SARANDY, Flávio Marcos Silva - Reflexões Acerca Do Sentido Da Sociologia Do E.M
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7/24/2019 SARANDY, Flvio Marcos Silva - Reflexes Acerca Do Sentido Da Sociologia Do E.M
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In: CARVALHO, Lejeune Mato grosso de. Sociologia em Debate: !"eri#ncia e discuss$o de
Sociologia no nsino m%dio. Iju&: d. 'niju&, ())*.
Re+le!es acerca do sentido da Sociologia no
nsino M%dio
Flvio Marcos Silva Sarandy1
'ma -istria de desencontros: a im"lanta/$o da disci"lina no 0rasil
A sociologia sempre foi vista de modos contraditrios. Ora entendida comorevolucionria ou de esquerda uma ameaa conservao dos regimes polticosesta!elecidos " ora como e#presso do pensamento conservador e t$cnica de controlesocial" uma entre tantas formas engendradas pelos diversos %stados no seu af demanterem a ordem constituda. %m maio de 1&'(" durante a revolta dos estudantes de
)aris" viu*se escrito em um muro da +or!one, -o teramos mais pro!lemas quando o/ltimo socilogo fosse estrangulado com as tripas do /ltimo !urocrata0. este mesmo ano"os coron$is gregos acusavam esta cincia de disfarce do mar#ismo 2O que $ +ociologia"3arlos 4enedito 5artins" +o )aulo" 4rasiliense" 1&&'6. 7o mesmo modo" os governosmilitares da Am$rica 8atina sempre ol9aram enviesados para os socilogos e suaspesquisas. O que a maioria no perce!e $ que um socilogo francs" um outro russo eum terceiro norte*americano mal conseguiam se entender 112A3.44*11at$ a d$cada de1&:; 2As etapas do pensamento sociolgico" Aron" ontes6" um quadro que no parece ter se alterado significativamente. ?sto se e#plica pelo
fato de a sociologia a!ranger uma grande quantidade de lin9as tericas e paradigmas"!em como pelo fato de ter sofrido influncias ideolgicas e de orienta@es polticasvariadas. +o deenas de correntes tericas muito diferentes e enfoques diversos so!uma mesma denominao cientfica que" por vees" parecem at$ mesmo tratar*se decincias distintas.
O desenvolvimento das pesquisas sociolgicas e as preocupa@es com aimplantao da +ociologia como disciplina o!rigatria nos currculos escolares tam!$mencontraram defensores. %m 1(&;" 4enBamin 3onstant propCs uma reforma de ensino
que introduia a +ociologia como disciplina o!rigatria nos cursos superior e secundrioDa proposta foi descartada aps sua morte. A reforma rancisco 3ampos21&G16. %m 1&HF" a
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3om a nova 874" 8ei nK. &.G&HM&'" a situao da disciplina fica ainda mais clara,agora a sociologia $ definitivamente includa como um dos conte/dos a serem aprendidospelo educando durante o %nsino 5$dio ao lado de outras cincias como o direito" apsicologia e a economia. Aps termos visto a sociologia ser proscrita deste pas pelogoverno dos generais como se fosse uma ameaa esta!ilidade da nova ordem" o valor
dado s cincias sociais em geral pelos )arNmetros 3urriculares acionais $ umindicador da revaloriao deste con9ecimento" ainda que tmida" por parte da sociedade!rasileira.
112A3.44511
Ci#ncias sociais no ensino
m%dio: re"rodu/$o e milit6ncia7iante do de!ate que vem se intensificando na sociedade !rasileira acerca do
retorno da sociologia no ensino m$dio mais restrito" por$m" aos meios escolares" academia e s listas de discusso e fruns da internet" com pouca repercusso na grandemdia e da necessidade de construir a legitimidade social da disciplina nos currculosescolares" deve*se levantar algumas o!serva@es que" ao meu ver" apontam parapro!lemas concretos relativo ao ensino de sociologia na escola de nvel m$dio.
%m primeiro lugar" $ necessrio ressaltar que as orienta@es dos )arNmetros3urriculares acionais e da 874 de 1&&' so" sem d/vida alguma" fonte de importantesrefle#@es e definem de modo claro a possvel contri!uio da +ociologia enquantodisciplina do nvel m$dio" !em como fornecem um programa de estudos completo pormeio de palavras*c9ave constitudas de conceitos das cincias sociais. o entanto" os)3s carecem de uma orientao metodolgica e didtica apropriada ao ensino dessasdisciplinas. >alta ao te#to oficial" portanto" sugest@es para a operacionaliao do ensinoescolar das cincias sociais.
