Saúde, trabalho e formação profissional

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros  AMÂNCIO FILHO, A., and MOREIRA, MCGB., orgs. Saúde, trabalho e formação profissiona l  [online]. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 138 p. ISBN 85-85471-04-2. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Saúde, trabalho e formação profissional Antenor Amâncio Filho M. Cecilia G. B. Moreira

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros 

AMÂNCIO FILHO, A., and MOREIRA, MCGB., orgs. Saúde, trabalh

[online]. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 138 p. ISBN 85-85471-04-2

Saúde, trabalho e formação pro

Antenor Amâncio FilhoM. Cecilia G. B. Moreira

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S A Ú D E ,

T R A B A L H O Ε

F O RM A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L

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F U N D A Ç Ã O O S W A L D O C R U Z

Presidente

Eloi de Souza Garcia

Vice-Presidente de Ambiente, Comunicação e Informaçã

Maria Cecília de Souza Minayo

E DIT ORA F I OCR UZ

Coordenadora

Maria Cecília de Souza Minayo

Conselho EditorialCarlos E. A . Coimbra Jr.Carolina Μ . Bori

Charles Pessanha

Hooman Momen

Jaime L . Benchimol

José da Rocha CarvalheiroLuiz Fernando Ferreira

Miriam StruchinerPaulo AmarantePaulo GadelhaPaulo Marchiori BussVanize MacêdoZigman Brener

Coordenador ExecutivoJoão Carlos Canossa P. Mendes

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S

T R A B A

F O R M A Ç Ã O P R O F I S S

Antenor A m â n c i o F i l h oM . Cecil ia Q . B. M oreira

Organizadores

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Copyright © 1997 dos autores

Todos os direitos desta edição reservados àF U N D A Ç Ã O O S W A L D O CRUZ/ E DI T ORA

ISBN:85-85471-04-2

Capa, Projeto Gráfico e Editoração EletrônicaAngélica Mello

Imagem da CapaIlustração baseada no desenho "Proporções da figura(Galleria Dell 'Accademia, Veneza)

RevisãoFani Knoploch

DigitaçãoCenira Fernandes

Supervisão EditorialWalter Duarte

A P U BL I CAÇ ÃO D ESTE L I V RO É R E S U L T A D O DE TRABAL H O D EEDITORIAL Ε DE D I V U L G A Ç Ã O DA ESCOL A P OL I TÉ CN I CA DE SF U N D A Ç Ã O O S W A L D O C R U Z .

Catalogação-na-fonteCentro de Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca Lincoln de Freitas Filho

A484sAmâncio Filho, Antenor (Org.)

Saúde, trabalho e formação profissional./Organi

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A U T O R E S

Al i na Mar ia de A lmeida Souza

Professora do Departamento de Saúde Coletiva e Núcleo de Estu

Universidade de Brasíl ia

Hésio de A lbuquerque Cor de i r o

Professor do Instituto de Medicina Social da Uerj

Joaquim Alber to Card oso de M e l o

Professor do Departamento de C iências Sociais da Ensp/F iocruz e

de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz

Mar ia Cecí l ia de Souza Minayo

Professora Adjunta do Departamento de C iências Sociais da E nsp

Mar ia Umbe l i na Caia fa Salgado

Professora do Programa de Pó s-Graduação em Educação da U niv

Espírito Santo

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A Joaquim Alberto

Cardoso de Melo

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S U M Á R I O

P R E F Á C I O

A P R E S E N T A Ç Ã O

I N T R O D U Ç Ã O

I. S A Ú D E : C O N C E P Ç Õ E S Ε P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S

1. S A Ú D E Ε D O E N Ç A C O M O E X PR E S SÃ O C U L T U R A L

MariaCecília de Souza Minayo

2. O C O N C E I T O D E N E C E S S I D A D E S D E S A Ú D E Ε AS P O L Í T I C

Hésio de Albuquerque Cordeiro

3 . Debate

I I . R E L A Ç Õ E S D E T R A B A L H O N O S E T O R S A Ú D E

4. E D U C A Ç Ã O Ε S A Ú D E : D I M E N S Õ E S D A V I D A Ε D A E X I S T Ê N

Joaquim Alberto Cardoso de Melo5. A s D I M E N S Õ E S D O T R A B A L H O E M S A Ú D E

Roberto Passos Nogueira

6 . Debate

I I I . F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L : D I A G N Ó S T I C O Ε P A R T

7. O Novo P A R A D I G M A D A O R G A N I Z A Ç Ã O D O T R A B A L HO

P R O F I S S I O N A L N A Á R EA D A S A Ú D E

MariaUmbelina Caiafa Salgado

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PREFÁCIO

Em 1989, quando a Escola Politécnica de Saúde Jodação Oswaldo C r u z , realizou o seminário Choque Teórico

trabalho e formação profissional", colocava um desafio a

evento deveriam brotar sementes de novas propostas pa

sionais, para a superação do conceito de que o trabalhado

que dá sustentação ao sistema de saúde.

O seminário aglutinou um conjunto de profissionaisprojeto educacional preocupado com o homem e não com

em busca de referenciais capazes de resgatar a unidad

entre o saber e o fazer. Nele discutiram-se desde as co

qualificação necessária aos trabalhadores diante dos nov

colocados pela sociedade.

N os debates, analisou-se a concepção médica

hegemônica, enquanto base para todo o processo tradic

profissionais. "É preciso educar a população para, pelo

tratar as doenças." A partir daí, se coloca a transmissão de

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voltada para a força de trabalho, bem como o princípio dde prestação de cuidados de saúde. Debateu-se, ainda, o

saúde, considerando, em primeiro lugar, que ele é parteportanto, compartilha características comuns com os demaé um serviço que se funda numa inter-relação pessoal paré fragmentado, ainda que integre os aspectos intelectual

lação de sua produção um de seus aspectos mais complexà intensa profissionalização e à exacerbada competitivida

produtivo atual?Ε o seminário prosseguiu instigante, discutindo

separa a técnica da sociedade, quanto aquela que as fupreensão do relacionamento entre ambas, que possuemmas se questionam permanentemente.

A s apresentações e os debates que se desenvotamente alimentaram pistas e apontaram possibilidades qSaúde Joaquim Venâncio vem implementando, servindo dno sentido de alterar o referencial tradicional da formaçãomodos encontrados pela Escola Politécnica de pensar-faze

Arlindo

Soció

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A P R E S E N T A Ç Ã O

Decorridos tantos anos do evento que hoje nos é livro, julgamos pertinente compartilhar com o leitor os (estória?) que sobrevivem à leviandade de nossa memória,suscetível aos modismos e novidades. E, ingenuidade seria pela certeza do ineditismo dos que foram autores e persoprimórdios de sua construção.

Contamos com a generosidade do leitor para com esta apresentação. Todavia, reconhecemos, essa generoexagerada, pois, afinal de contas, sempre resta a certezcompõem este livro, está salvaguardada a objetividade da

Quanto à sua paciência... não podemos abrir mão.esta apresentação, o prefácio, a introdução. Sem estes itenão poderia ser reconhecido como um livro... Paciência (oapresentação realizada a seis mãos, em que três personhistórico" pretendem sintetizar os fragmentos da me(ex)jovens, que, talvez por charme, ainda hoje se aprese

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poderá ser compartilhada se conseguirmos, mesmo que p

leitor para as motivações dos que, por privilégio, viveram a

D o que trata o projeto? Do que fala este livro? Saúde Joaquim Venâncio: uma utopia em construção".

Mas não se iludam (ou, se for o caso, não se assus

questionamentos e conseqüentes discussões sobre a perti

p ia ' . Bobagens. O termo ficou, e cada um acreditou na

pertinência do termo.

A referida expressão foi título de um documen

quando da realização do seminário Choque Teórico I, d

atividades desta Escola.

Dentre outros temas e projetos discutidos por Sérg

Luiz Fernando na comemoração pelo desafio de assumir

tante instituição de pesquisas biológicas na América Latinatradição iniciada por Oswaldo C r u z : a articulação entre a

atividades específicas dos serviços de saúde e o ensino. E

que a futura Escola deveria assumir a tarefa de coordena

profissionais técnicos na Fundação Oswaldo C r u z . Joaq

quétipo (ou mito?) desse projeto.

O que eu sei eu passo adiante - este foi o lema de

assumidos pela Escola Politécnica, o Fazendo e Aprendend

outros méritos, resgatou a tradição do princípio do traba

lação mestre-aprendiz. Um projeto que nos permitiu con

fazer dos marceneiros, tipógrafos, jardineiros, mecânicos e

quisadores de diferentes laboratórios da instituição se diarte da iniciação de jovens adolescentes nos 'mistérios' da

N ão resistimos à tentação de demonstrar o qua

pioneiro também no que se refere à preocupação com o s

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principais: uma voltada para a formação de futuros profiss

qualificação e atualização de profissionais já inseridos no m

tempos da VIII Conferência Nacional de Saúde, eram temtação da Reforma Sanitária do País, reforma esta que, pela

de trabalho que se realiza no setor saúde, impunha a

processo de formação educacional dos profissionais que at

P or ser mais prazeroso e sedutor, iniciamos o

tradição. Afinal, como resistir aos encantos de Ricamor (R

apresentarmos àquelas milícias que durante anos, dadesconstruíram planos para a ocupação do Castelo?

Correndo o risco da indiscrição... é bem verdade qu

da ocupação do Castelo, não foi difícil constatar a presenç

que compunham a milícia, de marceneiros com alergia

mologistas que nunca tiveram coragem de segurar uma bsanitaristas que sabiam da existência de favelas por ouvir

sim como a inexistência de expertos em educação.

Aprender-fazer-ensinar-saber-fazer-ensinar-aprender

primeiros tempos.

N ão nos faltava bom humor e restavam-nos res

autocrítica, uma prática que imaginamos tenha algum gr

exercícios de autoflagelação, muito comuns em alguma

dievais. Ouvimos dizer que Maria Beltrão, com o grupo

controu, em suas escavações no campus de Manguinhos,

poderiam demonstrar que estes exercícios ainda eram

porâneos de Oswaldo C r u z . Os trabalhos de interpretaçã

cluídos, dizem, por culpa de um dos integrantes da equip

de que estes eram instrumentos dos quais, vez ou outra, R

Quanto a nós, através desses exercícios de autocrí

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D e qualquer forma, vista de hoje, a denominação

parece extremamente adequada para marcar o ingresso

desafios, a modernidade.Resolvemos iniciar as discussões pelo aspecto em

jetivos, sugeriam estar nossa maior fragilidade: os assuntos

Fomos adotando e sendo adotados por novos mes

doso de Melo e Gaudêncio Frigotto. Pelas mãos deles, fom

culos de discussões. Nesse momento, fomos privilegiad

Dermeval Saviani, Miriam Jorge Warde, Nilda Alves e Za ia

Mas, em um aspecto, quando da feitura desta ap

mos convergir para uma conclusão: não tivemos condiçõe

cessivamente modernos ou se , apesar dos esforços, nunca

O fato é que o documento através do qual imagin

na "modernidade", aquele que fala de uma utopia em cdeterminadas certezas deveriam continuar pautando o tr

Escola: a certeza de que, apesar do caos, desorganizaç

sofrem os serviços públicos no País, a Fiocruz é uma institu

lação e seu compromisso principal é com essa população;

que o projeto da Escola Politécnica não pretende mais do q

cialidades 'pedagógicas' da Fiocruz, a fim de que a populausuár ia dos seus serviços e produtos, de fato tenha ac

aqui é produzido; um documento que se insere no inter

que o debate da saúde e da educação se colocam como cois

Se tínhamos ilusões de que o seminário nos

questões que a vivência do cotidiano do trabalho tinhaelas se dissiparam.

É bem verdade que rebuscamos nosso vocabulári

tribuiu para dificultar o diálogo, institucional ou pessoal. Pas

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Explicitou-se o entendimento de que a categoria tra

da construção de uma proposta curricular. Trabalho ent

exclusivamente humana de transformar a natureza, uma chomem produzir e modificar suas próprias condições de v

meval Saviani, "é sobre a base do trabalho que surgiu a n

realidade e, portanto, a instrução e a educação".

No mínimo, podemos testemunhar que o Choqu

seguintes desafios: definir uma proposta de formação profi

peração das dicotomias entre um ensino propedêutico e um

entre a teoria e a prática, entre o saber e o fazer. Mas, acima

e a prática pedagógica desenvolvidos nos cursos realizados p

formação ou os de qualificação profissional, não perdesse

homem em sua integridade, visto que a competência técn

trário, exige o domínio dos conhecimentos produzidos pela h

Em relação àquele primeiro seminário, podemo

avanços. O principal deles reside no fato de que o leitor

fragmentos de nossas memórias. Sobreviveu um 'fragment

dade objetiva'. O que não nos impede de insistir em qu

tendido como a continuação daquele diálogo. Deve ser a

fios que ao longo destes anos tem tecido os caminhos construção da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venân

É com grande emoção que nós, integrantes da c

seminário Choque Teórico II, cumprimos o papel de apres

travadas naquele evento.

C i d a d e de São Sebastião do Rio de Ja

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I N T R O D U Ç Ã O

O acelerado avanço científico e tecnológico que

últimas décadas, com destaque para a crescente aplicaç

nologias referenciadas na microeletrônica, tem causado a

formas de organização do trabalho e nos processos de prod

Nessa transição, o modelo de produção em mas

sendo substituído por um novo paradigma técnico-econô

nada "produção flexível", que se ap ó ia , entre outras tamanho das empresas, na terceirização das atividades c

sorção de mão-de-obra, na gestão descentralizada, na or

zada. Essas mudanças têm repercussão direta no perfil pr

tornando necessário que, em sua formação, adquira o dom

cadas para atuar (e sobreviver) num contexto que faz em

suprime outras, por obsoletas.

Em face desse panorama, a Escola Politécnica de

cio, da Fiocruz, que se revela um espaço possível de ref

retrizes e desenvolvimento de ações práticas no camp

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também a compreensão e o questionamento do mundo

sociocultural que os circundam".1

A Escola Politécnica tem a saúde como objeto-síntecomo especificidade de trabalho e, sem dúvida, o seminávante contribuição para se debater, de maneira compromeinstigando a construção/aproximação de confluências en

visando a formar pessoal de nível médio. Os textos destecrítico aspectos teóricos, ético-políticos e práticos desse pr

Organizado em forma de mesas-redondas seguidaabrangeu quatro grandes temas: " S a ú d e : concepções elações de Trabalho no Setor S a ú d e " , "Formação Profissipantes" e "A Questão Tecnológica e a Qualificação Prforam gravadas, transcritas e editadas pelos organizadores

já em formato de artigos, submetidos a cada um dos autodos ou supressões, e aprovação. Igual procedimento foi abates, com os organizadores assumindo a responsabilidinúmeras perguntas/comentários dos participantes do selacionadas com as temáticas do evento. Apenas o artigo

doso de Melo, falecido em 27/06/93, não foi revisado por

atenção para o fato de que, à exceção de um, os textosbibliográficas, tendo sido essa a opção dos próprios autore

Saúde e doença como expressão cultural, de Mariarepresentação social de saúde e de doença, "entendendoa idéia que fazemos a respeito de qualquer fato ocorrido

pelo indivíduo". As idéias, concepções ou representaçõe

imaginário social, elaboradas pela classe dominante, sãosegmento específico da sociedade. Essa reinterpretação, tos gerais das idéias dominantes, possui componentes econômicos, identificadores de determinado estrato social

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feito funcionamento, mantido assim mediante o cuidado

de intervir e consertar a máquina produtiva".

A autora chama a atenção para o fato de que a maneira de tratá-la observada na classe dominante també

balhadora. Essa "ideologia da doença" se expressaria

metáforas" (como sífilis, câncer, Aids). As "doenças-metáfo

mais a sociedade do que a morte pela fome, pela desnutriç

dentes de trabalho, que, no entanto, ficam "subsumidas n

pações da sociedade" por terem maior incidência sobre renda.

Cecí l ia Minayo discute ainda o conceito de saúde

" à visão medicalizada, que entende o setor como o conju

cas curativas", incluindo também no texto elementos pa

dificuldades das camadas populares para decodifica

hegemônica, o que a induz a procurar uma expressão pró

tura que faz de seus valores, de sua vida e de seu corpo.

existe contradição entre o saber científico e o popular: e

formas e faz transparecer, na sua fala, o conceito amplia

tando (ou se contentando) em localizar a doença apenas n

O conceito de necessidades de saúde e as políticasdeiro, explicita formas como a sociedade se organiza par

de saúde, enfocando-as em três dimensões.

A primeira, a necessidade de saúde não é idêntica

mesma classe e muito menos entre classes distintas, e

repercute no modo como os indivíduos se relacionam com

jam eles públicos ou privados .

N a segunda, a contraposição entre "o saber cien

dominante, e a concepção do indivíduo que recorre ao

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fundar a dicotomia entre saúde pública e assistência méd

são do atendimento hospitalar privado.

O autor menciona que essa dicotomia gerou umtuada das políticas sociais no campo da saúde que a pr

por nível de competência, ou seja, dependendo do tipo

dade e os cuidados deveriam ser assumidos por uma das

a estadual ou a municipal), traduzindo uma forma també

do fenômeno vida e tornando distante a relação entre

serviço de saúde. Ademais, ao se conceber a preservaçãcomo imperativo para manter ativa ou restabelecer a forç

indivíduo um recurso do capital, criou-se "um sentido d

de prestação de cuidados de saúde". A saúde, além de

de trabalho do indivíduo, tornou-se também objeto

capitalista, "consubstanciado e estruturado na forma de e

D e acordo com Hésio Cordeiro, a diferença de co

tos na própria organização do sistema de saúde, ocasiona

acesso ao serviço, quer na qualidade do cuidado de saú

com que, dependendo da classe social do doente, o atendim

O autor elenca fatores que impulsionaram o

Sanitária em nosso país com o objetivo de implantaS a ú d e , entre eles a necessidade de romper com a dicot

e medicina curativa (ou assistencial) e promover a "in

s a ú d e " , destacando que a formulação das políticas de

na democratização do direito de acesso de toda a popu

de qualidade, dependendo seu êxito, na prática, da

quanto política dos responsáveis por sua execução.

