Rivanda dos Santos Nogueira
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
RIVANDA DOS SANTOS NOGUEIRA
AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA COMO REGULAÇÃO: O CASO DO SISTEMA
ESTADUAL DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR – SEAPE/ACRE
CURITIBA
2015
RIVANDA DOS SANTOS NOGUEIRA
AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA COMO REGULAÇÃO: O CASO DO SISTEMA
ESTADUAL DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR – SEAPE/ACRE
Tese apresentada à Banca Examinadora, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Educação, do Curso de Pós-Graduação em Educação, do Setor de Educação, da Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Andréa Barbosa Gouveia
CURITIBA 2015
Catalogação na publicação
Vivian Castro Ockner – CRB 9ª/1697 Biblioteca de Ciências Humanas e Educação - UFPR
Nogueira, Rivanda dos Santos Avaliação em larga escala como regulação: o caso do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar – SEAPE/ACRE. / Rivanda dos Santos Nogueira. – Curitiba, 2015. 260 f. Orientadora: Profª Drª Andréa Barbosa Gouveia Tese (Doutorado em Educação) - Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná 1. Educação – políticas educacionais – Acre (Rio Branco). 2. Educação e Estado – políticas públicas – sistema de ensino. 3. Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (SEAPE) – Acre (Rio Branco). I. Título.
CDD 370.19342
À inviolabilidade do meu pleno direito de expressão da mais repleta fé em Jesus Cristo, meu protetor
em todo o percurso empreendido.
AGRADECIMENTOS
A Deus que me dá, diariamente, a vida de presente e me permitiu que as
pessoas e instituições, que aqui passo a agradecer, pudessem contribuir com a
minha vida e com essa Tese:
À minha família, meu suporte, minha rotina boa: meus pais, Iva dos
Santos Nogueira e Raimundo Timóteo Nogueira, sempre me abençoando. Meus
filhos, Davi Nogueira, um amor para toda a vida e Letícia, um presente que Deus me
mandou há 11 anos e que, na reta final do Doutorado, chegou até nós. Eduardo, um
amor sempre em construção (idem). Luiz Eduardo, amor por extensão. À Maria Zélia
(Nina), pelo apoio e orações. À Marisé e Maria José, minhas cunhadas. Ao Edilberto
(parabéns pela nova vida!). Meus irmãos, amor que não se explica: Rivangela,
Rivanilce e Raimundo Filho. Meus sobrinhos, provas de amores: Renan, Arthur,
Rafael e, daquele que chegou como benção do Senhor, já com muitas historinhas
para a tia contar, Joshua Nogueira Maia. Meus cunhados, Ribamar (Natal) e
Genilson (Bone), pela torcida. Aos tios na base dos Santos e Nogueira, em especial:
Zefinha e Pinheiro (e rama); Cosma e Gleyce (suporte); Julho Minga e Nice (e rama);
Nelinho e Elizete (e “meu povi”); Edilson (e rama); Clarice (e primaiada); Eugênia e
Zé Rita (e seus exemplos), Edson (Lela) e a todos que torceram.
À parceria emocional, acadêmica e financeira (power ful girls!): Lucilene
Almeida (Luluca) e Marileize França (Maroca), “eu gosto tanto de você[s]...” Entre
política de línguas, zoneamentos e avaliações... Deus nos ajude, sempre!
Aos amigos que entenderam as ausências e não me esqueceram: Chirley
Trelha; Tânia Mara, Getúlio e Caio; Franciana, Aylton, Allan e Arthur; Hélio e
Tamara; Marilene Mel; Tavifa e Manoel; Lucir, Morena, Bruno e Pedro; Lino; Kátia e
Eduardo; Diana; Emilly, Victor e Esther; Marilúcia (Lucinha), Carlos Vinícius,
Romário Júnior e Vitória; Mizael e Najara; Manoel Severo e Luzia. Em Curitiba:
Florisvaldo; Gabriela e Rafael.
À nova geração: Bruno, Daniel, Luisa, Amanda Vitória, João Pedro, Isadora,
João Vitor, Rafaela, Miguel Ângelo, Arthur, Erick Cauã, João Lucas e Maria Esther.
Ser criança é muito bom!
Uma tese se faz a muitas mãos, cérebros, olhos, coração... aos
colaboradores: Gilberto Dalmolin (que me deu a ideia); Osvanilson; Verônica
Kamel; Eduardo Bernardino; Lucilene Almeida; Marileize França; Cláudio Porfiro,
Rossylene Araújo; Maria Lucirlene Barbosa; Alexandro Santos; Fábio Castanho;
Manoel Severo; Mark Clark Carvalho; Adriana Ramos; Antônia Schwinden; Nayara
Façanha; Rivanilce Maia; Rodrigo Nogueira; Davi Sobrinho; José Janilson;
Franciana Castro; Tânia Mara; Sâmia Hassani; Ednacelí Damasceno; Lúcia de
Fátima; Tamara e Hélio Smoly; Marilúcia (Lucinha); Eduardo César (Bidu); Natanel;
Fernando; Aline Vernick; Rafael Raizer e Gabriela Schneider.
No âmbito da UFPR e da Ufac: em especial, à professora Andréa Barbosa
Gouveia, orientadora desse trabalho, que me passou a segurança teórica que eu
preciso e porque “queimou todas as pestanas” necessárias para que o texto fluísse
melhor. Minha gratidão!
Ao professor Paulo Vinícius Baptista da Silva, o primeiro coordenador do
nosso curso e ministrante da disciplina de currículo. Obrigada!
À professora Monica Ribeiro da Silva, a atual coordenadora do nosso curso,
despojada de melindres e com um senso de justiça ativado, me assegurou logo na
entrada que o Dinter UFPR/Ufac trata-se de um convênio celebrado entre duas
instituições de ensino superior para os servidores de uma delas: a Ufac. Pelo meu
aceite como ouvinte na disciplina de políticas educacionais. Tens a minha gratidão!
À professora Grace Gotelip, pelo tempo dedicado ao Dinter UFPR/Ufac.
Ao professor Marcos Edgar Bassi, pelo meu debut no financiamento da
educação.
À professora Taís Moura Tavares, pela leitura atenta no Seminário de Tese.
Aos membros da Banca de Qualificação: às professoras Sandra Maria
Zakia Lian Sousa, Ana Lorena de Oliveira Bruel e Monica Ribeiro da Silva que me
indicaram caminhos para qualificar meu texto para a autoria.
Aos membros da Banca de Defesa: Andréa Barbosa Gouveia (UFPR),
Sandra Maria Zakia Lian Sousa (USP), Mark Clark Assen de Carvalho (Ufac), Ana
Lorena de Oliveira Bruel (UFPR) e Monica Ribeiro da Silva (UFPR), pelo aceite e,
certamente, pelas contribuições e aprendizagens.
Aos entrevistados (fontes vivas!), professores Josenir Calixto, Binho
Marques, Maria Corrêa e Cristina Maia, pela presteza, recepção, e socialização de
conhecimentos. O documento não fala, mas a vivência de vocês na política
educacional vale muito porque vocês amam o que fazem. Esse é o diferencial!
À família Proex/Ufac: professor Enock da Silva Pessôa pela cordial
convivência e respeito mútuo. E aos querid@s: Socorro Mendonça, Raimunda
Pereira, Rosângela Machado, Gilvan, Raquel Meireles, José Dourado, Lucy, Nayara,
Davi Sobrinho. Aos que continuam de casa: Regina Albuquerque, Maria Justino,
José Oliveira, Zuila, Jurandir, Luana1, Luana2, Leo1, Leo2, Zé Pedro, Marcos
Aurélio, Gregori, Socorro Neri, Elimaik, Branca, Raquel Sampaio. Minha gratidão!
À Capes, pelo alcance aos professores da educação básica, vale o
investimento!
Ao Governo do Estado do Acre, pelo cumprimento do apoio institucional.
À Universidade Federal do Paraná (UFPR), pela extensão do
conhecimento.
À Universidade Federal do Acre (Ufac), atualmente representada pelo
professor Minoru Martins Kinpara. A minha casa, “a casa do saber” (Iró), a casa de
todos aqueles que nela estudam, trabalham e a mantém pública.
Ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação do 3º Grau do Acre –
Sintest/AC, a base é que te sustenta: “juntos somos muitos, unidos somos fortes.”
(LOTT, 2015).
In memoriam: Vó Chica Minga, José Francisco (Seu Zé) e Alba Ferreira,
vivos no meu coração e de muitos.
Imensamente grata!
Encontrei hoje em ruas, separadamente,
dois amigos meus que se haviam zangado.
Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado.
Cada um me disse a verdade.
Cada um me contou as suas razões.
Ambos tinham razão.
Ambos tinham toda a razão.
Não era que um via uma coisa e outro outra,
ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente.
Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado,
cada um as via com um critério idêntico ao do outro.
Mas cada um via uma coisa diferente,
e cada um portanto, tinha razão.
Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.
(Fernando Pessoa)
RESUMO O problema central deste estudo situa-se nas conexões estabelecidas entre a avaliação em larga escala e a definição de políticas educacionais no âmbito estadual. O foco de análise pauta-se no Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) e nas políticas dele decorrentes, tensionadas pelos mecanismos de regulação. Os antecedentes do Seape remontam aos anos 1990, assim, apresenta-se uma retrospectiva panorâmica da conjuntura local, mas com um foco no período de 2009 a 2012, justamente porque a partir de 2009 os exames em larga escala são realizados anualmente no Estado do Acre, de forma mais sistemática, estando o Seape na sua 4ª edição em 2012. O objetivo geral consiste em analisar como o Seape é concebido, identificando seus princípios, concepções, indicadores e motivações que contribuíram para que a avaliação em larga escala fosse colocada na agenda da política local. O suporte conceitual e analítico tem como referência a regulação educacional, a partir de fundamentos discutidos por Duarte (2012), Augusto (2010), Dupriez (2010), Barroso (2006), Maroy (2006), Lessard (2004), Diebolt (2001), Afonso (2001) e Demailly (2001), especialmente no que tange às formas pelas quais os mecanismos de regulação influenciam as diretrizes de ações pensadas para os sistemas de ensino, desde o seu processo de elaboração, até à política em ação, como orienta Palumbo (1994). A avaliação em larga escala coleta indicadores do desempenho escolar, com o potencial de mobilizar mecanismos de regulação, monitoramento das ações empreendidas. Aliada a outros dispositivos concretos de regulação, a avaliação externa pode se constituir como mecanismo de controle social, seja para garantir direitos, seja para acionar mecanismos de responsabilização, na perspectiva de obrigação de resultados. Como procedimento metodológico decidiu-se pela pesquisa documental para extrair as informações que compuseram a fase preparatória do Seape, a implementação e as ações decorrentes dessa política. Para suprir as lacunas identificadas nos documentos, optou-se pela realização de entrevistas e, ainda, considerou-se alguns elementos socioeconômicos e outros mais ligados diretamente ao contexto escolar para caracterizar o sistema educacional acreano, contexto para o qual o Seape foi concebido. Ao se debruçar sobre a concepção da política e a sua fase inicial, os resultados da pesquisa evidenciaram a perspectiva diagnóstica da educação básica, sobretudo, como suporte para dimensionar o sistema público de ensino acreano e como elemento significativo na definição de políticas públicas. Na continuidade, esse sistema oficial de avaliação vai se constituindo sob um formato de responsabilização educacional que, atualmente, subsidia a definição de outras políticas educacionais focadas em resultados. A pesquisa também apontou evidências para a necessidade do Estado explorar mais o potencial pedagógico da avaliação em larga escala. Palavras chave: política educacional; avaliação em larga escala; regulação educacional; sistema público de ensino do Acre.
ABSTRACT
This study is set to investigate and discuss the connections between procedures for large scale evaluation procedures and educational policy definitions at State level in Acre, Brazil. The analysis focus is based on the current policies of the State System of Evaluation of the School Learning Process (SEAPE, the official Portuguese acronym), pressured by the ruling mechanisms. The analysis is based on policies based on the State System on Educational Assessment (SEAPE, the Portuguese acronym equivalent), influenced by regulating mechanisms. The origins of SEAPE dates back to the 1990s, and, in this study, a broad retrospective of the local situation is presented, focusing on the period between 2009 through 2012. The reason for the selected time frame is due to the fact that large scale assessment tests started in 2009 on a yearly basis. The general objective consists in analyzing how SEAPE is conceived, identifying its principles, conceptions, figures, and motivations that have contributed to inserting these large scale assessment tests part of a local agenda. The conceptual and analytical support brings as reference the educational regulation, as discussed by Duarte (2012), Augusto (2010), Dupriez (2010), Barroso (2006), Maroy (2006), Lessard (2004), Diebolt (2001), Afonso (2001) and Demailly (2001), especially relating to the ways by which the regulation mechanisms exert influence in the action guidelines devoted to the educational systems, from its elaboration process to the policy in action, as postulated by Palumbo (1994). This large scale evaluation has collected school achievement indexes, and may activate regulation devices and monitor research procedures. In combination with other mechanisms of regulations, the external evaluation may constitute as a mechanism of social control, in order to ensure rights, or to trigger mechanisms of liability, in the perspective of obtaining results. Documental research was adopted as the methodological procedure in order to identify information regarding the preparatory phase of SEAPE, its implementation and the actions deriving from this policy. Interviews were conducted in order to identify possible gaps in the timeline of the documentation available. Socio-economic data was also collected as a means to delineate the profile of the educational system in the State of Acre, the context in which SEAPE has been conceived. After studying the conception of educational policies and their implementation, the results reveal the diagnostic perspective of the basic education, especially as a support to analyze the public educational system in Acre, and as an important element in the definition of public educational policies. This official system of evaluation has constituted a format of education liability that currently subsidizes the definition of other educational policies focusing on outcomes. The research has also pointed out to evidences for the State to explore much the pedagogical potential of the large scale evaluation. Key words: educational policy; large scale evaluation; educational regulation; teaching public system of Acre.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – TRÍADE DA CULTURA AVALIATIVA NO BRASIL .................... 42
FIGURA 2 – CONFIGURAÇÃO DO SEAPE/AC............................................. 164
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – VISÃO PANORÂMICA DA CONSOLIDAÇÃO DO SAEB NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA ............. 46
QUADRO 2 – OBJETIVOS GERAIS DO SEAPE/AC, POR EDIÇÃO (2009 A 2012) .................................................................................... 159
QUADRO 3 – PALAVRAS-CHAVE DOS OBJETIVOS DO SEAPE/AC, POR EDIÇÃO (2009 A 2012) .................................................
161
QUADRO 4 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, LÍNGUA PORTUGUESA, ESCALA DO 5º E 9º DO EF E DO 3º EM ...
182
QUADRO 5 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, MATEMÁTICA, ESCALA DO 5º E 9º DO EF E DO 3º EM ................................ 182
QUADRO 6 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, MATEMÁTICA E LÍNGUA PORTUGUESA, ESCALAS DO 3º ANO EF ........
183
QUADRO 7 – NÍVEIS MÉDIOS DE PROFICIÊNCIA ATINGIDA, SEAPE, ACRE, 2009 A 2012................................................................
214
QUADRO 8 – NÍVEIS MÉDIOS DE PROFICIÊNCIA ATINGIDA DE ACORDO COM O QUARTIL DE PROFICIÊNCIA MÉDIA, POR DEPENDENCIA ADMINISTRATIVA E SÉRIE DOS ALUNOS, SEAPE, ACRE, 2012 ............................................
216
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – EMPREGOS FORMAIS, POR SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA, ACRE, 2009 A 2012 ....................................... 104
GRÁFICO 2 – I DEMONSTRATIVO DE ESCOLAS PÚBLICAS POR LOCALIZAÇÃO (RURAL/URBANA), ACRE, 1999 A 2013 ...... 135
GRÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DA TAXA LÍQUIDA DE MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO EM ÂMBITO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL, DE 1999 A 2013 (EM%) ............................................. 141
GRÁFICO 4 – TAXA DE APROVAÇÃO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999 A 2013 (EM%) .............................. 142
GRÁFICO 5 – TAXA DE REPROVAÇÃO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999 A 2013 (EM%) .......... 143
GRÁFICO 6 – TAXA DE ABANDONO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999 A 2013 (EM%) ............................... 145
GRÁFICO 7 – DISTRIBUIÇÃO DO PERCENTUAL DE ALUNOS, POR PADRÃO DE DESEMPENHO, LÍNGUA PORTUGUESA, REDE ESTADUAL (2009/2010/2011) ....................................
177
GRÁFICO 8 – EVOLUÇÃO DAS PROFICIÊNCIAS MÉDIAS, MATEMÁTICA, 4ª SÉRIE/5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL, REDE ESTADUAL/MUNICIPAL (2009/2010/2011)....................................................................
178
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – FUNÇÕES DOCENTES POR GRAU DE FORMAÇÃO, ACRE, 1995 ...........................................................................
111
TABELA 2 – DEMONSTRATIVO DE ESCOLAS PÚBLICAS, POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA (ESTADUAL/MUNICIPAL), ACRE, 1999 A 2013 .................... 136
TABELA 3 – DEMONSTRATIVO DE PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL, POR FORMAÇÃO, ACRE, DE 1999 A 2013 .......................................................................................
137
TABELA 4 – DEMONSTRATIVO DE PROFESSORES NO ENSINO MÉDIO, POR FORMAÇÃO, ACRE, DE 1999 A 2013 ...........
138
TABELA 5 – EVOLUÇÃO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL, ACRE, DE 1999 A 2013 .....................................................................
139
TABELA 6 – TAXA DE EVOLUÇÃO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL, DE 1999 A 2013 (EM%) ................................................................ 140
TABELA 7 – TAXA MÉDIA DE EVOLUÇÃO LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL, POR ETAPA DE ENSINO, ACRE, DE 1999 A 2013 (EM%) ....................................................................................
140
TABELA 8 – INVESTIMENTO GERAL NO SEAPE E RECURSOS APLICADOS EM EDUCAÇÃO (PAGAMENTO DE PESSOAL, MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO) – ACRE, 2010 E 2012 ............................................. 165
TABELA 9 – ABRANGÊNCIA DE ALUNOS PARTICIPANTES DO SEAPE/AC .............................................................................
169
TABELA 10 – ABRANGÊNCIA DE ESCOLAS PARTICIPANTES DO SEAPE, ACRE, 2009 A 2012 .................................................. 170
TABELA 11 – ESCOLAS PÚBLICAS AVALIADAS NO SEAPE, POR LOCALIZAÇÃO, ACRE, 2009 A 2012 ...................................
171
TABELA 12– QUESTIONÁRIOS CONTEXTUAIS: ALUNOS, SEAPE, ACRE, 2009 A 2012 ................................................................ 172
TABELA 13 – MÉDIA DOS RESULTADOS DO SEAPE, POR EDIÇÃO E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA, REDE ESTADUAL, ACRE, 2009 A 2012 ...........................................................................
212
TABELA 14 – MÉDIA DOS RESULTADOS DO SEAPE/AC POR EDIÇÃO E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA, REDES MUNICIPAIS, ACRE, 2009 A 2012 ...............................................................
213
TABELA 15 – NÍVEL SÓCIOECONÔMICO DE ACORDO COM O QUARTIL DE PROFICIÊNCIA MÉDIA, POR DEPENDENCIA ADMINISTRATIVA E SÉRIE DOS ALUNOS, ACRE, 2012 ..........................................................
215
TABELA 16 – MÉDIA DA PROFICIÊNCIA SEGUNDO COMO O(A) ALUNO (A) SE CONSIDERA, ACRE, 2012 ................................................................................................
216
TABELA 17 – MÉDIA DE PROFICIÊNCIA EM RELAÇÃO À ESCOLARIDADE DA MÃE (OU DA RESPONSÁVEL PELO ALUNO) ACRE, 2012 ............................................................
217
TABELA 18 – MÉDIA DA PROFICIÊNCIA SEGUNDO A RESPOSTA DO(A) ALUNO (A) À PERGUNTA TENHO MUITOS SONHOS PARA O MEU FUTURO, ACRE, 2012 ..................
217
TABELA 19 – REDE ESTADUAL, LÍNGUA PORTUGUESA, 5º ANO, ACRE, 2010 ............................................................................. 218
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 16
CAPÍTULO 1: AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO: PRIMEIRAS
APROXIMAÇÕES ............................................................................................. 30
1.1 Definições preliminares da avaliação educacional ................................ 33
1.2 O debate internacional e a configuração do discurso da política de
avaliação educacional no Brasil ............................................................. 35
1.3 Trajetória, caracterização e institucionalização do Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica no Brasil 44
1.4 Fundamentos, consequências e bases legais da avaliação em larga
escala ......................................................................................................... 52
1.5 Avaliação em larga escala: conexões com a regulação educacional,
constituição de sistemas avaliativos estaduais e aproximações
iniciais com o caso do Acre .................................................................... 59
CAPÍTULO 2: INTERFACES ENTRE A TEORIA DA REGULAÇÃO SOCIAL
E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA .................................. 70
2.1 Bases conceituais da Regulação ............................................................. 71
2.2 A Teoria da Regulação Social para interpretação de políticas
públicas delineadas pelo Estado ............................................................ 74
2.2.1 Dimensões da regulação dos sistemas educacionais e redefinição
dos mecanismos dos controlos exercidos pelo Estado .................... 81
2.2.2 Instâncias de regulação nos sistemas educativos ............................. 87
2.3 A avaliação como mecanismo de regulação educacional .................... 95
CAPÍTULO 3: O SISTEMA PÚBLICO ESTADUAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA
DO ACRE .......................................................................................................... 100
3.1 Panorama do Estado do Acre: contexto histórico, condições
socioeconômicas e cenário político ....................................................... 101
3.2 Contexto anterior a 1999 ........................................................................... 105
3.3. Contexto posterior a 1999 ....................................................................... 113
3.3.1 Políticas educacionais no Acre no contexto pós-1999 e Sistema
Público de Ensino da Educação Básica: caracterização, bases
legais e formato de organização ........................................................... 121
CAPÍTULO 4: SISTEMA ESTADUAL DE AVALIAÇÃO DA
APRENDIZAGEM ESCOLAR (SEAPE): PRINCÍPIOS, CONCEPÇÕES,
IMPLEMENTAÇÃO E AJUSTES DA POLÍTICA EM AÇÃO ............................ 150
4.1 Antecedentes do processo de implementação do Sistema Estadual
de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) ................................... 151
4.2 Finalidades e objetivos do Seape/AC: um componente integrante da
agenda política educacional acreana ..................................................... 157
4.3 Configuração e abrangência do Seape/AC ............................................. 162
4.3.1 Composição dos testes do Seape/AC .................................................. 179
4.3.2 Escalas de proficiência, potencial de acesso e apropriação dos
resultados ........................................................................................................ 181
4.4 Ajustes e desvios da política em ação: avaliação como suporte da
gestão de resultados ................................................................................ 184
4.5 Estratégias para legitimação e consolidação da política ...................... 195
4.6 Publicização de resultados e mobilização da opinião pública ............. 200
4.7 Potencial do Seape/AC: usos dos resultados, exercícios ilustrativos
e alternativas de análises ........................................................................ 211
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 221
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 232
APÊNDICE 1 – ROTEIRO DAS TRÊS PRIMEIRAS ENTREVISTAS ................ 255
APÊNDICE 2 – ROTEIRO DA QUARTA ENTREVISTA .................................... 257
APÊNDICE 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..... 258
16
INTRODUÇÃO
No contexto educacional brasileiro, as avaliações dos sistemas de ensino
ocupam centralidade no delineamento das decisões formais das políticas, tanto
aquelas que definem as discussões mais amplas, como a questão da qualidade do
ensino, da legislação educacional, do currículo e da formação continuada dos
professores, quanto aquelas que se referem às proposições de ensino mais
localizadas como o planejamento escolar e a definição de estratégias de ensino.
Como modalidade da avaliação educacional, a avaliação em larga escala,
como nominada neste texto, realiza-se de forma centralizada e em nível macro por
órgãos gestores dos sistemas educacionais, principalmente pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma autarquia federal
vinculada ao Ministério da Educação (MEC). No caso de alguns sistemas estaduais
e municipais, a avaliação em larga escala é operacionalizada por empresas
contratadas para a coleta de dados e informações acerca do desempenho dos
alunos e do contexto escolar. Por ser efetivado em vários níveis de escolaridade
abrangendo todo o sistema de ensino, esse tipo de avaliação educacional é também
conhecido como avaliação de sistema ou avaliação externa.
De um modo geral, nas avaliações em larga escala os procedimentos de
coleta e os processamentos de dados são aplicados de forma padronizada, amostral
ou censitariamente. Além disso, efetivam-se de forma contínua e sistemática.
Aliadas a outros tipos e modalidades de avaliação se constituem em instrumentos
que podem orientar e subsidiar as políticas públicas e, em especial, a política
educacional.
O pressuposto orientador desse estudo é o de que a avaliação em larga
escala é um componente de regulação do ensino público, empreendido e gerenciado
pelo Estado. É, ainda, um dispositivo de monitoramento das unidades escolares
calcado em novas formas regular, efetivadas por decisão do poder público
constituído como autoridade legitimada e com capacidade institucional para exercer
o controle sob os resultados educacionais.
A avaliação é um componente importante das políticas públicas. Ambos os
termos são marcados por processos de negociações que tanto podem revelar as
intenções de seus formuladores, como podem refletir interesses dos seus
beneficiários, dependendo de como o poder é exercido, das formas de participação,
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das pressões exercidas, das alianças estabelecidas, enfim, dos processos de
mediação.
No escopo deste texto, o termo política pública é apreendido na sua
concepção de ação pública (PALUMBO, 2004), oriunda da articulação de diversos
atores sociais integrantes da arena política, situada em contextos específicos, onde
são definidas as regras do jogo, capazes de afetar diretamente o cenário social. No
processo de definição e implementação de uma política pública, esta se constitui
como alvo em movimento (PALUMBO, 2004) e para captá-la é preciso enveredar
pelas relações entre Estado e sociedade que são mediadas por mecanismos de
regulação social, aqui tomados como suporte conceitual e analítico.
O processo regulatório pode se constituir em formas democráticas de
participação capazes de traduzirem-se em direitos, dentre eles, a educação pública.
A regulação também pode se manifestar em formatos de controle estatal que no
limite, são capazes de impulsionar instrumentos de responsabilização pautados na
lógica de uma gestão por resultados.
