Rx tórax - Derrame e imagens pleurais
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Curso PneumoAtual de Radiologia – aula 8 1
Derrame e outras imagens pleurais
Gustavo de Souza Portes Meirelles1
1 – Doutor em Radiologia pela Escola Paulista de Medicina – UNIFESP
1 – Introdução
Derrames pleurais ocorrem por alteração do equilíbrio entre formação e reabsorção do líquido contido no
espaço pleural, seja por elevação da pressão hidrostática intravascular, aumento da permeabilidade
vascular, queda da pressão oncótica, redução da pressão do espaço pleural ou da drenagem linfática, ou
por passagem de líquido livre do abdome para a pleura.
A radiografia simples do tórax é o método de imagem mais comumente utilizado na avaliação inicial do
paciente com suspeita clínica de derrame pleural. Contudo, ela não é capaz de diferenciar entre o tipo de
derrame (transudato ou exsudato), nem entre as causas de derrame, que podem ser muitas, como infecção,
insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, cirrose hepática, pancreatite aguda, neoplasia pleural ou
pulmonar, colagenoses, dentre outras.
2 – Sinais radiológicos de derrame pleural
O aspecto mais comumente observado no paciente com derrame pleural, na radiografia de tórax ortostática,
é o chamado “sinal do menisco”, que consiste em opacidade homogênea com borda superior côncava
(figura 1).
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Figura 1. Derrame pleural esquerdo. A seta aponta para o
“sinal do menisco”, que consiste em opacidade de aspecto
homogêneo formando nível superior, com borda côncava.
Outro sinal que pode ser observado na radiografia em ortostase é uma pseudo-elevação de uma das
cúpulas diafragmáticas, com alteração dos seus contornos, no derrame pleural subpulmonar (figura 2).
Entre as dicas para diferenciação entre derrame subpulmonar e elevação diafragmática, uma das mais úteis
é a constante obliteração, no caso do derrame, dos seios costofrênico lateral e cardiofrênico. Além disso, a
densidade do derrame é habitualmente maior que a densidade da cúpula. Por fim, no caso do derrame
subdiafragmático, um aspecto comumente observado é a angulação aguda da porção lateral da cúpula.
Figura 2. Derrame pleural subpulmonar direito. Reparar que a cúpula diafragmática
direita parece mais alta, mas na verdade o que ocorre é uma alteração do seu
contorno, com angulação aguda da porção lateral (seta). Observar ainda a
obliteração do seio costofrênico lateral ipsilateral.
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Nos casos de dúvida, como na diferenciação entre derrame e espessamento pleural, a radiografia em
decúbito lateral com raios horizontais (Hjelm-Laurell), do lado do possível derrame, pode auxiliar, pois o
derrame escorre, formando nível (figura 3).
Figura 3. Possível derrame ou espessamento pleural do lado direito, com obliteração do seio costofrênico
ipsilateral. A radiografia em decúbito lateral com raios horizontais mostra opacidade homogênea formando nível,
compatível com derrame pleural.
Nos derrames volumosos pode haver deslocamento contralateral das estruturas mediastinais e/ou inversão
da cúpula diafragmática. Alguns derrames podem assumir aspecto complexo, por vezes loculado (figura 4).
Nestes casos, o conhecimento da história clínica e o acompanhamento da imagem suspeita podem auxiliar
na diferenciação entre derrame pleural e alterações parenquimatosas.
Figura 4. Derrame pleural loculado do lado direito (setas), simulando
massa parenquimatosa. Contudo, a opacidade ultrapassa os limites
das fissuras e tem contornos lisos, aspectos habitualmente
não encontrados em lesões do parênquima pulmonar.
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Formas atípicas de derrame pleural ocorrem quando este fica coletado em alguma fissura, simulando uma
consolidação pulmonar, por vezes com aspecto de massa, o que pode levar a falsos diagnósticos de
neoplasia pulmonar (figura 5). Este aspecto, conhecido como “tumor fantasma”, pode ser resolvido com
incidências adicionais, controles radiográficos ou, nos casos de dúvida, auxilio da ultra-sonografia.
Figura 5. Opacidade arredondada na projeção do campo inferior direito (setas). A primeira
hipótese foi a de massa pulmonar, possivelmente de origem neoplásica. A realização
da ultra-sonografia confirmou o diagnóstico de derrame pleural intrafissural.
