Rompendo o Silêncio

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 ÍNDICE  Folha de r o s t o da ed i ç ão em pa pe l Aos Jov ens Epígrafe Agradecimentos Po rq este li vr o A Revolta de Um a Mu lh er PRIMEIRA PAR TE Al ém de Um a Ca lún ia, Um a In gra tid ão SEGU NDA PART E A Es ca la da do Te rr or TER CEIR A PARTE Tre ina mento, Tátic a e Co nd uta do Ini mig o QUA RTA PAR TE A Contr a-Ofe nsiv a QUI NTA PAR TE Ter rori smo : Nun ca Mais SEXTA PAR TE A Orqu estra ção SÉT IMA PAR TE Be te Me nd es - A “Rosa” na VA L-PALMAR ES OITA VA PART E A De put ada em Mon tev idé u  NONA PART E Des me nti nd o a Dep uta da DÉC IMA PA RTE Encerramento Bibliografia Sumário Ro mp en do o Sil ên ci o Ca rlo s Alb ert o Bri lha nte Us tra Edição supervirtual www.supervirtual.com.br  Ve rsão pa ra eBook eBooksBrasil.com Fon te Digi tal Di git ali za çã o da ed içã o em pd f  G enerated b y ABC Amber LIT Con v erter, http ://ww w .p rocesstext.com/ab clit.html

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NDICEFolha de rosto da edio em papel Aos Jovens Epgrafe Agradecimentos Porqu este livro A Revolta de Uma Mulher PRIMEIRA PARTE Alm de Uma Calnia, Uma Ingratido SEGUNDA PARTE A Escalada do Terror TERCEIRA PARTE Treinamento, Ttica e Conduta do Inimigo QUARTA PARTE A Contra-Ofensiva QUINTA PARTE Terrorismo: Nunca Mais SEXTA PARTE A Orquestrao STIMA PARTE Bete Mendes - A Rosa na VAL-PALMARES OITAVA PARTE A Deputada em Montevidu NONA PARTE Desmentindo a Deputada DCIMA PARTE Encerramento Bibliografia Sumrio

Rompendo o Silncio Carlos Alberto Brilhante Ustra Edio supervirtual www.supervirtual.com.br Verso para eBook eBooksBrasil.com Fonte Digital Digitalizao da edio em pdf

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2003 Carlos Alberto Brilhante Ustra

Carlos Alberto Brilhante Ustra

ROMPENDO O SILNCIOOBAN DOI/CODI 29 Set 70 23 Jan 74

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Copyright 1987 Carlos Alberto Brilhante Ustra Capa: Joseta Brilhante Ustra Reviso: Joseta Brilhante Ustra Composio: Luiz Alves de Lima Montagem e arte-final: Raimundo Hemetrios

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Todos os direitos em lngua portuguesa reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocpia, gravao ou informao computarizada, sem permisso por escrito do autor.

Composto e impresso no Brasil Printed in Brazil

Este livro dedicado aos jovens do meu Pas. Dedico-o aos jovens porque eles so o futuro, o novo Brasil. Dedico-o aos jovens, porque eles so puros de esprito e de intenes. E os vejo, muitas vezes, explorados em sua pureza. No negro perodo daGuerrilha Revolucionria que sofremos em nosso Pas, eles foram usados, manipulados em seus sentimentos. Fizeram-lhes a cabea e puseram-lhes uma arma na mo. E os jogaram numa violncia intil. Ofereo este livro aos jovens para que eles possam procurar a verdade. Porque os jovens devem ter a liberdade de encontr-la. E vejo que os jovens esto recebendo apenas as chamadas meias-verdades que, no seu reverso, so meias-mentiras. Porque me preocupo quando vejo panfletos tomando ares de histria contempornea, e sendo utilizados como a verdade definitiva. No sobre a mentira que se alicera o futuro de um pas. Dedico este livro aos jovens porque confio que, na sua sede de justia, sabero encontrar a verdade, e na sua fome de liberdade, sabero ser livres, e no permitiro que burlem de novo seus sentimentos, oferecendo a violncia no lugar da paz; a mentira no lugar da verdade; a discrdia no lugar da solidariedade para construir o pas. Ofereo este livro aos jovens para que no se deixem enganar por ideologias ultrapassadas, por solues que no deram certo em outros pases e para que no fertilizem as sementes da violncia. Em toda a mentira disfarada de histria contempornea, ali est uma semente de violncia. por isso que dedico este livro aos jovens, que repudiam a violncia e amam a verdade.

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AGRADECIMENTOS

Com uma formao quase que exclusivamente militar, o meu trabalho foi dedicado vida na caserna desde os dezesseis anos de idade. S fiz um curso fora do Exrcito, o de Administrao de Empresas, quando estudando a noite consegui me bacharelar. Jamais pensei em escrever um livro. No tenho pretenses de ser um escritor. Talvez, o meu livro esteja cheio de imperfeies e de erros primrios. Para mim, entretanto, o mais importante o seu contedo e as mensagens que pretendo transmitir, alm de mostrar que fui vtima de uma farsa. Para a elaborao deste livro trabalhei praticamente sozinho. No solicitei e nem recebi nenhum tipo de apoio de qualquer rgo ou entidade. Os dados que obtive foram conseguidos atravs de pesquisas em processos, nas bibliotecas, em livros, em documentos e, tambm, atravs de um reduzido nmero de amigos. Desejo, antes de tudo, agradecer a essas pessoas, que se propuseram a ajudar-me numa hora to importante da minha vida. Joseta: No fosse a tua coragem; No fosse a tua f na certeza de que conseguiramos obter os dados que mostrassem aos brasileiros o que um grupo de pessoas mal intencionadas e muito bem apoiadas, fizeram para nos atingir e indiretamente atingir o Exrcito; No fosse o teu trabalho de dias e dias de pesquisas em bibliotecas, em livros, em jornais e em documentos; No fosse o auxlio que me deste, lendo e corrigindo os textos deste livro; No fosse o teu incentivo e a tua vontade frrea, auxiliando-me a vencer etapas; No fosse o teu despreendimento, vendendo algumas jias que possuas para auxiliar a financiar essa edio; No fosse o teu papel de companheira, mais uma vez, te colocando ao meu lado para juntos aguardarmos serenamente toda a avalanche de reaes que certamente havero de desencadear sobre ns, aps a publicao deste livro; No fosse todo esse apoio recebido de ti, este livro no seria possvel

Desejo agradecer: A um amigo do Lago Sul. Um homem puro, religioso e exemplar chefe de famlia. Seus conhecimentos jurdicos me prestaram significativa ajuda: Aos meus amigos Sufoco, Juju, Pedro Sampaio, Tonho e Dalucy. Todos homens que como eu, integraram outros DOI desse Brasil. A eles agradeo a grande cooperao que me prestaram: A alguns companheiros do Exrcito os quais me auxiliaram, lendo, criticando e me

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animando na hora em que eu esmorecia: A todos os que direta ou indiretamente me ajudaram, os meus agradecimentos. Sem vocs no poderia ter chegado onde cheguei: A um amigo que, atravs de minha mulher, conheci na minha volta ao Brasil. Um homem inteligente, um expoente entre os melhores da sua profisso e que foi o meu grande incentivador na consecuo deste trabalho. Ele e sua mulher so amigos que desejamos conservar pelo resto de nossas vidas: A um grande homem pblico, culto, ilustre e respeitado o qual, apesar de muito ocupado, se disps a me ouvir e a me auxiliar: Aos amigos que me enviaram jornais e revistas que tratavam do assunto a que me propus escrever, especialmente ao Gogoi: A P.Y. que no conheo e que atravs de amigos me conseguiu dados muito importantes. Caro P.Y. sei que voc um idealista. Respeito os seus sentimentos e a sua maneira de encarar os nossos problemas. Respeito-o, tambm, como pessoa. Voc, numa demonstrao de que tambm respeita os meus sentimentos, no hesitou em me fornecer dados que me auxiliaram na elaborao deste trabalho; A W. um jovem que tambm no conheo e que muito me ajudou. W, sei que voc acredita muito num Brasil melhor. Voc, como aquela menina C.S. cujo pai me enviou significativa carta que transcrevo neste livro (Carta de um pai), possui sentimentos puros, prprios dos jovens que anseiam em melhorar as condies de vida do nosso povo. Veja no captulo Como o jovem era usado, o que os mestres da Subverso faziam para recrutar jovens idealistas como voc.

PORQU ESTE LIVRO

Em primeiro lugar elevo meu pensamento a Deus. Peo a Ele que ilumine a minha mente. Que eu seja sincero e relate unicamente a verdade, sem ofender ou caluniar a quem quer que seja. Sei o que ser caluniado. Que eu atinja os objetivos a que me propus quando decidi escrever este livro. Em segundo lugar dirijo meu pensamento ao meu querido irmo Jos Augusto Brilhante Ustra que, jovem ainda, faleceu num acidente de carro. Advogado notvel, grande tribuno, excepcional mestre. Dedicou a sua vida ao Direito. Como defensor incansvel da Justia deixou marcas profundas na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, RS. Gostaria que ele estivesse aqui, ao meu lado, aconselhando-me, orientando-me, ensinando-me a escrever e, sobretudo, a fazer Justia. Escrevo este livro em respeito ao meu Exrcito e aos meus chefes os quais, principalmente, na ocasio em que, sob suas ordens, combati o terror, sempre me apoiaram e me distinguiram. Durante todo o tempo em que, como oficial do Exrcito, fui, formalmente, designado para dirigir um rgo de combate a organizaes terroristas, sempre procurei cultivar a virtude da lealdade aos meus superiores hierrquicos, pares e subordinados. Isso, consegui cumprindo fielmente as ordens que me foram dadas, sem nunca delas me ter afastado durante um momento sequer. Escrevo este livro em respeito aos meus companheiros do Exrcito, da Marinha, da Fora Area, das Polcias Civil e Militar que, em todo o Brasil, lutaram com denodo, com bravura, com coragem e

