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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
BENONI SIDINEI BRIZOLLA
SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA
E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
ITAJAÍ-SC
2011
BENONI SIDINEI BRIZOLLA
SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA
E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Dissertação apresentada à Universidade do Vale do
Itajaí (Univali) como requisito para obtenção do grau
de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho – Área de
concentração Saúde da Família.
Orientadora: Profª Drª. Elisete Navas Sanches Próspero
ITAJAÍ-SC
2011
BENONI SIDINEI BRIZOLLA
SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA
E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em Saúde e Gestão
no Trabalho – Ênfase na Saúde da Família e aprovada pelo Mestrado em Saúde e Gestão no
Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde.
Área de Concentração: Saúde Coletiva
Itajaí, 07 de março de 2012.
Profª. Drª. Elisete Navas Sanches Próspero Univali – Universidade do Vale do Itajaí
Orientadora
Profª. Drª. Luciane Peter Grillo Univali – Universidade do Vale do Itajaí
Membro Interno
Profª. Drª. Silvana Nair Leite Universidade Federal de Santa Catarina
Membro Externo
AGRADECIMENTOS
A Deus, luz e espírito supremo, princípio de todas as coisas, pela sua proteção e
auxílio.
À amiga, companheira e grande amor da minha vida, Janaína Nicola Costa Brizolla,
por acreditar no meu potencial e compartilhar as alegrias, ausências, distância e tudo mais...
Às minhas filhas Bárbara e Caiala, por entenderem e tolerarem os dias longe de casa e
por me incentivarem sempre. Amo vocês!
À minha família: mãe, pai (em memória), irmãos, sogro, sogra, sobrinho, tias,
cunhadas e cunhados, pela força. Sem vocês teria sido muito difícil!
À professora e amiga Elisete Navas Sanches Próspero, “maestra” e guia intelectual,
por incentivar e me fazer adentrar no mundo da pesquisa quantitativa! É pela educação,
dedicação, paciência, instrução, carinho e confiança em mim depositada que a admiro desde
os tempos de graduação. Muitíssimo obrigado!
Aos amigos da VII turma de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. Foram muitas
risadas, carinhos e trabalhos.
SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS
SERVIÇOS DE SAÚDE
BRIZOLLA, Benoni Sidinei
PRÓSPERO, Elisete Navas Sanches – Orientadora
RESUMO
Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de saúde dos homens no município de Balneário Piçarras (SC) por meio de um inquérito de base populacional. Realizou-se estudo transversal com amostra de 523 homens, que foi determinada considerando a população de homens com idade igual ou superior a 20 anos, assumindo-se um erro amostral máximo de 5% e grau de confiança de 95%. Foram realizadas entrevistas domiciliares para obtenção de dados relativos a aspectos socioeconômicos e demográficos e condições referidas de saúde. Quanto às doenças crônicas não transmissíveis, observou-se 8,0% de homens portadores de diabetes mellitus, 32,0% de hipertensão arterial, 8,6% de problemas cardíacos e 1,2% de câncer. Em relação aos fatores de proteção, verificou-se prevalência de 57,0% de homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e verduras diariamente e 63,0% que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente. O principal fator de risco apresentado foi de homens que apresentaram obesidade/sobrepeso em 37% dos casos. Ressalta-se a pouca procura pelos serviços de saúde, verificada em 72,4% da amostra. No entanto, quando necessitaram, 79,0% dos entrevistados se dirigiram para a unidade básica de saúde. O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de saúde foi o médico, em 76,7% dos casos. Nesse município também foi evidenciado o crescimento da morbidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e ao aumento dos custos da assistência à saúde.
Palavras-chave: Saúde do homem; Acesso aos serviços de saúde; Inquérito epidemiológico.
MEN'S HEALTH: MORBIDITY, LIFESTYLE AND USE OF THE HEALTH
SERVICES: A POPULATION-BASED SURVEY
BRIZOLLA, Benoni Sidinei
PRÓSPERO, Elisete Navas Sanches – Coordinator
ABSTRACT
OBJECTIVE: This study aimed to determine the prevalence of morbidity, lifestyle and use of the health services among men in the city of Piçarras, through a population-based survey carried out in 2010. METHODS: a cross-section population-based sample of 523 men was determined, considering the population of men aged 20 years or over, assuming a maximum sampling error of 5% and a confidence level of 95%. Household interviews were conducted to obtain data on socioeconomic and demographic aspects and reported health conditions. Results: In relation to chronic non-transmissible diseases, it was observed that 8.0% (95% CI 5.4 to 9.9) of the men had diabetes mellitus, 32.0% (95% CI 27.8 to 35.7) had high blood pressure, 8.6% (95% CI 6.2 to 11.0) had heart problems, and 1.2% (95% CI 0.2 to 2.1) had cancer. In terms of protective factors, we found a prevalence of 57.0% (95% CI 53.1 to 61.6) of men who reported not eating at least five servings of fruits and vegetables a day, and 63.0% (95% 64.3 to 72.2) who did not do at least 30 minutes of moderate to intense physical activity a day. The main risk factor among the men was obesity/excess weight, in 37% of cases. Also emphasized is the fact that men do not seek out the health services, as seen in 72.4% (95% CI 68.4 to 76.4). However, when necessary, 79.0% (95% CI 75.5 to 82.5) did seek the services of a Basic Health Unit. The most sought-after professional when health problems occurred was a doctor, in 76.7% of cases. In the municipality in question, there was also evidence of increased morbidity from chronic diseases that affect the ability to perform usual activities, leading to a decrease in quality of life and increased costs of health care.
Keywords: Men's health; Access to health services; Epidemiological survey.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACS – Agente Comunitário de Saúde
ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Conep – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
DCNT – doença crônica não transmissível
ESF – Estratégia de Saúde da Família
EUA – Estados Unidos da América
Fapesc – Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IMC – Índice de Massa Corporal
Inca – Instituto Nacional do Câncer
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISA-SP – Inquérito Multicêntrico de Saúde no Estado de São Paulo
MS – Ministério da Saúde
NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NOAS – Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB – Norma Operacional Básica de Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde
PET-Saúde – Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde
PIB – Produto Interno Bruto
Pibic – Programa de Incentivo à Iniciação Científica
PNAB – Política Nacional de Atenção Básica
PNAISH – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem
Promed – Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina
Pró-Saúde – Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde
RCQ – Razão Cintura Quadril
SAS – Secretaria de Atenção à Saúde
SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica
SUS – Sistema Único de Saúde
UBS – Unidade Básica de Saúde
Univali – Universidade do Vale do Itajaí
Vigitel - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus,
hipertensão arterial, doenças do coração e câncer................................................................................34
Tabela 2 – Características sociodemográficas da amostra...................................................................35
Tabela 3 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção.....36
Tabela 4 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco...........36
Tabela 5 – Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias
anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com
problemas de saúde.................................................................................................................................37
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................9
2 OBJETIVOS DA PESQUISA.............................................................................................14
2.1 Objetivo geral....................................................................................................................14
2.2 Objetivos específicos.........................................................................................................14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .....................................................................................15
3.1Gênero e morbidade...........................................................................................................15
3.2 O homem e a utilização dos serviços de saúde................................................................19
3.3 Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional......22
4 MÉTODO ............................................................................................................................28
4.1 Desenho do estudo.............................................................................................................28
4.2 Local da pesquisa .............................................................................................................28
4.3 População do estudo..........................................................................................................29
4.4 Amostra..............................................................................................................................29
4.5 Sensibilização para a pesquisa.........................................................................................29
4.6 Coleta de dados..................................................................................................................29
4.6.1 Instrumento de coleta de dados........................................................................................30
4.7 Variáveis do estudo...........................................................................................................31
4.8 Processamento e análise dos dados..................................................................................33
4.9 Aspectos éticos...................................................................................................................33
5 APRESENTAÇAO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..............................................34
5.1 Dados obtidos no estudo...................................................................................................34
5.2 Discussão dos resultados...................................................................................................38
5.3 Artigo para publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva......................................43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................71
REFERÊNCIAS.......................................................................................................73
APÊNDICE A..........................................................................................................................79
APÊNDICE B..........................................................................................................85
9
1 INTRODUÇÃO
Para se discutir a atenção que vem sendo dada aos homens no campo da saúde, faz-se
necessário examinar os estudos que consideram a diversidade e a multiplicidade de formas de
se vivenciar a masculinidade, em contraposição ao modelo hegemônico construído
socialmente (SIMIÃO, 2010).
Com base em diferenças anatômicas e biológicas entre homens e mulheres, as
sociedades humanas costumam dividir sua população em dois grupos distintos: masculino e
feminino. Essa divisão se fundamenta “em uma série de pressupostos (derivados da cultura
em que ocorrem) sobre os diferentes atributos, crenças e comportamentos característicos dos
indivíduos em cada uma das categorias” (HELMAN, 2007, p. 146).
A sociedade é que impõe à mulher e ao homem certos comportamentos e determinadas
normas diferentes, incluindo um entendimento dos diferentes papéis e expectativas dos
gêneros dentro das comunidades. “Não existe um homem natural nem uma mulher natural, o
ser humano nasce sexualmente neutro, a sociedade é que constrói os papéis masculinos ou
femininos. ‘Gêneros’ são papéis socialmente construídos” (CRUZ, 2007).
Perante a lei, entende-se por identidade de gênero a expressão pela qual a pessoa se
identifica, independente de seu sexo biológico ou daquele que se encontra em seu registro de
nascimento. Já as concepções de masculino e feminino, “nas quais todos os seres humanos
são classificados, formam, em cada cultura, um sistema de gênero, sistema simbólico ou
sistema de significados que relaciona o tipo de sexo a conteúdos culturais de acordo com
valores e hierarquias sociais” (LAURETIS, 1994, p. 211).
Ao abordar a relação ideologia-gênero, a autora enfatiza que, “se o sistema sexo-
gênero é um conjunto de relações sociais que se mantém por meio da existência social, então
o gênero é efetivamente uma instância primordial da ideologia” (LAURETIS, 1994, p. 216).
Gênero é a construção cultural coletiva dos atributos da masculinidade e feminilidade. Esse conceito foi proposto para distinguir-se do conceito de sexo, que define as características biológicas de cada indivíduo. Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que chamamos de socialização de
gênero, baseado nas expectativas que a cultura tem em relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade sexual é algo construído, que transcende o biológico. O sistema de gênero ordena a vida nas sociedades [...] distinguem-se os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho, na oferta de bens e serviços e até na instituição e aplicação das normas legais (BRASIL, 2001, p. 14).
Vários estudos sobre gênero, como os de Marques e Amâncio (2004), Villela (2005),
Gomes, Nascimento e Araújo (2007) e Maciel (2009), demonstram que os homens assumem o
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papel de provedor, enfatizando o trabalho em detrimento da sua saúde, enquanto as mulheres,
mais preocupadas com o cuidado familiar, têm maior intimidade com e procuram mais os
serviços de saúde.
A divisão do mundo social nas categorias “masculino e feminino” significa que
meninos e meninas são socializados de modos diferentes. São educados para ter expectativas
diversas com relação à vida e para desenvolver a emoção e o intelecto de formas distintas,
além de estarem sujeitos, na vida diária, a diferentes normas de comportamentos, seja por
contribuição da biologia, seja pela cultura, que contribui com um conjunto de diretrizes
explícitas e implícitas que são adquiridas na primeira infância e ditam ao indivíduo como ele
deve perceber, pensar, sentir e agir como membro masculino ou feminino de uma sociedade
(HELMAN, 2007).
DeSouza, Baldwin e Rosa (2000, p. 490), citando Barker e Loewenstein (1997),
destacam que no Brasil, “mesmo considerando um aspeto chave de ser homem ‘pôr-se ativo
sexualmente’, associam ‘sustentar-se a si mesmo e a sua família’ como uma parte importante
de ser homem”. O homem é visto como o representante legal, o provedor, aquele que sustenta
a família.
Embora historicamente o papel de provedor esteja associado ao homem, quase metade
dos lares está sendo mantido pelas mulheres (BAPTISTA, 2010). Isso é consequência, em
grande medida, de transformações sociais que incluem a inserção da mulher no mercado de
trabalho e mudanças nas diferentes atribuições de cada membro da família contemporânea
(MACIEL, 2009).
Esse contexto social reflete inevitavelmente na saúde do homem. É o que revelam
estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde (MS), como o crescente aumento das causas
de mortalidade e, consequentemente, redução da expectativa de vida da população brasileira
masculina. Os indicadores de saúde demonstram que, a cada três mortes de pessoas adultas,
duas são de homens. Em cada grupo de cinco pessoas que morrem entre 20 e 30 anos, quatro
são homens. Em média, os homens vivem sete anos a menos que as mulheres (BRASIL,
2009a).
Schraiber, Gomes e Couto (2005) comentam que as investigações latino-americanas e
brasileiras sobre homens e saúde surgiram no final dos anos 1980 e seguem a tendência dos
estudos produzidos na Europa e nos Estados Unidos. Citam a pesquisa de Laurenti (1998)
sobre o perfil epidemiológico da saúde masculina na região das Américas, que destaca “um
diferencial entre os sexos, especialmente quanto a uma maior mortalidade masculina em todas
as idades, além da sobremortalidade neste sexo para a quase totalidade das causas”. O mesmo
11
estudo aponta “predomínio do adoecimento feminino, constatado por indicadores de
morbidade, medidos pelas demandas dos serviços e inquéritos populacionais” (SCHRAIBER;
GOMES; COUTO, 2005, p. 9).
Nos últimos anos, países desenvolvidos e em desenvolvimento estão experimentando
um crescimento da mortalidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa
das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e do aumento dos custos
da assistência à saúde (SOUZA et al., 2008; BRASIL, 2004).
Reunindo dados de estudos desenvolvidos por diversos autores, Souza et al. (2008)
acentuam que a ocorrência de fatores de risco associados a problemas de saúde varia segundo
sexo e situação social. Obesidade, sedentarismo, estresse, depressão, consequências de
gestações repetidas e pressões ligadas aos papéis sociais são os fatores que aumentam os
riscos de doenças em mulheres. Entre os homens, comportamentos de risco — excesso de
consumo de álcool, tabagismo, maior exposição a situações de violência, acidentes e riscos
ocupacionais — são mais frequentes e colaboram com o aumento de riscos de problemas de
saúde em longo prazo. “A presença desses e de outros fatores de riscos está associada ao
desempenho dos papéis sociais dos indivíduos, o que afeta diretamente tanto a qualidade de
vida quanto a percepção do estado de saúde” (SOUZA et al. 2008, p. 742).
Segundo Pinheiro et al. (2002), estudos norte-americanos revelam que os homens
sofrem mais de doenças crônicas fatais e referem mais restrições de atividades e incapacidade
de longa duração devido a problemas crônicos de saúde. As mulheres apresentam mais
frequentemente doenças agudas, transitórias e crônicas não fatais que, de modo geral,
apresentam baixa letalidade, causam incapacidade em muitos casos e geram grande volume de
demanda aos serviços públicos.
Na maioria das vezes, os homens recorrem aos serviços de saúde apenas quando a
doença está mais avançada. Assim, em vez de serem atendidos no posto de saúde, perto de sua
casa, eles precisam procurar um especialista, o que gera maior custo para o SUS e, sobretudo,
sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família (BRASIL, 2009a).
Uma das causas de morte que afeta mais homens que mulheres se associada com a
violência — problema que está afetando gravemente a humanidade. Segundo Fernandes
(2005), a violência está entre as principais causas de mortes de pessoas entre 15 e 44 anos. “O
uso intencional de força física e ou abuso de poder, contra outra pessoa, grupo ou comunidade
trazem impacto e conseqüências danosas para a humanidade” (BRASIL, 2003, p. 9). Para
Maciel (2009), essa situação demanda, dos profissionais e gestores de saúde, iniciativas para a
inclusão do homem nas ações de assistência e políticas públicas de saúde, partindo da
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compreensão de suas concepções acerca da atenção à sua saúde.
Foi considerando esse contexto que a Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do
Ministério da Saúde (MS), responsável pela organização e elaboração de planos e políticas
públicas nacionais voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros,
elaborou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), com seus
princípios e diretrizes, reforçando a necessidade de uma atenção maior para alcançar bons
níveis de saúde para esta população (BRASIL, 2009a).
Nessa lógica, além de implantar o PNAISH, torna-se necessário que os profissionais
de saúde passem a incorporar métodos eficazes para trabalhar a saúde do homem nas rotinas
dos serviços de saúde. Apesar do tempo de criação dessa política pública, trata-se de um
universo novo para todos os envolvidos no processo, pensando-se no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), desde a porta de entrada do sistema — atenção primária —, até os
níveis de maior complexidade.
