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    o o o

    V i c t o

    r S

    o u s a

    Chega de sufoc

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    TEMA DA SEMANA2 Savana26-06-2015

    O líder da Renamo, Afon-so Dhlakama, abriu,para o SAVANA , as por-tas da sua casa na cida-

    de da Beira, província de Sofala,para revisitar os 40 anos da in-dependência nacional, acusandoa Frelimo de apenas ter mudadode táctica, mas continuando a“infernizar a população” com po- líticas de governação injustas ediscriminatórias.“A maneira como a Frelimo pro-cedeu foi cruel com o própriopovo de Moçambique e, ime-diatamente, houve a reacção dopovo. Quero dizer hoje que, em- bora alguns da Frelimo estejam a bene ciar dos frutos da luta pelademocracia da Renamo, têm ver-gonha de dizer que valeu a pena,ainda continuam a falar de deses-tabilização”. Justi cou a guerra dos 16 anosque moveu contra o então regimede Maputo com “traição da inde-pendência” por parte da Frelimoe arrogância de Samora Machel,o primeiro presidente de Mo-çambique independente. Pelo ca-minho lembrou os contornos daformação da Renamo e diz queestá orgulhoso de ter lutado pelademocracia.

    Como avalia os 40 anos da inde-pendência de Moçambique?Completamos 40 anos, não é se-gredo, cam na história, mas ascoisas não andaram bem porque os40 anos da independência forammanchados pela guerra que houveem Moçambique. ivemos a nossaindependência em 1975 e, a seguirà independência, devido ao regimeda Frelimo, tivemos a guerra de 16anos.Na altura, a Frelimo recusava ademocracia, negava a maneira ge-ral de se viver de um ser humano,as pessoas não podiam rezar, nãopodiam circular no país, era pre-ciso guia de marcha, as pessoasforam retiradas das suas zonas deorigem para as aldeias comunais,foram criados campos de reeduca-ção, onde as pessoas eram enviadaspara serem reeducadas como di-zia a Frelimo, e na altura aprovouuma lei da pena da morte, sendoque por pequenas coisas as pessoaseram fuziladas.Lembro-me muito bem, que noscampos de futebol ou comícioalguém podia dizer: camaradaesse senhor insultou a Frelimo eera motivo de dizer matem, e eramorto. Se as pessoas não fossemaos comícios do partido Frelimoou não comungassem os ideiais daFrelimo viam só camiões a chegare serem carregadas para os camposde reeducação, isso fez com quefosse manchada a independênciatoda, que nós esperávamos. odos nós lutámos pela indepen-dência, quando se diz lutar pela

    40 anos na lupa de Afonso Dhlakama

    independência não signica oitomil guerrilheiros da Frelimo ape-nas, que estavam na anzânia ouCabo Delgado e Niassa, que dis-pararam contra o colonialismo,refere-se também à população emgeral, muitos foram presos e entra-ram nas cadeias, da PIDE-DGS,porque apoiavam a luta pela inde-pendência.Mas quando se deu de facto a in-dependência o que aconteceu foi opior, eu já era crescido, e tambémtinha entrado na Frelimo, não en-trei no início da luta, mas entreinos anos 1973-4. Quando se assi-nou os Acordos de Lusaka, em 7de Setembro, eu já era comando daFrelimo.Mas quando se deu a independên-cia a 25 de Junho de 1975, cincomeses depois as pessoas começa-ram a reclamar. Ou seja, cinco me-ses após a independência, os anti-gos combatentes, os que eram maisfamosos, Macondes, em Maputo,dispararam contra Samora Ma-chel, naquelas instalações perto dohospital Militar, na Avenida Ken-net Kaunda. Isso foi nos dias 10,11 e 12 de Dezembro de 1975. Atéconsideramos esse episódio comose fosse uma tentativa de golpe deEstado contra Samora Machel.Isso aconteceu porque aquilo quefoi falado no mato, lutar pela inde-

    pendência, foi totalmente esqueci-do, e o que o povo viu foram fu-zilamentos, mortes, os curandeiroseram mortos, acusados de seremfeiticeiros, os religiosos eram proi-bidos de rezar, a Frelimo chegavaa dizer que Deus era dos portu-gueses, da democracia ninguémpodia falar, só Frelimo, camarada,camarada.Sobre os 40 anos da independên-cia, podemos dizer, sim, que houvetroca de bandeiras, do colonia-

    lismo português, pela bandeirada Frelimo, mas em termos deganhos, o povo, simbolicamente,ganhou a independência, porquedeixou de ser coordenado a partirde Portugal, pelo regime do Sala-zar, mas foi o pior.Eu vi, não só Samora Machel,como (o ex-estadista Joaquim)Chissamo e (o presidente cessanteArmando) Guebuza e isso origi-nou a guerra civil, não queria fa-lar logo da guerra, mas aconteceuporque a Frelimo traiu a indepen-dência. udo aquilo que o colonialismofazia, antes da independência, aFrelimo voltou a fazer. Se o colo-nialismo, através da PIDE-DGS,matava pessoas, matava religiosos,proibia as pessoas de tudo, portan-to limitava as liberdades. depois daindependência, as pessoas não sepodiam libertar, não podiam circu-lar sem guia de marcha.Uma pessoa podia morrer na vizi-nhança, mas para participar do en-terro, a cerca de cinco quilómetros,era preciso guia de marcha, tinhade se pedir ao secretário do comitéda Frelimo para se realizar o en-terro. Caso fosse apanhado semguia de marcha, era motivo de serchamado de Chiconhoca, de con-tra revolucionário, de contra inde-pendência, eu vi isso com os meus

    olhos.Portanto, depois da independên-cia, historicamente os portuguesesforam, mas os problemas prevale-ceram porque houve mais mortesem pouco tempo do que os mortosque se vericaram durante o tem-po colonial, nos 500 anos.

    Como nasce a Renamo e porquepromoveu a guerra após a inde-pendência?Contrariamente ao que os da Fre-

    limo dizem até agora, que queremdar a entender que a Renamo foicriada por interesses estrangeiros,para desestabilizar a indepen-dência, eu sou um nacionalistaaté hoje. Estive também na Freli-mo. Se calhar os que fundaram aFrelimo, naquela altura, vieram se juntar à Renamo para reivindicar ademocracia em Moçambique.O povo de Moçambique comosoberano tinha de mandar parara Frelimo, dada a velocidade comque a Frelimo levava nas aldeiascomunais guias de marcha, fuzi-lamentos, campos de reeducação,negar a própria democracia, onão aceitar que as pessoas pu-dessem circular dentro do país,o não aceitar que as pessoas par-ticipassem nas suas machambas,como a maneira de sobrevivênciaem Moçambique, como de todo ocontinente africano. Como sabem,a machamba para os africanos éa sua empresa, mas as pessoas fo-ram proibidas de fazer macham-bas individuais, e os nossos paiseram obrigados a trabalhar nasmachambas do Estado, que rece-biam o nome de machambas dopovo. Isto criou a revolta populare fez com que a Renamo apareces-se como jovens mandatados, pelos velhos, que estavam contra o regi-me comunista da Frelimo.

    A verdade tem de ser dita, se a Fre-limo de facto tivesse tolerado, nãodigo até ter aceitado a democracia,porque naquela altura era muitodifícil até de falar do multiparti-darismo, mas se tivesse tolerado,não criar aldeias comunais, nãocriar guias de marcha, não criar alei da pena de morte, não fuzilarpessoas nos campos de reeducação,não abolir a tradicional maneira dese viver, quero acreditar que o povonão teria tido a coragem de criar a

    Renamo.Da maneira como a Frelimo pro-cedeu, foi cruel com o própriopovo de Moçambique e este reagiuimediatamente. Quero dizer hoje,embora alguns da Frelimo estejama beneciar dos frutos da luta pelademocracia da Renamo, têm ver-gonha de dizer que valeu a pena eainda continuam a falar de deses-

    tabilização.A Renamo lutou pela democracia,multipartidarismo, governação, li-berdade, a própria liberdade quehoje se considera, dia a cada dia,é aquilo que a Renamo trouxe. Jáninguém fala da independência,porque a independência foi man-chada pela própria Frelimo.Ninguém está a dizer que não seprecisa da independência. A Rena-mo não pode ser questionada, nemo Dhlakama por ter lutado contrao Regime da Frelimo. Quem falada Renamo e Dhlakama hoje temde falar de heróis vivos, porque senão o tivéssemos feito, estaríamosa carregar a Frelimo e não haverialiberdade de imprensa, estaríamosapenas a sustentar o jornal Do-mingo, o jornal Notícias e a RádioMoçambique. Esses semanáriosindependentes é o sucesso da lutada Renamo.A política em Moçambique eraestatal. E hoje Armando Guebu-za é o mais rico de Moçambique,tem milhões e milhões de dólarespela política da Renamo. Já temempresas privadas. Para dizer queas pessoas da Frelimo podem nãoter coragem para dizer que essesenhor foi lutador. Mas sinto terlutado e continuo a lutar.

    Quem era Afonso Dhlakama a 25de Junho de 1975?

    Eu era jovem. ornei-me líder aos22 anos. Nós iniciámos a luta ar-mada em Setembro de 1977, mashistoricamente em 5 de Maio de1977, André Matsangaíssa ataca ocampo de concentração da Goron-gosa. Mas efectivamente dispararem grupo de cinco ou seis elemen-tos contra a Frelimo foi no segun-do semestre de 1977. A Renamofoi fundada na clandestinidade emSetembro de 1976, na cidade daBeira, quando eu era chefe provin-cial da Intendência, como Frelimo,o famoso André Matsangaíssa erada engenharia. Éramos jovens to-dos.

    Que relação teve com a Frelimo?Antes quando era jovem fui levadopara tropa Portuguesa e, quandoestive no Niassa, conheci algunsguerrilheiros da Frelimo, na basedo Gugunhana, por exemplo ogeneral Marcos Mabote, que oconheci durante a guerra. Muitosaté podem dizer que é por isso queMabote parecia amigo da Rena-mo. Eu estive em Majune noexército português, e atra- vés de alguns comandantes

    “Moçamb ique não pod e co ntr air dívida come rcia l na s ac tua is c ondi ções” - Luísa Di ogo

    “A guerra civil foi justificada pda independência por parte da FPor André Catueira, na Beira

    “O povo de Moçambique com o soberano ti nha de m andar parar a Frelimo” - Afonso Dhlakam a

