Sangue Seco Tratamento Final

8/18/2019 Sangue Seco Tratamento Final

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Sangue Seco

Por

Matheus Aragão


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INT. NOITE - BAR

Um bar com um salão amplo sem paredes altas que revelam umacidade caracterítica da caatinga nordestista ribeirinha aoRio São Francisco. O som alto vem límpido de um fone deouvido.

Encostada no balcão está PEIXEIRA, 22 anos, uma linda morenade cabelos longos vestida de calça jeans e uma camisaqualquer. Com uma expressão do rosto sisuda escutando músicapelos fones do celular, pede uma dose de cachaça ao dono dobar que se encontra atrás do balcão.

Durante a tragada percebe-se a entrada de um jovem,conhecido como FULANINHO, também com 22 anos, famoso porsuas atitudes inconsequentes e preconceituosas, vestido comuma camisa polo, calça jeans e bota. Sua entrada causasilêncio um estranho silêncio no bar que deixa os clientesapreensivos. Ele está acompanhado por 2 capangasmaltrapilhos armados com facões.

Adentrando no bar Fulaninho percebe a presença de Peixeira,que está de costas e encostada no balcão estando numaposição que valorizava bastante sua farta bunda. Fulaninhovai em direção à ela e lhe dá um tapa na bunda.

FLASH BACK

EXT. NOITE - FESTA

Aproximadamente 7 meses antes, numa típica festa junina, combandeiras, luzes e ornamentos coloridos, acompanhados defoguetes, espadas, bombas. Uma banda com referênciasfolclóricas, porém com sonorização atual, faz com quecrianças, jovens, casais, idosos dancem pulando como seestivessem extasiados em algum tipo de transe.

Fulaninho olha toda aquela festa e sorri satisfeito. Bebemuito, fuma e conversa com os capangas tudo sendo abafadopelo volume da cacofonia entre o som e a euforia da festa.Fulaninho enxerga no meio da multidão Peixeira, que usa umvestido rodado muito lindo e sorri como uma menina pulandojunto a um rapaz negro. Também sorridente, os dois parecemfelizes.

Ao ver aquela cena, Fulaninho visielmente enfurecido esussurra nos ouvidos dos capangas, aponta para ocasal. Imediatamente se separam sugerindo uma tocaia.Enquanto isso, Fulaninho vai ao encontro do casal e chamaPeixeira, que recusa. O rapaz puxa Peixeira e a leva para umlocal mais reservado, fora da muvuca da festa.


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INT. NOITE - BAR

(slow motion)

Enquanto Peixeira se vê encurralada, porém, com a satisfaçãode quem ia morrer com o dever cumprido, surgem doispersonagens. De um lado, um negro alto e forte de 30 anos, o

ENXADA, com camisa suja de terra que sentava sozinho numamesa se levanta subtamente em direção à confusão.

FLASH BACK

EXT. DIA - CHIQUEIRO

Enxada é o reponsável pelos porcos da fazenda do CoronelFéla e todos os dias que andava em direção ao trabalho, comum macacão e uma enxada apoiada nos ombros, enquanto todossussurravam confabulando de onde essa pessoa tinha saído.

Diversos: de onde ele veio? / o queele fez de errado? / pq nãofala?...

Em seguidos dias, Enxada é chamado de louco, preto, burro,moco, mudo pelo Fulaninho, sempre acompanhado peloscapangas. Isso acontece repetidas vezes durante semanas.

(em cortes rápidos, vários insultos são deferidos esituações variadas dentro do chiqueiro).

FLASH FOWARD

INT. NOITE - BAR

(slow motion)

Em direção à briga, Enxada visualiza vindo do outro lado dobar um galego com camisa de botão aberta e visivelmentebêbado, o BACAMARTE que no trajeto derruba a mesa caindo nochão.

FLASH BACK

INT. NOITE - CASA BACAMARTEDentro de uma casa humilde, com decoração basicamentecatólica, fotos do pai e da mãe, Bacamarte com 7 anos deidade, vestido com camiseta, calça jeans e descalso, sentadono chão, vê seu pai chegando bêbado e chorando.

PAI:MATARAM ELA, PORRA? EU JUREI QUE IAPAGAR.

(CONTINUED)


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CONTINUED: 4.

Bacamarte se levanta e abraça o pai o consolando. Sãoescutados barulhos de cavalos chegando à porta e o paiesconde Bacamarte no guarda-roupas à contra gosto do garoto.

O Coronel entra na casa com uma garrafa de bebida e sentacom o pai.

CORONEL:Como você está?

PAI:Estou mal por continuar devendo aosenhor.

CORONEL:Não se preocupe, ainda tenho seufilho.

PAI:Meu filho foi estudar na cidade,aqui não era lugar pra ele não,senhor.

CORONEL:Não posso deixar que meu povo deixeessa situação dessa forma.

PAI:Mas o senhor não precisa fazer nadade mal comigo, eu te juro que voupagar.

CORONEL:Já sangrei sua viúva com esse seudiscurso de bêbado.

Enquanto isso Bacamarte assiste tudo engolindo o choro paranão ser descoberto.

O Coronel chama os capagangas, que põem um gancho de açougueno teto, penduram o pai pelas costas e enquanto ele agoniza,o Féla dá um corte cirúrgico na barriga fazendo com que astripas caissem no chão de uma vez só.

FLASH FOWARD

INT. NOITE - BAR

O franzino Bacamarte se levanta e luta com um deles, oEnxada mata o jagunço a vários golpes de facão que tinhapego do próprio. Após decretar a morte deste, Enxada vaiajudar Bacamarte que está apanhando muito. Enxada vê umarame no chão e enforca o capanga que agoniza até a morte.