Educação e saúde: dimensões da vida e da existênc

berto Cardoso de Melo, retoma o debate sobre os campo

sistência médica, enfocando-os como um conjunto, poi

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"apontar ou criar uma outra maneira de pensar a formaçã

pando de um posicionamento de caráter passivo frente a i

Alerta que "deve-se pensar a formação técnica pâmbito da saúde e pensar saúde pública para além d

m é d i c a " , procurando encontrar limites e proceder a

homem/homem/natureza para preservar e manter a própria

verte que, se o discurso e a prática médica dominantes

biológica, a qual submete pacientes e profissionais de saú

as pessoas estejam obrigatoriamente reduzidas a ela. O aviver outras ordens, outros discursos, variadas representaçõ

plexo de relações mais abrangente que pode incentivar e

que visem a mudanças, posto que a dimensão social, "c

que sejam ciência e técnica", comporta uma gama de relaçõ

P or um viés filosófico, o autor acrescenta ainda

" saúde e educação como uma articulação com a vida e a exisdiferenciações que determinam esses conceitos, reforçand

fletir sobre o que cada um deles (vida e existência) significa

percorrida pelo homem para construir sua visão de mundo

A s dimensões do trabalho em saúde, de Roberto

uma discussão a respeito do problema do trabalho emtrês aspectos fundamentais e interdependentes: a) inclu

mais processos de trabalho que ocorrem em outros cam

e l e ; b) distingue-se e caracteriza-se por ser um "serviç

pessoas e não sobre objetos; e c) é um serviço "que se f

pessoal muito intensa", requerendo a participação e o

consome e de quem presta esse serviço.

São destacadas como particularidades do trabalho

ou direcionalidade técnica inerente a qualquer processo d

que possui de específico uma "natureza coletiva", em

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s a ú d e " , destaca-o de outros tipos de serviços e , com isto,

debate a respeito da natureza econômica desse serviço, a

muneração e do controle do ato médico. Ressaltadiálogo que deve necessariamente se estabelecer nã

sional da saúde e o doente, mas também entre o co

d a saúde e os usuários dos serviços.

O novo paradigma da organização do trabalho e

área da saúde, de Maria Umbelina Caiafa Salgado, situa

mação profissional na área da saúde, "dentro do quadrocial do País . " Considera que as questões do trabalho, da

devem ser discutidas a partir da análise da organização

das relações sociais subjacentes.

Mostra que o Brasil, como país periférico, sofre as c

de uma modernização dependente e que, como em outros

decisão de internacionalizar a economia conduz a um proc

um movimento oposto ao ocorrido nos países do chamad

oligopolização alavancou a internacionalização. Se, nos paíseprocesso de concentração de capital demorou séculos, nos

Mundo ele se deu em poucas décadas, resultando

dramático, mais selvagem, num choque violento e perversDiscorre sobre o esgotamento do modelo da prod

sição, que atualmente acontece, no sentido da adoção de

na produção flexível, isto é, "não mais se aumenta a plan

pequenas empresas autônomas, embora do mesmo grup

empresa maior". Esse modelo, além de reduzir custos e a

o lucro, segmenta e enfraquece a organização dos trabalhacontrole maior da força de trabalho por parte dos detentores

A autora alerta para o significado novo que, dian

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enfrentar e a alterar o real. Isto porque a luta dos profission

da saúde pública aponta para um reordenamento da so

senta e discute um projeto incompleto de Sistema Único prática de saúde predominantemente privatista.

Alina Souza explicita dificuldades a serem superadas

consecução do sistema pretendido, "a profissionalização

avançar em duas direções: qualificar os trabalhadores e f

técnicos para ingressar no setor", criando compromisso e

sanitária desse contingente. Nesse horizonte, defende umaeducação e a saúde, para que, de modo conjunto, sejam pmetodologias para profissionalizar os trabalhadores e d

dológicos que possibilitem aos jovens da escola regular

profissionalização antes de integrar-se à força de trabalh

ensino/serviço, ensino/trabalho. Esse seria, pois, o 'desenh

escola técnica de saúde: "que recupere e legitime os quepreparação específica e que forme novos profissionais pa

vista as necessidades do Sistema Único de Saúde.

A autora expõe que um dos grandes desafios de um

é trabalhar com a realidade da saúde, com "toda a prática

necess idade de sua revisão", sem perder a dimensão conhecimento, de modo a consubstanciar o ensino da co

equipe de trabalho nas especificidades de cada um dos cam

Ciência, tecnologia e qualificação profissional em sa

Marques, remete ao debate das implicações das novas tecn

balho, indicando mudanças que a sua incorporação e uti

visão social do trabalho e nas características da força de tra

Relata que a inexistência, no Brasil, de "estudos se

base empírica" restringe, obrigatoriamente, a possibilidad

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ajustada a uma demanda do mercado interno que resu

gramas sociais e da elevação de salários reais".

A escolha tecnológica correta se coloca como o ddefronta, e essa é uma decisão política que implica opt

técnica ou ética. A mudança ou progresso tecnológico

sociais e políticos, são produto de relações sociais deter

fundamente os trabalhadores por meio das alterações q

e nas relações de trabalho". Tais modificações no proces

dem limites dados pelas relações entre capital e trabEstado, por meio de políticas públicas.

Nesse contexto de transição, a autora ressalta que

saúde tem que estar perpassada pela problemática da in

novas tecnologias, pois estas diversificam e alteram a im

(criando e valorizando novas e tornando obsoletas outras

maior qualificação e tempo de escolaridade. A formação

apropriação e o domínio de habilidades específicas, sem

ou eliminar a posse, pelo indivíduo, de uma sólida formaçã

Qualificação técnica e qualificação social: em busc

masiana, de Rogério Valle, analisa a qualificação seg

histórico da teoria e sua inserção na prática. Nessa perdado momento, a técnica se constituía enquanto autônom

políticas e às características culturais de uma sociedad

subordinada e condicionada a um determinismo técnic

ruptura com essa visão foi a reflexão da Escola de Frankfu

volvimento técnico e científico um papel cerceador à ev

sando a considerar técnica e ciência como fatores de opre

D o ponto de vista do autor, ambas as visões -

ciedade e técnica como instrumento de dominação -

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como assumir um "voluntarismo político que julgue poder

tos que requerem reflexão propriamente técnica". São du

nica e a social - que se questionam de modo permanentecia, da prática empreendida com suficiente e equivalen

preensão dessa problemática, por parte dos sujeitos da a

criam condições para que se estabeleça o equilíbrio entre

Este livro, a nosso ver, é um conjunto de inquiet

ainda em busca de superação. Ε nossa convicção e noss

para ampliar o debate sobre alterações necessárias no profissional de nível médio para a saúde, contribuindo com

de propostas educacionais que tenham o trabalho como

das ações humanas.

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SAÚDE:

CONCEPÇÕES Ε P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S

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S A Ú D E Ε D O E N Ç A C O M O EXPRESS

Maria Ce

Concepções e representações como integrantes

Pretendo discutir a questão da representação soapresentando alguns elementos conceituais para refletir

ponto de vista histórico, mas do ponto de vista social,social como a idéia que fazemos a respeito de qualqu

ciedade e vivenciado pelo indivíduo.O homem é um ser que, ao mesmo tempo, cria

vivências, sendo capaz de expressá-las. A expressão dessas

a representação social, que possui sempre elementos conAssim, não preciso, necessariamente, elaborar ou redefin

mulher, de trabalho, de religião, de espaço, de tempo. Ela

e socialmente construída. A idéia de tempo que atualmenplo, corresponde à concepção dominante de que tempo ése aproveita, se desperdiça.

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c iedade. Da mesma forma, essa reinterpretação terá um

idade, de pertinência a determinado país, grupo étnico etA concepção , a visão de mundo é, pois, composta

determinada sociedade. Weber (1974) afirma que, em q

sempre idéias dominantes. Desse modo, seria impossíve

idéia de espaço e de tempo dominantes na sociedade.

pretar de alguma forma, essas concepções são uma mistu

nosso tempo, uma mistura do próprio senso comum que

periência dos diversos grupos sociais, vivenciadas no pl

isso nossas representações sociais, nossas concepções soca natureza contraditória da sociedade em que vivem

freqüentamos e, de certa forma, representamos.

D o ponto de vista mais geral, a representação socopinião, a opinião a integra. A maneira como se constrói

de saúde, de certa forma, cristaliza uma representação

doença. Num hospital em que a enfermaria de pediatria s

ança sozinha, desacompanhada da mãe, está-se expressa

de saúde e doença que pode ser resolvida apenas por

seja, na concepção dominante, saúde e doença são algoa ser tratado por meio de um medicamento, de uma

biomédico dominante em nossa sociedade.

T ho m a z (1963), renomado fenomenologista, afirma

das idéias que a gente tem, o problema das questões

aquilo que a gente pensa é real nas suas conseqüências."porque, em determinadas correntes de pensamento, há

isoladamente, ora a idéia, ora o fato material. Parto do p

cepção social ou uma representação social é capaz de

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afirmar que a dor que sentimos, o esforço que julgamos

zação é muito mais função de uma criação social do que dcorpo. Isto é, o corpo é capaz de executar determinados

gue que ele é capaz de fazer. Esse mesmo enfoque é d

problema do racismo, ao dizer que a questão da cor - co

para avaliar a capacidade de um ser humano - também é

Portanto, em que sentido se pode pensar o fenôm

ponto de vista mais geral e, depois, pensá-lo mais especia

Pelo fato de saúde e doença estarem vinculadas a duas qu

todos nós - a vida e a morte - , poderíamos dizer que

doença é particularmente reveladora do grupo social. Ela m

pecial , como o indivíduo se situa na sociedade e como es

indivíduo. Ou seja, construímos um discurso social-históri

um discurso social-histórico sobre o corpo e um discurs

morte. Saúde e doença, portanto, não são apenas efeito

acontecimentos culturais historicamente construídos d

diferentes sociedades.

Nossa sociedade capitalista, marcada pela desiguald

de saúde e doença que expressa a natureza contraditóriamodo geral, pode-se dizer que o tema da doença cost

vezes, a partir do indivíduo e de causas endógenas a seu orga

a partir da própria sociedade, do ambiente, das condi

Quando proveniente do indivíduo, a idéia de doença in

exemplo, o fatalismo. Muitas vezes , é explicada também

e não apenas pela ótica social. Nessa visão de fatalidadepelo sujeito, atribui-se a ele, quase sempre, a culpa pelos pro

A explicação pelo enfoque mais social da saúde

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como fora de nós, a-histórico, que nos prejudica como se

de mudar a realidade. Ε uma explicação bastante positivistaN a nossa sociedade capitalista, desigual, injusta e in

doença , têm-se que assumir as contradições geradas pelacas, políticas, sociais e ideológicas, que se expressam nassaúde e doença. Nessa sociedade contraditória, saúdeem primeira instância, como fatores de produção, e o s

zado de forma a tornar o indivíduo produtivo. Assim, crise depressiva ou algum outro problema de ordem eatestado médico num posto de saúde, para não tersalário, possivelmente não obterá o documento. Istodoença localizada no corpo. Certamente, dirão: "Vocproblema da sua cabeça, você tem que reagir".

A concepção de doença é a localizada no corpo, ue que se encontra vinculada à questão da produção. A m

parada de funcionamento do organismo, e a vida equivabom funcionamento de todos os órgãos do corpo. Grbiomédica reduz a doença e a saúde ao contorno biológic

sujeito de seu contexto integral de vida.Quando uma pessoa procura o médico, este não

ente ela vem, que problemas enfrenta. Importante étendida como uma especialidade, e o corpo doente é ed o en ç a , e não como espaço da vida. Em última instânsofisticando uma linha de especialização (e de fragm

doença por meio das mensagens infracorporais fornecidaseria o reverso, seria o corpo em perfeito funcionamenante, o importante é o cuidado médico fragmentado, tervir e consertar 'a máquina produtiva'.

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A doença como metáfora

Gostaria de reforçar que a concepção de doença

na classe dominante, bem como a maneira de tratá-la, é

classe trabalhadora. É a doença biomédica, localizada nos

aquela que busca mensagens infracorporais. Penso que a f

'ideologia da doença' se expressa por meio das chamadas

simbolizam fortemente o tipo de sociedade em que ocoidéia de que elas ultrapassam a questão de classe. A Aids, o

mais antigas, a sífilis são doenças que, para a sociedade,

mente todas as classes. Não é bem verdade, mas, como

classe dominante, tornam-se muito chocantes para a socie

reage frente a elas. Numa perspectiva sociológica, elas

espécie de anomalias sociais e indicariam desordens, desincapacidade do ser humano diante do mal. São doença

e , diante delas, a sociedade reflete sobre o seu próprio

expressa de forma muito particular nas teorias milena

crenças populares.

Segundo Sontag (1984), "essas doenças-metáforas contremos com a nossa concepção arcaica e moderna d

delas porque assinalariam um limite humano, nos coloca

capac idade de sobrevivência. São, portanto, metáforas

muito fortes de tudo aquilo que, também individualm

para nós. Para o sistema médico, em especial, elas tamb

o limite de suas potencialidades. Contraditoriamente, pem que se depara com o limite, o sistema médico

ideologia muito própria, que é a de vencer a doença. Ess

é uma concepção do médico em relação à sua função

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A contradição é que a doença, enquanto express

de vida e trabalho, é discriminada inclusive pelo próprabstém de enfrentá-la. As enfermidades próprias do tra

fome, que atingem desde as camadas mais pobres até o

forma subsumidas no quadro geral de preocupações da s

Recordo que, num curso de especialização minist

com um mural de informações repleto de dados sobre Aid

doença naquele estado fosse nula na época. Um dos ex

foi estabelecer um quadro epidemiológico da região, aind

No trabalho, foi observado o elevado número de acident

incidência de malária. Diferentemente da Aids, esses ag

recebido nenhum destaque.

Nosso imaginário social é marcado por essas doençmuito gritante, fazendo com que sejam encaradas com

constituindo um problema local, isto é, uma situação de

A concepção de saúde-doença das camadas p

C o m relação às camadas populares (consideradas

população de baixa renda), a concepção de saúde e doe

posto anteriormente sobre representação social , é cont

instância, ela também assume a questão da produção. Um

a seis favelas do Rio de Janeiro sobre representações somonstrou que os moradores entrevistados expressavam

nesse campo, ou seja, doença como impossibilidade de

afazeres rotineiros e cotidianos.

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constituem, portanto, uma interdependente e cotidiana

traduzida pela própria concepção da vida.A classe dominante possui uma dissimetria em rela

N ão sabe, nem tem necessidade e capacidade para conhese uma enfermeira, por exemplo, 'traduz' determinado

guagem coloquial, qualquer membro da classe média ou tender do que se está falando, porque a visão de mundo é

Essa dissimetria da linguagem pode ser considerada dominante, mas, para a classe trabalhadora, não se resumlinguagem. Há uma oposição de valores que está muito

vida, à própria expressão que a classe possui de saúde e do

A o mesmo tempo em que a classe trabalhadora usa

de doença, ela utiliza, ainda que erroneamente, exprespara falar sobre o assunto, de certa maneira copiando nome de remédio, repete nome de doenças e reinterpre

médico. Isso já foi observado e pesquisado também por BP or outro lado, essa classe tem um outro código de leitu

valores, de sua vida, e isso coloca os médicos em xe

doença é explicada por meio de condições existenciaisvenções sobrenaturais. Na verdade, quando está falandoestá se referindo a um conjunto de situações infelizes nmédico interessam, para diagnóstico, os sintomas que cquanto ente biofisiológico.

H á , pois, duas concepções em jogo: uma hegemque vem tentando se expressar. Muitas vezes, os médicos car a população para, pelo menos, entender e saber tra

basta educar a população neste sentido de intervenção.

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Para essa classe, o médico é um intermediário de

dade diante do sistema médico é uma forma de resistêncao médico freqüentemente está dizendo alguma coisaA o solicitar um remédio, ela também está expressando

e de mediação. É dessa forma que exprime suas necesspotência. Mas, por outro lado, ela busca outros meios,

e as práticas terapêuticas religiosas. Para a população p

contradição entre ir ao médico e, logo em seguida, proacredita no médico, mas não totalmente, assim como ta

mente no padre ou na rezadeira. Ela combina as form

cia l is tas ' lhe dão respostas diferentes.

O que se observa nessas camadas populares é q

doença ao ponto de vista biomédico, mas têm uma conc

muito mais ampla. Relacionam a questão da infelicidade

ecologia ao se referirem ao ar impuro, à vala negra, às m

como ao mau-olhado, à 'coisa feita' ou a outras interferên

mentação, do salário, das condições de trabalho, e assim

ampliado de saúde transparece na fala de qualquer pessoa

A saúde coletiva enquanto conceito contraditó

O conceito de saúde coletiva (que hoje fundam

saúde) enfoca a saúde sob um prisma abrangente, que

mentação, condições de vida, indo ao encontro tan

v iv ida , da classe trabalhadora, como da fala mais organ

expressam o pensamento mais elaborado, via intelectua

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chamar a atenção para alguma coisa que o sistema de saú

a doença é algo mais integral, dá em gente, e gente não émais que isso: é parte de um ecossistema integrado e umde contradições e possíveis consensos (Minayo, 1988).

O grande desafio da saúde coletiva é essa concepintegra as políticas sociais, as condições de vida e tambémqueza e a diversidade cultural.

Referências Bibliográficas

Boltanski, L. As Classes Sociais e o Corpo. Rio de Janeiro: G

Douglas, M. Pureza e Perigo. São Paulo: Perspectiva, 1970Hersl ish, C. Santé et Maladie. Paris: La Haye Mouton, 1983

Lévy-Strauss, C. Magia e religião. In: Antropologia Estrutur

Brasileiro, 1970.

