RLM 37
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nº 3
7Leal M
oreira
ano 9 número 37 www.revistalealmoreira.com.br
A maior cantora portuguesa da atualidade A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento fala da carreira e do momento de redescoberta de si própriade redescoberta de si própria
O mistério de O mistério de Teresa SalgueiroTeresa Salgueiro
Alexandre NeroAlexandre NeroPaulo ChavesPaulo ChavesVienaViena
contracapa_RLM37.indd 2 12/04/13 11:04capa_RLM37.indd 1capa_RLM37.indd 1 23/04/2013 10:10:4323/04/2013 10:10:43
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Os portugueses: Quinta do Vallado Douro (2006), Paulo Laureano Reserve (2009), Herdade do Esporão private selection (2008), Quinta Castro Douro (2009), Cartuxa Reserva.O francês: Domaine Beranger Pouilly-Fuissé (2011)O italiano: La Poderina Brunello Di Montolcino (2007)
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6
índice
28
38108
60
dicas pg 12Anderson Araújo pg 26Celso Eluan pg 48especial musicalidades pg 56tech pg 68horas vagas pg 70confraria pg 82Felipe Cordeiro pg 84especial cervejas pg 86Arthur Dapieve pg 92enquanto isso pg 104Saulo Sisnando pg 106vinhos pg 114decor pg 116falando nisso pg 120institucional pg 122Nara Oliveira pg 134
capaTeresa Salgueiro - divulgação
ca
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GABRIEL VIDOLINAinda adolescente, ele decidiu que queria sair pelo mundo em busca dele mesmo. Chegou onde e ao que queria: cozinhar de modo a despertar os sentidos de seus comensais.
ga
leria
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urm
et
PAULO CHAVESNesta terceira entrevista da série especial sobre os “400 anos de Belém”, o arquiteto e Secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves, vagueia por uma Belém de outrora, em busca de soluções para devolver o mesmo brilho à capital paraense.
Belé
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52
18 O ator curitibano Alexandre Nero, atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” fala sobre sua carreira, desafios e surpreende em notas afinadas.
perfil
comportamento
Venha viver as belezas de Viena, cujas ruas são tomadas de música, poesia e milhões de turistas.
destino94
TERESA SALGUEIROEm entrevista exclusiva, a cantora portuguesa fala de seu pri-meiro trabalho autoral, depois de vinte anos sendo a maior re-ferência e inspiração do Madredeus.
PAULO AZEVEDOConheça o artista plástico que desafia linhas e estilos e queencanta pela liberdade arrebatadora em suas obras.
Diversão indoor ou simplesmente uma “reunião de amigos lá em casa”. Com simplicidade [ou não] conheça um antigo hábito, que tem conquistado cada vez mais adeptos.
A Revista Leal Moreira 37 traz conteúdo exclusivo nas matérias sinalizadas com QR code.
www.revistalealmoreira.com.br
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Amigos,
Sejam bem-vindos à Revista Leal Moreira - 37, que traz a segunda
capa internacional em nossa história. Teresa Salgueiro, o maior e mais
respeitado nome da música portuguesa contemporânea, é nossa entre-
vistada, em uma conversa generosa, na qual fala sobre seu primeiro CD
autoral e filosofa sobre o mistério da vida. Teresa, que integrou o grupo
Madredeus por vinte anos, e cuja voz recebe críticas unânimes sobre
sua “magia” e beleza, nos adiantou que pretende vir em breve ao Brasil.
Quem sabe Belém não terá o privilégio em vê-la se apresentando por
aqui?
Quem fala de Belém, na série de entrevistas especiais dos 400 anos de
nossa cidade, é o Secretário de Estado de Cultura, o arquiteto Paulo Cha-
ves. Homem apaixonado por nossa capital, de olhar diferente e sensível,
ele rememora tempos idos, em que deambulava pela cidade, em estado
de êxtase e profunda contemplação e comemora conosco a restauração
do Theatro da Paz.
Já o ator Alexandre Nero, que está no ar na novela “Salve Jorge”, fala
da sua paixão pela música e já faz planos para quando o folhetim acabar.
O chef Gabriel Vidolin é nosso convidado especial do Gourmet desta
edição e explica seu processo criativo, no mínimo inusitado e nos emo-
ciona muito. Emocionante também foi a 11ª edição do “Ver-o-Peso da
Cozinha Paraense”, que teve ¬– pelo segundo ano consecutivo – a apre-
sentação da Leal Moreira.
Leia ainda uma matéria sobre a iniciação musical de crianças, além
de tantas outras.
Esta RLM37 está variada e muito bonita. Deixarei que vocês, nossos
leitores, leiam e saboreiem.
Ah, não esqueçam: as matérias sinalizadas com códigos QR possuem
conteúdo extra em nosso site: www.revistalealmoreira.com.br
Um grande abraço e boa leitura!
André Moreira
Criação Madre Comunicadores AssociadosCoordenação Door Comunicação, Produção e EventosRealização Publicarte EditoraDiretor editorial André Leal MoreiraDiretor geral Juan Diego CorreaDiretor de criação e projeto gráfi co André LoretoGerente de conteúdo Lorena FilgueirasEditora-chefe Lorena FilgueirasEditora assistente e produção Camila BarbalhoFotografi a Dudu MarojaReportagem: Alan Bordallo, Alice Pinheiro Walla, Anderson Araújo, Camila Barbalho, Carolina Menezes, Fábio Nóvoa, Leila Loureiro e Lorena Filgueiras. Colunistas Anderson Araújo, Arthur Dapieve, Celso Eluan, Felipe Cordeiro, Nara Oliveira, Raul Parizotto e Saulo Sisnando.Assessoria de imprensa Lucas OhanaConteúdo multimídia: Max AndreoneVersão Digital: Brenda Araújo, Guto Cavalleiro, Fabrício BezerraRevisão José Rangel e André Melo
Gráfi ca DeltaTiragem 12 mil exemplaresComercial Gerente comercial Daniela Bragança • (91) 9289.0889Contato comercialThiago Vieira • (91) [email protected]
FinanceiroContato [email protected]
Fale conosco: (91) 4005.6874 [email protected]@lealmoreira.com.brwww.revistalealmoreira.com.brfacebook.com/revistalealmoreira
Revista Leal Moreira é uma publicação bimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refl etem, necessariamen-te, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.
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Construtora Leal MoreiraDiretor Presidente: Carlos MoreiraDiretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício MoreiraDiretor de Marketing: André Leal MoreiraDiretor Executivo: Paulo Fernando MachadoDiretor Técnico: José Antonio Rei MoreiraDiretor de Incorporação: Thomaz ÁvilaGerente Financeiro: Dayse Ana Batista SantosGerente de Relacionamentocom Clientes: Alethea Assis
Revista Leal Moreira
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Conheça um pouco mais sobre a construtora acessando o site www.lealmoreira.com.br. Nele, você fi ca sabendo de todos os empreendimentos em andamento, novos projetos e ainda pode fazer simulações de compras.
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Untitled-3 1 05/04/13 16:01
Belém
SopranoHistória e estilo em um dos prédios antigos mais elegantes de Belém. O
restaurante Soprano agrega os dois valores. Hospedado em um casarão
datado de 1927, em meio ao movimento da Avenida Magalhães Barata, o
lugar é uma ilha em meio à modernidade urbana – um espaço preservado
à cultura arquitetônica de tempos áureos da capital. Residência da família
Passarinho por muitos anos, a edificação só passou a ser utilizada comer-
cialmente na década de 90. Recentemente, a empresária Nadime Dahás –
que já manteve uma casa de recepções no local – decidiu transformá-lo em
restaurante. A estrutura é aconchegante; e o ambiente interno, muito bem
decorado – além de oferecer a facilidade do estacionamento próprio. A co-
mida servida, por sua vez, é sofisticada e casa muito bem com o excelente
serviço ofertado. Sugerimos iniciar a noite provando a entrada de camarão
na tapioca crocante com redução de açaí, harmonizada com um bom vinho.
Garantimos uma experiência especial.
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Avenida Magalhães Barata, 774 • 91 3271.0266
Barba Negra
Hamburgueria 66
Inaugurado há pouquíssimo tempo, o Barba Negra
adota um dos formatos mais queridos pela boemia
de Belém: calçadão, área interna refrigerada, telões
para a transmissão de esportes e – claro – um car-
dápio bem selecionado, entre bebidas e pratos. Bem
localizado, o espaço, por si só, já é uma atração.
A decoração leve e descontraída sugere a estética
dos navios piratas. A música é boa e variada, com
espaço para gêneros como jazz, blues, pop rock e
música eletrônica. A cozinha investe no conceito de
“gastrobar”, e oferece um menu variado – onde ca-
bem sushi, jantar e os petiscos que combinam muito
bem com o happy hour. Se a pedida for jantar, vale
a pena provar o Timoneiro: prato de filé com molho
de cebola ao vinho tinto, acompanhado de linguine.
Inspirada nas lanchonetes americanas dos anos 50 e 60, a Hamburgueria 66 foi inaugurada re-
centemente, e rapidamente se tornou uma opção interessante para começar a noite em Belém.
Recheada de referências à cultura pop, ao esporte e ao cinema, a lanchonete oferece refeições,
sanduíches e acompanhamentos exclusivos – todos produzidos artesanalmente. Um charme que
merece destaque é a inspiração para o nome dos pratos: eles são batizados com títulos de músi-
cas, cantores, atores e atletas celebrados pelas novas gerações. Para experimentar, recomenda-
mos o sanduíche de mortadela Ceratti fatiada e queijo prato. Sanduíche servido no pão francês,
acompanhado de batatas fritas – feito em homenagem à cantora colombiana Shakira.
Travessa Almirante Wandenkolk, 362 • 91 3223.0401
Travessa Almirante Wandenkolk, esquina com João Balbi • 91 8183.5351
91. 3223-2714 Brás de Aguiar, 451| Boaventura, 1070 | João Balbi, 935.
etimariqueti.com.brfacebook/etimariqueti
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Brasil
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Clos de Tapas
Banzeiro“Banzeiro” é um termo muito usado na Amazônia para designar as ondas forma-
das nos rios, principalmente quando da passagem de uma embarcação. Dessa
expressão surgiu o Banzeiro Cozinha Amazônica, que oferece o que há de melhor
na culinária amazônica. No cardápio, merecem destaque a premiadíssima costela
de tambaqui, o pirarucu e a matrinchã assada de forno, que são preparadas de for-
ma única e exclusiva, com um toque da cozinha francesa. O chef Felipe Schaedler
foi eleito em 2011 e 2012 o chef do ano pela edição “Comer & Beber” Manaus, da
Revista Veja. Ao mesmo tempo em que o Banzeiro foi eleito, também em 2011 e
2012, como o melhor restaurante de comida regional. Foi premiado no Palácio do
Planalto, em Brasília, com a insígnia da “Ordem do Mérito Cultural 2012” pelo talento
de introduzir os elementos da Amazônia na criação de seus pratos em cerimônia,
conduzida pela Presidente Dilma Rousseff e pela Ministra da Cultura, Marta Suplicy.
“O Clos de Tapas é um restaurante único, exclusivo e diferenciado. É
único porque criou um conceito de restaurantes de tapas”. Assim, a casa
costuma “apresentar-se” aos que ainda não a conhecem. Tendo à frente,
a chef Ligia Karazawa, o Clos de Tapas, que passou Can Fabes, Casa
Marcial, El Bulli, El Celler de Can Roca, Mugaritz e Quique Dacosta, criou
um cardápio a partir de ingredientes sazonais, de produtores locais. Os
pratos traduzem o respeito ao meio-ambiente e à natureza dos sabores.
O Clos de Tapas apresenta uma Gastronomia com identidade contempo-
rânea e elementos brasileiros. A brasilidade, conferida à tradicional en-
trada espanhola, pode ser encontrada tanto nos ingredientes quanto nas
louças, criadas por artesãos locais. Já a identidade vanguardista resulta
em pratos divertidos, saborosos e ricos em aromas e texturas. Surpreen-
da-se com tapas “contemporâneas”. A boa notícia é que o restaurante
abre, de segunda a sexta, para almoço, no horário de 12h às 15h (aos
sábados e feriados, das 13h às 16h) e para o jantar, de segunda a quinta,
de 19h30 às 23h (às sextas, sábados e feriados, de 19h30 às 00h).
Não abre aos domingos.
R. Libertador, 102 - Ns. das Graças, Manaus - AM • 92 3234.1621
Rua Domingos Fernandes, 548 - Vl. Nova Conceição - São Paulo - SP. • 11 3045.2154 • [email protected]
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mundo
MEATmission (Londres)
Celeste Champagne Tea Room (México)
Já são idos os tempos em que lanchonetes eram lugares simples,
feitos para uma refeição corriqueira. Pelo menos para a grande
família – e crescendo – MEAT, esse conceito foi deixado de lado
desde a primeira casa aberta em Londres. Após o sucesso mete-
órico do MEATliquor e do MEATmarket, os apaixonados por carne
Yianni Papoutsis e Scott Collins inauguraram o MEATmission. No
terreno onde antes viviam missionários vitorianos, os empresários
instalaram uma espécie de santuário sincrético em homenagem
aos hambúrgueres. Com uma decoração inusitada e calorosa
(com direito a vitrais e memoriais de guerra convivendo na mesma
parede), o espaço se tornou paixão instantânea dos moderninhos
de Hoxton Square. E a atração principal, como não poderia deixar
de ser, é o cardápio. Há sanduíches de todos os tipos e tamanhos,
mas a vedete da casa é o Sundae Roast Beef – um divertido sun-
dae feito de carne. Não provar é um pecado.
Localizado no alto de uma casa de 1940 no bairro de Anzures, o Champagne Bar
Celeste e Tea Room é uma verdadeira viagem no tempo. Projetado pelo premiado es-
critório de design Productora, o lugar remete às antigas casas de chá inglesas, típicas
dos filmes hollywoodianos de gângsteres – porém com o toque de modernidade que a
separa do anacronismo. Repleto de listras pretas e brancas, o espaço por vezes pare-
ce redimensionado pela ilusão de ótica, de acordo com a posição de quem o observa.
Tudo é muito bem cuidado: desde o terraço ao ar livre e o telhado transparente (que
permite iluminação natural) até os detalhes: chaleiras, filtros, vasos de flores e baldes
de champanhe, por exemplo, eram feitos à mão por um dos mais antigos ourives na
Cidade do México. No menu, taças individuais de uma extensa carta de vinhos, chás
e champagnes. Para jantar, indicamos o ceviche peruano feito com maracujá, seguido
pela original Eton Mess – merengue, água de rosas, chantilly e frutas.
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14-15 Hoxton Market - N1 6HG • 020 7739.8212 • www.meatmission.com
Darwin at the corner of Kepler, Del. Miguel Hidalgo, C.P. 11590, México, D.F. • 52.55 2614.6031 • www.celeste.com.mx
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perfil
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São 22h00 de uma quarta-feira e milhões
de brasileiros assistem a mais uma
cena de novela. Segundos depois, mais
de 130 mil fãs bombardeiam as redes sociais
do ator que encarna um dos personagens da
atração televisiva, com mil corações e decla-
rações de amor (muitas das quais são mais...
“carnais”, na realidade). O ator passa a ser ví-
tima, quase diariamente, de um “ataque de li-
rismo”, o mesmo que retratou em sua música
“cadê meu jardim?”, em que canta: “O homem
teve um enfarte do coração/ E ao invés de ‘bom
dia’ dizia ‘eu te amo’/ A vida dele se enfartou/ e
ele preferiu um ataque de lirismo/ A vida não é
assim tão previsível”. De fato, a vida não é.
Aos 42 anos, o ator, músico, instrumentista,
compositor e diretor musical Alexandre Nero
concilia os trabalhos no teatro e na televisão
com o lançamento de seu CD “Vendo Amor
– Em suas mais variadas formas, tamanhos
e posições”, gravado em 2010. Alexandre foi
idealizador e criador da “Associação dos Com-
positores da Cidade de Curitiba”, fundada em
1994 e foi integrante do “Grupo Fato”, da ban-
da Maquinaíma e do grupo Denorex 80, todos
projetos de grande destaque no cenário musi-
cal curitibano.
Atualmente encarna o vaidoso advogado
Stênio, na novela global “Salve Jorge”, manu-
seando com maestria os holofotes para o seu
personagem ao longo da trama, exatamente
como fez com o violento e machista Baltazar,
de “Fina Estampa”, que chegou ao final da no-
vela aplaudido pelo público e crítica, após for-
mar uma improvável dupla cômica com o per-
sonagem homossexual Crô, interpretado pelo
amigo e ator Marcelo Serrado.
Alexandre está longe de ser mais um produto
televisivo enlatado, é sim um alquimista, com
o poder de transformar seus personagens em
metal nobre, talento depurado pelas dezenas
de peças teatrais que encenou, com destaque
para “Os Leões”, em 2006.
Por ter perdido os pais na adolescência e ter
sido criado dentro de um efervescente caldei-
rão cultural em Curitiba, onde nasceu, é com-
preensível que Alexandre Nero Vieira seja um
cara fora dos padrões. “E aquariano”, como faz
questão de frisar, como se o signo astrológi-
co fosse parte fundamental para entender sua
essência. Isso explica não só as fortes batidas
das asas de Alexandre, como as letras de suas
músicas, em especial a acima citada “cadê
meu jardim?”, que diz “Se está tudo aqui bem
dentro, em mim/ Que venham todos os fins,
porque eu sei recomeçar”.
Como diria seu conterrâneo, o poeta Paulo
Leminski, “Não discuto com o destino/ o que
pintar eu assino”. E foi assim, numa tarde de
domingo, que pintou a oportunidade de entre-
vistar o Alexandre num típico restaurante para-
ense em Ipanema. E ele, sem discutir, assinou.
Ao pesquisarmos o seu nome na internet o seu currículo aponta que Alexandre Nero é can-tor, compositor, arranjador, sonoplasta, diretor musical etc. Começo perguntando: o que você não é?
Alexandre: Humilde (risos). Na verdade essa
definição vem de currículos que eu distribuía
antes de ficar famoso, profissões nas quais eu
sou sindicalizado e que posso exercer. Mas do
ponto de vista artístico acredito que podemos
ir muito além dessas definições burocráticas.
Nero emchamasVivendo um intenso momento na profi ssão que abraçou, Alexandre Nero busca o arrebatamento, quando o assunto é processo criativo. Sem rótulos.
»»»
Leila Loureiro Divulgação
20www.revistalealmoreira.com.br
Hoje o artista pensa na concepção do seu
cartaz, no seu projeto que vai ser inscrito em
editais, em como pode prender o público, en-
tre outras coisas que compõem a sua carreira
central de ator ou músico, por exemplo.
No Brasil não temos essa cultura de multiar-tistas, o que muitas vezes causa resistência do público que se depara com o ator que também é cantor, ou vice-versa, correto?
Acho que essa coisa “brodwayniana” tam-
bém limita. Quer dizer que se o cara atua,
canta e sapateia não pode fotografar, escrever
poemas e roteiros para filmes? Acho isso tudo
muito limitador. Cantar e interpretar são coisas
técnicas, que se aprendem, todo mundo pode
fazer tudo. A pergunta é “o que você quer pas-
sar com a tua arte?”.
E como você se descobriu neste processo de desenvolvimento artístico? Começou a atuar, compor, cantar...
Se você me perguntar o que eu sou, vou res-
ponder que sou um músico, cantor, compositor
e ator. Mas acho que poderia ser muitas outras
coisas, aliás todo mundo pode fazer o que qui-
ser. Eu escreveria um roteiro? Claro que sim. Eu
filmaria este roteiro? Sim. Eu apresentaria um
programa? Claro. Nós estamos falando de arte
e não de medicina, advocacia e engenharia
nas quais a falta de aptidão pode gerar danos
maiores. A arte é subjetiva, todo mundo pode
fazer arte. Agora as pessoas podem gostar ou
não, a arte pode ser boa ou não.
E você vem de um cenário muito rico nesse contexto, Curitiba é berço de muitos artistas experimentais como Paulo Leminski, entre ou-tros...
Isso. Gosto muito do Leminski, que tem uma
frase que diz: “Poeta é quem se considera”. E
isso você pode levar para qualquer meio. Eu
por exemplo não me considerava ator há tem-
pos atrás, hoje eu me considero e pode ser que
amanhã não me considere mais.
Podemos brincar com as frases dos poemas do Leminski ao longo desse papo, como aquela que diz “não discuto com o destino/ o que pintar eu assino”.
Exatamente! Isso foi o que aconteceu na mi-
nha vida. Eu sempre trabalhei com música e
via atores muito ruins e isso me causou curiosi-
dade, pensava “Opa, isso eu sei fazer!”. E pra
ganhar dinheiro também, porque o artista pre-
cisa de grana e ampliar o seu campo de atua-
ção é financeiramente positivo também. Tenho
um amigo que não sabia andar de moto e se
Atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” como Stênio, Nero vive uma relação conturbada com a ex-mulher, vivida na trama pela atriz Giovanna Antonelli
21
candidatou a um papel de um motoqueiro, ele
me procurou pra aprender a pilotar moto, foi lá
e fez o papel. Isso é a vida do artista.
O que demanda uma certa falta de pudor...Sim, exatamente (neste momento chega à
mesa o típico licor de jamburana – flor do jam-
bu, aperitivo peculiar da culinária paraense, fa-
moso pelo tremor que causa na boca. Alexan-
dre experimenta).
Você conhece Belém?Não, na verdade não conheço nada do Nor-
te, adoraria. Nossa, esse licor é muito bom! E
essa água toda fica saindo pela boca...É assim
mesmo? Tô quase babando (risos).
Como você lida com o salto para a grade de atores de uma grande emissora de tv, conside-rando a sólida carreira teatral que você cons-truiu em Curitiba?
Eu nunca pensei em chegar na Globo, o que
está muito atrelado ao eixo Rio-São Paulo, eu
como sou de Curitiba, uma cidade que não faz
tv, com um cenário cultural muito bacana e não
atrelado a uma aceitação da massa, nunca so-
nhei estar aqui. Em Curitiba nós queremos que
você goste mas não fazemos pra você gostar.
Foi tudo muito inusitado pra mim, um produtor
me assistiu no teatro e gostou.
E você já havia fundado uma associação de compositores em Curitiba, certo?
Sim, quando eu era garoto. Eu comecei
como músico. Antes da tv eu só era conhecido
como músico, que foi a minha profissão e ain-
da é. Vivi só de música por 20 anos, o teatro
era um hobby, algo secundário. Hoje eu sou
músico, mas não vivo da música atualmente.
Eu gravo disco porque é o meu trabalho.
Como foi tua história com a música?Eu já trabalhei com grupos muito sérios ar-
tisticamente falando, um gênero mais erudito,
música experimental, viajamos pra Europa...
Tenho uma vocação acadêmica e não uma
formação acadêmica. Foi o que disse lá atrás,
você pode tocar qualquer instrumento desde
que tenha muita vontade. Tocar violão não é
nada mais que datilografar. Meus amigos mú-
sicos ficam aborrecidos quando falo isso, mas
é verdade. A prática te faz tocar, já a aptidão,
genialidade ou talento contribuem para você
tocar ‘muito’ bem.
Você toca outros instrumentos?Meu principal instrumento é violão e canto e
fui brincando com outros porque eu quis pos-
sibilidades, toco instrumentos de corda como »»»
22
cavaquinho, viola caipira, guitarra, baixo, só não
toco os instrumentos de corda eruditos. “A mú-
sica é matemática” – John Lennon dizia isso
quando afirmava que podia tocar qualquer ins-
trumento, assim, teoricamente eu toco qualquer
instrumento, mas na prática eu toco os de cor-
da, é algo como ser ator, teoricamente um ator
pode fazer comédia, drama, qualquer papel,
mas na prática se você não fez circo ou teatro
contemporâneo, pode não convencer naquele
cenário.
E como ator, como as oportunidades se apre-sentaram na sua vida?
Um produtor de elenco me viu na peça ‘Os
Leões’, muito premiada no festival de Curitiba
e me chamou pra participar de um especial de
fim de ano na Globo, quando uma preparadora
de elenco me viu no processo de leitura, acredi-
tou que eu pudesse ir além, e me indicou para
outros produtores de elenco. Eu era um ator de
Curitiba que não conhecia ninguém no Rio, fiz
testes e comecei a fazer “A favorita”, depois fui
chamado pra outras novelas como “Paraíso”,
“Escrito nas Estrelas”, “Fina Estampa” e fui fican-
do, hoje moro no Rio.
Uma história bem aleatória...Muito! Lembro que uma vez me perguntaram
como eu gostaria de estar vivendo dali a 10 anos
e eu respondi ‘exatamente como estou hoje’, ra-
lando, produzindo, trabalhando... Claro que a
gente almeja a fama, reconhecimento, mas a
gente vê que a realidade é outra, o prazer tem
que estar no fato de se autoprovocar, em provo-
car o público.
E o assédio que vem com a fama?Eu estou me acostumando. Antes eu era meio
‘Mogli’, eu não entendia por que as pessoas
vinham me dar parabéns. Eu chegava a ser
agressivo e não percebia o motivo de alguém
querer tirar foto comigo, pois eu já trabalhava
havia muitos anos e nunca pediram pra tirar foto.
