 Esse tópico, elaborado no primeiro estudo sobre café gourmet e orgânico, de 2008, com base no site da ABIC, ainda lá permanecia dispo-nível em abril de 2013.

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    et2.8.1. FILTRAGEM

    Nessa versão, o pó é colocado em um filtro (de papel ou pano) e adicionada água quente (não

    fervente) por cima. A bebida resultante é a mais caracteristicamente encontrada no Brasil, seja com

    a utilização de coadores caseiros ou cafeteiras elétricas, resultando no tradicional cafezinho (figura 3).

    FIGURA 3 |

    CAFÉ FILTRADO

    Fonte: ABIC – 25/5/2007.

    2.8.2. PERCOLAÇÃO

    Outro método possível é o da percolação, no qual o pó de café é colocado no centro de um

    equipamento (Moka), que é levado diretamente ao fogo. Quando a água entra em ebulição, o café

    líquido é pressionado para um recipiente, resultando uma bebida encorpada. Esse método é muito

    utilizado na Europa, especialmente na Itália (figura 4).

    FIGURA 4 |

    CAFÉ PERCOLADO

    Fonte: ABIC – 25/5/2007.

    2.8.3. PRENSAGEM

    A prensagem é obtida por meio de um recipiente de vidro onde se coloca o pó de café e adiciona-se

    água quente. Em seguida, introduz-se um filtro que é pressionado por um êmbolo, que separa o pó, do

    café pronto para consumo. Esse sistema virou moda entre os norte-americanos e é conhecido como

    Prensa Francesa (French Press), representado pela figura 5.

    FIGURA 5 |

    PRENSA FRANCESA

    Fonte: ABIC – 25/5/2007.

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    t 2.8.4. PRESSÃO

    O último processo a ser apresentado torna-se cada dia mais popular em todo o mundo,

    especialmente por meio das cafeterias. A pressão é resultado da ação da água (a 90 ºC e 9 kg, por

    cerca de 30 segundos) sobre o pó de café (moído na hora – café expresso) acondicionado em um filtro.

    O resultado é uma bebida cremosa e aromática. Criado pelos franceses, o café expresso é considerado

    o método mais apropriado para apreciação de todas as variações sensoriais da bebida (figura 6).

    FIGURA 6 |

    PRESSãO

    Fonte: ABIC – 25/5/2007.

    Todos os métodos apontados são difundidos no Brasil, com a oferta de equipamentos para uso

    doméstico e respectivos tipos de pó, com moagem adequada a cada processo, ou venda de grãos e

    moedores para preparo artesanal.

    2.9. CARACTERIzAÇÃO DO CAFÉ ESPECIAL

    Um café especial é caracterizado por ser de uma qualidade diferenciada, que envolve desde o

    processo de produção até o consumo propriamente dito. Entretanto, não existe uma explicação precisa

    sobre o produto, que possa culminar com uma definição exata sobre o conceito de café especial.

    Dessa forma, a fim de estabelecer uma caracterização mais aproximada, deve-se levar em

    consideração parâmetros intrínsecos da qualidade da bebida, envolvendo a variedade, origem,

    cultural e pós-colheita, além da própria condição em que os grãos foram produzidos.

    De um modo mais abrangente, deve-se considerar características tangíveis (ligadas ao produto em

    si, suas qualidades sensoriais e local de origem), assim como intangíveis, associadas ao produto, que

    contribuem para que ele ofereça uma experiência diferenciada em termos de sabor e aroma para o

    consumidor final.

    A SCAA6 (Associação Americana de Cafés Especiais) utiliza uma ampla definição sobre o

    produto, sempre com foco central em alta qualidade, partindo da análise do tipo, origem e cuidados

    no trato do produto do grão verde, passando pelas técnicas e resultados apurados na torrefação

    e preparo da bebida. Como a própria associação conclui, a questão do café especial se define na

    xícara, como resultado de todas as etapas que podem agregar valor qualitativo e quantitativo ao

    produto (SCAA, 2013).

    No Brasil, a entidade responsável pela avaliação, qualificação, certificação e fomento do café está

    a cargo da ABIC. Entretanto, quando se trata especificamente de café especial, a BSCA7, associação

    formada por produtores de café de alta qualidade, encarrega-se de avaliar e qualificar os produtos

    conforme norma rígida de avaliação.

    6 Specialty Coffee Association of America – CA, USA.7 BSCA: Brazil Specialty Coffee Association ou Associação Brasileira de Cafés Especiais.

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    et2.10. CARACTERIzAÇÃO DO CAFÉ GOURMET

    O café gourmet é reconhecido no mercado de cafés especiais como indicador de qualidade superior, relacionada a características intrínsecas do grão verde, como aroma, sabor, corpo, acidez e

    sabor residual.

    A partir da implantação do PQC – Programa de Qualidade do Café, em 2004, a ABIC estabeleceu

    normas para classificação do produto e obtenção de Selo de Qualidade da instituição. Dessa forma,

    classificou o café torrado em grão ou torrado e moído em três níveis, quais sejam, Tradicional,

    Superior ou Gourmet (tabela 3).

    Os cafés Gourmet são constituídos de café 100% arábica de origem única, ou “blendados”, que atendam às características e à qualidade global da bebida. Em relação ao aspecto, devem apresentar

    grãos de café arábico dos tipos de 2 a 4 COB8, com ausência de grãos com defeitos pretos, verdes e

    ardidos e preto, verdes e fermentados.

    TABELA 3 | CARACTERíSTICAS SENSORIAIS E qUALIDADE GLOBAL DA BEBIDA

    CARACTERíSTICAS GOURMET SUPERIOR TRADICIONAL

    Aroma Característico, Característico Fraco a moderado marcante e intenso

    Acidez Baixa e alta Baixa a moderada Baixa

    Amargor Típico Moderado Fraco a moderadamente intenso

    Sabor Característico, Característico Razoavelmente equilibrado e limpo e equilibrado característico

    Sabor Estranho Livres de sabor Livres de sabor de Moderado estranho fermentado, mofado e de terra

    Adstringência Nenhuma Baixa Moderada

    Corpo Encorpado, redondo Razoavelmente Pouco encorpado suave encorpado a encorpado

    QualidadeGlobal Muitobomaexcelente Razoavelmentebom Regularaligeiramente a bom bom

    Fonte: ABIC – Normas de Qualidade Recomendável e Boas Práticas de Fabricação de Cafés Torrados em Grão e Cafés Torrados e Moídos – Anexo I c.

    A qualidade superior está também ligada à origem da cultura, quando se explora a diferenciação

    por meio dos atributos territoriais (solo, clima, altitude e temperatura). A “denominação de origem”

    pode ser identificada informalmente, identificando-se a localização específica de uma determinada

    fazenda ou região, ou de modo formal, a partir de critérios estabelecidos na legislação, como no

    caso de Minas Gerais, que foi precursor ao estabelecê-la via decreto, que delimitou quatro regiões

    produtoras (em 1996).

