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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 SABERES AMBIENTAIS E CONHECIMENTOS IDENTITÁRIOS: A CONSTRUÇÃO DE UMA EXTENSÃO NA COMUNICADE DA BOCA DA BARRA - SABIAGUABA - FORTALEZA - CEARÁ Távila da Silva Rabelo (a) , Natália de Freitas Oliveira (b) , Jair Bezerra dos Santos Júnior (c) , Carlos Lucas Sousa da Silva (d) , Anna Erika Ferreira Lima (e) , Adryane Gorayeb (f) (a) Departamento da Área Química e Meio Ambiente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, [email protected] (b) Departamento da Área Química e Meio Ambiente, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, [email protected] (c) Graduado pelo Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (d) Graduando do Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (e) Profª. Drª. do Departamento de Turismo e Coordenadora Geral do Núcleo de Estudos Afro- Brasileiros e Indígenas - IFCE Campus Fortaleza, [email protected] (f) Profª. Drª do Departamento de Geografia e Coordenadora do Laboratório de Geoprocessamento e Cartografia Social, Universidade Federal do Ceará, [email protected] Eixo: Territorialidades, conflitos e planejamento ambiental Resumo Os territórios tradicionais tem passado por um processo de expurgo em Fortaleza, principalmente aqueles se inserem em espaços litorâneos. O presente trabalho apresenta atividades do curso de extensão “Digitais de Diálogos”, que fez parte do processo de reativação e fortalecimento do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, no IFCE Campus Fortaleza. O público alvo foram as crianças da comunidade tradicional da Boca da Barra, localizada em Fortaleza, de acordo com a

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SABERES AMBIENTAIS E CONHECIMENTOS IDENTITÁRIOS: A

CONSTRUÇÃO DE UMA EXTENSÃO NA COMUNICADE DA BOCA

DA BARRA - SABIAGUABA - FORTALEZA - CEARÁ

Távila da Silva Rabelo (a)

, Natália de Freitas Oliveira (b)

, Jair Bezerra dos Santos Júnior (c)

,

Carlos Lucas Sousa da Silva (d)

, Anna Erika Ferreira Lima (e)

, Adryane Gorayeb (f)

(a) Departamento da Área Química e Meio Ambiente, Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará, [email protected]

(b) Departamento da Área Química e Meio Ambiente, Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará, [email protected]

(c) Graduado pelo Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(d) Graduando do Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(e) Profª. Drª. do Departamento de Turismo e Coordenadora Geral do Núcleo de Estudos Afro-

Brasileiros e Indígenas - IFCE Campus Fortaleza, [email protected]

(f) Profª. Drª do Departamento de Geografia e Coordenadora do Laboratório de

Geoprocessamento e Cartografia Social, Universidade Federal do Ceará, [email protected]

Eixo: Territorialidades, conflitos e planejamento ambiental

Resumo

Os territórios tradicionais tem passado por um processo de expurgo em Fortaleza,

principalmente aqueles se inserem em espaços litorâneos. O presente trabalho apresenta atividades do

curso de extensão “Digitais de Diálogos”, que fez parte do processo de reativação e fortalecimento do

Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, no IFCE Campus Fortaleza. O público alvo foram as

crianças da comunidade tradicional da Boca da Barra, localizada em Fortaleza, de acordo com a

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demanda das lideranças da comunidade envolvidas nas ações da Biblioteca Comunitária Casa

Camboa. A oficina sobre a questão hídrica teve como obejtivo relacionar a teoria com a prática, com a

condução dos alunos na construção de terrários individuais simulando um ecossistema terrestre.

resultado identificado foi a motivação e a participação efetiva das crianças nas aulas práticas e muitos

destas relacionaram as informações e observações com conhecimentos adquiridos na aula.

Palavras chave: Extensão; Educação Ambiental Aplicada; Comunidade Tradicional;

Território Litorâneo; Sabiaguaba.

1. Introdução

Atualmente a configuração de diversos municípios seguem padrões de

modernização, com recursos cada vez mais advindos da Era técnico-científico-informacional,

ocupando progressivamente territórios que se desenhavam a partir de modos de vidas

baseados nos saberes tradicionais. Mudanças repentinas na divisão territorial, principalmente

no setor laboral, pressiona a seletividade socioespacial e o desenvolvimento de dinâmicas

ambientais que entram em crise (SANTOS, 1996).

