Rudolf Steiner - A Fisiologia Oculta

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Rudolf Steiner

A fisiologia ocultaAspectos supra-sensveis do organismo humano: Elementos para uma medicina ampliadaNove conferncias (oito sobre o tema e uma complementar) proferidas em Praga, de 20 a 28 de maro de 1911

Traduo: Dra. Sonia Setzer

20 de maro de 1911

A entidade humanaNeste ciclo de conferncias, que ser ministrado a convite de nossos amigos de Praga, abordaremos um tema muitssimo prximo do homem por tocar direta e precisamente a entidade humana, tratando de aspectos relacionados com sua prpria vida fsica. No entanto, mesmo sendo esse um tema to ligado ao homem por abordar a ele prprio, devemos dizer que no deixa de ser um assunto de difcil acesso pois j a observao do apelo conhece-te a ti mesmo , transmitido atravs de todos os tempos e dirigido ao homem pelas alturas mstico-ocultas, nos mostra que o autoconhecimento, o verdadeiro e real autoconhecimento, algo muito difcil. E isso no s com relao ao autoconhecimento pessoal e individual, mas principalmente ao conhecimento da entidade humana. E j que o homem como se pode notar pelo eterno desafio conhece-te a ti mesmo est to distante da prpria essncia, tendo um caminho to longo para se autoconhecer, o objeto de nossas consideraes destes dias ser, em certo sentido, algo bastante longnquo, que exigir uma srie de coisas. E no foi sem motivo que s aps longo tempo e muita reflexo decidi falar sobre o assunto. Esse um tema em relao ao qual se torna necessrio, absolutamente necessrio (se quisermos chegar a uma observao real e verdadeira) algo que, na observao cientfica, comumente deixado de lado. Frente a esse tema necessrio venerar a essncia humana, isto , no a essncia de cada homem principalmente quando essa pessoa singular somos ns , mas a essncia do homem em geral. E deve ser uma condio fundamental para nossas observaes seguintes venerar o que a essncia humana significa no verdadeiro sentido da palavra. Como podemos cultivar a verdadeira venerao diante disso? Em primeiro lugar, deixando de ver a pessoa indiferente tratar-se de ns mesmos ou de outrem como ela se nos apresenta no dia-a-dia e elevando-nos seguinte concepo: a pessoa, com toda a sua evoluo, no esta a por sua prpria causa, mas para revelar o esprito, todo o mundo divino-espiritual; ela uma revelao da divindade csmica, do Esprito Universal. E quem reconhece que tudo o que nos cerca uma expresso das foras divino-espirituais tambm pode sentir essa venerao no apenas em relao ao prprio divino-espiritual, mas tambm diante da manifestao desse divino-espiritual. E ao dizermos que o homem est procurando um autoconhecimento cada vez mais perfeito, precisamos ter claro que no devemos ser impelidos busca do autoconhecimento por mera curiosidade ou at mesmo por sede de saber, mas sentir como um dever estruturar cada vez mais perfeitamente o conhecimento da manifestao do Esprito Universal por meio do homem. neste sentido que devero ser compreendidas as seguintes palavras: continuar ignorante onde o conhecimento possvel significa um pecado contra a determinao divina do homem pois o Esprito Universal deu-nos a faculdade de conhecer, e se no quisermos faz-lo estaremos recusando sermos a manifestao do Esprito Universal, o que em verdade no poderamos; e cada vez mais deixaremos de ser uma manifestao do Esprito Universal para tornar-nos sua caricatura. nosso dever almejar conhecimento e tornar-nos sempre mais uma imagem do Esprito Universal. S quando pudermos dar sentido s palavras tornar-se uma imagem do Esprito Universal e reconhecermos o dever de conhecer, somente ento poderemos ter o sentimento de venerao, aqui previamente exigido, em relao essncia do homem. E para quem quiser observar a vida do homem e sua essncia no sentido oculto, permear-se de venerao diante da natureza humana torna-se uma necessidade absoluta, pois nica e exclusivamente essa permeao pela

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venerao apropriada para despertar nossos olhos e ouvidos espirituais, toda a nossa capacidade de contemplao espiritual ou seja, para despertar as foras que nos permitem penetrar nos fundamentos espirituais da natureza humana. Quem, como vidente ou pesquisador espiritual, no pudesse sentir diante da natureza humana a venerao desenvolvida no mais alto grau, e quem no conseguisse imbuir-se at s fibras mais ntimas da alma com o sentimento de venerao diante da natureza humana, da representao do esprito, teria os olhos fechados a tudo o que se relaciona com a essncia mais profunda do prprio homem, mesmo que seu olho estivesse bem aberto para estes ou aqueles segredos espirituais do mundo. Pode haver muitos clarividentes capazes de ver isso ou aquilo na periferia espiritual de nossa existncia; mas se lhes faltar essa venerao lhes faltar a capacidade de olhar dentro das profundezas da natureza humana, e eles no tero algo correto para dizer sobre a essncia do homem. A teoria dos processos vitais do homem denominada Fisiologia. Esta cincia no dever ser considerada aqui como se faz na cincia exterior, e sim como se nos apresenta contemplao espiritual; de modo que, partindo das formas exteriores do homem, da estrutura e dos processos vitais de seus rgos, sempre olhemos para a base espiritual, supra-sensvel dos rgos, das formas vitais e dos processos vitais.1 E como no nossa inteno praticar aqui essa fisiologia oculta como tambm poderamos cham-la sem objetividade, s vezes ser necessrio referir-nos de modo despreocupado a certas coisas que, de incio, podero parecer bastante improvveis aos leigos no assunto. preciso acentuar expressamente que este ciclo de conferncias, mais do que muitos outros j proferidos por mim, constitui um todo de onde no possvel arrancar trechos isolados para julgamento, principalmente das conferncias iniciais, visto que muito dever ser dito despreocupadamente. Somente depois de terem ouvido as conferncias finais que os Senhores podero julgar todo o conjunto. que o tema dever ser tratado aqui diferentemente da fisiologia exterior. Tambm as razes iniciais sero comprovadas no fim. De certo modo, no iremos descrever uma linha reta do comeo ao fim; seguiremos por uma linha circular, chegando, no final, ao ponto de partida. O que vamos oferecer aqui uma observao do homem. Em primeiro lugar, o homem se nos apresenta aos sentidos exteriores com sua forma externa. J sabemos que, ao que uma observao puramente exterior e leiga do homem pode informar, hoje j se acrescenta muita coisa pesquisada pela cincia. Por isso, devemos completar o que hoje sabemos exteriormente sobre ele a partir de experincias e observaes externas que at um leigo tem condies de fazer em si e em outras pessoas com o que a cincia foi capaz de descobrir e concluir sobre a corporalidade humana por meio de mtodos e instrumentos admirveis. Se condensarmos tudo o que, como leigos, podemos ver exteriormente no homem e que talvez tenhamos aprendido de descries populares, talvez no seja incompreensvel se chamarmos a ateno para o fato de configurao humana, tal como se nos apresenta no mundo exterior, ser constituda de uma dualidade. Para quem quiser penetrar nas profundezas da natureza humana, absolutamente necessrio tornar-se consciente de que o homem, j em sua forma e configurao exterior, representa fundamentalmente uma dualidade. A primeira coisa que podemos distinguir nitidamente no homem tudo o que se acha encerrado em rgos, oferecendo estes a maior proteo possvel contra o mundo exterior; tudo o que consideramos participante da esfera do crebro e da medula espinhal. Tudo o que pertence natureza humana nessa rea crebro e medula espinhal est firmemente envolto por estruturas sseas seguras e protetoras. Se quisermos representar esquematicamente o que pertence a esses dois mbitos, poderemos faz-lo da

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seguinte maneira:

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Se a representa esquematicamente a soma das vrtebras superpostas ao longo da medula espinhal e b representa a estrutura ssea craniana, tudo o que pertence ao domnio do crebro e da medula espinhal est contido nesse canal formado pelas vrtebras e pelos ossos cranianos. No possvel observar o homem sem conscientizar-nos de que tudo o que pertence a esse mbito forma basicamente uma totalidade fechada em si. Todo o restante do homem (pescoo, tronco, membros), que podemos ligar fisiologicamente dos modos mais diversos ao crebro e medula espinhal, est, metaforicamente falando, ligado a eles por meio de estruturas mais ou menos filiformes ou fasciculadas. Estas precisam primeiro romper a camada protetora para que se possa estabelecer uma ligao com a parte fechada dentro dessa estrutura ssea. Assim, podemos dizer que j observao superficial se revela que tudo no homem se dispe numa dualidade: uma parte dentro dos sistemas sseos caracterizados, dispostos em camadas protetoras firmes e seguras, e outra parte fora deles. Em primeiro lugar devemos dar uma olhada bem superficial no que est dentro dessas estruturas sseas. A podemos facilmente distinguir entre uma grande massa cerebral, localizada dentro dos ossos cranianos, e outra parte presa a ela como um cabo ou cordo, estando em ligao orgnica com o crebro estendida como uma protuberncia filiforme deste e crescendo para dentro do canal medular: a medula espinhal. Distinguindo estas duas formaes, devemos chamar a ateno para algo que a cincia exterior no precisa apontar, mas que a cincia oculta, tendo obrigao de penetrar na essncia das coisas, deve apontar muito bem. Temos de alertar para o seguinte: tudo o que dizemos baseados numa observao do homem relaciona-se, de incio, apenas com o homem pois quando adentrarmos os princpios mais profundos de cada rgo perceberemos (e durante o decorrer das conferncias veremos que assim mesmo) que no homem um rgo, em seu significado mais profundo, pode ter tarefas bem diferentes do que teria o mesmo rgo no mundo animal. Quem observa as coisas na cincia exterior habitual dir que o que foi dito aqui tambm pode ser dito em relao aos mamferos. Porm o que for dito sobre o significado dos rgos para o homem no pode, se penetrarmos mais profundamente no assunto, ser dito da mesma maneira em relao aos animais; pois a observao oculta deve examinar os animais em si e verificar se o que podemos dizer sobre a medula espinhal e o crebro