Estou aprendendo a lidar. As redes sociais são
um bom meio pra humanizar o ‘artista’, mas em
contrapartida você começa a ser criticado por-
que fala besteira ou erra como qualquer outra
pessoa, e aí algumas pessoas acreditam que
o artista tem que ser normal, mas tem que ser
mito, é bem paradoxal isso. Este tipo de públi-
co não me interessa. Não tenho talento pra ser
famoso... Alguns colegas chegam num lugar e
fazem uma determinada pose que as beneficia,
e eu estou começando a brincar com isso. Pa-
reço menos feio nas fotos (risos).
Voltando a citar Leminski, você concorda quan-do ele afirmava que ‘todo ser em movimento é perigoso”?
Acho que quase todo ser em movimento é
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perigoso. Qualquer provocador, subversivo é um
artista em potencial. O Solda, parceiro e amigo
íntimo do Leminski, diz que “todo poeta sentado
está em pé de guerra”.
“Um erro e o poema explode na tua cara”, tam-bém dizia Leminski...
(risos) Verdade, Leminski é genial!
“Vazio agudo/ando meio/cheio de tudo”... outro haikai dele.
Muito exato. Foi isso que me fez falar de amor
no meu CD. Já que acham brega falar de amor
achei um ato de rebeldia falar de amor. Explicar
isso pro público do Roberto Carlos é ridículo, vão
achar que isso já foi feito, mas eu quis falar de
amor de um outro jeito. Tentei.
Você encarnou essa coisa transgressora também quando compôs o júri do Programa Amor&Sexo, com posicionamentos sempre polê-micos...
(risos) Sim, eu inclusive tenho o talento da pro-
vocação, nem sempre tudo o que eu falo eu
acredito. Estou apenas propondo “vamos levan-
tar esta discussão?”.
E são essas discussões que nos tiram do lugar, nos ajudam a evoluir.
Exatamente. Hoje eu estou mais leve, me di-
vertindo muito mais nas coisas que eu faço, é
muito bom poder quebrar o ‘copo da mãe’, bus-
car a criança boba e não a de cabelo engoma-
do. Hoje eu sou muito mais roqueiro do que fui
na adolescência.
E repetindo a pergunta que já te fizeram lá atrás: onde você quer estar daqui a 10 anos?
Eu adoraria estar fazendo o que eu faço. O
meu único medo é não conseguir envelhecer
dignamente.
E o que você está fazendo?Hoje eu estou na Rede Globo (e posso não
estar daqui a um tempo), atuando na novela das
21h e ao mesmo tempo estou em uma revista
com o André Abujamra e o Carlos Careqa (dois
artistas com quem Alexandre possui um proje-
to paralelo). Também tenho feito shows, o que
é mais raro em momento de gravação de no-
vela. Meu único planejamento agora é transfor-
mar o meu CD “Vendo Amor” em DVD ou um
documentário, mostrando todo o processo de
criação e realização e vai se chamar ‘revendo
amor’.
E quanto custa esse amor?Depende. O amor que eu vendo custa R$25
nas lojas (risos). Já o amor que as pessoas es-
tão vendendo pode custar um carro pro filho, por
exemplo. A brincadeira do ‘vendo amor’ está no
sentido de vendar, de observar o amor pra se
falar de outras formas, mas a principal crítica ou
ironia do CD é essa da sociedade que compra
o amor. Também vendo outro tipo de amor que
pode custar mais caro ou mais barato (risos).
Alexandre Nero já faz planos para quando a novela terminar e transformar seu CD em DVD é um deles
24
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26
fingidaAmnésia Minha memória para fisionomias talvez
seja a única coisa que funcione de verdade
dentro desse emaranhado de fios e ideias
soltas que chamo de cachola. Não que seja
um poder mutante ou esteja eu querendo
contar alguma vantagem. Ocorre que se
presto atenção em um rosto nunca mais
consigo apagá-lo do meu HD. Obviamente,
a minha habilidade mnemônica já me colo-
cou em algumas saias justas de amargar e,
tenho quase certeza, sobrecarregam meu
sistema para informações úteis como
pentear os cabelos, acertar aniversá-
rios de gente querida, datas corretas
para quitar as faturas e onde deixei
o carro ao estacionar.
Dia desses estava no meu bote-
co preferido, saboreando a vida e
falando mal dos outros, quando
me aparece um colega de tra-
balho e sua respectiva esposa,
ora veja. Cumprimentos para cá,
cumprimentos para lá, ele resol-
ve me apresentar à digníssima.
Prontamente, respondo na minha
ingenuidade que já a conhecia.
Surpreso, meu caríssimo parceiro
arregalou os olhos verdes enor-
mes e se acomodou para saber
de onde vinha essa proximidade,
já com a sobrancelha direita le-
vantada, exibindo um misto de ci-
úme e curiosidade sincera.
Sem me afetar com as poucas cer-
vejinhas que havia ingerido, contei que
sabia até o sobrenome da moça; relatei
onde ela concluiu o já extinto primeiro grau,
hoje ensino fundamental; dei os anos em
que ela esteve nessa escola, suas habili-
dades como chefe de turma e seu enga-
jamento junto aos professores na hora de
organizar as feiras de ciência, as festas ju-
ninas, a reunião de pais e tudo mais. Para
fechar, mencionei o endereço em que ela
morava uns seis anos atrás – porque sem-
pre a via perto de casa. Só faltou o CEP.
Claro que não precisava ter sido tão histriô-
nico e parte da falação era para, de fato, exi-
bir meu Alzheimer ao contrário. Havia entre-
gado informações de mais de 20 anos atrás,
quando ainda era um moleque sem recheio
e coberto de acne. Ao terminar minha expo-
sição sobre a companheira do meu interes-
sado interlocutor, o casal estava estatelado.
De queixos caídos, olhos vidrados e ex-
pressões apalermadas, eles me encaravam.
Ela por não lembrar absolutamente nada so-
bre mim, na ocasião, um estranho que sabia
demais. Provavelmente, achou que eu era
um cigano que revelava o passado para, em
seguida, cobrar o cachê pelas previsões dos
próximos anos dos dois. Já ele estava as-
sombrado – os olhões verde-água ganharam
uma cor acinzentada, soturna.
Puxou-me pelo braço, me levou para o
canto, deixando a esposa e os petiscos de
lado e me sussurrou com velocidade: “Estás
ficando maluco? Anda investigando a minha
mulher? Que que é isso, rapaz?” Depois ele
sorriu, quebrando a tensão. Ri de volta, di-
zendo que o truque era apenas a memória
de paquiderme que me perseguia. Ficou o
dito pelo não dito, fizemos um brinde pelos
bons tempos - os lembrados e os esqueci-
dos. Depois saí de fininho.
Não era a primeira vez que cometia uma
gafe do gênero. Numa oportunidade anterior,
puxei assunto com um contemporâneo da
época da terceira série, quando eu tinha oito
anos de idade. Inteligente como ele sempre
foi, virou engenheiro, ora veja. E front man
de uma inusitada - e com relativo sucesso -
banda de pagode local. Nem tudo é perfeito.
Encontrei o rapaz numa dessas redes
sociais da vida e mandei um alô saudoso,
pronto para relembrar as pirraças que fazí-
amos com a professora Alice e quando fugi-
mos correndo da quadra de esporte por cau-
sa de um ataque de abelhas africanas. Mas,
que nada: nem lembrou, o ingrato. Soltou um
“parece que estudei sim nessa escola, mas
não tenho certeza”. Deve ter achado que eu
era maluco ou algum fã obcecado pelos hits
supimpas do seu grupo de pagode.
Cada vez me convenço mais de que, qua-
se sempre, o melhor é fingir amnésia. Sobre
o passado, o presente e o futuro.
Francamente.
Anderson Araújo,jornalista
www.revistalealmoreira.com.br
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perfil
www.revistalealmoreira.com.br
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Na terceira entrevista da série “Belém – 400 anos”, nosso convidado é o Secre-tário de Cultura do Pará, o arquiteto Paulo Chaves. Responsável pela revolução visual de pontos em toda a Belém, ele revela, entre tantas coisas, que vai res-taurar o Cemitério da Soledade, que está trabalhando em um parque no Utinga e que subprefeituras poderiam ajudar na administração da cidade.
Ainda com o gravador desligado, ele nos
avisa – em tom de advertência – e pede
desculpas antecipadamente se for “ácido
demais” – característica pela qual ele ficou conhe-
cido ao longo de toda sua trajetória pública. Alar-
me falso. Ácido, não. Polêmico? Sim. O arquiteto
Paulo Chaves, que ocupa atualmente o cargo de
Secretário de Estado de Cultura, bem que avisou.
Mas, ao contrário do que preconizou, tivemos um
feliz encontro com um homem apaixonado pela
cidade onde mora.
À frente da SECULT – posto que ocupa pela 4ª
vez – o arquiteto foi o grande responsável por al-
gumas revoluções na capital paraense, reflexo de
uma história de amor – que já dura mais de seis
décadas – com Belém.
Nesta terceira entrevista da série “Belém – 400
anos”, Paulo Chaves abre seu coração e fica com
os olhos marejados inúmeras vezes. No dia em
que o entrevistamos, ele transbordava de felicida-
de. Entregaria, minutos depois, o secular Theatro
da Paz (talvez o símbolo máximo da Belle Époque
no Pará) totalmente restaurado – juntamente com
o lançamento de um livro, que conta em mais de
500 páginas a trajetória da casa, bem como as
alterações ao longo dos anos e todo o processo
do minucioso restauro do local.
Emocionante, surpreendente, sem jamais per-
der o tom cordial da voz e suas palavras (e neolo-
gismos) compassadas, além de bem-humorado.
Este é Paulo Chaves, com quem a Revista Leal
Moreira teve o privilégio de conversar. Natural-
mente, o cenário histórico (a casa, no coração da
cidade e que abriga a sede da SECULT) compôs
a atmosfera de nostalgia predominante em nossa
conversa. Sem perder o foco no futuro.
Secretário, a gente começa esta entrevista per-guntando: como devolver o título de metrópole da Amazônia para Belém?
Acho que este não é o caminho. Eu acho que
não devemos ter uma meta a ser alcançada, des-
ta natureza... Como devolver o título de campeão
paraense ao Clube do Remo...? (a sala inteira ir-
rompe em gargalhada) Eu acho que existem ou-
tras avaliações que nos encaminharão – ou não
– para sermos “isto ou aquilo”. O fato é que eu
vejo a Belém dos nossos dias, como tantas outras
cidades, e não vou dizer só no Brasil, no mundo
inteiro, mas mais particularmente nos países sub-
desenvolvidos [...]. Essas cidades estão doentes.
E aí vem a minha primeira contrapergunta: como
é que você faz pra resolver o problema da circu-
lação urbana? Como é que a gente faz pra resol-
ver este problema, por exemplo, se essas cidades
não foram planejadas devidamente, corretamen-
te, para este fim? Belém não tem um sistema e,
veja bem, quando falo Belém – não é apenas Be-
lém, nem somente Belém – não estou tomando
partido. É um posicionamento crítico e Belém vai
predominar porque somos daqui. Então, como é
que faz? Interrompe a indústria automobilística?
Para-se de vender carros? Constrói-se um metrô
em Belém? Como, impossível? Como fazer com
que as pessoas usem a cidade, as calçadas, os
logradouros, as praças, como era antigamente,
Redação Dudu Maroja
»»»
FlâneureacidadeO
no final do século XIX, no começo do século XX (ou
até mesmo em meados do século XX)? As pesso-
as estão hoje na cidade como “passantes” – elas
vão e vêm, mas elas não estão mais vivendo, elas
não estão mais tendo uma relação de amorosidade
com sua cidade, com seus monumentos, com sua
arquitetura, com seu arboredo. Não estão. As pes-
soas querem acelerar o que a vida mudou, o que o
tempo mudou. O tempo é outro, as pessoas acele-
raram. E, no entanto, nem podemos acelerar muito
se estivermos no carro ou no coletivo, porque, por
outro lado, a cidade enfartou nas suas vias de cir-
culação. Olha como é contrastante: a vida acelerou;
o “time is money” é cada vez mais importante e,
no entanto, nós ainda estamos no tempo das di-
ligências. Circulamos como se estivéssemos em
carroças – com todo o conforto, com equipamen-
tos eletrônicos e os que estão a pé estão apavora-
dos, morrendo de medo ou com o olhar todo fixado
no chão, que é para não tropeçar. Porque calça-
das contínuas não temos. Sobretudo as pessoas
que, como eu, são da melhor idade, ou podem
ser mães com carrinhos de bebê, ou um deficien-
te visual. Como circular em Belém? Em quais cal-
çadas? Como estão essas calçadas? Entulhadas,
impedidas com obstáculos de toda sorte. Então a
memória das pessoas é uma memória funcional.
“Vou à farmácia. Andarei tantos quarteirões, dobra-
rei ali, seguirei em frente e chegarei à farmácia”. A
vida passou a ser de um endereço para outro. O
Walter Benjamin conta, em um livro muito interes-
sante, sobre a vida dele em Berlin; a relação dele
com a cidade, os documentos. Ele dizia que em
cada lugar que ele ia, ele encontrava seu passa-
do, encontrava muitos momentos da sua vida. Não
existe mais isso. Hoje não se desfruta mais a paisa-
gem, o sítio. Você sequer hoje enxerga um edifício,
uma antiga casa da Belle Époque, enfim, hoje não
se tem mais essa relação de amorosidade com a
cidade. Quer um exemplo? Quando eu passo pela
Dr. Moraes, eu vejo a família Meira na calçada, sen-
tados, tirando um dedo de prosa...
E era um hábito tão recorrente de até 10 anos atrás...
Eu fui acostumado assim! E já passei dos 60
anos... Quando dava seis horas, cinco e meia da
tarde, o fim da tarde e a boca da noite eram rega-
dos a papo em cadeiras de balanços, à beira da
calçada. Isso era uma tradição em Belém. E mais
ainda: quem anunciava o fim de tarde? As cigar-
ras! [os papéis se invertem e ele me pergunta] Você
nunca ouviu uma cigarra, já ouviu?
Já.Onde?
www.revistalealmoreira.com.br
A sede da Secretaria de Estado de Cultura, um casarão secular na Av. Magalhães Barata, reserva surpresas...
31
»»»
Eu cresci sentando à beira da calçada, no Umarizal.Conversa! Você é muito jovem pra isso. [a garga-
lhada é geral] Era um alarido na cidade inteira! As ci-
garras anunciavam a noite – era um canto estriden-
te, mas nostálgico, era lindo. Belém foi uma cidade
que, até recentemente, quando se estava no meio
da Quintino Bocaiúva, vinha aquele cheiro, aquele
odor maravilhoso. Da fábrica Phebo! Reconheciam-
-se os lugares da cidade pelo cheiro, pelo canto
dos passarinhos, pela algazarra dos moleques nas
mangueiras... Pelo banho de chuva. Eu não quero
ser nostálgico, saudosista, não. O Vicente Salles,
que nos deixou recentemente, também não era.
Essa é uma visão, uma relação com a cidade que
não se tem mais e ao falar sobre isto, agora, é uma
crítica. É possível retornar a essa Belém? Voltamos
à tua pergunta. Não se trata de ter títulos, condeco-
rações. “Belém é isso, é aquilo; é mais que Manaus
e menos que São Luís...”. Não é isto. É saber: onde
está a qualidade de vida de cidades como Belém?
Aí nós vamos para a periferia. Parece que eu estava
falando desta Belém, chique e elegante, desta área
central. E na periferia? Depois de um determinado
horário, as pessoas sequer saem de casa. Se você
vê as vendas, digo, de toda sorte de mercadorias,
é tudo atrás das grades. As pessoas estão seques-
tradas do seu direito, do ser cidadão, do ir e vir, para
ficarem atrás das grades, como presos, em uma
cidade inóspita. As pessoas estão indefesas. Daí eu
pergunto para você: como restituir a cidade, a Be-
lém como metrópole, a urbes onde queremos viver
com dignidade?
Pequenas ideias ou uma grande revolução?Olha, eu acho... Que se você me desse a função
de ser administrador da cidade hoje, seria um gran-
de castigo, apesar de toda a amorosidade que eu
ainda reservo por Belém.
Qual seria seu primeiro ato?Eu partiria para duas coisas. Do cotidiano: a lim-
peza da cidade, dos bueiros, do lixo nas ruas e a
exigência de iluminação pública, para dar uma con-
dição mínima de segurança, enfim, permitir que as
pessoas possam ir ao pronto-socorro, a uma far-
mácia, uma escola. A qualidade do ensino funda-
mental, porque sem cultura, sem conhecimento,
você não pode praticar qualquer cidadania, porque
você não tem consciência. Então, essas coisas, que
eu chamo de “pequenas providências”, do cotidiano
da cidade, são fundamentais. E algumas ousadias.
Uma delas seria reunir todas as pessoas que têm
experiência, que têm conhecimento, nem que tra-
gam uma perspectiva de fora – eu não sou contra
trazer gente de fora para discutir com a gente, não.
Eu sou contra quando a gente tem pessoas capaci-
tadas em nosso quadro e manda trazer de fora por ...e a sensação, aos seus visitantes, que por ali, o tempo parou
32
diferenças ideológicas, políticas. Isso não. Faría-
mos um seminário: “Como resolver a questão das
vias circulantes de Belém?”. Porque passa pelo
transporte coletivo, transporte modal. É um projeto
ousado, com certeza...
Mas é um remédio amargo. Necessário, sem dú-vida, mas amargo, não?
Olhe, eu aprendi com a minha avó que remédio
quando não é amargo, ele não cura. Nós temos
que enveredar por um pacto em que cada um
ceda um pouco.
Está faltando amor pela cidade?O que eu vejo é uma coisa que não é de agora,
não é só de Belém. É de sempre, de todos os
tempos. Há um egoísmo muito grande – há uma
tendência natural de as pessoas olharem sempre
para o próprio umbigo, por isso é que eu volto
agora ao tema de educação e cultura. Você tem
que ter uma consciência de coletividade. Uma vi-
são social do drama que é conviver no mesmo
sítio, numa mesma urbe. Ninguém é uma ilha – no
mínimo, somos um arquipélago de pessoas. Há
que se ter urgência desta consciência. [ele para
um pouco, reflete e retoma] Por exemplo, a ques-
tão da arborização da cidade.
Isso é uma polêmica, não?As mangueiras foram um equívoco. Um grande
equívoco. Porque, àquela época, não havia essa
quantidade absurda de veículos. Veja bem, esta-
mos falando do final do século XIX. As calçadas
eram imensas – hoje não são mais. As manguei-
ras cresceram muito. E elas não foram pensa-
das para hoje – talvez fosse impossível fazer esse
exercício de “futurismo” então. E que os postes
de energia elétrica fossem para o meio da rua,
com um emaranhado de fios – e, convenhamos,
há uma solução mais inteligente para isso: embu-
tir os fios, fazer com que eles sejam subterrâneos.
Eu tenho feito isso em todos os lugares que eu
tenho feito intervenção, como o Feliz Lusitânia. É
uma solução cara? É. Mas do jeito que estão as
mangueiras sofrem. Com podas em “v”, que de-
formam e desequilibram as árvores. Acresça aí
os serviços que são feitos nas calçadas, de água,
de telefone, porque se cortam as raízes das man-
gueiras e isso as desestabiliza. É difícil você ver
uma mangueira com seu tronco íntegro, sem os
nódulos causados pela poda incompetente. E re-
pare: não são somente as árvores que ficam de-
sequilibradas. Os postes de energia elétrica estão
tortos – não há um único poste no prumo, é uma
dança de postes. Aí, me perguntarias: “E aí? E
eu te responderia “não sei”, mas não tiraria uma
única mangueira. Eu exigiria, como gestor públi-
co, que as podas fossem mais responsáveis, que
fossem feitas pensando na árvore e não na fia-
ção elétrica. Veja bem: não estou dizendo que as
mangueiras não têm importância. Muito ao con-
trário! Por anos, elas embelezaram nossa cidade,
www.revistalealmoreira.com.br
O Feliz Lusitânia, projeto também de Paulo Chaves, é um exemplo de que é possível transformar a paisagem.
33
nos deram sombras e frutos... Nominaram a cida-
de e ainda foram generosas o suficiente para nos
dar túneis lindos. Não estou propondo tirar nenhu-
ma, mas precisa-se buscar soluções. E onde não
há mais mangueiras, replantar uma espécie que
cresça rápido.
O prefeito Zenaldo comentou que gostaria de fazer uma consulta popular para não replantar as mangueiras. Que a gente busque outras espécies que se adequem melhor ao nosso clima, às nossas necessidades...
O prefeito Zenaldo é um homem de sensibilida-
de. Convivi com ele e sei que ele está com vonta-
de de ser um bom prefeito, mas não basta vonta-
de. Essa decisão dele é muito sábia. Não é uma
decisão de um alcaide. É uma decisão que passa
pelo coletivo. Agora não pode ser também um
plebiscito emocional. Porque se for emocional, a
mangueira vai levar. Há que se ter uma campanha
com pessoas esclarecidas, que possam elucidar
dúvidas. Mas com a quantidade de carros, na
época das mangas, a quantidade de para-brisas
quebrados e carros amassados é enorme. Ainda
tem o risco às pessoas que circulam nas calça-
das... É uma questão complicada, porque passa
por tradição.
O senhor acha que os entes municipal e estatal dialogam ou dialogaram pouco? O senhor acha também que falta amor do paraense para com sua cidade?
Eu usei a palavra “amorosidade”, não é? Há
que se ter isso em tudo que você faz na vida. Eu
não consigo um traço, um projeto, se eu não me
apaixonei pela ideia, pela proposta, pelo benefí-
cio que pode trazer às pessoas. O amor é fun-
damental a qualquer profissão. Um médico, por
exemplo, pode ser competente, mas ele tem que
ser humanista – ele não pode ser mercenário. Ele
tem de ter essa relação com o paciente, inclusive,
porque sabe que isso vai acelerar o processo de
recuperação. O mesmo em relação a administrar
uma cidade. Belém está doente? Está. É grave? É.
Alguém tem que tomar conta. Não dá pra ser “o
último apaga a luz e fecha a porta”.
O paraense sente falta de coisas simples, não? Lixeira nas ruas, por exemplo...
Belém já teve muitas lixeiras. Mas elas não eram
cuidadas. Porque não basta colocar lixeiras – elas
têm de ser cuidadas; o lixo tem de ser retirado.
Para isso acontecer há que se ter qualificação téc-
nica nos quadros da prefeitura. Na época da ad-
ministração do Lemos, por exemplo, ele mantinha
nos logradouros, nas praças, normalmente, quatro
operários: era um bombeiro, um marceneiro, um
serralheiro e um homem de limpeza. Eles articula-
vam as equipes, mas a presença era permanente.
Geralmente debaixo dos coretos, onde funciona-
vam pequenos escritórios. E esses funcionários
sabiam de tudo relacionado àquele lugar, àquele
logradouro. Eles sabiam, em detalhes, de toda a
engrenagem: quando uma luz queimava, quando »»»
Acima, um dos túneis de mangueiras, tão característicos de Belém. Abaixo, um detalhe do cemitério da Soledade.
34
estava vazando água de um lago... Conheciam
até quem frequentava, os moradores. Hoje, tal-
vez, não dê para fazer isso por logradouro, mas
dá para fazer por bairro. Quem sabe subprefei-
turas com pessoas do próprio bairro? Quando tu
tens uma subprefeitura, têm-se gerentes, eleitos
pelos próprios moradores do bairro. Quem sabe
não é um caminho?
E a memória do paraense?A cidade está de tal ordem, que hoje as pes-
soas não enxergam mais a escultura pública, os
monumentos. Não se nota mais os casarões an-
tigos. Hoje se sai mecanicamente de casa e se
volta da mesma forma para casa. A cidade em
si, o lugar que é comum a todos, o sítio comum
não é mais desfrutado. Não existe mais o flâneur.
Não se sai mais descompromissadamente para
deambular pela cidade. Não se tem mais o regis-
tro do “ali ficava uma farmácia onde eu aviava as
receitas da minha mãe”. Não se tem mais isso.
Fora a repetição estética – o mau gosto... Quar-
teirões e mais quarteirões de uma repetição de
vulgaridades. Uma pobreza estética, arquitetôni-
ca. A minha profissão é a arquitetura, mas podes
ter a certeza de que eu não vou procurar o déjà vu,
a repetição minha e de um colega arquiteto. Vou
procurar marcar a cidade.
Falando nisso, o senhor nos permite uma curiosi-dade? Que prédios, que logradouros significativos para o senhor ou para a história da cidade o senhor restauraria?
