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ano 9 número 37 www.revistalealmoreira.com.br A maior cantora portuguesa da atualidade A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento fala da carreira e do momento de redescoberta de si própria de redescoberta de si própria O mistério de O mistério de Teresa Salgueiro Teresa Salgueiro Alexandre Nero Alexandre Nero Paulo Chaves Paulo Chaves Viena Viena

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Revista Leal Moreira, aborda temas de design, arquitetura, estilo, cultura

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nº 3

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ano 9 número 37 www.revistalealmoreira.com.br

A maior cantora portuguesa da atualidade A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento fala da carreira e do momento de redescoberta de si própriade redescoberta de si própria

O mistério de O mistério de Teresa SalgueiroTeresa Salgueiro

Alexandre NeroAlexandre NeroPaulo ChavesPaulo ChavesVienaViena

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índice

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38108

60

dicas pg 12Anderson Araújo pg 26Celso Eluan pg 48especial musicalidades pg 56tech pg 68horas vagas pg 70confraria pg 82Felipe Cordeiro pg 84especial cervejas pg 86Arthur Dapieve pg 92enquanto isso pg 104Saulo Sisnando pg 106vinhos pg 114decor pg 116falando nisso pg 120institucional pg 122Nara Oliveira pg 134

capaTeresa Salgueiro - divulgação

ca

pa

GABRIEL VIDOLINAinda adolescente, ele decidiu que queria sair pelo mundo em busca dele mesmo. Chegou onde e ao que queria: cozinhar de modo a despertar os sentidos de seus comensais.

ga

leria

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et

PAULO CHAVESNesta terceira entrevista da série especial sobre os “400 anos de Belém”, o arquiteto e Secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves, vagueia por uma Belém de outrora, em busca de soluções para devolver o mesmo brilho à capital paraense.

Belé

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18 O ator curitibano Alexandre Nero, atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” fala sobre sua carreira, desafios e surpreende em notas afinadas.

perfil

comportamento

Venha viver as belezas de Viena, cujas ruas são tomadas de música, poesia e milhões de turistas.

destino94

TERESA SALGUEIROEm entrevista exclusiva, a cantora portuguesa fala de seu pri-meiro trabalho autoral, depois de vinte anos sendo a maior re-ferência e inspiração do Madredeus.

PAULO AZEVEDOConheça o artista plástico que desafia linhas e estilos e queencanta pela liberdade arrebatadora em suas obras.

Diversão indoor ou simplesmente uma “reunião de amigos lá em casa”. Com simplicidade [ou não] conheça um antigo hábito, que tem conquistado cada vez mais adeptos.

A Revista Leal Moreira 37 traz conteúdo exclusivo nas matérias sinalizadas com QR code.

www.revistalealmoreira.com.br

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Amigos,

Sejam bem-vindos à Revista Leal Moreira - 37, que traz a segunda

capa internacional em nossa história. Teresa Salgueiro, o maior e mais

respeitado nome da música portuguesa contemporânea, é nossa entre-

vistada, em uma conversa generosa, na qual fala sobre seu primeiro CD

autoral e filosofa sobre o mistério da vida. Teresa, que integrou o grupo

Madredeus por vinte anos, e cuja voz recebe críticas unânimes sobre

sua “magia” e beleza, nos adiantou que pretende vir em breve ao Brasil.

Quem sabe Belém não terá o privilégio em vê-la se apresentando por

aqui?

Quem fala de Belém, na série de entrevistas especiais dos 400 anos de

nossa cidade, é o Secretário de Estado de Cultura, o arquiteto Paulo Cha-

ves. Homem apaixonado por nossa capital, de olhar diferente e sensível,

ele rememora tempos idos, em que deambulava pela cidade, em estado

de êxtase e profunda contemplação e comemora conosco a restauração

do Theatro da Paz.

Já o ator Alexandre Nero, que está no ar na novela “Salve Jorge”, fala

da sua paixão pela música e já faz planos para quando o folhetim acabar.

O chef Gabriel Vidolin é nosso convidado especial do Gourmet desta

edição e explica seu processo criativo, no mínimo inusitado e nos emo-

ciona muito. Emocionante também foi a 11ª edição do “Ver-o-Peso da

Cozinha Paraense”, que teve ¬– pelo segundo ano consecutivo – a apre-

sentação da Leal Moreira.

Leia ainda uma matéria sobre a iniciação musical de crianças, além

de tantas outras.

Esta RLM37 está variada e muito bonita. Deixarei que vocês, nossos

leitores, leiam e saboreiem.

Ah, não esqueçam: as matérias sinalizadas com códigos QR possuem

conteúdo extra em nosso site: www.revistalealmoreira.com.br

Um grande abraço e boa leitura!

André Moreira

Criação Madre Comunicadores AssociadosCoordenação Door Comunicação, Produção e EventosRealização Publicarte EditoraDiretor editorial André Leal MoreiraDiretor geral Juan Diego CorreaDiretor de criação e projeto gráfi co André LoretoGerente de conteúdo Lorena FilgueirasEditora-chefe Lorena FilgueirasEditora assistente e produção Camila BarbalhoFotografi a Dudu MarojaReportagem: Alan Bordallo, Alice Pinheiro Walla, Anderson Araújo, Camila Barbalho, Carolina Menezes, Fábio Nóvoa, Leila Loureiro e Lorena Filgueiras. Colunistas Anderson Araújo, Arthur Dapieve, Celso Eluan, Felipe Cordeiro, Nara Oliveira, Raul Parizotto e Saulo Sisnando.Assessoria de imprensa Lucas OhanaConteúdo multimídia: Max AndreoneVersão Digital: Brenda Araújo, Guto Cavalleiro, Fabrício BezerraRevisão José Rangel e André Melo

Gráfi ca DeltaTiragem 12 mil exemplaresComercial Gerente comercial Daniela Bragança • (91) 9289.0889Contato comercialThiago Vieira • (91) [email protected]

FinanceiroContato [email protected]

Fale conosco: (91) 4005.6874 [email protected]@lealmoreira.com.brwww.revistalealmoreira.com.brfacebook.com/revistalealmoreira

Revista Leal Moreira é uma publicação bimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refl etem, necessariamen-te, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.

Tiragem auditada por

João Balbi, 167. Belém - Paráf: [91] 4005-6800

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Construtora Leal MoreiraDiretor Presidente: Carlos MoreiraDiretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício MoreiraDiretor de Marketing: André Leal MoreiraDiretor Executivo: Paulo Fernando MachadoDiretor Técnico: José Antonio Rei MoreiraDiretor de Incorporação: Thomaz ÁvilaGerente Financeiro: Dayse Ana Batista SantosGerente de Relacionamentocom Clientes: Alethea Assis

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Conheça um pouco mais sobre a construtora acessando o site www.lealmoreira.com.br. Nele, você fi ca sabendo de todos os empreendimentos em andamento, novos projetos e ainda pode fazer simulações de compras.

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Atendimento:A Leal Moreira dispõe de atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18:30h

On-line:

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Belém

SopranoHistória e estilo em um dos prédios antigos mais elegantes de Belém. O

restaurante Soprano agrega os dois valores. Hospedado em um casarão

datado de 1927, em meio ao movimento da Avenida Magalhães Barata, o

lugar é uma ilha em meio à modernidade urbana – um espaço preservado

à cultura arquitetônica de tempos áureos da capital. Residência da família

Passarinho por muitos anos, a edificação só passou a ser utilizada comer-

cialmente na década de 90. Recentemente, a empresária Nadime Dahás –

que já manteve uma casa de recepções no local – decidiu transformá-lo em

restaurante. A estrutura é aconchegante; e o ambiente interno, muito bem

decorado – além de oferecer a facilidade do estacionamento próprio. A co-

mida servida, por sua vez, é sofisticada e casa muito bem com o excelente

serviço ofertado. Sugerimos iniciar a noite provando a entrada de camarão

na tapioca crocante com redução de açaí, harmonizada com um bom vinho.

Garantimos uma experiência especial.

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Avenida Magalhães Barata, 774 • 91 3271.0266

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Barba Negra

Hamburgueria 66

Inaugurado há pouquíssimo tempo, o Barba Negra

adota um dos formatos mais queridos pela boemia

de Belém: calçadão, área interna refrigerada, telões

para a transmissão de esportes e – claro – um car-

dápio bem selecionado, entre bebidas e pratos. Bem

localizado, o espaço, por si só, já é uma atração.

A decoração leve e descontraída sugere a estética

dos navios piratas. A música é boa e variada, com

espaço para gêneros como jazz, blues, pop rock e

música eletrônica. A cozinha investe no conceito de

“gastrobar”, e oferece um menu variado – onde ca-

bem sushi, jantar e os petiscos que combinam muito

bem com o happy hour. Se a pedida for jantar, vale

a pena provar o Timoneiro: prato de filé com molho

de cebola ao vinho tinto, acompanhado de linguine.

Inspirada nas lanchonetes americanas dos anos 50 e 60, a Hamburgueria 66 foi inaugurada re-

centemente, e rapidamente se tornou uma opção interessante para começar a noite em Belém.

Recheada de referências à cultura pop, ao esporte e ao cinema, a lanchonete oferece refeições,

sanduíches e acompanhamentos exclusivos – todos produzidos artesanalmente. Um charme que

merece destaque é a inspiração para o nome dos pratos: eles são batizados com títulos de músi-

cas, cantores, atores e atletas celebrados pelas novas gerações. Para experimentar, recomenda-

mos o sanduíche de mortadela Ceratti fatiada e queijo prato. Sanduíche servido no pão francês,

acompanhado de batatas fritas – feito em homenagem à cantora colombiana Shakira.

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Travessa Almirante Wandenkolk, esquina com João Balbi • 91 8183.5351

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Brasil

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Clos de Tapas

Banzeiro“Banzeiro” é um termo muito usado na Amazônia para designar as ondas forma-

das nos rios, principalmente quando da passagem de uma embarcação. Dessa

expressão surgiu o Banzeiro Cozinha Amazônica, que oferece o que há de melhor

na culinária amazônica. No cardápio, merecem destaque a premiadíssima costela

de tambaqui, o pirarucu e a matrinchã assada de forno, que são preparadas de for-

ma única e exclusiva, com um toque da cozinha francesa. O chef Felipe Schaedler

foi eleito em 2011 e 2012 o chef do ano pela edição “Comer & Beber” Manaus, da

Revista Veja. Ao mesmo tempo em que o Banzeiro foi eleito, também em 2011 e

2012, como o melhor restaurante de comida regional. Foi premiado no Palácio do

Planalto, em Brasília, com a insígnia da “Ordem do Mérito Cultural 2012” pelo talento

de introduzir os elementos da Amazônia na criação de seus pratos em cerimônia,

conduzida pela Presidente Dilma Rousseff e pela Ministra da Cultura, Marta Suplicy.

“O Clos de Tapas é um restaurante único, exclusivo e diferenciado. É

único porque criou um conceito de restaurantes de tapas”. Assim, a casa

costuma “apresentar-se” aos que ainda não a conhecem. Tendo à frente,

a chef Ligia Karazawa, o Clos de Tapas, que passou Can Fabes, Casa

Marcial, El Bulli, El Celler de Can Roca, Mugaritz e Quique Dacosta, criou

um cardápio a partir de ingredientes sazonais, de produtores locais. Os

pratos traduzem o respeito ao meio-ambiente e à natureza dos sabores.

O Clos de Tapas apresenta uma Gastronomia com identidade contempo-

rânea e elementos brasileiros. A brasilidade, conferida à tradicional en-

trada espanhola, pode ser encontrada tanto nos ingredientes quanto nas

louças, criadas por artesãos locais. Já a identidade vanguardista resulta

em pratos divertidos, saborosos e ricos em aromas e texturas. Surpreen-

da-se com tapas “contemporâneas”. A boa notícia é que o restaurante

abre, de segunda a sexta, para almoço, no horário de 12h às 15h (aos

sábados e feriados, das 13h às 16h) e para o jantar, de segunda a quinta,

de 19h30 às 23h (às sextas, sábados e feriados, de 19h30 às 00h).

Não abre aos domingos.

R. Libertador, 102 - Ns. das Graças, Manaus - AM • 92 3234.1621

Rua Domingos Fernandes, 548 - Vl. Nova Conceição - São Paulo - SP. • 11 3045.2154 • [email protected]

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mundo

MEATmission (Londres)

Celeste Champagne Tea Room (México)

Já são idos os tempos em que lanchonetes eram lugares simples,

feitos para uma refeição corriqueira. Pelo menos para a grande

família – e crescendo – MEAT, esse conceito foi deixado de lado

desde a primeira casa aberta em Londres. Após o sucesso mete-

órico do MEATliquor e do MEATmarket, os apaixonados por carne

Yianni Papoutsis e Scott Collins inauguraram o MEATmission. No

terreno onde antes viviam missionários vitorianos, os empresários

instalaram uma espécie de santuário sincrético em homenagem

aos hambúrgueres. Com uma decoração inusitada e calorosa

(com direito a vitrais e memoriais de guerra convivendo na mesma

parede), o espaço se tornou paixão instantânea dos moderninhos

de Hoxton Square. E a atração principal, como não poderia deixar

de ser, é o cardápio. Há sanduíches de todos os tipos e tamanhos,

mas a vedete da casa é o Sundae Roast Beef – um divertido sun-

dae feito de carne. Não provar é um pecado.

Localizado no alto de uma casa de 1940 no bairro de Anzures, o Champagne Bar

Celeste e Tea Room é uma verdadeira viagem no tempo. Projetado pelo premiado es-

critório de design Productora, o lugar remete às antigas casas de chá inglesas, típicas

dos filmes hollywoodianos de gângsteres – porém com o toque de modernidade que a

separa do anacronismo. Repleto de listras pretas e brancas, o espaço por vezes pare-

ce redimensionado pela ilusão de ótica, de acordo com a posição de quem o observa.

Tudo é muito bem cuidado: desde o terraço ao ar livre e o telhado transparente (que

permite iluminação natural) até os detalhes: chaleiras, filtros, vasos de flores e baldes

de champanhe, por exemplo, eram feitos à mão por um dos mais antigos ourives na

Cidade do México. No menu, taças individuais de uma extensa carta de vinhos, chás

e champagnes. Para jantar, indicamos o ceviche peruano feito com maracujá, seguido

pela original Eton Mess – merengue, água de rosas, chantilly e frutas.

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14-15 Hoxton Market - N1 6HG • 020 7739.8212 • www.meatmission.com

Darwin at the corner of Kepler, Del. Miguel Hidalgo, C.P. 11590, México, D.F. • 52.55 2614.6031 • www.celeste.com.mx

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perfil

www.revistalealmoreira.com.br

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São 22h00 de uma quarta-feira e milhões

de brasileiros assistem a mais uma

cena de novela. Segundos depois, mais

de 130 mil fãs bombardeiam as redes sociais

do ator que encarna um dos personagens da

atração televisiva, com mil corações e decla-

rações de amor (muitas das quais são mais...

“carnais”, na realidade). O ator passa a ser ví-

tima, quase diariamente, de um “ataque de li-

rismo”, o mesmo que retratou em sua música

“cadê meu jardim?”, em que canta: “O homem

teve um enfarte do coração/ E ao invés de ‘bom

dia’ dizia ‘eu te amo’/ A vida dele se enfartou/ e

ele preferiu um ataque de lirismo/ A vida não é

assim tão previsível”. De fato, a vida não é.

Aos 42 anos, o ator, músico, instrumentista,

compositor e diretor musical Alexandre Nero

concilia os trabalhos no teatro e na televisão

com o lançamento de seu CD “Vendo Amor

– Em suas mais variadas formas, tamanhos

e posições”, gravado em 2010. Alexandre foi

idealizador e criador da “Associação dos Com-

positores da Cidade de Curitiba”, fundada em

1994 e foi integrante do “Grupo Fato”, da ban-

da Maquinaíma e do grupo Denorex 80, todos

projetos de grande destaque no cenário musi-

cal curitibano.

Atualmente encarna o vaidoso advogado

Stênio, na novela global “Salve Jorge”, manu-

seando com maestria os holofotes para o seu

personagem ao longo da trama, exatamente

como fez com o violento e machista Baltazar,

de “Fina Estampa”, que chegou ao final da no-

vela aplaudido pelo público e crítica, após for-

mar uma improvável dupla cômica com o per-

sonagem homossexual Crô, interpretado pelo

amigo e ator Marcelo Serrado.

Alexandre está longe de ser mais um produto

televisivo enlatado, é sim um alquimista, com

o poder de transformar seus personagens em

metal nobre, talento depurado pelas dezenas

de peças teatrais que encenou, com destaque

para “Os Leões”, em 2006.

Por ter perdido os pais na adolescência e ter

sido criado dentro de um efervescente caldei-

rão cultural em Curitiba, onde nasceu, é com-

preensível que Alexandre Nero Vieira seja um

cara fora dos padrões. “E aquariano”, como faz

questão de frisar, como se o signo astrológi-

co fosse parte fundamental para entender sua

essência. Isso explica não só as fortes batidas

das asas de Alexandre, como as letras de suas

músicas, em especial a acima citada “cadê

meu jardim?”, que diz “Se está tudo aqui bem

dentro, em mim/ Que venham todos os fins,

porque eu sei recomeçar”.

Como diria seu conterrâneo, o poeta Paulo

Leminski, “Não discuto com o destino/ o que

pintar eu assino”. E foi assim, numa tarde de

domingo, que pintou a oportunidade de entre-

vistar o Alexandre num típico restaurante para-

ense em Ipanema. E ele, sem discutir, assinou.

Ao pesquisarmos o seu nome na internet o seu currículo aponta que Alexandre Nero é can-tor, compositor, arranjador, sonoplasta, diretor musical etc. Começo perguntando: o que você não é?

Alexandre: Humilde (risos). Na verdade essa

definição vem de currículos que eu distribuía

antes de ficar famoso, profissões nas quais eu

sou sindicalizado e que posso exercer. Mas do

ponto de vista artístico acredito que podemos

ir muito além dessas definições burocráticas.

Nero emchamasVivendo um intenso momento na profi ssão que abraçou, Alexandre Nero busca o arrebatamento, quando o assunto é processo criativo. Sem rótulos.

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Leila Loureiro Divulgação

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Hoje o artista pensa na concepção do seu

cartaz, no seu projeto que vai ser inscrito em

editais, em como pode prender o público, en-

tre outras coisas que compõem a sua carreira

central de ator ou músico, por exemplo.

No Brasil não temos essa cultura de multiar-tistas, o que muitas vezes causa resistência do público que se depara com o ator que também é cantor, ou vice-versa, correto?

Acho que essa coisa “brodwayniana” tam-

bém limita. Quer dizer que se o cara atua,

canta e sapateia não pode fotografar, escrever

poemas e roteiros para filmes? Acho isso tudo

muito limitador. Cantar e interpretar são coisas

técnicas, que se aprendem, todo mundo pode

fazer tudo. A pergunta é “o que você quer pas-

sar com a tua arte?”.

E como você se descobriu neste processo de desenvolvimento artístico? Começou a atuar, compor, cantar...

Se você me perguntar o que eu sou, vou res-

ponder que sou um músico, cantor, compositor

e ator. Mas acho que poderia ser muitas outras

coisas, aliás todo mundo pode fazer o que qui-

ser. Eu escreveria um roteiro? Claro que sim. Eu

filmaria este roteiro? Sim. Eu apresentaria um

programa? Claro. Nós estamos falando de arte

e não de medicina, advocacia e engenharia

nas quais a falta de aptidão pode gerar danos

maiores. A arte é subjetiva, todo mundo pode

fazer arte. Agora as pessoas podem gostar ou

não, a arte pode ser boa ou não.

E você vem de um cenário muito rico nesse contexto, Curitiba é berço de muitos artistas experimentais como Paulo Leminski, entre ou-tros...

Isso. Gosto muito do Leminski, que tem uma

frase que diz: “Poeta é quem se considera”. E

isso você pode levar para qualquer meio. Eu

por exemplo não me considerava ator há tem-

pos atrás, hoje eu me considero e pode ser que

amanhã não me considere mais.

Podemos brincar com as frases dos poemas do Leminski ao longo desse papo, como aquela que diz “não discuto com o destino/ o que pintar eu assino”.

Exatamente! Isso foi o que aconteceu na mi-

nha vida. Eu sempre trabalhei com música e

via atores muito ruins e isso me causou curiosi-

dade, pensava “Opa, isso eu sei fazer!”. E pra

ganhar dinheiro também, porque o artista pre-

cisa de grana e ampliar o seu campo de atua-

ção é financeiramente positivo também. Tenho

um amigo que não sabia andar de moto e se

Atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” como Stênio, Nero vive uma relação conturbada com a ex-mulher, vivida na trama pela atriz Giovanna Antonelli

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candidatou a um papel de um motoqueiro, ele

me procurou pra aprender a pilotar moto, foi lá

e fez o papel. Isso é a vida do artista.

O que demanda uma certa falta de pudor...Sim, exatamente (neste momento chega à

mesa o típico licor de jamburana – flor do jam-

bu, aperitivo peculiar da culinária paraense, fa-

moso pelo tremor que causa na boca. Alexan-

dre experimenta).

Você conhece Belém?Não, na verdade não conheço nada do Nor-

te, adoraria. Nossa, esse licor é muito bom! E

essa água toda fica saindo pela boca...É assim

mesmo? Tô quase babando (risos).

Como você lida com o salto para a grade de atores de uma grande emissora de tv, conside-rando a sólida carreira teatral que você cons-truiu em Curitiba?

Eu nunca pensei em chegar na Globo, o que

está muito atrelado ao eixo Rio-São Paulo, eu

como sou de Curitiba, uma cidade que não faz

tv, com um cenário cultural muito bacana e não

atrelado a uma aceitação da massa, nunca so-

nhei estar aqui. Em Curitiba nós queremos que

você goste mas não fazemos pra você gostar.

Foi tudo muito inusitado pra mim, um produtor

me assistiu no teatro e gostou.

E você já havia fundado uma associação de compositores em Curitiba, certo?

Sim, quando eu era garoto. Eu comecei

como músico. Antes da tv eu só era conhecido

como músico, que foi a minha profissão e ain-

da é. Vivi só de música por 20 anos, o teatro

era um hobby, algo secundário. Hoje eu sou

músico, mas não vivo da música atualmente.

Eu gravo disco porque é o meu trabalho.

Como foi tua história com a música?Eu já trabalhei com grupos muito sérios ar-

tisticamente falando, um gênero mais erudito,

música experimental, viajamos pra Europa...

Tenho uma vocação acadêmica e não uma

formação acadêmica. Foi o que disse lá atrás,

você pode tocar qualquer instrumento desde

que tenha muita vontade. Tocar violão não é

nada mais que datilografar. Meus amigos mú-

sicos ficam aborrecidos quando falo isso, mas

é verdade. A prática te faz tocar, já a aptidão,

genialidade ou talento contribuem para você

tocar ‘muito’ bem.

Você toca outros instrumentos?Meu principal instrumento é violão e canto e

fui brincando com outros porque eu quis pos-

sibilidades, toco instrumentos de corda como »»»

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22

cavaquinho, viola caipira, guitarra, baixo, só não

toco os instrumentos de corda eruditos. “A mú-

sica é matemática” – John Lennon dizia isso

quando afirmava que podia tocar qualquer ins-

trumento, assim, teoricamente eu toco qualquer

instrumento, mas na prática eu toco os de cor-

da, é algo como ser ator, teoricamente um ator

pode fazer comédia, drama, qualquer papel,

mas na prática se você não fez circo ou teatro

contemporâneo, pode não convencer naquele

cenário.

E como ator, como as oportunidades se apre-sentaram na sua vida?

Um produtor de elenco me viu na peça ‘Os

Leões’, muito premiada no festival de Curitiba

e me chamou pra participar de um especial de

fim de ano na Globo, quando uma preparadora

de elenco me viu no processo de leitura, acredi-

tou que eu pudesse ir além, e me indicou para

outros produtores de elenco. Eu era um ator de

Curitiba que não conhecia ninguém no Rio, fiz

testes e comecei a fazer “A favorita”, depois fui

chamado pra outras novelas como “Paraíso”,

“Escrito nas Estrelas”, “Fina Estampa” e fui fican-

do, hoje moro no Rio.

Uma história bem aleatória...Muito! Lembro que uma vez me perguntaram

como eu gostaria de estar vivendo dali a 10 anos

e eu respondi ‘exatamente como estou hoje’, ra-

lando, produzindo, trabalhando... Claro que a

gente almeja a fama, reconhecimento, mas a

gente vê que a realidade é outra, o prazer tem

que estar no fato de se autoprovocar, em provo-

car o público.

E o assédio que vem com a fama?Eu estou me acostumando. Antes eu era meio

‘Mogli’, eu não entendia por que as pessoas

vinham me dar parabéns. Eu chegava a ser

agressivo e não percebia o motivo de alguém

querer tirar foto comigo, pois eu já trabalhava

havia muitos anos e nunca pediram pra tirar foto.

Estou aprendendo a lidar. As redes sociais são

um bom meio pra humanizar o ‘artista’, mas em

contrapartida você começa a ser criticado por-

que fala besteira ou erra como qualquer outra

pessoa, e aí algumas pessoas acreditam que

o artista tem que ser normal, mas tem que ser

mito, é bem paradoxal isso. Este tipo de públi-

co não me interessa. Não tenho talento pra ser

famoso... Alguns colegas chegam num lugar e

fazem uma determinada pose que as beneficia,

e eu estou começando a brincar com isso. Pa-

reço menos feio nas fotos (risos).