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com abnegao no combate ao terrorismo. Escrevo este livro em respeito aos meus comandados no DOI/CODI/II Exrcito, a OBAN como muitos o chamam. A vocs, meus abnegados e queridos comandados, que respondendo ao chamado da Ptria no hesitaram em lutar com honra, com bravura, com coragem e com dignidade para extirpar o terrorismo de esquerda que ameaava a paz e a tranqilidade do Brasil. A vocs que, cumprindo ordens minhas, enfrentaram aqueles brasileiros fanatizados e tombaram sem vida ou que ficaram inutilizados nessa guerra suja. Escrevo este livro em respeito s mes que perderam os seus filhos, s esposas que perderam seus maridos e aos filhos que assistiram ao sepultamento dos seus pais, todos homens de bem que, no combate ao terrorismo em todo o Brasil, entregaram suas vidas em benefcio da Ptria. So todos eles dignos, no s do meu reconhecimento, mas de toda a nao brasileira. Tenham a certeza de que seus filhos, seus maridos e seus pais tombaram como heris annimos, jamais torturadores como insistem denomin-los alguns que anseiam por escrever a histria como um panfleto, diferente da realidade. Escrevo este livro em homenagem aos meus pais, irmos e minha sogra pelo muito que sofreram ante a incerteza e o perigo que cercavam a minha vida quando, durante mais de quatro anos, lutei diariamente enfrentando o terrorismo. Escrevo este livro em respeito a ti, minha mulher, Maria Joseta, pela angstia que sentiste e pelos perigos que enfrentaste durante todos esses longos anos de luta. Pelas apreenses porque passaste ante as ameaas de seqestro de nossa primeira filha, naquela poca com poucos anos de vida. Pela dor que ainda passas quando hoje me acusam de ser um vil torturador. Escrevo este livro, Patrcia e Renata, para mostrar-lhes que seu pai ao contrrio do que formulam as esquerdas radicais durante um perodo da vida dele, lutou e comandou homens de bem, no combate ao terrorismo, atendendo ao chamado do Exrcito Brasileiro, instituio qual tenho orgulho em pertencer e qual, praticamente, dediquei toda a minha vida. Quero que vocs conheam como lutei com dignidade, com humanidade e como arrisquei a minha vida e, involuntariamente, at a de minha famlia, nessa luta que no comeamos, no queramos e que, em hiptese alguma poderamos perd-la, sob pena de termos a nossa Ptria subjugada a um totalitarismo de esquerda. Quero que vocs saibam que sinto a maior honra em ostentar a Medalha do Pacificador com Palma, a mais alta condecorao concedida pelo Exrcito Brasileiro em tempo de paz queles que cumpriram o seu dever com risco da prpria vida. Quero, finalmente, que vocs saibam que lutei com a mais absoluta convico e que me orgulho de ter sido um, dentre muitos, que dedicaram parte de suas vidas ao combate do terror. Escrevo este livro em respeito a mim mesmo, no momento em que sou caluniado, achincalhado, vilipendiado, chamado de monstro e comparado com os assassinos nazistas que horrorizaram a humanidade. Por isso tenho o dever de vir a pblico para esclarecer muitos fatos. Escrevo este livro por um dever de conscincia ante os rumos que, pressinto, tendem a distorcer a Histria do Brasil. Livros, artigos, depoimentos distorcidos, carregados de calnias e de mentiras, esto informando numa s via a conscincia do povo e servindo de base inconteste aos nossos polticos e aos nossos mestres. preciso restabelecer a verdade. Jamais me perdoarei por omitir fatos que permitam julgar, de forma isenta e imparcial, uma poca da Histria do Brasil, onde se deram profundas modificaes na vida poltica e scio-econmica. No vou entrar em polmicas ou debates ideolgicos. Pretendo contar apenas aquilo que os jovens desconhecem e alguns no querem relembrar. A esquerda, distorcendo os fatos, os conta a seu modo, visando assim a iludir a opinio pblica, procurando conquist-la, fazendo-se de vtima. O objetivo deste livro contar a verdadeira histria sobre alguma coisa daquilo que ocorreu no que alguns chamam os pores da tortura. No pretendo passar a imagem de bonzinho. Lutei sempre com firmeza. Fui duro e enrgico quando necessrio. Porm, fui acima de tudo humano. No se combate terrorismo com flores, mas com coragem, tenacidade e objetividade. E foi assim que o combatemos, embora sempre tivssemos em mente que estvamos lutando contra pessoas humanas, algumas das quais por ideologia, por ignorncia ou por fanatismo, praticaram os maiores e

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mais horrendos crimes.

A REVOLTA DE UMA MULHER

Carta manuscrita por minha mulher, como introduo de um lbum organizado por ela para nossas filhas Patrcia e Renata. Montevidu, 02 de outubro de 1985. Patrcia e Renata Este lbum de carter particular, exclusivamente para vocs, nossas queridas filhas. Nele pretendo, atravs de pesquisas, procurar saber o nome das organizaes subversivo-terroristas que atuaram na poca, de outubro de 1970 a dezembro de 1973, perodo em que o pai de vocs comandou o DOI/CODI de So Paulo. Os atos de terror destas organizaes, como assassinatos de pessoas inocentes, atentados a bombas, assaltos a bancos, a quartis, seqestros, depredaes e todo tipo de terror daquela poca. Pretendo mostrar-lhes, se conseguir, com pesquisas em jornais, o caos que se tentava implantar no Brasil. Tentarei saber o que cada organizao terrorista fez, os atos que praticou e a guerrilha urbana e rural que se implantou no pas. Estes terroristas obrigaram as Foras Armadas a se lanarem s ruas e aos campos, contra o inimigo desconhecido que se escondia na clandestinidade. Os militares, para evitar danos maiores a inocentes, lutavam contra o tempo e o desconhecido. Eles, terroristas, lutavam contra o claro, o conhecido. Deste combate participou o pai de vocs e lutou com honradez, honestidade e dentro dos princpios de um homem bom, puro e honesto, assim como muitos outros. S quem passou pelo martrio de ter entes queridos envolvidos em uma luta que no iniciaram, nem procuraram mas que apenas cumpriram com seu dever, manter a ordem no pas, pode saber, como eu, os momentos de medo, incerteza, terror que uma famlia passa. S estas podem compreender a dor e o desespero de uma me e de uma esposa. Telefonemas annimos, perseguies, ameaas, morte de amigos em combate, a dor dos entes queridos que, como ns, no tiveram a sorte de conservar com vida aqueles que amavam. Sei e lamento que outras pessoas tambm passaram pelos mesmos sofrimentos de perder entes queridos, mas estes entes queridos, fanatizados, terroristas, comearam a guerrilha e os atos de terror. Houve a guerra, e em uma guerra h mortos e feridos de ambos os lados, mas os militares no a queriam nem a iniciaram. Eles foram e so preparados para defender o Territrio Nacional. Foram chamados a agir e acabaram com o terrorismo no Brasil. O terror era tanto que quando tu, Patrcia, foste para o Jardim de lnfncia, eu passei todo o ano, no horrio escolar, dentro do carro, na porta do colgio, pois no tinha condies psicolgicas de ir para casa. Recebamos ameacas de morte, de seqestro e todo tipo de guerra de nervos. Tive amigos mortos e feridos em combate! Assim mesmo, nos pores da tortura, como eles chamam, onde se ouviam gritos e se mostravam presos mortos pauladas como eles dizem, participei e tu tambm, Patrcia, ainda que pequenina (3 anos) de uma pequena obra assistencial a algumas presas, mais ou menos seis, uma inclusive grvida. amos quase todos os dias. Tu brincavas com algumas enquanto eu, com outras, ensinava trabalhos manuais como tric, croch e tapearia. Passevamos ao sol, conversvamos (jamais sobre poltica), levava tortas para o lanche feitas pela minha empregada. Enfim, as acompanhvamos. Fizemos sapatinhos, casaquinhos, mantinhas para o beb e com uma lista feita no DOI pelo

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torturador Ustra compramos um presente para o beb. Ele nasceu no Hospital das Clnicas, se no me engano em outubro de 1973 ou 1972 (verificarei depois), tendo o centro de torturas mandado flores me, e eu e tu, Patrcia, fomos vist-los. Era um homenzinho lindo e forte. Minhas filhas, os aniversrios delas eram sempre comemorados com bolos e festinhas. Os Natais e Anos Novos jamais passamos em casa, durante os quatro anos que o pai de vocs comandou o DOI, sempre foram passados l (o pai, eu e tu, Patrcia, Renata no era nascida). Tu, Patrcia, s vezes a pedido das presas, ficavas sozinha com elas. Da o artigo que pode ser encontrado neste lbum Brinquedo Macrabro do jornalista Moacyr O. Filho, que diz que teu pai te deixava com as presas que acabavam de ser torturadas. Se fossem torturadas, como ele diz, como podiam ter bom relacionamento com os integrantes do rgo e como podiam aceitar, e no s aceitar, mas reclamar a nossa presena, quando por algum motivo, falhvamos um dia? Pena que no tivessem os integrantes do rgo, a malcia dos terroristas!... Porque, se tivessem, fotografariam ou filmariam tudo, e casos como Bete Mendes (que no tive o desprazer de conhecer, enquanto presa) seriamcomprovados como mentirosos. Sinto o nome de uma famlia inteira: pais, mes, sogros, irmos, mulher e filhas, enxovalhados, e como o militar no pode e no deve, por regulamento disciplinar do Exrcito, se defender, tomo eu, exclusivamente eu, a iniciativa de deixar para vocs, nossas filhas, este lbum, de carter particular, com tudo que puder vir a reunir, alm do Livro de Alteraces do pai de vocs, condecoraes por arriscar a vida, elogios, para que, como eu, se orgulhem, acima de tudo, de se chamarem BRILHANTE USTRA. Um nome, cujo nico erro cometido, foi cumprir com seu dever e, principalmente, cumprir bem: com honra, com dignidade e humanidade, lutando sempre para evitar males maiores do que os que se passavam no momento. Compartilho a dor dos pais, mes, parentes, enfim, dos que por infelicidade perderam seus entes queridos, fanatizados por ideais que no me compete julgar, e que no deviam ter usado a violncia para tentar consegui-los, mas no posso deixar de me revoltar contra as calnias jogadas sobre um homem bom, como o pai de vocs. Beijos Maria Joseta S. Brilhante Ustra

ALM DE UMA CALNIA, UMA INGRATIDOA CALNIA

No dia 17 de agosto de 1985 todos os jornais do pas, em manchete de primeira pgina, publicaram as violentas acusaes feitas contra mim pela Deputada Federal Elizabeth Mendes de Oliveira, Bete

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Mendes. As televises, nos horarrios nobres, sacudiram a opinio pblica mostrando, num quadro chocante, aquela senhora chorando copiosamente enquanto era entrevistada. As principais revistas do pas tambm se solidarizaram com a Deputada. Articulistas de renome condenaram-me com veemncia. Em carta encaminhada ao Presidente da Repblica, Bete Mendes, alm de afirmar taxativamente que fora por mim torturada, mostrava o seu constrangimento por ter que suport-lo seguidamente a justificar a violncia cometida contra pessoas indefesas e de forma desumana e ilegal como sendo para cumprir ordens e levado pelas circunstncias do momento. No Uruguai, onde eu exercia as funes de Adido do Exrcito junto Embaixada do Brasil, o assunto tambm foi amplamente publicado pela imprensa. A opinio pblica estava estarrecida com o constrangimento a que uma Deputada Federal, como membro da comitiva oficial do Presidente da Repblica, fora submetida quando encontrou-se, frente a frente, com o homem que, quinze anos antes, a torturara. Em Montevidu, fui obrigado a retirar minha filha, de 15 anos, do colgio onde estudava, devido ao clima de hostilidade que passou a sofrer. Em Santa Maria, meu pai com 84 anos e minha me com 74 recebiam ameaas que levaram o meu irmo, Coronel Renato Brilhante Ustra, a deixar por alguns dias o Comando da Escola de Educao Fsica do Exrcito, a fim de dar a necessria assistncia aos nossos pais. A imprensa, parlamentares, movimentos em defesa dos Direitos Humanos, associaes de classe, exigiram o meu retorno ao Brasil. Paralelamente, aqueles que combateram o terrorismo eram apresentados ao pas como assassinos e corruptos. Ao mesmo tempo, os subversivos e os terroristas eram mostrados como pessoas indefesas que sofreram porque lutavam contra a ditadura. Houve at o caso do ex-terrorista Theodomiro Romeiro dos Santos (Marcos), militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionrio (PCBR), que foi recebido como heri quando regressou do exterior, onde se refugiara. Theodomiro fora condenado morte (existia pena de morte naquela ocasio) porque matou com um tiro na nuca o Sargento da Fora Area Brasileira, Valder Xavier de Lima, que ao volante de um jipe o transportava preso. Agora o nosso Sargento Valder, de vtima do terror passara a ser taxado de agressor de um indefeso. Com a conivncia e a participao da Deputada BETE MENDES fora montada uma das maiores farsas a que este pais j assistiu. Para denegrir o Exrcito, dentre muitos que combateram o terrorismo, fui o escolhido. Um militar que lutou contra a Guerrilha Urbana em So Paulo, durante quatro anos. Para a mxima repercusso, no poderia haver ocasio mais oportuna que o aproveitamento da visita do Presidente da Repblica ao pas onde eu exercia as funes de Adido do Exrcito junto Embaixada Brasileira. Nada melhor do que uma atriz para representar o papel de vtima. Nada melhor do que uma Deputada Federal para caluniar, escudada nas suas imunidades parlamentares.