Maciel (2009, p. 23) enfatiza que “pela primeira vez, ao longo da história das políticas
de saúde, o homem ganha um espaço próprio e tem seus agravos reconhecidos como
problemas de saúde pública”. É importante destacar que o Brasil se tornou “o segundo país da
América que tem um setor para a saúde do homem; até então apenas o Canadá tinha esse
departamento” (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009, p. 662).
Schraiber, Gomes e Couto (2005), citando Keijzer (2003), informam que na América
Latina há uma quantidade crescente de programas que se voltam para a experiência de
homens em relação à sexualidade, reprodução, paternidade, violência ou a própria saúde. Os
autores acrescentam que Keijzer considera que a inclusão da temática “‘homens e saúde’
poderá ter como resultado a participação dos homens no alcance dos objetivos programáticos
dessas organizações, deslocando-se da visão tradicional do homem apenas como parte dos
problemas para concebê-lo também como parte da solução” (SCHRAIBER; GOMES;
COUTO, 2005, p. 9).
Com o objetivo de verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da
utilização dos serviços de saúde da população masculina do município de Balneário Piçarras
(SC), desenvolveu-se estudo transversal, utilizando inquérito de base populacional. Esta
pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e
financiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
Contou com bolsas de iniciação científica do Programa de Incentivo à Iniciação Científica
(Pibic) e apoio da administração municipal e do poder legislativo de Balneário Piçarras.
13
Acredita-se que os inquéritos de base populacional são meios apropriados para a
obtenção dos novos indicadores necessários para o monitoramento do estado de saúde e do
desempenho dos sistemas de saúde, tendo como eixo a questão da equidade. Na área da saúde,
esses inquéritos foram elaborados e estão sendo empregados em países desenvolvidos desde o
final da década de 1950 (BERNARDI, 2008). Esses estudos devem dispor de dados
representativos do que ocorre na comunidade, em tempo oportuno, para serem utilizados em
planejamento, implementação e avaliação de intervenções de saúde (CAMPOS et al., 2006).
14
2 OBJETIVOS DA PESQUISA
2.1 Objetivo geral
Verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de
saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC), por meio de inquérito de base
populacional.
2.2 Objetivos específicos
• Verificar as características sociodemográficas: naturalidade, escolaridade, situação de
trabalho, religião, situação conjugal, raça, idade e renda per capita.
• Verificar a prevalência do estilo de vida: sedentarismo, tabagismo, hábitos alimentares,
obesidade e alcoolismo.
• Verificar a prevalência da morbidade referida para doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT): hipertensão arterial, doenças cardíacas, diabetes mellitus e câncer de próstata.
• Verificar a prevalência da utilização dos serviços de saúde: acesso aos serviços de saúde,
realização de exames preventivos, serviços de saúde que utiliza e qual profissional da área de
saúde que procura.
15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esta seção reúne formulações teóricas selecionadas a partir de pesquisa bibliográfica
que incluiu consulta a livros e revistas especializadas, artigos científicos e outras publicações
que abordam os temas de interesse deste estudo. Inicia com informações acerca de gênero e
morbidade e segue com abordagem sobre o homem e o acesso aos serviços de saúde, doenças
crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional.
3.1 Gênero e morbidade
Estudos norte-americanos sobre homens e saúde tiveram início em 1970, sendo um
marco inicial as análises críticas ao modelo biomédico (GOMES; NASCIMENTO, 2006).
Para Sabo (2000), citado por Schraiber, Gomes e Couto (2005, p. 8), o trabalho de
investigação sobre a saúde dos homens nessa década foi “apenas exploratório, tangenciado
pela teoria e política feministas e organizava-se conceitualmente em torno da premissa de que
a masculinidade tradicional produzia déficit de saúde”. Nos anos 1980 essa “perspectiva
avança de forma mais consistente, observando-se, inclusive, uma mudança de terminologia:
de estudos dos homens para estudos de masculinidades” (SCHRAIBER; GOMES; COUTO,
2005, p. 8).
Os anos 90 consolidam as noções de poder, desigualdade e iniqüidade de gênero na maioria dos estudos sobre homens e saúde, articulando-as a outras, tais como raça/cor, etnia, orientação sexual, classe, geração, religião etc., a fim de se entender os processos de saúde e doença dos diferentes segmentos de homens. [...] Destaque-se que nos últimos anos, os referenciais conceituais de Connell (1995) e Kimmel (1992; 1997) vêm fundamentando análises de pesquisadores interessados nos processos de morbi-mortalidade em populações masculinas, tais como os [de] autores que defendem que a masculinidade hegemônica gera comportamentos danosos à saúde, fazendo emergir fatores de risco importantes para o adoecimento (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005, p. 9).
Percebe-se que gênero foi um conceito “construído socialmente, buscando
compreender as relações estabelecidas entre os homens e as mulheres, os papéis que cada um
assume na sociedade e as relações de poder estabelecidas entre eles” (MELO; SANTOS;
COSTA, 2011, p. 4). Para Saffioti (1992, p. 10), “não basta que um dos gêneros conheça e
pratique atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada gênero
conheça as responsabilidades do outro gênero”, porque, “do lugar que é atribuído socialmente
16
a cada um, dependerá a forma como se terá acesso à própria sobrevivência como sexo, classe
e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta uma visão particular da mesma”
(CARLOTO, 2001, p. 2002).
O “quem somos” vai se constituindo através das relações com os outros, com o mundo dado, objetivo. Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal, uma história de vida e um projeto de vida. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino ou menina também conformam as referências iniciais no mundo. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino ou menina também conforma as referências iniciais no mundo. [...] existe, portanto, uma expectativa de que as pessoas devem agir de acordo com suas predicações e ser tratadas como tal (CARLOTO, 2001, p. 204).
A autora continua argumentando que, de certa forma,
re-atualizamos, através de ritos sociais, uma identidade pressuposta, que assim é vista como algo dado. Com isso retira-se o caráter de historicidade da mesma, aproximando-se mais da noção de um mito que prescreve as condutas corretas, re-produzindo o social (CARLOTO, 2001, p. 204).
West e Fensternmaker (1997, p. 60) afirmam que “nenhuma pessoa pode conhecer
gênero sem simultaneamente conhecer raça e classe”, o modo de ser e de estar no mundo
advindo das relações de poder.
Homens e mulheres certamente não são construídos apenas através de mecanismos de repressão ou censura, eles e elas fazem também, através de práticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas (e usualmente, diversas). Os gêneros se produzem, portanto, nas e pelas relações de poder (LOURO, 1997, p. 41).
Para Saffioti (1992, p. 210), “a construção dos gêneros se dá através da dinâmica das
relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros”. A
autora considera que não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro.
Enfatiza que “é a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do
Eu, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais,
perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia” (SAFFIOTI, 1992,
p. 210).
Podemos dizer que “a categoria gênero incorpora atributos e funções — socialmente
construídos — que configuram diferenças e inter-relações entre os sexos, que vão além do
biológico” (FERNANDES, 2009, p. 706). Assim, acrescenta a autora, “ser homem ou ser
17
mulher implica a incorporação desses atributos e funções, como forma de representar-se,
valorizar-se e atuar numa determinada cultura”.
Para Oliveira (2002, p. 68), “tanto as crenças quanto os padrões de comportamento dos
indivíduos fazem parte [de um] sistema de atenção à saúde e são, em grande parte, derivados
de regras culturais”.
Gomes e Nascimento (2006) destacam que, a partir da década de 1990, os debates
sobre o tema saúde do homem começaram a focalizar a ressignificação do masculino para
buscar-se uma saúde mais integral do homem. Nesse contexto, os autores fazem referência a
publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que passaram a considerar as
especificidades da saúde masculina ou o seu comprometimento em diferentes fases da vida.
Deve ser de entendimento de todos que os obstáculos e as resistências associadas à
saúde do homem, numa dimensão relacional de gênero, vêm das diferenças de papéis por
gênero, impostas e presentes no imaginário social (GOMES; NASCIMENTO: ARAÚJO,
2007). Isso faz com que se entendam os cuidados como próprios do âmbito feminino, faltando
a percepção de que, “quando influenciado por ideologias hegemônicas de gênero, o homem
pode colocar em risco tanto a saúde da mulher quanto a sua própria” (GOMES;
SCHRAIBER; COUTO, 2005, p. 4).
Os estudos de gênero apontam que é mais difícil “construir” um homem do que uma mulher pelas vicissitudes por que passa o gênero masculino para a construção de sua identidade e subjetividade, desde a concepção até a vida adulta viril. Os perigos começam desde a constituição biológica, perpassando a existência física, psicológica e sociocultural masculina (BRAZ, 2005, p. 100).
Segundo Dutra (2002), citado por Braz (2005, p. 100), “a masculinidade começa a ser
percebida como culturalmente construída, variando segundo as sociedades ou, no âmbito de
uma mesma sociedade, segundo diferentes períodos históricos”. Braz (2005, p. 101) afirma
que “esta constante questão de gênero que perpassa a conduta e os hábitos masculinos produz
não somente modos de vida, como também modos de adoecer e morrer”.
De acordo com Pinheiro et al. (2002), as diferenças de gênero no risco de adoecer variam de acordo com o estilo de vida (fumo, álcool, estresse, trabalho), fatores genéticos ou hormonais, como também com a biologia (maior vulnerabilidade masculina, mesmo na fase intra-uterina). Poucos estudos apontam para a forma como é estruturada a subjetividade masculina e sua possível relação com a morbi-mortalidade (BRAZ, 2005, p. 99).
No “Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de
18
doenças e agravos não transmissíveis”, o Ministério da Saúde enfatiza que “a doença e a
saúde formam um processo dinâmico que reflete a ligação estrutural entre o corpo e a
sociedade, os quais são cruciais para se estudar a percepção do estado de saúde”. Acrescenta
que “as desigualdades sociais também podem ser verificadas por meio de avaliação dos
indicadores de saúde de determinada população, sendo que, em geral, os mais utilizados são
os relativos à mortalidade e a morbidade referida” (BRASIL, 2004, p. 159).
Medidas de mortalidade e morbidade referida e a restrição de atividades rotineiras são importantes indicadores das condições de saúde quando a população é homogênea. Neste sentido, esses indicadores são largamente utilizados para estudar demanda por serviços de saúde, avaliar as condições de saúde populacionais, avaliar as políticas de saúde e auxiliar na formulação de novas propostas de saúde pública, para que sejam melhoradas as condições de vida da população (BRASIL, 2004, p. 159).
Há que se considerar, como ressaltam Schraiber, Gomes e Couto (2005), que a
influência da socialização de gênero nos processos de morbidade relativos ao ambiente de
trabalho evidencia como o trabalho, tão importante na constituição da identidade masculina,
ou mesmo sua falta (o desemprego/a não-ocupação), tem consequências para o adoecimento e
o cuidado com a saúde. Os autores destacam o estresse ocupacional (especialmente
relacionado à competência e possibilidades de conseguir avanço na carreira), os riscos de
desempenho de tarefas perigosas, o não acatamento de normas de segurança no uso de
equipamentos e em certas atividades no trabalho, todos eles desempenhos ou comportamentos
bastante convergentes com os padrões constituintes do perfil masculino de morbi-mortalidade.
Em termos de perda de trabalho ou dificuldade de recolocação, há os comportamentos associados ao uso abusivo de álcool. A falta de trabalho (e impossibilidade de prover materialmente a família) é aspecto importante relacionado aos riscos de saúde dos homens. Por outro lado, quando se trata de cuidado com a saúde, o trabalho tem sido considerado como obstáculo para o acesso aos serviços de saúde ou a continuidade de tratamentos já estabelecidos. Falta de tempo, impossibilidade de deixar as atividades, ou medo de que a revelação do problema de saúde e a ausência para tratamento médico possam prejudicá-los, resultando em perda do posto de trabalho, são as preocupações em homens que adoecem no trabalho, por doenças ocupacionais ou não (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005, p. 10-11).
As doenças ocupacionais constituem um grave problema de saúde pública em todo o
mundo. Os trabalhadores estão expostos aos riscos gerais e específicos relacionados às suas
atividades laborais, que são agravados pela falta ou inadequação de recursos materiais que
colaboram para as condições inseguras no trabalho. O desconhecimento em relação ao
19
processo de trabalho e sua correlação com o processo saúde/doença, associado à falta de
informações sobre os riscos ocupacionais, deixa os profissionais mais susceptíveis aos
agravos à saúde decorrentes dos riscos ocupacionais (CAVALCANTE et al., 2006).
Nesse contexto, há que se considerar ainda que o homem assumiu diante da sociedade
o papel de “chefe de família”, de “macho”, e passa a maioria do tempo tentando provar para
os outros e para si mesmo que isso é verdadeiro; age conforme esse rótulo, que apresenta
muitos aspectos negativos, com ideias preconcebidas e sem fundamento. Com a agitação do
dia a dia, trabalho aumentando, cansaço acumulando, os compromissos se multiplicando,
aparece o resultado: a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens; eles vivem,
em média, sete anos menos que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes,
colesterol e pressão arterial elevada (BRASIL, 2009a).
Além das óbvias diferenças anatômicas e fisiológicas que caracterizam homens e mulheres, cada qual a seu tempo e modo, vivem experiências específicas, privadas e não compartilhada pelo sexo oposto. [...] Essa diversidade biológica e social é traduzida em coeficientes de incidência, prevalência ou mortalidade por causas específicas significantemente diferentes (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999, p. 112).
Nas sociedades em desenvolvimento, como o Brasil, onde a esperança de vida se
encontra em processo de aumento gradativo e constante, a mortalidade masculina está
aumentando e se distanciando da mortalidade feminina. Os anos potenciais de vida perdidos
são muito maiores para os homens do que para as mulheres. Os óbitos que levam a uma
enorme perda de potencial produtivo masculino ocorrem, em sua maioria, por causas
evitáveis, o que evidencia uma necessidade de estudos e intervenções para que essas
diferenças sejam minimizadas (SILVA et al., 2008).
3.2 O homem e o acesso aos serviços de saúde
Em 1977, na 30ª Assembleia Mundial de Saúde, foi lançado o movimento “Saúde para
todos no ano 2000”, sustentado na proposta de reestruturação da saúde pública. A expressão
saúde para todos se afirmou num compromisso entre os países das Nações Unidas durante a
Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada na cidade de Alma-
Ata (antiga União Soviética) em 1978 (BRASIL, 2000).
A 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa
(Canadá) em novembro de 1986, resultou na elaboração de um documento, a Carta de Ottawa,
20
que enfatiza os seguintes pré-requisitos essenciais para a saúde: paz, educação, habitação,
poder aquisitivo, ecossistema estável, conservação dos recursos naturais e equidade. “A idéia
é a que a saúde é uma produção social, portanto é preciso construir ambientes saudáveis que
possibilitem que escolhas saudáveis sejam também as mais fáceis e de que há que se
promover saúde em todos os níveis do sistema” (SAUPE; WENDHAUSEN, 2006, p. 110).
No Brasil, nesse mesmo ano, foi publicado o relatório da 8ª Conferência Nacional de
Saúde, no qual se considera a saúde como “a resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (BRASIL, 1986, p. 04). A partir dessa
definição e graças aos novos rumos das políticas de saúde nos anos 1990, incentivados pelo
movimento de Reforma Sanitária, construiu-se o Sistema Único de Saúde, regulamentado
pelas leis orgânicas de saúde na mesma década (SECRETARIA DE ESTADO DE
SAÚDE/SC, 2002).
As ações do SUS são desenvolvidas de acordo com as diretrizes previstas no Art. 198
da Constituição Federal (BRASIL, 1988), pautando-se nos princípios de universalidade de
acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de atenção, integralidade de assistência,
equidade e participação da comunidade como corresponsável no processo saúde/doença. Cabe
ressaltar que o artigo 226 da Constituição Federal determina que “o Estado assegurará a
assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para
coibir a violência no âmbito de suas relações” (BRASIL, 1988).
O acesso aos serviços de saúde no Brasil começou a ser regulamentado por meio da
Portaria nº 648/GM, de 28 de março de 2006, que aprova a Política Nacional de Atenção
Básica (PNAB), enfatizando que essa atenção envolve o “exercício de práticas gerenciais e
sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes dirigidas a
populações de territórios bem delimitados” (BRASIL, 2006). Orienta-se pelos princípios da
universalidade, acessibilidade e coordenação do cuidado, vínculo e continuidade,
integralidade, responsabilização, humanização, equidade e participação social.
O acesso à saúde, além da proporcionalidade entre serviços e usuários, implica uma
relação dinâmica entre as necessidades, aspirações e cultura da população, a demanda de
serviços e os recursos disponíveis para satisfazê-las. A Organização Mundial da Saúde
recomenda que a definição de “acessível” seja adaptada à realidade de cada região. Isso
significa pensar as necessidades da população não apenas em relação aos recursos
institucionais existentes, mas também como se apresentam as comunidades em relação à
localização para ter melhor acesso aos serviços de saúde (FRANÇOIS, 2008).
