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Editor / PublisherAssociação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica

Director / DirectorCarlos Amaral Dias, PhD

(Professor Catedrático; Psicanalista e Presidente da Comissão de Ensino da AP)

Editor Chefe / Editor in ChiefAntónio Pazo Pires, PhD

(Professor Associado do Departamento de Psicologia Clínica e Saúde do Instituto Superior de Psicologia Aplicada – IU; Psicanalista; Fundador e

Associado da AP)

Co -edição /Co -editorsAntónio Alvim, MSc Psicoterapeuta Psicanalítico; Fundador e

Associado da AP); Ana Batarda, MsC (Psicoterapeuta e Terapeuta Familiar; Fundador e Associado da AP); Isabel Botelho MSc (Psicóloga; Psicoterapeuta, Fundadora e Associada da AP); João Pedro Dias MSc (Psicólogo Clínico; Fundador e Associado da AP); João Ferreira, MSc (Psicólogo Clínico; Associado da AP); Elisabete Fradique, MSc (Psiquiatra e Psicoterapeuta; Fundadora Associada da AP); Filipe Arantes Gonçalves MSc (Psiquiatra, Psicoterapeuta; Fundador e Associado da AP); Camilo Inácio MSc (Psicólogo Clínico; Associado da AP); Ângela Lacerda Nobre, PhD (Doutorada em Gestão; Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Setúbal, Fundadora e Associada da AP); António Mendes Pedro, PhD (Visiting Professor da Universidade Paris XIII e Professor Associado da Universidade Autónoma; Psicoterapeuta, Psicanalista e

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Psicossomaticista; Fundador e Associado da AP); José de Matos Pinto, PhD (Psicólogo Clínico; Professor Coordenador da ESE de Coimbra; Fundador e Associado da AP); Isabel Plantier MSc (Psicoterapeuta Psicanalítica; Associada da AP); Clara Pracana, PhD (Psicanalista, Professora Convidada do Instituto Superior Miguel Torga, do ISMAT e do ISPA; Consultora; Fundador e Associado da AP); Catarina Rodrigues, MSc (Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta; Associada da AP); Manuela Gonçalves dos Santos, MSc (Grupanalista; Fundador e Associado da AP).

Conselho Editorial / Editorial BoardCarlos Alberto Afonso, PhD (Professor Associado do ISPA; MFAPA

e MFTPP da AP); Conceição Almeida, MSc (Psicanalista; Membro da Comissão de Ensino da AP); Maria do Rosário Belo, MSc (Psicanalista; Membro da Comissão de Ensino da AP); José Henrique Dias, PhD (Pofessor Jubilado da UNL; Director da Escola Superior de Altos Estudos do ISMT); Maria do Rosário Dias, PhD (Professora Associada no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz; Fundadora Associada da AP); Jorge Caiado Gomes, PhD (Professor da Universidade Atlântica; Fundador Associado da AP); Mário Horta, PhD (Psicanalista; Membro da Direcção da AP); João Justo, PhD (Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa); Michael Knock, PhD (Professor Associado do ISMT; Teólogo); António Coimbra de Matos, MSc (Psicanalista; Psiquiatra; Presidente da Direcção da AP); Carlos Campos Morais, MFaPA da AP, Investigador -Coordenador apos. do LNEC, Membro Emérito da Academia de Engenharia; Cristina Nunes, MSc (Psicanalista; Membro da Comissão de Ensino e da Direcção da AP); José Gouveia Paz, PhD (Professor Auxiliar da UAL; Psicoterapeuta); Henrique Garcia Pereira, PhD (Professor Catedrático do IS; Escritor); José Carlos Coelho Rosa, MSc (Psicanalista; Vice -Presidente da Direcção e Membro da Comissão de Ensino da AP); Luís Sozcka, PhD (Psicanalista; Professor Catedrático aposentado do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade do Porto); Ana Vasconcelos, MSc (Pedopsiquiatra; Membro da Direção e da Comissão de Ensino da AP)

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Conselho Editorial Internacional / International Editorial BoardNancy Burke, PhD (Associate Professor of Clinical Psychiatry and

Behavioural Science in Northwestern University Feinberg School of Medicine – Chicago); Rochelle Suri, PhD (Licenced Marriage & Family Therapy; Associate Director of the International Journal of Transpersonal Psychology – San Francisco – California); Judith Parker, PhD (Psychoanalyst in private practice) – Beverly Hills – California); Lynn Somerstein, PhD (Director of the Institute of Expressive Analysis; Book Review Editor Psychoanalytic Review; Psychoanalyst in Practice – New York); Sandra Segan, PhD (Member of the WMAAPP (Western Massachusetts and Albany Association for Psychoanalytic Psychology; Psychoanalyst in Practice -New York)

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«Se..., Não... Revista Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica» publica artigos originais do campo disciplinar, científico e praxiológico (clínica e aplicação) da Psicanálise e da Psicoterapia Psicanalítica. Contudo, também são aceites, de forma complementar, textos que exprimam a rica diversidade de interfaces entre estes domí-nios e as diversas facetas do Desenvolvimento Humano

© 2015, AP – Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica

TítuloSe..., Não... Revista Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica

CapaXXXXXXXXX

PaginaçãoCoisas de Ler

Impressão e acabamentoXXXXXXX

Depósito legal314677/10

ISSN1647 -7367

data de edição1.ª edição, Lisboa, Junho de 2015

Coisas de Ler EdiçõesTel.: 211 919 350 – Fax: 211 919 349

[email protected]