7e fato" os cientistas sociais no contam com larga e#perincia nesse nvel deensino" ao contrrio dos seus colegas 9istoriadores ou gegrafos. As e#perincias com oensino de sociologia no ensino m$dio so !astante dispersas entre regi@es do pas eprofissionais e contam com o agravante de no e#istir uma rede de comunicao e
dilogo que favorea maior intercNm!io de id$ias e e#perincias prticas.a maioria das vees" as e#perincias com o ensino no so registradas" no
integram um sistema cumulativo de e#perincias 9istricas da comunidade de cientistassociais e nem sempre esto amplamente disponveis. As licenciaturas em cincias sociaisesto organiadas de tal modo que as disciplinas didticas so cursadas ao final dagraduao" como que por mera o!rigao curricular. ormalmente o que se v so cursosde cincias sociais voltados para o !ac9arelado" para a formao do pesquisador e para areproduo de uma 112A3.44711 dicotomia entre ensino e pesquisa. Ainda que a+ociologia sempre ten9a estado intimamente ligada pro!lemtica da educao" que $
responsvel por um e#tenso campo de pesquisas desde sua fundao" $ a figura dopesquisador que $ posta em relevo" no a do educador.
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)or fim" um /ltimo pro!lema relativo ao de!ate so!re o retorno da +ociologia noensino m$dio $ o que di respeito aos livros e#istentes no mercado" que B demonstrammuito do que se conce!e" em termos tericos e metodolgicos" so!re o ensino de+ociologia nessa etapa da educao !sica. A concepo dos o!Betivos do ensino desociologia" seu sentido no ensino m$dio" a seleo e o arranBo dos conte/dos" !em como
as propostas didticas para a sala de aula 2quando e#istem6 denotam uma compreensoespecfica que deve ser investigada e que no se restringe aos livros didticos" mas sereprodu nos planos de curso e estrat$gias de didticas adotadas.
nsino de Sociologia no n&8el m%dio: 9ual Sociologia
Ao afirmar a pouca legitimidade da sociologia enquanto disciplina do ensino m$dioe" como conseqncia direta desse fato" a necessidade da construo de um consensosocial mnimo quanto a sua importNncia nos proBetos pedaggicos das escolas" parto daid$ia de que o pro!lema da legitimidade da disciplina" os apontados anteriormente nos
te#tos oficiais e nos livros didticosM planos de curso e a no e#istncia de um campo deestudos consolidado so!re ensino de sociologia" tm uma origem comum, a falta detradio das cincias sociais nos meios escolares e sua intermitncia enquanto disciplinaescolar.
A situao descrita anteriormente" como a veBo" pode ser e#pressa do seguintemodo, a carncia de refle#@es e orienta@es pedaggicas dos )arNmetros 3urricularesacionais referentes ao ensino de cincias sociais e o modo como so organiados oslivros didticos e os planos de curso tm como origem dois vieses nas prticaspedaggicas dos professores do ensino m$dio, o academicismo que" em grande
medida" reprodu os modelos aprendidos na graduao e a militNncia ideologicamenteorientada que" em grande medida" 112A3.44;11 $ responsvel pelo recorte especficodos conceitos e temticas normalmente tra!al9ados ou" at$ mesmo" pelo sentido dado acertos conceitos sociolgicos. %sses dois vieses aca!am por contri!uir tanto para uma!ai#a qualidade no ensino dessa disciplina" quanto para sua pouca legitimidade social.
Afirmar que a disciplina deve se fundar em certos valores polticos ou que deveassumir uma orientao poltica seBa ela qual for no significa eliminar a preocupaocom a aprendiagem" com a qualidade do ensino e com a 9onestidade intelectual que
deve permear o tra!al9o do professor" seBa que rea for sua formao. O que defino comoensino militante" portanto" no $ a e#istncia de uma postura poltica por parte deprofessores de tal ou qual disciplina ou o ensino dos con9ecimentos acerca da realidadesocial produidos pelas cincias sociais e validados por meios de verificao cientfica oque" vale lem!rar" os tornam sempre criticveis falsificveis " mas simplesmente o fatode se reduir o ensino de uma disciplina cientfica ao ensino de uma ideologia especfica"dotada de valor de verdade. Alis" assim $ ou deveria ser com o ensino de qualquercincia, como tal" ela deveria ser apresentada como sempre e necessariamenteprovisria" uma instituio social e 9istricaD do contrrio" estaremos sendo dogmticos e
desonestos em relao nossa cincia" quando no ensinando id$ias falsas.J interessante o!servarmos que tanto o que c9amo de ensino academicista"
quanto o que c9amo de ensino militante caracteriam uma carncia enorme em nossa
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rea de sa!er, a falta de pesquisas so!re ensino em cincias sociais" a falta de produode !ons livros didticos" a falta de preocupao com estrat$gias de ensino*aprendiagemdos con9ecimentos produidos pelas cincias sociais. %ste ensaio pretende Bustamentepro!lematiar esta situao" contri!uir para a construo de um proBeto para a sociologiano ensino m$dio e Bustificar sua relevNncia social.
