Sally MacKenzie - Nobres Apaixonados 05 - Barão Apaixonado

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Sally Mackenzie - [Nobres Apaixonados 04] - Barão Apaixonado (Julia Hist 1569)

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Barão Apaixonado

The Naked Baron

Sally Mackenzie

Julia Histórico 1569

4º livro da série "Nobres Apaixonados"

Inglaterra, 1815

Diga-me o que você deseja...

Novata na sociedade londrina, e um tanto... desengonçada... Grace Belmont prefere se

esconder atrás dos vasos de palmeiras a dançar com um homem que ela não conhece. Mas o barão

Dawson está à procura de uma esposa, e as curvas generosas e a estatura incomum de Grace não o

intimidam. Ao contrário, ele se sente imediatamente atraído por aquela jovem tão interessante e

especial...

Antes que Grace tenha tempo de entender o que está acontecendo, ela se vê nos braços do

barão, cometendo uma insensatez atrás da outra. É impossível resistir ao poder de sedução de

Dawson. Sua querida tia e acompanhante a aconselha a ser paciente, mas como, se o lindo e

charmoso barão não para de sussurrar palavras tentadoras em seu ouvido?...

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Digitalização: Crysty

Revisão: Alice Akeru

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Querida leitora,

Ao ler este livro senti uma empatia instantânea com lady Grace, a heroína da história.

Afinal, Grace é uma moça que está fora de todos os padrões de beleza de sua época, e se considera

grande e desajeitada demais para atrair olhares apaixonados. (Quantas vezes isso não acontece

com muitas de nós, que nos julgamos demasiado altas, baixas ou pouco atraentes para conquistar

alguém que faz nosso coração bater mais rápido?!)

No entanto, o que Grace não sabe é que o destino havia lhe reservado o barão certo para

amar, o bem-humorado e charmoso David Wilton, também conhecido como barão Dawson. Aos

olhos apaixonados do barão, Grace era linda, sensual e desejável e tinha tudo o que ele buscava

em uma mulher... O único problema seria vencer a resistência do pai de Grace, que considerava os

Wilton seus eternos inimigos.

O romance de Grace e de David é algo que só vem a provar que o amor está nos olhos de

quem ama, pois quando escolhemos alguém para partilhar nossas vidas, o fazemos com os olhos da

alma e... do coração.

Vire as próximas páginas e deixe-se levar pela magia de um bom romance!

Leonice Pompônio Editora

Copyright ©2009 para Sally Mackenzie

Originalmente publicado em 2009 por Kensington Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLJSHING CORP. NY, NY, USA

Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou

mortas terá sido mera coincidência.

TÍTULO ORIGINAL: THE NAKED BARON

EDITORA Leonice Pompônio

ASSISTENTES EDITORIAIS

Maiza Prande Bernardcllo

Patrícia Chaves

Vânia Canto Buchala

EDIÇÃO/TEXTO Tradução: Silvia Lúcia Sardo

ARTE Mônica Maldonado

MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli

PRODUÇÃO GRÁFICA Sônia Sassi

PAGINAÇÃO Ana Beatriz Pádua

Copyright © 2009

Editora Nova Cultural Ltda.

Rua Paes Leme, 524 — 10° andar — CEP 05424-010 — São Paulo - SP

www.novacultural.com.br

Impressão e acabamento: RR Donnelley

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Capítulo I

Lady Grace Belmont entrou no magnífico salão de baile do duque de Alvord.

Sentiu um arrepio na espinha. As velas iluminavam centenas de rostos, e poderia jurar que todos estavam voltados para ela. Os homens de elegantes paletós pretos e camisas brancas erguiam seus monóculos. As mulheres, exibindo vestidos luxuosos, jóias valiosas, plumas esvoaçantes, escondiam os lábios atrás dos leques, murmurando e cochichando.

Céus! Ela queria fugir, mas era impossível.

Cerrou os punhos. Tentou respirar fundo, mas o ar estava denso com a mistura de cheiro de velas, de perfume de várias fragrâncias e por que não? De suor. Uma névoa embaçou-lhe os olhos. Temeu desmaiar. Seria um espetáculo para lá de divertido para os convidados do duque: a amazona de Devon, alta demais para os padrões femininos da época, caindo como um saco de grãos, um enorme saco de grãos, na verdade, na entrada do salão. Que início maravilhoso para a sua primeira e última temporada em Londres!

— Não é esplêndido?

— O quê? — Grace olhou para a tia, mignon e linda, lady Kate Oxbury.

— O salão, os convidados... não é tudo maravilhoso? — A tia estava empolgada. — Faz-me lembrar meu próprio début. O salão é o mesmo, mas naquela época, os cavalheiros usavam rendas e veludo. Eram tão coloridos quanto os trajes das senhoras. — Suspirou e sorriu. — Fiquei encantada.

Encantada? Encantamento não era nenhuma das emoções que assolavam Grace naquele momento. Náusea... Náusea não era bem o que se podia chamar de uma emoção. Terror, mortificação, constrangimento, raiva... muitas sensações, fervilhavam em seu íntimo, mas encantamento não estava entre elas.

— A senhora tinha apenas dezessete anos, titia. E era adorável. Tenho vinte e dois e sou muito alta.

— Grace! Não diga isso. Você é de linhagem nobre!

Nobre. Como Grace detestava essa palavra! Combinava com mulheres refinadas como sua tia, damas que a faziam se sentir como uma gigante desajeitada.

— Sim, nobre. Você é notável. Não vê os olhares de admiração de todos os cavalheiros?

Decerto, estavam admirando uma parte específica de seu corpo.

— Eles estão só olhando, tia Kate. É bem diferente de admirar.

— Bobagem. Estão fascinados por sua beleza. Mas se você continuar com essa expressão de contrariedade, acabará assustando a todos.

— Titia, a senhora não percebeu o que os monóculos estão focalizando? Aqueles homens não estão observando minha expressão. Eles estão examinando meus seios.

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— Grace! — A tia abanou o rosto e desviou o olhar, afogueada. — Cuidado com o que fala. Você não está em Standen!

Não, não estava em Standen. E a culpa era só dela. Se tivesse mantido a boca fechada quando a tia a convidou para aquela viagem absurda, estaria em casa agora, acomodada numa poltrona, lendo um bom livro e fingindo ouvir seu pai discorrer sobre técnicas de drenagem de solo.

A lembrança não lhe causou a esperada sensação de contentamento.

Reprimiu um suspiro. Nem poderia. A vida em Standen fora agradável enquanto o pai a ignorara. Agora, porém... Desde o ano anterior, ele estava obcecado pela idéia de encontrar um marido para a filha. E ao saber que Grace iria a Londres, zombara dizendo que seria motivo de risos nos eventos da temporada.

Impaciente, Grace olhou para a tia.

— Você está se irritando por nada, querida. Não reparou que lady Hamilton é quase tão alta quanto você? E tenho certeza de que outras convidadas também... — Kate tossiu de leve. — Digamos que são bem-dotadas. — Acariciou o braço da sobrinha. — Seu pai é um idiota. Muitos cavalheiros estão ansiosos para fazer-lhe a corte.

Era pouco provável que aquilo fosse verdade, mas não havia necessidade de discutir com a tia.

— A senhora sabe que não estou aqui para encontrar marido. Papai já acertou tudo com o sr. Parker-Roth. Vim apenas para participar de alguns bailes e saraus e, claro, conhecer Londres.

— Você quer mesmo se casar com o seu vizinho, Grace?

— Eu... — Não, não queria, mas estava resignada com seu destino. Não poderia viver em Standen para sempre, e casar-se por amor era um conto de fadas reservado aos romances de Minerva Press. — Estou contente com a escolha de papai. Afinal, ele não escolheu Oxbury para a senhora? Não foram vinte e tantos anos de um casamento feliz?

A expressão de Kate mudou. Ficou séria e meio confusa.

— Ah... Eu... bem, sim. — Ela pigarreou. — Penso que você deveria olhar à sua volta, Grace. O sr. Parker-Roth pode ser uma preciosidade, mas como saber se você não tiver a oportunidade de conhecer outros rapazes? Pelo menos, participei de uma temporada.

— Bem...

— Você não pode voltar para casa como um cachorro com o rabo entre as pernas e dar a seu pai o gosto de dizer "eu bem que avisei"

— Verdade. — Era sua única oportunidade de conhecer Londres. Adoraria a experiência. Encararia a população masculina como algo mais para ver, como a ponte de Londres ou a abadia de Westminster do que para provar. — Suponho que não há nada de mais em olhar.

— Exato. — A tia sorriu. — E tem muita coisa para ser vista. — Fez um gesto gracioso com a mão, abrangendo o salão repleto. — Você tem toda sociedade aos seus pés. Está vendo a quantidade de cavalheiros altos?

— Talvez... — Parecia haver apenas dois ou três homens de estatura acima da média, embora fosse difícil precisar o número exato e discernir onde eles estavam.

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— Talvez, não. Tenho certeza. Olhe aquele homem parado junto ao vaso de folhagens. Ou aquele outro perto da janela. Ou os dois cavalheiros ao lado do.... ao lado do... Oh, meu Deus! — Kate empalideceu e apertou o braço de Grace.

— O que foi? Qual o problema?

A tia olhava para um dos cavalheiros em pé, junto a uma palmeira. Um deles era alto, grisalho nas têmporas. Boa aparência, mas nada de tão excepcional. O que teria a ver com...

Grace olhou para o homem ao lado dele. Seu coração disparou. O calor subiu-lhe ao rosto. Por um momento, esqueceu de respirar.

O cavalheiro era ainda mais alto, e uns dez anos mais novo do que o primeiro. O paletó preto não disfarçava a largura dos ombros, e o cabelo, loiro-escuro e mais comprido do que a moda exigia, emoldurava o rosto de traços angulosos. Olhos profundos, maxilares proeminentes, nariz reto, boca firme e... aquela covinha no queixo.

Ele também a observava com atenção, mas não do jeito odioso como os outros homens faziam. Oh, não. Os olhares de ambos se encontraram e Grace sentiu um arrepio de... de alguma coisa. A sensação percorreu-lhe o corpo e alojou-se no baixo-ventre.

O que estava acontecendo? O vento frio de Londres a teria afetado? Nunca sentira aquele calor antes, aquela pressão na...

Corou.

Apertando ainda mais o braço da sobrinha, Kate murmurou com voz esganiçada:

— Pre... preciso ir ao toalete. Agora!

— Que horror! O salão está abarrotado de gente. — David Wilton, barão de Dawson, pegou duas taças de champanhe e voltou ao lugar calmo que encontrara entre os vasos de palmeira. — Mal posso respirar ou ouvir meus pensamentos.

— Bem-vindo a Londres e à aristocracia. — Alex Wilton, tio de David, pegou uma das taças e bebeu um longo gole.

— Agora você sabe por que abomino tudo isso. Toda a aristocracia inglesa está aqui para conhecer a hóspede americana do duque de Alvord e ver a reação do primo dele.

David torceu o nariz e bebeu um gole de champanhe. Fofocas! Londres deveria ser igual... Não, pior do que as cidades interioranas; Era a sua primeira viagem a Londres em plena temporada. E a última, se tudo desse certo. Não estaria lá se não precisasse de uma esposa. Mas precisava, e não poderia escolher uma em sua cidade. Crescera com todas as moças dos arredores de sua propriedade, e não tinha interesse por nenhuma delas.

Correu os olhos pelas debutantes coradas em seus virginais vestidos brancos. Céus! Que coleção de meninas fúteis!

— Não vê nada, ou melhor, nenhuma que o agrade, sobrinho?

— Não. — David tentou disfarçar a frustração. — Pelo menos até agora. Mas acabamos de chegar. Talvez as mulheres mais atraentes, as mais maduras, ainda não tenham dado o ar da graça. — Esperava que aquelas garotas frívolas não fossem tudo o que a sociedade tinha a oferecer naquela temporada. Afinal, estava com trinta e um anos e fazia apenas um que era barão, mas a morte era algo inesperado. Conhecia sua

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responsabilidade. Precisava pensar em sua sucessão. Até mesmo seu descuidado pai atendera àquela necessidade do dever antes de partir a cabeça numa rocha.

— Que tal aquela garota? Daria uma bela imagem sobre lençóis emaranhados.

David olhou para a jovem em questão, uma loira de vestido vermelho e decote generoso. Percebendo os olhares de ambos, a moça abanou-se com o leque.

— Não concordo, tio. É mignon e magra demais para o meu gosto. Além disso, não acha que faltou tecido para terminar o vestido?

— Talvez. — Havia um tom de malícia na voz de Alex.

David lançou-lhe um olhar reprovador.

— Ela tem idade para ser sua filha, tio. Controle-se.

— Não há mal nenhum em olhar, não é mesmo? — Alex ergueu as sobrancelhas. — É preciso admirar a beleza em todas as suas manifestações, certo?

— Sim, ainda mais quando a garota tem duas magníficas manifestações quase pulando do decote do vestido, não meu tio?!

— Tem razão — Alex concordou com um sorriso bem-humorado.

David riu também.

— Comporte-se, tio.

— Estou cansado de me comportar. Não compareço a uma temporada há vinte anos. Se decidir comemorar com um pequeno deslize, quem poderá me culpar?

— Por certo, não pretende imitar meu mal-afamado pai nesta fase de sua vida!

— Quem sabe? Luke teve uma vida curta, mas intensa.

— Ora, tio...

— Sr. Wilton! Oh, sr. Wilton! É o senhor mesmo?

Ambos se voltaram. Uma senhora elegante de bengala aproximava-se deles.

— Oh, não! — Alex resmungou. — Lady Leighton. Pensei que já estivesse morta e enterrada!

David conteve o riso.

— Ela parece bem viva para mim... e encantada por vê-lo.

— Só Deus sabe por quê.

Lady Leighton pegou no braço de Alex.

— Faz tempo que não aparecia em Londres, sr. Wilton. Aliás, tanto tempo que quase não o reconheci.

— Ah!

O riso de David se transformou em tosse ao ver o tio perder a fala diante do entusiasmo de lady Leighton.

— Quero lhe dizer que sinto muito pelo falecimento de seus pais.

Um músculo pulsou no rosto de Alex e uma sombra anuviou-lhe os olhos. A sombra de tristeza que já se tornara familiar.

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David pigarreou. Quando Alex se convenceria de que não era responsável pela morte dos pais?

Lady Leighton fitou-o com interesse renovado.

— E quem é este rapaz? — Ela ergueu a mão impedindo a resposta de David. — Não, não diga... a semelhança é espantosa. Lorde Dawson, não?

Maldição! Todos veriam seu terrível pai em seu rosto? Esse era um item que não considerara quando tinha enumerado todas as razões para não ir a Londres. Inclinou a cabeça com o máximo de desinteresse, esperando que a mulher percebesse sua contrariedade e mudasse de assunto.

Não teve tal sorte. Lady Leighton bateu a bengala no chão.

— Foi o que pensei. Filho de Luke. Já lhe disseram que é igual ao seu pai?

O estômago de David se contraiu.

— O que falam é que sou parecido com ele — esclareceu a contragosto.

— Ah! — Lady Leighton exclamou. — Bem, apesar dos defeitos, Luke Wilton era encantador. — Ela meneou a cabeça. — Que tragédia mais sem sentido foi a vida de Luke! — Voltando-se para Alex, continuou: — E que tragédia Standen ter insistido em frustrar seus intentos no passado, sr. Wilton. Espero que esta sua vinda a Londres signifique que superou sua decepção. Não é tarde para encontrar uma boa moça para se casar e ter filhos. O senhor não deve ter mais do que quarenta anos.

— Ah...

Lady Leighton afagou-lhe o braço.

— Já é tempo de refazer sua vida, sr. Wilton. Esqueça o passado. Alguma mulher há de querê-lo. — Voltou-se para David. — E você veio a Londres para a temporada de apresentação das damas também? Muito bem. Gosto de homens que reconhecem suas obrigações e tratam logo do assunto. — Ela riu. — Devo apostar qual dos dois será o primeiro a providenciar um herdeiro?

— Como? — David espantou-se com o tom intimista do comentário.

— Não preciso lhes dizer... — Lady Leighton parou de falar e acenou para alguém. — Oh, lá está a sra. Fallwell. Tenho um assunto particular para conversar com ela. Espero que não se ofendam por deixá-los, cavalheiros.

— Não. Por favor, fique à vontade — Alex tranquilizou-a.

— Não se prenda por nós — David insistiu.

— Então, com licença. Boa sorte com as senhoras, meus queridos amigos. — A sra. Leighton ainda afagou o braço de ambos antes de sair em busca da sra. Fallwell.

— Graças a Deus. — Tio e sobrinho se entreolharam e riram.

— Nunca imaginei que agradeceria pela existência da sra. Fallwell. — Alex bebeu outro gole de champanhe. — Lady Leighton é a maior bisbilhoteira da face da Terra.

— Sei. — David perscrutou o rosto do tio. — O que ela quis dizer sobre sua "decepção"? Sobre Standen ter frustrado suas intenções?

As orelhas de Alex ficaram vermelhas.

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— Não faço a menor idéia. — Bebeu o restante do champanhe e pegou outra taça da bandeja de um criado que circulava entre os convidados.

— Existe alguma coisa que não tenha me contado?

— Não consigo me lembrar de nada. — Alex olhou para a taça de champanhe.

Por que o tio evitava encará-lo?

— A sra. Leighton falou com tanta... Maldição!

— Maldição? — Alex levantou a cabeça.

— Sim. As gêmeas Addison estão aqui. — David olhou ao redor, procurando um esconderijo seguro.

— Então, seguiram seu rastro até Londres. Impressionante. — Alex riu. — Eu diria que uma das srtas. Addison pretende fisgar um barão.

— Não este barão, meu caro.

— Não esteja tão certo disso. Trate de ficar bem atento para não cair numa armadilha mortal.

David não respondeu. Estava ocupado demais tentando ocultar-se atrás das folhagens. Não havia nada de errado com as gêmeas. Qualquer homem ficaria feliz por desposar uma das moças, mas não ele. Não sabia distinguir uma da outra. E confundir a esposa com a cunhada seria embaraçoso demais. Além disso, as duas eram muito magras para o seu gosto.

Espiou por trás do pilar. Por sorte, as gêmeas não o tinham visto. Observou-lhes as costas e os quadris magros. Não era uma vista inspiradora.

As jovens daquela geração seriam todas pequenas e magras? Deveria haver alguma mulher compatível com a altura dele. David era tão alto quanto o avô fora e seu avô encontrara uma mulher compatível em sua doce avó.

A verdade era que David desejava uma esposa com um pouco de carne nos ossos. Uma jovem com seios generosos e quadris aconchegantes. Doce, carinhosa, quente. Não, quente não. Ardente. Uma mulher com um corpo que faria qualquer homem esquecer o próprio nome.

Como aquela que acabara de entrar no salão de baile.

Céus! David estremeceu e cerrou os lábios. Não se importava de parecer um completo palerma se a moça olhasse em sua direção.

Ela era linda. Alta, muito mais alta do que a dama que a acompanhava, com curvas gloriosas, maravilhosas, deliciosas. O decote do vestido era discreto, ocultando quase toda sua pele de porcelana. Adoraria acariciar aquela pele com seus dedos, lábios e...

E o cabelo? Encantador também. Estava preso no alto da cabeça, com alguns cachos soltos emoldurando-lhe o rosto. Os dedos de David formigaram ansiosos para se enterrar na massa sedosa, soltando os fios cor de cobre para deixá-los cair livres sobre os ombros delgados e...

Seios desnudos.

Ela desceu um degrau e voltou-se para falar com sua acompanhante. A saia do vestido repuxou por um instante, delineando aos quadris e as pernas longas.

Quem era ela? Talvez seu tio soubesse.

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— Alex?

— Sim? Desistiu de ficar escondido?

— Mais ou menos. As Addison estão no outro lado do salão. Pode vir até aqui, por favor? Quero lhe fazer uma pergunta.

— Pois não. — Alex foi para trás das folhagens. — Do que se trata?

— Quem é aquela mulher? — David apontou para a entrada do salão.

— Qual delas? Você não está interessado em alguma daquelas matronas descendo os degraus!

— Claro que não, seu engraçadinho! Estou falando da garota alta, bonita, de cabelo avermelhado.

— Ah! — Alex observou-a. -— Como posso saber? Ela deveria ser um bebê quando estive em Londres pela última vez.

— Você não tem idéia de quem ela seja? — David ficou decepcionado.

— Não. — Alex ergueu uma sobrancelha. — Por que tanta curiosidade?

— É que acabei de decidir... — David pigarreou. — Isto é, acredito que a dama será uma excelente baronesa.

— O quê? — Desta vez, Alex o fitou boquiaberto. — Você enlouqueceu?

— Não. — David não sabia o nome da mulher, mas sabia que a desejava. Era a primeira dama que lhe despertava algum... bem, algum interesse. Na verdade, seu interesse era tanto que ameaçava tornar-se constrangedor.

Ela não poderia apenas ser jogada sobre uma cama. Precisaria ser muito gentil ao amá-la, mas seu corpo se encaixaria no dele com perfeição. Bebeu um gole de champanhe. Estava ansioso demais para ser coerente. Seria melhor controlar seu interesse latente antes de conhecê-la. A moça ficaria assustada se ele se apresentasse como um adolescente despudorado.

A senhora que a acompanhava deu um passo à frente, revelando o rosto.

— Talvez você conheça a dama que a acompanha — David disse ao tio. — Imagino que seja a mãe da moça.

— Não sei por que imagina que eu... — Alex olhou para a senhora e ficou rígido. — Não. Não sei... Ela é... Parece... — Emitindo um som estranho, deixou a frase no ar.

— Qual o problema? — David intrigou-se com a atitude do tio e fitou a bela ruiva e sua acompanhante.

A jovem senhora olhava ao redor de si, observando o salão de baile com grande interesse. No entanto, ao pousar os olhos em Alex... abriu a boca e empalideceu. Agarrou o braço da filha.

Ah, a filha! David percebeu que ela o encarava, e um leve e atraente rubor subia-lhe do pescoço até o rosto.

Entusiasmou-se. Quase podia sentir os olhos dela em seus ombros e rosto. Então a viu umedecer os lábios com a ponta da língua.

Já vira muitas mulheres o fitarem assim antes. Aquela garota o desejava. Ela só ainda não percebera. Era inocente demais para reconhecer o que estava sentindo, mas

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ficaria feliz, deliciado, aliás, em lhe explicar tudo. Em detalhes. Detalhes ardentes, sensuais, enlouquecedores...

— Maldição! — Alex resmungou. Não podia ser. Fechou os olhos e tornou a abri-los.

Era ela. Kate.

Depois de tantos anos, encontrava-se no mesmo recinto que lady Kate Belmont, só que agora Kate era a condessa de Oxbury.

No entanto, o conde de Oxbury morrera havia mais de um ano.

Kate fechou a boca e fez menção de afastar-se, ainda segurando o braço de... Sua filha?

Não, não era filha dela. Impossível. Kate e Oxbury não tiveram filhos. O título passara ao primo do conde. Alex meneou a cabeça. O relacionamento dela com o marido teria sido platônico? Com certeza, não, apesar de Oxbury ter trinta anos a mais do que Kate.

Viu-a afastar-se com a garota. Continuava pálida.

David apertou o braço do tio.

— Você conhece as duas. Pode apresentá-las a mim?

— Não! — Jamais haveria uma aproximação entre ele e Kate e, muito menos, entre David e a moça... que deveria ser sua parente. O irmão de Kate, conde de Standen, tivera uma filha. Pior ainda!

— Quem são elas, tio? Por favor — David insistiu.

— A dama é a viúva do conde de Oxbury.

— E a moça? Elas estão juntas. Devem ter algum tipo de parentesco. Se a dama é a condessa de Oxbury...

— Creio que a garota seja sua sobrinha, filha do conde de Standen. — Aquele infame maldito.

— Então, você pode me apresentar a elas.

— Não. — Aproximar-se de Kate? Jamais!

— Por que não? Você conhece lady Oxbury.

— Conheci lady Oxbury. Duvido de que ela me reconheça.

— Oh, tio Alex. Aposto que o reconheceu.

Por que o sorriso irônico de David?

— Eu quis dizer cumprimentar. A condessa me dará as costas se eu tentar falar com ela.

— Não creio. Apresente-me. Minha posição pode não ser tão elevada quanto a de um conde, mas meu baronato é antigo e muito respeitado. Eu...

— Você não entendeu nada. Esqueça suas idéias maliciosas. Isto não tem nada a ver com você. Não ouviu o nome do pai da moça? Ela é filha do conde de Standen. Standen!

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— E daí? Posso... Ah?! — A expressão espantada de David teria sido cômica em outras circunstâncias.

— Vejo que compreendeu. Standen, o homem que sua mãe, lady Harriet, abandonou para fugir com seu pai, meu irmão. Asseguro-lhe de que o conde de Standen odeia todos os Wilton. Ele jamais permitirá que você faça a corte à filha dele.

David observou o tom alterado de voz, o rosto vermelho e o maxilar contraído de Alex.

Filha do conde de Standen... Inferno! Sim, aquilo era um problema, mas não insuperável. Não conhecia Standen, na certa o homem não poderia ser um completo idiota.

Já deveria ter esquecido tudo o que acontecera no passado. Afinal, casara-se e tivera uma filha, não?

— Imagino que Standen tenha superado sua decepção.

— O conde não superou nada.

— Mas tudo aconteceu há mais de trinta anos!

Alex encolheu os ombros.

— Posso lhe garantir que o conde guarda os piores conceitos em relação à nossa família. Ele preferiria arrastar a irmã nua pela cidade a consentir que uma Belmont se casasse com um Wilton.

— Como você sabe disso?

— Porque o insano me disse com todas as letras há vinte e três anos — Alex respondeu com uma amargura. — No dia em que pedi a irmã dele em casamento.

Grace acomodou a tia em um divã no toalete.

— Tem certeza de que está tudo bem, tia Kate?

— Ah... Eu... Sim... — Não, não estava nada bem. Por sorte o toalete encontrava-se vazio. Teria de controlar suas emoções antes de voltar ao salão, Se pudesse soltar o corselete! Não deveria ter permitido que Marie, sua criada, o apertasse tanto. Para que tentar parecer jovem se nada esconderia as rugas ao redor dos olhos ou o cabelo grisalho? Não era mais uma adolescente de dezessete anos. Com certeza, Alex ficara chocado, até mesmo horrorizado, ao ver como ela envelhecera.

Oh, Alex... Inspirou. Expirou. Nada de entrar em pânico, repetiu para si mesma.

— Seu vinagre. — Grace aproximou a caixinha aromática do nariz da tia.

— Não, eu... Ah! — Kate inalou o aroma pungente.

— Está melhor?

— Um pouco. — Não. Estava se sentindo ainda mais infeliz. Mas poderia passar a noite inteira ali, no divã do toalete?

Era óbvio que não. Era a acompanhante de Grace. Tinha de voltar ao...

Respire... respire.

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Grace ainda estava agitando o vinagre no rosto dela. Kate pegou a caixa e fechou-a. Achava que Alex nem tinha notado sua presença no salão. Talvez nem se lembrasse mais dela ou do que acontecera naquela temporada de vinte e três anos atrás...

— Oh... — Kate cobriu o rosto com as mãos.

— Tia, a senhora está sentindo alguma dor?

— Não, não, estou bem. — Entregou a caixa a Grace. Alex notara sua chegada? De tão chocada, nem reparara na expressão dele.

— Qual é o problema? — Grace indagou. — Tem alguma coisa errada com aqueles dois cavalheiros?

Dois? Havia dois deles? Kate tentou pensar com clareza. Oh, sim, o outro cavalheiro, o mais jovem, era muito parecido com Alex. Deveria ser sobrinho dele, fruto do primeiro escândalo Wilton-Belmont.

Por que Alex estava lá? Deveria estar sossegado no campo. Que coincidência infernal o enviara a Londres justo quando ela decidira ir?

Os pais dele tinham morrido na mesma época em que Oxbury. Talvez fosse isso. A morte, muitas vezes, fazia as pessoas reavaliarem suas vidas. O falecimento de Oxbury a forçara a reconsiderar seus valores também.

— Tia Kate...

Kate corou. Embora não admitisse, pensara que enquanto Grace procurava um marido, poderia aproveitar para observar os salões de Londres. Oh, não à procura de outro marido, embora o herdeiro de Oxbury estivesse tornando a vida no solar insuportável. Mas apenas por...

Bem, era viúva, e às viúvas era permitido, quase esperado, certas... liberdades. E ela pensara...

Mas nunca imaginara ver Alex.

Afinal, ele fora seu grande amor no passado.

Aos dezessete anos, era ávida por surpresas e novidades. Tinha a cabeça cheia de sonhos tolos com belos cavalheiros e beijos roubados ao luar. Devaneava acerca de um grande amor e de um casamento que lhe traria felicidade eterna.

Depois do que passara havia aprendido que a vida oferecia momentos de alegria. Mas felicidade eterna? Só em contos de fadas.

Todavia, agora Alex estava ali. Seria possível?

— Tia Kate, o que está acontecendo? A senhora está doente? Acha melhor irmos embora?

Sim, sim. Queria ir embora, deixar aquele baile, sair de Londres. Voltar para casa, onde estaria em segurança e poderia se esconder.

Entretanto, não poderia se esconder para sempre. Além disso, Oxbury, com seu solar tão aconchegante e jardins acolhedores, não era mais o seu lar, e se ela deixasse a cidade, Grace teria de partir também. A sobrinha perderia sua temporada e a chance de encontrar um marido por escolha própria.

Não permitiria que Grace fosse forçada pelas circunstâncias, e por Standen, a cometer o mesmo erro que ela.

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— Tia Kate! — Grace a sacudiu pelos ombros.

— Sim? — Piscou e fitou-a com expressão transtornada.

— Quer que eu mande buscar a carruagem?

— Não, claro que não. Estou bem.

Grace abriu a boca, mas Kate ergueu a mão, impedindo-a de falar.

— Não. Estou bem. De verdade. Apenas tive um breve mal-estar. — Forçou um sorriso. — Fazia muitos anos que não pisava num salão de Londres. Descontrolei-me por um momento, mas agora estou bem. — Levantou-se e arrumou as mangas do vestido. —Venha. Vamos voltar ao baile.

Grace cruzou os braços.

— Não enquanto a senhora não me explicar o que aconteceu.

— Já expliquei. Tive um mal súbito, mas passou.

Grace olhou-a com uma sobrancelha arqueada, como o pai dela costumava fazer.

Kate sempre odiara aquela expressão de Standen. Mas, pelo menos, era melhor do que a expressão fria e insolente que ele assumia quando estava furioso, como ficara da última vez em que estivera em Londres.

— Posso ser uma moça do interior, tia Kate, mas não sou boba. A senhora esteve calma durante toda a viagem. Não posso imaginar que um simples salão, repleto de aristocratas, poderia lhe provocar tremores. Sem mencionar que esse seu... mal-estar começou ao ver aquele cavalheiro alto e grisalho parado junto à palmeira. Quem é ele? — Grace sorriu. — E, mais importante, quem é o seu acompanhante?

Kate estremeceu. Os olhos de Grace cintilavam. Não, aquilo não estava acontecendo. Entre todos os homens de Londres, ou melhor, do mundo, aquele era o único que Grace não poderia ter.

— Não tenho certeza. — Kate tentou afastar-se, mas a sobrinha a impediu.

— Quem você acha que são?

Kate suspirou. Grace não sossegaria enquanto não ouvisse uma resposta clara.

—Não via o cavalheiro grisalho havia anos, e não conheço o mais jovem, porém... Bem, acredito...

— Sim? — As narinas de Grace inflaram e o maxilar se contraiu. — Quem são eles, tia Kate?

— O mais velho é o sr. Alexander Wilton, e acredito que o rapaz seja seu sobrinho, o barão Dawson.

— Ah! — Grace piscou.

Kate sentiu-se mais aliviada. Pelo menos, Grace parecia ciente do problema. Ainda assim, não seria demais um pequeno aviso.

— Imagino que seu pai já tenha lhe falado algo sobre os Wilton.

