Sardão de cabeça azul

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Ano V - N.º 16 - 21 de Junho a 21 de Setembro de 2006 Reportagem: Escarpas de outro mundo Parques: Estação Litoral da Aguda Entrevista: Sardão de cabeça azul

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Ano V - N.º 16 - 21 de Junho a 21 de Setembro de 2006

Reportagem: Escarpas de outro mundoParques: Estação Litoral da AgudaEntrevista: Sardão de cabeça azul

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24 ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDANa região não há outra instituição idênticaaberta ao público. Sendo irresistívelpara os visitantes o fascínio dos aquários,há outras valências a fazerem-se notar,como o Museu das Pescas.

28 ESCARPAS DE OUTRO MUNDOO Parque Natural do Douro Internacional,gerido pelo Instituto de Conservaçãoda Natureza, revela-se uma das áreas nacionaismais impressionantes no que toca a paisagem,flora e fauna. Se não o conhece,vai querer conhecê-lo...

35 SARDÃO DE CABEÇA AZULA bióloga Raquel Godinho fez o seudoutoramento sobre o lagarto-de-água.Afinal, uma espécie que só existe na PenínsulaIbérica. Em dois dedos de conversa, explicatudo sobre a importância da sua conservação.

SECÇÕES

Ver e falar: o Leitor escreve 7Clic 8Portfolio 9Fotonotícias 12Parques de Gaia 17Salpicos: Tartarugas marinhas 27Raízes: Carvalhos velhos 40Quinteiro: Dê água ao seu jardim 42Colectivismo 47Crónica 49

Revista “Parques e Vida Selvagem” • Director Nuno Gomes Oliveira • Editor JorgeGomes • Fotografias Arquivo Fotográfico do Parque Biológico de Gaia, E. M. • PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M. • Pessoa colectiva 504888773 • Tiragem 80.000exemplares. ISSN 1645-2607 • N.º Registo no I.C.S. 123937 • Dep. Legal 170787/01 •Administração e Redacção Parque Biológico de Gaia, E. M. - Estrada Nacional 222 -4430 -757 AVINTES – Portugal • Telefone 22 7878120 • E-mail: [email protected]• Página na internet: http://www.parquebiologico.pt • Conselho de Administração NunoGomes Oliveira, Nelson Cardoso.

Foto da capa: João Luís Teixeira - Douro Internacional

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadasda responsabilidade de quem as assina.

Esta Revista resulta de uma parceria entre o Parque Biológico deGaia e o Jornal de Notícias.

sumário

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editorial

Do Parque, dos parques temáticose da natureza em Gaia

Recentemente vieram a público notícias alarmistas sobre a situação financeirada empresa municipal Parque Biológico de Gaia.Um respeitável jornal, «O Público», foi ao ponto de usar como título “Contasdo Parque Biológico atrasadas e com saldo fictício”.Só a ignorância pode ditar um título deste género que, na realidade, é puramentira como, de resto, facilmente se percebe lendo o corpo da notícia.Nem as contas do Parque Biológico foram entregues com atraso, nem,obviamente, o saldo é fictício.Não foram entregues com atraso, porque foram fechadas a 10 de Março,quando a Lei determina a sua aprovação até 31 de Maio.O “saldo fictício”, que no corpo da notícia já é designado por “saldopositivo fictício” ficamos a saber, pela leitura da peça, que se deve à“injecção de 1,05 milhões de euros” pela Câmara Municipal.Ora, então, já não é fictício, é real; poder-se-á pôr em causa a “injecção”,mas não o saldo. Fica, assim, claramente demonstrado o carácter distorcidodo título.Não deixa de ser estranho que este jornal se “agarre” a aspectospotencialmente negativos da actividade do Parque Biológico (o anopassado fez o mesmo), e raramente – muito raramente – noticieactividades.Mas vamos à “injecção de 1,05 milhões de euros”. Antes de mais, recordarque esses milhões, em dinheiro antigo, são apenas, 210 mil contos, verbadestinada à manutenção, durante 365 dias, do Parque Biológico, do

Parque da Lavandeira e do Parque e Dunas da Aguda.Verba que seria insuficiente se a empresa municipal Parque Biológiconão arrecadasse receitas próprias de valor idêntico.Ora acontece que a lei que criou as empresas municipais determina que,quando estas praticam preços sociais ou efectuam investimentos derentabilidade não demonstrada, devem ser ressarcidas pelas tutelas,através de subsídios compensatórios. É o que sucede com o ParqueBiológico e, por exemplo, com o canal público de televisão, a RTP.Outro jornal, desta vez o «Jornal de Notícias», referia em título, que oParque Biológico perdeu visitantes em 2005; perdeu, de facto, 8.847visitantes, por comparação com 2004, o que é um facto perfeitamentenormal se cruzarmos o crescimento da oferta de parques temáticos emPortugal, com o crescimento nulo da população e a crise económicapresente.Mesmo não saindo de Gaia, a recente abertura ao público do Parque daLavandeira, retirou, fatalmente, um número considerável de visitantesao Parque Biológico, até por ser de entrada livre.Num estudo publicado em França no ano passado (Parcs de loisirs. Lesnouveaux enjeux, Les Chaiers Espaces, Paris, Set/2005), Arnaud Bennet,presidente da Federação Nacional das Espaços de Lazer, Naturais eCulturais, começa por escrever: “ O sector dos parques de lazer conheceuuma evolução espectacular durante os últimos 15 anos.”Nesse estudo demonstra-se que a frequência de visitantes varia com o

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Nuno Gomes [email protected] da revista«Parques e Vida Selvagem»

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estado geral da economia e com a capacidade de investimento dos própriosparques.Vejamos o exemplo de alguns dos parques temáticos mais famosos da Europa:o Parc Disneyland de Paris, já teve 13,1 milhões de visitantes, em 2002, e desceupara 12,4, em 2003; o Futuroscope (Poitiers) vem a descer continuamentedesde 1995 (2,8 milhões de visitantes) até 2003 (1,3 milhões). O Parque Astérix(Playlly) já teve 2 milhões de visitantes em 1999, desceu até 1,7 milhões em2002 e recuperou para 1,8 milhões em 2003, um ano bom para todos osparques.O desafio não é, pois, aumentar o número de visitantes, mas estabilizá-lo,fidelizando clientelas; ora, isso o Parque Biológico de Gaia está a conseguirfazer.Diríamos, mesmo, que no universo de parques hoje gerido por esta empresamunicipal o número de visitantes não pára de aumentar.As receitas da empresa municipal poderiam ser mais elevadas, mas a Câmaraentendeu, e muito bem, não cobrar entradas no Parque da Lavandeira nem noParque de Dunas da Aguda, e não subir, desde 2002, os preços de entrada noParque Biológico, que continuam a ser cerca de 50% mais baixos que oscorrentes em espaços similares em Portugal.Apesar destas picardias, os Parques de Gaia (já não podemos falar só do ParqueBiológico) foram crescendo e cumprindo as suas funções de recreio, educaçãoe conservação da natureza em meio urbano.Hoje, o Parque Biológico é, porventura, o espaço natural em meio urbano commaior biodiversidade animal e vegetal no estado selvagem, em Portugal,batendo-se ao título europeu.Cada vez mais, o Parque Biológico deixa de ser uma atracção pela colecçãode animais em cativeiro, mas sim pelos animais e plantas que vivem emliberdade.Esta função de reserva natural vale bem os 840 mil contos que o Municípioinvestiu na compra de terrenos para a sua ampliação e nos subsídios que,anualmente, tem vindo a conceder ao seu funcionamento.Chegar e ver um gavião ou um noitibó, ouvir uma coruja-do-mato ou umsapo-parteiro, ver a noite repleta de pirilampos, as flores pontilhadas de maisde 76 espécies de borboletas, os prados com orquídeas selvagens, carvalhaiscom azevinho e gilbardeira, o rio de águas transparentes com variadas espéciesde peixes... só mesmo em GAIA.

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Luís Filipe Menezes

Nos últimos 8 anos, o Concelho de Gaia deu um salto quantitativoe qualitativo ao nível da qualidade de vida das pessoas. Naprimeira linha das nossas prioridades políticas esteve a preocupaçãoem investir em necessidades básicas, como o saneamento e adistribuição de água.Infelizmente, Gaia, em 1998, ainda estava num patamar degrande insuficiência nestas duas básicas vertentes.Oito anos depois, passamos de uma taxa de cobertura de 10%para quase 100%; construímos 5 ETAR´S das mais sofisticadasda Europa, despoluímos dezenas e dezenas de quilómetros deribeiras, temos o maior número de bandeiras azuis do País, aspraias de Gaia são das mais limpas e com uma qualidade deágua do Primeiro Mundo, reabilitamos toda a orla costeira(16 quilómetros) e toda a costa fluvial, criamos várias áreasverdes, de lazer e manutenção, como o Parque Municipal daLavandeira.Tudo isto foi feito em 8 anos, custou muito dinheiro, e otrabalho dedicado, competente e eficaz de muita gente. Eestá aí à vista de todos.O Parque Biológico Municipal de Gaia é um dos nossos ex-libris,

como o Cais de Gaia, o El Corte Inglês, as nossas praias, os nossoscompelxos desportivos, etc.etc.etc. É um local paradisíaco e dequalidade, que é o selo que gostamos de colocar nas tarefas querealizamos.O Parque Biológico é uma instituição importante e prestigiadaao nível da formação dos nossos jovens para a preservaçãoambiental. Aí existem diversas espécies no seu “habitat” natural,que podem ser observadas ao longo dos percursos recomendados.Em termos pedagógicos, um grupo de trabalho nacional avaliou24 instituições deste nível em Portugal e considerou o ParqueBiológico exemplar no cumprimento das regras e critérioscomunitários que regem estes equipamentos.O Parque Biológico, localizado em Avintes, tem um perfil deintervenção pedagógica absolutamente excepcional. Estaclassificação foi-lhe atribuída em Dezembro passado, pela“Eurogroup for Animal Welfare”, organismo que a pedido daDirecção-Geral de Veterinária, visitou e analisou 24 parquesexistentes em Portugal.Em termos ambientais, Gaia é um exemplo a seguir em termosnacionais, mas o nosso trabalho não acaba aqui…

opinião

Um exemplode defesa ambiental

Em 1981 fui, pela primeira vez, à Quinta da Cunha de Baixo,onde é hoje o Parque Biológico: deparei-me com um rio quaseselvagem.O rio Febros, de então, tinha a truta-de-rio com abundância,a raríssima toupeira-de-água, a lontra, feto-real e muitas maisespécies animais e vegetais.O Paulo Fontoura e o Alexandre Valente, professores daFaculdade de Ciências do Porto, vieram ver, estudar ecomprovar; uma das toupeiras-de-água, encontrada morta,foi para Washington, para o Museu Nacional de HistóriaNatural da Smithsonian Institution.A construção foi aumentando e, com ela, a poluição do Febros,que foi perdendo biodiversidade; em 1983, uma criminosadescarga provocada por uma fábrica vizinha, literalmentematou toda a vida aquática!O cenário foi piorando com os anos, sem que as autoridades

municipais mostrassem grande preocupação. Só, já, um milagrepoderia salvar o rio.Já não acreditava que algum dia ali voltasse a ver o pica-peixe, um góbio ou uma lontra.Então, em 1998, vieram uns homens novos para a Câmara deGaia, e meteram-se ao trabalho; arranjaram fundos, criarama empresa municipal Águas de Gaia, enterraram quilómetrose quilómetros de tubos, construíram ETARs e, meia dúzia deanos depois, o rio Febros é um rio Vivo.Em nome das trutas, das lontras, dos pica-peixe e dos Homens,obrigado Dr. Luís Filipe Menezes, Prof. Poças Martins, Dr. JoséMaciel e a toda a sua equipa.Não, não foi milagre, foi mesmo suor e competência.

Nuno Gomes Oliveira

O milagre da água

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Alguns leitores comentama edição anterior desta revista...

Em 22 de Março, logo às 9h20 da manhã,Rogério Vieira enviou-nos um e-mail:«Bom dia. Recebi através do JN, hoje, avossa revista e gostei muito quer pelostemas quer pela qualidade. Por este meiopergunto se é gratuita e se pode serenviada para a residência. Caso isso sejapossível, teria todo o gosto em a receber».Explicámos que a próxima só sairia emJunho e também sai com o «Jornal deNotícias», ficando o assunto resolvido.Entre outras mensagens, destacamosesta: «Está agradável, mas gostava dever os temas mais aprofundados». Arevista não é para cientistas, mas parao público em geral. No corre-corre davida actual, com leituras diárias, não delivros ou revistas mas de textosobrigatórios na actividade profissional,muitos sentem-se obrigados a deixar delado textos menos sintéticos. É umaopção editorial que, a nosso ver, servemelhor o interesse da maioria dos leitores.Rui e António deram nota: «Parabénspela revista. Ficou muito bonita e comreportagens interessantes e leves».António Guerreiro disse: «Aproveito paradeixar consignada uma palavra deapreço e de louvor pela qualidade erealização da vossa revista Parques evida selvagem».Carlos Mendes enviou um e-mail prolixo:«Viva! Foi com profunda satisfação quedescobri, pela primeira vez, a revista «Parques e VidaSelvagem». Por mero acaso, depois de comprar o jornal, vique trazia a revista. Depois de ver a capa, pousei o jornal,e dediquei o meu tempo a ver com cuidado a revista. Aoencontrar em cada página um assunto que me cativava,fiquei encantado com ela.Com um grafismo agradável, leve, com imagens que nuncapensei que fosse possível realizar em Portugal, imaginavaeu que só lá fora é que se faziam imagens assim, comtextos informativos, diversificados, senti na «Parques eVida Selvagem» uma ideia que há muito faltava em Portugal.Tenho de destacar as reportagens sobre o Estuário doDouro, Dunas de S. Jacinto, Jardim Botânico de Coimbrae Borboletas. Estes textos, com as imagens, abrem-nos omundo natural do nosso país, aqui tão perto, e que nospassa ao lado diariamente. Com a revista, a nossa

ver e falar

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Uma ideia que faltava

consciência ambiental ganha contornos mais cuidados esenti que comecei a olhar de modo diferente para o queme rodeia.Gostava, também, que a «Parques e Vida Selvagem», setornasse uma publicação mensal, aumentasse as páginase se tornasse uma revista de referência no mercado editorialportuguês que vive, sobretudo, da má qualidade daspublicações. São estas revistas que trazem valores e criamsociedades mais harmoniosas, alicerçadas no respeito pelanatureza e por todo o meio ambiente que nos rodeia.Quero dar os parabéns ao director e deixar estas palavrasde um simples cidadão que sente que é nos sonhos e nestasvontades que se dá uma forma mais azul e límpida aomundo. Fiquei com vontade de conhecer o Parque Biológico!Continuem. Serei sempre um leitor assíduo do vosso trabalhoaqui por Matosinhos».