3 – Espessamento pleural difuso
O espessamento pleural difuso resulta de espessamento e fibrose da pleura visceral, com posterior fusão
com a pleura parietal. Muito comum na seqüela do derrame pleural relacionado à exposição ao asbesto,
não é específico a esta condição, podendo estar relacionado a processos infecciosos, especialmente por
micobactérias, colagenoses, reação a drogas, procedimentos cirúrgicos ou traumas. Ocasionalmente
envolve as fissuras interlobares, podendo simular nódulos ou massas pulmonares. Pode ser decorrente,
ainda, da confluência de múltiplas placas pleurais ou de extensão da fibrose do parênquima pulmonar para
a pleura.
Na radiografia de tórax é definido como espessamento contínuo da pleura, que se estende por no mínimo
um quarto da parede torácica, geralmente com obliteração do seio costofrênico (figura 6).
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Figura 6. Espessamento pleural difuso relacionado ao asbesto. Espessamento
contínuo da pleura da parede torácica direita na radiografia de tórax,
obliterando o seio costofrênico lateral (setas).
4 – Placas pleurais
As placas pleurais são espessamentos focais da pleura parietal, constituindo a manifestação mais comum
da exposição ao asbesto. Cerca de 80% a 90% das placas pleurais são decorrentes de exposição
ocupacional a fibras de asbesto.
São geralmente bilaterais e sua distribuição é irregular. Geralmente assimétricas, envolvem mais
comumente as porções posteriores e laterais da pleura da parede torácica. Os ápices e os seios
costofrênicos são raramente comprometidos. A pleura mediastinal é um local menos comum, assim como
as porções anteriores da pleura parietal. Têm crescimento lento e tendência a calcificar com o passar dos
anos, em cerca de 5% a 15% dos casos. A maior parte das placas ocorre na ausência de asbestose. O
oposto não é verdadeiro: raramente detecta-se asbestose na ausência de placas pleurais.
A radiografia do tórax é até hoje o método mais utilizado na avaliação das placas pleurais. Existem critérios
bem estabelecidos propostos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1930, com últimas
revisões em 1980 e 2000. Com a adoção destes critérios, a sensibilidade da radiografia para a detecção de
placas varia de 30% a 80% e a especificidade, de 60% a 80%.
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Placas na porção lateral da pleura são vistas na radiografia do tórax como espessamentos pleurais focais
paralelos à margem interna da parede torácica (figura 7).
Figura 7. Placas pleurais parietal (seta) e diafragmática
(seta tracejada) na radiografia de tórax em PA.
As placas localizadas nas porções anterior ou posterior, também conhecidas como “en face” ou “face on”,
aparecem como opacidades mal definidas com bordas irregulares (figura 8).
Figura 8. Radiografia do tórax em PA demonstrando placas pleurais
parietais do tipo “face on” ou “en face” (setas).
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5 – Diagnósticos diferenciais de espessamentos e placas pleurais
A radioterapia pode causar espessamentos pleurais localizados ou difusos, freqüentemente
comprometendo ambos os folhetos pleurais e apenas no campo irradiado. Traumas podem levar à formação
de placas isoladas, unilaterais e restritas ao local da lesão. Processos infecciosos pregressos,
especialmente a tuberculose, também podem ser causas de espessamentos pleurais, geralmente únicos,
extensos, calcificados e associados a alterações do parênquima pulmonar adjacente. Metástases pleurais
também podem causar espessamentos da pleura, mas comumente se associam a outros sinais de pleura
maligna, como espessamento pleural circunferencial e nodular, derrame pleural, espessamento da pleura
mediastinal e tendência a encarceramento pulmonar.
O diagnóstico diferencial inclui ainda as pseudoplacas por proeminência da gordura extrapleural, sombra
dos músculos torácicos e fraturas costais. Coxins adiposos extrapleurais são achados normais em algumas
pessoas, especialmente nas obesas. Têm contornos lisos e podem ser focais, simulando placas na
radiografia (figura 9).
Figura 9. Pseudoplaca por gordura extrapleural na radiografia
do tórax em PA (seta).
A insinuação para o interior do tórax dos músculos serrátil anterior, intercostal interno e oblíquo anterior
também pode simular espessamentos pleurais na radiografia. Fraturas costais consolidadas ou metástases
para costelas também podem ser confundidas com placas pleurais na radiografia (figura 10).
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Figura 10. Radiografia do tórax em PA demonstrando possível placa
(seta) em paciente exposto ao asbesto. Pseudoplaca por
metástase costal de carcinoma de próstata.
