Saberes Práticas e Controle Dos Corpos Uma Análise Feminista Do Jornal News Seller

download Saberes Práticas e Controle Dos Corpos Uma Análise Feminista Do Jornal News Seller

of 9

description

Esta comunicação é um recorte da minha pesquisa de mestrado no programa depós-graduação em ensino, história, filosofia da ciência e matemática na UniversidadeFederal do ABC, que é financiada pela FAPESP e intitulada de “Mulher, ciência etecnologia: uma analise feminista do jornal News Seller”, ela diz respeito a um jornal que foi criado em 11 de maio de 1958 e que tinha um conteúdo voltado, inicialmente, para a região de Santo André-SP, mas que não demorou a cobrir a toda a região doABC.

Transcript of Saberes Práticas e Controle Dos Corpos Uma Análise Feminista Do Jornal News Seller

  • 493

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    SABERES, PRTICAS E CONTROLE DOS CORPOS: UMA ANLISE

    FEMINISTA DO JORNAL NEWS SELLER

    Clara Guimares Santiago1

    Esta comunicao um recorte da minha pesquisa de mestrado no programa de

    ps-graduao em ensino, histria, filosofia da cincia e matemtica na Universidade

    Federal do ABC, que financiada pela FAPESP e intitulada de Mulher, cincia e

    tecnologia: uma analise feminista do jornal News Seller, ela diz respeito a um jornal

    que foi criado em 11 de maio de 1958 e que tinha um contedo voltado, inicialmente,

    para a regio de Santo Andr-SP, mas que no demorou a cobrir a toda a regio do

    ABC.

    Esta pesquisa interdisciplinar e tenta dialogar com a epistemologia feminista,

    histria das cincias e Michel Foucault, tem como objetivo analisar as matrias

    direcionadas ao pblico feminino entre os anos de 1960 a 1969. Durante um perodo

    inicial essas matrias foram, inicialmente, publicadas aleatoriamente no jornal, mas

    depois de 1964 foram criados locais especficos para ela, primeiro em uma coluna

    chamada Mulher e lar, depois no suplemento Entre ns... as mulheres, e por fim em um

    suplemento em forma de encarte chamado Ela.

    Nosso objetivo de pesquisa compreender quais as relaes entre gnero,

    cincia e tecnologia contidas nas matrias publicadas e direcionadas ao pblico

    feminino pelo jornal News Seller. E nossa hiptese de pesquisa que em uma sociedade

    machista, em plena transformao tecnolgica e autoritria politicamente, a divulgao

    do conhecimento cientfico para as mulheres foi domesticados.

    O autoritarismo poltico diz respeito ao golpe ocorrido em 31 de maro de 1964,

    que instaura uma ditadura militar no Brasil, e que se estende para alm do perodo final

    desta pesquisa. Por isso, temos como hiptese que esse discurso autoritrio influenciou

    de alguma forma os discursos do jornal.

    1 Mestranda em Ensino, Histria e Filosofia das Cincias e Matemtica pela UFABC. Bolsista FAPESP.

    E-mail: .

  • 494

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    Esta comunicao trar um recorte entre os anos de 1964 e 1965, fazendo uma

    breve anlise do perodo baseando-se na arqueologia do saber de Michel Foucault,

    apontando a primeira ruptura encontrada. Mas a pesquisa como um todo, se prope

    tambm a realizar uma anlise do uso da cincia nas matrias baseadas no entendimento

    de que a cincia pode ser utilizada como mecanismo de manuteno das verdades.

    1. Epistemologia feminista

    Para Simone Schmidt (2004, p.17) o feminismo mltiplo em si mesmo por

    atuar em diversos campos, nesse sentido, deve ser entendido como uma arena, depois,

    como um campo terico, uma prtica interpretativa e, por fim, como um lugar poltico.

    Sendo assim, devem ser problematizadas as relaes entre teoria e prtica que perfazem

    o feminismo em sua prpria constituio.

    O problema da teoria e prtica est atrelado a um entendimento de que a cincia

    algo neutro, pois o feminismo, necessariamente, significa tomar um posicionamento.

