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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Rosângela Ascenção Dias de Souza Figaro Análise da Afetividade de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pelo Método de Rorschach: um enfoque Junguiano MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA SÃO PAULO 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Rosângela Ascenção Dias de Souza Figaro

Análise da Afetividade de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pelo Método de Rorschach: um enfoque Junguiano

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

SÃO PAULO

2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLÍNICA

NÚCLEO DE PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR

Rosângela Ascenção Dias de Souza Figaro

Análise da Afetividade de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pelo Método de Rorschach: um enfoque Junguiano

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica sob a orientação da Profa. Dra. Ceres Alves de Araújo.

SÃO PAULO

2009

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Banca Examinadora

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À Eloá,

que me lembra constantemente

a importância da Afetividade em nossas vidas.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Ao meu pai Oswaldo e à minha mãe Norma pelo apoio e amor incondicionais.

À minha irmã Marisa, quando havia tanto trabalho a ser feito.

À minha prima Elizabeth Cecília, por viabilizar a coleta de dados com o grupo controle.

A todos os que tornaram este trabalho possível, a minha profunda gratidão, em especial:

À Profª. Dra. Regina Sonia G. Nascimento por sua disponibilidade sempre generosa em

compartilhar seu conhecimento.

À Minha Orientadora Profª. Dra. Ceres Alves Araújo, por me orientar sempre na direção do

caminho da ética e do trabalho sério, especialmente com as crianças.

Ao Dr. Mauro Muszkat, pelo incentivo à pesquisa.

A todos os profissionais do NANI (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil-

UNIFESP), por me auxiliarem com a coleta de dados.

À Profª. Sonia Maria Silva pelo incentivo e suporte com a classificação das respostas do teste

e por ter “plantado” a idéia do mestrado.

Às minhas queridas Rita Rosa, minha terceira juíza, e Maria Mello pela presença sempre

amiga.

Ao Prof. Paulo Martins pelo suporte emocional e pela ajuda com o material para pesquisa.

À Márcia Sapata pela ajuda com a teoria.

À Mariana Leboreiro que com sua meiguice me socorreu muitas vezes.

À Profª. Yara G. Castro por sua paciência com a minha ignorância em estatística.

À Telma, Selma e Maristela pela parceria e companheirismo.

À Cidinha, Fátima, Lílian e Ceres pela compreensão dos meus déficits de atenção.

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ao Programa de Estudos Pós-Graduados

em Psicologia Clínica, os meus sinceros agradecimentos pela bolsa de estudos que

possibilitou a conclusão desta pesquisa.

A esta força misteriosa, que promove os encontros e desencontros, a qual, como disse Jung,

alguns chamam de DEUS. Obrigada!

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RESUMO

Este estudo se dedicou à análise das características afetivas e emocionais das crianças que

apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH. Os resultados

obtidos pela aplicação do Método de Rorschach de acordo com o Sistema Compreensivo de

Exner apontam para suscetibilidade a episódios depressivos. Verificamos também

dificuldades no controle inibitório, associadas a situações de estresse permanente, resultantes

de atividade ideacional intensa, o que interfere nos processos de atenção e concentração.

Foram observados sentimentos de angústia, gerados por certa consciência de necessidades não

atendidas. As crianças com TDAH apresentam características afetivas e emocionais

complexas, sendo o processamento das emoções o mais importante em sua atividade

psicológica. Tendem a buscar autonomia e auto-afirmação, correndo o risco de terem

condutas impulsivas ou de oposição. Com base na teoria junguiana representada pelas idéias

de Jean Knox sobre a memória implícita e os complexos, concluímos que por serem intensas

emocionalmente, as crianças com TDAH apresentam um estilo de resposta determinado pelo

Complexo Materno. Este se constituirá a partir de sentimentos e emoções armazenados na

memória implícita, decorrentes das aprendizagens ocorridas nas relações da criança com sua

mãe ou com seu cuidador.

PALAVRAS CHAVE: TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE –

AFETIVIDADE - TESTE DE RORSCHACH - COMPLEXO

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ABSTRACT

This study was dedicated to the analysis of affectional and emotional characteristics of

children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder - ADHD. The results obtained by

applying Rorschach Test by Exner Comprehensive System indicate susceptibility to

depressive episodes. We also verify difficulties in inhibitory control, related to situations of

ongoing stress, resulting from intense ideational activity, which interferes with their processes

of attention and concentration.

There were observed distress feelings, generated by some awareness of unmet needs. ADHD

children present complex affectional and emotional characteristics, being the processing of

emotions the most important in their psychological activity.

They tend to seek autonomy and self-assertion, at the risk of having impulsive and opposing

behaviors. Based on Jung Theory represented by Jean Knox’s ideas about the implicit

memory and complexes, we conclude that for being emotionally intense, ADHD children

present a response style determined by Mother Complex. Such complex will be constituted

from feelings and emotions stored in the implicit memory, originated from the learning

occurred in the relationships between the child and their mother or care giver.

KEYWORDS: ATTENTION DEFICIT DISORDER AND HYPERACTIVITY – AFFECT -

RORSCHACH TEST - COMPLEX

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Distribuição da amostra de acordo com o sexo dos participantes ..........................58

TABELA 2 - Médias das idades dos participantes........................................................................59

TABELA 3 - Distribuição da amostra por sexo dos participantes. ...............................................59

TABELA 4 - Média dos anos de escolaridade dos participantes ..................................................60

TABELA 5 - Índice de Depressão (DEPI) Positivo......................................................................60

TABELA 6 - Médias do Índice de Depressão (DEPI) Positivo. ...................................................61

TABELA 7 - Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo: M< WSUMC ........................61

TABELA 8 - EB PER Extratensivo. .............................................................................................62

TABELA 9 - Médias do lado direito de eb (Experiência de Base): ..............................................63

TABELA 10 - FM+m > ou < SH+C’............................................................................................64

TABELA 11 - Respostas FM. .......................................................................................................64

TABELA 12 - Análise das Médias FC: CF+C e C Pura...............................................................65

TABELA 13 - FC > ou < CF+C....................................................................................................65

TABELA 14 - A qualidade formal (FQ) de FC ............................................................................66

TABELA 15 - Médias de Afr........................................................................................................67

TABELA 16 - Médias de Cor Projetada .......................................................................................67

TABELA 17 - Porcentagem de Cor Projetada (CP)......................................................................68

TABELA 18 - Tabela das Médias de Respostas ao Espaço em Branco (S)..................................68

TABELA 19 - Porcentagem de (S). ..............................................................................................69

TABELA 20 - Blends: Respostas..................................................................................................70

TABELA 21 - Análise Qualitativa de Blends...............................................................................70

TABELA 22 - Médias de SUMC’ e de WSUMC.........................................................................74

TABELA 23 - Índice de PTI .........................................................................................................75

TABELA 24 - Índice de CDI ........................................................................................................75

TABELA 25 - Índice de Hipervigilância (HVI) ...........................................................................76

TABELA 26 - Estilo Obsessivo. ...................................................................................................76

TABELA 27 - Nota D e Nota D Ajustada (Adj D). ......................................................................77

TABELA 28 - Lambda “L”...........................................................................................................78

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................10

2 OBJETIVOS......................................................................................................14

2.1 Objetivos gerais ..................................................................................................14

2.2 Objetivos específicos ..........................................................................................14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................15

3.1 O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ..................................15

3.2 O Desenvolvimento Emocional e a Modulação dos Afetos............................29

3.3 A Afetividade no Rorschach pelo Sistema Compreensivo de Exner ............34

3.3.1 O Índice de Depressão (DPI) ..............................................................................35

3.3.1.1 Aspectos qualitativos de DEPI............................................................................36

3.3.2 Erlebnistypus “EB” (Tipo de Vivência) .............................................................37

3.3.3 Experiência de Base ............................................................................................39

3.3.4 FC:CF+C.............................................................................................................39

3.3.5 Afr, WsumC:SumC’e a Modulação Suficiente do Afeto....................................40

3.3.5.1 A proporção afetiva (Afr)....................................................................................41

3.3.5.2 Proporção de Constrição: SUM C’: WSUMC....................................................41

3.3.6 Proporção de Complexidade (Blends: R) ...........................................................42

3.3.7 Respostas Complexas de Sombreado-Cor ..........................................................42

3.3.8 A projeção da Cor (CP).......................................................................................42

3.3.9 O uso do espaço em branco.................................................................................43

3.3.10 Lambda e a abertura para a experiência..............................................................43

3.3.11 O Escore D e D ajustado (ADJ D) ......................................................................44

3.3.12 As Constelações Positivas...................................................................................46

3.4 A cor como expressão do Afeto ........................................................................47

4 MÉTODO ..........................................................................................................50

4.1 Características do Estudo.................................................................................50

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4.2 Sujeitos ...............................................................................................................50

4.2.1 Critérios de inclusão ...........................................................................................50

4.2.2 Critérios de exclusão...........................................................................................51

4.3 Local da Coleta de Dados .................................................................................51

4.4 Instrumentos......................................................................................................51

4.1 O Método de Rorschach......................................................................................52

4.4.2 O Sistema Compreensivo de Exner ....................................................................52

4.4.3 Modulação dos Afetos ........................................................................................53

4.5 Procedimentos ...................................................................................................57

4.5.1 Seleção da Amostra.............................................................................................57

4.5.2 Aplicação dos Instrumentos ................................................................................58

4.5.3 Previsão de Análise.............................................................................................58

4.6 Cuidados éticos ...................................................................................................59

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.........................................60

5.1 Idade...................................................................................................................60

5.2 Sexo.....................................................................................................................61

5.3 Escolaridade ......................................................................................................61

5.4 Análise dos traços afetivos................................................................................62

5.4.1 Passo 1: O índice de Depressão (DEPI) ...........................................................62

5.4.1.1 DEPI > ou < 5 ....................................................................................................62

5.4.2 Passo 2: Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo e EBPER .............63

5.4.2.1 EB PER ...............................................................................................................64

5.4.3 Passo 3: Análise do lado direito de eb, a experiência de base ............................64

5.4.3.1 Análise de FM+m > ou < SH+C’ ......................................................................65

5.4.3.2 Análise das respostas FM separadas de m ........................................................66

5.4.4 Passo 4: Análise de FC:CF+C e C pura ..............................................................66

5.4.4.1 Análise de FC: CF+C .........................................................................................66

5.4.4.2 Análise de C Pura ...............................................................................................67

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5.4.4.3 Análise da proporção FC > ou < CF+C............................................................67

5.4.4.4 A qualidade formal de FC...................................................................................68

5.4.5 Passo 5: A Proporção Afetiva (Afr)....................................................................69

5.4.6 Passo 6: A projeção de Cor (CP) ........................................................................69

5.4.7 Passo 7: Respostas ao Espaço em Branco (S).....................................................70

5.4.8 Passo 8: Respostas Mistas “blends”:...................................................................71

5.4.9 Passo 9: Análise Qualitativa de blends (respostas mistas)..................................72

5.4.10 Passo 10: Análise de SUMC’: WSUMC ............................................................75

5.5 As constelações Positivas ..................................................................................76

5.5.1 Índice de Transtorno de Percepção e Pensamento (PTI) ....................................76

5.5.2 Índice de Déficit Relacional (CDI) .....................................................................77

5.5.3 Índice de Hipervigilância ....................................................................................78

5.5.4 Índice de Estilo Obsessivo (OBS).......................................................................78

5.6 As variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse ........................................79

5.6.1 Nota D (D) e Nota D Ajustada (Adj D) ..............................................................79

5.7 Lambda “L” e a abertura a experiência .........................................................80

6 DISCUSSÃO......................................................................................................81

6.1 O “Complexo” TDAH.......................................................................................86

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................89

8 REFERÊNCIAS ................................................................................................91

APÊNDICE A - Termo de Esclarecimento sobre a pesquisa.............................................95

APÊNDICE B - Termo de Apresentação para Escola .......................................................96

APÊNDICE C - Questionário Sócio-demográfico.............................................................97

APÊNDICE D - Valores das Médias das Variáveis do Afeto (1° Juiz) .............................98

APÊNDICE E - Valores das Médias das Variáveis do Afeto (2° Juiz) .............................99

ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...............................................100

ANEXO B - Sobre o Método de Rorschach .......................................................................101

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1 INTRODUÇÃO

O interesse em estudar as características emocionais de crianças que apresentam o

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) nasceu de nossa experiência

profissional, inicialmente na área de educação infantil, trabalhando com crianças consideradas

agitadas. Esta experiência estendeu-se posteriormente à atividade clínica e, neste contexto,

deparamo-nos com a necessidade de uma maior compreensão de critérios diagnósticos que

pudessem transformar-se em ferramentas úteis ao entendimento e tratamento adequado das

carências dessas crianças. Sabemos que as queixas de desatenção, hiperatividade e

impulsividade, os sintomas cardinais do TDAH, podem estar presentes em diferentes

problemáticas, psiquiátricas ou não, em diversas doenças e ainda serem a forma de expressão

ou reação frente a ambientes desajustados. Assim sendo, carecemos de uma compreensão

ampla do transtorno, que possibilite o diagnóstico bem elaborado.

Em nossa tentativa de atender suas necessidades, ao longo do tratamento, aplicamos o

Método de Rorschach, pelo Sistema Compreensivo de Exner, em algumas crianças, a fim de

uma reavaliação dos dados do psicodiagnóstico. Além de coletarmos informações importantes

sobre o seu funcionamento psicológico, chamou nossa atenção o índice Positivo para

Depressão, apresentado por elas. Este fato contribuiu para a verificação da complexidade do

transtorno, que pode apresentar-se em termos comportamentais de diversas formas.

Há um grande número de comorbidades associadas ao TDAH, sendo quase uma regra

e não exceção, pois os autores estimam que apareçam em aproximadamente 65% dos casos. O

Transtorno Opositor, Transtorno de Aprendizagem, Transtorno de Conduta e Depressão, são

os mais comuns entre elas.

Topczewski (1999) escreve que a hiperatividade é muitas vezes a expressão de uma

disfunção orgânica, porque envolve diversas áreas do cérebro na determinação do quadro

hiperativo, mas considera que o estado psicológico pode ser o fator determinante na

hiperatividade. Logo, é provável que ambos os fatores, orgânico e psicológico, estejam

associados na constituição do transtorno.

Rohde (2003) afirma que como causas, os fatores neurológicos e geneticamente

determinados são os mais importantes em sua explicação e os estudos quase que

exclusivamente se destinam à compreensão sintomatológica. As pesquisas que enfocam os

fatores psicossociais são escassas, apesar de haver publicações que os apontam também como

determinantes importantes.

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O detalhamento das características do TDAH está descrito e atualizado no Manual

Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais, Tradução Revisada DSM IV TR (2003),

sendo pesquisado há mais de meio século e na atualidade encontra-se em destaque dentre os

temas pesquisados por profissionais de saúde e educação. É considerado um transtorno do

neurodesenvolvimento que não apresenta uma etiologia específica, mas diversas alterações de

ordem neuroquímica, genética e ambiental. As crianças que o apresentam têm uma

performance prejudicada em tarefas que exigem atenção, planejamento e organização, além

de falhas na inibição comportamental, processos relacionados ao lobo frontal, a área do

cérebro responsável por tais funções.

No TDAH ocorre um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-

impulsividade, mais freqüente e grave do que aquele tipicamente observado nos indivíduos

em nível equivalente de desenvolvimento. Alguns sintomas hiperativos-impulsivos que

causam comprometimento devem estar presentes antes dos sete anos.

Quanto às dificuldades de atenção, verificam-se déficits da atenção seletiva, a qual

orienta a consciência para um determinado estímulo dentre uma variedade de estímulos para

que consigamos extrair algum significado. A atenção seletiva envolve também a habilidade de

atender preferencialmente a um contexto e simultaneamente ignorar detalhes não relevantes

(MUSZKAT, 2008).

Barkley (2002) propõe que o TDAH é um transtorno do desenvolvimento do

autocontrole (controle inibitório), refletido em prejuízos na vontade da criança, em sua

capacidade de controlar seu próprio comportamento. O modelo teórico deste autor se refere

ainda aos comprometimentos das funções executivas, que são aquelas que envolvem

planejamento e uso de estratégias de resolução de problemas, visando à execução de metas.

De acordo com a predominância de seus principais sintomas, desatenção, a

hiperatividade e impulsividade, o TDAH pode ser subdividido em três tipos:

I. Predominantemente desatento

II. Predominantemente hiperativo/impulsivo

III. Tipo Combinado: desatento+hiperativo/impulsivo

O subtipo apropriado para um diagnóstico atual, deve ser indicado com base no padrão

sintomático dominante nos últimos seis meses.

Nosso estudo foi realizado com crianças que apresentavam o TDAH do tipo

combinado, as quais diferem daquelas sem hiperatividade não apenas no seu padrão

emocional e comportamental, mas também em seu funcionamento cognitivo. Neste subtipo há

o comprometimento de duas áreas do cérebro: a frontal e a posterior. Estudos

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neuroanatômicos por ressonância magnética mostram que há uma redução dos lobos frontais,

núcleos caudados e cerebelo. Estas duas últimas alterações explicam os sintomas de

hiperatividade e impulsividade, ao passo que as alterações dos lobos frontais seriam

responsáveis pelos sintomas de desatenção, ocorrendo uma dificuldade em acoplar a

informação entre estas duas áreas (NAHAS; XAVIER, 2005).

A forma pela qual estas crianças expressam-se e como se sentem é fonte de nossa

curiosidade e desejo de compreensão. Tanta atividade sem finalidade aparente, até mesmo nas

brincadeiras, onde observamos dificuldades em processos de começo, meio e fim,

demonstrando seus sentimentos de incompetência e inadequação. São freqüentes os

comentários: “vai demorar?” ou “sou tão azarado!” Interessou-nos pesquisar o Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade, a partir dos sentimentos e afetos dessas crianças, de sua

realidade e demanda internas, de seus pensamentos e emoções e acima de tudo, de seu

potencial, impedido de fluir e encontrar canais adequados de expressão.

Utilizamos afeto e emoção como sinônimos, nos referindo àqueles complexos de

reações que incluem componentes cognitivos, fisiológicos e comportamentais, fortes

alterações do estado psíquico, acompanhadas de determinadas modificações somáticas. Num

sentido amplo, nos referimos à emoção como processos de importância central na mente, os

quais envolvem alterações que se originam de uma situação que afeta positiva ou

negativamente a pessoa e que se manifesta em sua conduta fisiológica. Sabemos da

importância que as emoções desempenham na vida psicológica, pois tendem a permear a

maior parte das atividades, interferindo com os pensamentos, influenciando julgamentos,

decisões e comportamentos. Buscamos enfim, apontar o papel que as emoções desempenham

na organização psicológica das crianças com TDAH.

Para tal, utilizamos o Método de Rorschach, de acordo com o Sistema Compreensivo

de Exner. A avaliação dos dados forneceu contribuições valiosas sobre as características

emocionais das crianças que apresentam o transtorno e permitiu comparações com aquelas

que não o apresentam.

Entendemos ser necessária uma compreensão do ponto de vista biopsicossocial dos

fatores que atuam na determinação do TDAH, visto que o ser humano é um ser de relação e

não há um todo que não altere, nem seja alterado por suas partes e vice e versa. Supomos que

desta forma estaremos colaborando também para uma compreensão mais ampla das

características de quem o apresenta, em nosso caso, dessas crianças que não param e que

exigem de nós formas diferentes de abordar a experiência. A criança hiperativa interfere em

seu meio, mas também sofre as suas interferências.

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Pensamos ser importante entender tais relações e para tal utilizamos o referencial

teórico da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, que nos oferece uma forma de abordar os

fenômenos de modo finalista e não causalista, considerando suas relações e interdependência,

o que nos permite ir além da classificação e descrição dos sintomas, tão importante, mas já

bem exploradas nas pesquisas, as quais se restringem ao “bio” e/ou ao “psico”, ficando a

carência de uma análise mais ampla. Esta é a contribuição à qual este estudo se dedicou.

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2 OBJETIVOS

Dada a complexidade das características do TDAH, selecionamos alguns objetivos que

norteassem nossa pesquisa, na avaliação da afetividade das crianças que o apresentam.

2.1 Objetivo geral

Avaliar e analisar as características afetivas e emocionais da criança diagnosticada

com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade por meio do Método de Rorschach,

pelo Sistema Compreensivo de Exner.

2.2 Objetivos Específicos

Comparar as características emocionais das crianças que apresentam o TDAH com

aquelas que não o apresentam, verificando a possibilidade de um padrão de respostas que

indique um tipo ou traços de sua personalidade.

I. Examinar no Rorschach as variáveis do módulo do afeto, as constelações

positivas, os valores da proporção “EB” (Tipo de Vivência: introversivo e extratensivo)

e de “Lambda” (foco de atenção e abertura à experiência).

II. Avaliar o Escore D e D ajustado (Adj D) a fim de ampliar a compreensão das

capacidades de controle das crianças com TDAH em comparação às crianças que não o

apresentam.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nosso tema de estudo compreende a descrição das características do Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade e sua fundamentação, assim como do desenvolvimento

afetivo e emocional da criança, a fim de que possamos ter parâmetros de comparação entre as

crianças que apresentam o transtorno com aquelas que não o apresentam. Também se fez

necessário abordar como o método de Rorschach avalia a Afetividade.

3.1 O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade:

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao longo dos anos

tornou-se um dos transtornos psiquiátricos que obteve relevante número de pesquisas e estes

estudos permitiram o desenvolvimento de critérios diagnósticos importantes.

Ao longo da história, sua nomenclatura teve várias mudanças e até o final da década

de 60, era conhecido como Lesão Cerebral Mínima e Disfunção Cerebral Mínima. Na década

de 70 os estudos eram voltados para os aspectos motores. Na década de 80 os autores

ressaltaram outros aspectos além da “síndrome hiperativa”, como a dificuldade em manter o

esforço e a atenção, em inibir respostas impulsivas, incapacidade de modular a excitação em

níveis apropriados e uma forte tendência para procurar recompensa imediata. Assim, com o

resultado dessas investigações, o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais de

1994 (DSM IV, 1994) denominou-o como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,

tomando como sintomas nucleares, a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. A

décima versão da Classificação Internacional das Doenças (CID 10) denomina-o de

Transtorno Hipercinético, sendo esta terminologia mantida desde 1993.

O TDAH é considerado um transtorno de desenvolvimento, acometendo cerca de 3 a

6% das crianças de tenra idade, persistindo na vida adulta em mais da metade dos casos e, é a

principal causa de encaminhamento de crianças para serviços especializados. Já foi também

considerado um transtorno comportamental de meninos, mas atualmente é bastante

encontrado em meninas, adolescentes e adultos. (ROHDE, 2003).

Os estudos atuais ainda apontam uma maior incidência do transtorno em meninos,

ocorrendo numa proporção cinco vezes maior (NAHAS; XAVIER, 2005).

O TDAH constitui um alcance impropriamente fraco da atenção em termos evolutivos,

que se refere à capacidade de orientá-la, focalizá-la e mantê-la. Soma-se a isso aspectos de

hiperatividade e impulsividade, ou ambos, inapropriados à idade. Para preencher os critérios

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diagnósticos, é preciso estar presente antes dos sete anos e os sintomas estarem presentes em

diferentes ambientes, por exemplo, casa e escola.

Não há uma etiologia específica comprovada, mas considera-se que um conjunto de

fatores atue em sua determinação: fatores neuroquímicos, genéticos e ambientais.

De acordo com a prevalência de sintomas, ele pode ser subdividido em três grupos ou

subtipos, como descrito no DSM IV TR (2003): predominantemente desatento,

predominantemente hiperativo-impulsivo e o subtipo combinado (desatento e hiperativo-

impulsivo). Estes sintomas, também chamados de “cardinais”, para que sejam considerados

característicos, devem aparecer em freqüência acima do normal esperado para etapa do

desenvolvimento, e em pelo menos dois ambientes diferentes (por exemplo: casa e escola).

Os critérios diagnósticos descritos são os seguintes:

I. Desatenção: Se seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção, persistirem por

pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de

desenvolvimento:

a. Freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por

descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras.

b.Com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades

lúdicas

c. Com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra

d. Com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.

f. Com freqüência evita, antecipa ou reluta envolver-se em tarefas que exijam

esforço mental constante(como tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais.

h.É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa.

i. Com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias.