Voltando a citar Leminski, você concorda quan-do ele afirmava que ‘todo ser em movimento é perigoso”?

Acho que quase todo ser em movimento é

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perigoso. Qualquer provocador, subversivo é um

artista em potencial. O Solda, parceiro e amigo

íntimo do Leminski, diz que “todo poeta sentado

está em pé de guerra”.

“Um erro e o poema explode na tua cara”, tam-bém dizia Leminski...

(risos) Verdade, Leminski é genial!

“Vazio agudo/ando meio/cheio de tudo”... outro haikai dele.

Muito exato. Foi isso que me fez falar de amor

no meu CD. Já que acham brega falar de amor

achei um ato de rebeldia falar de amor. Explicar

isso pro público do Roberto Carlos é ridículo, vão

achar que isso já foi feito, mas eu quis falar de

amor de um outro jeito. Tentei.

Você encarnou essa coisa transgressora também quando compôs o júri do Programa Amor&Sexo, com posicionamentos sempre polê-micos...

(risos) Sim, eu inclusive tenho o talento da pro-

vocação, nem sempre tudo o que eu falo eu

acredito. Estou apenas propondo “vamos levan-

tar esta discussão?”.

E são essas discussões que nos tiram do lugar, nos ajudam a evoluir.

Exatamente. Hoje eu estou mais leve, me di-

vertindo muito mais nas coisas que eu faço, é

muito bom poder quebrar o ‘copo da mãe’, bus-

car a criança boba e não a de cabelo engoma-

do. Hoje eu sou muito mais roqueiro do que fui

na adolescência.

E repetindo a pergunta que já te fizeram lá atrás: onde você quer estar daqui a 10 anos?

Eu adoraria estar fazendo o que eu faço. O

meu único medo é não conseguir envelhecer

dignamente.

E o que você está fazendo?Hoje eu estou na Rede Globo (e posso não

estar daqui a um tempo), atuando na novela das

21h e ao mesmo tempo estou em uma revista

com o André Abujamra e o Carlos Careqa (dois

artistas com quem Alexandre possui um proje-

to paralelo). Também tenho feito shows, o que

é mais raro em momento de gravação de no-

vela. Meu único planejamento agora é transfor-

mar o meu CD “Vendo Amor” em DVD ou um

documentário, mostrando todo o processo de

criação e realização e vai se chamar ‘revendo

amor’.

E quanto custa esse amor?Depende. O amor que eu vendo custa R$25

nas lojas (risos). Já o amor que as pessoas es-

tão vendendo pode custar um carro pro filho, por

exemplo. A brincadeira do ‘vendo amor’ está no

sentido de vendar, de observar o amor pra se

falar de outras formas, mas a principal crítica ou

ironia do CD é essa da sociedade que compra

o amor. Também vendo outro tipo de amor que

pode custar mais caro ou mais barato (risos).

Alexandre Nero já faz planos para quando a novela terminar e transformar seu CD em DVD é um deles

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fingidaAmnésia Minha memória para fisionomias talvez

seja a única coisa que funcione de verdade

dentro desse emaranhado de fios e ideias

soltas que chamo de cachola. Não que seja

um poder mutante ou esteja eu querendo

contar alguma vantagem. Ocorre que se

presto atenção em um rosto nunca mais

consigo apagá-lo do meu HD. Obviamente,

a minha habilidade mnemônica já me colo-

cou em algumas saias justas de amargar e,

tenho quase certeza, sobrecarregam meu

sistema para informações úteis como

pentear os cabelos, acertar aniversá-

rios de gente querida, datas corretas

para quitar as faturas e onde deixei

o carro ao estacionar.

Dia desses estava no meu bote-

co preferido, saboreando a vida e

falando mal dos outros, quando

me aparece um colega de tra-

balho e sua respectiva esposa,

ora veja. Cumprimentos para cá,

cumprimentos para lá, ele resol-

ve me apresentar à digníssima.

Prontamente, respondo na minha

ingenuidade que já a conhecia.

Surpreso, meu caríssimo parceiro

arregalou os olhos verdes enor-

mes e se acomodou para saber

de onde vinha essa proximidade,

já com a sobrancelha direita le-

vantada, exibindo um misto de ci-

úme e curiosidade sincera.

Sem me afetar com as poucas cer-

vejinhas que havia ingerido, contei que

sabia até o sobrenome da moça; relatei

onde ela concluiu o já extinto primeiro grau,

hoje ensino fundamental; dei os anos em

que ela esteve nessa escola, suas habili-

dades como chefe de turma e seu enga-

jamento junto aos professores na hora de

organizar as feiras de ciência, as festas ju-

ninas, a reunião de pais e tudo mais. Para

fechar, mencionei o endereço em que ela

morava uns seis anos atrás – porque sem-

pre a via perto de casa. Só faltou o CEP.

Claro que não precisava ter sido tão histriô-

nico e parte da falação era para, de fato, exi-

bir meu Alzheimer ao contrário. Havia entre-

gado informações de mais de 20 anos atrás,

quando ainda era um moleque sem recheio

e coberto de acne. Ao terminar minha expo-

sição sobre a companheira do meu interes-

sado interlocutor, o casal estava estatelado.

De queixos caídos, olhos vidrados e ex-

pressões apalermadas, eles me encaravam.

Ela por não lembrar absolutamente nada so-

bre mim, na ocasião, um estranho que sabia

demais. Provavelmente, achou que eu era

um cigano que revelava o passado para, em

seguida, cobrar o cachê pelas previsões dos

próximos anos dos dois. Já ele estava as-

sombrado – os olhões verde-água ganharam

uma cor acinzentada, soturna.

Puxou-me pelo braço, me levou para o

canto, deixando a esposa e os petiscos de

lado e me sussurrou com velocidade: “Estás

ficando maluco? Anda investigando a minha

mulher? Que que é isso, rapaz?” Depois ele

sorriu, quebrando a tensão. Ri de volta, di-

zendo que o truque era apenas a memória

de paquiderme que me perseguia. Ficou o

dito pelo não dito, fizemos um brinde pelos

bons tempos - os lembrados e os esqueci-

dos. Depois saí de fininho.

Não era a primeira vez que cometia uma

gafe do gênero. Numa oportunidade anterior,

puxei assunto com um contemporâneo da

época da terceira série, quando eu tinha oito

anos de idade. Inteligente como ele sempre

foi, virou engenheiro, ora veja. E front man

de uma inusitada - e com relativo sucesso -

banda de pagode local. Nem tudo é perfeito.

Encontrei o rapaz numa dessas redes

sociais da vida e mandei um alô saudoso,

pronto para relembrar as pirraças que fazí-

amos com a professora Alice e quando fugi-

mos correndo da quadra de esporte por cau-

sa de um ataque de abelhas africanas. Mas,

que nada: nem lembrou, o ingrato. Soltou um

“parece que estudei sim nessa escola, mas

não tenho certeza”. Deve ter achado que eu

era maluco ou algum fã obcecado pelos hits

supimpas do seu grupo de pagode.

Cada vez me convenço mais de que, qua-

se sempre, o melhor é fingir amnésia. Sobre

o passado, o presente e o futuro.

Francamente.

Anderson Araújo,jornalista

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perfil

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Na terceira entrevista da série “Belém – 400 anos”, nosso convidado é o Secre-tário de Cultura do Pará, o arquiteto Paulo Chaves. Responsável pela revolução visual de pontos em toda a Belém, ele revela, entre tantas coisas, que vai res-taurar o Cemitério da Soledade, que está trabalhando em um parque no Utinga e que subprefeituras poderiam ajudar na administração da cidade.

Ainda com o gravador desligado, ele nos

avisa – em tom de advertência – e pede

desculpas antecipadamente se for “ácido

demais” – característica pela qual ele ficou conhe-

cido ao longo de toda sua trajetória pública. Alar-

me falso. Ácido, não. Polêmico? Sim. O arquiteto

Paulo Chaves, que ocupa atualmente o cargo de

Secretário de Estado de Cultura, bem que avisou.

Mas, ao contrário do que preconizou, tivemos um

feliz encontro com um homem apaixonado pela

cidade onde mora.

À frente da SECULT – posto que ocupa pela 4ª

vez – o arquiteto foi o grande responsável por al-

gumas revoluções na capital paraense, reflexo de

uma história de amor – que já dura mais de seis

décadas – com Belém.

Nesta terceira entrevista da série “Belém – 400

anos”, Paulo Chaves abre seu coração e fica com

os olhos marejados inúmeras vezes. No dia em

que o entrevistamos, ele transbordava de felicida-

de. Entregaria, minutos depois, o secular Theatro

da Paz (talvez o símbolo máximo da Belle Époque

no Pará) totalmente restaurado – juntamente com

o lançamento de um livro, que conta em mais de

500 páginas a trajetória da casa, bem como as

alterações ao longo dos anos e todo o processo

do minucioso restauro do local.

Emocionante, surpreendente, sem jamais per-

der o tom cordial da voz e suas palavras (e neolo-

gismos) compassadas, além de bem-humorado.

Este é Paulo Chaves, com quem a Revista Leal

Moreira teve o privilégio de conversar. Natural-

mente, o cenário histórico (a casa, no coração da

cidade e que abriga a sede da SECULT) compôs

a atmosfera de nostalgia predominante em nossa

conversa. Sem perder o foco no futuro.

Secretário, a gente começa esta entrevista per-guntando: como devolver o título de metrópole da Amazônia para Belém?

Acho que este não é o caminho. Eu acho que

não devemos ter uma meta a ser alcançada, des-

ta natureza... Como devolver o título de campeão

paraense ao Clube do Remo...? (a sala inteira ir-

rompe em gargalhada) Eu acho que existem ou-

tras avaliações que nos encaminharão – ou não

– para sermos “isto ou aquilo”. O fato é que eu

vejo a Belém dos nossos dias, como tantas outras

cidades, e não vou dizer só no Brasil, no mundo

inteiro, mas mais particularmente nos países sub-

desenvolvidos [...]. Essas cidades estão doentes.

E aí vem a minha primeira contrapergunta: como

é que você faz pra resolver o problema da circu-

lação urbana? Como é que a gente faz pra resol-

ver este problema, por exemplo, se essas cidades

não foram planejadas devidamente, corretamen-

te, para este fim? Belém não tem um sistema e,

veja bem, quando falo Belém – não é apenas Be-

lém, nem somente Belém – não estou tomando

partido. É um posicionamento crítico e Belém vai

predominar porque somos daqui. Então, como é

que faz? Interrompe a indústria automobilística?

Para-se de vender carros? Constrói-se um metrô

em Belém? Como, impossível? Como fazer com

que as pessoas usem a cidade, as calçadas, os

logradouros, as praças, como era antigamente,

Redação Dudu Maroja

»»»

FlâneureacidadeO

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no final do século XIX, no começo do século XX (ou

até mesmo em meados do século XX)? As pesso-

as estão hoje na cidade como “passantes” – elas

vão e vêm, mas elas não estão mais vivendo, elas

não estão mais tendo uma relação de amorosidade

com sua cidade, com seus monumentos, com sua

arquitetura, com seu arboredo. Não estão. As pes-

soas querem acelerar o que a vida mudou, o que o

tempo mudou. O tempo é outro, as pessoas acele-

raram. E, no entanto, nem podemos acelerar muito

se estivermos no carro ou no coletivo, porque, por

outro lado, a cidade enfartou nas suas vias de cir-

culação. Olha como é contrastante: a vida acelerou;

o “time is money” é cada vez mais importante e,

no entanto, nós ainda estamos no tempo das di-

ligências. Circulamos como se estivéssemos em

carroças – com todo o conforto, com equipamen-

tos eletrônicos e os que estão a pé estão apavora-

dos, morrendo de medo ou com o olhar todo fixado

no chão, que é para não tropeçar. Porque calça-

das contínuas não temos. Sobretudo as pessoas

que, como eu, são da melhor idade, ou podem

ser mães com carrinhos de bebê, ou um deficien-

te visual. Como circular em Belém? Em quais cal-

çadas? Como estão essas calçadas? Entulhadas,

impedidas com obstáculos de toda sorte. Então a

memória das pessoas é uma memória funcional.

“Vou à farmácia. Andarei tantos quarteirões, dobra-

rei ali, seguirei em frente e chegarei à farmácia”. A

vida passou a ser de um endereço para outro. O

Walter Benjamin conta, em um livro muito interes-

sante, sobre a vida dele em Berlin; a relação dele

com a cidade, os documentos. Ele dizia que em

cada lugar que ele ia, ele encontrava seu passa-

do, encontrava muitos momentos da sua vida. Não

existe mais isso. Hoje não se desfruta mais a paisa-

gem, o sítio. Você sequer hoje enxerga um edifício,

uma antiga casa da Belle Époque, enfim, hoje não

se tem mais essa relação de amorosidade com a

cidade. Quer um exemplo? Quando eu passo pela

Dr. Moraes, eu vejo a família Meira na calçada, sen-

tados, tirando um dedo de prosa...

E era um hábito tão recorrente de até 10 anos atrás...

Eu fui acostumado assim! E já passei dos 60

anos... Quando dava seis horas, cinco e meia da

tarde, o fim da tarde e a boca da noite eram rega-

dos a papo em cadeiras de balanços, à beira da

calçada. Isso era uma tradição em Belém. E mais

ainda: quem anunciava o fim de tarde? As cigar-

ras! [os papéis se invertem e ele me pergunta] Você

nunca ouviu uma cigarra, já ouviu?

Já.Onde?

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A sede da Secretaria de Estado de Cultura, um casarão secular na Av. Magalhães Barata, reserva surpresas...

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»»»

Eu cresci sentando à beira da calçada, no Umarizal.Conversa! Você é muito jovem pra isso. [a garga-

lhada é geral] Era um alarido na cidade inteira! As ci-

garras anunciavam a noite – era um canto estriden-

te, mas nostálgico, era lindo. Belém foi uma cidade

que, até recentemente, quando se estava no meio

da Quintino Bocaiúva, vinha aquele cheiro, aquele

odor maravilhoso. Da fábrica Phebo! Reconheciam-

-se os lugares da cidade pelo cheiro, pelo canto

dos passarinhos, pela algazarra dos moleques nas

mangueiras... Pelo banho de chuva. Eu não quero

ser nostálgico, saudosista, não. O Vicente Salles,

que nos deixou recentemente, também não era.

Essa é uma visão, uma relação com a cidade que

não se tem mais e ao falar sobre isto, agora, é uma

crítica. É possível retornar a essa Belém? Voltamos

à tua pergunta. Não se trata de ter títulos, condeco-

rações. “Belém é isso, é aquilo; é mais que Manaus

e menos que São Luís...”. Não é isto. É saber: onde

está a qualidade de vida de cidades como Belém?

Aí nós vamos para a periferia. Parece que eu estava

falando desta Belém, chique e elegante, desta área

central. E na periferia? Depois de um determinado

horário, as pessoas sequer saem de casa. Se você

vê as vendas, digo, de toda sorte de mercadorias,

é tudo atrás das grades. As pessoas estão seques-

tradas do seu direito, do ser cidadão, do ir e vir, para

ficarem atrás das grades, como presos, em uma

cidade inóspita. As pessoas estão indefesas. Daí eu

pergunto para você: como restituir a cidade, a Be-

lém como metrópole, a urbes onde queremos viver

com dignidade?

Pequenas ideias ou uma grande revolução?Olha, eu acho... Que se você me desse a função

de ser administrador da cidade hoje, seria um gran-

de castigo, apesar de toda a amorosidade que eu

ainda reservo por Belém.

Qual seria seu primeiro ato?Eu partiria para duas coisas. Do cotidiano: a lim-

peza da cidade, dos bueiros, do lixo nas ruas e a

exigência de iluminação pública, para dar uma con-

dição mínima de segurança, enfim, permitir que as

pessoas possam ir ao pronto-socorro, a uma far-

mácia, uma escola. A qualidade do ensino funda-

mental, porque sem cultura, sem conhecimento,

você não pode praticar qualquer cidadania, porque

você não tem consciência. Então, essas coisas, que

eu chamo de “pequenas providências”, do cotidiano

da cidade, são fundamentais. E algumas ousadias.

Uma delas seria reunir todas as pessoas que têm

experiência, que têm conhecimento, nem que tra-

gam uma perspectiva de fora – eu não sou contra

trazer gente de fora para discutir com a gente, não.

Eu sou contra quando a gente tem pessoas capaci-

tadas em nosso quadro e manda trazer de fora por ...e a sensação, aos seus visitantes, que por ali, o tempo parou

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diferenças ideológicas, políticas. Isso não. Faría-

mos um seminário: “Como resolver a questão das

vias circulantes de Belém?”. Porque passa pelo

transporte coletivo, transporte modal. É um projeto

ousado, com certeza...

Mas é um remédio amargo. Necessário, sem dú-vida, mas amargo, não?

Olhe, eu aprendi com a minha avó que remédio

quando não é amargo, ele não cura. Nós temos

que enveredar por um pacto em que cada um

ceda um pouco.

Está faltando amor pela cidade?O que eu vejo é uma coisa que não é de agora,

não é só de Belém. É de sempre, de todos os

tempos. Há um egoísmo muito grande – há uma

tendência natural de as pessoas olharem sempre

para o próprio umbigo, por isso é que eu volto

agora ao tema de educação e cultura. Você tem

que ter uma consciência de coletividade. Uma vi-

são social do drama que é conviver no mesmo

sítio, numa mesma urbe. Ninguém é uma ilha – no

mínimo, somos um arquipélago de pessoas. Há

que se ter urgência desta consciência. [ele para

um pouco, reflete e retoma] Por exemplo, a ques-

tão da arborização da cidade.

Isso é uma polêmica, não?As mangueiras foram um equívoco. Um grande

equívoco. Porque, àquela época, não havia essa

quantidade absurda de veículos. Veja bem, esta-

mos falando do final do século XIX. As calçadas

eram imensas – hoje não são mais. As manguei-

ras cresceram muito. E elas não foram pensa-

das para hoje – talvez fosse impossível fazer esse

exercício de “futurismo” então. E que os postes

de energia elétrica fossem para o meio da rua,

com um emaranhado de fios – e, convenhamos,

há uma solução mais inteligente para isso: embu-

tir os fios, fazer com que eles sejam subterrâneos.

Eu tenho feito isso em todos os lugares que eu

tenho feito intervenção, como o Feliz Lusitânia. É

uma solução cara? É. Mas do jeito que estão as

mangueiras sofrem. Com podas em “v”, que de-

formam e desequilibram as árvores. Acresça aí

os serviços que são feitos nas calçadas, de água,

de telefone, porque se cortam as raízes das man-

gueiras e isso as desestabiliza. É difícil você ver

uma mangueira com seu tronco íntegro, sem os

nódulos causados pela poda incompetente. E re-

pare: não são somente as árvores que ficam de-

sequilibradas. Os postes de energia elétrica estão

tortos – não há um único poste no prumo, é uma

dança de postes. Aí, me perguntarias: “E aí? E

eu te responderia “não sei”, mas não tiraria uma

única mangueira. Eu exigiria, como gestor públi-

co, que as podas fossem mais responsáveis, que

fossem feitas pensando na árvore e não na fia-

ção elétrica. Veja bem: não estou dizendo que as

mangueiras não têm importância. Muito ao con-

trário! Por anos, elas embelezaram nossa cidade,

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O Feliz Lusitânia, projeto também de Paulo Chaves, é um exemplo de que é possível transformar a paisagem.

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nos deram sombras e frutos... Nominaram a cida-

de e ainda foram generosas o suficiente para nos

dar túneis lindos. Não estou propondo tirar nenhu-

ma, mas precisa-se buscar soluções. E onde não

há mais mangueiras, replantar uma espécie que

cresça rápido.

O prefeito Zenaldo comentou que gostaria de fazer uma consulta popular para não replantar as mangueiras. Que a gente busque outras espécies que se adequem melhor ao nosso clima, às nossas necessidades...

O prefeito Zenaldo é um homem de sensibilida-

de. Convivi com ele e sei que ele está com vonta-

de de ser um bom prefeito, mas não basta vonta-

de. Essa decisão dele é muito sábia. Não é uma

decisão de um alcaide. É uma decisão que passa

pelo coletivo. Agora não pode ser também um

plebiscito emocional. Porque se for emocional, a

mangueira vai levar. Há que se ter uma campanha

com pessoas esclarecidas, que possam elucidar

dúvidas. Mas com a quantidade de carros, na

época das mangas, a quantidade de para-brisas

quebrados e carros amassados é enorme. Ainda

tem o risco às pessoas que circulam nas calça-

das... É uma questão complicada, porque passa

por tradição.

O senhor acha que os entes municipal e estatal dialogam ou dialogaram pouco? O senhor acha também que falta amor do paraense para com sua cidade?

Eu usei a palavra “amorosidade”, não é? Há

que se ter isso em tudo que você faz na vida. Eu

não consigo um traço, um projeto, se eu não me

apaixonei pela ideia, pela proposta, pelo benefí-

cio que pode trazer às pessoas. O amor é fun-

damental a qualquer profissão. Um médico, por

exemplo, pode ser competente, mas ele tem que

ser humanista – ele não pode ser mercenário. Ele

tem de ter essa relação com o paciente, inclusive,

porque sabe que isso vai acelerar o processo de

recuperação. O mesmo em relação a administrar

uma cidade. Belém está doente? Está. É grave? É.

Alguém tem que tomar conta. Não dá pra ser “o

último apaga a luz e fecha a porta”.

O paraense sente falta de coisas simples, não? Lixeira nas ruas, por exemplo...

Belém já teve muitas lixeiras. Mas elas não eram

cuidadas. Porque não basta colocar lixeiras – elas

têm de ser cuidadas; o lixo tem de ser retirado.

Para isso acontecer há que se ter qualificação téc-

nica nos quadros da prefeitura. Na época da ad-

ministração do Lemos, por exemplo, ele mantinha

nos logradouros, nas praças, normalmente, quatro

operários: era um bombeiro, um marceneiro, um

serralheiro e um homem de limpeza. Eles articula-

vam as equipes, mas a presença era permanente.

Geralmente debaixo dos coretos, onde funciona-

vam pequenos escritórios. E esses funcionários

sabiam de tudo relacionado àquele lugar, àquele

logradouro. Eles sabiam, em detalhes, de toda a

engrenagem: quando uma luz queimava, quando »»»

Acima, um dos túneis de mangueiras, tão característicos de Belém. Abaixo, um detalhe do cemitério da Soledade.

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34

estava vazando água de um lago... Conheciam

até quem frequentava, os moradores. Hoje, tal-

vez, não dê para fazer isso por logradouro, mas

dá para fazer por bairro. Quem sabe subprefei-

turas com pessoas do próprio bairro? Quando tu

tens uma subprefeitura, têm-se gerentes, eleitos

pelos próprios moradores do bairro. Quem sabe

não é um caminho?

E a memória do paraense?A cidade está de tal ordem, que hoje as pes-

soas não enxergam mais a escultura pública, os

monumentos. Não se nota mais os casarões an-

tigos. Hoje se sai mecanicamente de casa e se

volta da mesma forma para casa. A cidade em

si, o lugar que é comum a todos, o sítio comum

não é mais desfrutado. Não existe mais o flâneur.

Não se sai mais descompromissadamente para

deambular pela cidade. Não se tem mais o regis-

tro do “ali ficava uma farmácia onde eu aviava as

receitas da minha mãe”. Não se tem mais isso.

Fora a repetição estética – o mau gosto... Quar-

teirões e mais quarteirões de uma repetição de

vulgaridades. Uma pobreza estética, arquitetôni-

ca. A minha profissão é a arquitetura, mas podes

ter a certeza de que eu não vou procurar o déjà vu,

a repetição minha e de um colega arquiteto. Vou

procurar marcar a cidade.

Falando nisso, o senhor nos permite uma curiosi-dade? Que prédios, que logradouros significativos para o senhor ou para a história da cidade o senhor restauraria?

Sabes que, no momento, estou me dedicando

muito ao Parque do Utinga? Estamos projetando

um parque que, dentre tantas outras coisas, terá

um aquário de padrão internacional, integrado à

natureza. E eu acho que isso vai ser um grande

ganho para nós, porque será um local de instru-

ção, de educação, de pedagogia, de pesquisa

científica. Você vai lá aprender a importância de

preservar nossos rios, nossos lagos – e com isto,

nossa fauna, nossa flora, além de ser um lugar

para estudar nossas espécies. Segundo, tenho

um projeto, pronto para fazer junto com a prefei-

tura e eu já conversei com o prefeito, o “Parque

da Soledade”, tirar o estigma de cemitério, trans-

formar aquele lugar em um lugar de memória, de

história, de rememoração do passado. E é um

desperdício – o Soledade é quase do tamanho da

Praça Batista Campos, com mangueiras intactas.

Ali não podaram – ali é o exemplo mais bonito de

mangueiras saudáveis. Sem mencionar que o So-

ledade, embora tenha funcionado por apenas 30

anos, reúne estilos variados. Ali você encontra o

art nouveau, o art déco, o neoclássico. E instaurar

uma cultura de que é possível “saudar as almas”

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Juntamente com a entrega do Theatro da Paz totalmente restaurado, após um minucioso processo, o livro contando a trajetória e as transformações da casa também foi lançado no mesmo dia.