    8“AclassificaçãodocafénoBrasil(COB-ClassificaçãoOficialBrasileira-Dec.LEInº27.173de14/9/49)édeterminadaatravésdotipobaseadonosdefeitosdascaracterísticasdequalidadeepelaqualidadedebebida.”−FonteSeparaçãodocafédeacordocomtamanhoecolo-ração dos grãos - Patrícia Prado Nasser e Sára Maria Chalfoun – O Cafezal.

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    t É importante ressaltar que a lei em si foi importante, mas, na prática, é fundamental estabelecer um padrão específico e inerente a cada região, para que se possa adotar sistemas de controle e

    certificação para garantia de que o produto está em conformidade com os critérios mínimos exigidos.

    2.11. CARACTERIzAÇÃO DO CAFÉ ORGÂNICO

    Para que um café possa adotar essa denominação, deve ser produzido com base em princípios

    de não utilização de agrotóxicos. Outro fator importante liga-se à adoção de sistemas de produção

    orgânica que possam oferecer um equilíbrio entre o solo e a planta, a partir do uso da matéria

    orgânica, resultando em plantas mais resistentes a pragas e doenças.

    Essa cultura, obviamente, deve seguir a filosofia mais ampla da agricultura orgânica e, como tal,

    adotar princípios básicos e sistemas de certificação capazes de atestar e garantir características

    inerentes, permitindo assim a busca de posicionamento e valores diferenciados no mercado.

    Esses pontos serão mais explorados no capítulo 4, Cadeia Produtiva.

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    t 3.EVOLUÇÃO HISTóRICA DO MERCADO Para que se possa entender melhor o desempenho do café no mercado, especialmente na sua forma de bebida, é importante considerar o segmento do qual ele faz parte, qual seja, o de hot drinks, de bebidas consumidas quentes (café, chá e outras). Esse segmento, por outro lado, pertence a outro mais amplo e genérico, representado por todas as bebidas ingeridas e que se divide na preferência do mercado consumidor entre o de alcoholic drinks − bebidas alcoólicas (cerveja, vinho, destilados, etc.) − e o de soft drinks – bebidas não alcoólicas (refrigerantes, sucos, água engarrafada e bebidas funcionais).

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    etDessa forma, considerando-se que são produtos ingeridos, a Euromonitor International9 utiliza

    a metáfora Share of Throat (participação na garganta) para designar a participação de mercado dos produtos que fazem parte dos segmentos citados, em função do consumo (gráfico 1). Em 2009, a partir

    de dados mundiais consolidados mais recentes, observou-se que as bebidas quentes só perderam em

    participação, no volume vendido no varejo, para as bebidas alcoólicas.

    GRÁFICO 1 | ShaRE Of ThROaT 2009 (%)

    Fonte: Euromonitor International (2009).

    Entre 2008 e 2009, todas as bebidas aumentaram seus volumes de venda, mas, à exceção do chá

    pronto para beber e bebidas prontas asiáticas (sucos e refrigerantes típicos), todas as categorias e

    subcategorias de bebidas tiveram queda em seu faturamento.

    Especificamente em relação ao mercado mundial de bebidas quentes, em 2011 foi atingido

    um resultado recorde de US$ 125,9 bilhões, com crescimento de 11% entre 2010 e 2011. O café

    representou, no mesmo período, 56,2% do total de bebidas quentes.

    3.1. MERCADO MUNDIAL DE CAFÉ

    Em 2012, a produção mundial de café foi de mais de 144,6 milhões de sacas de 60 kg, com

    destaque para a participação do Brasil, como maior produtor.

    Nesse setor, o Brasil tem sido líder pelo menos nos últimos 40 anos, conforme levantamento da

    OIC (ICO)10. Em 2012, a produção nacional foi de 50,8 milhões de sacas (35,1% da produção mundial),

    seguida pelo Vietnã (22 milhões), Indonésia (10,9 milhões), Colômbia (8 milhões) e ainda Etiópia,

    Honduras, Índia, México e outros países, conforme a tabela 4.

    9 Empresa de consultoria, pesquisa e inteligência de mercado global em mais de 200 países.10OIC:OrganizaçãoInternacionaldoCafé/ ICO: International Coffee Organization – site: .

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    t TABELA 4 | PRODUÇãO MUNDIAL DOS PAíSES ExPORTADORES (2007 A 2012)

    Fonte: Total Production of Exporting Countries (2010 a 2013) – ICO.

    (000 bags)

    Crop Year 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    WORLD TOTAL 116,614 128,622 122,798 133,498 135,934 144,646

    Member Countries 109,319 120,603 115,732 125,600 126,480 135,863Angola (R) Apr-Mar 36 38 13 35 29 50 Bolívia (A) Apr-Mar 133 135 142 130 143 150 Brazil (A/R) Apr-Mar 36,070 45,992 39,470 48,095 43,484 50,826 Burundi (A) Apr-Mar 133 412 112 353 204 483Cameroon (R/A) Oct-Sep 795 750 750 608 555 850Central African Republic (R) Oct-Sep 43 60 93 95 86 100Colombia (A) Oct-Sep 12,516 8,664 8,098 8,523 7,653 8,000Costa Rica (A) Oct-Sep 1,771 1,287 1,304 1,392 1,462 1,603Côte d’ivoire (R) Oct-Sep 2,317 2,397 1,795 982 1,907 2,000Cuba (A) Jul-Jun 7 12 22 26 38 100Ecuador (A/R) Apr-Mar 1,110 691 813 854 1,075 1,000 El Salvador (A) Oct-Sep 1,505 1,450 1,075 1,860 1,175 1,290Ethiopia (A) Oct-Sep 5,967 4,949 6,931 7,500 6,798 8,100Gabon (R) Oct-Sep 0 1 1 1 0 1Ghana (R) Oct-Sep 31 27 33 112 146 85Guatemala (A/R) Oct-Sep 4,100 3,785 3,835 3,950 3,840 3,100Honduras (A) Oct-Sep 3,640 3,450 3,603 4,331 5,903 4,900India (R/A) Oct-Sep 4,319 3,950 4,794 5,033 5,233 5,258Indonesia (R/A) Apr-Mar 4,474 9,612 11,380 9,129 8,620 11,250Kenya (A) Oct-Sep 652 541 630 658 680 767Liberia (R) Oct-Sep 7 12 13 10 11 10Malawi (A) Apr-Mar 19 21 17 17 27 20Mexico (A) Oct-Sep 4,150 4,651 4,109 3,994 4,546 5,160Nicaragua (A) Oct-Sep 1,906 1,445 1,871 1,634 2,210 1,342Panama (A) Oct-Sep 176 149 138 114 104 100Papua New Guinea (A/R) Apr-Mar 968 1,028 1,038 870 1,414 1,200Philippines (R/A) Jul-Jun 446 587 730 189 180 455Rwanda (A) Apr-Mar 224 369 259 323 247 400Sierra Leone (R) Oct-Sep 40 86 91 33 76 50Tanzania (A/R) Jul-Jun 810 1,186 675 846 534 918Thailand (R) Oct-Sep 650 675 795 829 831 850Timor-Leste (A) Apr-Mar 36 48 47 60 48 75Togo (R) Oct-Sep 125 138 202 160 162 150Uganda (R/A) Oct-Sep 3,449 3,290 2,845 3,203 2,817 3,000Vietnam (R/A) Oct-Sep 16,405 18,438 17,825 19,467 24,058 22,000Yemen (A) Oct-Sep 198 220 135 161 166 200Zambia (A) Jul-Jun 61 35 28 13 10 10Zimbabwe (A) Apr-Mar 31 24 21 10 9 10