II. Hiperatividade: Se seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade,

persistirem por pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o

nível de desenvolvimento.

a. Freqüentemente agita as mãos ou pés ou se remexe na cadeira.

b.Freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas

quais espera que permaneça sentado.

c. Freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é

inapropriado.Em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações

subjetivas de inquietação.

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d. Com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente

em atividade de lazer.

e. Está freqüentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo

vapor”.

f. Freqüentemente fala em demasia.

III. Impulsividade

a. Freqüentemente dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido

completadas.

b. Com freqüência tem dificuldade para aguardar a sua vez.

c. Freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo,

intromete-se em conversas ou brincadeiras).

Há outros sintomas que não estão listados nos critérios tradicionais, mas que são

bastante comuns e importantes para se fazer o diagnóstico:

a. baixa auto-estima;

b. sonolência diurna;

c. irritabilidade;

d. necessidade de ler mais de uma vez para fixar o que leu;

e. dificuldade em levantar de manhã e se “ativar” para começar o dia;

f. adiamento crônico das coisas;

g. mudança de interesse o tempo todo. No início as coisas são empolgantes depois

ficam desestimulantes;

h. intolerância a situações monótonas ou repetitivas;

i. busca freqüente por coisas estimulantes ou diferentes;

j. variações freqüentes de humor;

O transtorno caracteriza-se por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e

comportamentais, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil: o controle

inibitório que se refere à capacidade que a criança tem em inibir e controlar o seu

comportamento de acordo com as exigências das situações; memória operacional; funções

executivas e mais especificamente à dificuldades da atenção seletiva. Tais prejuízos estão

associados ao funcionamento de todo o lobo frontal.

Muszkat (2008) assinala que os lobos frontais são as partes mais recentes da formação

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do encéfalo e estão envolvidas com aspectos mais elaborados do comportamento humano e

têm a função de organizá-lo.

Inúmeros são os estudos dos lobos frontais, pois são regiões muito complexas,

responsáveis por funções importantes, tais como:

I. Regular o estado de atividade referente ao tono cortical, imprescindível para

regulação dos processos de ativação que estão na base da atenção voluntária;

II. Modular a atenção seletiva, a qual orienta a consciência para discriminar e priorizar

alguns estímulos em detrimento de outros (é uma das problemáticas da criança com

TDAH);

II. Regulação de movimentos e ações;

III. Planejamento e seqüência de respostas, que constituem a base das funções

executivas, também deficitárias no TDAH. As funções executivas se referem àquelas

habilidades associadas ao pensamento e se relacionam com habilidades de planejamento

e uso de estratégias de resolução de problemas visando à execução de metas e

envolvem: organização e planejamento de ação; comportamento orientado a metas;

manutenção da disposição para agir; inibição seletiva do comportamento, o controle

inibitório; capacidade de mudar o plano de ação diante de mudanças de tarefa,

flexibilidade mental; memória operacional; atenção seletiva, vigilância e resolução de

problemas; controle emocional e metacognição.

III. Memória, principalmente a memória de trabalho ou memória operacional. São

comuns as queixas de esquecimento em fazer as tarefas escolares, perder objetos, etc.

O sistema de memória operacional se relaciona às informações que são relevantes

somente para a execução de uma dada atividade, sendo assim mantidas na mente apenas

enquanto úteis e esquecidas em seguida. Para realizar determinadas tarefas precisamos manter

temporariamente as informações necessárias à sua realização. Esse armazenamento

temporário, bem como a manutenção ativa, deste tipo de conteúdo é o que se chama de

memória operacional. (MELLO; MIRANDA; MUSZKAT, 2005).

Desta forma abordamos as bases neurológicas do TDAH, mas ainda necessitamos

esclarecer que tendo sido o nosso estudo voltado para o tipo combinado do TDAH, aquele em

que há um misto dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, além da área

frontal, a área posterior do cérebro está envolvida na determinação dos sintomas. Nahas e

Xavier (2005) citam que estudos neuroanatômicos por ressonância magnética mostram uma

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redução dos lobos frontais, núcleos caudados e cerebelo. Estas duas últimas alterações

explicam os sintomas de hiperatividade e impulsividade, ao passo que as alterações dos lobos

frontais seriam responsáveis pelos sintomas de desatenção, ocorrendo uma dificuldade em

acoplar a informação entre estas duas áreas.

De acordo com Barkley (2002, p. 50) o TDAH é um transtorno do autocontrole, sendo

refletido em prejuízos na vontade da criança, em sua capacidade de controlar seu próprio

comportamento: “Acredito que todos esses sintomas estão associados a um déficit primário na

inibição do comportamento, que é o símbolo do TDAH”.

Este autor traz uma contribuição significativa ao nosso estudo, focando a problemática

do transtorno na inibição dos impulsos, ou controle inibitório. Nos deteremos um pouco mais

em suas pesquisas, pois elas tratam do papel que a modulação dos afetos desempenham na

determinação do transtorno e serão de grande utilidade para atingirmos nosso objetivo de

melhor compreender a afetividade dessas crianças. Ele assinala que as crianças com TDAH

não têm problemas em filtrar informações, distinguir o importante do irrelevante naquilo que

são solicitadas a fazer. Elas perdem o interesse mais rapidamente pelo que fazem que as

crianças que não apresentam o transtorno. Sentem-se mais atraídas pelos aspectos

recompensadores, divertidos e reforçativos em qualquer situação. Isto se refere a um

problema no adiamento de gratificação, sendo de fundamental importância que entendamos

isto, pois acreditar que pessoas com TDAH sejam simplesmente muito distraídas frente a

tudo, seria repetir métodos que foram utilizados há quarenta anos atrás, reduzindo as fontes de

distração, sendo que tais tentativas podem tornar realmente essas crianças mais agitadas e

menos atentas. Reduzir a estimulação torna-se ainda mais difícil para uma criança com

TDAH. Seus estudos mostram que adicionar cor aos materiais de trabalho reduz seus erros

durante a execução das tarefas e com isto, comprovam que estímulos diferentes podem

aumentar as capacidades de prestar atenção e de completar seu trabalho com menos erros.

Assim, aumentar as inovações, a estimulação ou a diversão nas tarefas, pode auxiliá-las a ter

melhores resultados. As gratificações poderiam ser também abreviadas e as atividades

divididas em menores segmentos.

Tais afirmações nos parecem respeitar as idiossincrasias da criança com TDAH,

ressaltando suas capacidades ao invés de reforçarem os seus tão comentados “déficits”. Se

atendida em suas necessidades, esta criança poderá desenvolver e expressar sua criatividade,

suas habilidades, chegando aos mesmos resultados que a criança que não apresenta o

transtorno, porém através de outras estratégias, o que torna grande o desafio, pois elas

requerem mudanças de padrões previamente estabelecidos, novas formas de abordagem.

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Para Barkley (2002) a hiperatividade, a impulsividade e a dificuldade em sustentar a

atenção são partes do mesmo problema subjacente - a inibição do comportamento.O autor

sugere ainda, a renomeação do transtorno, incluindo esta nova concepção, para “transtorno de

inibição do comportamento”. Tendo como foco de sua teoria a modulação dos afetos, afirma

que o controle dos impulsos atua também na noção de tempo, pois a capacidade de esperar

nos leva a criar um senso de passado e, deste, um senso de futuro; de desenvolver um discurso

interno e usar este discurso para controlar o nosso próprio comportamento; separar emoções

de informações; desenvolver a capacidade de análise e síntese; de interiorizar emoções e usá-

las para criar motivação interna para dirigir nosso comportamento em busca de objetivos.

Logo, se o TDAH é um problema relacionado à capacidade de inibir o comportamento,

presume-se que se refere também a problemas nessas habilidades mentais.

As conseqüências dessas dificuldades geram outras, relacionadas às funções

executivas, já comentadas, às quais capacitam o indivíduo ao desempenho de ações

voluntárias, que visam atingir metas específicas e o planejamento dessas ações. Englobam

todos os processos responsáveis por focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar

funções cognitivas, emoções e comportamentos, visando à realização de tarefas simples, de

rotina, e a solução de problemas novos.

Rohde (2003) ao comentar o modelo de Barkley aponta que este é denominado

modelo híbrido – aplicado apenas aos subtipos que apresentam hiperatividade, não incluindo

o subtipo desatento. O controle inibitório exerce papel preponderante, pois dele depende o

lapso de tempo necessário para que as demais funções executivas se processem de modo

harmonioso. Essas funções são: memória de trabalho verbal e não-verbal, a auto-regulação do

afeto, da motivação e dos níveis de atuação. Nelas estão implícitas as noções de tempo, cuja

capacidade necessária é a de antecipar conseqüências futuras, a partir do presente imediato e

de uma avaliação do passado.

De acordo com Mattos (2005) estas considerações sobre as dificuldades de

organização no tempo também são atribuídas ao córtex pré-frontal.

Podemos dizer, que embora as causas do TDAH não sejam exatamente conhecidas,

elas estão associadas a problemas do desenvolvimento e funcionamento da área frontal do

cérebro, caracterizando-o como um distúrbio neurocomportamental, bastante comum na

infância, estimando-se que 3 a 6% da população em idade escolar o apresente, assim como

2% da população de adultos. Estima-se que seja mais comum em meninos do que em

meninas. No entanto, os meninos são mais diagnosticados, pois são mais encaminhados aos

atendimentos devido à forma hiperativa ser mais comum entre eles. As meninas apresentam

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mais freqüentemente o tipo desatento, e como não incomodam, muitas vezes ficam sem

diagnóstico.

O TDAH tem sido objeto de estudo de inúmeras pesquisas que visam aprimorar os

critérios diagnósticos e conhecer sua etiologia. Muitos estudos têm sido orientados para

encontrar uma causa biológica específica que o explique. As investigações científicas atuais

para a determinação da etiologia da síndrome atingem um amplo campo que vai desde

aspectos bioquímicos e neurológicos até psicológicos e sócio-ambientais.

A seguir discutiremos algumas pesquisas que buscaram esclarecer tais fatores e que

fornecem contribuições valiosas para um maior esclarecimento das características do

Transtorno, uma vez que nossa intenção é compreendê-lo de forma mais ampla, de forma

biopsicossocial.

Barbosa, Gaião e Di Lorenzo (1996) distinguem três concepções etiológicas para o

TDAH:

I. a que defende a síndrome como um transtorno de personalidade, oriunda das

abordagens psicodinâmicas;

II. a de base orgânica que considera o transtorno como sendo uma afecção cerebral; e

III. a genética, com a idéia de uma possível transmissão genética nas bases do TDAH.

Estudos recentes sobre síndromes localizadas sugerem que o TDAH resulta de uma

disfunção do lobo frontal, como anteriormente mencionado, devido a uma perturbação dos

processos inibitórios do córtex.

Rohde (2003) enfoca um desequilíbrio neuroquímico nos sistemas neurotransmissores

da noradrenalina e da dopamina, os quais se encontram em níveis inferiores, sendo o TDAH

provocado por uma baixa produção ou subutilização dessas substancias. O sistema

dopaminérgico vem sendo o foco da maioria dos estudos de genética molecular no TDAH.

Stefanatos (2001) e Wasserstein (2001) fazem um estudo com revisão de literatura,

discutindo três casos, para ilustrar o papel do Hemisfério Direito e seus mecanismos

especializados na regulação da atenção. O trabalho procurou demonstrar o complexo papel da

disfunção do hemisfério direito na manifestação do TDAH em adultos, o qual pode ser

compreendido num spectrum de distúrbios das regiões neuronais, especialmente as áreas

parietais do hemisfério direito e suas conexões a estruturas subcorticais (incluindo o sistema

límbico e núcleo do diencéfalo).

Os três casos ilustram as diversidades dos déficits neuropsicológicos vistos em adultos

com TDAH, mesmo naqueles selecionados por um possível perfil do Hemisfério Direito.Há

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semelhanças de desempenho entre a pessoa que apresenta TDAH e a pessoa que apresenta

danos no funcionamento do lobo frontal, localizado no hemisfério direito.

A primeira aplicação comparou a produção da pessoa que apresenta TDAH a uma

pessoa com danos no funcionamento do lobo frontal. Foram submetidos a tarefas de cópias de

modelos (“Ramparts design”). Ambos mostraram dificuldades nas relações espaciais, na

cópia de problemas e de números. O adolescente com TDAH mostrou também perseveração

nos traçados, embora não apresentasse dificuldades nas habilidades matemáticas (discalculia).

Posteriormente foram aplicados testes projetivos e gráficos, nos quais foram constatados

traços de impulsividade e dificuldade de autocontrole. Os testes sugerem as distorções de

relações espaciais, visuais e funções viso-construtivas. Tomadas em conjunto, essas

informações clínicas descrevem que o TDAH é uma condição neurologicamente baseada e

encontrada em pessoas que têm um prejuízo no funcionamento do lobo frontal (lado direito).

Outros dois casos são discutidos para ilustrar essas constatações a respeito do

Hemisfério Direito. A avaliação que se segue, incluiu a aplicação do Wais III e verificou uma

discrepância significativa entre as habilidades verbais e não-verbais. As três pessoas

avaliadas, dois homens e uma mulher, jovens adultos que apresentavam TDAH estavam tendo

dificuldades sérias no funcionamento de sua vida adulta.Todos os três apresentaram um

resultado acima da média em suas habilidades verbais, que contrastou com um resultado

abaixo da média em suas habilidades não-verbais.

Numa outra avaliação, as habilidades acadêmicas foram averiguadas via “WRAT-III”.

Foram medidas as funções executivas, atenção, funções motoras, funções perceptivo-visuais,

memória e capacidade de aprendizagem. Todos os três apresentaram déficits de atenção e/ou

de funções executivas, como também na capacidade de aprendizagem e memória.

Embora esta pesquisa tenha sido feita em adultos, aponta a função significativa do hemisfério

direito na determinação dos sintomas do TDAH. Compreender o papel desempenhado por

este hemisfério nos será muito útil, pois sabemos que é também responsável pelo

armazenamento de memórias emocionais, o que será discutido mais adiante.

A etiologia genética tem sido sustentada a partir de estudos de família com filhos

adotivos e gêmeos que verificaram antecedentes de hiperatividade nos pais e falta de

associação dos sintomas entre crianças adotadas e pais adotivos. Os relatos das pesquisas de

Biederman et al (2001) afirmam que é comum que os pais das crianças com TDAH tenham

também o transtorno. Estes pesquisadores iniciaram em 1986 uma série de quatro estudos dos

aspectos genéticos do TDAH e dos transtornos associados ao TDAH. Na pesquisa foram

utilizados os critérios diagnósticos do DSMIII ou DSMIII-R para alcoolismo e outra

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comorbidade.Aplicaram-se instrumentos estruturados para entrevistas psiquiátricas (NIMH -

Diagnostic Interview Schedule and Diagnoses Intervew para adolescentes e versão para pais).

Na base de todos os estudos, os autores concluíram que TDAH e Transtornos de Humor são

vulnerabilidades familiares compartilhadas.

As pesquisas mostram também uma alta taxa de comorbidade entre o TDAH e os

transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno desafiador de

oposição); depressão; transtorno de ansiedade; e transtorno da aprendizagem. No entanto, não

há estudos que expliquem as razões para que ocorram as comorbidades.

Spencer (2006) em seu trabalho sobre TDAH e comorbidade na infância oferece uma

interessante sugestão a fim de averiguarmos a incidência e/ou desenvolvimento de

comorbidades como transtorno de humor ou de ansiedade. Ele propõe um estudo com

“follow-up” que poderá indicar qual subgrupo de sujeitos com TDAH e comorbidades tem um

pior resultado, evidenciado significativamente pelas dificuldades sociais, emocionais e

psicológicas. Este tipo de pesquisa oferece uma contribuição à investigação dos fatores

psicossociais.

Masi et al (2006) realizaram um estudo sobre o TDAH e o Transtorno Bipolar na

infância e adolescência. Tiveram como objetivo fazer um estudo longitudinal e “cross-

sectional” de tal comorbidade. Eles observaram que de 98 pacientes, 37 apresentaram em

algum momento o diagnóstico de comorbidade em TDAH. Ela é freqüente na juventude e está

associada a um grande dano psicológico.

Sabe-se que o TDAH pode continuar pela adolescência e vida adulta, quase sempre

ocorrendo comorbidades. Neste sentido o diagnóstico adequado é imprescindível para o

prognóstico e prevenção.

Nas pesquisas de caracterização sócio-emocional, o estilo de criação e as

características de personalidade dos pais são considerados fatores que interferem no

desenvolvimento e curso do transtorno. Ajuriaguerra e Marcelli (1984) abordam a questão

clínica da síndrome, considerando que o transtorno hipercinético pode ser um estado reacional

a uma situação traumatizante ou ansiogênica que responde a uma angústia permanente. Para

Hernandez (1989) existe uma hiperatividade de comportamento ou uma hiperatividade reativa

gerada em ambiente onde há relacionamentos familiares insatisfatórios e falta de

reciprocidade afetiva, sendo a criança objeto de permanente desvalorização e alvo de crítica.

Estudos mais recentes têm apontado para uma etiologia multidimensional diante da

complexidade desse transtorno e da falta de evidências científicas sólidas que sustentem uma

etiologia única e de base exclusivamente biológica. Os pesquisadores passaram a afirmar que

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a vulnerabilidade biológica e os fatores psicossociais interagem de um modo circular com

relação à causa, gravidade e resultado do transtorno.

Para Barkley, Murphy e Bauermeister (1998) o TDAH envolve interações

multidirecionais, recíprocas e dinâmicas entre influências genéticas, neurais, psicológicas,

comportamentais e ambientais que ocorrem ao longo do desenvolvimento da criança. Estes

autores nos auxiliaram em nossa proposta de compreender as características afetivas e

emocionais do ponto de vista biopsicosocial das crianças que apresentam o transtorno.

Cabe-nos agora discutir, seguindo a circularidade e integração dos fatores que

compõem o transtorno, algumas pesquisas que enfatizaram os aspectos psicodinâmicos,

esclarecendo o funcionamento psicológico e traços de personalidade das crianças com TDAH.

Estes trabalhos apontam suas características emocionais, acrescentando diferentes

informações sobre seu modo de sentir, pensar e agir.

Antony e Ribeiro (2004) apresentam-nos uma pesquisa qualitativa que objetivou

investigar o funcionamento psicológico da criança hiperativa baseada na teoria do ciclo do

contato da abordagem gestáltica, proposta por Ribeiro (1997). A amostra foi composta por 20

sujeitos e utilizaram a entrevista aberta e o Teste de Apercepção Infantil com figuras de

animais (CAT-A), como instrumentos de coleta de dados. Pais e professores preencheram

escalas de avaliação para o transtorno. Estes autores concluíram que a criança hiperativa

apresenta processos psicológicos específicos, que formam a base de sua personalidade e

apontam a hiperatividade como a característica que define o transtorno e não existindo

propriamente um déficit de atenção, mas uma hiperatenção, uma imensa capacidade de

atentar para os múltiplos estímulos ambientais. Há uma atenção exagerada voltada para o

ambiente, onde a percepção contínua do externo sobrepõe-se à percepção de si próprio,

evidenciando uma reduzida consciência de suas experiências internas. A criança orienta e

sustenta a atenção quando algo é de seu interesse, fazendo uso das funções da atenção, de

selecionar, focar, manter e dividir. Há um fenômeno motivacional ocorrendo subjacente ao

fenômeno cognitivo da atenção, a qual flutua para situações consideradas positivas fugindo

daquelas consideradas negativas, o que leva a considerar que a criança desvia a atenção de

tudo aquilo que fere sua auto-estima e senso de competência.

Examinando os resultados desta pesquisa, comparando-os com as pontuações sobre as

bases neurológicas do transtorno, citadas anteriormente, podemos verificar como estas

características apresentadas pelas crianças estão associadas ao funcionamento do lobo frontal,

relacionado ao controle inibitório, funções executivas e atenção seletiva. A criança com

TDAH estaria então, mais voltada para os acontecimentos externos, abarcando os estímulos

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que lhe chegam sem selecionar alguns em detrimento de outros, fato que os autores acima

citados associam à capacidade motivacional.

Antony e Ribeiro (2004) observaram também em seu estudo o desempenho escolar e

verificaram o funcionamento cognitivo das crianças, inter-relacionando atenção-pensamento-

memória. As crianças apresentaram atraso no processo de aprendizagem com deficiências

específicas na leitura e na escrita, com indicações de deficiências nas funções viso-

construtivas.

Os autores colocam as características comportamentais destas crianças em termos de

paradoxos.

1º paradoxo - Refere-se à Lentidão no pensamento x Rapidez na percepção. Afirmam

que essa lentidão seja resultado da percepção rápida e do fluxo contínuo de idéias que a

criança precisa regular a fim de organizar seus pensamentos de forma significativa e coerente

para, então, interpretar e escrever aquilo que compreendeu.

Professores e pais afirmam que a criança presta atenção em tudo e em todos, mas parece não

escutar ou "estar voando" quando o assunto é de natureza acadêmica ou quando são

repreensões.

2º paradoxo: Atenção x Desatenção.

Quando avaliada a afetividade, os resultados apontam uma intensa sensibilidade e reatividade

emocional e um modo generoso de ser com o outro. Na compreensão dos pais e professoras,

são crianças com uma alta demanda de afeto que possuem uma carência afetiva, ou melhor,

um Déficit de Afetividade.

3º paradoxo: Déficit de Afetividade x Hiperemotividade. Os dois extremos

experimentados pela criança revelam uma dialética paradoxal de fenômenos que regulam o

equilíbrio do organismo: Hiper x Déficit. Esse funcionamento desarmonioso mostra que "o

excesso cria a falta", uma deficiência em uma função oposta complementar.

Analisando a criança hiperativa de acordo com o observado pelos autores, temos:

I. A inquietação e a desatenção significam que a criança está em contínuo movimento, em

busca de novos estímulos. Há um nível de excitação que a mobiliza para a execução da

ação, a qual é efetuada pronta e impulsivamente.

II. o contato superficial com as coisas, trocando incessantemente o foco da atenção de um

objeto a outro, prematuramente. A criança experimenta um estado permanente de

insatisfação. Vive um processo interminável de busca da própria auto-regulação, no qual

a hiperatividade e a desatenção disfarçam a condição essencial da síndrome que reflete

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uma busca constante de objetivos. Tal fato faz com que responda ao mundo com

Hiperatividade, Hiperatenção e Hiperemotividade, como uma totalidade em ação, o que

pode também originar vários talentos e não apenas dificuldades.

A pesquisa de Antony e Ribeiro (2004) mostra uma nova forma de entendimento dos

sintomas cardinais do transtorno, observando que podem ser símbolos de um funcionamento

psicológico complexo e até mesmo paradoxal, expressando déficits e excessos. Porém ressalta

que estas características podem não ser necessariamente patológicas, mas ao contrário,

abrigarem talentos e potencialidades. Essa criança lança um desafio aos educadores, aos pais,

aos profissionais da saúde para uma mudança em seus modelos de pensamento, de

intervenção, de interação. Ela não aceita métodos padronizados de ensino ou modelos

educacionais rígidos. Anseia por criatividade, flexibilidade, afetividade e, sobretudo, ser

tratada como sujeito responsável por seu processo de aprendizagem.

Benckzik (2005) nos fala sobre o funcionamento psíquico dessas crianças avaliando

também seus sentimentos em seu estudo. Como instrumento utilizou o CAT-A em uma

amostra de quarenta crianças que compreendiam a faixa etária de seis a onze anos, alunos da

pré-escola até a sexta série do ensino fundamental. Vinte crianças compunham o grupo da

amostra clínica, diagnosticadas com TDAH do tipo combinado. Baseou-se nos critérios

diagnósticos do DSM-IV, entrevistas com pais e na Escala para professores e pais de TDAH,

de sua própria autoria. O Grupo II (grupo controle) foi composto por crianças selecionadas em

cinco escolas de duas cidades do interior de São Paulo. Foi aplicado também o Teste de

Raven das Matrizes coloridas para critério de exclusão de sujeitos com hipótese de

comprometimento intelectual. A pesquisa foi baseada na Teoria das Relações Objetais de

Melanie Klein e teve como resultados, através da análise do CAT-A, informações sobre sua

psicodinâmica, predominante entre meninos: negação maníaca, sentimentos derivados do

instinto de morte (raiva/inveja) e tendências destrutivas. Seu sofrimento psíquico constatado

através do teste constituiu um aspecto fundamental a ser trabalhado com pais e professores.

