ROGÉRIO SILVÉRIO DE FARIAS · Estávamos longe da costa, agora. Exaustos, porém vivos, agarrados...

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ROGÉRIOSILVÉRIODEFARIAS

OULTIMATODEOANNES

FREEBOOKSEDITORAVIRTUAL–NOSSOSAUTORES

TERROR-HORROR-FANTASIA

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Título:OULTIMATODEOANNES

Autor:RogérioSilvériodeFarias

Imagemdacapa:WilliamWaterhause(1849-1917)

Paísdeorigem:Brasil

Leiautedacapa:Canva

Série:NossosAutores–vol.5

Editor:FreeBooksEditoraVirtual.

Site:www.freebookseditora.com

Direitos:©RogérioSilvériodeFarias.Todososdireitosreservados.Proibidaareproduçãosemautorizaçãopréviaeexpressadoautor

Ano:2017

Sitesrecomendados:

www.triumviratus.net,www.contosdeterror.com.br

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SumárioOULTIMATODEOANNES

SOBREOAUTOR

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OULTIMATODEOANNES

Não sei exatamente durante quanto tempo permaneci semiconsciente,boiandoaosabordasondas,agarradoàqueleprovidencialtroncodepalmeira.Estoumeioquemontado,meioquedeitadosobreotronco,emalperceboqueo sol vai nascendo esplendidamente no longínquo horizonte, refletindo naságuasseusbelosmatizesáureoseígneosdemajestosaclaridade.

EstounavastidãodomardeAndaman,pertodeKhaoLak,nosudoestedaTailândia.

MeunomeéTonyCegalla,eseiquesouosobreviventedeumpesadelofantástico e atemorizante, de um horror inimaginável urdido pelas mãosinclementesdeumaforçaalémdeminhacapacidadedecompreensão.

Omar está calmo e, paulatinamente, minha memória vai clareando, eentão vou lembrando tudo, dispersando as nuvens plúmbeas do horror queaindaassombramminhaalmaatemorizada!...

***

Turistasestavampasseandodespreocupadamentepelasareiasdaexótica

praiadeKhaoLak,nasproximidadesdocentrodaprovínciadePhuket.Dentreeles,estoueu,minhaesposaLorraineemeufilhoBob,denoveanos.TambémhaviaKimbo,umpequenoeirrequietoairedaleterrier.

Souescritor,eestavaali,emfériascomafamília,naTailândia.

Lembro que Kimbo brincava com uma bola vermelha, enquanto Bob,observado por Lorraine e eu, construíametodicamente um castelo de areia,bemali,nabeiradapraia,utilizando-seumpequenobaldeeumapádeplásticoamarelo. Kimbo começou a latir alto, pressentindo nervosamente algo deestranhoeaziagonoar.De repenteolhamosparaomar,eoquevimosnosparalisoudemedo.Eraohorror,eelevinhadomarnaformadegigantescaonda. Na verdade o terrível tsunami que entraria para a História naquelefatídico 26 de dezembro de 2004, assinando com a tinta da morte suapassagemassassinapelaCostadeAndaman.

O tsunami parecia uma colossalmão do gigante líquido que é omar,dandoumsafanãonaspessoas,queeramcomoinsetosminúsculosanteaforçadavagadestruidoradamorte.

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Em pânico, nadei e gritei por Bob e Lorraine. Então Lorraine, comesforço,conseguiusegurar-seemminhamão,àmedidaquetodosnóséramosarrastadoscomolenhosnoinfernodaságuas.

Vipessoas,cadeiras,destroçossendoarrastados.

Todavia, o pior estava por vir. Após entrar terra adentro, destruindotudo,agoraotsunamivoltavaloucamente,numrepuxovertiginoso,arrastandoelevando-nosparaomar.

LorrainegritavaporBob.Tentandoinsuflaremminhaesposaumpoucodeesperança,griteiaelaqueBobdeviaestarbem,poissabianadar,apesardesuapoucaidade,eemmeuíntimoabençoeiodiaemqueomatriculeinaauladenatação,nasúltimasfériasemOrlando.

Foi neste instante que avistei minha tábua de salvação, o tronco depalmeira que flutuava ao acaso nas águas. Como eu já estivesse exausto detanto nadar e boiar agarrei-me ao tronco, conseguindo puxarLorraine pelobraçoatéjuntodemim,nomomentoexatoemqueela,fatigada,afundava.

***Caíramastrevasdanoite,porémagoraumaimensaluacheiailuminava

asuperfícieondulantedomar,talquallâmpadademajestosaesperança.

Estávamos longedacosta,agora.Exaustos,porémvivos,agarradosaotroncoflutuante.

Aoluar,víamos,comprofundohorror,corposboiando.Eramcorposdevelhos,mulheresecrianças;turistas,pescadores,aldeões.Gentequeotsunamiinfernal carregara, no repuxo infernal das águas. Era como se boiássemosnumcemitérioaquáticodehorrorpleno!

