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  • 2 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    Se a Mediunidade Falasse IV

    Medo e Mediunidade

  • 4 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    Hope in a prision of desparir (Esperana na priso do desespero) Evelyn

    De Morgan (30 August 1855-2 May 1919), British painter.

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    Sumrio

    Apresentao do Grupo Marcos, 7

    Nosso maior compromisso com a coerncia, o estudo e divulgao da obra de Allan

    Kardec. A Codificao e a Revista Esprita em todas as nossas produes

    Apresentao da Srie, 8

    Psicografar um ato de descoberta empolgante, de convvio com os bons espritos e de

    aprendizado cristo.

    Prefcio, 11

    O caminho do Cristo o da verdade profunda, da verdade que transforma, que

    transmuta sentimentos inferiores em paz, em compreenso, em harmonia

    Captulo I - O Pedido de um Anjo Guardio, 13

    O que devemos entender por Anjo da Guarda?

    uma esprito protetor de elevada hierarquia espiritual. (Q. 490, Livro dos Espritos)

    Qual a misso de um esprito protetor?

    A de um pai que cuida do filho para direcion-lo no caminho do bem. Ele o orienta com

    seus conselhos, o consola nas aflies e sustenta sua coragem nos desafios da vida terrena.

    (Q. 491, Livro dos Espritos)

    Captulo II - O Medo de Deus, 17

    A mediunidade a origem dos Dez mandamentos, dos Evangelhos, do Hindusmo, do

    Budismo e do Islamismo. A mediunidade a fonte de todas as religies e filosofias

    espiritualizantes dos mundos.

    Temer a mediunidade afastar-se do Criador.

    Captulo III Os Educadores da Humanidade, 31

    A evoluo do esprito atravs dos tempos inseparvel da histria da mediunidade,

    no se pode entender a evoluo humana sem compreender a importncia da relao entre

    encarnados e desencarnados.

  • 6 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    Captulo IV - Autoritarismo e Liberdade Segundo a Lei Divina, 41

    No o tipo de fenmeno medinico que define a evoluo do mdium e do grupo

    medinico. A diferena est na maneira como o ser humano lida com esses fenmenos.

    Ivan de Albuquerque, 52

    o esprito amigo que desde 2001 coordena ostensivamente nossas atividades.

    Breve Explicao, 53

    Cabe a ns, os encarnados, pesquisar, traduzir e citar os trechos apontados.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    Apresentao do Grupo Marcos

    Grupo Marcos um grupo de amigos, amigos encarnados e desencarnados,

    amigos jovens e adultos, amigos estudiosos e aprendizes, um grupo cristo. O nome

    Marcos - o nome-smbolo do grupo em homenagem a uma encarnao de

    Eurpedes Barsanulfo, nosso dirigente espiritual, que ocorreu poca do Cristo.

    Marcos foi um essnio que se tornou verdadeiro cristo. Essa histria voc pode

    conhecer no livro A Grande Espera, da Editora IDE (Instituto de Difuso Esprita).

    Nossos Princpios

    1. Todos produtos do grupo Marcos (livros, dvds, programas de udio e de vdeo etc) so colocado gratuitamente disposio em nosso site

    www.grupomarcos.com.br, sendo previamente autorizado imprimir, copiar, divulgar.

    No caso do livros impressos ou dvds gravados ser cobrado o exato valor do custo.

    2. As produes (medinicas ou no) levam apenas o nome Marcos e dos amigos espirituais, quando for o caso;

    3. A filiao ao grupo no tem formalidade ou nem taxa, basta entrar em contato e falar como deseja ajudar;

    4. Nosso maior compromisso com a coerncia, o estudo e divulgao da obra de Allan Kardec. A Codificao e a Revista Esprita norteiam todas as nossas

    produes;

    5. Nosso compromisso especfico com a formao da Nova Gerao, sem excluir ningum de nossas atividades;

    6. Nos propomos a produo de livros, de programas de udio e de encontros de estudo como nossa principal contribuio ao movimento esprita.

  • 8 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    Apresentao da Srie

    Amigo e amiga, vamos conversar sobre a obra que voc vai ler. Primeiro quero

    dizer que voc muito importante para o Grupo Marcos. Todos os nossos esforos

    tem apenas um nico objetivo, aproximar os coraes que amam o Cristo e querem

    servir mais e melhor.

    Vou contar um pouco a histria deste livro. Quando comeou ser transmitido

    pensei que fosse uma pea teatral, depois percebi que seria um livro e em seguida

    uma srie... Fui descobrindo isso aos poucos. Como observador atento, fui

    descobrindo os acontecimentos, conhecendo Felipe, suas dvidas, medos e aventuras.

    Psicografar um ato de descoberta empolgante, de convvio com os bons

    espritos e de aprendizado cristo.

    Possuo a mediunidade de psicografia intuitiva o que me permite estar

    plenamente consciente no momento em que psicografo. Muitas vezes, quando algum

    me via psicografar pensava que estava escrevendo... De fato estava, mas escrevia a

    histria de outro escritor. Este livro foi inteiramente psicografado em meu quarto, em

    horrios combinados com os amigos espirituais, aps a preparao do ambiente

    espiritual durante o qual fiz o Culto do Evangelho diariamente, o que se tornou um

    hbito que mantenho de segunda a sexta-feira. Ensinam os bons espritos que a casa

    do cristo deve ser um lugar de elevada vibrao espiritual, apesar de nossas

    limitaes pessoais, devemos nos esforar para atingir essa meta.

    Dito isso, vamos falar um pouco dos autores espirituais. O coordenador espiritual

    de nosso grupo o esprito Ivan de Albuquerque. Explica-nos este amigo que nessa

    srie encontraremos, como no Novo Testamento, diferentes estilos literrios,

    inclusive, representaes simblicas como as empregadas por Jesus em suas

    parbolas. Ningum, portanto, se espante ao encontrar a mediunidade representada

    por uma simptica senhora. Alerta-nos o amigo que o Cristo tambm usou do

    simbolismo para melhor ensinar a verdade. E esse o objetivo: apresentar a voc a

    grandeza da codificao esprita e da beleza da obra de nosso Pai. Facilmente voc

    diferenciar o ensino simblico da realidade objetiva como fazemos ao ler o Novo

    Testamento.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    A coordenao das histrias de responsabilidade de Ivan de Albuquerque e as

    aulas vivenciadas por Felipe, nosso personagem central, tem como autores os

    professores que as ministraram. Consequentemente, cada aula ou exposio da srie

    Se a Mediunidade Falasse possui autor especfico.

    O respeito a estes amigos que colaboram conosco nos leva a destacar que

    expressamos, com mximo respeito, as suas ideais, pensamentos e sentimentos.

    Esses Espritos amigos so os verdadeiros autores desta obra. Para eles, o que mais

    importa nos estimular o estudo e a reflexo sobre a grandiosa obra de Allan Kardec

    e sua aplicao em nosso dia a dia. A vaidade em aparecer no existe em seus

    coraes e deixaram para ns a deciso de os identificarmos por pseudnimos ou

    como eram conhecidos na Terra. Aps longa reflexo, ns do grupo de encarnados,

    decidimos apresent-los com seus nomes verdadeiros, apenas por um motivo,

    estimular a voc, amigo leitor, a ler e estudar suas obras, pois alguns deles deixaram

    excelentes livros que devem ser conhecidos de todos. Na medida do possvel, suas

    obras so citadas no livro.

    Em nosso caso, os encarnados, optamos por nos apresentarmos como grupo

    Marcos. Assim, a ateno direcionada para o contedo da obra e no para

    especulaes que podem nos distanciar dos critrios de Allan Kardec. Afinal, deve-se

    avaliar a obra e no os mdiuns que a receberam, pois a srie Se a Mediunidade

    Falasse ser recebida por diversos mdiuns.

    Para concluir, quero falar da alegria que sentimos com a proximidade de nosso

    publicao! Sonhamos em ter contato com vocs, jovens amigos! Sabemos que

    muitos entendero e se empolgaro com a proposta de nosso grupo, sejam bem-

    vindos ao grupo Marcos! Entrem em contato conosco. Queremos multiplicar o nmero

    de amigos e de trabalhadores cristos! Quem sabe um dia no nos conheceremos pela

    internet nosso podcast semanal o PodSim - ou em encontros que desejamos realizar

    por todo pas? Antes de tudo quero dizer, se este livro est em suas mos, estamos

    muitos felizes! Nosso sonho comea a se concretizar e convidamos voc a fazer parte

    dele. Boa Leitura.

    o desejo de todos que formam o grupo Marcos!

  • 10 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    11

    Prefcio

    Amiga e amigo, no aceites os sonhos loucos da mediunidade de fachada

    e de formalidade. Muito se perde por muito fingir. O caminho do Cristo o da

    verdade profunda, da verdade que transforma, que transmuta sentimentos

    inferiores em paz, em compreenso, em harmonia. Um dia, no futuro feliz,

    entenderemos o poder da devoo sincera, da amizade verdadeira, do Amor

    do Pai. At l, resta-nos servir, aprender a perdoar e, acima de tudo, a

    colocar o Reino de Deus acima das tristes convenes humanas que tantas

    vezes desumanizam a criatura.

    Nosso movimento, o movimento esprita, passa por profunda fase de

    renovao, aos olhos do esprito um verdadeiro renascimento. uma

    revoluo cultural silenciosa e eficaz. Seja voc, amigo e amiga, aquele que

    far a diferena na sociedade ao eleger como regra de conduta os valores do

    esprito, o cristianismo puro e verdadeiro, e, onde estiveres, ns, teus amigos

    invisveis, estaremos contigo!

    Paz.

    Ivan de Albuquerque.

    Mensagem recebida dia 1 de julho de 2014. Mdium do grupo Marcos.

  • 12 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    Captulo I

    O Pedido de um Anjo Guardio

    Felipe est pensativo sobre o curso que vai escolher. Um deles o

    acompanhamento de um grupo de estudo-tratamento de espritas que

    fracassaram na ltima encarnao por negarem a mediunidade e seu convite

    ao autoconhecimento e espiritualizao. um curso de difcil acesso. Ser

    assistido no quarto andar do Colgio. Quem conhece as normas do colgio,

    sabe, l imperam trs regras centrais: no se atira prolas aos porcos;

    sinceridade absoluta; mrito do esforo prprio. E essas normas esto

    refletidas em todos os setores do colgio, inclusive, no acesso aos diversos

    andares.