Veja maisacesse o QR e leia material extra.

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35

ou os santos populares sem queimar. Temos que

ter um lugar para as velas. A cultura será mantida

porque é bonito e cultural. Paralelo à restauração

do Soledade, temos que pensar na organização

da feira da Batista Campos.

Uma saudade sua...Falei em tantas.

De fato: falou das cigarras, das conversas nas calçadas... Mas eu me refiro a algo no qual o senhor pensa durante o seu trajeto e se pega imaginando “seria tão bom”...

Então pronto, vamos a uma grande saudade:

de ir e voltar andando para a escola. Eu estudava

no Suísso-Brasileiro, no final da Avenida Nazaré,

quase na esquina da Catorze de Março. Ali eu tive

as primeiras letras, como se diz. Os donos eram

alemães. Anita e Helga Müller. Eu morava onde

eu nasci, inclusive. Ali na Catorze de Março, entre

a José Malcher e a João Balbi, no edifício Maria

Carolina, que era o nome da minha mãe e o pro-

jeto é meu. Eu ia e voltava andando. Parava para

tomar um sorvete, mas eu ia a pé. Sem nenhum

receio, sem nenhuma ofensa. Neste passeio, eu

exercia o papel do flâneur. Às vezes a ida até que

era um pouco acelerada, mas na saída, eu ficava

inventando trajetos. Prolongava, parava na Livra-

ria Martins, parava para pegar um gibi, pegava

manga. Existe essa saudade imensa de caminhar

livremente por uma cidade adorável. E vamos si-

tuar isso: nos anos 50. No ginásio, já no Moderno,

eu ia de bicicleta. [Paulo Chaves fica com os olhos

marejados]

Um lugar que o senhor ama com todas as forças.Ah, são dois. Um que eu visitei como estudante,

entre 1964/1965, e que depois, ao retornar, en-

contrei dilacerado e isso me dilacerou [ele bate na

capa do livro, que seria lançado horas mais tarde]:

o Theatro da Paz. E a igreja de São Francisco Xa-

vier, que você conhece como a Igreja de Santo

Alexandre. Cinquenta anos de restauração e já se

falava em torná-la um museu de arte sacra. Eu

tive o privilégio de restaurar ambos. Um ícone da

Belém colonial e outro, o símbolo máximo da Belle Époque. [ele se emociona novamente]

O que o senhor deseja para Belém em seus 400 anos?

Uma coisa possível: que essa cidade sem ca-

ráter volte a tê-lo. Inclua isso: o sítio e uma parte

significativamente de pessoas. Quero uma cidade

fraterna, amiga, companheira. Que a gente tenha

prazer de viver nela.

(...) eu exercia o papel do flâneur.

Às vezes a ida até que era um pouco

acelerada, mas na saída, eu ficava inventando trajetos.

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36Artes meramente ilustrativas que poderão ser alteradas sem prévio aviso, conforme exigências legais e de aprovação. Os materiais e os acabamentos integrantes estarão devidamente descritos nos documentos de formalização de compra e venda das unidades. Plantas e perspectivas ilustrativas com sugestões de decoração. Medidas internas de face a face das paredes. Os móveis, assim como alguns materiais de acabamento representados nas plantas, não fazem parte integrante do contrato. Registro de Incorporação: Protocolo nº 208.842 Matrícula (RI): 17.555 Livro: 2-k.o. (RG) em 01/11/2012.

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entrevista

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Lorena Filgueiras divulgação

Ela foi descoberta ainda garota. Aos 17 anos,

cantando com amigos em uma típica tasca

portuguesa, a lisboeta Maria Teresa de Al-

meida Salgueiro tornou-se vocalista do nascente

“Madredeus”, em 1986. Iniciava ali a carreira da

cantora portuguesa mais famosa no exterior, de-

pois de Amália Rodrigues. Segundo Pedro Ayres

de Magalhães, um dos fundadores e diretor do

Madredeus, Teresa foi, por vinte anos, “a maior

inspiração do grupo”. E não havia exagero algum

nessa declaração. Só consegue entender a força

das palavras de Pedro Magalhães quem se entre-

gou à magia da voz de Salgueiro. Sem qualquer

educação musical formal, revelação surpreenden-

te para nós, não resta muita dúvida de que Teresa

foi tocada por uma “existência superior” – como

a crítica costuma fazer referência e se render ao

seu talento inquestionável. Além da beleza clás-

sica, que foi explorada em quase todas as capas

dos discos do Madredeus, a cantora – que possui

hábitos muito simples – é extremamente educada

e adora o contato com os fãs, além de frequen-

temente interagir com eles por meio das redes

sociais.

A notícia da saída de Teresa Salgueiro do Ma-

dredeus, em 2007, assombrou o mundo da mú-

sica, mas foi o marco inicial de uma carreira solo

que já havia sido consolidada, muito antes de seu

início propriamente dito. Vivendo um momento de

graça, de mais autonomia e compondo suas pró-

prias músicas, ela revela, em entrevista exclusiva

à Revista Leal Moreira, toda sua trajetória em bas-

tidores e à frente, no comando da sua própria his-

tória. Com vocês, “o mistério” revelado de Teresa.

Você começou muito jovem no Madredeus, aos 17 anos, quando te ouviram cantar em uma tasca em Lisboa, certo? O Pedro Magalhães, certa feita, declarou que você era a grande inspiração do gru-po. E a gente tem de concordar que você tem uma voz única, inesquecível. Como começou tua história com a música? Você teve uma educação musical?

Eu tive uma educação musical básica, daquela

que você tem na escola, não mais que isso. Tive

aulas de piano, durante alguns anos, mas tam-

bém de uma forma não muito aprofundada, diga-

mos assim. Quando eu comecei a cantar, eu não

tinha qualquer tipo de formação.

Apesar de uma não-educação formal musical, de uma forma geral e quase uníssona, os críticos di-zem que ao longo dos anos sua voz amadureceu e que ficou ainda mais bonita. Você tem esse mesmo senso crítico?

Como eu te disse, quando comecei a cantar,

não tinha qualquer tipo de formação musical for-

mal em relação ao canto. E ainda hoje, devo dizer

que não tenho muita formação. A minha grande

formação são as canções que eu cantei duran-

te quase vinte anos com o próprio Madredeus e

com outros projetos dos quais participei. Algumas

dessas canções, gravadas também ao longo des-

ses anos, inclusive foram reunidas em um álbum

(“Obrigado”), que foi lançado em 2005. E há mui-

tas outras parcerias em outros projetos. Tudo que

eu tenho cantado, no fundo, tem sido a minha

grande escola. No início – e isso é possível ob-

Ave, TeresaA cantora Teresa Salgueiro, talvez a maior representante da música contemporânea portuguesa, vive um momento de graça: seu primeiro disco autoral é sucesso na Europa e ela faz planos de trazer o espetáculo para o Brasil.

»»»

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40www.revistalealmoreira.com.br

Teresa Salgueiro e os músicos com os quais ela gravou “O Mistério”

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servar – o primeiro disco que gravei, ou melhor, que

o grupo gravou (“Os dias da Madredeus” – 1987),

foi feito, de certa forma, de maneira “precária”, por-

que o disco foi gravado em três madrugadas, direto,

sem qualquer direção. Não tinha escola, enquanto

cantora, e não tinha direção para o grupo. E quando

eu ouço esse disco – do qual gosto imensamente

– reconheço uma total espontaneidade e uma falta

da direção que, de fato, não havia. É um disco puro,

espontâneo. Anos mais tarde, em nosso primeiro

disco de estúdio, o “Existir” (1990), é possível per-

ceber uma grande diferença na voz e aí eu já ha-

via começado a ter aulas particulares de canto, por

três anos e mais um ano em conservatório. E assim

foi quando iniciamos a turnê de “O Espírito da Paz”

(1994), que foi o terceiro disco gravado em estúdio.

E aí... o processo de aprimoramento continua até

hoje (risos).

De certa forma e por muito tempo, sua imagem e a do Madredeus fundiram-se – isso te incomoda? Qua-se seis anos após sua saída, como você avalia sua saída do grupo e como vê sua própria trajetória em carreira solo?

(risos) Essa pergunta contém muitas perguntas,

mas vamos lá. Voltando, por exemplo, ao “Obriga-

do”, que foi um disco resultado de uma coletânea,

por assim dizer, dos trabalhos “solos” que realizei

quando ainda estava com o Madredeus. E é possí-

vel observar diferenças entre as faixas. Eu sinto uma

disparidade na voz, inclusive, porque as músicas

foram gravadas em períodos muito distintos. Em re-

lação ao grupo, é absolutamente natural que a ima-

gem seja associada. Por muito tempo, dediquei-me

a cantar o repertório do grupo, a divulgar seu pen-

samento, sua obra. E isso ocorreu por vinte anos.

Quando entrei no grupo, eu tinha 17 anos. Logo eu

tenho muito mais tempo de vivência no grupo do

que tinha de vivência de mim mesma. Entendo per-

feitamente que as pessoas ainda me associem aos

Madredeus – estranho seria se não fizessem essa

associação (risos). Agora, me permita uma obser-

vação: o grupo de trabalho que existia quando en-

trei, foi o mesmo por dez anos. Quando eu saí, o

grupo era totalmente diferente. Da formação inicial,

no período da minha saída, em 2007, só estavam

o diretor do grupo (Pedro Ayres de Magalhães) e o

José Peixoto, um virtuose da guitarra, que contribuiu

enormemente para o trabalho. Fui me adaptando a

todas essas mudanças, até que surgiu um momen-

to em que o grupo parou durante um ano [período

que foi definido, por eles mesmos, de “sabático”,

em 2007] com ideia de repensar sua atividade, sua

própria “calendarização”, porque – imagine você –

foram duas décadas intensas. Tínhamos falado até

da hipótese de trabalhar em períodos intensivos, de

3 ou 4 meses, e depois os músicos poderiam de-

dicar-se a outras atividades – já que os músicos ti-

nham outros projetos, outras coisas que desejavam

fazer. Quando nos reunimos novamente, ao final de

2007, foi-me proposto um contrato de sete anos de

exclusividade e... Passei toda minha vida adulta no

grupo, tinha vivido suas diferenças... Os amigos do

começo da carreira, da formação original do grupo,

já não estavam – e no começo, o Madredeus era

uma reunião de amigos, que depois se profissionali-

zou. E, portanto, pelos próximos 7 anos, eu não po-

deria fazer mais nada, o que era impossível. Ou era

isso, ou era nada, não havia muito a possibilidade

de flexibilizar. Vou insistir que havia muito mais tem-

po da Teresa com o grupo, do que da Teresa sem o

grupo. E eu tinha necessidade de parar um tempo, »»»

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42www.revistalealmoreira.com.br

Os críticos afi rmam que Teresa é a herdeira musical de Amália Rodrigues (foto ao lado), que tirou o fado da condição de música marginal. Apesar da comparação, Teresa Salgueiro afi rma que não canta fado. “Eu canto música portuguesa, contemporânea”.

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43

enfim, para ficar em casa, por exemplo, para o que

fosse ou para experimentar novas coisas, de modo

que eu decidi que continuaria meu percurso na mú-

sica. E eu vivi, após isso, tantas novas experiências,

novos ensembles,novos estilos... sempre à procura

dos músicos, com os quais compus as músicas e

gravei em agosto de 2011 [“O Mistério”, CD que ela

lança este ano e com o qual pretende vir ao Brasil].

Lembro-me de ter ouvido muitas vezes que havia uma discordância saudável sobre o gênero musical no qual vocês estavam inseridos: fado, world music e alguém definiu como “um espírito muito próximo do fado”. A crítica especializada diz que você é a herdei-ra legítima da Amália Rodrigues. E voltando um pou-co à pergunta inicial, em qual dos gêneros musicais você se insere?

Eu não sinto a necessidade de rotular ou cate-

gorizar a música. De maneira nenhuma. O fado é

uma música tradicional de Lisboa e Coimbra e que

viveu seu apogeu e desenvolvimento com a Amália

Rodrigues, com toda sua indulgência, da sua ex-

traordinária versatilidade enquanto cantora. Antes,

o gênero era considerado muito “marginal”, restrito

apenas às casas de fado. E graças a ela – e a ou-

tros artistas, mas muito mais graças a ela, certa-

mente – o fado popularizou-se e saiu das casas do

fado. Não era muito bem visto ser fadista e, graças

à Amália, isso tudo mudou completamente. Em ter-

mos líricos também, porque ela começou a cantar

poetas contemporâneos e foi buscar outros, de ou-

tras épocas. Graças ao trabalho da Amália, a Unes-

co reconheceu o fado como patrimônio imaterial da

humanidade. Quanto ao fado, não vejo relação com

o que fiz por quase 20 anos. Talvez a única relação

seja o fato de eu ser de Lisboa. Com o Madredeus,

cantávamos uma fusão de vários estilos e, com cer-

teza, algo muito próximo ao estilo do fado era reali-

zado, mas o que predominava era um estilo clássi-

co, uma estrutura clássica de execução da canção.

Também não era world music, uma etiqueta muito

usada para a música étnica. Portanto, o que eu faço

é música portuguesa, é música contemporânea,

uma fusão de muitos estilos diferentes. Ligada à

memória do que é a cultura portuguesa, com in-

fluências de outras culturas, o que é muito enrique-

cedor. Também não se pode confundir a música

que faço agora com a música que cantei por quase

duas décadas. Durante esses vinte anos, as músi-

cas eram compostas para mim e hoje canto minhas

próprias palavras.

Em 2005, quando você lançou um trabalho solo (“Obrigado”) você gravou com músicos brasileiros – o que você primeiro conheceu da música brasileira? Você chegou, inclusive, a se apresentar com um es-petáculo e repertório inteiramente brasileiro (“Você e Eu”, 2007) – o que mais te agrada na música bra-sileira?

O “Obrigado” corresponde a gravações feitas em

15 anos, de forma dispersa, portanto não se pode

confundir com um disco gravado de maneira orga-

nizada, como o “Você e Eu”, que foi inteiramente

gravado no Brasil com um grupo de músicos bra-

sileiros, em São Paulo. E esse foi um projeto muito

interessante que surgiu. Mas eu me lembro, muito

jovem, de ter ouvido tanto na rádio João Gilberto,

Tom Jobim, Elis Regina, Dorival Caymmi, Chico Bu-

arque. A indústria fonográfica brasileira é muito res-

peitada, organizada e os artistas têm uma enorme

aceitação aqui, em Portugal. Desde aquela época,

cantores como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal

Costa visitavam e visitam Portugal com muita regu-

laridade e, portanto, desde sempre os seguia com

muito interesse. Ainda tem a questão da sonorida-

de, não é? O português de Portugal e o português »»»

Eu não sinto a necessidade de rotular ou categorizar a música.

(...) o que eu faço é música portuguesa contemporânea, uma fusão de muitos estilos diferentes, ligada à memória

da cultura portuguesa.

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44www.revistalealmoreira.com.br

Em uma apresentação recente de “O Mistério”.

COM OS MADREDEUS:• Os Dias da MadreDeus (1987)• Existir (1990)• Lisboa (1992, ao vivo, gravado no Coliseu dos Recreios em Lisboa)• O Espírito da Paz (1994)• Ainda (1995)• O Paraíso (1997)• O Porto (1998, ao vivo, gravado no Coliseu do Porto)• Antologia (2000 – coletânea com duas canções inéditas)• Movimento (2001)• Palavras Cantadas (2001 - coletânea direcionada ao público brasileiro e abrangendo o trabalho do grupo entre os anos de 1990 e 2000)• Euforia (2002, ao vivo, com a participação da Flemish Radio Orchestra)• Um Amor Infinito (2004)• Faluas do Tejo (2005)

DISC

OGRA

FIA

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45

do Brasil, embora seja a mesma língua, são dois

“portugueses” diferentes e é muito interessante per-

ceber como a língua é usada no Brasil, como os te-

mas que inspiram os cantores são diferentes. Sem-

pre tive e tenho muito apreço pela música brasileira

pela vitalidade que emana dela. E por essas razões,

quando surgiu a oportunidade, foi um privilégio viver,

por dentro, essa alegria que eu vivia por fora.

Você está trabalhando na divulgação do seu primei-ro álbum autoral – O Mistério, certo? Foi um processo criativo laborioso ou fluiu naturalmente? Quais foram suas influências, sua inspiração maior?

Ah, preciso dizer que foi um processo interessan-

te. Eu precisava encontrar as pessoas para execu-

tar esse trabalho e elas foram aparecendo ao lon-

go dos anos, justamente nos trabalhos “solos” que

fiz mesmo no Madredeus. Entre 2007 e 2010, tive

a sorte de encontrá-los e começamos a compor

em janeiro de 2011, sendo que antes disso já ha-

víamos nos apresentado juntos com um espetáculo

chamado “Voltarei à minha terra” – que levamos,

inclusive, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salva-

dor e Fortaleza –, que consistia na interpretação de

diversos temas da música clássica portuguesa do

século XX. E foi um espetáculo que correu a Europa

e a América Latina e em janeiro de 2011. Começa-

mos um período de construção das músicas, das

letras e em agosto de 2011, gravamos o disco (“O

Mistério”)... Durou bastante tempo, porque concilia-

mos as gravações com a turnê do “Voltarei à minha

terra”. Mas facilitou muito que a maioria do grupo

vivesse em Lisboa. Foi um processo muito fluido.

É meu primeiro disco como solista, desde o traba-

lho de composição, ao exercício da escrita. A forma

como tenho me comunicado com diversas culturas

foi um desafio, mas me sinto muito recompensada.

Você gravou seu disco em um convento, não é? O que determinou essa escolha? Foi técnica ou a at-mosfera a ajudou?

Depois de conceber as letras e aproveitar cada

momento de inspiração, de ideias, o objetivo era

gravar em um lugar que não fosse um estúdio

convencional. Nós queríamos estar isolados, con-

centrados na música e tanto decidimos buscar um

lugar onde isso fosse possível. Encontramos o Con-

vento Da Arrábida (construção do século XVI), na

Serra da Arrábida, que é simplesmente um lugar

magnífico, em uma montanha verdejante, de frente

para o Oceano Atlântico. É um lugar que eu procuro

muitas vezes para rezar e que me agrada particu-

larmente. E nesta serra existe um convento que eu

nunca tinha visitado... E que fui visitar e descobri que

havia uma hospedaria, que servia para receber gru-

pos de trabalho, convenções, para estudo. E a tipo-

logia da casa, que fica precisamente de frente para

o convento, era ideal, perfeita aos nossos propósi-

tos. Deslocamo-nos para lá e gravamos o CD lá,

em meio à tranquilidade, a um ambiente inspirador

e dentro do que queríamos: completo isolamento. E

foi muito um privilégio gravar lá, em meio a uma na-

tureza magnífica. O resultado é que podemos dizer

que este disco fica para sempre ligado a um lugar

muito especial.

Você veio a Belém em 2000 e parece que uma única apresentação foi insuficiente, já que a apresentação foi ao ar livre e lotou as ruas próximas ao palco. Tem planos de vir ao Brasil para divulgar “O Mistério”? E sendo bem tendenciosa, a Belém?

Sem dúvida. E mesmo com os projetos anteriores

(“Você e Eu” e “Voltarei à minha terra”) não deixei

de ir ao Brasil, que é um país do qual gosto espe-

Ouça as músicas de Teresa Salgueiro.Reunimos uma seleção especial para você.

EM COLABORAÇÃO• Obrigado (2005)• Você e Eu (2007)• La Serena (2007) com Lusitânia Ensemble• Matriz (2009) com Lusitânia Ensemble

SOLO• O Mistério (2012)

»»»

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cialmente e me sinto muito bem recebida. Com “O

Mistério”, já há datas para muito em breve, só não

vou adiantá-las agora porque elas não estão abso-

lutamente confirmadas. Mas serão muitas datas. O

disco, em Portugal, foi editado por mim e saiu em

maio de 2012, mas já aconteceram edições em

muitos outros países: Itália, Espanha, México, Polô-

nia, Reino Unido. Em breve, Luxemburgo, Bélgica...

E a turnê brasileira acontecerá, bem como a edição

do disco também.

Promete que você vai se apresentar em Belém...(ela cai na gargalhada) Prometo que quero ir. Gos-

taria de reencontrar Belém.

Você é tida como uma artista muito acessível, que gosta de interagir com os fãs em redes sociais, que possui hábitos simples... O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando?

Olha, eu preciso te dizer que exerço uma ativida-

de que se confunde muito com minha vida privada.

A música faz parte da minha vida e é com alegria

que construo esse percurso com a música. Portan-

to, dedico os tempos livres à música também (risos).

Neste momento, inclusive, já estou me dedicando a

um novo repertório, que pretendo gravar brevemen-

te. Mas nos meus tempos livres, realmente livres, eu

dedico aos meus amigos, que são poucos, já que

a rotina de um músico não permite muitas relações

duradouras fora deste meio. Mas eu realmente cul-

tivo hábitos muito simples: gosto de ler, de ver um

bom filme, de ficar com minha família. E aproveito

minha filha (Inês, de 14 anos). Penso que nossa vida,

nossa felicidade se constroem dia a dia e nas coisas

mais simples. A realização da felicidade reside mes-

mo nas coisas mais simples, que podem parecer

não terem grande significado – são esses momentos

que fazem minha alegria e felicidade.

E qual é o mistério de Teresa?Talvez falte dizer que o mistério, o que eu escrevi,

os meus textos, sejam uma fusão de nossos diferen-

tes percursos, das emoções, tanto minhas quanto

dos músicos. No fundo, baseia-se muito na minha

experiência, na minha visão do mundo, que tive o

privilégio de conhecer por meio das viagens que a

música me proporcionou. O mistério é uma reflexão

da vida. Aos seres humanos não nos é dada a capa-

cidade de se conhecer, ou melhor, conhecemos tão

pouco do que nos rodeia e sabemos que há coisas

para as quais nunca teremos respostas, mas a acei-

tação deste mistério nos ajuda a ter uma noção de

nossa dimensão, do quão frágeis somos e da força

que temos, por meio da nossa criatividade, de nossa

capacidade em mudar o mundo.

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Tomei um café da manhã indigesto: na TV fa-

ziam um levantamento da situação dos hospitais

federais no Rio de Janeiro. Em um destes, mais

de um terço dos médicos haviam se aposentado e

não foram repostos. Em outro, serviços essenciais

como transplantes estavam suspensos por falta

de profissionais. Um dirigente afirmava que o con-

curso de 2012 estava ainda chamando candidatos

que levariam uns bons anos para serem prepara-

dos para os desafios de um transplante. Note-se

um comentário: o salário destes concursados seria

na faixa de R$ 2 mil. Então vamos combinar, um

cirurgião para transplante de fígado receberá ao

final do mês a vultosa soma de R$ 2 mil e traba-

lhará como um frei, afinal de contas a medicina

é um sacerdócio e os médicos fizeram juramento

para atender a qualquer custo. Não é de estranhar

que a fila não ande e os concursados não queiram

ser chamados. Uma pergunta, você ou alguém da

sua família se submeteria a um transplante num

hospital público onde o cirurgião recebe R$ 2 mil

por mês? Ascensorista do Senado ganha o triplo.

Além de me tirar o apetite matinal essa notícia

abriu-me o apetite para pesquisar. No Portal da

Saúde descobri que o orçamento do SUS é de R$

95 bilhões para 2013.

Vamos considerar que a população brasileira

esteja na casa de 194 milhões de almas, destas,

47 milhões, ainda de acordo com o governo, pos-

suem plano de saúde privado. Restam assim 147

milhões de desassistidos. Se dividirmos apenas o

orçamento do SUS por essa população teremos

R$ 646 per capita anual ou R$ 54 mensais. Não

é exagero imaginar que o custo de todas as se-

cretarias estaduais e municipais seja pelo menos

metade do orçamento do SUS. Assim teríamos

disponíveis pelo menos R$ 81 mensais por habi-

tante descoberto. Certamente com esse valor seria

possível adquirir um plano privado custeado pelo

governo. Teríamos então a saúde pública de me-

lhor qualidade sem custos adicionais para o res-

tante da população, pelo mesmo valor gasto hoje

pela ineficiente máquina do Estado.

O impasse é convencer a classe política, sindical

e organismos de pressão, todos interessados em

manter influência sobre a divisão do bolo, cada um

buscando a maior fatia e a população ficando com

as migalhas e todos pagando a conta da festa.

Uma outra linha de raciocínio para chegar ao

mesmo fim é imaginar que cada empresa tives-

se seu departamento médico, com profissionais,

ambulatórios e instalações próprias para atender

a demanda de seus colaboradores. Teríamos um

custo proibitivo que inibiria ações dessa natureza.

Para diminuir e diluir custos é que os planos de

saúde surgiram como opção e hoje um quarto da

população já usufrui desses serviços, dos quais,

também de acordo com o site do governo acima,

30 milhões, ou 64% do total são assistidos por

planos empresariais e os demais 17 milhões são

usuários particulares. Esses números cada vez

crescem mais, quem pode (e cada vez mais as

classes emergentes podem) está partindo para os

planos privados para não ter que suportar a péssi-

ma qualidade do atendimento público.

Ora, se os planos são opções mais interessantes

para empresas e particulares, por que não o são

também para o governo que poderia, em vez de

ser um péssimo prestador destes serviços, trans-

ferir para quem conhece e melhor administra cus-

tos a tarefa de prover de saúde sua população?