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humano vale tambm para eles. O fato de os animais mais prximos do homem tambm possurem medula espinhal e crebro ainda no prova que esses rgos tenham a mesma tarefa no homem e no animal. Comparativamente, podemos ter uma faca na mo tanto para retalhar uma vitela como para gravar algo. Em ambos os casos trata-se de uma faca, e quem s considera a forma da faca pensar que em ambos os casos se trata da mesma. Em situao semelhante estaria quem acreditasse que, pelo fato de os mesmos rgos (crebro e medula espinhal) se encontrarem no homem e no animal, estes serviriam aos mesmos propsitos. Isso, porm, no correto; tornou-se corriqueiro na cincia exterior, levando a determinadas imprecises que s podero ser corrigidas quando essa cincia exterior se dignar aceitar, aos poucos, o que puder ser dito sobre a natureza das essncias a partir das profundezas da pesquisa supra-sensvel. Observando agora a medula espinhal, de um lado, e o crebro, de outro, perceberemos facilmente existir algo verdadeiro no que os cientistas j focalizaram h mais de cem anos. De certa maneira, correto dizer que, observando-se o crebro, este parece uma medula espinhal metamorfoseada. Isso se torna ainda mais compreensvel ao lembrarmos que Gethe, Oken e outros cientistas notaram principalmente que os ossos cranianos apresentam certas semelhanas formais com as vrtebras da coluna.3 Gethe, ao observar atentamente as semelhanas de forma dos rgos, percebeu logo de incio que, imaginando-se a transformao de vrtebras singulares, achatando-as e dilatando-as, apareceria o osso craniano a partir dessa metamorfose das vrtebras. Assim, tomando uma vrtebra e insuflando-a em todas as direes, de modo que suas expanses ficassem achatadas, aos poucos conseguiramos fazer derivar a forma do osso craniano a partir da vrtebra. Em certo sentido, podemos chamar os ossos cranianos de vrtebras metamorfoseadas. Da mesma forma como podemos considerar os ossos cranianos que envolvem o crebro uma metamorfose das vrtebras, tambm podemos imaginar a massa da medula espinhal expandida do mesmo modo, ficando ela mais diferencia-da e mais complicada; e obtemos, de certa maneira, pela transformao da medula espinhal, o crebro. De modo semelhante, podemos imaginar que uma planta primeiramente s tenha folhas verdes, que ela transformar, diferenciar para produzir spalas coloridas ou seja, que as flores sejam folhas diferenciadas. Assim, podemos imaginar que, pela transformao, pela diferenciao da forma, pela elevao da medula espinhal a um nvel superior, pode formar-se o crebro. possvel imaginar, portanto, que em nosso crebro possamos ver uma medula espinhal diferenciada.4 A partir desse ponto de vista, observemos os dois rgos. Qual deles, de modo natural, deve ser considerado o mais novo? Eis a questo a ser considerada. Sem dvida no ser o rgo com a forma derivada, e sim o que mostra a forma original. Isto significa que devemos imaginar estar a medula espinhal num primeiro nvel de desenvolvimento, sendo mais nova, e o crebro num segundo nvel. Este passou primeiro pela fase de medula espinhal e uma medula espinhal transformada, ou seja, deve ser considerado o rgo mais velho. Em outras palavras, querendo observar a nova dualidade que nos aparece no homem como crebro e medula espinhal, podemos dizer o seguinte: todas as foras que levaram formao do crebro devem ser foras mais antigas, pois num estado anterior primeiro devem ter formado a disposio para a medula espinhal e depois continuando a agir, transformando a medula espinhal no crebro. como se tivesse sido dado um novo princpio, em que a medula espinhal atual ainda no progrediu a ponto de atingir o segundo nvel, mas parou no nvel de medula espinhal. Se quisermos exprimir-nos de modo pedantemente exato, [poderemos dizer que] temos na medula espinhal e no sistema nervoso uma medula espinhal de primeira ordem e no crebro uma medula espinhal de segunda ordem uma medula espinhal metamorfoseada, mais antiga, que j

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foi uma medula espinhal mas est transformada em crebro. Com isso indicamos inicialmente, de modo bem exato, o que ser necessrio considerar se quisermos estudar objetivamente as massas orgnicas contidas dentro desses envoltrios sseos protetores. Mas agora devemos considerar algo bem diferente, com o qual s podemos deparar ao entrar no campo do ocultismo. Podemos formular a seguinte pergunta: ao ocorrer uma tal transformao de uma disposio orgnica de primeira ordem para uma disposio orgnica de segunda ordem, o processo evolutivo ser progressivo ou regressivo? Acaso isso significa poder tratar-se de um processo que leva o rgo a graus superiores de aperfeioamento ou a uma degenerao, ou at a uma atrofia gradual? Observemos um rgo como, por exemplo, nossa medula espinhal. Assim como atualmente, ela nos parece um rgo relativamente pouco desenvolvido, podendo ser considerada jovem, visto que ainda no conseguiu tornar-se um crebro. Contudo, podemos pensar de duas maneiras sobre a medula espinhal. Por um lado, podemos imaginar que ela contenha em si as foras para tambm tornar-se um crebro; nesse caso, estaria numa evoluo progressiva. Por outro lado, podemos supor que ela nem tenha a disposio para um dia alcanar o segundo grau. Ento estaria numa evoluo descendente, cairia em decadncia, estando determinada a esboar o primeiro grau, sem, contudo, atingir o segundo. Se agora pensarmos que na base evolutiva do crebro atual j esteve uma medula espinhal, seguramente a medula de ento tinha foras evolutivas progressivas, pois transformou-se em crebro. Se, todavia, questionarmos a respeito de nossa medula espinhal atual, ento a observao oculta nos revela que, assim como hoje, nossa medula espinhal no tem em si a disposio para uma evoluo progressiva, e sim se prepara para encerrar sua evoluo no nvel presente. Se me permitem expressar isso grotescamente, eu diria que o homem no deve crer que a medula espinhal, tendo hoje a forma de um fino cordo, ficar to estufada quanto o crebro atual. Ainda veremos o fundamento da observao oculta para se afirmar isso. Os Senhores vero, j a partir da pura comparao morfolgica entre os modos como esse rgo se apresenta no homem e no animal, uma indicao exterior do que foi dito. Comparativamente, considerando por exemplo uma cobra, vero que a coluna vertebral se insere atrs da cabea em incontveis anis, sendo preenchida pela medula espinhal; e notaro que a coluna vertebral, tal como aqui constituda, pode estender-se infinitamente. No homem, vemos que a medula espinhal, a partir do ponto em que se nsere no crebro e se estende para baixo, de fato vai-se condensando cada vez mais, mostrando com nitidez cada vez menor as formaes que aparecem nas regies superiores. Assim, tambm pela observao exterior podemos notar como o que na cobra se prolonga para trs se dirige, no homem, a um final, a uma espcie de degenerao. Esta , inicialmente, uma observao comparativa externa. Veremos como se apresenta a observao oculta. Mantendo tal raciocnio, podemos dizer que na estrutura ssea do crnio temos contida uma medula espinhal que, numa formao progressiva, transformou-se em crebro, o qual se encontra numa segunda fase de desenvolvimento. E temos tambm uma nova tentativa de formar um tal crebro em nossa medula espinhal, porm uma tentativa mostrando j agora que isso no ir acontecer. Deixemos agora essa observao de lado e partamos para algo tambm j conhecido pela observao exterior leiga: as funes do crebro e da medula espinhal. Todos sabem, em maior ou menor grau, que o instrumento para as assim chamadas atividades anmicas superiores o crebro, sendo essas atividades anmicas superiores dirigidas pelo rgo cerebral. E todos sabem tambm que as atividades mais inconscientes so dirigidas pela

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medula espinhal e os nervos a ela ligados. Trata-se das atividades anmicas em que entre a impresso exterior e a ao seguinte a ela se intercala pouca reflexo. Por exemplo, se os Senhores so picados na mo por um inseto, ento a retraem, recolhendo-a; nesse caso, entre a picada e a retrao da mo no ocorre muita reflexo. com razo que essas atividades anmicas j so vistas de tal maneira, pela cincia exterior, que a medula espinhal tida como seu instrumento. Temos outras atividades anmicas em que, entre a impresso exterior e o que leva finalmente ao, intercala-se uma ponderao mais rica. Estas tm seu rgo no crebro. Para dar um exemplo marcante, imaginem um artista observando a natureza exterior, esforando seus sentidos para colher incontveis impresses. Durante muito tempo ele transforma essas impresses em sua alma. Finalmente, s vezes apenas depois de anos, aps longa atividade anmica ele fixa, por aes exteriores, o resultado da transformao das impresses externas. A se intercala, entre a impresso exterior e o que o homem faz dela, uma atividade anmica mais rica. Isso tambm ocorre com o cientista, e igualmente com qualquer pessoa que reflita sobre as coisas que queira fazer e no se arremesse selvagemente sobre elas, como um touro ao ver a cor vermelha. Sempre que o homem no atua a partir de um movimento reflexo, mas pondera suas aes, pode-se falar do crebro como instrumento de atividade anmica. Aprofundando-nos mais no assunto, faremos a seguinte pergunta: como se mostra esta nossa atividade anmica para cuja realizao utilizamos o crebro como instrumento? Ela se mostra de duplo modo. Inicialmente nos apercebemos dela em nossa vida diurna desperta. O que fazemos ento? Por meio dos sentidos coletamos as impresses externas e as elaboramos, pelo crebro, mediante ponderao sensata. Devemos imaginar as impresses exteriores penetrando em ns pelas portas dos sentidos, vindo a estimular determinados processos em nosso crebro. Se pudssemos olhar o interior do crebro e o que nele acontece, veramos como ele posto em atividade pelo fluxo das impresses externas que a se derrama. Veramos tambm no que se transformam essas impresses pela atuao da ponderao humana. E notaramos ento que a isso tambm se juntam as conseqncias de impresses menos influenciadas pela ponderao, ou seja, atos e aes que devemos atribuir mais ao seu instrumento, a medula espinhal. Devemos agora dirigir nossa ateno aos dois estados em que hoje o homem vive alternadamente durante toda a sua vida: a vida diurna de viglia e a vida inconsciente do sono. J nos familiar, de conferncias anteriores, que durante o dia os quatro membros da entidade humana esto juntos, enquanto no sono o corpo astral e o eu se retiram. Ns todos conhecemos, alm disso, aquele estado peculiar que se mescla entre a vida diurna de viglia e a vida do sono inconsciente: a vida onrica. Por enquanto no queremos falar sobre a vida onrica de outro modo seno aquele que o leigo pode observar. Vemos que a vida onrica tem uma semelhana curiosa com aquela atividade anmica subordinada que atribumos medula espinhal pois quando as imagens onricas aparecem em nossa alma, no surgem como representaes provenientes da ponderao, e sim como uma necessidade, tal qual surge o movimento involuntrio da mo ao espantarmos uma mosca que pousa sobre ela. A ao surge como um movimento de defesa direto e necessrio. Na vida onrica ocorre algo diferente; no aparece uma ao, mas, como uma necessidade igualmente direta, formam-se imagens em nosso horizonte anmico. E assim como na vida diurna desperta no temos uma influncia ponderada sobre o movimento que realizamos com a mo quando uma mosca pousa sobre ela, tampouco influenciamos as imagens onricas que ondeiam caoticamente em ns para cima e para baixo. Por isso podemos afirmar que, ao observarmos um homem, na vida diurna de viglia, abstraindo de tudo o que se passa dentro dele bastando observarmos apenas seus movimentos reflexos, todos os gestos e expresses fisionmicas que ele realiza somente em relao s impresses

