Se liga Paulo José Ideb Boas condições físicas A parte que cabe … · 2014. 1. 15. · do...

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A parte que cabe ao poder público 6 Goiânia, 23 a 29 de junho de 2013 Se liga Mariana Vaz editoria de educação A cada dois anos, a qualidade da educação brasileira é ava- liada por meio do Índice de Desen vol vimento da Educ - ação Básica (Ideb), criado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa c ionais) em 2007. Esse índice é calculado com base na taxa de rendimento escolar, que leva em conta a aprovação e a evasão, e no desempenho dos alunos no SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), além da Prova Brasil. Recentemente, uma recomendação do tribunal de Contas da União (tCU) propôs que o método de avaliação seja ampliado, de forma que não fique restri- to ao desempenho dos alunos. O tCU entende que o indicador não avalia o sis- tema educacional como um todo, até mesmo pela questão de ser realizado somente de dois em dois anos. Para chegar a um universo mais abran- gente, o tCU defende que o índice tam- bém inclua a infraestrutura da escola e seu corpo docente. Mas essa proposta levanta o debate sobre uma questão já abordada por muitos especialistas: dá para avaliar a educação brasileira considerando apenas o desempenho dos alunos? Na opinião do pedagogo Júlio Furtado, o índice nada mais é do que um resultado frio do desempenho do estudan- te em uma prova. E isso não é suficiente para uma avaliação mais abrangente. Ele aprova a recomendação do tCU e acredi- ta que, ampliando o alcance da medição, será possível aproximar-se do real objetivo do Ideb, que é identificar os pontos que precisam de emergencial mudança. Formado em Psicologia e doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana, em Cuba, Furtado assegura. “O objetivo desse índice deve ser fornecer indicadores para que a escola mude. Mas o que se vê é que ele se tornou um 'ran- queamento' das melhores”. MUDANçAS Para Furtado, o Ideb deveria ser um disparador de mudanças, papel que ele não tem cumprido. A cada dois anos, quando as notas são divulgadas, muitos colégios fazem festa por conta dos bons resultados, enquanto outros são “crucifi- cados” pelo baixo desempenho. Na opinião de Furtado, é exatamente esse ponto que deve ser modificado. “Infelizmente, algumas articulações aca- bam mascarando realidades, no intuito de cada instituição obter a melhor nota. temos casos de alunos com baixo desem- penho que, curiosamente, não compare- cem à escola no dia da prova, assim como depois têm problemas para conseguir vaga em outros colégios”, denuncia. O que acontece é que, em muitas ins- tituições, a preocupação com o desempe- nho do aluno só aparece nos dias que antecedem a avaliação. Por isso, Furtado defende que o exame deve ser aplicado anualmente. “Se fosse realizado todos os anos, mesmo que apresentasse uma variação menor, valeria a pena pelo maior empenho. As escolas ficariam mais tempo mobilizadas”, acredita. Ele também acredita que, diminuindo a sua periodicidade, será mais fácil alcançar a meta estipulada para 2022, que é de uma média nacional de 6,0. “Daqui até lá temos mais cinco medições e, se pensarmos em algumas realidades extremas, a nota 6 ainda é algo distante. Cinco avaliações não serão suficientes.” Já para a ex-secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, realizar a medição anualmente é caro e inviável. "O Ideb é usado para prestar con- tas à sociedade sobre a qualidade da Educação Básica e, pelo seu caráter, não precisa ser anual. O mais importante é que a comunidade, principalmente professores e gestores escolares, se apoderem dos resultados, entendam e tracem planos de melhoria a partir da sua análise", pondera. TCU recomenda que Ideb inclua também estrutura das escolas e formação docente O secretário da Educação, thiago