Marx, Κ . A ideologia alemã. In: Obras Escolhidas. 2.ed. São P

Minayo, M. C. S. Uma concepção popular da etiologia. C

4(4):363-381,1988.

Minayo, M. C. S. Representações da cura no catolicismo pMinayo, M. C. S. (Orgs.) Saúde e Doença: um olhar ant

E d. Fiocruz, 1994.

Sontag, S . A Doença como Metáfora.Rio de Janeiro: Graal,Thomaz, W. & Znarniecki, C. The polish peasant in Europa a

Research. New York: Harcourt Brace, 1963.

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O C O N C E I T O D E N EC E SS ID A D E S

A S P O LÍ TI CA S SANITÁRI

Hésio de

No âmbito das representações sociais que envo

doença, um problema interessante a ser abordado é penmas) a sociedade se organiza para atender à necessidade d

traduz-se em três dimensões, que, embora não sejam obri

tares, representam suas próprias verdades.

A primeira delas refere-se ao fato de a necessid

representaçãosocial ,

não se traduzir da mesma forma e

classe ou grupo soc ia l . Ou seja: o que se pode expr

de saúde e se transformar numa ação qualquer para b

dado de saúde não é idêntico entre as pessoas de um

menos entre classes distintas. Ademais, essa representação d

forma como as pessoas se relacionam com os serviços de saú

A segunda dimensão situa-se do ponto de vista dnecessidade de saúde de uma forma bastante distinta,

um choque entre o saber científico do médico, o sa

c ep ç ã o do indivíduo que recorre ao serviço médico.

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U m a terceira dimensão, a dos planejadores de sa

profissionais de saúde pública, também freqüentemente finições do médico. Tampouco coincide com a percepçã

necessidade de saúde por parte dos indivíduos que compõem

A definição das chamadas prioridades de saúde, q

qual essas necessidades são entendidas pelos planejador

tem uma forma de percepção distinta das outras. Ao dize

momento fazer transplantes renais; vamos destinar maidiarréia infecciosa e desidratação em crianças de zero a

saúde está comprando uma briga com os nefrologistas, qu

especialidade é que é importante. Todos os que tiverem

têm o direito de ter esse rim substituído", o que é uma ve

curso democrático, da universalização do cuidado da sa

um viés mais tecnocrático, dirá: "Não, vamos alocar recu

de especialistas, formular tal tipo de programa." Isso freq

os especialistas médicos dizem e, muitas vezes, não corres

cialmente determinadas e percebidas pela população, ente

homogêneo, mas como uma estrutura de classes.

Essa questão aponta para o problema da própria pcisar melhor este conceito, é importante salientar que po

sume à política oficial ou institucional de saúde, dos apa

políticas de saúde formuladas por grupos de interesse, p

grupos corporativos. Há, também, aquelas vinculadas a

zados, ou excluídos dos sistemas de cuidados de saúde

movimentos populares para pressionar por reformulaçõespreciso entender a política de saúde (ou as políticas d

política, como um processo de contradições e de relaçõe

tam o poder de forma distinta. Disputam fatias de poder n

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ceber e de representar a doença, mas também as formas

no sentido de promover umas ou outras.Em conseqüência dessa separação, a saúde pública

dendo prestígio e recursos, tendo seus orçamentos reduzid

1969 e 1970, o do Ministério da Saúde representava ap

global da União, enquanto, na década de 50, girava em t

a saúde pública nunca tenha tido muito prestígio, cons

agravou mais ainda a partir da década de 70, quando de saúde pública e se hipertrofiaram os projetos de or

médica e hospitalar.

Esse movimento partiu de um mecanismo de con

recursos econômicos na Previdência Social , no então I N P

anos depois, deu-se o segundo momento de maior concen

Inamps e uma reestruturação de todo o sistema da Previdê

uma visão e por uma política de expansão do atendimento

esse constituído fundamentalmente pela área hospital

movimento direcionou a ampliação do mercado de cons

de equipamentos médicos a partir da ação do Estado via

belecendo o que se vem constituindo como o complexestruturação proporcionou uma forma de organização

prestação da assistência médica, articulada com as indú

equipamentos e, mais recentemente, com o seguro-saúde,do capital financeiro Organizando' o setor saúde privado,

público e esvaziando o projeto de organização pública do sis

A partir do processo iniciado em 1966 - e considenfrentando um processo contraditório e transitório de re

de saúde - , estabeleceu-se, em termos de políticas oficiais

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porque se lida com o vetor, com o vírus ou com o sistem

entre a população e o serviço de saúde se apresenta de foO que ocorreu de grave no Brasil foi um process

ao se restringir o âmbito do processo de saúde e doenou à restituição - da força de trabalho, e, principalmentda lucratividade do trabalho de prestação de cuidados se r uma forma de restabelecer a capacidade de trabalh

se tornou objeto de lucro, objeto de um processo espede crescimento, de acumulação capitalista, consubstaforma das empresas médicas.

São, portanto, dois processos simultâneos, o que que, na própria organização do sistema de saúde, não háda doença. Assim é que o empresário da saúde - ou aques egu r o - s a ú d e -, o sanitarista e o médico liberal - qudo subúrbio - vão expressar concepções bem distintassaúde e doença. Isso tem gerado e ampliado um sistema d

Mesmo admitindo que a questão das relaçõesserviços já esteja mais ou menos equacionada, temos

outras formas de desigualdade, e uma delas refere-se atuação da população da área rural do País é ainda correspondendo, em média, a menos de uma consulta/aurbana - onde se situam dois terços da população - esultas/ano por habitante. Ε evidente que essa média refl

des igualdades, pois certamente alguns segmentos dess

classes médias para cima, têm mais facilidade de acessoao médico mais ou menos quando querem. Ainda quefavelas freqüentemente busque a atenção médica, constamédia, esse acesso é muito precário. Na Baixada Flum

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tempo de consulta é menor, e o conteúdo da consulta é

vai tomar esse remédio porque vai lhe fazer bem". Não mecanismo da doença e o mecanismo de atuação daquelelação muito mais assimétrica do que aquela com um paciente

H á ainda um diferencial de gastos em saúde. Emboraem saúde não chegue a cinqüenta dólares por habitantes/atrado nas regiões Sul e Sudeste, exatamente porque foi

atendimento hospitalar de natureza privada.Esse contexto é acrescido de um conjunto de de

formas de adoecer e de morrer. Desigualdades que gravidade, com maior freqüência, num maior grau de s

dominadas, para os segmentos mais pobres das classes

se dizer: "Pressão alta, infarto, câncer, isso é doença ddiarréia, de desidratação, de infecção respiratória agupulmão, de câncer de mama, de câncer de colo uterino,

morre por homicídio, de acidentes, de várias formas desive - mais do que o rico - de infarto, derrame, acidentenos rins, hipertensão. Isto significa que nas camadas macentram as doenças, como também se revestem de maiolarmente identificadas como 'doenças de rico'.

Esse conjunto de desigualdades reflete políticas ofialidade tiveram muito pouco de públicas, já que visaramtalecimento de um setor médico empresarial, cuja forma de de crescimento reforçaram uma concepção baseada no luc

tanto, de reprodução e ampliação das desigualdades sociacluir segmentos importantes da população brasileira do aces

Todo o movimento de denúncia e de luta contra o

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melhores condições de nutrição, de saneamento, enfim

vida. É preciso que essas ações sejam conjuntas e, mais num direito de toda a população. Implica, portanto, a unserviço de saúde, rompendo com uma outra concepção, a

Quando se organizaram os institutos de aposentadforma de seguro social para a classe operária e vários outros sdo País, no sentido de dar maior garantia em situações

d o e n ç a , isso representou um avanço nos trinta primeRepresentou absorver conquistas extraordinárias das européia dos séculos dezoito e dezenove, mas que, numauma concepção restrita do direito social.

A idéia do seguro social é a de que o trabalhador parcela do seu salário para que, na aposentadoria, na docondições de se manter. Essa concepção do seguro, contuestão na força de trabalho. Se a pessoa estiver desempregtor informal da economia, não contribui para nenhuma foe, portanto, também não tem qualquer direito. Essa concesendo rompida segundo o conceito de universalizaçã

abrangente, é a forma da Seguridade Social entendida coma universalização do acesso. De acordo com esse conceito, nãinserido no mercado formal de trabalho para obter atendim

clusive certos direitos sociais, certos benefícios, como segse m nenhuma forma de subsistência tem garantido, pela receber pelo menos um salário mínimo para sua manutenç

Situo todo esse processo e essa formulação das podade dentro desse marco da universalização, do reconhece do direito social, do direito numa concepção mais ampla

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fica em termos de formulação de alternativas para a melh

dade. Jogando com essas dificuldades, o setor privado ofe"Esse negócio de posto de saúde fica para os pobres; vovêem televisão colorida, têm uma alternativa melhor, uma fo

seu médico, por meio do seguro-saúde". P ropõe-se, assim, u

ciação de classes no acesso ao serviço de saúde.

Nessa discussão, um desafio importante na defessaúde consiste em explicitar que não basta ser público, é p

tizado no sentido do acesso, do controle social, da f iscalele funcione no sentido da qualidade do atendimento, rec

mitam efetivamente tornar disponível o que há de mod

população. A percepção hoje é de que o serviço público,

cado de consumo de saúde, deve oferecer serviços quclasse média, a classe dominante, no sentido de fortale

serviço público de saúde. O desafio que se enfrenta é o

acesso para cerca de quarenta milhões de pessoas que h

margem do sistema oficial de saúde. São pessoas que têm

brevivência, que buscam soluções alternativas para seus pr

tros sistemas, como os vinculados às religiões ou as práticde resolver o problema do sofrimento que decorre da doen

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DEBATE

Considerando as diferentes concepções de saúde e pde formação seria mais adequado e que necessidades dev

na formação de pessoal de nível médio (técnico) da área d

cotomia saúde pública e assistência médica não seria um

constituírem duas áreas de competências distintas, que nã

fundem? Controle das doenças, do meio ambiente, imp

atuação médica. Ademais, será que o Estado tem que oferpopulação, seja serviço médico ou educação? Ou será qu

equivalente ao asilo que já existia na Idade Média para aten

Como defender a saúde ou o ensino público e gratuito, da

esses serviços são oferecidos?

Hésio Cordeiro

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na área de saúde, já que as modificações institucionais da

a 'ponta da linha' para atender melhor à população. É p

cepção de política distinta da que vem sendo proposta no

bre a ação do Estado.

H o j e , está em voga - e é um assunto debatido ta

pelos setores mais conservadores e liberais - a idéia de

mais, que as instituições do Estado são ineficientes, que o

que o funcionário público não trabalha e, portanto, que inferior. Ε preciso recuperar e recolocar a concepção de

política pública. De que forma? Todos os argumentos sem

clusão: como o Estado não funciona, como os serviços s

privado, o filantrópico, enfim, fortalecer a sociedade fora

fosse o suficiente para promover uma redução das desig

que o chamado pensamento neoliberal está propondo, asdiscutem esta questão: " S e o Estado cresceu muito e não

Existe a questão dos 'marajás' do funcionalismo público, o

Estado, desse modo não adianta pagar melhor aos profess

de saúde, pois qualquer ação estatal é fadada ao insucesso mesmo discurso em alguns pensadores da esquerda (ou

de fortalecer mais a sociedade civil, porém diminuindo o

cas. Imagino que só se pode defender o serviço público

lação distinta da própria concepção da relação do Estado

restituição da dignidade do serviço público. Isso só pode

de um debate ideológico profundo, em que se definam p

mente, por meio de recursos orçamentários que considere

Ε impossível resolver a questão da qualidade do

uma política econômica ou uma política social que solucio

tos em relação tanto à dívida externa quanto à estrutur

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vetores ou dos riscos ambientais. Mas o problema está m

na organização da ação estatal, na destinação de recursodas ações. Ou seja: na hora de alocar recursos ou de def

qual área, é melhor que isto se dê numa única instituição

disputam o poder entre si.

O orçamento do Inamps é da ordem de quatro

Ministério da Saúde é dez vezes menor. O Ministério da

qual prioridade, mas, se essa prioridade não se traduzir emtará. Com o outro conjunto de decisões situado na es

privilegiava-se outro tipo de ação, a hospitalar. Ε lógico q

juntar os dois orçamentos e repartir o dinheiro para qu

porque se gasta mal e pouco em saúde. Também não se c

em saúde em curtíssimo prazo (hoje, o Brasil gasta em to

terno Bruto em saúde, 2,5% público e 2,5% privado).

Algumas estimativas apontam que, só para recupe

saúde - considerando aumento de salários, isonomia, te

física da rede, que se deteriorou nos últimos anos - , seria

cursos de 2,5% para 5%. Parece pouco, mas, quando se i

tro do volume do que representa o Produto Interno Brcrescem muito. Competem com os números da dívida

gamento dos juros.

N ão é, portanto, uma questão de efetuar pequenas

Isso implica não só muito dinheiro, mas também a for

econômica e social integrada. De qualquer modo, a idé

pelo menos, que as prioridades se expressem com maisproblema da malária em Rondônia por ações dirigida

tratamento dos doentes, ao combate aos vetores. Isso te

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de que isso é dever do Estado, mesmo porque nós coimpostos para ter esses direitos assegurados. O desafio éum ideal agindo contra a maré da desvalorização e dopois, freqüentemente, a ação passa a se dar desvinculadadesvirtuando-se totalmente a idéia de público e da Reform

A contradição que a Reforma Sanitária enfrenta cpequena participação dos movimentos populares, dos sin

cide com a própria crise, real ou fictícia, que o Estado braeconômicos positivos em relação ao crescimento do PIB etação, mas isso não se vem refletindo em melhoria da qupor exemplo, o peso da massa salarial no PIB representava 3

Então, há uma crise real e uma crise criada pelatradições estão passando pelo econômico, pelo político ena possibilidade de implantação de um sistema universal.

Quanto à formação dos que trabalham com sprincípio norteador que eles vão tratar com seres humfilosófico, isso significa colocar esta concepção no 'coraçPara isso, não basta incluir Antropologia e Sociologia com

currículos do médico e do pessoal técnico. Trata-se de funpor uma ideologia claramente 'humanística'.

A questão técnica é muita séria, mas, do meu pon

não for totalmente envolvido pelo humano será um técnnico de gente. Penso dessa maneira em relação à formaçtrabalha com a saúde.

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ciências, sejam da natureza ou sociais, constituem, em si, a

resposta para compreender o ensino como processo, par

saúde totalizante, integral, resgatando o que há de totaliza

popular, tentando descartar o elemento mítico, que não

Como resgatar a própria condição de agente revolucionár

mação social, na medida em que o sobrenatural tem esse

zado pelas forças dominantes como uma força de acomoda

Gostaria ainda de abordar um segundo tópico: o daOliveira, em um de seus trabalhos, compara as reformas da

que são distintas principalmente pelo fato de que a italiana

e a brasileira caminha no sentido inverso. Além disso, a itali

que não findava na própria reforma da saúde, e, sim, na su

dução capitalista, mediante a ocupação de posições, queb

do socialismo. No Brasil, segundo esse autor, o que existetanto ou quanto 'social-democrata', por questões conjuntur

equívocos principalmente aos partidos políticos, aos quai

essa visão da transição, da guerra de posições, de a Reform

processo de luta maior, mais ampla.

Cecíl ia Minayo

O s núcleos de bom senso que existem no pensame

aproveitáveis do ponto de vista tanto da educação enqua

educação enquanto inter-relação. Coordenei uma pesqPenha , não só na parte de entrevistas individuais e visita

bém promovendo reuniões para discutir saúde. Consta

essa concepção ampliada de saúde e que sabem expres

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favela - estou falando de favela no Rio de Janeiro - tem a

cisa lutar pelo acesso ao hospital, mas também pelo san

prejudicando sua vida são os ratos, as valas negras e a

potável. Em outros casos, a população tem que partir par

que determinada fábrica está causando um nível de poluiç

No caso da Penha, o movimento popular assumiu essa rei

Junto a essas questões, surge também a do sobre

de uma forma que não é só mágica, e é isso que às vemágica substituísse a ciência. Não é bem assim. Os núcl

não só no pensamento popular, mas no de todos nós

passíveis de mudança e transformação. Ε é esse limite

ed u c a ç ã o no sentido político de mudança. Em várias

lação, pude observar recorrentemente a frase "foi

seguida de "pelas mãos de dona fulana (curandeira)

D e u s nunca ocultou a crítica aos serviços e profissionais

às condições de vida e trabalho geradoras de doença.

Hésio Cordeiro

É difícil comparar os processos das reformas italian

lugar, o processo brasileiro ocorreu num contexto absoluta

sição democrática, de passagem de um regime autor

mínimo de conquistas democráticas. A mobilização em t

sentido da passagem do capitalismo ao socialismo, mas simpara algum grau de regime democrático dentro da pr

lógico que a questão não estava colocada só nesses term

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sanitária em relação não apenas aos determinantes da saúao direito à saúde, à necessidade de fortalecer outro ti

saúde que nos dê mais qualidade, mais acesso etc.

Pode ser que os processos de decisão tenham sido mepodemos negar que, nos últimos dez anos, a chamada conscmuito no País, especialmente por meio dos movmovimentos sindicais. Um setor importante de resi

sistema de saúde era a área sindical, que tinha a sua coArgumentava-se: "Quando houver a unificação, vou atendido no hospital de Ipanema, que é do I N P S " . Nhouve enorme resistência à Lei Orgânica da Previdênciados os benefícios, pois os bancários não queriam se Naquele momento, a chamada solidariedade da classe o

balhadora, desapareceu. Era o bancário disputando codoviário urbano, que tinha menor salário e era mais doum precário hospital em Bonsucesso. Isso é para assinacial de superação de uma série de entraves à Reformataneamente ao desenvolvimento do próprio processo da

A construção e a superação das várias ideologiassendo e serão um movimento de luta política muito intensitaliano enfrenta dificuldades enormes, com o movimen

opondo à reforma. Isso sem mencionar que a aprovação Sanitária italiana ocorreu mediante uma grande coalizão e

Comunista e o Democrata Cristão. Do ponto de vista da

político por meio da ordenação legal, isto é, como se concomo se organiza o sistema, como se fortalece o poder partir de um acordo político entre os três grandes partidossindicais a eles vinculadas.