— Ocasionalmente. — Sim, ouvira o pai mencionar o nome do barão Dawson, avô do jovem barão. Em geral era "aquele maldito Dawson" seguido de uma lista de imprecações condenando o homem e sua família pregressa, presente e futura. Uma vez,

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cometera o erro de perguntar ao pai o motivo de seu ódio pelo barão Dawson. Em vez de responder, ele praguejara ainda mais, antes de mergulhar num profundo silêncio.

O velho barão morrera havia um ano, logo após a morte de lorde Oxbury. Também fora naquela época que o pai decidira o casamento dela com seu vizinho John. Sempre imaginara que, por alguma razão, a morte de lorde Oxbury despertara em seu pai a obsessão de vê-la casada. Agora, contudo, não tinha tanta certeza.

— Por que meu pai odeia tanto os Wilton, tia Kate? Não tem nada a ver com o fato de sermos vizinhos. Que eu saiba, papai nem conhece esses dois cavalheiros. Ou será que ele detesta apenas o falecido barão? Já perguntei isso a ele, mas papai não diz nada.

Claro, Standen jamais diria nada, principalmente à filha. E não cabia a Kate revelar os segredos do irmão. Tampouco se permitiria discutir as indiscrições de seu próprio passado.

— É suficiente saber que você deve evitar esses homens, meu bem.

Grace franziu o cenho. Outra característica que herdara do pai e que revelava sua obstinação.

— Que ridículo! Se a senhora não pode, ou não quer, contar-me do que se trata, só me resta perguntar a lorde Dawson. Imagino que ele saiba.

Kate duvidava de que a sobrinha cometesse a temeridade de perguntar ao barão, porém, nunca seria demais alertá-la.

— Não faz a menor diferença se lorde Dawson sabe ou não. Não é o tipo de conversa para você manter num salão de baile lotado.

Grace deu de ombros.

— Encontrarei um lugar mais discreto, como o jardim, por exemplo.

— Não! — A última vez que um Wilton acompanhara uma Belmont ao jardim do duque de Alvord... Kate pousou a mão no peito. Seu coração batia descompassado de constrangimento ou...?

Constrangimento, sim. Sem dúvida. Não tinha a mínima intenção de reviver o pesadelo daquela noite.

— Você sabe que não pode ir ao jardim com um homem. Está noiva.

Grace deu de ombros outra vez.

— É evidente que não vou fazer nada de escandaloso, tia Kate. E não se preocupe, pois John não se deixará influenciar pelos comentários maldosos.

— O sr. Parker-Roth pode não dar atenção aos comentários, mas o restante da sociedade dará. Você quer que sua temporada termine antes mesmo de começar?

— Quero descobrir que segredo é esse que a senhora e papai escondem.

— Grace, eu...

Naquele instante, duas senhoras entraram no toalete.

—... e você viu como lady Charlotte olhou para o... — Uma delas parou de falar e virou-se para Kate. — Oh! — exclamou, espantada. — Você é... só pode ser... lady Kate Belmont? Isto é, lady Oxbury?

— Sim, sou lady Oxbury. E você é... ?

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— Não está me reconhecendo, Kate? — A mulher riu. ? — Admito que ganhei alguns quilos depois de tantos filhos, mas pensei que ainda estivesse reconhecível. Nós debutamos juntas, lembra? Escondidas atrás das folhagens no baile de Wainwright, tímidas demais para conversarmos com quem quer que fosse. Fiquei desesperada quando você deixou a cidade repentinamente.

Kate pestanejou.

— Prudence? Prudence Cartland?

— Eu mesma. Só que agora sou lady Dalton.

— Prazer em revê-la, querida. Por favor, permita que lhe apresente minha sobrinha, lady Grace. — Kate manteve o sorriso enquanto conversava com a mulher. Lembrava-se, sim, da pequena e tímida Prudence.. Que outros conhecidos encontraria no salão de baile, além dela e de Alex?

Alex. Oh, céus! E o jovem barão. Teria de cuidar para que Grace se mantivesse longe dos dois. Se estivesse, de fato, atraída pelo barão... Não. O destino não seria tão cruel.

— Foi muito bom vê-la outra vez, Prudence, mas Grace e eu... — Kate olhou à sua direita. Ora, Grace estivera bem ali até um momento atrás. Olhou ao redor, mas não a viu.

— Procurando por sua sobrinha, Kate? — Prudence riu. — Receio que ela tenha se entediado ouvindo nossas reminiscências e saiu faz alguns minutos.

A sorte disfarçada de lady Dalton lhe sorrira, Grace pensou enquanto escapulia do toalete. Agora poderia procurar o barão Dawson sem ter que antes driblar a tia. Estava decidida a descobrir o motivo da aversão de seu pai pela família do barão, e por que a tia fugira ao ver o sr. Wilton.

Se existiam segredos escondidos em sua família, queria conhecê-los.

O salão estava ainda mais lotado do que antes. Enquanto os casais dançavam, as acompanhantes conversavam e as debutantes lançavam olhares furtivos aos rapazes espalhados pelo salão. O burburinho incessante quase abafava o som da orquestra.

Onde estaria Dawson? Não seria difícil localizá-lo. Afinal, era um dos homens mais altos do baile. O tio ainda estava ao lado da palmeira. E o barão? Ah, lá estava ele perto de uma figueira, na porta que levava ao jardim.

Grace sentiu o mesmo frisson de quando o vira pela primeira vez, e nem a estava olhando. O que havia naquele estranho para lhe suscitar o inusitado revoar de borboletas no estômago? E a sensação não se concentrava apenas no estômago. Espalhava-se pelo peito e por outras partes não mencionáveis de seu corpo.

Todas as outras mulheres presentes estariam tão impressionadas? Como poderiam não estar, apesar de, ao que parecia, nenhuma o estar encarando?

Se aquele salão fosse uma pintura, o barão Dawson seria o tema central. Tudo ao redor, homens, mulheres, objetos, era cenário incidental.

O barão estava imóvel e alerta, sozinho. Grace sentiu-se sem ar por antecipação ao que estava prestes a acontecer: vê-lo de perto.

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Tola. Não ficaria ali parada, esperando que o barão a notasse. Precisava falar com ele. Não deixaria a conversa por conta do acaso. Começou a caminhar pela lateral do salão, mas não conseguiu alcançá-lo. Viu-o sair para o jardim.

Não importava. Ela o seguiria. Nada a deteria, apesar dos avisos de sua tia. Como sua acompanhante, era natural que se preocupasse. No entanto, tinha idade para tomar as próprias decisões.

Caminhando entre as pessoas e evitando os olhares cobiçosos dos cavalheiros presentes, enfim, chegou à porta.

David procurou por dez minutos, mas nem sinal de lady Oxbury e sua bela sobrinha. Resistiu ao impulso de tirar o relógio de ouro do bolso. Já percebera os olhares curiosos de alguns convidados, em especial das mulheres, e não queria despertar comentários maldosos. Seria melhor ser paciente. Se não tivessem se retirado, e esperava que não, tia e sobrinha apareceriam no salão a qualquer momento. Protegeu-se atrás de uma folhagem para fugir aos olhares insistentes de uma dama e sua filha debutante. Não deveria evitá-las. Aliás, deveria, sim, falar com elas, e com todas as senhoras presentes. A última coisa que precisava fazer era concentrar-se na filha de Standen.

Alex estava certo. A vida seria mais simples se ele encontrasse uma mulher agradável, sem uma história ou passado ligado a seu irresponsável pai.

Sim, gostara da aparência da sobrinha de lady Oxbury. Estava deveras entusiasmado só em pensar na aparência dela, mas ainda não a conhecera de perto e sabia que existia uma possibilidade, por mais remota que fosse, de não gostarem um do outro.

Obrigou-se a olhar à sua volta. Havia muitas candidatas à noiva no salão, só que nenhuma fizera seu coração disparar como a sobrinha de lady Oxbury.

Se pelo menos a bela debutante não fosse filha do conde de Standen. Ou se o pai dela fosse um homem sensato.

O conde o puniria pelas ações de seu pai? Ou Standen apenas o consideraria um fruto estragado proveniente de uma árvore ruim?

Sentiu o peito se contrair de ódio. O idiota ignorante! Se alguém tinha o direito de guardar rancor era ele. No entanto, não culpava Standen pela morte de seu pai. Não culpava ninguém. Se tivesse de apontar o dedo para uma pessoa, por certo bateria à porta de lorde Wordham, seu avô materno. Se o homem não tivesse obrigado a filha a se casar com Standen, a história teria seguido um rumo muito diferente.

Relaxou os maxilares e destravou os dentes. Não valeria a pena alimentar tanta raiva. Teria apenas de convencer Standen de que era o marido perfeito para sua filha. Seria capaz disso. Afinal, passara a vida inteira provando ao mundo que não era igual a Luke Wilton.

Arriscou outro olhar para o relógio. Aonde as damas poderiam ter ido? Nem sinal delas. Talvez tivesse de admitir sua derrota por aquela noite, mas as procuraria nas próximas reuniões. Estava ansioso demais. E não se sentia ansioso com nada desde o maldito acidente com seus avós.

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Fechou os olhos. Estava melhorando. Aceitara a morte dos avós. Aceitara o fato de ser barão agora e de que precisava honrar as responsabilidades do título.

Abriu os olhos e sorriu. Aquela noite dera outro passo importante. Não apenas se resignara à necessidade de casar-se e ter um herdeiro, mas também estava ansioso para fazê-lo.

Onde estava Grace? Kate perscrutou o salão. A música envolveu-a e, apesar da urgência em encontrar a sobrinha, seu coração exultou. No passado, adorava dançar. Viu os casais rodopiando pela pista ao som de uma valsa. Era escandaloso homens e mulheres tão próximos, tocando-se daquele modo.

E se aquele ritmo fosse moda em sua juventude? E se tivesse dançado uma valsa com Alex em seu début!

Uma grande tristeza a invadiu. Viu-o em pé junto à palmeira. Estava olhando para ela...

Desviou o olhar. Precisava encontrar Grace. Não podia pensar em Alex e no passado... Não deveria pensar em nada mais.

Kate continuava bonita.

Alex bebeu outro gole de champanhe. Adorava a decoração de Alvord. Aquele vaso de flores, por exemplo, estava estrategicamente colocado entre os vasos de palmeiras. Sua calça justa deixava visível a qualquer observador casual onde sua imaginação se concentrara. De qualquer forma, tinha de pensar em outra coisa que não fosse Kate. Se ele pudesse...

Fechou os olhos por um momento, mas as lembranças não o largaram. Vinte e três anos atrás, no baile oferecido pelo antigo duque de Alvord, pedira Kate em casamento. Sabia quem era ela e, ainda assim, apaixonara-se. Sorriu. Não poderia ter sido mais estúpido!

Fitou-a mais uma vez. Kate estava sozinha junto à janela, abanando-se. A filha de Standen desaparecera.

Kate, Kate... Você precisa ser mais vigilante. Sabe o que pode acontecer no jardim do duque!

Loucura! Levara Kate aos jardins de Alvord anos atrás e propusera-lhe casamento. Fora o gesto mais espontâneo e sincero que fizera em toda a sua vida. Ela aceitara, mesmo já estando, como Alex veio a saber depois, comprometida com Oxbury.

Ainda assim, ele a beijara.

Sorriu de novo. Céus, como aquele beijo o conquistara! Um beijo tímido e breve, quase um simples roçar de lábios, mas cheio de anseios e possibilidades. A promessa de uma paixão futura, promessa não realizada. Na manhã seguinte, quando pedira a mão dela em casamento, Standen esbravejara que o inferno congelaria antes de um Wilton se casar com uma Belmont.

Kate fora mandada para o interior no mesmo instante.

Alex nunca mais a vira. Até aquela noite...

Agora ela estava viúva. Talvez sentisse falta de uma companhia masculina...

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Trêmulo, sorveu outro gole de champanhe. Juraria que Kate não mudara. Ainda parecia tão frágil e esbelta quanto naquele baile de debutantes.

Se a convidasse, será que o acompanharia ao jardim? Desta vez, porém, o beijo que lhe daria não seria puro e tímido. Seria intenso, ardente e sensual.

Bebeu o restante do champanhe, deixou a taça junto ao vaso de palmeira e saiu de trás do arranjo floral. Chegara o momento de testar suas esperanças.

Kate espiou pela janela. Os candelabros e os casais de dançarinos estavam refletidos na vidraça, mas era impossível ver alguma coisa do lado de fora.

Tinha de encontrar Grace. A sobrinha deveria estar no terraço.

Grace não poderia ter ignorado seus avisos. Ela não entendera os perigos? Sim, era bem mais velha do que a maioria das debutantes, mas era sua primeira temporada londrina. Não seria difícil cometer um erro qualquer por acreditar que sua idade e altura a eximiriam das regras da sociedade.

Kate sabia muito bem o que poderia acontecer no jardim do duque Alvord.

Só em pensar sentiu o sangue ferver. As lembranças voltaram a assolá-la. Lembranças e... sensações.

Abanou-se com mais vigor. Para que tentar enganar-se? Ainda não saíra à procura de Grace porque esperava que, uma vez no salão, Alex se aproximaria dela. Estava sendo irresponsável... E desprezível.

O corselete estava apertado demais. Tentou respirar fundo. Gostaria de escapar da multidão e do ar abafado. Queria ir ao jardim com Alex...

Apertou os lábios. Aquela noite jamais terminaria? Estava com calor e todos pareciam falar a seu respeito. Prudence mostrara-se amistosa, mas notara uma ponta de piedade nos olhos da amiga. E por que não? Prudence tinha uma casa cheia de filhos, e ela... nem casa e nem filhos.

Olhou ao redor de si e avistou Alex.

Desviou o olhar e fingiu espiar pela janela de novo. Ele a convidaria para dançar ou, pior, para passear no jardim?

Abanou-se mais rápido.

Não tinha dúvidas de que Alex conquistara muitas mulheres naqueles vinte e três anos, enquanto ela se ocupara em ser uma boa esposa, ou melhor, uma esposa aceitável.

Ah, droga, ele caminhava em sua direção.

Deveria juntar-se às outras acompanhantes. Seria mais seguro. Olhou para o grupo de senhoras. Notou-as lançando olhares curiosos para ela e Alex, enquanto cochichavam por trás dos leques.

Não, não se juntaria às acompanhantes.

Viu o reflexo de Alex na vidraça. Ele se aproximava a passos largos...

Kate umedeceu os lábios. Sentiu um tremor percorrê-la. Corou e abanou-se mais forte. Cachos de cabelo dançavam ao redor do rosto delicado.

Até mesmo o ponto secreto entre suas pernas, o lugar que Oxbury penetrava frequentemente nos primeiros tempos de casamento, quando ainda havia esperanças de

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conceber um herdeiro, e com menos frequência depois, até mesmo esse lugar estremeceu.

Era como se tivesse dormido todos aqueles anos e, de repente, acordasse.

— Lady Oxbury?

Alex estava ao lado dela. Kate voltou-se devagar para encará-lo, mas baixou o olhar. Sua boca estava seca. Não conseguia falar.

— Lady Oxbury, a senhora está bem?

Kate tentou respirar, mas o corselete estava apertado demais.

— Eu... — Conseguiu erguer os olhos.

A boca dele era carnuda, os lábios macios...

Ainda se lembrava do gosto que tinham.

Seus olhares se encontraram.

O fogo ardia nos olhos azuis e profundos de Alex.

As chamas daquele fogo antigo se reavivaram. Se não fosse cuidadosa, estaria perdida. Mas será que queria ser cuidadosa? Por um instante, perguntou-se se era uma mariposa voando para a morte ou uma fênix renascida para a vida?

— Venha comigo até o jardim, Kate. — A voz dele, baixa e cheia de promessas, minou todo o resquício de resistência que o bom-senso ditava.

Kate tremeu. Seus lábios, seus seios, ansiavam pelos carinhos dele. O lugar secreto pulsava, úmido, clamando por ele.

Sentiu o rosto ardendo. Fora fiel a Oxbury durante todos os anos de casada e o longo ano de luto que se seguira à morte dele. Mesmo assim, seria leviandade demais aceitar o convite de um homem para acompanhá-lo ao jardim?

Não. Aquele não era um homem qualquer. Era Alex.

Mariposa ou fênix, suicídio ou renascimento, não importava. Iria ao jardim com seu antigo amor, nem que tivesse de arrastá-lo para trás das árvores.

O terraço estava escuro, frio e deserto. Os candelabros do salão refletiam apenas círculos de luz na porta e nas janelas. Havia lanternas, mas elas pareciam criar mais sombras do que claridade. Se os murmúrios que Grace ouvia eram uma indicação do pecado, muitos casais pecavam aproveitando a escuridão.

Não deveria estar ali. Agora que refletia melhor sobre a situação, percebia que seria mais prudente conversar com o barão Dawson no salão. Afinal, não tinham sido apresentados. Era provável que ele não fizesse a menor idéia de quem ela era.

Corou ao lembrar-se de como o barão a olhara ao vê-la na entrada do salão. Os olhos sagazes tinham penetrado direto em sua alma, isso se sua alma estivesse localizada no baixo-ventre ou nos seios fartos!

— Perdão, mas a senhorita vai sair?

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Grace voltou-se mais depressa do que o normal e deparou com um homem calvo, de meia-idade, com os olhos fixos em seu decote.

— O quê? Ah, desculpe... — Ela estava bloqueando a porta. Afastou-se e, na pressa, tropeçou na barra do vestido. — Oh! — Em vão, inclinou-se para frente a fim de manter o equilíbrio.

Um par de braços fortes puxou-a contra um peito largo.

— A senhorita está bem? — A voz era rouca, grave, preocupada... mas com uma nota de zombaria.

— Ah! — Grace olhou para o seu salvador. Ninguém menos do que o barão Dawson em pessoa. — Eu... bem...

Não conseguia formular uma frase coerente. Nunca ficara tão perto de um homem antes. Uma gama de sensações a sufocou: a força dos braços dele, a textura do paletó em sua face; o perfume e...

Sentiu-se pequena. Jamais se sentira pequena. Nem mesmo em criança. Sempre fora muito maior do que as outras meninas e do que a maioria dos meninos.

A sensação era reconfortante.

Concentrou-se no rosto de Dawson, mas não adiantou. Uma inspeção tão próxima acelerou seu coração e fez seu pobre cérebro flutuar em estupor.

Ele tinha uma covinha no queixo, bem discreta, mas charmosa. Nas faces também. E cílios longos e escuros emoldurando-lhe os olhos. Mesmo no escuro, notava-se que os dentes eram alvos e perfeitos. Estaria rindo dela? Não estranharia se estivesse, pois, encarava-o como uma grande tola.

— A senhorita está bem? — O tom de riso acentuou-se, mas havia também uma conotação diferente. O quê?

— Ela desmaiou, Dawson? Quer que chame alguém para ajudar?

— Não acredito que seja necessário, Delton.

Oh, Deus, o que estava fazendo? Demorar nos braços de Dawson já era ruim demais, porém demorar-se no terraço do duque de Alvord com um grupo de espectadores interessados era quase um suicídio social.

Grace endireitou-se.

Dawson soltou-a, mas manteve a mão firme no cotovelo delicado. Deveria tê-lo afastado, mas ainda precisava de apoio. Ajeitou a saia e ergueu o queixo.

— Estou bem, milorde. Obrigada por sua preocupação.

— Sinto muito, senhorita. Eu... — Delton encolheu os ombros, ainda em dúvida se fora o causador do pequeno incidente. Não era para menos. Ele apenas tentara passar pela porta, mas infelizmente os seios da moça estavam na altura de seu rosto. A culpa não era sua.

— Por favor, não pense mais nisso, senhor. A culpa foi toda minha.

O barão Dawson olhou de um para outro e afagou o cotovelo de Grace à medida que dizia:

— Ah, uma senhora nunca tem culpa de nada, não é, Delton?

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— Tem razão. Assumo toda a responsabilidade.

— Não, não — Grace protestou. — Eu não deveria ter parado na porta.

David disfarçou um sorriso. A filha de Standen ia discutir com Delton? Seria melhor tirá-la do terraço. Estavam começando a atrair uma pequena multidão.

O sorriso dele se alargou. Seria maravilhoso levá-la ao jardim e começar a cortejá-la. Que sorte a sua estar no lugar certo, no momento em que a moça tropeçara. Muita sorte mesmo! Como imaginara, ela era fascinante. Contivera-se para não beijá-la na frente de Delton e dos curiosos. Com mais um pouco de sorte e habilidade, conseguiria roubar-lhe um beijo entre as árvores. A moça nem tentara desvencilhar-se. Ao contrário. Parecia bem contente por estar em seus braços fortes.

Tinha de descobrir-lhe o nome. Não queria continuar pensando nela como a filha de Standen.

— Bem, não houve danos e nem ferimentos — disse ele, interrompendo as desculpas educadas, mas sem o menor sentido. — Você nos dá licença, Delton? Acredito que a senhorita se acalmaria mais com um passeio pelo jardim, não acha?

— Sim, claro. Não quero retê-los nem mais um minuto. Desculpe pelo acidente. Aproveitem o passeio... o jardim é empolgante.

— Mas...

Delton lançou-lhe um olhar súplice. David assentiu. Alguém teria que puxar a jovem pela mão, e ele se sentiu feliz por ser essa pessoa. Aliás, já lhe pegara a mão e passava a conduzi-la aos degraus que levavam ao jardim.

— Estamos atraindo muita atenção, milady — ele murmurou. — Imagino que não gostará de ser alvo dos olhares curiosos.

— Oh! — Grace olhou ao redor.

— Passar alguns momentos admirando as flores de Alvord lhe dará tempo para recompor-se e fará com que as testemunhas da nossa pequena cena percam o interesse.

Grace ergueu uma sobrancelha.

— Mas não é escandaloso passear pelo jardim?

— De jeito nenhum. Você acha que o duque de Alvord espalharia todas estas lanternas pelos jardins se caminhar por aqui fosse escandaloso? — Claro que David não pretendia ficar nas aléias principais o tempo todo, mas não havia necessidade de mencionar isso.

— Suponho que tenha razão.

Tia Kate não aprovaria, Grace pensou enquanto descia os degraus de braço dado com o barão Dawson. Ela fora categórica. A sobrinha não deveria aproximar-se do barão e, muito menos, passear pelo jardim com ele. Mas a tia estava nervosa demais, e o barão tinha razão. Se passear entre as plantas fosse tão comprometedor, o duque não tentaria seus convidados com aléias iluminadas. No pátio, seguiram à esquerda, na direção da parte principal dos jardins, deixando as luzes do salão e os convidados para trás. Uma brisa suave acariciou o rosto de Grace. Quase podia imaginar que estavam no campo. Quase. Aquilo era Londres, afinal. E Londres nunca era tranquila. Os ruídos da rua misturavam-se com o burburinho vindo das janelas abertas do salão.

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Passaram por um banco rústico e pararam junto a uma fonte. A água jorrava da boca de vários peixes, cascateando, depois, pela flauta do deus Pan. O barão circulou a fonte para examinar um peixe que não esguichava água.

— É uma truta? — Pergunta estúpida, sabia que era, mas não pudera evitá-la. Era apenas uma estátua. Poderia ser até uma baleia, no que lhe dizia respeito.

O barão encolheu os ombros.

— Não sei. Não me interesso muito por peixes — confessou e sorriu. — Mas estou muito interessado na senhorita. Pode me dizer o seu nome? Meu tio Alex não sabe, e não posso continuar me referindo a você como a filha de Standen ou a sobrinha de lady Oxbury. — Afagou-lhe a mão.

— Oh! Ah! — De novo o tremor percorreu-lhe o corpo. — Grace.

David afastou uma mecha de cabelo do rosto dela.

— E eu sou David Wilton, barão Dawson de Riverview. — A voz tornou-se mais grave. — Tenho muito prazer em conhecê-la, lady Grace.

Ela puxou a mão e lançou-lhe um olhar desconfiado. Estavam protegidos ali, mas não escondidos. Qualquer um que passasse pelo caminho poderia vê-los.

Umedeceu os lábios. Era a oportunidade perfeita para descobrir o que desejava.

— Estava à sua procura, barão.

— Mesmo? Ótimo... e, por favor, me chame de David.

— Eu não poderia. Mal o conheço.

— Mas em breve me conhecerá melhor.

Embora estivessem na penumbra, David a viu corar.

— Eu...

— Shhh. — Ele deu um passo à frente. — Mais baixo. O som espalha-se pelo ar, você sabe.

— Ah... — Grace mostrou-se adoravelmente confusa e entreabriu os lábios, num gesto típico de quem está surpresa.

Era impossível não se aproveitar daquele convite inadvertido. David inclinou a cabeça devagar, dando-lhe a oportunidade de afastar-se, mas Grace não se moveu. Leu nos olhos dela o momento exato em que decidiu aceitar o beijo. Sorriu ao vencer os últimos centímetros que os separavam.

Os lábios dela eram firmes, macios, doces. E a boca! Com a ponta da língua, contornou-lhe os lábios antes de invadi-la com suavidade. Queria enfeitiçá-la e não assustá-la.

Grace ficou rígida, não deixando dúvidas de que era seu primeiro beijo. Gentilmente, David puxou-a para si, até seus corpos se tocarem.

Quem diria que um simples beijo, gentil e contido, pudesse ser tão sensual? Os lábios dele restringiam-se ao rosto de Grace; e as mãos, às costas protegidas pelo vestido. Apesar disso, David excitou-se como nunca antes em sua vida.

Grace ofegava, emitindo sons curtos e débeis. Assim que os lábios carnudos tocaram os seus, todos os pensamentos evaporaram, deixando-a perdida num

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redemoinho de sensações. Os lábios dele faziam movimentos suaves, lentos, estonteantes sobre sua boca, como asas de borboletas, brincando.

Ele a puxou contra o corpo musculoso.

Ah, Deus, como aquilo era bom! Um som rouco vindo de sua garganta alertou-a. Estaria gemendo? De repente, começou a rir baixinho.

— Shhh... — David repetiu. — Lembre-se, os sons cortam a noite. Não queremos que nos encontrem.

De fato, ninguém deveria surpreendê-los porque... porque eles estavam...

Estavam se comportando de modo escandaloso entre as folhagens.

Grace o empurrou com força. David soltou-a de imediato.

— Qual é o problema? — perguntou.

Como qual era o problema?! Ela, a filha solteira do conde de Standen, estava sozinha no jardim com o homem que seu pai odiava. E ainda permitira ao ousado cavalheiro certas liberdades chocantes. Encostara o corpo no dele. Deixara que a beijasse...

Grace respirou fundo e cobriu a boca com a mão. Permitira que Dawson lhe desse seu primeiro beijo. Enlouquecera? Esse privilégio deveria ser reservado ao seu pretendente, John Parker-Roth, e não àquele quase estranho. Talvez seu pai tivesse razão para odiar aquela família.

— O que aconteceu? O gato comeu sua língua?

Alguma coisa no modo como ele pronunciara "língua" a fez corar. Tentou responder, mas o som que emitiu foi incoerente. Tentou de novo.

— Barão Dawson, eu... eu... — Qual seriam as palavras apropriadas para dizer naquela situação?

A verdade era que não havia nada apropriado. Deveria esbofeteá-lo, mas não seria justo. Ele não a forçara a nada.

— Oh! — A lembrança provocou uma pontada de vergonha. Escondeu o rosto com as mãos.

— Grace.

David a abraçou. Ela deveria reagir, mas não teve forças. Além do mais, os braços fortes eram aconchegantes.

— Grace, está tudo bem. Não fizemos nada errado. Minhas intenções são honradas.

Ela ergueu a cabeça.

— Honradas?

Um sorriso iluminou o rosto anguloso.

— Definitivamente. Sei que é um tanto precipitado, mas... Quer me tornar o mais feliz dos homens?

— O quê? — Com certeza, não compreendera direito.

O sorriso alargou-se.

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— Sim. Quer casar comigo?

Grace ficou perplexa. Poderia ser sua primeira temporada em Londres, mas não acreditava que todos os passeios, entre as folhagens do jardim resultassem em pedidos de casamento como aquele. Ninguém os vira, e embora seu comportamento fosse um tanto leviano, não acontecera nada de tão grave.

— Enlouqueceu? Acabamos de nos conhecer!

Ele encolheu os ombros.

— Não me importa. No exato momento em que a vi entrar no salão, soube que seria a baronesa perfeita para mim.

O barão era louco, atraente, mas louco. Ou talvez, um nobre arruinado.

— Não sou uma herdeira notória, você sabe,

David a fitou como se a louca fosse ela.

— Não preciso me casar por dinheiro. Tenho o bastante para nós dois.

— De qualquer maneira, não posso aceitar seu pedido de casamento. — Por que sentira uma certa mágoa ao dizer aquilo? Tudo o que sabia sobre o barão Dawson era que seu pai odiava a família dele... e que ele era alto, bonito, e hábil na arte da sedução.

— Por que não?

— Além do fato de não conhecê-lo...

— Isso poderá ser facilmente remediado.

Grace tentou não revirar os olhos.

— Estou comprometida com outro cavalheiro — Seu pai decidira que ela deveria se casar com John, e John estava interessado nas terras dos Standen, que faziam divisa com a sua propriedade. Pretendia cultivar rosas, azaléias ou outras flores do gênero e lucrar com o casamento.

Grace começou a retornar ao salão.

David a acompanhou. Tinha de admitir que se sentia bem ao lado de um homem que combinava com ela, inclusive em altura. Permitiu-se pegar no braço que lhe era oferecido.

— Você não me beijou como se estivesse comprometida — salientou, observando-a com atenção.

Grace puxou a mão depressa.

— Eu não o beijei.

David ergueu uma sobrancelha.

— Beijou, sim. Por acaso se debateu muito para se livrar das minhas atenções inconvenientes?

Não, ela não se debatera; pelo contrário, adorara o contato íntimo.

— Creio que fiquei chocada demais para reagir.

— Hãhã — David murmurou. — Bastante compreensível. Você é noiva?

— Não exatamente...

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— Ah, não? O que é então?

— Bem, eu... — Grace hesitou. Não estava noiva, ainda não, pois o compromisso não fora oficializado, e não o seria enquanto durassem seus preciosos momentos em Londres.

— Parece indecisa. — Ele pegou-lhe a mão e beijou-a de leve. — Vou ajudá-la a se decidir.

— Não. Eu...

David sorriu. Ela era perfeita para ele. Estava cansado de mulheres magras e sem carne. Sempre temera machucá-las. Grace, por outro lado... Ah, bem, podia jurar que o acompanharia, passo a passo, na dança do amor.

Poderia convencê-la a aceitá-lo. Ela pensaria que estava comprometida com outro homem, mas seu corpo dizia o contrário. Afinal, não o teria beijado com inocente anseio se estivesse apaixonada por outro.

— Você ainda não me disse por que veio à minha procura, Grace. Suponho que não foi para me arrastar entre as árvores.

Ela o fulminou com olhar. Infelizmente, estavam bem à vista do terraço e não teve alternativa, a não ser comportar-se como uma dama.

— Claro que não! Eu o procurei para perguntar sobre minha tia e meu pai. Sabe o motivo da inimizade entre as nossas famílias?

Por sorte, Grace estava de costas para o terraço e não viu sua tia e o tio dele deixarem o salão de baile. A tia também não os viu, mas Alex, sim. Ele parou por um momento e, depois, conduziu lady Oxbury na direção oposta, desaparecendo entre as árvores.

— Inimizade?

— Sim. Tia Kate teve uma reação estranha ao ver seu tio. Você sabe qual a ligação que existe entre os dois?

David franziu o cenho.

— Bem, meu tio pediu a sua tia em casamento na última vez em que ela esteve em Londres.

Grace fitou-o com expressão incrédula.

— Não! Tia Kate nunca mencionou isso.

— Nem meu tio. Até rever sua tia.

Agora, refletindo sobre o assunto, era estranho Alex nunca ter se casado, considerou David. O tio não era do tipo de entregar-se a ligações passageiras, e certamente aproveitara muito bem os anos de sua juventude. Ele não tinha um título para passar adiante, mas possuía propriedades e fortuna própria. Deveria ter formado uma família com esposa e filhos.

A tia de Grace, por sua vez, desposara lorde Oxbury...

Grace meneou a cabeça, incrédula.

— Será esse o motivo da aversão de papai pelos Wilton? Um pedido de casamento não é um insulto. Tem certeza de que seu tio fez o pedido?