A condução das políticas públicas no campo educacional tem uma dinâmica e
movimentos próprios, é produto de articulações coletivas estabelecidas entre
agentes públicos, sujeitos integrantes da categoria de trabalhadores em educação e
comunidade escolar. Dessa maneira, no campo educacional, como em outras áreas
de atuação, não é somente o Estado que atua como regulador, pois o processo
regulatório é:
resultado da interação estratégica dos vários agentes, na forma de grupos de pressão da sociedade e do Estado, também este último um agente dotado de agenda e objetivos próprios, compondo e desfazendo alianças com os demais agentes da sociedade. (FIANI, 1998, p. 34).
A regulação da política pública é definida a partir da capacidade institucional
que o Estado tem e de como as interações são produzidas na política em ação,
constantemente marcada pelo contraditório, pelos conflitos e por um conjunto de
fatores socioeconômicos inerentes ao processo de implementação que podem,
inclusive, transformar as intencionalidades iniciais.
Dependendo dos objetivos previamente traçados, do desenho do projeto
avaliativo, da forma de comunicar/utilizar os resultados, os indicadores produzidos
pela avaliação em larga escala podem gerar consequências baseadas naquilo que
Brooke (2006) caracteriza como responsabilização branda (simbólica) – políticas low
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stakes – ou como responsabilização forte (material) – políticas high stakes –,
questões analíticas aqui consideradas importantes para compreender sistemas
próprios de avaliação da educação básica.
No processo de implementação das políticas educacionais voltadas para a
educação pública, o Estado assume várias funções, dentre elas: condutor, regulador
e controlador das ações empreendidas. No mundo contemporâneo, a prestação da
educação como serviço público tem significativa importância social, aliás, é dever
público e função do Estado garantir a efetividade e a qualidade da oferta
educacional e ao fazê-lo, como autoridade legítima, produz regras e regulamentos.
Além da produção de regras e regulamentos inerentes às instituições formais
que compõem o Estado e os sistemas de ensino, há instrumentos de controle social
exercidos pelos próprios cidadãos beneficiários, sujeitos do processo que podem se
apropriar das regras ou mesmo as transformarem. Isto significa que o poder exercido
por parte do Estado não é recebido de forma passiva, mesmo quando há imposição
de regras, posto que estas podem ser questionadas, reajustadas, dentre outras
possibilidades.
Nessa linha de pensamento, ainda que a avaliação dos sistemas de ensino
seja concebida a partir de um olhar exterior às instituições escolares e que seja
delineada sob um formato centralizador, sua implementação é contextualizada,
portanto, sujeita à vitalidade da dinâmica social dos diferentes atores que dela
participam. Assim, os processos regulatórios decorrentes da política de avaliação
em larga escala têm vários movimentos. Se a percepção do olhar se der sob apenas
dois ângulos, este movimento efetiva-se do Estado sob a comunidade escolar e da
comunidade escolar sob o Estado. Nenhum dos lados é imune às interferências e
mediações do processo: a escola muda a partir da política e esta muda a partir das
interlocuções estabelecidas com a comunidade escolar.
Sob essa dinamicidade, no âmbito da educação básica, profissionais que
trabalham no contexto escolar, por vezes discordam e, por vezes, cedem à pressão
de ensinar para os testes ao priorizar conteúdos previstos nas avaliações em larga
escala como forma de obter aprovação nos exames externos, sejam estes
efetivados por meio de testes internacionais, nacionais ou regionais (estaduais ou
municipais).
Ainda que não seja o foco principal deste estudo, essa perspectiva de
direcionar o ensino para aprovação em exames constitui-se um dos aspectos
19
relacionados à avaliação em larga escala, uma vez que esta postura é provocadora
de intensos debates e pode causar “efeitos nefastos sobre o currículo,
empobrecendo-o, sobre o ensino demasiado condicionado pelo que cai no exame”
(FERNANDES, 2009, p. 122, grifo do autor). É como se houvesse uma inversão no
processo educativo, de um foco na aprendizagem (processo) para um foco na
avaliação (resultado).
A tese aqui defendida é a de que o Seape/AC amplia as possibilidades de o
Estado exercer sua regulação e contribui para a gestão focada em resultados no
contexto do sistema público de ensino acreano.
Com esse argumento, aqui se compreende que a política é conduzida sob
novas formas de controle, ancorada na concepção de regulação como modo de
coordenação do campo educativo (BARROSO, 2005). Os novos modos de
regulação operam sob um formato de avaliação em larga escala considerado como
um dos esteios importantes na construção de um modelo focado nos resultados do
rendimento escolar dos alunos.
Os fatores que me colocam nessa temática de pesquisa são, pelo menos,
dois: um de natureza profissional e o outro de natureza acadêmica, dimensões que
se entrecruzam na constituição da minha identidade. No campo profissional, em dois
momentos e lugares distintos: o primeiro na década de 1990 quando integrei, no
âmbito da Universidade Federal do Acre (Ufac), o Programa de Avaliação
Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub). Na ocasião, trabalhava como
pedagoga na Coordenadoria de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino
(Caden/Ufac),1 mais especificamente, integrava a Comissão Permanente de
Avaliação (CPA) e participava das articulações para a implementação da avaliação
nessa Instituição de Ensino Superior; o segundo contato profissional com a
avaliação em larga escala se efetivou no meu trabalho como professora do ensino
médio público noturno, ao vivenciar, como expectadora atenta, a aplicação de
avaliações externas na série final do Ensino Médio (EM).
No campo acadêmico, por ocasião da minha pesquisa de Mestrado, ao
retratar a centenária história do vestibular, uma das formas de acesso à
universidade brasileira, pude conhecer de forma mais amiúde uma avaliação em
larga escala nominada Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo objetivo
1 Atualmente, esse setor recebe o nome de Diretoria de Apoio ao Ensino (Diaden/Ufac) e continua vinculado à Pró Reitoria de Graduação (Prograd/Ufac).
20
inicial constituía-se em avaliar o aluno egresso dessa etapa de ensino.
Paulatinamente, o Enem subsidiaria as mudanças políticas e pedagógicas
delineadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Fundamental e
Médio e, por fim, serviria como critério parcial ou total de ingresso ao ensino superior
(NOGUEIRA, 2011).
No que concerne à aplicação de avaliações em larga escala, minha prática
docente no Ensino Médio me possibilita observar que, no caso do Acre:
a) os professores não participam diretamente dos processos de avaliação
externa, nem mesmo do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar
(Seape), inclusive, esses profissionais não podem aplicar provas e nem manusear
os testes elaborados pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação/Universidade
Federal de Juiz de Fora (Caed/UFJF), empresa contratada pelo Governo do Estado
do Acre para a elaboração e a implementação do sistema próprio de avaliação em
larga escala e o principal motivo alegado é que no Seape/AC as questões utilizadas
nas provas são sigilosas e, dessa forma, os itens são componentes de um banco de
itens que são reutilizados ao longo das séries históricas;
b) os docentes das áreas de Língua Portuguesa e Matemática são os mais
cobrados quando os alunos não alcançam os índices desejados ou as metas
traçadas pela Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC) e pela própria
escola, como se pode observar nas correspondências oficiais enviadas por este
órgão às instituições de ensino;
c) o Governo do Estado orienta que os indicadores alcançados no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) sejam expostos, em forma de
ranqueamento, em listas à vista do público nos murais das escolas e isto é
determinado em Lei promulgada em 2012.2
O problema central consiste nas conexões entre a avaliação em larga escala
e a definição de políticas educacionais locais. O foco de análise, portanto, pauta-se
nas ações decorrentes das avaliações externas empreendidas pelo Sistema
Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape), uma política pública de
avaliação da educação básica concebida e desenvolvida pela Secretaria de Estado
de Educação e Esporte (SEE/AC) como um instrumento de regulação.
2 Lei Estadual Nº 2.538/2012 que dispõe sobre a afixação de placa informativa com o resultado da última apuração do Ideb. Disponível em: <http://www.al.ac.leg.br/leis/wp-content/uploads/2014/09/Lei2538.pdf>. Acesso em: 1º. 07.2015.
21
Diante dessa problemática, o objetivo geral desse estudo consiste em analisar
como o sistema próprio de avaliação do ensino público acreano é concebido,
identificando seus princípios, concepções, ajustes, indicadores (processos) e
motivações que contribuíram para que a avaliação em larga escala fosse definida e
colocada na agenda da política local.
Como objetivos específicos, a investigação centrou-se na direção de: a) situar
o sistema próprio de avaliação em larga escala no contexto do ensino público
acreano; b) verificar por quais mecanismos de regulação o Seape opera; c)
identificar quais políticas educacionais decorrem do Seape no contexto local.
Esse conjunto de fatores me provoca reflexões, especialmente no sentido de
encontrar respostas para as seguintes questões norteadoras desta pesquisa:
1ª) como a política de avaliação externa é concebida e implementada pelo
Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape)?
2ª) quais políticas educacionais decorrem da implementação do Seape no
sistema público de ensino do Acre?
3ª) que associações e tensionamentos são estabelecidos entre as políticas
decorrentes da avaliação em larga escala e as formas de regulação e controle
empreendidos pelo órgão gestor da educação básica no contexto acreano?
As hipóteses iniciais para estas questões são as seguintes: 1ª) a avaliação
realizada pelo Seape/AC é concebida e implementada de forma análoga ao sistema
nacional de avaliação, com objetivos semelhantes, mas com uma coloração local e
com intencionalidade de mudança no campo político educacional, restando saber
quais são essas mudanças e como elas são efetivadas no contexto local.
A segunda hipótese orientadora desse trabalho investigativo é que a
avaliação em larga escala, como mecanismo de controle dos sistemas de ensino,
tem se prestado à regulação dos sistemas de ensino por meio de formatos brandos
de responsabilização que subsidiam a gestão por resultados.
A definição do recorte temporal dessa pesquisa, compreendendo o período de
2009 a 2012, justifica-se pelo fato de que, a partir de 2009, os exames em larga
escala são realizados anualmente no sistema de ensino público do Acre, de forma
mais sistemática, estando o Seape na sua 4ª edição em 2012, ano que ingressei no
Programa de Pós-Graduação, da Universidade Federal do Paraná (PPGE/UFPR).
Para Casassus (2001, p. 10), “a avaliação consiste em poder ver a mudança
ocorrida.” De uma forma metafórica, o autor compara o processo avaliativo com a
22
construção de “óculos” que possibilitem enxergar a realidade educacional, tornando
visível o que se quer observar. Nessa acepção, os dados e informações
identificados pelas “lentes” da avaliação podem ser bem propositivos. Contudo, dado
o jogo político e a complexidade da dinâmica do campo educacional, isto não
significa que os usos dos resultados estejam sempre conectados com as mudanças
necessárias para os sistemas de ensino.
Tal perspectiva implica reconhecer a necessidade de refletir sobre quais são
essas mudanças, como elas são efetivadas e a interesse de quem elas são
realizadas. O estudo sobre o Seape/AC e o cotejamento com alguns elementos
norteadores do sistema nacional de avaliação, assim como a problematização das
estratégias de regulação e controle dele decorrentes são necessárias na análise da
política educacional acreana, sobretudo, porque os dados da pesquisa evidenciaram
que não há uma avaliação da avaliação e esta meta-reflexão é importante para o
amadurecimento da política consolidada.
A primeira inserção do Estado do Acre numa experiência de avaliação em
larga escala deu-se em 1999, como será demonstrado nos antecedentes do
Seape/AC.3 Em 2009, ocorre a primeira edição desse sistema oficial de avaliação,
portanto após o transcurso de uma década da experiência piloto.
A partir dessas inserções, percebe-se que se trata de uma política gestada
paulatinamente e sempre com o envolvimento de órgãos vinculados ao Ministério da
Educação (MEC) ou a partir de consultorias externas (de outros Estados)
contratadas para esse fim, ficando nítidas duas questões: 1ª) o Governo do Acre, até
2009, não dispunha em seu quadro funcional de capacidade instalada para
empreender avaliações em larga escala, sem se apropriar da expertise proveniente
de contratações e parcerias; 2ª) as contratações efetivadas pelo Acre para realizar
avaliações em seu sistema público de ensino foram articuladas com empresas que,
de algum modo, tinham experiências ou vínculos de alguns profissionais com o
MEC.
O Seape/AC é um sistema de avaliação da educação básica acreana,
composto por dois exames de proficiência (Língua Portuguesa e Matemática).
Desde 2009, as provas são aplicadas anualmente e de forma censitária no sistema
público de ensino, atualmente realizado em quatro séries da educação básica (3º, 8º
3 Os antecedentes do Seape/AC constam no item Capítulo 4.
23
e 9º ano do Ensino Fundamental e 3º do Ensino Médio)4, com a especificidade de
abranger as redes públicas de ensino em âmbito estadual e municipal, com alcance
na totalidade dos 22 (vinte e dois) municípios do Acre.
Nos exames em larga escala empreendidos pelo Seape/AC são utilizados
como instrumentos avaliativos testes de proficiência com foco no rendimento
escolar, ainda que haja aplicação simultânea de questionários contextuais aos
alunos, gestores escolares, coordenadores de ensino e professores das disciplinas
avaliadas, de forma amostral (menos para os alunos em que os questionários
contextuais são aplicados a todos aqueles que realizam os testes do Seape). Esses
questionários contextuais coletam dados socioeconômicos e variáveis
socioeducacionais, além de outros aspectos intra e extraescolares vinculadas ao
ensino.
Como um sistema local de avaliação efetivado pela Secretaria de Estado de
Educação e Esporte (SEE/AC), o Seape/AC tem conexões com a cultura de
avaliação instituída em âmbito nacional. Dada a sua historicidade, muito embora a
política local se espelhe e seja reflexo da política definida para a educação nacional
tem algumas especificidades e um conteúdo próprio.
Ao se considerar a natureza do objeto pesquisado e o direcionamento
pretendido, ou seja, a relação entre avaliação em larga escala e a definição de
políticas educacionais, a perspectiva aqui assumida pretende contribuir com o
entendimento das disputas que são significativas de serem observadas para captar
os movimentos definidores do Seape/AC e as ações dele decorrentes. É com essa
lente multifocal que a investigação foi conduzida.
Logo nos estudos iniciais, o que ficou evidente é que nos processos de
disputas inerentes à consolidação de uma política, grupos têm voz ativa na
elaboração do texto e na definição dos rumos a serem seguidos, assim como outros
indivíduos têm suas vozes silenciadas.
Não é só a avaliação que é externa à escola, a composição do texto da
política também assume este caráter quando é centrada na gestão macro do
sistema. Ainda que a aplicação dos testes se realize na escola e tenha implicações
sobre a sua dinâmica, no momento da definição e da elaboração do projeto básico
do Seape/AC, tal espaço é considerado apenas sob a visão do sistema quando, na
4 O 3º ano do Ensino Fundamental é incluído a partir da 2ª edição, realizada em 2010.
24
verdade, os atores sociais que constituem a peça chave adentram o processo como
estranhos ao mesmo, pelo menos, no momento inicial da concepção da política.
Desde o momento em que a política é colocada na agenda e se define os
objetivos iniciais até a condução do processo e o alcance dos objetivos finais, há
movimentos perceptíveis que possibilitam captar as relações estabelecidas. Esse é
um desafio inerente ao campo da pesquisa em política educacional.
Com vistas a responder a algumas das inquietações aqui evidenciadas e às
questões norteadoras da pesquisa, dentre as possibilidades para realizar um estudo
numa abordagem qualitativa, utilizou-se alguns dados estatísticos para efeito de
caracterização do sistema oficial de avaliação e do sistema educacional acreano, o
local onde se insere o objeto deste estudo.
Em relação ao tipo de pesquisa, optou-se pela pesquisa documental como
procedimento metodológico para extrair as informações que compuseram a fase
preparatória e a implementação do Seape/AC, bem como aqueles produzidos após
a sua implantação.
Sob a orientação de Cellard (2008, p. 296), aqui se compreende documento
numa concepção ampliada. Dessa maneira, o universo desse estudo compõe-se de:
consultas on line em sites oficiais dos governos em nível federal e estadual, além de
relatórios endereçados ao Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird), instituição financeira do Banco Mundial, financiador de
algumas das edições realizadas. Também consultou-se textos disponibilizados
eletronicamente pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
(Caed/UFJF), responsável pela realização de todas as edições do Seape/AC.5
De forma a ampliar as informações, elaborar descrições de contexto e com
vistas a buscar contrapontos também se acessou: matérias jornalísticas de
repercussão local e nacional a respeito da temática; documentos oficiais enviados
pela SEE/AC às escolas;6 termos de referência; contratos; bancos de dados do
Seape/AC; relatórios de pesquisas já realizadas; slides elaborados pela equipe
gestora da SEE/AC;7 pronunciamentos oficiais; planos de governos; relatórios
técnicos e financeiros; além de textos legais consultados no Diário Oficial do Estado
5 Em 2015, realiza-se a 7ª edição do Seape/AC.
6 Trata-se de comunicações circulares enviadas às escolas da rede estadual, localizadas em Rio Branco/AC, no período de 2009 a 2012.
7 Material didático apresentado em eventos educacionais promovidos pela SEE/AC, ou aqueles em que o órgão gestor da educação participa como convidado (disponibilizados à pesquisadora em mídia digital nessas ocasiões).
25
do Acre (DOEAC), na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), no Conselho Estadual
de Educação e no portal de Legislação da Presidência da República. O trabalho
investigativo também efetivou-se através de consultas formais (solicitação de
documentos) à Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC) e
informações complementares por endereço eletrônico.
Para definir se um documento seria pertinente ao objeto em estudo,
inicialmente fez-se a opção por uma avaliação preliminar, sob as dimensões
apontadas por Cellard (2008) quais sejam:
1ª) contexto de produção do documento – observação dos aspectos históricos
em que o texto foi produzido, relacionado ao universo sociopolítico do autor e
daqueles a quem o documento foi destinado. Trata-se de um olhar situado na
conjuntura socioeconômica, cultural e política;
2ª) o autor (ou os autores) – conhecimento da identidade do indivíduo, dos
motivos pelos quais o documento foi escrito e quais os interesses em jogo, sejam
estes explícitos, ou não. Outra questão orientadora é se “esse indivíduo fala em
nome próprio, ou em nome de um grupo social?” (CELLARD, 2008, p. 300);
3ª) a autenticidade e a confiabilidade do texto – importante verificar a
autenticidade do documento e da informação veiculada;
4ª) a natureza do texto – diz respeito ao contexto particular de sua produção
que é caracterizado pela sua estrutura, formato e suporte;
5ª) conceitos-chave e trata-se da lógica interna do texto – atenção às palavras
de maior significação, apreensão do sentido das palavras e dos conceitos
empregados de uma forma contextualizada.
Sob essas orientações, as primeiras análises foram realizadas com base
numa leitura minuciosa de dois documentos definidos como básicos para
compreender o Seape/AC: 1º) Termo de Referência para contratação de Consultoria
(ACRE, 2009); e 2º) Contrato de Serviço de Consultoria8 para Realizar a Avaliação
Externa do Desempenho Escolar (ACRE, 2010).
Nas análises realizadas, a partir dos supramencionados documentos foram
identificadas lacunas de informações, sobretudo, no que diz respeito às razões pelas
quais a equipe da SEE/AC se motivou a constituir um sistema próprio de avaliação
em larga escala, dentre outras informações inerentes ao contexto histórico em que
8 Contrato SEE/Nº 696/2010 firmado entre a SEE/AC e o Caed/UFJF (ACRE, 2010).
26
os documentos foram produzidos, mesmo após 2005 quando a Prova Brasil passou
a ser censitária.
Para suprir as lacunas identificadas e de forma complementar à pesquisa
documental, optou-se pela realização de entrevistas. A decisão por esta estratégia
de campo justifica-se porque “a entrevista, além de permitir uma obtenção direta e
imediata dos dados, serve para aprofundar o estudo, completando outras técnicas
de coleta de dados.” (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 120).
Nessa mesma linha de orientação metodológica, Lüdke e André (1986),
consideram relevante o uso de documentos em pesquisas educacionais, essa forma
de investigação compreendida “como uma técnica exploratória, [que por meio da]
análise documental indica problemas que devem ser mais bem explorados através
de outros métodos.” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38).
Um dos pontos averiguados nos documentos trata-se dos objetivos do
Seape/AC que são analisados comparando-se edição a edição e com o Saeb
nacional. Isso é possível justamente porque os objetivos constituem-se de um
gênero presente nos programas e projetos delineados antes da execução da
política, expressos em textos curtos, simples e precisos, possibilitando identificar as
tendências da política implementada e as principais mudanças de curso em cada
edição.
Como instrumento metodológico complementar, as entrevistas foram
pensadas e organizadas com vistas a captar informações de ex-gestores
responsáveis pela implementação do Seape/AC, sobretudo a respeito daqueles
elementos que deram suporte à política definida para a educação local, em que
medida estes contribuem para a sua implementação, quais as intencionalidades
iniciais e quais ações decorreram do processo.
Os instrumentos foram elaborados sob a forma de entrevista semiestruturada
que:
tem como característica um roteiro com perguntas abertas e é indicada para estudar um fenômeno com uma população específica: grupo de professores; grupo de alunos; grupo de enfermeiras etc. Deve existir flexibilidade na sequência da apresentação das perguntas ao entrevistado e o entrevistador pode realizar perguntas complementares para entender melhor o fenômeno em pauta. (MANZINI, 2012, p. 156).
Na fase preparatória das entrevistas, elaborou-se um roteiro (APÊNDICE 1)
organizado em três partes: 1ª) antecedentes do Seape/AC; 2ª) processo de
27
implementação; 3ª) uso dos resultados. Também se procedeu a uma pré-testagem
da entrevista com um gestor escolar, um coordenador pedagógico e com um técnico
da SEE/AC, com o critério de escolha de que esses profissionais tivessem
participado de, pelo menos, duas das quatro edições pesquisadas.
Nessa fase, incorporou-se algumas das sugestões apontadas pelos
profissionais, especialmente no que concerne aos antecedentes do Seape/AC que é
o contexto em que menos há documentos, uma vez que muitos dos registros não
foram feitos ou não foram localizados ou, ainda que solicitados, não foram
disponibilizados para essa pesquisa.
Outra questão importante é que, nestes encontros, realizados em duas
escolas diferentes da capital (sendo uma mais central), deu-se abertura para que os
profissionais fizessem um pronunciamento livre a respeito do que eles sabiam sobre
o Seape/AC. Esses depoimentos, também serviram de subsídios para a elaboração
das entrevistas semiestruturadas.
Em seguida, procedeu-se à escolha dos entrevistados com o critério de serem
idealizadores e operadores da política. Quatro profissionais considerados
estratégicos para a cessão de informações foram escolhidos, sendo entrevistados:
1) a professora Maria Corrêa da Silva, Secretária Adjunta da SEE/AC (de
2003 a 2007), e Secretária de Estado de Educação (de 2007 a 2011), que
acompanhou as três primeiras edições do Seape/AC;
2) o professor Josenir de Araújo Calixto, Gerente de Ensino Médio da SEE/AC
(de janeiro 2007 a março de 2008) e Diretor de Ensino (de março de 2008 até o final
de 2014), nessas funções acompanhando todas as edições do Seape/AC;
3) a professora Maria Cristina Maia Guilherme, Coordenadora de Avaliação
da SEE/AC, desde 1998, responsável pela parte logística e toda a operacionalização
de aplicação das provas, atuando como suporte e elo com o Caed/UFJF em todas
as quatro primeiras edições;
4) e, por fim, Arnóbio Marques de Almeida Júnior, conhecido como Binho
Marques, Governador do Acre (2007-2011) que, em seu mandato, vivenciou a
implantação do Seape/AC em 2009, assim como em sua gestão foram realizadas as
três primeiras edições (2009, 2010 e 2011). Para este último entrevistado, elaborou-
se outro roteiro (APÊNDICE 2) com ênfase nas ações decorrentes do Seape/AC, um
dos encaminhamentos sugeridos na Banca de Qualificação. Essa entrevista foi
cedida via e-mail, em abril de 2015.
28
Com um agendamento prévio, efetivou-se o cumprimento da tramitação
necessária para assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE 3). As três primeiras entrevistas foram realizadas entre os dias 17 a 27
de março de 2014, sendo a pesquisadora recebida pelos entrevistados. As falas
foram gravadas em áudio e transcritas com o apoio de bolsistas cedidos pela
Universidade Federal do Acre. Estes bolsistas acompanharam a realização das
entrevistas e são acadêmicos oriundos de cursos de licenciatura que, de algum
modo, conhecem e lidam com a linguagem do campo educacional.
As transcrições foram revisadas pela pesquisadora. Desde o processo de
conferência dos registros das entrevistas, houve exploração dos resultados e
interpretação preliminar das informações por meio da leitura das três entrevistas
inicialmente realizadas, observando-se os objetivos, as questões e as hipóteses da
pesquisa para coletar subsídios de interpretação das informações recebidas.
Os trechos das entrevistas são aqui reproduzidos de forma literal, inclusive
preservando-se algumas características peculiares à fala. A forma de citar os
excertos significativos para a pesquisa, assim como todas as citações e referências
desta tese segue o recomendado em normalização recente (UFPR, 2015).
Essa tese organiza-se em 4 capítulos. O Capítulo 1 empreende a revisão da
literatura, sobretudo naqueles aspectos que situam a temática da pesquisa por meio
de aspectos conceituais relacionados ao objeto de estudo.
No Capítulo 2 apresenta-se a teoria da regulação social como suporte para
apreensão do objeto de estudo. Como orientadora da política educacional, a
avaliação em larga e outros dispositivos de regulação, podem ser acionados pelas
estruturas de poder do Estado que investem em formas de monitoramento do
sistema público de ensino, especialmente quando exerce um controle à distância,
estabelece metas a atingir e foca sua política muito mais no controle dos resultados
do que na construção de modelos de regulação educativa que considerem o
processo pedagógico.
Com esse aporte teórico, o Capítulo 3 dedica-se a situar o contexto
sociocultural e histórico de implementação do Seape/AC: o sistema público da
educação básica do Acre, especialmente naqueles aspectos caracterizadores da
política local e das suas relações com os processos de regulação do sistema de
ensino.
29
O Capítulo 4 trata de situar os antecedentes do Seape/AC, sobretudo nos
aspectos em que se assentam seus princípios, concepções, ajustes e desvios
inerentes ao processo de implementação, bem como suas ações decorrentes e suas
conexões com os novos modos de regulação.