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apontar para o socialismo. É lógico que inclui, na intençã

tidárias, algumas propostas de cunho socialista e outras sim

sentido da social-democracia. Nós, entretanto, estamos aq

nossa Reforma Sanitária foi absolutamente distinto, pois o

ampliação dos espaços democráticos mais do que qualqu

cial mais profunda.

Determinada concepção de saúde é construída nas

sociedade, mas é também certo que o sistema de ensin

profissional, tem um papel importante, mas não determina

concepção. Assim, pensar em reformulação ou em movim

pensar a formação desses profissionais.

A questão da educação para a saúde, educação

em saúde, na verdade, é apresentada de forma super

sente uma efetiva articulação entre os dois sistemas (sa

fico isso, por exemplo, quando se discute a Reforma Saimplementa essa proposta sem passar pelos profissionais

respondem por sua execução. Quando afirmo que não e

uma justaposição, é que, da leitura dos documentos da

Saúde, pode-se deduzir, por exemplo, que o movimento

resolver o problema da formação profissional em si e por

com o sistema oficial de ensino. Penso que isso apresentapapéis que não competem à área de saúde, já que ela nã

forma satisfatória do problema, restringindo-se aos curso

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Hésio Cordeiro

U m a das grandes carências da Reforma Sanitária es

força de trabalho em saúde. Entender a Reforma Sanitári

apenas como a simples reestruturação de serviços de sa

grande desafio esse campo de recursos humanos ou de pes

Em toda crítica à política de saúde do regime auto

educação dos profissionais de saúde só se modificaria qupendesse das condições de organização do mercado de

reuniões da Associação Brasileira de Educação Médica

vamente. Ao se procurar delinear o perfil do médico de

definição era dada pela forma de inserção no mercado d

de privatização, pelo crescimento da prática hospitalar

também o mesmo raciocínio aos demais profissionais

processo de divisão social e técnica do trabalho em sa

tos segmentos desse pessoal e qualificando ou superqualif

No âmbito da Reforma Sanitária, excetuando-se det

dem muito gerais, como, por exemplo, a necessidade de

no sentido de integrar ensino e serviço, penso que não secom clareza a proposta de formação do profissional de sa

um dos pontos mais graves de estrangulamento. Seria p

teúdo de conhecimentos técnicos que esse pessoal deve

por conhecimentos humanísticos, que, aliás, prefiro cham

com a saúde. Um aspecto importante, no caso dos médic

promisso para com o doente. Salvo exceções, atender queixa significa resolver o problema o mais rápido possíveadiante, para outro especialista. Aquele indivíduo não tem

no máximo sofre de pressão alta ou possui uma úlcera que

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Cecíl ia Minayo

Realmente, não se avançou muito nessa área, e

neutro. A formação médica está marcada pelos in

hegemônico, voltados principalmente para a especiali

incorporação de novos equipamentos e tecnologias. O d

tado no pensamento médico dominante. Assim, quand

está-se pensando nessa fragmentação.

Tome-se como exemplo o pessoal de residência

está acabando a graduação e começando a praticar. A ma

tamente os problemas da criança. Por quê? Porque o inte

criança, mas sobre a doença. Isso não é ingênuo, porque

doença. A educação, de certa forma, é caudatária.

A Reforma Sanitária é uma questão mais ampla e,lações curriculares como um de seus componentes, tem

preendida não como alguma coisa voluntarista, mas como l

diografia de pulmão. Ele tem que inscrever sua atividade

trabalho que vai resultar em algum benefício para aquela

fazer a radiografia. Isso significa tentar - reconhecendo q

processo de trabalho é inevitável, tanto pelo próprio av

pe la forma de organização social da prática de saúde -

processo sob um outro compromisso soc ia l , na ótica

balhadores de saúde que prestam determinado tipo de a

traduz em currículos, em planos de estudos, em técnicas

em que não se avançou nem na esfera teórica nem na pol

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U m a outra questão é, na verdade, uma crítica à Re

à mudança organizativa, que deveria ser mais bem pensa

tos passos políticos que podem ser inviabilizados pela n

volvidos. Os profissionais de saúde, os atores sociais que

sentiram participantes, não foram nem consultados. Foi u

nou certa elite, certo grupo, que caminhou sem muita par

que realmente executam a gestão e os serviços.

Finalmente, deve-se refletir sobre educação não ade conhecimento, como currículo, mas especialmente em

ciais, integrando os profissionais de saúde entre si e

Quando o médico atende o paciente de determinada fo

meira ou um assistente social age de uma forma dada,

educando a população, estão transmitindo um modo

d o en ç a . É, sem dúvida, um desafio para a continuidadeser enfrentado concretamente.

Quando se imaginou uma escola como a Politécnica

pação com o problema da qualidade, talvez em reação a u

anos atrás, encampado tanto pela esquerda como pela dire

dade em detrimento da qualidade. Entretanto, o que se ver

a quantidade, mas não se preservou a qualidade.

A idéia da Escola Politécnica de Saúde era retomar a

era bastante concreto, uma vez que se pretendia ensinar o q

na Fundação Oswaldo Cruz. Trabalharíamos com dez, vi

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de segunda. Mesmo o índio da ilha de Bananal também

Cleveland, ele só não vai porque não tem condições. Não

gando em novo discurso, subestimando a ansiedade e o

mais carentes, que é simplesmente sonhar com o acesso à m

Hésio Cordeiro

A recuperação da qualidade não deve ocorrer ap

Atualmente, o ensino médico está profundamente com

d a d e . Hoje, muitos sextanistas de medicina não fazem, n

fazer as tarefas mais simples, como auscultar um coraç

cação teve um papel importante nesse tipo de resultado

tomar o tema da qualidade.

Para tentar compatibilizar o problema da formação

a reestruturação das práticas de saúde, penso que uma alt

testada é a inserção de organismos como a Escola Polité

tuições que podem aproveitar as suas atividades e form

qualidade, de muito bom nível. Poder-se-ia também pensmar pessoal de nível médio para a saúde de um modo

mudando a própria concepção da prática de saúde. Essa

serir também no processo de organização dos distritos

mento seria extremamente desafiante no processo de id

qualificação de pessoal. Imagino que o relacionamento en

cias, como a da Escola Politécnica de Sa úde , com certas foprática de saúde pode ser muito criativo no sentido de bu

profissionais, bem como de contribuir positivamente na m

ser preparados.

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Cecíl ia Minayo

Para discutir a questão da qualidade, gostaria de us

filha que faleceu de câncer. E, como toda a população trab

do Hospital Nacional do Câncer , onde minha filha compa

colegas mais pobres e necessitados. Do ponto de vista tec

nem para ela, nem para as demais crianças. Nunca detect

criminação em termos do serviço, de remédios, de atençãmédicos. Aquele hospital está capacitado para tratar qualqu

aparelhamento caríssimo, o mais avançado em termos de tec

países desenvolvidos. Contudo - e disso reclamo - , nesse

estavam preparados para uma visão mais ampla da questão d

Hav ia uma ala do hospital onde minha filha fazia e

corredor imenso, em que todos, sentados, aguardavam o

mento. Percebia-se uma representação social de saúde e

tucionalizada em um grande prédio. (O máximo a que

saúde e doença, no sistema biomédico, foi a psicossom

quatro profissionais, entre psicólogos e psiquiatras, com ho

tavam a assinar papéis. Eram burocratas. Sequer considermente, as emoções. Não estavam preocupados com isso

atualmente, há estudos que provam que a questão d

lacionada, por exemplo, com o estresse, com problemas q

o emocional. Nem cogitavam que pessoas com câncer

atendimento emocional ou de outros tratamentos específ i

tas têm uma sobrevida ampliada quando a químio e a radiode atendimento mais integralizado.

Quando falo de formação humanística, refiro-me à

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RELAÇÕES DE TRABALHO

NO SETOR SAÚDE

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EDUC AÇÃO Ε SAÚDE: DIMENSÕE

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D A EXISTÊNCIA HUMAN

Joaquim Alb

Discutiremos a saúde do ponto de vista da educaç

cações: a dicotomia entre saúde pública e assistência méelemento constitutivo das relações sociais.

Educação e saúde são áreas que não se separam.grante das relações sociais, e, tanto na educação quanto

trabalho se dão em torno de práticas. As concepções oficiasentações desses fenômenos variam segundo as classes so

possuem uma representação mais ampla da saúde, enquaresponde a uma representação (ou conceituação) de saútada, pontual, centrada no modelo biomédico, que busca gum ponto ou órgão do corpo das pessoas.

Cecí l ia Minayo, no texto "Saúde e sociedade", faz

como prática social, fornecendo um histórico do surgimeações ou as políticas públicas de saúde inicialmente for

Estado sobre o meio ambiente. É a partir de dados de mode suas relações com as condições de vida e trabalho da

o atendimento médico deve ser de caráter público

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movimento em que se coloca a questão da escola púb

atenção médica será incorporada pelo Estado, junto com

o meio, ou se essas ações médicas serão essencialmente

cussão começa a se configurar no âmbito (ou no limite) d

belecendo, de um lado, as ações curativas e, de outro, as

às ações tradicionais da saúde pública.

N a década de 60, particularmente em 1967 e 1968pública são bastante reduzidos e, coincidentemente, aum

para a área da assistência médica, ocorrendo ainda a unif

denciários. Isso, de alguma forma, já traduz certa incorpo

tivos à chamada medicina curativa.

T al situação coincide, de um lado, com a decadên

sica e, de outro, com o crescimento de interesses no sentpreventiva e curativa, não na forma de organização do

aspectos preventivos à prática médica. Ε o momento em

Medicina Preventiva, valorizados, se reorientam, se oxig

série de discussões e, também, iniciando uma crítica ao

se , assim, uma área da medicina social. Com o crescimento

enfoque da saúde pública volta-se para a assistência méd

as questões de controle do ambiente. Nesse contexto, o

núcleos de saúde coletiva que se estão criando nos Esta

médicos, restringindo a saúde ao âmbito da assistência mé

sua história., ela não se tenha sempre apresentado dessa fo

Durante o período em que a saúde teve como alvambiente, ela constituiu muito mais um problema de enge

medicina. Os próprios serviços de saúde pública tinham u

alternativas de produção ou controlar a produção são tem

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como se ecologia não constituísse matéria relevante.

No início do desenvolvimento do capital, para que

necessitou-se controlar o ambiente. Exemplo clássicodação Serviços Especial izados de Saúde Pública (FSESP

interessante, que, durante anos, foi tomado como padrã

gan ização, saneando o meio e protegendo o trabalhad

condições saudáveis para a exploração da borracha e do controle sobre o meio restringe-se, fundamentalmente,

industrial de produção, processo este que não só colo

de vida do planeta, como também implica o controle s

sos de trabalho, os processos de exploração da relação

lações homem-homem.

A escola do setor saúde deve ser uma resposta a

certo momento, entendia-se que ela - em particular a e

atender ao mercado de trabalho, como se fosse um refle

por este mercado, o que constituía um falso entendimento

e la é isso, por outro também pode apontar ou criar uma o

formação dos profissionais.

N ão há essa relação permanente, mecânica, a esc

face da realidade do mercado de trabalho. O setor saúde é

pública tem, de maneira ainda pouco dinamizada, muit

ação sobre o meio. Existe hoje, na Secretaria de Saúde do

um setor de vigilância sanitária, com veterinários, farmac

entretanto, não discute temas relacionados ao controlecamentos, do sangue, dos alimentos. Em São Paulo, o se

com uma tradição bem maior, mantém uma concepção

A população e os profissionais de saúde têm re

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saúde, de doença, do corpo, da vida, da morte. Ambos

metáforas, têm seus preconceitos, adotam uma visão

homem nesse mundo e do serviço de saúde. Constitui-s

representações diferenciadas, muitas vezes antagônicas,

classe do médico, aparentemente unificada em um discur

manizador, fundado numa ordem biomédica, submete p

sionais de saúde. Mas submetidos não quer dizer reduzid

trabalho, impera o discurso dominante mediador, um dis

segundo uma ordem médica, com ações práticas e técn

mente um discurso que unifica e que organiza as relaç

saúde e pacientes. Essas relações, porém, não se reduze

ou seja, tanto os profissionais de saúde como os pacien

quanto seres sociais, e outros discursos, outras represent

uma esfera mais abrangente no agir social, que é uma inte

constituindo um complexo de relações sociais entre profi

tes e instituição. Instituição essa em cujo discurso o sujeito

fala-se, diz-se, pensa-se, faz-se.

Pensar, então, as relações de trabalho na saúde ou

mensioná-las para além do discurso racionalizador, instrugogia ou da medicina. Existe um complexo de relações d

representações de mundo, de ordem, de vida, de doenç

sistências, oposições, negações. Analisar o trabalho numa

pública ou numa escola é refletir sobre essa dimensão so

representações do que sejam a ciência e a técnica, existe

intersubjetivas de seres sociais. É, portanto, um espaço d

resistências, de antagonismos, de visões de mundo difer

lações de hegemonia e de construção de hegemonias.

para que 'esqueçamos' que a vida não é apenas huma

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atributo exclusivo do homem. A vida está para além dpendência com outros seres, isto é, o mundo inanimado nele é parte da constituição do ser humano. Então, a vidada relação entre esse chamado 'mundo bruto' e os seresesgotamento desse 'mundo bruto' signif ica o esgotamentdições de vida não se restringem apenas ao âmbito do hvida e de saúde das espécies em geral e de um modo dplaneta como uma construção da vida.

A existência, por outro lado, é particularidade doconstró i , e o processo de produção e reprodução dess

de educação. A educação const i tu i-se nos processos pequitetam' sua existência, que, embora se construa enq

ou sobrepõe como forma única possível, como que icondições de v ida e saúde do próprio p laneta . V ida e

gadas: v ida é saúde , saúde é v ida ; v ida é educação , ed

é saúde, saúde é educação . Essa comp lex idade do quecação e existência é uma questão imperiosa para quem

portanto, com a v ida .

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A S D I M E N S Õ E S D O T R A B A L H O

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Ro

Discutirei dois temas que continuam a ser muito

estarem mais em voga na esfera acadêmica. O primeiro, aque vem perdendo prestígio devido à crise do raciona

segundo, a questão do trabalho, categoria essencial na e

filósofos clássicos do século dezenove, que vem sendo r

pelos sociólogos.1 Entretanto, como tenho uma veia clássiconflitua e compactua dentro de mim com uma tendência

teressa-me muito ainda o problema do trabalho em saúdabordá-lo a partir da revalorização de certos elementos viv

N ão discordo da tese de Joaquim Cardoso de Mel

ao longo de sua evolução nos últimos anos, negligenciou

ente e sua importância no currículo dos cursos que ofere

perar o espaço dos problemas ambientais no ensino de sa

se r combinado com um tratamento adequado do tema

cursos de saúde pública limitam-se, em geral, a uma espé

sistência à saúde, sem entrar de fato em suas dimensões té

Insisto na importância do entendimento técnico dos se

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dependem do processo de trabalho nesta área, e este é o foco

A o analisar o processo de trabalho em saúde, é nec

pectos fundamentais. Em primeiro lugar, ele é um exempl

em geral e, portanto, compartilha características comuns

ocorrem na indústria e em outros setores da economia. Se

já que toda assistência à saúde constitui um serviço. Terc

funda numa inter-relação pessoal muito intensa. Há muitaque dependem de um laço interpessoal, mas, no caso d

mente forte e decisivo para a própria eficácia da ação.

Essas três dimensões são complementares e interatu

se um processo de trabalho, com sua direcionalidade té

mentos e força de trabalho, sendo passível de uma anális

na forma efetuada por Marx em O Capital. Nessa obra,para analisar igualmente o processo de trabalho em s

questões complexas de composição econômica e técnica

dinâmica das trocas, que têm também uma correspondênc

Mas há uma outra dimensão, que é a do serviço. A

um processo de trabalho igual ao da indústria, ela tem uma

serviço. Esta palavra tem por trás de si uma tradição quas

de 'servo'. Por outro lado, a economia clássica praticamen

a análise teórica do que fosse serviço, porque, dentro da

capitalista do século dezenove, esse não era um setor decisi

ele adquire extrema importância e, sem dúvida alguma,

modernidade do capitalismo. O setor saúde talvez sejaessa nova forma de sociedade baseada na proeminência do

O terceiro aspecto advém do fato de esse serviço nã

saúde. Considere-se, por exemplo, como são diferentes a

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as de atendimento médico. Por isso, é preferível tratar das

e falar apenas dos serviços de saúde propriamente ditos.

H á que se afirmar, em primeiro lugar, que esse pro

tecnicalidade ou direcionalidade técnica inerente a qualq

humano. Pressupõe, assim, uma antevisão dos resultados

teligente como ardil da razão em sentido hegeliano: faze

físicos, químicos, bioquímicos atuem sobre o objeto, proardil da razão tem por fundamento certos conheciment

uma adaptação constante às características particulares: e

su a história e necessidades. Isso já suscita de imediato

medida em que traduz a adequação constante ao particu

indivíduo como ser, mas também das circunstâncias em que

necessidades.A direcionalidade técnica tem atualmente uma na

conjunto de categorias e de indivíduos procura agir coerent

conhecimentos científicos contemporâneos. Contudo, sabe-

categoria controla o processo de trabalho em saúde a partir

social: a dos médicos. Mesmo quando não são proprietários

donos de clínicas ou de hospitais - , os médicos têm a faculd

nico em saúde, no que se diferenciam dos demais trabalhado

Outra particularidade do trabalho em saúde dev

gração entre seus aspectos intelectual e manual. Ao co

sos de produção, na saúde quem detém a direcionalida

a mão na massa' , ou seja, participa diretamente do ato por exemplo, com o papel de um engenheiro numa fábr

não exista separação entre esses dois aspectos em termo

tecnologias e de variedade de serviços. Daí, o sentido de fr

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e do consumo de serviços de saúde.

