Se Conhecerdes a Verdade...

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“Se Conhecerdes a Verdade, ela vos libertará?" Unidade 731 Escola Secundária Artística António Arroio Elaborado pela aluna Ângela Gil Fachadas 11M

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“Se Conhecerdes a Verdade, ela vos libertará?"

Unidade 731

Escola Secundária Artística António Arroio

Elaborado pela aluna Ângela Gil Fachadas 11M

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A descoberta de corpos sob as ruas de Tóquio obrigou o Japão a admitir que seres humanos foram usados em experiências de armas biológicas.

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"Cortei abrindo-o do peito ao estômago enquanto ele gritava terrivelmente. Para os cirurgiões, isto era o trabalho rotineiro"

Legista anónimo, UNIDADE 731

Sob o asfalto das ruas de Tóquio existe um depósito de restos humanos. Os operários que trabalhavam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados. A notícia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu toda a cidade de Tóquio, como uma grande onda. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado o laboratório do tenente-coronel Shirô Ishii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731.

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As cobaias humanas utilizadas nas suas experiências foram transferidas da base da Manchúria para o seu laboratório. No término da guerra, os restos mortais destas pessoas foram enterradas numa fossa comum e lá permaneceram até esta ser descoberta em 1989. Durante 40 anos, as actividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão.

Foto tirada durante uma dissecação a um homem ainda vivo , sem anestesia.

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Os trabalhos da unidade permaneceram inéditos até à descoberta, numa loja de livros usados, de anotações feitas por um oficial da Unidade 731. Os documentos descreviam detalhadamente as experiências biológicas e demonstravam que as cobaias das experiências de Shiro Ishii e sua equipa eram seres humanos. O jovem Ishii era um brilhante microbiólogo do exército. Com a sua carismática personalidade, atraiu logo a atenção dos oficiais veteranos e conseguiu uma rápida promoção de posto. Aliando-se com ultranacionalistas do Ministério da Guerra do Japão, Ishii fez uma forte pressão a favor do desenvolvimento das armas biológicas.

Várias vítimas foram usadas para experiências de guerra

Shiro IShii

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Quando o Japão invadiu a Manchúria, em 1931, Ishii vislumbrou sua oportunidade. Com uma grande verba anual e 300 homens, a sua primeira missão recebeu o nome secreto de "Unidade Togo".

Conhecidas como "Campo de Prisão Zhong Ma", as instalações da Unidade 731 foram construídas com mão-de-obra forçada chinesa. No centro, existia um edifício , o 'Castelo Zhong Ma', que mantinha os prisioneiros num laboratório .

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• Os escolhidos para os testes humanos era chamados 'marutas', que significa troncos. Numerados em ordem crescente até ao número 500, os prisioneiros eram desde 'bandidos' e 'criminosos' até 'pessoas suspeitas'. Eram bem alimentados e faziam exercícios regularmente, somente porque a sua saúde era vital para a obtenção de bons resultados científicos.

• Quando Ishii necessitava de um cérebro humano para uma experiência, ordenava que os guardas obtivessem o órgão. Enquanto o prisioneiro era preso por um dos guardas, que segurava o seu rosto contra o chão, o outro quebrava-lhe o crânio com um machado. O órgão era retirado grosseiramente e levado rapidamente ao laboratório de Ishii. Os restos mortais do prisioneiro sacrificado eram lançados no crematório do campo.

Unidade 731

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• As primeiras experiências centraram-se nas doenças contagiosas, como o antraz e a peste. Num dos testes, guerrilheiros chineses foram infectados com bactérias da peste. Doze dias depois, os infectados contorciam-se com febres de 40 graus célsius. Um desses guerrilheiros conseguiu sobreviver 19 dias antes de lhe fazerem uma autópsia enquanto ainda estava vivo.

• Alguns prisioneiros foram envenenados com gás fosfina e noutros foi aplicado cianeto de potássio. Alguns prisioneiros foram submetidos a descargas eléctricas de 20.000 volts. Os prisioneiros que sobreviveram ficavam à disposição para receberem injecções letais ou para serem dissecados vivos. Cada morte era registada por membros da unidade.