Este estudo apontou algumas pistas sobre o tipo de afeto inerente ao funcionamento

psicológico das crianças com TDAH, que puderam ser exploradas através de nossa aplicação

utilizando o método de Rorschach.

Gorodscy (2006) em um artigo derivado de sua tese de doutorado (1991) nos esclarece

sobre os aspectos psicodinâmicos das crianças com TDAH. Ela parte de sua prática clínica e

seu procedimento consta da aplicação de desenhos-histórias de Walter Trinca e da análise de

sua movimentação, buscando uma transformação de conteúdos corporais em simbólicos, pois

elas apresentam grande dificuldade em expressar o que sentem. O seu trabalho tem como

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objetivo criar possibilidades para que a criança se expresse de uma outra forma, diferente da

movimentação excessiva. A autora compreende a hiperatividade excessiva como “corpos

vívidos” de desejos, intenções e valores; o movimento está sempre em relação com outras

pessoas e como expressão significativa das relações que a criança co-participa. Ela realizou

um estudo com 22 crianças entre sete e doze anos, que apresentavam TDAH, na Clínica

Psicológica da PUC-SP.Visando intervenção e compreensão das atividades e simbolizações,

essas crianças foram atendidas em sessões semanais de psicoterapia. O artigo focalizou o que

as crianças aprendem de si e de suas relações. Seu estudo considera corpo e mente, como

sistemas integrados e a linguagem do corpo como expressão de movimentos conscientes e

inconscientes, sendo que a criança deve ser ajudada a transformar movimento excessivo em

movimento criativo. Sua pesquisa conclui que a movimentação excessiva das crianças

atendidas está interligada à dinâmica de suas interações pessoais. São estas interações que

definem os seus limites e sua auto-regulação.

Conclui-se, pelos estudos aqui citados, que o TDAH envolve uma complexidade de

características, e pode ser definido tanto pelo patológico, quando pensamos nas dificuldades e

no impacto que seus sintomas causam aos que o apresentam como pelo aspecto criativo,

quando focamos a vivacidade, a espontaneidade, a afetividade acentuada e o inconformismo,

a busca por uma forma diferente de se abordar a experiência. Chama nossa atenção o

sofrimento psíquico causado pela sensação de inadequação e auto-estima rebaixada.

Em nossa tentativa de compreensão de tais características utilizando o Método de

Rorschach buscamos encontrar material sobre estudos feitos com esse importante instrumento

de avaliação psicológica em crianças com TDAH. Em consulta aos dados do Scielo, Pubmed,

Ovid, Google, Psyclit, Medline e EBSCO Eletronic Journals publicados nos últimos cinco

anos, foi encontrado um único estudo, realizado no Rio Grande do Sul por Graeff e Vaz

(2006). Estendendo nossa busca para datas anteriores a esse período, encontramos apenas dois

estudos: Cotugno (1995) e Osório, Bianchi e Loureiro (2000). Apenas o estudo de Cotugno se

refere ao Sistema Compreensivo de Exner.

Cotugno (1995) aplicou o Rorschach em oitenta crianças norte-americanas

constatando diferenças significativas entre as que apresentavam o transtorno e as que não o

apresentavam, com relação à baixa auto-estima, dificuldades e receio nos relacionamentos

interpessoais, tendência em viver mais experiências introspectivas e depressivas, tendências

em simplificar os estímulos (dificuldade na percepção concreta da realidade), maior

dificuldade quanto ao controle do estresse e desorganização do pensamento.

O estudo de Osório, Bianchi e Loureiro (2000) fez comparações com o estudo

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normativo de Jacquemin (1975) e indicou maior impulsividade, alterações na capacidade de

pensar coerentemente, ansiedade interferindo na atenção e concentração, dificuldades na

percepção objetiva da realidade. Embora a pesquisa tenha encontrado resultados interessantes,

tem uma amostra reduzida (n=5) e está baseada nos dados normativos que datam de mais de

vinte anos, prejudicando a avaliação de seus resultados.

Graeff e Vaz (2006) em um artigo derivado de seu estudo sobre a personalidade da

criança com TDAH, descrevem a avaliação das funções executivas e suas manifestações na

técnica de Rorschach, nosso instrumento utilizado. Os resultados estão associados à falha

inibitória, dificultando o processo de auto-regulação. A impulsividade e a falha de controle

poderiam ser responsáveis pela precária modulação dos afetos face às necessidades do

ambiente. A pesquisa conclui pelos seus resultados, os prejuízos no autocontrole e auto-

regulação, ou controle inibitório, em virtude da falha na inibição da resposta impulsiva. No

entanto, o tipo de resposta que as crianças deram ao teste com maior freqüência, se refere

também à vivacidade e à espontaneidade, determinada pela cor das manchas em detrimento de

sua forma, por exemplo:

a) “parece um quadro todo colorido”; b) “sangue”. A primeira resposta indica uma demanda

de forma determinada secundariamente à cor, enquanto que na segunda resposta não há forma

definida. Tal fato caracteriza a pouca adequação aos dados de realidade, mas retrata uma

peculiaridade, ou um traço de personalidade dos que apresentam o transtorno.

Os resultados encontrados por Graeff e Vaz (2006) reforçam a dificuldade no controle

inibitório, como característica principal de personalidade das crianças que apresentam o

transtorno, apontando para as falhas na modulação e controle dos aspectos afetivos e

emocionais, ansiedade e dificuldades de introspecção e reflexão.

Barkley (1998) afirma que as técnicas projetivas, especialmente o TAT e Rorschach,

não apresentam diferenças significativas entre os resultados das crianças com TDAH e as que

não o possuem. Porém os estudos aqui citados, além de fornecerem informações

esclarecedoras sobre a dinâmica psicológica das crianças, demonstraram diferenças

significativas quando os resultados são comparados.

Procuramos com as pesquisas relatadas enfocar o Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade em sua complexidade, quanto à etiologia, prevalência, comorbidades e

características emocionais das crianças que o apresentam. Nos dedicamos a compreendê-lo,

pelos seus fatores “psiconeurobiológicos”, pelas suas interações multidirecionais, recíprocas e

dinâmicas, que acontecem de modo circular, como nos fala Barkley (2002).

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3.2 O Desenvolvimento Emocional e a Modulação dos Afetos

“Emoção é a principal fonte de consciência. Não há mudança da escuridão para a luz

ou da inércia para o movimento sem emoção” (JUNG, 2000)

Interessa-nos de que modo a criança com TDAH se engaja em situações carregadas de

emoção e reage a elas, como expressa a sua afetividade e com qual qualidade o faz.

Nossa tentativa será a de analisar o desenvolvimento emocional e a modulação dos

afetos do ponto de vista psiconeurobiológico, adotando o modelo dos autores da neurociência,

associado ao enfoque junguiano aqui representado pelas idéias de Jean Knox (1999), analista

junguiana, sobre a importância da memória implícita e os complexos na estruturação da vida

emocional.

Entendemos que desta forma poderemos atingir nosso objetivo de construir uma

análise ampla da afetividade da criança com TDAH, integrando os aspectos biológicos,

psicológicos e os sociais como sistemas interdependentes e dinâmicos, uma vez que

concebemos corpo e mente como uma unidade integrada, permeada pela emoção, a qual

atribuirá significado às experiências.

Como se desenvolvem a vida emocional e a capacidade afetiva? Os autores que se

ocuparam com o estudo do desenvolvimento infantil são unânimes em apontar a importância

das primeiras experiências do bebê em relação com sua mãe ou com seu cuidador, as

chamadas relações primárias. Esta parece ser a base sobre a qual se desenvolverá a vida

emocional, que começa com a capacidade que todo ser humano nasce de focar o olhar de um

outro ser humano. A tonalidade afetiva despertada neste encontro será de fundamental

importância para o desenvolvimento da vida emocional da criança.

Neumann , analista junguiano que estudou o desenvolvimento infantil, também lembra

a importância do vínculo mãe bebê como fator importante para o desenvolvimento emocional:

A relação primal mãe e filho é decisiva nos primeiros meses de vida de uma

criança. É nesse período que o ego da criança se forma, ou pelo menos começa a se

desenvolver; é então que o núcleo do ego, que já estava presente desde o início,

cresce e adquire unidade, de tal modo que podemos falar num ego infantil mais ou

menos estruturado. (NEUMANN, 1995, p. 11).

Segundo sua visão, mãe e bebê encontram-se juntos no domínio e no campo do

arquétipo materno, uma predisposição arcaica, um padrão antigo das experiências

relacionadas aos cuidados maternos. Estas experiências serão marcantes para o

desenvolvimento futuro, elas se constituem como um relacionamento único, pessoalmente

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colorido, entre a pessoalidade do bebê e a de sua mãe. Os padrões básicos, arquetípicos serão

transformados pela experiência pessoal.

Quando a mãe se relaciona com seu filho como uma pessoa, respeitando sua integridade, a

verdadeira natureza do filho vai sendo apreendida progressivamente por ambos. Além disso, o

bebê promove, de forma ativa (emissão de sinais), o apego de sua mãe para com ele,

demonstrando que esse “par afetuoso” é essencialmente interativo (FORDHAM, 1994).

Pelo que estes autores expõem, há ou deveria haver uma sintonia entre mãe-bebê que

eliciará respostas afetivas em ambos. Discutiremos mais adiante a importância e influência

que esta experiência tem para a modulação dos afetos, discutida por autores da neurociência.

Ela estimula o funcionamento do cérebro que por sua vez desenvolve áreas específicas para a

sua regulação.

Para Sroufe (1995) apego refere-se a um especial relacionamento entre o bebê e seu

cuidador, o qual compreende o primeiro ano de vida, ou além, e é inerentemente um

constructo emocional. Não só implica numa relação afetiva entre a criança e sua mãe ou seu

cuidador, mas é propriamente caracterizada em termos da regulação da emoção da criança.

Siegel (1999) retomando os conceitos da Teoria do Apego de Bowlby (1989) afirma

que o ingrediente primário do apego seguro é o padrão da comunicação emocional entre a

criança e seus cuidadores. É a qualidade com que ela se estabelece que determinará este

padrão. Desta forma, a emoção é importante para o desenvolvimento da identidade e

funcionamento da criança,

assim como, no estabelecimento das relações do adulto. As experiências precoces podem

tornar-se permanentes na memória emocional subcortical e ter efeitos duráveis. Este autor cita

o apego como um sistema inato no cérebro, que se desenvolve, influencia e organiza os

processos motivacionais, emocionais e de memória, a respeito das figuras cuidadoras

significativas. O sistema de apego motiva a criança a procurar proximidade com os pais e a

estabelecer comunicação com eles. Ele afirma que o apego surgiu durante a evolução, como

forma de aumentar a chance de sobrevivência da espécie humana, e também como forma de

auxiliar o desenvolvimento, uma vez que estabelecer um relacionamento interpessoal ajuda o

cérebro imaturo a usar as funções cerebrais maduras dos pais para organizar seus próprios

processos.

É através da relação de empatia entre a criança e seus cuidadores que se cria um vínculo de

apego seguro, que promoverá uma crescente e complexa segurança interna e externa para o

enfrentamento da criança em relação com o mundo.

Continuando com os pressupostos dos autores da neurociência, é no modelo

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psiconeurobiológico de Shore (1994) onde encontramos considerações que apontam para a

integração das experiências emocionais básicas, aos seus marcadores biológicos, estimulados

pelo meio social. Suas idéias foram de fundamental importância para o entendimento da

modulação dos afetos e poderemos estabelecer relações entre elas e as idéias de Barkley

(2002) estudioso do TDAH citado anteriormente em nossa fundamentação teórica.

“O desenvolvimento humano não pode ser entendido separadamente das transações de

afeto. Realmente parece que o desenvolvimento da capacidade de experimentar, comunicar e

regular emoções pode ser o evento-chave da infância humana” (Shore, 1994).

O modelo psiconeurobiológico descrito por Shore (1994) propõe que o

desenvolvimento do cérebro está intimamente relacionado com os fatores ambientais, sociais

e psicológicos. As primeiras experiências, especialmente as carregadas de emoção, induzem e

organizam os padrões de funcionamento, crescimento e expansão das capacidades funcionais

do desenvolvimento individual. A empatia no relacionamento entre a mãe e o bebê parece ser

a base para a modulação do relacionamento do bebê com outras pessoas, o que acontecerá

posteriormente. O primeiro relacionamento, em geral com a mãe, é fundamental por causa da

intensidade com a qual ele é afetivamente carregado. Certamente, tal relacionamento tem uma

qualidade emocional especial para o bebê, contribuindo para a auto-regulação da sua mente. A

tese central de Shore é a de que o meio social, mediado pelas primeiras experiências com o

cuidador, influenciam diretamente os circuitos cerebrais do bebê que são responsáveis pelo

desenvolvimento sócio-emocional futuro. A experiência requerida para o crescimento do

cérebro nos dois primeiros anos de vida é especificamente a experiência sócio-emocional

embebida das relações de apego entre o bebê e sua mãe ou cuidador. Estas experiências

interpessoais carregadas de afeto têm um efeito especial na organização do sistema límbico,

as áreas cerebrais especializadas, não só pelo processamento da emoção, mas da organização

de novas aprendizagens e da capacidade de adaptação rápida aos desafios do meio ambiente.

O processamento emocional do sistema límbico é expandido no hemisfério direito do cérebro,

também chamado de mente direita. Este é o substrato do cérebro emocional, que tem um pico

de crescimento no primeiro ano e meio de vida e é dominante nos três primeiros anos.

Para Shore (1994) as relações de apego influenciam a maturação do hemisfério

direito, o qual atua como um sistema que prepara o organismo para lidar de modo eficiente

com os desafios externos e assim apresenta uma função adaptativa que media os mecanismos

de enfrentamento do estresse. Esta concepção psiconeurobiológica aponta o papel central das

experiências de apego, que são as capacidades de se estabelecer vínculos afetivos, no

desenvolvimento das capacidades de enfrentamento (“coping capacities’), ao longo da vida”.

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Esta interação também faz com que a capacidade de resiliência da criança possa emergir, se

houver uma transição de afetos positivos para negativos, voltando a afetos positivos. A

falência da díade mãe-bebê, mediada pelo afeto, nos dois primeiros anos de vida constitui um

fator de risco no desenvolvimento.

Vimos no modelo deste autor que o crescimento e desenvolvimento de estruturas

importantes do cérebro coincidem com o período das relações de apego. Esta maturação

ocorre através de experiências sensoriais, como olfato, paladar, tato, desde os dois meses de

vida quando começa a mielinização das áreas occipitais e melhora a percepção visual. O bebê

e sua mãe estão prontos então, para iniciar uma importantíssima comunicação através do

olhar, onde um enviará pistas ao outro, sobre estados emocionais e necessidades. Num

primeiro momento, o bebê lidera e a mãe o segue. Muitas emoções positivas emergem e

expõem o bebê a altos níveis de informação cognitiva e social. Inicia-se um diálogo

sincronizado onde um aprende o ritmo do outro e muda seu comportamento para adequá-lo

nesta estrutura. Ocorre a acomodação de um self para outro self, caracterizando a Sintonia

Afetiva ou Sincronismo Afetivo. Estes intervalos de tempo, muitas vezes milésimos de

segundos, em que a mãe espera os sinais do bebê para engajar-se ou desengajar-se, permitindo

que ele os expresse, afetivamente sintonizada, constituirão a base da modulação do afeto.

Percebe-se então, que a modulação do afeto também é um processo que ocorre na relação

interpessoal, em que os estados emocionais internos de um serão monitorados pelo outro,

ocorrendo um aumento do estado positivo de ambos.

Ao examinarmos as considerações desse autor, podemos estabelecer algumas relações entre

estes pressupostos dos neurocientistas sobre as relações de apego, com os pressupostos de

Barkley (2002) mostra o quanto a noção de tempo está prejudicada na criança com TDAH,

por sua dificuldade de modulação dos afetos e controle inibitório, pois ela não consegue este

intervalo de tempo necessário para esperar, estabelecer um discurso interno, para depois

responder às situações, orientando-se no presente, passado e futuro. Um outro ponto

importante a ser observado é que as áreas cerebrais ativadas nessa aprendizagem das relações

de apego são as mesmas envolvidas na determinação dos sintomas do TDAH. Shore (1994)

observa que em indivíduos que apresentam um apego seguro, o córtex orbitofrontal direito

atua com mecanismos que recobrem eficientemente a regulação não só dos afetos positivos,

mas de estados emocionais como a raiva, angústia, medo, terror, em termos de duração,

freqüência e intensidade.

Nem sempre essa sintonia afinada ocorre, podendo haver períodos de estresse na díade.

Porém, se o período de estresse é seguido por outro, onde a sincronia é restabelecida, ocorre a

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recuperação do estresse. As situações de estresse são tóxicas e colocam a criança em risco se

perdurarem por períodos prolongados e repetitivos. Ambientes inibidores que promovem

histórias menos afinadas e geram prolongados períodos de interação desregulada e níveis

elevados de afetos negativos, retardam a experiência dependente das áreas elevadas do

hemisfério direito, envolvidas na regulação do afeto. As patologias das relações de apego

seguro manifestam falências da auto-regulação, cujas limitações podem se expressar tanto

pelo controle excessivo ou descontrole em situações que requerem enfrentar desafios e

clamam por flexibilidade e adaptação, respostas ao estresse sócio-emocional. Elas constituem

uma vulnerabilidade ou fraqueza do sistema regulatório do hemisfério direito.

A modulação do afeto não é somente a redução da intensidade do afeto, da diminuição do

afeto negativo, mas a ampliação e intensificação de emoções positivas, a condição mais

complexa e necessária para a auto-regulação. A experiência emocional conseqüente deste

vínculo sincrônico, onde toda a organização psicossomática da mãe se relaciona com a

organização psicossomática do bebê, é impressa no sistema de memória imagética, visceral,

não verbal, chamada memória implícita, do hemisfério direito. Desta forma, as emoções são

reguladas e são reguladoras favorecendo o amadurecimento de um sistema regulatório no

hemisfério direito, cujo cenário necessário são as interações de afeto associadas ao apego

seguro.

Assim, o hemisfério direito é especialmente envolvido no processamento inconsciente da

estimulação emocional, na aprendizagem implícita. É ele que contem o circuito da regulação

emocional.

Knox (1999) cita que a memória implícita será de fundamental importância no

desenvolvimento emocional, pois cabe a este sistema registrar a tonalidade afetiva que emerge

neste processo de aprendizagem, em que as relações, ou o que é experienciado na realidade

externa, oferece o substrato, o material, para que o mundo interno se constitua. Esse “tom”

afetivo oferece a matriz ou significado para todas as representações associadas a ele e se torna

o padrão inconsciente que influenciará o funcionamento psicológico ao longo da vida,

formando um núcleo ao redor do qual circulam pensamentos, idéias, emoções

correspondentes. Á esse conjunto de idéias, emoções, sentimentos e pensamentos dotados de

uma carga afetiva, Jung chamou de complexos. Estes se assemelham aos modelos internos

operantes, descritos na Teoria do Apego de Bowlby (1989), segundo a qual a criança tem uma

tendência inata a colocar os relacionamentos no centro de seu mundo emocional, internalizá-

los e construir padrões generalizados destes relacionamentos, tornando-os significativos e

previsíveis.

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O Teste de Associação de Palavras, elaborado por Jung em 1935, a partir de suas

experiências de associação, constatou a importância das emoções associadas às reações

fisiológicas, observando as alterações de transpiração, respiração e batimentos cardíacos

mediante a apresentação de palavras-estímulo. Jung afirmou que todos os conteúdos que são

difíceis de serem abordados são acentuadamente sentidos e estes conteúdos estão de alguma

forma ligados com reações fisiológicas, processos cardíacos, tônus dos vasos sangüíneos, a

condição dos intestinos, enervação da pele, respiração, etc. (JUNG, 1972).

Ele nos mostra como as emoções (a tonalidade afetiva decorrente da internalização da

realidade externa) estão registradas e associadas aos processos orgânicos, portanto um

mecanismo da memória implícita. Este sistema se refere a armazenamento de informações

que não podem ser evocados pela vontade consciente, como a lembrança de eventos

específicos.

Os conceitos de memória implícita e complexos esclarecem sobre a importância das primeiras

relações do bebê com sua mãe ou cuidador e as emoções associadas a esta experiência, pois se

tornarão marcantes na estruturação da personalidade, funcionando como um filtro através do

qual a realidade externa será interpretada, além de estabelecerem um padrão para

relacionamentos futuros. Logo, os complexos determinarão a percepção do mundo externo, a

partir da tonalidade afetiva armazenada na memória implícita, resultante das relações com as

figuras principais de apego, na tenra infância.

Nosso objetivo neste estudo será avaliar, a partir dos resultados obtidos pelo Método

de Rorschach, a qualidade da tonalidade afetiva das respostas das crianças com TDAH e fazer

inferências sobre a estruturação de sua personalidade de acordo com a Teoria dos Complexos

de Jung, atualizada pelo conceito de memória implícita, ampliação feita por Knox (1999) a

qual coloca os conceitos junguianos nos modelos atuais desenvolvidos pela neurociência.

3.3 A Afetividade no Método de Rorschach pelo Sistema Compreensivo:

Nos orientaremos neste trabalho considerando a afetividade como emoções, afetos,

sentimentos de prazer e desprazer, capacidade de trocas e de envolvimento em situações nas

quais a estimulação afetiva é eliciada. Elas constituem aspectos complexos do funcionamento

das pessoas, pois estão presentes na atividade psicológica, a ponto de interferir no

pensamento, julgamento, decisões e comportamentos. Algumas são sutis, diretas e fáceis de

serem manejadas e outras de difícil controle.

Como descrevem Sendín e Exner (1995) as emoções abarcam o dinamismo necessário

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para o funcionamento mental, mas não se regem, na maioria das ocasiões por leis lógicas ou

facilmente compreensíveis. Elas estão articuladas com a ideação de um modo tão estreito que

se torna impossível separar, nos traços psicológicos, o elemento afetivo do cognitivo. A

divisão que fazemos entre elementos cognitivos e afetivos é artificial, pois estes estão

intimamente relacionados, em constante interação e influenciando-se mutuamente.

Por seu importante valor diagnóstico já bastante discutido pela literatura, tomamos

como nosso instrumento de pesquisa o Método de Rorschach de acordo com o Sistema

Compreensivo de Exner, utilizando os passos apontados juntamente com Sendín (SENDÍN;

EXNER, 1995) para a avaliação das variáveis que compõem o Módulo da Afetividade,

favorecendo a interpretação e análise dos dados.

Além do Módulo da Afetividade, incluímos em nossa análise o exame das

Constelações Positivas, que podem indicar possíveis comorbidades, os valores da Proporção

“EB” que se referem ao Tipo de Vivência do sujeito, para averiguar se é capaz de manter um

equilíbrio adaptativo entre os canais emocionais e ideacionais, e os valores de “eb” que

indicam a Experiência de Base, a natureza do sofrimento psíquico (caso ocorra) e os valores

de “Lambda”, os quais indicam como a pessoa aborda a experiência mantendo um foco

adequado de atenção ao que acontece ao seu redor.

Nos pareceu oportuno acrescentar, em nosso estudo, duas variáveis do Módulo de

Controle e Tolerância ao Estresse, as quais possibilitaram ampliá-lo, fornecendo outras

informações sobre a natureza da capacidade dos controles da pessoa ao enfrentar a demanda

externa. São elas: Nota D e Nota D Ajustada (Adj D).

Nossa intenção em acrescentar estes dados à análise do Módulo da Afetividade foi

justamente ampliá-la pesquisando algumas das características do TDAH, verificando a

capacidade atencional, a adequação da modulação dos afetos, a natureza da estimulação

interna experimentada e se existem outros transtornos associados ao TDAH, na população

estudada, como por exemplo, Depressão, Hipervigilância, Déficit Relacional, Estilo

Obsessivo, Transtornos de Percepção e Pensamento.