    Pensa mesmo em desistir, mas lembra-se do convite de Gabriel Delanne

    que lhe disse que poderiam trabalhar juntos na Terra. Uma proposta como

    esta, trabalhar com um esprito missionrio, mesmo que exija muito sacrifcio,

    ele por nada perderia...

    O curso tem trs mdulos e em cada mdulo a conduta de alguns

    espritas ser avaliada. No para a condenao, mas com objetivo de socorr-

    los. Durante o curso haver muitas regresses de memrias para que se

    entenda os motivos de seus erros recentes.

    Como chegarei ao quarto andar? pensando nisso que Felipe, no jardim

    do colgio, aguarda a oportunidade da falar com Gabriel. Quando espera,

    distrado em seus pensamentos, algum lhe toca o ombro, ele se vira.

    - Gabriel! Estava pensando em voc.

    - Eu sei, responde Gabriel sorrindo.

    - ... Felipe entende que ele captou seus pensamentos.

    - Com o tempo, voc se acostuma com a comunicao teleptica. Diz com

    bom humor. Afinal, vamos trabalhar juntos, no ?

    Felipe sorri feliz com a certeza que seu amigo realmente deseja que ele o

    ajude e pergunta: eu sei das dificuldades para se chegar aos trs primeiros

    andares, mas no tenho nenhuma ideia sobre o quarto andar... Fala Felipe

    timidamente.

  • 14 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - No h dificuldade. Quem no est preparado, simplesmente no chega.

    Explica com alegria.

    - Mas... Como eu farei... Na verdade, nunca pensei em alcanar um curso

    acima do terceiro andar...

    - Sei disso. Hoje, voc no teria condies de estar l... Comenta Gabriel.

    - E como eu conseguirei...Felipe no est entendendo nada.

    - Calma, amigo. Eu explico. Muitas vezes, quando o esprito mostra

    dedicao e sinceridade, ele pode ter acesso a um aprendizado a ttulo de

    emprstimo... De fato, voc no tem ainda condies evolutivas plenas para

    participar deste curso, mas por causa de sua conduta, quero dizer, de sua

    dedicao, pai Joaquim, a quem todos ouvem com muito respeito, conseguiu

    esse emprstimo da Misericrdia Divina para voc.

    - Ah! Quer dizer que agora estou ainda mais endividado?! Brinca Felipe.

    - Exatamente. Neste caso, o avalista seu guia espiritual. Conclui

    Gabriel.

    Ambos riem.

    - E quanto as escadas... Fala Felipe.

    - No se preocupe. At o terceiro andar com voc, depois comigo.

    Felipe o abraa com gratido.

    - Calma a. Quando estivermos trabalhando juntos que quero ver sua

    gratido, brinca Delanne.

    Despedem-se.

    Felipe tem uma semana para se preparar. Todas as noites ora e com o

    amparo de pai Joaquim vai estudar nas bibliotecas da escola. Em uma destas

    noites, quando sai da biblioteca do segundo andar, pai Joaquim o aguarda.

    - Pai Joaquim! Diz Felipe feliz.

    - Hoje ns vamos visitar um amigo seu. Comenta o nobre mentor.

    - Quem? Indaga curioso.

    - Avelino. Fala pai Joaquim sem explicar qualquer detalhe.

    Partem.

    Felipe mal pode conter a curiosidade. Qual seria o motivo da visita? Logo

    chegam ao apartamento do amigo. Entram com tranquilidade, pai Joaquim

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    cumprimenta o guia espiritual do jovem, que os espera a entrada e, em

    seguida, orienta telepaticamente a Felipe que se prepare para no julgar,

    enquanto caminham para o quarto de Avelino. Entram. Felipe tem vontade de

    gritar. Acalme-se. Orienta pai Joaquim.

    Apesar de bela decorao, da vista deslumbrante, o ambiente espiritual

    terrvel. No quarto, moram entidades muito sofredoras e necessitadas.

    Algumas viciadas em sexo que estimulam Avelino ao hbito da pornografia.

    - Eles no podem nos ver. Explica pai Joaquim. Trouxe voc aqui a pedido

    de Aureliano, o guia espiritual de Avelino. Ele tem esperana que voc consiga

    mostrar-lhes o quanto o cultivo da inferioridade traz intensas angstias

    emocionais.

    - Mas, como posso fazer isso? Indaga Felipe.

    - Nosso obrigao socorrer aqueles de desejam ser amparados e nunca

    impor nosso desejo na vida dos outros. Explica pai Joaquim e pede, observe a

    estante de livros.

    Felipe curioso percorre os ttulos dos livros e para sua surpresa ali v o

    Livro dos Espritos e o livro Renncia, psicografado por Francisco Cndido

    Xavier.

    - Se ele for capaz de ler com desejo sincero de aprender estes dois livros,

    a vida dele mudar completamente. Avelino tem a misso de trabalhar como

    mdium de cura, mas se continuar cultivando suas paixes inferiores, em

    breve arruinar a prpria misso reencarnatria. Explica Aureliano com uma

    voz que expressa preocupao por seu protegido.

    - O que ns te pedimos que o incentive a ler estes livros que foram um

    presente que Aureliano inspirou que dessem ao pai dele na empresa que

    trabalha.

    - Como farei isso? Indaga Felipe curioso.

    - Ns faremos que, em uma conversa entre vocs, o assunto

    mediunidade surja ao acaso. Quando isso acontecer, basta que voc se

    permita ser inspirado e pai Joaquim dar as orientaes. O mais importante

    que voc consiga incentiv-lo a ler estes livros. Pelo menos, O Livro dos

    Espritos. A partir da terei condies de o orientar melhor. Explica Aureliano.

  • 16 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Podem contar comigo! Diz Felipe feliz em poder ajudar e em ver como

    so dedicados os guias espirituais.

    Se todos soubessem que existem espritos elevados cuidando de cada um

    de ns... Pensa Felipe.

    - Sabero, responde Aureliano, e seu trabalho com o Gabriel vai ajudar

    muitos a entenderem isso. Conclui.

    Felipe olha para pai Joaquim espantado no com a leitura de seu

    pensamento, mas com aquela revelao, como ele saberia sobre sua ligao

    com Gabriel?

    - Ora, Felipe, diz Aureliano descontrado. Voc no acha que trabalhamos

    isolados, acha?! Meu Avelino vai trabalhar com vocs no mesmo centro

    esprita! Essa a programao dele.

    - Est explicado. Diz pai Joaquim feliz com mais um compromisso

    assumido por Felipe. Ele sabe que apenas nos ocupando cada vez mais com

    as tarefas do bem que crescemos.

    Felipe acorda feliz. sexta-feira. Na escola, durante a aula, comea a

    lembrar mais detalhes do sonho com o guia de Avelino. Ora em silncio e

    envolve Avelino em boas energias. o incio da ajuda. noite, sente-se

    um pouco sozinho. Lembra-se de que no futuro ter amigos com as

    mesmas afinidades. Resolve ouvir um podcast esprita, o PodSim e depois,

    ler um bom livro. Domingo ser sua primeira aula. Quero estar

    preparadssimo! Pensa antes de dormir.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

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    Captulo II

    O Medo de Deus

    Domingo, duas da manh, Felipe aguarda Gabriel na entrada da escola.

    Gabriel chega feliz e cumprimenta Felipe com alegria.

    -To cedo? Indaga Gabriel.

    -Resolvi me preparar o melhor possvel. Comenta Felipe.

    -timo! Voc est muito bem, no se preocupe. Temos quarenta

    minutos, que tal caminhar um pouco pelos jardins? Indaga Gabriel.

    - Vamos, uma excelente oportunidade para voc me falar de nosso

    futuro trabalho. Fala Felipe e acrescenta: melhor eu falar, pois se apenas

    pensar voc vai saber do mesmo jeito! Explica Felipe brincando.

    - verdade. Diz Gabriel. Partem.

    Ao caminhar pelo jardim, Felipe tenta organizar o pensamento para

    aproveitar cada minuto. Gabriel, compreendendo que no teriam tempo para

    todas as explicaes no momento, inicia a conversa explicando.

    - Felipe, no se preocupe tanto em entender neste momento todos os

    detalhes de nossa tarefa. Aps esse curso, voc vai ser capaz de matricular-se

    em um curso inicial sobre planejamento reencarnatrio em que vai se lembrar

    de seu planejamento e eu vou poder apresentar-lhe o meu. Para vivenciar

    tudo isso, essencial cuidar sempre da educao emocional e intelectual.

    - Que interessante! Comemora Felipe.

    - E tem mais, sermos capazes de regredir e lembrar todo o planejamento

    no corpo fsico. No se preocupe, nossa equipe bem qualificada para essas

    experincias educacionais.

    - Educacionais? Felipe no entende.

    - Claro Felipe. O objetivo maior sempre a educao espiritual. Libertar o

    ser da animalidade, da ignorncia, da maldade. Regresso tem a finalidade

    maior de elevar o esprito encarnado ou desencarnado. indispensvel

    ampliar a conscincia, inclusive, para que se tenha a humildade de aceitar o

    estgio em que cada um se encontra sem se acomodar.

    - verdade. Diz Felipe.

  • 18 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Vamos? Faltam vinte minutos.

    Felipe resolve no perguntar como ele sabia sem olhar um relgio...

    Sobem os trs primeiros andares conversando. Felipe para no incio do

    quarto. Gabriel olha para Felipe, abraa-o com carinho e diz: vamos, voc j

    est preparado para subir.

    - ? Como?

    - Apliquei-lhe as energias necessrias. Pode confiar. Diz sorrindo.

    Felipe respira fundo. Ganha coragem. Sobe. Sente um pouco de mal

    estar.

    - Continue, diz Gabriel. Eu falei que voc conseguiria, no disse que seria

    confortvel.

    - Sinto-me muito mal. Fala Felipe.

    - Continue e tudo passar. Incentiva.

    - Por que sinto tanto incomodo? Pensa Felipe.

    - sua adaptao energtica. Coragem. Os covardes no evoluem. Fala

    Gabriel com firmeza ao ver que Felipe quer parar.

    Felipe para, pensa em voltar.