Jaulas humanas para experiências

Vítimas infectadas para estudo de doenças

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• Em seguida, militares, disfarçados de funcionários da saúde pública, realizaram testes médicos nos infectados. Ainda que os detalhes dessa experiência continuem sendo secretos, acredita-se que os mosquitos eram portadores da febre amarela, um vírus que provoca febres altas e vómitos e causa a morte de um em cada três infectados.

Outros testes realizados para comprovar a vulnerabilidade das cidades aos ataques biológicos foram realizados no Reino Unido, Canadá e EUA, culminando com um ataque à cidade de Nova Iorque em 1966. Agentes do Chemical Corps Special Operations Division borrifaram, através das grades de ventilação das estações de metro, a bactéria Bacillus nas horas de maior movimento. As turbulências criadas pela passagem dos vagões, demonstrou que esse era um meio perfeito para propagar as bactérias por toda a cidade.

Experiências humanas

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• A qualidade do trabalho, assim como a sua personalidade, garantiram a Shirô Ishii um crescente poder. Em 1939, pôde mudar-se para instalações tão grandes quanto o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau da Alemanha nazi. O novo quartel general da unidade 731 situava-se em Pingfan, Manchúria.

• O complexo de Pingfan possuía 6 km2 e abrigava edifícios administrativos, laboratórios, armazéns, uma prisão para indivíduos submetidos aos testes, um edifício de autópsias e dissecação e três fornos crematórios. Um campo localizado em Mukden, detinha os prisioneiros de guerra americanos, britânicos e australianos, que também eram usados nas experiências.

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• Os conhecimentos adquiridos não foram utilizados para fins militares até a guerra da Coreia. Uma noite, os habitantes do povoado de Min-Chung ouviram um avião sobrevoar os seus telhados. Quando acordaram descobriram um grande número de ratos-do-mato, a maioria deles mortos e muitos com as patas fracturadas.

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As baixas temperaturas diminuíram o rendimento militar durante os rigorosos invernos da Manchúria. Por esse motivo, as experiências sobre o congelamento foram especialmente desenvolvidas. Alguns prisioneiros eram deixados nus, ficando submetidos a temperaturas abaixo de zero e os seus membros eram golpeados com paus até que se produzissem sons secos e metálicos indicando que o processo de congelamento estava terminado. Em seguida, os corpos eram "descongelados" através de técnicas experimentais.

No seu livro Factories of Death (Fábricas da Morte), Sheldon Harris, professor de História da Universidade da Califórnia, descreve outras experiências, como a suspensão de indivíduos de cabeça para baixo, para determinar quando morreriam asfixiados. É quase indescritível a prática de injectar ar nos prisioneiros para acompanhar a evolução das embolias. Noutros indivíduos, era injectada urina de cavalo nos rins.

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• Sem nenhum sentimento de culpa, Ishii redigia regularmente documentos nos quais descrevia os resultados das suas experiências. Nestes relatórios, dizia que os teste eram realizados em macacos. O uso de seres humanos como cobaias era mantido em segredo.

• Até o fim da segunda guerra mundial, Ishii, então tenente-coronel, fez um pacto de juramento com os seus subordinados para manter as experiências em segredo. Pingfan e outros lugares foram destruídos, e Ishii e os seus homens regressaram para casa no anonimato. As atividades da unidade 731 permaneceram ocultas.

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• De Ishii, os aliados possuíam inúmeros dossiês sobre os principais microbiólogos japoneses. Os estrategas dos Estados Unidos apreciavam as vantagens tácticas da guerra biológica, pois os agentes biológicos podem ser introduzidos inadvertidamente nos campos de guerra, e sabiam que Ishii havia realizado tais práticas em diversas ocasiões na China e noutros lugares.

• Os aliados estavam ansiosos para obter detalhes das experiências e das técnicas utilizadas por Ishii. Em particular, procuravam os relatórios das experiências com seres humanos, aos quais atribuíam um grande valor. No final da guerra, os cientistas de Fort Detrick, Maryland onde ficavam as instalações de guerra biológica dos Estados Unidos , iniciaram uma série de entrevistas com os técnicos japoneses. Nenhum deles chegou a considerar as implicações éticas que o assunto envolvia.