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Índice

EditorialA arte da relação psicanalíticaCatarina Rodrigues

Teoria e ClínicaSentimento de culpa e amadurecimentoJosé Coelho Rosa

Do espaço petrificado ao espaço criativo – em Winnicott e Kohut

Patrícia Câmara

O modelo tectónico da mente entre a pulsão e o objectoCristina Nunes

O significado do trabalho zelosamente investido na construção da identidade do adulto

Teresa Costa Santos e Luís Delgado

Factores de risco desenvolvimental na adolescência: da métrica à clínica

José Manuel de Matos Pinto

Clínica“Como isso pôde acontecer?” Entre abusados e abusadores:

a violência do “sistema”Alexandra Medeiros

Um caso de abuso, história e análise clínicaRui Ferreira Nunes

Passado traumático e nova relaçãoJoão Balrôa

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Enquanto não há amanhã, ilumina -me – a necessidade de uma relação em co(pertença)

Eliana Baptista

A menina, mulher de cor de rosaJoana Gonçalves

Comentário do caso clínico – A menina, mulher de cor de rosaMaria Rosário Belo

Psicanálise e CulturaA cura, de pedro eirasAna Marques Gastão

A hora da estrelaCatarina Pinto Guimarães

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Clínica

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ENQUANTO NÃO HÁ AMANHÃ, ILUMINA -MEA NECESSIDADE DE UMA RELAÇÃO EM

CO(PERTENÇA)

Eliana [email protected]

RESUMOEste trabalho pretende apresentar e refletir um acompanhamento psicoterapêutico,

ainda em curso, com uma adolescente de 14 anos cuja dinâmica relacional familiar se verificou como destrutiva para o seu amor próprio, a sua auto -imagem e relações com os outros. Face a esta toxicidade de relações e seus ecos emocionais mobilizou um conjunto de defesas inibitórias que resultaram num aniquilamento de Si que invadia qualquer área da sua vida.

Palavras -chave: -transferência.

O INÍCIO

“Enquanto não há amanhã, Ilumina -me, ilumina -me. (…)”Pedro Abrunhosa, Ilumina -me.

CláudiaI, 12 anos, chega à consulta através da tia paterna (com quem atualmente mora) que manifesta preocupação relativamente ao decréscimo do rendimento escolar da sobrinha e que a ameaçava de reprovar no segundo período do ano letivo de 2012 (tinha 4 negativas no 7º ano). Neste início, sobressaiu a ausência de pais e o facto da tia não parecer sintonizada com o mundo interno da jovem, isto é, com o seu sofrimento, pois o pedido focava -se na performance escolar da Cláudia sem recurso a qualquer associação afetiva e/ou vivencial que pudesse ter conduzido a sobrinha a este sintoma. A sublinhar este meu primeiro sentir esteve a forma como verbalizou: “Olhe, venho até cá para ver o que se passa com a miúda! Não percebo porque é que ela está assim. Nunca foi uma criança com notas excelentes, mas agora está demais! Veja bem que até se recusou a fazer

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um trabalho para a escola porque tinha de o apresentar diante da turma e teve vergonha!”. O sentimento de vergonha tem acompanhado o trajeto de compreensão da Cláudia, imprimindo -se na sua vida muitas vezes com força e magnitude paralisantes. Sentimento que esconde uma vivência afetiva de falta e a ideia de estar incompleta, sem atributos gostáveis e com o insucesso sempre no ponto de partida e na meta.

A Cláudia, ainda que de forma não verbal, pedia algo muito diferente da tia paterna, algo mais interno. Pedia afeto, compreensão, significação e um novo olhar sobre si. Este pedido, o que sempre me importou, lia -se no seu olhar tímido, mas brilhante e solícito. Daí que a música do Pedro Abrunhosa me sussurrasse ao ouvido com o pedido: Ilumina -me. Ilumina -me para o hoje, para o aqui e agora nosso, das duas, para o ontem, pois o amanhã não faz sentido sem estes outros dois tempos. Provavelmente o farol de que nos fala o Prof. António Coimbra de Matos.

A Cláudia é uma adolescente com uma aparência física tipicamente adolescentil unhas pintadas, um longo cabelo negro, indumentária jovial que contrastavam com a imagem infantilizada e regressiva que transmitia na relação através do tom de voz (muito baixo quase inaudível, parecendo ter medo e inexperiência em se fazer escutar e ser escutada), da dicção (“fala abebezada” muitas vezes difícil de se perceber), da postura encolhida (ombros curvados e cabeça baixa com olhar para o chão), da pele pálida (parecia anémica) e da inibição elevada (falava por monossílabos e passava a maior parte do tempo em silêncio, não querendo também (co)elaborar em jogos, desenhos, etc.). Quando a questionei sobre o pedido que a tia paterna trazia querendo conhecer a sua opinião, escuto apenas, “Hum… não sei.”. Não sabia mesmo ou tinha medo de ter consciência do que sabia, sentia e pensava? Durante algum tempo esta dúvida acompanhou -me, atualmente penso que tinha medo de pensar e sentir o que poderia desejar da relação psicoterapêutica porque, aliados ao desejo e ao conhecimento de si, a zanga e o desamparo oriundos das vivências abandónicas viriam com a mesma força com que os escondeu.

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Penso que a valorização que fui fazendo do seu mundo emocional, no fundo de si enquanto pessoa inteira ao invés do foco parcial comportamental a que estava habituada, da mesma forma que a fazia sentir -se interessante e acolhida afetivamente, também parecia tratar -se de uma linguagem que lhe era estranha. Durante muito tempo senti que, por um lado, a compreensão afetiva fazia -lhe sentido e abria -lhe portas de entendimento e crescimento; por outro lado, era algo que não lhe era familiar e temia -o. A sua resistência e a defesa face a esta nova relação verificou -se no início também através do esquecimento em bloco do que acontecia nas sessões.