Ah, não quero ser inconveniente, mas por que

os servidores públicos têm planos e opções de

atendimento fora do SUS? Por que deputados e

senadores têm reembolso de despesas médicas

particulares e não usam o serviço que o próprio

governo criou para atendimento de toda a popu-

lação?

Não posso deixar de lembrar Mário de Andra-

de em Macunaíma: Pouca saúde, muita saúva, os

males do Brasil são.

A saúde e a saúva,os males do Brasil são.

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Carolina Menezes Talitha Lobato

Que tal escutaruns discos lá em casa?Não, isso não é uma cantada – é o tom da reunião. Dependendo da turma de amigos, é um convite para uma tarde, uma noite ou um dia inteiro de diversão que não cobra entrada ou couvert e que tem como principal atrativo a liberdade de promover um encontro com a cara de quem participa dele. A chamada “diversão indoor” tem conquistado mais adeptos que em vez de procurar entretenimento em locais públicos, preferem trazê-la para dentro de casa. Os benefícios e vantagens? Você confere na matéria a seguir.

Tem lugar mais gostoso que a casa da

gente? Afinal, lá é onde se relaxa, se des-

cansa depois das tensões daquele dia

cheio de trabalho e “pepinos” para resolver. E é

também um palco propício para reuniões, fes-

tas e farras daquelas que começam à tarde e

brigam com a luz do sol do outro dia invadindo

as janelas para não acabar. Para quem franziu

a testa ao ler a afirmativa anterior, eis três de-

poimentos que podem fazer com que você, na

medida do possível, repense as “possibilidades

possíveis” do seu lar, doce lar.

“Reuniãozinha sempre foi ‘ona’”Janete Eluan é dessas que a gente bate o

olho uma vez e já sabe que agregar pessoas e

grupos de pessoas, por mais diversos que eles

sejam, é com ela mesma. De família libanesa,

se acostumou desde cedo a ter e receber muita

gente em casa. “Tenho sete irmãos, sendo que

dois deles e mais eu ainda moramos no mesmo

terreno onde mora nossa mãe, cada um numa

casa diferente. Fora isso, são três primos muito

próximos. A virada de 2012 para 2013 resolve-

mos passar todos juntos em Natal (RN): 38 pes-

soas. E conseguimos juntar todos num mesmo

avião! Reuniãozinha na minha casa, na minha

família, sempre foi ‘ona’”, relata ela, que traba-

lha como gerente e coordenadora financeira em

duas empresas.

Ainda em 2012, assim como nos anos ante-

riores, o que não faltou foi reunião na casa de

Janete regada à boa música, bom papo, boas

comidinhas e bebidinhas. “Eu até gosto de sair

para alguns bares, mas em casa é mais íntimo.

Sou uma pessoa cheia de amigos e quanto mais

gente reunida, mais complicado fica circular en-

tre os grupos se a gente está na rua. Além disso,

se for pra ir pra barzinho ou restaurante fica com-

plicado manter, financeiramente. Tem mês que,

só de aniversário de família são oito. E mais os

dos amigos!”, justifica.

A paixão por receber os queridos no aconche-

go do lar já rendeu grandes festejos, incluindo

não um, mas três casamentos de primos, e ou-

tros eventos sofisticadíssimos, como o aniver-

sário de 48 anos de Janete, há pouco mais de

três anos. “Eu gosto de festa temática e o povo

entra na onda, se fantasia e tudo mais. Em 2009

eu comemorei meu aniversário com o tema “A

Casa da Luz Vermelha” e foi um barato! Fez

tanto sucesso que repeti a dose, em 2011, nos

meus 50 anos, fazendo a ‘parte II’ da mesma

temática. Já no meu último aniversário eu disse

aos amigos apenas que chegassem com suas

bebidas e algum prato de comida, para que nos

reuníssemos para comemorar. Fiquei supresa

porque não teve convite formal, foi só um ‘apa-

rece aí’, e a casa ficou cheia!”, recorda.

Das reuniões aleatórias e em datas espe-

ciais, uma nova programação se formou. Ago-

ra toda sexta-feira de lua cheia é dia de luau

por lá. “Essa brincadeira começou faz bastante

tempo. Conheço muitos músicos, sou parceira

musical de Paulinho Cavallero, Silvinha Tavares

é muito minha amiga e por aí vai. Lá em casa

rolam as ‘Chicadas’ de vez em quando, geral-

mente comandadas por um dos meus irmãos

que toca violão e que, assim como eu, ama Chi-

co Buarque, e em julho passado teve luau toda

segunda-feira lá em casa. E esses luais foram

tão legais que combinamos fazer desse encon- »»»

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54www.revistalealmoreira.com.br

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tro algo mensal, e sempre iluminados pela lua, sem

luz artificial nenhuma. Só espero que a chuva não

nos obrigue a mudar para a garagem quando tiver

encontro nesses primeiros meses do ano!”, torce.

“Meu negócio é reunir os amigos. Se não tiver festa,

a gente faz música. Se não tiver música a gente

joga dama, dominó, joga até pedra na mangueira!”,

brinca.

“São muitas histórias memoráveis”A advogada Thayanna Rebouças, de 30 anos,

também segue a linha de raciocínio de Janete: o

negócio é juntar o pessoal. “Receber os amigos em

casa sempre foi um hábito. Desde a adolescência

tudo era motivo pra se reunir, podia ser para estu-

dar, conversar, lanchar, até pra fazer nada!”, admite.

Além de todo o conforto que só a casa da gente

proporciona, ela ainda vê outros benefícios em tro-

car o ‘outdoor’ pelo ‘indoor’. “Poder se reunir sem

se preocupar com brigas, assaltos, acidentes, sur-

presas indesejadas é uma das maiores vantagens.

Claro que tem aqueles dias em que você quer sair e

ver pessoas diferentes, jantar num restaurante bom,

mas pesando os ‘prós’ e ‘contras’ acho que prefiro

fazer reuniões em casa mesmo, talvez seja a ida-

de!”, especula a jovem.

Em meio aos grandes encontros que rolaram na

casa da Thayanna, muita história pra contar. “São

várias memoráveis, e algumas até impublicáveis!”,

revela, garantindo que a baderna nunca incomodou

os pais, também participantes da brincadeira pro-

movida pela filha. “Acho que a mais marcante foi

a formatura da minha irmã, Arianna, com direito a

banda de Rock e mais de 12 horas de festa, come-

çando com churrasco e terminando no caldinho”,

lembra. A quadra junina foi lembrada durante anos

e anos por lá também. “Foi a festa que mais se re-

petiu nos nossos calendários. Ia todo mundo vesti-

do a caráter, servíamos comidas típicas, tinha até

quadrilha improvisada e Barraca do Beijo!”, conta.

“Em segundo lugar vêm as lutas de UFC [Ultimate

Fighting Champion], com direito a telão. Acho que

me divirto até mais em casa do que fora, porque

fico mais à vontade”, conclui.

Detalhe: há três anos, Thayanna casou e teve seu

primeiro filho, e com isso, o ritmo das reuniões di-

minuiu, claro. Mas por pouco tempo. “No começo

a gente reunia menos mesmo, mas hoje posso di-

zer que menor é só a quantidade de participantes.

Moro com meu marido e meu filho que, desde pe-

queno, está acostumado com a bagunça. Ele dor-

me no barulho e só depois de participar das festas

até cansar! Reunir os amigos é e sempre será um

prazer”, a advogada reforça.

“A festa fica com a sua cara, com a cara dos ami-gos”

Nada mais complicado em um grupo de amigos,

com o passar dos anos, do que a situação soltei-

ros vs. casados. Como reuni-los? Há três anos, o

publicitário Igor Sales, 30, encontrou uma forma de

agregar a turma toda num mesmo lugar, e abriu as

portas de sua própria casa para proporcionar esses

encontros. “O hábito é antigo, mas de uns três anos

pra cá, se intensificou. Foi uma maneira que encon-

trei de juntar casais, que não saem mais para a ba-

lada, com a turma dos solteiros”, explica. “É mais

trabalhoso, porque exige um planejamento que

acaba sendo a parte mais legal da festa, que fica

com a sua cara, com a cara dos amigos”, avalia.

Para ele, não tem como comparar as modalida-

des, digamos assim. “Não é que eu troque uma sa-

ída por uma reunião ‘indoor’, são momentos dife-

rentes. Enquanto pra balada é só se arrumar e sair

de casa, a reunião indoor acaba sendo um pouco

mais planejada, pelo menos pensada um dia antes,

você tem que organizar, convidar as pessoas, com-

prar bebidas. E cada uma acaba sendo bem dife-

rente da outra. No momento estou preferindo mais

as reuniões ‘indoor’, mas não apenas as minhas,

na casa de amigos também, porque senão só eu

tenho todo o trabalho!”, detalha.

Hoje Igor recebe entre 20 e 25 pessoas na sala

de casa para ver filmes, lutas, futebol e o que mais

estiver na programação. “Uma vez veio o dobro de

gente e foi uma confusão, porque um amigo sem-

pre traz um outro amigo! Me preocupo muito, quan-

do a festa é na minha casa, para que na hora as

pessoas fiquem bem à vontade, não precisem ficar

me pedindo as coisas, até para que eu mesmo pos-

sa curtir”, diz o publicitário, que mora com os pais

e mais uma irmã. “O imóvel é grande e os quartos

ficam bem isolados, então ninguém se incomoda

com barulho nem nada. E assim como eu faço as

minhas festas, eles fazem as deles também”.

Antes de usar a sala de estar, ele recebia os con-

vidados em outra parte da casa, e da forma como a

reunião era organizada, até quem passava pela rua

podia curtir também. “As primeiras reuniões eram

bem simples mesmo, eu fazia em um espaço que é

anexo ao meu quarto e que dá visão para a Avenida

João Paulo II. Com um projetor, eu jogava a ima-

gem do que estávamos assistindo para a parede

de um prédio de quatro andares do lado da minha

casa, e em uma noite de UFC, eu precisei pintar

um quadrado branco em uma dessas paredes, que

estava suja, para que a gente conseguisse uma boa

imagem. Ficou tão boa que, quando olhei para trás,

as pessoas estavam no meio do canteiro central as-

sistindo à luta também!”, conta.»»»

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56revistalealmoreira.com.br

especial

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57

São 9h45 da manhã no sábado do dia 16

de março. A colorida sala de Paulo Maia

ainda está vazia. Em uma estante no can-

to da sala, estão expostos vários e pequenos ins-

trumentos musicais. Do outro, em outra estante,

dezenas de livros e discos infantis, próximos a um

aparelho de som. No centro da sala, um enorme

e confortável tapete de diversas cores formado

por peças, como um grande quebra-cabeça.

É nesse espaço que, em quinze minutos, Paulo

irá receber seus “alunos”. E onde tudo começou

para o professor, de 29 anos, que também é mú-

sico arte-educador, pesquisador, palestrante e

educador musical infantil. Em 2006, quando fazia

especialização em Fundamentos em Musicote-

rapia, decidiu fazer a monografia de curso junto

com a tia, professora e mestra Gilda Maia.

Daí surgiu a monografia intitulada “A Música e o

Bebê: experiências e vivências”, concluída no iní-

cio de 2007. A priori, o projeto foi feito em forma

de oficina. No mesmo ano, eles decidiram criar

a “Sala-Estúdio Irmãos Nobre”, que ganhou o

nome de Cantinho Musical “Irmãos Nobre”, em

homenagem a Helena e Ulisses Nobre – os Ir-

mãos Nobre, famosos cantores líricos do perío-

do da Belle Époque, em Belém, e também tios

avós da Profa. Ms. Helena Maia, avó de Paulo. “A

nossa família é fundamentalmente de músicos”,

lembra. “Aqui nessa sala, é onde aconteciam as

aulas de música da minha avó, Helena Maia”.

Ali, que, até hoje, põe em prática as aulas de

Musicalização para Bebês. Paulo diz que usa no

espaço a metodologia criada pela pesquisadora

Josette Feres, que estudou a iniciação musical,

que pode ocorrer desde os primeiros meses do

recém-nascido, desenvolvendo no bebê o pra-

zer de ouvir e fazer música, além de estimular

a ligação afetiva entre pais e filhos. Paulo então

conheceu experiências no Sul e Sudeste do

Brasil e decidiu trazer para Belém o projeto de

musicalização para bebês. Nesse local, em um

prédio localizado no coração do centro de Belém,

ele conseguiu unir a teoria e a prática. Por todo o

espaço, instrumentos podem se transformar em

algo novo a ser descoberto. Um bocal de flauta,

por exemplo, se transforma como em um passe

de mágica, em um som de passarinho.

Além de especialista em Fundamentos de Mu-

sicoterapia, ele também se especializou em Prá-

ticas Pedagógicas em Educação Infantil e Séries

Iniciais. Atualmente, durante a semana, ele divide

seu tempo ainda ministrando aulas de música

em dois grandes colégios particulares de Belém.

Por isso, hoje, ele ministra o projeto apenas aos

sábados de manhã, para crianças entre 01 e 06

anos de idade, com o apoio da mãe, Ana Cristina

Maia. “Eu comecei a sentir a necessidade da ro-

tina. A prática leva aos conhecimentos da escola

e hoje a música está voltando para o ambiente

escolar”.

As aulasO primeiro a chegar, pontualmente às 10h, é

Vinícius, de 1 ano e 3 meses. Sem nenhuma ti-

midez, ele já chega explorando todo o espaço.

Rapidamente, pega um pequeno bumbo e co-

meça a batucar uma melodia que só ainda exis-

te na sua imaginação de criança. Próximo, ele é

observado pela avó e pela tia. “Achei um trabalho

fabuloso. Meu filho é músico e ele decidiu trazer

o filho aqui. Já queria conhecer o espaço e como

os pais não puderam, resolvi trazer ele hoje”, ex-

plica Rosa Helena dos Santos, Psicóloga. Para

ela, o trabalho já surte efeito no pequeno percus-

sionista. “Ele fica feliz e já desenvolveu bastante,

interagindo bem com as outras crianças”.

Cada sessão conta com uma média de 12

crianças. Somados aos pais (ou avós, tias, ba- »»»

Fábio Nóvoa Dudu Maroja

Osprimeirosacordes

A iniciação musical traz benefícios que vão além do reconhecimento de notas musicais e instrumentos. Ela é responsável por aguçar a criatividade e o senso social das crianças.

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58

bás), a sala vira uma grande festa. Em um pri-

meiro momento, Paulo recebe as crianças. De-

pois reúne elas em uma roda e começa a cantar

músicas infantis populares. A sala, antes vazia,

agora está lotada e barulhenta. Cada criança

pega um instrumento e a cantoria continua. O

professor aproveita para fazer contação de histó-

rias, sempre interagindo com pais e filhos. E não

para de chegar alunos.

Em dez minutos, a sala está completamen-

te lotada. “As crianças interagem umas com as

outras. A nossa ideia é que esta seja uma sala

normal, onde todos possam se sentir bem aqui”,

confirma o professor, entre uma canção e outra.

“É um momento prazeroso estar entre as crian-

ças e os pais. Aqui fazemos explorações dos ins-

trumentos e a aula se transforma em um espaço

para todos. Já até organizamos eventos, nas ca-

sas dos pais”. Cada criança pega um instrumen-

to e uma miniorquestra está formada. Um pouco

desconexa no ritmo, é verdade, mas o que vale

é a brincadeira.

O trabalho já colhe frutos. Além da participação

regular de músicos, como Nazaco e Yuri Guede-

lha, Paulo conta que recebe indicações de médi-

cos para as suas aulas. “Por fazermos hoje um

trabalho de referência, temos inclusive a indica-

ção de pediatras”, conta, com uma ponta de or-

gulho. E as matrículas estão sempre abertas. “há

uma rotatividade de crianças e sempre recebe-

mos novos alunos”, confirma. “O nosso curso é

livre, mas as pessoas ficam o período que achar

necessário. Não são aulas seriadas, apesar de

mantermos uma rotina”.

Os frutosMas, alguns acabam ficando por mais tempo.

Como Helena, de 2 anos, que já participa das

aulas há um ano. “A música já faz parte da vida

dela”, lembra a advogada Fabiana Vieira, mãe

de Helena. “E como ele já é professor da es-

cola dela, achei que podia contribuir para essa

formação. Ela tem um contato importante com

a música, que entendo ser condição para o de-

senvolvimento crítico e a concentração. Ela foca

em várias atividades e vai desenvolvendo melhor

a atenção”, garante. Opinião compartilhada por

Kátia Guerra, servidora pública, e mãe de Rafa-

el, um ano. “É a quarta aula dele, mas desde a

primeira, já mostrou como ele se entrosou logo

com as outras crianças”, garante.

Maria Eduarda, 2 anos e 8 meses, é uma das

mais espivitadas na sala. Portadora de Síndrome

de Down, a pequena se empolga com o som

dos instrumentos e faz questão de repetir, com

as mãos, os movimentos das músicas. Para o

pai, Lino Viveiros, engenheiro agrônomo e ser-

vidor público federal, essa interação dela com

outras crianças é fascinante. “Conheci o trabalho

através de um amigo. Vim aqui, conversei com

ele e depois de ver que era um trabalho sério, vi-

mos os benefícios que trouxe para ela”, diz. “Hoje

ela é uma criança mais sociável e que gosta de

brincar e ouvir música. A música é parte da vida

dela”, completa.

Todos os Sábados, das 10h às 11h da manhã. Rua O’ de Al-

meida, 298. Apto. 201, entre 1º de Março e Padre Prudêncio,

bem de frente pro Largo da Palmeira, antigo buraco da Pal-

meira. Contatos: 3261.4083 / 9604.9536 / 8199.5164 (Prof.

Paulo Maia).

Blog: www.cantinhomusicalbelem.blogspot.com/ Facebook: www.facebook.com/musicaebebesbelem.

Cantinho Musical “Irmãos Nobre”

Musicalização para Bebês

Os Irmãos Nobre

Os irmãos Ulisses e Helena Nobre eram cantores líricos pa-

raenses, nascidos em 1887 e 1888, respectivamente, que

fizeram sucesso no ínicio do século XX. Na época, ficaram

conhecidos como Irmãos Nobre, os Uirapurus Paraenses. A

história da dupla foi contada pela tia de Paulo, Gilda Maia, com

a monografia “Uirapurus Paraenses: De Onde Vem Esse Can-

to? História Da Vida Musical Dos Irmãos Nobre”.

Os sapatos do estudante Felipe Quincó “têm histórias pra contar”, segundo ele

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www.revistalealmoreira.com.br

galeria

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Amão, opincel...eaescrita

Considerado um dos mais talentosos e generosos artistas de sua geração, Paulo Azevedo busca em suas memórias afetivas a inspiração para compor suas criações

Naquele seu significado mais remoto, que

embasou a maneira de se pensar o as-

sunto no Ocidente, arte – ou ars, con-

forme o latim concebeu – é técnica. Habilidade.

Com o passar do tempo, o conceito se transfor-

mou e se aproximou dos aspectos mais pesso-

ais e íntimos do homem: passou a ser explicada

por meio do contato com o espírito criador que

há nos artistas. Por meio das emoções, que fre-

quentemente amparam e justificam as produ-

ções artísticas. Até que, em algum momento,

a emoção se torna maior que o agente, e dele

toma a ação. Nesse ponto, técnica e habilidade

– concretas como são – ainda convivem, mas se

tornam coadjuvantes diante do sentimento, um

protagonista tão abstrato quanto profundo. Con-

fuso? Não para Paulo Azevedo.

Artista plástico há mais de 25 anos, Paulo é um

pintor generoso, porque credita a qualidade dos

seus trabalhos muito mais ao que traz dentro de

si – lembranças, coisas que viu por aí, sensações

e outros arcabouços emocionais – do que à pró-

pria capacidade e experiência. Em troca, recebe

um agrado que muitos apaixonados pela pintu-

ra gostariam de ter: a possibilidade de deixar a

arte falar por si. Ao contrário do caminho natural,

Paulo deixa-se produzir pelo que pinta – ora re-

conhecendo em si emoções já externadas pelos

pincéis, ora blindando a própria racionalidade

para que esta intervenha o mínimo possível em

seu processo criativo. O resultado é um traba-

lho abstrato profundo e cheio de personalidade.

Mas foi por meio dos artistas figurativos, ainda na

infância, que Paulo entrou em contato com o que

mais tarde seria sua profissão.

Por volta dos 10 anos de idade, quando era

estudante de escola pública, o artista já aprecia-

va as fotos de quadros que via na biblioteca do

colégio. “Enquanto meus colegas liam gibis, li-

vros de história, eu via livros de arte. Gostava dos

impressionistas, dos concretistas, achava bonito.

Mas ainda não havia pensado em ser artista”,

rememora. Tempos depois, se deparou com um

livro, o “Pinturas Abstratas”, com obras da japo-

nesa naturalizada no Brasil Tomie Ohtake. Foi um

divisor de águas na vida do pintor. “Ela passou a

pintar aos 50 anos de idade e hoje é uma das

maiores pintoras vivas do país. Comecei a en-

tender que era possível fazer o que ela fazia, e

aquilo me mudou”. Foi quando ele começou a

ensaiar traços abstratos com carvão e lápis de

cor, mas relutava em mostrar para os outros.

Guardou para si a paixão, ainda em processo

de descoberta, para dar vazão a outro talento: a

natação, à qual se dedicou por alguns anos.

Não demorou muito para que a arte fizesse

um novo chamado. Paulo – que também é ar-

quiteto por formação – relembra que costuma-

va passar por uma galeria de arte onde eram

ministradas aulas de pintura. Um dia, viu dentro

do ateliê uma pessoa desenhando um rosto. “Fi-

quei impressionado. Perguntei se aquela pessoa

Camila Barbalho Dudu Maroja

»»»

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62

poderia me ensinar a fazer aquilo, a pessoa dis-

se que sim. Eu repetia o que ela me ensinava

incansavelmente”. Passou a desenhar rostos

para ganhar dinheiro. Com o passar do tempo,

percebeu que precisava de mais. “Vi que não

era aquilo. Que aquela era a ponta do iceberg.

Percebi que eu era movido por outra coisa: pelas

cores”.

Seguiu pintando, e lá pelos 17 anos, uma pes-

soa viu suas pinturas e sugeriu que Paulo expu-

sesse no Centur. Era, mais uma vez, um ace-

no do futuro. O artista venceu a timidez e deu o

primeiro passo rumo ao reconhecimento. Expôs

oito trabalhos lá. Vendeu todos em pouquíssi-

mo tempo, para a mesma pessoa. Ele acabara

de entrar definitivamente naquele que seria seu

universo a partir de então. Hoje, são 43 anos de

vida, sendo 25 de exposições individuais e cole-

tivas aqui, no Rio, em São Paulo e em galerias

europeias – além de prêmios em salões como

Arte Pará, Arte Jovem de Santos-SP, Salões da

Aeronáutica e da Marinha, da Listel, entre muitos

outros.

Alcançar a carreira que gostaria de ter não es-

tancou a necessidade que Azevedo possui de

se expressar artisticamente. Ao contrário: ela

foi crescendo e necessitando de cada vez mais

espaço para se desenvolver. Por isso, o artista

decidiu experimentar pintura em grandes forma-

tos, tratamentos em peças antigas e até mesmo

a escultura. “Trabalhar tanto tempo com pincel,

tinta e tela não é fácil. Por isso faço da escultu-

ra o descanso da minha pintura”, justifica. Mas

nada disso ofusca o grande amor que Paulo

tem pelo processo de pintar. Defensor romântico

dos pincéis, tintas e telas, ele inclusive acabou

optando por se afastar um pouco dos grandes

salões. “Eu gosto das instalações, performance,

vídeos... Tudo isso é muito interessante, muito

moderno. Mas os salões de arte contemporânea

quase não absorvem mais pinturas. A pintura

não pode sair do mercado”, reclama.

Para suprir a falta de espaço, tanto para expor

quanto para criar, o pintor deu um passo grande:

inaugurou seu próprio Espaço Ateliê. Nele, gasta

suas horas entre criações anteriores e as ideias

– seja para revisitá-las ou para dar origem a tra-

balhos novos. Sim, Paulo muitas vezes revisita

suas próprias obras, já que, para ele, elas nunca

estão prontas e encerradas. “A gente nunca ter-

mina uma pintura. É simplesmente a questão de

ter maturidade pra saber o momento certo de

parar”, explica. Talvez só seja possível deixar a

porta entre obra e autor aberta porque os limites

concretistas não existem na obra de Azevedo.

“Minha pintura abandonou a forma e escolheu a

cor. Não tenho mais preocupação com linhas”,

revela.

Page 63: RLM 37

63

»»»

Naturalmente, nem todo mundo compreen-

de essa expressão artística. Há aqueles que

negam a credibilidade da arte abstrata por não

compreendê-la. Paulo não se ofende. Ao contrá-

rio: gosta. “Algumas pessoas falam algo como

‘meu filho de cinco anos consegue fazer isso’. Eu

respondo ‘ótimo’. Picasso dizia que aos 50 anos

ele pintava como Velazquez. Foi preciso chegar

aos 80 pra pintar como uma criança. Acho que

é o sonho de qualquer artista conseguir atingir

a sensibilidade de uma criança”, opina, cheio

de convicção. E complementa: “Se eu conse-

guir alcançar essa sensibilidade, eu já cheguei

ao ápice da minha pintura”. Nem é preciso dizer

que o artista é um defensor incansável da abs-

tração. Na opinião dele, a dificuldade de fazer

um trabalho bom com essa linguagem agrega a

ele mais valor. “A pintura abstrata é o mais difícil.

