SALVAÇÃO

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A GLÓRIA DA SUA GRAÇA

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  • Salvao

    James B. Currie, Japo.

    Se o pecado no tivesse contaminado o universo perfeito de Deus, e aparentemente o

    fez duas vezes, a salvao nunca teria sido necessria. A primeira ocorrncia de pecado

    foi na revolta angelical relatada em Isaas 14, quando Lcifer quis conquistar,

    ilegalmente, o que o trono divino representava. no contexto deste acontecimento

    importante que Apocalipse 12 deve ser interpretado. A linguagem metafrica do

    captulo descreve como Satans, chamado o drago, levou com sua cauda a tera parte dos seres celestes para seus propsitos malignos. A resposta de Deus a esta

    insurgncia foi precipitar, imediatamente, os participantes para um estado onde esto

    presos em cadeias da escurido, esperando o juzo futuro, sem qualquer esperana de salvao.

    Em contraste com a deciso imutvel, em relao iniquidade de Satans e seus anjos, temos a revelao da infinita misericrdia de Deus para com o homem quando, pela sua desobedincia, o pecado invadiu o seu domnio. Apesar de Ado e Eva terem,

    voluntariamente, escolhido um caminho de rebelio, naquela mesma ocasio Deus deu

    evidncias claras do Seu propsito para a restaurao das Suas criaturas pecadoras. Este

    processo, mencionado pela primeira vez no jardim do den, e que permeia todas as

    Escrituras, chamado, salvao. Enquanto os transgressores angelicais esto reservados para o fogo eterno preparado para eles (Mt 25:41), a transbordante

    benevolncia de Deus (Tt 3:3-5) decretou um caminho pelo qual o homem pode ser

    reconciliado com seu Criador e resgatado das consequncias terrveis do pecado. Logo

    vemos que a salvao, nos seus muitos aspectos, tem a ver com o pecado e o livramento

    das suas consequncias.

    A palavra salvao aparece na verso AV em ingls 163 vezes (118 vezes no VT e 45 vezes no NT). Este fato em si prova como este assunto to difundido na Palavra de

    Deus. Em ambos os Testamentos a palavra significa a mesma coisa: resgate,

    libertao, segurana e perseverana. Sem dvida, a mais compreensiva doutrina

    das Escrituras da Verdade. Este assunto rene todos os principais temas da Bblia,

    dando uma revelao extensiva da obra salvadora de Deus em prol da Sua criao

    pecadora e perdida. A primeira e a ltima meno da palavra nas Escrituras so

    significantes. Jac, em Gnesis 49:18, diz: a tua salvao espero, Senhor. Sua afirmao feita no contexto do comportamento traioeiro de D. Lembrando que, no

    comeo, o Maligno assumiu a forma de uma serpente e que foi ele mesmo que inspirou

    o mau comportamento de D, especialmente como enfatizado no livro de Juzes, Jac

    mostra plena confiana na consumao final da salvao. A ltima meno da palavra

    em Apocalipse 19:1. A confiana de Jac no foi mal colocada. O pecado j foi tratado

    e as ltimas etapas angustiosas da ira do Deus Todo Poderoso esto prestes a cair,

    quando a salvao com sua resultante glria, e honra, e poder atribuda ao Senhor nosso Deus. Assim, este grande assunto de salvao pode ser chamado a pedra angular de todo o ensino bblico.

    Para que possamos considerar o assunto geral da salvao de uma maneira

    sistemtica, seguiremos o seguinte esboo:

    1. Descobrindo a origem

    a) As possibilidades limitadas

    b) A importncia singular

    c) A doutrina inflexvel

    2. Definindo o propsito

  • a) O significado admirvel

    b) A base justa

    c) A motivao divina

    3. Descrevendo a obra

    a) O meio misericordioso

    b) O alcance universal

    c) Os termos incondicionais

    4. Detalhando os resultados

    a) A proviso maravilhosa

    b) As exigncias rigorosas

    c) A consumao gloriosa

    1. Descobrindo a origem

    a) As possibilidades limitadas

    A nossa primeira considerao precisa ser sobre a origem da salvao. Visto que o

    Diabo e os espritos maus associados com ele, por causa do seu carter pernicioso, esto