21
A atenção básica constitui o primeiro nível de atenção à saúde, de acordo com o
modelo adotado pelo SUS. Engloba o conjunto de ações de caráter individual ou coletivo que
envolve a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o diagnóstico, o tratamento e a
reabilitação dos pacientes. Nesse nível de atenção à saúde, o atendimento ao usuário deve
seguir uma cadeia progressiva, garantindo o acesso aos cuidados e as tecnologias necessárias
e adequadas à prevenção e ao enfrentamento das doenças para prolongamento da vida
(BRASIL, 2005).
Essa atenção constitui o ponto de aproximação preferencial dos usuários com o SUS e
seu primeiro contato é realizado pelas especialidades básicas da saúde, que são: clínica
médica, pediatria, obstetrícia, ginecologia, inclusive as emergência nesta área (BRASIL,
2005). Não basta aguardar que os pacientes se interessem mais pela sua saúde e procurem
serviços específicos. É preciso que os profissionais da área promovam uma atenção mais
local, dividida por áreas de atuação dentro da comunidade, o que justifica a criação do
programa Estratégia Saúde da Família (ESF).
Nessa perspectiva, a Política Nacional de Atenção Básica visa atender o usuário,
considerando os condicionantes de saúde. Assim, a atenção à saúde pauta-se na integralidade
da assistência, nas condições socioeconômicas do usuário, suas potencialidades e
incapacidades de viver saudável e também no serviço de referência e contrarreferência para a
promoção e prevenção da saúde, tratamento de doenças e reabilitação (BRASIL, 2006).
A Saúde da Família é a estratégia para a organização da atenção básica do SUS.
Propõe a reorganização das práticas de saúde que leve em conta a necessidade de adequar as
ações e serviços à realidade da população em cada unidade territorial, definida em função das
características sociais, epidemiológicas e sanitárias. Busca uma prática que garanta a
promoção à saúde, a continuidade do cuidado, a integralidade da atenção, a prevenção e, em
especial, a responsabilização pela saúde da população, com ações permanentes de vigilância
em saúde (BRASIL, 2007). Substitui as práticas convencionais, eminentemente curativas e
emergenciais por atuação centrada nos princípios da vigilância em saúde (RUBIO, 2005) e,
quando bem estruturada, tem capacidade de resolver até 85% dos problemas de saúde da
comunidade assistida.
Uma unidade de saúde atende uma região geográfica bem delimitada, com uma
população definida por uma área de abrangência conhecida como território, que é a base do
trabalho das equipes da ESF para a prática da vigilância em saúde. Cabe salientar que a
territorialização é um dos princípios da atenção básica. O propósito fundamental desse
processo de saúde integral é permitir que se elejam prioridades para o enfrentamento dos
22
problemas identificados nos territórios de atuação, o que refletirá na definição de ações mais
adequadas, contribuindo para o planejamento e a programação local. Para isso é necessário o
reconhecimento e mapeamento do território, segundo as lógicas das relações entre ambiente,
condições de vida, saúde e acesso às ações e serviços de saúde. Isso implica um processo de
coleta e sistematização de dados demográficos, socioeconômicos, político-culturais,
epidemiológicos e sanitários que, posteriormente, devem ser interpretados e atualizados
periodicamente pela equipe de saúde (BRASIL, 2007).
No entanto, para se pensar em uma assistência integral, com base na determinação
social do processo saúde/doença, é necessário fundamentar as ações centradas no usuário,
modificando a finalidade do processo de trabalho do modelo médico-curativo, que passa então
a ser a produção do cuidado e a autonomização do sujeito orientada pelos princípios da
integralidade e interdisciplinaridade, trabalho em equipe, humanização dos serviços e criação
de vínculos entre usuário, profissional e equipes de saúde (MEHRHY et al., 2006).
Esse entendimento nos remete a duas questões de fundamental importância. A primeira é a da prevenção propriamente dita, a qual não se faz sem educação. Sendo assim, para assistir a saúde do homem de maneira adequada, é preciso estar em contato com ele, fornecendo-lhe informações, para que possa ter uma qualidade melhor de vida e menor risco de adoecimento. O segundo fator é que a prevenção tem resultados no presente, mas seus benefícios são ainda maiores no longo prazo. Essa concepção aponta para a necessidade de cuidar da saúde do homem hoje, para que tenhamos amanhã idosos saudáveis e com melhor qualidade de vida (MACIEL, 2009, p. 17).
3.3 Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são causadas por comportamentos de
risco modificáveis, como estilo de vida, e não modificáveis, como sexo, idade, e herança
genética (BRASIL, 2009b).
Em 1999, estima-se que essas doenças causaram aproximadamente 60% dos óbitos em
todo o mundo e as previsões da OMS para 2020, com referência a países em desenvolvimento
ou recentemente industrializados, são de que haverá aumento de cerca de 50% nos óbitos por
essas causas (CAMPOS et al., 2006).
É nesse cenário que ganha destaque a epidemiologia, área do conhecimento que
agrega saberes de outras ciências, como a história, a estatística, a sociologia e a biologia, para
a compreensão do processo saúde/doença na comunidade. Através do método epidemiológico
se analisam a distribuição, os fatores determinantes, a prevalência, a incidência e a
23
probabilidade de ocorrência desse processo (RUBIO, 2005).
A epidemiologia assumiu cada vez mais o positivismo na área das ciências naturais através do modelo da biologia, pois se a fisiopatologia se ocupa dos processos patológicos do organismo, a epidemiologia aborda mais os processos nas sociedades definindo-se essencialmente pelo caráter social (MEDRONHO, 2009, p. 07).
A ocorrência de agravos à saúde é um fenômeno que suscita grande interesse na
identificação de seus fatores ou mecanismos causais, o que contribui para o desenvolvimento
de ações de prevenção, controle e tratamento. Nesse sentido, as ciências biológicas
tradicionais, como anatomia, fisiologia, citologia, bacteriologia, virologia e histologia,
têm sido a base para a prática da medicina moderna. O conhecimento da doença nos níveis tecidual e celular, ou seja, a plausibilidade biológica pode facilitar o trabalho de inferência causal e a epidemiologia abre caminhos para hipóteses de plausibilidade biológica e vice-versa; ela relaciona a distribuição de doenças com as características das pessoas, adoecimento, fatores de incidência, prevalência meio ambiente e agravos à saúde (MEDRONHO, 2009, p. 153).
Mundialmente, os primeiros indicadores de saúde eram constituídos por medidas de
mortalidade, obtidas a partir de estatísticas de registros civil, referentes a grupos
populacionais e utilizadas tradicionalmente há mais de um século.
Ao longo dos últimos 50 anos, o foco de interesse em torno do desenvolvimento de
indicadores de saúde se deslocou progressivamente da mortalidade para a morbidade,
destacando-se a prevenção e o retardamento do adoecimento, para que as pessoas
desempenham suas atividades e desenvolvam seus papéis sociais, satisfazendo seu próprio
estado de saúde e de qualidade de vida (MEDRONHO, 2009).
O desenvolvimento de políticas de promoção da saúde requer avaliações confiáveis da
magnitude da morbimortalidade de doenças e dos eventos relacionados à saúde, assim como
informações do custo/efetividade de intervenções e de estratégias. Todos esses pontos são
críticos quando se trabalha com doenças não infecciosas, em sua maioria de evolução crônica
(CAMPOS et al., 2006).
Doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, hipercolesterolemia,
tabagismo, alcoolismo, obesidade e inúmeras doenças associadas a esses fatores, constituem
problemas relevantes em saúde pública em todo o globo. Estudo efetuado por Vartiainem et
al. (1995), citados por Campos et al. (2006), apontou que somente o tabagismo, a hipertensão
e a hipercolesterolemia explicam aproximadamente dois terços a três quartos das doenças
24
cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.
A vigilância de fatores de risco, até recentemente, era utilizada somente em países
desenvolvidos; no entanto, por iniciativa da OMS, temos assistido a uma expansão no uso
desse instrumento, de forma que permita a comparabilidade de dados entre diferentes países,
mas resultados ainda se mostram frágeis nos países em desenvolvimento (OMS, 2003).
A vigilância desempenhou importante papel nos Estados Unidos da América (EUA)
para a identificação da obesidade como uma prioridade em saúde pública nesse país,
permitindo documentar a epidemia e mensurar a efetividade de intervenções (STURM, 2003
apud CAMPOS et al., 2006).
O princípio básico da vigilância é o de que deve ser delineada e implementada para
oferecer, às autoridades sanitárias, informações válidas no momento oportuno e ao menor
custo possível (CAMPOS et al., 2006).
A vigilância em saúde necessita ser planejada e adequada ao nível de complexidade e
grau de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de saúde nos quais será implantada. Para
Teutsch e Churchil (2000), citados por Campos et al. (2006), ao planejarmos desenvolver
sistemas de vigilância para específicos agravos à saúde é importante considerarmos os
seguintes objetivos:
� Identificar novas doenças ou eventos adversos à saúde.
� Detectar epidemias e documentar a disseminação de doenças.
� Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade causadas por determinados
agravos.
� Identificar grupos e fatores de risco envolvendo a ocorrência de doenças, assim
como resíduos de fontes de infecção e de suscetíveis.
� Recomendar, com bases objetivas e científicas, as medidas necessárias para
prevenir ou controlar a ocorrência de específicos agravos à saúde.
� Avaliar o impacto de medidas de intervenções e a adequação das táticas e
estratégias aplicadas.
� Revisar práticas antigas e atuais de sistemas de vigilância com o objetivo de propor
novos instrumentos metodológicos.
O objetivo da vigilância em saúde não abrange somente a coleta de dados sobre
específicos eventos adversos à saúde e sua transformação em informações úteis, mas a
responsabilidade de analisar essa informação à luz do conhecimento científico e elaborar as
bases técnicas que subsidiarão os serviços de saúde na elaboração e implementação de
intervenções efetivas e eficientes como instrumento de saúde pública (CAMPOS et al., 2006).
25
Esse é um processo que nunca está pronto e que configura distintas realidades de
saúde em diferentes regiões, a partir das quais devem ser planejados e organizados os serviços
desse setor, a fim de atender as necessidades da população em suas múltiplas dimensões e
peculiaridades (RUBIO, 2005).
É importante lembrar que a implantação do SUS iniciou com a promulgação das leis
8.080/90 e 8.142/90 (Leis Orgânicas da Saúde), que se pautaram na determinação
constitucional de que é dever do Estado desenvolver políticas sociais e econômicas que visem
à redução do risco de doenças e de outros agravos, garantindo o acesso universal e igualitário
às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1988). No
entanto, uma vez definidas em lei as diretrizes gerais do sistema,
era necessário transformá-las em práticas concretas nos estabelecimentos de saúde estatais e conveniados, hospitalares e da Atenção Básica. Era necessário debruçar-se sobre a gestão do SUS e confrontar-se com as práticas dominantes. [...] percebeu-se que a tão sonhada presença do Estado era insuficiente para alterar significativamente o padrão de funcionamento de hospitais e unidades básicas de saúde (CUNHA, 2004, p. 31).
Essa regulamentação do SUS também se dá através das Normas Operacionais Básicas
(NOB) do Ministério da Saúde que, articuladas às Leis Orgânicas da Saúde, definem
precisamente o que é obrigação de cada esfera de governo, garantindo a implementação de
políticas sociais e econômicas, a integralidade, a redução do risco de doenças e de outros
agravos, acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde (BRASIL, 2007).
Os vários avanços alcançados no setor da saúde, após a implantação do SUS e a ampliação
do acesso aos serviços de atenção básica, reforçam a atribuição de prioridades, enfatizando a
importância da prevenção, promoção e recuperação da saúde, bem como o acesso universal —
princípio segundo o qual qualquer cidadão brasileiro tem o direito de acessar serviços de saúde
com qualidade e integralidade da assistência —, ordenando o cuidado com a saúde nos níveis de
atenção básica, de média e de alta complexidade. Os serviços de saúde precisam estar
organizados em níveis de complexidade crescente, com tecnologia adequada para cada nível,
potencializando a resolutividade (DUNCAN; SCHMIDT; GIULIANI, 2004).
A garantia de acesso da população às unidades básicas de saúde (UBS) mais próximas
de suas casas, melhor infraestrutura, acolhimento qualificado, criação de novas políticas e
programas de saúde, acesso à assistência especializada, recursos humanos treinados e
qualificados são fundamentais para uma melhor resolutividade de problema de saúde, tendo
como pontos de referência os perfis demográfico e epidemiológico apresentados em cada
26
região.
Segundo o Ministério da Saúde (2007), é sua função disponibilizar condições para a
proteção e recuperação da saúde da população, reduzindo as enfermidades e controlando as
doenças endêmicas e parasitárias, melhorando a vigilância à saúde, proporcionando mais
qualidade de vida ao brasileiro.
Ressalta-se que um dos princípios do SUS é a descentralização, entendida como a
redistribuição das responsabilidades às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de
governo,
a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. [...] Deverá haver uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de governo, com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde — é o que se chama municipalização da saúde. Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na implementação das ações de saúde diretamente voltados para os seus cidadãos (BRASIL, 1990, p. 5).
Para que isso ocorra, o planejamento regional é uma exigência formal e deverá
expressar as responsabilidades dos gestores com a saúde da população do território. O
conjunto de objetivos e ações que contribuirão para a garantia do acesso e da integralidade da
atenção deve ser regido pelas prioridades e responsabilidades definidas regionalmente e
refletidas no plano de saúde de cada município e do estado, através de dados referentes aos
serviços de saúde prestados a essa população. Uma das atribuições das três esferas
governamentais (federal, estadual e municipal) é gerir os sistemas de informação
epidemiológica e sanitária e assegurar a divulgação de informações e análises (BRASIL,
2006).
Para atualizar essas informações no banco de dados referentes aos serviços de saúde,
muitos municípios, assim como o Ministério da Saúde, estão utilizando os inquéritos de base
populacional — metodologia que vem sendo empregada em países desenvolvidos desde o
final da década de 1950 e que, segundo Barros et al. (2008), permite obter novos indicadores
necessários para o monitoramento do estado de saúde e do desempenho dos sistemas de
saúde, tendo como eixo a questão da equidade.
Os inquéritos populacionais servem como documentos de informação importantes para
conhecimento da situação e do acesso aos serviços de saúde de determinada população e são
instrumentos utilizados para formular e avaliar políticas públicas de saúde (VIACAVA, 2002;
VASCONCELOS et al., 2003).
Viacava (2002) afirma que os inquéritos de saúde cobrem um variado repertório sobre
27
as medidas de saúde e o uso de serviços nessa área, sendo possível, com eles, gerar
informações de saúde na visão do usuário dos serviços. Na medida em que este
autorreferencia sua condição de saúde e revela sua percepção sobre o acesso aos serviços de
saúde, contribui para planejar ações e políticas públicas nesse setor.
28
4 MÉTODO
Esta seção se ocupa de descrever o percurso metodológico deste estudo, incluindo
informações sobre o tipo de pesquisa, local onde foi desenvolvida, população e amostra. São
apresentados as variáveis do estudo e os procedimentos de coleta, processamento e análise
dos dados, bem como os aspectos éticos envolvidos nesta investigação.
4.1 Desenho do estudo
O inquérito domiciliar realizado no município de Balneário Piçarras (SC) é um
estudo seccional de base populacional, caracterizado pela observação direta de determinada
população, que comumente está relacionada com critérios geográficos, políticos e
administrativos que a limitam em termos espaciais (MEDRONHO, 2009). As unidades de
observação de um estudo seccional costumam ser selecionadas aleatoriamente, isto é, por
algum método orientado apenas pelo acaso. É a estratégia de estudo epidemiológico que se
caracteriza pela observação direta de determinada quantidade planejada de indivíduos em uma
única oportunidade.
4.2 Local da pesquisa
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município de
Balneário Piçarras possui uma população de 13.827 habitantes e uma área territorial de 86
Km². Está localizado no litoral norte de Santa Catarina e integra a Região da Foz do Rio
Itajaí, formada por onze municípios (Figura 1).
Figura 1 – Mapa de localização de Balneário Piçarras (SC)
Fonte: Amfri (2012)
29
A principal atividade econômica do município é o turismo, embora a pesca e a
agricultura sejam importantes para a economia local. O Produto Interno Bruto (PIB) per
capita é de 10.733 reais anuais. O sistema de saúde busca atender às diretrizes da Norma
Operacional Básica de Saúde (NOB/96) e da Norma Operacional de Atenção à Saúde
(NOAS/01), realizando atendimento em atenção primária em saúde, priorizando prevenção e
promoção da saúde. Conta com uma rede de seis unidades de saúde da família, um programa
de agentes comunitários de saúde, tendo uma cobertura de 100% da população, uma
policlínica e um laboratório.