Sabes que, no momento, estou me dedicando
muito ao Parque do Utinga? Estamos projetando
um parque que, dentre tantas outras coisas, terá
um aquário de padrão internacional, integrado à
natureza. E eu acho que isso vai ser um grande
ganho para nós, porque será um local de instru-
ção, de educação, de pedagogia, de pesquisa
científica. Você vai lá aprender a importância de
preservar nossos rios, nossos lagos – e com isto,
nossa fauna, nossa flora, além de ser um lugar
para estudar nossas espécies. Segundo, tenho
um projeto, pronto para fazer junto com a prefei-
tura e eu já conversei com o prefeito, o “Parque
da Soledade”, tirar o estigma de cemitério, trans-
formar aquele lugar em um lugar de memória, de
história, de rememoração do passado. E é um
desperdício – o Soledade é quase do tamanho da
Praça Batista Campos, com mangueiras intactas.
Ali não podaram – ali é o exemplo mais bonito de
mangueiras saudáveis. Sem mencionar que o So-
ledade, embora tenha funcionado por apenas 30
anos, reúne estilos variados. Ali você encontra o
art nouveau, o art déco, o neoclássico. E instaurar
uma cultura de que é possível “saudar as almas”
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Juntamente com a entrega do Theatro da Paz totalmente restaurado, após um minucioso processo, o livro contando a trajetória e as transformações da casa também foi lançado no mesmo dia.
Veja maisacesse o QR e leia material extra.
35
ou os santos populares sem queimar. Temos que
ter um lugar para as velas. A cultura será mantida
porque é bonito e cultural. Paralelo à restauração
do Soledade, temos que pensar na organização
da feira da Batista Campos.
Uma saudade sua...Falei em tantas.
De fato: falou das cigarras, das conversas nas calçadas... Mas eu me refiro a algo no qual o senhor pensa durante o seu trajeto e se pega imaginando “seria tão bom”...
Então pronto, vamos a uma grande saudade:
de ir e voltar andando para a escola. Eu estudava
no Suísso-Brasileiro, no final da Avenida Nazaré,
quase na esquina da Catorze de Março. Ali eu tive
as primeiras letras, como se diz. Os donos eram
alemães. Anita e Helga Müller. Eu morava onde
eu nasci, inclusive. Ali na Catorze de Março, entre
a José Malcher e a João Balbi, no edifício Maria
Carolina, que era o nome da minha mãe e o pro-
jeto é meu. Eu ia e voltava andando. Parava para
tomar um sorvete, mas eu ia a pé. Sem nenhum
receio, sem nenhuma ofensa. Neste passeio, eu
exercia o papel do flâneur. Às vezes a ida até que
era um pouco acelerada, mas na saída, eu ficava
inventando trajetos. Prolongava, parava na Livra-
ria Martins, parava para pegar um gibi, pegava
manga. Existe essa saudade imensa de caminhar
livremente por uma cidade adorável. E vamos si-
tuar isso: nos anos 50. No ginásio, já no Moderno,
eu ia de bicicleta. [Paulo Chaves fica com os olhos
marejados]
Um lugar que o senhor ama com todas as forças.Ah, são dois. Um que eu visitei como estudante,
entre 1964/1965, e que depois, ao retornar, en-
contrei dilacerado e isso me dilacerou [ele bate na
capa do livro, que seria lançado horas mais tarde]:
o Theatro da Paz. E a igreja de São Francisco Xa-
vier, que você conhece como a Igreja de Santo
Alexandre. Cinquenta anos de restauração e já se
falava em torná-la um museu de arte sacra. Eu
tive o privilégio de restaurar ambos. Um ícone da
Belém colonial e outro, o símbolo máximo da Belle Époque. [ele se emociona novamente]
O que o senhor deseja para Belém em seus 400 anos?
Uma coisa possível: que essa cidade sem ca-
ráter volte a tê-lo. Inclua isso: o sítio e uma parte
significativamente de pessoas. Quero uma cidade
fraterna, amiga, companheira. Que a gente tenha
prazer de viver nela.
(...) eu exercia o papel do flâneur.
Às vezes a ida até que era um pouco
acelerada, mas na saída, eu ficava inventando trajetos.
36Artes meramente ilustrativas que poderão ser alteradas sem prévio aviso, conforme exigências legais e de aprovação. Os materiais e os acabamentos integrantes estarão devidamente descritos nos documentos de formalização de compra e venda das unidades. Plantas e perspectivas ilustrativas com sugestões de decoração. Medidas internas de face a face das paredes. Os móveis, assim como alguns materiais de acabamento representados nas plantas, não fazem parte integrante do contrato. Registro de Incorporação: Protocolo nº 208.842 Matrícula (RI): 17.555 Livro: 2-k.o. (RG) em 01/11/2012.
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entrevista
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39
Lorena Filgueiras divulgação
Ela foi descoberta ainda garota. Aos 17 anos,
cantando com amigos em uma típica tasca
portuguesa, a lisboeta Maria Teresa de Al-
meida Salgueiro tornou-se vocalista do nascente
“Madredeus”, em 1986. Iniciava ali a carreira da
cantora portuguesa mais famosa no exterior, de-
pois de Amália Rodrigues. Segundo Pedro Ayres
de Magalhães, um dos fundadores e diretor do
Madredeus, Teresa foi, por vinte anos, “a maior
inspiração do grupo”. E não havia exagero algum
nessa declaração. Só consegue entender a força
das palavras de Pedro Magalhães quem se entre-
gou à magia da voz de Salgueiro. Sem qualquer
educação musical formal, revelação surpreenden-
te para nós, não resta muita dúvida de que Teresa
foi tocada por uma “existência superior” – como
a crítica costuma fazer referência e se render ao
seu talento inquestionável. Além da beleza clás-
sica, que foi explorada em quase todas as capas
dos discos do Madredeus, a cantora – que possui
hábitos muito simples – é extremamente educada
e adora o contato com os fãs, além de frequen-
temente interagir com eles por meio das redes
sociais.
A notícia da saída de Teresa Salgueiro do Ma-
dredeus, em 2007, assombrou o mundo da mú-
sica, mas foi o marco inicial de uma carreira solo
que já havia sido consolidada, muito antes de seu
início propriamente dito. Vivendo um momento de
graça, de mais autonomia e compondo suas pró-
prias músicas, ela revela, em entrevista exclusiva
à Revista Leal Moreira, toda sua trajetória em bas-
tidores e à frente, no comando da sua própria his-
tória. Com vocês, “o mistério” revelado de Teresa.
Você começou muito jovem no Madredeus, aos 17 anos, quando te ouviram cantar em uma tasca em Lisboa, certo? O Pedro Magalhães, certa feita, declarou que você era a grande inspiração do gru-po. E a gente tem de concordar que você tem uma voz única, inesquecível. Como começou tua história com a música? Você teve uma educação musical?
Eu tive uma educação musical básica, daquela
que você tem na escola, não mais que isso. Tive
aulas de piano, durante alguns anos, mas tam-
bém de uma forma não muito aprofundada, diga-
mos assim. Quando eu comecei a cantar, eu não
tinha qualquer tipo de formação.
Apesar de uma não-educação formal musical, de uma forma geral e quase uníssona, os críticos di-zem que ao longo dos anos sua voz amadureceu e que ficou ainda mais bonita. Você tem esse mesmo senso crítico?
Como eu te disse, quando comecei a cantar,
não tinha qualquer tipo de formação musical for-
mal em relação ao canto. E ainda hoje, devo dizer
que não tenho muita formação. A minha grande
formação são as canções que eu cantei duran-
te quase vinte anos com o próprio Madredeus e
com outros projetos dos quais participei. Algumas
dessas canções, gravadas também ao longo des-
ses anos, inclusive foram reunidas em um álbum
(“Obrigado”), que foi lançado em 2005. E há mui-
tas outras parcerias em outros projetos. Tudo que
eu tenho cantado, no fundo, tem sido a minha
grande escola. No início – e isso é possível ob-
Ave, TeresaA cantora Teresa Salgueiro, talvez a maior representante da música contemporânea portuguesa, vive um momento de graça: seu primeiro disco autoral é sucesso na Europa e ela faz planos de trazer o espetáculo para o Brasil.
»»»
40www.revistalealmoreira.com.br
Teresa Salgueiro e os músicos com os quais ela gravou “O Mistério”
41
servar – o primeiro disco que gravei, ou melhor, que
o grupo gravou (“Os dias da Madredeus” – 1987),
foi feito, de certa forma, de maneira “precária”, por-
que o disco foi gravado em três madrugadas, direto,
sem qualquer direção. Não tinha escola, enquanto
cantora, e não tinha direção para o grupo. E quando
eu ouço esse disco – do qual gosto imensamente
– reconheço uma total espontaneidade e uma falta
da direção que, de fato, não havia. É um disco puro,
espontâneo. Anos mais tarde, em nosso primeiro
disco de estúdio, o “Existir” (1990), é possível per-
ceber uma grande diferença na voz e aí eu já ha-
via começado a ter aulas particulares de canto, por
três anos e mais um ano em conservatório. E assim
foi quando iniciamos a turnê de “O Espírito da Paz”
(1994), que foi o terceiro disco gravado em estúdio.
E aí... o processo de aprimoramento continua até
hoje (risos).
De certa forma e por muito tempo, sua imagem e a do Madredeus fundiram-se – isso te incomoda? Qua-se seis anos após sua saída, como você avalia sua saída do grupo e como vê sua própria trajetória em carreira solo?
(risos) Essa pergunta contém muitas perguntas,
mas vamos lá. Voltando, por exemplo, ao “Obriga-
do”, que foi um disco resultado de uma coletânea,
por assim dizer, dos trabalhos “solos” que realizei
quando ainda estava com o Madredeus. E é possí-
vel observar diferenças entre as faixas. Eu sinto uma
disparidade na voz, inclusive, porque as músicas
foram gravadas em períodos muito distintos. Em re-
lação ao grupo, é absolutamente natural que a ima-
gem seja associada. Por muito tempo, dediquei-me
a cantar o repertório do grupo, a divulgar seu pen-
samento, sua obra. E isso ocorreu por vinte anos.
Quando entrei no grupo, eu tinha 17 anos. Logo eu
tenho muito mais tempo de vivência no grupo do
que tinha de vivência de mim mesma. Entendo per-
feitamente que as pessoas ainda me associem aos
Madredeus – estranho seria se não fizessem essa
associação (risos). Agora, me permita uma obser-
vação: o grupo de trabalho que existia quando en-
trei, foi o mesmo por dez anos. Quando eu saí, o
grupo era totalmente diferente. Da formação inicial,
no período da minha saída, em 2007, só estavam
o diretor do grupo (Pedro Ayres de Magalhães) e o
José Peixoto, um virtuose da guitarra, que contribuiu
enormemente para o trabalho. Fui me adaptando a
todas essas mudanças, até que surgiu um momen-
to em que o grupo parou durante um ano [período
que foi definido, por eles mesmos, de “sabático”,
em 2007] com ideia de repensar sua atividade, sua
própria “calendarização”, porque – imagine você –
foram duas décadas intensas. Tínhamos falado até
da hipótese de trabalhar em períodos intensivos, de
3 ou 4 meses, e depois os músicos poderiam de-
dicar-se a outras atividades – já que os músicos ti-
nham outros projetos, outras coisas que desejavam
fazer. Quando nos reunimos novamente, ao final de
2007, foi-me proposto um contrato de sete anos de
exclusividade e... Passei toda minha vida adulta no
grupo, tinha vivido suas diferenças... Os amigos do
começo da carreira, da formação original do grupo,
já não estavam – e no começo, o Madredeus era
uma reunião de amigos, que depois se profissionali-
zou. E, portanto, pelos próximos 7 anos, eu não po-
deria fazer mais nada, o que era impossível. Ou era
isso, ou era nada, não havia muito a possibilidade
de flexibilizar. Vou insistir que havia muito mais tem-
po da Teresa com o grupo, do que da Teresa sem o
grupo. E eu tinha necessidade de parar um tempo, »»»
42www.revistalealmoreira.com.br
Os críticos afi rmam que Teresa é a herdeira musical de Amália Rodrigues (foto ao lado), que tirou o fado da condição de música marginal. Apesar da comparação, Teresa Salgueiro afi rma que não canta fado. “Eu canto música portuguesa, contemporânea”.
43
enfim, para ficar em casa, por exemplo, para o que
fosse ou para experimentar novas coisas, de modo
que eu decidi que continuaria meu percurso na mú-
sica. E eu vivi, após isso, tantas novas experiências,
novos ensembles,novos estilos... sempre à procura
dos músicos, com os quais compus as músicas e
gravei em agosto de 2011 [“O Mistério”, CD que ela
lança este ano e com o qual pretende vir ao Brasil].
Lembro-me de ter ouvido muitas vezes que havia uma discordância saudável sobre o gênero musical no qual vocês estavam inseridos: fado, world music e alguém definiu como “um espírito muito próximo do fado”. A crítica especializada diz que você é a herdei-ra legítima da Amália Rodrigues. E voltando um pou-co à pergunta inicial, em qual dos gêneros musicais você se insere?
Eu não sinto a necessidade de rotular ou cate-
gorizar a música. De maneira nenhuma. O fado é
uma música tradicional de Lisboa e Coimbra e que
viveu seu apogeu e desenvolvimento com a Amália
Rodrigues, com toda sua indulgência, da sua ex-
traordinária versatilidade enquanto cantora. Antes,
o gênero era considerado muito “marginal”, restrito
apenas às casas de fado. E graças a ela – e a ou-
tros artistas, mas muito mais graças a ela, certa-
mente – o fado popularizou-se e saiu das casas do
fado. Não era muito bem visto ser fadista e, graças
à Amália, isso tudo mudou completamente. Em ter-
mos líricos também, porque ela começou a cantar
poetas contemporâneos e foi buscar outros, de ou-
tras épocas. Graças ao trabalho da Amália, a Unes-
co reconheceu o fado como patrimônio imaterial da
humanidade. Quanto ao fado, não vejo relação com
o que fiz por quase 20 anos. Talvez a única relação
seja o fato de eu ser de Lisboa. Com o Madredeus,
cantávamos uma fusão de vários estilos e, com cer-
teza, algo muito próximo ao estilo do fado era reali-
zado, mas o que predominava era um estilo clássi-
co, uma estrutura clássica de execução da canção.
Também não era world music, uma etiqueta muito
usada para a música étnica. Portanto, o que eu faço
é música portuguesa, é música contemporânea,
uma fusão de muitos estilos diferentes. Ligada à
memória do que é a cultura portuguesa, com in-
fluências de outras culturas, o que é muito enrique-
cedor. Também não se pode confundir a música
que faço agora com a música que cantei por quase
duas décadas. Durante esses vinte anos, as músi-
cas eram compostas para mim e hoje canto minhas
próprias palavras.
Em 2005, quando você lançou um trabalho solo (“Obrigado”) você gravou com músicos brasileiros – o que você primeiro conheceu da música brasileira? Você chegou, inclusive, a se apresentar com um es-petáculo e repertório inteiramente brasileiro (“Você e Eu”, 2007) – o que mais te agrada na música bra-sileira?
O “Obrigado” corresponde a gravações feitas em
15 anos, de forma dispersa, portanto não se pode
confundir com um disco gravado de maneira orga-
nizada, como o “Você e Eu”, que foi inteiramente
gravado no Brasil com um grupo de músicos bra-
sileiros, em São Paulo. E esse foi um projeto muito
interessante que surgiu. Mas eu me lembro, muito
jovem, de ter ouvido tanto na rádio João Gilberto,
Tom Jobim, Elis Regina, Dorival Caymmi, Chico Bu-
arque. A indústria fonográfica brasileira é muito res-
peitada, organizada e os artistas têm uma enorme
aceitação aqui, em Portugal. Desde aquela época,
cantores como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal
Costa visitavam e visitam Portugal com muita regu-
laridade e, portanto, desde sempre os seguia com
muito interesse. Ainda tem a questão da sonorida-
de, não é? O português de Portugal e o português »»»
Eu não sinto a necessidade de rotular ou categorizar a música.
(...) o que eu faço é música portuguesa contemporânea, uma fusão de muitos estilos diferentes, ligada à memória
da cultura portuguesa.
44www.revistalealmoreira.com.br
Em uma apresentação recente de “O Mistério”.
COM OS MADREDEUS:• Os Dias da MadreDeus (1987)• Existir (1990)• Lisboa (1992, ao vivo, gravado no Coliseu dos Recreios em Lisboa)• O Espírito da Paz (1994)• Ainda (1995)• O Paraíso (1997)• O Porto (1998, ao vivo, gravado no Coliseu do Porto)• Antologia (2000 – coletânea com duas canções inéditas)• Movimento (2001)• Palavras Cantadas (2001 - coletânea direcionada ao público brasileiro e abrangendo o trabalho do grupo entre os anos de 1990 e 2000)• Euforia (2002, ao vivo, com a participação da Flemish Radio Orchestra)• Um Amor Infinito (2004)• Faluas do Tejo (2005)
DISC
OGRA
FIA
45
do Brasil, embora seja a mesma língua, são dois
“portugueses” diferentes e é muito interessante per-
ceber como a língua é usada no Brasil, como os te-
mas que inspiram os cantores são diferentes. Sem-
pre tive e tenho muito apreço pela música brasileira
pela vitalidade que emana dela. E por essas razões,
quando surgiu a oportunidade, foi um privilégio viver,
por dentro, essa alegria que eu vivia por fora.
Você está trabalhando na divulgação do seu primei-ro álbum autoral – O Mistério, certo? Foi um processo criativo laborioso ou fluiu naturalmente? Quais foram suas influências, sua inspiração maior?
Ah, preciso dizer que foi um processo interessan-
te. Eu precisava encontrar as pessoas para execu-
tar esse trabalho e elas foram aparecendo ao lon-
go dos anos, justamente nos trabalhos “solos” que
fiz mesmo no Madredeus. Entre 2007 e 2010, tive
a sorte de encontrá-los e começamos a compor
em janeiro de 2011, sendo que antes disso já ha-
víamos nos apresentado juntos com um espetáculo
chamado “Voltarei à minha terra” – que levamos,
inclusive, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salva-
dor e Fortaleza –, que consistia na interpretação de
diversos temas da música clássica portuguesa do
século XX. E foi um espetáculo que correu a Europa
e a América Latina e em janeiro de 2011. Começa-
mos um período de construção das músicas, das
letras e em agosto de 2011, gravamos o disco (“O
Mistério”)... Durou bastante tempo, porque concilia-
mos as gravações com a turnê do “Voltarei à minha
terra”. Mas facilitou muito que a maioria do grupo
vivesse em Lisboa. Foi um processo muito fluido.
É meu primeiro disco como solista, desde o traba-
lho de composição, ao exercício da escrita. A forma
como tenho me comunicado com diversas culturas
foi um desafio, mas me sinto muito recompensada.
Você gravou seu disco em um convento, não é? O que determinou essa escolha? Foi técnica ou a at-mosfera a ajudou?
Depois de conceber as letras e aproveitar cada
momento de inspiração, de ideias, o objetivo era
gravar em um lugar que não fosse um estúdio
convencional. Nós queríamos estar isolados, con-
centrados na música e tanto decidimos buscar um
lugar onde isso fosse possível. Encontramos o Con-
vento Da Arrábida (construção do século XVI), na
Serra da Arrábida, que é simplesmente um lugar
magnífico, em uma montanha verdejante, de frente
para o Oceano Atlântico. É um lugar que eu procuro
muitas vezes para rezar e que me agrada particu-
larmente. E nesta serra existe um convento que eu
nunca tinha visitado... E que fui visitar e descobri que
havia uma hospedaria, que servia para receber gru-
pos de trabalho, convenções, para estudo. E a tipo-
logia da casa, que fica precisamente de frente para
o convento, era ideal, perfeita aos nossos propósi-
tos. Deslocamo-nos para lá e gravamos o CD lá,
em meio à tranquilidade, a um ambiente inspirador
e dentro do que queríamos: completo isolamento. E
foi muito um privilégio gravar lá, em meio a uma na-
tureza magnífica. O resultado é que podemos dizer
que este disco fica para sempre ligado a um lugar
muito especial.
Você veio a Belém em 2000 e parece que uma única apresentação foi insuficiente, já que a apresentação foi ao ar livre e lotou as ruas próximas ao palco. Tem planos de vir ao Brasil para divulgar “O Mistério”? E sendo bem tendenciosa, a Belém?
Sem dúvida. E mesmo com os projetos anteriores
(“Você e Eu” e “Voltarei à minha terra”) não deixei
de ir ao Brasil, que é um país do qual gosto espe-
Ouça as músicas de Teresa Salgueiro.Reunimos uma seleção especial para você.
EM COLABORAÇÃO• Obrigado (2005)• Você e Eu (2007)• La Serena (2007) com Lusitânia Ensemble• Matriz (2009) com Lusitânia Ensemble
SOLO• O Mistério (2012)
»»»
46
cialmente e me sinto muito bem recebida. Com “O
Mistério”, já há datas para muito em breve, só não
vou adiantá-las agora porque elas não estão abso-
lutamente confirmadas. Mas serão muitas datas. O
disco, em Portugal, foi editado por mim e saiu em
maio de 2012, mas já aconteceram edições em
muitos outros países: Itália, Espanha, México, Polô-
nia, Reino Unido. Em breve, Luxemburgo, Bélgica...
E a turnê brasileira acontecerá, bem como a edição
do disco também.
Promete que você vai se apresentar em Belém...(ela cai na gargalhada) Prometo que quero ir. Gos-
taria de reencontrar Belém.
Você é tida como uma artista muito acessível, que gosta de interagir com os fãs em redes sociais, que possui hábitos simples... O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando?
Olha, eu preciso te dizer que exerço uma ativida-
de que se confunde muito com minha vida privada.
A música faz parte da minha vida e é com alegria
que construo esse percurso com a música. Portan-
to, dedico os tempos livres à música também (risos).
Neste momento, inclusive, já estou me dedicando a
um novo repertório, que pretendo gravar brevemen-
te. Mas nos meus tempos livres, realmente livres, eu
dedico aos meus amigos, que são poucos, já que
a rotina de um músico não permite muitas relações
duradouras fora deste meio. Mas eu realmente cul-
tivo hábitos muito simples: gosto de ler, de ver um
bom filme, de ficar com minha família. E aproveito
minha filha (Inês, de 14 anos). Penso que nossa vida,
nossa felicidade se constroem dia a dia e nas coisas
mais simples. A realização da felicidade reside mes-
mo nas coisas mais simples, que podem parecer
não terem grande significado – são esses momentos
que fazem minha alegria e felicidade.
E qual é o mistério de Teresa?Talvez falte dizer que o mistério, o que eu escrevi,
os meus textos, sejam uma fusão de nossos diferen-
tes percursos, das emoções, tanto minhas quanto
dos músicos. No fundo, baseia-se muito na minha
experiência, na minha visão do mundo, que tive o
privilégio de conhecer por meio das viagens que a
música me proporcionou. O mistério é uma reflexão
da vida. Aos seres humanos não nos é dada a capa-
cidade de se conhecer, ou melhor, conhecemos tão
pouco do que nos rodeia e sabemos que há coisas
para as quais nunca teremos respostas, mas a acei-
tação deste mistério nos ajuda a ter uma noção de
nossa dimensão, do quão frágeis somos e da força
que temos, por meio da nossa criatividade, de nossa
capacidade em mudar o mundo.
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Celso Eluanempresá[email protected]
Tomei um café da manhã indigesto: na TV fa-
ziam um levantamento da situação dos hospitais
federais no Rio de Janeiro. Em um destes, mais
de um terço dos médicos haviam se aposentado e
não foram repostos. Em outro, serviços essenciais
como transplantes estavam suspensos por falta
de profissionais. Um dirigente afirmava que o con-
curso de 2012 estava ainda chamando candidatos
que levariam uns bons anos para serem prepara-
dos para os desafios de um transplante. Note-se
um comentário: o salário destes concursados seria
na faixa de R$ 2 mil. Então vamos combinar, um
cirurgião para transplante de fígado receberá ao
final do mês a vultosa soma de R$ 2 mil e traba-
lhará como um frei, afinal de contas a medicina
é um sacerdócio e os médicos fizeram juramento
para atender a qualquer custo. Não é de estranhar
que a fila não ande e os concursados não queiram
ser chamados. Uma pergunta, você ou alguém da
sua família se submeteria a um transplante num
hospital público onde o cirurgião recebe R$ 2 mil
por mês? Ascensorista do Senado ganha o triplo.
Além de me tirar o apetite matinal essa notícia
abriu-me o apetite para pesquisar. No Portal da
Saúde descobri que o orçamento do SUS é de R$
95 bilhões para 2013.
Vamos considerar que a população brasileira
esteja na casa de 194 milhões de almas, destas,
47 milhões, ainda de acordo com o governo, pos-
suem plano de saúde privado. Restam assim 147
milhões de desassistidos. Se dividirmos apenas o
orçamento do SUS por essa população teremos
R$ 646 per capita anual ou R$ 54 mensais. Não
é exagero imaginar que o custo de todas as se-
cretarias estaduais e municipais seja pelo menos
metade do orçamento do SUS. Assim teríamos
disponíveis pelo menos R$ 81 mensais por habi-
tante descoberto. Certamente com esse valor seria
possível adquirir um plano privado custeado pelo
governo. Teríamos então a saúde pública de me-
lhor qualidade sem custos adicionais para o res-
tante da população, pelo mesmo valor gasto hoje
pela ineficiente máquina do Estado.