Os 2ar6metros Curriculares le#i!ilidade" Autonomia" ?dentidade" 7iversidade" ?nterdisciplinaridade e3onte#tualiao. >undamentado nestes princpios" o o!Betivo do %nsino 5$dio este#presso no vnculo dessa etapa da educao escolar com o mundo do tra!al9o e aprtica social" conforme a 874" o )arecer n.K 1:M&( e a
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domnio dos con9ecimentos de filosofia e sociologia necessrios ao e#erccio dacidadaniaD tam!$m a resoluo nK GM&(" em seu artigo 1;" inciso i" pargrafo FK" di queas propostas pedaggicas das escolas devero assegurar tratamento interdisciplinar econte#tualiado para 2Q6 con9ecimentos de >ilosofia e +ociologia necessrios aoe#erccio da cidadaniaD B os )3s 2%nsino 5$dio" volume H" na pgina 116 orientam que
o o!Betivo foi afirmar que con9ecimentos dessas 2Q6 disciplinas so indispensveis formao !sica do cidado" seBa no que di respeito aos principais conceitos e m$todoscom que operam" seBa no que di respeito a situa@es concretas do cotidiano social.7esse modo" podemos o!servar que os )arNmetros 3urriculares acionais e da 874 de1&&' definem de modo claro a possvel contri!uio da sociologia enquanto disciplina donvel m$dio.
A orientao dos documentos da reforma no foi suficiente para a deciso deimplantar*se a +ociologia como disciplina nos currculos do ensino m$dio. 3om apossi!ilidade do retorno das cincias sociais no corpo de uma disciplina o!rigatria no
ensino m$dio" o 7eputado )adre erreira ao proBeto de lei estadual que esta!elece o!rigatoriedade do ensino de+ociologia e >ilosofia no ensino m$dio" 8ei nK '.'H&" de 11 de a!ril de F;;1 queconte/dos das disciplinas de +ociologia e >ilosofia deveriam ser tra!al9ados por outrasdisciplinas. A proposta era a de organiar mdulos de ensino" ou diluir os conte/dosespecficos dessas disciplinas no programa curricular de 9istria e geografia. Osargumentos eram os mais a!surdos, desde a falta de professores em n/mero suficiente
ainda que no se dispon9a de dados nesse sentido at$ o aumento de despesa compessoal.
Al$m desses argumentos" tm*se apresentado como Bustificativa para a noincluso da disciplina uma certa interpretao dos te#tos oficiais, o fato da 8ei de7iretries e 4ases da %ducao e dos )arNmetros 3urriculares acionais nodeterminarem o ensino da sociologia e da filosofia por meio de disciplinas. 7e fato" a 8ei&.G&HM&'" em seu Artigo G'" )argrafo 1K" item ???" rea que ao final do %nsino 5$dio oeducando dever demonstrar domnio dos con9ecimentos de filosofia e de sociologianecessrios para o e#erccio da cidadania" mas no esta!elece que seu ensino seBa
includo entre as disciplinas do n/cleo !sico" aquelas consideradas o!rigatrias. Os)3s para o %nsino 5$dio" volume H" na pgina 11" aps referir*se aos con9ecimentos
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da 9istria" geografia" sociologia" filosofia" antropologia" direito" poltica" economia epsicologia" esta!elecem que tais indica@es no visam a propor escola que e#plicitedenominao e carga 9orria para esses conte/dos na forma de disciplinas. % maisadiante" na pgina FF" afirma que esses conte/dos agrupados e reagrupados" a crit$rioda escola" em disciplinas especficas ou em proBetos" programas e atividades que
superem a fragmentao disciplinar 2Q6. Ora" a 874" que tem fora de lei" no orientaso!re o modo de introduo desses con9ecimentos. T os )3s dei#am em a!erto" masno descartam a possi!ilidade de organiao de disciplinas" que ficaria a crit$rio daescola. J interessante o!servarmos" ainda" que tratam num mesmo nvel de importNncia a9istria" a geografia" a sociologia ou a filosofia. )ortanto" afirmar que no devemosesta!elecer as disciplinas nos currculos escolares por coerncia lei 112A3.4(411 $distorcer as orienta@es contidas nesses documentos que em nen9um momento pro!emsua implantao. % se lanarmos mo desse argumento ele ter que servir tam!$m paraa 9istria e geografia" o que nos leva ao ponto inicial.
