Saúde Bucal Idoso Módulo II

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    Curso deSADE BUCAL DO IDOSO

    MDULO II

    Ateno:O material deste mdulo est disponvel apenas como parmetro de estudos paraeste Programa de Educao Continuada. proibida qualquer forma de comercializao domesmo. Os crditos do contedo aqui contido so dados aos seus respectivos autoresdescritos na Bibliografia Consultada.

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    MDULO II

    1. Periodontite e Doenas Sistmicas

    1.1 Etiologia e Patognese da Doena Periodontal

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    Estudos epidemiolgicos tm demonstrado que a prevalncia e a severidade da

    doena periodontal se agravam com o aumento da idade. Muitos estudos mostram aexistncia de placa bacteriana mais espessa e, consequentemente, gengivite mais

    acentuada em indivduos mais idosos quando comparados aos indivduos mais

    jovens, mostrando uma relao com a idade.

    A maior prevalncia da doena periodontal nos indivduos idosos mostra-se

    devido s destruies teciduais cumulativas durante a vida, e no necessariamente

    devido a uma deficincia intrnseca do envelhecimento ou especificamente a uma

    anormalidade imunolgica que afeta a suscetibilidade infeco periodontal.No estudo de Machion et al. (2000), a avaliao da prevalncia de bolsas

    periodontais por grupo etrio demonstrou uma maior prevalncia e aumento da

    profundidade de sondagem em indivduos dos grupos II (31 a 50 anos) e III (acima de 50

    anos), observando que a prevalncia e a profundidade das bolsas periodontais

    aumentaram com a idade (Figura 1).

    Fig. 1.Grfico da distribuio das bolsas periodontais por faixa etria.Adaptado de MACHION et al.: Pesq Odont Bras, 2000.

    Brown et al. (1990) verificaram que a prevalncia de bolsas periodontais no grupo

    de 18 a 24 anos era de 6% e que esta aumentava para mais de 18% no grupo de 55 a 64

    anos. Estudos epidemiolgicos comprovam que as bolsas de profundidade 6 mm so

    mais prevalentes em pessoas idosas. Stoltenberg et al. (1993) encontraram 39,5% de

    bolsas de 4 mm em pacientes de 30-34 anos e 65,7% em 65 a 69 anos. Esta prevalncia

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    pode ser explicada pelo tempo que os pacientes permaneceram susceptveis doena

    periodontal.

    Dessa forma, o envelhecimento, em geral, est associado doena

    periodontal, embora esta relao esteja mais relacionada ao desgaste periodontal

    devido ao tempo que idade. Alm disso, as formas mais severas e agressivas da

    doena periodontal parecem estar mais evidentes em adolescentes e jovens adultos do

    que em idosos. Mais estudos so necessrios para melhor definir este assunto.

    I. Patgenos periodontais e formao da placa dental

    Fig. 2.Doena periodontal. Fonte: NOBRE, M. D. P.

    A placa bacteriana pode ser definida como uma pelcula no calcificada,fortemente aderida s superfcies dentais, resistindo presena do fluxo salivar. O termo

    biofilme usado para denotar uma comunidade microbiana encapsulada em polmero que

    se acumula em uma superfcie, que tambm protege contra colonizao de patgenos

    exgenos.

    O biofilme constitui-se de depsitos bacterianos e constituintes salivares, com um

    crescimento contnuo, sendo considerada a principal causa das doenas crie e

    periodontal, infeces peri-implantares e estomatites. Esta estrutura permevel devido

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    sua porosidade, permitindo que a saliva, o fluido gengival e os lquidos da dieta infiltrem-

    se na placa.

    O envolvimento de microrganismos na etiologia da doena periodontal est bemestabelecido, entretanto, uma completa identificao de todos agentes microbianos

    envolvidos, ainda no est totalmente definida. A composio da placa bacteriana pode

    permanecer estvel devido a uma variedade de interaes entre as espcies

    constituintes.

    A placa supragengival apresenta um arranjo colunar de espcies bacterianas

    morfologicamente distintas e a placa subgengival frequentemente caracterizada por

    uma zona de Gram-negativos e/ou espcies mveis localizadas adjacentes aorevestimento epitelial da bolsa, enquanto bastonetes e cocos Gram-positivos parecem

    formar uma camada de organismos firmemente aderidos sobre o esmalte e superfcie

    radicular. As fontes de nutrientes para as bactrias supragengivais so os produtos da

    dieta dissolvidos na saliva, enquanto, para as bactrias subgengivais estes nutrientes

    provm dos tecidos periodontais e sanguneo.

    medida que a placa bacteriana envelhece e se torna madura, ocorrem

    mudanas ecolgicas ocorrendo colonizao secundria por bactrias Gram-negativas

    anaerbias estritas. As primeiras reaes do periodonto, frente presena da placa

    bacteriana, so inflamatrias e imunolgicas com o intuito de proteger dada invaso

    microbiana nos tecidos gengivais. Dependendo da leso tecidual causada pelas reaes

    de defesa do hospedeiro, podemos observar a gengivite (restrito ao tecido gengival) e a

    periodontite (quando atinge os tecidos de suporte).

    As bolsas periodontais profundas alocam nmero expressivo de microrganismos,

    a maioria so Gram-negativos anaerbios. Trs espcies se destacam devido sua alta

    frequncia em leses periodontais e do seu potencial patognico: Actinobacillus

    actinomycetemcomitans, Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermdia. Em alguns

    casos, as prprias reaes de defesa do hospedeiro podem ser prejudiciais, porque

    tambm so passveis de danificar as clulas e estruturas vizinhas do tecido conjuntivo.

    Alm disso, as reaes imunoinflamatrias cujas extenses alcanam nveis mais

    profundos do tecido conjuntivo, alm da base do sulco, podem envolver o osso alveolar

    nesse processo destrutivo.

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    Fig. 3.Esquema ilustrativo do conceito atual da etiologia e patogenia da doena periodontal.

    Adaptado de: Page & Kornman: Periodontol 2000, 1997.

    A gengivite, inflamao resultante da presena de bactrias localizadas na

    margem gengival, pode se difundir por toda a unidade gengival remanescente. As

    intensidades dos sinais e sintomas clnicos vo variar entre indivduos e entre stios numa

    mesma dentio. As caractersticas clnicas comuns incluem presena de placabacteriana, eritema, edema, sangramento, sensibilidade, aumento do exsudato gengival,

    ausncia de perda de insero, ausncia de perda ssea, mudanas histolgicas e

    reversibilidade aps a remoo da placa bacteriana.

    Fig. 4.Aspecto clnico de gengivite crnica, com hiperplasias gengivais e sangramento espontneo.

    Fonte: NOBRE, M.D.P.

    A periodontite, leso inflamatria de carter infeccioso que envolve os tecidos de

    suporte dos dentes, leva perda de insero conjuntiva, osso alveolar e de cemento

    radicular. Apresenta as mesmas caractersticas clnicas da gengivite, alm da perda de

    insero conjuntiva, presena de bolsa periodontal e perda ssea alveolar.

