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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL RODRIGO CHERNHAK A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE CATÓLICA NA CIBERCULTURA: UM OLHAR SOBRE A IGREJA E OS JOVENS DE CAXIAS DO SUL CAXIAS DO SUL 2015

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

RODRIGO CHERNHAK

A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE CATÓLICA NA CIBERCULTURA:

UM OLHAR SOBRE A IGREJA E OS JOVENS DE CAXIAS DO SUL

CAXIAS DO SUL

2015

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RODRIGO CHERNHAK

A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE CATÓLICA NA CIBERCULTURA:

UM OLHAR SOBRE A IGREJA E OS JOVENS DE CAXIAS DO SUL

Monografia apresentada ao Curso de

Comunicação Social – habilitação em

Jornalismo, da Universidade de Caxias do

Sul, para obtenção do grau de bacharel.

Orientadora: Ma. Prof. Adriana dos Santos Schleder

CAXIAS DO SUL

2015

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RODRIGO CHERNHAK

A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE CATÓLICA NA CIBERCULTURA:

UM OLHAR SOBRE A IGREJA E OS JOVENS DE CAXIAS DO SUL

Monografia apresentada ao Curso de

Comunicação Social – habilitação em

Jornalismo, da Universidade de Caxias do

Sul, para obtenção do grau de bacharel.

Aprovado em: 02/12/2015.

Banca Examinadora

Prof. Ma. Adriana dos Santos Schleder

Universidade de Caxias do Sul

Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann

Universidade de Caxias do Sul

Prof. Me. Jaime Bettega

Universidade de Caxias do Sul

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Dedico esta monografia a todos os jovens católicos que, tocados pela experiência pessoal com Cristo, assumem seu lugar no barco da evangelização e arregaçam as mangas para remar contra a corrente do mundo. Que este trabalho seja um feixe de luz na árdua e apaixonante missão de comunicar o caminho, a verdade e a vida.

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AGRADECIMENTOS

O dom da vida e as maravilhas que se desenrolam desde o despertar até o

crepúsculo dos dias agradeço a Deus Pai. O dom do amor e o coração ardente

agradeço ao Espírito Santo e à sua ação transformadora.

A Jesus Cristo agradeço a fraterna companhia e a mão estendida que me

oferece dia após dia na oportunidade de segui-Lo. Agradeço a Ele, o mestre, o pilar

da fé que me inspira a potencializar 100% da humanidade que habita em mim.

Agradeço ao meu pai guerreiro, Adalberto Jorge Chernhak, por seu exemplo

de honestidade e dedicação em dar-me o que eu precisava e não o que eu queria.

Agradeço à minha mãe zelosa, Irene Chernhak, por ser a guardiã de nosso lar e por

transmitir a paz, o amor e o conforto que somente uma mãe por vocação é capaz.

Agradeço ao meu irmão Diego Chernhak, grande incentivador da minha trajetória

acadêmica e profissional, porto-seguro das incertezas e braço direito para

absolutamente tudo.

Agradeço à Jéssica Giacomet, presença apaziguadora dos meus medos, fiel

escudeira de minhas empreitadas cuja sintonia de mente alcança também o lado

esquerdo do peito, alimentando o desejo de construir uma sociedade mais justa,

solidária e sorridente.

Agradeço ao Encontro de Jovens Amigos com Cristo (EJA) por ser a ponte

que leva ao paraíso, onde tudo começou a fazer sentido. Agradeço à família

ComMissão Jovem por unir fé e comunicação a serviço da juventude católica da

Diocese de Caxias do Sul, expandindo e fortalecendo a unidade em meio às

diferenças. Agradeço ao padre Rudinei Zorzo por apostar e ―botar fé‖ em todos

aqueles que não tinham voz e agora são notados. Agradeço ao padre Ezequiel Dal

Pozzo por proporcionar um rumo alternativo e pleno à minha carreira comunicacional

dentro da Igreja Católica.

Agradeço ao seminarista e jornalista Elton Marcelo Aristides pela partilha do

seu conhecimento. Agradeço aos amigos do peito, numerosos e valorosos, que

torcem por mim desde sempre. Por fim, agradeço à minha orientadora, professora

Adriana Schleder, por mergulhar na pesquisa e acreditar mais que o próprio

pesquisador nos frutos desta monografia. O olhar crítico, o cuidado com os detalhes

e a paixão pela profissão foram combustíveis permanentes para o êxito tão

perseguido.

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Não basta circular pelas estradas digitais, isto é, simplesmente estar conectado: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura

Papa Francisco, em discurso no 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais

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RESUMO

O objetivo do trabalho é refletir sobre a evangelização dos jovens pela Igreja

Católica dentro do contexto da cibercultura. Para investigar o tema, a pesquisa

realizou-se na área central e na periferia de Caxias do Sul, especificamente nas

paróquias Santa Tereza (Catedral) e Santa Fé, onde foi desenvolvida pesquisa

etnográfica, com observação participante em dois grupos de jovens e aplicação de

questionários para os crismandos, além de entrevistas em profundidade com

lideranças religiosas locais e revisão bibliográfica. O resultado aponta que estar ativa

na Internet é importante para a Igreja Católica ficar próxima aos jovens e tornar sua

mensagem atrativa. No entanto, o encontro presencial deve prevalecer em

detrimento aos relacionamentos e experiências de fé mediados por ferramentas de

comunicação online.

Palavras-chave: Igreja Católica. Comunicação. Cibercultura. Juventude.

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ABSTRACT

The objective is to discuss the evangelization of the young by the Catholic Church

within the context of cyberculture. To investigate the issue , the survey was

conducted at the center and on the outskirts of Caxias do Sul, specifically the

parishes Santa Tereza (Cathedral) and Santa Fe, where ethnographic research was

conducted with participant observation in two groups of young people and

questionnaires the Confirmation candidates, and interviews with local religious

leaders and literature review. The result points to be active on the Internet is

important for the Catholic Church to be close to young people and make your

message attractive. However, the physical meeting should prevail to the detriment of

relationships and faith experiences mediated by online communication tools.

Keywords: Catholic Church. Communication. Cyberculture. Youth.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10

2 IGREJA CATÓLICA E COMUNICAÇÃO............................................................. 12

2.1 TEOLOGIA DA COMUNICAÇÃO....................................................................... 12

2.2 COMUNICAÇÃO A PARTIR DO VATICANO..................................................... 15

2.2 COMUNICAÇÃO NA IGREJA CATÓLICA BRASILEIRA................................... 18

3 O CIBERESPAÇO E O IMPACTO DAS REDES DIGITAIS................................ 23

3.1 A FÉ CATÓLICA NA CIBERCULTURA: DESAFIO DA EDOCOMUNICAÇÃO.. 29

3.2 UM EXEMPLO CATÓLICO DO USO DAS MÍDIAS............................................ 38

4 A EVANGELIZAÇÃO DOS JOVENS IMERSOS NA CULTURA DIGITAL.......... 40

4.1 UM RETRATO DA JUVENTUDE ATUAL........................................................... 40

4.2 OS HÁBITOS DE CONSUMO MIDIÁTICO DOS BRASILEIROS....................... 42

4.3 A INTERAÇÃO ENTRE JOVENS E O MUNDO DIGITAL.................................. 54

4.3.1 Exemplos de comunicação digital dos jovens católicos.......................... 56

5 METODOLOGIA................................................................................................... 63

5.1 PESQUISA ETNOGRÁFICA.............................................................................. 63

5.1.1 Revisão bibliográfica.................................................................................... 65

5.2 TÉCNICAS......................................................................................................... 66

5.2.1 Observação participante.............................................................................. 66

5.2.2 Diário de campo do grupo São Luiz Gonzaga............................................ 67

5.2.3. Diário de campo do grupo Unidos Pela Fé................................................ 77

5.2.4 Entrevistas..................................................................................................... 81

5.2.5 Entrevista em profundidade......................................................................... 81

5.2.6 Questionário.................................................................................................. 84

6 O DIÁLOGO DA IGREJA CATÓLICA COM A JUVENTUDE NO TEMPO DAS

CONEXÕES DIGITAIS............................................................................................. 85

6.1 OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO NA CATEQUESE............................... 85

6.1.1 Perfil dos crismandos da paróquia Santa Fé.............................................. 88

6.1.2 Perfil dos crismandos da paróquia Santa Tereza..................................... 88

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6.1.3 A comunicação como fortalecimento do vínculo jovem-catequese-Igreja

................................................................................................................................. 90

6.1.4 Catequistas: uma preocupação constante na evangelização de crianças e

adolescentes.......................................................................................................... 92

6.1.5 A comunicação digital como instrumento de fidelização dos crismandos

.................................................................................................................................. 94

6.2 TECNOLOGIA X COMUNICAÇÃO FACE A FACE - A PREVALÊNCIA DA

CULTURA DO ENCONTRO NA EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE.................. 97

6.2.1 Perfil dos frequentadores do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga........ 99

6.2.2 Perfil dos frequentadores do grupo de jovens Unidos Pela Fé.............. 100

6.2.3 A evangelização da juventude: uma dificuldade reconhecida pela Igreja

................................................................................................................................ 101

6.2.4 Jovem: a melhor ferramenta de evangelização de outro jovem.............. 104

6.3 LANÇANDO A REDE NAS REDES - A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA

CIBERCULTURA..................................................................................................... 109

6.3.1 A comunicação virtual nos grupos de jovens........................................... 112

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 120

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 124

APÊNDICES........................................................................................................... 127

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1 INTRODUÇÃO

O tema escolhido para o presente trabalho busca analisar como a Igreja

Católica utiliza a comunicação, inserida no contexto da Cibercultura, para

desenvolver a sua principal missão: a evangelização. A instituição em questão

possui incontáveis ramificações a partir de seu centro, no Vaticano, se estendendo

por todos os continentes e adotando particularidades de acordo com os lugares

onde está estabelecida, que se desdobram ainda em múltiplos segmentos. Por isso,

para essa investigação, foi necessário separar um recorte da realidade local para

aprofundamento da proposta de pesquisa.

Dentro do campo comunicacional, a análise também poderia se voltar para

tantos vieses. Assim, com a intenção de extrair os máximos benefícios que a

comunicação pode oferecer ao ser envolvida no relacionamento entre uma

instituição e seus públicos, optou-se pelo termo cibercultura. A interação

interpessoal mediada pelos meios de comunicação digitais está tão difundida na

realidade atual que se tornou intrínseca ao conceito de sociedade. Já não é mais

possível lançar qualquer olhar analítico sem passar pelas tecnologias da

comunicação e sua interferência no modo de vida das pessoas. Mais do que

ferramentas de relacionamento e entretenimento e mais do que facilidades na

educação e transformações no mercado de trabalho, a popularização do acesso à

Internet protagonizou uma verdadeira revolução digital, que está incorporada à

forma de vida dos indivíduos. Tornou-se componente da cultura urbana.

A partir dessa compreensão, a Igreja Católica necessita saber se inserir na

cibercultura para potencializar o seu papel de levar a mensagem de Jesus Cristo

adiante e também melhorar a imagem bastante afetada por polêmicas em camadas

internas envolvendo seus dogmas e atitudes do clero.

Ao abordar a comunicação eclesial, não há público mais relevante que os

jovens, principais utilizadores das mídias digitais e os que mais absorvem os

resultados dessa digitalização social. Além disso, a juventude acumula um papel

bastante particular dentro da Igreja Católica, uma vez que não são todos os

religiosos e líderes eclesiais que sabem lidar eficientemente com os jovens, o que

gera uma segregação e o afastamento desse público. Essa realidade, quando

ocorre, é bastante grave, pois coloca em cheque a existência futura da Igreja

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Católica.

Por tudo isso, a pesquisa aqui introduzida nutre a pretensão de gerar reflexões

e apontar caminhos para que as lideranças católicas utilizem a comunicação de

forma eficiente no contato com os jovens. Para avançar nesse campo, se faz

necessário conhecer o que os jovens pensam e sentem em relação à instituição

para, a partir daí, diagnosticar as ações realizadas pela Igreja e propor melhorias na

área da comunicação, seja ela por meio de ferramentas digitais ou até mesmo face a

face.

Para desenvolver o trabalho, será utilizada a pesquisa etnográfica, com o

intuito de realizar uma imersão no ambiente da juventude católica a fim de investigar

de perto o que acontece na própria estrutura eclesial. Dentro da etnografia, serão

utilizadas as técnicas de observação-participante, entrevistas em profundidade e a

aplicação de questionários.

O objetivo maior do estudo e que contempla a questão norteadora é analisar

como a Igreja pode fazer uso da cibercultura para evangelizar os jovens de Caxias

do Sul. Dentro dessa proposta, será preciso apontar quais as estratégias de

comunicação utilizadas pela instituição ao lidar com esse público e também se faz

necessário coletar dados para saber o que os jovens pensam sobre a Igreja,

buscando elucidar a relação estabelecida entre ambas as partes. Esses dois pontos

serão abordados dentro do contexto cibercultural, que diz respeito ao mundo

conectado pela Internet e suas implicações estruturais e comunicacionais na

sociedade.

Tem-se como hipóteses pré-estabelecidas que a Igreja Católica não possui

uma comunicação eficiente com os jovens e que as lideranças religiosas não

utilizam estratégias de comunicação que atraiam esse público. Como ponto de

partida, a terceira hipótese é de que a digitalização pode ser grande aliada da Igreja

para estabelecer um diálogo constante e eficaz com a juventude, principal público

impactado por ela.

O trabalho está dividido em seis capítulos: Igreja Católica e comunicação; o

ciberespaço e o impacto das redes digitais; e a evangelização dos jovens imersos na

cultura digital, além da metodologia e análise do corpus da pesquisa e

considerações finais.

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2 IGREJA CATÓLICA E COMUNICAÇÃO

O primeiro capítulo iniciará com o entendimento doutrinal da Igreja Católica

sobre a comunicação. Será abordada a Teologia da Comunicação, com um resgate

aos primórdios do Cristianismo para mostrar que, na visão cristã, Jesus Cristo é o

modelo de comunicador a ser seguido. Além disso, o ato de comunicar está na

gênese dessa religião por conta da missão dos primeiros apóstolos em anunciar o

Evangelho e transmitir as palavras de Deus conforme consta na Bíblia Sagrada.

Neste capítulo também será mostrada a evolução da compreensão da Igreja

Católica quanto aos meios de comunicação social a partir dos documentos oficiais

publicados pelo Vaticano. A instituição milenar nutria, inicialmente, um pensamento

de restrição quanto à utilização das mídias. Hoje, é uma incentivadora dos

benefícios comunicacionais que as redes sociais digitais podem trazer.

Por fim, será exposto o que a Igreja Católica brasileira possui de mais recente

orientação quanto à comunicação a partir do Diretório de Comunicação da Igreja no

Brasil, documento publicado em 2014 pela Confederação Nacional dos Bispos do

Brasil (CNBB) e que atualiza o olhar eclesial das últimas duas décadas no país,

contemplando o público jovem através de deliberações referentes à digitalização das

tecnologias de comunicação.

2.1 TEOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

A comunicação, sob a ótica da Igreja, abrange muitas considerações e

permite profundas interpretações, como a de que a vinda de Jesus Cristo à Terra é a

maior comunicação de Deus para com os homens. ―O Verbo encarnado, em sua

comunicação, manifesta a grandeza, a profundidade e a beleza do amor de Deus à

humanidade. É próprio do ser de Deus ser relação, comunicar-se‖ (DIRETÓRIO DE

COMUNICAÇÃO DA IGREJA NO BRASIL, 2014, p. 5). Logo, ―por ser imagem e

semelhança de Deus, o homem é comunicação e é participação da ‗mostração‘ de

Deus: comunhão‖. (DIRETÓRIO... 2014, p. 5). Portanto, está na gene do ser

humano a comunicação. A Igreja Católica, sustentando a crença de que o homem é

criação divina, acredita que a comunicação é dom de Deus. Com a sua fé e dogmas

alicerçadas na Bíblia Sagrada, a Igreja Católica afirma que existe para evangelizar,

isto é, vivenciar e divulgar o Evangelho, o que remete diretamente à comunicação,

visto que "evangelizar é comunicar a boa nova, a realização do Reino de Deus em

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Jesus Cristo‖ (DIRETÓRIO..., 2014, p. 6). Indo mais adiante, tem-se um escrito de

Santo Agostinho, a partir do Prólogo de São João, sobre a comunicação do

Evangelho.

Se quero, porém falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu. Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu coração, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra; e quando te fez entende-la, esse som desaparece, mas a palavra que te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu. Não te parece que esse som, depois de haver transmitido minha palavra, está dizendo: é necessário que ele cresça e eu diminua (Jo 3,30)? (Sermões, Santo

Agostinho apud DIRETÓRIO..., 2014, p. 6, grifo do autor).

Mestre em Comunicação e Semiótica, doutor em Ciências Humanas e doutor

em Teologia, o autor Tarcisio Justino Loro é estudioso da Teologia da Comunicação.

Ele afirma que

o fenômeno da comunicação humana pela ótica da fé se apresenta arraigado no mistério da Trindade: ‗Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou‘ (Gn 1, 27). Assim sendo, não é difícil admitir que nosso paradigma de comunicação se encontre no interior da vida divina. (LORO, 2011, p. 61).

A Trindade citada é a Santíssima Trindade: Pai (Deus), Filho (Jesus Cristo) e

Espírito Santo, a tríade da fé cristã, tida como exemplo de perfeita comunhão e

relação. É um só Deus e três pessoas. Outros pesquisadores da Teologia da

Comunicação, Fernando Altemeyer Junior e Vera Ivanise Bombonatto refletem que

―o Pai gera o Filho, o Filho é gerado, e o Espírito Santo procede de ambos. Entre as

três pessoas há uma relação de comunhão, e a unidade reside na comunicação que

existe entre elas‖ (BOMBONATTO; JUNIOR, 2011, p. 112). Na Bíblia, Jesus refere-

se muitas vezes à sua relação com o Pai, como ao dizer ―eu estou no Pai e o Pai

está em mim‖ (João 14: 11). Para entender melhor, a teologia explica que

Deus não limitou a sua comunicação à mediação da palavra ou da imagem. Ele a levou até o limite insuspeito da encarnação. Deus assumiu a condição humana, encarnou-se, para que um homem, Jesus de Nazaré, fosse pessoalmente a palavra e a imagem do Deus invisível. Na encarnação, a Palavra e a imagem adquirem toda a sua função reveladora e comunicadora. A encarnação é o nível mais alto da comunicação entre Deus e o homem. Em Cristo, Deus dá-se a conhecer plenamente. Ele é a exegese de Deus. Já não é mais possível o acesso ao conhecimento e à comunicação com Deus, se não for através de Jesus, o Cristo (DIEZ, 1997, p. 224 apud LORO, 2011, p. 62).

Jesus é denominado Verbo encarnado, pois ―no princípio era a Palavra, e a

Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus‖ (BÍBLIA, João 1:1). Com a

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presença do Cristo na Terra, o diálogo entre Deus e os seres humanos foi

aprimorada. ―A palavra se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória,

glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade‖ (BÍBLIA, João 1:14). Esta

forma de anunciar os ensinamentos de Deus resultou em uma estrutura dinâmica,

envolvente e interativa, pois ultrapassou a comunicação verbal, escrita ou simbólica

conhecida até então, já que Jesus

[...] utiliza os mesmos códigos dos interlocutores, mergulha na cultura de seu povo e faz da linguagem humana e de todo o seu ser, emoções, sentimentos, desejos, gestos e atitudes, instrumentos ou canais para transmitir a mensagem da salvação (LORO, 2011, p. 62-63).

Nesse contexto, Loro (2011) se vale da antropologia e da semiótica para

definir Jesus como o perfeito comunicador, uma vez que ele próprio foi a

comunicação de Deus, atingindo a plenitude do diálogo divino com os homens. Para

os comunicadores da Igreja, ele é o referencial teórico e prático, o modelo para a

comunicação. A partir da aceitação de Cristo como comunicador por excelência,

pode-se refletir e construir uma teologia da comunicação.

A Bíblia, livro sagrado para os católicos, pode ser lida como a história da

comunicação entre Deus e os seres humanos, sendo que ―revelação, aliança e

profecia são três coordenadas da comunicação na história da salvação‖

(BOMBONATTO; JÚNIOR, 2011, p. 110).

Uma compreensão da comunicação na história do cristianismo é abordada

por Joana Puntel no livro Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática

(2010), a partir da vivência de São Paulo. Hoje considerado santo pela Igreja

Católica, o apóstolo passou de perseguidor de Jesus a um seguidor fervoroso após

encontrar com ele e ter sua vida transformada. Primeiro, precisou sofrer uma

experiência profunda para depois externar a sua identidade cristocêntrica com

maestria e se tornar um dos maiores propagadores do cristianismo, fundando as

primeiras comunidades cristãs e recorrendo ao meio de comunicação existente na

época para evangelizar: a carta. Reconhecidamente, ele escreveu 13 longas cartas,

destinadas a comunidades cristãs ou a pessoas específicas. Então, a comunicação

pode se tornar fato externo, ser expressa após ser algo vivido internamente.

Puntel (2010) diz que o apóstolo Paulo foi um missionário, levando até o fim

de sua vida a divulgação do Evangelho. Além dos judeus, teve contato com os

gregos e os gentios. Passou por metrópoles, enfrentou tribunais e audiências

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defendendo suas ideias, enfim ―Paulo criava as estratégias necessárias para que o

Evangelho chegasse a todos‖ (PUNTEL, 2010, p. 233). Então, se Jesus é

considerado pelos teólogos da comunicação o comunicador perfeito e Paulo um

modelo de divulgador da mensagem do Evangelho, é relevante citar que a

comunicação e as estratégias inerentes a ela estão na gênese da Igreja Católica.

Dito isso, é preciso avançar no tempo e analisar o que, de fato, a instituição trata

sobre o tema na atualidade.

2.2 A COMUNICAÇÃO A PARTIR DO VATICANO

A Igreja e a mídia vivem um caso de amor e ódio desde o princípio. Se hoje a

instituição Igreja como um todo, a partir do Vaticano, traça diretrizes e propostas de

como utilizar os mass media1 para cumprir sua missão evangelizadora, nem sempre

foi assim. Conforme aborda Brenda Carranza, em sua obra intitulada Catolicismo

Midiático (2011), o primeiro documento oficial da Igreja Católica sobre comunicação

foi lançado em 1487, motivada pela preocupação moral, desconfiança política e

suspeita ética causadas a partir da revolução estabelecida pela prensa de Johann

Gutemberg, aparelho que permitiu a impressão em massa de livros, jornais e outras

publicações.

De acordo com Puntel (2010), o então Papa Inocêncio VIII publicou naquele

ano o Inter multiplices, documento que definia o pensamento da Igreja sobre os

meios de comunicação impresso e como abordá-los. A imprensa, recentemente

inventada, era vista como uma ameaça ao controle eclesiástico da produção cultural

de seu tempo, de tal forma que os livros suspeitos de heresia eram examinados pela

Inquisição e proibidos se considerados perniciosos ou até mesmo queimados, assim

como as pessoas que se recusassem a mudar suas crenças.

A postura da Igreja começou a mudar a partir do pontificado de Leão XIII

(1878-1903), que decidiu opor o escrito com o escrito, a publicação com a

publicação, permitindo uma maior liberdade de expressão. Já sob a liderança de Pio

XI, em 1928, a Igreja apresentou resultados práticos, como a criação da

Organização Católica Internacional para o Cinema (OCIC) e a fundação da rádio

1 Os mass media são os meios de comunicação social. Podem ser definidos como um conjunto de

técnicas de difusão de mensagens destinadas ao grande público, tais como a televisão, a rádio, a imprensa, o cartaz, etc. (Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-2015. Disponível em: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/massmedia. Acesso em: 25 out. 2015).

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Vaticana, em 1931. Apesar desses e de outros significantes avanços, demorou até o

final da década de 1950 para o Vaticano assumir, de uma vez por todas, a

comunicação social como instrumento benéfico de construção de imagem e difusão

da doutrina católica. Em 1957, Pio XII escreveu a encíclica Miranda Prorsus, o

primeiro grande documento sobre a comunicação, destacando a utilização do

cinema, rádio e televisão. Nesse caminho, houve sérias dificuldades por parte do

clero em reconhecer os valores positivos dos meios de comunicação e o seu

potencial de serviço à sociedade (PUNTEL, 2010).

Em 1962, ocorreu o Concílio Vaticano II, uma assembleia de bispos de todo o

mundo convocada pelo Papa João XXIII, que apontou caminhos a serem trilhados

envolvendo todas as esferas eclesiais, desde o jeito dos padres celebrarem as

missas, passando pela organização de comunidades, posicionamento diante de

temas polêmicos e incluindo, de forma inédita, a comunicação. Nesse contexto,

nasceu o decreto Inter mirifica, aprovado em 4 de dezembro de 1963, incentivando

toda a Igreja Católica utilizar os meios de comunicação social, além de orientar o

clero e os leigos sobre o uso da imprensa. A medida, no entanto, foi alvo de intensas

críticas de jornalistas franceses, alemães e norte-americanos por sua

superficialidade e subjetividade (PUNTEL, 2010).

Depois do Inter mirifica, o papa Paulo VI promulgou, em 1971, a instrução

pastoral Communio et progressio. O documento não possui caráter dogmático, não é

uma encíclica, nem um documento conciliar como o publicado no Concílio Vaticano

II. Escrita pela Comissão Pontifícia para os Meios de Comunicação Social, é uma

atualização no pensamento católico, relevante pela clareza, coerência e praticidade

com que trata a ação da Igreja perante os meios de comunicação. De forma oficial, a

mídia não era mais vista como um perigo, mas como uma força benéfica, também

fugindo do discurso moralista e doutrinal presente no Inter mirifica.

De acordo com Nivaldo Luiz Pessinatti, na obra Políticas de Comunicação da

Igreja no Brasil (1998), na década de 1980, com o pontificado de João Paulo II, a

Igreja apresentou um salto de presença nos meios de comunicação de massa,

passando a investir, principalmente, na criação de emissoras de televisão e rádio e

na produção de programas com o intuito de espalhar a doutrina e alcançar novos

fieis. Aos poucos, o catolicismo mudou seu entendimento e abordagem sobre a

comunicação, tornando-se cada vez mais aberto à utilização dos mass media como

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instrumentos evangelizadores. Apesar das renovações da doutrina católica, hoje,

quatro décadas mais tarde, e ―diante de uma cultura que, mais do que nunca,

substitui o mito do futuro pelo mito do presente, uma religião como o catolicismo

encontra-se necessitada de profundas revisões de suas estratégias‖ (PESSINATTI,

1998, p. 54).

Em 7 de dezembro de 1990, João Paulo II publicou a encíclica Redemptoris

missio, dedicada ao novo enfoque da Igreja no mundo então atual, onde afirmou que

―não é suficiente usar a mídia para difundir a mensagem cristã e o magistério da

Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta 'nova cultura', criada pelas

modernas comunicações‖ (Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1990). Na encíclica,

encontra-se a concretização dessa revolução de pensamento com a citação de uma

metáfora largamente utilizada: areópago, nome dado ao supremo tribunal de justiça

localizado na antiga Atenas, reconhecido pela honestidade e retidão nos

julgamentos e que exercia papel relevante em assuntos políticos e religiosos.

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações […] os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. (Carta encíclica Redemptoris missio, 1990).

Um novo documento da Igreja voltado à comunicação foi publicado 21 anos

depois da Communio et progressio. Em 1992, o mesmo João Paulo II assinou a

instrução pastoral Aetatis novae, chamando pela necessidade da implantação de

uma Pastoral da Comunicação em cada diocese, uma vez que nesse tempo o

mundo vivia a digitalização das comunicações, responsável por profundas

transformações no ecossistema midiático e até mesmo social. Mais quatro

documentos da Igreja sobre a comunicação vieram posteriormente: Ética da

Publicidade (1997), Ética nas Comunicações Sociais (2000), Igreja e Internet (2002)

e Ética na Internet (2002). Esses dois últimos foram lançados no mesmo dia e é o

que existe de orientação mais recente oferecida pelo Pontifício Conselho para as

Comunicações Sociais. Eles serão abordados no capítulo seguinte, contextualizados

dentro da cultura midiática.

A intensa produção, em tão pouco tempo, se comparado a décadas

anteriores a 1990, respalda a atuação da Igreja nesse campo e torna perceptível a

evolução do pensamento eclesial desde o Concílio Vaticano II, buscando um

alinhamento com o modo de viver contemporâneo. Também é importante ressaltar

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que desde o Concílio Vaticano II o Papa escreve uma mensagem anual em alusão

ao Dia Mundial das Comunicações Sociais. Em 2014, o Papa Francisco utilizou um

termo que ganhou grandes proporções, a ―cultura do encontro‖. Em sua reflexão

intitulada Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro, o pontífice

afirma que

uma boa comunicação ajuda-nos a estar mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros. Precisamos de harmonizar as diferenças por meio de formas de diálogo, que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de outros. Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus.

2

A colocação do pontífice fez eco na análise da Igreja Católica brasileira, como

será abordado a seguir.

2.3 A COMUNICAÇÃO NA IGREJA CATÓLICA BRASILEIRA

O que a Igreja Católica brasileira possui de mais recente orientação sobre a

comunicação é um documento lançado em 2014, pelo Conselho Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB), órgão máximo da autoridade eclesial em território nacional.

Trata-se do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. O documento 99, como é

chamado, foi transformado em livro e apresenta diretrizes às dioceses, paróquias,

comunidades, religiosos e leigos de como se utilizar de uma comunicação eficiente

para expandir a evangelização ocorrida dentro dos templos.

No entendimento do diretório ―a palavra comunicação provém do latim com-

munus, aquilo que é compartilhado, ou seja, um dom pessoal ofertado a outro ou um

dever de todos para com todos‖ (DIRETÓRIO... 2014, p. 17). O objetivo principal

dessa comunicação é ―criar comunhão, estabelecer vínculos de relações, promover

o bem comum, o serviço e o diálogo na comunidade‖. (DIRETÓRIO... 2014, p. 17).

O Diretório sucede outros documentos produzidos pela Igreja brasileira, como

a Comunicação para a Verdade e a Paz (1989); Comunicação e Igreja no Brasil

2 VATICAN. VA. Mensagem do Santo Padre Francisco para o XLVIII Dia Mundial das Comunicações

Sociais. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20140124_messaggio-comunicazioni-sociali.html>. Acesso em: 06 set. 2015.

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(1994) e Igreja e Comunicação rumo ao novo milênio: conclusões e compromissos

(1997). A obra atualiza as diretrizes que permaneciam as mesmas há 17 anos e não

deliberavam sobre o avanço acelerado das tecnologias. Apontando saídas práticas

nesse caminho, ―cabe aos responsáveis pela ação pastoral de cada igreja […]

fazerem uso dos processos e meios de comunicação a serviço da partilha da

Palavra, merecendo destaque, nesse percurso, as redes sociais digitais‖

(DIRETÓRIO..., 2014, p. 12-13). Na apresentação do documento 99, o bispo auxiliar

de Brasília e secretário-geral da CNBB, Leonardo Ulrich Steiner, atenta para a

transformação que a globalização imprime na sociedade atual por meio da

popularização da tecnologia das telecomunicações.

