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Rudinei Sérgio Pestana
AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FERRAMENTA
E SEU PAPEL NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós–
graduação Stricto Sensu do Centro Universitário
de Araraquara – UNIARA, como requisito básico
para obtenção do Grau de Mestre em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Araraquara 2008
Rudinei Sérgio Pestana
AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FERRAMENTA
E SEU PAPEL NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL.
Dissertação a ser apresentada ao Programa de
Pós–graduação Stricto Sensu do Centro
Universitário de Araraquara – UNIARA, como
requisito básico para obtenção do Grau de Mestre
em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Área de concentração – Dinâmica Regional e
Alternativas de Sustentabilidade.
Orientador: Prof. Dr. José Luis Garcia Hermosilla.
UNIARA – Centro Universitário de Araraquara Araraquara/SP
2008
AGRADECIMENTOS
À Deus, que nos dá o dom da vida.
À UNIARA, pela oportunidade do mestrado.
À professora Dra. Vera Lúcia S. Botta Ferrante pelo apoio.
Ao professor Dr. José Luis Garcia Hermosilla, pela paciência e
dedicada atenção dispensada à orientação, apontando–me sempre o
melhor caminho para esta empreitada.
A todos meus amigos, professores, autores e profissionais de gestão
ambiental que muito me ajudaram no desenvolvimento deste trabalho.
À minha esposa e filhas, que com amor, carinho e paciência, souberam
compreender os momentos de ausência e fadiga durante esta
caminhada.
A todos meu muito obrigado !
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra, acima de tudo, ao Grande Arquiteto do Universo, que é Deus.
Também a dedico a todos aqueles que
ao longo do tempo me ajudam a erguer e sustentar os pilares da minha vida.
À minha esposa Antonia,
por ser a melhor amiga e companheira de todas as horas, momentos bons e ruins, parte inseparável de minha
existência.
Às minhas filhas, Nathália e Júlia.
i
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................. .......................................................................... iii
LISTA DE TABELAS .................................. .......................................................................... iv
LISTA DE ABREVIATURAS ............................. .................................................................... v
RESUMO ............................................................................................................................. vii
ABSTRACT .......................................... .............................................................................. viii
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização. ............................ ............................................................................. 1
1.2. Problemática. ................................ ................................................................................ 6
1.3. Objetivo. .................................... .................................................................................... 8
1.4. Justificativa. ............................... ................................................................................... 8
1.5. Metodologia de pesquisa ...................... ..................................................................... 11
1.6. Estrutura da dissertação ..................... ....................................................................... 12 CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
2.1. Questões Ambientais: Dos debates e eventos à Ferramenta ACV. ....................... 14
2.2. Impacto Ambiental: Principais conceitos, orig em e evolução................................ 23
2.3. A Avaliação do Ciclo de Vida: Breve histórico e principais conceitos .................. 28
2.4. Usos e aplicações. ........................... ........................................................................... 31
2.5. Limitações da técnica. ....................... ......................................................................... 35
2.6. Normatização – A série ISO 14000. ............ ................................................................ 38
2.7. A Ecoeficiência. ............................. ............................................................................. 46 CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
3.1. Definição de objetivo e escopo ............... ................................................................... 50
3.2. Análise do inventário ........................ .......................................................................... 53
3.3. Avaliação de impacto do ciclo de vida: Métodos ..................................................... 56
3.3.1. EDIP ( Environmental Development of Industri al Product ) ........................... 56
3.3.2. Exergia .................................... ........................................................................... 57
3.3.3. Emergia .................................... .......................................................................... 57
3.3.4. CML 2 2000 ........................................................................................................ 58
3.3.5. Eco indicador 99 ........................... .................................................................... 59
3.3.6. Ecopontos suíços ........................... .................................................................. 60
3.3.7. EPS 2000 ............................................................................................................ 61
3.4. Limitações e diferenças dos métodos de avaliaç ão................................................. 62
3.5. Elementos opcionais de avaliação ............. ............................................................... 63
3.6. Interpretação dos resultados ................. .................................................................... 63
ii
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
4.1. Trajetória ................................... .................................................................................. 65
4.2. Projeto Brasileiro ........................... ............................................................................. 72
4.3. Desafios da ACV no Brasil .................... ..................................................................... 75
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUI SA
5.1. Tipo de Pesquisa. ............................ ........................................................................... 77
5.1.1. Quanto aos fins. ........................... ..................................................................... 77
5.1.2. Quanto aos meios de investigação ........... ....................................................... 78
5.2. Coleta de dados .............................. ............................................................................ 79
5.3. Tratamento de dados .......................... ........................................................................ 80
5.4. Limitações do Método ......................... ....................................................................... 80
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1. Apresentação de dados ........................ ...................................................................... 81
6.1.1. Dados Gerais ............................... ...................................................................... 81
6.1.2. ACV na Empresa Natura ...................... ............................................................. 82
6.1.3. A Pesquisa de Opinião ...................... ............................................................... 84
6.1.3.1. Na fase de Definição de objetivo e escopo do estudo. ........................... 85
6.1.3.2. Análise do inventário, a preparação para c oleta e a coleta de dados.... 89
6.1.3.3. Análise do inventário, durante a validação dos dados. .......................... 93
6.1.3.4. Análise do inventário, durante a alocação de fluxos e liberações. ........ 96
6.1.3.5. Na Avaliação do Impacto do ciclo de vida. ............................................ 100
6.1.3.6. Na Interpretação dos resultados do ciclo d e vida. ................................ 104
6.1.3.7. Na Emissão do Relatório do estudo de ciclo de vida. ........................... 107
6.1.3.8. Na Análise crítica, quando necessária ao e studo do ciclo de vida. ..... 108
6.1.3.9. Síntese da pesquisa de opinião. .......... ................................................... 110
6.2. Discussão da matéria e uma visão analítica. .. ........................................................ 112
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
Considerações. .................................... ....................................................................... 118
Limitações da Pesquisa. ........................... .................................................................. 121
Recomendações e Sugestões de pesquisas futuras. ... ............................................ 122
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CITADAS ........................................... ........................................................................... 124
CONSULTADAS ....................................... .................................................................... 130
ANEXOS
ANEXO 1 – O Projeto Brasileiro de Inventário de Ciclo de Vi da ........................... 133 ANEXO 2 – Gestão da Sustentabilidade na Empresa NAT URA .................................... 142 ANEXO 3 – Formulário da Pesquisa de Opinião compila do ....................................... 1421
iii
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 1 – Fases de uma ACV (ABNT, 2001).......................................................... 30
Figura 2 – Ciclos de Vida de um Produto................................................................ 44
Figura 3 – Estrutura do formulário........................................................................... 84
Figura 4 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Definição
de objetivo e escopo............................................................................... 89 Figura 5 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Análise do
inventário – Preparação para a coleta e coleta de dados..................... 92 Figura 6 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Análise do
inventário – Validação dos dados........................................................... 95 Figura 7 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Análise do inventário – Alocação dos fluxos e liberações............. 98 Figura 8 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Análise do inventário – Geral da Análise do inventário................. 99 Figura 9 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Avaliação do impacto do ciclo de vida – Resultados..................... 103 Figura 10 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase
de Interpretação dos resultados do ciclo de vida.......................... 106 Figura 11 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase
de Emissão do Relatório do ciclo de vida...................................... 107 Figura 12 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase
de Análise Crítica do ciclo de vida................................................. 110 Figura 13 – Gráfico do resultado geral da pesquisa de opinião....................... 112
Figura 14 – Gestão da Sustentabilidade Natura........................................................ 142 Figura 15 – Ciclo do Produto Natura......................................................................... 143 Figura 16 – Inventário Natura.................................................................................... 144 Figura 17 – Avaliação do Impacto Ambiental............................................................ 145 Figura 18 – Etapas ACV na Natura........................................................................... 146 Figura 19 – Inovação na produção de embalagem................................................... 147 Figura 20 – Alteração nas Embalagens..................................................................... 148 Figura 21 – BSC Natura após ACV............................................................................ 149 Figura 22 – Exemplo de revisões ACV...................................................................... 150 Figura 23 – Registro da Patente de Embalagem – Potes.......................................... 150
iv
LISTA DE TABELAS
Pág. Tabela 1 – Comparativo de Impacto Ambiental.................................................... 145
Tabela 2 – Redução do uso de materiais............................................................. 148
v
LISTA DE ABREVIATURAS
ABCV – Associação Brasileira de Ciclo de Vida
ACV – Avaliação do Ciclo de Vida
AIA – Avaliação de Impacto Ambiental
AICV – Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida
ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
BSC – Balanced Scorecard
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CCI – Câmara de Comércio Internacional
CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEFET– PR – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
CETEA – Centro de Tecnologia de Embalagem
CETEM – Centro de Tecnologia Mineral
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
CMMAD – Comissão Mundial para assuntos do Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNI/IEL – Confederação Nacional da Indústria / Instituto Euvaldo Lodi
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
COPPE – Coordenação de Pesquisa e Pós–graduação
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
EDIP – Environmental Development of Industrial Product
EEA – European Environment Agency
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPA – Environmental Protection Agency
EMPA – Swiss Federal Laboratories for Testing and Research
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor
IETEC – Instituto de Educação Tecnológica
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INT – Instituto Nacional de Tecnologia
IPT – Instituto de Pesos e Medidas
vi
ISO – International Organization for Standardization
ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos
LCA – Life Cycle Assessment
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MRI – Midwest Research Institute
OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
REPA – Resource and Environmental Profile Analysis
SAP – Systems, Applications, Products in data processing
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio a Micros e Pequenas Empresas
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SETAC – Society of Environmental Toxicology and Chemistry
SGA – Sistema de Gestão Ambiental
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
TECPAR – Instituto de Tecnologia do Paraná
TQM – Total Quality Management
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFF – Universidade Federal Fluminense
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UnB – Universidade de Brasília
UNCED – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNIG – Universidade Iguaçu
USEPA – U.S. Environmental Protection Agency
USP – Universidade de São Paulo
USPSCar/CCDM – Universidade de São Paulo, campus de São Carlos/Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais
WBCSD – World Business Council for Sustainable Development
vii
RESUMO
O trabalho tem como tema a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) enquanto ferramenta de gestão ambiental e como objetivo geral analisar criticamente a metodologia estabelecida, a qual é parte integrante da série de normas ISO 14000, em especial a NBR ISO 14040 e suas frações. Em um contexto evolutivo histórico, as iniciativas para mensuração dos impactos ambientais datam da década de 60, aprimorando–se com o tempo até os dias atuais, cuja tônica baseia–se nos princípios da sustentabilidade do desenvolvimento, através do emprego adequado de ferramentas de gestão como a ACV. Sob esse enfoque, o estudo também definiu a ferramenta, usos e aplicações e limitações da técnica, abordando, ainda, toda normatização pela série ISO 14000, com a descrição e caracterização de técnicas de ciclos produtivos, apontando os métodos mais adotados e como sucintamente funcionam, sendo delimitadas etapas relativas a definição de objetivo e escopo, análise do inventário, avaliação do impacto e escolha pelo método mais adequado. A pesquisa caracteriza–se como exploratório–descritiva, tendo como métodos para coleta de dados o levantamento bibliográfico e documental juntamente com a aplicação de um formulário através de entrevista semi–estruturada a especialistas da área, com o intuito de esclarecer melhor a problemática da pesquisa. O estudo demonstrou os dados inerentes à trajetória da ACV no país, o respectivo projeto brasileiro e os desafios em andamento, inclusive no que concerne à necessidade de recursos e à formação de profissionais especializados. Por fim, a discussão da matéria com uma visão analítica, somada às considerações finais e recomendações, evidenciou a relevância do assunto, salientando a carência de investimentos educacionais e formadores culturais da prática de gestão ambiental pelo uso de ferramentas adequadas, considerando–se, entretanto, a complexidade da ACV, que requer atenção tecnológica para adequação aos padrões nacionais. Deve, de fato, existir a customização de cada processo e não a importação de programas engessados que não contemplem a realidade brasileira. Palavras–chaves: Gestão Ambiental. Avaliação do Ciclo de Vida. Ecoeficiência. Ferramentas de gerenciamento ambiental.
viii
ABSTRACT
The paper is called Evaluation of the Life Cycle (ACV) as an environmental management tool and as a general goal it is meant to analyze critically the established methodology, which is part of the series of rules of the NBR ISSO 14000, specifically the NBR ISO 14040 and its fractions. Put in the perspective of historical context, the initiatives for the measurement of the environmental impacts go back to the 1960s and being improved up to the present and has its core based on principles of sustainable development through the utilization of appropriated management tools such as ACV. Under this focus, the study has also defined the tool, use and technical limitations also delineating the whole normalization under the ISO 14000 series with the description and characterization of the techniques of productive cycles, pointing at the most accepted methods and briefly explaining how they work what delimitated the steps relative to the definition of the objective and comprehensiveness, analysis of the inventory, evaluation of the impact and choice of the best fitting method. The research is characterized as exploratory–descriptive and used the bibliography research and documental search as methods for the collection of data, as well as a questionary that was a semi–structured interview applied to experts in this field with the aim of better clearing the problems that were the base of the research.The study has shown data which were characteristic of the LCA trajectory in the country, the Brazilian Project and the ongoing challenges what goes back to the necessity of resources and the graduation of specialized professionals. To finalize, the discussion of the subject under analytical lenses added to the final recommendations and considerations, showing the lack of educational investments and people to form and inform about environmental management by the use of appropriated tools. Taking in consideration the complexities of the LCA and its requirements of technological attention to proper normalization to the national patterns, each process has to be customized instead of bringing ready solutions that do not fit the Brazilian reality.
Key words: Environmental Manegement, Life Cycle Assessment, Ecoeficiency,
Tools for environmental management.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1
1.1. Contextualização.
"Que o meio ambiente não seja visto como mais uma camada de dificuldade para o desenvolvimento, mas como a única forma do desenvolvimento ser de fato sustentável para todos os segmentos da sociedade." (Ministra Marina Silva, 84ª Reunião Ordinária do CONAMA – Novembro /2006).
Hoje em dia existe uma preocupação maior voltada às questões ambientais.
Com o passar dos tempos, a degradação do meio ambiente tem prejudicado a
saúde e arriscado a sobrevivência humana em prol de uma ganância econômica
sem limites que é destrutiva para a humanidade. Essa ambição excessiva tem a
característica de obter resultados econômicos imediatos, comprometendo assim a
qualidade de vida de toda a sociedade em detrimento de um crescimento sadio
representado por um desenvolvimento sustentável de longo prazo.
Conforme indica Coggiola (2006), existe um consenso entre a comunidade
científica e os Estados de que a ação humana desenfreada sobre o ambiente natural
vem provocando continuamente efeitos que a longo prazo são capazes de causar
prejuízos em larga escala. Nesse sentido, a perpetuação de várias formas de vida e
a reprodução de vários ciclos naturais estariam fortemente comprometidas. O autor
lembra ainda que os efeitos desse comprometimento não se restringem apenas à
natureza mas também se pulverizam para a vida humana, de modo a comprometer a
sobrevivência no planeta.
É a partir desse contexto que muitas empresas não percebem que, gerando
um ciclo de destruição e poluição tão grave, estão comprometendo a vida do
planeta. No entanto várias instituições estão trabalhando no sentido de tentar alertar
a sociedade e as empresas para a gravidade do crescimento a qualquer custo,
orientando dessa forma para o convencimento de que o sustentável é melhor para
todos.
Por outro lado, a sociedade está cada vez mais exigente e consciente do seu
papel, e isso também acarreta uma força política que faz com que sejam criadas leis
cada vez mais severas contra aqueles que agridem a natureza para qualquer tipo de
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
2
proveito bem como, consequentemente, impulsiona os trabalhos de fiscalizações em
uma linha mais efetiva e atuante para coibir as ações predatórias.
De acordo com Leal (2005), os atores ligados aos setores produtivos privados
emergem como um dos maiores obstáculos para que sejam pensadas estratégias de
preservação e proteção ambiental. Tal constatação repousa no fato de que o
contexto que circunscreve as ações das organizações privadas é mobilizado
especialmente pelo interesse na otimização produtiva, na busca pelo lucro e na
captação de investimentos. Nesse sentido, preocupações com o meio ambiente são
constantemente descartadas em detrimento de elementos de cunho meramente
econômico, obscurecendo considerações relativas à responsabilidade social e
ambiental.
Segundo Demajorovic (2001), o discurso empresarial mostrou–se bastante
relutante à tomada de iniciativas que visassem minimizar os danos sócioambientais
ocasionados por suas atividades produtivas até meados dos anos oitenta. A lógica
desse discurso afirmava que os gastos adicionais voltados para o intuito de
diminuição da poluição constrangeriam a lucratividade e mesmo a oferta de
empregos por parte da organização, ocasionando prejuízos não só para a empresa
mas também para a sociedade.
O mesmo autor aponta que esse discurso foi perdendo a sua força na década
de oitenta. Nesse sentido, contribuíram para tal constatação a mobilização da
sociedade, o aprimoramento da regulação ambiental por parte do setor público –
através da qual os danos exercidos sobre o meio ambiente passariam a expressar
um custo direto para as organizações – e a ampla divulgação de tragédias
ambientais causadas por empresas.
Assim, frente aos trabalhos mais efetivos de fiscalizações e punições severas,
de acordo com o avanço e atualização das leis ambientais, as empresas estão tendo
de se adaptar a um “novo ambiente”. Nesse sentido, inclui–se a consciência da
necessidade permanente de aprimoramento dos produtos e/ou serviços, recebendo
a crítica dos clientes como uma oportunidade para corrigir e aperfeiçoar processos e
perceber que o lucro e a responsabilidade sócioambiental não são aspectos
inseparáveis, mas, o melhor negócio é o que considera o meio ambiente e a
sociedade (DEMAJOROVIC, 1996; ANDRADE et al, 2002).
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
3
Nesse cenário, surgem novas formas de gestão para desenvolvimento de
produtos e serviços, levando em consideração não só as questões econômicas mas
também aspectos e impactos sócioambientais, como por exemplo, a ecoeficiência.
A ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a
preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade
de vida, ao mesmo tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o
consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à
capacidade de sustentação estimada da Terra (conceito elaborado pelo World
Business Council for Sustainable Development – WBCSD, em 1992).
Esse conceito sugere uma significativa ligação entre eficiência dos recursos
(que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental. Portanto,
ecoeficiência é o uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de reduzir os
custos econômicos e os impactos ambientais.
A ecoeficiência busca assegurar que bens e serviços sejam produzidos de
forma economicamente viável e sem comprometer a disponibilidade dos recursos
naturais para as próximas gerações. Em outras palavras, trata–se da conjugação do
desenvolvimento econômico sustentável e políticas de proteção ambiental. Segundo
Leal (2001), a ecoeficiência vem se revelando como uma poderosa estratégia
exercida por organizações diversas que consideram de suma relevância incluir entre
suas táticas ações voltadas para a proteção ambiental. Nesse sentido, a
ecoeficiência se apóia em dois princípios – a redução da exploração dos recursos
naturais e a diminuição da contaminação vinculada aos processos produtivos. Dessa
forma, a ecoeficiência remeteria à busca pela otimização da produtividade dos
recursos naturais e à redução dos impactos ambientais ao longo do ciclo de vida dos
produtos.
Ometto (2005) afirma que uma das formas mais integradas, completas e
eficazes para a gestão ambiental de atividades produtivas é baseada no ciclo de
vida do produto, sendo a ACV – Avaliação do Ciclo de Vida sua principal ferramenta.
Camargo (2007) define Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) como sendo uma
ferramenta de gestão ambiental que permite avaliar os aspectos ambientais e
impactos potenciais associados ao produto, analisando diversas etapas que vão
desde a extração de matérias–primas da natureza que adentram no sistema
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
4
produtivo (berço) até a disposição do produto final no meio ambiente (túmulo). O
conjunto organizado dos aspectos ambientais do produto estudado é chamado de
inventário de ciclo de vida, sendo constituído por valores referentes a consumo
energético, emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos, entre
outros.
Hunt e Franklin (1996) asseguram que a sigla ACV, ou LCA em inglês, "Life
Cycle Assessment" foi utilizada primeiramente nos Estados Unidos em 1990, mas
que, desde 1970, a identificação originária para estudos de ciclo de vida ambiental
era “Resourse and Environmental Profile Analysis” (REPA).
Segundo os mesmos autores, um dos primeiros estudos quantificando as
necessidades de recursos, emissões e resíduos originados por diferentes
embalagens de bebidas foi conduzido pelo "Midwest Research Institute" (MRI) para
a Companhia Coca–Cola em 1969. Esse estudo nunca foi publicado devido ao
caráter confidencial do seu conteúdo, sendo, no entanto, utilizado pela companhia
no início dos anos setenta como um “input” nas suas decisões sobre embalagens.
Um dos resultados interessantes do trabalho da Coca–Cola foi demonstrar que as
garrafas de plástico não eram piores, do ponto de vista ambiental, do que as de
vidro. Anteriormente, os plásticos tinham a reputação de um produto indesejável em
termos ambientais, tendo o estudo REPA demonstrado que esta reputação era
baseada em más interpretações.
Guinée, (1995) explica que no final de 1972 o mesmo instituto (MRI) iniciou
um estudo nas embalagens de cervejas e sumos, encomendado pela USEPA – U.S.
Environmental Protection Agency, o qual marcou o início do desenvolvimento da
ACV como se conhece hoje. Hunt e Franklin (1996) declaram que esta foi
seguramente a mais ambiciosa REPA até então realizada, tendo envolvido a
indústria do vidro, aço, alumínio, papel e plástico e todos os fornecedores daquelas
indústrias, tendo–se caracterizado mais de 40 materiais.
Após um longo período de baixo interesse público em ACV, em 1984,
segundo MOURAD (2002), inspirados pelo REPA, o Instituto Suíço EMPA – Swiss
Federal Laboratories for Testing and Research, por solicitação do Ministério de Meio
Ambiente suíço, tornou público um banco de dados de ciclo de vida de uma série de
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
5
materiais, contribuindo para a popularização da metodologia. Versões aprimoradas
da metodologia ou dos bancos de dados foram publicadas pelo EMPA em 1991 e
em 1998.
A partir de 1990 houve um notável crescimento das atividades ACV na Europa
e nos EUA, o qual é refletido no número de "workshops" e outros "fóruns" que têm
sido organizados principalmente pela "Society of Environmental Toxicology and
Chemistry" (SETAC).
Conforme Ferreira (2004 apud Hindle e Oude 1996), em 1992 foi formada a
Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento de Ciclo de Vida (SPOLD), com o
objetivo de angariar recursos para fomentar o desenvolvimento da metodologia ACV
como uma abordagem de gestão aceita para ajudar na tomada de decisão.
A análise do ciclo de vida de um produto é uma técnica de segregação dos
aspectos ambientais e avaliação de seus possíveis impactos. De acordo com
Chehebe (1998, p.3), a ACV “considera o impacto ambiental ao longo de todo o ciclo
de vida do produto: da extração das matérias–primas utilizadas à produção, ao uso e
à disposição final do produto”.
Stock (1998, apud Simões, 2002) sustenta que esse conceito de ACV também
é conhecido como análise do “berço ao túmulo” e que, apesar de muito familiar aos
engenheiros industriais, soa estranho a grande parte dos profissionais de logística.
O ciclo de vida de produtos e serviços envolve grande número de interações
mais ou menos complexas com o meio ambiente na medida em que utilizam
recursos e geram poluentes. Nesse contexto é possível situar a ACV como
estratégia de avaliação ambiental, uma vez que, segundo Soares (2006), essa
análise remete a uma técnica de gestão ambiental através da qual é possível avaliar
os efeitos de um produto sobre o meio ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de
vida.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
6
1.2. Problemática.
No que pese a existência de grande arcabouço de legislação específica aos
impactos ambientais, a inexistência de gestão para reduzir e/ou eliminar fontes
geradoras de impactos como também a falta de programas de destinação não raro
resultam em desastres ambientais.
Resultados de ACV confiáveis, replicáveis e comparáveis somente são
possíveis quando realizados através de metodologias e procedimentos sistemáticos
e padronizados. Segundo Silva (2006), existem algumas condições básicas para que
a estratégia da Avaliação do Ciclo da Vida seja implantada com sucesso no Brasil.
Entre estas condições, destacam–se a disponibilidade de um banco de dados
brasileiro, recursos humanos considerados capacitados e um efetivo
comprometimento dos segmentos econômicos. Nesse contexto, o autor aponta
ainda que os desafios a serem enfrentados no Brasil correspondem especialmente a
recursos materiais e humanos relativos aos projetos.
O Brasil apresenta escassez de recursos humanos capacitados à utilização
da ferramenta, dificuldades de operacionalização da metodologia pela pequena
disponibilidade de informações nos bancos de dados brasileiros, pouco
comprometimento de segmentos econômicos e poucas entidades interessadas em
desenvolver e coordenar a ACV.
Segundo PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(2007), outra dificuldade encontrada para o desenvolvimento de estudos de ACV em
nível mundial é a necessidade de elevada quantidade de recursos financeiros e de
tempo. No Brasil não é diferente. Desse modo, os recursos financeiros deverão ser
balanceados com os benefícios previsíveis do estudo. Com relação às pequenas e
médias empresas, segundo Oliveira (2006), o que aparece como elementos de
grande dificuldade para aplicação da metodologia é basicamente a sua
complexidade e necessidade de dados detalhados do sistema de produção. O que
não impede que elas tenham condições de conduzir um estudo desse tipo utilizando
a idéia e o conceito da ACV.
Essa complexidade e necessidade aparecem da mesma forma como barreira
para as grandes empresas, até porque os processos de produção são específicos,
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
7
cada sistema requer uma atenção diferenciada. Isso dificulta a coleta e o
fornecimento de informações técnicas gerais, o que exige maior quantidade de
pesquisas e esforços para aprofundar o conhecimento sobre o tratamento desses
processos, levando, às vezes, à determinação de um limite do processo a ser
estudado, não atendendo todo o processo produtivo como deveria acontecer. Outro
fator que dificulta a utilização da ACV é a falta de comprometimento do corpo
trabalhador da empresa. Esse fato surge como uma barreira para a aplicação, mas
que pode ser superada com um pouco de empenho, haja vista ser fator essencial
para o Sistema de Gerenciamento. Segundo Chehebe (1997), a conscientização
dentro da empresa, de cada indivíduo ou elo da cadeia produtiva, pode colaborar em
seu próprio estágio do ciclo de vida.
Inúmeras medidas e providências corretivas e preventivas podem e devem
ser adotadas a partir do uso da ACV. Na verdade, trata–se da otimização voltada ao
reconhecimento das questões de preservação e renovação ambiental, calcadas nas
diretrizes essenciais da sustentabilidade, baseadas, sobretudo na análise,
identificação e quantificação dos impactos ambientais causados por todo o processo
produtivo.
Desse modo, a presente pesquisa parte dos princípios de gestão ambiental
voltados ao desenvolvimento sustentável para então considerar a aplicabilidade da
Avaliação de Ciclo de Vida e sua eficácia enquanto ferramenta capaz de identificar
aspectos e avaliar impactos ambientais associados a serviços e produtos
manufaturados e consumidos, do berço ao túmulo.
Assim, a problemática de pesquisa aborda a identificação de eventuais
dificuldades para a aplicabilidade da metodologia ACV no contexto do ambiente
produtivo nacional. Considerando o Brasil um país subdesenvolvido, é possível
aplicar em sua plenitude, a metodologia ACV conforme estabelecida nas normas
ISO? As disposições contidas na metodologia são importantes? Existem
dificuldades para aplicação? Se existirem dificuldades, de que naturezas são?
Como os profissionais e estudiosos do assunto, que já aplicaram ou conhecem a
ferramenta, avaliam as disposições estabelecidas para cada uma das fases da
metodologia, nesse contexto e aqui no Brasil?
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
8
1.3. Objetivo.
O objetivo do trabalho é analisar criticamente a metodologia ACV no Brasil,
considerando as disposições normativas de cada fase quanto a sua importância
para o estudo e dificuldades de operacionalização conforme sua natureza.
Pretende–se ainda, com esta análise, identificar eventuais necessidades de
recursos ou ajustes no contexto de ACV que possibilitem a aplicação da metodologia
de forma ampla, sistemática e eficaz para um mínimo de confiabilidade dos
resultados.
1.4. Justificativa.
Justifica–se plenamente o desenvolvimento desta pesquisa em função de sua
pertinência atual e relevância em todos os contextos da vida moderna, quer no
ambiente de negócios quer no interesse da sociedade. A consciência e a
mobilização das nações para as questões ambientais têm marco histórico
praticamente no século passado, há poucas décadas. Gradativamente, está sendo
construída uma cultura de preservação e, principalmente, de sustentabilidade a partir
de encontros internacionais específicos para a discussão de matérias relacionadas à
valorização natural do planeta.
Gonçalves (1989) lembra que movimentos em prol da preservação ambiental
começaram a surgir a partir da década de sessenta, em consonância com o
questionamento social, político e cultural que emergia naquele momento. De acordo
com as indicações do autor, na década de sessenta, começam a aparecer outras
espécies de discussões, que não possuíam uma relação necessária com os modos
de produção. Nesse contexto é que se situam bandeiras pró–vida, que expressam a
raiz dos movimentos ecológicos. É aqui que se configuram os procedimentos contra
a extinção, contra os desmatamentos, a urbanização desenfreada, a erosão, a
poluição, etc.
Leal (2001) identifica a Conferência de Estocolmo, que se deu no ano de
1972, como um marco, sendo um evento que promoveu maior assimilação das
questões ambientais pelas Nações. Para o autor, desde então, vêm sendo
desenvolvidas em todo o mundo ferramentas jurídicas e institucionais com fins de
regulação das ações e políticas engajadas na preservação ambiental.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
9
No Brasil, de acordo com Gonçalves (1989), os movimentos ecológicos
ganham força na década de setenta, durante a Ditadura Militar. O país vivia então
um acelerado processo de desenvolvimento industrial, apoiado no capital
estrangeiro, que pouco estava preocupado com os prejuízos ambientais causados
pela força e amplitude desse processo. No entanto, o autor coloca que o
crescimento em nível internacional das pressões ambientalistas coloca exigências
que demandam significativa preocupação com o ambiente, a fim de assegurar as
captações dos investimentos. Desta maneira, a preocupação com as questões
ambientais no país começa a se desenvolver através da criação, por parte do próprio
Estado, de instituições para melhor gerência do meio ambiente, a fim de garantir o
investimento estrangeiro.
Deste então, o tema da sustentabilidade vem ganhando relevância estratégica
no contexto empresarial. Jabbour (2006) aponta que estratégias no sentido do
desenvolvimento sustentável podem, entrementes, implicar significativos ganhos
para a organização em relação ao cenário competitivo, em contraponto ao discurso
empresarial já mencionado, que fora majoritário na década de oitenta. Assim,
salienta o autor que ações de gestão ambiental tendem a diminuir o custo por
unidade produtiva em uma empresa, na medida em que há nessa postura uma
tendência à diminuição dos desperdícios, o estímulo à descoberta de outras fontes
de matéria–prima, de modo a induzir a reciclagem de materiais e a reutilização. Em
outras palavras, a gestão ambiental pode significar um melhor aproveitamento dos
materiais, de modo a reduzir o custo da produção.
O mesmo autor argumenta também que uma gestão ambiental pró–ativa
também incorre na minimização dos impactos ambientais e da eclosão de acidentes
ambientais. Esses fatores são importantes porque ajudam a garantir que a empresa
possa cumprir os prazos agendados para a entrega de seus produtos aos
consumidores. Além disso, o autor menciona que a flexibilidade de produção da
empresa também é aumentada a partir de estratégias de gestão ambiental, uma vez
que impulsiona a empresa para a prospecção de inovações ambientalmente
adequadas.
Uma boa gestão ambiental vem, então, assumindo uma posição estratégica
no mundo dos negócios, tornando–se fonte de lucros e garantindo seu lugar
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
10
competitivo. Para completar, segundo Almeida (1999), empresas que praticam a
responsabilidade social melhoram sua imagem frente aos consumidores e
investidores, na medida em que investem em sua reputação e aumentam sua
credibilidade, de modo a obter posição de destaque frente a organizações que não
estão comprometidas com problemas sociais. Assim, a responsabilidade
sócioambiental se configura como um importante diferencial competitivo a ser
adotado pelas empresas.
Nessa linha, a ACV apresenta–se como estratégia significativa à condução
dos processos produtivos. Isso se deve ao fato de a ACV constituir–se como uma
estratégia que leva em consideração as trocas ambientais ocorridas entre os
produtos em questão e o contexto no qual estas se configuram. A partir da análise
desses processos de troca, é possível então obter um quadro coeso que indique os
impactos ambientais decorrentes dos mesmos.
Dessa forma, pesquisas dessa natureza tendem a enriquecer a matéria
favorecendo a sua investigação. As questões do meio ambiente envolvem temas
controvertidos, na medida em que os enfoques de preservação e valorização
algumas vezes não coincidem em variadas frentes de trabalhos. Envolvem, na
realidade, debates relacionados com a posição dos diversos segmentos da
economia acrescendo–se a visão da própria sociedade.