O impasse é convencer a classe política, sindical
e organismos de pressão, todos interessados em
manter influência sobre a divisão do bolo, cada um
buscando a maior fatia e a população ficando com
as migalhas e todos pagando a conta da festa.
Uma outra linha de raciocínio para chegar ao
mesmo fim é imaginar que cada empresa tives-
se seu departamento médico, com profissionais,
ambulatórios e instalações próprias para atender
a demanda de seus colaboradores. Teríamos um
custo proibitivo que inibiria ações dessa natureza.
Para diminuir e diluir custos é que os planos de
saúde surgiram como opção e hoje um quarto da
população já usufrui desses serviços, dos quais,
também de acordo com o site do governo acima,
30 milhões, ou 64% do total são assistidos por
planos empresariais e os demais 17 milhões são
usuários particulares. Esses números cada vez
crescem mais, quem pode (e cada vez mais as
classes emergentes podem) está partindo para os
planos privados para não ter que suportar a péssi-
ma qualidade do atendimento público.
Ora, se os planos são opções mais interessantes
para empresas e particulares, por que não o são
também para o governo que poderia, em vez de
ser um péssimo prestador destes serviços, trans-
ferir para quem conhece e melhor administra cus-
tos a tarefa de prover de saúde sua população?
Ah, não quero ser inconveniente, mas por que
os servidores públicos têm planos e opções de
atendimento fora do SUS? Por que deputados e
senadores têm reembolso de despesas médicas
particulares e não usam o serviço que o próprio
governo criou para atendimento de toda a popu-
lação?
Não posso deixar de lembrar Mário de Andra-
de em Macunaíma: Pouca saúde, muita saúva, os
males do Brasil são.
A saúde e a saúva,os males do Brasil são.
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Carolina Menezes Talitha Lobato
Que tal escutaruns discos lá em casa?Não, isso não é uma cantada – é o tom da reunião. Dependendo da turma de amigos, é um convite para uma tarde, uma noite ou um dia inteiro de diversão que não cobra entrada ou couvert e que tem como principal atrativo a liberdade de promover um encontro com a cara de quem participa dele. A chamada “diversão indoor” tem conquistado mais adeptos que em vez de procurar entretenimento em locais públicos, preferem trazê-la para dentro de casa. Os benefícios e vantagens? Você confere na matéria a seguir.
Tem lugar mais gostoso que a casa da
gente? Afinal, lá é onde se relaxa, se des-
cansa depois das tensões daquele dia
cheio de trabalho e “pepinos” para resolver. E é
também um palco propício para reuniões, fes-
tas e farras daquelas que começam à tarde e
brigam com a luz do sol do outro dia invadindo
as janelas para não acabar. Para quem franziu
a testa ao ler a afirmativa anterior, eis três de-
poimentos que podem fazer com que você, na
medida do possível, repense as “possibilidades
possíveis” do seu lar, doce lar.
“Reuniãozinha sempre foi ‘ona’”Janete Eluan é dessas que a gente bate o
olho uma vez e já sabe que agregar pessoas e
grupos de pessoas, por mais diversos que eles
sejam, é com ela mesma. De família libanesa,
se acostumou desde cedo a ter e receber muita
gente em casa. “Tenho sete irmãos, sendo que
dois deles e mais eu ainda moramos no mesmo
terreno onde mora nossa mãe, cada um numa
casa diferente. Fora isso, são três primos muito
próximos. A virada de 2012 para 2013 resolve-
mos passar todos juntos em Natal (RN): 38 pes-
soas. E conseguimos juntar todos num mesmo
avião! Reuniãozinha na minha casa, na minha
família, sempre foi ‘ona’”, relata ela, que traba-
lha como gerente e coordenadora financeira em
duas empresas.
Ainda em 2012, assim como nos anos ante-
riores, o que não faltou foi reunião na casa de
Janete regada à boa música, bom papo, boas
comidinhas e bebidinhas. “Eu até gosto de sair
para alguns bares, mas em casa é mais íntimo.
Sou uma pessoa cheia de amigos e quanto mais
gente reunida, mais complicado fica circular en-
tre os grupos se a gente está na rua. Além disso,
se for pra ir pra barzinho ou restaurante fica com-
plicado manter, financeiramente. Tem mês que,
só de aniversário de família são oito. E mais os
dos amigos!”, justifica.
A paixão por receber os queridos no aconche-
go do lar já rendeu grandes festejos, incluindo
não um, mas três casamentos de primos, e ou-
tros eventos sofisticadíssimos, como o aniver-
sário de 48 anos de Janete, há pouco mais de
três anos. “Eu gosto de festa temática e o povo
entra na onda, se fantasia e tudo mais. Em 2009
eu comemorei meu aniversário com o tema “A
Casa da Luz Vermelha” e foi um barato! Fez
tanto sucesso que repeti a dose, em 2011, nos
meus 50 anos, fazendo a ‘parte II’ da mesma
temática. Já no meu último aniversário eu disse
aos amigos apenas que chegassem com suas
bebidas e algum prato de comida, para que nos
reuníssemos para comemorar. Fiquei supresa
porque não teve convite formal, foi só um ‘apa-
rece aí’, e a casa ficou cheia!”, recorda.
Das reuniões aleatórias e em datas espe-
ciais, uma nova programação se formou. Ago-
ra toda sexta-feira de lua cheia é dia de luau
por lá. “Essa brincadeira começou faz bastante
tempo. Conheço muitos músicos, sou parceira
musical de Paulinho Cavallero, Silvinha Tavares
é muito minha amiga e por aí vai. Lá em casa
rolam as ‘Chicadas’ de vez em quando, geral-
mente comandadas por um dos meus irmãos
que toca violão e que, assim como eu, ama Chi-
co Buarque, e em julho passado teve luau toda
segunda-feira lá em casa. E esses luais foram
tão legais que combinamos fazer desse encon- »»»
54www.revistalealmoreira.com.br
tro algo mensal, e sempre iluminados pela lua, sem
luz artificial nenhuma. Só espero que a chuva não
nos obrigue a mudar para a garagem quando tiver
encontro nesses primeiros meses do ano!”, torce.
“Meu negócio é reunir os amigos. Se não tiver festa,
a gente faz música. Se não tiver música a gente
joga dama, dominó, joga até pedra na mangueira!”,
brinca.
“São muitas histórias memoráveis”A advogada Thayanna Rebouças, de 30 anos,
também segue a linha de raciocínio de Janete: o
negócio é juntar o pessoal. “Receber os amigos em
casa sempre foi um hábito. Desde a adolescência
tudo era motivo pra se reunir, podia ser para estu-
dar, conversar, lanchar, até pra fazer nada!”, admite.
Além de todo o conforto que só a casa da gente
proporciona, ela ainda vê outros benefícios em tro-
car o ‘outdoor’ pelo ‘indoor’. “Poder se reunir sem
se preocupar com brigas, assaltos, acidentes, sur-
presas indesejadas é uma das maiores vantagens.
Claro que tem aqueles dias em que você quer sair e
ver pessoas diferentes, jantar num restaurante bom,
mas pesando os ‘prós’ e ‘contras’ acho que prefiro
fazer reuniões em casa mesmo, talvez seja a ida-
de!”, especula a jovem.
Em meio aos grandes encontros que rolaram na
casa da Thayanna, muita história pra contar. “São
várias memoráveis, e algumas até impublicáveis!”,
revela, garantindo que a baderna nunca incomodou
os pais, também participantes da brincadeira pro-
movida pela filha. “Acho que a mais marcante foi
a formatura da minha irmã, Arianna, com direito a
banda de Rock e mais de 12 horas de festa, come-
çando com churrasco e terminando no caldinho”,
lembra. A quadra junina foi lembrada durante anos
e anos por lá também. “Foi a festa que mais se re-
petiu nos nossos calendários. Ia todo mundo vesti-
do a caráter, servíamos comidas típicas, tinha até
quadrilha improvisada e Barraca do Beijo!”, conta.
“Em segundo lugar vêm as lutas de UFC [Ultimate
Fighting Champion], com direito a telão. Acho que
me divirto até mais em casa do que fora, porque
fico mais à vontade”, conclui.
Detalhe: há três anos, Thayanna casou e teve seu
primeiro filho, e com isso, o ritmo das reuniões di-
minuiu, claro. Mas por pouco tempo. “No começo
a gente reunia menos mesmo, mas hoje posso di-
zer que menor é só a quantidade de participantes.
Moro com meu marido e meu filho que, desde pe-
queno, está acostumado com a bagunça. Ele dor-
me no barulho e só depois de participar das festas
até cansar! Reunir os amigos é e sempre será um
prazer”, a advogada reforça.
“A festa fica com a sua cara, com a cara dos ami-gos”
Nada mais complicado em um grupo de amigos,
com o passar dos anos, do que a situação soltei-
ros vs. casados. Como reuni-los? Há três anos, o
publicitário Igor Sales, 30, encontrou uma forma de
agregar a turma toda num mesmo lugar, e abriu as
portas de sua própria casa para proporcionar esses
encontros. “O hábito é antigo, mas de uns três anos
pra cá, se intensificou. Foi uma maneira que encon-
trei de juntar casais, que não saem mais para a ba-
lada, com a turma dos solteiros”, explica. “É mais
trabalhoso, porque exige um planejamento que
acaba sendo a parte mais legal da festa, que fica
com a sua cara, com a cara dos amigos”, avalia.
Para ele, não tem como comparar as modalida-
des, digamos assim. “Não é que eu troque uma sa-
ída por uma reunião ‘indoor’, são momentos dife-
rentes. Enquanto pra balada é só se arrumar e sair
de casa, a reunião indoor acaba sendo um pouco
mais planejada, pelo menos pensada um dia antes,
você tem que organizar, convidar as pessoas, com-
prar bebidas. E cada uma acaba sendo bem dife-
rente da outra. No momento estou preferindo mais
as reuniões ‘indoor’, mas não apenas as minhas,
na casa de amigos também, porque senão só eu
tenho todo o trabalho!”, detalha.
Hoje Igor recebe entre 20 e 25 pessoas na sala
de casa para ver filmes, lutas, futebol e o que mais
estiver na programação. “Uma vez veio o dobro de
gente e foi uma confusão, porque um amigo sem-
pre traz um outro amigo! Me preocupo muito, quan-
do a festa é na minha casa, para que na hora as
pessoas fiquem bem à vontade, não precisem ficar
me pedindo as coisas, até para que eu mesmo pos-
sa curtir”, diz o publicitário, que mora com os pais
e mais uma irmã. “O imóvel é grande e os quartos
ficam bem isolados, então ninguém se incomoda
com barulho nem nada. E assim como eu faço as
minhas festas, eles fazem as deles também”.
Antes de usar a sala de estar, ele recebia os con-
vidados em outra parte da casa, e da forma como a
reunião era organizada, até quem passava pela rua
podia curtir também. “As primeiras reuniões eram
bem simples mesmo, eu fazia em um espaço que é
anexo ao meu quarto e que dá visão para a Avenida
João Paulo II. Com um projetor, eu jogava a ima-
gem do que estávamos assistindo para a parede
de um prédio de quatro andares do lado da minha
casa, e em uma noite de UFC, eu precisei pintar
um quadrado branco em uma dessas paredes, que
estava suja, para que a gente conseguisse uma boa
imagem. Ficou tão boa que, quando olhei para trás,
as pessoas estavam no meio do canteiro central as-
sistindo à luta também!”, conta.»»»
56revistalealmoreira.com.br
especial
57
São 9h45 da manhã no sábado do dia 16
de março. A colorida sala de Paulo Maia
ainda está vazia. Em uma estante no can-
to da sala, estão expostos vários e pequenos ins-
trumentos musicais. Do outro, em outra estante,
dezenas de livros e discos infantis, próximos a um
aparelho de som. No centro da sala, um enorme
e confortável tapete de diversas cores formado
por peças, como um grande quebra-cabeça.
É nesse espaço que, em quinze minutos, Paulo
irá receber seus “alunos”. E onde tudo começou
para o professor, de 29 anos, que também é mú-
sico arte-educador, pesquisador, palestrante e
educador musical infantil. Em 2006, quando fazia
especialização em Fundamentos em Musicote-
rapia, decidiu fazer a monografia de curso junto
com a tia, professora e mestra Gilda Maia.
Daí surgiu a monografia intitulada “A Música e o
Bebê: experiências e vivências”, concluída no iní-
cio de 2007. A priori, o projeto foi feito em forma
de oficina. No mesmo ano, eles decidiram criar
a “Sala-Estúdio Irmãos Nobre”, que ganhou o
nome de Cantinho Musical “Irmãos Nobre”, em
homenagem a Helena e Ulisses Nobre – os Ir-
mãos Nobre, famosos cantores líricos do perío-
do da Belle Époque, em Belém, e também tios
avós da Profa. Ms. Helena Maia, avó de Paulo. “A
nossa família é fundamentalmente de músicos”,
lembra. “Aqui nessa sala, é onde aconteciam as
aulas de música da minha avó, Helena Maia”.
Ali, que, até hoje, põe em prática as aulas de
Musicalização para Bebês. Paulo diz que usa no
espaço a metodologia criada pela pesquisadora
Josette Feres, que estudou a iniciação musical,
que pode ocorrer desde os primeiros meses do
recém-nascido, desenvolvendo no bebê o pra-
zer de ouvir e fazer música, além de estimular
a ligação afetiva entre pais e filhos. Paulo então
conheceu experiências no Sul e Sudeste do
Brasil e decidiu trazer para Belém o projeto de
musicalização para bebês. Nesse local, em um
prédio localizado no coração do centro de Belém,
ele conseguiu unir a teoria e a prática. Por todo o
espaço, instrumentos podem se transformar em
algo novo a ser descoberto. Um bocal de flauta,
por exemplo, se transforma como em um passe
de mágica, em um som de passarinho.
Além de especialista em Fundamentos de Mu-
sicoterapia, ele também se especializou em Prá-
ticas Pedagógicas em Educação Infantil e Séries
Iniciais. Atualmente, durante a semana, ele divide
seu tempo ainda ministrando aulas de música
em dois grandes colégios particulares de Belém.
Por isso, hoje, ele ministra o projeto apenas aos
sábados de manhã, para crianças entre 01 e 06
anos de idade, com o apoio da mãe, Ana Cristina
Maia. “Eu comecei a sentir a necessidade da ro-
tina. A prática leva aos conhecimentos da escola
e hoje a música está voltando para o ambiente
escolar”.
As aulasO primeiro a chegar, pontualmente às 10h, é
Vinícius, de 1 ano e 3 meses. Sem nenhuma ti-
midez, ele já chega explorando todo o espaço.
Rapidamente, pega um pequeno bumbo e co-
meça a batucar uma melodia que só ainda exis-
te na sua imaginação de criança. Próximo, ele é
observado pela avó e pela tia. “Achei um trabalho
fabuloso. Meu filho é músico e ele decidiu trazer
o filho aqui. Já queria conhecer o espaço e como
os pais não puderam, resolvi trazer ele hoje”, ex-
plica Rosa Helena dos Santos, Psicóloga. Para
ela, o trabalho já surte efeito no pequeno percus-
sionista. “Ele fica feliz e já desenvolveu bastante,
interagindo bem com as outras crianças”.
Cada sessão conta com uma média de 12
crianças. Somados aos pais (ou avós, tias, ba- »»»
Fábio Nóvoa Dudu Maroja
Osprimeirosacordes
A iniciação musical traz benefícios que vão além do reconhecimento de notas musicais e instrumentos. Ela é responsável por aguçar a criatividade e o senso social das crianças.
58
bás), a sala vira uma grande festa. Em um pri-
meiro momento, Paulo recebe as crianças. De-
pois reúne elas em uma roda e começa a cantar
músicas infantis populares. A sala, antes vazia,
agora está lotada e barulhenta. Cada criança
pega um instrumento e a cantoria continua. O
professor aproveita para fazer contação de histó-
rias, sempre interagindo com pais e filhos. E não
para de chegar alunos.
Em dez minutos, a sala está completamen-
te lotada. “As crianças interagem umas com as
outras. A nossa ideia é que esta seja uma sala
normal, onde todos possam se sentir bem aqui”,
confirma o professor, entre uma canção e outra.
“É um momento prazeroso estar entre as crian-
ças e os pais. Aqui fazemos explorações dos ins-
trumentos e a aula se transforma em um espaço
para todos. Já até organizamos eventos, nas ca-
sas dos pais”. Cada criança pega um instrumen-
to e uma miniorquestra está formada. Um pouco
desconexa no ritmo, é verdade, mas o que vale
é a brincadeira.
O trabalho já colhe frutos. Além da participação
regular de músicos, como Nazaco e Yuri Guede-
lha, Paulo conta que recebe indicações de médi-
cos para as suas aulas. “Por fazermos hoje um
trabalho de referência, temos inclusive a indica-
ção de pediatras”, conta, com uma ponta de or-
gulho. E as matrículas estão sempre abertas. “há
uma rotatividade de crianças e sempre recebe-
mos novos alunos”, confirma. “O nosso curso é
livre, mas as pessoas ficam o período que achar
necessário. Não são aulas seriadas, apesar de
mantermos uma rotina”.
Os frutosMas, alguns acabam ficando por mais tempo.
Como Helena, de 2 anos, que já participa das
aulas há um ano. “A música já faz parte da vida
dela”, lembra a advogada Fabiana Vieira, mãe
de Helena. “E como ele já é professor da es-
cola dela, achei que podia contribuir para essa
formação. Ela tem um contato importante com
a música, que entendo ser condição para o de-
senvolvimento crítico e a concentração. Ela foca
em várias atividades e vai desenvolvendo melhor
a atenção”, garante. Opinião compartilhada por
Kátia Guerra, servidora pública, e mãe de Rafa-
el, um ano. “É a quarta aula dele, mas desde a
primeira, já mostrou como ele se entrosou logo
com as outras crianças”, garante.
Maria Eduarda, 2 anos e 8 meses, é uma das
mais espivitadas na sala. Portadora de Síndrome
de Down, a pequena se empolga com o som
dos instrumentos e faz questão de repetir, com
as mãos, os movimentos das músicas. Para o
pai, Lino Viveiros, engenheiro agrônomo e ser-
vidor público federal, essa interação dela com
outras crianças é fascinante. “Conheci o trabalho
através de um amigo. Vim aqui, conversei com
ele e depois de ver que era um trabalho sério, vi-
mos os benefícios que trouxe para ela”, diz. “Hoje
ela é uma criança mais sociável e que gosta de
brincar e ouvir música. A música é parte da vida
dela”, completa.
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meida, 298. Apto. 201, entre 1º de Março e Padre Prudêncio,
bem de frente pro Largo da Palmeira, antigo buraco da Pal-
meira. Contatos: 3261.4083 / 9604.9536 / 8199.5164 (Prof.
Paulo Maia).
Blog: www.cantinhomusicalbelem.blogspot.com/ Facebook: www.facebook.com/musicaebebesbelem.
Cantinho Musical “Irmãos Nobre”
Musicalização para Bebês
Os Irmãos Nobre
Os irmãos Ulisses e Helena Nobre eram cantores líricos pa-
raenses, nascidos em 1887 e 1888, respectivamente, que
fizeram sucesso no ínicio do século XX. Na época, ficaram
conhecidos como Irmãos Nobre, os Uirapurus Paraenses. A
história da dupla foi contada pela tia de Paulo, Gilda Maia, com
a monografia “Uirapurus Paraenses: De Onde Vem Esse Can-
to? História Da Vida Musical Dos Irmãos Nobre”.
Os sapatos do estudante Felipe Quincó “têm histórias pra contar”, segundo ele
59
www.revistalealmoreira.com.br
galeria
Amão, opincel...eaescrita
Considerado um dos mais talentosos e generosos artistas de sua geração, Paulo Azevedo busca em suas memórias afetivas a inspiração para compor suas criações
Naquele seu significado mais remoto, que
embasou a maneira de se pensar o as-
sunto no Ocidente, arte – ou ars, con-
forme o latim concebeu – é técnica. Habilidade.
Com o passar do tempo, o conceito se transfor-
mou e se aproximou dos aspectos mais pesso-
ais e íntimos do homem: passou a ser explicada
por meio do contato com o espírito criador que
há nos artistas. Por meio das emoções, que fre-
quentemente amparam e justificam as produ-
ções artísticas. Até que, em algum momento,
a emoção se torna maior que o agente, e dele
toma a ação. Nesse ponto, técnica e habilidade
– concretas como são – ainda convivem, mas se
tornam coadjuvantes diante do sentimento, um
protagonista tão abstrato quanto profundo. Con-
fuso? Não para Paulo Azevedo.
Artista plástico há mais de 25 anos, Paulo é um
pintor generoso, porque credita a qualidade dos
seus trabalhos muito mais ao que traz dentro de
si – lembranças, coisas que viu por aí, sensações
e outros arcabouços emocionais – do que à pró-
pria capacidade e experiência. Em troca, recebe
um agrado que muitos apaixonados pela pintu-
ra gostariam de ter: a possibilidade de deixar a
arte falar por si. Ao contrário do caminho natural,
Paulo deixa-se produzir pelo que pinta – ora re-
conhecendo em si emoções já externadas pelos
pincéis, ora blindando a própria racionalidade
para que esta intervenha o mínimo possível em
seu processo criativo. O resultado é um traba-
lho abstrato profundo e cheio de personalidade.
Mas foi por meio dos artistas figurativos, ainda na
infância, que Paulo entrou em contato com o que
mais tarde seria sua profissão.
Por volta dos 10 anos de idade, quando era
estudante de escola pública, o artista já aprecia-
va as fotos de quadros que via na biblioteca do
colégio. “Enquanto meus colegas liam gibis, li-
vros de história, eu via livros de arte. Gostava dos
impressionistas, dos concretistas, achava bonito.
Mas ainda não havia pensado em ser artista”,
rememora. Tempos depois, se deparou com um
livro, o “Pinturas Abstratas”, com obras da japo-
nesa naturalizada no Brasil Tomie Ohtake. Foi um
divisor de águas na vida do pintor. “Ela passou a
pintar aos 50 anos de idade e hoje é uma das
maiores pintoras vivas do país. Comecei a en-
tender que era possível fazer o que ela fazia, e
aquilo me mudou”. Foi quando ele começou a
ensaiar traços abstratos com carvão e lápis de
cor, mas relutava em mostrar para os outros.
Guardou para si a paixão, ainda em processo
de descoberta, para dar vazão a outro talento: a
natação, à qual se dedicou por alguns anos.
Não demorou muito para que a arte fizesse
um novo chamado. Paulo – que também é ar-
quiteto por formação – relembra que costuma-
va passar por uma galeria de arte onde eram
ministradas aulas de pintura. Um dia, viu dentro
do ateliê uma pessoa desenhando um rosto. “Fi-
quei impressionado. Perguntei se aquela pessoa
Camila Barbalho Dudu Maroja
»»»
62
poderia me ensinar a fazer aquilo, a pessoa dis-
se que sim. Eu repetia o que ela me ensinava
incansavelmente”. Passou a desenhar rostos
para ganhar dinheiro. Com o passar do tempo,
percebeu que precisava de mais. “Vi que não
era aquilo. Que aquela era a ponta do iceberg.
Percebi que eu era movido por outra coisa: pelas
cores”.
Seguiu pintando, e lá pelos 17 anos, uma pes-
soa viu suas pinturas e sugeriu que Paulo expu-
sesse no Centur. Era, mais uma vez, um ace-
no do futuro. O artista venceu a timidez e deu o
primeiro passo rumo ao reconhecimento. Expôs
oito trabalhos lá. Vendeu todos em pouquíssi-
mo tempo, para a mesma pessoa. Ele acabara
de entrar definitivamente naquele que seria seu
universo a partir de então. Hoje, são 43 anos de
vida, sendo 25 de exposições individuais e cole-
tivas aqui, no Rio, em São Paulo e em galerias
europeias – além de prêmios em salões como
Arte Pará, Arte Jovem de Santos-SP, Salões da
Aeronáutica e da Marinha, da Listel, entre muitos
outros.
Alcançar a carreira que gostaria de ter não es-
tancou a necessidade que Azevedo possui de
se expressar artisticamente. Ao contrário: ela
foi crescendo e necessitando de cada vez mais
espaço para se desenvolver. Por isso, o artista
decidiu experimentar pintura em grandes forma-
tos, tratamentos em peças antigas e até mesmo
a escultura. “Trabalhar tanto tempo com pincel,
tinta e tela não é fácil. Por isso faço da escultu-
ra o descanso da minha pintura”, justifica. Mas
nada disso ofusca o grande amor que Paulo
tem pelo processo de pintar. Defensor romântico
dos pincéis, tintas e telas, ele inclusive acabou
optando por se afastar um pouco dos grandes
salões. “Eu gosto das instalações, performance,
vídeos... Tudo isso é muito interessante, muito
moderno. Mas os salões de arte contemporânea
quase não absorvem mais pinturas. A pintura
não pode sair do mercado”, reclama.
