Saudades da minha terra-Prof. Jerônimo
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Breve relato: Infância e adolescência.
Dedicação
Dedico estas memórias aos meus adoráveis filhos
que sempre me deram apoio nos momentos mais
difíceis em nossas vidas:
Oséias do Nascimento Ferreira
Osiane do Nascimento Ferreira
Osiel do Nascimento Ferreira
Também ao meu genro Michel Lopes dos Santos
que foi um dos primeiros a ler meus manuscritos e
fazer as devidas críticas.
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Meus pais
Após leituras de vários livros de biografias de
pessoas famosas, sinto desejo de registrar para
conhecimento de minha família e de todos que por
ventura se der ao prazer de perder o seu precioso
tempo nestes dados, alguns fatos sobre minha vida
e de meus adoráveis pais e irmãos.
Transcorre o ano de 1934, e em uma cidade do
grande Estado de Minas Gerais, chamada de São
Francisco de Sales, é feito na igrejinha local o
matrimônio de João Gabriel Ferreira e Maria
Geralda de Jesus, ambos nascidos em Campo Belo
MG. “Estes são meus queridos pais”. Ela com doze
anos de idade, uma menina que brincava com
bonequinha de pano, era acostumada a árdua vida
do sertão. Ele “papai” também acostumado à vida
de cultivar a terra nos seus vinte e quatro anos.
Mamãe não sabia o sentido real do casamento e
pensava que casar era para ganhar roupas novas,
ela nasceu em 04 de abril de 1920 ele em 06 de
janeiro de 1910. Mamãe nunca foi alfabetizada e,
contudo me ensinou muitas coisas das quais foram
muito úteis neste mundo que eu vivo.
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Filhos do casal
É difícil registrar dados dos filhos de papai e
mamãe, 5 filhas eles tiveram. Mamãe dizia que se
elas fossem Ter a mesma “sina” que ela teve, que
Deus às recolhessem aos céus. Assim aconteceu!
Uma a uma faleceram. No céu, junto eu verei todas
elas, estas que eu nunca pude conhecê-las na terra.
11 de Fevereiro de 1935 São Francisco de Sales
MG Nasce o primogênito João Gabriel Ferreira
filho. “Meu irmão” Meus pais mudam para Tanabi
SP onde é feito o registro do João constando que
ele nasceu nesta cidade de Tanabi SP.
19 de Outubro de 1938 em Tanabi SP nasce
Delcides Gabriel Ferreira, e meus pais mudam
para Álvares Florence SP próximo a cidade de
Votuporanga SP e passam a residir numa fazenda
chamada Arrôio.
11 de Fevereiro de 1942, Nasce Antônio Gabriel
Ferreira
15 de Março de 1943, nasce Ataydes Gabriel
Ferreira
25 de Julho de 1947, nasce Walter Custódio
Ferreira
16 de Setembro de 1950, nasce Arcênio José
Ferreira
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Nasci! Aos cinco de Dezembro de 1956 em uma Quarta
feira, na fazenda do Arrôio município de Álvares
Florence SP, nasci! Uma parteira que para mim
nunca a conheci, fez o parto de mamãe.
Prontificaram-se para serem meus padrinhos o
Senhor Segundo e a D. Juliana ambos espanhóis
residentes na fazenda. Diz mamãe que a madrinha
colocava açúcar na chupeta e dava para mim! Meus
irmãos me levavam à roça para mamãe me dar de
mamar. Aos três anos de idade, papai e mamãe
mudam para Votuporanga SP e eu não falava, e
quando ia à venda comprar doces eu apontava com
o dedinho para a maria-mole de dizia “hum hum”
deveria ter problemas na fala. Em 1959 eu já com 3
anos papai e mamãe mudam para o sertão de Minas
Gerais num lugar pertencente ao município de
Iturama MG. Mato por todo lado, à noite só via
algumas lamparinas acesas nas casinhas distantes,
onças pintadas deixavam seus rastros nos trilhos
dos matos, A noitinha ouvia-se os lobos uivarem e
eu cobria a cabeça de medo. Ia pescar com meus
irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me
lembro que quando eu pegava um lambari, gritava
bem alto “peguei, peguei” atrapalhando a pescaria
do pessoal. Meu primo e meus irmãos gostavam de
caçar e sempre traziam Inhambus e codornas para
fazer parte de nossa alimentação, algumas
lembranças me vêm à mente: um dia eu coloquei
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meu dedinho na boca de uma traíra que eles haviam
pescado e fiquei com o dedinho a sangrar. Minhas
brincadeiras eram de colocar um pedaço de pau
entre as pernas e correr atrás de cavalos e
potrinhos, certa vez levei um coice violento no
rosto e quando voltei a si estava na cama suando
muito frio e até hoje tenho no rosto abaixo do olho
esquerdo uma cicatriz que recebi na infância dos
tempos que vivi no sertão de Minas Gerais.
1962
Com seis anos de idade meus pais mudam para
Indiaporã SP e passamos a morar na casa dos
fundos de uma marcenaria do Sr. João de Matos.
Era uma casinha de dois cômodos de tábua e do
lado de fora viam as luzes da rua, no quintal tinha
uma parreira que sempre estava carregada de uvas
rosadas, e debaixo da parreira, mamãe lavava
roupas para várias casas. Alguns irmãos moravam
em São Paulo e numa das visitas do Delcides, e
como ele gostava muito de mim, levou-me para
morar com ele em Santo André SP. Morando na
Rua Potiguares comecei a freqüentar uma escola
Estadual, Ainda tenho boas lembranças deste
tempo que eu tinha meu caderninho e fazia as
lições.
A saudade da mamãe foi um suplício para mim e eu
chorava e reclamava com o Delcides meu irmão, e
dizia:- Prefiro puxar água no balde para mamãe
lavar roupas e buscar trouxas de roupas do que
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ficar aqui longe dela. Até que um dia, o meu irmão
não agüentou mais minhas reclamações e levou-me
de volta para Indiaporã SP.
Breve histórico da cidade de Indiaporã
A cidade teve seu início no dia 8 de agosto de
1.939, quando três jovens, Hipólito Moura,
Alcides Borges e Francisco Leonel Filho
combinaram de adquirir do senhor Luís
Antônio do Amorim (clique aqui),
conhecido popularmente por Luís Caetano,
uma gleba de terras.
Tinham eles, um ideal de, com estas terras, formar
um patrimônio no interior paulista, que
posteriormente se transformaria em uma
cidade.
Luís Antônio do Amorim, animado pelo mesmo
ideal, disse que faria uma doação do terreno
da praça central, a qual leva, em
homenagem póstuma, o seu nome, e que o
restante seria loteado e vendido.
Na época, eram 94 datas de terras, cujas
propriedades eram de 47 contribuintes, e a
escritura foi lavrada no Cartório do Registro
Civil de Monte Aprazível, sob número
14.021.
Estas datas foram medidas pelo engenheiro Dr.
José Dantas, da vizinha cidade de Cardoso
e, logo em seguida, no dia 15 de janeiro de
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1.940, foi implantado na praça central o
Cruzeiro, simbolizando a fundação do
Patrimônio de Indianópolis.
Inaugurou-se a primeira capela, e os festejos foram
realizados nos dias 11 e 12 de maio do
mesmo ano, e a primeira missa foi celebrada
pelo Padre Ovídio.
Francisco Leonel Filho e esposa
Antonio Sylvio Cunha Bueno e esposa. O
Deputado Estadual que auxiliou na criação
do Distrito de Paz de Indiaporã
Em 24 de dezembro de 1.948, Indianópolis foi
elevado à categoria de distrito de Paz, sob
empenho do senhor Francisco Leonel Filho,
auxiliado pelo deputado estadual Antonio
Sylvio Cunha Bueno e, a partir daí, passou a
ser chamada de Indiaporã, que na linguagem
tupi-guarani, significa "Índia Bonita", em
homenagem aos índios Cayapós, que viviam
nas proximidades do Rio Grande.
Indiaporã passou a município através da Lei
Estadual n. 2.456, em 26 de dezembro de
1.953, tendo como primeiro Prefeito
Municipal o senhor Djalma Castanheira,
empossado no cargo, no dia 1 de janeiro de
1.955, juntamente com a Câmara Municipal,
composta de 9 vereadores.
Djalma Castanheira - Prefeito Municipal
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Vicente Ribeiro Soares - Vice Prefeito
Atacil Luiz Arantes
Adelino Francisco do Nascimento
Alfredo Arthur Pagioro
Cláudio Ribeiro Corrêa
Eunápio Antonio Cotrim
José Oliveira de Souza
Manoel Jerônimo da Silva
Paulo Campos
ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS
O município de Indiaporã, que compreende
também o bairro de Tupinambá, possui uma
área de 275 km2. Está situado na região
noroeste do stado de São Paulo e faz parte
da região Administrativa de São José do Rio
Preto.
Localização:
- Latitude 19,59
- Longitude 50,17
- Altitude 440 m acima do nível do mar.
Regiões limítrofes: Limita-se ao norte com o Rio
Grande, que corta o município, fazendo uma
linha divisória entre Indiaporã e o município
de Iturama, Estado de Minas Gerais. Ao sul,
limita-se com o município de Macedônia,
ao leste com o município de Mira Estrela e
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a oeste com os municípios de Guaraní
D'Oeste e Ouroeste.