A reflexão de Freud (1914), ecoava em mim, pois era necessária uma calma atenta, nem sempre fácil em detrimento da contratransferência que a adolescente me suscitava:“Deve -se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência com a qual acabou de se familiarizar, para elaborá -la, para superá -la, pela continuação, em desafio a ela (…).”II Não poderia ser diferente, era preciso dar tempo para esta nova relação nascer. Afinal, sentindo a sua falha narcísica precoce, que lugar teria ocupado ela desde início no coração dos seus objetos? Mais importante, que lugar pensaria ela ocupar dentro dos seus objetos de amor?

Perante a sua escassa verbalização foi de extrema pertinência conhecer a sua realidade e história de vida e a dos seus objetos, estou certa de que sem ela, a tarefa de sinalização cooperativa que o Prof. António Coimbra de Matos (2011) nos fala seria impossível: “O educador ou o analista é, sobretudo, uma referência social que reassegura o educando/analisando na sua viagem pelo pensamento e marcha na realidade. É o farol que ilumina o campo; quem escolhe o caminho e o trilha é o educando/analisando. Desresponsabilização profissional? Não. São responsáveis pela qualidade da luz e orientação do feixe luminoso. (…) sinalização cooperativa.” (p. 32).

Atentemos à anamnese.

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PATRIMÓNIO VIVENCIAL DA ADOLESCENTE E DOS SEUS OBJETOS

Uma criança é inocência e esquecimento,Um novo começo, um jogo, um moto -contínuo, um primeiro movimento,

Um “sim” sagrado. Para o jogo da criação um “sim” sagrado é necessário …Nietzsche

Dada a complexidade da sua história de vida, bem como da dos seus pais, aliadas à dificuldade da Cláudia verbalizar algo que falasse de si, durante algum tempo fiquei muito ligada aos factos anamnésicos como fonte de entendimento da jovem (nunca descurando o que a jovem me fazia sentir ou pequenos sinais que emitia). Houve vezes em que me senti mais ligada à sua angústia de desamparo e menos ao que me trazia para construirmos uma história nova e diferente…

Cláudia vive em Portugal desde os seis meses de idade com os avós paternos e desde os 12 anos com a tia paterna (viúva, mãe de uma jovem adulta independente, sempre foi quem geriu a educação da Cláudia), porque, segundo a última, estaria a ser “muito respondona para a avó paterna que já tem muita idade e já não conseguia lidar com a neta”. De notar que por mais esforço que eu fizesse não conseguia, nem por um só segundo, imaginar tal cenário, era uma imagem da adolescente que contrastava em absoluto com o que eu via e sentia. Este facto permitiu -me desde logo formular a pergunta: O que estava a ser projetado na Cláudia?

A tia e a avó paternas são Testemunhas de Jeová e a Cláudia, sem qualquer escolha, também. Esta é uma religião fortemente castradora, persecutória e muito robotizante: nada que tenha a ver com o prazer de viver ou com a possibilidade de escolher, ser livre é autorizado e todos têm que funcionar como um só. Coloca muitas proibições ao ensaio e experimentação da e na vida e, por conseguinte, é um obstáculo fortíssimo ao desenvolvimento afetivo desta adolescente. Penso muitas vezes que há limites na vida da Cláudia intransponíveis (pelo menos nos próximos anos…), senti -me em diversos momentos impotente, tal como ela se sente. A criatividade era e é a nossa única hipótese de progressão.

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Até aos 6 meses de idade viveu no Chile com os pais que vieram com ela para Portugal e sempre viveram ao pé da filha, mas não na mesma casa. Demitiram -se, alienaram -se desde cedo.

Atualmente o seu pai vive em França desde 2010 a mãe desde 2011, pois, na área da construção civil já não havia trabalho para o progenitor e ambos viram na emigração a única solução viável de subsistência. A autorização pelos pais para a psicoterapia fez -se por escrito através da tia. Apesar de totalmente desligados da vida da Cláudia, mantêm o poder paternal sobre a mesma, o qual nem a tia ou a avó paternas querem para si, nem os pais o legitimam. A Cláudia vive num como se, como se fosse filha, na verdade sente -se a pertencer a ninguém, mas sob o poder de alguém (de uma espécie de identidade abstrata personificada nuns pais que efetivamente ainda está a conhecer).

Até Janeiro de 2013, altura em que eu sabia que os pais viriam a Portugal, conseguindo dificilmente agendar uma sessão com eles, nunca houve qualquer contacto destes comigo, apesar de lhes ter enviado por correio uma apreciação psicológica inicial, a 29 de Maio de 2012, para melhor compreensão psicológica da filha e como forma de pudermos iniciar algum diálogo (já que além de pais, a possibilidade da Cláudia ir viver com eles é uma hipótese real).

Quando a mãe partiu (em 2011), a Cláudia entrou em depressão, mas, como não chorava nem dizia porque estava cada vez mais fechada ao mundo e desinteressada pela vida, a ninguém ocorreu que o afastamento dos pais poderia ter despoletado esta angústia e que ela própria não conseguiria identificar o que sentia. Além do facto de deixar de viver com a avó paterna (meses depois da ida da mãe) com quem sempre esteve desde bebé ter significado um duplo abandono/rejeição. Só um ano mais tarde, quando as notas escolares ameaçavam a repetição de ano fui consultada pela tia paterna no sentido de uma avaliação psicológica.