4.3 População do estudo
A população pesquisada foi representada por 4.755 indivíduos do sexo masculino com
idade igual ou superior a 20 anos no momento da pesquisa, residentes no município de
Balneário Piçarras (SC). A escolha da faixa etária foi baseada na divisão dos grupos etários do
Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), de modo a excluir os menores de 20 anos.
4.4 Amostra
A amostra do estudo foi constituída de 523 homens, assim distribuídos por faixa
etária: 129 homens de 20 a 39 anos; 100 homens de 40 a 49 anos; 108 homens de 50 a 59
anos e 186 homens de 60 anos ou mais. Essa distribuição garantiu aos estimadores dos
parâmetros estudados um erro máximo de 5% com um grau de confiança de 95%.
4.5 Sensibilização para a pesquisa
Inicialmente foram realizadas reuniões com a administração municipal e
representantes da Secretaria Municipal de Saúde, para obter apoio do poder executivo para
realização do estudo. Em seguida foi promovida reunião com os envolvidos na pesquisa para
iniciar o treinamento da coleta de dados, com o objetivo de garantir a fidedignidade dos
dados.
4.6 Coleta de dados
As informações foram coletadas em um período de 24 mese e obtidas por meio de
30
entrevistas domiciliares, com aplicação de formulários respondidos diretamente pelos homens
sorteados na Ficha A do SIAB, garantindo-se assim a aleatoriedade dos dados e,
consequentemente, maior confiabilidade das informações.
As entrevistas foram realizadas por 31 entrevistadores, entre agentes comunitários de
saúde (funcionários da Prefeitura de Balneário Piçarras), pesquisadores e bolsistas da Univali.
Foram formadas cinco equipes de coleta de dados, cada uma fazendo as entrevistas na sua
respectiva microárea (bairro) de atuação, conforme a territorialização estabelecida pelo
Programa de Saúde da Família.
Esses profissionais foram treinados por pesquisadores da Univali e gestores do
município, que deram ênfase à precisão das anotações. No decorrer do período de coleta
foram realizadas entrevistas de controle e confirmação dos dados pelos pesquisadores em
cada uma das áreas do município e novas reuniões com os entrevistadores para avaliação e
esclarecimento de dúvidas.
4.6.1 Instrumento de coleta de dados
O formulário utilizado para coleta de dados foi organizado em temáticas, com
questões fechadas, baseando-se em instrumentos já utilizados em outros estudos. A primeira
parte do questionário abordou os dados do entrevistador, constituindo um instrumento de
controle para a realização das visitas domiciliares.
A segunda parte se ocupou de dados sobre estado de saúde/morbidade referida,
conforme Cesar et al. (2005): doenças crônicas não transmissíveis que apresentou ou
apresenta nos últimos doze meses. Para esta pergunta, estabeleceu-se uma lista de 24 doenças
perguntadas ao entrevistado e um espaço para descrição de outras doenças que o acometeram
no período pregresso de um ano, a contar da data da realização da entrevista.
Para a análise dos dados, categorizaram-se as seguintes morbidades: diabetes mellitus,
hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, neoplasias. As variáveis para esses problemas
foram sim e não.
Na terceira parte constaram dados de identificação do domicílio e do entrevistado, que
originaram informações gerais sobre idade, renda familiar per capita, escolaridade, religião,
raça e situação de trabalho, de modo a estabelecer as condições sociodemográficas do
indivíduo. Essas temáticas foram elaboradas utilizando-se como base os questionários
aplicados no “Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de
doenças e agravos não transmissíveis”, realizado pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto
31
Nacional do Câncer (Inca) (BRASIL, 2004) e no “Inquérito multicêntrico de saúde no estado
de São Paulo – ISA/SP” (CESAR et al., 2005).
Outra temática abordada foi o estilo de vida. Essa abordagem se justifica pela
relevância dessa dimensão para o aparecimento das DCNT. Foram formuladas questões
referentes a alimentação, sedentarismo, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e índice de
massa corporal (IMC). As questões foram elaboradas utilizando-se como referencial o
pentáculo do bem-estar (NAHAS, 2001) — instrumento validado que permite ao entrevistado
fazer uma análise do seu estilo de vida —; a tabela proposta pela OMS para o peso
recomendável; a aplicação do questionário CAGE para avaliação do alcoolismo e as questões
sobre tabagismo baseadas no ISA/SP. Para análise da morbidade referida e utilização dos
serviços de saúde, última temática do questionário, foram abordadas questões baseadas no
ISA/SP.
Os critérios de inclusão neste trabalho foram: ser homem, aceitar participar da
pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B); ter 20 anos
completos ou mais no dia da entrevista. Os critérios de exclusão foram: homens que não
aceitaram participar da pesquisa; que foram incapazes de responder ao questionário por
problemas mentais, déficits cognitivos, entre outros fatores limitantes. Não foi permitido ao
cuidador ou qualquer pessoa próxima responder ao questionário.
4.7 Variáveis do estudo
Dados de identificação:
– Endereço: local onde o entrevistado reside.
– Área e microárea: identificação da equipe de saúde da família à qual o entrevistado pertence
e qual é seu agente comunitário de saúde.
DCNT: diabetes, hipertensão arterial, doença do coração, neoplasias e outros.
Características sociodemográficas do indivíduo:
– Categorização da idade: 20 a 39 anos; 40 a 49 anos; 50 a 59 anos; 60 anos e mais.
– Sexo:
– Religião: autorreferida pelo entrevistado (categorização: católica, evangélica, outras).
– Raça: autorreferida pelo entrevistado (categorização: branca, negra, parda).
– Naturalidade: local de nascimento do indivíduo entrevistado. Seguiu-se a seguinte
32
categorização: nascidos no município de Balneário Piçarras, nascidos no estado de Santa
Catarina, nascidos em outros estados ou outro país.
– Situação conjugal: foram considerados os indivíduos que possuem vínculo com
companheira e os que não possuem vínculo com companheira.
– Escolaridade: anos completos de frequência à escola (categorização: analfabeto, de 1 a 4
anos, 5 anos ou mais).
– Situação de trabalho: os indivíduos foram considerados em atividade remunerada e sem
atividade remunerada.
– Renda familiar em salários mínimos: esta categorização seguiu o salário mínimo específico
na época da pesquisa (R$ 510,00): menor que 01 salário mínimo, de 01 a 02 salários mínimos
e 03 ou mais salários mínimos.
Estilo de vida segundo Nahas (2001):
– Nutrição, atividade física e sedentarismo: utilizou-se a seguinte escala: 1. Não e às vezes; 2.
Quase sempre e sempre. Partindo desta categorização, foi utilizada a escala utilizada por
Ponte et al. (2005): 1 e 2 = escore negativo, 3 e 4 = escore positivo. As questões acerca desses
itens foram: Sua alimentação diária inclui ao menos 5 porções de frutas e verduras? Você
evita ingerir alimentos gordurosos (carnes gordas, frituras) e doces? Você faz 4 a 5 refeições
variadas ao dia, incluindo café da manhã completo? Você realiza ao menos 30 minutos de
atividades físicas moderadas/intensas, de forma contínua ou acumulada, 5 ou mais dias na
semana? Ao menos duas vezes por semana você realiza exercícios que envolvam força e
alongamento muscular? No seu dia-a-dia, você caminha ou pedala como meio de transporte?
– Altura e peso autorreferido: foram utilizados estes dados para calcular o IMC. A
categorização usada foi a proposta pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008):
IMC CLASSIFICAÇÃO < 22 kg/m² Baixo Peso > 22 e < 27 kg/m² Eutrófico > 27 kg/m² Sobrepeso – O questionário CAGE foi composto por quatro perguntas diluídas no instrumento de coleta
de dados: O senhor tem o hábito de ingerir bebida alcoólica? Alguma vez o senhor sentiu que
deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? As pessoas o aborrecem porque
criticam seu modo de beber? O senhor se sente chateado consigo mesmo pela maneira como
costuma tomar bebida alcoólica? O senhor costuma beber pela manhã para diminuir o
nervosismo ou ressaca? Foi considerado positivo para dependência alcoólica quando duas ou
33
mais perguntas tiveram resposta afirmativa, excetuando-se a primeira questão.
– Tabagismo: foram consideradas as variáveis sim para os indivíduos que referiram o hábito
de fumar no momento da pesquisa, não para os não fumantes, e ex-fumantes.
Utilização dos serviços de saúde segundo Cesar et al. (2005):
– Serviço de saúde que procura quando está apresentando problemas de saúde.
Categorizaram-se os seguintes serviços: hospital, clínica ou consultório privado, unidade
básica de saúde, farmácia, outros (benzedeira, igreja, pastoral da saúde). A variável foi sim e
não.
– Procura por serviços de prevenção à saúde. Categorizaram-se os seguintes serviços: exames
preventivos (PSA, Papanicolaou, mamografia), vacinação, exames de rotina (glicemia de
jejum, colesterol, triglicerídeos, EQU, hematócrito). A variável foi sim e não.
– Profissional que o entrevistado procura quando está apresentando algum problema de saúde.
Categorizaram-se os seguintes profissionais: médico, enfermeiro/técnico de enfermagem,
agente comunitário de saúde, dentista, outros profissionais. A variável foi sim e não.
4.8 Processamento e análise dos dados
Os dados foram codificados diretamente nos questionários e digitados no software
Excell para posteriormente serem transportados ao EPIINFO 6.0. A digitação foi realizada
simultaneamente por dois bolsistas, formando dois bancos de dados idênticos que foram
conferidos pelo pesquisador para garantir ausência de erros de digitação. A partir dessa etapa
foram realizadas as análises univariadas e construídos intervalos de confiança ao nível de 95%
das proporções encontradas.
4.9 Aspectos éticos
Os procedimentos do estudo se desenvolveram de forma a proteger a privacidade dos
indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. Um consentimento informado,
assinado pelo respondente, foi uma exigência para a participação no estudo. Os critérios
definidos pelo Comitê de Ética da Univali e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(Conep) foram seguidos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos no Parecer nº 337/09.
34
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados deste estudo são apresentados nesta seção de duas formas:
primeiramente os dados são descritos em texto e sintetizados em tabelas para em seguida se
realizar a discussão desses achados. Depois são reunidos em artigo elaborado para publicação
na revista Ciência & Saúde Coletiva.
5.1 Dados obtidos no estudo
Neste estudo, 8,0% (IC 95% 5,4 – 9,9) dos 523 homens entrevistados referiram portar
diabetes mellitus; 32,0% (IC 95% 27,8 – 35,7) hipertensão arterial; 8,6% (IC 95% 6,2 – 11,0)
alguma doença do coração; 1,2% (0,2 – 2,1) algum tipo de câncer e 16,3% (11,7 – 17,9)
outras patologias não relacionadas às DCNT (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças do coração e câncer DCNT referida Total
n= 523 % IC
95%
Diabetes mellitus Sim 40 8,0 (5,4 – 9,9)
Não 483 92,0 (90,1 – 94,6)
Hipertensão arterial
Sim 166 32,0 (27,8 – 35,7)
Não 357 68,0 (64,3 – 72,2)
Doença do coração
Sim 45 8,6 (6,2 – 11,0)
Não 478 91,4 (89,0 – 93,8)
Câncer
Sim 06 1,2 (0,2 – 2,1)
Não 517 98,8 (97,9 –99,8)
Outros
Sim 76 16,3 (11,7 – 17,9)
Não 438 83,7 (82,1 – 88,3)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
No que se refere às características sociodemográficas (Tabela 02), verificou-se
prevalência de 35,5% (IC95% 33,4 – 37,6) de homens acima de 60 anos, seguida de 24,7%
(IC95% 22,8 – 26,6) de 20 a 39 anos; predomínio de católicos 74,5 % (IC 95%71,0 –79,0);
oriundos de municípios de Santa Catarina 75,3% (IC95% 73,4 – 77,2); casados 76,9%
35
(IC95%75,1 - 78,7); com escolaridade de 0 a 3 anos de estudo 45,7% (IC95% 41,0 – 50,0) e
24,8% (IC 95% 21,0 – 28,0) de 4 a 7 anos, totalizando 70,5% dos homens com escolaridade
restrita ao primeiro grau.
Quanto à situação de trabalho, 55,2% (IC95% 51,0 – 60,0) exerciam alguma atividade
remunerada e 41,5% (IC95% 37,0 – 46,0) apresentavam outra condição, como aposentados ou
pensionistas. Com relação à renda, 32,0% (IC95% 28,0 – 36,0) dos entrevistados indicaram
uma faixa entre 03 e 04 salários mínimos e 25,7% (IC95%22,0 – 30,0) menos de um salário
mínimo.
Tabela 2 – Características sociodemográficas da amostra Características sociodemográficas
Total n= 523
% IC
95%
Idade categorizada 20 – 39 anos 129 24,7 (22,8 – 26,6)
40 – 49 anos 100 19,2 (17,5 – 20,9)
50 – 59 anos 108 20,6 (18,8 – 22,4)
> de 60 anos 186 35,5 (33,4 – 37,6)
Religião
Católica
390
74,5
(71,0 –79,0)
Evangélica 39 7,4 (5,0 – 10,0)
Outras* 91 17,3 (14,0 – 21,0)
Naturalidade
Piçarras
122
23,3
(21,5 – 25,1)
Estado de Santa Catarina 394 75,3 (73,4 – 77,2)
Outros estados 07 1,3 (0,8 - 1,8)
Situação conjugal
Solteiro 116 22,2 (20,4 – 24,0)
Casado 402 76,9 (75,1 - 78,7)
Viúvo/Separado 05 0,9 (0,5 – 1,3)
Escolaridade
0 – 03 anos 235 45,7 (41,0 – 50,0)
04 – 07 anos 127 24,8 (21,0 – 28,0)
08 – 11 anos 73 14,2 (11,0 – 17,0)
> de 12 anos 79 15,3 (12,0 – 18,0)
Situação de trabalho
Atividade remunerada 289 55,2 (51,0 – 60,0)
Desempregado
Outros*
17
217
3,3
41,5
(2,0 – 5,0)
(37,0 – 46,0)
Renda familiar per capita
< = 01 salário mínimo 123 25,7 (22,0 – 30,0)
01 – 02 salários mínimos 89 18,6 (15,0 – 22,0)
03 - 04 salários mínimos 153 32,0 (28,0 – 36,0)
> 05 salários mínimos 113 23,4 (20,0 – 27,0)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
36
Quanto aos fatores de proteção (Tabela 3), observou-se prevalência de 57,0% (IC 95%
53,1 – 61,6) de homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e
verduras diariamente; 63,0% (IC95% 64,3 – 72,2) não realizavam ao menos 30 minutos de
atividade físicas moderadas/intensas diariamente; 76,0% (IC95% 72,7 – 80,0) não realizavam
alongamento; 55,0% (IC95% 51,2 – 59,8) de homens que caminhavam ou pedalavam como
meio de transporte.
Tabela 3 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção Fatores de proteção Total
n= 523 % IC
95% Consumo de frutas e verduras Sim 221 43,0 (38,4 – 46,9)
Não 297 57,0 (53,1 – 61,6)
Atividade física
Sim
192
37,0
(27,8 – 35,7)
Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)
Alongamento
Sim
122
24,0
(20,0 – 27,3)
Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)
Caminhada/pedaladas
Sim
Não
288
235
55,0
45,0
(51,2 – 59,8)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
No que tange aos fatores de risco, verificou-se alta prevalência de homens que
referiram não ingerir bebidas alcoólicas 98,0% (IC 95% 96,4 – 99,0); 63,0% (IC 95% 64,3 –
72,2) de homens que não apresentaram obesidade/sobrepeso e 76,0% (IC 95% 72,7 – 80,0)
que não fumavam (Tabela 4).
Tabela 4 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco Fatores de risco Total
n= 523 % IC
95%
Álcool
Sim 12 2 (1,0 – 3,6)
Não 505 98 (96,4 – 99,0)
Obesidade/sobrepeso
Sim
192
37,0
(27,8 – 35,7)
Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)
Fumo
Sim
122
24,0
(20,0 – 27,3)
Não 394 76,0 (72,7 – 80,0) ____________________________________________________________________________________________
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
37
No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% (IC95% 68,4 – 76,4) não os
procuravam. No entanto, quando necessitaram dos serviços de saúde, 79,0% (IC95% 75,5 –
82,5) procuraram a unidade básica de saúde. O profissional mais procurado na ocorrência de
problemas de saúde foi o médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o
ACS como terceira opção (18,2%), e o dentista (8,1%) — este último foi o profissional menos
procurado (Tabela 5).