Assim, o debate sobre estratégias e técnicas de gerenciamento ambiental
representa interesse tanto para o meio acadêmico como para a sociedade em geral,
de onde se justifica o presente trabalho por inserir–se dentro de uma ampla gama de
reflexões que pretendem distanciar–se da polêmica para uma perspectiva mais
equilibrada e coerente com os pressupostos da argumentação acadêmica, quais
sejam: a séria reflexão sem idéias preconcebidas, tendenciosas ou arbitrárias, de
modo a encontrar um mínimo de elementos concordantes que sejam suficientes para
a construção de uma cultura que contemple a todos os interesses envolvidos.
Quanto à sociedade, as contribuições do presente trabalho configuram–se
bastante claras: a legislação de um povo deve responder, também, aos valores e
cultura do próprio povo, de modo que é relevante esse diálogo entre sociedade,
pesquisadores e estudiosos do tema, o que pode beneficiar a todos.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
11
1.5. Metodologia de pesquisa
Trata–se de um trabalho de natureza exploratória e de caráter bibliográfico,
através da coleta de dados a partir de revisão bibliográfica, consultas a núcleos de
pesquisa na área, pesquisa de opinião junto a profissionais e entidades interessadas
no tema, além de sítios especializados existentes da WEB.
Sendo assim, a partir de levantamento bibliográfico, o estudo tem seu método
específico de trabalho apoiado na pesquisa exploratória, na pesquisa de opinião e
na apresentação de um “case”. A idéia é buscar uma primeira aproximação e
enfocar o tema pretendendo buscar meios à sua compreensão, para propor estudos
mais aprofundados nas questões mais preocupantes que possam surgir.
A pesquisa de opinião junto às pessoas que reúnem o conhecimento sobre a
metodologia ACV é realizada com o auxílio de um formulário estruturado de forma a
possibilitar uma avaliação de conceitos relativos às disposições contidas na
normatização referente, para cada fase de um estudo de análise de ciclo de vida.
Do formulário fazem parte as disposições estabelecidas pelas normas 14040,
14041 e 14042 divididas nas várias fases da metodologia e para cada disposição ou
grupo de mesmo contexto; conceitos sobre o grau de importância e outros para o
grau de dificuldade de execução, seguidos da natureza da dificuldade. O formulário
também apresenta ao público alvo a possibilidade de manifestação acerca das
disposições que mereçam comentários mais abrangentes, por se tratarem, na
opinião do profissional pesquisado, objeto de importância significativa para o estudo
ou de elevado grau de dificuldade de execução dada a sua natureza e estado da
arte.
Para auxiliar o alcance do objetivo proposto, é apresentado um exemplo de
implantação da ACV na empresa Natura visando ilustrar as várias fases de uma
aplicação e apresentar os resultados práticos da ACV, facilitando sua compreensão
e a interação com o tema da pesquisa.
Um capítulo específico destina–se ao detalhamento da metodologia
empregada no desenvolvimento do estudo. Portanto, a partir da caracterização dos
materiais e métodos empregados no desenvolvimento do estudo, compete definir–se
seu escopo estrutural, buscando a evolução gradativa do tema, no sentido científico.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
12
1.6. Estrutura da dissertação
O capítulo 1 destina–se à INTRODUÇÃO para apresentar a contextualização
temática de estudo referenciando–a em termos de objetivos e conceitos basais. A
partir daí, os capítulos subsequentes obedecem à evolução da matéria partindo–se
de uma explanação ampla no que concerne às questões ambientais discutidas em
todo o mundo até o surgimento da ferramenta ACV. Capítulos distintos procuram
não só explicar a ferramenta mas também compará–la com estruturas e
procedimentos similares, a fim de que seja possível o desenvolvimento de uma
análise sob visão crítica de sua aplicação e efetividade.
O capítulo 2, identificado como EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A
FERRAMENTA ACV, trata especificamente da revisão da literatura especializada no
assunto, apontando, preliminarmente, um breve histórico das questões ambientais,
os principais conceitos de impactos ambientais, origem e evolução, para então
caracterizar conceitualmente o ciclo de vida e a ferramenta relativa à sua avaliação
(ACV), sendo ainda consideradas a aplicabilidade técnica, as limitações da técnica e
toda a normatização que envolve o tema. Ainda nesse capítulo são enfocados
importantes conceitos ligados à questão da gestão do meio ambiente considerando
os princípios da ecoeficiência.
O capítulo 3, denominado ACV: DESCRITIVO E CARACTERIZAÇÃO Da
FERRAMENTA ACV, aborda os vários passos utilizados na técnica de ACV,
iniciando–se pela definição de objetivo e escopo, seguida das explicações sobre
análise de inventário, bem como de métodos de avaliação de impacto do ciclo de
vida, destacando–se EDIP (Environmental Development of Industrial Product),
Exergia, Emergia, CML 2 2000, Eco–Indicator 99, Ecopontos suíços e EPS 2000.
Apresenta, ainda, limitações e diferenças dos métodos de avaliação, além de
elementos opcionais de avaliação e interpretação de resultados.
O capítulo 4, denominado ACV NO BRASIL, é onde se apresenta a pesquisa
propriamente dita com foco na ACV no país, sua trajetória, sobretudo o projeto
brasileiro e os respectivos desafios enfrentados assim como os existentes e atuais.
O capítulo 5 versa sobre CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA
PESQUISA em que são apresentados os meios empregados no desenvolvimento do
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
13
estudo, considerando não só o tipo de pesquisa mas também a coleta e tratamento
de dados, além das possíveis limitações.
O capítulo 6 é específico à ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS,
apresentando, primeiramente, dados gerais bem como exemplo prático da
implantação da ACV na empresa Natura e uma pesquisa de opinião. A partir daí,
discute–se a matéria com visão analítica.
Ao final, apresentam–se as CONSIDERAÇÕES FINAIS E
RECOMENDAÇÔES. Após a discussão apresentada no capítulo anterior, neste item
do trabalho são destacados pontos conclusivos. Em seguida complementa–se o
trabalho de pesquisa considerando algumas questões importantes e de caráter
finalizador como as limitações e recomendações, além das sugestões para novas
pesquisas.
A idéia é a de apresentar os assuntos referentes ao tema em questão de
modo evolutivo, permitindo assim seu aprofundamento e estudo detalhado e
específico.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
14
Neste capítulo são apresentados os principais conceitos relacionados à
Avaliação do Ciclo de Vida, partindo–se do enfoque geral sobre o contexto ambiental
em voga, sua valorização e debates afins. A partir desse ponto, especifica–se o
conceito de ciclo de vida para então adentrar em pontos característicos do assunto.
O intuito é o de apresentar a visão dos principais teóricos do assunto sobre a
matéria considerando a evolução dos entendimentos até as referências atuais.
2.1. Questões Ambientais: Dos debates e eventos à Ferramenta ACV.
A degradação natural e espontânea do meio ambiente, por entre os tempos,
está relacionada às mudanças ambientais do planeta, incluindo–se aí a extinção de
raças animais e o desaparecimento de espécies vegetais e minerais. No entanto, a
partir do registro do ser humano no planeta as alterações nos ecossistemas são
percebidas com maior profundidade e rapidez, incluindo–se nessa afirmação, como
exemplos, a proliferação de doenças, a poluição do solo, ar e água, entre outros.
Às atividades essenciais para a sobrevivência do homem, no decorrer de sua
história, agregaram–se outras decorrentes da própria evolução da humanidade e
seu desenvolvimento, como, por exemplo, o emprego da metalúrgica com uso inicial
do cobre seguido pelo bronze e ferro. A produção de artefatos de metal data de
longos anos e desde essa época já se pode considerar o impacto ambiental,
evidentemente não na proporção encontrada hoje em dia.
Assim, considerando os estudos de Elliot (1998), merece comentário
específico a Revolução Industrial, que, a partir do Século XVIII, precipitou
verdadeiros impactos no meio ambiente. Com o desenvolvimento econômico, sob
esse enfoque as modificações no ecossistema, através de tecnologias poluentes e
impactantes, passaram a contribuir para os riscos ambientais. A situação é
agravada, conforme pontua Lima (2004), em face de o aumento de parques
industriais que sem projetos de implantação relativos às questões urbanísticas
locais, acabaram por resultar em acúmulo e concentração de resíduos e lixos em
solos despreparados ou em canais marítimos ou fluviais.
Esse cenário é intensificado com o aparecimento de locomotivas, navios a
motor e demais outras tecnologias com funcionamento à base de óleo diesel, que,
embora otimizassem os resultados dos ciclos produtivos em geral, afetavam
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
15
substancialmente os recursos naturais do meio ambiente. Daí em diante, constata–
se a permanente evolução da produção e avanços tecnológicos que conduzem o
homem a patamares elevados de confortos, praticidade, rapidez, etc. pautados,
contudo, em desenvolvimentos inconscientes acerca do caráter finito dos recursos
naturais do planeta. O crescimento dessa situação começa a criar uma nova
abordagem para o assunto e os impactos ambientais passam a gerar preocupações
em todo o mundo. (ANDRADE et al, 2002).
Constata–se, primeiramente, que a vivência de nações desenvolvidas
industrialmente provoca danos à natureza e ao meio ambiente, comprometendo a
extinção de recursos hoje vitais à sobrevivência do planeta. De certa forma, essa
experiência acaba por afetar os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, na
medida em que a destruição da natureza afeta diretamente a existência das futuras
gerações (BARBIERI, 2004). A partir daí, começam a ser discutidas as questões
ambientais.
Em primeira instância os debates surgiram de desentendimentos entre ambientalistas e desenvolvimentistas. Com a evolução das discussões a matéria foi amadurecida com a evidenciação de necessária integração de variadas frentes de negócio, a fim de que providenciassem medidas efetivas à contenção dos riscos ambientais (BARBIERI, 2004, p. 18).
Portanto, por volta dos anos 1960, os assuntos ligados à ecologia passaram a
ser tratados com mais evidência. Surgiram preocupações em torno de temas
interligados ao assunto como saúde e segurança. Diversos eventos de âmbito
mundial, realizados desde então, passaram a sinalizar o crescente interesse pela
questão. Começam a ser discutidos os termos de um desenvolvimento que preserve
a sustentação do planeta. A partir daí, inicia–se uma grande mobilização de
autoridades mundiais em prol de soluções ambientalmente melhores. Desde então,
várias são as conferências, encontros e ações nesse sentido (ELLIOT, 1998;
ANDRADE et al, 2002).
Pode ser considerada como início desse movimento uma Conferência sobre a
Biosfera, realizada em 1968 na França, onde compareceram especialistas em
ciências naturais de todo o mundo. Em seguida, segundo Inácio (1998, p. 42), o
Clube de Roma, no início da década de 70, publica informes em um documento
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
16
denominado "Limites do Crescimento", relatando impactos ao meio ambiente
provenientes de serviços industriais.
Esse documento destaca ainda as crescentes taxas de crescimento
demográfico em todo o mundo, sobretudo em países subdesenvolvidos. Prevê
ocorrências catastróficas para o próximo século, tais como envenenamento do ar e
das águas, escassez de alimentos devido aos impactos dos efeitos nocivos sobre a
agricultura e o esgotamento dos recursos naturais não renováveis resultantes da
exploração predatória (INACIO, 1998).
A idéia de que o desenvolvimento econômico deve estar compatibilizado com
o meio ambiente ganhou força na década de 70. Inúmeros eventos internacionais
foram organizados e contribuíram de forma efetiva para a consagração de um novo
modelo de desenvolvimento.
Seguindo a evolução dos acontecimentos, em 1972 um encontro para a
“Declaração sobre o Meio Ambiente Humano” reuniu na Suécia, Estocolmo,
autoridades e representantes de governos de todo o mundo para a discussão dos
problemas que assolavam o meio ambiente.
Esse evento pode ser considerado como um marco para a aceitação do
mercado em geral, liderado por desenvolvimentistas, sobre as questões de
preservação do meio ambiente. Na ocasião, inclusive, o assunto recebeu caráter
também social em decorrência da manifestação de Indira Gandhi, primeira ministra
da Índia na ocasião: "A pobreza é a maior das poluições" (INACIO, 1998, p. 42). No
entanto, a evolução desse princípio deveria propor modelos de gestão que
considerassem a harmonia entre desenvolvimento e a natureza, incorporando, no
ambiente de decisões empresariais e governamentais, os conceitos de
Desenvolvimento Sustentável, Responsabilidade Social, Atuação Responsável,
Qualidade de Vida e Sobrevivência Humana.
Da Conferência de Estocolmo resultou um documento contemplando 26
princípios sobre a preservação do meio ambiente. A partir daí surgiram diversas
instituições e grupos com o mote de defesa do meio ambiente. No âmbito das
Nações, alguns países como a França, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Finlândia e
Holanda, a partir desse evento, estabeleceram novas regras e legislações
ambientais. A Conferência também provocou ações em níveis organizacionais. As
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
17
empresas McDonald’s e Coca–Cola, por exemplo, introduziram normas de gestão
ambiental (SANTOS, 2005).
Já no começo dos anos 80, a ONU (Organização das Nações Unidas)
convocou a Comissão Mundial para assuntos do Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD) motivando a elaboração de um relatório sobre a qualidade do meio
ambiente, de abrangência mundial. Esse documento, o Relatório Nosso futuro
Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, sobrenome da ex–primeira–
ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, presidente da Comissão Mundial de
Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, ocasião em que o documento foi
redigido, definiu o conceito de desenvolvimento sustentável. O princípio é o de
atender às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as
futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas. Portanto, cada vez
mais “se tem consciência da necessidade de se buscar maneiras de preservar os
recursos ambientais, assim como formas alternativas de desenvolvimento com
preservação ambiental” (CMMAD, 1988, p 417).
O documento destaca a adoção mundial de políticas concretas e específicas
para questões ambientais como sendo imprescindível ao futuro do planeta. Chama a
atenção para a delimitação necessária entre tecnologia e o meio ambiente. Defende,
por consequência, a idéia de que a economia e a ecologia podem ser pensadas
juntas e, nesse sentido, instiga a inclusão do meio ambiente, juntamente com a
economia, nos processos de decisão.
A idéia de que a natureza é uma fonte de recursos finitos e não gratuitos
proporcionou um novo enfoque à economia e à exploração econômica. Constata–se,
hoje em dia, a necessidade de racionalizar e otimizar a utilização dos recursos
naturais dentro de uma visão de longo prazo, levando–se em conta os princípios da
conservação, reciclagem, poupança e precaução.
Seguindo na evolução dos conceitos voltados à preservação do meio
ambiente, em 1991, na Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do
Ambiente, foi divulgada a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
elaborada pela Câmara de Comércio Internacional (CCI). Esta passou a nortear as
empresas em relação aos princípios relativos à gestão do ambiente, representando,
portanto, um documento de importância vital para o desenvolvimento sustentável.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
18
Foram estipulados 16 princípios para orientação das ações voltadas ao
desenvolvimento sustentável.
A Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável elaborada pela
Câmara de Comércio Internacional (CCI), então, passou a nortear as ações
empresarias em relação às suas obrigações para com o meio ambiente. Portanto,
visando estimular o comprometimento pelo maior número de empresas possíveis, o
documento defende a idéia de que as empresas devem compartilhar sempre um
objetivo comum entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, tanto para
o momento presente como para as gerações futuras. Os 16 princípios propostos
para a gestão ambiental são:
Prioridade na organização; Gestão Integrada; Processo de Aperfeiçoamento; Formação de Pessoal; Avaliação prévia; Produtos e Serviços; Conselhos de Consumidores; Instalações e Atividades; Investigações (Pesquisas); Medidas Preventivas; Empreiteiros e Fornecedores; Planos de Emergência; Transferência de Tecnologia; Contribuição para o esforço comum; Abertura ao diálogo e Cumprimento de regulamentos e informações (ANDRADE et al, 2002, p.75).
A seguir encontram–se breves explicações sobre cada um desses princípios
que nortearam e norteiam até os dias de hoje os sistemas de gestão empresarial.
1. Prioridade na Organização: a Carta caracteriza o reconhecimento
da necessidade do gerenciamento ambiental como sendo a chave
para o desenvolvimento sustentável. A definição de políticas,
programas e práticas para condução das operações de forma
ambientalmente correta e segura é fundamental na construção de
um modelo de gestão.
2. Gestão Integrada: segundo o autor, a integração das políticas,
programas e práticas ambientais no negócio constitui elemento
essencial ao gerenciamento de todas as funções. Portanto, todas
as operações e processos devem ser administrados de maneira
integrada.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
19
3. Processo de Aperfeiçoamento: a Carta indica como fundamental
a melhoria contínua das políticas, programas e práticas do
modelo de gestão. A medida visa assegurar o aprimoramento do
desempenho ambiental, através de desenvolvimentos técnicos,
entendimentos científicos, identificação das necessidades dos
consumidores / expectativas da comunidade, baseados na
legislação vigente bem como em padrões universais.
4. Formação de Pessoal: a disseminação do conceito está
destacada nesse artigo da Carta, no sentido de formar, treinar e
motivar pessoal na condução das atividades de uma forma
ambientalmente responsável. Em outras palavras, pode–se definir
que os recursos humanos de uma empresa devem estar
totalmente comprometidos com as práticas da gestão ambiental.
5. Avaliação prévia: deve–se reconhecer como sendo de suma
importância a avaliação dos impactos ambientais antes de iniciar
uma nova atividade ou projeto em um determinado local, assim
como quando da desativação de instalações.
6. Produtos e Serviços: neste artigo devem ser estabelecidos os
procedimentos para desenvolver e prover produtos e serviços que
não produzam impacto ambiental e que sejam seguros de serem
utilizados, eficientes no consumo de energia e de recursos
naturais e que possam ser reciclados, reutilizados e descartados
em segurança.
7. Conselhos de Consumidores: a intenção é a de educar os
consumidores, distribuidores e público em geral acerca da
segurança de uso, transporte, armazenamento e descarte de
produtos, aplicando–se a mesma regra para serviços.
8. Instalações e Atividades: este princípio registra a necessidade de
desenvolver, projetar e operar instalações bem como de conduzir
atividades levando–se em consideração o uso eficiente de
energia e materiais, assim como o uso sustentável dos recursos
renováveis, a minimização de impactos ambientais adversos pela
geração de resíduos e a remoção responsável de resíduos.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
20
9. Investigações (Pesquisas): destaca–se a importância de conduzir
ou apoiar pesquisas sobre choques ambientais da matéria–prima,
produto, processo, emissão e resíduos decorrentes das
atribuições da empresa, bem como pesquisar os meios de
minimizar esses impactos.
10. Medidas Preventivas: como abordagem de precaução, esse
princípio busca a prevenção da degradação séria ou irreversível
do meio ambiente, mediante a adequação da fabricação e das
formas de comercialização de produtos, serviços ou atividades,
consistentes com o entendimento técnico e científico.
11. Empreiteiros e Fornecedores: partindo–se de um conceito de co–
responsabilidade, esse princípio prevê o incentivo à adoção dos
princípios da gestão ambiental, utilizados na empresa, pelos
terceiros prestadores de serviços, que atuem na organização,
através da orientação, recomendação e/ou sugestão de melhorias
em suas práticas, visando à consistência em relação às práticas
da empresa. A ideia é a de encorajar a plena adoção desses
princípios por todos os fornecedores.
12. Planos de Emergência: neste item a ideia é a da desenvolver e
manter, onde existam riscos significantes, planos de emergência
em conjunto com os serviços afins, autoridades relevantes e a
comunidade local, reconhecendo impactos potenciais que vão
além das fronteiras da organização.
13. Transferência de Tecnologia: este princípio prevê a contribuição
para a transferência da tecnologia ambiental e métodos de
gerenciamento do meio ambiente, através dos setores industriais
e públicos.
14. Contribuição para o esforço comum: como o intuito de valorizar a
consciência e a proteção ambiental, esse tópico destaca a
necessidade de contribuir para o desenvolvimento de programas
empresariais e de políticas públicas como também
governamentais e entre governos e, ainda, de iniciativas
educacionais, no sentido de cada vez mais formalizar a questão
da gestão ambiental.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
21
15. Abertura ao diálogo: a transparência com as preocupações é
considerada nesse tópico, como incentivo à abertura e ao diálogo
com o público e funcionários, antecipando–se e respondendo a
suas preocupações sobre os riscos potenciais e impacto das
operações, produtos, resíduos ou serviços, incluindo aqueles de
significância global.
16. Cumprimento de regulamentos e informações: a intenção neste
item é a de se ter previamente definidos os procedimentos para
medir a performance ambiental assim como conduzir auditorias
ambientais regulares e, ainda, avaliar o cumprimento das políticas
da empresa, segundo os aspectos legais e os próprios princípios
da gestão ambiental. Todos os dados devem ser disponibilizados,
periodicamente, aos diretores, acionistas, funcionários,
autoridades e ao público em geral.
O evento seguinte à confecção da Carta com o estabelecimento desses 16
princípios correspondeu à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (UNCED – ECO–RIO/92). Esta foi realizada na cidade do Rio de
Janeiro, em junho de 1992. Mais uma vez autoridades de vários países avaliaram
impactos e agressões ambientais, surgindo, então, propostas de acordos
internacionais para a recuperação e defesa do ecossistema, conforme comenta
Vieira (1997).
Esse evento resultou em dois importantes documentos:
a) Carta da Terra (Declaração do Rio): estabelecimento de acordos
internacionais para preservação dos interesses de todo o mundo
em prol da integridade do meio ambiente, reafirmando–se as
diretrizes do desenvolvimento sustentável.
b) Agenda 21: como um dos resultados da Conferência que gerou o
documento anterior, a Agenda 21 define ações ligadas ao
conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo o Ministério
do Meio Ambiente, esse documento visa conciliar métodos de
proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A
Agenda 21 indica que:
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
22
A sociedade precisa desenvolver formas eficazes de lidar com o problema da eliminação cada vez maior de resíduos. Os Governos, juntamente com a indústria, as famílias e o público em geral, devem envidar um esforço conjunto para reduzir a geração de resíduos e de produtos descartados (Agenda 21, 1992, p. 7).
Dez anos após a reunião do Rio de Janeiro, a Cúpula Mundial das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizou nova Conferência em
Johannesburgo. Nesse evento o conceito de desenvolvimento sustentável assumiu
novo paradigma, passando a integrar o crescimento econômico, o desenvolvimento
social e a proteção ao meio ambiente. Os principais assuntos abordados foram:
recursos hídricos, energia, saúde, agricultura e biodiversidade (BARBIERI, 2004).
De todas essas conferências surgiu o conceito de desenvolvimento
sustentável, definindo–se que a solução para as questões de impacto no meio
ambiente não estavam baseadas simplesmente no fato de tornar o desenvolvimento
mundial mais gradativo, mas sim orientá–lo para a preservação do meio ambiente e
para os recursos que não são renováveis.
A ECO Rio 92 pode ser considerada como marco na construção de novos valores nacionais e de alcance mundial sobre os cuidados necessários ao meio–ambiente (sic). Como evento de grande porte, congregou esforços para que realmente pudesse ser disseminado o conceito de sustentabilidade, até então, em amadurecimento nas pautas de discussões ambientais (VIEIRA, 1997, p. 47).
Dessa forma, o desenvolvimento sustentável necessário à gestão ambiental
prevê que as gerações atuais utilizem os recursos naturais, renováveis e não
renováveis, de forma a não comprometer o uso desses mesmos recursos por
gerações futuras (ANDRADE et al, 2002, p. 82).
A evolução dos estudos relacionados ao desenvolvimento sustentável
priorizou questões existentes, processos produtivos que de alguma forma eram
passíveis de geração de impactos. Na verdade, isso não ocorreu em todo o mundo.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
23
No entanto, alguns instrumentos e ferramentas passaram a ser construídos e
testados com o fito de corroborar o princípio da sustentabilidade.
Para essa compreensão importa destacar os conceitos revelados também ao
longo do tempo sobre impactos ambientais e as interpretações teóricas
desenvolvidas bem como as providências iniciais e em andamento.
Reforçando–se os conceitos e exigências de um desenvolvimento sustentável
defendido no planeta, conforme eventos e conferências já abordados, o avanço da
situação culminou com estudos mais detalhados sobre os impactos ambientais e
ferramentas que efetivamente poderiam contribuir à gestão dos mesmos, com foco
na redução e/ou evitação.
2.2. Impacto Ambiental: Principais conceitos, orig em e evolução.
Segundo aponta Oliveira (2000), a conscientização e a sensibilização com
respeito às questões ambientais remetem à percepção de que o desenvolvimento
urbano–industrial vem incorrendo em graves impactos ambientais, inclusive de modo
a comprometer a expectativa de existência e aproveitamento de recursos naturais no
futuro.
É dentro desse contexto que começam a surgir propostas e projetos com vista
à preservação ambiental, especialmente a partir da iniciativa de movimentos sociais
de inspiração ecológica, culminando no surgimento da Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA). Stamm (2003) informa que nos anos 50, alguns estudos
pretenderam encontrar meios de avaliar probabilidades e intensidades de impactos
provocados por processos industriais, sendo, contudo, dada ênfase ao bem–estar
social. Mas, as técnicas desenvolvidas na ocasião não se mostraram totalmente
eficazes, em virtude de não abrangerem todas as variáveis compreendidas em ciclos
produtivos variados. No entanto, 20 anos mais tarde, surgiu nos Estados Unidos
uma política ambiental nacional e foi por intermédio dessa política que se iniciou a
construção de um processo sistemático e estruturado de avaliação de impactos no
meio ambiente, podendo ser já conhecido como Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA).
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
24
A evolução da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) pode ser dividida em várias etapas. Inicialmente, na década de 1970, foram introduzidos os princípios básicos, arranjos institucionais, desenvolvidas as primeiras técnicas de condução da AIA e implementadas as primeiras legislações sobre o assunto. No final da década de 1970 e início dos anos 80, a Avaliação de Impacto Ambiental, que originalmente analisava os meios físico e biótico, passou a incluir progressivamente os aspectos sociais e de saúde, análise de risco e fatores relacionados com a participação pública. Em meados dos anos 80 e 90, o método foi redirecionado com aumento dos esforços para análise dos efeitos cumulativos, implementação de uma estrutura de planejamento e de regulamentação, estabelecimento do monitoramento, da auditoria e de outros procedimentos de retroalimentação (follow up). Na década de 1990 houve significantes desenvolvimentos nos métodos para Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). As maiores reformas foram feitas baseadas em sucessos na implantação deste tipo de procedimento na Austrália, EUA, Nova Zelândia e Canadá (STAMM, 2003, p. 22).
De fato, a AIA comparece como um poderoso instrumento de avaliação dos
impactos sofridos pelo ambiente, na medida em que é capaz de fornecer subsídios
para a sua gerência. Oliveira (2000, p. 42) menciona alguns dos motivos pelos quais
a AIA vem sendo um dos instrumentos de política e gestão ambiental mais aceitos
em todo o mundo:
a) possibilidade de incorporação, no mesmo processo de análise, de aspectos técnico–científicos, sociais, econômicos e políticos; b) adaptabilidade de seus princípios a situações legais e administrativas diferentes e, c) seu caráter democrático, tanto pela livre disponibilidade de informações sobre um projeto/empreendimento e seus impactos no ambiente, como pelo envolvimento e participação da sociedade nas decisões governamentais (OLIVEIRA, 2000, p. 42).
Nesse sentido, verifica–se que a AIA emerge como instrumento de
normatização do uso dos recursos naturais e econômicos a partir de uma
perspectiva sustentável, na qual é possível prever danos de maneira a minimizar o
impacto negativo da exploração dos recursos naturais.
A fim de compreender melhor como é possível o estabelecimento de
procedimentos de medição de impacto ambiental, faz–se necessário esclarecer
alguns pontos acerca do que seria mais propriamente o impacto ambiental.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
25
Oliveira (2000) lembra várias definições para aquilo que é denominado
“impacto ambiental”. Para o direito ambiental, por exemplo, a noção de impacto
ambiental atrela–se à idéia de choque, colisão entre substâncias – sejam estas
sólidas, líquidas ou gasosas – ou ainda, à radiação ou às mais diversas formas de
energia que emergem como resultado da realização de obras ou atividades que se
desdobram em uma dramática alteração no ambiente social, natural, artificial ou
cultural.
Já o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e
deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), em sua resolução
de n.1/86, artigo primeiro, considera o impacto ambiental como:
(...) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem–estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais.
Os impactos ambientais podem ser decorrentes de eventos naturais (por
exemplo, terremotos, tsunamis, etc.) ou de forças antrópicas, ou seja, a partir de
ações humanas. É importante frisar que o impacto ambiental não remete
necessariamente a condições adversas ou negativas – conforme será visto mais
adiante – mas também diz respeito a desdobramentos de cunho benéfico, de efeitos
positivos sobre o ambiente ou ecossistema em geral. Nesse sentido, o impacto
ambiental refere–se mais propriamente à noção de “intervenção ambiental”, que
pode se exercer de modo negativo ou positivo.
De acordo com Gomes, Palma e Silva (2001), as medidas de impacto podem
ser efetuadas nos mais variados níveis de organização dos seres vivos, desde o
subcelular passando pelo celular, pelo populacional e pelo ecossistêmico.
Segundo os mesmos autores, impactos que se efetuam nos níveis inferiores
de organização – ainda que nos níveis mais inferiores – podem repercutir nos níveis
superiores. Assim, efeitos que se dão em um nível subcelular, celular e populacional
repercutem nas estruturas das comunidades bióticas, o que pode inclusive acarretar
certa diminuição da biodiversidade e comprometimento do patrimônio genético local.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
26
No entanto, os autores frisam que nem todo impacto que se observa nos níveis
fisiológico, subcelular ou celular repercutirá no nível das populações em questão, de
maneira que são as análises da estrutura das comunidades e dos processos
ecossistêmicos que fornecerão um panorama mais exato do impacto ambiental.
A Resolução CONAMA 01/86 define três meios nos quais se exercem os mais
diversos impactos ambientais:
• Meio Físico – diz respeito aos subsolos, às águas, ao ar e ao
clima, considerando–se também os recursos minerais, os tipos e
aptidões dos solos, os corpos d’água, a topografia, o regime
hidrológico, as correntes marinhas e atmosféricas.
• Meio Biológico e os Ecossistemas Naturais – remetem à fauna e
flora, dando ênfase às espécies indicadoras de qualidade
ambiental, de valor econômico e científico, ou ainda, raras ou
ameaçadas de extinção. Remetem também às áreas de
preservação permanente.
• Meio Sócioeconômico – diz respeito às formas de uso e ocupação
do solo, da água e à variável sócioeconômica, sem negligenciar
os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da
comunidade em questão. Também diz respeito às relações de
interdependência existentes entre a sociedade local, os recursos
ambientais disponíveis e a probabilidade de utilização futura
destes recursos.
O autor lembra ainda os critérios mais amplamente utilizados como subsídios
para avaliação dos impactos ambientais, tendo como referência a Resolução
CONAMA 01/86:
• Discriminação dos impactos negativos e positivos (adversos e
benéficos);
• Avaliação da relação de causalidade entre a causa e o efeito do
impacto, desde os mais diretos, circunscritos pela relação
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
27
primária de causa–efeito, até os indiretos, remetidos a relações
secundárias de causa e efeito;
• Momento dos impactos (se imediatos, a médio ou a longo prazo);
• Sua duração: o impacto pode ser temporário, na medida em que
depende da atuação de sua fonte para se exercer. Em
contrapartida, também pode ser permanente, na medida em que
continua a se exercer mesmo após a cessação da sua fonte;
• Reversibilidade: critério que aponta se um impacto é reversível
ou irreversível, permanente;
• Amplitude de consequência do impacto, ou seja, a gravidade de
seus desdobramentos;
• Abrangência geográfica na qual se insere o impacto (se o
impacto é local, regional ou global).
A partir daí, pode–se considerar o desenvolvimento de um conjunto de
técnicas e instrumentos que compõem a AIA. Os sistemas de Gestão Ambiental
Empresarial são estabelecidos, na maioria das vezes, partindo–se do estudo do
impacto ambiental e do emprego de uma das metodologias AIA. No que se refere à
indústria, como está sendo visto no decorrer deste estudo, a ACV passou a ser uma
ferramenta, praticamente obrigatória e específica, para avaliações no ciclo de
produtos. É válido, portanto, reconhecer que ambas as abordagens seguem o
mesmo propósito, sendo hoje identificadas no mercado diversas técnicas que podem
ser adotadas em conformidade com a realidade que se pretende avaliar em termos
de impactos ambientais e possibilidades de redução e/ou eliminação na fonte.
Assim, ainda nos anos 90 a construção sistematizada de uma ferramenta de
avaliação do ciclo de vida de um produto fez–se evidentemente necessária. Tanto a
Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) como a International
Organization for Standardization (ISO) operaram nesse sentido, sendo a ACV
devidamente normatizada, como veremos mais adiante.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
28
2.3. A Avaliação do Ciclo de Vida: Breve histórico e principais conceitos
De acordo com Chehebe (1998), a empresa Coca–Cola pode ser considerada
a pioneira nos estudos sobre a análise de possíveis impactos ambientais causados
por produtos e suas embalagens. Como já vimos, a organização, ainda nos anos 70,
contratou especialistas em assuntos ambientais, Midwest Research Institute (MRI), a
fim de apurar a questão. A idéia era apontar, de modo quantitativo, o emprego de
recursos naturais e as emissões no processo produtivo. Surgiu, então, o REPA –
Resource and Environmental Profile Analysis, que podemos considerar como a
primeira identificação da atual denominação da Avaliação do Ciclo de Vida.