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exteriores, isto , sem refletir , teremos diante de ns uma soma de atuaes que acontecem no homem por necessidade. Observando, agora, uma pessoa a sonhar, temos uma soma de imagens que atuam sobre a essncia do homem, no levando agora a aes, e sim tendo um carter de imagens. Assim como na vida diurna desperta se realizam aes humanas sem ponderao, assim se manifesta no homem o mundo de imagens das representaes onricas que se interpenetram caoticamente. O que devemos fazer ao olhar para nosso crebro e realmente consider-lo um instrumento da conscincia onrica? Devemos ter em mente que dentro desse crebro se encontra algo que se comporta como nossa medula espinhal, desencadeando aes inconscientes. De incio devemos encarar o crebro como instrumento da vida anmica desperta, onde criamos as representaes racionais. Teramos de encontrar, como base para as representaes onricas, algo como uma medula espinhal misteriosa que estivesse como que comprimida dentro do crebro, porm no levando a aes, e sim apenas a imagens. Enquanto a medula espinhal leva a aes embora estas no resultem de ponderao , o crebro, neste caso, leva apenas a imagens. como se ele ficasse a meio caminho; no crebro existe algo como uma base misteriosa para uma atividade anmica inconsciente, e que podemos imaginar como uma espcie de insero com carter de medula espinhal. No poderamos dizer ento que a vida onrica nos leva, de modo curioso, a poder indicar misteriosamente aquela medula espinhal antiga, que no passado foi a base do crebro? Ao observarmos o crebro em sua atual configurao como instrumento da vida diurna desperta, ns o conhecemos conforme se nos apresenta ao ser retirado da caixa cranana. Mas deve haver a dentro algo que se manifesta ao se extinguir a vida diurna vigilante. A observao oculta mostra que dentro do crebro existe uma medula espinhal misteriosa como instrumento da vida onrica. Fazendo um esquema, poderamos mostrar, dentro do crebro pertencente ao mundo das representaes da vida diurna desperta, a existncia de uma misteriosa e antiga medula espinhal, invisvel percepo externa e como que encantada a dentro. Falando hipoteticamente, eu diria que essa medula espinhal entra em atividade quando o homem dorme e sonha, tornando-se to ativa quanto lhe compete, ou seja, provocando seus efeitos por necessidade. S que por estar comprimida dentro do crebro ela no leva a aes, mas a meras imagens, a aes em imagens pois nos sonhos s agimos em imagens. Assim, teramos tambm indcios, a partir da vida peculiar e catica dos sonhos, de que existe um rgo misterioso como base de nosso instrumento da vida diurna em viglia com razo considerado por ns como nosso crebro , que talvez seja uma estrutura mais antiga a partir da qual este evoluiu. Quando a estrutura nova o crebro atual silencia, mostra-se aquilo que o crebro j foi. Assim, a antiga medula espinhal pe mostra o que sabe; contudo, por estar encarcerada, no chega a produzir aes, mas apenas imagens.

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Ora, a prpria observao da vida nos separa o crebro em dois nveis. O fato de podermos sonhar indica que o crebro passou por uma fase evolutiva em que ainda se encontrava no nvel da medula espinhal atual, antes de desenvolver-se em instrumento da vida diurna desperta. Quando, porm, esta silencia, o velho rgo ainda se faz valer. Do que foi dito at agora, obtivemos algo tpico, possvel de ser provado por uma observao externa das formas: a vida diurna desperta est para a vida onrica assim como o crebro desenvolvido est para a medula espinhal. Prosseguindo agora para uma observao clarividente, podemos acrescentar algo ao que a observao da forma nos pode dar. De que modo a viso oculta, o olhar clarivdente pode servir de base para a observao total e essencial da natureza humana, e em quais pesquisas ocultas se apiam as concepes sobre os rgos contidos pelo crnio e a coluna vertebral, so pontos que ainda veremos mais tarde. Por observaes anteriores,j sabemos que o corpo visvel do homem apenas uma parte da entidade humana global. No momento em que o olhar clarividente se abre, percebemos que o corpo fsico se mostra envolto num organismo supra-sensvel, grosseiramente chamado de aura humana.5 Isso apresentado inicialmente como um fato, ao qual posteriormente voltaremos para justific-lo na medida do possvel. A aura humana, em que o homem fsico se encontra apenas como um ncleo, mostra-se ao olho vidente como uma estrutura cromtica onde fluem e refluem vrias cores. Mas no devemos imaginar que seria possvel pintar essa aura. No possvel represent-la com cores comuns, pois as cores da aura esto em constante movimento, surgindo e desaparecendo continuamente. Qualquer imagem que se quisesse pintar dela s poderia ser aproximada, assim como tampouco se pode pintar corretamente um relmpago, pois s se conseguiria uma estrutura rgida. Tal como impossvel pintar o relmpago, mais impossvel ainda pintar a aura, pois as cores uricas so extremamente instveis e dinmicas elas surgem e desaparecem continuamente. As cores da aura se espalham de modo curiosamente diverso por todo o organismo humano. interessante chamar a ateno para a imagem da aura que se mostra ao olhar vidente quando observamos a calota cranana e a coluna vertebral por trs. Ao

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imaginarmos, vista por trs, a parte da aura em que se encontra inserido o crnio e a coluna vertebral, ou seja, o crebro e a medula espinhal, podemos indicar uma cor fundamental bastante ntida para as partes inferiores da medula espinhal, cor que se poderia classificar de esverdeada. E tambm para as regies superiores da cabea, onde se localiza o crebro, podemos indicar uma cor ntida que no aparece dessa forma em qualquer outra parte do corpo, sendo uma espcie de azul-violeta. Esta cor envolve o crnio como um capuz ou um elmo, de trs para a frente. Abaixo das partes azul-violeta vemos, via de regra, uma nuance da qual os Senhores podem ter uma idia mais aproximada se a compararem com a cor de uma flor nova de pessegueiro. Entre esta cor e a cor esverdeada da parte inferior da coluna vertebral temos, na parte mediana das costas, outros matizes cromticos extremamente difceis de descrever, pois no existem entre as cores comuns conhecidas no mundo sensorial. Assim, junta-se ao verde uma cor que no verde, nem azul nem amarelo, mas como uma mistura das trs; entre o crebro e a extremidade final da medula espinhal mostram-se cores basicamente no-existentes no mundo fsico-sensorial. Mesmo sendo difcil descrever isto, uma coisa pode ser dita com segurana: em cima, na assim considerada medula espinhal estufada, temos um azul-violeta, e descendo para o final da coluna vertebral encontramos um colorido nitidamente esverdeado. Hoje ligamos, observao puramente exterior da estrutura humana, alguns fatos que s podem ser obtidos pela pesquisa clarividente. Tentaremos amanh observar, em sua dualidade, tambm as outras partes do corpo humano fsico que se juntam quelas descritas hoje, a fim de podermos prosseguir e ver como a entidade humana global se nos apresenta.2l de maro de 1911

A dualidade humanaNo decorrer destas consideraes, sempre nos depararemos com a dificuldade de observar mais atentamente o organismo externo do homem para, por assim dizer, reconhecer o que efmero e destrutvel. Mas veremos tambm que justamente esse caminho nos levar ao conhecimento do que resta, do que imortal, eterno na natureza humana. Alis, para nossas observaes atingirem esta meta estritamente necessrio seguirmos rigorosamente o que j foi dito na introduo da primeira conferncia: considerar com todo o respeito o organismo fsico externo como manifestao dos mundos espirituais. Quando j estamos imbudos de conceitos e sensaes cientfico-espirituais, podemos entender facilmente a idia de que o organismo humano, em toda a sua complexidade, tem de ser a expresso mais significativa, a maior e mais importante manifestao das foras que, na qualidade de foras espirituais, permeiam e impregnam o mundo. Teremos de elevar-nos cada vez mais do exterior para o interior. J vimos ontem que tanto a observao externa leiga como a cientfica nos mostram,

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necessariamente, o homem como uma dualidade. Ontem j caracterizamos superficialmente esta dualidade da entidade humana (ainda entraremos em maiores detalhes), observando mais detalhadamente aquela parte que est encerrada no envoltrio sseo protetor do crnio e das vrtebras dorsais. Vimos tambm, ao partir da forma exterior desta parte do homem, que j podemos ter uma viso provisria da relao entre a vida denominada viglia diurna e a outra vida, chamada onrca, que ainda encerra muitas dvidas para ns. Vimos como as foras externas da parte caracterizada da natureza humana so uma espcie de reproduo, de revelao: de um lado, da vida onrica, essa vida catica em imagens, e de outro lado da vida diurna, repleta de observaes bem definidas e ntidas. Hoje observaremos, superficialmente de incio, a outra parte da dualidade humana, situada fora da regio estudada ontem. Mesmo uma observao muito superficial desta segunda parte da entidade humana pode ensinar-nos que, num certo sentido, ela apresenta uma imagem oposta ao que vimos no crebro e na medula espinhal. O crebro e a medula espinhal so circundados por estruturas sseas que formam um envoltrio. Observando a outra parte da natureza humana, temos de dizer decididamente que as estruturas sseas esto no interior do organismo. Mas esta seria apenas uma observao muito superficial. Poderemos penetrar mais profundamente nessa segunda parte da natureza humana separando os sistemas orgnicos mais significativos e comparando-os inicialmente com o que vimos ontem. Analisemos ento, em primeiro lugar, os sistemas orgnicos, os instrumentos do organismo humano, representados pelo aparelho digestivo e o que se encontra entre o aparelho digestivo e aquela formao maravilhosa, facilmente sentida como uma espcie de centro de toda a organizao humana o corao. Olhando superficialmente, j notamos que o aparelho digestivo como pode ser vulgarmente chamado tem como finalidade receber as substncias do mundo exterior e prepar-las para posterior elaborao no organismo fsico do homem. Sabemos que o aparelho digestivo se prolonga tubularmente, a partir da boca, at o rgo conhecido por estmago. E uma observao superficial nos ensina que, dos alimentos que penetram no estmago por esse canal, partes no-aproveitadas so simplesmente excretadas, enquanto outras so encaminhadas pelos demais rgos digestivos ao organismo corpreo do homem. Tambm conhecido que ao aparelho digestivo, em sentido restrito, junta-se o assim chamado sistema linftico (estou falando de modo esquemtico), a fim de receber os alimentos transformados pelo aparelho digestivo. Podemos dizer que ao aparelho digestivo anexo ao estmago se acrescenta um sistema orgnico, o sistema linftico, como uma soma de canais que se espalham pelo corpo todo um sistema que, de certa forma, recebe o que foi preparado no aparelho digestivo e leva ao sangue as substncias transformadas. Depois temos o terceiro membro da natureza humana, o prprio sistema vascular, com seus tubos mais largos ou mais estreitos, o qual permeia todo o organismo humano e tem como centro de suas atividades o corao. Sabemos que do corao partem os vasos cheios de sangue, os quais denominamos artrias, e que estas levam o sangue chamado vermelho [arterial] a todas as partes do nosso organismo. O sangue passa por um determinado processo nos diferentes membros do organismo humano e depois volta ao corao por outros vasos as veias que levam o sangue agora modificado no assim chamado sangue azul [venoso]6 de volta ao corao. Sabemos tambm que esse sangue modificado, intil para a vida, flui do corao para os pulmes, para l entrar em contato com o oxignio, retirado do ar; renovado nos pulmes, o sangue volta ao corao por meio de veias e recomea seu trajeto para todas as partes do organismo humano. Para que tenhamos na observao externa uma base para a observao oculta, iniciaremos a observao desses sistemas complicados por aquele que deve ser