O objeti8o da disci"lina Sociologia no nsino M%dio
)ara compreendermos o sentido da sociologia como disciplina da grade curriculardo %nsino 5$dio deveremos" antes de tudo" compreender os o!Betivos que por meio delase pretende atingir. %sses o!Betivos podem ser divididos em duas classes, os que soespecficos para a disciplina e os que no se restringem a ela" indo ao encontro dos queforam traados para o %nsino 5$dio a partir da 8ei n.K. &.G&H" de 1&&'.
Antes de se esta!elecer os o!Betivos para a disciplina" deveremos dimensionar aimportNncia da sociologia enquanto disciplina do nvel m$dio de ensino" o que significa
perguntar so!re seu sentido" !uscar compreender o que ela tem de especfico que noencontramos nas disciplinas de 9istria" geografia ou filosofiaD enfim" perguntar qual suaespecificidade em relao s demais disciplinas de 9umanidades. %ssa pergunta no $ defcil resposta e todo pesquisador da rea de cincias 9umanas sa!e que as fronteirasentre as suas diversas reas so !astante tnues. % acrescenta*se a isso o fato de quetransformar os sa!eres cientficos em sa!eres escolares implica em um grau dediferenciao e criao de identidades entre as diversas disciplinas. A 9istria e ageografia" provavelmente devido longa tradio no meio escolar" esto !emesta!elecidas" possuem um discurso construdo so!re a realidade B aceito e amplamente
disponvel para os professores do ensino m$dio. A sociologia conta com este agravante"qual seBa" construir um sa!er organiado de modo a ser vivel sua introduo no nvelm$dio de ensino. Acredito ser importante criar diferenas entre as disciplinas e afirmaruma identidade para a sociologia" ainda que isso parea contrariar a noo deinterdisciplinaridade" to em voga atualmente.
?sso" por$m" no responde questo proposta, o que marca a especificidade dasociologia e torna importante sua introduo nos meios escolaresU O filsofo e socilogoVilson Rei#eira 8eite 2Tornal A Vaeta em 112A3.4((11 11M1FM;;6 afirmou que se $
imprescindvel dominar a informtica e todas as novas tecnologias para uma colocaoqualificada no mercado de tra!al9o" tam!$m se fa necessrio" no universo educacional"pro!lematiar a vida do prprio aluno" sua e#istncia real num mundo real" com suas
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implica@es nos diversos campos da vida, $tico*moral" sociopoltico" religioso" cultural eeconCmico. % conclui que a volta das disciplinas 9umansticas filosofia" sociologia"antropologia" psicologia" entre outras tem muito a contri!uir com a formao do Bovemnaquilo que l9e $ mais peculiar, o questionamento. 7esmistificando ideologias e apurandoo pensamento crtico das novas gera@es" poderemos continuar son9ando" e construindo"
um pas" no de iguais" mas Busto para mul9eres e 9omens que apenas querem viver.?sto nos remete contri!uio que a sociologia pode dar para o desenvolvimento
do pensamento crtico" no porque teria um conte/do imprescindvel no devemospensar de modo messiNnico na sociologiaD nem o pensamento crtico se desenvolvedevido aprendiagem de algum tipo especial de conte/do ou disciplina. 3omo Vilson!em e#pressou" a sociologia tem a contri!uir para o desenvolvimento do pensamentocrtico" ao lado de outras disciplinas" pois promove o contato do aluno com sua realidade"e podemos acrescentar" !em como o seu confronto com realidades distantes eculturalmente diferentes. J Bustamente nesse movimento de distanciamento do ol9ar
so!re nossa prpria realidade e de apro#imao so!re realidades outras quedesenvolvemos uma compreenso crtica.
A cientista poltica 5arta Woral e +ilva 2Vaeta 5ercantil tam!$m em 11M1FM;;6"numa interessante refle#o so!re as mudanas no mundo contemporNneo no campodas tecnologias" nas rela@es de tra!al9o e nas rela@es culturais devido aos impactosdos processos que tm sido denominados de glo!aliao" afirma que a informaotornou*se elemento estrat$gico para o mundo glo!aliado.