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— Sim. Seu pai recusou. Ele já odiava os Wilton bem antes de Alex pedir a mão de sua tia.

— Por quê? Se bem que, se todos os seus parentes forem inconvenientes como você, sou capaz de entender.

— Muito engraçado! Seu pai nunca lhe falou sobre lady Harriet, filha do marquês de Wordham?

— Não. Quem é ela?

— Era. Lady Harriet era minha mãe.

A expressão de Grace mudou. Seu olhar e sua boca suavizaram-se. Tocou-lhe de leve no braço.

— Sinto muito.

Um calor estranho invadiu o peito de David. Grace destinara sua compaixão à pessoa errada. Ele tivera a avó, que passara mais tempo ao seu lado do que a própria mãe. Porém, Riverview ficara vazia depois da morta da avó.

Entretanto, não ficaria mais quando se casasse com Grace. Eles encheriam a casa de crianças, seus filhos e filhas. A vida seria mais fácil para todos do que fora para ele.

Grace teria que aceitá-lo... e rejeitar o homem com quem se dizia comprometida.

Ignorou o sentimento de culpa que ameaçava incomodá-lo. Não tinha que se culpar de nada. Grace não amava o tal sujeito.

Teria sido isso que seu pai pensara ao decidir roubar lady Harriet de Standen? Há mais de trinta anos?

Deus, não! Ele não era como Luke Wilton. Não queria e não podia ser.

Grace encarava-o intrigada.

— Por que papai teria que me falar sobre sua mãe?

— Porque, há trinta e um anos, não, trinta e dois para ser exato, minha mãe rompeu o noivado com o seu pai para fugir com Luke Wilton, meu pai.

Capítulo II

— Tenho de encontrar Grace. — Kate soou hesitante, como se o seu coração não estivesse tão empenhado em procurar a sobrinha quanto suas palavras.

Alex tinha outros planos para os breves momentos a sós, mas não desejava contrariá-la.

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Fazia frio lá fora. Alguns casais conversavam no terraço, mas lady Grace não estava entre eles. Alex olhou à sua esquerda e avistou-a com David no jardim.

— Imagino que seja a primeira temporada de lady Grace.

Kate suspirou.

— É. Ela já passou da idade para debutar... vinte e dois anos. Meu irmão planeja casá-la com um vizinho. Eu não poderia deixá-lo fazer isso... Pensei que deveria trazê-la a Londres antes.

— Entendo. — Vinte e dois anos? A garota poderia cuidar de si mesma, então. David também. Alex o prevenira para evitar aquele jardim. Contudo, se o sobrinho preferira ignorar seus conselhos, paciência. David não ofenderia lady Grace. E Alex tinha suas próprias preocupações.

Enlaçou o braço de Kate ao seu. Ah! Ela cheirava à lavanda, como na noite em que se conheceram, muitos anos antes.

Os dedos delicados tremeram um pouco, mas Kate não puxou a mão.

Alex sorriu. O futuro estivava cheio de promessas.

Não sentia aquela esperança havia muito tempo, desde a última vez em que pisara naquele mesmo jardim com Kate.

Desceram os degraus do terraço e Alex a conduziu ao pequeno gazebo que tinham encontrado naquela primeira temporada. Ainda estaria lá? Não se surpreenderia se não existisse mais. Vinte e três anos era muito tempo.

Por sorte, o refúgio continuava tão viçoso como ele se lembrava.

— Lembra deste lugar?

— Sim. — A voz de Kate estava embargada pela emoção.

O arrependimento apertou o peito de Alex.

Kate tinha apenas dezessete anos naquela época; ele, vinte e dois. Um homem, sim, mas pouco mais do que um menino. Acreditara que a honra deveria sempre prevalecer e que o amor conquistaria tudo.

Fora um tolo, mas o que poderia ter feito? Era tão jovem!

Deveria ter agido como seu irmão Luke e ter convencido Kate a fugir para a Escócia com ele. Se o tivesse feito, agora estaria vivendo um casamento feliz de vinte e três anos, em vez de décadas de solidão. Ou pior, subindo escadas de hospedarias, aliviando suas necessidades físicas com mulheres que não amava.

Se tivesse levado Kate para a Escócia, teria tido filhos... uma família.

Mas não. Ele era o irmão responsável, cauteloso, sensato, ajuizado... E aonde todas aquelas virtudes o tinham levado?

— Estamos sozinhos. — Alex quase sussurrou as palavras, temendo quebrar o encanto.

— Sim — murmurou Kate. O luar insinuava-se por entre as árvores, conferindo um brilho etéreo à cena.

Alex fechou os olhos por um instante. Kate era tão bela que fazia seu coração latejar. Admirou a curva delicada do pescoço, os fios de cabelo que escapuliam do

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penteado elaborado. Queria abraçá-la, protegê-la de todos os sofrimentos da vida e amar cada milímetro do corpo perfeito...

— Kate... — Tinha que tocá-la, sentir sua pele na dele. Tirou as luvas e acariciou-lhe os lábios.

Ela ofegou e fechou os olhos. Ergueu o rosto e entreabriu os lábios.

Ainda não. Alex não queria beijá-la ainda. Queria prolongar aquele momento.

— Senti a sua falta, Kate.

Ela abriu os olhos.

— Também senti a sua.

Alex suspirou e inclinou a cabeça. O quanto Kate teria aprendido com o marido? Recuou. Não. Não pensaria em Oxbury. Aquilo era passado e, ali, não havia lugar para o passado, mas apenas para o presente e, quem sabe, para um futuro... a dois.

Grace recusou-se a pensar no pai e em lady Harriet, mãe de David. Tampouco pensaria na absurda proposta de casamento do barão. Só queria deliciar-se com a dança. Afinal, pela primeira vez, não se sentia um gigante.

O barão Dawson era louco, completa e totalmente louco, mas era um excelente dançarino e a fazia rodopiar em seus braços, como se estivesse flutuando.

Tudo aquilo, a dança, a música, as cores ofuscantes, os vestidos bonitos o clima romântico era apenas um momento frágil. Um lampejo de magia, incapaz de perdurar para sempre. Ao amanhecer, os elegantes membros da aristocracia, as flores, os músicos, tudo seria passado e só restaria o piso riscado, um punhado de folhas mortas e algumas pétalas de flores.

No entanto, isso seria ao amanhecer. Naquele momento, Grace se deixaria envolver pela magia. Quando a temporada terminasse, voltaria para casa e à vida insossa e rotineira, ao lado do pai e de John.

— Então, está apreciando a música e a dança, lady Grace?

— Sim, muito.

O barão Dawson contemplou-a com um meio sorriso e o coração dela disparou. Como era possível um homem ser tão bonito e encantador? O queixo quadrado e os olhos sagazes eram encantadores. Ele tinha reflexos dourados no cabelo loiro-escuro e os olhos azuis brilhavam com humor e... alguma coisa mais. Alguma coisa ardente e intensa.

Grace sentiu uma onda de calor. Deveria estar corando. O sorriso dele se abriu mais. Fechou os olhos, mas não adiantou. Concentrou-se no calor das mãos firmes, mas gentis, conduzindo-a nos passos de dança. O corpete do vestido roçou no colete dele. Sentiu os seios enrijecerem. Ficou surpresa. Respirou fundo e inalou o perfume amadeirado e másculo.

Abriu os olhos e viu o sorriso largo do barão. Ele sabia o que estava pensando!

Agora seu rosto deveria estar mais vermelho do que brasa ardente. Nervosa, franziu o cenho e comprimiu os lábios.

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David conteve o riso. Lady Grace não o intimidava. Aquele olhar poderia funcionar com seu quase noivo, mas não com ele. Quase sentia pena do pobre rapaz. Se o casamento se realizasse, o que estava cada vez mais determinado a impedir, Grace o dominaria completamente.

Ela ainda o fitava com expressão séria.

— Não tente parecer tão séria, Grace. Você não me assusta.

— Não seja ridículo. Nunca assustei ninguém em minha vida e não é essa minha intenção.

O brilho estranho nos olhos azuis se acentuou. O barão estaria rindo dela? Como se atrevia?

Todavia, em vez de ficar zangada, Grace sentiu-se quente e desconfortável.

— Imagino que muitos homens tremam ao vê-la.

— Só porque temem por seus pés. Os homens de Standen sabem o que a aristocracia londrina logo descobrirá: mandei mais homens mancando para casa do que Napoleão!

— Bobagem. Não me preocupo com os pés.

— Você não se preocupa porque dança muito bem.

Os lábios dele se curvaram devagar. David abaixou a cabeça e a voz... Ah, a voz dele era maravilhosa, profunda, suave e quente, a ponto de provocar arrepios desde o pescoço até...

Não! Não deveria pensar nessas coisas. Nada de voz, arrepios, pontos secretos e latejantes.

— Você não gostaria de ver o que mais faço bem?

Grace estremeceu. Não era mais criança. Reconhecia o jogo da sedução, quando o via. Lançou-lhe um olhar severo.

— Barão Dawson...

— Shhh, lady Grace. — A expressão revelava que ele estava se divertindo. — Por que ficou tão agitada? Estava apenas me referindo aos jogos de salão. — Com uma sobrancelha erguida, perguntou com expressão inocente: — O que você pensou?

Grace sentiu que o barão estava tentando intimidá-la.

— Em sedução, milorde. Não me julgue idiota. Está tentando me seduzir... — A orquestra tocou a última nota. A voz dela, infelizmente, soou um tanto estridente: Os casais próximos se voltaram para olhar.

O barão ergueu a outra sobrancelha.

— Seduzir-me com aquelas iguarias servidas no buffet — Grace emendou.

Ele sorriu.

— Ah, sim, aquelas lagostas? Estavam sedutoras, não?

Os casais ao redor já não prestavam atenção neles.

— As lagostas, lady Grace, estão fascinantes, tentadoras, sedutoras.

— Oh, por favor, pare de rir de mim!

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Ele não estava rindo alto. Nem sequer estava sorrindo, mas os olhos azuis brilhavam.

— Você é muito divertida! — David ofereceu-lhe o braço. — E o melhor é que não tem idéia de como é bonita e encantadora.

Oh, aquele homem era definitivamente insano!

— Não sou divertida e nem... todas essas asneiras que você disse.

Dawson começou a andar segurando com firmeza a mão pequenina em seu braço.

— Para onde vamos? — Grace quis saber.

— Ao buffet, claro, e às arrebatadoras lagostas.

— Não estou com fome.

— Então, uma limonada.

— Acho melhor procurar minha tia. — Grace olhou em volta enquanto ele, teimosamente, a conduzia ao buffet. — E você procurar seu tio.

David inclinou a cabeça em direção ao terraço.

— Não há necessidade. Veja, eles acabam de voltar de um passeio pelo jardim.

— Ótimo. Parece que estão se entendendo.

— Parece. E você não deve interrompê-los. Deixe-os à vontade para resolver suas diferenças.

Grace olhou de novo para o casal. Tia Kate estava sorrindo, apesar de parecer um pouco nervosa, e o sr. Wilton parecia desajeitado. Mas estavam juntos. Isso era bom.

— Esplêndido — disse ela, rendendo-se à insistência do barão. — Talvez eu beba uma taça de champanhe para comemorar.

Kate apertou as mãos e fingiu olhar, pela janela da carruagem, as ruas escuras de Londres.

Enlouquecera. Essa era a única explicação. Enlouquecera ao convidar Alex para ir à sua cama naquela noite. E ele aceitara!

Dentro de uma hora, ou menos, Alex estaria em seu quarto. Na sua cama.

Tentou respirar. O maldito corselete quase a sufocava. Não podia entrar em pânico. Depois de tantos anos de questionamento e fantasias, enfim saberia como teria sido com Alex. Talvez até descobrisse que tudo aquilo que ansiara não era diferente do que tivera com Oxbury.

A experiência seria diferente? Os beijos, pelo menos, tinham sido. Fechou os olhos. A lembrança dos lábios dele, do corpo rígido, dos braços enlaçando-a, despertou uma forte reação em todo o seu corpo.

— Foi muito... divertido!

Kate abriu os olhos. Grace teria lido seus pensamentos?

Grace sorriu. Um sorriso meio forçado, meio sem brilho.

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Kate encarou a sobrinha. Céus! Os olhos de Grace estavam embaçados e, reparando melhor, notou que a garota não conseguia sentar-se ereta na carruagem.

— Quantas taças de champanhe você bebeu, Grace?

— Só duas. — Apoiou a cabeça na janela e, com expressão pensativa, olhou para o teto da carruagem. — Ou três. — Riu. — Perdi a conta.

— Que bom! — Kate suspirou, exasperada. Deveria ter dedicado mais atenção à sobrinha do que ao sr. Wilton. Mas como poderia imaginar que Grace beberia tanto logo na primeira temporada em Londres? — Você nunca tinha bebido champanhe antes?

— Lógico que sim. Mas não tanto.

— Amanhã acordará com uma bela enxaqueca.

— Será? — Grace endireitou-se no assento. — Estou me sentindo ótima. Nunca me senti tão feliz!

— Estar feliz é uma coisa. Empolgada é outra.

— Ora, tia Kate! Por que está tão aborrecida? A senhora não se divertiu também?

Kate olhou pela janela. Já estavam chegando. Com sorte, conseguiria levar Grace para o quarto antes que adormecesse.

— Não fui ao baile do duque de Alvord para me divertir, mas sim, para acompanhá-la.

Grace riu e arqueou as sobrancelhas.

— Mesmo? E o que a senhora estava fazendo no jardim com o sr. Wilton?

— Procurando por você — Kate mentiu. Uma pequena mentira. Oxbury costumava dizer que a melhor defesa era uma boa acusação, e foi o que ela fez: — E já que tocamos no assunto, o que deu em você para ir sozinha ao jardim? Não é mais uma debutante tola e ingênua. — Fez uma pausa. — Bem, debutante, sim, mas tola e ingênua não... pelo menos, espero que não.

Grace cobriu a boca com a mão, escondendo o riso.

— Eu não estava sozinha.

Céus! O que Grace fizera? Certamente nada de tão escandaloso quanto seu próprio comportamento. Não, as situações eram diferentes. Ela era viúva. Grace era virgem.

— Pior ainda. Se alguém a viu, você estará arruinada. Sua temporada acabará por aqui mesmo. A sociedade londrina está repleta de pessoas maldosas que se deliciam denegrindo a reputação de mulheres jovens e não tão jovens.

Grace encolheu os ombros.

— Eu só queria falar com o barão Dawson.

— O quê? Você foi ao jardim com barão? Não acredito. Pedi tanto que evitasse isso. Sabe que seu pai odeia essa família.

— Bem, meu pai não está aqui. E ele não precisa saber de nada. Além disso, a senhora também esteve no jardim com o sr. Wilton, titia.

— Mas você é solteira. Deveria ter ficado no terraço.

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— Talvez eu não quisesse ser bem comportada. Talvez eu quisesse me divertir um pouco antes de amarrar-me para sempre ao sr. John Parker-Roth e suas rosas.

— Grace...

Ela inclinou-se para frente e escondeu o rosto no ombro da tia.

— Gosto do sr. Park... de John. Gosto da mãe, do pai, dos irmãos e das irmãs dele. Gosto da família inteira. — Suspirou. — Mas gosto também do barão Dawson. Gosto dele... de verdade. — Tornou a sentar-se e apoiou a cabeça no encosto do banco. — Ele me faz sentir toda... formigando.

— Meu Deus isso não pode estar acontecendo! — Kate exclamou. Afinal, sabia que Standen preferia dançar nu no Almack antes de permitir que a filha desposasse um Wilton.

— Você não precisa ir por minha causa, David. — Alex observava o duque de Alvord dançando com a srta. Sarah Hamilton.

Pensou em Kate, nas músicas que tinham dançado e nos breves momentos de intimidade no jardim. Tudo o mais deixara de existir. Era como se só houvesse ele e Kate no mundo.

Ah, se o tempo pudesse retroceder em vinte e três anos! Alex tinha certeza de que faria tudo diferente. Teria encontrado um meio de levar Kate para Gretna. Ao inferno com o escândalo!

Nessa noite, finalmente, poderia...

Se fosse à casa dela.

— Por que eu ficaria? — David interrompeu os pensamentos do tio. — Minha futura esposa já foi embora.

— Eu lhe disse... Standen jamais consentirá.

— E como já afirmei, não me importo. Grace é maior de idade. Não preciso da permissão do conde.

— Você fala como se lady Grace já tivesse concordado.

David sorriu.

— Posso convencê-la.

— Então, boa sorte. A mente das mulheres está acima de minha pobre compreensão. — Como Kate. O que estava pensando ao convidá-lo para passar a noite em seu quarto? Sim, era viúva, mas ainda assim, era Kate, tímida, recatada, discreta, modesta...

Ainda seria? Afinal, o tempo mudava as pessoas. E, na verdade, ele nem a conhecia tão bem. Entretanto, tudo indicava que Kate não mudara. A cunhada de seu mordomo trabalhava numa hospedaria próxima à propriedade rural de Oxbury. Se Kate tivesse amantes, antes ou depois da morte do marido, os rumores teriam chegado aos seus ouvidos.

David bebeu o último gole de champanhe.

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— Estou pronto. Vamos.

— Sim. — Alex preferia que David ficasse. Afinal, desse modo seria mais fácil escapulir. Não queria que ninguém, nem mesmo David, soubesse de sua visita à Kate.

O bom-senso dizia para ele não ir. A Kate que conhecia, ou melhor, a mulher cuja lembrança venerara durante todos aqueles anos, jamais convidaria um homem para partilhar sua cama sem antes receber a bênção da Igreja. Se o menor rumor de sua indiscrição transpirasse, o conde de Standen ficaria irado... e a sociedade seria impiedosa em seus comentários.

Grace caiu pesadamente sobre os travesseiros.

— Está melhor? — a tia perguntou, solícita.

— Um pouco. Desculpe, tia Kate. Receio que esta noite tenha sido um completo desastre.

— Não se preocupe. Você não foi a primeira e nem será à última a render-se aos encantos do champanhe.

Kate olhou à sua volta. Os criados a tinham acomodado no aposento principal da mansão, mesmo não sendo mais a senhora da propriedade. Grace estava no quarto conjugado, que lhe servira de aposento nas raras vezes que estivera em Londres com o marido. Quase nunca acompanhava Oxbury quando ele ia à corte para ocupar seu assento na Câmara dos Lordes. Preferia ficar no campo. Na verdade, não gostava de ir e Oxbury nunca insistira. Talvez, ele soubesse o que agora suspeitava: receava que encontrasse Alex.

Marie, sua criada pessoal, entrou no quarto com uma bandeja nas mãos. Um cachorro pequeno pulava ao redor dela. Ao ver Kate, o animal latiu de alegria.

— Hermes, você não deveria estar dormindo? — Kate afagou o animal.

— Ele ficou muito triste enquanto a senhora esteve fora, milady. — Marie colocou a bandeja sobre uma mesa redonda e virou-se para Grace: — Deixe-me ajudá-la a vestir a camisola. Depois, tome uma xícara de chá com um ou dois biscoitos. Fará bem ao seu estômago.

— Obrigada, Marie.

Kate serviu-se de chá enquanto Grace, acompanhada da criada, ia ao outro quarto trocar de roupa. Inalou o aroma de menta. Sentiu um pouco de alívio na tensão do pescoço e ombros. Assim que Marie terminasse de ajudar Grace, ela a livraria do corselete que ameaçava sufocá-la.

A não ser que Alex aparecesse como haviam combinado.

Uma onda de calor subiu pelo peito, pescoço e rosto. Não deveria tê-lo convidado. Alex ficara espantado com seu atrevimento.

Ele dissera que iria, mas certamente mudaria de idéia. Alex não era homem de ignorar convenções. Se fosse, talvez tivessem fugido para Gretna e teriam se casado e tido filhos...

Não, não teriam filhos.

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O pensamento ainda lhe causava uma dor aguda no peito.

Agora, aos quarenta anos, Kate não pensava mais em filhos. Mas em sua juventude... durante seu casamento com Oxbury...

A cada mês a esperança aumentava e a cada mês a mesma esperança se desfazia em desespero de um tom intenso de escarlate. Ao final do segundo ano de casada, por fim convencera-se de sua infertilidade.

Felizmente, Oxbury aceitara a verdade antes dela. Nunca a acusara de nada.

Bebeu um gole de chá.

Marie voltou ao quarto.

— Levarei uma xícara de chá para lady Grace. Depois, virei ajudá-la, milady.

— Por favor, Marie.

Mal podia esperar pelo conforto de sua camisola, quem sabe isso amainasse um pouco o tumulto de suas emoções e aquela enxurrada de lembranças de uma época distante, quando ainda sonhava que poderia ser feliz no amor...

David esticou as pernas e mexeu os dedos dos pés. O calor da lareira era muito bom. Bebeu um gole de conhaque e engoliu devagar, sentindo o gosto do líquido descendo pela garganta. O calor da bebida era bom também. E o calor que sentiria com Grace seria o melhor ainda.

Descansou a cabeça no encosto da poltrona, fechou os olhos e permitiu que seus pensamentos voassem livres, para...

Lady Grace Belmont...

Ela era perfeita. Nunca imaginara que se apaixonaria por uma ruiva. Sempre preferira loiras. Mas nunca vira cabelo igual ao dela. Não era vermelho; era cobre e ouro, fogo e luz. Queria enterrar os dedos naquelas madeixas preciosas... Nos seios fartos...

Endireitou-se na poltrona.

Se Grace Belmont estivesse lá!

Excitou-se só de pensar. Bebeu outro gole de conhaque, saboreando-o. Se Grace estivesse lá, a primeira coisa que faria seria tirar os grampos que lhe prendiam o cabelo glorioso para vê-lo cair em cascata sobre os ombros delgados. Depois, inalaria o perfume doce de lavanda. Ergueria os fios que encobriam a nuca para beijar o ponto sensível atrás da orelha.

Remexeu-se na poltrona. Estava ardendo de desejo. As fantasias iam se tomando mais e mais eróticas. Imaginou-a nua em seus braços, beijando-lhe a pele macia e alva. Com mãos e lábios ansiosos exploraria cada parte daquele corpo até tocar a doce intimidade dela e esconder o rosto no veludo macio no centro da virilha.

Céus, ele estava ofegando. Tinha de pensar em outra coisa.

Levantou-se e se serviu de mais uma dose de conhaque. Se bebesse bastante, não sonharia com Grace. Não sonharia com ninguém.

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Encheu o copo e correu os olhos pela biblioteca. Seu bisavô fora o último Wilton a usar aquela sala. Seu avô odiava Londres. Luke, seu pai, tinha apenas vinte anos quando fugira com lady Harriet, Jovem demais.

O amor de seus pais teria durado se eles estivessem vivos?

Pelas histórias que ouvira da avó, acreditava que sim. Formavam um casal cuja devoção teria superado todas as dificuldades. Bem, sua avó sempre gostara de contos de fadas.

Passou a mão pelos livros. Textos em grego e latim, livros de agricultura e horticultura... Estava claro que os volumes tinham sido comprados apenas para enfeitar as estantes.

Fora muito fácil fazer de lorde Wordham, seu avô materno, o vilão dos contos de fadas de sua avó Wilton. Se ele não tivesse forçado lady Harriet a casar-se com Standen, seus pais não teriam fugido para Gretna e seu pai não teria batido a cabeça numa pedra e morrido. Mas pensando bem... para ser honesto, ele também não aprovaria que a filha, se tivesse uma, se casasse com um homem como seu pai.

No entanto, o fato de Wordham não querer um irresponsável para genro não justificava ter deserdado lady Harriet, nem sua recusa em perdoá-la e visitá-la em seu leito de morte e ignorar o neto.

David respirou fundo.

Lorde Wordham estava morto, mas lady Wordham estava viva e em Londres.

Ele torceu o nariz. Por que lembrar isso? A avó materna também nunca demonstrara o menor interesse por ele.

Seu tio Alex, por sua vez, tinha apenas quatorze anos quando Luke morrera. Ele sempre fora um modelo de seriedade ou ficara assim justamente por reprovar as irresponsabilidades do irmão mais velho? Não importava. Agora Alex estava transgredindo.

David sorriu.

Se Alex distraísse lady Oxbury, e ela se mostrara muito distraída durante o baile, David teria muitas oportunidades para fazer muitas coisas deliciosas e apaixonantes com lady Grace.

Ele a roubaria do prometido noivo do campo.

Como seu pai roubara sua mãe de Standen.

Não. As situações eram diferentes. Grace tinha que ser dele, não do pretenso noivo. O homem tivera anos para conquistá-la e não conseguira.

Agora ele a cortejaria. Se não conquistasse seu coração, desistiria.

Mas seria bem-sucedido. Cuidaria de se empenhar ao máximo e adoraria cada momento daquela missão de amor.

Engoliu o último gole de conhaque e subiu a escada em direção ao quarto.

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Grace apertou a xícara de chá nas mãos e respirou fundo. Constrangia-se só em pensar nos efeitos causados pelo excesso de champanhe. Felizmente, o barão Dawson desconhecia aquele detalhe, embora, por certo, tivesse notado-lhe o exagero.

Não estava acostumada com as atenções de um cavalheiro tão bonito e encantador, ainda mais um que já anunciara sua intenção de desposá-la.

Bebeu um gole de chá. Nada daquilo teria acontecido se não fosse o barão. Se não o tivesse conhecido, teria dançado com outros homens. Estaria entediada e, talvez, ansiosa para voltar a Standen e ouvir John discorrer sobre plantas.

Sentiu uma estranha sensação de vazio no estômago.

Naquele instante, viu a tia entrar no quarto, seguida por Hermes.

Grace engoliu o biscoito e pigarreou de leve, friccionando a fronte.

— Eu... causei algum constrangimento, tia Kate? Não me surpreenderei se não receber mais nenhum convite nesta temporada

— Não, não causou constrangimento nenhum. Eu mesma não tinha percebido nada até entrarmos na carruagem.

— Verdade?

— Sim. — Kate sentou-se ao lado da sobrinha. — Sei que você ainda não está bem, mas precisamos conversar a respeito do barão Dawson. Seu pai ficará furioso se souber que esteve na companhia dele.

Grace suspirou.

— Tia Kate, por que meu pai nunca comentou nada sobre lady Harriet?

A expressão da tia mudou no mesmo instante.

— Lady Harriet?

— A filha do conde de Wordham, mãe do barão. — Harriet teria sido o amor da vida de seu pai? E sua mãe? Ela morrera quando tinha apenas dois anos. Quase não se lembrava dela. Só vira seu retrato na galeria de fotos da família, uma mulher miúda, de cabelo vermelho e expressão séria.

Kate desviou o rosto do olhar inquiridor da sobrinha.

— Imagino que seu pai nunca tenha mencionado nada por se tratar de uma história antiga.

— Só que, ao que tudo indica, ele ainda chora por lady Harriet. — Grace hesitou antes de perguntar: — Meu pai não amava minha mãe?

Kate afagou-lhe a mão.

— Claro que amava, Grace. Sempre achei que seus pais tinham um bom relacionamento, mas lady Harriet foi seu primeiro amor. — Kate corou. — E o primeiro amor é sempre intenso. Não fique imaginando que Standen ainda acalenta sentimentos por lady Harriet.

— Não? Então, por que ele continua a odiar a família Wilton?

Kate riu, envergonhada.

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— Suponho que seu pai ainda pense que sua honra foi maculada por um Wilton. Ele não perdoa e nem esquece, Grace. E esse é o motivo de você não poder cultivar uma amizade com Dawson.

A tia estava certa. Uma mulher sensata evitaria o barão Dawson pelo resto da temporada. Além do fato de seu pai detestar todos os Wilton, o barão era do tipo persuasivo e envolvente. Irresistível...

Infelizmente, Grace não se sentia nada sensata. Sentia-se, sim, despreocupada. Queria dançar e passear pelo jardim sem estudar as plantas com John fazia... de preferência com o barão. Sua viagem a Londres era uma pequena janela na parede cinzenta de sua existência. Um toque de magia, uma rápida passagem pelos contos de fadas e finais felizes. Iria aproveitar cada instante ao máximo.

Seria sensata e responsável, mas só quando voltasse para casa.

— Não se preocupe, tia Kate. Disse ao barão que a proposta dele é inaceitável.

— Proposta?! Não me diga que ele a pediu em casamento? Mal se conhecem.

Grace sabia disso, ou melhor, sua cabeça sabia. O coração tinha uma opinião muito diferente. Era como se conhecesse o barão desde sempre.

— Pelo visto, o barão Dawson não é de perder tempo.

Ao contrário de John, que nunca a beijara, apesar de estarem comprometidos. E aquilo nunca lhe parecera tão importante como naquele momento.

Não que esperasse que ele fosse carinhoso. John estava mais interessado num pedaço de terra do pai dela do que em conquistá-la. Grace acreditava que ele seria um marido aceitável. Negligente, talvez, mas não queria muita atenção.

Teriam um filho, ou dois... John cuidaria de perpetuar sua linhagem com o mínimo de embaraço, e ela ficaria contente. Pelo menos, sabia que o marido não lhe seria infiel... além das visitas ocasionais à sua amante, sra. Haddon.

Não, "paixão" e "John Parker-Roth" não seriam encontrados na mesma frase, a menos que o assunto fosse botânica.

— Você não pode se casar com Dawson, Grace.

— Eu sei. Mas a senhora pode se casar com o sr. Wilton.

— Eu?! — A voz de Kate soou estridente, assustando Hermes.

— David... o barão Dawson me contou... E nem imagino por que a senhora nunca comentou comigo que o tio dele a pediu em casamento em sua primeira temporada, mas papai não consentiu.

— Ah! Eu... — Kate enrubesceu.

— O sr. Wilton pediu novamente a sua mão em casa-mento enquanto passeavam no jardim? Eu os vi dançando. A senhora estava tão... radiante!

— Radiante? — Kate ficou ainda mais embaraçada. — Engano seu.

— Não, tenho certeza!

Um som agudo se fez ouvir e Kate levantou-se de num salto.

Hermes correu até a janela, latindo.

Alguém estava atirando pedrinhas na janela.

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Ainda latindo, Hermes dançava na frente da cortina. Kate ficou imóvel.

— Quer que eu espie para ver quem é? — Grace fez menção de se levantar, mas Kate a segurou pelo braço.

— Não! — Kate, sempre tão controlada e calma, parecia apavorada.

— Tia Kate, o que está acontecendo?

— Nada. Está tudo bem. — Tentou sorrir, mas sobressaltou-se ao ouvir outra pedra contra a vidraça de seu quarto. — Bem, Grace, nossa conversa está agradável, mas... Mas, estou cansada. Acho que vou me deitar. Você também precisa descansar. Boa noite, querida. — E, dizendo isso, saiu rapidamente do quarto, fechando a porta de comunicação entre seus aposentos.

— Boa noite, titia — Grace ainda respondeu, mesmo sabendo que a tia não poderia mais ouvi-la, pois saíra apressada, como se tivesse algo inadiável a sua espera...

David engasgou-se com um gole de champanhe ao ouvir uma voz feminina perguntar num tom nada amigável:

— Onde está seu tio?

Disfarçou a tosse com o lenço e olhou por trás do pilar, de onde vinha a voz. Lady Grace Belmont o encarava.

Ficou nervoso como um adolescente.

Grace era tão bonita e... cheia de vida! Fazia com que todas as demais jovens presentes no salão de Easthaven parecessem criaturas pálidas e esquálidas. Naquela noite, Grace estava ainda mais fascinante ainda, usando um vestido verde esmeralda com decote generoso que enfatizava seus belos...

O leque parecia bloquear-lhe a visão. Uma pena, mas melhor assim. Não poderia permitir-se ser seduzido. Também não estava disposto a seduzi-la.

— Ah, uma boa noite para a senhorita também, lady Grace.

Grace levantou o queixo.

— Fiz uma pergunta, milorde.

— Fez?

Por um momento, David pensou que ela o agrediria. Não seria nada elegante ser agredido por sua...

Não, nada dele. Nunca. Não poderia mais insistir em se casar com ela. Não poderia se casar com uma parente próxima da mulher que magoara Alex. Não conhecia os detalhes, claro. Alex não comentara nada. Não falara, mas seu olhar na manhã seguinte ao baile de Alvord, quando decidira voltar para a sua propriedade no campo, fora mais eloquente do que milhões de palavras. David nunca vira o tio tão abatido desde a morte dos avós. Alguma coisa, ou alguém, o ferira profundamente.