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O nosso leitor José Pereira, de Vila Nova deGaia, talvez inspirado pela reportagem noEstuário do Douro, enviou-nos esta fotografiade uma garça branca. Como dados técnicosmenciona: Canon S2 IS, ISO 200, a 400mm,f4.0 a 1/125s.Antes de mais é uma excelente máquina paraquase qualquer tipo de situação. Dos dadostécnicos tudo me parece bem, apenas o ISO200 um bocadinho exagerado (nota-se devidoao grão visível na foto, se calhar podia serdiminuído…). Parece a imagem um bocadinhosobreexposta (com demasiado tempo deexposição; pode-se dever ao facto de ter medidoa luz para a água e não para a garça,fotografando a 1/250s conseguia definiçãodas penas da garça). Em termos de composiçãoaconselhava apenas um pequeno ajuste deenquadramento, de modo a dar maisimportância à garça e a reduzir a grandemancha azul do primeiro plano.Continue a enviar fotografias!

Texto: João Luís Teixeira

Estamos no começo do Verão, iníciode férias para largos milharesde portugueses. Apesar de algunsplanearem ficar por casa outros irãoviajar lá fora ou dentro do país. Aquideixo uma sugestão: uma paisagem cujométodo simples pode ser aplicado emqualquer sítio com bons resultados…

Esta paisagem, este açude foi fotografadono rio Febros, dentro da área do ParqueBiológico de Gaia. Foi tirada num dianublado, escolhido para não haver muitadiferença de luz entre a parte superior decéu da foto e o primeiro plano com aspedras e o rio. Captada com uma CanonG5 (compacta como muitas outras)pousada numa pedra para obterestabilidade a baixa velocidade, ISO 100,uma abertura de F8, menor aberturapossível nesta máquina para ter uma grandeprofundidade de campo e a fotografiatotalmente focada, e um filtro ND2 que

Comose fez...

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CONSULTÓRIO TÉCNICO

clic

faz com que se perca mais umdiafragma em termos de velocidadeconseguindo assim 0,5s e o efeitoda água a correr…Nota: o grão visível na imagemdeve-se ao facto do tempo deexposição ser muito longo.Tente, é muito simples. Depoisenvie-nos os resultados.

Não se esqueça! Se tiver fotografiasque queira melhorar ou vercomentadas, por favor envie-aspara:

Revista «PARQUES E VIDA SELVAGEM»Fotografia «Espaço do leitor»Parque Biológico de Gaia4470-757 AVINTES

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po

rtfo

lio

Eles estão aí, os insectos.Fantásticos, surpreendentes, notáveis. Já cá estavam, e continuarão a estar. Emqualquer guerra, há espécies que saem vencedoras no povoamento

Fotografias: João Luís TeixeiraTexto: Jorge Gomes

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da Terra, e há quem diga que, se um dia o serhumano se extinguir, eles continuarão aepopeia da sobrevivência.Por razões mais ou menos obscuras, entre nóshá os que os classificam entre bons e maus.Tal manicaísmo separa pirilampos e borboletasadultas diurnas para um lado e os restantespara o outro.Aranhas: «Poça! Que bicho terrível que teimaviver ao nosso lado...».Mas, afinal, se não fossem esses predadores,haveria muitas mais moscas e mosquitos apropagar doenças e problemas vários sobreas cabeças dos nossos filhos, e as nossas.Bem, por alguma razão estes sobreviventesestão lá para baixo na cadeia alimentar, semque se incluam nas nossas ementas, exceptopor lapso culinário!Inegável é que, entre metamorfoses fantásticase fonte de inspiração criativa para os seres daficção científica, as suas formas brilhantes etalentos escondidos enchem-nos a vista e osouvidos, desde que se espreite uma planta nabeira do caminho ou se ouça um concerto deralos na orla de um bosque.Foi assim que o fotógrafo apanhou uma mão-cheia de instantâneos, no Parque Biológico deGaia, ficando alguns deles impressos nestaspáginas...

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Ralo

Lyttaversicatoria

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Lixus

Cercopis sanguinolenta

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fotonotícias

Esta pata será um híbrido depato-real, mas cá para mim elaviu demasiada televisão...Veste-se com um colar brancologo acima do papo e, apesarda pressão, o pescoço ostentaum brilho verde à macho. Quasemandou por inteiro a discretaindumentária clássica à fava!Com dois incontornáveisadmiradores, desde Janeiro,estará cheia de recursos, senãoveja-se-lhe a nuca com nítidasmarcas de cópula. Será que avamos ver com crias?

Texto e fotos: Jorge Gomes

Dar nas vistas é uma coisa terrível:tenho um amigo que diz que pisa osolhos...Os corços decerto pensam como ele.Sentado no observatório, fiquei a verse os ventos da fortuna me sorriam, ali,no percurso do Parque Biológico deGaia. Agora com o prado florido, davauma imagem diferente. «Há queesperar», pensei.Os minutos passam. Súbito, no meiodas flores, ao longe, vejo aparecer umanimal pouco maior que um coelhogrande. Só lhe vejo os flancospintalgados: «Uma cria de javali? Nestecercado não é possível...». Não, uma criade corço!... Pego na câmara – o bichoé telepata – já vai aninhar-se de novo. Desaparece! Será que ele me achouparecido com um cão assilvestrado?Te

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Corços: saber não dar nas vistas...

Patos-reais alcançam liberdade sexual

Um casal de patos-reais:o macho tem pescoço verde

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Estamos mesmo em cima: consegue vê-lo?

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O norte das galinhas-de-água«Olha, querido: parece-me que devemos deixarde lado o receio dos meus pais!», diz a galinha-de-água ao sócio de criação. E continua:«Afinal, não achas que eles eram um bocadoparanóicos com a mania de que estávamossempre na mira dos gatilhadores? Já tivesterumores de que aqui já alguém tenha levadouma chumbada? Prefiro é que estejas atentoà garça-real que se esquece de migrar paranorte nesta altura...».E, sem convencer o parceiro desconfiado, láse vai mostrando no lago dos gansos-bravosdo Parque Biológico de Gaia...Tem sido assim no último par de anos. NoInverno, logo que algum tratador de animaisministra a dose diária de grão para as aves dolago, ao virar costas, já esta galinha-de-águaé a primeira a pular a cerca para não perdera melhor parte do repasto — que isto de confiarna vizinhança não é bem como se diz.Depois vem o tempo quente: uma ninhadade quatro crias logo na Primavera, a tempode crescerem em dois meses e ajudarem acriar a segunda geração.Mas, claro!, enquanto são pequenotes, até issode pedir comida aos pais não é só entrar pelobico deles à cata da saborosa regurgitação!...Quantas vezes uma saída impetuosa faz comque os pintos percam o norte ao céu!Quantas vezes uma saída impetuosa

faz com que os pintos percam o norte ao céu!

Sem convencer o parceiro desconfiado,lá se vai mostrando no lago dos gansos-bravos do Parque Biológico de Gaia

Fotos: João Luís TeixeiraTexto: Jorge Gomes

fotonotícias

«Mas o que é isto?», pensa opequeno mustelídeo na azáfamade prover a tanta energia.Deparara no seu discreto trajectode rotina com dois primatas a oitometros, interessados na floraçãode plantas silvestres. Um, decócoras, nem se mexeu. O outro,mais distante, clic, clic...A doninha sentiu-se intimidada:recuou e desapareceu. Imóveis, osprimatas em poucos segundosadmiraram a determinação dadoninha: rápida, retoma o caminho

deixado a meio e esgueira-se pordebaixo da ponte de madeira sobreo rio Febros, no Parque Biológicode Gaia, na manhã de 2 de Abril.O encontro fortuito é maisuma confirmação da faunaselvagem que vive nestareserva natural às portas dacidade. Mas só a vê quem fazpouco ruído e é bafejado pelasorte. Também ginetas eraposas estão confirmadas,apesar de discretas como sóelas sabem ser...

Apanhada no meio da ponte

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Já se habituou à rotina. Cauda bamboleante,desloca-se qual senhor feudal na margemdo lago próximo do moinho do Belmiro.Lá vem mestre Alvéola, na incontornávelronda territorial. Bate asas sobre o muro,voa. Está no telhado do moinho. Estaca!Diante da janela, pasma: um rival aqui tãoperto? Às armas!Antes da bicada, a expressão corporal. Noteatro de guerra antes de chegar a vias defacto há que intimidar o adversário — podeser que se raspe dali para fora.Mas qual quê, a ave que aparece para lá dajanela tem a mesma coragem de mestreAlvéola, sem tirar nem pôr. Posto isto, esgota-se-lhe a paciência. Vai agora uma rajada decloaca francamente aberta, mas a pontariaanda má: só acerta na vidraça, nem beliscaas preciosas penas do rival.Desistir? Não. Ainda é cedo: «Ora toma láfigurão! Já disse que não quero ninguémaqui, a comida é pouca para todos», e zás!Outro tiro na defesa invisível do atrevido.É assim na altura da reprodução da Motacillacinerea, dia após dia. Nem por isso AndréMorais, o zelador do moinho, se cansa devoltar a limpar a vidraça da janela.Serão coisas da consciência de si próprio,reconhecer-se ao espelho? Há quem digaque sim...

O rival da lavandisca-cinzenta

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Baleia-anã: vê-la na praia é mau sinalUma baleia-anã, da espécie Balaenoptera acutorostrata, de oito metros de comprimento e em avançado estado de decomposição,deu à costa na praia da Granja, no passado dia 25 de Maio...

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Víbora: ser ou não ser...

Já lhe viu o nariz arrebitado? Não sei se esta espécie de víboraassume assim um excesso de confiança, mas não admira: logoque nasce — qual miniatura de adulto — já vem aparelhada comveneno para se defender e digerir a bicheza de que se venha aalimentar.Há também uma outra víbora, para os lados do Gerês, a V. seoane,parecida com esta mas sem o “nariz arrebitado”.

Outra, inofensiva, é a cobra-de-água-viperina, assim chamadapela confusão da cor e padrão, quando vistos à pressa. Esta,muito abundante, vive junto de ribeiros e lagos, não dispondode qualquer tipo de veneno, por mais que triangule a cabeça esilve assustadoramente, quando provocada, sem hipótese de fuga.Umas e outras têm um denominador comum: se as vir, não lhesmexa...

De quando em quando dão à costaanimais da nossa fauna, neste casomamíferos, que se pode dizer estaremlonge da vista e um tanto quantolonge do coração, já que esquecemosque eles também são nosso patrimóniofaunístico.No caso, o nome baleia-anã vem-lhede ser bastante menor do que as outrasespécies de Balaenopteridae: otamanho médio dos machos é de 8metros e para as fêmeas é de 8,5.A dimensão menor defendeu-a de seralvo de caça baleeira.Ocorrendo também nos Açoresdurante grande parte do ano, a baleia--anã come sobretudo pequenos peixese crustáceos.Quando se alimentam, estas baleiasutilizam a mesma estratégia das outras:enchem a boca de água e de presas,expulsando depois essa água, o quefaz com que o alimento permaneçaretido nas suas «barbas», um verdadeirotalher com forma de filtro...Oxalá não vejamos outra tão cedo!Foto: João Luís Teixeira

Cobra-de-água-viperina

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fotonotícias

Garça-vermelha adulta

Cria de garça-vermelha

Cria de garça-vermelha em posição mimética

Elas escutam um apelo antigo e as suas asas trazem-nas do Sul deÁfrica. Atravessam o temível deserto do Sara e começam a avistar-se por cá em Março*. As zonas alagadas percorridas pelo caniçalsugerem segurança aos casais consolidados.Restaurado o ninho do ano anterior ou construído outro, estas grandesgarças entrevêem-se por véus de caniço, cada uma no choco quaseao alcance do longo pescoço dos vizinhos.Os ovos, grandes como os dos perus, contam-se por três ou quatro,em média, e são de um azul-claro que lembra doçaria de Páscoa,altura em que podem adornar o ninho, quais jóias numa obra deartesão de cestaria.Os ovos eclodem uns 26 dias depois. As pequenas garças-imperiais,também assim chamadas, parecem uma tripa animada com bico.Precisam tanto do calor da mãe como do alimento regurgitado.Passados 20 dias, escapam-se para o meio do caniçal. Com uma cor-

de-palha meia não sei quê, parecem invisíveis se não se mexerem. Eé isso mesmo que fazem quando alguma ameaça as aborda, bicoapontado ao céu, são mais caniços dispersos na flora dourada.Depois, ocorre o inesperado: em finais de Julho ou ao longo do mêsde Agosto, os progenitores alçam voo para África, e as crias ficam.Durante mais um mês conquistam uma melhor forma física e, comos dias a diminuírem, fazem-se à mesma rota, encetando pela primeiravez a grande viagem que repetirão ao longo das suas vidas...