Peixoto, ressalta que Goiás vem investindo na formação dos professores e na melhoria da infraestrutura e, caso a recomendação do tCU entre em prática, a rede estadual sairá na frente. "O programa Nossa Escola, por exemplo, foca na melhoria da infraes- trutura das escolas e já atendeu até o momento mil instituições. Quanto à forma- ção docente, esse é um trabalho constante." A Chefe da Divisão de Ensino Funda- mental para a Infância e Adolescência da Secretaria Municipal de Goiânia (SME), Maria de Fátima Farias, afirma que o Ideb é somente um instrumento de avaliação, mas que não é absoluto. "temos os nossos próprios instrumentos de diagnóstico, que levam em conta a formação dos professo- res e outros aspectos. Isso sem contar outros métodos criados dentro das esco- las, pelos próprios professores", diz. Ela conta que, para a SME, o Ideb é visto como um termômetro das institui- ções, por ser mais objetivo e ter metas tra- çadas. "Aquelas unidades que não atingem o estabelecido são acompanhadas de perto, mas é bom ressaltar que acompa- nhamos todas elas. Algumas, por exemplo, até atingem a meta, mas ainda estão em fase de crescimento, com o desempenho baixo se comparado às demais". Para Maria Rocha da Silva, do Colégio Estadual Joaquim de Souza Fagundes, ainda que as autoridades demonstrem inte- resse em ver bons resultados de suas uni- dades, no final, a responsabilidade maior fica mesmo é com a escola. "O Estado pressiona as subsecretarias, que pressio- nam as secretarias, que, por sua vez, nos pressionam. No final, o peso maior fica é dentro da sala de aula mesmo". No estado e município Furtado: Ideb produz um resultado frio do desempenho do aluno Maria de Fátima: SME tem seus próprios instrumentos de avaliação Paulo José arquivo Pessoal 7 Goiânia, 23 a 29 de junho de 2013 Ideb E m 2012, quando o MEC divulgou o resultado do Ideb, logo ganha- ram destaque as escolas que con- quistaram as melhores notas. Igualmente expostas, as unidades com os piores índices do país passaram a ser alvo de muitas críticas. Foi encaixando-se no segundo perfil que o Colégio Estadual Madre Germana, em Aparecida de Goiânia, ganhou visibilidade. A escola teve a pior nota do estado: 1,4. Quase um ano depois, pequenas mudanças na escola mostram que, nesse caso, o baixo desempenho trouxe transformações signifi- cativas. “Quando o resultado foi divulgado, todos se assustaram com a realidade do colégio. Ninguém imaginava que estivesse tão ruim e isso serviu para abrir os olhos das autoridades”, relata Luzeni Duarte Gonçalves, diretora da instituição. “Quando assumi o cargo, no final do ano passado, fiquei assustada com a situa- ção. Os alunos estavam abandonados em uma estrutura precária e sem nenhum incentivo, além de diversos problemas internos de ordem administrativa”, resume. Luzeni analisa que, na situação em que se encontrava, era praticamente impossível o colégio ter um bom resultado. “Como a escola fica em uma região de Goiânia, mas pertence à jurisdição de Aparecida, havia um jogo de empurra-empurra do poder público. Ninguém cobrava resultados e aqui mais parecia um cemitério, de tão abandonado que estava”, destaca ela. Com cerca de 900 alunos em turmas do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, o colégio tinha um alto índice de evasão escolar. Faltavam atrativos para os alunos, como quadra de esportes ou laboratório de informática, este último transformado em depósito. Várias pesquisas comprovam a influên- cia das condições de trabalho e da infraes- trutura das escolas no bom desempenho dos alunos. Revelando a urgência em tratar do assunto, recentemente foi publicado o estudo "Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar", que utilizou dados do Censo Escolar 2011. Os resultados mostraram que mais de 44% das escolas de Educação Básica no país apresentam uma infraestrutura ele- mentar, apenas