E só poderia ser lady Oxbury.

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Não era coincidência. Alex partira de manhã bem cedo, depois de passar a noite... Onde? David apostaria sua herança inteira como Alex estivera com lady Kate e que esta o repelira depois de uma noite de amor. A mulher era tão cruel quanto o irmão, Standen.

Será que a bela Grace seria igual?

Não. Impossível. Grace fora tão gentil com ele...

— Sabe que sim! — Grace sibilava. — Temos de conversar. Seu tio magoou demais tia Kate.

David quase derrubou a taça de champanhe.

— Meu tio magoou sua tia?! — Apertou os lábios. Estava quase gritando.

Duas senhoras pararam de conversar e olharam para eles, curiosas. David foi obrigado a sorrir educadamente até elas virarem o rosto. Depois, continuou no mesmo tom de Grace:

— Enlouqueceu?

— De jeito nenhum. Eu...

— Aqui está sua limonada, lady Grace.

Ambos se voltaram para o recém-chegado, sr. Belham.

— Obrigada, sr. Belham. — Grace pegou o copo. — Se o senhor não se importar, gostaria de conversar com o barão Dawson em particular. Tenho um assunto importante para discutir com ele.

Belham não escondeu a decepção, mas não protestou.

— Claro. Fiquem à vontade. Com licença. — Com uma mesura, afastou-se.

— Limonada, Grace? — David perguntou com ironia.

Ela corou.

— Acho que champanhe não combina comigo.

— A bebida subiu-lhe à cabeça?

Grace fulminou-o com o olhar.

— Você deveria ter me impedido de consumir tantas taças.

— Se forçar um pouco a memória, vai lembrar de que tentei dissuadi-la, mas você insistiu que ficaria bem e que já bebera champanhe antes.

— E bebi, sim. Só que não na mesma quantidade. — Grace encolheu os ombros. — Mas não acontecerá outra vez. Evitarei a bebida enquanto viver.

— Não acredito que será necessário chegar a tais extremos.

— Não foi você o que... Ora, assunto encerrado. Como disse, precisamos conversar. É muito importante. — Olhou ao redor. — Num lugar mais reservado, é claro.

— Você não receia ficar num lugar mais reservado comigo? — provocou-a. Deixaria para ficar bravo mais tarde, quando não tivesse aquele corpo sensual e aquela personalidade adorável diante dele.

E o que Grace teria de tão importante para discutir? Talvez nem houvesse razão para se zangar.

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Grace endireitou os ombros, ergueu o queixo e o encarou, desafiadora.

— Não seja ridículo! Será que não consegue pensar em nada que não envolva sedução, nem por um instante?

David tossiu. Pobre garota ingênua. Ela passou o braço no dele e o empurrou.

— Vamos procurar um lugar onde possamos ter uma conversa séria.

— Como quiser, milady. — David cumprimentou lady Amanda e a sra. Fallwell com um gesto de cabeça ao passar por elas. As senhoras retribuíram o cumprimento com um brilho desconfiado no olhar.

Não deveria sair com Grace. Estaria atraindo comentários maliciosos que poderiam atrapalhar suas perspectivas matrimoniais. Queria uma noiva excepcional. Retirar-se para um local reservado com outra mulher, por certo, comprometeria seu objetivo.

Mesmo assim... Quem se importava com os comentários? Na verdade, não queria uma noiva excepcional. Queria Grace. Se Grace tivesse uma explicação racional para o que quer que tivesse acontecido entre lady Oxbury e Alex, gostaria de ouvir.

Ela entrou numa saleta e aprovou.

— Aqui está bom. — Puxou-o para dentro e fechou a porta.

A sala era minúscula. Continha apenas uma cadeira e uma mesinha.

— Vá direto ao assunto, lady Grace.

— Muito bem. — Esforçando-se para não pensar nos ombros largos do barão, apontou o leque em sua direção. — Alguma coisa muito séria está afetando tia Kate, e tenho certeza de que o motivo é seu tio.

David cruzou os braços.

— Poderia ser mais clara?

— Posso. Embora meus poderes de observação na noite do baile de Alvord não estivessem tão apurados, eu juraria que minha tia e seu tio estavam se entendendo. Lembra dos dois dançando?

David assentiu. Também reparara no ar de encantamento que envolvera Alex e lady Oxbury durante a dança. E, considerando o mutismo de seu tio na volta à Dawson Hall, o problema acontecera mais tarde, depois do baile. Teria sido uma noite de amor com final infeliz?

— Tia Kate parecia muito distante no caminho de volta para casa. E agitada. Mas de manhã, estava diferente. Ainda agitada, só que...

Grace se calou. Pensativa, batia o leque na mão.

David observava o movimento. Não conseguia desviar os olhos do leque e do decote adorável que revelava o contorno dos seios generosos...

— Preste atenção, por favor, barão. — Grace tocou-o com o leque.

David foi obrigado a encará-la.

— Desde o baile do duque de Alvord, tia Kate tem andado muito estranha. Às vezes fica distraída, olhando para o nada, com aquele sorriso sonhador. Outras, aparece com os olhos vermelhos de tanto chorar. E nas festas e recepções, passa o tempo todo

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olhando em volta, como se procurasse alguém. Hoje, quando o vimos aqui sozinho, tia Kate ficou branca como cera.

David quase perguntou se ela também procurara por ele, mas conteve-se a tempo.

— Penso que o seu tio foi a Oxbury Hall depois do baile, milorde. Alguém atirou pedras na janela de tia Kate, pois ouvi muito bem. — Grace encolheu os ombros, fazendo com que seus ombros delicados se movessem levemente. — Quem mais poderia ter sido? Ele devem ter conversado, você não acha?

David apostaria como tinham feito muito mais do que apenas conversar. Alex não se mostraria desolado e nem teria deixado Londres tão de repente, se tivessem apenas conversado. Algo mais acontecera que o decepcionara, mas o quê?

Grace tocou-o com o leque de novo.

— Então, milorde, diga-me onde seu detestável tio está?

Ele empurrou o leque e recuou.

— Na casa dele em Clifton Hall.

— O quê?! Saiu de Londres?

— Sim, foi o que eu disse, não?

— Que absurdo! Como ele pôde fazer isso? — Grace brandiu o leque, mas David o arrancou das mãos dela.

— Muito simples, milady. Alex fez uma mala, selou seu cavalo e partiu. O restante dos pertences dele seguiu depois.

— Depois? Há quanto tempo seu tio partiu?

Que mal havia em contar a verdade?

— Na manhã seguinte ao baile de Alvord.

Grace cerrou os punhos.

— Eu sabia! Ele é um patife, um canalha, um... um inescrupuloso!

Como Grace se atrevia a ofender Alex? Por um momento, David esqueceu o desejo, a luxúria que aquela mulher lhe despertava.

— Se fosse um homem, lady Grace, eu a desafiaria para um duelo!

Ela mordeu o lábio. O barão Dawson reagira como um leão diante de suas palavras. Precisava acalmar-se e acalmar aquele homem.

Ergueu uma das mãos, depois a outra, ao vê-lo fazer menção de deixar a sala.

— Barão Dawson, não é aconselhável sair daqui com tanta pressa.

David não a ouviu. Empurrou-a e passou por ela. Grace segurou-o pela lapela.

— Milorde, espere. Peço desculpas. Falei sem pensar. Retiro meus comentários sobre seu tio.

Ele parou. Ainda a fitava com ar de indignação. Grace o soltou e alisou a lapela amassada.

— Sejamos sensatos. Amo minha tia e você ama... — Ela fez uma pausa. Aparentemente "amar" não era uma palavra muito masculina para usar. — E você tem

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seu tio em grande estima. — Melhor. Dawson relaxou um pouco. — Acho que ambos queremos que sejam felizes.

Ele concordou. Ótimo.

— Parece óbvio também que os dois não estão sabendo como resolver os impasses, sejam quais forem, com calma e ponderação.

— Tem razão.

— Está claro também que o método que seu tio escolheu para lidar com o problema... — Grace notou a expressão de Dawson mudar e apressou-se em corrigir: —... o que é compreensível, não resultará numa solução satisfatória.

— Não vejo nada de insatisfatório, milady.

Grace conteve-se para não gemer de impaciência. Lógico que o barão não enxergava o problema. A maioria dos homens era cega às várias facetas de uma questão. Eles viam apenas um lado, o que estava bem sob o nariz deles. Um bom exemplo disso era seu pai...

— Seu tio é feliz, milorde?

David ergueu uma sobrancelha.

— Bem... não.

— Ele foi feliz, realmente feliz, em alguma ocasião de que você se lembre?

— Não.

— Essa infelicidade tem a ver com a minha tia?

— Maldição, acredito que tenha.

— Foi o que pensei. Como seu tio poderá ser feliz escondendo-se no campo?

— Alex não está se escondendo.

Grace poderia questionar a resposta do barão, mas preferiu contemporizar.

— Certo, talvez não. Mesmo assim, não concorda que o fato de ter deixado Londres permite-lhe evitar o que quer que...

David franziu as sobrancelhas de um modo ameaçador. De novo, Grace emendou:

— Isto é, o fato de ter deixado Londres não vai amenizar seu sofrimento. Ele tem de resolver o problema, e não fugir. Precisa encontrar minha tia e...

— Alex já encontrou sua tia. Creio que foi por isso que voltou a Clifton Hall.

— Perdão, milorde, com todo o respeito, isso é ridículo. Como uma simples conversa entre minha tia e seu tio poderia provocar...

David a interrompeu.

— Bem, deve ter sido mais do que uma simples conversa.

— Ele comentou algo?

— Não.

— Então, como pode saber?

David respirou fundo.

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— Lady Grace, por favor.

— Tia Kate está sofrendo e sinto que temos de fazer alguma coisa para ajudá-la. Seu tio e minha tia precisam chegar a um entendimento para não continuarem torturados pelo passado. Talvez nós possamos pensar numa maneira de promover um encontro entre os dois e... — Calou-se ao notar os olhos dele em seu decote. Pegou o leque e abriu-o, obrigando David a encará-la. — Milorde, sua atitude não está ajudando em nada.

— Estou prestando atenção, lady Grace. Continue.

— Como eu ia dizendo, se eles se encontrarem, poderão conversar e esclarecer os mal-entendidos. Ambos são adultos e inteligentes.

—Talvez você tenha razão. — David a fitou com os olhos brilhantes. Segurou a mão dela e apertou-a de leve.

Grace sentiu algo diferente, que não soube como definir. Força? Calor? Posse?

David sorriu, mas havia uma certa tensão no ar. Era como se estivesse envolto em uma névoa de ansiedade e expectativa, mas em relação a quê?

De repente, percebeu que o sentimento que pulsava entre eles era forte o bastante para sobrepujar a raiva que imaginara estar sentindo pela partida inesperada de Alex.

Grace umedeceu os lábios, incomodada com a maneira como ele a perscrutava.

Os olhos de David acompanharam o movimento da língua rosada. Ela estava ofegando ou era impressão sua?

Grace respirou fundo.

Movido por um impulso, David inclinou a cabeça na direção do rosto delicado. Os lábios dele estavam muito próximos...

— Grace! — alguém chamou.

Diante da interrupção inesperada, Grace deu um passo atrás e tropeçou na saia. Teria batido na cadeira se David não a tivesse amparado.

— Tia Kate, o que está fazendo aqui?

— Agindo como sua acompanhante. — Kate entrou na saleta e fechou a porta atrás de si.

O espaço era pequeno para três pessoas, em especial quando uma delas encarava as outras duas com ar recriminador.

— Como a senhora me... — Grace limpou a garganta e olhou para David.

— Como a encontrei? Perguntei à sra. Fallwell e à lady Wallen-Smyth. — Fitou a sobrinha com ar de reprovação. — A propósito, a língua da sra. Fallwell é uma das mais afiadas de Londres.

— Oh!

— Oh! — Kate imitou-a. — Por sorte, esta noite ela está muito mais interessada no duque de Alvord e na srta. Hamilton. Por isso, penso que sua... — Ela lançou um olhar feroz para o jovem barão. — ...pequena indiscrição passará despercebida se voltarmos imediatamente ao salão.

Grace não gostou. Ela e Dawson tinham de elaborar um plano para reunir Kate e o sr. Wilton outra vez.

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— Vá na frente, tia Kate. Irei em seguida.

Lady Oxbury arregalou os olhos.

— O quê?!

— Não precisa ficar tão chocada. Ainda tenho algo a resolver com o barão.

— Imagino que sim. Coisas como o que vocês estavam prestes a fazer quando entrei, não?

— Ah! — Grace sentiu as faces queimando. Olhou para David, que examinava um entalhe da mesa. — Penso que o barão Dawson...

— Exato. Também penso... — Kate olhou para o barão. Ele baixou o olhar. — Boa noite, senhor.

Dawson inclinou a cabeça enquanto Kate empurrava Grace para fora.

Diabos! David jogou-se na única cadeira da sala. Daria tempo suficiente para Grace voltar ao salão antes de sair daquele cômodo abafado.

Por que lady Oxbury tinha de chegar bem naquele momento? Um segundo a mais e teria abraçado Grace, sentido seus lábios nos dela, sua língua teria...

Pensando bem, talvez tivesse sido melhor assim. Melhor, mas frustrante. Apoiou a cabeça na parede e respirou fundo. Deveria pensar nas palavras de Grace, não nela. Pensar no que dissera, não no que poderiam ter feito.

Odiava admitir, mas Grace estava certa. Alex não era feliz, e não o seria até resolver suas diferenças com lady Oxbury. Mas como fazê-lo aceitar isso?

Seria difícil, quase impossível, os dois se encontrar de novo. Alex não voltaria a Londres e lady Oxbury jamais iria a Clifton Hall e nem a Riverview. Desse modo, o ideal seria achar um lugar neutro. Mas onde? Entre seus conhecidos, quem se prontificaria a oferecer uma festa e hospedar os convidados por alguns dias? Teria de ser alguém que tivesse esposa, mãe ou outra mulher para assumir o papel de anfitriã.

Não conseguiu pensar em ninguém.

A verdade era que não conhecia muitas pessoas da sociedade. Não frequentara colégios de aristocratas. Seus avós acharam melhor educá-lo com professores particulares em casa. Estudara alguns anos em Oxford, mas seus colegas agiam como garotos mais interessados em brincadeiras do que nos estudos. Não tinha nada em comum com eles.

Talvez lady Grace conhecesse algum provável anfitrião.

Sem sombra de dúvida, precisariam organizar uma festa. Um fim de semana ou mais. O campo oferecia maior privacidade e mais oportunidades. Se Alex e lady Oxbury se reconciliassem, ele se empenharia para conquistar uma certa jovem voluntariosa e transformá-la em sua baronesa.

No campo existiam muitos lugares adoráveis para se roubar um beijo ou dois. Piqueniques à beira do lago, passeios pelos jardins, uma escapadinha pelo bosque. As regras eram sempre mais maleáveis e a dama de companhia de Grace estaria muito ocupada com Alex para ficar o tempo todo atrás da sobrinha. Ele teria o prazer de ouvir Grace dizendo "sim" para muitas atividades deliciosas.

Verificou as horas no relógio de bolso. Já se passara algum tempo desde que Grace saíra da sala. Voltaria ao baile.

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Estava quase saindo quando se lembrou do visconde Motton. Recordava-se de tê-lo visto entre os convidados.

O visconde tinha sua idade e era brilhante. Além disso, a propriedade dele ficava a apenas um dia de viagem de Clifton Hall. Se não estivesse enganado, Alex passara metade da viagem a Londres comentando sobre um sistema de rotação de culturas que Motton estava testando em Lakeland e que ele queria introduzir em Clifton Hall.

O tio falara até mesmo em parar na propriedade do visconde. Perfeito.

David só teria que pensar num modo sutil de sugerir um evento no campo em plena temporada.

Não seria difícil...

Levantou-se, ajeitou o colete e o paletó.

Ao sair, esbarrou em um casal que o fitou com ar de espanto. Simulando um misto de naturalidade e indiferença, David fez uma mesura.

— Boa noite, lorde Featherstone. Sra. Fallwell...

Os dois se entreolharam, apavorados.

David fez outra reverência, passou pelo casal e caminhou em direção ao salão de baile sem olhar para trás.

Não queria saber detalhes de mais um romance, não queria pensar em nada relacionado a amores furtivos e comentários maldosos da sociedade londrina.

Capítulo III

Kate acordou com os latidos de Hermes.

— Volte para a cama, garoto. Ainda é muito cedo.

Hermes continuou latindo, fitando-a com os olhos arregalados.

— Seja bonzinho. Quero dormir mais um pouco. Estou com sono.

Além do sono, sentia-se cansada, um pouco inchada e constantemente indisposta. Sem falar da incrível sensibilidade. Ficava triste e chorava mesmo sem motivo. Ou por um motivo: Alex.

Kate suspirou. Sempre imaginara que os homens queriam os prazeres da cama sem envolvimento sentimental. Alex poderia ter sido feliz. Não exigiria nada dele. Mas ele estragara tudo naquela noite em que estivera em seu quarto e, após fazerem amor, a pedira em casamento. Alex sabia que não poderiam se casar. Por que, então, insistira na proposta a ponto de levá-los a uma discussão e fazê-lo partir irritado?

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Só em pensar em Alex seu corpo latejava nos lugares mais embaraçosos.

Ele a magoara, mas ela também o magoara ao dizer que não queria problemas. Não deveria ter brincado de viúva alegre. Deveria ter falado a verdade, que temia a reação de seu irmão e a do novo conde de Oxbury se soubesse que estavam juntos.

Hermes lambeu-lhe o rosto e latiu.

— Volte a dormir. É muito cedo ainda.

— Não é, milady. — Marie abriu o véu da cama, aproximando-se.

Kate abriu os olhos. A luz do sol inundava o quarto.

— Que horas são?

— Quase duas, milady.

— Da tarde?! — Ela nunca dormira tanto! Devia estar doente mesmo.

— Sim, milady. Jam levou Hermes para o passeio matinal, mas acho que ele quer sair de novo.

Duas horas da tarde! Como era possível? Na noite anterior voltara cedo com Grace do baile de Wainwright porque se sentira exausta demais.

— Trouxe-lhe uma xícara de chocolate, milady.

— Obrigada. — Um pouco de chocolate quente acalmaria seus nervos. Sentou-se na cama e inalou o aroma doce. Oh. Tampou a boca com a mão. — Não quero chocolate. Leve embora. Por favor.

Kate notou a expressão intrigada de Marie. Instintivamente, olhou para a camisola fina. Seus seios pequenos pareciam um pouco maiores e... diferentes?

Bobagem. Cruzou os braços e estremeceu. Estavam muito mais sensíveis.

— Suas regras estão atrasadas, milady?

— Um pouco.

— Quanto?

Kate soltou um suspiro exasperado.

— Não sei. Alguns dias. Uma semana, talvez. — Sentiu náuseas. Precisaria de uma bacia.

Marie continuava a fitá-la com ar desconfiado.

— Se não a conhecesse melhor, diria que a senhora está grávida.

— O quê?

— Grávida. A senhora sabe. Esperando uma criança.

— Oh.... — Kate tirou a bacia do gabinete e esvaziou o estômago. Depois, enxugou a boca com as costas da mão. — Eu não poderia... É impossível.

— Sim, eu sei, milady.

— Tenho quarenta anos.

— Essa não é a parte impossível. Muitas mulheres têm filhos depois dos quarenta. Enquanto temos regras, podemos gerar filhos.

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Kate sabia, mas apenas não pensara nisso. Seu ciclo menstrual sempre fora muito regular. E Oxbury sempre cumprira seus direitos de marido muitas vezes ao mês, e quase diariamente no início de casados, e ela nunca engravidara.

— Sou estéril, Marie.

A criada encolheu os ombros.

— Talvez a culpa fosse do falecido conde. Vi muitas mulheres estéreis enterrarem o primeiro marido e terem um bando de filhos com o segundo. — Marie lançou-lhe um olhar penetrante. — Aí é que vem a parte impossível, milady. A senhora não tem marido. — O olhar se tornou mais inquiridor. — Ou tem?

— Claro que não! Não seja ridícula.

— Ah, mas os votos na igreja não são necessários para se conceber uma criança. Basta um homem na sua cama com sementes vivas.

Kate sentiu o rosto em chamas. Quase não conseguia respirar. Ela poderia estar...? Alex e ela tinham feito amor apenas uma vez naquela noite em que ele a visitara no quarto!

— Um homem se deitou na sua cama, milady?

— Ah...

— Não precisa ser na cama, a senhora sabe. Uma escapadela no jardim faz o mesmo efeito.

— Mas...

Marie cruzou os braços.

— Confie em mim, milady. Não há razão para mentir. Logo ficarei sabendo, assim que sua barriga começar a crescer.

— Ah... Oh... — Kate aliviou o estômago de novo e, depois, caiu em prantos.

Marie tirou a bacia das mãos dela, sentou-se na cama e abraçou-a. Kate escondeu o rosto no ombro da criada e chorou.

— Temos que escrever uma carta ao sr. Wilton, milady — Marie murmurou-lhe ao ouvido.

Kate segurou com força a guia de Hermes, ansioso pelo passeio no parque.

Estava perturbada com a possibilidade de gravidez. Apesar de tudo, ainda tinha dúvidas. Depois de tantos anos com Oxbury, de tantas decepções...

Poderia ser apenas efeito da emoção de ter ido a Londres e reencontrado Alex. Porém, ela fizera mais do que simplesmente reencontrá-lo. Tocara-o, beijara-o e deitara-se com ele naquela noite em que a visitou em seu quarto, permitindo que a amasse sem pudores.

Saiu do quarto e segurou-se no corrimão. Se caísse da escada, poderia machucar o bebê.

O bebê?!

— Está tudo bem, tia Kate?

Assustou-se. Grace estava ao lado dela, vinda não sabia de onde.

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— Sim... Não. Quer dizer, estou.

Grace não se convenceu.

— A senhora nunca dorme até tão tarde... Fiquei muito preocupada. Não quer ficar descansando? Eu levo o Hermes ao parque.

Voltar ao quarto, cobrir a cabeça com o lençol, esconder-se de... Não, não seria bom. Não poderia esconder-se para sempre. A verdade logo saltaria aos olhos de todos.

Céus, um filho! Como contaria a Alex? Ele poderia não querer a criança ou pensar que o enganara ao confessar-se infértil. Afinal, Alex acreditava que ela escondera seu noivado com Oxbury. De qualquer forma, ele tinha o direito de saber. Entretanto, aquela não era uma notícia para se dar por carta.

— Obrigada, Grace. Um passeio me fará bem.

— Então, vou acompanhá-la. Posso?

— Claro.

— Vou buscar meu chapéu. Espere-me no hall.

Kate assentiu. Desceu a escada devagar.

O mordomo a esperava no hall.

— Boa tarde, milady — cumprimentou-a apreensivo.

— Boa tarde, Sykes. Por acaso quer me dizer alguma coisa?

Sykes crispou as sobrancelhas numa expressão quase de angústia.

— Infelizmente, sim, milady. — Pigarreou. — O novo lorde Oxbury mandou avisar que está vindo a Londres. Estou certo de que a senhora entenderá, mas teremos que transferir suas bagagens e as de lady Grace para outros aposentos. — Ele fez um gesto resignado com a mão. — O novo lorde espera ocupar os aposentos principais.

— Claro, Sykes. Entendo perfeitamente. — A situação ia se tornar ainda pior. Por que o novo conde de Oxbury tinha de vir a Londres bem agora? Ele, que passara anos preocupado com uma possível gravidez que poderia lhe tirar o lugar de herdeiro do tio, na certa, notaria sua cintura alguns centímetros mais grossa.

Kate sentou na cadeira mais próxima. Se ela não se casasse, seu filho seria um bastardo.

— Milady, a senhora está bem?

— Estou, obrigada. — Fugindo ao olhar do mordomo, dispensou-o com um gesto de mão.

O que o novo conde faria quando descobrisse sua gravidez? Ele a jogaria na rua?

Gemeu baixinho e tirou o lenço do bolso.

— Lady Grace, por favor, cuide de lady Oxbury — Sykes pediu assim que Grace pisou no hall. — Receio que ela não esteja bem.

— Tia Kate. — Grace pôs a mão no ombro da tia e inclinou-se para ver-lhe o rosto. — Está sentindo alguma coisa? — E baixando o tom de voz, indagou: — A senhora está naqueles dias?

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Kate levantou a cabeça. Naqueles dias? Começou a rir, talvez com uma ponta histerismo.

— Não. Com toda a certeza não estou.

Grace endireitou o corpo, surpresa com a reação da tia. Sykes, provavelmente desconfiando tratar-se de um mal-estar próprio de mulheres, retirara-se com discrição.

— Eu mesma, às vezes, fico chorosa nesse período, tia Kate.

Kate levantou-se. Tinha de sair daquela casa, andar e respirar ar fresco. Precisava controlar suas emoções.

— Sim, eu sei. Obrigada por sua preocupação. É que... — Soltou um longo suspiro. O que poderia dizer? — Sykes acabou de me informar que o novo conde de Oxbury está vindo a Londres.

— Oh! Agora entendo por que a senhora estava chorando.

— Já estou melhor, Grace. Hermes já está impaciente. Vamos?

Sentada num banco do parque, Kate brincava distraidamente com a guia de Hermes.

Depois de várias tentativas, Grace desistiu de puxar conversa com a tia. Permaneceu ao lado dela, em silêncio, observando Hermes perseguir os esquilos entre as árvores.

— A senhora viu a srta. Hamilton dançando com o sr. Danlap no baile de ontem? Ou melhor, viu o duque de Alvord observando-os? — Grace fazia uma nova tentativa, a quinta, de entabular conversação.

No entanto, Kate continuava calada, como se não tivesse ouvido nada. Seria melhor desistir e ficar sentada no banco ao lado da tia, vendo Hermes perseguir os esquilos.

Latindo, o cão desapareceu entre os arbustos.

— Vou ver o que aconteceu a Hermes — Grace avisou, mas Kate não respondeu. — Voltarei logo — falou um pouco mais alto.

Kate assentiu e assuou o nariz

Grace caminhou na mesma direção que Hermes seguira. O que estaria acontecendo com sua tia? Ela estava triste e calada desde que Alex Wilton partira de Londres.

Parou perto das árvores. Não pretendia entrar no bosque.

— Hermes? — Contornou os arbustos. — Ohhh! — De repente, esbarrou em um ombro masculino. Uma mão forte segurou-a pelos quadris, impedindo-a de cair.

Seu coração batia descompassado. Abriu a boca para gritar, mas fechou-a ao ver quem estava agachado junto dela: o barão Dawson.

Sentiu o ar lhe faltar e o corpo todo estremecer.

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Da última vez em que o vira, tinham ficado muito próximos na minúscula sala de lorde Easthaven. Ele quase a beijara. Se tia Kate não tivesse chegado naquele momento não imaginava o que poderia acontecer...

Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Sabia, sim. Teria acontecido o mesmo que ocorrera no jardim do duque de Alvord.

— O que está fazendo?

David Wilton, o charmoso barão Dawson, sorriu e finalmente a encarou.

— Estou conversando com este cachorro travesso.

Hermes estava deitado de costas, satisfeito com os carinhos do barão em sua barriga.

— Hermes! — Grace podia jurar que o animal estava sorrindo.

— Ele é seu amigo? — David pôs-se em pé, mas não se afastou e nem permitiu que ela recuasse para uma distância mais apropriada. A mão que acariciara Hermes, agora livre, juntou-se à primeira ao redor da cintura de Grace.

— É o cachorro de tia Kate. — Estava se tornando difícil respirar. — Ela está sentindo a falta dele.

— Não vamos demorar. — As mãos de David subiram um pouco mais.

Grace queria reagir com indignação, mas não conseguiu. Os olhos azuis cintilavam com um brilho... ardente.

— Tenho boas novas.

Os lábios dele se moveram. Grace lembrou-se claramente do sabor daquela boca carnuda. Queria senti-lo de novo. Umedeceu os lábios e os olhos dele acompanharam o movimento da língua.

— Como? — Não conseguia concentrar-se nas palavras do barão. Se ao menos ele aproximasse mais os lábios...

Parecendo ter o dom de ler-lhe os pensamentos, David fez exatamente o que ela esperava, depositando breves beijos em sua fronte, nas faces...

Grace inclinou a cabeça e entreabriu os lábios. Seus olhos se fecharam.

Não, não, não, gritava a Grace recatada, mas as batidas descompassadas de seu coração abafavam os gritos que a Grace atrevida recusava-se a ouvir.

A boca carnuda do barão apossou-se dos lábios trêmulos de Grace. As mãos de dedos longos vagaram até quase os seios e voltaram aos quadris curvilíneos, pressionando-a puxando-a para o seu corpo rígido.

A Grace atrevida abraçou-o.

Dawson cobriu-lhe a boca de beijos leves. Gemendo, ela abriu os lábios e o beijo se aprofundou.

Aos poucos, as mãos experientes se fecharam em concha sobre as nádegas redondas e firmes e a língua ávida vasculhou todos os cantos secretos da boca feminina. Grace sentiu uma dor aguda, úmida, insuportável no baixo-ventre... Não, mais embaixo... no ponto que ficava bem no centro da virilha. Era como se tivesse fome e sede de algo mais... Algo que ainda não conhecia e que, portanto, não sabia como definir.

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Céus, o que estava fazendo?

Empurrou-o levemente.

David recuou, mas não a soltou.

— Milorde...

— David. Meu nome é David. — Com a ponta da língua, ele contornou os lábios rosados, beijando-a no canto da boca. — Não pode continuar me tratando com tanta formalidade depois das carícias que temos trocados, minha querida.

— Posso chamá-lo de barão, milorde ou do nome que julgar mais conveniente.

David sorriu maliciosamente.

— Tudo bem. Será divertido. Pode me chamar de "milorde" quando eu deslizar entre suas belas pernas em nossa noite de núpcias.

Grace o fitou, boquiaberta. Como responder a um comentário tão ultrajante?

Simples. Não responderia. Às vezes, o silêncio era melhor do que mil palavras.

— Lembro-me de tê-lo ouvido falar em boas novas, milorde.

— Falei, sim, lady Grace. — David encostou-se num tronco de árvore. — Consegui nossos convites para a festa do visconde Motton. — Encolheu os ombros e sorriu. -— Na verdade, consegui convencê-lo, muito sutilmente, se é que posso dizer assim...

— Claro que pode. O senhor é o mestre da sutileza.

— Nem tanto, milady.

Grace cruzou os braços. Já recuperara seu autocontrole com ele.

— E por que essa é uma boa notícia?

— Porque a propriedade de Motton não é longe da de Alex, e meu tio tem um interesse especial pelos métodos de cultivo do visconde. Penso que ele aceitará o convite. Se você convencer sua tia a ir, os dois terão muitas oportunidades de conversar com alguma privacidade e se entender.

— Faz sentido. Acredito que conseguirei convencer minha tia. Acabamos de saber que o novo conde de Oxbury chegará em breve a Londres. Tenho certeza de que tia Kate prefere estar em qualquer outro lugar quando ele chegar. — Grace sorriu. — Vamos perguntar a ela.

Ele a viu sair apressada para o outro lado dos arbustos e a seguiu sem hesitar.

— Boa tarde, lady Oxbury. — David cumprimentou-a com uma reverência. A aparência da senhora era lamentável. O nariz vermelho e os olhos inchados indicavam que estivera chorando.

Talvez não fosse a megera que imaginara, afinal.

— Boa tarde, barão Dawson. — Tentou mostrar-se fria, mas o efeito foi quebrado pelo tremor da voz.

— Tia Kate! O que aconteceu? — Grace sentou-se e enlaçou-a pelo ombro.

— Nada. Estou muito bem.

— A senhora esteve chorando!

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Lady Oxbury levantou a cabeça e fitou a sobrinha.

— Não estive, não.

— Esteve, sim. Seu rosto está vermelho e úmido.

— Entrou um cisco no meu olho. Já saiu. Estou ótima.

O tom das vozes começava a tornar-se mais acalorado e exasperado.

— Mas, tia...