A CARTA AO PRESIDENTE

Que as minhas primeiras palavras sejam de agradecimento a Vossa Excelncia pelo honroso convite com o qual fui distinguida para acompanhar a sua comitiva ao Uruguai. Oportunidade mpar e que possibilitou-me o conhecimento e o testemunho do desvelo com que Vossa Excelncia trata as questes maiores da nossa Repblica. No fosse isso o bastante, tive, ainda, o privilgio de conviver horas agradveis com um grupo seleto de autoridades do nosso Pais e, principalmente, de compartilhar da companhia Inteligente, serena e agradvel de dona Marli. No entanto, Presidente, no posso calar-me diante da constatao de uma realidade que reabriu em

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mim profunda e dolorosa ferida. Na Embaixada do Brasil no Uruguai serve como Adido Militar o coronel Brilhante Ustra, personagem famoso do regime passado por sua disposio firme em comandar e participar de sesses de tortura a presos polticos. Digo-o, Presidente, com conhecimento de causa: fui torturada por ele. Imagine, pois, Vossa Excelncia, o quanto foi difcil para mim manter a aparncia tranqila e cordial exigida pelas normas do cerimonial. Pior que o fato de reconhecer o meu antigo torturador foi ter que suport-lo seguidamente a justificar a violncia cometida contra pessoas indefesas e de forma desumana e ilegal como sendo para cumprir ordens e levado pelas circunstncias de um momento. Felizmente, Presidente, consegui arrancar do mais profundo do meu ser a tranqilidade e o equilbrio necessrios. A viagem comandada por Vossa Excelncia teve xito pleno. Firma-se, com certeza, na Amrica Latina a liderana do Brasil graas ao descortino poltico e firmeza de ao do seu Presidente. No entanto, Excelncia, de volta ao solo ptrio, descubro no ter mais direito ao silncio. Esto presentes, de novo, os fantasmas de um passado recente, onde os meus gritos se confundiram com os gritos de outros torturados, onde minhas lgrimas ou foram de dor e revolta ou simplesmente para chorar aqueles que no resistiram violncia dos patriotas encapuzados cuja ao, na suposta defesa dos interesses maiores do Estado, s se manifestava na segurana das masmorras e na certeza da impunidade. Presidente, sei que muitas vozes se levantaro na lembrana da anistia. Lembro, porm, que a anistia no tornou desnecessria a saneadora conjuno de esforos de toda a Nao com o objetivo de instalar uma nova ordem poltica no Pais. O arbtrio cedeu lugar ao dilogo democrtico. A Nova Repblica, sonho de ontem, a realidade palpvel de hoje. Mas ela no se consolidar se no atual Governo, aqui ou alhures, elementos como o Coronel Brilhante Ustra estiverem infiltrados em quaisquer cargos ou funes, ainda que insignificantes, o que, diga-se, no o caso. No creio que Vossa Excelncia soubesse de tal fato. Por isso denuncio-o aqui. E peo, como vtima, como cidad e como Deputada Federal cujo voto incondicional em 15 de Janeiro foi a prova maior de sua confiana nos propsitos da Aliana Democrtica providncias imediatas e enrgicas que culminem com o afastamento desse militar das funes que desempenha no vizinho pas. Tenho certeza, Excelncia, que uma determinao sua nesse sentido significar, antes de tudo, uma demonstrao ao sofrimento dos milhares de brasileiros e uruguaios que acabam de despertar de uma longa noite de arbtrio na qual a tortura e os torturadores fizeram parte de uma grotesca, triste e dolorosa realidade. Por ser uma questo de interesse de toda a Nao, reservo-me o direito, to logo esta carta chegue s suas mos, de torn-la de conhecimento do povo brasileiro atravs da imprensa. BETE MENDES

ALGUMAS MANCHETES DA POCA

Memria O amargo reencontro Quinze anos mais tarde, deputada reconhece em Montevidu militar que a torturou REVISTA VEJA 21 Ago 85

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Adido no Uruguai era o temido Major Tibiri JORNAL DO BRASIL 17 Ago 85 1a. Pgina

Coronel que torturou Bete Mendes no mais adido JORNAL DO BRASIL 17 Ago 85 Pag. 4

poltica Denncia de torturas surpreende amigos de Brilhante Ustra A RAZO SANTA MARIA RS

Ustra, o coronel torturador, some da embaixada brasileira ZERO HORA 18 Ago 85

Aps denncia pblica do deputada paulista Bete Mendes, o presidente Jos Sarney demitiu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra de suas funes de adido militar do Brasil em Montevidu. O militar torturou a deputada e foi por ela reconhecido Sarney afasta o coronel torturador ZERO HORA 17 Ago 85

Atriz pensou que fosse um f LEITE FILHO Da Editoria de Poltica CORREIO BRASILIENSE 17 Ago 85

Coronel nega que tenha torturado Bete Mendes

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ZERO HORA 22 Ago 85

Bete Mendes pede lista de adidos para ver se h mais torturadores

Sarney confirma demisso de Tibiri Em telefonema atriz e deputada Bete Mendes, o presidente Jos Sarney informou que desde o dia 12 o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, adido militar do Brasil no Uruguai, estava removido do posto. Nessa data, primeiro dia da visita do presidente ao Uruguai, a deputada, que integrava a comitiva oficial, reconheceu no adido o Major Tibiri, que a torturara em setembro e outubro de 1970, e de volta ao Brasil escrevera ao presidente narrando os fatos. No dia 23, o ministro do Exrcito, Lenidas Pires Gonalves, elogiou o coronel Brilhante e anunciou que ele permaneceria no cargo at dezembro. ENCICLOPDIA MIRADOR ENCICLOPDIA BRITNICA DO BRASIL LIVRO DO ANO 1985 Pag. 26

Repercusso no Uruguai Enquanto Isso, a Imprensa uruguaia noticia, com destaque, o reconhecimento de Ustra pela deputada Bete Mendes. Todos os seis jornais de Montevidu El Dia, El Pais, ltimas Noticias, Dirio de La Noche, La Maana e La Hora publicaram informaes sobre a identificao do torturador. Mas foi La Hora quem deu maior espao para o tema: metade da pgina cinco foi dedicada dolorosa experincia vivida por Bete Mendes. Com um linha de apoio que chamava a ateno para o caso do adido militar torturador denunciado por Bete Mendes, uma grande manchete dava a notcia: Cresce no Brasil o clamor pela Justia para os que violaram os Direitos Humanos. A pgina contava,

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tambm, com uma fotografia da deputada ilustrando a matria. ZERO HORA 20 Ago 85

La Maana MONTEVIDEO, DOMINGO 18 DE AGOSTO DE 1985 Gran repercusin tiene en Brasil el caso de agregado militar en Uruguay

Sarney destituye Agregado en Uruguay LA MAANA 17 Ago 85 MONTEVIDEO

Brasil Cesa Agregado Militar en Uruguay Acusado de Tortura EL PAIS 17 Ago 85 MONTEVIDEO

Theodomiro, de volta: Faria tudo outra vez JORNAL DO BRASIL 06 SET 85

REVISTA VEJA

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JORNAL DO BRASIL 07 SET 85

O COMUNICADO DO MINISTRO DO EXRCITO

No dia 19 de agosto o Exrcito, atravs do nosso Ministro General LENIDAS PIRES GONALVES, elaborou um documento reservado para ser lido a todos os escales subordinados. Como tal documento, por vazamento, acabou sendo publicado pela imprensa, vou reproduzi-lo com a

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finalidade de reunir neste livro todos os dados a respeito desse episdio.

Rio O ministro do Exrcito, Lenidas Pires Gonalves, determinou ao Centro de Comunicao do Exrcito que informasse a todos os escales subordinados que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra goza de toda confiana e que permanecer adido militar no Uruguai at completar o perodo regulamentar. Ainda por determinao do ministro do Exrcito, o general de Brigada Ruperto Clodoaldo Pinto, chefe do CCEx, transmitiu suas palavras, em comunicado reservado, afirmando que aqueles que atuaram patrioticamente contra os subversivos e os terroristas, perdoados pela anistia, merecem o respeito de nossa instituio pelo xito alcanado, muitas vezes com o risco da prpria vida. O Exrcito continua sendo um todo solidrio e assim contribui para o aperfeioamento das instituies democrticas brasileiras. Jamais ser atingido por palavras e atos retaliatrios por algum daqueles que ontem o obrigaram a sair de seus quartis para que a Nao no trilhasse caminhos ideolgicos indesejados pelo nosso povo. O documento, reservado, em duas laudas, narra os episdios que envolveram, recentemente, a deputada Beth Mendes e o coronel Brilhante a quem acusou de t-la torturado durante viagem do presidente Sarney ao Uruguai, onde o militar adido. a seguinte a ntegra do documento assinado pelo general Ruperto Clodoaldo Pinto: A deputada Elizabeth Mendes de Oliveira fez divulgar, atravs da Imprensa, carta aberta ao exmo. sr. Presidente da Repblica, contendo acusaes ao cel. Art. Carlos Alberto Brilhante Ustra, adido do Exrcito junto embaixada do Brasil no Uruguai. Declarou-se ainda constrangida com as atitudes e tratamento a ela dispensados pelo referido oficial, nas diversas ocasies em que se encontraram durante a recente visita presidencial quele pas. Concluiu solicitando o imediato afastamento do cel. Ustra do cargo que atualmente exerce no exterior. O cel. Ustra foi nomeado para exercer o cargo de adido do Exrcito no Uruguai, em junho de 1983, decorrente de seleo baseada no mrito profissional. Assumiu a referida comisso, que tem a durao de 2 anos, em dezembro de 1983. Como a nomeao para misses no exterior feita com 6 meses de antecedncia, o cel. Ustra foi exonerado daquelas funes por decreto presidencial, datado de 10 de julho de 1985, devendo ser substitudo em dezembro de 1985. Durante a visita ao Uruguai do exmo. sr. Presidente da Repblica, cuja comitiva deputada Elizabeth Mendes integrou, ocorreu o reconhecimento mtuo entre o coronel e a parlamentar, antiga militante de organizao terrorista. Na ocasio, o tratamento entre ambos transcorreu de acordo com as normas sociais, funcionais e diplomticas exigidas pelas circunstncias, e em todas as oportunidades subseqentes permaneceu o tratamento cordial, o que pode ser atestado por funcionrios da nossa embaixada naquele pas. Em nenhum momento o coronel desculpou-se por sua atuao no combate ao terrorismo no passado. Seu comportamento modificou-se, queremos crer, em conseqncia da presso dos mesmos grupos que vm radicalizando posies atravs da Imprensa e de pronunciamentos de alguns parlamentares. O sr. ministro quer deixar claro que: O cel. Ustra o nosso Adiex no Uruguai, goza de nossa confiana e permanecer at completar o perodo regulamentar. Aqueles que atuaram patrioticamente contra os subversivos e os terroristas, perdoados pela anistia, merecem o respeito de nossa instituio pelo xito alcanado, muitas vezes com o risco da prpria vida. O Exrcito continua sendo um todo solidrio e assim contribui para o aperfeioamento das instituies democrticas brasileiras. Jamais ser atingido por palavras e atos retaliatrios por algum daqueles que ontem o obrigaram a sair dos seus quartis para que a Nao no trilhasse caminhos ideolgicos indesejados pelo nosso povo. O sr. ministro determina a retransmisso urgente do presente informex a todos os escales

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subordinados e que seja dado conhecimento a todo o pessoal. LTIMA HORA 24 de Ago 85

