Saúde, meio ambiente e consumismo - pvs.cederj.edu.br · O termo “doença” tem origem na...

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1 Saúde, meio ambiente e consumismo Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http//www.sxc.hu/photo/980459

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Saúde, meio ambiente e consumismo

Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http//www.sxc.hu/photo/980459

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Prólogo

Dando seguimento às temáticas transdisciplinares, chegou o momento de abordar-mos assuntos que, como na temática anterior, não só são cobrados pelo Enem, mas estão interrelacionados e presentes em nossas vidas: a saúde, o meio ambiente e o consumismo. Tanto os desequilíbrios do corpo humano como os ambientais que presen-ciamos estão relacionados à difusão de uma sociedade de consumo de massa. Durante muito tempo, acreditou-se que a saúde podia ser definida apenas como ausência de doenças, contudo, a questão é muito mais ampla e complexa.

As palavras e a compreensão do que elas designam não são estáticas, mudando ao longo do tempo e dos espaços. O termo “doença” tem origem na palavra latina dolere, que significa sentir dor, sofrer. Atualmente, sabemos que existem doenças que se mani-festam silenciosamente em nossos organismos, não provocando necessariamente dores ou sofrimento até que seja efetivado o diagnóstico. Do mesmo jeito que a compreensão e o uso das palavras se modificam ao longo da história, os conhecimentos médicos e científicos também se desenvolvem, o que influencia diretamente a maneira como as sociedades se relacionam com os diferentes males.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão associado à Organização das Nações Unidas (ONU)1, a saúde é um direito definido como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades. No Brasil, na Constituição de 1988, saúde tornou-se um direito social e fundamental de todos e a sua promoção, um dever do Estado.

Os preceitos constitucionais foram regulamentados pela Lei 8.080/1990 criando o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela organização, descentralização admi-nistrativa e atendimento à população nas três esferas de governo, isto é, União, estados e municípios. A criação e manutenção de estruturas físicas de hospitais, do corpo profis-sional e da oferta de medicamentos são os mecanismos existentes para garantir a “as-sistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas”2.

A leitura atenta dessa lei sugere que o país conta com um sistema de saúde bem es-truturado, porém a prática cotidiana revela que a prestação desse serviço não consegue atender às demandas mais urgentes da população. Essa deficiência existe tanto no inte-rior do país como também nos grandes centros urbanos. É preciso pontuar, nesse cenário, que a melhora na qualidade de serviço passa pelo investimento na área, transparência administrativa, aperfeiçoamento de médicos e demais profissionais da saúde e amplia-ção da rede hospitalar, a fim de que a universalização desse direito seja uma realidade.

Além disso, para alcançarmos a saúde, pensada de uma forma ampla, é necessá-rio termos não só assistência médica, mas também condições de vida que permitam a existência de um estado de bem estar e equilíbrio do corpo e deste com o meio em que vivemos. Assim, esse assunto inclui múltiplos aspectos da vida humana, em que se des-tacam a relação que construímos com o nosso próprio corpo, com a sociedade a que

1 Para saber mais sobre a ONU, veja o capítulo Cidadania e Direitos Humanos.2 Lei 8.080 de 19/09/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da

saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm.

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pertencemos e com o planeta onde vivemos. Vale observar que saúde, doença e meio ambiente não são categorias puramente biológicas. Isso posto, devemos pensar o tema em duas principais perspectivas. A primeira relacionada à acepção da saúde como equilíbrio do corpo. Consequentemente, é imperativo abordarmos as situações em que tal equilíbrio é rompido, isto é, os momentos em que surgem as doenças. A segunda diz respeito à harmonia com o meio ambiente e seu desequilíbrio. Como veremos, os dois eixos estão profunda e constantemente relacionados.

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1 Em busca do equilíbrio do corpo humano: a saúde, a estética, o esporte e a alimentação

1.1 O corpo em desequilíbrio: as doenças

Doenças Emergentes e Reemergentes

No campo das ciências médicas, as doenças são classificadas por diversas particu-laridades, que demandam tratamento e políticas públicas específicas. As chamadas do-enças emergentes são aquelas novas, antes desconhecidas, causadas por bactérias ou vírus nunca descritos ou que só afetavam animais e passaram a atingir seres humanos. As doenças que foram controladas e, após um tempo, voltam a ameaçar a população são denominadas doenças reemergentes.

Sabemos que a urbanização desordenada, a degradação do meio ambiente e as condições socioeconômicas são alguns fatores que colaboram para emergência e re-emergência de doenças. O Haiti, por exemplo, após sofrer um intenso terremoto em 2011, que abalou sua infraestrutura de serviços básicos de saneamento, testemunhou um surto de cólera no país. A doença se manifesta por meio de uma infecção intestinal aguda causada pela bactéria Vibrio cholerae, que se dissemina através da ingestão de água ou alimentos contaminados.

Um grupo de cientistas colaboradores da ONU concluiu que a epidemia que assolou a região, infectando cerca de 600 mil pessoas, deu-se por uma conjunção de fatores. A vinda da doença com a tropa nepalesa, em missão de paz, associada ao tratamen-to de esgoto inadequado e dificuldades de acesso da população à água tratada e ao saneamento básico fizeram reemergir a doença, considerada como erradicada no país há mais de um século.

Além dos desastres naturais, as guerras também podem facilitar a difusão de doen-ças, pois frequentemente promovem deslocamentos em massa de populações refugia-das, que sobrevivem em condições degradantes. Na República Democrática do Congo (ex-Zaire), em 1994, cerca de 50 mil refugiados da guerra de Ruanda morreram nos primeiros meses do conflito devido à diarreia causada pela bactéria Shigella dysente-riae (Luna, 2002).

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A varíola e o fim do Tawantinsuyo

A relação entre o deslocamento de popula-ções e disseminação de doenças pode ser per-cebida em vários momentos da história mun-dial. O exemplo mais marcante diz respeito à hecatombe que se seguiu ao contato entre os navegadores europeus e os povos nativos da América, entre o fim do século XV e a primei-ra metade do século XVI. Demógrafos e his-toriadores estimam que mais de 100 milhões de indígenas de diversas etnias habitavam o continente americano antes da expansão ma-rítima e comercial europeia, sendo 90% destes exterminados nesse período por diversas epi-demias, como influenza, tifo, difteria, saram-po e, sobretudo, varíola. O número de nativos mortos, que correspondia a aproximadamente um quinto da população mundial do século XVI, padeceram em função dos cem séculos de isolamento biológico entre os povos america-nos e as bactérias e vírus do Velho Mundo.

A conquista do Tawantinsuyo (o Império Inka, na língua quíchua) pelos espanhóis apresenta uma das narrativas mais dramáti-cas a respeito deste assunto. Whayna Qha-paq, décimo primeiro Inka, comandava guerras de expansão de seu império na região do atual Equador quando houve a primeira epidemia de varíola no Tawantinsuyo, entre 1524 e 1525. Assim, oito anos antes que Francisco Pizarro desembarcasse no Peru com uma expedição de apenas 168 homens e 62 cavalos, a varíola havia matado o Inka e diversos de seus comandantes, lançando o país numa guerra civil entre os exércitos dos filhos de Whayna Qhapaq pela franja real e pela liteira de ouro (símbolos do poder do Inka no Tawantinsuyo). Atahualpa havia matado seu meio-irmão Washkar em 1532 e marchava para a capital Cusco quando soube que Pizarro se encontrava em Cajamar-ca. A curiosidade de se inteirar sobre os estrangeiros, antes mesmo de tomar o poder na capital, custou a Atahualpa seu império e sua vida.

Novas disputas entre pretendentes a Inka foram utilizadas por Pizarro para obter a lealdade do Tawantinsuyo à Espanha em troca de sua aliança. Podemos dizer que a varíola e a guerra entre facções que ela gerou foram mais importantes na conquista que os cavalos e armas de fogo dos espanhóis. Outras epidemias de varíola atingiram a região em 1533, 1535, 1558 e 1565, causando a morte de aproximadamente metade da população do Tawantinsuyo.

Fonte: MANN, Charles C. 1491: novas revelações sobre as Américas antes de Colombo. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 

Disponível em: http://en.wikipe dia.org/wiki/File:Inca-expansion.png. Acesso em 19/12/2013.