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    Fig. 5.Aspecto clnico de paciente com perdas de insero causadas pela periodontite.

    Fonte: NOBRE, M. D. P.

    Fig. 6.Radiografias periapicais mostrando as reabsores sseas presentes na periodontite.

    Fonte: NOBRE, M. D. P.

    A base da terapia periodontal consiste na remoo da placa bacteriana sobre a

    superfcie dentria, pois atravs dela que as clulas do epitlio do sulco e do epitlio

    juncional tomam contato com os produtos residuais, enzimas e componentes da

    superfcie das bactrias causando a reao inflamatria e imunolgica especfica. Existe

    uma correlao positiva entre a quantidade e qualidade da placa bacteriana com a

    gravidade da doena periodontal.

    Muitos autores relatam que o simples cuidado de remoo da placa bacteriana

    atravs de um controle mecnico rigoroso pode reduzir ou eliminar a gengivite. Por outro

    lado, a periodontite necessita de maiores cuidados, pois a placa bacteriana invade o sulco

    gengival e o epitlio juncional, permitindo que microrganismos penetrem no interior dos

    tecidos e tbulos dentinrios. O debridamento mecnico muitas vezes no suficiente na

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    remoo dos microrganismos do interior dos canalculos dentinrios e tecidos, sendo

    necessria a utilizao de agentes quimioterpicos especficos para sua eliminao.

    II. Mecanismos imunoinflamatrios da doena periodontal

    As reaes inflamatrias e imunolgicas placa bacteriana representam as

    caractersticas predominantes da gengivite e da periodontite. A reao inflamatria

    visvel, microscpica e clinicamente no periodonto afetado e representa a reao do

    hospedeiro microbiota da placa e seus produtos. A inflamao um mecanismo de

    defesa do organismo frente a um agente agressor. Ocorre a nvel de microcirculao evisa levar clulas e mediadores qumicos ao local da agresso, na tentativa de eliminar ou

    circunscrever o agente agressor, criando condies para o incio do processo de reparo

    da rea.

    A inflamao aguda pode evoluir para um quadro de abscesso, pode ainda evoluir

    para a resoluo, com a formao de tecido de granulao, caracterizando o reparo da

    leso ou pode evoluir sem resoluo para um quadro de cronificao.

    FORMAO DEABSCESSO

    Mediadoresqumicos

    INFLAMAOCRNICA

    INFLAMAOAGUDA

    Agente irritativo persistente

    Injria tecidual

    PROCESSO DEREPARO

    RegeneraoCicatrizao

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    III.Estgios da patognese da doena periodontal

    Didaticamente, a patognese da doena periodontal pode ser dividida nos

    seguintes estgios:

    LESO INICIAL

    A agresso da placa bacteriana provoca o incio da resposta

    inflamatria, causada principalmente pelos fenmenos vasculares;

    exsudao de fluido do sulco gengival; aumento da migrao dos

    leuccitos polimorfonucleares (neutrfilos) para o epitlio juncional e

    sulco gengival; alterao da poro coronal do epitlio juncional e

    perda de colgeno perivascular. Clinicamente ainda no h sinais de

    doena.

    LESO

    PRECOCE

    Quando no removida a placa bacteriana, os fenmenos inflamatrios

    aumentam de intensidade e aparecem os primeiros sinais clnicos da

    doena; h o acmulo de linfcitos subjacentes ao epitlio juncional;

    perda progressiva da rede de fibras colgenas que suporta a gengiva

    marginal e incio da proliferao das clulas basais do epitlio

    juncional.

    LESO

    ESTABELECIDA

    Nesse estgio, observa-se clinicamente a gengivite crnica e h a

    continuao da perda de tecido conjuntivo notada na leso precoce;

    proliferao, migrao apical e extenso lateral do epitlio juncional;

    formao de bolsa pode ou no estar presente; no h perda ssea

    considervel; predomnio de plasmcitos e presena de

    imunoglobulinas no tecido conjuntivo e no epitlio juncional.

    LESOAVANADA

    Extenso da leso ao osso alveolar e ligamento periodontal com perda

    ssea significativa caracterizando o quadro clnico de periodontite;contnua perda de colgeno subjacente ao epitlio da bolsa; formao

    de bolsas periodontais; presena de plasmcitos alterados e perodos

    de quiescncia e exacerbao.

    A bolsa periodontal formada seguindo os seguintes eventos:

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    Colonizao bacteriana no sulco gengival;

    Penetrao bacteriana entre a superfcie dental e o epitlio juncional, causando a

    desinsero deste; Formao da bolsa gengival (hiperplasia);

    Extenso subgengival da placa bacteriana;

    Intensificao dos fenmenos inflamatrios no tecido conjuntivo;

    Destruio tecidual no conjuntivo, causada pela inflamao;

    Reabsoro da crista ssea;

    Proliferao e migrao apical do epitlio juncional, formando o epitlio da bolsa

    periodontal;

    Extenso da placa bacteriana para apical, dentro da bolsa periodontal formada.

    Fig. 7.Formao da bolsa periodontal.

    Fonte: http://www.perio.org

    IV.Fatores modificadores da doena periodontal

    O incio e a progresso das doenas periodontais sofrem influncia de uma srie

    de fatores locais e sistmicos. Os fatores locais normalmente esto relacionados ao

    acmulo de placa bacteriana e os fatores sistmicos podem mostrar uma relao mais ou

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    menos evidente com a doena periodontal, uma vez que afetam diferentes clulas e

    tecidos, aumentando o risco de desenvolvimento da doena.

    So fatores modificadores locaisda doena periodontal: Ocluso traumatognica;

    Fatores de reteno de placa, como restauraes defeituosas ou prteses mal-

    adaptadas ou com sobrecontorno;

    Apinhamentos dentrios e mau posicionamento dentrio;

    Proximidade radicular e septo sseo interdental delgado;

    Impaco alimentar;

    Fumo (ao local e sistmica); Alteraes patolgicas do fluxo salivar;

    Presena de doena periodontal preexistente.

    So fatores modificadores sistmicos da doena periodontal:

    Fatores genticos, relacionados ao processo inflamatrio;

    Diabetes mellitus;

    Sndromes como a Sndrome Papillon-Lefvre, Sndrome Chdiak-Higashi,Neutropenia Cclica ou Crnica, Sndrome da Deficincia de Adeso Leucocitria e

    Sndrome de Down;

    Osteoporose;

    Estresse;

    Condies sistmicas que requerem uso de drogas que podem ser um risco a

    periodontite devido ao acmulo de placa bacteriana como resultado de hiperplasias

    gengivais; Quadros patolgicos que diminuem a resposta imune, como a Sndrome da

    Imunodeficincia Humana (HIV).