    Non-member countries 7,295 8,019 7,066 7,898 9,453 8,783Congo, Dem. Rep. of (R/A) Oct-Sep 416 422 346 305 352 450Dominican Republic (A) Jul-Jun 465 645 352 378 682 550Guinea (R) Oct-Sep 323 505 49 386 351 415Haiti (A) Jul-Jun 35 359 351 350 349 325Lao, People’s Dem. Rep.of (R) Oct-Sep 393 406 434 541 486 550Madagascar (R) Apr-Mar 614 728 457 530 604 575

    Peru (A) Apr-Mar 3,063 3,872 3,286 4,069 5,581 4,750Venezuela (A) Oct-Sep 1,520 932 1,214 1,202 902 1,000Others 141 151 127 137 147 168

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    etOs Estados Unidos foram os maiores consumidores mundiais, com 26,06 milhões de sacas

    consumidas (oriundas de importação); esse resultado representou uma mínima queda em relação

    2011, da ordem de 0,12%.

    Para 2013, a produção mundial deverá ser de 145 milhões de sacas (ARARIPE, 2013),

    acompanhando uma projeção de taxa anual média de crescimento de 1,7%. Em relação ao Brasil, a

    estimativa para produção nacional de café é de queda entre 1,6% e 7,6%, resultando entre 46,9 e

    50,1 milhões de sacas. Apesar dessa retração, tem-se percebido uma queda cada vez menor entre as

    safras, fruto de tratos culturais mais adequados, crescente aumento na utilização de irrigação, manejo

    de podas e a renovação constante dos cafezais (ABIC, 2013).

    3.2. MERCADO BRASILEIRO DE CAFÉ

    O Brasil tem sido o segundo maior consumidor mundial de café, sendo que entre 2006 e 2012

    apresentou um crescimento de mais de 25,1%. Considerando-se a variação 2011 x 2012, o aumento

    foi de 3,6%, atingindo mais de 20,3 milhões de sacas consumidas (vide o gráfico 2).

    GRÁFICO 2 | CONSUMO INTERNO DE CAFÉ DE 2006 A 2012 (EM MILHÕES SACAS)

    Fonte: Indicadores de Desempenho da Cafeicultura Brasileira (ABIC, 2013).

    A indústria cafeeira no país é representada por 286,8 mil propriedades de tamanhos diversos,

    das quais 2/3 são de pequeno porte. O setor emprega mais de 8 milhões de trabalhadores diretos e

    indiretos, que agregam um valor bruto de produção de R$ 8,6 bilhões à economia nacional.11

    Conforme indicadores apresentados pela ABIC, o mercado brasileiro representa 14,1% da

    demanda mundial e mais de 46% do consumo interno de todos os 57 países produtores de café,

    baseado em volume estimado pela OIC em 2012.

    Enquanto o consumo mundial, na última década, cresceu em média apenas 2,2% ao ano, o Brasil

    apresentou um aumento de consumo interno médio de 4,02%. Entre 2002 e 2012, o consumo

    mundial variou em 24,3%, o nacional cresceu 48,3%, passando de 13,7 milhões de sacas para as atuais

    20,4 milhões (2012) (OIC, 2013; ABIC, 2013).

    11 IBGE - Censo Agropecuário 2006.

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    t Esse resultado de 20,33 milhões de sacas consumidas no mercado interno representou 40,4% da safra colhida no ano. No que se refere ao consumo per capita, ele foi de 6,23 kg de café em grão cru ou

    4,98 kg de café torrado, quase 83 litros para cada brasileiro por ano (2012).

    A partir de seu desempenho histórico, o Brasil manteve uma posição importante no cenário

    mundial do agronegócio café, por ser um dos países onde o consumo interno de café mais cresce.

    Essa tendência também vem sendo observada em relação aos países emergentes, que impulsionam o

    crescimento mundial.

    Os levantamentos da ABIC apontam que o valor exportado em 2011 foi de US$ 3,4 bilhões (33,6

    milhões de sacas, o que equivaleu a 77,2% do total e em 2012 foi de US$ 4,6 bilhões (19,9 milhões de

    sacas, o que equivale a 39,4% do total), conforme a tabela 5. Esse resultado aponta para tendências de

    maior consumo interno e de aumento do valor médio por saca exportada, fruto do aumento do valor

    internacional, mas principalmente da melhoria da qualidade.

    TABELA 5 | INDICADORES DE DESEMPENHO DA CAFEICULTURA BRASILEIRA (2006-2012)

    ITENS 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Produção (milhões de sacas) (1) 42,5 36,1 46,0 39,5 48,1 43,5 50,5

    Quantidade exportada (milhões de sacas) 28,0 28,4 29,7 30,5 33,5 33,6 19,9

    Valor das exportações (US$ bilhões) 3,4 3,9 4,8 4,3 5,8 8,7 4,6

    Preço médio (US$/saca) 120,23 137,03 160,20 140,38 172,11 259,83 232,28

    Consumo interno (milhões de sacas) (3) 16,3 17,1 17,7 18,9 19,1 19,7 20,3

    Consumo café torrado e moído e solúvel (kg/hab./ano) 5,3 5,5 5,6 5,8 6,0 6,1 6,4

    Preços do café tipo 6, bebida dura, recebidos pelos 250,33 252,43 260,37 263,20 310,91 494,95 400,98

    produtores, base CEPEA/ESALQ (R$/saca) (2)

    (1) 2012 com base no 3º Levantamento de Safra da CONAB - Setembro/12.(2) 2012 − De janeiro a setembro.(3) 2012 − Estimativa.(4) 2012 − De janeiro a agosto.

    Fonte: DCAF - CONAB - ABIC - MDIC/SECEX - OIC - CEPEA/ESALQ/BM&F. Elaboração: MAPA / SPAE / DCAF.

    Quanto aos resultados obtidos no mercado interno, em 2012, utilizando-se como base o preço

    do café tipo 6, temos que vendas realizadas atingiram R$ 8,15 bilhões (ABIC). As estimativas da

    Euromonitor, obtidas nas vendas a varejo, indicam um resultado superior ao da ABIC, atingindo R$ 12,3

    bilhões em 2012 e projetando R$ 12,9 bilhões para 2013 (EUROMONITOR INTERNACIONAL, 2013).

    3.3. MERCADO DE CAFÉ GOURMET (BRASIL)

    Estimasse que o mercado de café gourmet no Brasil ainda seja pouco representativo em relação ao total. Em 2010 correspondeu a algo em torno de 4% do mercado, ou 800 mil sacas, com uma

    participação entre 6% a 7% na receita, o que significa um volume de R$ 380 milhões (GLOBO RURAL,

    2010). Entretanto, a boa notícia foi que esse mercado cresceu 21% em relação ao ano anterior.