    - A deciso sua, mas gostaria que trabalhssemos juntos. Fala Gabriel.

    - Sinto que estou morrendo. Explica Felipe.

    -Sim, o incio da morte de sua inferioridade, amigo. Explica Gabriel.

    - muito ruim!!!

    - Pior viver inferiorizando-se como muitos fazem...

    Felipe se lembra de Avelino. No queria ter uma vida como aquela, mas

    no se sente com foras, teme.

    - Estarei na sala. Fala Gabriel com ternura.

    Ao v-lo partir. Felipe olha para trs. Est exatamente no meio da

    escada. Descer mais fcil. Pensa. A sensao de morte intensa. Felipe faz

    uma prece. Lembra-se do dia de sua iniciao. Lembra-se do rosto de

    Eurpedes, que sua inspirao de conduta. Ganha coragem. Sobe

    calmamente, suportando angstias terrveis. Chega ao quarto andar. Chora

    emocionado. Um imenso bem-estar invade todo seu ser. Sente-se leve. Flutua

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    19

    at a porta da sala. Entra. Senta-se ao lado do amigo. Gabriel sorri

    profundamente feliz.

    - Nunca nosso Mestre prometeu facilidades. Ele subiu o calvrio e

    terminou crucificado por amor Humanidade. Diz Gabriel olhando para Felipe.

    Felipe sorri, existem vitrias que so to profundas que dificilmente

    conseguimos expressar seu valor. Ficam em silncio.

    Aps quinze minutos de completo silncio. A projeo comea. A turma

    formada por poucos alunos, so eles: Rivalina; Eclsio, Romildo e Astrobrito.

    Dois professores: Jos e Patrcia. Eurpedes Barsanulfo est presente. Felipe

    alegra-se ao ver o mestre que tanto admira.

    Aps a prece, explica o diretor do colgio.

    Amados condiscpulos,

    Estudaremos um fenmeno que acontece, atualmente, com muitos

    espritas: o medo de se espiritualizar. Nosso estudo tem objetivos de

    extrema relevncia, particularmente, neste momento de transio da

    Terra, que, na verdade, um momento de deciso para todos ns.

    Devemos optar pelo sacrifcio da animalidade que ainda cultivamos ou pela

    satisfao de nossas paixes inferiores, distanciando-nos de nossas metas

    espirituais e do Cristo.

    A espiritualizao do ser est intrinsecamente relacionada com a

    mediunidade. Por isso, importante entender sua funo no processo de

    evoluo. A mediunidade pode, e deve, nos auxiliar em um dos momentos

    mais dramticos de nossa jornada espiritual. Compreender a mediunidade

    no simplesmente ser mdium ostensivo, mas saber utiliz-la como

    alavanca de estmulo para a prpria ascenso espiritual em todos os

    instantes da vida, vivendo no mundo da matria densa ou da matria

    sutil.

    Jos Herculano e Patrcia so os responsveis por este curso que

    assistido por milhares de espritos que cometeram o grave erro de fugir de

    seus compromissos com a Lei de Deus. Bem como, por aqueles que tem a

    misso de dinamizar o movimento esprita, estimulando a espiritualizao de

  • 20 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    seus integrantes. Parabenizo a todos pela coragem de se candidatarem a este

    curso que trar novas responsabilidades a todos. Nosso empenho deve

    ampliar-se at o momento em que banirmos a ignorncia espiritual da Terra

    sob o comando do Cristo.

    Encerra Eurpedes.

    Os professores Jos e Patrcia, que gostam de serem chamados desta

    forma simples, se levantam e agradecem a Eurpedes que se despede de

    todos. fcil observar, por seu sorriso, como o mestre de Sacramento ama o

    trabalho da educao espiritual.

    Jos, o maior estudioso do Espiritismo no Brasil, dirige-se turma.

    - Sejam bem-vindos! Para quem no me conhece, sou Jos. Ministrarei a

    aula de hoje com o apoio de Patrcia. Nosso tema.

    O medo que tens de Deus.

    Observem que utilizamos processos j conhecidos pelos espritas

    encarnados desde, pelo menos, a dcada de 1950, com a publicao do

    excelente livro Memrias de um Suicida, psicografado pela mdium Yvonne

    do Amaral Pereira, exemplo de dedicao Doutrina Esprita e mediunidade.

    Ele se concentra, com o auxlio de Patrcia e de um sofisticado

    equipamento, projeta imagens em uma imensa tela que est a nossa frente.

    Assistimos com grande emoo o dilogo, narrado no Novo Testamento de

    Jesus com a samaritana. No uma representao, vemos a cena real do

    Cristo conversando com a mulher da Samaria.

    Jesus est sentado sozinho, perto de um poo. A beleza do Cristo

    indescritvel! Neste momento, aproxima-se uma mulher. dia. Os discpulos

    foram a cidade comprar mantimentos.

    Ao ver uma mulher aproximar-se do poo de Jac, Jesus pede gua

    mulher.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    21

    Ao que ela responde de forma rude: no tenho gua e voc no pode me

    pedir gua. Judeus no falam com samaritanos, muito menos com uma

    mulher samaritana!

    Responde Jesus com ternura: se Deus te revelasse quem eu sou, voc

    que me pediria a gua da vida.

    Fala a mulher, olhando para Jesus e achando muito estranho o que ele

    disse: o senhor no tem nem balde para tirar gua do poo, como vai ter essa

    gua da vida? Voc maior do que o nosso pai Jac, que nos deu o poo que

    ele mesmo utilizou para seus filhos e animais?

    - Todos os que beberem da gua deste poo tero sede novamente, mas

    aqueles que beberem da gua que tenho, nunca mais tero sede. Pelo

    contrrio, a gua que eu dou se torna uma fonte de gua que jorra

    eternamente. Explica o Cristo.

    - Senhor, eu quero essa gua, para que eu no mais tenha sede, nem

    tenha que vir aqui para tirar gua. Pede a samaritana.

    - Vai e chama o teu marido. Responde Jesus.

    Responde a mulher envergonhada: senhor, no tenho marido.

    - verdade que no tens marido; porque j tiveste muitos maridos e o

    que agora tens no teu marido. Isso verdade. Afirma Jesus.

    Surpresa a mulher responde: senhor, vejo que s profeta! Explica-me:

    Nossos pais adoram neste monte, os judeus dizem que em Jerusalm que

    se deve adorar a Deus. Quem est com a verdade?

    - Mulher, aceita meu testemunho. No futuro, nem neste monte nem

    naquele adorareis o Pai. Vocs adoram o que no conhecem. Eu adoro o que

    conheo. Os verdadeiros adoradores adoram o Pai em esprito e em verdade.

    assim que o Pai deseja ser adorado. Deus Esprito, e necessrio que os

    que o adoram O adorem em esprito e em verdade.

    - Senhor, eu sei que vem o Messias, quando ele chegar vai nos explicar

    todas as coisas.

    - Sou eu o Messias. Eu que falo contigo.

    Nesse momento, chegam os discpulos e a mulher samaritana vai

    at a cidade dar o testemunho de seu encontro com o Cristo.

  • 22 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    Aps a exibio, indaga o professor.

    - Jesus sabia que, segundo os costumes de poca, um homem no

    poderia abordar uma mulher no espao pblico e tambm que ele no deveria

    falar com uma samaritana, pois era judeu. Ento por que o fez?

    - Para ensinar algo importante, responde Rivalina.

    - Certo que ensinou. Mas no poderia ter ensinado em uma ocasio em

    que no precisasse afrontar os costumes?

    - Sim...

    - Por que fez isso? Pergunta novamente.

    - Porque estava com muita sede! Brinca Eclsio.

    - No este o caso. Responde o professor bem humorado.

    - Para mostrar que no devemos ser escravos de costumes que no tem

    fundamento na moral verdadeira, diz Patrcia.

    - Exatamente. O que acontece depois? Indaga Jos.

    - Ele fala da vida dela... Comenta Rivalina

    - Com que objetivo? Qual o propsito do Mestre em lidar com um assunto

    pessoal da mulher samaritana?

    - Para ensin-la... Aventura uma resposta Romildo.

    - Sim, para demonstrar que a percepo do esprito vai alm da matria

    e, consequentemente, existe vida espiritual. Com isso, o Mestre ganha a

    ateno da mulher samaritana que a utiliza para fins elevadssimos. Observem

    que isto est completamente relacionado com a mediunidade. Afirma o

    professor e, em seguida, indaga.

    - Qual a primeira pergunta que a samaritana faz a Jesus?

    - Onde se deve adorar a Deus. Diz Astrobrito.

    - Observe que ela tinha uma vida emocional confusa, mesmo assim a

    questo central de sua vida Deus. Se ela soubesse direcionar

    adequadamente suas energias em busca de Deus, de sua espiritualizao,

    teria sublimado seus conflitos de sexualidade e conquistado uma vida

    equilibrada. Direcionar as energias psquicas em busca de Deus a

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    23

    funo da mediunidade. O que fez a mulher samaritana aps encontrar a

    Verdade? Indaga Jos.

    - Foi cidade anunci-la. Diz Eclsio.

    - isso que deveriam fazer os espritas encarnados! No falo de

    propagandismo vaidoso, mas a apresentao do fenmeno medinico de

    maneira natural e sria. preciso superar os preconceitos contra a Doutrina

    Esprita e instalar no mundo a convico da imortalidade. Explica o professor.

    Foi exatamente o que o professor fez quando encarnado. O amor

    verdade e o sacrifcio pessoal em favor da educao espiritual dos encarnados

    foi a marca de sua existncia. Pensa Felipe que durante a semana leu um livro

    sobre a vida dele. Herculano Pires, o apstolo de Kardec de Jorge Rizzini

    da editora Paideia.

    Aps olhar a todos, o professor continua.

    - A mediunidade canal de comunicao em variados sentidos: canal

    de intercmbio espiritual, canal de busca da criatura para o Criador, canal

    de manifestao da misericrdia divina. A mediunidade a origem dos

    Dez mandamentos, dos Evangelhos, do Hindusmo, do Budismo e do

    Islamismo. A mediunidade a fonte de todas as religies e filosofias

    espiritualizantes dos mundos. Temer a mediunidade afastar-se do

    Criador. Sem a mediunidade, o ser estaria condenado a permanecer

    animalizado, isolado da influncia espiritualizante de seus guias espirituais e

    do Cristo. Ela o meio de contato entre Criador e criatura. faculdade

    sagrada que os grandes iniciados e os apstolos honram ao longo dos milnios

    e que, os que aqui esto, combateram movidos por covardia e por vis

    paixes. No vos enganeis: tolher a mediunidade querer loucamente

    tolher a obra de Deus.