3.3.1 O Índice de Depressão (DPI)

Ao analisarmos o Afeto no método de Rorschach, verificamos em primeiro lugar, se a

Constelação de Depressão (DEPI) é positiva. Isto ocorre quando o sujeito preenche 5 (cinco)

ou mais critérios entre as 15 (quinze) variáveis que compõem esta Variável-Chave, a partir da

qual podemos começar a interpretação de um protocolo, verificando se há a presença de um

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transtorno afetivo. Estes critérios estão descritos de forma semelhante ao DSM IV TR, onde

verificamos quais sintomas estão presentes, para levantarmos nossas hipóteses diagnósticas.

Assim, o primeiro passo para a avaliação de um protocolo consiste em verificar se o Índice de

Depressão (DEPI) é maior ou igual a cinco, sendo que cinco sugere que a pessoa apresenta

muitos dos traços encontrados no spectrum dos Transtornos Afetivos, como a Depressão.

3.3.1.1 Aspectos qualitativos de DEPI

A análise qualitativa de DEPI nos fornece informações das características dos

componentes depressivos do sujeito, pois apresenta variáveis cognitivas, afetivas e de relação

interpessoal e discriminá-las é importante, para enriquecer o diagnóstico.

As variáveis mais relacionadas com os aspectos cognitivos são:

I. MOR - conteúdo mórbido, por exemplo: “pele de animal arrancada e está

rasgada”

II. Índice de Egocentrismo - medida da proporção em que o indivíduo presta atenção

em si e nos outros;

III. FD - respostas de Forma-Dimensão, que envolvem impressão de profundidade,

distância ou dimensão, por exemplo: “Os pés são grandes e a cabeça pequena, parece

um gigante vendo de baixo para cima”;

IV. Índice de Intelectualização - o esforço ideacional empreendido pelo sujeito no

sentido de colocar uma certa distância entre si mesmo e os seus sentimentos,

representados pelos conteúdos: Arte (Art) e Antropologia (Ay) e código especial

Abstrato (AB).

V. Número de respostas complexas (Blends) - aquelas que apresentam mais de um

determinante, por exemplo: “duas pessoas segurando uma bola de boliche preta”,

contem o determinante de movimento humano (M) e o determinante de cor acromática

(FC’).

Já as variáveis que se referem aos elementos afetivos são:

I. C’ - respostas de cor acromática, aquelas em que o sujeito menciona branco, preto

ou cinza como cor, por exemplo: “parece morcego porque é preto”;

II. Afr - proporção afetiva;

III. Respostas Complexas de Cor-Sombreado - respostas determinadas pelo uso da

cor associadas com sombreado, por exemplo: “parece uma borboleta colorida e há

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partes mais escuras e mais claras que formam desenhos nas asas”;

IV. Respostas que incluem o espaço em branco (S), por exemplo: “parece o olho

nesse buraco branco”;

V. Resposta de determinante Vista (V), em que há o uso do sombreado para criar

impressão de profundidade ou dimensionalidade, por exemplo: “é uma vista aérea das

montanhas”;

VI. A somatória de determinantes de Sombreado (SUM Sombreado) maior que o

número de respostas de movimento animal (por exemplo, “peixe nadando”) + respostas

de movimento inanimado (por exemplo: “água escorrendo”), que constituem a fórmula:

SUM Sombreado > FM+m.

As variáveis relacionais são:

I. COP - quando há a presença de movimento que inclui cooperação);

II. Índice de isolamento - baseado na freqüência de cinco conteúdos desprovidos de

componentes humanos: Botânica, Nuvem, Geografia, Paisagem e Natureza).

O exame cuidadoso do protocolo do Rorschach gera dados que possibilitam uma

análise bastante detalhada do funcionamento psicológico da pessoa, auxiliando o diagnóstico,

o tratamento e o prognóstico.

3.3.2 Erlebnistypus “EB” (Tipo de Vivência)

Erlebnistypus é um termo em latim, que significa “tipo”, usado por Jung (1972) para

designar os dois tipos psicológicos genéricos: o introvertido e o extrovertido. Hermann

Rorschach, os utilizou na análise dos dados de seu Teste das Manchas de Tinta. Porém os

termos foram traduzidos e empregados como extratensivo e introversivo. De modo geral, o

tipo extratensivo se refere às pessoas que se expressam mais pelos canais da emoção,

enquanto os introversivos são mais reflexivos e reservados. O Tipo de Vivência ou “EB”, a

forma abreviada de Erlebnistypus, é um indicador da proporção das respostas de Movimento

Humano (M) e respostas de Cor (C). Está presente nos índices da Ideação, do Afeto e do

Controle de Tolerância ao Estresse. Através dele podemos verificar o balanço, o equilíbrio,

moderação ou flexibilidade de pensamento, de expressar emoções e ainda, de escolher

estratégias adequadas e adaptativas para o enfrentamento das situações que envolvem solução

de problemas e tomada de decisões. São exemplos de respostas de movimento humano (M):

“duas mulheres dançando”; “um homem carregando uma bola de basquete”. Respostas de cor

cromática (C) são aquelas determinadas pelas áreas coloridas da prancha: “flores amarelas”

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ou “uma cena do fundo do mar, porque é tudo colorido”.

A flexibilidade e a coerência adaptativas são indicadas no método de Rorschach pelos

valores da proporção de EB equilibrado, no qual nem M (respostas de Movimento Humano),

nem WSUMC (somatória das respostas de cor) excedem 2,5 vezes umas às outras e com uma

diferença de dois pontos.

EB pode se configurar moderadamente introversivo ou extratensivo dependendo do

estilo de vivência que uma pessoa apresenta ao abarcar a experiência. EB introversivo

indicará a preponderância do uso da ideação (M) sem prejuízo dos processos emocionais. Já

EB extratensivo, mostrará a tendência da pessoa em priorizar os canais da emoção

(predomínio das respostas de cor), sem prejuízo dos processos de pensamento. A ausência de

um estilo preferencial indica EB Ambigüal, caracterizado não pela flexibilidade adaptativa e

sim pela incoerência prejudicial à adaptação.

Sendo nosso foco de atenção o setor do Afeto no método de Rorschach, priorizamos a

análise de EB Extratensivo, o qual oferece informação sobre como influem as emoções nas

operações psicológicas do sujeito e será indicado como positivo, quando houver uma

predominância das respostas de Cor (WSUMC) sobre as respostas de Movimento Humano

(M), excedendo-as em 2,5 com uma diferença de dois pontos.

Pessoas moderadamente extratensivas são capazes de reconhecer seus sentimentos e os

dos outros, de responder a eles, de vivenciar e expressar seus sentimentos sem se tornar

excessivamente emocionais.

Os valores de EB podem, no entanto, apresentarem-se excessivamente extratensivos e

persistentes, o que denominamos de EB PER (EB Persistente), no qual a soma das respostas

de cor (C) excedem as de movimento humano (M) numa proporção superior a 2,5, com

diferença de dois pontos, indicando a preferência em lidar com a experiência principalmente

pelos canais afetivos, em detrimento dos canais ideacionais. Os extratensivos são mais hábeis

nos intercâmbios e descargas emocionais e se preocupam menos em modular suas expressões

afetivas e tendem a usar esses intercâmbios como fonte principal de obtenção de gratificação,

ou seja, para eles o contato com os demais e o processamento da emoção é prioritário, sendo

menos importante o controle dessas descargas. Estas descrições chamam nossa atenção,

considerando as dificuldades do controle inibitório apresentadas pela criança TDAH.

Portanto, a avaliação desses índices nos faz necessária.

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3.3.3 Experiência de Base

eb (FM+m:C’+T+V+Y)

Esta é uma proporção que compara os determinantes de movimento animal e

movimento inanimado (FM e m) com os determinantes de sombreado: Cor Acromática (C’),

Textura (T), Vista (V) e Sombreado Difuso(Y). Estes são importantes para a análise do setor

do Afeto e informam sobre a pressão dos estímulos experimentada pelo indivíduo. Através de

sua análise pretendemos verificar a natureza das angústias, das pressões e sobrecarga

emocional que a criança com TDAH sofre. Podemos citar como exemplo de respostas de

movimento animal “ursos subindo a montanha” e de movimento inanimado “sangue

escorrendo” ou “fogo queimando”. As respostas de sombreado são determinadas pelas

nuances de claro e escuro presentes nas manchas: “parece viscoso” (textura), “mapa

geográfico” (vista), “parece tinta porque está mais claro aqui e ali é mais escuro” (sombreado

difuso). As respostas de cor acromática são aquelas determinadas pelo branco, preto ou cinza:

“morcego porque é preto”, etc.

Os dados do lado esquerdo de “eb” (experiência de base) representam os disparadores

de tensão interna do tipo ideacional (FM+m), que podem interferir nos processos de atenção e

no curso do pensamento deliberado. Indicam a atividade psicológica sobre a qual o indivíduo

não tem controle.

As informações do lado direito da proporção incluem todos os determinantes de

sombreado que aparecem nos componentes referidos (ex. soma de T inclui FT, TF e T) e os

determinantes de cor acromática (C’, FC’e C’F). Representam também estímulos que atuam

no interior do indivíduo provocando mal estar, mas do tipo emocional, o qual supõe um

aumento de afetos irritativos e perturbadores, indicando sofrimento e dor psíquica.

Espera-se que o lado direito de “eb” seja menor que o lado esquerdo, pois o contrário muitas

vezes indica a presença de um grau de sofrimento. A presença de Forma nestes determinantes

(C’, T, V, Y) pode demonstrar um maior controle sobre estes afetos desconfortáveis,

disparados em seu interior.

3.3.4 FC:CF+C

Esta proporção indica o bom nível de modulação das descargas e intercâmbios

emocionais deliberadamente iniciados. Estas respostas representam um conjunto de situações

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emocionais que o sujeito inicia deliberadamente, mas é capaz de controlar sua intensidade.

Interessa-nos especialmente o seu exame, pois, trata da capacidade de modulação do afeto,

traço de extrema relevância para a análise das características emocionais dos sujeitos com

TDAH, tema de nosso estudo.

A modulação moderada do afeto consiste em manter um equilíbrio adaptativo entre os

canais de expressão emocionais e ideacionais, entre padrões de descargas emocionais

reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis e mais intensos para processar a

experiência afetiva de maneira positiva (WEINER, 2000).

Tais capacidades são examinadas no método de Rorschach, na consideração suficiente,

mas não forçada, das características cromáticas da prancha, na proporção Forma-Cor (FC:

CF+C) adequada para a idade e na ausência de respostas de Cor Projetada (CP), que são

respostas de cor atribuídas a áreas acromáticas da prancha e indicam uma tendência em ver

cor onde ela não existe, expressando mecanismos de defesa contra sentimentos maciços de

desconforto e angústia.

As respostas FC expressam um processamento da emoção relativamente modulado, no

qual os afetos são expressos e se dissipam lentamente, sentidos de forma profunda, mas de

intensidade moderada. É um exemplo de resposta FC: “parece uma gravata borboleta

vermelha”. As respostas CF e C estão associadas a um padrão espontâneo e não modulado da

emoção, onde os sentimentos aparecem e desaparecem rapidamente, tendendo a

superficialidade, mas intensos enquanto duram. Como resposta CF podemos exemplificar:

“um pedaço de sorvete laranja” (a demanda de forma está secundariamente implícita, pois um

pedaço de sorvete pode ter diferentes formas). Já as respostas C (cor pura), não contem forma

implícita, como por exemplo: “este vermelho parece sangue”.

Uma boa proporção Forma-Cor equilibrada identifica, assim, uma boa capacidade

emocional para se adequar às situações. A proporção esperada em adultos é de 2:1.

3.3.5 Afr, WsumC:SumC’e a Modulação Suficiente do Afeto

Estas variáveis nos fornecem informações sobre a capacidade da pessoa de envolver-

se em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros, de envolver-se afetivamente,

sentindo-se confortável. A capacidade de modular o afeto suficiente é avaliada no método de

Rorschach por um Quociente Afetivo (Afr) adequado e um Wsum C (soma ponderada de

respostas de Cor) igual ou superior ao numero de respostas de cor cromática.

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3.3.5.1 A proporção afetiva: Afr

A Proporção Afetiva (Afr) compara o número de respostas dadas nas três ultimas

pranchas, cromáticas, com o número de respostas dadas às sete primeiras pranchas, as

acromáticas. Este índice fornecerá informações sobre o interesse do sujeito em processar a

estimulação emocional. A média esperada em adultos não-pacientes é de 0,69. Quando o

valor se mostrar elevado, indicará interesse e desejo em processar a estimulação emocional,

ocorrendo mais nos sujeitos extratensivos. Se diminuído, expressará um menor interesse em

processar a estimulação afetiva.Weiner (2000) nos diz que esta é uma variável estável e indica

um estilo do indivíduo, além de representar uma receptividade psicológica aos estímulos que

provocam emoção.

É importante observar que em crianças, nossa população de interesse, o Afr diminuído

é muito incomum, pois expressa a energia com que se processam os estímulos. As crianças

em geral são mais receptivas e respondem mais à estimulação emocional. Portanto, nos será

útil a avaliação desta variável para nos acercar de mais informações sobre a vida emocional

das crianças cuja faixa etária foi estudada, em especial as que apresentam TDAH.

3.3.5.2 Proporção de Constrição: SUM C’: WSUMC

Refere-se à contenção dos afetos, relacionando a constrição afetiva (C’) com o nível

de processamento das emoções deliberadas que o sujeito utiliza (Wsum C). Espera-se que o

lado esquerdo seja muito inferior ao direito, pois o contrário indicará que a pessoa internaliza

em excesso os afetos que deveria expressar, o que aumenta sua tensão interna e favorece o

aparecimento de sintomas psicossomáticos.

Anota-se a freqüência de todos os determinantes C’ (FC’+ CF+C’) à esquerda, e a

soma ponderada das respostas de cor cromática, à direita.

Cabe uma reflexão acerca da presença do determinante C’ (cor acromática), nos

protocolos de nossa população de estudo, uma vez que além de constrição afetiva, a qual

denota certo grau de sofrimento, pode indicar também o controle sobre as emoções.

Considerando que a criança com TDAH apresenta como dificuldade principal o controle

inibitório, então a presença deste determinante poderia indicar uma tentativa de algum

controle sobre a impulsividade também característica do transtorno.

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3.3.6 Proporção de Complexidade (Blends: R)

Respostas complexas ou “blends” são aquelas que incluem mais de um determinante

na resposta, como por exemplo: “dois palhaços fazendo um número de circo. Eles têm uma

touca vermelha”. Nesta resposta há o determinante de movimento humano (M) e o

determinante de cor (C). Os “blends” indicam uma atividade cognitiva mais elaborada,

produto da atividade de análise e síntese dos elementos do campo estimular. A média

esperada é de 20 a 25% de respostas complexas em cada protocolo, mas sabe-se que pode

variar de acordo com o EB. Nos extratensivos é mais alta do que nos introvertidos.Em

crianças a média até seis anos é de 20% aumentando para 25% aos onze anos, mantendo a

mesma tendência em aumentar nos extratensivos e diminuir nos introversivos.

Sendín e Exner (1995) ressaltam o valor das respostas complexas para a análise

qualitativa dos dados. Afirmam que em toda atividade complexa se inclui algum tipo de

processamento afetivo, pois se excluirmos as respostas de Forma Pura, todos os determinantes

tem a ver com operações que envolvem o afeto. Em muitos casos a análise da composição das

respostas complexas trazem informação importante sobre a organização das informações no

processamento que o sujeito faz da realidade. Se conhecermos o significado de cada variável,

podemos interpretar as combinações que a pessoa preferencialmente faz ao longo do

protocolo, para captar mais dados de sua atividade psicológica.

3.3.7 Respostas Complexas de Sombreado-Cor

Por serem pouco comuns, apresentam grande significado quando aparecem. Referem-

se às respostas em que ambos determinantes de Cor Cromática e Sombreado aparecem juntos

na resposta emitida pelo sujeito. São respostas muito comuns em protocolos de depressivos e

são extremamente incomuns em crianças.

3.3.8 A projeção da Cor (CP)

É um fenômeno que ocorre quando o sujeito processa a cor em áreas onde ela não

existe. Isto se associa ao fato de uma necessidade de mascarar sentimentos desagradáveis,

substituindo-os por agradáveis.

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3.3.9 O uso do espaço em branco

Este é um outro aspecto a ser considerado, sendo que se refere ao processamento de

áreas da mancha onde nada existe, ou seja, onde não há mancha. Sugere uma tendência a

buscar auto- afirmação e independência, certa tendência à oposição, negativismo e expressão

de sentimentos hostis, caso excedam a um número maior do que 3 (três).

Todos estes itens descritos compõem a análise do setor de Afeto no Sistema

Compreensivo. Analisados em conjunto, oferecem dados importantes que traduzem o modo

como as emoções interferem no funcionamento psicológico da pessoa. A sua análise norteará

o nosso estudo, somada ao exame dos valores de Lambda, do escore D e D ajustado (AdjD) e

das pontuações das Constelações Positivas.

3.3.10 Lambda e a abertura para a experiência

A forma como uma pessoa aborda a experiência envolve o quanto ela percebe o que

acontece à sua volta e em si mesma, como vai organizando as informações que lhe chegam e

se o faz de forma adequada à realidade. Para tal é necessário que mantenha um foco de

atenção equilibrado, que não seja nem restrito, nem aberto demais.

Weiner (2000) nos fala que as pessoas que mantêm um foco de atenção equilibrado

tendem a permanecer satisfatoriamente conscientes de eventos internos e externos, lidando

com a ambigüidade e incerteza das situações por meio de modo reflexivo, voltado para

solução de problemas em alguns momentos, e em outros com emocionalidade significativa.

Os valores de Lambda indicam a adequação do foco de atenção, e sua análise parece

propícia para enriquecer o nosso entendimento das crianças que apresentam o TDAH, visto

suas dificuldades em selecionar e manter a atenção, um sintoma chave na determinação do

transtorno.

Os sujeitos que apresentam os valores de Lambda entre 0.30 e 0.99 em geral manifestam

características adaptativas associadas a um foco de atenção equilibrado em todas as idades.

Porém, um Lambda > 0.99 indica uma falta de abertura adequada à experiência, com

tendência a encarar o mundo e a si mesmo com um foco de atenção muito restrito. Quando o

valor de Lambda é inferior a 0.30, os sujeitos tendem a apresentar uma abertura excessiva a

experiência, caracterizada por um foco de atenção muito amplo.

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3.3.11 O Escore D e D ajustado (ADJ D): Variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse

A nota D e D ajustada nos fornecem informações sobre a capacidade de controle de

uma pessoa frente à demanda imposta. Estas variáveis refletem os recursos que uma pessoa

dispõe para organizar seu comportamento e enfrentar situações de mal estar, adequando-se às

situações externas, controlando o nível de estresse. É possível que um sujeito não disponha de

recursos suficientes frente a situações mais complexas e então se torne vulnerável e

sobrecarregado pela demanda interna de estímulos. Neste caso falamos de disparadores

internos de tensão que excedem sua capacidade de encontrar um equilíbrio, organizando seu

comportamento. Ou ainda, tendo recursos disponíveis, torna-se sobrecarregado ao enfrentar

situações que o afetam externamente. Deste modo, as exigências de sua vida quotidiana

excedem o repertorio de condutas que poderia lançar mão para se organizar, ficando à mercê

de sobrecarga situacional, de uma situação geradora de estresse, que após ser solucionada, a

pessoa volta a se equilibrar. Em ambos os casos a pessoa se encontra a mercê de

circunstancias internas ou externas que geram a necessidade de controle eficaz, podendo-lhe

faltar recursos ou estes serem inadequados.

Acrescentamos estas variáveis do controle e tolerância ao estresse à análise da

afetividade, pois entendemos que possam complementar a informação sobre as capacidades

de controle das crianças com TDAH, em comparação às que não o apresentam. Já

comentamos anteriormente a ênfase sobre esse tipo de dificuldade apresentada pelas crianças

de nosso grupo de estudo. Com estas variáveis poderemos apontar a natureza da sobrecarga

experimentada pelas crianças.

A nota D é composta por um índice dos recursos disponíveis para lidar com as

demandas experienciadas (EA) e de um outro índice que aponta a estimulação sentida (es), o

nível de demandas emocionais e ideacionais impostos sobre a pessoa pelos eventos internos e

externos. Para obtermos o valor do Escore D subtraímos o valor (es) do valor de EA: (EA-es),

incluindo o sinal. Esse valor bruto é então convertido em um valor diferencial de uma escala

baseada em desvios padrões, na qual cada desvio foi arredondado para 2.5. Assim, se o valor

bruto da diferença EA - es situa-se entre -2.5 e +2.5, não existem diferenças significativas

entre os dois valores e o Escore D é igual a zero (D=0). De modo geral, as pessoas que obtém

essa nota, não apresentam tensão, nervosismo, ou ansiedade e irritabilidade manifestas.

Se o valor bruto da diferença EA - es for maior que +2.5, o Escore D aumenta +1 a

cada diferença de 2.5 pontos. A nota D positiva (D > 0) indica que a pessoa apresenta

capacidades para lidar com demandas e uma reserva de recursos aos quais pode recorrer

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quando necessário. Em geral, apresenta um bom nível de tolerância e controle do estresse,

sem desequilibrar-se. Ao contrário, se o valor da diferença se apresentar menor do que -2.5, o

Escore D diminui -1 para cada 2.5 de diferença. Quando a nota D se apresentar negativa (D <

0) é preciso verificar o grau de sua amplitude para que possamos detectar a extensão e a

probabilidade dos indivíduos que a apresentam, de se tornarem ansiosos e irritáveis, com

baixa tolerância à frustração e tendência a impulsividade resultante. Uma nota D Negativa = -

1 indica um leve grau de desconforto subjetivamente sentido, que pode aborrecer ou

preocupar o indivíduo, não chegando a comprometer sua adaptação. Uma Nota D negativa >-

1 indica, por sua vez, que as pessoas se tornam incapacitadas pelo estresse.

Para nosso estudo é importante salientar a diferença da impulsividade associada à Nota

D Negativa, da tendência emocional expansiva e orientação para a ação, a qual é apontada na

variável da modulação dos afetos, quando as respostas CF+C se encontram em maior

quantidade num protocolo. Enquanto CF+C indica uma preferência agradável, prazerosa e

persistente pela expressão de si mesmo com pouca contenção, a Nota D Negativa identifica

uma suscetibilidade a perdas de controle episódicas, indesejáveis e desagradáveis. Por esta

razão, esta diferenciação nos é útil ao exame das características afetivas das crianças com

TDAH.

Além da importância da Nota D, que nos oferece uma medida dos recursos disponíveis

e da estimulação sofrida para adequar o comportamento a situações de estresse, é possível

apontar se este é causado por situações passageiras ou que se prolongam. A variável Adj D (D

ajustado) ajuda a distinguir o estresse experimentado relativamente persistente do estresse

relativamente situacional. Assim, ajusta-se a Nota D, eliminando todos os determinantes

relacionados ao estresse situacional: subtrai-se do valor de “es” (estimulação sofrida) todas as

variáveis “m” (movimento inanimado) exceto uma e todas as Y (FY, YF e Y, respostas de

sombreado difuso, relacionadas ao estresse situacional) exceto uma. Assim teremos o valor de

Adj es. Em seguida, subtraímos este valor de EA (recursos disponíveis) e então teremos a

NOTA Adj D. Desta forma, a Nota D menor que Nota D Ajustada torna-se o índice do

desconforto situacional no Rorschach.

Espera-se que adultos apresentem uma Nota D Ajustada no intervalo zero, o que

significa que há um nível de tolerância adequada frente às tensões da vida quotidiana, de

modo que somente em situações de estresse intenso ou prolongado, poderiam apresentar

falhas nos controles de maneira significativa. Se D Ajustada > 0 o sujeito apresenta excelente

controle e tolerância ao estresse, pois conta com muitos recursos disponíveis que pode

manejar frente as suas necessidades. A Nota D Ajustada < 0 indica que a pessoa apresenta

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menos recursos do que os necessários para enfrentar situações de sobrecarga emocional.