Conceitualmente território é o espaço delimitado por e a partir de relações de poder,

tendo em vista o enfoque em “o que se produz ou quem produz em um dado espaço, ou ainda

quais as ligações afetivas e de identidade entre um grupo social e seu espaço” (SOUZA, 1995,

p. 80). Os territórios remanescentes frente à dinâmica de ocupação mercantil massiva,

constroem as próprias identidades com base neste espaço, tendo o amparo governamental e

acadêmico para auxiliar na manutenção dos conhecimentos.

O Decreto de nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007 institui a Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), deliberou no

artigo nº 3 que comunidades tradicionais são definidas como “aquelas que possuem formas

próprias de organização social, utilizam seus territórios e os recursos naturais para se

reproduzirem de forma social, cultural e econômica ao longo dos anos” (BRASIL, 2007).

Devemos então ter noção do ocultamento de questões locais por conta dos objetos

modernos que seguem um fluxo da homogeneização dos territórios globalizados, resultando,

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de acordo com Santos (1996), na indiferença às realidades locais e também às realidades

ambientais. Grandes cidades, como Fortaleza, são centros de desenvolvimento e chegada de

fatores recém-chegados, que seguem a lógica de que “uma dada fração do território passa a

obedecer a uma lógica extra-local, com uma quebra às vezes profunda dos nexos locais”

(SANTOS, 1996, p. 170), sobrepondo territórios e recursos naturais que servem de ocupação

para comunidades pesqueiras, por exemplo, conferindo a perda da identidade comunitária.

A educação ambiental é um dos instrumentos do desenvolvimento sustentável, vez

que, incorporada nos princípios morais ecológicos, gera uma conscientização para

preservação do planeta para as presentes e futuras gerações. O uso desregrado dos recursos

hídricos e a poluição, estão tornando a água imprópria para diversas atividades, bem como

para o consumo humano, como pode ser comprovado em dados como o estudo feito pela

Companhia De Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH em 2017, que avaliou as águas

superficiais do estado do Ceará.

Além disto, tanto o crescimento demográfico que invade zonas ambientalmente

protegidas, como o desenvolvimento econômico que possui o foco no capital, multiplicam os

usos das águas, fazendo crescer a necessidade da conscientização para o uso racional. Ao

longo da zona costeira cearense existem diversas comunidades tradicionais de pescadores

artesanais que, com um histórico de organização e luta por melhores condições de

vida,buscam por uma educação, que usem a sua realidade diária como contexto, este é o caso

da Comunidade Boca da Barra localizada no bairro da Sabiaguaba- Fortaleza/CE.

Moreira e Masini (2001) relatam que segundo a teoria de Ausubel, o processo de

aprendizagem no qual há a junção da teoria com atividades práticas, possibilita que os alunos

tenham maior fixação e prazer na aula. Assim, ao desenvolver a experiência da criação de

micro ecossistema (conjunto de fatores bióticos e abióticos) como os terrários ligada aos

conceitos sobre o ciclo da água permitem explorar tanto o meio terrestre como o aquático. Por

isto, a elaboração de atividades como esta contribui para fortalecer uma educação comunitária

nas suas especificidades, no seu contexto cultural e natural. Segundo Miranda et. al. (2010),

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atividades didáticas que desafiam os alunos, levando-os a refletir sobre situações cotidianas e

se posicionarem como partes da natureza e da espécie humana, podem estimulá-los a perceber

o significado dos saberes científicos para suas ações no dia-a-dia.

À vista disto, o desenvolvimento de ações por parte das instituições acadêmicas se

tornam primordiais para o fortalecimento do mosaico de princípios e de práticas destas

populações tradicional, resgatando estes saberes sustentáveis e auxiliando na resistência

comunitária, evidenciando e compartilhando experiências, justificando o peso que a Extensão

tem como pilar institucional.

2. Metodologia

2.1. A Sabiaguaba

A atividade apresentada a seguir, a construção de terrários, trata-se de uma ação,

dentre as demais, realizada através do Projeto de Extensão “Digitais de Diálogos: saberes

ambientais e alimentares para crianças da Sabiaguaba”. O local definido para o

desenvolvimento do Projeto foi a Biblioteca Comunitária Casa Camboa, tendo em vista que o

contato inicial informando sobre a necessidade da Comunidade foi realizado pela

coordenadora da Biblioteca. Dessa forma, a construção da ação baseou-se no diálogo entre

Comunidade e Instituição de Ensino, visando adequar demandas e propostas.