Para suprir a falta de espaço, tanto para expor
quanto para criar, o pintor deu um passo grande:
inaugurou seu próprio Espaço Ateliê. Nele, gasta
suas horas entre criações anteriores e as ideias
– seja para revisitá-las ou para dar origem a tra-
balhos novos. Sim, Paulo muitas vezes revisita
suas próprias obras, já que, para ele, elas nunca
estão prontas e encerradas. “A gente nunca ter-
mina uma pintura. É simplesmente a questão de
ter maturidade pra saber o momento certo de
parar”, explica. Talvez só seja possível deixar a
porta entre obra e autor aberta porque os limites
concretistas não existem na obra de Azevedo.
“Minha pintura abandonou a forma e escolheu a
cor. Não tenho mais preocupação com linhas”,
revela.
63
»»»
Naturalmente, nem todo mundo compreen-
de essa expressão artística. Há aqueles que
negam a credibilidade da arte abstrata por não
compreendê-la. Paulo não se ofende. Ao contrá-
rio: gosta. “Algumas pessoas falam algo como
‘meu filho de cinco anos consegue fazer isso’. Eu
respondo ‘ótimo’. Picasso dizia que aos 50 anos
ele pintava como Velazquez. Foi preciso chegar
aos 80 pra pintar como uma criança. Acho que
é o sonho de qualquer artista conseguir atingir
a sensibilidade de uma criança”, opina, cheio
de convicção. E complementa: “Se eu conse-
guir alcançar essa sensibilidade, eu já cheguei
ao ápice da minha pintura”. Nem é preciso dizer
que o artista é um defensor incansável da abs-
tração. Na opinião dele, a dificuldade de fazer
um trabalho bom com essa linguagem agrega a
ele mais valor. “A pintura abstrata é o mais difícil.
Pintar o figurativo é mais simples porque já exis-
te, você só tem que retratar. A pintura abstrata
é uma ‘alma a se descobrir’. Há que se traduzir
um sentimento”, argumenta.
E é pela defesa da arte abstrata que Azevedo
trava batalhas consigo mesmo. Para permitir que
este sentimento seja traduzido da maneira mais
genuína possível, o artista frequentemente adota
maneiras de driblar o que há de mais racional na
sua estética – como a busca por simetria e equilí-
brio. Como? Pintando com a mão esquerda, por
exemplo. “Eu tento evitar que esses elementos
da racionalidade invadam a pintura abstrata.
Tento ‘enganar’ o cérebro pintando com a ou-
tra mão. É preciso enrolar a razão”, ensina. Nem
mesmo a música tem tanto espaço nesta dança
entre pintura e pintor. Por isso, ele alterna mo-
mentos de música e de silêncio total. “A música
interfere no movimento da pintura. Não consigo
sofrer interferência da música por muito tempo.
Mas, às vezes, gosto de conversar com alguém
enquanto eu tô pintando”.
Do mesmo modo que outros sentidos sobres-
saem com a perda de um deles, a redenção
também é compensadora: a desobrigação das
formas permite que Paulo enxergue cores que
habitualmente não enxergamos. É daí que vem
a mistura profícua de tons nos seus trabalhos:
ouro, ferro, bronze e o colorido do barroco são
alguns dos matizes mais frequentes – além do
tema das rendas, que volta ou outra é abordado
pelo artista. Para ele, há um vínculo emocional
forte com este ponto: “Minha mãe fazia roupas
de quadrilha e gostava muito dos tecidos ren-
dados. Foi um dos temas que eu incorporei. Por
isso chamo as rendas de ‘lembranças’”.
Mas Azevedo nem sempre foi assim, solar.
Houve um tempo que sua obra adotava uma
atmosfera mais sombria, com quadros quase
sempre monocromáticos e escuros. Inclusive
64
adotou por um tempo uma série marginal, em
que retratou pessoas de rua, prostitutas e outras
criaturas da noite, numa sequência chamada
Noturnos. “Demorei 18 anos para pintar uma
tela azul”, conta. Engana-se, porém, quem tenta
fazer uma análise psicológica ou vincular esses
momentos à vida pessoal do artista. Quando
perguntado sobre o que motivou a mudança, ele
é sucinto: “a mudança vem em temas. Às vezes
em formas, às vezes em cores... Não tem rela-
ção com outra coisa”.
A desconexão com influências externas à pró-
pria pintura faz com que parar em frente à tela
em branco seja sempre um momento que an-
tecede uma incógnita. “Eu sei o que eu tenho
que fazer, mas nunca acontece o que eu quero
fazer. Por isso, ando pela rua procurando coisas
que me interessem”. E é de informações urba-
nas que as cores de Paulo se alimentam. “Desde
uma folha caída até manchas no latão de um
navio, restos de construção, os resíduos de pa-
pel que sobram do tirar e colocar de cartazes
nos muros... Tudo me influencia. Busco muito o
tema das ruas”. Mais uma vez, Azevedo tira de
si o peso de assinar o resultado dessas influên-
cias: “é como se eu usasse a pátina do tempo
pra realizar a minha pintura. É a pátina do tempo
que valoriza a pintura. O tempo capta o melhor
pra gente”.
Sobre o que o motiva a fazer o que faz, Pau-
lo não precisa nem mesmo refletir para saber. É
taxativo o posicionamento: “o artista tem a obri-
gação de mudar o outro. Se alguém disser que
o meu trabalho é ruim, acho isso bom. A arte
precisa desse debate, dessa contradição”. E são
sua inquietude e fé nesse propósito que baseiam
o que está por vir. O futuro é muito nítido. Ele pin-
tará até onde puder. “Me vejo pintando sempre.
Consigo viver da arte, mas isso não é suficiente
pra quem tem arte como profissão. Quero fazer
exposições, estar em uma grande galeria... Não
sei. A pintura vai me levar”. E vai além: “quero
fazer parte da história de vida do meu filho, do
meu neto, da herança cultural da cidade. Quero
que meu neto faça um trabalho de colégio sobre
mim”, exemplifica.
Ao fim da entrevista, depois de revelar toda
a profundidade do seu trabalho, Paulo Azeve-
do ainda acredita que haveria mais para dizer.
“Queria saber escrever para dizer tudo o que eu
sinto”, ele pensa alto. Mal sabe Paulo que escre-
ve – ou é escrito – sobre tudo. A diferença é que
só lê quem conquistou cidadania em mundo tão
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Prepare-se, fotografar nunca será como antes! A Câmera Samsung Galaxy une a qualidade profissional da fotografia com a inteligên-cia do Android 4.1. É a câmera mais surpreendente do mercado, com modos de disparo ricos e profissionais, recursos de edição e aplicativos diversos. Ela lhe permite tirar fotos e compartilhar imediatamente em redes sociais, acessando a internet por redes Wi-Fi ou 3G, ou enviá-las por Bluetooth para vários dispositivos! Permite ainda editar suas fotos de forma divertida com diversos aplicativos, além de filmar em alta definição e também em câmera lenta. Visualize suas fotos em uma tela incrível.
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ALGUNS VALORES SÃO INESTIMÁVEIS.
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Trinta anos se passaram desde sua estreia nos cinemas, em abril de 1983, e a gente aposta que tem gente que ainda assiste à audição final com a mesma empolgação do começo da década de 80. Ainda não viu? Não perca tempo. Alex Owens (Jennifer Beals) é um “dínamo” feminino: operária de dia, dançarina exótica de noite. Seu sonho é entrar em uma verdadeira companhia de dança e com o incentivo de seu chefe/namorado (Michael Nouri), ela pode ter sua chance. A cidade de Pittsburgh é o belo cenário deste trintão. Uma curiosidade: a trilha sonora de Flashdance vendeu mais de 700 mil cópias, apenas duas semanas após seu lançamento.
Quase dois anos depois de sua morte, a história de Steve Jobs chega ao cinema. Ashton Kutcher vive o empresário americano e tamanha similaridade, surpreende. O filme narra a ascensão de Jobs, de rejeitado no colégio até tornar--se um dos mais reverenciados empresários do universo da tecnologia no século 20. A trama passa pela jornada de autodescobrimento da juventude, pelos demônios pessoais que obscureceram sua visão e, finalmente, pelos triunfos que transformaram sua vida adulta. No Brasil, a estreia está prevista para o segundo semestre.
horas vagas • cinema
O GRANDE GATSBY
FLASHDANCE
FILMES NA NET
JOBS
OZ – MÁGICO E PODER OSO
DVD
DIC
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RNET
DESTAQUEC
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Assistindo filmes de graça e pela internet.Sério concorrente ao Netflix.http://www.redefilmesonline.net/
Adaptação do livro homônimo lançado em 1925 por F. Scott Fitzge-rald e com orçamento de US$150 milhões, O Grande Gatsby conta a história do aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire) que sai do centro-oeste e chega a Nova York na primavera de 1922, em meio a uma era de falta de moral, do ápice do jazz, dos reis beberrões e de ações exorbitantes. Perseguindo o sonho americano, Nick acaba vizinho de um misterioso e festeiro milionário, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), além de conhecer sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu marido mulherengo e de sangue azul, Tom Buchanan (Joel Edgerton). É assim que Nick é atraído para o mundo cativante dos super-ricos, cheio de ilusões, amores e decepções. Enquanto Nick é testemunha, dentro e fora do mundo que habita, ele escreve um conto de um amor impossível, sonhos puros e muita tragédia, criando um reflexo das nossas lutas e tempos modernos.
Se você foi vencido pelas quilométricas filas no cinema, não desanime. Oz – Mágico e Poderoso retrata a chegada do má-gico a Oz, ou seja, o filme resgata os anos que antecederam o aparecimento de Dorothy por lá. Esperadíssimo, o título chega às locadoras em DVD e Blu-Ray. Oscar Diggs (James Franco) trabalha como mágico em um circo itinerante. Bastante ego-ísta e mulherengo, seu envolvimento com mulheres é o que acaba levando-o para uma mágica aventura na Terra de Oz. Chegando lá, ele conhece a bruxa Theodora (Mila Kunis), que o apresenta para a irmã Evanora (Rachel Weisz). Acreditando que estaria fazendo um bem para a população local, ele decide enfrentar a bruxa Glinda (Michelle Williams), mas descobre que ela lembra um amor do passado e seu comportamento em nada se assemelha ao de alguém realmente malvado. Dividido entre saber quem é do bem e quem é do mau, Oscar se depara com um lugar rico em belezas, cheio de riquezas, estranhas criaturas e também mistérios. Vivendo este conflito, o ilusio-nista vai usar sua criatividade para salvar o tranquilo povo de Oz das garras de um poderoso inimigo. Para isso, contará com a inusitada ajuda de Finley, o macaco alado, e uma menina de porcelana.
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O VALOR DA IMAGINAÇÃO.
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O CÉU DE LISBOA (LISBON STORY)
O diretor Friedrich Monroe tem problemas para editar um filme mudo e em preto e branco acerca de Lisboa. Ele chama um amigo, o engenheiro de som Phillip Winter, para ajudá-lo. Quando Winter chega a Lisboa, semanas mais tarde, Monroe está desaparecido, deixando o filme inacabado. Winter decide ficar, porque ele está fascinado pela cidade e pela cantora Teresa Salgueiro. Assim, ele começa a gravar o som do filme, ao mesmo tempo em que Monroe vaga pela cidade, com uma câmera de vídeo em busca de takes inéditos. Mais tarde Winter convence Monroe a terminar o filme. O filme, de Win Wenders, é considerado uma “sequência” do filme “O Estado das Coisas”, realizado em Sintra, na Praia das Maças. O personagem Friedrich Munro, realizador de cinema desempenhado por Patrick Bauchau, é retomado neste filme.
horas vagas • música
BLIP.FM
THE 20/20 EXPERIENCE
BUIKA
VÍDEO
DIC
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RNET
CONFIRA
CLÁ
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É uma espécie de rede social musical. Por meio de um perfil gratuito, você “blipa” as músicas que mais gostar. Se quiser, comenta alguma coisa em até 140 caracteres (já ouviu isso em algum lugar?) para a sua lista de seguidores. Além disso, é possível compartilhar os blips no Facebook e no Twitter. O único ponto negativo é a dificuldade em encontrar músicas menos conhecidas.http://blip.fm/
Quando o assunto é Justin Timberlake, as opiniões são controversas. Natural, já que a “vida pregressa” de JT está ligada a uma boy band. Preconceitos à parte faça uma experiência (o trocadilho com o nome do novo álbum dele não foi intencional): ouça-o despretensio-samente. Depois de sete anos de ausência do mercado (período no qual ele se dedicou e virou sócio do MySpace), o cantor volta com uma “pegada” motown, disposto a firmar um relacionamento sério com a soul music. A primeira faixa de trabalho, Suit and Tie, caiu tanto no gosto popular, que na primeira semana, o disco “The 20/20 Experience” não alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas, como estava previsto. Mas calma lá! Ainda assim a façanha do cantor está longe de ser considerada um fracasso: cerca de 980 mil cópias do disco foram vendidas em sete dias. Ele, inclusive, quebrou o próprio recorde, já que seu último trabalho, “Future sex/Love sounds”, vendeu 300 mil cópias a menos, em 2006. Justin é destaque no Palco Mundo, no Rock in Rio, dia 15 de setembro.
Nascida na cidade de Palma de Mallorca, na Espanha, Concha Buika, conhecida artisticamente pelo sobrenome, tornou-se uma revelação no cenário musical do país ao mesclar o clássico flamenco com elementos do jazz e do soul. Com raízes africanas e influências americanas, de suas passagens por Nova York e Las Vegas, Buika criou uma sonoridade única, evocada por uma voz impecável, ora suave ora explosiva.Seu álbum de estreia, Buika, lançado em 2005, deu provas de seu talento, mas não teve a mesma visibilidade de Mi Niña Lola, que venceu nas categorias de Melhor Álbum e Melhor Produção no maior prêmio de música da Espanha. As
canções do segundo álbum a projetaram mundialmente, sendo incluída na lista das principais revelações do ano.Produzido por Javier Limón, seu terceiro trabalho Niña de Fuego traz canções inéditas compostas por ela e Limón. Mais sentimental, expressando suas vivên-cias pessoais, o álbum não passou batido pelo Grammy Latino, o segundo maior prêmio da música mundial.Em 2009, Buika se juntou ao pianista Chucho Valdés para gravar o álbum El Últi-mo Trago, uma homenagem ao aniversário de 90 anos da cantora Chavela Vargas, com canções que marcaram a sua carreira.
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CAZUZA REMASTERIZADOImagine fazer um passeio pela discografia de Cazuza. Agora imagine ter seis álbuns, da carreira solo dele, totalmente remasterizados: “Exagera-do” (1985), “Só Se For a Dois” (1987), “Ideologia” (1988), “O Tempo Não Pára: Ao Vivo” (1988), “Burguesia” (1989) e “Por Aí” (1991). Essa luxuosa edição inclui ainda o DVD “Pra sempre Cazuza” e você não pode deixar de tê-la em casa.
O VALOR DA CONFIANÇA.
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horas vagas • literatura
BÊBADO GONZO
PORTAL
ISABEL ALLENDEAMOR
TODA POESIAPAULO LEMINSKI
O PEQUENO PRÍNCIPE70 ANOS
Colunista da Revista Leal Moreira, o genial jornalista paraense Anderson Araújo decidiu transpor dos posts do blog homônimo, para as folhas de papel, seus melhores contos. Nasceu, assim, “Bêbado Gonzo – o livro”, resultado de uma campanha de ar-recadação coletiva (o crowdfunding) extremamente exitosa. Os contos e crônicas retratam uma Belém do Pará urbana e poética. À venda na Fox Vídeo ou na fanpage do livrohttp://www.facebook.com/BebadoGonzo
“Minha vida sexual começou cedo, quando eu tinha aproximadamente cinco anos de idade, no jardim de infância das Freiras Ursulinas, em Santiago do Chile”. Com estas palavras, Isabel Allende começa este compêndio sobre amor e o eros, composto por fragmentos selecionados de suas obras, que descreve seus personagens por meio da própria história do autor. A escritora divide o livro em nove capítulos temáticos, cada um dos quais é precedido por uma introdução, que dá forma a alguns textos que muitos leitores já conhecem e apreciam. Esta compilação original, reunida pela primeira vez, neste breve volume, permite-nos lembrar a maneira amigável e divertida, com que Isabel Allende sempre tratou o tema do amor e do sexo em cada um de seus livros. O livro ainda não está disponível em Português, mas a versão traduzida não deve demorar a sair. Por enquanto, só em Espanhol.
O portal “Domínio Público” disponibiliza aproximadamente 20.000 livros em domínio público, para download gratuito. Além, naturalmente, de bibliotecas de outros gêneros. Fontes: Saraiva, Livraria Cultura, Terra e Domínio Público.
Ao conciliar a rigidez da construção formal e o mais genuíno coloquia-lismo, o autor praticou ao longo de sua vida um jogo de gato e rato com leitores e críticos. Se por um lado, tinha pleno conhecimento do que se produzira de melhor na poesia – do Ocidente e do Oriente -, por outro lado parecia comprazer-se em mostrar um à vontade que não raro beirava o improviso, dando um nó na cabeça dos mais conservadores. Pura artimanha de um poeta consciente e dotado das melhores ferra-mentas para escrever versos. Este volume percorre a trajetória poética completa do autor curitibano, mestre do verso lapidar e da astúcia. Ed. Companhia das Letras. 424 páginas. (fonte: Livraria Cultura).
Com temática existencialista, a obra segue uma das mais populares do mundo, mesmo 70 anos após seu lançamento - no Brasil, ela chegou somente em 1945, pela Agir, mas a estreia mundial ocorrera dois anos antes, em 6 de abril de 1943, nos Estados Unidos.Definida pelo filósofo alemão Martin Heidegger como uma das maiores obras existencialistas do século 20, O Pequeno Príncipe é um dos livros mais traduzidos do mundo, mas não há consenso sobre o número exato: no site oficial da obra, Le Petit Prince, fala-se em 257 idiomas e dialetos, e há edições no Camboja e no Japão, por exemplo. No país nipônico, o sucesso foi tanto que há um museu dedicado ao Pequeno Príncipe na cidade de Hakone.Desde a publicação, a trama já foi contada em diversas plataformas, como na série de desenho animado As Aventuras do Pequeno Príncipe, lançada no final da década de 1970. Mais recentemente, o livro inspirou uma animação computadorizada homônima, exibida no Brasil pelo canal de TV por assinatura Discovery Kids, e uma série em quadrinhos publicada pela Editora Amarilys.
CLÁSSICO
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O VALOR DO EXPERIÊNCIA.
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horas vagas • Rio & Sampa
Dois prédios fazem parte do MAR: a Escola do Olhar, cuja proposta é formar professores e alunos a partir da conjugação de arte e educação; e o Palacete Dom João VI, que vai abrigar exposições nas oito salas distri-buídas por seus quatro andares.Com 15 mil metros quadrados, sendo 2,4 mil de área expositiva, o museu, uma realização da Prefeitura do Rio e da Fundação Roberto Marinho, foi inaugurado com quatro exposições simultâneas: “Rio de Imagens: uma paisagem em construção”; “O colecionador: arte brasileira e internacional na coleção Boghici”; “Vontade construtiva na Coleção Fadel”; e “O abrigo e o terreno - Arte de sociedade no Brasil I”.
Serviço:Rio de JaneiroAv. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo Telefone: (21) 2240-4944 Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e domingos, das 12h às 19h.http://www.museudeartedorio.org.br/
Depois de uma temporada de muito sucesso no Rio de Janeiro, O Mágico de Oz finalmente chega a São Paulo. Desde o dia 22 de fevereiro, o público paulistano pode ver quase o mesmo espetáculo que ficou em cartaz no Rio. O elenco tem pequenas alterações, sendo parte carioca (Lucio Mauro Filho, Nicola Lama, Luiz Carlos Miéle e Malu Rodrigues) e outra parte renovada: André Torquato e Heloisa Périssé substituem Pierre Baitelli e Maria Clara Gueiros, respectivamente.Na história, Dorothy Gale (Malu Rodrigues) vive um cotidiano pacato com seus tios em uma fazenda no Kansas. Após um tornado, ela e seu cachorro Totó vão parar em Oz, onde encontram o Espantalho (André Torquato), o Homem de Lata (Nicola Lama) e o Leão Covarde (Lúcio Mauro Filho). Para poder retornar para sua casa, Dorothy pede ajuda dos novos amigos e caminham pela Estrada de Tijolos Amarelos em busca do Mágico de Oz (Luiz Carlos Miéle). Segun-do os engraçados pequenos moradores da cidadezinha encantada, o Mágico é o único que conseguirá ajudá-los. A jornada em si poderia ser tranquila se, no caminho, não tivessem que enfrentar as vilanias da Bruxa Má do Oeste (Heloisa Périssé). Ela quer os sapatinhos de rubi que foram dados para Dorothy para ter mais poderes. A montagem é baseada na única adaptação autorizada para o teatro, feita pela Royal Shakespeare Company, seguindo o roteiro do filme homônimo (estrelado por Judy Garland em 1939). Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e Canção Original (“Over the Rainbow”), o filme é reconstituído em todas as cenas no palco.
Serviço:São PauloOs ingressos custam de R$ 40,00 a R$ 180,00. E estão à venda pela internet e nas bilheterias do teatro.Informações: http://www.ingressorapido.com.br
MARMUSEU DE ARTE DO RIO DE JANEIRO
O MÁGICO DE OZ - MUSICAL
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O VALOR DA OUSADIA.
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horas vagas • New York
“The Carlyle” é um dos hotéis mais chiques do East Side. E ali, em um pequeno espaço reservado só para 90 privilegiados [a preços nada módicos – entre US$145 e US$195, só o ingresso. O consumo é cobrado à parte e a um custo mínimo de US$25 por pessoa], é possível assistir a um show ainda mais especial: o cineasta Woody Allen dá sua “canja” todas as segundas-feiras.
No hotel “Carlyle” às segundas-feiras, sempre às 20h45 – até o dia 17/06/13Informações: http://www.rosewoodhotels.com/en/carlyle/dining/entertainment_calendar/
Claude Monet pode ser reconhecido como o mestre do impressionismo, mas ele também poderia ser considerado um dos primeiros “blogueiros” de estilo. Sério! Suas pinturas, como “As mulheres no jardim e almoço na relva”, regis-traram um período revolucionário para a roupa. A exposição “Impressionismo, Moda e Modernidade” (Impressionism, Fashion, and Modernity), destaca este movimento de forma crucial, no período que vai de meados da década de 1860 a meados da década de 1880, por meio de 80 personagens nas pinturas, vistas em concertos, trajando roupas de época, acessórios, placas de moda, fotografias e impressões. Alguns outros artistas apresentados nesta exposição incluem Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé. Veja você: há uma razão por que Paris é chamada a capital da moda! — Por Araceli Cruz
Impressionismo, Moda e ModernidadeNo Metropolitan Museum of Art, 1000 Fifth Ave.Até o dia 9 de maio.Horários: de terça a domingo, a partir das 10h.Ingressos: US$25Mais informações: www.metmuseum.org
WOODY ALLEN &THE EDDY DAVIS NEW ORLEANS JAZZ BAND
IMPRESSIONISM, FASHION, AND MODERNITY
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Nós sabemos quão valiosos são os pequenos (e grandes)
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horas vagas • iPad
Raul Parizottoempresá[email protected]
DROPBOX
WAZE
CANDY CRUSH
TÁBUA DE MARÉS
DOCUMENTS READDLE
O Dropbox é um serviço para guardar e compartilhar documen-tos. Você primeiramente se cadastra no Dropbox (conta grátis) e depois que você se cadastra pode baixar o aplicativo para PC e MAC, quando você instala uma pasta, que parece ser local, mas é um lugar na “nuvem” e quando você copia qualquer arquivo, ele é guardado com segurança e ainda pode ser compartilhado com outros usuários quando quiser. O aplicativo para iPhone e iPad é grátis e permite acessar estes arquivos da nuvem e a grande van-tagem é que ele visualiza planilhas, documentos do word, textos, tabelas de preços e até videos, por isso serve como um visualiza-dor de documentos grátis. Por exemplo, você copia um documento do Word para sua pasta do Dropbox no computador e do iPad poderá ler o documento quando quiser. É uma ferramenta com inúmeras utilidades e agora com a nova atualização o Dropbox passou a dar suporte em Português (Brasil). A empresa mostrou entusiasmo com os números gerados pelos brasileiros. De um ano para cá, a quantidade de usuários “brasu-cas” mais do que dobrou, e durante o carnaval foram mais de 1 milhão de fotos enviadas por dia pelo recurso de Envio da câmera. Se estas fotos fossem impressas e empilhadas, atingiriam uma al-tura 13 vezes maior que a estátua do Cristo Redentor, segundo o próprio serviço.
Custo: Free (2GB)Podendo chegar até US$ 19,99 por 100 GB ao mês.