A CARTA DE BETE MENDES AO MINISTRO DO EXRCITO

Contrapondo esta nota, BETE MENDES no tendo conseguido um dos seus objetivos, o de destituir-me do cargo, leu na Cmara dos Deputados, em 28 de setembro de 1985, a carta abaixo que enviara ao nosso Ministro. Braslia, 27 de agosto de 1985. Senhor Ministro A propsito do Comunicado Reservado do CCEx, assinado pelo General de Brigada Clodoaldo Pinto, venho, pela presente, esclarecer a Vossa Excelncia que: 1 Reafirmo integralmente o texto da carta que enviei ao Presidente Jos Sarney, em 15 do corrente, relatando o encontro que tive com o Coronel Brilhante Ustra no Uruguai. 2 Repudio, pois, com veemncia, a afirmao contida no referido comunicado de seguinte teor: ...em nenhum momento o Coronel desculpou-se por sua atuao no combate ao terrorismo no passado. Por mais de uma vez, Senhor Ministro, o Coronel acercou-se de mim tratando-me com amabilidade, tentando justificar sua participao no episdio e desculpando-se por ter cumprido ordens e por ter sido levado pelas circunstncias de um momento histrico. Quando o comunicado do CCEx invoca o testemunho dos funcionrios da Embaixada Brasileira no Uruguai, certamente o faz por desconhecer que desses funcionrios recebi um carto, no qual se referem comovidos ao que chamam meu gesto de perdo. 3 Repudio, ainda, Senhor Ministro, a insinuao de ter modificado meu comportamento. A educao e o respeito s normas diplomticas evidenciadas no meu procedimento em Montividu no impediram que, no recesso dos meus aposentos, ainda no Uruguai, eu escrevesse a carta que fiz chegar ao Presidente Sarney, menos de 24 horas aps nosso retorno ao Brasil. 4 Dito isso, Senhor Ministro, torna-se necessrio rememorar alguns fatos, embora me seja muito doloroso. Como afirmei ao Presidente Sarney, remete-me ao passado, quando fui seqestrada, presa e torturada nas dependncias do DOI-CODI do II Exrcito, onde o Major Brilhante Ustra (Dr. Tibiri) comandava sesses de choque eltrico, pau-de-arara, afogamento, alm do tradicional amaciamento na base dos simples tapas, alternado com tortura psicolgica. Tive sorte, reconheo, Senhor Ministro: depois de tudo, fui julgada e considerada inocente em todas as instncias da Justia Militar que, por isso, me absolveu; e aqueles inocentes como eu, cujos corpos eu vi, e que esto nas listas de desaparecidos? 5 Diz o comunicado do CCEx que ...aqueles que atuaram patrioticamente contra os subversivos e os terroristas perdoados pela anistia, merecem o respeito da nossa instituio... Reconheo que a anistia pela qual lutei, j absolvida (portanto, sem dela necessitar) como foi aprovada uma lei que deve alcanar os dois lados. O que no fao, todavia, calar-me ante a lamentvel premiao, resultante do tratamento como heri, pelo Governo anterior, a um torturador de inocentes, assim considerados pela Justia Militar. Senhor Ministro, quero ressaltar que, como cidad e parlamentar, nenhum ato meu aponta para qualquer tipo de ofensa s Forcas Armadas. Pelo contrrio, inclusive nesse gesto agora no perfeitamente compreendido, est evidente a preocupao que tive e tenho de defender e fortalecer as

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instituies para a conquista e preservao da democracia.As Foras Armadas brasileiras, como instituio guardi dessa ordem democrtica teve, tem e ter meu profundo respeito e sincero acatamento . (o grifo do autor) A jovem estudante de 1970 ficou calada durante 15 anos elegeu-se, como registra a imprensa, sem a bandeira de vtima. No Congresso, em 30 meses de mandato, jamais defendeu qualquer medida revanchista. Hoje, no entanto, tambm em respeito memria dos que morreram sob tortura, executados sem direito a julgamento, obrigada a reclamar e exigir providncias. Tenho certeza de que nas fileiras do Exrcito, da Aeronutica e da Marinha extraordinariamente majoritrio o nmero de militares dignos, honrados, profissionais inteligentes, cultos e, portanto, capazes de ocupar cargos no exterior sem comprometer a imagem democrtica do nosso Pas. Senhor Ministro, perante a Nao, ontem, assim como hoje, e diante da Histria sempre, nada tenho que me condene. No renego meu passado, e numa linha de coerncia com ele, construo agora o meu futuro. A carta ao Presidente Sarney, tanto quanto esta, h de servir como testemunho da minha ao firme na defesa dos ideais pelos quais sempre lutei. O que considerei necessrio e correto eu fiz. Daqui para a frente s me resta aguardar eventuais providncias. As decises a respeito fogem minha competncia e ao Poder Legislativo. Nada mais, pois, tenho a falar ou fazer. Bete Mendes Deputada Federal. Transcrito de O Globo 28/08/85

MINHA VOLTA AO BRASIL

Quando retornei ao Brasil, em janeiro de 1986, aps o encerramento normal da minha misso como Adido do Exrcito, continuei a sofrer acusaes que se reportavam ao escndalo forjado pela Deputada. Esta, durante a campanha poltica para a sua reeleio continuava me acusando. Associaes de Direitos Humanos, rgos de classe e sindicatos, agora estavam indignados porque o meu nome, entre o de outros Coronis, fora levado considerao do Alto Comando do Exrcito para a escolha dos futuros Generais. A Vereadora do PT, Helena Greco, de Belo Horizonte, em notcia publicada nos principais jornais do pas disse: O crime que este homem praticou inanistivel e imprescritvel por ser um crime que lesa a humanidade. De nada adiantou a denncia de uma de suas vtimas, a Deputada BETE MENDES, que o reconheceu e o denunciou como Adido Militar no Uruguai. A sua possibilidade de promoo pelo menos inslita. (Zero Hora 5/12/86)

A orquestrao atravs da imprensa continuou num crescendo. A minha famlia continuou sofrendo presses com as crticas permanentes minha pessoa. Em agosto de 1986 iniciei as pesquisas para escrever este livro. Durante quatro meses, nas horas vagas de meu trabalho, comecei a juntar dados nos Inquritos Policiais, Processos, Arquivos de vrios rgos, Bibliotecas, livros, jornais e revistas da poca. Foi um trabalho isolado, sem contar com o apoio de qualquer instituio, nem mesmo do Exrcito. Ao longo deste livro pretendo contar uma etapa da minha vida e mostrar aos jovens que

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desconhecem esse perodo da nossa Histria como agiam os subversivos-terroristas. Pretendo, tambm, relembrar essa guerra suja aos que, por convenincia, insistem em deturpar a verdade. So pouqussimas as aes que cito neste livro pois se fosse narrar todos os atos criminosos desse perodo, poderia escrever um livro para a maioria das Organizaes que praticavam a luta armada. Como no tenho intenes de revanchismo, usarei apenas as iniciais, os nomes falsos ou os codinomes das pessoas citadas. Conservo, entretanto, em um cofre num banco e em cpias distribudas entre alguns amigos, o nome completo das pessoas mencionadas e toda documentao consultada. Apenas darei o nome daqueles que assumiram publicamente, atravs de jornais ou de livros, suas participaes, em maior ou menor escala, de acordo com as convenincias. Pretendo, ao final deste livro num resumo, mostrar parte dessa guerrilha e desmentir categoricamente a Deputada BETE MENDES, mostrando, atravs de documentos e de depomentos, que fui por ela acusado de crimes que no cometi. Pretendo mostrar o que um grupo de pessoas, muito bem organizado, pode fazer para caluniar e acabar com a tranqilidade de toda uma famlia. Pretendo mostrar que a Deputada BETE MENDES esqueceu-se de dizer ao povo que a absolvio de alguns jovens, inclusive a dela, se deve, em parte, ao depoimento que prestei na Justia em favor deles. Pretendo mostrar que a Deputada BETE MENDES sempre foi muito bem tratada e jamais foi torturada. Sou um cidado comum. No possuo, como a Deputada, imunidades parlamentares. Dentro deste contexto afirmo perante a opinio pblica que a senhora Bete Mendes: 1 Mentiu quando disse que foi torturada por mim. 2 Mentiu quando afirmou:ter que suport-lo, seguidamente a justificar a violncia cometida contra pessoas indefesas e de forma desumana e ilegal como sendo para cumprir ordens e levado pelas circunstncias de um momento. 3 Mentiu quando na sua entrevista ao Jornal O GLOBO, em 17 de agosto de 1985, disse que: a. testemunhara o desaparecimento de pessoas que passaram pelas mos do Coronel Brilhante Ustra; b. parentes seus tambm foram presos e torturados; c. esteve presa no DOI durante 30 dias; d. durante a priso sofreu torturas fsicas e psicolgicas de todos os tipos; e. minha mulher lhe dissera, em Montevidu, que o acontecido no passado no tinha a menor importncia. 4 Mentiu quando na sua entrevista ao jornal O PASQUIM 17 Fev 86 a 5 Mar 86 disse: a.A minha organizao no participava de nenhuma ao armada, eu era da VAR-PALMARES. Uma dissidncia da VPR ea gente no assaltava banco e nem nada disso . (O grifo do autor) b. Quando cheguei na OBAN os policiais davam tiros para o alto para comemorar a minha captura. 5 Mentiu quando em entrevista Revista VEJA, 21 de agosto de 1985 disse que: a. seus pais tambm foram detidos e ameaados de tortura e que o corpo de um amigo, morto a pancadas, foi-lhe mostrado estendido numa maca para desequilibr-la emocionalmente; b. durante a sua chegada com a comitiva do Presidente, eu estava sua frente, junto a uma centena de rostos enfileirados margem de um tapete vermelho que se estendia pelo cho do Aeroporto de Carrasco. E que nessa ocasio ela me cumprimentou formalmente e passou adiante na longa fila de cumprimentos 6 Mentiu quando na sua carta ao Ministro do Exrcito, lida por ela na Cmara dos Deputados, disse ter vistocorpos de pessoas inocentes e que esto na lista dos desaparecidos. Contando parte de minha vida, pretendo, neste livro, mostrar que a Deputada, alm de me caluniar, cometeu uma ingratido.

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Nos captulos finais, item por item, rebato todas as suas acusaes caluniosas aps explicar em detalhes o que foi a luta contra o terrorismo. Deus e o povo que me julguem.

ALGUMAS MANCHETES DE 1986

Chico Anysio tem novidades para abril Chico: personagensO terceiro o Capito Trovo, um ex-torturador que volta e meia encontra alguma de suas vtimas e foi inspirado no recente encontro entre a deputada Bete Mendes e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ocorrido no Uruguai. Para sarem da imaginao de Chico Anysio e chegarem ao vdeo, porm, esses personagens tero de atravessar os caminhos da Censura. REVISTA VEJA 22 Jan 86

Coronel acusado de ser torturador reaparece em pblico em Braslia JORNAL DO BRASIL 8 Abr 86

Vereadora no aceita a promoo de Ulstra ZERO HORA 5 Dez 86

Ustra reaparece e trabalha na polcia JORNAL DE BRASLIA 12 Jul 86

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O PASQUIM 27 Fev 86 a 05 Mar 86

A ESCALADA DO TERRORMEU OBJETIVO: ECEME

Em 1966, eu me preparava para fazer o concurso Escola de Estado-Maior. Era uma etapa muito importante da minha carreira. Foi um ano muito duro, dedicado quase que exclusivamente aos estudos. Pouco tempo me sobrava para outras atividades que no fossem o meu trabalho na caserna. A tranqilidade do pas foi sacudida por uma seqncia de exploses de bombas, uma delas, em 25 de julho de 1966, no Aeroporto de Guararapes. O objetivo principal desse atentado era o de assassinar o Marechal Costa e Silva. Nessa ocasio morreram o jornalista Edson Regis Carvalho e o Almirante da Reserva Nelson Gomes Fernandes, ficando feridas 13 pessoas, inclusive uma criana de 6 anos de

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idade. Capito, sem acesso a maiores informaes, eu tomava conhecimento do que se passava no pas atravs de conversas com companheiros ou pelas notcias nos jornais. Morvamos, eu e minha mulher, Joseta, num pequeno apartamento no Leblon, Rio de Janeiro, que acabara de comprar e que lutvamos para pagar. No final desse ano os meus esforos foram recompensados, pois passara no concurso para a Escola de Estado-Maior. Em 1967, iniciei o curso de trs anos na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Ainda era capito. Comecei a queimar as pestanas para me sair bem no curso.