A partir daí os estudos cresceram nessa área, algumas variáveis foram
inseridas, passando o conjunto de processos do REPA a ser considerado um
sistema visto como padrão de referência para análises de avaliação de impactos
ambientais. Já na década de 90, à evolução do sistema agregaram–se aplicativos
específicos: os softwares Ökobase I e II. Passa então a tomar forma a ferramenta
ACV.
Barbieri (2006) afirma que a “A avaliação do ciclo de vida (ACV) é um
instrumento de gestão ambiental aplicável a bens e serviços. O ciclo de vida que
interessa à gestão ambiental refere–se aos aspectos ambientais de um bem ou
serviço em todos os seus estágios, desde a origem dos recursos no meio ambiente
até a disposição final dos resíduos de materiais e energia após o uso, passando por
todas as etapas intermediárias como beneficiamento, transportes, estocagens e
outras.
Prates (1988) conceitua a ACV como um processo de avaliação de produtos
ambientais associados a um sistema de produtos e serviços que permite identificar e
avaliar os impactos dos produtos no meio ambiente ao longo do ciclo de vida do
produto (desde a extração das matérias–primas produção, transporte, uso e
descarte após o uso). Cada uma das fases do processo produtivo é avaliada, sendo
que a profundidade dependerá da finalidade do estudo.
Manzini e Vezzoli (2002) definem a ACV como uma maneira de conceber o
desenvolvimento de novos produtos, tendo como objetivo que, durante todas as
suas fases de projeto, sejam consideradas as possíveis implicações ambientais
ligadas às fases do próprio ciclo de vida do produto (pré–produção, distribuição, uso
e descarte), buscando assim minimizar todos os efeitos negativos possíveis.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
29
Reforçando–se os conceitos da ACV e considerando exigências de um
desenvolvimento sustentável defendido no planeta, conforme eventos e conferências
já abordadas, o avanço nesse estudo ultrapassou as fases iniciais que,
preliminarmente, comparavam apenas a rotulagem ambiental, o que não atendia a
totalidade proposta, na medida em que se tratava de apenas um dos segmentos de
vida de um produto. Pensar o ciclo de vida em práticas empresariais, com o objetivo
de gerenciar sistematicamente o ciclo de vida dos produtos e serviços de uma
organização, fez–se necessário para promover padrões de produção e consumo
mais sustentáveis do que os que se tinha. Era necessário criar uma estrutura de
gestão flexível e integrada de conceitos, técnicas e procedimentos para abordar os
aspectos ambiental, econômico e social de produtos e serviços para as
organizações.
Estudar a definição específica de “ciclo de vida” requer algumas importantes
considerações. Esse termo dá a idéia de início e fim de algo, passando por etapas
evidentemente intermediárias. O ciclo de vida poderá ser de um produto–objeto,
como também referir–se a uma instituição ou estrutura organizacional. Para o
presente estudo observa–se principal atenção ao ciclo de vida de um produto, em
que, segundo Clark e Fujimoto (1991), há o estabelecimento de um conjunto de
fases sucessivas referentes a um produto e sua efetividade, ou seja, desde sua
criação/fabricação incluindo a extração da matéria–prima usada até seu ponto final
de desuso.
A Avaliação do Ciclo de Vida apresenta–se como técnica de gestão dos ciclos
de produção para a identificação de alternativas de interação entre processos.
Graedel e Allenby (1995), ao estudarem os princípios de uma ecologia industrial
inserida nas modalidades dos princípios ambientais definidos ao longo dos debates
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, apontaram para a questão
da avaliação do ciclo de vida como sendo premente aos processos de fabricação.
Para os autores, a avaliação deve levar em conta o ciclo de vida total, quer seja de
um produto ou mesmo de um processo ou ação.
Portanto, devem ser vistos, analisados e avaliados o processamento de
matérias–primas, a atividade de fabricação e, sobretudo, a logística inerente ao
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
30
mesmo, ou seja, a armazenagem, o transporte e a distribuição, acrescendo–se a sua
destinação final. Pode–se dizer que o ciclo refere–se à história propriamente dita.
Assim, a ACV refere-se a um método sistemático para avaliar e analisar
qualitativa e quantitativamente as propriedades de produtos e serviços e os fatores
impactantes ao meio ambiente. A partir dos estudos de Graedel e Allenby, (1995) é
possível construir um esquema que demonstre as principais fases do ciclo de vida
de um produto (Figura 1).
Figura 1 – Ciclos de Vida de um Produto
Fonte: Adaptado de Graedel e Allenby, (1995), p. 28.
Os autores consideram nesse esquema as diversas fases de fabricação e
vida de um produto. Começando pela extração da matéria–prima, que pode estar
relacionada à preparação de solo para plantação e cultivo como também estar
relacionada ao uso de algum recurso natural, ou à retirada do ambiente de petróleo,
por exemplo. Observa–se, assim, que as providências a serem consideradas no
processo de Avaliação do Ciclo de Vida são de fato bem iniciais. Deve–se
efetivamente considerar a origem da matéria–prima.
Retirada de recursos naturais
Fabricação de material
Fabricação de peças
Usinagem de materiais
Montagem de módulos
Montagem do produto
Revisão
Destinação final/Descarte
Uso pelo consumidor
Expedição Embalagem
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
31
A partir daí inicia–se outra fase, em que há o processamento da matéria prima
de modo que sejam fabricadas partes ou peças do produto para então ser fabricado
o produto propriamente dito.
Com o produto pronto inicia–se o processo de embalagem e da logística
referente à armazenagem, transporte e distribuição, culminando com o descarte.
Hoje em dia fala–se em logística reversa, sendo a responsabilidade pela destinação
final do produto de seu fabricante. Trata–se de um avanço nos debates ecológicos
acerca das questões ambientais, visando, dessa forma, otimizar os processos de
gerenciamento de resíduos (BARBIERI, 1997).
Pode–se depreender que, na realidade, a ACV considera um processo
minucioso, detalhado e, de fato, complexo, já que deve levar em conta variáveis
diversas. Portanto requer estruturação adequada, seu planejamento formal deve
prever fases distintas e sucessivas para que se tenha a idéia real do ciclo de vida de
um produto.
Para Mattos et al (2002), a ferramenta e sua disposição (Figura 1) favorecem
a interpretação de um sistema ou processo, facilitando a tomada de decisões em
fases distintas do ciclo produtivo.
Enfim, segundo Chehebe (2002, p.10):
“....a análise do ciclo de vida é uma técnica para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias–primas elementares que entram no sistema produtivo (berço) à disposição do produto final (túmulo).”
2.4. Usos e aplicações.
Em termos gerais, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de um produto se
refere a uma ferramenta de gerenciamento ambiental que possui a finalidade de
medir impactos ambientais e fornecer indicações acerca dos impactos potenciais
remetidos ao ciclo da vida desse produto.
De acordo com Caldeira Pires (2005), a Avaliação do Ciclo da Vida (ACV)
remete a um processo objetivo e pragmático capaz de oferecer uma compreensão
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
32
mais ampla acerca dos impactos referidos a um determinado produto, processo,
serviço ou outros tipos de atividades econômicas, em relação à saúde e ao meio
ambiente, abarcando todo o seu ciclo de vida – o que torna a ACV uma abordagem
ampla e com inúmeros horizontes de aplicação.
Nesse sentido, a ACV emerge como uma ferramenta avaliativa múltipla, que
pode ser utilizada em todos momentos do ciclo de vida de um produto, de modo que
a noção de seu impacto sobre o ambiente e sobre a sociedade se torna, por um
lado, mais abrangente, e por outro, mais precisa – o que é de grande serventia para
elaboração de estratégias direcionadas para a diminuição dos impactos ambientais e
orientadas para um desenvolvimento calcado na sustentabilidade e no respeito não
só às necessidades do homem, mas também da natureza.
Nesse contexto, a ACV (ACV–IBICT, 2008) permite que se faça uma
estimativa precisa acerca dos impactos ambientais que são abarcados pela
totalidade do processo produtivo, de maneira a considerar inclusive impactos que
são obscurecidos por outras metodologias tradicionais de análise. É em função da
consideração desses impactos, que de outra maneira poderiam passar
despercebidos, que a ACV implica uma perspectiva mais completa acerca dos
impactos ambientais decorrentes de produtos ou de processos e, também, de um
panorama mais completo sobre as trocas ambientais envolvidas na seleção dos
produtos.
Assim, para Chehebe (1997 apud EMERENCIANO et al, 2007), a ACV é uma
ferramenta que contempla a avaliação do ciclo da vida nos produtos inseridos no
sistema, sem negligenciar todas as etapas pelas quais estes passam, considerando
os impactos referentes a todo o processo – desde a simples extração de matéria–
prima até o uso e a disposição final do produto. Emerenciano et al (2007) lembram
também que, a longo prazo, a ACV é capaz de suscitar mudanças tecnológicas
essenciais no tocante à produção e ao produto em si, em função do “efeito
multiplicador ao longo da cadeia de produção, inclusive no uso otimizado de energia
e de materiais, através do emprego de processos de reciclagem e de reuso”
(EMERENCIANO et al, ibidem, p.3).
Sendo assim, o ACV emerge como uma ferramenta que confere aos
tomadores de decisão uma perspectiva mais ampla que lhes permite selecionar
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
33
processos e produtos que sejam menos danosos e impactantes em relação ao meio
ambiente, na medida em que fornece informações acerca da totalidade do ciclo de
vida do produto ou do processo. Em outras palavras:
A Análise do Ciclo de Vida é essencialmente um instrumento científico qualitativo e quantitativo, cobrindo todos os estágios do ciclo de vida e todos os tipos de impactos ambientais direcionados ao produto, objetivando: o levantamento, a avaliação e a interpretação dos aspectos e impactos potenciais envolvidos em todo ciclo de vida do produto. (EMERENCIANO et al, 2007, p.3)
Ao verificarmos o alcance da ACV enquanto técnica, observa–se que esta
pode configurar uma estratégia eficaz para a definição de políticas consistentes
sancionadas por instâncias governamentais, de modo a evitar que os impactos
ambientais sejam pulverizados para outras fases do ciclo da vida de um produto ou
serviço, minimizando as consequências negativas de seus impactos (ACV–IBICT,
2008).
Nesse sentido, governos, acionistas, concorrentes e consumidores – dentre
outros atores – vêm pressionando as instâncias responsáveis a minimizar os
impactos ambientais, especialmente aqueles situados para além da fase de uso do
produto. Assim, as situações às quais podem servir a ferramenta são as mais
diversas, incluindo: o desenvolvimento dos produtos; a escolha de tecnologias
envolvidas em sua produção; a identificação da fase do ciclo da vida em que os
impactos decorrentes desses produtos ocorrem; a seleção de indicadores
ambientais que sejam pertinentes à análise de projetos vinculados ao processo e à
reformulação dos mesmos (ACV–IBICT, 2008).
Emerenciano et al (idem) indicam ainda vários usos da ACV. Dentre eles,
citam–se aperfeiçoamentos dos produtos e processos produtivos; a possibilidade de
quantificação e comparação do desempenho ambiental de produtos; o auxílio à
tomada de decisões na indústria, no governo ou mesmo em ONG´s comprometidas
com o planejamento estratégico no tocante à demarcação de prioridades e também
ao desenvolvimento de processos e projetos. A ACV, segundo os autores, também
pode ser utilizada para fornecer informações concernentes aos recursos usados, às
emissões e também ao consumo de energia, bem como servir para fundamentar
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
34
estratégias de marketing que somam à empresa um diferencial competitivo, uma vez
que este diferencial revela comprometimento com o bem–estar da sociedade a partir
do uso sustentável dos recursos naturais. Os autores marcam também que a ACV
exige que as indústrias se abram mais para considerar questões ambientais que se
relacionem com a totalidade do processo produtivo. Tendo em vista essa ampla
gama de atuação, tem–se que:
Na verdade se trata de uma forte tentativa de integração da qualidade tecnológica do produto, da qualidade ambiental e do valor agregado para o consumidor, representando uma mudança estratégica importante. (EMERENCIANO et al, 2007, p. 4)
Com respeito ao marketing e ao diferencial competitivo conferido ao uso da
ACV, cabe situar a Rotulagem Ambiental, que consiste na diferenciação de um
produto ou serviço com vista a singularizá–los como comprometidos com a
sustentabilidade. Nesse sentido, a Organização Internacional de Normalização (ISO)
diferencia quatro tipos de rotulagem. O Tipo I remete à licença para o uso de rótulos
que indiquem que um determinado produto é preferível – a partir de considerações
sobre seu ciclo de vida – em relação a outros produtos da mesma categoria. Já o
tipo II se refere a autodeclarações ambientais formativas, enquanto o Tipo III remete
a programas que fornecem dados ambientais quantificados sobre um produto,
baseados na análise do seu ciclo de vida, e executados por terceiros. Por último, o
Tipo IV trata de rótulos ambientais monocriteriosos atribuídos por terceiros, que se
referem a apenas um aspecto do impacto ambiental, sem se basear no seu ciclo de
vida (ACV–IBICT, 2008).
Lima et al (2007) lembram que a ACV vem sendo uma ferramenta cada vez
mais requisitada pelo governo, especialistas ambientais, associações de
consumidores, autoridades, organizações ambientais e pelas indústrias. Os setores
da construção civil, de embalagens, de energia, da agropecuária, de mineração e o
setor químico, dentre outros, vêm se destacando no uso da ACV. Emerenciano et al
(ibidem) afirmam que a agroindústria vem utilizando o ACV para analisar diversas
questões ecológicas vinculadas à produção, ao consumo e ao destino final dos
produtos e serviços industriais e agrícolas, otimizando a produção e prezando pela
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
35
conservação ambiental. Tais medidas podem, segundo os autores, contribuir para
processos de tomada de decisão em relação aos insumos. Também na indústria de
embalagens esta metodologia vem se mostrando, comparando o desempenho
ambiental de caixas de papelão ondulado e de madeira para transporte e
acondicionamento de fruta, em que se verificaram os quantitativos inseridos no
balanço de massa do uso de tais produtos no transporte de frutas e hortaliças.
Emerenciano et al (idem) também mencionam que a ACV vem sendo utilizada
por indústrias de fabricação de extintores de incêndio, comparando a qualidade e os
aspectos ambientais referidos aos produtos.
Almeida D´Agosto, Mattos e Ribeiro (s/d) apresentam um estudo sobre o uso
da ACV na escolha e no planejamento do uso de combustíveis usados no transporte
rodoviário, no qual se verificou a recomendação de priorização de medidas
alternativas de energia, inclusive demandando novos estudos que levem em
consideração a realidade brasileira.
Verifica–se, portanto, que muitos são os usos e as aplicações do ACV, sendo
esta uma estratégia flexível e ampla, capaz de abarcar o estudo de diversos
contextos ambientais e de sistemas de produção.
2.5. Limitações da técnica.
Emerenciano et al (2007) apresentam várias barreiras ao uso da ACV. A falta
de incentivos fiscais por parte do Estado a fim de promover o uso da ferramenta, de
pessoal capacitado e de bancos de dados com informações sobre a ACV, de
insumos industriais essenciais tais como aço, energia, combustíveis, cimento, etc.,
são alguns fatores apontados.
Os autores afirmam ainda que a complexidade da ACV e sua demanda por
dados precisos compromete a utilização dessa ferramenta por pequenas e médias
empresas. Grandes empresas também podem ter problemas, uma vez que os
processos de produção são específicos e cada um deles demanda uma atenção
diferenciada. Assim, temos que:
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
36
Isto dificulta a coleta e o fornecimento de informações técnicas gerais, o que exige maior quantidade de pesquisas e esforços para aprofundar o conhecimento sobre o tratamento desses processos, levando, às vezes, à determinação de um limite do processo a ser estudado, não atendendo todo o processo produtivo como deveria acontecer. (EMERENCIANO et al, 2007, p.4).
Pnuma (2007 apud EMERENCIANO et al, idem), nesse sentido, lembra que
um estudo de ACV necessita de muitos recursos e pode ser bastante longo, o que
se torna uma barreira para as empresas, uma vez que muitas não podem custear tal
serviço. Nesse sentido, tem–se que uma avaliação minuciosa acerca das relações
de custo e benefício implicadas na utilização da ACV deve ser executada. É
necessário considerar os tipos de dados a serem pesquisados, o custo e o tempo
precisos para a realização de sua coleta e os recursos disponíveis para o
desenvolvimento do estudo.
Uma vez constatadas todas essas dificuldades, cabe mencionar que frente às
mesmas, a norma NBR ISO 14040 estabelece as limitações da ACV. Nesse sentido,
ela regulamenta os usos e os contextos que deverão estar atrelados à utilização de
tal ferramenta.
Vale lembrar que a norma aponta que a ACV não aborda os aspectos
econômicos e sociais implicados em um produto, o que limita o alcance dos
resultados de seus estudos.
Vários outros limites são delimitados pela norma:
• O elemento interpretativo necessário ao projeto aponta para o fato
de que as suposições sugeridas na ACV são de natureza
subjetiva, revelando “um certo grau de subjetividade decorrente
da necessidade de julgamento e discernimento por parte dos
especialistas encarregados da condução do estudo, como
também limitações de conhecimento científico disponível” (ACV–
IBICT, 2008, p. 1);
• Os modelos utilizados na análise de inventário e na avaliação de
impactos podem não se encontrar disponibilizados para a
avaliação de todos os impactos potenciais e aplicações;
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
37
• Condições locais não necessariamente reproduzem condições
globais, de modo que resultados de estudos de ACV
contemplando questões globais ou regionais podem não se
aplicar em aplicações locais.
• A carência de disponibilidade ou acesso de dados pode
comprometer os estudos da ACV, em função da má qualidade
dos dados, que pode se caracterizar como falhas, tipos de dados,
média, agregação, especificidades locais;
• A ausência de dimensões temporais e espaciais dos dados do
inventário utilizados para avaliar o impacto ambiental, de modo a
não ser possível, em última instância, oferecer uma certeza
acerca dos resultados do impacto. O grau de certeza ou de
incerteza se define, nesse sentido, pelas características
temporais e espaciais de cada uma das categorias de impacto.
Dadas todas estas limitações, que fazem da ACV uma ferramenta
inapropriada para uma série de contextos, a Norma NBR ISO 14040 recomenda
ainda que as informações desenvolvidas ao longo de um estudo de ACV sejam
apenas parte de um processo decisório mais abrangente, que abarque outras
alternativas e perspectivas. A mesma norma sugere também que a ACV seja usada
para configurar soluções de compromissos amplas ou gerais. A norma frisa ainda
que a comparação de dados entre estudos diversos de ACVs só é possível caso os
contextos de cada estudo sejam iguais.
Um último ponto a ser lembrado é que a ACV não pode avaliar de maneira
precisa se um determinado produto ou processo é mais ou menos eficiente tanto no
que tange aos custos quanto a outros fatores, uma vez que essa ferramenta não
mede impactos ambientais reais, mas sim impactos potenciais (ACV–IDICT, 2008).
Dessa forma, os prognósticos emitidos pelos pareceres dos avaliadores podem não
se concretizar ou se concretizarem apenas parcialmente.
Dessa forma, verifica–se que a própria complexidade e o grau de
profundidade atrelados à utilização da ACV – apesar de apontarem para a
excelência de seu uso – comprometem o alcance da técnica. Inclusive, alguns atores
que poderiam beneficiar–se da ferramenta, em função dos altos custos que esta
invoca, encontram–se impossibilitados de solicitá–la.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
38
Assim, ainda que já citadas as normas que disciplinam a aplicação de um
estudo ACV, necessário se faz uma incursão, ainda que não profundamente, ao
arcabouço de normas técnicas pertinentes ao assunto.
2.6. Normatização – A série ISO 14000.
Mattos et al (2002) explicam que a equidade dos procedimentos inerentes à
ACV são pretendidos pela série de normas ISO 14040. Estas determinam
parâmetros e critérios para uso da ferramenta, apuração de resultados e divulgação
dos mesmos.
A evolução do conceito de qualidade como alicerce das normas ISO culmina
com a busca irrestrita pela eliminação de erros e retrabalhos, desenhando–se um
novo cenário reconhecido como a Qualidade Total — QT (Total Quality — TQ),
também conhecido por Total Quality Management — TQM.
Trata–se de um modelo de sistema da qualidade agregando novos conceitos
ligados ao atendimento aos interesses e expectativas do cliente, além de
permanente atenção ao aprimoramento dos produtos e serviços.
Aliado a essa nova realidade surgiu a valorização dos recursos humanos
havendo o maior envolvimento, comprometimento e participação de todos os
funcionários, desde a cúpula até o menor nível funcional da empresa.
A idéia de um programa de qualidade prioriza questões além do simples
cumprimento de métodos e técnicas convencionalmente definidos. Trata–se
verdadeiramente de uma filosofia organizacional expressa através de ações.
Portanto, hoje em dia, estabelecer um sistema da qualidade não significa
aumentar ou reduzir a qualidade dos serviços ou produtos, mas sim aumentar ou
reduzir a certeza de que os requisitos e atividades especificados estão sendo
atendidos/cumpridos.
Destaca–se nesse processo de construção de um novo modelo de qualidade
a questão do enfoque, anteriormente voltado ao controle e garantia de qualidade,
para a gestão de melhoria de processos, com o intuito de assegurar a produção da
qualidade em todas as etapas do processo produtivo logo na primeira vez.
Prosseguindo com a evolução das práticas e desenvolvimento de programas
de qualidade, verifica–se atualmente, no contexto empresarial moderno, que a
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
39
qualidade não está somente direcionada à elaboração e fabricação de um produto
ou atrelada a procedimentos ligados à prestação de um serviço. De fato, observa–se
que a qualidade está inserida no cotidiano organizacional, permeando todas as
fases de um ciclo de produção, como também está presente em todo o planejamento
e execução de um serviço. Não se refere mais à qualidade de um produto ou serviço
em particular, mas à qualidade do processo como um todo, abrangendo tudo o que
ocorre em uma organização.
Nessa linha, verifica–se uma crescente busca pela qualidade que tem
agregado procedimentos específicos aos sistemas. Intensificou–se ainda mais a
proposta de existência de modelos de qualidade. Consequentemente, os mercados
e públicos–alvos (consumidores de todos os segmentos) gradativamente elevaram
seus padrões de exigência, dada a grande oferta de serviços e produtos totalmente
inspirados e confeccionados segundo os moldes de sistemas de qualidade.
Em decorrência disso, a competitividade entre empresas aumentou passando
a qualidade a ser praticamente considerada importante diferencial de
posicionamento e ranking de mercado, contribuindo decisivamente nos resultados
empresariais.
Nesse cenário, surge a necessidade de disciplina no assunto, como regras e
normas básicas a serem cumpridas e adotadas, visando a padrões mínimos de
qualidade. Inicialmente, com a intenção de fornecer ao mercado em geral uma
evidência tangível de preocupação com a qualidade, principalmente no que diz
respeito a mantê–la em todas as etapas de um processo produtivo, quer seja de um
produto mesmo, quer seja de serviços.
Posteriormente, agregou–se a essa questão o importante advento da
globalização, em que é imperioso o entendimento entre fornecedores e clientes,
países produtores e países consumidores. Isso em âmbito mundial. É importante
que todos tenham um mesmo vocabulário no que diz respeito, principalmente, aos
sistemas da qualidade. Não havendo essa preocupação, os produtos poderiam ser
gerados sem a preocupação com a qualidade, porém com padrões específicos de
cada local, que ao final poderiam estar bastante diferenciados entre si.
A fim de evitar conflitos dessa natureza, foram emitidas normas internacionais
sobre sistemas de gestão da qualidade, pela ISO (International Organization for
Standartization — Organização Internacional para Normalização).
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
40
A ISO é uma ONG (Organização Não Governamental) fundada em
Genebra/Suíça no ano de 1947. Com o intuito de facilitar o intercâmbio entre as
empresas de todo o mundo, o principal objetivo dessa entidade é o desenvolvimento
de normas padronizadas ligadas a atividade e serviços tendo como base as esferas
de entendimento intelectual, científica, tecnológica e econômica.
O emprego do termo ISO calca–se em sua etiologia enquanto palavra de
origem grega. Kvasnicki (2002) lembra que seu significado está associado à trilogia
Igualdade — Homogeneidade — Uniformidade, fornecendo a idéia de padronização.
De fato, em todas as línguas o termo ‘iso’ possui o significado de igualdade.
Cerca de 130 Países participam dessa ONG, o que significa praticamente 95
% da Produção Mundial. Kvasnicki (2002) informa a sua missão declarada:
“Promover o desenvolvimento da normalização e atividades relacionadas no mundo com vistas a facilitar o comércio internacional de bens e serviços e o desenvolvimento da cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e atividades econômicas”. (KVASNICKI, 2002, p.2)
A ISO funciona segundo as disposições dos Comitês Técnicos. Esses
Comitês têm respaldo e integração em cada país. A série 9000 de Normas da ISO
no Brasil, por exemplo, está sob a responsabilidade do Comitê Técnico das normas
NBR ISO 9000, CB 25, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Todas as Normas ISO são revistas no período de 5 anos, de modo a garantir
sua adequação e atualização permanentes.
Na verdade, a certificação pelas Normas da ISO pretende evidenciar o nível
de serviço prestado pela empresa auditada com a pretensão de certificação,
assegurando a padronização das normas.
A série 9000 das Normas da ISO relaciona–se aos sistemas de gestão da
qualidade em serviços. Existem também as ISO 8402 e 14000. A primeira é
exclusivamente voltada aos conceitos e terminologias da própria qualidade e a
segunda específica para o gerenciamento do meio ambiente.
Na elaboração das Normas ISO da série 9000 foi criado o Comitê Técnico
ISO TC 176. Kvasnicki (2002) afirma que foram estudadas e analisadas várias
normas de diversos países, incluindo o Brasil.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
41
As principais Normas estudadas, segundo o autor, foram:
• EUA: Normas MIL Q.9858 e MIL–I–45208;
• Reino Unido: Normas DEF. STAN. 0521; DEF.STAN. 0524; DEF.STAN. 0529, BS 5750;
• Canadá: Normas CZ 229.
Do estudo dessas Normas advieram, no ano de 1987, as Normas ISO 9000,
ISO 9001, ISO 9002, ISO 9003, ISO 9004 e outras.
Já a aplicação da qualidade à gestão ambiental é definida pela ISO da série
14000. Esta série da normatização ISO é oriunda do evento internacional conhecido
como ECO Rio 92 e já apresentado neste trabalho. Muitas empresas preocupam–se
com as questões ecológicas de preservação ambiental e em virtude desse tipo de
preocupação, bem como em função de atenderem à obrigatoriedade legal e, ainda,
com vistas ao destaque de suas imagens como empresas responsáveis, passaram a
adotar as Normas ISO da série 14000, que correspondem ao gerenciamento
ambiental nos padrões da qualidade, respeitando–se padrões internacionais de
desenvolvimento sustentável (VALE, 2000).
Com um início de desenvolvimento similar ao da construção das Normas da
série 9000, a ISO, no começo da década de 90 do século passado, começou um
estudo para elaboração de normas voltadas a ferramentas de gestão.
O Comitê Técnico TC 207 atuou nessa área desenvolvendo normas com
aplicações nos seguintes campos, segundo atesta Vale (2000):
• Sistemas de Gestão Ambiental
• Auditorias Ambientais
• Avaliação da Performance Ambiental
• Rotulagem Ecológica
• Análise em Ciclo de Vida
• Termos e Definições
O autor chama a atenção para o fato de que as Normas dessa série cuidam
fundamentalmente da questão ambiental, sem definir, entretanto, diretrizes e
políticas ambientais. As Normas da série ISO 14000 para questões ambientais são
assim compreendidas:
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
42
• SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
ISO 14001 – Especificações e requisitos: Esta Norma é um referencial para
as demais. Comparando–se à série 9000, está equiparada a 9001. Trata–se de uma
ferramenta gerencial para potencializar performances ambientais. É a norma
específica para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A
própria norma admite que esse sistema pode ser empregado pela empresa não só
com vistas à preocupação com as questões ambientais, mas também em função de
sua lucratividade. A mesma regra adotada na ISO 9001 no que se refere ao PDCA,
ou seja, Planejar–Fazer–Checar–Agir, princípios básicos e clássicos da
administração, são recomendados à construção do SGA, de modo, inclusive, a
assegurar medidas permanentes de melhorias e atualização.
ISO 14004 – Guia para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA). Refere–se a uma ferramenta interna de gestão e complementa as definições
da norma anterior. Essa norma trata efetivamente da prática dos princípios a serem
empregados nos Sistemas de Gestão Ambiental. Uma de suas atualizações,
inclusive, beneficiou empresas de menor porte, tendo em vista a nova
parametrização estipulada à documentação e introdução das diretrizes dessa norma.
• AUDITORIAS AMBIENTAIS
ISO 19011 – Diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade
e/ou ambiental. Esta é uma que pretende ter uma orientação flexível. Ela descreve
os princípios da auditoria. Estes princípios ajudam o usuário a entender a natureza
essencial da auditoria e são uma introdução necessária para:
• Orientar a gestão dos programas de auditoria e cobrir pontos tais
como designação de responsabilidade pela gestão de programas de
auditoria, estabelecimento dos objetivos do programa de auditoria,
coordenação de atividades de auditoria e disponibilização de
recursos suficientes para a equipe de auditores;
• Orientar sobre a realização das auditorias de sistemas de gestão
da qualidade e/ou ambiental, incluindo a seleção de equipes de
auditores;
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
43
• Orientar sobre a competência necessária a um auditor e descreve
um processo para avaliar auditores.
• ROTULAGEM AMBIENTAL
São Normas elaboradas com referência à rotulagem ecológica:
ISO 14020 – Especificações e requisitos: Nesta norma já pode ser constatada
a orientação para adoção da ACV. Trata das variáveis que podem intervir no meio
ambiente, portanto cumpri–la significa evidenciar o menor risco de impacto
ambiental.
ISO 14021 – Rotulagem Ambiental Tipo II: Semelhante à anterior, já
especifica declarações emitidas pelas próprias organizações, esclarecendo o
aspecto ambiental de um produto sem mencionar, todavia, a ACV.
ISO 14024 – Rótulo Ambiental Tipo I: Princípios e Procedimentos: Nesta
norma é estabelecida a recomendação da ACV para a caracterização do produto e
seus fatores de impacto ambiental.
ISO 14025 – Rotulagem Ambiental Tipo III: Princípios e procedimentos: A
norma trata de processos padronizados considerando a rotulagem a partir
especificamente de parâmetros da ACV.
• AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE AMBIENTAL
ISO 14031 – Definição de um processo de avaliação do desempenho
ambiental: Nesta Norma são sugeridos e exemplificados indicadores ambientais
como balizadores do processo de gestão. Esta norma efetivamente avalia se os
critérios estabelecidos no SGA foram cumpridos e se as metas previstas e os
resultados prospectados foram alcançados.
• CICLO DE VIDA DO PRODUTO
NBR ISO 14040 – Avaliação do ciclo de vida, princípios e estrutura: São
Normas que promovem a gestão integrada dos processos produtivos junto às
questões ambientais. Referências específicas a esta série são abordadas adiante.
• TERMOS E DEFINIÇÕES
ISO 14050: Esta é uma Norma específica de definição dos termos usados no
assunto gestão ambiental. Esta norma mantém–se atualizada a fim de que todas as
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
44
expressões relacionadas a SGA sejam entendidas por todos, promovendo–se assim
a padronização de termos.
Pelo acima exposto, nota–se que essa série de Normas é aplicável a
processos voltados às questões ambientais, ora estabelecendo requisitos
normativos para a implementação de sistemas de gestão, ora para a avaliação de
desempenho ou para demonstração da performance ambiental dos produtos e ou
das próprias organizações.
No que se refere à Avaliação do Ciclo de Vida, as normas brasileiras da série
ISO 14040 são empregadas como ferramentas de suporte para a respectiva gestão
ambiental. Trata–se de uma série que procura identificar a estrutura geral, além de
diretrizes que devem ser cumpridas na implementação e aplicabilidade da ACV.
Mattos et al (2002) apresentam um esquema (Figura 2) em conformidade com
a NBR14040, que deve alicerçar a ferramenta ACV.
Figura 2 – Fases de uma ACV (ABNT, 2001).
Fonte: Mattos et al, 2002, p. 12.
Todos os itens apresentados no esquema são contemplados pelas
respectivas normas. Nesse grupo encontram–se as seguintes normas:
Definição do Objetivo e
Escopo
Análise do inventário
Avaliação do impacto
Aplicações diretas: –Desenvolvimento e melhoria do produto;
–Planejamento estratégico;
–Elaboração de políticas; –Marketing;
–Outras.
