Roosevelt 40 anos

17
Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção Praça Roosevelt Dos anos 40 à Construção: O Processo de Mudança de um Local

description

História da Praça Roosevelt.

Transcript of Roosevelt 40 anos

Page 1: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Praça Roosevelt

Dos anos 40 à Construção:

O Processo de Mudança

de um Local

Page 2: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Introdução

O espaço da atual Praça Roosevelt teve sua

configuração a partir dos anos 40, com a

desapropriação de um terreno atrás da Igreja

(inaugurada em 1935).

O espaço vazio formado foi asfaltado e, a

partir dos anos 40 foi usado como estacionamento

para 800 carros durante a semana, e abrigava

uma grande feira (a maior da cidade) nos fins de

semana, além de ser palco para comícios e

manifestações políticas.

Nos fins de 60 inicia-se a construção da via

Leste-Oeste, que modifica radicalmente a

configuração do centro, afetando profundamente

o espaço da praça, gerando uma discussão sobre

o que fazer com o espaço remanescente.

E então surge o projeto da atual Praça

Roosevelt.

Page 3: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Histórico

A discussão que hoje gira em torno da praça

envolve questões mais abrangentes, como a

degradação de setores urbanos e o processo de

gentrificação sofrido por grande parte dos bairros

centrais a partir das décadas de 50 e 60. Esses

bairros são considerados Zonas de Transição,

onde atividades se misturam, como habitação,

comércio e indústria (foram zonas de expansão do

centro). Com isso lugares que anteriormente eram

somente residenciais acabam sendo usados por

atividades comerciais e até industriais,

desvalorizando-os.

Essa desvalorização atrai uma população de

baixa renda. Devido à precariedade das estruturas

a rotatividade dessas pessoas é muito alta, o que

não permite a formação de organizações que

pressionem o poder público por melhorias.

Juntamente com essa desvalorização, ocorre

um processo de investimento em áreas

periféricas, ou sub-centros de bairros mais

distantes. Bancos e indústrias que antes se

encontravam no centro partem para áreas

consideradas mais promissoras, contribuindo para

a deterioração (abandono).

Em um artigo de Regina Meyer sobre o

centro, ela afirma que essa destruição de espaços

centrais tem uma relação direta e dinâmica com o

crescimento da mancha urbana. O crescimento

acentuado da metrópole provoca uma

descentralização, uma dispersão de forma

tentacular em direção aos “novos centros”, ou

centros de bairros.

A partir daí, faz-se necessário uma conexão

centro-bairro, e é nesse momento que se encaixa

o Plano de Avenidas de Prestes Maia. A criação do

“perímetro de irradiação”, o “sistema Y” e as dez

Page 4: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

avenidas “radiais” configuravam uma estruturação

eficiente para o Centro e a área circundante, que

ao mesmo tempo, atendia à expansão centrípeta

da metrópole. Assim, seguindo esse projeto, se

consolidaram ao longo dos anos 50 as avenidas

Ipiranga e São Luís, os viadutos Jacareí e Maria

Paula, a Praça João Mendes, a avenida Rangel

Pestana, a rua da Figueira, o viaduto Mercúrio, e a

avenida Senador Queiroz, que formam as radiais

que partem do perímetro central.

Em 1965 o então prefeito Faria Lima

executa mais duas obras de grande impacto no

centro: a Radial Leste e o complexo viário do

Parque D. Pedro II.

Percebe-se aí o grande investimento feito

nas áreas centrais durante as décadas de 40 a 70,

onde não somente o poder público agiu, mas

também investimentos privados, com grandes

construções, claramente concorrendo com

atrativos das novas avenidas.

Toda essa intervenção pode ser encaixada

no padrão das New-Towns americanas, onde se

buscava máxima eficiência, com prioridades à vias

expressas de tráfego intenso e com os serviços

“encaixados” em vazios ou em espaços criados

sobre essas vias. É uma nova forma de ocupação

do solo, com tendência de aumento de densidade

e custo em áreas de maior acessibilidade.

O colapso do sistema viário acontece aí,

quando essa estruturação viária torna-se a única

opção oferecida pelo poder público para essa nova

escala de veículos que então circulava pela

cidade.