A autora ainda o!serva que a informao em si $ um dado !ruto 2Q6 o ato de
transformar a informao em con9ecimento no $ uma tarefa simples. %#ige capacidadede processamento da mesma. +ignifica 2Q6 sa!er o que pode ser feito com os tiBolos desa!eres que o sistema de ensino fornece 2Q6 isto 112A3.4(?11 implica em capacidadede raciocnio" de questionamento" do confronto de outras fontes e e#perincias" enfim"9a!ilidades que se adquire ao ser treinado a ver os mesmos panoramas a partir dediferentes perspectivas. %ssa $ a 9a!ilidade que se adquire por e#celncia com o estudodas cincias 9umanas e" em especial" com a filosofia e a sociologia. J da essncia destescampos de con9ecimento a tarefa de desenvolver o pensamento" sem nen9uma utilidadeou o!Betivo prtico. A preocupao maior est em educar o ol9ar e processar tanto
informa@es como sa!eres B produidos.
7iante do desafio de nosso tempo ela questiona a nossa capacidade dedesenvolvermos o gerenciamento da informao para que possamos ter competitividadeno mercado glo!al. 5as lem!ra que a maioria dos pases do 8este Asitico superou suascondi@es e tornaram*se competitivos. %ntre os vrios fatores que permitiram esseavano" 5arta Woral afirma que se destaca a educao, todos construram slidosalicerces fundados na !oa educao p/!lica estendida a maioria da populao. 5as aeducao deve conter esse aspecto de permitir o confronto de diferentes perspectivas e
que $ por e#celncia o que fa a sociologia.%is aqui uma contri!uio fundamental da sociologia para os Bovens educandos, o
estudo e o con9ecimento da realidade social" em si mesma dinNmica e comple#a" a
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compreenso dos processos sociais e seus mecanismos e a percepo de nossa prpriacondio enquanto atores sociais capaes de intervir na realidade. %ssas competncias e9a!ilidades fornecem os elementos necessrios para a formao de uma pessoa" de umcidado e de um profissional" seBa em que rea for" consciente de sua posio"potencialidades e capacidade de ao.
O con9ecimento sociolgico certamente !eneficiar o educando na medida em quel9e permitir uma anlise mais acurada da realidade que o cerca e na qual est inserido.+egundo a sociloga 3ristina 3osta o con9ecimento sociolgico $ mais profundo e amplodo que a simples formao t$cnica representa uma tomada de conscincia de aspectosimportantes da ao 9umana e da realidade na qual se manifesta. Adquirir uma visosociolgica do mundo ultrapassa a simples profissionaliao" pois" nos mais diversoscampos do comportamento 9umano" o con9ecimento sociolgico 112A3.4(*11 podelevar a um maior comprometimento e responsa!ilidade para com a sociedade em que sevive 2+ociologia introduo cincia da sociedade" 3ristina 3osta" %ditora 5oderna"
1&&L6. Eivemos a 9erana de um difcil processo de transio para a democracia e porisso $ imprescindvel que a escola assuma seu papel neste processo" preparando ascrianas e os Bovens para o e#erccio consciente e responsvel da vida democrtica eminorando os efeitos sociais de toda uma gerao educada para a passividade e oem!otamento do pensamento crtico e comprometido. )ara que isso ocorra" al$m dee#igncias poltico*institucionais $ de fundamental importNncia a introduo" nasinstitui@es escolares" de um tipo de refle#o e pesquisa que se paute no con9ecimentodas cincias sociais e que oriente a formao de nossos alunos para o fortalecimento dademocracia enquanto valor social fundamental e para sua construo a partir da vida
cotidiana. O ensino da sociologia deve fornecer" ento" condi@es para um aprendiadoque permita uma interferncia consciente na sociedade por parte de seus cidados a fimde que seBam garantidas as mudanas necessrias superao dos desafios atuais denossa sociedade.
O sentido e a es"eci+icidade da disci"lina:
desen8ol8er uma no8a atitude cogniti8a
A discusso iniciada nos itens anteriores a!re*nos um campo interessante de
refle#o que merece ser e#ploradoD as respostas so!re a importNncia e especificidade dasociologia referem*se tanto a uma a!ordagem especial que nen9uma outra disciplinapromoveria " quanto aos conte/dos de nossa cincia seu quadro terico*conceitual.Ora" podemos perguntar, estaria o sentido do ensino de sociologia na construo de umplano curricularU J tecendo um elenco de conceitos ou temticas que estaremosdelimitando o campo da disciplina nos currculos do ensino m$dioU Remos dado muitanfase ao vel9o de!ate acerca do ensino conceitual ou temtico que no faem mais quetornar o professor de sociologia um arquiteto de planos de curso" empo!recendo apossi!ilidade da disciplina na escola na mesma medida em que a apro#ima do
112A3.4(511modo como so tratados os con9ecimentos B institudos" que fornecemretratos de um mundo esttico e a falsa identidade do sa!er com a noo corrente deverdade.