Tabela 5 – Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com problemas de saúde Utilização dos serviços de saúde
Total n= 523
% IC
95%
Utiliza serviços de saúde Sim 135 27,6 (23,6 – 31,6)
Não 354 72,4 (68,4 – 76,4)
Serviço que procura
Hospital
Sim 14 2,7 (13,0 – 41,0)
Não 509 97,3 (95,9 – 98,7)
Unidade básica de saúde
Sim 413 79,0 (75,5 – 82,5)
Não 110 21,0 (17,5 – 24,5)
Pastoral
Sim 60 11,5 (8,7 – 14,2)
Não 463 88,5 (85,8 – 91,3)
Outros
Sim 59 11,3 (8,6 – 14,0)
Não 464 88,7 (86,0 – 91,4)
Profissional de saúde que procura
Médico
Sim 401 76,7 (73,0 – 80,3)
Não 122 23,3 (19,7 – 27,0)
Enfermeiro
Sim 123 23,5 (19,9 –27,2)
Não 400 76,5 (72,8 – 80,1)
Técnico de enfermagem
Sim 91 17,4 (14,2 – 20,6)
Não 432 82,6 (79,4 – 85,8)
Dentista
Sim 42 8.1 (5,7 – 10,4)
Não 481 91,9 (89,6 – 94,3)
Agente de saúde
Sim 95 18,2 (14,9 – 21,5)
Não 428 81,8 (78,5 – 85,1) Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
38
5.2 Discussão dos resultados
Sabe-se que a utilização da morbidade referida tem limitação, pois pode estar, na
realidade, medindo a distribuição do acesso ao serviço na população e não a correta
distribuição da doença. Entretanto, estudo de validação realizado nos Estados Unidos,
utilizando o registro médico dos pacientes como padrão-ouro, revelou moderada sensibilidade
(73%) e especificidade (80%), sugerindo que a morbidade referida de DCNT pode ser um
instrumento útil para estimativas deste agravo na população (BRASIL, 2004; OPAS, 2003).
Idealmente, a determinação da prevalência do diabetes na população deveria ter como
parâmetro a medida de glicemia em jejum ou a prova de tolerância à glicose. Entretanto,
dados os altos custos e a complexidade de inquéritos com medidas laboratoriais, a vigilância
pode utilizar-se da morbidade referida, ou seja, do relato do diagnóstico médico ao paciente
diabético (BRASIL, 2004).
O diabetes tipo 2 é responsável por cerca de 90% dos casos da doença, sendo uma das
dez principais causas de morte no mundo. Ao contrário do que vem ocorrendo com a
hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares, sua incidência está aumentando,
principalmente nos países em desenvolvimento, como consequência das mudanças nos
padrões nutricionais, que levam, especialmente, ao aumento da prevalência do sobrepeso e da
obesidade (OPAS, 2003; LESSA, 2004).
A pesquisa de “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
inquérito telefônico” de 2010 (Vigitel, 2010), desenvolvida a partir de dados referidos,
revelou frequência de adultos que referem diagnóstico médico prévio de diabetes entre 3,9%
em Boa Vista e 8,7% no Rio de Janeiro. No sexo masculino, as maiores frequências foram
observadas em Goiânia (7,7%), Aracaju (7,0%) e Maceió (6,3%), e as menores em Manaus
(3,1%), Boa Vista (3,5%) e Palmas (3,7%). Portanto, a prevalência de diabetes no município
estudado (8,0%) ficou entre as maiores observadas no país.
A hipertensão arterial em Balneário Piçarras teve prevalência de 32,0%, mostrando-se
superior aos resultados encontrados em estudos nacionais e de outros países da América
Latina, sendo que as maiores frequências no sexo masculino foram observadas no Distrito
Federal (28,8%), Belo Horizonte (25,1%) e Recife (23,6%), e as menores em Palmas (14,3%)
e Boa Vista (14,6%) (BRASIL, 2011).
A hipertensão afeta grande parcela da população brasileira — cerca de 30 milhões de
pessoas. Inicialmente a doença não apresenta sintomas e, quando eles aparecem, a doença já
está em estágio avançado. Segundo o Ministério da Saúde, o índice de pessoas hipertensas
39
subiu de 21,5% em 2006 para 24,4% em 2009, devido aos males da vida moderna, como
sedentarismo, má alimentação com ingestão de muita comida industrializada e abuso do sal
(BRASIL, 2010a; BRASIL, 2010b).
A prevalência total das doenças isquêmicas do coração variou de 2,9% a 6,7% no
estudo do Inca (BRASIL, 2004). Em Balneário Piçarras foi de 8,6%, também maior quando
comparada às das capitais, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços
públicos no que se refere aos fatores de risco para todas as DCNT.
A mudança no perfil epidemiológico brasileiro nas últimas décadas acarretou
ampliação da expectativa de vida e, consequentemente, aumento da mortalidade por DCNT.
Também as chances de desenvolver o câncer aumentaram, considerando que, quanto mais
idosa for a pessoa, mais as experiências potencialmente carcinogênicas vão se acumulando e
favorecendo o aparecimento da disfunção celular e multiplicação atípica (HALLAL;
GOTLIEB; LATORRE, 2001).
Estudo utilizando o Sistema e Informações sobre Mortalidade e o Sistema de
Informações Hospitalares, entre os anos de 2002 e 2004, descreve que os óbitos por
neoplasias chegaram a 405.415, sendo que, destes, 52,13% ocorreram na região Sudeste e
20,96% na região Sul e em menor escala nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No
gênero masculino, o câncer de traqueia, brônquios e pulmão apresentaram maior mortalidade,
seguidos do câncer de próstata (BOING; VARGAS; BOING, 2007).
No município de Balneário Piçarras, o câncer referido apresentou uma prevalência de
1,2%. Este dado também é superior ao do estudo multicêntrico em São Paulo (CESAR et al.,
2005), no qual a frequência de morbidade referida para o câncer foi de 0,5%.
É importante considerar que as frequências estimadas com base na informação dos
entrevistados estão fortemente influenciadas pela cobertura da assistência à saúde existente no
município estudado, superestimando a prevalência quando comparada a outros estudos. De
qualquer modo, são informações úteis para os gestores programarem ações de combate aos
fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que incorpore definitivamente
ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis
que atinge todos os públicos (BRASIL, 2006).
No que diz respeito ao gênero masculino, Silvério (2010) aponta algumas
características que precisam ser consideradas no momento de estabelecer estratégias para
atender as necessidades desse segmento que, por motivos culturais, precisam ser
contempladas, levando em conta algumas singularidades. A resistência em cuidar de sua
própria saúde é observada frequentemente. Esse comportamento pode estar relacionado à
40
criação na infância e ao meio cultural que orientam os homens, tornando-os reféns de seus
próprios preconceitos. O modelo de masculinidade ainda está calcado em um ser viril,
dominante, caracterizado por comportamentos opostos aos praticados pelas mulheres.
Um conjunto de fatores responde pela maioria das complicações e mortes por DCNT.
Dentre eles, destacam-se os de natureza socioeconômica, o tabagismo, o consumo excessivo
de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipidemias (determinadas principalmente pelo
consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal), a ingestão insuficiente de frutas,
legumes e verduras e o sedentarismo (BRASIL, 2009a).
No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se, em Balneário
Piçarras, alta prevalência de homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de
Santa Catarina, casados, com escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma
atividade remunerada ou aposentados com baixa renda.
Esses resultados podem ser justificados pelo fato de o município estar localizado na
região litorânea do estado de Santa Catarina, onde muitas pessoas decidem residir, após serem
beneficiadas com a aposentadoria, na expectativa de melhor qualidade de vida com a redução
do estresse comum em regiões mais industrializadas. Isso pode explicar a procedência de
74,5% dos entrevistados naturais de outras cidades. Dados do IBGE (2010) demonstram que a
população de Balneário Piçarras apresentou um aumento de 36,1% desde o censo
demográfico anterior, realizado em 2000. O crescimento populacional tem apresentado, nos
últimos nove anos, uma taxa média de 3,5% ao ano.
Apesar de a OMS definir a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade,
é difícil caracterizar uma pessoa como idosa, utilizando como único critério a idade, uma vez
que nesse segmento estão incluídos indivíduos com marcantes diferenças sociodemográficas.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), verifica-se um rápido
envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento, o que acarreta alto impacto nas
políticas sociais destinadas aos idosos, uma vez que o bem-estar deve ser avaliado a partir de
uma perspectiva multidimensional que capta os itens básicos de sobrevivência, renda e
consumo, sendo as pensões relacionadas à renda essenciais para o bem-estar, a subsistência e
a inclusão econômica das pessoas idosas (IPEA, 2011).
Evidenciou-se alta prevalência de homens na faixa etária de 20 a 39 anos que também
necessitam de políticas específicas nas áreas de saúde, educação, ambiental e econômica,
porque os comportamentos e os estilos de vida individuais dessa parcela da população, assim
como seus cuidados de saúde, irão determinar futuras transformações no processo
saúde/doença, bem como transições demográficas e epidemiológicas do envelhecimento
41
populacional.
Quanto ao predomínio da baixa escolaridade, pode ser justificada pelo fato de que, em
um passado recente, o acesso às instituições de ensino era dificultado pela distância da escola,
principalmente em cidades pequenas. Outro aspecto a ser considerado é que muitas vezes os
homens precisam optar entre os estudos e o trabalho, priorizando a necessidade de contribuir
no orçamento familiar. Quando casados, identificam-se prioritariamente como chefes de
família, assumindo a responsabilidade de exercer atividade remunerada.
Os fatores de proteção para DCNT avaliados foram a ingestão de porções de frutas e
verduras diariamente, a realização de atividades físicas moderadas/intensas, alongamento e
caminhadas ou pedaladas como meio de transporte. Segundo Lucchese e Castro (2010a), o
homem primitivo, para garantir sua sobrevivência, necessitava caminhar, correr, saltar e pular,
mas com o surgimento da civilização e o controle da energia elétrica, hidráulica e mecânica, o
homem passou a diminuir esses esforços, sendo a atividade física dispensável e eletiva.
Nesse contexto, o sedentarismo se tornou responsável por cerca de um terço das
mortes por doença coronariana, câncer de cólon e diabetes. Pode também estar associado à
baixa imunidade, ao comprometimento de diversos sistemas, ao aumento da prevalência de
obesidade, a lesões na coluna, infecções, osteoporose, hipertensão, diabetes, aumento do
colesterol e até à morte do indivíduo. O resultado encontrado de 63,0% de entrevistados não
realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente é
preocupante.
Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens caminhavam ou pedalavam como meio
de transporte. Esse comportamento — muito comum em municípios pequenos, nos quais as
pessoas utilizam a bicicleta para a realização de atividades que exigem locomoção — pode ser
incentivado com políticas públicas que promovam esse hábito e tornem essa prática mais
segura, como, por exemplo, a construção de ciclovias.
Também preocupante é a não ingestão diária de cinco porções de frutas e verduras,
observada em 57,0% da amostra. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS,
2003), é recomendável um consumo diário de pelo menos cinco porções de frutas, verduras e
legumes, em torno de 400 gramas por dia. Esses alimentos contêm baixo teor calórico e
ajudam a manter um peso corporal saudável, reduzindo o risco de câncer e outras doenças
crônicas como a obesidade.
Estudo de Eyken e Moraes (2009) evidenciou que os homens apresentavam pelo
menos um dos fatores de risco (sobrepeso/obesidade, atividade física irregular/sedentarismo,
tabagismo, hipertensão arterial, diabetes). Estes autores afirmam que os homens sofrem
42
influência cultural através de hábitos vivenciados diariamente entre seus amigos e familiares,
não se preocupando em realizar ações de vigilância das doenças referentes a fatores de riscos
inevitáveis e sua situação nutricional.
Quanto aos fatores de risco, os resultados apontaram alta prevalência de homens que
referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e 76,0% que não fumavam. De modo geral
são resultados muito positivos, pois o consumo de álcool é responsável por um conjunto de
problemas de saúde, como síndromes amnésica, demencial, alucinatória, delirante, de humor,
distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos, e por fim o delirium
tremens, que pode levar à morte (PAINEIRAS, 2005).
Com base em dados da OMS, Bertolazzi (2010) informa que os homens iniciam
precocemente o consumo de álcool e por esse motivo tendem a beber mais e a ter mais
prejuízos em relação à saúde do que as mulheres. Acentua que a prevalência de dependentes
de álcool também é maior para o sexo masculino: 19,5% dos homens e 6,9% das mulheres
apresentam dependência. Diferentemente, nosso estudo aponta resultados bastante
animadores.
O mesmo acontece com relação ao tabagismo — considerado pela OMS a principal
causa de morte evitável em todo o mundo. Os homens também consomem cigarros com maior
frequência que as mulheres, o que acarreta maior vulnerabilidade às doenças cardiovasculares,
pulmonares, bucais e diferentes tipos de câncer. Pesquisas comprovam que aproximadamente
47% da população masculina e 12% da feminina fumam no mundo (BERTOLAZZI, 2010).
O sobrepeso e a obesidade também são fatores bastante preocupantes e atingiram 37%
dos homens entrevistados no município de Balneário Piçarras. Lucchese e Castro (2010b)
afirmam que no adulto a obesidade ou sobrepeso e colesterol elevado são fatores de risco
modificáveis para a hipertensão arterial. Os autores acentuam que a cada quilograma que a
pessoa perde, a pressão abaixa pelo menos um mmhg.
Nesse cenário epidemiológico das doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se a
obesidade por ser simultaneamente uma doença e um fator de risco para outras doenças desse
grupo, pois o excesso de peso é a segunda causa evitável de câncer de esôfago, pâncreas, colo
retal, mama, endométrio, rim e vesícula, também representando risco para doenças
cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2 (INCA, 2008). Para
reverter esse quadro, a atividade física, a reeducação alimentar e o acompanhamento
nutricional são essenciais.
No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% dos homens entrevistados
indicaram não procurar os serviços de saúde. No entanto, quando necessitaram desses
43
serviços, 79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde. O profissional de saúde mais
procurado foi o médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como
terceira opção (18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último é o profissional menos
procurado.
Estudo realizado por Maciel (2009) revelou que os homens admitem a necessidade da
procura pelos serviços de saúde, mas declaram que não o fazem. O autor salienta que a cultura
de gênero assimilada pela população coloca o homem em situação de risco, na medida em que
o afasta dos serviços de prevenção de agravos e promoção à saúde.
Os dados obtidos em Balneário Piçarras também revelaram que a unidade básica de
saúde, em 79,0% dos casos, é a referência na atenção primária, funcionando como a porta de
entrada dos serviços de saúde. Ressalta-se a inexistência de um hospital no município, porém,
o transporte para deslocamento até um serviço hospitalar está à disposição dos usuários
quando necessário.
Contudo, o modelo biomédico tradicional, centrado no médico, é o norteador do
serviço também nesse município, uma vez que 76,7% dos participantes da pesquisa
procuraram esse profissional quando apresentaram problemas de saúde. É importante ressaltar
que o Ministério da Saúde preconiza um primeiro contato principalmente com os ACS, que
são os profissionais que estão mais integrados e que têm maior aproximação com a
comunidade.
Cabe descrever a capacidade de recursos humanos na área de saúde de Balneário
Piçarras. O município conta com 27 médicos, sendo que 21 deles atendem pelo SUS,
totalizando 1,8 médico/1.000 habitantes. Existem também 13 enfermeiros, o que significa 0,9
enfermeiro/1.000 habitantes, e 21 cirurgiões dentistas (de 1,4 dentista/1.000 habitantes)
vinculados ao SUS. Na Estratégia Saúde da Família, seis médicos atendem as seis equipes
existentes. A cidade possui também um programa de agentes comunitários de saúde, com uma
cobertura de 100% da população (DATASUS, 2010).
Publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva
A seguir é apresentado artigo produzido a partir deste estudo e já formatado de acordo
com as normas determinadas pela revista Ciência & Saúde Coletiva.
44
SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS
SERVIÇOS DE SAÚDE
Benoni Sidinei Brizolla
Elisete Navas Sanches Próspero
RESUMO
Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da
utilização dos serviços de saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC), por
meio de um inquérito de base populacional. Desenvolveu-se estudo transversal com amostra
de 523 indivíduos, assumindo-se um erro amostral máximo de 5% e nível de confiança de
95%. Foram realizadas entrevistas domiciliares para obtenção de dados socioeconômicos,
demográficos e sobre as condições referidas de saúde. Quanto às doenças crônicas não
transmissíveis, observou-se 8,0% de homens portadores de diabetes mellitus; 32,0% de
hipertensão arterial; 8,6% de problemas cardíacos e 1,2% de câncer. Com relação aos fatores
de proteção, verificou-se que 57,0% referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de
frutas e verduras diariamente e 63,0% não realizavam ao menos 30 minutos de atividade
físicas moderadas/intensas diariamente. O principal fator de risco apresentado foi
obesidade/sobrepeso em 37,0% dos casos. Ressalta-se também a pouca procura pelos serviços
de saúde em 72,4% da amostra. O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de
saúde foi o médico em 76,7% dos casos. Também foi evidenciado o crescimento da
morbidade por doenças crônicas que levam à diminuição da qualidade de vida e ao aumento
dos custos da assistência à saúde.