    Guacira Lopes Louro (2003, p. 143) defende que a pesquisa feminista no

    desinteressada, pois ela fala de algum lugar, nesse sentido, pesquisar sobre feminismo

    assumir que no existe uma cincia neutra ou desinteressada.

    Dessa forma, a pesquisa feminista no objetiva s a introduo das mulheres nas

    cincias, mas questiona o modo tradicional de fazer cincia, propor novos modelos,

    mas, essencialmente, ter disposio epistemolgica e poltica para rever a postura frente

    s pesquisas. assumir a instabilidade no fazer cientfico, subverter matrizes de

    pensamento, acolher a fluidez, numa arena que tradicionalmente tentou estabelecer verdades

    durveis. (Louro, 2003, p. 146).

    Nesse sentido, os desafios desse tipo de pesquisa so epistemolgicos, pois

    referem-se a modos de conhecer, implicam discutir quem pode conhecer, que reas ou

    domnios da vida podem ser objeto de conhecimento, que tipo de perguntas podem ser

    feitas. (Louro, 2003, p. 154). Esta uma pesquisa feminista, portanto busca se

    posicionar politicamente e falar de um local especfico.

  • 495

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    2. Foucault

    Michelle Perrot (2005, p. 489-490) afirma que ao olhar para a obra de Michel

    Foucault de uma forma rpida, percebe-se uma certa ausncia sobre as questes das

    mulheres ou de gnero. Entretanto, apesar disso, percebe-se que h um movimento

    crescente de pesquisas sobre mulheres que tem utilizado a obra do autor como

    referencial terico. As maiores crticas que so feitas, nesse sentido, so em relao ao

    seu androcentrismo, mas isso no impede que a epistemologia feminista tenha se

    apropriado de suas teorias como referencial terico, principalmente, com as seguintes

    caractersticas:

    Sobre o poder, o corpo sexual como alvo e veculo do biopoder, as estratgias

    de resistncia ou as tecnologias de si. Todas aderem sua crtica ao

    universalismo, e, a maior parte delas, crtica ao existencialismo. Entretanto,

    a maioria hesita em segui-lo em sua crtica s identidades sexuais. (PERROT,

    2005, p. 490)

    Segundo Margareth Rago (2011, p. 2) a crtica de algumas feministas as teorias

    de Michel Foucault se do em parte pela falta de contato com toda extenso de sua obra,

    principalmente, a ltima fase. A historiadora aponta o uso das artes da existncia, das

    tcnicas de si e da parresia como um novo campo terico para pesquisas histricas

    relacionadas com a temtica feminista. No caso especfico das artes da existncia,

    Foucault entende como uma forma dos antigos gregos e romanos investirem na

    produo de subjetividade, era uma forma de equilbrio entre a racionalidade e o lado

    emocional dos sujeitos, seria ento, no se deixar escravizar pelo outro, um agir com

    autonomia. (Rago, 2011, p. 8)

    Sobre essas relaes entre o feminismo e Foucault, podemos citar, por exemplo,

    o discurso mdico (Nascimento da Clnica), pois na medicina, essa trajetria nos leva a

    manuteno do saber mdico enquanto mecanismo disciplinar, pois caberia ao mdico

    ter o domnio do controle disciplinar, e ao hospital a funo de assegurar o

    esquadrinhamento, a vigilncia, a disciplinarizao. (Foucault, 2007, p.108).

    Sendo assim, a institucionalizao da medicina se mostrou como um segundo

    meio ou estratgia de buscas para legitimao das relaes de poder, por outro lado

    tambm uma prtica considerada essencial ao fazer cientfico, pois por meio dela

    que o cientista pode divulgar suas pesquisas sociedade. E por meio dessa divulgao

  • 496

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    que os indivduos conhecem o que certo e errado, e o que saudvel para o seu

    corpo.

    atravs da prtica mdica e do controle do corpo que os discursos machistas

    (Rago, 2001, Swan, 2001) so perpetuados tambm, sejam na definio do que

    saudvel ao corpo feminino, nas prticas obstetrcias e em alguns casos na

    normalizao da violncia. O corpo masculino considerado o modelo universal de

    humano, e o da mulher o outro. O problema dessa forma de lidar com o corpo e a

    sade est na naturalizao dos discursos, esse conflito pode se tornar ainda maior se

    levarmos em considerao que a constituio do gnero no binria. (Aquino, 2006)

    Alm das relaes entre as cincias mdicas e o controle dos corpos, o poder

    tambm utiliza como mecanismo de controle social o direito. Foucault (2007, p.179)

    desenha um tringulo para entrelaar as relaes do poder, que seriam: poder, direito e

    verdade. Em nossa sociedade essas relaes funcionam com base nos discursos

    verdadeiros, pois no existe para Foucault poder sem verdade: buscamos,

    produzimos, confessamos e a procuramos em todos os locais ou circunstncias.