O contacto da jovem com os pais faz -se frio e semanalmente via Skype, no Natal quando vêm a Portugal e na Páscoa e Verão quando a Cláudia viaja até França para junto deles.

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O pai de Cláudia, 48 anos, tem um passado de toxicodependência e foi pela antiga Associação Le Patriache enviado para o Chile para realizar uma desintoxicação. Findo este período, ficou lá a trabalhar como construtor civil (a sua profissão). Conheceu lá a mãe de Cláudia, 45 anos, chilena de nacionalidade que já tinha uma filha adolescente de outra relação (sem qualquer contacto com o antigo parceiro). Os pais vieram para Portugal, procurando melhores condições de vida, com Cláudia de apenas 6 meses de idade e com a sua meia irmã (com 16 anos na altura), que mais tarde saiu de casa, engravidou e tem os seus filhos institucionalizados por negligência grave. Não há contacto da Cláudia com a irmã.

Há, portanto, um histórico de negligência e abandono que a mãe (mais tarde em conversa) nega ter qualquer influência no percurso das filhas. Sobre a mãe e a sua cultura pouco se sabe.

Quando o casal chegou a Portugal a tia e a avó paternas viram que a bebé corria risco de vida: era uma bebé mal -nutrida, estava com uma grande anemia, não tinha qualquer vacinação e apresentava uma grande falta de higiene. Ambas decidiram cuidar da bebé levando -a à pediatra e resolvendo os seus problemas de saúde, nutrição e higiene. Desde que veio para Portugal ficou apenas algumas vezes em casa dos pais, mas, como não se alimentava bem, faltava frequentemente ao Jardim Escola porque a mãe não acordava a tempo de a arranjar, foi decisão de todos que a menina estaria melhor com a avó paterna. De notar que à Cláudia nenhuma explicação foi dada até hoje que justificasse o não morar com os pais, muito menos houve a preocupação de a escutar nos seus desejos, receios e necessidades afetivas. A imagem com que fico é a de um objeto de disputa narcísica sem identidade, colocado aqui ou ali consoante as vontades de outros. Talvez por incorporação desta não identidade, a primeira vez que a vi tenha ficado com a imagem fortíssima de uma “morta -viva”.

Este património vivencial parecia ter conduzido a Cláudia a adotar como mecanismos de defesa: o deslocamento da agressividade e sua inversão para si (“Sou uma parva. Vão gozar comigo.”), a retração narcísica (inicialmente, sempre calada, sem sonhos ou qualquer atividade simbólica), o recalcamento profundo das características negativas do objeto (só no final deste ano letivo começou a refletir sobre os lados negativos da mãe, pai e tia paterna, ainda que muito timidamente) e a cegueira quanto aos

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seus próprios aspetos positivos (“Tenho vergonha, acho que vão pensar que sou uma parvinha.”), a dificuldade no reconhecimento das insatisfações relacionais recentes e passadas, o evitamento generalizado que marcava a sua inibição quase em bloco.

A adolescente fazia lembrar Peter Pan, aliás a sua história infantil preferida, o menino órfão da Terra do Nunca. Longe de se arriscar em aventuras mesmo que imaginárias, encontrou um lugar idealizado e embalado ao som da melodia das músicas dos One Direction (ironia do nome, um rumo!), o suporte para muitas das suas angústias e a esperança numa relação onde fosse amada.

Como dizia Nietzsche, era necessário um sim sagrado ou um afeto incondicional na relação psicoterapêutica.

A VIDA RELACIONAL NO INÍCIO DA PSICOTERAPIA

Em criança, no pré -escolar e 1º ciclo, sempre se relacionou apenas com os mais frágeis, crianças mais novas ou deficientes (com os quais se identificava e em relação aos quais não correria o risco de rejeição). Havia uma exceção, a amiga Sara que sempre a acompanhou em todo o seu percurso escolar até hoje, 9º ano. A Sara é, na imagem que Cláudia transmite, uma jovem mais extrovertida e que serve muito de motor de arranque à última, ou seja, de amparo. Também Sara não bem é sucedida socialmente por ser gordinha e demasiado expansiva e impulsiva. Estavam extremamente ligadas numa relação de dependência que incomoda muito a tia paterna (há vida e alegria, a tia agarrada à religião Jeová não o pode permitir). Ainda assim, a única relação até à data continuada e autêntica:“Eu ao pé dela, sinto -me à vontade para rir, fazer parvoíces, não tenho vergonha.”. Não tinha vergonha também porque Sara vivia problemas de rejeição social pela aparência física… estavam no mesmo barco, procuravam um rumo parecido, mas não saíam do mesmo lugar completavam -se, não se complementavam.

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O INÍCIO DA PSICOTERAPIA

“As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: Como é a

voz dele? A que é que é que ele gosta de brincar? Faz coleção de borboletas?”O Principezinho, pp. 19, Antoine de Saint -Exupèry.

A psicoterapia iniciou -se a 08/05/2012 e dura até hoje (2014) com frequência semanal, tendo como interrupções as férias letivas. Cláudia iniciou com 12 anos tendo agora 14. Eu tenho a sensação de que estou com ela há muito mais tempo, penso que pela fácil identificação à sua angústia e intensidade com que vivi o processo psicoterapêutico. Durante este tempo, conversei várias vezes com a tia paterna (sempre com conhecimento e anuição da sobrinha) por forma a que se sintonizasse mais com o sofrimento e necessidades da jovem, conversei uma vez com os pais e reuni na escola com a Diretora de Turma por forma a que o espaço escolar pudesse integrá -la mais e ela pudesse estar mais tempo “fora de casa” com amigos.