    Nesse momento, o professor pega e l a questo 659 de O Livro dos

    Espritos.

    Qual o caracterstica geral da prece?

    A prece um ato de adorao. Fazer preces a Deus pensar nEle,

    aproximar-se dEle, pr-se em comunicao com Ele. Pela prece podemos

    fazer trs coisas: louvar, pedir e agradecer.

  • 24 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    Aps a leitura, explica.

    - Utilizamos avanados princpios educacionais com o intuito de vos

    ajudar a vencer o preconceito, que medo disfarado. Apesar de vocs terem

    sido espritas na ltima existncia, ainda carregam bloqueios em relao a

    essa faculdade sublime. Isto impede a vossa prpria espiritualizao e

    estimula terrveis quedas morais. No os condeno, mas teremos que abordar

    este tema considerando a necessidade que vocs possuem de entender e de

    amar a mediunidade. Trabalhamos para ajud-los a superar este medo

    que , na verdade, medo de se comunicar com Deus. Alguma questo?

    Todos ficam em silncio. O amor verdade e simplicidade esto

    presentes em cada palavra de nosso professor.

    - Vamos formar duplas para compartilhar uma importante experincia

    medinica que vocs vivenciaram. Relacionem essa experincia com o tema

    que estudamos, o medo de Deus e dos espritos. Cada um precisa entender

    como sua histria reencarnatria se relaciona com os bloqueios em relao a

    mediunidade.

    Formam-se as duplas: Patrcia e Rivalina; Astrobrito e Romildo; Jos e

    Eclsio. Segundo a metodologia educativa do colgio Allan Kardec, todo tema

    estudado deve ser relacionado com a vida emocional dos educandos. Assim se

    previne que se formem pseudo-sbios, cheios de teorias e vazios de

    sentimentos elevados.

    I - Rivalina e Patrcia.

    Rivalina comea.

    - Sabe Patrcia, quando eu tinha 19 anos, no sabia que curso

    universitrio seguir, sentia que seria uma escolha importante no apenas

    materialmente, mas que estava ligada a um compromisso espiritual.

    Conversava muito com uma amiga que dava aula comigo na evangelizao

    infantil e ela sugeriu que eu rezasse e pedisse orientao ao meu guia

    espiritual, achei a ideia boa e segui o conselho. Orei com muito fervor por um

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    25

    bom tempo. Nada acontecia, mas eu continuava orando... Depois de um certo

    tempo, senti que adormecia de maneira diferente, ouvi uma voz suave que

    dizia.

    - Filha, estou aqui. Vim busc-la para te mostrar os compromissos

    assumidos.

    - Senti muita paz, mas quando me dei conta que estava vivendo um

    fenmeno medinico, assustei-me. Gritei e bem alto. No quero! No quero!

    Despertei e no dormi mais. Repeti mil vezes que no queria saber de nada...

    Algumas vezes, meu guia tentou se aproximar, repeli-o violentamente.

    Obviamente, nunca participei de reunio medinica e nem queria saber!

    Tempos depois, outra amiga me convidou para assistir uma reunio

    medinica, depois soube que estava intuda pelo meu guia. Nem pensar, disse

    convicta, e deixei bem claro: no queria saber de reunio, de mensagem nem

    de nenhuma histria de mediunidade. Fui to enftica que ela nunca mais

    tocou no assunto. Pouco a pouco fiquei com medo de me concentrar e depois

    at de rezar com devoo... Voc sabe, a orao uma comunicao

    vibratria e teleptica e eu no queria nada de fenmeno medinico. E uma

    coisa leva a outra... Isolei-me dos estmulos espiritualizantes e,

    consequentemente, animalizei-me. Animalidade atrai animalidade. No rezava

    de verdade, vivia ansiosa e insegura, busquei segurana no dinheiro. Na

    prtica, distanciei-me de Deus. O pior foi induzir, pelas minhas vibraes e

    pensamentos, tantas crianas a agir como eu agia. Eu ensinei o medo

    mediunidade! Eu sei exatamente o que o professor est dizendo, sofro

    constantemente com isso... S depois soube o tanto que perdi! Uma

    programao excelente! Seria uma orientao excepcional. Eu ficaria cada vez

    mais prxima do meu amigo espiritual. Ele me ajudaria a vencer todas as

    dificuldades da vida. Saberia exatamente o que deveria fazer... Mas no

    soube e no fiz! Dolorosas lgrimas escorrem dos olhos de Rivalina. Patrcia

    abraa-a com ternura, enxuga suas lgrimas. A situao de Rivalina triste, o

    fracasso reencarnatrio dificilmente recuperado no mundo espiritual, quase

    sempre so sculos de preparao e recuperao para que se supere erros to

    infelizes.

  • 26 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade Aps ampar-la Patrcia fala.

    - Iniciei-me no Egito antigo. O teste era muito severo e os reprovados

    no sobreviviam. Para mim, valia a pena o risco. Aprofundar meus

    conhecimentos sobre a criao material e espiritual, que eu j compreendia

    que so integradas, era o meu maior interesse. Apesar de meus pais serem

    muito ricos, optei por uma vida austera que me aproximaria do Criador. Fui

    aprovada. Em minha primeira reunio, que hoje chamaramos de medinica,

    com pessoas educadas e moralizadas, soube de minha misso na Terra.

    Aproveitei essa informao para me preparar emocional e intelectualmente e

    execut-la da melhor forma possvel. Devido ao meu esforo sincero, fui

    orientada constantemente pela intuio, em meus desdobramentos e por

    outros mdiuns. O objetivo era sempre muito srio, no cabia curiosidade

    tola. Dialogando com os bons espritos e ajudando os espritos inferiores pude

    conhecer minhas fraquezas e a forma de super-las. O contado equilibrado

    com os espritos sempre foi um excelente auxlio para minha

    evoluo. Eu e meus orientadores no nos enganamos sobre as

    minhas imensas necessidades espirituais e nunca perdemos tempo em

    tolas cogitaes de misses vaidosas, isso seria agir com leviandade

    em relao a obra do Altssimo, que cultuvamos diariamente por

    meio do dever de nos melhorar e de auxiliar os homens ignorantes.

    - Mas isso no perigoso? Indaga Rivalina.

    - Certamente , se no for conduzido com seriedade e verdadeira

    devoo. Aproximar-se do Criador requer desejo de verdadeira renncia

    animalidade. No foi assim que ensinou Jesus? H um perigo maior quando

    adultos e jovens destroem seus psiquismos com drogas e sexo desequilibrado.

    H, tambm, um perigo imenso na vulgaridade do dia a dia que a sociedade

    aceita como normal. Isso, para mim, muito mais temerrio!

    - Mas o Espiritismo no contra? Rivalina est apavorada.

    - O Espiritismo a maior revelao da histria do mundo. O que

    falta vivenci-lo. Espritos superiores so contra, e sempre sero, a todo

    desrespeito obra do Criador: como a destruio irresponsvel da natureza, o

    desamparo aos mais fracos e as relaes medinicas conduzidas por

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    27

    interesses inferiores e por exibicionismo como faz parte do atual movimento

    esprita no mundo da matria densa. Isso diferente da busca pelo

    conhecimento aprofundado das manifestaes do amor de Deus. O problema

    a vulgaridade de muitos que no veneram o Criador em seus pensamentos e

    aes. Para mim, foi muito importante saber qual era a minha misso. A

    revelao de minha misso veio por diversos meios e isso importante para

    evitar enganos. muito importante saber o que se deve fazer no mundo

    para no fracassar. Patrcia, serena e segura, assombra Rivalina com suas

    palavras plenas de sabedoria imortal.

    II Jos e Eclsio.

    Eclsio comea.

    - Eu dirigia uma reunio medinica, lia as obras de Andr Luiz e de

    Emmanuel, mas no via nenhum problema em me divertir. Dizia quando

    encarnado, no pode ser to grave assim. No tem nada demais! No

    conseguia aceitar que algumas farras pudessem ser algo grave. Quando os

    livros tocavam nesses assuntos, eu fazia leitura rpida ou pulava as pginas.

    Assim ia levando a minha vida... Comearam a vir algumas mensagens de

    nossos dirigentes espirituais. No falavam diretamente, mas eu saiba que

    eram para mim. Simplesmente, no ouvia. Aos poucos, eles foram trazendo

    desencarnados que tinham vivido experincias semelhantes a que eu vivia,

    alguns viviam nos lugares que eu frequentava, pois a descrio era muito

    semelhante! Pouco a pouco, fui ficando constrangido e com raiva... No

    suportava a ideia de ter que manter um compromisso constante com a

    espiritualidade e comecei a atacar a mediunidade porque ela

    simbolizava esse compromisso! Como fui ingnuo! S depois entendi

    que o compromisso , acima de tudo, com a Lei de Deus. Agora,

    entendo que a mediunidade um poderoso meio de auxlio para

    cumprirmos essa Lei e no um entrave a minha liberdade como

    pensei.

    - Como voc lidou com esse sentimento? Pergunta Jos.

  • 28 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Sentindo-me culpado, comecei atacar todos. Cobrava dos mdiuns uma

    conduta perfeita. Acusava-os por qualquer dificuldade natural do processo de

    intercmbio. Padronizava roupa para a medinica, tinha que ser da cor que eu

    aprovasse. Em relao alimentao era ferrenho. Se soubesse que algum

    tinha cometido um pequeno deslize, tratava-o como um grave criminoso.

    Estipulei at a idade para participar das reunies, tinha que ter mais de 18

    anos, como se maturidade espiritual se medisse pela idade penal da Terra! De

    tanto acusar e de tanto culpar, consegui o que inconscientemente eu queria:

    afastar todos da mediunidade e impedir que outros tivessem contato com ela.

    A voz de Eclsio est sufocada, revela o intenso conflito que ele vive.

    Jos olha-o com compaixo. Como no lamentar algum que tenta

    barrar a espiritualizao de si mesmo e dos outros? Como no lamentar

    algum que quis mandar na obra de Deus?