    empenhados na destruio de tudo o que bom e santo, eles esto imediatamente fora

    de qualquer considerao quanto origem desta grande obra. Como tambm evidente

    que a libertao do homem das consequncias do pecado no pode ser acidental, as

    opes so claras. Se esta condio to feliz pode ser experimentada, ento o prprio

    homem, ou Deus, ou uma associao de ambos, precisa ser o responsvel por ela. Em

    desacordo com a opinio mal orientada de muitos, contrrio tanto histria como

    experincia pessoal afirmar que o homem pode salvar-se a si mesmo. Paulo, falando da

    escolha feita por Deus, a chama de a eleio da graa, e continua dizendo: se por graa, j no pelas obras; de outra maneira, a graa j no graa. Se, porm, pelas

    obras, j no mais graa; de outra maneira a obra j no obra (Rm 11:5-6). Na sua carta a Tito, ele tambm afirma: no pelas obras de justia que houvssemos feito, mas segundo a sua misericrdia, nos salvou (Tt 3:5). Os escritores do Velho Testamento concordam com isto. Veja, por exemplo, Isaas 64:6: Mas todos ns somos como o imundo, e todas as nossas justias como trapo da imundcia, e todos ns murchamos

    como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam. No h nenhum versculo nas Escrituras que, lido no seu contexto, pode ser usado para provar que a

    libertao do homem pode ser efetuada pelo seu prprio esforo. Tambm, a obra da

    salvao no pode ser considerada como um esforo corporativo, efetuado em parte por

    Deus e em parte pelos homens. Aos olhos de um Deus santo o estado do homem to

    ruim que somente o poder divino capaz de efetuar a sua salvao. Como as palavras

    de Romanos 11 (citadas acima) dizem, o bem estar espiritual do homem precisa ser

    inteiramente da graa, ou inteiramente de obras. No pode ser uma combinao de

    ambos. Do ventre do grande peixe Jonas clamou: Do Senhor vem a salvao (2:9). Aqueles que seguem nas pegadas do profeta podem dizer com J. M. Gray:

    Abandonando a vanglria, humilho meu orgulho;

    Sou s um pecador salvo pela graa. (traduo literal)

    No podemos nem pensar em algum a no ser Deus como sendo a origem, a fonte e

    o consumador final da salvao, e de todos os seus resultados.

    b) A importncia singular

    O autor da carta aos Hebreus escreve de to grande salvao (2:3). Tal a grandeza desta obra Divina que a participao intrnseca de todas as trs Pessoas da Divindade

    especificamente mencionada na Palavra de Deus. A mesma epstola aos Hebreus, em

  • 9:14, liga a participao singular do Pai, do Filho e do Esprito Santo na realizao desta

    obra maravilhosa. O Senhor Jesus ofereceu-se a Si mesmo a Deus e operou com todo o

    poder do Esprito eterno, uma referncia ao Esprito Santo. O sacrifcio do Senhor Jesus para satisfazer as justas exigncias do trono de Deus foi proposto na eternidade

    passada, e naquele plano e no seu cumprimento o Esprito Santo estava includo com

    todo o Seu imenso poder. A salvao da qual falamos foi proposta pelo

    Pai, providenciada pelo Filho e perfeita pelo poder do Esprito Santo. O que o

    Senhor Jesus conseguiu quando Se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus foi a vindicao da santidade de Deus. No mesmo tempo Ele lanou a base pela qual Deus

    podia, em harmonia com Seu carter justo, proclamar: Livra-o [a humanidade], para que no desa cova; j achei resgate (J 33:24).

    c) A doutrina inflexvel

    Em Atos 4, quando o sumo sacerdote e muitos do seu grupo estavam reunidos em

    Jerusalm para interrogar Pedro e os outros apstolos sobre a cura do homem paraltico,

    Pedro testificou, categoricamente, sobre o fato que o homem fora curado em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vs crucificastes e a quem Deus ressuscitou

    dentre os mortos (v. 10). Em relao quele Nome, ele tambm declarou: E em nenhum outro h salvao, porque tambm debaixo do cu nenhum outro nome h,

    dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (v. 12). Com este testemunho inflexvel todos os outros escritores do Novo Testamento concordam, e o fazem de

    maneiras diferentes. Num contexto completamente diferente, ao enfatizar o fato que

    Deus, quanto ao Seu Ser essencial, Um s, Paulo escreveu Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.