    Numerosos estudos que examinam os mltiplos marcadores e fatores potenciais

    de risco tm demonstrado que a progresso da doena periodontal tambm pode se

    mostrar aumentada por certos fatores determinantes como: sexo, raa negra ou filipina,

    idade avanada e nvel socioeconmico baixo. A viso atual da doena periodontal pode

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    ser assim resumida: uma doena de etiologia infecciosa, que se caracteriza por ser uma

    inflamao crnica inespecfica; uma doena relacionada ao indivduo; somente alguns

    apresentam destruio avanada; a progesso provavelmente contnua, com surtosagudos destrutivos intercalados. Observa-se que nem sempre a manifestao clnica

    proporcional gravidade do quadro de destruio ssea e perda de insero encontrado.

    Dessa forma, podemos concluir que a destruio dos tecidos periodontais pode

    ocorrer pela ao de diversos fatores, os quais iro influenciar na formao da microbiota

    patognica ou na prpria resposta do hospedeiro.

    1.2. Periodontite e as doenas cardiovasculares

    As doenas cardiovasculares so definidas como aquelas que alteram o

    funcionamento do sistema circulatrio, formado pelo corao, vasos sanguneos e

    linfticos. So responsveis por cerca de 29% das mortes em todo o mundo, sendo a

    aterosclerose sua maior responsvel. As doenas cardiovasculares atingem uma grande

    totalidade de idosos no Brasil e no mundo.

    Devido frequncia das periodontites nos pacientes idosos, torna-se

    imprescindvel o estudo das consequncias que esta doena pode trazer para a sade

    DESTRUIO PERIODONTAL

    FATORES DO HOSPEDEIRO

    Resposta inflamatriaResposta imunolgicaFatores moduladores

    INFECO MICROBIANA

    Carga microbianaPerfil microbiano

    Virulncia e toxinas

    FATORES DE RISCOINDIVIDUAIS OU SISTMICOS

    FATORES DE RISCO LOCAIS

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    geral dessa populao. A ulcerao do epitlio do sulco ou da bolsa periodontal, como

    resultado da resposta local a enzimas e toxinas das bactrias subgengivais, se torna uma

    significativa porta de entrada de bactrias orais para a circulao geral. Com umaextenso lateral e apical do biofilme bacteriano ao longo da superfcie radicular, o espao

    subgengival torna-se um nicho de organismos gram-negativos com potencial para

    disseminar bactrias orais a locais distantes e para o interior da circulao sistmica,

    permitindo que produzam leses tanto locais quanto em vasos sanguneos maiores.

    Fig. 8.Diagrama de bactrias da placa dental atravessando a parede endotelial, conseguindo o acesso

    circulao e ativando as plaquetas. Adaptado da Universidade Estadual de Nova York em Buffalo, Escola

    de Medicina Dental, Oral Health Letter, 1998

    I. Endocardite infecciosa

    A endocardite infecciosa uma doena caracterizada pela contaminao da

    superfcie do endotlio, principalmente nas valvas cardacas, conferindo um

    comprometimento significativo na qualidade de vida de seus portadores, bem como alto

    percentual na taxa de mortalidade, requerendo, muitas vezes, procedimentos cirrgicos

    para sua total cura.

    Seu desenvolvimento ocorre principalmente em indivduos com estruturas

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    cardacas lesadas (cardiopatias congnitas ou adquiridas, valvopatias), usurios de

    drogas endovenosas, indivduos submetidos a cirurgias cardacas e atravs de infeces

    hospitalares; contudo, a endocardite infecciosa pode desenvolver-se a partir de umabacteremia espontnea (escovao, mastigao), ou atravs de procedimentos invasivos.

    O endotlio das valvas cardacas normais resistente colonizao microbiana,

    porm um jato sanguneo de uma cmara de alta presso (ventrculo esquerdo) para uma

    de baixa presso, ou atravs da passagem do fluxo sanguneo atravs de um orifcio

    estreito (estenose mitral e artica) e tambm devido a uma disfuno valvar (prolapso de

    valva mitral com regurgitao) podem lesar o endotlio. A superfcie desnuda leva ao de-

    psito de plaquetas e fibrina, formando-se as vegetaes, as quais podem sercolonizadas por organismos, que circulam pela corrente sangunea, decorrentes da

    bacteremia transitria, caracterizando assim a instalao da doena. O tecido valvar

    pouco vascularizado e a presena de fibrina so fatores que contribuem para diminuir a

    efetividade dos mecanismos de defesa do hospedeiro, favorecendo a proliferao de

    microrganismos.

    Quanto aos sinais clnicos, a endocardite infecciosa pode apresentar um carter

    agudo ou subagudo, dependendo geralmente do agente infeccioso. O Staphy/ococcus

    aureus o principal causador de endocardite infecciosa aguda (50 a 70%), sendo tambm

    a espcie predominante em usurios de drogas endovenosas. Febre severa est quase

    Valva normal

    Leso endotelial

    Depsito deplaquetas e fibrina

    Cura da endocardite

    Endocarditeinfecciosa

    Colonizao

    Bacteremia induzidaou espontneaVegetaes

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    sempre presente, com mudanas proeminentes dos murmrios cardacos, presena de

    petquias, embolizaes sistmicas severas e falhas cardacas ou renais podem

    desenvolver-se rapidamente.As espcies que causam a endocardite subaguda com mais frequncia so os

    estreptococos do grupo alfa-hemolticos (viridans): Streptococcus sanguis, Streptococcus

    mutans, Streptococcus intermedius e Streptococcus mitis. As complicaes cardacas

    podem surgir a partir da endocardite infecciosa, sendo a mais grave uma falncia

    cardaca decorrente da insuficincia valvular, principalmente artica; outras complicaes

    incluem abscessos miocardiais, pericardites, defeitos de conduo eltrica miocardial

    (arritmias) e infarto do miocrdio devido embolizao da artria coronria. Ascomplicaes no-cardacas graves que podem ocorrer so as embolizaes sistmicas,

    as quais podem atingir crebro, pulmes, bao e rins.

    A classificao mais recente dos pacientes de risco de desenvolver endocardite

    infecciosa foi elaborada em 1997 pelaAmerican Heart Associaton:

    Condies cardacas

    Altorisco

    Portadores de prtese valvar, histria prvia de endocardite infecciosa.

    Doenas cardacas congnitas complexas (tetralogia de Fallot, estenose

    artica) e shunts pulmonares construdos cirurgicamente.

    Mdio

    risco

    Cardiopatias congnitas (persistncia do canal arterial, defeito do septo

    ventricular e atrial, valva bicspide artica), disfuno valvar adquirida

    (doena reumtica cardaca), cardiomiopatia hipertrfica, prolapso de

    valva mitral com regurgitao.

    Baixo

    risco

    Defeito secundrio do septo interatrial, cirurgia reparadora do defeito do

    septo interatrial ou da persistncia do canal atrial (sem recidiva em seismeses), prolapso de valva mitral sem regurgitao, murmrios cardacos

    funcionais ou fisiolgicos, doena de Kawasaki sem disfuno valvar,

    febre reumtica sem disfuno valvar, marcapassos cardacos,

    desfibriladores implantados.