com água, banheiro, ener- gia, esgoto e cozinha. E apenas 0,6% delas apresentam uma infraestrutura considerada avançada, com sala de professores, biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva, parque infantil, além de laboratório de ciências e dependências adequadas para atender estudantes com necessidades especiais. LIMItAçõES EStRUtURAIS A conclusão dessa desigualdade, relata- da pelos próprios professores, é que os alu- nos se sentem desmotivados e abandona- dos. "Cada escola tem uma realidade dife- rente, que deveria ser observada antes de qualquer cobrança", analisa Maria Rocha da Silva, coordenadora do C. E. Joaquim de Souza Fagundes, em teresina de Goiás. A escola recebeu a menor nota nas séries iniciais. "O trabalho depende do todo. Nós procuramos trabalhar da melhor forma possível, mas esbarramos nas limita- ções estruturais", lamenta a pedagoga. O colégio fica na zona rural, possui estrutura bem antiga, datada de 1970, e atende principalmente crianças da comuni- dade kalunga. E quem está do outro lado do ranking também reclama o fato do Ideb não anali- sar a infraestrutura. "Muitos pensam que por estarmos acima da média, nosso colé- gio não precisa de nada. Muito pelo con- trário! Para manter esse resultado, nós pre- cisamos de muitas melhorias", ressalta Eliana Nunes Gonçalves, diretora do Centro Municipal de Educação Básica Professor Luiz Alberto, em Rio Verde. A instituição alcançou a maior nota entre todas do estado: 7,6. Agora precisa manter o resultado até 2022 ou, melhor ainda, ultrapassá-lo. Para que isso aconte- ça, Eliana reconhece que muito ainda pre- cisa melhorar. "Se nos pontuassem pela infraestrutura, veriam as nossas reais necessidades", acrescenta ela. Enquanto isso, no C.E. Madre Germa na, as mudanças começaram a acontecer. “Construímos uma sala para os professores, reformamos o laboratório de informática, fizemos um galpão para guardar os materiais e também aumenta- mos o muro em 30 cm, porque antes era muito baixo e os alunos fugiam”, relata a diretora, satisfeita. Pesquisa nacional comprova influência da infraestrutura e do corpo docente no desempenho dos alunos. Educadores concordam Além das mudanças estrutu- rais, o Colégio Estadual Madre Ger mana parece ter se tornado, finalmente, uma prioridade para a Secretaria Estadual da Educação. Depois dos resultados ruins registrados no Ideb em 2012, a unidade de ensino foi incluída no Programa de Acompanha- mento e Suporte Pedagógico (PASP), criado em 2011 pela Seduc com o intuito de acompa- nhar o trabalho pedagógico rea- lizado em algumas unidades. A diretora da instituição, Luzeni Duarte Gonçalves, conta que semanalmente recebe a visita de um educador respon- sável pelo programa, além do acompanhamento feito pela Subsecretaria de Aparecida, que envia uma tutora para observar a evolução da escola. Aumentar a participação das entidades públicas é, para o psicólogo Júlio Furtado, um dos maiores desafios. “As auto- ridades vêem os resultados do Ideb como se fossem especta- dores à parte. Reclamam do baixo desempenho como se aquilo não fosse responsabili- dade deles”, critica. Incluir outros aspectos no cálculo pode ser uma forma de aumentar a atuação desses indi- víduos. Para a ex-secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, haven- do ou não alteração em seus cri- térios, a avaliação não pode se encerrar sem ações posteriores. Na opinião de Pilar, é neces- sário avaliar, mas principalmen- te ter políticas de intervenção a partir dos resultados. “O maior desafio hoje é fazer o Ideb popular, para que toda a comu- nidade conheça e acompanhe o que a escola vai fazer para garantir a educação de qualida- de para todos os alunos." O ruim gerou mudanças Boas condições físicas é item fundamental C. E. Madre Germana: pior nota de Goiás no Ideb em 2012. Hoje realidade é outra Paulo José