    Porque h um s Deus, e um s Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem,

    o qual se deu a si mesmo em preo de redeno por todos (I Tm 2:3-6). Mas no precisamos ir alm da palavra do prprio Senhor Jesus para confirmar este fato. Ele

    mesmo disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ningum vem ao Pai, seno por mim (Jo 14:6). Somente algum sofrendo de um falso sentimento de grandeza faria tal reivindicao se ela no fosse verdadeira, mas o que os quase 40 autores dos vrios

    livros da Bblia fazem confirmar esta reivindicao, de vrias maneiras, e o fazem sem

    uma nica voz discordante.

    Pelo que a Bblia ensina deparamos com os seguintes fatos:

    i) A salvao exclusivamente a obra de Deus em prol de homens pecadores.

    ii) Tal a grandeza envolvida nesta obra que o Deus Trino est interessado em

    cada um dos seus aspectos.

    iii) O nico meio de Deus suprir tal salvao o dom de Seu Filho, preordenado

    para dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt 20:28).

    2. Definindo o propsito

    a) O significado admirvel

    Dizer que a salvao foi planejada pelo Pai, providenciada pelo Senhor Jesus

    e aperfeioada pelo Esprito Santo , talvez, limitar demais as respectivas atividades

    das Pessoas da Divindade para providenciar a salvao. No entanto, sem dvida alguma,

    todas as trs Pessoas da Trindade so participantes integrais no seu comeo e sua

    consumao. Sendo tal participao uma realidade, o desejo de procurar entender o

    significado bsico da salvao no somente importante, mas muito importante, para

    todos que querem conhecer a mente de Deus em relao a ela.

    Nos tempos do Velho Testamento a palavra tinha um pano de fundo interessante.

    Veio de uma raiz que significa largo ou espaoso, em contraste com aquilo que

  • estreito ou apertado. Imediatamente pensamos em liberdade, emancipao e proteo. usada neste sentido em contextos espirituais e fsicos. Quando Zacarias, cheio do

    Esprito Santo, falou da salvao poderosa que o Deus de Israel levantou, ele falava claramente da libertao fsica dos inimigos de Israel (Lc 1:68-71). Quando Pedro

    clamou: Senhor, salva-me! (Mt 14:30), ele queria ser salvo do perigo de se afogar. Contudo, na grande maioria das ocasies em que a palavra usada, ela fala da salvao

    da alma da perdio eterna, culminando na preservao eterna e no bem estar de todos

    aqueles que so participantes das suas bnos. Este significado espiritual indica o

    processo divino pelo qual homens pecadores so libertos das terrveis consequncias do

    seu pecado e feitos idneos para serem filhos de Deus e herdeiros do Seu reino.

    Este processo sem dvida alguma em relao ao homem, ocorre na Terra e contm

    fundamentalmente consequncias eternas. Mas as palavras usadas em conjunto com a

    palavra salvao, ou com outras intimamente relacionadas, mostram como seu significado abrange muito mais. Em primeiro lugar, a obra da salvao, quanto ao

    indivduo, certamente traz libertao da penalidade do pecado, mas isto iniciado pela

    graa de Deus. Quando Paulo escreveu: Tudo sofro por amor dos escolhidos, para que tambm eles alcancem a salvao que est em Cristo Jesus com glria eterna (II Tm 2:10), ele estava se referindo aos indivduos que seriam salvos atravs do seu ministrio,

    porque eram os escolhidos de Deus. O apstolo escreveu ainda mais apoiando este

    ponto de vista: Como tambm nos elegeu nele antes da fundao do mundo, para que fssemos santos e irrepreensveis diante dele, em amor (Ef 1:4). Pedro tambm concorda com Paulo quando ele escreve aos estrangeiros espalhados na sia, e os

    descreve como eleitos segundo a prescincia [oniscincia infalvel] de Deus Pai (I Pe 1:2). Os eleitos so aqueles que so escolhidos por Deus para a salvao. O recebimento desta salvao efetuado pelo chamado do Evangelho, ao qual o indivduo

    interessado responde livremente. Sem dvida, o primeiro passo nesta resposta ao chamado do Evangelho a convico do pecado que, de acordo com as palavras do Senhor Jesus, obra unicamente do Esprito Santo: E, quando ele vier, convencer o mundo do pecado, e da justia e do juzo (Jo 16:8). Para que esta imensa obra da salvao possa ser efetuada em uma alma, esta convico do pecado absolutamente

    essencial. Aceitar o fato que Deus verdadeiro, mesmo se todo homem mentiroso, e

    reconhecer que eu, como indivduo, sou ru condenado perante o tribunal de Deus,

    uma convico que no deve ser renegada ou futuramente abandonada. Num contexto

    um pouco diferente, Paulo escreveu: Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvao, da qual ningum se arrepende (II Co 7:10). O poder do Esprito Santo, que produz convico, conduz ao verdadeiro arrependimento, to

    certo quanto o faz a benignidade de Deus (Rm 2:4).