    Por outro lado, o volume produzido e o valor do produto sofreram queda. Em 2012, foi mais difícil

    produzir grãos especiais, devido às chuvas que ocorreram durante a colheita, resultando em queda

    entre 20% e 30% de cafés com nota acima de 80 (VALOR, 2013).

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    Além dos volumes, os preços dos cafés especiais chegaram a cair 30% no mercado internacional,

    em relação a 2012.

    De qualquer modo, apesar dessas estimativas, não existem estatísticas oficiais sobre o consumo

    de cafés gourmet, de maior valor agregado; acredita-se que a produção não chega a 5% da produção mundial de café − ou cerca de 2 milhões de sacas por ano.

    Além disso, deve-se destacar que em alguns mercados esses produtos são muito valorizados, como

    nos EUA, Alemanha e Japão.

    3.4. MERCADO DE CAFÉ ORGÂNICO

    Conforme estudo elaborado em 2012, com base em dados obtidos até 2010, a área dedica à

    plantação de café orgânico vem crescendo, tendo atingido quase 643 milhões de hectares em 2010

    (FIBL-IFOAM, 2012)12.

    GRÁFICO 3 | Área DeDica à ProDução orgânica − De 2004 a 2011 (em milhões De ha.)

    Fonte: FIBL-IFOAM (2012).

    Segundo a mesma instituição, mais de 600 mil hectares foram dedicados à lavoura de café. Esse

    resultado representou um crescimento médio anual de 19,1% entre 2004 e o último ano analisado.

    Representa também 6% do total mundial de área plantada de café em 2010, que foi de 10,2 milhões

    de hectares, segundo a FAOSTAT.

    Segundo a mesma fonte, o Brasil possui uma área dedicada à lavoura de café de 15 mil hectares,

    que representa 0,65 % da área total utilizada para a lavoura de café no país. Considerando-se que o

    Brasil tem a maior área plantada de café do mundo, conclui-se que o país possui o maior potencial de

    crescimento nesse setor.

    A produção nacional de café orgânico tem oscilado entre 80 mil e 100 mil sacas por safra, ante

    cerca de 300 mil sacas de 2003 a 2004, auge desse mercado, de acordo com Cassio Franco Moreira,

    produtor e presidente da ACOB.

    12 International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) & Research Institute of Organic Agriculture (FiBL).

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    t No início da década passada, muitos produtores entraram nesse ramo porque não existiam certificações da produção, mas depois encontraram dificuldades para colocar o café orgânico no

    mercado, conforme Moreira. Hoje, 75% da produção vai para o exterior, principalmente para os

    Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Japão (VALOR, 2013).

    3.5. IMPORTAÇÃO E ExPORTAÇÃO

    O café está cadastrado na SECEX13 sob a NCM14 de número 09.01, que é parte integrante do

    Capítulo 9 (Café, chá, mate e especiarias). Esse tópico (09.10) compreende especificamente: “Café,

    mesmo torrado ou descafeinado; cascas e películas de café; sucedâneos do café contendo café em

    qualquer proporção”.

    A partir dessa classificação numérica, é possível obter os resultados da balança comercial via

    Aliceweb (Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior na Internet)15.

    3.5.1. IMPORTAÇÃO

    O país continua desempenhando um importante papel no cenário econômico mundial como

    exportador de café, mas ainda importa o produto do exterior, principalmente o industrializado e com

    maior valor agregado.

    Entre 1996 e 2005, havia uma curva de tendência negativa em relação às importações. Entretanto,

    a partir de 2006, essa curva se alterou e desde 2007 cresceu significativamente até atingir valor

    acima de 30 milhões de US$ FOB em 2011. Em 2012, esse valor representou US$ 33,3 milhões FOB,

    ou 0,72% do valor total exportado.

    GRÁFICO 4 | IMPORTAÇãO DE CAFÉ DE 2005 A 2012 (EM GRãO, TORRADO E MOíDO)

    Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior () − Aliceweb (2013).

    13 Secretária de Comércio Exterior.14 O Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai adotam, desde janeiro de 1995, a Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), que tem

    por base o Sistema Harmonizado. Assim, dos oito dígitos que compõem a NCM, os seis primeiros são formados pelo Sistema Harmo-nizado,enquantoosétimoeoitavodígitoscorrespondemadesdobramentosespecíficosatribuídosnoâmbitodoMERCOSUL.15“OSistemaHarmonizadodeDesignaçãoedeCodificaçãodeMercadorias,ousimplesmenteSistemaHarmonizado(SH),éummétodointernacionaldeclassificaçãodemercadorias,baseadoemumaestruturadecódigoserespectivasdescrições.EsteSistemafoicriadoparapromover o desenvolvimento do comércio internacional, assim como aprimorar a coleta, a comparação e a análise das estatísticas, particu-larmente as do comércio exterior. Além disso, o SH facilita as negociações comerciais internacionais, a elaboração das tarifas de fretes e das estatísticas relativas aos diferentes meios de transporte de mercadorias e de outras informações utilizadas pelos diversos intervenientes no comércio internacional.” – Fonte: SECEX.

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    et3.5.2. ExPORTAÇÃO

    Ao final de 2012 o Brasil foi responsável por 28,2% de toda a exportação mundial de café na

    forma de grão verde, o que totalizou quase 108 milhões de sacas de 60 kg; esse resultado significou

    uma queda de 9,3% em relação ao ano anterior, conforme a OIC (2013) e a ABIC (2013).

    O volume total exportado representou um faturamento de US$ 5,7 bilhões (ABIC, 2013), com

    uma queda de 28,5% em relação ao ano anterior. Esse desempenho refletiu não apenas o menor

    volume, mas também a queda do preço médio da saca de 60 kg, de US$ 267,99 (2011) para US$

    236,52 (2012), conforme dados da ABIC (2013). Entretanto, é importante salientar que a tendência

    se mantém positiva historicamente.

    GRÁFICO 5 | ExPORTAÇãO DE CAFÉ DE 2005 A 2012 (EM GRãO, TORRADO E MOíDO)

    Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior − Aliceweb (2013); ABIC (2013); OIC (2013).

    3.5.2.1. ExPORTAÇãO DE CAFÉ GOURMET

    Como citado no item 3.3, a produção nacional de cafés especiais ainda é pouco representativa,

    estimada para 2010 em 800 mil sacas, com participação entre 6% e 7% na receita, o que significa um

    volume de R$ 380 milhões (GLOBO RURAL, 2010).

    Considerando-se que o mercado mundial foi estimado pela BSCA em 8 milhões de sacas, a

    participação do Brasil, nesse segmento, seria de apenas 10%; entretanto, segundo estimativas da

    ABIC, o Brasil é o maior exportador de café gourmet do mundo.

    Do total estimado em 2010, acredita-se que 90% são exportados e apenas 10% são consumidos

    internamente no país (HERSZKOWICZ, 2010).

    3.5.2.2. ExPORTAÇãO DE CAFÉ ORGÂNICO

    Conforme dados da ACOB (2013), o Brasil exporta 75% de sua lavoura de café orgânico. Em 2012,

    foi cerca de 75 mil sacas, considerando-se que a produção nacional tem oscilado entre 80 mil e 100

    mil sacas por safra.