MARIGHELLA: O IDELOGO DO TERROR

Em julho de 1967, Carlos Marighella, convidado oficialmente para participar da Conferncia da Organizao Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), seguiu para Cuba. Em 17 de agosto de 1967, enviou uma carta ao Comit Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), rompendo definitivamente com o Partido. Em 18 de agosto do mesmo ano, atravs de outra carta, deu total apoio e solidariedade s resolues adotadas pela OLAS. desta carta que transcrevo o seguinte trecho: No Brasil h foras revolucionrias convencidas de que o dever de todo o revolucionrio fazer a revoluo. So estas foras que se preparam em meu pas, e que jamais me condenariam, como faz o Comit Central, s porque empreendi uma viagem a Cuba e me solidarizei com a OLAS e a revoluo cubana. A experincia da revoluo cubana ensinou, comprovando o acerto da teoria marxista leninista, que a nica maneira de resolver os problemas do povo a conquista do poder pela violncia das massas, a destruio do aparelho burocrtico e militar do Estado a servio das classes dominantes e do imperialismo, e a sua substituio pelo povo armado . (O grifo do autor). Assim surgia no Brasil uma organizao terrorista das mais atuantes e das mais sanguinrias tendo como um de seus lderes Carlos Marighella a AO LIBERTADORA NACIONAL (ALN). Em 1968, a partir das idias de Marighella, se intensificam e aperfeioam os atos de terror e as tentativas de implantao da guerrilha urbana e rural. Comeam a atuar, ativamente, algumas das seguintes organizaes terroristas: Ao Libertadora Nacional (ALN), Ala Vermelha do PC do B, Comando de Libertao Nacional (COLINA), Movimento de Libertao Popular (MOLIPO), Movimento Revolucionrio 8 de Outubro (MR-8), Movimento Revolucionrio Tiradentes (MRT), Partido Comunista Brasileiro Revolucionrio (PCBR), Partido Comunista Revolucionrio (PCR), Vanguarda Armada Revolucionaria Palmares (VAR-PALMARES), Vanguarda Popular Revolucionria (VPR), Resistncia Democrtica (REDE) e outras. Comearam, a seguir, os atos de terror: assaltos a bancos, seqestros, assassinatos, ataques s sentinelas e rdio-patrulhas, furtos e roubos de armas dos quartis e muitos outros. Na poca eu no sabia que estes fatos teriam em minha vida uma importncia maior do que para a maioria dos brasileiros. No imaginava que seria um, dentre muitos, a combater o terror que comeava a ser implantado no Brasil. No esperava que seria um dia injuriado e caluniado por ter cumprido com o meu dever, lutando em

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uma guerra perigosa e suja, contra inimigos desconhecidos, militarmente treinados e dispostos a tudo, para implantar, no Brasil, uma ditadura de esquerda. Para melhor orientar a sua organizao, Marighella difundiu, em junho de 1969, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano. A obra, traduzida em vrios idiomas, serviu de livro de cabeceira para as BRIGADAS VERMELHAS na Itlia e para o grupo terrorista BAADER-MEINHOFF na Alemanha. Ela expressa o pensamento de Marighella e o que se deve esperar dos grandes grupos extremistas. Trechos extrados do Minimanual: No Brasil, o volume de aes violentas praticadas pelos guerrilheiros urbanos, incluindo mortes, exploses, captura de armas, munies, explosivos, assaltos a bancos, etc... j representa algo de pondervel, para no deixar margem a qualquer dvida sobre os reais propsitos dos revolucionrios. O justiamento do espio da CIA, Charles Chandler, militar norte-americano que veio da Guerra do Vietnam para se infiltrar no meio estudantil brasileiro, os tiras e policiais militares que tm sido mortos em choques sangrentos com os guerrilheiros urbanos,tudo isto atesta que estamos em plena guerra revolucionria e que a guerra s pode ser feita atravs de meios violentos . (o grifo do autor) As organizaes terroristas brasileiras lutavam dentro de um contexto de guerra revolucionria. Uma guerra no convencional onde os terroristas, infiltrados no seio da populao, tinham todas as vantagens. Uma guerra onde os militantes eram terroristas mesmo, e no jovens universitrios idealistas que apanhavam da polcia porque discordavam da ditadura. Uma guerra onde os militantes eram enquadrados por organizaes terroristas muito bem estruturadas que recebiam do exterior armas, dinheiro e munies. Uma guerra onde os militantes eram enviados para cursos de guerrilha no exterior e de onde voltavam aperfeioados na tcnica de implantao do terror. Enfim, uma guerra suja, pois como escreveu Marighella, era uma guerra onde eles viviam camuflados numa sociedade que pretendiam destruir, para implantar, com a fora das armas, o comunismo no Brasil.

A MORTE DE MARIGHELLA

Atrado a uma cilada por dois padres presos pela polcia e usados como isca, o ex-deputado comunista Carlos Marighella morreu metralhado pelo DOPS ontem noite, na esquina das Alamedas Lorena e Casa Branca, quando usava uma peruca castanha. Duas investigadoras participaram da diligncia, fingindo-se de namoradas de outros policiais que vigiavam o local do encontro e uma delas, Estela de Barros Borges, foi mortalmente ferida na cabea durante o tiroteio que os dois acompanhantes de Marighella travaram com os agentes do DOPS, antes de serem presos. O plano comeou com a priso dos frades dominicanos Ivo e Fernando, denunciados por um estudante ex-presidente da extinta Unio dos Estudantes de So Paulo. Foram presas mais de 20 pessoas. Aps confessarem que pertenciam ao grupo Marighella, frei Ivo e o frei Fernando concordaram em marcar um encontro com o ex-deputado na Alameda Casa Branca. O telefonema foi gravado: a senha

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era vou tipografia s 20h30min. Os policiais cercaram o local inclusive com a ajuda de ces pastores, que durante o tiroteio evitaram a fuga dos dois frades. Frei Leonardo foi mordido na perna quando tentava escapar aproveitando a confuso. Marighella no foi apanhado vivo porque seu esquema de segurana, tambm muito bem armado, reagiu imediatamente, obrigando os policiais a atirar com as metralhadoras. (Transcrito do Jornal do Brasil, 1. Caderno, pg. 15, edio de 06/11/69.)

Alameda Casa Branca Situao aps o confronto com Marighella

A IMPORTNCIA DO MINIMANUAL

O Minimanual do Guerrilheiro Urbano to importante que Claire Sterling em seu livro A REDE DO TERROR A Guerra Secreta do Terrorismo Internacional, EDITORA NRDICA, se refere a ele nas pginas: 18, 22, 31, 32, 39, 47, 179, 184, 201 e 328 n1. Deste livro, cuja leitura recomendo, transcrevo abaixo alguns textos: O Minimanual diz tudo, em quarenta e oito pginas cobertas de texto em tipo mido. Explica porque motivo as cidades so melhores que as zonas rurais para operaes de guerrilha e como proceder nelas: nada de ares estrangeiros e, sempre que possvel, ocupaes normais. Sugere como treinar em quintais urbanos; explodir pontes e ferrovias; levantar dinheiro com o resgate de seqestro e expropriaes de bancos, atacando o sistema nervoso do capitalismo; planejar a liquidao fsica de policiais graduados e altas patentes militares; lidar com espies e informantes, que devem ser sumariamente executados, preferivelmente por um nico franco-atirador, pacientemente, sozinho e desconhecido, operando em absoluto segredo e a sangue-frio. Ressalta a importncia de aprender a dirigir um automvel, pilotar um avio, velejar um barco, ser mecnico e tcnico em rdio, manter-se em boa forma fsica, dominar a fotografia e a qumica, adquirir um perfeito conhecimento de caligrafia para falsificar documentos, ser prtico de enfermagem e farmcia, bem como enfermeiro de campanha com algum conhecimento de cirurgia. Aborda minuciosamente as escolhas de armas e a necessidade de atirar primeiro, queima-roupa se possvel: o tiro e a pontaria so para o guerrilheiro

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urbano o que a gua e o ar so para os seres humanos. Constitui tambm um estudo clnico das tticas por etapas na estratgia do terrorismo, ... Em primeiro lugar, escreveu Marighella, o guerrilheiro urbano precisa usar a violncia revolucionria para identificar-se com causas populares e assim conseguir uma base popular: Depois: O Governo no tem alternativa exceto intensificar a represso. As batidas policiais, buscas em residncias, prises de pessoas inocentes tornam a vida na cidade insuportvel. O sentimento geral de que o governo injusto, incapaz de solucionar problemas, e recorre pura e simplesmente liquidao fsica de seus opositores. A situao poltica transforma-se em situao militar; na qual os militares parecem cada vez mais responsveis pelos erros e violncia. Quando os pacificadores e oportunistas de direita vem os militares beira do abismo, do-se as mos e imploram aos carrascos por eleies e outros engodos destinados a iludir as massas. Rejeitando a chamada soluo poltica, o guerrilheiro urbano deve tornar-se mais agressivo e violento, valendo-se incansavelmente da sabotagem, terrorismo, expropriaes, assaltos, seqestros e execues,aumentando a situao desastrosa na qual o governo tem que agir. (o grifo da autora) Essas etapas cuidadosamente articuladas, conclui Marighella, devem resultar na expanso incontrolvel da rebelio urbana. ...O Minimanual continua a ser escritura revolucionria. Traduzido em duas dezenas de idiomas, encontrado em automveis, bolsos e esconderijos de terroristas famosos, de Estocolmo a Beirute e Tquio, a planta na qual eles baseiam sua estratgia. Excetuando a vitria da revoluo comunista algo que eles julgam poder levar trinta ou quarenta anos a estratgia de Marighella, visando a provocar a intensificao da represso e um golpe militar de direita, , inequivocamente, a idia que eles fazem da melhor soluo provisria. No matam com raiva: este o sexto dos sete pecados capitais contra os quais adverte expressamente o Minimanual de Guerrilha Urbana de Carlos Marighella, a cartilha padro do terrorismo. To pouco matam por impulso: pressa e improvisao so o quinto e stimo captulos da lista de Marighella. Matam com naturalidade, pois esta a nica razo de ser de um guerrilheiro urbano, segundo reza a cartilha. O que importa no a identidade do cadver, mas seu impacto sobre o pblico. A seguir citarei algumas aes terroristas, para que este pas de jovens tenha uma idia de como agiam os terroristas brasileiros.