Era hora de interromper Grace antes que lady Oxbury a estrangulasse com a guia de Hermes.

— Lady Oxbury, eu estava à sua procura. Estive em Oxbury Hall e o mordomo informou-me que a encontraria aqui.

— Oh! — Kate deu um último olhar a Grace, antes de dirigir sua atenção a David. Forçou um sorriso. — E o que o senhor deseja, milorde?

— Ele tem um convite para uma festa no campo, tia Kate. — Grace apressou-se em dizer.

Depois de casados, teria que aconselhar Grace a ser mais comedida. Ela não podia sair falando tudo o que desejava. Sorriu enquanto lady Oxbury olhava para sobrinha com o cenho franzido.

— Você está interrompendo o barão, querida.

Grace abriu a boca, mas desistiu de protestar.

— Lady Grace está certa, milady. O visconde Motton está organizando uma festa em sua propriedade. Tenho um convite e acredito que a senhora receberá o seu em breve... Assim como o meu tio também o receberá.

A boca de lady Oxbury permaneceu aberta por alguns segundos a mais do que seria considerado normal.

— O sr. Wilton estará presente? — ela perguntou, por fim.

— Talvez. Meu tio será convidado, mas como a senhora sabe, ele está em Clifton Hall. Por isso, não sei se irá ou não.

Fora um risco mencionar Alex. Se lady Oxbury não tolerasse a presença dele, ela continuaria em Londres. Mas se quisesse vê-lo outra vez...

David confiava em sua intuição. Nunca errara em suas decisões financeiras. E agora tinha a sensação de que lady Oxbury queria muito ver Alex.

— Por que o visconde resolveu oferecer uma festa de uma hora para outra?

Porque ele foi induzido a fazê-lo, pensou em responder, mas não poderia dizer isso.

— Motton comentou que deseja um descanso do barulho e da agitação de Londres.

— Exatamente. — Grace olhou para ele e, depois, para a tia. — Eu também, tia Kate. E a senhora?

— Bem...

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— A senhora não gostaria de passar uma ou duas semanas no campo? Respirar ar puro, fazer longas caminhadas, apreciar a paisagem bucólica...

David admirava a "paisagem" sedutora formada pelos seios fartos de Grace enquanto a via tentar convencer a tia. Ela possuía os seios mais encantadores que já tivera o prazer de apreciar. Não que já os vira expostos. Apenas imaginava como seriam livres do vestido e do corselete.

E como imaginara! Desde que a conhecera, passara noites e noites revirando-se na cama, ansioso para confirmar o quão precisa era sua imaginação.

Fora uma surpresa gratificante colidir com Grace atrás dos arbustos. Que sorte a ter encontrado num local tão discreto. A vegetação cerrada os protegera. Não era densa o suficiente para um interlúdio mais longo e íntimo, mas fora adequada para o breve e agradável encontro de lábios.

No campo, porém... Não conhecia a propriedade de Motton, mas sabia que era muito grande e, claro, com muitas plantas e árvores. As festas nas áreas rurais ofereciam múltiplas oportunidades para explorações amorosas. Estava ansioso para conhecer em detalhes a gloriosa figura de lady Grace Belmont, com seus vales e curvas de tirar o fôlego do mais exigente dos cavalheiros.

— O senhor não concorda? — Ouviu-a dizer, tirando-o de seus devaneios.

— Sim, claro. Sem dúvida. Eu nunca... ah... O quê? — David olhou meio desconcertado para lady Oxbury. Com certeza ela não estava perguntando se gostaria de acariciar sua adorável sobrinha. — Perdoe-me. Receio ter me distraído por um instante.

— O senhor não concorda que Grace não deve perder nenhum evento da temporada?

— Concordo, é claro. Se bem que se comparecermos a um baile, a um café da manhã veneziano ou a um jantar, já teremos comparecido a todos. São sempre as mesmas pessoas, em todos os eventos. — Era verdade. Quando descobrira que não poderia se casar com Grace, ficara decepcionado ao perceber que já conhecia todas as moças casadoiras da temporada.

Lady Oxbury suspirou.

— Tem razão, barão Dawson.

— Tem mesmo — Grace concordou. — E também nem estou aqui para encontrar um marido, tia Kate.

— Como já disse, esperava que você olhasse ao seu redor, Grace.

— Já fiz isso.

David teve a impressão de que Grace corara antes de lançar-lhe um rápido olhar.

— E posso fazer ainda mais nessa festa.

Oh, minha querida, espero mantê-la ocupada demais olhando apenas para mim, ele pensou.

— E a senhora não quer ficar na mesma casa com Oxbury, não é?

— Não, não quero. — Lady Oxbury olhou para David. — Lorde Motton tem uma anfitriã adequada? Parece-me que é solteiro.

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— Ele me disse que sua tia Winifred fará as vezes de anfitriã. — Na verdade, ele dissera: a doida e querida Winifred só irá se eu permitir que leve sua pequena fauna. David olhou para Hermes que, aparentemente cansado de perseguir esquilos, descansava aos pés de sua dona. — A senhora poderá levar Hermes também.

Lady Oxbury soltou um longo suspiro.

— Muito bem. Acredito que aceitaremos o convite.

— Lady Grace, esta carta chegou hoje pelo correio.

— Obrigada, Sykes. — Grace pegou a carta e leu o nome do remetente. — É do papai.

— É mesmo? Estou surpresa que Standen tenha encontrado papel e pena. Ele não gosta de escrever cartas. — Kate pegou o restante da correspondência que o mordomo lhe entregava. — Não me lembro de ter recebido uma única carta de seu pai durante todos os meus anos de casada.

Grace guardou a carta no bolso. Tinha um mau pressentimento sobre o seu conteúdo.

— Papai detesta perder dinheiro ou tempo com coisas que julga desnecessárias.

— Você é filha dele. Eu, apenas a irmã. Acho que Standen quer saber se você está aproveitando sua temporada em Londres. Escreveu para ele?

— Não. — Tal pensamento nem lhe ocorrera. — Imagine se papai iria perder tempo lendo sobre os bailes, festas ou lugares que visitei. Talvez ele queira alguma coisa para casa. — Mas se fosse isso, sem dúvida, pediria à sra. Drexel, a governanta. O estômago de Grace se contraiu. — Ou talvez, esteja me chamando de volta, mas nesse caso, teria escrito para a senhora. Por acaso, recebeu alguma carta?

— Não. — Kate verificou os envelopes. — Mas temos uma carta do visconde Motton.

— Deve ser o convite para a festa.

— É, sim. — Ela guardou a carta no envelope e olhou para a sobrinha. — Será daqui a dois dias. Você acha mesmo que devemos ir?

— Com certeza. — Se não por outros motivos, pelo menos para que a tia e o sr. Wilton tivessem a oportunidade de resolver o problema que os estava atormentando.

— Mas já aceitamos o convite dos Palmerson para a semana que vem.

— Envie nossas desculpas. Não acho que lady Palmerson ficará inconformada com a nossa ausência.

— Claro que não, mas será uma das maiores recepções da temporada. Você poderá conhecer muitos homens solteiros.

— Os homens estarão aqui quando voltarmos, tia Kate. Não ficaremos tanto tempo fora de Londres.

Kate mordeu o lábio inferior, incerta.

— Mas esse passeio a deixará mais perto de Dawson. Não gosto disso.

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Um arrepio de ansiedade percorreu a espinha de Grace. Sabia que a proximidade com o charmoso barão terminaria com a temporada, mas mesmo assim queria experimentá-la outra vez. Seria apenas uma aventura, mais um toque de liberdade e excitamento antes de voltar à sua vida normal.

— Isso não será problema, tia Kate. A senhora sabe que já expliquei tudo ao barão. Além disso, ele não será o único homem presente à festa.

— Sim, mas...

— Não há razão para declinarmos o convite do visconde. Na verdade, eu gostaria muito de ir. Sinto saudade do campo e também nunca estive numa festa assim prolongada. Deve ser bem interessante.

— Bem...

— Francamente, tia Kate, a senhora está muito estranha. Alguns dias no campo lhe farão bem.

Hermes, sentindo-se ignorado, ficou em pé nas patas traseiras.

— Hermes, o que acha de passar uns dias na propriedade de lorde Motton?

O cãozinho latiu todo animado.

— Está vendo, tia Kate? Hermes concorda comigo.

Lady Oxbury riu.

— Certo. Tem razão, Grace. Será melhor sairmos um pouco de Londres.

— Exatamente. A senhora vai enviar a resposta ainda hoje, não vai?

— Sim. Vou confirmar nossa presença. Depois, descansarei um pouco. — Ela corou. — Tenho andado um pouco cansada nas últimas semanas...

Grace franziu o cenho. Por que tia Kate estava constrangida por sentir-se cansada?

— A senhora precisa de alguns dias no campo. Londres é muito barulhenta e, provavelmente, não tem dormido direito.

Kate ficou ainda mais vermelha.

— Eu, ah... Sim, acho que tem razão. Se me der licença, vou para o meu quarto escrever as cartas e deitar um pouco. Vamos, Hermes.

Grace observou Kate e Hermes subindo a escada. Por que tinha a impressão de que a tia estava fugindo? Pelo menos, conseguira convencê-la a aceitar o convite do visconde. Esperava que lorde Dawson tivesse a mesma sorte com relação ao tio.

Decidiu dar uma volta pelo jardim de Oxbury Hall e respirar um pouco de ar puro.

Sentou-se num banco ao lado de uma planta com pequenas flores brancas. John deveria saber o nome dela. Sempre que cometia o erro de admirar alguma folhagem, John fazia um discurso longo e aborrecido sobre sua origem e variações.

As flores brancas eram bonitas, mas infelizmente provocaram-lhe espirros. Tirou o lenço do bolso e encontrou a carta do pai. Abriu o envelope.

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Sem se preocupar com saudações, o pai fora direto ao assunto.

Você ficará feliz em saber que Parker-Roth e eu chegamos a um acordo. O casamento está marcado para o próximo mês. Avise sua tia. Volte logo para os preparativos. Standen.

Poucas palavras. Incisivas. Terríveis.

Grace respirou fundo. Pontos negros dançavam diante de seus olhos. Amassou a carta. Não iria desmaiar.

O casamento seria no mês seguinte?

Queria gritar, mas estava sem ar. Queria esmurrar alguma coisa. Ou alguém.

Seu pai e John... Como puderam fazer aquilo com ela?

Sim, esperava casar-se com John algum dia, mas nunca no mês seguinte. E teria sido delicado John pedi-la em casamento.

Desamassou a carta. Talvez tivesse pulado algum trecho. Não, lera o pouco que seu pai escrevera, mas havia algumas linhas escritas por John, no rodapé da página.

Lady Grace, espero que esteja apreciando Londres. Como sabe, não vejo atração nenhuma nessa cidade, além das reuniões periódicas da Sociedade de Horticultura. Meus pais mandam lembranças. Seu humilde criado, John Parker-Roth.

Grace amassou a folha novamente e atirou-a no chão. Quanto entusiasmo! Se ela fosse uma rosa exótica ou... ou... Maldição! Nem sabia o nome de outra planta, mas se fosse uma muda de qualquer espécie rara, John ficaria em êxtase! Contudo, a simples, comum, e conhecida lady Grace Belmont não fazia o coração dele bater mais forte.

John, por sua vez, também não fazia seu coração bater descompassado. Não como o barão Dawson...

Grace estremeceu e cobriu o rosto com as mãos. Como permitira tanta intimidade? Não havia futuro para ela e David Wilton.

Guardou a carta no bolso e voltou para casa.

De repente, ocorreu-lhe que talvez pudesse aproveitar aqueles últimos instantes de liberdade que lhe restavam. Sim, seria um pouco ousada na festa do visconde. Aquela seria sua última oportunidade de provar o que podia existir de mágico em um relacionamento pautado no amor e na atração mútua, como a que sentia pelo barão, antes de se tornar a sra. Parker-Roth. Não faria nada de tão condenável, apenas um ou dois beijos furtivos.

Os homens não cometiam suas travessuras também? Então, aquela seria a sua travessura...

— Psiu!

Lorde Westbrook ergueu uma sobrancelha.

— Você notou como aquele vaso de palmeira está tentando chamar sua atenção, Dawson?

David disfarçou um sorriso. Lady Grace jamais seria uma boa espiã.

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— Você me dá licença, Westbrook? — Como pedir com diplomacia? — Estou certo de que não precisarei sugerir discrição quanto à... hum... a furtiva vegetação, não é?

— Meus lábios estão selados. — Westbrook sorriu. — Mas você deve dizer a lady Grace que, se ela pretende esconder-se entre as folhagens, não deveria usar um traje azul. O vestido é bonito, mas nada discreto. Não concorda?

— Tem toda a razão. Vou alertá-la. — David fez uma reverência e rumou em direção ao vaso.

— Por que não veio falar comigo assim que chegou?

Grace parecia contrariada. E tinha uma folha no cabelo. Seria melhor levá-la para um lugar mais reservado antes de remover a folha.

— Boa noite para você também, meu amor.

— Quieto! — Ela olhou de relance para os lados. — Quer dar motivos para falatórios?

— Não. Por isso não corri para você no momento em que cruzei a porta.

— Oh, sim. Entendo.

David percebeu que ela estava um tanto confusa. Assim, apressou-se em conduzi-la em direção a uma porta que já descobrira que levava a uma sala mais silenciosa.

— Queria lhe dizer que tia Kate concordou em comparecer à festa de lorde Motton. Ela enviou nossa confirmação hoje à tarde.

— Esplêndido. — Havia uma porta no canto da sala, que conduzia ao terraço escuro. — Vamos sair e aproveitar o ar fresco da noite.

Grace aquiesceu e o acompanhou, à medida que perguntava:

— Conseguiu convencer seu tio? É muito importante que ele vá. Tia Kate ainda não está bem.

David notara. Lady Oxbury estava sentada entre outras acompanhantes e parecia alheia à conversa das mulheres. Felizmente, ela não estava atenta aos movimentos de Grace.

Ele, sim, estava bem atento. Pretendia ser o único homem abominável a tentar seduzir lady Grace naquela noite.

Por isso, numa manobra estratégica, colocou-a de costas para o balaústre, seu corpo protegendo-a de quem fosse para aquele canto do terraço.

— O que o seu tio disse? — Grace insistiu, mas não protestou em relação à posição. Talvez não tivesse percebido suas intenções.

David sorriu. Grace estava especialmente encantadora. A pele brilhava sob a luz do luar e os cabelos escuros caíam em cascata sobre os ombros delgados.

— Então, milorde, o que o sr. Wilton disse? Ele vai?

David não se conteve. Retirou as luvas e guardou-as no bolso. Depois, segurou-a pelos braços. Seus dedos acariciaram a pele sedosa. Ouviu-a prender a respiração.

— Ele não disse nada. Eu não perguntei.

Grace arregalou os olhos, confusa.

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— Por que não lhe perguntou?

— Além do fato de Alex não estar em Londres no momento...

— Eu sei disso!

— Achei melhor não pressioná-lo muito. Se Alex desconfiar de alguma coisa, simplesmente se recusará a pisar na propriedade de Motton.

— Entendo. Será terrível se ele não for. Estou convencida de que seu tio é o causador da tristeza de tia Kate. Ele tem de ir.

David segurou-lhe as mãos entre as suas.

— Acredito que irá, mas se não for, sua propriedade não fica longe da de Motton. Darei um jeito de reunir Alex e sua tia.

— Promete?

Grace o fitava como se ele pudesse fazer milagres. Ora, era apenas um homem. Não tinha o poder de decidir o futuro e nem determinar o destino das pessoas. Por mais que desejasse...

Obedecendo aos anseios de seu corpo, David inclinou a cabeça para beijá-la.

Um brilho desconfiado cruzou os olhos de Grace e ela começou a recuar.

— Prometo. — Aproximou-se mais. Viu-a enrijecer como um coelho assustado, pronto para escapar. — Prometo — repetiu com os lábios colados aos dela. Com a ponta da língua contornou-os de forma sedutora.

Ouviu-a suspirar e se apossou de sua boca num beijo pungente e apaixonado. Queria provar-lhe o sabor, inalar seu perfume e mergulhar de vez nas ondas da paixão e do desejo que o consumiam sem piedade.

Grace lhe pertencia. O corpo curvilíneo e sensual respondeu de imediato às carícias atrevidas. De súbito, as mãos dela envolveram-lhe o pescoço. As dele, desceram até os quadris femininos, pressionando-a contra a rigidez de seu desejo.

— Por favor... — Grace ofegava, os seios arfando, mas não o soltou. — Você está indo longe demais. — A voz era pouco mais do que um sussurro.

David ignorou o débil protesto e beijou-lhe a ponta do nariz.

Ela respirou fundo, mas não se moveu para esbofeteá-lo.

— Esta noite, pararei por aqui.

Grace parecia desapontada? Esplêndido.

Pegando-lhe a mão, David voltou para o salão. Mal podia esperar até ter tempo e privacidade para saber até onde lady Grace permitiria que fosse.

Assim que saíram de Londres, David emparelhou seu cavalo com a carruagem que levava lady Grace e a tia para a propriedade do visconde. Estava ansioso pela festa. Queria cavalgar livremente entre as sombras do bosque calmo com Grace nos braços, claro, até encontrar um canto escondido para roubar-lhe um beijo... ou mais.

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Atrevera-se a tirar uma licença especial de casamento. Assim que convencesse Grace a aceitá-lo, só teria de encontrar um padre, duas testemunhas e, depois dos votos, uma cama confortável e macia.

Remexeu-se na sela. Aqueles pensamentos tornavam a cavalgada muito desconfortável. Seria melhor pensar em algo menos estimulante.

— Barão Dawson?

Grace abrira a janela e estava com a cabeça para fora.

— O que houve, lady Grace?

— É a minha tia. Ela não está se sentindo bem. Pode pedir para John parar?

Ouvindo o pedido, o cocheiro puxou as rédeas.

— Por favor, pode ajudá-la a descer? — Grace olhou para a tia e, depois, para David. — É uma emergência.

— Sem dúvida. — Ele desmontou e abriu a porta da carruagem. Grace não exagerara. Lady Oxbury estava pálida e com olheiras.

— A senhora gostaria de descer, lady Oxbury?

Ela concordou com um gesto de cabeça, a mão pressionando a boca.

David segurou Hermes, enquanto lady Oxbury, Grace e Marie afastavam-se em direção às árvores. Tinham caminhado apenas alguns passos, quando lady Oxbury aliviou o estômago.

— Está se sentindo melhor, tia Kate?

— Ooh... Eu ainda estou...

Grace enlaçou a tia pela cintura e recomeçou a andar. As três mulheres desapareceram atrás de uma árvore.

David ouviu som inconfundível mais uma ou duas vezes. Por certo a condessa estava nauseada.

O cocheiro empurrou o chapéu para trás.

— Vamos descansar um pouco aqui, milorde?

— Penso que seria prudente. — David queria oferecer seus préstimos sem invadir a privacidade de lady Oxbury. Aproximou-se da árvore e pigarreou. — Lady Grace?

Foi Marie quem apareceu primeiro.

— Milorde, poderia pegar a cesta de vime na carruagem? Trouxe algumas coisas que devem ajudar, mas uma mulher no estado de minha patroa... Bem, penso que teremos de parar muitas outras vezes antes do término da viagem.

Ele aquiesceu e deixou Hermes com o cocheiro. Felizmente, a cesta estava bem à vista. Entregou-a a Marie e observou-a correndo para trás da árvore. Lady Grace veio em seguida.

— Como está sua tia?

— Melhor, eu acho. Gostaria de saber o que há de errado com ela.

— Marie mencionou uma condição...

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— Condição? — Grace arqueou as sobrancelhas. — Tia Kate não tem nenhuma doença, se é isso o que está pensando.

— Não. É que a criada disse... — David não terminou a frase.

Céus! Alex... lady Oxbury...

Seria possível? A noite que Alex desaparecera e que ele podia jurar que o tio passara na cama de lady Oxbury teria tido consequências interessantes?

David caminhou até o outro lado da carruagem. Encostou-se nela e começou a rir, o mais silenciosamente possível.

Mal podia esperar para encontrar Alex.

Alex deixou Lear escolher o passo rumo a Lakeland, residência de Motton.

Estava cansado, mas satisfeito. Valera a pena sair de casa antes de clarear o dia. Tivera tempo de dar uma rápida olhada nas técnicas de cultivo de Motton e conversar com Watkins, administrador da propriedade. O homem era um gênio. Havia um grande número de melhorias que ele poderia implantar em Clifton Hall. Esperava conversar com Motton sobre o assunto durante a festa.

Lear torceu as orelhas. Sim, também ouvira. Carruagens estavam se aproximando. Puxou as rédeas e olhou para trás. Franziu o cenho. O homem que acompanhava as carruagens lhe parecia familiar. Estava muito distante para ter certeza.

Seus olhos se detiveram no cavalo. Reconheceria aquele garanhão em qualquer lugar. O que David estava fazendo ali? E mais do que isso, quem ele estava acompanhando?

Já desconfiava...

Assim que avistou o tio, David esporeou o cavalo e foi ao encontro dele.

— Alex! Que surpresa!

— É mesmo? — Poderia estar enganado, mas a pessoa, ou pessoas, na carruagem deveriam ser mulheres, e as únicas que poderia imaginar na companhia de David eram lady Oxbury e lady Grace.

Soltou a respiração que prendera sem perceber. Estava sendo ridículo. Não era um rapazola assustado, e lady Oxbury não era nenhuma megera. Ambos eram adultos. Podiam comportar-se como tal e conviver em paz.

E ele poderia pensar num pretexto e ir embora no dia seguinte.

— Quem está na carruagem?

Os cavalos vinham em passo lento como se transportassem um conteúdo muito frágil.

— Lady Grace. — David fez uma pausa e lançou-lhe um olhar estranho. — E lady Oxbury.

David pretendia comunicar alguma coisa significativa ao erguer as sobrancelhas?

— Sei. — Estava surpreso por Motton conhecer lady Oxbury. Era estanho, uma vez que Kate ficara afastada da vida social durante muitos anos, e Motton era da idade de

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David... Olhou desconfiado para o sobrinho. — Você não tem nada a ver cora a lista de convidados para esta festa, tem, David?

Ele sorriu.

— Talvez.

— Inferno! Sabe que estou meio estremecido com lady Oxbury.

— Na verdade, no baile de Alvord parecia muito entusiasmado com ela. Tanto que durante todo este tempo me perguntava por que você partiu tão precipitadamente de Londres.

A carruagem estava se aproximando. Por que vinha tão devagar, prolongando sua agonia?

— Você não é nenhum idiota, David. E deve ter somado dois e dois.

— Acho que sim. — De novo, o olhar estranho de David. — Já que você está fazendo contas, prepare-se para fazer alguns cálculos interessantes.

— De que, diabos, está falando?

— Não teve nenhum contato com lady Oxbury desde a manhã seguinte ao baile de Alvord?

— Não. Claro que não.

— Então, seria bom conversar com ela amanhã ou depois.

— Por quê?

As sobrancelhas de David foram arqueadas de novo.

— Lady Oxbury não está se sentindo nada bem. Tivemos de parar várias vezes de Londres até aqui.

— Sinto muito pela indisposição dela, mas o que isso tem a ver comigo?

— Essa é a questão, não é?

O que havia de errado com David?

— Está sugerindo que eu passei alguma doença à lady Oxbury?

David riu.

— Ora, nem sei se lady Oxbury está doente!

O mundo enlouquecera? Alex olhou para a carruagem. Dentro de alguns minutos, ele enlouqueceria! David prosseguiu.

— O estômago de lady Oxbury reclamou a viagem inteira. Felizmente, a criada veio bem preparada... náuseas são comuns nas condições de lady Kate.

— Nas condições de Kate? — A carruagem estava bem próxima. — Por que você está falando por enigmas?

— Como eu disse, Alex, seria bom você ter uma conversa séria com ela. Aliás, eu recomendo que seja logo. — David encolheu os ombros. — Imagino que sua vida mudará completamente. — Assim dizendo, David, afastou-se.

Alex ficou paralisado. Condições. Náusea. Não era doença...

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Mas Kate era estéril! Ela mesma afirmara. Estivera casada com Oxbury durante vinte e três anos e nunca tivera filhos. Estava com quarenta anos. Não podia ser...

Ele não poderia ser...

Alex sentia-se um idiota quando a carruagem passou por ele, o rosto pálido de Kate visível pela janela.

Ela estaria esperando um filho?... E dele?

Uma surpreendente sensação de posse envolveu-o. Quase não conseguia respirar. Sonhara ter um filho com Kate. Ser pai...

Lear pulou sob a pressão dos joelhos do dono. Alex tentou relaxar, em vão. Se Kate não o quisesse, paciência. Mas ele queria aquele filho.

Respirou fundo para se acalmar. Se fosse mesmo um filho. Não deveria se precipitar. David poderia ter se enganado...

Pelo jeito, acabaria ficando naquela festa.

Virou Lear em direção a casa e saiu no galope para alcançar a carruagem. Não havia razão para adiar seu encontro com Kate.

Chegou no momento em que o cocheiro saia da carruagem. David ajudou lady Grace a descer. Depois, foi a vez da criada.

— Sr. Wilton... — lady Grace o cumprimentou. — Que bom revê-lo.

A criada fitou-o com olhar ameaçador. Alex passou por ela. Todos entraram na casa, deixando-o a sós com Kate. Olhou para o interior da carruagem e seu coração se apertou.

Kate estava tão bonita, sentada nas sombras, olhando para as mãos no colo. Tão pálida e tão delicada.

Uma pontada de desejo o atingiu. Ele a queria. Não importava tudo o que lhe dissera quando se despediram naquela única noite de amor. Ele também queria tê-la só para si. E se Kate estivesse realmente grávida...

— Kate. — Alex estendeu-lhe a mão.

Ela hesitou. Olhou para a mão enluvada de Alex.

Suspirou e, por fim, aceitou-a.

— Sr. Wilton. — Os olhos dela continuavam baixos.

Alex ajudou-a a descer.

Ao tocar o pé no chão, Kate o fitou. O rosto pálido tornou-se vermelho e, depois, branco de novo. Temeu que ela desmaiasse. Segurou-a pelo cotovelo.

— Kate, você está bem?

— Sim. — Ela umedeceu os lábios. — Alex... sr. Wilton, eu... — Parou e sorriu. — Vou repousar. A viagem foi muito cansativa.

Kate sentiu-se covarde. Poderia falar com ele naquele momento. Dizer-lhe que precisava ter uma palavra em particular. Não havia razão para adiar.

Mas era covarde. E estava terrivelmente cansada. A viagem fora um martírio. Quantas vezes a carruagem parara por causa dela?

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Um latido veio de dentro da carruagem.

— Oh, pobre Hermes!

— Deixe-me pegá-lo para você. — Alex pegou o cachorro. Hermes latiu de novo, cheirou-lhe as luvas e acalmou-se.

— Ele tem guia?

— Tem, sim. — Kate correu os olhos pela carruagem. Onde ela deixara a guia? Entrara e saíra tantas vezes durante a terrível viagem. — Não sei...

— Não se preocupe. Posso levá-lo se você não quiser deixá-lo solto.

— Será melhor, se não se importar. Hermes está numa casa estranha. Não costumo levá-lo em minhas viagens, mas não poderia deixá-lo em casa com aquele infeliz.

Alex fitou-a com uma sobrancelha erguida.

— Aquele infeliz?

— O atual conde Oxbury acaba de chegar a Londres. — Ela corou. O estômago estava enjoado, mas não ia lhe causar embaraços. — Não deveria referir-me a ele nesse linguajar, mas escapou.

—- Ele não é gentil com você? Tenho ouvido rumores, mas pensei que fossem infundados.

De repente, Kate sentiu-se à beira das lágrimas. Céus; normalmente não era chorona. Todo aquele turbilhão de emoções com certeza devia-se às suas condições.

— Kate, está tudo bem? Você sabe que poderá contar comigo se aquele patife lhe faltar com despeito.

— Oh, não. Está tudo certo. Eu não estou me sentindo muito bem, mas... — Sorriu. — Desculpe. Não estou sendo coerente. É apenas cansaço.

— E cá estou eu, tomando seu tempo quando tudo o que você quer é deitar e descansar. Pegue no meu braço.

Kate desviou o olhar. Ela o amava. E como o amava!

Mas estava em apuros. Sem marido e grávida de um homem que seu irmão odiava, um homem que acreditara que ela era estéril.

Ergueu os olhos. Alex sorriu confiante.

Talvez não a odiasse como imaginara. Os sentimentos dele mudariam depois que lhe revelasse seu segredo. Sentiu os olhos cheios de lágrimas. Disfarçou-as. Tinha de manter suas emoções sob controle.

David e lady Grace estavam esperando por eles. O criado bateu à porta. Uma mulher de cabelo grisalho e com um papagaio no ombro abriu-a.

— Ei, companheiro, o que você quer? — gritou o papagaio.

Hermes começou a latir, lutando para soltar-se do braço de Alex. O papagaio imitou-o.

— Theo, comporte-se! — a mulher repreendeu-o. — Peça desculpas imediatamente!

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A ave inclinou a cabeça.

— Desculpe. Desculpe.

— Também peço desculpas — disse a mulher. — Theo viveu muito tempo num navio. Às vezes, esquece as boas maneiras. — Ela sorriu e recuou. — Assim como eu, não é mesmo? Entrem, por favor. Sou tia de Edmund, visconde de Motton. Tia Winifred, sra. Winifred Smyth. Este é Theo. Eu o herdei depois que meu tio Theo morreu.

— Seu tio deu o próprio nome ao papagaio? — perguntou Grace, assim que entraram no hall.

A sra. Smyth riu.

— Oh, não. O nome original de Theo era impróprio e decidi mudá-lo. O senhor é...?

— Barão Dawson. — Voltando-se para os acompanhantes, David apresentou-os. — Lady Oxbury, lady Grace e meio tio, sr. Alex Wilton.

— Estou encantada com a presença de vocês. Edmund estaria aqui para recebê-los, mas, infelizmente, está resolvendo um... assunto na sala rosa.

De uma das salas veio um barulho de algum objeto se espatifando, seguido de uma voz masculina.

— Ora, sua criatura...

A sra. Smyth aumentou o tom de voz.

— Vocês devem estar cansados da viagem e, certamente, gostariam de descansar. Por aqui, por favor.

Conduziu-os até a escada ao som de outro barulho e mais imprecações.

— Obrigado por ter vindo, Dawson. Desculpe pela confusão quando você chegou.

David sorriu. Motton parecia mais calmo agora.

— Um xerez?

— Obrigado. — David pegou o copo que o visconde lhe oferecia. — O que aconteceu, afinal?

— Eu estava procurando o macaco de tia Winifred. Já deu para perceber que ele é muito travesso.

— O papagaio também não é muito comportado! — David brincou.

— Acredito ter mencionado que tia Winifred possui uma pequena fauna.

— Mencionou, sim. — David bebeu um gole de xerez e olhou ao redor. — Onde estão os outros convidados?

Motton limpou a garganta.

— Na verdade, eu gostaria de conversar a sós com você.

— Sim?

— É o seguinte, Dawson, deixei os preparativos desta festa, incluindo a lista de convidados, aos cuidados de minha tia.

— Entendo. — Não havia nada de errado nisso, mas Motton parecia desconfortável. — Qual é o problema?

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— Bem... — O visconde pigarreou novamente e bebeu um longo gole de xerez. — Você não acha que tia Winifred parece uma velhinha normal e adorável... se ignorarmos o papagaio e o macaco?

— Oh, sim, sem dúvida.

— Infelizmente, as aparências enganam. Embora ela quase não vá a Londres ou participe de eventos sociais, tia Winifred está a par de tudo o que acontece e dos últimos comentários e, digamos assim, sabe como usá-los.

— Usá-los? — David começava a ficar intrigado.

— Sim. Ela tem um incrível senso de humor. Adora provocar problemas, soltando o gato entre os pombos... Apesar disso, acredito que tudo o que faz, é com a melhor das intenções.

— Receio não estar acompanhando seu raciocínio...

Motton girou o copo nas mãos.

— Você notou que lady Oxbury e seu tio estão aqui?

— Sim. E cheguei até a insinuar que seria uma excelente idéia, lembra-se?