Texto: Rui Brito e Jorge GomesFotos: João Luís Teixeira

* Na ria de Aveiro – neste momento a zona de nidificação mais importante para a espécie em Portugal– estima-se que rondarão os 250 a 300 casais activos. Em Portugal poderão existir aproximadamente500 a 600 casais a nidificar, dispersos pelas várias zonas húmidas, de Norte a Sul do país.

Fotos obtidas em Salreu.

O voo das garças-vermelhas

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Teatro no Parque de Dunas da Aguda

Uma fêmea de borrelho finge estar feridaFoto: João Luís Teixeira

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Diante de alguma ameaça séria, sacam daartimanha. Quem não enganariam umadata de vezes?

A areia não sustém a água da chuva, bênçãoque dos céus cai e dá o sinal de partida paraa floração das plantas estóicas que vivemnas dunas. Hoje a vegetação ainda se ressenteda seca do ano passado...O estorno, a madorneira, a chapeleta, a silenee o murrião são algumas das muitas plantasque enchem o ar deste aroma doce que osvisitantes do Parque de Dunas da Agudasentem ao visitá-lo.Mas nem só de flora vivem as dunas. Em

Abril já há ninhos, discretos, quase invisíveis,em plena luz solar, sobretudo construídospor borrelhos, aves do litoral em quepoucos reparam. Dois, três ovos, umatímida depressão no terreno, uma mãecor-de-areia a chocá-los. Não é fácildistingui-los.Mas o que se agita algures? A mancha ganhaforma de ave limícola que corre em passinhosrápidos... e pára, olha. Afasta-se mais umtudo-nada. Detém-se de novo: está a ver oque acontece e responde fazendo-se actriz.Assapa na areia, estende as asas no solo.Ups! Uma asa partida? Se fosse um bichodeitava-lhe o dente, se fosse um transeunte

apanhava-a para a levar a um centro derecuperação, um erro!Mas não! Mais uns passos na direcção daave e ela afasta-se, arrastando asas pelochão, como um pássaro ferido, sem engenhopara voar.E continua: pára, avança para mais longe.Já está distante do ninho que nãoenxergámos, e como por encanto a saúderegressa, um milagre! O borrelho voaincólume e volta para a área dos seuspreciosos ovos, até que fiquemos longe, bemlonge da postura. Então, tranquila, a fêmeade borrelho retoma o choco interrompido.Texto: Jorge Gomes. Foto: João Luís Teixeira

Do posto de observação vê-se de um lado o Parque de Dunas, do outroo mar: em ambos é possível ver aves bastante diferentes entre si

Observação de aves

Os animais vestidos de penasforam o alvo de quem aderiuà proposta do Parque Biológicode Gaia de olhar as aves selvagenscom binóculos e telescópios...

Primeiro domingo de Abril, dia 2, e de Maio, dia 7,entre as 10h00 e as 12h00: a falta de hábito dosborrelhos se sentirem olhados parece tê-losprevenido.A vegetação ainda se ressente da seca do anopassado: num ano normal, estaria tudo em flor.Nesta Primavera, apenas silenes, murrião e chapeletatêm recursos para sorrir... A madorneira abandonatroncos ressequidos e aposta em novos rebentosenquanto o calor não tosta. Há-de florir muitodepois.Mas os borrelhos-de-coleira-interrompida ali estãocomo sempre, este ano mais distantes e reservados,mas com certeza com ninhos e os ritmos habituais.Apesar do tempo nublado, logo que o sol abre aofim da manhã ainda se avista um sardão-ocelado.Agora em início de época de reprodução, fixamterritório e são um êxito quando das visitas escolares!Não admira: a forma algo dinossáurica, o tamanhovistoso e aquele verde-vivo são irresistíveis...

Texto e fotos: Jorge Gomes

Uma consulta ao guia de campo mostra agrande variedade ornitológica de Portugal.

parques de Gaia

Page 18: Sardão de cabeça azul

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Jardim Oriental

parques de Gaia

Um parque enriquece-se se, para além do justo lazer doscidadãos, tiver também funções pedagógicas e culturais.Este jovem parque municipal de 15 hectares instalou váriosjardins temáticos logo aqaundo da sua abertura, em Agostodo ano passado.O Jardim das Suculentas contrasta com o Jardim Aquático.O primeiro agrupa várias espécies de cactos e sucedâneose é óbvio que o nome suculentas não decorre de umaaversão a espinhos — defesa da planta em relação à securae aos predadores — mas porque diante de condiçõesdesérticas desenvolveram técnicas para reterem água. Osegundo, resultou do aproveitamento de um antigo tanquede rega e acolhe lírios-amarelos e papiros, juncos e nenúfares,plantas de solos muito húmidos.O Jardim das Gramíneas, no fundo um destaque bemmerecido a essa vasta família de plantas onde encaixamtanto as relvas como os cereais, a cevada e o trigo, maisnossos conhecidos.O Jardim Oriental assenta no aproveitamento de um pequenolago preexistente e as características do local. As ondulaçõesdas gravilhas marcam-lhe um ritmo edílico e filosófico.O Jardim do Labirinto consiste em linhas concêntricas devegetação e propõe um jogo: entrar e sair do enredo semnunca atravessar as sebes...Há ainda outros jardins, como o Natural — espécies de floraespontânea — e o Interior — recuperação de uma estufa aliexistente, mas no horizonte ainda se prevê a criação deoutros: o dos Fetos, o da Fantasia, o Francês e o dasPalmeiras...

Jardins da Lavandeira

O Parque da Lavandeira oferece várias vertentesde lazer a quem o visita: percursos pedestres, parquesde jogos, zonas de merendas, jardins temáticos...

Jardim das Suculentas Jardim das Gramíneas

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A Câmara Municipal de Lamego assinouum protocolo com o Parque Biológico de Gaiaque contextualiza uma intervençãono Parque Biológico da Serra das Meadas

Este parque «ocupa uma área de 50 hectares eestá situado a sete quilómetros do centro deLamego. Tem percursos assinalados, numaextensão de três quilómetros, para os visitantesusufruírem da natureza ao ar livre».O projecto resulta de uma parceria entre aAssociação para o Desenvolvimento do Vale doDouro e a Câmara Municipal de Lamego com oapoio do programa comunitário LEADER II. Criaruma área privilegiada para fins didácticos,científicos e de lazer foi o objectivo que presidiuao seu surgimento.

Assinatura de protocolo em 10 de Abril entre a Câmara Municipalde Lamego e o Parque Biológico de Gaia

Na Baía de S. Paio, no estuário do rio Douro,há aves de todo o género que apostam no sítiodando-lhe um cariz de refúgio ornitológico...

Mas mais certo é notar que as aves são apenas umdos indicadores mais visíveis de todo um sistemamais complexo.

Os estuários são zonas onde os rios se encontramcom o mar. Nutrientes e sedimentos transportados pelo riodepositam-se e criam condições únicas para moluscose peixes, criando um ecossistema cheio de vida.Está prevista a criação de um refúgio ornitológicoa ser gerido pelo Parque Biológico de Gaia em frenteao cabedelo do rio Douro. Já tem binóculos?

parques de Gaia

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Estuário do Douro: refúgio ornitológico

Parque Biológico de Lamego

Tarambola-cinzenta

Garça-branca-pequena

FuselosMilherango Borrelho-grande-de-coleira

Por Jorge Gomes e Rafael RochaFoto: João Luís Teixeira

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Uma visita guiada ao percurso dedescoberta da natureza do ParqueBiológico de Gaia, um atelier deborboletas e uma visita ao Parque deDunas da Aguda foram parte dasopções do encontro de estudantesde biologia, que decorreu no fim-de-semana de 8 de Abril.Nas férias escolares da Páscoa, oParque organizou as suas Oficinas de

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O Parque Biológico de Gaia destacado seu programa algumasactividades...

PARQUE DE DUNAS DA AGUDA:UMA MICRO-RESERVATodos os dias, de Junho a Agosto, hávisitas guiadas por um técnico no Parquede Dunas da Aguda. Pode passar amanhã na praia e a tarde no campo,isto é, pode aproveitar a tarde paravisitar o Parque Biológico de Gaia queesta empresa municipal oferece otransporte em autocarro todas as terçase quartas-feiras de Junho e às terçase quintas-feiras de Julho. A partida doParque de Dunas é às 14h30 e oregresso às 17h00. A participação estálimitada ao número de lugares noautocarro.

SÁBADOSNO PARQUENos primeiros sábados de cada mêsinvariavelmente há um programaespecial dedicado aos visitantes:participação num atelier de educaçãoambiental, palestra, visita guiada,percurso de observação de avesselvagens. Feira de produtos deagricultura biológica aberta todo o dia.Em Agosto e Outubro não há esteprograma.

VOLUNTÁRIOSEM DEFESA DA FLORAAté final de Julho, o Parque Biológicoaceita voluntários para o programade controlo de plantas infestantes.

MOSTRADE BORBOLETASTodas as imagens têm em comumterem sido espécimes que ocorreramna área do Parque Biológico em 2005.Esta exposição de fotografia encerrano fim do Verão. O catálogo estádisponível no site do Parque indoa Recursos /Outras publicações...

CONCURSODE FOTOGRAFIAA revista PARQUES E VIDASELVAGEM lançou o seu concursode fotografia da natureza. Veja oregulamento no site do Parque indoa Actividades / Eventos / Concursosde fotografia...

ESPECIAL FÉRIASDe 10 de Julho a 15 de Setembro, todosos dias úteis, pelas 15h00,aos seus visitantes o Parque propõeuma actividade diferente incluídano preço de entrada.

RECEBA NOTÍCIASPOR E-MAILPara saber das actividades do ParqueBiológico, peça para receber essainformação por e-mail ou visitewww.parquebiologico.pt

AgendaAconteceu no Parque

Grupo de alunos do encontro do cursode biologia, quando observavam toirõesno percurso de descoberta da natureza

Nas Oficinas da Primavera houveum intervalo inesperado: a libertaçãode ouriços-cacheiros que tinham sidoentregues ao Parque feridose naquele dia foram libertados...

parques de Gaia

Visita de campo do seminário sobre o Litoral, organizado pelo Parque Biológico deGaia e pelo CIBIO - Cebtro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos

Primavera, nas quais participaramnumerosas crianças e jovens.Nos Sábados do Parque, houve umavisita de vulto em Maio: ErnestinoMaravalhas participou no atelier«Descobrir as borboletas» e de tardepalestrou sobre este tipo de faunapara uma audiência motivada.Tendo a chuva quase sempreimpedido a observação de astros, ànoite, a semana das Noites dosPirilampos voltou a ser pivot nopassado trimestre.Em 20 de Maio o auditório do Parqueacolheu um seminário sobre o Litoralque contou com conferencistas comoBarreto Caldas, da Universidade doPorto (UP), Helena Granja, daUniversidade do Minho, João Honrado(UP), Henrique Nepomuceno Alves(PBG), Paulo Alves (UP), Tiago Múrias(UP), Sónia Ferreira e José M. Grosso-Silva (UP), António Múrias (UP), JoséFlores (MPV), Jaime Prata (EstaçãoLitoral da Aguda), Nuno GomesOliveira (PBG), Luciana das Neves(IHRH), Isabel Sousa Pinto (UP) eTeresa Andresen (UP). Dia 21 de Maio,os participantes realizaram visitas decampo.

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Os bisontes-europeus do ParqueBiológico de Gaia conseguiram umespaço bem maior. O seu cercadofoi largamente ampliado, acondizer com a grande corpulênciaque estes animais herbívorosostentam.Originalmente, eles terão vividoem toda a Europa, tendo comolimite norte a Suécia e a SibériaOcidental.

Uma outra espécie muito próxima,o bisonte americano, tem aindamaior porte.O bisonte-europeu extinguiu-seno estado selvagem em 1921, nafloresta de Bialowesia, na Polónia.Salvou a espécie o facto de nessaaltura haver 56 bisontes emparques e jardins zoológicos, o quepermitiu a sua reprodução emcativeiro e o repovoamento de

algumas áreas com o seu habitat.Hoje, considera-se que a espécieestá salva da extinção, dado o seuestatuto de protecção.Ainda não se encontraram provasda presença deste animal noterritório português, não sepodendo dizer o mesmo deEspanha, onde a sua existência jáfoi confirmada através de fósseis.Foto: Jorge Gomes

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Bisontes: um cercado mais espaçosoO bisonte-europeu esteve perto da extinção. O Parque Biológico de Gaia, onde têm nascido ao longodos anos vários espécimes, há muito que queria ampliar as instalações destes magníficos herbívoros...

A ampliação deste cercado não é fácil: a forçadestes mamíferos obriga a uma segurança redobrada...