Em crianças é comum uma nota D Ajustada com sinal negativo (Adj D < 0), pois pode

indicar apenas uma imaturidade no desenvolvimento dos controles. Este deve estar de acordo

com a etapa do desenvolvimento em que se encontra a criança. Além disso, verificar a

amplitude desses valores se faz necessária para interpretações adequadas.

3.3.11 As Constelações Positivas

As Constelações Positivas constituem agrupamentos de dados que podem indicar a

presença de transtornos psíquicos. O seu exame pareceu necessário a fim de verificar as

comorbidades presentes no TDAH. A Constelação corresponde ao valor prognóstico que

essas variáveis têm, ou seja, nenhuma delas separadamente é significativa, mas sua presença

conjunta em um protocolo funciona como um sinal de alarme de grande precisão (SENDÍN;

EXNER, 1995).

A avaliação das constelações positivas presentes nos protocolos foi feita de forma

quantitativa e seguiu os critérios de Sendín e Exner (1995) e Exner (1999). Sua presença

depende de um valor padrão da pontuação:

I. Depressão (DEPI): 5 ou + indica a presença de traços encontrados normalmente

entre os diagnosticados com Depressão ou Transtorno Afetivo, mas também uma

organização psicológica mais vulnerável a esse diagnóstico. Inclui variáveis afetivas,

cognitivas e relacionais, como exposto anteriormente.

II. Índice de Transtornos de Percepção e Pensamento (PTI) > ou = 3. Este índice

encontra-se descrito apenas na última revisão de Exner (2003) e não há ponto de corte.

Não deve ser usado como fonte primária de diagnóstico, mas como uma escala

contínua, onde valores mais altos indicam transtornos mais sérios do pensamento e da

percepção, normalmente encontrados em amostras de esquizofrênicos.

III. Índice de Déficit Relacional (CDI): 4 ou + . Medida das dificuldades que o

indivíduo tem para enfrentar as demandas comuns de seu meio social. Indica

vulnerabilidade a situações de estresse e dificuldades em estabelecer e manter relações

interpessoais significativas e gratificantes.

IV. Índice de Hipervigilãncia (HVI): Positivo ou Negativo. É considerado positivo ou

negativo caso determinadas variáveis se encontrem presentes. Indica estilo

hipervigilante ou paranóide em relação ao meio ambiente, vulnerabilidade nos contatos

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próximos, reserva e cautela nas relações.

V. Índice de Estilo Obesessivo (OBS): Positivo ou Negativo. Também considerado

positivo ou negativo caso determinadas variáveis se encontrem presentes. Aponta traços

perfeccionistas, meticulosidade, cautela e convencionalidade. A capacidade criativa é

rebaixada pela preocupação em não falhar.

Após termos apontado os passos seguidos em nossa análise do Rorschach para

obtermos subsídios necessários à interpretação da afetividade das crianças com TDAH,

constatamos através das comparações das informações fornecidas pelo Módulo do Afeto e das

variáveis utilizadas do Módulo de Controle e Tolerância ao Estresse, a diversidade e as

sutilezas dos conteúdos que podem ser apontados pelo Rorschach acerca do funcionamento

psicológico de uma pessoa. Chama à nossa atenção a relação entre Cor e Afeto e assim nos

deteremos ainda em examiná-la, pois verificamos pelo que foi exposto que a impulsividade

pode não estar associada à afetividade, mas ser conseqüência de inabilidades ao lidar com

demandas que podem ser percebidas como complexas por faltarem os recursos necessários

para enfrentá-las.

3.4 A cor como expressão do Afeto

Todos os testes que envolvem o uso da cor se baseiam no fato de que as cores

demonstram as reações sobre a afetividade. Tradicionalmente a cor é considerada um estímulo

emocional e responder à cor reflete a capacidade para reagir emocionalmente ao meio.

Quando um indivíduo dá uma resposta de cor, revela o reconhecimento de pressões

emocionais sobre ele e sua habilidade costumeira em reagir a elas.A resposta de cor quando

aparece denota uma interação emocional entre o indivíduo e o meio.

Halpern (1953), estudiosa do Rorschach infantil, nos oferece valiosa contribuição ao

fazer um relato do estilo de resposta da criança ao estímulo da cor, de acordo com seu estágio

de desenvolvimento. Ela diz que quanto mais tenra a idade da criança, mais as emoções serão

intensas, pouco socializadas e controladas.

Até os quatro anos de idade as respostas mais comuns nos protocolos serão C (cor

pura) ou CF (cor-forma secundária). A resposta C (cor pura) indica que as emoções são pouco

socializadas, pouco contidas. A resposta CF, a qual pressupõe uma demanda de forma,

indicará que alguma modulação dos afetos já começa a existir. Entre quatro e cinco anos, as

respostas de cor pura (C) tornam-se mais raras, enquanto que as CF (cor-forma) são mais

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comuns. Assim, notamos que as reações emocionais da criança são essencialmente

egocêntricas, tanto quanto impulsivas. Somente com a idade de 8 a 12 anos, quando a criança

está voltada completamente para o social e apresenta maior controle emocional, há uma

mudança no padrão de resposta. Nesta etapa as respostas FC (forma-cor) ganham mais

expressão.

É importante notar que embora o processo educacional prepare a criança para um

padrão de reações emocionais socialmente aceitas, este processo pode não ser atingido e a

criança não alcançar a predominância das respostas FC sobre as CF e C, antes dos 11 anos,

possivelmente nem mais tarde. Considera-se também que a criança que tenha desenvolvido

esse forte controle dos afetos antes dos nove anos, sofreu formas repressivas de treinamento

pelo meio ou sua insegurança a tenha submetido a controles exagerados dos afetos. Em tais

casos é preciso considerar se a maturidade e o controle expressos na resposta FC é uma

maturidade verdadeira, resultante de uma resolução harmoniosa de conflitos, os quais levam a

uma integração suave ou paulatina dos sentimentos e capacidade de compreensão. A

diferenciação pode ser feita em termos dos outros escores, assim como dos conteúdos das

respostas.

Se a produção das respostas FC é o resultado de uma real maturidade, a repressão e a

inibição exageradas não estarão presentes em outras áreas da personalidade. Não haverá

necessidade de reprimir a fantasia ou restringir sua produtividade. O número de respostas

globais (as que utilizam toda área da mancha) será adequado para idade e as respostas de

movimento animal (FM) devem ser devidamente interpretadas. Além disso, as respostas FC

devem refletir uma real integração do controle e da emoção. É preciso a análise adequada para

verificar o que é uma tentativa pouco eficiente de adaptação e basicamente afeto primitivo,

que são as respostas nas quais a cor é usada de modo impróprio, como por exemplo, na

prancha VIII, urso cor-de-rosa. Neste caso o uso impróprio da cor expressa o pensamento

literal e concreto da criança e que pode sugerir uma tentativa forçada de controle dos afetos

que fogem à maturidade genuína esperada. Quando FC aparece com qualidade formal pobre,

há indícios de esforços exagerados na adaptação devido às inseguranças frente às pressões do

meio, mas a criança esforça-se para responder adequadamente. Por outro lado, caso nenhuma

resposta FC seja dada após os sete anos, pode-se inferir que o processo educacional,

educativo, não está sendo sentido, e a capacidade para maturidade emocional não está sendo

atingida. Quando as respostas de C pura (C) são numericamente predominantes nesta etapa,

há evidências de uma imaturidade no desenvolvimento afetivo.

Adrados (1985) faz considerações sobre as mudanças do Estilo de Vivência no

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decorrer do desenvolvimento. As diversas posições existenciais refletem não apenas as

transformações e os conflitos internos que o indivíduo enfrenta ao longo da vida, mas a forma

que consegue encontrar para adaptar-se ao ambiente no qual se encontra inserido. A

porcentagem de respostas das ultimas três pranchas em relação ao total de respostas do

protocolo, nos dá o estilo de vivência e mostra a intensidade que as crianças respondem aos

estímulos emocionais. Quando a cor presente nas ultimas pranchas não tem força

estimuladora, a porcentagem é baixa e caracteriza o estilo vivencial introversivo. Do

contrário, determinará o estilo extratensivo.

Silveira (1985) mostrou a importância da proporção de respostas de cor em relação às

demais respostas, para compreensão da afetividade. Mediante esta relação é possível

desvendar a expressão do afeto e seus processos dinâmicos, pois a reação afetiva se expressa

nas associações com a cor. A análise da porcentagem de respostas das três ultimas pranchas

possibilita uma melhor compreensão do estilo de vivência (Erlebnistypus ou EB) mostra a

abertura que a criança tem aos estímulos ambientais.

Embora estes estudos não serem recentes, desenvolvidos há muito mais de dez anos,

são pioneiros ao oferecerem sua contribuição e servem como ponto de partida ou de base para

as inferências sobre a importância das respostas de cor e sua relação com a afetividade.

Lembramos que a porcentagem de respostas de cor das três ultimas pranchas sobre as demais

é mantida até hoje na computação dos dados do Rorschach como variável preponderante para

a caracterização da afetividade e das emoções nos mais diversos sistemas de classificação,

além do Sistema Compreensivo de Exner. Os nossos resultados foram analisados seguindo

estas considerações sobre a cor e o afeto, sua relação com o ambiente, considerando a etapa

de desenvolvimento à qual pertencem os nossos participantes, visto que estes autores chamam

à atenção para tal fato e discriminar o que podemos esperar de cada fase favorece o melhor

entendimento do modo de funcionamento das crianças de nosso estudo.

Todos estes dados analisados em conjunto nos permitem uma avaliação detalhada das

características emocionais. O nosso propósito é examinar como a criança com TDAH lida

com situações emocionais, como vivencia e expressa os afetos. Partimos do princípio que toda

sua organização psicossomática reage de modo específico de acordo com um estilo ou traço

que a diferencia das demais crianças. A fim de que possamos compreender tais traços ou

estilo de personalidade, necessitamos de parâmetros que norteiam o desenvolvimento afetivo-

emocional e fundamentem nossas observações, pois estabeleceremos comparações com

crianças que não apresentam o transtorno.

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4 MÉTODO

A metodologia aplicada respeitou os dados apontados a fim de descrevê-los de forma

que representassem o fenômeno estudado, com base nas observações dos autores citados.

4.1 Características do Estudo

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa clínica, que teve como foco a

afetividade de crianças que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

(TDAH).

Foi realizado um estudo quantitativo descritivo dos dados visando a compreensão e

interpretação das características emocionais da criança diagnosticada com o TDAH,

comparando-as com as crianças que não o apresentam, utilizando o referencial teórico da

Psicologia Analítica.

4.2 Sujeitos

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) sujeitos diagnosticados com TDAH, de acordo

com os critérios descritos no DSM-IV-R (2003) e com avaliação multidisciplinar

(psiquiátrica, neurológica, pedagógica, fonoaudiológica e psicológica) realizada no local da

coleta dos dados (NANI-UNIFESP). Estas crianças, que constituíram nosso grupo de estudo,

fizeram parte do processo de triagem e avaliação do NANI (Núcleo de Atendimento

Neuropsicológico Infantil da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP), onde foi

realizado o diagnóstico, pelas neuropsicólogas, médicos psiquiatra e neurologista,

psicopedagogas e fonoaudiólogas que fazem parte da equipe de profissionais do ambulatório

de TDAH.

Nossa pesquisa também constou de um grupo controle composto por 30 crianças não

diagnosticadas, alunos de uma escola da periferia da zona norte de São Paulo/Capital, dentro

da mesma faixa etária, as quais não apresentavam os sintomas cardinais do TDAH.

Consideramos que o nível sócio-econômico ao qual pertenciam os sujeitos era o mesmo, tanto

do grupo controle como do grupo de estudo, favorecendo assim, a comparação entre eles.

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4.2.1 Critérios de inclusão

A faixa etária escolhida caracteriza a etapa do desenvolvimento em que há a maior

ocorrência da sintomatologia do transtorno, oferecendo assim maior possibilidade de compor

a amostra, sendo também a etapa em que há mais estudos científicos que se dedicam ao seu

esclarecimento. Consideramos que o tamanho desta amostra tenha sido adequado para

representar de forma fidedigna o fenômeno estudado, através da distribuição estatística dos

dados coletados, facilitando a análise.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram:

I. Faixa etária entre seis e dez anos;

II. Diagnóstico de TDAH do tipo combinado, segundo os critérios do DSM IV TR

(2003) e avaliação clínica multidisciplinar;

III. Crianças cursando o ensino fundamental I (de primeira à quarta série);

4.2.2 Critérios de exclusão

Crianças que não preencheram os critérios do DSM IV R (2003) para TDAH na

triagem do processo de avaliação clínica multidisciplinar, ou que após terem sido avaliadas,

não tiveram o diagnóstico do transtorno.

4.3 Local da Coleta de Dados

A coleta de dados do grupo de estudo foi realizada no Ambulatório de TDAH do

Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil (NANI) da Universidade Federal de São

Paulo (UNIFESP).

A coleta de dados do grupo controle foi realizada numa escola municipal de um bairro

da periferia da zona norte de São Paulo/Capital.

4.4 Instrumentos

Os participantes que preencheram os critérios de inclusão propostos foram avaliados a

partir dos seguintes instrumentos:

I. Questionário com dados sócio-demográficos aplicado apenas no grupo de estudo,

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aos pais ou responsáveis pela criança, utilizado para caracterização da amostra em

termos de idade, sexo e escolaridade.

II. Método de Rorschach aplicado e avaliado pelo Sistema Compreensivo de Exner

(EXNER, 1995):

4.4.1 O Método de Rorschach

O Método de Rorschach é um instrumento diagnóstico importante para avaliação

clínica, que pode oferecer informações tanto da estrutura, como da dinâmica da personalidade.

É um teste de percepção e apreensão, que constitui uma tarefa cognitivo-perceptiva. Gera

dados e informações úteis sobre o funcionamento psicológico da pessoa e pode ser abarcado

por qualquer referencial teórico, não requerendo uma única teoria para sua interpretação.

4.4.2 O Sistema Compreensivo de Exner

O Sistema Compreensivo de Exner apresenta rigor psicométrico, sendo revisado desde

1960 através de pesquisas que visaram sua normatização e padronização. Possui um Módulo,

composto por variáveis que avaliam a Afetividade e por isso consideramos um instrumento

útil e adequado para a investigação a que se propõe este estudo.

Tal Sistema agrupa os dados em variáveis-chave para a sua interpretação. Estes

agrupamentos de dados se baseiam em cálculos matemáticos, proporções numéricas, a partir

da classificação das respostas dadas pelo sujeito. Este modo aponta dados que podem se

referir à probabilidade de algum tipo de transtorno sintomático, caracterológico ou do

desenvolvimento e ainda, variações normais do funcionamento da personalidade. Tem como

objetivo sistematizar os dados e validá-los em relação ao comportamento observável. A

estratégia de interpretação em seqüência chama a atenção para a abordagem de todos os dados

do teste e determina um ponto de entrada na análise do protocolo (WEINER, 2000).

Os módulos do Sistema Compreensivo de Exner são os seguintes:

I. Processamento da Informação: como a pessoa dirige sua atenção ao mundo

II. -Mediação Cognitiva: como a pessoa pensa sobre o que percebe

III. Ideação: como a pessoa percebe os objetos de sua atenção

IV. Controle e Tolerância ao Estresse: associado aos recursos adaptativos, os quais as

pessoas dispõem para lidar com a demanda e gerenciamento do estresse.

V. Recursos Afetivos: como as pessoas lidam com situações emocionais e como

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vivenciam e expressam os afetos.

VI. Autopercepção: como as pessoas se percebem

VII. Percepção Interpessoal: como as pessoas percebem os outros e se relacionam com

eles.

VIII. Estilo Vivencial: a oitava chave se refere a um estilo vivencial introversivo ou

extratensivo, que não tem necessariamente implicações psicopatológicas.

O tipo vivencial introversivo refere-se ao sujeito que prefere demorar ao tomar suas

decisões, ou solucionar problemas, procurando analisar as alternativas possíveis. Prefere

manter suas emoções à margem e tende a basear-se em sua avaliação interna, usando a lógica

e não perdem tempo com tentativas de ensaio e erro.

O tipo vivencial extratensivo mescla seus sentimentos com os pensamentos na

resolução de tarefas. Isto não significa que seu pensamento seja menos consistente ou menos

lógico que o introversivo, mas refere-se à pessoa que se expressa pelos canais da emoção e

que se dedica a tentativas de ensaio e erro, na tomada de decisão.

4.4.3 Modulação dos Afetos

O presente estudo se deteve ao Módulo para avaliação dos recursos afetivos e,

portanto, pretenderá fazer inferências sobre a Modulação do Afeto das crianças que

apresentam TDAH.

A Modulação do Afeto se refere à maneira e à tranqüilidade como a pessoa processa a

experiência emocional. Assim, implica no modo como as pessoas lidam com os sentimentos

que surgem em si mesmas, e como reagem aos sentimentos de outras pessoas e a situações

que envolvam uma descarga emocional. A capacidade de modular o afeto de modo eficiente,

agradável e com moderação são requisitos de uma boa adaptação psicológica. A análise da

modulação do afeto no Rorschach compreende os seguintes aspectos:

I. Modulação suficiente do afeto: consiste na capacidade de envolver-se em

situações de tom emocional e trocar sentimentos com os outros, de sentir-se à vontade

em situações em que um nível moderado de emoção está sendo eliciado ou expresso.

Podemos avaliá-la pelo valor de Afr (proporção afetiva) e da proporção WSUMC: SUM

C’ (soma ponderada das respostas de cor em relação a soma das respostas C’)

II. Modulação Prazerosa do Afeto: consiste em ser capaz de manter um tom

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emocional positivo que contribui para a pessoa sentir-se bem e contente. Mede-se a

modulação prazerosa do afeto pela análise de SUM C’(somatória das respostas de cor

acromática), Cor-Sombreado, SUM Sombreado (somatória das respostas de sombreado)

e C’ (respostas de cor acromática). Verificamos a tonalidade afetiva prazerosa se as

respostas de cor cromática excedem às de sombreado ou cor acromática.

III. Modulação Moderada do afeto: consiste em manter um equilíbrio adaptativo entre

os canais de expressão emocionais ou ideacionais, entre padrões de descarga emocionais

reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis e mais intensos para

processar a experiência afetiva de maneira positiva. Verifica-se a modulação moderada

do afeto pela análise da proporção Forma-Cor (FC: CF+C) que deve estar adequada

para idade, não havendo respostas de Cor Projetada (CP).

Além desse agrupamento de variáveis citado, nossa análise das variáveis do Módulo

do Afeto seguiu os passos apontados por Sendin e Exner (1999)

Passo1: Índice de Depressão Positivo: o ponto inicial da análise do Afeto é a

verificação do Índice de Depressão.

Passo 2: O Tipo de Vivência “EB”: Indica os estilos introversivo ou extratensivo. Em

nosso caso, nos interessará o estilo extratensivo, pois nos indivíduos que o apresentam, as

emoções exercem um papel fundamental.

Passo 3: Experiência de base

“eb” FM+m : C’+T+V+Y

Decidimos incluir em nossa análise, a proporção de respostas que dizem respeito à

Experiência de Base do sujeito: eb (FM+m:C’+T+V+Y), a qual se refere a uma proporção

que compara os determinantes de movimento não humano e movimento inanimado (FM e m)

com os determinantes de sombreado: Cor Acromática (C’), Textura (T), Vista (V) e

Sombreado Difuso(Y). Estes são importantes para a análise do setor do Afeto e informam

sobre a pressão dos estímulos experimentada pelo indivíduo. Pela sua análise é possível

verificar a natureza das angústias e das pressões pelas quais a pessoa está passando e dizem

respeito a uma situação de sobrecarga emocional e a sua natureza.

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55

Os dados do lado esquerdo de “eb” representam os disparadores de tensão interna do

tipo ideacional, que podem interferir nos processos de atenção e no curso do pensamento

deliberado. Indicam a atividade psicológica sobre a qual o indivíduo não tem controle.

Os dados do lado direito da proporção incluem todos os determinantes que aparecem

nos componentes referidos (ex. soma de T inclui FT, TF e T). Representam também estímulos

que atuam no interior do indivíduo provocando mal estar, mas do tipo emocional, o qual

supõe um aumento de afetos irritativos e perturbadores, indicando sofrimento e dor psíquica.

Espera-se que o lado direito de “eb” seja menor que o lado esquerdo. Caso isso não ocorra, o

grau de sofrimento da pessoa é bastante elevado. É necessário revisar a incidência de Forma

nestes determinantes (C’, T, V, Y) que indicará o menor ou maior controle sobre estes afetos

desconfortáveis, disparados em seu interior.

Desta forma poderemos ter informações sobre quais são os tipos de afeto que causam

desconforto aos sujeitos.

Passo 4 : FC: CF+C

Esta proporção é um importante indicador da capacidade de modulação dos afetos.

Analisamos se FC (respostas de Forma-cor ) se mostra em proporção maior ou menor que as

respostas CF+C ( respostas de cor-forma e cor pura) que indicam que as descargas afetivas

ocorrem sem que o sujeito tenha controle racional sobre elas. FC indica o melhor controle

sobre das emoções.

Passo 5: A Modulação Suficiente dos Afetos

Afr, WSUMC: SUMC’

Como citado acima, estas variáveis nos fornecem informações sobre a capacidade do

indivíduo em envolver-se em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros.

Passo 6: Análise de respostas mistas ou blends

Indicam a complexidade com que a pessoa processa os estímulos estabelecendo uma

atividade de análise e síntese dos estímulos da mancha.

Passo 7: Análise das respostas mistas de sombreado

São as respostas de claro e escuro, ou cor acromática misturadas à de outros determinantes.

Sua análise indicará a natureza do sofrimento psíquico pelo qual a pessoa passa.

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Passo 8: A projeção da Cor: são as respostas em que o sujeito vê cor onde ela não

existe. Indicará sentimentos de mal estar que precisam ser disfarçados.

Passo 9: Respostas do Espaço em Branco: são aquelas em que o sujeito processa áreas

da mancha onde nada existe e indicam negativismo, tendência a autonomia e auto-afirmação.

Passo 10: Lambda e a abertuta a Experiência:

Determinamos este passo o da análise da variável Lambda, a qual verifica a abertura à

experiência que o sujeito apresenta e informa se foco da atenção é restrito ou amplo.

Passo 11: As Notas D e Adj D:

Ao lado das variáveis do módulo do Afeto, analisaremos os valores das Notas D e Adj

D, as quais fazem parte do Módulo do Controle e Tolerância ao Estresse. Fornece

informações sobre o estresse permanente ou situacional pelo qual a pessoa passa e se dispõe

de recursos para enfrentá-lo.

Passo 12: Análise das Constelações Positivas

Consideramos serem úteis ao nosso objetivo neste estudo, contribuindo com o

esclarecimento de possíveis comorbidades. As constelações se referem a agrupamentos de

dados que definem critérios semelhantes aos do DSM IV R (2003), indicam se a pessoa

apresenta algum transtorno caractereológico ou psiquiátrico. São elas:

I. Índice de Transtorno de Pensamento ou Percepção PTI > ou =3 : indica se o

sujeito apresenta índice de transtornos de pensamento e percepção.

II. Índice de Depressão DEPI: Se > 5 indicará a presença de traços de Depressão ou

Transtorno Afetivo

III. Índice de Déficit Relacional CDI: Se > 4 indicará a presença de dificuldades para

estabelecer e manter relacionamentos interpessoais satisfatórios

IV. Índice de Hipervigilãncia HVI: Positivo ou Negativo: indicará se a pessoa

apresenta–se em constante estado de alerta, sentindo-se ameaçado ou vulnerável,

mostrando cautela nas aproximações com os outros.

V. Índice de Estilo Obsessivo (OBS): Positivo ou Negativo. Indicará se o sujeito

apresenta traços obsessivos de personalidade.

VI. Índice de potencial para suicídio. S-CON (indicador de potencial para suicídio,

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porém inválido para menores de 16 anos, portanto não considerado em nossa avaliação).

4.5 Procedimentos

Estabelecemos algumas etapas para que os dados coletados fossem descritos e

avaliados de modo a retratar as características do transtorno.