    b) A base justa

    Falar da salvao no sentido de efetuar a libertao chamar ateno ao conceito da

    redeno e ao pagamento de um resgate, que j mencionamos resumidamente. As

    Escrituras provam que o homem um escravo na servido do pecado, e a experincia

    universal concorda com este fato. Para se obter uma libertao como a que estamos

    contemplando, um resgate precisa ser pago. O pecado tem levado o homem

    extremidade de falncia moral com uma dvida incalculvel, por assim dizer, para com

    seu Criador e Deus. Para que esta vasta incumbncia seja removida e o pecador seja

    libertado da sua opressiva responsabilidade final, todas as exigncias da justia de Deus

    precisam ser satisfeitas. Este aspecto da salvao, de redimir, resgatar, pagar o preo ou

    comprar de volta, encontrado em trs palavras usadas no Novo Testamento. Em

    Efsios 1:7, est escrito: Em quem [Cristo] temos a redeno pelo seu sangue, a remisso das ofensas. A mesma verdade enfatizada nas palavras do Senhor Jesus em

  • Marcos 10:45: O Filho do Homem veio para dar a Sua vida em resgate de muitos. Paulo esclarece mais, quando ele escreve: Fostes comprados por preo (I Co 7:23). Estes versculos, entre muitos, declaram que o resgate inegavelmente essencial e alm

    de qualquer capacidade do homem; veja tambm o Salmo 49:7-8. S Deus pode

    resgatar. No assunto do pecado do homem, as palavras de Hanameel ao seu sobrinho

    Jeremias: tens o direito de resgate para compr-la (Jr 32:7), s podem ser aplicadas a Deus. A vastido insupervel da dvida do homem e a Quem devida, ilustrada na

    parbola dos devedores, proferida pelo Senhor em Mateus 18. O credor, na parbola,

    chamado de o Senhor do servo, que, movido de ntima compaixo, soltou-o e perdoou-lhe a dvida (v. 27). Tais palavras s podem ser aplicadas a Deus. isso que o Senhor Jesus faz quando Ele diz: Assim vos far meu Pai celestial (v. 35). O Deus contra Quem o homem tem uma dvida Aquele que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Neste mesmo contexto, afirmado que h um s Medidor entre Deus e o homem, que se deu a si mesmo em preo de redeno por todos, para servir de testemunho a seu tempo (I Tm 2:5-6). Obviamente, ento, a salvao, nos seus detalhes, inclui a idia de um resgate sendo pago para

    conseguir a libertao dos cativos do pecado. Ela mostra as portas da priso do devedor

    sendo abertas amplamente, para que todos que aceitam a oferta Divina possam sair de

    graa (veja Is 61:1 e Lc 4:19).

    c) A motivao divina

    O pecado constitui o homem como um inimigo de Deus. Na epstola aos Colossenses, Paulo, lamentando a influncia maligna das filosofias, e vs sutilezas, segundo as tradies dos homens, segundo os rudimentos do mundo (2:8), lembra os salvos que vs tambm noutro tempo reis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras ms (1:21). A inimizade natural dos homens contra Deus o resultado da natureza vil que herdamos do nosso primeiro antepassado. Isso agravado

    pela lei dos mandamentos (Ef 2:15). Esta afirmao, no seu contexto, tem a ver com as ordenanas que antes separavam os judeus dos gentios, mas que agora foram abolidas

    por Cristo na Sua morte. No entanto temos muitas provas em outros lugares de que os

    homens odeiam a luz, e temem as qualidades reveladoras da Palavra de Deus (Jo 3:20). Para gozar de um relacionamento correto e feliz, inimigos precisam ser

    incondicionalmente reconciliados. Em dar o Seu Filho morte de cruz Deus tem, em

    infinito amor, providenciado os meios pelos quais no fique banido dele o seu desterrado (II Sm 14:14).