No primeiro dia na sala de espera, reparei que estava a ler o Principezinho, perguntei -lhe se já o tinha lido, disse -me que não. Sessões mais tarde expressa desejo em levá -lo para casa. Lê apenas o princípio e devolve. Fica -lhe o excerto acima transcrito, no fundo o seu pedido para mim. É assim que passados cerca de 3 meses de psicoterapia a jovem pede -me mais abertamente que a conheça por dentro, que inauguremos juntas uma relação diferente, que tracemos um novo rumo. Ao mesmo tempo que abriu a porta para conversarmos sobre o que sente que lhe faltou na relação com as “pessoas crescidas” e o que espera vir a construir comigo.

Em sessões anteriores, não sabia bem como chegar a esta rapariga que praticamente não falava, não jogava, resistia a desenhar, estava em anestesia geral. No entanto, estava segura de que se sentia bem comigo e me queria pedir algo pelo olhar brilhante e solícito que de vez em quando me dirigia. Sabia que a inibição não era só difícil para mim, mas acima de tudo para ela, era uma inibição de medo e isso preocupava -me. Preocupava -me que ela uma vez mais pudesse sentir que não tinha nada de bom para dar e que pensasse que também eu me desinteressaria em conhecê -la. Era aqui que morava a sua vergonha. Preocupava -me que ambas caíssemos numa

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inércia de embalo ou bloqueio e ficássemos por ali.Na primeira sessão, para além de deixar claro que não estava ali com o

propósito de “trabalhá -la” para ter boas notas (separando -me do pedido da tia), pois acreditava que quando se começasse a sentir bem consigo mesma, isso seria natural mesmo que implicasse esforço; procurei acima de tudo que sentisse que desejava ajudá -la a ultrapassar o seu sofrimento e a sentir -se cada vez mais feliz, com identidade própria. Por forma a conhecê -la melhor, pedi -lhe que desenhasse uma família e que posteriormente me contasse uma estória livre sobre o desenho (figura 1). O desenho fala por si, vazio, sem cor, figura humana sexualmente indefinida. Algo de ação, no entanto, caraterizava a figura humana: “Alguém de costas a ir -se embora.” Não sabe quem é este alguém, nem do que se vai embora, muito menos para onde, mas sabe que a pessoa que desenhou está feliz. É a única frase que profere sem uma questão minha prévia. Sublinhou assim, o seu próprio desejo de voltar as costas às vivências abandónicas e castradoras, em busca de um novo rumo que provavelmente ambas traçaríamos. Já na casa do desenho vivia uma família adulta em conjunto: avós, tios, pais e filhos. O antídoto contra a angústia de separação, contra a falta de pertença, contra a vida a prazo (Até quando ficará a viver com a tia? Até quando ficará em Portugal comigo, com a Sara?). Uma certa ambivalência instalada: o desejo de partir primeiro e o de ficar e confundir -se numa possível identidade familiar, de pertença, em segundo.

Figura 1 – Desenho da Família

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Seguidamente pedi -lhe um desenho livre (Hoje sei que a assustei. Livre? De que estaria eu a falar?): fez 3 riscos mínimos e sumidos a verde, azul e amarelo, não há estória, nem significado para ela (figura 2). A inibição e o evitamento. O medo de desejar. O medo de se zangar. A anulação própria. A morte em vida.

Figura 2 – Desenho Livre

Seguiram -se longas sessões em que não falava, e eu ia procurando descobri -la e aos seus gostos, ia falando por ela e imaginando algo que pudéssemos construir e que falasse de si. Contratransferencialmente, suscitava em mim ora frustração e rejeição (pela dificuldade óbvia de estabelecer uma relação), ora maternalização (pela relação depressiva que lhe era caraterística, pelo desamparo gritante). Pela angústia de desamparo impressiva tive tendência para responder e pensar por ela e para dar respostas efetivas às suas necessidades afetivas, pela valorização excessiva do seu desamparo muitas vezes foi -me difícil vê -la para além das suas vivências abandónicas, ou seja, vê -la por inteiro. O receio de magoar, sem querer, quem não pode mais ser desiludido anda de mãos dadas com grande parte das sessões iniciais, em que me senti um pouco perdida e que eram preenchidas com os meus monólogos sobre a adolescência e gostos dos adolescentes, o que ela poderia estar a sentir,

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sobre os seus dados anamnésicos, explorando com cuidado e devagar o que determinadas situações lhe poderiam ter provocado… E a dúvida, a insegurança… Estaria a exagerar no que lhe dizia? Fazia -lhe sentido o que estava ali a falar? Devia esperar mais por ela?. No entanto, havia outro tipo de contratransferência que me conduzia a acreditar nela e em mim com ela, a gostar de estar com ela, a imaginá -la no futuro muito mais confiante e segura de si, a imaginar -me com ela a rir, a divertirmo -nos, a conter e elaborar angústias, a acompanhá -la no seu crescimento interno, na sua construção identitária. No fundo, estava a sentir o seu conflito permanente entre o apego libidinal aos objetos significativos e o medo de os desagradar, perdendo -os. Mas eu sonhava esta relação.