Solo: Em sua composição, o solo do município se
apresenta em 3 tipos:
- Hidromórficos: localizados no extremo norte do
município às margens do Rio Grande.
- Latosol Roxo: Se apresenta na zona central do
município.
- Latosol Vermelho escuro: É identificado na
totalidade da parte sul do município,
representando mais de 50% da composição
total.
Observação: O lençol freático do município
apresenta-se a uma média de 10 metros de
profundidade.
Clima: O clima é tropical semi-úmido, com inverno
seco e verão chuvoso.
A precipitação pluviométrica tem uma média anual
de 1.363 mm.
As temperaturas médias atingem mínimas de
17,5QC e máximas de 33,5QC.
ACONTECIMENTOS
No dia 1 de janeiro de 1.940, houve um mutirão
para roçar o local onde seria a praça da
capela. Compareceram 22 pessoas, com
foices, machados, enxadões e enxadas.
Dentre as pessoas destaca-se a presença de
um rapaz de nome Benevenute Garapa,
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vulgo Negrinho Barbeiro, que transportava
água na cabaça. Fez-se a roçada,
arrancaram-se os tocos e foi marcado o local
da capela e, logo em seguida, fizeram um
poço de água. Neste dia houve pagode à
noite toda. Durante o dia, na hora do
trabalho, foi servida uma suculenta
merenda, constando de arroz doce e café,
fornecidos pelo doador do terreno, senhor
Luís Caetano, que morava à beira do
ribeirão Água Vermelha. Estava fundada a
Vila de Indianópolis.
O contingente de pessoas que aportaram nestas
plagas, após o surgimento da Vila de
Indianópolis, são famílias que vieram tanto
para habitar a zona rural, como também o
vilarejo.
Todos estes prestimosos dados foram extraídos do
livro "MEMÓRIAS DE INDIAPORÃ" de
Adelino Francisco do Nascimento.
Indiaporaense ilustre por quem a família
Arantes tem o maior apreço
1963 Já com sete anos de idade, e no fim do ano,
curti a doce vida ao lado de mamãe ajudando-a no
serviço de carregar trouxas de roupas e puxar água
no poço! Janeiro de 1964 com oito anos de idade,
fui matriculado no Grupo Escolar Otaydes Luiz
Arantes cursando o primeiro ano primário.
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Nesta idade comecei a fumar não sabia que eu
iria arrepender-me amargamente e sofrer para
deixar este vício tão cruel, catando pontas de
cigarros nas estradas quando ia tomar banho nos
córregos com as molecadas. Passei a ser engraxate
na pequena Indiaporã e o dinheiro que ganhava,
gastava em picolés e maços de cigarros que eu
fumava escondido de mamãe, algumas vezes
fumava até debaixo dos cobertores com medo de
ser visto por ela (como era inocente).
Mamãe sempre mudava de casa e eu creio que
moramos nos quatro cantos da cidade de Indiaporã.
Moramos algum tempo em uma casa de tábua com
um terreno enorme sendo que muitos circos eram
armados no local, eu vendia doces para os
moradores do circo e entrava de graça para assistir
os espetáculos. Em uma das mudanças de mamãe,
passamos a morar no sítio do Sr. Teotônio ficava
distante de Indiaporã quatro quilômetros, mesmo
assim eu não faltava às aulas, se faltasse apanhava
muito de mamãe. Como não tinha bolsa para
carregar o material para a escola, mamãe fazia
embornal de pano e cabia certinhos os lápis e
cadernos. A vida neste sítio era uma maravilha,
pois todos os dias eu ajudava o Sr. Teotônio a tirar
leite das vacas, e eu com a caneca com café forte e
açúcar cristal, tomava leite tirado na hora dos
úberes das vacas. Ganhamos um pedacinho de terra
e nós plantávamos milho. Papai ia constantemente
para Minas Gerais e trabalhava na roça e mamãe
com meus irmãos trabalhavam na roça como bóias
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frias. Eu fui um bom aluno e consegui terminar o
primário em 1969 com a nota de 78,33 (setenta e
oito inteiros e trinta e três centésimos) Dos
professores que eu me lembro foram: D. Ágda, D.
Irene e Wanderley. A colação de grau foi no
cinema da cidade, recebi o diploma do primário das
mãos de minha madrinha, O fotógrafo que registrou
a cerimônia perdeu todas as fotos e fiquei sem esta
lembrança.
Final de meus primeiros passos escolares, já com
doze anos de idade dedico-me a ajudar mamãe e
meus irmãos trabalhando na roça em colheita de
algodão e arroz.
Cada época tinha o tempo de certos brinquedos:
Bolinhas de gude, papagaio (pipa) pião, arquinho,
salva pegas. Este brinquedo era de correr e salvar
os moleques que eram capturados, divertíamos
muito nas noites quentes desta cidade.
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Permanência em Votuporanga
Em 1973, eu com dezessete anos de idade,
mamãe com meus irmãos resolvem mudar para
Votuporanga SP, é arrumado um caminhão e foi
colocado os (móveis) juntamente com as galinhas,
chegamos em Votuporanga já bem cedo e só ouvia
o cacarejar das aves em plena cidade grande.
A vida em Votuporanga foi um pouco
melhor do que em Indiaporã, mas continuamos a
trabalhar como bóias frias. Sendo ainda menor de
idade com dezessete anos, morávamos numa casa
de meu irmão João distante do centro da cidade
quatro quilômetros. Nossa casa não tinha luz
elétrica e usávamos lamparina que nós
colocávamos querosene, não tínhamos água
encanada, mas dentro da varanda havia um poço
que fornecia uma excelente água, fogão a gás,
também não tínhamos, eu e mamãe íamos nos
matos e trazíamos lenhas para que pudéssemos
cozinhar os nossos alimentos. À tardinha e a noite
devido o forte calor que fazia, éramos atacados por
nuvens de pernilongos que atacavam cruelmente,
em uma lata de dezoito litros, colocávamos fogo
em fezes de gado e com a fumaça dentro de casa
ficávamos livres alguns instantes destes insetos.
Em nossa casa habitavam: Eu, mamãe,
papai e o Ataydes. Papai sempre viajava para
Minas Gerais para trabalhar em fazendas do grande
sertão. Em casa eu e o Ataydes trabalhava nas roças
para poder manter nossa casa com gêneros
alimentícios, colheitas de café, maracujá,
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arrancando tocos nas fazendas dos ingleses,
colhendo algodão, em lavoura de amoras para
alimentar bichos da seda.
Em épocas sem colheitas, eu e mamãe,
íamos ao lixão da cidade reciclar lixo. Vendíamos
papel, vidro, alumínio, cobre e tudo que desse
alguns trocados. Com o cheiro forte de lixo podre
suportávamos tudo isso para conseguir algum
dinheiro. Freqüentava bailes nas fazendas mesmo
não sabendo dançar tinha minhas diversões, e na
volta para casa passa nos cafezais já tarde da noite
e furtávamos melancias que nas estradas
cortávamos e além de matar a sede servia de
alimento. Também ia à cidade de Votuporanga,
aos domingos de manhã para trocar revistas e gibis
em frente ao cinema, com estes materiais novos
tinha muita coisa para ler durante a semana, a noite
eu ia tomar vitamina nas lanchonetes e assistir
filmes de bang - bangs, e terror, de volta para casa
pelas estradas desertas morria de medo de
fantasmas. Duas vezes por semana, munido de um
gancho num pau, e um farolete da everedy de três
pilhas eu entrava nos córregos para caçar rãs, que
serviam de mistura para levar para a roça no dia
seguinte. Para quem não sabe a carne de rã é
deliciosa. Mamãe também criava galinhas, e
tínhamos ovos e frangos diariamente como mistura.
Pescávamos nos córregos e conseguíamos
boa mistura para variar o nosso cardápio, bagres
traíras, lambaris davam em abundância nos
córregos. Meu irmão Walter quando nos visitava
trazia roupas que eram úteis para os passeios dos
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finais de semana. Com cabelos longos e lisos, e
dentes cariados na boca passava muita vergonha
quando no contato com as pessoas, mas
infelizmente não possuía dinheiro necessário para
cuidar dos dentes.
Completei dezoito anos, e tirei fotos, para o
RG, carteira profissional etc. Consegui um
emprego em uma firma por nome de Sotril, esta
firma trabalhava em canteiros de obras e prestava
serviço para a CESP uma empresa que construía
usina hidrelétrica em Ilha solteira SP. O trabalho
era distante de Votuporanga oitenta quilômetros e
todos os dias em uma caminhão Mercedes, coberto
embarcávamos para as obras, trabalhávamos em
diversas cidades como Guarani do Oeste, Ouro
este, Ilha Solteira e até na adorável Indiaporã. O
salário era muito baixo, mas já era melhor do que
trabalhar de bóia fria.
Fevereiro de 1976 mudança para São
Caetano do Sul
Tendo sonhos de uma vida mais digna e
próspera, senti o chamado da grande cidade de São
Paulo. Já havia feito várias viagens, quando menor
de idade, e eu tinha certeza que já estava gostando
imensamente desta cidade da garoa. Apesar do frio
intenso e garoa, que fazia parte da paisagem
citadina. Comuniquei o desejo para mamãe e ela
com lágrimas nos olhos disse: - Faça o que você
quiser meu filho, sei que Deus vai te abençoar.
