FORMAÇÃO TÉCNICA PROFISSIONAL COMO CENÁRIO ONDE CONTRACENAM A EDUCAÇÃO E A SAÚDE,
Saúde, trabalho e formação profissional
-
Upload
samara-fernandes -
Category
Documents
-
view
266 -
download
0
Transcript of Saúde, trabalho e formação profissional
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 1/142
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros
AMÂNCIO FILHO, A., and MOREIRA, MCGB., orgs. Saúde, trabalh
[online]. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 138 p. ISBN 85-85471-04-2
Saúde, trabalho e formação pro
Antenor Amâncio FilhoM. Cecilia G. B. Moreira
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 2/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 3/142
S A Ú D E ,
T R A B A L H O Ε
F O RM A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 4/142
F U N D A Ç Ã O O S W A L D O C R U Z
Presidente
Eloi de Souza Garcia
Vice-Presidente de Ambiente, Comunicação e Informaçã
Maria Cecília de Souza Minayo
E DIT ORA F I OCR UZ
Coordenadora
Maria Cecília de Souza Minayo
Conselho EditorialCarlos E. A . Coimbra Jr.Carolina Μ . Bori
Charles Pessanha
Hooman Momen
Jaime L . Benchimol
José da Rocha CarvalheiroLuiz Fernando Ferreira
Miriam StruchinerPaulo AmarantePaulo GadelhaPaulo Marchiori BussVanize MacêdoZigman Brener
Coordenador ExecutivoJoão Carlos Canossa P. Mendes
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 5/142
S
T R A B A
F O R M A Ç Ã O P R O F I S S
Antenor A m â n c i o F i l h oM . Cecil ia Q . B. M oreira
Organizadores
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 6/142
Copyright © 1997 dos autores
Todos os direitos desta edição reservados àF U N D A Ç Ã O O S W A L D O CRUZ/ E DI T ORA
ISBN:85-85471-04-2
Capa, Projeto Gráfico e Editoração EletrônicaAngélica Mello
Imagem da CapaIlustração baseada no desenho "Proporções da figura(Galleria Dell 'Accademia, Veneza)
RevisãoFani Knoploch
DigitaçãoCenira Fernandes
Supervisão EditorialWalter Duarte
A P U BL I CAÇ ÃO D ESTE L I V RO É R E S U L T A D O DE TRABAL H O D EEDITORIAL Ε DE D I V U L G A Ç Ã O DA ESCOL A P OL I TÉ CN I CA DE SF U N D A Ç Ã O O S W A L D O C R U Z .
Catalogação-na-fonteCentro de Informação Científica e Tecnológica
Biblioteca Lincoln de Freitas Filho
A484sAmâncio Filho, Antenor (Org.)
Saúde, trabalho e formação profissional./Organi
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 7/142
A U T O R E S
Al i na Mar ia de A lmeida Souza
Professora do Departamento de Saúde Coletiva e Núcleo de Estu
Universidade de Brasíl ia
Hésio de A lbuquerque Cor de i r o
Professor do Instituto de Medicina Social da Uerj
Joaquim Alber to Card oso de M e l o
Professor do Departamento de C iências Sociais da Ensp/F iocruz e
de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz
Mar ia Cecí l ia de Souza Minayo
Professora Adjunta do Departamento de C iências Sociais da E nsp
Mar ia Umbe l i na Caia fa Salgado
Professora do Programa de Pó s-Graduação em Educação da U niv
Espírito Santo
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 8/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 9/142
A Joaquim Alberto
Cardoso de Melo
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 10/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 11/142
S U M Á R I O
P R E F Á C I O
A P R E S E N T A Ç Ã O
I N T R O D U Ç Ã O
I. S A Ú D E : C O N C E P Ç Õ E S Ε P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S
1. S A Ú D E Ε D O E N Ç A C O M O E X PR E S SÃ O C U L T U R A L
MariaCecília de Souza Minayo
2. O C O N C E I T O D E N E C E S S I D A D E S D E S A Ú D E Ε AS P O L Í T I C
Hésio de Albuquerque Cordeiro
3 . Debate
I I . R E L A Ç Õ E S D E T R A B A L H O N O S E T O R S A Ú D E
4. E D U C A Ç Ã O Ε S A Ú D E : D I M E N S Õ E S D A V I D A Ε D A E X I S T Ê N
Joaquim Alberto Cardoso de Melo5. A s D I M E N S Õ E S D O T R A B A L H O E M S A Ú D E
Roberto Passos Nogueira
6 . Debate
I I I . F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L : D I A G N Ó S T I C O Ε P A R T
7. O Novo P A R A D I G M A D A O R G A N I Z A Ç Ã O D O T R A B A L HO
P R O F I S S I O N A L N A Á R EA D A S A Ú D E
MariaUmbelina Caiafa Salgado
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 12/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 13/142
PREFÁCIO
Em 1989, quando a Escola Politécnica de Saúde Jodação Oswaldo C r u z , realizou o seminário Choque Teórico
trabalho e formação profissional", colocava um desafio a
evento deveriam brotar sementes de novas propostas pa
sionais, para a superação do conceito de que o trabalhado
que dá sustentação ao sistema de saúde.
O seminário aglutinou um conjunto de profissionaisprojeto educacional preocupado com o homem e não com
em busca de referenciais capazes de resgatar a unidad
entre o saber e o fazer. Nele discutiram-se desde as co
qualificação necessária aos trabalhadores diante dos nov
colocados pela sociedade.
N os debates, analisou-se a concepção médica
hegemônica, enquanto base para todo o processo tradic
profissionais. "É preciso educar a população para, pelo
tratar as doenças." A partir daí, se coloca a transmissão de
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 14/142
voltada para a força de trabalho, bem como o princípio dde prestação de cuidados de saúde. Debateu-se, ainda, o
saúde, considerando, em primeiro lugar, que ele é parteportanto, compartilha características comuns com os demaé um serviço que se funda numa inter-relação pessoal paré fragmentado, ainda que integre os aspectos intelectual
lação de sua produção um de seus aspectos mais complexà intensa profissionalização e à exacerbada competitivida
produtivo atual?Ε o seminário prosseguiu instigante, discutindo
separa a técnica da sociedade, quanto aquela que as fupreensão do relacionamento entre ambas, que possuemmas se questionam permanentemente.
A s apresentações e os debates que se desenvotamente alimentaram pistas e apontaram possibilidades qSaúde Joaquim Venâncio vem implementando, servindo dno sentido de alterar o referencial tradicional da formaçãomodos encontrados pela Escola Politécnica de pensar-faze
Arlindo
Soció
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 15/142
A P R E S E N T A Ç Ã O
Decorridos tantos anos do evento que hoje nos é livro, julgamos pertinente compartilhar com o leitor os (estória?) que sobrevivem à leviandade de nossa memória,suscetível aos modismos e novidades. E, ingenuidade seria pela certeza do ineditismo dos que foram autores e persoprimórdios de sua construção.
Contamos com a generosidade do leitor para com esta apresentação. Todavia, reconhecemos, essa generoexagerada, pois, afinal de contas, sempre resta a certezcompõem este livro, está salvaguardada a objetividade da
Quanto à sua paciência... não podemos abrir mão.esta apresentação, o prefácio, a introdução. Sem estes itenão poderia ser reconhecido como um livro... Paciência (oapresentação realizada a seis mãos, em que três personhistórico" pretendem sintetizar os fragmentos da me(ex)jovens, que, talvez por charme, ainda hoje se aprese
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 16/142
poderá ser compartilhada se conseguirmos, mesmo que p
leitor para as motivações dos que, por privilégio, viveram a
D o que trata o projeto? Do que fala este livro? Saúde Joaquim Venâncio: uma utopia em construção".
Mas não se iludam (ou, se for o caso, não se assus
questionamentos e conseqüentes discussões sobre a perti
p ia ' . Bobagens. O termo ficou, e cada um acreditou na
pertinência do termo.
A referida expressão foi título de um documen
quando da realização do seminário Choque Teórico I, d
atividades desta Escola.
Dentre outros temas e projetos discutidos por Sérg
Luiz Fernando na comemoração pelo desafio de assumir
tante instituição de pesquisas biológicas na América Latinatradição iniciada por Oswaldo C r u z : a articulação entre a
atividades específicas dos serviços de saúde e o ensino. E
que a futura Escola deveria assumir a tarefa de coordena
profissionais técnicos na Fundação Oswaldo C r u z . Joaq
quétipo (ou mito?) desse projeto.
O que eu sei eu passo adiante - este foi o lema de
assumidos pela Escola Politécnica, o Fazendo e Aprendend
outros méritos, resgatou a tradição do princípio do traba
lação mestre-aprendiz. Um projeto que nos permitiu con
fazer dos marceneiros, tipógrafos, jardineiros, mecânicos e
quisadores de diferentes laboratórios da instituição se diarte da iniciação de jovens adolescentes nos 'mistérios' da
N ão resistimos à tentação de demonstrar o qua
pioneiro também no que se refere à preocupação com o s
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 17/142
principais: uma voltada para a formação de futuros profiss
qualificação e atualização de profissionais já inseridos no m
tempos da VIII Conferência Nacional de Saúde, eram temtação da Reforma Sanitária do País, reforma esta que, pela
de trabalho que se realiza no setor saúde, impunha a
processo de formação educacional dos profissionais que at
P or ser mais prazeroso e sedutor, iniciamos o
tradição. Afinal, como resistir aos encantos de Ricamor (R
apresentarmos àquelas milícias que durante anos, dadesconstruíram planos para a ocupação do Castelo?
Correndo o risco da indiscrição... é bem verdade qu
da ocupação do Castelo, não foi difícil constatar a presenç
que compunham a milícia, de marceneiros com alergia
mologistas que nunca tiveram coragem de segurar uma bsanitaristas que sabiam da existência de favelas por ouvir
sim como a inexistência de expertos em educação.
Aprender-fazer-ensinar-saber-fazer-ensinar-aprender
primeiros tempos.
N ão nos faltava bom humor e restavam-nos res
autocrítica, uma prática que imaginamos tenha algum gr
exercícios de autoflagelação, muito comuns em alguma
dievais. Ouvimos dizer que Maria Beltrão, com o grupo
controu, em suas escavações no campus de Manguinhos,
poderiam demonstrar que estes exercícios ainda eram
porâneos de Oswaldo C r u z . Os trabalhos de interpretaçã
cluídos, dizem, por culpa de um dos integrantes da equip
de que estes eram instrumentos dos quais, vez ou outra, R
Quanto a nós, através desses exercícios de autocrí
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 18/142
D e qualquer forma, vista de hoje, a denominação
parece extremamente adequada para marcar o ingresso
desafios, a modernidade.Resolvemos iniciar as discussões pelo aspecto em
jetivos, sugeriam estar nossa maior fragilidade: os assuntos
Fomos adotando e sendo adotados por novos mes
doso de Melo e Gaudêncio Frigotto. Pelas mãos deles, fom
culos de discussões. Nesse momento, fomos privilegiad
Dermeval Saviani, Miriam Jorge Warde, Nilda Alves e Za ia
Mas, em um aspecto, quando da feitura desta ap
mos convergir para uma conclusão: não tivemos condiçõe
cessivamente modernos ou se , apesar dos esforços, nunca
O fato é que o documento através do qual imagin
na "modernidade", aquele que fala de uma utopia em cdeterminadas certezas deveriam continuar pautando o tr
Escola: a certeza de que, apesar do caos, desorganizaç
sofrem os serviços públicos no País, a Fiocruz é uma institu
lação e seu compromisso principal é com essa população;
que o projeto da Escola Politécnica não pretende mais do q
cialidades 'pedagógicas' da Fiocruz, a fim de que a populausuár ia dos seus serviços e produtos, de fato tenha ac
aqui é produzido; um documento que se insere no inter
que o debate da saúde e da educação se colocam como cois
Se tínhamos ilusões de que o seminário nos
questões que a vivência do cotidiano do trabalho tinhaelas se dissiparam.
É bem verdade que rebuscamos nosso vocabulári
tribuiu para dificultar o diálogo, institucional ou pessoal. Pas
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 19/142
Explicitou-se o entendimento de que a categoria tra
da construção de uma proposta curricular. Trabalho ent
exclusivamente humana de transformar a natureza, uma chomem produzir e modificar suas próprias condições de v
meval Saviani, "é sobre a base do trabalho que surgiu a n
realidade e, portanto, a instrução e a educação".
No mínimo, podemos testemunhar que o Choqu
seguintes desafios: definir uma proposta de formação profi
peração das dicotomias entre um ensino propedêutico e um
entre a teoria e a prática, entre o saber e o fazer. Mas, acima
e a prática pedagógica desenvolvidos nos cursos realizados p
formação ou os de qualificação profissional, não perdesse
homem em sua integridade, visto que a competência técn
trário, exige o domínio dos conhecimentos produzidos pela h
Em relação àquele primeiro seminário, podemo
avanços. O principal deles reside no fato de que o leitor
fragmentos de nossas memórias. Sobreviveu um 'fragment
dade objetiva'. O que não nos impede de insistir em qu
tendido como a continuação daquele diálogo. Deve ser a
fios que ao longo destes anos tem tecido os caminhos construção da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venân
É com grande emoção que nós, integrantes da c
seminário Choque Teórico II, cumprimos o papel de apres
travadas naquele evento.
C i d a d e de São Sebastião do Rio de Ja
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 20/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 21/142
I N T R O D U Ç Ã O
O acelerado avanço científico e tecnológico que
últimas décadas, com destaque para a crescente aplicaç
nologias referenciadas na microeletrônica, tem causado a
formas de organização do trabalho e nos processos de prod
Nessa transição, o modelo de produção em mas
sendo substituído por um novo paradigma técnico-econô
nada "produção flexível", que se ap ó ia , entre outras tamanho das empresas, na terceirização das atividades c
sorção de mão-de-obra, na gestão descentralizada, na or
zada. Essas mudanças têm repercussão direta no perfil pr
tornando necessário que, em sua formação, adquira o dom
cadas para atuar (e sobreviver) num contexto que faz em
suprime outras, por obsoletas.
Em face desse panorama, a Escola Politécnica de
cio, da Fiocruz, que se revela um espaço possível de ref
retrizes e desenvolvimento de ações práticas no camp
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 22/142
também a compreensão e o questionamento do mundo
sociocultural que os circundam".1
A Escola Politécnica tem a saúde como objeto-síntecomo especificidade de trabalho e, sem dúvida, o seminávante contribuição para se debater, de maneira compromeinstigando a construção/aproximação de confluências en
visando a formar pessoal de nível médio. Os textos destecrítico aspectos teóricos, ético-políticos e práticos desse pr
Organizado em forma de mesas-redondas seguidaabrangeu quatro grandes temas: " S a ú d e : concepções elações de Trabalho no Setor S a ú d e " , "Formação Profissipantes" e "A Questão Tecnológica e a Qualificação Prforam gravadas, transcritas e editadas pelos organizadores
já em formato de artigos, submetidos a cada um dos autodos ou supressões, e aprovação. Igual procedimento foi abates, com os organizadores assumindo a responsabilidinúmeras perguntas/comentários dos participantes do selacionadas com as temáticas do evento. Apenas o artigo
doso de Melo, falecido em 27/06/93, não foi revisado por
atenção para o fato de que, à exceção de um, os textosbibliográficas, tendo sido essa a opção dos próprios autore
Saúde e doença como expressão cultural, de Mariarepresentação social de saúde e de doença, "entendendoa idéia que fazemos a respeito de qualquer fato ocorrido
pelo indivíduo". As idéias, concepções ou representaçõe
imaginário social, elaboradas pela classe dominante, sãosegmento específico da sociedade. Essa reinterpretação, tos gerais das idéias dominantes, possui componentes econômicos, identificadores de determinado estrato social
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 23/142
feito funcionamento, mantido assim mediante o cuidado
de intervir e consertar a máquina produtiva".
A autora chama a atenção para o fato de que a maneira de tratá-la observada na classe dominante també
balhadora. Essa "ideologia da doença" se expressaria
metáforas" (como sífilis, câncer, Aids). As "doenças-metáfo
mais a sociedade do que a morte pela fome, pela desnutriç
dentes de trabalho, que, no entanto, ficam "subsumidas n
pações da sociedade" por terem maior incidência sobre renda.
Cecí l ia Minayo discute ainda o conceito de saúde
" à visão medicalizada, que entende o setor como o conju
cas curativas", incluindo também no texto elementos pa
dificuldades das camadas populares para decodifica
hegemônica, o que a induz a procurar uma expressão pró
tura que faz de seus valores, de sua vida e de seu corpo.
existe contradição entre o saber científico e o popular: e
formas e faz transparecer, na sua fala, o conceito amplia
tando (ou se contentando) em localizar a doença apenas n
O conceito de necessidades de saúde e as políticasdeiro, explicita formas como a sociedade se organiza par
de saúde, enfocando-as em três dimensões.
A primeira, a necessidade de saúde não é idêntica
mesma classe e muito menos entre classes distintas, e
repercute no modo como os indivíduos se relacionam com
jam eles públicos ou privados .
N a segunda, a contraposição entre "o saber cien
dominante, e a concepção do indivíduo que recorre ao
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 24/142
fundar a dicotomia entre saúde pública e assistência méd
são do atendimento hospitalar privado.
O autor menciona que essa dicotomia gerou umtuada das políticas sociais no campo da saúde que a pr
por nível de competência, ou seja, dependendo do tipo
dade e os cuidados deveriam ser assumidos por uma das
a estadual ou a municipal), traduzindo uma forma també
do fenômeno vida e tornando distante a relação entre
serviço de saúde. Ademais, ao se conceber a preservaçãcomo imperativo para manter ativa ou restabelecer a forç
indivíduo um recurso do capital, criou-se "um sentido d
de prestação de cuidados de saúde". A saúde, além de
de trabalho do indivíduo, tornou-se também objeto
capitalista, "consubstanciado e estruturado na forma de e
D e acordo com Hésio Cordeiro, a diferença de co
tos na própria organização do sistema de saúde, ocasiona
acesso ao serviço, quer na qualidade do cuidado de saú
com que, dependendo da classe social do doente, o atendim
O autor elenca fatores que impulsionaram o
Sanitária em nosso país com o objetivo de implantaS a ú d e , entre eles a necessidade de romper com a dicot
e medicina curativa (ou assistencial) e promover a "in
s a ú d e " , destacando que a formulação das políticas de
na democratização do direito de acesso de toda a popu
de qualidade, dependendo seu êxito, na prática, da
quanto política dos responsáveis por sua execução.