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3reio ser interessante nos voltarmos e#clusivamente" neste momento" para aa!ordagem especfica da sociologia ou das cincias sociais so!re a realidade 9umanacomo meio de tornarmos ainda mais precisa sua distino em relao s demaisdisciplinas do nvel m$dio e" a partir disto" e#plicitarmos sua importNncia e sua identidade.)ara isto" quero comear dando um e#emplo tirado de outra rea.
A professora Ana 3ludia a9as" 3oordenadora da rea de %ducao 5usical do3entro %ducacional 8eonardo 7a Einci" fe essa mesma pergunta" em certo momento"mas referindo*se a rea de m/sica. Xual a especificidade da %ducao 5usical" que l9egarante significado enquanto disciplina escolar em meio a outras disciplinas est$ticasU Aque concluso ela c9egouU Xue a m/sica no tem sua importNncia por desenvolver"diendo de um modo geral" a sensi!ilidade est$tica dos alunos. Ora" desenvolver asensi!ilidade $ algo que pode ser feito pelas Artes )lsticas" pela 7ana e pela 8iteratura.A sensi!ilidade para o 4elo $ desenvolvida" em graus diferentes" por diversas disciplinas"inclusive por outras no ligadas diretamente s artes. 5as a 5/sica guarda uma
especificidade que est relacionada ao desenvolvimento da sensi!ilidade auditiva, umacompetnciaM9a!ilidade" se no e#clusiva" ao menos central para a rea. % nisso ela sedifere de qualquer outra. %ste e#emplo $ interessante porque nos serve de analogia. A9istria e a geografia tam!$m produem con9ecimentos so!re o mundo social. % dierque seus ol9ares so distintos do ol9ar sociolgico B virou lugar comum. Xue $ que tem ool9ar sociolgico que $ diferente do ol9ar dessas outras disciplinasU
Pma pista para respondermos a isto est numa importante refle#o do antroplogoilosofia e
3incias Sumanas da P?3A5)" de 1&&H" e intitulada O tra!al9o do antroplogo, ol9ar"ouvir" escrever. %le discorreu so!re o ol9ar" o ouvir e o escrever como atos cognitivos"mas que se revestem de um carter especial enquanto constitutivos do con9ecimentoantropolgico e sociolgico. 112A3.4(711O autor nos lem!ra que o ol9ar e o ouvir sodisciplinados pela teoria e possuem uma intencionalidade" isto $" so dirigidos pela nossaformao em cincias sociais e" portanto" so seletivos. as palavras do autor" esseesquema conceitual Ynossa teoria socialZ disciplinadamente aprendido durante o nossoitinerrio acadmico" da o termo disciplina para as mat$rias que estudamos " funcionacomo um prisma por meio do qual a realidade o!servada sofre um processo de refrao.
Ora" se ocorre esta domesticao do nosso ol9ar" do nosso ouvir e do nossoescrever pela formao disciplinada em cincias sociais" podemos afirmar que o contatodos Bovens educandos com essas teorias" ainda que formatadas pela didtica necessriaao nvel m$dio de ensino" ir produir neles uma percepo" uma compreenso e ummodo de raciocnio que nen9uma outra disciplina poder produir. J e#atamente essacompreenso ou essa percepo especfica que indica a identidade da sociologia e quefornece seu sentido enquanto disciplina do ensino m$dio" no os seus conte/dos em simesmos.
Outro antroplogo" 8ouis 7umont 2Somo Sierarc9icus o sistema das castas esuas implica@es" 8ouis 7umont" %dusp" 1&&L6" relata um acontecimento que ele acreditademonstrar a importNncia desse tipo de aprendiagem.
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7i ele,
Permitam-me aqui uma anedota que apresenta um exemplo surpreendente de
apercepo sociolgica. Mais ou menos no final da preparao para o Certificado de
etnologia, um condiscpulo que no se destinava etnologia contou-me que le
sucedera uma coisa estrana. !le me disse mais ou menos o seguinte" outro dia, num
#ni$us, perce$i de repente que no olava para os meus companeiros de viagem comode costume% alguma coisa avia mudado em mina relao com eles, em mina maneira
de me situar com relao a eles. &o avia mais 'eu e os outros(% eu era um deles.
)urante um longo momento me perguntei pela ra*o dessa transformao curiosa e
repentina. )e repente ela me surgiu" era o ensinamento de Mauss(. Conclui )umont" '+
indivduo de ontem sentia-se social, perce$era sua personalidade como ligada
linguagem, s atitudes, aos gestos, cua imagem era devolvida pelos vi*inos. !is o
aspecto umano essencial de um ensino de etnologia(. Podemos acrescentar" eis o
sentido do ensino de sociologia.