A cultura digital oferece tecnologias digitais que comunicam e buscam relações. Elas devem estar a serviço de uma sociedade mais justa e fraterna, mas também a serviço do anúncio do Evangelho. Do Evangelho como novo modo de vida inaugurado pela morte e ressurreição de Jesus Cristo (DIRETÓRIO..., 2014, p. 7).

A digitalização é a grande novidade abordada nessa atualização do

pensamento eclesial, com o objetivo de motivar o aprofundamento do conhecimento

de religiosos e fieis sobre a natureza e a importância da comunicação nos processos

de evangelização e no diálogo com a sociedade em geral. É como uma revisão

pastoral e cultural para que a mensagem continue relevante com as mudanças das

formas de relacionamento, uma vez que

[...] para muitos, a realidade corresponde ao que é construído pelas mídias. O que as mídias não reconhecem explicitamente torna-se também insignificante. Assim, indivíduos ou grupos podem ser submetidos a um ‗silêncio social‘ ao serem ignorados pelas mídias (DOCUMENTO... 2014, p. 25).

Ainda que ao pensar em comunicação se volte à interação mediada, seja por

televisão, rádio, computador, smartphone ou outro meio, ―deve-se entender a

sociedade atual a partir dos processos de comunicação centrados na pessoa e nas

relações entre ela, a sociedade e o mundo.‖ (DIRETÓRIO..., 2014, p. 19).

Nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II em 2011, o arcebispo de São

Paulo Dom Cláudio Hummes escreveu em artigo no jornal O Estado de São Paulo

que essa é uma dificuldade cada vez mais enfrentada nas cidades com grandes

contingentes populacionais.

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Esses aglomerados urbanos gigantescos constituem uma das expressões mais diferenciadas e ricas da (pós-)modernidade. Fruto e alimento constante da atual cultura urbana. Daí a necessidade do diálogo, amplo e aberto, da Igreja com a grande cidade. Com que linguagem? Com que critérios? Como integrar anúncio e denúncia na metodologia de um diálogo? O autêntico diálogo, por outro lado, exige identidade clara dos interlocutores. Quem não tem identidade pouco ou nada contribui para um diálogo. No entanto, identidade não pode significar prepotência ou imposição nem impedir uma busca conjunta de aprofundamento da verdade (HUMMES, 2005, p. 220).

Para avançar nesse terreno que envolve debates, julgamentos e contradições

da opinião pública perante o papel e as ações da Igreja, a instituição patina em

estratégias, implicando em danos a sua imagem e até deixando de aproveitar

espaços para desenvolver seu trabalho social, que se alarga para além das quatro

paredes das igrejas (PESSINATTI, 1998). Há mais de 15 anos já se tinha a

percepção de que

[...] a Igreja Católica, que foi grande propagadora da comunicação escrita, e que foi, desde o Sacro Império, a detentora exclusiva dos meios de comunicação, encontra-se hoje despreparada diante dos desafios propostos pela era da informação. […] os meios da Igreja (jornais, rádio, TV) incomunicam. Falam para os mesmos, além da falta de recursos técnicos e atualização jornalística. (PESSINATTI, 1998, p. 53)

Conforme Pessinatti, esse destaque dado à insistência do catolicismo estar

presente na mídia não é uma vaidade e nem uma sede cega por parte do comando

da CNBB ou do Vaticano. Uma reflexão ponderada sobre o jornalismo produzido e

consumido pela mídia não passa em branco e se faz merecedor de registro. O

Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014) atenta que ―as produções

midiáticas podem promover uma fragmentação pessoal e social, gerando

distanciamento ao invés de proximidade‖ (p. 112). Conforme o Diretório, os

comunicadores católicos são convidados a serem vigilantes dos valores humanos e

éticos, não se isentando de apresentar postura crítica perante os assuntos que

pipocam na mídia, principalmente à repetição de informações selecionadas, que

acabam sendo fator determinante para a criação da opinião da pública. Por isso,

além de se valer dos seus veículos próprios, existe a necessidade da Igreja manter

diálogos com os meios de comunicação de outras religiões.

Aos jornalistas católicos e aos programas de caráter religioso, se respeita a

individualidade dos apresentadores, repórteres, locutores, editores, jornalistas e

demais atores comunicacionais. Porém, é ―preciso recordar que ninguém, a priori,

tem direito de fala em nome da Igreja a não ser que esteja investido de tal encargo‖

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(DOCUMENTO..., 2014, p. 119).

Para não ficar apenas em discussões conceituais, a Igreja deixa bem clara

sua posição quanto ao que se deve fazer na prática para o fomento da utilização da

comunicação nas estruturas eclesiais.

[...] recomenda-se que as dioceses e as paróquias se articulem para promover cursos regulares de formação, oficinas de produção midiática, debates sobre ações comunicativas e seu emprego na evangelização, bem como sobre a leitura crítica da mídia (DOCUMENTO..., 2014, p. 177).

Logo, é perceptível que o atual Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil

se posiciona favorável à utilização da comunicação a serviço do Evangelho e indica

planos de ações a serem executados nas diversas ambiências da Igreja a partir dos

mass media, com atenção especial à mídia eletrônica, resultante do

desenvolvimento tecnológico da sociedade urbana atual.

Para encarar um cotidiano cada vez mais pontuado pela aceleração, tanto

das comunicações e das relações humanas, é preciso atualização constante. Diante

da representatividade que possui em um país tão fortemente católico como o Brasil,

a Igreja deve ocupar o seu lugar de instituição com voz ativa e protagonista dos

rumos do cenário sociológico em que está inserida. É um desafio desenvolver com

uma comunicação que reforça a tese da cultura do encontro, já que é, por natureza,

lugar de encontro, conversão, comunhão e diálogo, reforçando que o fim da

comunicação é sempre o homem. ―Nenhum processo de comunicação é indiferente

ao cristão e à Igreja, já que nele se joga com a dignidade do homem. Quando um

homem é ferido em sua dignidade, toda a Igreja sofre‖ (Documento de Puebla, n.

1.289, apud PESSINATTI, 1998, p. 55).

O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil também chama a atenção

para a comunicação além das mídias, aquela que se dá, justamente, quando há uma

reunião de pessoas de forma presencial. No documento são fornecidas orientações

práticas para a catequese, onde os encontros devem ocorrer ―em um ambiente

comunicacional propício para a reflexão, a meditação e o aprofundamento da

Sagrada Escritura‖ (2014, p. 59). Um dos elementos abordados é a liturgia das

missas em relação ao ambiente, à linguagem das celebrações, a homilia do

sacerdote, à música e até mesmo ao silêncio nos momentos específicos.

Considerações também são feitas em relação aos equipamentos de som e à

utilização de recursos multimídia para encontros diversos, envolvendo os processos

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de comunicação na sua totalidade e chamando a atenção para a atuação dos leigos

na comunicação evangelizadora. O Diretório também atenta para o fato da Igreja

estar presente na grande mídia para que sua mensagem permaneça relevante.

Desta forma, nesse mar de possibilidades e ofertas ao alcance das mãos, ―vivenciar

e testemunhar a verdade última do amor é a melhor comunicação que a Igreja pode

realizar‖ e ―a mensagem da comunicação chega ao coração das pessoas quando

estas se percebem acolhidas e amadas‖ (DIRETÓRIO..., 2014, p. 37). Por isso, estar

presente nas redes sociais digitais, por exemplo, vai além da inserção de conteúdos

religiosos em plataformas como Facebook, Twitter, YouTube ou outra rede social

digital. É preciso comunicar com qualidade e testemunhar com coerência o

Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele.

A Igreja demorou a perceber a força da comunicação moderna e ainda está longe da nova cultura da comunicação. De fato seus códigos comunicativos são, fundamentalmente, de índole doutrinal racional, quando a modernidade requer partir do cotidiano, do afetivo, das tramas das relações humanas, do emocional, do estético, do lúdico (PUNTEL, 2010, p. 208)

O Diretório traz ainda que ―a sociedade da informação e as redes digitais

desenvolvem uma nova forma de vida comunitária‖ (2014, p. 103), uma vez que os

laços de proximidade transcendem os limites geográficos, criando relações sem

proximidade física. Para evangelizar nessa nova formatação do relacionamento

humano, a Igreja Católica precisa entender a cultura midiática vivida pelo mundo

cada vez mais globalizado, conectado. É esse conceito de cultura midiática e seus

desdobramentos na evangelização que serão vistos no próximo capítulo.

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3 O CIBERESPAÇO E O IMPACTO DAS REDES DIGITAIS

A Internet, enquanto tecnologia de comunicação, transformou profundamente

a vida humana, pois inúmeras atividades são baseadas na comunicação. O

espanhol Manuel Castells tenta explicar tamanho impacto na obra A galáxia da

Internet (2001). O autor inicia o livro dizendo que

a Internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente histórico do que foi a eletricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a Internet com a rede elétrica e o motor elétrico, dada a sua capacidade para distribuir o poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana. [...] a Internet constitui atualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a Era da Informação: a rede (CASTELLS, 2001, p. 15).

A rede é um instrumento utilizado pela humanidade há muito tempo e

geralmente é associado à atividade dos pescadores. Porém, esse conjunto de nós

interligados ganhou uma nova conotação com o surgimento da Internet,

convertendo-se em redes de informação. No olhar de Castells, as redes possuem

vantagens por sua flexibilidade e adaptabilidade, que são características

fundamentais para prosperar em um contexto de mudança permanente, permitindo o

desenvolvimento superior de uma forma organizacional da sociedade. No entanto,

acumulam dificuldades em coordenar suas funções, concentrar-se em objetivos

concretos e levar adiante tarefas determinadas, a partir de certo grau de

complexidade e dimensão. Ponto fundamental da comunicação, a Internet ―permite,

pela primeira vez, a comunicação de muitos para muitos em tempo escolhido e a

uma escala global. [...] entramos agora num novo mundo da comunicação: a Galáxia

Internet‖ (CASTELLS, 2001, p. 16).

A Internet teve origem na Arpanet, uma rede de computadores estabelecida

em 1969 pela Arpa (Advanced Resarch Projects Agency), agência de projetos de

investigação criada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A Internet

propriamente dita adquiriu tamanha proporção após a explosão da World Wibe Web

em 1990. A partir de então as principais atividades econômicas, políticas sociais e

culturais de toda a Terra estruturam-se por meio dela e de outras redes informáticas.

Castells adverte ainda que não estar incluído nessa rede é uma das formas de

exclusão mais grave que se pode sofrer, embora a velocidade que a Internet

transformou o mundo criou um efeito alienante, pois os estudos empíricos não

conseguem se desenvolver na mesma rapidez. Assim, teme-se que

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os meios de comunicação, na sua ânsia de informar um público ansioso carecendo de capacidade intelectual autônoma para avaliar as tendências sociais de forma rigorosa, oscila entre oferecer-nos uma imagem de um futuro extraordinário ou seguir o princípio fundamental do jornalismo: só as más notícias são notícia (CASTELLS, 2001, p. 17).

No livro Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência (2008), Joana Puntel

afirma que a evolução das tecnologias da comunicação formou a chamada cultura

midiática, alçando a comunicação digital ao status de cultura global, formando uma

ambiência vital da sociedade contemporânea. Ao viver submerso nessa nova lógica

de mundo, chega-se a um conceito de ―uma realidade nunca antes vivenciada, a do

Homo Media, entendida como aquela em que o ser humano não só está entre os

meios de comunicação, mas interage com eles e neles interfere‖ (PUNTEL, 2008, p.

114, grifo da autora).

Na compreensão de Puntel, o rápido desenvolvimento e difusão das

tecnologias da comunicação configura uma nova fase da história, com

características de transição, o que implica ao ser humano uma sensação de vazio,

de incertezas e de crises permanentes, uma vez que esse novo processo ocorre nos

mais variados campos como a política, a ciência, a comunicação, a economia e a

espiritualidade. É uma grande mudança cultural e civil e, portanto, do modo de vida

do ser humano. São efeitos da globalização que elevam os mais simples

acontecimentos e questões a uma classe mundial, se caracterizando como um novo

período na realidade histórico-cultural, tão avassalador que anula as ―construções

teóricas e filosóficas criadas desde o Iluminismo‖ (PUNTEL, 2008, p. 94). É uma

consequência da modernidade e sua passagem para a pós-modernidade. A

comunicação torna-se um ambiente vital, um conjunto de valores, um estilo de vida,

também podendo ser chamada de cultura global.

A ideia de mídia e comunicação de massa não se refere mais somente aos

meios singulares como TV, rádio e jornal. O surgimento e a popularização da

Internet acentuam exponencialmente as relações mediadas por ferramentas de

comunicação online. É o emergir da sociedade da informação, que fez brotar um

novo modelo de indivíduos, inseridos na geração ―C‖, que ―diz respeito à geração

Computer, Cibernética, Chip, Card, Cabo, Crítica etc‖ (PUNTEL, 2008, p. 109). Os

protagonistas do novo padrão de sociedade criam a realidade virtual do mundo,

capaz de modificar na humanidade a forma de comunicação, de relacionamentos e,

portanto, toda a vida pessoal. Puntel também é enfática ao frisar que aceitar a

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comunicação como cultura requer uma mudança de mentalidade e métodos de

ação, uma vez que se caracteriza como aspecto fundamental da sociedade. Logo,

ignorar essa percepção ou relegá-la a segundo plano ―poderá trazer consequências

irreparáveis‖ (PUNTEL, 2008, p. 111) à relevância da Igreja Católica.

Outro conceito que surge da então cultura midiática é o ciberespaço ou a

cibercultura. Segundo Pierre Lévy, em Cibercultura (2000), o termo foi inventado por

William Gibson em 1984 e pode ser definido como ―o espaço de comunicação aberto

pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores‖

(p. 92). Ainda conforme Lévy, a cibercultura inclui o conjunto de sistemas de

comunicação eletrônica que transmitem informações provenientes de fontes digitais

ou destinadas à digitalização. Então de acordo com André Lemos (2002), o processo

de constituição do ciberespaço começa com a informatização da sociedade e com o

surgimento da microinformática e dos microcomputadores nos anos 1970 e se

estabelece com força a partir de meados da década de 1980. A interação

interpessoal potencializada pela rede é um dos grandes trunfos da digitalização, já

que

o ciberespaço faz com que qualquer um possa não só ser consumidor, mas também produtor de informação, emissor. [...] Na publicização do espaço privado pelas novas tecnologias a vida banal quer ser arte. [...] Trata-se, é certo, de uma religiosidade social que nos faz aderir ao outro. Participar, a partir desta visão espetacular, da vida banal de uma outra pessoa, nos faz sentir religados, próximos (LEMOS, 2002, p. 114-115).

Lemos, pós-doutor em Sociologia da Comunicação, reflete ainda que expor a

banalidade é um ato comum do ser humano com o advento da Internet, uma vez

revelar a privacidade é um exercício que aproxima a conexão com o outro, próprio

do ato de comunicar, pois ―no fundo, estamos sempre lutando contra a solidão,

contra o desencontro e o estranhamento. O ciberespaço é assim uma megamáquina

civilizacional de conexão generalizada‖ (2002, p. 115).

O doutor em Comunicação Rovilson Robbi Britto também aborda o assunto

no livro Cibercultura: sob o olhar dos estudos culturais (2009). Para ele, baseado em

Pierre Lévy, o ciberespaço emergiu com a digitalização do simbólico, gerando novas

lógicas de relação cultural, como uma dimensão de renovação de formas de

sociabilidade onde grande parte das conexões é feita para as pessoas alimentarem

ou iniciarem vínculos pessoais. Uma crítica pontual é de que se o ciberespaço

ganha tanta relevância como lugar de encontro e relacionamento é porque as outras

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formas não funcionam mais, estão desgastadas. Além disso, as inúmeras

ferramentas existentes, como blogs, e-mails, salas de bate-papo, jogos e demais

redes permitem o diálogo, a exposição de pensamentos. Logo, se há pedofilia,

prostituição, preconceitos e outras mazelas, são demonstrações de que elas existem

na sociedade, sendo a Internet apenas um espaço para sua manifestação. Por isso,

não se pode esquecer que a Internet e suas ferramentas são uma forma de

mediação da comunicação. Se as pessoas encontram esse espaço de

sociabilização, significa que a experiência do encontro presencial face a face está se

perdendo. Nesta ordem, ―o ciberespaço pode ser a nova praça pública virtual, o

novo campo do estar junto, que leve a encontros reais e que imponha a necessidade

de regeneração de espaços públicos para isso‖ (BRITTO, 2009, p. 167).

Ainda segundo Britto (2009), os impactos do ciberespaço no cotidiano são de

difícil mensuração, mas modificaram o ecossistema midiático e social

profundamente. Embora não haja uma teoria sobre a cibercultura, suas análises

geralmente se voltam à dimensão comunicacional e de relações interpessoais.

Assim,

o fato de unir o distante pode também distanciar o próximo. Mas, no geral, o que vemos é que o ciberespaço não promove o alheamento. Ajuda a dar curso ao desejo do estar junto. Assim, de maneira cada vez mais recorrente, deparamo-nos com o ciberespaço alterando nosso cotidiano, nossas ações, nossa forma de agir e pensar, nossa cultura (BRITTO, 2009, p. 168).

O ciberespaço e a cibercultura pressupõem uma realidade chamada virtual,

ilusória. Para ir mais a fundo e ajudar a lançar luzes sobre a virtualização do

cotidiano, tem-se o entendimento do pesquisador Pierre Lévy, em O que é virtual?

(1996), de que o virtual não contrapõe o real, mas o atual, sendo que virtualidade e

atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes. O virtual é também real,

sendo um dos principais vetores da criação da realidade. A virtualização está

diretamente ligada à mídia eletrônica e virtualizar significa se tornar não presente, se

desterritorializar. No entanto, não significa que é imaginário. Ele produz efeitos.

Assim, a invenção de novas velocidades é o primeiro grau da virtualização, sendo

que a aceleração das comunicações é contemporânea do crescimento da

mobilidade física. Lévy é otimista ao pensar a virtualidade e seus efeitos na

humanidade ao explanar que

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não se trata de modo algum de um mundo falso ou imaginário. Ao contrário, a virtualização é a dinâmica do mundo comum, é aquilo através do qual compartilhamos uma realidade. Longe de circunscrever o reino da mentira, o virtual é precisamente o modo de existência de que surgem tanto a verdade como a mentira (LÉVY, 1996, p. 148).

O espanhol Manuel Castells reforça essa tese e indica que as comunidades

virtuais, embora não-físicas, são reais, funcionando em outro plano da realidade e

seguindo modelos diferentes de interação das comunidades físicas. No primeiro livro

de sua trilogia sobre economia, sociedade e cultura, denominado A Sociedade em

Rede (1999), o autor compara a invenção da Internet com o surgimento do alfabeto,

por volta de 700 a.C. na Grécia. A escrita foi um marco poderoso da transformação

qualitativa da comunicação humana, proporcionando a infraestrutura mental para a

transmissão cumulativa de conhecimento, impulsionada muitos séculos depois pela

invenção e difusão da imprensa e fabricação de papel. A Internet ganha peso

equivalente por integrar em um mesmo sistema a comunicação em modalidades

escrita, oral e audiovisual. Então, já que a comunicação molda a cultura, por meio da

poderosa influência do novo sistema de comunicação, mediado por interesses

sociais, políticas governamentais e estratégias de negócios, está surgindo uma nova

cultura: a cultura da virtualidade real‖ (CASTELLS, 1999, p. 415).

O poder da Internet se respalda pelos dados numéricos, sendo o meio de

comunicação mais veloz da história em índice de penetração entre a população. Nos

Estados Unidos, o rádio levou 30 anos para atingir 60 milhões de pessoas, enquanto

a TV demorou 15 anos. A Internet o fez em apenas três anos após a criação da teia

mundial (CASTELLS, 1999).

Castells analisa ainda que a rede se fortalece na geração de múltiplos laços

fracos entre os usuários. Esses laços facilitam a comunicação entre pessoas que

nutrem interesses em comum, ainda que não se conheçam para além das telas de

computadores ou smartphones, expandindo assim ―a sociabilidade para além dos

limites socialmente definidos do auto-reconhecimento [sic]‖, contribuindo ―para a

expansão dos vínculos sociais em uma sociedade que parece estar passando por

uma rápida individualização e uma ruptura cívica‖ (1999, p. 145).

Reflexão no mesmo sentido propõe o sociólogo polônes Zygmunt Bauman,

em seu livro Tempos Líquidos (2007). O escritor aborda a passagem da fase sólida

da modernidade para a líquida – um cenário em que as organizações sociais não

podem mais manter sua forma, pois se dissolvem mais rapidamente que o tempo

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que levam para se moldar ou para que se estabeleçam. Uma das

causas/consequências para esse fim são os laços inter-humanos que se tornam

cada vez mais frágeis e temporários e

a sociedade é cada vez mais vista e tratada como uma rede em vez de uma estrutura: ela é percebida como uma matriz de conexões e desconexões aleatórias e de um volume essencialmente infinito de permutações possíveis (BAUMANN, 2007, p.9).

Conforme Baumann, contribui para essa formação social a quebra de

fronteiras, a qual chama de globalização negativa, onde todas as sociedades são

totalmente abertas, seja material ou intelectualmente, se tornando ―expostas aos

golpes do ‗destino‘‖ (BAUMANN, 2007, p. 13). Essa ideia vem carregada de um

sentimento de pessoas infelizes e vulneráveis a forças que não controlam nem

entendem totalmente. Analisando pelo lado da segurança global, Baumann resume

os tempos líquidos como causa de uma desordem mundial que impacta em todos os

setores da vida pública e privada – incluindo, portanto, a comunicação e as relações

humanas – e na qual a grande mídia tem papel preponderante na manutenção

desses mecanismos de difusão do medo coletivo. Principalmente nas grandes

cidades, os espaços urbanos sofrem modificações forçadas no espaço físico por

conta da sensação de insegurança e da necessidade de vigilância. Uma das mais

graves consequências disso é o isolamento dos indivíduos dentro de suas casas e

uma interação construída a partir da falsa proteção da conectividade virtual. Assim,

as cidades são espaços em que estranhos ficam e se movimentam em estreita

proximidade uns dos outros (BAUMANN, 2007).

Para complementar a análise das relações interpessoais mediadas pela

Internet, tem-se a compreensão de Castells (1999) de que ―a Internet pode contribuir

para a expansão dos vínculos sociais numa sociedade que parece estar passando

por uma rápida individualização e uma ruptura cívica‖ (p. 445).

Joana Puntel (2010) compreende que a ―Igreja demorou a perceber a força da

comunicação moderna e que ainda está longe da nova cultura da comunicação‖ (p.

208). A vivência da fé cristã também está imersa na cultura virtual, sendo afetada

pelas rápidas e profundas mudanças que as tecnologias da comunicação causaram

na sociedade como um todo. Por isso, Puntel reforça que

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a Igreja, para ser fiel a Jesus comunicador, precisa inserir-se na vida do povo, que é construída cada vez mais pela cultura midiática, que tem expressiva influência nos relacionamentos humanos, especialmente na afetividade, no imaginário, na canalização dos sonhos, desejos e ambição, na formação de valores, hábitos e costumes, e na formação da opinião pública (PUNTEL, 2010, p. 208-209).

Conforme prossegue Puntel, ―as relações interpessoais são, de fato, cada vez

mais resultado de relações simbólicas midiáticas‖ e que ―enfim, é realmente preciso

concordar que ‗um novo sujeito‘ está ‗nascendo‘, com as suas exigências próprias,

atuais, solicitando novos paradigmas para ler, analisar e, por fim, compreender o

mundo de hoje‖ (2010, p. 215).

Depois dessa reflexão sobre a transformação das relações e das estruturas

sociais a partir do surgimento da Internet e do fomento de uma cibercultura, ou

cultura digital, será abordado a seguir de que forma a Igreja Católica pode se inserir

nesse processo e tenta transmitir sua mensagem e se estabelecer enquanto

instituição também submersa na cultura midiática e em seus desdobramentos.

3.1 A FÉ CATÓLICA NA CIBERCULTURA: DESAFIO DA EDOCOMUNICAÇÃO

Uma obra referencial na Igreja Católica sobre a comunicação digital é a do

padre jesuíta espanhol Antonio Spadaro, intitulada Ciberteologia: pensar o

Cristianismo nos tempos da rede (2012). O autor caracteriza a religião como um

evento comunicativo, uma vez que na Bíblia todo o anúncio da palavra de Deus é

comunicação pura, seja através de anjos, profetas, sonhos e outros símbolos e

elementos. Inclusive, há um convite explícito de Jesus Cristo aos seus seguidores,

ao dizer ―Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura‖ (BÍBLIA,

Mateus, 16,15).

Spadaro entende que as relações criadas pelo ambiente digital estão cada

vez mais presentes na vida dos fiéis a ponto de influenciar consideravelmente na

compreensão da realidade e, portanto, na forma de entender os assuntos

relacionados à fé e em seu modo de manifestá-la interiormente e publicamente.

Assim,

[...] o desafio não deve ser de que forma ―usar‖ bem a rede, como geralmente se acredita, mas como ―viver‖ bem nos tempos da rede. Nesse sentido a rede não é um novo ―meio‖ de evangelização, mas antes de tudo um contexto no qual a fé é chamada a se exprimir não por uma mera vontade de presença, mas por uma conaturalidade do cristianismo com a vida dos homens (SPADARO, 2012, p. 24-25).

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Conforme Spadaro, a tal rede não se caracteriza mais como um simples

instrumento, como aparelhos eletrônicos ou como forma de comunicação

interpessoal, mas passa a se tornar uma realidade que influencia diretamente na

compreensão da fé e no modo de vivê-la.

No documento Igreja e Internet (2002), publicado pelo Vaticano, é exposta a

forma como a Igreja Católica acredita que a rede deva ser usada para evangelizar.

Além de oferecer acesso direto e imediato a recursos relacionados à religião e

espiritualidade como livrarias, museus, igrejas, conteúdos escritos por padres,

religiosos e estudiosos do catolicismo, a Internet também funciona como ferramenta

de relacionamento pela sua capacidade de extinguir distâncias, tirando do

isolamento e permitindo o contato e a transmissão de dados úteis, entre pessoas e

comunidades cristãs. Outro ponto explicitado pelo documento é de que a Internet

possibilita o desenvolvimento de atividades evangelizadoras e programas da Igreja,

como a catequese, além da possibilidade de veiculação de notícias e informações

pertinentes à vida eclesial que alcancem grupos específicos, como adolescentes,

jovens, idosos e doentes cujas necessidades obrigam a permanecer em casa, e

também aqueles que vivem em regiões remotas. Apesar dessa abertura, o

documento reflete que

[...] ainda que a realidade virtual do espaço cibernético não possa substituir a comunidade interpessoal concreta, a realidade da encarnação dos sacramentos e a liturgia, ou a proclamação imediata e direta do Evangelho, contudo pode completa-las, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da vida de fé e enriquecendo a vida religiosa (IGREJA E INTERNET, 2002, n. 5).

O documento traz incentivo à educação midiática, com o intuito de ensinar

técnicas de comunicação, mas principalmente de formar padrões de qualidade de

conteúdo e estimular a formação de juízo moral e formação de consciência. O

documento deixa claro que

através de suas escolas e programas de formação, a Igreja deve oferecer uma educação mediática deste gênero [...] os programas pastorais para as comunicações sociais deveriam prever esta preparação no contexto da formação dos seminaristas, sacerdotes, religiosos e pessoal leigo comprometido na pastoral, assim como professores, dos pais e dos estudantes (IGREJA E INTERNET, 2002, n. 7).

Tais pensamentos são um reforço do que já havia sido apresentado

anteriormente, em 2000, com o documento Ética nas Comunicações Sociais. Além

de discorrer sobre os valores inerentes à comunicação, ele também insiste na

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formação e capacitação dos agentes pastorais para a utilização das mídias, pois

entende que

a Igreja seria bem servida, se um maior número de pessoas que ocupam cargos e desempenham funções no nome dela fossem formados em comunicação. Isto é verdade não só para seminaristas, as pessoas que se formam nas comunidades religiosas e os jovens leigos católicos, mas para o pessoal da Igreja em geral. Considerando que são ―neutros, abertos e honestos‖, os mass media oferecem aos cristãos bem preparados ―um papel missionário de vanguarda‖, e é importante que eles sejam ―bem formados e apoiados‖ (IGREJA E INTERNET, 2002, n. 26).

Porém, Spadaro (2012) alerta para os perigos de uma fé alimentada via

Internet, pois ―pode-se cair na ilusão de que o sagrado ou o religioso estejam ao

alcance do mouse‖ (p. 48). Segundo o jesuíta, qualquer pessoa pode acessar a

Internet a qualquer hora e encontrar todo tipo de produto ou serviço religioso, como

uma espécie de supermercado da fé, como se o divino estivesse à disposição de um

consumidor no momento da necessidade. O documento Igreja e Internet também

defende essa linha, ao afirmar que ―a realidade virtual não substitui a Presença Real

de Cristo na Eucaristia, a realidade ritual dos outros sacramentos e o culto

compartilhado no seio de uma comunidade humana feita de carne e de sangue‖

(IGREJA E INTERNET, 2002, n. 9). No documento, a utilização da Internet é sempre

referida como agregadora, somatória, auxiliar, enriquecedora, promotora do diálogo

da missão de evangelização, mas nunca como principal foco da Igreja e dos

católicos.

Tal compreensão também está explícita no Diretório de Comunicação da

Igreja no Brasil (2014), que aponta que a presença no ambiente digital é incentivada

por ser um lugar de testemunho e anúncio do Evangelho, mas que ―as mídias

digitais não substituem a vida em comunidade e litúrgica presencial‖ (p. 136).

No Diretório, a CNBB entende que a nova cultura criada, sobretudo, com as

redes sociais digitais, pede uma revisão dos métodos de trabalho pastoral das

comunidades católicas. Assim, ―para evangelizar na sociedade contemporânea, é

indispensável compreender as novas linguagens e práticas vivenciadas, a fim de

inculturar a mensagem do Evangelho na cultura digital‖ (p. 140). As orientações da

Igreja brasileira chamam a atenção para que esse processo envolva, inclusive, os

encontros presenciais, a organização da acolhida nas igrejas, a forma de promoção

da catequese, as reuniões de grupos de jovens, os encontros formativos e a

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produção dos meios de comunicação presentes no seio da Igreja. O Diretório alerta

que

se, por um lado, as tecnologias digitais oferecem múltiplas e novas possibilidades de conexão e interação com o mundo, por outro lado, é fundamental que as pessoas não se deixem tomar pela chamada dependência tecnológica, caracterizada pelo uso excessivo de aparelhos e dispositivos hodiernos, que fragiliza a convivência presencial e traz riscos efetivos de empobrecimento da experiência imediata da pessoa com o mundo. Diante de tais desafios, a Igreja tem a missão de formar, sobretudo, os agentes pastorais, para uma postura crítica e uma atuação segundo os valores éticos e cristãos (DIRETÓRIO..., 2014, p. 143, grifo do autor).