A pouco e pouco, elaborando também eu a contratransferência e as minhas próprias angústias, fomos navegando ao sabor do vento, mas com bússola: a Norte a identidade da Cláudia e a nova relação. Fui a bússola durante muito tempo, orientei o caminho através da proposta de um conjunto de dinâmicas com mediadores artísticos que foram materializando conteúdos afetivos e vivenciais, registando, elaborando e comunicando experiências, dando -lhes nomes e novos significados, projetando desejos no presente e futuro: no fundo, criando uma linguagem simbólica de ligação afetiva, mediando a relação. Construímos a sua mão e ela colocou na mesma o que poderia permitir -me conhecê -la melhor por dentro através das palavras: pais, amigos, amor, amizade, confiança e um H que não me explica (figura 3). Mais tarde, percebo que era um H de Harry o rapaz dos One Direction, que personifica o adolescente romântico, logo a forma como desejaria ser investida. Construímos trajetos a partir de imagens que ela ia ora trazendo de casa, ora encontrando nos meus materiais, transcrevemos frases com que se identificava em livros como o Elefante Acorrentado, de Jorge Bucay, e o Principezinho, de Antoine de Saint -Exúpery (respetivamente: “Se está amestrado e por isso não foge, porque é que o acorrentam?”; “As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial.”). Li -lhe livros que tinham a ver com as suas angústias, tais como, o Onde Vivem os Monstros? E a Orelhas de Borboleta, da Kalandraka (editora com livros cheios de verdade afetiva e com muito sentido de humor). Fomos, acima de tudo, criando uma linguagem que

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permitisse que ela tomasse consciência do que sentia e pudesse falar dos seus sentimentos e pensamentos de forma contida e lúdica, fomos também reparando uma infância muito pobre em afetos e conteúdos simbólicos para preparação para a adolescência, a sua idade real (processo em curso). Este conjunto de construções (exemplos na figura 4), abriu a oportunidade para que fosse compreendendo a vergonha, ou seja, a sensação de insucesso permanente como oriunda de um sentimento de falha pelo investimento narcísico e abandónico dos seus objetos de amor. Abriu o caminho a que se desse conta do quão idealiza os Outros e se desidealiza a si própria, desistindo dos seus interesses próprios ou não lutando o suficiente por eles a favor do medo da perda do objeto (facto transversal em casa, na escola, nos estudos), invertendo a zanga para si própria quando tantas vezes tem a consciência de que foi ou está a ser injustiçada e o quão tudo isto a paralisa para a vida.

Figura 3 – A Mão

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Figura 4 – Exemplos de construções projetivas

As sessões lentamente passaram a ser mais vivas, isto é, mais com ela e eu fui deixando de ser só bússola. Escutámos músicas que passou a trazer para me mostrar. De início, as músicas apenas tinham valor pelas melodias (a palavra, as letras eram secundárias) que identificámos como sendo ora de momentos em que se sentia triste, alegre, com saudades, ora, raramente, de momentos em que se sentia zangada, frustrada. Mais tarde, elaborámos um postal/diário com os títulos simbólicos das músicas que trazia e conversámos sobre o que sentia e sonhava: More Than This; I wish; Moments; I`m broken, do you hear me?; Give me Love. Queria pertencer (me e à relação), queria ser livre no desejo de vir a ser gostada, queria poder viver uma relação de partilha com as amigas, queria que a vissem sem lentes satânicas (religião e projeções da avó e tia paternas) e sem utilitarismo (como a via a mãe). Dentro do postal uma borboleta ainda de asas fechadas, pousada (figura 5).

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Figura 5 – O postal diário

Depois de algumas possibilidades interrogadas tinha finalmente chegado à consciência que o afastamento geográfico da mãe e a mudança de casa da avó paterna para a casa da tia pareciam ter sido os despoletadores do seu estado emocional depressivo. Estava claro para ela o ressurgir, materializado na realidade, da sua angústia de desamparo e de abandono, a par do sentimento de rejeição que estas vivências agudizaram.

Sentia algo de semelhante à vivência de um luto por morte após uma relação pouco nutrida e que deixara definitivamente o sobrevivente sem esperança de um dia se puder alimentar afetivamente daquele que partiu (ou seja, de ser em relação). Mas, esta vivência, também lhe abria a possibilidade de iniciar o luto do objeto primário. E aqui, nesta consciencialização, foi das poucas vezes que chorou, timidamente, ao pé de mim. Caíram -lhe algumas lágrimas no rosto, que se esforçou muito para evitar. Evitamento de tudo, assim se caraterizava a sua entrada na relação, símbolo da defesa depressiva e fóbica que ergueu para não transbordar em agonia e raiva com o receio de confirmação da sua falta de amabilidade e consequente rejeição do objeto.

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UMA VIRAGEM IMPORTANTE NA SUA HISTÓRIA COM OS PAIS

Nas férias de Natal de 2013, os pais vieram a Portugal com o objetivo claro de verem a filha e de a informarem que, nas férias de Verão de 2013, ela iria morar com eles em França (vista apenas como um objeto que se transporta de acordo com a vontade do momento). O mundo timidamente em construção da Cláudia desabou… se, por um lado, sempre desejara que um dia os pais manifestassem o desejo e a vontade de a amarem e a acolherem junto de si, por outro lado, com a desidealização parental em curso já não fazia sentido deixar todas as ligações afetivas entretanto encetadas e com tanta dificuldade (comigo, com mais amigos na escola, com jovens da congregação Jeová) e partir numa espécie de cegueira de si e dos pais para um país que não conhece, com pessoas a quem, embora sendo seus progenitores, não se sente vinculada de forma segura. Entrou em depressão profunda: não comia, não dormia, não falava. A inibição e o terror paralisaram -na. Houve uma sessão, antes de conversar com os pais, em que ficámos de mão dada e eu ia dando voz à sua zanga, ao seu medo, à confusão de emoções, incentivando -a a nem que fosse por escrito a dizer aos pais o que sentia e porque é que não queria partir. Dando -lhe acima de tudo a minha palavra, no que dependesse de mim tudo faria para assegurar que seria escutada nas suas necessidades e receios. Mas ela não conseguiu falar por si e, na impossibilidade de outro interlocutor que não a tia paterna, eu falei por ela aos pais. Esta conversa foi muito ponderada, pois não podia substituir -me aos últimos, nem assumir um papel que não era o meu, no entanto, não podia assistir impavidamente ao sofrimento da minha paciente sem a tentar ajudar a comunicar a sua angústia. É nestas alturas que, na minha opinião, o terapeuta deve ativamente contactar com a realidade externa do paciente sem perder o rumo de cooperação com a realidade interna do mesmo.