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    TEMA DA SEMANA 3Savana26-06-2015 TEMA DA SEMANA

    ajauas, que viviam na base centralde Caturi. O Mabote era mesmoguerrilheiro, dizem que morreuporque não sabia nadar enquantoo assassinaram. Em princípio, noano 1970 eu já havia passado a dis-ponibilidade do exercito portuguêspara vida civil, mas já tinha con-tactos até em 1973 através de al-guns comandantes ajauas, quandosaia do quartel chamado Malapi-sia, no tempo colonial, e juntei-meà Frelimo, muito antes dos Acor-dos de Lusaka.E como já era conhecido, quandoassinou-se o acordo eu já era co-mandante. Logo fomos levadospor sermos de Sofala, com outros jovens. Após um curso em Boane,fomos colocados na Beira, comochefe provincial da Intendência.Muito antes de 25 Janeiro, natransição já estava a trabalhar comFeliciano Gundana (antigo minis-tro dos Combatentes) foi o meuchefe nacional. Fomos formados

    muitos jovens pela administraçãomilitar em Boane e colocados naBeira, isto antes da independência,no Governo de transição.Quando os Portugueses iam-seembora eu é que fazia as guias deremessa e entrega, e recebia aquiloque tinha de car na parte militar.Não quei 10 anos na Frelimo.Mas desde 1973 eu já colaboravae já dava informação às bases daFrelimo no Niassa e, em particu-lar, a base de Caturi a partir deum quartel colonial de Malapisia,onde estava com uma companhiametropolitana dos portugueses.Se chegamos a lutar, eu tenho ditosempre, é por causa da arrogânciade Samora Machel. Se calhar não

    teríamos lutado naquela altura,porque todas as pessoas que ten-taram reivindicar a democracia,aqueles que não tiveram sorte fo-ram cortados pescoços e os outrosdesapareceram mesmo, fugirampara a Europa até hoje. São consi-derados de contra independência. eria sido evitada a luta, ou mesmodepois do início da luta, se SamoraMachel tivesse ouvido o conselhodos padres católicos.O meu irmão quase primo, Dom Jaime, o arcebispo da Beira, e omais velho Dom Alexandre queé cardeal em Maputo, já em 1980aconselharam Samora Machel edois anos depois voltaram a en-contrar-se com Samora Machel,porque não podia falar com osguerrilheiros.A resposta que tiveram foi: falarcom quem, com bandidos, maca-cos, com javalis, vocês bispos ci- vilizados querem que a gente falecom javalis, nós negociamos com ocolonialismo português.Se Samora Machel, pena quemorreu muito cedo, tivesse tidobons conselheiros se calhar nãoteria havido guerra, destruição emMoçambique, não teríamos feito aguerra dos 16 anos, se calhar doisou quatro anos, isso para dizer quea Renamo mesmo desde o inícioteve a opinião de não acreditar na vitória por meio das armas.As armas foram usadas como for-ma de persuadir que o adversário anegociar connosco.

    De que se arrepende ter feito?Não me arrependo de nada mes-mo. Só me orgulho de ter lutadopela democracia para o meu povo,não me arrependo de nada. Sei quea guerra mata, sei que em ambosos lados, quer na Frelimo, quer naRenamo, morreram jovens. Nãome arrependo de nada, olhandopela importância da democracia e

    da liberdade, hoje qualquer pessoapode viajar do Rovuma ao Mapu-to, portanto, não me arrependo denada.

    De que se orgulha de ter feito?Eu orgulho-me de ter lutado, terlutado mesmo. Às vezes, a Frelimodiz que Dhlakama não é antigocombatente. Eu não quero ser cha-mado de antigo combatente. Seantigo combatente para Frelimo éaquele que participou na fundaçãoda Frelimo não há problema. Maseu conheço os que são chamadosantigos combatentes apenas por-que estiveram no Niassa e CaboDelgado, nas zonas libertadas, quese beneciam, recebem e tem pen-são, têm tractores e tudo.Lembro-me muito bem, no tem-po do Hama Tai, quando estavano Parlamento, quando era mi-nistro dos Antigos Combaten-tes, ele pode conrmar, chegoua convidar-me para que eu fosse

    tratar os meus documentos comoantigo combatente, porque entreina Frelimo muito antes dos Acor-dos de Lusaka, e tanto trabalhei.Lutar não signica apenas lutar.Há alguns antigos combatentes daFrelimo que estavam na anzâniaa beber whisky que nem sequer co-laboraram como eu o z.Na Frelimo trabalhei para a inde-pendência, já na Renamo trabalheipara esta democracia que nós to-dos estamos a cantar hoje. Qual-quer pessoa hoje cria seu partido.

    O que gostava de ver mudado nospróximos anos?Gostava de boa governação. Sempuxar a brasa para a minha sar-dinha, essa boa governação, tantopode ser feita pela Renamo, porum outro candidato do partidoque dirijo, mesmo partido MDMou PDD, ou Frelimo, ou qualqueroutro. É isso que gostaria de verdaqui para frente.Um país sem ódio, sem persegui-ção, sem política de exclusão so-cial, sem discriminação, sem corpartidária, mas acreditando na boagovernação, no desenvolvimento.Gostaria de ver daqui a 40 anosum país de todos, sem persegui-ção, sem polícia que mata gente,sem um exército que é mandadodisparar contra a oposição, sem apolícia que é usada para protegeros que enchem boletins de votospré-votados a favor da Frelimo nasurnas de votação. Sem ver pessoasque dizem que ganharam, enquan-to não ganharam a terem a maioriana Assembleia da República. A ex-cluir portanto o povo de Moçam-bique.Um país democrático, um país de-senvolvido, com boas terras paraagricultura, turismo, recursos mi-nerais, a economia bem distribuí-da. Um país que não tenha jovensque andam a ser corrompidos. Umpaís que não tenha jovens a seremlevados à força para as FADM,como forma de terem emprego,sem jovens a chorarem a seremcarregados nas escolas para Polí-

    cia como alternativa de emprego,mas como pessoas a estudarem.Gostaria de ver jovens a se forma-rem. Serem geólogos, engenheirosde construção civil, economistas,cientistas, enm que também fa-çamos parte deste planeta, somosseres humanos, embora sejamosafricanos, que possamos estudar echegarmos aos patamares dos eu-ropeus que atingiram em muitosanos, é aquilo que gostava de vernos próximos 40 anos.

    A Renamo começou aguerra civil (1976-1992) com três AKM´s emprestadaspor André Matsangaíssa a umfarmeiro branco no Zimbabwee quatro pistolas roubadas por Afonso Dhlakama no quartelde Matacuane, na Beira (So-fala), onde era chefe da Inten-dência, após falhar o plano dedesviar armamentos, para se vingar da “traição” da indepen-dência de Moçambique.

    A operação contra a Frelimoiniciou com um grupo de pri-sioneiros, libertados e recruta-dos do campo de reeducação deCudze (Gorongosa), onde An-dré Matsangaíssa cou preso deSetembro a Novembro de 1976,acusado de roubar armamentopara o Zimbabwe, antes de fugirpara aquele país.Dhlakama disse que quandose deu a independência, a 25de Junho de 1975, já era chefeprovincial da Intendência, quese responsabilizava pela logísti-ca militar - armas e fardas – naBeira, Sofala, no mesmo quar-tel de Matacuane, onde AndréMatsangaíssa ocupava o cargode comandante de um destaca-mento de engenharia.Conta que seis meses após aIndependência, no dia 10 deDezembro de 1975, um famosogrupo de antigos combatentes,da etnia Maconde – de onde éoriginário o actual Presidente,Filipe Nyusi-, abriu fogo con-tra Samora Machel, em frenteao Hospital Militar, na avenidaKennet Kaunda, na capital Ma-puto.A rebelião Maconde deveu-seà censura da Frelimo de que ospais dos militares daquela etniaeram régulos e traidores, e osavôs eram curandeiros e feiticei-ros e não podiam rezar, ou seja,a revolta interna na Frelimo

    deu azo ao movimento do nú-cleo de protesto da Beira, criadoem 1975 e liderado por AndréMatsangaíssa.“Vamos falar dos Macondes,fundadores da própria Freli-mo que chegaram a disparar,seis meses após a proclamaçãoda independência, não referir(Afonso Dhlakama) Dhlakamaque entrou na Frelimo quase nom da guerra colonial”, decla-rou.Aproveitando-se desta brecha,dum suposto golpe de estadocontra Samora Machel, e devi-do à perseguição que o grupo jásofria e as políticas ditatoriais,com guias de marchas, camposde reeducação e operações se-gregacionistas, o núcleo inten-sicou o trabalho de preparaçãode uma luta à escala nacionalcontra a Frelimo.“Éramos muitos jovens. Era eu,André Matsangaíssa e não que-ro contar os outros, porque osoutros agora são ministros e ou-tros ainda antigos combatentes,não posso pôr a vida deles emrisco, mas são muitos. Às vezes,quando faço entrevistas, eles di-

    zem: por favor, ainda estamos com aFrelimo, mas há de chegar o dia emque vou revelar, quando for velho ereformado”, explicou.“Então em 1976 o grupo já eragrande e éramos sempre persegui-dos, tanto que um dia desses (numdomingo do mês de Setembro)prenderam o meu amigo AndréMatsangaíssa, acusado de roubararmamento para o Zimbabwe”, re-constituiu Afonso Dhlakama, numaentrevista ao SAVANA sobre os 40anos da Independência concedida a22 de Junho na Beira, salientandoque a prisão de Matsangaíssa erauma armadilha para “exterminar onúcleo”.

    André Matsangaíssa foi preso noInchope (Manica), conta, quandoconduzia um camião militar regres-sando de assistir os campos de refu-giados zimbabueanos em Inhazonia,Doiroi e oronga (Manica) - eraresponsável pelas máquinas pesadasque abriam os campos – levado parao quartel de Matacuane onde foiencarcerado. Dias depois foi trans-ferido para o campo de reeducaçãode Cudze, a escassos quilómetros da vila sede da Gorongosa (Sofala).“A detenção (de André Matsangais-sa) não foi porque apanharam-lhecom carro de armamento, mas sa-biam que pertencia o nosso grupo,portanto que estava contra a Freli-mo, e sabiam também, tinham todos

    os dados, que nós queríamos desviararmas, e corrermos para o mato ecomeçarmos a disparar, então vin-garam-se dele, isso acontece em Se-tembro de 1976”, explicou AfonsoDhlakama, acrescentando que todosos ns-de-semana assistia-o commantimento e encorajando-o.“Enquanto ele estava no campo dereeducação, ele (André Matsangaís-sa) dizia porque não carrega armase pronto começar a guerra?”, narrouAfonso Dhlakama, reconhecendoque pegava em armas, mas o contro-lo era rígido.Disse que houve um plano para tirararmas e atravessar o Oceano atravésde barquinhos do porto da Beirapara o distrito de Búzi, mas haviamuito controlo. Um outro plano deseguir com armas da Beira, usandoa estrada que liga a Dondo e Ma-fambisse, também mostrou-se ine- xequível devido à complexidade decontrolo.“Foi quando pessoalmente combi-nei com André Matsangaíssa paraele fugir para o Zimbabwe, porqueele foi nascido em Chirara (Mani-ca), quase 500 metros da fronteira,e já tinha passado a infância naquelepaís e falava uente Shona e inglês.