CARLOS LAMARCA (Cid, Cludio, Paulista)

No 4. Regimento de Infantaria, em Quitana, SP, existia uma clula de militantes da Vanguarda Popular Revolucionria (VPR). Seu chefe era um capito, Carlos Lamarca. Os demais integrantes da clula eram o sargento D.R. (Lo, Slvio, Batista, Souza), o cabo J.M.F.A. (Srgio ou Olmos) e o soldado C.R.Z. (Clio, Cabral, Nen). Todos sempre tomaram o mximo cuidado para que sobre eles nunca pairasse a mnima suspeita a respeito de suas atividades clandestinas. O sargento D.R. trabalhava

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na 4a. Seo do Regimento, que tratava da logstica. Por isso, foi fcil mandar fazer cpias das chaves dos depsitos de armas e do paiol de munies. Lamarca, como comandante de companhia, tinha domnio total sobre todo o material blico de sua subunidade. Os quatro resolveram furtar o maior nmero de armas do 4. RI e em seguida, desertar, entrando para a clandestinidade e participando da guerra revolucionria. Os modernos FAL (fuzil automtico leve) do 4. RI, usados pelos exrcitos mais avanados do mundo ocidental, dariam a VPR um grande poder de fogo. O plano para esta ao estava dividido em duas fases: a) No dia 25 de janeiro de 1968, seriam furtados da Companhia comandada por Carlos Lamarca, 63 fuzis automticos leves (FAL). b) No dia 26 de janeiro de 1968 seriam furtados os 500 fuzis FAL do depsito de armamentos do 4. RI. Para esta fase, seria utilizado um caminho que a organizao estava preparando, inclusive pintando-o com as cores do Exrcito. A data de 26 de janeiro era impositiva porque o sargento D.R., neste dia, estaria escalado para a importante funo de Comandante da Guarda do Quartel. Assim, o sargento, alm de controlar toda a Guarda do Quartel, permitiria a entrada do caminho da VPR, sem levantar suspeitas. A cobertura seria feita por vrios militantes que, sob a cumplicidade do sargento D.R., entrariam no quartel sem qualquer problema. Entretanto, no dia 23 de janeiro, uma denncia levou a polcia a Itapecerica da Serra, a apreender o caminho e fazer prisioneiros quatro militantes da VPR que se encarregavam da misso de prepar-lo para a ao. Embora os quatro terroristas tivessem sido interrogados, a falta de dados a respeito da VPR e o desconhecimento do modo de agir dos seus militantes no conduziu a resultado objetivo algum. Apesar de todo o esforo, as autoridades no conseguiram saber, a tempo, a real finalidade daquele veculo civil, que estava sendo transformado para parecer uma viatura militar. Lamarca, D.R., M e Z. souberam da priso dos seus companheiros da VPR e da apreenso do caminho. Ficaram preocupados com a possibilidade de que, durante o interrogatrio, os presos falassem. Assim, resolveram antecipar a ao para o dia 24 de janeiro, tarde. S realizariam a 1a. fase. Lamarca entrou no quartel com a sua Kombi e, auxiliado pelo sargento D, cabo M e soldado Z, nela acondicionou 63 FAL, 5 metralhadoras INA, revlveres e muita munio. A partir desse momento, todos os integrantes da clula terrorista da VPR, no 4. RI, caram na mais rigorosa clandestinidade. O soldado Z foi preso em 1969. Segundo o depoimento de D.R., em A Esquerda Armada no Brasil, preferiu suicidar-se na priso, temeroso de ceder informaes polcia. O cabo M foi preso e condenado. O sargento D.R. foi preso no Vale da Ribeira e acabou sendo banido para a Arglia, em troca do Embaixador da Repblica Federal da Alemanha. Com o banimento, todos os processos que respondia foram paralisados. Aps a anistia retornou ao Brasil. Carlos Lamarca, ao resistir priso, morreu em Brotas de Macabas, no interior da Bahia, no dia 17 de setembro de 1971.

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Parte dos fuzis roubados por Lamarca

O ASSALTO AO HOSPITAL MILITAR

No dia 22 de julho de 1968, s 03:00 horas da madrugada, a organizao terrorista Vanguarda Popular Revolucionria assaltou o Hospital Militar do Cambuc, So Paulo. A organizao tinha dois objetivos quando planejou esse assalto: a obteno de armas modernas e a propaganda armada. Como primeira providncia realizou um levantamento da segurana do Hospital. Para tanto, procurou verificar o nmero de homens que constituam a guarda, o tipo de armamento que usavam, vias de acesso, horrio da mudana da guarda e o local do alojamento do pessoal de servio, responsvel pela segurana do Hospital. O plano era atacar o Hospital uma da madrugada, durante a troca da guarda. Como a ambulncia que utilizariam na ao atrasou, se dispersaram. s trs da manh, enquanto se processava a nova troca da guarda, entraram no Hospital. Dois dos assaltantes estavam fardados de oficial do Exrcito e outros dois vestiam a farda de soldados. Chegando ao porto de entrada, onde se encontrava a sentinela, o oficial pediu o seu fuzil, para inspecion-lo. O soldado entregou a arma imediatamente. Quando isso ocorreu, eles o amarraram e colocaram um esparadrapo na boca. No porto dos fundos, onde havia outra sentinela, tudo se passou do mesmo modo. Foi muito fcil a entrada no Hospital e o deslocamento at o Corpo da Guarda. Ao chegarem ao Corpo da Guarda, apontaram as armas para os soldados que dormiam. Como todos os soldados se renderam, nenhum tiro foi disparado e os terroristas se apossaram de nove fuzis FAL, que seriam destinados s aes urbanas da VPR. No comeo, por mais aprimorada que fosse a instruo ministrada e que se chamasse a ateno dos soldados, a rotina do servio fazia com que, aos poucos, tudo se acomodasse, inclusive as normas de segurana. Foi preciso que esse exemplo, e muitos outros, fossem explorados para que os militares sentissem que se iniciava uma Guerrilha Urbana, onde a vida deles passaria a correr perigo. A partir de ento eles passaram a viver uma nova situao. Participaram do assalto os seguintes terroristas da VPR: C.S.R. (SILVIO, MATOS, ALEXANDRE);

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D.J.C.O. (LUIZ, LEANDRO, PEDRO); E.L. (BACURI); J.R.T.L.S. (ROBERTO GORDO, NUNES); J.A.N. (ALBERTO, PEPINO); O.P.S. (ARMANDO); O.P. (AUGUSTO, RIBEIRO, ARI, BIRA); P.L.O. (GETLIO); R.F.G.A. (CECLIA, IARA); W.E.F. (LARCIO);

ATENTADO AO QG DO II EXRCITO

Era uma madrugada fria e nublada do dia 26 de junho de 1968. s 04 horas e 45 minutos uma violenta exploso abalou e despertou todo o Quartel-General do II Exrcito (QG II Ex). Um jovem soldado de 18 anos, MARIO KOZEL FILHO, morria com o corpo dilacerado. Os soldados JOO FERNANDES, LUIZ ROBERTO JULIANO e EDSON ROBERTO RUFINO estavam muito feridos. Os danos materiais eram incalculveis.

O corpo mutilado do soldado Kozel

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Soldado Mrio Kozel Filho

Caro Soldado Kozel, permita-me cham-lo de Kuka, como o chamavam seus amigos. Imagino a dor que seus pais, Sr. Mrio e D. Tereza, sentiram quando souberam de sua morte. Voc era um menino travesso e alegre que gostava de mecnica, de automvel e de festinhas, onde sempre arranjava namoradas. Depois daquele 26 de junho, em sua casa modesta e alegre na Avenida Ibirapuera, 2750, a tristeza e a saudade tomaram conta de todos. Voc Kuka, morreu no cumprimento do dever e o Exrcito Brasileiro, numa justa homenagem, colocou seu nome na praa principal do QG do II Exrcito. Na Praa Sargento Mrio Kozel Filho geraes e geraes de recrutas, como voc, desfilaro e estaro sempre lembrando um jovem valente que morreu defendendo aquele Quartel-General de um ataque terrorista.

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Meu caro Kuka, dezenove anos depois, quero, tambm, prestar a voc minha homenagem e lembrar a todos seu gesto herico. Creio que a melhor maneira de homenage-lo transcrever o que foi dito sobre voc, pelo Comandante do II Exrcito, General-de-Exrcito Manuel Carvalho Lisboa: A populao laboriosa e as famlias acham-se traumatizadas pelo atentado brutal e sem significado outro seno o de mostrar o quilate de sua brutalidade, numa repetio de fatos prprios da insensibilidade materialista dos comunistas. Uma coisa, porm, eles no destruiro com dinamite, a nossa condio democrtica, crist e brasileira, de todos ns, militares, estudantes, operrios, trabalhadores do campo e de todas as classes de So Paulo. Essa vontade de lutar por um estilo de vida brasileiro, sem escravizao da pessoa humana, sem a tirania que o comunismo oferece. Isso, essa vanguarda vermelha no destruir. Muito ao contrrio, alento nosso para os homens do II Exrcito, cuja fibra teve na figura herica do pracinha Mrio Kozel Filho o melhor exemplo. Ele era um estudante, democrata legtimo, brasileiro, cumprindo seu dever militar. O seu sangue e o seu holocausto sero um smbolo, a perpetuar o valor moral dos homens do II Exrcito, cujo desafio contra os inimigos do Brasil continua em p. O Soldado Mrio Kozel Filho que estava em seu posto desde s 03:00 horas s 04 horas e 30 minutos, ouvira um tiro disparado por outro sentinela contra uma camionete Chevrolet que corria, pela Avenida Marechal Stnio de Albuquerque Lima, nos fundos do Quartel-General. Notara, ento, que o motorista, aps acelerar e direcionar a camionete para o porto do QG, pulara do carro em movimento. O Soldado Edson Roberto Rufino disparara seis tiros de fuzil, mas no detivera a marcha do carro que, desgovernado, batia num poste indo se projetar contra uma parede, sem conseguir penetrar no QG. Mrio Kozel Filho correu em direo ao veculo para ver se havia mais algum em seu interior. Havia uma carga de 50 quilos de dinamite que, segundos depois, faria voar o carro pelos ares, espalhando destruio e morte a mais de 300 metros de distncia. Era mais um ato terrorista da Vanguarda Popular Revolucionria, a VPR. Participaram deste atentado os seguintes terroristas: W.C.S. (Rui, Braga), W.E.F. (Larcio, Amaral), O.P. (Augusto), E.L. (Bacuri), D.J.C.O. (Luiz, Leonardo, Pedro), J.A.N. (Alberto), O.A.S. (Portuga), D.S.M. (Judite), R.F.G.A. (Ceclia) e J.R.T.L.S. (Roberto Gordo, Nunes). Este grupo, alm da camionete Chevrolet, utilizou 3 carros Volks, 1 fuzil FAL, 1 metralhadora, 1 fuzil Mauser e 3 revlveres. Segundo Jos Ronaldo Tavares de Lira e Silva, em depoimento no livro A Esquerda Armada no Brasil, o objetivo dos terroristas, com aquela ao, era atingir a alta oficialidade do II Exrcito e no matar soldados. Mas como poderia um carro explodir com 50 quilos de dinamite dentro de um quartel e no matar soldados?

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O carro bombaaps a exploso. Preparado por jovens indefesos que lutavam para a implantao do terror da esquerda armada

Danos causados ao QG do II Exrcito pelos chamados subversivos da VPR

A MORTE DO CAPITO CHANDLER

Era o dia 12 de outubro de 1968, 08:15 horas. Fim de inverno, incio da primavera. Em uma rua no Bairro das Perdizes as rvores apresentavam seus primeiros sinais de vida: folhas novas e verdes iniciavam a mudar o colorido da paisagem. De uma casa ajardinada saa, para mais um dia de estudos na Universidade de So Paulo, um homem alto, forte, cabelos curtos, 30 anos. J se despedira de seus filhos Jeffrey (4 anos), Todd (3 anos) e Luanne (3 meses). Retardava-se um pouco despedindo-se de Joan, sua mulher. O filho mais velho, Darryl, de nove anos, como fazia todos os dias, correu para abrir o porto da garagem. Joan lhe dava adeus. De repente tiros, muitos tiros. No interior do carro, crivado de balas, estava morto Charles Chandler. Joan, atnita, desmaiou. Seu filho comeou a gritar. Um homem apontou, ento, o revlver para a cabea do menino. Darryl, em estado de choque, correu para a casa de um vizinho, onde refugiou-se.