Se, de um lado, o sentido, o porquê de cada ato es

há uma profusão infindável de tipos parciais ou autôno

modo, ele tem que percorrer um labirinto de serviços e ob

ali, ignorando a finalidade dessas intervenções executadas

disso, ainda é solicitado a colaborar.

O n d e está, nesse torvelinho, a direcionalidade saúde? Encontra-se profundamente dividida e fraturada,

do trabalhador como do consumidor. A vivência do consum

que é o aparato de assistência médica torna-se ainda m

em que se espera que ele preste informações, siga orde

se esforce em colaborar. Entretanto, seguramente, ele

para quê? Onde se quer chegar com toda essa paraferná

Nesse sentido, os serviços geram um enredo de alie

às situações clássicas abordadas por Marx no século pashoje já não são tão peculiares ao trabalhador produtivo.

Discussão fundamental a ser realizada em relação

do serviço. Afinal, o que é um serviço? Na definição genéré o efeito útil de alguma coisa, mercadoria ou trabalho. Εde bens ou da força de trabalho em seu aspecto de valor

idéia de serviço estava muito presa à de serviço pessoal: s

doméstica, de um advogado e assim por diante.

Em certa medida, os serviços de saúde parecem-s

soais, porque requerem uma íntima relação interpessoalsumo intenso de mercadorias, o que os situa numa dimen

serviço de saúde nunca resulta de uma aplicação de regra

medicina, que é totalmente distinto do pacto que se estab

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a quem também se costuma remunerar pelos serviços. Ass

moderna, o usuário pagará pelo valor dos bens materiais

força de trabalho preparada segundo os padrões correntes.

Desse modo, ao lado da fragmentação vivencial,

natureza econômica. Quando o pagamento por esses at

efetuado por meio do seguro privado ou social, o que s

como realizar um controle efetivo sobre eles, já que, nepode ser meramente presumida. Ela deve-se adaptar a ce

tíficas e administrativas estabelecidas pelo contratante.

Mas é extremamente complexo regular a produção

se tenha certa flexibilidade. Não se pode desconhecer qu

mação do particular, havendo sempre um razoável desvio

tro lado, hoje já não se pode admitir, como fazia a antig

trabalho médico deva ser totalmente livre e se pautar ex

clínico do profissional. O controle da fragmentação dos at

um grau de inteligência e de habilidade técnica muito

maiores problemas atuais no desenvolvimento dos segu

vados ou públicos: estabelecer modalidades 'clinicamente

dos serviços. Como continuar remunerando os serviços d

que não prejudiquem esse pacto de cientificidade firmad

pera ver restabelecida sua saúde? Uma das tentativas rec

chamados "Grupos Relacionados com o Diagnóstico" (D

nos Estados Unidos e na Europa, cuja viabilidade de introd

estudada pela Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz.Administrar uma unidade hospitalar ou uma rede

por seguro não constitui tarefa simples. Não só devido à

que necessita de cuidado de saúde que não seja a ética li

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da livre escolha por uma confiança absoluta no médico

pode ser resolvido por meio de um pacto político entre

dirigentes, por meio de uma nova ética de comportam

dades e demandas dos usuários.

Esse é o limite da área de recursos humanos em s

questão do processo de produção dos serviços de saúde

Pode-se trabalhar com a questão dos serviços, com a adcom base numa longa aprendizagem. Entretanto, quando

soal, entra-se no campo puramente ideológico (e, d

sagradas, uma é a da medicina liberal). E, então, há que

mas de harmonizar os trabalhadores com a clientela, e

tucional com os anseios dos trabalhadores. Esse é um do

Sanitária enfrenta hoje no Brasil.Se as condições de trabalho melhoram para os tra

uma nova ética profissional (exigência decorrente dessa

abordar esse diálogo que se estabelece com o indivíduo

serviço de saúde com suas preocupações, cheio de expe

fragmentários possam resolver os problemas? Então, esse

qual não existem regras, para o qual há procedimentos,

mas que depende da sabedoria dos dirigentes, dos líderes

bém de um processo histórico de construção de uma nova

médicos, para vencer a etapa liberal e mesmo conflitar com a

Ε necessário, então, refletir constantemente sobre

complementa todas as outras envolvidas no processo denível técnico, no nível do processo de trabalho em geral e

aproximação ao individual. Como se deve dar numa fo

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Entendo que a exposição de Roberto Passos Noguetradições. Dentre elas, a especificidade do processo de

saúde, em que o usuário é também partícipe. Mas, por out

serviço é definido pela tecnologia, que, por sua vez, fragm

de sujeitos novos para atendimento ao paciente, atendime

dade de ser individualizado.

Assim, a primeira contradição é que, paradoxalmede tecnologia e de cientifícidade e que ajudaria a resolve

na verdade, agravando outros. Em outros termos: o proces

risco, pela fragmentação, de perda do objeto, agregando co

cial. A contradição se amplia quando se atenta para o fa

um problema político, de certa mistificação da relação pac

do paciente em relação ao profissional que pode resolver a

Como saída para essa situação, é apontado o surgim

uma nova consciência em relação ao que pode significar o

teoria de sistema e a outra na visão marxista, focalizando,

menor, a própria expressão 'recursos humanos'. Concordo

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certeza, a denominação não é o fundamental, principalme

do ponto de vista formal. Existe, porém, uma relação entre

seja, entre a própria denominação e o objeto a que ela se re

Considero interessante essa linha de raciocínio que

porque há uma tendência a fazer uma leitura bastante

escreveu no século dezenove. É interessante fazer a disprodução que Marx trabalhou em O Capital e aquela que

tor serviços.

Encontro uma tendência do que vem ocorrendo no

dominante também nos serviços, tanto pela divisão técnica

permanente avanço tecnológico. Nos Estados Unidos, es

uma nova categoria profissional, que se situa entre o méduma tendência a transportar a lógica da produção para os s

Roberto Passos Nogueira

A questão levantada remete a uma intensa discuss

anos 80, acerca das diferenças entre abordagens centrada

em 'recursos humanos'. A esse respeito, escrevi um trab

enfoques não são necessariamente conflitantes.

'Força de trabalho em saúde' remete ao nível ma

grafia, da economia clássica, que procura ver a dinâmicaAnalisa a questão do emprego em saúde na sociedade, c

vários tipos de instituição do setor e co-relaciona o empre

soal, sem avaliar não só a dinâmica específ ica dessa força

a esfera institucional.

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Em outras palavras, não me parecem conflitantes aque uma delas, a de força de trabalho, preceda, esteja pquem esteja falando e intervindo em recursos humanos. tem sido esse. Dizer "vamos trabalhar com recursos humpromissos com as mudanças do setor" significa assumir u

as políticas de recursos humanos, com as polí ticas de saú dcompromisso pressupõe uma análise profunda do que questão da força de trabalho em saúde no País.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL:

DIAGNÓSTICO Ε PARTICIPANTES

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O N O V O PA R A D IG M A D A O R G

D O T R A B A L H O Ε A F O R M A Ç Ã O P R

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N A Á REA D A S A Ú D E

M a r i a Um

Para esta exposição, pensei em apresentar um quad

se pudesse analisar o problema da formação profissiona

preendi-me, porém, com o fato de encontrar pouquíssi

mação de técnicos de nível médio e elementar nessa á

de um infindável número de pessoas com esses gra

balhando em postos do sistema de saúde. O material en

da enfermeira ou do odontólogo, observando-se uma sur

lação ao pessoal de nível médio.

Além da responsabilidade, da importância do traba

usuário do serviço corre em função de uma possível não-q

a mencionada escassez de estudos certamente deve dificu

teção e a defesa desse indivíduo enquanto trabalhador. A

examinada com mais atenção. Na atual Constituição,

cessário que se possa fazer valer esses ganhos e cobrar do Eque lhe cabem, principalmente seu papel na prevenção e na

aos serviços de saúde.

e mediações que permeiam os processos de organizaçã

turação ocupacional da economia e a própria forma de c

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trabalho, que acompanha esses processos. Possibilita, ainformação profissional que levem em conta os interesses da co

dos setores produtivo ou empresarial. Finalmente, essa aná

especificidades de uma situação histórica concreta. O

periférico, sofre as contradições, os desequilíbrios de

pendente e, além disso, é uma sociedade de classes anta

que não pode ser esquecido. Assim, tentarei caracteriz

porâneo e os modos como são afetadas por ele: a estrutura

tura do setor terciário, incluindo o serviço de saúde, e, por úl

Estamos vivendo um momento importante, em qu

zação do trabalho, baseado na extrema segmentação do

está alcançando seu limite. Esse paradigma teve sua fEstados Unidos, do início do século até a Primeira Guerra

termediários entre as duas guerras. Sua disseminação pel

nos anos do pós-guerra. A partir da década de 60, começ

decadência , observando-se hoje a transição do paradigm

para um novo paradigma, o da produção flexível.

Algumas características permitem revelar em que c

ora se vem esgotando. Primeiro, o refinamento da coope

do trabalho, portanto cooperação mecânica, não-orgânica

tração dos meios de produção e à centralização das decisõoligopolização da economia, ou seja, na organização de g

des unidades produtoras, gerando uma estrutura do seto

zontal e verticalmente. Verticalmente no sentido da tendê

duzirem desde a matéria-prima até o produto final ou, q

âmbito da mesma empresa, mediante uma articulação seto

ou periféricos. Estes passaram a fazer parte do sistema int

dades desse sistema, não mais na posição de colônias.

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Entretanto, ao mesmo tempo em que são postos em

zação das decisões da economia, esses países é que viabiliz

no sentido de que despressurizam contradições internas

zando as responsabilidades, os riscos e as perdas.

Ε característico desse paradigma, por exemplo, que

trabalho seja responsabilidade da empresa apenas durantereto. Para além dessa esfera, passa a ser responsabilidade

criar esquemas para a sustentação da infância, da velhice,

tadoria e com a cobertura à doença. No paradigma da

manutenção da saúde do trabalhador é atribuição do Estadexecutá-la ou delegar a tarefa. De qualquer maneira, porém,

dade pela manutenção da saúde do trabalhador em conddemandas do setor oligopolizado. Assim, o direito à sa

população, mas apenas os empregados desse setor. O me

medidas que visam a prevenir ou a minorar impactos oc

desumanas de trabalho, privilégio restrito a esse setor. C a bdas condições de trabalho restringe-se a ajudar o empreg

para suportar a agressão do dia-a-dia sobre seu corpo e slinha, situa-se, também, a política de manter os salários e

consumo necessário à manutenção da economia.

Quando se trata de Brasil, esse quadro revela-se ain

verso. As políticas de habitação, saneamento, educação e f

se limitado a compor um conjunto de atividades que o Estamediando, assume para manter a força de trabalho em c

pelos setores oligopolizados da economia. Enquanto isso

cobertura à atividade de planejamento. Por outro lado, in

e , em decorrência, a necessidade da criação de infra-es

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Estado tem que se modernizar e se racionalizar para cump

Nesse contexto, as relações entre capital e trabalho

aos choques da fase concorrencial, não pode haver con

perturba o fluxo da produção em massa, em que qua

enormes prejuízos. Ε necessário ganhar, por antecipaçã

tivação da força de trabalho, sendo característico as

motivação do trabalhador. Para compensar a desqualif

zação que a extrema divisão do trabalho acarreta, tenta-se

lante, que faça o trabalhador cooperar e ter vontade de

série de procedimentos persuasivos, de salários indir

lacionados ao aumento da produtividade. Um sintoma im

produção em massa dá ao treinamento gerencial e ao corganizacional. O gerente, o administrador têm um p

manutenção do nível de satisfação dos empregados, mes

de execução do trabalho. Assim, a parte nobre do treinam

corpo gerencial, que tem que ser coeso e 'comprar' o p

uma empresa, um hospital ou uma entidade prestadora de

A educação e o trabalho, nesse modelo de produum afastamento relativo, já que o sistema empresarial esp

preparação básica. Interessa às empresas elas mesmas p

em serviço, já que, dessa forma, o trabalhador pode ser s

cultura institucional específica.

N os anos 60, esse modelo começa a entrar em cr

autores considere os anos 70 e 80 como o período d

paradigma. Enquanto a produção em massa tinha como

unidade barata para vender em grande quantidade, mas à

que o comprador deseja. Desse modo, ao invés de produ

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depois, produz-se o que já foi vendido. Com isso, pode-stuações, como a estocagem de matéria-prima e de mercador

tal de giro e o investimento nas instalações, assim como o tam

O novo paradigma é compatível com a pequena e

estar, necessariamente, vinculada a outras maiores. Neste

sociações que acabam beneficiando o capital. Não mais

fábrica, mas criam-se pequenas empresas autônomas, e

que prestam serviços à empresa maior. O investimento de

proporções de capital fixo e variável também se modificam

de itens específicos. Com isso, também se introduz um e

controle da força de trabalho. Enquanto na produção em

trabalhadores é inevitável, pois, como resultado do nivedesqualificação, todos se igualam e se unem nas lutas com

possível segmentar a organização dos trabalhadores, fa

voltem uns contra os outros. Os empregados da empresa m

e têm bons salários, o que não acontece com os das outras

suem as mesmas regalias. Assim, estes passam a ver como

colegas 'privilegiados', e não os patrões.É interessante observar como esse novo modelo pe

tros tipos de manipulação. A organização dos trabalhado

produção em massa, pode ter muita força, nesse outro to

uma série de razões. Se o primeiro já se caracterizava

cludente, o paradigma que surge é ainda mais. Alguns auto

do século, apenas um quarto da população economicament

gada e um quarto estará semi-empregada, enquanto a

economia. Outros falam numa volta à manufatura, com g

sentido de que esses processos serão extremamente i

aquela parcela dos trabalhadores protegidos.

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Nesse contexto, as relações entre educação e trab

significados. A função da educação se torna mais importan

de trabalho, uma vez que as habilidades requeridas do n

relacionadas com aquelas desenvolvidas na escola, isto é

dade de abstração, de resolver problemas, de trabalhar c

são de textos abstratos, entre outras. Surgem também as i

sumidor e da consciência ecológica, pois tanto a prod

podem ocasionar a destruição do planeta.

Parece que, em termos de qualificação, o qu

aumento do que se chama polarização da qualificação

número absoluto de pessoas altamente qualificadas

aumento na quantidade de pessoas que perdem em matérAbro um parêntese para chamar a atenção para as

e da microeletrônica, que, seguramente, vão ocasionar

perfil da qualificação do profissional da saúde em todos o

técnico de segundo grau aparece como um elemento

membro das equipes de pesquisa e desenvolvimento,

pamentos mais sofisticados em hospitais e no atendimento

como no estabelecimento de estratégias de saneamento e

Quando se pensa esse novo modelo em termos d

de a oligopolização ter precedido a abertura da eco

muito maiores do que os existentes no Primeiro Mun

possui um parque industrial de base bastante ampla, bversificado nas áreas tradicionais, mas extremamente

respeito às chamadas tecnologias de ponta, que, inclusi

ainda existe essa outra heterogeneidade mais alarmante, ou

nologia de ponta com a miséria absoluta, quadro que susci

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A reorganização da estrutura ocupacional no Brasil se cdo setor terciário, pela ampliação das funções do Estado e

cluindo o crescimento do setor produtivo estatal e um p

mocratização, no sentido weberiano de racionalização da

O Estado, na verdade, serve de mediador para viabilizar a

capital internacional, com o objetivo de preservar as con

dos oligopólios. Na agricultura, acontece o que se chama

vadora, baseada na criação de agroindústrias, de g

privilégios, de proteção ao grande proprietário. Por outr

priedades, embora sejam as responsáveis pela maior pa

para exportação) têm menos acesso ao crédito, são menos pr

Pode-se assinalar também o surgimento de um setobase em critérios que não estão voltados para o bem-esta

para a sustentação do modelo de crescimento econômic

lação constitui apenas um subproduto, e em momento a

tratado como objetivo principal.

Por outro lado, o controle da força de trabalho por

importante na década de 70, perpassando toda a reform

em 1968 e acaba em 1972. A própria criação do sistema

mão-de-obra e do incentivo fiscal à formação profission

um mecanismo que, de um modo ou de outro, viabiliza fo

força de trabalho por meios persuasivos, quer dando aos

zação prévia, quer propiciando às empresas condições de

seus empregados, dentro de uma cultura institucional espe

D e certa forma, essas iniciativas representam urna

é produzido assume fundamental importância. Para o pro

e elementar da área da saúde, é prejudicial não estar org

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cado, porque, dessa forma, ele não consegue contra-arguexploração, como mão-de-obra barata, pelas empresas pre

Nessas circunstâncias, é necessário distinguir dois

às funções sociais da educação básica. Primeiro, o ponto

vontade política de mudar a situação do Brasil na divisão

é preciso enfrentar a questão do novo paradigma. Algum

tagem aos países que, como o Brasil, abortaram o proces

porque eles não têm capacidade instalada ociosa para s

não tendo sido muito grande a inversão e havendo co

menor capital fixo, talvez seja possível queimar etapas. A

ticular a de nível médio, por causa da idade do aluno e

tem de sistematizar o conhecimento, é de fundamental

bases da produção endógena e de conhecimentos científic

cação e da administração da política de ciência e tecnolog

importante repensar o sistema de educação básica, espe

nico de segundo grau.