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Para os romanos, rio Febros queriadizer rio dos castores. Daí não sededuzirá que há cerca de dois milanos haveria animais desses a viverneste curso de água. Sendo osromanos loucos, segundo Astérix,estavam a confundir castores elontras.O próprio nome do rio Febros dánota, assim, de que este mustelídeode hábitos claramente anfíbios, alontra, seria abundante...Quando os predadores de topo sãonumerosos, o ecossistema está deboa saúde.Por volta dos anos 80 a poluiçãovertida neste rio aumentou atingindoníveis elevados. Desde Seixezelo,onde nasce, até desaguar no rioDouro, em Avintes, a pressãodestrutiva foi avançando e, a dadaaltura, já nem peixe havia.Desde há cerca de quatro anos tem-se notado uma melhoria gradativada água.Estes dias mais animadores devem-se à intervenção da empresa

municipal Águas de Gaia, queinstalou saneamento no vale doFebros e, a seu tempo, deverá tertodos os esgotos ligados ao sistemaque culmina na Estação deTratamento de Águas Residuais doFebros.A vida aquática começou a regressara este rio que, agora, já revela comalguma frequência água límpida eé raro o dia em que não se vejampe i xe s . I n ve s t i gado re s daUniversidade do Porto há menos deum ano detectaram no rio Febrosespécies como o ruivaco, a enguia,o pimpão e o góbio, sendo estesúltimos os mais abundantes.Aproxima-se, por isso, o dia em quea lontra poderá ser reintroduzidacom êxito no rio.A partir de vários destes animaisfamiliarizados com o ser humano,dados como irrecuperáveis, nasceramno fim do ano passado duas crias.Soltá-las prematuramente seriacondená-las a morrer. Quando oalimento — sobretudo peixe, mas

também répteis, anfíbios, crustáceose até pequenos mamíferos — estiverestabilizado, elas voltarão ao rio aque deram o nome.Esta é a regra normal. Mas, por vezes,ocorrem fenómenos inusitados. Umexemplo disso ocorreu em fins deMaio passado no rio Uíma, perto dastermas de S. Jorge, em Santa Mariada Feira.Ao início da noite, a populaçãojuntava-se perto da margem paraadmirar a natação dos animais.Barulho, desapareciam...T ra t a - s e de uma e spéc i eespecialmente adaptada a ribeiros elagos, sem descurar os estuários,zonas onde rios e mar se encontram.Conservar ou recuperar a vegetaçãoautóctone própria das bordas dosnossos rios é também fundamentalpara que as lontras se sintam seguras.Um próximo passo de avaliação daqualidade do rio poderá passar pelafixação de ratos-de-água nestess í t ios , outro ind icador derecuperação do ecossistema.

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Lontras: indicadores de rios saudáveis

Açude do rio Febros

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Um rio com lontras é um rio saudável. Este consenso coloca a questão de, logo que esteja asseguradaa estabilidade da qualidade da água do rio Febros, ele voltará a ter lontras...

Texto e fotos : Jorge Gomes

Parte do cercado das lontras

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No fim do ano passado nasceram duaslontras, mas só uma sobreviveu

As lutas a fingir ajudam a medir aforça entre elas e a definir umestatuto no cercado

Períodos de descanso e de actividadealternam na vida destas lontrasbrincalhonas

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Ao entrar na Estação Litoral daAguda mergulha num fascinantemundo marinho e fica cara a caracom a face oculta da praia…

Os seus primeiros passos numa visita àEstação Litoral da Aguda pisam o chãodo Museu das Pescas. Pode não saber,mas está diante de dois mil objectosligados ao oceano.Mike Weber, director e fundador destaEstação Litoral, afirma: «Há dias regressei

da Madeira e trouxe anzóis, um arpão,um bote baleeiro esculpido em osso debaleia. O museu já está cheio, masarranja-se sempre um cantinho». Como sotaque de alemão que vive emPortugal há anos explica: «Depois depassar no Museu das Pescas, o visitanteestá preparado para ver algumas espéciesdo mar da Aguda, que têm valor para apesca artesanal».E é com isso mesmo que deparamos.Nesta parte do edifício há aquários

enriquecidos com informações apelativas,realçadas pelo silêncio que invade orecinto assim que um grupo deestudantes sai.Agora, os sentidos gravitam em voltadestes quadros vivos onde a luz seenleia na água ao ritmo de cardumesvestidos de cores e texturas inesperadas.Revê-se ali as ondas que se esgotamna areia da praia e que montamfronteiras, enchendo as poças dasmarés de vida. Alojados ali camarões

reportagem

Aguda: o mar mais perto

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O polvo é um moluscocheio de talento...

O Museu das Pescas prepara a visitaaos aquários

Este camarão habita as poçasde marés

Anémona e sargo

Texto: Jorge GomesFotos: João Luís Teixeira

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e ranhosas, estas, por instinto,pousadas passam despercebidascomo parte do cenário. Ospredadores dificilmente as vêem,bem como as presas.Ao lado, há anémonas que ondulamcomo plantas mais ou menoscoloridas. Grande peta: são animaisdisfarçados. . . Nenhum doshóspedes do aquário quer tocarnessas especialistas em guerraquímica. E os camarões? Estesapostam nas listas escuras no corpotransparente com que seconfundem no ambiente e, emmovimentos únicos, com pezinhosde lã, olhos apontados a perigosescondidos, vão catando o repasto.Outro aquário espelha uma zonade três metros de profundidade.Entre algas, bodiões e robalosjuvenis zelam pela vida. Oscardumes criam uma imagem quedesfavorece a mira dos predadores.Além disso, conservam energiaquando se deslocam: o atrito daágua diminui.Ao lado, vai mais fundo: aprofundidade aumenta de cincoem cinco metros. Neste nível háfanecas e douradas, logo que sepassa na zona rochosa típica domar da Aguda. Ver estes peixesfora do prato é diferente, acredite!Nesses meandros rochososabrigam-se ainda congros emoreias. Estas orientam-se atravésdo olfacto, apurado. Porém, sãopitosgas, e sentem-se obrigadas aaproximar-se do que lhes despertainteresse para verem melhor.No sétimo aquário até pode nemo sentir na pele, mas está a 25metros de profundidade, nosbancos de areia. Vêem-se aliespécies encorpadas, como opeixe-porco, de um design robusto,e os robalos grandes.Depois os aquários vão reflectindoos ambientes que sobem rumo àpraia de cinco em cinco metros.Passa-se pelo lavagante abrigadoentre rochas, imitado pela lagostae pelo dissimulado polvo, entredanças de gorazes. Este moluscoé visto como o mais inteligente.Não é só fama, as experiênciasdizem isso. Os polvos sãopermeáveis à aprendizagem eresolvem problemas tais que só

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Peixe-porco

Moreias

Faneca

Ranhosa

Ala dos aquários

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alguns vertebrados com talentolhes conseguem bater o pé.Como uma enguia em crescimento,o visitante agora vai contra acorrente e entra por uma ribeiraacima. Agacha-se no fundo umpeixe notável, cor-de-areia, cujosolhos a evolução plantou na testa:a solha-das-pedras. Depara deseguida com carpas, escalos,ruivacos e trutas de permeio comperigosos exóticos introduzidos,como o achigã, tão daninho paraas espécies nativas.Mas a Estação Litoral da Agudatem ainda outras componentes:educar e investigar são exemplosdisso. Ao longo dos anos, estainstituição desenvolveu programasque abrangem todas as faixasetárias, desde as crianças do ensinopré-escolar aos mestrados edoutoramentos, em parceria como Instituto de Ciências BiomédicasAbel Salazar.Nesta altura trabalha-se umdoutoramento sobre a «colo-nização e sucessão ecológica doquebra-mar». Há também uma tesede mestrado sobre a barroeira, que

constrói recifes tipo favo de mel.«Apesar de não ter estatuto deprotecção, a barroeira associa-se a146 outras espécies marinhas:equivale aqui aos recifes de coraistropicais», adianta Mike Weber.Também há um crustáceo naberlinda: o «cultivo do lavangantee u ro p e u c o m f i n s d erepovoamento».Esta estação litoral é a única abertaao público num raio de muitosquilómetros ao redor da região doGrande Porto e está ao seu dispordesde 1999, quando abriu.Obrigatório conhecer e visitar.

Aberta ao público todos os diasdas 10h00 às 18h00– de segunda a sexta-feiraencerra entre as 12h30 às 14h00.

Estação Litoral da Aguda - Praia daAguda - V. N. Gaia - Tel.: 227536360.Fax: 227535155.Site: www.fundacao-ela.pt

Linguado

Santola e estrela-do-mar

O programa «Turma do mar» destina-sea crianças entre os 5 e os 10 anos

AO VISITAR

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Mike Weber: «Também publicamos livros»

«Educação ambiental no litoral» é umprograma que decorre com maré baixa

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São animais migradores e ocupamáguas tropicais e subtropicais. Em todoo mundo existem sete espécies detartarugas marinhas, sendo umas maispopulares que outras, no entanto, todaselas estão ameaçadas de extinção.O principal causador da redução drásticado número de tartarugas é o Homem.A pesca artesanal, a apanha de ovos edestruição e poluição das praias dereprodução são apenas alguns exemplosde actividades humanas que prejudicamas tartarugas.Estes animais são difíceis de observar,pois toda a sua vida é passada em águasfora de alcance à excepção do períodode desova. Apesar dos anos largos deestudo, o comportamento destesanimais, por vezes, ainda é uma

incógnita para os investigadores.A maturidade sexual começa adesenvolver-se por volta dos 15 anosou mais tarde dependendo da espécie.Apenas as fêmeas vão a terra paradesovar, ao contrário dos machos, queapós o nascimento nunca voltam aterra. Por uma razão ainda nãototalmente descodificada, as fêmeasconseguem regressar exactamente àpraia onde nasceram para depositar osseus ovos num ninho escavado por elaprópria na areia. Cada ninhada possuiem média 80 a 120 ovos, dependendoda espécie, e é bastante provável quenos dias seguintes a uma postura, astartarugas regressem à praia para umanova desova.A incubação leva cerca de 60 dias,

dependendo da temperatura da areia,factor este que também vai ponderara quantidade de fêmeas e machos, ouseja quanto mais elevada atemperatura, um maior número defêmeas nascerá. Note-se que estetambém é já um factor depreocupação para investigadores sepensarmos que a temperatura globaltem vindo a aumentar nos últimosanos. A saída do ninho e a chegadaao mar dos filhotes é uma fracção detempo cheia de adversidades: muitoshá que não chegam rapidamente àsprimeiras ondas e ou morremdesidratados ou são predados. Estima-se que em cada mil crias apenas umaregressa à praia onde nasceu parainiciar um novo ciclo.

As tartarugas marinhas são répteis que surgiram no Triássico, no tempo dos dinossauros,há mais de 180 milhões de anos. Para se adaptarem e lutarem pela sobrevivência,o seu corpo modificou-se: emergiram as nadadeiras da junção dos dedos e formou-seuma placa dura, a carapaça...

salpicos

Tartarugas marinhas: difíceis de salvar

Texto e fotos: Sara Pereira, bióloga

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Macio, o rio Douro esculpiu um enorme monumento natural no granito. Aqui as arribas vão de Mirandaa Figueira de Castelo Rodrigo. Grifos e britangos, águias e milhafres, gralhas-de-bico-vermelhoe melros-azuis, entre tantos outros, voam sobre lobos e raposas de permeio com bosques espontâneosde lódão, azinheiras e zimbro. Bem-vindo ao Parque Natural do Douro Internacional!

reportagem

Texto: Jorge GomesFotografias: João Luís Teixeira

Douro Internacional:escarpas de outro mundo

Vista apurada, os grifosestão em casa nestedesfiladeiro gigantesco

As asas dos grifos guiam-nos oolhar pelo desfiladeiro. Semdeslizar, não foge às vertigens.Torres invisíveis de ar aquecidoarrastam as grandes asas para oalto, em espiral, à procura de rotasque conduzam ao alimento, umcadáver de gado morto pordoença ou velhice. São estesgrifos os protagonistas da limpezade potenciais focos de doenças...Em baixo, o olival abandonadodeixa a simetria do plantio à vista.Parece um musgo caprichosonuma pedra ao alcance de umbraço gigante. Encravadas entre

lódão e demais vegetação domatagal mediterrânico, asazeitoneiras não querem pôr o péna água.Para cima, é o domínio do granito,a pique, suado em colunas de arquente. Sob o tecto azul do céu,mais acima, há grifos que nosespreitam, curiosos: somosformigas alienígenas entrepenedias que sustentam o abismo.De manhã, o sol já abrasa e o rioDouro, aqui fronteira de Portugale Espanha, lá no fundo é umcordão azul que leva mistériosnaturais.

Estamos no miradouro doCarrascalinho, perto de Lagoaça.António Monteiro, biólogo doParque Natural do DouroInternacional , diz que «apopulação de grifos, comum aeste parque e ao homólogoespanhol, está estabilizada: sãocerca de 600 casais residentes».Nas arribas, asas abertas, deslizamde todos os lados. Uns pousamnas pedras altaneiras, outrosultrapassam o horizonte rochoso.Ágeis, surgem agora andorinhões-reais à altura dos nossos olhos,voo rápido de senhores dos ares,

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Texto: Jorge GomesFotos: João Luís Teixeira

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O rio Douro flui na fronteira entre rochas enormes de granito e xisto

O britango está associado à pastorícia tradicional e à agricultura tradicional de sequeiro

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asas pontiagudas, bemmaiores que andorinhas: «Estaespécie é mais rara do que aque costumam ver!», destacaAntónio Monteiro.