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Outras questões de nosso tempo são as mudanças comportamentais, decorrentes do sur-gimento de métodos contraceptivos de maior eficácia, da maior liberdade sexual e do com-partilhamento de seringas ou canudos no uso de substâncias psicoativas. Esses fatores contri-buíram para a reemergência e a disseminação de várias doenças sexualmente transmissíveis, dentre as quais podemos destacar a gonorreia, a sífilis, as infecções pela bactéria Chlamydia trachomatis, as hepatites B e C, além da emergência da epidemia de HIV/Aids.

Doenças Sexualmente Transmissíveis

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são contraídas, principalmente, através da relação sexual sem o uso de preservativo com uma pessoa que esteja infectada e, geralmente, se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. A sífilis, doença provocada pela bactéria Treponema pallidum, causa feridas indolores e sem pus, que muitas vezes desaparecem dando uma falsa impressão de cura. Entretanto, a doença continua progredindo no organismo, podendo levar a complicações como cegueira, pa-ralisia, doença cerebral, problemas cardíacos e, inclusive, à morte. Por isso é importante que pessoas com vida sexual ativa, mesmo que tenham parceiros fixos, façam exames e consultas periódicas com médicos especialistas. Segundo a OMS, as DSTs mais comuns no Brasil são clamídia, gonorreia, sífilis, herpes genital e HPV.

Fonte: Ministério da Saúde/Organização Mundial da Saúde. Elaborado por Felipe Cunha.

AIDS

A Aids se tornou uma das DSTs mais famosas devido ao seu surgimento repentino e misterioso no começo dos anos 1980. Transmitida pelo vírus HIV, a síndrome ataca o sistema imunológico, deixando-o suscetível a infecções. O período de incubação da doença pode ser bastante longo, por isso, portar o vírus não é a mesma coisa que ter a Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem de-senvolver a doença, mas podem transmitir o vírus. Por essa razão, a partir de 2013, o Ministério da Saúde disponibilizou tratamento para todos os portadores desse vírus, colaborando para o combate e prevenção da doença.

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Quando a doença foi descoberta, sabia-se muito pouco sobre sua forma de agir no organismo e possibilidades de tratamento, de modo que a epidemia iniciada na década de 1980 fez muitas vítimas no Brasil e no mundo. O desconhecimento inicial também influenciou o preconceito contra as primeiras vítimas. Atualmente, sabemos que a Aids pode atingir qualquer pessoa e por isso todos nós precisamos nos prevenir da doença. Além disso, desde a década de 1990, os cientistas desenvolveram uma série de medicamentos, conhecidos como “coquetel”, que têm se mostrado de alguma maneira eficiente no tratamento. A medicação não mata o vírus, mas consegue evitar que o sistema imunológico enfraqueça. Assim, a vida dos pacientes soropositivos expe-rimentou melhoras significativas. Contudo, ainda é um problema de saúde pública que preocupa autoridades sanitárias. Nos últimos anos, além de combater o preconceito, as campanhas de prevenção têm focado os jovens, que, por desconhecerem o período em

O desenvolvimento urbano, as grandes obras de infraestrutura e a expansão da fronteira agrícola tam-bém têm sido frequentemente asso-ciados à emergência e reemergên-cia de doenças. No Brasil, a malária (doença causada por protozoários do gênero Plasmodium e transmiti-da através da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles) ree-mergiu no sul do país devido à cons-trução da represa de Itaipu que pro-piciou condições necessárias para o desenvolvimento de criadouros do mosquito e intensificou o fluxo de pessoas assintomáticas, oriundas de áreas endêmicas da Amazônia brasileira e do Paraguai, naquela região3.

Nesse contexto, uma das principais dificuldades no controle de doenças tem sido o crescente aumento da resistência de vírus e bactérias aos medicamentos disponíveis. Os hospitais, em particular, concentram três características que os tornam locais espe-cialmente vulneráveis à emergência de novos agentes resistentes: vítimas de infecções graves, pessoas mais suscetíveis e uso generalizado de antibióticos. Cada espécie mi-crobiana apresenta sua própria taxa de mutações, que se relaciona ao seu genoma e à sua velocidade de reprodução. A pressão seletiva gerada pelo uso dos antibióticos e de outros agentes antimicrobianos favorece a sobrevivência dos mutantes, que resistem às drogas, como a “superbactéria” KPC capaz de inativar diversos antibióticos.

3 (Ferreira, 1996).

A fêmea do mosquito-prego (Anopheles).Foto: James Gathany. Fonte: Content Provider: CDC. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Anopheles_minimus.jpg. Acesso em 17/12/2013.

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A importância da vacinação no controle das doenças

Vimos, então, que existe uma dinâmica que engloba o surgimento ou o reaparecimento de doenças no mundo. A humanidade já en-frentou diversas pandemias que ocasionaram a morte de milhões de pessoas e, por isso, a ciência estuda formas de combater e proteger a nossa espécie contra os microinvasores. Nesse aspecto, as campanhas de imunização foram de grande importância para a diminuição de doenças transmissíveis. Um indivíduo vacinado se torna imune ao agente infeccioso, ou seja, seu sistema imunológico passa a reconhecer o patógeno estranho ao corpo e produzir anticor-pos específicos para combatê-lo.

O Brasil tem trabalhado no desenvolvimento e produção de vacinas, o que contribuiu para que na década de 1970 fosse emitido pela OMS o certificado de erradicação da varíola no país (nove anos depois a doença foi erra-dicada do mundo). Esses esforços contribuíram para a diminuição e erradicação de outras doenças como a poliomielite, cuja extinção da transmissão autóctone (dentro do território na-cional) pelo Poliovírus foi certificada em 1994. A vacinação contra a poliomielite tem grande adesão por parte da sociedade e ficou popular-mente conhecida pela imagem do Zé Gotinha.

O Ministério da Saúde determina a administração obrigatória de algumas vacinas, como a BCG-ID (Bacillus Calmette-Guérin) que é aplicada em recém-nascidos e contribuiu para diminuir a incidência da tuberculose e suas formas graves no país. A tuberculose, um problema crítico de saúde no Brasil, é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, conhecida como Bacilo de Koch que se instala, principalmente, nos pulmões, podendo ainda lesionar outros órgãos como a meninge (camada que reveste o encéfalo e a medula espinhal).

Manuel Bandeira: a doença fez-se poesia

Um dos responsáveis pela consolidação do movimento modernista no Brasil, Manuel Bandeira, foi obrigado a abandonar o curso de arquitetura em razão do agravamento da enfermidade que se manifestara em 1904. Assim, a literatura surge em sua vida devido à necessidade de repouso causada pela doença, que seria tema de muitos de seus poemas. Ainda que a morte pudesse chegar a qualquer instante e isso o levasse a viver intensamente seus “últimos dias”, o poeta viveu até os 82 anos.

Cartaz convocando para campanha nacional de vacinação. Fonte: Revista da Vacina / Ministério da Saúde. Disponí-vel em: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/carta-zes.html. Acesso em 02/04/2013.

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Temas como a saudade da infância, o cotidiano, a paixão pela vida, a morte e a própria doença são tratados pelo poeta, reconhecido pelo profundo lirismo e grandes inovações estéticas (uso de termos coloquiais, versos livres e brancos), como podemos ver no poema abaixo, “Pneumotórax”, de 1930.

PneumotóraxManuel Bandeira

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

A SRC (triplice viral) é outra vacina ofe-recida pelo Ministério da Saúde que aju-dou a reduzir o número de casos de três doenças causadas por vírus: o sarampo, a rubéola e a caxumba. O último surto no-tificado de sarampo no Brasil ocorreu em 2000, mostrando a eficácia da vacina-ção. A rubéola durante a gestação pode resultar em graves problemas ao feto como deficiência auditiva, malformações cardíacas, atraso no desenvolvimento psi-comotor. A caxumba pode levar à atrofia testicular e ao comprometimento do siste-ma nervoso central.