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A parte que cabe ao poder público

6Go­i­â­nia,­23­a­29­de­junho­de­2013

Se liga

Mariana Vaz

editoria de educação

Acada dois anos, a qualidadeda educação brasileira é ava-liada por meio do Índice deDesen vol vimento da Educ -

ação Básica (Ideb), criado pelo Inep(Instituto Nacional de Estudos ePesquisas Educa cionais) em 2007.

Esse índice é calculado com base nataxa de rendimento escolar, que leva emconta a aprovação e a evasão, e nodesempenho dos alunos no SAEB(Sistema Nacional de Avaliação daEducação Básica), além da Prova Brasil.

Recentemente, uma recomendaçãodo tribunal de Contas da União (tCU)propôs que o método de avaliação sejaampliado, de forma que não fique restri-to ao desempenho dos alunos. O tCUentende que o indicador não avalia o sis-tema educacional como um todo, atémesmo pela questão de ser realizadosomente de dois em dois anos.

Para chegar a um universo mais abran-gente, o tCU defende que o índice tam-bém inclua a infraestrutura da escola e seucorpo docente. Mas essa proposta levantao debate sobre uma questão já abordadapor muitos especialistas: dá para avaliar aeducação brasileira considerando apenaso desempenho dos alunos?

Na opinião do pedagogo JúlioFurtado, o índice nada mais é do que umresultado frio do desempenho do estudan-te em uma prova. E isso não é suficientepara uma avaliação mais abrangente. Eleaprova a recomendação do tCU e acredi-ta que, ampliando o alcance da medição,será possível aproximar-se do real objetivodo Ideb, que é identificar os pontos queprecisam de emergencial mudança.

Formado em Psicologia e doutor em

Ciências da Educação pela Universidadede Havana, em Cuba, Furtado assegura.“O objetivo desse índice deve ser fornecerindicadores para que a escola mude. Maso que se vê é que ele se tornou um 'ran-queamento' das melhores”.

MUDANçASPara Furtado, o Ideb deveria ser um

disparador de mudanças, papel que elenão tem cumprido. A cada dois anos,quando as notas são divulgadas, muitoscolégios fazem festa por conta dos bonsresultados, enquanto outros são “crucifi-cados” pelo baixo desempenho.

Na opinião de Furtado, é exatamenteesse ponto que deve ser modificado.“Infelizmente, algumas articulações aca-bam mascarando realidades, no intuito decada instituição obter a melhor nota.temos casos de alunos com baixo desem-penho que, curiosamente, não compare-cem à escola no dia da prova, assim comodepois têm problemas para conseguirvaga em outros colégios”, denuncia.

O que acontece é que, em muitas ins-tituições, a preocupação com o desempe-

nho do aluno só aparece nos dias queantecedem a avaliação. Por isso, Furtadodefende que o exame deve ser aplicadoanualmente. “Se fosse realizado todos osanos, mesmo que apresentasse umavariação menor, valeria a pena pelomaior empenho. As escolas ficariammais tempo mobilizadas”, acredita.

Ele também acredita que, diminuindoa sua periodicidade, será mais fácilalcançar a meta estipulada para 2022,que é de uma média nacional de 6,0.“Daqui até lá temos mais cinco mediçõese, se pensarmos em algumas realidadesextremas, a nota 6 ainda é algo distante.Cinco avaliações não serão suficientes.”

Já para a ex-secretária de EducaçãoBásica do MEC, Maria do Pilar Lacerda,realizar a medição anualmente é caro einviável. "O Ideb é usado para prestar con-tas à sociedade sobre a qualidade daEducação Básica e, pelo seu caráter, nãoprecisa ser anual. O mais importante é quea comunidade, principalmente professorese gestores escolares, se apoderem dosresultados, entendam e tracem planos demelhoria a partir da sua análise", pondera.

TCU recomenda que Ideb inclua também estrutura das escolas e formação docente

O secretário da Educação, thiagoPeixoto, ressalta que Goiás vem investindona formação dos professores e na melhoriada infraestrutura e, caso a recomendaçãodo tCU entre em prática, a rede estadualsairá na frente. "O programa Nossa Escola,por exemplo, foca na melhoria da infraes-trutura das escolas e já atendeu até omomento mil instituições. Quanto à forma-ção docente, esse é um trabalho constante."