Motton meneou a cabeça,

— Sua sugestão nem seria necessária, Dawson. Assim que mencionei lady Oxbury para tia Winifred, ela imediatamente incluiu o sr. Wilton na lista de convidados.

— Ótimo.

— Não seja precipitado. Lady Oxbury e sr. Wilton não são as únicas pessoas que tia Winifred convidou por outros motivos.

David ouviu vozes de mulheres aproximando-se. Ele se voltou e viu Grace. Atrás dela estavam as gêmeas Addison. Olhou de novo para Motton.

O visconde encolheu os ombros.

— Isso não é o pior, meu amigo. Ainda tem mais.

O que poderia ser pior? As gêmeas quase atropelaram Grace para chegar nele primeiro. David cumprimentou-as e deu um passo à frente. Puxou Grace, deixando o visconde com as irmãs casadoiras.

— Como está sua tia? — David perguntou.

Grace estava bonita como sempre, de vestido azul-celeste com um decote que exibia uma adorável extensão de pele e seios.

— Descansando. Penso que logo estará aqui. — Grace olhou em volta. — Não estou vendo seu tio.

— Tenho certeza de que ele logo estará aqui também. — Notando o olhar insistente de uma das irmãs Addison, David segurou no cotovelo de Grace e conduziu-a em direção às janelas. Não havia tempo para preâmbulos. — Posso pedir-lhe um favor?

Grace olhou-o perplexa.

— Sim, acho que sim. Do que se trata?

— Está vendo aquelas duas jovens conversando com lorde Motton? As gêmeas?

— Sim, claro. Srta. Amanda e srta. Abigail. Encontrei-as agora mesmo.

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— Você pode cuidar para que eu nunca fique sozinho com nenhuma das duas?

— Por quê?

— Estão tentando me fisgar e eu não quero ser fisgado. — Ele sorriu. — Pelo menos, não por elas.

Grace abriu o leque e abanou-o em frente ao rosto corado.

— Vai me ajudar, Grace? Por favor.

O leque se moveu mais rápido. Grace olhou para as gêmeas.

— Você está sendo ridículo.

— Estou falando a verdade. A dolorosa verdade.

Ela sorriu e balançou a cabeça.

— Ridículo, mas, sim, farei o possível para não vê-lo fisgado por uma das srtas. Addison.

— Obrigado. Eu...

— Tenho certeza de que ele está aqui, Cordelia. — A sra. Smyth entrou na sala acompanhada de uma senhora mais idosa, de cabelo branco e apoiada numa bengala. — Ele é um sujeito alto e forte.

A sra. Smyth correu os olhos entre os poucos convidados ali reunidos. Logo avistou David e seus olhos brilharam. Pegou no braço da senhora e levou-a até ele.

David franziu o cenho. Havia alguma coisa na mulher com a sra. Smyth... Por isso Motton dissera que o pior estava por vir?

A sra. Smyth parou ao lado dele e sorriu.

— Lady Grace, sinto muito interromper a conversa, mas tenho uma convidada que gostaria de conhecer o barão Dawson.

David sentiu um nó na garganta. Olhou para a mulher de cabelo branco. Havia lágrimas nos olhos dela? Deus, não podia ser...

— Barão Dawson — disse a sra. Smyth. — Gostaria de apresentar-lhe lady Wordham. — Seu sorriso alargou-se. — Sua avó.

Kate suspirou. Não poderia demorar mais. Estava vestida e já dispensara Marie.

Deveria ter descido com Grace, mas perdera a coragem. Até considerara a possibilidade de permanecer no quarto.

Mas não poderia ficar escondida durante dias e dias, até o termino da festa. Teria que encarar as pessoas... e Alex.

Mirou-se no espelho. Por sorte, a moda de vestidos de cintura alta favorecia sua imagem. A barriga já crescera ou era imaginação sua?

Os seios, porém, estavam maiores e quase não cabiam no corselete. Marie já sugerira fazer uma ou duas alterações nas medidas.

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Pegou um xale, jogou-o nos ombros e respirou fundo. Após um último olhar no espelho, saiu do quarto.

Teria apenas que seguir o som das vozes para encontrar onde todos estavam reunidos para o jantar. Pelo burburinho havia muitos convidados.

Respirou fundo de novo, ajeitou o xale e gesticulou para o criado que esperava para abrir a porta. Talvez encontrasse um canto discreto para se esconder...

O que estava pensando? Tinha de ficar de olho em Grace. Dawson estava lá.

Entrou na sala e, no mesmo instante, seus olhos encontraram Alex. Ele estava conversando com uma das gêmeas Addison, de costas para a porta. Foi para o lado oposto. Sim, tinham de discutir a situação, mas não ali, no meio de tantas pessoas. Olhou em volta e não viu lorde Dawson. E nem Grace. Céus, onde estava Grace?

— Procurando sua sobrinha, lady Oxbury?

— Oh! — Ela não notara a aproximação da sra. Smyth. — Sim. A senhora a viu, por acaso?

A sra. Smyth sorriu.

— O barão Dawson a levou para o jardim nem cinco minutos atrás.

— O quê?

Algumas pessoas interromperam suas conversas para olhá-la. Kate tentou sorrir. A sra. Smyth conduziu-a até a sra. Wordham.

— Não se preocupe, lady Oxbury. Lady Grace está absolutamente segura. Ele está muito aborrecido, com razão, e receio que por minha culpa.

— Desculpe a pergunta, sra. Smyth, mas por quê? O que aconteceu?

— Sou muito amiga de lady Wordham, avó materna do barão.

Kate olhou para lady Wordham. A mãe da mulher que Standen amara e, aparentemente, nunca esquecera.

— Lorde Wordham morreu no ano passado, na mesma época do falecimento de seu marido. — A sra. Smyth afagou-lhe a mão. — Meus sentimentos, lady Oxbury, pela sua perda.

— Obrigada, sra. Smyth.

— Você é bem mais jovem do que Cordelia, e pode se casar outra vez.

Kate notou um brilho caloroso no olhar da sra. Smyth e estremeceu.

— Cordelia não anda bem de saúde, receio. Eu lhe disse que viverá mais dez ou vinte anos, mas parece que ela não acredita em mim. Veja eu, por exemplo. Estou com quase setenta anos e em excelente forma.

Kate não sabia o que dizer. E nem precisava. A sra. Smyth não necessitava de encorajamento para continuar:

— Cordelia deseja reatar laços e adoro aproximar as pessoas. — Deu uma piscadela para Kate.

Houve uma pequena confusão na porta. As duas olharam e viram um homem e uma mulher, ambos com expressão alterada, entrando na sala.

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— Oh, querida — falou a sra. Smyth. — Aqueles são lorde e lady Kilgorn. Escoceses. Um tanto exaltados. É melhor eu ajudar Edmund a lidar com eles. — Sorrindo, afagou a mão de Kate mais uma vez. — Sente-se ao lado de Cordelia, milady. Ah, veja, aqui está o sr. Wilton para fazer-lhes companhia.

Alex! Não, ela não estava pronta. Só esperava não desmaiar.

— Querida lady Oxbury, você está pálida. Sr. Wilton, penso que lady Oxbury deveria sentar-se. Por que não a leva até aquele sofá?

Kate ouviu a voz dele, grave e profunda, com uma nota de preocupação, e sentiu a mão firme em seu cotovelo.

— Será um prazer, senhora.

Capítulo IV

Assim que ouviu a sra. Smyth mencionar o nome de lady Wordham, David pegou na mão de Grace e levou-a ao jardim.

— O que vou fazer? Não posso voltar lá para dentro.

— Por que não?

— Você não ouviu? Aquela mulher é minha avó!

Grace queria abraçá-lo, confortá-lo... Mas por quê?

Lady Wordham parecia tão inofensiva e havia tristeza nos olhos dela. E lágrimas.

— Você não a conhecia?

— Não. Ela e o marido nunca foram me visitar. Nunca enviaram uma mensagem de aniversário. Nos meus trinta e um anos, esta é a primeira vez que um membro daquela família toma conhecimento de minha existência.

Grace pousou a mão no braço dele.

— Quem sabe lady Wordham quisesse conhecê-lo antes, mas o marido não permitia. Ela ficou viúva há pouco tempo. Talvez só agora esteja livre para fazer o que sempre deseja.

David desviou o olhar, mas não se afastou.

— Por que devo acreditar nisso?

— E por que não acreditar? Sua avó veio até aqui, e parecia ansiosa para vê-lo.

Ele continuava desconfiado.

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— O que tem a perder, David? Se ela for tão insensível como você diz, sua opinião se confirmará. Você poderá evitá-la, até ignorá-la, pelo resto da festa, com razão. Porém, se estiver enganado, ganhará uma avó e perderá essa mágoa e a dor que o acompanham desde a infância. Isso deve pesar muito para você.

David a fitou com expressão impassível. Por um instante, Grace achou que ele pediria para deixá-lo sozinho. Afinal, a escolha era dele. Só ele poderia decidir o que fazer.

Após um longo momento, David apertou-lhe a mão.

— Você vai comigo?

Ela não poderia dizer não.

— Sim, se você quiser.

— Quero. — Ele a abraçou. — Como você pode ser tão sábia?

— É fácil ser sábia quando se está resolvendo o problema dos outros.

David beijou-a de leve no nariz.

— Espero ser sábio quando você tiver um problema difícil para resolver.

Grace abaixou a cabeça para ele não ver a ansiedade que havia em seu olhar.

— Vamos entrar. Pedirei desculpas à sra. Smyth e à lady Wordham por minha grosseria e pela saída intempestiva.

— Devo pedir-lhe desculpas também, Wilton?

— Como assim? — Alex se voltou para lorde Motton.

Ele preferiria ficar longe de Kate quando os homens voltaram à sala de estar depois do cálice de vinho do Porto. Kate o evitara e usara lady Wordham como escudo.

O visconde encolheu os ombros.

— Parece que estou me desculpando com todos esta noite. Espero que não tenha se importado com a presença de lady Oxbury.

— Claro que não. Por que deveria? — Não apenas Kate estava ali, como também seu quarto era pegado ao dele, com uma porta de comunicação.

Motton sorriu com certa malícia e bebeu um gole de chá.

— Tia Winifred comentou que você e lady Oxbury conheceram-se antes do casamento dela.

— Sim, mas não éramos muito íntimos — Alex tentou aparentar naturalidade. — Acredito que nos encontramos uma ou duas vezes quando ela esteve em Londres. Ela se casou com Oxbury antes do término da temporada e nunca mais nos vimos.

— Humm.

O que Motton queria dizer com esse "humm"? Alex ficou em alerta.

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A sra. Smyth escolheu aquele instante para entrar na sala com Theo num ombro e um macaquinho vestido de preto e prata, as cores dos uniformes da criadagem de Motton, no outro.

— Vou matá-la. Juro que vou matá-la. Com licença, Wilton.

Furioso, o visconde foi ao encontro da tia.

— Tia Winifred, acredito que tivemos uma conversa hoje cedo a respeito de sua... fauna.

— Oh, Edmund. Theo está se comportando muito bem e, veja, mandei gravar seu nome aqui nesta guia de meu macaquinho. — Exibiu uma tira de couro que prendia a perna do macaco.

Alex ouviu um riso abafado e olhou para trás. Kate estava ao lado dele.

— Ela deu o nome de lorde Motton ao macaco? Não acredito.

— Nem eu. — Alex sorriu também.

— Tia Winifred!

Todos olharam para o visconde Motton. Edmund, o macaco, pulara para cima da porta e guinchava para Edmund, o visconde.

— Pegue esse maldito animal! — O papagaio gritou.

— Concordo com Theo, tia. Recolha esse bicho.

— Está bem. Venha cá, Edmund. — A sra. Smyth puxou a guia do macaco. Ele foi mais rápido e pulou para as cortinas.

Embaraçada, a sra. Smyth sorriu para os convidados.

— Quem gostaria de dar uma volta no terraço enquanto tentamos capturar Edmund?

— Lady Oxbury? — Alex ofereceu o braço.

Kate aceitou-o e deixou-se levar até o jardim, onde poderia contar-lhe...

Não, não estava preparada.

Lady Kilgorn estava perto da porta, observando o marido e o visconde Motton tentarem pegar o macaco.

— Lady Kilgorn, gostaria de acompanhar-nos?

— Oh, gostaria muito, desde que não atrapalhe.

— Não. Vamos convidar também lady Wordham, não é, sr. Wilton?

— Claro, lady Oxbury. — Alex não demonstrou nenhuma emoção. Se estava aliviado ou contrariado, Kate não sabia e nem se importava. Com lady Oxbury de um lado e lady Wordham do outro, estava era segurança. Poderia adiar um pouco mais o inevitável.

— Barão Dawson, faria a gentileza de acompanhar-me ao jardim?

— Oh, barão, por favor, o senhor preferirá a minha companhia.

David olhou assustado para as gêmeas Addison e forçou um sorriso.

— Sinto muito, mas como podem notar, já estou acompanhando lady Grace.

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— Oh, ela nos cederá o lugar — Abigail, ou talvez Amanda, disse.

— Não é mesmo, lady Grace? — a outra gêmea completou. — Você não cederá seu lugar para mim?

— Para mim! — As duas se entreolharam.

— Não, para mim.

David apertou a mão de Grace em seu braço e fitou-a com olhar suplicante. Ela não poderia abandoná-lo naquele momento. Seria muita crueldade. Assim, sorriu com ar angelical.

— Sinto muito, mas o barão e eu temos assuntos a discutir. Receio não poder atender a nenhuma de vocês.

David conteve-se para não suspirar aliviado.

— Como lady Grace disse, temos que resolver alguns assuntos que as entediarão. Portanto, se nos derem licença... — Fez uma reverência e afastou-se, deixando as gêmeas desconcertadas.

— Meus sinceros agradecimentos, lady Grace. Por não me abandonar numa hora de necessidade.

Ela riu.

— As moças estavam bem afoitas, hein?

— Nem fale. Moram perto de minha propriedade e pensei que tinha escapado das duas quando fui a Londres. Não me agradou encontrá-las aqui.

Caminharam pelo terraço.

— Que bom que o sr. Wilton veio para a festa. Ainda não tive chance de lhe dizer o quanto sou grata por você tê-lo persuadido a vir.

David considerou a possibilidade de mentir. Não, não poderia, nem mesmo por omissão.

— Devo confessar que não persuadi Alex. Ele veio para ver as técnicas de cultivo de Motton. Ficou muito surpreso quando soube que você e lady Oxbury também foram convidadas.

— É mesmo? — Grace arqueou as sobrancelhas por um momento. — Ele está aqui, é o que importa. Terão oportunidade de conversar e resolver seja lá o que for.

Mais fácil falar do que fazer, se o problema fosse o que ele pensava. A única solução seria uma licença especial para se casarem o mais rápido possível. As pessoas contariam nos dedos os meses entre o casamento e o nascimento da criança, mas seria melhor lady Oxbury atravessar a nave da igreja no estado atual do que mais tarde, com a barriga proeminente.

E claro, não existia razão para não se casarem. O filho de Alex não poderia nascer bastardo.

A sra. Smyth apareceu na porta do terraço.

— Vocês já podem voltar. Lorde Kilgorn já capturou Edmund... isto é, meu macaco Edmund. — Ela deu passagem para lady Oxbury e lady Kilgorn entrarem. Deixe-me ajudá-la, Cordelia. Sim, obrigada, sr. Wilton, pegue no braço de Cordelia. Por aqui.

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Todos começaram a voltar à sala de estar. Grace fez menção de segui-los, mas David a deteve.

— Ainda não.

Por acaso, estavam na parte mais escura do terraço, sob a sombra de uma árvore. Poderiam ter alguns momentos de privacidade e David estava ansioso para ficar a sós com lady Grace.

— A noite está tão bonita. Não concorda, lady Grace?

— Ah, sim. Muito bonita.

Respirou fundo o ar frio da noite. A brisa balançou as folhas das árvores e, em algum lugar, à distância, uma coruja piou.

Estava muito escuro naquele canto do terraço, e lorde Dawson estava muito perto. Ela deu alguns passos e apoiou as mãos na balaustrada. Iria beijá-la?

Grace sentiu uma ponta de culpa. Estava comprometida com John Parker-Roth. Não deveria aceitar beijos de outro homem.

Mas ela não estava casada. Ainda não.

— Você pretende falar com sua avó amanhã?

— Sim, depois do café da manhã. Confesso estar um pouco nervoso. Pensei conversar com ela em particular hoje mesmo, mas acredito que nenhum de nós deseja chamar a atenção dos convidados.

— Tem razão. As pessoas sempre estão interessadas na vida dos outros.

— Não sei como será essa conversa, mas acredito que você esteja certa. Mesmo que eu quisesse continuar evitando a situação, lady Wordham...

— Sua avó... — ela o corrigiu.

De repente, Grace viu-se presa entre o corpo dele e a balaustrada. Estavam sozinhos no canto mais escuro do terraço.

— Obrigado, Grace.

— Pelo quê? Não fiz nada.

— Você disse as palavras certas. — O luar e a proximidade revelaram ternura nos olhos dele. — Deu-me a coragem que eu tanto necessitava.

— Ora, eu apenas...

Ele a silenciou com a ponta dos dedos. David retirara a luva; sua pele era quente e um tanto áspera nos lábios dela.

— Sim, você me deu coragem. — Beijou-a de leve. Um toque rápido e, depois, de novo.

— Oh! — Ela respirou fundo e sentiu o aroma delicioso de um perfume amadeirado.

David a abraçou. Os lábios continuaram a brincar com os dela, provocando-a com toques suaves.

Grace gemeu.

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Deve ter sido o sinal que ele esperara, pois apossou-se dos lábios rosados, a língua traçando os mesmos contornos que os dedos haviam feito antes.

Céus! A língua experiente vasculhava-lhe a boca com avidez.

Grace enlaçou-o pelo pescoço, estremecendo e gemendo.

— Preciso de você, Grace. — Beijou-a na testa. — Por tudo o que sentimos um pelo outro... por sua força... — Segurando o rosto dela entre as mãos, completou: — Case comigo. Por favor.

Ele a estava pedindo em casamento de novo. O barão Dawson a estava pedindo para ser sua esposa, para viver em sua casa, dormir em sua cama... Gerar seus filhos.

Grace poderia aceitar e sentir aquela boca macia e provocante em sua pele, em seu corpo, fazendo coisas que nem conseguia imaginar...

No entanto, havia John Parker-Roth... seu pai e a história de suas famílias.

— Grace? Aceita casar comigo? Ser minha esposa?

— Eu... — Poderia dizer sim? — Eu...

— Cá estão vocês, crianças peraltas!

Grace sobressaltou-se e bateu contra a balaustrada. A sra. Smyth e Theo surgiram diante deles.

— Crianças peraltas! Crianças peraltas! — repetiu o papagaio.

— Quieto, Theo.

David pigarreou.

— Sra. Smyth, eu...

— Nada de desculpa, lorde Dawson. Esta é uma festa no campo. As regras são mais maleáveis. Todos esperam que os jovens tenham um pouco de divertimento. — Sorriu com cumplicidade. — E vocês não seriam jovens e normais se não tentassem roubar um beijo ao luar. Agora, entrem e juntem-se aos outros. Estamos tentando formar mesas de jogos, e precisamos de vocês para completar os números.

A mesa do café da manhã reunia um grupo de cavalheiros mal-humorados.

Alex serviu-se de café, biscoitos e torradas, e sentou-se ao lado do sobrinho. David olhou-o, resmungou alguma coisa e voltou a comer. Kilgorn nem sequer ergueu a cabeça.

Alex quase não dormira pensando na maldita porta que ligava seu quarto ao de Kate. Uma porta destrancada. Oh, sim, ele verificara.

A ardilosa sra. Smyth! O que ela pretendia com suas artimanhas? Torturá-lo?

Conversar não era a única coisa que queria de Kate. Seu desejo era quase insuportável. Passara anos tentando não imaginá-la na cama, em especial na cama com Oxbury. Mordeu um biscoito. Agora, porém, ao pensar nela, lembrava-se da maciez dos seios, do gosto dos mamilos, do perfume adocicado dela...

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A verdade era que estava enlouquecendo. Até mesmo a dor da rejeição abandonara-o, queimada pelo fogo do desejo intenso. Kate teria ideia do quanto ele estava sofrendo? Ela estaria sofrendo também?

Não. Parecia tão fria, tão equilibrada.

— Bom dia, cavalheiros!

Os três homens se levantaram à entrada da anfitriã.

— Bom dia, sra. Smyth. — A voz de David encobriu a de Alex e de lorde Kilgorn, que apenas murmuraram um cumprimento. Por sorte, ela não estava acompanhada por seu séquito de animais.

— Vou me sentar com vocês. Permitam-me. — Ela riu. — Mesmo sabendo que não era a mim que estavam esperando, vou fazer-lhes companhia.

Alex apertou os lábios para não concordar em voz alta. David tossiu. Kilgorn apenas a olhou.

— Tenham certeza de que eu vou repreender essas senhoras por dormirem tanto!

Os três homens pigarrearam.

— Oh, senhores. Verei se Edmund tem alguma bala ou xarope para aliviar suas gargantas. A propósito, onde está meu sobrinho?

— Ele já tomou o café da manhã — Kilgorn informou. — A senhora o encontrará no escritório, se quiser.

— Obrigada, milorde. Eu deveria ter imaginado. Edmund é muito responsável. Jamais deixaria um divertimento afastá-lo das obrigações.

Kilgorn forçou um sorriso.

— E falando em divertimento, onde está seu macaco tão alegre, sra. Smyth?

— Oh, esse Edmund está dormindo. O macaco Edmund não é tão produtivo quanto seu xará. Mas não se preocupe. Ele descerá mais tarde. Afinal, anima qualquer festa, não é mesmo?

— De certa maneira, sim. — Kilgorn ajeitou o garfo e a faca em seu prato. — A senhora já conseguiu outras acomodações para mim, sra. Smyth?

— Oh, milorde, sinto muito, mas ainda não. O senhor deve pensar que numa casa deste tamanho existem quartos sobrando, mas... — Ela suspirou. — Imagino que o senhor esteja pensando que eu deveria ter me lembrado de seu... acordo doméstico incomum com sua adorável esposa, mas... bem, peço desculpas.

Alex juraria ter ouvido Kilgorn ranger os dentes. O homem estava com olheiras. Decerto, dormira muito pouco, mas não pelas razões que um homem desejaria. A sra. Smyth o acomodara no quarto com a esposa. Um quarto com apenas uma cama.

Era difícil acreditar que a sra. Smyth estava sendo de todo honesta. Até ele, que não ia a Londres havia vinte e três anos, sabia que o conde de Kilgorn, da mesma idade de David, e sua condessa estavam separados, embora vivendo na mesma casa.

— Pedi informações à hospedaria, mas soube que está lotada.

— Sim, eu sei. A hospedaria não é grande, e creio que há algum... algum evento ou coisa parecida acontecendo por aqui. Não há lugares disponíveis.

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— Posso dormir no estábulo.

— Oh, não seja tolo, lorde Kilgorn. O senhor não dormiria com a algazarra dos cavalariços. Não, não. Por favor, tenha um pouco de paciência por um ou dois dias. A sra. Gilbert, nossa governanta, está resolvendo o problema. Tenho certeza de que ela encontrará a solução ideal.

Kilgorn remexeu-se na cadeira e pigarreou.

— Não é muito... confortável para lady Kilgorn, a senhora entende.

— Oh, sim, compreendo. E tenho que lhe pedir minhas mais sinceras desculpas. Como eu disse, a sra. Gilbert está cuidando de tudo. — A anfitriã contemplou-o com um sorriso radiante e colocou uma garfada de omelete na boca.

Lorde Kilgorn assentiu. Era evidente que tinha mais a dizer sobre o assunto, mas compreendia a inutilidade de continuar a discussão.

— Vou caminhar um pouco. Com licença.

— Já olhou lá fora, lorde Kilgorn? O tempo está péssimo. Nublado e úmido.

— Sim. Lembra-me a Escócia.

— Então, divirta-se, milorde. — A sra. Smyth esperou até Kilgorn sair da sala para encolher os ombros e dizer: — Esses escoceses. Que gênio!

Alex percebeu que Kilgorn se controlara muito para não ser indelicado com a anfitriã. Pensativo, mordeu um biscoito e mastigou-o devagar. Daria tudo para ser forçado a dividir o quarto com Kate. A dividir a cama com ela. A noite inteira, todas as noites...

— O que o está fazendo sorrir, sr. Wilton?

Alex se engasgou e David bateu-lhe nas costas.

— Na... nada.

Por sorte, David foi ao seu socorro.

— Sra. Smyth, tenho um compromisso com lady Wordham. A senhora sabe se ela já desceu?

A anfitriã bateu as mãos na testa.

— Oh, céus, que cabeça a minha! Ela desceu e pediu-me para avisá-lo de que o espera na sala amarela. Sinto muito. Por favor, apresente-lhe minhas desculpas.

— Estou certo de que ela entenderá. — David sorriu e levantou-se. — Receio ter que deixá-los sozinhos.

Alex apressou-se em levantar-se também.

— Infelizmente, eu também terei que ir. Com licença, senhora.

— Oh? Aonde o senhor vai?

Alex olhou pela janela, buscando inspiração e viu um cachorro no jardim. Cachorro. Garoa. Friagem.

— Pensei em oferecer meus préstimos a lady Oxbury. Poderei levar o cachorrinho dela para passear. Assim, ela não precisará sair nessa friagem.

A sra. Smyth sorriu de alegria.

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— Quanta gentileza! É uma excelente idéia, sr. Wilton. Não quero retê-lo mais.

Sentada numa poltrona, lady Wordham olhava a chuva pela janela.

David entrou na sala amarela. Ela sequer o olhou. Talvez não o tivesse ouvido entrar.

— Bom dia, lady Wordham.

— Barão Dawson...

Ele limpou a garganta.

— Está escuro aqui. Vou acender os castiçais.

Lady Wordham o fitava como se estivesse diante de um milagre.

Ela renegara a própria filha e o neto. Claro que ela mesma não fizera nada, mas permitira que o marido o fizesse. Nunca lhe escrevera, nunca participara de um único aniversário, nunca dera o menor sinal de saber da existência dele.

— Obrigada por concordar em conversar comigo.

— É... é um prazer, milady.

Lady Wordham sorriu.

— Sei que não é um prazer, mas aprecio sua gentileza. Sei também que foi uma surpresa desagradável encontrar-me aqui. Eu disse a Winifred que você ficaria contrariado, mas estava desesperada para conhecê-lo. Com certeza, não aceitaria meu convite para visitar-me. Não me procurou quando esteve em Londres.

David pigarreou de novo. Céus, era pior do que imaginara. Deveria estar furioso, mas lady Wordham parecia tão triste e frágil.

— Não precisa se justificar. Penso que entendo por que não desejava ver-me. Afinal, sou uma estranha para você...

— Não apenas uma estranha... —- David apertou os lábios. Não pretendia ser agressivo.

Lady Wordham suspirou.

— Sente-se, por favor, milorde. Prometo ser breve, e se não se importar em... —A voz falhou e ela pegou o lenço de renda.

Oh, céus, aquele encontro poderia ser ainda mais constrangedor?

— Lady Wordham, não é necessário...

— É, sim. — A voz baixa soou surpreendentemente firme. — Tenho setenta e cinco anos, milorde. Meu marido faleceu há pouco tempo. Sei que não viverei para sempre. Já é hora... aliás, já passou da hora, de aplacar algumas... mágoas, enquanto posso. Por favor, sente-se.

Ele obedeceu. A conversa não duraria para sempre, e então, poderia passar o resto dos dias evitando a avó materna.

Lady Wordham suspirou de novo.

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— É mais difícil do que eu imaginava.

— Não se sinta...

Ela o interrompeu com um gesto de mão.

— Difícil, mas necessário, se não para o senhor, milorde, mas para mim. Por favor, seja indulgente com uma velha dama.

— Claro.

Um sorriso iluminou o rosto enrugado.

— Obrigada. — Fechou os olhos por um instante e respirou fundo. — Harriet, sua mãe, era nossa filha mais nova e, confesso, um tanto mimada. Era muito parecida com o pai, obstinada e teimosa. E um pouco rebelde também. — Fez uma pausa, olhou para as mãos e continuou: — Tenho pensado muito sobre o motivo de Harold, meu marido, ter insistido tanto para Harriet desposar lorde Standen. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência perceberia que não havia nada em comum entre os dois. — Ergueu os olhos. — E, sim, eu também percebi e tentei argumentar com Harold, mas ele foi irredutível. Eu já disse que ele era obstinado e teimoso, não é?

David deu um sorriso discreto.

— Sim, acredito que sim.

— Penso que Harold era de opinião que Standen colocaria freios em Harriet. Harold completara cinquenta anos naquela temporada, e a idade começava a mexer com ele. Acredito que, com receio de morrer cedo, queria garantir que sua filhinha, seu bebê, não ficasse desamparada.

— Seu bebê?! — David tratou de mudar o tom de voz. Não deveria gritar com aquela senhora. — E ele renegou seu bebê e deixou-a no pátio de uma hospedaria com o marido à beira da morte?

Lady Wordham arregalou os olhos.

— O quê? Como assim?

— A senhora deve saber que lorde Wordham encontrou meus pais numa hospedaria.

— Sim, claro.

— E que ele estava arrastando minha mãe de volta para casa quando meu pai voltou da vila.

— Não acredito que ele estivesse arrastando Harriet para algum lugar...

— Quando meu pai tentava defender minha mãe, ele caiu e bateu a cabeça numa pedra. Morreu depois que seu marido foi embora.

Lady Wordham fitou-o com expressão furiosa.

— Quem lhe contou isso? Seus avós?

— Eles... — David se calou.

Crescera ouvindo essa história, mas não tinha certeza se fora da boca dos avós. Talvez Alex ou algum aldeão tivesse comentado a respeito. Agora que pensava no assunto, percebia que nenhum de seus avós falara muito sobre a morte do pai. Sua avó sempre exaltara a beleza e a vivacidade de sua mãe e a inteligência e o brilhantismo de

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seu pai. Porém, nunca contara detalhes sobre o acidente e o que lorde Wordham fizera ou deixara de fazer.

— Não, não tenho certeza. Não sei onde ouvi essa história. Mas se não for verdadeira, por que minha mãe não voltou com o pai dela? Por que foi para a casa da família de meu pai? E por que a senhora não compareceu aos funerais dela e nunca me escreveu ou me visitou?

David recostou-se na poltrona e respirou fundo. Estava sendo muito emotivo.

— Disse que Harriet era muito obstinada e teimosa. Assim como meu marido. — Lady Wordham meneou a cabeça. — Não sei o que aconteceu, mas quando Harold voltou para casa, era um homem abatido, destruído. Ele contou que Harriet o rejeitara, rejeitara a todos nós, que ela não queria mais saber de nossa família e que nos responsabilizava pela morte de seu pai. E ele se sentia responsável. Não, Harold não encostou um dedo em Luke Dawson, mas reconhecia que se não os tivesse perseguido, Luke não teria morrido.

Era o que David sempre pensara também, mas, de repente, parecia injusto. Se tivesse uma filha — sua e de Grace — também a perseguida até o fim do mundo, se ela fugisse de casa.

— Harold ficou fora por uma semana. Ele me disse que ficou perto de Harriet, mas que ela não permitiu que se aproximasse até seus avós chegarem para levar o corpo de seu pai e ela para Riverview.

— Acho que devo acreditar. Foi tudo o que ouvimos dizer, não é?

— Assim como a história de Harold ter deserdado Harriet.

— Verdade. — Uma grande parte da ferida estava curada. David podia despedir-se de lady Wordham e deixar tudo como estava. Mas se Grace estivesse ali, ela insistiria para ele ir até o fim e curar o restante da ferida. — Por que a senhora não foi aos funerais de minha mãe? — indagou e apertou as mãos com nervosismo. — Por que nunca foi me ver?

— Eu queria. Ah, meu Deus, como queria. — Lady Wordham esticou o braço como se quisesse tocá-lo, mas desistiu. — As emoções estavam muito inflamadas ainda, Dav... lorde Dawson. Acredito que seus avós culpavam Harold pela morte do filho deles e, como disse, concordamos que eles teriam bons motivos para isso. E Harold e eu... Bem, se seu pai não tivesse fugido com Harriet, nada disso teria acontecido. Ela também não teria morrido.