Nas Considerações Finais, retoma-se alguns aspectos abordados na
pesquisa, sobretudo, as questões orientadoras, na perspectiva de trazer à tona
algumas reflexões e sugestões a respeito do objeto de estudo.
A partir da compreensão de que o pesquisador aguça sua curiosidade e
capacidade de refletir sobre o objeto que se propõe estudar, o desafio se constitui
em buscar respostas para as questões de estudo, ainda que as respostas
encontradas possibilitem apenas uma convicção plena: a provisoriedade do
conhecimento.
30
CAPÍTULO 1 AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
Este capítulo apresenta definições preliminares da avaliação educacional em
larga escala, aqui compreendida como um mecanismo de regulação e controle. Em
seguida, situa o debate internacional a respeito do tema e a configuração do
discurso dessa política no Brasil, com um enfoque na difusão de uma cultura
avaliativa que subsidia a trajetória e a institucionalização do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (Saeb). Ao abordar os fundamentos, consequências
e bases legais dessa modalidade de avaliação, aborda seus limites, possibilidades e
suas correlações com a regulação educacional. De uma forma panorâmica, na
última seção apresenta a constituição de sistemas próprios de avaliação no âmbito
dos Estados e aproximações iniciais com o caso do Acre.
Há vários ângulos em que a avaliação educacional pode ser analisada no
campo acadêmico especializado. A opção de análise desse estudo parte do
pressuposto de que as informações obtidas pela avaliação em larga escala podem
se prestar à regulação dos sistemas de ensino. Nessa modalidade, a avaliação é
uma ferramenta indutora de políticas educacionais, sobretudo quando integrada às
discussões sobre currículo, profissionalização e valorização docente, consolidação
dos processos democráticos da gestão escolar, dentre outros aspectos.
A regulação é um mecanismo de intervenção estatal, uma estratégia de
monitoramento das políticas públicas empreendidas que carrega em si os propósitos
e as intencionalidades sustentadas pelo Estado, responsável por resguardar o
interesse público e controlar a qualidade dos sistemas de ensino, expressa em
metas e objetivos previamente traçados. Assim, como um importante instrumento de
regulação da educação, ao coletar dados e informações sobre o desempenho
escolar e estabelecer indicadores da qualidade do ensino, a avaliação em larga
escala assume um caráter sistemático e sistêmico.
Na acepção do conceito que norteia o objeto em estudo, “a avaliação não se
confunde com o controle, mas este também é uma função da avaliação” (DIAS
SOBRINHO, 2008a, p. 204), assim como pode ter uma vinculação com uma
perspectiva dialógica mais ampla, nesse sentido, se aproxima da ideia de controle
social e, consequentemente, de princípios da gestão democrática, com ações
definidas a partir de uma discussão na coletividade. Tal perspectiva pode ter
31
implicações positivas tanto para a gestão do sistema de ensino público, como para a
condução da gestão escolar.
Nos vínculos estabelecidos com a regulação, a avaliação é um exercício de
poder, vinculado às circunstâncias do ambiente político. Ao definir e consolidar uma
política avaliativa educacional, os gestores podem alterar ou redefinir as ações
governamentais. Por essas e outras questões, Sousa e Oliveira (2003, p. 875)
caracterizam a avaliação como “peça central nos mecanismos de controle, que se
deslocam dos processos para os produtos, transferindo-se o mecanismo de controle
das estruturas intermediárias para a ponta.” Com essa característica, a avaliação em
larga escala tanto se constitui um exercício de poder, quanto pode acionar
mecanismos de regulação capazes de adentrar o contexto escolar de uma forma
sutil, como se compusesse a dinâmica interna da escola, influenciando processos,
mas com foco nos resultados.
Nessa linha de raciocínio, a avaliação é um dispositivo concreto de regulação
educacional, uma vez que os usos dos seus resultados vêm sendo incorporados aos
sistemas de ensino, seja com o discurso no sentido de garantir direitos, seja para
acionar mecanismos de responsabilização.
Dependendo da maneira como as informações e os dados coletados são
utilizados, os mecanismos de regulação, aliados a outros dispositivos, podem
contribuir com a garantia da educação como direito de todos, fundamentado na
necessidade de apropriação dos saberes acumulados pela humanidade. Se antes, a
luta consistia em garantir o direito à educação, hoje com as discussões a respeito da
obrigatoriedade e com a questão da universalização do ensino, o ponto central na
agenda política consiste em garantir a todos um ensino de qualidade, como indicam
os documentos normatizadores do Seape/AC e as entrevistas realizadas.
Assim, há uma ressignificação do direito à educação como um direito humano
universal, na perspectiva da equidade educacional. Nessa esteira:
O direito passa a ser entendido como a uma educação de qualidade. E a educação de qualidade é prerrogativa de todos. A qualidade social da educação, que deve ser a sua resultante, vem impregnada dos pleitos de democratização, de participação nas diferentes instâncias de decisão da vida pública e privada, de inclusão e de superação das desigualdades e injustiças. (BARRETO, 2012, p.741).
A capacidade que os sistemas avaliativos possuem de atingir os objetivos a
que se propõem depende da correlação de forças estabelecidas, das
32
intencionalidades explícitas ou veladas e, enfim, das relações de poder que podem
estar presentes no debate e na participação mais ampla da sociedade, quer para
“concretizar a ideia de um padrão de qualidade nos sistemas de ensino, quer para o
controle social da execução de políticas e do cumprimento das obrigações estatais
na educação, quer para viabilizar formas democráticas de participação.” (FREITAS,
2007, p. 50). De todo modo, o que a pesquisadora destaca é que no contexto do
processo de redemocratização da sociedade brasileira, o desenho da avaliação não
prescinde da lógica da democratização política e da definição de um projeto para a
educação.
Em conformidade com os apontamentos de Pestana (2013) é no contexto de
redemocratização no Brasil que:
a sociedade brasileira passou a exigir maior transparência dos serviços públicos e ampliação dos instrumentos de controle social. É nesse contexto e para servir como instrumento de diagnóstico e monitoramento do setor educacional que os sistemas de avaliação são estruturados e desenvolvidos. (PESTANA, 2013, p. 86).
Na concepção desta autora, essa questão intensificou-se com as reformas
educacionais e com a definição e redefinições das competências dos entes
federados. Assim, a função de controle exercida pelo Estado por meio da avaliação
educacional se posiciona em um lugar de destaque no contexto reformista dos anos
1990.
Para Bauer (2013), a avaliação não foi pensada inicialmente para uso
pedagógico das escolas, mas para que seus resultados pudessem subsidiar o
planejamento de programas e políticas educacionais. Por isso mesmo, a expressão
avaliação de sistema refere-se às “redes educacionais e não da avaliação do
professor especificamente.” (BAUER, 2013, p.128). Os indicadores produzidos pelas
avaliações em larga escala são tomados como referência ao se definir políticas
educacionais, contudo, eles têm potencialidades e também limites. Uma das formas
para observar os limites é considerar o projeto da avaliação, os objetivos propostos
que expressam as intencionalidades das proposições avaliativas. E, mais que isso,
no conjunto dos atores sociais envolvidos, discutir os processos de realização,
dentre outros aspectos. O importante é que os limites sejam reconhecidos e
enfrentados.
Na seção seguinte, apresentam-se alguns elementos fundantes da avaliação
em larga escala que compõem a esfera do debate e configuram as bases
33
conceituais sobre a avaliação educacional, um campo fértil de análise para a
regulação da educação básica pelo mecanismo da avaliação em larga escala.
1.1 Definições preliminares da avaliação educacional
Segundo Oliveira (2012) é Ralph Winfred Tyler (1902–1994), educador
americano, que em 1934 cria a expressão “avaliação educacional”. A autora
esclarece que, antes de Tyler, sob influência da psicologia comportamental, os
educadores se reportavam aos termos exames e testes (p. 130). De acordo com a
mesma estudiosa, “um dos trabalhos pioneiros de Tyler é o Eight-Year Study –
Estudo de Oito Anos (1932-1940) [considerada] a primeira experiência de avaliação
em larga escala longitudinal na área de educação.” (OLIVEIRA, 2012, p. 131). Tyler
é, então, referência na área da avaliação educacional e nos estudos sobre currículo.
O termo avaliação é carregado de significados e integra a vida humana em
todas as suas dimensões, seja nas ações mais simples do cotidiano, seja nas
decisões mais complexas. No aspecto social e, portanto, numa visão mais ampla, a
avaliação enseja uma tomada de decisão qualitativa pautada em intenções de
confirmar direções ou redimensionar o rumo da ação com vistas a melhorá-la.
A avaliação é impregnada de valores, a educação como campo e ação
eminentemente humanos não foge a este pressuposto. Dias Sobrinho (2008a., p.
194) aponta que no campo educacional a avaliação “tem que ser ela mesma
educativa”, caso contrário, perderia o “caráter formativo ou pedagógico do processo
de avaliação”, sendo assim:
A avaliação educativa é uma prática social, portanto, intersubjetiva, relacional, carregada de valores. Por tratar da educação, precisa ter compromisso com os princípios e valores que mais plenamente realizam as finalidades essenciais da vida humana. Deve ser uma reflexão radical sobre os significados dos fenômenos educativos; portanto, sobre os sentidos dos valores que estão sendo realizados na educação. (DIAS SOBRINHO, 2008a, p. 197).
Nesse sentido, a avaliação demarcada no campo educativo não é um ato
meramente técnico, mas político, não é neutro, pois tem intencionalidades, sejam
elas declaradas ou não e, além disso, possibilita definir políticas educacionais e, em
última instância, fundamentar novas práticas pedagógicas. É preciso, pois,
reconhecer a força política da avaliação que concebe a ação avaliativa, ela própria,
uma atividade política em toda a sua complexidade. E, neste sentido, a avaliação
34
educativa é uma reflexão radical, uma vez que pode fomentar uma compreensão em
profundidade, de uma forma acurada, fundamentada, sem perder de vista a
pluralidade de sentidos que as práticas avaliativas podem ensejar.
Para o mesmo autor, “a complexidade não deve ser vista como um
empobrecimento por fragmentação e, sim, como possibilidade de múltiplas
interatuações e relações” (DIAS SOBRINHO, 2008a, p. 194) marcadas pela
diversidade e dinamicidade do campo educativo. Como em Dias Sobrinho (2008a),
aqui a concepção norteadora do processo educativo tem como linha de
compreensão a educação como “um fenômeno polissêmico, aberto, plurirreferencial.
Tudo na educação tem interesse à avaliação, pois, cada um de seus aspectos
sempre se remete a outros e não pode ser compreendido isoladamente.” (DIAS
SOBRINHO, 2008a, p. 197).
Nessa linha de compreensão, Pestana afirma:
Avaliar não é um fim em si mesmo, é uma ação que requer observação da realidade e a comparação valorativa com uma situação ideal e, para ser efetiva, implica em uma ação de intervenção com vistas à modificação da situação ou do objeto avaliado. A avaliação não é neutra. Acatar este entendimento significa andar em terreno movediço, onde os pontos de apoio ao invés de verdades absolutas são apenas escolhas justificadas. (PESTANA, 2013, p. 92).
Dessa forma, a avaliação é um subsídio para a implementação de políticas e
pode promover ações propositivas – como a formação docente em serviço, a
estruturação do currículo ou mesmo elemento norteador do planejamento escolar –,
ou ações marcadas por efeitos colaterais indesejáveis ou não planejados, como
preceitua Brooke (2013).
Ao definir o valor ou o mérito de um objeto avaliado, é importante
compreender a diferença entre avaliar e verificar. Quem trata disso com muita
propriedade é Luckesi (1990; 2002), com um foco na avaliação da aprendizagem,
muito embora esta diferenciação também possa subsidiar a compreensão sobre a
avaliação em larga escala. A verificação tem caráter de controle e determinação em
si mesma e encerra-se na obtenção dos dados ou das informações identificadas nos
processos avaliativos. A própria avaliação externa pode ter um alcance restrito, uma
vez que não implica que o Estado, como agente regulador, retire delas respostas
significativas para o processo educativo.
Essa questão também diz respeito aos objetivos previamente traçados e às
intencionalidades do projeto de avaliação externa e não se restringe somente ao
35
registro e à verificação ou apreciação dos resultados obtidos, uma vez que a
avaliação é propulsora de tomada de posições e orientadora das decisões políticas,
como já evidenciado.
A avaliação em larga escala é externa, conduzida por profissionais que não
integram a comunidade escolar, podendo ser realizada pelos órgãos gestores da
educação ou, ainda, por empresas especializadas ou profissionais independentes,
dentro de uma formalidade que requer: “o estabelecimento de objetivos, a
sistematização de procedimentos, seleção de critérios, estabelecimento de contratos
ou compromissos escritos” (OLIVEIRA, 2012, p. 114); tudo isto compõe o projeto da
avaliação e subsidia as políticas dela decorrentes.
Em síntese: a avaliação é um mecanismo que se efetiva num campo de
disputas, sobretudo no contexto educacional em que os resultados por ela obtidos
podem ser indutores de políticas públicas.
Ao longo de sua inserção no contexto educacional, a avaliação em larga
escala vem se constituindo como dispositivo de regulação e, nesta perspectiva, sua
inserção e atuação no campo educacional se justificam na necessidade de
“prestação de contas” e como mecanismo identificador de indicadores de qualidade
produzidos para subsidiar o planejamento educacional, as diretrizes curriculares,
com reflexos na gestão escolar, na formação continuada de professores e, enfim, na
consolidação de instrumentos políticos de intervenção que compõem a cultura
avaliativa.
1.2 O debate internacional e a configuração do discurso da política de
avaliação educacional no Brasil
As práticas avaliativas dos sistemas de ensino no contexto internacional
impulsionaram a avaliação como lugar central no rol de estratégias definidas na
agenda das políticas educacionais de muitos países, por considerar-se que os dados
coletados acerca do desempenho dos alunos podem ser indicadores da qualidade
educacional.
Para Cavalieri (2013, p. 16), “diante da influência internacional, o Estado
brasileiro em um curto espaço de tempo, colocou a avaliação no topo da lista de
prioridades das políticas estatais” e esse lugar de destaque na agenda das políticas
públicas educacionais possibilita investimentos significativos nas experiências
36
avaliativas estatais e provoca novas formas de regulação e redimensionamento do
papel do Estado e das instituições a ele vinculadas, que podem se refletir em
práticas de modernização da gestão do ensino e das escolas, na cultura do
desempenho, na redução do currículo, na responsabilização e na perspectiva de
obrigação de resultados.
Os primeiros trabalhos realizados para conhecer o sistema de ensino e aferir
a sua qualidade tendiam para o empirismo metodológico (methodological
empiricism), termo assim designado por Karabel e Halsey (1977), corrente de
pesquisa educacional de ênfase quantitativa no período pós-Segunda Grande
Guerra, marcado pela disseminação de ideologias igualitárias e de expansão dos
sistemas educacionais.
Nesse contexto, sobretudo os países industrializados como EUA, França e
Inglaterra fizeram investimentos para realizar diagnósticos acerca dos seus sistemas
escolares, especialmente para investigar:
impactos da educação sobre a sociedade em termos econômicos e sociais, colocando em foco de análise questões como: eficácia e eficiência das instituições e dos sistemas educativos, relações entre educação e trabalho, adequação da formação profissional aos empregos, custo da educação, impactos das investigações na indústria, prestação de contas, responsabilidade fiscal, dados de empregabilidade e assim por diante. (DIAS SOBRINHO, 2008a, p. 199).
Nos anos 1950 e meados da década seguinte realizaram-se investigações
sobre esse enfoque, sendo esses trabalhos encomendados e financiados pelos
poderes públicos ingleses e norte-americanos, entre as quais se destacam três
pesquisas: 1ª) o Relatório Coleman (1966), nos Estados Unidos; 2ª) os trabalhos
desenvolvidos pelo Institut National d´Études Démographiques (Ined), na França; e
3ª) o Plowden Report (1967), na Inglaterra.
A primeira dessas pesquisas, liderada pelo sociólogo James Samuel Coleman
(1926-1995), gerou o relatório Equality of Educational Opportunity publicado em
1966. Bonamino e Franco (1999) postulam que “as conclusões do Relatório
Coleman levaram à valorização de ações de educação compensatória e indicaram a
necessidade de remanejamentos que visassem garantir uma espécie de equilíbrio
multirracial e multicultural entre as escolas.” (BONAMINO; FRANCO, 1999, p. 102).
No contexto americano, as indicações de Coleman estão situadas no
movimento de lutas por direitos consolidadas na Lei de Direitos Civis de 1964, que
beneficiou, sobretudo, cidadãos negros afro-americanos e mulheres norte-
37
americanas que, a partir desse marco, passaram a gozar de direitos até então
concedidos exclusivamente aos homens brancos, pelo menos no plano legal.
Os estudos de Coleman (1966) consideram que as condições
socioeconômicas marcam o percurso e a trajetória dos estudantes; nesse prisma,
por melhor ou por pior que seja a escola, o desempenho escolar tem uma relação
direta com o background (experiência, antecedentes, contexto, ambiente,
circunstâncias, meio social) cultural.
A partir de um estudo longitudinal (1962-1972) realizado pelo Ined, órgão
governamental de estudos demográficos da França, no intuito de avaliar as
desigualdades de acesso aos estudos, chama-se a atenção para a existência de
uma significativa correlação entre origem social e seletividade escolar. De acordo
com essa pesquisa, as crianças e os jovens oriundos dos meios populares são os
mais atingidos pelos baixos índices de desempenho, mesmo quando o sucesso
escolar dos alunos provenientes das classes mais altas era equivalente (FORQUIN
1995; NOGUEIRA, 1990).
A terceira pesquisa que gerou o Plowden Report, ao analisar o desempenho
entre as crianças, chega à conclusão de que o rendimento escolar se justifica mais
pelas diferenças entre as famílias do que pelas diferenças entre as instituições
escolares. Conforme aponta Oliveira (2012), o estudo britânico intencionava
investigar de que forma os fatores extraescolares contribuíam para os déficits de
aprendizagem para, diante das informações coletadas, “identificar tendências e
propor mudanças.” (OLIVEIRA, 2012, p. 30).
De caráter macroscópico e quantitativo, como analisa Nogueira (1999), esses
estudos focavam nos aspectos conjunturais ou sócio-históricos e desconsideravam
os fatores intraescolares, limitando-se à constatação da dimensão reprodutivista da
escola. Por esse motivo, as correntes orientadoras destes trabalhos guardavam
certo “determinismo sociológico”, caracterizado como uma corrente defensora da
ideia de que a ação humana é definida pelas regras sociais e, nessa percepção, não
há margem para a liberdade ou para a superação das dificuldades impostas pelas
forças sociais extrínsecas.
Muitas foram as críticas a respeito dessas pesquisas, tanto do ponto de vista
técnico como do aspecto do ativismo das ações políticas focadas nos resultados
imediatos. Além disso, essas “pesquisas não possuíam instrumentos adequados
para a mensuração de detalhes relevantes das variáveis intraescolares.”
38
(BONAMINO; FRANCO, 1999, p. 103), contudo, como experiências pioneiras, foram
importantes para abrir o debate sobre o tema.
As práticas pedagógicas, diferenciadas em cada escola, têm influência no
desempenho dos alunos. Do ponto de vista das políticas públicas educacionais, o
fato de essas pesquisas desconsiderarem o contexto e os processos escolares
implica que seus resultados “alimentaram um forte pessimismo pedagógico, porque
levaram à conclusão que ‘as escolas não fazem diferença’, já que a explicação para
os resultados educacionais deveria ser procurada fora das escolas, na origem social
dos alunos” (ALVES; SOARES, 2007, p. 439). Sob esse prisma, é comum vitimizar o
aluno e enveredar por certo psicologismo justificador do fracasso escolar.
Esse imobilismo reprodutivista começa a ser superado na década de 1970,
quando os estudos se propõem a identificar problemas na pesquisa de Coleman e
outras, justamente por “deixar de fora as características sociais e culturais da
instituição [...] ignoradas as especificidades de cada escola na sua capacidade de
converter os insumos em resultados relevantes.” (BROOKE; SOARES, 2008, p.
106).
Para além dessa lógica, a escola tem, em sua dinâmica, processos singulares
que carregam em si fatores marcados pelo entrecruzamento de variáveis, por vezes
desconsiderados nos testes padronizados e realizados em larga escala que não têm
condições de dimensionar isso porque:
Os resultados da educação escolar são muitos e vão além dos tipos de talentos e habilidades medidas nos testes padronizados de desempenho e habilidade usados em praticamente todos os estudos e programas anteriores de eficácia escolar. Se acharmos, por exemplo, que não existe relação não significa que o tamanho da turma seja uma variável educacional sem importância. (BROOKE; SOARES, 2008, p. 114).
Nesse sentido, a avaliação externa pode estabelecer conexões significativas
com os elementos do contexto escolar e, nesse prisma, a escola faz a diferença,
pois é o ponto de partida dos esforços de mudança (BROOKE; SOARES, 2008).
Esses esforços de mudança se efetivam num contexto capitalista, um sistema
econômico e social marcado pelo “efeito homogeneizante das reformas, forjadas em
molde único, mas aplicadas em contextos culturais diversos” (BROOKE, 2008, p.
329) que acabam por impactar negativamente nos modelos econômicos de cada
país, nas relações sociais e na educação.
39
Assimiladas pelo prisma de correntes hegemônicas de educação, as
orientações do Banco Mundial e de outros organismos internacionais surtiram
efeitos, fundamentalmente no que diz respeito às orientações curriculares, às
produções e aquisições do livro didático e aos sistemas de avaliação em larga
escala que fortalecem uma espécie de comunidade cultural mundial (BROOKE,
2008) ou, simplesmente, mundialização da educação.
Para Freitas, o processo de implementação do Saeb é marcado pela
“introdução e a afirmação da regulação educacional via avaliação [como estratégia]
fundamental para que essa regulação adquira força normativa na educação básica.”
(FREITAS, 2007, p. 187). Esse argumento é compartilhado por Oliveira (2007) ao
afirmar que “as avaliações foram colocadas na base da regulação empreendida pelo
‘Estado-avaliador’ que vinha se configurando em meados dos anos 1980 e finca
raízes nos anos 1990” (OLIVEIRA, 2012, p. 150), sobretudo como decorrência da
onda de reformas dos sistemas educacionais dessa década, bem como da
prestação de serviços antes considerados como eminentemente públicos. Muito
embora o Estado trabalhe na perspectiva de descentralização de serviços e de
autonomia das escolas, mantém-se como agente regulador, mediando as relações
entre os agentes públicos ou mesmo com os prestadores de serviços e os usuários
demandantes destes.
Em escala mundial, produz-se um discurso justificador das reformas para
produção de consensos locais, pois:
Nessa empreitada, tiveram marcada influência os organismos multilaterais como Banco Mundial (BM), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), entre outros, que por meio de seus documentos não apenas prescreviam as orientações a serem adotadas, mas também produziam o discurso “justificador” das reformas que, preparadas em outros contextos, necessitavam erigir consensos locais para sua implementação. Tais agências produziram a reforma e exportaram também a tecnologia de fazer reformas. (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 450, grifos nossos).
Uma explicação plausível para a reforma educacional é compreendê-la como
“fruto da conjugação de forças locais, muitas vezes, conflitantes, que acabam
conduzindo os políticos em direção a decisões que alteram o funcionamento do
sistema, em nome de ideias e princípios que foram abertamente defendidos”
(BROOKE, 2008, p. 13), sem ignorar os fatores intraescolares, uma vez que “como
40
essas reformas dependem de mudanças às vezes até radicais no comportamento
dos professores, entram em cena múltiplos fatores subjetivos, incluindo a cultura da
profissão e da escola e a estrutura dos incentivos institucionais”, como ressalta o
mesmo teórico (BROOKE, 2008, p. 13).
Nessa linha de disseminação das reformas educacionais em escala mundial,
observa-se a disposição de os países participarem de avaliações externas
internacionais. Essa tendência, por um lado, possibilita “uma vontade de tornar os
sistemas comparáveis” (BROOKE, 2008, p. 330) e, por outro lado, pode afetar a
soberania nacional, pois ao invés de fortalecer e valorizar a diversidade regional,
possibilita-se a assimilação de valores supranacionais. Aqui, o papel do currículo e
da avaliação são mecanismos providenciais para investir-se numa educação que
não se comprometa com paradigmas reprodutivistas, ou mesmo de
responsabilização, mas estabeleça mecanismos fundamentais de paradigmas
transformadores.
Um dos problemas das reformas educacionais reside na controvérsia, muitas
vezes falseada pelos formuladores da política, sobretudo ao restringir a questão da
qualidade do ensino a “conceitos e critérios da economia [desconsiderando-se o]
próprio modo de organizar a educação”, como postula Brooke (2008, p. 202). E isso
se verifica no estreitamento das relações estabelecidas entre a educação e o setor
produtivo que implica mudanças educacionais fundamentadas nas diretrizes dos
organismos internacionais, sendo que uma dessas linhas de ação se ancora nas
avaliações dos sistemas de ensino.
Ao analisar a internacionalização das políticas educativas na América Latina,
Beech (2009) informa:
Em 1986, foi criado o Programa de Provas Nacionais do Ministério de Educação Pública da Costa Rica. Em 1988, o Chile estabeleceu o Sistema de Medição da Qualidade da Educação. O Brasil construiu seu Sistema Nacional de Avaliação Básica em 1990 e, nesse mesmo ano, foi criado um Sistema de Avaliação Nacional na Colômbia. Em 1992, foram estabelecidos sistemas semelhantes no Paraguai e no México. Na Argentina, o Sistema Nacional de Avaliação da Qualidade foi criado no ano de 1993. Uruguai e Bolívia estabeleceram seus próprios Sistemas Nacionais de Avaliação em 1994. No Equador e no Peru, em 1995 e 1996, respectivamente, foram adotados sistemas de avaliação centralizados, com características semelhantes. (BEECH, 2009, p. 34-35).
Na última década do século vinte, as razões utilizadas pelos formuladores da
política para contemplar avaliação em larga escala no âmbito das reformas
41
educacionais são calcadas na perspectiva da avaliação da qualidade e na prestação
de conta dos serviços públicos.
Conforme apontam Akel Sobrinho e Zainko (2004, p. 5), nos anos 1990
“recrudescem a ideologia da eficiência, da gestão eficaz e os debates sobre
avaliação em países da nossa Região, especialmente no Brasil, no México, na
Colômbia, na Argentina, no Chile e na Venezuela [...]”; tal perspectiva se assenta no
argumento de que a educação é um mecanismo indispensável ao desenvolvimento.