(CONTINUED)


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CONTINUED: 5.

Nesse momento são vistos giroflex característicos dapolícia. Quando vão fugir, olham para Peixeira que está emestado catatônico e não consegue se mover. Bacamarte selevanta, zonzo e dá um tapa na cara dela.

BACAMARTE:

Nós precisamos fugir logo moça, apolícia do Coronel Féla vai esfolara gente vivo.

EXT. NOITE - CAATINGA

Os três desconhecidos começam a fugir por dentro da caatingaà luz da lua cheia sendo caçados pelos policiais e capangasdo Coronél Féla, até encontrarem uma gruta.

FADE OUT

EXT. NOITE - GRUTA

FADE IN

Escondidos numa gruta escura, sangrados pelos espinhos dacaatinga, conversam.

ENXADA:A partir de agora somos mortosvivos. Ou a gente entra em confrotocom os Félas ou morreremos em vão.

PEIXEIRA:Não sei quem são vocês, massalvaram minha vida no meudesbunde, mas a gente já criou umaliga.

ENXADA:Não costumo falar, como vocês jádevem ter percebido, mas agora agente precisa fazer alguma coisa,mesmo que seja pra sacrificar avida da gente. Vocês tem família,filhos?

BACAMARTE:Não tenho porra nenhuma a não seródio dessa corja. Prefiro que agente morra matando esses filhos daputa. Meu pai foi assassinado poreles.

(CONTINUED)


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CONTINUED: 6.

PEIXEIRA:Eu fui estuprada pelo Fulaninho edepois matou meu namorado.

ENXADA:Não quero falar sobre minha vida,

mas tenho motivos suficientes pracontinuar com o que a gente fizemoshoje. Não tem mais volta.

EXT. NOITE CAATINGAImagens da caçada com cachorros eguarda montada, muitos sons dogalope dos cavalos e muitagritaria.

EXT. NOITE - GRUTA

Os três correm adentrando a caatinga enquanto conversam umclose revela a barriga de Peixeira saliente de uma gravidez.

BACAMARTE:Vamos invadir a casa do Coronel ematar todo mundo. Se alguém sairvivo que conte a história.

PEIXEIRA:Estou grávida do Fulaninho e querocuidar do meu filho, apesar de serfilho de quem é.

ENXADA:Seu filho vai contar essa história.

EXT. NOITE

Em silêncio, apenas com a conversa de alguns capangas doCoronel Féla, eles ultrapassam a cerca.

PEIXEIRA:Quais as armas que nós temos? Eu tôcom minha peixeira e uma faca finade corte.

ENXADA:Eu roubei um facão de uns daquelescapangas mas no curral do porcostem mais ferramenta.

(CONTINUED)


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CONTINUED: 7.

BACAMARTE:Sem barulho a gente não assusta apolícia.

INT. NOITE - CHIQUEIRO

Envolto do barulho corriqueiro dos porcos, Enxada pega umaenxada.

ENXADA:Galego, fica com meu facão que eume viro com essa enxada.

Saem de fininho do chiqueiro em direção à Casa Grande.

EXT. NOITE - ARREDORES DA CASA GRANDE

Ao lado da casa, agachados, vêem 3 funcionários balbuceandoe confusos em meio aos latidos e galopes. Estes pegam suascarabinas e ficam a postos. Eles se entreolham e partem numaavante descontrolada. Durante o confronto com poucadistância tinham vantagem, porém Bacamarte acaba sendoatingido por um tiro e sangra até falecer.

INT. NOITE - CASA GRANDE

Enxada e Peixeira adentram e vêem um ambiente luxuoso e sedeparam com a Matriarca que aparece com sua filha.

MATRIARCAO que está acontecendo? Ouvi umtiro. Você é funcionário dafazenda, não é? (se referindo aoEnxada)

ENXADA:Dona, fique quieta que é o melhorque você pode fazer.

A matriarca grita com medo do que pode acontecer e clamapelo Coronel. Peixeira a soca no rosto que apaga.

Neste momento chegam mais capangas e cercam a sala moça, vaiatrás do Féla que aqui eu dou um jeito.


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8.

INT. NOITE - CASA GRANDE / SALA

Enquanto Peixeira vai à procura do Coronel, Enxada, com suaúnica arma (uma enxada), desfere um golpe na cabeça doprimeiro a sua vista para dar liberdade à saída de Peixeirae recebe um tiro. Com dificuldade retira a enxada da cabeça

do capanga e desfere outro golpe com a ponta do cabo emoutro que também cai ensanguentado. Neste golpe, sua armacai e Enxada, um negro enorme, porém baleado, briga com oterceiro capanga sendo apunhalado diversas vezes.

INT. NOITE - CASA GRANDE - CORREDOR

Chorando, mas com uma expressão de ódio, sobe as escadas epercorre o corredor em busca do Coronel.

INT. NOITE - CASA GRANDE - QUARTO

Dormindo, com a televião num volume altíssimo, o Coronel vêPeixeira baforando com uma peixeira na mão. Ela pula nacama, luxuosa de casal e desfere:

PEIXEIRA:Te mato para que o seu neto viva!

Ela o apunhala no peito, gira a faca se sentindo satisfeita.

Nesse momento é escutado um tiro do capanga que sobreviveu àluta do Enxada. Peixeira cai.

FADE OUT

INT. DIA - MATERNIDADE

FADE IN

Uma enfermeira, calmamente, retira um bebê por cesária dePeixeira, que quase morta olha o bebê e falece com aMatriarca presente.

ENFERMEIRA:Posso passar a bebê para a senhora?

MATRIARCA:Claro! Ela quem cuidará dessaterra.

FIM

Sangue Seco Tratamento Final

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