    Produzimos verdade com o mesmo mpeto que produzimos riquezas, pois verdade e

    riqueza esto relacionadas e totalmente, entrelaadas. Pois tambm somos submetidos

    verdade no mbito da legislao, pois por meio das leis que se define o que verdade,

    e assim, somos julgados, condenados, classificados, obrigados a desempenhar tarefas e

    destinados a um certo tipo de viver ou morrer em funo dos discursos verdadeiros que

    trazem consigo elementos especficos de poder. (Foucault, 2007, p.180)

    O poder algo que circula, que no pode ser encontrado em um algum local

    especfico, pois se constitui em forma de rede e est em todos os locais. Ele no se

    aplica aos indivduos, passa por eles. Por isso no podemos dizer que est na mo de

    algumas pessoas ou em um s local, pois no se trata de uma coisa, de algo palpvel. O

    poder circula por meio dos indivduos que ele mesmo criou, seus corpos so a massa

    que o alimenta. (Foucault, 2007, p.183-184)

  • 497

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    2.1. Arqueologia do saber

    A histria para Foucault (2009) feita por meio de rupturas, limiares e

    descontinuidades. a histria que observa o que est escrito no documento e o que

    tambm no est escrito, que se debrua sobre objetos mais individualizados.

    Uma vez suspensa essas formas imediatas de continuidade, todo um domnio

    encontra-se, de fato, liberado. Trata-se de um domnio imenso, mas que se

    pode definir: constitudo pelo conjunto de todos os enunciados efetivos

    (quer tenham sido falados ou escritos), em sua disperso de acontecimentos e

    na instncia prpria de cada um. (FOUCAULT, 2009, p. 30)

    Assim, no se trata de buscar somente os enunciados de uma lngua, a descrio

    dos discursos, todas as suas falas, mas de buscar os silncios tambm, o invisvel que

    perpassa pelas linhas escritas, o no dito. (Foucault, 2009, p. 31)

    Essa descontinuidade liberta as formas fixas, os modelos que estavam focados

    no amplo, mas que ao mesmo tempo limitava os discursos, nesse contexto, os

    enunciados tm um papel fundamental. (Foucault, 2009, p. 90) Muitas vezes o conceito

    de enunciado confundido com o que a lgica chama de proposio ou a gramtica

    entende como frase, mas o enunciado est, alm disso, pode-se, por exemplo, ter dois

    enunciados juntos com sentidos opostos; um enunciado por ser uma frase, mas tambm

    pode ser uma palavra. (Foucault, 2009, p. 91)

    A arqueologia se pretende a definir os discursos em sua especificidade e trata-os

    como uma espcie de monumentos, pois no interessa a ela entend-los como

    documentos ou signos de outras coisas. Ela busca a definio e as normas das prticas

    discursivas em obras que so individuais, entretanto, no se prope a reconstruir as

    coisas, no tenta repetir e reproduzir as palavras e discursos, pelo contrrio, a

    descrio sistemtica de um discurso-objeto. (Foucault, 2009, p.158) Ela diz respeito

    forma com que os elementos se relacionam internamente, que em conjunto possuem

    uma funo. Esse espao feito de organizaes se baseia em rupturas, so

    organizaes descontnuas. (Foucault, 2007b, p. 298)

    A histria tradicional se organiza por meio de cronologias que trabalhava em um

    espao fixo para todas as coisas, sejam identidades ou discursos qualitativos, o objetivo

    era sempre delimitar espaos j pr-determinados. Foucault (2007b, p. 299) diz que os

  • 498

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    princpios que organizam os espaos na arqueologia so: analogia e sucesso. Do sculo

    XIX em diante, as prticas mudam, j no so mais cronolgicas, passam a ser

    trabalhadas por meio de analogias.