Corvo-branco

Na cratera gigantesca entraagora, asas esticadas em voop l a n a d o , u m a a v eesbranquiçada: é um abutre-do-egipto. Só o vira em livrose na televisão. Agora, está ali,em carne e osso! Habituados à

sua visita, os aldeãos dizem que«traz as malas do cuco», já queo antecede na migração deÁfrica para a Europa, naPrimavera, ao regressar depaíses da região da Mauritânia.Ave engenhosa, quebrou o mitoantigo de que só o homem seriacapaz de usar ferramentas: esteabutre abre ovos rijos, como osde avestruz, atirando-lhes umapedra com o bico!Trata-se de uma ave bem vistapelo povo local, que o entendeinofensivo para os seus animais

A pastorícia remonta a temposantigos nesta terra

O rosmaninho espontâneo estáem todos os caminhos

Cravina espontânea autóctone

Gralhas-de-bico-vermelho

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Picanço-barreteiro

Os pombais tradicionaisdavam adubo e carne em

tempos difíceis

de criação.Hoje, contam-se 80 casais entre oParque Natural do DouroInternacional e o das «Arribes delDuero», no lado espanhol.A cor contrastante e o tamanhodesta ave levou outra parte dapopulação a chamar-lhe corvo--branco, e ainda britango, «decertopelo hábito de derriçar os ossos, ouseja, comer as farripas de carne etendões em redor dos ossos»,esclarece António Monteiro.Estas arribas são-lhes necessáriaspara criarem a prole: «Ao contráriodas águias e dos grifos, que fazemninho em plataformas, o britangoé praticamente cavernícola», apontao biólogo, que completa: «Pornidificar até mais tarde, a espécieprotege-se mais do calor empequenas cavernas, onde hásombra. Este abutre chega em iníciode Março, o par corteja-se até finsde Abril; em Agosto, as crias saemdo ninho e, passado um mês,dirigem-se para África, ondepermanecem na nossa estação fria».O rico mosaico de habitats desteparque é vital também para oabutre-do-egipto. Se de momentoaqui a espécie estabilizou, «a nívelda maioria das outras regiões daPenínsula Ibérica, e restante Europaestá bastante ameaçada», previneAntónio Monteiro.Enquanto uma brisa luta em vãopara refrescar o ar sob um sol aceso,a vista corre no desfiladeirogigantesco.Um peneireiro, com ninho a uns600 metros, enxota o britango quedesliza para sul.

Tchóias?

Ouvem-se nas penedias unscantares estranhos do tipo«tchoin, tchoin»: «São as gralhas--de-bico-vermelho», comenta obiólogo. Um bando de avesescuras de bico curvado,

vermelhusco, agita-se ao longe.Os binóculos aproximam-nas erevelam as suas danças em voo.A sobrevivência é incontornável,para elas a união do grupo dáforça.As pessoas do sítio chamam-lhes«tchóias», pelo som que produzemno anfiteatro da natureza. Mastambém são jóias raras residentesnestes ecossistemas. Antónioadianta: «Regra geral, dormemnas arribas e durante o diaalimentam-se nos planaltos ondehá pastorícia. Associam-se aespaços abertos, onde pasta ogado, comendo insectos do solo».O ex-líbris do Parque Natural doDouro Internacional são as aves.Embora nem sempre fáceis de veras espécies mais discretas, tambémhá bufos e águias-reais, águias-de-bonelli e milhafres-negros,entre outros...

Grande bacia

As arribas arrebatam os sentidos.O que vemos é o resultado daerosão de uma «grande baciainterior, situada na região deCastilla y León. A água começoua escoar por uma falha geológica,sendo o rio Douro a válvula deescape dessa bacia. Já alguém lhechamou o Grande «Canyon» daPenínsula Ibérica, e no entantopoucos portugueses saberãodisso», comenta AntónioMonteiro.A flora adaptou-se. São cerca de«1500 espécies, uma grandediversidade», diz. «As riquezasbotânicas mais importantes estãoassociadas aos leitos de cheia, àszonas onde não há barragens».Dado os microclimas destes sítiosde enclave mediterrânico,surgiram aqui espécies muitoadaptadas: «Terão desaparecidoumas tantas com as váriasbarragens, mas ficaram algumas

Picota

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Page 32: Sardão de cabeça azul

bolsas nos locais onde o rio nãosubiu — as relíquias botânicasestão aí».Hoje, há pontos importantes«onde se situam manchas desobreiral denso, azinhais,zimbrais, bosques de lódão, maisperto da água freixiais, a únicaespécie de conífera garanti-damente nativa», conclui.Uma andorinha-dos-beiraispassa perto, aqui como na bordados telhados da aldeia maispróxima!

Há que tempos...

A tarde finda. Não vimos lobose, mesmo os répteis, queabundam nestas bandas, não semostraram por aí além.Menos ainda os peixes deste rioque, antes das barragens, eracaminho reprodutivo de esturjãoe de sável, de lampreia e deenguia, de salmão e de outrasespécies migradoras. Agora,impedidas aquelas de subir o rio,só há espécies vulgares como osbarbos, bogas e escalos, e atéestes hoje estão ameaçados coma introdução de espécies exóticasde que são exemplo o achigã, aperca, o lúcio.Percorridos alguns atalhosestreitos ora de terra batida orade piso asfaltado chega-se às

pinturas rupestres de Mazouco.Algumas terão ficado submersas,mas sobraram estas: na face dexisto, encontram-se gravadascavalgaduras de antanho, algoque lembra o cavalo deprzewalski, o antecessor das raçasque hoje conhecemos. Há unsmilénios mover-se-iam emmanadas, de pastagem empastagem.De repente, uma ave cintilanteagarra-nos o olhar, voa para aoutra margem e, ao bater-lhe osol, é uma explosão impres-sionante de cor iridescente: «Ummelro-azul!». A mim, semexperiência, parecer-me-ia umaave brilhante saída de algumaselva remota dos trópicos...Com binóculos, está pertinho:talvez nem o abelharuco nem oguarda-rios o suplantem emesplendor.Também o artista rupestre, nomesmo sítio, buril primitivo namão descansada, obra inter-rompida, terá ficado a olhar aave notável, suspenso entre obom presságio do avistamentoe o ritual pictórico.O Parque Natural do DouroInternacional é este mundosingular, com paisagens de sonhoe surpresas a cada passo. Tesourosúnicos, ali guardados, à suaespera...

A primeira barragemfoi construída em 1958e outras, portuguesas

e espanholas,seguiram-se-lhe

Milhafre-real em Mazouco

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António Monteiro, biólogo, comentaas pinturas rupestres de Mazouco

Foto: Jorge Gomes

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Extensão aproximada140 Km

Duração aproximada5 horas

Grau de dificuldadeReduzido

Tipo de itinerárioLinear

Ponto de partida/chegadaChafariz de entrada (do Grifo)em Almofala

ApoiosPercurso sinalizado com marcas,presença de placards interpretativos

Pontos de interesse1 - São João das Arribas (Aldeia Nova)A povoação de Aldeia Nova, próximadas arribas do Douro, constitui um doslocais mais interessantes de todo oParque Natural. Destaque para o casariotradicional, rústico mas sóbrio,represen ta t i vo do pa t r imón ioarquitectónico das Terras de Miranda.Merece igualmente referência a capelade São João, situada a curta distânciada aldeia, nos seus arredoresencontram-se com os seus importantesvestígios arqueológicos e uma vistanotável sobre o vale escarpado doDouro.2 - Fraga do Puio (Picote)A partir de Miranda do Douro, seguirpara Sul via Cércio, Freixiosa (verpombais e casario tradicional), Vila Chãda Braciosa até Picote.Nesta aldeia existe um local conhecidocomo a Fraga do Puio com amplapaisagem sobre o vale do Douro.Possibilidade de observar fragasgraníticas semeadas ao longo damarcada curva do rio, vestígiosarqueológicos em redor do local egrandes aves de rapina. Trilho em redorda aldeia e visita a um moinho de águarecuperado.3 - Penedo Durão (Poiares)De Picote para Sendim, depois deBemposta (com hipótese de visita aovale do Douro pela estrada da barragemde Bemposta), Algozinho, Vilarinho dosGalegos, Bruçó, Lagoaça, Freixo deEspada à Cinta. Daí até ao rochedoquartzítico, vulgarmente denominadode Penedo Durão, que é um dos locaismais emblemáticos de toda a paisagemdo PNDI. Debruçado sobre um medonhoprecipício de centenas de metros, delese avista a extensa planura da provínciade Salamanca, bem como as quintasdo Douro com o seu casario, olivais,amendoais e vinhas. Observa-se aindaa Barragem de Saucelhe. No espaço

Prado de orquídeas-selvagens próximo de Miranda do DouroFoto de Nuno Gomes Oliveira

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PERCURSO: PARQUE NATURAL DO DOURO

aéreo é vulgar assistir ao voo tranquilode uma das aves mais espectacularesda fauna portuguesa, o grifo, aquiconhecido por abutardo que, com osseus 2,3 m de envergadura, utiliza ascorrentes de ar quente e os ventos deladeira para ascender até elevadasaltitudes.4 – Ribeira do Mosteiro (Poiares)De Poiares até à estrada da Ribeira doMosteiro (entre Barca de Alva e Freixode Espada à Cinta), acompanhando oseu vale com destaque para asimponentes escarpas quartzíticas oufragas, o mosaico agrícola comamendoais, olivais e pomares delaranjeiras no fundo dos vales. Atençãoque se trata de um percurso rodoviáriode montanha (cuidado com acondução). Possibilidade de deslocaçãoa pé po r ca l çadas an t i gas,nomeadamente a Calçada de Alpajares,a partir do local de Alminhas, na estradamunicipal, ou a partir da aldeia dePoiares.5 – Albufeira de Stª Maria de AguiarDe Barca de Alva até Escalhão, depoisMata de Lobos, Almofala e a albufeirada St.ª Maria de Aguiar, resultante daconstrução de uma barragem em terrabatida em 1979, localiza-se no extremoSul do Parque Natural. Este plano deágua com cerca de 100 ha, inclui obraço principal da albufeira, no ladonascente, que corresponde ao percursoprimitivo do rio Seco, e o braço poente,que deriva da ribeira do rio Chico. Emtermos de avifauna, podem observar-se o mergulhão-de-crista, o mergulhão-

pequeno, a garça-real e a cegonha-branca. Existência de densos maciçosde tabua que cobrem as margens daribeira, refúgio de diversas espéciesfaunísticas (lontra, garça-pequena,rouxinol-grande-dos-caniços, cágado-de-carapaça-estriada... e de peixescomo o barbo e a boga).

Breve descrição do percursoPercurso turístico para automóvel oucamioneta pequena (até 20 lugares) porestradas nacionais e municipais comtráfego reduzido, através de zonasplanálticas e sinuosos vales, a paisagemé de horizontes amplos ora com áreasagrícolas, florestais ora com fragas eencostas vigorosas cobertas de matose bosques de zimbro e quercíneas.

Contacto

Parque Natural do Douro InternacionalFREIXO DE ESPADA À CINTALargo do Outeiro5180 Freixo de Espada à CintaTelefone e fax: 279 658 130

FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGORua Artur Costa, 1.º6440 Figueira de Castelo RodrigoTelefone e fax: 271 313 382

MOGADOURORua de Santa Marinha, 45200 MogadouroTelefone: 279 340 030Fax: 279 341 596E-mail: [email protected]

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Sardão de cabeça azulSó existe na Península Ibérica e é visto com simpatia por quem o olha mais de perto.O lagarto-de-água foi tema de doutoramento de Raquel Godinho, bióloga.Em dois dedos de conversa, a investigadora dá todas as dicas para se compreendero interesse da sua conservação...

entrevista

O lagarto-de-água pode medir 125 mmde comprimento cabeça-corpo.Foto: Jorge Gomes

PARQUES E VIDA SELVAGEM | 35

O carro acelera e ergue uma nuvem de pó.Naquele caminho da serra de Monchiquequase roça noutro automóvel, que tem deparar. Alvoroçado, antes de prosseguir, ocondutor vê na margem do ribeiro embaixo alguém esticado no chão. É umamulher! Sai do carro, e chama: «Menina!Está bem?». Silêncio. Alteia a voz que cairibanceira abaixo: «Sente-se bem?».Vê-se lá de cima a moça petrificada, ao sol.As piores suspeitas acentuam-se: «Estarámorta? Deitaram-na pelo declive abaixo efugiram...».Olhos postos num lagarto-de-águadesconfiado, em cima de uma pedra beijadapela ribeira, a bióloga empenhou-se em

apanhar o réptil. A pesquisa obriga, e sentiro sol tórrido são ossos do ofício. Na mão,um pau com um laço: a ideia é lançar-lhoe consumar a captura.Súbito, ouve o vozerio mais acima. Nãoquer saber: se se mexe, lá vai a caça!Concentrada, desliga, até que, de repente,alguém a agarra pelo pé. Volta-se e vê umhomem assustado, que a larga imedia-tamente. O estranho treme como varasverdes: «Pensava que estava morta! Julgueique as pessoas daquele carro a tinhamatirado cá para baixo! Até tirei a matrícula…».A evocação deixa no ar gargalhadas deRaquel Godinho, bióloga, naquele recantodos laboratórios do CIBIO* em Vairão.

Olhar simpático, esta bióloga está dispostaa explicar tudo sobre o seu objecto deestudo... com paixão: o Lacerta schreiberi.Começamos pelo nome vulgar.Lagarto-de-água porquê?Raquel Godinho — Porque ele existesobretudo ao pé de ribeiros e de zonasonde há água, embora não goste depântanos ou de zonas muito alagadas.E nada?R. G. – Este lagarto nada muito bem:atravessa um rio sem dificuldade. Emergulha! Mergulha em fuga, escondendo-se no fundo, onde pode ficar alguns minutossem respirar.Qual é o habitat da espécie?