Educação e saúde: dimensões da vida e da existênc
berto Cardoso de Melo, retoma o debate sobre os campo
sistência médica, enfocando-os como um conjunto, poi
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 25/142
"apontar ou criar uma outra maneira de pensar a formaçã
pando de um posicionamento de caráter passivo frente a i
Alerta que "deve-se pensar a formação técnica pâmbito da saúde e pensar saúde pública para além d
m é d i c a " , procurando encontrar limites e proceder a
homem/homem/natureza para preservar e manter a própria
verte que, se o discurso e a prática médica dominantes
biológica, a qual submete pacientes e profissionais de saú
as pessoas estejam obrigatoriamente reduzidas a ela. O aviver outras ordens, outros discursos, variadas representaçõ
plexo de relações mais abrangente que pode incentivar e
que visem a mudanças, posto que a dimensão social, "c
que sejam ciência e técnica", comporta uma gama de relaçõ
P or um viés filosófico, o autor acrescenta ainda
" saúde e educação como uma articulação com a vida e a exisdiferenciações que determinam esses conceitos, reforçand
fletir sobre o que cada um deles (vida e existência) significa
percorrida pelo homem para construir sua visão de mundo
A s dimensões do trabalho em saúde, de Roberto
uma discussão a respeito do problema do trabalho emtrês aspectos fundamentais e interdependentes: a) inclu
mais processos de trabalho que ocorrem em outros cam
e l e ; b) distingue-se e caracteriza-se por ser um "serviç
pessoas e não sobre objetos; e c) é um serviço "que se f
pessoal muito intensa", requerendo a participação e o
consome e de quem presta esse serviço.
São destacadas como particularidades do trabalho
ou direcionalidade técnica inerente a qualquer processo d
que possui de específico uma "natureza coletiva", em
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 26/142
s a ú d e " , destaca-o de outros tipos de serviços e , com isto,
debate a respeito da natureza econômica desse serviço, a
muneração e do controle do ato médico. Ressaltadiálogo que deve necessariamente se estabelecer nã
sional da saúde e o doente, mas também entre o co
d a saúde e os usuários dos serviços.
O novo paradigma da organização do trabalho e
área da saúde, de Maria Umbelina Caiafa Salgado, situa
mação profissional na área da saúde, "dentro do quadrocial do País . " Considera que as questões do trabalho, da
devem ser discutidas a partir da análise da organização
das relações sociais subjacentes.
Mostra que o Brasil, como país periférico, sofre as c
de uma modernização dependente e que, como em outros
decisão de internacionalizar a economia conduz a um proc
um movimento oposto ao ocorrido nos países do chamad
oligopolização alavancou a internacionalização. Se, nos paíseprocesso de concentração de capital demorou séculos, nos
Mundo ele se deu em poucas décadas, resultando
dramático, mais selvagem, num choque violento e perversDiscorre sobre o esgotamento do modelo da prod
sição, que atualmente acontece, no sentido da adoção de
na produção flexível, isto é, "não mais se aumenta a plan
pequenas empresas autônomas, embora do mesmo grup
empresa maior". Esse modelo, além de reduzir custos e a
o lucro, segmenta e enfraquece a organização dos trabalhacontrole maior da força de trabalho por parte dos detentores
A autora alerta para o significado novo que, dian
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 27/142
enfrentar e a alterar o real. Isto porque a luta dos profission
da saúde pública aponta para um reordenamento da so
senta e discute um projeto incompleto de Sistema Único prática de saúde predominantemente privatista.
Alina Souza explicita dificuldades a serem superadas
consecução do sistema pretendido, "a profissionalização
avançar em duas direções: qualificar os trabalhadores e f
técnicos para ingressar no setor", criando compromisso e
sanitária desse contingente. Nesse horizonte, defende umaeducação e a saúde, para que, de modo conjunto, sejam pmetodologias para profissionalizar os trabalhadores e d
dológicos que possibilitem aos jovens da escola regular
profissionalização antes de integrar-se à força de trabalh
ensino/serviço, ensino/trabalho. Esse seria, pois, o 'desenh
escola técnica de saúde: "que recupere e legitime os quepreparação específica e que forme novos profissionais pa
vista as necessidades do Sistema Único de Saúde.
A autora expõe que um dos grandes desafios de um
é trabalhar com a realidade da saúde, com "toda a prática
necess idade de sua revisão", sem perder a dimensão conhecimento, de modo a consubstanciar o ensino da co
equipe de trabalho nas especificidades de cada um dos cam
Ciência, tecnologia e qualificação profissional em sa
Marques, remete ao debate das implicações das novas tecn
balho, indicando mudanças que a sua incorporação e uti
visão social do trabalho e nas características da força de tra
Relata que a inexistência, no Brasil, de "estudos se
base empírica" restringe, obrigatoriamente, a possibilidad
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 28/142
ajustada a uma demanda do mercado interno que resu
gramas sociais e da elevação de salários reais".
A escolha tecnológica correta se coloca como o ddefronta, e essa é uma decisão política que implica opt
técnica ou ética. A mudança ou progresso tecnológico
sociais e políticos, são produto de relações sociais deter
fundamente os trabalhadores por meio das alterações q
e nas relações de trabalho". Tais modificações no proces
dem limites dados pelas relações entre capital e trabEstado, por meio de políticas públicas.
Nesse contexto de transição, a autora ressalta que
saúde tem que estar perpassada pela problemática da in
novas tecnologias, pois estas diversificam e alteram a im
(criando e valorizando novas e tornando obsoletas outras
maior qualificação e tempo de escolaridade. A formação
apropriação e o domínio de habilidades específicas, sem
ou eliminar a posse, pelo indivíduo, de uma sólida formaçã
Qualificação técnica e qualificação social: em busc
masiana, de Rogério Valle, analisa a qualificação seg
histórico da teoria e sua inserção na prática. Nessa perdado momento, a técnica se constituía enquanto autônom
políticas e às características culturais de uma sociedad
subordinada e condicionada a um determinismo técnic
ruptura com essa visão foi a reflexão da Escola de Frankfu
volvimento técnico e científico um papel cerceador à ev
sando a considerar técnica e ciência como fatores de opre
D o ponto de vista do autor, ambas as visões -
ciedade e técnica como instrumento de dominação -
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 29/142
como assumir um "voluntarismo político que julgue poder
tos que requerem reflexão propriamente técnica". São du
nica e a social - que se questionam de modo permanentecia, da prática empreendida com suficiente e equivalen
preensão dessa problemática, por parte dos sujeitos da a
criam condições para que se estabeleça o equilíbrio entre
Este livro, a nosso ver, é um conjunto de inquiet
ainda em busca de superação. Ε nossa convicção e noss
para ampliar o debate sobre alterações necessárias no profissional de nível médio para a saúde, contribuindo com
de propostas educacionais que tenham o trabalho como
das ações humanas.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 30/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 31/142
SAÚDE:
CONCEPÇÕES Ε P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 32/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 33/142
S A Ú D E Ε D O E N Ç A C O M O EXPRESS
Maria Ce
Concepções e representações como integrantes
Pretendo discutir a questão da representação soapresentando alguns elementos conceituais para refletir
ponto de vista histórico, mas do ponto de vista social,social como a idéia que fazemos a respeito de qualqu
ciedade e vivenciado pelo indivíduo.O homem é um ser que, ao mesmo tempo, cria
vivências, sendo capaz de expressá-las. A expressão dessas
a representação social, que possui sempre elementos conAssim, não preciso, necessariamente, elaborar ou redefin
mulher, de trabalho, de religião, de espaço, de tempo. Ela
e socialmente construída. A idéia de tempo que atualmenplo, corresponde à concepção dominante de que tempo ése aproveita, se desperdiça.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 34/142
c iedade. Da mesma forma, essa reinterpretação terá um
idade, de pertinência a determinado país, grupo étnico etA concepção , a visão de mundo é, pois, composta
determinada sociedade. Weber (1974) afirma que, em q
sempre idéias dominantes. Desse modo, seria impossíve
idéia de espaço e de tempo dominantes na sociedade.
pretar de alguma forma, essas concepções são uma mistu
nosso tempo, uma mistura do próprio senso comum que
periência dos diversos grupos sociais, vivenciadas no pl
isso nossas representações sociais, nossas concepções soca natureza contraditória da sociedade em que vivem
freqüentamos e, de certa forma, representamos.
D o ponto de vista mais geral, a representação socopinião, a opinião a integra. A maneira como se constrói
de saúde, de certa forma, cristaliza uma representação
doença. Num hospital em que a enfermaria de pediatria s
ança sozinha, desacompanhada da mãe, está-se expressa
de saúde e doença que pode ser resolvida apenas por
seja, na concepção dominante, saúde e doença são algoa ser tratado por meio de um medicamento, de uma
biomédico dominante em nossa sociedade.
T ho m a z (1963), renomado fenomenologista, afirma
das idéias que a gente tem, o problema das questões
aquilo que a gente pensa é real nas suas conseqüências."porque, em determinadas correntes de pensamento, há
isoladamente, ora a idéia, ora o fato material. Parto do p
cepção social ou uma representação social é capaz de
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 35/142
afirmar que a dor que sentimos, o esforço que julgamos
zação é muito mais função de uma criação social do que dcorpo. Isto é, o corpo é capaz de executar determinados
gue que ele é capaz de fazer. Esse mesmo enfoque é d
problema do racismo, ao dizer que a questão da cor - co
para avaliar a capacidade de um ser humano - também é
Portanto, em que sentido se pode pensar o fenôm
ponto de vista mais geral e, depois, pensá-lo mais especia
Pelo fato de saúde e doença estarem vinculadas a duas qu
todos nós - a vida e a morte - , poderíamos dizer que
doença é particularmente reveladora do grupo social. Ela m
pecial , como o indivíduo se situa na sociedade e como es
indivíduo. Ou seja, construímos um discurso social-históri
um discurso social-histórico sobre o corpo e um discurs
morte. Saúde e doença, portanto, não são apenas efeito
acontecimentos culturais historicamente construídos d
diferentes sociedades.
Nossa sociedade capitalista, marcada pela desiguald
de saúde e doença que expressa a natureza contraditóriamodo geral, pode-se dizer que o tema da doença cost
vezes, a partir do indivíduo e de causas endógenas a seu orga
a partir da própria sociedade, do ambiente, das condi
Quando proveniente do indivíduo, a idéia de doença in
exemplo, o fatalismo. Muitas vezes , é explicada também
e não apenas pela ótica social. Nessa visão de fatalidadepelo sujeito, atribui-se a ele, quase sempre, a culpa pelos pro
A explicação pelo enfoque mais social da saúde
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 36/142
como fora de nós, a-histórico, que nos prejudica como se
de mudar a realidade. Ε uma explicação bastante positivistaN a nossa sociedade capitalista, desigual, injusta e in
doença , têm-se que assumir as contradições geradas pelacas, políticas, sociais e ideológicas, que se expressam nassaúde e doença. Nessa sociedade contraditória, saúdeem primeira instância, como fatores de produção, e o s
zado de forma a tornar o indivíduo produtivo. Assim, crise depressiva ou algum outro problema de ordem eatestado médico num posto de saúde, para não tersalário, possivelmente não obterá o documento. Istodoença localizada no corpo. Certamente, dirão: "Vocproblema da sua cabeça, você tem que reagir".
A concepção de doença é a localizada no corpo, ue que se encontra vinculada à questão da produção. A m
parada de funcionamento do organismo, e a vida equivabom funcionamento de todos os órgãos do corpo. Grbiomédica reduz a doença e a saúde ao contorno biológic
sujeito de seu contexto integral de vida.Quando uma pessoa procura o médico, este não
ente ela vem, que problemas enfrenta. Importante étendida como uma especialidade, e o corpo doente é ed o en ç a , e não como espaço da vida. Em última instânsofisticando uma linha de especialização (e de fragm
doença por meio das mensagens infracorporais fornecidaseria o reverso, seria o corpo em perfeito funcionamenante, o importante é o cuidado médico fragmentado, tervir e consertar 'a máquina produtiva'.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 37/142
A doença como metáfora
Gostaria de reforçar que a concepção de doença
na classe dominante, bem como a maneira de tratá-la, é
classe trabalhadora. É a doença biomédica, localizada nos
aquela que busca mensagens infracorporais. Penso que a f
'ideologia da doença' se expressa por meio das chamadas
simbolizam fortemente o tipo de sociedade em que ocoidéia de que elas ultrapassam a questão de classe. A Aids, o
mais antigas, a sífilis são doenças que, para a sociedade,
mente todas as classes. Não é bem verdade, mas, como
classe dominante, tornam-se muito chocantes para a socie
reage frente a elas. Numa perspectiva sociológica, elas
espécie de anomalias sociais e indicariam desordens, desincapacidade do ser humano diante do mal. São doença
e , diante delas, a sociedade reflete sobre o seu próprio
expressa de forma muito particular nas teorias milena
crenças populares.
Segundo Sontag (1984), "essas doenças-metáforas contremos com a nossa concepção arcaica e moderna d
delas porque assinalariam um limite humano, nos coloca
capac idade de sobrevivência. São, portanto, metáforas
muito fortes de tudo aquilo que, também individualm
para nós. Para o sistema médico, em especial, elas tamb
o limite de suas potencialidades. Contraditoriamente, pem que se depara com o limite, o sistema médico
ideologia muito própria, que é a de vencer a doença. Ess
é uma concepção do médico em relação à sua função
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 38/142
A contradição é que a doença, enquanto express
de vida e trabalho, é discriminada inclusive pelo próprabstém de enfrentá-la. As enfermidades próprias do tra
fome, que atingem desde as camadas mais pobres até o
forma subsumidas no quadro geral de preocupações da s
Recordo que, num curso de especialização minist
com um mural de informações repleto de dados sobre Aid
doença naquele estado fosse nula na época. Um dos ex
foi estabelecer um quadro epidemiológico da região, aind
No trabalho, foi observado o elevado número de acident
incidência de malária. Diferentemente da Aids, esses ag
recebido nenhum destaque.
Nosso imaginário social é marcado por essas doençmuito gritante, fazendo com que sejam encaradas com
constituindo um problema local, isto é, uma situação de
A concepção de saúde-doença das camadas p
C o m relação às camadas populares (consideradas
população de baixa renda), a concepção de saúde e doe
posto anteriormente sobre representação social , é cont
instância, ela também assume a questão da produção. Um
a seis favelas do Rio de Janeiro sobre representações somonstrou que os moradores entrevistados expressavam
nesse campo, ou seja, doença como impossibilidade de
afazeres rotineiros e cotidianos.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 39/142
constituem, portanto, uma interdependente e cotidiana
traduzida pela própria concepção da vida.A classe dominante possui uma dissimetria em rela
N ão sabe, nem tem necessidade e capacidade para conhese uma enfermeira, por exemplo, 'traduz' determinado
guagem coloquial, qualquer membro da classe média ou tender do que se está falando, porque a visão de mundo é
Essa dissimetria da linguagem pode ser considerada dominante, mas, para a classe trabalhadora, não se resumlinguagem. Há uma oposição de valores que está muito
vida, à própria expressão que a classe possui de saúde e do
A o mesmo tempo em que a classe trabalhadora usa
de doença, ela utiliza, ainda que erroneamente, exprespara falar sobre o assunto, de certa maneira copiando nome de remédio, repete nome de doenças e reinterpre
médico. Isso já foi observado e pesquisado também por BP or outro lado, essa classe tem um outro código de leitu
valores, de sua vida, e isso coloca os médicos em xe
doença é explicada por meio de condições existenciaisvenções sobrenaturais. Na verdade, quando está falandoestá se referindo a um conjunto de situações infelizes nmédico interessam, para diagnóstico, os sintomas que cquanto ente biofisiológico.
H á , pois, duas concepções em jogo: uma hegemque vem tentando se expressar. Muitas vezes, os médicos car a população para, pelo menos, entender e saber tra
basta educar a população neste sentido de intervenção.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 40/142
Para essa classe, o médico é um intermediário de
dade diante do sistema médico é uma forma de resistêncao médico freqüentemente está dizendo alguma coisaA o solicitar um remédio, ela também está expressando
e de mediação. É dessa forma que exprime suas necesspotência. Mas, por outro lado, ela busca outros meios,
e as práticas terapêuticas religiosas. Para a população p
contradição entre ir ao médico e, logo em seguida, proacredita no médico, mas não totalmente, assim como ta
mente no padre ou na rezadeira. Ela combina as form
cia l is tas ' lhe dão respostas diferentes.
O que se observa nessas camadas populares é q
doença ao ponto de vista biomédico, mas têm uma conc
muito mais ampla. Relacionam a questão da infelicidade
ecologia ao se referirem ao ar impuro, à vala negra, às m
como ao mau-olhado, à 'coisa feita' ou a outras interferên
mentação, do salário, das condições de trabalho, e assim
ampliado de saúde transparece na fala de qualquer pessoa
A saúde coletiva enquanto conceito contraditó
O conceito de saúde coletiva (que hoje fundam
saúde) enfoca a saúde sob um prisma abrangente, que
mentação, condições de vida, indo ao encontro tan
v iv ida , da classe trabalhadora, como da fala mais organ
expressam o pensamento mais elaborado, via intelectua
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 41/142
chamar a atenção para alguma coisa que o sistema de saú
a doença é algo mais integral, dá em gente, e gente não émais que isso: é parte de um ecossistema integrado e umde contradições e possíveis consensos (Minayo, 1988).
O grande desafio da saúde coletiva é essa concepintegra as políticas sociais, as condições de vida e tambémqueza e a diversidade cultural.
Referências Bibliográficas
Boltanski, L. As Classes Sociais e o Corpo. Rio de Janeiro: G
Douglas, M. Pureza e Perigo. São Paulo: Perspectiva, 1970Hersl ish, C. Santé et Maladie. Paris: La Haye Mouton, 1983
Lévy-Strauss, C. Magia e religião. In: Antropologia Estrutur
Brasileiro, 1970.