A febre amarela foi o maior problema de saúde pública do país desde meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. É uma doença causada por um vírus e tem como vetor o mosquito Aedes ae-gypti (o mesmo transmissor da dengue). Graças à erradicação do mosquito na década de 1930 e, também, à vacinação, a transmissão da febre amarela em áreas urbanas foi interrompida, tendo o último caso ocorrido no Acre, em 1942. Contudo, desde a reintrodução do Aedes aegypti no Brasil, na década de 1980, o risco de reemergência dessa doença, principalmente em municípios com ocorrência de dengue, aumentou. Por

O mosquito Aedes aegypti se alimentado de sangue. Autor: James Gathany, 2005. Fonte: CDC – PHIL. Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aedes_aegypti_bloodfeeding_CDC_Gathany.jpg. Acesso em 19/12/2013.

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isso, a vacinação continua sendo aconselhada para todos os indivíduos que vivem em áreas endêmicas ou aqueles que pretendem viajar para essas áreas.

Doenças Parasitárias

Algumas doenças, por mais que não sejam frequentemente lembradas, assolam de forma endêmica o Brasil, dentre elas, as doenças parasitárias, que adquiriram impor-tância nas políticas de controle por parte do Ministério da Saúde. É necessário conhe-cer o ciclo de vida dos parasitas a fim de elaborar estratégias de combate e erra-dicação das doenças que eles causam.

A doença de Chagas foi descrita pelo pesquisador brasileiro Carlos Chagas em 1909 e constitui um grave problema de saúde pública na América Latina. A doença é causada pelo protozoário fla-gelado Trypanosoma cruzi que para se transformar na forma infectante necessita passar por um hospedeiro intermediário, o triatomíneo, popularmente conhecido como “barbeiro”. A forma mais comum de transmissão ocorre através das fe-zes contaminadas que o inseto deposita perto do local da picada quando se ali-menta do sangue do indivíduo. Todavia, outras formas de contaminação merecem importância, entre elas podemos citar:

• transfusões sanguíneas, devido à migração de indivíduos contaminados para áreas com um sistema de controle ineficaz;

• congênita, que ocorre pela via placentária ou no parto, pelo contato com o sangue da mãe infectada;

• via oral, por meio de alimentos que entraram em contato com fezes contaminadas. Em 2005, houve um surto em Santa Catarina relacionado à ingestão de caldo de cana contaminado.

O barbeiro. Fonte: Dr. Erwin Huebner, University of Manitoba, Winnipeg, Canada.Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Rhodnius_prolixus70-300.jpg. Acesso em

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O ciclo da doença de Chagas. Fonte: CDC (EUA). Disponível em: Adaptada de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Chagas_ciclo_de_doen%C3%A7a.JPG. Acesso: 03/08/2013.

A destruição do habitat natural dos triatomíneos e a construção de casas em áreas endê-micas contribuem para a propagação da doença. Algumas espécies de barbeiros passaram a habitar o interior dos domicílios, sendo levadas às casas pelos animais domésticos ou pelos moradores quando estes trazem materiais, tais como lenha, palha etc., para dentro de casa. A profilaxia (prevenção) consiste no combate ao vetor através do uso de inseticidas e melhoria das condições de moradia (alvenaria) para que o barbeiro não mais coabite as residências.

A teníase é causada por duas espécies de tênias, popularmente conhecidas como solitárias, a Taenia solium e Taenia saginata. Elas são seres hermafroditas e possuem o corpo dividido em proglótides, cada uma com um sistema reprodutor masculino e feminino independente. No intestino humano (hospedeiro definitivo), o parasita adulto se fixa, autofecunda-se e cada proglótide libera ovos, que são eliminados junto com as fezes do indivíduo, contaminando a água e os alimentos. Os hospedeiros intermediá-rios, suínos no caso da T. solium e bovinos no caso da T. saginata, ingerem esses ovos que, ao eclodirem, alojam-se nos músculos desses animais, formando o cisticerco4. O homem se contamina ingerindo carne crua ou mal passada com o cisticerco, que se desenvolve em seu intestino até a fase adulta, completando o ciclo. O indivíduo que ingere diretamente os ovos da T. solium pode ser acometido pela doença denominada cisticercose, onde o parasito passa para a corrente sanguínea e se aloja em órgãos

4 Estágio da larva da tênia.

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como o cérebro e os olhos, levando a sintomas neurológicos e à cegueira. Como me-didas profiláticas para evitar a tênia, citamos a importância do cozimento prolongado de carnes para destruir o cisticerco, além da introdução de saneamento básico e maior fiscalização dos rebanhos bovino e suíno.

O ciclo da teníase.Fonte: CDC (EUA). Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Taenia_LifeCycle.gif. Acesso em 03/08/2013.

Conhecida como a “doença do caramujo”, a esquistossomose é uma endemia mun-dial que ocorre em 52 países. No Brasil, a doença é causada pelo platelminto Schistos-soma mansoni e tem o homem como hospedeiro definitivo. O parasita adulto se instala nas veias do intestino e libera ovos para o tubo digestivo, que são eliminados junto às fezes. Os ovos eclodem na água doce liberando larvas ciliadas, denominadas mirací-deos, que infectam caramujos do gênero Biomphalaria. No caramujo (hospedeiro inter-mediário), o parasita se transforma em cercaria (forma infectante para humanos), que penetra ativamente a pele e migra para as veias do fígado e do intestino, obstruindo-as.

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O ciclo da esquistossomose.Fonte: CDC (EUA). Adaptada de: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Esquistossomose-2.png. Acesso em 03/08/2013.

A sintomatologia na fase aguda se manifesta por coceira e vermelhidão na pele, febre e diarreia. Pode evoluir para a fase crônica, que compromete o fígado e o baço, ocasionando o aumento do seu tamanho e levando ao quadro de ascite (barriga d’água). Como medidas profiláticas podemos citar o combate ao vetor (caramujos), o saneamento básico para dar destino adequado às fezes e evitar o contato com lagos e lagoas contaminadas.

Saúde Mental

A mente humana sempre foi motivo de fascínio entre os cientistas. O comportamento mental, genericamente, era classificado como normal ou desviante, o que mais tarde se desdobrou na classificação de patologias mentais (Canguilhem, 1990). Antes disso, comportamentos conside-rados fora do padrão eram associados a sinais dos deuses, questões religiosas ou estados de espírito. O cristianismo na cultura ocidental demonizou o que hoje são os sintomas de distúrbios mentais, afastando essas pessoas do convívio social por estarem “possuídas” e submetendo--as, muitas vezes, a sessões de exorcismo como forma de cura. Como analisou o pensador Michel Foucault, o isolamento de pessoas acometidas pela “loucura” foi uma prática comum ao longo dos séculos passados e contribuiu para a construção de preconceitos ainda presen-tes no imaginário social. Nos dias de hoje, carregamos e reproduzimos estigmas em relação aos transtornos mentais, usando adjetivos pejorativos como loucos, retardados etc., ou mesmo desacreditando do seu caráter patológico, o que pode dificultar o diagnóstico e o tratamento.

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Os transtornos mentais estão ligados a fa-tores genéticos, biológicos, sociais e psicoló-gicos, que afetam não só a mente, mas tam-bém o corpo, influenciando negativamente na qualidade de vida de seus portadores. Em 2001, o Dia Mundial de Saúde (7 de abril) abordou como tema a integração de pessoas com distúrbios mentais na sociedade. A in-clusão do tema na pauta mundial de deba-tes tem relação com a luta histórica, que se desenvolveu ao longo do século XX, contra o isolamento e o preconceito em relação aos pacientes de saúde mental. Estudos em diver-sas partes do mundo começaram a demons-trar que a internação definitiva nos chamados manicômios era prejudicial para o tratamento de doenças mentais. No Brasil, as lutas anti-manicomiais datam da segunda metade do século passado e tiveram como expoente a psiquiatra Nise da Silveira, aluna do famoso psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung. À frente do antigo Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, Rio de Ja-neiro, ela se recusou a tratar os pacientes com choques elétricos, iniciando uma modalidade terapêutica baseada na produção artística. Além de se mostrar bastante eficaz, o trabalho iniciado por ela deu origem ao Museu de Imagens do Inconsciente5.

Essas e outras iniciativas associadas à Reforma Sanitária como um todo contribuíram para a mudança de paradigmas no tratamento de doenças mentais no final do século XX e começo do XXI. Do ponto de vista institucional, o Ministério da Saúde publicou portarias que viabili-zam o tratamento ambulatorial e psicossocial, reduzindo ao máximo as internações.