Texto: Jorge Gomes

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Local onde se vêem ao longo do ano crias de lagarto-de-água,junto do lago dos gansos-bravos no Parque Biológico de GaiaFoto: Jorge Gomes

Fêmea de lagarto-de-água: em baixo corre águarumo ao rio FebrosFoto: Jorge Gomes

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R. G. – Este lagarto prefere habitats associadosa zonas ribeirinhas, por exemplo, que têm rioscom amieiros nas suas margens, fetos, vegetaçãonativa de lugares húmidos.No estudo que estamos a fazer na Malcata,notamos que eles estão, no máximo, entre cincoe dez metros de distância do ribeiro – nãoadianta procurar fora desses limites. Aqui noNorte é diferente: como é tudo mais húmido,há vegetação verde o ano inteiro, e por isso éfácil ver lagartos-de-água um tanto afastadosdas linhas de água.Como os encaram as pessoas onde a espécieocorre?R. G. – É engraçado. Acham que são filhos dosardão-ocelado: «Ai esses pequeninos, eles são osfilhos dos sardões!». Mas há pessoas atentas quedizem: «Sim, sim, os que têm cabeça azul». Nuncaalguém do campo me disse que os matava.Aconteceu foi algo diferente uma vez. Estávamosno Gerês, no rio Homem, a apanhar lagartos-de-água para investigação. Houve pessoas quese interessaram pelo que estávamos ali a fazercom uma cana, mas sem ser para peixes.Deixámos as mochilas e fomos rio acima,desaparecemos. Quando chegámos, umas trêsou quatro horas depois, já não estava ninguéma tomar banho, e tínhamos dentro de umsaquinho um lagarto com a cabeça esmagadae um papelinho a dizer «Foi o único queconseguimos apanhar, os outros fugiram». Porum lado fiquei sensibilizada, mas por outrotristíssima, porque eles tinham morto um…É mais fácil ver os machos do que as fêmeas?R. G. – É muito mais fácil. O lagarto-de-águaé aquele lagarto que acho lindíssimo, que temaquela cabeça azul, espectacular, e que nosajuda a detectar os machos. Eles também semostram mais. As fêmeas são mais verdes eescondem-se na vegetação. Detectar uma fêmea,se ela não fizer barulho, é difícil, olho para avegetação e parece que não está lá nada, emborade facto esteja. Mas isso também ocorre porquea fêmea de lagarto-de-água sai menos, expõe--se menos. O macho não: encontramo-lofacilmente exposto em pedras, em troncos.Porquê estudá-lo?R. G. – O que nos motivou no estudo destelagarto foi, para além de ser um lacertídeo quesó existe na Península Ibérica, ter também umadistribuição peculiar e idêntica à que têm outrasespécies endémicas, como por exemplo a rã-ibérica. No Sul, ele existe no que nós chamamosIlhas Atlânticas, em plena região mediterrânica.No Norte, tem uma distribuição contínua.Quando vamos para o Sul, em Portugal, eleocorre na serra de Monchique, na serra doCercal, na serra de Sintra e na serra de S.Mamede, isolado; e em Espanha, na serra deGuadalupe e na serra de Toledo.Isto faz com que tenhamos a certeza de quenuma distribuição antiga, há muitos anos estelagarto ocupou também o Sul da PenínsulaIbérica, provavelmente de forma contínua. Mas

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Raquel Godinho, biólogaFoto: João Luís Teixeira

REGISTO DE OBSERVAÇÕESDE LAGARTO-DE-ÁGUANO PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA

200420 de Abril - 1 macho, o espécime dafotografia de abertura desta peça.

200529 de Abril - 1 macho na quinta de SantoTusso e 1 cria perto do lago dos gansos-bravos. 11 de Maio - 1 macho a atravessaro caminho junto da quinta de Santo Tusso.4 de Junho - 1 macho no tanque da Quintado Chasco. 5 de Agosto -1 cria perto dolago dos gansos-bravos.

200617 de Abril - 1 macho perto do lago dosgansos-bravos e 1 cria distante cerca de 10metros, no muro. 20 de Abril - 1 cria pertodo lago dos gansos-bravos. 21 de Abril - 1fêmea perto do lago dos gansos-bravos(foto publicada). 4 de Maio - 1 macho pertodo lago dos gansos-bravos. 6 de Maio - 1macho perto do lago dos gansos-bravos. 8de Maio - 1 macho perto do lago dosgansos-bravos.

Fonte: Arquivo fotográfico PBG/Jorge Gomes

Cria de lagarto-de-águaFoto: João Luís Teixeira Macho de lagarto-de-água, no Parque da Lavandeira,

em 25 de Abril deste ano. Foto: Álvaro Augusto Correia

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com o aquecimento, com as modificaçõesclimáticas, ficaram apenas os resquícios doque nós chamamos Ilhas Atlânticas.O que pesquisa na serra da Malcata?R. G. – Descobrimos que a espécie reúnedois grupos, duas unidades evolutivasdistintas, que terão iniciado o seu processode diferenciação há cerca de dois milhõesde anos.De uma população antiga de lagartos-de--água derivaram duas distintas, mantendo-se a mesma espécie. Também não hásubespécies, não há evidências disso. EmPortugal só temos uma dessas linhasevolutivas; no Centro de Espanha há aoutra. Curiosamente a divisão destas linhasevolutivas ocorre precisamente na fronteirapolítica, num quilómetro, na serra daMalcata. Mais para cima ou mais para baixoo lagarto-de-água não ocorre. Porquê?Porque não há habitat que os sustente, hádemasiado calor. O lagarto-de-água temrequisitos ecológicos exigentes.Ali há uma zona de mistura das linhasevolutivas, mas não muito, e estamosprecisamente a tentar perceber porque éque isso acontece. Para esta investigaçãoconvidámos alguns investigadoresestrangeiros que nos estão a ajudar a estudaresta questão.O que atrai uma fêmea e um macho?R. G. – Estamos a tentar perceber até queponto o azul da garganta é ou não umfactor importante, embora se compreendaque, sendo o macho tão colorido, esse écom certeza um factor selectivo. Estamosa tentar perceber se o azul tão evidentetem a ver com a fêmea escolher o machoou se funciona como competição entredois machos.Na Malcata estamos a apanhar os lagartos,a medir a intensidade do azul e a ver seisso traz resultados. Estamos também atestar lutas com machos em terrários devidro, para ver se eles vão à luta, paratermos uma média. Noutros terrárioscolocamos feromonas de machos do nossolado da fronteira e de machos do lado dafronteira espanhola, a ver quais aspreferências das fêmeas.

Então a selecção sexual não funciona sócom estímulos visuais?R. G. – Não sabemos. Estamos a tentarsaber o que realmente se passa ali. Há-dehaver qualquer coisa química, mas nãosabemos ainda o que será.Qual é o seu ciclo de vida?R. G. – Os machos saem mais cedo que asfêmeas. Lá para Março. Um mês depois, saemas fêmeas. Há um período em que coabitam,depois há a reprodução, acasalam em Maio,as fêmeas ficam prenhes e põem cerca dedez ovos e os juvenis vão nascer em Agosto.Hibernam pequenitos em Outubro.O que ameaça mais o futuro destelagarto?R. G. – Sobretudo a destruição de habitat.Por exemplo, na zona das Caldas da Rainhae serra de Montejunto as populações estãosob uma pressão humana intensíssima, eem perigo de extinção. Mas há outraspreocupações evidentes: a poluição dosrios, a alteração da vegetação nas margensdos rios, a construção de barragens...Quais os predadores da espécie?R. G. — Cobras e aves basicamente, comobúteos, peneireiros. Também a gineta e alontra.E de que se alimenta?R. G. — Ele alimenta-se de insectos, caracóise já foi observado a alimentar-se de algumafruta.Como comenta o facto de o ParqueBiológico de Gaia ter uma população delagarto-de-água?R. G. — Apesar de no Norte de Portugalserem lagartos frequentes, o ParqueBiológico de Gaia tem o mérito de mantero habitat que a espécie ocupa. Se sereproduzem, a área tem todas ascaracterísticas necessárias para a existênciada espécie, o que é excepcional: numacidade não é normal ver lagartos-de-água.

* Centro de Investigação em Biodiversidade e RecursosGenéticos da Universidade do Porto.

** Feromona - substância química que induz umaresposta sexual em índividuos da mesma espéciemas de sexo oposto.

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breves

RAMSAR: novos sítios

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Realizou-se no passado dia 3 de Junho, emLisboa, um jantar de confraternização coma Dr.ª Adelaide Espiga, que se aposentou apósmais de três décadas de trabalho na área doAmbiente e, particularmente, da EducaçãoAmbiental.Bióloga de formação, passou pelo ensino,trabalhou na Comissão Nacional doAmbiente, foi vice-presidente do InstitutoNacional do Ambiente, entre 1989 e 1993 eDirectora de Serviços de Formação Ambientaldo IPAMB até 2002; terminou a sua carreirapública no Instituto do Ambiente, comoAssessora principal.Entre muitos outros projectos, foiimpulsionadora dos Encontros Nacionais deEducação Ambiental, realizados em parceriacom o Parque Biológico desde há 17 anos.No ENEA deste ano, em Miranda do Douro,contamos com a Adelaide!

Por Nuno Gomes Oliveira

Há cinco novas zonas húmidas de importânciainternacional

Dão forma a este facto as Lagoas de Bertiandos e de S.Pedro de Arcos, um complexo de lagoas de água docepermanentes e temporárias na margem direita do rio Lima.Também o planalto superior da serra da Estrela e troçosuperior do rio Zêzere, na mais alta montanha de Portugalcontinental, com 1993 metros no ponto mais alto.Juntam-se as Fajãs da Lagoa de S. Cristo e dos Cubres, doispequenos sistemas lagunares costeiros formados porprocessos de deslizamento das encostas escarpadas da Ilhade S. Jorge, na Região Autónoma do Açores.A lista continua com o Polje de Mira-Minde e nascentesassociadas, uma importante depressão cársica plana, associadaa um sistema hidrológico subterrâneo, com nascentes egrutas.Por fim, o quinto novo sítio RAMSAR é o Estuário doMondego, o estuário do maior rio que nasce e desagua emterritório português.Portugal possui agora 17 Sítios Ramsar.

Fonte: www.icn.pt

Convenção de Ramsar: diz respeito às Zonas Húmidas de ImportânciaInternacional Especialmente como Habitat de Aves Aquáticas. Um dosseus pressupostos mais relevantes consiste em entender que a sobrevivênciadas aves em migração depende de uma protecção que envolva ocompromisso dos países por onde passem ou vivam.

TRÊS DÉCADAS DE TRABALHO

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Dizia o repórter de imagem da televisãoquando em Junho registou cenas deespécies especiais num carvalho doParque: «Quando disser que estive afilmar uma árvore, ninguém vai percebero que estive a fazer…». Tem piada! Nãoia mesmo perceber até ver as imagens:esta árvore nativa, representativa dosnossos ecossistemas naturais, nestaépoca é uma galáxia palpitante de vida.Curiosamente, ao nascer esgueirou-sepor dentro de um muro rústico feito depedras de granito. Ao crescer feriu-se,ao longo do seu meio século de vida.Mas foram esses engulhos que tambémo salvaram: madeira contorcida «nãoserve para mobília, é brava, um dia servepara lenha».Hoje, este carvalho está numa áreaprotegida: o Parque Biológico de Gaia.O muro foi desmontado, mas a base dotronco continua descascada.Agora, estou junto do carvalho já háuns minutos quando vejo voar do troncouma ave escura, rápida, género melro.Não a vira antes. Agora que pousa,distante, reconheço um estorninho!Passadas duas semanas, à sombra docarvalho macerado ouve-se ainda estamúsica natural: as crias piam, pedemmais comida aos pais, lá do alto. Vendomelhor, o som brota de um buracoperfeito, discreto, a quatro metros dosolo.Só o bico engenhoso de um pica-paufaria esta obra. Abandonado pelo artistatamborileiro, este ano um casal deestorninhos adoptou-o.Verdejante, este carvalho-alvarinho,quando o calor aperta, chora de gratidão

e há gotas da sua seiva que vertem pelacasca rugosa.Pelo ar flui o oxigénio que exala, mastambém outros aromas seus. Para alémde formigas e quejandas, as cabras-louras não lhe resistem. Assim queeclodem do solo, em meados de Maio,estes lucanídeos trepam um tronco alto,abrem a couraça, esticam as asas elançam-se como mini-helicópteros deleme enferrujado pelas alturas, em buscado querido líquido. É fácil saber quandoaparecem e desaparecem, na sua brevevida de insecto adulto.Também as vespas-cravo, maiores queas vulgares, ali vão aliviar a líbido. E esteano até fizeram colmeia nos ramos docarvalho: uma carga de sarilhos —nutrem-se néctar das flores, mas aslarvas adoram carne de insecto, por issohá que retalhar outros para as fazercrescer…Quem não parece aborrecer-se comisso, usando a asa para dar umascachaporras e manter o respeito, são asborboletas que não largam o carvalhonuma época tão promissora: a lindaalmirante-vermelho, a coma, a pavão-diurno, a malhadinha e, claro, a raraapatura-pequena, que aqui vale duasgerações da espécie num só ano!Isto é a rotina anual. Mas este ano,o carvalho-alvarinho ofereceu àinstituição que o protege novidadesinesperadas: a presença da maiorborboleta da Europa, a borboleta-do-medronheiro e a borboleta-tartaruga-grande…

Texto e fotos: Jorge Gomes

À vista do cliente de qualquer horto, estas árvores são é boas para lenha. Grande engano: sendo arvoredo decopa irregular e tronco esburacado, na prática revelam-se referências insubstituíveis, que muitos animais sabemagradecer…

raízes

Longa vida aos carvalhos velhos

Borboletaalmirante-vermelho

Em cima, borboleta pavão-diurno,sendo a outra uma apatura-pequena

Apatura-pequena

Este carvalho-alvarinhoé uma referência

A sardanisca tentaa sua sorte

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Vespa e cabras-louras

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BORBOLETA-DO-MEDRONHEIROCharaxes jasius

Espécie dispersa e relativamente frequente em Portugal,em matagais mediterrânicos e florestas mistas commedronheiros (Arbutus unedo).Era vulgar nas serras a leste do Porto até ao primeiroquartel do século XX, tendo praticamente desaparecidodevido ao abate da floresta autóctone. No Parque foidescoberta em 5 de Junho de 2006. A espécie voapraticamente durante todo o ano e hiberna. A lagartaalimenta-se exclusivamente de medronheiro.