O Waze é na verdade uma mistura de aplicativo de navegação, com comunidade. Para ser mais preciso, é um GPS social (como os pró-prios criadores o denominam) e possui versões para iOS (universal: iPad e iPhone). O Waze é gratuito, mas requer um cadastro no sis-tema. Após instalado, basta abrir o aplicativo e dirigir pela cidade. O software é muito inteligente e envia notificações sobre o trânsito para outros usuários automaticamente, dependendo da velocida-de com que você está se locomovendo. Conforme a velocidade do seu automóvel diminui (o que caracteriza um congestionamento), o Waze marca a via com uma linha vermelha — desta forma, todos os outros usuários podem evitar tal rota. Da mesma maneira, você pode ter acesso em tempo real a todas as notificações enviadas por outros usuários e fazer um melhor caminho para o seu destino. Além dessas notificações automáticas, o usuário também pode enviar ma-nualmente as suas próprias notas mais detalhadamente, incluindo notificações de acidentes, podendo inclusive compartilhar uma foto do acontecimento. Só de andar com o Waze aberto, já é uma grande vantagem tanto para quem usa quanto para os outros usuários da comunidade. Quanto mais usuários utilizam o sistema, melhor ele fica, e todos podem fazer sua parte, adicionando novas vias no mapa ou apenas andando pela cidade com o aplicativo aberto para que as notificações sejam enviadas. Para incentivar isso, o aplicativo conta com um sistema de pontuação, de acordo com a quantidade de quilô-metros que o usuário anda e as contribuições que efetua. Você deve, enquanto dirige, coletar alguns doces no mapa, que aumentam sua pontuação e seu status.
Custo: Free
Candy Crush tem tido bastante sucesso enquanto app para iPhone e é com certeza um dos mais viciantes. Este jogo é similar ao jogo tra-dicional de combinar bolhas e é bastante apreciado por quem adora combinações. O que o difere de outros jogos de combinações é o fato de ser à volta de doces, o que faz com que ele fique muito mais di-vertido. No início há a possibilidade de jogar ligando-se à sua conta do Facebook, que permite interagir com os seus amigos e pedir-lhes ajuda. Ou então, o jogador apenas vai utilizar a app normalmente, sem utilizar qualquer rede social. A desvantagem de não poder comu-nicar com nenhum parceiro é que você terá de se desenrascar por si, utilizando créditos para desbloquear boosters e para ganhar vidas. O Candy Crush para iPhone/iPad é, definitivamente, desafiante e vician-te para quem gosta de estar entretido a fazer conjugações. Ao chegar a um determinado nível, o usuário consegue perceber que este não é um simples jogo, mas sim uma história que depende do jogador para continuar, o que o torna cada vez mais emocionante. A única desvantagem é a espera. O usuário pode usufruir do aplicativo gra-tuitamente, no entanto se quiser jogá-lo a 100% vai necessitar de in-vestir algum dinheiro. Primeiro, porque ao desbloquear os boosters, não vai poder utilizá-los logo e segundo porque ao longo de cada nível o usuário vai perdendo vidas, que custam dinheiro ou tempo. O utilizador, quando perde todas as vidas, ficará entre 10 e 20 minutos sem poder jogar. Isto se preferir manter o aplicativo gratuito, é óbvio. O Candy Crush é Viciante, uma excelente opção para passar o tempo e parece nunca cansar, apesar das suas desvantagens, é ideal para qualquer pessoa e para qualquer idade.
Custo: Free
Com o Aplicativo Tábua das Marés você sabe exatamente como está o nível do mar em qualquer lugar do Brasil. O aplicativo oferece seleção de portos por Estado e permite que você facilmente navegue por datas próximas, obtendo um gráfico intuitivo e interativo da maré e as horas exatas das máres alta e baixa, de acordo com a Lua. Um ótimo diferencial do app é que ele funciona 100% offline, sem a necessidade de conexão com a internet. Ele será atuali-zado anualmente e, quem o comprar, terá sempre direito a esses updates sem pagar nada por eles — garantem os desenvolvedores.
Custo: US$ 1,99
O iPad é um ótimo instrumento de produtividade, e pode ficar ainda melhor quando temos um “gestor”, no qual podemos reunir todos os nossos documentos em um só lugar. Este é o objetivo do Documents, aplicativo lançado pela popular Readdle e que pro-mete centralizar todos os seus arquivos no seu iPad.O app em si é mesmo totalmente novo, atuando como um visualiza-dor de arquivos completo para iPads — incluindo PDFs (com anota-ções), vídeos, música e um browser embutido para download local. Ele se integra ao iCloud, ao Dropbox, ao Google Docs/Drive e a outros serviços, oferece proteção com senha, cópia de docu-mentos do Mac/PC, gravar anexos de emails, compartilhamento facilitado e muito mais.
Custo: Free
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confraria
Os
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L5 REMOTE
TRAMONTINA ROCK’N’COOK
É cada vez mais frequente que se utilizem aparelhos como celular e tablet para auxiliar nas funções mais corriqueiras. A exemplo do adaptador que permite que iPads captem o sinal da televisão digital, o L5 Remote também adota a mesma ideia: permitir que a rotina doméstica não precise de tantos equipamentos – já que você pode fazer tudo que eles fazem de um jeito mais simples. O aparelhinho é um acessório e aplicativo que transforma seu iPhone, iPad ou iPod touch em um controle remoto universal. Você pode usá-lo para controlar a TV, o aparelho de TV a cabo, o som, o DVD, o DVR e outros dispositivos de automação residencial que venham com um controle remoto IR. Ele é pequeno e fácil de usar – é possível baixar o manual de instruções direto do site da empresa. Uma boa saída para quem tem muitos aparelhos eletrônicos em casa e não quer administrá-los em vários controles diferentes.
Onde: www.l5remote.comPreço sugerido: US$ 59,90
Pensando nos consumidores mais jovens – de idade ou não – e descolados, a Tramontina lançou a linha perfeita para quem gosta de cozinhar e de ouvir o gênero mais popular da história da música. Os amantes do rock ganharam essa inspiração a mais para comandar as panelas: a empresa confeccionou verdadeiros objetos de design nos utensílios, todos voltados para a temática. A linha completa inclui frigideira, espagueteira, forma de pizza, assadeira, ralador, tábua para carnes, entre outros. Os itens são bonitos e descontraídos, ora com cores fortes e chamativas, ora com estampas bem-humoradas. Ideal para preparar um jantar quando for receber os amigos para assistir a um show na TV.
Onde: www.tramontina.com.brPreço sugerido: R$ 399,90 (linha completa)
SABOTEUR CARD GAMEQuem gosta de jogos de blefe, estratégia e construção vai se identificar com o Sa-boteur Card Game. Aliando o que há de melhor em jogos de tabuleiro, cooperação e jogos de carta, o card game ainda tem um charme a mais: o mistério típico dos personagens secretos, descobertos apenas no fim da partida. A ideia é a seguinte: os jogadores fazem o papel de anões – que podem ser mineradores cavando túneis em busca de um lendário tesouro ou sabotadores que tentam colocar obstáculos no caminho destes. Se os mineradores conseguem chegar ao tesouro, são recom-pensados com pepitas. Porém, caso eles não consigam, os sabotadores recebem o prêmio. O resultado só aparece na hora de dividir o ouro. Saboteur comporta de três a dez jogadores, e vem com 110 cartas e um manual de regras. Todos os cards são coloridos, e vêm com arte e impressão de excelente qualidade. A mecânica do jogo é simples e elegante. Ideal para jogar tanto com a família quanto em uma roda de amigos.
Onde: www.boardgames.com.brPreço sugerido: R$79,90
O boom da cultura geek ganhou ainda mais força com o sucesso de uma das séries mais populares da TV ame-ricana: The Big Bang Theory (que no Brasil é exibido pelo canal pago Warner) conta a história de quatro amigos cientistas que vivem para trabalho, games, quadrinhos e filmes festejados pelos adeptos desse universo – porém sem muita habilidade social. A mocinha loira é Penny, a vizinha extrovertida que trabalha como garçonete e não en-tende nada dessas referências. Estes cinco personagens se tornaram tão queridos do público que viraram bonecos para coleção. Feitos de resina, as miniaturas medem 7,5 cm, têm cabeça articulada e base de apoio. A confecção é cuidadosa e os rostos são muito parecidos com os dos atores que interpretam os personagens. Um charmoso item de decoração para aqueles que estão antenados com o que está em voga na cultura pop.
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BONECOS MINI WACKY BIG BANG THEORY
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Felipe CordeiroMúsico
CINEMASOM
&
Alguns casamentos entre cineastas e autores de
trilhas sonoras se tornaram grandes clássicos na
história do cinema e da música, como é o caso dos
líricos Felinni e Nino Rota e também do encontro de
Sergio Leone com Enio Morricone, responsável pe-
las principais sonoridades do western spaghetti, de
Leone. Estes últimos, grande inspiração de filmes
- e dos sons que compõe seus filmes - de Quentin
Tarantino, que no seu último trabalho, um revival do
clássico Jango (já filmado por vários diretores), in-
cluiu algumas belas trilhas de Morricone.
O brasileiro Dori Caymmi, produziu um álbum
inteiro só com trilhas que fizeram história no cine-
ma mundial. Carioca, com um pé na Bahia e outro
nos EUA, Dori reiventou os clássicos à sua manei-
ra, dando um toque refinado e com nuances de
brasilidade, como é o caso de “The Pink Panther:
Pink Panther” de Henry Mancini. A canção tema da
“Pantera Cor de Rosa”, que abre o disco A Roman-
tic Vision do filho mais velho de Dorival Caymmi,
lançado em 1998, virou uma bossa nova implacá-
vel, e nos dá a impressão de que a música nasceu
para esta versão.
Já o cineasta americano Stanley Kubrik se apro-
priou, com uma audácia e criatividade espantosa
da obra do compositor erudito húngaro György
Sándor Ligeti, para sonorizar alguns dos seus fil-
mes, produzindo uma das mais magnânimas con-
versas entre imagem e som da história do cinema.
Kubrick explorou com maestria e genialidade as
possiblidades estéticas e sensoriais da fusão entre
imagem e som, como é o caso de “2001: A Space
Odyssey”, o big ben dos filmes de ficção científica.
A música de Ligeti, que segundo contam, só entrou
no filme nas vésperas do lançamento, após Kubrick
ter ficado insatisfeito com a trilha anterior, é de um
impacto estrondoso e fez um contraponto memo-
rável com Danúbio Azul de Johann Strauss II e o
poema sinfônico de Richard Strauss “Also Sprach
Zarathustra”. O filme de 1968 economiza muito nos
diálogos, e colocando a música como fio condutor
da narrativa.
A sutileza pianística criada por Ligeti em outro
clássico de Kubrick, marca o som de “Eyes Wide
Shut” (“De Olhos Bem Fechados” no Brasil), a cena
em que Tom Cruise está sendo seguido, e também
perseguido por si mesmo, num estado psicológico
de devaneio agudo, é usada pelo cineasta numa
atmosfera sonora simples e absurda.
Mais do que um artifício de redundância ou orna-
mento, a música para esses diretores é uma ma-
téria prima potente no processo e no resultado dos
seus filmes. Os melhores filmes, são os que são
como músicas. As melhores músicas são as que
dão um bom filme.
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Alan Bordallo Dudu Maroja
Proibido para menores de 18 anos – O grupo
de comédia britânico Monty Python, em um
show no Hollywood Bowl, em Los Angeles,
comparou a cerveja feita nos Estados Unidos a uma
relação sexual em uma canoa. “É muito perto da
água”, explicou em seguida First Bruce, personagem
interpretado por Eric Idle, que distribuiu latas de cer-
veja para a plateia. A piada, politicamente incorreta,
além de uma provocação bem-humorada à rivalida-
de entre americanos e ingleses, se deu pelo fato de
a cerveja dos Estados Unidos ser fraca – tanto na cor,
quanto no malte e no teor alcoólico – se comparada
à produzida na Inglaterra.
Na época do show – 1982 – os Estados Unidos ain-
da não haviam incluído a cultura cervejeira ao “Ame-
rican Way of Life”, apesar de a história desta bebida
alcoólica estar ligada à própria história democrática
dos norte-americanos – o hino nacional dos Estados
Unidos, por exemplo, é inspirado em uma canção
cervejeira, que funcionava como um teste de sobrie-
dade (se a pessoa conseguisse cantar toda a músi-
ca, era sinal de que ainda aguentaria mais uma cer-
vejinha). Hoje existem várias confrarias e é possível
encontrar inúmeros bares e restaurantes com cartas
de cervejas nos Estados Unidos, onde o movimento
cervejeiro se espalhou rapidamente.
E foi a partir da entrada dessas cervejas no merca-
do americano que o Brasil aos poucos se abriu para
a chegada de novos rótulos, dando início ao declínio
do império da American Lager, estilo de cerveja que
motivou a piada do Monty Python e que responde
por 99% da cerveja consumida no Brasil. Para tentar
introduzir o leitor no universo das cervejas especiais
e seus gostos, aromas, rótulos e prazeres, a Revis-
ta Leal Moreira visitou as “boutiques de cerveja” de
Belém, e conversou com especialistas no assunto
sobre o qual quase todo mundo opina (ou acha que
sabe um pouco).
Autodidatas do mundo, uni-vos!A cultura da cerveja no Brasil há muito tempo é re-
gida por um dogma: o de que a bebida deve ser ser-
vida estupidamente gelada. Esse princípio se aplica
bem ao estilo de cerveja consumido majoritariamen-
te, o supracitado American Lager (equivocadamente
chamado de Pilsen nos rótulos nacionais), que tem
como características marcantes a leveza e refres-
cância e o objetivo franco de matar a sede. “Tem a
ver com a ‘drinkability’, que é como a facilidade de
beber a cerveja, de ela entrar bem. Como em Belém
é calor, a gente tende para as cervejas leves”, explica
Iuri Fernandes, analista de sistemas, fotógrafo profis-
sional e futuro mestre cervejeiro.
Iuri sempre foi chegado a uma breja. Sua primeira
incursão aos sabores diferentes se deu pela Bohe-
mia, que de tanto tomar, enjoou.
Considerava-se um conhecedor de cervejas. Até
que em 2005, quando morava em Belo Horizonte,
viu que estava no topo de um iceberg, e que as pro-
fundezas do mar guardavam uma imensidão. “To-
mei um chope da Falke e me apaixonei. Depois fui
procurar outros, e na época estava acontecendo o
BH Home Beer, evento que foi embrião da Asso-
ciação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais
(ACervA Mineira). Conheci pessoas, novas cervejas
e vi o quanto era ignorante”, diz ele.
O conhecimento que já diferenciava Iuri dos ami-
gos fãs do lúpulo era básico: ele sabia que na Alema-
Aversatilidadedacerveja
Ela já foi inspiração de música, tema de debates acalorados e apaixonados. Apesar da máxima popular de que sobre religião, futebol e cerveja não se discute, fomos investigar o crescente mercado das cervejarias.
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88www.revistalealmoreira.com.br
nha tinha uma cerveja mais forte, que na Bélgica os
monges preparavam sua própria cerveja, mas não
passava disso. O economista Wajdy Zaidan também
se julgava um especialista.
“Eu achava que sabia tudo porque conhecia todas
as piadas de cerveja”, brinca ele, que passou a co-
nhecer este mundo após fazer um curso de somme-
lier de cervejas. Wajdy associa o desconhecimento
do brasileiro sobre a cultura da cerveja a fatores sim-
ples. “O Brasil não tem contexto histórico na produ-
ção de cerveja porque aqui não se produz lúpulo,
que é típico de climas frios. Tentaram iniciar o cultivo
no Sul, mas não deu certo. O lúpulo para a produção
da cerveja é quase todo importado”, explica.
A necessidade de importar o lúpulo, um dos qua-
tro ingredientes básicos da cerveja (os outros são a
cevada, o malte e a água) além de retardar o surgi-
mento da indústria cervejeira no Brasil (que começou
em meados de 1960) encareceu o produto e fez, no
longo prazo, as marcas nacionais recorrerem a um
expediente desonesto. “Passaram a acrescentar ce-
reais não-maltados, o que é permitido, mas exce-
deram a porcentagem. Em testes ficou comprovado
que a quantidade de milho excedia 50%. Estávamos
bebendo pipoca em vez de cerveja”, completa Wa-
jdy.
As misturas e consequente descaracterização da
cerveja condicionaram o hábito de beber ao clima, e
se a cerveja não for bem gelada, é difícil sorver um
trago. “Não adianta tomar as cervejas industrializa-
das esperando sentir o malte e conservar o amargor
na língua. O objetivo é matar a sede. Se tomar ela
quente, vai ser difícil. Fica terrível”, define.
Apurando o paladarComo café, vinhos, queijos e charutos, a aprecia-
ção da cerveja se baseia em todos os sentidos do
corpo que o líquido pode aguçar: olfato, paladar e
também a visão. Para um cervejeiro se iniciar nes-
te “novo mundo”, não pode se empolgar: algumas
cervejas são de difícil compreensão, então é aconse-
lhável que se siga uma escala progressiva, que com-
preenda os sabores e teores alcoólicos, os níveis de
lúpulo e malte e o amargor.
Para isso, os candidatos a apreciadores contam
com a ajuda de guias nas casas especializadas em
Belém. E eles podem ser Fernando Martins, da Kan-
guru Beer, e Delano Figueiredo, da Levedo Beer Im-
port.
Delano é contador e há dois anos abriu a Levedo,
apostando no crescimento do consumo de cerve-
jas especiais, baseado no interesse que ele próprio
demosntrou. “Tomei uma Erdinger que vi no super-
mercado. Queria sair da mesmice”, lembra ele, que
embarcou definitivamente neste mundo após conhe-
cer as cervejas belgas. “A escola belga de cervejas é
muito diversificada, tem um grande número de esti-
los. Vai de uma Premium Lager até cervejas mais re-
89
quintadas, como a Deus, produzida com levedura
de champanhe”, diz ele.
Delano concilia o trabalho em seu escritório com
aparições na Levedo, que se tornam mais frequen-
tes às sextas-feiras. É na porta do fim de sema-
na que ele se propõe a receber novos clientes e
encaminhá-los na experiência, que, dificilmente,
terá uma cerveja belga típica no primeiro passo.
“Se eu oferecer uma cerveja muito lupulada para
um iniciante ele nunca mais vai à loja. Tem que ser
aos poucos, treinando o olfato e o paladar”, diz ele.
Pode parecer “pavulagem”, mas cada cerveja
especial tem um copo correspondente. Fernando
aprendeu isso quando morou na Bélgica, um dos
países com cultura cervejeira mais fortes (lá, por
exemplo, a cerveja não figurou entre as bebidas
proibidas pela Lei Seca). E o negócio é levado a
sério: com estimados dois mil rótulos, nem mesmo
cervejarias artesanais domésticas admitem servir
as cervejas produzidas com todo esmero em um
recipiente inadequado.
Além de um aspecto cultural, a medida tem um
viés experimental. “Entra a questão da percepção
do sabor, do aroma, da experiência de tomar a
cerveja. Uma cerveja trapista, por exemplo, deve
ser servida num copo de boca mais larga, para
que os toques caramelizados ou de chocolate se
desprendam e permitam ser percebidos”, explica
Fernando.
Apurar o paladar e os outros sentidos é a pro-
posta das “boutiques de cerveja”, como a Kangu-
ru Beer e a Levedo podem ser definidas. “Sempre
digo que isso aqui não é um bar. É um lugar para
degustar a cerveja”, diz ele, que constantemente
responde aos visitantes da página oficial do Face-
book que no local não é permitido falar alto. “Beba
menos, beba melhor!”, completa Delano.
Do lúpulo aos sabores regionaisO número de microcervejarias brasileiras teve
um crescimento exponencial nos últimos anos. A
afirmação é de Caio Guimarães, da Amazon Beer,
primeira, e maior microcervejaria do Norte e maior
bar de cerveja do Brasil, que registra a venda de 30
mil litros da bebida por mês. O sucesso das cerve-
jas artesanais, que resgatam o verdadeiro sentido
desta bebida, neste caso acrescidas de um toque
amazônico, fez o negócio da família Guimarães se
expandir do balcão e mesas para ganhar pratelei-
ras de supermercados e boutiques de cerveja em
todo o país.
A tradição da cerveja vem de três gerações na
família de Caio: seu avô, Arlindo Nogueira Guima-
rães, sempre foi entusiasta da cerveja. Seu pai,
Arlindo Nogueira Guimarães Filho, herdou o gosto.
“Desde que me entendo por gente, lembro deles
apreciando cervejas em festas de família e outras
ocasiões”, diz ele. Então, seu pai conseguiu unir a »»»
90
paixão pela cerveja ao empreendedorismo e fun-
dou a Amazon Beer.
A importância da Amazon Beer no contexto das
cervejas artesanais é grande: seus princípios são
o de nunca imitar produtos estrangeiros, primando
pela criação de novos sabores, sempre ligados à
Amazônia, fazendo misturas semelhantes entre si.
A primeira incursão neste campo se deu em 2002,
apenas dois anos após a fundação da cervejaria:
a criação da cerveja de Bacuri. “Ganhamos como
produto inovador do ano no prêmio Techno Bebida
Award”, lembra Caio.
Com grande aceitação do público (especialmen-
te o feminino, pelo sabor delicado e adocicado da
bebida), a Bacuri Beer abriu portas para a inventivi-
dade de seus proprietários, que anos depois, lança-
ram outros rótulos originais: Cumaru (do tipo India
Pale Ale), Priprioca (do tipo Red Ale), Açaí (do tipo
Stout), Taperebá (do tipo Witbier) – além das tradi-
cionais River (do tipo Lager) e Forest (do tipo Pilsen).
Oferecer cervejas produzidas pela casa é uma
tendência que os restaurantes de outros estados já
vinham adotado, e que já tinha sido lançada pela
Amazon Beer. E agora a iniciativa está perto de ga-
nhar adeptos: o empresário Artur Bestene, da Cir-
cus, pretende até maio deste ano inaugurar uma
microcervejaria junto com um amigo [também cer-
vejeiro]. “Ele também vinha pensando a respeito.
Fundimos a ideia e estamos na iminência de abrir
uma microcervejaria. Quero fabricar a cerveja que
servirei aos meus clientes”, diz.
Artur é um dos que foram fisgados pela paixão
que os novos sabores e aromas despertam nos
apreciadores de cerveja, e revela que a única coisa
próxima de uma contraindicação é a “saúde” mo-
netária. “Eu me senti até obrigado a trabalhar mais,
porque me refinei. Não dá mais para voltar pro ‘li-
trão’. É como se um sommelier de vinho tomasse
vinho de qualidade duvidosa”, compara.
HarmonizandoO consumo de cerveja no Brasil ainda é margina-
lizado em algumas ocasiões, e a chegada de cer-
vejas especiais pode ajudar a quebrar este estigma.
“Antes eu era um bebedor comum. Agora passei
para entendedor. Os amigos falam: ‘não, agora o
cara está estudando’. A cerveja fez minha classe
social ascender”, brinca Iuri. Ele cita curiosidades
como o fato de a cerveja na Alemanha ser consi-
derada uma bebida comum, servida inclusive em
fábricas no horário de expediente e o dos monges
belgas sobreviverem 40 dias à base das cervejas
feitas nas abadias.
“Isso é um alimento, rapaz”, completa, entre risos,
contemplando com carinho uma garrafa de La Tra-
ppe, a única – de oito – trapista feita fora da Bélgica.
Para provar que a cerveja cai bem em várias oca-
siões, pedimos para que cada um dos personagens
desta matéria sugerisse harmonizações entre cer-
vejas de variados estilos e pratos.
www.revistalealmoreira.com.br
Fernando MartinsHoegaarden (Witbier) com salmão ou frutos do mar.
Iuri FernandesColorado Indica (India Pale Ale) com picanha na chapa.
Wajdy ZaidanNewcastle (Red Ale) com carnes de aves.
Artur BesteneGuiness (Stout) com bolo de chocolate.
Caio GuimarãesTaperebá Beer (Witbier) com tucunaré.
Delano FigueiredoSt. Bernardus 12 (Dark Strong Ale) com pato assado.
Harmonizações
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Arthur DapieveEscritor
Lamento informar às multidões de turistas que
acorrem ao Rio de Janeiro no verão: o período do
ano que oficialmente vai do final de dezembro ao final
de março é o pior para se estar na cidade. Ela está
inchada de gente, encarecida e, claro, muito, muito
quente. Porque apenas quente, ela sempre está: o
Rio é a capital mais tórrida e figura entre as dez cida-
des mais escaldantes do Brasil. Perdão se volto bre-
vemente ao tema da coluna passada, o calor, mas
agora o faço – trago boas novas! – para saudar-lhe
a queda. O Rio de abril a novembro faz jus, sim, ao
título da marchinha Cidade Maravilhosa.
Fico matutando se a exaltação ao verão no Rio
não teria algo de propaganda deliberadamente en-
ganosa: uma maneira de atrair os turistas para a
temporada menos bela enquanto o carioca da gema
– expressão que designa o carioca filho de cariocas,
meu caso – escapole para outras praias e para as
montanhas. Celebrar o verão seria, então, um modo
ardiloso de preservar para si o melhor momento da
cidade. Tá certo, não para si só, pois há um fluxo
constante de visitantes; para si e para os turistas que
têm a perspicácia e a disponibilidade para aqui apor-
tarem no miolo do ano.