David abriu a boca. Como ela se atrevia a culpar seu pai?

Sem lhe dar tempo para protestar, lady Wordham prosseguiu:

— Sabíamos que Harriet também tinha sua parcela de culpa. Nunca passou pela nossa cabeça que seu pai a levou à força. Mas éramos irracionais naquela época. — Inclinou-se para frente. — O senhor compreendeu, lorde Dawson? Pode imaginar ter uma filha, vê-la fugir, vê-la...

Lady Wordham usou lenço de novo.

Sim, o pior de tudo era que ele podia imaginar.

— Por isso nunca o visitamos. Mas agora, com a morte de Harold, tinha de vê-lo. Ambos perdemos pessoas especiais em nossas vidas...

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David concordava. Ela perdera a filha e o marido. Ele perdera os pais e os avós. De que adiantaria recusar-se a reconhecer os fatos?

Sentiu o peso nos ombros diminuir. Sorriu.

— Bem, vovó... posso chamá-la de vovó?

— Oh, sim. Por favor. Eu adoraria...

David sentou-se na sala azul e abriu um livro. Estava numa posição meio precária naquele momento.

Soubera pelo mordomo que quase todos os homens tinham saído para cavalgar. Ele teria ido também se não estivesse conversando com lady Wordham. Com sua avó.

Reconhecia ter uma grande dívida de gratidão com Grace. Não havia motivo para ressentimentos, e agora que resolvera a questão que tanto o incomodara sentia-se mais aliviado.

— Lorde Dawson! — Grace entrou na sala. — Eu estava à sua procura.

— Lady Grace!

As vozes das gêmeas Addison chegaram até eles. David pegou no braço de Grace e puxou-a em direção à porta.

— Vamos até o jardim? — falou. Ao vê-la hesitar, insistiu: — Gostaria de contar como foi a conversa com minha avó... longe dos ouvidos indiscretos.

— Claro.

Saíram pela porta dos fundos.

O ar estava frio, úmido, mas revigorante. Do terraço, foram para o pátio.

— Como foi a conversa, milorde?

— Muito bem. — David sorriu. Parecia tão feliz e... jovem. — Obrigado por insistir para que eu falasse com ela. Foi muito importante para nós dois.

— Claro que foi. Você foi muito gentil e generoso.

Encolheu os ombros.

— Isso eu não sei. Não queria conhecê-la, mas também não o fiz por caridade. Ganhei algo muito importante... os laços com a família de minha mãe... minha família.

— Sem dúvida. Poderia passar a vida inteira sem esses laços, mas sempre estaria faltando alguma coisa, sim, mas nada de crucial que o impedisse de ser feliz. Lady Wordham, porém... Bem, penso que ela deve ser perdoada. Culpada ou não, acredito que sinta o peso do passado.

David assentiu e caminharam em silêncio por algum tempo. Grace queria memorizar todos os detalhes de cada momento que passava ao lado dele. Logo voltaria a Standen e atravessaria a nave da igreja onde John Parker-Roth a esperava.

Conseguiria guardar essas lembranças no coração, nítidas e vivas, para poder rememorá-las ao longo dos anos vindouros? Não. Elas se apagariam como uma pintura exposta ao sol ou pela implacável ação da poeira do tempo.

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Era justo. Ela se casaria com John.

— Grace.

O cheiro de terra molhada e de folhas dominava o ar. Estava tudo tão quieto, tão isolado. Como se ela e David estivessem caminhando em outro mundo, um mundo livre de convenções sociais.

— Sim?

David parou e colocou as mãos nos ombros delgados. Seu olhar era cheio de intenções. Ele ia beijá-la.

Grace ergueu o rosto e entreabriu os lábios. Queria o beijo. Era outra lembrança, outra sensação para guardar na memória.

Os lábios se aproximaram, gentis a princípio. Pedindo, não exigindo. Dando, não tomando. Finalmente, o leve contato se transformou num beijo intenso, úmido, voraz.

Grace estremeceu e o enlaçou pelo pescoço, amoldando o corpo ao dele.

— Grace?

— Humm? — Não queria falar e nem pensar. Apenas sentir.

Segurou o rosto dele entre as mãos e beijou-o no queixo, impelindo-o a voltar para ela. E conseguiu. As mãos afoitas pressionavam-lhe os quadris. Grace queria senti-las em seus seios...

— Grace, pare, por favor — David pediu, ofegando.

Não queria parar, mas ele a segurou pelos ombros e afastou-a com delicadeza.

— Grace, tudo isso é fascinante e eu gostaria de continuar com nossos carinhos, mas antes, quero lhe fazer uma pergunta muito importante.

Ela estremeceu. Deveria arrumar uma desculpa e voltar para casa.

Não, fugir não era uma boa solução.

— Grace, ainda não respondeu se aceita ser minha esposa.

Ela não conseguia ver-lhe o rosto, pois estava chorando.

— Não, David. Sinto muito. Não posso.

Kate olhou para a porta de comunicação que unia seu quarto ao de Alex. Sentiu um aperto na garganta e dificuldade para respirar. Fechou os olhos, puxou pelo ar e começou a respirar pausadamente. Havia uma criança a caminho. Uma criança que precisava de pai e mãe. Mesmo que Alex a rejeitasse, era justo que soubesse que seria pai. Portanto, tinha de fazer o que precisava ser feito o quanto antes. Nervosa, pôs a mão na maçaneta e respirou fundo.

Assustou-se quando a porta foi aberta do outro lado.

— Oh! — Ergueu a mão livre para se equilibrar e esbarrou no tórax forte.

Aparentemente, Alex tivera a mesma idéia!

— Kate! Você está bem? — Alex segurou-a pelos ombros para ampará-la.

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Kate inalou o cheiro dele. Conhaque, sabonete e... Alex!

— Oh, sim, estou bem. Por que não estaria? — Mordeu o lábio. Não pretendia parecer ríspida. — Posso entrar?

Os lábios dele se abriram num breve sorriso.

— Você já entrou.

— Sim, mas, posso entrar mais?

O sorriso alargou-se.

— Claro, por favor. Aceita um copo de conhaque?

Não era a bebida favorita de Kate, mas ajudaria a acalmá-la.

— Aceito, obrigada. — Passou por ele, olhou de relance para a cama e desviou o olhar.

— Sente-se, Kate. Fique à vontade.

— Obrigada, mas estou bem assim.

— Não me parece muito confortável.

Ela, de fato, não estava. Na verdade, estava muito desconfortável.

— Acho melhor sentar-se, Kate.

Ela apertou as mãos. Gostava de ouvi-lo dizer seu nome, em vez de chamá-la de lady Oxbury. Estava cansada de ser lady Oxbury. Queria ser apenas Kate, e ouvir seu nome na voz de Alex. Era tão íntimo. Apenas os dois.

Sentou-se na poltrona de couro. Alex entregou-lhe o copo de conhaque e puxou uma cadeira para perto dela.

— Há uma razão especial para... — Alex pigarreou. — Bem, para você estar aqui? — Balançou a cabeça. — Não importa. Estou feliz por vê-la. — Com a mão livre, afagou-lhe o cabelo. — Senti a sua falta, Kate.

— Também senti a sua falta, Alex. — Sorveu um gole de conhaque e engoliu-o devagar. — Sonhei com você durante todos estes anos, Alex, mesmo quando estava casada. E ao vê-lo no baile do duque de Alvord... — Fez uma pausa. Queria que suas palavras soassem verdadeiras. — Queria você, Alex. Quis você todos esses anos. Queria saber se... fazer amor com você era tão bom quanto eu sonhava. Mas não queria que se sentisse compelido a me oferecer mais do que alguns momentos de prazer na minha cama. — Ela sorriu. — Pensei que apenas alguns momentos de prazer satisfizessem minha curiosidade. O ato de amor... com Oxbury sempre foi... bem, eu poderia viver sem ele. Mas com você...

Alex segurou-lhe o rosto entre as mãos, forçando-a a encará-lo.

— Para mim, nunca foram apenas momentos de prazer na sua cama, Kate. Nunca! Foram para você?

Mais verdades. Ela mordeu o lábio inferior.

— Não. Nunca.

— Qual é o problema, então? — Ele tirou o copo de conhaque das mãos dela e puxou-a, sentando-a em seu colo. — Se não foi físico, o que foi, então, Kate?

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Como conseguiria pensar sentada no colo dele, vestindo apenas uma camisola? A sensação era maravilhosa, inebriante. As coxas musculosas pressionando-lhe o derrière, os braços enlaçando-a, o peito aninhando-a, os dedos acariciando-lhe o rosto. Inclinou a cabeça e descansou-a no ombro largo.

Tinha de lhe contar logo.

— Alex...

— Humm? — Beijou-a e sua língua invadiu-lhe boca, exigente e possessiva. Seus dedos encontraram o mamilo, rodeando-o, acariciando-o.

Kate arqueou o corpo, encorajando-o. Os lábios substituíram os dedos. Gemeu e contorceu-se no colo dele.

Alex sorriu. Suas mãos começaram a acariciar os quadris curvilíneos, levantando a camisola.

Em algum momento, contaria o motivo de sua visita. Se não contasse, ele tocaria no assunto. Uma coisa era certa. Kate não sairia daquele quarto sem dizer se ele ia ser pai ou não.

Passou o braço sob os joelhos dela e ergueu-a no colo.

— O que você está fazendo?

— Vou levá-la para a cama. Tenho sua permissão?

— Sim. — De repente, Kate mudou de idéia. — Não.

— Não? — Ele a fitou com expressão decepcionada. Tentou beijá-la, mas Kate desviou o rosto.

— Não, Alex. Ponha-me no chão.

Alex obedeceu.

Kate respirou fundo, reuniu coragem e enfrentou-lhe o olhar.

— Tenho um assunto sério para tratar com você, Alex.

— Pode falar, Kate.

— Eu... eu... — Estava apavorada, em pânico. Ajudaria se ele dissesse que já sabia?

— Fale, Kate. Não pode ser tão ruim assim.

— Mas é!

Alex enxugou uma lágrima que escorreu pela face de Kate e beijou-a de leve na boca.

— Fale, meu amor. Confie em mim, por favor.

— Mas você não pode confiar em mim!

— Como assim? — Era como se tivesse levado um soco no estômago. Kate teria entretido outros homens em sua cama? Dessa vez, ele não arriscaria nenhuma conclusão.

— Por Deus, Kate, está me deixando nervoso!

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— Certo. — Ela ainda hesitou. Depois, inclinou a cabeça, fugindo ao olhar perscrutador. — Lembra o que eu lhe disse quando esteve em Oxbury Hall? Quando nós... — Fez um gesto com a mão indicando a cama e, depois, olhou para Alex.

— Você me disse muitas coisas. A que está se referindo em particular?

— Eu... eu lhe disse que era estéril.

— Sim, acredito que tenha dito mesmo.

— Eu disse, tenho certeza. Por isso você concordou em... — Apontou para a cama de novo. — Você sabe.

— Sei. Mas você está enganada. Não a levei para a cama por ser estéril. Eu a amei porque não me controlei. Queria você mais do que o ar que respiro.

— Oh!

O olhar dele era tão intenso, tão transparente e honesto que a tocou fundo. Mas ainda não contara sobre a criança. Baixou o rosto e obrigou-se a falar:

— Eu menti, Alex. Não sou estéril. Pensei que fosse, pois, com tantos anos de casada, nunca tinha concebido. É verdade que Oxbury não tentava com muita frequência, ou nenhuma nos últimos tempos, mas no início do casamento ele era muito assíduo em seus esforços para gerar um herdeiro.

Ela ergueu os olhos e fitou o rosto anguloso. Alex empalidecera e uma veia pulsava na têmpora. Ele devia odiá-la.

— Kate, por que você está me contando isso? Como sabe que não é estéril?

— Porque... — Levantou a cabeça e o encarou. — Porque estou esperando um filho... Seu filho.

Alex arregalou os olhos. Seu rosto se iluminou. Sorrindo, segurou-a pelos ombros.

— Tem certeza?

— Acho que sim. Marie tem certeza. E há indícios de que seja verdade.

Ele a abraçou forte.

— Eu tinha tanta esperança! David desconfiava, mas, afinal, o que ele entende dessas coisas? Vou tirar uma licença especial. Amanhã mesmo. Assim nos casaremos o mais rápido possível.

Kate tinha a impressão de estar sendo levada pela correnteza, incapaz de agarrar-se num galho de árvores para parar. Mesmo assim, tinha que tentar.

— Você não tem que se casar comigo, Alex.

— Não seja tola. Claro que tenho. Não quero que meu filho ou filha seja um bastardo.

— Mas...

— Não. — Ele encostou o dedo nos lábios rosados. — Se não gosta de mim, não deveria ter me convidado a deitar na sua cama... e nem a amar seu corpo.

— Sinto-me como se o tivesse jogado numa armadilha.

— Kate, nunca desejei tanto cair numa armadilha em toda minha vida. Durante vinte e três anos, sonhei com nosso casamento, e agora que você espera um filho meu,

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não vejo a hora de torná-la minha mulher. -— Os olhos dele se anuviaram. — Você sente que caiu numa armadilha?

Kate suspirou.

— Senti quando pensei que teria que enfrentar todo desprezo e as condenações sozinha. Quando imaginava a reação de meu irmão e do novo conde de Oxbury.

Alex abraçou-a de novo. Kate encostou o rosto no peito dele. Estava aliviada.

— Eles nos dirão "parabéns" e "muitas felicidades". E se forem imbecis e contarem os meses nos dedos, nós os ignoraremos.

— Eu te amo, Alex. Tentei ser uma boa esposa para Oxbury, mas nunca o esqueci.

— Também te amo, Kate. Senti muito a sua falta. Durante vinte e três anos. E senti muito mais nestas últimas semanas, depois de saber o que estava perdendo. — Ele riu. — Acha que será menino ou menina?

— Não sei. — Naquele momento, os apelos da carne falavam mais alto. — Podemos conversar sobre isso mais tarde? Penso que temos uma prioridade a resolver.

Alex riu.

— Concordo. — Ele a pegou de novo nos braços e a colocou na cama.

Despiram-se apressados e, um segundo depois, os corpos estavam unidos e iniciando a sedutora dança do amor. Não era apenas uma união de corpos, mas também a comunhão de almas. A solidão de tantos anos de casamento e de um ano de viuvez terminara para lady Kate que, nos braços de lorde Alex, enfim, teria a chance de ser feliz.

Capítulo V

— Vá chamar lady Grace, rapaz. Diga que o pai dela está esperando.

Grace parou no hall. Era a voz de seu pai! E ele estava gritando tão alto que poderia acordar a casa inteira. Desceu a escada correndo para interceptar o mordomo do visconde.

— Obrigada, sr. Wilks. Conversarei com lorde Standen.

— Grace — disse o pai, ríspido. — Arrume suas coisas. Partirá agora mesmo.

— Olá, papai. O que o senhor está fazendo aqui? — Como ele sabia que estava na propriedade de lorde Motton?

— Vim buscá-la. Arrume suas malas, agora. Vou levá-la para casa.

Grace ficou vermelha de indignação. Os demais convidados começavam a se juntar no hall.

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— Mas papai, a festa ainda não terminou.

— Para você já. — O maxilar dele estava contraído. Os olhos pareciam frios como pedra. — Partiremos assim que estiver pronta. Espero que não tenha trazido muitas bugigangas.

Os convidados assistiam à cena com curiosidade.

— E tia Kate? Ela deve estar dormindo ainda.

Lorde Standen apertou os dentes.

— Deixe-a dormir. Ela não irá conosco. Suas funções como acompanhante já terminaram. Tomara que sua tia não precise ganhar a vida como dama de companhia. O trabalho dela com você foi péssimo. Deplorável.

Grace ficou indignada. Não queria ir embora, apesar de estar meio estremecida com David depois de ter recusado o pedido de casamento dele. Voltaria para casa e faria a vontade do pai, mas só depois do término da festa. Não naquele momento. Precisava de seus últimos dias de liberdade.

— Como o senhor soube que estávamos aqui?

— O novo conde de Oxbury escreveu-me dizendo que ao chegar a Londres soube que você e sua tia tinham vindo para cá. O homem é um calhorda, mas teve a sensatez de avisar que minha filha estava viajando com um Wilton. Ao contrário da irresponsável de minha irmã.

Grace engoliu a raiva. Queria gritar, mas gritar com o pai só complicaria a situação. Talvez pudesse sensibilizá-lo.

— O senhor ainda não superou os ressentimentos do passado? O escândalo com lady Harriet aconteceu há mais de trinta anos!

Standen comprimiu os lábios. Os cantos da boca ficaram brancos e as narinas dilataram-se.

— Como você sabe sobre essa história, mocinha? Tenho certeza de nunca ter comentado nada.

— Eu...

— O que está acontecendo aqui? — De repente, David abriu caminho entre a pequena multidão que se formara e parou ao lado de Grace. — Este homem a está incomodando, milady?

Grace fechou os olhos por um instante. A situação poderia agravar-se mais? David parecia pronto para enfrentar Standen, que, por sua vez, cerrou os punhos. Só faltava aqueles dois homens engalfinharem-se na casa de lorde Motton!

— Não. Está tudo bem, barão Dawson. Este homem é meu pai, lorde Standen. Papai, este é o barão Dawson.

David ergueu as sobrancelhas. Depois, esboçou um sorriso e estendeu a mão.

— Ah, aceite minhas desculpas, lorde Standen. Eu me enganei.

A expressão de Standen tornou-se ainda mais dura. Olhou com desprezo para a mão de David e deu-lhe as costas.

— Já lhe disse para arrumar suas coisas, Grace.

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— Um momento... — David começou, mas Grace interrompeu-o.

Até mesmo lorde e lady Kilgorn e lady Wordham tinham se juntado ao grupo. As gêmeas Addison cochichavam e riam baixinho. Grace detestava ser o centro das atenções. Deveria ter subido para fazer suas malas no momento em que vira seu pai. Se não tivesse perdido tempo, teria evitado aquele constrangimento.

— Está tudo bem, barão. Vou...

— Lorde Standen! — A sra. Smyth saiu da sala de refeições com Theo empoleirado no ombro. — Quanta gentileza em passar por aqui. Entre e tome uma xícara de chá comigo. Lamento se não estava aqui para recebê-lo. — Ela arqueou as sobrancelhas. — Eu sabia que o senhor viria?

Standen olhou para Theo e, depois, para a sra. Smyth.

— Esta não é uma visita social, milady. Obrigado pelo convite, mas ficarei apenas pelo tempo necessário para minha filha fazer as malas. — Voltou seu olhar severo para Grace. A paciência tão limitada já estava se esgotando.

— Mas a festa ainda não terminou! — A sra. Smyth olhou para Grace. — Você quer ir embora agora, querida?

— Não... isto é, sim. — Grace suspirou. — Meu pai está aqui. É conveniente que eu vá.

David queria sacudir Grace. O que estava acontecendo com ela? Onde estava a mulher forte e decidida que o convencera a pensar num modo de juntar Alex e lady Oxbury? Onde estava a garota que insistira para ele conversar com sua avó? Ela desaparecera deixando uma bela e pálida sombra da Grace que conhecera e que lhe pertencia.

Era obra de Standen. David gostaria de dar uma surra no conde.

— A festa acabou. — Theo inclinou a cabeça e olhou para Standen. — Estraga-prazeres.

O rosto de Standen ficou rubro e seus punhos se fecharam como se estivesse prestes a estrangular o papagaio.

— Qual é o problema, tia Winifred? — Vindo do escritório, o visconde olhou de relance para as pessoas ainda reunidas no hall. — Olá, Standen. Você acabou de chegar?

— Sim, e já estou de partida, assim que minha filha arrumar suas coisa. — Standen olhou para Grace.

— Mas a festa ainda não acabou. — Motton sorriu. — Por que não fica conosco? Mandarei lhe preparar um quarto.

A sra. Smyth deu uma tossidela.

— Então, há quartos vazios? — lorde Kilgorn perguntou num tom desconfiado.

Motton olhou para a tia.

— Importa-se de responder, tia Winifred?

A anfitriã deu um sorriso radiante para Kilgorn.

— Quartos vazios, milorde?

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— Sim, senhora.

Ela olhou para Standen.

— Bem, deve haver um, mas é uma maneira de falar.

Lorde Kilgorn ergueu uma sobrancelha.

— Uma maneira de falar?

— Sim. O senhor entende como é.

Ele meneou a cabeça.

— Não, não entendo.

A roliça senhora continuava sorrindo.

— Bem, acho que é um pouco complicado... Sabe como é... Uma coisa aqui, outra ali e assim vai...

Impaciente, Standen interrompeu aquela conversa sem nexo.

— Senhora, não se preocupe. Não vou ficar. — Quase gritou com Grace. — Vá buscar suas coisas agora!

— Sim, papai.

— Mas... — David ficou em pânico. Não deixaria Grace partir sem lutar. Sim, ela rejeitara seu pedido de casamento, mas sentira dor e mágoa em sua resposta. Gostava dele, tinha certeza. Teria apenas que vencer os escrúpulos dela, quaisquer que fossem. Contava com mais alguns dias para convencê-la. Grace não poderia ir embora.

Standen estava transtornado. David não se importava. Não tinha medo do conde. Foi o olhar de Grace que o deteve.

Se Grace fosse mesmo embora, ele voltaria a Londres o mais rápido possível.

— Vamos até o meu escritório, Standen. Ficará mais confortável enquanto espera.

— Obrigado. Estou bem aqui.

— Eu insisto. — Motton deu-lhe passagem.

Relutante, o conde acabou entrando.

Assim que a porta do escritório se fechou, David subiu a escada correndo. Atravessou o corredor e bateu à porta do quarto de Grace.

— Milorde. — Marie o atendeu. — Por favor, entre e veja se põe um pouco de juízo na cabeça de milady.

Grace se voltou.

— David, o que está fazendo aqui?

Ele entrou e fechou a porta atrás de si. Não havia tempo para rodeios.

— Grace, não vá.

Desviando o olhar, ela continuou a guardar as roupas no baú.

— Tenho de ir. Meu pai está aqui.

— Não, você não tem de ir. É maior de idade. Seu pai não pode obrigá-la a obedecer.

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Ela ergueu os olhos, aturdida.

— Não é uma questão de obediência. Amo meu pai e não quero magoá-lo.

— E eu? — O desespero suplantou o orgulho. — Você não se importa de me magoar?

Grace engoliu em seco.

— Claro que me importo, mas você sobreviverá.

— Santo Deus, Grace. Como você pode dizer isso? Como pode descartar assim meus sentimentos?

Os olhos dela estavam amargurados.

— Há quanto tempo me conhece, David? Algumas semanas?

— Sim, mas...

— O que se pode sentir, ou conhecer, sobre outra pessoa em tão pouco tempo? Atração, sim. Você está atraído por mim. Se as circunstâncias fossem diferentes, isso seria suficiente. Mas não são. Há muitas histórias entre nossas famílias para superarmos. E o sr. Parker-Roth espera que eu o encontre no altar. — Fechou o baú com força. — Conhecerá outra moça que o fará me esquecer.

— Não vou. — Finalmente, David compreendeu como seu pai se sentira diante da possibilidade de perder a mulher amada para outro homem. Ao inferno com a sociedade e a reputação! Fugiria com Grace para Gretna o mais rápido possível...

Se ela quisesse... Mas Grace não queria.

— O seu pai não superou a dor da perda de minha mãe quando ela o abandonou. Nem tio Alex em relação à lady Oxbury.

Grace fitou-o boquiaberta, como se o argumento a tivesse pego desprevenida.

— As situações são diferentes. Se alguém está na posição de meu pai, esse alguém é John Parker-Roth. Se eu fugir com você, ele ficará sozinho na porta da igreja, tão desolado como meu pai ficou quando lady Harriet o abandonou.

— Esse tal Parker-Roth a ama, Grace? Ele pode gostar de você. Pode considerá-la uma opção confortável e segura para se casar, mas ele a ama? Deseja e sonha com você todas as noites? O coração dele acelera quando a vê? Está sempre ansiando para ouvir sua voz ou para ver-lhe o sorriso?

David cerrou os dentes. Tinha de parar de falar bobagens. Estava fazendo papel de bobo. Não poderia forçar Grace a amá-lo. O amor era um presente que devia ser oferecido de livre vontade.

Grace mordeu o lábio e o fitou. David pensou ter visto uma ponta de incerteza nos olhos dela. Começou a abrir os braços para recebê-la, mas ela meneou a cabeça, recusando-se a aceitar a carícia.

— Meu pai está à minha espera, barão. Como deve ter notado, ele não é um homem paciente. Tenho de ir.

— Muito bem. — A dor da rejeição quase o impedia de respirar, mas ele não desmoronaria. Estendeu-lhe a mão. — Desejo-lhe felicidades, lady Grace.

Ela apertou-lhe a mão.

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— Para o senhor também, milorde.

David sentiu um tremor na mão dela. Havia lágrimas nos olhos adoráveis. Antes que pudesse ter certeza disso, Grace saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.

— David, queremos que seja o primeiro a saber a novidade!

David olhou para o tio. Alex estava sorrindo. Na verdade, Alex e lady Oxbury estavam radiantes. Nunca o vira tão feliz. Se pudesse sentir alguma coisa, exultaria pela felicidade deles.

— Vejo que resolveram suas diferenças!

— Sim. Providenciarei uma licença especial para nos casarmos.

David apertou a mão de Alex.

— Parabéns. — Olhou para a tia de Grace. — Muitas felicidades. Ou devo desejar-lhe boa sorte? A senhora conseguiu uma verdadeira proeza. Todos consideravam meu tio um solteirão inveterado.

— Não estou preocupada. — Kate olhou enternecida para Alex e, depois, para o jardim. — Onde está Grace? Pensei que ela estivesse com você.

— Vocês não ouviram? Lady Grace foi embora.

Lady Oxbury arregalou os olhos.

— Como foi embora? Quando? Por que não fui avisada?

David cruzou as mãos nas costas.

— Standen veio buscá-la logo cedo. Parece que o atual conde Oxbury alertou-o para o fato de lady Grace estar numa festa que incluía membros da nefasta família Wilton. — Pretendia ser irônico, mas só conseguia revelar sua amargura. — Lamento dizer-lhe que seu irmão não está muito satisfeito com a senhora, lady Oxbury.

— Não acredito! Como meu irmão pode ser tão estúpido? Você a deixou ir?

— Claro que deixei. O que eu poderia fazer? Não tenho a menor influência sobre lady Grace.

— Não?! Pensei que tivesse. — Lady Oxbury suspirou. — Standen deve tê-la obrigado.

— Não, lady Oxbury, ele não a forçou. Sua sobrinha foi porque quis.

— Impossível. Grace não voltaria para casa sem reclamar muito.

— Bem, ela tentou. — David respirou fundo. De nada adiantaria teimar com lady Oxbury; — Mas parece que está noiva de um vizinho.

— John Parker-Roth. Sim, sei que havia um entendimento de algum tipo, mas sei também que Grace não o ama. — Meneou a cabeça. — Minha sobrinha não pode estar repetindo o mesmo erro que eu.

— Tudo indica que está. — Alex se voltou para David.

— E você não deve repetir o meu erro.

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— Do que estão falando? -— David não estava com disposição para enigmas.

— Há vinte e três anos, obedeci às ordens de meu irmão. Parti de Londres e casei-me com lorde Oxbury. Permiti que a lealdade à família me separasse de seu tio.

— E eu deveria ter ido atrás de você. — Alex beijou os dedos de Kate. — Ou, naquela noite, no jardim de Alvord, eu deveria tê-la persuadido a fugir para Gretna comigo. Eu deveria ter imaginado a reação de Standen.

— Bobagem. Quem poderia prever que meu irmão me arrastaria de volta para casa? E pior, quem imaginaria que ele me obrigaria a casar tão rápido?

— Receio que seu irmão seja mesmo um bárbaro — interveio Alex —, pelo menos no que diz respeito à minha família, Kate. E quanto a você, David, trate de não demorar. Corra atrás de lady Grace antes que Standen a obrigue a subir ao altar.

Lady Oxbury concordou.

— Grace já atingiu a maioridade. Não precisam do consentimento de Standen para o casamento.

David suspirou, exasperado.

— Mas preciso do consentimento de Grace. Sua sobrinha não deseja se casar comigo, lady Oxbury. Ela está contente com o tal vizinho.

— Não acredito e você também não deveria acreditar. Ela disse que não o ama?

— Não com essas palavras.

— Não pense que conhece a mente de Grace, barão Dawson. Eu a tenho observado de perto. — Kate sorriu. — E diria que ela está muito apaixonada pelo senhor.

— Precisa procurar lady Grace, David — insistiu Alex. — Não permita que uma breve conversa decida sua vida. Você pode não ser tão felizardo quanto eu. — Ele enlaçou Kate pelos ombros. — Pode não ter uma segunda chance.

— A segunda chance não é a mesma coisa que a primeira, Dawson. O senhor precisa de um herdeiro. Case-se logo com Grace e seja feliz. — Lady Oxbury corou.

Alex riu.

— Nós temos outra novidade. Kate está... bem, dentro de alguns meses estaremos comemorando um acontecimento muito importante.

David sorriu. Então, ele não se enganara. Lady Oxbury estava grávida. Apertou a mão do tio outra vez e beijou o rosto de lady Oxbury.

— Esplêndido! Não só terei uma nova tia como também um novo primo.

Alex bateu de leve nas costas dele.

— Vá atrás de lady Grace, David. Dê ao nosso bebê um primo da idade dele.

Grace observava a paisagem pela janela da carruagem. A cada momento, aumentava a distância entre ela e... Não devia pensar em David.

— Ainda bem que, Oxbury escreveu-me contando que você viajou com Dawson. Nunca pensei que, um dia, ficaria em débito com aquele asno, mas você me obrigou a

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isso. — Standen balançou a cabeça. — Deveria tê-la prevenido para evitar os Wilton, mas nem me ocorreu. Eles não costumam ir a Londres. Aposto como foi a primeira vez em muitos anos.

— Sim, acho que o senhor tem razão.

Comprimiu os lábios. Na próxima vez que visse tia Kate, estaria se preparando para entrar na igreja e casar-se com John. Sentiu como se uma pedra caísse sobre sua cabeça.

— Apesar de você não saber nada sobre os Wilton, Katherine sabia — Standen continuou. — Estou chocado por ela não tê-la prevenido. Foi para salvá-la do tio de Dawson que eu a casei com Oxbury, você sabe. Sua tia deve estar com a cabeça fraca se pensou que eu concordaria com qualquer tipo de contato entre você e um Wilton.

Grace observou o pai. Ele parecia menor do que se lembrava. Mais velho. Como mudara tanto no curto espaço de tempo que estivera fora? Ou fora ela que mudara?

— Mas, papai, não entendo. Por que o senhor detesta tanto os Wilton? Não deve ser apenas por lady Harriet ter preferido o pai do barão Dawson. Isso aconteceu há tanto tempo!

Standen fulminou-a com o olhar.

— Não quero falar sobre isso. É suficiente você saber que não gosto deles.

— Não, papai, não é suficiente. Seu ódio pelos Wilton decidiu a vida de tia Kate e agora está decidindo a minha. O senhor nos deve, ou melhor, me deve uma explicação.

Standen crispou as sobrancelhas e baixou os olhos para as mãos. O silêncio se prolongou e Grace desistiu de obter uma resposta. Virou o rosto para a janela.

— Eu era jovem e estava apaixonado — ele disse, por fim. Falava tão baixo que Grace quase não ouvia sua voz.

— Sim, o senhor era muito jovem. Faz mais de trinta anos.

— Algumas coisas não mudam com o tempo, Grace.

— Entendo, papai, mas o senhor esteve com lady Harriet apenas por uma temporada. Algumas danças, alguns momentos de conversa. O senhor nem a conheceu direito.

Assim como ela também mal conhecia David. Tia Kate também quase não conhecera o sr. Wilton, e no entanto, o amor deles havia resistido ao tempo. Standen abriu os braços. Parecia quase vulnerável.

— Eu a amava.

— Era apenas entusiasmo. O senhor tinha apenas... o quê? Vinte e poucos anos?

— A sua idade, Grace.