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Parti, só com minhas roupas de passeio que
foram ganhas, e em uma malinha de couro fui
morar na casa de meu irmão Walter na rua Henrica
Grigolleto Rizzo no. 202 Bairro Santa Maria em
São Caetano do Sul SP. Minha permanência na
casa do Walter foi por pouco tempo. Em Março de
1976, fui informado pelos irmãos da Bete esposa
do Walter que uma firma por nome de Kentinha,
em São João Clímaco S. Paulo estava com vagas
para ajudante de caminhão. Esta firma ficava
distante 40 minutos da casa do Walter, eu tomava
dois ônibus, um até Vila São José em São Caetano
do Sul e outro para São João Clímaco São Paulo,
quando não podia pagar o ônibus eu ia a pé da Vila
São José à São João Clímaco. Fui admitido em 05
de Março de 1976.
Certo dia, o Walter me chamou e disse:-
Jerônimo, me desculpa mas a Bete não te quer mais
em casa pois sua permanência tira a nossa
privacidade, e achamos melhor você procurar um
local para morar. disse com certa tristeza.- Parti, e
fui morar e fui morar em uma pensão no largo de
São João Clímaco nos fundos do “bar do tio”. A
vida na pensão foi terrível, pois dormia num quarto
com oito rapazes recém chegados do nordeste, o
banheiro estava sempre entupido e vivíamos com o
mal cheiro das fezes que boiavam na bacia, a
comida era de péssima qualidade e chorava em
silêncio de saudades da casa da mamãe e de sua
comida quentinha e seu amor por mim. Agora
distante, aquilo que eu nunca preocupava passei a
dar muita importância.
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Vida na Kentinha
Kentinha ficava na estrada de São João
Clímaco no. 471, era uma produtora de embalagens
para alimentos e copos descartáveis, tinha dois
prédios, um era a fábrica e outro fica a expedição
de onde partiam os caminhões e kombis para a
distribuição dos produtos. Meu trabalho era de
ajudante de caminhão, e trabalhava das 7:30 às
17:30 horas e haviam os seguintes motoristas: José
Lima, Walter, Joel e Pinheiro. Dos ajudantes eu
me lembro muito bem do José Carlos Dias um
jovem baixinho, mas muito comunicativo. O senhor
José Lima era um pernambucano, sempre disposto
e muito conversador, trabalhávamos nas ruas de
São Paulo fazendo as entregas num caminhão baú
Ford rodando pelas marginais Tietê e Pinheiro e
vários bairros como Vila Maria, Parque Novo
Mundo etc. No depósito de expedição desta firma,
trabalhavam mais ou menos 20 pessoas e a maioria
professavam a fé evangélica, criam em um Deus
Vivo criador de todas as coisas, este Deus era
diferente daquele que eu acreditava. Eu ia às missas
aos domingos desde que eu morava no interior,
fazia minhas orações a vários santos e tinha em
meus bolsos várias rezas para santos que eu julgava
que poderiam me ajudar nos momentos mais
angustiantes da vida, era devoto da Senhora
Aparecida, e minha mente era invadida por muitas
superstições, era viciado em cigarros desde a
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meninice, bebia bebidas alcoólicas socialmente e
algumas vezes ficava bêbado.
Minha fé no futuro após a morte era
confusa, não sabia para onde iria minha alma após
meu corpo ser colocado na terra fria, cria num
purgatório, pois desde que eu era criança,
juntamente com a mamãe nós íamos aos cemitérios,
e nas capelinhas deste campo santo queimávamos
vários maços de velas para as almas do purgatório.
Em uma enorme cruz, chamada de cruzeiro,
fazíamos as queimas das velas também. Era
atormentado por arrepios e sempre desmaiava,
dormia com a cabeça coberta por medo de
fantasma. Assim vivendo nesta crendice, conheci
vários crentes que trabalhavam na kentinha, entre
eles estavam: Joel Cirilo Dias, José Carlos Dias,
José Lima, e um chefe de expedição chamado de
João Batista, quase todos pertenciam à igreja
Presbiteriana Renovada de São São João Clímaco,
que fica na mesma rua da firma. A igreja tinha um
salão de adoração nos fundos de um terreno,
outrora era uma centro de macumba, os bancos
eram vermelhos e tinham um compartimento para
os fiéis colocarem suas bíblias e hinários, nas
caixas de som erradiava alguns hinos que o diácono
Hermindo colocava antes do culto. O pastor da
igreja era o senhor Osvaldo Mendes, que era
auxiliado pelos presbíteros: Victor, Joel, José
Antonio, e mais alguns que eu não lembro seus
nomes.
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Meus primeiros contatos com o livro da capa preta
Nesse início de 1976, trabalhava com uma
roupa azul, pesava 70 quilos, não usava óculos
apesar de não saber que eu tinha visão míope.
Como ajudante de caminhão, quando não tínhamos
entrega para fazer, ficávamos no interior do
depósito fazendo arrumações das caixas de
embalagens, durante o serviço conversávamos,
sobre vários assuntos. Em uma destas conversas
com o José Carlos eu disse que fazia rezas para
Santa Catarina para arrumar uma namorada para
casar. – O quê? Jerônimo, - disse o José Carlos com
seu ar de gozação – Jerônimo você precisa aceitar
Jesus como teu Salvador e quando você tiver esse
encontro com ele você vai aprender que não é
preciso usar rezas para falar com Deus, pois você
será um filho de Deus e como filho poderá
conversar de filho para pai sem necessidades de
rezas decoradas. - Jogue fora suas rezas e escutar
mais o que eu quero te ensinar. – assim falou e
continuou a mostrar dentro da bíblia vários
assuntos que antes eu desconhecia. Às vezes saia
para fazer entregas na grande São Paulo, com o
caminhão cheio de mercadorias. Em minhas mãos
estavam as notas fiscais e um guia de ruas, na
direção do grande caminhão estava o Joel, sempre
entoando alguns hinos ao seu Jesus, tinha uma
linguagem diferente das que eu era acostumado a
ouvir no meu dia-a-dia. No painel do caminhão,
havia a causa de sua vida ser tão bela e feliz, “uma
21
Bíblia” livro gasto pelo manuseio diário, rabiscado
em suas páginas, um evidente sinal que este livro
era importante para seu leitor assíduo, este livro
tinha os preceitos que ditavam normas à sua
conduta de vida, e enchia de alegria sua vida com
as promessas Divinas, cada momento de folga eu
via o Joel ler, e fechava os seus olhos em atitude de
adoração, nos restaurantes quando parávamos para
o almoço, antes de nós almoçarmos, ele inclinava
sua fronte e dava graças ao Pai pelo alimento. –
Jerônimo – disse ele – Você precisa aceitar Jesus
como teu Salvador, para onde vai sua alma depois
que você morrer? Você tem certeza de tua
salvação? com esta vida que você leva, para onde
vai sua alma depois que você morrer? Pegue esta
Bíblia e veja o que diz Marcos 8: 36. Eu com muita
vergonha pegava o livro e me atrapalhava
desfolhando, mas ele com paciência achava o texto
e eu lia: - Que aproveita ao homem ganhar o
mundo inteiro e perder sua alma? – palavras de
Jesus. Com estas palavras poderosas eu estava
sendo orientado na nova fé, mas foi muito difícil
largar os vícios, pois mesmo dentro do caminhão,
eu enchia a cabina de fumaça de cigarros, mas
algumas vezes eu tentava por conta própria deixar
os vícios, chegava em casa e ia destruindo algumas
rezas e aquilo que eu considerava que desagradava
a Deus. Este livro semelhante a força e o corte de
uma navalha feriu meu coração e uma operação no
meu modo de pensar teve início. Senti como um
soldado que é rendido por soldados inimigos e
levado à prisão, feito o julgamento é condenado a
22
execução à cadeira elétrica. A bíblia teve este
impacto em minha vida.
Foi me indicado pelo Joel à pessoa
de Jesus Cristo como um advogado que podia me
libertar dos vícios e dar-me a certeza de um perdão
da pena de morte, e a luz começou a brilhar nas
trevas de minha pobre vida maculada pelos pecados
e uma vida distante de Deus, sentia com muita sede
de ler as verdades contidas neste livro de capa
preta.
Secretamente no recôndito de minha
pensão onde residia, jogava fora, isqueiros, cigarros
e ficava até três dias sem fumar, mas voltava
novamente, cada tragada eu sentia no meu íntimo
duas batalhas, uma vontade de me libertar com as
próprias forças e o desejo de conhecer mais este
Jesus e seu livro de capa preta.
Em uma Quinta-feira, rendi ao poder
soberano de Jesus, fui pela primeira vez à igreja
Presbiteriana Renovada em São João Clímaco, um
local diferente, uma paz inundava o meu coração,
tinha vontade de chorar tamanha era a emoção que
atingia o fundo de minha alma, pelas caixinhas que
estavam fixadas nas paredes da igreja ecoava uma
melodia evangélica, a música era linda e era
cantada pelo cantor evangélico Feliciano Amaral.