Nesse sentido, no contexto daquela década, a ideologia da eficiência impõe:
[a] emergência da avaliação como mecanismo imprescindível, seja para construir a qualidade, aumentar a eficiência ou para controlar o sistema educativo, se inscreve no cenário atual de profundas e agudas transformações políticas e econômicas em nível mundial. A educação hoje mais do que nunca é entendida como capital imprescindível para o desenvolvimento econômico e social. (AKEL SOBRINHO; ZAINKO, 2004, p. 5).
A configuração do discurso da política de avaliação do sistema de ensino não
é linear e há uma multiplicidade de fatores que, em escala mundial, estão
concatenados com a diversidade de sistemas de ensino e de avaliação. Por outro
lado, por mais que as influências existam, os transplantes não se efetivam em sua
plenitude diante das especificidades e dinâmicas de cada país.
O tema da avaliação em larga escala ocupa espaço nos estudos e nas
pesquisas educacionais no contexto nacional há, aproximadamente, cinquenta anos,
assumindo um caráter mais sistemático na década de 1990, quando se observam a
expansão e a regularidade da avaliação educacional no contexto da educação
brasileira.
No Brasil, a cultura avaliativa se dissemina como um dos elementos centrais
das políticas delineadas para os sistemas de ensino a partir das avaliações
realizadas em larga escala, sobretudo, com a inter-relação da tríade: (1)
universalização do ensino; (2) recursos públicos aplicados para essa
universalização; e (3) necessidade de se avaliar os resultados dos esforços
empreendidos. Essa tríade pode, assim, ser representada:
42
FIGURA 1 – TRÍADE DA CULTURA AVALIATIVA NO BRASIL
FONTE: A autora (2015).
A universalização do ensino requer injeção de recursos que, por seu caráter
público, implica a ampliação dos investimentos em educação e o dever de prestação
de contas via resultados educacionais. Muito além dessa necessidade de prestação
de contas, o controle dos resultados, expressos nas avaliações em larga escala,
pode vir acompanhado de processos regulatórios, justificados na determinação legal
de cumprimento da transparência9, um preceito da administração pública brasileira
decorrente do princípio constitucional da publicidade, previsto no Art. 37 da CF/1988.
A concepção de uma cultura avaliativa com foco nos resultados contribui com
a disseminação de uma cultura do desempenho com consequências na gestão dos
sistemas de ensino e no interior das próprias escolas. Tal perspectiva pode até
tangenciar elementos pedagógicos relevantes, ou seja, se a política avaliativa
assumir a orientação e as ações decorrentes da cultura do desempenho se limitará,
apenas, a apontar os problemas e, dessa forma, os resultados identificados poderão
não contribuir com o processo de fortalecimento das redes de ensino avaliadas.
A ineficiência dos sistemas educativos é uma questão mais ampla. Compõe o
debate da responsabilidade educacional que implica trazer à tona avanços e
retrocessos identificados pelas avaliações em larga escala. Avanços no sentido de
9 A Lei Federal n.º 12.527/2011, conhecida como lei da transparência, regula o acesso a informações
determinando que as instituições públicas ou as entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente do orçamento. (BRASIL, 2011a).
Resultados
Recursos
públicos
Universalização
do ensino
43
possibilitar novas formas de interlocução, seja no campo da gestão do sistema ou
das escolas, seja no sentido de agregar conhecimentos no campo da avaliação e
reunir informações sobre o percurso escolar, com vistas a redimensionar caminhos.
Retrocessos no sentido de que os aspectos técnicos e operacionais sejam
colocados a serviço de uma lógica contrária a preceitos historicamente conquistados
no processo de democratização da educação nacional.
A intenção aqui não é promover a polarização produto/processo, contudo, há
que se admitir que se a avaliação educacional se detiver muito mais na dimensão
dos resultados, poderá enfrentar consequências não previstas como: “comparações
e o ordenamento em forma de ranking”. (WERLE, 2010, p. 25).
Nesse sentido, como registra Bauer (2013) há uma contraposição da “ideia de
cultura de avaliação à de cultura da informação, na qual se valoriza a informação
pela informação, muitas vezes descolada de sentido e uso no sistema de ensino.”10
(BAUER, 2013, p. 127, grifo nosso). Como contraponto, em meio ao jogo político e à
correlação de forças que ampliam as possibilidades de olhar as políticas, a avaliação
pode contribuir com o esclarecimento dos processos educativos formais ao primar
pela qualidade e pela diversificação dos formatos das informações veiculadas,
ultrapassando a perspectiva da avaliação burocrática que ignora contextos.
Há necessidade de que o teor e a forma como as mensagens são veiculadas
sejam adequados “para diversas audiências da avaliação: secretários de educação,
coordenadores/dirigentes regionais, diretores e coordenadores das escolas e
professores” (BAUER, 2013, p. 133), sob pena de provocar competições, vigilância e
controle inadequados do ponto de vista pedagógico, num jogo inócuo, incapaz de
produzir os efeitos inicialmente pretendidos. Nessa linha de pensamento, as
intencionalidades político-pedagógicas que legitimam a avaliação precisam estar
bem claras e bem definidas.
Os dados provenientes da avaliação externa podem: a) indicar referenciais e
subsídios para a definição ou o aprimoramento de políticas educacionais; b)
constituir-se em um dos indicadores da qualidade do ensino; c) orientar gestores do
sistema na questão da formação continuada; d) contribuir para a definição de
estratégias de ensino com vistas à superação de dificuldades encontradas pelos
10 Esse posicionamento é fruto da sistematização do debate e das reflexões ocorridas em 2012 no
Ciclo de Debates – 25 anos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil, realizado pela Fundação Carlos Chagas.
44
alunos; e) definir critérios mais justos para destinação de verbas públicas, dentre
outros aspectos.
Sobre o papel desempenhado pelas avaliações, Afonso (2009, p. 18) postula
que “a existência de diferentes formas ou modalidades de avaliação traduz
frequentemente diferentes funções (manifestas ou latentes) da avaliação, mas
também é verdade que uma mesma modalidade de avaliação pode atender a mais
do que uma função”, seja para assumir dimensões de responsabilização profissional,
seja para conduzir políticas de autonomia, distintas de algumas práticas punitivas
que potencializam as relações de dominação e os mecanismos de responsabilização
pela via dos sistemas avaliativos em larga escala.
1.3 Trajetória, caracterização e institucionalização do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica no Brasil
Há quase três décadas, a avaliação em larga escala foi instituída no contexto
da educação brasileira. Entre os marcos históricos dos antecedentes do Saeb estão
as experiências originadas nos anos 1980, década “especialmente rica no relativo à
elaboração e implementação de programas educacionais, notadamente nos Estados
mais desenvolvidos, cuja pressão por mais e melhores escolas se fazia mais
presente.” (GATTI; VIANNA; DAVIS, 1992, p. 7).
Dentre as pressões por mais escolas, destaca-se em 1980 a implantação do
Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural do Nordeste
(Edurural/NE), sob responsabilidade do então Ministério da Educação e Cultura,
originado em cumprimento de obrigações assumidas no Contrato MEC/Bird n.º
1867/BR/1980. Segundo o Decreto n.º 85.287/1980, esse Programa objetivava “a
expansão das oportunidades educacionais e a melhoria das condições da educação
no meio rural do Nordeste, bem como o fortalecimento do processo de planejamento
e administração educacionais.” (BRASIL, 1980, s/p).
Em 1987, a Fundação Carlos Chagas (FCC) realiza a primeira pesquisa de
avaliação do rendimento escolar no âmbito do Projeto Nordeste para a Educação
Básica, experiência realizada de forma amostral. Essa atividade contou com a
contribuição da Fundação Cearense de Pesquisa (FCP), da Universidade Federal do
Ceará (UFC), além da participação de pesquisadores estrangeiros.
45
Segundo informação de Gatti, Vianna e Davis (1992), como o Banco Mundial
assumiu um terço dos custos do Edurural, uma das contrapartidas exigidas tratava-
se da execução de uma avaliação de desempenho a ser realizada de forma externa
a esse Programa. O pioneirismo desse e de outros trabalhos realizados na década
de 1980 lançou as bases para as experiências de avaliação em larga escala
efetivadas na década subsequente; assim, os elementos iniciais serviram de
subsídio para o delineamento e a implementação do sistema de avaliação nacional
da educação básica. Para Zakia Sousa, o Edurural é considerado um “marco no
desenvolvimento de avaliação de rendimento escolar, como meio para aferir
qualidade de ensino, recorrendo-se a procedimentos externos às escolas.” (SOUSA,
2005, p. 21).
Numa retrospectiva histórica, Bonamino (2002) e Werle (2011) identificam o
ano de 1988 como o marco da criação do 1º ciclo do Sistema de Avaliação do
Ensino Público de 1º Grau (Saep), considerada a primeira iniciativa com vistas a
implementar avaliações externas dos sistemas de ensino no Brasil para avaliar a
proficiência, associada a variáveis conjunturais como o nível socioeconômico dos
alunos.
De acordo com Gonçalves (2005), essa primeira realização do Ministério da
Educação e do Desporto (MEC) efetivou-se sob a forma de projeto piloto em escolas
públicas de primeiro grau, incluindo os Estados do Paraná e do Rio Grande do
Norte, numa clara intenção de, a partir dessa experiência piloto, expandir para uma
configuração nacional os sistemas de avaliação externa. Para Zakia Sousa (1997),
havia um paradoxo, pois enquanto as pesquisas indicavam implicações
educacionais e sociais da avaliação, o poder público recorria à testagem do
rendimento do aluno.
Numa visão panorâmica, a consolidação do Saeb dá-se a partir dos seguintes
marcos:
46
QUADRO 1 – VISÃO PANORÂMICA DA CONSOLIDAÇÃO DO SAEB NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA
Ano Marcos
1987 Avaliação de desempenho no âmbito do Edurural (referência para o Saeb).
1988 1ª avaliação nacional (Saep) – projeto piloto realizado nos estados do PR e do RS.
1990 1º ciclo do Saeb - coordenado pelo Inep, envolveu a participação e o apoio das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação das 27 Unidades da Federação.
1992 O Inep assume os trabalhos do Saeb.
1993 2º ciclo do Saeb (realizado bianualmente a partir de então de forma censitária).
1995 Nova metodologia incorporada (TRI).
Realizado de forma terceirizada, por meio de convênios com a Fundação Cesgranrio e com a Fundação Carlos Chagas (preparação e aplicação das provas).
1997 Elaboração das Matrizes de Referência (com descrição de competências e habilidades, por série avaliada).
2001 Realização do 6º ciclo – atualização das Matrizes de Referência em conformidade com os PCN.
2005 Normatizado pela Portaria Ministerial n.º 931, o Saeb tem seu nome alterado para Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), contudo, o nome Saeb foi mantido nas publicações, demais materiais de divulgação e aplicação dos exames.
Instituição da Prova Brasil (censitária) – realizada bienalmente.
2007 Por meio da Portaria Normativa n.º 10, de 24 de abril, o MEC cria a Avaliação da Alfabetização Infantil - Provinha Brasil (realizada duas vezes ao ano: no início – até abril; e no final – até novembro). Trata-se de um instrumento pedagógico, sem fins classificatórios; não é considerada uma avaliação externa (é aplicada pelos próprios profissionais da rede: professores, coordenadores, gestores) aos alunos que têm, no mínimo, um ano escolar dedicado ao processo de alfabetização).
Criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Apresentado numa escala de zero a dez, tem como meta alcançar o índice 6 (seis), o mesmo resultado obtido pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
2008 1ª edição da Provinha Brasil (censitária/semestral), avaliando habilidades em leitura (foco na alfabetização e letramento inicial). Cada avaliação contém 20 questões de múltipla escolha, cada uma com quatro opções de resposta.
2011 Inclusão da Matemática na Provinha Brasil (a partir do 2º semestre, com foco na resolução de problemas).
2013 Realização da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA),11
caracterizada como avaliação delineada para acompanhar a eficácia do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), lançado em 2012.
FONTE: Organizado com base em informações nos sites oficiais do MEC e do TODOS PELA EDUCAÇÃO.
Em 1990, o Ministério da Educação (MEC) criou o Sistema de Avaliação do
Ensino Público de 1º Grau (Saep), intitulado posteriormente como Sistema
11
A ANA é externa, censitária, aplicada anualmente no 3º ano (EF), por meio de questionários contextuais e teste de desempenho, com o intuito de aferir o nível de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa e alfabetização em Matemática. Criada em 2012 e iniciada em 2013, no ano de 2015 é cancelada. O corte de gastos é o principal motivo alegado pelo Governo Federal. (SALDAÑA, 2015).
47
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb),12
em todos os Estados da
Federação, realizado de forma amostral, com o objetivo de “oferecer subsídios para
a formulação, reformulação e monitoramento de políticas públicas, contribuindo,
dessa maneira, para a melhoria da qualidade do ensino brasileiro.” (BRASIL, 2008,
p. 9). Note-se que a concepção inicial dá-se na direção de um sentido amplo:
orientar políticas públicas, sem se deter aos contextos específicos das instituições
de ensino.
Assim, oficialmente declarado, o objetivo central da primeira edição do Saeb
consistiu em “promover uma avaliação externa e em larga escala da educação no
Brasil, visando a construir dois tipos de medidas. A primeira, da aprendizagem dos
estudantes e, a segunda, dos fatores de contexto correlacionados com o
desempenho escolar.” (BRASIL, 2006, p. 11). Com base no formato de divulgação
dos resultados, sobretudo com ampla divulgação nos meios de comunicação de
massa, dá-se antes muita ênfase aos resultados de desempenho individual dos
estudantes nas provas do que aos fatores de contexto que, em conjunto com os
dados ou em cruzamento com estes, poderiam retratar de uma forma muito mais
completa o desempenho do escolar e a realidade das escolas. Com essa postura, a
gestão dos sistemas de sistemas não aproveita todo o potencial de uso da avaliação
em larga escala no âmbito da política educacional.
Em 2005, há uma reestruturação do Saeb, ato formal publicado sob Portaria
Ministerial n.º 931, de 21 de março. Com essa reformulação, este sistema nacional
passa a ser composto por dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica
(Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc).
Desde então, o Saeb, realizado a cada dois anos:
é composto por duas avaliações complementares. A primeira, denominada Aneb – Avaliação Nacional da Educação Básica, abrange de maneira amostral os estudantes das redes públicas e privadas do país, localizados na área rural e urbana e matriculados no 5º e 9º anos do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio. Nesses estratos, os resultados são apresentados para cada Unidade da Federação, Região e para o Brasil como um todo. A segunda, denominada Anresc - Avaliação Nacional do Rendimento Escolar, é aplicada censitariamente aos alunos de 5º e 9º anos do ensino fundamental público, nas redes estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana, em escolas que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avaliada. Nesse estrato, a prova
12
A formalização do Saeb ocorre quatro anos depois por meio da Portaria n.º 1.795/1994, assinada pelo então presidente Itamar Franco. A mudança da nomenclatura de Saep para Saeb efetivou-se para atender às alterações da CF/1988 que consagrou o termo educação básica que corresponde à junção da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio.
48
recebe o nome de Prova Brasil e oferece resultados por escola, município, Unidade da Federação e país que também são utilizados no cálculo do Ideb. (BRASIL/INEP, 2011, não p.).
A Aneb mantém-se na mesma direção do Saeb, por seu caráter amostral
(sorteio de escolas) apresenta resultados de desempenho em termos de Brasil,
regiões e Estados, a partir de dados coletados por meio de questionários que são
aplicados para turmas que contenham entre 10 (dez) a 19 (dezenove) alunos, no
mínimo. Seu principal objetivo consiste em “avaliar a qualidade, a equidade e a
eficiência da educação brasileira.” (BRASIL, 2011b, não p.). Nesse sentido, o seu
uso serve como subsídio orientador de políticas públicas para os órgãos gestores da
educação.
A Anresc dá origem a um novo formato de avaliação em larga escala,
conhecido sob o nome de Prova Brasil. Aplicada de forma censitária diretamente a
estudantes das séries finais da primeira e da segunda terminalidade do ensino
fundamental, respectivamente 5º e 9º ano, com o critério de que cada turma avaliada
possua pelo menos 20 (vinte) alunos matriculados. O principal objetivo da Prova
Brasil é “avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas”. (BRASIL,
2011b, não p.). Seu potencial de uso tem alcance de diagnosticar médias de
desempenho para municípios e escolas.
A ideia central que fundamenta a criação da Prova Brasil13 é dimensionar os
resultados educacionais por unidade escolar, por meio da coleta de informações
sistemáticas para que gestores de cada escola possam ter um diagnóstico mais
próximo de sua realidade e, também, melhorar os padrões de equidade e qualidade
da educação ofertada e, ainda, adequar o controle estatal a partir dos resultados
apresentados. Contudo, nessa perspectiva censitária, ampliam-se os riscos da
utilização do ranking de escolas, da comparação desmedida que tende a
desconsiderar outros indicadores de qualidade e as reais condições de
funcionamento das unidades escolares.
Como decorrência, gestores, pais de alunos, professores e demais
trabalhadores da educação absorvem e internalizam a cultura do ranking como
integrante da identidade da escola. Essa postura não é generalizada no âmbito
administrativo, educacional e social, mas pode acontecer quando a “difusão de uma
13
Um estudo detalhado da Prova Brasil como política de regulação da rede pública de educação encontra-se em Oliveira (2012).
49
cultura avaliativa baseia-se na expectativa de que a simples divulgação dos
resultados obtidos por sistemas e por escolas induza a melhoria de qualidade”
(OLIVEIRA; SOUSA, 2010, p. 31); contudo, tal prerrogativa não significa que os
elementos necessários para produzir um ensino de qualidade não devam ser
avaliados.
O ranking de escolas serve à lógica de mercado. Para a escola particular,
ocupar um lugar de destaque nos exames nacionais significa a possibilidade
concreta de alcançar um aumento real nos lucros da empresa, contudo, o “lucro” da
escola pública é a democratização do ensino e de seus processos, bem como a
qualidade do conhecimento que é assimilado pelos alunos. Diferente do campo
desportivo em que a competição é inerente, no campo educacional, do ponto de
vista pedagógico, este elemento não compõe o processo educativo.
No Brasil, os exames em larga escala geralmente avaliam áreas específicas
do conhecimento: Língua Portuguesa – com foco nas habilidades de leitura e
interpretação de diferentes gêneros textuais – e Matemática com foco na resolução
de problemas. No âmbito do Saeb, houve experiências em outras áreas do
conhecimento. Segundo o Documento Básico que trata da inclusão de Ciências no
Saeb, tal inserção consiste em ampliar a avaliação da educação básica de forma a
melhorar a informação sobre as redes públicas de educação, consolidando saberes
essenciais dessa apropriação sobre as áreas e componentes curriculares
obrigatórios, assim:
A matriz de referência de 1997 era constituída das áreas/disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Física, Química e Biologia. Em 1999, foram acrescidas História e Geografia, e Ciências passou a ser designada como Ciências Naturais. Os testes de Ciências Naturais, História, Geografia, Química, Física e Biologia foram aplicados apenas em 1999, não constando nas avaliações seguintes. (BRASIL/INEP, 2013, p. 10).
Apesar do reconhecimento da necessidade de inclusão dessas áreas, a partir
de 2001 o Saeb centrou seu foco nos conteúdos essenciais de interpretação de
textos e raciocínio matemático, tendo como ponto central conhecimentos
elementares correspondentes a cada série avaliada, considerados pelos sistemas
avaliativos como amostras do domínio do currículo.
Os objetivos das avaliações em larga escala são mais amplos e têm
configuração distinta da avaliação da aprendizagem, esta última realizada pelos
professores no âmbito da sala de aula, ou mesmo por meio de atividades
50
extraescolares, muito embora possam se constituir como avaliações
complementares.
Como uma modalidade avaliativa externa, a avaliação em larga escala
constitui-se de atos formais, atém-se a um rigor metodológico, tem uma
conformação burocrática (data, horário, hierarquia etc.) e, no geral, é obrigatória aos
alunos matriculados nas escolas públicas. Ademais, tem objetivos previamente
definidos, segue passos planejados a priori e realiza-se por meio de técnicas e
procedimentos palpáveis (a prova é o mais comum deles), com a finalidade de
diagnosticar indicadores de qualidade do ensino e, além disso, explicitar dados e
informações organizados de tal modo que possam vir a fundamentar respostas para
os problemas identificados.
Ao se considerar os objetivos, a natureza, a amplitude e o alcance da
avaliação da educação básica, por questões operacionais, nem o Saeb Nacional,
nem o Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape/AC) utilizam
questões abertas, testes orais, provas práticas, autoavaliação e observação ou
registros em situações reais de aprendizagem.
Com a intencionalidade de diagnosticar a avaliação da educação básica,
essas macroavaliações são aplicadas por meio de testes de múltipla escolha, em
séries específicas da escolarização. São realizadas de forma externa às instituições
de ensino, abrangem aspectos intra e extraescolares, pois também incluem a
aplicação de questionários socioeconômicos aos alunos participantes e a alguns
membros da comunidade escolar.
No geral, são utilizados testes de proficiência elaborados a partir de matrizes
de referência previamente definidas, por área de conhecimento, que orientam a
elaboração dos itens componentes da avaliação, para produzir indicadores de
diferentes habilidades em níveis ou escalas de proficiência. Nessa linha, os
conteúdos são associados às competências cognitivas e habilidades instrumentais
que lhes são próprias, expressas em forma de descritores do desempenho do aluno.
Os descritores do desempenho desejável do aluno, no seu conjunto, expressam a
totalidade dos indicadores necessários para a orientação da construção de itens das
avaliações padronizadas.
Os testes estandardizados ou padronizados empreendidos por meio de
avaliações externas à escola são dissociados dos sujeitos e da dinamicidade dos
contextos escolares e são tomados como referência (muitas vezes, como única
51
referência) para investigar a qualidade do ensino no país, mas não sem haver
enfrentamentos e duras críticas às avaliações como forma utilizada para monitorar o
rendimento escolar e os sistemas de ensino que, no caso brasileiro, estes não têm
uma homogeneidade nacional.
Geralmente, a avaliação em larga escala utiliza a teoria de resposta ao item
(TRI). Essa metodologia caracterizada como “um conjunto de modelos onde a
probabilidade de resposta a um item é modelada como função da proficiência do
aluno (variável não observável) e de parâmetros (que expressam certas
propriedades) do item” (KLEIN; FONTANIVE, 1995, p. 31). A TRI é considerada uma
metodologia de avaliação consolidada que possibilita a análise de cada questão
(item), por meio de procedimentos matemáticos e estatísticos, além da utilização de
recursos computacionais. Constitui-se de:
um conjunto de modelos matemáticos que procuram representar a probabilidade de um indivíduo dar uma certa resposta a um item como função dos parâmetros do item e da habilidade (ou habilidades) do respondente. Essa relação é sempre expressa de tal forma que quanto maior a habilidade, maior a probabilidade de acerto no item. (ANDRADE; TAVARES; VALLE, 2000, p. 7).
Cada item (ou questão) tem pesos diferenciados, é elaborado com
alternativas de múltipla escolha, separado por nível de complexidade, normalmente
mediante a realização de pré-testes e expresso em escalas de proficiência. “Os itens
podem ser do tipo binário, certo ou errado, como, por exemplo, na múltipla escolha,
ou do tipo polítomo, como em questões onde o aluno tem que escrever a resposta e
esta é classificada em uma de várias categorias ordenadas.” (KLEIN; FONTANIVE,
1995, p. 31).
Quando o processo avaliativo mantém os mesmos itens ao longo de séries
históricas, potencializa a possibilidade de estabelecer comparações das
proficiências (habilidades) avaliadas, preservando-se o grau de dificuldade de cada
item, assim como contribui para diminuir a possibilidade de acerto de forma
aleatória, o “chute” (BRASIL, 2011c). Cada item do exame realizado avalia uma
única habilidade e, por esse motivo, é considerado sob uma única dimensão. Ao
longo das edições das avaliações em larga escala, as questões são elaboradas
considerando a mesma matriz de referência, os mesmos níveis de dificuldade e o
mesmo rol de descritores em cada disciplina e série avaliada; isso permite
comparações em séries históricas, assim como a utilização de itens âncoras.
52
Para Andrade, Tavares e Valle (2000, p. 110), “para um item ser âncora ele
deve ser um item ‘típico’ daquele nível, ou seja, bastante acertado por indivíduos
com aquele nível de habilidade e pouco acertado por indivíduos com um nível de
habilidade imediatamente inferior” e, segundo este entendimento, isso equivale a,
dentre outros critérios, a frequência de acertos. Para um item ser classificado como
âncora é necessário que, pelo menos, 65% dos avaliados tenham acertado a
questão e que metade deles não tenha apresentado desempenho negativo no item
avaliado.
No geral, o Estado investe na avaliação em larga escala como forma de
diagnosticar o desempenho dos alunos e produzir indicadores sobre os sistemas de
ensino, sobretudo para subsidiar as políticas educacionais. Nesse propósito, há
vários elementos considerados importantes, dentre eles, a legitimidade dos
processos avaliativos externos, decorrente da força política dos grupos que
compõem o Estado, seja para justificar a necessidade, seja para construir
coletivamente um projeto de avaliação.
O sentido da avaliação não está em si mesmo, mas nos processos
definidores de subsídios orientadores de planejamentos e de replanejamentos,
sejam estes de cunho administrativo (por exemplo, fortalecimento da gestão
democrática dos sistemas de ensino), sejam aqueles de cunho pedagógico (como
investimentos na formação continuada e contínua do professor). Levar em
consideração essas questões significa que a avaliação pode contribuir quer para
detectar experiências exitosas no campo educativo, quer para detectar áreas frágeis
que necessitam de mais atenção e investimentos por parte dos órgãos gestores da
educação.
1.4 Fundamentos, consequências e bases legais da avaliação em larga escala
Ao analisar a forma de comunicar os objetivos, os desenhos usuais, os
resultados e as consequências geradas pelas avaliações em larga escala, Bonamino
e Sousa (2012) consideram três gerações de avaliação da educação básica no
Brasil: a primeira nominada ingênua, a segunda low stakes ou de responsabilização
53
branda (simbólica) e a terceira high stakes ou de responsabilização forte (material).14
Na primeira geração, a avaliação tem a finalidade de “acompanhar a evolução
da qualidade da educação” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 375), sem a intenção de
que os resultados cheguem até a escola e “apresenta baixo nível de interferência na
vida das escolas e no currículo escolar.” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 377).