Seguindo a linha sobre a necessidade da educação para a prática da

comunicação digital, o Diretório aponta caminhos a serem tomados para que se crie

uma cultura comunicacional no ambiente eclesial, como a formação sistemática para

bispos, presbíteros, diáconos, religiosos, lideranças e leigos. Conforme a orientação

da CNBB, essas formações devem abordar o papel da mídia no mundo, a

implementação de políticas de ação comunicacional, a formação de processos

dialógicos de relacionamento, procedimentos de análise crítica ante os meios de

comunicação e o uso adequado de recursos da informação a serviço do bem

comum. O Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais propõe ainda que a

Igreja defina uma política de educação para a comunicação, priorizando oito focos

de interesse para a ação formativa: familiar, escolar, comunitário, político,

profissional, pastoral, de recepção midiática e da alfabetização digital.

Em sua obra Formação ao alcance de um clique. Comunicação digital:

desafios e oportunidades (2012), a doutora em Psicologia da Educação e irmã

paulina italiana, Pina Riccieri, reflete que o desafio formativo da comunicação para

os católicos está na continuidade e na simbiose entre dois contextos vitais: o novo

ambiente tecnológico e a tarefa educativa em manter viva a peculiaridade do ser

humano nesse novo local de encontros, trocas e relações. Nesse contexto, o meio, a

Internet, não é mais mediação entre sujeito e realidade, mas assume o perfil de uma

realidade em si mesma. Assim, a educomunicação não é uma simples questão de

disponibilizar equipamentos eletrônicos com acesso gratuito através de uma rede wi-

fi, mas

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o que faz a diferença é a capacidade madura de relacionamento com a vida que permite tratar também as mídias digitais de forma correta e evangélica para chegar a uma liberdade interior. Portanto, o uso da internet requer um perfil antropológico amadurecido que precisa de um relacionamento equilibrado entre o mundo on-line e o mundo off-line (RICCIERI, 2012, p. 75).

Spadaro reforça ao dizer que

[...] a rede não é na verdade um simples ―instrumento‖ de comunicação que se pode ou não usar, mas evoluiu num espaço, um ―ambiente‖ cultural que determina um estilo de pensamento e cria novos territórios e novas formas de educação, contribuindo para definir também um novo modo de estimular as inteligências e de estreitar os relacionamentos; efetivamente é um modo de habitar o mundo e de organizá-lo. [...] um dos maiores desafios para os que não são ―nativos digitais‖, é aquele de não enxergar na rede uma realidade paralela, isto é, separada em relação à vida de todo o dia, mas um espaço antropológico interconectado na fonte com os outros espaços de nossa vida (SPADARO, 2014, p.17-18).

Em seu livro, Riccieri explana desde o conceito base de formação, passando

pelo papel, prática e espiritualidade dos formadores até uma análise mais ampla do

ensino da comunicação no ambiente eclesial. Nessa pesquisa, a autora coloca a

comunicação digital como um desafio para o aprendizado, uma vez que é preciso

desenvolver uma nova mentalidade cultural das mídias. Encarando a própria Internet

como aliada da educomunicação por sua capacidade de acesso a conteúdos de

todos os assuntos, ela pode

[...] estimular e constituir o primeiro momento do encontro, primeiro conhecimento digital dos apóstolos e apóstolas do terceiro milênio, mas a fé é antes de mais nada a abertura ao transcendente, a adesão pessoal à Verdade que não se possui, mas que demanda do crente a coragem para fazer o bem concretamente em cada fragmento da vida. E tudo isso não pode derivar somente da relação on-line (RICCIERI, 2012, p. 86-87).

Dentro da Igreja Católica, quem possui a missão de conduzir e implementar

as diretrizes comunicacionais de cada Diocese é a chamada Pastoral da

Comunicação, a Pascom. Conforme o Diretório de Comunicação (2014), a palavra

pastoral vem do verbo apascentar, pastorear e do termo pastor. No Antigo

Testamento da Bíblia, elas remetem a Deus, que era o pastor maior, o dirigente,

condutor ou guia do povo. No evangelho de João, Jesus também é apresentado

como o Bom Pastor, que se livra de sua própria vida em troca da vida do seu

rebanho, que é toda a humanidade. Logo, a Pastoral da Comunicação possui

fundamento bíblico, inspirada em Cristo, sendo a instância que nutre a missão de

conduzir o serviço de evangelização na área comunicacional. A urgência da

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implantação de um plano de Pastoral da Comunicação foi explicitada pela Igreja em

1992, a instrução Aetatis Novae. O documento recomenda claramente que

as Dioceses e as Conferências ou assembleias episcopais tomem providências para que a questão dos mass media seja abordada nos seus planos pastorais. Convém que redijam planos pastorais particulares relativos à comunicação, ou revejam e atualizem os que já existem, mantendo um processo de revisão e atualização permanentes (AETATIS NOVAE, 1992, n 21).

. Segundo o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014), a função da

Pascom não se limita a ações isoladas como produção de boletins e jornais

impressos, programas de TV ou rádio, construção de sites, blogs e outros meios.

Tudo isso deve fazer parte de uma política global alicerçada em quatro eixos:

formação, articulação, produção e espiritualidade. Os participantes da Pastoral

podem ser de todos os setores da Igreja, incluindo bispos, padres, religiosos,

consagrados e leigos. Além da Pascom, o Diretório (2014) também frisa que ―no

âmbito nacional, regional e diocesano, a Igreja precisa contar com uma estrutura de

assessoria de imprensa qualificada‖ (p. 205). De acordo com a orientação presente

no documento 99, esse profissional precisa ser graduado na área da Comunicação a

fim de lidar com assuntos mais relevantes na Igreja e que causem maior

repercussão na sociedade e até mesmo colaborar na articulação da Pastoral na

região, além de desenvolver as atividades técnicas cabíveis ao seu cargo

devidamente remunerado.

O documento Ética na Internet publicado em 2002 pelo Vaticano em paralelo

com o documento Igreja e Internet também incentiva a educação e a formação como

uma área de oportunidade e necessidade.

Hoje, todos precisam de algumas formas de educação midiática permanente, mediante o estudo pessoal ou a participação num programa organizado, ou ambos, mais do que meramente ensinar técnicas, a educação midiática ajuda as pessoas a formarem padrões de bom gosto e de verdadeiro juízo moral, um aspecto da formação da consciência. Através de suas escolas e programas de formação, a Igreja deve oferecer uma educação midiática deste gênero (ÉTICA E INTERNET, 2002, n. 7).

Uma obra que trata especificamente do tema é Pastoral da Comunicação:

diálogo entre fé e cultura (2007), de Joana Puntel e Helena Corazza. Para as

autoras, o cerne a efetividade desse organismo eclesial está, justamente, em um

diálogo entre fé e cultura midiática. Ao expor e analisar os documentos da Igreja

sobre o uso dos meios de comunicação é levantada uma provocação:

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Não seria este um ―tempo favorável‖ para a Igreja se tornar a ―verdadeira promotora‖ de debates e reflexões – não somente esporádicos! – sobre a ética nas comunicações sociais? A contribuição seria excelente para colocar em prática as orientações do magistério eclesial contemporâneo e, quem sabe, retocar também alguns aspectos em nível interno da própria casa (PUNTEL; CORAZZA, 2007, p. 53).

Na análise de Puntel e Corazza, o objetivo principal do plano pastoral é a

mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade para assumir a

cultura midiática de modo a envolver toda a vida e ação da Igreja na sua realidade

concreta. Para que haja unidade eclesial e acompanhamento das mudanças

culturais são indicadas algumas ações:

a) Estabelecer um programa de formação de lideranças pastorais para compreender

o fenômeno da cultura da comunicação, o conhecimento das novas linguagens das

mídias, suas mudanças e implicações na vida das pessoas e no anúncio do

Evangelho, a fim de evitar que sejam apenas usadas para ampliar a mensagem da

Igreja;

b) Conhecer e estudar os documentos oficiais da Igreja sobre comunicação e

cultura;

c) Criar um clima de sinergia entre as diferentes iniciativas no campo da

comunicação;

d) Estimular o espírito de colaboração entre as pastorais, movimentos, ministérios e

serviços, para somar esforços e articular-se para atingir as metas propostas;

e) Proporcionar aos catequistas uma atualização e revisão dos métodos de ensino

da catequese para crianças e adultos, tendo em vista a dimensão comunicacional;

f) Formar os comunicadores nas dimensões da comunicação, para que conheçam a

programação da Igreja e atuem profissionalmente na área específica da Pascom;

g) Ter um programa de formação contínua para os presbíteros e diáconos, para que

qualifiquem seu modo de comunicar, incluindo a dimensão humana, espiritual,

celebrativa, com destaque à homilia;

h) Desenvolver um programa de educação para a comunicação com famílias, jovens

e crianças;

i) Promover o acesso a publicações católicas e formativas: revistas, livros, músicas,

filmes, internet, programas de rádio e televisão, entre outras;

j) Marcar a presença nos meios de comunicação locais: jornais, rádios, televisões,

internet e outros, de acordo com a realidade local;

l) Garantir a celebração do Dia Mundial das Comunicações, que a Igreja celebra no

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dia da Ascensão do Senhor;

Para compreender melhor o funcionamento da Pascom, o gráfico a seguir

ilustra como se organiza a Pastoral de Comunicação da Igreja.

Figura 1 – Organização da Pastoral da Comunicação

Fonte: (PUNTEL; CORAZZA, 2007, p. 88).

Na análise de Puntel e Corazza, é importante observar no gráfico as

diferentes instâncias da Comunicação na Igreja. Há instâncias pastorais, desde o

Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, passando pelo nível continental,

até a organização da CNBB com seus Regionais, em que se situam as dioceses e

paróquias. Já as organizações católicas forma criadas em nível internacional antes

de uma organização pastoral, destacando-se a Organização Católica Internacional

de Cinema – OCIC – em 1928; a Organização Católica Internacional de Prensa –

UCIP – em 1927; e a Associação Católica Internacional para a Rádio e para a

Televisão – UNDA – em 1928. No Brasil essas associações também estão

presentes. Tendo em vista a convergência de mídias, principalmente a partir dos

anos 2000, ocorreu um movimento para a união dessas instituições.

Internacionalmente foi unida a OCIC e a UNDA, criando a Association Catholique

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Mundiale pour la Communication (Associação Católica Mundial para a

Comunicação) – SIGNIS – um organismo profissional e autônomo, sem fins

lucrativos, sediado em Fribourg, na Suiça, com estatuto de 26 de novembro de 2001

(PUNTEL; CORAZZA, 2001).

Puntel e Corazza defendem que a Pascom também conte com profissionais

remunerados e designados especificamente para o trabalho da comunicação

eclesial. Tratando especificamente sobre a função do jornalista na comunicação

digital, existe a obra de Polyanna Ferrari, denominada Jornalismo digital (2009). A

autoria afirma que ao produzir conteúdo e disponibilizá-lo na Internet, é necessário

atentar que o consumidor da informação é bombardeado diariamente por grande

quantidade delas. Assim, deve-se buscar a fidelização dos leitores promovendo a

diferenciação da disposição do conteúdo. Ao popularizar a informação, a Internet

acirra a concorrência das empresas produtoras de conteúdo para manter a

relevância.

Quando um usuário acessa um portal, quer sentir-se único. Gosta de ser ouvido e interage. Essas mudanças […] delineiam o novo padrão de informação e entretenimento de massa. É uma combinação da mídia antiga e da nova, que se complementam e ao mesmo tempo competem entre si (FERRARI, 2009, p. 38).

Dentro dessa linguagem utilizada para disponibilizar conteúdo na rede,

entram padrões típicos do jornalismo online, que já estão difundidos na mídia em

geral e superam os elementos tradicionalmente utilizados na mídia impressa,

mesclando a imagem e o som utilizados na TV e no rádio. Inclusive, o próprio texto

deixou de ser definitivo, uma vez que a interação a partir do usuário, seja e-mail ou

comentário sobre determinada matéria, pode trazer novas informações ou lançar

luzes sob um ponto de vista diferente, tornando-se parte do conteúdo jornalístico

(FERRARI, 2009). Logo, aparece um padrão próprio do jornalismo digital: o

hipertexto, que pode ser definido como um bloco de diferentes informações

interconectadas que, ao utilizar nós, chamados links, molda a rede hipertextual,

proporcionando ao leitor a decisão de avançar no consumo da informação. Assim,

conforme Ferrari (2009) também se revoluciona a própria profissão do jornalista,

transformado, por conceito, em ciberjornalista, reunindo aptidões próprias da

linguagem na rede. Porém, se faz necessário chamar a atenção no sentido de que

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a Internet ainda está em gestação, a caminho de uma linguagem própria. Não podemos encará-la apenas como uma mídia que surgiu para viabilizar a convergência entre rádio, jornal e televisão. A Internet é outra coisa, uma outra verdade e consequentemente uma outra mídia, muito ligada à tecnologia e com particularidades únicas. Ainda estamos, metaforicamente, saindo da caverna (FERRARI, 2009, p. 450).

A Igreja Católica brasileira, ainda antes de pensar na comunicação digital, se

aventurava nas mídias existentes, sobressaindo alguns expoentes midiáticos como

será visto a seguir, principalmente se tratando de televisão.

3.2 UM EXEMPLO CATÓLICO DO USO DAS MÍDIAS

Um caso que ilustra a relação entre a mídia e o catolicismo no Brasil é o

fenômeno do padre-cantor Marcelo Mendonça Rossi, abordado na obra Catolicismo

Midiático (2011), da autora Brenda Carranza. Padre Marcelo foi alçado ao status de

pop-star católico pela mídia a partir de 1998, quando o CD Músicas para Louvar ao

Senhor vendeu mais de 1 milhão de cópias. Com presença constante em programas

de rádio e TV e na mídia impressa e digital, o sacerdote respondeu assim quando

perguntado sobre a utilização da mídia para promoção da mensagem

evangelizadora: ―Se Jesus Cristo vivesse hoje estaria nos meios de comunicação. O

Senhor usava parábolas, que eram o dia a dia das pessoas. Hoje é pelos meios de

comunicação que se vai até o coração das pessoas‖ (Caras, 4 dez. 1998 apud

CARRANZA, 2001, p. 47-48).

Conforme a coleta de informações realizada pela autora em entrevistas

publicadas em diversas revistas e jornais a partir de 1999, a ascensão do sacerdote

se valia de uma linguagem até então inovadora que contribuía para cativar o público,

com grande apelo dos jovens. Ainda antes de entrar para o seminário, se formar em

Filosofia e Teologia e ser ordenado presbítero, Marcelo alcançou a graduação em

Educação Física e trabalhava como personal trainer. Em seus shows de

evangelização e performances exibidas em programas de televisão, o apelo corporal

estava presente nas coreografias das músicas, muitas com letras singelas,

dançantes e animadas. Esse estilo implantado pelo religioso, chamado aeróbica de

Jesus, conquistou multidões, se tornando um case de sucesso para estudar e

compreender novos fenômenos da fé introduzida pela midiatização do catolicismo.

―Com isso, Pe. Marcelo apresenta-se como imagem de uma Igreja católica atual, que

por meio de um sacerdote atleta, bonito e jovem, que inaugura Cyber-Cafés, insere-

se na sociedade rejuvenescida‖ (CARRANZA, 2011, p. 46).

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O que acontece, na abordagem de Carranza, é que a partir da década de

1990 ocorreu uma transformação nos estilos de vida, onde as necessidades

materiais e simbólicas eram perseguidas, aumentando o apelo pelo prolongamento

da juventude e da imagem de um corpo sem envelhecimento, como objeto de

consumo e bem-estar. Nessa lógica, da cultura de culto ao corpo, a Santíssima

Trindade da sociedade consumista se configura em ―beleza, juventude e amor, como

mitologia de felicidade da sociedade do consumo e promessa de realização plena‖

(CARRANZA, 2011, p. 47). Nos anos 1990, há a explosão dos templos que veneram

o corpo: as academias de ginástica, como garantia de qualidade de vida, devolvendo

aos mais velhos a juventude deixada para trás e concedendo aos mais jovens a

oportunidade de permanecerem jovens. Esse contexto todo da construção da

própria identidade humana ligada ao universo do consumo e da superação dos

próprios limites atinge também as fronteiras religiosas, figurada na ascensão dos

padres cantores, símbolos da modernização das práticas cotidianas como um todo.

Assim, além do padre Marcelo, surge o padre Zeca, que acredita ser

[...] fundamental minha participação na TV para atrair cada vez mais pessoas de volta às missas. Gosto de surfar e é isso que os jovens gostam de ver, um padre desencanado que fala a linguagem deles […] minha missão é evangelizar […] eu descobri o jeito: praia e música, do jeito que o carioca gosta... (CORREIO POPULAR, 1998, TV apud CARRANZA, 2011, p. 51).

Logo, os religiosos que seguem essa linha dos padres Marcelo e Zeca se

tornam expoentes da modernização da Igreja Católica na tentativa de uma

reinstitucionalização do catolicismo brasileiro e de uma recatolização do cotidiano

(CARRANZA, 2014).

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4 A EVANGELIZAÇÃO DOS JOVENS IMERSOS NA CULTURA DIGITAL

O presente capítulo trará um retrato dos nativos digitais traçando um paralelo

entre o comportamento juvenil dentro e fora do universo virtual. A intenção é apontar

de que forma as conexões virtuais podem interferir na vida de um indivíduo que já

nasce imerso na ambiência cibercultural.

Neste capítulo também será apresentada a Pesquisa Brasileira de Mídia

2015, que revela os hábitos do consumo midiático dos brasileiros. Apesar da TV

ainda ser o meio de comunicação mais utilizado, a Internet está emergindo e se

difundindo principalmente entre o público jovem.

Por fim serão apresentadas iniciativas da Igreja Católica e de agentes

pastorais para a evangelização da juventude no grande ambiente digital.

4.1 UM RETRATO DA JUVENTUDE ATUAL

Conforme o Ministério da Saúde do Brasil, a juventude é o período evolutivo

da vida humana que varia entre 10 e 24 anos. Os adolescentes são os indivíduos de

10 a 14 anos, os adolescentes jovens de 15 a 19 anos e os jovens adultos de 20 a

24 anos3. Ainda assim esses limites cronológicos são variáveis e podem começar ou

terminar precoce ou tardiamente.

No livro Geração digital: riscos e benefícios das novas tecnologias para as

crianças e os adolescentes (2008), organizado por Susana Graciela Bruno

Estefenon e Evelyn Eisenstein, o jovem é apresentado como um indivíduo que

passa por uma série de transformações biológicas e hormonais no corpo, como a

puberdade, além da mente buscar fixar uma identidade pessoal que gere

independência econômica e autonomia, em um processo natural e complexo da

migração da infância para a fase adulta. Em meio a todas essas mudanças, o

adolescente imerso na cultura digital ainda convive com um mundo em constante e

cada vez mais veloz transformação.

Pediatra e hebiatra (médica especialista em adolescência), Estefenon

(Adolescência: desenvolvimento biopsicossocial, 2008) traça um paralelo entre a

adolescência e o universo digital, conforme aponta o quadro abaixo.

3 Disponível em:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf>. Acesso em 25 out. 2015.

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Quadro 1 – Adolescente na era digital

O adolescente Universo digital

Desafia limites e transgride regras

Fantasia

Quer pertencer a um grupo de iguais

Busca o novo

Sente-se onipotente

Procura a identidade sexual

Quer conquistar autonomia e independência econômica

Deseja ter uma identidade pessoal própria

Sofre pressão e influência dos amigos

Torna-se alvo do consumismo e da globalização

Enfrenta crise de valores e regras sociais (formatação)

Tudo é sem fronteiras e sem limites

Sem demora, imediato, simultâneo

O anonimato dá garantia de invisibilidade ou possibilidade de mentir

Mundos real e virtual se confundem

São criados novos códigos de relacionamento

É construída uma versão virtual da identidade

O grupo de iguais é formado por desconhecidos e amigos

O acesso virtual é irrestrito

Gangues digitais

É alvo de vendas online

Acesso fácil ao proibido

Não há leis – ou existem, mas não são aplicadas ou fiscalizadas ainda em muitos países

Fonte: (Adolescência: desenvolvimento biopsicossocial, 2008, p. 34)

Segundo Estefenon (2008), o processo para se tornar um adulto é complexo,

pois o adolescente precisa lidar com a fugacidade dos acontecimentos, a

supervalorização do corpo, o consumismo fora de controle, a mudança dos papéis

maternos e paternos e dos valores religiosos e culturais herdados das gerações

anteriores. ―E, por fim, o adolescente não pode nem consegue mais ficar fora do

ciberespaço, onde realidade e fantasia se confundem‖ (Adolescência..., p. 35).

Também pediatra e hebiatra, Eisenstein, em seu artigo intitulado Mundo digital

(2008), expõe como o desenvolvimento científico e tecnológico da urbanização, da

comunicação, da industrialização e da globalização influenciam em vários fatores

que levam ao desequilíbrio da sociedade, principalmente nos grupos mais

vulneráveis como crianças e adolescentes. A convivência em família e o

desenvolvimento da personalidade e das habilidades dos jovens se modificaram

profundamente. Por exemplo,

escrever a lápis ou a caneta, misturar as cores na aquarela e desenhar com um pincel, ler um livro, brincar com os amigos ou jogar bola no time da rua eram exercícios ativos para o aprendizado social e correspondiam às diversas etapas de crescimento social e maturação psicomotora. Para a geração digital, o controle remoto e o mouse estão se tornando extensões dos dedos, o toque mágico para se entrar no mundo imaginário, ―cronificando‖ a passividade e o imediatismo (EISENSTEIN, 2008, p. 42-43)

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42

Conforme Eisenstein (2008) com a mudança dos padrões de convívio social,

os adolescentes criados no mundo digital acabam sendo escravizados pela

dependência tecnológica. A world wide web se tornou uma teia mundial onde existe

o risco de se perder ou ficar preso, alimentando um querer mais rápido das coisas,

tornando tudo mais intenso e mais descartável. Junta-se a isso o fato da mídia

glamorizar a eterna juventude e, por outro lado, ensaiar quebras de estereótipos,

como a sexualização dos conteúdos e o apelo à violência, principalmente por meio

da televisão e do computador, influenciando novos comportamentos de risco, como

o aumento da ansiedade, do medo, além de dessensibilizar para os conflitos à volta.

A constatação é de que são poucos os programas de televisão ou sites na internet

instrutivos que transmitem mensagens de cunho educativo em saúde,

responsabilidade social ou ambiental e sexualidade saudável e vital (EISENSTEIN,

2008).

4.2 OS HÁBITOS DE CONSUMO MIDIÁTICO DOS BRASILEIROS

A Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) 20154, encomendada pela Secretaria

de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), traz as estatísticas

mais atuais sobre os hábitos de informação dos brasileiros5. Conforme os dados

coletados pelo Ibope em mais de 18 mil entrevistas, a televisão ainda é o meio de

comunicação predominante, seguido pelo rádio. O jornal é o veículo mais confiável.

De acordo com a pesquisa, 95% dos brasileiros afirmaram assistir TV, sendo que

73% veem diariamente. Já 55% dos entrevistados dizem ouvir rádio, sendo 30%

deles todos os dias. A pesquisa também aponta que 49% dos brasileiros utilizam a

Internet todos os dias.

4 O trabalho de campo da PBM 2015 ocorreu entre 5 e 22 de novembro de 2014, por meio de

entrevistas domiciliares face a face, com 300 entrevistadores aplicando 85 perguntas a 18.312 pessoas maiores de 16 anos em 843 municípios. SECOM. Pesquisa brasileira de mídia 2015. 5 Disponível em: http: www.secom.gov.br atuacao pesquisa lista-de-pesquisas-quantitativas-e-

qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em: 21 out. 2015.

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43

Figura 2 – Frequência de uso da Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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A PBM revela que os brasileiros ficam conectados, em média, cinco horas

diárias. Desses, 37% acessam a web diariamente, um crescimento de 11% em

relação a PBM do ano anterior. Especificamente no público jovem, entre 16 e 25

anos, o número sobe para quase seis horas diárias de segunda a sexta-feira. Nos

finais de semana, a média é de 5h25min. Praticamente, não há diferença entre

homens e mulheres, mas a variação se acentua quando levado em consideração a

idade, a renda familiar e o nível de escolaridade.

Figura 3 – Intensidade de uso da Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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A pesquisa traz também que os celulares são utilizados por 66% dos entrevistados

para acessar a Internet, contra 71% via computadores e notebooks e 7% via tablets.

Das 18.312 pessoas entrevistadas, 92% utilizam as redes sociais digitais, sendo o

Facebook o preferido com 83%, seguido pelo Whatsapp com 58%, o You Tube com

17%, o Instagram com 12% e o Google+ com 8%. O Twitter foi citado por apenas

5% dos entrevistados.

Figura 4 – Redes sociais mais utilizadas

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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Outro dado é de que os usuários estão em busca de informação (67%),

diversão e entretenimento (67%), como forma de passar o tempo livre (38%) e em

menor grau para estudo e aprendizagem (24%) ou como companhia (16%).

Figura 5 – Razões para utilizar a Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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A pesquisa também perguntou o motivo pelos quais as pessoas não utilizam

a Internet. Sobressaem Os motivos da falta de interesse (43%) e da falta de

habilidade com o computador (41%), seguido pela falta de necessidade (24%), pelo

custo (14%) e pela falta de acesso (13%).

Figura 6 – Razões por não utilizar a Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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O horário em que os brasileiros mais utilizam a Internet é entre 20 e 21 horas.

Figura 7 – Horários de utilização da Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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49

Outro ponto a ser levado em consideração é a possibilidade de fazer outras

atividades enquanto se navega na Internet. Comer, conversar, usar o celular e

assistir TV são algumas das possibilidades citadas pelos brasileiros como

concomitantes com o uso da Internet.

Figura 8 – Uso concomitante da Internet

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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A Pesquisa Brasileira de Mídia também levantou o nível de confiança em

notícias, propagandas e anúncios de publicidades veiculadas pelos diferentes meios

de comunicação. Em função da dinâmica de interação dos usuários de internet,

foram fracionadas as questões sobre notícias e propagandas on-line em três meios:

sites, blogs e redes sociais. No total, 41% dos entrevistados disseram confiar nas

notícias e propagandas e 33% nos anúncios de publicidade, independente do meio

pesquisado.

Figura 9 – Confiança nas notícias

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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No meio eletrônico em específico, 27% dos entrevistados confiam sempre ou muitas

vezes em notícias em sites, blogs e redes sociais e 23% nas propagandas, contra

52% e 43%, respectivamente, em comparação à televisão, rádio, jornal e revista,

Figura 10 – Confiança nos sites de notícias

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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Figura 11 – Confiança nas notícias de blogs

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

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Figura 12 – Confiança nas redes sociais

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015

Depois de conhecer o hábito de consumo midiático dos brasileiros e verificar

que a Internet está cada vez mais difundida entre o público jovem, serão abordados

alguns exemplos da utilização das redes por parte de organismos eclesiais que

dialogam com os jovens.

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54

4.3 A INTERAÇÃO ENTRE JOVENS E O MUNDO DIGITAL

O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014) destaca que os

processos comunicativos que envolvam crianças e jovens como membros ativos da

sociedade e da Igreja Católica merecem atenção especial. A educomunicação deve

favorecer às novas gerações aproximarem-se dos recursos da informação a partir de

uma perspectiva crítica, construtiva, autoral e cristã. Conforme o Diretório Nacional

da Catequese da CNBB (2006), a iniciação da vida cristã dos jovens é constituída

por uma ação comunicativa articulada em três etapas: querigma ou primeiro

anúncio, catequese e ação pastoral, com a Palavra de Deus sendo a fonte da

evangelização. Assim, os encontros de catequese são um ambiente comunicacional

propício para a reflexão, meditação e o aprofundamento dos ensinamentos cristãos.

O Diretório de Comunicação (2014) aborda as atitudes plausíveis para o

catequista, que devem levar em conta habilidades e procedimentos que promovam

um diálogo de respeito entre os interlocutores e que reforcem a acolhida ao outro,

considerando a diversidade de visões de mundo, interesses e desejo de vivenciar a

fé. Para a realização desse processo, os catequistas são incentivados a utilizar

recursos midiáticos tradicionais como livros e folhetos e também digitais como

materiais audiovisuais, produções musicais, cinematográficas e televisivas, sites,

blogs. No entendimento da CNBB, ―as redes de relacionamento com conteúdos

culturais e religiosos, apresentam-se, dessa forma, como preciosos recursos para os

catequistas e catequisandos‖ (DIRETÓRIO DE COMUNICAÇÃO DA IGREJA NO

BRASIL, 2014, p. 62). Para que a orientação seja colocada em prática, o Diretório

ressalta a necessidade de formação dos catequistas em áreas das Ciências

Humanas, como a Pedagogia e a Psicologia da Aprendizagem, estando atentos aos

desafios oferecidos pelas mídias ―que muitas vezes divulga e insinua, junto às

crianças, jovens e adultos conceitos e práticas que contradizem a proposta cristã.

Faz-se necessária a aplicação de metodologias de análise crítica da mídia‖ (p. 62).

Na exortação apostólica Christefideles laici, de 1988, o Papa João Paulo II

disse que ―os jovens não devem ser considerados simplesmente como objeto da

solicitude pastoral da Igreja: são de fato e devem ser encorajados a serem sujeitos

ativos, protagonistas da evangelização e artífices da renovação social (n. 46). O

Papa Francisco, durante a homilia na missa de encerramento da Jornada Mundial da

Juventude, ocorrida em 2013 no Rio de Janeiro, conclamou a juventude ao dizer que

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a Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem!

6

Assim, conforme o Diretório de Comunicação, os jovens são chamados à

responsabilidade de evangelizadores, uma vez que devem dar testemunho cristão

nas redes sociais digitais e em outros ambientes que estejam presentes, pois, no

entendimento da CNBB, são protagonistas das novas tecnologias já que

vivem imersos nesse ambiente, dominam a linguagem das mídias digitais, quanto ao estilo interativo e rápido de se comunicar. É nesse espaço que eles devem fazer resplandecer o rosto de Jesus Cristo, vivendo os valores evangélicos de justiça, de não violência, de paz, de fraternidade, de amizade e de solidariedade. Os jovens são chamados a ser mensageiros do amor de Deus, com palavras, gestos e atitudes, utilizando as novas tecnologias nessa missão (DIRETÓRIO... 2014, p. 101).