O segundo ponto de vista é o da população: o q

bom também para todos os cidadãos brasileiros? Numa soresposta fosse positiva. Mas, numa sociedade de classes

para o País mudar a participação na divisão internaciona

que seja igualmente benéfico para todas as pessoas. Essa

uma forma de atender os interesses da classe dominante,

balhadores. Por isso, é necessário distinguir duas perspect

Para a classe dominante, resolver o problema da

não seja tão decisivo quanto para os trabalhadores, porq

conservadora no sentido de que, se o Brasil permane

grande parte da população está no mercado informal

novo paradigma econômico for sendo incorporado à

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parce la da população continuará excluída? Como pensconsiderando o setor informal ou o empregado nos oli

estão em crise, como a siderurgia, por exemplo? Ε pa

ponta', qual seria o perfil desse técnico? As habilitações qu

nas disciplinas tradicionais, resolvem o problema? Q

cessário a um técnico em biotecnologia?

O s limites entre as áreas tradicionais do conhe

menos distintos, o mesmo ocorrendo entre os set

agroindústria, estão-se unindo os setores terciário e prim

setores tradicionais da economia estão tornando mais

urgente pensar como deve ser a formação do técnico

sição e de mudanças tão significativas.

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P R O F IS S IO N A L I Z A Ç Ã O D E T R A B A LHA D

D E N ÍV E L M É D I O : P RO B L EM A S Ε

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Alina M

A formação de pessoal de nível técnico apresenta trapolam as preocupações debatidas atualmente, como, p

de integração entre ensino e serviço. As questões vinculadtema desta exposição, suscitam algumas outras, que conante do projeto de Reforma Sanitária e da conjuntura naci

Observamos avanços importantes do ponto de visinstituição do Sistema Único de Saúde de acordo com a

incluindo a formação de recursos humanos. A prerrogativnar essa formação acarreta uma série de conflitos, cuja resaprofundamento, principalmente com relação aos problepecial no âmbito da universidade. Como equacioná-la comuniversitária? Alguns setores da sociedade civil argumentdeve se envolver com educação, pois esta deveria ser uma a

educação. A corporação universitária defende também estA tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educ

Nacional tem sido historicamente demorada em função d

por cento da força de trabalho empregada não posespecíf ica e exerce na prática direcionalidades técnicas.

Dessa forma, há uma contradição tanto do ponto d

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cionais, como do movimento da Reforma Sanitária, queno ideário da universalidade, eqüidade e integralização demente, pressupõe assistência à saúde de qualidade. Esse

implica a formação adequada de todos os trabalhadoresitários ou não, para que se possam alcançar os objetivos d

Também é necessário pensar, prospectivamente, nna ampliação da oferta de profissionais devidamente prprofissionalização na área da saúde deve avançar em duasbalhadores e formar novas gerações de técnicos para ingre

Do ponto de vista educacional, esse panorama ap

As escolas técnicas na área da saúde devem buscar metozar trabalhadores que foram marginalizados do processlongo dos anos, muitos sem qualquer grau de escolaridadcessita desenvolver processos metodológicos para o continda escola regular, que podem iniciar seu processo de protegrar-se à força de trabalho.

A busca de metodologias adequadas a essa situaçsamento educacional para a profissionalização no setor sprocesso educativo para qualificar os trabalhadores já ebalho precisa ser necessariamente diferente daquela quezação de leigos. Essa busca de metodologias suscita tam

própria compreensão do processo de Reforma Sanitária.A Reforma Sanitária, neste momento de processo

um novo presidente da República, pode vir a ser comprom

tados e atendidos. Este momento, portanto, nos coloc

opostas na concepção de formação de pessoal técnic

para a definição de políticas de formação desse conting

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Diante de nossa história de luta no movimento da

interrogação: seremos os executores dessa política, forma

testo ou teremos de nos aliar para ajudar a avançar e a m

da Reforma? Frente à incógnita das eleições e diante desta

ficar atentos e acompanhar os resultados.

Passaremos agora a examinar problemas iner

preparação de pessoal de saúde, os fatores hoje presentes

mente, é necessário enfatizar que a área de recursos hu

tradição: em termos de discurso é extremamente valorizaddignificada e tratada sem prioridade política. O corpo de

quase sempre relegado a um segundo plano, os problemdo 'eu acho', do 'jeitinho para tratar com pessoas' etc. Ε

caminhos para valorizar o setor. Estudos existem, houve

da força de trabalho, do processo de trabalho na saúde, da

das profissões, suas histórias e movimentos corporativos.

relevantes sobre a área vêm sendo apresentados e discutid

Verifica-se que uma ênfase maior tem sido dada administração de pessoal . Por exemplo: as propostas da

no s para a Constituição e a lei do SUS foram todas r

especificamente questões dos planos de cargos e carre

formação de recursos humanos fica definido de forma

papel do setor saúde na condução do processo de f

principalmente de nível médio. Historicamente, a

preparando o pessoal auxiliar e técnico, sendo a experi

nesse campo, bastante limitada e de resultados pou

sional,deveremos,principalmente, buscar superar as dicot

vidual e teoria versus prática.

É fundamental refletir sobre como organizar um

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atenda essas questões. Torna-se imperativo conhecer o

forma prospectiva, ou seja, aquele que esperamos vir a oc

do sistema, no sentido de sua maior produtividade e

construir um currículo que reflita a integralidade das acampo de ensino de pessoal técnico e auxiliar, supere a

prática. Trata-se de buscar um processo pedagógico que

sional, a educação geral e o sentido de cidadania.

Esses são problemas cruciais no desenvolviment

para o setor saúde. Uma escola que recupere e legitime o

se m preparação específica e que forme novos profissio

resumo, as questões que se apresentam são: que novesses? Qual será o processo de trabalho no SUS? Qu

desse processo, as relações interpessoais, quais as esp

dades técnicas? Assim, será possível definir cortes no c

mentar procedimentos e ações e, ao mesmo tempo, c

específ icas para a área da saúde.

Essas são apenas especulações, pois a nossa realid

necessidade primordial de superação em termos de qua

m a gem , por exemplo, representa aproximadamente 49

dos quais cerca de 60% não têm preparação especí f icaperativa a definição dessa área como prioridade polític

esforços de formação, para superar a atual bipolarizaçã

de trabalho (médicos versus trabalhadores sem qualifica

nos processos institucionais de atenção à saúde. A partir d

as ciências biológicas, físicas e sociais interagem de forma

objeto. A sua definição requer a compreensão da tota

corresponder às necessidades do processo de trabalho, de m

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do objeto fundamente a prática concreta.

U m a vez equacionadas as questões relativas a

conhecimento (conteúdo), cabe, na busca da metodolog

que possibilite ao sujeito interagir com o objeto de várias

dade, a partir de sua própria concepção de mundo. Em ougia deve definir uma série de atividades que coloquem o s

modo que ele possa dominá-lo a partir de sua experi

processo interativo, permitir que o mesmo não sejaqualificado tecnicamente, mas transformado em agent

processo de trabalho.

Diante dessas questões, podemos considerar que atem um desafio muito grande. Por um lado, ao definir u

balhadores, deve considerar toda a prática específ ica acum

sua revisão. Por outro, para os que estão postulando a á

rior, as aproximações da realidade podem passar por v

passo intermediário para a inserção no concreto das prátic

Além disso, a escola profissionalizante de saúde q

pessoal de várias áreas técnicas deverá pensar nos aspectos

para todos os trabalhadores da saúde, de modo a consu

operação e o sentido de equipe de trabalho nas especifici

áreas. Deve-se pensar que uma escola técnica pode des

um perfil que atenda às prioridades dos programas de sadade e qualidade, considerando a possibilidade de adap

local, regional e até nacional. É importante enfatizar que

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DEBA TE

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Maria Umbelina discute a formação profissiona

chamando a atenção para a crise dos paradigmas de regubalho. Mostra que essa crise tem uma faceta no Primeiro M

concentração do capital levou séculos, e que, nos países

acontece em poucas décadas, resultando em processo

Aponta algumas contradições nessa crise dos paradigma

finição dessas contradições é de caráter político. Conclui ch

formação básica e sua importância para a cidadania.

Alina Souza enfatiza também a necessidade de te

que dê conta dessa realidade. Toma como ponto de pa

profissionais que têm uma perspectiva de saúde públic

nova reordenação da sociedade e um novo tipo de homem

em conta que essa luta se situa num contexto onde há umenquanto projeto e uma prática privatista brutal. Nessa

atender àqueles já inseridos no processo de trabalho em

mento que não é definido a priori, mas considerando as cir

para que ele ocorra.

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Alina Souza chama a atenção para a complexidade

do s profissionais, que, em última instância, serão os atore

forma Sanitária. A aproximação entre educação e saúde a

mais por justaposição desses dois setores do que em virtude

da s estruturas educacional e de saúde e de como se elas se

contrar na saúde a tentativa de suprir deficiências da forma

ingressado na rede por meio do próprio serviço de saúde, a

(e se incumbindo) de responder pela qualificação desse tra

problemas, porque há limites na possibilidade de atuação

especificamente, do serviço. É uma questão nuclear para qu

pela educação, nem a saúde pela saúde. Maria Umbelina,

modificação dos paradigmas, traz um componente importa

se inclui o tema do mercado profissional como definidor das h

formar o profissional x,y ou z.

É importante indagar como acontece a articulação

profissional com o mercado de trabalho. Se a articulação cado o paradigma, algumas coisas têm que ser repensadastas habilitações profissionais existentes, das quais vinte e p

Tem-se que manter todas elas, acrescentar outras ou supri

da habilitação profissional no segundo grau é fundamental,

finir por onde caminhar. Alina Souza aborda o problema das

uma proposta para elas. Mas o que se está entendendo reapara a saúde? Como a discussão está articulada com o pe

uma formação em nível de segundo grau? Ε essa formaç

perceber de que forma se abrem ou se fecham in

política, que relação essa participação política tem co

balho, como o conhecimento da organização do trabal

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ticipação política, é argumentação, é força do trabalha

pação política. Que ele tenha acesso, inclusive, à prod

manidades, das artes, que também fazem parte da pro

São outras facetas relacionadas com essa totalidade da

política e da vida cultural.

Ε nesse sentido que entendo o segundo grau, com

o trabalho. Não sei se seria profissionalização stricto

maneira, significaria preparar a pessoa para viver na soci

perspectiva desse novo paradigma, que não está ainda tot

ver claramente que a atuação de outro conjunto de prin

processo de trabalho em nossa sociedade de Terceiro M

traste muito mais violento do que nos países do chamad

prisma, o próprio exercício da cidadania, da participaç

dadão, enfim, fica muito condicionada por um conhecime

apenas de uma profissionalização, mas do conhecimento

guns aspectos do trabalho.

Isso pode ser observado, por exemplo, na questãportância de esquemas de vacinação em massa e no mov

sumidor quanto ao uso de defensivos agrícolas e outras dr

malícia em relação às derivações das tecnologias, de for

modo a não se expor enquanto pessoa a riscos desnecesinterferir, de forma qualificada, na tomada de decisões qu

que vão afetar a vida de cada um. Há uma interface muitotécnico e o segundo grau, considerado como educação

atuais, em grande parte, a bagagem do cidadão comum

Estados Unidos, na época em que somente a metade

equivalente ao quarto ano, havia uma festa de família e

clusão de um ciclo.

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Dadas as condições atuais do País, uma escola técnicaque, pelo menos, resgatar o social para os trabalhadores, foram marginalizadas do sistema educacional, até que seja pCuba, num determinado momento da revolução, fez umatingir determinado patamar, que está mudando neste m

terando, inclusive, a política e as exigências para a formaçã

Temos que pensar uma escola técnica para este Brtraditório, que tem patamares variados em função de descola técnica de saúde deve acolher essa discussão, bemretamente ligados à área educacional, para poder pro

última instância, são pessoas que compõem a chamada plação produtiva.

Não penso na escola básica de 'cuspe e giz', mas, si

pessoa que faz a seguinte pergunta: "Se passarmos da q

química do raio laser, qual a mudança qualitativa para a so

demos a escola básica ligada ao trabalho, não a ligação

imaginamos um curso de química que, de modo gradativo,

ciência química, mas que, ao mesmo tempo, forneça elem

divíduo para que ele possa fazer o recorte, possibilitando-lh

se r técnico em saúde, e não técnico em transporte.

Parece-me que a tese defendida hoje seria a de gara

básica profissionalizante em todos os campos de uma so

dos valores. Precisa também buscar um núcleo que organi

terminado campo. Isso é profundamente profissionalizante.

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M a r i a Umbelina

O ensino técnico stricto sensu deve ter, obrigatoria

com o exercício da profissão, porque é um processo mais

investe numa pessoa que já é privilegiada porque cons

grau de escolarização. Por outro lado, diante da tendência

de metade da população, são da maior importância form

sionalização, especialmente para o indivíduo que atua na

perança seria que o desenvolvimento criasse condições

economia informal, mas o que está surgindo é o contrário,

a acentuar essa marginalização.

Imagino como poderia ocorrer, na prática, a profissi

cação geral. Entendo que, a médio e longo prazos, isso ac

sociedade. Seria também interessante saber como tem sidjeto Larga Escala.

M a r i a Umbelina

Essa é uma questão extremamente complexa. C

perspectiva apontada como uma saída a curto prazo, nã

compreensão do próprio interesse e ponto de vista individ

trabalhadora. O desafio está em pensar nas múltiplas forma

o ensino regular) que considerem a formação geral e espaço físico e temporal da unidade de serviço, e até nas f

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A l i n a Souza

Em relação ao Projeto Larga Escala, 1 uma questão

profissionalização necessariamente não descarta a educ

portância desse projeto é a tentativa de fazer cortes drículo das habilitações mediante um processo metodoló

sentação do real, de como se deseja trabalhar determina

caminhar no sentido de atingir esse mesmo conceito, m

tífico, do ponto de vista da saúde. O aluno percorre um

que se conhece na escola regular, o que permite adicion

formalmente não oferecidos, da educação geral como, pcom o objetivo de melhorar a redação.

prazo, determinadas demandas que as políticas públicas p

jam exigindo em nível de qualificação profissional. A decisplar um projeto contra-hegemônico, com o profissional n

simples recurso descartável. Não se pode pensar em pess

cursos humanos, pelo menos no processo educacional, poSe a máquina fica obsoleta e a substituo por outra, a ten

menclatura e entender recursos humanos da mesma forma

velho, desgastado, não interessa mais, chamo outro. Não

de conteúdo, nomenclatura de essência.

'contaminação', por exemplo, partindo de representações

soas vivem e adoecem. E, então, a partir desse grande cí

'contaminar' no sentido estrito mesmo, da agulha, da mento médico.

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O caminho percorrido para chegar a essa conclu

mento das formas de sobrevivência de determinada po

cançar o conceito desejado. Isso é que traz para dentro do

social, do antropológico, do cultural. Resgatar tudo isso e

geral é a experiência das pessoas que passaram pelo procala, em si, não contempla a educação geral. Ele tenta

flexões sobre linguagem, operações básicas etc. O Larga

muito com a especificidade da habilitação. Quando um

mação completa exigida pelo MEC, recebe somente o

que não a credencia como técnico ou como auxiliar da c

tem que dar resposta também a essa questão.

A c h o necessário que, além da oportunidade da

tos à disposição da população centros públicos de form

existe hoje fora da rede escolar são instâncias de form

ladas pelo capital e que têm todo empenho em faze

muito operacional, sem a devida compreensão do procese r feita a referida integração, principalmente conside

está no mercado, que já foi prejudicado em relação à

Então, é importante que existam centros de formação pr

visão mais pública, mais preocupada com o sentido de

portância do social, oferecendo oportunidades de

trabalhador já engajado ou até mesmo àquele que vaiprimeiro grau e precisa ter alguma habilitação para ent

mental que a pessoa não seja duplamente punida por te

tivos. É muito mais fácil a alguém que percorreu o siste

a executar determinada técnica no momento de inserir

ocorrer o inverso: uma pessoa inserida há tempos no conhecimento, o que, no meu entender, dificulta a superaçã

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A l i n a Souza

U m a das maiores críticas que se faz ao Projeto Larg

tempo: "É um projeto que demora muito". Ele demora m

g ia adotada é para atuar no interior mesmo do trabalho, do

em dois tempos, e não apenas naquela idéia mais comu

referencia apenas no tempo de o indivíduo aprender. Há

coletivo, porque o processo não se dá numa metodologia

numa relação instrutor-aluno. Ela depende do que e

coletivo e depende da organização dos serviços de saúd

do currículo que, em determinado momento, tem que se

Esse assunto está no currículo tradicional, mas, como é u

baseado no trabalho, para que esse ponto da unidade s

que o serviço de saúde tenha os instrumentos necessárioo serviço não tiver, a unidade não avança. Ele é um pro

idéia de formar na perspectiva da organização do serviço

promisso com a escola técnica do sistema formal, posso mon

nar. Na proposta do Larga Escala, não existe a possibilidade

lada) de ensinar um procedimento que não vai ser executa

apenas ocasionalmente.P or outro lado, se não existe o projeto político da r

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A QUESTÃO TECNOLÓGICA Ε A

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

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C IÊ N C I A , T E C N O L O G I A Ε Q U A L

P R O F I SSI O N A L E M S A Ú D

Ma r í l i

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A respeito do tema ciência, tecnologia e qualifica

inexistem estudos setoriais que forneçam uma base emp

conseqüências que a tecnologia vem acarretando sobre osaúde. Na verdade, há pouquíssimos estudos sobre esse a

lação ao mercado de trabalho em geral, com exceçã

específicas sobre os setores automobilístico e de serviços,situação é bastante diferente nos países industrialmen

existem estudos não apenas empíricos, mas também a

dos enfrentamentos políticos nessas sociedades, resultados pela tecnologia.