    Os principais importadores são Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Japão.

    Apesar de a produção ter diminuído, a exportação vem aumentando, o que sinaliza uma alternativa

    viável para agregação de valor ao produto.

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    t 3.6. MERCADOS DE DESTINOOs maiores importadores mundiais de café, em 2012, considerando-se o volume, foram os Estados

    Unidos (24%), seguidos por Alemanha (20%) e Itália (8%). Quando se observa o gráfico 6, pode-se

    perceber que apenas 5 países são responsáveis por quase 64% de todo o volume importado dos

    países produtores.

    GRÁFICO 6 | DESTINO DAS ExPORTAÇÕES MUNDIAIS -2012 (PARTICIPAÇãO POR vOLUME)

    Fonte: Elaborado pelo pesquisador, baseado em OIC (2013).

    Especificamente em relação ao Brasil, com base nos valores obtidos junto à SECEX, via Aliceweb,

    observa-se que, em ordem de participação, os principais importadores são Alemanha, EUA, Itália e

    Japão. Como reflexo do próprio movimento da balança comercial mundial, nota-se uma concentração

    nas importações por parte de poucos países (5 mercados de destino equivalem a 64% das exportações

    do Brasil – vide o gráfico 7).

    GRÁFICO 7 | DESTINOS DAS ExPORTAÇÕES NACIONAIS -2012 (% POR vOLUME)

    Fonte: Elaboração do pesquisador, baseado nos dados da SECEX – Aliceweb em 10/5/2013.

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    et3.6.1. MERCADOS DE DESTINO DE CAFÉ GOURMET

    Não foi possível identificar com exatidão os mercados de destino de café gourmet, mas sabe-se que, conforme a BSCA, em 2010 foram exportadas 800 mil sacas.

    3.6.2. MERCADOS DE DESTINO DE CAFÉ ORGÂNICO

    Os principais importadores de café orgânico do Brasil, em 2012, foram Estados Unidos, Alemanha,

    Holanda, Inglaterra e Japão.

    3.6.3. TENDêNCIAS PARA O MERCADO ExTERNO

    Conforme estudo apresentado em 2008, o Brasil firmou há vários anos sua posição como maior

    exportador mundial de grãos de café verde, mas ainda há uma lacuna em relação ao produto torrado

    e moído e o solúvel. Em 2012, o cenário ainda permanece inalterado: do total exportado, somente

    11,7% do volume foram de café instantâneo e 0,1% de café torrado e moído, sendo este último o que

    pode oferecer as maiores oportunidades para agregação de valor (vide o gráfico 8).

    GRÁFICO 8 | PARTICIPAÇãO NAS ExPORTAÇÕES POR qUALIDADE

    Fonte: CECAFÉ (2013).

    Dessa forma, atenta às oportunidades que o café industrializado pode oferecer em termos de

    agregação de valor, a ABIC, em parceria com a APEX, vem buscando formas de promover melhor esse

    produto no exterior.

    Considerando-se que a expectativa é que o mercado de cafés especiais no Brasil cresça 15%

    versus 4% de café tradicionais, acompanhando as tendências internacionais, as associações e agências

    de fomento devem estar atentas para incentivarem os produtores nessa direção.

    Nesse sentido, devem-se considerar não apenas o aumento da qualidade, mas também o dilema

    em relação à escalada dos preços, o que indica a possibilidade de que o café conillon (robusta) possa

    ser uma alternativa para criação de blends (arranjos) competitivos. Além desse fato, a indicação de origem deve ser considerada como importante forma de adicionar valor em função do controle da

    produção e dos resultados obtidos por produtores de uma mesma localidade.

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    t 3.6.4. PROJETOS DO SETOR

    3.6.4.1. PROjETO SETORIAL INTEGRADO DE PROMOÇãO DE ExPORTAÇãO

    DE CAFÉ INDUSTRIALIzADO

    O Brasil é líder mundial na produção e na exportação de café em grãos. Entretanto, por

    representar uma commodity, notam-se limitações na adição de valor e conquista de preços maiores.

    Por outro lado, na comercialização de cafés industrializados reside a grande oportunidade de

    diferenciação e construção de marcas fortes, em nível mundial.

    Dessa forma, para dar impulso ao processo de exportação do café nacional, por meio de um

    produto industrializado (grão torrado ou torrado e moído), de maior qualidade e valor agregado,

    desenvolveu-se um projeto que fosse ao encontro de uma tendência crescente do mercado mundial

    por produtos diferenciados e competitivos: PSI para Exportação de Café Industrializado.

    Esse projeto, coordenado pelo Sindicafé-SP, em convênio com a APEX-Brasil, ofereceu

    ferramentas importantes para que a indústria brasileira de torrefação e moagem tivesse acesso ao

    mercado exportador. Com apoio à exportação e promoção comercial, o projeto criou um conceito

    de marca “guarda-chuva” que pudesse passar uma imagem única e fortalecida dos cafés de origem

    nacional. Surgia, então a marca Cafés do Brasil.

    Abaixo pode-se acompanhar importantes informações sobre o PSI:

    “O PSI de Café sob coordenação da ABIC tem sido fundamental para fomentar as vendas mundiais, e com maior valor agregado, de cafés em grão torrado ou moído produzidos no Brasil. A exportação com marca brasileira é uma iniciativa muito recente, que assumiu uma característica de negócios consistentes a partir de 2002, quando foi firmado o primeiro convênio entre a Apex-Brasil e o setor. Nesses 9 anos, em função das ações do PSI, as vendas aumentaram em quase 800%: de US$ 4 milhões, em 2002, para US$ 30 milhões, em 2009.

    O PSI estimula os negócios internacionais.As ações que compõe o PSI são voltadas para o estímulo a comercialização entre elas:· Exposição Institucional dos Cafés do Brasil – Nessa ação a ABIC apresenta os cafés brasileiros em mercados que ainda não compram diretamente do Brasil, mas apresenta uma grande potencial de negócios diretos com o mesmo. Essas ações poder ser acompanhas por empresas brasileiras quando houver interesse do empresário por determinado mercado.· Participação em Feiras de Alimentos – Oferecer aos participantes do PSI a oportunidade de contatar seus potenciais compradores em grandes feiras internacionais de alimentos e bebidas, a um custo reduzido;· Rodadas de Negócios (Projeto comprador e Vendedor) - Compradores selecionados pela coordenação executiva do PSI para reuniões práticas sobre negócios.· Apoio a Promoção no Ponto de Venda – O PSI oferece somente para os seus participantes apoio no pagamento dos custos da promoção no ponto de venda. · Elaboração de Estudos de Produtos e Mercado – Após esses anos de trabalho o PSI oferece aos seus participantes todo o conhecimento adquirido sobre os cafés industrializados vendidos em diversos mercados no mundo. Com informações de preço de varejo e analise sensorial da bebida, permitindo ao empresário determinar o produto correto para o seu potencial cliente. (MDIC, 2013)”.