— Sim, mas agora o senhor tem mais de cinquenta.

— Não importa a minha idade, Grace. É como se tivesse acontecido ontem. Lady Harriet era tudo o que eu não era. — Standen falava em voz baixa, como se falasse consigo mesmo.

Grace se voltou para olhá-lo de novo. Ele olhava pela janela, um leve sorriso curvando-lhe os lábios.

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— Harriet era cheia de vida e criativa. Raciocínio rápido e brilhante. Tudo reluzia na presença dela. Era como uma estrela caída na Terra e eu, uma brasa de carvão.

Ele suspirou e balançou a cabeça. Grace não ousou interrompê-lo.

— Wilton era como ela. Por isso, sentiram-se atraídos um pelo outro. Eram muito parecidos. Wordham, o pai de Harriet, achou que ela deveria se acomodar. Wilton era irrequieto. Wordham queria que Harriet se casasse comigo. — Olhou para Grace com tristeza. — Mas ela preferiu Wilton. Se o maldito não a tivesse convencido a fugir, ela teria se casado comigo. E ainda estaria viva.

— Quem poderá ter certeza disso, papai? Lady Harriet morreu de parto. Se o senhor a tivesse desposado, ela poderia ter morrido com o seu filho... como mamãe.

A reação dele foi de choque, como se o pensamento nunca tivesse lhe ocorrido. Grace afagou-lhe o joelho.

— O senhor nunca amou a mamãe?

Ele pigarreou. Parecia constrangido.

— Sua mãe era uma mulher formidável. Muito agradável. E nos entendíamos bem. Gostava dela.

Grace endireitou-se no banco.

— Mas não a amava.

O conde ergueu um ombro.

— O amor causa sofrimento e turbulência. Afeto, ou respeito, é o melhor sentimento para um casamento. Compatibilidade como você tem com Parker atravessará anos e anos.

Até que a morte nos separe. As palavras ecoaram na mente de Grace. Sempre as considerara tristes; agora soavam como uma sentença. Depois de anos e anos de um casamento educado e tedioso, a morte, enfim, traria a liberdade.

— Papai, não posso me casar com o sr. Parker-Roth.

Lorde Standen levantou os olhos do The Morning Post, uma garfada de ovos mexidos suspensa entre o prato e sua boca.

— Não diga bobagem. — Levou o garfo à boca, mastigou os ovos e bebeu um gole de café. — É claro que vai se casar com Parker-Roth.

— Não, não vou. — Grace empurrou o prato com torradas frias. Não conseguia comer. — Achei que podia quando sai da propriedade de lorde Motton. Pensei que podia quando fomos até Priory ontem para ver John. Pensei até mesmo que seria capaz de ir até o fim com esse casamento quando dei um volta pelo jardim com ele e o ouvi resmungando... isto é, discorrendo sobre suas plantas infernais...

Grace fez uma pausa. Estava respirando tão rápido que começou a sentir tontura.

— Mas não posso.

— Tolice. Você está nervosa. Isso é natural. Depois do casamento e da noite de núpcias, ficará bem.

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Grace sentiu ânsia de vômito. Pressionou a mão na boca e respirou pelo nariz.

— Não.

— Não o quê? — Standen voltou a ler o jornal como se o assunto estivesse encerrado.

— Não vou ficar bem. — O estômago se acalmou. Retirando mão da boca, olhou para o pai. — Pensei muito a noite inteira, papai. Quase não dormi. E cheguei à conclusão de que não posso me casar com John. Não seria justo para com ele.

Standen fez um gesto de descaso com a mão e voltou a ler o jornal.

— Não se preocupe com isso, Grace. Estou certo de que John Parker-Roth não se importará.

— Não é possível que John não se importe que eu esteja apaixonada por outro homem.

— Você vai superar essa fase.

Ouvira direito? O homem que guardava ressentimento contra uma família inteira por mais de trinta anos, porque a mulher que ele amava o rejeitara; a pessoa que lhe confessara poucos dias antes que ainda amava aquela mulher, estava dizendo que esqueceria o amor de sua vida?

— O senhor nunca superou, papai.

— O quê? — Standen desviou os olhos do jornal. — Do que está falando?

— O senhor nunca esqueceu lady Harriet.

— Casei com sua mãe, não casei? Eu... eu me adaptei. Você também se adaptará.

— O senhor não teve escolha. Lady Harriet estava fora de seu alcance. Ela tinha morrido. Já o barão Dawson...

O pai a interrompeu com um olhar de censura.

— Não mencione esse nome na minha casa.

Grace jogou o guardanapo na mesa e levantou-se.

— Por que insistir nessa animosidade, papai? Aposto como o senhor nunca tinha visto lorde Dawson antes de encontrá-lo na casa do visconde Motton.

— Que diferença faz?

— Toda diferença. Como pode odiar uma pessoa que não conhece?

— É fácil.

Grace respirou fundo. Não seria prudente gritar com o pai. Apoiando as mãos na mesa, inclinou-se na direção dele e fitou-o nos olhos.

— Certo. O senhor tem razão. É mesmo mais fácil odiar alguém que não se conhece, pois não sabe nada de bom sobre ele.

— Não há nada de bom num Wilton! — Standen virou a página do jornal e voltou a ler. — Está ficando histérica.

— Não estou. — Ela estava gritando. Tentou controlar a raiva. — O senhor está se recusando a reconhecer a verdade nas minhas palavras. O barão Dawson era assim

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também. Ele decidira odiar a avó mesmo sem conhecê-la até eu conseguir persuadi-lo a conversar com ela. Se ao menos o senhor conversasse...

— Não! — Standen bateu o jornal na mesa e levantou-se num salto. — Nunca conversarei com esse Wilton! Não tenho necessidade de conversar com ele. Não o verei de novo!

— O senhor o verá, a menos que nunca mais queira me ver! — Ergueu o queixo, rezando para David não ter mudado de idéia. — Pretendo me casar com o barão.

— É mesmo? — As veias na fronte de Standen pulsavam num ritmo acelerado, o que não era um bom sinal. — E como vai chegar até ele? Você não tem meios para viajar até a propriedade de Motton. Isso se Dawson ainda estiver lá. E, o mais importante, não estará livre para casar-se com o barão. — Fitou-a com ar desafiador. — Seu casamento com Parker-Roth será amanhã.

— Não! — Grace agarrou-se ao encosto da cadeira. — O senhor disse que seria no próximo mês...

— Eu menti.

Casada em menos de vinte e quatro horas... Céus!

— Nunca concordei com isso. John nunca me pediu em casamento como se deve. — Ele nem sequer a beijara! Não era possível querer desposá-la. Grace julgava que faria um favor a ambos se desistisse do casamento.

— Não importa. Você se casará com John e não se discute mais isso.

— Não, meu pai. Irei procurar John agora mesmo e explicarei que o casamento não se realizará. Será muito embaraçoso, mas será melhor para todos. John não vai querer uma noiva contrariada.

Standen cruzou os braços. Seu rosto era uma máscara de pedra.

— Repito que nada disso importa. Ele concordou com o casamento. Será conveniente para todos. Vocês se casarão. Não tenho mais nada a dizer.

— Não, não vou me casar com ele. Não posso.

— Você pode. Queria fazer isso antes de ir a Londres. E queria quando deixamos a propriedade de Motton.

— Eu não queria... Apenas estava resignada.

— Maldição! — O conde levantou as mãos no ar. Depois, apontou o dedo em riste para Grace. — Preste atenção, mocinha. Vai se casar com John Parker-Roth, sim! Sou seu pai e você me deve obediência!

Grace também lhe apontou o dedo.

— O senhor não manda mais em mim. Sou maior de idade, entendeu? — Tentou controlar o tom de voz. — Sinto muito, papai, mas o que me pede é impossível.

— Você não vai fazer com Parker-Roth o que Harriet fez comigo — esbravejou ele. — Não romperá o compromisso com John, ouviu?

— A casa inteira ouviu, papai.

— Ótimo. Agora vá para o quarto, ingrata. Eu a verei na igreja.

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— Quando o padre perguntar se eu aceito John como meu marido, direi que não, papai.

O rosto dele estava rubro. As veias pareciam prestes a estourar. E se sofresse um ataque de cardíaco?

— Vá!

Grace obedeceu.

David olhou para a cama da hospedaria e suspirou. Era pequena demais para uma pessoa da altura dele, mas os lençóis estavam limpos.

Deveria ter seguido o caminho para Londres. Era o que pretendia fazer quando se despedira da sra. Smyth na porta da casa de Motton. Entretanto ao chegar ao ponto onde a estrada fazia a bifurcação... Bem, inexplicavelmente seu cavalo pegara a direção a Devon.

Decidira passar a noite no The Blue Heron e seguir para Standen na manhã seguinte. Chegara à hospedaria antes do jantar e conversara com o sr. e a sra. Weyford, um jovem casal, ainda recém-casados. Conhecera também o reverendo Barnsley que estava a caminho da Cornualha, onde assumiria uma paróquia.

E lá estava ele, no quarto em sua cama solitária, pequena e desconfortável. No dia seguinte, estaria em Standen, sem saber se tinha chances de tornar Grace sua baronesa. Talvez descobrisse que ela já desposara seu vizinho desagradável.

O pensamento era deprimente.

Remexeu-se na cama, tentando encontrar uma posição mais confortável. Impossível.

Aquela seria uma noite longa e insone. Afinal, David era um barão apaixonado, e um barão apaixonado que ainda precisava convencer sua amada a tornar-se sua baronesa...

Querido papai,

Sinto muito tê-lo desapontado, mas não posso desapontar a mim mesma, e a John. Por favor, diga-lhe que o amo, mas como a um irmão, não como marido, e estendo minhas sinceras desculpas a ele.

Eu o amo, papai, embora não possa fazer sua vontade com relação ao casamento.

Com carinho,

Grace

Grace dobrou a carta e colocou-a no envelope. Deixou-a sobre o travesseiro, onde a criada a encontraria quando entrasse no quarto para acordá-la. Fora uma longa noite sem dormir, mas finalmente, sentia-se em paz. Tomara sua decisão. Iria embora de casa antes que o sol nascesse. Se saísse no escuro, ninguém a veria.

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Iria direto para o The Blue Heron. Tinha dinheiro suficiente para comprar uma passagem de carruagem para Londres. Não seria uma viagem confortável, mas sobreviveria. Em Londres, procuraria tia Kate... se ela estivesse em Oxbury Hall, é claro.

Era provável que estivesse.

A festa de lorde Motton já terminara. Todos já deveriam ter voltado a Londres. Se tia Kate não estivesse na cidade, lady Wordham estaria. Grace encontraria alguém para ajudá-la.

Não tivera escolha. Não podia se casar com John. Ele merecia uma mulher que o amasse de todo o coração, mas seu pai não entendia. Se a obrigasse a subir ao altar, a única solução seria recusar-se a fazer os votos, e ela não podia fazer tal desfeita a John e à sua família.

Não, tinha de ir embora antes.

Colocou todo o seu dinheiro e as poucas jóias que possuía na bolsa de tecido e guardou-a no fundo do bolso da capa. Pegou a sacola com algumas peças de roupa e apagou as velas. Abriu a janela. O luar iluminava os galhos do velho carvalho e o longo percurso até o chão.

Não descia por uma árvore havia muitos anos, mas com cuidado e um pouco de dificuldade chegou ao solo. Depois, começou a andar em direção à estrada. Com um pouco de sorte, ninguém notaria sua fuga antes do amanhecer.

O The Blue Heron ficava a uma ou duas horas de distância, e chegaria a tempo de embarcar na carruagem. Então, deixaria Standen, seu lar, para sempre.

Suspirou. Não podia chorar. O pai não lhe dera escolha.

O sol ainda não nascera, mas David já estava acordado.

Sentou-se na beira da cama e esfregou o rosto. Cavalgaria um pouco para espairecer antes do desjejum.

Encontrou o reverendo Barnsley no corredor. Desceram juntos a escada.

— Aproveite sua cavalgada — o reverendo disse, caminhando em direção às árvores.

David agradeceu e encaminhou-se à cocheira. O tempo estava frio e úmido, com um pouco de neblina. Respirou fundo. Já se sentia melhor.

— Bom dia, milorde. — O cavalariço pulou do monte de feno onde dormia. — Vou selar seu cavalo...

— Não, obrigado. Eu mesmo faço isso.

— Como quiser, milorde.

Zeus relinchou dando-lhe boas-vindas. Ele também parecia ansioso para sair e esticar as pernas. Tão logo chegaram à estrada, galoparam livremente, o vento úmido varrendo um pouco da nuvem escura da alma de David. Não tinha esperanças, mas sentia-se menos angustiado.

De repente, viu uma figura feminina caminhando em sua direção. Ela ergueu o rosto, pois provavelmente ouvira o galope de Zeus, e desapareceu entre as árvores.

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Era cedo e ainda estava escuro. Deveria tê-la assustado.

A mulher estava sozinha. Não parecia em perigo, mas nunca se sabia o que poderia acontecer entre as árvores. Assim que passou pelo local em que ela desaparecera, David olhou para trás. Ela estava na estrada novamente, andando apressada, quase correndo. Talvez pudesse ajudá-la. Deu meia-volta para alcançá-la.

Ela olhou sobre os ombros e correu para o bosque.

Deveria estar em perigo, ou fugindo de alguém, para se esconder ao primeiro sinal de um viajante.

Preocupado, David conduziu Zeus para dentro do bosque.

— Senhora — ele chamou. — Por favor, não tenha medo. Gostaria de ajudá-la, se eu puder.

Viu um movimento um pouco adiante.

— Prometo não lhe fazer mal. Sou o barão Dawson de Riverview. Por favor, diga-me como posso ajudá-la.

Ouviu uma exclamação. A mulher saiu de trás de uma árvore e parou diante dele. Era alta e... muito familiar.

— David? David, é você mesmo?

— Grace! — Ele saltou do cavalo.

Ela correu e David abriu os braços para recebê-la, enlaçando-a e beijando-a com ardor.

Sua boca estava úmida, quente e deliciosa. Os seios eram macios contra seu peito. Estaria sonhando? Se estivesse, David não queria acordar nunca mais.

— Oh, David, estou tão feliz por encontrá-lo.

O sonho estava cada vez melhor.

— Também estou feliz por encontrá-la, Grace. — David afastou o cabelo do pescoço dela e beijou-o

— Por favor, pare.

Ele ergueu a cabeça. Então, não era sonho? No sonho, Grace jamais pediria para parar. Só poderia ser outro pesadelo.

— Por quê?

— Tenho de chegar ao The Blue Heron. Estou fugindo de casa.

Um pensamento terrível o assaltou.

— Não me diga que você se casou com o vizinho.

— Não. — Grace encostou a cabeça no ombro dele. — Eu não podia, David. Mas o casamento está marcado para esta manhã. Por isso fugi. Meu pai recusou-se a entender meus motivos. Queria me obrigar a casar se eu não fugisse. Tenho de chegar à hospedaria a tempo de pegar a carruagem para Londres.

— Não, você não precisa ir.

— Preciso, sim. Você não conhece meu pai.

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— Bem, ele não poderá obrigá-la a casar-se com o vizinho se você já estiver casada comigo.

— O quê?

— Case comigo. Por favor, Grace. Você me fará o mais feliz dos homens. Vim até aqui só para tentar convencê-la.

— Mas, David...

— Tentei não vir, apesar das insistências de Alex, de sua tia e de minha avó. Eu pretendia voltar a Londres. Mas todos me garantiram que você me amava... e, finalmente, percebi que você nunca disse que não.

— Ah!

David segurou-lhe o rosto entre as mãos e fitou-a nos olhos.

— Eu te amo, Grace. Não tenho a menor dúvida do meu amor. Se você não me aceitar, continuarei vivendo. Poderei até mesmo me casar algum dia, mas nunca deixarei de te amar. Assim como Alex nunca deixou de amar sua tia.

— E como meu pai nunca deixou de amar sua mãe.

— Tenho uma licença especial. Eu a tirei antes de irmos à festa de Motton. E por acaso, há um reverendo no The Blue Heron que, tenho certeza, ficará feliz em nos casar, e um adorável casal que também ficará feliz em ser nossas testemunhas. Estaremos casados dentro de uma hora, ou até em meia hora. — E na cama alguns momentos depois, David pensou, mas não falou. Não havia necessidade de forçar a sorte.

— Bem...

— Por favor, Grace. Viverei apenas para te amar. Por favor, diga que aceita.

— Oh, David. — Ela chorava e sorria. — Eu te amo tanto. Estava infeliz desde que deixei a propriedade de lorde Motton com meu pai. Fui tola e errada ao deixá-lo, David. Amo meu pai, mas você é a minha vida, meu futuro. Claro que vou me casar com você.

Ele a pegou pela cintura e girou-a no ar. Nunca se sentira tão feliz.

— Vamos falar com o reverendo Barnsley e com os Weyford. — Colocou-a na sela de Zeus e acomodou-se em seguida. Retomaram o caminho da hospedaria.

De repente, Grace ficou tensa. Ainda não estava totalmente a salvo. No momento em que seu pai descobrisse sua fuga, viraria a casa de cabeça para baixo e vasculharia o vilarejo inteiro à sua procura. Se a encontrasse com David...

— David, o sr. Timms, proprietário da hospedaria, pensa que vou me casar com John esta manhã. Se ele me vir...

— Não se preocupe. Vamos evitar o sr. Timms.

Grace avistou o The Blue Heron ao longe. David conduziu o cavalo para o bosque, a pouca distância da hospedaria. Desmontou e ajudou-a a descer.

— Fique aqui. Vou levar Zeus para a cocheira e, depois, procurarei os Weyford.

Grace escondeu-se atrás de uma árvore. Temia ser reconhecida por algum empregado do local. Momentos depois, David voltou com o casal.

— Grace, estes são o sr. e a sra. Weyford de Kent. Eles ainda estão em viagem de núpcias. Sr. e sra. Weyford, esta é minha futura esposa, lady Grace Belmont.

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— É uma honra conhecê-la, lady Grace. — O sr. Weyford fez uma reverência.

— Que romântico... um casamento no bosque! — exclamou lady Weyford.

David colocou o braço de Grace no dele.

— Espero que o reverendo Barnsley concorde em realizar a cerimônia.

Encontraram o reverendo na beira do rio, segurando um peixe enorme. Ao vê-los, ele sorriu.

— Olhe que beleza? Deve medir uns quarenta centímetros ou mais! O que vocês acham?

— Pelo menos, uns trinta centímetros, eu diria — David respondeu. — Reverendo, gostaria de apresentar-lhe minha noiva, lady Grace Belmont.

— Muito prazer, lady Grace.

David pigarreou.

— Reverendo, se me permite interromper sua pescaria, gostaria de lhe pedir um favor.

— Um favor? Claro, barão Dawson. Em que posso ajudá-lo?

David tirou uma folha de papel do bolso.

— Tenho uma licença especial de casamento aqui, e o sr. e a sra. Weyford concordaram em ser nossas testemunhas. Lady Grace e eu gostaríamos que o senhor nos casasse.

O reverendo examinou a licença.

— Parece estar em ordem. — Ele sorriu. — Ficarei feliz em oficializar a cerimônia. Onde e quando vocês desejam se casar, lorde Dawson?

— Aqui e agora.

— Na beira do rio?!

— Poderia haver um lugar melhor? — David perguntou.

O dia começava a clarear. Grace olhou para a relva, as árvores, a água. Era um lugar encantador para um casamento.

O reverendo Barnsley sorriu.

— Não, por Deus, não há. Por favor, Weyford, pode me fazer a gentileza? — Ele entregou sua truta para Weyford segurar. Depois, pegou seu livro de orações.

Então, no meio de um bosque verdejante, com o som da água corrente do rio e tendo o gorjear dos pássaros como orquestra de fundo, Grace e David receberam as bênçãos de Deus... e dos homens.

Agora eram, oficialmente, marido e mulher...

— Ainda bem que os Weyford também são loucos por trutas. — David puxava Grace em direção à hospedaria.

— Por quê?

Ele parou e sorriu para ela. Grace estava corada e seus seios adoráveis arfavam. Dentro de alguns minutos,, poderia ver cada pedacinho daqueles...

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— Porque eu teria que pagar o café da manhã para todos os hóspedes para celebrar nosso casamento. Mas estou muito, muito ansioso para celebrá-lo de uma forma diferente e particular, se é que você me entende. — Tocou no seio dela para ajudá-la a compreender.

— Oh! — Grace desviou o olhar. — É preciso... isto é, temos que... tão depressa? Já clareou. Pensei que... essa atividade só se realizasse à noite.

— Asseguro-lhe de que pode ser realizada a qualquer hora do dia ou da noite e em qualquer lugar. Até mesmo agora, aqui.

— O quê? — A voz de Grace soou estridente. — Ao ar livre?

— Sim, embora eu não aprecie a natureza pública deste lugar específico. Mas é possível, sim. Penso que uma cama e uma porta trancada será melhor para a sua primeira vez, você não acha?

— Ah... bem... eu..

Sem sombra de dúvida, Grace não pretendia manifestar sua opinião.

— Penso também que, dada à situação, devemos consumar nosso casamento imediatamente. Isso torna tudo mais... verídico. Já imaginou se seu pai resolver procurá-la na hospedaria? Suponho que ainda não passamos da hora que seu casamento com Parker-Roth seria realizado.

— É, você tem razão. — Grace lançou um olhar para a estrada. Depois, pegou na mão de David e começou a correr em direção à hospedaria.

Ele gostava de uma noiva ansiosa.

Grace sentiu o coração bater mais forte, como quando pulara a janela de seu quarto. Entretanto, era tarde demais para seu pai obrigá-la a casar com John. Mas David tinha razão. Melhor estar, de fato, casada.

Puxou o capuz da capa para esconder o rosto. Preferia que os empregados não a reconhecessem esgueirando-se pela entrada dos fundos em direção ao quarto de um homem, ainda que ele fosse seu marido.

Hesitou, mas David não. Ele abriu a porta e fê-la entrar primeiro. Subiram a escada estreita e atravessaram o corredor. Entraram no quarto e David trancou a porta.

Graças a Deus! Grace soltou um longo suspiro de alívio. Estava...

Seus olhos fitaram a cama, e seu coração disparou outra vez.

— Não fique nervosa, Grace. — David ajudou-a a tirar a capa.

— Na... não estou... nervosa. — Ela se afastou assim que viu a capa nas mãos dele. — Bem, talvez, eu esteja. Não trouxe camisola...

David riu.

— Grace, meu amor, uma camisola só atrapalharia neste momento.

— É mesmo?

Ele assentiu.

Grace desviou o olhar. Claro que sabia que cama implicava relações conjugais, mas temia não estar preparada para o que viria a seguir. Afinal, tudo acontecera de maneira rápida e inesperada.

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David começou a abrir o vestido dela.

— O que está fazendo?

Os lábios dele se curvaram num sorriso e seus olhos revelavam um brilho ardente.

— Estou tratando de deixá-la completa e maravilhosamente nua.

— Oh! — Ela se desvencilhou. — Não acho uma boa idéia.

David seguiu-a pelo quarto.

— Ao contrário, querida. É uma idéia brilhante. — Sorriu. — Uma idéia que estou acalentando desde que a vi entrar no salão de Alvord.

Oh, céus! Aquele sorriso...

— Pare, David.

— Parar o quê?

— Pare de me olhar desse jeito. Faz meu estômago revirar.

— Faz? Acho que isso é bom. — David desistiu de tocá-la e começou a tirar a roupa.

— O que você está fazendo?

— Talvez esteja constrangida por eu ainda estar vestido. Então, estou consertando a situação.

Os olhos de Grace acompanhavam os movimentos das roupas sendo jogadas ao chão.

— Acha... isto é, bem... você tem certeza de que é conveniente... — Grace se calou ao vê-lo tirar a camisa. Sentiu a boca seca. Parecia que seu coração parara de bater, mas aquele ponto feminino pulsava de forma intensa. Apoiou-se no encosto da cadeira. Seus joelhos ameaçavam dobrar.

Ele era bonito. Os braços com músculos definidos, os ombros largos, o peito coberto de pelos dourados. Seriam tão macios quanto aparentavam?

— Gosta do que vê?

Grace apenas balançou a cabeça concordando.

De repente, estava bem perto para poder tocá-lo. Encostou a mão no peito dele. Sim, a penugem era macia, mas o corpo era rígido, como mármore quente.

— Deixe-me vê-la também. — Tentou tirar-lhe o vestido.

— Não. — Grace o impediu. — Não quero que me veja. Sou grande demais.

— Não concordo.

— Sou, sim. Sou... imensa e desajeitada.

— Grace, ouça-me. Gosto de mulheres grandes. — Ele riu alto.

— Mas as mulheres devem ser pequenas e delicadas.

David revirou os olhos e recuou alguns passos.

— Olhe para mim. Sou pequeno e delicado?

Ela o fitou. David era magnífico... dos pés à cabeça.

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— Não, você não é pequeno.

— Claro que não. Não quero uma mulher pequena. Eu a amassaria. Preciso... Quero... uma mulher grande. Quero você, Grace. — Segurou-a pelos ombros. — Por favor, não se esconda de mim. Deixe-me vê-la. Deixe-me tocá-la. Deixe-me provar seu gosto.

Grace estremeceu. Seu corpo ansiava por ele. Desejava-o. Era loucura, mas uma loucura deliciosa.

— Sim. — Soltou os braços ao longo do corpo e o vestido deslizou até a cintura. Ouviu a respiração alterada de David. Sentiu os mamilos enrijecerem-se sob o tecido fino da combinação.

Em seguida, a combinação também escorregou até a cintura.

— Grace, você é tão bonita — elogiou-a, contornando o mamilo com a ponta do dedo.

Grace sentia o rosto ardendo. Deveria estar mortificada. Estava mortificada, mas excitada também. Seus seios estavam sensíveis demais.

— Gosta disto? — perguntou David com voz rouca.

— Gosto... muito.

Inclinando-se, ele beijou e sugou o mamilo.

Grace soltou um gemido. A sensação era maravilhosa. Então, as mãos experientes chegaram à cintura delgada e, de repente, suas roupas estavam amontoadas aos seus pés.

Estava nua e muito feliz. Sentia-se viva e... poderosa. David olhava para ela com expressão de quase adoração. Ele a abraçou e beijou-a no pescoço, na orelha.

Grace suspirou. O peito largo, com a penugem macia, causava uma sensação agradável, mas o tecido da calça dele era áspero demais contra sua pele nua. Afastou-se um pouco para resolver esse problema. Com dedos ávidos, encontrou os botões e abriu-a.

— Huh? — David levantou a cabeça. Os seios de Grace eram os seios mais bonitos e gloriosos que já vira, e o perfume e o gosto de sua pele eram mais do que inebriantes. Entretanto, a sensação de seus dedos agindo nos botões da calça era de enlouquecer. Sentia-se quase explodindo de felicidade e... desejo.

Grace abriu o último botão. Mais um movimento e a calça e a cueca caíam aos pés de David. A carne quente e macia foi libertada da pressão das roupas e recebeu o ar frio do quarto e o toque gentil da mão de Grace.

— Oh! — ela falou. Então aquele era o membro masculino?! Acariciou-o com cuidado. Sentiu-o pulsar em suas mãos.

David prendeu a respiração.

— Você... Pode me tocar, meu amor. — A voz soou abafada. — Não vai me machucar.

— Não? — Grace fechou a mão ao redor dele. Provando-o, testando.

— Não.

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As carícias se intensificaram e David gemeu. Algum dia, adoraria deixá-la assumir o controle, mas não naquele momento. Agora precisava atingir o objetivo antes que ela o levasse ao delírio.

Como a amava! Nunca imaginara que aquele tipo de amor existia. Já fizera amor com muitas mulheres, mas só agora percebia que não fora amor que fizera. Não podia esperar mais. Interrompendo-lhe os carinhos, ergueu-a nos braços e a colocou cama. Queria fazer amor com Grace, protegê-la, dar-lhe filhos, entrelaçar suas vidas para sempre.

Beijou-a no rosto, nos olhos... na boca. Os beijos desceram pelo pescoço, seios, ventre, pernas e...

Grace comprimiu as coxas antes que ele chegasse ao lugar que pretendia.

— O que está fazendo? — indagou, assustada.

— Beijando-a.

— Acho que... não é apropriado.

— Mesmo? — David roçou os lábios no veludo rosado que encobria a intimidade dela. — Em qual livro de boas maneiras você encontrou a lista de formas apropriadas para beijos conjugais? Nunca li esse capítulo.

Grace corou.

— Claro que não li num livro!

— Qual foi a patronesse do Almack's que fez esse pronunciamento?

— Não seja ridículo! As patronesses não discutem essas coisas.

— Elas só se preocupam com a conveniência das danças. Agora que estou pensando nisso, aprovaram a valsa. Portanto, acredito que definitivamente elas considerariam essa forma de beijo muito comum.

— David, você está falando asneiras.

— De jeito nenhum. — Ele afagou-lhe as pernas. Grace respirou fundo e abriu-as. — Mas não tenho certeza se elas aprovariam este tipo de beijo. Não se esqueça de perguntar-lhes na próxima vez que for a Londres.

— Você continua falando... Oh!

Ela fechou os joelhos ao sentir a língua ávida no ponto sensível e escondido de sua feminilidade. David deliciou-se, pois, viu-se preso onde desejava estar. Grace agarrou-se ao cabelo dele, gemendo e contorcendo-se.

— David...

Finalmente o momento chegara. David penetrou-a, tornando-a, de fato, sua baronesa. Ele nunca sentira nada tão maravilhoso e tão sublime antes.

— Eu a machuquei?

— Um pouco.

— Sinto muito. — Beijou-a na ponta do nariz. Queria dar-lhe tempo para adaptar-se, mas seu corpo clamava por alívio. Começou a mover-se devagar. Com cuidado. Os movimentos tornaram-se mais rápidos e, logo, o corpo de Grace acompanhava-o com a mesma intensidade até chegarem ao clímax.

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Fechou os olhos, ainda embriagada pelas sensações que David lhe proporcionara. Era como se um furacão a tivesse arrastado para uma correnteza, não de água, mas de explosões de fogos coloridos. Era tudo tão avassalador e estava rodeada pelo calor e pelo cheiro dele.

Sentiu-se realmente casada. Casada e feliz.

Os corpos se separaram e David deitou-se ao lado dela, aninhando-a em seu peito.

— Está tudo bem, baronesa Dawson? — ele murmurou ainda com a voz rouca.

— Muito bem, senhor meu marido. — Grace ajustou-se aos braços musculosos de seu amado barão.

— Para onde você ia se eu não a tivesse encontrado?

— Londres. — Beijou-o de leve nos lábios. — Ia procurar tia Kate.

— Duvido que ela esteja lá. Não tive chance de contar, mas enquanto você fazia suas malas para voltar com seu pai, meu tio e sua tia estavam... tendo uma conversa muito séria... como esta que nós tivemos agora.

— Verdade? Então eles se entenderam?

— Alex foi para Londres um pouco antes de eu deixar a propriedade de Motton. Foi tirar uma licença especial. À esta hora, ele e sua tia já devem estar casados e em lua de mel.

— Tia Kate não esperou por mim?

— Bem, eles estavam com um pouco de pressa. Sua tia está esperando um filho de Alex.

A novidade arrancou-a de seu estado de languidez. Sentou-se na cama.

— O quê?

— Sua tia vai ser mãe. — David acariciou-lhe o seio. — E meu tio vai ser pai.

A carícia de David era envolvente. Grace pensaria na tia mais tarde. Seu corpo estremeceu de desejo. O ponto entre suas pernas começou a pulsar de novo. Seria possível fazerem amor outra vez?

Como se adivinhasse os pensamentos dela, David começou a beijá-la e acariciá-la de modo sugestivo.

— Aliás, baronesa Dawson, meu tio já avisou que gostaria que seu filho tivesse um primo da idade dele, e não apenas um marmanjo como eu.

Entendendo a insinuação, Grace não hesitou. Retribuiu as carícias, preparando-se para receber em seu corpo o homem que amava.

— Concordo, meu amor!

David sorriu e se curvou para amá-la como sonhara desde o instante em que a conhecera. Afinal, era um barão apaixonado, casado com sua musa inspiradora e... imensamente feliz.

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Fim