A CNBB também entende que as escolas católicas são locais propícios para

o desenvolvimento de uma consciência a respeito dos instrumentos de comunicação

social, já que ―crianças e jovens compõem o grupo social mais aberto ao exercício

do domínio midiático‖ (DIRETÓRIO... 2014, p.175). Investir nessa formação é

praticar a educomunicação, com o intuito de formar promotores de uma nova

mentalidade, com gestão solidária de recursos e práticas de cidadania, valorizando

―uma comunicação mais dialógica e menos manipuladora‖ (DIRETÓRIO... 2014, p.

177). Nesse sentido, o documento Igreja e Internet (2002) também traz uma

compreensão de que

os jovens precisam de ser ensinados, não só a comportarem-se como verdadeiros cristãos, quando são leitores, ouvintes ou espectadores, mas também a saber utilizar as possibilidades de expressão desta ―linguagem total‖ que os meios de comunicação põem ao seu alcance. Sendo assim, os jovens serão verdadeiros cidadãos desta era das comunicações sociais, de que nós conhecemos apenas o início — uma era em que os mass media são vistos como parte de uma cultura ainda em desenvolvimento, cujas plenas implicações ainda são compreendidas imperfeitamente. Assim, a formação sobre a Internet e as novas tecnologias exige muito mais do que o ensino das técnicas; os jovens têm necessidade de aprender como agir corretamente no mundo do espaço cibernético, discernir os juízos de acordo com critérios morais sólidos a respeito daquilo que nele encontram e lançar mão das novas tecnologias para o seu desenvolvimento integral e o benefício dos outros (IGREJA E INTERNET, 2002, n.7).

6 VATICAN.VA. Homilia do santo padre.

Disponível em: https: w2.vatican.va content francesco pt homilies 2013 documents papa-francesco_20130728_celebrazione-xxviii-gmg.html>. Acesso em: 20 out. 2015.

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56

Apesar da visão comunicacional da Igreja Católica contemplar a digitalização,

é importante retomar um ponto citado pelo papa Francisco e já abordado no primeiro

capítulo: a cultura do encontro. O termo apresentado durante o discurso para o 48º

Dia Mundial das Comunicações Sociais em 2014 ganhou força entre os jovens.

Escreve o sumo pontífice que para a comunicação estar a serviço de uma cultura do

encontro, precisa superar as fronteiras do ciberespaço. Assim,

o desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não têm acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluída. [...] Não basta circular pelas estradas digitais, isto é, simplesmente estar conectado: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura.

7

Portanto, ao mesmo tempo em que a Igreja Católica compreende a cultura

digital dos tempos atuais e incentiva a utilização das mídias eletrônicas, chama a

atenção para a comunicação presencial independente de mediações de ferramentas

ou outras componentes.

4.3.1 Exemplos de comunicação digital dos jovens católicos

A Igreja Católica acumula alguns bons exemplos do uso da comunicação

digital no relacionamento com os jovens. Os casos referenciados a seguir não estão

elencados em nenhum livro, pesquisa ou lista de referência, mas são populares

entre a juventude católica e podem servir como norte para uma análise mais

criteriosa.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013 no Rio de Janeiro reuniu 3,7

milhões de pessoas na praia de Copacabana no último final de semana do evento,

27 e 28 de julho, onde ocorreu a vigília e a missa de encerramento com a presença

do Papa Francisco8 . Durante a preparação e a divulgação do evento, a Igreja

Católica nacional criou a Comissão Episcopal Pastoral para Juventude (CEPJ) que

―é o espaço que articula, convoca e propõe orientações para a

evangelização da juventude, respeitando o protagonismo juvenil, a diversidade dos

7 NEWS.VA. Mensagem do Papa Francisco para o XLVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais,

2014 - Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro. Disponível em: <http://www.news.va/pt/news/mensagem-do-papa-francisco-para-o-xlviii-dia-mundi>. 8 ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO. JMJ Rio2013 supera expectativas: 3,7 milhões de pessoas

na missa de envio. Disponível em: http: arqrio.org noticias detalhes 906 jmj-rio2013-supera-expectativas-3-7-milhoes-de-pessoas-na-missa-de-envio>. Acesso em: 15 out. 2015

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carismas, a organização e a espiritualidade para a unidade das forças ao redor de

algumas metas e prioridades comuns 9 . Encarregada de organizar a JMJ, a

Comissão investiu em comunicação e criou o portal Jovens Conectados -

www.jovensconectados.org.br - que possui quase 370 mil curtidas na página do

Facebook 10 e ainda mantém outras redes sociais como You Tube, Instagram,

Twitter, Flickr, Tumblr e Viber. Lançado em 3 de dezembro de 2010, o portal

possibilita

que jovens das mais diversas expressões eclesiais (pastorais, movimentos, congregações, novas comunidades e organismos) possam divulgar as suas atividades. Isto é, cada jovem que está inserido dentro da Igreja pode transmitir as suas ações por meio do Jovens Conectados, criando assim uma grande rede de colaboração, por onde as notícias e informações podem chegar a diversas outras realidades, que sobretudo leva também a mensagem de Cristo.

11

Além de manter uma equipe própria de comunicação, o Jovens Conectados

realizou a cobertura online da JMJ contando com a participação de comunicadores

voluntários de todos os Estados do Brasil. Ainda depois da JMJ, o portal se mantém

no ar divulgando as atividades dos jovens católicos pelo país e postando conteúdo

como artigos, matérias, e reportagens multimídia de conteúdo cristão, tanto para

jovens como da Igreja em geral.

9 JOVENS CONECTADOS. Quem somos. Disponível em:

<http://www.jovensconectados.org.br/quem-somos>. Acesso em: 19 out. 2015. 10

FACEBOOK. Jovens conectados. Disponível em: www.facebook.com jovensconectados . Acesso em: 19 out. 2015. 11

JOVENS CONECTADOS op.cit

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Figura 13 – Site Jovens Conectados

Fonte: Jovens Conectados. Disponível em: www.jovensconectados.org.br . Acesso em: 19 out.

2015

Assim como houve a criação da Comissão Episcopal para a Juventude em

nível nacional, também outras organizações foram criadas ou reativadas em nível

regional, estadual e diocesano por ocasião da JMJ. Assim, surgiu o Eaí?Tchê -

Serviço de Evangelização da Juventude do Rio Grande do Sul. De acordo como o

site oficial, o portal

nasceu com o objetivo de ser o ponto de encontro da juventude católica gaúcha, como forma de expressar toda a riqueza, diversidade e beleza da juventude do nosso Estado. O portal foi construído por diferentes grupos, pastorais, movimentos e carismas, que trabalham e mostram a cara dessa juventude!

12

O Eaí?Tchê reúne informações e disponibiliza conteúdos voltados para a

juventude católica do Estado e funciona de forma semelhante ao Jovens

12

EAÍTCHE. Apresentação. Disponível em: www.eaitche.com.br/portal/apresentacao>. Acesso em: 19 out. 2015.

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Conectados, também mantendo perfil no Facebook13, seguido por mais de 18 mil

pessoas, além de Twitter, You Tube e Flickr.

Figura 14 – Site do Eaí?Tchê

Fonte: Eaí?Tchê. Disponível em: <www.eaitche.com.br>. Acesso em: 19 out. 2015

A Diocese de Caxias do Sul também seguiu os passos nacionais e estaduais

e criou sua própria organização oficial de relacionamento com a juventude. 14

Organismo responsável por congregar os grupos, movimentos e pastorais de jovens

da Diocese, o Setor Juventude já existia, mas ganhou outra concepção a partir de

2012, com a criação do seu veículo de comunicação próprio chamado ComMissão

Jovem. O objetivo é ―unificar os jovens que atuam nos diversos segmentos da Igreja,

bem como trazer ao engajamento juvenil todos os que se sentirem chamados por

Jesus para também serem missionários.‖15 Com uma página no Facebook seguida

13

FACEBOOK. Eaitche. Disponível em: www.facebook.com eaitche . Acesso em: 19 out. 2015. 14

De acordo com o site www.diocesedecaxias.org.br, a Diocese é a organização regional da Igreja Católica que corresponde ao semelhante da Serra para o Rio Grande do Sul. A Diocese local, criada em 08 de setembro de 1934, tem sede em Caxias do Sul compreendendo 32 municípios, 70 paróquias e 972 comunidades. 15

ComMissão Jovem. Disponível em: http: commissao.com.br . Acesso em: 19 out. 2015.

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por mais de 2,5 mil pessoas16 e um canal no You Tube, a Commissão Jovem divulga

conteúdo noticioso de diversos, grupos, movimentos e expressões juvenis.

Sem ser uma iniciativa eclesial, a ComMissão Jovem nasceu da ideia de dois

ex-seminaristas para motivar os jovens locais a participarem da Jornada Mundial da

Juventude. Primeiramente focada na divulgação dos eventos de preparação para a

JMJ, que recebeu cerca de 500 jovens da Diocese , o portal continua ativo e

congregando para a integração dos jovens. Atualmente, é mantido por uma equipe

voluntária de comunicadores católicos, formada por jornalistas, publicitários e

universitários da área de comunicação, sob a coordenação do referencial diocesano

do Setor Juventude, padre Rudinei Zorzo.

Figura 15 – Site da ComMissão Jovem

Fonte: ComMissão Jovem. Disponível em: http: commissao.com.br . Acesso em: 19 out. 2015.

Outra iniciativa comunicacional foi a criação da Area Catolica, uma rede social

própria para os adeptos do catolicismo mantida pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Lançado em 2 de maio 2015 em um evento no Cristo Redentor17, o Area Catolica

16

FACEBOOK. Commissão Jovem. Disponível em: www.facebook.com commissaojovem . Acesso em: 19 out. 2015. 17

A12. Arquidiocese do Rio apresenta rede social católica. Disponível em: <www.a12.com/jovens-de-maria/noticias/detalhes/arquidiocese-do-rio-apresenta-rede-social-catolica>. Acesso em: 19 out. 2015.

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pode ser acessado a partir do perfil existente no Facebook, sendo possível

compartilhar conteúdos no Twitter e Google+. Na descrição da página oficial, lê-se

―A rede social do Povo Católico! Leia, comente, compartilhe, encontre novos amigos

e viva a Cultura do Encontro!‖.18

Figura 16 – Por dentro do Area Catolica

Fonte: Area Catolica. Disponível em <www.areacatolica.com>. Acesso em: 19 out. 2015.

Na nova rede, o usuário cria um perfil para dialogar com outros amigos e

conversar sobre a Igreja, doutrina, declarações do Papa, trocar informações de suas

paróquias, comunidades e dioceses e outros tipos de interação. Também é possível

convidar outros usuários para participar de eventos, postar e compartilhar textos,

fotos e vídeos. Outra opção é acompanhar o perfil de personalidades e instituições.

O Area Catolica reúne ainda características de um blog, tendo layout propício para a

construção de textos longos.

18

AREA CATOLICA. Disponível em: www.areacatolica.com . Acesso em: 19 out. 2015.

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Figura 17 – Página inicial do site Area Catolica

Fonte: Area Catolica. Disponível em <www.areacatolica.com>. Acesso em: 19 out. 2015.

Após esse capítulo final abordando juventude, hábitos de consumo midiático

e iniciativas da Igreja para a evangelização juvenil, as próximas etapas do trabalho

referem-se à metodologia empregada para a pesquisa no cenário local da Diocese

de Caxias do Sul, análise dos dados e impressões obtidas e considerações finais.

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63

5 METODOLOGIA

Para diagnosticar e analisar a relação que a Igreja Católica em Caxias do Sul

estabelece com os jovens e lançar um olhar propositivo de melhoria no campo da

comunicação é preciso que o pesquisador se aprofunde na realidade vivida por esse

público. O catolicismo, por si só, é vivenciado de forma particular em cada

comunidade, uma vez que assume características específicas dependendo do

recorte cultural em que está inserido. Cada padre ou religioso conduz o trabalho

pastoral de acordo com suas preferências e estilos. Os fiéis, por sua vez, também

respondem individualmente aos métodos adotados por esses líderes, se

familiarizando ou não. Ainda, para completar o cenário, cada indivíduo compreende

a doutrina da Igreja e manifesta sua fé de forma única. O jovem, de acordo com as

impressões colhidas na pesquisa, é um público a parte na Igreja a ser trabalhado e

não são todas as estruturas eclesiais que despendem empenho e oportunizam

espaço para tal. Ou seja, qualquer análise precisa levar em conta todo um conjunto

de subjetividades que se tornam relevantes no momento de planejar e aplicar uma

estratégia comunicacional adequada.

Agrega-se a este cenário a dimensão da Diocese de Caxias do Sul. De

acordo com o site oficial19, são 70 paróquias, formada por 972 comunidades em 32

municípios, contabilizando mais de 900 mil habitantes. Portanto, a pesquisa

realizada no presente trabalho é um pequeno recorte do cenário encontrado na

Igreja Católica de Caxias do Sul e região.

Com o objetivo de desenvolver a análise proposta de forma satisfatória,

escolheu-se o método da pesquisa etnográfica, dividida em três técnicas: revisão

bibliográfica, observação participante e entrevista – por meio de duas abordagens:

entrevista em profundidade e questionários.

5.1 PESQUISA ETNOGRÁFICA

A pesquisa etnográfica neste trabalho foi de grande valia para compreender

diretamente o envolvimento entre Igreja Católica e a juventude. Para esse efeito,

etnografia é ―parte dos estudos antropológicos que corresponde à fase de

19

MITRA DIOCESANA DE CA IAS DO SUL. Disponível em: <http://www.diocesedecaxias.org.br/site/index.php>. Acesso em: 15 mai. 2015.

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elaboração de dados obtidos em pesquisa de campo e estudo descritivo de um ou

de vários aspectos sociais ou culturais de um povo ou grupo social‖ (FERREIRA,

1999, p. 849, apud TRAVANCAS, 2014, p.98).

Conforme Travancas (2014), circular por esse ambiente contribui para o

pesquisador enxergar mais longe o foco a ser desenvolvido. No entanto, é

necessário um exercício de distanciamento para não deixar a visão pessoal

interferir. Um requisito até bastante identificado com o Jornalismo, de exercitar a

neutralidade de opiniões e preferências. Ainda segundo Travancas (2014), o

trabalho de campo acontece a partir do deslocamento do pesquisador em relação à

sua própria sociedade. É um confronto pessoal com um universo diferente, com

outros códigos, outras lógicas, outra maneira de viver e pensar. Quem decide

pesquisar a sua própria sociedade, no entanto, precisa encará-la de uma forma

nova, experimentando o estranhamento dentro da sua própria cultura, procurando

olhá-la com outros olhos, com olhos de um estrangeiro em busca de significados.

A pesquisa etnográfica proposta ocorreu em dois locais de Caxias do Sul: na

paróquia Santa Tereza, localizada no Centro, em frente à Praça Dante Alighieri e

com destaque na Diocese por ser o referencial da Igreja Católica na região; e na

paróquia Santa Fé, cuja sede se localiza no bairro de mesmo nome na periferia da

cidade e que possui o maior número de habitantes do município: 20 mil20. Fundada

em 1885, a paróquia Santa Teresa é uma das mais antigas do município e possui

características essencialmente urbanas. Ela foi subdividida em 16 comunidades, que

são grupos de até 30 pessoas que se encontram quinzenalmente. A sede da

paróquia é a Catedral Santa Tereza ou Catedral Diocesana21. Já a paróquia Santa

Fé foi criada em 1999 e atualmente é formada por 15 comunidades, sendo duas

rurais, espalhadas por 15 bairros ou loteamentos. Diferente da Catedral, cada uma

dessas comunidades possui uma igreja própria como referência.

A etnografia nas paróquias ocorreu de duas formas: acompanhamento de

dois encontros de grupos de jovens com aplicação de questionários para os

20

PIONEIRO.COM. Santa fé é o bairro mais populoso de Caxias do Sul. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/noticia/2011/07/santa-fe-e-o-bairro-mais-populoso-de-caxias-do-sul-3373614.html>. Acesso em: 29 out. 2015. 21

A catedral é a igreja em que está a cátedra (cadeira) do bispo, nome do cargo dado ao religioso responsável por toda uma diocese. Logo, só existe uma catedral por diocese. A catedral é um símbolo da administração, pastoreio e unidade da fé de uma região. (CATEDRAL SANTA TERESA. Disponível em: <http://www.catedraldecaxias.org.br/catedral/catedral>. Acesso em: 29 out. 2015).

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65

integrantes; e aplicação de questionários para adolescentes crismandos da

catequese. A escolha dos crismandos se deve pela importância e tradição que a

iniciação à vida cristã possui dentro da Igreja Católica, sendo caminho quase

obrigatório para as crianças e adolescentes, geralmente incentivadas pelos pais. Já

os grupos de jovens são, ou deveriam ser, uma continuação da catequese, onde os

jovens podem se reunir entre si e manifestar a sua fé, desenvolvendo uma maneira

própria de atuar na Igreja. Também foram aplicados questionários para lideranças

religiosas, como as catequistas, e realizadas entrevistas em profundidade com

outras lideranças, como o bispo, coordenadores de grupos e padres.

Para relatar os pontos observados na pesquisa etnográfica elaborou-se um

diário de campo, onde todas as observações foram anotadas para aproveitamento

na análise. Com a utilização dessas técnicas, o pesquisador tenta se aproximar ao

proposto pelos antropólogos, que realizam trabalhos de imersão para se apropriar

do conhecimento necessário e avaliar com mais propriedade as causas

pesquisadas.

Ousaria afirmar que a Antropologia é a ciência da escuta. O antropólogo não determina verdades, não aponta equívocos, não pergunta por que as coisas não são diferentes. Ele ouve e procura entender quais são as verdades para aqueles ‗nativos‘, quando e por que se enganam e muitas vezes se surpreende se perguntando por que as coisas na sua sociedade não são diferentes (TRAVANCAS, 2014, p. 102).

Foi necessário adentrar nesse universo de forma a não interferir na realidade

em questão, buscando se colocar no lugar do outro para, a partir daí, tecer análises,

evidenciar pontos de melhora e checar se as hipóteses lançadas se confirmariam.

5.1.1 Revisão bibliográfica

A pesquisa literária é método indispensável para a realização de qualquer

trabalho acadêmico. Ao adentrar no campo antropológico da etnografia, pesquisar e

descobrir o que existe de produção de conhecimento a respeito do tema se torna

ainda mais relevante para o desenvolvimento de um trabalho aprofundado e que

gere resultados bibliograficamente aceitos.

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66

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. (GIL, 2008, p.50).

Neste trabalho, o conhecimento dos autores a respeito do método a ser

empregado na coleta das informações se faz fundamental no sentido de apontar os

pormenores a serem seguidos na investigação. Por tratar de assuntos que permitem

uma subjetividade relativamente ampla, seguir as técnicas metodológicas embasa o

caminho a ser trilhado e permite a exploração por meio de um fio condutor que

impede a pesquisa de fugir de seu propósito delimitado no projeto.

Para a revisão bibliográfica, a consulta fez-se em obras literárias e também

por meio de artigos, matérias jornalísticas, documentos e outros conteúdos

acessíveis em sites e com o auxílio da Internet.

5.2 TÉCNICAS

Dentro da metodologia da etnografia para desenvolver a pesquisa, foram

utilizadas as técnicas da observação participante, da entrevista, da entrevista em

profundidade e da aplicação de questionários.

5.2.1 Observação participante

A principal técnica da pesquisa etnográfica a ser desenvolvida neste trabalho

foi a observação participante. Conforme Gil (2008), a vantagem, em relação a outras

técnicas, é de que os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer

intermediação, reduzindo a subjetividade do processo de investigação. Segundo

aborda Travancas (2014), também é necessário saber que o simples fato do

pesquisador estar presente no grupo a ser estudado pode provocar a alteração no

comportamento dos indivíduos ali inseridos, inibindo a espontaneidade,

influenciando o desenrolar das atividades e modificando a leitura dos fatos. Também

é preciso cuidado para que não ocorra uma participação observante, quando o

pesquisador se engaja no estudo e se coloca como porta-voz do grupo investigado,

deixando de lado seu compromisso profissional e ético e esquecendo que, embora

haja um enorme espaço para a subjetividade de pontos de vista, os dados são

formas objetivas e possuem vida própria.

Na observação participante, o observador se torna membro do grupo,

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buscando o conhecimento a partir do interior dele mesmo, tentando se colocar no

lugar do nativo daquele cenário. Gil (2008) cita o antropólogo Florence Kluckhon

para elencar as principais vantagens dessa técnica: facilita o rápido acesso a dados

sobre situações habituais em que os membros das comunidades estão envolvidos;

possibilita o acesso a informações que o grupo considera sigilosos; possibilita captar

as palavras de esclarecimento que acompanham o comportamento dos observados.

Na paróquia Santa Tereza o grupo de jovens escolhido para desenvolver a

observação participante foi o Grupo de Oração São Luiz Gonzaga, onde foram

acompanhados dois encontros nas quartas-feiras à noite. Na paróquia Santa Fé, o

grupo de jovens escolhido foi o Unidos Pela Fé, que se encontra nas sextas-feiras à

noite na comunidade Centenário II.

5.2.2 Diário de campo do Grupo São Luiz Gonzaga

O Grupo de Oração São Luiz Gonzaga, da paróquia Santa Tereza, é uma

iniciativa protagonizada por jovens desde 1988. O grupo é ligado à Renovação

Carismática Católica, movimento criado nos Estados Unidos em 1967 e difundido no

Brasil a partir de Campinas (SP)22, cuja missão é ―evangelizar com renovado ardor

missionário, a partir da experiência do Batismo no Espírito Santo, para fazer

discípulos de nosso Senhor Jesus Cristo‖ com a visão de ―tornar o Espírito Santo

mais conhecido, amado e adorado, difundindo a espiritualidade e a Cultura de

Pentecostes a partir do Grupo de Oração‖23.

Os encontros do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga ocorrem nas quartas-

feiras, a partir das 20h, no Espaço Mater Dei, dentro da Catedral Diocesana. As

observações aconteceram nos dias 14 e 21 de outubro de 2015. A partir de agora,

os relatos serão apresentados em primeira pessoa, a fim de transparecer as

impressões levantadas pelo pesquisador e registradas no diário de campo a partir de

um caderno e posteriormente digitadas no computador.

22 RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA BRASIL. A RCC no Brasil. Disponível em:

<http://www.rccbrasil.org.br/institucional/a-rcc-do-brasil.html>. Acesso em: 02 nov. 2015. 23

RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA BRASIL. Nossa missão e nossa visão. Disponível em: <http://www.rccbrasil.org.br/institucional/nossa-missao-e-nossa-visao.html>. Acesso em: 02 nov. 2015.

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14 de outubro de 2015, 19h45min.

Chego ao Espaço Mater Dei para acompanhar o encontro semanal do Grupo

de Oração São Luiz Gonzaga. O lugar fica abaixo da Catedral Diocesana, onde é

possível acessá-lo a partir do Jardim de Maria, com saída para a rua Os 18 do Forte,

e também pelos fundos do bispado e da sacristia, com saída para um

estacionamento rotativo defronte à rua Sinimbu. O Mater Dei possui uma arquitetura

sofisticada e contemporânea, com uma sala arejada e bem iluminada contribuindo

para o clima de acolhida. As paredes se intercalam nas cores brancas e vermelhas,

com uma parede totalmente envidraçada com vista para uma cerca. O teto é de

madeira com luminárias. Na sala estão posicionadas cadeiras verdes de plástico em

duas colunas voltadas para uma banda, que ensaia algumas músicas antes do início

do encontro. Próximo às duas entradas do espaço, alguns jovens conversam

animadamente entre si. Me aproximo e, imediatamente, todos se viram sorrindo e,

um por um, vêm me cumprimentar com um abraço. ―Seja bem-vindo! Que bom que

você veio‖, fala um rapaz que aparenta uns 20 anos. Ninguém ainda sabe da minha

condição de pesquisador. Perguntam meu nome e dizem para ficar à vontade. Me

dirijo para um assento na penúltima fila de cadeiras e aguardo o início do encontro.

Às 20h, pontualmente, inicia o encontro. A música está presente desde o

começo. A banda, chamada de Ministério de Música, é composta por sete

integrantes, sendo dois violonistas, um baixista, um tecladista, um baterista, além de

duas meninas vocalistas. Uma delas é Paola Delazzeri, 22 anos, que divide a

coordenação do grupo com Gabriel De Carli, 23 anos, que está sentado na primeira

fila. Além da banda, cerca de 25 pessoas participam do encontro, sendo apenas seis

meninos.

Os participantes ficam em pé, batendo palmas e dançando timidamente ao

som de uma música animada. Um projetor preso próximo ao teto projeta as letras

das músicas em um telão atrás da banda. A vocalista motiva todos a dançar e entrar

no ritmo da canção. Em frente ao Ministério de Música, duas meninas ensinam as

coreografias. Ao final da primeira música, ao comando da vocalista e coordenadora,

os participantes se abraçam um a um e circulam pela sala para abraçar aos outros.

Vão sorrindo e conversando enquanto a música continua. Apenas duas pessoas e o

eu permanecemos sentados, mas também recebemos abraços e sorrisos.

É possível notar que algumas meninas estão com uniforme de colégios

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particulares de Caxias do Sul que se localizam próximos à Catedral.

Após três músicas animadas, a canção executada pela banda se torna mais

lenta. As luzes do espaço são desligadas, ficando acesas apenas nas extremidades,

criando um ambiente em tom de penumbra. Um rapaz que até então estava

dançando assume o microfone. É o mesmo que me abraçou e desejou as boas-

vindas quando cheguei ao grupo. Ele inicia um momento de reflexão, declarando

que ―Deus quer conversar com você essa noite‖, convidando cada um a ―entregar-se

a Deus‖. Os participantes sentam e cada um faz em voz alta a sua própria oração

enquanto o rapaz fala e os instrumentos tocam. Essa mistura de sons é como uma

ladainha, onde não consigo ouvir nada nitidamente e nem identificar quase nenhuma

palavra. Muitos estão de olhos fechados e com expressão concentrada enquanto

mexem os lábios a rezar. Depois de alguns minutos, as orações e as palavras

cessam e ouve-se apenas a música instrumental. Depois, uma música de reflexão é

executada e a letra é como um ato penitencial, que convida ao arrependimento dos

pecados: ―me pega no colo, me acalma em teu peito, sou teu sou eleito e a minha

essência é exalar teu cheiro‖, diz o refrão da música, que toca por cerca de 10

minutos. Lágrimas escorrem do rosto de uma menina.

Às 20h40min, a música cessa e as luzes se acendem. Gabriel De Carli, um

dos coordenadores, assume o microfone e avisa que fará a pregação da noite.

Todos estendem as mãos em direção a ele e rezam uma Ave-Maria. A pregação

começa com a leitura da Bíblia. A cada duas cadeiras, há uma Bíblia com uma capa

especial do Grupo São Luiz Gonzaga. A leitura é do evangelista Marcos 10, 17-30,

conhecida como a parábola do Jovem Rico. Todos se levantam com a Bíblia nas

mãos e leem juntos em voz alta:

―Naquele tempo, quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo,

ajoelhou-se diante dele e perguntou: ‗Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a

vida eterna‘ Jesus disse: ‗Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais

ninguém. Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não

roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai

e tua mãe‘. Ele respondeu: ‗Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha

juventude‘. Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‗Só uma coisa te falta: vai,

vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e

segue-me!‘ Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza,

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porque era muito rico. Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: ‗Como é

difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!‘ Os discípulos se admiravam com estas

palavras, mas ele disse de novo: ‗Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de

Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico

entrar no Reino de Deus!‘ Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e

perguntavam uns aos outros: ‗Então, quem pode ser salvo?‘ Jesus olhou para eles e

disse: ‗Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é

possível‘. Pedro então começou a dizer-lhe: ‗Eis que nós deixamos tudo e te

seguimos‘. Respondeu Jesus: ‗Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa,

irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá

cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e

campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna‘.

Figura 18 - Bíblia utilizada no Grupo de Oração São Luiz Gonzaga

Fonte: autor

Após a leitura, o pregador convida os integrantes a partilharem o que cada

um refletiu. Um menino e uma menina falam em voz alta as suas opiniões. Em

seguida, o jovem Gabriel interpreta a passagem, aplicando a história à vida cotidiana

geral, em um paralelo com os ensinamentos deixados pelos episódios que narram a

história de Jesus na Bíblia, abordando o apego ao dinheiro e aos bens materiais,

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fazendo uma crítica ao consumismo em itens que não fazem sentido. O pregador

também fala de pessoas vazias e superficiais, que não existem além dos bens que

possuem. Além das próprias ideias, o pregador cita frases do Papa Francisco

contidas na exortação apostólica Evangelii Gaudium, caracterizando o pontífice

como ―a voz de Deus e pai espiritual‖. Há um tom de humor e brincadeira em

algumas partes do discurso, até envolvendo alguns participantes. O grupo presta

atenção num todo e ri de algumas brincadeiras. De vez em quando, alguns

cochicham entre si.

A pregação dura 35 minutos. Ao final, um músico faz um dedilhado de violão

enquanto Gabriel faz a reflexão final incentivando a responsabilidade social como

dever dos cristãos. Encerrando o discurso, a banda assume a condução do encontro

e executa a mesma música reflexiva do início. Agora, são apenas quatro integrantes

da banda. Três já foram embora, incluindo a coordenadora. Após a música, todos

rezam o ―Glória ao Pai‖.

O pregador abre espaço para testemunhos dos participantes e anuncia que

precisa ser ―atual, breve e cristocêntrico‖. Para introduzir esse momento, a banda

toca alguns segundos e no telão aparece um escrito próprio para o momento.

Apenas um menino fala rapidamente sobre como o encontro lhe foi útil para refletir.

Depois, são dados alguns recados finais: sobre o Bote Fé Estadual, evento que vai

reunir os jovens católicos do Rio Grande do Sul em um encontro nos dias 31 de

outubro e 1º de novembro em Porto Alegre. Haverá uma formação específica no

grupo para quem for.

Para encerrar o grupo, às 21h30min, a banda toca uma música animada de

despedida e todos dançam, batem palmas, cantam e sorriem.

21 de outubro, 19h35min.

Ao chegar ao espaço Mater Dei na quarta-feira seguinte, a acolhida foi

calorosa. O mesmo rapaz que deu as boas-vindas na semana passada está lá de

novo e, ao me ver, oferece os cumprimentos e diz ―que bom que você voltou!‖. De

forma semelhante ao último encontro, os outros integrantes conversam entre si e

cumprimentam com abraços e sorrisos cada um que chega para o Grupo de Oração

São Luiz Gonzaga.

Para este encontro há uma mesa próxima a uma das entradas com torradas e

garrafas térmicas de chá para os jovens lancharem antes do início das atividades.

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Inclusive, foi anunciado pela página do Facebook do grupo na manhã daquele dia,

incentivando todos a convidar um amigo, aproveitar o lanche e ir para o encontro.