Pintar o figurativo é mais simples porque já exis-

te, você só tem que retratar. A pintura abstrata

é uma ‘alma a se descobrir’. Há que se traduzir

um sentimento”, argumenta.

E é pela defesa da arte abstrata que Azevedo

trava batalhas consigo mesmo. Para permitir que

este sentimento seja traduzido da maneira mais

genuína possível, o artista frequentemente adota

maneiras de driblar o que há de mais racional na

sua estética – como a busca por simetria e equilí-

brio. Como? Pintando com a mão esquerda, por

exemplo. “Eu tento evitar que esses elementos

da racionalidade invadam a pintura abstrata.

Tento ‘enganar’ o cérebro pintando com a ou-

tra mão. É preciso enrolar a razão”, ensina. Nem

mesmo a música tem tanto espaço nesta dança

entre pintura e pintor. Por isso, ele alterna mo-

mentos de música e de silêncio total. “A música

interfere no movimento da pintura. Não consigo

sofrer interferência da música por muito tempo.

Mas, às vezes, gosto de conversar com alguém

enquanto eu tô pintando”.

Do mesmo modo que outros sentidos sobres-

saem com a perda de um deles, a redenção

também é compensadora: a desobrigação das

formas permite que Paulo enxergue cores que

habitualmente não enxergamos. É daí que vem

a mistura profícua de tons nos seus trabalhos:

ouro, ferro, bronze e o colorido do barroco são

alguns dos matizes mais frequentes – além do

tema das rendas, que volta ou outra é abordado

pelo artista. Para ele, há um vínculo emocional

forte com este ponto: “Minha mãe fazia roupas

de quadrilha e gostava muito dos tecidos ren-

dados. Foi um dos temas que eu incorporei. Por

isso chamo as rendas de ‘lembranças’”.

Mas Azevedo nem sempre foi assim, solar.

Houve um tempo que sua obra adotava uma

atmosfera mais sombria, com quadros quase

sempre monocromáticos e escuros. Inclusive

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64

adotou por um tempo uma série marginal, em

que retratou pessoas de rua, prostitutas e outras

criaturas da noite, numa sequência chamada

Noturnos. “Demorei 18 anos para pintar uma

tela azul”, conta. Engana-se, porém, quem tenta

fazer uma análise psicológica ou vincular esses

momentos à vida pessoal do artista. Quando

perguntado sobre o que motivou a mudança, ele

é sucinto: “a mudança vem em temas. Às vezes

em formas, às vezes em cores... Não tem rela-

ção com outra coisa”.

A desconexão com influências externas à pró-

pria pintura faz com que parar em frente à tela

em branco seja sempre um momento que an-

tecede uma incógnita. “Eu sei o que eu tenho

que fazer, mas nunca acontece o que eu quero

fazer. Por isso, ando pela rua procurando coisas

que me interessem”. E é de informações urba-

nas que as cores de Paulo se alimentam. “Desde

uma folha caída até manchas no latão de um

navio, restos de construção, os resíduos de pa-

pel que sobram do tirar e colocar de cartazes

nos muros... Tudo me influencia. Busco muito o

tema das ruas”. Mais uma vez, Azevedo tira de

si o peso de assinar o resultado dessas influên-

cias: “é como se eu usasse a pátina do tempo

pra realizar a minha pintura. É a pátina do tempo

que valoriza a pintura. O tempo capta o melhor

pra gente”.

Sobre o que o motiva a fazer o que faz, Pau-

lo não precisa nem mesmo refletir para saber. É

taxativo o posicionamento: “o artista tem a obri-

gação de mudar o outro. Se alguém disser que

o meu trabalho é ruim, acho isso bom. A arte

precisa desse debate, dessa contradição”. E são

sua inquietude e fé nesse propósito que baseiam

o que está por vir. O futuro é muito nítido. Ele pin-

tará até onde puder. “Me vejo pintando sempre.

Consigo viver da arte, mas isso não é suficiente

pra quem tem arte como profissão. Quero fazer

exposições, estar em uma grande galeria... Não

sei. A pintura vai me levar”. E vai além: “quero

fazer parte da história de vida do meu filho, do

meu neto, da herança cultural da cidade. Quero

que meu neto faça um trabalho de colégio sobre

mim”, exemplifica.

Ao fim da entrevista, depois de revelar toda

a profundidade do seu trabalho, Paulo Azeve-

do ainda acredita que haveria mais para dizer.

“Queria saber escrever para dizer tudo o que eu

sinto”, ele pensa alto. Mal sabe Paulo que escre-

ve – ou é escrito – sobre tudo. A diferença é que

só lê quem conquistou cidadania em mundo tão

peculiar.

64

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179.191. TORRES DUMONT: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício – Comarca de Belém – Livro 2-DX, mat. 29 Incorporação R.10, em 9/12/2010. Protocolo 185.757. TORRES FLORATTA: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício –

Comarca de Belém – R1/8130JH, em 26/11/2009. Protocolo 176.465. TORRE VITTA HOME: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício - Comarca de Belém - RG/9679JN, em 16/06/2010. TORRE VITTA OFFICE: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis

do 2º Ofício - Comarca de Belém - RG/9680JN, em 16/06/2010. Protocolo 181.328. SONATA RESIDENCE: R03 M M 445 FLS 445- 25/10/2005, Cartório de Registro de Imóveis, 2º Ofício. TORRE UNITÁ: Registro de Incorporação: Protocolo nº 208.842 Matrícula (RI): 17.555 Livro: 2-k.o. (RG) em 01/11/2012.

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O lançamento oficial ainda nem aconteceu, mas já há uma verdadeira correria em busca do Samsung Galaxy S4 – considerado o mais completo smartphone do mercado. Top de li-nha da família Samsung, o S4 possui tela HD de 5 polegadas, 2 GB de memória RAM, o pro-cessador Exynos 5 Octa com oito núcleos. A câmera traseira de 13 megapixels e a câmera frontal de 2 megapixels e o sistema Android na versão 4.2.2 Jelly Bean. O Samsung Galaxy S4 tem 7,9 mm de espessura e pesa 130 g.

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Lindo e funcional. Assim poderíamos definir o All-In-One LG V320. Moderno e com estilo minimalista, o All-in-one LG é fácil de configurar e oferece desempenho imediato com eficiência de energia. Equipado com um sintonizador de TV integrado e a entrada HDMI, você pode assistir TV e conteúdo externo na sua tela de PC ou usando função Picture-in-Picture (PIP). O monitor tem tecnologia IPS, que proporciona imagens per-feitas, além de vir com teclado e mouse sem fio e um controle remoto para TV. Vem equipado com processador Intel Core i5 3210M 2,5 GHz, 4 GB de memória, DVD-RW, e toda a praticidade que o Windows 8 tem para tornar seu dia mais empolgante e divertido.

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Prepare-se, fotografar nunca será como antes! A Câmera Samsung Galaxy une a qualidade profissional da fotografia com a inteligên-cia do Android 4.1. É a câmera mais surpreendente do mercado, com modos de disparo ricos e profissionais, recursos de edição e aplicativos diversos. Ela lhe permite tirar fotos e compartilhar imediatamente em redes sociais, acessando a internet por redes Wi-Fi ou 3G, ou enviá-las por Bluetooth para vários dispositivos! Permite ainda editar suas fotos de forma divertida com diversos aplicativos, além de filmar em alta definição e também em câmera lenta. Visualize suas fotos em uma tela incrível.

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ALGUNS VALORES SÃO INESTIMÁVEIS.

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Trinta anos se passaram desde sua estreia nos cinemas, em abril de 1983, e a gente aposta que tem gente que ainda assiste à audição final com a mesma empolgação do começo da década de 80. Ainda não viu? Não perca tempo. Alex Owens (Jennifer Beals) é um “dínamo” feminino: operária de dia, dançarina exótica de noite. Seu sonho é entrar em uma verdadeira companhia de dança e com o incentivo de seu chefe/namorado (Michael Nouri), ela pode ter sua chance. A cidade de Pittsburgh é o belo cenário deste trintão. Uma curiosidade: a trilha sonora de Flashdance vendeu mais de 700 mil cópias, apenas duas semanas após seu lançamento.

Quase dois anos depois de sua morte, a história de Steve Jobs chega ao cinema. Ashton Kutcher vive o empresário americano e tamanha similaridade, surpreende. O filme narra a ascensão de Jobs, de rejeitado no colégio até tornar--se um dos mais reverenciados empresários do universo da tecnologia no século 20. A trama passa pela jornada de autodescobrimento da juventude, pelos demônios pessoais que obscureceram sua visão e, finalmente, pelos triunfos que transformaram sua vida adulta. No Brasil, a estreia está prevista para o segundo semestre.

horas vagas • cinema

O GRANDE GATSBY

FLASHDANCE

FILMES NA NET

JOBS

OZ – MÁGICO E PODER OSO

DVD

DIC

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Assistindo filmes de graça e pela internet.Sério concorrente ao Netflix.http://www.redefilmesonline.net/

Adaptação do livro homônimo lançado em 1925 por F. Scott Fitzge-rald e com orçamento de US$150 milhões, O Grande Gatsby conta a história do aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire) que sai do centro-oeste e chega a Nova York na primavera de 1922, em meio a uma era de falta de moral, do ápice do jazz, dos reis beberrões e de ações exorbitantes. Perseguindo o sonho americano, Nick acaba vizinho de um misterioso e festeiro milionário, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), além de conhecer sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu marido mulherengo e de sangue azul, Tom Buchanan (Joel Edgerton). É assim que Nick é atraído para o mundo cativante dos super-ricos, cheio de ilusões, amores e decepções. Enquanto Nick é testemunha, dentro e fora do mundo que habita, ele escreve um conto de um amor impossível, sonhos puros e muita tragédia, criando um reflexo das nossas lutas e tempos modernos.

Se você foi vencido pelas quilométricas filas no cinema, não desanime. Oz – Mágico e Poderoso retrata a chegada do má-gico a Oz, ou seja, o filme resgata os anos que antecederam o aparecimento de Dorothy por lá. Esperadíssimo, o título chega às locadoras em DVD e Blu-Ray. Oscar Diggs (James Franco) trabalha como mágico em um circo itinerante. Bastante ego-ísta e mulherengo, seu envolvimento com mulheres é o que acaba levando-o para uma mágica aventura na Terra de Oz. Chegando lá, ele conhece a bruxa Theodora (Mila Kunis), que o apresenta para a irmã Evanora (Rachel Weisz). Acreditando que estaria fazendo um bem para a população local, ele decide enfrentar a bruxa Glinda (Michelle Williams), mas descobre que ela lembra um amor do passado e seu comportamento em nada se assemelha ao de alguém realmente malvado. Dividido entre saber quem é do bem e quem é do mau, Oscar se depara com um lugar rico em belezas, cheio de riquezas, estranhas criaturas e também mistérios. Vivendo este conflito, o ilusio-nista vai usar sua criatividade para salvar o tranquilo povo de Oz das garras de um poderoso inimigo. Para isso, contará com a inusitada ajuda de Finley, o macaco alado, e uma menina de porcelana.

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O VALOR DA IMAGINAÇÃO.

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O CÉU DE LISBOA (LISBON STORY)

O diretor Friedrich Monroe tem problemas para editar um filme mudo e em preto e branco acerca de Lisboa. Ele chama um amigo, o engenheiro de som Phillip Winter, para ajudá-lo. Quando Winter chega a Lisboa, semanas mais tarde, Monroe está desaparecido, deixando o filme inacabado. Winter decide ficar, porque ele está fascinado pela cidade e pela cantora Teresa Salgueiro. Assim, ele começa a gravar o som do filme, ao mesmo tempo em que Monroe vaga pela cidade, com uma câmera de vídeo em busca de takes inéditos. Mais tarde Winter convence Monroe a terminar o filme. O filme, de Win Wenders, é considerado uma “sequência” do filme “O Estado das Coisas”, realizado em Sintra, na Praia das Maças. O personagem Friedrich Munro, realizador de cinema desempenhado por Patrick Bauchau, é retomado neste filme.

horas vagas • música

BLIP.FM

THE 20/20 EXPERIENCE

BUIKA

VÍDEO

DIC

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RNET

CONFIRA

CLÁ

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É uma espécie de rede social musical. Por meio de um perfil gratuito, você “blipa” as músicas que mais gostar. Se quiser, comenta alguma coisa em até 140 caracteres (já ouviu isso em algum lugar?) para a sua lista de seguidores. Além disso, é possível compartilhar os blips no Facebook e no Twitter. O único ponto negativo é a dificuldade em encontrar músicas menos conhecidas.http://blip.fm/

Quando o assunto é Justin Timberlake, as opiniões são controversas. Natural, já que a “vida pregressa” de JT está ligada a uma boy band. Preconceitos à parte faça uma experiência (o trocadilho com o nome do novo álbum dele não foi intencional): ouça-o despretensio-samente. Depois de sete anos de ausência do mercado (período no qual ele se dedicou e virou sócio do MySpace), o cantor volta com uma “pegada” motown, disposto a firmar um relacionamento sério com a soul music. A primeira faixa de trabalho, Suit and Tie, caiu tanto no gosto popular, que na primeira semana, o disco “The 20/20 Experience” não alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas, como estava previsto. Mas calma lá! Ainda assim a façanha do cantor está longe de ser considerada um fracasso: cerca de 980 mil cópias do disco foram vendidas em sete dias. Ele, inclusive, quebrou o próprio recorde, já que seu último trabalho, “Future sex/Love sounds”, vendeu 300 mil cópias a menos, em 2006. Justin é destaque no Palco Mundo, no Rock in Rio, dia 15 de setembro.

Nascida na cidade de Palma de Mallorca, na Espanha, Concha Buika, conhecida artisticamente pelo sobrenome, tornou-se uma revelação no cenário musical do país ao mesclar o clássico flamenco com elementos do jazz e do soul. Com raízes africanas e influências americanas, de suas passagens por Nova York e Las Vegas, Buika criou uma sonoridade única, evocada por uma voz impecável, ora suave ora explosiva.Seu álbum de estreia, Buika, lançado em 2005, deu provas de seu talento, mas não teve a mesma visibilidade de Mi Niña Lola, que venceu nas categorias de Melhor Álbum e Melhor Produção no maior prêmio de música da Espanha. As

canções do segundo álbum a projetaram mundialmente, sendo incluída na lista das principais revelações do ano.Produzido por Javier Limón, seu terceiro trabalho Niña de Fuego traz canções inéditas compostas por ela e Limón. Mais sentimental, expressando suas vivên-cias pessoais, o álbum não passou batido pelo Grammy Latino, o segundo maior prêmio da música mundial.Em 2009, Buika se juntou ao pianista Chucho Valdés para gravar o álbum El Últi-mo Trago, uma homenagem ao aniversário de 90 anos da cantora Chavela Vargas, com canções que marcaram a sua carreira.

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CAZUZA REMASTERIZADOImagine fazer um passeio pela discografia de Cazuza. Agora imagine ter seis álbuns, da carreira solo dele, totalmente remasterizados: “Exagera-do” (1985), “Só Se For a Dois” (1987), “Ideologia” (1988), “O Tempo Não Pára: Ao Vivo” (1988), “Burguesia” (1989) e “Por Aí” (1991). Essa luxuosa edição inclui ainda o DVD “Pra sempre Cazuza” e você não pode deixar de tê-la em casa.

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O VALOR DA CONFIANÇA.

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horas vagas • literatura

BÊBADO GONZO

PORTAL

ISABEL ALLENDEAMOR

TODA POESIAPAULO LEMINSKI

O PEQUENO PRÍNCIPE70 ANOS

Colunista da Revista Leal Moreira, o genial jornalista paraense Anderson Araújo decidiu transpor dos posts do blog homônimo, para as folhas de papel, seus melhores contos. Nasceu, assim, “Bêbado Gonzo – o livro”, resultado de uma campanha de ar-recadação coletiva (o crowdfunding) extremamente exitosa. Os contos e crônicas retratam uma Belém do Pará urbana e poética. À venda na Fox Vídeo ou na fanpage do livrohttp://www.facebook.com/BebadoGonzo

“Minha vida sexual começou cedo, quando eu tinha aproximadamente cinco anos de idade, no jardim de infância das Freiras Ursulinas, em Santiago do Chile”. Com estas palavras, Isabel Allende começa este compêndio sobre amor e o eros, composto por fragmentos selecionados de suas obras, que descreve seus personagens por meio da própria história do autor. A escritora divide o livro em nove capítulos temáticos, cada um dos quais é precedido por uma introdução, que dá forma a alguns textos que muitos leitores já conhecem e apreciam. Esta compilação original, reunida pela primeira vez, neste breve volume, permite-nos lembrar a maneira amigável e divertida, com que Isabel Allende sempre tratou o tema do amor e do sexo em cada um de seus livros. O livro ainda não está disponível em Português, mas a versão traduzida não deve demorar a sair. Por enquanto, só em Espanhol.

O portal “Domínio Público” disponibiliza aproximadamente 20.000 livros em domínio público, para download gratuito. Além, naturalmente, de bibliotecas de outros gêneros. Fontes: Saraiva, Livraria Cultura, Terra e Domínio Público.

Ao conciliar a rigidez da construção formal e o mais genuíno coloquia-lismo, o autor praticou ao longo de sua vida um jogo de gato e rato com leitores e críticos. Se por um lado, tinha pleno conhecimento do que se produzira de melhor na poesia – do Ocidente e do Oriente -, por outro lado parecia comprazer-se em mostrar um à vontade que não raro beirava o improviso, dando um nó na cabeça dos mais conservadores. Pura artimanha de um poeta consciente e dotado das melhores ferra-mentas para escrever versos. Este volume percorre a trajetória poética completa do autor curitibano, mestre do verso lapidar e da astúcia. Ed. Companhia das Letras. 424 páginas. (fonte: Livraria Cultura).

Com temática existencialista, a obra segue uma das mais populares do mundo, mesmo 70 anos após seu lançamento - no Brasil, ela chegou somente em 1945, pela Agir, mas a estreia mundial ocorrera dois anos antes, em 6 de abril de 1943, nos Estados Unidos.Definida pelo filósofo alemão Martin Heidegger como uma das maiores obras existencialistas do século 20, O Pequeno Príncipe é um dos livros mais traduzidos do mundo, mas não há consenso sobre o número exato: no site oficial da obra, Le Petit Prince, fala-se em 257 idiomas e dialetos, e há edições no Camboja e no Japão, por exemplo. No país nipônico, o sucesso foi tanto que há um museu dedicado ao Pequeno Príncipe na cidade de Hakone.Desde a publicação, a trama já foi contada em diversas plataformas, como na série de desenho animado As Aventuras do Pequeno Príncipe, lançada no final da década de 1970. Mais recentemente, o livro inspirou uma animação computadorizada homônima, exibida no Brasil pelo canal de TV por assinatura Discovery Kids, e uma série em quadrinhos publicada pela Editora Amarilys.

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O VALOR DO EXPERIÊNCIA.

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horas vagas • Rio & Sampa

Dois prédios fazem parte do MAR: a Escola do Olhar, cuja proposta é formar professores e alunos a partir da conjugação de arte e educação; e o Palacete Dom João VI, que vai abrigar exposições nas oito salas distri-buídas por seus quatro andares.Com 15 mil metros quadrados, sendo 2,4 mil de área expositiva, o museu, uma realização da Prefeitura do Rio e da Fundação Roberto Marinho, foi inaugurado com quatro exposições simultâneas: “Rio de Imagens: uma paisagem em construção”; “O colecionador: arte brasileira e internacional na coleção Boghici”; “Vontade construtiva na Coleção Fadel”; e “O abrigo e o terreno - Arte de sociedade no Brasil I”.

Serviço:Rio de JaneiroAv. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo Telefone: (21) 2240-4944 Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e domingos, das 12h às 19h.http://www.museudeartedorio.org.br/

Depois de uma temporada de muito sucesso no Rio de Janeiro, O Mágico de Oz finalmente chega a São Paulo. Desde o dia 22 de fevereiro, o público paulistano pode ver quase o mesmo espetáculo que ficou em cartaz no Rio. O elenco tem pequenas alterações, sendo parte carioca (Lucio Mauro Filho, Nicola Lama, Luiz Carlos Miéle e Malu Rodrigues) e outra parte renovada: André Torquato e Heloisa Périssé substituem Pierre Baitelli e Maria Clara Gueiros, respectivamente.Na história, Dorothy Gale (Malu Rodrigues) vive um cotidiano pacato com seus tios em uma fazenda no Kansas. Após um tornado, ela e seu cachorro Totó vão parar em Oz, onde encontram o Espantalho (André Torquato), o Homem de Lata (Nicola Lama) e o Leão Covarde (Lúcio Mauro Filho). Para poder retornar para sua casa, Dorothy pede ajuda dos novos amigos e caminham pela Estrada de Tijolos Amarelos em busca do Mágico de Oz (Luiz Carlos Miéle). Segun-do os engraçados pequenos moradores da cidadezinha encantada, o Mágico é o único que conseguirá ajudá-los. A jornada em si poderia ser tranquila se, no caminho, não tivessem que enfrentar as vilanias da Bruxa Má do Oeste (Heloisa Périssé). Ela quer os sapatinhos de rubi que foram dados para Dorothy para ter mais poderes. A montagem é baseada na única adaptação autorizada para o teatro, feita pela Royal Shakespeare Company, seguindo o roteiro do filme homônimo (estrelado por Judy Garland em 1939). Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e Canção Original (“Over the Rainbow”), o filme é reconstituído em todas as cenas no palco.

Serviço:São PauloOs ingressos custam de R$ 40,00 a R$ 180,00. E estão à venda pela internet e nas bilheterias do teatro.Informações: http://www.ingressorapido.com.br

MARMUSEU DE ARTE DO RIO DE JANEIRO

O MÁGICO DE OZ - MUSICAL

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O VALOR DA OUSADIA.

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horas vagas • New York

“The Carlyle” é um dos hotéis mais chiques do East Side. E ali, em um pequeno espaço reservado só para 90 privilegiados [a preços nada módicos – entre US$145 e US$195, só o ingresso. O consumo é cobrado à parte e a um custo mínimo de US$25 por pessoa], é possível assistir a um show ainda mais especial: o cineasta Woody Allen dá sua “canja” todas as segundas-feiras.

No hotel “Carlyle” às segundas-feiras, sempre às 20h45 – até o dia 17/06/13Informações: http://www.rosewoodhotels.com/en/carlyle/dining/entertainment_calendar/

Claude Monet pode ser reconhecido como o mestre do impressionismo, mas ele também poderia ser considerado um dos primeiros “blogueiros” de estilo. Sério! Suas pinturas, como “As mulheres no jardim e almoço na relva”, regis-traram um período revolucionário para a roupa. A exposição “Impressionismo, Moda e Modernidade” (Impressionism, Fashion, and Modernity), destaca este movimento de forma crucial, no período que vai de meados da década de 1860 a meados da década de 1880, por meio de 80 personagens nas pinturas, vistas em concertos, trajando roupas de época, acessórios, placas de moda, fotografias e impressões. Alguns outros artistas apresentados nesta exposição incluem Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé. Veja você: há uma razão por que Paris é chamada a capital da moda! — Por Araceli Cruz

Impressionismo, Moda e ModernidadeNo Metropolitan Museum of Art, 1000 Fifth Ave.Até o dia 9 de maio.Horários: de terça a domingo, a partir das 10h.Ingressos: US$25Mais informações: www.metmuseum.org

WOODY ALLEN &THE EDDY DAVIS NEW ORLEANS JAZZ BAND

IMPRESSIONISM, FASHION, AND MODERNITY

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Nós sabemos quão valiosos são os pequenos (e grandes)

momentos que fazem a vida valer a pena. O que é

importante para você, faz toda a diferença para nós e é

por isso que um Leal Moreira vale mais.

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horas vagas • iPad

Raul Parizottoempresá[email protected]

DROPBOX

WAZE

CANDY CRUSH

TÁBUA DE MARÉS

DOCUMENTS READDLE

O Dropbox é um serviço para guardar e compartilhar documen-tos. Você primeiramente se cadastra no Dropbox (conta grátis) e depois que você se cadastra pode baixar o aplicativo para PC e MAC, quando você instala uma pasta, que parece ser local, mas é um lugar na “nuvem” e quando você copia qualquer arquivo, ele é guardado com segurança e ainda pode ser compartilhado com outros usuários quando quiser. O aplicativo para iPhone e iPad é grátis e permite acessar estes arquivos da nuvem e a grande van-tagem é que ele visualiza planilhas, documentos do word, textos, tabelas de preços e até videos, por isso serve como um visualiza-dor de documentos grátis. Por exemplo, você copia um documento do Word para sua pasta do Dropbox no computador e do iPad poderá ler o documento quando quiser. É uma ferramenta com inúmeras utilidades e agora com a nova atualização o Dropbox passou a dar suporte em Português (Brasil). A empresa mostrou entusiasmo com os números gerados pelos brasileiros. De um ano para cá, a quantidade de usuários “brasu-cas” mais do que dobrou, e durante o carnaval foram mais de 1 milhão de fotos enviadas por dia pelo recurso de Envio da câmera. Se estas fotos fossem impressas e empilhadas, atingiriam uma al-tura 13 vezes maior que a estátua do Cristo Redentor, segundo o próprio serviço.