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• Uma vez constatados os factos, um cabo informou ao Departamento de Guerra de Washington que "informações posteriores reforçavam a conclusão de que o grupo dirigido por Ishii violou as normas de guerra". O relatório informava ainda: "esta opinião não é recomendação para que o grupo seja acusado".

• Desejando impedir que os soviéticos obtivessem as informações de Ishii, os Estados Unidos fizeram um pacto com o próprio. Porém, era necessário vencer um importante obstáculo. As experiências deviam ser ocultadas, deveriam ser o "maior dos segredos", o mais obscuro deles. Os prisioneiros de guerra que regressavam, davam terríveis depoimentos sobre as experiências que tinham sido realizadas neles. Se estes depoimentos se tornassem conhecidos, a opinião pública ficaria indignada e exigiria medidas drásticas. Portanto, havia apenas uma saída: o encobrimento dos factos.

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• Os procuradores do tribunal de crimes de guerra de Tóquio foram orientados para que investigassem superficialmente os factos. Os prisioneiros de guerra foram coagidos a guardar segredo. Foi oferecida imunidade a todos os membros da unidade de Ishii, em troca de informações e cooperação. Iniciava-se o maior encobrimento dos factos de guerra. Com a descoberta, em 1989, dos corpos enterrados nos subterrâneos de Tóquio, a história veio à tona e os ex-combatentes começaram a relatar as suas experiências.

• “O que me mantém é a verdade, pois jamais esquecerei", declarou furiosamente Joseph Gozzo, antigo engenheiro de aviação, que actualmente vive em San José, Califórnia. Enquanto esteve preso, foi usado em experiências onde teve bastões de vidro introduzidos no reto. "Não posso acreditar que o nosso governo os tenha deixado livres", disse.

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• Em 1986, o ex-prisioneiro de guerra Frank James relatou as suas lembranças a um comité do congresso dos Estados Unidos. "Éramos apenas pequenas peças de um jogo, sempre soubemos que existia um encobrimento", disse James.

• Outro ex-prisioneiro, Max McClain, lembra que, com seu companheiro de cela, George Hayes, eram colocados em filas para receberem injecções. Dois dias depois, Hayes lamentava-se: "Mac, não sei o que esses desgraçados me deram, mas sinto-me muito mal". Naquela mesma noite, dissecaram Hayes.

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• A audiência durou apenas metade de um dia e somente um dos 200 sobreviventes foi convocado. O responsável pelos arquivos do exército declarou que os documentos obtidos de Ishii haviam sido devolvidos ao Japão, ainda na década de cinquenta. Surpreendentemente, não se tinha preocupado em fazer fotocópias dos documentos.

• Na intenção de ocultar a verdade, os governos dos Estados Unidos e do Japão negaram que tais atrocidades tivessem ocorrido. Apesar disso, uma série de relatórios oficiais tornaram-se públicos. Num arquivo do quartel-general de McArthur, consta que a investigação da Unidade 731 foi realizada sob ordens da junta de Chefes do Estado Maior e "é essencial guardar segredo absoluto na intenção de proteger os interesses dos Estados Unidos e salvá-los do escândalo". Finalmente, em 1993, o segredo oficial tornou-se público com a abertura dos relatórios das experiências biológicas da Segunda Guerra Mundial.

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• Depois da guerra, muitos dos responsáveis pelas experiências japonesas tiveram muita sorte. Vários deles graduaram-se em medicina e um deles chegou a dirigir uma companhia farmacêutica japonesa. Outros ocuparam cargos que foram desde a presidência da Associação Médica japonesa até à vice-presidência da Green Red Cross Corporatino. Um membro da equipa de congelamento chegou a tornar-se um importante empresário da indústria frigorífica japonesa. Shirô Ishii morreu em 1959 sem mostrar nenhum sinal de arrependimento.

• Antes de cessar as suas actividades, Ishii ainda iria influenciar mais profundamente os aliados. A aceitação de seu trabalho significou que havia sido ignorado o termo que impedia a utilização de seres humanos como cobaias de experiências científicas, estabelecido no acordo de 1925, na Convenção de Genebra. Os cidadãos dos Estados Unidos e do Reino Unido serviram de cobaias, desta vez nas cínicas mãos de seus próprios governos