Marx, Κ . A ideologia alemã. In: Obras Escolhidas. 2.ed. São P
Minayo, M. C. S. Uma concepção popular da etiologia. C
4(4):363-381,1988.
Minayo, M. C. S. Representações da cura no catolicismo pMinayo, M. C. S. (Orgs.) Saúde e Doença: um olhar ant
E d. Fiocruz, 1994.
Sontag, S . A Doença como Metáfora.Rio de Janeiro: Graal,Thomaz, W. & Znarniecki, C. The polish peasant in Europa a
Research. New York: Harcourt Brace, 1963.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 42/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 43/142
O C O N C E I T O D E N EC E SS ID A D E S
A S P O LÍ TI CA S SANITÁRI
Hésio de
No âmbito das representações sociais que envo
doença, um problema interessante a ser abordado é penmas) a sociedade se organiza para atender à necessidade d
traduz-se em três dimensões, que, embora não sejam obri
tares, representam suas próprias verdades.
A primeira delas refere-se ao fato de a necessid
representaçãosocial ,
não se traduzir da mesma forma e
classe ou grupo soc ia l . Ou seja: o que se pode expr
de saúde e se transformar numa ação qualquer para b
dado de saúde não é idêntico entre as pessoas de um
menos entre classes distintas. Ademais, essa representação d
forma como as pessoas se relacionam com os serviços de saú
A segunda dimensão situa-se do ponto de vista dnecessidade de saúde de uma forma bastante distinta,
um choque entre o saber científico do médico, o sa
c ep ç ã o do indivíduo que recorre ao serviço médico.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 44/142
U m a terceira dimensão, a dos planejadores de sa
profissionais de saúde pública, também freqüentemente finições do médico. Tampouco coincide com a percepçã
necessidade de saúde por parte dos indivíduos que compõem
A definição das chamadas prioridades de saúde, q
qual essas necessidades são entendidas pelos planejador
tem uma forma de percepção distinta das outras. Ao dize
momento fazer transplantes renais; vamos destinar maidiarréia infecciosa e desidratação em crianças de zero a
saúde está comprando uma briga com os nefrologistas, qu
especialidade é que é importante. Todos os que tiverem
têm o direito de ter esse rim substituído", o que é uma ve
curso democrático, da universalização do cuidado da sa
um viés mais tecnocrático, dirá: "Não, vamos alocar recu
de especialistas, formular tal tipo de programa." Isso freq
os especialistas médicos dizem e, muitas vezes, não corres
cialmente determinadas e percebidas pela população, ente
homogêneo, mas como uma estrutura de classes.
Essa questão aponta para o problema da própria pcisar melhor este conceito, é importante salientar que po
sume à política oficial ou institucional de saúde, dos apa
políticas de saúde formuladas por grupos de interesse, p
grupos corporativos. Há, também, aquelas vinculadas a
zados, ou excluídos dos sistemas de cuidados de saúde
movimentos populares para pressionar por reformulaçõespreciso entender a política de saúde (ou as políticas d
política, como um processo de contradições e de relaçõe
tam o poder de forma distinta. Disputam fatias de poder n
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 45/142
ceber e de representar a doença, mas também as formas
no sentido de promover umas ou outras.Em conseqüência dessa separação, a saúde pública
dendo prestígio e recursos, tendo seus orçamentos reduzid
1969 e 1970, o do Ministério da Saúde representava ap
global da União, enquanto, na década de 50, girava em t
a saúde pública nunca tenha tido muito prestígio, cons
agravou mais ainda a partir da década de 70, quando de saúde pública e se hipertrofiaram os projetos de or
médica e hospitalar.
Esse movimento partiu de um mecanismo de con
recursos econômicos na Previdência Social , no então I N P
anos depois, deu-se o segundo momento de maior concen
Inamps e uma reestruturação de todo o sistema da Previdê
uma visão e por uma política de expansão do atendimento
esse constituído fundamentalmente pela área hospital
movimento direcionou a ampliação do mercado de cons
de equipamentos médicos a partir da ação do Estado via
belecendo o que se vem constituindo como o complexestruturação proporcionou uma forma de organização
prestação da assistência médica, articulada com as indú
equipamentos e, mais recentemente, com o seguro-saúde,do capital financeiro Organizando' o setor saúde privado,
público e esvaziando o projeto de organização pública do sis
A partir do processo iniciado em 1966 - e considenfrentando um processo contraditório e transitório de re
de saúde - , estabeleceu-se, em termos de políticas oficiais
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 46/142
porque se lida com o vetor, com o vírus ou com o sistem
entre a população e o serviço de saúde se apresenta de foO que ocorreu de grave no Brasil foi um process
ao se restringir o âmbito do processo de saúde e doenou à restituição - da força de trabalho, e, principalmentda lucratividade do trabalho de prestação de cuidados se r uma forma de restabelecer a capacidade de trabalh
se tornou objeto de lucro, objeto de um processo espede crescimento, de acumulação capitalista, consubstaforma das empresas médicas.
São, portanto, dois processos simultâneos, o que que, na própria organização do sistema de saúde, não háda doença. Assim é que o empresário da saúde - ou aques egu r o - s a ú d e -, o sanitarista e o médico liberal - qudo subúrbio - vão expressar concepções bem distintassaúde e doença. Isso tem gerado e ampliado um sistema d
Mesmo admitindo que a questão das relaçõesserviços já esteja mais ou menos equacionada, temos
outras formas de desigualdade, e uma delas refere-se atuação da população da área rural do País é ainda correspondendo, em média, a menos de uma consulta/aurbana - onde se situam dois terços da população - esultas/ano por habitante. Ε evidente que essa média refl
des igualdades, pois certamente alguns segmentos dess
classes médias para cima, têm mais facilidade de acessoao médico mais ou menos quando querem. Ainda quefavelas freqüentemente busque a atenção médica, constamédia, esse acesso é muito precário. Na Baixada Flum
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 47/142
tempo de consulta é menor, e o conteúdo da consulta é
vai tomar esse remédio porque vai lhe fazer bem". Não mecanismo da doença e o mecanismo de atuação daquelelação muito mais assimétrica do que aquela com um paciente
H á ainda um diferencial de gastos em saúde. Emboraem saúde não chegue a cinqüenta dólares por habitantes/atrado nas regiões Sul e Sudeste, exatamente porque foi
atendimento hospitalar de natureza privada.Esse contexto é acrescido de um conjunto de de
formas de adoecer e de morrer. Desigualdades que gravidade, com maior freqüência, num maior grau de s
dominadas, para os segmentos mais pobres das classes
se dizer: "Pressão alta, infarto, câncer, isso é doença ddiarréia, de desidratação, de infecção respiratória agupulmão, de câncer de mama, de câncer de colo uterino,
morre por homicídio, de acidentes, de várias formas desive - mais do que o rico - de infarto, derrame, acidentenos rins, hipertensão. Isto significa que nas camadas macentram as doenças, como também se revestem de maiolarmente identificadas como 'doenças de rico'.
Esse conjunto de desigualdades reflete políticas ofialidade tiveram muito pouco de públicas, já que visaramtalecimento de um setor médico empresarial, cuja forma de de crescimento reforçaram uma concepção baseada no luc
tanto, de reprodução e ampliação das desigualdades sociacluir segmentos importantes da população brasileira do aces
Todo o movimento de denúncia e de luta contra o
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 48/142
melhores condições de nutrição, de saneamento, enfim
vida. É preciso que essas ações sejam conjuntas e, mais num direito de toda a população. Implica, portanto, a unserviço de saúde, rompendo com uma outra concepção, a
Quando se organizaram os institutos de aposentadforma de seguro social para a classe operária e vários outros sdo País, no sentido de dar maior garantia em situações
d o e n ç a , isso representou um avanço nos trinta primeRepresentou absorver conquistas extraordinárias das européia dos séculos dezoito e dezenove, mas que, numauma concepção restrita do direito social.
A idéia do seguro social é a de que o trabalhador parcela do seu salário para que, na aposentadoria, na docondições de se manter. Essa concepção do seguro, contuestão na força de trabalho. Se a pessoa estiver desempregtor informal da economia, não contribui para nenhuma foe, portanto, também não tem qualquer direito. Essa concesendo rompida segundo o conceito de universalizaçã
abrangente, é a forma da Seguridade Social entendida coma universalização do acesso. De acordo com esse conceito, nãinserido no mercado formal de trabalho para obter atendim
clusive certos direitos sociais, certos benefícios, como segse m nenhuma forma de subsistência tem garantido, pela receber pelo menos um salário mínimo para sua manutenç
Situo todo esse processo e essa formulação das podade dentro desse marco da universalização, do reconhece do direito social, do direito numa concepção mais ampla
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 49/142
fica em termos de formulação de alternativas para a melh
dade. Jogando com essas dificuldades, o setor privado ofe"Esse negócio de posto de saúde fica para os pobres; vovêem televisão colorida, têm uma alternativa melhor, uma fo
seu médico, por meio do seguro-saúde". P ropõe-se, assim, u
ciação de classes no acesso ao serviço de saúde.
Nessa discussão, um desafio importante na defessaúde consiste em explicitar que não basta ser público, é p
tizado no sentido do acesso, do controle social, da f iscalele funcione no sentido da qualidade do atendimento, rec
mitam efetivamente tornar disponível o que há de mod
população. A percepção hoje é de que o serviço público,
cado de consumo de saúde, deve oferecer serviços quclasse média, a classe dominante, no sentido de fortale
serviço público de saúde. O desafio que se enfrenta é o
acesso para cerca de quarenta milhões de pessoas que h
margem do sistema oficial de saúde. São pessoas que têm
brevivência, que buscam soluções alternativas para seus pr
tros sistemas, como os vinculados às religiões ou as práticde resolver o problema do sofrimento que decorre da doen
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 50/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 51/142
DEBATE
Considerando as diferentes concepções de saúde e pde formação seria mais adequado e que necessidades dev
na formação de pessoal de nível médio (técnico) da área d
cotomia saúde pública e assistência médica não seria um
constituírem duas áreas de competências distintas, que nã
fundem? Controle das doenças, do meio ambiente, imp
atuação médica. Ademais, será que o Estado tem que oferpopulação, seja serviço médico ou educação? Ou será qu
equivalente ao asilo que já existia na Idade Média para aten
Como defender a saúde ou o ensino público e gratuito, da
esses serviços são oferecidos?
Hésio Cordeiro
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 52/142
na área de saúde, já que as modificações institucionais da
a 'ponta da linha' para atender melhor à população. É p
cepção de política distinta da que vem sendo proposta no
bre a ação do Estado.
H o j e , está em voga - e é um assunto debatido ta
pelos setores mais conservadores e liberais - a idéia de
mais, que as instituições do Estado são ineficientes, que o
que o funcionário público não trabalha e, portanto, que inferior. Ε preciso recuperar e recolocar a concepção de
política pública. De que forma? Todos os argumentos sem
clusão: como o Estado não funciona, como os serviços s
privado, o filantrópico, enfim, fortalecer a sociedade fora
fosse o suficiente para promover uma redução das desig
que o chamado pensamento neoliberal está propondo, asdiscutem esta questão: " S e o Estado cresceu muito e não
Existe a questão dos 'marajás' do funcionalismo público, o
Estado, desse modo não adianta pagar melhor aos profess
de saúde, pois qualquer ação estatal é fadada ao insucesso mesmo discurso em alguns pensadores da esquerda (ou
de fortalecer mais a sociedade civil, porém diminuindo o
cas. Imagino que só se pode defender o serviço público
lação distinta da própria concepção da relação do Estado
restituição da dignidade do serviço público. Isso só pode
de um debate ideológico profundo, em que se definam p
mente, por meio de recursos orçamentários que considere
Ε impossível resolver a questão da qualidade do
uma política econômica ou uma política social que solucio
tos em relação tanto à dívida externa quanto à estrutur
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 53/142
vetores ou dos riscos ambientais. Mas o problema está m
na organização da ação estatal, na destinação de recursodas ações. Ou seja: na hora de alocar recursos ou de def
qual área, é melhor que isto se dê numa única instituição
disputam o poder entre si.
O orçamento do Inamps é da ordem de quatro
Ministério da Saúde é dez vezes menor. O Ministério da
qual prioridade, mas, se essa prioridade não se traduzir emtará. Com o outro conjunto de decisões situado na es
privilegiava-se outro tipo de ação, a hospitalar. Ε lógico q
juntar os dois orçamentos e repartir o dinheiro para qu
porque se gasta mal e pouco em saúde. Também não se c
em saúde em curtíssimo prazo (hoje, o Brasil gasta em to
terno Bruto em saúde, 2,5% público e 2,5% privado).
Algumas estimativas apontam que, só para recupe
saúde - considerando aumento de salários, isonomia, te
física da rede, que se deteriorou nos últimos anos - , seria
cursos de 2,5% para 5%. Parece pouco, mas, quando se i
tro do volume do que representa o Produto Interno Brcrescem muito. Competem com os números da dívida
gamento dos juros.
N ão é, portanto, uma questão de efetuar pequenas
Isso implica não só muito dinheiro, mas também a for
econômica e social integrada. De qualquer modo, a idé
pelo menos, que as prioridades se expressem com maisproblema da malária em Rondônia por ações dirigida
tratamento dos doentes, ao combate aos vetores. Isso te
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 54/142
de que isso é dever do Estado, mesmo porque nós coimpostos para ter esses direitos assegurados. O desafio éum ideal agindo contra a maré da desvalorização e dopois, freqüentemente, a ação passa a se dar desvinculadadesvirtuando-se totalmente a idéia de público e da Reform
A contradição que a Reforma Sanitária enfrenta cpequena participação dos movimentos populares, dos sin
cide com a própria crise, real ou fictícia, que o Estado braeconômicos positivos em relação ao crescimento do PIB etação, mas isso não se vem refletindo em melhoria da qupor exemplo, o peso da massa salarial no PIB representava 3
Então, há uma crise real e uma crise criada pelatradições estão passando pelo econômico, pelo político ena possibilidade de implantação de um sistema universal.
Quanto à formação dos que trabalham com sprincípio norteador que eles vão tratar com seres humfilosófico, isso significa colocar esta concepção no 'coraçPara isso, não basta incluir Antropologia e Sociologia com
currículos do médico e do pessoal técnico. Trata-se de funpor uma ideologia claramente 'humanística'.
A questão técnica é muita séria, mas, do meu pon
não for totalmente envolvido pelo humano será um técnnico de gente. Penso dessa maneira em relação à formaçtrabalha com a saúde.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 55/142
ciências, sejam da natureza ou sociais, constituem, em si, a
resposta para compreender o ensino como processo, par
saúde totalizante, integral, resgatando o que há de totaliza
popular, tentando descartar o elemento mítico, que não
Como resgatar a própria condição de agente revolucionár
mação social, na medida em que o sobrenatural tem esse
zado pelas forças dominantes como uma força de acomoda
Gostaria ainda de abordar um segundo tópico: o daOliveira, em um de seus trabalhos, compara as reformas da
que são distintas principalmente pelo fato de que a italiana
e a brasileira caminha no sentido inverso. Além disso, a itali
que não findava na própria reforma da saúde, e, sim, na su
dução capitalista, mediante a ocupação de posições, queb
do socialismo. No Brasil, segundo esse autor, o que existetanto ou quanto 'social-democrata', por questões conjuntur
equívocos principalmente aos partidos políticos, aos quai
essa visão da transição, da guerra de posições, de a Reform
processo de luta maior, mais ampla.
Cecíl ia Minayo
O s núcleos de bom senso que existem no pensame
aproveitáveis do ponto de vista tanto da educação enqua
educação enquanto inter-relação. Coordenei uma pesqPenha , não só na parte de entrevistas individuais e visita
bém promovendo reuniões para discutir saúde. Consta
essa concepção ampliada de saúde e que sabem expres
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 56/142
favela - estou falando de favela no Rio de Janeiro - tem a
cisa lutar pelo acesso ao hospital, mas também pelo san
prejudicando sua vida são os ratos, as valas negras e a
potável. Em outros casos, a população tem que partir par
que determinada fábrica está causando um nível de poluiç
No caso da Penha, o movimento popular assumiu essa rei
Junto a essas questões, surge também a do sobre
de uma forma que não é só mágica, e é isso que às vemágica substituísse a ciência. Não é bem assim. Os núcl
não só no pensamento popular, mas no de todos nós
passíveis de mudança e transformação. Ε é esse limite
ed u c a ç ã o no sentido político de mudança. Em várias
lação, pude observar recorrentemente a frase "foi
seguida de "pelas mãos de dona fulana (curandeira)
D e u s nunca ocultou a crítica aos serviços e profissionais
às condições de vida e trabalho geradoras de doença.
Hésio Cordeiro
É difícil comparar os processos das reformas italian
lugar, o processo brasileiro ocorreu num contexto absoluta
sição democrática, de passagem de um regime autor
mínimo de conquistas democráticas. A mobilização em t
sentido da passagem do capitalismo ao socialismo, mas simpara algum grau de regime democrático dentro da pr
lógico que a questão não estava colocada só nesses term
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 57/142
sanitária em relação não apenas aos determinantes da saúao direito à saúde, à necessidade de fortalecer outro ti
saúde que nos dê mais qualidade, mais acesso etc.
Pode ser que os processos de decisão tenham sido mepodemos negar que, nos últimos dez anos, a chamada conscmuito no País, especialmente por meio dos movmovimentos sindicais. Um setor importante de resi
sistema de saúde era a área sindical, que tinha a sua coArgumentava-se: "Quando houver a unificação, vou atendido no hospital de Ipanema, que é do I N P S " . Nhouve enorme resistência à Lei Orgânica da Previdênciados os benefícios, pois os bancários não queriam se Naquele momento, a chamada solidariedade da classe o
balhadora, desapareceu. Era o bancário disputando codoviário urbano, que tinha menor salário e era mais doum precário hospital em Bonsucesso. Isso é para assinacial de superação de uma série de entraves à Reformataneamente ao desenvolvimento do próprio processo da
A construção e a superação das várias ideologiassendo e serão um movimento de luta política muito intensitaliano enfrenta dificuldades enormes, com o movimen
opondo à reforma. Isso sem mencionar que a aprovação Sanitária italiana ocorreu mediante uma grande coalizão e
Comunista e o Democrata Cristão. Do ponto de vista da
político por meio da ordenação legal, isto é, como se concomo se organiza o sistema, como se fortalece o poder partir de um acordo político entre os três grandes partidossindicais a eles vinculadas.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 58/142
apontar para o socialismo. É lógico que inclui, na intençã
tidárias, algumas propostas de cunho socialista e outras sim
sentido da social-democracia. Nós, entretanto, estamos aq
nossa Reforma Sanitária foi absolutamente distinto, pois o
ampliação dos espaços democráticos mais do que qualqu
cial mais profunda.