A música falava de um banquete em babilônia, e
dizia assim:- Numa orgia nefanda o rebelde
Baltazar com os súditos do seu reino todos eles a
alegrar, com espanto parou quando viu uma mão
que na parede escrevia.
23
Ouvi a pregação da mensagem
bíblica, e saí da igreja transformado e professando
ser um crente. Destruí tudo aquilo que eu sabia que
não agradava a Deus, encomendei uma bíblia ao
pastor Osvaldo Mendes e passei a lê-la. Transcorria
o ano de 1976.
Continuo a trabalhar na Kentinha, mas agora como
crente, e a cada entrega que eu fazia nas
transportadoras, hospitais, churrascarias e onde
quer que fosse ali deixava folhetos evangelísticos.
Às quintas feiras as entregas eram feitas na baixada
santista. Em Novembro de 1976, tornei-me
membro da Igreja Presbiteriana Renovada,
admitido através do batismo em uma represa. Com
uma toga branca, num lugar com muitas árvores,
com uma camisa vermelha por baixo, uma calça
super apertada de boca de sino, devido Ter
engordado alguns quilinhos, nesta época eu estava
com 75 quilos. Peguei a fila com outros membros
de toga branca e caminhei para a represa onde era
aguardado pelo pastor Osvaldo Mendes e o
presbítero Eduardo. Ao som dos hinos entoados
pelo povo de Deus, apoiado pelo pastor, fui
empurrado para traz na represa, enquanto ouvia a
voz que dizia:- Eu te batizo em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo amem. As águas me
encobriram simbolizando morte para este mundo,
levantei das águas e as águas escorrendo pelo meu
rosto simbolizando ressurreição com Cristo. Talvez
meu corpo estará consumido pelas larvas, mas meu
espírito estarás ao lado de meu salvador Jesus
Cristo e juntamente com aqueles que já partiram
24
para a eternidade. Todos que estiverem lendo estas
humildes notas aceitem esta mesma fé que eu
aceitei um dia.
Como membro da igreja, dedico aos trabalhos da
igreja, juntamente com a leitura intensa da bíblia,
aos sábados a tarde eram realizados trabalhos em
um hospital no bairro do Brás, passei a pregar as
mesmas mensagens que um dia havia me
conduzido a Cristo.
Em Fevereiro de 1977 fiz uma ficha na
Mercedes Benz do Brasil para trabalhar de ajudante
de produção, fui chamado, mas estava trabalhando
ainda na Kentinha, e a Mercedes precisava urgente
de fazer a admissão, mas a Kentinha não queria me
dispensar, pedi a conta mas fui obrigado a cumprir
30 dias de aviso prévio. Fiquei desesperado e com
medo de perder o emprego da Mercedes. Falei com
o Joel e relatei meus medos e ele olhando bem
firme nos meus olhos disse:- Jerônimo, se você não
crê no teu Deus e não tem fé que este emprego é
seu pegue sua bíblia jogue fora em não vem mais
para a igreja. Chegue em sua casa e leia o capítulo
11 de Hebreus! Foi uma bronca e tanto mas serviu
para eu testar o meu Deus! Passei 30 dias de aviso
prévio, e no dia 20 de Março de 1977 fui admitido
na Mercedes Benz do Brasil S/A como ajudante de
produção. Cumpriu-se os planos de Deus nesta
nova jornada de fé.! No ano de 1978 freqüentando
a igreja conheci uma jovem por nome de Eunice,
filha do me antigo motorista era kentinha, ela
pernambucana, de baixa estatura, usando óculos de
grau, saia com botões no meio, começamos a
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conversar após o culto e iniciamos um namoro. Ela
trabalhava no laboratório Zambom próximo a via
Anchieta. Eu buscava no seu serviço e
namorávamos em sua casa e aproveitava também
para “serrar a bóia” de Dona Dulce assim quase
sempre escapava da péssima comida da pensão.
Neste mesmo ano de 1978 ficamos noivos e em 23
Setembro casamos. A cerimônia foi realizada pelo
pastor Osvaldo, ainda hoje tenho algumas fotos e
uma fita k7 do casamento. Fomos morar na rua
Imoroti no Sacomã no ano seguinte mudamos para
rua Alencar Araripe nos fundos da casa do Senhor
Claudionor. A Eunice sofre o primeiro aborto, mas
em 1979 fica grávida do Oséias e em 1980 nasce
nosso primeiro filho, em 1981 nasce a Osiane, nós
mudamos para rua Caripurá nos fundos de uma
casa que pertencia ao Senhor Sérgio. Na igreja
continuo a trabalhar e já era eleito presbítero. Fui
demitido da Mercedes em 24 de Janeiro de 1983,
mas consegui em emprego como vigilante do banco
Itaú. A direção da igreja me colocou para dirigir
uma pequena congregação no Jardim Maria Estela,
estas atividades trouxe muitos benefícios para
minha vida espiritual pois tive meus conhecimentos
enriquecidos com diversas experiências, mas
comecei a Ter sérios problemas com os ciúmes da
Eunice e trouxe muitas dificuldades para continuar
a trabalhar na igreja. Mudamos para Estrada de São
João Clímaco numero 414 e em seguida para rua
Otaviano L.R da Silva Neste ano no dia 30 de Julho
de 1985 nasce nosso adorável filho: Osiel. Neste
mesmo ano fiz minha cirurgia de vasectomia para
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evitar mais filhos. O Osiel nasceu com um tumor
chamado de angioma gigante em seu joelho
esquerdo, foi preciso uma delicada cirurgia na
Clínica Infantil do Ipiranga. Após a cirurgia vieram
as complicações trazendo fortes anemias que
debilitaram o seu frágil corpinho. Ainda me lembro
que todos os dias de manhã, eu enrolava ele em um
chale verde e levava à casa da prima da Eunice
chamada de Irani, sendo ela enfermeira aplicava
fortes doses de injeções em suas nádegas tão
macérrimas, eu gostaria de receber aquelas
injeções, tamanha era o dó que eu sentia deste meu
filho. Os médicos nos alertaram que o período mais
crítico de sua vida seria aos doze anos de idade.
Em 1986 fiz mais uma vez uma ficha na
Mercedes para trabalhar como segurança. Mais
uma vez Deus me abençoou e eu pela Segunda vez
voltei a trabalhar nesta tão boa empresa. Em
Setembro de 1995 fui demitido e passei a trabalhar
em entrega de compras como clandestino na porta
do Rhodia em São Bernardo do Campo fiquei
quatro anos, mesmo assim mantendo meu lar,
porém tive algumas dificuldades antes de
pagamentos porque tinha muitos gastos com a
variante.
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Início dos contos e crônicas
Os pássaros que sobrevoam nossas selvas edênicas
Há milhares de espécies de pássaros que são
catalogados pelos nossos ornitólogos, todos são
belos em sua natureza! Quero destacar apenas dois
para dar início a essa crônica. Objetivo? Bem
algumas linhas abaixo deixarei o leitor ciente do
que se trata.
Os falconiformes ou comumente conhecidas como
o nome vulgar de “Abutres” Os mesmos têm
hábitos necrófagos, tem sido os lixeiros do mundo
pois fazem limpeza retirando dos campos animais
mortos, e seus cheiros terríveis. Segundo a ciência,
esses pássaros em cativeiros chegam a viver até 30
anos.
Outros pássaros bem diferente são os colibris, os
nossos beija-flores, com nomes até então
desconhecidos como: cuitelo, chupa-flor, pica-
flor,chupa-mel, binga, guanambi. Existem mais de
300 espécies. Com seus bicos alongados sua
alimentação é a base de néctar.
“Pois é” como dizem nossos amigos do interior de
São Paulo, Os abutres sobrevoam nossas matas
com belas flores, cheiros exuberantes, uma vista
maravilhosa, águas cristalinas, não percebem as
belezas, pois está focado em encontrar apenas sua
refeição “animais mortos” “carniça” Seu foco é
apenas isso, não quer beleza, pois a beleza não
importa, o que para nós é agradável para eles,
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desagradável.
Beija-flores são diferentes! Sobrevoam as matas e
não se importa com as feiuras pois está focado nas
flores para retirar os néctares.
Mesmo usufruindo do seu alimento, nos deixam
sua beleza, com seus voos lindos.
Deveríamos ser com os beija-flores, não focar
nossa atenção na feiura e sim no que é belo, após
sermos nutridos deixar nossa beleza, nossa
gratidão, isso é muito importante
Sei que abutres cumprem seus papeis na natureza,
mas essa comparação serve apenas de exemplo.
Tenho visto meu blog, muitos internautas acessam
para suas pesquisas e conhecimentos, poucos
deixam uma mensagem de gratidão ou mesmo
apenas seu nome.
Para quem agradece, pode parecer simples, mas
para mim é de grande valor. Sejamos todos como
beija-flores deixando nossa beleza onde “voarmos”
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Coração de sertanejo
O forte cheiro de capim gordura, o fru-fru das
revoadas vespertinas dos pássaros em busca de um
lugar para repouso, o último brilho do sol, invade
este ambiente bucólico com as tribos rubras da
tarde. Bem distante visível apenas uma silhueta,
está um caboclo dando as suas últimas enxadadas
limpando as ervas dadinhas da plantação de arroz,
ergue as mãos e retira o chapéu, dando um gostosa
coçada na cabeça, olha para os raios do Sol que já
se foram. Apanha no bolso roto de sua camisa um
restinho de cigarro de palha, tira do bolso sua
“binga” e acende o cigarro de palha tirando uma
baforada, espantando os mosquitos borrachudos
que teimavam rodear sua vasta cabeleira.