Custo: Free (2GB)Podendo chegar até US$ 19,99 por 100 GB ao mês.

O Waze é na verdade uma mistura de aplicativo de navegação, com comunidade. Para ser mais preciso, é um GPS social (como os pró-prios criadores o denominam) e possui versões para iOS (universal: iPad e iPhone). O Waze é gratuito, mas requer um cadastro no sis-tema. Após instalado, basta abrir o aplicativo e dirigir pela cidade. O software é muito inteligente e envia notificações sobre o trânsito para outros usuários automaticamente, dependendo da velocida-de com que você está se locomovendo. Conforme a velocidade do seu automóvel diminui (o que caracteriza um congestionamento), o Waze marca a via com uma linha vermelha — desta forma, todos os outros usuários podem evitar tal rota. Da mesma maneira, você pode ter acesso em tempo real a todas as notificações enviadas por outros usuários e fazer um melhor caminho para o seu destino. Além dessas notificações automáticas, o usuário também pode enviar ma-nualmente as suas próprias notas mais detalhadamente, incluindo notificações de acidentes, podendo inclusive compartilhar uma foto do acontecimento. Só de andar com o Waze aberto, já é uma grande vantagem tanto para quem usa quanto para os outros usuários da comunidade. Quanto mais usuários utilizam o sistema, melhor ele fica, e todos podem fazer sua parte, adicionando novas vias no mapa ou apenas andando pela cidade com o aplicativo aberto para que as notificações sejam enviadas. Para incentivar isso, o aplicativo conta com um sistema de pontuação, de acordo com a quantidade de quilô-metros que o usuário anda e as contribuições que efetua. Você deve, enquanto dirige, coletar alguns doces no mapa, que aumentam sua pontuação e seu status.

Custo: Free

Candy Crush tem tido bastante sucesso enquanto app para iPhone e é com certeza um dos mais viciantes. Este jogo é similar ao jogo tra-dicional de combinar bolhas e é bastante apreciado por quem adora combinações. O que o difere de outros jogos de combinações é o fato de ser à volta de doces, o que faz com que ele fique muito mais di-vertido. No início há a possibilidade de jogar ligando-se à sua conta do Facebook, que permite interagir com os seus amigos e pedir-lhes ajuda. Ou então, o jogador apenas vai utilizar a app normalmente, sem utilizar qualquer rede social. A desvantagem de não poder comu-nicar com nenhum parceiro é que você terá de se desenrascar por si, utilizando créditos para desbloquear boosters e para ganhar vidas. O Candy Crush para iPhone/iPad é, definitivamente, desafiante e vician-te para quem gosta de estar entretido a fazer conjugações. Ao chegar a um determinado nível, o usuário consegue perceber que este não é um simples jogo, mas sim uma história que depende do jogador para continuar, o que o torna cada vez mais emocionante. A única desvantagem é a espera. O usuário pode usufruir do aplicativo gra-tuitamente, no entanto se quiser jogá-lo a 100% vai necessitar de in-vestir algum dinheiro. Primeiro, porque ao desbloquear os boosters, não vai poder utilizá-los logo e segundo porque ao longo de cada nível o usuário vai perdendo vidas, que custam dinheiro ou tempo. O utilizador, quando perde todas as vidas, ficará entre 10 e 20 minutos sem poder jogar. Isto se preferir manter o aplicativo gratuito, é óbvio. O Candy Crush é Viciante, uma excelente opção para passar o tempo e parece nunca cansar, apesar das suas desvantagens, é ideal para qualquer pessoa e para qualquer idade.

Custo: Free

Com o Aplicativo Tábua das Marés você sabe exatamente como está o nível do mar em qualquer lugar do Brasil. O aplicativo oferece seleção de portos por Estado e permite que você facilmente navegue por datas próximas, obtendo um gráfico intuitivo e interativo da maré e as horas exatas das máres alta e baixa, de acordo com a Lua. Um ótimo diferencial do app é que ele funciona 100% offline, sem a necessidade de conexão com a internet. Ele será atuali-zado anualmente e, quem o comprar, terá sempre direito a esses updates sem pagar nada por eles — garantem os desenvolvedores.

Custo: US$ 1,99

O iPad é um ótimo instrumento de produtividade, e pode ficar ainda melhor quando temos um “gestor”, no qual podemos reunir todos os nossos documentos em um só lugar. Este é o objetivo do Documents, aplicativo lançado pela popular Readdle e que pro-mete centralizar todos os seus arquivos no seu iPad.O app em si é mesmo totalmente novo, atuando como um visualiza-dor de arquivos completo para iPads — incluindo PDFs (com anota-ções), vídeos, música e um browser embutido para download local. Ele se integra ao iCloud, ao Dropbox, ao Google Docs/Drive e a outros serviços, oferece proteção com senha, cópia de docu-mentos do Mac/PC, gravar anexos de emails, compartilhamento facilitado e muito mais.

Custo: Free

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L5 REMOTE

TRAMONTINA ROCK’N’COOK

É cada vez mais frequente que se utilizem aparelhos como celular e tablet para auxiliar nas funções mais corriqueiras. A exemplo do adaptador que permite que iPads captem o sinal da televisão digital, o L5 Remote também adota a mesma ideia: permitir que a rotina doméstica não precise de tantos equipamentos – já que você pode fazer tudo que eles fazem de um jeito mais simples. O aparelhinho é um acessório e aplicativo que transforma seu iPhone, iPad ou iPod touch em um controle remoto universal. Você pode usá-lo para controlar a TV, o aparelho de TV a cabo, o som, o DVD, o DVR e outros dispositivos de automação residencial que venham com um controle remoto IR. Ele é pequeno e fácil de usar – é possível baixar o manual de instruções direto do site da empresa. Uma boa saída para quem tem muitos aparelhos eletrônicos em casa e não quer administrá-los em vários controles diferentes.

Onde: www.l5remote.comPreço sugerido: US$ 59,90

Pensando nos consumidores mais jovens – de idade ou não – e descolados, a Tramontina lançou a linha perfeita para quem gosta de cozinhar e de ouvir o gênero mais popular da história da música. Os amantes do rock ganharam essa inspiração a mais para comandar as panelas: a empresa confeccionou verdadeiros objetos de design nos utensílios, todos voltados para a temática. A linha completa inclui frigideira, espagueteira, forma de pizza, assadeira, ralador, tábua para carnes, entre outros. Os itens são bonitos e descontraídos, ora com cores fortes e chamativas, ora com estampas bem-humoradas. Ideal para preparar um jantar quando for receber os amigos para assistir a um show na TV.

Onde: www.tramontina.com.brPreço sugerido: R$ 399,90 (linha completa)

SABOTEUR CARD GAMEQuem gosta de jogos de blefe, estratégia e construção vai se identificar com o Sa-boteur Card Game. Aliando o que há de melhor em jogos de tabuleiro, cooperação e jogos de carta, o card game ainda tem um charme a mais: o mistério típico dos personagens secretos, descobertos apenas no fim da partida. A ideia é a seguinte: os jogadores fazem o papel de anões – que podem ser mineradores cavando túneis em busca de um lendário tesouro ou sabotadores que tentam colocar obstáculos no caminho destes. Se os mineradores conseguem chegar ao tesouro, são recom-pensados com pepitas. Porém, caso eles não consigam, os sabotadores recebem o prêmio. O resultado só aparece na hora de dividir o ouro. Saboteur comporta de três a dez jogadores, e vem com 110 cartas e um manual de regras. Todos os cards são coloridos, e vêm com arte e impressão de excelente qualidade. A mecânica do jogo é simples e elegante. Ideal para jogar tanto com a família quanto em uma roda de amigos.

Onde: www.boardgames.com.brPreço sugerido: R$79,90

O boom da cultura geek ganhou ainda mais força com o sucesso de uma das séries mais populares da TV ame-ricana: The Big Bang Theory (que no Brasil é exibido pelo canal pago Warner) conta a história de quatro amigos cientistas que vivem para trabalho, games, quadrinhos e filmes festejados pelos adeptos desse universo – porém sem muita habilidade social. A mocinha loira é Penny, a vizinha extrovertida que trabalha como garçonete e não en-tende nada dessas referências. Estes cinco personagens se tornaram tão queridos do público que viraram bonecos para coleção. Feitos de resina, as miniaturas medem 7,5 cm, têm cabeça articulada e base de apoio. A confecção é cuidadosa e os rostos são muito parecidos com os dos atores que interpretam os personagens. Um charmoso item de decoração para aqueles que estão antenados com o que está em voga na cultura pop.

Onde: www.mytoys.com.brPreço sugerido: R$ 99,90

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BONECOS MINI WACKY BIG BANG THEORY

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Felipe CordeiroMúsico

CINEMASOM

&

Alguns casamentos entre cineastas e autores de

trilhas sonoras se tornaram grandes clássicos na

história do cinema e da música, como é o caso dos

líricos Felinni e Nino Rota e também do encontro de

Sergio Leone com Enio Morricone, responsável pe-

las principais sonoridades do western spaghetti, de

Leone. Estes últimos, grande inspiração de filmes

- e dos sons que compõe seus filmes - de Quentin

Tarantino, que no seu último trabalho, um revival do

clássico Jango (já filmado por vários diretores), in-

cluiu algumas belas trilhas de Morricone.

O brasileiro Dori Caymmi, produziu um álbum

inteiro só com trilhas que fizeram história no cine-

ma mundial. Carioca, com um pé na Bahia e outro

nos EUA, Dori reiventou os clássicos à sua manei-

ra, dando um toque refinado e com nuances de

brasilidade, como é o caso de “The Pink Panther:

Pink Panther” de Henry Mancini. A canção tema da

“Pantera Cor de Rosa”, que abre o disco A Roman-

tic Vision do filho mais velho de Dorival Caymmi,

lançado em 1998, virou uma bossa nova implacá-

vel, e nos dá a impressão de que a música nasceu

para esta versão.

Já o cineasta americano Stanley Kubrik se apro-

priou, com uma audácia e criatividade espantosa

da obra do compositor erudito húngaro György

Sándor Ligeti, para sonorizar alguns dos seus fil-

mes, produzindo uma das mais magnânimas con-

versas entre imagem e som da história do cinema.

Kubrick explorou com maestria e genialidade as

possiblidades estéticas e sensoriais da fusão entre

imagem e som, como é o caso de “2001: A Space

Odyssey”, o big ben dos filmes de ficção científica.

A música de Ligeti, que segundo contam, só entrou

no filme nas vésperas do lançamento, após Kubrick

ter ficado insatisfeito com a trilha anterior, é de um

impacto estrondoso e fez um contraponto memo-

rável com Danúbio Azul de Johann Strauss II e o

poema sinfônico de Richard Strauss “Also Sprach

Zarathustra”. O filme de 1968 economiza muito nos

diálogos, e colocando a música como fio condutor

da narrativa.

A sutileza pianística criada por Ligeti em outro

clássico de Kubrick, marca o som de “Eyes Wide

Shut” (“De Olhos Bem Fechados” no Brasil), a cena

em que Tom Cruise está sendo seguido, e também

perseguido por si mesmo, num estado psicológico

de devaneio agudo, é usada pelo cineasta numa

atmosfera sonora simples e absurda.

Mais do que um artifício de redundância ou orna-

mento, a música para esses diretores é uma ma-

téria prima potente no processo e no resultado dos

seus filmes. Os melhores filmes, são os que são

como músicas. As melhores músicas são as que

dão um bom filme.

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especial

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Alan Bordallo Dudu Maroja

Proibido para menores de 18 anos – O grupo

de comédia britânico Monty Python, em um

show no Hollywood Bowl, em Los Angeles,

comparou a cerveja feita nos Estados Unidos a uma

relação sexual em uma canoa. “É muito perto da

água”, explicou em seguida First Bruce, personagem

interpretado por Eric Idle, que distribuiu latas de cer-

veja para a plateia. A piada, politicamente incorreta,

além de uma provocação bem-humorada à rivalida-

de entre americanos e ingleses, se deu pelo fato de

a cerveja dos Estados Unidos ser fraca – tanto na cor,

quanto no malte e no teor alcoólico – se comparada

à produzida na Inglaterra.

Na época do show – 1982 – os Estados Unidos ain-

da não haviam incluído a cultura cervejeira ao “Ame-

rican Way of Life”, apesar de a história desta bebida

alcoólica estar ligada à própria história democrática

dos norte-americanos – o hino nacional dos Estados

Unidos, por exemplo, é inspirado em uma canção

cervejeira, que funcionava como um teste de sobrie-

dade (se a pessoa conseguisse cantar toda a músi-

ca, era sinal de que ainda aguentaria mais uma cer-

vejinha). Hoje existem várias confrarias e é possível

encontrar inúmeros bares e restaurantes com cartas

de cervejas nos Estados Unidos, onde o movimento

cervejeiro se espalhou rapidamente.

E foi a partir da entrada dessas cervejas no merca-

do americano que o Brasil aos poucos se abriu para

a chegada de novos rótulos, dando início ao declínio

do império da American Lager, estilo de cerveja que

motivou a piada do Monty Python e que responde

por 99% da cerveja consumida no Brasil. Para tentar

introduzir o leitor no universo das cervejas especiais

e seus gostos, aromas, rótulos e prazeres, a Revis-

ta Leal Moreira visitou as “boutiques de cerveja” de

Belém, e conversou com especialistas no assunto

sobre o qual quase todo mundo opina (ou acha que

sabe um pouco).

Autodidatas do mundo, uni-vos!A cultura da cerveja no Brasil há muito tempo é re-

gida por um dogma: o de que a bebida deve ser ser-

vida estupidamente gelada. Esse princípio se aplica

bem ao estilo de cerveja consumido majoritariamen-

te, o supracitado American Lager (equivocadamente

chamado de Pilsen nos rótulos nacionais), que tem

como características marcantes a leveza e refres-

cância e o objetivo franco de matar a sede. “Tem a

ver com a ‘drinkability’, que é como a facilidade de

beber a cerveja, de ela entrar bem. Como em Belém

é calor, a gente tende para as cervejas leves”, explica

Iuri Fernandes, analista de sistemas, fotógrafo profis-

sional e futuro mestre cervejeiro.

Iuri sempre foi chegado a uma breja. Sua primeira

incursão aos sabores diferentes se deu pela Bohe-

mia, que de tanto tomar, enjoou.

Considerava-se um conhecedor de cervejas. Até

que em 2005, quando morava em Belo Horizonte,

viu que estava no topo de um iceberg, e que as pro-

fundezas do mar guardavam uma imensidão. “To-

mei um chope da Falke e me apaixonei. Depois fui

procurar outros, e na época estava acontecendo o

BH Home Beer, evento que foi embrião da Asso-

ciação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais

(ACervA Mineira). Conheci pessoas, novas cervejas

e vi o quanto era ignorante”, diz ele.

O conhecimento que já diferenciava Iuri dos ami-

gos fãs do lúpulo era básico: ele sabia que na Alema-

Aversatilidadedacerveja

Ela já foi inspiração de música, tema de debates acalorados e apaixonados. Apesar da máxima popular de que sobre religião, futebol e cerveja não se discute, fomos investigar o crescente mercado das cervejarias.

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88www.revistalealmoreira.com.br

nha tinha uma cerveja mais forte, que na Bélgica os

monges preparavam sua própria cerveja, mas não

passava disso. O economista Wajdy Zaidan também

se julgava um especialista.

“Eu achava que sabia tudo porque conhecia todas

as piadas de cerveja”, brinca ele, que passou a co-

nhecer este mundo após fazer um curso de somme-

lier de cervejas. Wajdy associa o desconhecimento

do brasileiro sobre a cultura da cerveja a fatores sim-

ples. “O Brasil não tem contexto histórico na produ-

ção de cerveja porque aqui não se produz lúpulo,

que é típico de climas frios. Tentaram iniciar o cultivo

no Sul, mas não deu certo. O lúpulo para a produção

da cerveja é quase todo importado”, explica.

A necessidade de importar o lúpulo, um dos qua-

tro ingredientes básicos da cerveja (os outros são a

cevada, o malte e a água) além de retardar o surgi-

mento da indústria cervejeira no Brasil (que começou

em meados de 1960) encareceu o produto e fez, no

longo prazo, as marcas nacionais recorrerem a um

expediente desonesto. “Passaram a acrescentar ce-

reais não-maltados, o que é permitido, mas exce-

deram a porcentagem. Em testes ficou comprovado

que a quantidade de milho excedia 50%. Estávamos

bebendo pipoca em vez de cerveja”, completa Wa-

jdy.

As misturas e consequente descaracterização da

cerveja condicionaram o hábito de beber ao clima, e

se a cerveja não for bem gelada, é difícil sorver um

trago. “Não adianta tomar as cervejas industrializa-

das esperando sentir o malte e conservar o amargor

na língua. O objetivo é matar a sede. Se tomar ela

quente, vai ser difícil. Fica terrível”, define.

Apurando o paladarComo café, vinhos, queijos e charutos, a aprecia-

ção da cerveja se baseia em todos os sentidos do

corpo que o líquido pode aguçar: olfato, paladar e

também a visão. Para um cervejeiro se iniciar nes-

te “novo mundo”, não pode se empolgar: algumas

cervejas são de difícil compreensão, então é aconse-

lhável que se siga uma escala progressiva, que com-

preenda os sabores e teores alcoólicos, os níveis de

lúpulo e malte e o amargor.

Para isso, os candidatos a apreciadores contam

com a ajuda de guias nas casas especializadas em

Belém. E eles podem ser Fernando Martins, da Kan-

guru Beer, e Delano Figueiredo, da Levedo Beer Im-

port.

Delano é contador e há dois anos abriu a Levedo,

apostando no crescimento do consumo de cerve-

jas especiais, baseado no interesse que ele próprio

demosntrou. “Tomei uma Erdinger que vi no super-

mercado. Queria sair da mesmice”, lembra ele, que

embarcou definitivamente neste mundo após conhe-

cer as cervejas belgas. “A escola belga de cervejas é

muito diversificada, tem um grande número de esti-

los. Vai de uma Premium Lager até cervejas mais re-

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quintadas, como a Deus, produzida com levedura

de champanhe”, diz ele.

Delano concilia o trabalho em seu escritório com

aparições na Levedo, que se tornam mais frequen-

tes às sextas-feiras. É na porta do fim de sema-

na que ele se propõe a receber novos clientes e

encaminhá-los na experiência, que, dificilmente,

terá uma cerveja belga típica no primeiro passo.

“Se eu oferecer uma cerveja muito lupulada para

um iniciante ele nunca mais vai à loja. Tem que ser

aos poucos, treinando o olfato e o paladar”, diz ele.

Pode parecer “pavulagem”, mas cada cerveja

especial tem um copo correspondente. Fernando

aprendeu isso quando morou na Bélgica, um dos

países com cultura cervejeira mais fortes (lá, por

exemplo, a cerveja não figurou entre as bebidas

proibidas pela Lei Seca). E o negócio é levado a

sério: com estimados dois mil rótulos, nem mesmo

cervejarias artesanais domésticas admitem servir

as cervejas produzidas com todo esmero em um

recipiente inadequado.

Além de um aspecto cultural, a medida tem um

viés experimental. “Entra a questão da percepção

do sabor, do aroma, da experiência de tomar a

cerveja. Uma cerveja trapista, por exemplo, deve

ser servida num copo de boca mais larga, para

que os toques caramelizados ou de chocolate se

desprendam e permitam ser percebidos”, explica

Fernando.

Apurar o paladar e os outros sentidos é a pro-

posta das “boutiques de cerveja”, como a Kangu-

ru Beer e a Levedo podem ser definidas. “Sempre

digo que isso aqui não é um bar. É um lugar para

degustar a cerveja”, diz ele, que constantemente

responde aos visitantes da página oficial do Face-

book que no local não é permitido falar alto. “Beba

menos, beba melhor!”, completa Delano.

Do lúpulo aos sabores regionaisO número de microcervejarias brasileiras teve

um crescimento exponencial nos últimos anos. A

afirmação é de Caio Guimarães, da Amazon Beer,

primeira, e maior microcervejaria do Norte e maior

bar de cerveja do Brasil, que registra a venda de 30

mil litros da bebida por mês. O sucesso das cerve-

jas artesanais, que resgatam o verdadeiro sentido

desta bebida, neste caso acrescidas de um toque

amazônico, fez o negócio da família Guimarães se

expandir do balcão e mesas para ganhar pratelei-

ras de supermercados e boutiques de cerveja em

todo o país.

A tradição da cerveja vem de três gerações na

família de Caio: seu avô, Arlindo Nogueira Guima-

rães, sempre foi entusiasta da cerveja. Seu pai,

Arlindo Nogueira Guimarães Filho, herdou o gosto.

“Desde que me entendo por gente, lembro deles

apreciando cervejas em festas de família e outras

ocasiões”, diz ele. Então, seu pai conseguiu unir a »»»

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paixão pela cerveja ao empreendedorismo e fun-

dou a Amazon Beer.

A importância da Amazon Beer no contexto das

cervejas artesanais é grande: seus princípios são

o de nunca imitar produtos estrangeiros, primando

pela criação de novos sabores, sempre ligados à

Amazônia, fazendo misturas semelhantes entre si.

A primeira incursão neste campo se deu em 2002,

apenas dois anos após a fundação da cervejaria:

a criação da cerveja de Bacuri. “Ganhamos como

produto inovador do ano no prêmio Techno Bebida

Award”, lembra Caio.

Com grande aceitação do público (especialmen-

te o feminino, pelo sabor delicado e adocicado da

bebida), a Bacuri Beer abriu portas para a inventivi-

dade de seus proprietários, que anos depois, lança-

ram outros rótulos originais: Cumaru (do tipo India

Pale Ale), Priprioca (do tipo Red Ale), Açaí (do tipo

Stout), Taperebá (do tipo Witbier) – além das tradi-

cionais River (do tipo Lager) e Forest (do tipo Pilsen).

Oferecer cervejas produzidas pela casa é uma

tendência que os restaurantes de outros estados já

vinham adotado, e que já tinha sido lançada pela

Amazon Beer. E agora a iniciativa está perto de ga-

nhar adeptos: o empresário Artur Bestene, da Cir-

cus, pretende até maio deste ano inaugurar uma

microcervejaria junto com um amigo [também cer-

vejeiro]. “Ele também vinha pensando a respeito.

Fundimos a ideia e estamos na iminência de abrir

uma microcervejaria. Quero fabricar a cerveja que

servirei aos meus clientes”, diz.

Artur é um dos que foram fisgados pela paixão

que os novos sabores e aromas despertam nos

apreciadores de cerveja, e revela que a única coisa

próxima de uma contraindicação é a “saúde” mo-

netária. “Eu me senti até obrigado a trabalhar mais,

porque me refinei. Não dá mais para voltar pro ‘li-

trão’. É como se um sommelier de vinho tomasse

vinho de qualidade duvidosa”, compara.

HarmonizandoO consumo de cerveja no Brasil ainda é margina-

lizado em algumas ocasiões, e a chegada de cer-

vejas especiais pode ajudar a quebrar este estigma.

“Antes eu era um bebedor comum. Agora passei

para entendedor. Os amigos falam: ‘não, agora o

cara está estudando’. A cerveja fez minha classe

social ascender”, brinca Iuri. Ele cita curiosidades

como o fato de a cerveja na Alemanha ser consi-

derada uma bebida comum, servida inclusive em

fábricas no horário de expediente e o dos monges

belgas sobreviverem 40 dias à base das cervejas

feitas nas abadias.

“Isso é um alimento, rapaz”, completa, entre risos,

contemplando com carinho uma garrafa de La Tra-

ppe, a única – de oito – trapista feita fora da Bélgica.

Para provar que a cerveja cai bem em várias oca-

siões, pedimos para que cada um dos personagens

desta matéria sugerisse harmonizações entre cer-

vejas de variados estilos e pratos.

www.revistalealmoreira.com.br

Fernando MartinsHoegaarden (Witbier) com salmão ou frutos do mar.

Iuri FernandesColorado Indica (India Pale Ale) com picanha na chapa.

Wajdy ZaidanNewcastle (Red Ale) com carnes de aves.

Artur BesteneGuiness (Stout) com bolo de chocolate.

Caio GuimarãesTaperebá Beer (Witbier) com tucunaré.

Delano FigueiredoSt. Bernardus 12 (Dark Strong Ale) com pato assado.

Harmonizações

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Arthur DapieveEscritor

Lamento informar às multidões de turistas que

acorrem ao Rio de Janeiro no verão: o período do

ano que oficialmente vai do final de dezembro ao final

de março é o pior para se estar na cidade. Ela está

inchada de gente, encarecida e, claro, muito, muito

quente. Porque apenas quente, ela sempre está: o

Rio é a capital mais tórrida e figura entre as dez cida-

des mais escaldantes do Brasil. Perdão se volto bre-

vemente ao tema da coluna passada, o calor, mas

agora o faço – trago boas novas! – para saudar-lhe

a queda. O Rio de abril a novembro faz jus, sim, ao

título da marchinha Cidade Maravilhosa.