Segundo as autoras, do ponto de vista empírico esta primeira geração é demarcada
pelo caráter diagnóstico das primeiras edições do Saeb.
Nas avaliações de segunda geração, vinculadas às políticas com potencial
low stakes, as consequências são apenas simbólicas. Os resultados são publicados,
divulgados e devolvidos à escola sem que alcancem implicações materiais. Seus
efeitos de responsabilização são considerados sob a forma branda, visto que é
possível observar a intencionalidade de “apropriação das informações sobre os
resultados da escola pelos pais e pela sociedade.” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p.
375). Há incidência de uma responsabilização acionada tanto em relação à
comunidade interna como em relação à comunidade externa à escola, expressa,
sobretudo, por meio da divulgação de rankings de escolas, mesmo que este não
seja objetivo oficial divulgado no projeto da avaliação e nos processos que
oficializam as políticas avaliativas externas.
Segundo Bonamino e Sousa (2012), a Prova Brasil e o uso dos seus
resultados para compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
“integram uma política de responsabilização branda, uma vez que se limitam a traçar
metas e a divulgar os resultados dos alunos por escola e rede de ensino, sem atrelar
prêmios ou sanções a esses resultados.” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 380).
Numa publicação posterior, Bonamino trata sobre esta questão da seguinte forma:
a Prova Brasil e a maioria das avaliações estaduais fizeram parte, ou ainda fazem, da segunda geração e arranjos diferenciados da terceira geração são encontrados em mais de um terço das avaliações estaduais e avaliações longitudinais estão presentes de forma emergente em pelo menos cinco estados brasileiros. (BONAMINO, 2013, p. 32).
Mais importante que classificar as consequências das avaliações em larga
escala num ou outro estágio, talvez seja considerar o quê se faz a partir dos
resultados (no campo das políticas educacionais, da gestão, do currículo etc.),
14 Essa segunda e terceira nomenclatura são assim definidas pelas autoras sob a inspiração de
Carnoy; Loeb (2002) e Brooke (2006).
54
pensar a avaliação como integrante do processo educativo e como cada ator social
pode assumir sua parcela de responsabilidade.
Nesse sentido, a literatura tem indicado que a responsabilização
(accountability) pode assumir um caráter propositivo, na direção de uma
responsabilidade compartilhada (DIAS SOBRINHO, 2008b) entre poder público,
profissionais da educação e sociedade civil representada nos conselhos escolares,
nos conselhos de educação, dentre outros formatos de organização e deliberação
previstos na legislação e mesmo em espaços criados por intermédio dos
movimentos populares. E este formato de responsabilização pode suscitar reflexões
acerca da necessidade de alterações nas estruturas de poder e na própria dinâmica
das instituições de ensino.
Baseado em outro formato que também pode ser incorporado ao discurso
educacional, a responsabilização pode ter o propósito de eximir o Estado cada vez
que se detectar um aspecto relacionado à ineficiência no cumprimento das metas
traçadas e das obrigações deste ente para com os sistemas educativos. Nessa
lógica, Ferreira e Tenório postulam que nesse cenário:
se fortaleceu um discurso de que a origem dos problemas estaria relacionado à falta de controle sobre o trabalho das escolas e, portanto, à necessidade de desenvolver mecanismos de pressão social para garantir uma maior participação e responsabilidade da sociedade com os resultados da escolarização. (FERREIRA; TENÓRIO, 2010, p. 84).
Esse controle não se sustenta mais nos moldes tradicionais de vigilância e
controle exacerbados que venham a comprometer de forma muito explícita os
princípios democráticos historicamente conquistados e nem no discurso vago da
descrença nos processos de escolarização, neste ponto sob a acusação de que os
sistemas de ensino são ineficientes ou que sejam onerosos demais para a
sociedade. A pressão efetiva-se no sentido de garantir o cumprimento da função
social da escola, muito embora o foco do Estado possa ser o de impulsionar
mecanismos de responsabilização unilateral.
A terceira geração chamada de high stakes ou de responsabilização forte,
justamente pelo fato de as avaliações serem assim classificadas “quando as
consequências são sérias” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 375), ocorre quando as
consequências se materializam em:
55
consequências administrativas visíveis para os envolvidos [...].Nesse caso enquadram-se experiências de responsabilização explicitadas em normas legais envolvendo bonificação, premiação, gratificação ou quaisquer outros mecanismos de remuneração em função de metas estabelecidas e de avaliação, com legislação especificando a forma de cálculo dessas metas e critérios de distribuição dos recursos financeiros. (ZAPONI; VALENÇA, 2009, p. 4).
Ainda que a justificativa da política de responsabilização esteja pautada
oficialmente na:
tentativa de melhorar os resultados das escolas mediante a criação de consequências para a escola ou para professores individuais, sejam elas materiais ou simbólicas, de acordo com o desempenho dos alunos medido por procedimentos avaliativos estaduais ou municipais. (BROOKE, 2008, p. 94).
As consequências para as escolas são operacionalizadas por meio de
estratégias justificadas na necessidade de melhorar o desempenho escolar e isso
pode contribuir para provocar certa naturalização dos processos regulatórios dos
sistemas de ensino pela via da avaliação em larga escala. Essa naturalização junto,
com o que Sudbrack e Cocco (2014) denominam significado simbólico, fortalece os
pilares da regulação, pois:
o que está em jogo na avaliação é também seu significado simbólico, à medida que o poder central manifesta seu poder político, embora não transpareçam de forma visível seus mecanismos, já que são encobertos por semânticas especiais, como qualidade e competitividade. De todo o modo, o poder político funda os mecanismos de avaliação externa em vigor. (SUDBRACK; COCCO, 2014, p. 366).
A simbologia inerente às práticas avaliativas é oriunda principalmente dos
órgãos gestores da educação que utilizam o aparato institucional do Estado. Assim,
a ação regulatória advinda do poder político do Estado, além de contar com todo o
seu aparato operacional e jurídico, tem sob seus auspícios o poder de se reinventar
e de controlar os indivíduos por meio de uma simbologia observada, por exemplo, no
uso corrente da linguagem dominante e do discurso facilmente assimilado do direito
a uma educação de qualidade e, ainda, da necessidade de transparência na
utilização dos recursos públicos.
Nesse controle, entra em jogo uma perversa disputa real e simbólica que forja
a apresentação de resultados desvinculados do contexto, do processo histórico-
social dos indivíduos e das condições materiais em que estes atuam nas redes
públicas de ensino. Sob o viés simbólico e a força da sua sutileza, como postula
Horta Neto (2013): “a regulação passa a ser algo mais sutil que a regulamentação,
56
pois implica o desenvolvimento de sofisticados mecanismos, simbólicos ou efetivos,
que superam os simples regramentos institucionais.” (HORTA NETO, 2013, p. 40).
Para o autor, este ponto vincula-se a uma questão maior, pois implica a criação de
culturas institucionais marcadas pela centralização da avaliação educacional que
pouco repercute nos processos de aprendizagem.
Sob a lógica da regulação e do controle, o processo de elaboração e
implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1997):
emergem com a aprovação da LDB e substituem a estrutura anterior, que estabelecia a existência de currículos mínimos nacionais. Ainda que não obrigatórios, passam a ser utilizados para elaboração das provas de testagem em larga escala, adquirindo, em função disso, a característica de serem tendencialmente compulsórios, uma vez que a opção por não segui-los pode acarretar prejuízos ao sistema de ensino nos processos de avaliação. (OLIVEIRA; SOUSA, 2010, p. 29, grifo nosso).
A definição dos PCN e a avaliação nacional da educação básica se originam
a partir de iniciativas do governo central da educação. No Brasil, não há um currículo
único de caráter nacional, os PCN são orientações gerais, contudo, nas avaliações
há uma tendência à padronização de conteúdos seguida pela Matriz de Referência
do Saeb. A influência dos PCN é tão significativa que, por exemplo, os livros
didáticos adotados pelas escolas do País são elaborados a partir desses
referenciais. Mesmo sem um currículo nacional único, a avaliação é conduzida pelo
Governo Federal em caráter nacional, ou seja, a mesma prova aplicada numa região
é aplicada em todas as localidades do Brasil, sem considerar as diferenças e a
diversidade inerentes aos contextos.
Na década de 1990, em conformidade com Oliveira e Sousa (2010), houve
exames ou avaliações em todos os níveis do sistema, com destaque para as
funções de inspeção e supervisão, por meio de mecanismos de aferição do controle
do produto, ou seja, os exames padronizados. Do ponto de vista:
da gestão do sistema, eles pretendem ser o instrumento que propicia, aos níveis decisórios, capacidade de “indução” de políticas e controle dos segmentos avaliados. Esse redimensionamento faz com que os responsáveis pela definição do que deverá ser examinado passem a deter poder indutor sobre o conjunto do sistema educacional, sem ter que arcar com o ônus de eventuais insucessos na gestão direta. É o controle que se exerce à distância. (OLIVEIRA; SOUSA, 2010, p. 30).
O processo de avaliação nacional é previsto no inciso VI, do Art. 9º da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) n.º 9.394/1996. Este confere à União a incumbência de
“assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino
57
fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino,
objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino”. No
Inciso IX do Art. 3º, o mesmo texto legal preceitua a “garantia de padrão de
qualidade”, como um dos princípios e fins da educação nacional (BRASIL, 1996).
Em que pese ser função do Governo Federal exercer esse controle à
distância e coordenar as políticas educacionais mais amplas, o mero exercício da
autoridade ao realizar a avaliação em larga escala ou mesmo a divulgação dos
resultados não são suficientes para expressar compromissos e responsabilidades
com a qualidade do ensino público no país.
Muito embora a qualidade do ensino seja uma questão ampla e complexa e
se constitua em um campo minado por controvérsias, o Saeb como sistema de
avaliação nacional pode subsidiar a formulação, a reformulação e o monitoramento
das políticas públicas delineadas para a educação básica, especialmente porque
detém séries históricas, permitindo comparabilidade dos resultados, com
metodologia15 mantida desde 1995, de forma a viabilizar a comparação dos
resultados entre as edições. Além disso, o Saeb contribui com a identificação de
construtos significativos nas pesquisas acerca do tema, bem como para a
consolidação de uma cultura avaliativa nas instituições de ensino em todo o país.
A sustentabilidade legal da avaliação educacional como política pública é
também prevista no Art. 87, parágrafo 3º, inciso IV da LDB em vigor que estabelece
como responsabilidade do Distrito Federal, de cada Estado e Município, e,
supletivamente, a União: “integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental
do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento escolar.” (BRASIL,
1996).
Ainda como arcabouço legal, o texto constitucional (CF/1998) estabelece no
Inciso VII do Art. 206 a “garantia de padrão de qualidade” (BRASIL, 1998) e tal
prerrogativa suscita “questionamentos que dizem respeito, também, à avaliação
educacional” (FREITAS, 2007, p. 64), pois da mesma forma que não há um padrão
único do que seja qualidade, também não há um só formato ou metodologia de
avaliação. Assim sendo, avaliação e qualidade dos sistemas educacionais são
15
Segundo informações do Inep, “até 1993 o SAEB utilizou a Clássica de Testes (TCT) para a construção dos instrumentos, atribuição dos escores e análise dos resultados, não havendo planejamento para uma comparação dos resultados. A partir de 1995, foi introduzido o uso da Teoria de Resposta ao Item (TRI) para a construção de instrumentos, a atribuição de escores e a análise, de forma a viabilizar a comparação dos resultados.” (BRASIL, 2011d, não p.).
58
questões que estão conectadas e precisam ser consideradas de forma
contextualizada, uma vez que variam conforme o tempo histórico e o contexto em
que estes temas se situam.
O processo de institucionalização do sistema de avaliação da educação
brasileira ganha força com o Plano Nacional de Educação (PNE 2001-2010).16
Dentre as cinco prioridades estabelecidas destaca-se o desenvolvimento de
sistemas de informação e avaliação como instrumento indispensável para a gestão
do sistema educacional, vinculado à qualidade do ensino.
O novo Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024), ao mesmo tempo em
que reconhece o Saeb como fundamental para a orientação das políticas públicas
da educação básica, recomenda englobar o ensino de ciências nos exames
aplicados nos anos finais do ensino fundamental e indica sua ampliação para: a) a
educação profissional técnica de nível médio das redes escolares públicas e
privadas; b) a avaliação da educação infantil e para a alfabetização: e c) desenvolver
indicadores específicos de avaliação da qualidade da educação especial e da
educação de jovens e adultos com mais de 15 (quinze) anos de idade. Além disso,
indica a necessidade de universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),
articulando-o com o Saeb.
Para além da avaliação de desempenho do aluno, o novo PNE indica a
necessidade de melhorar o desempenho dos alunos da educação básica tanto no
Ideb como no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Assim,
delineia como estratégia para o alcance da Meta 7, que diz respeito ao fomento da
qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades de ensino,
constituir indicadores nacionais de avaliação institucional e, também, a indução de
processo contínuo de autoavaliação das escolas de educação básica.
A avaliação educacional externa é reconhecida como uma política
consolidada. Essa constatação não suprime a necessidade da crítica e da
argumentação, ainda que muitas vezes o debate seja limitado ou substituído pela
naturalização dos discursos justificados pela necessidade de monitoramento da
qualidade dos serviços públicos prestados e dos recursos despendidos na
educação. Reconhecer a avaliação como demanda inerente ao processo educativo
16
Homologado em 9 de janeiro de 2001, por meio da Lei n.º 10.172, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 12 de jan.2014.
59
é um passo importante, assim como é relevante visualizar as críticas atinentes à
questão.
1.5 Avaliação em larga escala: conexões com a regulação educacional,
constituição de sistemas avaliativos estaduais e aproximações iniciais
com o caso do Acre
Em todos os momentos históricos da educação brasileira há formas de
regulação. A regulação com ênfase nos resultados é uma das formas de regulação e
tem uma sintonia com a lógica gerencial do Estado.
Segundo Bresser Pereira (2001), o sistema de controle gerencial propõe três
formatos: controle por resultados contratados, pela competição controlada e pelo
controle social. Nesse entendimento, há um conjunto de prerrogativas que incitam,
dentre outras questões propostas no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado, um “redesenho institucional e gerencial baseado no controle social”
(BRASIL, 1995, p. 57), em que o Estado continuaria responsável pelos serviços
sociais, dentre eles a educação, mas na percepção da regulação, do controle social
e da “participação popular tanto na formulação quanto na avaliação de políticas
públicas” (BRASIL, 1995, p. 46), como forma de aperfeiçoar a prestação de serviços
públicos.
No Brasil, a regulação é incorporada a um formato que ficou conhecido como
administração pública gerencial ou nova gestão do setor público (new public
managemen), um modelo normativo pós-burocrático pautado em valores como:
eficiência, eficácia e competitividade. Teorizada por Hood (1991) como Nova
Administração Pública (NAP), uma estratégia de lançar elementos para
compreender como distintas as questões políticas (elementos decisórios da
formulação) e as administrativas (principais operadores das políticas).
O fundamento básico da NAP é a lógica de mercado, assim, seu enfoque está
nos resultados e não nos processos, e isso, no campo educacional, por vezes,
reflete-se na absorção de pontos de vistas advindos das empresas, daí injetam-se
conceitos próprios deste campo na educação.
Sob essa lógica, os arranjos empreendidos transformam alunos em clientes,
objetivos educacionais em metas, planejamento em controle organizacional, escolas
em estruturas organizacionais, e a questão não se esgota nas conotações
60
linguísticas, mas na dinamicidade de condução dos processos educativos. E isso
permeia o campo educacional de tal forma que, por vezes, naturaliza-se a questão
como, por exemplo, nos casos da gestão por resultados e das políticas de
bonificação para professores, gestores e escolas, atrelada ao cumprimento de
metas.
No âmbito educacional, o controle gerencial exercido tem na avaliação uma
forma de medir e monitorar o desempenho das escolas. Esse tipo de controle se
estabelece por meio de novos modelos focados no desempenho do aluno e na
política de resultados. No caso brasileiro, essa política é mesclada com os novos
formatos de controle burocrático focados no ajuste fiscal presente na onda de
reformas dos anos 1990, justificados tanto nas crises dessa década, como pela
legítima necessidade de prestação de contas dos investimentos públicos em
educação e, ainda, pela necessidade de se exercer, por meio de uma maior
participação política, um maior controle social sobre as ações do Estado.
Ainda que o controle gerencial tenha se servido da avaliação como forma de
medir e monitorar o desempenho das escolas com vistas a controlar a produtividade,
a avaliação em larga escala também pode integrar um conjunto de políticas públicas
no sentido de promover um diagnóstico do desempenho educacional que se coloque
a serviço da melhoria do ensino público e, nesse sentido, o controle é realizado sob
o viés social e pode ser exercido de forma propositiva. Nessa linha, Freitas (2007)
postula que a avaliação em larga escala pode ser um instrumento mais consistente
de monitoramento das políticas públicas se realizada de forma articulada com a
avaliação institucional, efetuada no âmbito da escola e pelos próprios profissionais
que nela trabalham e mesmo com a avaliação da aprendizagem efetivada no
cotidiano do trabalho pedagógico.
Para Fernandes (2009), as críticas às avaliações externas “referem-se quer à
forma, quer ao conteúdo das medidas tradicionais, vulgo exames ou testes nacionais
que avaliam uma amostra muito reduzida dos domínios do currículo” (FERNANDES,
2009, p. 112); contudo, são instrumentos que alcançam um diagnóstico geral das
redes de ensino, possibilitando um acompanhamento sistemático do desempenho
escolar, sobretudo quando as avaliações reúnem indicadores expressos em séries
históricas e possibilitam “compreender uma variedade de fenômenos relativos à
avaliação das aprendizagens” (loc. cit.).
61
As críticas às avaliações em larga escala também possibilitam compreender
que os indicadores têm limitações e, ainda assim, compõem elementos significativos
para retratar a realidade educacional. Afonso (2010), ao definir o verbete avaliação
educacional, assim se posiciona a este respeito: “os indicadores não podem ser
escolhidos tendo apenas como base uma racionalidade técnica, metodológica ou
instrumental. Eles implicam decisões políticas, valores e visões do mundo sobre o
que é ou não é desejável em educação.” (AFONSO, 2010, não p.). Isso significa que
a avaliação não é neutra e por isso mesmo pode possibilitar às autoridades
educacionais legitimar valores e intencionalidades e, assim, constituir numa ação de
tal envergadura que não há como ficar indiferente a ela.
Ao se considerar os limites e as possibilidades que a avaliação pode ensejar,
os indicadores definidos pela avaliação em larga escala constituem-se em subsídios
norteadores para a definição de políticas educacionais e vêm se consolidando,
sobretudo pelo fato de congregar dados e informações sobre aspectos da qualidade
da educação básica no Brasil, especialmente quando mantém séries históricas,
como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a Prova Brasil em nível
nacional e, ainda, o sistema próprio de avaliação da educação acreana.
Como visto nas seções anteriores, a década de 1990 é marcada pela
implantação e pelo uso crescente de políticas de avaliação externa em vários
sistemas de ensino em nível internacional, nacional e regional, facilitando tanto o
aperfeiçoamento das metodologias e instrumentos utilizados como práticas de
responsabilização educacional.
Segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Avaliação e Medidas
Educacionais (GAME, 2011)17, ao longo da década de 1990 há sete experiências18
estaduais de avaliação em larga escala no contexto da educação básica brasileira.
Nos anos 2000 esses alguns destes estados (AC, MG, MS, RS, SP e CE) mantêm
essas experiências e alguns até ampliam essas práticas de sistemas próprios de
avaliação externa. Assim, mais 13 estados instituem sistemas próprios de avaliação
17
O Game é vinculado à Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais. 18
(1) AC – experiência em parceria entre MEC, Inep e SEE/AC (1999); (2) AVA-MG - Programa de Avaliação do Sistema Educacional de Minas Gerais (1992 a 1998); (3) AVA-PR - Programa de Avaliação do Sistema Educacional do Paraná (1995-2000); (4) NAE – Núcleo de Avaliação Educacional do Mato Grosso do Sul (1993 a 1997); (5) RS – experiência de avaliação em larga escala no Estado (1996 a 1998); (6) Saresp – Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (1995 – permanente desde então); e (7) SPAECE – Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (1992 a 1994).
62
dessa natureza, totalizando 20 unidades19 gestoras da educação que registram em
seus sistemas de ensino experiências próprias de avaliação para além do Saeb.
Nesse ponto, é interessante destacar quatro questões:
1ª) as primeiras inserções, além de serem práticas pioneiras, são alicerces da
expansão dos sistemas de avaliação em larga escala no país;
2ª) das 27 unidades da federação, apenas seis não tiveram registro de
experiência própria nessa modalidade de avaliação, quais sejam: Pará, Roraima e
Amapá, no Norte do Brasil; Rio Grande do Norte, no Nordeste; Mato Grosso, no
Centro-Oeste; e, na Região Sul, o Estado de Santa Catarina;
3ª) mesmo com a Prova Brasil realizada de forma censitária e com edições a
cada dois anos, a partir de 2005 registram-se seis unidades da federação que
instituem seus sistemas próprios de avaliação em larga escala;
4ª) destes seis, apenas o Sistema de Avaliação de Desempenho das
Instituições Educacionais do Distrito Federal (Siade/DF)20 não é viabilizado a partir
de contratação do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed),
instituição vinculada à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), “que
operacionaliza (elabora e desenvolve) programas estaduais e municipais destinados
a mensurar o rendimento de estudantes das escolas públicas” (CAED, 2015, não p.).
Os outros cinco sistemas estaduais de avaliação (RS, AC, AM, PI e RO) são
implementados com a condução desse Centro. Nitidamente, percebe-se uma
articulação do Caed com os governos estaduais e municipais21 no sentido de prestar
serviço às unidades da federação com vistas à implementação de seus sistemas
próprios de avaliação em larga escala.
Aqui cabe novamente um destaque à pesquisa do Game (2001), que teve
como fonte as informações contidas nos sites oficiais das secretarias de Estado de
Educação e do Caed/UFJF. Em seu relatório final pode-se verificar que, mesmo a
partir de 2005 quando o Saeb passa a ser censitário, por meio da implantação da
Prova Brasil, os estados mantêm e até ampliam sistemas próprios de avaliação,
19
Nessa conta, inclui-se o Distrito Federal e exclui-se apenas os Estados do Paraná que extinguiu o AVA em 2002 e, também, Sergipe que não deu continuidade ao seu Exame de Avaliação da Educação Básica do Estado de Sergipe (Exaeb), extinto em 2006.
20 Sistema de avaliação delineado pela própria Secretaria de Educação do Distrito Federal.
21 Em 2015, o Caed informa em seu site que elabora e desenvolve nove programas municipais de avaliação em larga escala: Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Ipojuca, Ouro Branco, Rio de Janeiro, Salvador e Teresina. Informação disponível em: <
http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/>. Acesso em: 29 de set.2015.
63
como no caso em estudo, o Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem
Escolar (Seape/AC).
Sob o formato descentralizado da República Federativa do Brasil, Estados e
Municípios se constituem em espaços reais de poder. No território brasileiro, o grau
de descentralização do sistema implica poderes de decisão de várias ordens e esta
prerrogativa possibilita que as unidades da federação protagonizem ações em seus
sistemas de ensino que evidenciam sua autonomia e autoridade educacional. No
momento em que o Estado institui um sistema próprio de avaliação e insere a
questão na pauta de sua agenda política, a gestão local do ensino passa a ter
condições de diagnosticar de uma forma mais ampla e sistemática o seu sistema de
ensino.
No caso do Acre, a implementação de um sistema oficial de avaliação em
larga escala compõe um conjunto de ações articuladas com as demais políticas
públicas. No caso em estudo, o Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem
Escolar (Seape/AC) é implantado em 2009, como uma das formas de responder aos
desafios encontrados pelo Governo da Frente Popular do Acre (FPA)22, eleito em
1999.
Para a ex-secretária de Estado de Educação (2007-2011), esses desafios
instigavam a superação dos:
piores indicadores nas avaliações do Saeb. O Acre disputava os últimos lugares com alguns dos estados do nordeste, e outros indicadores como formação de professores, nós só tínhamos 27% de professores com nível superior naquele momento [...]. Eu lembro que na posse dele [do secretário de Educação, Binho Marques] já na secretaria com todos os funcionários, a fala dele já foi colocando os indicadores e mostrando o tamanho do desafio que a Secretaria tinha pela frente [...] o governo estava começando uma gestão, naquele momento precisávamos encontrar o caminho, e o secretário já sinalizava isso no dia da posse dele, para todos os funcionários da secretaria. (Informação verbal).
23
Para a equipe gestora da SEE/AC, os indicadores apontavam elementos
significativos para a necessidade de uma leitura mais precisa do diagnóstico do
sistema público de ensino, não muito diferente do contexto da educação nacional
brasileira que reforça em sua política estratégias e planejamentos com ênfase
significativa na “crença na capacidade reguladora dos números e índices produzidos
22
A FPA é o primeiro grupo de esquerda a assumir o Executivo estadual. Sua constituição, forma de atuação e demais aspectos relacionados à sua configuração política serão trabalhados no Capítulo 3, que trata do sistema de ensino público acreano.
23 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
64
pelas avaliações” (WERLE, 2011, p. 790); assim, a concepção de um sistema
próprio de avaliação em larga escala foi se constituindo em um dos esteios
importantes na consolidação de um modelo focado nos resultados de rendimento
escolar dos alunos. O objetivo declarado desse modelo de gestão centrava-se na
reversão do quadro negativo da educação explicitado ao longo da história da
educação acreana.
Por iniciativa do Governo local, o Seape/AC é constituído e viabilizado
mediante a contratação do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
(Caed /UFJF). Por meio de sucessivos acordos formais com esta mesma empresa,
mantém edições anuais desse sistema próprio de avaliação da educação básica que
“configura-se como uma avaliação em larga escala em que se analisa a evolução da
qualidade do sistema público de ensino.” (ACRE, 2011a, p. 13).
Em 2009, ano de implantação do Seape/AC, o Acre completava dez anos da
FPA no comando do Executivo Estadual e, também, contava uma década do início
de uma ampla reforma em seu sistema educacional delineada, inicialmente, no
Planejamento Estratégico Situacional (PES) da Secretaria de Estado de Educação e
Esporte.24
Pautadas na lógica da eficiência dos serviços prestados pelo Estado, as
reformas locais incorporam a “metáfora da mudança” (BARROSO in VAN ZANTEN,
2011) e trazem consigo novos modos de regulação, justificados pela necessidade de
transparência na utilização dos recursos e na prestação de contas à sociedade.