Nas últimas décadas, algumas doenças não reconhecidas anteriormente pela medicina fo-ram diagnosticadas. Após passarem a compor a gama de males psicológicos, verificou-se que muitas dessas enfermidades já assolavam a humanidade antes de terem sido catalogadas. Os problemas característicos das sociedades contemporâneas contribuem para o aumento da ocorrência de casos. Por esta razão, muitos definem tais doenças como típicas do mundo atual.

A depressão é um distúrbio mental crônico que compromete o estado emocional do indivíduo afetando o rendimento de suas atividades diárias. Muitas vezes é associada erroneamente a pregui-ça ou irresponsabilidade, embora seja uma doença relacionada a alterações nos níveis de neuro-transmissores (como a noradrenalina, serotonina e dopamina) e, por isso, necessite de psicoterapia e cuidados médicos. Alguns dos seus sintomas são: tristeza intensa, angústia, desânimo, ansiedade, apatia, sentimento de medo, insegurança e desamparo, pessimismo, baixa autoestima, vontade de morrer, alterações no sono e no apetite, diminuição do interesse sexual etc. Ainda que estudos apontem a influência de fatores genéticos na depressão, alguns fatores externos são gatilhos para desencadeá-la, como traumas na infância, estresse físico e psicológico, álcool e medicamentos.

5 Ver Anexo.

Pintura do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente. Disponível em: http://www.ufjf.br/petpsicolo-gia/2010/08/25/viagem-cultural-pet/. Acesso em 01/08/2013.

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Carregada de mitos ao longo da história, a esquizofrenia fez com que seus portadores fossem estereotipados de loucos ou com dupla personalidade. A doença é caracterizada pela distorção da percepção da realidade. O esquizofrênico apresenta ideias delirantes (“sou um agente secreto e eles estão atrás de mim”), convive com alucinações (“estou ouvindo vozes”), sente que seu pensamento é lido por outra pessoa, que suas ideias são roubadas e perdem a capacidade de sentir prazer. As causas ainda são desconhecidas, mas pesquisas recentes mostram que fatores genéticos estão fortemente ligados à doença, juntamente com variáveis culturais, psicológicas e neurobiológicas.

1.2 Avanços tecnológicos na Saúde

Consolidando o modelo de ciência que temos na sociedade atual, o século XX foi palco de um acelerado avanço nas pesquisas tecnológicas relacionadas à área da saúde. Um exemplo disso é a radiografia (exame de raio-X), técnica de fundamental importância em qualquer clínica, devido a sua eficácia e baixo custo.

Além de ajudar em diagnósticos, o desenvolvimento de pesquisas na área de radiação ajudou no tratamento de diversas doenças, como o câncer. O seu uso requer cuidados com a segurança tanto do paciente quanto do técnico, pois a exposição em excesso pode causar al-terações nos tecidos e moléculas orgânicas, gerando problemas de saúde imediatos ou futuros.

Da mesma forma, as estudo em ultrassom para fins bélicos acabaram por promover a cons-trução de aparelhos para diagnósticos extremamente e para o acompanhamento pré-natal. As pesquisas com eletromagnetismo também levaram à aplicação de seus resultados na área mé-dica, desenvolvendo exames como a ressonância magnética, o eletrocardiograma, entre outros.

Marie Curie

Marie Slodowska Curie nasceu em Varsóvia (Polônia), em 7 de novembro de 1867. Formada em Ciências Físi-cas e Matemáticas em 1894, tornou--se a primeira mulher a receber o títu-lo de doutora em Ciências, a lecionar na Universidade de Sorbonne (Fran-ça) e a receber o Prêmio Nobel, com o qual foi agraciada duas vezes. O primeiro, na área da Física, em 1903, pela descoberta da radioatividade e, o segundo, em Química, no ano de 1911, pela descoberta dos elementos Rádio e Polônio, bem como pelo isolamento do Rádio puro e de seus compostos. É uma das mulheres mais célebres lembradas pela história das Ciências, em uma época em que os espaços de pesquisa eram majoritariamente restritos aos homens.

Foto: Acervo do Smithsonian Institution, alteradas por flickr/farasddl. Disponível em: http://www.everysto-ckphoto.com/photo.php?imageId=4291173. Acesso em 01/08/2013.

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Uma das realizações proeminentes de Curie foi ter compreendido a utilidade das fontes radioativas, que auxiliaram tanto no tratamento de doenças, como o câncer, quanto no desenvolvimento de pesquisas nucleares. Toda essa dedicação acabou cul-minando em sua morte, em 1934, por leucemia, fruto de sua exposição à radiação.

A criação do Instituto do Radio, em Paris, também foi uma contribuição decisiva para o sucesso de experiências posteriores, inclusive as que levaram sua filha Irene Curie a também ganhar um prêmio Nobel.

“Um cientista em seu laboratório não é um mero técnico: é também uma criança que confronta os fenômenos naturais que o impressionam como faziam os contos de fada” (Marie Curie).

Fonte: ARROIO, Agnaldo. Marie Sklodowska Curie: a mulher que mudou a história da ciên-

A tecnologia e os avanços na genética

A genética está entre as áreas que mais despertam a curiosidade geral e sua apli-cação na medicina tem sido cada vez mais forte. Tecnologias recentes permitem se-quenciar o genoma humano em praticamente todos os estágios do desenvolvimento, do embrião até o indivíduo adulto, permitindo o diagnóstico precoce e o tratamento de doenças. Em função de suas potencialidades, cada avanço é acompanhado com grande expectativa.

Um avanço nas áreas de Genética e Biologia Celular, que vem chamando muita atenção da Medicina, envolvem as pesquisas com células-tronco. Estas podem constituir novos tecidos no organismo, pois possuem uma capacidade especial de diferenciação celular. As células-tronco embrionárias podem ser classificadas em dois tipos: o primeiro deles é o grupo das células-tron-cototipotentes, que são capazes de se diferenciar em qualquer tipo de tecido, inclusive placenta, sendo encontradas nas primeiras divisões do embrião, por volta do terceiro ou quarto dia depois da fecundação. O segundo é composto pelas células-troncopluripotentes, também capazes de se diferenciar em qualquer tecido do organismo, com exceção da placenta e dos anexos embrioná-rios, sendo encontradas no embrião por volta do quinto dia após a fecundação.

Há ainda as chamadas células-tronco adultas, que não têm alta capacidade de diferencia-ção e podem ser retiradas do organismo já formado, por exemplo, da medula óssea, fígado, sangue, cordão umbilical etc. A importância das pesquisas e aplicabilidade das células-tronco reside no fato de que, com o estímulo adequado, elas poderão ser substitutas de tecidos lesiona-dos ou doentes, como no mal de Alzheimer, Parkinson e várias outras doenças neuromuscula-res. Ainda há possibilidades também de substituírem células ehormôniosque o organismo parou de produzir, como a insulina produzida pelo pâncreas, no caso do diabetes mellitus.

Costuma-se associar esses avanços técnico-científicos apenas à profissão do médico. En-tretanto, a área de pesquisa em saúde está relacionada a um campo transdisciplinar que abarca carreiras como Biologia, Biomedicina, Biofísica, Bioquímica, Medicina, Farmácia, Enfermagem, Engenharia etc. Para isso, é necessário que o profissional tenha comprometi-mento e interesse pela vida humana, bem como curiosidade científica que motive as buscas pela melhoria da ciência.

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1.3 O corpo em busca do equilíbrio

Os limites da vaidade na sociedade de consumo

Numa sociedade marcada pelo con-sumismo, os padrões estéticos da cha-mada “ditadura da beleza” vêm sendo explorados como fonte para alcançar a felicidade. Seu alcance, por muitas vezes, prevalece sobre a saúde física e mental dos sujeitos contemporâneos, tornando-se uma verdadeira obsessão. Sem dúvida, a aparência é fator deter-minante para a aceitação ou para a rejeição do indivíduo nos mais diversos âmbitos sociais. Com os avanços da medicina, homens e mulheres expõem--se a riscos, indo cada vez mais longe em nome da vaidade. Não são poucos os casos de problemas de saúde oriun-dos de procedimentos mal feitos ou pelo uso inadequado de produtos e medica-mentos. Embora considerado banal por muitos, o excesso de vaidade pode es-conder alguns problemas como a ansie-dade, baixa autoestima e a depressão. Questões estéticas podem ainda ser ob-jetos de bullying6, agravando esses pro-blemas psicológicos.