Figura 19 – Grupo São Luiz Gonzaga convida para o Grupo das Torradas

Fonte: https://www.facebook.com/vemsergonzaga/?fref=ts

Na entrada do espaço, também há um mural com o símbolo do grupo

desenhado: uma ovelha, junto com a frase ―cantinho da selfie‖ incentiva os

participantes a clicarem fotos e compartilharem nas redes sociais digitais.

Figura 20 – mural de boas-vindas do Grupo São Luiz Gonzaga

Fonte: autor

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Neste encontro, as cadeiras estão posicionadas em uma única fileira voltadas

para a lateral do espaço, em formato diferente ao da semana anterior. A banda

também está lá novamente, formada por seis integrantes, mas com três jovens

diferentes da semana passada. São três meninos e três meninas: baixista, dois

violonistas, um instrumento de percussão e duas vocalistas, incluindo novamente a

coordenadora Paola Delazzeri. Há duas meninas mostrando as coreografias. O

ambiente está com as luzes apagadas desde o início. A coordenadora convida todos

a se aproximarem da banda para começarem o encontro, às 20h15min. Cerca de 40

pessoas estão presentes apesar da forte chuva que cai na cidade.

Figura 21 – Ministério de Música anima Grupo São Luiz Gonzaga

Fonte: autor

O formato é semelhante ao da semana anterior. Três músicas animadas são

executadas. Porém, desta vez, o telão está localizado na lateral dos participantes e

as letras não são exibidas, mas sim a imagem de uma cruz. Os participantes estão

animados e dançam, cantam e sorriem com empolgação. Após a animação, há o

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momento de reflexão com a música instrumental de fundo, conduzida pela própria

vocalista e coordenadora. Os jovens sentam e são convidados a fecharem os olhos

e a meditarem a importância de ser cristão. Depois, a banda executa uma música

calma. No meio da canção, todos ficam em pé e se separam em duplas. Em pares,

são estimulados pela vocalista a conversarem rapidamente com aquela pessoa

sobre qualquer assunto. Algumas duplas estão com expressões sérias, outras

descontraídas. Alguns se abraçam. Duas meninas conversam de mãos dadas. O

momento dura uns três minutos até a vocalista avisar que é o momento de oração

um pelo outro. As duplas estendem as mãos sobre a cabeça ou os ombros. A

música recomeça. Um trecho diz ―vem Espírito Santo, com teu poder, tocar meu ser,

fluir em mim‖.

Com as luzes ainda apagadas, reparo como o ambiente está propício para

um clima de intimidade, sinergia e amizade. Nas paredes, há folhas no tamanho A4

com as frases ―Campanha: largue a parede e abrace um irmão‖, ―você sabia que

Deus ama muito você?‖ e ―de braços abertos quero te receber. Filho, eu estava

esperando você‖. Ao final de cada citação, a hashtag #vemsergonzaga.

Ao final do momento musical de oração, algumas duplas se abraçam, outras

conversam em voz baixa, outros estendem as mãos para cima como gesto de

louvor.

Às 20h55min, a luz se acende e a coordenadora convida o jovem Gustavo ―a

partilhar a Palavra‖. É o menino das boas-vindas e que conduziu o momento de

espiritualidade no último encontro. Hoje, ele é o responsável pela pregação. Todos

estendem a mão em direção a ele e rezam uma Ave-Maria. Com o microfone em

mãos e a Bíblia sobre um pedestal, Gustavo convida todos a lerem juntos o

evangelho de Marcos 10, 35-45:

―Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: ‗Mestre,

queremos que faças por nós o que vamos te pedir‘. Jesus perguntou: ‗O que vocês

querem que eu lhes conceda?‘. Eles responderam: ‗Quando estiveres na glória,

deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda.‘ Jesus então lhes disse:

‗Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que

eu vou beber? Podem ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?‘.

Eles responderam: ‗Podemos.‘ Jesus então lhes disse: ‗Vocês vão beber o cálice

que eu vou beber, e vão ser batizados com o batismo com que eu vou ser

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batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou esquerda.

É Deus quem dará esses lugares àqueles, para os quais ele preparou‘. Quando os

outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João.

Jesus chamou-os e disse: ‗Vocês sabem: aqueles que se dizem governadores das

nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm autoridade sobre elas. Mas,

entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se

o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo

de todos, porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e

para dar a sua vida como resgate em favor de muitos‘.

Depois da leitura, o pregador pede para cada um citar o trecho que mais lhe

chamou a atenção. Três pessoas compartilham em voz alta um trecho do texto

bíblico.

O discurso de Gustavo é sobre servir: ―temos que viver para que sejamos

parecidos com Jesus‖. Ele foi o cara. É sem explicação‖, diz o jovem. Ele discorre

que é importante se colocar a serviço dos outros, com amor e também em ser

missionário e levar os ensinamentos de Deus às outras pessoas. Ele também fala

sobre sua vida. O dedilhado de um violão soa ao fundo. Gustavo também fala da

trajetória de Santa Tereza D‘ávila, padroeira da Catedral e de Caxias do Sul e de

seu exemplo de vida. Nesta semana, eram comemorados os 500 anos do

nascimento da santa de origem espanhola.

A pregação se encerra às 21h20min. A banda toca duas músicas reflexivas

para encerrar, com as luzes apagadas criando um clima de introspecção. A canção

é baseada em uma oração deixada por Santa Tereza: ―tudo passa, só Deus não

muda. Nada te perturbem nada te espante. A paciência tudo alcança, nada te falta

com Deus no coração. Só Deus te basta‖.

Ao final, ocorre o momento dos testemunhos, onde uma menina fala

brevemente que o encontro lhe tocou. Depois, os recados são lidos no telão. É

falado sobre o Bote Fé e os Esportes São Luiz Gonzaga, que ocorrerá no dia 29 de

outubro, entre às 20h e 22h na no ginásio do Colégio São José, atrás da Catedral. É

uma oportunidade de integração do grupo e aberto a pessoas de fora. Também é

anunciada uma formação sobre música e animação para o dia 14 de novembro,

além de um retiro espiritual de cura e libertação da Renovação Carismática Católica

em 28 e 29 de novembro, em Nova Bassano. Depois dos recados, todos rezam uma

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Ave-Maria. O encontro se encerra às 21h45min e são distribuídos pirulitos com o

trecho da música de Santa Tereza em um bilhete.

5.2.3 Diário de campo do grupo Unidos pela Fé

Durante o levantamento para desenvolver a pesquisa com jovens na paróquia

Santa Fé, foram localizadas duas comunidades entre as 15 existentes que

alimentavam iniciativas com grupos juvenis: a comunidade Senhor Ressuscitado, do

bairro Centenário II, e a comunidade Nossa Senhora Aparecida do bairro Belo

Horizonte. Optou-se por realizar a observação de campo na comunidade Senhor

Ressuscitado, no grupo Unidos pela Fé, por possuir mais integrantes ativos. Ainda

assim, nessa última comunidade, foram aplicados questionários a fim de contemplar

também o trabalho de evangelização.

Os encontros dos Jovens Unidos Pela Fé ocorrem nas sextas-feiras à noite.

As observações foram realizadas em duas semanas consecutivas, nos dias 16 e 23

de outubro de 2015. O relato abaixo será em primeira pessoa.

16 de outubro, 19h30min.

Ao chegar ao bairro Centenário II para a realização da pesquisa de campo

deparei-me com a realidade da periferia de Caxias do Sul. Ruas estreitas, pouco

iluminadas, casas bem próximas umas das outras. Um cenário contrastante com o

coração geográfico da área central de Caxias, onde se encontra a Catedral. Em uma

igreja de cor amarela cercada por grades brancas é o local onde se reúne o grupo

de jovens Unidos Pela Fé. Em frente ao templo, separada por uma rua de

paralelepípedos, existe a Unidade Básica de Saúde e um terreno baldio. Do lado

esquerdo, a parede da igreja serve como muro para uma casa. Do lado direito, há

uma escadaria que leva para outra rua. Desses degraus surgem alguns jovens. Eles

entram na igreja, que já está com as portas abertas.

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Figura 22 – Igreja da comunidade Senhor Ressuscitado

Fonte: autor

Na parte interior, o que se revela é uma igreja simples, com duas colunas de

bancos de madeira com espaço para aproximadamente 100 pessoas. No altar, há

uma Bíblia fechada, um crucifixo e um microfone destinado ao padre. Também há

uma Bíblia aberta e um microfone no púlpito para a liturgia. Na parede atrás, a

imagem desenhada na parede de Jesus Cristo Ressuscitado. Há uma estátua de

Nossa Senhora Aparecida logo à esquerda do altar, sobre uma mesa com toalha

branca. Também há um telão branco montado, mas não se vê nenhum projetor.

Ao lado direito do altar, os jovens se reúnem, sentados em um banco de

madeira lateral. São oito, com quatro meninas e quatro meninos. Me aproximo e me

identifico e exponho meu objetivo em estar ali, observando o grupo. Cumprimento

um por um individualmente e entrego os questionários. Quando perguntados para

indicar o líder, há uma certa dúvida e instantes de silêncio. ―Somos todos do grupo,

não temos um coordenador bem definido... mas pode ser ela‖, aponta um dos

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jovens, apontando Aline Bitencourt, 19 anos. Depois de respondido, recolho os

questionários e me sento a uma distância de dois bancos para observar o encontro.

Figura 23 – Vista interna da igreja Senhor Ressuscitado

Fonte: autor

O encontro começa às 20h10min informalmente. Os jovens, formando uma

espécie de semicírculo, conversam sobre assuntos diversos não relacionados à

igreja. Falam de festas, escola, comida, de jogar paintball e de uma viagem com

todos do grupo para comemorar os três anos do Jovens Unidos Pela Fé. Após 18

minutos de conversa, uma menina pega o folheto da liturgia da missa e faz a

Primeira Leitura, a mesma que se lê durante a celebração eucarística. Em seguida,

outra menina faz a Segunda Leitura. Chove forte e o barulho da água no telhado

torna impossível a audição. A leitura é interrompida e retomada em cerca de três

minutos, quando o ruído diminui. Depois, um menino faz a leitura do Evangelho.

Acabada a leitura, uma das meninas se despede e vai embora. Em seguida, outro

menino faz o mesmo. Sem nenhum comentário sobre as leituras, uma menina lança

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a ideia de fazer um ―livrinho‖ para os jovens que ingressarem no grupo. A intenção é

que o conteúdo traga instruções para dinâmicas de encontros e orientações bíblicas

de como agir diante de dificuldades. A ideia é bem aceita e todos dizem que podem

ajudar a fazer em conjunto. Depois, o grupo retoma as conversas sobre assuntos

diversos.

Todos carregam um livro litúrgico, mas não o abrem. Uma menina também

traz um violão e fica com ele durante todo o encontro, mas não toca nenhuma

música. Os jovens também conversam sobre a liturgia e os cantos de uma missa

para a comunidade que está a cargo deles. O tom das conversas é alegre e

descontraído, com os integrantes sorridentes e enérgicos. Uns brincam com os

outros, revelando certo entrosamento e amizade.

O encontro é encerrado às 21h com a oração do Pai Nosso e Ave-Maria, feita

em pé e de mãos dadas. Uma das intenções é pela viagem que os integrantes

almejam fazer e a outra é colocada pela coordenadora Aline: ―agora que voltei quero

resgatar o ânimo que o grupo tinha antes‖, pede ela, que esteve afastada por alguns

meses por conta de um curso técnico de enfermagem onde estudava nas sextas à

noite.

23 de outubro, 19h15min.

Na sexta-feira seguinte ao primeiro encontro de observação já vigorava o

Horário Brasileiro de Verão. Cheguei às 19h15min em frente à igreja e aguardei

dentro do carro o início do encontro. Com o dia ainda claro, crianças brincavam no

terreno baldio ao lado da UBS do Centenário II. Jogavam futebol, esconde-esconde,

ioiô e corriam alegres pela rua. Algumas atiravam pedras na parede do posto de

saúde e gargalhavam. Às 19h40min, os jovens do grupo chegam para o encontro.

Uma das meninas, filha de uma catequista, está com a chave da igreja e abre o

portão e as portas do templo. Saio do carro, entro na igreja, me dirijo ao canto em

que estão reunidos, cumprimento a todos e sento no mesmo banco da semana

passada. Desta vez, há um cartaz em um púlpito alusivo à Campanha Missionária

2015, com o lema ―Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos‖ (Mc 10, 44).

O grupo nessa sexta é composto por cinco pessoas, sendo três meninos e

duas meninas. Há dois meninos que não estavam no último encontro. Eles estão

com uma guitarra e um violão em mãos. Um outro integrante também carrega um

violão O encontro começa igualmente informal, com os meninos tocando músicas do

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estilo sertanejo universitário, rock e religiosas e todos cantarolando as letras. Entre

uma música e outra, conversam descontraidamente sobre assuntos diversos. Aline,

a coordenadora não está.

Figura 24 – Jovens do grupo Unidos Pela Fé

Fonte: autor

O assunto que predomina é a viagem de final de ano do grupo. A princípio,

pensam em um acampamento. Surgem histórias que cada um conta sobre

acampamentos próximos a rios e matas. Um menino saca o celular do bolso e

mostra uma paisagem natural. Os outros se espremem para enxergar o visor. Os

cinco jovens também conversam sobre acontecimentos do cotidiano, sem nenhum

tema específico. A percepção é de que a igreja se tornou um lugar de convivência e

de encontro para aquele grupo, não necessariamente com caráter religioso.

Depois de quase uma hora, os integrantes levantam e oram de mãos dadas.

Um dos meninos coloca a intenção de ―que possa melhorar o grupo que está meio

parado‖. Eles rezam o Pai Nosso e Ave-Maria, fazem o sinal da cruz e se despedem

às 20h47min.

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5.2.4 Entrevistas

Para as entrevistas, foram selecionadas pelo pesquisador as fontes com certo

grau de representatividade no assunto comunicação e juventude católica em Caxias

do Sul. Também foram coletadas entrevistas conforme as percepções obtidas na

observação participante, com o intuito de esclarecer dúvidas e desvendar

panoramas que surgiram de possíveis estranhamentos notados. As entrevistas

[...] tem como ponto de partida um tema ou questão ampla e flui livremente, sendo aprofundada em determinado rumo de acordo com aspectos significativos aplicados pelo entrevistador enquanto o entrevistado define a resposta segundo seus próprios termos, utilizando como referência seu conhecimento, percepção, linguagem, realidade, experiência (DUARTE, 2014, p. 65).

Ainda conforme Duarte (2014) embora seja importante questionar autoridades

no assunto, nos estudos qualitativos são preferíveis poucas fontes, mas de

qualidade, a muitas sem relevância. O que não significa que o cargo determina a

qualidade da informação fornecida pela fonte.

É importante obter informações que possam dar visões e relatos diversificados sobre os mesmos fatos. Pessoas em papeis sociais diferentes, recém-chegadas ou que tenham deixado a função recentemente, podem dar perspectivas e informações bastante úteis (DUARTE, 2014, p. 69).

Assim, a seleção dos informantes ganha status importante para as

conclusões a serem obtidas na pesquisa. Por isso, a escolha dos entrevistados

ocorreu intencionalmente e não por conveniência, uma vez que o pesquisador faz a

seleção por juízo participativo, como conhecimento do tema ou representatividade

subjetiva. Dentro das entrevistas, foram realizadas entrevistas em profundidade e

aplicados questionários para coletar respostas quantitativas e qualitativas.

5.2.5 Entrevista em profundidade

Para o presente trabalho realizaram-se entrevistas em profundidade com

fontes selecionadas com o intuito de contribuir para o enriquecimento do conteúdo

coletado de forma que uma entrevista simples ou o questionário não dariam conta.

Conforme Lago (2007), na entrevista em profundidade os dados não são apenas

colhidos, mas se encaixam em critérios de interpretação e reconstrução por parte do

pesquisador, em diálogo inteligente e crítico com a realidade.

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O ouvir, alcançado mediante entrevistas em profundidade, abertas, mas

também diálogos casuais, ajuda ao pesquisador perceber o sentido das

ações que observa, bem como as significações específicas que o grupo

observado atribui às suas próprias ações, rituais, etc. (LAGO, 2007, p. 52).

No presente trabalho, a intenção foi entrevistar autoridades no trinômio igreja-

juventude-comunicação em Caxias do Sul e também pessoas que lidassem

diretamente com o assunto nas comunidades analisadas, como lideranças

paroquiais e juvenis. Conforme aborda Duarte (2014), é preciso desenvolver a

entrevista em profundidade com o sentido de identificar problemas, microinterações,

padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de

um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada.

Ainda de acordo com Duarte (2014), aprofundando as entrevistas, evita-se o

julgamento superficial dos dados coletados e permite-se um entendimento maior da

realidade em que mergulha-se na pesquisa etnográfica. De fato, é essencial fazer o

exercício de se colocar no lugar dos ‗nativos sociais‘ em questão. Porém, apenas a

observação participante não contempla toda a leitura que se deseja. Nesse caso, a

entrevista em profundidade ajuda a revelar facetas históricas dos indivíduos e dos

processos executados que auxiliam na composição do cenário avaliado pelo

pesquisador.

A entrevista em profundidade é uma técnica dinâmica e flexível, útil para

apreensão de uma realidade tanto para tratar de questões relacionadas ao

íntimo do entrevistado, como para descrição dos processos complexos nos

quais está ou esteve envolvido. (DUARTE, 2014, p. 64).

Partindo desse princípio, seria excelente realizar entrevistas em profundidade

com todo e qualquer personagem, porém, se torna uma prática inviável diante das

necessidades de tempo e espaço do referido trabalho acadêmico. Ainda assim,

selecionando um número praticável e considerável de pessoas a concederem

entrevistas em profundidade, é possível cruzar informações, conectar significados e

perceber vínculos importantes para construir a realidade mais fiel possível.

Trechos das entrevistas em profundidade serão utilizados dentro de suas

determinadas contextualizações no capítulo destinado à análise da pesquisa. Agora,

no entanto, as fontes serão apresentadas. As entrevistas gravadas estarão

disponíveis para consulta em anexo.

Dom Alessandro Carmelo Ruffinoni bispo da Diocese de Caxias do Sul desde

2011, é religioso da Congregação dos Missionários Scalabrinianos. O líder da Igreja

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Católica da região é italiano e tem 72 anos. Dom Alessandro concedeu entrevista ao

pesquisador em sua residência, no bispado, e falou sobre sua visão a respeito da

juventude católica local e também de como compreende a comunicação eclesial.

Paulo Roque Gasparetto: padre e coordenador da Pastoral da Comunicação

(Pascom) da Diocese de Caxias do Sul. Graduado em Filosofia, Teologia e

Jornalismo, com doutorado em Midiatização da Religião. Padre Paulo é pároco em

Farroupilha e concedeu entrevista em uma sala na biblioteca da Faculdade La Salle,

em Caxias do Sul, onde leciona a disciplina de Ética para alguns cursos. A entrevista

com o religioso aborda a visão comunicacional da Igreja Católica na região e as

demandas, necessidades e iniciativas da Pascom.

Rudinei Zorzo: padre referencial do Setor Juventude e animador vocacional

da Diocese de Caxias do Sul. O jovem religioso de 30 anos assumiu a missão de

trabalhar com os diferentes grupos e movimentos de jovens da região em 2012, em

preparação à Jornada Mundial da Juventude. Na entrevista, expõe sua visão sobre o

relacionamento entre a Igreja Católica e os jovens e conta como criou uma equipe

de comunicação da juventude católica, denominada ComMissão Jovem.

Gabriel De Carli e Paola Delazzeri: os jovens coordenadores do Grupo de

Oração São Luiz Gonzaga falam sobre as atividades desenvolvidas pelo grupo da

Catedral Santa Tereza.

Aline Bitencourt: a jovem coordenadora do grupo Jovens Unidos Pela Fé fala

sobre a realidade do grupo de jovens da comunidade Senhor Ressuscitado, da

comunidade Centenário II da paróquia Santa Fé.

Nivaldo Pauletti: o padre pároco do Santa Fé expõe a sua ótica da juventude

católica em sua paróquia e de como enxerga o potencial da comunidade para a

Igreja.

Oscar Chemello: o padre pároco da Catedral Diocesana aborda a realidade

dos jovens e de como a comunicação é trabalhada sob a sua orientação na principal

paróquia da Diocese.

Ana Cláudia Mutterle: a assessora de imprensa da Catedral presta sua

contribuição com sua experiência e atuação em uma das únicas funções

remuneradas da Igreja na região na área da comunicação.

Elton Marcelo Aristides: o seminarista graduado em Jornalismo, Filosofia e

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Teologia, e assessor de imprensa da Diocese de Caxias do Sul, traz seu olhar e sua

bagagem de pesquisador e comunicador a serviço da Igreja.

5.2.6 Questionário

O questionário está inserido dentro da técnica de entrevista. É um modelo

aplicado à entrevista quantitativa e também qualitativa, com perguntas iguais para

todos os entrevistados, de modo que seja possível estabelecer uniformidade e

comparação entre respostas (DUARTE, 2014). Neste trabalho, os dados obtidos

com os questionários possuem o objetivo de validar as impressões coletadas na

observação participante dos grupos de jovens, além de permitir a análise do trabalho

de evangelização da Igreja Católica com a juventude, contemplando tanto o olhar

dos jovens dos grupos e também de crismandos da catequese quanto o de quem

trabalha com esses jovens, como catequistas e outras lideranças.

Foram aplicados 82 questionários para jovens, sendo 27 para crismandos da

paróquia Santa Teresa, 25 para crismandos da paróquia Santa Fé e suas

comunidades, 20 para jovens do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga da paróquia

Santa Tereza e sete para integrantes do grupo Unidos Pela Fé, da comunidade

Senhor Ressuscitado da paróquia Santa Fé. A diferença no número ocorre em

função da realidade distinta de cada lugar, conforme pode ser observado na

descrição do diário de campo. Os questionários estarão disponíveis em anexo

separado da monografia em função do grande número de páginas.

Além dos jovens, foram aplicados oito questionários para lideranças religiosas

três para catequistas da paróquia Santa Fé, três para catequistas da paróquia Santa

Teresa, um para o padre Luís Conci, vigário paroquial do Santa Fé, e o coordenador

do grupo Filhos do Céu, Alex Soares, que realiza o Kerigma, um encontro anual para

todos os crismandos do Santa Fé e também de outras paróquias.

Após a pesquisa de campo realizada e a metodologia apresentada, será

possível fazer a análise do conteúdo pesquisado para que seja possível responder à

questão norteadora deste trabalho e checar as hipóteses levantadas.

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6 O DIÁLOGO DA IGREJA CATÓLICA COM A JUVENTUDE NO TEMPO DAS

CONEXÕES DIGITAIS

Após o material exposto anteriormente, neste capítulo serão analisadas as

informações coletadas a fim de elucidar a questão norteadora do presente trabalho:

como a Igreja Católica pode evangelizar os jovens de Caxias do Sul inseridos na

cibercultura? Para responder a essa pergunta, serão levados em consideração os

dados obtidos através das técnicas metodológicas empregadas na pesquisa:

referências bibliográficas, pesquisa etnográfica com observação participante em dois

grupos de jovens de paróquias distintas, entrevistas em profundidade e aplicação de

questionários para participantes dos grupos observados e para crismandos. Para

melhor colocar à prova as hipóteses e os objetivos da pesquisa, a análise está

dividida em três capítulos: A Igreja Católica e os processos de comunicação na

catequese; tecnologia x comunicação face a face – a prevalência da cultura do

encontro; e lançando a rede nas redes – a evangelização dos jovens na cibercultura.

6.1 OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO NA CATEQUESE

Como abordado no segundo capítulo deste trabalho, a comunicação na ótica

da Igreja Católica é considerada um dom de Deus e está diretamente ligada ao

objetivo máximo da milenar instituição: vivenciar e divulgar a mensagem do

Evangelho. Como guia, há a Santíssima Trindade, considerada modelo de

comunhão e relação, uma vez que os católicos creem no Pai, Filho e Espírito Santo.

Um só Deus e três indivíduos, com o Filho - Jesus Cristo - sendo o exemplo de

comunicador perfeito, uma vez que ele é a própria comunicação divina com a

humanidade. Na história da Igreja, o apóstolo Paulo também é citado como exemplo

de comunicador por sua trajetória missionária e suas célebres cartas com o objetivo

de propagar os ensinamentos deixados pelo Cristo encarnado. Importante, ainda,

retomar o conceito exposto no Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014) e

apresentado no primeiro capítulo deste trabalho: A palavra comunicação provém do

latim com-munus, aquilo que é compartilhado, um dom pessoal ofertado a outro ou

um dever para com o próximo. Logo, a raiz comunicacional da Igreja parte desse

ponto: cristocêntrico, comunitário, solidário.

A mensagem que a Igreja Católica precisa levar adiante, como um todo, deve

ser centrada em Jesus Cristo e no Evangelho. Qualquer comunicação que não siga

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esse ponto de partida e se deixe influenciar por opiniões pessoais pode ser

considerada tendenciosa e até perigosa pela distorção que possa causar na difusão

dos ensinamentos cristãos. Inclusive, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB), órgão máximo da Igreja Católica no país, alerta sobre a questão no

Diretório de Comunicação, já abordado no segundo capítulo. Conforme o documento

deve-se respeitar a individualidade dos atores comunicacionais de caráter religioso,

porém é ―preciso recordar que ninguém, a priori, tem direito de fala em nome da

Igreja a não ser que esteja investido de tal encargo‖ (DOCUMENTO..., 2014, p. 119).

Na prática, exercitar essa questão se torna complicado. Um padre ou

presbítero, por exemplo, para completar sua formação necessita concluir, ao menos,

dois cursos de graduação: Filosofia e Teologia, além de uma extensa vivência cristã

ao longo dos anos de estudo nos seminários propriamente voltados a esse objetivo.

Com isso, acredita-se que esteja pronto para desempenhar o papel de

evangelizadores recebendo da Igreja o sacramento da Ordem. Ainda que assumam

papel de líderes religiosos das paróquias e comunidades a que são designados, há

outros agentes evangelizadores na Igreja, como os catequistas, que exercem a

função de forma voluntária. Embora o engajamento dos leigos como difusores do

Evangelho seja incentivado pela Igreja, é preciso observar os valores cristãos que

são transmitidos para que não se cometam erros doutrinais.

Nesse sentido, a CNBB ressalta que a comunicação deve ser elencada como

uma das prioridades na evangelização da juventude, uma vez que a iniciação da

vida cristã é constituída por uma ação comunicativa articulada em três etapas: o

querigma ou primeiro anúncio, catequese e ação pastoral. Recomenda-se que os

catequistas promovam um diálogo de respeito que reforce a acolhida ao outro,

incluindo-se a utilização de recursos midiáticos tradicionais e digitais, de acordo com

o exposto no segundo capítulo desta monografia. É possível encontrar na Internet

conteúdos preciosos tanto para a formação dos catequisandos quanto para

capacitação dos catequistas, estimulando a educomunicação e inserindo os jovens

no contexto midiático e cibercultural característicos do século XXI, surgindo até a

oportunidade para exercitar uma leitura crítica dos meios de comunicação e

iniciando uma discussão ética do uso das mídias.

Os questionários respondidos pelos crismandos levantam algumas questões

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importantes nesse cenário. Antes, porém, de analisar os resultados coletados, é

interessante expor um perfil básico dos catequisandos que responderam à pesquisa.

6.1.1 Perfil dos crismandos da paróquia Santa Fé

Dos 25 crismandos da paróquia Santa Fé que responderam aos questionários

para esta pesquisa, 14 são do sexo feminino e 11 do sexo masculino. A maioria tem

12 anos (nove) e 13 anos (sete), seguido por jovens de 11 anos (cinco), 14 (três) e

17 (um). Nas famílias dos crismandos, a faixa salarial predominante é a de dois a

três salários mínimos (16 crismandos), seguido de um salário (oito) e quatro a seis

salários mínimos (um). Apenas nove crismandos responderam à questão sobre o

nível de escolaridade, predominando o ensino fundamental em andamento (oito

respostas). Embora pertençam à paróquia Santa Fé, os jovens moram em locais

variados, totalizando nove bairros, pois os questionários foram aplicados durante o

kerigma, encontro específico para crismandos de todas as comunidades da

paróquia.

A família possui um lugar importante na educação cristã dos filhos. Todos os

crismandos citaram que as pessoas que moram consigo são católicas e dos 21

jovens que responderam à pergunta como você ingressou na catequese?, nove

citaram que foi através dos pais e sete apontaram somente a mãe. Outro dado

levantado é que, apesar dessa unanimidade das famílias católicas, nove jovens já

frequentaram atividades de outras religiões, como a espírita, evangélica, umbandista

e das Testemunhas de Jeová.

A pesquisa revela também que os crismandos são assíduos na missa,

atividade mais tradicional da Igreja Católica. Há um empate de sete vezes nas

opções ―uma vez por semana‖, ―uma vez por mês‖ e ―duas ou três vezes por mês‖,

além de três jovens catequisandos marcarem a opção ―duas vezes ou mais por

semana‖.

Na área da pesquisa que abrange a comunicação, aparecem resultados

relevantes para a análise. Quase todos os crismandos (22) responderam que se

comunicam com os colegas além dos encontros semanais de catequese, sendo que

o fazem pessoalmente, em outros lugares (11), pelo WhatsApp e Facebook (10

cada) e em menor quantidade pelo Snapchat e Instagram (dois). Outro dado

relevante aparece na comunicação entre a catequese e os participantes, que ocorre

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através de Página do Facebook (11), WhatsApp (oito) e Instagram (dois). 19 jovens

também afirmaram se informar sobre conteúdos religiosos por algum meio de

comunicação, com destaque para o Facebook (sete), sites (seis), TV e rádio (quatro

cada), jornal e blogs (dois cada). Um dado que contrasta é o do tempo que cada

jovem fica na Internet. A maioria passa menos de uma hora diária conectada (11

respostas), embora cinco passem mais de seis horas, seguido por uma a duas horas

(quatro) e três a cinco horas (três). O celular é o dispositivo mais utilizado para

acessar a Internet (20 respostas), seguido pelo computador (11), notebook (sete) e

tablet (quatro). As redes sociais (16 respostas) e os games (13 respostas) são a

preferência dos jovens no tempo online, com o intuito de lazer (15 respostas),

informação (12) e estudos (11).

Os crismandos consideram boa (17 respostas) a comunicação entre a Igreja e

os jovens, aparecendo ainda as opções ótima (sete) e razoável (um). Para traçar um

panorama geral, os crismandos da paróquia Santa Fé são em sua maioria meninas

de 12 anos, com renda familiar entre dois e três salários mínimos, com ensino

fundamental em andamento. Eles vêm de famílias católicas e ingressaram na

catequese através dos pais e frequentam a missa regularmente. Além dos encontros

semanais de catequese, os crismandos se encontram pessoalmente em outros

lugares e mantém contato pelo WhatsApp e Facebook. Com a catequese, o diálogo

é feito também pelo Facebook e WhatsApp, embora passem, em média, menos de

uma hora por dia na Internet, conectados através do celular para acessar redes

sociais e games a fim de encontrar lazer e informação. O Facebook e a TV são os

meios de comunicação preferidos para informação sobre conteúdos religiosos e a

comunicação entre a Igreja e os jovens é considerada boa.