Para Damasceno: “no Acre, esse processo de reformas e mudanças
educacionais, cuja lógica é composta por elementos como a descentralização, a
autonomia, a participação, a responsabilização e a prestação de contas dos
resultados, iniciou-se em 1999” (DAMASCENO, 2012, p. 153), com ações, ao longo
dos anos, que asseguraram a reestruturação da gestão do sistema e das unidades
escolares, por meio de ações estruturais e arranjos institucionais que provocam
ajustamentos, tensões e produção de novas regras do jogo marcadas pela
descentralização de recursos e de obrigações por melhoria de resultados de
desempenho escolar.
24
Os principais elementos constituintes da reforma do sistema de ensino do Acre serão abordados no Capítulo seguinte.
65
No âmbito do Executivo estadual, desde o primeiro mandato da Frente
Popular do Acre (FPA: 1999-2002), conhecido como Governo da Floresta25, a
plataforma oficial de governo assumida é o desenvolvimento sustentável, modelo
delineado não somente para a conservação da floresta, como também para os
demais campos que dizem respeito à cidadania, daí a criação e divulgação do termo
florestania.26 No campo educacional, realizam-se diversos ajustes no sistema de
gestão que objetivavam romper com os modelos antigos até então vigentes na
política local.
Apreender a política em sua complexidade implica a análise do processo e do
contexto eminentemente marcado pelo movimento, pela coexistência de várias
forças políticas e por ações continuadas de negociações. Nessa direção, a
elaboração da política é “um processo, ou uma série de intenções, ações e
comportamentos de muitos participantes.” (PALUMBO, 1994, p. 35).
Nessa perspectiva, cada tomada de decisão provém de uma sequência de
movimentos concatenados, expressos em objetivos e estratégias lançadas pelos
governos para solucionar os problemas sociais (PALUMBO, 1994, p. 38). Cada
decisão política constituída ao longo do tempo é um evento que se relaciona com
outros eventos. Nesse encadeamento, há que se observar para além dos programas
instituídos, para além de leis e regulamentos. Para Palumbo (1994), sua formulação
e implementação é complexa, invisível e elusiva. Por meio das observações das
manifestações visíveis da política é possível captar o seu movimento e as
estratégias determinantes dos processos decisórios e das tomadas de decisão.
À luz de Palumbo (1994), os elementos aqui explicitados se atêm a alguns
componentes que possibilitam a definição de uma perspectiva analítica que ilustram
o processo decisório e considerados bases estruturantes de análise do objeto em
estudo: o sistema próprio de avaliação da educação básica no contexto da política
educacional acreana.
25
Sant’Ana Júnior (2004, p. 12) assim define este termo: “O slogan Governo da Floresta foi adotado, compondo o logotipo do Governo, que também é formado por uma representação gráfica de uma castanheira e serve para identificar os prédios, publicações, obras e demais elementos de presença pública governamental.”
26 Para Pinheiro (2011, p. 122), “a partir da mobilização em torno da questão da preservação
ambiental, delineada no projeto de Governo, os membros do núcleo pensante do Partido dos Trabalhadores (PT), após a Frente Popular vencer as eleições de 1998, criaram o neologismo florestania, juntando num mesmo vocábulo as palavras ‘floresta’ e ‘cidadania’.
66
No processo sequencial inter-relacionado de compreensão da política,
Palumbo (1994) propõe uma perspectiva analítica constituída pelas seguintes fases
intrinsecamente interligadas: (1) determinação da agenda; (2) formulação e
legitimação da política; (3) implementação da política; e (4) avaliação da política.
O primeiro desses componentes diz respeito à organização da agenda
determinada pela definição da pauta política, ao considerar uma determinada
questão essencial no conjunto das atividades que requerem decisões políticas.
Trata-se de um problema considerado central no conjunto das intencionalidades
políticas, uma situação colocada em evidência, uma ação intencional articulada com
outras ações.
Trata-se de dar um destaque a uma linha de ação, uma escolha delineada
para um fim ou considerada definidora para o cumprimento de determinadas
intencionalidades previamente articuladas e consideradas possíveis dentro de um
determinado tempo histórico. Nesse sentido, o fato de um Secretário de Estado
colocar a questão avaliação em larga escala na pauta e apresentá-la como desafio a
ser superado pela sua equipe de governo e, além disso, ter a avaliação como
integrante de seu planejamento cumpre o primeiro estágio da elaboração de uma
política exatamente quando a questão é colocada na “ordem do dia”, sendo este um
passo político significativo no processo de enfretamento do problema.
Entrar na agenda significa ocupar um espaço prioritário nas decisões e
debates políticos. Significa, ainda, que um conjunto articulado de ações será
constituído para mobilizar conhecimentos, profissionais, instituições, alocação de
recursos financeiros e condições necessárias para formular e legitimar a política.
Nessa esteira, constituída não como um momento estanque, mas como
articulada com o lugar em que a questão foi colocada no debate público, ou seja, na
agenda da política, a segunda fase proposta por Palumbo (1994) trata-se da
formulação e legitimação da política. Para o autor, trata-se da seleção da proposta,
da construção, do apoio político e da sua formalização em lei (ordenamento jurídico).
É o momento em que se constitui o desenho da política, indicador de
possíveis caminhos para a questão considerada relevante na pauta pública. É a
construção dos rumos a seguir, num constante processo de interlocução e
articulação política para alcançar o reconhecimento necessário à legitimidade da
proposição.
67
No final da década de 1990, a FPA representava no Acre uma força
oposicionista proveniente dos seringueiros, especialmente aqueles filiados aos
sindicatos dos trabalhadores rurais, dos movimentos populares de força ímpar no
Estado na década de 1980, oriunda do movimento de luta pela terra, da contribuição
das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), vinculadas à Igreja Católica (SOUZA,
2002), além do movimento docente e, também, dos estudantes, estes últimos
fortalecidos em nível nacional pelo movimento dos “cara-pintadas”. Na outra ponta,
representando interesses diferentes, a coligação da FPA recebe o apoio de
lideranças da direita, em especial na região do Juruá, que inclui, dentre outros
municípios, Cruzeiro do Sul, o segundo maior colégio eleitoral do Estado.
Esse momento representava, sobretudo, “uma grande novidade no governo,
trazendo significativos avanços para a vida administrativa do Estado. Contudo, não
se pode afirmar que ele tenha se constituído numa forma de ruptura com as demais
formas de administrar, no Acre.” (FRANÇA, 2009, p. 141).
Outra questão relacionada à formação política dos gestores do sistema de
ensino da educação básica acreana observa-se quando a educação e a avaliação
do sistema são analisadas, debatidas e deliberadas pelas autoridades educacionais
e se materializam em decisões concretizadas por um conjunto de ações que são
implementadas e definidas por:
alguns caminhos para percorrer e dentro de uma visão sistêmica, porque não faz nenhum sentido trabalhar só com avaliação sem você enfrentar os outros desafios, desafios porque como educação é algo complexo, são vários fatores que interferem aí no resultado da aprendizagem do aluno. Então enxergávamos a ponta que era o resultado da aprendizagem, mas tinha nesse caminho inúmeros desafios para a Secretaria de Educação. (Informação verbal).
27
Para a ex-secretária de educação, integrante do Governo da FPA, a gestão
do ensino público estadual da educação básica implementa várias frentes de
trabalho para o enfrentamento do fracasso escolar, evidenciado pela avaliação, aqui
expostas de maneira panorâmica:28 formação inicial e continuada de professores,
definição de um plano de cargos, carreira e salários docente, melhoria da estrutura
das escolas, seja por meio de reformas e ampliação, seja pela da construção de
27 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista. 28
Por ocasião da descrição do sistema público estadual do ensino básico do Acre, objeto do Capítulo 3, estas questões serão tratadas de forma mais amiúde.
68
escolas dentro de um padrão regional, implantação de uma nova estrutura curricular,
seguindo a:
lógica dos parâmetros curriculares nacionais, mas nós fomos criando, adaptando a nossa realidade e fazendo a crítica e criando a nossa maneira de implementar os parâmetros curriculares nacionais, foi um momento muito rico, interessante porque até para o nosso professor criar um ritmo de planejamento de ensino que isso nós constatamos que praticamente não existia na escola. Você fazia um planejamento mais para entregar. (Informação verbal).
29
Essas e outras ações empreendidas compõem a terceira fase proposta por
Palumbo (1994) que diz respeito justamente ao momento em que os gestores
implementam as decisões políticas que, no caso do Acre, se consolidam pela
continuidade dos sucessivos cinco mandatos de um mesmo grupo político no
governo do Estado e a percepção de um projeto político que se mantém sem
alternância de poder, sem mudanças bruscas na filosofia de trabalho.
O processo de implementação que, na verdade, se constitui desde o
momento em que a questão é colocada na pauta pública, formulada e legitimada na
sequência, contempla e exige esforços governamentais. Segundo Palumbo (1994), a
implementação da política refere-se à operacionalização por meio de planos,
programas e projetos no âmbito da burocracia pública, é sua execução propriamente
dita.
Ao assumir o discurso da qualidade no desenho inicial do Seape/AC, a
sequência de atividades previstas para a implementação da política é permeada por
continuidades e também por rupturas, pois os esforços empreendidos se efetivam
num campo real, marcado pelas contradições inerentes ao contexto social e ao
campo educacional, muito embora os arranjos institucionais centrem esforços para
conciliar os diferentes interesses envolvidos, definir as “regras do jogo” e direcionar
suas forças para contornar as possíveis coalizões inerentes ao percurso da
implementação da política.
O caráter aparentemente hegemônico de um sistema avaliativo externo
contribui para que os gestores educacionais, sob o fio condutor dos instrumentos de
avaliação, consolidem a regulação de seus sistemas educacionais. A regulação
promovida pelo Estado pode ser capaz de alterar a dinâmica de funcionamento das
escolas e incidir positiva ou negativamente sobre a realidade educacional como um
29 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
69
todo. Sob um prisma contraproducente, “a melhoria do rendimento dos alunos pode
ser alcançada mediante a concorrência entre as escolas, através de publicidade
negativa (divulgação de resultados comparáveis) que estimulariam mudança de
atitude dos gestores.” (ARAÚJO, 2007, p. 25).
Na quarta fase proposta por Palumbo (1994) trata-se de verificar se as ações
realizadas pelos operadores da política são avaliadas, se os esforços empreendidos
atendem aos objetivos previamente delineados. Trata-se de reconhecer a
necessidade de confrontar os resultados esperados com os resultados alcançados.
Essa fase, ainda que aqui esteja separada para fins didáticos, acompanha todo o
processo de implementação, uma vez que o monitoramento de uma política é
contínuo, sistemático e, por esse motivo, pode ser efetivada concomitante às demais
fases de realização. Isso significa que a avaliação é orientadora das intervenções,
necessárias a qualquer tempo, seja na perspectiva de continuidade, seja no
reconhecimento de proceder a rupturas. E esta é uma conotação positiva de
monitoramento das políticas públicas, de forma a potencializar o poder de
intervenção das ações previstas.
Com o intuito de abordar alguns elementos fundantes da avaliação em larga
escala e estabelecer conexões entre este tipo de avaliação educacional e os
dispositivos de regulação, este capítulo pontuou as bases conceituais dessa
modalidade avaliativa, considerada ponto central na política educacional brasileira.
Dentre outras questões atinentes ao tema, enfatizou que, dependendo dos
objetivos previamente traçados, do desenho do projeto avaliativo, da forma de
comunicar/utilizar os resultados, os indicadores produzidos pela avaliação em larga
escala podem gerar consequências baseadas na responsabilização branda
(simbólica) ou na responsabilização forte (material), questões analíticas aqui
consideradas importantes para compreender sistemas próprios de avaliação da
educação básica.
No próximo capítulo aprofunda-se o aporte teórico para apreensão do objeto
de estudo com ancoragem nesse pressuposto já anunciado: os sistemas de
avaliação têm sido utilizados como processo de regulação e mecanismo de controle
dos sistemas de ensino. Para compreender as instâncias de regulação dos sistemas
educativos, adentra no conceito e na teoria da regulação que tem no Estado uma
estrutura de poder e veículo para monitorar o sistema de ensino nos seus mais
variados domínios.
70
CAPÍTULO 2
INTERFACES ENTRE A TEORIA DA REGULAÇÃO SOCIAL E A POLÍTICA DE
AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA
Dentre as perspectivas teórico-analíticas possíveis para se debruçar sobre a
avaliação dos sistemas de ensino, neste estudo faz-se a opção pela teoria da
regulação social como um referencial de análise do Sistema Estadual de Avaliação
da Aprendizagem Escolar (Seape/AC), sobretudo no que tange às formas pelas
quais os mecanismos de regulação influenciam as diretrizes de ações pensadas e
executadas nos sistemas de ensino, desde o seu processo de elaboração até a
implementação e práticas decorrentes da avaliação em larga escala.
Para Barroso (2006, p. 13), “a mobilização da teoria da regulação para
análise das políticas públicas [decorre da] necessidade de apreender o Estado pela
sua acção [...] através dos seus instrumentos”, especialmente no que diz respeito
aos mecanismos de regulação que influenciam, controlam e garantem a intervenção
das autoridades públicas no sistema educativo. Para Maroy e Dupriez (2000), essa
capacidade instalada que as autoridades detêm, ultrapassa a produção de regras,
uma vez que também se opera na perspectiva de orientação das condutas dos
atores.
Com esse suporte conceitual e analítico, o Seape/AC é investigado como um
dispositivo decisório de políticas públicas, sobretudo no campo educacional, um
mecanismo de regulação que influencia e é influenciado pelas diretrizes das políticas
públicas, ao mesmo tempo em que oferece às estruturas estatais hierarquizadas
subsídios para o controle dos sistemas de ensino no âmbito das redes estadual e
municipais, justamente pelo fato de que o Estado, ao assumir uma política de gestão
por resultados, estabelece novos formatos de controle pela via da regulação
educacional.
Para Maroy (2008), as políticas públicas são pensadas como resultantes de
compromissos assumidos, com a participação, ainda que desigual, de uma
multiplicidade de atores. Ao pesquisador cabe apreendê-las em termos do
movimento da ação pública que se efetiva na complexidade das relações sociais
permeadas por relações de poder e onde, de fato, as políticas se realizam.
71
Este capítulo se organiza em três partes: a primeira pontua as bases
conceituais da teoria da regulação social e algumas questões que justificam a
polissemia do termo. A segunda parte apresenta inicialmente a Teoria da Regulação
Social para interpretação das políticas públicas delineadas pelo Estado e, em
seguida, subdivide-se em duas: inicialmente aborda as dimensões da regulação dos
sistemas educacionais paralelo à redefinição dos mecanismos de controles exercido
pelo Estado e, em seguida, trata das instâncias de regulação dos sistemas
educativos. Na terceira e última parte reporta-se à avaliação como mecanismo de
regulação educacional.
2.1 Bases conceituais da Regulação
Em conformidade com o que apontam Oliveira e Silva (2007), a questão da
multiplicidade de sentidos do termo regulação é um consenso entre os autores que o
discutem, assim seus significados remetem à necessidade de discutir as bases de
suas definições. O conceito pode ser utilizado em diferentes contextos linguísticos,
transita por vários campos do conhecimento e sua utilização é bastante
diversificada.
Mesmo com essa transitoriedade em várias áreas do saber (economia,
biologia, sociologia, psicologia, pedagogia, termodinâmica, cibernética, sistemas
sociais etc.), as diversas significações que o termo pode ensejar não estão imunes
aos limites de cada área de conhecimento e aos contextos linguísticos, assim “nos
países de língua inglesa a palavra regulation quer dizer ao mesmo tempo regulação
e regulamentação, podendo também significar regulamento.” (AUGUSTO, 2010, p.
139).
Na língua portuguesa há diferenças quanto aos termos regulamentação e
regulação. Desse modo, é necessário pontuar algumas distinções semânticas sobre
estes vocábulos. No Dicionário Houaiss (1999), a regulamentação é assim definida:
“(1) ação ou efeito de regulamentar, de impor regulamento; (2) conjunto das medidas
legais ou regulamentares que regem um assunto, uma instituição, um instituto.”
(HOUAISS, 1999).
É por meio da regulamentação que as regras são fixadas, codificadas e
passam a constituir regulamentos com valor de estatutos prescritivos que
normatizam a vida social. Uma vez regulamentadas, no geral, as regras e normas
72
passam a integrar a vida em coletividade de tal modo que passam a se constituir
como se já fizessem parte da vida dos indivíduos, como se sempre estivessem ali
constituídas. E essa espécie de naturalização resulta no fato de que, algumas vezes,
as pessoas seguem as regras e delas dependem para acessar direitos, para
conviver e, enfim, para conduzir suas vidas, com a impressão de que elas sempre
estiveram ali e integrassem a natureza social da qual fazem parte.
Já o termo regulação diz respeito ao “ato ou efeito de regular(-se)”
(HOUAISS, 1999), não se restringe às normas, tem sentido “mais completo, vai além
da mera definição da regra, tendo utilização mais diversificada.” (AUGUSTO, 2010,
137). Relaciona-se aos processos de construção de regras, logo, o indivíduo
regulado é aquele que está disposto conforme as regras; ajustado, certo (HOUAISS,
1999). Nessa acepção, o termo é circunstanciado à ação humana, interpretada e
reinterpretada continuamente a partir dos diversos contextos e pontos de vista dos
sujeitos que, ao mesmo tempo em que são regulados pelo controle estatal, são
capazes de alterar ou reproduzir os dispositivos de regulação.
No campo da teoria social, há várias compreensões sobre regulação
expressas em “posturas teóricas muito diferentes [que] se revelam na maneira como
certos autores compreendem a questão” (DUPRIEZ, 2010, p. 75); assim, o
entendimento do termo e seu suporte interpretativo dependem da abordagem
teórica, da concepção que o legitima.
Se o termo é dotado de um significado jurídico, a regulação legitima os
ajustes necessários ao cumprimento das regras sociais. Se a regulação se assenta
numa visão funcionalista, por exemplo, “designa uma função de equilíbrio dentro de
um sistema mecânico ou vivo.” (MAROY, 2011, p. 688).
Superando a concepção funcionalista, a noção de equilíbrio é questionada
“uma vez que ocorre uma pluralidade de fontes e elementos, no processo da ação
social” (AUGUSTO, OLIVEIRA, 2011, p. 309), dessa forma, não há uma relação
causal entre a definição e o cumprimento dos regulamentos. A dinâmica da
sociedade transpõe a capacidade de reprodução das estruturas.
Isso significa que, para além da capacidade de reprodução do sistema, há um
reconhecimento do jogo político, um intrincado de diferentes ações e interesses,
consolidados ou transformados nas dinâmicas sociais por meio de processos
multirregulados, daí o termo multirregulação empregado por Barroso (2005).
73
Considerar esse caráter multirregulador dos processos regulatórios significa
que a matriz orientadora dessa teoria não é de ordem burocrática e nem se
consolida num formato rígido ou unilateral, muito pelo contrário, a regulação é
praticada sob vários ângulos e de forma conjunta com os diversos atores sociais.
Para Duarte, os modos de regulação expressam “como, em um determinado
período, contexto e território, diferentes atores, de maneira diversa e desigual,
articularam e coordenaram suas ações.” (DUARTE, 2012, p. 712). Trata-se de um
conceito situado no cerne das contradições inerentes ao sistema capitalista, que é
complexo e permeado por múltiplas regulações (BARROSO, 2005), que também
implicam múltiplas negociações entre os diferentes atores para resolver os embates
sociais originados, muitas vezes, em contextos de intensas disputas.
A regulação é, portanto, “um processo plural e conflituoso de produção de
regras do jogo, como entrelaçamento de ações e de dispositivos de coordenação,
por natureza, situados e em contínua interação.” (MAROY, 2011, p. 689). As lógicas
de dominação inerentes aos processos regulatórios travam, inevitavelmente,
disputas ideológicas capazes de alterar o efeito das regulações institucionais, e isso
constitui uma força impossível de ser ignorada no contexto da gestão do Estado.
Para Natércio Afonso (2004), a regulação da educação define-se como “o
conjunto dos dispositivos e procedimentos que, numa determinada sociedade,
moldam a provisão colectiva e institucionalizada da acção educativa, em função dos
valores societais dominantes” (2004, p. 34). E a questão dos “valores societais
dominantes” são dispositivos que, em muito, são responsáveis pelos problemas de
interesse social; problemas estes que, apesar de estarem interligados com o sistema
educativo, nem de longe abalam a estrutura secular dos sistemas públicos de
ensino, ou seja, ainda que críticas sejam feitas ao ensino formal, a escola se
mantém e se faz necessária.
Para Barroso, regulação refere-se ao “modo como são produzidas e aplicadas
as regras que orientam a acção dos actores”, bem como “os modos como estes
mesmos actores se apropriam delas e as transformam.” (BARROSO, 2006, p. 12).
Mais uma vez, a base conceitual da regulação remete à ideia de movimento, de
protagonismo social, uma lógica que, apesar de poder servir ao domínio, também
pode acionar alguns instrumentos capazes de abalar, de certa maneira, as
estruturas cristalizadas e hierarquizadas do poder que o Estado exerce.
74
No escopo desta tese, regulação é compreendida como um processo social
com capacidade de diferentes alcances na vida em coletividade. É, ainda, o reflexo
das múltiplas e complexas relações empreendidas no contexto social, efetivadas a
partir da capacidade instalada que o Estado tem de promover e intervir nas políticas
públicas. A regulação se concretiza a partir das disputas sociais, capazes de acionar
aparatos regulatórios. Isso significa que cidadãos comuns que moram num
determinado território podem ter potencial de mobilizar e alterar os dispositivos de
regulação.
No tópico seguinte, aborda-se a teoria da regulação social e suas interfaces
com os dispositivos acionados pelo Estado como agente regulador, sem
desconsiderar a força em potencial que os governados possuem nesse processo. O
poder de intervenção do Estado é uma das formas de regulação, mas não é a única.
Isso significa que os poderes que o Estado exerce, ainda que se efetivem no interior
de uma estrutura de poder hierarquizada, não necessariamente se realiza na medida
em que foram planejadas.
2.2 A Teoria da Regulação Social para interpretação de políticas públicas
delineadas pelo Estado
Em conformidade com revisão bibliográfica empreendida,30 o suporte
conceitual e analítico da teoria da regulação social é oriundo da teoria econômica da
regulação. Teve seu início com George Stigler (1971) numa proposta de “integração
dos processos políticos e econômicos, na análise da intervenção do Estado na
economia.” (FIANI, 2004, p. 83). Na década de 1970 foi amplamente utilizada em
análises de políticas e sistemas educacionais. Um dos marcos da sua concepção é
a obra de Michel Aglietta, Régulation et crises du capitalisme (1976), considerada
uma das principais referências da corrente francesa. Nesta tese, a opção por essa
corrente da teoria da regulação é justamente porque ela contempla a análise da
junção de fatores institucionais e sociais, perspectiva que contribui para evidenciar
as disputas inerentes às políticas públicas.
30
Especialmente Yannoulas; Oliveira, 2013; Oliveira, 2012; Maroy, 2011, 2008, 2006, 2005, 2000; Hypolito, 2010; Augusto, 2010; Barroso, 2006, 2005; Freitas, 2005; Fiani, 2004; Braga, 2003; Diebolt, 2001; Maroy; Dupriez, 2000, 1999; Reynaud, 1998, 1995; Boyer, 1990; Aglietta, 1976; Stigler, 1971.
75
Proveniente do campo da economia e da sociologia política, a teoria da
regulação tem um amplo repertório na análise de políticas públicas em educação,
uma vez que trata de “tendências a longo prazo” (BOYER, 2009, p. 79), contribui
para evidenciar e compreender questões sociais, muitas delas atinentes ou
relacionadas ao contexto educacional.
Para Barroso (2005), “a difusão, no domínio educativo, do termo ‘regulação’
está associada, em geral, ao objetivo de consagrar, simbolicamente, outro estatuto
de intervenção do Estado à condução das políticas públicas.” (BARROSO, 2005, p.
727). Esta assertiva implica considerar o campo político e educacional como
singulares, ainda que estes também estejam sujeitos aos padrões verticalistas
impostos pela organização burocrática do Estado. Contudo, em face da dinâmica de
funcionamento dos conjuntos dos sistemas que o compõem, o papel deste ente é
decisório na definição de políticas públicas, sem desconsiderar a força em potencial
oriunda das relações sociais nele estabelecidas.
Os fundamentos da escola da regulação são definidos por Aglietta (1979) e o
estudo da regulação do capitalismo têm uma interface com as análises da
transformação das relações sociais, dada a instabilidade deste sistema. Na sua
origem, a teoria da regulação inscreve-se na tradição teórica marxista, assim a
“influência do pensamento de Marx é notória, embora haja divergências em alguns
sentidos” (AUGUSTO, 2010, p. 142), sobretudo no que diz respeito ao fato de a
teoria econômica ortodoxa desconsiderar a questão temporal, pois assim como os
mecanismos de regulação variam no tempo e nas condições reais de existência, “a
questão da temporalidade do desenvolvimento dos sistemas de produção é
importante, e torna-se um elemento indispensável para explicar o modo de
regulação do próprio sistema” (AUGUSTO, 2010, p. 142-143); sistema este que é
dinâmico e que acompanha as diversas alterações inerentes aos diferentes tempos
históricos.
Ainda que em sua origem a teoria da regulação tenha vínculos teóricos com o
marxismo, sucessivamente seu projeto distancia-se dos princípios inicialmente
definidos. Para Braga (2003), essa reconfiguração sustenta-se em duas questões
fundamentais: o abandono da teoria marxiana do valor-trabalho e a negação da luta
de classes como elemento impulsionador da história. Para o mesmo autor, o Estado
organiza, consolida princípios reformistas e atua como mediador dos conflitos e do
progresso social. Os teóricos da primeira geração regulacionista advogam a
76
confiança na capacidade de os administradores estatais promoverem uma
articulação entre progresso e direitos.