Considerar a construção e a venda de padrões de perfeição estética permitem compreen-der as pressões sobre os indivíduos que não se enquadram neles. A indústria da beleza indica estereótipos e procura relacioná-los às noções de sucesso, poder e, paradoxalmente, de bem estar e saúde. Outdoors, revistas, jornais, programas de televisão e campanhas publicitárias difundem parâmetros, promovendo a inevitável comparação dos homens e mulheres “reais” com modelos de beleza idealizados.

Relacionado a isso, dois tipos de distúrbios ganham destaque na atualidade: a ano-rexia e a bulimia. A anorexia provoca uma percepção distorcida da imagem do próprio corpo, fazendo com que o indivíduo se sinta obeso e, por isso, evite comer. Já a bulimia acarreta crises de ansiedade e a retirada dos alimentos ingeridos a partir de vômito ou de uso exagerado de laxantes e diuréticos. Esses distúrbios levam a desnutrição, a desi-dratação e a problemas cardíacos.

6 Situação que caracteriza atos intencionais de violências verbais ou físicas feita de maneira repetitiva por um indivíduo ou grupo que exploram “problemas” muitas vezes estéticos de algumas pessoas. Alguns desses atos são feitos por ameaças, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maus-tratos. O termo bullying tem origem inglesa, na palavra bully cuja tradução é: valentão, brigão.

Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/bullying-escola-494973.shtml

Foto: Aimee Heart. Disponível em: http://www.flickr.com/pho-tos/soundlessfall/4713541894/. Acesso em 06/08/2013.

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É válido ressaltar que nos anos 1950, por exemplo, imperava um padrão de beleza com mulheres de curvas fartas, como o ícone da época, Marilyn Monroe. Pensar nas variações desse padrão, de acordo com a evolução dos tempos, levanta um questionamento: a perfei-ção física, de fato, existe? O preço que se paga pela busca de uma imagem inalcançável, para muitos, tem sido a autodestruição.

Os limites do esporte na sociedade capitalista

Esporte é um assunto que mobiliza milhares de pessoas, e muitos hábitos disseminados na sociedade contemporânea estão relacionados ao campo esportivo. Acompanhar jogos e torneios de diversas modalidades e buscar informar-se sobre os mesmos, assim como com-prar tênis de basquete ou camisas de futebol, são exemplos de que mesmo os não praticantes podem estar envolvidos com o esporte, por meio do consumo. Por outro lado, muitas pessoas veem a prática esportiva regular como um elemento fundamental para a manutenção de um estilo de vida saudável e uma forma de alcançar os modelos estéticos atuais.

Existem diversas modalidades esportivas que se destacam em nosso país como a natação, o vôlei e, sobretudo, o futebol. Seja em escolinhas de clubes ou em peladas de fim de semana em campos de várzea, o futebol é o esporte mais consumido e praticado no Brasil. Ele é democrático porque seja com uma bola de meia, “dente de leite” ou então com uma Brazu-ca7 original, de chuteira ou descalço, todos podem praticar. Mas se pen-samos na vela, no golfe ou no tênis temos uma ideia do quanto a prática esportiva pode significar um aspecto de distinção social e um padrão mais elevado de consumo.

Na Constituição Brasileira de 1988, o artigo 217 define o esporte como um direito de todo cidadão, sendo dever do Estado promover e fomentar as condições para a prática esportiva. São muitos os significados que podem ser atribuídos à palavra esporte: momento de lazer, recreação, diversão, competição, educação física etc. Esses diferentes sentidos com os quais a expressão é utilizada nos remetem à pró-pria história e origem do fenômeno esportivo na sociedade contemporânea.

Ao longo do desenvolvimento da sociedade industrial, muitas práticas antigas de diver-timento transformaram-se em modalidades esportivas organizadas, até converterem-se em espetáculo e produto de consumo de massa. Sob esse ponto de vista, o conjunto de práticas, espetáculos e consumos do campo esportivo pode ser entendido como resposta a uma de-manda da contemporaneidade. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu (1983), o que permite caracterizar o esporte moderno enquanto fenômeno social distinto das práticas de diverti-mento do passado é a existência de um espaço de produção de artigos esportivos, bem como

7 Nome oficial da bola criada para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, escolhido pela patrocinadora esportiva oficial.

Partida de futebol entre as seleções do Brasil e da Argentina. Foto: André Kiwitz. Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Messi_olympics-soccer-11.jpg. Acesso em 06/08/2013.

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de um sistema de instituições e agentes sociais destinados a regular a oferta desses artigos. Fazem parte desse campo esportivo as federações nacionais, os clubes esportivos sociais, os produtores e vendedores de materiais esportivos, os praticantes amadores, os árbitros, as redes de televisão, os atletas profissionais e os espectadores.

A profissionalização dos esportes que antes eram amadores e o crescimento da indústria e do mercado consumidor no campo esportivo levaram ao surgimento do “esporte de rendi-mento”. Os esforços constantes a que são submetidos os organismos dos atletas profissionais, associados aos impactos que são inerentes a cada modalidade esportiva, acarretam lesões e, em alguns casos, a necessidade de intervenções cirúrgicas. Diante disso, somos levados a pensar que a prática esportiva é importante para um estilo de vida saudável e um organismo equilibrado, mas sempre com orientação profissional e sem excessos. O ideal é fazer como o poeta romano Juvenal, que no século I d.C. disse que os homens deveriam desejar “uma mente sã num corpo são” (Mens sana in corpore sano).

Bicicleta

O ciclismo pode ser considerado um es-porte caro e, de certa maneira, elitizado. Contudo, a popularização das bicicletas tem sido um importante elemento na mu-dança dos hábitos nas grandes cidades, impactando positivamente diversos aspec-tos sociais, inclusive na saúde da popula-ção. Pedalar é uma excelente atividade que permite com que os deslocamentos se-jam feitos com maior gasto calórico. Des-sa forma, os trajetos entre a moradia e o trabalho ou a moradia e a escola podem ser realizados de maneira mais saudável. Além disso, a utilização das “magrelas” como meio de transporte ajuda na redu-ção dos impactos ambientais pela redução do número de veículos automotores, dos en-garrafamentos e, consequentemente, da emissão de gases estufa. Contudo, é importante que as cidades se preparem para o uso de bicicletas disponibilizando-as em quantidade e preços acessíveis, bem como criando vias específicas para o seu tráfego. Caso contrário os números de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas podem se tornar um grave pro-blema de saúde pública. Abaixo seguem 10 dicas para pedalar com segurança:

1. Use Capacete: o uso do capacete pode reduzir em 85% os riscos de lesões no crânio e no cérebro.2. Veja e seja visto: dê preferência a roupas com elementos fluorescente ou claras, principalmente no

período noturno. Sinalize suas intenções. Ao dobrar para esquerda ou direita, utilize os braços para demonstrar sua escolha.

3. À noite, cuidado redobrado: à noite, a visão dos motoristas fica mais comprometida. Por isso, não se esqueça de utilizar refletores especiais na frente, atrás e nos pedais da bicicleta. Utilize mate-riais reflexivos em suas roupas e circule apenas em áreas conhecidas. Não arrisque. Na dúvida, pense sempre que você não está sendo visto pelos condutores de veículos.

Ciclovia do Rio Pinheiros. Autor: Edson Hiroshi Aoki. Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciclovia_do_Rio_Pinheiros.jpg. Acesso em 19/12/2013.

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4. Preste atenção e obedeça as Leis de Trânsito: pedale observando os obstáculos do caminho e o trânsi-to. E lembre-se que as leis de trânsito também valem para ciclistas. Nas vias urbanas e rurais, quando não houver ciclovia ou ciclo faixa, o ciclista deve trafegar pelo canto da pista. Em vias de mão dupla, é obrigatório seguir sempre o sentido de circulação dos outros veículos, ou seja, não ande na contra-mão. E não se esqueça que lugar de bicicleta é na rua, não na calçada. Para andar pela calçada ou atravessar a faixa, é necessário descer da bicicleta. Respeite a sinalização.

5. Pedale conscientemente: o caminho correto é à direita dos carros. Não corte no trânsito. Não entre em contramão. Crianças só devem pedalar com supervisão de adultos.