    E conseguiu fugir em Dezembrode 1976” contou, mas já no Zim-babwe, Matsangaíssa foi preso,antes de qualquer contacto parapedir armas, ao ser confundidocom um zimbabweano procura-do pela tropa de Ian Smith. Já em liberdade, ainda no Zim-babwe, os contactos para pedirarmas fracassaram e convidouAfonso Dhlakama já para se juntar a ele. Em Abril de 1977conseguiu três armas, e decidiuse vingar no campo de reeduca-ção de Cudze, tendo a 5 de Maio,às 23 horas, incendiado as barra-cas-celas e disparou para o ar elibertou todos os presos, anun-ciando uma declaração de guerra.Nesta operação fez o recruta-mento do primeiro grupo de jo- vens prisioneiros, que levou paraa Rodésia. Mas dos 60 recrutas,apenas conseguiu atravessar afronteira com 16 jovens, tendo oresto fugido pelo caminho.“Depois disso a Frelimo disse queeu também estava na Gorongosae detiveram-me por 24 horas naprisão em Matacuane. Felizmen-te não conseguiram provar, istoem Maio de 1977, e fui liberto”,explicou Afonso Dhlakama, oque o forçou a deixar o cargo deIntendência e a juntar-se a An-dré Matsangaíssa no Zimbabwe.Foi despedir-se dos pais emChibabava (Sofala), e em Junho- porque o grupo já era grande eo medo era maior - na compa-nhia de apenas dois ociais dasFPLM (Forças Populares de Li-bertação de Moçambique), Ale- xandre Vidal e João Gapa, dasetnias Nyungue e Ndau, seguiupara a vila de Manica, distrito eprovíncia com o mesmo nome,tendo cado 10 dias no motelGuida, enquanto estudava es-quemas de atravessar a fronteirapara o Zimbabwe.“Além dos dois FPLM, leveicomigo quatro pistolas, duas demarca Star e Makarov. E con-segui atravessar a fronteira e se juntar com o grupo de prisio-neiros em Sakudze (Zimbabwe)e começamos (com André Mat-sangaíssa) a dar treinos numa far-ma da região de Hodze. Depoisdividimos, portanto ele entravaem Moçambique para recrutare também entrava para recrutar”,concluiu, dissipando a ideia deque os fundadores da Renamoestavam ao serviço da Rodésia deIan Smith, largamente publicita-da pelo regime.

    “Começámos a luta com três AKM’semprestadas no Zimbabwe”

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    TEMA DA SEMANA4 Savana26-06-2015

    A antiga Primeira-minis-tra, Luísa Diogo, parti-lhou com oSAVANA assuas experiências e visõessobre os diferentes momentos dasua vida e a avaliação que faz datrajectória do país no âmbito dascelebrações dos 40 anos da procla-mação da independência nacional.Luísa Diogo, que actualmenteexerce o cargo de PCA do BarclaysBank, diz que a efeméride consti-tui um marco indelével na históriado país e que valeu a pena o sacri-fício consentido pelos combaten-tes durante a luta de libertaçãonacional, pois o esforço resultouno nascimento de uma nação comidentidade própria. A dirigente defende ainda queeste é um momento de re exãonas vertentes políticas, apontan-do a manutenção da paz como omaior desa o, nas vertentes sociale económica, para fazer com queo crescimento económico se façasentir na esmagadora maioria dosmoçambicanos.Para Luísa Diogo, preservar a pazé um dos principais desa os dopaís, porque as ameaças de instabi-lidade adiam decisões sobre o de-senvolvimento social e económico.

    Moçambique celebrou esta quin-

    ta-feira 40 anos da proclamaçãoindependência nacional, como éque olha o país?Num primeiro aspecto, que chama-mos de óbvio, posso dizer que foibom e valeu a pena. Hoje podemosolhar para trás e dizer com toda asegurança, com toda a conança,com toda a satisfação, que valeu apena sermos independentes.Segundo, que valeu a pena o san-gue derramado, a dedicação doscombatentes da luta de libertação.Valeu a pena. Hoje construímosuma nação chamada Moçambiquee temos um povo chamado povomoçambicano.A terceira coisa é que quando olha-mos para os 40 anos de indepen-dência temos assuntos a celebrar eassuntos a reectir.

    E quais são esses assuntos?Resumem-se em três: política, eco-nómica e social.Somos um país independente, issoé uma coisa maravilhosa, é incom-parável e não dá para medir. É algoextremamente profundo e impor-tante para todos nós, somos mo-çambicanos, estejamos onde este- jamos, as pessoas olham para nós edizem ´está ali um moçambicano`. emos uma identidade própria, te-mos o nosso próprio passaporte edizemos que somos moçambica-nos. Dentro do país, construímos a

    nossa própria nação, construímos anossa própria solidariedade, coesãoe aquilo que chamamos de unidadenacional, graças ao sucesso políticoda agenda da independência na-cional e isto permite-nos denir asnossas visões, estratégias e cada umde nós dene a própria missão.E é por sermos moçambicanos quetemos esse sucesso político que es-tamos em condições de dizer ´euestou em condições de denir aminha própria agenda dentro do

    realismo e parâmetros possíveis`.Quando denimos uma agenda,não podemos deni-la dentro dolimite daquilo que posso fazer, te-mos de ir pouco mais além, que é

    para obrigar a movimentar-nosnuma determinada direcção. e-mos autonomia para tomarmos asdecisões e estas decisões podem sertomadas a nível político, individual,como pessoas, ou ainda podem sertomadas a nível corporativo, a níveldas instituições e assim por diante.E estas decisões devem ser toma-das com a devida responsabilidade,porque, politicamente, somos umanação e uma nação é algo organi-zado, tem regras de convivência,tem regras de limite de liberdade,porque a minha liberdade terminaonde começa a liberdade do outroe quando eu ajo, quando eu falo,quando eu faço as coisas, tenho deter sempre cuidado de que não es-tou a pisar a liberdade do outro, oespaço do outro, e este espaço dooutro não é só físico. Esse outrotem espaço físico e tenho de tercuidado de não pisar, tem espaçopsicológico e moral que tem de tercuidado. Eu quando me visto nãoposso ferir o outro. Há também oespaço das convicções, da maneirade estar e de ser e essas convicçõestêm a paz, a tranquilidade que te-nho de respeitar e o outro tem de viver em paz. Quando dorme, eletem de sentir que está num espaçoterritorial chamado Moçambique,que tem de estar em paz. enho de ter cuidado de não pôr osoutros com medo, com ansiedade,

    caso não, estou a pisar as conquis-tas alcançadas pela independência,porque tudo isto foi construído, aliberdade de expressão, a consoli-dação da liberdade imprensa. Asopções que tomamos e permitirama passagem da economia centrali-zada para a do mercado.

    Quais os desa os na componentepolítica?Os desaos políticos, que Mo-çambique possui, têm a ver com

    dos estrangeiros, há nacionais tam-bém que adiam, porque começaa pensar duas vezes se deve com-prar ou não um camião de longocurso para afectá-lo em Nampulaou Cabo Delgado ou avançar comdeterminado tipo de investimento.

    O que se pode fazer para de uma vez por todas se ultrapassar estasituação desconfortante para opaís?É necessário que encontremos a talfórmula que nos faça dialogar comefectividade e eciência. Efectivi-dade, para que os resultados sejambons e eciência para que sejamrápidos. emos de encontrar essafórmula e eu creio, tenho a certe-za e conança, que o Presidente daRepública, Filipe Nyusi, vai encon-trar uma fórmula de encaminhar odiálogo da maneira mais efectivae eciente. Do meu lado, tenhoconforto político de que vai seencontrar a solução. emos de en-contrar o caminho que parece estarfechado e não se está a abrir ou nãoestamos a ver, encontrar formas deconversar e chegar à conclusão emrelação àquilo que nos diferencia edistancia.

    A economia nacional cresce a umritmo de 7% ano já vai uma déca-da. O que é necessário para queesse crescimento seja sentido porum maior segmento da popula-ção?Esse é um desao permanente quenuma determinada fase em certospaíses se toma um desao crítico,

    mas é desao permanente em to-dos os países fazer sempre com queo crescimento do país tenha umimpacto positivo nas pessoas.No caso concreto de Moçambi-que, em que temos altos níveis depobreza absoluta, nós também te-mos essa mesma preocupação, queo crescimento económico do país,que com o tempo vai passar a doisdígitos, seja mais inclusivo e abran-gente.Para que o crescimento seja inclu-

    sivo e abrangente, não precisamosde ser abstractos, temos de ir terexactamente com essas pessoas queexistem num determinado espaçoe tempo. Estas pessoas estão naszonas rurais e peri-urbanas, então,é preciso que as políticas que nósdesenvolvemos, sob o ponto de vista de crescimento económico,sejam políticas que se baseiam nocrescimento da economia daquelaspessoas que estão naqueles locais,porque são a maioria.Se eu for a fazer políticas de cres-cimento económico que se baseiemnuma minoria, então, estas pessoas vêem a redução da pobreza a partir

    das janelas das suas casas. A par-tir da janela dizem que a pobrezaestá a reduzir ali e não reduz nãosua casa. As políticas na agricul-tura devem estar centradas para oaumento da produtividade e issoestá escrito no Plano Quinquenaldo Governo e o que resta é só fazer.O que está em causa não é o errona política, porque está muitocorrecta no PQG. Se estas famí-lias produziam 10 sacos de milhodebulhado, agora têm de fazer 20,para chegarem a estas cifras, elasnão devem ser obrigadas a passarmais tempo com aquela enxada decabo curto, por isso a Fundação daUnião Africana, da qual sou vice--presidente, diz que esta é a décadade agarrarmos na enxada de cabocurto e colocá-la no museu, porqueas pessoas têm de ter outro tipo deinstrumentos de trabalho, que lhespermite, em curto espaço de tem-po, no mesmo espaço de terra, comoutro tipo de insumos agrícolas,produzir mais. É preciso aumen-tar a produtividade, aumentar oemprego para que as suas famíliasmelhorem as condições de vida ecomecem a car mais incluídas.A inclusão das pessoas no desen- volvimento económico não é umamedida administrativa ou de re-gisto nos cadernos, isto acontecequando a pessoa encontra o seutrabalho, ela tem resultados melho-res e passa para outra dimensão, naqual já não vai aceitar ser chamadapara fazer guerra, porque tem algoa perder. em casa boa que podeperder, tem mobília que se podepartir, tem condições em casa quepodem ser destruídas e não é fácildeixar as suas coisas e embarcarnuma agenda de alguém.

    Um sistema mais aberto à inicia-tiva privada não colocaria o paísnum patamar mais diferente. Foi bom termos adoptado o sistemaque adoptámos em 1975?O sistema de 1975 já passou, ago-ra temos outro. Eu pessoalmenteconsidero que tudo aquilo que nãoconsidera a iniciativa individual e

    a propriedade individual não es-timula a imaginação, o superar-se,porque fazendo parte de um co-lectivo, costuma-se aguardar pelosresultados, mas, quando estou atratar de um assunto individual,a iniciativa, a imaginação, a cria-tividade, cam mais estimuladas,porque a necessidade me obriga aestimular mais, esta é a convicçãoque eu tenho.A natureza dos moçambicanosdemonstra isso, nós vemos per-

    As ameaças à paz a

    os sucessos obtidos, porque cadasucesso cria desaos. emos o de-sao da unidade nacional, digoisto porque nós temos a unidadenacional e o nosso desao é comopreservar cada momento em quetemos sucessos políticos. emosde encontrar formas cada vez maisajustadas de preservar os sucessosalcançados, porque cada opção quetemos pode beliscar a unidade na-cional. Então, temos de encontrarformas sempre de a preservar.O desao da paz: quando nós al-cançamos a paz plena que, pelaprimeira vez, Moçambique viveu,surgem desaos sobre como pre-servá-la e aqui vem tudo aquilo aque me referi anteriormente, quecada um deve ocupar o seu espaçosem constranger o outro.Depois temos o desao do espaçopara as mulheres, do ponto de vistade realização. Moçambique é umpaís que avançou muito na questãodas liberdades da mulher e a suarespectiva emancipação. Fizemosum caminho longo e bom, atingi-mos altos patamares.