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    etVárias empresas já foram beneficiadas com o projeto. Atualmente a lista de empresas

    participantes pode ser verificada abaixo:

    · Agro Food Imp. e Exp. Ltda.;· Aranha Barbosa Comércio Exp. Imp. Ltda.;· Astro Torrefação e Comércio de Café Ltda.;· Baggio Coffees exportação Ltda.;· Café Bom Dia Ltda.;· Café Cristina Com. De Cafés Especiais Ltda.;· Café Toko Ltda.;· Cafeeira Cassanho Ind. Com Ltda.;· Carreteiro Alimentos;· Cia Iguaçu de Café Solúvel;· COCAPEC - Coop Caf. E Agropecuaristas;· Companhia Cacique de Café Solúvel;· Cooparaíso - Coop. Regional dos Cafeicultores de S. Sebastião;· Daros Imp. Exp. De produtos Alimentícios Ltda.;· Ind. e Com de Torrefação de Café Jandaia Ltda.;· Moema Espresso Republic Com Imp. Exp. de Cafés Especiais Lt.;· Nhá Benta Indústria de Alimentos Ltda.;· SANCOFFEE;· Sobesa Indústria de Alimentos Santanense Ltda.;· Sol Panamby Specialty Coffees ltda.;· Spress Café Importação e Exportação Ltda.;· Torrefadora Villa da Rainha Ltda.;· Vereda Alimentos;· Herval José & Cia Ltda.;· CFX; · Ind. e Com de Café Fazenda Caeté Ltda.

    As empresas interessadas em aderir ao projeto devem contatar a coordenação executiva do PSI, por meio do e-mail [email protected].

    3.7. CONSUMO INTERNO

    O consumo de café no Brasil, em 2012, foi de 20,3 milhões de sacas, baseado no período analisado pela ABIC, entre 11/2011 e 10/2012, o que representou um acréscimo de 3,05%. Esse movimento tem sido ascendente e de 1990 até 2012 passou de 8,2 milhões de sacas para o volume atual, tendo crescido 147,6% em 22 anos (vide o gráfico 9).

    GRÁFICO 9 | EvOLUÇãO DO CONSUMO INTERNO DE CAFÉ NO BRASIL – 1990 A 2012

    Fonte: ABIC (2013).

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    t Do total consumido em 2012, 94,6% ocorreram na forma de café torrado/moído, e o restante foi representado pelo café solúvel (vide a tabela 6).

    TABELA 6 | CONSUMO INTERNO DE CAFÉ NO BRASIL – DE NOvEMBRO A OUTUBRO

    (EM SACAS DE 60 kG)

    Fonte: ABIC.

    A taxa de crescimento tem sido superior à média mundial (1,5%), apontando uma tendência

    de aumento de consumo per capita/ano, que variou positivamente em 3,05% de 2011 para 2012,

    atingindo de 4,98 kg de café torrado, quase 82 litros para cada brasileiro.

    3.7.1. CONSUMO PER CAPITA DE CAFÉ

    O consumo per capita vem aumentando nos últimos anos, tendo crescido em média mais de 29%

    entre 2002 e 2012 (vide a tabela 6).

    No último ano, atingiu 4,98 kg de café torrado (6,23 kg de café verde), com um aumento de 3,05%,

    como citado anteriormente. Esse valor equivale a cerca de 82 litros da bebida.

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    et3.7.2. PERSPECTIVAS PARA O CONSUMO INTERNO

    A expectativa do mercado para 2013 é que haja um aumento do consumo interno entre 2,5% e 3%

    em volume, atingindo 20,9 milhões de sacas.

    Em relação ao faturamento do setor, estima-se que pode crescer mais de 24%, chegando a R$ 8,7

    bilhões em 2013, contra R$ 7 bilhões em 2012 (ABIC, 2013).

    3.7.3. RAzõES PARA O AUMENTO DE CONSUMO

    Conforme levantamento da ABIC, o aumento de consumo é reflexo de vários fatores que

    historicamente vêm contribuindo para esse quadro, quais sejam:

    · melhoria contínua da qualidade do café oferecido aos consumidores, via PQC16;

    · consolidação do mercado de bons cafés tipo Tradicional, Superiores e Gourmet;· melhora significativa da percepção quanto aos benefícios para a saúde do consumo do café17.

    Além desse fato, o crescimento também advém do aumento do poder de compra das classes B, C e

    D, com destaque para o aumento do consumo no Nordeste e no Centro-Oeste.

    O aumento do consumo de café fora do lar, motivado pela expansão das cafeterias, impacta

    tanto no volume como no hábito, desenvolvendo o paladar dos consumidores, que passam a buscar

    produtos de melhor qualidade. Essa tendência é corroborada pelo aumento nas aquisições de

    máquinas de café, especialmente as de monodose (sachês e cápsulas), que apresentam preço e

    qualidade acima da média, em relação ao café torrado e moído tradicional.

    Os grandes eventos esportivos também poderão oferecer oportunidades para as empresas

    de café, seja pelo lançamento de novos produtos temáticos, seja pelo consumo em cafeterias,

    aeroportos, restaurantes e hotéis, contando com o incentivo da ABIC, que planeja ações coordenadas

    durante esse período, em conjunto com os atores do setor.

    3.7.4. AMEAÇAS PARA O AUMENTO DO CONSUMO

    Apesar das expectativas positivas em relação ao mercado, identificam-se algumas ameaças para o

    aumento do consumo:

    · ligeira elevação nos custos do grão durante 2013, uma vez que a safra brasileira será pouco menor;

    · queda nos preços do café commodity;· aumento das barreiras tarifárias para café torrado e moído, o que prejudica a exportação de

    produtos com maior valor agregado.

    16PQC−ProgramadeQualidadedoCafé,lançadopelaABICemfinalde2004.17ProgramaCaféeSaúde−CDPC−ConselhoDeliberativodaPolíticadoCafé,comapoiodoDCAF−DepartamentodoCafédaSPAE−SecretariadeProduçãoeAgroenergia,doMAPA−MinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento,dosetorprivadoe,especialmente,da ABIC.

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    t 4.CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ

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    et4.1. CADEIA DE SUPRIMENTO

    Uma cadeia de suprimentos, por definição, compreende um longo canal que liga desde as matérias-

    primas utilizadas e componentes de um produto final até os consumidores finais.

    Essa cadeia, no caso da produção do café, passa por seu cultivo (envolvendo os respectivos

    fornecedores de insumos), seu processamento, até a utilização de canais de marketing (off-trade: atacadistas, varejistas, lojas especializadas, etc. e on-trade: bares, restaurantes, cafeterias, etc.) que tornarão o produto disponível para o consumidor final.

    Com o objetivo de representar a cadeia produtiva do café, foi utilizado o mesmo esquema

    apresentado na edição deste estudo de 200818, conforme a figura 7.

    Por meio desse modelo, podem-se detectar aqueles de maior impacto para os produtores de café,

    de propriedades/empresas de menor porte e que necessitam de forte apoio não só no entendimento de

    cada uma das etapas, mas que carecem de recursos técnicos e financeiros em várias etapas da cadeia.