7.1.2 Perfil dos crismandos da paróquia Santa Tereza

Dos 27 crismandos da paróquia Santa Tereza que responderam aos

questionários, 18 são do sexo feminino e nove do masculino. A maioria tem 12 anos

(17), junto com jovens de 13 (9) e 11 anos (1). Sobre a renda familiar, 12 não

opinaram, seis são acima de sete salários mínimos e cinco de quatro a seis salários

mínimos. A grande maioria está cursando o ensino fundamental (25). A pesquisa

também reforça a ideia da Catedral como paróquia referência da área central. Os

crismandos são de 19 bairros diferentes, com prevalência do Saint Etienne, Centro

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(quatro), Exposição e Nossa Senhora de Lourdes (três cada).

A família representa um fator importante para a iniciação cristã, uma vez que

26 responderam que as pessoas que moram consigo são católicas e 16 afirmam que

foi a família a incentivadora a ingressar na catequese (sejam avós, pai, mãe ou

família em geral) e cinco responderam que foi por incentivo dos pais e vontade

própria.

A frequência dos crismandos da Catedral na missa é inferior aos crismandos

da paróquia Santa Fé. A maioria (16) vai à missa uma vez por mês e seis afirmam

que vão uma vez por semana, enquanto dois vão duas ou três vezes por mês e três

afirmam nunca ir à missa.

Quanto à análise do campo da comunicação, os catequisandos da Catedral

se mostram mais conectados à Internet. Quase todos eles (25) se comunicam com

os colegas de catequese além dos encontros semanais. Isso acontece

pessoalmente, em outros lugares (22 respostas), mas também muito por

ferramentas como o WhatsApp e Instagram (21), Snapchat (20), Facebook (19) e e-

mail (sete). Nove catequisandos citaram outros meios como o Skype24 (seis), Kiwi25

(cinco) e Twitter (três). Em compensação, 15 crismandos afirmam que a catequese

não possui nenhum tipo de comunicação com eles além dos encontros. Dos 13 que

responderam sim, nove citaram o WhatsApp e cinco o e-mail. Os crismandos da

Catedral também são bem divididos quanto a se informarem sobre conteúdos

religiosos pelos meios de comunicação, sendo que 13 não se informam e dos 14

que se informam, nove o fazem pela TV, seis por sites e Facebook, cinco por jornais

e rádios e nenhum por blogs. Eles também passam mais de seis horas diárias na

Internet (10) ou de três a cinco horas (10) e há também os que passam de uma a

duas (cinco) e dois passam menos de uma hora diária online. O celular (25 citações)

é o dispositivo mais utilizado para se conectar, seguido por notebook e tablet (17) e

pelo computador (14). As redes sociais (22 respostas) são as preferidas dos jovens,

seguido pelos games (20). Tudo isso com a finalidade de lazer (26), estudo (18) e

informação (15).

A comunicação entre a Igreja e o jovem é considerada boa e razoável na

24

Software que permite, gratuitamente, fazer chamadas com vídeo e de voz, enviar mensagens de chat e compartilhar arquivos com outros usuários. 25

Aplicativo online de questionamentos acessível por meio do Facebook onde os usuários podem fazer perguntas entre si de forma anônima ou não, mas as respostas não são enviadas anonimamente.

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mesma proporção (11) e ótima (cinco) em menor escala.

Em um perfil geral, os crismandos da Catedral Diocesana de Caxias do Sul

são, na sua maioria, meninas de 12 anos com renda familiar superior a seis salários

mínimos e estão cursando o ensino fundamental. São de famílias católicas e

ingressaram na catequese por meio do incentivo dos familiares. Eles costumam

frequentar a missa uma vez por mês. Além dos encontros de catequese, os

crismandos se comunicam pessoalmente em outros lugares e também através do

WhatsApp, Instagram, Facebook e Snapchat. A catequese, em geral, não se

comunica com eles além dos encontros e, quando o faz, ocorre pelo WhatsApp. Os

jovens passam pelo menos três horas diárias na Internet, principalmente pelo

celular, acessando redes sociais e games atrás de lazer e estudos. A TV, os sites e

o Facebook são os preferidos para se informar sobre conteúdos religiosos. No geral,

a comunicação entre Igreja e jovens é considerada razoável e boa.

6.1.3 A comunicação como fortalecimento do vínculo jovem-catequese-Igreja

Os dados coletados expõem recortes de uma realidade da zona central de

Caxias do Sul e de uma área de periferia. Importante frisar que os dados ilustram

apenas um pequeno extrato da relação entre a Igreja Católica e os jovens na cidade,

uma vez que cada paróquia e comunidade possuem características particulares e

distintas umas das outras. Ainda assim, o levantamento é elemento importante para

compreender o cenário da evangelização da juventude.

Com os questionários respondidos, podem-se verificar algumas

possibilidades. A família é a principal incentivadora para a iniciação da vida cristã. A

constatação reforça a importância do papel dos pais na caminhada religiosa dos

jovens e na sua perseverança no cristianismo. É necessário que a Igreja convide a

família ao diálogo e para acompanharem seus filhos nas atividades da comunidade,

para que os jovens se sintam sempre motivados a conviverem no ambiente eclesial.

O contraste entre a zona central e a periferia de Caxias do Sul é evidente. A

diferença na renda familiar dos crismandos pode explicar a distinção dos hábitos

comunicacionais. Enquanto os jovens da Catedral passam muitas horas online pelo

celular, computador, notebook e tablet, os jovens do Santa Fé acessam pouco a

Internet. Embora os participantes de ambos os grupos pesquisados se comuniquem

entre si pelo WhatsApp e o Facebook, esses números são maiores na paróquia

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Santa Tereza.

Outra evidência é que a Internet é utilizada pelos crismandos para acessar as

redes sociais para lazer, com destaque para os games e em segundo plano para

informação. É uma pista de atuação para a Igreja, que deve se inserir onde os

jovens estão. Logo, é interessante que os catequistas ativem perfis digitais no

Facebook, criem páginas para compartilhar conteúdos religiosos e utilizem o

WhatsApp para comunicação e evangelização mais próxima ao mundo dos jovens.

A linha dos games também sugere outro norte de ação, podendo-se criar jogos

online com temática cristã que cativem com proposta educativa e formativa.

Desenvolver ainda um site interativo e utilizar o Instagram e o Snapchat podem ser

saídas criativas para as catequistas dialogarem com esse público.

Talvez a constatação mais curiosa se dê, justamente, nesse paradigma de

comunicação digital e face a face. Os crismandos da paróquia Santa Fé frequentam

a missa muito mais que os da paróquia Santa Tereza. Em paralelo, 81,4% dos

crismandos pesquisados da Catedral avaliam como razoável e boa a comunicação

da Igreja com os jovens e 59% responderam que a catequese não possui nenhum

tipo de comunicação com eles além dos encontros, enquanto que na paróquia Santa

Fé 80% dos crismandos se comunicam com a catequista além dos encontros e 96%

avaliam como boa ou ótima a comunicação da Igreja Católica com o jovem. Por

esses dados, percebe-se que se a comunicação tem atraído o jovem para participar

das missas, pode ser utilizada também para motivar o envolvimento em outras

atividades presenciais e fortalecer os vínculos de relacionamento dentro das

comunidades, paróquias ou igrejas.

Em um dos questionários aplicados para as catequistas da paróquia Santa

Fé, a catequista A, de 19 anos afirma que utiliza todas as mídias para se comunicar

com os jovens, pois ―eles querem novidades, algo que lhes prenda a atenção. Por

que não assistir há um filme de alguma passagem bíblica com eles? Eles adoram e

aprendem bem mais‖, escreve a jovem, que afirma passar de três a cinco horas

diárias na Internet e utiliza TV, rádio, jornal, sites e blogs para se informar sobre

conteúdos religiosos. Já outra catequista B, da mesma paróquia, de 49 anos, afirma

que se comunica com os jovens por meio de dinâmicas e teatros de textos bíblicos

para facilitar o entendimento. Ainda que não cite nenhuma ferramenta de

comunicação digital e passe menos de uma hora diária na Internet, em sites

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educativos, a catequista B responde o seguinte à pergunta você considera que o uso

de ferramentas de Comunicação pode fazer a diferença no relacionamento entre a

Igreja Católica e os jovens? De que maneira?: ―Sim, importante porque vamos poder

falar de igual para igual‖. Já a catequista C, também de 49 anos, afirma que utiliza o

WhatsApp para recados e convocações aos crismandos e que considera que ―os

jovens estão muito conectados à Internet e o assunto religião, se for bem trabalhado,

vai ser visto‖. Na paróquia Santa Tereza, a catequista D, 56 anos, alega que utiliza a

forma da comunicação da escuta para se relacionar com o jovem, pois acredita que

―acima de tudo temos que ser amigos deles, passar confiança, depois eles guardam

e usam o que tu passa para eles, e com certeza serão uns jovens melhores‖. A

catequista D afirma que passa entre uma e duas horas por dia conectada à Internet

pelo notebook acessando redes sociais e sites educativos para estudo, lazer e

informação, além de utilizar a TV, jornal, sites, blogs e Facebook para se informar

sobre conteúdos religiosos. Ela complementa ainda que ―não temos faculdade para

ser catequista, é o nosso testemunho, a Bíblia, o livro e o que pesquisamos‖. A

catequista E, de 58 anos, diz que utiliza o celular para enviar mensagens

principalmente para os pais dos catequisandos e acredita que a comunicação pode

fazer a diferença no relacionamento entre a Igreja Católica e o jovem, ―mas há a

necessidade de formar vínculo com alguma comunidade da Igreja‖. Ela ainda cita

como ponto negativo no trabalho com os jovens ―a influência massiva dos meios de

comunicação eletrônicos com apelos que se distanciam da mensagem cristã e a

dificuldade dos pais acompanharem os filhos na vivência da Igreja‖.

Logicamente, a participação dos catequisandos na missa também pode ser

explicada por outros fatores além da comunicação. As questões subjetivas dos

questionários sugerem algumas pistas.

Na paróquia Santa Fé, alguns crismandos apontaram o que mais gostam nos

encontros da catequese: ler a Bíblia (com cinco citações), dança e palestras,

salmos, rezas e orações, gincanas, conversas, músicas, brincadeiras, animação das

pessoas, alegria, ―ver o sorriso no rosto das pessoas‖ e ―que a gente não sabia que

existem coisas maravilhosas‖ foram algumas citações. Para a pergunta o que não

gosta ou mudaria nos encontros, sete crismandos afirmam que não mudariam nada,

enquanto outros citaram coisas novas ou diferentes (quatro), temas, colegas que

atrapalham, o ―pouco tempo, porque passa rápido demais‖, ―bastante gincanas‖,

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―que fosse mais empolgante‖, ―hora de escrever‖ e ―o emburrecimento das pessoas‖.

Em outra questão, 52% dos crismandos afirmam que não mudariam nada na Igreja

Católica, enquanto 84% afirmam que continuarão participando da Igreja e 72%

acreditam que a Igreja motiva o jovem a continuar frequentando suas atividades.

Na paróquia Santa Tereza, a maioria (14) citou a leitura da Bíblia como a

atividade que mais gosta nos encontros de catequese e a mesma quantidade diz

que não mudaria nada nos encontros, enquanto seis jovens citaram que é ruim ler o

mesmo texto bíblico três vezes e que uma vez bastaria. Sobre o que não gostam ou

mudariam na Igreja, 59% citaram ―nada‖, enquanto 18% acham a missa muito longa

e 14% acreditam que o pão deveria ser distribuído a todos e não apenas às

crianças. No total, 96% dizem que continuarão participando da Igreja, embora

apenas 62% acreditam que a Igreja motive o jovem a seguir engajado, contra 25%

que citam ―mais ou menos‖ ou ―depende‖.

6.1.4 Catequistas: uma preocupação constante na evangelização de crianças e

adolescentes

O pároco do Santa Fé, padre Nivaldo Pauletti, 46 anos, expõe a dificuldade

da Igreja com catequese, uma vez que

por ser um trabalho voluntário, também temos dificuldades de encontrar pessoas para esse trabalho, que para mim é um dos mais importantes. [...] Em uma comunidade, esses dias, uma coordenadora convidou oito pessoas e não encontrou catequistas e quando se encontra esses catequistas, não tem muito tempo para ler, se informar e participar dos cursos de formação (PAULETTI, 2015).

Conforme o padre Oscar Chemello, pároco da Catedral Santa Tereza, a

Diocese dispõe de uma escola de catequistas que oferece modos teológicos e

bíblicos de estudo e também pedagógicos

onde se trabalha o novo ser humano, as novas características das crianças, que são diferentes do passado na forma de aprender, de interagir. É um ser humano diferente que está sendo tratado diferente e tem perguntas e comportamentos diferentes. Como que a catequese e as catequistas podem se adaptar a essas novas crianças que estão surgindo? Abordamos questões técnicas [...] também sobre o uso do aparelho na catequese, se é bom, se não é bom, se atrapalha ou não. Tudo conversamos para que essas ferramentas, de fato, ajudem na evangelização (CHEMELLO, 2015).

O padre Nivaldo Pauletti complementa dizendo que

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todo ano tem curso de Bíblia e as catequistas necessitariam muito porque é o material base. A Bíblia é o livro no qual é conduzida a catequese, é o centro, mas elas não sabem o manuseio e as interpretações. São limitadas em conduzir através da arte e de dinâmicas para dar essa catequese bíblica. Então temos dificuldades de envolver as catequistas com seu tempo e disposição gratuitas. Elas fazem por sacrifico e por amor também (PAULETTI, 2015).

A evangelização dos jovens na catequese se mostra uma equação de difícil

resolução e traz recortes específicos de cada comunidade, onde é preciso levar em

consideração a situação de cada catequista e o perfil de cada grupo de

catequisandos. Na realidade levantada nessa pesquisa com os crismandos e

algumas catequistas das paróquias Santa Tereza e Santa Fé, é possível tirar

algumas conclusões que, embora não sirvam como regras gerais ou possam ser

utilizadas como modelo, podem ser um item importante de reflexão para a prática

evangelizadora e comunicativa dos agentes pastorais da Igreja Católica.

O primeiro olhar é de que as catequistas precisam de atenção diferenciada da

Igreja. Em sua maioria mulheres, doam seu tempo para a evangelização de crianças

e adolescentes, em um trabalho voluntário que exige muito de cada uma. A

captação de catequistas é difícil nas comunidades e, portanto, é necessário que a

Igreja mantenha as voluntárias motivadas a fim de permanecerem na função. Além

disso, é indispensável uma contínua motivação da Igreja para encontrar mais

catequistas dispostas a atuar na evangelização de crianças e adolescentes. As

dificuldades vão além da quantidade e esbarram, também, na qualidade do ensino.

Como cobrar algo de alguém que se doa voluntariamente para essa missão? A

Diocese cumpre sua obrigação ao oferecer espaços de capacitação. É preciso

insistir nesse caminho. Apesar do voluntariado, é preciso que as catequistas

despertem para a importância de se manterem atualizadas e se qualificarem para

despertarem nos jovens a vontade em se envolver com a Igreja.

6.1.5 A comunicação digital como instrumento de fidelização dos crismandos

A comunicação digital, de fato, é um recurso auxiliar na evangelização desse

público iniciante na vida cristã e pode fazer a diferença na evangelização de

crianças e adolescentes, uma vez que eles estão conectados na Internet e realizam

uma experiência de relacionamento mediada por ferramentas e aplicativos como o

WhatsApp, Facebook, Instagram e Snapchat. Ao utilizar esses meios para se inserir

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na realidade do jovem, a Igreja está indo ao encontro ao seu público-alvo. Padre

Oscar Chemello traz uma reflexão significativa para essa compreensão:

O desafio de se trabalhar com a juventude, hoje, é que o jovem tem tantos outros encantamentos, propostas e perspectivas e tem uma realidade bastante liberal que está tirando a ideia de certo e errado. Os valores estão meio relativos, há dificuldade que o jovem assuma todos os valores cristãos no seu dia-a-dia para que possa se encantar com Deus e não se perder com tantas outras propostas, como as drogas e também de uma vida sem religião, porque também a sociedade vai ficando cada vez mais secularizada e a religião não está mais fazendo parte do cotidiano das pessoas. O jovem vai crescendo nesse ambiente secularizado e não tem uma educação para o sagrado, para uma ligação com uma religião propriamente dita. Às vezes tem religiosidade e não tem uma religião (CHEMELLO, 2015).

No meio de tantas ofertas, principalmente no universo da Internet, marcar

presença com um conteúdo criativo e atrativo é um dos caminhos para a Igreja

conseguir chegar até os jovens e efetivar a sua missão evangelizadora. No que diz

respeito à catequese, a capacitação para as catequistas surge como uma opção

viável. A educomunicação não é um conceito que se aplica somente aos jovens,

mas também aos que não nasceram no mundo da tecnologia. Como aborda o padre

jesuíta Antonio Spadaro, no terceiro capítulo do trabalho,

um dos maiores desafios para os que não são ―nativos digitais‖, é aquele de não enxergar na rede uma realidade paralela, isto é, separada em relação à vida de todo o dia, mas um espaço antropológico interconectado na fonte com os outros espaços de nossa vida (SPADARO, 2014, p.17-18).

Os jovens trazem aos encontros de catequese, automaticamente, a sua

interação através do mundo digital. É compreensível que as catequistas com mais

idade não tenham tanta intimidade com essa nova ambiência midiática e o

relacionamento com os jovens também pode ser um caminho de aprendizado. No

entanto, é preciso reverter a cibercultura a favor do aprendizado cristão, tida por

muitos como inimiga dos relacionamentos e da educação. Benéfica ou não, ela é

uma realidade presente. É preciso entendê-la e vivenciá-la.

Os dados apurados com os crismandos da paróquia Santa Fé também

revelam um caminho onde a comunicação pode ser empregada para a

evangelização. Os questionários apontam que a maioria dos jovens (60%) passa, no

máximo, duas horas diárias na Internet, enquanto que, entre os jovens da paróquia

Santa Tereza, 74% passam no mínimo três horas conectados. Ainda assim, os

crismandos da periferia se envolvem muito mais com a Igreja em suas comunidades

do que os crismandos da área central. É possível presumir que a atração pela

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Internet enfraqueça os laços comunitários presenciais se não houver a presença da

catequese ou da Igreja no espaço virtual, motivando os jovens a se encontrarem

para ações em comum. Os dados também apontam um trabalho mais eficaz das

catequistas do Santa Fé, que conseguem envolver os jovens com a missa. A

percepção é de que, através dos aplicativos e das ferramentas de comunicação

online, os jovens mantém um maior contato além dos encontros, o que pode diminuir

a atração pelo encontro presencial que a Igreja propõe. Talvez isso explique a maior

atividade dos jovens do Santa Fé. Ligando ao fato de que, em sua maioria, os

crismandos da Catedral não considerem tão boa assim a comunicação da Igreja

para com eles, justifica-se a necessidade dessa presença eclesial interativa no

ambiente digital para fidelizar o público, enquanto que na paróquia Santa Fé a

comunicação da Igreja com o jovem é considerada boa, pois as relações são

estabelecidas muito mais de forma presencial do que mediada.

Está constatado que as crianças entram na catequese pela vontade dos pais.

Passam pelos quatro anos de iniciação da vida cristã, adquirem o sacramento da

Crisma ou Confirmação e dificilmente seguem atuantes na Igreja, pois a continuação

já não é mais uma obrigação e, pela idade, já deixa de ser uma escolha ou

imposição familiar. O padre Oscar Chemello reforça dizendo que o desafio é fazer

com que o jovem permaneça na comunidade após concluir a catequese e que

escolha o cristianismo como religião. O religioso acredita que

a Igreja deve, na catequese, [...] possibilitar ao jovem de ter um caminho de um encontro mais afetivo e experiencial com Jesus Cristo e junto com a comunidade. É inserir o jovem e a criança cada vez mais cedo na comunidade [...]. para que ele vá percebendo que aqui é uma casa para ele, que a Igreja é uma casa onde ele é acolhido, tem seu espaço, é respeitado e pode ser protagonista da sua evangelização. A gente percebe que o jovem, ou as crianças, quando se sentem participantes ou acolhidos, evangelizam os outros também, são ativos, não ficam simplesmente aguardando as coisas, ou passivos. Eles são ativos, muito envolvidos na evangelização e é o jovem que evangeliza o jovem. O adolescente, quando vê o padre, pode ter amizade com o padre, mas é uma figura de autoridade. O padre vai falar daquele discurso que já estão esperando, o discurso já óbvio, e quando um jovem fala para outro jovem, ele sabe as dificuldades, sabe a linguagem, como se expressar e é alguém igual a eles, que tem as mesmas dificuldades e alegrias, mas que tem uma experiência de fé própria e que está transmitindo para os outros (CHEMELLO, 2015).

Como complemento da evangelização para os crismandos, algumas

paróquias da Diocese oportunizam aos jovens o Kerigma, um encontro com duração

de uma manhã e uma tarde, onde escutam palestras realizadas por outros jovens,

participam de dinâmicas e vivem uma experiência de evangelização emotiva e

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diferente em relação ao vivenciado semanalmente nos encontros da catequese. É

uma tentativa de despertar os crismandos para a vivência baseada no Evangelho e

motivá-los a continuarem participando da Igreja, seja em sua comunidade, em

grupos de jovens ou em movimentos católicos.

Cerca de 100 crismandos da paróquia Santa Fé passaram por essa

experiência em 26 de setembro de 2015. O coordenador do Kerigma, Alex Soares

Pereira Costa, 34 anos, conduz a iniciativa desde 2010 e aponta alguns pontos

positivos de trabalhar com o jovem na Igreja. Segundo ele, os jovens estão sempre

abertos para algo interessante, são comprometidos e é possível ―transformar jovens

perdidos em jovens espiritualizados e humanos‖ (SOARES, 2015). Alex acredita que

o uso de ferramentas de comunicação pode ―ser fundamental, pois é onde a Igreja

deve lançar as redes para pescar os jovens‖ (SOARES, 2015).

É justamente esse lançamento das redes e a continuação da evangelização

dos crismandos que será analisado a seguir, a partir da observação de campo e dos

questionários aplicados aos participantes dos grupos de jovens.

6.2 TECNOLOGIA X COMUNICAÇÃO FACE A FACE - A PREVALÊNCIA DA

CULTURA DO ENCONTRO NA EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE

Em 2014, em discurso no Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa

Francisco utilizou um termo que ganhou grandes proporções, a cultura do encontro.

Em sua reflexão intitulada ―Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do

encontro‖, apresentada no segundo capítulo deste trabalho, o pontífice afirma que

uma boa comunicação ajuda-nos a estar mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros. Precisamos de harmonizar as diferenças por meio de formas de diálogo, que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de outros. Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus.

A reflexão sobre a cultura do encontro é o cerne comunicacional que Igreja

Católica precisa exercitar. A comunicação face a face, o encontro presencial é, de

fato, a maior experiência que os cristãos podem fazer à luz do Evangelho. Toda

comunicação nas redes digitais, sites, blogs e demais locais da Internet só ganham

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sentido quando aliados a uma experiência presencial, junto da comunidade-igreja,

junto a outras pessoas que compartilham da mesma fé, dos mesmos valores, das

mesmas buscas.

A Internet é, de fato, uma facilitadora do processo de conhecimento e pode

ser utilizada para muitos fins positivos na Igreja, como avisos de encontros,

divulgação de programações, leitura de artigos, documentos e conteúdos religiosos

que acrescentem à bagagem do conhecimento das coisas de Deus. No entanto, é

visível que a comunicação no mundo virtual, principalmente quando se tratam de

grupos e eventos que acontecem presencialmente, deve ser no sentido de motivar

as pessoas a buscarem uma experiência de fé real, verdadeira, ligada a outras

pessoas. Não se pode correr risco de se criar, mesmo sem ter intenção, uma religião

de Internet, como aborda Spadaro (2012) no terceiro capítulo, pois ―pode-se cair na

ilusão de que o sagrado ou o religioso estejam ao alcance do mouse‖ (p. 48). O

documento Igreja e Internet (2002), apresentado no terceiro capítulo, também

defende essa linha, ao afirmar que ―a realidade virtual não substitui a Presença Real

de Cristo na Eucaristia, a realidade ritual dos outros sacramentos e o culto

compartilhado no seio de uma comunidade humana feita de carne e de sangue‖.

Compreensão semelhante está explícita no Diretório de Comunicação da Igreja no

Brasil (2014), também exposta no terceiro capítulo, que aponta que a presença

eclesial no ambiente digital é incentivada por ser um lugar de testemunho e anúncio

do Evangelho, mas que ―as mídias digitais não substituem a vida em comunidade e

litúrgica presencial‖ (p. 136).

Ou seja, a cultura do encontro deve prevalecer ante a comunicação digital. No

entanto, o ciberespaço não deve ser ignorado, tanto antes pelo contrário. Precisa ser

levado em alta consideração, principalmente na evangelização da juventude, que

está conectada diariamente na rede e precisa encontrar uma resposta da Igreja

nessa ambiência. Porém, o caminho está claro: é preciso que a Igreja se mostre

atrativa para captar jovens e demais pessoas que não tenham se deixado encantar

pelo Evangelho, motivando sempre para um encontro presencial.

Agora, a partir da pesquisa de campo e dos questionários aplicados aos

grupos de jovens das paróquias Santa Fé e Santa Tereza, será possível analisar a

prática comunicacional e evangelizadora da juventude na realidade local de Caxias

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do Sul. Antes, porém, de expor e tirar conclusões, será apresentado um perfil básico

dos jovens do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga e do Unidos Pela Fé.

6.2.1 Perfil dos frequentadores do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga

Das 20 pessoas que responderam aos questionários no Grupo de Oração

São Luiz Gonzaga, 15 são mulheres e apenas cinco são homens. A maioria (oito

respostas) possui renda familiar entre quatro e seis salários mínimos, seguido por

dois a três salários (seis respostas) e acima de sete salários mínimos (cinco

respostas). A escolaridade varia entre ensino fundamental incompleto (seis), ensino

superior incompleto (cinco) e ensino médio incompleto (quatro), miscelânea também

indicada na idade dos frequentadores, com quatro jovens de 16 anos e os demais

variando entre 11 e 31 anos. Os jovens são de 10 bairros diferentes, sendo quatro

do Exposição, três do Rio Branco e três do Pio X, próximos ao Centro, mas também

há moradores de bairros mais distantes, como Madureira, Jardim América e Nossa

Senhora de Fátima. O tempo de participação do grupo apresenta um equilíbrio, o

que sugere que os participantes se conhecem a um tempo significativo para criar

vínculos, permanecem no grupo e também há uma quantidade de novos jovens

ingressando. Seis pessoas participam entre um e dois anos, cinco pessoas há

menos de um ano, quatro pessoas de três a cinco anos e outras quatro de quatro a

seis anos.

A pesquisa também aponta que o boca-a-boca é a forma que mais funciona

para atrair novos jovens. A maioria (15 pessoas) afirma que foram convidadas por

amigos ou conhecidos, enquanto três participaram de um retiro promovido pelo

grupo e depois começaram a frequentar os encontros semanalmente.

Todos os integrantes se comunicam além dos encontros semanais, fazendo

isso através do WhatsApp e do Facebook (17 respostas cada), pessoalmente em

outros lugares (16 respostas). Snapchat (nove), Instagram (seis) e e-mail (dois). Já a

coordenação do grupo se comunica com os participantes por meio de uma Página

do Facebook e de um grupo no WhatsApp. Os jovens também se informam sobre

conteúdos religiosos através de sites (11 citações), TV (10), Facebook (oito), rádio

(seis), jornal (quatro) e blogs (um). O grupo do WhatsApp (três) e revistas (um)

também foram citados. Os jovens passam de três a cinco horas na Internet (nove

pessoas), duas a quatro horas (seis) e mais de seis horas (três), acessando

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principalmente redes sociais (19) e sites de notícias (nove), mas também games

(sete) e sites educativos (cinco). A finalidade principal é lazer (19), seguido por

estudo e informação (11 cada) e depois trabalho (cinco). Todos provêm de famílias

católicas. Na comparação aos crismandos da própria paróquia, os jovens do grupo

são mais assíduos na missa, frequentando as celebrações semanalmente (11

citações), duas vezes ou mais por semana (seis) ou duas ou três vezes por mês

(três).

A comunicação da Igreja Católica com os jovens é considerada, por eles

mesmos, razoável (oito), boa (seis), ótima (cinco) e ruim (1).

Em um perfil geral, então, o Grupo de Oração São Luiz Gonzaga é composto

na maioria por meninas de idades variadas, com predominância de 16 anos, com

renda familiar entre quatro e seis salários mínimos, que estudam no ensino

fundamental e também no ensino superior. São moradores da área central de

Caxias do Sul, participam do grupo entre um e dois anos e ingressaram através do

convite de amigos ou conhecidos. A comunicação entre o frequentadores ocorre

pelo WhatsApp, Facebook e pessoalmente em outros lugares. A comunicação do

grupo para com os participantes acontece através de uma página no Facebook. Os

jovens consomem conteúdos religiosos através de sites e TV, passam entre três e

cinco horas diárias na Internet acessando redes sociais em busca de lazer.

Os integrantes frequentam a missa semanalmente e consideram razoável a

comunicação da Igreja Católica para com os jovens em geral.

6.2.2 Perfil dos frequentadores do grupo de jovens Unidos Pela Fé

No grupo de jovens Unidos Pela Fé, da comunidade Senhor Ressuscitado do

bairro Centenário II, da paróquia Santa Fé, apenas oito integrantes responderam aos

questionários (incluindo o questionário próprio para lideranças respondido pela

coordenadora), o que permite uma amostra pequena em relação ao Grupo de

Oração São Luiz Gonzaga, da paróquia Santa Tereza.

No grupo, há quatro meninos e quatro meninas, com idades entre 13 e 22

anos. Quase todos (sete) possuem renda familiar entre quatro e seis salários

mínimos e estudam no ensino médio, frequentando o grupo desde o início, há três

anos. Todos se comunicam além dos encontros semanais e o fazem pessoalmente

em outros lugares, pelo WhatsApp e pelo Facebook. O grupo também possui uma

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página no Facebook. Os jovens consomem conteúdos religiosos através de sites e

passam mais de seis horas diárias (três respostas) na Internet, acessando redes

sociais para lazer, informação e estudos.

Os jovens do Unidos Pela Fé frequentam a missa semanalmente e

consideram boa a comunicação da Igreja Católica com os jovens em geral.