Determinada concepção de saúde é construída nas
sociedade, mas é também certo que o sistema de ensin
profissional, tem um papel importante, mas não determina
concepção. Assim, pensar em reformulação ou em movim
pensar a formação desses profissionais.
A questão da educação para a saúde, educação
em saúde, na verdade, é apresentada de forma super
sente uma efetiva articulação entre os dois sistemas (sa
fico isso, por exemplo, quando se discute a Reforma Saimplementa essa proposta sem passar pelos profissionais
respondem por sua execução. Quando afirmo que não e
uma justaposição, é que, da leitura dos documentos da
Saúde, pode-se deduzir, por exemplo, que o movimento
resolver o problema da formação profissional em si e por
com o sistema oficial de ensino. Penso que isso apresentapapéis que não competem à área de saúde, já que ela nã
forma satisfatória do problema, restringindo-se aos curso
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 59/142
Hésio Cordeiro
U m a das grandes carências da Reforma Sanitária es
força de trabalho em saúde. Entender a Reforma Sanitári
apenas como a simples reestruturação de serviços de sa
grande desafio esse campo de recursos humanos ou de pes
Em toda crítica à política de saúde do regime auto
educação dos profissionais de saúde só se modificaria qupendesse das condições de organização do mercado de
reuniões da Associação Brasileira de Educação Médica
vamente. Ao se procurar delinear o perfil do médico de
definição era dada pela forma de inserção no mercado d
de privatização, pelo crescimento da prática hospitalar
também o mesmo raciocínio aos demais profissionais
processo de divisão social e técnica do trabalho em sa
tos segmentos desse pessoal e qualificando ou superqualif
No âmbito da Reforma Sanitária, excetuando-se det
dem muito gerais, como, por exemplo, a necessidade de
no sentido de integrar ensino e serviço, penso que não secom clareza a proposta de formação do profissional de sa
um dos pontos mais graves de estrangulamento. Seria p
teúdo de conhecimentos técnicos que esse pessoal deve
por conhecimentos humanísticos, que, aliás, prefiro cham
com a saúde. Um aspecto importante, no caso dos médic
promisso para com o doente. Salvo exceções, atender queixa significa resolver o problema o mais rápido possíveadiante, para outro especialista. Aquele indivíduo não tem
no máximo sofre de pressão alta ou possui uma úlcera que
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 60/142
Cecíl ia Minayo
Realmente, não se avançou muito nessa área, e
neutro. A formação médica está marcada pelos in
hegemônico, voltados principalmente para a especiali
incorporação de novos equipamentos e tecnologias. O d
tado no pensamento médico dominante. Assim, quand
está-se pensando nessa fragmentação.
Tome-se como exemplo o pessoal de residência
está acabando a graduação e começando a praticar. A ma
tamente os problemas da criança. Por quê? Porque o inte
criança, mas sobre a doença. Isso não é ingênuo, porque
doença. A educação, de certa forma, é caudatária.
A Reforma Sanitária é uma questão mais ampla e,lações curriculares como um de seus componentes, tem
preendida não como alguma coisa voluntarista, mas como l
diografia de pulmão. Ele tem que inscrever sua atividade
trabalho que vai resultar em algum benefício para aquela
fazer a radiografia. Isso significa tentar - reconhecendo q
processo de trabalho é inevitável, tanto pelo próprio av
pe la forma de organização social da prática de saúde -
processo sob um outro compromisso soc ia l , na ótica
balhadores de saúde que prestam determinado tipo de a
traduz em currículos, em planos de estudos, em técnicas
em que não se avançou nem na esfera teórica nem na pol
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 61/142
U m a outra questão é, na verdade, uma crítica à Re
à mudança organizativa, que deveria ser mais bem pensa
tos passos políticos que podem ser inviabilizados pela n
volvidos. Os profissionais de saúde, os atores sociais que
sentiram participantes, não foram nem consultados. Foi u
nou certa elite, certo grupo, que caminhou sem muita par
que realmente executam a gestão e os serviços.
Finalmente, deve-se refletir sobre educação não ade conhecimento, como currículo, mas especialmente em
ciais, integrando os profissionais de saúde entre si e
Quando o médico atende o paciente de determinada fo
meira ou um assistente social age de uma forma dada,
educando a população, estão transmitindo um modo
d o en ç a . É, sem dúvida, um desafio para a continuidadeser enfrentado concretamente.
Quando se imaginou uma escola como a Politécnica
pação com o problema da qualidade, talvez em reação a u
anos atrás, encampado tanto pela esquerda como pela dire
dade em detrimento da qualidade. Entretanto, o que se ver
a quantidade, mas não se preservou a qualidade.
A idéia da Escola Politécnica de Saúde era retomar a
era bastante concreto, uma vez que se pretendia ensinar o q
na Fundação Oswaldo Cruz. Trabalharíamos com dez, vi
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 62/142
de segunda. Mesmo o índio da ilha de Bananal também
Cleveland, ele só não vai porque não tem condições. Não
gando em novo discurso, subestimando a ansiedade e o
mais carentes, que é simplesmente sonhar com o acesso à m
Hésio Cordeiro
A recuperação da qualidade não deve ocorrer ap
Atualmente, o ensino médico está profundamente com
d a d e . Hoje, muitos sextanistas de medicina não fazem, n
fazer as tarefas mais simples, como auscultar um coraç
cação teve um papel importante nesse tipo de resultado
tomar o tema da qualidade.
Para tentar compatibilizar o problema da formação
a reestruturação das práticas de saúde, penso que uma alt
testada é a inserção de organismos como a Escola Polité
tuições que podem aproveitar as suas atividades e form
qualidade, de muito bom nível. Poder-se-ia também pensmar pessoal de nível médio para a saúde de um modo
mudando a própria concepção da prática de saúde. Essa
serir também no processo de organização dos distritos
mento seria extremamente desafiante no processo de id
qualificação de pessoal. Imagino que o relacionamento en
cias, como a da Escola Politécnica de Sa úde , com certas foprática de saúde pode ser muito criativo no sentido de bu
profissionais, bem como de contribuir positivamente na m
ser preparados.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 63/142
Cecíl ia Minayo
Para discutir a questão da qualidade, gostaria de us
filha que faleceu de câncer. E, como toda a população trab
do Hospital Nacional do Câncer , onde minha filha compa
colegas mais pobres e necessitados. Do ponto de vista tec
nem para ela, nem para as demais crianças. Nunca detect
criminação em termos do serviço, de remédios, de atençãmédicos. Aquele hospital está capacitado para tratar qualqu
aparelhamento caríssimo, o mais avançado em termos de tec
países desenvolvidos. Contudo - e disso reclamo - , nesse
estavam preparados para uma visão mais ampla da questão d
Hav ia uma ala do hospital onde minha filha fazia e
corredor imenso, em que todos, sentados, aguardavam o
mento. Percebia-se uma representação social de saúde e
tucionalizada em um grande prédio. (O máximo a que
saúde e doença, no sistema biomédico, foi a psicossom
quatro profissionais, entre psicólogos e psiquiatras, com ho
tavam a assinar papéis. Eram burocratas. Sequer considermente, as emoções. Não estavam preocupados com isso
atualmente, há estudos que provam que a questão d
lacionada, por exemplo, com o estresse, com problemas q
o emocional. Nem cogitavam que pessoas com câncer
atendimento emocional ou de outros tratamentos específ i
tas têm uma sobrevida ampliada quando a químio e a radiode atendimento mais integralizado.
Quando falo de formação humanística, refiro-me à
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 64/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 65/142
RELAÇÕES DE TRABALHO
NO SETOR SAÚDE
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 66/142
EDUC AÇÃO Ε SAÚDE: DIMENSÕE
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 67/142
D A EXISTÊNCIA HUMAN
Joaquim Alb
Discutiremos a saúde do ponto de vista da educaç
cações: a dicotomia entre saúde pública e assistência méelemento constitutivo das relações sociais.
Educação e saúde são áreas que não se separam.grante das relações sociais, e, tanto na educação quanto
trabalho se dão em torno de práticas. As concepções oficiasentações desses fenômenos variam segundo as classes so
possuem uma representação mais ampla da saúde, enquaresponde a uma representação (ou conceituação) de saútada, pontual, centrada no modelo biomédico, que busca gum ponto ou órgão do corpo das pessoas.
Cecí l ia Minayo, no texto "Saúde e sociedade", faz
como prática social, fornecendo um histórico do surgimeações ou as políticas públicas de saúde inicialmente for
Estado sobre o meio ambiente. É a partir de dados de mode suas relações com as condições de vida e trabalho da
o atendimento médico deve ser de caráter público
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 68/142
movimento em que se coloca a questão da escola púb
atenção médica será incorporada pelo Estado, junto com
o meio, ou se essas ações médicas serão essencialmente
cussão começa a se configurar no âmbito (ou no limite) d
belecendo, de um lado, as ações curativas e, de outro, as
às ações tradicionais da saúde pública.
N a década de 60, particularmente em 1967 e 1968pública são bastante reduzidos e, coincidentemente, aum
para a área da assistência médica, ocorrendo ainda a unif
denciários. Isso, de alguma forma, já traduz certa incorpo
tivos à chamada medicina curativa.
T al situação coincide, de um lado, com a decadên
sica e, de outro, com o crescimento de interesses no sentpreventiva e curativa, não na forma de organização do
aspectos preventivos à prática médica. Ε o momento em
Medicina Preventiva, valorizados, se reorientam, se oxig
série de discussões e, também, iniciando uma crítica ao
se , assim, uma área da medicina social. Com o crescimento
enfoque da saúde pública volta-se para a assistência méd
as questões de controle do ambiente. Nesse contexto, o
núcleos de saúde coletiva que se estão criando nos Esta
médicos, restringindo a saúde ao âmbito da assistência mé
sua história., ela não se tenha sempre apresentado dessa fo
Durante o período em que a saúde teve como alvambiente, ela constituiu muito mais um problema de enge
medicina. Os próprios serviços de saúde pública tinham u
alternativas de produção ou controlar a produção são tem
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 69/142
como se ecologia não constituísse matéria relevante.
No início do desenvolvimento do capital, para que
necessitou-se controlar o ambiente. Exemplo clássicodação Serviços Especial izados de Saúde Pública (FSESP
interessante, que, durante anos, foi tomado como padrã
gan ização, saneando o meio e protegendo o trabalhad
condições saudáveis para a exploração da borracha e do controle sobre o meio restringe-se, fundamentalmente,
industrial de produção, processo este que não só colo
de vida do planeta, como também implica o controle s
sos de trabalho, os processos de exploração da relação
lações homem-homem.
A escola do setor saúde deve ser uma resposta a
certo momento, entendia-se que ela - em particular a e
atender ao mercado de trabalho, como se fosse um refle
por este mercado, o que constituía um falso entendimento
e la é isso, por outro também pode apontar ou criar uma o
formação dos profissionais.
N ão há essa relação permanente, mecânica, a esc
face da realidade do mercado de trabalho. O setor saúde é
pública tem, de maneira ainda pouco dinamizada, muit
ação sobre o meio. Existe hoje, na Secretaria de Saúde do
um setor de vigilância sanitária, com veterinários, farmac
entretanto, não discute temas relacionados ao controlecamentos, do sangue, dos alimentos. Em São Paulo, o se
com uma tradição bem maior, mantém uma concepção
A população e os profissionais de saúde têm re
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 70/142
saúde, de doença, do corpo, da vida, da morte. Ambos
metáforas, têm seus preconceitos, adotam uma visão
homem nesse mundo e do serviço de saúde. Constitui-s
representações diferenciadas, muitas vezes antagônicas,
classe do médico, aparentemente unificada em um discur
manizador, fundado numa ordem biomédica, submete p
sionais de saúde. Mas submetidos não quer dizer reduzid
trabalho, impera o discurso dominante mediador, um dis
segundo uma ordem médica, com ações práticas e técn
mente um discurso que unifica e que organiza as relaç
saúde e pacientes. Essas relações, porém, não se reduze
ou seja, tanto os profissionais de saúde como os pacien
quanto seres sociais, e outros discursos, outras represent
uma esfera mais abrangente no agir social, que é uma inte
constituindo um complexo de relações sociais entre profi
tes e instituição. Instituição essa em cujo discurso o sujeito
fala-se, diz-se, pensa-se, faz-se.
Pensar, então, as relações de trabalho na saúde ou
mensioná-las para além do discurso racionalizador, instrugogia ou da medicina. Existe um complexo de relações d
representações de mundo, de ordem, de vida, de doenç
sistências, oposições, negações. Analisar o trabalho numa
pública ou numa escola é refletir sobre essa dimensão so
representações do que sejam a ciência e a técnica, existe
intersubjetivas de seres sociais. É, portanto, um espaço d
resistências, de antagonismos, de visões de mundo difer
lações de hegemonia e de construção de hegemonias.
para que 'esqueçamos' que a vida não é apenas huma
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 71/142
atributo exclusivo do homem. A vida está para além dpendência com outros seres, isto é, o mundo inanimado nele é parte da constituição do ser humano. Então, a vidada relação entre esse chamado 'mundo bruto' e os seresesgotamento desse 'mundo bruto' signif ica o esgotamentdições de vida não se restringem apenas ao âmbito do hvida e de saúde das espécies em geral e de um modo dplaneta como uma construção da vida.
A existência, por outro lado, é particularidade doconstró i , e o processo de produção e reprodução dess
de educação. A educação const i tu i-se nos processos pequitetam' sua existência, que, embora se construa enq
ou sobrepõe como forma única possível, como que icondições de v ida e saúde do próprio p laneta . V ida e
gadas: v ida é saúde , saúde é v ida ; v ida é educação , ed
é saúde, saúde é educação . Essa comp lex idade do quecação e existência é uma questão imperiosa para quem
portanto, com a v ida .
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 72/142
A S D I M E N S Õ E S D O T R A B A L H O
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 73/142
Ro
Discutirei dois temas que continuam a ser muito
estarem mais em voga na esfera acadêmica. O primeiro, aque vem perdendo prestígio devido à crise do raciona
segundo, a questão do trabalho, categoria essencial na e
filósofos clássicos do século dezenove, que vem sendo r
pelos sociólogos.1 Entretanto, como tenho uma veia clássiconflitua e compactua dentro de mim com uma tendência
teressa-me muito ainda o problema do trabalho em saúdabordá-lo a partir da revalorização de certos elementos viv
N ão discordo da tese de Joaquim Cardoso de Mel
ao longo de sua evolução nos últimos anos, negligenciou
ente e sua importância no currículo dos cursos que ofere
perar o espaço dos problemas ambientais no ensino de sa
se r combinado com um tratamento adequado do tema
cursos de saúde pública limitam-se, em geral, a uma espé
sistência à saúde, sem entrar de fato em suas dimensões té
Insisto na importância do entendimento técnico dos se
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 74/142
dependem do processo de trabalho nesta área, e este é o foco
A o analisar o processo de trabalho em saúde, é nec
pectos fundamentais. Em primeiro lugar, ele é um exempl
em geral e, portanto, compartilha características comuns
ocorrem na indústria e em outros setores da economia. Se
já que toda assistência à saúde constitui um serviço. Terc
funda numa inter-relação pessoal muito intensa. Há muitaque dependem de um laço interpessoal, mas, no caso d
mente forte e decisivo para a própria eficácia da ação.
Essas três dimensões são complementares e interatu
se um processo de trabalho, com sua direcionalidade té
mentos e força de trabalho, sendo passível de uma anális
na forma efetuada por Marx em O Capital. Nessa obra,para analisar igualmente o processo de trabalho em s
questões complexas de composição econômica e técnica
dinâmica das trocas, que têm também uma correspondênc
Mas há uma outra dimensão, que é a do serviço. A
um processo de trabalho igual ao da indústria, ela tem uma
serviço. Esta palavra tem por trás de si uma tradição quas
de 'servo'. Por outro lado, a economia clássica praticamen
a análise teórica do que fosse serviço, porque, dentro da
capitalista do século dezenove, esse não era um setor decisi
ele adquire extrema importância e, sem dúvida alguma,
modernidade do capitalismo. O setor saúde talvez sejaessa nova forma de sociedade baseada na proeminência do
O terceiro aspecto advém do fato de esse serviço nã
saúde. Considere-se, por exemplo, como são diferentes a
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 75/142
as de atendimento médico. Por isso, é preferível tratar das
e falar apenas dos serviços de saúde propriamente ditos.
H á que se afirmar, em primeiro lugar, que esse pro
tecnicalidade ou direcionalidade técnica inerente a qualq
humano. Pressupõe, assim, uma antevisão dos resultados
teligente como ardil da razão em sentido hegeliano: faze
físicos, químicos, bioquímicos atuem sobre o objeto, proardil da razão tem por fundamento certos conheciment
uma adaptação constante às características particulares: e
su a história e necessidades. Isso já suscita de imediato
medida em que traduz a adequação constante ao particu
indivíduo como ser, mas também das circunstâncias em que
necessidades.A direcionalidade técnica tem atualmente uma na
conjunto de categorias e de indivíduos procura agir coerent
conhecimentos científicos contemporâneos. Contudo, sabe-
categoria controla o processo de trabalho em saúde a partir
social: a dos médicos. Mesmo quando não são proprietários
donos de clínicas ou de hospitais - , os médicos têm a faculd
nico em saúde, no que se diferenciam dos demais trabalhado
Outra particularidade do trabalho em saúde dev
gração entre seus aspectos intelectual e manual. Ao co
sos de produção, na saúde quem detém a direcionalida
a mão na massa' , ou seja, participa diretamente do ato por exemplo, com o papel de um engenheiro numa fábr
não exista separação entre esses dois aspectos em termo
tecnologias e de variedade de serviços. Daí, o sentido de fr
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 76/142
e do consumo de serviços de saúde.