A Chefe da Divisão de Ensino Funda -mental para a Infância e Adolescência daSecretaria Municipal de Goiânia (SME),Maria de Fátima Farias, afirma que o Idebé somente um instrumento de avaliação,mas que não é absoluto. "temos os nossospróprios instrumentos de diagnóstico, quelevam em conta a formação dos professo-res e outros aspectos. Isso sem contaroutros métodos criados dentro das esco-las, pelos próprios professores", diz.

Ela conta que, para a SME, o Ideb évisto como um termômetro das institui-ções, por ser mais objetivo e ter metas tra-çadas. "Aquelas unidades que não atingemo estabelecido são acompanhadas deperto, mas é bom ressaltar que acompa-nhamos todas elas. Algumas, por exemplo,até atingem a meta, mas ainda estão emfase de crescimento, com o desempenhobaixo se comparado às demais".

Para Maria Rocha da Silva, do ColégioEstadual Joaquim de Souza Fagundes,ainda que as autoridades demonstrem inte-resse em ver bons resultados de suas uni-dades, no final, a responsabilidade maiorfica mesmo é com a escola. "O Estadopressiona as subsecretarias, que pressio-nam as secretarias, que, por sua vez, nospressionam. No final, o peso maior fica édentro da sala de aula mesmo".

No estado e município

Furtado: Ideb produz um resultado frio do desempenho do aluno

Maria de Fátima: SME tem seuspróprios instrumentos de avaliação

Paulo José

arquivo Pessoal

7Go­i­â­nia,­23­a­29­de­junho­de­2013

Ideb

Em 2012, quando o MEC divulgouo resultado do Ideb, logo ganha-ram destaque as escolas que con-quistaram as melhores notas.

Igualmente expostas, as unidades comos piores índices do país passaram a seralvo de muitas críticas. Foi encaixando-seno segundo perfil que o Colégio EstadualMadre Germana, em Aparecida deGoiânia, ganhou visibilidade.

A escola teve a pior nota do estado: 1,4.Quase um ano depois, pequenas mudançasna escola mostram que, nesse caso, o baixodesempenho trouxe transformações signifi-cativas. “Quando o resultado foi divulgado,todos se assustaram com a realidade docolégio. Ninguém imaginava que estivessetão ruim e isso serviu para abrir os olhosdas autoridades”, relata Luzeni DuarteGonçalves, diretora da instituição.

“Quando assumi o cargo, no final doano passado, fiquei assustada com a situa-ção. Os alunos estavam abandonados emuma estrutura precária e sem nenhumincentivo, além de diversos problemasinternos de ordem administrativa”, resume.

Luzeni analisa que, na situação em quese encontrava, era praticamente impossívelo colégio ter um bom resultado. “Como aescola fica em uma região de Goiânia, maspertence à jurisdição de Aparecida, haviaum jogo de empurra-empurra do poderpúblico. Ninguém cobrava resultados eaqui mais parecia um cemitério, de tãoabandonado que estava”, destaca ela.

Com cerca de 900 alunos em turmas do6º ano do Ensino Fundamental ao 3º anodo Ensino Médio, o colégio tinha um altoíndice de evasão escolar. Faltavam atrativospara os alunos, como quadra de esportesou laboratório de informática, este últimotransformado em depósito.

Várias pesquisas comprovam a influên-cia das condições de trabalho e da infraes-trutura das escolas no bom desempenhodos alunos. Revelando a urgência em tratardo assunto, recentemente foi publicado oestudo "Uma Escala para Medir aInfraestrutura Escolar", que utilizou dadosdo Censo Escolar 2011.

Os resultados mostraram que mais de44% das escolas de Educação Básica nopaís apresentam uma infraestrutura ele-mentar, apenas com água, banheiro, ener-gia, esgoto e cozinha.

E apenas 0,6% delas apresentam umainfraestrutura considerada avançada, comsala de professores, biblioteca, laboratóriode informática, quadra esportiva, parqueinfantil, além de laboratório de ciências edependências adequadas para atenderestudantes com necessidades especiais.