Nesta serra conhecida como “Serra do rola moça”
vive este sertanejo, dedicando todos os dias no
trabalho da terra para retirar seu sustento. Vivem
com ele seus pais. Sua mãe todos os dias prepara
sua marmitinha de alimentos. Seu pai devido a
idade permanece em casa.
Ao vê-lo chegar próximo de casa com sua enxada
nos ombros sua mamãe corre ao encontro dando-
lhe um maravilhoso beijo em suas faces poentas e
disse:
-José, tudo bem? Como foi seu dia? Não teve
nenhum problema com cobras? – Era assim com
essas perguntas e outras que dona Maria Terra
conversava com seu filho querido. O pai um pouco
mais macambúzio, devido suas doenças apenas
dizia um “Deus te abençoes filho”. Eram felizes
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apesar da distância e dos barulhos das cidades
grandes. Uns dois quilômetros dali vivia num sítio
vizinho, sua namoradinha que era o motivo de sua
vida, a Tereza. Moça linda com sua tez bronzeada
devido os raios do Sol, cabelos negros comprido
escorriam pelos ombros.
José amava profundamente Tereza e sempre tinha
seus sonhos em ter uma boa colheita e tirar sua
amada deste antro de abandono.
Cada vez que seu rádio de ondas curtas anunciava
a “voz do Brasil” às dezenove horas, com a famosa
música do guarani, José colado os ouvidos no rádio
ouvia embevecido as notícias de Brasília e as
principais cidades como Rio e de São Paulo. José
tinha um sonho: - Ainda vou morar no Sul, ganhar
muito dinheiro e voltar para casar com Tereza.
Partia o coração de sua velha mamãe, filho único
ele era o arrimo da casa. Porém como diziam os
antigos: - Criamos filhos e eles criam asas e
desaparecem de nossos olhos. Nos programas
sertanejos da rádio nacional José ouvia muitas
músicas sobre pessoas que foram para o sul em
busca de uma vida melhor.
Numa fazendinha poucos quilômetros dali, havia
muitos bailinhos com sanfoneiros da região, muitas
vezes bois eram abatidos, e churrasquinhos eram
servidos aos vizinhos. José e sua amada iam
sempre e dançavam felizes da vida, beijos eram
trocados, promessas eram feitas, juras de amor não
faltavam para estes jovens.
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-- Tereza, você me ama? Dizia apaixonadamente
com seu rosto colado ao da Tereza, seu calor a
incendiava, com seu rosto colado ao dele dizia:
-Claro José! Meu sonho e é ser sua esposa e juntos
cuidarmos de seus pais, e manter nossa rocinha,
criar galinhas, porcos, vacas, te farei muito feliz.
José vivia nesse conflito, entre o amor e a busca de
seu sonho no sul.
Aproxima o final de ano e José toma uma decisão:
Vou viajar para o Sul em busca de uma vida melhor
e voltar para buscar Tereza. Avisa sua namorada,
que partiria no próximo Domingo, e umas nuvens
escuras pairam sobre seus velhos pais que choram
amargamente já prevendo perder seu filho para a
cidade grande.
No Domingo, numa tarde ensolarada, ao seu lado
estão suas poucas roupas dentro de uma mala de
couro. Tereza estava ao seu lado chorosa, com suas
faces coradas. Ele feliz, impassível, mas feliz
porque ia em busca de seu sonho. Num beijo
apaixonado despede de seu amor e embarca no
ônibus que o levaria ao sul de onde ele dizia que
voltaria logo para casar com seu amor. Nos céus
um bando de patos passam em grande alvoroço, um
bem te vi solta um canto, um casal de João de
Barros traz seus cantos. José dentro do ônibus dava
um adeus a sua amada.
Num forte barulho de motor traz a realidade o José,
estava deixando a Tereza, que sonhava que seria
sua. O ônibus sai, e em cada parada, um forte
suspiro saia da boca de José, a saudade já
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começava a apertar. Como machuca a saudade, se
estamos juntos com a pessoa amada, às vezes
poucas coisas é motivo para brigas, mas se estamos
nos separando, queremos com urgência voltar ao
lado da pessoa querida. O homem não foi feito para
ficar só, precisa de alguém para sentir seguro,
parece uma criancinha que sente falta de sua
mamãe querida, de sua caminha, das cantigas de
ninar. Mesmo já adulto encontramos no amor a
figura da mulher que traz um conforto além de seus
beijos e afagos.
Em uma curvinha, lança o olhar perdido em direção
à sua cidadezinha que fica para traz, sua amada
também passou a ser apenas uma vago pensamento.
Após três dias de longa viagem, sente um cheiro
estranho, do rio mais poluído da cidade de São
Paulo, sente uma friozinho da grande cidade,
edifícios tomam sua visão, já estava chegando no
“Sul” como sempre dizia!
Desce no terminal Tietê, meio tonto ainda da
viagem, tudo era estranho, cheiro, edifícios que
suntuosamente estava em seu caminho, agitação
dos ambulantes a anunciar seus produtos, cheiro
forte de carne assada dos churrasquinhos, forte
cheiro de urina dos mendigos que infestam as
pracinhas. José não se preocupa com isso e com seu
olhar devora a cidade sem perder nenhum detalhe.
Procura algum amigo para dar algumas
informações. Que amigo? Todos eram estranhos!
Bem diferente de seu velho sertão onde todos eram
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queridos e tratados com dignidade, todos tinhas
seus nomes, todos eram conhecidos.
Um terror toma conta dele, não conhece ninguém,
não tem amigos, é mais um que foi lançado nos
antros desta velha metrópole, mais um que se não
lutar irá moram debaixo dos viadutos, mais um que
irá infectar as praças com cheiro forte de urina e
fezes. José para e pensa:
- Aqui tem um filho do sertão! Sou bravo sou
forte, sou filho do norte!
Avista um “ser humano” de cócoras na calçada e
em seu jeito simples pede um favor:
- Moço me ajuda, preciso de um emprego. O moço
olha com um olhar de desprezo e aponta para uma
placas de uma construtora que pedia servente de
pedreiro. Pela primeira vez na vida, sente ser um
ninguém, uma escória da sociedade. Pessoas da
cidade não conhecem nem um pé de arroz, não dão
valor ao homem do sertão que com suas mãos
calejadas, puxando o cabo do guatambu limpam os
arrozais, colhem e mandam para as grandes cidades
para matar a fome das pessoas. Frutas que
encontramos por aqui com fartura, no Ceasa,
muitas são desperdiçadas jogadas fora, na roça elas
são tratadas com carinhos. Pessoas da cidade dão
pouco valor às frutas e todos os alimentos.
Ao pedir um emprego encontra seus primeiros
problemas, precisa tirar a “carteira de trabalho” e
tirar a chapa dos pulmões. Com sua barriga a
roncar parte em busca dos documentos. Seu local
de dormir era junto com várias pessoas como ele.
Cada um precisava lutar por si só. Esta força de
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vontade José tinha! Ah se tinha! Era bravo era forte
era filho do norte este grande sertanejo.
A vida no canteiro de obra não era fácil! Aliás,
onde que a vida é fácil? Conseguiu emprego de
servente de pedreiro, uma salário bem irrisório,
mas já era um começo. Dormia em colchonetes
junto com mais pessoas como ele, ao lado do
canteiro podia-se ouvir da vida da cidade e uma
cantiga de crianças vinha ao seus ouvidos. : “
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar..” havia
várias famílias que moravam perto da obra e as
crianças ao lado do tapume cantavam suas
músicas.” Sete, sete são quatorze três vezes sete
vinte e um..”
Trabalha todos os dias inclusive feriados, não tem
tempo para passear, chega ao dormitório tarde e
sem forças para sair e passear. Descobre um curso
por correspondência conhecido por “Madureza”
Escreve, faz sua matrícula e começa o curso
ginasial, sempre desejoso de prosseguir os estudos
e ganhar uma nova profissão! “Escravos de Jó
jogavam, cachangá, tira põe...” As cantigas vinham
até a noitinha. Crianças que em brinquedo de roda
passavam estes momentos infantis felizes.
Ao término do curso de madureza, é orientado
pelos seus chefes que havia universidade que
davam a tal da bolsa de estudos. Estuda com afinco
e se prepara para o vestibular, desejava cursar
engenharia. Manda suas cartinhas para a Tereza
dando as boas novas. As respostas de sua amada
começam a ser escassas.
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A vida começa a melhorar, consegue o tão
sonhado curso de engenharia, forma-se e abandona
seu emprego e consegue alguns trabalhadores e se
torna empreiteiro construindo casas e fazendo
reformas.
É feliz, ganha muito dinheiro, mas um vazio ainda
permanece em si, sente saudades da pessoa amada
da sua Tereza. Manda várias cartas e sem resposta.
Resolve viajar de volta ao seu lar no sertão.