112A3.4(;11A questo metodolgica fundamental $, seBa qual for o conte/do" ele
ser sempre um meio para se atingir o fim" que $ o desenvolvimento da perceposociolgica. 5ais que desvelar os c9amados pro!lemas sociais ou de ensinar um elencosem fim de conceitos" o desenvolvimento da apercepo sociolgica a que se refere7umont $ de fundamental importNncia. )ara este autor" a sociologia atua contra amentalidade individualista do 9omem moderno. >oi com o advento da modernidade e aformao das sociedades capitalistas que a ideologia individualista se constituiu emideologia 9egemCnica" fornecendo a !ase para as representa@es ainda vigentes so!re oindivduo" as rela@es ou intera@es 9umanas ou a poltica. +omente com o devidodistanciamento de nossa prpria sociedade e por meio de um ol9ar comparativo podemos
perce!er que nossa viso de mundo $ mais uma entre tantas outras igualmente legtimas"resultantes do fato de que outros 9omens" de distintos lugares e tempos" organiam*se evivem de maneiras diferentes da nossa. Ranto quanto essa apercepo nos permite" numduplo movimento" compreender nossa prpria realidade pela desco!erta inusitada deaspectos e rela@es antes insuspeitas. % assim c9egamos compreenso do quanto 9de dependncia onde vemos li!erdade" do quanto 9 de diferena onde pensamos9omogeneidade e do quanto 9 de 9ierarquia quando insistimos em ver igualdade. Ralvea esteBa a grandea do estudo e ensino da sociologia, rasgar os v$us das representa@essociais e compreend*las so! uma nova tica" elas prprias como produtos sociais.
A apercepo sociolgica de que trata 7umont no $ fruto to somente docon9ecimento cognitivo de teorias sociais" pois se d por meio do ol9ar e do ouvir como!em descreveu
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7/24/2019 SARANDY, Flvio Marcos Silva - Reflexes Acerca Do Sentido Da Sociologia Do E.M
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fundamentam os documentos da reforma. 5as $ importante que se esclarea, essaapro#imao $ um tanto casual" pois se deu por camin9os diferentes. % em que pesem ascrticas noo de competncias entre outras" pelo seu carter psicologiante "sempre ser possvel recorrermos a uma redescrio dessa noo" inserindo*a numacompreenso 9istrica, as competncias tidas no como universais" vlidas para qualquer
tempo e lugar" por$m ainda mantendo seu carter estruturador dos mecanismoscognitivos e scio*afetivos dos indivduos.
A tomada de conscincia" como sugere 3ristina 3osta" o desenvolvimento daapercepo sociolgica" como afirma 7umont" ou a construo de competncias a partirdas cincias sociais s $ possvel pela pro!lematiao de nossa prpria realidade e peloespanto" no sentido filosfico" diante de realidades culturalmente diferentes ousocialmente desiguais. %is um ol9ar que $ prprio de nossa disciplina" educado a ver osmesmos panoramas por meio de perspectivas diferentesD compreender a realidade socialpassa por esse desenvolvimento. )ode*se mesmo argumentar que tais competncias
tam!$m podem ser desenvolvidas pelas disciplinas de 9istria e geografia" mas este $ umargumento que no se sustenta. +eno veBamos" a 9istria e a geografia podem tratar asquest@es referentes crtica social e diversidade cultural" mas de um modo secundrioou perif$ricoD outras vees numa perspectiva descritiva. o se trata de o!Betivosprincipais de suas propostas. Rradicionalmente essas disciplinas tm*se voltado paraconte/dos e#igidos principalmente pela instituio do vesti!ular. )or fim" e#iste umadistNncia muito grande entre as discuss@es temticas reforma agrria" e#cluso social"mudana social" se#ualidade" democracia" consumismo" representao poltica" famlia"direitos 9umanos" sindicato" gnero" violncia etc e o desenvolvimento de modos de
pensar ou de competncias" como se vem definindo atualmente.