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A brutalidade dos jovens idealistas da VPR, contra um cidado desarmado

Chandler cruzou o porto e ganhou a calada ainda em marcha-a-r. Nesse preciso momento, antes que seu carro atingisse a rua, coloquei o Volks de tal modo que bloqueava a passagem do veculo de Chandler pela sua parte traseira, impedindo-o de continuar a marcha. Nesse instante um dos meus companheiros saltou do Volks, revlver na mo e disparou contra Chandler. Quando soaram os primeiros disparos, Chandler deixou-se cair rapidamente para o lado esquerdo do banco. Evidentemente estava ferido. Mas eu, que estava extremamente atento a todos os seus movimentos, percebi que ele no tombara somente em conseqncia dos ferimentos. Foi um ato instintivo de defesa, porque se moveu com muita rapidez. Quando o primeiro companheiro deixou de disparar, o outro aproximou-se com a metralhadora INA e desferiu uma rajada. Foram 14 tiros. A dcima quinta bala no deflagrou e o mecanismo automtico da metralhadora deixou de funcionar. No havia necessidade de continuar disparando. Chandler estava morto. Quando recebeu a rajada de metralhadora emitiu uma espcie de ronco, um estertor, e ento demo-nos conta de que estava morto. Nesse momento eu lanava rua os panfletos que esclareciam ao povo brasileiro das nossas razes para eliminar Chandler. Eles concluam com os seguintes dizeres: O DEVER DE TODO REVOLUCIONRIO FAZER A REVOLUO! CRIAR DOIS, TRS, MUITOS VIETNAMES.Consideramos desnecessria cobertura armada para aquela ao. Tratava-se de uma ao simples. Trs combatentes revolucionrios decididos so suficientes para realizar uma ao de justiamento nessas condies. Considerando o nvel em que se encontrava a represso, naquela altura, entendemos que no era necessria a cobertura armada . Depoimento de Pedro Lobo de Oliveira Transcrito do livro A Esquerda Armada no Brasil. (O grifo do autor). Segundo depoimentos de terroristas presos posteriormente: a. O capito Chandler teria sido condenado por um Tribunal Revolucionrio, constitudo pelos militantes O.P. (Augusto), J.Q.M. (Maneco) e L.D. (Jamil), todos da VPR. b. O levantamento dos hbitos e da residncia do militar americano teria sido feito por D.S.M. (Judite). Ela, uma vez de posse de todos os dados, os teria passado ao Grupo de Execuo. c. O Grupo de Execuo estava formado por Pedro Lobo de Oliveira, D.J.C.O. (Luiz, Leonardo) e M.A.B.C. (Marquito). Seu armamento seria uma metralhadora INA e dois revlveres calibre 38. O carro utilizado seria um Volks, modelo 65, roubado. A VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONARIA (VPR) desejava realizar uma ao que

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tivesse repercusso no exterior, ao mesmo tempo em que a projetasse no mbito das organizaes terroristas nacionais. Foi estudada a possibilidade de assassinar o Capito Chandler do Exrcito dos Estados Unidos e aluno-bolsista da Universidade de So Paulo. Para justificar o assassinato perante a opinio pblica, apresentou em panfletos deixados no local, entre outras coisas, duas justificativas: a. Chandler seria um agente da CIA que se encontrava no Brasil a servio do Governo norte-americano, com a misso de assessorar a ditadura militar na represso violenta, com tcnicas avanadas, contra as atividades proletrias e revolucionrias. b. Possuiriam dados da presena de Chandler ma Bolvia, por ocasio da morte de Che Guevara.

O corpo de Chandler aps ter sido assassinado pelo terror esquerdista

Naturalmente a VPR no iria dizer populao que escolhera o Capito Chandler, somente porque ele era um militar, do Exrcito dos Estados Unidos, pertencente a um pas imperialista e cujo assassinato teria a mais ampla repercusso. Com esse assassinato a VPR atingiu o seu objetivo: o de projetar-se perante as demais organizaes terroristas nacionais e internacionais. Assim agiam os terroristas. Muito bem organizados. Muito bem estruturados. Instituindo Tribunais Revolucionrios, como um poder paralelo ao poder legal. Praticando julgamentos sem a presena do ru e sem o direito de defesa. Assassinando com objetivos polticos. Esse era o tipo de terrorismo que as Foras Armadas, particularmente o Exrcito, tendo como aliadas as Polcias Civil e Militar, iriam enfrentar. E teriam que lutar muito.

O SEQESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO

Grupos revolucionrios detiveram, hoje, o Sr. Burke Elbrck, Embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum ponto do pas. Este no um episdio isolado. Ele se soma aos inmeros atos revolucionrios j levados a cabo: assaltos a bancos, onde se arrecadam fundos para a revoluo, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados;

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tomadas de quartis e delegacias, onde se conseguem armas e munies para a luta pela derrubada da ditadura; invases de presdios, quando se libertam revolucionrios, para devolv-los luta do povo; as exploses de prdios que simbolizam a opresso; e o justiamento de carrascos e torturadores. Na verdade, o rapto do Embaixador apenas mais um ato de guerra revolucionria que avana a cada dia e que este ano iniciar a sua etapa de guerrilha rural. A vida e a morte do Senhor Embaixador esto nas mos da ditadura. Se ela atender a duas exigncias, o Sr. Burke Elbrick ser libertado. Caso contrrio, seremos obrigados a cumprir a justia revolucionria. Nossas duas exigncias so: a libertao de 15 prisioneiros polticos; a publicao e leitura desta mensagem, na ntegra, nos principais jornais, rdios e televises de todo o pas. Os 15 prisioneiros polticos devem ser conduzidos em avio especial at um pas determinado Arglia, Chile e Mxico onde lhes seja concedido asilo. Contra eles no dever ser tentada qualquer represlia, sob pena de retaliao. A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos 15 lderes revolucionrios e esperaremos 24 horas por sua colocao num pas seguro. Se a resposta for negativa ou se no houver nenhuma resposta nesse prazo, o Sr. Burke Elbrick ser justiado. Queremos lembrar que os prazos so improrrogveis e que no vacilaremos em cumprir nossas promessas. Agora olho por olho, dente por dente. AO LIBERTADORA NACIONAL (ALN) MOVIMENTO REVOLUCIONRIO 8 DE OUTUBRO (MR-8). No dia 4 de setembro de 1969, s 14 horas e 45 minutos, a Ao Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionrio 8 de Outubro (MR-8), numa ao conjunta, seqestraram o Embaixador dos Estados Unidos, no Brasil, Charles Burke Elbrick. Este seqestro foi realizado com o objetivo de colocar a Guerra Revolucionria na ordem do dia, atravs da propaganda armada, alm de tentar a desmoralizao do Governo. Pretendiam, tambm, em troca da vida do Embaixador, colocar em liberdade alguns lderes que estavam presos. A idia inicial foi da Dissidncia da Guanabara (DI/GB), organizao que aps aquela ao terrorista passou a denominar-se Movimento Revolucionrio 8 de Outubro (MR-8). Como o MR-8 tinha muito pouca experincia para uma ao de tal envergadura, alguns de seus lderes foram a So Paulo, onde se encontraram com J.C.F. (Toledo ou Velho), lder da ALN a quem solicitaram apoio para a efetivao do seqestro. Toledo concordou, e enviou para o Rio de Janeiro trs dos seus militantes: V.G.S. (Jonas), P.T.W. (Geraldo) e M.C.O.N. (Srgio, Roberto, Nen). O levantamento dos hbitos do Embaixador foi feito por F.G. (Honrio, Mateus, Bento) e V.S.M. (Marta, Carmem, Dad). Marta enamorou-se de um dos policiais responsveis pela segurana do Embaixador, o qual acabou por lhe transmitir, sem sentir que estava sendo usado, todos os dados necessrios quanto guarda e aos hbitos do Embaixador. Quando todos os preparativos estavam prontos, Geraldo ligou para So Paulo e disse: Mande a mercadoria. Negcio fechado. Esta era a senha pr-estabelecida para que Toledo embarcasse para o Rio de Janeiro, onde passaria a ser o coordenador da ao. E, no dia 3 de setembro, Toledo viajou para o Rio, indo diretamente para onde o Embaixador americano deveria ficar, enquanto estivesse nas mos dos seqestradores. Quando foi seqestrado, o Embaixador dirigia-se de sua residncia na Rua So Clemente (Rio de Janeiro), onde fora almoar, para a sede da Embaixada, no Centro. Ao atingir o Largo dos Lees, para tomar a Rua Voluntrios da Ptria, seu carro, um Cadillac 1968, foi interceptado por um Volkswagen, dirigido por F.S.M. (Waldir, Miguel). Nesse momento, Jonas e Srgio, abrindo as portas traseiras,

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entraram no Cadillac. O Embaixador foi obrigado a sentar-se no assoalho do carro, com as mos na nuca. Os dois terroristas ento disseram: Somos revolucionrios brasileiros. Enquanto tudo isso se passava, C.T.S. (Pedro), abrindo a porta dianteira, empurrou o motorista do Embaixador para a direita, tomou-lhe o bon e assumiu o lugar do motorista, passando a dirigir o Cadillac. Da mesma forma, Geraldo entrou pela porta dianteira direita e sentou-se no banco, ficando o motorista entre os dois. Pedro conduziu o carro pela Rua Caio de Melo Franco, onde o abandonaram. Todos os ocupantes que iam no carro seqestrado, exceto o motorista do Embaixador que foi liberado, deveriam ser transferidos para uma Kombi, em poder dos terroristas. No momento do transbordo, como o Embaixador ficou indeciso, Srgio deu-lhe violentas coronhadas. Em conseqncia, o diplomata comeou a sangrar abundantemente. s pressas o Sr. Elbrick foi retirado do carro da Embaixada e jogado no cho da Kombi, sendo o seu corpo coberto por uma lona. Uma grande falha foi cometida pelos terroristas ao libertar o motorista do Embaixador no momento da troca de carros, pois permitiu que ele visse a Kombi e memorizasse a sua placa. Imediatamente a polcia tomou conhecimento desses dados. Finalmente a Kombi chegou ao local onde o Embaixador permaneceria escondido, na Rua Baro de Petrpolis, 1026. Esta casa, um ms antes, em 5 de agosto, fora alugada por H.B.K. (Mariana). Em questo de poucas horas a polcia descobriu onde estavam escondidos os terroristas. A polcia passou a seguir as pessoas que saam para comprar gneros, para difundirem as mensagens, com as exigncias ao Governo, etc. Inclusive, um policial bateu porta da casa para se certificar do que se passava no seu interior. Nessa ocasio,Jonas deitou o Embaixador no cho e ficou apontando uma arma para a cabea do Sr. Elbrick. Se a polcia entrasse ele dispararia a arma. Para evitar o assassinato do Embaixador, a polcia no invadiu o aparelho. O Governo brasileiro no negociou com os terroristas. Como no tivesse outra opo, cedeu s imposices|gue lhe foram feitas, tudo com o objetivo de salvar a vida de um homem que estava no Brasil em misso diplomtica. Em troca da vida do Embaixador, seguiram para o Mxico, banidos do Territrio Nacional pelo Ato Complementar n.. 64, de 5 Set de 1969 quinze pessoas. Participaram do seqestro do Embaixador: J.LS. (Dino) MR-8 V.S.M. (Marta, Carmem, ngela, Dad) MR-8 J.S.R.M. (Anbal) MR-8 F.S.M. (Waldir, Miguel) MR-8 C.Q.B. (Vtor, Bili, Miro, Levi) MR-8 V.G.S. (Jonas) ALN C.T.S. (Pedro, Geraldo, Edson, Otvio) ALN P.T.W. (Geraldo) ALN M.C.O.N. (Srgio, Roberto, Ben) ALN S.R.A.T. (Rui, Gusmo, Jlio) MR-8 J.C.F. (Velho, Toledo) ALN F.G. (Honrio, Mateus, Bento, Joo, Igncio) MR-8 A.F.S. (Baiano) MR-8