Aosurgirumnovodia,veioasede,aqualnosmartirizavaaindamais.Lorraine parecia, além de atônita, perto do poço negro do desespero,

devidoaofatodosumiçodeBobnaságuasdomar.

Derepenteminhaesposasentiunasceremforçasdentrodesiaoavistardoisobjetos,obaldeeapequenapádeplástico.Semmedirasconsequências,Lorrainelargoudotroncoenadoucomsuasúltimasforçasatéosbrinquedosqueboiavam,masqueestavammaislongedoquesupúnhamos.

Entãoeuaperdidevistaquandoumaondamaisaltalevantou,ecomeceia chorar, pronto parame entregar àmorte, pois não tinhamais forças paraprocurá-la.

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Devo então ter desmaiado ou entrado num estado de delírio oualucinação,pelomenoséoquemeuladocéticoafirmahojeemdia.

E ali estava eu, sozinho, boiando sobre um tronco na assustadora eondulantesolidãodooceano.

Talveztenhaentradonumaespéciedefebredelirantedevidoaocansaçoeafaltadeágua,poisvivencieiumasériedeaventurasemespéciesdedelíriosoupesadelosvívidos,estranhosereaisdemais.

Vi, à luz exangue de uma lua parcialmente nublada por nuvens

pardacentas, emergindo das profundezas, como espectros dos mistérios dofundo do mar, uma legião assustadora de fantásticas criaturas, que maispareciamdevas ou elementaisdos oceanos, mitológicos seres ou entidades,metadepeixe,metademulherouhomem,algoassimcomosereiasoutritões.Eram criaturas espantosas, de semblante grave, quase todas nadando oumontadas em animais semelhantes a hipocampos gigantescos, que pareciamcavalgar ou galopar por sobre as ondas. Então, um desses seres, que porúltimoemergiradasprofundezaspelágicas, sedirigiuamim,numaemissãocontínuadeexortaçõestelepáticas,algocomoumultimatoterríveleferoz.Ea“vozpsíquica”daquelesertitânico,colossalesobrenatural,ressoouemminhamentecomoabulhademilondasoucomoorugidobestialdemilleviatãsdosmares revoltosdo inferno.Esoube,então,queestavadiantedeumsermaisantigoqueoHomem,queemerasantiquíssimasdaTerraforaadoradosobonomedePoseidonouNetuno,DagonouOannes.

Assimsepronunciavaoportentosoegigantescoreidomar:“Ó vil criatura vivente da superfície! Homem das regiões secas!... O

povo do augusto abismo das águas clama por mais guerra, todavia euproclamo um ultimato à vossa raça infame! Vós deveis avisar aos vossossemelhantes que os oceanos emares são reinos habitados pormuitas raças,povosqueestãoaquidesdeaauroradomundo!...Émisterquevóscessaiscoma poluição das águas dosmares, bem como com todo nefando experimentoatômico e nuclear, que os líderes de vossa civilização realizam ocultamentenas regiões do alto pélago, lar do Povo das Profundezas! Que os néscioshomens da superfície cessem com suas paranoias e megalomanias, docontrário nós, dos reinos do fundo do mar, seremos forçados a entrar emguerra convosco. A grande onda que vos enviei foi um mero aviso, umultimato!”

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Aterrorizado,perdidetodoaconsciência...

***

Agora,aodespertarparaumnovodia,eis-meaqui.

Pestanejei aoouvir latidos emplenomar, emal pude acreditar noquevia. Sobre um grande pedaço de madeira que funcionava como jangadaimprovisada, estavamBob,Lorraine eKimbo,vivos, ao lado de umhomemmagro, um tailandês, que, com um pedaço de pau, remava energicamente.Naquele instante passei a crer emmilagres e em forças além da capacidadehumanadecompreensão,e,sobretudopasseiarespeitaromareseusmistériosmilenares.

Soube,então,queo tailandêssechamavaThomburi,eelesalvaraBob,Kimbo e Lorraine; ele próprio sobrevivera, também, ao repuxo do tsunamiinfernalquenoslevaraatodosaomaralto.

Eueminhafamíliaestávamostodosesperançosos,enãodemoroumuitotempoparaaparecerdiantedenósumbarcodesalvamento.

Thomburieeugritamoseacenamos,elogodobarcodesceuumescalercommarinheirosquesedirigiramaténossajangadaimprovisada.Finalmenteestávamossalvos.

Masatéhoje,emnoitesdechuva,tenhosonhosfantásticoscomOanneseseu ultimato. Eis porque resolvi escrever meu próximo livro, enfatizandoquestõesambientaisqueprotejamomaretodasascriaturasvivasefantásticasquehabitamsuasmisteriosas,profundas,antigaseimemoriaiságuas!

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SOBREOAUTOR

Catarinense deTubarão,Rogério Silvério de Farias é autor de ficção científica, horror e fantasia.Oficcionista tem se destacado com seu estilo sombrio e fantástico, criando contos, novelas e romancesextraordinários e insólitos, ondequase sempreo sobrenatural aparece comoelemento assustadoramenteinquietante,comlevespitadasdeficçãocientífica.