Se, de um lado, o sentido, o porquê de cada ato es
há uma profusão infindável de tipos parciais ou autôno
modo, ele tem que percorrer um labirinto de serviços e ob
ali, ignorando a finalidade dessas intervenções executadas
disso, ainda é solicitado a colaborar.
O n d e está, nesse torvelinho, a direcionalidade saúde? Encontra-se profundamente dividida e fraturada,
do trabalhador como do consumidor. A vivência do consum
que é o aparato de assistência médica torna-se ainda m
em que se espera que ele preste informações, siga orde
se esforce em colaborar. Entretanto, seguramente, ele
para quê? Onde se quer chegar com toda essa paraferná
Nesse sentido, os serviços geram um enredo de alie
às situações clássicas abordadas por Marx no século pashoje já não são tão peculiares ao trabalhador produtivo.
Discussão fundamental a ser realizada em relação
do serviço. Afinal, o que é um serviço? Na definição genéré o efeito útil de alguma coisa, mercadoria ou trabalho. Εde bens ou da força de trabalho em seu aspecto de valor
idéia de serviço estava muito presa à de serviço pessoal: s
doméstica, de um advogado e assim por diante.
Em certa medida, os serviços de saúde parecem-s
soais, porque requerem uma íntima relação interpessoalsumo intenso de mercadorias, o que os situa numa dimen
serviço de saúde nunca resulta de uma aplicação de regra
medicina, que é totalmente distinto do pacto que se estab
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 77/142
a quem também se costuma remunerar pelos serviços. Ass
moderna, o usuário pagará pelo valor dos bens materiais
força de trabalho preparada segundo os padrões correntes.
Desse modo, ao lado da fragmentação vivencial,
natureza econômica. Quando o pagamento por esses at
efetuado por meio do seguro privado ou social, o que s
como realizar um controle efetivo sobre eles, já que, nepode ser meramente presumida. Ela deve-se adaptar a ce
tíficas e administrativas estabelecidas pelo contratante.
Mas é extremamente complexo regular a produção
se tenha certa flexibilidade. Não se pode desconhecer qu
mação do particular, havendo sempre um razoável desvio
tro lado, hoje já não se pode admitir, como fazia a antig
trabalho médico deva ser totalmente livre e se pautar ex
clínico do profissional. O controle da fragmentação dos at
um grau de inteligência e de habilidade técnica muito
maiores problemas atuais no desenvolvimento dos segu
vados ou públicos: estabelecer modalidades 'clinicamente
dos serviços. Como continuar remunerando os serviços d
que não prejudiquem esse pacto de cientificidade firmad
pera ver restabelecida sua saúde? Uma das tentativas rec
chamados "Grupos Relacionados com o Diagnóstico" (D
nos Estados Unidos e na Europa, cuja viabilidade de introd
estudada pela Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz.Administrar uma unidade hospitalar ou uma rede
por seguro não constitui tarefa simples. Não só devido à
que necessita de cuidado de saúde que não seja a ética li
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 78/142
da livre escolha por uma confiança absoluta no médico
pode ser resolvido por meio de um pacto político entre
dirigentes, por meio de uma nova ética de comportam
dades e demandas dos usuários.
Esse é o limite da área de recursos humanos em s
questão do processo de produção dos serviços de saúde
Pode-se trabalhar com a questão dos serviços, com a adcom base numa longa aprendizagem. Entretanto, quando
soal, entra-se no campo puramente ideológico (e, d
sagradas, uma é a da medicina liberal). E, então, há que
mas de harmonizar os trabalhadores com a clientela, e
tucional com os anseios dos trabalhadores. Esse é um do
Sanitária enfrenta hoje no Brasil.Se as condições de trabalho melhoram para os tra
uma nova ética profissional (exigência decorrente dessa
abordar esse diálogo que se estabelece com o indivíduo
serviço de saúde com suas preocupações, cheio de expe
fragmentários possam resolver os problemas? Então, esse
qual não existem regras, para o qual há procedimentos,
mas que depende da sabedoria dos dirigentes, dos líderes
bém de um processo histórico de construção de uma nova
médicos, para vencer a etapa liberal e mesmo conflitar com a
Ε necessário, então, refletir constantemente sobre
complementa todas as outras envolvidas no processo denível técnico, no nível do processo de trabalho em geral e
aproximação ao individual. Como se deve dar numa fo
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 79/142
Entendo que a exposição de Roberto Passos Noguetradições. Dentre elas, a especificidade do processo de
saúde, em que o usuário é também partícipe. Mas, por out
serviço é definido pela tecnologia, que, por sua vez, fragm
de sujeitos novos para atendimento ao paciente, atendime
dade de ser individualizado.
Assim, a primeira contradição é que, paradoxalmede tecnologia e de cientifícidade e que ajudaria a resolve
na verdade, agravando outros. Em outros termos: o proces
risco, pela fragmentação, de perda do objeto, agregando co
cial. A contradição se amplia quando se atenta para o fa
um problema político, de certa mistificação da relação pac
do paciente em relação ao profissional que pode resolver a
Como saída para essa situação, é apontado o surgim
uma nova consciência em relação ao que pode significar o
teoria de sistema e a outra na visão marxista, focalizando,
menor, a própria expressão 'recursos humanos'. Concordo
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 80/142
certeza, a denominação não é o fundamental, principalme
do ponto de vista formal. Existe, porém, uma relação entre
seja, entre a própria denominação e o objeto a que ela se re
Considero interessante essa linha de raciocínio que
porque há uma tendência a fazer uma leitura bastante
escreveu no século dezenove. É interessante fazer a disprodução que Marx trabalhou em O Capital e aquela que
tor serviços.
Encontro uma tendência do que vem ocorrendo no
dominante também nos serviços, tanto pela divisão técnica
permanente avanço tecnológico. Nos Estados Unidos, es
uma nova categoria profissional, que se situa entre o méduma tendência a transportar a lógica da produção para os s
Roberto Passos Nogueira
A questão levantada remete a uma intensa discuss
anos 80, acerca das diferenças entre abordagens centrada
em 'recursos humanos'. A esse respeito, escrevi um trab
enfoques não são necessariamente conflitantes.
'Força de trabalho em saúde' remete ao nível ma
grafia, da economia clássica, que procura ver a dinâmicaAnalisa a questão do emprego em saúde na sociedade, c
vários tipos de instituição do setor e co-relaciona o empre
soal, sem avaliar não só a dinâmica específ ica dessa força
a esfera institucional.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 81/142
Em outras palavras, não me parecem conflitantes aque uma delas, a de força de trabalho, preceda, esteja pquem esteja falando e intervindo em recursos humanos. tem sido esse. Dizer "vamos trabalhar com recursos humpromissos com as mudanças do setor" significa assumir u
as políticas de recursos humanos, com as polí ticas de saú dcompromisso pressupõe uma análise profunda do que questão da força de trabalho em saúde no País.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 82/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 83/142
FORMAÇÃO PROFISSIONAL:
DIAGNÓSTICO Ε PARTICIPANTES
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 84/142
O N O V O PA R A D IG M A D A O R G
D O T R A B A L H O Ε A F O R M A Ç Ã O P R
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 85/142
N A Á REA D A S A Ú D E
M a r i a Um
Para esta exposição, pensei em apresentar um quad
se pudesse analisar o problema da formação profissiona
preendi-me, porém, com o fato de encontrar pouquíssi
mação de técnicos de nível médio e elementar nessa á
de um infindável número de pessoas com esses gra
balhando em postos do sistema de saúde. O material en
da enfermeira ou do odontólogo, observando-se uma sur
lação ao pessoal de nível médio.
Além da responsabilidade, da importância do traba
usuário do serviço corre em função de uma possível não-q
a mencionada escassez de estudos certamente deve dificu
teção e a defesa desse indivíduo enquanto trabalhador. A
examinada com mais atenção. Na atual Constituição,
cessário que se possa fazer valer esses ganhos e cobrar do Eque lhe cabem, principalmente seu papel na prevenção e na
aos serviços de saúde.
e mediações que permeiam os processos de organizaçã
turação ocupacional da economia e a própria forma de c
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 86/142
trabalho, que acompanha esses processos. Possibilita, ainformação profissional que levem em conta os interesses da co
dos setores produtivo ou empresarial. Finalmente, essa aná
especificidades de uma situação histórica concreta. O
periférico, sofre as contradições, os desequilíbrios de
pendente e, além disso, é uma sociedade de classes anta
que não pode ser esquecido. Assim, tentarei caracteriz
porâneo e os modos como são afetadas por ele: a estrutura
tura do setor terciário, incluindo o serviço de saúde, e, por úl
Estamos vivendo um momento importante, em qu
zação do trabalho, baseado na extrema segmentação do
está alcançando seu limite. Esse paradigma teve sua fEstados Unidos, do início do século até a Primeira Guerra
termediários entre as duas guerras. Sua disseminação pel
nos anos do pós-guerra. A partir da década de 60, começ
decadência , observando-se hoje a transição do paradigm
para um novo paradigma, o da produção flexível.
Algumas características permitem revelar em que c
ora se vem esgotando. Primeiro, o refinamento da coope
do trabalho, portanto cooperação mecânica, não-orgânica
tração dos meios de produção e à centralização das decisõoligopolização da economia, ou seja, na organização de g
des unidades produtoras, gerando uma estrutura do seto
zontal e verticalmente. Verticalmente no sentido da tendê
duzirem desde a matéria-prima até o produto final ou, q
âmbito da mesma empresa, mediante uma articulação seto
ou periféricos. Estes passaram a fazer parte do sistema int
dades desse sistema, não mais na posição de colônias.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 87/142
Entretanto, ao mesmo tempo em que são postos em
zação das decisões da economia, esses países é que viabiliz
no sentido de que despressurizam contradições internas
zando as responsabilidades, os riscos e as perdas.
Ε característico desse paradigma, por exemplo, que
trabalho seja responsabilidade da empresa apenas durantereto. Para além dessa esfera, passa a ser responsabilidade
criar esquemas para a sustentação da infância, da velhice,
tadoria e com a cobertura à doença. No paradigma da
manutenção da saúde do trabalhador é atribuição do Estadexecutá-la ou delegar a tarefa. De qualquer maneira, porém,
dade pela manutenção da saúde do trabalhador em conddemandas do setor oligopolizado. Assim, o direito à sa
população, mas apenas os empregados desse setor. O me
medidas que visam a prevenir ou a minorar impactos oc
desumanas de trabalho, privilégio restrito a esse setor. C a bdas condições de trabalho restringe-se a ajudar o empreg
para suportar a agressão do dia-a-dia sobre seu corpo e slinha, situa-se, também, a política de manter os salários e
consumo necessário à manutenção da economia.
Quando se trata de Brasil, esse quadro revela-se ain
verso. As políticas de habitação, saneamento, educação e f
se limitado a compor um conjunto de atividades que o Estamediando, assume para manter a força de trabalho em c
pelos setores oligopolizados da economia. Enquanto isso
cobertura à atividade de planejamento. Por outro lado, in
e , em decorrência, a necessidade da criação de infra-es
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 88/142
Estado tem que se modernizar e se racionalizar para cump
Nesse contexto, as relações entre capital e trabalho
aos choques da fase concorrencial, não pode haver con
perturba o fluxo da produção em massa, em que qua
enormes prejuízos. Ε necessário ganhar, por antecipaçã
tivação da força de trabalho, sendo característico as
motivação do trabalhador. Para compensar a desqualif
zação que a extrema divisão do trabalho acarreta, tenta-se
lante, que faça o trabalhador cooperar e ter vontade de
série de procedimentos persuasivos, de salários indir
lacionados ao aumento da produtividade. Um sintoma im
produção em massa dá ao treinamento gerencial e ao corganizacional. O gerente, o administrador têm um p
manutenção do nível de satisfação dos empregados, mes
de execução do trabalho. Assim, a parte nobre do treinam
corpo gerencial, que tem que ser coeso e 'comprar' o p
uma empresa, um hospital ou uma entidade prestadora de
A educação e o trabalho, nesse modelo de produum afastamento relativo, já que o sistema empresarial esp
preparação básica. Interessa às empresas elas mesmas p
em serviço, já que, dessa forma, o trabalhador pode ser s
cultura institucional específica.
N os anos 60, esse modelo começa a entrar em cr
autores considere os anos 70 e 80 como o período d
paradigma. Enquanto a produção em massa tinha como
unidade barata para vender em grande quantidade, mas à
que o comprador deseja. Desse modo, ao invés de produ
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 89/142
depois, produz-se o que já foi vendido. Com isso, pode-stuações, como a estocagem de matéria-prima e de mercador
tal de giro e o investimento nas instalações, assim como o tam
O novo paradigma é compatível com a pequena e
estar, necessariamente, vinculada a outras maiores. Neste
sociações que acabam beneficiando o capital. Não mais
fábrica, mas criam-se pequenas empresas autônomas, e
que prestam serviços à empresa maior. O investimento de
proporções de capital fixo e variável também se modificam
de itens específicos. Com isso, também se introduz um e
controle da força de trabalho. Enquanto na produção em
trabalhadores é inevitável, pois, como resultado do nivedesqualificação, todos se igualam e se unem nas lutas com
possível segmentar a organização dos trabalhadores, fa
voltem uns contra os outros. Os empregados da empresa m
e têm bons salários, o que não acontece com os das outras
suem as mesmas regalias. Assim, estes passam a ver como
colegas 'privilegiados', e não os patrões.É interessante observar como esse novo modelo pe
tros tipos de manipulação. A organização dos trabalhado
produção em massa, pode ter muita força, nesse outro to
uma série de razões. Se o primeiro já se caracterizava
cludente, o paradigma que surge é ainda mais. Alguns auto
do século, apenas um quarto da população economicament
gada e um quarto estará semi-empregada, enquanto a
economia. Outros falam numa volta à manufatura, com g
sentido de que esses processos serão extremamente i
aquela parcela dos trabalhadores protegidos.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 90/142
Nesse contexto, as relações entre educação e trab
significados. A função da educação se torna mais importan
de trabalho, uma vez que as habilidades requeridas do n
relacionadas com aquelas desenvolvidas na escola, isto é
dade de abstração, de resolver problemas, de trabalhar c
são de textos abstratos, entre outras. Surgem também as i
sumidor e da consciência ecológica, pois tanto a prod
podem ocasionar a destruição do planeta.
Parece que, em termos de qualificação, o qu
aumento do que se chama polarização da qualificação
número absoluto de pessoas altamente qualificadas
aumento na quantidade de pessoas que perdem em matérAbro um parêntese para chamar a atenção para as
e da microeletrônica, que, seguramente, vão ocasionar
perfil da qualificação do profissional da saúde em todos o
técnico de segundo grau aparece como um elemento
membro das equipes de pesquisa e desenvolvimento,
pamentos mais sofisticados em hospitais e no atendimento
como no estabelecimento de estratégias de saneamento e
Quando se pensa esse novo modelo em termos d
de a oligopolização ter precedido a abertura da eco
muito maiores do que os existentes no Primeiro Mun
possui um parque industrial de base bastante ampla, bversificado nas áreas tradicionais, mas extremamente
respeito às chamadas tecnologias de ponta, que, inclusi
ainda existe essa outra heterogeneidade mais alarmante, ou
nologia de ponta com a miséria absoluta, quadro que susci
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 91/142
A reorganização da estrutura ocupacional no Brasil se cdo setor terciário, pela ampliação das funções do Estado e
cluindo o crescimento do setor produtivo estatal e um p
mocratização, no sentido weberiano de racionalização da
O Estado, na verdade, serve de mediador para viabilizar a
capital internacional, com o objetivo de preservar as con
dos oligopólios. Na agricultura, acontece o que se chama
vadora, baseada na criação de agroindústrias, de g
privilégios, de proteção ao grande proprietário. Por outr
priedades, embora sejam as responsáveis pela maior pa
para exportação) têm menos acesso ao crédito, são menos pr
Pode-se assinalar também o surgimento de um setobase em critérios que não estão voltados para o bem-esta
para a sustentação do modelo de crescimento econômic
lação constitui apenas um subproduto, e em momento a
tratado como objetivo principal.
Por outro lado, o controle da força de trabalho por
importante na década de 70, perpassando toda a reform
em 1968 e acaba em 1972. A própria criação do sistema
mão-de-obra e do incentivo fiscal à formação profission
um mecanismo que, de um modo ou de outro, viabiliza fo
força de trabalho por meios persuasivos, quer dando aos
zação prévia, quer propiciando às empresas condições de
seus empregados, dentro de uma cultura institucional espe
D e certa forma, essas iniciativas representam urna
é produzido assume fundamental importância. Para o pro
e elementar da área da saúde, é prejudicial não estar org
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 92/142
cado, porque, dessa forma, ele não consegue contra-arguexploração, como mão-de-obra barata, pelas empresas pre
Nessas circunstâncias, é necessário distinguir dois
às funções sociais da educação básica. Primeiro, o ponto
vontade política de mudar a situação do Brasil na divisão
é preciso enfrentar a questão do novo paradigma. Algum
tagem aos países que, como o Brasil, abortaram o proces
porque eles não têm capacidade instalada ociosa para s
não tendo sido muito grande a inversão e havendo co
menor capital fixo, talvez seja possível queimar etapas. A
ticular a de nível médio, por causa da idade do aluno e
tem de sistematizar o conhecimento, é de fundamental
bases da produção endógena e de conhecimentos científic
cação e da administração da política de ciência e tecnolog
importante repensar o sistema de educação básica, espe
nico de segundo grau.