No Brasil, a Lei 5.692/71 propôs uma reforma

segundo graus no início dos anos 70, no clima do 'mil

forma era interpretada como uma verdadeira panacéia,

iria superar a questão das desigualdades sociais. Essa icondizente com o modelo de 'Brasil potência' que o au

projetando. Na verdade, essa lei tinha por objetivo imped

Outro aspecto importante é a taxa de formalidade

do País, que vem registrando uma acentuada tendência d

de 80. A taxa de formalidade expressa o percentual dos trassinada, mais os estatutários da administração pública, ou

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contingente em relação ao total da população ocupada.

4 2 % ; em 1986, caiu para 40%, ou seja, 60% da populaçã

informalidade, o que projeta um agravamento da situação.

Tais dados sugerem que o setor produtivo está conc

ganhos não-operacionais, fazendo investimentos não-produdos informais para contratar mão-de-obra. Nos últimos vint

uma tendência de queda da participação da renda do traba

respondente a salários mais encargos sociais tem caído

brasileiro. A renda do trabalho participou com 38,67% do

com 40,7%; para 1985, a projeção é ainda mais baixa,

cerca de 36%; para 1988, esse índice cai para 33%. Nos Eplo, a situação é bem diferente: o rendimento do trabalho

de participação no PIB, que, por sua vez , é muito maior do

uma idéia, enquanto o PIB brasileiro, em 1988, ficou em to

apenas o gasto em saúde nos Estados Unidos alcançou US$ 550

No Japão, a renda do trabalho participa com 70% d6 1 % . Perdemos até para o Paraguai. Somente o Equador

taxas ainda menores que as do Brasil. Nos países indust

parcela dos ganhos de produtividade para os salários ex

ticipação da renda do trabalho no PIB. Isto é: do tota

economia como um todo, à elevação de ganhos de produ

portante será repassada aos salários. Por esses indicadonosso modelo de desenvolvimento econômico está pen

produtivo, premiando a aplicação de recursos na ciran

ticipação dos salários na composição do PIB. Ε esse mod

viável, deve ter como referência três pontos nodais: a mo

distribuição da renda e a democracia. São os três pontosmodelo de retomada do desenvolvimento econômico, por

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e o processo de modernização tecnológica estão hoje

mundial - estreitamente vinculados.

P or ser hoje a economia brasileira bastante interna

tempo, com um grau de atraso tecnológico muito acent

modernização tecnológica é muito grande e, com pouquase todos os setores. Esse atraso tecnológico vem ating

médias empresas nacionais e as empresas mais jovens, just

empregadoras de mão-de-obra, que têm um número de tr

lação ao capital investido em máquinas. Esse atraso tem r

de produtividade que a economia apresenta e nas sérias d

confiabilidade apresentadas por muitos produtos industriacompetitividade da economia nacional. Apontar dados re

nifica que a agricultura não tenha importância, porém, q

volvimento, a indústria tem um papel primordial, ao imp

desenvolvimento. Não se está negando, portanto, a impo

mesmo a complementaridade da agricultura.

Sabemos, entretanto, inclusive porque vivemos es

recente do País, que não basta apenas o crescimento ec

mentou um crescimento econômico fantástico na época d

crescimento que se deu sem a preocupação de trazer, par

cionais, a capacitação tecnológica e o controle não apenas

e de ponta, mas da tecnologia de modo geral. O modelodustrial e tecnológico, baseado em substituição de im

Brasil, tornando-o um país industrializado, porém cabe inda

Nesse modelo dependente, a única vantagem que

ternacionalmente e a trazer para a mesa de negociação -

negociação quando se está de joelhos - é o baixo custo dciosos recursos naturais, alguns à beira do esgotamento,

os não-renováveis. Esse modelo dependente continuar

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modernidade enganadora, que nos confundiu, mas que

porque hoje convivemos com uma situação ímpar de pr

violência. Essa modernidade, e isso está claro pelo menos no

da sociedade brasileira, não serve mais. Uma via de deque tenha como prioridade a satisfação das necessida

exigirá crescimento com elevação dos salários reais e u

mercado interno sem as distorções atuais resultantes d

renda hoje existente. Esta segunda via, não-dependente,

estrutura industrial a partir da tecnologia, ajustada a uma

terno que resulte da ampliação de programas sociais e daque resulte na produção para o consumo de bens mais ba

mentos em infra-estrutura social.

Ε necessária uma estrutura produtiva eficiente, mod

competitividade internacional para atender a esse acúmu

sociais não satisfeitas. Não há outra alternativa. Ε preciso

nacional e vencer o desafio do mercado externo, para g

econômico interno. Para o Brasil, a questão tecnológica, p

ser colocada apenas nos termos dos efeitos negativos sob

porque até parece que já estamos na ponta, que somos u

peravançado, discutindo os impactos negativos da tecno

trabalho. Desse modo, embora seja um aspecto extremam

mos centrar nossa discussão apenas na eliminação ou dim

balho pela incorporação da tecnologia, como se dá no cas

jam novos profissionais, com exigências de qualificação d

d a d e , a própria natureza do trabalho está sendo profunda

vações tecnológicas. Isso ocorre menos pela ação em si darada, como no caso da microeletrônica, mas muito mais

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sendo introduzida e incorporada.

Assim, é principalmente a orientação que se impr

zação de controles automatizados na produção industrial o

terminar o caráter ou as características de suas implicaçõ

de escolha política. O problema da opção tecnológica é, prefere às decisões referentes ao processo de inovação te

para outros países do Terceiro Mundo, ainda é possível a

desenvolvimento econômico equilibrado social e ecologica

oportunidade que nos está sendo dada justamente pe

avançada, pela questão da microeletrônica, pela questão

é, pela possibilidade que essas tecnologias oferecem de re

controle do processo de trabalho, bem como o impacto so

caso da microeletrônica, houve uma decisão política. A ár

vamente, aquela em que se traçou claramente uma pol

tados estão aí. Com distorções, mas são resultados inequív

expl ica por que no Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comér

que tem estado a serviço dos interesses norte-americanos

de pressões espantosas e retaliações. No campo do soft

também uma boa projeção. No caso da biotecnologia ap

tecnologias de engenharia genética, é grande a tradição

pesquisa biomédica nas instituições públicas, como a Fioc

O Brasil é competente em biotecnologia graças, emque tem uma longa tradição na área biomédica e na pe

sanitaristas, companheiros de Oswaldo C r u z , que criaram

em termos salariais, a menor competitividade, em virtude

tre os salários que oferece e os praticados pelo setor privad

Essa valorização, na área biomédica, aponta parasante: a incorporação de tecnologia moderna suscita a ind

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turo de parte dos especialistas médicos, porque há indica

profissional sofrerá um processo de 'desqualificação', isto é

engenheiro biomédico ou por profissionais de computaçã

prospecção, há que buscar dados empíricos, talvez nos es

nológica e impactos sobre o mercado profissional médEstados Unidos, por exemplo. Inovações tecnológicas pod

terações revolucionárias na organização do trabalho, e, no

croeletrônica trouxe o sistema da subcontratação, retornou

dução no nível doméstico, realizada no domicílio, em dive

também nos serviços. Com o desenvolvimento de máquina

trole numérico, o indivíduo pode trabalhar em casa. Isso e

no Brasil, e, na área automobilística, há estudos que apon

uma forte tendência à descentralização do trabalho, fato

portantíssimas para a discussão na área sindical. Assim,nológico e as mudanças no processo de trabalho são politic

isso é bom, felizmente, porque senão a técnica estaria

mente, com seus impactos sociais e ambientais potencialm

C h a m o a atenção para essa condicionalidade p

mudanças no processo de trabalho se materializam conform

lações entre capital e trabalho e pela intervenção do Esca s públicas, com destaque para a política de desenv

política científica e tecnológica, que têm uma forte itratégico no rumo a ser tomado pelo País. Forte influên

ce r a resistência sindical à inovação tecnológica que de

mocrática pode imprimir rumos diferentes à condução do

política é fundamental, porque facilita ou dificulta os efeit

tivos negativos sobre a força de trabalho e o meio ambieforça do movimento sindical podem estabelecer limites a

tecnologia. Desse modo, existe uma clara dialética, pois,

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desqualificação como tendência, esta tendência é aco

criação de novas qualificações. Se a tecnologia fornece

cazes de controle do processo de trabalho, ela prevê a m

trabalho para certos grupos profissionais, exigindo tambémresponsabilidade em termos do trabalho passem a ter u

traordinária, envolvendo também a elevação do nível dos s

gorias. Não existe essa tendência inexorável à degradação

vação tecnológica, principalmente num país como o nosaqui apresentado. Ε preciso ter muita clareza quanto a essa

O Brasil não sairá da situação atual num espaço cuse decidir agora é crucial para o futuro e para alterar essa s

semprego, de subemprego, de economia subterrânea, de

escolher um modelo de desenvolvimento que confira a m

produção de ciência, ao desenvolvimento científico e te

desde a erradicação do analfabetismo até os cursos mais es

Para o Brasil, a ação do Estado deverá ser apropria

da sociedade brasileira. Em matéria de política científica

em nossa história - curta, mas importante - fatos marca

C N P q , do B N D E S , da Finep e da C ap es . Nesse arcabouço

científica não pode ser vista como um investimento pur

científica, que, no País, tem estado muito distante do dese só recentemente algumas universidades vêm assumindo

do desenvolvimento econômico e tecnológico. A política

quisa clínica comportam determinadas disciplinas, determ

ambos os campos - mesmo sem considerar o caso da p

prestação de serviços na área de controle de qualidade onão encontrei a menor relação entre essas disciplinas e

legislação, há um descompasso evidente, um distanciam

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dade. Isso pode estar traduzindo a total desarticulação e

cação e as outras, nas quais se inserem as políticas científic

Parece-me que, na análise sobre a formação profiss

a variável tecnologia é um excelente ponto de partida. Temcomo um espaço estratégico, como um laboratório exemp

a qualificação profissional em saúde. Creio que esse tema

se já fôssemos um país altamente industrializado. Devemos

pactos da tecnologia, mas sem perder a consciência do

desse país, a instituição em que atuamos, sobre a qual res

tiva da sociedade em relação ao papel que desempenhará

dade aumenta no momento em que se caminha para um

para uma mudança na presidência da Fiocruz, em que

mudança nas unidades técnico-científicas. Todos esses fato

a situação crucial que atravessa a comunidade de pesquisa

sores e médicos que compõem a 'Universidade da S a ú d e '

instituição um elenco de atividades que também expre

nologias, na medida em que cada atividade reúne uma o

o seu desenvolvimento.

Q U A L I F I C A Ç Ã O T É C N I C A Ε Q U A L I F I C

E M B U S C A D E U M A V I S Ã O P Ó S -HA

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Pode-se imaginar qualificação técnica e qualificaçã

que se opõem, as quais sabemos constituídas de matérias

dificuldades em separar. Pretendo analisar a relação existeuma perspectiva diacrônica.

Em um momento inicial, a técnica foi tratada co

ciedade. Tinha-se o progresso técnico como algo linear,

opções políticas e às características culturais da sociedade

a visão dominante no final do século passado, quan

naturalismo, o racionalismo eram as tendências prevalent

escapou dessa concepção, ainda que tenha tentado ser m

cionista (ele, afinal, não poderia ser melhor do que o seu

senvolvimento acelerado da economia mundial capitalist

muito a idéia do 'determinismo técnico', segundo a qual

nada pela evolução da técnica, tendência assumida, gross

quanto pela esquerda.

Somente com os teóricos da Escola de Frankfurt é

No Brasil, essas duas concepções influenciaram

acadêmica. Com a fase desenvolvimentista, a própri

começou a acreditar bastante nessa idéia do determinanálises, os próprios sociólogos discutiam o nível de mode

triais, como se ele fosse capaz de determinar a consciênc

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série de pesquisas, nos anos 50 e 60, demonstrava ser a n

trabalhadores conseqüência do setor industrial em

exatamente, do grau de modernidade desse setor.

Quanto à visão da Escola de Frankfurt, ela acabforma indireta. No Brasil, não se tem consciência de que

nologia surgida nos anos 70 é uma conseqüência da ruptu

teóricos alemães. Foi a partir da leitura de autores como o fra

plo, que surgiu uma série de teses sobre as influências so

senvolvimento técnico, criticando-se duramente a organiz

como forma de controle dos operários. Sem dúvida, o c

uma simplificação extrema reduzir toda a técnica ao taylo

sido utilizado em todas as indústrias, o que de fato não o

o modelo taylorista e concluía-se que técnica era sinônimo

Essas duas visões parecem inadequadas porque sã

cas. Analisa-se, de um lado, a sociedade como um sistesegundo a melhor tradição da sociologia americana. Ε o

como se dizia no fim dos anos 60 e início dos 70. A culpa

a fazer, porque ele está em todo lugar. A sociedade seria e

social, caracterizado por um desenvolvimento tecnológico

um subsistema social. Só haveria opressão e nenhuma for

balhadores seria possível.O r a , a realidade não é só essa. A sociedade é con

ciedade tecnocratizada, de um lado, ou, então, para o c

não é apenas uma grande máquina. A sociedade industria

nada pelo exemplo da máquina, que ela própria, em acomo uma máquina de opressão e, em outros, como um

Parece-me, entretanto, que se , por um lado, ela é um sist

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um mundo da vida que corresponde à perspectiva inter

terna, de quem está de fora). O sistema é a visão da so

lado de dentro e constata que existem a opressão e a res

gativo, a dor e a alegria, o trabalho e o lazer. Então, essa vpartir da experiência de vida dos participantes da construç

O ideal, então, seria conseguir reunir a perspectiva

do mundo da vida. Como reunir essas duas perspectivas?

cessárias. Ε preciso olhar as coisas de fora e de dentro. Ε ne

as coisas do lado de fora, não se tem o conhecimento tota

muitos aspectos por dentro que deixam de ser vistos. Ta

q u e , estando-se dentro, muitas vezes, perde-se a visão glob

Voltando ao tema que me foi apresentado: como

nos são feitas, seja pela técnica, seja pelo social? Partindo

jamos caminhar para uma sociedade mais justa, temos q

formação ideológica. A primeira é a idéia de legitimar dectécnica. A técnica não tem efetivamente o poder de legi

respeito à própria vida política. Isso, como dizia o primeiro

a técnica em ideologia. A técnica pode se transformar e

cada para responder a um problema social, que merece

tratamento segundo a racionalidade própria da instituição

outro lado, não podemos também nos deixar levar por umjulgue poder passar por cima de assuntos que requerem r

nica. Não é possível realizar tudo o que desejamos polit

tada enquanto vivíamos sob uma ditadura, mas já está n

além, se nosso objetivo é realmente construir uma sociedade

ação que nos cabe encontrar respostas para esse questiovem da técnica e do social. Para encontrar um equilíbrio

esferas, é necessário certo tipo de lucidez, que pode ser aju

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(Felizmente, há métodos para nos ajudar.) Por exemplo, umaparticipantes interessados diretamente no assunto, uma dnão a partir de um critério só, o econômico, por exemplo

conseqüências possíveis de uma solução técnica (ecológicaU m a tomada de decisão coletiva, com troca de argumencoerentes do ponto de vista técnico, mas também em facetem. Certamente, uma reflexão nesses termos é capaz de nos leação que seja capaz de equilibrar as exigências que nos vêm

Para que um debate como esse seja possível,

primeiro lugar, condições políticas mais amplas. Não vouparecem bastante claras. Mas há ainda uma exigência ligamentar dos diversos agentes. Ε uma ilusão - freqüentement

pensar que se pode garantir uma decisão democrática simsoas que nunca falaram em público, que nunca tiveram dir

que estão acostumadas a lidar com esse tipo de discurso (

N ão basta apenas dizer: "meus caros, a palavra está abertpreciso que as pessoas tenham a capacidade de saber defenchegamos ao problema da qualificação. A condição inicique os participantes tivessem qualificação técnica e sociopara não confundir esses domínios.

Numa sociedade moderna - nisso Weber tinha razão - ,leis autônomas. Isso é razoavelmente claro. O que não é óbdevamos abandonar a perspectiva de uma conciliação dialé

DEBA TE

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A partir da temática da tecnologia, parece muito

exemplo, riscos e questões relacionados à saúde dos trabaambiente, a questão do consumidor. Ela permite pensar em

ceituais, como o próprio conceito de risco. No debate sob

senvolvimento, quando se discutem os aspectos destrutivo

de maneira geral há uma tendência a negar ou a atacar es

mantemos a idéia do acidente dentro de uma concepção ar

indesejável, atribuído normalmente a uma falha de um prevolução nas abordagens sistêmicas e nas perspectivas tan

outras áreas sistêmicas , como, por exemplo, na área de ac

inerência sistêmica do próprio acidente, e isso, relacionad

risco relacionado a determinadas tecnologias.

A tecnologia é, antes de mais nada, uma rearrumaç

manas, mas também da natureza. Essa rearrumação, por

estupendas. Temos falado desse conjunto de tecnologia

mamente complexos, que, em países desenvolvidos, ao

merecendo uma discussão bastante avançada. O problema

de vista do risco, envolve, também, em muitas situações, u

risco. Podemos passar a ter que enfrentar, para o desenv

dentes catastróficos, por exemplo. Isso acontece no des

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química e nuclear, e potencialmente com a própria biotecn

Isto remete a uma discussão extremamente comple

julga o risco, qual a competência para julgar esse risco, qu

seqüências de determinados desenvolvimentos tecnológicosresponsabilidade de determinados indivíduos (técnicos) qu

tendem o processo como um todo e têm uma participação

do processo. Às vezes, costumo brincar dizendo que não co

clear que ataque a energia nuclear, embora até possa cri

como não conheço pessoa da área de biotecnologia que, a

não defenda o desenvolvimento da biotecnologia em si.