Interpretação
Estrutura de Avaliação do Ciclo de Vida
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
45
ISO 14041 – Definição de escopo e análise do invent ário
Instrui e orienta sobre a definição clara do escopo, visando a garantir que o
estudo apresente de fato aprofundamento, detalhamento e especificidades a fim de
que se atinjam os objetivos determinados. Portanto também esclarece
minuciosamente os procedimentos e etapas concernentes à análise de inventário,
abrangendo coleta de dados e avaliações quantificáveis sobre o sistema de produto.
Importa considerar que a definição de objetivo e de escopo são as etapas
iniciais da ACV. Representam, portanto, a descrição do produto que será estudado,
avaliado e analisado, devendo conter, na aplicação, as pessoas que deverão
conhecer o processo. Na composição do escopo são apresentados os indicadores
considerados na quantificação do sistema, devendo caracterizar–se parâmetros
referenciais.
Da mesma forma a análise de inventário especifica, básica e essencialmente,
a coleta de dados e os cálculos processados e seus resultados. Portanto, obedecem
aos parâmetros referenciados na etapa antecedente. Alguns autores consideram
esta a fase que merece maior atenção para que sejam criteriosamente especificados
os fluxos do produto, suas características, etc. para que, nas fases seguintes da
ACV não haja equívocos em cálculos e avaliações de resultados.
Já em relação ao sistema de produto, faz parte, de certa forma, da etapa
inicial e acompanha as demais fases, já que a avaliação do impacto da ACV baseia–
se no desempenho ambiental de um sistema de produto já descrito.
ISO 14042 – Avaliação do impacto do ciclo de vida
Trata da construção propriamente dita do processo de avaliação, na medida
em que define os critérios e elementos para organização e estruturação dos dados,
a fim de que estes sejam classificados para então proceder–se às respectivas
avaliações quantitativa e qualitativa dos impactos ambientais potencialmente
apurados.
ISO 14043 – Interpretação do ciclo de vida
Apresenta–se a sistematização de procedimentos para identificação,
qualificação, conferência e avaliação dos dados e resultados do inventário, com
vistas às conclusões e recomendações finais.
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
46
ISO TR 14047 – Aplicação da ISO 14042
São apresentados exemplos da avaliação ACV para melhor assimilação da
norma ISO 14042.
ISO TR 14048 – Apresentação de dados
São traçados os padrões e especificidades técnicas para apresentação dos
dados, valorizando–se a transparência total das informações e evitando–se
equívocos.
ISO TR 14049 – Aplicação da ISO 14041
Utilizada para definição de objetivos e escopo e análise de inventário.
Da mesma forma que a ISO TR 14047, são fornecidos exemplos favorecendo
o entendimento da norma ISO 14041.
2.7. A Ecoeficiência.
A ecoeficiência é um conceito de gestão através do qual se pode relacionar
competitividade e desenvolvimento sustentável. Combina desempenho ambiental e
econômico para criar e promover valores com menor impacto ambiental possível.
Também pode ser entendida como a combinação de bens e serviços a preços
competitivos que satisfazem as necessidades humanas e proporciona qualidade de
vida, enquanto progressivamente, reduz–se o impacto ambiental e a intensidade de
uso dos recursos ao nível de consonância com a capacidade de suporte do planeta.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico define a
ecoeficiência como “a eficiência com a qual os recursos ecológicos são utilizados a
serviço das necessidades humanas” (OECD, 1994 apud Salgado, 2004).
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental
Protection Agency – EPA) apresenta a ecoeficiência como a habilidade de
simultaneamente atingir os objetivos de produção e custo com qualidade e
desempenho, reduzir impactos ambientais e conservar recursos naturais. Afirma que
a ecoeficiência permite às empresas tornarem–se mais responsáveis do ponto de
vista ambiental e mais lucrativas no âmbito econômico, incentivando–as a inovação
e à competitividade (EPA, 2000).
Como já visto, o WBCSD define ecoeficiência como:
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
47
“A Ecoeficiência é atingida quando a organização fornece produtos e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas, trazendo qualidade de vida, enquanto reduz progressivamente os impactos ecológicos e a intensidade do uso de recursos naturais, em todo o ciclo de vida, a um nível que, pelo menos, não reduza a capacidade de absorção do planeta”.
Para o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
– CEBDS, a ecoeficiência sugere uma significativa ligação entre eficiência dos
recursos (que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental.
Portanto, ecoeficiência é o uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de reduzir
os custos econômicos e os impactos ambientais.
Também se pode dizer que ecoeficiência implica saber combinar desempenho
econômico e ambiental, reduzindo impactos ambientais, mediante o uso mais
racional de matérias–primas e energia, a redução dos riscos de acidentes e a
melhora da relação da organização com as partes interessadas (stakeholders).
Necessariamente, seus elementos devem ser inseridos no processo produtivo, quais
sejam:
• Reduzir o consumo de materiais com bens e serviços;
• Reduzir o consumo de energia com bens e serviços;
• Reduzir a dispersão de substâncias tóxicas;
• Intensificar a reciclagem de materiais;
• Maximizar o uso sustentável de recursos renováveis;
• Prolongar a durabilidade dos produtos;
• Agregar valor aos bens e serviços.
A inserção de práticas ecoeficientes na empresa é uma forma de ultrapassar o
desempenho da concorrência. Segundo o BCSD Portugal (2000), para que a
ecoeficiência seja atingida é necessário que três conceitos básicos sejam aplicados:
• Redução do consumo de recursos naturais: isto inclui a
minimização do uso de energia, materiais, água e solo,
promovendo a reciclagem, a durabilidade dos produtos e a
redução dos desperdícios;
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
48
• Redução do impacto na natureza: isto implica redução das
emissões atmosféricas, lançamentos de efluentes, disposição de
resíduos e incentivos à reciclagem e ao reuso de materiais;
• Aumento da produtividade ou do valor do produto: significa
atender clientes fornecendo produtos mais flexíveis, funcionais e
que atendam objetivamente às necessidades dos clientes com
menor utilização de recursos.
Empresas ecoeficientes são aquelas que conseguem benefícios econômicos,
rapidez em seus processos e qualidade de seus produtos, com redução nos custos
associados aos desperdícios de água, energia e materiais, à medida que alcançam
benefícios ambientais por meio da redução progressiva da geração de resíduos
sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, inserindo em seu processo
gerencial o conceito de prevenção da poluição e de riscos ocupacionais (Sisinno e
Moreira, 2005).
Ainda em relação ao conceito de ecoeficiência, WBCSD (2000) e OCDE
(1998) incorporam a definição de indicadores capazes de medir o desenvolvimento
de um empreendimento de maneira ambientalmente sustentável, de modo a atender
as necessidades humanas e promover a qualidade de vida, enquanto reduz
progressivamente os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos
naturais, considerando a capacidade ambiental do planeta.
O WBCSD desenvolveu no livro Mudança de Rumo um conceito, que, ao unir
melhorias ambientais e econômicas, pudesse “criar um negócio a partir do desafio
da sustentabilidade”. Surgiu então o conceito de Ecoeficiência que reunia os
aspectos essenciais – progresso econômico e ambiental necessários para o
aumento da prosperidade econômica, a partir da utilização mais eficiente dos
recursos e de menos emissões nocivas para o ambiente (BCSD Portugal, 2000).
Empresas ecoeficientes são definidas no Changing Course como aquelas que
criam produtos e serviços mais úteis, ou seja, aquelas que acrescentam mais valor,
reduzindo progressivamente o consumo de recursos e a poluição. O objetivo era
mudar a concepção de que a indústria é parte do problema da degradação
ambiental (BCSD Portugal, 2000).
CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV
49
Além do WBCSD, outras instituições estudam a ecoeficiência, como a
Agência Européia para o Ambiente (European Environment Agency), que define o
termo como “mais bem–estar a partir de menos recursos naturais”. A agência tem
como meta utilizar os indicadores de ecoeficiência para mensurar o progresso rumo
à sustentabilidade em nível macro (LEHNI, 2000).
A abordagem da ecoeficiência enfoca a utilização adequada de recursos
materiais e energéticos, com o sentido de se reduzirem custos e de se maximizarem
lucros. Esse conceito de ecoeficiência, que adiciona valor aos negócios através de
uma adequada gestão ambiental, tem bastante atratividade para os empresários.
Empresas associadas ao WBCSD têm implementado indicadores e programas
voltados à melhoria da ecoeficiência, como, por exemplo, a publicação de
VERFAILLIE & BIDWELL (2000) – “Measuring eco–efficiency – a guide to reporting
company performance”, publicada pelo WBCSD em seu website.
No Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS) apresenta também em seu website alguns Relatórios de
Sustentabilidade Empresarial, publicados nos anos de 1997, 1999 e 2001, sendo
apresentadas as experiências de ecoeficiência das suas diversas empresas–
membro. Indicadores típicos de ecoeficiência são: consumo de água, energia,
matéria–prima e resíduos gerados por unidade de produto.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
50
Neste capítulo são apresentadas as fases que compõem a metodologia ACV.
Todas estão estabelecidas em normas documentadas cujos textos especificam os
requisitos e os procedimentos necessários para a respectiva aplicabilidade.
3.1. Definição de objetivo e escopo
Segundo a norma NBR ISO 14041, o objetivo e o escopo devem declarar de
maneira consistente a aplicação pretendida, sendo necessárias suas definições
precisas; também devem mostrar as razões que justifiquem o estudo e o público
para o qual se dirige.
A norma NBR ISO 14040 define que o escopo de um estudo de ACV deve
considerar os seguintes elementos: as funções do sistema de produto ou, caso se
trate de estudos comparativos, as funções dos sistemas, a unidade funcional, as
fronteiras do sistema de produto, o procedimento de alocação, o tipo de impacto e a
metodologia de avaliação do impacto, bem como a interpretação que daí decorre, os
requisitos dos dados, as suposições, as limitações, os requisitos da qualidade dos
dados iniciais, o tipo de análise crítica, caso esta seja aplicável, e, por fim, o tipo e
formato do relatório requerido para o estudo.
A NBR ISO 14041 lembra que o ACV é uma técnica interativa, ou seja,
conforme vão sendo recolhidos os dados, alguns aspectos do escopo podem ser
alterados a fim de atingir os objetivos do estudo. Mesmo o objetivo do estudo pode
ser modificado, em função de limitações imprevistas, restrições, ou como resultado
de outras informações.
Uma vez definido o escopo de um estudo de ACV, é necessária uma
declaração nítida acerca da especificidade das funções – características de
desempenho – do produto. A unidade funcional é o que define a quantificação
dessas funções. É utilizada para indicar uma referência que padronize os dados de
entrada e de saída. Assim, a unidade funcional, segundo a recomendação do NBR
ISO 14041, deve ser mensurável e definida.
Em seguida, deve–se quantificar a quantidade de produto necessária para
cumprir a função. O fluxo de referência emerge como o resultado dessa
quantificação. Este fluxo é utilizado para calcular as entradas e as saídas do
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
51
sistema. Uma mesma função deve servir de base para a comparação entre os
sistemas.
Já as fronteiras do sistema indicam que processos podem ser inseridos no
sistema a ser modelado. A princípio, a NBR ISO 14041 sugere que o sistema de
produto seja modelado de maneira que as entradas e saídas em suas fronteiras
sejam fluxos elementares. Entretanto, pode ser que não haja tempo hábil para
conduzir tal estudo. Assim, deve–se definir que processos elementares serão
estudados. Omissões acerca de estágios do ciclo da vida, processos de entrada e
saída devem ser justificadas e declaradas.
Vários estágios de ciclos da vida, fluxos e processos elementares devem ser
levados em conta, segundo a NBR ISO 14041. Por exemplo, as entradas e saídas
na sequência principal de fabricação/processamento; a distribuição; o transporte; o
uso e a produção de calor, eletricidade e combustíveis; a manutenção e o uso dos
produtos; a disposição dos resíduos dos produtos e dos processos; a recuperação
de produtos usados; a fabricação de materiais auxiliares; a iluminação e o
aquecimento.
A descrição de cada um dos processos elementares, de acordo com a mesma
norma, deve definir onde se inicia o processo elementar (com respeito aos termos de
recebimento de matérias–primas ou produtos intermediários) o tipo de
transformações que se dão no processo elementar e onde ele termina (em relação
aos produtos finais e intermediários). Também é preciso definir quais dados de
entrada e saída devem sem atrelados a outros sistemas de produto.
Quanto aos dados, eles vão depender do objetivo do estudo. Eles podem ser
recolhidos nas fronteiras do sistema ou na literatura.
As várias entradas e saídas de energia devem considerar, em todas as fases
relevantes para a produção e entrega dos combustíveis, energia vinculada a
insumos não energéticos e energia de processo utilizada no sistema de modelagem.
A NBR ISO 14041 lembra que emissões para a água, o solo e a atmosfera
representam frequentemente fontes pontuais ou difusas, após passarem por
dispositivos de controle de emissões. A categoria também deve incluir emissões
fugidias, quando relevantes. Os dados de entrada e saída também podem incluir
ruído, vibração, uso do solo, radiação, odor e perda de calor.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
52
No escopo, definem–se as entradas e saídas recomendáveis para rastrear o
ambiente, identificando–se os processos elementares de entrada e saída são
pertinentes ao sistema do produto que está em estudo. A identificação inicial deve
ser feita a partir dos dados disponíveis, mas a NBR ISO 14041 recomenda também
a inclusão de dados adicionais, quando possível. A norma sugere ainda vários
critérios que ajudam a definir quais entradas devem ser estudadas:
• Massa: o uso da massa como critério requer que o estudo inclua
todas as entradas que contribuem de forma cumulativa com mais
de uma porcentagem definida para a entrada da massa no
sistema de produto em modelagem.
• Energia: o uso da energia como critério requer a inclusão das
entradas que contribuem de forma cumulativa com mais que uma
porcentagem definida das entradas de energia no sistema de
produto.
• Relevância ambiental: critério em relação às entradas que
contribuam com mais de uma porcentagem adicional definida
para a quantidade de cada categoria isolada de dados do sistema
de produtos.
Os requisitos de qualidade dos dados devem ser especificados a fim de se
alcançarem os objetivos presentes no estudo. A NBR ISO 14041 recomenda que a
qualidade dos dados seja medida por critérios quantitativos e qualitativos. A norma
recomenda que os requisitos de qualidade dos dados sejam utilizados para os
parâmetros a seguir:
• Cobertura temporal: inclui a idade desejada dos dados e o
período mínimo de tempo para a sua coleta;
• Cobertura geográfica: remete à área geográfica para que se faça
a coleta dos dados dos processos elementares (como local,
regional, nacional, continental, global);
• Cobertura tecnológica: remete à combinação de tecnologias,
como, por exemplo, a média ponderada da combinação dos
processos pertinentes ao estudo, a melhor tecnologia que se
encontra disponível ou a pior unidade em operação.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
53
A NBR ISO 14041 lembra que indicadores adicionais que expressem a
natureza dos dados também devem ser considerados. Os seguintes requisitos
adicionais da qualidade dos dados devem ser considerados, dependendo da
definição do objetivo e do escopo:
•••• Precisão: é a medida de variação dos valores dos dados
expressos em determinada categoria;
•••• Completeza: trata da porcentagem de locais que relatem dados
primários com respeito ao número potencial existente para cada
categoria de dados em um processo elementar;
•••• Representatividade e consistência: trata da avaliação qualitativa
do grau em que um conjunto de dados expressa o universo de
interesse do estudo;
•••• Reprodutibilidade: remete à avaliação qualitativa da extensão, no
qual a informação sobre a metodologia e os valores dos dados
permitem que um outro reproduza os resultados encontrados no
estudo.
3.2. Análise do inventário
Trata da fase de avaliação do ciclo da vida que envolve a compilação e
quantificação de entradas e saídas para um dado sistema de produto no decorrer de
seu ciclo de vida. Segundo a NBR ISO 14040, esses dados podem ser interpretados
em função dos objetivos e do escopo da ACV.
De acordo com a NBR ISO 14041, a análise de inventário demanda as
seguintes etapas:
b) Preparação para coleta de dados: a norma recomenda várias
etapas para assegurar a compreensão mais precisa possível dos
sistemas de produtos a serem modelados. Recomenda que tais
etapas incluam o desenho de fluxogramas do processo específico
que delimitem os processos elementares a serem modelados,
inclusive as inter–relações. Também devem incluir a descrição de
cada processo elementar com a listagem das categorias de dados
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
54
vinculadas a cada um deles e o desenvolvimento de uma lista que
especifique as unidades de medida. Sugere–se também a
inclusão da descrição das técnicas de coleta de dados e os
cálculos para cada categoria de dados, o fornecimento de
instruções que documentem os casos especiais, irregularidades
ou outros itens vinculados aos dados fornecidos.
c) Coleta de dados: os procedimentos para coleta de dados são
variáveis, dependendo de cada processo elementar, da
composição e qualificação dos envolvidos no estudo e da
necessidade de atender aos requisitos de direito de propriedade e
de confidencialidade. Nesse sentido, recomenda–se que tais
procedimentos e razões não sejam documentados. A coleta de
dados, a fim de ser mais precisa, demanda uma descrição e o
registro de cada processo elementar, a partir das descrições
quantitativas e qualitativas das entradas e saídas pertinentes,
para a definição de onde o processo se inicia e acaba. Nos casos
de o processo elementar possuir múltiplas saídas ou entradas, os
dados necessários para o procedimento de alocação devem ser
documentados e relatados. Também as entradas e saídas de
energia devem ser quantificadas em unidades de energia, e,
quando for possível, recomenda–se que a massa e o volume de
combustível também sejam devidamente registrados. Caso os
dados sejam oriundos de literatura, é necessário indicar a fonte.
d) Validação dos dados: deve ocorrer durante o processo de coleta
de dados. Quando forem identificados dados faltantes, a NBR
ISO 14041 define que devam ser incluídos um valor de dado que
não seja igual a zero e que seja justificado; um valor de dado
igual a zero, se for justificado; um valor de dado calculado com
base em valores relatados e processos elementares que utilizem
tecnologia similar. A norma sugere também que os dados
faltantes sejam documentados.
• Relação dos dados com o processo elementar: cada processo
elementar deve ter um fluxo de referência apropriado, de modo
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
55
que os dados quantitativos de entrada e saída do processo
elementar sejam calculados com base nesse fluxo de referência.
• Relação dos dados com a unidade funcional e agregação dos
dados: considerando as fronteiras do sistema, os processos
elementares devem ser interligados a fim de que sejam feitos os
cálculos do sistema completo. Isso é feito mediante a
normalização dos fluxos de todos os processos elementares para
a unidade funcional. A norma também recomenda que o cálculo
forneça todos os dados de entrada e saída do sistema, fazendo
referência à unidade funcional. Recomenda–se também que a
agregação de entrada e saídas no sistema de produto seja
realizada com cuidado, da mesma forma que se recomenda que
as categorias de dados a serem inclusas sejam referentes a
substâncias equivalentes bem como a impactos ambientais
semelhantes. Se as regras de agregação tiverem que ser
detalhadas, deve–se justificá–las na fase de definição do objetivo
do escopo do estudo ou, ainda, sua avaliação deve ser feita após
a avaliação do impacto.
• Refinamento das fronteiras do sistema: as fronteiras iniciais do
sistema de produto devem obedecer aos critérios de corte que
aparecem na definição do escopo. A inclusão de dados deve ser
baseada em uma análise de sensibilidade, cujos resultados
podem ser:
• Alguns estágios do ciclo da vida ou dos processos elementares
podem ser excluídos em função da sua falta de relevância para os
resultados objetivados pelo estudo;
• Entradas e saídas sem relevância também podem ser excluídas;
• Outros processos elementares, entradas ou saídas podem ser
incluídos.
Todos os resultados dos processos de análises de sensibilidades têm de ser
necessariamente documentados, uma vez que esses procedimentos visam impor
limites aos dados de entrada e saída necessários ao estudo.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
56
3.3. Avaliação de impacto do ciclo de vida: Métodos
A partir de agora são descritas as metodologias mais usualmente adotadas
para avaliação de processos que causam ou são passíveis de provocar impactos
ambientais. Destacam–se, assim, no estudo alguns considerados como os
principais.
3.3.1. EDIP ( Environmental Development of Industri al Product )
Trata–se de um método de avaliação científica, desenvolvido na Dinamarca,
que hoje conta com alto grau de confiabilidade.
Prado (2007) aponta que as categorias indicadas pelo EDIP contemplam o
consumo de recursos (renováveis, não renováveis e energéticos) e os impactos
ambientais potenciais (incluindo aquecimento global, formação fotoquímica de
ozônio troposféricos, acidificação, eutrofização, ecotoxicidade e toxicidade humana).
Este método também permite uma avaliação dos efeitos ambientais com
respeito a sua área de abrangência. Assim, segundo o autor, o EDIP especifica o
tipo de área de abrangência de um impacto ambiental a partir da seguinte
classificação:
a) impactos de abrangência local: são oriundos de fontes
individuais relevantes, limitadas pela influência do impacto ou
pela vizinhança mais imediata da fonte;
b) impacto de abrangência regional: emergem a partir de fontes
difusas, não sendo possível seu rastreamento até um ponto
gerador específico. Isso pode ocorrer quando a fonte estiver
distante dos efeitos, ou em função de os efeitos serem
desdobramentos de uma interação adversa, referidas às
pequenas fontes que geram os impactos;
c) impacto de abrangência global: são os impactos que se fazem
sentir por todo o globo. O autor lembra ainda que as substâncias
remetidas a esse tipo de impacto tendem a permanecer no meio
ambiente por um tempo superior, quando em comparação com
as demais substâncias, fazendo com que aquelas tenham um
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
57
maior alcance de mobilidade – ou seja, as substâncias referidas
a um impacto global tendem a se espalhar pelo globo. São
incluídos aqui os grandes volume de emissões, e o autor
também frisa que a diluição dessas substâncias no meio podem
ocasionar efeitos em nível global, como é o caso do efeito estufa.
3.3.2. Exergia
De acordo com as indicações de Prado (2007), a exergia se define pela
máxima quantidade de trabalho mecânico internamente reversível que esteja
disponível em um determinado fluxo de matéria ou de energia no momento em que
esse se transforma a partir de um estado de desequilíbrio físico ou químico,
mediante a troca de calor com o ambiente, em direção a um ambiente–padrão de
referência. Tal ambiente de referência se define a partir da temperatura, da pressão
e da composição química presente. Nesse sentido, o autor frisa que comumente se
utilizam as condições normais de temperatura e pressão (273 K e 1 atm), a
atmosfera e a composição química mais estável que se encontrar no ambiente.
O autor aponta estudos que mencionam que a exergia total de uma dada
substância divide–se em cinética, física, potencial e química. A exergia cinética é
calculada em função do significado da velocidade, tendo como referência a
superfície terrestre. Já a exergia potencial mede–se através do nível de vizinhança
referido ao sistema em questão.
A exergia física é resultado das diferenças entre a temperatura e a pressão do
ambiente, e a exergia química se define mediante a diferença entre a composição
química padrão presente no ambiente de referência e a composição química do
sistema.
3.3.3. Emergia
Odum (1996 apud PRADO, 2007) afirma que o método da emergia
fundamenta–se na termodinâmica, na biologia e na teoria geral dos sistemas.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
58
Segundo Prado (idem), a emergia remete à totalidade de energia disponível
para que um determinado produto seja obtido, considerando os processos da
natureza e os humanos.
A emergia se refere, para o autor, à memória energética de um sistema, uma
vez que ela representa o total da energia incorporada de um sistema natural ou
antrópico. A sua unidade é a energia solar equivalente sej ou emjoul em j.
A emergia, completa o autor, é um método que contempla todas as fontes
exteriores a um ciclo (que podem ser renováveis ou não), as quais são consumidas
em diferentes processos. Assim, é possível comparar as quantidades de energia
consumidas em um processo com as suas eficiências respectivas.
3.3.4. CML 2 2000
Ferreira (2004) caracteriza o método CML 2 (2000) como um método multi–
fase, orientado para o dano incidente sobre o ponto final do mecanismo ambiental.
Trata–se de uma abordagem orientada para o problema (ponto intermédio no
mecanismo ambiental).
De acordo com o autor, para cada problema existem fatores de caracterização
quantificados, de modo que uma emissão que seja identificada no inventário é
convertida para o efeito de um problema ambiental a partir de sua multiplicação por
um fator equivalente.
O autor indica os modelos de caracterização recomendados para a
determinação de indicadores de categoria na ACV:
• Depleção de recursos abióticos: indicador relacionado com a
extração de minerais e combustíveis fósseis que entram no
sistema. A extração de minerais e combustíveis fósseis, que se
fundamenta na sua taxa de desacumulação e nas suas reservas,
determina o fator de depleção abiótico (ADP– Abiotic Depletion
Potential).
• Aquecimento Global: O potencial de aquecimento global (Global
Warming Potention – GWP) é expresso a partir dos fatores de
caracterização.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
59
• Depleção do ozônio estratosférico: define potenciais de depleção
do ozônio “Ozone Depletion Potential” – ODP) de gases diversos.
• Toxicidade humana: fatores que indicam toxicidade humana são
calculados a fim de descrever o destino bem como a exposição e
os efeitos das substancias tóxicas em relação a um horizonte de
tempo infinito.
• Eco–toxicidade aquática (água doce): descreve o destino, a
exposição e os efeitos oriundos de substâncias tóxicas em um
ambiente de água doce.
• Eco–toxicidade aquática marinha: descreve o destino, a
exposição e os efeitos decorrentes de substancias tóxicas em
ambientes marinhos.
• Eco–toxicidade terrestre: descreve o destino, a exposição e os
efeitos decorrentes de substancias tóxicas em ambientes
terrestres.
• Formação de ozônio fotoquímico: por onde são calculados
potenciais de criação de ozônio fotoquímico (Photochemical
Ozone Creation Potential) para a emissão de substâncias ao ar, a
partir do modelo de trajetória UNECE.
• Acidificação: o potencial de acidificação se expressa em kg
equivalentes de SO2/kg de emissão.
• Eutroficação: o potencial de nutrificação se expressa em kg
referidos ao PO4/kg de emissão.
3.3.5. Eco indicador 99
Segundo Ferreira (2004), o método Eco–Indicator 99 possui uma estrutura
modular, “na qual o bloco da componente das ciências naturais pode ser modificado
ou substituído para refletir diferentes sistemas de valor” (FERREIRA, 2004, p.51)
De acordo com o autor, quando o ACV identifica uma emissão, esta se
converte numa contribuição para a categoria de impacto, sendo multiplicada por um
fator equivalente. Nesse sentido, os resultados que se apresentam junto aos
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
60
indicadores de uma determinada categoria de impacto são calculados na fase de
caracterização e adicionados para formar as categorias de dano.
Nesse método, a ponderação e a normalização são executadas no nível
categoria de dano, de modo que é possível desdobrar esta categoria em três outros
níveis:
• Saúde humana: a unidade é a DALY – Disability Adjusted Life
Years. São consideradas aqui as diversas incapacidades
ocasionadas por doenças.
• Qualidade do ecossistema: unidade: “PDF * m2.yr; PDF–
“Potentially Disappered Fraction” de espécies de plantas. Refere–
se a população do ecossistema.
• Recursos: sua unidade é a MJ de energia adicional que se faz
necessária para compensar uma diminuição do grau de pureza do
minério, no futuro.
3.3.6. Ecopontos suíços
Segundo Ferreira (idem), trata–se de um método de avaliação quantitativo
que se dá em uma única fase, expressando os resultados da avaliação em
ecopontos que se baseiam nas relações entre o fluxo que pode se observar
atualmente e um fluxo que se considera como crítico. É um método fundamentado
na noção de saturação ecológica, indicando os limites de sustentabilidade de um
possível impacto.
Nesse sentido, as cargas são avaliadas mediante um indicador de saturação
ecológica, que é o “eco–factor”. É através da multiplicação de uma carga poluente
por seu ecofactor que se fornece o peso ecológico, que se expressa em pontos de
carga ecológica, ou ecopontos.
A expressão matemática da equação é:
Ecopontos = Σ Ecofactori x quantidade poluente
O autor lembra ainda que uma avaliação ecológica precisa dos seguintes
dados:
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
61
a) quantidade de emissões específicas;
b) emissões totais, ou consumo, em um espaço determinado;
c) emissão ou consumo máximo que pode ser admitido a uma
ameaça ambiental em espaço determinado.
A função matemática que determina o indicador de saturação ecológica ou
ecofactor é:
Onde:
F= fluxo atual de uma carga ambiental
C= 10 12 é um coeficiente adimensional, que serve para evitar
potências negativas de 10.
F k = carga ambiental máxima admissível (fluxo crítico).
F/F k é um fator linear que expressa a ponderação de uma carga
ambiental que se exerce sobre um setor ecológico determinado,
em função da razão entre a máxima carga admissível e a atual.
1/ Fk é um fator de normalização que expressa a necessidade de as
cargas ambientais serem normalizadas em função da carga total
considerada crítica para a área em questão.
3.3.7. EPS 2000
Ferreira (idem) afirma ser este um método de avaliação direcionado para
orientação de “designers” de um produto. O método se dá através da estipulação de
um valor para uma dada alteração ambiental. Também estima como a contribuição
gerada por uma determinada emissão, depleção de recurso ou outra atividade pode
alterar o meio ambiente.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
62
Os impactos remetem a cinco categorias: saúde humana, recursos abióticos,
capacidade de produção do ecossistema, biodiversidade e valores
culturais/recreativos. Os indicadores de saúde humana são a expectativa de vida, a
morbidade severa, morbidade e graus de incômodo. Os indicadores de recursos
abióticos são depleção de reservas minerais, elementais e fósseis. Os indicadores
de impacto da capacidade de produção do ecossistema são a capacidade de
produção de cereais, madeira, carne, peixe, água. Impactos na biodiversidade são
medidos pela extinção das espécies. Já os impactos culturais e recreativos são mais
complicados de precisar, uma vez que possuem uma natureza especifica e
qualitativa.
Ferreira (idem) apresenta três momentos desse método. O primeiro é a
classificação, onde emissões e recursos são remetidos a categorias de impacto. Os
impactos são, nessa fase, prováveis. A caracterização é a fase pela qual modelos
empíricos são usados para calcular valores de caracterização, e a ponderação é a
fase que remete à avaliação. Os fatores de ponderação expressam quanto se tem
disponível para pagar a fim de evitar alterações.
3.4. Limitações e diferenças dos métodos de avalia ção
O EDIP é um método que serve principalmente para avaliar o impacto
ambiental em áreas determinadas. Quando se pensa em uma escala global,
entretanto, alguns fatores são difíceis de determinar, especialmente quando se
considera que não se dispõe ainda de todas as informações referentes às
quantidades de recursos presentes no planeta.
O método de exergia mede fluxos de energia em meios físicos e químicos.
Entretanto, os limites do método podem ser localizados na limitação imposta pela
quantidade de recursos e materiais necessários. Assim, esse método pode não ser
funcional quando se tratar de escalas maiores.
A emergia pode ser aplicada nos mais diversos contextos, entretanto também
esbarra em problemas semelhantes aos atribuídos ao método da exergia.
Já o CML 2 2000 é um método a posteriori, ou seja, não é preditivo, focando–
se em impactos já ocasionados. Assim, apresenta–se primordialmente como medida
de minimização de danos e não como medida preventiva.
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
63
O método de Ecopontos esbarra na necessidade de dados muito precisos
para que os dados sejam devidamente quantificados, o que também pode se
constituir como um problema. Já em relação ao EPS 2000, a complexidade dos
pontos abarcados, especialmente quando se consideram elementos de ordem
cultural e recreativa, podem configurar um obstáculo para sua utilização plena.
3.5. Elementos opcionais de avaliação
De acordo com a NBR ISO 14042, o uso de alguns elementos na avaliação é
facultativo, dependendo do objetivo e do escopo do estudo. Estes elementos
opcionais consistem no uso de cálculo de magnitude dos resultados dos indicadores
de categoria vinculados às informações referenciais (normalização); no
agrupamento, que trata da ordenação e possível classificação das categorias de
impacto; ponderação, que trata da conversão e agregação dos resultados dos
indicadores mediante categorias de impacto que se valem de fatores numéricos
baseados em escolha de valores.
Por último, a análise da qualidade dos dados, apesar de opcional, fornece um
quadro mais amplo de compreensão acerca do grau de confiabilidade dos resultados
dos indicadores.
3.6. Interpretação dos resultados
Na última etapa da ACV, os resultados obtidos nas fases de inventário e
avaliação de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo
previamente definidos para o estudo (CHEHEBE apud VALT, 2004).
A norma ISO 14043 define um procedimento sistemático para identificar,
qualificar, conferir e avaliar as informações dos resultados do inventário do ciclo de
vida ou avaliação do inventário do ciclo de vida, facilitando a interpretação do ciclo
de vida para criar uma base onde as conclusões e recomendações serão
materializadas no Relatório Final (IBICT).
Os resultados da ACV devem ser interpretados à luz do objetivo e do escopo
do estudo. A interpretação deve considerar a qualidade dos dados, a análise de
sensibilidade das entradas, saídas, as escolhas metodológicas pertinentes, de
CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV
64
maneira a minimizar a incerteza dos resultados. Nesse sentido, é importante lembrar
que a ACV não é uma ferramenta capaz de oferecer um prognóstico com 100% de
certeza, inclusive em função dos elementos subjetivos envolvidos na sua
interpretação e julgamento.