O segundo ponto de vista é o da população: o q
bom também para todos os cidadãos brasileiros? Numa soresposta fosse positiva. Mas, numa sociedade de classes
para o País mudar a participação na divisão internaciona
que seja igualmente benéfico para todas as pessoas. Essa
uma forma de atender os interesses da classe dominante,
balhadores. Por isso, é necessário distinguir duas perspect
Para a classe dominante, resolver o problema da
não seja tão decisivo quanto para os trabalhadores, porq
conservadora no sentido de que, se o Brasil permane
grande parte da população está no mercado informal
novo paradigma econômico for sendo incorporado à
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 93/142
parce la da população continuará excluída? Como pensconsiderando o setor informal ou o empregado nos oli
estão em crise, como a siderurgia, por exemplo? Ε pa
ponta', qual seria o perfil desse técnico? As habilitações qu
nas disciplinas tradicionais, resolvem o problema? Q
cessário a um técnico em biotecnologia?
O s limites entre as áreas tradicionais do conhe
menos distintos, o mesmo ocorrendo entre os set
agroindústria, estão-se unindo os setores terciário e prim
setores tradicionais da economia estão tornando mais
urgente pensar como deve ser a formação do técnico
sição e de mudanças tão significativas.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 94/142
P R O F IS S IO N A L I Z A Ç Ã O D E T R A B A LHA D
D E N ÍV E L M É D I O : P RO B L EM A S Ε
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 95/142
Alina M
A formação de pessoal de nível técnico apresenta trapolam as preocupações debatidas atualmente, como, p
de integração entre ensino e serviço. As questões vinculadtema desta exposição, suscitam algumas outras, que conante do projeto de Reforma Sanitária e da conjuntura naci
Observamos avanços importantes do ponto de visinstituição do Sistema Único de Saúde de acordo com a
incluindo a formação de recursos humanos. A prerrogativnar essa formação acarreta uma série de conflitos, cuja resaprofundamento, principalmente com relação aos problepecial no âmbito da universidade. Como equacioná-la comuniversitária? Alguns setores da sociedade civil argumentdeve se envolver com educação, pois esta deveria ser uma a
educação. A corporação universitária defende também estA tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educ
Nacional tem sido historicamente demorada em função d
por cento da força de trabalho empregada não posespecíf ica e exerce na prática direcionalidades técnicas.
Dessa forma, há uma contradição tanto do ponto d
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 96/142
cionais, como do movimento da Reforma Sanitária, queno ideário da universalidade, eqüidade e integralização demente, pressupõe assistência à saúde de qualidade. Esse
implica a formação adequada de todos os trabalhadoresitários ou não, para que se possam alcançar os objetivos d
Também é necessário pensar, prospectivamente, nna ampliação da oferta de profissionais devidamente prprofissionalização na área da saúde deve avançar em duasbalhadores e formar novas gerações de técnicos para ingre
Do ponto de vista educacional, esse panorama ap
As escolas técnicas na área da saúde devem buscar metozar trabalhadores que foram marginalizados do processlongo dos anos, muitos sem qualquer grau de escolaridadcessita desenvolver processos metodológicos para o continda escola regular, que podem iniciar seu processo de protegrar-se à força de trabalho.
A busca de metodologias adequadas a essa situaçsamento educacional para a profissionalização no setor sprocesso educativo para qualificar os trabalhadores já ebalho precisa ser necessariamente diferente daquela quezação de leigos. Essa busca de metodologias suscita tam
própria compreensão do processo de Reforma Sanitária.A Reforma Sanitária, neste momento de processo
um novo presidente da República, pode vir a ser comprom
tados e atendidos. Este momento, portanto, nos coloc
opostas na concepção de formação de pessoal técnic
para a definição de políticas de formação desse conting
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 97/142
Diante de nossa história de luta no movimento da
interrogação: seremos os executores dessa política, forma
testo ou teremos de nos aliar para ajudar a avançar e a m
da Reforma? Frente à incógnita das eleições e diante desta
ficar atentos e acompanhar os resultados.
Passaremos agora a examinar problemas iner
preparação de pessoal de saúde, os fatores hoje presentes
mente, é necessário enfatizar que a área de recursos hu
tradição: em termos de discurso é extremamente valorizaddignificada e tratada sem prioridade política. O corpo de
quase sempre relegado a um segundo plano, os problemdo 'eu acho', do 'jeitinho para tratar com pessoas' etc. Ε
caminhos para valorizar o setor. Estudos existem, houve
da força de trabalho, do processo de trabalho na saúde, da
das profissões, suas histórias e movimentos corporativos.
relevantes sobre a área vêm sendo apresentados e discutid
Verifica-se que uma ênfase maior tem sido dada administração de pessoal . Por exemplo: as propostas da
no s para a Constituição e a lei do SUS foram todas r
especificamente questões dos planos de cargos e carre
formação de recursos humanos fica definido de forma
papel do setor saúde na condução do processo de f
principalmente de nível médio. Historicamente, a
preparando o pessoal auxiliar e técnico, sendo a experi
nesse campo, bastante limitada e de resultados pou
sional,deveremos,principalmente, buscar superar as dicot
vidual e teoria versus prática.
É fundamental refletir sobre como organizar um
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 98/142
atenda essas questões. Torna-se imperativo conhecer o
forma prospectiva, ou seja, aquele que esperamos vir a oc
do sistema, no sentido de sua maior produtividade e
construir um currículo que reflita a integralidade das acampo de ensino de pessoal técnico e auxiliar, supere a
prática. Trata-se de buscar um processo pedagógico que
sional, a educação geral e o sentido de cidadania.
Esses são problemas cruciais no desenvolviment
para o setor saúde. Uma escola que recupere e legitime o
se m preparação específica e que forme novos profissio
resumo, as questões que se apresentam são: que novesses? Qual será o processo de trabalho no SUS? Qu
desse processo, as relações interpessoais, quais as esp
dades técnicas? Assim, será possível definir cortes no c
mentar procedimentos e ações e, ao mesmo tempo, c
específ icas para a área da saúde.
Essas são apenas especulações, pois a nossa realid
necessidade primordial de superação em termos de qua
m a gem , por exemplo, representa aproximadamente 49
dos quais cerca de 60% não têm preparação especí f icaperativa a definição dessa área como prioridade polític
esforços de formação, para superar a atual bipolarizaçã
de trabalho (médicos versus trabalhadores sem qualifica
nos processos institucionais de atenção à saúde. A partir d
as ciências biológicas, físicas e sociais interagem de forma
objeto. A sua definição requer a compreensão da tota
corresponder às necessidades do processo de trabalho, de m
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 99/142
do objeto fundamente a prática concreta.
U m a vez equacionadas as questões relativas a
conhecimento (conteúdo), cabe, na busca da metodolog
que possibilite ao sujeito interagir com o objeto de várias
dade, a partir de sua própria concepção de mundo. Em ougia deve definir uma série de atividades que coloquem o s
modo que ele possa dominá-lo a partir de sua experi
processo interativo, permitir que o mesmo não sejaqualificado tecnicamente, mas transformado em agent
processo de trabalho.
Diante dessas questões, podemos considerar que atem um desafio muito grande. Por um lado, ao definir u
balhadores, deve considerar toda a prática específ ica acum
sua revisão. Por outro, para os que estão postulando a á
rior, as aproximações da realidade podem passar por v
passo intermediário para a inserção no concreto das prátic
Além disso, a escola profissionalizante de saúde q
pessoal de várias áreas técnicas deverá pensar nos aspectos
para todos os trabalhadores da saúde, de modo a consu
operação e o sentido de equipe de trabalho nas especifici
áreas. Deve-se pensar que uma escola técnica pode des
um perfil que atenda às prioridades dos programas de sadade e qualidade, considerando a possibilidade de adap
local, regional e até nacional. É importante enfatizar que
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 100/142
DEBA TE
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 101/142
Maria Umbelina discute a formação profissiona
chamando a atenção para a crise dos paradigmas de regubalho. Mostra que essa crise tem uma faceta no Primeiro M
concentração do capital levou séculos, e que, nos países
acontece em poucas décadas, resultando em processo
Aponta algumas contradições nessa crise dos paradigma
finição dessas contradições é de caráter político. Conclui ch
formação básica e sua importância para a cidadania.
Alina Souza enfatiza também a necessidade de te
que dê conta dessa realidade. Toma como ponto de pa
profissionais que têm uma perspectiva de saúde públic
nova reordenação da sociedade e um novo tipo de homem
em conta que essa luta se situa num contexto onde há umenquanto projeto e uma prática privatista brutal. Nessa
atender àqueles já inseridos no processo de trabalho em
mento que não é definido a priori, mas considerando as cir
para que ele ocorra.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 102/142
Alina Souza chama a atenção para a complexidade
do s profissionais, que, em última instância, serão os atore
forma Sanitária. A aproximação entre educação e saúde a
mais por justaposição desses dois setores do que em virtude
da s estruturas educacional e de saúde e de como se elas se
contrar na saúde a tentativa de suprir deficiências da forma
ingressado na rede por meio do próprio serviço de saúde, a
(e se incumbindo) de responder pela qualificação desse tra
problemas, porque há limites na possibilidade de atuação
especificamente, do serviço. É uma questão nuclear para qu
pela educação, nem a saúde pela saúde. Maria Umbelina,
modificação dos paradigmas, traz um componente importa
se inclui o tema do mercado profissional como definidor das h
formar o profissional x,y ou z.
É importante indagar como acontece a articulação
profissional com o mercado de trabalho. Se a articulação cado o paradigma, algumas coisas têm que ser repensadastas habilitações profissionais existentes, das quais vinte e p
Tem-se que manter todas elas, acrescentar outras ou supri
da habilitação profissional no segundo grau é fundamental,
finir por onde caminhar. Alina Souza aborda o problema das
uma proposta para elas. Mas o que se está entendendo reapara a saúde? Como a discussão está articulada com o pe
uma formação em nível de segundo grau? Ε essa formaç
perceber de que forma se abrem ou se fecham in
política, que relação essa participação política tem co
balho, como o conhecimento da organização do trabal
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 103/142
ticipação política, é argumentação, é força do trabalha
pação política. Que ele tenha acesso, inclusive, à prod
manidades, das artes, que também fazem parte da pro
São outras facetas relacionadas com essa totalidade da
política e da vida cultural.
Ε nesse sentido que entendo o segundo grau, com
o trabalho. Não sei se seria profissionalização stricto
maneira, significaria preparar a pessoa para viver na soci
perspectiva desse novo paradigma, que não está ainda tot
ver claramente que a atuação de outro conjunto de prin
processo de trabalho em nossa sociedade de Terceiro M
traste muito mais violento do que nos países do chamad
prisma, o próprio exercício da cidadania, da participaç
dadão, enfim, fica muito condicionada por um conhecime
apenas de uma profissionalização, mas do conhecimento
guns aspectos do trabalho.
Isso pode ser observado, por exemplo, na questãportância de esquemas de vacinação em massa e no mov
sumidor quanto ao uso de defensivos agrícolas e outras dr
malícia em relação às derivações das tecnologias, de for
modo a não se expor enquanto pessoa a riscos desnecesinterferir, de forma qualificada, na tomada de decisões qu
que vão afetar a vida de cada um. Há uma interface muitotécnico e o segundo grau, considerado como educação
atuais, em grande parte, a bagagem do cidadão comum
Estados Unidos, na época em que somente a metade
equivalente ao quarto ano, havia uma festa de família e
clusão de um ciclo.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 104/142
Dadas as condições atuais do País, uma escola técnicaque, pelo menos, resgatar o social para os trabalhadores, foram marginalizadas do sistema educacional, até que seja pCuba, num determinado momento da revolução, fez umatingir determinado patamar, que está mudando neste m
terando, inclusive, a política e as exigências para a formaçã
Temos que pensar uma escola técnica para este Brtraditório, que tem patamares variados em função de descola técnica de saúde deve acolher essa discussão, bemretamente ligados à área educacional, para poder pro
última instância, são pessoas que compõem a chamada plação produtiva.
Não penso na escola básica de 'cuspe e giz', mas, si
pessoa que faz a seguinte pergunta: "Se passarmos da q
química do raio laser, qual a mudança qualitativa para a so
demos a escola básica ligada ao trabalho, não a ligação
imaginamos um curso de química que, de modo gradativo,
ciência química, mas que, ao mesmo tempo, forneça elem
divíduo para que ele possa fazer o recorte, possibilitando-lh
se r técnico em saúde, e não técnico em transporte.
Parece-me que a tese defendida hoje seria a de gara
básica profissionalizante em todos os campos de uma so
dos valores. Precisa também buscar um núcleo que organi
terminado campo. Isso é profundamente profissionalizante.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 105/142
M a r i a Umbelina
O ensino técnico stricto sensu deve ter, obrigatoria
com o exercício da profissão, porque é um processo mais
investe numa pessoa que já é privilegiada porque cons
grau de escolarização. Por outro lado, diante da tendência
de metade da população, são da maior importância form
sionalização, especialmente para o indivíduo que atua na
perança seria que o desenvolvimento criasse condições
economia informal, mas o que está surgindo é o contrário,
a acentuar essa marginalização.
Imagino como poderia ocorrer, na prática, a profissi
cação geral. Entendo que, a médio e longo prazos, isso ac
sociedade. Seria também interessante saber como tem sidjeto Larga Escala.
M a r i a Umbelina
Essa é uma questão extremamente complexa. C
perspectiva apontada como uma saída a curto prazo, nã
compreensão do próprio interesse e ponto de vista individ
trabalhadora. O desafio está em pensar nas múltiplas forma
o ensino regular) que considerem a formação geral e espaço físico e temporal da unidade de serviço, e até nas f
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 106/142
A l i n a Souza
Em relação ao Projeto Larga Escala, 1 uma questão
profissionalização necessariamente não descarta a educ
portância desse projeto é a tentativa de fazer cortes drículo das habilitações mediante um processo metodoló
sentação do real, de como se deseja trabalhar determina
caminhar no sentido de atingir esse mesmo conceito, m
tífico, do ponto de vista da saúde. O aluno percorre um
que se conhece na escola regular, o que permite adicion
formalmente não oferecidos, da educação geral como, pcom o objetivo de melhorar a redação.
prazo, determinadas demandas que as políticas públicas p
jam exigindo em nível de qualificação profissional. A decisplar um projeto contra-hegemônico, com o profissional n
simples recurso descartável. Não se pode pensar em pess
cursos humanos, pelo menos no processo educacional, poSe a máquina fica obsoleta e a substituo por outra, a ten
menclatura e entender recursos humanos da mesma forma
velho, desgastado, não interessa mais, chamo outro. Não
de conteúdo, nomenclatura de essência.
'contaminação', por exemplo, partindo de representações
soas vivem e adoecem. E, então, a partir desse grande cí
'contaminar' no sentido estrito mesmo, da agulha, da mento médico.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 107/142
O caminho percorrido para chegar a essa conclu
mento das formas de sobrevivência de determinada po
cançar o conceito desejado. Isso é que traz para dentro do
social, do antropológico, do cultural. Resgatar tudo isso e
geral é a experiência das pessoas que passaram pelo procala, em si, não contempla a educação geral. Ele tenta
flexões sobre linguagem, operações básicas etc. O Larga
muito com a especificidade da habilitação. Quando um
mação completa exigida pelo MEC, recebe somente o
que não a credencia como técnico ou como auxiliar da c
tem que dar resposta também a essa questão.
A c h o necessário que, além da oportunidade da
tos à disposição da população centros públicos de form
existe hoje fora da rede escolar são instâncias de form
ladas pelo capital e que têm todo empenho em faze
muito operacional, sem a devida compreensão do procese r feita a referida integração, principalmente conside
está no mercado, que já foi prejudicado em relação à
Então, é importante que existam centros de formação pr
visão mais pública, mais preocupada com o sentido de
portância do social, oferecendo oportunidades de
trabalhador já engajado ou até mesmo àquele que vaiprimeiro grau e precisa ter alguma habilitação para ent
mental que a pessoa não seja duplamente punida por te
tivos. É muito mais fácil a alguém que percorreu o siste
a executar determinada técnica no momento de inserir
ocorrer o inverso: uma pessoa inserida há tempos no conhecimento, o que, no meu entender, dificulta a superaçã
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 108/142
A l i n a Souza
U m a das maiores críticas que se faz ao Projeto Larg
tempo: "É um projeto que demora muito". Ele demora m
g ia adotada é para atuar no interior mesmo do trabalho, do
em dois tempos, e não apenas naquela idéia mais comu
referencia apenas no tempo de o indivíduo aprender. Há
coletivo, porque o processo não se dá numa metodologia
numa relação instrutor-aluno. Ela depende do que e
coletivo e depende da organização dos serviços de saúd
do currículo que, em determinado momento, tem que se
Esse assunto está no currículo tradicional, mas, como é u
baseado no trabalho, para que esse ponto da unidade s
que o serviço de saúde tenha os instrumentos necessárioo serviço não tiver, a unidade não avança. Ele é um pro
idéia de formar na perspectiva da organização do serviço
promisso com a escola técnica do sistema formal, posso mon
nar. Na proposta do Larga Escala, não existe a possibilidade
lada) de ensinar um procedimento que não vai ser executa
apenas ocasionalmente.P or outro lado, se não existe o projeto político da r
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 109/142
A QUESTÃO TECNOLÓGICA Ε A
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 110/142
C IÊ N C I A , T E C N O L O G I A Ε Q U A L
P R O F I SSI O N A L E M S A Ú D
Ma r í l i
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 111/142
A respeito do tema ciência, tecnologia e qualifica
inexistem estudos setoriais que forneçam uma base emp
conseqüências que a tecnologia vem acarretando sobre osaúde. Na verdade, há pouquíssimos estudos sobre esse a
lação ao mercado de trabalho em geral, com exceçã
específicas sobre os setores automobilístico e de serviços,situação é bastante diferente nos países industrialmen
existem estudos não apenas empíricos, mas também a
dos enfrentamentos políticos nessas sociedades, resultados pela tecnologia.
No Brasil, a Lei 5.692/71 propôs uma reforma
segundo graus no início dos anos 70, no clima do 'mil
forma era interpretada como uma verdadeira panacéia,
iria superar a questão das desigualdades sociais. Essa icondizente com o modelo de 'Brasil potência' que o au
projetando. Na verdade, essa lei tinha por objetivo imped
Outro aspecto importante é a taxa de formalidade
do País, que vem registrando uma acentuada tendência d
de 80. A taxa de formalidade expressa o percentual dos trassinada, mais os estatutários da administração pública, ou
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 112/142
contingente em relação ao total da população ocupada.