    Devemos notar aqui que a causa da inimizade encontrada na humanidade, e que a

    atitude de Deus para com todos os homens est resumida na mensagem de

    reconciliao. Esta mensagem, estendida aos povos de todos os tempos, climas, lnguas

    e classes que vos reconcilieis com Deus (II Co 5:20). Este o apelo constante feito pelos pregadores do Evangelho, motivados por um amor infinito. Por causa da obra da

    reconciliao realizada pelo Senhor Jesus Cristo, todos os homens esto includos no

    convite e tm a possibilidade de serem salvos. Infelizmente, por causa da incredulidade,

    nem todos sero salvos. As palavras salvao e reconciliao so encontradas juntas tambm em Romanos 5:9-10. Como pecadores crentes em Cristo, fomos justificados pelo sangue de Cristo; seremos salvos da ira [futura] por Ele, e quando ramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho. Este plano misericordioso depende inteiramente do amor de Deus. Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por ns, sendo ns ainda pecadores (v. 8); e em amor Ele nos predestinou para filhos de adoo por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplcito de sua vontade (Ef. 1:4-5).

  • 3. Descrevendo a obra da salvao

    a) O meio misericordioso

    Em contraste total com a graa de Deus est o pecado corrupto e depravado do

    homem. Sabemos muito bem que o homem capaz de fazer o bem ao seu prximo, at

    mesmo sem qualquer interesse prprio, mas tambm muito claro que ele no pode

    fazer nada para merecer o favor de Deus e obter dEle a salvao. Quando o povo de

    Cafarnaum Lhe perguntou: Que faremos para executarmos as obras de Deus?, o Senhor Jesus respondeu: A obra de Deus esta: que creiais naquele que Ele enviou (Jo 6:28-29). As Escrituras consistentemente afirmam que a salvao conferida

    somente na base da f: Creu Abrao em Deus, e isso lhe foi imputado como justia (Rm 4:3); Porque pela graa sois salvos, por meio da f (Ef 2:8). Trazendo o assunto sua concluso, Pedro acrescenta: alcanando o fim da vossa f, a salvao das vossas almas (I Pe 1:9). Nem o arrependimento, nem as oraes, nem o desejo humano podem efetu-la. Somente a f salva, e o objetivo da f salvadora que Deus enviou Seu Filho para ser o Salvador do mundo (I Jo 4:14). O meio escolhido por Deus para providenciar a salvao foi ilustrado e profetizado durante sculos, antes da vinda do

    Senhor Jesus, provando que este plano no foi de modo algum um plano posterior de

    Deus, ou um plano de emergncia, forado pelas circunstncias. As revelaes

    cumulativas de que uma morte seria necessria para satisfazer todas as santas exigncias

    de Deus, e que ao mesmo tempo manifestaria o Seu maravilhoso amor, foram

    concretizadas na ddiva de Deus do Seu Filho. Deus enviou Seu Filho ao mundo (Jo 3:17). O significado verdadeiro das figuras e profecias que a morte necessria para a salvao seria a morte do prprio Filho de Deus. Ele designado o Cordeiro que foi morto desde a fundao do mundo (Ap 13:8). A morte do Senhor Jesus em prol de todos o meio maravilhoso de Deus de garantir a salvao dos muitos que crem.

    Nenhum anjo meu lugar podia ter tomado;

    Mesmo que tivesse o principado.

    Ali na cruz, desprezado e desamparado;

    Estava Um da Divina Trindade.

    J. M. Gray (traduo literal)

    E tambm cantamos nas palavras de Isaac Watts:

    Amor to maravilhoso, to divino,

    Merece meu corao, minha vida, e meu todo. (traduo literal)

    b) O alcance universal

    surpreendente como muitas pessoas instrudas e capacitadas, no seu zelo para

    limitar o alcance da salvao obtida, no vem a sua inconsistncia ao dar interpretaes

    diferentes s mesmas palavras, para assim reforar a sua prpria opinio. Um destes

    chega a dizer: A Bblia frequentemente usa as palavras mundo e todos num sentido limitado, e conclui dizendo: claro que todos no so todos. Um antigo e sbio dizer mostra o erro neste tipo de pensamento: Se a Bblia no quer dizer o que diz, ento ningum pode dizer o que ela quer dizer! Quando Paulo escreve que todos pecaram e destitudos esto da glria de Deus (Rm 3:23), ou quando Joo escreve: o mundo inteiro jaz no maligno (I Jo 5:19), e todo mundo aceita que nenhuma restrio deve ser colocada nestas palavras, como pode uma exposio ser considerada sadia

    quando ela coloca limites a palavras idnticas usadas pelo prprio Senhor Jesus, e por

    alguns dos apstolos? Num livro escrito perto do final da era apostlica, e

    aparentemente dirigido a leitores gentios, no faz sentido registrar as palavras do