Palavras-chave: Saúde do homem, Acesso aos serviços de saúde, Inquérito epidemiológico.
45
MEN'S HEALTH: MORBIDITY, LIFESTYLE AND UTILIZATION TO HEALTH SERVICES A
POPULATION-BASED SURVEY
ABSTRACT
This study aimed to determine the prevalence of morbidity, lifestyle and utilization to health
services for men in the city of Piçarras, 2010, through a population-based survey.
METHODS: cross-sectional population-based sample of 523 men was estimated the
population of men> 20 years, ensuring the estimators of the parameters studied to a maximum
error of 5% with a confidence level of 95%, household interviews were conducted to obtain
socioeconomic, demographic, health conditions listed. Results: In relation to NCDs was
observed 8.0% (95% CI 5.4 to 9.9) for men with diabetes mellitus, 32.0% (95% CI 27.8 to
35.7) Hypertension blood, 8.6% (95% CI 6.2 to 11.0) of heart problems, and 1.2% (95% CI
0.2 to 2.1) cancer. As for protective factors found a prevalence of 57.0% (95% CI 53.1 to
61.6) of men who reported not eating at least 05 servings of fruits and vegetables daily, 63.0%
(95% 64.3 to 72.2) do not achieve at least 30 minutes of moderate physical activity / intense
daily. The main risk factor was made of men who are obese / overweight by 37%. It also
stresses the lack of demand for health services in 72.4% (95% CI 68.4 to 76.4). However,
when looking for 79.0% (95% CI 75.5 to 82.5) seeking the Basic Health Professionals in the
most sought-occurrence of health problems is the physician in 76.7% of cases. This
municipality is also clear growth of morbidity from chronic diseases that affect the relative
skill of usual activities, leading to decreased quality of life and increased costs of health care.
Keywords: Men's health, Access to health services, Epidemiological survey.
46
INTRODUÇÃO
Para se discutir a atenção que vem sendo dada aos homens no campo da saúde, faz-se
necessário examinar os estudos que consideram a diversidade e a multiplicidade de formas de
se vivenciar a masculinidade, em contraposição ao modelo hegemônico construído
socialmente1.
Com base em diferenças anatômicas e biológicas entre homens e mulheres, as
sociedades humanas costumam dividir sua população em dois grupos distintos: masculino e
feminino. Essa divisão se fundamenta em uma série de pressupostos (derivados da cultura em
que ocorrem) sobre os diferentes atributos, crenças e comportamentos característicos dos
indivíduos em cada uma das categorias2.
A sociedade é que impõe à mulher e ao homem certos comportamentos e certas
normas diferentes, incluindo um entendimento dos diferentes papéis e expectativas dos
gêneros dentro das comunidades. Para Cruz3, não existe um homem natural nem uma mulher
natural, o ser humano nasce sexualmente neutro, a sociedade é que constrói os papéis
masculinos ou femininos. ‘Gêneros’ são papéis socialmente construídos.
De acordo com a Política nacional de atenção integral à saúde do homem, gênero é
a construção cultural coletiva dos atributos da masculinidade e feminilidade. Para tornar-se
homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo chamado socialização de gênero,
baseado nas expectativas que a cultura tem em relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade
sexual é algo construído, que transcende o biológico. O sistema de gênero ordena a vida nas
sociedades, distinguindo os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho,
na oferta de bens e serviços e até na instituição e aplicação das normas legais4.
Vários estudos sobre gênero, como os de Marques e Amâncio5, Villela6, Gomes,
Nascimento e Araújo7 e Maciel8, demonstram que os homens assumem o papel de provedor,
47
enfatizando o trabalho em detrimento da sua saúde, enquanto as mulheres, mais preocupadas
com o cuidado familiar, têm maior familiaridade com e procuram mais os serviços de saúde.
A divisão do mundo social nas categorias “masculino e feminino” significa que
meninos e meninas são socializados de modos diferentes. São educados para ter expectativas
diversas com relação à vida e para desenvolver a emoção e o intelecto de formas distintas,
além de estarem sujeitos, na vida diária, a diferentes normas de comportamentos, seja por
contribuição da biologia, seja pela cultura, que contribui com um conjunto de diretrizes
explícitas e implícitas que são adquiridas na primeira infância e ditam ao indivíduo como ele
deve perceber, pensar, sentir e agir como membro masculino ou feminino de uma sociedade2.
Esse contexto social reflete inevitavelmente na saúde do homem. É o que revelam
estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde, como o crescente aumento das causas de
mortalidade e, consequentemente, redução da expectativa de vida da população brasileira
masculina. Os indicadores de saúde demonstram que, a cada três mortes de pessoas adultas,
duas são de homens. Em cada grupo de cinco pessoas que morrem entre 20 a 30 anos, quatro
são homens. Em média, os homens vivem sete anos a menos que as mulheres9.
Schraiber et al10 comentam que as investigações latino-americanas e brasileiras sobre
homens e saúde surgiram no final dos anos 1980 e seguem a tendência dos estudos
produzidos na Europa e nos Estados Unidos. Citam pesquisa sobre o perfil epidemiológico da
saúde masculina na região das Américas que destaca um diferencial entre os sexos,
especialmente quanto a uma maior mortalidade masculina em todas as idades, além da
sobremortalidade neste sexo para a quase totalidade das causas. O mesmo estudo aponta
predomínio do adoecimento feminino, constatado por indicadores de morbidade, medidos
pelas demandas dos serviços e inquéritos populacionais10.
Nos últimos anos, países desenvolvidos e em desenvolvimento estão experimentando
um crescimento da mortalidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa
48
das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e ao aumento dos custos
da assistência à saúde11,12.
Souza et al11 acentuam que a ocorrência de fatores de risco associados a problemas de
saúde varia segundo sexo e situação social. Obesidade, sedentarismo, depressão, estresse, e
pressões ligadas aos papéis sociais são fatores que aumentam os riscos de doenças em
mulheres. Entre os homens, excesso de consumo de álcool, tabagismo, maior exposição a
situações de violência, acidentes e riscos ocupacionais são mais frequentes e colaboram com
aumento de riscos de problemas de saúde em longo prazo. A presença desses e de outros
fatores de riscos está associada ao desempenho dos papéis sociais dos indivíduos, o que afeta
diretamente tanto a qualidade de vida quanto a percepção do estado de saúde11.
Segundo Pinheiro et al13, estudos norte-americanos revelam que os homens sofrem de
mais doenças crônicas fatais e referem mais restrições de atividades e incapacidade de longa
duração devido a problemas crônicos de saúde.
Na maioria das vezes, os homens recorrem aos serviços de saúde apenas quando a
doença está mais avançada. Assim, em vez de serem atendidos no posto de saúde, perto de sua
casa, eles precisam procurar um especialista, o que gera maior custo para o SUS e, sobretudo,
sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família9.
Para Maciel8, essa situação demanda, dos profissionais e gestores de saúde, iniciativas
para a inclusão do homem nas ações de assistência e políticas públicas de saúde, partindo da
compreensão de suas concepções acerca da atenção à sua saúde.
Foi considerando esse contexto que a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da
Saúde, responsável pela organização e elaboração de planos e políticas públicas nacionais
voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros, elaborou a Política
nacional de atenção integral à saúde do homem, com seus princípios e diretrizes, reforçando
a necessidade de uma atenção maior para alcançar bons níveis de saúde para esta população9.
49
Nessa lógica, além de implantar tal política, torna-se necessário que os profissionais de
saúde passem a incorporar métodos eficazes para trabalhar a saúde do homem nas rotinas dos
serviços de saúde. Apesar do tempo de criação dessa política pública, trata-se de um universo
novo para todos os envolvidos no processo, pensando-se no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS), desde a porta de entrada do sistema — atenção primária —, até os níveis de
maior complexidade.
Maciel8 enfatiza que pela primeira vez, ao longo da história das políticas de saúde, o
homem ganha um espaço próprio e tem seus agravos reconhecidos como problemas de saúde
pública. É importante destacar que o Brasil se tornou o segundo país da América que tem um
setor para a saúde do homem; até então apenas o Canadá tinha esse departamento14.
Schraiber et al10, citando Keijzer (2003), informam que na América Latina há uma
quantidade crescente de programas que se voltam para a experiência de homens em relação à
sexualidade, reprodução, paternidade, violência ou a própria saúde. Acrescentam que esse
autor considera que a inclusão da temática ‘homens e saúde’ poderá ter como resultado a
participação dos homens no alcance dos objetivos programáticos dessas organizações,
deslocando-se da visão tradicional do homem apenas como parte dos problemas para
concebê-lo também como parte da solução10.
Para a obtenção dos novos indicadores necessários para o monitoramento do estado de
saúde e desempenho dos sistemas de saúde, tendo como eixo a questão da equidade, são
utilizados os inquéritos de base populacional. Na área da saúde, esses inquéritos foram
elaborados e estão sendo empregados em países desenvolvidos desde o final da década de
195015. São estudos que devem dispor de dados representativos do que ocorre na comunidade,
em tempo oportuno, para serem utilizados em planejamento, implementação e avaliação de
intervenções de saúde16.
Com o objetivo de verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da
50
utilização dos serviços de saúde da população masculina do município de Balneário Piçarras
(SC), desenvolveu-se estudo transversal, utilizando o inquérito de base populacional. Esta
pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e
financiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
Contou com bolsas de iniciação científica do Programa de Incentivo à Iniciação Científica
(Pibic) e apoio da administração municipal e do poder legislativo do Balneário Piçarras.
MÉTODO
O inquérito domiciliar realizado em Balneário Piçarras é um estudo seccional de base
populacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)17, o município
tem uma população de 13.827 habitantes e uma área territorial de 86 Km². Sua principal
atividade econômica é o turismo, embora a pesca e a agricultura sejam importantes para a
economia do município. O PIB per capita é de 10.733 reais anuais.
O sistema de saúde local busca atender às diretrizes da Norma Operacional Básica de
Saúde (NOB/96) e da Norma Operacional de Atenção à Saúde (NOAS/01), realizando
atendimento em atenção primária em saúde, priorizando prevenção e promoção da saúde.
Conta com uma rede de seis unidades de saúde da família, um programa de agentes
comunitários de saúde, tendo uma cobertura de 100% da população, uma policlínica e um
laboratório.
A população pesquisada foi representada por 4.755 indivíduos do sexo masculino com
idade igual ou superior a 20 anos no momento da pesquisa, residentes no município. A
amostra foi constituída de 523 homens assim distribuídos por faixa etária: 129 homens de 20
a 39 anos; 100 homens de 40 a 49 anos; 108 homens de 50 a 59 anos e 186 homens de 60
51
anos ou mais. Essa distribuição garantiu aos estimadores dos parâmetros estudados um erro
máximo de 5% com um grau de confiança de 95%.
Os critérios de inclusão neste trabalho foram: ser homem, aceitar participar da
pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ter 20 anos completos ou
mais no dia da entrevista. Os critérios de exclusão foram: homens que não aceitaram
participar da pesquisa; que foram incapazes de responder ao questionário por problemas
mentais, déficits cognitivos, entre outros. Não foi permitido ao cuidador ou qualquer pessoa
próxima responder ao questionário.
As informações foram coletadas em um período de 24 meses e obtidas por meio de
entrevistas domiciliares, com aplicação de formulários respondidos diretamente pelos homens
sorteados na Ficha A do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), garantindo-se
assim a aleatoriedade dos dados e, consequentemente, maior confiabilidade das informações.
As entrevistas foram realizadas por 31 entrevistadores, entre agentes comunitários de
saúde (funcionários da Prefeitura de Balneário Piçarras), pesquisadores e bolsistas da Univali.
Foram formadas cinco equipes de coleta de dados, cada uma fazendo as entrevistas na sua
respectiva microárea (bairro) de atuação, conforme a territorialização estabelecida pelo
Programa de Saúde da Família.
Esses profissionais foram treinados por pesquisadores da Univali e gestores do
município, que deram ênfase à precisão das anotações. No decorrer do período de coleta
foram realizadas entrevistas de controle e confirmação dos dados pelos pesquisadores em
cada uma das áreas do município e novas reuniões com os entrevistadores para avaliação e
esclarecimento de dúvidas.
O formulário utilizado para coleta de dados foi organizado em temáticas, utilizando-se
questões já validadas no Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade
referida de doenças e agravos não transmissíveis, realizado pelo Ministério da Saúde e pelo
52
Instituto Nacional de Câncer (Inca)12, no Inquérito multicêntrico de saúde no Estado de São
Paulo (ISA/SP)18 e no pentáculo do bem-estar19. Para o cálculo do índice de massa corporal
(IMC) foi utilizada a tabela proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o peso
recomendável e o ISA/SP.
Os dados foram codificados diretamente nos questionários e digitados no software
Excell, para posteriormente serem transportados ao EPIINFO 6.0. A digitação foi realizada
simultaneamente por dois bolsistas, formando dois bancos de dados idênticos, que foram
conferidos pelo pesquisador para garantir ausência de erros de digitação. A partir dessa etapa
foram realizadas as análises univariadas e construídos intervalos de confiança ao nível de 95%
das proporções encontradas.
Os procedimentos do estudo se desenvolveram de forma a proteger a privacidade dos
indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. Um consentimento informado,
assinado pelo respondente, foi uma exigência para a participação no estudo. Os critérios
definidos pelo Comitê de Ética da Univali e pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa
(Conep) foram seguidos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos no Parecer nº 337/09.
RESULTADOS
Neste estudo, 8,0% dos 523 homens entrevistados referiram portar diabetes mellitus;
32,0% hipertensão arterial; 8,6% alguma doença do coração; 1,2% algum tipo de câncer e
16,3% outras patologias não relacionadas às DCNT (Tabela 1).
53
Tabela 1. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças do coração e câncer DCNT referida Total
n= 523 % IC
95%
Diabetes mellitus Sim 40 8,0 (5,4 – 9,9)
Não 483 92,0 (90,1 – 94,6)
Hipertensão arterial
Sim 166 32,0 (27,8 – 35,7)
Não 357 68,0 (64,3 – 72,2)
Doença do coração
Sim 45 8,6 (6,2 – 11,0)
Não 478 91,4 (89,0 – 93,8)
Câncer
Sim 06 1,2 (0,2 – 2,1)
Não 517 98,8 (97,9 –99,8)
Outros
Sim 76 16,3 (11,7 – 17,9)
Não 438 83,7 (82,1 – 88,3)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
Quanto às características sociodemográficas (Tabela 2), verificou-se prevalência de
35,5% de homens acima de 60 anos, seguida de 24,7% de 20 a 39 anos; predomínio de
católicos 74,5%); oriundos de municípios de Santa Catarina 75,3%; casados 76,9%; com
escolaridade de 0 a 3 anos de estudo 45,7% e 24,8% de 4 a 7 anos, totalizando 70,5% dos
homens com escolaridade restrita ao primeiro grau.
No que se refere à situação de trabalho, 55,2% exerciam alguma atividade remunerada
e 41,5% apresentavam outra condição, como aposentados ou pensionistas. Com relação à
renda, 32,0% indicaram uma faixa entre 03 e 04 salários mínimos e 25,7% menos de um
salário mínimo.
54
Tabela 2. Características sociodemográficas da amostra Características sociodemográficas
Total n= 523
% IC
95%
Idade categorizada 20 – 39 anos 129 24,7 (22,8 – 26,6)
40 – 49 anos 100 19,2 (17,5 – 20,9)
50 – 59 anos 108 20,6 (18,8 – 22,4)
> de 60 anos 186 35,5 (33,4 – 37,6)
Religião Católica
390
74,5
(71,0 –79,0)
Evangélica 39 7,4 (5,0 – 10,0)
Outras* 91 17,3 (14,0 – 21,0)
Naturalidade Piçarras
122
23,3
(21,5 – 25,1)
Estado de Santa Catarina 394 75,3 (73,4 – 77,2)
Outros estados 07 1,3 (0,8 - 1,8)
Situação conjugal
Solteiro 116 22,2 (20,4 – 24,0)
Casado 402 76,9 (75,1 - 78,7)
Viúvo/Separado 05 0,9 (0,5 – 1,3)
Escolaridade
0 – 03anos 235 45,7 (41,0 – 50,0)
04 – 07anos 127 24,8 (21,0 – 28,0)
08 – 11anos 73 14,2 (11,0 – 17,0)
> de 12anos 79 15,3 (12,0 – 18,0)
Situação de trabalho
Atividade remunerada 289 55,2 (51,0 – 60,0)
Desempregado
Outros*
17
217
3,3
41,5
(2,0 – 5,0)
(37,0 – 46,0)
Renda familiar per capita
< = 01 salário mínimo 123 25,7 (22,0 – 30,0)
01 - 02 salários mínimos 89 18,6 (15,0 – 22,0)
03 - 04 salários mínimos 153 32,0 (28,0 – 36,0)
> 05 salários mínimos 113 23,4 (20,0 – 27,0)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
Quanto aos fatores de proteção (Tabela 3), observou-se prevalência de 57,0% de
homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e verduras
diariamente; 63,0% não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas
moderadas/intensas diariamente; 76,0% não realizavam alongamento; 55,0% de homens que
caminhavam ou pedalavam como meio de transporte.