    A manutenção da paz é o maiordesa o que temos, contudo, acada dia são notórios os perma-nentes focos de instabilidade. Oque estará a falhar?É triste o que está a acontecer e éinoportuno. É triste porque os mo-çambicanos já atravessaram diver-sas fases das suas vidas, ultrapassa-ram muitas diculdades e desaos.Entrando neste assunto de beliscosque a gente sente na paz do país,

    sentimos que a paz vai sendo belis-cada aqui e ali com palavras, amea-ças, com prazos e isto cria um sen-timento de desespero e não é bomque os moçambicanos vivam isso.É inoportuno porque esta é a jane-la de oportunidades ímpares e es-peciais que Moçambique tem paradar um salto no desenvolvimento,mas corre o risco de atrasar. Não vaiparar, mas pode atrasar, porque hápessoas que adiam as decisões. Asdecisões adiadas não são somente

    Por Argunaldo Nhampossa

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    TEMA DA SEMANA 5Savana26-06-2015 TEMA DA SEM ANA

    decisões– Luísa Diogo feitamente o que é que aconteceuaquando da venda das casas daAPIE. Depois das vendas, vimosum movimento exponencial deconstrução de outras, porque já viam em si a necessidade de inves-tir nesta área.Eu acredito, não por formação, maspor convicção pessoal, que a solu-ção para o desenvolvimento dospaíses é que tudo o que for iniciati- va individual em todas as áreas sejaestimulado.O estado deve fazer aquilo quesente que é muito pesado para aspessoas individualmente fazerem,mas também deve sempre convidar

    o sector privado para entrar mes-mo naquilo que sente que pode fa-zer sem nenhum problema. Nestasinergia de procura de eciência, osector privado é sempre importan-te, o estado também tenta, mas osector privado está sempre presen-te. Na combinação das duas coisas,encontram-se as melhores soluçõesde política.Podemos olhar para as escolas ehospitais privados, onde os resul-tados são diferentes do sector pú-blico, enquanto os dois empregamos mesmos prossionais. Então háum diferencial aqui que é muitoimportante na prestação dos ser- viços.O Estado deve continuar com estasáreas que são suas, por excelência,mas deve manter sinergias com osector privado, porque, muitas ve-zes, ajuda a melhorar e a subir ospatamares necessários sob o pontode vista de qualidade, em tudo emque está envolvido. É preciso quenós também comecemos a parti-cipar de uma maneira inteligente,começar a organizar este pacote epoder fazer participar os privados.

    Em 40 anos de independênciafoi a primeira e única mulher atéao momento a ocupar o cargo dePrimeira-ministra, qual foi o seusentimento aquando da nomea-ção?Foi um sentimento de muita emo-ção e de grande responsabilidade.O peso da responsabilidade entrouem mim e senti isso efectivamente.Eu já vinha fazendo uma carreirade progressão, portanto não surgiude repente. Comecei como técnica,depois passei a chefe de secção, se-gui para chefe de repartição, chefede departamento, directora adjun-ta, directora nacional, vice-ministrae depois para ministra de Plano eFinanças e por m Primeira-mi-nistra. ive uma carreira muitorápida e meteórica e o segredo foisentir o peso da responsabilidade enão dizer que aquilo é fácil, possofazer, mas sentir o peso da respon-sabilidade, em primeiro lugar.

    Segundo, ir buscar as pessoas paratrabalhar. Não progredi trabalhan-do sozinha, foi saber trabalhar comas pessoas, homens e mulheres.Geralmente, quando os homens vêem mulheres a assumirem cargoscam sempre na expectativa de queserá que ela vai puxar somente asmulheres ou não.É preciso agarrar mulheres e ho-mens e trabalhar em conjunto. Asmulheres sentirem que a entradade uma mulher naquele cargo vai

    fazer com que elas possam fazeruma carreira tranquila e que pos-sam ser vistas no seu trabalho queestão a desenvolver. Fazer com queos homens tenham a tranquilidadede que naquela pessoa encontrama competência necessária, porque,muitas vezes, não aceitam queuma mulher ocupe um cargo pelacompetência, mas no homem elesaceitam. É preciso impor-se peloconhecimento e os homens gostamde mulheres que sabem o que estãoa fazer e depois gostam de contri-buir.

    A má a masculina

    Ocupou duas pastas sensíveis, anível governamental (ministrade Plano e Finanças e Primeira--ministra), que, muitas vezes,apresentam imagem de homens.Durante o tempo que esteve nes-ses cargos não foi vítima de ma-chismo no trabalho?Por acaso não senti isso, mas sen-ti que os homens, quando estãoperante uma mulher que está co-ordenando um trabalho de formacorrecta e com objectivos claros,o que fazem não é a confrontaçãodirecta, fazem a máa masculina. Amáa masculina não tem uma or-ganização, não tem estatutos nemprogramas, nem projectos, nem es-tratégias mas é efectiva e realmentequando querem derrubar alguémderrubam.O que senti é que no subterrâneopodia haver tentativas de poderderrubar e vi quadros meus dentrodo ministério caírem nessas arma-dilhas e naturalmente tinham deajudar no que for necessário paraque houvesse consensos e se avan-çar no trabalho. Não tive uma con-frontação directa de tal maneiraque tanto me habituei a trabalharcom homens e quando eu decidi ira uma reunião mundial das mulhe-res em Marrocos, estavam lá 5700mulheres, eu quei intimidada,porque nunca vi tantas mulheres juntas.Eu já ia às reuniões do FMI e Ban-co Mundial que, maioritariamente,eram participadas por homens, masnaquela reunião comecei a procu-rar onde estavam os meus pareshomens, mas foi uma experiênciaespecial. Na altura, eu acumulavaos cargos de ministra de Plano eFinanças e de Primeira-ministra,então, era um ícone. Acho que aca-bei me habituando e realmente mesinto a vontade a trabalhar com oshomens.

    Moçambique vai falhar a parida-de do género no âmbito protocoloda SADC, acha que as políticasnacionais valorizam a mulher?Eu penso que a mulher está a

    progredir no caminho certo, masacho que podia acelerar mais paraatingirmos os patamares desejáveiscomo este protocolo da SADC.Este aceleramento não pode sersomente para a mulher. Nós temosde acelerar esta paridade para po-der permitir que esta grande força,sinergia, capacidade, resistência,resiliência que são as característicasda mulher sejam utilizadas da me-lhor maneira na nossa sociedade. emos de acelerar a paridade para

    permitir que ombro a ombro como homem ela possa introduzir notrabalho do dia-a-dia, nas diferen-tes esferas da sociedade moçambi-cana, as características que ela tem.Sabemos de antemão que quandouma mulher está integrada numaequipa traz um valor acrescenta-do e isso é importante porque vaiajudar-nos a crescer mais rápido deuma maneira mais inclusiva e comresultados muito mais papáveis,muito mais encorajadores, maisacelerados em relação aos que te-mos agora.

    Concorda que já era tempo su -

    ciente para termos uma mulher adirigir o País?Nestes cargos de Presidente daRepública não se pode estabelecerporque chegamos a um determina-do número de anos, ou tem de seruma determinada geração, ou umdeterminado género. O que nósdevemos fazer é que a cada mo-mento temos de encontrar um pre-sidente certo para cada desao dopaís e os moçambicanos têm con-seguido fazer isso de uma maneiraexímia, exemplar, extraordinária eboa, a cada momento.Eduardo Mondlane, como presi-dente da Frelimo, soube coordenartodas as ideias para o arranque daluta armada, mais tarde, consegui-ram, de uma maneira muito serena,encontrar a sucessão para enfrentaro desao que havia, de puxar a lutaarmada com a velocidade necessá-ria e vir declarar a independêncianacional com o Presidente Samo-ra Machel. Depois tiveram o mo-mento da verdade, quando enfren-taram uma desgraça de perdê-lo,também souberam encontrar umapessoa certa, porque era necessárionegociar, pacicar o país com a de- vida tolerância e paciência, incluira todos e avançar na reconstruçãodo país, rero-me ao presiden-te Joaquim Chissano. Depois decumprir uma boa parte da sua ta-refa, procuraram, dentro do parti-do, uma pessoa certa para avançarcom o processo de transformaçãoe foi a vez do Presidente ArmandoGuebuza, que esteve virado paraas infra-estruturas e resultados.Com a sua velocidade, seu ritmo euma maneira própria de trabalhar,Moçambique conseguiu chegaronde está agora do ponto de vistade face, porque já não é a mesma,quando recebeu o poder em 2005e não é mesma quando Chissanoganhou as eleições em 1994. Cadaum deles cumpriu com a sua tarefa,neste momento, era necessário en-contrar um líder com as caracterís-ticas próprias do Presidente FilipeNyusi.Quando ele fez a sua apresentaçãono dia da tomada de posse, a 15 de Janeiro, a mim me emocionou bas-tante, porque, raras vezes choro ou vibro com discursos, mas, quandoele falou na Praça de Independên-cia vieram-me lágrimas nos olhos.Senti-me completamente reecti-da, representada naquele discursoe já tinha abraçado o manifestoeleitoral do candidato Nyusi. Osmoçambicanos sabem escolher apessoa certa no momento certopara dirigir o país.

    O seu nome tem sido associado ao cargo de Secretária-ge-ral do partido Frelimo, está disposta para este desa o?(Risos..) Não é sua responsabilidade fazer a prospecçãodos secretários-gerais do partido Frelimo (risos....). Opartido Frelimo tem os seus órgãos e, com base neles, seleccionaos candidatos e elege os secretários-gerais e outros cargos dentrodo partido. Deixem o partido trabalhar, tal como tem trabalhadoaté hoje. Das várias entrevistas que dei aoSAVANA , antes daseleições para Presidente da República, sempre disse: deixem osmoçambicanos fazerem o seu percurso, para poderem propor elevar o candidato para a Presidência da República e viram o queaconteceu: a Frelimo organizou-se e escolheu, os moçambicanosgostaram perfeitamente e votaram correctamente no candidatoque agora assume a liderança do país. Assim, uma vez mais, rei-tero, deixem a Frelimo organizar-se rumo à escolha do seu secre-tário-geral e eu cono na Frelimo, que do mesmo jeito que estáa conduzir o processo da eleição dos primeiros secretários pro- vinciais, também vai encontrar uma boa maneira para a escolhado secretário-geral, que juntamente com o presidente Nyusi, vãoconseguir avançar com o partido rumo a mais vitórias e satisfa-ções para o povo moçambicano.

    Mas acha ou não que é oportuno o partido ter uma secretária--geral?(Risos...) Mas porque é que a selecção têm de ser feita por ser mu-lher?. O órgão, quando selecciona, não é por ser mulher, o órgãoselecciona com base na maneira de trabalhar, pela forma envol- vente, pelo percurso no qual vê se a pessoa está ou não preparada.

    É assim como a Frelimo elege e não porque ´aquela é mulher, dá, vamos eleger, porque ainda não fomos dirigidos por uma mulher`.´Aquele é jovem, sim, vai, aquele é combatente`... não é assimcomo as coisas funcionam na Frelimo. Funciona na base do que éo mais indicado a cada momento.

    Onde é que a Dra. Luísa Diogo estava a 25 de Junho de 1975 eo que fazia na vida?A 25 de Junho de 1975 estava no Estádio da Machava, para vivereste momento histórico de Moçambique e não assistir. Na altura,tinha 17 anos e estava com o meu irmão de 19 anos, depois dereservarmos o lugar desde a manhã e levarmos connosco o nossomangungu ( farnel ). Naquela altura, as coisas viviam-se no corpo e na alma, não se viviam assim à distância e foi um dia excepcional, um momentomarcante. Digo várias vezes que nós somos uma geração abençoa-da, porque vivemos vários acontecimentos históricos e este foi umdos mais marcantes que nos torna pessoas com determinada iden-tidade, com um determinado espaço e num determinado tempo.