Prepara de surpresa sua viagem. Antes de chegar à
rodoviária, passa perto de um grupo de crianças, e
tinha certeza que elas cantavam uma música que
falava de uma tal de Terezinha. Não entendeu
muito bem a melodia e a letra.
Ao findar sua longa viagem, chegando próximo da
casa de sua amada, avista de longe e tem uma triste
surpresa:
“Tereza é de Jesus”
Somente agora recorda as cantigas das crianças
quando chegava próximo da rodoviária. “Terezinha
de Jesus, deu uma queda foi ao chão, acudiram três
cavaleiros, todos os três chapéus nas mãos..” A
cantiga trouxe uma triste verdade ao coração do
José o Sertanejo.
Agradecimentos:
Agradeço ao Professor Ananias de Albuquerque,
pelo seu poema: "O Sertanejo", através dele pude
fazer este conto com algumas adaptações, sem,
contudo deixar de seguir sua originalidade.
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Os heróis dos campos
A cidade de Indiaporã , bem pequenina, fundada na
região centro oeste do grande Estado de São Paulo,
fica distante de São Paulo 650 quilômetros. Em
Maio, a pequenina cidade era agitada por grandes
movimentos de bóias frias.
Os bóias frias eram pessoas acostumadas à árdua
vida, de acordar de madrugada quando os galos
saudavam o novo dia, os fogões a lenha são acesos
pelas heroinas dos lares, isto era após de muito
choro por causa da fumaça que toldavam as
pequeninas casinhas de barro. O forte cheiro de
gordura de suínos a aquecer os dentes de alhos,
atraiam os gatos e cachorros, que se assentavam
próximo ao fogão a olhar suas donas. Ao término
do “almoço” que era feito nas madrugadas, o
alimento era colocado nos caldeirões que
juntamente com os talheres são embalados nos
embornais de pano. Pronto está pronto o
“moleque”, apelido que os bóias frias davam ao
almoço que serão levado às roças.! O tempo neste
mês de Maio é frio e as mãos enrijecem, o orvalho
tinge de branco as ervas e as plantas dos quintais
das casas, a tina com água, acumula-se pequenos
flocos de gelo na superfície das águas, as flores
exalam seu adocicado olor enchendo-o o ar desta
fragrância. Mamãe, com meus irmãos, Arcênio,
Ataydes e eu já com nossos chapéus mexicanos de
abas largas, caminham para a praça da matriz à
aguardar o “pau de arara” nome que é dado ao
37
caminhão, com uma tora de madeira de um
extremo ao outro na carroceria que serve de
sustento aos boias frias. Mamãe com meus irmão se
ajuntam à outras pessoas e picando fumo de corda
que é enrolado em palha de milho, enchem o lugar
com o forte cheiro, ficam a conversar enquanto
aguardam a chegada do motorista José Pinheiro.
Enfim chega o motorista com o seu caminhão
soltando um grande tufo de fumaça de óleo diesel
queimado. Todos sobem pelos pneus e se
acomodam na carroceira e ficam segurando os
grande chapéus, algumas mulheres, queridinhas do
motorista, vão na boleia do caminhão, e assim
começa a viagem até a lavoura de algodão, cujo
local era do outro lado do rio grande. O rio grande,
como o próprio nome diz é grande mesmo e divido
os dois Estados, Minas e São Paulo. A fazenda da
qual íamos trabalhar ficava próximo a esse rio. Na
viagem, o olor de capim gordura, misturado a
poeira empreguinam as roupas, cortante vento faz
tremer os bóias frias, e a única alternativa é se
proteger abaixando a cabeça até o fim da viagem.
Muitos acidentes aconteciam nesta época, devido a
imprudência dos motorista, pois em alta
velocidade, nestas estradas esburacadas, muitos
caminhões tombavam nas curvas, ceifando muitas
vidas destes humildes trabalhadores. Há uma curva
na estrada que recebeu um cômico nome de “curva
da morte” porque lá muitos bóias frias perderam a
vida. Até nos dias de hoje as pessoas passam neste
fatídico local e tiram os seus chapéus e fazem o
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sinal da cruz em reverencia às pessoas que
perderam a vida.
As seis horas da manhã, o nosso caminhão chega
no grande rio, e aguarda a chegada da balsa que
fará a travessia para a outra margem, no Estado de
Minhas Gerais, o caminhão sobe na plataforma da
balsa e nós os bóias frias ficamos dentro da balsa
contemplar as águas a correr, pois o tempo de
travessia era de vinte minutos. O tempo ainda está
frio e os fortes ventos obrigam alguns dos bóias
frias a buscarem refugio na frente do caminhão ao
calor do motor já desligado. Pela correnteza do rio,
observa-se madeiras, folhas e alguns peixinhos
como lambaris nas águas turvas a correr. Faltando
uns duzentos metros para a balsa chegar nas
margens do grande rio, por imprudência o
motorista José Pinheiro entra no caminhão e dá
partida, esquecendo que o caminhão estava
engrenado, acontece o imprevisto, o veículo dá um
arrancada para frente e retorna, e com o impacto
projeta para as águas gélidas quatro bóias frias.
desespero total das histéricas mães, que pulam na
embarcação aos gritos de “salvem meu filho por
amor de Deus”, eles com suas pesadas botinas,
embornais pendurados, grossas roupas de frio são
levados pelas fortes correntezas, junto com eles vão
também pãezinhos levados com a correnteza.
Alguns barqueiros num gesto de civilidade
consegue trazer para a balsa alguns náufragos
enquanto outros num forte instinto de se salvarem,
nadam e retornam à balsa.
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O dia inicia-se com este fato marcante na vida dos
bóias frias, e o motorista quase apanha das
mulheres revoltosas. Chegamos à lavoura de
algodão e tudo volta a rotina, apesar das
murmurações gerais. Mamãe e meus irmãos
penduram os embornais nas frondosas árvores e
começamos a colher algodão, as nove horas da
manhã o sol começa a lançar seus fortes raios na
terra bronzeando os boias frias. Os mosquitos
borrachudos atacam sem parar, calor torna-se forte
e às quatro horas da tarde vários moleques e entre
eles eu também vamos a pé até o rio para aguardar
a chegada do caminhão. Aproveitamos estas horas
de lazer para se refrescar no rio. Agora sim um
nado voluntário e não forçado.
Mais uma vez em casa com mamãe e meus irmãos
a alegria invade nosso humilde lar. O banho era
tomada em uma bacia de alumínio, com sabão de
soda, à noitinha as lamparinas à querosene eram
acesas e íamos ao quintal contar alguns “causos.”
Os bóias frias são realmente uns heróis dos
campos, pois mesmo enfrentando esta árdua vida,
nas colheitas de algodão são felizes e ainda sobra
tempo a noitinha para irem à praça da matriz para
conversarem e gargalhar dos seus problemas e
desgraças dos outros. Sim são felizes porque estão
ajudando a construir este próspero país.
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Bruxos na selva amazônica
Hortolândia, uma maravilhosa cidade da região
metropolitana de Campinas, clima seco, ar puro e
isento das muitas poluições que afetam cidades
grandes, Amanda II um bairro tranquilo que abriga
quase cinquenta mil habitantes. Três amigos de
escola que tinham muitas coisas em comum:
Alberto, um jovem ávido pelo conhecimento,
cursava o 1º ano do ensino médio, seus óculos
(estilo intelectual) destacava dos demais alunos,
passava maior parte do tempo na biblioteca
pesquisando livros sobre lugares exóticos.
Bernardo, cursava o 3º ano do ensino médio, era
assinante de uma das melhores revistas de
circulação periódica a revista “reader digest” na
escola vivia sonhado com passeio pelas regiões
pitorescas do Brasil, afinal ele dizia sempre:
— Nós brasileiros devemos conhecer primeiro
nosso país que é rico em lugares bonitos, prá que se
preocupar em conhecer outros lugares se aqui
temos tudo de bom e bonito? Na sala de aula
adorava as aulas de geografia e se deleitava com as
informações passadas pela professora Mary!
Nos intervalos, seu amigo preferido era o Alberto, e
sempre trocava palavras amigas e discutiam seus
sonhos em conhecer outros lugares.
Carla colega de classe do Bernardo possuía o dom
de fazer novas amizades, dizia que quando
terminasse o ensino médio, faria uma faculdade
voltada para a área de astronomia, queria ser
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cientista! A noite sempre olhava para o céu
estrelado de Hortolândia, admirava a constelação
do cruzeiro do sul!
Tarde de uma sexta-feira, Bernardo abre sua
caixinha de coleta dos correios, em meio a várias
contas para pagar, encontrou uma, vinda de sua
revista preferida, dentro, um aviso do diretor da
revista informando que ele havia sido sorteado com
três passagens de ida e volta, para uma viagem para
Manaus!
Alegria tomou conta do seu ser, e espalhou as boas
novas entre seus amigos, a euforia tomou conta
deles, na cantina da escola combinaram que
distribuiriam as passagens somente para seus
amigos íntimos. Como se aproximavam as férias de
dezembro, os jovens se prepararam para a viagem,
fizeram suas malas e incluíram nelas: repelentes
para mosquitos, varas e apetrechos para pesca,
espingarda para caça, lanternas, roupas camufladas,
carnes em conserva, bonés e muitas coisas que
poderiam ser úteis, como a viagem de ida e volta
poderia ser longa, encheram suas malas com vários
livros e entre eles um almanaque do pensamento
que registrava alguns fenômenos e algumas coisas
úteis.