55
Tabela 3. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção Fatores de proteção Total
n= 523 % IC
95% Consumo de frutas e verduras Sim 221 43,0 (38,4 – 46,9)
Não 297 57,0 (53,1 – 61,6)
Atividade física Sim
192
37,0
(27,8 – 35,7)
Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)
Alongamento Sim
122
24,0
(20,0 – 27,3)
Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)
Caminhada/pedaladas
Sim
Não
288
235
55,0
45,0
(51,2 – 59,8)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
No que tange aos fatores de risco, verificou-se alta prevalência de homens que
referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%); 63,0% de homens que não apresentaram
obesidade/sobrepeso e 76,0% que não fumavam (Tabela 4).
Tabela 4. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco Fatores de Risco Total
n= 523 % IC
95%
Álcool Sim 12 2 (1,0 – 3,6)
Não 505 98 (96,4 – 99,0)
Obesidade/sobrepeso Sim
192
37,0
(27,8 – 35,7)
Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)
Fumo Sim
122
24,0
(20,0 – 27,3)
Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não os procuravam. No
entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde.
O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de saúde foi o médico em 76,7%
56
dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como terceira opção (18,2%), e o dentista
(8,1%) — este último foi o profissional menos procurado (Tabela 5).
Tabela 5. Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com problemas de saúde Utilização dos serviços de saúde
Total n= 523
% IC
95%
Utiliza serviços de saúde Sim 135 27,6 (23,6 – 31,6)
Não 354 72,4 (68,4 – 76,4)
Serviço que procura
Hospital
Sim 14 2,7 (13,0 – 41,0)
Não 509 97,3 (95,9 – 98,7)
Unidade básica de saúde
Sim 413 79,0 (75,5 – 82,5)
Não 110 21,0 (17,5 – 24,5)
Pastoral
Sim 60 11,5 (8,7 – 14,2)
Não 463 88,5 (85,8 – 91,3)
Outros
Sim 59 11,3 (8,6 – 14,0)
Não 464 88,7 (86,0 – 91,4)
Profissional de saúde que procura
Médico
Sim 401 76,7 (73,0 – 80,3)
Não 122 23,3 (19,7 – 27,0)
Enfermeiro
Sim 123 23,5 (19,9 –27,2)
Não 400 76,5 (72,8 – 80,1)
Técnico de enfermagem
Sim 91 17,4 (14,2 – 20,6)
Não 432 82,6 (79,4 – 85,8)
Dentista
Sim 42 8.1 (5,7 – 10,4)
Não 481 91,9 (89,6 – 94,3)
Agente de saúde
Sim 95 18,2 (14,9 – 21,5)
Não 428 81,8 (78,5 – 85,1)
Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC
DISCUSSÃO
Sabe-se que a utilização da morbidade referida tem limitação, pois pode estar, na
57
realidade, medindo a distribuição do acesso ao serviço na população e não a correta
distribuição da doença. Entretanto, estudo de validação realizado nos Estados Unidos,
utilizando o registro médico dos pacientes como padrão-ouro, revelou moderada sensibilidade
(73%) e especificidade (80%), sugerindo que a morbidade referida de DCNT pode ser um
instrumento útil para estimativas deste agravo na população12,20.
Idealmente, a determinação da prevalência do diabetes na população deveria ter como
parâmetro a medida de glicemia em jejum ou a prova de tolerância à glicose. Entretanto,
dados os altos custos e a complexidade de inquéritos com medidas laboratoriais, a vigilância
pode utilizar-se da morbidade referida, ou seja, do relato do diagnóstico médico ao paciente
diabético12.
O diabetes tipo 2 é responsável por cerca de 90% dos casos da doença, sendo uma das
dez principais causas de morte no mundo. Ao contrário do que vem ocorrendo com a
hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares, sua incidência está aumentando,
principalmente nos países em desenvolvimento, como consequência das mudanças nos
padrões nutricionais, que levam, especialmente, ao aumento da prevalência do sobrepeso e da
obesidade20,21.
A pesquisa de Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
inquérito telefônico (Vigitel) de 2010, desenvolvida a partir de dados referidos, revelou
frequência de adultos que referem diagnóstico médico prévio de diabetes entre 3,9% em Boa
Vista e 8,7% no Rio de Janeiro. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas
em Goiânia (7,7%), Aracaju (7,0%) e Maceió (6,3%), e as menores em Manaus (3,1%), Boa
Vista (3,5%) e Palmas (3,7%)22. Portanto, a prevalência de diabetes no município estudado
(8,0%) ficou entre as maiores observadas no país.
A hipertensão arterial em Balneário Piçarras teve prevalência de 32,0%, mostrando-se
superior aos resultados encontrados em estudos nacionais e de outros países da América
58
Latina, sendo que as maiores frequências no sexo masculino foram observadas no Distrito
Federal (28,8%), Belo Horizonte (25,1%), e Recife (23,6%), e as menores em Palmas (14,3%)
e Boa Vista (14,6%)22.
A hipertensão afeta grande parcela da população brasileira — cerca de 30 milhões de
pessoas. Inicialmente a doença não apresenta sintomas e, quando eles aparecem, a doença já
está em estágio avançado. Segundo o Ministério da Saúde, o índice de pessoas hipertensas
subiu de 21,5% em 2006 para 24,4% em 2009, devido aos males da vida moderna, como
sedentarismo, má alimentação com ingestão de muita comida industrializada e abuso do
sal23,24.
A prevalência total das doenças isquêmicas do coração variou de 2,9% a 6,7% no
estudo do Inca12. Em Balneário Piçarras foi de 8,6%, também maior quando comparada às das
capitais, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços públicos no que se
refere aos fatores de risco para todas as DCNT.
A mudança no perfil epidemiológico brasileiro nas últimas décadas acarretou
ampliação da expectativa de vida e, consequentemente, aumento da mortalidade por DCNT.
Também as chances de desenvolver o câncer aumentaram, considerando que, quanto mais
idosa for a pessoa, mais as experiências potencialmente carcinogênicas vão se acumulando e
favorecendo o aparecimento da disfunção celular e multiplicação atípica25.
Estudo utilizando o Sistema e Informações sobre Mortalidade e o Sistema de
Informações Hospitalares, entre os anos de 2002 e 2004, descreve que os óbitos por
neoplasias chegaram a 405.415, sendo que, destes, 52,13% ocorreram na região Sudeste e
20,96% na região Sul e em menor escala nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No
gênero masculino, o câncer de traqueia, brônquios e pulmão apresentaram maior mortalidade,
seguidos do câncer de próstata26.
No município de Balneário Piçarras, o câncer referido apresentou uma prevalência de
59
1,2%. Este dado também é superior ao do estudo multicêntrico em São Paulo18, no qual a
frequência de morbidade referida para o câncer foi de 0,5%.
É importante considerar que as frequências estimadas com base na informação dos
entrevistados estão fortemente influenciadas pela cobertura da assistência à saúde existente no
município estudado, superestimando a prevalência quando comparada a outros estudos. De
qualquer modo, são informações úteis para os gestores programarem ações de combate aos
fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que incorpore definitivamente
ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis
que atinge todos os públicos27.
No que diz respeito ao gênero masculino, Silvério28 aponta algumas características que
precisam ser consideradas no momento de estabelecer estratégias para atender as necessidades
desse segmento que, por motivos culturais, precisam ser contempladas, levando em conta
algumas singularidades. A resistência em cuidar de sua própria saúde é observada
frequentemente. Esse comportamento pode estar relacionado à criação na infância e ao meio
cultural que orientam os homens, tornando-os reféns de seus próprios preconceitos. O modelo
de masculinidade ainda está calcado em um ser viril, dominante, caracterizado por
comportamentos opostos aos praticados pelas mulheres.
Um conjunto de fatores responde pela maioria das complicações e mortes por DCNT.
Dentre eles, destacam-se os de natureza socioeconômica, o tabagismo, o consumo excessivo
de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipidemias (determinadas principalmente pelo
consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal), a ingestão insuficiente de frutas,
legumes e verduras e o sedentarismo9.
No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se, em Balneário
Piçarras, alta prevalência de homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de
Santa Catarina, casados, com escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma
60
atividade remunerada ou aposentados com baixa renda.
Esses resultados podem ser justificados pelo fato de o município estar localizado na
região litorânea do estado de Santa Catarina, onde muitas pessoas decidem residir, após serem
beneficiadas com a aposentadoria, na expectativa de melhor qualidade de vida com a redução
do estresse comum em regiões mais industrializadas. Isso pode explicar a procedência de
74,5% dos entrevistados naturais de outras cidades. Dados do IBGE17 demonstram que a
população de Balneário Piçarras apresentou um aumento de 36,1% desde o censo
demográfico anterior, realizado em 2000. O crescimento populacional tem apresentado, nos
últimos nove anos, uma taxa média de 3,5% ao ano.
Apesar de a OMS definir a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade,
é difícil caracterizar uma pessoa como idosa, utilizando como único critério a idade, uma vez
que nesse segmento estão incluídos indivíduos com marcantes diferenças sociodemográficas.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)29, verifica-se um rápido
envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento, o que acarreta alto impacto nas
políticas sociais destinadas aos idosos, uma vez que o bem-estar deve ser avaliado a partir de
uma perspectiva multidimensional que capta os itens básicos de sobrevivência, renda e
consumo, sendo as pensões relacionadas à renda essenciais para o bem-estar, a subsistência e
a inclusão econômica das pessoas idosas.
Evidenciou-se alta prevalência de homens na faixa etária de 20 a 39 anos que também
necessitam de políticas específicas nas áreas de saúde, educação, ambiental e econômica,
porque os comportamentos e os estilos de vida individuais dessa parcela da população, assim
como seus cuidados de saúde, irão determinar futuras transformações no processo
saúde/doença, bem como transições demográficas e epidemiológicas do envelhecimento
populacional.
Quanto ao predomínio da baixa escolaridade, pode ser justificada pelo fato de que, em
61
um passado recente, o acesso às instituições de ensino era dificultado pela distância da escola,
principalmente em cidades pequenas. Outro aspecto a ser considerado é que muitas vezes os
homens precisam optar entre os estudos e o trabalho, priorizando a necessidade de contribuir
no orçamento familiar. Quando casados, identificam-se prioritariamente como chefes de
família, assumindo a responsabilidade de exercer atividade remunerada.
Os fatores de proteção para DCNT avaliados foram a ingestão de porções de frutas e
verduras diariamente, a realização de atividades físicas moderadas/intensas, alongamento e
caminhadas ou pedaladas como meio de transporte. Segundo Lucchese e Castro30, o homem
primitivo, para garantir sua sobrevivência, necessitava caminhar, correr, saltar e pular, mas
com o surgimento da civilização e o controle da energia elétrica, hidráulica e mecânica, o
homem passou a diminuir esses esforços, sendo a atividade física dispensável e eletiva.
Nesse contexto, o sedentarismo se tornou responsável por cerca de um terço das
mortes por doença coronariana, câncer de cólon e diabetes. Pode também estar associado à
baixa imunidade, ao comprometimento de diversos sistemas, ao aumento da prevalência de
obesidade, a lesões na coluna, infecções, osteoporose, hipertensão, diabetes, aumento do
colesterol e até à morte do indivíduo. O resultado encontrado de 63,0% de entrevistados que
não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente é
preocupante.
Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens caminhavam ou pedalavam como meio
de transporte. Esse comportamento — muito comum em municípios pequenos, nos quais as
pessoas utilizam a bicicleta para a realização de atividades que exigem locomoção — pode ser
incentivado com políticas públicas que promovam esse hábito e tornem essa prática mais
segura, como, por exemplo, a construção de ciclovias.
Também preocupante é a não ingestão diária de cinco porções de frutas e verduras,
observada em 57,0% da amostra. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde20, é
62
recomendável um consumo diário de pelo menos cinco porções de frutas, verduras e legumes,
em torno de 400 gramas por dia. Esses alimentos contêm baixo teor calórico e ajudam a
manter um peso corporal saudável, reduzindo o risco de câncer e outras doenças crônicas
como a obesidade.
Estudo de Eyken e Moraes31 evidenciou que os homens apresentavam pelo menos um
dos fatores de risco (sobrepeso/obesidade, atividade física irregular/sedentarismo, tabagismo,
hipertensão arterial, diabetes). Estes autores afirmam que os homens sofrem influência
cultural através de hábitos vivenciados diariamente entre seus amigos e familiares, não se
preocupando em realizar ações de vigilância das doenças referentes a fatores de riscos
inevitáveis e sua situação nutricional.
Quanto aos fatores de risco, os resultados apontaram alta prevalência de homens que
referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e 76,0% que não fumavam. De modo geral
são resultados muito positivos, pois o consumo de álcool é responsável por um conjunto de
problemas de saúde, como síndromes amnésica, demencial, alucinatória, delirante, de humor,
distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos, e por fim o delirium
tremens, que pode levar à morte32.
Com base em dados da OMS, Bertolazzi33 informa que os homens iniciam
precocemente o consumo de álcool e por esse motivo tendem a beber mais e a ter mais
prejuízos em relação à saúde do que as mulheres. Acentua que a prevalência de dependentes
de álcool também é maior para o sexo masculino: 19,5% dos homens e 6,9% das mulheres
apresentam dependência. Diferentemente, nosso estudo aponta resultados bastante
animadores.
O mesmo acontece com relação ao tabagismo — considerado pela OMS a principal
causa de morte evitável em todo o mundo. Os homens também consomem cigarros com maior
frequência que as mulheres, o que acarreta maior vulnerabilidade às doenças cardiovasculares,
63
pulmonares, bucais e diferentes tipos de câncer. Pesquisas comprovam que aproximadamente
47% da população masculina e 12% da feminina fumam no mundo33.
O sobrepeso e a obesidade também são fatores bastante preocupantes e atingiram 37%
dos homens entrevistados no município de Balneário Piçarras. Lucchese e Castro34 afirmam
que no adulto a obesidade ou sobrepeso e colesterol elevado são fatores de risco modificáveis
para a hipertensão arterial. Os autores acentuam que a cada quilograma que a pessoa perde, a
pressão abaixa pelo menos um mmhg.
Nesse cenário epidemiológico das doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se a
obesidade por ser simultaneamente uma doença e um fator de risco para outras doenças desse
grupo, pois o excesso de peso é a segunda causa evitável de câncer de esôfago, pâncreas, colo
retal, mama, endométrio, rim e vesícula, também representando risco para doenças
cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral35. Para reverter esse
quadro, a atividade física, a reeducação alimentar e o acompanhamento nutricional são
essenciais.
No que se refere à utilização dos serviços de saúde 72,4% dos homens entrevistados
não procuravam os serviços de saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços,
79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o
médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como terceira opção
(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado.
Estudo realizado por Maciel8 revelou que os homens admitem a necessidade da
procura pelos serviços de saúde, mas declaram que não o fazem. O autor afirma que a cultura
de gênero assimilada pela população coloca o homem em situação de risco, na medida em que
o afasta dos serviços de prevenção de agravos e promoção à saúde.
Os dados obtidos em Balneário Piçarras também revelaram que a unidade básica de
saúde, em 79,0% dos casos, é a referência na atenção primária, funcionando como a porta de
64
entrada dos serviços de saúde. Ressalta-se a inexistência de um hospital no município, porém,
o transporte para deslocamento até um serviço hospitalar está à disposição dos usuários
quando necessário.
Contudo, o modelo biomédico tradicional, centrado no médico, é o norteador do
serviço também nesse município, uma vez que 76,7% dos participantes da pesquisa
procuraram esse profissional quando apresentaram problemas de saúde. É importante ressaltar
que o Ministério da Saúde preconiza um primeiro contato principalmente com os ACS, que
são os profissionais que estão mais integrados e que têm maior aproximação com a
comunidade.