Nesta discussão, parecem-me extremamente comple

dem a polarizar os efeitos positivos e negativos do des

Penso ser importante trazer o assunto para reflexão esrefere à educação. Perder a referência do papel da educ

rer o risco de cometer equívocos bastante sérios. Não se

formação do cidadão, e nisso está incluída a formação d

e exclusivamente - a qualificação técnico-profissional. Se

integrante do ensino básico, é preciso formular uma pro

considere o domínio dos fundamentos científicos que subgumas técnicas. Nesse sentido, onde se situa a especificid

determinada qualificação profissional?

na questão da interdisciplinaridade, da multidisciplinar

restringir ao específico, mas não tenho a menor dúvida de

um lugar importantíssimo. Não podemos, também, imagconta de todas as disciplinas, de todos os conhecimentos

alguém no campo das biotecnologias. O processo de trab

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gia tem um grau de complexidade muito grande, indo da

dução industrial, e é preciso definir a composição ideal d

ratórios etc., c a p a z de atender a toda essa complexida

controle de qualidade, a questão dos ensaios experimende segurança, o problema do meio ambiente, dos impa

podemos pretender criar uma escola no campus da Fio

a todas as necessidades dessa qualificação. Temos que

de um modo articulado na rede de ensino como um

tribuição de outras instituições.

No caso do ensino da biotecnologia, estamos pen

inclua a discussão econômica, passando pela história

que considere o papel de instituições como a Politécn

Q u í m i c a e o Departamento de Macromoléculas da Uni

de Janeiro, entre outras. O desafio é discutir a questão do

o que seja absolutamente relevante do ponto de vista téc

rismo. Aliás, penso que esse momento já foi vivido e ult

cional de Saúde Pública. Por conta de um pragmatismo exafastamos dos valores acadêmicos. Não se trata de discuti

que é moderno e está na moda. É uma questão de sobrev

e , dentro da Fiocruz, para cada uma de suas unidades. Qu

laboratoriais empregar na formação de nossos alunos de níve

sendo absolutamente prático, não nega a importância da

oferece o desafio de trabalhar o conjunto de conhecimento

Sobre a tendência na economia, é preciso ter pres

exclusivamente um setor de serviços, possui também prod

que é certamente a questão mais desafiadora da institu

peso relevante no processo de terceirização da econom

serção estratégica, porque, no caso brasileiro, o setor saúd

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Rogério Val l e

Dentre tantas indagações, acabamos selecionando o

tivo. Para mim, o mais pertinente seria enfatizar que psociais ' de uma técnica é abordar um falso tema. Essa

que o revelado pela área agrícola para estimular o desenvo

Quanto ao modelo para o desenvolvimento da bio

pel da instituição pública, da empresa pública, como e

alavancar o desenvolvimento, repassando tecnologia ao sproduzindo bens. O modelo brasileiro de desenvolvimento

a discussão do papel estratégico da instituição pública. E

que já temos no País, ao contrário da tendência de enfo

dando no Primeiro Mundo, onde se verifica o seguinte: n

gia se desenvolvem a partir do empresário-pesquisador;

nado produto que ele mesmo desenvolve, cria uma empruma pequena firma de biotecnologia, que passa a ter um

das grandes corporações. Parece-me que o caminho brasil

nossa capacitação está nas instituições públicas, na

por exemplo, nas universidades. Diante de tal situação, pe

senvolvimento dessas instituições deve ter prioridade abso

mal, e não vejo nenhuma razão para aceitar a hipótese. D

as que podem e as que não podem ser aplicadas. Vou, a

três, que são diferentes, mas se aplicam melhor ao caso.putador fornece uma série de dados, mas deixa em abe

que a situação do operário que trabalha numa linha de

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do médico, pois em ambas o computador é um instrume

resultados que necessitam ser interpretados.

O verdadeiro desafio para o médico, para o oper

compreender, transformar a visão que possuem da profissder que não pode dizer o que é a doença. Na verdade

dados que aparecem na máquina. A transformação ma

preensão de seu próprio trabalho, na representação que

der, finalmente, que não lidamos com coisas, mas com int

transformação mais difícil, que está no nível das mentalida

que , necessariamente, requer um esforço de elucidaçãsistema de educação tem papel fundamental.

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HomenagemA Joaquim Alberto Cardoso de

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Feitos farão tão

Que não caibam em ve

Quincas , meu irmãozinho:

N ão ria, você já sabia que eu ia começar com Cavocê merece.

Criaram um prêmio com seu nome, e hoje, dia da ed a homenagem.

P or que eu? Por sua causa. Porque nós éramos amcorrespondência, que você publicou em livro. Bem, estou dizen

S i m , quero lhe informar, ainda, que escrevo com ca

no tinteiro, daquelas com que nós aprendemos a escr

passei a limpo.

" F o i certamente a sua amizade por mim que fez com

para a apresentação desta coletânea. Também por amipassada de olhos, tentando ordenar o material, fiquei enca

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que Sherrine Maria faz de uma passagem de Lewis Carrol:

Não se pode acreditar em coisas impossíveis, diz Alic

Suponho que tens falta de treino, diz a Rainha (...)Aconteceu-me, algumas vezes, acreditar em seis cois

tes do pequeno almoço.

Penso que nada seria mais adequado a um livro s

mente um livro nascido na Escola Nacional de Saúde Públ

Edmar Terra Blois, o fundador desta casa (hoje, esttrada), costumava dizer: 'Vamos criar uma escola, com fapletava: 'Essa escola será tanto mais competente, quanto mversidade da Lap a . '

Ele se referia aos encontros no final da noite, entre

fos, vagabundos e, naturalmente, prostitutas, nos bares do

Ε Sávio Antunes - estamos devendo a ele a homencida e que ainda não veio - , companheiro de Blois, tamcasa e que tão profundamente marcou a nossa maneira ' Lá , os debates eram muito mais estimulantes do quFaculdade. '

Era a nossa escola no seu início, nos seus tempos hsoube tão bem captar e desenvolver. Livre, como deve ser t

pouco anárquica, como também deve ser, e com muita audá

" F a z frio aqui em Petrópolis. Depois do jantar e de upelos jardins de Turris Eburnea com Branca Maria e nossopara uma leitura mais atenta dos textos."

O cão, nosso querido Leão, morreu, como você seres mais inteligentes e afetuosos (razão e paixão) que c

vida. Procure por ele aí, tenho certeza de que se tornarão

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Ε ainda, outra passagem:

" S ã o onze horas da noite. A essa hora, inexoravetraz o chá. Branca Maria, encantadora como sempre, vai tese que está escrevendo, O ensino nos tempos de Osda evocação, que ela sabe tão bem fazer, do Rio belle épo

A tese foi defendida e aprovada com láurea. Você tpação. Lembra-se?

Mas o meu egocentrismo não é absoluto. Passo encontas, o homenageado é você.

" É que estou tentando ver se essa coletânea podIX Conferência Nacional de Saúde. Por um motivo pessosobrinho caçula, Luiz Guilherme, para o lançamento, e paum evento inesquecível para ambos."

Mais tarde, você me diria que nem isso era fundam

época , você já estava muito mais próximo do Paraíso.

Meu irmãozinho, como eu aprendi com você nquando poderemos retomar as nossas conversas. De hom

preocupação com a platéia, fazendo a crítica da crítica. Laqueles que têm o forte sentimento da morte.

Senhor Presidente da Fiocruz, meu irmãozinho PauSenhor Diretor da Ensp, meu irmãozinho, muito ma

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Meus senhores e minhas senhoras:

Joaquim Alberto Cardoso de Melo nasceu em Pirajua 26 de outubro de 1936. Estudos secundários, ele já noescreveu, no Liceu Pasteur. Curso de graduação em O don1961. Curso de Saúde Públ ica na Faculdade de Saúde 19 66 . Na mesma Faculdade, C urso de E ducação em S aúdFaculdade de Ciências M édicas da U niversidade de C amda Escola Nacional de Saúde Públ ica desde 1977, onde, ncias Sociais - área de Ed ucação - , ministrou cursos e orie

doutorado. Foi também, e com grande satisfação sua, Escola P oli técnica de S aúde Joaquim V enâncio.

Participou de bancas de exame, de comissões, da

e mesas-redondas.Em 1977, nos legou A Educação e as Práticas de Saúd

C o m Victor Val ia, publ icou, em 1987, Sem EducaçãRamos e Soares, Quem Educa Quem?, em 1989. Em 1990, terminados e ainda não publicados Trabalho, Educação euma sócio-antropologia das investigações de saúde, e jácação: razão e paixão, que sairia póstumo. Ainda em 19nação de Pós-Graduação o seu programa de pesquis

Tínhamos lido e nos encantado com os mesmos liVerne (a inesquecível figura do capitão Nemo, Phileas Fmais tarde imortalizados no cinema por David Niven e CTarzã (que, no nosso tempo, era representado no cinema

passando da fantasia à realidade, as viagens do capitãAmundsen ao Pólo Sul. E, voltando à fantasia, o eterno Sem livro ou no cinema, as histórias da Legião Estrangeira.

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Ε os clássicos, aqueles que estudávamos no colégfrancês, latim e grego, e os que lemos por nossa conta.

Comentávamos a pedagogia daquele tempo. As hisprofessores. Ε o cinema, onde mesmo na matinê, só se enA s piadas da época, enfim, o mundo da nossa juventude.

Ε foi nessas conversas, leves e despretensiosas, mu

de André, Bianca e Júlio, com quem implicávamos, quemais amigos.

Encontro ainda, em Rouanet (Mal Estar na Mode

que teria sido muito bem-vinda se tivesse chegado àé p o c a . É a seguinte: "Obelix não respeitava as normaPetrônio e, normalmente, os bárbaros brasileiros não ccolunas sociais. Comum, aos bárbaros antigos e mod

robusta, saudável e, quase diria, metódica. Nossos bárbacitar o título de um romance de Stendhal, como um frígde declamar uma ode de Catulo."

N ós já tínhamos passado a fase da crítica, agora fazíC o m bom humor, era divertido.

N os uniu também, nessa época, o projeto educacio

nica de Saúde.

Homem de paixão, sabia se indignar, se irritava, vocife

integral à Escola Politécnica. Sorrindo, com uma express

que eles querem é a minha va g a ' .

Seus cursos de filosofia foram um sucesso. Ε jama

Jamais fez aquilo que se costuma chamar 'jogar para a pl

comum nos dias de hoje e que, em português claro, se cha

Cer ta vez, André Malhão, que era seu assistente, m

com os alunos O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Amad

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guntas e comentários sobre o período histórico correspond

a filosofia de Aristóteles. Acostumado a lidar com alunos

admirado com a competência dos meninos. Como o Qtente! Ε o André também.

T i n ha os seus métodos pedagógicos próprios. Algu

de ouvir suas aulas com a cabeça deitada na carteira, de o

menda, responderam que estavam prestando atenção

tou a cabeça na mesa , fechou os olhos e deu sua

deram: era desagradável.

Mas o seu êxito fica claro nas homenagens que re

E, especialmente, no carinhoso cordel escrito para ele pel

Ruzia e Rozângela. Não resisto a transcrever algumas passa

Filosofar, eis a questão

Com seu cigarro no dedoElegante pareceuMas depois fumou um gizΕ ninguém o entendeu

Pelo seu jeito disciplinadoUma discussão surgiuMas foi o maior baratoQuando na aula ele latiu

Com seu jeito rude

C o n h e c i três pessoas que se comportaram com a mante da morte.

Meu pai, grande clínico e professor, quando alguncuravam atenuar o seu prognóstico, dizia no tom habituaprendeu comigo, e não foi isso que eu te ensinei.'

Foi sereno, nada de ordens, façam isso ou façam também. Lembro-me da serenidade que havia em seus olh

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pois da saída de uma visita que falara, durante horas, s' Isso não me interessa mais, prefiro ler as histórias do Pato

A mãe da Bianca, dona Mercedes. Mais jovem do qlamentos e, principalmente, nenhum teatro. Lembro-me Bar, poucos dias antes de sua morte. Como as dores fossesobre a mesa. Quando viu que tínhamos percebido, sorriu retomou a conversa. Nenhuma explicação, não havia nepretensamente heróico. Simplesmente retomou a conve

Petrônio e Eunice.

A terceira pessoa foi Joaquim Alberto. Conhececomo que cresceu, e muito. Ganhou mais segurança no tura, e até no trajar.

Acredito que tenha atingido uma dimensão do hum

Conseguido o encontro consigo mesmo, a sua individualiharmonia da paixão e razão.

Difícil exprimir isso em palavras.

Nessa época, conversávamos sobre a busca da indivser capaz de ouvir o seu coração, de olhar de frente os fan

tro de nós. Sem medo. O encontro da liberdade. Só a parp az de deixar ao mundo a sua mensagem, clara e sem men

N a d a de bom nessa imortalidade, a vida só é fascine a morte. Só há vida porque existe a morte.

Passo a palavra ao mestre Jorge Luis Borges, o imor

em 1949, em tradução livre de Ludovicus Tertius Cuanaba

" E m Londres, nos primeiros dias de junho de 1929taphilus, de Esmirna, ofereceu à princesa de Lucinge os

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menor (1715-1720) da llíada de Pope. A princesa os adq

cou com ele algumas palavras. Era, disse-nos ela, um hom

de pele cinzenta e barba cinzenta, com o olhar singularcom fluidez e ignorância, em várias línguas; em poucos mao inglês e do inglês a uma enigmática mistura do espanhtuguês de Macau. Em outubro, um passageiro de Z e u s info

taphilus havia morrido ao regressar à Esmirna e que fora en

último tomo da llíada, foi encontrado o manuscrito que se

Leio apenas algumas passagens mais significativascia à história:

"Me disse ele que, a partir da outra margem do rio

Imortais. (...) Não me lembro se alguma vez acreditei mesmo assim me dediquei com afinco a buscá-la. Flavio,cedeu duzentos homens para a tarefa. (...) Partimos de Arido deserto. Atravessamos o país dos trogloditas, que dfazem uso das palavras. (...) A todos nós parecia inconcbárbaras, onde a terra gera tais monstros, pudesse estar sit

D e p o i s de longas marchas, vi o que, sem dúvida Imortais. (...) Junto a ela, homens de pele cinzenta, bar

Corredores sem saída, janelas inalcançáveis. Um

para um poço. (...) Quem ouve com atenção o meu rel

um homem da tribo me seguiu como um cão até a ba

noite me dispus a ensiná-lo a reconhecer e, quem

palavras. (...) A humildade e a miséria do troglodita meimagem de Argos, o velho cão moribundo da Odissé ia , e

de Argos e procurei ensiná-lo. Fracassei e tornei a fracas

e eu pertencêssemos a universos distintos, pensei que

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iguais, mas que Argos as combinava de outra maneira e,

objetos. Pensei que talvez não existissem objetos para e

tínuo jogo de impressões brevíssimas. Pensei em um mutempo. (...) Muitos anos se passaram, até que certa m

mente. (...) Corri nu para a chuva. (...) Argos gemia..

gritei, Argos! (...) Foi quando, como se descobrisse algo

muito tempo, ele balbuciou: 'Argos, o cão de Ulisses'.

Ό que você sabe da Odisséia?' A prática do grego l

repetir a pergunta. 'Muito pouco', disse. 'Menos que o r

passaram mil e cem anos, desde que eu a inventei'. En

para mim: os trogloditas eram os imortais."

Mas o tempo já vai longe, e para nós, mortais, do lado

É tempo de terminar, e termino com uma passagemem artigo de abertura do livro:4

" P o d e r resgatar aquilo que move, comove, emoc

caminho possível para o reencantamento do universo, um

mesmo que seja para a morte?"

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O U T R O S TÍTULOS DA EDITORA F IO CR U Z E

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• Estado sem Cidadãos: seguridade social na América Latina• Saúde e Povos Indígenas. Ricardo Santos & Carlos E. A. Co• Saúde e Doença: um olhar antropológico. Paulo César

Souza Minayo (Orgs.), 1994.174p.• Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil.

Ricardo Lourenço de Oliveira, 1994.174p.

• Filosofia, História e Sociologia das Ciências I: abordage

Portocarrero (Org.), 1994. 268p.• Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Paulo Amarante

• O Controle da Esquistossomose. Segundo relatório do CO M S , 1994.110p.

• Vigilância Alimentar e Nutricional: limitações e interfac

Inês Rugani R. de Castro, 1995.108p.• Hanseníase: representações sobre a doença. Lenita B. L• Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasile

• A Responsabilidade pela Saúde: aspectos jurídicos: Hélio• Sistemas de Saúde: continuidades e mudanças. Paulo

• Tópicos em Malacologia Médica. Frederico Simões Barb

•Agir Comunicativo e Planejamento Social: uma crítica ao

cisco Javier Uribe Rivera, 1995. 213p.

• Metamorfoses do Corpo: uma pedagogia freudiana. Sherrine

• Política de Saúde: o público e o privado. Catalina Eibens

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• Formação de Pessoal de Nível Médio para a Saúde: desa

Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Org.), 1996. 2

• Tributo a Vênus: a luta contra a sífílis no Brasil, da pas40. Sérgio Carrara, 1996. 339p.

• O Homem e a Serpente: outras histórias para a loucu

Amarante, 1996.141 p.

• Raça, Ciência e Sociedade. Ricardo Ventura Santos & M

1996. 252p. (Co-edição com o Centro Cultural Banco d

• Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Pedr(Orgs.) , 1996. 364p.

• VI Conferência Mundial sobre a Mulher. Série Conferên

Unidas, 1996. 352p. (Co-edição com o Conselho Naciona

• Prevención Primaria de los Defectos Congênitos. Edu

Lopez-Camelo, Joaquin Ε . Paz & l ê d a M. Orioli, 1996.1

• Clínica e Terapêutica da Doença de Chagas: uma abordageral. João Carlos Pinto Dias & José Rodrigues Coura (Or

• Do Contágio à Transmissão: ciência e cultura na g

epidemiológico. Dina Czeresn ia , 1997.120p.

• A Endemia Hansênica: uma perspequitiva multidiscip

Queiroz & Maria Angélica Puntel, 1997.120p.

• Avaliação em Saúde: dos modelos conceituais à prática

de programas. Zulmira Maria Araújo Hartz (Org.), 1997

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