Fico matutando se a exaltação ao verão no Rio

não teria algo de propaganda deliberadamente en-

ganosa: uma maneira de atrair os turistas para a

temporada menos bela enquanto o carioca da gema

– expressão que designa o carioca filho de cariocas,

meu caso – escapole para outras praias e para as

montanhas. Celebrar o verão seria, então, um modo

ardiloso de preservar para si o melhor momento da

cidade. Tá certo, não para si só, pois há um fluxo

constante de visitantes; para si e para os turistas que

têm a perspicácia e a disponibilidade para aqui apor-

tarem no miolo do ano.

A primeira mudança que o carioca percebe é na luz

do Sol. Ela não fica somente mais fraca: ela fica mais

límpida. Os vapores do verão a turvam, emprestando

ao céu um aspecto leitoso, sujinho. De quebra, essa

nebulosidade cria um efeito estufa local, que retém

o calor mesmo durante o adiantado das noites. De

abril a novembro, não. O azul fica ao mesmo tempo

mais nítido e mais suave. Mesmo quando a tempe-

ratura se eleva durante o dia, o que é comum, a noite

proporciona o frescor que torna mais fácil conciliar o

sono – sobretudo para quem, como eu, evita o ar-

-condicionado.

(A luz de abril é tão radiosa que, enquanto escrevo,

ela penetra no escritório pelo meu flanco e, refletida

na tela do computador, ofusca o meu olho direito.)

Se sair à rua no verão, afastando-se ao menos

temporariamente de qualquer forma de refrigeração,

exige disposição para suar, sair à rua neste periodão

sem nome próprio que abarca outono-inverno-pri-

mavera é um prazer para o corpo e, em particular,

para os olhos. Passado o desconforto físico de sim-

plesmente existir sob as temperaturas extremas que

caracterizam o verão carioca, a cabeça pode se fixar

nas coisas e nas gentes da cidade. Passada a histe-

ria de viver “a sua estação”, ou o que os forasteiros

esperam que seja a sua estação, o Rio pode ser ele

mesmo, mais relaxadamente.

Mais relaxadamente, taí uma expressão importan-

te. É difícil dizer se é o calor em si ou se são a su-

perlotação e a inflação na cidade, mas o fato é que

o carioca se torna mais tenso no verão. Há uma im-

paciência grupal em resolver logo as coisas e ou ir

para a praia ou voltar ao ar-condicionado. O trânsito,

esse sensível termômetro da civilidade (ou da falta de

civilidade) brasileira, se torna mais difícil, mais lento,

mais irritado. Não adianta nem argumentar com o

carioca que se ele está parado, está parado dian-

te de algumas das paisagens mais belas do mundo

– diferentemente do engarrafado vizinho paulistano.

Nessa hora, nem apelar para o bairrismo de gosto

duvidoso funciona. No miolo do ano, o número de

automóveis diminui sensivelmente, conforme os ve-

ículos de outros estados retornam para casa, o que

ajuda o trânsito a fluir melhor.

Então, cara leitora, caro leitor, se você pretende vir

ao Rio, considere trocar janeiro ou fevereiro por julho

ou agosto. O estado de espírito da cidade se torna

mais hospitaleiro, suas belezas se tornam (mais) visí-

veis sob o suor na testa, a vida é bela.

Acho que acontece algo parecido com a propa-

ganda das grandes cervejarias. Elas concentram

seus esforços em apregoar seus produtos em asso-

ciação com verão, calor, gente semidespida na praia

(gente, aliás, que parece nunca ter tomado uma cer-

vejinha, tal a perfeição geométrica de seus ventres).

Entendo que o hábito local de se beber cerveja estu-

pidamente gelada refresque de fato a goela, apesar

do notável prejuízo à capacidade de se sentir à vera

o sabor da bebida, o que é péssimo no caso de uma

boa marca, como a paraense Cerpa ou a paulista

Colorado. O álcool, porém, desidrata se consumido

em grandes quantidades. E haja cerveja para tentar

afastar o calor do verão carioca... Como o próprio ca-

lor desidrata, é óbvio, fica o pessoal ressecando por

dentro na praia do Leblon. Outro caso de propagan-

da enganosa. Biritar é bom no friozinho, como bem

sabem os mineiros, que celebram suas grandes pin-

gas nas noites de inverno.

No calor da praia, vá por mim, água de coco é

melhor e mais saudável, sobretudo se não tiverem

jogado o preço nas alturas, como acontece a cada

novo verão. Não faz muito, deve-se dizer, um coco

gelado custava R$ 1 na orla do Rio. Seu preço pa-

recia congelado por um acordo tácito – ou seria um

cartel do bem? – entre os vendedores. Hoje, no verão

de uma cidade que recuperou sua autoconfiança, se

você encontrar um coco por menos de R$ 5, ganha

um beijo da garota de Ipanema.

BOASNOVAS

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destino

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Estátua do Mozart(localizada no Burggarten)

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Você sonha conhecer uma cidade fasci-

nante, que além de bela, tem cultura e

tradição? Então seu destino é Viena, a

capital europeia da música, que por coincidência

também é chamada de “a capital dos sonhos”

(em Viena também atuou Sigmund Freud, o pai

da psicanálise e autor da teoria dos sonhos). A

cada começo de ano, Viena é dominada pela fe-

bre de valsa: mais de 450 bailes são festejados na

capital, nos meses de janeiro e fevereiro. E para

os que desejam vivenciar um “sonho de valsa

vienense”, não é necessário pagar entrada, nem

chamar a fada madrinha. A cidade da música e

dos sonhos é, em si, uma promessa de encanto.

Um passeio por Viena tem de começar na ci-

dade antiga que compõe o chamado “primeiro

distrito de Viena” (1.Bezirk). No coração da cidade

antiga encontra-se a imponente catedral de Santo

Estevão (Stefansdom), o símbolo de Viena, tam-

bém carinhosamente conhecida pelos vienenses

como “Steffl”. Construída em 1137, originalmente

como uma igreja em estilo românico e constante-

mente expandida e reconstruída ate o século XVII,

a atual catedral de Santo Estevão reúne vários

estilos arquitetônicos, que vão do gótico ao bar-

roco. A catedral foi severamente atingida durante

o bombardeamento de Viena, em abril de 1945,

durante a Segunda Guerra Mundial, e reconstruí-

da graças aos esforços coletivos dos cidadãos de

Viena e dos outros estados federais da Áustria.

A catedral impressiona pela riqueza de detalhes

e pelas várias obras de arte em seu interior. Dica

para os “fortes”: uma visita às mórbidas catacum-

bas, localizadas na parte subterrânea da catedral.

As catacumbas abrigam os restos mortais de

membros da família Habsburgo (a mesma família

da Imperatriz Leopoldina, esposa do imperador

Dom Pedro I) e inúmeros corpos de vítimas da

peste negra, que dizimou a cidade no século XVIII.

Com os cemitérios lotados, a única solução era

levar os corpos para as catacumbas da catedral

de Santo Estevão.

Uma pequena curiosidade: ao lado oeste do

salão da torre norte, você encontrará uma escul-

tura de Jesus, da cintura para cima, de mãos ata-

das e coroa de espinhos, o rosto contraído de dor.

Esta figura é carinhosamente chamada de “Se-

nhor Deus com dor de dente” (Zahnwehherrgott).

A lenda conta que jovens bêbados, vendo a triste

imagem, ataram um pano ao redor do rosto para

ajudar com a “dor de dente”. Logo depois foram

vítimas de uma forte dor de dente, que só foi cura-

da quando voltaram à catedral e pediram perdão.

Há uma cópia da mesma estátua no exterior da

UmSonhode Valsa

Alice Pinheiro Walla

A frase que ostentamos no subtítulo desta matéria (de autoria de um austríaco, o escritor e jornalista Karls Kraus, 1874-1936) poderia soar como um exagero. Não quando se trata de Viena.

“As ruas de Viena são pavimentadas com cultura. As ruas das outras cidades, com asfalto”.

Kalianne Tosold

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catedral (veja se você a encontra!).

Logo atrás da catedral, na rua chamada Dom-

gasse, encontra-se um museu estadual dedicado

à memória de Wolfgang Amadeus Mozart (Mozar-

thaus), que viveu e atuou em Viena até sua mor-

te, em 1791. O apartamento do segundo andar

é a única residência preservada de Mozart e sua

família, que viveram neste endereço entre 1784

e 1787. No apartamento da Domgasse, Mozart

compôs a famosa ópera “As Bodas de Fígaro”.

Da janela da sala, de preferência ouvindo a ária

“non son piu cosa son, cosa faccio” em seu iPod,

olhe para a estreita rua diante de você (a chama-

da Blutgasse). A ruela é uma “verdadeira máquina

do tempo” com suas fachadas barrocas e seus

paralelepípedos. Imagine estar vendo isso com os

olhos de Mozart, envolvido na criação das Bodas

de Fígaro, dando uma olhadinha da janela da sala.

Para aproveitar melhor chegue cedo, pois o mu-

seu é a atração favorita dos turistas.

Ao lado da catedral de Santo Estevão encon-

tram-se os fiacres, charretes em estilo antigo pu-

xadas a dois cavalos, com as quais é possível

explorar confortavelmente – e em grande estilo

– o centro histórico da cidade e a Ringstrasse (a

rodovia em forma de “anel” ao redor do primei-

ro distrito). Alternativamente, Viena oferece uma

excelente rede de transportes públicos, que inclui

ainda metrô (U-Bahn), bondes elétricos (Strassen-

bahn) e ônibus.

A próxima parada é a sede da corte imperial

vienense, a imponente corte imperial (Hofburg),

onde a família imperial costumava residir no inver-

no e hoje residência do presidente da república

austríaca. Aproveite o passeio entre as elegantes

ruas comerciais do primeiro distrito e aprecie as

fachadas dos edifícios históricos do Graben e do

Kohlmarkt (o antigo mercado de carvão) até se

deparar com o deslumbrante pórtico da corte im-

perial.

No caminho, entre catedral e corte imperial, na

esquina da praça de São Miguel, descubra uma

pequena pérola: a igreja de são Miguel (Micha-

elerkirche), uma das igrejas mais antigas de Vie-

na, onde foi tocado pela primeira vez o famoso

réquiem de Mozart (vale a pena uma visita!).

Palácio Schönbrunn (residência de verão da família imperial Habsburgo)

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Na praça Maria Theresia (a ilustre senhora sen-

tada ao trono, no centro da praça) encontram-se

os edifícios gêmeos do museu histórico de artes

(Kunsthistorisches Museum) e o museu de histó-

ria natural (Naturhistorisches Museum). O museu

de artes abriga pinturas de mestres antigos como

Dürer, Rafael, Caravaggio, Ticiano e Rubens, além

de uma exposição de objetos de arte do Egito an-

tigo (incluindo múmias) e coleções de arte grega

e romana. O museu de história natural é uma boa

pedida para quem viaja com crianças (os esque-

letos de dinossauros e o dinossauro rex que se

move e urra para os espectadores são alguns dos

grandes favoritos da criançada). Para os adultos:

confira a pequena [mas de fama enorme] “Venus

de Willendorf”, uma das mais antigas figuras fe-

mininas do mundo (datada do período Paleolítico).

Uma das várias curiosidades: o cachorrinho de

colo da imperatriz Maria Theresia. “Empalhadi-

nho” para a posteridade (e para adultos e crian-

ças).

Mais adiante, um complexo de museus de arte

moderna, onde se pode ver a coleção privada de

obras de pintores condenados (e redescobertos)

durante o terceiro Reich: no MUMOK você encon-

trará artistas como Egon Schiele, Gustav Klimt e

vários representantes do movimento artístico co-

nhecido como a secessão. O famoso “O Beijo” de

Gustav Klimt está entretanto na Pinacoteca do Pa-

lácio Belvedere, para amantes de pintura também

visita obrigatória.

Não perca uma visita ao palácio Schönbrunn, a

residência de verão da família imperial Habsbur-

go, onde é possível ver o quartos do imperador

Franz Joseph e sua esposa imperatriz Elisabeth

(conhecida como “Sisi” e ícone da capital). Os jar-

dins barrocos do palácio também convidam para

um relaxado passeio. Para viajantes com crian-

ças e amantes de animais, o jardim zoológico

mais antigo do mundo é logo ao lado: o zoológi-

co Schönbrunn oferece muitas atrações, por isso

reserve pelo menos a metade de um dia para a

visita.

Imortalizada pelo filme de Carol Reed “O Ter-

ceiro Homem” que retrata Viena pós-Segunda

Guerra, ocupada e dividida em zonas pelos quatro

poderes aliados (Estados Unidos, Inglaterra, Fran-

ça e União Soviética), a roda gigante do Prater é

Tel:

91 8

887.

6486

Fax:

913

224.

1203

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À esquerda: Estátua de Johann Strauss (localizada no Stadtpark). Acima: Mumok (Museu de Arte Moderna)

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98www.revistalealmoreira.com.br

Interior da Catedral de Santo Estevão

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também um símbolo de Viena e convida para um

passeio descontraído no parque com direito a algu-

mas travessuras e algodão doce.

Para quem quer explorar a história de Viena e da

Áustria, em geral, são interessantes o museu da

cidade de Viena (Historisches Museum der Stadt

Wien) e o museu do povo judeu (Jüdisches Mu-

seum). Este último retrata a cultura e história dos

judeus vienenses das origens da cidade até o ho-

locausto. Como consequência da indexação da

Áustria pela Alemanha, em 1938, estima-se que

65.000 judeus vienenses foram mandados para

campos de concentração, dos quais um pouco

mais de 2.000 sobreviveram. O museu tem duas

localidades: na Dorotheergasse e no Judenplatz.

Famosa por seu legado musical, Viena continua

uma das mais influentes capitais da música na Eu-

ropa. Viena é o berço da valsa vienense (uma valsa

com um compasso levemente irregular, de charme

inconfundivelmente vienense) e o lar de inúmeros

compositores ilustres como Wolfgang Amadeus

Mozart, Joseph Haydn, Ludwig von Beethoven,

Franz Schubert, Johann e Josef Strauss (pai e filho

e “reis da valsa”), Johannes Brahms, Gustav Mah-

ler, Arnold Schönberg... (a lista é longa!!!). É pos-

sível achar vários museus e casas de músicos em

Viena.

A ópera nacional de Viena (Wiener Staatsoper),

cuja orquestra é formada pelos integrantes da or-

questra filarmônica de Viena (Wiener Philarmoniker)

é mundialmente aclamada por cultivar a tradição e

estilo clássico genuinamente vienense. Porém, as-

sistir a uma ópera na Staatsoper é um prazer que

custa caro. Uma alternativa é assistir de Stehplatz

(de pé, mas com uma boa vista do palco). Entre-

tanto, viajantes com um budget limitado e sem

paciência para esperar na fila da Staatsoper por

um ticket mais em conta têm muitas opções em

Viena. Para quem quiser vivenciar uma ópera ou

opereta em bom estilo vienense sem extrapolar as

finanças, a parada obrigatória é a ópera popular de

Viena (Volksoper Wien). Para concertos sinfônicos,

a orquestra sinfônica de Viena (Wiener Symphoni-

ker) é o endereço certo. No centro da cidade você

também encontrará vendedores de concertos para

turistas, nem sempre baratos. Mas se ouvir músi-

cos fantasiados de “Mozart” não for o seu estilo e

você preferir vivenciar a verdadeira cultura musical

de Viena, recomendo um concerto, ópera ou ope-

reta em uma das “casas de música” tradicionais

de Viena.

Viena também é uma referência quando o assun-

to é a culinária. A cozinha vienense foi influenciada

pelos povos que constituíam o antigo Império Aus-

tríaco, também chamado império Austro-Húngaro.

Entre os pratos principais mais famosos de Viena Fiacres (ao fundo vista para a Praça dos Heróis)

Foto do Wiener Melange e strudel de maçã (Apfelstrudel) (tradicionalmente os cafés são servidos em pequenas bandejas e sempre acompanhados de um copo pequeno de água).

Restaurante Figlmüller (onde se pode saborear o melhor e mais famoso Wiener Schnitzel da cidade. Fica localizado na Wollzeile nr. 5 no 1° distrito).

Doces de Viena

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estão a Wiener Schnitzel (bife de porco ou gado,

empanado e frito, usualmente servido com batatas

cozidas com cheiro-verde ou salada de batatas) e

o Tafelspitz (cozido de carne com verduras). Fa-

moso é também o Gulyás ou Gulasch, um ensopa-

do picante de origem húngara que pode também

ser acompanhado de Semmelknödel (bolinhos de

massa de pão e condimentos, de origem tcheca).

Para quem prefere pratos mais leves, a maioria dos

restaurantes também oferece opções vegetarianas

e vegans (pratos livres de produtos de origem ani-

mal), já que na Europa o número de pessoas que

abrem mão do consumo de carne e derivados de

animais (regularmente ou permanentemente) é re-

lativamente alto.

Mais o melhor ainda está por vir: as sobremesas!

Não deixe de experimentar Germknödel, Palats-

chinken, Apfelstrudel, Marillenknödel e Kaisersch-

marrn. Como outros pratos da cozinha tradicional

vienense, essas são sobremesas “pesadas,” feitas

à base de massa de trigo, servidas quentes e com

muito açúcar! Para muitos, uma refeição completa.

Entre os passeios em Viena, nada como dar

uma pausa num café vienense para recarregar as

energias (e as calorias!). A tradição das casas de

café vienenses data da invasão turca em 1683. É

contado que após a derrota e retirada da armada

turca, foram deixadas para trás centenas de sacos

de café. Estes foram presenteados pelo rei polo-

nês ao heróico comandante Kolschitzky que abriu

com eles o primeiro café vienense. Não deixe de

saborear o famoso Wiener Mélange e experimentar

as inúmeras criações de bolos e tortas doces da

cozinha vienense. Um ícone das casas de café vie-

nenses é a Sachertorte, um fino bolo de chocolate

escuro, coberto com chocolate e com uma leve ca-

mada de geleia como recheio. Viena tem inúmeros

cafés, mas se você quiser experimentar uma casa

de café especial, visite o Café Central, localizado no

elegante Palais Ferstel na Herrengasse, 1º distrito.

Este era um ponto de encontro favorito dos intelec-

tuais vienenses para ler jornais, discutir ideias e ou-

vir a notícias (além de tomar bastante café, diga-se

de passagem).

Despedir-se de Viena não e fácil. Mas antes de

partir, não deixe de assistir ao pôr-do-sol na capital

da música e dos sonhos. O melhor lugar para uma

vista panorâmica de Viena (e um pôr-do-sol de tirar

o fôlego) é o prédio mais alto da cidade: a Donau-

turm, uma torre de rádio que também é observató-

rio e restaurante giratório.

Segundo Freud, o pai da psicanálise, o sonho

significa a presença de um desejo. Como não so-

nhar com Viena? Espero que seu sonho se torne

em breve realidade.Igreja de São Miguel

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OSAKA-NARA

enquanto isso

Todo ano o Governo Japonês, por meio do Mi-

nistério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e

Tecnologia (MEXT), oferece bolsas de estudo para

brasileiros em universidades públicas japonesas.

Foi por meio de tal oportunidade que vim ao Ja-

pão há 5 anos para iniciar minha pós-graduação

na área de Ciência da Computação.

Meus primeiros seis meses em terras nipônicas

foram dedicados ao estudo da língua japonesa,

fase que aconteceu na Universidade de Osaka, lo-

calizada no centro da região de Kansai. A cidade

de Osaka é uma das áreas metropolitanas mais

efervescentes do Japão. Uma cidade que se mos-

tra bastante internacionalizada em seus distritos

mais famosos: Umeda, Namba e Shinsaibashi.

Neles se encontra comércio e entretenimento para

todos os gostos. Eletrônicos de ponta, em lojas

do gênero, e roupas de renomadas marcas euro-

peias colorem as vitrines, até o pôr-do-sol, quando

as luzes dos grandes painéis de LED abrem alas

para a agitada vida noturna da cidade. Os delicio-

sos Okonomiyakis, espécie de pizza japonesa frita

em chapa quente com toppings, que vão desde

bacon até lula, camarão e polvo, são uma boa pe-

dida. Apesar da modernização constante, o cas-

telo de Osaka continua sendo seu símbolo mais

forte, um testemunho do quanto a sociedade ja-

ponesa aprecia e preserva sua história e tradição.

Não é à toa que a cada primavera todas as tribos

se confraternizam sob as árvores de cerejeira para

apreciar as flores que brotam e adornam os arre-

dores do castelo. Aos gamers e Otaku, o distrito

de Nipponbashi os aguarda com uma variedade

interminável de jogos, figuras de ação e mangás,

além de cosplayers desfilando a qualquer hora do

dia.

Após desfrutar da agitação de Osaka, mudei-

-me para Nara, ainda na região de Kansai, onde

iniciei e concluí meu Mestrado pela Nara Institute

of Science and Technology (NAIST) e onde atual-

mente faço o último ano do meu Doutorado. Se

Osaka é a epítome da modernidade acelerada,

Nara, em contrapartida, é um centro histórico cer-

cado de templos por todos os lados. É uma cidade

calma onde o principal atrativo é o Nara Koen, um

parque tão famoso pelo templo Todaiji, que é pa-

trimônio mundial da humanidade e abriga a maior

estátua de bronze de Buda do mundo com qua-

se 15m de altura, quanto pelos incontáveis cervos

que caminham livremente por entre seus visitan-

tes. Alimentar os cervos com Senbei, um biscoito

próprio vendido em pequenos quiosques espalha-

dos pelo parque, é uma experiência indispensável

aos exploradores da pacata região de Nara. Ainda

nas proximidades do parque se encontra o Monte

Wakakusa, onde se pode caminhar até o topo e

apreciar uma das vistas panorâmicas mais belas

do Japão e também uma das mais românticas ao

anoitecer.

Um mestrado e quase um doutorado depois,

ressalto que apesar das barreiras linguísticas e

culturais o Japão me acolheu e me proporcionou

conhecer a grandiosidade que uma sociedade e

um país podem vir a ter quando se tem o compro-

misso de atender a todos, residentes ou não, com

educação e organização. Seja pela natureza, pela

cultura ou pelas lições que o Ocidente precisa co-

nhecer, viajar pelo Japão é caminhar em meio ao

passado enquanto se vislumbra o futuro.

Doutorando em Ciência da Computação

Igor Almeida

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O CAFÉ DA MANHÃ É A REFEIÇÃOMAIS IMPORTANTE DO DIA.NOSSO ALMOÇO TAMBÉM.

VENHA CONHECER O NOVOBUFFET DO FAMIGLIA

• CARTA DE VINHOS

• CULINÁRIA INTERNACIONAL

• CARTA DE CERVEJAS PREMIUM

• BUFFET NO ALMOÇO

Benjamin Constant, 1415

(entre Brás e Nazaré)

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106www.revistalealmoreira.com.brwww.revistalealmoreira.com.br

Saulo sisnandoescritor

Para o Pedro,na certeza de que sempre terá o abraço de seu pai.

Paraosinfinitos

Então tudo passa, e o Pedro – o

filho da sua melhor amiga – nas-

ce. E você descobre que coisas

grandiosas acontecem diaria-

mente no mundo. E coisas lin-

das e minúsculas também.

E em quase dois anos, al-

guns amigos vão fazer dou-

torado no Rio de Janeiro, e

outros voltam de Macapá,

e outros engravidam e mui-

tos parem. E um vem passar

a Páscoa com a mãe, e duas

querem que você escreva pe-

ças de teatro para elas, e aquele

emagrece para ficar com barri-

ga-tanquinho, e qualquer um se

muda para a Austrália para esque-

cer um amor (sem conseguir).

E no meio de tanta vida você se vê

vivendo muita coisa.

Nesse tempo em que estão separados,

você recorreus aos terreiros de umbanda, e

descobriu que era filha de Oxalá com Oxum, e se

viu devota de Santa Teresinha, e aprendeu a dançar

– para que você não precisasse mais dos passos

alheios, mas tivesse a sua própria coreografia.

E começou a psicoterapia: fez constelação fa-

miliar, tratamento bioenergético, regressão a vidas

passadas e acupuntura. Ufa! E nessa empolgação,

descobriu que não quer passar o resto da vida ca-

rimbando papéis no seu emprego público, não!,

sua sina é ser psicanalista... Porque Freud é o cara!

E agora quer ir pro Rio de Janeiro estudá-lo profun-

damente e montar um consultório ajeitadinho, com

uma estátua do pensador em cima da mesa, vários

livros escuros na estante e usar uns óculos miúdos

daquele tipo bem intelectual.

Se não for possível, quer ficar por aqui e organizar

rascunhos antigos e voltar a escrever histórias de

terror ou romances açucarados sobre moças po-

bres que se apaixonam por rapazes ricos. E deseja

publicar seus poemas, e crônicas, e as receitas que

sua avó deixou naquele livrão antigo, que você en-

controu no cofre do seu pai.

E por falar em pai, você descobriu que muito da

sua solidão está ligada a ele – contrariando todos os

que dizem que a culpa é sempre da mãe – pois ele

nunca te deu um abraço apertado. E você, com a

ajuda da terapia, se prometeu dar um abraço nele.

Mas ainda não sabe quando... Nem como explicá-

-lo tal repente.

Porém desde quando o amor precisa de explica-

ção?

E sendo sozinha, você leu todos os livros do Harry

Potter, virou orquidófila, aprendeu a andar de patins

e a baixar filmes em Torrent.