6. Mantenha sua bicicleta conservada: antes de pedalar, confira se a sua bicicleta possui perfeita con-dição de segurança. Verifique se o assento da bicicleta está ajustado na altura correta. Verifique os freios e a pressão dos pneus.

7. Mantenha-se em perfeitas condições: não é apenas a sua bike que merece cuidados. Ao praticar qualquer atividade esportiva é importante que você se mantenha hidratado e esteja em perfeitas condições. Não pedale se estiver com sono ou cansado.

8. Atenção mesmo com veículos parados: no trânsito mantenha sempre uma distância segura dos veículos ou de outras bicicletas. Mesmo os veículos estacionados podem representar algum risco ao ciclista. São comuns os acidentes causados pela abertura repentina de portas dos veículos estacio-nados. Portanto, mantenha uma distância lateral segura.

9. Prepare previamente seu caminho: nem sempre o melhor caminho é o mesmo para ciclistas e moto-ristas. Ao definir sua rota, leve em consideração o estado de conservação da via, a iluminação, o fluxo de trânsito e a segurança dos locais a serem percorridos. Prefira as ciclovias. É obrigação das prefeituras investirem nesse tipo de deslocamento que é mais saudável, econômico e não poluente.

10. Distância é a sua segurança: carros e outros veículos automotores devem manter a distância míni-ma de 1,5 metros para garantir a segurança do ciclista. Se você também é motorista, obedeça. Se não é, divulgue. Todos ganham com um trânsito mais civilizado.

A difícil tarefa de se alimentar de forma saudável numa sociedade marca-da pelo fast-food

Para que mente e corpo fiquem sãos e em harmonia, não são necessários apenas exer-cícios físicos. A alimentação equilibrada e saudável é fator decisivo no bem estar do ser humano. Mas, de que maneira a ingestão de alimentos saudáveis – ou não – influenciam o nosso corpo?

Desde a fase inicial da vida até o último momento dela, passamos por diversas transforma-ções físicas e químicas, que dependem basicamente daquilo que ingerimos. Durante a gesta-ção, a alimentação adequada da mãe é fator primordial para o bom desenvolvimento do feto. Realizando uma analogia com um quebra-cabeça, podemos pensar nos alimentos como as peças unitárias para a montagem do ser humano, o quebra-cabeça completo. Logo, a seleção das peças influencia a formação do feto e futuramente o desenvolvimento da pessoa. Um exem-plo disso é a ingestão de refrigerantes, que pode prejudicar a absorção de ferro e de cálcio pelo organismo do bebê.

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Augusto dos Anjos

Da mesma maneira que a alimentação exerce papel fundamental para a existência do ser humano, a sua decomposição, após a morte, é essencial para a continuidade da vida. Seguindo a linha de pensamento de Lavoisier, que “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, podemos afirmar que as matérias orgânica e inor-gânica estão em constante ciclo.

O escritor Augusto dos Anjos traduz essa ideia de forma poética e bela no poema “Psicologia de um vencido”.

Psicologia de um vencidoAugusto dos Anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,Monstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênesis da infância,A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —Que o sangue podre das carnificinasCome, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há-de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra!

Os alimentos contêm nutrientes fundamentais: vitaminas, carboidratos (açúcares), lipídeos (gorduras), proteínas, sais minerais e água. Cada qual desempenha um papel específico para o funcionamento no organismo e o excesso ou a carência de algum deles acarreta o de-sequilíbrio corporal. A pirâmide alimentar fornece uma visualização simplificada das quan-tidades diárias necessárias de cada nutriente, presente em determinados tipos de alimentos.

A manutenção de uma boa saúde, portanto, precisa de uma dieta equilibrada, em que cada tipo de alimento seja consumido na dosagem ideal. Contudo, o estilo de vida contemporâneo torna árdua, muitas vezes, a tarefa de se alimentar bem. Para atender às demandas de otimização do tempo, o consumo de produtos industrializados e a utilização de restaurantes do tipo fast-foods8 são cada vez mais recorrentes. A ingestão excessiva de açúcares (carboidratos) e gorduras (lipídeos) gera o acúmulo de reservas energéticas, que pode levar a um quadro de sobrepeso e obesidade. O distúrbio de peso está relacionado

8 Fast-food é uma palavra inglesa cuja tradução significa comida rápida. É aquele tipo de refeição de fácil e rápido preparo, porém com alto teor de produtos calóricos.

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com as doenças mais recorrentes no mundo moderno: diabetes, doenças cardiovasculares, estresse, depressão e câncer. No quadro abaixo, é possível observar que as duas maiores causas de morte no mundo e no Brasil estão relacionadas com ganho de peso.

No ambiente familiar e social, a cultura alimentar é construída e reforçada. Desse modo, as crianças dos dias atuais desenvolvem uma dieta com grande quantidade de alimentos com alto teor energético, contribuindo para o quadro de obesidade. No Brasil 33,5% das crianças sofrem desse mal9 e, dessa parcela, 4 de 5 permanecerão obesas quando adultas10.

A propaganda e a publicidade também contribuem para a dieta de baixo valor nutricional das crianças, que são facilmente manipuladas e levadas inconscientemente ao consumismo alimentar. A utilização de técnicas midiáticas para conquistar o público ocorre de diversas formas: apelação por meio de desenhos animados nas embalagens, brindes, propagandas com um ambiente fantasioso etc. As políticas públicas têm o papel de intervir na conscienti-zação da importância de hábitos alimentares mais saudáveis, contudo os investimentos são parcos em relação aos realizados pela indústria alimentar.

Além disso, é possível analisar a questão do poder aquisitivo versus qualidade da alimen-tação. Uma dieta saudável e equilibrada, muitas vezes, demanda maior gasto financeiro, além, de requerer mais tempo de preparo. Em lanchonetes, é possível notar a diferença de valor de um lanche simples – salgado e refrigerante – em relação a uma opção mais nutritiva – um alimento orgânico e um suco natural de frutas. A inclusão de fibras, peixes e alimentos integrais, essenciais para o equilíbrio alimentar, são exemplos de insumos de alto custo, que muitas vezes são escolhas secundárias no cardápio brasileiro.

9 Fonte: IBGE 2008/2009.10 Fonte: The New England Journal of Medicine 2011, vol. 365 nº. 20, 1876-1885.

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2 O corpo em busca do equilíbrio com o meio ambiente

2.1 A concepção de saúde na contemporaneidade

O fenômeno da globalização e a intensificação do fluxo de pessoas, de informações e de mercadorias são marcas dos dias atuais. Nesse contexto, a aceleração do tempo, a frag-mentação produtiva e a otimização dos processos podem relacionar-se à questão da saúde a partir de três eixos: a proliferação de doenças, os impactos sobre o ambiente e as modifi-cações da dieta alimentar.

Como vimos, a saúde ultrapassa a concepção de ausência de doenças, sendo um elemento muito mais amplo, que envolve, além dos aspectos biológicos, o equilíbrio com o ambiente e a sociedade. O termo “ambiental” corresponde à expressão alemã Umwelt que significa “mundo circundante”. Logo, esse mundo, que no latim tem como equivalente a palavra Am-bulare, pode ser traduzido pela expressão “mundo por onde andamos”. Portanto, o sentido do termo é de contato, proximidade, ou seja, relação.

Neste sentido, Barreto (1998) reforça a ideia de que a saúde é elemento fundamental para a qualidade de vida das pessoas. Na história, a emergência da saúde pública foi marcada pela forte relação com o ambiente circundante, não se restringindo a uma visão estritamente biológica da saúde. Essa visão se contrapõe ao modelo de desenvolvimento econômico em que o homem está afastado da natureza. Hoje, a natureza assume um papel de destaque, posto que parcelas organizadas da sociedade civil e movimentos so-ciais reivindicam sua proteção como estratégia da preservação da própria humanidade, implicando em posições e ações cada vez mais abrangentes (e em muitos casos globais) por parte da ciência, numa perspectiva transdisciplinar.

A evolução histórica da relação saúde x meio-ambiente

Desde o seu surgimento, a humanidade se apropria dos recursos dispostos no ambiente para a nutrição e outras formas de manutenção da vida. A caça e a coleta nômades foram as mais primordiais atividades empreendidas pelo homem. Essas atividades causavam mo-dificações pouco significativas na superfície terrestre, fato que se alteraria com o passar dos milênios. Com as práticas agrícolas e o sedentarismo, provenientes da Revolução Neolítica (há 10.000 anos aproximadamente), marcantes mudanças no ambiente foram iniciadas, ao mesmo tempo em que emerge a preocupação com as doenças.

