Saberes que transformam vidas: a experiência de Seu Américo e Dona Tereza regada de aprendizados e...

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A agricultora Tereza da Silva, de 50 anos, e o agricultor Américo Pedro da Silva, de 56 anos, moram com os seus três filhos e dois netos, no assentamento da Serra da Ingá, no município de Exu, Araripe pernambucano. A família chegou à propriedade de 54 hectares há 13 anos. Antes disso, eles moravam no Distrito de Timorante, na cidade de Granito, e sobreviviam da atividade da agricultura, por meio dos plantios de feijão e milho, comercializados na Feira Livre de Timorante. Para contribuir com o sustento familiar, o casal de agricultores trabalhava em propriedades de fazendeiros da região. O acesso à água naquela época era complicado, pois eles tinham que limpar alguns açudes particulares para poder receber água. Seu Américo e Dona Tereza carregavam água na cabeça cerca de um quilômetro, porém quando o açude mais próximo secava, era preciso se deslocar o dobro da distância até chegar a outro açude. “Quando me lembro daquela época, onde a gente não tinha nada, lembro também que já tive que desmanchar uma saia minha pra fazer roupa para o meu filho, era muito sofrimento”, relembra Dona Tereza. Nessa época, o agricultor conta que começou a participar das reuniões do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Exu, espaço em que se discutia a possibilidade de adquirir terra por meio de um assentamento. Depois de um tempo, foi organizado um grupo de 49 famílias para fundar a Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Distrito de Timorante. Dessa forma, a família de Seu Américo e Dona Tereza puderam adquirir um lote no assentamento, através do Programa Cédula da Terra, atual Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Antes de se mudar, o casal tinha que ir todos os dias até a propriedade, lá eles desmatavam para plantar mandioca. Quando a casa foi concluída e a família se mudou para o assentamento, Dona Tereza e Seu Américo levaram galinhas e bodes, mas continuaram plantando mandioca, milho e feijão. A família começou a ganhar dinheiro com a venda dos animais e do carvão, proveniente do desmatamento. Em 2001, como parte da implantação do projeto do assentamento, a família foi beneficiada com uma Pernambuco Ano 5 | nº 121 | julho | 2011 Exu - Pernambuco Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Saberes que transformam vidas: a experiência de Seu Américo e Dona Tereza regada de aprendizados e oportunidades 1 O casal colhendo os produtos no entorno da cisterna. Dona Tereza cuidando dos canteiros.

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A agricultora Tereza da Silva, de 50 anos, e o agricultor Américo Pedro da Silva, de 56 anos, moram com os seus três filhos e dois netos, no assentamento da Serra da Ingá, no município de Exu, Araripe pernambucano. A família chegou à propriedade de 54 hectares há 13 anos. Antes disso, eles moravam no Distrito de Timorante, na cidade de Granito, e sobreviviam da atividade da agricultura, por meio dos plantios de feijão e milho, comercializados na Feira Livre de Timorante. Para contribuir com o sustento familiar, o casal de agricultores trabalhava em propriedades de fazendeiros da região.

O acesso à água naquela época era complicado, pois eles tinham que limpar alguns açudes particulares para poder receber água. Seu Américo e Dona Tereza carregavam água na cabeça cerca de um quilômetro, porém quando o açude mais próximo secava, era preciso se deslocar o dobro da distância até chegar a outro açude. “Quando me lembro daquela época, onde a gente não tinha nada, lembro também que já tive que desmanchar uma saia minha pra fazer roupa para o meu filho, era muito sofrimento”, relembra Dona Tereza. Nessa época, o agricultor conta que começou a participar das reuniões do Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Exu, espaço em que se discutia a possibilidade de adquirir terra por meio de um assentamento.