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considerado de antemo o sistema central do organismo humano: o sistema cardiovascular. De incio atentaremos ao fato de como o sangue usado, depois de renovado nos pulmes e transformado do assim chamado sangue azul em sangue vermelho, volta ao corao e, como sangue arterial, sai para ser utilizado pelo organismo. Considerem que tudo o que estou desenhando aqui apenas esquemtico. Lembremos que o corao um rgo constitudo de quatro membros, de quatro cmaras separadas por paredes internas, de forma que podemos distinguir dois espaos maiores, os chamados ventrculos, situados embaixo, e dois menores em cima, chamados aurculas. (Hoje no falarei das vlvulas cardacas; pretendo apenas observar esquematicamente o curso das atividades orgnicas mais importantes.) O sangue, depois de fluir da aurcula esquerda para o ventrculo esquerdo, flui para uma grande artria e dela passa para todo o organismo. Notamos, depois, que esse sangue se espalha por todos os rgos do organismo, nos quais utilizado e assim transformado em sangue venoso, voltando sob esta forma para a aurcula direita, dela fluindo para o ventrculo direito e deste para os pulmes, para ser renovado e recomear seu trajeto. Imaginando isto, importante considerar, como base para uma observao oculta, que logo no trajeto inicial da artria aorta sai uma corrente colateral levando o sangue ao crebro7 e nutrindo os rgos superiores do homem. O sangue l utilizado e transformado em venoso volta aurcula direita, de forma que o sangue que nutre o crebro transformado tal qual o sangue advindo das outras partes do organismo. Temos assim uma pequena circulao colateral de sangue na qual est intercalado o crebro separada da outra, da grande circulao que alimenta o organismo restante. muito importante dar ateno a esse fato, pois s obteremos uma representao correta, possvel de nos servir de

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b0200000000050000000c0282 02a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc02000000000102022253797374656d0002 a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d01000004000000020101001c0000 00fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d6573204e657720526f6d616e000000000000000 0000000000000000000040000002d010100050000000902000000020d000000320a360000000100040000 000000a4058102200f1b00040000002d010000030000000000

base para atingirmos as elevaes ocultas, se formulamos a seguinte questo: assim como o crebro est intercalado na pequena circulao sangnea, no haver algo semelhante, intercalado na grande circulao que irriga o restante do organismo? A chegamos de fato

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concluso, que a observao superficial exterior j nos pode fornecer, de que na grande circulao est intercalado o rgo denominado bao, estando ainda intercalado o fgado e aquele rgo que contm a bile elaborada pelo fgado. Quando indagamos sobre a funo desses rgos, a cincia natural nos responde que o fgado produz a bile e esta flui para o tubo digestivo atravs das vias biliares, atuando de tal forma na elaborao dos alimentos que estes podem ser assimilados pelo sistema linftico e da passar para o sangue. Mas a cincia natural diz pouco sobre o terceiro rgo a intercalado, o bao. Observando esses rgos, notamos que esto ocupados na transformao dos alimentos para o organismo humano e que, por outro lado, os trs esto intercalados na grande circulao. Enquanto o sangue absorve as substncias alimentares para lev-las ao organismo humano, substituindo constantemente as substncias construtivas, os trs rgos participam da necessria elaborao dos alimentos. Surge ento a seguinte pergunta: ser possvel imaginar, a partir da observao externa, como esses trs rgos participam da atividade geral do organismo? Partamos inicialmente de algo exterior do fato de esses rgos estarem intercalados na circulao inferior, assim como o crebro o est na circulao superior. Partindo apenas da observao exterior (que ainda dever ser aprofundada posteriormente), vejamos se esses rgos no poderiam ter uma funo semelhante ou aparentada do crebro, ou mesmo s partes situadas superiormente no organismo humano. Em que poderia consistir essa funo? Observemos essas partes superiores do organismo humano. So as que recebem as impresses sensoriais externas pelos rgos dos sentidos e que transformam o material de nossa percepo sensorial. Por isso podemos dizer o seguinte: seja l o que acontea na cabea humana, nas partes superiores do organismo humano, a elaborao do mundo exterior, das impresses vindas de fora que fluem pelos rgos sensoriais. Temos de reconhecer nas impresses sensoriais as causas efetivas para o que acontece nas partes superiores do homem. E enquanto as impresses exteriores enviam seus efeitos aos rgos localizados na parte superior do homem, elas modificam o sangue ou ajudam a modificlo, enviando-o to transformado de volta ao corao como faz o restante do organismo. No poderamos pensar, ento, que o que penetra do mundo exterior na parte superior do homem, pelo portal dos rgos sensoriais, corresponde ao que age a partir dos rgos internos bao, fgado e bile? A parte superior do organismo humano se abre ao exterior para receber as impresses de fora, e enquanto o sangue flui para cima, para receber as impresses do mundo exterior, tambm flui para baixo, para receber o que vem dos rgos situados inferiormente. Como dissemos, o meio ambiente atua por meio dos sentidos sobre nossa organizao superior. Imaginemos isso comprimido, concentrado num ncleo, e poderemos considerar algo anlogo ao que causado pelo fgado, pela bile e pelo bao: a transformao de substncias retiradas do mundo exterior. Se nos aprofundarmos nesse pensamento, veremos que a coisa no to estranha como pode parecer. Imaginemos as diferentes percepes sensoriais do mundo exterior fluindo para dentro como que contradas, como que condensadas formando rgos, transferidas para o interior do homem e inseridas no sangue. A parte superior do organismo humano se apresenta ao sangue tal como, a partir de dentro, os rgos (fgado, bile e bao) se apresentam ao sangue. Temos portanto, em cima, o mundo externo que envolve nossos sentidos condensado em rgos deslocados para o interior do homem, de modo a podermos dizer o seguinte: de um lado o mundo nos toca de fora, fluindo pelos rgos dos sentidos ao nosso organismo superior e agindo sobre nosso sangue; de outro lado o mundo age misteriosamente a partir de dentro, em rgos nos quais se condensou primeiro o que ocorre no macrocosmo, atuando sobre nosso sangue, que do mesmo modo se lhe

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apresenta. Se quisssemos fazer um desenho esquemtico, poderamos dizer o seguinte: Imaginemos de um lado o mundo agindo sobre os sentidos e vindo de todas as

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direes, e o sangue abrindo-se como um painel s sensaes desse mundo exterior, e teremos nossa organizao superior. Suponhamos que pudssemos condensar o mundo em diferentes rgos, formar dele um extrato e lev-lo ao nosso interior, de modo que o mundo todo agisse do outro lado do sangue. Teramos uma imagem esquemtica do exterior e do interior do organismo humano, formada de uma maneira bem especial. Ento poderamos dizer que o crebro corresponde nossa organizao interna; enquanto preenche as cavidades torcica e abdominal esta , por assim dizer, o mundo exterior colocado em nosso interior. Nessa organizao, que devemos reconhecer como subordinada, j que serve principalmente continuidade do processo nutritivo, temos algo misterioso: a condensao de todo o mundo exterior numa soma de rgos e instrumentos internos. Observando mais de perto o fgado, a bile e o bao, podemos dizer que inicialmente o bao que se apresenta circulao sangnea. O bao um rgo singular, onde se alojam, em tecido rico de sangue, uma srie de grozinhos que se sobressaem como pontinhos brancos. Em relao ao sangue, o bao se apresenta observao como uma peneira atravs da qual o sangue passa para se apresentar a esse rgo, que de certa forma constitui uma parte contrada do macrocosmo. Na etapa seguinte vemos como o sangue se apresenta ao fgado e como este excreta a bile, que armazenada num rgo especial passando da aos alimentos e, em seguida, atingindo o sangue junto com as substncias alimentares transformadas. Podemos imaginar essa entrega interior do sangue aos trs rgos da seguinte maneira: o primeiro rgo com o qual o sangue se defronta o bao, o segundo o fgado e o terceiro, que j tem uma relao muito complicada com todo o sistema sangneo, a bile. Pelo fato de ser oferecida aos alimentos e participar de sua transformao, esta considerada um rgo especial. Por determinados motivos, os ocultistas de todas as pocas deram a estes rgos certos nomes. Por enquanto eu lhes peo no se deterem nos nomes que so dados a esses rgos, nem imaginar que eles tenham um outro significado no grande mundo. Mais tarde veremos por que foram escolhidos justamente esses nomes. Foi pelo fato de o bao se