    Nessa altura com 17 anos de idade o que fazia na vida ?Era estudante da Escola Azevedo e Silva, hoje Escola Comercialde Maputo, vinha transferida da Província de ete em 1974 e es-tava a fazer o segundo ciclo do ensino e estava a iniciar os meusestudos como contabilista. Eu comecei por tirar Contabilidade eComércio e depois fui à Economia. Nessa altura, ainda estava noterceiro ano e estava a preparar-me para ser contabilista.

    Como é que uma jovem estudante de contabilidade se transfor-mou numa mulher poderosa politicamente?Foi um percurso e projecto de vida. O projecto de vida era es-tudar, trabalhar e ser aquilo que meu pai dizia, ´estudar para seralguém`. Então, estudei, trabalhei e segui uma carreira que, poracaso, transformou-se, simplesmente, de uma carreira técnica paratécnico-política, e eu gosto de fazer ambas as coisas.Gosto de fazer a área técnica, gosto de fazer política, gosto defazer as duas coisas e fazer com que uma alimente a outra.A área técnica a alimentar as decisões na política e política a ali-mentar a área técnica, sob o ponto de vista de abrir os horizontese levar a área técnica a servir um determinado objectivo político.Então, foi um percurso e visão de desenvolvimento que levou apatamares técnicos e no meio desses patamares técnicos por dedi-cação acabei aparecendo na componente política.Poderia dizer que na área técnica foi um projecto de vida e na áreapolítica aconteceu. Não foi um projecto preparado de eu dizer que´vou ser Primeira-ministra, ministra de Plano e Finanças`. Mas,na área técnica, sim, tive uma visão técnica profunda de servirmelhor o país, servir melhor as pessoas com qualidade, a tempo ehoras, aquilo que tinha de fazer.

    Deixem a Frelimo escolherserenamente o SG

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    O chefe de Estado, FilipeNyusi, atribuiu nestaquarta-feira o títulohonorí co “Herói daRepública de Moçambique”, aosantigos combatentes da luta delibertação nacional, Marcelinodos Santos e Feliciano Gundana,numa cerimónia na presidência,onde também foram atribuídas

    condecorações a várias pessoasque se destacaram na vida do paísem diferentes áreas de actuação.

    Janet Mondlane, a viúva do pri-meiro presidente da Frelimo,recebeu a ordem Eduardo Chi- vambo Mondlane do 1º grau, juntamente com Francisco RuiMoniz Barreto (Rui Nogar), a

    Marcelino dos Santos e Gundana dec

    heróis nacionais

    título póstumo. Ao padre e mé-dico-cirurgião, o italiano AldoMarcherizini, que se destacou naassistência médica às populaçõescarentes, tendo realizado cirur-gias em condições extremas, foilhe atribuído o título de CidadãoHonoríco.Numa cerimónia testemunhadapelos antigos chefes de Estado,nomeadamente, Joaquim Chis-

    sano e Armando Guebuza, o jor-nalista Albino Magaia e GulamoKhan, a título póstumo, o arqui-tecto Júlio Carrilho e o professorde música, Samuel Munguambe Junior, receberam a medalha deMérito Artes e Letras. A meda-lha Bagamoyo coube ao Arqui- vo Histórico de Moçambique, oantigo combatente Carlos JorgeSiliya e a directora do Instituto

    de Coração, Beatriz Ferreira. Atítulo posto, Maria Inês Noguei-ra Costa e José Rodrigues ellesCarvalho foi lhes atribuído a me-dalha de “Mérito Académico”. AMedalha Mérito do rabalho foipara Rosário Mualeia, ex-PCAdos Caminhos-de-Ferro e Por-tos de Moçambique e antigo go- vernador da província de Gaza eNampula. (Redacção)

    N a

    í t a

    U s s e n e

    Filipe Nyusi condec onrando Feliciano Gundana

    Filipe Nyusi coloc a a insígnia de herói naci onal a M arcelino d os Santos

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    O que é que um país loca-lizado no extremo Norteda Europa e outro loca-

    lizado na região Sul da África têm em comum? Mais doque se poderia pensar. Têm umahistória e prioridades conjuntaspara fazer face aos desa os glo-bais.Este ano, Moçambique celebra40 anos de independência e asnossas duas nações comemoramigual número de anos de relaçõesdiplomáticas, o que constitui umaoportunidade para juntos fazer-mos uma retrospectiva sobre opassado, mas, sobretudo, olharpara o futuro.

    O que é que une dois povos e duas

    nações? Como podem países comculturas e condições tão distintassentir essa unidade e amizade?O primeiro líder do movimentode libertação de Moçambique foiEduardo Mondlane. Durante osanos sessenta, Eduardo Mondla-ne visitou a Suécia por diversas vezes, tendo se encontrado comorganizações estudantis, sindicatose partidos políticos do governo eda oposição. Eduardo Mondlanetambém interagiu com Olof Pal-me, um dos maiores defensoresda luta de libertação de Moçam-bique e de toda a África Austral.Na Suécia, o engajamento contrao colonialismo, na altura, foi muitoabrangente, assim como em Mo-çambique. Em meados da décadasessenta, a Frelimo tornou-se noprimeiro movimento de libertaçãoa receber o apoio nanceiro da Su-écia.Num mundo que se agura cada vez menor, ao mesmo tempo emque os desaos parecem aumentar,uma amizade duradoira e o inte-resse comum de ouvir, compreen-der e cooperar é crucial. Essa von-tade existe.Essa vontade foi rearmada numareunião em Addis Ababa, reali-zada num passado recente, peloPrimeiro Ministro da Suécia Ste-fan Löfven e pelo Ministro dosNegócios Estrangeiros e Coope-ração de Moçambique OldemiroBaloi, e comprovada quando Mar-got Wallström participou como aúnica Ministra das Relações Ex-teriores do ocidente na Cerimó-nia de Investidura do PresidenteFilipe Jacinto Nyusi em Janeirodeste ano. Foi também eviden-te que compartilhamos a mesmaconvicção sobre a importância daigualdade de oportunidades dasmulheres em todos os sectores dasociedade. Embora as condições

    para as raparigas e mulheres sejamdiferentes nos dois países, concor-damos que promover os direitosdas mulheres e da igualdade têminúmeras vantagens.E a cooperação para o desenvol- vimento ainda desempenha umpapel importante nas nossas rela-ções. odos os sectores da políticaestão interligados e o diálogo so-bre o nosso apoio nanceiro é umaparte integrante da nossa parceria.

    Hoje, a lha do Presidente Edu-ardo Mondlane, Nyeleti Mondla-ne, é Vice-Ministra dos Negócios

    Estrangeiros e Cooperação. Asdiscussões com Nyeleti Mondla-ne são um testemunho tanto dosnossos laços históricos, como dasnossas relações futuras e de todosos importantes desaos que en-frentamos juntos.O meio ambiente e as mudançasclimáticas são outras áreas emque temos diversas condições, ex-periências e situações, mas ondecompartilhamos uma grande pre-ocupação com relação ao futuro,bem como a vontade de priorizara sustentabilidade. Durante a sua visita a Moçambique, a Ministrada Suécia parao Desenvolvimento

    Internacional Isabella Lövin teve aoportunidade de discutir questõessobre a próxima Conferência dasPartes da Convenção-Quadro dasNações Unidas sobre as MudançasClimáticas (COP21), em Paris,bem como os novos Objectivosde Desenvolvimento Sustentável.Ambos os países concordam queestes são fundamentais para lidarcom os desaos ambientais gravesque enfrentamos, considerandoque Moçambique sofre efeitos ne-gativos decorrentes das mudançasclimáticas que ameaçam minar odesenvolvimento do país.Durante uma visita efectuadarecentemente a Moçambique, a

    Ministra da Cooperação para oDesenvolvimento, Isabella Lövinrealizou várias visitas e teve vá-rios encontros. Uma das visitasefectuada foi a uma antiga hidro-eléctrica. Nas instalações aindaem funcionamento, deparamoscom uma placa da empresa suecaABB e a nova turbina recente-mente instalada que foi entreguepelo sueco Kristinehamn urbinAB. De alguma forma isto simbo-liza o passado e o futuro. Empre-sas e investimentos suecos estãoem demanda, tanto por causa dasua qualidade comprovada comopelo facto da energia verde poderdesempenhar um papel chave no

    desenvolvimento sustentável futu-ro e na luta contra a pobreza emMoçambique. Para além das suasgrandes descobertas de gás, Mo-çambique também é um país comum enorme potencial para a pro-dução de energia renovável. O paíspossui sol e água em abundância!Assim são também as necessidadesa nível nacional e regional.Na última visita ministerial, estarelação única que existe entre asnossas duas nações foi novamen-te reforçada, e inúmeras priorida-des comuns discutidas. O facto daSuécia ter sido um dos primeirosestados a dar apoio político bemcomo nanceiro para a luta de li-bertação de Moçambique , tal factonão foi esquecido. A conança estáprofundamente enraizada. emosboas razões para salvaguardar estaforte amizade e colaborar tantobilateralmente, como em questõesda agenda global. Para encontrarsoluções para os desaos comuns,mudanças climáticas e as metas desustentabilidade respectivamente,o tipo de diálogo construtivo quecaracteriza a nossa presente amiza-

    O que une Moçambique e Suécia?de é crucial.

    * Artigo da autoria de Frances Vic-toria Rodrigues, Embaixadora de

    Moçambique em Estocolmo e IrinaSchoulgin Nyoni, Embaixadora daSuécia em Maputo, por ocasião da

    passagem dos 40 anos da indepen-dência de Moçambique. Título da

    responsabilidade do jornal SAVANA

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    Moçambique é umpaís que continua vulnerável a sur-tos de violência eo poder central deve atribuirmaior autoridade aos governosprovinciais para protegerem osinteresses das populações faceaos grandes projectos de ex-ploração de recursos naturais,indica um relatório da ONG

    britânica Chatam House sobreMoçambique.

    “O país está também sujeito asurtos graves de violência polí-tica. Os conitos que se regista-ram entre Abril de 2013 e Julhode 2014 demonstraram clara-mente que o movimento Resis-tência Nacional Moçambicana(RENAMO) foi capaz de se ar-mar para conduzir operações nocentro do país”, refere o docu-mento, divulgado esta semana.Apesar de o braço armado daRenamo não ter conseguidoiniciar uma guerra civil ou umaguerra de secessão, logrou pro- vocar impacto político, assinalaa Chatam House, sublinhando:“a RENAMO é uma força a terem conta”.De acordo com o relatório,além da violência política, existeuma agitação persistente ligadaa questões sociais e pragas de violência centradas nos preçosde alimentos ou reivindicaçõessobre terra.“Muitos dos indicadores-chavede pobreza em Moçambiqueestagnaram em grande par-te durante a última década e ainfra-estrutura do país em es-tradas, telecomunicações, cami-nhos-de-ferro e electricidade éinadequada para acompanhar asnecessidades dos investidores, emuito menos o crescimento po-pulacional”, indica aquela orga-nização.A falta de grandes fontes de re-ceitas e a persistência de umabase de tributação limitada sig-nicam que o país não possui osrecursos necessários para desen- volver estradas, caminhos-de-

    -ferro e electricação, destaca otexto.O relatório realça que Moçam-bique é alvo de uma forte apos-ta dos investidores estrangeiros,apontando o início de produ-ção de Gás Natural Liquefei-to (GNL), nos próximos anos,como demonstração do poten-cial de crescimento da econo-mia nacional.