Segundo Frúgolli Junior, durante as décadas

de 50 e 60 a prefeitura destinou verbas e se

preocupou com o centro, mas essas atitudes não

foram suficientes para evitar o problema causado

pela falta de manutenção dos equipamentos

Page 5: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

urbanos e diminuição da qualidade ambiental

causada pelas grandes vias.

A grande mobilidade exigida pelas

atividades da metrópole aliada a essa distribuição

radioconcêntrica do sistema viário fez com que as

obras na região central a partir de 1960 fossem

voltadas para a solução desse problema de

acessibilidade.

Essas modificações incidiram de forma

decisiva na estruturação física e funcional do

Centro, deixando marcas profundas.

Segundo Meyer, a construção da via

expressa Leste-Oeste, o Elevado Costa e Silva, e

a inauguração da Praça Roosevelt foram os

grandes primeiros ataques aos espaços do centro,

tendo como justificativa as questões de

circulação.

A partir da década de 70 surge a tentativa

de revitalização do centro pela prefeitura, com

projetos de renovação, remodelação e

aperfeiçoamento de algumas praças e parques. O

grande fluxo de pessoas que passa por ali

diariamente, em parte pela chegada do metrô, em

parte pelo grande número de ônibus que chegam

em praças quase as transformando em terminais.

É nesse contexto que se insere o projeto da

atual Praça Roosevelt. O típico exemplo de

tentativa de reaproveitamento do espaço

modificado, prejudicado por um idealismo

rodoviarista, que em busca de soluções para a

cidade, acaba gerando mais problemas, e exigindo

atitudes reparadoras cada vez mais amplas.

A praça Roosevelt que antes se configurava

num grande espaço asfaltado foi transformada em

um edifício, visando atender as necessidades de

equipamentos urbanos e serviços da população

que residia ou usava o centro. A construção

Page 6: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

obstrui o que antes eram vistas, a praça perde

permeabilidade, visibilidade. Torna-se uma

barreira.

A Roosevelt é um exemplo claro da

influência das New-towns nos projetos de

arquitetos e urbanistas brasileiros onde os

serviços para a população (pensados no projeto

da praça), são articulados em função da

configuração da estrutura viária local. Retrata o

pensamento da época, o modernismo, o uso do

concreto, as atitudes paisagísticas americanas.

Page 7: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

A Questão Rodoviarista

“A Metrópole na década de 60, já

congestionada, traz à cena a defesa das vias

expressas, que rasgam a cidade e permitem

melhor circulação e acesso. Através da negação

de um modelo urbano que convergia e adensava o

centro, informam-se as novas bases para o

planejamento da cidade”.1

Como dito anteriormente, a configuração do

espaço da Praça Roosevelt é dada a partir de ruas

e avenidas que foram sendo abertas e alargadas

ao longo dos anos para suprir a necessidade de

acessibilidade e deslocamento da população

paulistana na primeira metade do século XX.

Um dos mais importantes feitos nesse

sentido foi a abertura da linha Leste-Oeste, e

1 MARTINS, Luciana Bongiovani. Elevado Costa e Silva, Processo de Mudança de um

Lugar. Dissertação de Mestrado. FAU-USP, São Paulo, 1997.

consequentemente a construção do Elevado Costa

e Silva, o famoso Minhocão.

As décadas de 60 e 70 foram fortemente

marcadas pela presença marcante dos

automóveis, e pelo aumento significativo da

população paulistana e do número de carros que

circulavam na cidade.

A partir do golpe de 64 o planejamento

urbano foi levado muito a sério, e encarado como

uma forma de demonstrar progresso e

crescimento. Assim, obras de grande porte

utilizando as últimas técnicas da construção civil

eram comuns.

“Muito provavelmente, a relação direta

estabelecida entre planejamento e autoritarismo

ocorre porque a figura do planejamento foi

enfaticamente utilizada pelo Estado após o golpe

militar de 1964. Embora exista essa possibilidade

de articulação, não se pode incorrer nessa

Page 8: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

redução: ele foi, sim, instrumento desse regime,

mas não exclusivo deste”.2

Aliada a essa forma de pensamento, o

Elevado “exprime a ideologia de que obras viárias

são a solução para os grandes problemas da

cidade”.3

O Minhocão se insere nesse contexto,

encaixando-se num Plano maior - o Plano

Urbanístico Básico (PUB) – e empregando técnicas

como o concreto armado.