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apresentar primeiro ao sangue assim podemos dizer , por analogia puramente exterior, que os antigos ocultistas acharam mais conveniente dar-lhe o nome do astro que se apresenta em primeiro lugar no sistema solar. Chamavam por isso o bao de Saturno, ou um Saturno interior no homem. De modo anlogo, designaram o fgado como um Jpiter interior e a bile como um Marte interior. Com essa denominao no devemos imaginar outra coisa a no ser que a escolhemos pelo fato de concebermos a idia, por enquanto hipottica, de que os mundos exteriores, normalmente acessveis aos nossos sentidos, esto condensados nesses rgos, se nos apresentando como mundos interiores tal como os mundos exteriores se nos apresentam nos planetas. E j poderamos afirmar que, assim como os mundos exteriores se apresentam aos nossos sentidos, penetrando de fora e agindo sobre o sangue, tambm os mundos interiores atuam sobre o sangue, influenciandoo igualmente. Encontraremos, porm, uma diferena considervel entre aquilo a que nos referimos ontem como peculiaridades do crebro humano e o que atua sobre o nosso sangue como uma espcie de sistema csmico interno. E a diferena consiste no fato de o homem no saber o que ocorre em seu organismo inferior, isto , no ter noo das impresses que os mundos interiores ou, de certa forma, os planetas interiores exercem sobre ele. Por outro lado, caracterstico o fato de os mundos exteriores provocarem impresses em sua conscincia. Numa determinada relao, podemos considerar esse mundo interior como o mundo do inconsciente frente ao mundo consciente que conhecemos na vida cerebral. Tomemos agora algo diverso para nos ajudar a esclarecer o que h nesse consciente e inconsciente. Os Senhores sabem que a Cincia Natural considera o sistema nervoso, com tudo o que dele faz parte, como rgo da conscincia. A fim de termos uma base para nossas observaes ocultas, devemos notar uma certa relao existente entre o sistema nervoso e o sistema sangneo, ou seja, aquilo que analisamos hoje esquematicamente. Vemos que por toda parte o sistema nervoso tem uma certa relao com o sistema sangneo, isto , que o sangue se aproxima do sistema nervoso. Primeiro temos de levar em conta o que a cincia natural considera um fato. Para ela no h dvida de que o sistema nervoso seja o regulador de toda a atividade consciente, de tudo o que denominamos vida anmica. No podemos deixar de mencionar, inicialmente apenas como aluso a fim de comprov-lo mais tarde, que para o ocultista o sistema nervoso apenas uma espcie de base para a conscincia. Assim como o sistema nervoso faz parte do nosso organismo e tem contato ou pelo menos uma certa relao com o sistema sangneo, assim fazem parte da entidade humana global o que denominamos corpo astral e eu do homem. E uma observao exterior, j mencionada em outras palestras, pode mostrar-nos que de certo modo o sistema nervoso uma manifestao do corpo astral e o sangue uma manifestao do eu. Ao observar a natureza sem vida, vemos ser possvel atribuir s pedras, aos minerais e assim por diante, pelo que nos parecem, apenas um corpo fsico. Ascendendo desses corpos naturais inorgnicos, sem vida, para os corpos naturais vivos, aos organismos, devemos considerar que esses organismos so permeados pelo chamado corpo etrico ou vital, que contm em si as causas das manifestaes vitais. Veremos mais tarde que a Cincia Espiritual no fala do corpo etrico ou vital como a Cincia Natural exterior falava de uma fora vital especulativa.8 Quando a Cincia Espiritual fala do corpo etrico, refere-se a algo realmente visvel ao olho espiritual, a uma realidade que d fundamento ao corpo fsico exterior. Observando as plantas, mister atribuir-lhes um corpo etrico. Passando aos seres que sentem os animais , vemos que o que os diferencia das plantas o elemento da sensao ou da vivncia interior. Se nos perguntarmos o que deve ser incorporado ao organismo animal para que ele possa ascender dos simples processos vitais s sensaes, a resposta a seguinte: se a simples

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atividade vital que no consegue interiorizar-se, no consegue inflamar-se em sensao deve poder inflamar-se em sensao, em vivncia interior, necessrio que ao organismo animal se incorpore o corpo astral. Devemos reconhecer no sistema nervoso, que as plantas ainda no possuem, a manifestao exterior, o instrumento do corpo astral. O corpo astral a imagem espiritual arquetpica do sistema nervoso. Tal como a imagem arquetpca se relaciona com sua manifestao, assim o corpo astral se relaciona com o sistema nervoso. Passando a observar o homem (ontem j mencionei que no ocultismo no temos a mesma sorte da Cincia Natural, onde se pode misturar tudo), ao considerar os rgos humanos temos de estar sempre conscientes de que a funo destes rgos ou sistemas orgnicos nem sempre a mesma que a dos sistemas orgnicos anlogos dos animais, apesar da semelhana externa. No homem, devemos considerar o sangue o instrumento exterior do eu, de tudo o que caracterizamos como centro mais ntimo de nossa alma. Assim, temos no sistema nervoso o instrumento exterior do eu.9 E se no organismo o sistema nervoso, de certa forma, se relaciona com o sangue, assim as imagens anmicas interiores, que vivenciamos como nossas representaes, percepes, sensaes e assim por diante, se relacionam com nosso eu. O sistema nervoso muito diferenciado no organismo humano. Ele se nos mostra, por exemplo, como feixes nervosos internos l onde se abre para formar os nervos auditivos, os nervos faciais e outros. O sistema nervoso algo que se espalha pelo organismo de forma muito diferenciada, apresentando grande diversidade interior. Por outro lado, o sangue mostra bastante uniformidade quando circula pelo organismo, mesmo se considerarmos a diferena entre o sangue arterial e o sangue venoso. O sangue se defronta com o sistema nervoso diferenciado como algo unitrio, tal como o eu se defronta com a vida anmica dferenciada, desmembrada em representaes, sensaes, impulsos volitivos, sentimentos e demais funes. Quanto mais os Senhores seguirem tal comparao, tanto mais se evidenciar a relao de semelhana entre os dois arqutipos, o eu e o corpo astral, com suas imagens, seus instrumentos: o sistema sangneo e o sistema nervoso. Certamente podemos dizer que sangue sempre sangue; mas ele se transforma ao fluir pelo organismo. E podemos estabelecer um paralelismo entre as transformaes do sangue e as transformaes que o eu experimenta mediante as diversas vivncias anmicas. Tambm nosso eu unitrio. Na vida entre o nascimento e a morte, se voltarmos o pensamento at onde a memria alcana, poderemos dizer de ns mesmos: eu estava presente! Tanto no quinto ano de vida como no sexto, tanto ontem como hoje, trata-se do mesmo eu. Considerando porm seu contedo, notaremos que o eu, tal como vive em mim, est repleto de uma srie maior ou menor de representaes, sensaes, sentimentos e assim por diante, que so devidos ao corpo astral e entram em contato com o eu. H um ano nosso eu tinha um contedo, ontem tinha um outro contedo e hoje novamente ter outro. O eu, portanto, entra em contato com todo o contedo anmico e o permeia. Assim como o sangue flui por todo o organismo e entra em contato com o sistema nervoso diferenciado, o eu entra em contato com a vida diferenciada da alma, com representaes, sentimentos, impulsos volitivos e outros. Desse modo, essa observao comparativa j nos mostra que existe uma certa justificativa em vermos no sistema sangUneo uma imagem do eu e no sistema nervoso uma imagem do corpo astral imagens desses dois membros supra-sensveis, superiores, da natureza humana , enquanto o corpo etrico se liga mais ao corpo fsico. necessrio lembrar que o sangue, ao fluir pelo organismo da maneira indicada, de um lado se oferece ao mundo exterior como um painel que se apresenta s impresses desse mundo exterior e, por outro lado, se defronta com o que denominamos mundo interior. Assim tambm se passa com nosso eu. Primeiro dirigimos nosso eu ao mundo

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exterior e recebemos as impresses externas. Um contedo diferenciado aparece em nosso eu e ele se preenche de impresses vindas de fora. Mas existem tambm momentos em que o eu, por assim dizer, permanece dentro de si mesmo, em que se entrega a seu sofrimento, dor, alegria, aos sentimentos interiores, momentos em que traz de sua memria no o que recebe diretamente do contato com o mundo exterior, mas o que carrega dentro de si. Tambm neste sentido o eu tem um paralelismo com o sangue, ora se oferecendo como uma lousa ao mundo exterior, ora ao mundo interior; e poderamos esquematizar o eu tal qual o sangue, como na figura anterior. Podemos relacionar com o eu as impresses exteriores por ele recebidas por meio de representaes mentais, de imagens anmicas, assim como relacionamos com o sangue os processos reais que nos chegam de fora pelos sentidos; portanto podemos, exatamente como na vida corprea, de um lado relacionar os acontecimentos anmicos com o sangue e de outro com o eu. Observemos agora, a partir desse ponto de vista, a ao conjunta e antagnica do sangue e dos nervos. Quando dirigimos, por exemplo, nosso olho ao mundo exterior, as impresses externas, cores, impresses luminosas e outras agem sobre os nervos pticos. Enquanto dirigimos os olhos ao mundo exterior, podemos dizer tambm que as impresses desse mundo exterior tm uma atuao sobre nossos nervos visuais, ou seja, o instrumento do corpo astral. No momento em que ocorre uma relao entre o sangue e o nervo, podemos dizer que o processo anmico paralelo aquele em que as diferentes representaes da vida anmica entram em relao com o eu. Desenhando esquematicamente a relao entre nervo e sangue, podemos imaginar algo que, vindo de fora por meio do nervo, entra em relao com os vasos sangneos prximos do nervo ptico.

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Se quisermos observar o organismo humano de forma a obter uma base para a contemplao oculta da natureza do homem, essa relao algo extraordinariamente importante. Cumpre ento afirmar que, na vida cotidiana, geralmente o processo ocorre de maneira tal que uma ao reproduzida pelo nervo gravada no sangue como numa lousa, inscrevendo-se assim no instrumento do eu. Suponhamos, contudo, que interrompssemos artificialmente a relao entre a circulao do sangue e o nervo, ou seja, levssemos o homem artificialmente a uma situao tal que o