6 – Neoplasias benignas da pleura
6.1 – Lipomas
Os lipomas pleurais são geralmente assintomáticos. O aspecto radiográfico é inespecífico: o achado mais
comum é o de nódulo extrapulmonar, com margens obtusas, geralmente com pequenas dimensões (figura
11). A tomografia computadorizada é mais sensível e específica que a radiografia para a caracterização do
conteúdo adiposo na lesão.
Figura 11. Lipoma pleural. Opacidade com margens obtusas, extrapulmonar,
no hemitórax esquerdo (seta). O aspecto é inespecífico e a tomografia
computadorizada demonstrou posteriormente o conteúdo de gordura na lesão.
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6.2 – Tumor fibroso benigno da pleura O tumor fibroso benigno da pleura é geralmente assintomático, mas alguns pacientes podem ter dor
torácica, dispnéia e tosse. Manifestações extratorácicas são a osteoartropatia pulmonar hipertrófica e
episódios de hipoglicemia. Não há aspecto característico na radiografia simples de tórax. Geralmente a
lesão é única e lobulada, com ângulo obtuso com a parede torácica e aspecto homogêneo (figura 12). A
maior parte das lesões tem pequenas dimensões, mas como estes tumores são comumente assintomáticos,
os mesmos podem alcançar grande volume até serem diagnosticados (figura 13).
Figura 12. Opacidade periférica no campo inferior direito, com aspecto
homogêneo (seta), correspondendo a tumor fibroso da pleura.
Figura 13. Tumor fibroso da pleura com grandes dimensões
no hemitórax direito.
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7 – Neoplasias malignas da pleura 7.1 – Mesotelioma O mesotelioma pleural é uma neoplasia infreqüente e agressiva, com prognóstico ruim. Cerca de 80% dos
casos estão associados à exposição ao asbesto. Os sintomas são tardios e incluem dor torácica e dispnéia.
A manifestação radiográfica mais comum é a de opacidade pleural nodular e irregular, geralmente
associada a derrame pleural (figura 14). Em alguns casos só há derrame pleural, sem caracterização de
lesões sólidas na radiografia. Com a progressão do tumor há sinais de pleura maligna na radiografia,
caracterizados por espessamento pleural nodular e irregular, geralmente envolvendo a pleura mediastinal e
encarcerando o pulmão (figura 15).
Figura 14. Mesotelioma pleural direito, com espessamento irregular
da pleura, derrame pleural e extensão para a fissura oblíqua.
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Figura 15. Mesotelioma pleural, com sinais de pleura maligna,
caracterizados por espessamento pleural nodular e irregular, com extensão
para os folhetos mediastinal e diafragmático.
7.2 – Lipossarcomas
São tumores raros, heterogêneos, apresentando gordura e tecido de partes moles. O aspecto na radiografia
é inespecífico; não há como distingui-lo de outras neoplasias pleurais malignas.
7.3 – Linfoma pleural O envolvimento pleural pode ocorrer tanto no linfoma Hodgkin quanto no não-Hodgkin. O acometimento
pleural pode ser por recorrência de um linfoma sistêmico ou por extensão direta de um linfoma pulmonar
e/ou mediastinal. Linfoma primário da pleura é muito raro.
7.4 – Metástases pleurais
As metástases constituem a principal causa de envolvimento neoplásico da pleura, correspondendo a 95%
dos casos. Geralmente decorrem de adenocarcinomas, principalmente de pulmão (36%), mama (25%) e
ovário (5%). O aspecto radiográfico mais comum é o derrame pleural. Podem também ser encontrados
espessamentos pleurais focais e/ou sinais de pleura maligna, idênticos ao do mesotelioma, tornando a
distinção muito difícil (figura 16).
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Figura 16. Metástases pleurais à direita de rabdomiossarcoma de partes moles. Sinais de pleura maligna, com
espessamento pleural irregular, nodular, com tendência a encarceramento pulmonar.
8 – Leitura recomendada
Au VWK, Thomas M. Radiological manifestations of malignant pleural mesothelioma. Australasian Radiology
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Bonomo L, Feragalli B, Sacco R, Merlino B, Storto ML. Malignant pleural disease. EJR 2000;34:98-118.
Felson B. Chest roentgenology. WB Saunders, Philadelphia, PA, 1973; 574p.
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Radiographs of Pneumoconioses. Geneva; 2000.
Juhl JH, Crummy AB, Kuhlman JE. Paul and Juhl's. Essentials of Radiologic Imaging. Lippincott Williams &
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Curso PneumoAtual de Radiologia – aula 8 13
McLoud TC. Thoracic Radiology: The Requisites. Mosby, 1998, 512p.
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