Na Antiguidade, a cura das enfermidades ocorria por meio de poções aliadas às práticas religiosas. O uso de óleos aromáticos e extratos aquosos de plantas para tratamento de febre e irritação de garganta é relatado em um texto sumério de 3.000 a.C. As sociedades egípcia e mesopotâmica já utilizavam cosméticos para proteger o corpo da ação do sol e do calor. O homem buscava, para além da manutenção da saúde, a longevidade por meio de substâncias, técnicas e instrumentos manipulados pelos alquimistas e que seriam, posteriormente, entendidos como a base para emergência da Química moderna, iniciada a partir do século XVII.

A crença na harmonia entre homem e ambiente é também bastante antiga. Desde o século V a.C. existem estudos buscando responder as causas das doenças relacionadas ao am-biente. A obra Ares, Água e Lugares, de Hipócrates, busca as relações entre a natureza e o adoecimento, destacando importantes elementos do clima, água, solo etc.

Os avanços produtivos que culminaram na Primeira Revolução Industrial (século XVIII)

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supriram necessidades e produziram novos sistemas de trabalho, que se organizam no meio urbano, criando novos hábitos de consumo e impactos sobre a saúde da população. Com a Segunda Revolução Industrial e os posteriores progressos tecnológicos, os anseio capitalista de geração de lucros, que levou a produção e ao consumo em massa, reforçaram a explora-ção do meio natural pautada pela crença de sua abundância infinita. Nesse mesmo período, observa-se a produção e concepção em grande escala de medicamentos a partir de novos princípios ativos sintetizados ou extraídos naturalmente, surgindo uma grande diversidade de remédios para variadas patologias. Este conjunto de medicamentos, aliado à melhoria das condições sanitárias e cuidados médicos, permitiu o aumento na qualidade e expectativa de vida, bem como o crescimento da população mundial.

Os reflexos do consumismo no meio ambiente

Na sociedade atual, o consumo tem sido associado ao grau de felicidade, sucesso e status social. Essa concepção afirma-se na dinâmica do sistema capitalista, em que os atores do-minantes desse cenário incentivam o consumo de alimentos, bebidas, remédios e outros pro-dutos por meio da obsolescência programada e da obsolescência perceptiva. A sociedade, de modo geral, foi alienada e condicionada a atuar como mercado consumidor no cenário econômico mundial. Frequentemente, quando o indivíduo não segue tal tendência, sente-se deslocado e fora do contexto dominante.

A obsolescência perceptiva é a forma de incentivar o consumo através da propaganda, vendendo a ideia de que para ser aceita socialmente, a pessoa deve ter os produtos mais modernos. Na obsolescência programada, os produtos são fabricados de forma a terem menor tempo de vida útil e, quando quebram, são extremamente difíceis de consertar. Isso impulsiona a compra e a produção, sendo sempre mais barato e prático adquirir um produto novo do que conservar ou reparar o antigo. Na realidade, essa dinâmica exige a exploração ilimitada dos recursos naturais, que passam a ser gradativamente apropriados privadamente, destruindo a natureza com a finalidade de produzir mercadorias.

Nesse processo a água, o solo, a vegetação e a atmosfera, podem ser contaminados ou modificados irreversivelmente. Fenômenos ocorridos como consequência dessa exploração são cada vez mais analisados e estudados. Evidências como a intensificação do processo de aquecimento global e da chuva ácida, o surgimento das ilhas de calor e a destruição da camada de ozônio são exemplos de como a produção em massa, sem a devida preocupação com a sustentabilidade, pode trazer malefícios a humanidade.

A dimensão e o alcance desses fenômenos contribuíram para que a preocupação eco-lógica ultrapassasse o meio acadêmico, a partir dos anos 1950, tomando visibilidade em escala mundial. Eventos como o “Nosso Futuro Comum” (1987), também conhecido como Relatório Brundtland, a “ECO 92” (1992), a “Rio+10” (2002) e a “Rio+20” (2012), nos quais os líderes dos governos mundiais comprometeram-se a empreender mudanças de produção e comportamento, apontaram e aperfeiçoaram a proposta do desenvolvimento sustentável como uma alternativa para lidar com a questão ambiental. Contudo, verificou--se que a adoção de mudanças nos modos de produção foi pouco significativa quando comparada aos incentivos de mudanças comportamentais individuais.

Um dos desdobramentos relacionado à proposta de sustentabilidade diz respeito ao re-aproveitamento do lixo, tornando-o novamente útil. Entendemos que a reciclagem é uma alternativa, mas nesse processo há necessidade da utilização de outros insumos. Há que se

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considerar a impossibilidade física de uma reciclagem total dos materiais, conforme se deduz da aplicação dos princípios da termodinâmica às condições do processo econômico de reci-clagem de materiais. Vale a pena ressaltar que, no Brasil, essa prática está mais relacionada com questões de ordem socioeconômicas e não com as de preservação ambiental.

Atualmente uma das maiores preocupações em relação ao problema do lixo concerne ao descarte de materiais que, em sua maioria, é depositado em áreas sem o devido tratamen-to. O lixo produzido, sobretudo, nas grandes cidades é colocado em regiões da periferia formando os chamados lixões a céu aberto, nos quais não há nenhuma preparação prévia do solo e o chorume (líquido derivado de decomposição de compostos orgânicos) acaba contaminando o solo e os lençóis freáticos. Além disso, a proliferação de vetores de doenças (moscas, ratos, baratas etc.) agrava as condições de vida das pessoas que vivem nas proxi-midades dos lixões ou que se utilizam destes para obter comida e/ou renda.

Outras medidas foram pensadas para diminuir os problemas agravados pelo lixo na saú-de humana. Os aterros sanitários, por exemplo, permite o descarte dos resíduos em solo impermeabilizado e canalizado para que o chorume seja coletado e neutralizado, evitando o mau cheiro e a contaminação do ambiente. Esse procedimento, infelizmente, ainda não é prática comum no Brasil.

História das coisas

A preocupação mundial com a questão do consumismo e seus reflexos no ambien-te e na sociedade é evidenciada por diversos documentários, curtas, palestras etc. O documentário “História das coisas” (The Story of Stuff) mostra a relação do homem com a natureza, desde a exploração dos recursos naturais, como condição finita, até o descarte dos resíduo. A mensagem passada é a de que o ser humano necessita se conscientizar e tomar atitudes em prol da sobrevivência do planeta.

A desigualdade social e o descaso público com os menos favorecidos em prol do consumo são criticados nos documentários “A Ilha das Flores” e “Estamira”. Neste úl-timo, é contada a história da senhora Estamira Gomes de Sousa, que possui distúrbios mentais e trabalha no lixão de Gramacho, no estado do Rio de Janeiro.

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Considerações finais

A análise que realizamos mostrou que saúde é um tema complexo, relacionado a inúme-ros aspectos do nosso cotidiano bem como às relações orgânicas ocorridas dentro de nosso corpo e com os diversos agentes externos. Assim, percebemos que, subjetiva ou objetiva-mente, não conseguimos ser saudáveis sozinhos, precisamos cuidar da vitalidade de nossos corpos e da manutenção de todo o planeta.

Alimentar-se bem e praticar exercícios físicos parece ser a receita mais difundida. Entre-tanto, sabemos que essas práticas devem ser pensadas e problematizadas para que não nos tornemos meros reprodutores de estereótipos que nos fazem sofrer com os padrões impostos pela sociedade. Aliás, nunca é demais lembrar que todos nós compomos a sociedade em que vivemos e que, querendo ou não, participamos de seus constantes processos de construção e evolução.

Para que tenhamos qualidade de vida é necessário que tornemos nosso planeta um bom lugar para viver, o que inclui reflexões sobre as lógicas de produção, consumo e reaprovei-tamento de recursos naturais. Não é possível o ser humano se prevenir e se curar de doenças sem o suporte do governo e da sociedade como um todo. Essa relação inclui necessariamente o questionamento de uma posição puramente individualista, em que nos relacionamos dire-tamente com as estruturas sociais e políticas, para participar ativamente delas e cobrar-lhes o cumprimento de seu papel.