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0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b02000000000 50000000c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc0200000000010 2022253797374656d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002 d01000004000000020101001c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d65 73204e657720526f6d616e0000000000000000000000000000000000040000002d010100050000 000902000000020d000000320a360000000100040000000000a4058102200f1b00040000002d01 0000030000000000

nervo fosse afastado de sua atividade sobre o sangue, no mais podendo um agir sobre o outro. Podemos desenhar isso esquematicamente representado os dois elementos afastados entre si, no mais podendo ocorrer a interao entre o nervo e o sangue. A situao pode apresentar-se de tal maneira que no haja mais impresso sobre o nervo. Isso pode ser alcanado, por exemplo, cortando-se o mesmo. Se de algum modo acontecer que um nervo seja seccionado que ele, portanto, no receba impresses , no de estranhar que o homem no vivencie coisa alguma de especial por meio desse nervo. Suponhamos agora que, apesar de a relao entre o sangue e o nervo estar interrompida, seja causada uma certa impresso. Experimentalmente, isso possvel estimulando-se o nervo com uma corrente eltrica. Porm a influncia exterior do nervo no nos interessa aqui. Existe ainda outro modo de influenciar o nervo, levando a um ponto em que este no pode agir sobre a circulao. Esta situao pode ser provocada no organismo humano e realmente o por determinadas representaes, determinadas idias, sensaes e sentimentos que o homem vvenciou e assimilou e que, para essa experincia ter um resultado, deveriam ser representaes superiores, morais ou intelectuais. Quando o homem exercita essas representaes por exemplo, de smbolos com aguada concentrao interior da alma, isso resulta no fato de ele se utilizar totalmente do nervo, retirando-o de sua relao com a circulao sangnea. Se o homem simplesmente se entrega s impresses exteriores normais, na conscincia de viglia, a ligao natural entre o nervo e o sangue est presente. Se, porm, ele se isola da ao das impresses exteriores pela concentrao interior aguada, ento possui em sua alma aquilo que surge apenas na conscincia; o que contedo da conscincia faz o nervo todo engajar-se, separando assim a atividade nervosa da atividade sangnea. A conseqncia dessa concentrao interior (sendo suficientemente intensa, ela realmente interrompe a ligao entre o sangue e o nervo) que o nervo se liberta, de certa forma, de sua correlao com o sistema sangneo e, conseqentemente, tambm se liberta das vivncias comuns do eu, para as quais o sistema sangneo o instrumento externo. De fato, pelas vivncias do caminho incitico, as quais devem levar aos mundos superiores (e isso pode ser totalmente comprovado de modo experimental), isto , por meio da concentrao aguada perseverante, o sistema nervoso temporariamente desviado da relao comum com o sistema sangneo e dos deveres deste para com o eu. Em conseqncia disso, o

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sistema nervoso, que antes inscrevia suas impresses no quadro sangneo, deixa-as agora refluir sobre si mesmo, detendo-as e no as deixando chegar at o sangue. Portanto, possvel, puramente por processos de concentrao interior, separarmos nosso sistema sangneo do sistema nervoso, fazendo refluir para o prprio sistema nervoso (usando uma imagem), o que teria fludo para o eu. Se o homem realmente consegue isso por meio de atividade anmica, ocorre o fato curioso de ele ter uma maneira diferente de vivncia interior e, conseqentemente, se encontrar diante de um horizonte da conscincia totalmente modificado, o qual poderia ser expresso da seguinte maneira: se os nervos e o sangue esto interagindo da maneira habitual, como ocorre normalmente na vida, o homem relaciona as impresses provenientes do mundo exterior com seu eu. Se, todavia, mediante concentrao interior, mediante atividade anmica interior, ele retira o sistema nervoso da atuao sobre seu sistema sangneo, ele tampouco vive dentro de seu eu comum; no pode chamar a si mesmo de eu no mesmo sentido em que diz eu em sua vida consciente normal. A o homem se percebe como se tivesse tirado conscientemente de si uma parte de seu ser separada de seu sistema sangneo. como se algo que normalmente no se v, que supra-sensvel, agisse para dentro de nossos nervos, porm no se gravando em nosso quadro sangneo e no impressionando nosso eu comum. A pessoa sente-se afastada de todo o sistema sangneo e como que arrebatada de seu organismo. Trata-se de uma retirada consciente do eu do mbito de atuao do corpo astral. Se antes a atividade nervosa se gravava no sistema sangneo, agora ela se reflete sobre si mesma. Agora a pessoa vive em algo diferente, sente-se num outro eu, num eu [macrocsmico] que antes podia apenas ser pressentido: ela sente a elevao para dentro de um mundo suprasensvel. Se mais uma vez quisermos desenhar esquematicamente a relao entre o nervo ou todo o sistema nervoso tal como ele acolhe em si as impresses do mundo exterior e o sangue, poderemos faz-lo da seguinte maneira:

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b0200000000050000000 c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc02000000000102022253797374656 d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d01000004000000020101001 c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d6573204e657720526f6d616e0000000000 000000000000000000000000040000002d010100050000000902000000020d000000320a3600000001000 40000000000a4058102200f1b00040000002d010000030000000000

Se impresses exteriores, vivncias exteriores flussem para dentro, elas se gravariam no sistema sangneo. Mas quando isolamos o sistema nervoso do sistema sangneo, tudo reflui sobre o prprio sistema nervoso. Irrompe para ns um mundo do qual antes no

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tnhamos conhecimento, por assim dizer, at os extremos de nosso sistema nervoso, o que sentimos como um contragolpe. Enquanto no estado normal de conscincia assimilamos um mundo que penetra at o sistema sangneo, de maneira a ser inscrito nele como numa lousa, no outro caso levamos as impresses apenas at onde os nervos terminam e encontram uma resistncia em si mesmos. Sofremos, por assim dizer, um impacto nessas termi-

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b0200000000050000000 c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc02000000000102022253797374656 d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d01000004000000020101001 c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d6573204e657720526f6d616e0000000000 000000000000000000000000040000002d010100050000000902000000020d000000320a3600000001000 40000000000a4058102200f1b00040000002d010000030000000000

naes nervosas e passamos a viver fora, no mundo supra-sensvel. Quando temos uma impresso cromtica recebida pelo olho, ela penetra em nosso nervo ptico e se inscreve no quadro do sangue; e ns sentimos o que costumamos expressar com as palavras eu vejo a cor vermelha. Suponhamos que no cheguemos com nossas impresses at o sangue, mas s at a terminao nervosa, onde ocorre o rebate; em realidade vivemos at nosso nervo ptico. Recuamos diante da expresso corprea de nosso sangue, vivemos fora de ns mesmos; estamos, em realidade; dentro dos raios de luz que antes provocavam em ns a impresso vermelho. Realmente samos de ns, por no penetrarmos em nosso interior de modo to profundo como acontece normalmente, uma vez que s chegamos s terminaes nervosas. Isto causa uma vida anmica tal que esta vivencia o homem fsico como algo exterior, no se identificando mais com ele. A conscincia normal chega at o sangue. Quando tivermos desenvolvido a alma a ponto de, por assim dizer, dar meia-volta nas terminaes nervosas, ns excluiremos o sangue daquilo que denominamos o homem superior, ao qual chegamos quando conseguimos libertar-nos de ns mesmos. Por meio dessa observao obtivemos uma concepo dos processos que ocorrem quando desligamos o sistema sangneo (que caracterizamos como uma espcie de lousa apresentando-se de um lado s impresses exteriores e de outro s impresses interiores) do que podemos chamar de homem superior, ao qual podemos evoluir ao nos soltarmos de ns mesmos e nos libertarmos das influncias do eu comum. Podemos estudar melhor toda a natureza interior do sistema sangUneo no nos detendo em frases banais, mas observando o que existe de real no homem, ou seja, o homem supra-sensvel, invisvel, que ns mesmos podemos alcanar. Quando observamos esse homem invisvel como ele chega at o sangue , podemos chegar ao pensamento de que o homem pode viver no mundo exterior, pode expandir-se por todo o mundo exterior, pode desabrochar nele e, por assim dizer, assumir um ponto de vista oposto, rumo ao interior. Para conhecer melhor as funes do sangue e dos rgos nele intercalados, devemos responder seguinte

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pergunta: como esse mundo superior, ao qual o homem pode ascender e que ele pode conhecer exatamente, deve reproduzir-se na lousa sangnea? Toda a vida sangnea diferenciada se mostrar como centro do homem quando observarmos diretamente a relao desse sistema maravilhoso com um mundo superior. nossa tarefa poder ver o homem como uma imagem do mundo supra-sensvel, poder ver o homem exterior como uma imagem daquele homem que tem suas razes no mundo espiritual. Assim poderemos reconhecer que o organismo humano uma imagem fiel do esprito.22 de maro de 1911

A atuao conjunta da dualidade humanaEstas trs primeiras conferncias, incluindo a de hoje, objetivam orientar-nos de maneira geral sobre o que se relaciona com a vida e a essncia do homem. Por isso, nelas sero emitidos primeiro alguns conceitos importantes, que do contrrio ficariam pairando no ar, porque as explicaes mais precisas sero dadas posteriormente. Ser melhor termos primeiro uma idia geral de como observar o homem no sentido oculto, introduzindo nessa observao que por enquanto consideramos hipottica o que nos paream ser argumentos mais profundos. No final da conferncia de ontem, tentei mostrar que o homem, mediante certos exerccios anmicos, mediante intensa concentrao sobre os pensamentos e as sensaes, pode produzir um estado de vida diferente do habitual. O estado de vida habitual se manifesta pelo fato de na vida diurna desperta termos uma estreita ligao entre o sangue e o nervo. Esquematicamente falando, podemos dizer que o que acontece atravs dos nervos se inscreve no quadro do sangue. Pela prtica de exerccios anmicos, conseguimos estirar to intensamente os nervos que sua atividade no atinge mais o sangue, mas reflete-se sobre o prprio nervo. Como o sangue o instrumento do nosso eu, a pessoa que liberta seu sistema nervoso do sangue, por meio de intensa concentrao do pensamento e da sensao, sente-se como que afastada de seu prprio ser habitual, como que retirada dele e, por assim dizer, confrontada com ele. Conseqentemente, ela no pode mais dizer a esse seu ser habitual isto sou eu, mas pode dizer isto voce. Portanto, defronta-se consigo mesma como se fosse uma personalidade estranha que vive no mundo fsico. Se quisermos entender um pouco o estado de vida de uma pessoa que se tornou de certo modo clarividente, devemos dizer que ela se sente como se uma entidade superior penetrasse em sua vida anmica. Trata-se de uma sensao bem diversa da experimentada quando, na vida cotidiana, nos defrontamos com o mundo exterior. Na vida normal, sentimo-nos estranhos diante das coisas e dos seres do mundo exterior (animais, plantas e assim por diante). Sentimo-nos como que fora ou ao lado deles. Ao vermos uma flor, sabemos exatamente: a flor est l e eu estou aqui. diferente quando nos retiramos, da maneira descrita, de nosso eu subjetivo quando, libertando o sistema nervoso do sangneo, nos elevamos ao mundo espiritual. Ento no mais sentimos estar ali aquele ser estranho que se nos defronta, enquanto estamos aqui; como se o outro ser penetrasse em ns e ns nos sentssemos unos com ele. Assim, podemos dizer que, ao se tornar clarividente, mediante observao progressiva a pessoa comea a conhecer o mundo espiritual, aquele mundo espiritual com o qual o homem est permanentemente ligado e que, atravs do sistema nervoso, tambm nos chega na vida comum, pelo desvio das impresses sensoriais. Portanto, este mundo espiritual, do qual o homem no tem conhecimento em seu