    Inicia o professor.

    Uma das mais belas experincias medinicas que tive foi com

    materializao. Ao observar com toda clareza e com absoluta certeza de que

    se tratava de entidades, de espritos materializados, emocionei-me at as

    lgrimas! Nunca podia imaginar poder na Terra viver uma experincia to

    simples e to profunda. Ali, diante de mim, desabava todas as pretensas

    filosofias da negao. Todas os sistemas preconceituosos que negavam a

    imortalidade. Apiedei-me de tantos intelectuais que buscavam a verdade em

    meio a tantos engodos... Gostaria de poder convidar a todos e lhes desvelar

    que o universo maior e mais generoso do que podemos imaginar...

    - O que voc fez? Indaga Eclsio.

    - Mantive viva essa experincia em meu corao e com tristeza entendi

    que, para mim, ela foi transformadora, mas no seria para todos. Meu amigo,

    os fatos elevados da vida so como a boa msica. S gosta quem tem ouvido

    afinado. Tratei de colaborar para afinar o gosto espiritual dos espritas e dos

    no espritas. Somente amando verdadeiramente Kardec podemos ter

    vivncias mais elevadas e tirar delas o mximo de ensinamentos e impulsos

    espirituais.

    - Voc realmente gosta das atividades medinicas? Pergunta Eclsio.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    29

    - A mediunidade a grande impulsionadora da transcendncia. Como

    est no Evangelho, preciso desapegar-se do mundo para conquistar o Reino.

    A mediunidade gera o fato que justifica o abandono das iluses do

    mundo. Sem ela, o esprito no se convence que deve caminhar para Deus e

    fica enleado nas iluses de um dia e nas amarguras de longa durao.

    III Astrobrito e Romildo.

    - Comecei a ler os clssicos do Espiritismo, no para entender, mas para

    expor minha inteligncia e meu saber, queria ser admirado! Com o tempo, via

    que deveria fazer algo, ser til, servir de alguma maneira. Os prprios

    amigos, inspirados pelo meu guia, falavam que eu sabia tanto que devia

    colaborar um pouco mais, alm de simplesmente fazer palestras. Acabei indo

    participar de uma reunio medinica e dei-me conta de que as atividades

    espritas, na verdade qualquer atividade que espiritualize o ser,

    envolve sempre responsabilidade e dedicao. Isso eu no queria! Mas

    eu no podia simplesmente desistir... E meu status? Minha fama de grande

    intelectual?! Comecei a tudo complicar para fugir. Tornei-me um crtico

    severo de tudo, tudo era mistificao ou animismo como se o animismo no

    fosse natural e parte de todos os fenmenos medinicos... Mas as pessoas

    no sabiam disso. Eu fui afastando todos porque minha opinio era

    respeitada. Mdiuns honestos, mas despreparados, desistiram de cumprir

    suas tarefas, pensando que estavam enganando a si mesmos... A reunio

    acabou e aparentemente eu fiquei com a razo, tinha salvo todos das

    mistificaes! Mas a verdade que apaguei a luz que a Providncia Divina

    tinha posto em minhas mos... No quero falar como desencarnei... Conclui

    Astrobrito soluando.

    - Nem precisa meu amigo, diz Romildo, meu caso parecido. A nica

    diferena que eu agia para mandar e quem no me obedecesse era expulso

    por estar obsediado ou por ser desonesto! Recebi muitos alertas medinicos

    ao ponto de cancelar a reunio que dirigia para no receb-los mais! Era o

    presidente do centro esprita e ameaava quem ousasse me entregar qualquer

    aviso dos espritos amigos.

  • 30 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Como eram as mensagens que voc recebia? Indaga Astrobrito.

    - Essencialmente falavam da importncia da cooperao. Da necessidade

    de anular minha vaidade em funo do grupo. Afirmavam a necessidade de

    nos ajudarmos uns aos outros, de orar uns pelos outros, de desenvolver

    relaes afetivas saudveis, de valorizarmos o talento de cada um e exercitar

    a humildade na anlise lcida de todas as comunicaes, tratando a todos

    como amigos de aprendizado.

    - E como voc reagia? Pergunta Astrobrito.

    - Eu aceitava as mensagens elogiosas! Se no fosse elogio era fraude! A

    mediunidade deveria estar submetida a minha autoridade. Conclui Romildo.

    Nesse momento, o professor prope outra atividade. Explica que

    devemos expressar artisticamente, pelo teatro, as situaes narradas, mas,

    ao invs dos erros cometidos, como cada um deveria ter agido. A expresso

    artstica elevada sempre um forma de espiritualizao. Considere isso em

    sua vida: todos podemos criar, ser artistas, em vrias reas.

    Felipe assiste s apresentaes emocionado. Como seria diferente se

    tivessem agido de forma honesta, estariam plenamente felizes. Pelos menos,

    agora, estamos todos aprendendo. Pensa.

    Aps as apresentaes, a prtica. Educao verdadeira sempre tem

    prtica! Os alunos diretos e os do quarto andar vo auxiliar uma reunio

    medinica que socorre espritos que lutam contra o Cristo, estimulando os

    medos em relao mediunidade dos espritas encarnados. Foi uma grande

    experincia e uma oportunidade para todos se conhecerem melhor.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    31

    Captulo III

    Os Educadores da Humanidade

    Felipe, Gabriel e muitos outros alunos aguardam o incio da aula em

    silncio.

    A subida teve as mesmas dificuldades, a diferena que Felipe

    entendeu que necessrio enfrentar o mal-estar interior para crescer

    espiritualmente. Subiu, sofreu e venceu sem reclamar.

    Gabriel olha feliz o amigo que se dispe a aprender com boa vontade.

    Patrcia se levanta, faz a prece inicial. Em seguida anuncia o tema da

    aula.

    Os verdadeiros educadores da Humanidade: os espritos.

    As luzes da sala diminuem. apresentado uma sucesso de cenas dos

    mais diversos tipos de adorao ao longo da histria.

    Aps a exibio das cenas, indaga Patrcia.

    - Qual a questo central em todas essas cenas?

    - Como adorar a Deus. Diz Eclsio.

    - O que significa adorao em seu sentido profundo? Pergunta

    novamente Patrcia.

    Ante o silncio de todos, explica Jos.

    - Relacionar-se intimamente com Deus, reconhecer a necessidade

    que temos de Seu amor e sentir que Sua infinita sabedoria jamais nos

    desampara.

    Patrcia agradece a ajuda e continua.

    - Todas as religies e crenas na imortalidade existem no mundo

    por causa da mediunidade. certo que o esprito tem em si a intuio da

    existncia de Deus e de sua imortalidade, mas somente por meio dos

    fenmenos medinicos a intuio se torna convico. Apenas quando o ser

    age com convico tem poder suficiente para se melhorar e para melhorar o

  • 32 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    mundo. A imensa batalha entre luz e trevas vencida quando o ser espiritual

    aprende a se comunicar com os seres espiritualizados e seguir-lhes as

    sugestes. A evoluo do esprito atravs dos tempos inseparvel da

    histria da mediunidade, no se pode entender a evoluo humana

    sem compreender a importncia da relao entre encarnados e

    desencarnados.

    Patrcia pega O Livro dos Espritos, mostra-o e afirma: por milnios

    foram necessrios sacrifcios incontveis para termos acesso s grandes

    verdades espirituais, mas, desde 1857, por ordem direta do Cristo, as mais

    elevadas verdades espirituais foram reveladas a todos por meio da Doutrina

    Esprita! Infelizmente, muitos ouvem, mas no escutam; olham, mas no

    veem; muitos leem, mas no entendem. No ausncia de inteligncia,

    ausncia de humildade verdadeira e de desejo sincero de servir. necessrio

    se fazer humilde para que se escute a doce e poderosa voz do amor de Deus.

    Ela o abre e l.

    616. Deus teria prescrito aos homens, numa poca, aquilo que lhes

    proibiria em outra?

    Deus no se engana; os homens que so obrigados a modificar

    as suas leis, por serem imperfeitas, mas as leis de Deus so perfeitas. A

    harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis

    que Deus estabeleceu por toda a eternidade.

    621. Onde est escrita a lei de Deus?

    Na conscincia.

    Reflitam atentamente sobre essas duas importantes questes. preciso

    destacar trs aspectos: primeiro, os homens devem adaptar-se s Leis de

    Deus, e no tentar neg-las. Segundo, as Leis de Deus esto na conscincia,

    isto , elas no tm origem externa. Terceiro, viver as Leis de Deus uma

    necessidade ntima da criatura, uma necessidade psicolgica,

    consequentemente, felicidade s existe no cumprimento das Leis de

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    33

    Deus. Contrariar essas leis o comportamento tpico dos espritos revoltados

    e infelizes. Podemos ter momentos de revolta, de pouca lucidez e de fraqueza,

    mas no devemos transformar a nossa vida em revolta e negao.

    necessrio orao e humildade, necessrio reconhecer a grandeza do Pai e

    nossa pequenez, necessrio agir com tica, disciplina e confiana. preciso

    entender: as Leis de Deus esto sempre certas, independentemente

    dos hbitos e costumes sociais. A mediunidade, embora tenha um

    componente orgnico, faculdade do esprito e no do corpo, enquanto existir

    esprito existir mediunidade, isto , eternamente. Em planos superiores, a

    mediunidade instrumento de ao diria: crianas fazem suas pesquisas

    escolares com auxlio de suas faculdades; cientistas, aps laboriosas

    pesquisas, discutem com espritos mais elevados suas concluses; o Cristo a

    utiliza para dialogar com Deus.

    Patrcia para um instante, olha a todos e prossegue.

    - hora deste modelo superior ser implantado na Terra. A telepatia, a

    vidncia, psicografia, a materializao, o sonambulismo lcido e

    outras formas de manifestaes medinicas, se tornaro to comuns

    que os jovens iro perguntar como vocs conseguiam viver to

    distantes da espiritualidade maior.

    - Mas ser que o movimento esprita encarnado ir deixar isso

    acontecer? Indaga, timidamente, Eclsio.

    - Eclsio, quando falamos de Lei de Deus e de ordem do Cristo, o que

    pode o preconceito de alguns pobres homens? Garanto-lhe: a profecia de Joel

    se cumprir e o esprito se derramar sobre toda a carne e se os espritas se

    calarem at as pedras falaro.