4.5.1 Seleção da Amostra

Para composição da amostra do grupo de estudo, inicialmente foi feita uma triagem

dos prontuários das crianças diagnosticadas com TDAH, pela avaliação neuropsicológica e

multidisciplinar, realizada no Ambulatório de TDAH do NANI (Núcleo de atendimento

Neuropsicológico Infantil da UNIFESP) com o objetivo de selecionar os participantes.

A avaliação neuropsicológica foi realizada a partir do preenchimento de escala para

pais e professores para levantamento de dados que pesquisam se a criança apresenta perfil

para TDAH. Após esta etapa aplicaram-se testes para averiguação dos sintomas cardinais do

TDAH como atenção, impulsividade e hiperatividade, e também das funções

neuropsicológicas envolvidas. São exemplos destes testes: WISC III estimado, CBCL,

Wisconsin, Figura de Rey e CPT. Desenhos para conhecer as características emocionais

também foram aplicados individualmente e em grupo, pedindo-se à criança que recontasse

uma história, reproduzindo-a graficamente. Além da avaliação neuropsicológica, as crianças

passaram em consulta com o neurologista e o psiquiatra para avaliação clínica. Após a

avaliação ser concluída, realizou-se uma reunião com os profissionais participantes para troca

de informações, discussão e fechamento do diagnóstico. Desta forma garantiu-se o seu rigor

tão necessário a este estudo para composição da amostra.

Os pais ou responsáveis das crianças diagnosticadas foram contatados no local ou por

telefone e convidados a participar do estudo. Tendo respondido o questionário sócio-

demográfico, seguimos com a aplicação do teste. Os pais foram informados sobre a pesquisa a

ser desenvolvida e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a

participação da criança.

A amostra do grupo controle requereu um contato inicial com a direção da escola para

esclarecimentos sobre a pesquisa, para sua composição. Após sua autorização, os professores,

de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, selecionaram alunos que não apresentavam transtorno

de aprendizagem, nem sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade e enviaram

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pedidos de autorização aos pais, juntamente com um texto explicativo sobre a pesquisa, para a

participação de seus filhos. As crianças que compuseram a amostra foram aquelas que

trouxeram as autorizações de seus pais assinadas e apresentadas ao professor, que por sua vez

as passou para a pesquisadora.

4.5.2 Aplicação dos Instrumentos

Os pacientes foram avaliados no local da coleta de dados, em uma única sessão com

duração de aproximadamente uma hora e meia. O questionário sócio-demográfico foi

aplicado antes do Método de Rorschach, somente para os pais das crianças do grupo de

estudo.

4.5.3 Previsão de Análise

A avaliação dos dados coletados foi feita com base na metodologia quantitativa,

analisados e interpretados de acordo com os pressupostos do Rorschach para investigação do

Módulo de Afetividade contidos no Sistema Compreensivo de Exner. Além destas, as

variáveis Lambda, Nota D e Adj D (Nota D Ajustada), pertencentes ao Módulo de Controle e

Tolerância ao Estresse e as Constelações Positivas, também foram avaliadas e analisadas. Os

dados foram lançados no Programa RIAP V (Rorschach Interpretation Assesment Program, 5ª

edição) para produção dos protocolos, sua análise e interpretação.

Numa primeira etapa as respostas foram classificadas e avaliadas também por um

segundo juiz, além da pesquisadora, a fim de se estabelecer a concordância entre juizes como

garantia de redução de erro na classificação das respostas, pois sua análise e interpretação

corretas dependem dela. As duas classificações foram comparadas para se estabelecer a

fidedignidade dos dados obtidos. Porém, constatamos a falta de concordância entre os juizes,

após o tratamento estatístico dos dados, em alguns resultados importantes do módulo da

afetividade, necessários a compreensão dos traços de personalidade da criança com TDAH.

Desta forma, vimos a necessidade de incluirmos um terceiro juiz que revisou a classificação

das respostas dos testes aplicados, sendo esta terceira e última classificação a mantida e

utilizada neste estudo para computação dos dados. Todos os cálculos estatísticos foram

realizados com a orientação da professora de Estatística da Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo, Iara Pisanelli G. de Castro.

O tratamento estatístico aplicado à análise dos dados contou inicialmente com a

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digitação e processamento dos dados no programa SPSS 13,3. Posteriormente foi realizada a

computação dos dados com a aplicação do Teste T para comparação de médias de Amostras

Dependentes e construídas Tabelas Simples para o apontamento das freqüências. Foi utilizado

também o Teste de Fisher para comparação de proporções para amostras independentes. Foi

usada a margem de erro de 0,05.

Os dados coletados no questionário sócio-demográfico foram usados para caracterizar

a população, em termos de idade, sexo e escolaridade.

4.6 Cuidados Éticos

Os devidos cuidados éticos foram seguidos de acordo com as determinações da

Resolução nº 196 de 10 de Outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde e com utilização

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Compromisso do Pesquisador.

O projeto: “Análise da Afetividade de Crianças com Transtorno de Déficit de Atenção

e Hiperativide pelo Método de Rorschach: Um enfoque Junguiano” foi submetido à

aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo e somente após o parecer favorável, o pesquisador iniciou a coleta de dados.

Consideramos que os procedimentos utilizados neste estudo não causaram riscos ou

danos às pessoas envolvidas. Não obstante, pretendemos contribuir para a compreensão da

afetividade das crianças diagnosticadas com TDAH.

Após a conclusão da pesquisa, os sujeitos tiveram uma devolutiva juntamente com

seus pais, em grupo, para uma explanação geral dos resultados e conclusões do estudo.Foi

proposto, ainda, à coordenação do Ambulatório de TDAH do Núcleo de Atendimento

Neuropsicológico infantil (NANI), um programa de atendimento aos pais, constando de

quatro sessões, após a devolutiva. Escolhemos esta estratégia a fim de orientarmos os pais em

relação às necessidades das crianças e promover uma melhor comunicação entre eles e seus

filhos.

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5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados do presente estudo. Inicialmente serão descritos

os dados sociodemográficos, os quais caracterizam a população em termos de idade, sexo e

escolaridade. Posteriormente serão descritos e avaliados os dados do Módulo do Afeto e as

variáveis incluídas na análise da afetividade da criança com TDAH, pela aplicação do

Rorschach.

5.1 Idade

Tabela 1. Distribuição da Amostra por idade.

A amostra foi composta por crianças de seis a dez anos de idade. O grupo com

transtorno teve 33% de crianças com faixa etária de sete anos, 26,7% com oito anos, 20% com

nove anos, 16,7% com dez anos e apenas 3,3% com seis anos. O grupo sem transtorno, ou

grupo controle, teve 73,3% de crianças com oito anos e 26,7% de crianças com nove anos.

Verifica-se pelo exposto que as crianças apresentavam em sua maioria, entre oito e nove anos

de idade.

Quando comparadas as médias das idades, os resultados da tabela abaixo mostram que

ambos os grupos se equiparam, apresentando valores semelhantes: a média de idade do grupo

com transtorno foi de 8,13 anos e a do grupo controle 8,27 anos de idade.

IDADE

1 1 3,3% 1,7%

10 10 33,3% 16,7%

8 22 30 26,7% 73,3% 50,0%

6 8 14 20,0% 26,7% 23,3%

5 5 16,7% 8,3%

30 30 60 100,0% 100,0% 100,0%

Freqüência e % 5

6 anos

7 anos

8 anos

9 anos

10 anos

IDADE

Total

Com transtorno

Sem transtorno

GRUPO

Total

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Idade GRUPO N Média Desvio

Padrão Erro Padrão

t p

Com transtorno

30 8,13 1,17 0,21

Sem transtorno

30 8,27 0,45 0,08

-0,584

0,563

Tabela 2. Médias das idades dos participantes.

5.2 Sexo

Foram selecionados participantes tanto do sexo masculino como do feminino. A

composição do grupo com transtorno se caracterizou apresentando 93,3% de participantes do

sexo masculino, enquanto que o grupo sem transtorno, ou grupo controle, apresentou 13,3%.

No grupo com transtorno encontramos 6,7% de participantes do sexo feminino e no grupo

controle 86,7%.

Tabela 3. Distribuição da amostra por sexo dos participantes.

5.3- Escolaridade

Participaram do estudo crianças de primeira à quarta série do ensino fundamental. A

tabela abaixo mostra a média dos anos de escolaridade dos dois grupos, sendo que o valor do

grupo com transtorno é 3,13 anos e o do grupo controle é 3,27 anos. Estes resultados apontam

para a homogeneidade dos grupos em termos de escolaridade.

GRUPO SEXO Com

transtorno Sem

transtorno Total

Masculino 93,3 13,3 53,3 Feminino 6,7 86,7 46,7 Total 100,0 100,0 100,0 N 30 30 60

Teste de Fisher: p<0,05

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Tabela 4. Média dos anos de escolaridade dos participantes.

5.4- Análise dos traços afetivos

5.4.1- Passo 1: O índice de Depressão (DEPI)

A tabela ao lado indica a presença ou não de Depressão nos participantes da pesquisa.

Verificamos que 43,3% dos sujeitos do grupo com transtorno apresentou índice positivo para

depressão e 56,7% não apresentou. Já no grupo controle o índice se mostrou positivo em

23,3% dos casos e não apareceu em 76,7% dos casos. Notamos a maior tendência do grupo

com transtorno em apresentar o índice positivo para depressão.

Teste de Fisher: p>0,05

Tabela 5. Índice de Depressão (DEPI) Positivo.

5.4.1.1 DEPI > ou < 5

Considerando-se que a pontuação cinco indica a presença de muitos dos traços

encontrados entre os indivíduos que têm depressão ou transtorno afetivo, relacionamos as

médias dos valores apresentados pelos participantes. No grupo com transtorno encontramos a

Anos de Escolaridade

GRUPO N Média Desvio Padrão

Erro Padrão

t p

Com transtorno

30 3,13 1,17 0,21

Sem transtorno

30 3,27 0,45 0,08

0,58 0,56

GRUPO

DEPI Com

transtorno Sem

transtorno Total

SIM 43,3 23,3 33,3 Não 56,7 76,7 66,7

Total 100 100 100 n 30 30 60

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média 4,20 e no grupo controle 3,67. Estes resultados revelam que a organização psicológica

das crianças com TDAH as tornam mais vulneráveis a apresentar depressão ou sofrer

alterações nos estados de humor. Os dados estatísticos mostram uma diferença significativa

entre os grupos (p=0,03).

DEPI Com transtorno 30 4,20 0,85 0,15 Sem transtorno 30 3,67 0,99 0,18

2,24 0,03

Tabela 6. Médias do Índice de Depressão (DEPI) Positivo.

5.4.2- Passo 2: Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo e EBPER

Analisadas as médias das respostas M (Movimento Humano) em relação às médias das

respostas de cor (WSUMC), observamos que o grupo com transtorno apresenta média 1,57 de

respostas M para 3,32 de respostas de cor, o que caracteriza o Tipo de Vivência Extratensivo,

com uma proporção maior à do grupo controle que também se apresenta como extratensivo,

com os seguintes valores: média de 0,77 de respostas M para média de 3,20 de respostas de

cor. Os dados estatísticos não mostram diferenças significativas entre os dois grupos, porém

indicam a acentuada tendência do grupo com transtorno a responder e atender à experiência,

pelos canais emocionais, a mesclar os sentimentos com seus processos cognitivos, sendo o

contato com os demais e o processamento das emoções, prioritário. As emoções exercem uma

maior influência em toda sua atividade psicológica.

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

M Com transtorno

30 1,57 1,87 0,34 1,88 0,06

Sem transtorno

30 0,77 1,38 0,25

WSUMC Com transtorno

30 3,32 2,33 0,42 0,19 0,85

Sem transtorno

30 3,20 2,45 0,45

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

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Tabela 7. Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo: M< WSUMC.

5.4.2.1 EB PER

Os resultados apresentados indicam quanto EB Extratensivo se mostra persistente no

tipo de vivência dos participantes, indicando a predominância deste estilo nas operações

psicológicas dos sujeitos. O grupo com transtorno apresentou EB PER positivo em 23,3% dos

participantes e negativo em 76,6%. No grupo sem transtorno ou grupo controle encontramos

EB PER positivo em 16,7% dos participantes e negativo em 83,3%. EB PER quando se

mostra positivo assinala certa rigidez no estilo básico de resposta o que pode prejudicar as

condutas adaptativas. No caso de EBPER Extratensivo, ocorre a preferência em lidar com a

experiência pelos canais afetivos, em detrimento da utilização dos canais ideacionais

adequados. Pelos resultados obtidos concluímos que o grupo com transtorno apresenta uma

tendência maior em apresentar essa característica.

Tabela 8. EB PER Extratensivo.

5.4.3-Passo 3: Análise do lado direito de eb, a experiência de base ( FM+m:SH+C’)

As médias apresentadas pelo grupo com transtorno apontam que o lado direito de eb:

(SH+C’=4,07) é menor que o lado esquerdo (FM+m=4,30), o que significa que as crianças

com TDAH estão sujeitas à tensão do tipo ideacional que interfere em seus processos de

atenção e no curso de seu pensamento. Trata-se de uma atividade psicológica que não é

controlada deliberadamente. O grupo controle por sua vez, apresentou o lado direito de eb

(SH+C’=2,53) maior que o lado esquerdo (FM+m=1,67), indicando que o tipo de sofrimento

psíquico é de ordem emocional. Há diferenças significativas entre os dois grupos, de acordo

com os dados estatísticos. O grupo com transtorno apresenta uma média maior tanto de

GRUPO EBPER Com

transtorno Sem

transtorno Total

SIM 23,3 16,7 20,0 NÃO 76,7 83,3 80,0 Total 100,0 100,0 100,0 n 30 30 60

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FM+m quanto de SH+C’, quando comparado ao grupo controle.

Tabela 9 - Médias do lado direito de eb (Experiência de Base):

5.4.3.1. Análise de FM+m > ou < SH+C’

Os dados da tabela abaixo se referem à comparação da proporção de respostas do lado

direito e esquerdo de eb (experiência de base). Nosso objetivo foi verificar quanto as respostas

FM+m se mostraram em proporção maior ou menor em relação às respostas SH+C’. Notamos

que no grupo com transtorno o lado esquerdo, FM+m (disparadores de tensão interna de

ordem ideacional) se apresenta maior que o lado direito, SH+C’ (disparadores internos de

tensão de ordem emocional; tensão e sofrimento psíquico). O valor de FM+m > SH+C’ neste

grupo é de 46,7 % e no grupo controle é 30,0%.

A proporção de respostas FM+m < SH+C’ no grupo com transtorno é de 43,3% e no

grupo controle 50,0%. Portanto, no grupo controle a proporção de respostas SH (sombreado)

e C’ (cor acromática) é maior, indicando um sofrimento psíquico de ordem emocional. O

grupo com transtorno apresenta uma proporção de respostas FM (movimento animal) e m

(movimento inanimado) maior apontando para uma ideação intrusiva, pensamentos sobre os

quais não há controle deliberado gerando mal estar de origem ideacional, o que interfere em

seus processos de atenção e pensamento.

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

FM+m Com transtorno

30 4,30 3,33 0,61 3,78 0,00

Sem transtorno

30 1,67 1,86 0,34

SH+C’ Com transtorno

30 4,07 2,20 0,40 3,16 0,03

Sem transtorno

30 2,53 1,50 0,27

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66

Tabela 10. FM+m > ou < SH+C’

5.4.3.2 Análise das respostas FM (movimento animal) separadas de m (movimento

inanimado):

A tabela abaixo mostra as diferenças significativas entre os grupos quanto as respostas

FM (movimento animal) associadas a uma consciência perturbadora de necessidades que não

estão sendo satisfeitas. Elas aparecem numa média de 2,73 nos participantes do grupo com

transtorno e 1,20 no grupo controle e, portanto indicam que o grupo com transtorno está mais

suscetível a este tipo de afeto.

Tabela 11. Respostas FM.

5.4.4- Passo 4: Análise de FC:CF+C e C pura

5.4.4.1. Análise de FC: CF+C

Os dados da tabela ao lado mostram as médias das respostas FC (Forma-Cor) em

relação às respostas CF+C (Cor-forma + C pura). Observamos que no grupo com transtorno a

média de respostas FC é maior em relação às CF+C. O valor de FC no grupo com transtorno é

2,20 e o de CF+C 1,97, indicando uma tendência a processar a emoção de forma

GRUPO FM+m: SH+C’ Com

transtorno Sem

transtorno Total

FM+m<SH+C’ 43,3 50,0 46,7 FM+m=SH+C’ 10,0 20,0 15,0 FM+m>SH+C’ 46,7 30,0 38,3 Total 100,0 100,0 100,0

n 30 30 60

Grupo N Média Desvio Padrão

Erro Padrão

t p

FM Com transtorno

30 2,73 1,70 0,31

Sem transtorno

30 1,20 1,42 0,26

3,786 0,000

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relativamente bem modulada e reservada, sendo que os afetos surgem e se dissipam

lentamente, sentidos de maneira profunda, com intensidade leve a moderada. No grupo

controle o valor de FC é 1,60 e o de CF+C 1,87. Portanto neste grupo FC é menor que CF+C

apontando para uma forma mais intensa de processar a emoção, onde os afetos aparecem e

desaparecem rapidamente. Porém, não há diferenças significativas entre os grupos.

Tabela 12. Análise das Médias FC: CF+C e C Pura

5.4.4.2. Análise de C Pura

Os dados da tabela acima mostram diferenças significativas entre os resultados das

respostas C Pura obtidos pelos dois grupos. A média destas respostas no grupo com transtorno

é 0,23 e no grupo controle 0,80. Observamos a maior tendência do grupo sem transtorno em

expressar mais intensamente suas emoções, apresentando maior dificuldade em modulá-las.

5.4.4.3. Análise da proporção FC > ou < CF+C.

GRUPO FC:CF+C Com

transtorno Sem

transtorno Total

FC<CF+C 36,7 36,7 36,7 FC=CF+C 13,3 33,3 23,3 FC>CF+C 50,0 30,0 40,0

Total 100,0 100,0 100,0 n 30 30 60

Teste de Fisher: p>0,05

Tabela 13. FC > ou < CF+C

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

FC Com transtorno 30 2,20 1,19 0,22 Sem transtorno 30 1,60 1,57 0,29

1,67 0,10

CF+C Com transtorno 30 1,97 1,97 0,36 Sem transtorno 30 1,87 1,80 0,33

0,21 0,84

C Com transtorno 30 0,23 0,63 0,11 Sem transtorno 30 0,80 1,13 0,21

-2,41 0,02

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Através destes dados pretendemos mostrar o quanto FC é > ou < que CF+C em ambos

os grupos. O valor de FC>CF+C para o grupo com transtorno é 50,0% e para o grupo controle

30,0%. O valor de FC<CF+C para o grupo com transtorno é 36,7%, o mesmo encontrado no

grupo sem transtorno. Assim, notamos que o grupo com transtorno apresenta FC>CF+C

quando comparado ao grupo controle, indicando capacidade de modular as descargas afetivas,

e que quando estes recursos falham, o tipo de reação se assemelha ao grupo controle, pois o

valor de FC<CF+C é igual (36,7%) em ambos os grupos. FC é igual a CF+C em 13,3% nos

participantes do grupo com transtorno e no grupo sem transtorno o valor é 33,3%.

5.4.4.4. A qualidade formal de FC

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

Com transtorno

30 0,83 0,95 0,17 1,00

0,32

FC-

Sem transtorno

30 0,60 0,86 0,16

Com transtorno

30 0,60 0,72 0,13 1,11

0,27

FCo

Sem transtorno

30 0,40 0,67 0,12

Com transtorno

30 0,70 0,88 0,16 1,28

0,21

FCu

Sem transtorno

30 0,43 0,73 0,13

Tabela 14. A qualidade formal (FQ) de FC.

A tabela acima mostra a qualidade formal de FC que nos fornece informações sobre a

qualidade com que a capacidade de modular as descargas afetivas (FC) ocorre nos

participantes de ambos os grupos. Embora não ocorram diferenças significativas, é possível

observar algumas tendências: os participantes do grupo com transtorno apresentaram uma

média maior de respostas FC- (0,83), o que significa que estas respostas não são bem vistas

quanto a sua qualidade formal, indicando que os recursos de modulação não são adequados à

realidade, tendendo à fuga à fantasia. Estas crianças também apresentaram maior média (0.60)

de respostas FCo (ordinárias ) as quais são respostas comuns e que aparecem na maior parte

da população, e de respostas FC u (incomuns) indicando um modo muito particular de

perceber a realidade. A média destas respostas é 0,70.

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5.4.5.Passo 5: A Proporção Afetiva (Afr)

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

AFR Com transtorno

30 0,68 0,31 0,06 -2,19 0,03

Sem transtorno

30 0,85 0,28 0,05

Tabela 15. Médias de Afr.

Os resultados acima mostram que o grupo sem transtorno apresentou maior

receptividade psicológica aos estímulos que provocam emoção. A média deste grupo é de

0,85, enquanto que a do grupo com transtorno é 0,68. Os dados estatísticos revelam que há

diferenças significativas entre os grupos. Quando comparado ao grupo controle, o grupo com

transtorno apresentou menos interesse em processar a estimulação emocional.

5.4.6. Passo 6: A projeção de Cor (CP)

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

CP Com transtorno

30 0,03 0,18 0,03 1,00 0,33

Sem transtorno

30 0,00 0,00 0,00

Tabela 16. Médias de Cor Projetada

Quando comparadas as médias de respostas de cor projetada (CP) dos dois grupos,

embora não ocorram diferenças significativas entre eles, verificamos que o grupo com

transtorno apresenta média com valor maior (0,03) em relação ao grupo sem transtorno.

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Tabela 17. Porcentagem de Cor Projetada (CP).

Ao examinarmos a tabela das porcentagens das respostas CP, notamos que apenas

uma criança do grupo com transtorno apresentou esse tipo de resposta constituindo a

porcentagem de 3,3%. Esse tipo de resposta é bastante incomum na população em geral e

significa a negação de afetos dolorosos substituindo-os por prazerosos.

5.4.7 Passo 7: Respostas ao Espaço em Branco (S):

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

S Com transtorno

30 1,87 1,14 0,21 4,01 0,00

Sem transtorno

30 0,83 0,83 0,15

Tabela 18. Tabela das Médias de Respostas ao Espaço em Branco (S).

Ocorrem diferenças significativas entre os dois grupos no que se refere às respostas ao

Espaço em Branco (S). O grupo com transtorno apresentou média superior (1,87) ao grupo

sem transtorno (0,83). O grupo com transtorno apresentou tendência em processar áreas sem

mancha, o que significa busca de autonomia e auto-afirmação.

CP cor projetada

29 30 59 96,7% 100,0% 98,3%

1 1 3,3% 1,7%

30 30 60 100,0% 100,0% 100,0%

Freqüência %

0

1,0

CP

Total

Com transtorno

Sem transtorno

GRUPO-

Total

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Tabela 19. Porcentagem de (S).

Ao observarmos a tabela acima, notamos que 43,3% do grupo com transtorno

apresentou uma resposta ao espaço em branco (S), 30% apresentou duas, 13,3% três

respostas, 6,7% quatro, 3,3% cinco e 3,3% uma. No grupo sem transtorno notamos que 40%

dos participantes não apresentou nenhuma resposta ao espaço em branco. Outros 40% dos

participantes apresentou apenas uma resposta, enquanto que 16,7% apresentou duas respostas

e 3,3% apresentou três respostas.

5.4.8. Passo 8 : Respostas Mistas “blends”:

A tabela abaixo expõe os resultados das médias de respostas mistas “blends” e das

demais respostas presentes nos protocolos de ambos os grupos. Ocorrem diferenças

significativas entre os resultados apresentados. O grupo com transtorno apresentou média de

2,80 respostas mistas para média de 21,63 respostas em geral. O grupo sem transtorno

apresentou 1,10 resposta mista para média de 17,93 respostas em geral. Observamos no grupo

com transtorno uma produção maior de respostas nos protocolos, do que o grupo sem

transtorno. Verificamos que ocorrem assim, mais respostas mistas, indicando uma atividade

cognitiva mais complexa, produto de uma considerável atividade de análise e síntese dos

elementos do campo dos estímulos.