E saiu algumas vezes ao sábado e beijou alguns

gatinhos (ou vários) e se deu ao direito de tomar uns

pileques mesmo sabendo que, segundo seu médi-

co ortomolecular, bebida alcoólica retarda o ema-

grecimento. Mas, ah!, para quê a pressa?

E então você percebe que, tentando esquecê-

-lo, você se faz feliz. E descobre que, embora você

queira muito ter alguém, você consegue sobreviver

muito bem sozinha. Porque às vezes a melhor parte

do amor... é esquecê-lo!

Sim! Ele era lindo... E pode até ter sido perfeito.

Mas foi perfeito por um tempo determinado. Mas

pessoas como você não aceitam amores com pra-

zo de validade.

Pois você quer o infinito,

já que o infinito você é.

Mesmo sozinha.

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gourmet

A vida é um palco

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Gabriel Vidolin veio a Belém especialmente para o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense 2013 e encantou os paraenses com criações, no mínimo, inusitadas

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Camila Barbalho Dudu Maroja

Você não leu errado. A matéria que você lerá a seguir narra uma história de um jovem cozinheiro que rejeita rótulos (dentre deles, o título de chef de cuisine) e que reescre-veu sua própria trajetória. Ainda em atos inacabados... e bem longe de chegar ao fi nal.

Reza a fábula que o sofrido menestrel, ao en-

contrar o mago, pediu para que este retirasse

de sua vida toda a dor. Prontamente atendido,

o bardo seguiu feliz seu caminho – até que, passado

o tempo, percebeu que não tinha mais o que cantar.

Saudoso da própria poesia, ele procurou novamente o

feiticeiro e pediu de volta o sofrimento, já que era dele

que sua arte se alimentava. A história, sobre a profun-

didade do coração dos artistas, também deixa a lição

de que livrar-se do que dói é por muitas vezes bem

menos proveitoso que descobrir o lado bom de tudo

que é ruim. Gabriel Vidolin não precisou protagonizar

o conto para perceber que poderia ver além do que se

via. O cozinheiro – e não chef, como depois ele expli-

cará mais à frente – precisou percorrer muito cedo um

caminho extenso para encontrar-se. E, mais que isso,

encontrou uma razão para criar.

Quando o observamos mais de perto, Gabriel pare-

ce demais com um trovador, tal qual o da história: so-

litário, imaginativo, de mente inquieta e olhar agitado,

com grande carga emocional e disposto a não criar

raízes, que não aquelas que o prendem à sua arte.

E somente a ela. Também como os poetas de outros

tempos, seu trabalho é perene para si e efêmero para

os demais, por esgotar-se depois de consumido. Mui-

tos, inclusive, confundem sua obra com mero entre-

tenimento. Porém, para aqueles de coração atento e

sensível, a experiência da poesia sempre prevalece. É

para esses que Gabriel cozinha.

O começoFilho de uma dona de sorveteria e neto de uma con-

feiteira e de um açougueiro, ele descobriu ainda meni-

no a paixão pela gastronomia, sobretudo por sua rela-

ção com a arte, que sempre foi sua maior motivação.

Aos 16 anos, já trabalhava em cozinhas do mundo – e

não em “algumas quaisquer”. Sozinho e fora do país, o

então adolescente aprendia sobre aquilo que ele mais

amava em lugares como o lendário El Bulli, o Mugaritz,

dentre outros restaurantes famosos da Europa. E tudo

poderia apontar para a consolidação de uma carreira

internacional já em construção, não fosse um peque-

no obstáculo: o TDAH – um transtorno de atenção. Na

coreografia ensaiada de um grande palco, não havia

muito tempo ou paciência para que o cozinheiro de-

senvolvesse com tranquilidade seu aprendizado. “Às

vezes, eu não conseguia assimilar as coisas na veloci-

dade que eu deveria. Existe uma pressão muito grande

em um restaurante de alta gastronomia e as pessoas

tendem a não ser pacientes com isso”, relembra Ga-

briel. Em plena crise, ele tomou uma decisão: “eu não

queria me submeter aos tratamentos convencionais,

que acabam inibindo a criatividade. Então busquei na

terapia holística uma razão pra tudo isso”.

A partir daí, foi um longo e sincrético processo de

aprendizado – envolvendo terapia com um psicólogo

de linha xamânica, estudo das energias, dos óleos es-

senciais, florais de Bach, aromaterapia, incensos na-

turais, a cultura dos monges e os animais totêmicos.

“Eu recorri a esses conhecimentos como ferramenta

de lucidez em um momento em que tudo era mui-

to confuso pra mim”, conta. De arcabouço essencial

para entrar em contato consigo mesmo, essa jornada

transformou-se na construção de um conceito que já

existia dentro dele, e que precisava ser exteriorizado.

Nascia O Leão Vermelho. Em Londres por conta de

um trabalho, ele ligou para o coordenador da equipe

do El Bulli – para onde deveria voltar naquele dia – e fez

um breve comunicado: “não vou voltar, estou retornan-

do ao Brasil”. Talvez muitos achariam loucura abando-

nar uma oportunidade como a de estar em uma das

cozinhas mais famosas e premiadas do mundo. Ga-

briel, não. “Quando você está lá, no olho do furacão,

é como se você estivesse no Bolshoi. É coreografia, é

técnica. Os chefs não cozinham lá. Eu ficava buscando

a imagem de pessoalidade que eu tinha da arte, então

vi que não era pra mim”.

De volta a São João da Boa Vista (cidade a 360

km de São Paulo, onde nasceu), o cozinheiro passou

um ano erguendo não um restaurante, mas o tablado

onde apresentaria sua obra-prima. Construiu, cultivou

jardim e horta, fabricou os próprios móveis, decidiu o

que (e como) faria em relação ao que lhe era mais

caro – a superação da gastronomia, vinculada à sacie-

dade por sua natureza, pela arte, atrelada à sensibili-

dade tão natural a ele.

O conceitoO Leão Vermelho tem uma dinâmica muito particular

– o que reflete a peculiaridade de Gabriel. “Eu queria »»»

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muito não ser mais um cozinheiro. A minha propos-

ta com o Leão Vermelho é que ele fosse minha obra

plena”, explica. Como artista, aliás, ele optou por de-

senvolver um palco para poucos espectadores – literal-

mente. “Eu recebo só quatro pessoas por vez no Leão,

duas vezes por semana. Elas não sabem o que vai

acontecer até chegarem lá”, adianta Vidolin. “Lá, eu

vou contando a minha história por meio dos pratos, e

é como se eles passassem pela minha experiência.

É muito normal que os comensais chorem durante a

experiência do Leão. E é muito normal que eu chore. A

conexão que existe ali é muito íntima”.

Porém, o caminho antes do jantar é muito mais longo

e trabalhoso para Gabriel. Para um momento de 5 ho-

ras com os comensais, são três dias de um ritual cui-

dadoso – que compreende desde o preparo holístico

com os xamãs até o treinamento físico com um perso-

nal trainer. Nesse período, ele não come nada (além de

provar o que cozinha), não tem contato nem fala com

ninguém – além de seguir horários bem específicos.

“Das 10h da manhã à meia-noite eu faço um traba-

lho comigo mesmo para limpar o paladar e cozinhar.

Eu preciso me manter sóbrio e lúcido nesse momen-

to, e uma ferramenta pra isso são os mantras. Eu vou

trabalhando e recitando mentalmente os mantras, me

alimentando dos florais e das flores, num trabalho de

purificação”, conta. Para ele, é essencial estar presen-

te em cada momento do processo. “Eu tenho contato

com o produtor, planto, colho, lavo, cozinho, preparo...

E, quando as pessoas vão embora, eu limpo. Eu mes-

mo sirvo. É uma experiência muito crua. Eu dedico a

minha vida a essa obra”.

A experiência para os comensais também segue um

ritual preciso, desde a reserva: o interessado agenda o

jantar para si e outras três pessoas pelo site ou telefo-

ne, e a confirmação chega por carta um mês antes da

data. O local é mantido sob sigilo. Na data marcada, o

grupo escolhe entre ser apanhado por um serviço de

chofer ou receber um torpedo no celular poucas horas

antes do jantar, com a localização no mapa. Lá, devi-

damente alojadas na única mesa d’O Leão Vermelho,

as pessoas viverão a experiência de um jantar de 24

tempos – apresentados por nomes próprios, em vez

de expressões descritivas. O processo todo envolve o

deslocamento entre duas salas principais e outra sala

secreta. A divisão em diferentes momentos permite

que Gabriel instigue a curiosidade e o sentimento dos

participantes. “Existe um jogo durante o serviço, que

é o que permite à pessoa dizer se ela quer prosseguir

ou não”. Assim como o idealizador se isola, as pesso-

as também o fazem: precisam desligar os celulares e

se comprometer a não fotografar ou compartilhar os

pratos.

Naturalmente, não é possível prever o compor-

tamento ou a reação dos comensais em relação ao

apresentado – nem mesmo o que os motiva a vivenciar

o jantar. “Vai muito do que o comensal viveu e sen-

tiu para ele se conectar ou não com a experiência”,

“O leão vermelho não é um alter ego. Ele é uma representação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao leão vermelho”

Veja maisconteúdo exclusivo do chef

Gabriel Vidolin

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admite Gabriel. “Tem pessoas que vão pela comida.

Tem pessoas que querem ver técnicas do El Bulli ou

de outros lugares por onde passei. Mas O Leão não se

trata disso. Acho que todo artista está sujeito a não se

conectar com a sua ideia. Às vezes, a pessoa simples-

mente não quer saber. Acha aquilo tudo excêntrico e é

a excentricidade que ela está comprando”.

Aberto apenas seis meses por ano, o restaurante

funciona por temporadas – cada uma com uma te-

mática. Ao fim da temporada, tudo termina: os pra-

tos criados não serão servidos novamente. Os demais

meses servem para catalogação do que ocorreu no

período e para a preparação da temporada seguinte.

Segundo Vidolin, o esforço tem sua recompensa: “é

bacana quando, ao fim do processo, o comensal diz

‘a experiência foi inesquecível’ em vez de ‘a comida

estava fantástica’”.

Em (des)construçãoA despeito da atmosfera fetichista que o mistério im-

põe ao jantar n’O Leão Vermelho, Gabriel deixa claro

que nada ali é pensado para ser uma atração – e sim,

para vivenciar algo inédito. “O Leão é sobre a expe-

riência. É sobre mim, sobre as pessoas que sentam

naquela mesa, sobre os maus momentos que elas

passaram, sobre como encontrar o bom no ruim. E por

isso é uma cozinha de fé”, define. Inclusive é muito in-

teressante perceber a maneira como Vidolin se despiu

do papel de chef para adotar uma estética indefinida

– ora artista-criador, ora servo-criatura – que, pelo seu

caráter mutante, nunca está encerrada.

Num primeiro momento, a imagem que se tem de

Gabriel é a do desprendimento – inclusive em relação

ao status de chef. “Um chef de cozinha é uma pessoa

que coordena uma equipe, o cozinheiro simplesmen-

te cozinha. Inclusive sempre me pedem fotos usando

dólmã. Eu não tenho fotos assim”, esclarece. Em se-

guida, ele soa orgulhoso e satisfeito por ter tido a cora-

gem de fazer o que faz – como, por exemplo, quando

conta de seus planos futuros: “farei uma performan-

ce numa galeria de arte em São Paulo, chamada ‘De

dentro pra fora’. Será uma cozinha de vidro com uma

mesa e uma cadeira. A pessoa se senta, e o que eu

sentir dessa pessoa vai me motivar a cozinhar algo de

dentro pra fora dela”. Por fim, Gabriel abandona o polo

ativo da ação e se caracteriza como instrumento. “O

Leão Vermelho não é um alter ego. Ele é uma repre-

sentação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao

Leão Vermelho”, ele tenta explicar. Os diferentes pa-

péis não o tornam incoerente: Gabriel é realmente tudo

isso ao mesmo tempo. E de um jeito muito honesto,

ele precisa que seja dessa forma. “A minha salvação

se encontra no meu trabalho. É nele que eu encontro

conforto pra minha dor. E gastronomia é uma necessi-

dade básica, como respirar”.

Da catarse e outras doresGabriel não tem muitos pudores em expor como »»»

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INGREDIENTES

• 4 ovos caipiras• 1/2 xícara de azeite• 3 xícaras de açúcar• 3 xícaras de farinha de trigo• 2 xícaras de leite• 1 xícara de cacau em pó• 10g de canela• 5g de noz moscada• 4 colheres de café de bicarbonato de sódio• 1 colher de vinagre• 1 pitada de sal

MODO DE FAZER

Adicione os ovos, o azeite, o açúcar, o trigo, o leite e o cacau em pó em uma tigela – nesta ordem. Misture calmamente. Adicione em seguida a canela e a noz moscada. Misture. Com as 4 colheres de bicarbonato, forme as pontas de uma cruz. Misture bem. Adicione o vinagre e o sal. Asse em forno a 180 graus por 40 minutos.

Para a Revista Leal Moreira, Gabriel Vidolin – que recentemente participou do

festival gastronômico Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, em Belém – preparou

uma receita que, para ele, tem um significado especial. Inspirado no bolo pro-

duzido no mosteiro São Bento, Gabriel criou a receita quando tinha apenas oito

anos. “A minha mãe sempre trabalhou muito, eu ficava muito sozinho em casa e

precisava comer. Eu gostava muito desse bolo; e como ele vinha de São Paulo,

não chegava tão facilmente a São João da Boa Vista”, rememora. “Como queria

comê-lo, pedi para uma tia me dizer o que tinha no bolo e criei minha versão”.

Simples, minimalista e cheio de referências – o que é a essência de Gabriel, no

fim das contas – o bolo é um presente para os clientes d’O Leão Vermelho leva-

rem para casa e tomarem café no dia seguinte. Confira:

receita

O Primeiro Bolo

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se sente – talvez à custa de grande esforço pessoal

e um longo processo terapêutico, que inclui o próprio

ato de cozinhar e o conceito que construiu. A presente

temporada d’O Leão Vermelho, intitulada “Jamais me

Abandone”, é prova de uma maturidade emocional

que demanda alta dose de coragem. “Tive que tra-

balhar comigo todos os meus traumas e frustrações,

e colocar isso nos pratos, nessas criaturas novas. Foi

um processo muito complicado. Os sabores são muito

densos, melancólicos, com certo tom de revelação”,

relata. E é em comentários como esse que Vidolin dei-

xa entrever quão sinestésico é o trabalho que faz. Para

vivê-lo plenamente, é preciso estar emocionalmente

disponível – e disposto. “As pessoas vivem a experiên-

cia d’O Leão Vermelho como uma terapia em grupo.

Eu me coloco diante delas, elas ouvem a minha história

e se encontram nela. No fundo, durante o jantar, nada

mais é sobre mim – e sim sobre elas”, argumenta. “As

pessoas reflexionam muito sobre que rumos elas vão

tomar, o porquê de tudo”.

Como o bardo da fábula, Gabriel carrega em si um

poço tão profundo quanto profícuo. Dar vazão a isso da

maneira como ele optou por fazer lhe oferece um ca-

minho de percalços. Um deles é percorrer essa jorna-

da sozinho. “Quando eu entendi que meu caminho era

solitário, fui procurar a ciência dos monges. Aprender

com eles a questão da solidão e da fé, do amor pleno.

Você só atinge isso depois de entender uma série de

coisas mais sutis”, ele diz. Depois para, coça a cabe-

ça – um de seus trejeitos habituais – e prossegue. “Eu

sei que é difícil entender. Demora tempo pras pessoas

te levarem a sério”. Curiosamente, quando perguntado

sobre como ele se sente cozinhando, Vidolin descreve

algo muito parecido com o que o palco oferece, desde

as tragédias gregas: a catarse. “Todas aquelas sensa-

ções de desconforto vêm à tona, mas o trabalho ma-

nual me faz refletir sobre aquilo. É doloroso, fisicamen-

te cansativo. Mas no final, é extremamente prazeroso.

É a sensação do alívio”. Talvez Gabriel seja mais artista

do que já sabe ser.

Vidolin se deixou fotografar - para a Revista Leal Moreira - usando as habituais vestimentas de um chef de cozinha.

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A gente

vê beleza

em todas as

manifestações

culturais que ema-

nam dos paraenses e a

gastronomia é uma rique-

za que fala muito de nosso

povo, de nossa vida. Por isso a

Leal Moreira se identifica tanto com o

Ver-o-Peso da Cozinha Paraense.

Mais valor à cultura. Mais valor ao sabor.

É com alegria que pelo segundo ano consecutivo, a Leal Moreira apresenta o

Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, o maior evento de gastronomia da Amazônia.

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vinho

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Produtor: De MartinoRegião: Vale de Limarí – Vinhedo específico “Quebrada Seca” de 3 hectares, a apenas 19km do mar, recebendo diretamente os efeitos da fria corrente de Humboldt.Classificação legal: Limarí D.O.Composição de Castas: 100% ChardonnayGraduação Alcoólica: 13,5° GLElaboração: Fermentação do mosto em bar-ricas de carvalho francês com baixos níveis de tostado para respeitar ao máximo a inte-gridade do terroir. Permanência por um ano nas barricas.Amadurecimento: 12 meses em barricas de carvalho francês de diversas passagens (35% novas).Estimativa de guarda: 10 anosCaracterísticas organolépticas: Coloração palha cristalina com nuanças verdeais. A mineralidade é o que se sente no primeiro ataque, que depois revela frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tosta-das. Untuoso, sápido, inunda a boca com seu frescor monumental. Longo final.Carta de vinho sintética: No olfato, mineral, com frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tostadas. Untuoso, sápido, de longo final.Premiações:. Descorchados 2011: 92 Pontos. Parker: 91 PontosOnde: Decanter

Produtor: Craggy RangeRegião: Hawke’s Bay – Te Awanga – Vi-nhedo específico Kidnappers.Composição de castas: 100% ChardonnayGraduação alcoólica: 13,5° GLElaboração: A colheita das uvas é realiza-da estritamente de forma manual. Não há desengace. Fermentação espontânea em barricas novas de carvalho francês (10%) e em tanques de inox e madeira, com ino-culação de leveduras selecionadas. Clari-ficação, filtração e engarrafamento.Amadurecimento: 4 meses em tanques de inox sobre as lias finas.Estimativa de guarda: 5 anos.Características organolépticas: Palha cristalino com reflexos verdeais. Mui-to elegante no nariz, com zest de limão envolvida por amêndoas torradas e notas minerais. Ingressa em boca, com densi-dade, proporção e cativante acidez. Carta de vinho sintética: Muito elegante no nariz, com zest limão, maçã madura e tons minerais. Proporcionado, elegante e muito persistente.Premiação: Wine Spectator: 92 PontosOnde: Decanter

Produtor: Pio Cesare Região: Piemonte – BaroloClassificação legal: Barolo D.O.C.GComposição de castas: 100% NebbioloGraduação alcoólica: 14% Uvas provenientes dos vinhedos próprios em Serralunga d’Alba (70%) com pequenas parti-das oriundas de fornecedores de longo prazo, em privilegiadas posições de Catiglione Fal-letto e Monforte D’Alba. Colheita com duração de três semanas (fim de outubro e começo de novembro). Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas.Amadurecimento: 36 meses em carvalho, sen-do 30% em barricas bordalesas e 70% em botti barris de 2.000 a 5.000 litros de carvalho fran-cês de Allier de vários anos.Estimativa de guarda: 20 anos +Características organolépticas: Rubi tendendo ao granadas. Clássico, com frutas vermelhas silvestres, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tânica, nobre, sápido, lon-guíssimo final.Carta de vinho sintética: Clássico com frutas vermelhas silvestres, alcatrão, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tâni-ca, nobre, sápido, longuíssimo final.Premiações:. Wine Enthusiast: 95 pontos “Cellar Selection”. Parker: 93 pontos. Duemilavini A.I.S 2012: 4 grappoli em 5Onde: Decanter

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Produtor: Bodegas Laxas, S.A.Composição de Castas: Uva Albarino (100%)Graduação alcoólica: 12,5%Origem: Rias Baíxas Espanha A Albarino, mítica uva da Galícia, com a qual são produzidos vinhos aromáticos e de bom corpo, com uma vasta riqueza em ácidos unida a uma infinidade de componentes aromáticos que rendem esses vinhos muito reconhecíveis e isso tudo justifica o grande prestígio e su-cesso internacional que obtiveram nos últimos anos. A Galícia nobre terra de vinhos e vastos vinhedos, com competência soube vender e exportar tal casta para o mundo com a D.O. Rias Baíxas. Os vinhos Albarino, são elegan-tes, macios e equilibrados e ao mesmo tempo potentes, esses brancos têm um toque per-ceptível e são perfeitos com peixes como o bacalhau e acentuam com elegância o sabor iodado dos frutos do mar.A Bodega Laxas tem seus vinhedos da casta Albarino na sub-região de Condado de Tea. Depois de uma apurada vindima feita à mão, obtém-se um mosto de excelente qualidade que será fermentado em tanques de aço inox com temperaturas controladas a 18 graus, o Laxas Albarino tem acidez elegante, é um vi-nho para todas as horas, desde o aperitivo com amigos até o mais refinado prato de peixe, sem perder nenhuma das suas características evi-denciando ainda mais o seu terroir e sua voca-ção de vinho atlântico. Onde comprar: Grand CruIndicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.

Produtor: Quinta do Casal Branco Sociedade de VinosComposição de castas: Uvas Castelão, Trin-cadeira, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacio-nal, Petit Verdot e Alicante BouschetGraduação alcoólica: 14%Origem: Almeirim Portugal A pequena e graciosa cidade de Almeirim sub-região da DOC Ribatejo a 100 km de Lisboa é famosa por suas lendas e sua boa comida.Com passado privilegiado, tendo sido pal-co de grandes momentos da história como pomposos casamentos entre Príncipes e donzelas e grandes festas inesquecíveis a Sintra de Inverno tal como era conhecida pela Corte, hoje parece ter esquecido seu passado movimentado e glorioso. Com suas vinhas seculares, houve a alte-ração em 2009 de DOC Ribatejo para DOC Tejo, nesses anos depois de muitos investi-mentos em marketing sem esquecer da qua-lidade a DOC Tejo renasceu e valorizou ainda mais a qualidade de seus vinhos e a tradição dessa terra antiga.A Casal Branco vinícola fundada em 1775 com grande tradição na região, elabora o corte Falcoaria Reserva 2007 com uvas tradicionais da região e com as francesas Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Esse potente corte estagia 12 meses em carvalho francês e descansa 4 meses em garrafa. Onde comprar: Grand CruIndicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.

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Produtor: Pio CesareL’Altro quer dizer “o outro”, uma referência ao prestigioso Piodilei, o principal Char-donnay elaborado pelo Pio Cesare.Região: Piemonte - Barbaresco (Treiso)Classificação legal: Piemonte D.O.C.Composição de Castas: 100% ChardonnayGraduação alcoólica: 13,5° GLElaboração: Uvas provenientes de um anti-go vinhedo de Barbaresco, replantado com Chardonnay. Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas. Prensagem delicada e fermentação nos tanques de inox com controle de temperatura (75% do vinho), a 18-21°C, por 14 dias. O restante do vinho fermentou em barricas novas de carvalho francês.Amadurecimento: 5 meses em barricas no-vas de carvalho francês sobre as lias (25% do vinho).Estimativa de guarda: 5 anosCaracterísticas organolépticas: Palha com reflexos esverdeados. Intensos aromas de pêssegos entrelaçam-se a notas amantei-gadas e de nozes sobre fundo mineral. Es-truturado, com distinto equilíbrio e longo final.Carta de vinho sintética: Intensos aromas de fruta branca, notas amanteigadas e minerais. Untuoso, estruturado, sápido e muito longo.Premiação: Duemilavini A.I.S 2011: 3 grappoli em 5Onde: Decanter

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Diz-se que “os detalhes fazem toda a diferença”. Quem cunhou

essa máxima, certamente, contemplava a beleza e quando fala-se

de arquitetura e design de interiores, essa afirmação é verdadeira. A

partir desta edição 37, a RLM vai visitar casas de clientes Leal Morei-

ra, para mostrar os projetos, feitos especialmente para eles.

Nesta (re)estreia, o projeto assinado pela arquiteta Conceição Bar-

bosa, é uma apartamento do Torre de Belvedere.

decor

Minimalistaporexcelência

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A combinação de elementos com a iluminação âmbar deu um ar de luxo e aconchego para o quarto do casal. A cortina com tecido de trama mais fechado e papel de parede em tom escuro complementam a atmosfera elegante e moderna.

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Disponíveis nas Lojas: Yamada Plaza, Vila dos Cabanos, Pátio Belém, Plaza Castanhal e Yamada Salin

Prazeres de toda Europa:

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Os portugueses: Quinta do Vallado Douro (2006), Paulo Laureano Reserve (2009), Herdade do Esporão private selection (2008), Quinta Castro Douro (2009), Cartuxa Reserva.O francês: Domaine Beranger Pouilly-Fuissé (2011)O italiano: La Poderina Brunello Di Montolcino (2007)

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nº 3

7Leal M

oreira

ano 9 número 37 www.revistalealmoreira.com.br

A maior cantora portuguesa da atualidade A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento fala da carreira e do momento de redescoberta de si própriade redescoberta de si própria

O mistério de O mistério de Teresa SalgueiroTeresa Salgueiro

Alexandre NeroAlexandre NeroPaulo ChavesPaulo ChavesVienaViena

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