    - E as materializaes e os efeitos fsicos voltaro? Indaga Romildo

    assombrado.

    - Sim. Os efeitos fsicos se faro presentes em abundncia. Mas o plano

    muito maior. O cinema j iniciou sua tarefa, livros sero escritos, pesquisas e

    documentrios sero realizados. Por ordem do Alto, chega o fim da fase

    de alienao espiritual da Terra! O homem encarnado ir aprender a lidar

    cotidianamente, de forma lcida e tica, com o mundo espiritual. Para

  • 34 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    entendermos isso, uma terceira questo de O Livro dos Espritos deve ser

    analisada.

    668. Os fenmenos espritas, sendo produzidos desde todos os tempos e

    conhecidos desde as primeiras eras do mundo, no podem ter contribudo

    para a crena na pluralidade dos deuses?

    Sem dvida, porque aos homens, que chamavam deus a tudo o

    que era sobre-humano, por isso, os Espritos pareciam deuses.

    tambm por isso que, quando um homem se distinguia entre os demais pelas

    suas aes, pelo seu gnio ou por um poder oculto que o vulgo no podia

    compreender, faziam dele um deus e lhe rendiam culto aps a morte.

    - Por que muitos negam a mediunidade? Indaga Patrcia.

    - Por ignorncia. Afirma Romildo.

    - A verdade que muitos que conhecem a Doutrina Esprita tornam-se

    grandes opositores das prticas medinicas. Explica Patrcia.

    Muitos ficaram chocados como aquela colocao, pois essa a realidade

    de nosso grupo. Ao observar o clima de constrangimento, ela afirma.

    - No estamos aqui para acusar ningum, mas vocs no devem

    continuar com a mesma conduta de sempre: discutindo como se o problema

    no estivesse dentro de vocs. Cada um aqui optou por se acomodar em

    relao aos compromissos medinicos. necessrio uma reflexo sincera.

    Aps uma pausa, pergunta novamente.

    - O que leva a muitos a negarem a mediunidade e at mesmo combat-

    la, mesmo sabendo que ela uma faculdade inseparvel do ser?

    - Acho que um dos motivos o medo, responde Rivalina.

    - Sim, verdade; mas medo de qu? Pergunta Patrcia.

    - No sei, diz Rivalina.

    - Este o motivo mais preocupante, Rivalina. A grande maioria dos

    espritas que teme a mediunidade sem sequer saber o porqu desse medo.

    Por isso, usam as velhas e desgastadas desculpas da prudncia, do perigo e

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    35

    das regras sem sentido. preciso que todos saibam que no devem

    atrapalhar a obra do Cristo por covardia. Enfrentar a si mesmo

    digno, camuflar o medo atrapalhando os outros farisasmo como

    explica Jesus: fariseus so aqueles que nem evoluem nem deixam os

    outros evolurem.

    Ante o silncio de todos, ela continua.

    - Como fez Jesus e como exemplificou Eurpedes ao espritas, devemos

    utilizar todos os recursos que Deus nos oferece para auxiliar a evoluo

    espiritual de todos. Vamos relacionar a Doutrina Esprita com uma experincia

    pessoal ligada ao tema estudado. Eu ficarei com Rivalina e Romildo e o

    professor Jos com Astrobrito e Eclsio.

    O objetivo fazer cada um regredir em um momento de sua histria que

    gerou o medo da mediunidade, pois s superamos o medo quando

    entendemos suas causas e como ele prejudica nossa vida. Vamos faz-los

    regredir no tempo para encontrarem a origem de um problema atual que

    nasceu no passado. A educao deve tocar nos sentimentos, por isso, esse

    momento to essencial. A dinmica se d em um grupo nico.

    - Rivalina, o que voc vivenciou em sua ltima encarnao, relacionado

    com o tema estudado, que voc gostaria de entender melhor? Indaga o

    professor.

    Ela responde um tanto constrangida.

    - Sempre senti medo do que os sacerdotes falavam sobre a mediunidade.

    Sei que o Espiritismo o Consolador prometido por Jesus. Sei que sem a

    mediunidade ele no existiria no mundo, ainda assim tinha medo da

    mediunidade por causa da proibio dos sacerdotes.

    No colgio Allan Kardec, os professores sempre se colocam como amigo

    dos alunos e nunca como julgadores inflexveis. Querem sempre estimular o

    crescimento espiritual, por isso, nunca h condenao humilhante. O

    professor pede que Rivalina se deite, respire fundo e siga suas orientaes.

    Depois de alguns minutos, as cenas de sua histria, lembradas por ela, so

    projetadas em uma tela a nossa frente. Fora freira em trs encarnaes que

    assistimos. Em uma delas, presenciou a execuo de Patrcia em praa

  • 36 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    pblica. Sua fragilidade psquica, o medo de sofrer, fez com que adquirisse

    verdadeiro pavor da mediunidade, motivo da condenao de Patrcia. Passou,

    por temor, a aceitar tudo que lhe diziam as autoridades eclesisticas, inclusive

    a condenao do intercmbio com os espritos, que deveria ser exclusiva do

    alto clero catlico.

    - Qual a relao entre seu temor do clero catlico e suas existncias

    antes do Cristo? Indaga Jos.

    Ela se assusta com a pergunta e nada responde.

    - Fale-me da relao entre seu temor da condenao medinica pelo

    clero catlico e suas vivncias no perodo antes de Jesus. Estimula o

    professor.

    - Eu...Eu... No possvel...

    Enquanto ela fala, as cenas so projetadas.

    Fora, Rivalina, adoradora fantica de Osris e, principalmente, dos

    sacerdotes egpcios. Renunciara sua vontade de pensar, de ser autnoma h

    milnios. Tinha medo de ser rejeitada. Anulou-se ante a autoridade religiosa

    egpcia, anulou-se ante a catlica romana e a esprita. Ela no se aceitava,

    por isso, seguia cegamente as autoridades. Assim se enganava, pensando que

    seria amada.

    - Rivalina, observe tudo o que voc viveu. Renunciar a sua capacidade de

    pensar e de buscar a verdade o pior equvoco. Explica Herculano.

    Rivalina est trmula.

    - Retorne. Orienta o professor e a abraa quando abre os olhos.

    Os participantes esto estarrecidos, os alunos do quarto andar tambm.

    Os primeiros, por causa da regresso. Os do quarto andar por no

    conseguirem entender como espritas com tanto tempo de espiritismo no

    tem a menor intimidade com esse fenmeno. Eurpedes, quando vivia em

    Sacramento, sabia at o nome da rua e o nmero da casa em que morava em

    sua encarnao anterior. E os espritas atuais so to ignorantes de seu

    passado como os ateus...

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    37

    Rivalina comenta que nunca teria imaginado que seu pavor pela

    mediunidade e seu comportamento de obedincia cega tivessem origem to

    remota e conclui.

    - Triste cegueira milenar! O medo de no ser aceita pelos orgulhosos me

    distanciou de mim mesma e do Cristo.

    - O medo no enfrentado torna-se nosso pior conselheiro. Temer

    no o melhor caminho. Comenta o professor.

    No grupo outro, Romildo fala Patrcia que quer entender porque sentia

    tanta necessidade de controlar as mensagens medinicas que chegavam ao

    centro esprita que presidia.

    - Mas ter controle das mensagens que os espritos enviam no

    obrigao bsica de um dirigente esprita? Indaga Patrcia.

    - Na verdade, eu quero dizer que... Eu queria mandar nos espritos que

    escreviam. Meu desejo era que eles s escrevessem o que me agradava e o

    que eu pensava. Diz constrangido.

    - Entendo. Vamos buscar em voc essa resposta. Concentre-se, vou

    induzi-lo a lembranas que respondero a sua pergunta. Concentre-se. Revele

    para voc mesmo sua histria! Fala Patrcia.

    Nesse caso, a primeira encarnao estudada, ocorrida durante a Idade

    Mdia, aparentemente, no se relacionava com nenhum perodo antes da era

    crist. Os professores querem que os alunos conheam seu passado antes da

    ida do Cristo ao mundo. Para que no prximo mdulo, eles possam avaliar o

    quando aprenderam com o cristianismo primitivo. Patrcia que conhece

    tcnicas poderosas e sutis de lidar com o inconsciente, induz Romildo a

    relacionar uma encarnao na Idade Mdia com uma no Egito, obtendo uma

    vivncia muito profunda. Em ambas ele era poderoso. Seu poder era fundado

    no temor e no respeito que impunha. Ocupou alto cargo em ambas as

    encarnaes. Possua virtudes, mas no abriria mo do poder. O sentido de

    suas existncias era mandar e ser obedecido.

    Indaga Patrcia.

    - Como voc se tornou um perseguidor da mediunidade?

  • 38 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Bem... No tinha nada contra a mediunidade, na verdade sempre a

    utilizei...

    - Mas, por que perseguir os mdiuns?

    Seu rosto alterou-se.

    - Isso outra coisa! Fala enraivecido.

    - Explique-se. Insiste Patrcia com voz tranquila.

    - So as mensagens... As mensagens... Eles me incomodam... Depois,

    comearam a ser motivo para me questionarem. Isso inadmissvel!

    - Como voc se relacionava com a mediunidade? Indaga.

    - Eu consultava principalmente trs sensitivos de minha inteira confiana

    at que dois deles comearam a me orientar, insistentemente, para que

    abandonasse meu cargo e minhas riquezas. Posteriormente, quando fui visitar

    o terceiro, que morava muito longe, o desgraado me disse a mesma coisa!

    Percebi o quanto a mediunidade poderia ser perigosa... No havia controle,

    no tinha como control-los... Ameacei com perseguio e morte, mas eles

    no se submeteram! Se aquelas mensagens se espalhassem poderia ser

    minha runa, pois eram crticas diretas a minha conduta... Tinha at

    segredos... Decidi combat-los com minhas armas e, em uma mesma

    semana, todos foram mortos por supostos assaltantes... Que pesadelo! Eles

    denunciaram o prprio assassinato por outros mdiuns... Enlouqueci. Decidi

    desacreditar ou matar todos que no respeitassem minha autoridade!