Dia tão esperado chegou! No aeroporto de
Viracopos os três despediram de suas famílias no
saguão do aeroporto, e o avião tomou as alturas
com os jovens aventureiros. Suas mãos suavam, e
tentavam se tranqüilizar falando de coisas banais.
Carla puxou conversa com o Alberto:
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— Sabe Alberto, eu li no almanaque que está
previsto um eclipse total do sol, e você não imagina
que só será visto na região norte!
—Duvido! — disse o incrédulo Alberto!
—Último eclipse que se tem notícias foi a vinte
anos atrás e eu era apenas um menino.- disse o
jovem aproximando suas mão da mão da moça,e
sentindo seu perfume adocicado da boticário, seu
coração batia forte sempre que se aproximava de
Carla.
— Pois é, teremos um privilégio, que ninguém de
Hortolândia terá! — Ver este fenômeno de um
único lugar! — Minhas amigas ficarão com muita
inveja.
Suas mãos se tocaram mais uma vez e aproveitaram
para trocar um “selinho” deixando Bernardo de
olhos arregalados.- Bernardo também tinha uma
forte atração por Carla!
Numa manhã ensolarada de sábado, o avião taxia
na pista do aeroporto de Manaus e os três amigos
descem e se dirigem para um hotel da cidade. Antes
de chegar ao hotel foram pegos de surpresas por
uma forte chuva, porque o tempo da Amazonas é
muito instável!
Chegam em um pequeno hotel da grande capital
Manaus, pedem dois quartos um para a Carla e
outro para os dois amigos. Tomam um delicioso
banho e se reúnem na sala de descanso do hotel,
enquanto uma forte chuva cai. Conversam até tarde
quando todos bocejando vão para seus quartos
descansarem.
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Quase duas da manhã, enquanto Alberto já dormia
um pesado sono, Bernardo sai devagarzinho e se
dirige ao quarto de Carla, a porta não estava
trancada, sobre o fino lençol Carla deixava aparecer
suas belas pernas, sua pequena calcinha estava a
mostra, Bernardo chegou, e deu um pequeno beijo
nas rosadas faces dela, se remexeu e fingiu dormir,
as mãos de Bernardo tocaram suavemente em suas
pernas, e logo se abraçaram arduamente. Ambos
sedentos de paixão se entregaram um ao outro até
as cinco da manhã quando ele voltou para seu
quarto. Alberto ainda dormia exausto em sua cama
de solteiro.
Amanhece o dia e os três saem do hotel e vão
conhecer a grande Manaus, um anúncio publicava
um telefone de um guia para viagens à selva,
prometia ser um exímio conhecedor do lugar.
Ligam para ele e atende o Zé do Brejo como era
chamado:
- Alô – disse Carla ao telefone.- Precisamos de seu
serviço para um passeio em plena selva, queremos
conhecer tudo que for belo e exótico que exista
nesse lugar. Concordaram o preço e marcaram para
o dia seguinte, o embarque no seu belo barco. Iriam
por água porque por terra era bem difícil o
transporte.
Malas, mochilas e apetrechos de turistas estavam
prontos e embarcaram no barco do Zé do Brejo. O
barco era de tamanho mediano com dois
compartimentos em um dos lugares havia redes
para os turistas descansarem enquanto o barco
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singrava as belas águas do rio Amazônia, águas
profundas, turvas.
Em uma pequena curva do rio, os três amigos
acham que é o melhor local para permanecerem
algum tempo e armarem suas barracas. O barco
para enquanto os três descem e começam seu
passeio, árvores são fotografadas, pássaros de
diferentes espécies, dão um verdadeiro show com
seus cantos, doce cheiro de flores, é como um
alucinógeno às narinas dos jovens hortolandenses.
Armam as barracas e curtem os bons momentos
enquanto o barqueiro fica na beira do rio à esperar
o chamado para prosseguir e guia-los à selva mais
densa. Carla e Bernardo não puderam nem se tocar,
um pouco de medo os dominava nesse ambiente
exótico e hostil as visitas indesejáveis, rugido de
feras ecoavam na noite, cantos de pássaros
noctívagos davam um ar tétrico. Barulhos de
chocalho indicavam que havia algumas cobras
venenosas nesse lugar. Atiçaram a fogueira e
conseguiram passar suas primeiras noites.
Amanhece, e ao som dos pássaros matinais,
chamam o guia e se embrenham pela selva adentro,
o guia vai à frente com seu facão cortando os
obstáculos que dificultam a passagem. Um grito de
dor:- Ai... Sangue mancha a camisa do Zé do Brejo,
sobre seu pescoço um forte jato de sangue corre
violentamente enquanto ele cai.
Os três desesperados não sabem o que aconteceu e
correm desnorteados pela mata adentro, Carla
tropeça em um cipó e cai. Sobre ela um ser
estranho agarra suas costas e sua boca é fechada
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por uma mão toda manchada de barro, Carla vê que
Bernardo e Alberto estão vindo próximo dela, as
mão dos jovens estão amarradas e atrás deles um
grupo de índios da raça dos Amambiquaras.
Os Amambiquaras é uma raça de índios quase
extinta na região norte do Brasil, os pesquisadores
dizem que deveriam haver poucos índios dessa
raça. Eram antropófagos, andavam praticamente
nus, usavam um pequeno enduape que cobriam as
regiões glúteas, suas extensas cabeleiras eram
presas por penas de aves principalmente de faisão,
era um povo ignoto para os pesquisadores, mas
exerciam extrema violência para com os intrusos.
Nossos amigos foram levados até a taba na
presença do cacique, seus gritos de guerra e seus
falares eram totalmente incompreendidos por Carla,
Bernardo e Alberto.
O cacique era um velho de feição austera, tinha um
pouco de conhecimento das línguas dos brancos e
disse numa mistura de sua língua e a nossa: - O que
os brancos querem aqui?- Carla foi a primeira a
falar tremendo de medo:
- Não queremos nada, apenas ir embora.
Sem ser atendida, todos foram amarrados com cipó
embira em um tronco de árvore que estava defronte
da taba. Começaram as danças, em sua volta via
passar alguns índios a dançar ao som de uns
batuques de tambores. Havia algumas meninas
índias, com seus seios à mostra, pequenas tangas
cobriam seus sexos, os índios quase nus gritavam
uma cantiga estranha, causando terror aos olhos dos
hortolandenses.
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Mais ou menos duas horas durou a dança, quando
apareceram algumas índias, tiraram totalmente as
roupas de Carla, Bernardo e do Alberto, usaram
urucum, pintaram seus corpos, com uma ferramenta
rústica, cortaram os seus cabelos.
Alguns índios trouxeram folhas de coqueiros e
alguns gravetos e cercaram os jovens! Terror estava
estampado aos seus olhos, sabiam que seriam
devorados vivos após serem totalmente queimados.
Nessa hora, Carla lembrou das aulas de literatura
que tivera com seu professor Ferreira,
principalmente o texto que havia lido sobre o índio
tupi sendo prisioneiro das tribos dos Aimorés!
Agora vivenciava essa história real sendo a própria
personagem.
Carla não havia perdido o senso de data, teve uma
lembrança de seu livro, lembrou que nesse dia
haveria um eclipse solar, visto totalmente na região
norte, acreditava que seria em torno de 12h45min,
lembrando que havia a diferença de fuso horário.
Quando tudo parecia perdido, Carla ficou histérica
e começou a gritar, causando horror aos jovens
prisioneiros. Gritava, enrolava a língua e olhava
para o sol, os índios não compreendiam nada. De
repente uma pequena mancha no Sol apareceu, a
mancha crescia mais e mais até que começou a
escurecer em pleno meio dia. Índios gritavam,
olhavam para o Sol, alguns caiam com as mãos ao
sol, logo toda a aldeia estava em prantos.
O cacique supondo que os prisioneiros eram bruxos
mandou que os soltassem e disse:
- Fujam daqui vocês são protegidos pelo deus Sol.
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Carla, Bernardo e Alberto receberam suas roupas e
suas sacolas. Vestiram-se e ganharam algumas
oferendas e um prato de uma comida que não
sabiam o que eram, devido a fome, comeram
avidamente, comeram algumas frutas.
Ao saírem da aldeia, Alberto lembrou que tinha um
litro de álcool, alguns índios os escoltaram guiando
pela selva. Ao passarem por um pequeno riacho
Alberto despejou o álcool no leito do riacho e
riscou fósforo, houve uma combustão e a água
pegou fogo. Os índios desesperados voltaram em
fuga gritando para suas aldeias.
Rindo e chorando os três perguntam a Carla se ela
sabia do eclipse:- Acho que fomos salvos pelas
leituras e nossos conhecimentos adquiridos na
escola. É verdade sua bruxa, disse rindo o Alberto.
Acho que eu também sou um bruxo.
Andando, chorando de alegria, tropeçando nos
cipós, conseguem chegar até o rio de onde avistam
algumas aves voando em círculo, olhando com
mais atenção descobrem o corpo do barqueiro em
estado de decomposição, pois havia sido devorado
pelas aves.