Tenho o primeiro e único contacto presencial com os pais da Cláudia a 15 de Fevereiro de 2013, depois de alguns impedimentos para virem à sessão porque tinham encontros marcados com os amigos. A secundarização da filha nas suas vidas, a alienação parental.

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O contacto é superficial, mas caloroso, não demonstram qualquer curiosidade em conhecer em profundidade a filha, mas percebe -se que também falta fazerem -no consigo mesmos. Às manifestações de sofrimento da jovem atribuem fatores hereditários dizendo que também já foram assim, é normal. O pai aparenta ser mais ternurento e com maior capacidade de escuta que a mãe. Esta última tem essencialmente a preocupação de mostrar uma imagem muito positiva e íntegra de si mesma, mas que resvala no principal objetivo que a conduz a desejar a filha perto de si “Sabe, eu vivo lá, não trabalho porque sou doente tenho problemas de reumático, asma, varizes e sinto -me sozinha, com a Cláudia lá teria companhia…” / Compreendo, mas, parece -me que a tomarem esta decisão será importante fazê -lo com calma, escutando a vossa filha e tendo em conta que ela precisará mais do que ninguém de companhia, acompanhamento, segurança… Como pensam fazê -lo?” / “Ainda não pensámos muito nisso, mas, Oh Doutora, quem melhor que a mãe para estar com a filha?” / “O amor de mãe é vital e a Cláudia há muito está a precisar que a faça sentir que a amam, que estão dispostos a reiniciar uma vida de família com ela, que não o puderam fazer antes porque não vos foi possível e não porque não gostavam dela. Mas tudo com calma, respeitando a vontade dela, o seu tempo e o seu medo. Mudar de país de repente, perder todas as suas referências, está a ser perturbador e a colocar a vossa filha em colapso emocional.” / Pai: “Pois, isso é verdade, nós ainda temos de ir ver a escola para onde ela poderá ir.” / “E falar com ela calmamente sobre o que sentem por ela, dizerem -lhe que gostam dela, escutá -la quanto a esta possível mudança, criar bases seguras…” / Mãe: “Sim, sim, claro!”

Percebo que a mudança estava a ser preparada em castelos de areia impulsionada por um desejo da mãe em diminuir a sua solidão. Talvez também uma vontade reparadora de ambos os pais. A mãe revela -se assim muito imatura na sua função maternal e narcísica, na medida em que não refere por um único momento o que a filha poderá desejar. O pai parece nutrir um afeto mais genuíno, mas sente -se ele próprio incapaz de cuidar de si e da filha e impor algumas barreiras à impulsividade da mulher. É ele que reflete sobre a sua vida para trás, o facto de desejar dar mais liberdade à filha, porque, ao ser muito aprisionado em pequeno pela mãe e a religião, aos 14 anos iniciou -se nas drogas como forma de ter um escape. É ele que pondera um conjunto de questões mesmo de índole prática que poderão

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ser necessárias para que a filha vá viver para França. Mas é também ele que dá o dito pelo não dito e a única conversa que tem com a filha é “Queremos que vás morar connosco para o ano.” O que, até novo relatório meu alertando para o estado psicológico da adolescente que impulsionou o pai a reencontrar -se sozinho (a mãe tinha ido passar a Páscoa ao Chile) com a filha na Páscoa escutando -a nos seus medos e vontades, deixou a jovem mergulhada num pânico profundo por não querer deixar Portugal, por não gostar do local onde os pais vivem, por medo de me perder, perder as amigas, a tia e a avó e o seu estar na escola onde se sente cada vez mais a pertencer, por receio que a mãe não tome bem conta de si, por culpa em desiludir os pais que agora se mostravam a querê -la como nunca.

Nas sessões a seguir a estas férias de Natal, a Cláudia estava aterrorizada e, embora fosse dando voz aos seus afetos como a culpa, a zanga, o afeto que sente pelos pais, o medo de perder o seu amor, a ligação cada vez mais próxima à tia paterna, os novos amigos, eu e o receio de nos perder, parecia que nada tinha impacto, estava mergulhada num desespero profundo. Tal só suavizou quando o pai a vem buscar de carro sozinho e pela primeira vez nas férias da Páscoa. Aí ganhou coragem para lhe dizer que não estava preparada para dar o passo que os pais queriam, apesar de se sentir feliz por isso e gostar deles, mas tinha em Portugal os seus amigos, a sua escola e não conseguia deixar tudo de repente. O pai compreendeu ainda que com pena e passaram 15 dias relativamente amenos. Quando regressou, a jovem estava aliviada, mas acima de tudo mais segura, pela primeira vez tinha sido confrontada com a realidade de ser investida afetivamente pelo pai e respeitada na sua vontade e isso deu -lhe um trampolim para novas conquistas.