    Numerosos estudos epidemiolgicos em diferentes pases tm mostrado que 4 a

    20% dos casos de endocardite infecciosa so de origem bucal, com maior incidncia dos

    estreptococos na sua etiologia em especial os Streptococcus viridans comumente

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    encontrados em grande quantidade na cavidade bucal. Tal relao com a Odontologia

    constatada pela entrada de patgenos da microbiota bucal na corrente sangunea

    (bacteremia), seja atravs dos procedimentos odontolgicos (bacteremia induzida) ou desangramentos espontneos (bacteremia espontnea).

    Diversos autores concordam que amaioria dos casos de endocardite infecciosa

    de origem bucal no tem incio nos procedimentos odontolgicos, mas nas bacteremias

    espontneas, como decorrentes da escovao dental e da mastigao.

    Fig. 9.Ilustrao mostrando a relao entre doena periodontal e bacteremias transitrias.

    Fonte: http://www.perio.org.

    Gunthreoth (1984) calculou o tempo mensal cumulativo de exposio

    bacteremia, atribudo aos procedimentos orais do prprio paciente, como mastigao,

    escovao e bochechos, encontrando um valor mdio de 5.376 minutos contra 6 minutos

    de uma exodontia. Com isto, o autor quis demonstrar que a bacteremia transitria,

    atribuda aos procedimentos de rotina do paciente, representa um risco de endocardite

    infecciosa muito maior que para os casos de tratamentos odontolgicos ocasionais.

    Daly et al. (1997) submeteram trinta pacientes com periodontite no-tratada a um

    estudo clnico, a fim de observar uma possvel bacteremia aps a sondagem periodontal.

    Demonstraram trs bacteremias positivas antes da sondagem periodontal e 14 ps-

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    sondagem. Levison (1997) afirma que o traumatismo do sulco gengival, to comum ao

    escovar os dentes ou atravs da mastigao, pode ser responsvel, em parte, pelos 75%

    dos pacientes com endocardite por Streptococcus viridans, que no se lembram denenhuma circunstncia diferente que pudesse ter resultado em um episdio de

    bacteremia transitria antes do incio da endocardite infecciosa.

    Tais bacteremias, quando se desenvolvem em pacientes que no so con-

    siderados de risco de endocardite infecciosa, raramente causam sintomas sistmicos,

    exceto um possvel aumento na temperatura corprea. Porm, nos pacientes

    considerados de risco de endocardite infecciosa pelaAmerican Heart Associaton(AHA), a

    probabilidade do surgimento desta doena deve ser considerada. Sendo assim, deextrema importncia que o cirurgio-dentista saiba intervir e tratar os pacientes de risco

    de desenvolver endocardite infecciosa, a fim de prevenir seu surgimento.

    A preveno da endocardite infecciosa na rea de atuao dos cirurgies-

    dentistas pode ocorrer de duas formas. A primeira seria atravs da profilaxia antibitica,

    recomendada pelaAmerican Heart Associaton, a qual deve ser prescrita aos pacientes de

    alto e mdio risco, antes dos procedimentos odontolgicos capazes de induzir

    bacteremias. No h necessidade de profilaxia antibitica em pacientes de baixo risco. A

    segunda forma seria atravs da preveno das doenas bucais, principalmente das

    doenas periodontais.

    A higiene dental ou periodontal inadequada, bem como as infeces periapicais,

    periodontais e da mucosa bucal podem produzir bacteremias transitrias mesmo na

    ausncia de procedimentos odontolgicos. A incidncia e a magnitude das bacteremias

    de origem bucal so diretamente proporcionais ao grau de inflamao ou infeco.

    Aqueles indivduos que apresentam risco de desenvolver endocardite infecciosa devem

    ser orientados a obter e manter a melhor qualidade de sade bucal possvel, reduzindo

    desta forma as fontes de colonizao e crescimento bacterianos. Uma tima sade bucal

    pode ser conseguida atravs dos cuidados profissionais de rotina e do hbito de

    escovao dental, uso do fio dental e outros mtodos de controle da placa dental.

    O uso de antisspticos, como a soluo de digluconato ou cloridrato de

    clorexidina a 2%, empregada imediatamente antes dos procedimentos odontolgicos, na

    forma de bochechos suaves, pode reduzir a grandeza das bacteremias. Deve-se evitar,

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    54Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    entretanto, o uso contnuo ou repetido deste agente em intervalos frequentes, pois isto

    pode ocasionar a seleo de microrganismos resistentes.

    Como regra geral, a profilaxia antibitica recomendada em todos osprocedimentos odontolgicos associados com sangramento excessivo. Os

    pacientes desdentados podem desenvolver bacteremia de lceras causadas por prteses

    mal adaptadas, devendo ser estimulados a realizar um exame bucal peridico ou procurar

    o dentista de algum desconforto se manifestar. Segue-se a indicao ou no da profilaxia

    da endocardite infecciosa, em funo dos procedimentos dentais:

    PROFILAXIA DA ENDOCARDITE RECOMENDADAPROFILAXIA DA ENDOCARDITE RECOMENDADA

    Extraes dentais;

    Procedimentos periodontais tais como cirurgia, raspagem e

    polimento raducular, sondagem, insero subgengival de fibras e

    tiras contendo antimicrobianos e tratamento de manuteno;

    Cirurgia de colocao de implantes dentais;

    Reimplantao de dentes avulcionados;

    Instrumentao endodntica (alm do pice dental) ou cirurgia

    perirradicular;

    Colocao de bandas ortodnticas (mas no de brackets);

    Injeo de anestsico local pela tcnica intraligamentar;

    Limpeza profiltica de dentes ou de implantes, quando existe

    expectativa de sangramento.

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    55Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    PROFILAXIA DA ENDOCARDITE NO RECOMENDADAPROFILAXIA DA ENDOCARDITE NO RECOMENDADA

    Dentstica restauradora ou preparos protticos;

    Injeo de anestsico local (exceto tcnica intraligamentar);

    Tratamento endodntico intracanal;

    Reconstruo dental e preparos intrarradiculares;

    Colocao de isolamento absoluto;

    Remoo de suturas;

    Tomadas de radiografias ou de moldagens;

    Aplicao tpica de flor ou de selantes;

    Simples ajustes de aparelhos ortodnticos;

    Colocao de aparelhos ortodnticos removveis;

    Exfoliao de dentes decduos.

    Os Streptococcus viridans (alfa-hemolticos) so a causa mais comum de

    endocardite infecciosa aps certas intervenes odontolgicas. A profilaxia antibitica

    deve ento ser direcionada contra estes microrganismos, sendo qual for o tipo deprocedimento.

    O regime profiltico padro recomendado pelaAHAconsiste numa nica dose de

    amoxicilina, por via oral. A amoxicilina, ampicilina e penicilina V so penicilinas igualmente

    efetivas contra os estreptococos alfa-hemolticos, in vitro; a amoxicilina recomendada

    por ser mais bem absorvida pelo trato gastrintestinal e proporcionar nveis sricos mais

    elevados. Os regimes profilticos recomendados pela AHA para os procedimentos

    odontolgicos so os seguintes:PROTOCOLO PADRO

    Amoxicilina

    Adultos 2,0 g

    Crianas 50 mg/kg de peso corporal

    Via oral, 1 hora antes do procedimento

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    56Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    As doses peditricas no devem exceder s de adultos. As cefalosporinas (*) no

    devem ser usadas em indivduos com histria de reaes alrgicas imediatas s

    penicilinas (urticria, angioedema e anafilaxia).