Segundo Peltzman (1989), o elemento mais importante da abordagem
regulacionista é:
sua integração da análise do comportamento político com o maior corpo econômico e análise [...]. Isto significa que os grupos de interesse podem influenciar o resultado do processo regulatório, prestando apoio financeiro ou outro para os políticos ou reguladores. (PELTZMAN, 1989, p.1, tradução nossa).
Assim, os setores da economia, em especial aqueles que financiam ações
para o campo educacional, lançam elementos de referência que são exercidos por
pressões políticas ou sob a forma de contrapartidas previstas em contrato. Dessa
forma, os diferentes (mas não indiferentes) grupos de interesses aliam economia e
política, até porque os jogos políticos de decisão interferem na produção e no
consumo dos meios necessários à vida em sociedade; nessa lógica, contexto social
e fenômenos econômicos têm interface. Aliás, não há como escapar da política e o
campo em que a educação se realiza não foge a esta regra.
No campo da política pública há elementos indicativos para a definição do
termo. Segundo Palumbo (1994), esses elementos são importantes para captar o
movimento da política em ação, uma vez que a política não é algo palpável, objetivo
e, portanto, de fácil apreensão, trata-se de “um processo, ou uma série histórica de
intenções, ações e comportamentos de muitos participantes.” (PALUMBO, 1994, p.
35).
Esses muitos participantes agem e reagem por meio de pressões sociais de
naturezas várias, dentre elas: garantir direitos coletivos, inclusive àqueles que dizem
respeito ao direito à educação. Como autoridade legalmente reconhecida e elemento
fundante da modernidade, o Estado, na configuração de um estado capitalista –
mesmo com todo o aparato institucional de que dispõe – não é capaz de anular
todos os conflitos e controlar todas as nuances possíveis da política em ação, assim,
enfrenta resistências e tensionamentos por parte da sociedade.
Nessa configuração, dentre outras formas utilizadas para assegurar a
legitimidade de seu poder, o Estado se utiliza de mecanismos de controle e
regulação por meio de um amplo aparato legal de normas e regulamentos. As
normas sociais são integrantes do modo de regulação, aqui compreendido como
“um conjunto de leis, valores e hábitos que medeiam a relação com o regime de
77
acumulação e mantém a coesão social.” (YANNOULAS; OLIVEIRA, 2013, p. 78).
Desse modo, a política educacional é produzida em meio às relações entre grupos
antagônicos que produzem a coesão social, uma vez que o contexto em que a
política opera é marcado por contradições e, nessa esteira, as regulamentações
direcionadas aos sistemas de ensino são permeadas por aspectos subjetivos que
movimentam diferentes sujeitos com interesses diversos.
A tessitura de uma política pública é um exercício de autoridade e poder
inerente à complexidade das relações estabelecidas entre os diferentes grupos
sociais e o Estado. Para Reynaud (1995), as regras são produtos da ação social,
transformadas, reconstruídas ou suprimidas no processo de regulação, assim sendo,
não são de todo imutáveis, universais e estáveis, visto que são transferíveis,
readaptáveis e atualizáveis. Por mais que os mecanismos de controle social sejam
acionados, as regras não são tão fixas e nem tão rígidas que não possam ser
alteradas.
Nessa intervenção consciente e ativa, o Governo como representante do
Estado é, por vezes, considerado produtor, por excelência, de políticas públicas
(SOUZA, 2006, p. 22). A ideia de governo como principal indutor de políticas não
expressa a ideia defendida por Celina Souza (2006), decorre de uma revisão da
literatura sobre o campo das políticas públicas realizada pela autora e situa-se em
desdobramentos de trabalhos europeus que se baseiam em teorias explicativas
sobre o papel do Estado.
Ainda que o governo seja “uma das mais importantes instituições do Estado”
(SOUZA, 2006, p. 22), não é único capaz de introduzir ações de interesse coletivo. A
força do social se manifesta em conexões e rupturas estabelecidas nos processos
de disputa e negociação, na correlação das forças sociais e nos tensionamentos do
contexto em que é produzida.
Ainda que o fim da regulação seja de fato este, a manutenção da
solidariedade entre os integrantes de um grupo, a política pública é produzida em
meio às relações entre grupos antagônicos, no sentido de classe, mas também
divergentes dentro da mesma classe. Em outros termos, a sociedade não é
homogênea e as disputas podem afetar a coesão social, uma vez que o contexto em
que a política opera é marcado por contradições e, nessa esteira, as
regulamentações direcionadas aos sistemas de ensino são permeadas por aspectos
subjetivos que movimentam diferentes sujeitos com interesses diversos.
78
Nessa mesma linha, Bauer postula:
uma política nem sempre é implementada de acordo com o com seu desenho original, uma vez que muitos fatores influenciam no processo de execução, principalmente as concepções e crenças dos diversos agentes responsáveis pela implementação. Assim, nem todos os fatores que influenciam a execução da política podem ser controlados ou antecipados no momento de sua formulação. (BAUER, 2011, p. 814).
As disputas inerentes ao campo político podem ser visualizadas em qualquer
uma das fases, desde à concepção até à implantação. Por mais que um
planejamento seja detalhado, a riqueza da política em ação tem toda uma
complexidade, uma espécie de “nós da rede” (BARROSO, 2005, p. 735).
Compreendê-la implica observar pontos difusos e conectados entre si, onde pessoas
reais disputam espaços, pensam e defendem suas posições ideológicas e não há
política que consiga prever ou controlar todas essas nuances.
Vale aqui evidenciar que a literatura tem reiterado a complexidade de uma
sociedade de mercado e, como decorrência desta complexidade, a regulamentação
e o controle exercido por parte do Estado são oriundos da necessidade de os
cidadãos sobreviverem e se situarem nos processos coletivos. Nessa linha de
compreensão, o Estado exerce uma das formas de regulação, mas não detém a
única forma de limitar e definir as regras econômicas, políticas e sociais. Quando um
problema emerge, por exemplo, no campo educacional, é necessária uma
transformação social e cultural advinda não só do Estado, mas da conjunção de
elementos que compõem o sistema educativo, aqui se incluindo a própria
comunidade escolar e a sociedade que a compõe e mantém.
Esse jogo social é inerente a uma perspectiva ampla do termo regulação.
Para Freitas, o sentido do termo regular “é vocação de toda política pública,
entretanto ‘regulação’ foi um termo construído no interior das ‘políticas públicas
neoliberais’” (FREITAS, 2005, p. 913), assim sendo, o Estado descentraliza suas
ações, dando abertura à iniciativa privada, mas toma para si a função de regular as
políticas de interesse público.
Num contexto capitalista e neoliberal, a intervenção estatal se porta na
perspectiva de um Estado como agente regulador, muito embora, como aponta
Hypólito (2010), o discurso corrente seja de Estado mínimo e descentralizador,
portanto, não se trata de qualquer regulação, mas de uma regulação neoliberal que,
no campo educacional, concretiza-se por meio de “ações notadamente
79
gerencialistas [...] apresentadas como solução para todos os problemas da
educação pública, articuladas, como se sabe, a partir de pressupostos da eficiência,
dos resultados, da avaliação e da competência.” (HYPOLITO, 2010, p. 1339).
Conforme postulam Yannoulas e Oliveira (2013, p. 78), “embora o termo
regulação tenha sido utilizado na economia e na sociologia desde seus primórdios,
ele se consolida a partir dos processos de privatização no contexto do modelo
neoliberal.” Essa consolidação implica o desenho de um novo modelo de serviço
público e, consequentemente, de Estado.
Em Afonso (2001), o termo Estado é compreendido genericamente como:
a organização política que, a partir de um determinado momento histórico, conquista, afirma e mantém a soberania sobre um determinado território, aí exercendo, entre outras, as funções de regulação, coerção e controlo social [e como ente indispensável] ao funcionamento, expansão e consolidação do sistema econômico capitalista. (AFONSO, 2001, p. 17).
O Estado, autoridade legalmente constituída, se estabelece na correlação de
forças sociais e “está sempre submetido a processos contraditórios: seja na
manutenção ou na legitimação das relações sociais existentes.” (MUNDIM, 2012, p.
132). Assim sendo, este agente público impõe normativas, negocia e referenda
normas historicamente legitimadas para controlar as suas ações, sobretudo num
contexto capitalista, em que este ente enfrenta pressões sociais de todos os lados
ao lidar com conflitos, tensões e disputas de poder, ao intentar mediar as demandas
da população.
Nos termos apontados por Maroy (2005), o Estado constitui a autoridade
reconhecida31 que aciona, coordena e orienta os mecanismos de regulação do
sistema educacional por meio de:
Diferentes arranjos institucionais, definidos, promovidos ou autorizados pelo Estado, tais como as regras e leis, o poder e as competências delegadas a autoridades locais, às hierarquias dos estabelecimentos escolares ou às organizações profissionais, os dispositivos de controle e de avaliação. (MAROY, 2005, p. 1).
Esses diferentes arranjos institucionais podem acentuar a ação dos atores
sociais e sua dinâmica na permanente construção das regras do jogo. Nesse
sentido, a constituição das políticas públicas e os respectivos processos de
31
Nos termos apontados por Maroy (2005), o Estado, ao exercer uma regulação institucional ou política, se constitui numa autoridade reconhecida, agindo por meio de regras, convenções e mecanismos de controle.
80
regulação são resultantes de conflitos, não são lineares, nem estanques, muito
menos neutros, se efetivam por meio de inúmeras possibilidades de ações coletivas
e articuladas que, prementemente, podem ser reajustadas de forma estratégica para
fazer frente à dinamicidade do contexto em que se realiza.
No contexto brasileiro, há competências comuns na oferta do serviço público
educacional e isto implica pelo menos duas questões: certa “concorrência” entre os
entes federados que compartilham responsabilidades, além da coexistência de
políticas educacionais centralizadas e descentralizadas.
A centralidade é mais fortemente marcada na formulação da política e a
descentralização é mais evidenciada na execução. Com base em estudo
empreendido por Casassus (2001), pode-se afirmar que esse movimento de
centralização/descentralização é observado em ações que ora tendem para o nível
federal, ora para o estadual ou para o nível municipal.
O processo de descentralização foi o arranjo possível de estabelecer-se,
contudo não há uma relação de horizontalidade, no sentido de independência, uma
vez que os entes federativos (estados e municípios) têm uma dependência nacional
que repagina a ideia de processos horizontais de controles regulatórios sob um viés
menos hierárquico.
Apenas para efeito ilustrativo, a política educacional brasileira, em sentido
mais amplo, é conduzida pelo Ministério da Educação e tem um caráter nacional,
enquanto a avaliação e o currículo são empreendidos tanto de forma nacional, como
em formatos estaduais e algumas experiências são registradas no âmbito municipal.
Já o financiamento é conduzido sob o formato federal/estadual e municipal. De uma
forma mais localizada, a supervisão do ensino ou o acompanhamento pedagógico é
compartilhado. No que tange à gestão escolar e à contratação de docentes para a
educação básica, estes são aspectos de responsabilidade dos gestores estaduais e
municipais. No caso dos institutos ou das escolas técnicas de ensino superior e das
escolas federais de educação básica, a condução é federal. E, por fim, o
planejamento educacional é federal/estadual/municipal, assim como a legislação é
pertinente a cada esfera administrativa, com subordinação às leis federais.
Em todas essas hierarquias (federal/estaduais/municipais) há exercícios de
poder. Segundo Maroy e Dupriez (2000, p. 76): “a regulação é a resultante da
articulação (ou da transacção) entre uma ou várias regulações de controlo e
processos ‘horizontais’ de produção de normas na organização.” Diante disso, há
81
que se admitir um caráter menos hierárquico e mais educativo dos processos
regulatórios que, nem sempre, se articula numa única direção e podem resultar da
conjunção entre várias regulações ativas dos processos sociais.
Esses processos horizontais de controle regulatório se efetivam nas
dinâmicas de interação, são incorporados às práticas educativas e integram o
cotidiano da escola de uma forma quase imperceptível, assim, imprimem sua força
no âmbito dos cursos de formação continuada dos professores, nas reuniões de
pais, nas rotinas escolares etc., sobretudo quando a regulação institucional já se
encontra consolidada por meio de valores de referência, normas e demais
instrumentos de leitura do real e guias para a ação (MAROY, 2008), numa sincronia
tal que a “mão do Estado”, por vezes, consolida a política pensada, contando para
isso com algumas dimensões da regulação e na sua capacidade de se reinventar.
2.2.1 Dimensões da regulação dos sistemas educacionais e redefinição dos
mecanismos dos controles exercidos pelo Estado
O ato de regular trata de uma ação legítima, normativa e burocrática do
Estado do ponto de vista da natureza da sua existência. Do ponto de vista político,
há uma redefinição dos mecanismos de controle para atender às mudanças
estruturais nas formas de governar e nos novos modos de regulação delas
decorrentes, também chamadas de pós-burocráticos (MAROY, 2006). Esses novos
modos de regulação se opõem “ao modelo burocrático e profissional que
predominou, até agora, na regulação” (MAROY, 2011, p. 690) e que tem na
formulação de procedimentos uniformes a sua principal característica.
Para Demailly (2001), esses novos modos de regulação têm, pelo menos,
duas bases de sustentação: a) o desenvolvimento da avaliação; e b) a regulação por
resultados. Muito embora se caracterizem como novos dispositivos institucionais,
coexistem com os modos de regulação praticados historicamente nas políticas
públicas em geral e nas políticas educacionais.
Para Oliveira e Silva (2007, p. 1), trata-se de uma “nova configuração do
Estado diante das novas demandas econômicas, políticas, culturais e sociais. Estas
mudanças repercutiram também na educação engendrando uma nova relação entre
o Estado e as políticas educacionais.” Para essas estudiosas, tais mudanças se
82
expressam nas reformas, na autonomia da escola e nas avaliações dos sistemas
públicos de ensino, este último objeto deste estudo.
Mourão (2009) aponta que no processo de recomposição das funções do
Estado, esse agente público institui novas formas de regulação, também chamada
de pós-burocrática ou de desregulação das políticas educativas públicas, mas nem
todas as informações são divulgadas, uma vez que:
Por detrás desta recomposição estão fatores relacionados com a introdução das novas tecnologias de informação, a globalização, o aumento da complexidade das sociedades, a governabilidade do sistema, o gigantismo do aparelho burocrático que sustentava o modelo, a “retórica da modernização”, a ascensão da filosofia neoliberal e as suas palavras-chave: racionalização, eficácia, eficiência, custos, mercado. (MOURÃO, 2009, p. 45).
Entre a necessidade de um novo formato de Estado e as novas formas de
regulação, há uma forte ligação com as noções de modernização da gestão,
desburocratização e eficiência dos serviços públicos. E, nesse bojo, as políticas
educativas também passam pelo crivo da regulação que, muito além do controle
pelas normas, se concretizam pelo controle dos resultados.
Esse controle por resultados encontra ancoragem no modelo do novo
gerencialismo, também denominado New Public Management, que propõe reformar
o aparelho do Estado por meio da descentralização dos procedimentos
administrativos, valorizando os processos de controle e avaliação dos resultados,
buscando imprimir eficiência no desempenho das tarefas e funções do Estado.
Como referência no campo da gestão pública busca tornar o Estado menos
burocrático e mais ágil, primando pela eficiência e responsabilização pelos
resultados.
A lógica do Estado gerencial se traduz em formas de controle sobre os
indivíduos, produz uma cultura competitiva no âmbito do setor público e se consolida
por novos modos de regulação definidores de regras institucionais, de modelos
forjados no discurso do alcance da eficiência no serviço público. A questão é que,
por vezes, a busca por essa eficiência se assenta na ausência de princípios
compatíveis com um campo educacional democrático, e tal questão pode afetar os
interesses da coletividade e ferir o princípio de que o Estado deve estar a serviço do
bem público.
No contexto brasileiro, as bases do Estado gerencial são lançadas nos anos
1980, mas é na conjuntura política dos anos 1990 que elas se intensificam
83
basicamente com duas pautas: a governabilidade e a onda de privatização. A
primeira questão diz respeito:
a capacidade de um governo, qualquer que ele seja, de implementar as políticas que constam do seu programa eleitoral, interessa distinguir o programa de governo, enquanto plataforma política que viabilizou um sucesso eleitoral, das políticas públicas implementadas ao longo da legislatura e que são da responsabilidade executiva do governo, e da responsabilidade legislativa partilhada do executivo e do legislativo. (PEREIRA, 2001, p. 10).
Assim, a governabilidade trata-se da estabilidade política que o governo
consegue estabelecer para exercer seu poder e sua autoridade perante seus
governados. A segunda questão, bem evidenciada na década de 1990, diz respeito
à onda de privatização, justificada na necessidade de arrecadar recursos para o
financiamento do déficit público e melhorar os serviços prestados à população.
Dentre outros fatores e como decorrência dessa necessidade, o Brasil entra
no cenário das disputas mundiais junto aos organismos de financiamento externo,
apesar das históricas resistências dos movimentos sociais quanto ao domínio e à
submissão à política externa. Tais resistências pautam suas justificativas na
necessidade de o Brasil manter a soberania nacional, nos princípios de
democratização no território brasileiro e na necessidade de autonomia para conduzir
o campo educacional e as demais políticas públicas.
Sob essas pressões, o Governo brasileiro assume algumas das diretrizes
internacionais, mas define suas próprias políticas de cunho nacional, dentre elas: a
autonomia escolar, a implantação de fóruns de decisões coletivas, as discussões
ampliadas sobre currículo contemplando a questão da diversidade, dos direitos
humanos e de singularidades regionais mescladas com as influências
supranacionais e nacionais. Contudo, estas questões cabem ressalvas, uma vez que
têm avançado muito mais no campo da regulamentação do que como conquistas
efetivas.
No limite, é possível pensar que as políticas de caráter nacional trabalham no
sentido de conferir alguma unidade ao modelo educacional brasileiro, bastante
caracterizado pela fragmentação ocasionada pela descentralização. Ainda que a
centralidade possa ser considerada expressão de um domínio autoritário do governo
nacional da educação, também pode contribuir para corrigir distorções e
desigualdades regionais, especialmente se houver uma compreensão de que a
escola pública é um braço do Estado e que este ente tem a obrigação de exercer o
84
controle social no sentido de manter os serviços funcionando com a maior equidade
possível a partir das condições existentes.
Assim sendo, muito embora haja tentativas de coesão de propostas
absorvidas em âmbito transnacional, os recursos que os organismos internacionais
investem são menores do que o que os países gastaram, como apontam os estudos
de Casassus (2001). Dessa forma, o ponto convergente desse pensamento dá-se na
seguinte direção: há indução de algumas políticas e que, se em alguns momentos o
Brasil cedeu às pressões internacionais, foi muito mais porque os representantes
eleitos concordavam e, ainda assim, o país tem capacidade instalada para
pagamento da dívida.
No argumento acima cabe uma ressalva: os representantes eleitos não têm
tanta autonomia na condução de um governo, como bem ilustram as “amarras” do
poder, estabelecidas desde as alianças firmadas para ganhar uma eleição a um
cargo majoritário. As políticas de caráter internacional, de algum modo, pressionam
e têm lá as suas influências, haja vista que, por exemplo, o Governo FHC pautou-se
no avanço intenso de pressupostos neoliberais. Em seguida, ainda que tenham
assumido dois governos progressistas (Lula e Dilma) que, embora tenham dado uma
velocidade menor e uma roupagem diferente à políticas neoliberais (especialmente
quando se foca em políticas sociais), as políticas de obrigação de resultados
continuam em pauta.
As pressões externas/internacionais têm um peso e uma influência razoável,
mesmo porque os países centrais precisam de um novo trabalhador adequado à
nova realidade econômica e os países periféricos precisam atrair capitais para seu
desenvolvimento econômico, portanto a interdependência existe. O que não há é
uma transplantação fiel das políticas, e isto demarca uma questão propositiva no
campo educacional, aqui denominada resistência.
O formato de resistência considerado propositivo é designado por Freitas
como contrarregulação e trata-se não como “mera obstrução ou um movimento de
‘fechar as fronteiras da escola’ com relação às políticas centrais, penalizando o
usuário do sistema público” (FREITAS, 2005, p. 912), mas como uma forma de
resistir à regulação negativa e, sempre que possível, “avançar tanto na sua
organização como na prestação de serviços da melhor qualidade possível
(justamente para os que têm mais necessidades), tendo como norte a convocação
de todos para o processo de transformação social.” (FREITAS, 2005, p. 912). Muito
85
embora o ensaio de Freitas (2005) possa transfigurar-se em um tom um tanto
quanto utópico, algum movimento na direção de um controle mais democrático há
que ser pensado como alternativa a um controle autoritário e desprendido do
contexto.
Em conformidade com Reynaud (1998, 1995), seguido por Barroso (2006) e
outros teóricos, dependendo da forma como as estratégias de regulação são
acionadas e conduzidas, há três tipos complementares de regulação: (1) regulação
institucional (normativa e de controle); e (2) regulação situacional (ativa e
autônoma); e (3) regulação conjunta. Esta será a tipificação seguida aqui,
salientando que dependendo do autor, essa tipificação sofre alterações, ainda que
as ideias estejam associadas e o cerne da teoria se mantenha.
Por meio da regulação institucional as autoridades públicas introduzem
“regras” e “constrangimentos” no mercado e na ação social, evidenciando “as
dimensões de coordenação, controlo e influências exercidas pelos detentores de
uma autoridade legítima.” (BARROSO, 2006, p.13). Essas regras e esses
constrangimentos são operados pela via legal e cristalizados nas estruturas formais
vinculadas ao Estado.
Essa primeira tipificação constitui uma forma verticalizada de regulação e
provém de um conjunto de estratégias institucionais que operam da seguinte forma:
“tem-se, no centro, uma autoridade legítima representada por um governo ou
hierarquia de uma organização que estabelece uma série de regras e orientações
que devem ser seguidas pelos membros de seu grupo.” (OLIVEIRA, 2012, p. 80). As
autoridades legalmente constituídas, no âmbito de suas competências, definem
regulamentos, aplicam as regras formais e fiscalizam o seu cumprimento.
Barroso (2003) resume o quadro político e administrativo em que se assenta
a regulação institucional em cinco pontos fundamentais: 1º) forte protagonismo
estatal; 2º) organização burocrática, com uma retórica descentralizadora, liberal e
modernizadora; 3º) substituição de um “controlo pelas normas” por um “controlo
pelos resultados”; 4º) reforço da participação local e da autonomia das escolas; e,
por fim, 5º) criação de múltiplos dispositivos de avaliação. Para esse estudioso,
esses domínios são o modo como o Estado tem exercido a sua função de
coordenação e controle. Trata-se, portanto, de uma forma de intervenção
governamental de um ponto de vista macro.
86
Os cinco pontos acima elencados transpõem fronteiras, pois muito embora
sintetizem a regulação institucional no contexto da educação em Portugal, se
adequam ao Brasil, pois as reformas educacionais empreendidas em escala mundial
comprometem, em certa medida, a identidade de alguns contextos educacionais,
inclusive no nível das municipalidades.
A segunda tipificação nomeada regulação situacional (ativa e autônoma)
trata-se da definição das “regras do jogo” que são constituídas tanto pela conjuntura
política quanto pelos micro fenômenos sociais localizados, visto que há capacidade
de intervenção dos agentes locais da política, e, por vezes, a correlação de forças é
vencida pelas leis de mercado que exigem das instituições padrões de eficácia e de
prestação de contas.
Mesmo com a força proveniente da “definição de regras (normas, injunções,
constrangimentos etc.) que orientam o funcionamento do sistema” (BARROSO,
2005, p. 731), trata-se de uma regulação autônoma que tanto sofre pressões das
autoridades formalmente constituídas e, portanto, enviesada por todo um
ordenamento jurídico que regula as relações sociais, como não é imune aos
elementos oriundos da pressão social. E esse movimento é intensamente dialético,
permeado por conflitos e negociações, marcado por avanços e recuos da autoridade
governamental que, por vezes, é pressionada a fazer concessões a partir das forças
exteriores aos domínios do poder estatal.
A terceira tipificação nominada por Reynaud (1998, 1995) como regulação
conjunta diz respeito à interação entre as duas outras formas de regulação,
institucional e situacional, em face da produção de regras comuns. Para Lessard
(2010), trata-se de uma regulação efetiva, fruto do encontro dessas duas formas de
regulação. Este autor destaca a autonomia reivindicada pelos trabalhadores e o
controle imposto pela hierarquia, que evidencia o distanciamento entre o trabalho
prescrito e o trabalho real.
No enfrentamento às contradições que se constituem o cerne da sociedade
capitalista, o Estado se reinventa para poder intervir na dinâmica social e toda sua
complexidade organizacional. Nesse processo de reinvenção, o Estado estabelece o
que Maroy (2006; 2008) denomina novos modos de regulação do sistema
educacional pautados na regulação por resultados e, como decorrência, há um
aumento da legitimidade da avaliação sobre os resultados educacionais.
87
2.2.2 Instâncias de regulação nos sistemas educativos
Neste tópico, é importante pontuar inicialmente duas questões:
1ª) como postula Barroso (2006), o estudo de uma conjuntura político-
educacional precede a compreensão das políticas públicas. Com essa premissa,
mesmo que as instâncias de regulação aqui estejam didaticamente separadas, há
dois elementos precedentes a esta forma de apresentação, quais sejam:
a) há simbioses entre elas, ou seja, os contornos entre as instâncias não são
tão rígidos e nem sempre são tão evidentes, pois os contextos em que elas se
realizam não são isolados, se comunicam e há trocas entre os vários domínios de
regulação. Por exemplo: a depender do contexto, a regulação transnacional pode
afetar diretamente a regulação local; e
b) uma relação de complementariedade e isto quer dizer que os contextos são
interdependentes e, por isso mesmo, assim como as instâncias de regulação se
entrecruzam os diversos domínios de regulação se complementam.
Tais questões decorrem do fato de que em cada nível ou formato de
regulação pode haver releitura da política, a partir de uma ressignificação inerente a
cada contexto em que a política opera. Além disso, a regulação da política é situada
num determinado período histórico e, portanto, sujeita às instabilidades do sistema
social, econômico, político e cultural. Essa ressignificação se dá não em um
ambiente de harmonia, mas de conflito de interesses, de enfrentamentos, de formas
diferentes de reagir às influências do contexto da política;
2ª) o contexto local, tratado de forma mais amiúde na instância de regulação
nominada microrregulação local, trata-se do sistema público da educação básica no
Acre.
Nos domínios específicos da regulação dos sistemas educativos, à luz de
Barroso (2006) é possível identificar três níveis ou instâncias de regulação
diferentes, mas complementares entre si, quais sejam: (1) regulação transnacional;
(2) regulação nacional; e (3) microrregulação local.