A interpretação dos dados de inventário, segundo a NBR ISO 14041, deve
considerar se as definições das fronteiras do sistema, das funções do sistema e da
unidade funcional são adequadas. Também deve identificar limitações da qualidade
dos dados, mediante a análise de sensibilidade, conforme descrita anteriormente.
Importante lembrar que os dados obtidos sejam interpretados com cautela,
pois se referem a dados de entrada e de saída e não propriamente a impactos
ambientais. Recomenda–se, por isso, que outros estudos sejam feitos juntos ao da
ACV, a fim de obter uma compreensão mais ampla e precisa de todo o processo.
Apesar desses problemas, a interpretação da ACV pode minimizar graus de
incerteza e indicar caminhos a serem seguidos, em função de seus atributos
probabilísticos – apesar de estes não fornecerem um grau total de certeza.
Por fim, a norma recomenda que a avaliação dos dados, as análises de
sensibilidade, conclusões e recomendações efetuadas a partir dos resultados da
ACV devem ser devidamente documentadas. Dessa maneira, as recomendações e
as conclusões devem estar em consonância com constatações oriundas das
considerações anteriormente mencionadas.
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
65
Neste capítulo são apresentados dados específicos sobre o uso da
ferramenta em solo brasileiro – sua trajetória e a evolução que vem sendo alcançada
a cada dia quando de sua introdução nos planos empresariais, na maioria das
vezes, da iniciativa privada. Também são consideradas as bases atribuídas aos
projetos do ACV no Brasil.
4.1. Trajetória
De igual modo há demais segmentos que procuraram seus caminhos à
certificação pela qualidade, como a ISO e tantas outras, como a Acreditação na
saúde. As ferramentas inerentes ao meio ambiente, também calcadas na ISSO, têm
uma história peculiar de entrada no país, a partir de experiências voltadas a
pesquisas e estudos. Foi no meio acadêmico pesquisador em que a ACV brasileira
ganhou proporções, passando a ser mais conhecida no contexto empresarial.
O Grupo de Apoio à Normalização, conhecido por sua sigla GANA, no início
da década de 90 iniciou reuniões para debate sobre a temática, buscando
conceituá–la e integrá–la aos padrões de qualidade ambiental exigidos no Brasil.
Na verdade, os documentos até então produzidos pela lei brasileira, a partir
dos eventos mundiais pertinentes à gestão ambiental, englobavam, por
consequência, as questões relativas à segurança ambiental, sem, contudo,
determinar parâmetros claros e objetivos a serem cumpridos como também padrões
mínimos de impactos suportáveis e/ou recursos à minimização/evitação.
Entretanto considerando as diretrizes emanadas pela unidade de
desenvolvimento sustentável e meio ambiente da Comissão de segurança
hemisférica (2002), a segurança ambiental urge em todos os sentidos, sobretudo em
se tratando de saúde humana:
Uma e outra visão da segurança deixam antever os desafios ambientais como uma preocupação em potencial – embora a visão mais moderna atribua maior importância às questões ambientais em razão do seu impacto direto sobre a saúde humana e a estabilidade econômica e, certamente, sobre o desenvolvimento sustentável. (COMISSÃO DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA, 2002, p. 3).
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
66
Assim, a entrada da ferramenta ACV no Brasil priorizou a questão de
pesquisas voltadas à segurança. A idéia de segurança ambiental está ligada à
implementação de estratégias com bases científicas que garantam o tratamento dos
problemas ambientais com conhecimento científico e perspicácia política. Portanto, o
trabalho da segurança ambiental concentra–se, principalmente, em aspectos
técnicos, políticos e financeiros, com a criação de incentivos econômicos para
operações ambientais sustentáveis. As atividades apoiadas através dessa linha de
trabalho consideram os impactos do uso de recursos naturais, fontes energéticas e
tecnologias.
Sendo assim, a questão da segurança, segundo uma abordagem holística,
transcende as limitações da economia de mercado e de suas formas peculiares de
exploração de recursos materiais e humanos. Na verdade, a gestão integrada da
segurança e do meio ambiente não abrange simplesmente a implementação de
políticas de preservação e conservação, mas sim a formulação de princípios que
regulem os impactos dos ritmos de crescimento econômico com a taxa de uso e
destruição de recursos não renováveis. Revela–se, assim, como produto de um
contexto geográfico, ecológico e social, o que pode ser alcançado a partir do
emprego correto e adequado de ferramentas de gestão, como é o caso da ACV
(CALDEIRA–PIRES, 2005).
Embora se tratando da questão em âmbito nacional, importa mais uma vez
salientar que, como o assunto apresenta repercussão internacional, Elliot (1998)
discute a segurança ambiental, apontando que muitos autores refutam a sua
concepção por associarem o conceito ao pensamento estratégico militar. Entendem
que a questão ambiental em caráter internacional não pode ser vista dentro de uma
dimensão estratégica. Para esses autores, apenas os processos naturais bastariam
para fornecer elementos à compreensão dos fenômenos e suas consequências para
as unidades políticas. No entanto, a autora afirma que existe uma outra
interpretação que também associa o militarismo à questão ambiental e à segurança:
“trata–se, exatamente, da visão estratégica, que admite os recursos naturais como
vitais à sobrevivência da população de uma unidade política e que, portanto, reforça
o conceito de soberania das unidades na gestão de seus recursos” (ELLIOT, 1998,
p. 237).
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
67
A partir daí, pode–se pensar na entrada da ACV no Brasil. Entretanto
considerando–se, por exemplo, a gestão dos recursos hídricos, as bacias muitas
vezes transpassam os limites territoriais dos países, podendo gerar uma situação de
dependência de outro país para obter água e abastecer sua população, importando
mais uma vez conhecer a opinião da teórica especialista no assunto:
Diante da insegurança ecológica, países e população não podem estar seguros se o ecossistema não é seguro. Nem um nem outro vai ajudar a identificar o inimigo que objetiva violar a integridade territorial e a soberania do estado. O 'inimigo' não é o ambiente, mas as atividades cotidianas humanas e de corporações (ELLIOT, 1998, p. 237).
Seguindo por esse viés, Emerenciano (2007) informa que a ACV, por meio do
GANA, passou a ser consolidada em 1993, quando ambientalistas ativos decidiram–
se pela pesquisa específica da matéria com vistas à sua customização brasileira.
Após investigações específicas e verificações experimentais e de testes, em
1998, uma publicação especializada de um dos estudiosos ganhou o conhecimento
dos leitores brasileiros. Nesta, principais conceitos e formas efetivas de
gerenciamento através da ferramenta, sua aplicabilidade em diversos segmentos da
economia foram evidenciados. Em princípio com interesses baseados principalmente
na imagem da empresa e na adoção de medidas políticas, algumas organizações
procuraram priorizar o assunto, mas na realidade o mesmo carecia de rigor legal,
determinações tanto incentivadoras como fiscalizadoras de processos.
Assim, de acordo com as informações fornecidas por Kulay (2004), o GP2 foi
fundado na USP (Universidade de São Paulo) pretendendo delinear as experiências
voltadas às prevenções e impactos ambientais através da ferramenta em voga. O
grupo, conhecido como de prevenção da poluição, dedicou–se praticamente com
exclusividade à pesquisa da ACV e sua funcionalidade em face dos trâmites
vigentes no contexto empresarial do país. Algumas dissertações e teses foram
defendidas a partir desse estudo, além de inúmeras outras publicações científicas a
respeito.
Seo e Kulay (2006) explicam que o GANA foi substituído por um comitê oficial.
Este, o CB–38, foi constituído de acordo com as diretrizes da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), passando a ser o responsável pelos estudos,
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
68
pesquisas, auditorias, fiscalizações, orientações e consequentes certificações. O
Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental organizou os projetos da ACV, de acordo
com as diretrizes da ISO. Refere–se de fato a um comitê específico, como no caso
do comitê técnico responsável por demais certificações.
Seo e Kulay (2006) esclarecem que, atualmente, o CB–38 já opera com sub–
comitês, sendo o SC–05 específico para a manutenção atualizada de todas as
informações referentes à ACV. Na realidade, as Normas 14040 e 14041, abordadas
anteriormente, já são decorrentes de ações deste subcomitê.
Assim, as questões inerentes à ACV no âmbito da rotulagem ambiental,
escopo de pesquisa e avaliação, análise de inventário e demais parâmetros de
gestão da qualidade ambiental partem das discussões e análise desses grupos
(Comitê e subcomitê).
Hoje sendo a questão ambiental efetivamente levada a sério, constando da
agenda pública, importa ressaltar a necessidade de um empenho maior no sistema
atualizado de produção de estatísticas que demonstrem a evolução desse processo.
Não basta querer aderir a programas pré–formulados, mas sim atentar para o fato de
que as agressões ao ecossistema aumentaram ao longo dos tempos e alcançaram
situações catastróficas, como a própria alteração do clima que exige medidas de
combate às ações inconsequentes. É verdade que eventos transnacionais discutem
incansavelmente a matéria, mas é preciso, como lembra Lima (2007), que ações
concretas sejam empreendidas de fato no sentido de corroborar tais princípios já
defendidos e possivelmente assimilados. A ACV nessa linha, conforme defende Leal
(2005), precisa ser assumida no continente americano. No Brasil, de vastas
proporções geográficas e em momento desenvolvimentista, cabem ações
direcionadas a esse fim.
Entretanto, há uma certa dificuldade quanto à atenção aos sistemas
estatísticos nacionais para com o meio ambiente quando a sua deterioração é local
também é local o tipo de informação sobre as transformações físicas e sobre a
população atingida com a perda da qualidade de vida (LIMA, 2007).
Nos países desenvolvidos, diversos colaboradores como órgãos locais do
governo, instituições científicas ou ONGs têm se empenhado com o intuito de
produzir essas informações e os acelerados progressos na tecnologia de
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
69
georeferenciamento têm possibilitado aproveitar estatísticas socioeconômicas e
localizá–las da melhor maneira. Já nos países em desenvolvimento, os esforços
com sucessos ocorrem em pouquíssimas vezes. Sob os aspectos das
informações locais, é bom salientar que estas dificilmente são inclusas às
estatísticas sociodemográficas ou econômicas de qualquer país.
Nas pesquisas domiciliares várias perguntas são feitas, mas nunca perguntam
se o ar que a família respira é mais ou menos saudável, qual é a natureza da água
na rede de abastecimento, como está a saúde ambiental à nossa volta e outras
perguntas fundamentais para a vida da população. Ainda não há a prática de
sistematizar informações ambientais nos registros administrativos.
O censo de informações básicas municipais do IBGE, de 2002, pela primeira
vez introduziu informações ambientais criando uma linha de investigação renovada
e promissora. Com tudo isso, mesmo existindo no Brasil uma enorme qualidade de
sua produção estatística, os dados informativos gerados sobre a saúde de
ecossistemas locais deixam a desejar. Contudo, as transformações no contexto
natural continuam sendo oportunas para o conhecimento em meio ao seu
impacto sobre as estatísticas econômicas e sociais.
A integração das estatísticas ambientais ainda não se projetou notavelmente
nos sistemas estatísticos nacionais; essa situação agrava–se nos países
pobres ou em desenvolvimento, onde se observam maiores deficiências.
Ocorrem atualmente fortes processos globais além das agressões locais e
regionais, ferindo a natureza do planeta. Essa realidade ficou ainda mais grave
por falta de informações estatísticas.
Os países menos favorecidos não dispõem de um monitoramento adequado
da desertificação. As informações sobre a saúde dos oceanos são poucas, e são
precárias as informações sobre estoques e uso da água doce nos países
pobres e países em desenvolvimento. Já nos países desenvolvidos essas
informações são constantes.
Divulgam–se mais informações sobre a evolução da situação da camada
de ozônio, sendo que esta é mais estudada em comparação a outros
componentes ambientais.
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
70
Um problema de biodiversidade é o desaparecimento de espécies, que nos,
afeta com a perda irrecuperável de recursos oriundos dessas espécies para a
medicina, agricultura, etc., como também nos falta um profundo esclarecimento com
relação aos desequilíbrios ecológicos. Tais desequilíbrios, poderão acarretar a
extinção total das espécies. No que tange a essa ameaça, é inconcebível que a
ignorância seja peculiar em nossas mentes.
As estatísticas realizadas pelo IBGE em 2002, sobre os indicadores e
desenvolvimento sustentável, serviram de base para as ilustrações das
estatísticas ambientais no Brasil. Devido ao grandioso trabalho realizado pelo
IBGE e outros órgãos governamentais, como, INPE, IBAMA, EMBRAPA e
CETESB, além da ajuda das ONGs, a situação do Brasil, embora muito
precária em relação às necessidades reais e às proporções da demanda, está
acima da expectativa da maioria dos países.
Quanto à ACV, Seo e Kulay (2006) informam:
A mais nova das frentes de trabalho para a difusão da ACV no Brasil foi estabelecida em 2002, com a criação da Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV). Aberta à manifestação dos diversos segmentos da sociedade, essa instituição tem por missões a construção do banco de dados nacional para realização de estudos de ACV, a formação de massa crítica capacitada à sua prática e a manutenção dos vínculos com a comunidade internacional envolvida com o tema (SEO e KULAY, 2006, p. 9).
Os autores explicam que a criação dessa associação partiu de entendimentos
entre a iniciativa empresarial privada em acordo com o poder público e o campo de
estudos e pesquisas acadêmicas e científicas que a cada dia ganha mais adeptos.
Assim sendo, visando apurar a dimensão de investimento para o fomento
dessa ferramenta no Brasil, estudos continuam sendo realizados a fim de trazer para
próximo da vivência cotidiana sua implantação, com vistas à redução de custos,
inicialmente, orçados como de grande monta.
É válido, ainda, reconhecer que a assimilação da ACV no Brasil, na verdade,
procura alinhar as propostas de gestão ambiental defendidas no mundo, mas
evidentemente traz benefícios indiretos, no sentido da representatividade e imagem
das organizações brasileiras no contexto do comércio exterior, por exemplo na
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
71
medida em que passam a adquirir selos comprobatórios dos compromissos e
responsabilidades ambientais.
Não se pode, portanto, fechar os olhos a essa vertente que, certamente,
impulsionará o país a meios de concorrência em que são diferenciais qualificados e
competitivos os aspectos vinculados à preocupação e efetiva gestão por
minimização de impactos ambientais, com medidas compensatórias, renovadoras e
sobretudo voltadas à eliminação propriamente dita de atividade impactante,
passando esta a ser substituída por similares que não causem danos e prejuízos à
saúde humana.
Como já visto, as questões ligadas ao meio ambiente, por buscar sempre
soluções ou estratégias de conservação da natureza, evidentemente estão
relacionadas à saúde do planeta e seus viventes. A poluição, por exemplo, afeta a
biodiversidade, entre outros prejuízos. Essa situação afeta diretamente a saúde
humana, resultando no aumento dos índices de doenças, na maioria das vezes
respiratórias. Em alguns outros casos ressurgem doenças infecciosas, que em
determinadas ocasiões foram consideradas erradicadas.
No Brasil, a situação agrava–se cada vez mais quando em comunidades e
populações mais carentes, sem recursos ligados a infra–estruturas (favelas,
comunidade indígenas, onde doenças infecto–parasitárias estão mais presentes).
Certamente, o quadro de saúde está diretamente relacionado à mudança nos
padrões normais de sobrevivência e à interação com o meio ambiente natural. Na
medida em que o meio ambiente sofre interferência drástica, como queimadas e
desmatamentos, descarte inadequado de resíduos seja por meio terrestre ou
marítimo, consumo desenfreado de recursos finitos, etc., a saúde humana passa a
ficar comprometida. Soma–se a essas questões o próprio cotidiano, em que diversas
situações são vivenciadas sem muita atenção em relação à preservação ambiental.
Esse é o caso da poluição gerada até mesmo dentro de uma residência, que pode
contribuir para o surgimento de patologias.
Enfim, sendo uma área ainda pouco estudada e explorada, a ACV com seus
15 anos de desenvolvimento no país, por estudos e pesquisas, pretende interferir
nesse cotidiano problemático. Nessa linha, Seo e Kulay (2006) esclarecem que se
trata de “uma técnica conhecida, confiável e consistente” (SEO e KULAY, 2006, p.
11) que favorece a compreensão e o planejamento de ciclos produtivos, garantindo
às organizações nacionais os selos ambientais hoje bastante exigidos no mercado
internacional.
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
72
4.2. Projeto Brasileiro
Seo e Kulay (2006) informam que a ABCV passou a construir e gerir o Projeto
Brasileiro, concentrando–se em basicamente duas frentes de trabalhos. São
programas de formação de competências e de criação de banco de dados para
subsídios às pesquisas nacionais.
No programa que pretende formar competências são contempladas ações
voltadas à qualificação e especialização técnica (graduação e pós–graduação), com
disciplinas compatíveis com o desenvolvimento da temática, buscando desenvolver
e fomentar reflexões acerca do ACV (Life Cycle Thinking).
Nesse sentido, importa reconhecer que, atualmente, está sendo cada vez
mais exigido que as organizações se adaptem aos parâmetros ambientais com
procedimentos relacionados à preservação ecológica e, sobretudo, ao
desenvolvimento sustentável. Caracteriza-se, portanto, um segmento de trabalho
específico a essas tarefas, o que exige a qualificação e formação de profissionais
especializados no assunto.
Souza (2006) explica que “esse mercado de trabalho vem crescendo desde
1986, quando o Conselho Nacional do Meio Ambiente criou a Resolução nº. 001/86”.
Esse dispositivo legal determinou que os serviços passíveis de interferirem no meio
ambiente exigem um estudo prévio acerca de possíveis impactos ambientais, que
deve ser submetido e aprovado junto aos órgãos ambientais estaduais ou federais.
Com isso o autor acrescente ainda: “nas universidades, proliferam os cursos de
especialização e de mestrado que atraem desde biólogos, agrônomos e geólogos
até engenheiros e economistas” (SOUZA, 2006, p. 1).
Souza (2006) cita alguns importantes cursos na área destacando o mestrado
em Sistemas de Gestão, com opção para Gestão do Meio Ambiente, da
Universidade Federal Fluminense (UFF), além de mestrado e doutorado em
Engenharia Ambiental oferecido pela Coordenação de Pesquisa e Pós–graduação
em Engenharia (COPPE), além do mestrado profissionalizante em Controle de
Poluição Urbana e Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Existem, ainda, cursos de especialização em Planejamento Ambiental na UFF, além
de pós–graduação executiva em Meio Ambiente na UFRJ e especialização em
Saneamento Ambiental na UERJ.
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
73
Nos demais Estados do país, como em São Paulo cursos semelhantes já
foram autorizados ou se encontram em fase de credenciamento. Todavia, em uma
linha exclusiva à gestão empresarial com vistas à certificação ISO, por exemplo,
deveria existir uma formação mais específica aos respectivos profissionais
responsáveis, principalmente em se tratando de ACV.
Na verdade, em sua maioria possuem formação particular em administração,
são qualificados em sistemas de gestão e modelos, técnicas e métodos de
administração. Daí a idéia de que deveria existir um curso específico sobre gestão
ambiental no âmbito da administração de empresas, formando, dessa maneira,
profissionais especializados em lidar com a matéria sob o enfoque administrativo e
organizacional (DEMAJOROVIC, 2001).
De modo operacional, a criação de cursos de pós–graduação em gestão
ambiental apresenta características e estrutura administrativas, como esclarece
Oliveira (2006). O autor entende que os cursos lato sensu com enfoque em gestão
ambiental deveriam atentar para a efetiva aplicabilidade bem como oferecer opções
aos profissionais de diversas áreas de formação. Ele explica que, atualmente, os
cursos de gestão e planejamento ambiental priorizam, em sua maioria, capacitar o
profissional para a compreensão de ecossistemas (fatores bióticos e abióticos, nicho
ecológico, cadeia alimentar, pirâmides ecológicas) e, assim, caracterizar estratégias
de conservação das regiões na utilização de métodos controladores de
reconstrutores da flora, fauna e bioma.
Além disso, outros com especialização MBA em gestão ambiental, como é o
caso da Fundação Getúlio Vargas, tratam das medidas reguladoras de comando e
controle e estrutura de mercado, implementados pelo Estado como soluções de
autocontrole para promoção da conservação do meio ambiente. Já o MBA em
controle e gestão ambiental da Universidade Santa Cecília em São Paulo pretende
aperfeiçoar o profissional em administração do meio ambiente, focando
principalmente empresas da região e do grande ABC e priorizando estudo de casos
de indústrias locais. Quanto ao MBA em política e gestão ambiental do IETEC
(Instituto de Educação Tecnológica), prepara técnica e cientificamente os
profissionais para trabalhar em política e gestão ambiental pública e privada no que
se refere ao funcionamento do ecossistema natural, análise das variáveis
ambientais, sociais, tecnológicas e produtivas. O MBA em gestão ambiental da UNIG
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
74
(Universidade Iguaçu) objetiva a inter–relação de atividades produtivas de
organizações com o meio ambiente e a sociedade, através de informações técnicas
e administrativas concernentes a conceitos, técnicas, metodologias e procedimentos
da Gestão Ambiental, oferecendo uma visão sistêmica e multidisciplinar da
problemática ambiental e dos seus impactos no desenvolvimento, com o intuito de
proteção e preservação do meio ambiente.
Os demais cursos apresentam a mesma linha de trabalho e estudos,
conforme informa Oliveira (2006). Algumas pequenas variações são identificadas,
mas, segundo o autor, não existe em nível de especialização a dedicação exclusiva
e específica à qualificação em determinada ferramenta a ponto de que a expertise
se faça pela intensa investigação teórica e prática sobre a matéria.
É possível, assim, perceber como árduo e importante o primeiro programa
traçado pela ABCV, na medida em que lhe compete o desenvolvimento não só
técnico–profissional, no sentido amplo, mas também de cunho especializado no
emprego e aplicabilidade da ferramenta ACV.
De modo semelhante, a frente de trabalho da referida associação brasileira
corresponde à especialização da ferramenta, ultrapassando o enfoque amplo de
noções e conhecimentos quanto à sua aplicabilidade para envergar–se à condição
efetiva de uso e manipulação da mesma. Assim, Seo e Kulay (2006) elucidam o fato
de que a formação específica de especialistas pretende disseminar o
desenvolvimento da ferramenta nos cursos de pós–graduação com a especialização
de profissionais que poderão ser vistos ainda como representantes, defensores e
multiplicadores do assunto, visando–se à propagação de tais conhecimentos.
Considerando a pesquisa realizada por Oliveira (2006), não foram
identificados cursos de graduação e pós–graduação que tratem peculiaridades da
ACV. Seo e Kulay (2006) informam, então, que a intenção desse programa da ABCV
é exatamente modificar tal situação, preparando conteúdos programáticos a
disciplinas específicas baseadas na ACV. Tal propósito e efetividade interligam–se à
segunda frente de trabalho da associação que se prende à construção de um banco
de dados brasileiro.
Na verdade, quanto mais profissionais especializados no assunto
interessados em pesquisas, estudos, investigações e experiências, maior a
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
75
probabilidade de aplicação da ferramenta nas organizações brasileiras e nos ciclos
produtivos existentes em tais instituições, o que certamente contribuirá para a
construção do respectivo acervo de informações.
Em se tratando da segunda frente de trabalho da ABCV, associam–se
estruturas tecnológicas que pretendem disponibilizar material de modo rápido,
assegurando–se, todavia, sua consistência. Seo e Kulay (2006) definem esse
processo através da caracterização de fases distintas:
Preparatória: nesta são identificados os que têm interesse no conhecimento
da ferramenta, quer sejam pessoas físicas, quer sejam jurídicas. Uma breve
avaliação busca compreender o nível de entendimento desses interessados, sendo
então organizados eventos com teóricos especialistas internacionais a fim de
divulgar a tecnologia e mecânica de funcionamento da ferramenta.
Inventários: são elencados os pilares e itens importantes à construção de um
sistema próprio para o banco de dados nacional. Tal processo parte de subprojetos
que contam com os itens relativos a inventários, levantamento da situação atual,
resultados prováveis e possíveis de serem alcançados, aplicação da ferramenta e
cadastramento de resultados.
Manutenção: o banco de dados deve ser permanentemente atualizado,
devendo para isso serem efetivados inventários complementares, caracterizando–se
dessa maneira o avanço e o progresso do projeto, partindo–se assim para a
construção de modelos personalizados à realidade do Brasil e não somente à
incorporação de padrões e fórmulas, possivelmente, mais adequadas a outros
contextos internacionais.
4.3. Desafios da ACV no Brasil
Como pôde ser constatado na literatura especializada sobre a matéria em
âmbito internacional, considerando inclusive os parâmetros para certificação e os
estudos da especialização sobre o assunto em andamento no país, torna–se
interessante ressaltar que este está caminhando na direção de organizar de forma
própria a implementação da ACV. Seo e Kulay (2006) informam que uma parceria da
ABCV com o IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Tecnologia), órgão de
estudos e pesquisas do Ministério de Ciência e Tecnologia, pretende importar
CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL
76
informações especializadas, também através de alianças com outros órgãos
estrangeiros, sempre buscando a melhor e mais preparada qualificação dos
profissionais brasileiros.
Observa–se, nessa linha, que sendo a ACV sendo metodologia de avaliação e
trabalho propriamente dito, cabe ao país sua inserção em protocolos de exigências
de reduções e/ou eliminações de impactos ambientais.
Kulay (2004) defende o fato de que desde 1993 essa proposta vem sendo
discutida e consolidada através de encontros específicos sobre a problemática de
ciclos produtivos impactantes, com a apresentação da ACV como alternativa viável e
capaz de minimização dessa condição. Trata–se de uma perspectiva acerca da série
de controvérsias e problemas que se apresentam às operações das empresas
nacionais que já contemplam o SGA (Sistema de Gestão Ambiental), atendendo a
legislação em vigor e procurando certificar–se para assim adquirir portes
competitivos em ambientes de negócios estrangeiros, já que o comércio
internacional, como se sabe, prioriza e valoriza a cada dia mais produtos e serviços
ambientalmente qualificados.
O desafio brasileiro reside, dentre alguns fatores e variáveis já inseridas nos
parâmetros arraigados nos processos produtivos, em vencer paradigmas e
evidenciar a necessidade premente de evitar impactos e/ou reduzi–los na própria
origem, sendo a ACV ferramenta indicada a essa proposta.
Incrementar cursos de graduação e pós–graduação sobre a matéria é um dos
caminhos em percurso, assim como a formação e atualização constante do banco
de dados. Tais ações lançam ao país a condição de concorrer em ambientes de
negócios que já partem de tais pressupostos. Assim, é válido ainda acrescentar que
ao processo de internacionalização de empresas e representatividade internacional
têm de ser acrescidas exigências de cunho ambiental, que, apoiadas na ACV, têm
maiores chances de aceitação e êxito.
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA
77
5.1 Tipo de Pesquisa.
Segundo Vergara (2000), um modelo de pesquisa pode ser classificado
quanto aos fins e quanto aos meios de investigação.
5.1.1. Quanto aos fins.
O estudo a ser elaborado constitui uma pesquisa basicamente descritiva
conforme a conceituação por Vergara. Dado o desenvolvimento atual dos estudos
sobre a temática, há necessidade de “expor as características” do fenômeno, sem
“compromisso de explicar o que se descreve” (VERGARA, 2000, p. 47). Nesse tipo
de estudo, algumas “correlações entre variáveis” poderão, ser estabelecidas (Idem,
Ibidem).
A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e ordena dados, sem
manipulá–los, isto é, sem interferência do pesquisador. Procura descobrir a
frequência com que o fato ocorre, sua natureza, características, causas, relações
com outros fatos. Assim, para coletar dados utiliza–se de técnicas específicas,
dentre as quais se destacam a entrevista, o formulário, o questionário, o teste e a
observação (ALMEIDA, 1996, p. 104).
A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, dentre as quais se
destacam: a documental, de campo, de opinião, de motivação, os estudos
exploratórios, os estudos descritivos, o estudo de caso e a pesquisa histórica.
Com relação a seus fins, a pesquisa em tela também se define nos termos de
Vergara (2000) como “investigação explicativa”, pois pretende “tornar inteligível” e
esclarecer aspectos que contribuem para a compreensão analítica da metodologia
da ferramenta ACV.
A análise qualitativa da ferramenta ACV se dará apoiada na literatura
especializada, no “case” da empresa Natura e principalmente nos resultados da
pesquisa de opinião. Dentre os vários argumentos favoráveis à adoção de técnicas
qualitativas está o de que são particularmente úteis quando se pretende entender o
significado e a significância de situações complexas que envolvam conceitos
subjetivos (EASTERBY–SMITH et al, 1991).
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA
78
A pesquisa também se enquadra no paradigma fenomenológico ao assumir o
pressuposto básico de que o mundo e a “realidade” revelam significados e estes são
construídos pelo homem. Assim se desenvolverá “uma reflexão exaustiva, sempre e
contínua, sobre a importância, validade e finalidade dos processos adotados”
(MARTINS, 2001, p 24).
Segundo Roesch (1999), esse paradigma abrange características entre as
quais se encontra a de que o pesquisador deve interpretar as diferentes construções
e significados que as pessoas atribuem a sua experiência. Deve–se buscar
entendê–los sob prismas distintos. Parte–se de conceitos amplos que vão se
estreitando e consolidando em círculos hermenêuticos.
A respeito da hermenêutica, Vergara et al (1996) assim se manifestam:
O movimento dinâmico de interpretação e reinterpretação proposto pela hermenêutica permite que seja feita uma análise em múltiplos níveis da realidade observada (...) Em um primeiro nível de análise tem–se a realidade como ela é relatada (...) Em um segundo nível tem–se a visão e interpretação do pesquisador, nem sempre consoante com o que é relatado (...) Ainda um outro nível possível: o da interpretação da realidade pelo pesquisador à luz de autores que direcionam seus esforços (...) A utilização desses três níveis pode ajudar a entender os processos até aqui descritos (Vergara et al (1996) p. 213).
5.1.2. Quanto aos meios de investigação
No que concerne aos meios de investigação, o estudo se enquadra em
pesquisa bibliográfica, pois se trata de “estudo sistematizado com base em material
publicado e acessível ao público” (VERGARA, 2000, p. 48), visando a uma análise
do tema em profundidade.
Quanto à pesquisa de campo propriamente dita, pauta–se em publicações e
relatórios específicos e especializados de órgãos responsáveis pela implementação
da ferramenta no país. Utiliza também os resultados de uma pesquisa de opinião,
que, segundo Almeida (1996, p. 105), “visa identificar a opinião de uma comunidade,
constatar as falhas, descrever condutas e reconhecer interesses e outros
comportamentos, para a tomada de decisões”. Conforme Simões (2001), a pesquisa
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA
79
de opinião é aquela que busca informação diretamente com um grupo de interesse a
respeito dos dados que se deseja obter, utilizando questionários, formulários ou
entrevistas. A pesquisa de opinião é uma busca estruturada de informações, por
abordagens quantitativas e qualitativas e responde ao que as pessoas pensam de
um objeto social.
Ainda como meio de investigação, o trabalho é embasado na interpretação de
uma implantação de estudo de ACV em determinado sistema de produto do ciclo de
produção de empresa nacional. Apesar do exemplo dessa implementação não se
configurar em um estudo de caso, que, segundo Aaker et al. (2001) e Yin (2001)
apresenta a descrição e a análise abrangentes de cada situação e é particularmente
útil para a compreensão de situações complexas, a pesquisa descritiva foi utilizada
como referência, por se tratar de uma empresa de importância significativa e do
caráter científico da fonte, quando no processo comparativo com as informações
levantadas dos formulários.
Constitui uma estratégia válida o fato de o pesquisador se encontrar diante da
ocorrência de acontecimentos contemporâneos e de comportamentos relevantes
não passíveis de manipulação pelo próprio pesquisador, tendo este pouco ou
nenhum controle sobre a ocorrência de tais acontecimentos. Trata–se, portanto, de
uma investigação sobre os fenômenos ocorridos dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos (YIN, 2004 apud Cruz, et al 2005) e dependem, como já
explicitado, de uma interpretação hermenêutica típica do método fenomenológico.
5.2. Coleta de dados
Os dados para a pesquisa são coletados em conformidade com os objetivos
traçados. A obtenção de informações inerentes à percepção brasileira da
metodologia ACV será apresentada na forma de pesquisa de opinião e estudo de
caso, o que constitui uma estratégia válida, segundo Yin (2001), quando o
pesquisador pretende relatar dados contemporâneos.
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA
80
5.3. Tratamento de dados
Na investigação em causa, a análise hermenêutica dos dados será realizada
por meio de leituras sucessivas e registros cuidadosos das anotações feitas durante
os levantamentos e pesquisas. Observando o que ensina Tachizawa e Mendes
(2000, p. 46), cabe salientar que, além dos trabalhos de campo, a pesquisa
bibliográfica objetiva alicerçar o suporte teórico e conceitual da pesquisa para uma
comparação com os dados e informações colhidas. Dessa forma, poder–se–á
compreender, com base nos levantamentos realizados no estudo, o objetivo da
dissertação.