Nesta altura, talvez o medo de perder a sobrinha se tenha estendido à tia paterna que, nesta fase, deixou cair a carapaça rígida e superegóica que habitualmente veste e demonstrou algum afeto pela Cláudia, rebelando -se contra a vontade do irmão e da cunhada sem medo, cuidando com afeto da Cláudia muito entristecida, dizendo -lhe que gostava muito dela e que ela a tinha de a ajudar a defendê -la de algo que não queria, falando aos pais da sua opinião. Pena que este afeto partilhado não tenha durado mais que a duração do possível medo de perder a sobrinha, passados meses voltou a ser castradora, desvalorizante, no fundo uma mulher também

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cheia de medo de sentir os prazeres da vida (cuja tentativa de destruição já lhe valeu a perda da filha, que saiu há muito tempo da religião).

Na sessão após as férias da Páscoa, após termos conversado sobre todos os sentimentos e vivências que esta experiência desencadeou, a jovem auto -afirmou -se pela primeira vez: “Eu não gosto de lá, aquele lugar não me diz nada!” / “Estás no teu direito, não tens culpa de não gostar…” / “Mas sinto -me culpada por causa dos meus pais.” / Mas podes ter uma relação boa com eles, sem ser totalmente como eles querem, tu tens voto na matéria.” / “Não é fácil…” / “Mas tiveste coragem. Também não tem sido nada fácil para ti, todos estes anos em que sonhavas com o estar mais próxima dos teus pais. Na altura, não tiveste a culpa que não estivessem mais junto de ti e agora muito menos tens a culpa de não conseguires estar mais perto deles.” / “Eu gosto de cá!” / “Gostas das pessoas a quem te vens ligando, das conquistas que tens feito, da possibilidade de construíres uma vida tua, sabes, o que estás a dizer é que acima de tudo gostas cada vez mais de ti!”

A EVOLUÇÃO PSICOTERAPÊUTICA

A partir desta viragem, que permitiu alguma reparação, passou a falar comigo de si na escola, nas aventuras típicas da adolescência (atrás do rapaz que idolatra, em sessões de riso e gargalhada por tudo e por nada com as amigas), na vergonha ainda muito grande de se mostrar aos jovens que “são populares”, na imagem feia e diminuta que tem de si mesma.

A partir daqui foi possível focarmo -nos nas suas preocupações atuais com vista ao seu desenvolvimento e na sua auto -imagem.

O sentimento de (co)pertencer nesta relação psicoterapêutica tem sido fortificado com reencontros entusiastas.

Notas FinaisI – Nome fictício.II – Freud, S. (1914a). Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II). In Edição Standard da Obra Completa de Freud. Vol. 14. (pp. 83 -119). Rio de Janeiro: Imago. 1990.

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REFERÊNCIAS

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Coimbra de Matos, A. (2001). Depressão, depressividade e depressibilidade. In A Depressão: Episódios de um Percurso em Busca do seu Sentido, (pp. 44 -50). Lisboa: Climepsi Editores.

Coimbra de Matos, A. (2001). A deflexão da agressividade. In A Depressão: Episódios de um Percurso em Busca do seu Sentido, (pp. 81 -93). Lisboa: Climepsi Editores.

Coimbra de Matos, A. (2001). O trabalho de elaboração do sofrimento depressivo. In A Depressão: Episódios de um Percurso em Busca do seu Sentido, (pp. 127 -135). Lisboa: Climepsi Editores.

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Coimbra de Matos, A. (2002). Teoria psicanalítica dos afetos. In O Desespero: Aquém da depressão, (pp. 157 -161). Lisboa: Climepsi Editores.

Coimbra de Matos, A. (2002). O afecto e o movimento geral da transferência. In O Desespero: Aquém da depressão, (pp. 177 -180). Lisboa: Climepsi Editores.

Coimbra de Matos, A. (2002). O masochismo. In O Desespero: Aquém da depressão, (pp. 211 -217). Lisboa: Climepsi Editores.

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Coimbra de Matos, A. (2002). Depressão introjectiva e depressão anaclítica. In O Desespero: Aquém da depressão, (pp. 455 -457). Lisboa: Climepsi Editores.

Coimbra de Matos, A. (2011). Relação de Qualidade: penso em ti Lisboa: Climepsi Editores.

Frankl, V. (2012). O Homem em Busca de um Sentido. Alfragide: Lua de Papel (Original work published in 1946).

Freud, S. (1914a). Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II). In Edição Standard da Obra Completa de Freud. Vol. 14. (pp. 83--119). Rio de Janeiro: Imago. 1990.

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Title: As long as there is no tomorrow, enlighten me: the need for a (dual)belonging relation.

ABSTRACTThis is a work that pretends to introduce and reflect a psychoteraphy, that is in

progress, with an 14 years old adolescent, who lives in a family whose relational style has been destructive for her self esteem, self image and relashionships. In this toxic context of relations with the natural emotional consequences, she mobilized a set of inhibition defenses that resulted in a self annihilation.

Keywords:

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A «Revista Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica» publica artigos originais do campo disciplinar, científico e praxiológico (clínica e aplicação) da Psicanálise e da Psicoterapia Psicanalítica e textos que exprimam a rica diversidade de interfaces entre estes domínios e os outros ramos da cultura, da ciência e da arte.

Regemo -nos por um sistema de arbitragem anónima por avaliadores externos (referees), através de um procedimento de Double Blind (duplamente cego): neste processo os intervenientes (autores, revisores e gestores de artigo) são tornados anónimos. O artigo é enviado para três Pares Revisores, que o examinam e arbitram sobre a sua qualidade. O editor enviará ao autor informação sobre a eventual aceitação para publicação; reformulação e submissão para nova avaliação por pares; ou não aceitação. No caso de reformulação, os autores receberão os pareceres e recomendações dos Pares Revisores e deverão proceder às alterações recomendadas.

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