    População pode hostilizargrandes projectos“Contudo, estes desenvolvi-mentos, em maior ou menormedida, apresentam desaosàs comunidades locais e têmtodos o potencial de criar con-itos sérios resultantes do des-contentamento das populaçõeslocais. Os investimentos aindanão chegaram à fase de gerarimpostos a favor do Governo deMoçambique, bem como em-prego para o seu povo”, refere aChatam House.Além disso, o crescimento eco-nómico do país deve fazer faceà dimensão da “explosão juvenil”que entra no mercado de traba-lho, um desao que se for perdi-do irá minar os ganhos reais naredução da pobreza persistentede Moçambique.Segundo aquela organização, aperspectiva, a longo prazo, noGNL de Moçambique é boa,embora mais modesta do que a

    espectacularidade com que foiinicialmente projectada.“Além do desenvolvimentodo GNL, estão em curso in- vestimentos signicativos nossectores agro-industrial, nome-adamente a produção de bio-combustíveis, carvão, mineraisnão hidrocarbonetos e na pes-ca”, destaca a organização.A Chatam House refere que,em colaboração com os doa-dores e investidores internacio-nais, os decisores políticos deMoçambique devem seleccio-nar e implementar um conjuntoclaro e inequívoco de medidas,que possam equilibrar as neces-sidades das indústrias comer-cialmente competitivas a curtoprazo, com retorno para o Go- verno e em consonância com asnecessidades sociais, bem comoos direitos constitucionais e osanseios dos cidadãos do país.“Moçambique já viveu a dis-sidência e o conito quando aterra foi tomada para novas ini-ciativas industriais ou agro-in-dustriais. As leis vigentes respei-tantes à mudança na utilizaçãorequerem que os utilizadores eas comunidades afectadas traba-lhem conjuntamente no sentidode conseguir um consentimentolivre completo e informado an-tes da entrega da terra aos gran-des projectos”, diz o relatório.Na prática, frisa o relatório, osprocessos ligados ao engaja-mento das comunidades e ne-gociação têm sido desiguais,sendo, por isso, necessário mais

    Moçambique é vulnerável a surto

    violência – diz relatório da ChataPor Ricardo Mudaukanetrabalho juntamente com asempresas investidoras, através

    do estabelecimento de parâme-tros de referência claros no que

    respeita ao seu desempenho so-cial.

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    Daviz Simango, actu-al edil da Beira e lhode um dos arquitectosda independência deMoçambique, morto pelos seuscamaradas de armas algures emM´telela, no Niassa, não temdúvidas de que 40 anos depoiseste não é o país que os pais,Uria e Celina Simango, sonha-ram. “Penso que não é este o paísque os meus país idealizaram,porque o país que sonharamnão era de operação produção,de fuzilamentos em massa porpensar diferente”. Entrevistadopelo SAVANA a propósito dos 40anos da independência nacional,Daviz a rma que, alcançada a liberdade, em 1975, o país deve-ria ter tomado outro rumo, mastal foi negado por “um grupode moçambicanos, que por si-nal estava connosco na luta de libertação nacional”, situaçãoque acabou resvalando para umaguerra que durou 16 anos. Cri-tica o que considera “exclusãopolítica, económica e social” ac-tualmente protagonizada pelosdois maiores partidos políticos,

    a Frelimo e a Renamo, e diz quenão guarda mágoas dos que as-sassinaram os seus país e perse-guiram-no quando frequentavaas aulas numa escola algures nodistrito de Búzi, em Sofala, ondese cantava “Uria Simango é rea-cionário”.

    O país comemora 40 anos deindependência. Que apreciaçãoo Senhor Presidente faz dessasquatro décadas?Nós, como moçambicanos, temosorgulho de sermos um país comidentidade, um país que com tan-to sacrifício acabou conseguindoaquilo que era negado aos mo-çambicanos. E, se nós formos arecuar na história, houve váriosacontecimentos da luta de liberta-ção nacional e esse acontecimentotodo congregou vários jovens, mu-lheres e homens que então se jun-taram de diversas formas ao nívelde todo o país. Na época o movi-mento de revolta de cansaço de re-púdios do sistema colonial de do-minação tinha chegado ao extre-mo de que moçambicanos já nãopodiam aceitar mais. Mas tambémé importante realçar que todas asformas de diálogo, todas as formas

    pacícas de se chegar à indepen-dência dos moçambicanos foramnegadas e foi por essa razão queforam criados vários movimentospolíticos, com destaque para ostrês principais movimentos, quese juntaram e criaram a Frente deLibertação de Moçambique, queiniciou o processo da luta armada.Portanto, tínhamos todos a con- vicção de que o objectivo era al-cançar a liberdade e a independên-

    Daviz Simango fala dos 40 anos da independência

    cia. Libertar os homens, a terra.Posto isto, os moçambicanos numprocesso integrado e de liberdadede opinião poderiam se juntar de várias formas e constituir um Es-tado de Direito. Infelizmente esseprocesso de liberdade, de opinião,de expressão e de crença foi sim-plesmente negado por um grupode moçambicanos, que por sinalestava connosco na luta de liberta-ção nacional. Negado isso, acabou--se transformando em pesadelo,porque o sonho de libertar a pátriae transformar a pátria num espaçopara todos, independentemente daorigem e de crença, poderia ter umespaço, foi a água abaixo. Portan-to, iniciamos um país com muitosatropelos, muitos abusos. Vivemosnum ambiente em que nossoscompatriotas foram enviados paraos campos de concentração, igrejaseram fechadas, mesquitas eram fe-chadas, assistimos a fuzilamentosnas igrejas, em campos públicos,assistimos um atropelamento to-tal dos Direitos Humanos. Estasituação toda prejudicou o país, atal emoção da independência. Poroutro lado, também assistimos ànegação do pensamento diferen-te, portanto, todo aquele que nãopensava como eles não era patrio-ta. Foi por causa de não se respei-tar o pensar diferente que se criourevolta civil. Veio a guerra. Morreu

    muita gente, muitas infra-estru-turas caram destruídas, isto por-que um grupo de moçambicanosentendeu que havia uma exclusão.Por outro lado, em termos econó-micos sentimos que destruímos ouescangalhamos muitas das grandesempresas, muitas das instituiçõesagrícolas, que por sinal faziam di-ferença no balanço económico eoportunidade de emprego aqui emMoçambique. É verdade que mui-

    tos moçambicanos poderiam dizerque muitos compatriotas nossosnão teriam posições sociais nestasempresas, mas o facto de termosescangalhado no lugar de termoscriado condições para a moderni-zação e substituindo aqueles quetinham habilidades, seria um actonormal, pacíco porque daríamoslugar ao treinamento de moçam-bicanos qualicados para ocuparlugares de relevo, sem, no entanto,haver espaço para escangalhar aprodução, o que criou problemastais como cooperativas de consu-mo, lojas de povo e outras acçõesque abalaram a economia, e con-sequente estrago no tecido sociale económico.

    Mas também a decisão que couconhecida por 20/24 contribuiupara isso...Claramente. Aquela decisão decorrer com pessoas 24 horas com20 quilos foi um desastre. Corre-mos com pessoas que eram úteisà sociedade, pessoas que defen-diam algumas cores e interesses demaioria de moçambicanos, medi-das drásticas, que prejudicaram opaís. emos de lembrar que os moçam-bicanos estavam convencidos deque com a independência teriam,naturalmente, uma independênciaeconómica, no entanto, o que se

    assiste é que a economia continuanas mãos de um punhado de pes-soas, exactamente este punhadoque na altura de 1975 foi corren-do com pessoas, alegando que nãoqueria burgueses. Hoje eles vira-ram grandes burgueses nacionais,cuja posição foi tomada de formainjusta, porque é resultante de te-rem pilhado bens públicos.Assistimos também à gestão deempresas sob o comando de pes-

    soas não habilitadas à semelhan-ça do que acontece actualmenteno Zimbabwe em que as grandesfarmas foram entregues a pesso-as que não conseguiram elevar onível de produtividade, portanto,todas as mudanças tendentes aodesenvolvimento não devem serfeitas de forma violenta, devemser de forma natural desde que asnormas aconteçam sem violentaros Direitos Humanos.

    Exclusão/ bipolarizaçãopolíticaHá também um sentimento deque vivemos actualmente emMoçambique uma situação deexclusão, apesar de teoricamenteestarmos numa sociedade demo-crática e com liberdade de opi-nião...Moçambique tem muitos desaos,mas agora estamos a viver umaguerra de separação de homens.É uma guerra que se tu não estasdo nosso lado não és nosso, e senão é nosso, então cas afastadodos vários processos. Explicandomelhor, o que assistimos hoje éuma exclusão. Há uma ausênciade diálogo e há uma tendência debipolarização do diálogo que estáa prejudicar o país.Estamos a viver uma situação emque todo aquele que pensa dife-rente dos dois (Frelimo e Rena-mo) não tem pensamento, não temideias. Ontem estava-se peranteum pensamento segundo o qualquem não pensa como aquele queestivesse ligado ao partido no po-der é estranho e tem de ser abati-do. Hoje a situação repete-se, comuma pequena mudança, quem nãopensa como os dois é estranho etem de ser abatido. Infelizmentealguns compatriotas admitem esta

    situação que devia ser combatida.Este país é de todos independen-temente do extracto pessoal. Des-de que nós nos identiquemoscom a nossa Constituição, todostem de ter o direito à opinião. e-mos de inverter esta pirâmide.Senhor presidente falou dasatrocidades que aconteceram pósindependência, ainda tem mágoadas pessoas que assassinaram osseus pais?Nós somos uma gota no oceano.Nascemos três irmãos e restamosdois. Digo somos uma gota nooceano, porque houve muitas fa-mílias que perderam seus pais efamiliares. Nós somos casos notá- veis eventualmente, porque meuspais foram fundadores da Freli-mo. Foram pioneiros. Meu pai foiestratega militar, da fundação e oprocesso diplomático. É verdadeque pouco se fala, mas se ouvi-rem os combatentes terão a infor-mação mais detalhada sobre quemulher era Celina Simango e quehomem era Uria Simango.Nós não podemos dizer que fo-mos as únicas vítimas neste pro-cesso. Foram tantas as vítimas doregime. Nós estamos na vida po-lítica activa para contribuir, paraque de facto algo de melhor pos-samos deixar para o nosso país,criar condições para que de factopossamos proporcionar indica-dores de desenvolvimento e decompetitividade global, tendo emconta o mundo em que vivemos.