    Senhor: Porque Deus amou ao mundo se estas palavras no significam exatamente o que dizem! Quando Paulo escreveu: Cristo morreu a seu tempo pelos mpios

  • (Rm 5:6), o contexto era sobre a afirmao legal de que no h justo, nem um sequer, e todo o mundo seja condenvel diante de Deus (Rm 3:10,19). Paulo no queria dizer que Cristo morreu por alguns dos mpios! Tambm, quando o Senhor Jesus

    enviou Seus discpulos, a ordem foi: Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16:15). inacreditvel que o Senhor daria esta comisso se Ele soubesse que os benefcios da Sua morte recente no estavam disponveis a todos a quem os

    discpulos foram enviados.

    Estas Escrituras, e muitas outras, afirmam que necessrio crer que o Evangelho, em

    todo seu grande poder, oferecido a todos, sem limite. A verso JND expressa esta

    verdade com clareza: Mas, no ser o ato de favor como foi a ofensa? Porque se pela ofensa de um os muitos tm morrido, muito mais tem a graa de Deus, e o dom gratuito

    em graa, que pelo um Homem Jesus Cristo, abundado aos muitos assim ento como foi por uma ofensa para a condenao de todos os homens, assim tambm por

    uma justia para todos os homens para a justificao de vida (Rm 5:15, 18).

    Embora reconheamos que nem todos sero participantes da to grande salvao, temos que insistir que a salvao oferecida e est ao alcance de todos os homens, sem

    limite. a vontade de Deus que a morte de Cristo deveria prover a salvao para todos

    os homens e fornecer a salvao a todos os que crem. A oniscincia de Deus engloba

    o fato que devido incredulidade rebelde, muitos permanecem destitudos de todas as

    bnos que a salvao traz. Concordando com isso, no por causa disso, o Senhor se

    certifica de que alguns, compelidos pela graa, viro a participar da grande ceia preparada (Lc 14:16-24). Assim, o propsito de Deus, segundo a eleio, permanece firme (Rm 9:11).

    c) Os termos incondicionais

    to comum, em muitos lugares, pensar que as boas obras so uma parte essencial

    para se obter a salvao, que isto se torna aceito sem qualquer questionamento. Alguns

    afirmam que isto que as Escrituras ensinam, e dizem: As bnos eternas no Cu so a recompensa pelas boas obras realizadas nesta Terra. Para apoiar esta crena falsa, palavras das Escrituras que no esto relacionadas com a obra inicial da salvao da

    alma so muitas vezes usadas versculos como Filipenses 2:12 (operai a vossa salvao com temor e tremor) e Romanos 2:6-7 (O qual recompensar cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverana em fazer o bem,

    procuram glria, honra e incorrupo). Em vista das muitas Escrituras que especificamente negam que obras, por si mesmas ou em conjunto como ritos e credos,

    possam dar a salvao, continuar a crer nisto aceitar que a Bblia um livro muito

    inconsistente. No contexto exato onde Paulo insiste que a graa de Deus que traz a

    salvao a todos os homens, e que no pelas obras de justia que houvssemos feito, mas segundo a sua misericrdia, que Deus nos salvou, ele tambm enfatiza que tais salvos so um povo especial [comprado], zeloso de boas obras (Tt 2:13-3:5). bvio que colocar boas obras como uma condio para se obter a salvao no se sustenta

    debaixo de investigao, e que os textos oferecidos como provas devem ter outras

    interpretaes, como tm. Na igreja em Filipos surgiram problemas evidentemente de

    natureza pessoal. O apstolo, estando ausente naquele tempo, encoraja os crentes a

    resolverem estas diferenas e colocar as coisas em ordem com temor e tremor. Como

    crentes ele os chama, no a procurar merecer a salvao por meio de trabalho, mas a

    imitar o grande exemplo do seu Senhor e Salvador, que Se humilhou e foi obediente at

    a morte de cruz. Mais ou menos no mesmo tempo, escrevendo a Tito, o contexto da sua

    exortao o carter moral dos cretenses, que deixava muito a desejar. Os habitantes da

  • ilha de Creta, que creram em Cristo, pela f, so lembrados de que se espera uma grande

    mudana no comportamento de cada um deles.