S Espaço em branco

1 12 13 3,3% 40,0% 21,7%

13 12 25 43,3% 40,0% 41,7%

9 5 14 30,0% 16,7% 23,3%

4 1 5 13,3% 3,3% 8,3%

2 2 6,7% 3,3%

1 1 3,3% 1,7%

30 30 60 100,0% 100,0% 100,0%

Freqüência %

,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

S

Total

Com transtorno

Sem transtorno

GRUPO

Total

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GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

BLENDS Com transtorno

30 2,80 2,51 0,46 3,35 0,00

Sem transtorno

30 1,10 1,18 0,22

Respostas Com transtorno

30 21,63 6,87 1,25 2,63 0,01

Sem transtorno

30 17,93 3,49 0,64

Tabela 20. Blends: Respostas

5.4.9. Passo 9: Análise Qualitativa de blends (respostas mistas)

Participante Grupo de estudo n.blends Grupo Controle n.blends 1 FT.m // FY.m.CF// 2 FM.m// M. FY// FM.FC 3

2 FC.FM, // FM.FC// 2

0 0

3 FM.FD.C’F// FD.FM // FC’.m// FC.FY// FM.CF // 5

m.FC 1

4 4- M.C’F. CF// FC’.FY// FM.CF// m.C’F.C// 4

// FY.M// CF.C’F// 2

5 FC.FM// m.FC// FM.M// m.CF 4

FC’.FC 2

6 0 0 FD.M/ /m.FD.FC// m.M.FY// 4 m.C’F

7 FM.CF 1

FM.FC 1

8 FM.FC//FC’.FC 2

FC.m//CF.C’F 2

9 FM.CF 2 FC.FC’//FD.FC//FC.FY 3

10 0 0

0 0

11 FM.FC//m.CF 2

0 0

12 FT.FC 1

0 0

13 CF.m//FM.CF 2

0 0

14 0 0 FM.FV/ /m.FY// FM.FC 3

15 FM.CF 1 Y.C 1

16 - M.C’F // M.FC// C’.C// YF.m// CF.M// FM.m.CF// CF.m// C.M 8

0 0

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17 - FC.FC’ // CF.M 2

CF.YF 1

Participante 18

Grupo de Estudo n.blends 0 0

Grupo sem transtorno n.blends 0 0

19 0 0

0 0

20 FY.FC//FY.FC//FM.CF.m 3

0 0

21 FC.FC’//FM.FD//FM.FC’// FC’.FM//FM.FC 6

0 0

22 FC’.FC//FM.FC’//M.FD//m.YF 4

0 0

23 FC.FM 2

FM.FY//C.m 2

24 CF.m//YF.m//m.M 3

0 0

25 - m.FD.FC’// FC’.FM// m.FY m.FC’// FC.m// FM.FC// FM.FC 7

FY.FM 1

26 - FV.FC’// FM.FY 2

FM.FY//FM.FC 2

27 F.m//FD.m//FD.FC’//FM.FC’//FC’.FD C’F.m // FM.FC 7

T.m.C 1

28 FY.m// C’F.CF// M.YF// m.CF.Y 4

m.CF 1

29 FM.FY 2

M.CF 1

30 C’F.m// M.m// FD.C’F// M.m//m.C’F FC.M.m //m.CF// FC.FY// FM.FC 9

0 9

Total=82

m = 31

Total=33 m = 10

Y = 9

Y = 6

C-SH=12

C-SH = 8

SH-SH = 2

SH-SH=0

Tabela 21. Análise Qualitativa de Blends.

O quadro mostra a forma como os determinantes mistos aparecem nas respostas dos

participantes e ao examiná-lo constatamos a maior freqüência destas respostas no grupo com

transtorno, indicando a sua complexidade psicológica que se expressa através de acentuada

atividade cognitiva, de análise e síntese do campo estimular, mesclando-se com suas emoções.

A análise de cada determinante nos oferecerá informações sobre as características de sua

afetividade:

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a) O determinante movimento inanimado: m

Indica um tipo de atividade cognitiva não deliberada que implica certo sentimento de

perda de controle, que pode facilmente interromper o curso do pensamento deliberado do

sujeito. Sugere uma reação à situações de estresse que a pessoa experimenta num

determinado momento, que geram incômodo e mal estar e aumentam a sobrecarga interna,

dificultando tanto os processos de concentração como de relaxamento. Pela quantidade deste

tipo de determinantes apresentada pelos participantes do grupo com transtorno, podemos

concluir que as crianças com TDAH estão mais sujeitas à apresentarem esse tipo de reação

quando sentem-se exigidas pelas situações externas, ocorrendo um aumento de pensamentos

invasivos que promovem a perda de controle sobre seu comportamento.

b) O determinante de sombreado difuso: Y

Tanto m quanto Y se refere a situações de estresse pelas quais a pessoa está passando

num determinado momento e que geram mal estar. Y é a resposta emocional a essas situações,

o que significa que quando aparecem revelam um aumento de sofrimento psíquico,

inundando-se de emoções paralisantes, sentimentos de não saber o que fazer. Notamos no

quadro descritivo dos determinantes que “m” em geral aparece associado à “Y” (ou FY), o

que sugere a tendência das crianças com TDAH, diante de situações estressantes, reagirem

com aumento de tensão recebendo estímulos ideacionais (m), perdendo o controle sobre os

pensamentos e serem invadidas por intenso mal estar e sofrimento, inundando-se de emoções

paralisantes (Y). Porém é preciso observar que estes determinantes se referem a uma situação

específica que quando resolvida, o mal estar também se dissipa. Indicam um mal estar agudo.

c) Respostas mistas de cor-sombreado (Color-SH):

Os determinantes de cor apareceram associados tanto aos de sombreado Y e cor

acromática FC’. Estas são respostas bastante comuns em protocolos de deprimidos. Nosso

grupo com transtorno apresentou tais tendências, expressando estresse situacional, passageiro,

e também um tipo de estresse mais crônico (FC’), o que faz com que essas crianças

confundam suas emoções, experimentando sentimentos positivos e negativos frente a mesma

situação. São dominados por uma emocionalidade mais intensa, que custa a passar, além de

ambivalência afetiva, a qual supõe uma grande dificuldade em manter a coerência das reações

emocionais a diversos tipos de estimulação afetiva, o que pode afetar suas relações

interpessoais.

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d) Respostas mistas de Sombreado+Sombreado (SH/SH):

Incluem mais de um determinante de Sombreado e Cor Acromático (C’). São

respostas muito incomuns e aparecem no grupo com transtorno, sugerindo a possibilidade das

crianças que apresentam o TDAH registrarem vivências emocionais extremamente dolorosas,

que podem produzir um impacto perturbador em todo funcionamento psicológico, pois a

presença desse tipo de resposta sempre assinala a existência de conflitos emocionais que

aumentam o sofrimento psíquico. Nos protocolos encontramos duas respostas desse tipo, uma

delas associada a Y, portanto refere-se ao estresse passageiro, e outra associada à FV (Forma-

Vista), que diz respeito à forma como a pessoa se vê, a processos de introspecção, à sua auto-

estima com autocrítica negativa.

5.4.10 Passo 10: Análise de SUMC’: WSUMC

Abaixo apresentamos os valores das médias de SUMC’ (soma das respostas de cor

acromática) e das médias de WSUMC (soma ponderada das respostas de cor cromática).

Verificamos pelos resultados que o grupo com transtorno apresentas média de SUMC’ (2,10)

superior a do grupo sem transtorno (0,93). Este resultado indica que quando comparado ao

grupo controle, o grupo com transtorno está mais suscetível a experimentar afetos dolorosos

internalizados, prejudicando sua adaptação. O tratamento estatístico dos dados aponta

diferenças significativas entre os dois grupos, quando analisamos esta variável. O mesmo não

ocorre com WSUMC: a média do grupo com transtorno é 3,32 e a do grupo sem transtorno ou

controle 3,07, não havendo diferenças significativas entre os dois grupos. A análise da

proporção de SUMC’: WSUMC mostra que em ambos os grupos SumC’ apresentou-se

menor em relação a WSUMC e o valor desta variável é >2, um resultado esperado, pois

indica que podem experimentar a estimulação afetiva de modo suficiente e prazeroso,

vivenciar e expressar emoções de modo adaptativo.

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Tabela 22. Médias de SUMC’ e de WSUMC.

Tabela 23. SUMC’ > ou <WSUMC

A tabela acima nos mostra quanto SUMC’ é > ou < WSUMC. No grupo com

transtorno SUMC’ aparece maior do que WSUMC em 30% dos participantes, enquanto que

no grupo controle a tendência em aparecer maior que WSUMC é de 6,7%.

SUMC’ é menor que WSUMC em 63,3% dos participantes do grupo com transtorno e em

73,3% dos participantes do grupo controle. SumC’ é igual a WSUMC em 6,7% dos

participantes do grupo com transtorno e em 20% dos participantes do grupo sem transtorno.

5.5. As constelações Positivas

5.5.1. Índice de Transtorno de Percepção e Pensamento (PTI): > ou = 3.

Este índice não é utilizado como fonte primária de diagnóstico, mas deve ser utilizado

como uma escala contínua, na qual valores mais altos são menos preferíveis, e seu principal

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

SUMC’ Com transtorno

30 2,10 1,69 0,31 3,37 0,00

Sem transtorno

30 0,93 0,87 0,16

WSUMC Com transtorno

30 3,32 2,33 0,42 0,19 0,85

Sem transtorno

30 3,07 2,31 0,42

Grupo SUMC’:WSUMC Com

transtorno Sem

transtorno Total

SUMC’>WSUMC 30,0 6,7 18,3 SUMC’=WSUMC 6,7 20,0 13,3 SUMC’<WSUMC 63,3 73,3 68,3 Total 100,0 100,0 100,0 N 30 30 60

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propósito é alertar sobre possibilidade de dificuldades nos processos de pensamento

(Exner,2003).

A tabela abaixo mostra que não ocorreram diferenças significativas entre os resultados

apresentados por ambos os grupos e que nenhum deles apresentou indícios de transtorno de

percepção ou pensamento.

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

PTI Com transtorno 30 1,70 1,32 0,24 Sem transtorno 30 1,23 1,14 0,21

1,47 0,15

Tabela 23. Índice de PTI.

5.5.2 Índice de Déficit Relacional (CDI): 4 ou +

Esta é uma medida das dificuldades que o índivíduo tem para enfrentar com eficiência

as demandas comuns de seu meio social, vulnerabilidade a situações de estresse e dificuldades

em estabelecer e manter relações interpessoais significativas e gratificantes. Pelos resultados

abaixo relacionados, verificamos que 43,3 % dos participantes do grupo com transtorno

apresentou CDI positivo, e 56,7% não apresentou. No grupo sem transtorno o índice foi

positivo em 33,3% e negativo em 66,7% dos participantes, o que indica que as crianças com

TDAH apresentam maiores dificuldades em se relacionar e enfrentar as demandas, estando

sujeitas a viver situações de maior estresse.

Tabela 24. Índice de CDI

GRUPO

CDI Com

transtorno Sem

transtorno Total

SIM 43,3 33,3 38,3 Não 56,7 66,7 61,7 Total 100 100 100

n 30 30 60

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5.5.3. Índice de Hipervigilância

Este é um índice que verifica um estilo paranóide, de preocupação excessiva em

relação ao meio ambiente. Os indivíduos sentem-se vulneráveis a contatos próximos e agem

de forma cautelosa em suas relações. Pelos resultados encontrados, este índice está presente

em 3,3% dos participantes do grupo com transtorno e ausente em 96,7%. O índice não está

presente em 100% dos participantes do grupo controle.

Tabela 25. Índice de Hipervigilância (HVI)

5.5.4. Índice de Estilo Obsessivo (OBS)

Este índice mede a existência de traços perfeccionistas, meticulosidade, cautela e

convencionalidade. A capacidade criativa é rebaixada pela preocupação em não falhar. O

índice OBS foi negativo em 100% dos participantes de ambos os grupos.

GRUPO

OBS Com

transtorno Sem

transtorno Total

Não 100% 100% 100% Tabela 26. Estilo Obsessivo.

GRUPO

HVI Com

transtorno Sem

transtorno Total

Sim 3,3 1,7 Não 96,7 100,0 98,3 Total 100 100 100

n 30 30 60

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5.6. As variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse

5.6.1. Nota D (D) e Nota D Ajustada (Adj D):

Medem a adequação da capacidade de lidar com as demandas em relação ao nível de

exigências com o qual a pessoa se defronta. A nota D Ajustada é um indicador útil à

discriminação do estresse situacional, passageiro, do estresse persistente. Ambas avaliam os

recursos que a pessoa apresenta para enfrentar situações que exigem adaptação e controle

adequado de seu comportamento para superar as dificuldades de determinadas demandas

impostas em alguns momentos da vida. O valor esperado para a nota D e Adj D é = 0 ou que

sejam positivas.

Quando comparado ao grupo sem transtorno, o grupo com transtorno apresentou tanto

a nota D quanto Adj D negativas, o que implica na falha de recursos disponíveis para

controlar e tolerar o estresse. Mesmo que as situações geradoras de tensão se dissipem, a

criança com TDAH continuará a ter dificuldades para controlar o seu comportamento estando

sujeitas a uma sobrecarga de estresse persistente relacionada à dificuldades de mobilizar os

recursos suficientes para amenizar o mal estar subjetivamente sentido, indicando que a

estimulação interna sofrida é maior que seus recursos para enfrentá-la.

Os resultados apresentam diferenças significativas entre os dois grupos. A média da

Nota D do grupo com transtorno foi -1,20 e do grupo controle 0,07. A média de D Ajustada

do grupo com transtorno foi -0,57 e a do grupo controle foi 0,27.

Tabela 27. Nota D e Nota D Ajustada (Adj D).

Grupo N Média Desvio Padrão

Erro Padrão

t p

D Com transtorno

30 -1,20 1,75 0,32 -3.652 0,001

Sem transtorno

30 0,07 0,74 0,14

ADJ_D Com transtorno

30 -0,57 1,07 0,20 -3,576 0,001

Sem transtorno

30 0,27 0,69 0,13

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5.7. Lambda “L” e a abertura a experiência

Os resultados abaixo se referem ao modo como a pessoa aborda a experiência e como

dirige sua atenção ao ambiente e o percebe. Verificamos que o grupo com transtorno, em

comparação ao grupo sem transtorno ou controle, apresenta abertura suficiente à experiência,

focando sua atenção de modo amplo, abarcando os dados significativos do campo estimular,

processando suas emoções e dando complexidade às suas percepções. O grupo controle

apresentou um foco de atenção muito restrito, com tendência a simplificar demais suas

percepções. A média de Lambda no grupo com transtorno foi 0,98, dentro do intervalo

esperado para todas as idades (0,30 a 0,99). A média do grupo controle foi 2,00 ( >0,99),

indicando falta de abertura adequada á experiência.

GRUPO N Média Desvio padrão

Erro Padrão

t p

"L" Com transtorno 30 0,98 0,50 0,09 Sem transtorno 30 2,00 1,98 0,36

-2,73 0,01

Tabela 28. Lambda “L”.

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6 DISCUSSÃO

Nosso estudo teve como foco a afetividade das crianças com TDAH. Houve uma

distribuição equilibrada da amostra em termos de idade e escolaridade. Quanto ao sexo dos

participantes não foi possível uma homogeneização dos grupos devido a algumas

contingências da coleta de dados. O TDAH tem uma prevalência maior no sexo masculino,

conforme vimos em nossa revisão de literatura, e, portanto tivemos muito mais meninos

diagnosticados do que meninas. Esperar por elas demandaria muito mais tempo para a

conclusão do nosso estudo, que precisou cumprir um cronograma para otimizar a avaliação

dos resultados. Por outro lado, para compor a amostra de nosso grupo controle na escola,

contamos com a seleção inicial dos professores, de alunos que não apresentavam os sintomas

cardinais do TDAH e cujos pais autorizassem a participação na pesquisa. E assim, as meninas

apareceram em maior quantidade que os meninos.

Decidimos manter a coleta de dados com os grupos, mesmo com tais características,

pois entendemos que seria possível fazer algumas inferências sobre as características afetivas

e emocionais da criança com TDAH, pela aplicação de nosso instrumento, o Método de

Rorschach de acordo com o Sistema Compreensivo de Exner.

Através da análise das Variáveis do Módulo do Afeto no Rorschach observamos as

tendências afetivas das crianças com TDAH, quanto a Modulação Suficiente do Afeto, a

Modulação Prazerosa do Afeto e a Modulação Moderada do Afeto, entendendo como

modulação do afeto, a maneira e a tranqüilidade que a pessoa processa a experiência

emocional, como lida com os seus sentimentos e como reage aos sentimentos das outras

pessoas e a situações que envolvam carga emocional.

Quanto a Modulação Suficiente do Afeto, que consiste na capacidade de envolver-se

em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros, sentindo-se à vontade,

observamos diferenças significativas entre as crianças com TDAH e as que não o apresentam.

A criança com TDAH apresenta-se mais tímida ou contida, demonstrando um menor interesse

em envolver-se em situações emocionais, quando comparada à criança sem o transtorno. Esta

capacidade de modular o afeto suficientemente é refletida no Rorschach pelo Quociente

Afetivo (Afr) adequado e WSUMC (soma ponderada das respostas de cor) = ou > que o

número de respostas acromáticas (SUMC’). O valor da média de (Afr) das crianças com

TDAH é 0,68 e encontra-se adequado (o valor esperado é 0,69 para adultos não pacientes),

refletindo boa capacidade de envolvimento com situações carregadas de emoção. Porém,

como o valor da média de (Afr) do grupo sem transtorno foi 0,85, quando comparados os

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grupos, este último parece demonstrar maior envolvimento.

A criança com TDAH apresenta capacidade adequada para vivenciar e expressar

afetos de maneira adaptativa (WSUMC > 2,5). Ela se deixa estimular e responde à

estimulação emocional. Porém, está mais suscetível a ser invadida por afetos dolorosos e

desagradáveis, associados a sentimentos de melancolia, tristeza e disforia, que interferem em

seu prazer, podendo internalizar tais afetos ao invés de expressá-los. Desta forma, a

Modulação Prazerosa do Afeto desta criança apresenta particularidades que a difere das

demais pelo seu nível de sofrimento interno, apontado em nossa revisão de literatura por

Benczik (2005). Tal característica foi refletida pela média de SUMC’=2,10, muito superior a

do grupo controle, que teve média = 0,93. Além disso, a análise dos blends, ou respostas

mistas, apontou para um número considerável de respostas de Cor-Sombreado e Sombreado-

Sombreado e refletem o quanto se sentem confusas e inseguras em relação aos seus

sentimentos, em geral atribuindo às pessoas e às situações, características positivas (cor) e

negativas (o sombreado) simultaneamente. Como conseqüência apresentam dificuldades em

discriminar os seus sentimentos atribuindo características negativas até mesmo ao que é

prazeroso ou positivo, com dificuldades de se sentirem felizes e satisfeitas. Na avaliação das

Constelações Positivas vimos que a criança com TDAH apresenta Índice de Depressão

(DEPI) positivo, indicando maior suscetibilidade a tornarem-se deprimidas. Ao incluírem

respostas de Sombredo-Sombreado revelam sentimentos de paralisia frente a situações de

estresse (Y). Em nossa análise dos blends (respostas mistas) este determinante esteve

associado a “m” (movimento inanimado), apontando para uma reação às situações estressoras,

porém com sentimento de perda de controle, afetando o curso dos pensamentos deliberados.

Ocorre assim, uma atividade ideativa, não deliberada, que gera mal estar.

Complementam estas informações o exame de “eb”, a experiência de base do sujeito.

Constatamos o aumento de FM+m, o lado esquerdo da proporção FM+m: SUMC’, havendo

diferenças significativas entre os resultados encontrados nos grupos com transtorno e sem

transtorno. Tanto FM como m representam aspectos importantes da atividade ideativa, que

interferem no curso dos pensamentos deliberados e podem acentuar a sobrecarga interna pela

qual a pessoa possa estar experimentando.Analisando as respostas FM separadamente vimos

que se mostram elevadas, em relação ao grupo sem transtorno, apresentando também

diferenças significativas entre os resultados encontrados. Elas se relacionam a um mal estar

experimentado referente a uma consciência de estados de necessidades não atendidas, que

provocam um aumento de tensão e da ideação, interferindo nos processos de atenção e

concentração.

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Concluímos através da avaliação destas variáveis que a criança com TDAH está sob

forte tensão interna, gerando acentuada atividade mental provocada pela demanda, que podem

ser vivências de estresse ou sentimento de necessidades não atendidas, ou ambas, revelando a

sua extrema sensibilidade às situações externas. Estes fatores parecem ser a fonte de mal estar

(ideacional), ocasionando a perda do controle sobre seus pensamentos, sofrendo interferências

em seus processos atencionais. Estas informações obtidas pelo Rorschach são de enorme

contribuição à compreensão das características da criança que apresenta o transtorno, pois a

dificuldade em sustentar a atenção, selecionando alguns estímulos em detrimento de outros,

como apontamos em nossa revisão de literatura, constitui um de seus principais sintomas. Tais

achados poderiam sugerir a possibilidade do “déficit” de atenção ser conseqüência e não

causa, ou que ao avaliarmos os déficits de atenção, deveríamos incluir a avaliação dos fatores

emocionais e assim temos nesta altura de nossa discussão a importância dos fatores

biopsicossociais a serem considerados em seu conjunto ao elaborarmos um processo

diagnóstico, planejando o tratamento a fim de conseguirmos melhores prognósticos.

As variáveis que nos ajudam a compreender as situações de estresse são a nota D e D

Ajustada (Adj D). Ambas as notas se mostraram negativas, conforme nossa descrição dos

resultados, inadequadas a um bom ajuste adaptativo. A sua análise revelou que a criança com

TDAH está sob estresse permanente e que a estimulação interna é superior aos recursos que

dispões para tolerar e controlar o estresse, o que pode levá-la a condutas impulsivas, geradas

pelas dificuldades de adaptação. Observamos assim, outra fonte de informação importante

obtida pelo Rorschach acerca da impulsividade apresentada pela criança com TDAH, um de

seus sintomas cardinais. A nota D negativa (média -1,20) como apresentou o grupo com

transtorno, sugere que as crianças apresentam dificuldades de adaptação e a probabilidade de

que se sintam ansiosas, tensas e irritáveis, estando estas reações associadas à baixa tolerância

à frustração, gerando uma tendência á impulsividade. Mais adiante faremos uma diferenciação

deste tipo de impulsividade relacionada ao controle e tolerância ao estresse, da capacidade

emocional expansiva e orientação para a ação associada à proporção FC: CF+C, sobre a

Modulação Moderada do Afeto. A Nota D negativa identifica uma suscetibilidade a perdas de

controle episódicas, indesejáveis e desagradáveis.

As respostas ao Espaço em Branco também fazem parte da análise da Modulação

Prazerosa do Afeto. Os resultados obtidos mostraram diferenças significativas entre os dois

grupos, apresentando-se elevados (1,87) quando comparados aos resultados do grupo sem

transtorno (0,83). Esta situação mostra que a criança com TDAH apresenta maior tendência

em buscar sua autonomia e auto-afirmação. Caso esta tendência se acentue ocorrerá a

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probabilidade do desenvolvimento de condutas de oposição. Mais uma vez o Rorschach

mostra o seu valor diagnóstico, pois poderá contribuir para a avaliação de algumas

comorbidades no TDAH, além da Depressão, neste caso do Transtorno Opositor, pelo exame

das respostas ao Espaço em Branco, principalmente.

A Modulação Moderada do Afeto se refere a capacidade de manter um equilíbrio

adaptativo entre os canais de expressão emocionais e ideacionais, entre padrões de descarga

emocional reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis para processar a

experiência afetiva de maneira positiva (WEINER, 2000). Nos referimos a capacidade de

modulação do afeto como a possibilidade de vivenciar e expressar os sentimentos sem se

tornar excessivamente emocionais.