5.4. Limitações do Método
Além de se tratar de assunto cuja pesquisa e aprofundamento permanecem
em pleno desenvolvimento, podendo, portanto, ser considerado assunto
relativamente recente e em estudo, não existe um grande acervo a respeito.
Considera–se ainda que o método para tratamento de dados referente à análise
hermenêutica apresenta–se limitado à capacidade interpretativa do pesquisador.
Sua relevância caracteriza–se pela busca em explicitar claramente os significados
das informações e dados apurados por meio também de comparações. Contudo,
esse tipo de análise ainda revela alguma fragilidade, uma vez que envolve aspectos
subjetivos em sua condução.
Importa, portanto, compreender que a verdade hermenêutica leva em conta a
questão não só do significado como também do sentido, sendo aquele produto do
conceito geral.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
81
Pelo exposto até então, considerando a necessidade de instruir o presente
estudo com material elucidativo de tudo o quanto aqui foi informado em relação ao
tema e à necessidade de aprofundar ainda mais na investigação, apresentamos este
capítulo em três partes distintas, ou seja, na primeira delas, ainda que de forma
sucinta, prestamos informações relativas aos dados gerais da ACV no Brasil; na
segunda, apresentamos uma experiência de aplicação da ferramenta em empresa
nacional e, na terceira parte, uma pesquisa de opinião como meio de apresentar
uma visão dos profissionais sobre a metodologia de aplicação da ACV.
6.1 Apresentação de dados
6.1.1 Dados Gerais
Caldeira–Pires (2006) apresenta as iniciativas atuais no país sobre a ACV:
Institutos de Pesquisa: UFBa, UFMG, UFRN, UFSC, UnB, USP, CEFET–PR,
USPSCar/CCDM, Unicamp, CETEM, IBICT, INT, IPT, ITAL, TECPAR.
Banco de Dados: 35 dissertações de mestrado e teses de doutorado,
cadastradas na CAPES e no IBICT, além de duas publicações, sendo a primeira de
autoria de José Ribamar B. Chehebe, com o título de “Análise do Ciclo de Vida de
Produtos”, publicada em 1997 pela editora carioca Qualitymark, e a segunda
elaborada pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) e Instituto de
Tecnologia de Alimentos (ITAL), intitulada “Avaliação do Ciclo de Vida: Princípios e
Aplicações”, com publicação própria pela ITAL (São Paulo) em 2002.
Entidades civis: IDEC, DIEESE, ANPROTEC
Órgãos do Governo: MCT, MDIC, MMA, INMETRO
Empresas: Petrobrás, Eletrobrás, Nestlé, Natura, Daimler–Chrysler, Polibrasil,
BureauVeritas, Ford, CIESP, FIESP, BASF, Unilever, Suzano, CNI/IEL, SENAI,
SEBRAE
Caldeira–Pires (2006) ainda acrescenta que em 2006 existiam 6 empresas em
fase de implantação da ferramenta, sem, no entanto, identificá–las.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
82
A fim de complementar o levantamento, o autor apresenta dados sobre o
Projeto brasileiro de inventário do ciclo de vida para a competitividade da indústria
brasileira, que conta com a reunião em comitê das seguintes entidades: MCT, MDIC,
IBICT, INT, INMETRO, ABNT/CB38, ABCV, CNI, SEBRAE, Petrobrás, UnB, ABIPTI
(Anexo 1). Deste constam:
• Ações em “ACV” no IBICT/MCT a partir de 2001;
• PRÉ–PROJETO;
• COMITE GESTOR;
• Objetivos;
• Resultados paralelos;
• Período (expectativa 3 anos);
• Estrutura das Atividades Propostas;
• Fontes de financiamento do governo;
• Iniciativas em Andamento 2004/2005;
• Fontes de financiamento setoriais;
• Cooperação IBICT – Ekos – EcoInvent (Suíça);
• Fontes de financiamento diretos das empresas envolvidas;
• Projetos de Cooperação;
• Distribuição Institucional e Distribuição
• Espacial.
6.1.2. ACV na Empresa Natura
As informações apresentadas neste item do trabalho foram colhidas no portal
da empresa Natura na internet (www.natura.net/), a partir de sucessivas visitas a
várias páginas e ao conteúdo dos diversos Relatórios Anuais da empresa.
A Natura foi fundada em 1969, em São Paulo, com um capital inicial de US$
9.000. Possuía sete funcionários e um de seus sócios detinha algumas fórmulas de
cosméticos herdadas do pai. Em 1974, a empresa passou a atuar demonstrando
produtos sendo este o apelo principal de venda, quando então surge a figura da
“Consultora Natura”, que, na verdade, se tratava de revendedores.
Em 1979, a Natura já contava com 1000 consultoras e seu volume de
negócio já atingira U$ 5 milhões. Este período é considerado como a primeira fase
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
83
da instituição. De 1980 a 1989, seu volume de vendas foi ampliado 35 vezes mais,
aumentando sua linha de produtos e passando a dispor de 33.200 consultoras. A
partir da década de 90, a empresa se destacou com a profissionalização de sua
gestão, inaugurando a sua segunda fase.
Na segunda fase, com início em 1990, estabelece–se a profissionalização da
gestão através da instalação de uma fábrica em Itapecerica da Serra e com a
implementação de programas de inovação e de qualidade. Como resultado desse
impulso inicial, no período de 1993 a 1997, a empresa cresceu o seu volume de
vendas em cinco vezes, tendo como valor essencial o marketing de relacionamento.
Nesse último ano, a organização inaugurou novos métodos de produção e
interação com a clientela, visando à expansão da capacidade de produção.
Em 1999, a empresa passa a investir em infra–estrutura, possibilitando a
ampliação de seus projetos, inaugurando laboratório de produtos naturais: Flora
Medicinal. Conseguiu fazer esse empreendimento em meio à grave crise cambial,
que durou de 1998 a 2001, sofrendo o risco da estagnação. Mas, a partir de 2000, a
Natura deu início a sua terceira fase, caracterizada pela ênfase na responsabilidade
social, envolvendo a valorização de aspectos humanos e ambientais. Inaugurou
também um novo logotipo, uma nova marca e o slogan: “Bem Estar Bem”. Os seus
sistemas de gestão passaram a ser integrados com a tecnologia avançada, com
investimento na biodiversidade.
Em alguns países da América Latina, a empresa promoveu a reestruturação
das operações e instalou a tecnologia SAP (Systems, Applications, Products in data
processing), um sistema avançado de informação, que integra toda a empresa de
modo a colaborar com a otimização dos processos organizacionais. Também
recebeu diversas premiações em recursos humanos, tornando–se uma das
empresas do setor de cosmético mais em evidência. No ano de 2000 também criou
a linha Ekos, incorporando em seus produtos cosméticos a biodiversidade brasileira,
através de insumos coletados nos recantos do Brasil.
Desde então, passou a caracterizar–se por sua responsabilidade ambiental,
divulgando suas estratégias para colaboração ao desenvolvimento sustentável não
só da empresa, mas de regiões em que atua. Uma visão geral da aplicação da ACV
é apresentada no Anexo 2.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
84
6.1.3. A Pesquisa de Opinião
Para o desenvolvimento deste trabalho de análise crítica da ferramenta ACV,
dentre outros meios de investigação, também foi realizada uma pesquisa de opinião
entre os profissionais que já utilizaram a metodologia ACV além de outros
estudiosos do assunto.
A pesquisa de opinião do tipo “avaliação por conceitos” consiste na
identificação de posicionamentos, tendências, percepções e aceitação que
determinado público possui sobre uma determinada técnica, produto, serviço,
empresa ou sobre qualquer outro tema. A pesquisa de opinião é uma excelente
ferramenta para detectar o ponto de vista dos diversos segmentos da sociedade,
sendo um instrumento eficaz para reconhecer falhas em estratégias das mais
variadas naturezas.
O questionário de múltipla escolha foi desenvolvido para auto–preenchimento,
contendo, para cada uma das fases, as principais disposições da metodologia para
realização de um estudo de Avaliação de Ciclo de Vida – ACV .
A figura 3 a seguir apresenta a estrutura do formulário, demonstrando os
requisitos para preenchimento, informações básicas para a pesquisa e as fases da
metodologia, sem, no entanto, apresentar as disposições normativas em detalhes.
Figura 3 – Estrutura do formulário
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
85
Como critério para a escolha das pessoas a participarem da pesquisa, definiu-
se o requisito de terem pesquisa científica na área (tema) ou experiência de uma ou
mais aplicações reais de estudo ACV. A escolha se deu a partir de uma seleção dos
nomes dos profissionais constantes no sítio do CNPQ, na Plataforma Latte, através
do link http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar. Um
cuidado maior foi selecionar alguns profissionais que atuam em empresas
renomadas e outros da academia, mas que estejam envolvidos com ACV. Uma vez
selecionada a amostra, o contato ocorreu via eletrônica (email), apresentando dentre
as informações, o objetivo da “pesquisa de opinião”, sua importância para a
pesquisa científica e o questionário. A amostra foi composta por cerca de trinta
indivíduos, dos quais sete responderam, perfazendo um total de 23% de
respondentes com relação ao total amostral.
A pesquisa foi respondida por profissionais que desenvolvem suas atividades
nas seguintes organizações e entidades de ensino: USP – Universidade de São
Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos; Fundação Espaço ECO – BASF;
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Curitiba; ITAL –
Instituto de Tecnologia de Alimentos; Centro Universitário SENAC – Área Ambiental;
UNIP – Universidade Paulista e DANONE BRASIL. Todos os profissionais figuram
como participantes da comunidade ligada aos estudos de Análise de Ciclo de vida, o
que pressupõe terem bom conhecimento da metodologia ACV para validação da
pesquisa.
Como resultado obtido cabe apresentar:
6.1.3.1. Na fase de Definição de objetivo e escopo do estudo .
Nesta fase, a metodologia estabelece que seja declarada uma série de
informações para a clara e inequívoca aplicação do estudo. Nesse sentido, para
fazer a declaração da aplicação pretendida, as razões para conduzir o estudo e o
público alvo, a pesquisa demonstrou que 71,4% classificaram esses requisitos como
“Muito importante ” e 28,6% apenas como “Importante ”. Quanto ao grau de
dificuldade para cumprir o requisito, 14,3% responderam ser “Difícil ” e 85,7% como
“Pouco difícil ”. Uma diferente dificuldade apontada na pesquisa, ainda que muito
pequena, é o registro de desconhecimento do interlocutor sobre esses requisitos.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
86
A metodologia exige também que sejam definidas e declaradas as funções do
sistema de produto ou, no caso de estudos comparativos, os sistemas. Neste
quesito a pesquisa demonstrou que todos os participantes consideram “Muito
importante ”, sendo que 57,1% deles classificam como um requisito “Difícil ” de ser
atendido e 42,9% restantes como “Pouco difícil ”. Aqui 14,3% afirmaram que, para
cumprir os requisitos, há dificuldades de natureza metodológica, 14,3%
consideraram que as dificuldades são de natureza tecnológica, 14,3% atribuíram as
dificuldades ao desconhecimento do interlocutor, 28,6% indicaram a falta de dados
e os 28,6% restantes não apontaram a natureza da dificuldade.
Definir e declarar o sistema de produto a ser estudado e a unidade funcional é
outro requisito da metodologia e foi assim avaliado: 71,4% consideraram–no como
“Muito importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto ao grau de dificuldade, 42,9
classificaram os requisitos como “Difícil ” e 57,1% consideraram–no “Pouco difícil ”.
Segundo 37,5% dos pesquisados, são de natureza metodológica as dificuldades
encontradas para cumprir esses requisitos; 12,5% indicaram dificuldades de ordem
tecnológica, 12,5% apontaram dificuldades pela falta de capacitação das pessoas
responsáveis, outros 12,5% citaram a falta de dados e 25% não apontaram
dificuldades.
As fronteiras do sistema de produto são outra definição que deve ser definida
e declarada. Nesse requisito apurou–se que 85,7% dos pesquisados julgaram a
informação “Muito importante ” e 14,3% consideraram–na apenas “Importante ”.
Apenas 14,3% classificaram a definição das fronteiras do sistema de produto como
“Muito difícil ”, 42,9% entenderam que essa definição pode ser classificada como
“Difícil ” e o restante em igual proporção como “Pouco difícil ”. Ao verificar os
resultados quanto à natureza da dificuldade, a metodologia foi apontada por 25%
dos pesquisados, a falta de dados por 50% deles, sendo que 25% não informaram a
natureza da dificuldade.
Outro requisito que a metodologia ACV estabelece, na fase da definição de
objetivo e escopo é a necessidade de definir os procedimentos de alocação para a
realização do estudo. Nesse quesito, 42,9% definiram essa tarefa como “Muito
importante ” e 57,1% consideraram–na apenas “Importante ”. Como no requisito
anterior, aqui também 14,3% entenderam ser de “Muito difícil ” realização, enquanto
85,7% a definiram como de “Difícil ” realização. A maioria, 55,6% dos pesquisados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
87
informaram que a dificuldade é de caráter metodológico, 22,2% citaram a falta de
dados como elemento de dificuldade para a definição dos procedimentos, outros
dois grupos de 11,1% assinalaram a falta de capacitação e a tecnologia disponível
como dificuldades para cumprir com o requisito normativo.
Também são exigidas, nesta fase, a definição e declaração dos tipos de
impacto, a metodologia de avaliação de impacto e a interpretação a ser usada no
estudo. A pesquisa, dentre os profissionais e acadêmicos participantes, quanto à
importância dessa informação resultou que 71,4% a consideraram “Muito
importante ” e 28,6 “Importante ”. Aqui existe certo equilíbrio de opiniões no tocante
ao grau de dificuldade para atender ao requisito, considerando que dois grupos com
28,6% classificaram como “Muito difícil ” e “Difícil ” e 42,9% definiram–no como
“Pouco difícil ”. Ao verificar a distribuição da natureza das dificuldades aqui
apontadas temos que 44,4% assinalaram a questão metodológica como maior
problema, seguida de iguais proporções de 22,2% para falta de dados e falta de
capacitação. Apenas 11,1% deixaram de indicar a natureza da dificuldade.
A metodologia também estabelece que os requisitos dos dados e da
qualidade dos dados sejam definidos. A pesquisa demonstrou para esse item que
57,1% o julgaram “Muito importante ”, enquanto 42,9% acham–no apenas
“Importante ”. Já o grau de dificuldade foi considerado como “Muito difícil ” por
apenas 14,3% dos pesquisados; para 42,9% o item foi avaliado de “Difícil ”
cumprimento e outro grupo de igual tamanho já o considerou “Pouco difícil ” No
âmbito da natureza da dificuldade, a falta de dados foi apontada por 40% deles,
sendo que 30% indicaram a metodologia como outro elemento de dificuldade e 10%
a falta de capacitação. Estreando na pesquisa, manifesta–se aqui a dificuldade
financeira para atendimento desse item, apontada por 10% dos participantes.
Todo estudo está sujeito a hipóteses, conjecturas e limitações da sua
abrangência. A fase de Definição de objetivo e escopo também estabelece a
necessidade de identificar suposições e limitações do estudo. Na divisão de opinião
dos pesquisados, prevaleceu o entendimento de que essa identificação é
“Importante ” por 57,1% dos participantes; 28,6% consideraram–na “Muito
importante ” e apenas 14,3% julgaram–na “Pouco importante ”. Tanto a definição
das suposições como das limitações foram classificadas como “Difícil ” por 42,9% do
pessoal e como “Pouco difícil ” por 57,1%. Na avaliação da natureza da dificuldade,
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
88
encontramos a questão metodológica apontada por 37,5% dos pesquisados para
ambas as definições. Para a definição das suposições, 12,5% apontaram
dificuldades de ordem tecnológica, falta de dados e desconhecimento do
interlocutor. Já para a definição das limitações, 37,5% dos participantes entenderam
que a dificuldade está na falta de dados. Para ambas as definições, 25% dos
pesquisados não indicaram dificuldades.
A norma ainda estabelece que, se aplicável, seja definido o tipo de revisão
crítica. Grande parte dos profissionais (71,4%) apontou como “Importante ” o
cumprimento desse requisito e 28,6% consideraram–no “Muito importante ”. Ainda
que a maioria ache importante cumprir essa tarefa, somente 28,6% a consideraram
de “Difícil ” cumprimento, pois a maioria, ou seja, 71,4% caracterizaram–na como
“Pouco difícil ” de se cumprir. Como era de se esperar, ao indicarem a natureza da
dificuldade, 50% nada indicou. Dificuldades metodológica, financeira e falta de
dados foram citadas pelos 50% em iguais porções.
A norma NBR ISO 14041 estabelece a necessidade de elaboração de um
relatório do estudo e, nesse sentido, na fase da Definição de objetivo e escopo é
necessário que se defina o tipo e formato do relatório requerido para o estudo. Esta
tarefa foi considerada “Muito importante ” por apenas 14,3% dos profissionais, foi
considerada “Importante ” pela maioria (57,1%) e 28,6% consideraram–na “Pouco
Importante ”. Aqui também a maioria achou importante cumprir essa tarefa, e
apenas 28,6% consideraram–na “Difícil ” de ser cumprida, sendo que 71,4% a
consideraram “Pouco difícil ”, ou seja, de fácil cumprimento. Neste quesito, 20%
dos participantes da pesquisa indicaram dificuldades de ordem metodológica para
atendimento ao requisito, 40% assinalaram a falta de capacitação como dificuldade
e outros 40% não classificaram nenhum outro elemento de dificuldade.
Compilando os registros efetuados no formulário da pesquisa, foi possível
avaliar a fase de Definição de objetivo e escopo considerando todas as disposições
dessa, no geral, como os participantes a consideraram quanto ao grau de
importância, grau de dificuldade e classificação da natureza das dificuldades.
A fase de Definição de objetivo e escopo foi vista pela maioria dos
participantes (54,5%) como “Muito importante ” para o estudo, seguida dos 40.3%
outros que a julgaram “Importante ” e apenas 5,2% a consideraram “Pouco
importante ”. Apurou–se também que há certo equilíbrio quando se verifica o grau
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
89
de dificuldade para a realização dessa fase, pois, embora a ligeira maioria (51,9%) a
considerasse “Pouco difícil ”, 41,6% a definiram–na como “Difícil ” e 6,5% como
“Muito difícil ”. Dentre as categorias de dificuldades, as de natureza metodológica
atingiram 29% das indicações, seguida pela falta de dados em 22%, 8,7% para a
falta de capacitação e outras menos significativas.
O gráfico abaixo (figura 4) apresenta os resultados compilados.
Figura 4 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de
Definição de objetivo e escopo.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
6.1.3.2. Análise do inventário, a preparação para c oleta e a coleta de dados.
A fase de análise de inventário é talvez a mais trabalhosa de um estudo de
ACV e merece a maior atenção do profissional. É nesta fase que se desenham os
fluxogramas dos processos e suas inter–relações, onde é descrito cada processo em
detalhes, com suas entradas e saídas, suas funções, etc. Enfim é nessa fase que o
54,5
40,3
5,2 6,5
41,6
51,9
29,0
2,44,6
22,0
8,7
3,7
29,6
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Mui
to im
port
ante
Impo
rtan
te
Pou
co im
port
ante
Mui
to d
ifíci
l
Difí
cil
Pou
co d
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l
Met
odol
ógic
a
Fin
ance
ira
Tec
noló
gica
Fal
ta d
e da
dos
Fal
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apac
itaçã
o
Des
conh
ecim
ento
do in
terlo
cuto
r
Não
se
aplic
a
Grau deimportância
Grau dedificuldade
Natureza da dificuldade
Definição do Objetivo e Escopo - Resultados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
90
estudo toma corpo e é enriquecido por uma infinidade de informações técnicas para
que se obtenha o êxito pretendido face ao objetivo preconizado.
Dentre outras ações necessárias, é preciso desenhar fluxogramas de
processos específicos que delineiem todos os processos elementares e inter–
relações. Como resultado da pesquisa referente a esse quesito, tivemos
unanimidade de que é “Muito importante ” cumprir com tal tarefa. Para essa
execução, 57,1% dos entrevistados entenderam–na ser de “Difícil ” realização,
enquanto 42,9% responderam ser “Pouco difícil ”. Neste item, a falta de capacitação
surge apontada por 42,9% dos entrevistados, 28,6% assinalaram como outra
dificuldade a falta de dados, 14,3% indicaram a questão financeira e outros 14,3%
não citaram nenhuma outra natureza de dificuldade.
Outro requisito que a metodologia estabelece é o de descrever cada
processo elementar em detalhes, suas entradas e saídas quantitativamente, assim
como a função de cada um. Na avaliação da comunidade consultada, 71,4%
definiram como “Muito importante ” essa descrição, 14,3% entenderam que é
“Importante ” e outros 14,3% apontaram para “Pouco importante ”. Quanto ao grau
de dificuldade, aqui surge uma diversificação maior; 28,6% assinalaram a falta de
dados, 21,4% a falta de capacitação, 21,4% indicaram dificuldades financeiras, e
três grupos de 7,1% registraram como natureza das dificuldades a metodológica,
tecnológica, o desconhecimento do interlocutor e o tempo.
Ainda para a preparação para a coleta de dados, é necessário referenciar a
fonte e o período para dados coletados de literatura publicada. Este requisito foi
classificado como “Muito importante ” por 42,9% do pessoal e “Importante ” por
57,1%. Essa referência de origem dos dados coletados foi considerada “Pouco
difícil ” de realização por 71,4% dos participantes e como “Difícil ” de realização por
28,6% deles. Como dificuldades para execução dessa tarefa, foram apontadas as de
natureza metodológica (25%), tecnológica (12,5%) e financeira (12,5%), assim como
a falta de dados (12,5%) e falta de capacitação (12,5%), sendo que 25% do pessoal
não apontou dificuldades.
Definir as categorias de dados associados com cada processo elementar e
lista que especifique as unidades de medida é outro requisito que a metodologia
impõe ao aplicador da ferramenta. Para esse quesito de avaliação, 57,1% deram o
conceito “Importante ”, enquanto 42,9% classificaram–no como “Muito importante ”.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
91
O item foi considerado por 57,1% dos pesquisados de “Pouco difícil ” execução e
por 42,9% de “Difícil ” realização. Nesse requisito a dificuldade metodológica
sobressai com 42,9% dos apontamentos, depois a falta de capacitação é citada por
28,6%, e em seguida a falta de capacitação e a dificuldade financeira são
referenciadas por 14,3% dos avaliadores.
A metodologia ainda prevê, para a fase de análise de inventário, que sejam
descritas as técnicas de coleta de dados e de cálculos para cada categoria de
dados. A realização dessa tarefa ao ser avaliada na pesquisa de opinião resultou,
quanto a sua importância, ser “Muito importante ” para 57,1% dos profissionais e
“Importante ” para 42,9% deles. Já quanto ao grau de dificuldade para sua
realização, os resultados foram os seguintes: 42,9% entenderam que o requisito é
de “Difícil ” cumprimento e em igual parcela, 42,9% acharam que é “Pouco difícil ” e
apenas 14,3% o conceituaram como “Muito difícil ”. As dificuldades de natureza
metodológica e falta de capacitação aparecem em 22,2% dos apontamentos; quatro
parcelas com 11,1% indicam a falta de dados, o desconhecimento do interlocutor, o
tempo e a questão financeira como natureza das dificuldades.
Cumprir o requisito de fornecer instruções para os locais de origem dos dados
para casos especiais, irregularidades ou outros itens associados com os dados, na
experiência dos profissionais, a pesquisa revela que 42,9% a consideraram “Muito
importante ”, também 42,9% indicaram ser “Importante ” cumprir esse requisito e
apenas 14,3% o julgaram “Pouco importante ” seu cumprimento. O grau de
dificuldade para ser cumprido é considerado por 57,1% dos profissionais como
“Difícil “ e como “Pouco difícil ” por 42,9% restantes. A falta de capacitação e a
dificuldade financeira aparecem com 25% de indicação cada, a dificuldade
metodológica e falta de dados são citadas por 12,5% em cada uma delas e 25% dos
pesquisados não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.
Ao condensar as respostas efetuadas no formulário da pesquisa, foi possível
avaliar a fase de Análise do inventário no tocante às disposições normativas para a
preparação para coleta e a coleta de dados quanto ao grau de importância, grau de
dificuldade e a natureza das dificuldades.
O grau de importância geral dessas disposições para o estudo foi considerado
“Muito importante ” para 59,5% dos pesquisados enquanto 35,7% deles julgaram–
no apenas “Importante ”, e a minoria 4,8% “Pouco importante ”.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
92
Ao condensar as avaliações deste rol de disposições quanto ao grau de
dificuldade para realização, encontramos apenas 7,1% das indicações como “Muito
difícil ” e um equilíbrio bastante grande entre aqueles que as acham “Difícil ” 47,6%,
e “Pouco difícil ” 45,2%. Dentre as naturezas das dificuldades, numa escala
decrescente de apontamentos realizados, temos a falta de dados com 25,4%, em
segundo lugar a questão metodológica com 18,3% seguida bem de perto pela falta
de dados com 17,9% de indicação. A dificuldade financeira aparece aqui em quarto
lugar com 16,4%, e as demais com indicações pouco expressivas.
O gráfico abaixo (figura 5) apresenta os resultados compilados.
Figura 5 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise
do inventário – Preparação para a coleta e coleta d e dados.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
59,5
35,7
4,87,1
47,645,2
18,316,4
3,3
17,9
25,4
3,0 3,0
12,6
0
10
20
30
40
50
60
Mui
to im
porta
nte
Impo
rtan
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port
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Mui
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ta c
apac
itaçã
o
Des
conh
ecim
ento
do in
terlo
cuto
r
Tem
po
Não
se
aplic
a
Grau deimportância
Grau dedificuldade
Natureza da dificuldade
Preparação para coleta e coleta de dados - Resultados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
93
6.1.3.3. Análise do inventário, durante a validação dos dados.
A norma NBR ISO 14041 estabelece a necessidade de cumprimento de várias
etapas operacionais para o cálculo de dados, sendo a validação destes um requisito
indispensável ao êxito do objetivo do estudo.
Das várias disposições existentes nesta fase, encontramos a exigência de se
definirem balanços de massa ou energia ou análises comparativas de fatores de
emissão. Analisados os resultados da pesquisa de opinião para esse requisito foi
possível constatar que a maioria, 71,4% dos profissionais consideraram–no “Muito
importante ”, e apenas 28,6% como “Importante ”. Da avaliação do grau de
dificuldade para cumprir com o requisito, temos que a maioria (42,8%) entendeu ser
“Pouco difícil ” e outros dois grupos de 28,6% se igualaram na classificação de
“Muito difícil ” e “Difícil ”. Quanto à natureza da dificuldade, observa–se que há uma
razoável distribuição das categorias, pois 20% assinalaram ser de ordem
metodológica, 20% financeira, 20% pela falta de dados, 10% tecnológica, outros
10% citaram a falta de capacitação e 20% não apontaram natureza de dificuldade
para esse requisito.
Quando os dados colhidos no estudo não forem suficientes, algumas vezes é
necessário fazer a inclusão de outros dados. A metodologia estabelece, para esses
casos, justificar a inclusão de dados, inclusive se resultantes de cálculos de
tecnologia similar. O cumprimento desse requisito é considerado por 71,4% dos
participantes da pesquisa como “Muito importante ”, por 14,3% como “Importante ”
e pelos outros 14,3% como “Pouco importante ”. Embora a maioria tenha
classificado o requisito como muito importante, esta também o considerou “Pouco
difícil ” para ser cumprido, sendo que 57,1% assim entenderam. Ainda que
considerado pouco difícil, 37,5% dos profissionais assinalaram de natureza
metodológica as dificuldades para cumprimento. Dificuldades de ordem financeira,
falta de dados, desconhecimento do interlocutor e tempo foram respectivamente
apontados por 12,5% dos participantes, tendo igual parcela não apresentado
nenhuma natureza de dificuldade.
Outra disposição da metodologia nesta fase de Análise do inventário é a
necessidade de relacionar dados ao processo elementar e à unidade funcional. Para
essa tarefa, em relação ao grau de importância, 87,1% dos os participantes
classificaram o requisito como “Muito importante ” e apenas 14,3% o consideraram
“Pouco importante ”. Essa tarefa de relacionar os dados ao processo elementar e à
unidade funcional teve expressiva conceituação como “Difícil ”, considerando que
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
94
85,7% dos pesquisados assim assinalaram e apenas 14,3% a consideraram como
“Pouco difícil ”. No tocante à natureza das dificuldades, a metodologia foi citada por
44,4% deles e quatro grupos de 11,1% apontaram a falta de capacitação, a
tecnologia, o tempo e a questão financeira como elementos de dificuldades. Ainda
11,1% não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.
A metodologia exige ainda, no âmbito da validação dos dados na Análise do
inventário, que sejam incluídos / excluídos novos processos elementares, estágios
da ACV de processos elementares e entradas e saídas em função da análise de
sensibilidade. Este requisito foi assim avaliado: 57,1% consideraram–no
“Importante ” e 42,9% como “Muito importante ”. Quanto ao grau de dificuldade para
ser cumprido, 57,1% classificaram os requisitos como “Difícil ”, 28,6%
consideraram–no “Pouco difícil ” e 14,3% “Muito difícil ”. Segundo 42,9% dos
pesquisados, são de natureza metodológica as dificuldades encontradas para
cumprir o requisito; 14,3% indicaram dificuldades de ordem financeira, 14,3%
indicaram dificuldades pela falta de capacitação das pessoas e 28,6% não
apontaram dificuldades.
Finalizando a validação dos dados na fase de Análise do inventário,
encontramos a disposição normativa de documentar todo o processo de refinamento
e a análise de sensibilidade. Na avaliação do grau de importância temos que para
57,1% dos participantes o requisito é “Muito importante ” e para outros 42,9% é
apenas “Importante ” para o estudo. Na avaliação do grau de dificuldade de se
realizar a tarefa, 42,9% entenderam ser de “Difícil ” realização, enquanto para 28,6%
dos pesquisados o requisito foi “Muito difícil ” para ser cumprido e outro grupo de
igual tamanho classificou–o como “Pouco difícil ”. A dificuldade metodológica
aparece com 42,9% de indicação, a dificuldade pela falta de capacitação é apontada
por 28,6% dos participantes da pesquisa e a dificuldade de natureza financeira é
citada por 14,3% dos pesquisados. Outros 14,3% não apontaram nenhuma natureza
de dificuldade.
Os resultados do rol de disposições para a validação dos dados na fase de
Análise do inventário foram reunidos para a obtenção de uma visão geral de como
se apresentam os graus de importância e dificuldade para cumprimento desta etapa,
assim como identificar como ficam as naturezas de dificuldades quando avaliadas no
geral para a validação dos dados.
O grau de importância geral desta etapa, quando reunidas todas as
disposições, foi considerado “Muito importante ” para 60% dos pesquisados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
95
enquanto 35,1% deles julgaram que são “Importante ”, e a minoria acentuada de
apenas 2,9% “Pouco importante ”. Ao compilar as avaliações dessas disposições
quanto ao grau de dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se destaca
com 48,6% de indicação média, seguida de 34,3% como “Pouco difícil ” e 17,1%
como “Muito difícil ”. Avaliadas no geral as naturezas das dificuldades, temos a
maior média apontando para a metodológica com 37,5%, depois a financeira com
14,4% seguida pela falta de capacitação com 12,8% e pela falta de dado com 6,5%,
sendo as demais pouco significativas, e 17,3% não assinalaram nenhuma natureza.
O gráfico abaixo (figura 6) apresenta os resultados compilados.
Figura 6 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise
do inventário – Validação dos dados.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
60,0
37,1
2,9
17,1
48,6
34,337,5
14,4
2,0
6,5
12,8
4,7 4,7
17,3
0
10
20
30
40
50
60
Mui
to im
port
ante
Impo
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Pou
co im
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Mui
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Pou
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Fin
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dos
Fal
ta c
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oD
esco
nhec
imen
todo
inte
rlocu
tor
Tem
po
Não
se
aplic
a
Grau deimportância
Grau dedificuldade
Natureza da dificuldade
Validação de dados - Resultados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
96
6.1.3.4. Análise do inventário, durante a alocação de fluxos e liberações.
Segundo a NBR ISO 14001, a análise de inventário do ciclo de vida baseia–se
em sua capacidade de interligar processos elementares em um sistema de produto
através de fluxos simples de materiais ou de energia.
Neste contexto, é necessário e a metodologia exige documentar
procedimentos para alocação e liberações ao meio ambiente dos diferentes produtos
em fluxos de materiais e energia, assim como alocar fluxos de materiais, energia e
as liberações desses produtos, repartindo as entradas e saídas do sistema para
seus diferentes produtos ou funções. A pesquisa de opinião, quanto ao grau de
importância dessa exigência, mostra–nos que 100% dos profissionais concordaram
que é “Muito importante ” sua realização. Quanto ao grau de dificuldade, as
opiniões dividiram–se entre 57,1% que a consideraram “Difícil ”, 28,6% “Muito
difícil ” e 14,3% “Pouco difícil ” de ser realizada. Nesta etapa, a dificuldade
metodológica surge com 25% de indicação, as dificuldades financeira e a falta de
dados foram apontadas por 16,7% dos participantes e 8,3% deles assinalaram haver
dificuldades de natureza tecnológica, falta de dados, desconhecimento do
interlocutor e tempo. De igual forma, também 8,3% não indicaram haver dificuldades
para a realização desse requisito.