T a sociologia est unicamente voltada a essas discuss@es e" seBa qual for o temaem foco" seu o!Betivo $ sempre descortinar nveis de realidade" percepo erepresentao presentes nas a@es 9umanas. %ste $ seu proBeto desde sua fundaoenquanto cincia. )ara al$m da discusso se a disciplina deve ser tratada do ponto devista conceitual ou temtico" o que propon9o $ que seBa qual for o conceito ou apro!lemtica tra!al9ada em suas aulas" esses 112A3.4(>11sero sempre meios parase atingir seu o!Betivo a percepo sociolgica. Ora" faer a crtica ao capitalismo" por
e#emplo" pode ser importante. 5as o que garante ao professor que seu aluno estrealmente compreendendo a realidade a partir de um prisma novo" como uma teiamultideterminada" e no apenas se enc9endo de informa@es parciais fornecidas peloprofessorU O que garante" para usar um termo pouco adequado mas de fcilcompreenso" que o aluno que concorda com as id$ias so!re a desigualdade sociallevantadas pelo professor" no esteBa mesmo assim lanando mo do senso comum eda evidncia empricaU Xuero dier, concordar ou discordar das vis@es apresentadas nasaulas de sociologia no implicam numa mudana qualitativa de pensamento e linguagem"tanto quanto aprender conte/dos conceituais no promove" por si mesmo" o
desenvolvimento de competncias. Ora" um aluno que sa!e da e#istncia dadesigualdade social B evidente em si mesma e que aprendeu as teorias e#plicativasdas cincias sociais no $ necessariamente um aluno que aprendeu a pensar
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sociologicamente. J preciso que o professor de sociologia no se contente com certasmanifesta@es em sala de aula e !usque desenvolver uma nova atitude ou posturacognitiva nos alunos. Ainda que dotemos o ensino dessa cincia de um proBeto poltico"ele passar necessariamente pela apropriao" por parte do educando" de uma novaperspectiva so!re o mundo social que ser garantida na mesma medida em que nos
apro#imarmos do o!Betivo para a disciplina" como o proposto nesse te#to.A "r@tica do ensino de Sociologia:
in8estiga/$o cient&+ica e narrati8as sociais
+e foi dito que ensinar sociologia $" antes de tudo" desenvolver uma nova posturacognitiva no indivduo" $ necessrio agora tentarmos" ao menos" fornecer dicas de comoisso poderia ser desenvolvido na prtica escolar, a percepo sociolgica pode serdesenvolvida por meio de uma tomada de conscincia so!re como a nossa personalidadeest relacionada linguagem" aos gestos" s atitudes" aos valores" nossa posio na
estrutura social nas palavras de 7umont, para que o indivduo de ontem torne*se social"no mais 112A3.4?)11ele e os outros" mas ele em meio aos outros. % isso por meio daapro#imao da metodologia de pesquisa metodologia de ensino" !em como por a@espedaggicas que !usquem desvelar e discutir narrativas sociais" seBam elas cientficas"literrias e outras suas implica@es" seus dilemas" o que falam da 9eterogeneidadecultural e da estrutura social.
o podemos" no entanto" esperar muita e#perincia de campo no %nsino 5$dio"especialmente em se tratando da rede p/!lica de ensino" nem $ nosso o!Betivo formar
socilogos ao fim dessa etapa do ensino escolar. Rrata*se de promover o contatocognitivo do aluno com o pensar sociolgico ainda que" na medida do possvel" por meioda organiao de algumas possi!ilidades de e#perincia com pesquisa.
%ste te#to no pretende fornecer id$ias prticas !em ela!oradas e isso por trsra@es, primeiro porque seria uma contradio com as id$ias aqui e#pressasD depoisporque" o!viamente" no e#istem frmulas para o que est propostoD por fim" porque estete#to aponta para uma situao vivida pela disciplina e $" ao mesmo tempo" seu refle#o" orefle#o de uma rea carente de produ@es so!re ensino de cincias sociais no nvelm$dio de ensino. +eria impossvel" no entanto" codificar as rea@es de espanto e
curiosidade ou as mudanas sutis de percepo e linguagem produidas nos Bovens queB tiveram o privil$gio do contato com a cincia social. 5enos no trato com as teoriassociais e mais na postura dos alunos diante da vida em sociedadeD menos no discursoinformado por conceitos sociolgicos s vees !em comple#os " mais nos ol9ares dequem se encontra em face de um enigma $ que se pode aferir quo importante se tornapara os alunos a desco!erta so!re como nossa vida $ perpassada por foras nem semprevisveis por nossa simples pertena a um grupo social. % no a um grupo socialqualquer" mas a esse grupo" com sua identidade" posio na estrutura social" sm!olos erecursos de poder. Xuando o aluno compreende que os c9eiros" os gestos" as grias" as
tens@es e conflitos" as lgrimas e alegrias" enfim" o drama concreto dos seus pares" $ emgrande medida resultante de uma configurao especfica de seu mundo" ento asociologia cumpriu sua finalidade pedaggica.