MEU DESTINO: SO PAULO

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Em 1969 eu cursava o ltimo ano da Escola de Estado-Maior, na Praia Vermelha. Era major h dois anos. Minha mulher, Joseta, era professora pblica. O terrorismo aumentava. Sentinelas dos quartis continuavam sendo assassinadas. Viaturas militares eram assaltadas e as armas expropriadas pelos terroristas. Em So Paulo, mais de uma vez, militares fardados foram atacados em plena via pblica e, sob a ameaa de morte, obrigados a se ajoelharem e a dar vivas ao comunismo. Recebemos ordens para, se possvel, no transitar fardados na rua. Os assaltos a bancos e aos carros transportadores de valores agora eram rotina e a cada dia a sua tcnica se tornava mais sofisticada. Era fruto da experincia adquirida por militantes brasileiros que, no exterior, se aperfeioaram em cursos de Guerrilha Urbana. Quatro avies j tinham sido seqestrados e desviados para Cuba. O Embaixador dos Estados Unidos fora seqestrado. Quartis haviam sido assaltados e suas armas roubadas. Assassinatos de policiais tomavam conta das manchetes dos jornais. A Polcia Civil e as Polcias Militares despreparadas para estas novas aes, agora muito bem planejadas e melhor executadas todas recheadas de cunho ideolgico sofriam grandes revezes. Bombas eram lanadas contra quartis, delegacias de polcia, reparties pblicas e rgos de imprensa.

Soldado PM Jos Aleixo Nunes (So Paulo)

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Soldado PM Garibaldo de Queiroz (So Paulo)

Jos Marques do Nascimento, motorista de txi, assassinado por terroristas quando conduzia dois PM que os perseguiam. (Ver pgina anterior)

Rdio-Patrulha assaltada e incendiada pelos inocentes indefesos da ALN que mataram na ocasio os Soldados PM: Guido Bone e Natalino Amaro Teixeira

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Viaturas do DOPS/SP, incendiadas durante uma propaganda armada

Destruio de carros pertencentes a um rgo pblico

Exploso de uma bomba conduzida pelos terrorista I.N (Charles) e S.C. (Gilberto), da ALN, na madrugada de 04/09/69, na Rua da Consolao, SP.

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Sabotagem contra uma linha frrea em S. Paulo

Face a esse quadro todo, chegara a hora de empregar as Foras Armadas.

Transcrio da Revista AFINAL Edio Especial 05/03/85:

(1. de julho de 1969) Anunciado oficialmente o lanamento de uma certa Operao Bandeirante em So Paulo, em

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cerimnia que contou com a presena do Governador do Estado, Abreu Sodr, do seu Secretrio de Segurana, Helly Lopes Meirelles e dos comandantes do IV Distrito Naval, da 4a. Zona Area e do II Exrcito, General Jos Canavarro Pereira. Objetivo, segundo discurso do General Canavarro: unir todos os setores da sociedade s Forcas Armadas, no esforo pela defesa da segurana interna. Enquanto tudo isso ocorria, o fim do meu curso na Praia Vermelha se aproximava e com ele a incerteza do meu novo destino. De acordo com a legislao, no poderia permanecer no Rio de Janeiro, pois havia completado 10 anos naquela Guarnio. A minha classificao no curso permitia escolher uma boa cidade. Foi assim que elegi o Comando do II Exrcito, em So Paulo. No Rio de Janeiro o nosso oramento domstico estava apertado. Para ajudar, Joseta depois de lecionar pela manh na Escola Pblica, tarde dava aulas particulares e noite ensinava no Curso Supletivo. Com a transferncia haveria uma queda no nosso oramento. Viveramos dentro de um oramento apertado, mas com a certeza de que seramos felizes na nova vida. Dentro dessa expectativa nos mudamos para So Paulo. Os aluguis estavam altos; alm disso tnhamos dificuldades em conseguir um bom fiador, pois ramos desconhecidos na cidade. Finalmente, achamos um casal maravilhoso que nos alugou uma casa perto do Aeroporto. No exigiu fiana. Bastaram os meus documentos. Assinamos o contrato e nos instalamos. Nossa vida parecia perfeita e mais ainda com a chegada de nossa primeira filha, Patrcia. Em 14 de janeiro de 1970 me apresentei no II Exrcito, pronto para o servio. Fui designado para estgio na 2a. Seo do Estado-Maior (Informaes). Patrcia comeou a ter problemas de sade. Dois pequenos tumores em seu pescoo que depois foram crescendo. No conseguia mamar. Emagrecia dia-a-dia. Teve incio, ento, a nossa via crucis nos mdicos, sem qualquer soluo, com vrios diagnsticos como doena de Hdkin, tuberculose ganglionar, etc... Estvamos desesperados. Joseta, como sempre, forte, [..]tando. Eu, havia momentos em que no resistia e chorava. Via minha filha definhando e nada podia fazer. Vivamos ss, numa cidade grande como So Paulo, sem parentes. Passvamos as noites quase em claro. Durante o dia, enquanto Joseta percorria os mdicos, eu trabalhava duro. Era major estagirio, responsvel pelo campo Psicossocial, um setor muito pesado para aquela poca do terrorismo. Patrcia piorava. Finalmente, ela foi examinada por um dos maiores cirurgies infantis de So Paulo. Teria que ser operada com urgncia, segundo o seu diagnstico. O preo seria dado somente aps a cirurgia, que seria exploratria. Resolvi vender meu apartamento de quarto e sala no Leblon, Rio de Janeiro, assim como meu fusquinha 1200, nicos bens que possua, para pagar a cirurgia. Joseta, Patrcia e eu retornamos ao QG do II Exrcito e encontramos o capito Carlos Alberto de Francicis que sugeriu uma ltima tentativa, o Dr. Jos Carlos Fasano. Este a examinou e sugeriu no uma cirurgia exploratria como ia ser feita, mas uma simples puno bipsia, pois diagnosticara o problema como hematoma causado por ruptura do msculo externoclido-mastideo, no momento do parto. E naquela mesma tarde a puno foi feita. Uma semana depois, num Sbado de Aleluia, o Dr. Fasano nos dava a boa notcia. Era simplesmente um hematoma de parto que infeccionara. Patrcia, nesse nterim, tomava as mamadeiras com apetite. Estava salva. Enfim, respiramos aliviados. Graas a Deus e a esse grande amigo e excelente mdico, Dr. Jos Carlos Fasano, devemos a vida de nossa filha. Trabalhando na Seo de Informaes do II Exrcito, eu ia tomando maior contato com as aes terroristas e com as suas conseqncias.

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Com a criao da OBAN, que teve como seu nico comandante o ento Major Waldyr Coelho, o nosso poder de reao comeava a ser sentido. Trabalhvamos mais coordenados. Na verdade, se cada Distrito Policial, ou cada Batalho de Polcia Militar, quando prendesse um terrorista ou subversivo, fosse interrog-lo nas suas dependncias, haveria uma diviso de esforos. Vivamos uma corrida contra o tempo e o desconhecido. A rapidez era vital para se descobrir e neutralizar aes onde mortes e grandes danos materiais poderiam ocorrer. Era muito mais lgico que tudo ficasse centralizado sob um s comando, em um rgo que dispusesse de dados a respeito de cada organizao subversiva, de sua maneira de agir, de nomes e fotografias de seus mais importantes militantes. Por outro lado, como esta era uma guerra sem uniformes, travada nas ruas, onde o inimigo se misturava com a populao, seria extremamente perigoso que organizaes policiais, por falta de coordenao, acabassem lutando entre si, pensando estar atuando contra os terroristas. Estes, utilizando vrios ardis, procuravam explorar as caractersticas dessa guerra suja para colocar em confronto as Forcas Policiais, conforme relata Hlio Syrkis em seu livro Os Carbonrios. Hlio Syrkis, foi militante da VPR, tendo se exilado em 1971. Anistiado regressou ao Brasil em fins de 1979. Bacuri era um dos mais facanhudos. J se safara de vrias situaes incrveis, inclusive um bloqueio de rua da OBAN, abrindo caminho a bala. Vivia bolando golpes de guerra psicolgica, gnero telefonar pro DOPS denunciando um assalto a banco por terroristas fardados de PM e depois ligar pr PM dando o alarme da ao promovida por falsos policiais paisana. Mais de uma vez a coisa acabara em tremenda balaceira entre os homis de gatilho fcil. Bacuri tinha mais de uma morte nas costas e estava jurado pela represso. amos nos estruturando cada vez mais quando caiu, isto , foi preso C.O., o Mrio Japa. A sua queda provocou o seqestro do Cnsul-Geral do Japo em So Paulo, Sr. Nobuo Okuchi, em 11 de maro de 1970. O perodo do seqestro foi de intenso trabalho. Logo a seguir, atravs de interrogatrios, em abril de 1970, tomamos conhecimento de que a VPR, sob o comando de Carlos Lamarca, havia instalado uma rea de treinamento de guerrilheiros no Vale da Ribeira, no Sul do Estado de So Paulo. Nossos esforos foram ento direcionados para neutralizar esta rea que poderia transformar-se em foco de guerrilha. Os meses foram passando e o nosso trabalho na 2a. Seo do II Exrcito se tornava cada vez mais pesado. Em maio fui chamado por meu chefe, que me sugeriu ocupar um apartamento funcional, no prdio do Exrcito, na Avenida So Joo. Disse-me o coronel que as aes terroristas estavam se intensificando e o local onde eu residia era por demais inseguro, no s para a minha famlia, como para mim. Falei, ento, com o proprietrio que, to gentilmente me alugara a sua casa. Paguei as multas relativas quebra do contrato e devolvi-lhe a casa aps pintar todo o seu interior, deixando-a nas mesmas condies em que a recebera. Agora j estava bem relacionado com a Comunidade de Informaes, que todas as quartas-feiras se reunia no QG do II Exrcito. Nessas reunies eram discutidas e avaliadas todas as aes terroristas da semana. Comentando os nossos acertos e os nossos erros, fazamos uma crtica construtiva de tudo o que se passara. Colhamos ensinamentos e coordenvamos o procedimento de cada rgo. Nelas tomavam parte o Chefe da 2a. Seo do II Exrcito, o Comandante da OBAN, um representante da 2a. Seo do II Exrcito (normalmente eu), o oficial chefe da 2a. Seo do IV Comando Areo Regional, o chefe da 2a. Seo do Distrito Naval, o chefe da 2a. Seo da Polcia Militar do Estado de So Paulo, um representante da Polcia Federal, um representante da Diviso de Ordem Social do DOPS, um representante da Ordem Poltica do DOPS. Foi nessa ocasio que conheci o Dr. Romeu Tuma, de quem, posteriormente, me tornei amigo. Tuma, ento delegado de 5a. Classe, assessorava o Diretor de Ordem Social do DOPS e comparecia s reunies da Comunidade.

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As prises dos terroristas foram acontecendo em ritmo crescente. Enfim, comevamos a dar uma resposta altura s aes terroristas da Guerra Revolucionria. Os p