Identificar processos compartilhados com outros sistemas de produto é outro
requisito normativo da metodologia ACV. A avaliação deste requisito, quanto ao
grau de importância, resulta que 71,4% dos pesquisados classificaram–no como
“Importante ” e 28,6% como “Muito importante ”. O grau de dificuldade foi avaliado
como “Difícil ” por 85,7% dos participantes e como “Muito difícil ” por 14,3%. Quanto
à natureza da dificuldade, juntas aparecem a metodológica, a falta de dados e a falta
de capacitação com 25% de indicação para cada uma delas, dificuldades de
natureza tecnológica e financeira foram apontadas por 12,5% dos participantes. Aqui
todos os participantes assinalaram algum tipo de dificuldade.
A metodologia também estabelece como requisito a necessidade de alocar
entradas entre produtos e funções de modo a refletir outras relações (e.g.
econômica), para quando a relação física não puder ser estabelecida ou usada
como única base para alocação. Este requisito foi considerado “Muito importante ”
para 57,1% dos profissionais, 28,6% indicaram–no como “Importante ” e 14,3%
assinalaram ser “Pouco importante ”. Há certo equilíbrio em relação ao grau de
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
97
dificuldade, considerando que dois grupos de 42,9% apontaram como “Muito difícil ”
e “Difícil ” e apenas 14,3% o julgaram “Pouco difícil ”. Ao avaliar a natureza da
dificuldade, disparadamente com 60% de apontamento está a questão
metodológica, seguida em iguais parcelas de apontamento (10%) para cada uma
delas, a seguir, a financeira, a falta de dados, o desconhecimento do interlocutor e o
tempo.
Para a tarefa de identificar a relação entre coprodutos e resíduos, uma vez
que as entradas e saídas só devem ser alocadas para parte de coprodutos, há
bastante identificação da opinião de que é uma tarefa “Muito importante ”,
considerando que 85,7% da comunidade pesquisada assim o considerou e apenas
14,3% a julgaram “Importante ”. O grau de dificuldade mais acentuado foi o conceito
“Difícil ”, com 57,1%, seguido de “Pouco difícil ” por 28,6% e “Muito difícil ” pela
minoria de 14,3%. A dificuldade de natureza metodológica foi apontada por 75% dos
profissionais e a financeira por 12,5% deles. Também 12,5% não apontaram haver
dificuldades para a realização desse requisito.
Para que um estudo de ACV tenha consistência a metodologia exige aplicar
uniformemente os procedimentos de alocação para entradas e saídas similares do
sistema em consideração. A experiência dos participantes da pesquisa, pelo
resultado apresentado, demonstra que essa ação é “Muito importante ”,
considerando que foi assim apontada por 71,4% deles, outros 14,3% assinalaram
que é “Importante ” e uma mesma parcela como “Pouco importante ”. Dentre as
naturezas de dificuldade apontadas, a metodológica foi assinalada por 77,8% dos
profissionais, sendo a questão financeira e a falta de capacitação apontadas, cada
uma delas por 11,1% dos participantes.
Ao analisar todos os resultados da pesquisa de opinião para as disposições
relativas à alocação dos fluxos e liberações, temos que a média encontrada para o
grau de importância atingiu 68,6% para o conceito “Muito importante ”, 25,7% foi a
média encontrada para o conceito “Importante ” e apenas 5,7% para “Pouco
importante ”. Ao compilar as avaliações dessas disposições quanto ao grau de
dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se destaca com 57,1% de
indicação média, seguida de 31,4% como “Muito difícil” e 11,4% “Pouco difícil ”.
Para as naturezas de dificuldades, temos a maior média apontando para a
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
98
metodológica com 52,6%, depois a financeira com 12,6%, seguidas pela falta de
dados com 10,3% e 8,9% para a falta de capacitação, com as demais abaixo de 5%,
portanto pouco significativas.
A gráfico abaixo (figura 7) apresenta os resultados compilados.
Figura 7 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise
do inventário – Alocação dos fluxos e liberações.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
A partir da avaliação pontual de cada uma das disposições constantes da
etapa de Análise do Inventário, foi possível também compilar todos os conceitos
dados a cada uma delas e chegar a uma média geral da etapa. Com o resultado
geral, considerando as limitações da pesquisa, é possível afirmar que para a
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
99
realização de um estudo de ACV, utilizando a metodologia ISO, a etapa de Análise
do inventário é “Muito importante ” e “Difícil ”, segundo os participantes da pesquisa.
Quanto à natureza das dificuldades, a metodológica é a mais significativa, a falta de
capacitação das pessoas vem em segundo lugar, a questão financeira aparece em
terceiro lugar, seguida da falta de dados e demais dificuldades menos expressivas.
O gráfico abaixo (figura 8) apresenta os resultados compilados.
Figura 8 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise
do inventário – Geral da Análise do inventário.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
100
6.1.3.5. Na Avaliação do Impacto do ciclo de vida.
A Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV) é a terceira fase da
metodologia descrita na NBR ISO 14040. Tem como objetivo avaliar os resultados
da Análise do inventário de um sistema de produto para melhor compreensão de sua
significância ambiental. Essa etapa modela as questões ambientais selecionadas,
chamadas categorias de impacto, e utiliza indicadores de categoria para condensar
e explicar os resultados do impacto de ciclo de vida.
Essa etapa pode ser utilizada para indicar oportunidades de melhoria no
sistema de produto e auxiliar na sua padronização, caracterizar ou servir de
referência para um sistema de produto e seus processos elementares ao longo do
tempo, efetuar comparações relativas entre sistemas de produtos com base em
indicadores de categoria selecionados, ou indicar questões ambientais para as quais
outras técnicas podem fornecer dados ambientais complementares e informações
úteis para tomada de decisão.
Ao verificar os resultados da pesquisa de opinião, o requisito de escolher e
definir as categorias de impacto, indicadores de categoria e modelos de
caracterização com base no conhecimento científico dos mecanismos ambientais e
processos analisados, temos que, para o grau de importância, 71,4% dos
participantes julgaram–no “Muito importante ” e 28,6% como “Importante ”. Quanto
à dificuldade de se cumprir o requisito, dois grupos de 42,9% se dividem
classificando–o como “Difícil ” e “Pouco difícil ” e 14,3% entenderam que o requisito
é “Muito difícil ” de ser cumprido. Dentre as dificuldades, a de natureza
metodológica sobressai com 57,1% de indicação, a financeira foi apontada por
14,3% dos participantes e outros 14,3% não indicaram nenhuma natureza de
dificuldade.
Outro requisito da metodologia é correlacionar qualitativamente os aspectos
ambientais às diferentes categorias de impactos. Para esse item, a avaliação de
importância resultou que 57,1% dos entrevistados o consideram “Muito importante ”
e 42,9% classificaram–no como “Importante ”. Quanto ao grau de dificuldade,
também dois grupos de 42,9% dividiram–se classificando–o como “Difícil ” e “Pouco
difícil ” e 14,3% entenderam que o requisito é “Muito difícil ” de ser executado. A
identificação da natureza da dificuldade apresenta a dificuldade metodológica com
44,4% das indicações, seguida da falta de capacitação com 22,2%; a falta de dados
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
101
e a questão financeira foram apontadas por 11,1% dos participantes, e 11,1% não
apontaram nenhuma natureza de dificuldade.
Calcular, para cada categoria de impacto, os impactos por meio de fatores e
modelos de caracterização é outra disposição normativa que a metodologia exige
que seja cumprida. Essa tarefa foi considerada “Muito importante ” por 57,1% dos
pesquisados e “Importante ” pelos outros 42,9%. A avaliação quanto ao grau de
dificuldade mostra–nos certa disparidade no entendimento da comunidade
pesquisada, pois 28,6% classificaram–na como “Muito difícil ”, 28,6% como “Difícil ”
e uma parcela maior, 42,9%, indica o conceito “Pouco difícil ”. Com 62,5% aparece
a natureza de dificuldade metodológica, com 12,5% a financeira e a falta de dados, e
outros 12,5% não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.
A metodologia de um estudo de ACV ainda estabelece ser necessário definir,
a título de normatização, e assim considerar a contribuição relativa dos fatores de
caracterização de uma determinada categoria com relação ao impacto total para a
mesma categoria. A experiência dos participantes da pesquisa, pelo resultado
apresentado, demonstra que essa ação é “Muito importante ”, considerando que foi
assim apontada por 42,9% deles, outros 28,6% assinalaram que é “Importante ” e a
mesma parcela julga–a “Pouco importante ”. Quanto ao grau de dificuldade, 57,1%
indicaram ser de “Difícil ” realização e 42,9% de “Pouco difícil ” realização. Dentre
as naturezas de dificuldade apontadas, a metodológica foi assinalada por 42,9% dos
profissionais, 28,6% apontaram a falta de dados, e a dificuldade de natureza
financeira é indicada por 14,3% dos pesquisados. Foram 14,3% os que não
apontaram nenhuma natureza de dificuldade.
Para cumprir o requisito de ponderação, ou seja, agregar categorias de
impacto em grupos semelhantes, ou classificação das categorias de impacto para
auxiliar na avaliação do desempenho ambiental de determinado sistema de produto,
para os profissionais pesquisados, a pesquisa revela que 42,9% a consideraram
“Muito importante ”, entretanto 14,3% indicaram ser “Importante ” cumprir esse
requisito e 42,9% consideraram “Pouco importante ” seu cumprimento. O grau de
dificuldade para cumprimento foi considerado por 57,1% dos profissionais como
“Difícil “ e como “Pouco difícil ” por 28,6%, sendo que apenas 14,3% o consideraram
“Muito difícil ”. Ainda na avaliação de dificuldade, surgiu aqui o apontamento de uma
nova natureza de dificuldade definida pela falta de Introdução de Juízo de Valores
na análise, correspondendo a 10,0% dos apontamentos. A dificuldade metodológica
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
102
aparece com 50% das indicações, A falta de dados foi assinalada por 20% dos
participantes, a falta de capacitação e a dificuldade financeira apareceram com 10%
de indicação cada.
Ainda no âmbito da ponderação, é necessário converter resultados dos
indicadores de cada uma das categorias a uma escala comum, por meio de fatores
numéricos baseados em escolhas de valor. Essa tarefa foi considerada por 42,9%
dos participantes como “Muito importante ”, outra parcela também de 42,9%
julgou–a “Pouco importante ” e a minoria de 14,3% apontou ser “Importante ”. Na
avaliação do grau de dificuldade, 28,6% entenderam que a tarefa é “Muito difícil ” de
realização e outra parcela de 28,6% julgou–a “Pouco difícil ” e a maioria 42,9% a
classificou–a como “Difícil ”. A dificuldade de natureza metodológica foi apontada por
55,6% dos profissionais, seguida da falta de dados por 22,2%, e dois grupos de
11,1% assinalaram a questão financeira e a Introdução do juízo de valor na análise
como outras dificuldades.
Encerrando as disposições para a avaliação do impacto de ciclo de vida,
temos outro requisito da norma que é o de analisar a qualidade dos dados através
da verificação da confiabilidade e precisão dos resultados obtidos, para identificar o
grau de incerteza dos resultados e os processos que mais causem danos ao meio
ambiente. Nesse item temos uma avaliação de importância assim resultante: 57,1%
julgaram–no “Muito importante ” para o estudo e 42,9% “Importante ”. O grau de
dificuldade para esse requisito foi considerado “Difícil ” para 71,4% do pessoal,
14,3% apontaram–no como “Muito difícil ” e outro grupo de igual tamanho
classificou–o como “Pouco difícil ”. Na avaliação das dificuldades, 36,4% dos
pesquisados apontaram a de natureza metodológica, três grupos de 18,2% dos
participantes indicam dificuldades de natureza financeira, falta de dados e falta de
capacitação, e 8,1% não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.
Reunindo todos os resultados pontuais de cada requisito em uma média geral
da etapa de Avaliação do impacto de ciclo de vida, encontramos para o grau de
importância da etapa os seguintes resultados: 53,1% consideram–na “Muito
importante ”, 32,7% indicam–na “Importante ” e apenas 14,3% a definem como
“Pouco importante ”. A compilação das conceituações para o grau de dificuldade
para cumprir com todos os requisitos resultou que 49% entenderam–na ser de
“Difícil ” realização, 34,7% assinalaram–na para “Pouco difícil ” e 16,7% julgaram–
na “Muito difícil ” de ser realizada. A média geral para os apontamentos das várias
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
103
naturezas de dificuldades demonstra que 49,8% consideram que há dificuldades na
metodologia, a falta de dados aparece em segundo lugar com 16,1% das indicações,
a terceira natureza de dificuldade mais apontada na média é a financeira, indicada
por 13,1% dos participantes e quarta é a falta de capacitação, cuja média foi de
9,2% das indicações. Curiosamente não houve para essa etapa da metodologia
nenhuma indicação de dificuldade de natureza tecnológica, apenas 3% apontaram
que há dificuldades para se introduzir um juízo de valor na avaliação do impacto e
8,8%, em média, consideram não haver dificuldades para execução dessa etapa.
O gráfico abaixo (figura 9) apresenta os resultados compilados.
Figura 9 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de
Avaliação do impacto do ciclo de vida – Resultados.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
104
6.1.3.6. Na Interpretação dos resultados do ciclo d e vida.
A interpretação dos resultados do ciclo de vida é a fase da ACV que consiste
na identificação e análise dos resultados obtidos nas fases de inventário ou
avaliação de impacto, de acordo com o objetivo e o escopo previamente definidos
para o estudo. Os resultados dessa fase podem tomar a forma de conclusões e
recomendações aos tomadores de decisão.
A pesquisa de opinião, no tocante a essa fase, também foi realizada de forma
a avaliar pontualmente cada uma das disposições normativas para essa etapa.
Assim, a tarefa de analisar os resultados de forma interativa com o objetivo e o
escopo, foi considerada “Muito importante ” por 85,7% dos profissionais e 14,3%
apontaram–na como “Importante ”. A dificuldade de se cumprir essa tarefa foi
julgada “Pouco difícil ” por 57,1% dos participantes e como “Difícil ” por 42,9% deles.
Dentre as naturezas de dificuldades, apenas 28,6% apontaram a metodológica,
contrapondo com igual grupo que entende não haver dificuldades para a realização
dessa tarefa. A questão financeira foi apontada por 14,3% dos pesquisados, o tempo
e o desconhecimento do interlocutor sobre esse tópico aparecem assinalados por
14,3% dos participantes da pesquisa.
A avaliação da qualidade dos dados e análises de sensibilidade de entradas,
saídas e escolhas metodológicas significativas, para permitir a compreensão das
incertezas dos resultados são outras disposições da metodologia de um estudo de
ACV. Esse item foi avaliado pelos profissionais quanto a sua importância e todos
foram unânimes em avaliar o item como “Muito importante ”. Já em relação ao grau
de dificuldade, temos que 57,1% o conceituaram como de “Difícil ” realização, 28,6%
apontaram–no como “Muito difícil ” e 14,3% como “Pouco difícil ” de ser cumprido.
Como resultado da avaliação das naturezas de dificuldades, a metodológica foi
apontada por 44,4% dos participantes, a falta de dados por 22,2%, as dificuldades
financeiras e a falta de capacitação foram apontadas por dois grupos de 11,1% dos
profissionais, sendo que um grupo de igual tamanho não indicou nenhuma natureza
de dificuldade.
Ainda no contexto da interpretação dos resultados, a metodologia também
estabelece como requisito a necessidade de verificar, em relação ao objetivo do
estudo, se as definições das funções do sistema e da unidade funcional estão
apropriadas. Esse requisito foi considerado “Muito importante ” para 85,7% dos
profissionais e 14,3% indicaram–no como “Importante ”. Em relação ao grau de
dificuldade, uma parcela de 71,4% dos participantes assinalou a tarefa como “Pouco
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
105
difícil ” e 28,6% consideraram–na como “Difícil ”. Ao avaliar a natureza da
dificuldade, para a dificuldade metodológica houve a indicação por um terço do
pessoal, 16,7% apontaram a falta de capacitação como outra dificuldade, outro
grupo de 16,7% assinalou a questão financeira como dificuldade e os demais que
somam 33,3% do pessoal não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.
Outro requisito da ferramenta para estudo de ACV é verificar, em relação ao
objetivo do estudo, se as definições das fronteiras do sistema estão apropriadas.
Para esse item, a avaliação de importância resultou que 71,4% dos entrevistados o
consideraram “Muito importante ” e 28,6% classificaram–no como “Importante ”.
Quanto ao grau de dificuldade, 42,9% assinalaram–no como “Difícil ” e 57,1% como
“Pouco difícil ” de ser executado. A identificação da natureza da dificuldade
apresenta a dificuldade metodológica com 42,9% das indicações, seguida da falta de
capacitação com 14,3%, e financeira também com 14,3% dos apontamentos. Dos
participantes, 28,6% não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.
Para a tarefa de documentar a avaliação da qualidade dos dados, as análises
de sensibilidade, as conclusões e quaisquer recomendações a partir dos resultados
da interpretação, a pesquisa de opinião apresentou para avaliação do grau de
importância que se trata de uma tarefa “Muito importante ” para 57,1% dos
profissionais, 14,3% julgaram–na “Importante ” para o estudo e 28,6% deles a
classificaram–na como “Pouco importante ”. Na avaliação da dificuldade para se
cumprir a tarefa, 57,1% da comunidade pesquisada entendeu ser de “Difícil ”
cumprimento e 42,9% julgaram ser “Pouco difícil ” para ser realizada. As naturezas
de dificuldades avaliadas para essa tarefa apresentam certo equilíbrio, considerando
que a metodológica, a financeira e a falta de dados são apontadas igualmente por
22,2% dos participantes, 11,1% indicaram a falta de capacitação e uma parcela de
22,2% não apontou haver dificuldades para a realização desta tarefa.
No estudo de ACV de um sistema de produto, a metodologia normatizada
pela ISO requer que sejam formuladas as conclusões e recomendações para a
minimização de impactos ambientais potencialmente gerados pelo sistema. Para os
profissionais participantes da pesquisa, 85,7% consideraram “Muito importante ”
que isso seja feito e 14,3% indicaram ser “Importante ” realizar essa tarefa. O grau
de dificuldade foi apontado como “Muito difícil ” para 28,6% dos pesquisados, como
“Difícil ” por 42,9% deles, e “Pouco difícil ” pelos demais que somam 28,6%. Já para
a avaliação das naturezas das dificuldades, a metodologia foi indicada por 30% do
pessoal, 20% assinalaram a dificuldade tecnológica, 10% apontaram as dificuldades
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
106
financeira, falta de capacitação e falta de dados para cumprir esse item e outros 20%
nada apontaram.
Compilando os resultados dessa fase para o grau de importância geral,
quando reunidas todas as disposições foi considerada “Muito importante ” para
81,6% dos participantes, enquanto 14,3% deles classificaram–na como “Importante ”
e a minoria com 4,1% como “Pouco importante ”. As avaliações dessas disposições
quanto ao grau de dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se
destacou com 46,9% de indicação média, seguido por 44,9% como “Pouco difícil ” e
8,2% como “Muito difícil ”. Avaliadas no geral as naturezas das dificuldades, temos
a maior média apontando para a metodológica com 34,9%, depois a financeira com
14,7%, seguidas pela falta de capacitação com 11,1% e 7,8% para a falta de dados,
sendo as demais pouco significativas, e 24,6% não assinalaram nenhuma natureza.
O gráfico abaixo (figura 10) apresenta os resultados compilados.
Figura 10 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Interpretação dos resultados do ciclo de vida.
81,6
14,3
4,18,2
46,944,9
34,9
14,7
2,9
7,811,1
2,0 2,0
24,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Mui
to im
port
ante
Impo
rtan
te
Pou
co im
port
ante
Mui
to d
ifíci
l
Difí
cil
Pou
co d
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l
Met
odol
ógic
a
Fin
ance
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noló
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Fal
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e da
dos
Fal
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o
Des
conh
ecim
ento
do in
terlo
cuto
r
Tem
po
Não
se
aplic
a
Grau deimportância
Grau dedificuldade
Natureza da dificuldade
Geral da Interpretação dos resultados do Ciclo de Vida - Resultados
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
107
6.1.3.7. Na Emissão do Relatório do estudo de ciclo de vida.
Nesta fase a metodologia exige que os resultados da ACV sejam relatados ao
público–alvo de forma fiel, completa e exata, conforme o tipo e formato de relatório
definido na fase de escopo do estudo.
Os profissionais que participaram da pesquisa, ao avaliar essa necessidade,
apontaram com unanimidade que a tarefa é “Muito importante ”. Porém, na
avaliação do grau de dificuldade, as opiniões estão um pouco divididas da seguinte
maneira: 28,6% consideraram–na “Muito difícil ” de ser realizada, outros 57,1%, a
maioria, indicaram–na como “Difícil ” e os demais, que somam 14,3%, apontaram
para o conceito “Pouco difícil ”. Dentre as naturezas de dificuldades, encontramos
aqui a metodológica apontada por 41,7% dos profissionais, a falta de capacitação
aparecendo em segundo lugar com 25% das indicações e 16,7% assinalando que a
falta de dados e questões financeiras são outras complicações da ferramenta.
O gráfico abaixo (figura 11) apresenta os resultados compilados.
Figura 11 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Emissão do Relatório do ciclo de vida.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Mui
to im
porta
nte
Impo
rtant
e
Pouc
o im
porta
nte
Mui
to d
ifíci
l
Difí
cil
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fícil
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a
Fina
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Falta
de
dado
s
Falta
capa
cita
ção
Grau de importância Grau de dificuldade Natureza da dificuldade
100,0
0,0 0,0
28,6
57,1
14,3
41,7
16,7
0,0
16,7
25,0
Geral da Emissão do Relatório do Ciclo de Vida - Resultados
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
108
6.1.3.8. Na Análise crítica, quando necessária ao e studo do ciclo de vida.
Um estudo de ACV, dependendo do sistema de produto que se pretende
estudar, de sua complexidade e percepção da magnitude de impactos potenciais
que possa gerar, uma análise crítica pode ser realizada para facilitar a compreensão
dos resultados e aumentar a credibilidade do estudo de ACV realizado. Essa análise
pode ser realizada, quando necessário, segundo o que foi estabelecido durante a
fase de definição do objetivo e escopo do estudo, por partes interessadas ou por
algum especialista, seja ele interno ou externo.
Para realizar a análise crítica sobre a consistência dos métodos usados para
conduzir a ACV em relação à Norma de referência, 71,4% dos participantes
julgaram–na “Muito importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto ao grau de
dificuldade, 42,9% consideraram–na “Difícil ”, enquanto 57,1% dos participantes
conceituaram–na como “Pouco difícil ”. As dificuldades para realização dessa
análise de consistência segundo sua natureza e conforme resultado da pesquisa
são: 33,3% indicaram ser de caráter metodológico e 16,7% apontaram ter a natureza
financeira como dificuldade. Os 50% restantes entendem não haver dificuldade para
realizar a análise crítica dos métodos utilizados.
Outro requisito de avaliação a ser considerado na análise crítica é verificar se
os métodos são científica e tecnicamente válidos. Essa verificação é considerada
“Muito importante ” para 57,1% dos pesquisados e “Importante ” para 42,9% do
restante. São 57,1% os profissionais que indicaram como “Difícil ” a realização dessa
verificação, sendo que 14,3% a classificaram como “Muito difícil e como “Pouco
difícil ” um grupo de 28,6% dos profissionais que responderam à pesquisa. Quanto à
natureza das dificuldades, grande parte, ou seja, 42,9% curiosamente não indicaram
haver nenhuma dificuldade, 28,6% indicaram dificuldade metodológica e 14,3%
assinalaram questões de ordem financeira e tecnológica para realizar tal análise.
A análise crítica, segundo a metodologia, deve abordar a verificação dos
dados usados. Como requisito, a norma requer que os dados sejam analisados
quanto a sua adequação e razoabilidade em relação ao objetivo do estudo. Assim,
no contexto da pesquisa, 71,4% dos participantes julgaram essa verificação “Muito
importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto à dificuldade de realização da tarefa, os
conceitos “Muito difícil ” e “Pouco difícil ” surgem apontados e divididos por
exatamente dois grupos de 42,9% dos profissionais e a minoria, com 14,3%, os que
entendem ser de “Difícil ” realização. Ainda que os dois maiores grupos estejam
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
109
extremamente divididos quanto ao grau de dificuldade, 50% dos pesquisados não
apontaram a natureza da dificuldade e 16,7% deles assinalaram a falta de dados, a
questão financeira e a metodologia como obstáculos à realização da tarefa.
Verificar se as interpretações refletem as limitações identificadas e o objetivo
do estudo é outra disposição normativa da metodologia para a análise crítica do
estudo. Essa foi considerada “Muito importante ” para o estudo por 100% dos
profissionais. No entendimento de 57,1% deles, essa análise é “Difícil ” de ser
cumprida e 42,9% consideram–na “Pouco difícil ”. As razões desses entendimentos
residem no fato de que, segundo 42,9% dos participantes, há dificuldades de ordem
metodológica, para 14,3% há dificuldades financeiras e para os outros 42,9% não há
qualquer dificuldade para tal verificação.
Durante a análise crítica, a norma requer ainda que seja verificado se o
relatório é transparente e consistente. Tal verificação no âmbito da análise crítica foi
considerada para 71,4% dos profissionais como “Muito importante ” para o êxito do
estudo, 14,3% indicaram ser “Importante ” e outros 14,3% restantes consideraram
tal verificação “Pouco importante ”. O conceito “Pouco difícil ” foi apontado por
57,1% do pessoal quando da avaliação da dificuldade de se cumprir o requisito, uma
parcela de 28,6% dos participantes assinalaram–no como “Difícil ” e 14,3% como
“Pouco difícil ”. É de natureza metodológica a dificuldade apontada por 33,3% dos
participantes, a dificuldade financeira foi indicada por 16,7% dos profissionais e a
grande maioria, representada por 50% deles, não assinalou nenhuma natureza de
dificuldade para esta verificação.
A etapa de análise crítica de um estudo de ACV, quando reunidos todos os
conceitos atribuídos pelos profissionais às disposições normativas da etapa,
apresentou os seguintes resultados médios. O grau de importância geral ficou
caracterizado como “Muito importante ” com uma média de 74,3% dos
apontamentos, como “Importante ” por 22,9% e apenas 2,9% foi a média para o
conceito “Pouco importante ”. O grau de dificuldade, após a mesma compilação dos
conceitos dados a cada uma das disposições, resultou numa média de 45,7% para o
conceito “Pouco difícil ”, seguido bem de perto por 40% para o atributo “Difícil ” e
apenas por 14,3% para “Muito difícil ”. Coerentemente a essa avaliação de
dificuldade, os resultados médios apresentaram 47,1% com o entendimento de que
não há maiores dificuldades para se realizar a análise crítica, 31% foi a indicação de
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
110
que há dificuldades de ordem metodológica, 15,7% indicaram dificuldades de ordem
financeira e as demais dificuldades apresentam pouco significância.
O gráfico abaixo (figura 12) apresenta os resultados compilados.
Figura 12 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de
Análise Crítica do ciclo de vida.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Mui
to im
port
ante
Impo
rtan
te
Pou
co im
port
ante
Mui
to d
ifíci
l
Difí
cil
Pou
co d
ifíci
l
Met
odol
ógic
a
Fin
ance
ira
Tec
noló
gica
Fal
ta d
e da
dos
Não
se
aplic
a
Grau de importância Grau de dificuldade Natureza da dificuldade
74,3
22,9
2,9
14,3
40,045,7
31,0
15,7
2,9 3,3
47,1
Geral da Análise Crítica - Resultados
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
6.1.3.9. Síntese da pesquisa de opinião.
Reunindo todos os elementos que compuseram o formulário da pesquisa
assim como os resultados alcançados com as respostas obtidas, ao final, com a
compilação de tudo que foi apurado, apresenta–se em seguida a síntese da
pesquisa de opinião.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
111
Dada a importância que os estudiosos dão às análises de ciclo de vida para
sistemas de produtos e serviços, o grau de importância da metodologia estabelecida
pelas normas ISO, no âmbito da pesquisa, abrangendo todas as disposições
normativas, resultou como sendo “Muito importante ” para 64,1% dos participantes,
enquanto 30,1% assinalaram, nesse mesmo contexto, como “Importante ” e uma
minoria composta de 5,8% “Pouco importante ”. Esse resultado dá a dimensão
exata da importância da metodologia para incorporar rotinas padronizadas bem
como a parametrização de processos em permanente avaliação, a fim de que se
alcance a efetividade proposta quanto à redução, mitigação e/ou extinção de
impactos ambientais adversos.
Os resultados encontrados nos dão conta de que a metodologia, segundo o
universo pesquisado, é de difícil aplicação, consideradas todas as etapas com as
principais disposições normativas requisitadas. Como resultado para o grau de
dificuldade, ao compilar todas as assinalações, em média, 46,8% dos profissionais
apontaram o conceito “Difícil ” de cumprimento, outro grupo 7% menor que a maioria
assinalou ser “Pouco difícil “ e 13,4% já a consideraram “Muito difícil ”. Dado que os
participantes responderam ao questionário segundo seu grau de conhecimento,
experiência de aplicação, sistema estudado e outras variáveis, que certamente
influenciaram suas respostas, isso reflete o que pode acontecer com a totalidade dos
estudos de avaliação de ciclo de vida, cada qual com sua particularidade.
Das várias dificuldades com as quais os aplicadores da ferramenta se
deparam, a de natureza metodológica é a que se sobressai. A literatura
especializada no assunto já indicava como barreiras a serem vencidas as questões
de ordem financeira, a falta de um banco de dados satisfatório, a falta de preparação
das pessoas, etc. A pesquisa resultou que 35,5% dos pesquisados apontaram como
maior dificuldade a própria metodologia para atendimento aos requisitos
estabelecidos, 13,5% entenderam que a falta de dados dificulta o cumprimento das
disposições normativas, 11,7% julgaram que as dificuldades são de natureza
financeira e 11,1% apontaram a falta de capacitação das pessoas como elemento de
dificuldade para a plena aplicação de um estudo de avaliação de ciclo de vida
baseado na metodologia da norma ISO. Outras dificuldades apontadas, ainda que
existentes, não são substanciais a ponto de merecerem maior atenção para priorizar
a busca da melhoria contínua da ferramenta.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
112
O gráfico abaixo (figura 13) apresenta os resultados finais da pesquisa.
Figura 13 – Gráfico do resultado geral da pesquisa de opinião.
Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.
6.2. Discussão da matéria e uma visão analítica.
De acordo com o estudo da literatura especializada, que apontou os
fundamentos da ACV, suas regras e aplicabilidades bem como técnicas mais
usualmente empregadas, associando–se ao material prático apresentado tanto no
que tange à atual situação da ferramenta no contexto país como no seu exemplo de
implantação na empresa Natura, além dos resultados da pesquisa de opinião,
compete reconhecer que o Brasil caminha os primeiros passos de assimilação desse
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
113
conhecimento. Embora os resultados apresentados tenham caráter bastante
positivo, sua configuração requer maior desenvolvimento e qualificação específica,
além de maiores recursos, competências técnicas e gerenciais compatíveis, para
sua boa aplicação na gestão dos impactos ambientais, identificados através de
cálculos e medidas prévia e cientificamente apurados.
Considerando os teóricos apresentados, em sua maioria favoráveis à
ferramenta, às práticas de ACV correspondem identificações coerentes e viáveis de
técnicas a serem usadas no emprego da avaliação de possíveis impactos e suas
repercussões. Pretende–se, de fato, com essas técnicas, medir o ciclo de vida de
um produto, ou seja, desde seu nascimento até a sua morte, configurada pelo
descarte ou destinação final.
Nesse contexto vê–se a cadeia produtiva merecedora de análise
pormenorizada, que busque identificar a possibilidade de otimização de recursos
existentes, como foi o caso da Natura ao substituir embalagens, até a permanente
avaliação de todos os processos inseridos no contexto organizacional. É preciso que
a indústria pense em gerenciamento ambiental nesses moldes de preservação e
valorização.
Para tanto, é necessário o desenvolvimento de uma cultura que ainda está
nos seus estágios iniciais do ponto de vista científico como pôde ser constado pela
pesquisa realizada. É verdade que degraus foram vencidos e a escalada é plausível
e flagrante, mas importa requerer medidas incisivas no sentido de que qualificações
em níveis de graduação, pós–graduação lato e stricto sensu se dediquem à
importante ferramenta conceitual que pode e deve ser explorada no setor produtivo
e no poder público, com benefícios para a sociedade em geral.
Ainda são poucos os exemplos no país quanto à aplicabilidade prática da
ACV, mas não são poucas as organizações interessadas em obter certificações que
as reconheçam como responsáveis em termos ambientais, de modo que possam se
lançar ao comércio exterior bem como à internacionalização de seus negócios.