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Anexos

Anexo 1 – Inglês

Ao falamos em obesidade, logo vem à mente a cultura de um país que é conhecido por ter muitos adeptos das fast-foods e que possui uma população acima do peso. O estudo abaixo aponta os estados norte-americanos em que tem crescido o número de pessoas obesas ou com sobrepeso, apresentando esta estatística por gênero, raça e idade. A pesquisa revela, ainda, os riscos que a obesidade traz a saúde.

2011 State Obesity Rates

Overweight and obese individuals are at increased risk for many diseases and health chro-nic conditions, including the following:

• Hypertension (high blood pressure)• Osteoarthritis (a degeneration of cartilage and its underlying bone within a joint)• Dyslipidemia (for example, high total cholesterol or high levels of triglycerides)• Type 2 diabetes• Heart disease• Stroke• Gallbladder disease• Sleep apnea and respiratory problems• Some cancers (pancreas, kidney, prostate, endometrial, breast, and colon)

5 Frightening Facts About Obesity

1. Almost 35% of adults in the U.S. are obese. 2. Obesity rates were higher among middle-aged adults (40 to 59-years-old) than youn-

ger adults (20 to 39-year-olds) or older adults (60-years-old and over).

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3. There was no real difference in obesity rates between men and women — everyone is getting fatter.

You can see the breakdown of obesity rates by age and gender in the chart below:

4. Black Americans had the highest obesity rates (about 48%), while Asian Americans had the lowest (about 11%).

You can see the obesity rates among different races in the chart below:

5. Obesity rates are not getting any better. The CDC found there was no decrease in obesity rate from the 2009-2010 survey to

the 2011-2012 survey. The chart below shows that rates have been steadily getting worse since the 1980s:

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Disponível em: http://www.ncsl.org/research/health/obesity-statistics-in-the-united-states.aspx. Acesso em 01/12/2013.Disponível em: http://www.businessinsider.com/cdc-american-obesity-rates-2013-10. Acesso em 01/12/2013.

Anexo 2 – Espanhol

“Mais médicos” no BrasilCriado pelo governo federal, o programa “Mais Médicos” suscitou imediatamente tanto

críticas quanto elogios, muitos contundentes. A iniciativa visa aten-der boa parte da população que não conta com serviços médicos básicos por habitar regiões distantes de centros urbanos onde há dificuldade de deslocamento e infraestrutura hospitalar precária, pouco atrativa aos profissionais. Para responder a essa demanda, o atual governo optou por trazer médicos estrangeiros para com-por o quadro de profissionais da saúde defasado nessas áreas.

Devemos ressaltar que esta medida foi lançada pelo governo no contexto da onda de protestos que atingiu todo país neste mes-mo ano, denunciando, entre inúmeras outras questões, a demanda por melhoria dos serviços públicos ofertados. Entre as críticas feitas a esta medida, provenientes, sobretudo, por algumas associações medicas, como o Conselho Federal de Medicina, destacam-se as referentes aos critérios de oferta das vagas aos especialistas es-trangeiros, ao método de contratação que exigiria a revalidação de diplomas, o possível despreparo dos médicos estrangeiros para reconhecer doenças típicas da população brasileira, entre outros. Além disso, questionava-se a estratégia em si, que não enfocava a melhoria das condições de trabalho oferecidas aos médicos no país, no setor público, de uma forma geral. No conjunto dos profis-sionais recrutados, destacam-se os cubanos que foram contratados a partir de acordo entre o governo brasileiro e cubano.

Apresentamos a seguir um texto informativo extraído do periódico cubano Cuba Debate que apresenta desdobramentos sobre a temática abordada acima.

Disponível em: http://pixabay.com/pt/ajuda--m%C3%A9dico-hospital--far%C3% A1cia-156440/. Acesso em 17/12/2013.

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Avanza capacitación del programa brasileño Más MédicosUn total de dos mil 200 profesionales extranjeros de la salud del programa Más Médi-

cos Brasil concluye este viernes el periodo de tres semanas de capacitación, previo a sus labores en los territorios donde prestarán sus servicios.

El ministro brasileño de Salud, Alexandre Padilha, destacó que antes de comenzar sus trabajos, los galenos pasarán una semana de adiestramiento en las capitales estaduales donde actuarán para conocer las características de cada zona, sus principales dolencias y el entorno.

Puntualizó que los especialistas foráneos, de los cuales dos mil son cubanos, pasaron tres semanas de clases para profundizar sus conocimientos en idioma portugués y conocer los pormenores del modelo de salud de esta nación.

Se trata del segundo grupo de galenos que llegó a este país los primeros días del pre-sente mes para incorporarse al programa lanzado en julio último por la presidenta de Brasil, Dilma Rousseff, que tiene como objetivo extender la atención de salud a todos los ciudadanos.

Estos profesionales recibirán de inmediato los registros indispensables para poder ejer-cer su profesión en los municipios del norte y nordeste del país, luego que esta responsa-bilidad fuera otorgada por ley al ministerio brasileño de Salud.

Con anterioridad, dicha tarea era realizada por Consejos Regionales de Salud, pero hubo retrasos en la entrega de las inscripciones.

Con la incorporación de los dos mil 200 galenos la atención primaria de salud se in-crementará hasta más de siete millones de ciudadanos, destacó el doctor Felipe Proenza, director de este programa.

Del grupo de dos mil cubanos, 750 se encuentran en Vitoria, capital de estado de Espí-rito Santo, 500 están Brasilia, 300 en Fortaleza, Ceará, y 450 en Belo Horizonte, Minas de Gerais.

Al igual que el primer grupo de 400 galenos de la isla caribeña, estos prestarán ser-vicios en territorios del norte del norte como Acre, Pará, Amazonas y Tocantins, mientras otra parte será ubicada en zonas del suroeste de Brasil.

25 OCTUBRE 2013Disponível em: http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/10/25/avanza-capacitacion-del-programa-brasileno--mas-medicos/. Acesso em 12/12/13.

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Anexo 3 – Locais interessantes conhecer

Museu da Vida

Espaço de integração entre ciência, cultura e sociedade, o Museu da Vida tem por objetivo informar e educar em ciência, saúde e tecnologia de forma lúdica e criativa, através de ex-posições permanentes, atividades interativas, multimídias, teatro, vídeo e laboratórios. Uma iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz, o Museu visa proporcionar à população a compreen-são do processo e dos progressos científicos e de seu impacto no cotidiano, ampliando sua participação em questões ligadas à Saúde e a Ciência e Tecnologia.

Endereço: Campus da Fundação Oswaldo Cruz, Av. Brasil, 4.365, Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ.

Saiba mais em: http://www.museudavida.fiocruz.br

Casa da Ciência

Inaugurada em 1995, a Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ – vem se constituindo como um centro de popularização da ciência que explora as di-versas áreas do conhecimento através de linguagens variadas – teatro, exposições, música, oficinas, cursos, palestras, seminários e audiovisual.

Endereço: Rua Lauro Müller, 3 – Botafogo. Rio de Janeiro – RJ.E-mail: [email protected]

Centro Cultural do Ministério da Saúde

Inaugurado em 2001, o CCMS tem como objetivo resgatar a memória da saúde, eviden-ciando as políticas públicas e incentivando a participação da sociedade na luta pela melhoria na qualidade de vida. Também presta atendimento ao público mediante serviços de informa-ção em saúde, exposições locais, itinerantes e virtuais, eventos culturais, técnicos e científicos, exibições de vídeos, orientação ao usuário sobre consulta e pesquisa às redes governamen-tais de serviços, além de divulgação dos serviços da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

Endereço: Praça Marechal Âncora, Centro, Rio de Janeiro.E-mail: [email protected]

Museu de Imagens do Inconsciente

O Museu de Imagens do Inconsciente teve origem nos ateliês de pintura e de modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional, organizada por Nise da Silveira em 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro II. A produção desses ateliês foi tão abundante e revelou-se de tão grande interesse científico e utilidade no tratamento psiquiátrico que, em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente.

Endereço: Instituo Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (antigo Centro Psiqui-átrico Pedro II). Rua Ramiro Magalhães, 521 – Engenho de Dentro – Rio de Janeiro.

Saiba mais em: http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br

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