6.2.3 A evangelização da juventude: uma dificuldade reconhecida pela Igreja

Ao analisar as entrevistas coletadas com as lideranças religiosas a

constatação é inegável: o jovem é um público a parte dentro da Igreja Católica. Não

se evangeliza o jovem com a mesma linguagem que outros públicos, como adultos e

idosos. É preciso ir além dos tradicionais métodos eclesiais de discursos, homilias,

palestras, monólogos. Padre Oscar Chemello traz uma intervenção que ajuda a

compreender o cenário da juventude:

O trabalho com o jovem é um dos grandes desafios da Igreja e do nosso tempo, porque o jovem desse momento histórico é diferente do jovem do passado. O que a gente vê de pontos positivos é que o jovem atualmente está buscando uma convicção e uma experiência mais profunda de Deus, diferentes de outros tempos onde a cultura era muito forte e as pessoas participavam da religião quase porque toda a sociedade tinha essa característica. Agora, o jovem desse momento, está buscando uma experiência mais pessoal, próximo da de Deus. Ele quer respostas mais claras para suas duvidas de fé. Está preocupado em perceber no que a religião pode ajudá-lo no seu dia a dia (CHEMELLO, 2015).

Bispo da Diocese de Caxias do Sul desde 2011, o italiano Dom Alessandro

Ruffinoni é um entusiasta da participação dos jovens na Igreja Católica, da qual traz

um olhar muito singular.

Os jovens nos ajudam um pouco a ter coragem de olhar para o futuro e tentar mudar o que é possível mudar em nossa comunidade. O aspecto positivo dos jovens é que nos ajudam a olhar para a frente, a perceber o novo e a não ter medo de mudar, porque o jovem não tem medo. Por que tantos jovens morrem? Por que não tem medo de correr, usar o carro e voar, então por isso que morrem também, mas os jovens nos ajudam a ter essa coragem de melhorar, de olhar para a frente. Fora que o jovem anima a comunidade e pode ser mais protagonista (RUFFINONI, 2015).

O líder religioso, no entanto, reconhece a dificuldade que a Igreja enfrenta em

evangelizar os mais novos.

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Muitas vezes a gente não dá trabalho para os jovens e como comunidade não temos estrutura para oferecer aos jovens para que eles gostem de ficar perto da comunidade. Chega sábado e domingo, os jovens voam para a namorada, para outras cidades onde acham lugares melhores de diversão, de passar algumas horas com os amigos. E nós, como comunidade, sobretudo no interior, não temos muita coisa a oferecer além da missa. [...] Uma coisa que achamos difícil é quando o jovem se afasta, como reaproximá-lo da Igreja? Temos jovens engajados, sobretudo de movimentos que estão presentes e ajudam, mas temos muitos jovens que não participam mais. Então nosso desafio é como reaproximar o jovem da Igreja. Tem toda a problemática de droga, da pouca fé. Por falta de orientação ou de apoio da família foram aos poucos se afastando de maneira que não participam mais. [...] Mas como fazer com que o jovem volte? Essa é uma pergunta que não tenho resposta (RUFFINONI, 2015).

No grupo Unidos Pela Fé, é notável a dificuldade em trazer o jovem para as

atividades da Igreja. Dos oito integrantes que responderam os questionários, apenas

dois ingressaram depois da criação do grupo. É pouca a atração para que os jovens

se interessem pelas coisas da fé em meio há tantas outras ofertas possíveis,

principalmente quando a Internet se consolida como um ponto de encontro. Diante

dessa realidade constatada na pesquisa, se faz importante o entendimento de

Rovilson Robbi Britto, em Cibercultura: sob o olhar dos estudos culturais,

apresentado no terceiro capítulo. Se as pessoas descobrem a Internet como espaço

de sociabilização é porque está faltando fora dela, o que é uma pista de ação para a

regeneração de vínculos darem outro sentido à sociedade. Nesta ordem, ―o

ciberespaço pode ser a nova praça pública virtual, o novo campo do estar junto, que

leve a encontros reais e que imponha a necessidade de regeneração de espaços

públicos para isso‖ (BRITTO, 2009, p. 167).

O Unidos Pela Fé é um lugar de encontro real dos jovens, mas precisa ser

melhor lapidado para que possa ter fôlego para manter animados os jovens da

comunidade Senhor Ressuscitado e buscar mais participantes. Caso não haja uma

melhora na proposta de evangelização, é ousado afirmar, mas é possível que o

grupo venha a ser extinto. A preocupação, constatada na observação participante, é

também da coordenadora Aline Zorzan de Bitencourt, 19 anos. Para ela, o que

impede o grupo de ser frequentado por mais pessoas é ―a pouca divulgação de que

existe grupo de jovens, tanto na comunidade, quanto em outros locais. E a forma

que o grupo se encontra, sendo muito acomodado e às vezes muito fechado para

novas pessoas‖ (BITENCOURT, 2015)). Soma-se a isso a percepção de Aline

quanto à própria comunidade de que ―a Igreja esqueceu o lado bom do jovem,

dando a nós somente tarefas a cumprir‖ (BITENCOURT, 2015).

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Nas respostas subjetivas colhidas nos questionários, a maioria dos

participantes do grupo tem a percepção de que a Igreja precisa motivar mais o

jovem a participar de suas atividades. Algumas respostas nesse sentido dão conta

de que ―poderíamos ser mais motivados com materiais dinâmicos‖, ―há certo apoio,

mas poderia ser mais visado, pois este é o futuro da Igreja‖, ―de certa forma não

motiva, vai de cada um querer participar ou não, porque a finalidade da Igreja

Católica é apresentar o Evangelho, ensinar o Evangelho, mostrar que Cristo é o

caminho‖. Porém, também há respostas positivas como a de que a Igreja está

―sempre acolhendo e aceitando ideias para melhorar e atualizar‖, ―há todo um apoio

por parte dos padres e integrantes da igreja, também há retiros e eventos que

incentivam‖, ―a Igreja sempre incentiva o grupo e também motiva pessoas a

participarem do grupo‖.

Interessante é a constatação de que os jovens realmente gostam de participar

do grupo. Nos questionários, fica evidente na pergunta qual a importância do grupo

para você?. Algumas respostas: ―O grupo para mim é de grande importância, pois os

jovens hoje em dia precisam conhecer mais sobre Deus‖, ―me faz bem

espiritualmente, mais perto das pessoas‖, ―segunda família‖, ―é importante pela

ligação com a Igreja e a convivência com outros jovens‖, ―encontro com Deus e com

os amigos e a preservação de valores‖. O grupo está ciente do que precisa ser

melhorado nos encontros. Segundo as respostas, é preciso ―mais jovens no grupo‖,

―estamos vivendo um momento estático no grupo. Gostaria de animar mais, porém

muitas vezes falta coragem, mas sei que vamos mudar e crescer‖, ―as dinâmicas,

variar mais‖, ―a falta de compromisso‖, ―assiduidade deveria ser melhor‖, ―integrantes

ficam em grupinhos dentro do grupo de jovens‖.

No entanto, a situação do grupo vai além da motivação por parte da Igreja. É

preciso que os jovens se comprometam mais com a doutrina do cristianismo e

busquem subsídios para que os encontros tenham mais conteúdo bíblico e

teológico. A comunidade precisa ser mais que um simples lugar de encontro entre os

jovens. É preciso cumprir a missão máxima da Igreja Católica de divulgar e vivenciar

o Evangelho. A falta de uma liderança forte e evidente dentro do grupo também

agrava a situação. Embora a coordenadora seja a jovem Aline, ficou explícita

durante a observação participante que a liderança não é exercida de forma clara

perante os membros.

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104

Nesse sentido, o pároco do Santa Fé, padre Nivaldo Pauletti, reconhece a

lacuna existente no trabalho pastoral para estar mais próximo do jovem.

O jovem é autossuficiente, mas ele é inseguro. Ele necessita, às vezes, de jovens mais adultos que ajudem a mostrar um caminho para que ele se torne mais seguro, mais tranquilo, embora muitas vezes os jovens não querem gente adulta junto, preferem estar entre eles, mas se sentem seguros em relação à Igreja e grupo de jovens quando tem pessoas adultas para conduzir e uma das dificuldades é encontrar pessoas disponíveis para trabalhar com a juventude. Todo mundo apoia a juventude, mas nem todo mundo entende nem se adapta a fazer trabalho com grupos de jovens, que hoje é um desafio. [...]. É muito pouco padre para muita gente (PAULETTI, 2015).

Reconhecida a dificuldade da Igreja em evangelizar a juventude, vamos

avançar para a proposição de algumas alternativas observadas nos grupos que

podem servir de exemplo nesse segmento.

As dificuldades percebidas no Unidos Pela Fé não são as mesmas do Grupo

de Oração São Luiz Gonzaga. A iniciativa juvenil da Catedral se mostrou bem

estruturada, com lideranças bem definidas, seguindo um padrão de um encontro

para o outro com devida qualidade e conferindo uma identidade própria para o

grupo. No espaço Mater Dei, dentro da Catedral, onde o São Luiz Gonzaga se

encontra todas as quartas-feiras, o ambiente é propício e acolhedor para

desenvolver um clima de sinergia entre os participantes. A música e a personalidade

aparentemente aberta dos jovens convidam à integração e tornam a convivência

agradável. A forma de oração e a pregação feitas pelos próprios jovens cumprem

com o papel evangelizador do grupo, que transmite o Evangelho em seus encontros

e mantém uma dinâmica jovial e que envolve a participação de outros jovens nesse

processo.

6.2.4 Jovem: a melhor ferramenta de evangelização de outro jovem

Conforme constatado na pesquisa de campo, de fato a linguagem é um

diferencial positivo nos encontros. O discurso de jovem para jovem enriquece o

diálogo e a mensagem cristã se torna mais atrativa. Padre Oscar Chemello, pároco

da Catedral onde o São Luiz Gonzaga se reúne, entende que

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o adolescente, quando vê o padre, pode ter amizade com o padre, mas é uma figura de autoridade, O padre vai falar daquele discurso que já estão esperando, o discurso já óbvio, e quando um jovem fala para outro jovem, ele sabe as dificuldades, sabe a linguagem, como se expressar e é alguém igual a eles, que tem as mesmas dificuldades e alegrias mas que tem uma experiência de fé própria e que está transmitindo para os outros (CHEMELLO, 2015)

Um dos coordenadores do São Luiz Gonzaga, Gabriel De Carli, 21 anos,

destaca que

o grupo busca focar no ser, no pertencer e não no fazer. Acontece muito dentro da Igreja, de grupos e movimentos focarem no servir, no fazer, naquela coisa prática em detrimento de tu ser e viver o cristianismo. Muitas pessoas acham que a ser cristão é trabalhar em algum movimento e na verdade não é bem assim. A Igreja não é uma empresa que tu trabalha semanalmente, então o objetivo principal do nosso grupo e do que penso de vivência de cristianismo dentro da Igreja hoje é que tu realmente tenha o objetivo de ser e de pertencer à tua comunidade dentro daqueles moldes de cuidar do outro, de saber que tu não está sozinho. O fazer é consequência. Por exemplo, a gente se reúne, então tem que ter cadeira para todo mundo sentar. Eu vou lá conviver com as pessoas, então é consequência disso que eu tenho que colocar cadeiras. É porque eu sou que eu faço (DE CARLI, 2015).

Nas quartas-feiras à noite, o espaço Mater Dei realmente se torna um espaço

de evangelização, e não um simples ponto de encontro para a juventude. A

percepção também é verificada com algumas respostas dos questionários para a

pergunta qual a importância do grupo para você?: ―é uma parte muito grande da

minha vida, onde encontrei meus melhores amigos e onde encontrei sentido para a

minha vida‖, ―aprimorar minha fé e sentir o amor de Deus‖, ―aqui tenho amigos

verdadeiros‖, ―o grupo tem uma grande importância, pois renova a tua vida e traz

transformações‖, ―traz um sentimento de pertencimento, de aconchego‖,

―fundamental! Me faz um bem enorme e a cada dia me sinto mais próxima e amada

de Deus‖. Outras boas percepções se têm da pergunta o que você mais gosta nos

encontros?: ―da capacidade de fazer bons amigos em Jesus Cristo e da experiência

com o mesmo‖, ―da alegria e de como o grupo se relaciona com a pessoa: amor,

carinho, atenção e a pregação, envolvendo atualidade, vida atual‖, ―a animação de

cada jovem e as reflexões profundas, mas com linguagem adaptada à realidade

jovem‖, ―da minha conversa com Deus‖, ―danças e palestras‖.

A coordenadora do grupo, juntamente com Gabriel De Carli, Paola Delazzeri,

22 anos, cita a criatividade, disposição, motivação e ousadia como pontos positivos

do jovem dentro da Igreja. Também vocalista do Ministério de Música do grupo,

acredita que

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a música é um meio de evangelizar, pois está presente em diversas esferas da sociedade – no lazer, na mídia, nos processos educativos, e, portanto, deve e está presente na Igreja. Hoje, percebo que a música deve atrair o jovem de modo que ele perceba que há a preocupação pela criação de uma estética mais criativa, técnica e, portanto, tão qualitativa quanto ao que escuta no rádio ou no seu Ipod (DELAZZERI, 2015).

O Grupo São Luiz Gonzaga, em toda sua conjuntura, é um bom exemplo de

evangelização da juventude a ser seguido. Ainda assim, é importante também citar

as respostas elencadas dentro da questão o que você não gosta ou mudaria no

grupo ou movimento?: ―não gosto de situações que envolvem o egoísmo e o orgulho

humano, mas por ser humano não há possibilidade de mudar totalmente. O que

deve mudar é meu julgamento em relação a isso‖, ―a falta de humildade‖, ―muitas

panelinhas‖, ―mudaria o fato de muitas vezes cairmos na mesmice e no comodismo

de ir para a Igreja ou para o grupo pelo simples fato daquilo já fazer parte da nossa

vida, e não pelo principal motivo que é o encontro com Deus, por meio da ação do

Espírito Santo‖, ―a forma de divulgação do grupo. Buscaria maneiras mais eficazes

do que só o Facebook e o boca-a-boca‖.

Certamente existem possibilidades de melhorias para o andamento do São

Luiz Gonzaga, e que devem ser observadas e analisada para tornar o ambiente

cada vez melhor e propício à uma convivência harmoniosa, mas é um grupo atuante

há 27 anos e que possui uma estrutura bastante boa à sua disposição, por estar na

paróquia Santa Tereza. Os jovens parecem saber dessa responsabilidade e buscam

se esforçar para manter o grupo em alta. Outra questão importante são as atividades

que acontecem regularmente além dos encontros semanais. Conforme enumera o

coordenador Gabriel De Carli, existem iniciativas oficiais do grupo, como missões

nos hospitais, no Centro de Apoio a Pessoas com Câncer (CAPC), na Casa do

Adolescente, o projeto Jesus nas escolas, que envolve teatro e músicas para alunos

do Ensino Médio e retiros para crismandos, entre outras atividades.

Basicamente, é o mesmo conteúdo que são passados nos mesmos locais de missões, mas de formas diferentes. O conteúdo é o amor de Deus, que chamamos de kerigma, o primeiro anúncio. Temos várias formas de passar isso, seja através de palestras, de brincadeiras, da música (DE CARLI, 2015)

Além disso, existem grupos de convivência que são criados de forma

espontânea pelos jovens, como para a prática de futebol, corrida, vôlei e basquete.

Também há outras iniciativas como formações de música, teatro e dinâmicas,

abertos a todos os participantes e também aos que não frequentam o grupo dentro

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da perspectiva de ser cristão em qualquer lugar que esteja.

Importante destacar ainda que o São Luiz Gonzaga é ligado ao movimento da

Renovação Carismática Católica (RCC), existente em todo o mundo e que possui

um carisma próprio, como abordado na metodologia, da espiritualidade no Espírito

Santo. Gabriel De Carli explica, porém que se

[...] busca colocar em primeiro lugar o ser paróquia. A nossa prioridade número um é a paróquia da Catedral e depois o nosso movimento, mas, ao mesmo tempo, temos uma identidade muito própria. Se tu for num grupo convencional da RCC e no nosso grupo, vai se ver bastante diferença. Nosso grupo tem 27 anos, é bastante velho, e adquiriu uma personalidade muito própria, inclusive pela paróquia que está inserido (DE CARLI, 2015).

Também como é possível perceber no perfil do grupo, o São Luiz Gonzaga

possui uma comunicação eficiente nas redes sociais digitais, sendo que seus

participantes passam bastante tempo conectado à Internet diariamente. Aqui é

possível presumir que a comunicação está sendo bem desenvolvida no mundo

virtual para motivar os jovens a participarem do grupo de forma presencial, enquanto

que no Unidos Pela Fé, a comunicação é somente um entre tantos pontos a serem

repensados na evangelização.

Diversos movimentos católicos para jovens são atuantes em Caxias do Sul,

como o Encontro de Jovens Amigos com Cristo (EJA), o Cenáculo de Maria, Emaús,

além da própria RCC, já citada, e da Pastoral da Juventude (PJ). Cada um com

carisma e forma de manifestar a fé de forma diferente. São movimentos

organizados, que existem em outros municípios e estados e que estão estruturados

há pelo menos 20 anos na cidade e, via de regra, reúnem uma quantidade grande

de jovens, desde os 13 anos até adultos. Já os grupos paroquiais que, em geral, não

são ligados a movimentos tendem a ter mais dificuldade em fidelizar os jovens. Dom

Alessandro Ruffinoni, que já trabalhou na Itália e no Paraguai, afirma que a forma da

juventude se organizar é semelhante em todo o mundo. Para o bispo da Diocese de

Caxias do Sul, o fator positivo

não é tanto o movimento, mas a experiência que o movimento oferece. Em geral, os movimentos trocam de nome, mas a metodologia desse encontro faz com que o jovem caia do cavalo, porque o jovem às vezes vai meio desligado e depois de três dias em um retiro se transforma. É o encontro com Cristo que faz com que o jovem se transforme em igreja participante. Não é tanto o movimento, mas o que oferecem aos jovens, uma experiência forte de Deus (RUFFINONI, 2015).

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O líder da Igreja Católica da região admite também a dificuldade de encontrar

religiosos que saibam trabalhar com a juventude.

Nós padres, eu me ponho também no meio, ou pela idade ou por outros motivos, temos uma séria dificuldade a nos dedicar à juventude, a acreditar no jovem, a suscitar nele confiança, a ser amigo do jovem. [...] Nós padres temos tanta coisa para fazer e não dedicamos aquele tempo que precisaria para que o jovem se sinta amado pelo padre, pela Igreja, e dê uma resposta. Então acho que não temos o carisma de trabalhar com a juventude. Sentimos dificuldade. O desejo existe. Por que Papa a nível mundial convoca 3, 4 milhões de jovens na JMJ? Por que ele tem um carisma especial. E nos não somos capazes de transmitir aos jovens da nossa paróquia, da nossa Diocese, aquele entusiasmo que conquista o jovem, aquele carinho, aquela atenção (RUFFINONI, 2015).

Referencial diocesano do Setor Juventude, padre Rudinei Zorzo, 30 anos, e

também fundador do grupo de jovens Unidos Pela Fé, entende que os movimentos

católicos ganham força entre os jovens por sua capacidade de atração e mudança

de perspectiva nos relacionamentos.

Nem sempre o jovem quer permanecer na periferia. O jovem está na periferia, mas se encontra no Centro, quer chegar até o shopping, passear na praça, também quer fazer parte da cidade, não quer ficar isolado. Por isso que, muitas vezes, o movimento concentra mais porque o jovem quer se encontrar longe da sua realidade. Não que não queira valorizar ou se identificar com a sua realidade, mas quer outra realidade além da sua, por isso que muitas vezes é muito difícil fortalecer o grupo da comunidade (ZORZO, 2015).

Essas podem ser explicações para o Grupo de Oração São Luiz Gonzaga se

mostrar mais ativo que o Unidos Pela Fé. Integrar um movimento estruturado, se

localizar em uma área central da cidade e possuir uma boa estrutura física, sem

dúvida, são atrativos para se desenvolver um bom trabalho. Porém, não é o

essencial. O material humano é a maior explicação para a vitalidade das iniciativas

juvenis. É necessária uma liderança forte e agregadora, propostas que realmente

vão ao encontro do Evangelho e à mensagem cristã. É preciso se basear na

sabedoria da Bíblia e transmitir isso com uma linguagem própria, de jovem para

jovem e, se possível, com o acompanhamento regular ou esporádico de jovens mais

experientes de religiosos e leigos mais instruídos e capacitados. Para permear tudo

isso, um ambiente acolhedor e dinâmico contribui e pode fazer a diferença para

fidelizar o jovem a participar dos encontros regulares dos grupos e ser uma porta de

entrada para a atuação juvenil profunda na Igreja, participando das missas e outras

ações que envolvam a comunidade.

Os jovens da periferia não podem e não devem esmorecer perante uma

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realidade menos atrativa. Embora não tenham as mesmas facilidades e benefícios

que a zona central da cidade pode trazer, é preciso superar a falta de estrutura e

despertar para a consciência de organizar atividades com qualidade, onde outros

jovens possam ser atraídos para a Igreja por ser não só um ambiente saudável de

encontro, mas um lugar onde levem adiante a missão evangelizadora do

Cristianismo, com pessoas acolhedoras e fraternas proporcionando uma vivência

comunitária que somente a Internet e as relações mediadas por aparelhos não

podem trazer.

6.3 LANÇANDO A REDE NAS REDES - A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE NA

CIBERCULTURA

Há um trecho da Bíblia Sagrada que diz ―Jesus, andando junto ao mar da

Galiléia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, os quais

lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores; e disse-lhes: vinde após mim,

e eu vos farei pescadores de homens‖ (BÍBLIA, Mateus 4, 19-20). Jesus transformou

simples pescadores em seus apóstolos e os convidou a outro tipo de pescaria, além

da sua realidade de pegar peixes. Era uma metáfora, convidando Pedro e André a

lançar suas redes para a evangelização de outras pessoas. Com a cibercultura

presente na sociedade contemporânea, a instituição que visa seguir a missão

deixada por Jesus Cristo continua lançando suas redes para pescar homens, em um

mar que dessa vez pode ser metaforizado por outra a rede: a Internet.

Coordenador da Pastoral da Comunicação (Pascom) na Diocese de Caxias

do Sul, padre Paulo Roque Gasparetto destaca o poder que a comunicação digital

pode inferir à Igreja para a evangelização da juventude, ao dizer que

hoje, o espaço religioso saiu do templo fechado e foi para as redes, para as ondas, para as antenas. Ela está nesse mundo afora. Só o templo não é suficiente hoje. Tem mais facilidade e vai ter sucesso aquela instituição que consegue se adequar e navegar nesse mundo digital, nas novas tecnologias, na questão das redes. Então, é fundamental isso. É um passo importante. Ou você se atualiza, ou você morre, acaba ficando para trás (GASPARETTO, 2015).

No quarto capítulo deste trabalho, foram abordadas iniciativas de

evangelização da juventude católica na Internet, com os casos da Comissão Jovem

em escala regional, do Eaí?Tchê em escala estadual e dos Jovens Conectados em

cenário nacional. Porém, mais do que difundir a mensagem da Igreja Católica em

sites e redes sociais digitais, esses organismos são amparados em atividades

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presenciais e existem para além do mundo virtual. Essa simples compreensão é

fundamental para que não se cometa o erro da evangelização se restringir somente

às telas dos computadores, tablets e celulares. Conforme aborda Antonio Spadaro

no terceiro capítulo

[...] o desafio não deve ser de que forma ―usar‖ bem a rede, como geralmente se acredita, mas como ―viver‖ bem nos tempos da rede. Nesse sentido a rede não é um novo ―meio‖ de evangelização, mas antes de tudo um contexto no qual a fé é chamada a se exprimir não por uma mera vontade de presença, mas por uma conaturalidade do cristianismo com a vida dos homens (SPADARO, 2012, p. 24-25).

Compreensão semelhante é abordada por Joana Puntel também no terceiro

capítulo, onde acredita que a comunicação se tornou uma cultura global, uma

ambiência vital da atual sociedade, ―uma realidade nunca antes vivenciada, a do

Homo Media, entendida como aquela em que o ser humano não só está entre os

meios de comunicação, mas interage com eles e neles interfere‖ (PUNTEL, 2008, p.

114, grifo da autora).

Logo, é preciso entender que a evangelização na Internet transcende o

mundo virtual. A rede, suas ferramentas, aplicativos e demais desdobramentos

estão interligados e coabitam com o mundo real, onde as ações podem ser tomadas

presencialmente e suas consequências podem ser notadas e ganhar forma também

nas relações ocorridas pelas redes sociais digitais. A Igreja Católica exprime essa

compreensão em seus documentos. No segundo capítulo, o Diretório de

Comunicação da Igreja no Brasil (2014) atenta para o fato de a Igreja estar presente

na grande mídia para que sua mensagem permaneça relevante. Desta forma, no

mar de possibilidades e ofertas ao alcance das mãos no mundo digital, ―vivenciar e

testemunhar a verdade última do amor é a melhor comunicação que a Igreja pode

realizar‖ e ―a mensagem da comunicação chega ao coração das pessoas quando

estas se percebem acolhidas e amadas‖ (DIRETÓRIO..., 2014, p. 37). Por isso, estar

presente nas redes sociais digitais, por exemplo, vai além da inserção de conteúdos

religiosos em plataformas como Facebook, Twitter, YouTube ou Instagram. É preciso

comunicar com qualidade e testemunhar com coerência o Evangelho, mesmo

quando não se fala explicitamente dele.

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A Igreja, para ser fiel a Jesus comunicador, precisa inserir-se na vida do povo, que é construída cada vez mais pela cultura midiática, que tem expressiva influência nos relacionamentos humanos, especialmente na afetividade, no imaginário, na canalização dos sonhos, desejos e ambição, na formação de valores, hábitos e costumes, e na formação da opinião pública (PUNTEL, 2010, p. 209).

Exemplo já citado anteriormente no quarto capítulo é o da Comissão

Jovem, iniciativa de comunicação vinculado ao Setor Juventude da Diocese de

Caxias do Sul, organismo onde as lideranças de movimentos e grupos juvenis se

reúnem para discutir ações e eventos que possam ser realizadas em conjunto ou

mesmo em paralelo. Desde 2012, às vésperas da Jornada Mundial da Juventude

(JMJ), o padre Rudinei Zorzo está designado para trabalhar especificamente com a

juventude católica. Em novembro daquele ano, quatro municípios da Diocese de

Caxias do Sul realizaram o evento denominado Bote Fé, a acolhida da Cruz

Peregrina e o Ícone de Maria, símbolos da JMJ que peregrinaram por todo o Brasil

para divulgar e motivar os jovens a estarem no evento que ocorreu em julho de 2013

no Rio de Janeiro e contou com a participação do Papa Francisco, reunindo 2,7

milhões de jovens. Desde então criou-se um trabalho pioneiro com os jovens da

Diocese, principalmente de Caxias do Sul. Assim, como explica padre Rudinei Zorzo,

foi criada a ComMissão Jovem, ―um canal para chegar aos jovens, que estão na

Internet, com a função de mostrar a cara da juventude da Diocese, mostrar o que a

juventude faz‖ (ZORZO, 2015).

A ComMissão Jovem é uma iniciativa pioneira nas 18 dioceses e

arquidioceses do Rio Grande do Sul e segue os moldes do Eaí?Tchê dos Jovens

Conectados. Mesmo depois da JMJ, ela segue ativa divulgando as atividades dos

diversos grupos e movimentos juvenis da Diocese. Inclusive, em 2014, a Diocese

completou 80 anos de fundação e a ComMissão Jovem, de forma voluntária,

produziu um documentário comemorativo com entrevistas dos sacerdotes mais

antigos da região. Nesse sentido de aliar comunicação e evangelização da

juventude, padre Rudinei Zorzo entende que

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nós temos um problema como Igreja. Nem sempre divulgamos o que nos fazemos porque achamos que não podemos divulgar porque somos humildes e se eu divulgar vou parecer orgulhoso. Eu penso que não. Precisamos divulgar para que o mundo saiba o que estamos fazendo, principalmente no trabalho com a juventude, para que as pessoas saibam que tem jovem que presta, porque o que mais se ouve é que o jovem é baderneiro. O intuito da ComMissão Jovem é mostrar o outro lado da juventude, que vale à pena botar fé e esperança nela e que realmente é sinal de transformação. Não adianta pensarmos que só aquele aviso no final da missa vai atingir o jovem. Uma forma de chegar até o jovem hoje é a comunicação (ZORZO, 2015).

Além da ComMissão Jovem, outro fruto da Jornada Mundial da Juventude

na Diocese de Caxias do Sul foi o próprio Setor Juventude, que já existia

anteriormente mas não englobava tantas expressões juvenis. Após toda a motivação

realizada para a Jornada, onde cerca de 500 jovens da Diocese participaram, a

unidade entre grupos e movimentos avançou em uma simbiose entre as redes

virtuais e os encontros presenciais. Dentro dessa caminhada, padre Rudinei Zorzo

elenca pontos positivos e negativos da juventude católica.

O ponto negativo é que nem sempre se é valorizado nesse trabalho, nem toda a Igreja ainda percebe a importância do jovem dentro dela e, muitas vezes, o jovem nem sempre abraça a causa [...]. O ponto positivo é que, realmente, a gente percebe a Igreja viva. Quando temos jovens dentro da Igreja e quando a Igreja se preocupa com o jovem e faz com que o jovem se sinta Igreja, percebemos uma Igreja que está junto com seu povo e está compreendendo a situação cultural e social da juventude (ZORZO, 2015).

A seguir, será visto de que forma a evangelização nas redes digitais acontece

no Grupo de Oração São Luiz Gonzaga e no Unidos Pela Fé.

6.3.1 A comunicação virtual nos grupos de jovens

Traçado os perfis básicos dos grupos analisados e após a observação

participante, será levantado um paralelo da evangelização que acontece nas Internet

a partir da compreensão de André Lemos, apresentada no terceiro capítulo, de que

o ciberespaço faz com que qualquer um possa não só ser consumidor, mas também produtor de informação, emissor. [...] Na publicização do espaço privado pelas novas tecnologias a vida banal quer ser arte. [...] Trata-se, é certo, de uma religiosidade social que nos faz aderir ao outro. Participar, a partir desta visão espetacular, da vida banal de uma outra pessoa, nos faz sentir religados, próximos (LEMOS, 2002, p. 114-115.)

Retomando também o entendimento de Pierre Lévy, em O que é virtual?, no

terceiro capítulo deste trabalho, existe a concepção de que o virtual não contrapõe o

real, mas o atual, sendo que virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de

ser diferentes. O virtual é também real, sendo um dos principais vetores da criação

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da realidade. A virtualização está diretamente ligada à mídia eletrônica e virtualizar

significa se tornar não presente, se desterritorializar. No entanto, não significa que é

imaginário. Ele produz efeitos e ―não se trata de modo algum de um mundo falso ou

imaginário. Ao contrário, a virtualização é a dinâmica do mundo comum, é aquilo

através do qual compartilhamos uma realidade‖ (LÉVY, 1996, p. 148).