A primeira mudança que o carioca percebe é na luz
do Sol. Ela não fica somente mais fraca: ela fica mais
límpida. Os vapores do verão a turvam, emprestando
ao céu um aspecto leitoso, sujinho. De quebra, essa
nebulosidade cria um efeito estufa local, que retém
o calor mesmo durante o adiantado das noites. De
abril a novembro, não. O azul fica ao mesmo tempo
mais nítido e mais suave. Mesmo quando a tempe-
ratura se eleva durante o dia, o que é comum, a noite
proporciona o frescor que torna mais fácil conciliar o
sono – sobretudo para quem, como eu, evita o ar-
-condicionado.
(A luz de abril é tão radiosa que, enquanto escrevo,
ela penetra no escritório pelo meu flanco e, refletida
na tela do computador, ofusca o meu olho direito.)
Se sair à rua no verão, afastando-se ao menos
temporariamente de qualquer forma de refrigeração,
exige disposição para suar, sair à rua neste periodão
sem nome próprio que abarca outono-inverno-pri-
mavera é um prazer para o corpo e, em particular,
para os olhos. Passado o desconforto físico de sim-
plesmente existir sob as temperaturas extremas que
caracterizam o verão carioca, a cabeça pode se fixar
nas coisas e nas gentes da cidade. Passada a histe-
ria de viver “a sua estação”, ou o que os forasteiros
esperam que seja a sua estação, o Rio pode ser ele
mesmo, mais relaxadamente.
Mais relaxadamente, taí uma expressão importan-
te. É difícil dizer se é o calor em si ou se são a su-
perlotação e a inflação na cidade, mas o fato é que
o carioca se torna mais tenso no verão. Há uma im-
paciência grupal em resolver logo as coisas e ou ir
para a praia ou voltar ao ar-condicionado. O trânsito,
esse sensível termômetro da civilidade (ou da falta de
civilidade) brasileira, se torna mais difícil, mais lento,
mais irritado. Não adianta nem argumentar com o
carioca que se ele está parado, está parado dian-
te de algumas das paisagens mais belas do mundo
– diferentemente do engarrafado vizinho paulistano.
Nessa hora, nem apelar para o bairrismo de gosto
duvidoso funciona. No miolo do ano, o número de
automóveis diminui sensivelmente, conforme os ve-
ículos de outros estados retornam para casa, o que
ajuda o trânsito a fluir melhor.
Então, cara leitora, caro leitor, se você pretende vir
ao Rio, considere trocar janeiro ou fevereiro por julho
ou agosto. O estado de espírito da cidade se torna
mais hospitaleiro, suas belezas se tornam (mais) visí-
veis sob o suor na testa, a vida é bela.
Acho que acontece algo parecido com a propa-
ganda das grandes cervejarias. Elas concentram
seus esforços em apregoar seus produtos em asso-
ciação com verão, calor, gente semidespida na praia
(gente, aliás, que parece nunca ter tomado uma cer-
vejinha, tal a perfeição geométrica de seus ventres).
Entendo que o hábito local de se beber cerveja estu-
pidamente gelada refresque de fato a goela, apesar
do notável prejuízo à capacidade de se sentir à vera
o sabor da bebida, o que é péssimo no caso de uma
boa marca, como a paraense Cerpa ou a paulista
Colorado. O álcool, porém, desidrata se consumido
em grandes quantidades. E haja cerveja para tentar
afastar o calor do verão carioca... Como o próprio ca-
lor desidrata, é óbvio, fica o pessoal ressecando por
dentro na praia do Leblon. Outro caso de propagan-
da enganosa. Biritar é bom no friozinho, como bem
sabem os mineiros, que celebram suas grandes pin-
gas nas noites de inverno.
No calor da praia, vá por mim, água de coco é
melhor e mais saudável, sobretudo se não tiverem
jogado o preço nas alturas, como acontece a cada
novo verão. Não faz muito, deve-se dizer, um coco
gelado custava R$ 1 na orla do Rio. Seu preço pa-
recia congelado por um acordo tácito – ou seria um
cartel do bem? – entre os vendedores. Hoje, no verão
de uma cidade que recuperou sua autoconfiança, se
você encontrar um coco por menos de R$ 5, ganha
um beijo da garota de Ipanema.
BOASNOVAS
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94
destino
revistalealmoreira.com.br
Estátua do Mozart(localizada no Burggarten)
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Você sonha conhecer uma cidade fasci-
nante, que além de bela, tem cultura e
tradição? Então seu destino é Viena, a
capital europeia da música, que por coincidência
também é chamada de “a capital dos sonhos”
(em Viena também atuou Sigmund Freud, o pai
da psicanálise e autor da teoria dos sonhos). A
cada começo de ano, Viena é dominada pela fe-
bre de valsa: mais de 450 bailes são festejados na
capital, nos meses de janeiro e fevereiro. E para
os que desejam vivenciar um “sonho de valsa
vienense”, não é necessário pagar entrada, nem
chamar a fada madrinha. A cidade da música e
dos sonhos é, em si, uma promessa de encanto.
Um passeio por Viena tem de começar na ci-
dade antiga que compõe o chamado “primeiro
distrito de Viena” (1.Bezirk). No coração da cidade
antiga encontra-se a imponente catedral de Santo
Estevão (Stefansdom), o símbolo de Viena, tam-
bém carinhosamente conhecida pelos vienenses
como “Steffl”. Construída em 1137, originalmente
como uma igreja em estilo românico e constante-
mente expandida e reconstruída ate o século XVII,
a atual catedral de Santo Estevão reúne vários
estilos arquitetônicos, que vão do gótico ao bar-
roco. A catedral foi severamente atingida durante
o bombardeamento de Viena, em abril de 1945,
durante a Segunda Guerra Mundial, e reconstruí-
da graças aos esforços coletivos dos cidadãos de
Viena e dos outros estados federais da Áustria.
A catedral impressiona pela riqueza de detalhes
e pelas várias obras de arte em seu interior. Dica
para os “fortes”: uma visita às mórbidas catacum-
bas, localizadas na parte subterrânea da catedral.
As catacumbas abrigam os restos mortais de
membros da família Habsburgo (a mesma família
da Imperatriz Leopoldina, esposa do imperador
Dom Pedro I) e inúmeros corpos de vítimas da
peste negra, que dizimou a cidade no século XVIII.
Com os cemitérios lotados, a única solução era
levar os corpos para as catacumbas da catedral
de Santo Estevão.
Uma pequena curiosidade: ao lado oeste do
salão da torre norte, você encontrará uma escul-
tura de Jesus, da cintura para cima, de mãos ata-
das e coroa de espinhos, o rosto contraído de dor.
Esta figura é carinhosamente chamada de “Se-
nhor Deus com dor de dente” (Zahnwehherrgott).
A lenda conta que jovens bêbados, vendo a triste
imagem, ataram um pano ao redor do rosto para
ajudar com a “dor de dente”. Logo depois foram
vítimas de uma forte dor de dente, que só foi cura-
da quando voltaram à catedral e pediram perdão.
Há uma cópia da mesma estátua no exterior da
UmSonhode Valsa
Alice Pinheiro Walla
A frase que ostentamos no subtítulo desta matéria (de autoria de um austríaco, o escritor e jornalista Karls Kraus, 1874-1936) poderia soar como um exagero. Não quando se trata de Viena.
“As ruas de Viena são pavimentadas com cultura. As ruas das outras cidades, com asfalto”.
Kalianne Tosold
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96
catedral (veja se você a encontra!).
Logo atrás da catedral, na rua chamada Dom-
gasse, encontra-se um museu estadual dedicado
à memória de Wolfgang Amadeus Mozart (Mozar-
thaus), que viveu e atuou em Viena até sua mor-
te, em 1791. O apartamento do segundo andar
é a única residência preservada de Mozart e sua
família, que viveram neste endereço entre 1784
e 1787. No apartamento da Domgasse, Mozart
compôs a famosa ópera “As Bodas de Fígaro”.
Da janela da sala, de preferência ouvindo a ária
“non son piu cosa son, cosa faccio” em seu iPod,
olhe para a estreita rua diante de você (a chama-
da Blutgasse). A ruela é uma “verdadeira máquina
do tempo” com suas fachadas barrocas e seus
paralelepípedos. Imagine estar vendo isso com os
olhos de Mozart, envolvido na criação das Bodas
de Fígaro, dando uma olhadinha da janela da sala.
Para aproveitar melhor chegue cedo, pois o mu-
seu é a atração favorita dos turistas.
Ao lado da catedral de Santo Estevão encon-
tram-se os fiacres, charretes em estilo antigo pu-
xadas a dois cavalos, com as quais é possível
explorar confortavelmente – e em grande estilo
– o centro histórico da cidade e a Ringstrasse (a
rodovia em forma de “anel” ao redor do primei-
ro distrito). Alternativamente, Viena oferece uma
excelente rede de transportes públicos, que inclui
ainda metrô (U-Bahn), bondes elétricos (Strassen-
bahn) e ônibus.
A próxima parada é a sede da corte imperial
vienense, a imponente corte imperial (Hofburg),
onde a família imperial costumava residir no inver-
no e hoje residência do presidente da república
austríaca. Aproveite o passeio entre as elegantes
ruas comerciais do primeiro distrito e aprecie as
fachadas dos edifícios históricos do Graben e do
Kohlmarkt (o antigo mercado de carvão) até se
deparar com o deslumbrante pórtico da corte im-
perial.
No caminho, entre catedral e corte imperial, na
esquina da praça de São Miguel, descubra uma
pequena pérola: a igreja de são Miguel (Micha-
elerkirche), uma das igrejas mais antigas de Vie-
na, onde foi tocado pela primeira vez o famoso
réquiem de Mozart (vale a pena uma visita!).
Palácio Schönbrunn (residência de verão da família imperial Habsburgo)
www.revistalealmoreira.com.br
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Na praça Maria Theresia (a ilustre senhora sen-
tada ao trono, no centro da praça) encontram-se
os edifícios gêmeos do museu histórico de artes
(Kunsthistorisches Museum) e o museu de histó-
ria natural (Naturhistorisches Museum). O museu
de artes abriga pinturas de mestres antigos como
Dürer, Rafael, Caravaggio, Ticiano e Rubens, além
de uma exposição de objetos de arte do Egito an-
tigo (incluindo múmias) e coleções de arte grega
e romana. O museu de história natural é uma boa
pedida para quem viaja com crianças (os esque-
letos de dinossauros e o dinossauro rex que se
move e urra para os espectadores são alguns dos
grandes favoritos da criançada). Para os adultos:
confira a pequena [mas de fama enorme] “Venus
de Willendorf”, uma das mais antigas figuras fe-
mininas do mundo (datada do período Paleolítico).
Uma das várias curiosidades: o cachorrinho de
colo da imperatriz Maria Theresia. “Empalhadi-
nho” para a posteridade (e para adultos e crian-
ças).
Mais adiante, um complexo de museus de arte
moderna, onde se pode ver a coleção privada de
obras de pintores condenados (e redescobertos)
durante o terceiro Reich: no MUMOK você encon-
trará artistas como Egon Schiele, Gustav Klimt e
vários representantes do movimento artístico co-
nhecido como a secessão. O famoso “O Beijo” de
Gustav Klimt está entretanto na Pinacoteca do Pa-
lácio Belvedere, para amantes de pintura também
visita obrigatória.
Não perca uma visita ao palácio Schönbrunn, a
residência de verão da família imperial Habsbur-
go, onde é possível ver o quartos do imperador
Franz Joseph e sua esposa imperatriz Elisabeth
(conhecida como “Sisi” e ícone da capital). Os jar-
dins barrocos do palácio também convidam para
um relaxado passeio. Para viajantes com crian-
ças e amantes de animais, o jardim zoológico
mais antigo do mundo é logo ao lado: o zoológi-
co Schönbrunn oferece muitas atrações, por isso
reserve pelo menos a metade de um dia para a
visita.
Imortalizada pelo filme de Carol Reed “O Ter-
ceiro Homem” que retrata Viena pós-Segunda
Guerra, ocupada e dividida em zonas pelos quatro
poderes aliados (Estados Unidos, Inglaterra, Fran-
ça e União Soviética), a roda gigante do Prater é
Tel:
91 8
887.
6486
Fax:
913
224.
1203
bbor
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gess
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l.com
.br
À esquerda: Estátua de Johann Strauss (localizada no Stadtpark). Acima: Mumok (Museu de Arte Moderna)
98www.revistalealmoreira.com.br
Interior da Catedral de Santo Estevão
99
também um símbolo de Viena e convida para um
passeio descontraído no parque com direito a algu-
mas travessuras e algodão doce.
Para quem quer explorar a história de Viena e da
Áustria, em geral, são interessantes o museu da
cidade de Viena (Historisches Museum der Stadt
Wien) e o museu do povo judeu (Jüdisches Mu-
seum). Este último retrata a cultura e história dos
judeus vienenses das origens da cidade até o ho-
locausto. Como consequência da indexação da
Áustria pela Alemanha, em 1938, estima-se que
65.000 judeus vienenses foram mandados para
campos de concentração, dos quais um pouco
mais de 2.000 sobreviveram. O museu tem duas
localidades: na Dorotheergasse e no Judenplatz.
Famosa por seu legado musical, Viena continua
uma das mais influentes capitais da música na Eu-
ropa. Viena é o berço da valsa vienense (uma valsa
com um compasso levemente irregular, de charme
inconfundivelmente vienense) e o lar de inúmeros
compositores ilustres como Wolfgang Amadeus
Mozart, Joseph Haydn, Ludwig von Beethoven,
Franz Schubert, Johann e Josef Strauss (pai e filho
e “reis da valsa”), Johannes Brahms, Gustav Mah-
ler, Arnold Schönberg... (a lista é longa!!!). É pos-
sível achar vários museus e casas de músicos em
Viena.
A ópera nacional de Viena (Wiener Staatsoper),
cuja orquestra é formada pelos integrantes da or-
questra filarmônica de Viena (Wiener Philarmoniker)
é mundialmente aclamada por cultivar a tradição e
estilo clássico genuinamente vienense. Porém, as-
sistir a uma ópera na Staatsoper é um prazer que
custa caro. Uma alternativa é assistir de Stehplatz
(de pé, mas com uma boa vista do palco). Entre-
tanto, viajantes com um budget limitado e sem
paciência para esperar na fila da Staatsoper por
um ticket mais em conta têm muitas opções em
Viena. Para quem quiser vivenciar uma ópera ou
opereta em bom estilo vienense sem extrapolar as
finanças, a parada obrigatória é a ópera popular de
Viena (Volksoper Wien). Para concertos sinfônicos,
a orquestra sinfônica de Viena (Wiener Symphoni-
ker) é o endereço certo. No centro da cidade você
também encontrará vendedores de concertos para
turistas, nem sempre baratos. Mas se ouvir músi-
cos fantasiados de “Mozart” não for o seu estilo e
você preferir vivenciar a verdadeira cultura musical
de Viena, recomendo um concerto, ópera ou ope-
reta em uma das “casas de música” tradicionais
de Viena.
Viena também é uma referência quando o assun-
to é a culinária. A cozinha vienense foi influenciada
pelos povos que constituíam o antigo Império Aus-
tríaco, também chamado império Austro-Húngaro.
Entre os pratos principais mais famosos de Viena Fiacres (ao fundo vista para a Praça dos Heróis)
Foto do Wiener Melange e strudel de maçã (Apfelstrudel) (tradicionalmente os cafés são servidos em pequenas bandejas e sempre acompanhados de um copo pequeno de água).
Restaurante Figlmüller (onde se pode saborear o melhor e mais famoso Wiener Schnitzel da cidade. Fica localizado na Wollzeile nr. 5 no 1° distrito).
Doces de Viena
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estão a Wiener Schnitzel (bife de porco ou gado,
empanado e frito, usualmente servido com batatas
cozidas com cheiro-verde ou salada de batatas) e
o Tafelspitz (cozido de carne com verduras). Fa-
moso é também o Gulyás ou Gulasch, um ensopa-
do picante de origem húngara que pode também
ser acompanhado de Semmelknödel (bolinhos de
massa de pão e condimentos, de origem tcheca).
Para quem prefere pratos mais leves, a maioria dos
restaurantes também oferece opções vegetarianas
e vegans (pratos livres de produtos de origem ani-
mal), já que na Europa o número de pessoas que
abrem mão do consumo de carne e derivados de
animais (regularmente ou permanentemente) é re-
lativamente alto.
Mais o melhor ainda está por vir: as sobremesas!
Não deixe de experimentar Germknödel, Palats-
chinken, Apfelstrudel, Marillenknödel e Kaisersch-
marrn. Como outros pratos da cozinha tradicional
vienense, essas são sobremesas “pesadas,” feitas
à base de massa de trigo, servidas quentes e com
muito açúcar! Para muitos, uma refeição completa.
Entre os passeios em Viena, nada como dar
uma pausa num café vienense para recarregar as
energias (e as calorias!). A tradição das casas de
café vienenses data da invasão turca em 1683. É
contado que após a derrota e retirada da armada
turca, foram deixadas para trás centenas de sacos
de café. Estes foram presenteados pelo rei polo-
nês ao heróico comandante Kolschitzky que abriu
com eles o primeiro café vienense. Não deixe de
saborear o famoso Wiener Mélange e experimentar
as inúmeras criações de bolos e tortas doces da
cozinha vienense. Um ícone das casas de café vie-
nenses é a Sachertorte, um fino bolo de chocolate
escuro, coberto com chocolate e com uma leve ca-
mada de geleia como recheio. Viena tem inúmeros
cafés, mas se você quiser experimentar uma casa
de café especial, visite o Café Central, localizado no
elegante Palais Ferstel na Herrengasse, 1º distrito.
Este era um ponto de encontro favorito dos intelec-
tuais vienenses para ler jornais, discutir ideias e ou-
vir a notícias (além de tomar bastante café, diga-se
de passagem).
Despedir-se de Viena não e fácil. Mas antes de
partir, não deixe de assistir ao pôr-do-sol na capital
da música e dos sonhos. O melhor lugar para uma
vista panorâmica de Viena (e um pôr-do-sol de tirar
o fôlego) é o prédio mais alto da cidade: a Donau-
turm, uma torre de rádio que também é observató-
rio e restaurante giratório.
Segundo Freud, o pai da psicanálise, o sonho
significa a presença de um desejo. Como não so-
nhar com Viena? Espero que seu sonho se torne
em breve realidade.Igreja de São Miguel
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104
OSAKA-NARA
enquanto isso
Todo ano o Governo Japonês, por meio do Mi-
nistério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e
Tecnologia (MEXT), oferece bolsas de estudo para
brasileiros em universidades públicas japonesas.
Foi por meio de tal oportunidade que vim ao Ja-
pão há 5 anos para iniciar minha pós-graduação
na área de Ciência da Computação.
Meus primeiros seis meses em terras nipônicas
foram dedicados ao estudo da língua japonesa,
fase que aconteceu na Universidade de Osaka, lo-
calizada no centro da região de Kansai. A cidade
de Osaka é uma das áreas metropolitanas mais
efervescentes do Japão. Uma cidade que se mos-
tra bastante internacionalizada em seus distritos
mais famosos: Umeda, Namba e Shinsaibashi.
Neles se encontra comércio e entretenimento para
todos os gostos. Eletrônicos de ponta, em lojas
do gênero, e roupas de renomadas marcas euro-
peias colorem as vitrines, até o pôr-do-sol, quando
as luzes dos grandes painéis de LED abrem alas
para a agitada vida noturna da cidade. Os delicio-
sos Okonomiyakis, espécie de pizza japonesa frita
em chapa quente com toppings, que vão desde
bacon até lula, camarão e polvo, são uma boa pe-
dida. Apesar da modernização constante, o cas-
telo de Osaka continua sendo seu símbolo mais
forte, um testemunho do quanto a sociedade ja-
ponesa aprecia e preserva sua história e tradição.
Não é à toa que a cada primavera todas as tribos
se confraternizam sob as árvores de cerejeira para
apreciar as flores que brotam e adornam os arre-
dores do castelo. Aos gamers e Otaku, o distrito
de Nipponbashi os aguarda com uma variedade
interminável de jogos, figuras de ação e mangás,
além de cosplayers desfilando a qualquer hora do
dia.
Após desfrutar da agitação de Osaka, mudei-
-me para Nara, ainda na região de Kansai, onde
iniciei e concluí meu Mestrado pela Nara Institute
of Science and Technology (NAIST) e onde atual-
mente faço o último ano do meu Doutorado. Se
Osaka é a epítome da modernidade acelerada,
Nara, em contrapartida, é um centro histórico cer-
cado de templos por todos os lados. É uma cidade
calma onde o principal atrativo é o Nara Koen, um
parque tão famoso pelo templo Todaiji, que é pa-
trimônio mundial da humanidade e abriga a maior
estátua de bronze de Buda do mundo com qua-
se 15m de altura, quanto pelos incontáveis cervos
que caminham livremente por entre seus visitan-
tes. Alimentar os cervos com Senbei, um biscoito
próprio vendido em pequenos quiosques espalha-
dos pelo parque, é uma experiência indispensável
aos exploradores da pacata região de Nara. Ainda
nas proximidades do parque se encontra o Monte
Wakakusa, onde se pode caminhar até o topo e
apreciar uma das vistas panorâmicas mais belas
do Japão e também uma das mais românticas ao
anoitecer.
Um mestrado e quase um doutorado depois,
ressalto que apesar das barreiras linguísticas e
culturais o Japão me acolheu e me proporcionou
conhecer a grandiosidade que uma sociedade e
um país podem vir a ter quando se tem o compro-
misso de atender a todos, residentes ou não, com
educação e organização. Seja pela natureza, pela
cultura ou pelas lições que o Ocidente precisa co-
nhecer, viajar pelo Japão é caminhar em meio ao
passado enquanto se vislumbra o futuro.
Doutorando em Ciência da Computação
Igor Almeida
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105
O CAFÉ DA MANHÃ É A REFEIÇÃOMAIS IMPORTANTE DO DIA.NOSSO ALMOÇO TAMBÉM.
VENHA CONHECER O NOVOBUFFET DO FAMIGLIA
• CARTA DE VINHOS
• CULINÁRIA INTERNACIONAL
• CARTA DE CERVEJAS PREMIUM
• BUFFET NO ALMOÇO
Benjamin Constant, 1415
(entre Brás e Nazaré)
106www.revistalealmoreira.com.brwww.revistalealmoreira.com.br
Saulo sisnandoescritor
Para o Pedro,na certeza de que sempre terá o abraço de seu pai.
Paraosinfinitos
Então tudo passa, e o Pedro – o
filho da sua melhor amiga – nas-
ce. E você descobre que coisas
grandiosas acontecem diaria-
mente no mundo. E coisas lin-
das e minúsculas também.
E em quase dois anos, al-
guns amigos vão fazer dou-
torado no Rio de Janeiro, e
outros voltam de Macapá,
e outros engravidam e mui-
tos parem. E um vem passar
a Páscoa com a mãe, e duas
querem que você escreva pe-
ças de teatro para elas, e aquele
emagrece para ficar com barri-
ga-tanquinho, e qualquer um se
muda para a Austrália para esque-
cer um amor (sem conseguir).
E no meio de tanta vida você se vê
vivendo muita coisa.
Nesse tempo em que estão separados,
você recorreus aos terreiros de umbanda, e
descobriu que era filha de Oxalá com Oxum, e se
viu devota de Santa Teresinha, e aprendeu a dançar
– para que você não precisasse mais dos passos
alheios, mas tivesse a sua própria coreografia.
E começou a psicoterapia: fez constelação fa-
miliar, tratamento bioenergético, regressão a vidas
passadas e acupuntura. Ufa! E nessa empolgação,
descobriu que não quer passar o resto da vida ca-
rimbando papéis no seu emprego público, não!,
sua sina é ser psicanalista... Porque Freud é o cara!
E agora quer ir pro Rio de Janeiro estudá-lo profun-
damente e montar um consultório ajeitadinho, com
uma estátua do pensador em cima da mesa, vários
livros escuros na estante e usar uns óculos miúdos
daquele tipo bem intelectual.
Se não for possível, quer ficar por aqui e organizar
rascunhos antigos e voltar a escrever histórias de
terror ou romances açucarados sobre moças po-
bres que se apaixonam por rapazes ricos. E deseja
publicar seus poemas, e crônicas, e as receitas que
sua avó deixou naquele livrão antigo, que você en-
controu no cofre do seu pai.
E por falar em pai, você descobriu que muito da
sua solidão está ligada a ele – contrariando todos os
que dizem que a culpa é sempre da mãe – pois ele
nunca te deu um abraço apertado. E você, com a
ajuda da terapia, se prometeu dar um abraço nele.
Mas ainda não sabe quando... Nem como explicá-
-lo tal repente.
Porém desde quando o amor precisa de explica-
ção?
E sendo sozinha, você leu todos os livros do Harry
Potter, virou orquidófila, aprendeu a andar de patins
e a baixar filmes em Torrent.
E saiu algumas vezes ao sábado e beijou alguns
gatinhos (ou vários) e se deu ao direito de tomar uns
pileques mesmo sabendo que, segundo seu médi-
co ortomolecular, bebida alcoólica retarda o ema-
grecimento. Mas, ah!, para quê a pressa?
E então você percebe que, tentando esquecê-
-lo, você se faz feliz. E descobre que, embora você
queira muito ter alguém, você consegue sobreviver
muito bem sozinha. Porque às vezes a melhor parte
do amor... é esquecê-lo!