A Sabiaguaba é um bairro de Fortaleza onde se encontra a comunidade tradicional da

Boca da Barra estando localizada em uma área onde é lineada uma Unidade de Conservação,

a Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba (APA da Sabiaguaba, instituída pelo Poder

Público Municipal pelo Decreto 11.987, de 20 de fevereiro de 2006) na zona costeira e vem

buscando (auto)reconhecimento como indígena. APA é uma unidade de conservação de uso

sustentável destinada a proteção da fauna, flora e recursos hídricos da área (SNUC, 2000).

A região em que se encontra esta APA tem uma área de aproximadamente 1.009,74

hectares e consiste em uma zona de amortecimento do Parque Natural Municipal das Dunas

da Sabiaguaba, o qual fora criado em 2006, pelo Decreto 11.986. Zona de amortecimento é

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definida como o “entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão

sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos

negativos sobre a unidade” (SNUC, 2000).

Vale destacar também que o bairro Sabiaguaba é subdividido em territórios. No dia a

dia da comunidade, em conversas com os moradores, facilmente se identifica esses territórios,

à exemplo da: Gereberaba, Sabiaguaba e Boca da Barra (foco deste trabalho e da Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da Comunidade Boca da Barra, Fortaleza/CE. Elaboração: Oliveira & Santos

Júnior (2019).

É importante salientar que a apresentação detalhada da área se faz necessária, pois o

local está inserido em áreas de proteção e também é alvo de especulação imobiliária e de

processos de desagregação de seu modo de vida, a exemplo de outras comunidades cearenses

como o Batoque, a Prainha do Canto Verde e a Redonda, estas localizadas no Litoral Leste do

Ceará. Tais processos ocorrem com a valorização das áreas litorâneas, principalmente “devido

a incorporação da maritimidade como referência de descanso e lazer” (LIMA, 2008, p. 40).

Além disso o público do projeto é formado por comunidades tradicionalmente pesqueiras que

caracterizam-se por um processo de trabalho artesanal que se dá no mar (a exemplo

da pesca de peixe, de arraia e lagosta), marcado pela hierarquia baseada no

“segredo”, e em terra, com a realização de trabalhos artesanais (bordados, labirintos,

rendas, fabricação e reparos dos artefatos de pesca) e manuais (pequenos plantios de

subsistência e o extrativismo vegetal). (LIMA, 2008, p. 40).

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Dessa forma, a proposta do projeto possui um caráter socioambiental, tendo em vista

que a área de atuação se trata de uma comunidade tradicionalmente pesqueira, e que o projeto

busca resgatar, através das falas dos moradores mais antigos, a cultura local relacionada as

suas territorialidades, suas tradições, tanto alimentares como sua relação com o ambiente

natural, de modo a despertar nas crianças interesse sobre esses temas, destacando sua

importância, bem como a necessidade da preservação ambiente e da cultura que os cercam.

2.2. O Projeto Digitais de Diálogos e a Construção dos Terrários

A proposta do projeto estruturou-se em oito Oficinas Socioeducativas sobre temas

ambientais e alimentares inerentes à própria Comunidade, conforme demanda desta em

dezembro de 2017, quando representantes do NEABI - Campus Fortaleza foram até a

Biblioteca Comunitária Casa Camboa atendendo à solicitação das lideranças da Boca da

Barra. Naquela ocasião foram listadas cerca de quatro áreas de interesse do referido grupo, as

quais constaram: oficinas na área de alimentos, ambiental, de turismo e artesanato. Então,

definiu-se que apresentar-se-ia uma proposta na área de alimentos e ambiental.

Assim, se deu início a construção de forma participativa do que se referia os módulos

de um Curso de Educação Ambiental e Alimentar. Nesse contexto, a proposta trata-se de uma

ação de extensão promovida pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI,

Campus Fortaleza, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

em parceria com o Laboratório de Geoprocessamento e Cartografia Social (Labocart/UFC).

As atividades ocorreram de setembro a dezembro de 2018 na Comunidade Pesqueira da Boca

da Barra, no bairro Sabiaguaba, na cidade de Fortaleza (CE), onde a Biblioteca Comunitária

Casa Camboa foi o ponto de apoio, parceria e local de realização das Oficinas.

A metodologia utilizada para a adequação das Oficinas às demandas dos habitantes

locais incluiu reuniões, visitas de campo para reconhecimento da área e entrevista com

moradores e lideranças comunitárias, em que foram discutidos a estrutura, o conteúdo a ser

abordado durante as atividades, a frequência dos encontros, bem como o público alvo. Assim,

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foi definido que o projeto seria formado por Oficinas Socioeducativas sobre temas ambientais

e alimentares, como dito anteriormente, e oferecido para 20 crianças da Comunidade aos

sábados pela manhã, tendo em vista a carência de atividades relacionadas à educação

ambiental e alimentar, bem como o fato de serem agentes multiplicadores.