Depois de um tempo, foi organizado um grupo de 49 famílias para fundar a Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Distrito de Timorante. Dessa forma, a família de Seu Américo e Dona Tereza puderam adquirir um lote no assentamento, através do Programa Cédula da Terra, atual Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Antes de se mudar, o casal tinha que ir todos os dias até a propriedade, lá eles desmatavam para plantar mandioca. Quando a casa foi concluída e a família se mudou para o assentamento, Dona Tereza e Seu Américo levaram galinhas e bodes, mas continuaram plantando mandioca, milho e feijão. A família

começou a ganhar dinheiro com a venda dos animais e do carvão, proveniente do desmatamento. Em 2001, como parte da implantação do projeto do assentamento, a família foi beneficiada com uma

Pernambuco

Ano 5 | nº 121 | julho | 2011Exu - Pernambuco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Saberes que transformam vidas: a experiência de Seu Américo e Dona Tereza regada de

aprendizados e oportunidades

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O casal colhendo os produtos no entorno da cisterna.

Dona Tereza cuidando dos canteiros.

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cisterna que armazena 16 mil litros de água para beber e cozinhar.

Três anos depois, através de uma parceria do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada) com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a comunidade da Serra da Ingá, foi beneficiada por um projeto que tinha o objetivo de estimular o cultivo agroecológico da mandioca. Com isso, a família de Seu Américo e Dona Tereza puderam par t ic ipar de capacitações, que os ensinaram as técnicas corretas de cultivo da mandioca, os princípios da agroecologia, além do processo de diversificação de culturas. Durante o projeto, Seu Américo participou de visitas de intercâmbio e conta que aprendeu a trabalhar corretamente com a mandioca e fazer o uso dos subprodutos. “Fiquei convencido de que não era preciso usar agrotóxicos nos plantios, nem fazer queimadas, muito menos desmatar. Aprendi que deveria utilizar plantas nativas de forma consorciada”, explica o agricultor. Conhecimento que é útil para a família até os dias de hoje, já que eles não precisam mais destruir a natureza pra fazer carvão para sobrevivência.

Em 2008, Inicialmente um grupo de interesse de mulheres foi beneficiado com um projeto de criação de galinhas, apoiado pelo Projeto Dom Helder Câmara (PDHC). “Quando o projeto começou eram 28 galinhas para cada família, desde então, a nossa renda aumentou junto com a nossa alimentação, tudo mudou”, conta Dona Tereza. No ano seguinte, o casal de agricultores foi beneficiado com uma cisterna calçadão, uma das tecnologias do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). Segundo Seu Américo, essa conquista é considerada a maior dos últimos tempos, pois a família adquiriu mais conhecimentos e tem um plantio diversificado de hortaliças e fruteiras na propriedade, além de uma alimentação mais saudável, comprando apenas alguns produtos que não são produzidos.

A família comercializa o excedente da produção na Feira Agroecológica de Exu. Dona Tereza conta que depois da conquista da cisterna, não é mais necessário comprar água para as atividades produtivas, já que o reservatório acumula 52 mil litros. Nessa mesma época, a família de Seu Américo e Dona Tereza começaram a criar cabras, e em curto período de tempo, a família chegou a possuir um rebanho de 66 animais. “Nós ficamos com um rebanho muito bom, mas tivemos que vendê-los, devido à falta de pastagem e de água, que era insuficiente durante o período de estiagem”, relata o agricultor. Mesmo com as adversidades enfrentadas, Dona Tereza já conseguiu vender muitas galinhas, e em breve, deseja ampliar seu criatório.

Seu Américo acredita que todas as conquistas alcançadas são fruto da busca pelo conhecimento que acontece de forma permanente. “O conhecimento da pessoa é que vai fazer toda diferença. Antigamente um agricultor precisava cultivar grandes áreas para garantir o sustento, e hoje, ele só precisa cultivar pequenos quintais, pois com técnicas e manejo adequado, ele garante o alimento e a renda da família”, afirma Seu Américo. Sendo assim, em relação ao futuro, a família deseja sabedoria para desenvolver cada vez mais a sua propriedade.

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