Implica, contudo, sair do desejo para a prática, não bastando apenas obter selos e
certificados protocolares mas sim realizar ações decisivas responsáveis e efetivas
na linha de redução e/ou eliminação de transtornos ambientais.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
114
Segundo a bibliografia consultada é possível constatar que profissionais, tanto
os teóricos da esfera acadêmica como os técnicos do segmento empresarial, através
dos dados apresentados, reconhecem que a ACV vem evoluindo desde sua
chegada em 1993 no país. São 14 anos de existência em solo nacional, com
sucessivos registros que evidenciam sua evolução e importância no cenário
nacional. O Ministério das Ciências e Tecnologia, detentor da responsabilidade de
alavancar o uso da ferramenta, necessita impingir regras de incentivo à sua
utilização para assegurar a melhoria contínua dessa tecnologia.
Aliado a isso, o investimento em tecnologia, sobretudo da informação, faz–se
imperioso a fim de que realmente ocorram gestões integradas que tenham o poder
de definir o futuro de processos, hoje ameaçadores, mas que revelam potencialidade
à substituição por otimização de etapas e meios de formulação que o levem ao
máximo produtivo em conformidade com os parâmetros ACV.
Os fluxos operacionais que contam um número grande de materiais, assim
como processos e métodos produtivos, os modais de transporte, as embalagens e a
preocupação com o descarte têm que compor a realidade de uma empresa geradora
de produto afeto ao meio ambiente, direta ou indiretamente. Sob tal ótica arrisca–se
ainda reconhecer a fatalidade como abrangente a todos os segmentos da economia,
passando a não ser somente de um ou dois setores a incumbência em tratar de seus
produtos sob alicerces ambientais, mas a todos cabem ações positivadas nesse
sentido.
Trata–se, na realidade, da exigência de um desenvolvimento sustentável
verdadeiro. A ampla sustentabilidade somente será possível mediante análises que
procurem categorizar o impacto ambiental e seu grau de risco à saúde do planeta,
incluindo–se os recursos naturais não–renováveis, à própria saúde do homem e
demais elementos componentes de variados ecossistemas.
Assim, ainda que o assunto pareça repetitivo e até mesmo óbvio, é
necessário salientar as técnicas hoje já conceituadas no mercado internacional que
tratam do assunto. São instrumentos poderosos na medida em que favorecem a
adequação justa e precisa aos conceitos impactantes.
Na Natura, depois de cumprida a etapa de avaliação, foi possível, através da
seleção de técnica compatível e referente à temática deste trabalho, identificar
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
115
questões que obstavam a consolidação de seus valores e princípios ambientais. Na
verdade, a linha de produtos oferecida pela empresa – Ekos – já se baseava em
princípios da gestão ambiental, sendo produto internacionalmente conhecido por
utilizar–se de flora renovável, aliada à prática da empresa de preservação do meio
ambiente, investindo em novas áreas de preservação e cultivo.
A introdução da ferramenta ACV colaborou com a ratificação de propósitos
ambientais também nas embalagens usadas. Com uma redução aproximadamente
de 20% de massa em gramas, a nova embalagem caracterizou a redução de
impactos também pela possibilidade de se acoplar refil, passando a ser uma
embalagem de durabilidade prolongada.
A empresa Natura, brasileira, com seus 29 anos de fundação, apresenta porte
elevado e representatividade internacional. Sua linha de produtos, que valorizam os
recursos naturais retirados do meio ambiente é amplamente conhecida. A partir de
2004 a empresa pôde confirmar seus propósitos, conquistando a certificação NBR
ISO 14001 de seu sistema de gestão ambiental ao utilizar medidas corretas e de
economia otimizada de embalagens, como foi o caso da Avaliação do Ciclo de Vida
– ACV em seus sistemas de produtos.
Entender e aplicar a ACV como ferramenta imprescindível aos negócios
brasileiros de enfoque tanto no mercado interno como externo, exige atribuir–lhe,
como a própria pesquisa de opinião demonstrou, caráter de relevância ainda carente
no ambiente de evolução e especialização da metodologia. São necessárias
medidas importadas de know how técnico e gerencial à implementação e
acompanhamento de resultados seguros que demonstrem efetividade tanto em
qualidade como em termos de quantificação.
Como identificado, trata–se de uma ferramenta muito importante para a
gestão ambiental, redutora, sem dúvida, de impacto, mas que necessita de
experiência e conhecimento interdisciplinar à aplicação por meio das técnicas
disponíveis e a ela associadas, a fim de averiguar graus e níveis de impactos e
repercussões. A própria norma que rege as diretrizes para a Análise do Ciclo de
Vida dos Produtos, a ISO 14040, reconhece que a técnica ainda está em um estágio
inicial de desenvolvimento e resta ainda considerável esforço a ser feito e
experiência prática a ser adquirida para o avanço da prática de ACV.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
116
Fica evidente que a ferramenta não está ainda totalmente consolidada no país
como uma metodologia de suporte à tomada de decisões no segmento econômico–
industrial. A comunidade pesquisada considera haver muitas dificuldades de
natureza metodológica para aplicação da ACV dada a sua complexidade e são
poucas as grandes companhias que utilizam essa técnica. Essa complexidade
metodológica é inerente a ela própria, na medida em que requer elementos precisos,
transparentes e confiáveis.
Sob esse viés, a ACV igualmente se apresenta como de difícil aplicação,
como apurado. Uma das dificuldades encontradas nos estudos de ACV é a grande
quantidade de dados necessária a um bom trabalho. Praticamente inexistem no
Brasil bases de dados que descrevam o inventário dos ciclos de vida de insumos
básicos, como energia elétrica, transporte, matérias–primas básicas e outros. Os
sistemas de produto são específicos caso a caso e se assentam em diversos
parâmetros particulares. Isso faz com que seja difícil a coleta de informações
técnicas gerais, exigindo maior quantidade de pesquisas para aprofundar o
conhecimento sobre esses processos de manufatura na âmbito da ACV.
Com isso, é necessário ressaltar que a aplicação da ACV no Brasil não pode
ser efetuada diretamente com modelos de avaliação de impacto e com dados de
inventários desenvolvidos , por exemplo, para a Europa, Japão ou EUA, devido às
diferenças existentes em termos das tecnologias, biomas, geologia, clima,
população, materiais, etc. A ACV é uma metodologia dependente das características
regionais onde será aplicada.
Entretanto, ainda com essas dificuldades, a ACV se mostra eficiente à
diminuição de custos industriais, trazendo assim vantagens econômicas a partir de
delineamentos estratégicos em consonância com planejamentos ambientais, que
levem em conta a adoção de políticas alinhadas à legislação em vigor.
Assim sendo, além da prática da técnica, compete enxergar nessa ferramenta
o sentido gerencial e decisório. A ACV pode também ser vista como instrumento
para a administração das questões do meio ambiente afetas aos sistemas
produtivos, o que favorece a integração entre tecnologia e eficiência com qualidade
de um produto, o que, na verdade, pretendem as séries ISO 14000 – todas
destinadas à redução da poluição, preservação e renovação ambiental.
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
117
A cada dia, segmentos da vida moderna que vão desde contextos
empresariais ao indivíduo na sociedade desenvolvem interesses e focos nas
questões ambientais. É preciso que a ACV integre esse contexto, mas evidenciando
uma maior facilidade em sua aplicação, sendo de tecnologia e manipulação
acessível, o que entendemos ser possível a partir de investimentos tanto na
formação técnica e gerencial de profissionais do ramo como na propagação de seus
conceitos em todos os sentidos.
Não nos compete esgotar a matéria nem dela subtrair esforços, ao contrário,
em uma visão analítica, sob o prisma nacional, interessa tão–somente analisar a
metodologia ACV de forma que resulte em maior envolvimento da sociedade, além
do interesse de órgãos públicos reguladores e estudiosos da ferramenta.
É claro que as avaliações precisas, objetivas e fidedignas de impactos ao
meio ambiente, com a prévia possibilidade de processos de produção, bem como a
definição de procedimentos e fluxos de distribuição que priorizem a valorização
ambiental merecem atenção cuidadosa por parte de todos. Necessita–se, assim, que
a ACV faça parte do cotidiano brasileiro em estudos, pesquisas e, principalmente,
nos eventos que levam às organizações os parâmetros mundiais sobre o meio
ambiente, além da condição subsidiada à sua implantação.
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
118
Considerações .
O objetivo geral deste o trabalho foi analisar criticamente a ferramenta ACV –
Avaliação de Ciclo de Vida no processo de gestão ambiental. Inicialmente foi
apresentada toda a contextualização temática do estudo em termos de objetivos e
conceitos basais. Depois evoluímos na matéria explanando sobre questões
ambientais de ordem mundial até chegarmos à ACV. Foram observados os seus
aspectos desde o surgimento, abrangendo conceitos, limitações, compatibilidades,
benefícios, metodologia e sua aplicação no Brasil durante os últimos anos.
A partir da pesquisa exploratória sobre ACV, constatamos que a ACV é uma
ferramenta relativamente nova e ainda em desenvolvimento, cujos objetivos são os
mais salutares em termos de meio ambiente. Com base no referencial teórico
pesquisado, foi possível identificá–la como sendo “ferramenta de gerenciamento
ambiental aplicada aos produtos, para avaliar aspectos ambientais e potenciais
impactos associados ao seu ciclo de vida, para se eliminar e/ou mitigar danos
ambientais”.
Em decorrência das análises realizadas neste trabalho, baseando–se na
bibliografia relacionada, na percepção dos especialistas participantes da pesquisa
de opinião e no exemplo de aplicação na empresa Natura, podemos afirmar que a
ACV se constitui em uma ferramenta muito importante para a Gestão Ambiental,
talvez por permitir, sistemicamente, tanto a identificação de oportunidades de
melhoria do desempenho ambiental de um produto quanto a comparação ambiental
de produtos que desempenhem a mesma função.
Pelo exposto, como resultado da pesquisa, foi possível constatar que:
• Trata–se de ferramenta que possibilita melhorar o desempenho
ambiental das empresas, mas que precisa ser aperfeiçoada no
Brasil;
• A comunidade envolvida com o uso da ferramenta considera–a
um recurso muito importante para a identificação e quantificação
do impacto do ciclo de vida de produtos, podendo ser utilizada
em toda a cadeia produtiva e pelo poder público, com benefícios
às presentes e futuras gerações.
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
119
• É um recurso de gestão ambiental difícil de ser aplicado, dada a
sua complexidade e seu estágio de desenvolvimento no país;
• Sua metodologia necessita de adequação, considerando a
grande diversidade de processos, as particularidades dos
sistemas de produtos e suas interações com o meio ambiente;
• Existe escassez de informações nos poucos bancos de dados
brasileiros, pouco comprometimento de segmentos econômicos
e poucas entidades interessadas em desenvolver e difundir a
ACV;
• A falta de capacitação de pessoas para a plena aplicação da
ACV é uma das principais dificuldades para difusão do uso
e consequente desenvolvimento da técnica. No Brasil, são
poucos os profissionais com razoável conhecimento e
experiência para a aplicação da ACV;
• A elaboração de um estudo de Avaliação de Ciclo de Vida
demanda muitos recursos financeiros. Não há por parte do
governo, praticamente, incentivos às empresas e entidades
que queiram desenvolver a ferramenta;
• Estudos de ACV geralmente necessitam de muito tempo
para serem concluídos, talvez pelos motivos acima
constatados, ou seja, complexidade da metodologia, falta
de informações, falta de capacitação do pessoal envolvido
no estudo, custos, etc.;
• A tecnologia, enquanto conjunto de conhecimentos específicos,
especialmente os princípios científicos que se aplicam a ACV
não chega a ser uma dificuldade, uma vez que é conhecida e
está disponível;
• Após ser melhor difundida e desenvolvida no Brasil, a ACV
poderá ser constituir uma das melhores ferramentas a compor
um eficaz Sistema de Gestão Ambiental;
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
120
De todas as dificuldades encontradas, para que a ACV continue a ter a
importância que tem para uma boa gestão ambiental e realmente se tornar uma
ferramenta amplamente difundida e desenvolvida para ser utilizada em grande
escala no Brasil, aos olhos deste pesquisador é necessário investir prioritariamente
na capacitação das pessoas com potencial para a utilização da ACV.
Na realidade, como pode ser constatado no conteúdo do trabalho, um modelo
de gestão ambiental possibilita várias vertentes na administração moderna,
destacando–se como ponto forte o favorecimento ao caráter educativo deflagrado
pelos processos. Nessa linha, as Normas ISO revelam um marco na administração
com a introdução de padrões elevados de gerenciamento de serviços.
Especificamente em relação às Normas voltadas ao meio ambiente, a evolução
conquistada nesse campo indica a realidade de desenvolvimentos sustentáveis,
através da responsabilidade reversa de produtores e empresários em geral, o que
pode perfeitamente ser observado, calculado, ponderado e definido através do
emprego da ACV.
O Brasil faz parte do cenário mundial de padrões de qualidade na esfera de
produtos e serviços como também na preservação ambiental. Respondendo a um
mercado de padrões cada vez mais exigentes, as empresas nacionais buscam
enquadramento e posicionamento definitivo em um contexto globalizado e de
práticas gerenciais arrojadas e proativas. Os sistemas de gestão ambiental,
independentemente do tamanho, área de negócio, produto ou serviço das empresas
onde sejam implantados, referem–se verdadeiramente a uma filosofia concreta e
totalmente direcionada a ações de qualidade e eficiência em prol de crescimentos e
desenvolvimentos sustentáveis. Incrementá–los com a ACV como principal
ferramenta impulsionadora da organização não se limita somente a introduzi–la a
partir dos conceitos práticos, mas, também, favorecer a assimilação dos desafios
propostos no sentido de elevação e otimização dos resultados conquistados pelas
empresas.
Portanto, formar profissionais especializados na utilização da ACV, com
conhecimentos técnicos e científicos das escolas com foco no desenvolvimento da
ferramenta específica e seus conceitos, pode significar um importante diferencial
competitivo para o Brasil.
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
121
De fato, em virtude de uma vasta e crescente preocupação ambiental no
Brasil e no mundo, torna–se necessário abordar a questão da capacitação também
para gestores de um modo geral. Não será suficiente apenas formar especialistas,
cujos responsáveis não tenham condições de aquilatar a relevância da matéria.
Importa, assim, mais uma vez referir–se ao investimento educacional e
organizacional, por leis e incentivos compatíveis com a realidade brasileira e não
somente à importação de modelos empacotados e prontos para serem empregados
sem a devida customização, como acontece com a ACV;
Assim sendo, no tocante à metodologia ACV, constitui uma estratégia de
avanço para desenvolvimento da ferramenta propor a capacitação de profissionais
de forma acadêmica, para suprir necessidades de conhecimentos bem como
adequar competências sócio–político–econômicas e ainda culturais das empresas
no que se refere às questões ambientais.
Igualmente, capacitar empresas para a introdução e manutenção de
ferramentas de gerenciamento ambiental, como é o caso da ACV, demonstra ser
medida urgente e alinhada às práticas exigidas em todo o mundo, sendo esta a
recomendação mais premente que pode ser depreendida da pesquisa realizada.
Ao concluir o presente estudo evidencia–se o alcance adequado ao seu
objetivo, na medida em que a proposta de análise crítica da ACV, no contexto de
valorização do meio ambiente, ressalta sua importância, tanto para o
desenvolvimento e difusão da ferramenta, como para formação de profissionais
aptos à sua implementação, propiciando maior empreendorismo das empresas no
sentido de introduzi–la em seus processos produtivos.
Limitações da Pesquisa.
É necessário salientar que o presente trabalho apresenta algumas limitações.
Primeiramente, a bibliografia citada e consultada em relação ao tema apresenta
poucos detalhes, é bastante redundante sem se aprofundar especificamente em
cada uma das dificuldades, quando existentes.
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
122
A coleta de dados de uma população em um trabalho científico é sempre uma
questão de suma importância para se proceder à análise desses dados, fato que no
presente trabalho poderia ser melhor trabalhado caso a adesão ao formulário
enviado aos elementos da amostra tivesse sido mais elevada. Outra questão
relacionada à manifestação dos respondentes é o fato de não terem apresentado
contribuição adicional sobre as várias disposições normativas como requisito da
metodologia.
O resultado em termos de retorno do formulário (número de respostas
obtidas) foi obtido graças ao esforço do pesquisador em função de suas sucessivas
cobranças, podendo em determinada proporção ter embutido nas respostas reflexos
indesejáveis, considerando haver certo grau de inconveniência pela insistência para
devolução do formulário.
Também o modelo do questionário não definiu os critérios objetivos para o
enquadramento dos conceitos pré–estabelecidos, ou seja, o cumprimento de
determinado requisito da metodologia pode ser considerado “Muito importante” na
opinião de um profissional, enquanto para outro pode ser apenas “Pouco
importante”, de igual forma para o grau de dificuldade. Na verdade, esses conceitos
variaram conforme a experiência e capacidade do profissional, a disponibilidade de
dados, recursos financeiros, etc.
Recomendações e Sugestões de pesquisas futuras.
Para as autoridades competentes na esfera pública recomendo a adoção de
políticas direcionadas a promover o desenvolvimento da ACV, seja através de
financiamentos para a inovação e para a pesquisa científica e tecnológica em
empresas brasileiras ou pelo incentivo às universidades e centros de pesquisa, por
meio de empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e a
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Especificamente, difundir o conhecimento da ACV nos cursos de graduação
de engenharia e assemelhados às questões ambientais.
CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES
123
Como continuidade dessa pesquisa propõe–se realizar no médio e longo
prazo novos estudos científicos sobre o tema, porém com recortes mais específicos,
como por exemplo:
• A Definição do Objetivo e Escopo de um estudo de Avaliação de
Ciclo de vida – Importância, dificuldades e pontos de atenção
para êxito do estudo;
• Da mesma forma, na fase de Análise do inventário de Ciclo de
Vida, pesquisar sobre a preparação e coleta de dados, validação
dos dados e alocação de fluxos e liberações, contemplando os
efeitos do uso de informações importadas de bancos de dados
de outras regiões do planeta;
• Também no mesmo sentido, fazer as pesquisas para as demais
fases da ACV, sempre aprofundando na especificidade da fase
em seus requisitos normativos.
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ANEXOS
133
ANEXO 1
Projeto Brasileiro de Inventário do Ciclo
de Vida para a Competitividade da
Indústria Brasileira
MCT, MDIC, IBICT, INT, INMETRO, ABNT/CB38, ABCV, CNI, SEBRAE, Petrobrás, UnB, ABIPTI
Ações em “ACV” no IBICT/MCT
� 2001 – a FINEP aprova projeto TECPAR, IBICT e CNI encomendado
pelo MCT – Sistema de Informação para Tecnologia Industrial Básica
(SISTIB).
� 2003– O IBICT levantou as iniciativas e ações relativas a ACV no
Brasil e no mundo e apresentou, em maio de 2003, site informativo
(www.acv.ibict.br).
� 2004 – Programa de Capacitação Institucional (Projeto PCI),
Desenvolver, testar e validar a estrutura de inventários brasileiros
para suportar o armazenamento de dados sobre inventários do ciclo
de vida de produtos da indústria bem como disseminar informações
sobre ACV e articular uma rede de especialistas.
� Em paralelo, a SETEC/MCT, que já vem atuando junto ao Comitê
Brasileiro de Gestão Ambiental ABNT/CB 38 e que apoiou a criação
da Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV).
ANEXOS
134
O PRÉ–PROJETO
Reuniões preparatórias entre 04 a 09/2004; MCT, IBI CT, UnB /DF
• 1ª. Reunião de 20/09/2004: INT/RJ. Participantes: MCT, IBICT, INT, MDIC,
INMETRO, ABNT, CNI, SEBRAE, UnB, ABCV;
• 2ª. Reunião de 16/06/2005. MCT/DF. Participantes: MCT, IBICT, MDIC,
INMETRO, INT, ABIPTI, UnB, ABCV. Seminário de 30/11/2004; EKOS/SP.
Participantes: IBICT, Finep, ABIPTI, UnB, ABCV, USP, UFBa, CEFET–PR,
UFSCar, Unicamp, ITAL, IPT, Cenbio, CIESP, FIESP, Petrobras, Natura,
BureauVeritas, BASF, Unilever, Daimler–Chrysler, Ford, Nestlé, Polibrasil.
Reunião de 14/12/2004; CNI/DF. Participantes: MCT, IBICT, CNI/IEL, SENAI,
UnB
• • 3ª. Reunião de Mai/2005. CNPq/DF. Participantes: MCT, IBICT, MDIC,
INMETRO, IPT/SP, TECPAR/PR, CNI/IEL, SEBRAE, ABIPTI, DIEESE,
ANPROTEC, UnB, ABCV, USP. Seminário Internacional “Impacto da
Avaliação do Ciclo de Vida na Competitividade da Indústria Brasileira”, MCT /
IBICT / INMETRO / Petrobras / Sebrae / CNI / Abipti, 03–04/out/2005, São
Paulo, Brasil. Participantes: MCT, IBICT, MDIC, INMETRO, IPT/SP,
TECPAR/PR, CNI/IEL, SEBRAE, ABIPTI, DIEESE, ANPROTEC, UnB, ABCV,
USP.
• 4ª. Reunião de 09/Mar/06. IBICT/DF. Participantes: MCT, IBICT, INMETRO,
SEBRAE, FINEP, UnB, ABCV, USP.
Comitê Gestor: ABCV, ABNT, ABIPTI, CNI, IBICT, INMETRO, PETROBRAS,
SEBRAE, UnB.
ANEXOS
135
Objetivo
Este projeto tem por objetivo desenvolver Inventários do Ciclo de Vida dos
materiais/produtos/processos produtivos mais relevantes para a sociedade brasileira.
Este inventário conterá informações sobre a quantidade e qualidade dos insumos
materiais e energéticos, dos produtos e das emissões líquidas, gasosas e sólidas,
oriundos do funcionamento do sistema produtivo nacional, e será parte fundamental
para a aplicação da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos – ACV,
como especificado pela família de normas ISO 14040.
Objetivos Específicos
1. Construir e desenvolver um inventário do ciclo de vida consistente com
elevada qualidade, de setores do parque industrial brasileiro;
2. Construir banco de dados para armazenamento dos ICV’s brasileiros, em
conformidade com padrões internacionais estabelecidos;
3. Estabelecer uma plataforma de comunicação sobre atividades de ICV no
Brasil, internalizando a cultura e estabelecendo uma rede permanente de
especialistas brasileiros e convidados estrangeiros;
4. Fornecer dados de ICV a grupos específicos do tecido industrial brasileiro
para permitir a elaboração de processos baseados em ACV, estimular o uso e
difundir informações sobre o ciclo de vida dos produtos.
5. Capacitação em ICV das equipes de trabalho dos setores produtivos da
indústria brasileira para desenvolvimento e manutenção do inventário.
Resultados paralelos
Desenvolvimento de inovações tecnológicas (produtos e processos) com
melhor performance ambiental;
Uso otimizado de recursos e de energia – desmaterialização – com o
aumento do conhecimento das relações entre materiais e processos de
produção;
Desenvolvimento regional com a criação/otimização das operações de fim–
de–vida relacionadas às tecnologias de produção.
ANEXOS
136
Período
3 anos (com base em projetos de ICV desenvolvidos em outros países)
ESTRUTURA DAS ATIVIDADES PROPOSTAS
ANEXOS
138
Iniciativas em Andamento 2004/2005
• Base de Dados: Projeto IBICT em andamento
• Coleta / Validação dos Dados: a definir
• Capacitação / Disseminação: Web site “Comunidade de ACV” (IBICT)
Seminário EcoInvent em SP (EKOS, Gil Anderi/USP); Seminário em San
Jose/Costa Rica (Fernanda/MCT, Gil Anderi/USP, Cassia Ugaya/CEFET–
PR); Seminário Rio5 no RJ (Armando Caldeira–Pires/UnB); Curso de ACV–
GaBi/ABIPTI (Armando Caldeira–Pires/UnB); 3rd Int. Congress on Industrial
Ecology, Estocolmo2004 (Leda Coltro, ITAL); Seminário Life Cycle
Management LCM2005 – Barcelona (Armando Caldeira–Pires/UnB, Gil
Anderi/USP); Participação como Especialista na Life Cycle Initiative–
UNEP/DTIE em Paris (Cássia Ugaya/CEFET–PR – Set–Dez/05); Livro
“Avaliação do Ciclo de Vida: a ISO14040 na América Latina”, Nov2005 (ed.
Armando Caldeira–Pires/UnB, autores: Armando Caldeira–Pires/UnB, Asher
Kiperstock/UFBa, Cassia Ugaya/CEFET–PR, Gil Anderi/USP, Heloisa
Medina/CETEM, Alejandro Pablo Arena/Argentina, Claudia Pena/Chile,
Sonia Valdivia/Peru, Nydia Suppen/Mexico, Greg Norris/Harvard–USA)
ANEXOS
140
Projetos de Cooperação
1. Coleta / Validação :
Objetivo principal :
• caracterização da metodologia de validação e demais procedimentos
de manutenção da qualidade dos dados
Requisitos :
• Base de dados similar àquela analisada pelo IBICT
• Facilidade na interface com usuário
Dados disponíveis :
• Dados públicos (disponíveis na literatura) de ICVs de setores
industriais brasileiros
2. Aquisição de Dados na Industria
Objetivo principal:
• caracterização da metodologia de obtenção de dados dos processos
industriais e dos procedimentos de transferência de informações com a
indústria, identificação dos níveis de agregação a serem aplicados às
informações para a necessária descaracterização tecnológica e
definição de grau de abrangência (porta–a–porta, berço–a–porta, berço–
ao–túmulo).
Requisitos:
• Estudos de caso em atividades industriais que garantam sucesso em
curto prazo.
ANEXOS
141
Rede de Parceiros
• Indústria
Sistema CNI, Federações Industriais, Associações Industriais,
ABIPTI/Institutos Tecnológicos, CEBDS, UNEP/DTIE
Parceiros Individuais: Petrobras, BASF, Unilever, CEMPRE
• Academia / Instituições de Pesquisa
UnB, USP, UFBa, UFMG, UFSC, UFSCar, UFRN, UFPe, UFPA,
CEFET/PR, ITAL, CETEM, INT, IPT
• Governo
MCT, IBICT/MCT, MDIC, MMA, CNPq, CAPES, FINEP
• Internacionais
América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Peru, México
União Européia: Alemanha, Suíça, Dinamarca, Portugal, Holanda,
Espanha, Suécia
NAFTA: Estados Unidos, Canadá, México
APEC: Japão
ANEXOS
142
ANEXO 2
Figura 14 - Gestão da Sustentabilidade na Empresa N atura
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
Os estudos inerentes á ACV iniciaram no ano de 2003 e em 2004 a empresa
é certificada na NBR ISO 14.001. Seu plano de ação foi construído por etapas:
1. Definições de estratégias:
• Incorporação da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) como método
obrigatório no diagnóstico dos impactos causados pelos
processos e produtos;
• Redução de lançamentos de produtos causadores de impactos
ambientais críticos.
2. Entendimento e construção do fluxo de processos para implementação da
ferramenta:
ANEXOS
143
A ACV objetiva à análise de possíveis impactos ambientais associados a um
produto, processo ou atividade através da identificação dos fluxos elementares de
energia e material que entram e saem das fronteiras do sistema analisado.
Assim, na Natura são consideradas as fases principais de ciclo do produto:
produção da matéria–prima; transporte da matéria–prima; processo; transporte das
embalagens; processos internos; caixa de embarque; transporte dos pedidos às
consultoras de vendas; uso; disposição final das embalagens (Figura 15).
Figura 15 – Ciclo do Produto Natura
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
3. Inventários
Considerando as fases de objetivos do escopo e coleta de dados o inventário
da Natura são assim apresentados: a) extração de minérios e combustíveis fósseis
e, consequente, uso do solo por exploração, ocupação e transformação; b)
processos de fabricação de produtos e embalagens; transportes, uso, descartes; c)
resultados (Figura 16).
ANEXOS
144
Figura 16 – Inventário Natura
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
4. Escolha da Metodologia
Baseada na metodologia EPS 2000, foram considerados os pontos iniciais,
médios e finais nos impactos ambientais, remetendo à saúde humana, recursos
abióticos, e capacidade de produção do ecossistema. Nesse caso, os indicadores de
saúde humana apoiaram–se nos impactos desde mínimos até bastante
comprometedores. Os recursos abióticos também foram identificados (endpoints) e,
da mesma forma, a qualidade de ecossistemas (Figura 17).
ANEXOS
145
Figura 17 – Avaliação do Impacto Ambiental
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
Assim sendo, foram classificadas emissões e recursos para então se
identificarem às classes e graus de impactos. Os dados foram calculados para então
se proceder aos ajustes necessários (Tabela 1).
Tabela 1 – Comparativo de Impacto Ambiental
Descrição Pote 150 g Ekos
cartucho
Pote 150 g Ekos selo
Pote 150 g Ekos luva
Pote 150 g Ekos atual
Impacto médio 2003
Categ. UN IV Natura
Massa/embalagem 115,2 92,9 95,7 141,8 49,9 34,4 68,9
Massa/embalagem/conteúdo 0,77 0,62 0,64 0,71 0,182 0,135 0,407
Impacto (midi points) 27,0 25,5 25,1 38,4 11,4 7,8 10,7
Impacto/conteúdo 0,180 0,170 0,167 0,192 0,0415 0,031 0,063
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
ANEXOS
146
Após tais ponderações, a avaliação dos impactos propicia a identificação dos
fatores que justificam providências, procedimentos e investimentos necessários à
melhoria ambiental. O fluxo de implantação da ACV na Natura foi constituído
conforme abaixo (Figura 18).
Figura 18 – Etapas ACV na Natura
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
5. Providências, mudanças de procedimentos e ajuste nos processos
Inicialmente, foram definidas medidas de inovação nas embalagens usadas
nos produtos, sendo estas que identificaram o maior potencial de impactos, já que a
empresa operava desde 1997 com produtos naturais em conformidade com o SGA
implantado (Figura 19).
ANEXOS
147
Figura 19 – Inovação na produção de embalagem
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
O plano executivo adotado promoveu resultados significativos na ordem de
20% na redução da massa de embalagens. Determinou–se a diminuição do uso de
materiais. Os potes anteriormente eram compostos por: pote, propriamente dito,
caneca, que continha o produto e tampa. Na redução de materiais, foi desenvolvido
novo design para o pote que passou a deter a filtragem nele próprio, eliminando–se
a caneca (Figura 20).
ANEXOS
148
Figura 20 – Alteração nas Embalagens
Composição dos potes anteriores
Redução de materiais
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf) adaptado.
Os resultados em peso e volume refletiram na redução já citada de cerca de
20% (Tabela 2).
Tabela 2 – Redução do uso de materiais
Descrição Massa (g) Material de composição
Pote antigo Pote novo Pote antigo Pote novo Pote 61 37 PP PP
Tampa 30 39 PP PP
Caneca 21 17 PP PP
Total 112 93 Unidade Funcional mL 200 150
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf) adaptado.
A redução de 112g para 93g em massa relativa à embalagem resultou em diminuição aproximada de 20%.
6. Manutenção
A partir dos novos procedimentos, a Natura introduziu a ferramenta BSC
(Balanced Scorecard) para avaliar periodicamente os processos, identificando
resultados angariados com as mudanças e as possíveis necessidades de ajustes.
Na verdade, refere–se a uma técnica para avaliar metas a partir de perspectivas do
cliente; financeira; de processos internos focado no negócio e no aprendizado e
conhecimento. Portanto, empregando um esquema próprio a empresa procurou
assegurar–se de suas conquistas (Figura 21).
ANEXOS
149
Figura 21 – BSC Natura após ACV
PERSECTIVA FINANCEIRA
METAS INDICADORES
Investir de forma
relevante nas questões
ambientais
Investimentos e custos
adicionados pelas iniciativas
de meio ambiente
PERSECTIVA DO CLIENTE PERSECTIVA CONHECIMENTO
METAS INDICADORES METAS INDICADORES
Ser empresa referência em
relação ao meio
ambiente
Pesquisa de imagem da
marca associada ao meio
ambiente. Resultados de
pesquisas externas
(Instituto Ethos)
Melhorar continuamente o desempenho
ambiental
Consumo de água, de energia
e gestão de resíduos
PERSECTIVA PROCESSOS
METAS INDICADORES
Buscar a prevenção da
poluição ambiental
Indicador de retorno das
embalagens dos produtos
consumidos pelos CFs
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da empresa Natura, 2006.
Considerando as perspectivas previstas pela empresa, observa–se a visão
estratégica considerada no estabelecimento dos objetivos futuros, com seus
indicadores de desempenho e metas a serem alcançadas. Na verdade, o processo
continua na Natura, outros ciclos estão em análise (Figura 22).
ANEXOS
150
Figura 22 – Exemplo de revisões ACV
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
Em 2004, uma vez consolidado o estudo de ACV para os potes de
embalagem, a Natura registra a patente (Figura 23) e permanece em revisão de
seus processos, buscando a melhoria de seu desempenho ambiental.
Figura 23 – Registro da Patente de Embalagem – Pote s.
Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in
http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)
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