Avistam o barco e não foi difícil por em
funcionamento, motores são ligados, e sobem o rio
e após três horas de viagem chegam a um
ancoradouro em Manaus. Dirigem-se ao hotel e
caem exaustos no chão do quarto.
Amanhece o dia e verificam que suas passagens
ainda eram validadas, na hora marcada vão até o
aeroporto e tomam o avião rumo à Campinas.
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Seus nomes ficarão para sempre na história, pois
aprenderam que muitas vezes a astúcia é melhor do
que a força.
Brasil um lugar belo, porém todo passeio deve ser
antes de tudo bem planejado para não sofrer
consequências desastrosas.
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Impossível não viver do passado
Muitos estufam o peito e dizem: - Quem gosta de
passado é museu! Os mais poéticos citam frases
que tem um forte impacto nas pessoas “ Ontem é
passado, hoje é presente e é por isso que tem esse
nome presente” É gratificante mesmo nos
cinquentas e alguns anos trazer à baila os
momentos que marcaram profundamente minha
profícua existência, quero e desejo mais anos de
vida porém nosso criador sabe melhor de nós! As
boas lembranças são como combustível para
inflamar o ego e deixar a mente viajar um pouco.
Na pequenina cidade de Indiaporã Estado de
São Paulo, décadas de 60 e 70, pobre de marre de
si, mas havia uma alegria em viver, No pátio
escolar as deliciosas sopas de trigo, bolachas e
leite com chocolate preparados pelas merendeiras,
hinos escolares cantados pelos coleguinhas” De
manhã já bem cedinho pego o lápis vou escrever...”
broncas dos diretores, as professoras severas,
reguadas na cabeça, final das aulas era aquela
correria para jogar “biroca” jogo de mata-mata e
banca era os melhores. Cada época tínhamos um
brinquedo diferente. Papagaio, pião, arquinho,
pega-pega. Nas tardes finais de semanas íamos aos
“córregos” refrescar quando a fome apertava o
estômago passávamos nos pastos e recolhíamos
cocos que os animais regurgitavam e quebrávamos
nas pedras e saciávamos a fome. Em todas as
épocas tínhamos frutas: Angá, gabiroba, mangas,
jenipapos etc.
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A cidade nessa época era poeirenta,
caminhões pipas molhavam as ruas e nós os
moleque corríamos atrás cheirando o forte cheiro
de terra molhada e aproveitávamos para refrescar.
Hoje ao lembrar como conseguíamos
mistura sinto um aperto no coração! Íamos aos
córregos e amassávamos saibro um barro branco,
fazíamos bolinhas e colocava para secar. Quando
secas caçávamos passarinhos nos matos. Inhambus
e codornas eram os preferidos, também armávamos
arapucas para prender os pássaros maiores como
pombos do mato. Eram carnes deliciosas.
A velha caixa de engraxar, os pedidos aos
fregueses: - Quer engraxar? Os trocados recebidos,
os picolés de abacaxi, limão, creme, e os maços de
cigarros que muitos males já me trouxeram. Já aos
oito anos ia as roças de algodão, debaixo de um sol
escaldante e sofria com os mosquitos que
chupavam o sangue sem parar.
Como não viver de passado se os capítulos
da história registram momentos magníficos? As
privações não macularam o viver feliz, foram
partes de aprendizagem, nosso velho e bom mestre
o tempo muito nos ensina, erros cometidos no
passado, hoje são cobrados com juros e dividendos.
Não podemos voltar ao passado, porém podemos
fazer dele um aliado para nutrir nossas mentes de
boas lembranças.
“Viva” Machado de Assis com suas citações: - Os
adjetivos passam, os substantivos ficam!
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Um bêbado no coletivo
Tarde de Sábado do dia 19 de janeiro de 2001,
como muitos brasileiros, saio do trabalho apressado
com a sacola a pender sobre os meus ombros e
dirijo-me ao ponto de ônibus para aguardar o
transporte que me conduzirá ao "lar doce lar".
Na viagem de ônibus, fico a observar o motorista, o
cobrador e demais passageiros, cada um absorto em
seus pensamentos. Também me acho concentrado e
monologando, a respeito das pressões externas que
de tão perto me sufocam.
De repente muda a atenção de todos para um
bêbado que entra no coletivo, falando alto e
xingando uma pessoa que ele havia encontrado
alguns minutos atrás, ele paga sua passagem com
uma nota de um real e algumas moedas, continua a
praguejar sem parar!. Passageiros se mexem em
seus assentos, outro passageiro toma as dores e
parte para cima do "bêbado" e começa a falar mal-
lo também, agora são dois, e mais vozes, tumulto
no coletivo, alguém esbraveja:- - Motorista, quando
ver uma viatura, pare-a para que este sujeito desça!.
Outros passageiros se revoltam contra o bêbado e
contra o agressor do bêbado. – Jogue os dois do
coletivo gritou alguém!
Enfim, desce o bêbado e alguns pontos depois o
agressor, a calma volta a reinar no coletivo.
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Começo a refletir: " será que também não somos
como este bêbado?" o que nos diferencia desta
pessoa é que ele ingeriu bebidas e nós podemos
estar sóbrios, nós não externamos o que está no
íntimo por causa da vergonha e o caráter. No
alcoolizado é diferente a bebida o torna valente e
"sem vergonha".
Há uma “poderosa força que nos inibe a agirmos
como o bêbado é o autocontrole”
Também queremos externar nossa raiva, mas
engolimos "à seco", mas o mal cria raízes no nosso
âmago, raiva dos políticos, baixos salários que
foram retidos pelos patrões, familiares ou alguém
que feriu nosso ego. Nosso hálito não fede como o
do bêbado, mas muitas vezes as mazelas que estão
no nosso íntimo exala algum odor fétido!.
Estamos no coletivo da vida, e os que estão em
contatos conosco, muitas vezes descem em pontos
que nunca mais os veremos, outro ficam conosco
mais alguns instantes no coletivo da vida, às vezes
quem nós pensávamos que iria até o fim nesta
viagem, desembarcam e nos deixam só!.
Onde estará o bêbado do coletivo? Meu
companheiro de viagem que tanto transtorno trouxe
aos passageiros. Talvez nunca mais o veja, mas
deixou uma lição que me fez reconsiderar muito.
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Será que às vezes não estou a incomodar os
passageiros neste coletivo da vida?. Amanhã ele
será apenas um "ex-bêbado" e os meus atos que
perturbam meus semelhantes poderão causar sérios
danos!
E a viagem continua...
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Meu nome é Jerônimo
Tenho enfrentado os risos dos meus alunos quando
chego em sala de aula e me apresento: "_Sou o
professor de vocês e meu nome é Jerônimo" O riso
é generalizado, só escuta a turminha gritando
"Jeronimooo"
Certo dia como professor eventual, entrei em uma
5ª série para dar aula de português. Bem sério eu
disse:- Sou professor de português e vou dizer meu
nome, e aquele que rir, vou pegar pelas orelhas e
levar para diretoria. " Meu nome é Jerônimo"
Todos ficaram sérios e eu percebi que eles
mudaram a fisionomia e tentaram não rir, não
aguentaram e eu para melhorar o ambiente disse:
Podem rir!!!! As risadas foram uníssonas!
Consegui dar uma excelente aula e percebi que
todos se empenharam em fazer atividades. Depois
não tive mais problemas e ninguém se importou
mais.
Às vezes temos que manter o bom humor, cara feia
não resolve quase nada. A vida já é dura, e os
alunos aguentarem cinco horas numa cadeira
escolar dura, e um professor chato, carrancudo,
piora ainda mais.
Resolvi fazer uma pesquisa para descobrir o
"porquê" que esse nome provoca risos. E descobri:
"Parece que esse grito estaria relacionado a um
episódio da colonização do oeste dos Estados
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Unidos, no final do século 19 - mas na verdade
ninguém sabe quanto da história é verdade e quanto
não passa de lenda.
Tudo começou quando a Cavalaria americana
perseguia um famoso chefe apache chamado
Gerônimo perto do forte Sill, no estado de
Oklahoma.
Ao se ver encurralado na borda de uma ribanceira,
o guerreiro, em vez de se render, tomou impulso e
saltou, montado em seu cavalo. Na queda, antes de
afundar no pequeno rio que passava lá embaixo, o
índio gritou seu nome com toda a força:
"Gerônimooooooooo!".
O mais incrível é que ele e o cavalo se recuperaram
da queda e escaparam a galope. Apesar da fuga
fantástica, Gerônimo seria capturado pouco tempo
depois e morreria na prisão em 1909.
Trinta anos depois, durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), seu grito foi adotado nos
saltos dos paraquedistas da 82ª Divisão
Aerotransportada do Exército americano, que
estavam prestes a embarcar para a Europa.
"Tudo indica que a tradição nasceu depois que os
paraquedistas assistiram, no campo de treinamento
na Carolina do Norte, a um filme sobre a vida do
chefe apache", afirma o etimologista Cláudio
Moreno, colunista de Mundo Estranho.
Nas décadas seguintes, os faroestes americanos se
encarregaram de espalhar o costume pelo resto do
mundo. Hoje, a palavra deixou o ambiente militar e
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tem uso bem mais amplo. Por isso, é comum as
pessoas gritarem "Gerônimo!" como aviso de que
algo está caindo."