Cabe descrever a capacidade de recursos humanos na área de saúde de Balneário
Piçarras. O município conta com 27 médicos, sendo que 21 deles atendem pelo SUS,
totalizando 1,8 médico/1.000 habitantes. Existem também 13 enfermeiros, o que significa 0,9
enfermeiro/1.000 habitantes, e 21 cirurgiões dentistas (de 1,4 dentista/1.000 habitantes)
vinculados ao SUS. Na Estratégia Saúde da Família, seis médicos atendem as seis equipes
existentes. A cidade possui também um programa de agentes comunitários de saúde, com uma
cobertura de 100% da população36.
65
CONCLUSÃO
A partir dos resultados sobre a saúde do homem residente em Balneário Piçarras é
possível afirmar que as prevalências de diabetes (8,0%,), de hipertensão arterial (32,0%), das
doenças isquêmicas do coração (8,6%) e de câncer (1,2%) são superiores aos achados dos
estudos nacionais e de outros países da América Latina.
No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se alta prevalência de
homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de Santa Catarina, casados, com
escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma atividade remunerada ou
aposentados, com baixa renda.
Quanto aos fatores de proteção para DCNT, o resultado encontrado de 63,0% de
entrevistados que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas
moderadas/intensas diariamente é preocupante. Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens
caminhavam ou pedalavam como meio de transporte, sendo esse comportamento muito
comum em municípios pequenos, onde as pessoas utilizam a bicicleta para a realização de
atividades que exigem locomoção. Também preocupante foi a não ingestão de cinco porções
de frutas e verduras observada em 57,0% dos homens.
Em relação aos fatores de risco, resultados positivos foram observados nos hábitos de
fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Observou-se alta prevalência de homens que referiram não
ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e não fumar (76,0%). No entanto, o sobrepeso e a
obesidade são fatores bastante preocupantes e atingiram 37% dos homens entrevistados no
município de Balneário Piçarras.
Quanto à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não procuravam os serviços de
saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram para a unidade
básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o médico em 76,7% dos casos,
66
seguido pelo enfermeiro (23,5%), o agente comunitário da saúde (ACS) como terceira opção
(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado. Os
dados revelam que, no município, a unidade básica de saúde, em 79,0% dos casos, é a
referência na atenção primária como a porta de entrada dos serviços de saúde. Contudo, o
modelo médico centrado também é o norteador do serviço neste município, uma vez que
76,7% procuraram este profissional quando apresentaram problemas de saúde.
A realização deste estudo permitiu desenvolver um olhar crítico em relação aos
resultados encontrados e, portanto, oferece informações úteis para os gestores programarem
ações de combate aos fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que
incorpore definitivamente ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças
crônicas não transmissíveis, voltadas para a saúde do homem, considerando as singularidades
inerentes a este gênero.
Diante das reflexões acerca dos resultados, considera-se que é preciso implementar e
divulgar as políticas públicas de saúde, dentre elas a ESF, o Programa de incentivo às
mudanças curriculares dos cursos de medicina (Promed), Programa nacional de
reorientação da formação profissional em saúde (Pró-Saúde), Programa de educação pelo
trabalho para a saúde (PET-Saúde) e Núcleo de apoio à saúde da família (NASF) com o
apoio matricial e a Política nacional da saúde do homem.
Nesse sentido, é fundamental que os profissionais atuantes nos serviços de saúde
trabalhem de forma interdisciplinar, na busca de integralidade, equidade e resolubilidade no
atendimento dos homens, desenvolvendo uma relação de reciprocidade e confiança com os
usuários e as comunidades. Assim se construirão pontes e não muros entre os homens e os
serviços de saúde.
67
REFERÊNCIAS
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à saúde reprodutiva dos homens nos discursos de profissionais do Programa Saúde da
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36. Datasus [acessado 2010 dez 20]. Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br
71
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados sobre a saúde do homem residente em Balneário Piçarras é
possível afirmar que as prevalências de diabetes (8,0%,), de hipertensão arterial (32,0%), das
doenças isquêmicas do coração (8,6%) e de câncer (1,2%) são superiores aos achados dos
estudos nacionais e de outros países da América Latina.
No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se alta prevalência de
homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de Santa Catarina, casados, com
escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma atividade remunerada ou
aposentados, com baixa renda.
Quanto aos fatores de proteção para DCNT, o resultado encontrado de 63,0% de
entrevistados que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas
moderadas/intensas diariamente é preocupante. Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens
caminhavam ou pedalavam como meio de transporte, sendo esse comportamento muito
comum em municípios pequenos, onde as pessoas utilizam a bicicleta para a realização de
atividades que exigem locomoção. Também preocupante foi a não ingestão de cinco porções
de frutas e verduras observada em 57,0% dos homens.
Em relação aos fatores de risco, resultados positivos foram observados nos hábitos de
fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Observou-se alta prevalência de homens que referiram não
ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e não fumar (76,0%). No entanto, o sobrepeso e a
obesidade são fatores bastante preocupantes e atingiram 37% dos homens entrevistados no
município de Balneário Piçarras.
Quanto à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não procuravam os serviços de
saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram para a unidade
básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o médico em 76,7% dos casos,
seguido pelo enfermeiro (23,5%), o agente comunitário da saúde (ACS) como terceira opção
(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado. Os
dados revelam que, no município, a unidade básica de saúde, em 79,0% dos casos, é a
referência na atenção primária como a porta de entrada dos serviços de saúde. Contudo, o
modelo médico centrado também é o norteador do serviço neste município, uma vez que
76,7% procuraram este profissional quando apresentaram problemas de saúde.
A realização deste estudo permitiu desenvolver um olhar crítico em relação aos
resultados encontrados e, portanto, oferece informações úteis para os gestores programarem
ações de combate aos fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que
72
incorpore definitivamente ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças
crônicas não transmissíveis, voltadas para a saúde do homem, considerando as singularidades
inerentes a este gênero.
Diante das reflexões acerca dos resultados, considera-se que é preciso implementar e
divulgar as políticas públicas de saúde, dentre elas a ESF, o Programa de Incentivo às
Mudanças Curriculares dos Cursos de Medicina (Promed), Programa Nacional de
Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), Programa de Educação pelo
Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) com o
apoio matricial e a Política nacional da saúde do homem.
Evidencia-se a importância de desenvolver estratégias de prevenção mais efetivas e
seguras, com ênfase na educação em saúde, alimentação e qualidade de vida, com programas
voltados ao controle do tabagismo, do sedentarismo e do uso de álcool e outras drogas.
Nesse sentido, é fundamental que os profissionais atuantes nos serviços de saúde
trabalhem de forma interdisciplinar, na busca de integralidade, equidade e resolubilidade no
atendimento dos homens, desenvolvendo uma relação de reciprocidade e confiança com os
usuários e as comunidades. Assim se construirão pontes e não muros entre os homens e os
serviços de saúde.
73
REFERÊNCIAS
AMFRI - Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí. Municípios. Disponível em: <http://www.amfri.org.br/municipios/index.php>. Acesso em: 12 fev. 2012.
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APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS SAÚDE DO HOMEM: ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, ESTILO DE VIDA: UM INQUÉRITO DE BASE POPULACIONAL Nome do Entrevistador: ________________________________________________________ Nome do supervisor: Data da visita: ______________ Horário da visita: ___________________________________ Tipo de entrevista: 1. ( ) Realizada 2. ( ) Fechada 3. ( ) Recusa
� Dados de Identificação do domicílio: 1. Endereço:____________________________________________________________________ 2. Área: _______________________________________________________________________ 3. Microárea: ___________________________________________________________________ 4. Família:______________________________________________________________________ 5. Quantas pessoas residem neste domicílio: 5 a. Total: ______________________________________________________________________ 5b. Quantas pessoas com 18 anos de idade ou mais: ___________________________________ 6. Relação dos moradores: Nome do Familiar Condição na Família
II. Características sociodemográficas do indivíduo 07. Nome do entrevistado: ________________________________________________________ 08. Data de nascimento: __________________________________________________________ 09. Idade: ______________________________________________________________________ 10. Sexo: ______________________________________________________________________ 11. Religião: ____________________________________________________________________ 12. Etnia / Raça:_________________________________________________________________ 13. Naturalidade: ________________________________________________________________ 14. Situação conjugal: 1. ( ) solteiro
2. ( ) casado 3. ( ) relação estável
4. ( ) viúvo 5. ( ) separado
80
15. Quantos anos frequentou a escola: _______________________________________________ 16. Situação de trabalho: 1. ( ) em atividade
2. ( ) desempregado 3. ( ) pensionista / aposentado / estudante / outros_______________________________
17. Ocupação principal: ___________________________________________________________ Somente para os entrevistados que estão em atividade
18. Qual é a renda familiar:
1. ( ) < 01 salário mínimo 2. ( ) 01 salário a 02 salários mínimos 3. ( ) 02 a 03 salários mínimos 4. ( ) > 04 salários mínimos
• Estilo de Vida 19. Sua alimentação diária inclui ao menos 5 porções de frutas e verduras: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 20. O senhor tem o hábito de ingerir bebidas alcoólicas: 1. ( ) sim
2. ( ) não
21. Você evita ingerir alimentos gordurosos (carnes gordas, frituras) e doces: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 22. Você faz 4 a 5 refeições variadas ao dia, incluindo café da manhã completo: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 23. Alguma vez o senhor sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20 1. ( ) sim
2. ( ) não 24. Você realiza ao menos 30 minutos de atividades físicas moderadas/intensas, de forma contínua ou acumulada, 5 ou mais dias na semana: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre
81
4. ( ) sempre 25. Ao menos duas vezes por semana você realiza exercícios que envolvam força e alongamento muscular: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 26. As pessoas o aborrecem porque criticam seu modo de beber? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20
1. ( ) sim 2. ( ) não
27. No seu dia-a-dia, você caminha ou pedala como meio de transporte: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 28. Qual a sua altura atual: ________________________________________________________ 29. Qual o seu peso atual: _________________________________________________________
30. Cálculo do IMC: 1 ( ) <18,5 Kg/m²;
2 ( ) 18,5 à 24.9 Kg/m² 3 ( ) 25 à 29.9 Kg/m² 4 ( ) 30 à 39.9 Kg/m² 5 ( ) >40 Kg/m²
31. O senhor se sente chateado consigo mesmo pela maneira como costuma tomar bebida alcoólica? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20 32. O senhor é fumante: 1. ( ) sim 2. ( ) não - vá para a questão nº 36 3. ( ) ex-fumante vá para a questão nº 35 33. Há quanto tempo é tabagista: ___________________________________________________
Somente para quem é fumante
33. Com que idade iniciou o hábito de fumar: __________________________________________
Somente para quem é fumante 34. Quantos cigarros fuma por dia: __________________________________________________
Somente para quem é fumante 35. Se for ex-fumante, há quanto tempo parou de fumar: _________________________________
82
36. O senhor costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou ressaca: Somente para quem respondeu sim na pergunta 20
( ) sim ( ) não
• Estado de Saúde / Morbidade Referida
37. O senhor está apresentando, ou apresentou algum problema de saúde nos últimos 15 dias? 1. ( ) sim 2. ( ) não vá para a questão nº 39 38. Qual(is) o(s) problema(s) de saúde: __________________________________________________ 39. Das doenças a seguir, qual (is) o senhor apresenta ou apresentou nos últimos 12 meses? 1. ( ) Enxaqueca / dor de cabeça 2. ( ) Alergia 3. ( ) Hipertensão - pressão alta
4. ( ) Depressão/ ansiedade / problemas emocionais 5. ( ) Doença da Coluna / costas 6. ( ) Doença digestiva crônica - úlcera
7. ( ) Artrite / reumatismo / artrose 8. ( ) Doença do coração 9. ( ) Doença da pele 10. ( ) Diabetes – açúcar no sangue
11. ( ) Doença crônica do pulmão – asma, bronquite, enfisema
12. ( ) Osteoporose 13. ( ) Anemia 14. ( ) Doença Renal Crônica 15. ( ) Acidente Vascular Cerebral – derrame
16. ( ) Infarto Agudo do Miocárdio – infarto
17. ( ) Epilepsia – ataque
18. ( ) Câncer – tumor maligno
19. ( ) Tuberculose 20. ( ) Hanseníase 21. ( ) Intoxicação por agrotóxicos 22. ( ) Verminose - lombriga, solitária, outros
23. ( ) Acidente por animais peçonhentos 24. ( ) Outras. Especificar: ___________________________________________________ 40. Se for diabético ou hipertenso, quais os cuidados que utiliza para controlar a doença? 1. ( ) dieta - nutricionista
2. ( ) medicação de rotina 3. ( ) regime
4. ( ) atividade física 5. ( ) nenhum cuidado
6. ( ) outro. Especificar: _____________________________________________________ 41. Nos últimos 15 dias, procurou o serviço de saúde: 1. ( ) sim. 2. ( ) não - vá para a questão nº 43 42. Se a resposta for positiva, qual foi o motivo: ________________________________________
83
43. Quando está com problemas de saúde, o senhor procura qual serviço de saúde: 1. ( ) Hospital
2. ( ) Posto de Saúde 3. ( ) Benzedeira 4. ( ) Pastoral da Saúde 5. ( ) Outros. Especificar: ____________________________________________________
44. Quando o senhor não está doente, procura os serviços de saúde para:
1. ( ) Exames Preventivos - PSA
2. ( ) Vacinação 3. ( ) Exames de Rotina – colesterol, triglicerídeos, hemograma, EQU, EPF
4. ( ) Não procura os serviços de saúde 45. Qual profissional o senhor procura quando está apresentando algum problema de saúde: 1. ( ) Médico 2. ( ) Enfermeiro 3. ( ) Técnico de Enfermagem 4. ( ) Dentista 5. ( ) Psicólogo 6. ( ) Fonoaudiólogo 7. ( ) Agente Comunitário de Saúde 8. ( ) Outro profissional. Especificar: ___________________________________________
• Acessibilidade 46. Que meio de transporte o senhor utiliza para chegar a Unidade de Saúde mais próxima:
1. ( ) A pé 2. ( ) Ônibus 3. ( ) Tração Animal 4. ( ) Bicicleta 5. ( ) Automóvel 6. ( ) Outros________________________________________________________________
47. Tempo gasto neste trajeto:
1. ( ) Até 30 min. 2. ( ) De 30 min - 1 hora 3. ( ) 1 hora a 1 hora e 30 min. 4. ( ) 1 hora e 30 até 2 horas 5. ( ) 2 horas até 2 horas e 30 min. 6. () mais de 2 horas e 30 min.
48. Por quem o senhor foi atendido (primeiro contato) na Unidade de Saúde:
1. ( ) Recepção 2. ( ) ACS 3. ( ) Técnico de enfermagem 4. ( ) Enfermeiro 5. ( ) Porteiro 6. ( ) Outros________________________________________________________________
49. Como foi recebido ao chegar à unidade:
84
1. ( ) Ótimo 2. ( ) Bom 3. ( ) Regular 4. ( ) Ruim
50. Houve agendamento prévio para este atendimento:
( ) Sim ( ) Não
Se caso afirmativo, foi feito:
1. ( ) Por telefone 2. ( ) ACS 3. ( ) Pessoalmente 4. ( ) Outros________________________________________________________________
51. Faltou o trabalho para conseguir este atendimento:
1. ( ) Sim 2. ( ) Não
Em caso afirmativo quantas vezes:________________________________________________ 52. O pessoal da unidade de saúde explicou o que fazer (deu orientações) em cada setor por onde passou:
1. ( ) Sim em todos os setores 2. ( ) Sim em alguns setores
3. ( ) Não em nenhum dos setores 53. O motivo que o levou a unidade de saúde foi resolvido:
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Parcialmente
Se parcialmente por quê?________________________________________________________
85
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: SAÚDE DO HOMEM: ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, ESTILO DE VIDA: UM INQUÉRITO DE BASE POPULACIONAL Pesquisadora responsável: Elisete Navas Sanches Próspero Telefones para contato: (47) 9981-1025 / (47) 3341-7932 Pesquisador participante: Benoni Sidinei Brizolla Telefones para contato: (47) 3908-5860 / (47) 9948-1838
Esta pesquisa pretende verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC). Para participar desta pesquisa, o senhor responderá a uma entrevista, sendo que as informações coletadas serão utilizadas única e exclusivamente com interesse científico. Será assegurado o sigilo quanto à sua identidade, bem como o direito de desistência sob qualquer situação ou no momento que lhe convier ou achar necessário. Qualquer dúvida relacionada com a pesquisa pode ser esclarecida com o pesquisador ou com a professora responsável em qualquer momento da pesquisa, inclusive após sua publicação.
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo- assinado, concordo em participar deste estudo. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: ______________________________________________________ Nome: ___________________________________________________________ Assinatura do sujeito ou responsável: __________________________________ Telefone para contato: _______________________________________________ Balneário Piçarras (SC), 2010.