4 2 % ; em 1986, caiu para 40%, ou seja, 60% da populaçã
informalidade, o que projeta um agravamento da situação.
Tais dados sugerem que o setor produtivo está conc
ganhos não-operacionais, fazendo investimentos não-produdos informais para contratar mão-de-obra. Nos últimos vint
uma tendência de queda da participação da renda do traba
respondente a salários mais encargos sociais tem caído
brasileiro. A renda do trabalho participou com 38,67% do
com 40,7%; para 1985, a projeção é ainda mais baixa,
cerca de 36%; para 1988, esse índice cai para 33%. Nos Eplo, a situação é bem diferente: o rendimento do trabalho
de participação no PIB, que, por sua vez , é muito maior do
uma idéia, enquanto o PIB brasileiro, em 1988, ficou em to
apenas o gasto em saúde nos Estados Unidos alcançou US$ 550
No Japão, a renda do trabalho participa com 70% d6 1 % . Perdemos até para o Paraguai. Somente o Equador
taxas ainda menores que as do Brasil. Nos países indust
parcela dos ganhos de produtividade para os salários ex
ticipação da renda do trabalho no PIB. Isto é: do tota
economia como um todo, à elevação de ganhos de produ
portante será repassada aos salários. Por esses indicadonosso modelo de desenvolvimento econômico está pen
produtivo, premiando a aplicação de recursos na ciran
ticipação dos salários na composição do PIB. Ε esse mod
viável, deve ter como referência três pontos nodais: a mo
distribuição da renda e a democracia. São os três pontosmodelo de retomada do desenvolvimento econômico, por
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 113/142
e o processo de modernização tecnológica estão hoje
mundial - estreitamente vinculados.
P or ser hoje a economia brasileira bastante interna
tempo, com um grau de atraso tecnológico muito acent
modernização tecnológica é muito grande e, com pouquase todos os setores. Esse atraso tecnológico vem ating
médias empresas nacionais e as empresas mais jovens, just
empregadoras de mão-de-obra, que têm um número de tr
lação ao capital investido em máquinas. Esse atraso tem r
de produtividade que a economia apresenta e nas sérias d
confiabilidade apresentadas por muitos produtos industriacompetitividade da economia nacional. Apontar dados re
nifica que a agricultura não tenha importância, porém, q
volvimento, a indústria tem um papel primordial, ao imp
desenvolvimento. Não se está negando, portanto, a impo
mesmo a complementaridade da agricultura.
Sabemos, entretanto, inclusive porque vivemos es
recente do País, que não basta apenas o crescimento ec
mentou um crescimento econômico fantástico na época d
crescimento que se deu sem a preocupação de trazer, par
cionais, a capacitação tecnológica e o controle não apenas
e de ponta, mas da tecnologia de modo geral. O modelodustrial e tecnológico, baseado em substituição de im
Brasil, tornando-o um país industrializado, porém cabe inda
Nesse modelo dependente, a única vantagem que
ternacionalmente e a trazer para a mesa de negociação -
negociação quando se está de joelhos - é o baixo custo dciosos recursos naturais, alguns à beira do esgotamento,
os não-renováveis. Esse modelo dependente continuar
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 114/142
modernidade enganadora, que nos confundiu, mas que
porque hoje convivemos com uma situação ímpar de pr
violência. Essa modernidade, e isso está claro pelo menos no
da sociedade brasileira, não serve mais. Uma via de deque tenha como prioridade a satisfação das necessida
exigirá crescimento com elevação dos salários reais e u
mercado interno sem as distorções atuais resultantes d
renda hoje existente. Esta segunda via, não-dependente,
estrutura industrial a partir da tecnologia, ajustada a uma
terno que resulte da ampliação de programas sociais e daque resulte na produção para o consumo de bens mais ba
mentos em infra-estrutura social.
Ε necessária uma estrutura produtiva eficiente, mod
competitividade internacional para atender a esse acúmu
sociais não satisfeitas. Não há outra alternativa. Ε preciso
nacional e vencer o desafio do mercado externo, para g
econômico interno. Para o Brasil, a questão tecnológica, p
ser colocada apenas nos termos dos efeitos negativos sob
porque até parece que já estamos na ponta, que somos u
peravançado, discutindo os impactos negativos da tecno
trabalho. Desse modo, embora seja um aspecto extremam
mos centrar nossa discussão apenas na eliminação ou dim
balho pela incorporação da tecnologia, como se dá no cas
jam novos profissionais, com exigências de qualificação d
d a d e , a própria natureza do trabalho está sendo profunda
vações tecnológicas. Isso ocorre menos pela ação em si darada, como no caso da microeletrônica, mas muito mais
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 115/142
sendo introduzida e incorporada.
Assim, é principalmente a orientação que se impr
zação de controles automatizados na produção industrial o
terminar o caráter ou as características de suas implicaçõ
de escolha política. O problema da opção tecnológica é, prefere às decisões referentes ao processo de inovação te
para outros países do Terceiro Mundo, ainda é possível a
desenvolvimento econômico equilibrado social e ecologica
oportunidade que nos está sendo dada justamente pe
avançada, pela questão da microeletrônica, pela questão
é, pela possibilidade que essas tecnologias oferecem de re
controle do processo de trabalho, bem como o impacto so
caso da microeletrônica, houve uma decisão política. A ár
vamente, aquela em que se traçou claramente uma pol
tados estão aí. Com distorções, mas são resultados inequív
expl ica por que no Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comér
que tem estado a serviço dos interesses norte-americanos
de pressões espantosas e retaliações. No campo do soft
também uma boa projeção. No caso da biotecnologia ap
tecnologias de engenharia genética, é grande a tradição
pesquisa biomédica nas instituições públicas, como a Fioc
O Brasil é competente em biotecnologia graças, emque tem uma longa tradição na área biomédica e na pe
sanitaristas, companheiros de Oswaldo C r u z , que criaram
em termos salariais, a menor competitividade, em virtude
tre os salários que oferece e os praticados pelo setor privad
Essa valorização, na área biomédica, aponta parasante: a incorporação de tecnologia moderna suscita a ind
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 116/142
turo de parte dos especialistas médicos, porque há indica
profissional sofrerá um processo de 'desqualificação', isto é
engenheiro biomédico ou por profissionais de computaçã
prospecção, há que buscar dados empíricos, talvez nos es
nológica e impactos sobre o mercado profissional médEstados Unidos, por exemplo. Inovações tecnológicas pod
terações revolucionárias na organização do trabalho, e, no
croeletrônica trouxe o sistema da subcontratação, retornou
dução no nível doméstico, realizada no domicílio, em dive
também nos serviços. Com o desenvolvimento de máquina
trole numérico, o indivíduo pode trabalhar em casa. Isso e
no Brasil, e, na área automobilística, há estudos que apon
uma forte tendência à descentralização do trabalho, fato
portantíssimas para a discussão na área sindical. Assim,nológico e as mudanças no processo de trabalho são politic
isso é bom, felizmente, porque senão a técnica estaria
mente, com seus impactos sociais e ambientais potencialm
C h a m o a atenção para essa condicionalidade p
mudanças no processo de trabalho se materializam conform
lações entre capital e trabalho e pela intervenção do Esca s públicas, com destaque para a política de desenv
política científica e tecnológica, que têm uma forte itratégico no rumo a ser tomado pelo País. Forte influên
ce r a resistência sindical à inovação tecnológica que de
mocrática pode imprimir rumos diferentes à condução do
política é fundamental, porque facilita ou dificulta os efeit
tivos negativos sobre a força de trabalho e o meio ambieforça do movimento sindical podem estabelecer limites a
tecnologia. Desse modo, existe uma clara dialética, pois,
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 117/142
desqualificação como tendência, esta tendência é aco
criação de novas qualificações. Se a tecnologia fornece
cazes de controle do processo de trabalho, ela prevê a m
trabalho para certos grupos profissionais, exigindo tambémresponsabilidade em termos do trabalho passem a ter u
traordinária, envolvendo também a elevação do nível dos s
gorias. Não existe essa tendência inexorável à degradação
vação tecnológica, principalmente num país como o nosaqui apresentado. Ε preciso ter muita clareza quanto a essa
O Brasil não sairá da situação atual num espaço cuse decidir agora é crucial para o futuro e para alterar essa s
semprego, de subemprego, de economia subterrânea, de
escolher um modelo de desenvolvimento que confira a m
produção de ciência, ao desenvolvimento científico e te
desde a erradicação do analfabetismo até os cursos mais es
Para o Brasil, a ação do Estado deverá ser apropria
da sociedade brasileira. Em matéria de política científica
em nossa história - curta, mas importante - fatos marca
C N P q , do B N D E S , da Finep e da C ap es . Nesse arcabouço
científica não pode ser vista como um investimento pur
científica, que, no País, tem estado muito distante do dese só recentemente algumas universidades vêm assumindo
do desenvolvimento econômico e tecnológico. A política
quisa clínica comportam determinadas disciplinas, determ
ambos os campos - mesmo sem considerar o caso da p
prestação de serviços na área de controle de qualidade onão encontrei a menor relação entre essas disciplinas e
legislação, há um descompasso evidente, um distanciam
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 118/142
dade. Isso pode estar traduzindo a total desarticulação e
cação e as outras, nas quais se inserem as políticas científic
Parece-me que, na análise sobre a formação profiss
a variável tecnologia é um excelente ponto de partida. Temcomo um espaço estratégico, como um laboratório exemp
a qualificação profissional em saúde. Creio que esse tema
se já fôssemos um país altamente industrializado. Devemos
pactos da tecnologia, mas sem perder a consciência do
desse país, a instituição em que atuamos, sobre a qual res
tiva da sociedade em relação ao papel que desempenhará
dade aumenta no momento em que se caminha para um
para uma mudança na presidência da Fiocruz, em que
mudança nas unidades técnico-científicas. Todos esses fato
a situação crucial que atravessa a comunidade de pesquisa
sores e médicos que compõem a 'Universidade da S a ú d e '
instituição um elenco de atividades que também expre
nologias, na medida em que cada atividade reúne uma o
o seu desenvolvimento.
Q U A L I F I C A Ç Ã O T É C N I C A Ε Q U A L I F I C
E M B U S C A D E U M A V I S Ã O P Ó S -HA
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 119/142
Pode-se imaginar qualificação técnica e qualificaçã
que se opõem, as quais sabemos constituídas de matérias
dificuldades em separar. Pretendo analisar a relação existeuma perspectiva diacrônica.
Em um momento inicial, a técnica foi tratada co
ciedade. Tinha-se o progresso técnico como algo linear,
opções políticas e às características culturais da sociedade
a visão dominante no final do século passado, quan
naturalismo, o racionalismo eram as tendências prevalent
escapou dessa concepção, ainda que tenha tentado ser m
cionista (ele, afinal, não poderia ser melhor do que o seu
senvolvimento acelerado da economia mundial capitalist
muito a idéia do 'determinismo técnico', segundo a qual
nada pela evolução da técnica, tendência assumida, gross
quanto pela esquerda.
Somente com os teóricos da Escola de Frankfurt é
No Brasil, essas duas concepções influenciaram
acadêmica. Com a fase desenvolvimentista, a própri
começou a acreditar bastante nessa idéia do determinanálises, os próprios sociólogos discutiam o nível de mode
triais, como se ele fosse capaz de determinar a consciênc
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 120/142
série de pesquisas, nos anos 50 e 60, demonstrava ser a n
trabalhadores conseqüência do setor industrial em
exatamente, do grau de modernidade desse setor.
Quanto à visão da Escola de Frankfurt, ela acabforma indireta. No Brasil, não se tem consciência de que
nologia surgida nos anos 70 é uma conseqüência da ruptu
teóricos alemães. Foi a partir da leitura de autores como o fra
plo, que surgiu uma série de teses sobre as influências so
senvolvimento técnico, criticando-se duramente a organiz
como forma de controle dos operários. Sem dúvida, o c
uma simplificação extrema reduzir toda a técnica ao taylo
sido utilizado em todas as indústrias, o que de fato não o
o modelo taylorista e concluía-se que técnica era sinônimo
Essas duas visões parecem inadequadas porque sã
cas. Analisa-se, de um lado, a sociedade como um sistesegundo a melhor tradição da sociologia americana. Ε o
como se dizia no fim dos anos 60 e início dos 70. A culpa
a fazer, porque ele está em todo lugar. A sociedade seria e
social, caracterizado por um desenvolvimento tecnológico
um subsistema social. Só haveria opressão e nenhuma for
balhadores seria possível.O r a , a realidade não é só essa. A sociedade é con
ciedade tecnocratizada, de um lado, ou, então, para o c
não é apenas uma grande máquina. A sociedade industria
nada pelo exemplo da máquina, que ela própria, em acomo uma máquina de opressão e, em outros, como um
Parece-me, entretanto, que se , por um lado, ela é um sist
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 121/142
um mundo da vida que corresponde à perspectiva inter
terna, de quem está de fora). O sistema é a visão da so
lado de dentro e constata que existem a opressão e a res
gativo, a dor e a alegria, o trabalho e o lazer. Então, essa vpartir da experiência de vida dos participantes da construç
O ideal, então, seria conseguir reunir a perspectiva
do mundo da vida. Como reunir essas duas perspectivas?
cessárias. Ε preciso olhar as coisas de fora e de dentro. Ε ne
as coisas do lado de fora, não se tem o conhecimento tota
muitos aspectos por dentro que deixam de ser vistos. Ta
q u e , estando-se dentro, muitas vezes, perde-se a visão glob
Voltando ao tema que me foi apresentado: como
nos são feitas, seja pela técnica, seja pelo social? Partindo
jamos caminhar para uma sociedade mais justa, temos q
formação ideológica. A primeira é a idéia de legitimar dectécnica. A técnica não tem efetivamente o poder de legi
respeito à própria vida política. Isso, como dizia o primeiro
a técnica em ideologia. A técnica pode se transformar e
cada para responder a um problema social, que merece
tratamento segundo a racionalidade própria da instituição
outro lado, não podemos também nos deixar levar por umjulgue poder passar por cima de assuntos que requerem r
nica. Não é possível realizar tudo o que desejamos polit
tada enquanto vivíamos sob uma ditadura, mas já está n
além, se nosso objetivo é realmente construir uma sociedade
ação que nos cabe encontrar respostas para esse questiovem da técnica e do social. Para encontrar um equilíbrio
esferas, é necessário certo tipo de lucidez, que pode ser aju
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 122/142
(Felizmente, há métodos para nos ajudar.) Por exemplo, umaparticipantes interessados diretamente no assunto, uma dnão a partir de um critério só, o econômico, por exemplo
conseqüências possíveis de uma solução técnica (ecológicaU m a tomada de decisão coletiva, com troca de argumencoerentes do ponto de vista técnico, mas também em facetem. Certamente, uma reflexão nesses termos é capaz de nos leação que seja capaz de equilibrar as exigências que nos vêm
Para que um debate como esse seja possível,
primeiro lugar, condições políticas mais amplas. Não vouparecem bastante claras. Mas há ainda uma exigência ligamentar dos diversos agentes. Ε uma ilusão - freqüentement
pensar que se pode garantir uma decisão democrática simsoas que nunca falaram em público, que nunca tiveram dir
que estão acostumadas a lidar com esse tipo de discurso (
N ão basta apenas dizer: "meus caros, a palavra está abertpreciso que as pessoas tenham a capacidade de saber defenchegamos ao problema da qualificação. A condição inicique os participantes tivessem qualificação técnica e sociopara não confundir esses domínios.
Numa sociedade moderna - nisso Weber tinha razão - ,leis autônomas. Isso é razoavelmente claro. O que não é óbdevamos abandonar a perspectiva de uma conciliação dialé
DEBA TE
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 123/142
A partir da temática da tecnologia, parece muito
exemplo, riscos e questões relacionados à saúde dos trabaambiente, a questão do consumidor. Ela permite pensar em
ceituais, como o próprio conceito de risco. No debate sob
senvolvimento, quando se discutem os aspectos destrutivo
de maneira geral há uma tendência a negar ou a atacar es
mantemos a idéia do acidente dentro de uma concepção ar
indesejável, atribuído normalmente a uma falha de um prevolução nas abordagens sistêmicas e nas perspectivas tan
outras áreas sistêmicas , como, por exemplo, na área de ac
inerência sistêmica do próprio acidente, e isso, relacionad
risco relacionado a determinadas tecnologias.
A tecnologia é, antes de mais nada, uma rearrumaç
manas, mas também da natureza. Essa rearrumação, por
estupendas. Temos falado desse conjunto de tecnologia
mamente complexos, que, em países desenvolvidos, ao
merecendo uma discussão bastante avançada. O problema
de vista do risco, envolve, também, em muitas situações, u
risco. Podemos passar a ter que enfrentar, para o desenv
dentes catastróficos, por exemplo. Isso acontece no des
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 124/142
química e nuclear, e potencialmente com a própria biotecn
Isto remete a uma discussão extremamente comple
julga o risco, qual a competência para julgar esse risco, qu
seqüências de determinados desenvolvimentos tecnológicosresponsabilidade de determinados indivíduos (técnicos) qu
tendem o processo como um todo e têm uma participação
do processo. Às vezes, costumo brincar dizendo que não co
clear que ataque a energia nuclear, embora até possa cri
como não conheço pessoa da área de biotecnologia que, a
não defenda o desenvolvimento da biotecnologia em si.
Nesta discussão, parecem-me extremamente comple
dem a polarizar os efeitos positivos e negativos do des
Penso ser importante trazer o assunto para reflexão esrefere à educação. Perder a referência do papel da educ
rer o risco de cometer equívocos bastante sérios. Não se
formação do cidadão, e nisso está incluída a formação d
e exclusivamente - a qualificação técnico-profissional. Se
integrante do ensino básico, é preciso formular uma pro
considere o domínio dos fundamentos científicos que subgumas técnicas. Nesse sentido, onde se situa a especificid
determinada qualificação profissional?
na questão da interdisciplinaridade, da multidisciplinar
restringir ao específico, mas não tenho a menor dúvida de
um lugar importantíssimo. Não podemos, também, imagconta de todas as disciplinas, de todos os conhecimentos
alguém no campo das biotecnologias. O processo de trab
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 125/142
gia tem um grau de complexidade muito grande, indo da
dução industrial, e é preciso definir a composição ideal d
ratórios etc., c a p a z de atender a toda essa complexida
controle de qualidade, a questão dos ensaios experimende segurança, o problema do meio ambiente, dos impa
podemos pretender criar uma escola no campus da Fio
a todas as necessidades dessa qualificação. Temos que
de um modo articulado na rede de ensino como um
tribuição de outras instituições.