    Em relao ao atendimento clnico dos pacientes de risco para a endocardite

    infecciosa, salientamos algumas dicas importantes:

    Realizar o maior nmero possvel de procedimentos numa mesma sesso,

    expondo menos o paciente ao uso de antibiticos;

    No caso da necessidade de diversas consultas, optar por respeitar um intervalo

    mnimo de sete dias. Isso poderia colaborar com uma diminuio no risco de

    desenvolvimento de patgenos resistentes;

    Caso haja necessidade de consultas em intervalos menores, alternar o tipo de

    medicamento;

    PACIENTES ALRGICOS

    PENICILINA

    Clindamicina

    Adultos 600 mg

    Crianas 20 mg/kg de peso corporal

    Via oral, 1 hora antes do procedimento

    ou

    Cefalexina* ou Cefadroxil*

    Adultos 2,0 g

    Crianas 50 mg/kg de peso corporalVia oral, 1 hora antes do procedimento

    ou

    Azitromicina ou Claritromicina

    Adultos 500 mg

    Crianas 15 mg/kg de peso corporal

    Via oral, 1 hora antes do procedimento

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    57Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Sempre ter o medicamento no consultrio ou pedir para que o paciente traga

    consigo, mesmo se for realizar um procedimento que no requeira a profilaxia;

    Sempre realizar bochechos pr-operatrios com clorexidina a 0,12% ou 2%, a fimde diminuir a flora endgena, antes da realizao de qualquer procedimento.

    II. Doena periodontal e aterosclerose

    O principal fator responsvel pela maioria dos casos de doenas cardiovasculares

    e cerebrovasculares a aterosclerose. Trata-se de uma doena vascular progressiva

    caracterizada por um espessamento da tnica ntima de artrias musculares de mdio egrande calibres e grandes artrias elsticas, devido a uma degenerao tecidual pelo

    acmulo de lipdios. A leso bsica, chamada ateroma, consiste em uma placa

    fibrogordurosa localizada na ntima, tendo em seu ncleo lipdios (fundamentalmente

    colesterol) e limitada por uma capa fibrosa.

    Inicialmente, estas placas so escassamente distribudas, mas medida que a

    doena avana, elas resultam cada vez mais numerosas, diminuindo o calibre das artrias

    e, por tanto, comprometendo o fluxo arterial, e ainda debilitando a parede arterial.

    Fig. 10.Ilustrao do desenvolvimento da aterosclerose.

    Fonte: http://www.mimosa.com.br.

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    58Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Fig. 11.Ilustrao esquemtica dos componentes importantes numa placa de ateroma.

    Fonte: http://virtual01.Incc.br/monografia.

    Com o avano da doena as artrias terminam por sofrer complicaes tais como

    calcificaes, ulceraesda superfcie do endotlio em contato com o sangue que podem

    induzir a ruptura das placas de ateroma, com a consequente descarregamento na

    corrente sangunea dos detritos desta ruptura causam microembolias, formao de

    trombos (uma das mais temidas complicaes, j que podem ocluir o lmen arterial) e,

    embora a aterosclerose seja uma doena tpica da tnica ntima, em casos severos,

    debilita de tal maneira as paredes dos vasos causando uma dilatao ou aneurisma.

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    59Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Fig. 12. Aorta com aterosclerose em fase de placas de ateroma, com acmulos de gordura

    evidentes. Fonte: http://picasaweb.google.com/ufrjmed/PatologiaMacro20072#5164680672149345826.

    Existem, na atualidade, duas hipteses para a aterognese. A primeira, proposta

    por Virchow em 1856, justifica a proliferao celular na tnica ntima como uma reao

    infiltrao crescente de protenas plasmticas e lipdios provenientes do sangue. A

    segunda hiptese, conhecida como reao ao dano, foi formulada por Ross e Glomset em

    1976 e posteriormente modificada em 1986.

    Esta teoria estabelece que as leses da aterosclerose surjam em resposta a

    alguma forma de dano no endotlio das artrias. Estes danos induzem uma maior

    permeabilidade do epitlio a constituintes plasmticos, permitindo que plaquetas e

    moncitos do sangue possam se aderir ao endotlio ou ao tecido conjuntivo subendotelial.

    Por sua vez, fatores liberados pelas plaquetas e moncitos induzem a migrao, da tnica

    mdia para a tnica ntima, de clulas de msculo liso, seguido de proliferao (a sntese

    destas clulas de msculo liso induz a acumulao de colgeno, fibras elsticas,

    transformao dos moncitos em macrfagos e acumulao de lipdios), contribuindo

    para que a leso progrida.

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    60Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    A Figura 13 apresenta de maneira esquemtica a evoluo da placa de ateroma

    dentro da hiptese de reao ao dano.

    Fig. 13.Teoria de reao ao dano: A) Parede normal; B) Dano ao endotlio com adeso de plaquetas e

    moncitos; C) Migrao de moncitos do lmen para a tnica ntima e de clulas de msculo liso da tnica

    mdia para a tnica ntima, com acmulo de gordura. Fonte: http://virtual01.Incc.br/monografia.

    O fato de que a aterosclerose representa um processo inflamatrio acentuou o

    interesse no papel que alguns agentes infecciosos possam ter no incio ou mesmo na

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    61Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    modelao da aterognese. Dentre os principais candidatos destacam-se a Chlamydea

    pneumoniae, o Citomegalovrus e o Helicobacter pylori. Desde ento, vrios estudos tm

    demonstrado que as infeces desencadeiam uma srie de alteraes na biologia dasclulas endoteliais e do msculo liso que podem predispor para a aterognese.

    Nesta perspectiva, colocou-se a hiptese das doenas periodontais, como

    doenas infecciosas, tem um papel na formao de ateromas. Efetivamente, vrios

    agentes Patgenos periodontais foram detectados em placas de ateroma, nomeadamente

    Porphyromonas gengivalis, Prevotella intermedia, Tannerella forsythensis e o

    Actinobacillus actinomycetemcomitans.

    Fig. 14. Ilustrao esquemtica da variedade de espcies microbianas existentes no biofilme subgengival

    em forma de complexos especficos. Adaptado de SOCRANSKY et al.: J. Clin. Perio, 1988.

    A associao entre as doenas periodontal e cardiovascular envolve uma srie de

    mecanismos como o efeito direto do agente infeccioso na formao do ateroma, o efeito

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    62Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    indireto mediado pelo hospedeiro desencadeado pela infeco, predisposio gentica,

    alm de uma srie de fatores ambientais e caractersticas em comum.