Foi construído para solucionar o problema

de tráfego na Avenida São João, mas não levou

em conta muitas críticas da época, que já

consideravam a possível desvalorização e a

degradação do espaço do entorno, baseadas em

fatos ocorridos na exterior, onde vias elevadas de

mesmo porte estavam sendo demolidas.

2 Retirado de: MARTINS, Luciana Bongiovani. Elevado Costa e Silva, Processo de Mudança

de um Lugar. Dissertação de Mestrado. FAU-USP, São Paulo, 1997. 3 Idem

“Os arquitetos norte-americanos têm uma

inflexível teoria a respeito de pistas elevadas.

Acham que um elevado representa sempre a

morte da via que está por baixo e a conseqüente

desvalorização imobiliária da área que corta. Se

essa teoria é válida em todos os casos é difícil

afirmar-se. Mas, no caso da Avenida São João,

tem exatidão matemática”. (O Estado de São

Paulo, 10/07/74).4

4 Idem

Page 9: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

A Praça

O projeto da Praça Roosevelt foi elaborado

pelo escritório do engenheiro J.C. de Figueiredo

Ferraz em conjunto com os arquitetos Roberto

Coelho Cardozo, na época professor de

paisagismo da FAU-USP; Antonio Antunes Netto;

Marcos de Souza Dias, arquiteto recém formado

pela FAU-USP; Luciano Fiaschi, estagiário.

Foi orientada por um programa extenso e

funcionalmente complexo, que correspondia às

necessidades da área central, levantadas pela

administração de Faria Lima no ano de 1967. Em

68 após discussões e debates com envolvimento

do IAB, ficou definido o programa final.

O projeto visava atender as necessidades do

tipo “entre” e “dentro”, ou seja, possuir atividades

atraentes tanto para a população que reside

próximo ao local quanto para a metrópole como

um todo. Para a proposta de um modelo, estes

dois aspectos devem ser tratados conjuntamente.

A idéia era incorporar à proposta de

revitalização da praça um quarteirão adjacente

(local do Dispensário de Tuberculose do Estado),

no qual existiria um centro cultural voltado para

música, um auditório e um centro educacional,

interligado com o playground da praça.

O projeto contava com 65.250 m2, quatro

pavimentos mais a via expressa.

Os cinco “campos de demanda” eram: áreas

de praças públicas, áreas para serviços de

abastecimento, áreas para estacionamento, áreas

de atendimento público, recreação e educação,

áreas de sistema viário sob o conjunto.

Delimitaram-se áreas para uma feira

coberta, um supermercado, um estacionamento,

uma agência de correios, um playground, lojas,

uma lanchonete, um ambulatório, uma área para

jogos, sanitários.Frente ao programa de

Page 10: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

necessidades apresentado pelos estudos da

prefeitura, foi elaborado o seguinte esquema de

equipamentos:

5

5 DIAS, Marcos de Souza. Espaços Urbanos de uso

múltiplo. Subsídios para programação e implantação.

Tese de doutorado pela FAU USP, dezembro de 1972.

PROGRAMAÇÃO GERAL PROGRAMAÇÃO DA PRAÇA ROOSEVELT

Circulação de passagem; A. Ligação Leste-Oeste; B. Linha 5; C. Linha 4 e D. Pista descendente

Nív

el

Met

rop

oli

tan

o:

Circulação de acesso e equipamentos correlatos (estacionamento, terminais de transporte, etc).

Ruas laterais (Augusta, M. Prado, Olinda e avenida Consolação); 29. Primeiro Estacionamento; 30. Segundo Estacionamento; 31. Rampas e Estacionamento da Igreja

Equipamentos Sociais; 47 a 53. Playground; 54. Área externa

Atendimento Serviços públicos e pessoais; 36. Agência de Correios e 38. Agência Telefones

Comércio de bens de compra e conveniência; 15. Feira coberta e 16 a 28. Supermercado

Nív

el L

oca

l

Recreação/ Lazer/ Cultura 1 a 14. Praças e equipamentos; 42 a 44. Lanchonete e 60.Igreja existente

Espaços e equipamentos auxil iares ao eventual sistema especializado de atividades ou função polarizadora (agiriam tanto em nível local quanto metropolitano) – Sua descrição na Praça Roosevelt é feita a seguir.