    FIGURA 7 | ESqUEMA DA CADEIA PRODUTIvA DO CAFÉ

    Fonte: Elaboração do pesquisador.

    18(SEBRAE/ESPM.MercadodoCaféGourmeteOrgânico(2008)disponívelemgoo.gl/2KhBsX).

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    t 4.2. ETAPAS-CHAVE DA CADEIA DE CAFÉ

    Com o objetivo de melhor visualizar etapas-chave da cadeia de café, será dada atenção inicial à

    produção da matéria-prima café, na fase de cultivo, na medida em que a escolha do tipo, forma de

    cultivo (tradicional ou orgânico) e cuidados com a qualidade final do produto são determinantes para

    as fases seguintes de processamento e comercialização.

    4.2.1. CAFÉ – ESPÉCIES CULTIVADAS NO BRASIL19

    O café é cultivado em toda faixa tropical e se adaptou às mais variadas condições ecológicas.

    Planta-se o cafeeiro em altitudes de poucos metros acima do nível do mar até além de 2.000 m (Iêmen

    e Equador), no diversos tipos de solos, sob as mais variadas condições climáticas e seguindo os mais

    diversos métodos de plantio e de cultivo.

    A espécie Coffea arabica é encontrada em 85% dos países cafeicultores, exclusiva ou juntamente

    com uma ou duas outras espécies, sendo o continente americano a sua região principal de cultivo.

    Quanto à espécie Coffea canephora (robusta), a sua introdução em cultura se deve exclusivamente

    ao fato de ser altamente resistente à ferrugem das folhas. Foi primeiramente cultivada em Java,

    pelos holandeses, em substituição a Coffea arabica, sendo hoje encontrada em todos os continentes

    produtores, predominando na Ásia e África, sendo que neste último continente predomina em quase

    80% do total plantado.

    O café Libérica é de expressão muito menor do que as duas espécies atrás mencionadas. É

    cultivado com exclusividade na Guiana Inglesa, sendo ainda encontrado em 17 outros países, nos

    quais também existem outras espécies, principalmente na Libéria, Malaia e São Tomé.

    No Brasil, cultiva-se a espécie Coffea arabica, que apresenta diversas variedades, algumas de valor

    econômico e outras de interesse para a pesquisa genética, como citado a seguir:

    · Típica: variedade que deu origem aos cafezais brasileiros e, em função da baixa produtividade, não

    está sendo mais cultivada no Brasil;

    · Amarelo de Botucatu: mutação, ocorrida em Botucatu/SP, a partir da Típica (não houve expansão

    do cultivo);

    · Sumatra: importada por São Paulo, da ilha de Sumatra em 1896, mas descontinuada em função da

    baixa produtividade;

    · Maragogipe: pouco produtiva, também foi abandonada;

    · Bourbon Vermelho: importado por Luiz Pereira Barreto, por volta de 1860 na cidade de Resende/

    RJ; tornou-se popular pela boa produtividade;

    · Bourbon Amarelo: resultante do cruzamento natural entre o Amarelo de Botucatu e o Bourbon

    Vermelho, sendo mais produtivo que o último; é procurado pelos lavradores por ter maturação

    mais precoce do que a do “Mundo Novo”. Assemelha-se ao Bourbon Vermelho, porém atinge altura

    maior, é mais vigoroso e os frutos têm o exocarpo amarelo;

    19BaseadonomaterialelaboradopeloCriarePlantar;aíntegraencontra-sedisponívelnoportal.(acessadoem22/6/2007)

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    et· Caturra Vermelho e Caturra Amarelo: mais conhecidas no ES; as primeiras produções são boas,

    porém as plantas não apresentam vigor vegetativo satisfatório;

    · Mundo Novo: resultante do Sumatra com o Bourbon Vermelho; café muito rústico e de elevada

    produtividade, várias hibridações artificiais são realizadas em Campinas, buscando recombinar

    suas características vantajosas.

    4.2.2. ESCOLHA DO LOCAL

    A primeira decisão importante para um produtor prende-se à escolha do local da lavoura, ou

    entendimento das características do terreno disponível e das necessidades de ajustes para maior

    resultado na produção.

    Sugere-se, entretanto, que sejam evitadas áreas:

    · voltadas para regiões sujeitas à ação de ventos frios, prejudiciais ao cafeeiro;

    · que tenham sido utilizadas para plantio de café há menos de 5 anos, situação propícia para o

    aparecimento de pragas e moléstias no novo cafezal;

    · com baixadas úmidas;

    · ce topografias muito íngremes, solos rasos, pedregosos ou muito erodidos.

    4.2.3. SISTEMAS DE PLANTIO

    A segunda decisão refere-se à definição do sistema de plantio, visando adequação à característica

    do local, clima e objetivos em termos de resultados desejados.

    Um dos sistemas de plantio existentes é o de livre crescimento, muito utilizado, por exemplo, nas

    culturas do estado de São Paulo.

    Para a maioria das regiões cafeeiras de São Paulo, o sistema de plantio de café que pode ser

    recomendado de modo geral é o de livre crescimento. Ao adotar esse sistema, deve-se utilizar um

    espaço indicado de 4 x 2,5 m, para as variedades Mundo Novo e Bourbon Amarelo, podendo haver

    alterações em função das condições locais. Nesse sentido, sugere-se a utilização de 2 a 3 mudas/cova,

    alinhadas e com distância entre 20 e 25 cm de uma para outra.

    Para as regiões mais altas, como as encontradas na divisa entre São Paulo e Minas Gerais,

    recomenda-se um espaço de 3 x 2 m, com 2 mudas/cova e condicionado ao decote das plantas. Esse

    sistema prevê que o decote seja renovado entre 3 e 5 anos (exceto em situações de safras elevadas,

    que indicam uma renovação logo após a colheita). Como resultado, oferece uma produção intensiva,

    especialmente nos primeiros anos, sendo indispensável a assistência mais efetiva de um técnico.

    4.2.4. FORMAÇÃO DAS MUDAS

    Antes do início do plantio definitivo, devem-se desenvolver as mudas e, para tanto, implantar um viveiro.

    O local ideal para um viveiro deve apresentar boa topografia, ser de fácil acesso, sem umidade

    excessiva, com facilidade de água para irrigação e fora da região de influência das enxurradas e

    trânsito oriundos de lavouras estabelecidas.

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    t Na tabela 7, sugere-se a adoção dos seguintes cuidados na implantação de um viveiro de mudas.

    TABELA 7 | CUIDADOS PARA IMPLANTAÇãO DE vIvEIRO DE MUDAS

    ITENS DESCRIÇÃO

    Construção Utilizar material de menor custo e fácil obtenção; esteios poderão ser de eucaliptos, bambu grosso, etc.

    Cobertura De cerca de 2 m de altura (ripas de madeira, bambu, colmos de capim napier ou colonião, folhas de indaiá, etc.)