Valongo, Julho de 1935

Nestas serranias onde meencontro sinto-me comopeixe na água, pois aquinada me falta. Háárvores por todo olado, as flores sãoaos milhões, o ar épuro, correm regatosde água cristalina,onde pequenospeixes brincam entrepedras. Bichos há-o s t a m b é m , emuitos! Eles sãoouriços-cacheiros(foge, que ele comeborboletas…), cobras,lagar tos -de-água ,sardaniscas, aves detodas as cores, felpudasraposas, lontras, eu sei lá…O solo aqui é curioso, de coresescuras, dizem-me que sãoxistos e ardósias negras! Umgeólogo disse mesmo que isto já foitudo mar, antes de as águas terem recuadoe os sedimentos acumulado. Por isso é que euencontro aqui uns bichos muito estranhos, com aspecto

algo fantasmagórico, a que chamamtrilobites. Felizmente que já

morreram há milhões de anos,pois metem-me medo!

Um dia destes vi passaruma máquina fumegante,que me deitou umabaforada de uma coisa aque chamam gasolina.Vi-me aflita para respirare espero que nãotragam para aqui muitasdessas geringonças.Também andaram aquiuns homens a derrubaralgumas árvores e aplantar umas plantinhasazuis, que dizem terem

vindo da Austrál ia.Chamam-lhe eucaliptos e

dizem que, quando elascrescerem, não mais vão

anda r es fomeados eandrajosos, que aquelas plantas

darão árvores de boa madeira e osfarão fazer fortuna. Ora, isso não me

aborrece nada, desde que me deixemaqui os medronheiros onde eu possa pôr ovos.

Vocês sabem que a borboleta-do-medronheiro só gostadesta planta. Não sabem?!

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Borboleta tartaruga-grande

Em cima:a borboleta-do-medronheiro é a

maior da Europa – desfocada,uma apatura-pequena, mais rara

TARTARUGA-GRANDENymphalis polychloros

Borboleta dispersa em Portugal, sendo frequente apenasem zonas com florestas conservadas, onde existamcerejeiras-silvestres (Prunus avium). Como alternativa,pode sobreviver em pomares de cereja, desde querodeados de outras árvores. Apareceu pela primeira vezno Parque em 29 de Maio de 2006 e não era vista naregião de Vila Nova de Gaia desde 1974. Aparece deMaio a Setembro e a lagarta vive sobre cerejeiras e outrasárvores caducifólias.

70 anos passados...

Texto: Ernestino MaravalhasFotografias: Jorge Gomes

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O oceano é generoso: feito de água, ofereceuma das suas melhores partes sob a formade nuvens que despejam chuva. Rico que é,o mar não cobra o empréstimo, nem juros,dessa água doce, por isso não há grandeargumento para despachar prontamenteesse recurso de volta à origem, não acha?Um jardim cimentado acelera a viagem daágua para o oceano, empobrece a terra,aquece-lhe a casa – no Verão não convém!Um solo natural, vestido de plantas, é maisque um mata-borrão a absorver o preciosolíquido, a prevenir a erosão: armazena aágua que se infiltra, e vitaliza diversas formasde vida que se perfilam a dar-lhe as boas-vindas.O seu jardim até pode nem ter um charcomajestoso, capaz de acolher miríades

A ideia consiste em retardar a chegada da água doce ao mar, retendo-a de formaa que entre nos ciclos vitais. Porque onde a água está a vida prolifera...

quinteiro

Dê água ao seu jardim

Texto e fotos: Jorge Gomes

Page 43: Sardão de cabeça azul

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Uma cria de chamariz ou milheirinhafica mais bem entregue aos cuidados

dos pais, mesmo fora do ninho

O pisco-de-peito-ruivo é um grandecantor em época de reprodução

As aves no VerãoHá traços habituais nesta altura do ano no comportamentodas aves selvagens que pode conferir no seu jardim

– Maior necessidadede beberem e de sebanharem.

– A maior parte dascrias já saíram dosninhos e pedemalimento aos pais.

– Presas fáceis deratos, gatos e cães,muitas crias morrem.

– Mantenha oscomedouros comgrão...

– À medida que o tempo aquece ofereçano seu quintal mais água fresca. A águada chuva é boa. Aproveite-a.

– Se encontrar uma cria no chão, antesde lhe deitar a luva informe-se. Em váriasespécies é típico as crias saírem do ninhoantes de conseguirem voar e os paiscontinuam a alimentá-las.

– Uma forma de diminuir este facto é, setiver bichos de estimação, pôr-lhesbadalos.

– ... mas verificará que os seus amigos depenas irão optar mais pelos insectos queabundam no seu jardim, sobretudo se aflora presente for nativa.

de insectos aquáticos, de rãs e tritões,com plantas floridas a sorrirem àborda da água. De acordo com oespaço do seu quinteiro, sendopequeno, até uma floreira com águafresca se torna uma referênciaobrigatória para a vida selvagem dasredondezas.Para aves sedentas, é um óptimochamariz. Imagine-se num deserto epense como seria bom, com sede, teracesso a água limpa. No caso, há mais:um lago não é só bebedouro, podeser uma importante banheira... masnão para si! Se houver uma depressãocom a profundidade de dois dedos de

água apenas, a passarada sentir-se-á tentada a efectuar esta tarefafundamental, higienizar as penas,refrescar-se. Se o lago for mais fundo,uma pequena taça com água tambémserve.Além destes benefícios, também a suacasa passa a contar com um elementoestético relevante, sobretudo se ocolocar numa posição que lhe permitaolhá-lo com facilidade, por exemplo,pela janela.Dependendo do sítio em que seenquadra o seu lar, verá no seu quintalaves mais ou menos difíceis de avistar,umas residentes, outras de passagem.

Ao olhar pela janela vêem-se várioschapins: o carvoeiro, o real, o azul,até o rabilongo. Um pisco-de-peito-ruivo pavoneia-se, territorial, epetisca qualquer manjar que surja atalhe de foice. Outros seguem-lhe oexemplo.Nesta época, até a passarada deapetite granívoro altera o pratosignificativamente: apetecíveislagartas e aranhas, moscas ecatafedes, libelinhas e borboletas... a lista é interminável.Em lagos maiores, não será tão difícilcomo isso deparar um dia com umninho de galinha-de-água.

RosinhaMiltochrista miniata

Chapim-azul

O cuidado coma natureza nãoassenta sóem valores estéticos.Além do prazerde desvendaras histórias da vidanatural que sedesenrolam em tornodos meios urbanos,todos estes seresvivos funcionamcomo indicadoresda qualidadedo ambiente de cujasaúde todosdependemos.

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Estes lagos raramente são grandes.Podem ser construídos em qualquertipo de fundo e são excelentes parapássaros, rãs, peixes e para osproprietários do jardim: além deatraírem a vida selvagem, é tambémrelaxante e valoriza a paisagem.Também no campo, o seu sucedâneo,as charcas, dão de beber ao gado, sãoreserva preciosa numa emergência ereduzem a erosão.

Como fazer?

É fácil: basta ter espaço, um aparelhode bombear água, plantas e umcontentor. Escavado um buraco àmedida do contentor, há que aplicaro aparelho de bombear. Depois, enche-se e coloca-se as plantas. É de notarque se deve elevar a terra à volta dolago, para que o excesso de água escoepara fora e não para dentro dele. Senão houver espaço suficiente, podeutilizar baldes, barris e afins para terum lago mais pequeno. O efeito équase o mesmo de um normal.Há três coisas importantes a ter emconta quando se faz o lago: a telaimpermeável, a sua localização e asplantas que devem ser instaladas. A

tela serve para isolar a água do solo epode ser de plástico, PVC ou cimento.Uma tela de plástico pode ser maisbarata, mas é pouco durável e podeser tóxica para os peixes.Uma tela de PVC é moldável e bastanteresistente, sendo recomendadasobretudo para lagos maiores e comformas menos “ortodoxas”.O cimento é provavelmente o materialmais caro e difícil de instalar, mas duramais.Quanto à localização, deve ser visívela partir de uma varanda ou pátio, nãodeve estar por baixo de árvores paraevitar manutenção adicional efavorecer o crescimento de certasplantas aquáticas. Se possível, tambémse deve criar habitats à sua volta parapássaros e rãs.

Plantas

Deve haver vegetação aquática queoxigene a água, outra que evite excessode luz — para desfavorecer ocrescimento de algas — e outra queembeleze o lago. Plantas como aselodea são excelentes para aoxigenação; os nenúfares são bonspara reduzir a luz e, esteticamente

falando, também ficam bem, nãoconcorda?Introduzir peixes no lago não é máideia, antes pelo contrário, porque paraalém de o manter sem insectosindesejados, também é engraçado vê-los.É necessário ter em conta astemperaturas. No Verão o lago podeaquecer depressa. Logo, deve-se pensarem peixes que aguentem temperaturasmais altas.A questão da manutenção do lagotambém é importante e não écomplicada. O problema mais comumé a proliferação de algas. Ao contráriodo que se possa pensar, a solução nãoé esvaziar o lago e recomeçar aconstruí-lo. O que se deve fazer é terem atenção os nutrientes e a luz:quanto mais houver, mais elas irãocrescer, por isso basta reduzir osnutrientes existentes e controlar a luzincidente. Depois, o nível de algas vaibaixar.Outro problema pode ser o crescimentoexcessivo das plantas, mas nesse casobasta ir controlando o tamanho delasperiodicamente, não deixando que asuperfície ocupada ultrapasse os 50 a70%.

Texto: Filipe GomesFoto: João Luís Teixeira

Ter um lago à porta de sua casa beneficia o ambiente e encanta o seu jardim.Bem vistas as coisas, construí-lo não é um bicho de sete cabeças…

quinteiro

Uma fonte de vida ao pé de si

Um intervalo na azáfama de Verão: um melrocuida do bom estado das suas penas...

44 | PARQUES E VIDA SELVAGEM

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Page 47: Sardão de cabeça azul

Conhece o Lagartagis? Amigos do Parque

Para despertar o interesse para a importânciada conservação da natureza nada melhorque proporcionar um contacto directocom a diversidade biológica, como acontecenas reservas naturais, jardins zoológicos e botânicosou parques biológicos…

O Lagartagis é o 1.º viveiro de borboletas a ser criado naEuropa, onde os visitantes poderão aprender sobre a biologiadas borboletas através da observação das espécies comunsda Península Ibérica.Pretende-se proporcionar um passeio num jardim complantas mediterrânicas e habitado por cerca de 15 espéciesde borboletas, que poderão ser observadas nas diversasfases do seu ciclo de vida: ovo, lagarta, crisálida e adulto.A criação de um viveiro de borboletas no Jardim Botânicode Lisboa proporcionará às crianças em idade escolar umnovo espaço em que poderão aprender a valorizar o nossopatrimónio natural através da experiência.É por isso que o Tagis faz um apelo a todos os interessadosna Natureza em participar nesta nova iniciativa: «Convidamo-lo a inscrever-se como colaborador do Lagartagis. Se costumapassear e encontra lagartas nas folhas das plantas,experimente retirá-las com cuidado, colocá-las numa caixacom folhas dessa espécie e contactar o Tagis: nós podemosdisponibilizar as caixas adequadas para guardar as lagartase para serem enviadas por correio».Se estiver interessado, envie os seus dados para o Tagis econtribua para a criação de um novo espaço públicoespecialmente dedicado à educação ambiental, ou seja,uma estufa com borboletas no jardim botânico daUniversidade de Lisboa.

Para além da simpatia por este equipamento de educaçãoambiental, muitos dos seus visitantes optam por reforçara sua ligação à natureza e tornam-se sócios da Associaçãodos Amigos do Parque Biológico de Gaia...

Ainda assim, apesar de serem poucos, pode haver um ou outro sóciodistraído. Imagine que ele está em casa a seguir a um lauto almoço.Sem ser sócio também de uma outra associação, a dos Amigos daSesta, está quase a passar pelas brasas e pensa: «Se algum guindasteme arrancasse daqui até era capaz de sair, dar um gosto à perna.Nada muito pesado — um passeio em plena natureza».Cai-lhe a carteira ao chão, vê o cartão de sócio da AAPBG. Eureka!«Ando numa roda-viva, nunca mais me lembrei disto!», pensa.Mete-se a caminho. Acessos fáceis, proximidade, segurança, eguia de campo na mão vai vendo o gaio e o verdilhão, o chapim-carvoeiro e a garça-real que resolveu ficar no Parque no Verãocontra a corrente da sua espécie. Os insectos ao alcance da pontado nariz são outro mundo numa constante sucessão. E asactividades preparadas pelos técnicos do Parque que lêem nosite ou se recebem pelo correio? São variadas, para todos osgostos, desde que se goste de flora e fauna, claro.Ah! E esta revista, trimestral, os sócios, também a recebem emcasa! Não era por acaso de si que estávamos a falar, pois não?

Contacto:Associação dos Amigos do Parque Biológico de GaiaParque Biológico de Gaia4470-757 AVINTES

colectivismo

PARQUES E VIDA SELVAGEM | 47

Foto cedida pelo Arquivo TAGIS

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕESTagis – Centro de Conservação das Borboletas de PortugalMuseu Bocage – MNHNRua da Escola Politécnica, 581250-102 LisboaTel. + Fax: 21 396 53 88E-mail: [email protected]: www.tagis.net

Page 48: Sardão de cabeça azul

Planícies cerealíferas Arboricultura

Dentro dos objectivos perseguidospela Associação Portuguesa de Arboricultura,esta colectividade promove diversas actividadesdestinadas a um público variado...