    Se refletirmos sobre esse contexto dentro das cincias humanas, Foucault

    (2007b, p. 475) diz:

    O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno,

    permite-lhe desempenhar dois papis: est, ao mesmo tempo no fundamento

    de todas as positividades, e presente, de uma forma que no se pode sequer

    dizer privilegiada, no elemento das coisas empricas. Esse fato e no se

    trata a da essncia em geral do homem, mas pura e simplesmente desse a

    priori histrico que, desde o sculo XIX, serve de solo quase evidente ao

    nosso pensamento esse fato , sem dvida, decisivo para o estatuto a ser

    dado s cincias humanas, a esse corpo que conhecimentos (...) que toma

    por objeto o homem no que ele tem de emprico.

    As cincias humanas no tiveram um perodo precursor ou uma tradio que

    tivesse delimita, anteriormente, seu objeto de pesquisa. Esse entendimento que se

    constituiu de homem ocidental no existia em perodos anteriores, pois essas cincias se

    deram por uma necessidade de dar conta de questes que surgiram, as anlises passaram

    a ser sobre o homem e suas relaes sociais, sua vida em sociedade, seja

    individualmente ou em grupo. Os argumentos deixaram de ser opinies e passam a

    ser um acontecimento na ordem do saber. (Foucault, 2007b, p. 476-477)

    Neste contexto, a histria no um campo fixo, datado e que pode ser reduzido a

    formas, contedos e normas. O fazer histrico no algo isento, isolado e objetivo, nem

    que deve se restringir ao documento como nica fonte de conhecimento. A histria

    feita subjetividade, pois a subjetividade dos sujeitos estudados ou do historiador deve

    ser levada em considerao. (Rago & Gimenes, 2000, p.9-10)

    3. A ruptura

    Foucault (2009b. p.31) aponta a necessidade de observar a histria por meio das

    rupturas, por isso, gostaramos de destrinchar a ruptura ocorrida em 1964. O ano de

    1964 inicia com matrias direcionadas para mulheres publicadas no 1 caderno do News

    Seller, mas que esto situadas em pginas separadas, pois no existe uma ligao

  • 499

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    organizacional entre elas, a no ser falarem sobre mulheres, geralmente, sobre

    comportamento. Podemos citar como exemplo a matria intitulada Comportamento da

    mulher na rua ou em local pblico, foi publicada em 02 de fevereiro de 1964, no 1

    caderno, na pgina 13. Que diz respeito a uma matria editorial no assinada que

    tem como temtica o comportamento feminino, e defini algumas regras que devem ser

    seguidas para que as mulheres no fiquem mal faladas. (News Seller, 02/02/1964, p.13)

    O texto inicia com a afirmao que no cai bem mulher que ela discuta com o

    companheiro em locais pblicos, assim como no deve ter qualquer tipo de

    exibicionismo onde haja aglomerao, sendo assim, no pode passar batom em

    pblico, cruzar as pernas com cigarro na boca, no cinema empurrar os demais,

    procurando abrir caminho para a sala de espetculo, ou no restaurante chamar o

    garom. E finaliza chegando concluso de que seguindo essas regras ela agir como

    deve, colocando-se em seu devido lugar. (News Seller, 02/02/1964, p.13)

    (Fonte: News Seller, 02/02/1964, 1 Caderno, p.13)

    Esse modelo segue at o dia 05 de abril de 1964, quando inicia a coluna Mulher

    e lar, mas apesar das matrias serem inseridas em um mesmo local, elas no mudam o

    discurso e nem o formato. Por isso, entendemos que esse um perodo de transio que

    iniciou junto com a ditadura militar e que caminha para uma ruptura em agosto de 1964.

    O golpe militar foi dado em 31 de maro de 1964, e na semana seguinte a coluna inicia.