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estado de conscincia normal, que se inscreve em nosso quadro sangneo e, conseqentemente, em nosso eu. Podemos, pois, dizer que tudo o que nos rodeia no mundo sensorial tem um fundamento no mundo espiritual, o qual vemos apenas como atravs de um vu tecido por nossas impresses sensoriais. Em conscincia normal, no vemos esse mundo espiritual sobre o qual o horizonte do eu individual estende um vu; mas no momento em que nos libertamos do eu, apagamos tambm nossas impresses sensoriais comuns, que ento deixamos de ter. Ascendemos a um mundo espiritual, o mesmo situado atrs das impresses sensoriais, com o qual nos unimos ao retirar o sistema nervoso do contato com o organismo sangneo comum. Com essas observaes seguimos, de certo modo, a vida humana tal como estimulada de fora e age, atravs do nervo, sobre o sangue. J mostramos ontem, todavia, que na vida interior fsica, puramente orgnica do homem, podemos ver uma espcie de mundo exterior comprimido. Mostramos que em nosso fgado, bile e bao encontramos um mundo exterior condensado, de certa forma, em rgos. Por isso podemos dizer que, assim como o sangue percorre o crebro na parte superior do organismo para a entrar em contato com o mundo exterior (e isso ocorre quando as impresses sensoriais externas atuam sobre o crebro), assim ele tambm se relaciona com os rgos internos entre os quais mencionamos o fgado, a bile e o bao quando circula pelo corpo. O fato de esses rgos no se abrirem para o exterior, mas estarem encerrados dentro do organismo, cobertos de todos os lados, de modo a desenvolver apenas uma vida interior, faz com que neles o sangue no tenha contato com qualquer mundo exterior. Esses rgos s podem agir sobre o sangue de acordo com suas caractersticas prprias. Fgado, bile e bao no recebem impresses exteriores como o olho ou o ouvido, e portanto no podem transmitir ao sangue os efeitos recebidos de fora; podem apenas expressar sua prpria natureza na atuao que tm sobre o sangue. Observando o mundo interior onde, por assim dizer, est condensado o mundo exterior , podemos dizer que aqui um mundo exterior nteriorizado atua sobre o sangue humano.

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b0200000000050000 000c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc020000000001020222 53797374656d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d0100 0004000000020101001c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d6573204 e657720526f6d616e0000000000000000000000000000000000040000002d01010005000000090 2000000020d000000320a360000000100040000000000a4058102200f1b00040000002d0100000 30000000000 Se nessa figura esquemtica a linha inclinada AB representa o quadro do sangue, pelas setas superiores, de um lado, podemos ilustrar tudo o que vem de fora e nele se inscreve, e pelas setas inferiores tudo o que se grava no quadro sangneo vindo de dentro. Ou, considerando-se o mesmo de maneira menos esquemtica, pode-se dizer que, ao

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se observar a cabea humana e o sangue que nela circula o modo como este recebe a inscrio de fora, pelos sentidos , o crebro age transformando o sangue da mesma forma como os rgos internos o transformam. que esses trs rgos fgado, bile e bao atuam sobre o sangue pelo outro lado, fato que desenhamos aqui como se este circulasse em volta dos rgos. Assim o sangue, por assim dizer, poderia receber irradiaes e impresses desses rgos e, como instrumento do eu, poderia manifestar a vida interior desses rgos nesse eu, da mesma forma como o que nos rodeia se manifesta em nossa atividade cerebral.

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b020000000005 0000000c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc02000000000102 022253797374656d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d 01000004000000020101001c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d657 3204e657720526f6d616e0000000000000000000000000000000000040000002d0101000500000 00902000000020d000000320a360000000100040000000000a4058102200f1b00040000002d010 000030000000000

Agora devemos ter bem claro que ainda necessrio ocorrer algo muito especfico para que os efeitos desses rgos se transmitam ao sangue. Lembremo-nos, como j foi dito, de que graas interao entre o nervo e o sangue que existe a possibilidade de algo atuar sobre o sangue, inscrever-se no sangue. Se do lado dos rgos internos deve haver efeitos sobre o sangue se, por assim dizer, o mundo interior do homem age sobre o sangue, dever existir algo semelhante a um sistema nervoso ligando esses rgos e o sangue. O mundo interior deve atuar primeiro sobre um sistema nervoso, para depois transmitir seus efeitos ao sangue. Notamos assim que, simplesmente comparando a parte inferior com a superior do homem, deve-se pressupor a existncia, entre nossos rgos internos representados pelo fgado, pela bile e pelo bao e a circulao sangnea, de algo semelhante a um sistema nervoso. A observao cientfica mostra-nos que em todos esses rgos est inserido o que chamamos de sistema nervoso simptico.10 Este preenche a cavidade corporal do homem, encontrando-se, com o mundo interior e a circulao sangnea, numa relao semelhante que, por outro lado, o sistema nervoso medular (tambm denominado central) possui com o grande mundo exterior e a circulao sangnea do homem. de esperar que esse sistema nervoso simptico correndo ao longo da coluna e, a partir da, ramificando-se

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para muitas regies do organismo, formando tambm expanses reticulares, especialmente na cavidade abdominal, onde uma parte desse sistema chamado popularmente de plexo solar11 seja um tanto diferente do outro sistema nervoso. E mesmo que isso no sirva como prova, seria interessante perguntar: como poderia ser a estrutura desse sistema nervoso simptico em relao ao sistema nervoso central, se as condies hipoteticamente formuladas por ns fossem preenchidas? Os Senhores poderiam compreender que, assim como o sistema nervoso central deve abrir-se ao espao, esse sistema nervoso simptico deve dirigir-se ao que est condensado na organizao interior.

0100090000037800000002001c00000000000400000003010800050000000b0200000000050000 000c028202a505040000002e0118001c000000fb021000070000000000bc020000000001020222 53797374656d0002a5050000af950000985c110004ee8339d0b81c000c020000040000002d0100 0004000000020101001c000000fb02c4ff0000000000009001000000000440001254696d6573204 e657720526f6d616e0000000000000000000000000000000000040000002d01010005000000090 2000000020d000000320a360000000100040000000000a4058102200f1b00040000002d0100000 30000000000 De acordo com nossas premissas, a relao entre os sistemas nervoso central e simptico anloga relao entre os raios de uma circunferncia dirigidos do centro para a periferia (a) e os que vo da periferia para fora (b). Portanto, deveria haver um certo contraste entre o sistema nervoso central e o simptico. Esta oposio realmente acontece. E nisso j se encontra muita coisa que podemos provar: se nossas premissas estiverem corretas, a observao exterior dever confirm-las de certo modo, e de fato o faz. Enquanto no sistema nervoso simptico encontramos essencialmente uma espcie de gnglios nervosos robustos, cujas irradiaes os fios condutores so relativamente finos, salientando-se pouco em relao aos gnglios, no sistema nervoso central ocorre o contrrio, visto que o importante aqui so as fibras de ligao, enquanto os gnglios tm uma importncia secundria. Assim, a observao comprova de fato nossas premissas. Se o sistema nervoso simptico tem a tarefa que deveria ter segundo nossas consideraes, a vida interior do organismo manifestada pelos processos nutritivos e trmcos deve, por assim dizer, impregnar esse sistema nervoso; e deveria ser transmitida ao quadro sangneo do mesmo modo como as impresses exteriores se transmitem ao sangue pelo sistema nervoso central. Portanto, pelo instrumento do eu o sangue recebemos no eu individual as impresses de nossa prpria corporalidade interior, por intermdio do desvio pelo sistema nervoso simptico. Mas como nosso interior corpreo, assim como tudo o que fsico, elaborado a partir do esprito, em nosso eu [desperto] recebemos, pelo desvio do sistema nervoso simptico, o mundo espiritual condensado nos respectivos rgos do interior humano. Tambm aqui vemos como essa dualidade se expressa ainda com maior preciso no homem assunto que iniciou nossas observaes. Ns vemos o mundo atuando ora fora, ora dentro; vemos esse mundo agir em ambos casos de tal maneira que para essa atuao

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serve como instrumento ora um, ora o outro sistema nervoso. Vemos como o nosso sistema circulatrio se encontra entre o mundo exterior e o mundo interior, permitindo que de ambos os lados uma vez de fora, outra vez de dentro sejam feitas as inscries. Vimos ontem, e hoje repetimos para maior clareza, que o homem capaz de libertar seus nervos da ao do mundo exterior sobre o sistema circulatrio dirigindo-os ao mundo sensorial. Surge a a seguinte questo: ser que algo semelhante poder acontecer em sentido inverso? E veremos mais tarde que, de fato, tambm so possveis exerccios anmicos tais que possibilitem os mesmos efeitos dos quais j falamos ontem e hoje, s que na outra direo. Mas aqui h uma certa diferena. Enquanto pela concentrao de pensamentos, de sentimentos e por exerccios ocultos podemos libertar nossos nervos cerebrais e medulares do sangue, podemos, por meio de concentraes que, por assim dizer, penetrem em nossa vida interior, em nosso mundo interior (so precisamente as concentraes que podemos reunir sob o nome de vida mstica), penetrar to profundamente em ns mesmos que no possamos efetivamente deixar de lado nosso eu nem seu instrumento, o sangue. Como veremos mais tarde, a interiorizao mstica, da qual sabemos que o homem pode, por assim dizer, submergir em sua prpria essncia divina, em sua prpria espiritualidade enquanto situada dentro dele, no um desprender-se do eu. Ao contrrio, uma concentrao, uma submerso no eu, um fortalecimento, uma ativao, uma intensificao da sensao do eu. Podemos convencer-nos disso estudando o que dizem os msticos mais antigos e deixando de lado os msticos atuais. Esses msticos mais antigos, indiferentemente do fato de pisarem um cho mais ou menos religioso, procuravam principalmente penetrar em seu prprio eu abstraindo-se daquilo que o mundo exterior nos pode dar, a fim libertar-se de todas as impresses exteriores e submergir totalmente dentro de si prprios. Esta interiorizao, esta submerso no prprio eu como uma concentrao de todo o poder e energia do eu para dentro do prprio organismo. Isso, por sua vez, se reflete em todo o organismo do homem, e podemos dizer que, ao contrrio do outro caminho que descrevemos, a interiorizao esse caminho mstico de tal ordem que no libertamos o instrumento do eu o sangue do nervo, mas o empurramos para o nervo, para o sistema nervoso simptico. Enquanto desfazemos a ligao entre o nervo e o sangue no processo descrito ontem, fortalecemos a ligao entre o sangue e o sistema nervoso simptico pela interiorizao mstica. Esta a contra-imagem fisiolgca: na interiorizao mstica o sangue empurrado para o sistema nervoso simptico, enquanto pela outra espcie de exerccios anmicos o sangue afastado do nervo. O que ocorre na meditao mstica como um imprimir do sangue no sistema nervoso simptico.12 Suponhamos agora que pudssemos abstrair por um momento do que acontece quando o homem penetra em seu interior pela interiorizao mstica e no consegue soltar-se de seu eu, mas, ao contrrio, penetra mais profundamente em seu interior, levando consigo todas as qualidades ruins, menos apropriadas que possui. Quando submergimos em nosso prprio interior, no temos claro, desde o incio, que tambm comprimimos todas as qualidades menos apropriadas para esse interior em outras palavras, que tudo o que h de passional no sangue pressionado para dentro do sistema nervoso simptico.13 Mas admitamos que pudssemos ignorar isso por um instante e suponhamos que o mstico, antes de praticar essa interiorizao, tenha tomado cuidado para que suas qualidades menos positivas desaparecessem cada vez mais e, em lugar das caractersticas egostas, surgissem sentimentos altrustas. Ele se ter preparado tentando despertar em si o sentimento de compaixo para com todos os seres, tentando paralisar, atravs dessa compaixo altrusta para com todos os seres, as tendncias que s especulam a favor do eu. Admitamos, pois, que a pessoa se tenha preparado com