Outro fator condicionante está relacionado com a atividade da maioria dos moradores

da Boca da Barra no qual a fonte de renda dos moradores está ligada às atividades de turismo

e lazer da praia, assim a geração de renda concentra-se aos finais de semana, e os moradores

trabalham geralmente nas barracas de praia. Por essa razão se visualizou o curso como uma

possibilidade salutar para também atender essa demanda dos pais e responsáveis. As oficinas

contaram com registros fotográficos e pequenas filmagens, no qual foi necessário para o uso

em fins publicitários e acadêmicos um termo de concessão destas assinados pelos

pais/responsáveis e as crianças. Ao final das oficinas foram aplicados questionários aos pais,

lideranças e as crianças como forma de avaliação e satisfação das oficinas ofertadas. A seguir,

indica-se o quadro com os temas de cada oficina (Quadro 1):

Quadro I: Definição dos Temas das Oficinas

Nº de ordem Tema

01 O meio ambiente em que vivemos: a comunidade da Sabiaguaba

02 A questão da água: oficina do Terrário

03 A questão da água: análise da água

04 Segurança dos alimentos: oficina de higiene dos alimentos e saúde

05 Oficina de interpretação ambiental: flora e fauna da Sabiaguaba

06 Cultura alimentar: aproveitamento integral dos alimentos

07 A geração de resíduos sólidos: oficina de brinquedos com material reciclado (2 encontros)

08 Oficina de interpretação ambiental: cultura alimentar da Sabiaguaba

09 Avaliação do curso na comunidade

Fonte: Pesquisa Direta, 2018.

Especificamente, a proposição de uma oficina com a construção de Terrários baseou-

se principalmente no fato de serem interessantes no ensino e prática de educação ambiental,

pois são experimentos simples, possibilitando o contato das crianças com diversos elementos

da natureza, como solo, plantas e animais, além de explorar de forma interativa e atrativa

temas como: ecossistema e seu funcionamento, modo de vida de determinados animais,

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crescimento das plantas, ciclos biogeoquímicos, desenvolvimento das condições dos seres

vivos, interação entre os seres humanos e o meio ambiente, importância da água e do solo

para as plantas, animais e sujeitos sociais e, de forma transversal, também engloba a

problemática do consumo e descarte de produtos, bem como a geração de resíduos sólidos;

tema abordado a partir do reaproveitamento de garrafas pets para a construção dos terrários.

Os terrários podem ser definidos como a reprodução em escala reduzida do

ecossistema terrestre, com fauna, flora, microrganismos, ambiente e as interações entre esses

elementos. A construção desse experimento objetivou estimular o contato das 20 crianças com

os elementos da natureza; favorecer a compreensão sobre ecossistema e seu funcionamento;

além de contribuir para o entendimento sobre o papel do ser humano na sua relação com o

meio ambiente, com destaque para a relação da comunidade com seu território, partindo da

noção de que a humanidade é parte fundamental da natureza e não dissociada dela.

Existem diversos tipos de terrários, e optou-se pela utilização do tipo fechado por

possibilitar a percepção do comportamento cíclico dos elementos naturais de forma mais

evidenciada e também por ser um sistema com a água sempre presente, podendo ser

assimilada ao meio em que as crianças da Boca da Barra estão acostumadas, por a

comunidade se encontrar a beira da praia e em uma região de mangue.

A metodologia utilizada na construção dos terrários foi a apresentação oral e com

cartazes sobre sua definição, composição, função de cada elemento e forma de construção. Já

os materiais utilizados foram garrafas pets; pedregulhos; carvão triturado; terra orgânica;

pequenas plantas adaptadas à umidade, como as minisamanbaias (Nephorolepsis exaltata);

pequenos animais, como as minhocas; fita adesiva e ferramentas para jardinagem (Figura 2).

Importante salientar, que cada criança construiu sua própria peça, todas com supervisão e

acompanhamento dos integrantes do Projeto presentes durante a Oficina.

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Figura 2 – Esquema da configuração do Terrário em Garrafa PET. Elaboração: Autoral (2019).

3. Terrários em ação: montagem e discussões

Temos como resultados imediatos a construção propriamente dos terrários. Cada

criança confeccionou sua própria peça, com adequada supervisão. As garrafas pets utilizadas

foram previamente lavadas e cortadas, como forma de facilitar o processo e evitar acidentes

com as crianças. Abaixo, podemos conferir registros do processo de confecção (Figura 3 e 4).