    Cr no Senhor Jesus e sers salvo (At 16:31); para que todo aquele que nele cr no perea, mas tenha a vida eterna (Jo 3:15). Dezenas de Escrituras, todas afirmando a mesma coisa, poderiam ser citadas aqui mostrando, sem medo de contradio, que a

    salvao obtida, simplesmente, plenamente e totalmente por uma nica condio; isto

    , f no Senhor Jesus Cristo como o nico Salvador dos pecadores.

    4. Detalhando os resultados

    a) A proviso maravilhosa

    De todos os temas interligados relacionados salvao, os mais fundamentais so: o

    arrependimento, o perdo dos pecados, a reconciliao e a justificao. Atos 20:21

    revela quo intimamente o arrependimento est associado com a f. O testemunho de

    Paulo, tanto a judeus como a gregos, era o arrependimento para com Deus e a f em nosso Senhor Jesus Cristo. O arrependimento uma mudana completa da mente em relao a Deus, a si mesmo, ao pecado e ao juzo. absolutamente necessrio para a

    salvao, como parte intrnseca da f para com Deus. Realmente, um no pode ocorrer sem o outro. O perdo dos pecados apresenta o pecador acusado e convicto com

    uma cdula riscada (Cl 2:14), enquanto a justificao lhe d uma posio completamente nova aos olhos de Deus. Na sua grande epstola judicial, a carta aos

    Romanos, o apstolo Paulo apresenta o homem como tendo rebelado contra a revelao

    que Deus lhe deu, seja pela natureza ao seu redor, ou pela comunicao especial das

    Santas Escrituras. Isso, por necessidade, contm tambm uma rejeio de uma das

    principais afirmaes divinas: Deus se manifestou em carne (I Tm 3:16), na Pessoa do Seu Filho, o Senhor Jesus. Na mesma carta aos Romanos ele tambm exps o homem

    como corrupto em pensamento, palavras e atos, e as razes de tal comportamento voltam

    at Ado, o primeiro homem. O veredicto do qual no se pode escapar registrado, em

    3:19, em palavras inegavelmente claras, e que j mencionamos: Toda a boca fechada, e todo o mundo seja [ou declarado] condenvel diante de Deus. Temos que enfatizar aqui tambm que a culpa do homem tal que somente o perdo divino pode

    limpar a conta. Embora isso seja visto nos escritos dos profetas, o Senhor mesmo se

    manifestou como um Deus rico em perdoar (Ne 9:17 e Is 55:7). O perdo dos pecados no apaga o crime original. Isto um fato histrico, mas o perdo cancela o registro

    para que a responsabilidade final no seja mais imputada ao pecador. Outro tomou o seu lugar e assumiu aquela divida como se fosse dEle mesmo.

    Da mesma forma, a justificao precisa ser considerada como parte indivisvel do

    processo da salvao. O perdo dos pecados, que acabamos de considerar, o outro

    lado da moeda. Se, por um lado, o homem declarado inocente, por outro ele

    declarado como tendo uma posio justa diante de Deus, o que tambm lhe d aceitao

    com Deus. A justificao em si no torna o crente justo, mas o considera, ou julga,

    assim. Antes de chegar sua grande declarao em Romanos 5:1 (tendo sido, pois, justificados pela f, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo), Paulo usa a expresso imputar ou levar em conta, mais ou menos dez vezes (veja Rm 4:3-24). Em cada uma destas ocasies a expresso poderia ser traduzida: creditado. Este fato enfatiza o que j foi afirmado. Este aspecto da salvao uma afirmao jurdica de que

    o pecador que creu teve todas as suas acusaes quitadas, e agora ele declarado

    absolutamente justo pelo prprio Deus da Santidade. Por causa da morte do Senhor

    Jesus Cristo em prol do pecador, Deus pode eternamente fechar a conta do pecado do

    crente, e sem qualquer injustia, declarar que Seus filhos, um e todos, so justos diante

  • dEle. Esta a bondosa e maravilhosa proviso que Deus fez para o pecador, ao entregar

    o Seu Filho morte de cruz.

    b) As exigncias rigorosas

    A salvao o dom gratuito de Deus, mas a salvao no sem preo. Ela tem

    exigncias que no podem ser ignoradas. No existe uma doutrina dizendo que podemos

    continuar em pecado, para que a graa abunde, como lemos na pergunta retrica de

    Paulo, e sua resposta, em Romanos 6:2. Isso pode ser entendido corretamente quando

    lembramos que a salvao tem trs aspectos, passado, presente e futuro. As Escrituras

    apiam esta bem conhecida verdade. Em pelo menos trs ocasies nas cartas aos

    Corntios, Paulo fala daqueles que j so salvos: a palavra da cruz para ns que somos salvos, o poder de Deus; o evangelho pelo qual sois salvos (I Co 1:18; 15:2-3). Porque somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam (II Co 2:15). De igual modo a fase presente da salvao mencionada at com mais

    frequncia. Encontramos um exemplo muito importante disto na carta aos Efsios, que

    uma carta que descreve a riqueza espiritual possuda por todos os crentes em Cristo.