Ao analisar a página do Unidos Pela Fé, curtida por 362 pessoas, vê-se o

reflexo dos encontros presenciais do grupo. As últimas postagens datam de 25 de

outubro, 29 de março e 23 de fevereiro26.

Figura 25 – Facebook Unidos Pela Fé

Fonte: www.facebook.com/Unidos-Pela-F%C3%A9-343743249077376/?fref=ts

26

FACEBOOK. Unidos pela fé. Disponível em: https: www.facebook.com unidos-pela-f%c3%a9-343743249077376/>. Acesso em: 08 nov. 2015.

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Figura 26 – Postagem no Facebook do Unidos Pela Fé

Fonte:

www.facebook.com/343743249077376/photos/a.714685195316511.1073741831.343

743249077376/733341276784236/?type=3&theater

Praticamente inativa nas redes sociais, a página do Unidos Pela Fé traz a

seguinte descrição: ―‘Unidos Pela Fé‘, é isso que somos e seremos eternamente, um

grupo de jovens que foi enviado por Deus para mostrar a FORÇA dos Jovens que

amam Jesus!!‖. Embora passem horas por dia conectados na Internet, os jovens do

grupo não alimentam a página, não divulgam suas atividades, o que leva a crer que

não estão motivados a mostrar ao mundo o que fazem dentro da Igreja no grupo

Unidos Pela Fé.

Por pertencer à uma zona de periferia, a característica é de que o grupo

tenha na comunidade o local de encontro presencial que dispense o virtual, como

constatado entre os crismandos da paróquia Santa Fé. No entanto, os dados dos

questionários apontam que os jovens do Unidos Pela Fé estão conectados na

Internet diariamente, inclusive acessando sites para consumir conteúdos religiosos.

Assim, seria interessante que o virtual condissesse com a experiência presencial.

Outro ponto possível de projetar soluções é uma comunicação interna mais eficiente,

através de um grupo no WhatsApp. A página do Facebook pode servir para os

seguidores se inteirarem das atividades produzidas pelo grupo afim de se

interessarem a participar dos encontros e enriquecer a partilha presencial das

sextas-feiras à noite.

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Já no Grupo de Oração São Luiz Gonzaga, a página do Facebook é ativa,

curtida por 1.019 pessoas e com postagens regulares com intervalo de três ou

quatro dias entre si27. Não há descrição na página e os posts variam de atividades

realizadas pelo grupo, divulgação de atividades que irão acontecer e conteúdos

multimídias, como uma sugestão de música da semana.

Figura 27 – Post do Facebook do São Luiz Gonzaga

Fonte: www.facebook.com/vemsergonzaga/?fref=ts

27

FACEBOOK. Grupo de Oração Jovem São Luiz Gonzaga. Disponível em: <https://www.facebook.com/vemsergonzaga/?fref=ts>. Acesso em: 08 nov. 2015.

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116

Na página também é possível acompanhar um videoclipe do Ministério de

Música do grupo, lançado em 28 de outubro de 2015 e com 3,6 mil visualizações até

o dia 08 de novembro de 2015. No vídeo, há uma música composta e executada

pelos próprios músicos do grupo e apresentado em um retiro para jovens. Assim, o

Facebook se torna uma extensão do que acontece nos encontros, com uma

linguagem própria para a web, não expondo o conteúdo que somente pode ser

conferido no encontro presencial e se mostrando presente em um espaço online que

os participantes acessam diariamente e podem se conectar, mesmo não estando

próximos fisicamente.

Figura 28 – Videoclipe São Luiz Gonzaga

Fonte: www.facebook.com/vemsergonzaga/?fref=ts

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Além da página do Facebook, há também o grupo do WhatsApp. O

coordenador Gabriel De Carli explica que existem três grupos oficiais no aplicativo

que contemplam os frequentadores: um apenas para recados, sem interações, outro

para conversas em geral onde todos podem interagir e se comunciar e um com os

coordenadores de setores e atividades, onde são resolvidas questões pertinentes ao

andamento das atividades do grupo. Outra ação destacável citada pelo coordenador

e encontrada na página do grupo é o evento denominado Vem Ser Gonzaga, que se

realizou em duas edições na Cachaçaria Sarau, em Caxias do Sul, onde o Ministério

de Música apresentou algumas músicas religiosas tocadas na Igreja e também

músicas gerais em evento aberto ao público. Segundo Gabriel De Carli

foi um momento extraordinário, inclusive com bebida alcoólica. Pude partilhar sobre minha vida e pessoas puderam partilhar comigo e podemos viver o amor de Deus nessas situações, sem nenhum exagero e pregando e cantando músicas cristãs e músicas seculares no meio da galera e pude sentir que as pessoas que estavam lá e não eram do grupo puderam ser tocadas pelo nosso jeito de ser e de viver (DE CARLI, 2015).

Figura 29 - #VemSerGonzaga

Fonte: www.facebook.com/vemsergonzaga/?fref=ts

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Gabriel De Carli compreende também que

o trabalho com o jovem tem que buscar se aproximar da vida do jovem e evitando ao máximo o moralismo. O que afasta o jovem da igreja é quando é pregado o que é certo e errado. Não é isso que a Igreja tem que pregar. A Igreja tem que pregar o amor de Deus e aquilo que Jesus deixou que é o amai-vos uns aos outros. A partir desse conhecimento que o jovem vai ter na Igreja é que ele vai decidir o que é certo e o que é errado para a vida dele. O trabalho com a juventude atingiria maior êxito se fosse dessa forma, ensinando realmente questões de se relacionar com as pessoas, de cuidar mais do outro, de olhar menos para o seu próprio umbigo, de ter capacidade de sair de seu mundinho e alcançar outro e não só do que é certo e errado, um moralismo que não faz tanta diferença assim na vida das pessoas (DE CARLI, 2015).

A abordagem de Gabriel De Carli é contundente e expõe o pensamento de

uma jovem liderança da Igreja Católica, mostrando indicativos do que impede,

muitas vezes, a atração de mais jovens e apontando caminhos de como agir para

buscar mais adeptos a se aproximarem das atividades desenvolvidas. A crítica do

coordenador do São Luiz Gonzaga parece não ser direcionada somente ao

conteúdo transmitido pela Igreja, mas também à linguagem utilizada nos

ensinamentos da doutrina cristã. Ao invés de um discurso moralista do que é certo

ou errado, a comunicação eclesial precisa pensar nos relacionamentos interpessoais

e em seus desdobramentos. É necessário que a comunidade, paróquia, diocese ou

outra estrutura eclesial dialogue com seus públicos a fim de estreitar laços e

congregar pessoas

A Catedral que acolhe o Grupo São Luiz Gonzaga é uma das poucas

paróquias da Diocese a possuir uma assessoria de comunicação. A jornalista Ana

Cláudia Cislaghi Mutterle Chiesa, 22 anos, é quem realiza o trabalho, remunerado e

de forma profissional. Ela já foi, inclusive, coordenadora do São Luiz Gonzaga e hoje

continua e dedicando à evangelização também como assessora de comunicação da

paróquia Santo Antônio, em Bento Gonçalves. Entre suas atribuições, cita produzir

conteúdo diário para o Facebook e sites paroquiais, mantendo uma atualização

constante de notícias e formação religiosa. Ela também produz materiais gráficos,

boletim anual, vídeos para o YouTube, sendo responsável pela comunicação interna

com leigos voluntários, feita também por e-mail e WhatsApp. Realiza o atendimento

à imprensa e o envio de releases para veículos com as principais atividades da

paróquia. Portanto, como se percebe, atividades que dialogam diretamente com o

público jovem.

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A principal dificuldade é garantir o envolvimento e engajamento do público por meio das ferramentas de comunicação, e mensurar esse engajamento. É difícil ter a certeza de que ocorreu a ―cultura do encontro‖, conforme pede o Papa Francisco. A pergunta que sempre me faço é: como atingir as pessoas de modo que elas se sintam parte da paróquia e tenham uma experiência de fé pelos meios de comunicação, e não apenas transmitir informações (CHIESA, 2015).

Padre Oscar Chemello entende que é importante que as instituições tenham

bons relacionamentos com seus públicos, em um processo de fidelização para que o

cliente seja atraído pela marca.

A gente passa essa ideia também pela Igreja, claro que não é uma empresa, não é uma marca e não são clientes, mas o sentido de manter contato com as pessoas, não só com informações sobre o andamento da paróquia, mas evangelizar através das mídias digitais, seja com conteúdos, com mensagens, com vídeos, procurando sempre ter algo que chame a atenção das pessoas para que elas lembrem que tem uma paróquia aqui, lembrem da oração, lembrem que tem uma comunidade que está ativa e realizando eventos para a evangelização. É um contato para mostrar que estamos vivos (CHEMELLO, 2015).

Além da Catedral, a Diocese de Caxias do Sul também possui um assessor

de imprensa: Elton Marcelo Aristides, graduado em Jornalismo, Filosofia e Teologia

e concluindo o processo para ser ordenado sacerdote. Contratado em 2014, com

atividades ligadas principalmente à produção de conteúdo para o site e o Facebook

da Diocese, o comunicador chama a atenção para que

todas as dioceses precisam estar atentas que a profissionalização da comunicação é uma urgência. Essencialmente, o objeto da comunicação é a informação. Por esse motivo, é preciso que o conteúdo informativo/religioso receba um tratamento e um cuidado profissional. Não basta informar. Faz-se necessário saber o que informar, para quem, quando, e em que circunstâncias (ARISTIDES, 2015).

Elton trabalha junto com a Pastoral da Comunicação (Pascom), coordenada

pelo padre Paulo Roque Gasparetto há cerca de 20 anos e composta por outras três

pessoas. Os integrantes desenvolvem atividades voluntárias de comunicação

ligadas à Rádio Miriam, localizada no Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio,

em Farroupilha, e pertencente à diocese, a um informativo mensal de quatro

páginas, transmissão de missa dominical para a UCS TV, além da comunicação

interna na Igreja e contatos com a imprensa. Conforme padre Paulo Gasparetto,

existe a consciência da Igreja Católica em investir na comunicação da Diocese, mas

se esbarra sempre na questão de recursos financeiros. Embora diga que a Pascom

precise pensar além da virtualização das redes sociais, ele também reconhece ser

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necessário melhorar a comunicação digital da Igreja para dialogar com os jovens de

forma mais profissional.

Por que a Igreja Católica tem muito mais dificuldade de entrar nesse mundo do que outras igrejas atuais? Por que a Igreja Universal do Reino de Deus é muito mais inserida no campo da comunicação? Por que a Igreja Católica tem 2 mil anos e veio de uma forma mais oral, mais escrita, na formulação de documentos. Algo muito mais pensado do que ação. A Igreja Universal do Reino de Deus não tem uma palavra sobre comunicação social, no entanto o agir dela é comunicação. Comparando, por que a Igreja tem dificuldade em trabalhar com juventude hoje? Porque os jovens já nasceram respirando esse ar de tecnologia e dentro dessas redes sociais, o desafio hoje é esse (GASPARETTO, 2015).

É perceptível que a Diocese de Caxias do Sul despertou, pelo menos em

algumas instâncias, para a necessidade da comunicação profissional. Existem

iniciativas que merecem servir de exemplo como um todo para a reflexão da

importância da comunicação na ambiência digital. Se faz urgente a evangelização

através da cibercultura, a fim da Igreja estar próxima do povo e de sua vivência na

sociedade contemporânea marcada pela digitalização das mídias. Não se pode

relegar a segundo plano essa comunicação, sob pena de perder fiéis e se afastar do

cotidiano dos cristãos em um mundo que está secularizado, onde a religião já não se

estabelece mais como traço cultural, mas depende da escolha dos próprios

indivíduos em segui-la ou não.

A partir da análise dos dados será possível responder à questão norteadora

do trabalho e confirmar ou refutar as hipóteses levantadas para a pesquisa. As

considerações finais a seguir dão conta, de forma breve, dos principais pontos

propostos nesta monografia.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com trabalhosa pesquisa etnográfica e revisão bibliográfica, esta monografia

buscou refletir sobre a ação evangelizadora da Igreja Católica em Caxias do Sul com

a juventude inserida na cibercultura. Não houve pretensão de construir verdades

absolutas e apontar ações pontuais. O pretendido sempre foi investigar vínculos e

relações no trinômio Igreja-comunicação-juventude a fim de instigar propostas e

fomentar a discussão de uma realidade onde há um longo caminho a percorrer.

Dentro da Igreja Católica, existe a compreensão de um modelo de

comunicador: Jesus Cristo. O homem, sendo criação divina, faz da comunicação um

dom de Deus e tem na Santíssima Trindade a comunhão perfeita, onde há um só

Deus e três pessoas. Ainda há a Bíblia Sagrada, comunicação da história da

salvação. Esses elementos são a base de uma Teologia da Comunicação, que

fundamenta o agir comunicacional da Igreja, incorporado através dos tempos com o

surgimento de tecnologias e suas implicações na vida da humanidade.

Por meio dos documentos oficiais do Vaticano, é possível acompanhar a

evolução da compreensão eclesial acerca dos meios e das formas de comunicação,

desde o Inter multiplices, de 1487, que condenava a imprensa escrita, até o Igreja e

Internet (2002) e Ética na Internet (2002), recomendando aos católicos o uso das

mídias digitais na evangelização e orientando para uma comunicação responsável

na Internet. Este trabalho se baseou também no Diretório de Comunicação da Igreja

do Brasil (2014), documento mais recente da Igreja brasileira que delibera sobre a

comunicação em diversos âmbitos e traz pontos importantes a serem observados

para ação e reflexão das práticas comunicativas.

A pesquisa levantou diversos desdobramentos causados, principalmente,

pelo surgimento e popularização da Internet. Conceitos como cultura midiática,

virtualização, globalização, sociedade da informação, cultura digital e cibercultura

são importantes para entender como a sociedade sente e vive os efeitos da conexão

em massa, caracterizada na figura das tão difundidas redes sociais digitais, o novo

ponto de encontro na modernidade.

A pesquisa mostra que a Igreja Católica sente os efeitos da digitalização na

lida com o jovem, principal público utilizador da Internet, conforme aponta a

Pesquisa Brasileira de Mídia 2015. Os nativos virtuais, que compõem a chamada

Geração Y, nasceram dentro dessa ambiência comunicativa e constituem um

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desafio à evangelização de uma instituição tão antiga quanto a Igreja Católica, que

apresenta dificuldades em atualizar seus métodos pastorais e acompanhar o avanço

tecnológico mundial.

A pesquisa trouxe a proposta de lançar um olhar sobre a Igreja de Caxias do

Sul, com o objetivo de investigar como ocorre a evangelização da juventude

submersa em todo esse contexto comunicativo. Um pequeno recorte da realidade

local foi delineado e optou-se por comparar uma paróquia da área central com uma

paróquia de periferia, abordando o trabalho pastoral com crianças e adolescentes

nos quatro anos em que passam pela catequese, com foco aos crismandos, e

também uma observação mais detalhada de grupos de jovens, espaços próprios

para esse público manifestar a fé.

Então, conforme pergunta a questão norteadora deste trabalho, como a Igreja

Católica pode fazer uso da cibercultura para evangelizar os jovens de Caxias do

Sul? Motivando ao encontro presencial, onde jovem cria vínculos, estreita

relacionamentos e tem experiências mais profundas de fé e vivência cristã e

comunitária. Automaticamente, ele vai levar esse sentimento para a Internet, em seu

perfil nas redes sociais e se tornar um agente comunicativo-evangelizador.

A fim de proporcionar ao jovem mergulhar nos ensinamentos cristãos e criar

laços de pertencimento com a comunidade-igreja, a pesquisa traz alguns elementos

que podem ser observados nos grupos: utilização de música e danças, preparação

do ambiente, atitudes acolhedoras dos participantes, dinamismo durante o encontro

que envolva e movimente os jovens, incentivo a atividades além dos encontros

semanais e o conteúdo cristão sendo transmitido por outros jovens, que possuam a

mesma linguagem e se encaixem em situações de vida semelhantes. Além disso, é

importante criar mecanismos de comunicação além dos grupos, o que pode

acontecer por meio da Internet, como Facebook, WhatsApp ou e-mail, por exemplo.

Assim, os vínculos se estreitam e se tornam presentes no cotidiano do jovem que

está, sim, conectado ao mundo virtual. É saída inteligente da Igreja motivar o jovem

no digital para uma experiência presencial face a face. Fazendo uso da cibercultura

para a evangelização, também ―corre o risco‖ de outras pessoas que não

frequentam a Igreja se sentirem atraídas por ela.

A primeira hipótese da pesquisa é de que a igreja Católica não possui uma

comunicação eficiente com o público jovem. Ela se confirma em parte. Aos poucos,

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a Diocese de Caxias do Sul desperta para os benefícios que a comunicação pode

agregar à evangelização, não só destinada aos jovens, mas a todos os católicos.

Ainda que a escassez de recursos financeiros seja citada como empecilho para

investimentos no desenvolvimento de uma comunicação profissional, existem

iniciativas positivas, voluntárias ou de forma remunerada, que podem ser

aprimoradas e gerar bons frutos no relacionamento com o público, tanto interno

quanto externo. A Internet, principalmente, é campo fértil para iniciativas

promissoras e inovadoras.

A segunda hipótese é de que as lideranças religiosas de Caxias do Sul não

utilizam estratégias de comunicação que atraiam os jovens para a Igreja Católica.

Ela se confirma em parte. As iniciativas comunicacionais para os jovens partem,

geralmente, de outros jovens, interagentes eclesiais, e não de lideranças como

párocos, bispo ou responsáveis pela Pastoral da Comunicação, que não são nativos

digitais e precisam fazer um esforço maior para compreender e se inserir na

cibercultura. Existem iniciativas pontuais que apontam a direção para envolver a

juventude no ambiente comunitário a partir de estratégias comunicacionais, mas elas

precisam ser potencializadas e entendidas como fundamentais para a revitalização

da Igreja Católica.

A terceira hipótese é de que a comunicação digital pode ser grande aliada da

Igreja Católica para se comunicar com o público jovem. Ela se confirma. Os dados

obtidos por meio dos questionários nas paróquias Santa Fé e Santa Tereza

comprovam que a Internet é acessada diariamente pelos jovens e que as

ferramentas de comunicação virtuais são as principais formas de comunicação além

dos encontros pessoais. Para se tornar relevante na ambiência juvenil, a Igreja

precisa marcar presença e se mostrar atrativa para fidelizar o seu público. Cada vez

mais, o ciberespaço, ou a rede, conforme aborda o padre jesuíta Antonio Spadaro,

não é um novo meio onde a evangelização pode ser aplicada, mas é um contexto,

em que ―o desafio não deve ser de que forma ‗usar‘ bem a rede, como geralmente

se acredita, mas como ‗viver‘ bem nos tempos da rede‖ (SPADARO, 2012, p. 24-25).

Esse trabalho foi um desafio como pesquisador pelo distanciamento

necessário para investigar o tema, uma vez que participo de movimentos de jovens

católicos e desenvolvo ações de comunicação para alguns organismos juvenis. Foi

preciso um exercício constante de reflexão para não deixar que os pré-conceitos, as

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opiniões pessoais e até mesmo a bagagem de Igreja interferissem no processo

metodológico e analítico. Posso dizer ainda que me senti desafiado em diversos

momentos, por contemplar duas realidades distintas de Caxias do Sul e abranger

um significativo campo de considerações e amostras de questionários, entrevistas e

pesquisa de campo em duas situações que, embora semelhantes, possuem

características muito particulares, que são a catequese e os grupos de jovens.

Satisfeito em prestar minha contribuição acadêmica em tema tão valoroso e

significativo para mim, vejo oportunidade de avanços na pesquisa, visto que o

assunto não se esgotou e não se chegou a conclusões específicas, mas sim

proposições. O campo comunicacional é vasto e pouco explorado na Igreja Católica

local e regional, o que abre espaço para inúmeras abordagens. O mesmo equivale

para a evangelização da juventude. O jovem é um público cativante, com

comportamento muito particular. Tem razão a Igreja quando diz que é um desafio

dialogar com os jovens. Uma pesquisa que busque compreender e aprofundar esse

relacionamento seria de grande valia e poderia trazer frutos muito ricos para ambas

as partes.

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SPADARO, Antonio. Ciberteologia: pensar o Cristianismo nos tempos da rede. Tradução de Cacilda Rainho Ferrante. São Paulo: Paulinas, 2012.

ENTREVISTAS ARISTIDES, Elton Marcelo. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Entrevista transcrita disponível em CD em anexo.

BITENCOURT, Aline. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Entrevista transcrita disponível em CD anexo.

CHEMELLO, Oscar. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Áudio disponível em CD anexo.

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CHIESA, Ana Mutterle. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Entrevista transcrita disponível em CD anexo.

DE CARLI, Gabriel. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, out. de 2015. Entrevista transcrita disponível em CD anexo.

DELAZZERI, Paola. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Entrevista transcrita disponível em CD anexo.

GASPARETTO, Paulo Roque. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Áudio disponível em CD anexo.

PAULETTI, Nivaldo. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Áudio disponível em CD anexo.

RUFFINONI, Alessandro. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Áudio disponível em CD anexo.

ZORZO, Rudinei. Entrevista concedida a Rodrigo Chernhak. Caxias do Sul, nov. de 2015. Áudio disponível em CD anexo.

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO PARA CRISMANDOS

O questionário abaixo servirá de fonte de informações para o trabalho de conclusão do curso

de graduação em "Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo", pela Universidade de Caxias

do Sul. O preenchimento dos dados será muito importante para que sejam respondidas questões

relevantes ao tema da comunicação na Igreja e da evangelização da juventude católica.

1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

2. Idade: ____________

3. Com quem você mora? ( ) Pai ( ) Mãe

( ) Irmão Quantos? __________

( ) Avô ( ) Avó

( ) Outros Quem? ________________________________________________________

4. Qual sua renda familiar? (os salários somados de todos que moram com você).

Considere o valor de R$ 1.086,88 para 1 salário mínimo.

( ) até 1 salário mínimo ( ) 2 a 3 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos

( ) acima de 7 salários mínimos

5. Você estuda? ( ) sim ( ) não

6. Qual seu grau de escolaridade?

( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

7. Em que bairro você mora?

8. Em qual paróquia você frequenta a catequese?

9. Como você ingressou na catequese?

10. Qual a importância da catequese para você?

11. O que você mais gosta nos encontros?

12. O que você não gosta ou mudaria nos encontros?

13. Fora os encontros de catequese, existe alguma forma de comunicação entre você

e outros participantes? ( ) Sim ( ) Não

12. Se a resposta for sim, quais?

( ) Pessoalmente, em outros lugares ( ) WhatsApp ( ) Facebook ( ) Snapchat

( ) Instagram ( ) E-mail ( ) Outros. Quais? __________________________________

13. Fora os encontros, existe alguma forma de comunicação da catequese com você e

outros participantes? ( ) Sim ( ) Não

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14. Se a resposta for sim, quais?

( ) WhatsApp ( ) Página do Facebook ( ) Instagram ( ) E-mail ( ) Blog

( ) Outros. Quais? _________________________________________________________

15.Você utiliza algum meio de comunicação para se informar sobre conteúdos

religiosos? ( ) Sim ( ) Não

16. Se a resposta for sim, quais?

( ) TV ( ) rádio ( ) jornal ( ) sites ( ) blogs ( ) Facebook

( ) Outros. Quais? _________________________________________________________

16. Quanto tempo você passa por dia na Internet?

( ) menos de 1 hora ( ) 1 a 2 horas ( ) 3 a 5 horas ( ) mais de 6 horas

17. Por qual meio você acessa à Internet?

( ) Computador ( ) Notebook ( ) Celular ( ) Tablet

18. O que você costuma acessar nesse tempo?

( ) sites de notícias ( ) games ( ) redes sociais ( ) sites educativos

( ) Outros. Quais? _________________________________________________________

19. Qual a finalidade da Internet nesse tempo?

( ) Trabalho ( ) Estudo ( ) Lazer ( ) Informação ( ) Outros. Quais? ____________

20. Você participa de alguma forma da Igreja Católica além da catequese? Como?

21. Você participa ou já participou de grupos ou movimentos de jovens?

22. Você já frequentou atividades de outras religiões? ( ) Sim ( ) Não

23. Se a resposta for sim, quais? ____________________________________________

24. As pessoas que moram com você são católicas? ( ) Sim ( ) Não

25. O que você mais gosta na Igreja Católica?

26. O que você não gosta ou mudaria na Igreja Católica?

27. Como você avalia a comunicação da Igreja Católica com o jovem?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Péssima

28. Você vai às missas com que frequência?

( ) Duas vezes ou mais por semana ( ) Uma vez por semana ( ) Uma vez por mês

( ) Duas ou três vezes por mês ( ) Nunca vou à missa

29. Você pretende continuar participando da Igreja Católica? Por quê?

30. Você acha que a Igreja Católica motiva o jovem a continuar participando de suas

atividades e grupos? Por quê?

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APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO PARA JOVENS

O questionário abaixo servirá de fonte de informações para o trabalho de conclusão do curso

de graduação em "Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo", pela Universidade de Caxias

do Sul. O preenchimento dos dados será muito importante para que sejam respondidas questões

relevantes ao tema da comunicação na Igreja e da evangelização da juventude católica.

1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

2. Idade: ____________

3. Com quem você mora? ( ) Pai ( ) Mãe

( ) Irmão Quantos? __________

( ) Avô ( ) Avó

( ) Outros Quem? ___________________________________________________

4. Qual sua renda familiar? (os salários somados de todos que moram com

você). Considere o valor de R$ 1.086,88 para 1 salário mínimo.

( ) até 1 salário mínimo ( ) 2 a 3 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos

( ) acima de 7 salários mínimos

5. Você estuda? ( ) Sim ( ) Não

6. Qual seu grau de escolaridade?

( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo

7. Em qual bairro você mora?

8. Qual paróquia ou comunidade você frequenta?

9. De qual grupo de jovens ou movimento católico você participa?

10. Há quanto tempo participa?

( ) menos de 1 ano ( ) 1 a 2 anos ( ) 3 a 5 anos ( ) 6 anos ou mais

11. Como você ingressou no grupo ou movimento?

12. Qual a importância do grupo ou movimento para você?

13. O que você mais gosta nos encontros?

14. O que você não gosta ou mudaria no grupo ou movimento?

15. Fora os encontros do grupo, existe alguma forma de comunicação entre os

participantes? ( ) Sim ( ) Não

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16. Se a resposta for sim, quais?

( ) Pessoalmente, em outros lugares ( ) WhatsApp ( ) Facebook ( ) Snapchat

( ) Instagram ( ) E-mail ( ) Outros. Quais?_______________________________

17. O seu grupo ou movimento possui alguma ferramenta de comunicação?

( ) Sim ( ) Não

18. Se a resposta for sim, quais?

( ) Página no Facebook ( ) Instagram ( ) E-mail ( ) Blog ( ) Site

( ) Canal no YouTube ( ) Informativo impresso ( ) Outro? Qual? _____________

19. Você utiliza algum meio de comunicação para se informar sobre conteúdos

religiosos? ( ) Sim ( ) Não

20. Se a resposta for sim, quais?

( ) TV ( ) rádio ( ) jornal ( ) sites ( ) blogs ( ) Facebook

( ) Outros. Quais? ____________________________________________________

21. Quanto tempo você passa por dia na Internet?

( ) menos de 1 hora ( ) 1 a 2 horas ( ) 3 a 5 horas ( ) mais de 6 horas

22. O que você costuma acessar nesse tempo?

( ) sites de notícias ( ) games ( ) redes sociais ( ) sites educativos

( ) Outros. Quais? ___________________________________________________

23. Qual a finalidade da Internet nesse tempo?

( ) Trabalho ( ) Estudo ( ) Lazer ( ) Informação ( ) Outros. Quais? _________

24. Você participa de alguma outra forma da Igreja Católica? Como?

25. Você já frequentou atividades de outras religiões? ( ) Sim ( ) Não

26. Se a resposta for sim, quais?

27. As pessoas que moram com você são católicas? ( ) Sim ( ) Não

28. O que você mais gosta na Igreja Católica?

29. O que você não gosta ou mudaria na Igreja Católica?

30. Você vai às missas com que frequência?

( ) Duas vezes ou mais por semana ( ) Uma vez por semana ( ) Uma vez por

mês

( ) Duas ou três vezes por mês ( ) Nunca vou à missa

31. Você considera importante a participação do jovem na Igreja Católica? Por

quê?

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32. Você acha que a Igreja Católica motiva o jovem a continuar participando de

suas atividades e grupos? Por quê?

33. Como você avalia a comunicação da Igreja Católica com o jovem?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Péssima

Justifique sua escolha:

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APÊNDICE C

QUESTIONÁRIO PARA LIDERANÇAS

O questionário abaixo servirá de fonte de informações para o trabalho de conclusão do curso

de graduação em "Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo", pela Universidade de Caxias

do Sul. O preenchimento dos dados será muito importante para que sejam respondidas questões

relevantes ao tema da comunicação na Igreja e da evangelização da juventude católica.

1. Nome:

2. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

3. Idade: ____________

4. Função: _______________________________________________________________

5. Quais os pontos positivos e negativos no trabalho com os jovens na Igreja?

6. O que você espera da atuação dos jovens na Igreja Católica?

7. Você acha que a Igreja Católica cumpre com seu papel evangelizador com os

jovens? Por quê?

8. Você utiliza alguma forma de comunicação com os jovens da igreja? Qual? Para

que finalidade?

9. Você utiliza algum meio de comunicação para se informar sobre conteúdos

religiosos? ( ) Sim ( ) Não

10. Se a resposta for sim, quais?

( ) TV ( ) rádio ( ) jornal ( ) sites ( ) blogs ( ) Facebook

( ) Outros. Quais? _________________________________________________________

11. Quanto tempo você passa por dia na Internet?

( ) menos de 1 hora ( ) 1 a 2 horas ( ) 3 a 5 horas ( ) mais de 6 horas

12. Por qual meio você acessa à Internet?

( ) Computador ( ) Notebook ( ) Celular ( ) Tablet

13. O que você costuma acessar nesse tempo?

( ) sites de notícias ( ) games ( ) redes sociais ( ) sites educativos

( ) Outros. Quais? _________________________________________________________

14. Qual a finalidade da Internet nesse tempo?

( ) Trabalho ( ) Estudo ( ) Lazer ( ) Informação ( ) Outros. Quais? ____________

15. Você considera que o uso de ferramentas de Comunicação pode fazer a diferença

no relacionamento entre a Igreja Católica e os jovens? De que maneira?

16. Se a resposta for positiva, existe interesse da Igreja Católica no investimento de

recursos humanos, técnicos e operacionais para qualificar a comunicação entre seus

públicos, principalmente o jovem? Explique.

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APÊNDICE D

Entrevistas orais e escritas e projeto de pesquisa disponível em CD anexo.