Sim! Ele era lindo... E pode até ter sido perfeito.
Mas foi perfeito por um tempo determinado. Mas
pessoas como você não aceitam amores com pra-
zo de validade.
Pois você quer o infinito,
já que o infinito você é.
Mesmo sozinha.
108
gourmet
A vida é um palco
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Gabriel Vidolin veio a Belém especialmente para o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense 2013 e encantou os paraenses com criações, no mínimo, inusitadas
109
Camila Barbalho Dudu Maroja
Você não leu errado. A matéria que você lerá a seguir narra uma história de um jovem cozinheiro que rejeita rótulos (dentre deles, o título de chef de cuisine) e que reescre-veu sua própria trajetória. Ainda em atos inacabados... e bem longe de chegar ao fi nal.
Reza a fábula que o sofrido menestrel, ao en-
contrar o mago, pediu para que este retirasse
de sua vida toda a dor. Prontamente atendido,
o bardo seguiu feliz seu caminho – até que, passado
o tempo, percebeu que não tinha mais o que cantar.
Saudoso da própria poesia, ele procurou novamente o
feiticeiro e pediu de volta o sofrimento, já que era dele
que sua arte se alimentava. A história, sobre a profun-
didade do coração dos artistas, também deixa a lição
de que livrar-se do que dói é por muitas vezes bem
menos proveitoso que descobrir o lado bom de tudo
que é ruim. Gabriel Vidolin não precisou protagonizar
o conto para perceber que poderia ver além do que se
via. O cozinheiro – e não chef, como depois ele expli-
cará mais à frente – precisou percorrer muito cedo um
caminho extenso para encontrar-se. E, mais que isso,
encontrou uma razão para criar.
Quando o observamos mais de perto, Gabriel pare-
ce demais com um trovador, tal qual o da história: so-
litário, imaginativo, de mente inquieta e olhar agitado,
com grande carga emocional e disposto a não criar
raízes, que não aquelas que o prendem à sua arte.
E somente a ela. Também como os poetas de outros
tempos, seu trabalho é perene para si e efêmero para
os demais, por esgotar-se depois de consumido. Mui-
tos, inclusive, confundem sua obra com mero entre-
tenimento. Porém, para aqueles de coração atento e
sensível, a experiência da poesia sempre prevalece. É
para esses que Gabriel cozinha.
O começoFilho de uma dona de sorveteria e neto de uma con-
feiteira e de um açougueiro, ele descobriu ainda meni-
no a paixão pela gastronomia, sobretudo por sua rela-
ção com a arte, que sempre foi sua maior motivação.
Aos 16 anos, já trabalhava em cozinhas do mundo – e
não em “algumas quaisquer”. Sozinho e fora do país, o
então adolescente aprendia sobre aquilo que ele mais
amava em lugares como o lendário El Bulli, o Mugaritz,
dentre outros restaurantes famosos da Europa. E tudo
poderia apontar para a consolidação de uma carreira
internacional já em construção, não fosse um peque-
no obstáculo: o TDAH – um transtorno de atenção. Na
coreografia ensaiada de um grande palco, não havia
muito tempo ou paciência para que o cozinheiro de-
senvolvesse com tranquilidade seu aprendizado. “Às
vezes, eu não conseguia assimilar as coisas na veloci-
dade que eu deveria. Existe uma pressão muito grande
em um restaurante de alta gastronomia e as pessoas
tendem a não ser pacientes com isso”, relembra Ga-
briel. Em plena crise, ele tomou uma decisão: “eu não
queria me submeter aos tratamentos convencionais,
que acabam inibindo a criatividade. Então busquei na
terapia holística uma razão pra tudo isso”.
A partir daí, foi um longo e sincrético processo de
aprendizado – envolvendo terapia com um psicólogo
de linha xamânica, estudo das energias, dos óleos es-
senciais, florais de Bach, aromaterapia, incensos na-
turais, a cultura dos monges e os animais totêmicos.
“Eu recorri a esses conhecimentos como ferramenta
de lucidez em um momento em que tudo era mui-
to confuso pra mim”, conta. De arcabouço essencial
para entrar em contato consigo mesmo, essa jornada
transformou-se na construção de um conceito que já
existia dentro dele, e que precisava ser exteriorizado.
Nascia O Leão Vermelho. Em Londres por conta de
um trabalho, ele ligou para o coordenador da equipe
do El Bulli – para onde deveria voltar naquele dia – e fez
um breve comunicado: “não vou voltar, estou retornan-
do ao Brasil”. Talvez muitos achariam loucura abando-
nar uma oportunidade como a de estar em uma das
cozinhas mais famosas e premiadas do mundo. Ga-
briel, não. “Quando você está lá, no olho do furacão,
é como se você estivesse no Bolshoi. É coreografia, é
técnica. Os chefs não cozinham lá. Eu ficava buscando
a imagem de pessoalidade que eu tinha da arte, então
vi que não era pra mim”.
De volta a São João da Boa Vista (cidade a 360
km de São Paulo, onde nasceu), o cozinheiro passou
um ano erguendo não um restaurante, mas o tablado
onde apresentaria sua obra-prima. Construiu, cultivou
jardim e horta, fabricou os próprios móveis, decidiu o
que (e como) faria em relação ao que lhe era mais
caro – a superação da gastronomia, vinculada à sacie-
dade por sua natureza, pela arte, atrelada à sensibili-
dade tão natural a ele.
O conceitoO Leão Vermelho tem uma dinâmica muito particular
– o que reflete a peculiaridade de Gabriel. “Eu queria »»»
110110www.revistalealmoreira.com.br
muito não ser mais um cozinheiro. A minha propos-
ta com o Leão Vermelho é que ele fosse minha obra
plena”, explica. Como artista, aliás, ele optou por de-
senvolver um palco para poucos espectadores – literal-
mente. “Eu recebo só quatro pessoas por vez no Leão,
duas vezes por semana. Elas não sabem o que vai
acontecer até chegarem lá”, adianta Vidolin. “Lá, eu
vou contando a minha história por meio dos pratos, e
é como se eles passassem pela minha experiência.
É muito normal que os comensais chorem durante a
experiência do Leão. E é muito normal que eu chore. A
conexão que existe ali é muito íntima”.
Porém, o caminho antes do jantar é muito mais longo
e trabalhoso para Gabriel. Para um momento de 5 ho-
ras com os comensais, são três dias de um ritual cui-
dadoso – que compreende desde o preparo holístico
com os xamãs até o treinamento físico com um perso-
nal trainer. Nesse período, ele não come nada (além de
provar o que cozinha), não tem contato nem fala com
ninguém – além de seguir horários bem específicos.
“Das 10h da manhã à meia-noite eu faço um traba-
lho comigo mesmo para limpar o paladar e cozinhar.
Eu preciso me manter sóbrio e lúcido nesse momen-
to, e uma ferramenta pra isso são os mantras. Eu vou
trabalhando e recitando mentalmente os mantras, me
alimentando dos florais e das flores, num trabalho de
purificação”, conta. Para ele, é essencial estar presen-
te em cada momento do processo. “Eu tenho contato
com o produtor, planto, colho, lavo, cozinho, preparo...
E, quando as pessoas vão embora, eu limpo. Eu mes-
mo sirvo. É uma experiência muito crua. Eu dedico a
minha vida a essa obra”.
A experiência para os comensais também segue um
ritual preciso, desde a reserva: o interessado agenda o
jantar para si e outras três pessoas pelo site ou telefo-
ne, e a confirmação chega por carta um mês antes da
data. O local é mantido sob sigilo. Na data marcada, o
grupo escolhe entre ser apanhado por um serviço de
chofer ou receber um torpedo no celular poucas horas
antes do jantar, com a localização no mapa. Lá, devi-
damente alojadas na única mesa d’O Leão Vermelho,
as pessoas viverão a experiência de um jantar de 24
tempos – apresentados por nomes próprios, em vez
de expressões descritivas. O processo todo envolve o
deslocamento entre duas salas principais e outra sala
secreta. A divisão em diferentes momentos permite
que Gabriel instigue a curiosidade e o sentimento dos
participantes. “Existe um jogo durante o serviço, que
é o que permite à pessoa dizer se ela quer prosseguir
ou não”. Assim como o idealizador se isola, as pesso-
as também o fazem: precisam desligar os celulares e
se comprometer a não fotografar ou compartilhar os
pratos.
Naturalmente, não é possível prever o compor-
tamento ou a reação dos comensais em relação ao
apresentado – nem mesmo o que os motiva a vivenciar
o jantar. “Vai muito do que o comensal viveu e sen-
tiu para ele se conectar ou não com a experiência”,
“O leão vermelho não é um alter ego. Ele é uma representação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao leão vermelho”
Veja maisconteúdo exclusivo do chef
Gabriel Vidolin
111
admite Gabriel. “Tem pessoas que vão pela comida.
Tem pessoas que querem ver técnicas do El Bulli ou
de outros lugares por onde passei. Mas O Leão não se
trata disso. Acho que todo artista está sujeito a não se
conectar com a sua ideia. Às vezes, a pessoa simples-
mente não quer saber. Acha aquilo tudo excêntrico e é
a excentricidade que ela está comprando”.
Aberto apenas seis meses por ano, o restaurante
funciona por temporadas – cada uma com uma te-
mática. Ao fim da temporada, tudo termina: os pra-
tos criados não serão servidos novamente. Os demais
meses servem para catalogação do que ocorreu no
período e para a preparação da temporada seguinte.
Segundo Vidolin, o esforço tem sua recompensa: “é
bacana quando, ao fim do processo, o comensal diz
‘a experiência foi inesquecível’ em vez de ‘a comida
estava fantástica’”.
Em (des)construçãoA despeito da atmosfera fetichista que o mistério im-
põe ao jantar n’O Leão Vermelho, Gabriel deixa claro
que nada ali é pensado para ser uma atração – e sim,
para vivenciar algo inédito. “O Leão é sobre a expe-
riência. É sobre mim, sobre as pessoas que sentam
naquela mesa, sobre os maus momentos que elas
passaram, sobre como encontrar o bom no ruim. E por
isso é uma cozinha de fé”, define. Inclusive é muito in-
teressante perceber a maneira como Vidolin se despiu
do papel de chef para adotar uma estética indefinida
– ora artista-criador, ora servo-criatura – que, pelo seu
caráter mutante, nunca está encerrada.
Num primeiro momento, a imagem que se tem de
Gabriel é a do desprendimento – inclusive em relação
ao status de chef. “Um chef de cozinha é uma pessoa
que coordena uma equipe, o cozinheiro simplesmen-
te cozinha. Inclusive sempre me pedem fotos usando
dólmã. Eu não tenho fotos assim”, esclarece. Em se-
guida, ele soa orgulhoso e satisfeito por ter tido a cora-
gem de fazer o que faz – como, por exemplo, quando
conta de seus planos futuros: “farei uma performan-
ce numa galeria de arte em São Paulo, chamada ‘De
dentro pra fora’. Será uma cozinha de vidro com uma
mesa e uma cadeira. A pessoa se senta, e o que eu
sentir dessa pessoa vai me motivar a cozinhar algo de
dentro pra fora dela”. Por fim, Gabriel abandona o polo
ativo da ação e se caracteriza como instrumento. “O
Leão Vermelho não é um alter ego. Ele é uma repre-
sentação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao
Leão Vermelho”, ele tenta explicar. Os diferentes pa-
péis não o tornam incoerente: Gabriel é realmente tudo
isso ao mesmo tempo. E de um jeito muito honesto,
ele precisa que seja dessa forma. “A minha salvação
se encontra no meu trabalho. É nele que eu encontro
conforto pra minha dor. E gastronomia é uma necessi-
dade básica, como respirar”.
Da catarse e outras doresGabriel não tem muitos pudores em expor como »»»
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INGREDIENTES
• 4 ovos caipiras• 1/2 xícara de azeite• 3 xícaras de açúcar• 3 xícaras de farinha de trigo• 2 xícaras de leite• 1 xícara de cacau em pó• 10g de canela• 5g de noz moscada• 4 colheres de café de bicarbonato de sódio• 1 colher de vinagre• 1 pitada de sal
MODO DE FAZER
Adicione os ovos, o azeite, o açúcar, o trigo, o leite e o cacau em pó em uma tigela – nesta ordem. Misture calmamente. Adicione em seguida a canela e a noz moscada. Misture. Com as 4 colheres de bicarbonato, forme as pontas de uma cruz. Misture bem. Adicione o vinagre e o sal. Asse em forno a 180 graus por 40 minutos.
Para a Revista Leal Moreira, Gabriel Vidolin – que recentemente participou do
festival gastronômico Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, em Belém – preparou
uma receita que, para ele, tem um significado especial. Inspirado no bolo pro-
duzido no mosteiro São Bento, Gabriel criou a receita quando tinha apenas oito
anos. “A minha mãe sempre trabalhou muito, eu ficava muito sozinho em casa e
precisava comer. Eu gostava muito desse bolo; e como ele vinha de São Paulo,
não chegava tão facilmente a São João da Boa Vista”, rememora. “Como queria
comê-lo, pedi para uma tia me dizer o que tinha no bolo e criei minha versão”.
Simples, minimalista e cheio de referências – o que é a essência de Gabriel, no
fim das contas – o bolo é um presente para os clientes d’O Leão Vermelho leva-
rem para casa e tomarem café no dia seguinte. Confira:
receita
O Primeiro Bolo
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se sente – talvez à custa de grande esforço pessoal
e um longo processo terapêutico, que inclui o próprio
ato de cozinhar e o conceito que construiu. A presente
temporada d’O Leão Vermelho, intitulada “Jamais me
Abandone”, é prova de uma maturidade emocional
que demanda alta dose de coragem. “Tive que tra-
balhar comigo todos os meus traumas e frustrações,
e colocar isso nos pratos, nessas criaturas novas. Foi
um processo muito complicado. Os sabores são muito
densos, melancólicos, com certo tom de revelação”,
relata. E é em comentários como esse que Vidolin dei-
xa entrever quão sinestésico é o trabalho que faz. Para
vivê-lo plenamente, é preciso estar emocionalmente
disponível – e disposto. “As pessoas vivem a experiên-
cia d’O Leão Vermelho como uma terapia em grupo.
Eu me coloco diante delas, elas ouvem a minha história
e se encontram nela. No fundo, durante o jantar, nada
mais é sobre mim – e sim sobre elas”, argumenta. “As
pessoas reflexionam muito sobre que rumos elas vão
tomar, o porquê de tudo”.
Como o bardo da fábula, Gabriel carrega em si um
poço tão profundo quanto profícuo. Dar vazão a isso da
maneira como ele optou por fazer lhe oferece um ca-
minho de percalços. Um deles é percorrer essa jorna-
da sozinho. “Quando eu entendi que meu caminho era
solitário, fui procurar a ciência dos monges. Aprender
com eles a questão da solidão e da fé, do amor pleno.
Você só atinge isso depois de entender uma série de
coisas mais sutis”, ele diz. Depois para, coça a cabe-
ça – um de seus trejeitos habituais – e prossegue. “Eu
sei que é difícil entender. Demora tempo pras pessoas
te levarem a sério”. Curiosamente, quando perguntado
sobre como ele se sente cozinhando, Vidolin descreve
algo muito parecido com o que o palco oferece, desde
as tragédias gregas: a catarse. “Todas aquelas sensa-
ções de desconforto vêm à tona, mas o trabalho ma-
nual me faz refletir sobre aquilo. É doloroso, fisicamen-
te cansativo. Mas no final, é extremamente prazeroso.
É a sensação do alívio”. Talvez Gabriel seja mais artista
do que já sabe ser.
Vidolin se deixou fotografar - para a Revista Leal Moreira - usando as habituais vestimentas de um chef de cozinha.
113
A gente
vê beleza
em todas as
manifestações
culturais que ema-
nam dos paraenses e a
gastronomia é uma rique-
za que fala muito de nosso
povo, de nossa vida. Por isso a
Leal Moreira se identifica tanto com o
Ver-o-Peso da Cozinha Paraense.
Mais valor à cultura. Mais valor ao sabor.
É com alegria que pelo segundo ano consecutivo, a Leal Moreira apresenta o
Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, o maior evento de gastronomia da Amazônia.
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vinho
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Produtor: De MartinoRegião: Vale de Limarí – Vinhedo específico “Quebrada Seca” de 3 hectares, a apenas 19km do mar, recebendo diretamente os efeitos da fria corrente de Humboldt.Classificação legal: Limarí D.O.Composição de Castas: 100% ChardonnayGraduação Alcoólica: 13,5° GLElaboração: Fermentação do mosto em bar-ricas de carvalho francês com baixos níveis de tostado para respeitar ao máximo a inte-gridade do terroir. Permanência por um ano nas barricas.Amadurecimento: 12 meses em barricas de carvalho francês de diversas passagens (35% novas).Estimativa de guarda: 10 anosCaracterísticas organolépticas: Coloração palha cristalina com nuanças verdeais. A mineralidade é o que se sente no primeiro ataque, que depois revela frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tosta-das. Untuoso, sápido, inunda a boca com seu frescor monumental. Longo final.Carta de vinho sintética: No olfato, mineral, com frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tostadas. Untuoso, sápido, de longo final.Premiações:. Descorchados 2011: 92 Pontos. Parker: 91 PontosOnde: Decanter
Produtor: Craggy RangeRegião: Hawke’s Bay – Te Awanga – Vi-nhedo específico Kidnappers.Composição de castas: 100% ChardonnayGraduação alcoólica: 13,5° GLElaboração: A colheita das uvas é realiza-da estritamente de forma manual. Não há desengace. Fermentação espontânea em barricas novas de carvalho francês (10%) e em tanques de inox e madeira, com ino-culação de leveduras selecionadas. Clari-ficação, filtração e engarrafamento.Amadurecimento: 4 meses em tanques de inox sobre as lias finas.Estimativa de guarda: 5 anos.Características organolépticas: Palha cristalino com reflexos verdeais. Mui-to elegante no nariz, com zest de limão envolvida por amêndoas torradas e notas minerais. Ingressa em boca, com densi-dade, proporção e cativante acidez. Carta de vinho sintética: Muito elegante no nariz, com zest limão, maçã madura e tons minerais. Proporcionado, elegante e muito persistente.Premiação: Wine Spectator: 92 PontosOnde: Decanter
Produtor: Pio Cesare Região: Piemonte – BaroloClassificação legal: Barolo D.O.C.GComposição de castas: 100% NebbioloGraduação alcoólica: 14% Uvas provenientes dos vinhedos próprios em Serralunga d’Alba (70%) com pequenas parti-das oriundas de fornecedores de longo prazo, em privilegiadas posições de Catiglione Fal-letto e Monforte D’Alba. Colheita com duração de três semanas (fim de outubro e começo de novembro). Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas.Amadurecimento: 36 meses em carvalho, sen-do 30% em barricas bordalesas e 70% em botti barris de 2.000 a 5.000 litros de carvalho fran-cês de Allier de vários anos.Estimativa de guarda: 20 anos +Características organolépticas: Rubi tendendo ao granadas. Clássico, com frutas vermelhas silvestres, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tânica, nobre, sápido, lon-guíssimo final.Carta de vinho sintética: Clássico com frutas vermelhas silvestres, alcatrão, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tâni-ca, nobre, sápido, longuíssimo final.Premiações:. Wine Enthusiast: 95 pontos “Cellar Selection”. Parker: 93 pontos. Duemilavini A.I.S 2012: 4 grappoli em 5Onde: Decanter
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Produtor: Bodegas Laxas, S.A.Composição de Castas: Uva Albarino (100%)Graduação alcoólica: 12,5%Origem: Rias Baíxas Espanha A Albarino, mítica uva da Galícia, com a qual são produzidos vinhos aromáticos e de bom corpo, com uma vasta riqueza em ácidos unida a uma infinidade de componentes aromáticos que rendem esses vinhos muito reconhecíveis e isso tudo justifica o grande prestígio e su-cesso internacional que obtiveram nos últimos anos. A Galícia nobre terra de vinhos e vastos vinhedos, com competência soube vender e exportar tal casta para o mundo com a D.O. Rias Baíxas. Os vinhos Albarino, são elegan-tes, macios e equilibrados e ao mesmo tempo potentes, esses brancos têm um toque per-ceptível e são perfeitos com peixes como o bacalhau e acentuam com elegância o sabor iodado dos frutos do mar.A Bodega Laxas tem seus vinhedos da casta Albarino na sub-região de Condado de Tea. Depois de uma apurada vindima feita à mão, obtém-se um mosto de excelente qualidade que será fermentado em tanques de aço inox com temperaturas controladas a 18 graus, o Laxas Albarino tem acidez elegante, é um vi-nho para todas as horas, desde o aperitivo com amigos até o mais refinado prato de peixe, sem perder nenhuma das suas características evi-denciando ainda mais o seu terroir e sua voca-ção de vinho atlântico. Onde comprar: Grand CruIndicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.
Produtor: Quinta do Casal Branco Sociedade de VinosComposição de castas: Uvas Castelão, Trin-cadeira, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacio-nal, Petit Verdot e Alicante BouschetGraduação alcoólica: 14%Origem: Almeirim Portugal A pequena e graciosa cidade de Almeirim sub-região da DOC Ribatejo a 100 km de Lisboa é famosa por suas lendas e sua boa comida.Com passado privilegiado, tendo sido pal-co de grandes momentos da história como pomposos casamentos entre Príncipes e donzelas e grandes festas inesquecíveis a Sintra de Inverno tal como era conhecida pela Corte, hoje parece ter esquecido seu passado movimentado e glorioso. Com suas vinhas seculares, houve a alte-ração em 2009 de DOC Ribatejo para DOC Tejo, nesses anos depois de muitos investi-mentos em marketing sem esquecer da qua-lidade a DOC Tejo renasceu e valorizou ainda mais a qualidade de seus vinhos e a tradição dessa terra antiga.A Casal Branco vinícola fundada em 1775 com grande tradição na região, elabora o corte Falcoaria Reserva 2007 com uvas tradicionais da região e com as francesas Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Esse potente corte estagia 12 meses em carvalho francês e descansa 4 meses em garrafa. Onde comprar: Grand CruIndicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.
L’ALT
RO C
HARD
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Y 20
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Produtor: Pio CesareL’Altro quer dizer “o outro”, uma referência ao prestigioso Piodilei, o principal Char-donnay elaborado pelo Pio Cesare.Região: Piemonte - Barbaresco (Treiso)Classificação legal: Piemonte D.O.C.Composição de Castas: 100% ChardonnayGraduação alcoólica: 13,5° GLElaboração: Uvas provenientes de um anti-go vinhedo de Barbaresco, replantado com Chardonnay. Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas. Prensagem delicada e fermentação nos tanques de inox com controle de temperatura (75% do vinho), a 18-21°C, por 14 dias. O restante do vinho fermentou em barricas novas de carvalho francês.Amadurecimento: 5 meses em barricas no-vas de carvalho francês sobre as lias (25% do vinho).Estimativa de guarda: 5 anosCaracterísticas organolépticas: Palha com reflexos esverdeados. Intensos aromas de pêssegos entrelaçam-se a notas amantei-gadas e de nozes sobre fundo mineral. Es-truturado, com distinto equilíbrio e longo final.Carta de vinho sintética: Intensos aromas de fruta branca, notas amanteigadas e minerais. Untuoso, estruturado, sápido e muito longo.Premiação: Duemilavini A.I.S 2011: 3 grappoli em 5Onde: Decanter
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Diz-se que “os detalhes fazem toda a diferença”. Quem cunhou
essa máxima, certamente, contemplava a beleza e quando fala-se
de arquitetura e design de interiores, essa afirmação é verdadeira. A
partir desta edição 37, a RLM vai visitar casas de clientes Leal Morei-
ra, para mostrar os projetos, feitos especialmente para eles.
Nesta (re)estreia, o projeto assinado pela arquiteta Conceição Bar-
bosa, é uma apartamento do Torre de Belvedere.
decor
Minimalistaporexcelência
www.revistalealmoreira.com.br
A combinação de elementos com a iluminação âmbar deu um ar de luxo e aconchego para o quarto do casal. A cortina com tecido de trama mais fechado e papel de parede em tom escuro complementam a atmosfera elegante e moderna.
Disponíveis nas Lojas: Yamada Plaza, Vila dos Cabanos, Pátio Belém, Plaza Castanhal e Yamada Salin
Prazeres de toda Europa:
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Os portugueses: Quinta do Vallado Douro (2006), Paulo Laureano Reserve (2009), Herdade do Esporão private selection (2008), Quinta Castro Douro (2009), Cartuxa Reserva.O francês: Domaine Beranger Pouilly-Fuissé (2011)O italiano: La Poderina Brunello Di Montolcino (2007)
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nº 3
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oreira
ano 9 número 37 www.revistalealmoreira.com.br
A maior cantora portuguesa da atualidade A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento fala da carreira e do momento de redescoberta de si própriade redescoberta de si própria
O mistério de O mistério de Teresa SalgueiroTeresa Salgueiro
Alexandre NeroAlexandre NeroPaulo ChavesPaulo ChavesVienaViena
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