Figura 3 – Construção dos Terrários pelas crianças na Biblioteca Comunitária. Fonte: Autoral (2018).

Figura 4 – Crianças com os Terrários finalizados. Fonte: Autoral (2018).

A partir do que foi notado durante as oficinas, pôde-se observar que o uso de terrário,

como uma metodologia para fixação do ensino sobre a questão hídrica (ciclo da água) fizeram

as crianças interagiram durante a oficina, pois os mesmos tiveram a oportunidade de ver,

sentir e tocar no objeto de estudo, compreender a importância ecológica das minhocas,

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preservação do solo, dos corpos hídricos e da vegetação nativa, além de entender as relações

destes com outros seres vivos e com o ambiente.

Outro resultado relaciona-se com a valorização pelas crianças do ambiente no qual

estão inseridas, além de serem multiplicadoras dos saberes apreendidos durante a atividade.

Tal concepção foi percebida através da aplicação de questionários, tanto com as crianças,

como para os pais e responsáveis e para as lideranças (Figura 5). Para esses últimos, as ações

do projeto além de serem atividades lúdicas e formativas, manifestaram nos participantes a

noção de conservação ambiental e de convívio sustentável com o ambiente, sensibilizando-os

sobre a importância dos elementos naturais que compõem o lugar que as crianças da Boca da

Barra vivem.

Figuras 5 – Aplicação do questionário com uma criança participante, a responsável de uma das crianças e com o

representante da comunidade, respectivamente. Fonte: Autoral (2018).

Figura 6: Resultado dos questionários aplicados nas crianças. Fonte: Autoral (2018).

O resultado dos questionários aplicados com as crianças (Figura 6) corroboram com

a avaliação da oficina no qual temos que dentre as crianças entrevistadas todas gostaram das

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oficinas, temas abordados e dos professores, as classificando como “muito legal” e “super”

outro fator que nos chamou a atenção foi que 64% das crianças conseguiram levar para casa

os conhecimentos adquiridos, como bons multiplicadores de conhecimento. O fator que mais

gratificante foi de que todos os alunos entrevistados estavam dispostos a participar de outros

cursos que viesse a ser ofertados pelo NEABI.

Por ser uma atividade de integração, houve uma aproximação de conhecimentos em

diversas vertentes da comunidade, sendo umas das mais expressiva a contribuição de alguns

adultos, criando um espaço para dialogar sobre o que caracteriza o espaço no qual da

comunidade Boca da Barra têm se desenvolvido, quais os conflitos vividos e como pensar no

repasse para que as crianças se sintam pertencentes a este lugar.

4. Considerações Finais

A partir do que foi exposto, entendemos que o projeto contribuiu no processo de

formação dos bolsistas, desenvolvendo diversas competências, uma vez que foram

trabalhadas habilidades relacionadas ao desenvolvimento sustentável socioambiental. Além da

aproximação institucional com representações comunitárias. Estas parcerias que sustetam o

desenvolvimento de pesquisas e ações incisivas para questões humanas e ambientais. Esta

colaboração em questão promoveu o desenvolvimento de competências das vinte crianças

envolvidas, tendo em vista, que possibilitou que as mesmas reconhecessem potencialidades

em sua comunidade, e em si como indivíduos que carregam uma identidade ancestral.

5. Agradecimentos

Ao Projeto “NEABI – Campus de Fortaleza: Reativação e Fortalecimento de Ações

institucionais e em Comunidades Tradicionais”, do Edital nº 001/2018 – Programa

Institucional de Apoio a Projetos de Extensão – PAPEX/PROEXT, do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE – campus Fortaleza por apoiar as ações

desenvolvidas durante a pesquisa.

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6. Referências

BRASIL. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Diário Oficial,

Brasília, DF, 7 de fev de 2007.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. LEI Nº 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. Institui

o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm>. Acesso em 17 de

nov. 2018.

FORTALEZA. Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF). Plano de Manejo das Unidades de

Conservação Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba (PNMDS) e Área de

Proteção Ambiental (APA) de Sabiaguaba. Fortaleza, 2010, 304 p.

LIMA, M. C. Pescadoras e Pescadores artesanais do Ceará: modo de vida, confrontos e

horizontes. Mercator, Fortaleza, v. 5, n.10, p. 39-54, nov. 2008. Disponível em:

<http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/66>. Acesso em: 15 de nov. 2018

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