    ATEROSCLEROSEATEROSCLEROSE

    Efeitos diretos dos agentes infecciosos

    Efeitos indiretos ou mediados pelo

    hospedeiro

    Predisposio gentica

    Fatores de risco comuns

    Efeitos diretos dos agentes infecciosos

    Efeitos indiretos ou mediados pelo

    hospedeiro

    Predisposio gentica

    Fatores de risco comuns

    Fig. 15.Esquema de fatores envolvidos na patogenia da aterosclerose.

    Ilustrao adaptada de Patrick Lynch, ilustrador mdico, 2006.

    So considerados fatores de risco comuns:

    Idade (indivduos idosos);

    Sexo (masculino);

    Baixo nvel scio-econmico;

    Tabagismo;

    Diabetes mellitus;

    Estresse.

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    63Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    EFEITOS DIRETOS DOS AGENTES

    INFECCIOSOS

    EFEITOS DIRETOS DOS AGENTES

    INFECCIOSOS

    Capacidade de invadir e proliferar nasclulas endoteliais

    Deshpande, 1998

    Capacidade de invadir e proliferar nasclulas endoteliais

    Deshpande, 1998

    Porphyromonas gingivalis

    Capacidade de provocar agregao

    plaquetria

    Herzberg & Meyer, 1996

    Capacidade de provocar agregao

    plaquetria

    Herzberg & Meyer, 1996

    Alm disso, a doena periodontal tem sido associada a um aumento dos nveis de

    marcadores pr-inflamatrios, reconhecidos indicadores de risco para as doenas

    cardiovasculares, tais como a Protena C-Reativa, a IL-6, o fibrinognio e contagem deleuccitos.

    EFEITOS MEDIADOS PELO HOSPEDEIROEFEITOS MEDIADOS PELO HOSPEDEIRO

    Protena C reativaProtena C reativa

    FibrinognioFibrinognio

    Produo de

    protenas da fase

    aguda

    Produo de

    protenas da fase

    aguda

    Protena C reativa e fibrinognio estavam

    relacionados com pouca sade periodontal

    Wu, 1999

    Protena C reativa e fibrinognio estavam

    relacionados com pouca sade periodontal

    Wu, 1999

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    64Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    A pesquisa que documenta esta possvel associao relativamente recente,

    sendo um dos primeiros estudos o de Mattila et al. em 1989. Este estudo verificou um pior

    estado de sade dentria (ndice dentrio total) no grupo teste quando comparado com ogrupo controle e, desde ento, muito se tem publicado sobre esta associao.

    ALTERAES CARDIOVASCULARESALTERAES CARDIOVASCULARES

    100 pacientes com Infarto do Miocrdio

    X

    102 pacientes controle

    Piores condies bucais Infarto do Miocrdio

    Independente de fatores como idade, tabagismo,

    diabetes, colesterol total, triglicrides e hipertenso

    100 pacientes com Infarto do Miocrdio

    X

    102 pacientes controle

    Piores condies bucais Infarto do Miocrdio

    Independente de fatores como idade, tabagismo,

    diabetes, colesterol total, triglicrides e hipertenso

    Matilla, 1989

    Em 1993, DeStefano et al. publicaram um estudo prospectivo com 9.760

    pacientes e com 13-16 anos de acompanhamento, no qual se observou um aumento de

    25% no risco de doena coronria em pacientes com periodontite, quando comparados

    com indivduos sem periodontite ou com formas leves da doena.

    Em 1996, Beck et al. publicaram os resultados de um estudo prospectivo em que

    se monitorizaram 1.147 homens. A patologia periodontal foi aferida pela perda ssea

    alveolar interproximal radiogrfica e pela profundidade de sondagem. Foram levados em

    considerao outros fatores de risco tais como a educao, o tabagismo, a tenso arterial,

    o colesterol, a histria familiar de doenas cardiovasculares, o consumo de lcool e o

    ndice de massa corporal. Neste estudo, verificou-se que, em mdia, para cada aumento

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    65Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    de 20% de perda ssea a incidncia total de doena coronria sofria um aumento de

    40%. Ou seja, os nveis de perda ssea e a incidncia cumulativa de doena coronria

    total e de doena coronria fatal indicam uma correlao entre a gravidade da DoenaPeriodontal e a ocorrncia de doena coronria.

    Joshipura et al. (1996) apresentaram os resultados de um estudo prospectivo em

    44.119 homens, profissionais de sade, monitorizados durante seis anos. Neste estudo foi

    possvel associar a perda dentria, no a doena periodontal, com um aumento do risco

    para doena coronria, sobretudo em pacientes com histria de doena periodontal,

    aferida por questionrio. Considerando o tipo de patologia cardiovascular, so j vrios os

    estudos que encontram uma associao forte entre doena periodontal e doenacoronria, Infarto do miocrdio e eventos crebro-vasculares.

    Apesar de alguns trabalhos sugerirem uma relao entre as doenas periodontais

    e as patologias cardiovasculares, estes estudos no so satisfatrios para afirmar a

    existncia de uma relao de causa/efeito entre as duas. Efetivamente, apesar de estar

    bem documentada a associao estatstica entre as duas patologias, no est ainda

    determinado, com exatido, o mecanismo biolgico que as relaciona.

    1.3. Periodontite e o diabetes mellitus

    Recentemente, estudos apontam a periodontite como a sexta manifestao mais

    frequentemente vista entre as complicaes diabticas. importante ressaltar, porm,

    que a doena periodontal dependente do biofilme dental, representando o diabetes

    apenas um fator de risco para o desenvolvimento da mesma. O diabetes mellitus capaz

    de aumentar a susceptibilidade do hospedeiro doena periodontal, facilitando a sua

    instalao ou agravando o curso da doena. Sabe-se que as modificaes teciduais

    patolgicas evidentes no periodonto de pacientes diabticos podem predisp-los

    doena periodontal.

    Porm, as alteraes fisiopatolgicas na estrutura do periodonto esto

    diretamente ligadas ao controle metablico da doena bem como ao tempo de instalao

    da mesma, sendo a descompensao glicmica fundamental para que as mudanas

    histopatolgicas aconteam a nvel periodontal.

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    66Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    O fator determinante da doena periodontal o biofilme dental (placa bacteriana),

    cujos efeitos so agravados frente s alteraes histopatolgicas e metablicas

    caractersticas do diabetes. Graus variveis de inflamao podem ser encontradosrelacionados a um controle insatisfatrio de placa.

    Nas ltimas trs dcadas, o diagnstico e a classificao do diabetes tm

    passado por vrias mudanas. Em 1977, a Associao Americana de Diabetes forneceu a

    classificao que se segue. As duas formas mais comuns so: diabetes tipo 1,

    anteriormente chamada diabetes insulino-dependente, e diabetes tipo 2, previamente

    conhecida como diabetes no-insulino-dependente.

    O diabetes tipo 1corresponde a uma frao de 10% dos diabticos. Geralmenteaparece antes dos 25 anos de idade. uma condio mais grave que o diabetes do tipo II

    e as complicaes so mais presentes. Geralmente est associado a umfator hereditrio.

    sempre sintomtico, manifestando-se por poliria, polidipsia, polifagia e cetoacidose,

    como resultado de distrbios metablicos. Os nveis de protenas plasmticas so baixos

    ou ausentes e os do hormnio glucagon, elevados.