    Descobri que intercmbio com os espritos algo perigoso. Encontrei timo

    argumento: o demnio que se comunica! Assim ningum mais poderia me

    criticar. A no ser o demnio, completa com um sorriso sarcstico.

    - Que justificativas ntimas, que iluses, voc mobilizou neste processo

    de combate aos fenmenos medinicos? Questiona Patrcia.

    - Eu sou Deus! Eu sou um Fara! Sou infalvel. Eu sei a verdade e a

    represento. No preciso e no quero nenhuma orientao espiritual a no ser

    que seja para me elogiar!

    - Retorne Romildo. Lembre-se de tudo que nos contou. Orienta Patrcia.

    Romildo est banhado de suor. Depois de voltar conscincia, chora

    amargamente.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    39

    Como tarefa final, orienta Herculano: esta semana vocs acompanharo

    espritas encarnados que cultivam consciente ou inconscientemente iluses

    pessoais inferiorizadoras como as que vocs estudaram em si mesmos. O

    objetivo auxili-los e aprender com suas histrias. Todo aprendizado deve

    ser transformado em servio ao prximo.

    Patrcia encerra com uma prece de agradecimento ao Criador.

    Felipe acorda um tanto abalado. Nunca imaginou que os bloqueios em

    relao mediunidade tivessem origem to remota e motivos to srios.

    Achava que era apenas gostar ou no gostar. Ora e pede a Deus coragem

    para sua misso no mundo.

    Levanta-se. tera-feira. Tem aula e educao fsica. Antes de sair de

    casa, lembra: no leu o Evangelho Segundo o Espiritismo, mas j est em

    cima do horrio... Pega-o para ler no nibus. Abre-o ao acaso, e l no captulo

    XVIII, Bem Aventurado os Mansos, o item 9, Nem todos os que dizem

    Senhor, Senhor, entraro no Reino dos cus. uma reflexo chocante,

    mas no se pode negar a verdade. No basta se dizer esprita para crescer

    espiritualmente! No era o que tinha comprovado no curso? Enquanto o

    nibus segue o trajeto, Felipe pensa no desafio que ser um verdadeiro

    cristo...

  • 40 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    41

    Captulo IV

    Autoritarismo e Liberdade Segundo a Lei Divina

    - Hoje, concluiremos a primeira etapa de nosso curso. Aps a avaliao

    de vossos desempenhos, que no se far por provas escritas, mas pelas aes

    realizadas e pelos conceitos assimilados em profundidade, direcionaremos

    cada um para os estudos necessrios. Os aprovados tero acesso ao curso

    sobre cristianismo e os fenmenos medinicos. O professor Ivan de

    Albuquerque desenvolver o estudo de hoje. Inicia o professor Jos aps a

    prece.

    Felipe, no quarto andar, ouve feliz a explicao de Jos. Primeiro, porque

    ele est prestes a terminar o primeiro mdulo e esta conquista lhe d muita

    alegria! Depois, porque vai assistir uma aula do Ivan que tem como tarefa

    principal trabalhar com os abnegados jovens espritas.

    Todos esto em silncio.

    - Boa madrugada! Comea Ivan de forma descontrada. O tema de nosso

    estudo.

    Mediunidade Controle e Liberdade

    Em seguida, projeta cenas de alguns fenmenos medinicos ocorridos

    nos orculos lugares de adorao da antiguidade - e um dilogo de dois

    sacerdotes sobre a importncia deles controlarem como achavam melhor o

    fenmeno medinico. Depois, projeta cenas dos profetas Isaas anunciando a

    vinda do Cristo ao mundo mais de 700 anos antes de Seu nascimento e de

    Scrates dialogando com seus discpulos.

    Terminada as projees, indaga.

    - Questes?

    - O fenmeno medinico que vimos em Isaas mais elevado do que o

    do orculo? Pergunta Eclsio.

    - Observe que no o tipo de fenmeno medinico que define a

    evoluo do mdium e do grupo medinico. A diferena est na

    maneira que o ser humano lida com esses fenmenos. Existem espritas

  • 42 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    que afirmam que a materializao fenmeno do passado. Quem os

    autorizou a alterar as leis de Deus? Santa ignorncia! o mesmo que

    dizer que os processos de digesto ou de respirao saram de moda. A nsia

    de crescimento espiritual, quando no atendida de forma justa, gera

    fantasias infantis e perigosas. O fenmeno medinico torna-se menos

    grosseiro, fato, mas continua a existir e ser necessrio como todos os

    processos naturais. O diferencia a vivncia da mediunidade dos orculos e dos

    profetas? Indaga Ivan.

    - O orculo tem um grupo de pessoas escolhidas, os sacerdotes, com

    poder exclusivo de interpretar as mensagens. Responde Romildo.

    - muito bom constatar que vocs estudaram. No futuro, o professor

    Herculano Pires ir ministrar um curso aprofundado sobre as etapas da

    evoluo da mediunidade na Terra.

    - E ns poderemos fazer esse curso? Indaga Astrobrito ansioso.

    - Sim. Desde que tenha a disposio para vivenciar vossos conflitos

    interiores e super-los. Deus amor e misericrdia. Falta apenas que nos

    dediquemos ao nosso crescimento espiritual e tudo nos ser dado. Cabe-nos,

    agora, entender as diferenas bsicas: no processo evolutivo, uma forma

    de viver que foi til em um momento se torna negativa em outro. A

    organizao do orculo uma evoluo em relao a vivncia do fenmeno

    medinico nas tribos. H uma preocupao moral em orientar a conduta dos

    homens, cria-se um grupo sacerdotal para esse fim. um avano neste

    perodo, mas por que depois se torna um obstculo a evoluo? Pergunta

    Ivan.

    - Nessa etapa da evoluo, o orculo importante para orientar e dar

    segurana ao indivduo, mas depois ele precisa aprender a caminhar com as

    prprias pernas e se sente sufocado com tanta regra e tanto segredo. Diz

    Rivalina.

    - verdade, com o tempo transformamos segurana em dominao. E o

    que fazer para que os homens no fiquem presos nestas estruturas que os

    manteriam dependentes? Questiona Ivan mais uma vez.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    43

    - muito difcil deixar a falsa segurana, mesmo que ela seja uma

    priso... Eu no saberia o que fazer. Afirma Rivalina pensativa.

    - Que tal mudar pelo exemplo? Indaga Ivan e explica. Com esse objetivo,

    foram enviados espritos capazes de vivenciar a mediunidade livre dos

    dogmatismos dos sacerdotes como Scrates e os profetas hebreus. Eles

    estabelecem um novo paradigma de relao medinica. So mdiuns

    autnomos, moralizados, corajosos e livres. uma vivncia medinica

    superior. As regras continuam existindo e sendo necessrias, mas so

    aplicadas pelo indivduo que avalia o seu caso particular e no por um

    grupo que tudo padroniza e sufoca. Vejamos algumas questes no livro-

    amigo. Ivan pega O Livro dos Espritos e l.

    622. Deus deu a alguns homens a misso de revelar a sua lei?

    Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam

    essa misso. So Espritos superiores, encarnados com o fim de fazer

    progredir a Humanidade.

    623. Esses que pretenderam instruir os homens na lei de Deus no se

    enganaram algumas vezes, e no os fizeram transviar-se muitas vezes,

    atravs de falsos princpios?

    Os que no eram inspirados por Deus e que se atriburam a si mesmos,

    por ambio, uma misso que no tinham, certamente os fizeram extraviar;

    no obstante, como eram homens de gnio, em meio aos prprios erros

    ensinaram freqentemente grandes verdades.

    624. Qual o carter do verdadeiro profeta?

    O verdadeiro profeta um homem de bem, inspirado por Deus.

    Podemos reconhec-lo por suas palavras e por suas aes. Deus no se serve

    da boca do mentiroso para ensinar a verdade.

  • 44 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade 626. As leis divinas e naturais s foram reveladas aos homens por Jesus

    e antes dele s foram conhecidas por intuio?

    No dissemos que elas esto escritas por toda parte? Todos os homens

    que meditaram sobre a sabedoria puderam compreend-las e ensin-las

    desde os sculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos,

    eles prepararam o terreno para receber a semente.

    - Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pde

    conhec-las sempre que desejou procur-las. Eis porque os seus princpios

    foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e tambm

    porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos

    sados da barbrie, mas incompletos ou alterados pela ignorncia e a

    superstio.

    628. Por que a verdade no esteve sempre ao alcance de todos?

    necessrio que cada coisa venha a seu tempo. A verdade como

    a luz: preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra

    maneira nos ofuscaria.

    - Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem

    receber comunicaes to completas e to instrutivas como as que

    hoje lhe so dadas. Havia na Antigidade, como sabeis, alguns indivduos

    que estavam de posse daquilo que consideravam uma cincia sagrada, e da

    qual faziam mistrio para os que consideravam profanos. Deveis

    compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenmenos, que

    eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equvoco e

    na maioria das vezes alegrico. No h, entretanto, para o homem de

    estudo, nenhum antigo sistema filosfico, nenhuma tradio,

    nenhuma religio a negligenciar, porque todos encerram os germens

    de grandes verdades, que embora paream contraditrias entre si,

    espalhadas que se acham entre acessrios sem fundamento, so hoje

    muito fceis de coordenar, graas chave que vos d o Espiritismo de

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    45

    uma infinidade de coisas que at aqui vos pareciam sem razo, e cuja

    realidade lhes agora demonstrada de maneira irrecusvel. No

    deixem de tirar temas de estudo desses materiais. So eles muito ricos e

    podem contribuir poderosamente para as suas instrues.

    Vejamos o caso de Scrates. Homem livre de preconceitos e de vcios,

    no condenou os orculos, mas comunicou-se livremente com os bons

    espritos. esse modelo que defendemos para a juventude esprita:

    respeito a limitao dos outros, vivncia livre e tica da mediunidade.

    Seus discpulos sabiam que ele se comunicava com seu guia espiritual

    constantemente, inclusive h relatos de orientaes que evitaram acidentes e

    o prprio Scrates no se tornara poltico por aviso de seu daimon (esprito

    protetor) que o avisara que sua misso, naquela encarnao, era outra.