Sendo objectivo da Sociedade Portuguesa de Arboricultura(SPA) promover o conhecimento da árvore e das suas relaçõescom o meio envolvente, divulgar os conhecimentos científicosda biologia arbórea e técnicas de arboricultura ornamentale proteger o património arbóreo de agressões, relembra aSociedade Portuguesa de Arboricultura a todos os interessadosque se encontram agendadas, no calendário de formação de2006, as acções que se passam a descrever.Tendo como público-alvo os arboristas, técnicos e responsáveispela manutenção de árvores, decorrem duas acções, uma,em 13 de Outubro, subordinada ao título «Alguns problemasfitossanitários de árvores em meio urbano»; outra, em 10 e11 de Novembro, intitulada «Escolha de Indivíduos em Viveiroe Técnicas de Plantação».Em 24 de Novembro, decorre a acção «O mundo da árvore»,que se destina a autarcas, técnicos de edicação ambiental eprofessores.

colectivismo

As planícies cerealíferas são sistemas agrícolasdesprovidos de árvores e arbustos, onde se praticauma rotação de cereais de sequeiro, pousiose cultivos de leguminosas.

Trata-se de uma paisagem rural com pessoas e aves. Tambémdenominada de estepe cerealífera, esta paisagem assemelha-se àsestepes naturais, sendo o habitat ideal para muitas espécies deaves estepárias. Cerca de 80% das espécies de aves estepárias temum estatuto desfavorável na União Europeia. Em Portugal existemtrês espécies globalmente ameaçadas, a abetarda, o sisão e ofrancelho. As áreas com importância para a conservação das avesestepárias localizam-se sobretudo no Alentejo. Todas estas zonasestão identificadas como Zonas Importantes para as Aves (IBA –Important Bird Areas). No entanto, actualmente apenas umapequena parte das IBAs estepárias tem alguma protecção legal.As principais ameaças para as aves das planícies cerealíferas estãorelacionadas com a intensificação agrícola, devido à substituiçãodos mosaicos extensivos por culturas de regadio e culturaspermanentes. Também o abandono dos campos, traduzido naflorestação de terras agrícolas, faz desaparecer este habitat.Actualmente não há apoios à manutenção das rotações própriasda planície cerealífera, essenciais para as aves estepárias. O novoPlano de Desenvolvimento Rural deverá conter uma medidaespecífica para a conservação das planícies cerealíferas alentejanas,que possa ser aplicada transversalmente em todas as IBAs estepárias.Para atingir estes objectivos a SPEA considera necessário:− Dirigir esta medida para as zonas prioritárias para as aves estepáriasno seu conjunto perfazem cerca de 120.000 ha);− Manter na rotação o cereal de sequeiro (mínimo 25%), os pousiose pastagens (mínimo 40%) e as leguminosas (mínimo 5%);− Manter áreas de pousio não intervencionadas durante o períodoreprodutor;− Semear leguminosas que possam ser vantajosas para as aves,para o solo e para o agricultor (ex: grão-de-bico, luzerna, ervilha-forrageira, ervilhaca, etc.).O Ministério da Agricultura deverá estar consciente que o agricultortem de ser justamente apoiado pelo serviço público que desenvolvena conservação das aves estepárias.Para mais informação sobre o assunto ver Projecto LIFE Sisão(www.spea.pt/ms_sisao) ou contactar o Coordenador do ProgramaRural da SPEA ([email protected]).

Texto: Domingos Leitão

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SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesRua da Vitória n.º 53 - 3.º Esq. - 1100-618 LisboaTel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39 - E-mail: [email protected]ágina da Internet: www.spea.pt

Sociedade Portuguesa de ArboriculturaContactos:Tel. 227 878 120; Tlm. 934 309 871Página da Internet: www.sparboricultura.pt

Abetardas. Foto: Gabriel Sierra & Juan M. Simón

Foto:Arquivo SPA

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As ilhas de S. Tomé (857 km2, tendo 47km de comprimento máximo e 27 kmde largura máxima) e Príncipe (139 km2,com 17 x 8 km), situadas no Golfo daGuiné, fazem parte de um grupovulcânico que inclui as ilhas de Ano Bom(Pagalú) (7 x 2,5 km) e Fernando Pó(Bioco) (69 x 32 km), sendo esta ilha aúnica situada na plataforma continentale a mais próxima do Continente Africano(32,5 km). A República de S. Tomé ePríncipe tem cerca de 1000 km2 desuperfície, incluindo os ilhéus das Rolas,Cabras, Santana, Quixibá, Gabado, Coco,Pedras Tinhosas, Sete Pedras, Pedra daGalé, Bombom, Boné de Jóquei eMosteiros. A ilha do Príncipe está a 210km SSW do Bioco e a 135 km N da ilhade S. Tomé. É uma ilha muitomontanhosa, com numerosos picos ±agudos, sendo o Pico do Príncipe (998m) o mais alto, seguido do Pico Papagaio(680 m), situados ± no centro da ilha. Ailha de S. Tomé é também extremamentemontanhosa, culminando com umaaguda escarpa que começa na craterade um extinto vulcão a 1480 m (LagoaAmélia) até ao Pico de S. Tomé (2024 m)e alguns fonolitos escarpados, como oCão Grande (663 m) e o Cão Pequeno(390 m), de muito difícil acesso. Como opaís é atravessado pelo Equador (ilhéuda Rolas), as ilhas apresentam climaequatorial e vegetação luxuriante portoda a superfície, inclusive nos picos maisaltos, com muita da floresta equatorialhúmida (pluvisilva) primitiva aindap e r f e i t a m e n t e p r e s e r v a d a ,particularmente nas montanhas de maisdifícil acesso. Aliás, a panorâmica que setem quando se atinge qualquer dos

cumes das ilhas é completamente verdee inolvidável.As ilhas eram desabitadas antes darespectiva descoberta (João de Santaréma 21.XII.1471 e Pêro Escobar a 17.I.1472)e não tinham mamíferos, a não ser 3espécies de morcegos, um mais pequeno,insectívoro (Myonycteris brachycephala)e endémico (seres nativos de áreas bemdelimitadas, geralmente muito restritas),e dois maiores e frugívoros (Eidolonhelvum e Rousettus aegyptiacus), a quechamam guembú ou fana-lixo (morcego-da-fruta, em português) e que sãoutilizados na alimentação pela populaçãomais carenciada. Actualmente, além danossa espécie, mamíferos domésticos(cão e gato), ratos e gado ruminante,introduziram-se alguns outros mamíferosque se naturalizaram, como o porco, omacaco (Cercopithecus mona) e a lagaia(Viverra civetta), um felino africano. Porhaver poucos mamíferos, a populaçãocaça e come qualquer destas espécies,inclusivamente a lagaia, que é umcarnívoro. Dos outros grupos de animais,está bem estudado o das aves, estandorecenseadas 143 espécies, sendo algumasendémicas (21%), como, por exemplo, opombo-do-mato (Columba thomensis)e o íbis-de-são-tomé (Bostrychiabocagei).A flora vascular (plantas superiores) destasilhas é muito rica em endemismos, poistratando-se de ilhas que se mantiveramisoladas durante muitos milhares de anos,não houve probabilidade de grandepermuta genética com populaçõescontinentais. Assim, a ilha de Bioco é amenos rica em endemismos vegetais(3,6%) por ser a que se encontra mais

próximo do Continente. A que apresentamaior percentagem destes endemismosé a ilha de S. Tomé (15,4%), por ser, dastrês não continentais (S. Tomé. Príncipee Pagalú) a de maior superfície (47 x 27km), e destas, a que apresenta menorpercentagem é Pagalú (7,7 %), por ser ade menor superfície (7 x 2,5 km) das três.A ilha do Príncipe apresenta 9,9% deendemismos de plantas vasculares.Da pluvis i lva pr imit iva que,presumivelmente, ocupava praticamentea superfície completa das duas ilhas eque foi desbravada, primeiramente logoapós a fixação dos primeiros colonos,para plantações de cana-do-açúcar(Saccharum officinarum), abandonadasnos finais do século XVI e, mais tarde(séc. XIX), para plantações de cafeeiros(Coffea arabica, Coffea liberica, Coffeastenophylla e outras espécies semsignificância) e cacaueiro (Theobromacacao), está, actualmente, confinada àsregiões mais inacessíveis das montanhasmais altas das duas ilhas. Além disso, afloresta primitiva também foi, desde oinício da ocupação, desbastada paramadeiramento, como já referia ValentimFernandes no século XV nas suascrónicas, no que se refere à ilha de S.Tomé: “Há nesta ilha árvores queparecem que chegam ao céu, e todaslisas senão umas ramas no mais alto,como um pinheiro cortado,... E, destasárvores são tão grossas que podem fazertáboas de 25 palmos. E... vira 15 homenscortar em uma árvore sem verem unsaos outros. Vi eu... em 1496 uma meiatáboa, que o rei mandara serrar na ditailha que tinha de largo 16 palmos,... eque não cabia no navio a táboa de 32

crónica

PARQUES E VIDA SELVAGEM | 49

S. Tomé e Príncipe: paraíso terrestrede relevante biodiversidade

Texto e fotos: Jorge Paiva, biólogo

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palmos serraram-na por meio e lhalevaram.”Por outro lado, a flora de S. Tomé ePríncipe, particularmente nas zonashabitadas, está repleta de plantasexóticas, introduzidas desde o início dopovoamento, sendo algumas invasoras[por exemplo as plantas da quina (váriasespécies de Cichona), introduzidas noséculo XIX] ou infestantes [algumasgramíneas, como, por exemplo, Eleusineindica (pé-de-galo)].Sendo a ilha de S. Tomé a mais habitada,hoje, as formações vegetais que ali seobservam, pela actividade antrópica,configuração da ilha, relevo rigoroso econdições climáticas, podem serdiferenciadas da seguinte maneira: naregião Nordeste, os velhos campos decana-de-açúcar levaram à desarborizaçãoquase completa, tornando a áreasemiárida; a cultura do cacaueiro podeatingir os 800 m de altitude, ocupandozonas de grande humidade; a partir dos600 m até 1000 m são cultivadoscafeeiros, competindo, nalgumas áreas,com o cacaueiro, tornando-se lentamentepredominantes; dos 1000 m até ± os1400 m, estão as formações florestaissecundárias (capoeiras), resultantes dealterações da floresta primitiva [pluvisilva(obó)] e onde as plantas da quinarepresentam os últimos vestígios da acçãoantrópica. Acima dos 1400 m está afloresta densa e húmida (obó).Como a pluvisilva ocupava praticamentetoda a ilha e como a ilha é vulcânica,formações tipicamente litorais ocupamáreas reduzidas, como ecossistemasdunares, onde ocorre frequentementeIpomoea pes-caprae subsp. brasiliensis(pé-de-cabra), como é habitual nas dunasdas regiões tropicais, e mangais, comdominância de Rhizophora harrisonii(mangue-rosso), no Sul da ilha. Na rochavulcânica do litoral vegeta o Pandanusthomensis (pau-esteira), um endemismoda ilha.No topo da montanha mais alta, está a

floresta de nevoeiro, típica das altasmontanhas da África tropical acima dos2000 m, com plantas da família das urzes(Ericáceas), como Philippia thomensis,das Campanuláceas, como Lobelia barnsiie das Podocarpáceas, como Podocarpusmannii (pinheiro-de-s.tomé), todasendémicas da ilha.A vegetação da ilha do Príncipe temsemelhanças com a de S. Tomé,verificando-se igualmente o predomíniode Rubiáceas, Euforbiáceas, Orquidácease fetos, assim como a ausência deLeguminosas arbóreas. É, no entanto,mais luxuriante, dando à ilha uma belezaincomparável, pois a floresta primitivanão foi tão delapidada, por a ilha tertido menor ocupação humana. Nestailha ocorre grande número de Cornáceas,características das florestas secundárias(capoeira), resultantes da destruição dafloresta primitiva, quando em 1906, serealizou a campanha de erradicação dadoença do sono.Nesta ilha, sãoreduzidíssimas as áreas com ecossistemasdunares e o mangal está confinado àbacia da Uba, na foz do rio Papagaio,junto à praia das Burras, cerca da praiada Lapa e na foz do rio Água Grande.Em qualquer das ilhas há praiasparadisíacas adornadas de coqueiros(Cocos nucifera), uma palmeira origináriadas costas do Pacífico Ocidental.A partirde 1990, a Biodiversidade da Repúblicade S. Tomé e Príncipe foi sujeita a uminventário efectuado entre 1993 e 1995,pela ECOFAC (Conservação dosEcossistemas Florestais da África Central)e um estudo no sentido de a conservar,promovido pela União Internacional paraa Conservação da Natureza e dosRecursos Naturais (UICN), financiadopela Comunidade Europeia, tendo sidocriadas duas grandes Áreas Ecológicasde Protecção, o Parque Natural do Obôde S. Tomé e o Parque Natural do Obôdo Príncipe, com inclusão de algumasÁreas de Reservas Integrais e com asrespectivas Áreas de ProtecçãoAdjacentes.

Flor-camarão (Impatiens buccinalis), um endemismo dailha de S. Tomé (S. Luís), Fevereiro de 2006

Ilha de S. Tomé, praia de S. João dosAngolares, Julho de 1991

Parque Natural do Obô da ilha de S. Tomé, naárea da lagoa Amélia, Janeiro de 2006

Pombo-do-mato (Columba thomensis), um endemismo dailha de S. Tomé (S. Luís), Dezembro de 1992

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