    Essa forma da doena ocorre pela destruio das clulas beta do pncreas, em

    geral por decorrncia de doena autoimune, levando deficincia de insulina. Nos

    primeiros meses aps o incio da doena so detectados no sangue dos pacientes

    anticorpos anti-ilhota de Langerhans (onde se encontram as clulas beta), anticorpos

    contra enzimas das clulas beta e anticorpos anti-insulina.

    Fig. 16.Ilhotas de Langerhans com infiltraes linfocticas. As infiltraes linfocticas (pontos mais escuros)

    observadas acabam por obstruir os canais das ilhotas.

    Fonte: http://pwp.netcabo.pt/ sistema.imune/Diabetes_mellitus.htm

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    67Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    O diabetes tipo 2aparece na vida adulta, ou seja, geralmente aps os 40 anos

    de idade. 90% dos diabticos so do tipo II. Esse tipo de diabetes causado pela

    resistncia dos tecidos perifricos insulina. As principais causas so obesidade e oenvelhecimento. Como regra, no depende de insulina exgena para seu controle ou para

    preveno da cetoacidose, porm requer seu uso para correo da hiperglicemia

    persistente que no responde dieta apropriada ou a hipoglicemiantes orais. A insulina

    plasmtica mantm-se normal ou elevada.

    Este tipo de diabetes, que no de origem autoimune, acontece, essencialmente,

    por um estado de resistncia ao da insulina associada a uma relativa deficincia da

    sua secreo. Um fator crucial a obesidade.

    Fig. 17.Ilhotas de Langerhans com deposio amiloide (massa amorfa rosada).

    Fonte: http://pwp.netcabo.pt/ sistema.imune/Diabetes_mellitus.htm

    No periodonto, as alteraes no ambiente subgengival, tais como o aumento dos

    nveis da glicose e da ureia no fluido crevicular gengival, favorecem o crescimento de

    algumas espcies bacterianas. Alm disso, as alteraes vasculares apresentadas pelo

    diabtico descompensado tm estreita relao com a instalao e progresso da doena

    periodontal. As principais alteraes periodontais observadas, microscopicamente, em

    pacientes portadores de diabetes mellitus consistem em: alteraes vasculares e

    alteraes no epitlio e no tecido conjuntivo gengivais.

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    68Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    O fator causal primrio de desenvolvimento das alteraes vasculares no

    diabtico a prolongada exposio hiperglicemia. O espessamento dos vasossanguneos do periodontoimpede a difuso do oxignio, a eliminao de metablitos, a

    migrao de leuccitos e a difuso de fatores imunes (citocinas, por exemplo),

    contribuindo para o agravamento da periodontite no diabtico. A funo fagocitria

    deficiente pode se manifestar pelo fato de certo nmero de enzimas serem insulino-

    dependentes.

    Fig. 18.Histolgico da gengiva de paciente diabtico. No detalhe, observa-se a obliterao da luz vascular

    (PAS, 400X). Adaptado de SOUZA et al.: Odonto Clin Cientif, 2002.

    Nos diabticos descompensados h uma diminuio da resposta imune

    infeco, observada pela presena de hiperglicemia e cetoacidose, que alteram a

    fagocitose dos macrfagos e a quimiotaxia dos polimorfonucleares. O espessamento dos

    vasos do periodonto dificulta o transporte de elementos nutritivos intimidade dos tecidos,

    tornando-os mais vulnerveis aos produtos de agresso microbiana e maior severidade

    da enfermidade periodontal.

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    69Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Desta forma, a associao entre as alteraes vasculares da doena diabetes e a

    doena periodontal pode ser assim estabelecida:

    DIABETES MELLITUSDIABETES MELLITUS

    ALTERAO VASCULAR

    ALTERAES DO FLUIDOGENGIVAL E DO TECIDOCONJUNTIVO GENGIVAL

    ALTERAO DARESPOSTA IMUNOLGICA

    DO HOSPEDIRO

    DOENAPERIODONTAL

    DOENAPERIODONTAL

    LIBERAO CRNICADE CITOCINAS

    AO DIMINUDA DA INSULINA

    AGRAVAMENTODAS ALTERAES

    METABLICAS

    O diabetes compromete a produo da matriz ssea pelos osteoblastos, diminui a

    sntese de colgeno pelos fibroblastos gengivais, alm de aumentar a atividade da

    colagenase gengival. O difcil controle da cicatrizao tecidual no diabtico decorre da

    presena de hiperglicemia, microangiopatias, acidez metablica, fagocitose ineficaz pelos

    polimorfonucleares e macrfagos. Uma associao positiva foi encontrada entre a

    gravidade da doena periodontal, a idade do paciente, a durao do diabetes e frequncia

    das variaes da glicemia, e as complicaes e manifestaes tardias da doena.

    O diabtico controlado, aglicosrio e normoglicmico poder se comportar

    clinicamente como um indivduo saudvel, enquanto que o descompensado necessita de

    vrias medidas profilticas para submeter-se ao tratamento especializado. Os pacientes

    diabticos insulino-dependentes apresentam gengivite com maior frequncia do que os

    pacientes saudveis, mesmo com quantidades pequenas de placa bacteriana.

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    70Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Fig. 19.Aspecto clnico de inflamao gengival severa resultante do acmulo de placa bacteriana. O tecido

    gengival mostra-se frivel, edematoso e com sangramento espontneo. Neste caso, o paciente de 55 anos

    teve o diagnstico recente de diabetes mellitus do tipo 2. Adaptado de HIRSCH:Aust Prescr, 2004.

    Fig. 20.Radiografia panormica de um paciente com 54 anos de idade, diabtico descompensado,

    mostrando extensas reabsores sseas envolvendo vrios dentes.

    Adaptado de HIRSCH:Aust Prescr, 2004.

    Fig. 21.Aspecto clnico da periodontite severa em paciente com 56 anos de idade, portador do diabetes do

    tipo 2, descompensado. Observa-se que o incisivo lateral esquerdo (*) apresentou migrao devido

    grande perda ssea e mobilidade. Adaptado de HIRSCH:Aust Prescr, 2004.

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    71Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    O controle dos diabticos geralmente baseado nos nveis de glicose no sangue

    e de hemoglobina glicosilada A1 (HbA1), mas tambm deve ser feito com base na

    observao criteriosa das alteraes metablicas. A rpida perda de insero e perdassea alveolar em um paciente de meia idade ou mais velho, associada a outras

    manifestaes sistmicas, pode representar um dos primeiros sinais da instalao do

    diabetes no adulto.

    a b

    Fig. 22.a) Gota de sangue para a glicosimetria. Faz-se um furinho no dedo e o sangue aparece neste

    local (Fonte: http://www.piraporadobomjesus.sp.gov.br); b) Glicosmetro o sangue colocado em uma

    rea especfica da fita glicosimtrica. Aps alguns minutos, a glicemia mostrada em nmeros pelo visor do

    aparelho (Fonte: http://www.virtual.epm.br).