Estas capacidades são verificadas pelo Estilo de Vivência Extratensivo e EBPER

Extratensivo. Os resultados obtidos pela aplicação do Rorschach mostram que tanto o grupo

com transtorno, assim como o grupo controle, apresenta Estilo de Vivência Extratensivo. O

grupo com transtorno apresenta uma média maior de WSUMC (3,32) em comparação ao

grupo controle (3,20), o que caracteriza a maior proporção de respostas de cor sobre as

respostas de movimento, indicando um estilo emocional de ser. As emoções exercem uma

maior influência em toda a sua atividade psicológica. Os extratensivos são mais hábeis nos

intercâmbios e descargas emocionais e menos preocupados em modular ou conter suas

experiências afetivas, tendendo a usar seus intercâmbios como fonte principal de gratificação.

O contato com os outros e o processamento da emoção é prioritário (EXNER, 1999).

A criança com TDAH, no entanto, apresenta uma tendência mais acentuada em

persistir no estilo extratensivo, priorizando os processos emocionais em detrimento dos

ideacionais. O EB PER Extratensivo se mostrou positivo em 23,3% das crianças com TDAH

e em 16,7% das crianças sem o transtorno. Assim, as crianças que apresentam o transtorno

tendem a ser altamente expressivas e orientadas para ação e raramente refletem sobre suas

decisões. Em geral resolvem seus problemas por estratégias de ensaio-erro, em lugar de

refletir e conceitualizar. A boa adaptação requer em algumas vezes o planejamento ponderado

além do afeto reativo e segundo Exner, o tipo vivencial excessivamente emocional dos

extratensivos persistentes freqüentemente compromete a eficiência de suas soluções de

problemas, a qualidade de suas decisões e a adequação de seu ajustamento.

As descrições acima apontadas por Exner (1999), como características de

personalidade decorrentes de um Estilo de Vivência quando EB se mostra persistentemente

extratensivo, parecem se assemelhar ao que nos fala Barkley (2002) sobre as características

das crianças que apresentam o transtorno, com relação à sua dificuldade de modulação dos

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afetos, de estabelecer intervalos de tempo, de separar emoções de informações, o que por sua

vez compromete a capacidade de planejamento e das funções executivas, envolvidas nas

soluções de tarefas. Logo, o EB PER Extratensivo mostra que há uma tendência à atuação no

meio, a hiperatividade, mais um sintoma cardinal do TDAH.

Resta-nos ainda comentar sobre a Modulação Moderada do Afeto, as proporções FC:

CF+C e CP (Cor projetada).

A proporção FC: CF+C (Forma-cor:cor- forma + cor pura) é muito importante na

compreensão da modulação dos afetos, pois trata do equilíbrio entre vivenciá-los e expressá-

los. FC refere-se a um processamento da emoção relativamente bem modulado e reservado. Já

as respostas CF e C estão associadas a um processamento relativamente espontâneo e não

modulado da emoção, às vezes superficiais e muito intensas enquanto duram. Os resultados

desta proporção foram salientados no estudo de Graeff e Vaz (2006), como essenciais na

compreensão da modulação do Afeto, sendo FC > CF+C a sua condição essencial, pois ao

contrário, FC< CF+C apontaria a falha dos controles. Em nosso estudo, o grupo com

transtorno apresentou FC> CF+C, indicando que a criança com TDAH é capaz de ter controle

racional sobre suas emoções, portanto equilibrando suas vivências e as descargas afetivas.

Surpreendentemente este resultado contrariou o que já foi apontado sobre a capacidade da

modulação dos afetos nas crianças com TDAH. Assim, pensamos ser necessário o exame

mais detalhado das respostas FC (Forma-Cor) para verificarmos a qualidade com que as

crianças estabeleceram este tipo de controle. Assim, incluímos a análise da qualidade formal

dessas respostas (FQ) que indica se a resposta respeita a qualidade formal da mancha, o que

constitui uma adequação aos dados da realidade. Verificamos através de nossos resultados que

houve a maior freqüência de respostas FC-(0,83%), portanto de qualidade formal inadequada,

o que mostra que mesmo estabelecendo o controle sobre as descargas afetivas, a criança com

TDAH o faz de forma inadequada à realidade, tendendo à fuga à fantasia. No que se refere às

respostas de Cor Projetada (CP), estas não foram encontradas como tendência das crianças,

tanto no grupo com transtorno, como no grupo controle.

Constatamos pela aplicação do Rorschach, que a criança com TDAH apresenta uma

afetividade complexa, pois se mescla com uma atividade cognitiva intensa, que se esforça nos

processos de análise e síntese, tentando abarcar as várias características do campo estimular,

haja vista a grande freqüência de respostas mistas apresentadas. Esta criança é extremamente

sensível ao que acontece ao seu redor, volta-se para o contato com o ambiente e com os

demais, sendo a vivência e expressão emocional, experiências prioritárias. Conscientes de

suas necessidades não atendidas experimentam estresse permanente, faltando-lhes os recursos

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adequados para tolerar e manejá-lo. São invadidas por pensamentos intrusivos e por

sentimentos dolorosos, desagradáveis, que não permitem sentirem-se alegres e satisfeitas,

apresentando maior suscetibilidade a episódios depressivos e a desenvolver inabilidade social,

como vimos no índice de CDI (Índice de Déficit Relacional) positivo, ao examinarmos as

Constelações Positivas. Buscam autonomia e auto-afirmação.

6.1 O “Complexo” TDAH

Refletir sobre as características emocionais das crianças com TDAH nos leva a pensar

sobre padrões de reações emocionais, associados às primeiras vivências emocionais,

aprendizagens que ocorrem nas primeiras relações do bebê com sua mãe e dada a intensidade

com que ocorrem, se referem a etapas muito precoces do desenvolvimento emocional. Esta é

a fase em que a capacidade da modulação dos afetos começa a se desenvolver, pois está

relacionada à sintonia existente entre a mãe e o bebê, nesta etapa inicial de seu

desenvolvimento.

O modelo psiconeurobiológico descrito por Shore (1994), mencionado em nossa

revisão e literatura, fala da importância dessas experiências, especialmente as carregadas de

emoção, pois induzem e organizam os padrões de funcionamento, crescimento e expansão das

capacidades funcionais do desenvolvimento individual. A modulação do afeto é um processo

que ocorre na relação interpessoal, em que os estados emocionais internos de um serão

monitorados pelo outro, ocorrendo um aumento do estado positivo de ambos. Este fator

importante também nos é apontado por Gorodscy (2006).

Ao examinarmos as considerações de Shore (1994) podemos estabelecer algumas

relações entre os seus pressupostos, com os pressupostos de Barkley (2002), que nos mostra o

quanto a noção de tempo está prejudicada na criança com TDAH, por sua dificuldade de

modulação dos afetos e controle inibitório, pois ela não consegue este intervalo de tempo

necessário para esperar, estabelecer um discurso interno, para depois responder às situações,

orientando-se no presente, passado e futuro. Um outro ponto relevante a ser observado é que

as áreas cerebrais ativadas nessa aprendizagem das relações de apego são as mesmas

envolvidas na determinação dos sintomas do TDAH. Shore (1994), observa que em

indivíduos que apresentam um apego seguro, o córtex orbitofrontal direito atua com

mecanismos que recobrem eficientemente a regulação não só dos afetos positivos, mas de

estados emocionais como a raiva, angústia, medo, terror, em termos de duração, freqüência e

intensidade.

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Os resultados encontrados no Rorschach apontam para um estilo de personalidade que

expressa essa intensidade emocional, a extratensão, principalmente quando é persistente, com

dificuldades nos controles inibitórios, mas que essencialmente estão relacionadas à

capacidade de tolerância e controle do estresse. O controle das descargas afetivas quando

acontece, se dá de forma inadequada. Poderíamos então supor que tais dificuldades de

modulação são uma expressão de um padrão de resposta emocional apreendido, por

interferências ocorridas na díade mãe bebê, onde o intervalo de tempo necessário para que a

expressão das necessidades de um fosse atendida pelo outro não ocorreu. É preciso lembrar

que todo bebê provoca respostas também em sua mãe, é o que nos mostra a

Intersubjetividade, e que a maioria das crianças que apresenta o transtorno foi um bebê muito

agitado. Logo, a agitação e hiperatividade, o símbolo do TDAH, como nos fala Barkley

(2002), está implícito nesta relação, promovendo uma tonalidade afetiva típica ao ambiente no

qual mãe e bebê estão inseridos.

A experiência emocional conseqüente deste vínculo sincrônico, onde toda a

organização psicossomática da mãe se relaciona com a organização psicossomática do bebê, é

impressa no sistema de memória imagética, visceral, não verbal, chamada memória implícita,

do hemisfério direito. Desta forma, as emoções são reguladas e são reguladoras favorecendo o

amadurecimento de um sistema atuante no hemisfério direito, cujo cenário necessário são as

interações de afeto associadas ao apego seguro.

Retomando as idéias de Knox (1999), verificamos que a memória implícita será de

fundamental importância no desenvolvimento emocional, pois cabe a este sistema registrar a

tonalidade afetiva que emerge neste processo de aprendizagem, em que as relações, ou o que é

experienciado na realidade externa, oferece o substrato, o material, para que o mundo interno

se constitua. Esse “tom” afetivo oferece a matriz ou significado para todas as representações

associadas a ele e se torna o padrão inconsciente que influenciará o funcionamento

psicológico ao longo da vida, formando um núcleo ao redor do qual circulam pensamentos,

idéias, emoções correspondentes. A esse conjunto de idéias, emoções, sentimentos e

pensamentos dotados de uma carga afetiva, Jung chamou de Complexos.

A partir desses pressupostos da teoria junguiana, podemos fazer algumas inferências

sobre as representações mentais da criança com TDAH, como seu mundo interno vai sendo

constituído a partir da internalização das experiências afetivas vividas nessa etapa do

desenvolvimento e que constituirão um padrão típico de respostas, um Complexo, que atrairá

pensamentos, idéias e emoções com uma tonalidade semelhante àquelas armazenadas na

memória implícita, a qual não é possível de ser recordada por vontade consciente, mas cada

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vez que uma situação de tonalidade afetiva semelhante ocorrer, esse padrão de resposta

apreendido, será evocado, de modo inconsciente. Assim, entendemos as reações emocionais

das crianças com TDAH e suas características de personalidade também como um Complexo,

um padrão típico de respostas a determinadas situações carregadas de emoção, resultante das

experiências iniciais do desenvolvimento.

De acordo com a teoria junguiana, esta etapa inicial de desenvolvimento é marcada

pelas vivências do Arquétipo Materno, a matriz de todas as experiências que se referem aos

cuidados maternos, ativada pela relação mãe-bebê ou do bebê com seu cuidador. As reações

emocionais características das crianças com TDAH, decorrentes desta aprendizagem e

armazenadas na memória implícita, constituiriam um Complexo Materno, pois a tonalidade

afetiva registrada diz respeito a acontecimentos desta relação.

Os conceitos de memória implícita e complexos esclarecem sobre a importância das

primeiras relações do bebê com sua mãe ou cuidador e as emoções associadas a esta

experiência, pois se tornarão marcantes na estruturação da personalidade, funcionando como

um filtro através do qual a realidade externa será interpretada, além de estabelecerem um

padrão para relacionamentos futuros. Logo, os complexos determinarão a percepção do

mundo externo, a partir da tonalidade afetiva armazenada na memória implícita, resultante das

relações com as figuras principais de apego, na tenra infância. A tendência à agitação,

hiperatividade e impulsividade, além de serem conseqüências de um fator neurológico que as

determinam, também constituem um padrão de resposta emocional, um complexo materno,

fruto das experiências internalizadas nessa etapa do desenvolvimento, como anteriormente

mencionado. Entender as características da criança com TDAH desta forma permite-nos

enfocá-las do ponto de vista biopsicosocial. Acreditamos também que pela aplicação do

Rorschach e análise de seus resultados pudemos abordar os aspectos neurológicos,

emocionais e sócio-ambientais que caracterizam o comportamento da criança que apresenta o

transtorno, atingindo assim, o nosso objetivo neste estudo.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa intenção com este estudo foi a de oferecer alguma contribuição à compreensão

das características afetivas e emocionais das crianças com TDAH, o qual é bastante estudado

na atualidade. Nos empenhamos em abordá-lo focando os fatores biológicos, psicológicos e

sociais.

Constatamos a carência de estudos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção

realizados com o Método de Rorschach que pudessem nos auxiliar em nossa fundamentação

teórica e os estudos com Rorschach infantil se baseiam nos textos clássicos sobre o assunto,

apontando assim, a necessidade de pesquisa neste campo. Ainda que não seja um teste para

avaliação do TDAH, este instrumento de importante valor diagnóstico nos foi de muita ajuda

à compreensão do funcionamento psicológico das crianças, principalmente no esclarecimento

das comorbidades do Transtorno, como a Depressão e o Índice de Déficit Relacional (CDI),

pela análise das Constelações Positivas. Portanto, sua inclusão ao diagnóstico multidisciplinar

pode ser útil, acrescentando informações que permitem o esclarecimento sobre os sentimentos

e emoções das crianças.

Nos deparamos, na realização de nosso estudo, com questões metodológicas para

composição das amostras, as quais tememos que comprometessem nossa avaliação, pois se

referiram ao sexo dos participantes da pesquisa. Como observado, o grupo com transtorno foi

composto basicamente de meninos, enquanto que o grupo controle, de meninas. Esta foi uma

contingência da coleta, como já foi mencionado, pelo fato do transtorno ser tipicamente

masculino e nos mostra a associação das queixas de hiperatividade, desatenção e

impulsividade ao gênero, pois os professores ao selecionarem alunos que não apresentassem

os sintomas, apontaram as meninas em maior número. Mantivemos os grupos com esta

composição, pois igualá-los quanto ao sexo demandaria um tempo muito maior para

conclusão da pesquisa e acreditamos que nosso instrumento poderia ainda assim, oferecer

dados relevantes sobre o funcionamento das crianças que apresentam o transtorno. Este fato

nos leva também a pensar que os sintomas cardinais do transtorno estão associados às queixas

de mau comportamento, sendo os meninos inquietos mais sujeitos à atribuição de um

“diagnóstico” e bom comportamento pode passar a ser um critério de avaliação de bom

ajustamento e ausência de dificuldades. As meninas, por apresentarem menos queixas de

inquietação podem ser menosprezadas em suas necessidades.

Nossa experiência no contato com as crianças com TDAH, nos fez refletir sobre a

importância do diagnóstico multidisciplinar e do enfoque biopsicosocial, pois nos auxilia no

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detalhamento de suas idiossincrasias, respeitando suas individualidades. É preciso cuidar para

que não se criem rótulos e se diagnostique em excesso. Nossa condição social atual e nosso

momento histórico são marcados pela aceleração do tempo, onde os resultados em curto prazo

são priorizados, e a tolerância à frustração é baixa. As informações circulam em segundos de

um extremo ao outro, no planeta. A tecnologia avança, oferecendo possibilidades inúmeras de

comunicação. O tempo de espera deve ser abreviado ao máximo, pois se deve fazer mais no

menor tempo possível. Temos que atender a uma quantidade enorme de estímulos, para

processar tantas informações. A célebre pergunta da criança com TDAH “Vai demorar?”, é

uma condição da atualidade, portanto daqueles que não apresentam o transtorno. Assim,

dificuldades no controle inibitório e atenção seletiva são também próprias da atualidade, que

prioriza o urgente à custa do importante e a ação imediata à custa da reflexão, o acessório, à

custa do essencial. Intervalos de tempo necessários para produção de respostas adequadas às

necessidades individuais, que sejam adaptativas, ficam prejudicados mediante tal aceleração.

A criança que apresenta o TDAH pode estar sob este aspecto, mais “adaptada” a esta

condição, em sua forma de atender tal demanda, por ser mais rápida, mais criativa, afetiva,

tentar estratégias de ensaio-erro. Vai errar mais, porém realizará mais. Pelo exposto,

verificamos que diagnosticar se mostra um processo que deve ser feito com muita seriedade e

respeito, considerando o momento social no qual estamos inseridos.

Foi um pré-conceito da pesquisadora, a idéia de que não conseguiria chegar na

aplicação da prancha V (metade do teste) do Rorschach, pensando na agitação, desatenção e

impulsividade que teriam que ser enfrentadas na coleta dos dados. No entanto, apesar de seus

sintomas, elas se mostraram participativas e colaboradoras. Mais uma vez há que se cuidar

com os rótulos e os preconceitos reduzindo crianças a seus sintomas. As crianças com TDAH

requerem de nós novas formas de abordagem, apontando para a nossa falta de criatividade.

Deixar que se expresse em sua agitação, direcionando-a, auxiliando-a para que atinja

objetivos a curto prazo, como é próprio de nosso momento social atual, como dito acima,

talvez diminua seu sofrimento psíquico apontado em nossos resultados, sofrimento este, fruto

da percepção de sua inadequação aos moldes pré-determinados e pré-concebidos, que não

atendem às suas necessidades de realização. Talvez o nosso papel seja oferecer um modelo

“continente” onde intervalos de tempo sejam respeitados para que se crie um campo,

permeado pela linguagem do afeto, para que essas crianças possam voltar-se um pouco mais

para si e nem tanto para o externo, a fim de que construam uma auto-imagem mais positiva e

confiante.

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8 REFERÊNCIAS

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transtornos mentais: DSM-IV TR . Porto Alegre: Artmed, 2003.

ANTONY, S.; RIBEIRO, J. P. A criança hiperativa: uma visão da abordagem gestáltica.

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37722004000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 Dez. 2008.

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95

APÊNDICE A – TEXTO DE ESCLARECIMENTO SOBRE PESQUISA

Esta pesquisa tem como objetivo analisar as características emocionais de crianças

com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, através da aplicação do Método de

Rorschach, também conhecido como o Teste das Manchas.

É nosso propósito colaborar para a compreensão de sua vida emocional dessas,

pesquisando como elas lidam com situações que envolvem a emoção, como lidam com elas e

de que forma expressam seus afetos.

É nosso propósito colaborar para a compreensão de sua vida emocional dessas, pesquisando

como elas lidam com situações que envolvem a emoção, como lidam com elas e de que forma

expressam seus afetos.

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APÊNDICE B - TERMO DE APRESENTAÇÃO PARA ESCOLA

TÍTULO DO ESTUDO: ANÁLISE DA AFETIVIDADE DE CRIANÇAS COM

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE-TDAH

O presente estudo destina-se a analisar a afetividade de crianças com um transtorno

muito estudado na atualidade chamado “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”,

que tem como sintomas principais: falta de atenção, agitação e impulsividade. Para tal

necessitamos também pesquisar as características emocionais das crianças que não o

apresentam. Assim, estamos convidando seu filho para participar do estudo, mediante a

aplicação do Método de Rorschach ( ou Teste das manchas ) em horário de aula.

Caso você autorize a participação de seu filho, envie esta folha devidamente

preenchida e assinada.

Nome do Pesquisado: ______________________________________________________

Nome do responsável_______________________________________________________

Data:

Assinatura: _______________________________________________________________

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97

APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO:

Nome:

Idade:

Sexo:

Data de Nascimento:

Escolaridade:

Há quanto tempo apresenta os sintomas de TDAH?

Data do diagnóstico de TDAH:

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APÊNDICE D – VALORES DAS MÉDIAS DAS VARIÁVEIS DO AFETO (1° JUÍZ)

Com transtorno Sem transtorno Total

GRUPO Média N

Desvio

Padrão Média N

Desvio

Padrão Média N

Desvio

Padrão

EBPer - Juiz 1 2,4 30 2,7 2,54 30 2,7 2,4 60 2,7

FM+m - Juiz 1 4,0 30 3,0 1,6 30 1,8 2,8 60 2,8

/SOMBR Juiz 1 4,3 30 2,3 2,5 30 1,4 3,4 60 2,1

FC – Juiz 1 1,9 30 1,3 1,3 30 1,6 1,6 60 1,5

C+CF - Juiz 1 2,3 30 2,0 2,0 30 1,8 2,1 60 1,9

Pure C - Juiz 1 0,3 30 0,8 0,7 30 1,0 0,5 60 0,9

SumC - Juiz 1 2,1 30 1,7 1,1 30 1,0 1,6 60 1,5

WSumC – Juiz

1 3,5 30 2,2 2,9 30 2,1 3,2 60 2,2

Afr – Juiz 1 0,6 30 0,3 0,8 30 0,2 0,7 60 0,3

S - Juiz 1 1,8 30 1,1 0,8 30 0,8 1,3 60 1,1

Blends:R - Juiz

1 2,6 30 2,4 1,0 30 1,1 1,8 60 2,0

CP – Juiz 1 0,0 30 0,1 0,0 30 0,0 0,0 60 0,1

DEPI - Juiz 1 1,5 30 0,5 1,7 30 0,4 1,6 60 0,4

SCZI - Juiz 1 1,7 30 0,4 1,7 30 0,4 1,7 60 0,4

CDI - Juiz 1 1,5 30 0,5 1,6 30 0,4 1,6 60 0,4

HVI - Juiz 1 2,7 30 4,2 2,0 29 0,0 2,3 59 3,0

EB/M - Juiz 1 1,0 30 1,1 0,7 30 1,3 0,9 60 1,2

EB/C - Juiz 1 3,4 30 2,3 3,0 30 2,2 3,2 60 2,3

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APÊNDICE E – VALORES DAS MÉDIAS DAS VARIÁVEIS DO AFETO (2° JUÍZ)

Com transtorno Sem transtorno Total

GRUPO Média N

Desvio

Padrão Média N

Desvio

Padrão Média N

Desvio

Padrão

EBPer - Juiz 2 1,5 30 2,3 2,1 30 2,8 1,8 60 2,5

FM+m - Juiz 2 4,2 30 3,3 1,7 30 1,9 2,9 60 2,9

SOMBR - Juiz

2 3,9 30 2,4 2,3 30 1,4 3,1 60 2,1

FC – Juiz 2 2,1 30 1,5 1,3 30 1,5 1,7 60 1,5

C+CF - Juiz 2 2,0 30 1,9 1,8 30 1,9 1,9 60 1,9

Pure C - Juiz 2 0,2 30 0,6 0,7 30 1,1 0,5 60 0,9

SumC - Juiz 2 2,1 30 1,7 1,0 30 0,9 1,5 60 1,5

WSumC - Juiz 2 3,1 30 2,1 2,8 30 2,3 3,0 60 2,2

Afr – Juiz 2 0,6 30 0,3 0,8 29 0,2 0,7 59 0,3

S - Juiz 2 1,9 30 1,1 0,7 30 0,8 1,3 60 1,1

Blends:R - Juiz

2 2,9 30 2,7 1,1 30 1,2 2,0 60 2,2

Respostas - Juiz

2 21,6 30 6,8 17,6 30 3,5 19,6 60 5,7

CP – Juiz 2 0,0 30 0,1 0,0 30 0,0 0,0 60 0,1

DEPI - Juiz 2 1,7 30 0,4 1,8 30 0,4 1,7 60 0,4

SCZI - Juiz 2 1,6 30 0,4 1,8 29 0,3 1,7 59 0,4

CDI - Juiz 2 1,5 30 0,5 1,6 30 0,4 1,6 60 0,4

HVI - Juiz 2 1,9 30 0,1 1,9 30 0,1 1,9 60 0,1

EB/M - Juiz 2 1,4 30 1,5 0,7 30 1,3 1,0 60 1,4

EB/C - Juiz 2 3,0 30 2,2 2,8 30 2,3 2,9 60 2,2

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ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE SÃO PAULO

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

TÍTULO DO ESTUDO: “Análise da Afetividade em crianças com Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade”.

Declaro que os objetivos e detalhes desse estudo foram-me completamente explicados,

conforme seu texto descritivo. Entendo que não sou obrigado a participar do estudo e que

posso descontinuar minha participação, a qualquer momento, sem ser em nada prejudicado.

Meu nome não será utilizado nos documentos pertencentes a este estudo e a confidencialidade

dos meus registros será garantida. Desse modo, concordo em participar do estudo e cooperar

com o pesquisador.

NOME DO PESQUISADO: _________________________________________________

NOME DO RESPONSÁVEL_________________________________________________

DATA:

ASSINATURA:

NOME DO PESQUISADOR: ________________________________________________

ASSINATURA____________________________________________________________

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ANEXO B - SOBRE O MÉTODO DE RORSCHACH

Serão aplicadas as 10 (dez) pranchas que constituem o teste das manchas de tinta para

avaliação do índice de Afetividade, de acordo com o Sistema Compreensivo de Exner.