LIMItAçõES EStRUtURAISA conclusão dessa desigualdade, relata-

da pelos próprios professores, é que os alu-nos se sentem desmotivados e abandona-dos. "Cada escola tem uma realidade dife-rente, que deveria ser observada antes dequalquer cobrança", analisa Maria Rochada Silva, coordenadora do C. E. Joaquimde Souza Fagundes, em teresina de Goiás.

A escola recebeu a menor nota nasséries iniciais. "O trabalho depende dotodo. Nós procuramos trabalhar da melhor

forma possível, mas esbarramos nas limita-ções estruturais", lamenta a pedagoga.

O colégio fica na zona rural, possuiestrutura bem antiga, datada de 1970, eatende principalmente crianças da comuni-dade kalunga.

E quem está do outro lado do rankingtambém reclama o fato do Ideb não anali-sar a infraestrutura. "Muitos pensam quepor estarmos acima da média, nosso colé-gio não precisa de nada. Muito pelo con-trário! Para manter esse resultado, nós pre-cisamos de muitas melhorias", ressaltaEliana Nunes Gonçalves, diretora doCentro Municipal de Educação BásicaProfessor Luiz Alberto, em Rio Verde.

A instituição alcançou a maior notaentre todas do estado: 7,6. Agora precisamanter o resultado até 2022 ou, melhorainda, ultrapassá-lo. Para que isso aconte-ça, Eliana reconhece que muito ainda pre-cisa melhorar. "Se nos pontuassem pelainfraestrutura, veriam as nossas reaisnecessidades", acrescenta ela.

Enquanto isso, no C.E. MadreGerma na, as mudanças começaram aacontecer. “Construímos uma sala para osprofessores, reformamos o laboratório deinformática, fizemos um galpão paraguardar os materiais e também aumenta-mos o muro em 30 cm, porque antes eramuito baixo e os alunos fugiam”, relata adiretora, satisfeita.

Pesquisa nacional comprovainfluência da infraestrutura e

do corpo docente nodesempenho dos alunos.

Educadores concordam

Além das mudanças estrutu-rais, o Colégio Estadual MadreGer mana parece ter se tornado,finalmente, uma prioridade paraa Secretaria Estadual daEducação.

Depois dos resultados ruinsregistrados no Ideb em 2012, aunidade de ensino foi incluídano Programa de Acompanha-mento e Suporte Pedagógico(PASP), criado em 2011 pelaSeduc com o intuito de acompa-nhar o trabalho pedagógico rea-lizado em algumas unidades.

A diretora da instituição,Luzeni Duarte Gonçalves, contaque semanalmente recebe avisita de um educador respon-sável pelo programa, além doacompanhamento feito pelaSubsecretaria de Aparecida,que envia uma tutora paraobservar a evolução da escola.

Aumentar a participaçãodas entidades públicas é, para opsicólogo Júlio Furtado, umdos maiores desafios. “As auto-ridades vêem os resultados doIdeb como se fossem especta-dores à parte. Reclamam dobaixo desempenho como seaquilo não fosse responsabili-dade deles”, critica.

Incluir outros aspectos nocálculo pode ser uma forma deaumentar a atuação desses indi-víduos. Para a ex-secretária deEducação Básica do MEC,Maria do Pilar Lacerda, haven-do ou não alteração em seus cri-térios, a avaliação não pode seencerrar sem ações posteriores.

Na opinião de Pilar, é neces-sário avaliar, mas principalmen-te ter políticas de intervenção apartir dos resultados. “O maiordesafio hoje é fazer o Idebpopular, para que toda a comu-nidade conheça e acompanhe oque a escola vai fazer paragarantir a educação de qualida-de para todos os alunos."

O ruim geroumudanças

Boas condições físicas é item fundamental

C. E. Madre Germana: pior nota de Goiás no Ideb em 2012. Hoje realidade é outra

Paulo José