    Continuam a conviver sem re-servas com os que executaram osseus país?Queremos deixar claro que conti-nuamos a conviver com todos. Anossa relação é boa. Nalgum mo-mento sinto que eles têm medo de

    nós, falam muito mal e continuamfalando mal, eles não se podem es-conder atrás da parede porque nósnão estamos na caça às bruxas enem podem fazer uma defesa an-tecipada, pensando que nós vamosatacá-los. O nosso grande objec-tivo hoje é construir a sociedademoçambicana. O resto faz parteda história de Moçambique e osque sabem contar farão de forma justa e verdadeira.Nós não temos mágoas com nin-guém e nem ressentimentos comninguém, tanto mais que conhece-mos bem a história, porque lá esti- vemos, tanto que esta história que

    se está a contar não é verdadeirade Moçambique, por isso é queas pessoas ligadas à investigaçãopodem fazer com transparência etrazer a verdadeira história da lutade libertação nacional. A verda-deira história da luta de libertaçãoainda está por contar, para que nãoensinemos coisas erradas e menti-ras.

    Por Domingos Bila, na Beira

    “ Este não é o país que o meu pai

    Continua na página 14

    “Estamos a viver um a situa ção em que t odo aquele qu e pensa di ferent e dos dois (Frelimo e Renam o)não tem p ensa men to, não tem i deia ” - Daviz Sim ango

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    14 Savana 26-06-2015SOCIEDADE

    Chegaram a ouvir a can- ção Simango reacionário

    das diversas escolas on-de passaram e qual era a vossa reacção?Em diversos subsistemas de ensi-no por onde andámos, as pesso-as quando nos vissem cantavamlho de reacionário. Ouvíamosesta canção em todos os lugarese alguns amigos nossos cantavam,mas nunca nos opusemos a elese nem lutávamos por causa disso.Nós aprendemos a perdoar muitocedo. Até porque algumas pessoasque assim cantavam se tornaramnossos amigos agora. Os mais velhos têm uma grande oportuni-dade de trazer as verdadeiras his-tórias. Aproveitem este momentopara trazer muita verdade paratodos, isso vai permitir nos recon-ciliar com a nossa história.Eventualmente, seria necessáriocriar-se uma comissão de verdade,isso ajudaria a partilhar ideias dopassado e do presente, do futuropara criar um tecido social sau-dável. É preciso compreender quedeste processo de libertação nacio-nal houve uma guerra civil, temosde saber porquê aquela guerra foimovida.Não basta dizer que uns são ins-trumentos dos outros, mas é a

    guerra, são moçambicanos, por-tanto, todos nós almejamos serindependente, termos a liberdade.Lutamos por isso e defendemos aindependência com unhas e den-tes e ninguém nos pode tirar estedireito, mas precisamos de limaralgumas arestas. Há necessidadede nos reconciliarmos, porque nosdias de hoje continuamos a ouvircom grande intensidade as acusa-ções, quer ao nível dos órgãos le-gais, ou ao nível privado. Um falamal do outro dizendo que é assas-sino, outro diz que matou muitagente, eu penso que estes termostodos não são benécos para opaís.

    ambém precisamos de saber queo sentido do símbolo da arma queestá na bandeira, se é o mesmo deontem, ou hoje tem uma outra in-terpretação. Porque outros paísesque estiveram em guerra, hoje jánão usam aquele símbolo, para nósfoi um momento histórico, impor-tante, mas a questão hoje está-sea falar muito de armas. Para ascrianças que nascem hoje como éque vão interpretar este símbolo,se nós chegarmos a uma conclusãodepois de um debate sério, no con-

    texto de hoje termos uma arma nabandeira. Hoje ainda precisamos,qual é a maior saída, porque háabundância de armas nos raptos,assassinatos.

    Senhor presidente, sendo lhode antigos combatentes, tem se bene ciado deste estatuto?Eu por acaso não tratei a docu-mentação. É preciso olhar a histó-ria e para o tempo. Primeiro quis

    ser solidário com aqueles antigoscombatentes que até este momen-

    to são discriminados. Conheçomuitos que vivem aqui na Beira eoutros fora, que não conseguiramtratar a documentação por váriosmotivos, alguns dos quais porquenão alinham com o partido nopoder. Agora, para ser solidáriodecidi não tratar, porque não valea pena embarcar por este ladoporque estou na posição social depoder tratar enquanto milharesde antigos combatentes estão semesse benefício. Continuam na des-graça.É necessário que se trabalhe parao rápido reconhecimento destesantigos combatentes, porque eles

    Senhor presidente falou da con-tribuição dos antigos combaten-

    tes, incluindo dos seus pais. Achaque o actual estágio é aquele queos seus pais pretendiam que sealcançasse?Não falo pelos meus pais, Uriae Celina Simango, mas para amaioria dos antigos combatentes,alguns que não regressaram vivos.Penso que não é este o país queidealizaram, porque o país que so-nharam não era de operação pro-dução, de fuzilamentos em massapor pensar diferente, não teríamosas igrejas banidas, porque Uria Si-mango era um reverendo, dicil-mente deixaria que as igrejas fos-sem banidas e se nacionalizassem

    as propriedades das conssõesreligiosas. Seguramente que logoapós a independência não haveriaestas atrocidades, nem guerra civilporque não haveria motivos para

    se promover. odos aqueles que foram à lutaarmada tinham o mesmo objec-tivo de libertar a terra e o ho-mem e não as atrocidades que seassistiram após a independêncianacional. O sonho é que aquelesque têm ideias diferentes se con-gregassem em partidos políticose outras formas. Foi uma grandefalha de negar os outros.Este não é o país que o meu pai

    sonhou e infelizmente aconte-ceu o que aconteceu, mas neste

    momento é preciso olhar outrasformas de luta. Esta nova formaé nos juntarmos para construir opaís e não procurarmos repetir oserros do passado. Este processo deconstrução deve ser feito na uni-dade na diversidade, em que háoportunidades económicas paratodos. Isto não signica esbanjaros recursos do erário público, e ti-rar recursos e entregar alguém doseu trabalho político. Não se podeadmitir que alguns vivam na grati-dão de algumas outras pessoas. Ofactor de ser antigo combatente éser nobre, mas não é de gratidãocom qual não devemos combater

    actos nocivos.Senhor Presidentenasceu em Tanzâniaquando seu pai seencontrava na lutade libertação nacio-nal. Naturalmenteesteve lado a ladocom outras criançasde então, tais comoos lhos do primeiropresidente da Fre- limo, Dr. EduardoMondlane. Comotem sido a sua rela-ção com os lhos dosoutros antigos com- batentes e de Mon-dlane?Eu nasci em Dar-es--Salam. Meu irmãomais velho (LuteroSimango) nasceu noZimbabwe e o meuirmão mais novo, que já não se encontraentre nós, nasceu emMbeia. Quis o des-tino que todos nósnascêssemos fora donosso país, porque osnossos pais estavamenvolvidos no proces-so todo e, coinciden-temente, era a épocado início da organi-zação do movimentopara luta de libertaçãonacional.Quando eu nasci meupai estava nas matas.Estava a preparar oprocesso da luta. Foipor isso que a minha

    mãe me deu o nome que hoje os-tento, com a alegação de que o pai vai se aperceber que o lho nasceu.Neste processo, todos, como jo- vens, crianças, tivemos contac-

    to com muitos lhos de antigoscombatentes, incluindo os comba-tentes mais adultos e aprendemosmuita coisa. emos nos cruzado elembramos algumas histórias.No caso dos lhos do PresidenteMondlane, nunca tivemos a opor-tunidade de conversar. Espero queum dia nos possamos encontrar econversar. A única coisa que seié que um dia, quando passei porGurúè, Nyelete Mondlane disse

    num comício popular que o meupai era o assassino de Eduardo

    Mondlane, ela devia estar a res-ponder ao comício bem concorri-do que realizei naquele município.Felizmente eu sei bem que ela sabeperfeitamente que não foi Uria Si-mango que matou o pai, mas nãoquer dizer. É a tal história não verdadeira que se procura contar.O que nos preocupa é que pessoascom certo conhecimento deviamter um pouco mais de cuidado aofalar coisas. Estou habituado a es-tas conversas, quando era criança,quando ia a escola as acusações so-bre meu pai eram notórias. O di-reito de identidade nos tinha sido

    recusado. Foi necessário que osnossos avós maternos e paternosse juntassem para decidirem o quese podia fazer. Então os meus avóspaternos, nomeadamente, Chim-bimbiro e Obedias, encarregaram--se em nos registar em Machangapara podermos estudar.É assim como eu e meu irmãomais novo fomos registados emMachanga e foi por isso que con-seguimos estes nomes. Mas nósnão nascemos em Machanga enunca tínhamos estado lá. Nosregistos houve engano em regis-tar nomes. O meu nome é Deviz

    e não Daviz, mas o escriturário donotariado entendeu que não podeexistir Deviz, mas Daviz, e a mi-nha mãe é apua, mas o homemdo registo escreveu abua. endo os documentos fomos es-tudar no Búzi, porque não trazía-mos nem certicado e nem trans-ferência, meu avô teve de fazer umtrabalho tremendo para podermosestudar. Mesmo quando ingressa-mos na escola tivemos um impas-se. O professor João dizia que nãodevia estudar. Houve impedimen-tos de tal maneira que meu avó foiobrigado a ameaçar espancar estaspessoas que impunham barreiraspara permitir que estudássemos.Ainda no Búzi, eu que já tinhafeito a 4ª classe noutro país, fuiobrigado a ter de estudar na 2ªclasse, depois de ter sido submeti-do a um exame. inha na ocasiãoproblemas de língua portuguesa.Nós que saímos de um país ondese estudava inglês passámos parauma nova realidade e com muitosacrifício.

    Mas não sofreram perseguiçõesquando algumas pessoas soube-ram que estavam a estudar?

    Quando algumas pessoas do regi-me se aperceberam que eu e o meuirmão estávamos no Búzi, procu-rando estudar, eis que se enviouum grupo de militares que preten-diam prender-me não sei por querazão. Fui obrigado a permanecerno cativeiro, nas bananeiras a pas-sar mal com mosquitos por umperíodo de 48 horas. Os militaresprocuraram-me e não me acharame depois bateram em retirada.

    Aprendemos a perdoar cedo

    merecem o estatuto, que lhes sejaconcedido o direito nacional. Seisso acontecer, Daviz Simangosairá a correr para tratar. Nestemomento vivo em solidariedade

    para com aqueles que ainda nãotrataram.Os antigos combatentes devemdesmamar do partido no poder,eles podem ser termómetro da vida política, económica nacional.Se nós desmamarmos os antigoscombatentes do ninho do partidopolítico, seja qual for, estes podemser grandes interlocutores para apacicação e desenvolvimento dopaís.

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    A polícia federal (PF) bra-sileira está implacável nasua caça ao polvo da cor-rupção corporativa queenvolve grandes grupos empre-sariais e que pode implicar Lulada Silva, ex-Presidente do Brasil. Três gigantescas empreiteiras bra-sileiras com fortes interesses emMoçambique contam-se entre osúltimos alvos da ofensiva policial,a Operação Lava Jato. Camar-go Corrêa, Odebrecht e AndradeGutierrez estão entre as empresasindiciadas de pagar propinas detrá co de in uências, em benefíciode seus negócios internacionais.No meio de conversas telefóni-cas entre executivos interceptadaspela PF brasileira, é referenciadoMurade Murargy, ex-Embaixadorde Moçambique naquele país da América do Sul.