    Ligado s riquezas concedidas pela graa h muitas referncias ao andar dirio do salvo,

    e neste contexto as palavras de 4:1 e 17 so notveis: Rogo-vos que andeis como digno da vocao com que fostes chamados, e digo isto, e testifico no Senhor, para que no andeis mais como andam tambm os outros gentios. Tambm no faltam palavras sobre o aspecto futuro e perfeito da salvao. Paulo estimula os santos romanos

    a reconhecer que j hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvao est agora mais perto de ns do que quando aceitamos a f (Rm 13:11). Em relao s recompensas para os servos de Deus notamos que infidelidade trar perda, mas o servo

    ser salvo; todavia como pelo fogo (I Co 3:15). A salvao, propriamente dita, o dom gratuito de Deus, a possesso da qual sempre produz uma mudana notvel na vida

    daquele que professa t-la recebido. As exigncias da salvao so tais que, onde a

    evidncia prtica estiver ausente, esta profisso nada mais do que uma anomalia. Ns

    que pertencemos a Cristo pelo direito da redeno devemos andar de tal modo que a

    imagem de Cristo seja refletida em ns. Salvao no somente salvao da penalidade

    do pecado, mas o salvo conhece tambm uma libertao progressiva do seu poder.

    c) A consumao gloriosa

    A obra da salvao to gloriosa que inclui todo o empreendimento remidor de Deus

    para livrar os homens do seu estado pecaminoso e culpado e apresenta-los, finalmente,

    irrepreensveis, com alegria, perante a sua glria (Jd v. 24). Deus ainda no terminou com Seu povo! Um dia radiante de glria ainda est por vir! No presente, estes nossos

    corpos fsicos esto constantemente sujeitos s tticas invasoras do pecado e,

    lamentavelmente, tal a nossa natureza fraca que frequentemente cedemos. O idoso

    Joo disse que seu motivo em escrever sua primeira epstola era para que no pequeis (2:1). Desde o novo nascimento e o recebimento do Esprito Santo, o salvo no tem

    nenhum incentivo para pecar, no entanto ele ainda peca. Esta mesma carta nos traz

    memria que a nossa comunho com Deus o Pai mantida pelo sangue purificador do

    Senhor Jesus e pela confisso e abandono do pecado. Temos um Advogado com o Pai,

    nosso Senhor Jesus Cristo: E ele a propiciao pelos nossos pecados (2:1-2). Por isso, o salvo tem mais razo ainda para almejar ardentemente o tempo quando ele ter

    terminado para sempre com o pecado em todas as suas formas. Todos os salvos naquele

    dia bendito sero trazidos ao completo conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, medida da estatura completa de Cristo (Ef 4:13). Esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformar o nosso corpo abatido para ser conforme o seu

    corpo glorioso [corpo de glria] (Fp 3:20-21). Naquele tempo o Senhor Jesus

  • aparecer segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvao (Hb 9:28). Por enquanto toda a criao geme, esperando ser libertada da escravido da corrupo

    causada pelo pecado. E no s ela, mas ns mesmos, que temos as primcias do Esprito, tambm gememos em ns mesmos, esperando a adoo, a saber, a redeno do

    nosso corpo. Porque em esperana fomos salvos (Rm 8:20-24). Ento se ouvir uma grande voz de uma grande multido, trovejando em todo o universo e dizendo: Aleluia! Salvao, e glria, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus (Ap 19:1).

    Ns, que estamos gozando das bnos de to grande salvao acrescentamos as nossas vozes quele coro celestial, com as palavras do hino escrito por Muir:

    Como amamos cantar do Senhor que morreu,

    E Seu grande amor proclamar;

    Falando de vida e paz pelo Crucificado,

    E salvao pelo Seu nome.

    Salvao! Salvao!

    Vasta, plena, gratuita;

    Pelo sangue precioso do Filho de Deus

    Que foi morto no Calvrio. (traduo literal)