Page 11: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

“Espaços e equipamentos auxiliares ao

eventual sistema especializado de atividades ou

função polarizadora que agiriam tanto no nível

metropolitano quanto no local foram pensados no

caso da Praça Roosevelt originalmente pelo

“mercado aberto” com a dupla finalidade de

abastecer a zona e de promover a intensa

atividade urbana proporcionada por estas funções,

criando-se um processo dinâmico de interesse

colocado além da função comercial (a exemplo do

que ocorre no mercado modelo de Salvador,

Bahia, famoso por sua atmosfera informal e

comunicativa)”.6

Este mercado substituiria a feira semanal de

abastecimento existente na área anteriormente.

Porém, por decisão da Prefeitura, este foi

6 DIAS, Marcos de Souza. Espaços Urbanos de uso

múltiplo. Subsídios para programação e implantação.

Tese de doutorado pela FAU USP, dezembro de 1972.

remanejado (durante o processo de projeto) para

um supermercado de menor porte

(manufaturados e embalados) e uma feira modelo

(hortifrutigranjeiros).

“Posteriormente, a prefeitura decidiu

estimular o turismo no local. Desta forma,

novamente não houve interesse por parte da

Secretaria de Turismo (a partir de então

responsável pela administração do conjunto) em

implantar a feira modelo. A “função polarizadora”

passaria então a ser desempenhada por

atividades denominadas “turísticas” (exposições,

festivais, etc.), que seriam absorvidas pelos

usuários do grande número de hotéis da região.

No entanto, o supermercado já se encontrava

instalado, e em plena atividade. Haveria,

portanto, uma sobreposição de funções”.7

7 BARRETO, Ana Paula. O estudo de um caso: Praça

Roosevelt - da concepção inicial à apreensão

posterior. Trabalho Final de Graduação FAU-USP

Page 12: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

BIBLIOGRAFIA:

• DIAS, Marcos de Souza. Praça Roosevelt

(histórico e memorial), in Revista

Engenharia Municipal, no. 43, pp.21-31,

nov./dez 1969. p.1.

• DIAS, Marcos de Souza. Praça Roosevelt,

São Paulo, in Revista Acrópole, no. 380,

pp.11-21, dezembro de 1970.

• DIAS, Marcos de Souza. Espaços Urbanos

de uso múltiplo. Subsídios para

programação e implantação. Tese de

doutorado pela FAU USP, dezembro de

1972.

• FRÚGOLI, Heitor. Centralidade em São

Paulo. Trajetórias, conflitos e

negociações na metrópole. São Paulo:

Edusp, 2000.

• TOLEDO, Benedito L. de. Prestes Maia e

as Origens do Urbanismo Moderno.

• VILLAÇA, Flávio. Uso do Solo Urbano. São

Paulo, Fundação Prefeito Faria Lima –

Centro de Estudos e Pesquisas de

Administração Municipal, 1978.

• BARRETO, Ana Paula. O estudo de um

caso: Praça Roosevelt - da concepção

inicial à apreensão posterior. Trabalho

Final de Graduação FAU-USP

• Apresentação de slides da EMURB

• Artigo Regina Meyer

• MARTINS, Luciana Bongiovani. Elevado

Costa e Silva, Processo de Mudança de

um Lugar. Dissertação de Mestrado. FAU-

USP, São Paulo, 1997.

• MARIANA, Wilson Roberto. Áreas

Transformadas e o Espaço Público na

Cidade de São Paulo. Dissertação de

Mestrado. FAU_USP, São Paulo, 1989.

Page 13: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

IMAGENS

Perspect iva da proposta in ic ia l

Page 14: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Vista Aérea - 1945

Page 15: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Praça nos anos 60

Page 16: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção

Rua da Consolação

Alargamento - 1967

Atualmente

Page 17: Roosevelt 40 anos

Praça Roosevelt – Dos anos 40 à Construção