    Selecionamos a seguinte matria Desvendar os "mistrios da atrao fsica" sempre foi

    preocupao dos cientistas para ilustrar que o formato do discurso no mudou, a nica

    coisa, nesse momento, que mudou foi o agrupamento das matrias que passaram a

    integrar uma nica pgina. (News Seller, 05/04/2964, p. 4)

  • 500

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    A matria que selecionamos uma das inaugurais da coluna Mulher e lar, que

    teve incio no dia 05 de abril de 1964, que a primeira edio do jornal aps o golpe. A

    matria intitulada Desvendar os "mistrios da atrao fsica" sempre foi preocupao

    dos cientistas, est na pgina 4 e assinada por Danielle Paul da News Exchange,

    especial para o News Seller. (News Seller, 05/04/2964, p. 4)

    O News Exchange era um correspondente do News Seller, que publicava

    matrias que tinham sido publicadas, anteriormente, no jornal americano. A matria

    sobre os mistrios da atrao fsica diz que numerosos cientistas e estudiosos

    leigos j tentaram descobrir os motivos pelo qual as mulheres e homens se sentem

    atrados por determinadas pessoas e no por outras, e questiona: por que uma mulher

    olha pra um homem e sente uma paixo avassaladora por um homens especfico?

    Segundo o News Seller, dois cientistas americanos fizeram pesquisas quantitativas para

    tentar desvendar o mistrio, e chegaram concluso de que as mulheres se preocupam

    mais do que os homens em parecer atraentes e os homens prestam ateno primeiro ao

    olhar, mas que este algo que surge naturalmente, ento s mulheres no precisariam se

    preocupar. (News Seller, 05/04/2964, p. 4)

    Como podemos perceber o formato e o discurso no mudou, o fato de ser

    assinada tambm no novidade, j que a maioria at essa poca era editorial, mas

    quando eram do News Exchange, algumas eram assinadas.

    No nosso entendimento no foi uma coincidncia a criao do Mulher e lar ter

    ocorrido logo aps o golpe, pois esse perodo nos parece uma transio para a ruptura

    que acontece alguns meses depois, dando a mulher um local especfico do jornal. A

    ruptura ocorre em 23 de agosto de 1964 com a criao do suplemento feminino, Entre

    ns... as mulheres, que assinado pela Jornalista Eulina Cavalcante, que mulher do

    comandante Sidney de Oliveira.

    O discurso muda neste momento, pois antes se tratava de matrias informativas,

    com um texto mais distanciado, fazendo, muitas vezes, aluso a pesquisas cientficas.

    As mulheres recebiam informaes diversas, mas em um discurso que visivelmente de

    autoridade, entretanto, com o Entre ns... as mulheres o tom muda, como se elas

    estivessem recebendo conselhos de uma amiga com mais conhecimento; esse discurso

  • 501

    Anais do Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar

    ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417

    IX Edio (2013)

    no deixa de ser de autoridade, mas uma autoridade suavizada. Um elemento que pode

    corroborar com a nossa interpretao o prprio nome do suplemento, que cria um

    discurso de papo entre amigas, pois tudo estaria entre ns.

    Referncias bibliogrficas

    AQUINO, Estela M L. Gnero e sade: perfil e tendncias da produo cientfica no

    Brasil. Revista de Sade Pblica, n. 40 (nmero especial), p. 121-132, 2006.

    FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. So Paulo: Graal, 2007.

    __________. Arqueologia do saber. So Paulo: Forense universitria, 2009.

    __________. As palavras e as coisas. So Paulo: Martins fontes, 2007b

    LOURO, Guacira Lopes. Gnero, sexualidade e educao: uma perspectiva ps-

    estruturalista. Petrpolis:Vozes, 2003, 6ed.

    PERROT, Michelle. As mulheres ou os silncios da histria. Bauru: EDUSC, 2005.

    RAGO, Maria Margareth. Feminizar preciso: Por uma cultura filgina. So Paulo em

    Perspectiva, v.15 n.3, p. 53-66, 2001.

    RAGO, Margareth, GIMENES, Renato Aloizio de Oliveira. (orgs). Narrar o passado,

    repensar a histria. Campinas: Ifch/Unicamp, 2000.

    SCHMIDT, S. P. Como e por que somos feministas. Estudos Feministas, 12(Nmero

    Especial.), 17-22, 2004.

    SWAIN, Tnia Navarro. Feminismo e recortes do tempo presente: Mulheres em revistas

    femininas. So Paulo em Perspectiva, 15(3), 67-81, 2001.