    Durante o último m-de-semanae nos primeiros dias desta semana,foi manchete no Brasil a prisão doPresidente-herdeiro da Odebrecht,Marcelo Odebrecht, e do executi- vo da Andrade Gutierrez, OtávioAzevedo.Marcelo Odebrecht foi preso háexactamente uma semana, con-rmando receios de seu pai e pa-triarca da família empresarial Emí-lio Odebrecht, segundo a RevistaÉPOCA. “Se prenderem o Marce-lo, terão de arrumar mais três celas.Uma para mim, outra para o Lulae outra ainda para a Dilma”, costu-mava repetir o patriarca, de acordocom relatos obtidos pelos repórte-res desta publicação.De acordo com a imprensa brasi-leira, mensagens interceptadas pelaPolícia Federal entre executivos daconstrutora OAS, e que constam

    do processo contra a Odebrecht ea Andrade Gutierrez, descrevemcom detalhes o esquema de lobbye indício de tráco de inuênciado ex-presidente Lula em países daÁfrica e da América Latina.

    O “Brahma” e o EmbaixadorMurargyNo meio dessas mensagens in-terceptadas é referenciado o ex--Embaixador de Moçambique noBrasil, Murade Murargy.“A troca de mensagens ocorreu em2013 entre Léo Pinheiro e CezarUzeda, presidente e director daárea internacional da OAS, respec-tivamente. Nos textos, Lula leva oapelido “carinhoso” de Brahma e écitado nos termos de uma aproxi-mação com o embaixador de Mo-çambique no Brasil, Murade IsaacMiguigy Murargy. O facilitador doencontro, segundo as mensagens, éo ex-ministro Franklin Martins”,informa o sítio de internet da re- vista Veja.A esposa do ex-ministro brasilei-ro Franklin Martins, Mónica, éigualmente citada pela matéria da

    Ofensiva anticorrupção corporativa da Polícia Federal do Brasil:

    OperaçãoLava Jat o implica grandesempreiteiras brasileiras em Moça

    famosa revista hostil aos governosdo Partido rabalhista: “A esposade Franklin Martins, Mónica, tam-bém enviou mensagem a Pinheirodetalhando o perl do embaixador.“Diz ao Cesar (Uzeda) que esta-rei com ele. Me encontre na portada Embaixada. Ele vai falar sobrecampanha política e novos proje-tos. Ele que colocou a Suzano e aAndrade lá no governo. Era o chefede gabinete do presidente (de Mo-çambique) “, cita a Veja, de trans-crições das conversas interceptadaspela polícia federal brasileira e quereiteram a alusão ao diplomata mo-çambicano.Pouco conhecida em Moçambique,a Andrade Gutierrez é desde naisdo ano passado responsável pelaconstrução da barragem da Mo-amba Major, situada no distrito de

    Moamba. A central hidroeléctricaproduzirá 15 MWh e a barragemterá capacidade de armazenamentode 760 milhões de m³ de água.O projecto será construído na ba-cia de Incomáti, rio que atravessaa fronteira do país em RessanoGarcia e desemboca no Oceano Ín-dico, ao norte da Baía de Maputo.A estimativa é que as obras sejamcusteadas por US$ 500 milhões eestejam concluídas em cinco anos.O empreendimento atenderá prin-cipalmente a região de Maputo,capital e maior cidade do país, aju-dando no abastecimento de águapara 100% da população de Mo-çambique até 2055, conforme pre- visão da empresa.Odebrecht esmiuçada pelacobertura da VejaEm seguimento diário do caso, osite da Veja noticia que documen-tos divulgados na última terça-feirapelo Itamaraty, Ministério das Re-lações Exteriores do Brasil, revelamo empenho da diplomacia brasileiraalavancar negócios internacionaispara as grandes construtoras, em

    especial, a Odebrecht.“O material inclui comunicaçõesinternas durante os dois mandatosdo governo Lula, período no quala política externa brasileira inten-sicou o papel de intermediadorde contratos para grandes empre-sas brasileiras, sobretudo em paísesafricanos, árabes e sul-americanos”,relata a revista.“Nos papéis, há centenas de men-ções à Odebrecht. Alguns sãorepresentativos da relação entrediplomatas e executivos das cons-trutoras”, prossegue a publicaçãodo grupo Abril.Em comunicado facultado ao SA-VANA pela sua lial em Moçambi-que, a Odebrecht manifesta indig-nação com as ordens de prisão decinco de seus executivos e consideradesnecessárias e ilegais as medidas

    cumpridas, “pois mesmo após umano de investigação, nenhum fatonovo ou evidência material sustentaas acusações que têm sido dirigidascontra a empresa”, sustenta.A rma diz-se em total alinha-mento à legislação anticorrupçãobrasileira e internacional e garanteque nunca colocou qualquer tipo deobstáculo às investigações.Em outra matéria que destaca anotoriedade dada à Odebrecht nacobertura da Veja, esta publica-

    ção revela que os policiais federaisapreenderam documentos sobrediversos contratos da empreiteirananciados com dinheiro do BN-DES (Banco Nacional de Desen- volvimento Económico e Social)do Brasil “em países como Cuba,Equador, Guatemala, Moçambi-que, República Dominicana, Ar-gentina e Angola”.Intitulada, “A ‘volta ao mundo’ daOdebrecht com dinheiro do BN-DES”, a matéria vai mais longequanto ao alcance da investigaçãopolicial: “ (…) paralelamente àOperação Lava Jato, a Procurado-ria da República do Distrito Fe-deral investiga se o ex-presidenteLula praticou tráco de inuênciaao negociar contratos em favor daempresa em viagens, pagas pelaempreiteira, para países da América

    Latina e da África.”Em contacto com o Jornal SAVA-NA, o responsável pela Comuni-cação da Odebrecht Moçambique,Marcelo Franco, esclarece que aOperação Lava Jato “não é um pro-cesso contra a Odebrecht, mas umainvestigação das autoridades fede-rais que envolve várias empresasbrasileiras”.Franco assevera que a investigação“não tem relação nenhuma comnossas operações aqui em Moçam-

    bique”, tanto é que, “independen-temente desse processo investiga-tório, que envolve também outrasempresas do Brasil, a OdebrechtInfra-estrutura Moçambique reite-ra que mantém as suas operações enegócios activos no País, sem anor-malidades”, reforça o comunicadoda empresa facultado à nossa Re-dacção.A Odebrecht, para além de princi-pal empreiteira das minas da Vale

    Moçambique, de entre outros in-teresses, foi a construtora do Aero-porto Internacional de Nacala.Palestras milionárias de LulaOutra empresa brasileira com ope-rações em Moçambique e visadapela Lava Jato é a Camargo Corrêa.Na edição de sábado, 13 de Junho,a revista Veja avançava em primei-ra mão com dados de investigaçõesda PF brasileira: “O ex-presidenteLuiz Inácio Lula da Silva e o Ins-tituto Lula receberam uma fortuna— cerca de R$ 4,5 milhões — daCamargo Corrêa, uma das emprei-teiras suspeitas de participar dos es-quemas de corrupção identicadospela Operação Lava Jato da PolíciaFederal. A empresa chegou a pagarmais de R$ 800 mil por duas pales-tras de Lula.”A Veja explicava, citando comofonte a PF, que o valor recebido porLula e seu instituto foi dividido emduas partes: R$ 1,5 milhão para aLILS Palestras e Eventos e Publi-cidade L DA., pelas palestras, eoutros R$ 3 milhões para o Institu-to Luiz Inácio Lula da Silva.No itinerário das viagens, a revis-ta calendarizou Setembro de 2011,quando Lula foi a Portugal proferiruma palestra sobre a crise económi-ca mundial a pedido da CamargoCorrêa. “O ex-presidente ganhoucerca de R$ 340 mil pela apresen-tação”, dizia a publicação.“Pouco tempo depois, a Camar-go Corrêa chegou a pagar R$ 815mil por apresentações de Lula emMoçambique e África do Sul emNovembro de 2012”, prosseguia arevista.“Ocialmente, o ex-presidente foiaos países africanos para traba-lhar por “cooperação em políticaspúblicas e ampliação das relaçõesinternacionais”. Porém, Lula traba-lhou para diminuir a resistência àCamargo Corrêa no País”, concluíaa matéria, não se sabendo se o paísaqui referido é Moçambique ouÁfrica do Sul.Em Moçambique, para além de es-tar de acordo rmado há mais decinco anos com o Grupo Insitec ecom a EDM, sob concessão do Go- verno, para construir a barragem deMphanda Nkuwa, a Camargo Cor-rêa adquiriu em Junho de 2010 ocontrolo da cimenteira CINAC(Cimentos de Nacala), que foi in-tegrada na cimenteira do grupo In-terCement.

    Lava Jato

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    18 Savana 26-06-2015OPINIÃO

    Esta é uma das canções da mi-nha vida. Em tempos recua-dos também, mas não desdehá décadas, por ser um cari-

    nhoso cantar desta partilha compa-nheira de um charro, da procuradaleveza amigada, isso mesmo queum dia fomos cantar à Aula Magnalisboeta, quando o Sérgio Godinhofora preso no Brasil, ainda os tem-pos daquela ditadura, por razões deposse de umas gramas de erva. Mas já então, e agora ainda mais, mesmomesmo nada disso pois muito mais,que a canção subia a hino, como ofoi, por dizer isto “ É que hoje zum amigo / E coisa mais precio-sa no mundo não há (...) /Guardeium amigo / Que é coisa que vale

    milhões”, e era e é mais do que osuciente para a fazer este isso tãogrande ...

    Agora as décadas passaram, chegoua idade e já não é o meu tempo defazer amigos. Mas sim, como hoje,o de os perder, partidos para sem-pre, e eu a cantar embargado “Éque hoje perdi um amigo / E coi-sa mais preciosa no mundo não há(...) / que é coisa que vale milhões”.Avançou o Paulinho, o meu queri-do Paulinho, tinha que ser. E assim,como já o disse, sentindo-o muito,a savana está a car desarborizada,sem sombras e sem refúgios. E umhomem desabrigado, enquanto aqui

    vai cando.Conheci-o já depois daqueles tem-pos épicos, “os anos de chumbo” quenarram em Moçambique, doiradospara os homens que o são por maisduros e injustos que fossem, essestempos e até aqueles homens. al- vez melhor dizendo, tempos doiran-do os homens, coisa complexa paraquem não conhece o país e se apres-ta em juízos, que nada mais são doque posconceitos, assim falhos.Apanhei-o, apanhámo-nos, depois, já naquela tão aparente modorra doMaputo da paz. As nossas mulheresmui amigas, as nossas lhas crescen-do juntas (e como tanto as amamos!,pais velhotes ...), um punhado deamigos em conjunto, este a desvane-cer-se tão depressa, e como dói istodo Kok e do Jorginho também já te-rem avançado, e mais para mim, nãotanto para ele, o Luís, esse que medevastou, me mudou para tão pior,quando foi e eu não consegui estar.E o nosso Sporting, coisa sempre jocosa, mais o resto tudo. Pretextos,e ainda bem que assim foi, para agente tantas vezes se sentar juntos,partilhando. O jarro de vinho, comalguma parcimónia, sempre o notei,mais um charro ou outro, da partedele, eu mais naquelas apneias dosuísques e assins. E à nossa volta cadaum ao seu ritmo.E nisto eu a aprender Moçambi-que. Ele o mais moçambicano queapanhei, um profundo zambezianodo zumbo ao índico, do maputo aorovuma, apaixonado pelo seu país.Pois um conhecedor, amante. Avan-çasse eu, ou outrem, para a distanteprovíncia, para qualquer recônditodistrito, havia sempre alguém queele conhecia, um contacto a fazer, afacilit