    Densidade da cobertura

    Deve propiciar aproximadamente 50% de sol e 50% de sombra

    Sementes Optar por variedades ou linhagem selecionadas, despolpadas, de origem conhecida e do mesmo ano

    RecipientesLaminados de madeira (10 x 30 cm) e sacos de plástico – polietileno (11 x 20 cm), com espessura mínima de 0,06 mm (furados na sua metade inferior para drenar excesso de água)

    Fonte: Adaptado pelo autor de Plantar e Criar.

    4.2.5. CONSERVAÇÃO DO SOLO

    A erosão dos solos talvez ainda seja o maior fator de desgaste e decadência dos cafezais brasileiros.

    Os prejuízos causados pela má conservação do solo afetam diretamente o cafeicultor, podendo

    comprometer o sucesso de seu empreendimento.

    Nessas condições, a primeira providência na instalação de um cafezal seria a de localizá-lo em

    terrenos capazes de suportá-lo com segurança, mediante o emprego de práticas de conservação

    simples e relativamente pouco dispendiosas.

    Os solos muito íngremes ou pedregosos são contraindicados para a cafeicultura.

    Para solos de pouca inclinação, o plantio em nível, com o espaçamento tecnicamente recomendado,

    é suficiente para um controle eficiente das enxurradas e da erosão do solo.

    Além de um determinado declive calculado em razão do tipo de solo, deverão ser empregadas

    práticas mecânicas de conservação de solo, levando em consideração as particularidades do relevo e

    do tipo de solo, devendo ser consultado um técnico especializado no assunto.

    4.2.6. PREPARO DO TERRENO

    O preparo do terreno, para o plantio de café, dependerá do uso anterior do solo. Assim, se o solo

    vier sendo cultivado com culturas anuais, bastará uma aração e gradagem. Em locais de pastagem

    ou em solos compactos, para se descompactar o solo poderá ser necessária mais de uma aração e

    gradagem ou até uma subsolação.

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    etNo caso do terreno de derrubadas, de mata natural ou floresta artificial, é dispensável a aração,

    bastando uma limpeza e abertura de covas.

    Antes de iniciar o preparo, é aconselhável providenciar a análise do solo, para que as adubações

    sejam feitas de forma correta e economicamente.

    4.2.7. PREPARO DAS COVAS

    A abertura das covas para o plantio é feita em geral com o auxílio de enxadões, podendo também

    utilizar um sulcador do tipo usado para o plantio de cana, que aumenta muito o rendimento da

    abertura de covas, tornando mais econômica essa operação.

    Em condições normais, as covas deverão ter 60 cm de comprimento, 40 cm de profundidade e 40

    cm de largura. Em caso de solos muito compactados (duros), as dimensões deverão ser maiores.

    4.2.8. PLANTIO

    Deverá ser efetuado durante os meses de chuva, com o solo úmido. Deve-se dar preferência para

    o plantio nos dias encobertos ou com chuviscos leves. Dentro das covas abrem-se covetas em número

    de 3, dispostas no sentido das linhas e distantes entre si de 20 a 25 cm.

    4.2.9. ADUBAÇÃO E CALAGEM

    Tanto a adubação da cova como as adubações nos anos após o plantio deverá ser baseada na

    análise do solo e no estado geral da lavoura. Um técnico, com base nesses elementos, poderá indicar a

    adubação mais adequada para cada caso especifico.

    4.2.10. CULTIVO

    4.2.10.1. CULTURAS INTERCALARES

    A intercalação de outras plantas dentro do cafezal é aceitável apenas na sua formação, a fim

    de gerar renda ao cafeicultor enquanto não há a produção de café. As culturas intercalares variam

    bastante quanto ao prejuízo que podem causar ao cafeeiro. As principais culturas intercalares,

    na ordem crescente do prejuízo, que podem causar ao cafeeiro são: feijão, amendoim, soja, arroz,

    algodão, milho, girassol e mamona.

    4.2.10.2. CAPINAS

    As ervas daninhas podem causar grandes prejuízos ao cafezal se não forem adequadamente

    controladas. Contudo, quando o seu crescimento não for excessivo, o seu efeito na lavoura pode

    ser benéfico, controlando a erosão, contribuindo para manter o nível de matéria orgânica do solo e

    evitando o aquecimento demasiado deste e sua compactação.

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    t Durante os meses de seca, as ervas invasoras concorrem com os cafeeiros no consumo da água disponível do solo, razão pela qual as lavouras devem ser mantidas, nessa época, livres de qualquer

    vegetação estranha.

    As capinas podem ser manuais, mecânicas ou por meio de herbicidas.

    4.2.10.3. PODA

    A poda é uma operação de rotina entre os cafeicultores de vários países. Vários sistemas de poda

    são empregados e o seu objetivo principal quase sempre é o de promover a renovação dos ramos

    produtivos ou de limitar o crescimento da planta, para facilidade na colheita.

    4.2.10.4. DESBASTE

    É feito quando há excesso de brotação no tronco.

    4.2.10.5. COBERTURA MORTA

    É uma prática agrícola que consiste em cobrir todo o solo do cafezal, ou somente a parte exposta à

    ação dos raios solares, como uma camada de espessura variável de material orgânico, geralmente de

    capinas, restos de culturas ou resíduos do próprio cafezal, visando:

    · conservação da umidade da parte superficial do solo;

    · enriquecimento de matéria orgânica nas camadas superficiais do solo;

    · aumento no teor de nutrientes do solo;

    · redução das temperaturas diurnas das camadas superficiais do solo;

    · redução do excesso do teor de manganês trocável;

    · redução ou extinção das ervas más da lavoura;

    · aumentos significativos na produção da lavoura;

    · controle da erosão.

    Pontos negativos:

    · grande quantidade de material necessário à sua execução;

    · custo elevado (transporte e mão de obra);

    · aumento da incidência da geada;

    · perigo de fogo.

    4.2.10.6. SOMBREAMENTO

    O cultivo do cafeeiro nas principais regiões cafeeiras do globo, com exceção do Brasil e do Quênia,

    é feito em regime de sombra, proporcionada por árvores protetoras plantadas especialmente para

    essa finalidade.

    Como resultado das campanhas realizadas em favor do sombreamento, inúmeros cafeicultores,

    convencidos das vantagens do emprego dessa prática, experimentam o sombreamento de suas

    lavouras. Os resultados obtidos dos casos foram, contudo, negativos ou pouco convincentes.

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    et4.2.11. PRAGAS E DOENÇAS

    O cafeeiro é a planta cultivada que melhor responde aos tratos culturais a ela implementados,

    desde que as condições agronômicas da cultura sejam satisfatórias.

    Essas condições se baseiam em exaustivos estudos experimentais e em pesquisas bem conduzidas,

    permitem que uma das facetas da cultura seja grandemente facilitada: a do conhecimento e do

    controle das pragas.

    Apesar de estarem catalogadas três dezenas de espécies de insetos como pragas do cafeeiro e

    do café, sabe-se que, em culturas tecnicamente conduzidas e em armazéns bem construídos, apenas

    quatro ou cinco dessas espécies são economicamente importantes, sobressaindo-se, entre elas, a

    broca do café. O caruncho das tulhas, que tantos prejuízos tem ocasionado nos armazéns, vem em

    segundo lugar, como praga importante do café propriamente dita. Como pragas de certa importân