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suficiente cuidado antes de submergir em seu interior. Quando, ento, atravs do instrumento de seu sangue o homem leva o eu ao seu mundo interior, acontece que o sistema nervoso interior, o sistema nervoso simptico do qual o homem naturalmente nada sabe em seu estado de conscincia normal penetra na conscincia do eu. Ele ento passa a saber o seguinte: dentro de mim existe algo que pode intermediar meu mundo interior do mesmo modo como meu sistema nervoso central intermedeia o mundo exterior. Tomamos conhecimento de nosso prprio sistema nervoso simptico e, tal como podemos conhecer o mundo exterior por meio do sistema nervoso central, agora surge nossa frente o mundo interior. Mas assim como nas impresses exteriores no podemos ver os proprios nervos, visto que o mundo exterior penetra em nossa conscincia atravs dos nervos pticos, tampouco os nervos interiores penetram na conscincia durante a interiorizao mstica; o homem apenas percebe que tem neles um instrumento para a visao interior. Aqui acontece algo bem diferente: o mundo interior revela-se capacidade cognitiva humana que se tornou clarividente para dentro. Assim como nossa viso para fora nos revela o mundo exterior sem que tenhamos conscincia de nossos nervos, tampouco temos conscincia do sistema nervoso simptico, e sim do que se nos apresenta como mundo interior. Temos de reconhecer apenas que esse mundo interior que nos chega conscincia consiste, na verdade, em ns mesmos enquanto homens fsicos. Talvez no seja muito natural, mas mesmo assim quero dizer o seguinte: um pensador de tendncias um pouco materialistas poderia ser tomado por uma espcie de horror se tivesse de admitir que poderia ver seu prprio organismo por dentro, e talvez pensasse: Vejo alguma razo no fato de que, tornando-me clarividente atravs de meu sistema nervoso simptico14, eu venha a enxergar meu fgado, minha bile e meu bao! Acho que isso no seria muito natural, mas algum poderia pensar assim pois com tal objeo no se consideraria que o homem, na vida exterior, enxerga seu fgado, ble e bao de fora, como o faz com outros objeto externos. Assim como os Senhores podem conhecer o fgado, a bile, o bao e assim por diante pela anatomia, pela fisiologia comum ao dissecarem um homem, esses rgos naturalmente so vistos de fora pelo sistema nervoso central tal como enxergamos qualquer outro objeto. Mas a situao bem diferente quando o homem tenta usar seu sistema nervoso simptico para tornar-se clarividente para dentro. Ento ele absolutamente no v o mesmo que pode ver de fora, mas v aquilo por cuja razo os videntes de todos os tempos escolheram nomes to estranhos para esses rgos, como eu lhes mencionei na segunda conferncia. Ento ele percebe que, de fato, por meio do sistema nervoso central esses rgos aparecem contemplao exterior como maya, uma iluso exterior que aparentam para fora, no revelando seu significado essencial interior. Com efeito, vemos algo totalmente diferente quando contemplamos nosso mundo interior com o olho clarividente voltado para dentro. Aos poucos percebemos por que os iniciados de todos os tempos notaram uma relao dos rgos com as atuaes dos planetas. Como vimos ontem, a atividade do bao era relacionada atividade de Saturno, a atividade do fgado de Jpiter e a da bile de Marte. O que observamos no prprio interior , de fato, basicamente diferente do que se apresenta viso exterior. Percebemos que nos rgos internos temos realmente diante de ns partes limitadas, fechadas do mundo exterior. Principalmente nos fica esclarecido o que nos servir a priori como exemplo: chegar, deste modo, a um conhecimento que vai alm da contemplao comum permite convencermo-nos de que o bao humano um rgo muito importante. Este rgo realmente aparece observao interior como se no fosse constitudo de substncia exterior, de matria carnosa, como o seria observao exterior, mas se me permitem a expresso apenas aproximada do que realmente se v o bao aparece como um corpo csmico luminoso em miniatura, com toda uma vida

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interior muito complicada. Ontem chamei a ateno para o fato de que o bao, quando observado exteriormente, pode ser descrito como um tecido rico em sangue, no qual se alojam os corpsculos brancos mencionados. A partir de uma observao fisiolgica exterior podemos, portanto, dizer que o sangue fluente no bao como que peneirado por ele. Para uma observao interior, todavia, o bao se nos apresenta como um rgo levado a um movimento rtmico constante por mltiplas foras interiores. E diante de um tal rgo convencemo-nos de que realmente muita coisa do mundo depende do ritmo. J podemos ter uma noo do significado do ritmo na globalidade da vida do mundo ao reconhecermos o ritmo csmico exterior na pulsao do sangue.15 Esse um reconhecimento exterior. Mas tambm exteriormente podemos acompanhar com bastante preciso o ritmo nos rgos, inclusive no bao. Para quem observa os rgos com o olhar clarividente dirigido ao interior, todas as diferenciaes do bao se manifestam como num corpo luminoso; elas existem para dar ao bao um certo ritmo na vida. Esse ritmo diferencia-se consideravelmente de outros ritmos que percebemos comumente. E especialmente interessante estudar como esse ritmo do bao se diferencia consideravelmente de qualquer outro ritmo; pois ele bem menos regular do que outros. Por qu? Isso acontece porque o bao, de certo modo, est muito prximo do aparelho digestivo humano e tem relao com ele. Os Senhores compreendero isso melhor quando considerarmos quo regular deve ser o ritmo do sangue no homem para a correta preservao da vida. Esse ritmo deve ser muito regular. Existe, porm, um outro ritmo, apenas pouco regular, embora fosse desejvel que se tornasse cada vez mais regular pela autoeducao do homem, especialmente na idade infantil: o ritmo em que nos alimentamos, o ritmo do comer e beber. Uma pessoa razoavelmente organizada mantm certo ritmo alimentar; ela toma o desjejum, o almoo e o jantar em determinados horrios, de modo a se manter num certo ritmo. Mas qual a situao real desse ritmo? Sob diversos aspectos infelizmente isso bastante conhecido , essa regularidade quebrada pelo hbito de muitos pais no sentido de ceder gulodice de seus filhos, dando-lhes de comer sempre que pedem, independentemente de qualquer ritmo. Mesmo os adultos, nem sempre observam um ritmo rigoroso de ingesto de alimentos e lquidos. No quero ser pedante nem moralista, uma vez que a vida moderna nem sempre o possibilita. A irregularidade com a qual o alimento empurrado para dentro da pessoa, a irregularidade com que bebemos, de todos conhecida e no dever ser aqui criticada, mas apenas mencionada. Mas o que introduzido de forma to arrtmica em nosso organismo deve ter seu ritmo lentamente alterado para poder entrosar-se no ritmo orgnico regular. A mudana deve ser de modo que as irregularidades mais grosseiras na ingesto sejam eliminadas. Suponhamos que uma pessoa seja forada, por causa de sua profisso, a tomar seu desjejum s 8 horas e almoar s 13 ou 14 horas, e que essa diviso rtmica do dia j lhe seja um hbito. Acontece que essa pessoa vai visitar um amigo e, por simples amabilidade, toma um refresco entre as duas refeies. Deste modo quebrou seu ritmo habitual de maneira bem acentuada, o que causar um determinado efeito sobre o ritmo de seu organismo. preciso existir no organismo algo que fortalea de modo correspondente o que regular no ritmo e enfraquea o efeito daquilo que irregular. As maiores irregularidades devem ser compensadas, de modo que na transio das substncias alimentares para o ritmo circulatrio deve estar intercalado um rgo que equilibre a irregularidade do ritmo alimentar diante da regularidade necessria do ritmo sangneo. E esse rgo o bao. Podemos compreender, por meio de certos processos rtmicos como o recm-caraterizado, que o bao um transformador que compensa irregularidades no tubo digestivo para estas se tornarem regularidades na circulao sangnea. Principalmente na poca estudantil e mesmo em outras, certas irregularidades na ingesto de alimentos poderiam ser fatais se

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continuassem sua atividade no sangue. Muita coisa precisa ser compensada, e s deve passar ao sangue o quanto este pode suportar. Essa a tarefa do bao, rgo intercalado na corrente sangnea e que irradia seus efeitos ritmizantes sobre todo o organismo a fim de se efetuar a regularizao descrita. O que descobrimos agora pela viso do olho tornado clarividente, ou seja, o fato de o bao observar um certo ritmo, tambm se mostra observao exterior. extraordinariamente difcil descobrir essa funo do bao pelas pesquisas fisiolgicos exteriores; no entanto, pela observao exterior podemos notar que o bao fica inchado durante um certo tempo aps uma refeio copiosa, voltando a contrair-se caso depois de determinado tempo no advenha um reforo alimentar. Por meio de uma certa dilatao e contrao desse rgo, a irregularidade na ingesto dos alimentos adaptada ao ritmo sangneo. Tendo conscincia de que o organismo humano no , como freqentemente descrito, apenas uma soma de seus rgos, mas de que todos os rgos enviam seus efeitos ocultos a todas as partes do organismo, os Senhores podero supor tambm que a atividade rtmica do bao depende do mundo exterior, isto , da ingesto de alimentos, e que esses movimentos rtmicos do bao irradiam para todo o organismo, atuando sobre ele de forma compensadora. Esta apenas uma das maneiras de atuao do bao, pois impossvel evidenciar de imediato todas elas. Seria, de fato, muito interessante ver se a fisiologia exterior comprovaria essas coisas que acabamos de mencionar16 caso pudesse aceit-las pelo menos como uma idia esboada, j que nem todos os homens podem, de sbito, tornar-se clarividentes. Deverse-ia poder dizer: Quero im