    Scrates sabia que cada encarnao tem um propsito especfico e,

    sabiamente, buscou conhecer as tarefas que lhe cabiam e as desempenhou

    com dedicao. Sob orientao de seu amigo invisvel, corajosamente ensinou

    muitas verdades espirituais e como se encontrar a verdade por meio da crtica

    e da vivncia diria da justia. Os homens inferiores no amam a Verdade e o

    condenaram morte. Em seu belo discurso, pouco antes de morrer, afirma

    aos seus juzes: lamento no por mim, mas por vocs. Parto com a

    conscincia tranquila, vocs me condenam injustamente. Agora, despedimo-

    nos. Eu para a morte, vs para a vida, mas s a divindade sabe quem ter o

    melhor destino. Sabemos, ele teve melhor destino. um justo.

    Ante o silncio e a emoo de todos, Ivan continua.

    - Dos profetas hebreus, destacamos Isaas. Profeta corajoso e inspirado.

    Condena veementemente os poderosos corruptos e egostas. Fala da

    inutilidade dos sacrifcios e da adorao aos dolos. Pelas vias medinicas,

    ensina aos homens um novo modelo de sociedade, estabelece padres ticos

    para todas as relaes sociais e ensina que a justia social alcanada pela

    compreenso espiritual da vida nos planos elevados. Fala do destino espiritual

    dos justos e dos bons e que um dia estes transformaro a Terra. o profeta

    que mais fala da ida do Cristo ao mundo, mais de setecentos anos antes de

    seu reencarne. Ele tudo isso conhecia por causa da mediunidade. Vejamos

  • 46 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    estes trechos que evidenciam seu compromisso com a justia e a bondade.

    Afirma Isaas, sem temor, criticando s prticas dos sacerdotes: De que me

    serve a mim a multido dos vossos sacrifcios? Diz o Senhor: Estou farto dos

    holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados; e no me agrado

    do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. O profeta

    demonstra aqui que um homem livre e tico. Ensina que no interessa a

    Deus o sacrifcio de animais, como pregavam os sacerdotes, mas sim uma

    conduta honesta. Isaas critica a classe responsvel pela justia, e alerta: ai

    dos que decretam leis injustas, e dos escrivos que escrevem perversidades;

    para privarem da justia os necessitados, e arrebatarem o direito aos aflitos

    do meu povo; para despojarem as vivas e roubarem os rfos! (Isaas

    10:1-2). Alm de criticar as injustias, orienta a conduta dos que julgam:

    No julgar segundo a vista dos seus olhos, nem decidir segundo o ouvir

    dos seus ouvidos; (...) decidir com eqidade em defesa dos mansos da

    terra. o profeta que defende os rfos, os abandonados, os desamparados

    do mundo. Como podemos compreender, com Scrates e Isaas, a

    mediunidade tem como base insubstituvel uma conduta tica elevada

    e no normas limitadoras criadas por homens falveis. No h norma

    que substitua a moralidade, a devoo e o amor ao prximo.

    - Quando falamos moralidade queremos dizer uma conduta social justa e

    fraterna para com todos, principalmente, para com os mais necessitados, os

    aflitos, como ensina o grande profeta hebreu.

    Aps pequena pausa, prossegue Ivan ante o deslumbramento da

    grandeza desses homens e da importncia da mediunidade em suas vidas.

    - Amigas e amigos, estamos na ltima etapa deste mdulo. Precisamos

    entender que necessidade nossa libertar a mediunidade das formalidades

    sociais. Necessitamos vivenciar a mediunidade com tica e liberdade. A

    comunicao dos espritos de todos os tempos, e o que muda a forma

    como lidamos com ela. Para concluir, vejamos um trecho do prefcio de O

    Livro dos Espritos.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    47

    As comunicaes entre o mundo esprita e o mundo corpreo

    pertencem Natureza e no constituem nenhum fato sobrenatural. por isso

    que encontramos os seus traos entre todos os povos e em todas as pocas.

    Hoje elas so gerais e evidentes por todo o mundo.

    Os Espritos anunciam que os tempos marcados pela Providncia para

    uma manifestao universal esto chegados e que, sendo os ministros de

    Deus e os agentes da sua vontade, cabe-lhes a misso de instruir e esclarecer

    os homens, abrindo uma nova era para a regenerao da Humanidade.

    - Peo agora que cada um de vocs busque entrar em contato teleptico

    com seus anjos guardies. Peam ajuda para descobrir seus sentimentos em

    relao mediunidade. Patrcia os auxiliar nesse processo que vocs deveria

    ter vivenciado quando encarnados. Para entender melhor seus sentimentos,

    representem-os por meio de um desenho como eles esto atualmente e como

    vocs desejam que eles se transformem.

    Aps a vivncia, pergunta Ivan.

    - Romildo, conte-nos o que voc descobriu.

    - Estou emocionalmente preso a necessidade de controle autoritrio

    como os sacerdotes. Diz constrangido.

    - Continue, por favor.

    - Sei que triste, mas tenho que admitir que meus sentimentos, meus

    impulsos inconscientes, so de controle, de verificao orientada pelo

    meu gosto e interesse pessoal, de imposio de meu mtodo, e no do

    mtodo cientfico elaborado por Allan Kardec. Minha relao com a

    mediunidade impulsionada pelo gosto do poder. Suas palavras

    expressavam uma profunda decepo com ele mesmo.

    - Amigo, continue. No h outro meio de evoluir a no ser admitir a

    prpria pequenez. Estimula Ivan.

    - Criei muitos mtodos autoritrios para o movimento esprita encarnado.

    Divulguei-os com fervor, era o impulso inconsciente de minha memria

    espiritual dos tempos do sacerdcio... L est a origem de minha desgraa.

    Diz Romildo.

  • 48 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Que mtodos? Indaga o professor amigo.

    - Todos que me dessem poder. Dizia que era para evitar a obssesso.

    Que era para proteger a mediunidade! Se fosse verdade o que preguei,

    todos os profetas e Scrates seriam obsediados. Estabeleci at o nmero

    de comunicaes que os mdiuns podiam dar e a idade para ser mdium!

    Muitos at hoje seguem essa loucura, os meus mtodos... Diz enquanto

    enxuga as lgrimas.

    - Voc estabeleceu o nmero de comunicaes que os mdiuns deviam

    dar?! Pergunta Patrcia com espanto. Como fazer isso sem conhecer os

    mdiuns, seus potenciais fludicos, psquicos e suas necessidades

    reencarnatrias? Como fazer isso sem estudar a dinmica energtica do grupo

    em que o mdium participa e sem saber seu padro tico e a condio de

    cada desencarnado comunicante?

    Romildo olha assustado para Patrcia e fala desesperado.

    - Eu tentei mandar na obra de Deus! Estava louco e muitos me

    seguiam e seguem!

    - Acalme-se amigo. sempre uma imensa conquista admitir nossos

    defeitos quando nos dispomos a melhorar. Consola-o Ivan.

    - Como voc deseja transformar isso? Indaga Patrcia.

    Romildo mostra seu desenho e explica.

    - Desejo transformar minha necessidade de mando em humildade

    verdadeira. Quero aprender a obedecer as ordens do mais alto e servir aos

    emocionalmente fracos ao invs de manipul-los como fiz.

    - Rivalina. Pede Ivan para que inicie.

    - Comigo no diferente. Vi muitas cenas da minha ltima encarnao

    durante a reflexo, no tenho como negar, ainda estou, em relao a minha

    compreenso da mediunidade, muitos sculos antes da era crist e dos

    profetas... Na fase dos sacerdotes dominadores... Meu Deus! Diz nervosa.

    - Fale-nos o que te vincula a esta fase. Incentiva Ivan.

  • Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade

    49

    - o medo, sempre o medo! Medo de ser punida, de errar, de no

    cumprir com os regulamentos formais. Mal termina a frase, pois solua

    convulsivamente. Patrcia a ampara e pede que explique seu desenho.

    - Quero construir uma fortaleza de coragem em meu corao. Vou

    socorrer os sacerdotes que desencarnam em sofrimento para que eu no

    tema mais os sacerdotes do movimento esprita.

    Patrcia sorri feliz ante a ideia de autoeducao de Rivalina.

    - Astrobrito que reflexes fez? Pergunta Ivan.

    - Meu desejo de monopolizar o saber, no aceito o acesso do

    povo a orientaes espirituais que no sejam dadas por mim. o

    exclusivismo medinico. Necessito de ateno, status. Se todos

    pudessem ter contato com os espritos como ficaria meu status?! Ainda sou

    um sacerdote da poca anterior aos profetas e ao Cristo.

    - Seu sofrimento ser til em sua recuperao, afirma Patrcia e pede que

    apresente seu desenho e explique-o.

    - Veja, diz apontando para o desenho em que ele distribui livros. isso

    que quero fazer: aprender a distribuir, a estimular o saber espiritual. Gostaria

    de comear atendendo as pessoas aqui na biblioteca. Preciso aceitar que os

    outros tambm tem direito de conhecer.

    - Sua vez, Eclsio. Pede Ivan.

    - Acho que o que predomina em mim a hipocrisia. Defendia a

    moral para os outros! Fui contrrio a qualquer regra moral associada

    mediunidade para mim e por isso sofro at hoje. Fala baixando os olhos

    cheios de lgrimas.

    - Como vencer a hipocrisia? Indaga Ivan.

    - Quero aprender a sentir as minhas dores em profundidade, assim nunca

    terei tempo para fingir ou para vigiar os outros. Vou regredir as minhas piores

    existncia para aceitar quem sou e os outros como so sem falsidade.

    Ivan parabeniza-o por sua ideia e pede para Patrcia.

    - Fale-nos de sua vinculao com o tema estudado.

  • 50 Se a Mediunidade Falasse IV Medo e Mediunidade - Admiro profundamente o profeta Isaas. Para mim, como para ele, a

    mediunidade fonte sagrada de estmulos para a renovao ntima e

    social. Penso que os homens e as mulheres encarnados s tero f e

    criatividade para tornar o mundo justo e equilibrado quando

    souberem conduzir a mediunidade com coragem e com tica, a servio

    de todos. A mediunidade a fonte poderosa que estimula a luta de

    superao da animalidade. Na verdade, acredito que somente com a

    mediunidade moralizada podero os habitantes do mundo da matria densa

    alcanar a renovao necessria. No h como socorrer milhes de seres

    desamparados social e moralmente, nessa fase evolutiva, sem o

    concurso constante dos espritos superiores. Como os espritas n