    Os pacientes que se apresentam no consultrio odontolgico com achados

    intrabucais sugestivos de diabetes no-diagnosticado devem ser questionados

    cautelosamente. As perguntas devem ser direcionadas de forma a esclarecer a histria

    de polidipsia, poliria, polifagia ou recente perda de peso sem explicao. Os pacientes

    tambm precisam ser questionados quanto ocorrncia de diabetes na histria mdicafamiliar.

    Para os diabticos diagnosticados importante estabelecer o nvel do

    controle de glicemia antes do exame odontolgico. Isto pode se feito por meio de

    pedidode avaliao e reviso mdica. Alm dos valores glicmicos, til

    determinar o valor da hemoglobina glicosilada, pois este teste fornece a medida do

    controle da glicemia ao longo dos dois ou trs meses precedentes. A comparao

    com valores passados fornece informao sobre a estabilidade do controle da

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    72Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    glicemia ao longo do tempo.

    NormalIntolerncia

    glicoseDiabetes

    Glicose em jejum

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    73Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    destes pacientes sero detalhados no mdulo especfico de Farmacologia no

    paciente idoso.

    1.4. Periodontite e as doenas respiratrias

    A microaspirao do contedo da orofaringe uma das causas frequentes das

    alteraes respiratrias, como pneumonias e abscessos pulmonares, e nesta situao a

    periodontite pode ser um fator contribuinte. O acmulo de patgenos orais pode alterar as

    condies ambientais da boca e facilitar a infeco das vias areas por novos patgenos.

    A precria higienizao bucal em pacientes internados em UTIs determinante comoreservatrio de patgenos respiratrios, aumentando o risco de pneumonia.

    A pneumonia nosocomial, ou hospitalar, uma forma de infeco do trato

    respiratrio baixo diagnosticada 48 horas aps a internao do paciente, sendo que ela

    no estava presente ou incubada quando foi dada entrada no hospital. Diferentemente da

    pneumonia comunitria, ela acontece pela ao de germes hospitalares, que so mais

    resistentes aos antibiticos. O incio da pneumonia bacteriana est dependente da

    colonizao da cavidade oral e orofaringe por potenciais patgenos respiratrios, a sua

    aspirao para as vias areas inferiores e a falncia dos mecanismos de defesa do

    hospedeiro.

    Esta pneumonia bastante comum entre os internados nas UTIs, sendo

    responsvel por 24% a 27% das infeces hospitalares ocorridas nas unidades intensivas

    coronariana e de clnica mdica, respectivamente. Alm disso, a infeco bastante

    preocupante pelo grande impacto nos custos hospitalares que provoca, prolongando a

    internao do paciente e exigindo mais medicamentos e cuidados, e por causar um

    nmero significativo de mortes de pacientes crticos 20% a 50% dos afetados por ela

    falecem.

    Alm dos fatores de risco como a prpria doena inicial do paciente, idade,

    doenas pulmonares e cardiolgicas anteriores, necessidade de ventilao mecnica,

    manipulao do paciente pela equipe e outros, a pneumonia nosocomial geralmente

    tambm se origina de bacteremias, especialmente de bastonetes Gram-negativos. As

    bactrias Gram-negativas no so comuns microbiota normal da boca, mas se

    proliferam quando esta se altera em decorrncia do acmulo do biofilme e do

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    74Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    desenvolvimento da doena periodontal. Estes patgenos so ainda difceis de combater,

    pois o prprio biofilme oferece uma proteo a eles, tornando-os mais resistentes aos

    medicamentos.

    Fig. 23. Relao dos pulmes com o sistema circulatrio. Alm da aspirao de patgenos periodontais, as

    bacteremias resultantes da manipulao do paciente internado tambm podem originar pneumonia.

    Fonte: www.oralsystemicconnection.com/

    A aspirao de reduzidas quantidades de saliva um mecanismo fisiolgico

    normal; no entanto, pacientes com alterao de conscincia como aqueles internados em

    UTIs, realizam-no mais frequentemente e em maiores quantidades. Um estudo conduzido

    por Terpenning et al. numa populao idosa, demonstrou um aumento do risco depneumonia por aspirao quando a bactria Porphyromonas gingivalis, associada

    Doena Periodontal, estava presente na placa bacteriana e saliva dos pacientes. Uma

    higiene oral insuficiente e a doena periodontal parecem estar, estatisticamente,

    relacionadas com a Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica, embora nenhum estudo tenha

    demonstrado a influncia direta da Doena Periodontal na patofisiologia desta patologia

    respiratria.

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    75Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Hayes et al. realizaram um estudo retrospectivo no qual verificaram uma

    correlao entre a funo pulmonar e o estado periodontal dos pacientes, constatando

    que a funo pulmonar diminua quando aumentava a perda do nvel de insero clnico.No seguimento das pesquisas, Garcia et al. conduziram um estudo com 30 anos de follow

    up, em 1.112 pacientes. Os autores demonstraram uma relao entre a severidade da

    doena periodontal e um risco aumentado de desenvolver doena pulmonar obstrutiva

    crnica, comparativamente a outros pacientes com sade periodontal. Alm disso, a

    maior severidade da doena periodontal associada ao hbito de fumar aumentava o risco

    de doena pulmonar obstrutiva crnica, o que no se constatava em pacientes no-

    fumantes.Os mecanismos que podem estar relacionados a essa possvel associao so a

    aspirao de Patgenos orais para os pulmes e a ao de enzimas associadas doena

    periodontal que promovem a adeso e colonizao por bactrias passveis de causar

    doenas respiratrias. As referidas enzimas tambm parecem ser fundamentais na

    destruio de molculas salivares que formariam pelculas promotoras na eliminao de

    bactrias orais. As citocinas produzidas pelo periodonto, como resposta agresso

    bacteriana, parecem modificar o epitlio respiratrio, tornando-o mais susceptvel

    colonizao por Patgenos respiratrios.

    Dessa forma, muitos mecanismos podem ser considerados para ajudar a explicar

    como as bactrias orais podem participar da patognese das infeces respiratrias:

    Patgenos orais (P. gingivalis, A. actinomycetemcomitans) podem ser

    aspirados e causar infeco do pulmo;

    Enzimas presentes na saliva e associadas s doenas periodontais podem

    modificar a superfcie da mucosa oral e promover adeso e colonizao

    por patgenos respiratrios na boca;

    Enzimas hidrolticas associadas doena periodontal podem destruir a

    pelcula de proteo dos componentes secretores (p. ex. mucina),

    diminuindo as defesas inespecficas contra os patgenos respiratrios em

    pacientes de alto risco;

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    Citocinas originrias dos tecidos periodontais podem cair na corrente

    sangunea e alterar o epitlio respiratrio, promovendo a infeco

    respiratria.

    Vrios mecanismos esto sendo estudados, porm ainda no foi possvel

    comprovar com exatido a patogenia da associao das duas doenas.

    -----------------FIM DO MDULO II-----------------------