No caso do ensino da biotecnologia, estamos pen
inclua a discussão econômica, passando pela história
que considere o papel de instituições como a Politécn
Q u í m i c a e o Departamento de Macromoléculas da Uni
de Janeiro, entre outras. O desafio é discutir a questão do
o que seja absolutamente relevante do ponto de vista téc
rismo. Aliás, penso que esse momento já foi vivido e ult
cional de Saúde Pública. Por conta de um pragmatismo exafastamos dos valores acadêmicos. Não se trata de discuti
que é moderno e está na moda. É uma questão de sobrev
e , dentro da Fiocruz, para cada uma de suas unidades. Qu
laboratoriais empregar na formação de nossos alunos de níve
sendo absolutamente prático, não nega a importância da
oferece o desafio de trabalhar o conjunto de conhecimento
Sobre a tendência na economia, é preciso ter pres
exclusivamente um setor de serviços, possui também prod
que é certamente a questão mais desafiadora da institu
peso relevante no processo de terceirização da econom
serção estratégica, porque, no caso brasileiro, o setor saúd
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 126/142
Rogério Val l e
Dentre tantas indagações, acabamos selecionando o
tivo. Para mim, o mais pertinente seria enfatizar que psociais ' de uma técnica é abordar um falso tema. Essa
que o revelado pela área agrícola para estimular o desenvo
Quanto ao modelo para o desenvolvimento da bio
pel da instituição pública, da empresa pública, como e
alavancar o desenvolvimento, repassando tecnologia ao sproduzindo bens. O modelo brasileiro de desenvolvimento
a discussão do papel estratégico da instituição pública. E
que já temos no País, ao contrário da tendência de enfo
dando no Primeiro Mundo, onde se verifica o seguinte: n
gia se desenvolvem a partir do empresário-pesquisador;
nado produto que ele mesmo desenvolve, cria uma empruma pequena firma de biotecnologia, que passa a ter um
das grandes corporações. Parece-me que o caminho brasil
nossa capacitação está nas instituições públicas, na
por exemplo, nas universidades. Diante de tal situação, pe
senvolvimento dessas instituições deve ter prioridade abso
mal, e não vejo nenhuma razão para aceitar a hipótese. D
as que podem e as que não podem ser aplicadas. Vou, a
três, que são diferentes, mas se aplicam melhor ao caso.putador fornece uma série de dados, mas deixa em abe
que a situação do operário que trabalha numa linha de
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 127/142
do médico, pois em ambas o computador é um instrume
resultados que necessitam ser interpretados.
O verdadeiro desafio para o médico, para o oper
compreender, transformar a visão que possuem da profissder que não pode dizer o que é a doença. Na verdade
dados que aparecem na máquina. A transformação ma
preensão de seu próprio trabalho, na representação que
der, finalmente, que não lidamos com coisas, mas com int
transformação mais difícil, que está no nível das mentalida
que , necessariamente, requer um esforço de elucidaçãsistema de educação tem papel fundamental.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 128/142
HomenagemA Joaquim Alberto Cardoso de
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 129/142
Feitos farão tão
Que não caibam em ve
Quincas , meu irmãozinho:
N ão ria, você já sabia que eu ia começar com Cavocê merece.
Criaram um prêmio com seu nome, e hoje, dia da ed a homenagem.
P or que eu? Por sua causa. Porque nós éramos amcorrespondência, que você publicou em livro. Bem, estou dizen
S i m , quero lhe informar, ainda, que escrevo com ca
no tinteiro, daquelas com que nós aprendemos a escr
passei a limpo.
" F o i certamente a sua amizade por mim que fez com
para a apresentação desta coletânea. Também por amipassada de olhos, tentando ordenar o material, fiquei enca
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 130/142
que Sherrine Maria faz de uma passagem de Lewis Carrol:
Não se pode acreditar em coisas impossíveis, diz Alic
Suponho que tens falta de treino, diz a Rainha (...)Aconteceu-me, algumas vezes, acreditar em seis cois
tes do pequeno almoço.
Penso que nada seria mais adequado a um livro s
mente um livro nascido na Escola Nacional de Saúde Públ
Edmar Terra Blois, o fundador desta casa (hoje, esttrada), costumava dizer: 'Vamos criar uma escola, com fapletava: 'Essa escola será tanto mais competente, quanto mversidade da Lap a . '
Ele se referia aos encontros no final da noite, entre
fos, vagabundos e, naturalmente, prostitutas, nos bares do
Ε Sávio Antunes - estamos devendo a ele a homencida e que ainda não veio - , companheiro de Blois, tamcasa e que tão profundamente marcou a nossa maneira ' Lá , os debates eram muito mais estimulantes do quFaculdade. '
Era a nossa escola no seu início, nos seus tempos hsoube tão bem captar e desenvolver. Livre, como deve ser t
pouco anárquica, como também deve ser, e com muita audá
" F a z frio aqui em Petrópolis. Depois do jantar e de upelos jardins de Turris Eburnea com Branca Maria e nossopara uma leitura mais atenta dos textos."
O cão, nosso querido Leão, morreu, como você seres mais inteligentes e afetuosos (razão e paixão) que c
vida. Procure por ele aí, tenho certeza de que se tornarão
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 131/142
Ε ainda, outra passagem:
" S ã o onze horas da noite. A essa hora, inexoravetraz o chá. Branca Maria, encantadora como sempre, vai tese que está escrevendo, O ensino nos tempos de Osda evocação, que ela sabe tão bem fazer, do Rio belle épo
A tese foi defendida e aprovada com láurea. Você tpação. Lembra-se?
Mas o meu egocentrismo não é absoluto. Passo encontas, o homenageado é você.
" É que estou tentando ver se essa coletânea podIX Conferência Nacional de Saúde. Por um motivo pessosobrinho caçula, Luiz Guilherme, para o lançamento, e paum evento inesquecível para ambos."
Mais tarde, você me diria que nem isso era fundam
época , você já estava muito mais próximo do Paraíso.
Meu irmãozinho, como eu aprendi com você nquando poderemos retomar as nossas conversas. De hom
preocupação com a platéia, fazendo a crítica da crítica. Laqueles que têm o forte sentimento da morte.
Senhor Presidente da Fiocruz, meu irmãozinho PauSenhor Diretor da Ensp, meu irmãozinho, muito ma
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 132/142
Meus senhores e minhas senhoras:
Joaquim Alberto Cardoso de Melo nasceu em Pirajua 26 de outubro de 1936. Estudos secundários, ele já noescreveu, no Liceu Pasteur. Curso de graduação em O don1961. Curso de Saúde Públ ica na Faculdade de Saúde 19 66 . Na mesma Faculdade, C urso de E ducação em S aúdFaculdade de Ciências M édicas da U niversidade de C amda Escola Nacional de Saúde Públ ica desde 1977, onde, ncias Sociais - área de Ed ucação - , ministrou cursos e orie
doutorado. Foi também, e com grande satisfação sua, Escola P oli técnica de S aúde Joaquim V enâncio.
Participou de bancas de exame, de comissões, da
e mesas-redondas.Em 1977, nos legou A Educação e as Práticas de Saúd
C o m Victor Val ia, publ icou, em 1987, Sem EducaçãRamos e Soares, Quem Educa Quem?, em 1989. Em 1990, terminados e ainda não publicados Trabalho, Educação euma sócio-antropologia das investigações de saúde, e jácação: razão e paixão, que sairia póstumo. Ainda em 19nação de Pós-Graduação o seu programa de pesquis
Tínhamos lido e nos encantado com os mesmos liVerne (a inesquecível figura do capitão Nemo, Phileas Fmais tarde imortalizados no cinema por David Niven e CTarzã (que, no nosso tempo, era representado no cinema
passando da fantasia à realidade, as viagens do capitãAmundsen ao Pólo Sul. E, voltando à fantasia, o eterno Sem livro ou no cinema, as histórias da Legião Estrangeira.
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 133/142
Ε os clássicos, aqueles que estudávamos no colégfrancês, latim e grego, e os que lemos por nossa conta.
Comentávamos a pedagogia daquele tempo. As hisprofessores. Ε o cinema, onde mesmo na matinê, só se enA s piadas da época, enfim, o mundo da nossa juventude.
Ε foi nessas conversas, leves e despretensiosas, mu
de André, Bianca e Júlio, com quem implicávamos, quemais amigos.
Encontro ainda, em Rouanet (Mal Estar na Mode
que teria sido muito bem-vinda se tivesse chegado àé p o c a . É a seguinte: "Obelix não respeitava as normaPetrônio e, normalmente, os bárbaros brasileiros não ccolunas sociais. Comum, aos bárbaros antigos e mod
robusta, saudável e, quase diria, metódica. Nossos bárbacitar o título de um romance de Stendhal, como um frígde declamar uma ode de Catulo."
N ós já tínhamos passado a fase da crítica, agora fazíC o m bom humor, era divertido.
N os uniu também, nessa época, o projeto educacio
nica de Saúde.
Homem de paixão, sabia se indignar, se irritava, vocife
integral à Escola Politécnica. Sorrindo, com uma express
que eles querem é a minha va g a ' .
Seus cursos de filosofia foram um sucesso. Ε jama
Jamais fez aquilo que se costuma chamar 'jogar para a pl
comum nos dias de hoje e que, em português claro, se cha
Cer ta vez, André Malhão, que era seu assistente, m
com os alunos O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Amad
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 134/142
guntas e comentários sobre o período histórico correspond
a filosofia de Aristóteles. Acostumado a lidar com alunos
admirado com a competência dos meninos. Como o Qtente! Ε o André também.
T i n ha os seus métodos pedagógicos próprios. Algu
de ouvir suas aulas com a cabeça deitada na carteira, de o
menda, responderam que estavam prestando atenção
tou a cabeça na mesa , fechou os olhos e deu sua
deram: era desagradável.
Mas o seu êxito fica claro nas homenagens que re
E, especialmente, no carinhoso cordel escrito para ele pel
Ruzia e Rozângela. Não resisto a transcrever algumas passa
Filosofar, eis a questão
Com seu cigarro no dedoElegante pareceuMas depois fumou um gizΕ ninguém o entendeu
Pelo seu jeito disciplinadoUma discussão surgiuMas foi o maior baratoQuando na aula ele latiu
Com seu jeito rude
C o n h e c i três pessoas que se comportaram com a mante da morte.
Meu pai, grande clínico e professor, quando alguncuravam atenuar o seu prognóstico, dizia no tom habituaprendeu comigo, e não foi isso que eu te ensinei.'
Foi sereno, nada de ordens, façam isso ou façam também. Lembro-me da serenidade que havia em seus olh
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 135/142
pois da saída de uma visita que falara, durante horas, s' Isso não me interessa mais, prefiro ler as histórias do Pato
A mãe da Bianca, dona Mercedes. Mais jovem do qlamentos e, principalmente, nenhum teatro. Lembro-me Bar, poucos dias antes de sua morte. Como as dores fossesobre a mesa. Quando viu que tínhamos percebido, sorriu retomou a conversa. Nenhuma explicação, não havia nepretensamente heróico. Simplesmente retomou a conve
Petrônio e Eunice.
A terceira pessoa foi Joaquim Alberto. Conhececomo que cresceu, e muito. Ganhou mais segurança no tura, e até no trajar.
Acredito que tenha atingido uma dimensão do hum
Conseguido o encontro consigo mesmo, a sua individualiharmonia da paixão e razão.
Difícil exprimir isso em palavras.
Nessa época, conversávamos sobre a busca da indivser capaz de ouvir o seu coração, de olhar de frente os fan
tro de nós. Sem medo. O encontro da liberdade. Só a parp az de deixar ao mundo a sua mensagem, clara e sem men
N a d a de bom nessa imortalidade, a vida só é fascine a morte. Só há vida porque existe a morte.
Passo a palavra ao mestre Jorge Luis Borges, o imor
em 1949, em tradução livre de Ludovicus Tertius Cuanaba
" E m Londres, nos primeiros dias de junho de 1929taphilus, de Esmirna, ofereceu à princesa de Lucinge os
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 136/142
menor (1715-1720) da llíada de Pope. A princesa os adq
cou com ele algumas palavras. Era, disse-nos ela, um hom
de pele cinzenta e barba cinzenta, com o olhar singularcom fluidez e ignorância, em várias línguas; em poucos mao inglês e do inglês a uma enigmática mistura do espanhtuguês de Macau. Em outubro, um passageiro de Z e u s info
taphilus havia morrido ao regressar à Esmirna e que fora en
último tomo da llíada, foi encontrado o manuscrito que se
Leio apenas algumas passagens mais significativascia à história:
"Me disse ele que, a partir da outra margem do rio
Imortais. (...) Não me lembro se alguma vez acreditei mesmo assim me dediquei com afinco a buscá-la. Flavio,cedeu duzentos homens para a tarefa. (...) Partimos de Arido deserto. Atravessamos o país dos trogloditas, que dfazem uso das palavras. (...) A todos nós parecia inconcbárbaras, onde a terra gera tais monstros, pudesse estar sit
D e p o i s de longas marchas, vi o que, sem dúvida Imortais. (...) Junto a ela, homens de pele cinzenta, bar
Corredores sem saída, janelas inalcançáveis. Um
para um poço. (...) Quem ouve com atenção o meu rel
um homem da tribo me seguiu como um cão até a ba
noite me dispus a ensiná-lo a reconhecer e, quem
palavras. (...) A humildade e a miséria do troglodita meimagem de Argos, o velho cão moribundo da Odissé ia , e
de Argos e procurei ensiná-lo. Fracassei e tornei a fracas
e eu pertencêssemos a universos distintos, pensei que
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 137/142
iguais, mas que Argos as combinava de outra maneira e,
objetos. Pensei que talvez não existissem objetos para e
tínuo jogo de impressões brevíssimas. Pensei em um mutempo. (...) Muitos anos se passaram, até que certa m
mente. (...) Corri nu para a chuva. (...) Argos gemia..
gritei, Argos! (...) Foi quando, como se descobrisse algo
muito tempo, ele balbuciou: 'Argos, o cão de Ulisses'.
Ό que você sabe da Odisséia?' A prática do grego l
repetir a pergunta. 'Muito pouco', disse. 'Menos que o r
passaram mil e cem anos, desde que eu a inventei'. En
para mim: os trogloditas eram os imortais."
Mas o tempo já vai longe, e para nós, mortais, do lado
É tempo de terminar, e termino com uma passagemem artigo de abertura do livro:4
" P o d e r resgatar aquilo que move, comove, emoc
caminho possível para o reencantamento do universo, um
mesmo que seja para a morte?"
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 138/142
O U T R O S TÍTULOS DA EDITORA F IO CR U Z E
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 139/142
• Estado sem Cidadãos: seguridade social na América Latina• Saúde e Povos Indígenas. Ricardo Santos & Carlos E. A. Co• Saúde e Doença: um olhar antropológico. Paulo César
Souza Minayo (Orgs.), 1994.174p.• Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil.
Ricardo Lourenço de Oliveira, 1994.174p.
• Filosofia, História e Sociologia das Ciências I: abordage
Portocarrero (Org.), 1994. 268p.• Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Paulo Amarante
• O Controle da Esquistossomose. Segundo relatório do CO M S , 1994.110p.
• Vigilância Alimentar e Nutricional: limitações e interfac
Inês Rugani R. de Castro, 1995.108p.• Hanseníase: representações sobre a doença. Lenita B. L• Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasile
• A Responsabilidade pela Saúde: aspectos jurídicos: Hélio• Sistemas de Saúde: continuidades e mudanças. Paulo
• Tópicos em Malacologia Médica. Frederico Simões Barb
•Agir Comunicativo e Planejamento Social: uma crítica ao
cisco Javier Uribe Rivera, 1995. 213p.
• Metamorfoses do Corpo: uma pedagogia freudiana. Sherrine
• Política de Saúde: o público e o privado. Catalina Eibens
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 140/142
• Formação de Pessoal de Nível Médio para a Saúde: desa
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Org.), 1996. 2
• Tributo a Vênus: a luta contra a sífílis no Brasil, da pas40. Sérgio Carrara, 1996. 339p.
• O Homem e a Serpente: outras histórias para a loucu
Amarante, 1996.141 p.
• Raça, Ciência e Sociedade. Ricardo Ventura Santos & M
1996. 252p. (Co-edição com o Centro Cultural Banco d
• Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Pedr(Orgs.) , 1996. 364p.
• VI Conferência Mundial sobre a Mulher. Série Conferên
Unidas, 1996. 352p. (Co-edição com o Conselho Naciona
• Prevención Primaria de los Defectos Congênitos. Edu
Lopez-Camelo, Joaquin Ε . Paz & l ê d a M. Orioli, 1996.1
• Clínica e Terapêutica da Doença de Chagas: uma abordageral. João Carlos Pinto Dias & José Rodrigues Coura (Or
• Do Contágio à Transmissão: ciência e cultura na g
epidemiológico. Dina Czeresn ia , 1997.120p.
• A Endemia Hansênica: uma perspequitiva multidiscip
Queiroz & Maria Angélica Puntel, 1997.120p.
• Avaliação em Saúde: dos modelos conceituais à prática
de programas. Zulmira Maria Araújo Hartz (Org.), 1997
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 141/142
7/27/2019 Saúde, trabalho e formação profissional
http://slidepdf.com/reader/full/saude-trabalho-e-formacao-profissional 142/142
I M P R E S S Ã O Β ACABAMENTO
E D I T O R A L I D A D O S . L T D A .
R.Hilár io Ribeiro, 154 - P ç a . da B a n d e i r aR io de J a n e i r o · R J
Tel.: (021) 569-0594 · F a x : (021) 204-0684