(1) Regulação transnacional – não se aplica ao percurso teórico-
metodológico adotado nesta tese. O supramencionado autor, de nacionalidade
portuguesa, se posiciona a partir da realidade de um país que compõe a
Comunidade Europeia e que, portanto, subscreve a acordos e modelos
transnacionais. No caso brasileiro não se absorve, na mesma escala de regulação e
88
de forma homogeneizante, a tendência de envolvimento com os países centrais.
Assim, esta investigação não se atém à análise da regulação em nível transnacional,
uma vez que aqui interessam as relações estabelecidas entre o nacional/local e não
entre o internacional/nacional.
(2) Regulação nacional – este nível de influência aproxima-se do conceito
de regulação institucional utilizado por Maroy e Dupriez (2000). Barroso remete este
nível “para as formas institucionalizadas de intervenção do Estado” (BARROSO,
2006, p. 560) e, por esse motivo, congrega as principais formas de regulação das
políticas educacionais.
Para Barroso, a regulação nacional diz respeito ao:
modo como as autoridades públicas (nesse caso o Estado e sua administração) exercem a coordenação, o controlo e a influência sobre o sistema educativo, orientando através de normas, injunções e constrangimentos o contexto da acção dos diferentes actores sociais e seus resultados. (BARROSO, 2006, p. 50).
Nessa função de coordenação e controle, o Estado conduz a sua
administração e é definidor dos processos de regulação da educação nacional,
muito embora no contexto brasileiro haja a força dos movimentos sociais, muito mais
contundente nos anos 1980, como já anotado.
(3) Microrregulação local – em cada contexto local, diferentes atores
interagem e, inevitavelmente, conflitos emergem, sobretudo, quando interesses
diversos não são “equilibrados” pelo conjunto de forças que compõem os jogos de
poder. É na direção de atenuar conflitos e garantir coesão que a microrregulação
local opera.
A microrregulação como instância de regulação diz respeito a “um conjunto de
estratégias, negociações e ações, de vários atores, pelo que as normas, injunções e
constrangimentos da regulação nacional são (re)ajustadas localmente, muitas vezes
de modo não intencional.” (BARROSO, 2006, p. 57).
Nesse processo de reajuste da política, as negociações empreendidas nem
sempre conseguem evitar o confronto, pois há “diferentes interesses, lógicas,
racionalidades e estratégias em presença” (BARROSO, 2006. p. 57), e isso pode
implicar profundas mudanças na gestão, nos valores em permanente confronto, nas
transformações inerentes aos próprios processos regulatórios. Aqui, as forças mais
ativas são aquelas oriundas dos agentes da gestão do sistema educativo. Essas
forças têm um relativo controle dos confrontos que, na contradição de conjunturas
89
capitalistas, são inevitáveis, uma vez que as divergências e os interesses de classes
são evidentes. Se o Estado pudesse, evitaria os confrontos, quando os enfrenta é
justamente porque as disputas dos protagonistas sociais o induzem a enfrentá-los.
Os anos 2000 se assentam em processos de amadurecimento democrático,
provocados por lutas, confrontos e, em alguns momentos, recuos. É nesse cenário
que o Estado ora cede, ora nega, ora afrouxa, ora intensifica os mecanismos de
regulação pela via da avaliação em larga escala. De um modo ou de outro, ainda
que em alguns momentos os papéis dos agentes públicos sejam muito bem
definidos, as intencionalidades da política nem sempre são explicitadas, e esse
aspecto é comum no jogo da política.
Nas esferas de regulação, em especial na microrregulação local, não há
unicidade e aceitação plena das ideias advindas das diversas instâncias de
regulação educacional. Muito embora as estruturas reais das instituições sejam
rigidamente constituídas, as pessoas que as compõem são móveis, profundamente
marcadas pelas diferenças, pelo entrecruzamento de ideias e ideologias, ainda mais
no caso do Acre em que as alianças firmadas para compor o governo são reflexo de
negociações e acordos formatados pela base de sustentação política do grupo que
compõe e mantém a Frente Popular do Acre (FPA) em um governo de continuidade
desde 1999.32
Por vezes, as diferenças entre projeto político e ações realizadas são invisíveis
e em outras vezes são explicitadas por meio de aberturas que o próprio confronto do
jogo da política local se encarrega em deixar transparecer. O Acre é um estado com
uma cultura bem demarcada pela proximidade das relações sociais, em que a
informalidade, as relações de vizinhança, o lado pitoresco ainda presente nos
municípios e alguns bairros da capital, enfim, ainda guarda marcas bem
diferenciadas dos conflitos em nível nacional; todos estes aspectos bem
característicos contribuem para evidenciar os jogos específicos inerentes ao
contexto do poder local.
Com um olhar na microrregulação local, é possível compreender os aspectos
positivos do conflito, pois este pode contribuir para desocultar formas de opressão
empreendidas pelos mecanismos de regulação. E esta questão pode provocar a
necessidade de o Estado rever as suas formas de controle, especialmente quando
32
A trajetória dessa aliança política será abordada no capítulo seguinte.
90
este não se firma na sua representatividade política, ou mesmo quando não se
reinventa diante dos desafios da política em ação, ainda mais no âmbito do sistema
educativo em que há toda uma complexidade.
Por todas essas questões, no campo educacional a regulação “não pode ser
vista como um processo único, automático e previsível, mas como um processo
compósito, que resulta mais da regulação das regulações do que do controle direto
da aplicação de uma regra sobre a ação dos ‘regulados.’” (BARROSO 2003 p.39). A
regulação acontece num ambiente vivo. Qualquer tentativa de transplante passa
primeiro pelo crivo da cultura escolar, um “campo minado” de esclarecimento, um
campo responsável pela formação de pessoas, que a sociedade ainda considera e
investe no sentido de ampliar o seu acesso.
No contexto brasileiro, com a expansão dos sistemas públicos de ensino,
sobretudo com a universalização do ensino fundamental, ao mesmo tempo em que
há uma regulamentação específica com atribuições definidas para cada ente
federado, há uma intensificação dos processos regulatórios, associado à ideia de
organização e controle dos sistemas educativos e de prestação de contas à
sociedade civil, uma vez que o que está em jogo, pelo menos no discurso oficial, é o
bom uso do dinheiro público com vistas a assegurar políticas educativas justificadas
pela necessidade de melhoria do ensino.
No processo de amadurecimento democrático e de consolidação de políticas
socialmente referendadas, a educação ocupa lugar de destaque, tanto que muitas
vezes, a escola evidencia-se como espaço de promoção da justiça social, tendo
suas funções deslocadas para a correção dos desequilíbrios da estrutura social e
econômica, assumindo atribuições complementares como a implementação de
programas sociais, deslocando-se inclusive do seu papel histórico de espaço
primordial de acesso aos bens culturais.
Os mecanismos de regulação influenciam, controlam e garantem a
intervenção das autoridades públicas no sistema educativo, ultrapassando a
capacidade instalada que o Estado tem na produção de regras, sejam elas
emanadas diretamente dos órgãos gestores dos sistemas educacionais, ou de
planos elaborados pela própria equipe de gestão escolar e comunidade, conforme
cada caso. De uma forma ou de outra, o que parece entrar em cena é o
cumprimento de metas previamente estabelecidas e registradas em planejamentos
91
educacionais, ainda que entre a política pensada e a política em uso haja mediações
em potencial, sobretudo no contexto da dinâmica dos sistemas educativos.
Na última década do século XX, com a inserção das políticas de avaliação
externa, o Estado brasileiro assume um controle mais amplo, formal, incisivo e
sistemático no campo educacional. Alguns formatos de recepção dos resultados das
avaliações em larga escala acabam se aproximando com a competição instalada no
setor privado, e isso pode acarretar competição entre escolas, professores, turmas e
alunos; competição esta amplamente justificada pelos órgãos gestores do sistema
educacional nas promessas e nos compromissos estabelecidos em prol da melhoria
dos resultados. Em relação a essa problemática, há uma crença “de que as
pressões geradas pela competição, suscitada pelos procedimentos avaliativos, farão
com que sejam mobilizados processos e recursos que resultarão em melhoria da
qualidade de ensino.” (SOUSA; OLIVEIRA, 2003, p. 890). E essas pressões podem
ser tão ou mais coercitivas que os mecanismos burocráticos de controle.
A regulação das políticas educacionais é marcada pela recomposição do
Estado, que tem um forte papel indutor na condução das políticas, como já
evidenciado, e o reconhecimento deste fator implica na necessidade de não ignorar
as outras instituições intervenientes do processo de regulação. No discurso oficial, a
reforma gerencial promovida nos dois mandatos consecutivos do Governo Fernando
Henrique Cardoso33 recoloca o Estado na direção de ser “ágil e competente no
atendimento de seus cidadãos, como também é imprescindível que esses não se
intimidem ao procurar os serviços públicos e que tenham certeza da boa qualidade e
da eficiência do serviço prestado.” (BRASIL, 2000, p. 10-11).
Essa nova configuração de Estado e das políticas educacionais tem como
pressuposto a implementação de estratégias voltadas para a diminuição da ação do
Governo na prestação do serviço público aos cidadãos, por meio de uma “gestão
empreendedora” que prima pela cultura de resultados, no lugar da cultura
burocrática, esse paradigma se assenta na estrutura administrativa de um Estado
que, no limite, abala as formas democráticas de participação.
No contexto brasileiro, a avaliação em larga escala, aqui considerada um
mecanismo de regulação, se materializa em 1990 com a primeira aplicação do
Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), consolidada como política de
33
1º Mandato: de 1995 a 1998; e 2º Mandato de 1999 a 2002.
92
Estado a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996). No governo
Lula, mesmo com uma linha de ação que incentivava a participação popular, o
processo de consolidação da política avaliativa no âmbito da educação pública tem
continuidade. Ainda que as forças políticas tenham sofrido algumas alterações,
seguindo linha similar, o Governo Dilma mantém o ideário e continua os
investimentos nas avaliações externas.
Os diversos modos de regulação aplicados em diferentes espaços
institucionais e por diferentes dispositivos afetam o funcionamento e as políticas no
contexto em que se realizam, por meio de mecanismos de interação social. Por
outro lado, a busca pelo equilíbrio do sistema social, por meio de instrumentos de
controle dos resultados pretendidos requer uma diversidade de estratégias,
sobretudo “num sistema social complexo (como é o sistema educativo) existe uma
pluralidade de fontes [...], de finalidades e modalidades de regulação, em função da
diversidade dos actores envolvidos, das suas posições, dos seus interesses e
estratégias.”34 (BARROSO, 2006, p. 733).
Os mecanismos de regulação educacional se realizam no âmbito das
relações sociais mais amplas e como tal não são processos mecânicos, mas
processos articulados nas relações entre sujeitos e instituições e, neste sentido,
podem tanto contribuir para reproduzir as desigualdades (regulações conservadoras)
quanto para transformar as normas das organizações sociais (regulações
transformadoras), segundo classificação estabelecida seguida por Diebolt (2001).
Esses níveis de regulação, complementares entre si e coexistentes num
mesmo contexto, são assim descritos por Diebolt (2001): a regulação conservadora
tem como “única função assegurar a coerência, o equilíbrio e a reprodução idêntica
do sistema” (p. 9) e a regulação transformadora, além de admitir diversos modos de
regulação, dá lugar a novos formatos de organização. Essa questão tem uma
complexidade justamente por não se reduzir ao caráter conservador ou
transformador. Algumas práticas investem na perspectiva da mudança, fazem
algumas concessões, porém, na intencionalidade de manter certos aspectos que
também são considerados como oriundos da linha conservadora.
A regulação do sistema educativo pode se assentar muito mais em dados
apontados pelos indicadores e índices educacionais do que pelas questões
34
A esse respeito, ver também Barroso (2005).
93
pedagógicas propriamente ditas, e quando se confirma esta propensão “tende a
sobrevalorizar indicadores e resultados acadêmicos quantificáveis e mensuráveis
sem levar em consideração as especificidades dos contextos e dos processos
educativos.” (AFONSO, 2001, p. 26).
Assim sendo, a regulação também pode se assentar num modelo burocrático
com vasta produção normativa de regulação, como aponta Natércio Afonso (2003 p.
50-52), coexistindo com formatos que tendem à modernização dos processos,
calcada na crise do Estado e no combate à sua “ineficiência”.
Quando se vincula essa supervalorização de indicadores e resultados
quantificáveis à questão da “autonomia escolar” esta “continua a parecer mais
retórica do que real, acabando, sobretudo, por ser um pretexto para a avaliação e
para a responsabilização dos actores” (AFONSO, 2001, p. 26), perspectiva que
antes aproxima a instituição escolar dos modelos de responsabilização ou obrigação
de resultados do que da real autonomia escolar.
Intensificada nos anos 1990 e consolidada nos anos 2000, a avaliação em
larga escala compõe um lugar de destaque no cenário educacional brasileiro nos
dias atuais, cenário este marcado por um dos efeitos da municipalização que diz
respeito ao repasse de matrícula dos Estados para os municípios e à
universalização da educação básica, dentre outros princípios, expressos no Art. 206
da CF/1988. Esses dois marcos ganham expressão nas políticas educacionais e na
discussão sobre a oferta educacional, bem como em investimentos voltados para a
qualidade do ensino (formação docente, investimento em infraestrutura, transporte
escolar, dentre outros indicadores) e gestão dos sistemas de ensino (avaliação,
financiamento com recurso descentralizado para as unidades escolares, políticas
educacionais de incentivo ao fortalecimento de conselhos escolares e à formatação
de planos de desenvolvimento da escola).
Tanto para Lessard (2004) como para Demailly (2001), a regulação
educacional se expressa numa nova modalidade denominada obrigação de
resultados, e isso implica redefinição de papéis e atribuições dos sistemas
escolares, além de estabelecer uma dinâmica produtivista que tem influências tanto
externas como internas. Do ponto de vista externo desta dinâmica, observa-se no
destaque que a educação tem no processo de qualificação de profissionais para o
mercado de trabalho e para a produção de bens e serviços. Internamente, os
critérios de produtividade ensejados para as escolas têm uma aproximação com a
94
questão de custo/benefício, no sentido de que os recursos aplicados sejam
maximizados e expressos em resultados escolares. Nessa direção, os princípios
econômicos adentram o campo educacional explicitados em termos como
“maximização de produtividade”, “minimização de gastos”, dentre outros.
Essa questão de obrigação de resultados “se insere em novas demandas
para a educação, apresentando exigência de ampliação da produtividade, do
domínio de custos, e define novas formas de atuação para as escolas e
professores.” (AUGUSTO, 2011, p. 1). E é exatamente na definição de metas
educacionais que se estabelecem metas para o aumento da produtividade, ao passo
que se substitui um controle por normas por um controle pelos resultados, campo
fértil para que a avaliação externa reforce seus dispositivos de atuação.
Ao se considerar a regulação como inerente a todo sistema social que
assume a função de assegurar equilíbrio, coerência e, também, sua transformação
(BARROSO, 2003), a regulação educacional trata-se de múltiplos dispositivos que
compõem os sistemas de ensino com vistas a definir as “regras do jogo”, capazes de
acionar mecanismos de controle e normativas a fim de intervir na dinâmica de
organização do ensino, provocar ajustes e controlar os resultados estabelecidos em
metas previamente definidas sem, contudo, ser imune às contradições e aos
conflitos expressos nas ações dos diferentes sujeitos que se colocam não como
meros receptores, mas como condutores do processo educativo.
Ainda que não seja uma adesão pura e simples e haja resistências de parte
dos profissionais da educação e da sociedade expressos em tensionamentos
provenientes dos movimentos sociais, o gerencialismo se instala na direção da
gestão descentralizada das escolas por meio de normatizações e mesmo expresso
nos padrões de condutas que permeiam as relações de trabalho; relações estas que
provém “das doutrinas propagadas pelo novo gerencialismo, em uma perspectiva
dos ganhos econômicos que podem advir da gestão descentralizada e do uso da
participação como forma de cooptação para ideias já previamente assumidas.”
(SANTOS, 2010, p. 843, grifo nosso). Assim, quando a gestão dos sistemas de
ensino e da própria gestão escolar incorpora princípios produtivistas de forma
despolitizada e até naturalizada, em especial pela via das avaliações educacionais,
é uma forma de expressão desse novo gerencialismo, anteriormente abordado.
Contudo, a lógica gerencialista não compõe os ideais de uma educação que
se constitui e se estabelece numa lógica democrática. Desde o rompimento com a
95
ditadura militar no Brasil, aquilo que no campo educacional é verticalmente imposto
ou aquilo que tenta se estabelecer sem a participação das bases que compõem o
sistema educacional pode sofrer embates inerentes a uma sociedade marcada pela
luta de classes, isto porque a história da educação também se constitui por
resistências, ainda que os processos regulatórios sejam competentes quando
acionam mecanismos de repressão, mesmo assim, o movimento dos trabalhadores
em educação, fortalecido pelas ideias oriundas das universidades e de outras
instituições com história nos movimentos sociais fornecem elementos importantes
para os embates, sejam estes reais ou simbólicos.
No item seguinte, aprofunda-se a discussão da avaliação em larga escala
considerada a base da regulação educacional, um formato de controle estabelecido
por meio do alcance de metas ou resultados educacionais.
2.3 A avaliação como mecanismo de regulação educacional
Regulação educacional é um conjunto de medidas acionadas por meio de
mecanismos institucionais de controle capazes de acompanhar o funcionamento dos
sistemas de ensino. Ao descentralizar suas ações, os órgãos gestores dos sistemas
públicos de ensino, por intermédio de autoridade institucional reconhecida, acionam
dispositivos de controle formais e informais e desencadeiam processos decisórios e
orientadores de ações.
A partir da descentralização do poder, o Estado estimula a autonomia das
instituições educacionais, incentiva o funcionamento de instâncias de participação
social (conselhos de educação, conselho escolar etc.), sem desconsiderar formas
sistemáticas de monitoramento das ações empreendidas. Assim, o processo é
permeado por relações de poder, participação social, negociações, estratégias de
vigilância e intervenção para garantir as metas previamente estabelecidas no que diz
respeito ao desempenho escolar.
No campo educacional, “a regulação compreende os arranjos institucionais,
tendo por objetivo coordenar o quadro da ação, envolvendo o macro e o local,
contribuindo para resolver problemas-chave para o funcionamento do sistema”
(AUGUSTO, 2010, p. 155). Por mais que o Estado descentralize recursos, propague
a ideia de gestão democrática e caminhe para universalizar a educação básica,
96
incorpora práticas regulatórias de controle, com ênfase em regulamentos
padronizados e na responsabilização via resultados educacionais obtidos pelas
avaliações em larga escala.
Vale salientar que as ideias provenientes da gestão dos sistemas de ensino
não são transplantadas para as unidades escolares, uma vez que passam por
processos de ressignificação, dada as especificidades do campo educativo que é
minado pela pluralidade de ideias e por formas próprias do ato educativo.
Para Casassus (2009), em face da ausência de consenso do que seja
qualidade na educação, as avaliações (utilizadas como medição) centralizadas e
estandartizadas, “nunca se trataram de políticas de educação, mas sim de políticas
de gestão do sistema da educação” (p. 72). As medidas tomadas para melhorar a
qualidade do ensino se relacionam com a gestão e não com aspectos pedagógicos
e, por esse motivo, “os sistemas centralizados de medição afastam os sistemas
educativos das finalidades para os quais foram criados” (CASASSUS, 2009, p. 73).
O que fica implícito nesse pensamento é a necessidade de mudança de paradigma,
inclusive com a observância de ideias provenientes e incorporadas pelo senso
comum, dentre as quais a necessidade de se “trabalhar com os docentes e não
contra eles” (CASASSUS, 2009, p. 73). Isso implica considerar a “gestão o fator
crucial para o fracasso do sistema” (p. 74). Admitir essa crítica poderá contribuir para
a reflexão da responsabilidade compartilhada.
Dentre outras políticas públicas, a regulação educacional se expressa na
regulamentação (leis, pareceres, decretos, dentre outras injunções) e, também, pode
constituir-se em instrumento para assegurar direitos. Tal perspectiva depende do
próprio processo de elaboração e implementação das práticas de avaliação
educacional.
A política educacional tem nos sistemas de avaliação em larga escala um
aliado norteador plenamente justificado do ponto de vista jurídico, institucional e
político, muito embora do ponto de vista pedagógico as críticas recaiam sobre a
perspectiva de que a educação, permeada por processos, não se restringe a um
produto (resultado).
Incorporada à gestão pública, a avaliação se constitui não somente em uma
ação regulamentar do Estado, pois o que está em jogo são as várias forças em
disputa, muitas vezes acirradas pelas discussões a respeito do financiamento
público da educação e na definição das competências inerentes ao contexto
97
administrativo brasileiro, em que prevalece o federalismo cooperativo segundo o
qual não basta definir as competências de cada unidade administrativa, mas
também é preciso garantir uma educação pública de qualidade.
Orientadas no sentido de reduzir as responsabilidades do Estado, as novas
formas de regulação via avaliação externa são expressas em termos como
“prestação de contas”, “padrão de desempenho”, “ensino por competências”. Esse
novo modelo de planejamento e gestão educacional manifesta-se tanto nas políticas
de financiamento como nas práticas de avaliações externas às escolas, assim como
implicações no currículo, dentre outras questões.
Isso reflete uma responsabilização oriunda dos níveis mais elevados da
burocracia sobre os níveis menos elevados, ou seja, às escolas como se estas não
se constituíssem instituições vinculadas ao Estado; como se os desafios enfrentados
por elas também não fossem desafios do Estado. Se há um “padrão de qualidade”,
há que se universalizar e se comprometer realmente com este “padrão”.
Por meio dos mecanismos de pressão, as forças burocráticas cobram por
resultados educacionais satisfatórios, numa espécie de responsabilização vertical
descendente, especificamente na direção de uma atuação mais sistemática dos
mecanismos de regulação, sobretudo, àquelas unidades escolares que não
atingiram as metas.
Esse formato de “condução da ação pública educacional pela via dos
resultados [...] mais punem do que apontam caminhos ou perspectivas”
(YANNOULAS; OLIVEIRA, 2013, p. 78). Para essas autoras, essa lógica “implica a
adoção de uma cultura de gestão nos moldes empresariais e, ao mesmo tempo, a
criação de mecanismos de responsabilização social.” (ibid, p. 84).
Na década de 1990, a ideia corrente era de que os investimentos na
educação eram substanciais e o problema centrava-se no mau gerenciamento dos
recursos dispendidos. Então, a saída seria a contenção dos gastos nacionais com a
educação. Esse desvio de foco contribuía para ocultar a necessidade de
responsabilização governamental, dentre outros problemas. Nos anos 2000 supera-
se esta compreensão e há um reposicionamento das discussões nas políticas de
financiamento público da educação.
Imbuídas de forte aparato jurídico, as instituições estatais estabelecem uma
combinação de controle burocrático e administrativo, num ambiente de “tensões e
ambiguidades” (BARROSO, 2006, p. 50), cabendo à regulação mediar os conflitos
98
no sentido de promover a coesão social; nessa lógica, a regulação pode ter um forte
vínculo com as formas de reprodução social inerentes aos contextos neoliberais.
Na perspectiva da reprodução social, tão importante quanto as normas e a
forma como as autoridades públicas exercem sua autoridade é o controle dos
resultados das ações políticas empreendidas e, por esse motivo, são intensificadas
as formas de regulação pelas vias institucionais que a avaliação externa pode
monitorar. Pelo menos esta parece ser a tendência dominante nas políticas e
concepções de avaliação não emancipatórias que se perdem no emaranhado das
cobranças por resultados, ensejando um senso comum que naturaliza, ou mesmo
ignora, a força política e pedagógica da avaliação.
A avaliação em larga escala pode se constituir em um mecanismo de
convergência de políticas tanto no âmbito da gestão do sistema como na esfera da
gestão das instituições a ela vinculadas, trata-se, portanto, de um dispositivo
orientador de políticas que indica caminhos e incita ajustes cobrados via obrigação
de resultados. Nesse sentido, “a obrigação de resultados surge associada à ideia de
modernização da administração, sendo mais frequentemente utilizada em
administração, que em educação.” (AUGUSTO, 2010, p. 174).
A associação à questão da modernização educacional tem uma íntima
relação com a “obrigação de resultados” que é imputada às escolas via resultados
das avaliações em larga escala. Para Lessard (2004), o termo “resultados” expressa
a ideia de pressão social cada vez mais forte e dissonante da função social e
pedagógica da escola. De fato, a avaliação possibilita um controle mais consistente
e permite o fortalecimento da gestão do sistema, especialmente se a concepção
norteadora for a valorização dos profissionais da educação e se as estratégias
definidas para o alcance de metas sejam construídas, compartilhadas e assumidas
por todos.
Do contrário, há a verticalização ou a responsabilização descendente, aquela
que exprime não somente uma hierarquia de mando, como também o ordenamento
de responsabilidades, não compartilhadas, mas imputadas “de cima para baixo”. Tal
questão implica uma ressalva: “em um sistema em que uma grande parte da
autoridade é delegada à escola, como fica a responsabilidade dos governos
estaduais e dos distritos locais em relação ao tratamento dado aos alunos e a seu
desempenho?” (DARLING-HAMMON; ASCHER, 2006, p. 18), nesse sentido, as
mesmas autoras respondem que a grande questão é saber quem deve ser
99
responsabilizado “pela regulação de inputs (recursos) ou de resultados (medidas de
desempenho).” (ibid, p. 18).
No caso do Acre, se antes de 1999 os mecanismos burocráticos de controle
se assentavam na configuração de uma vigilância e de um controle assistemático,
os especialistas em educação e os supervisores educacionais eram o braço do
órgão gestor na escola, sendo assim, o controle era mais direto e explícito. A partir
de 1999, o Acre tem um grupo no governo que, em tese, é crítico a este modelo,
contudo, no campo educativo, a política de avaliação do sistema de ensino
implementada vem se constituindo e se movimentando no sentido de se adequar ao
sistema nacional de avaliação de resultados e, nessa linha, ao invés de entrar na
disputa com proposições contrárias, o Estado estabelece a política da lógica
hegemônica.
Nos anos 2000, há investimentos em políticas sociais que ampliam direitos,
sobretudo, como reflexo do processo de redemocratização da sociedade brasileira e
dos tensionamentos oriundos dos movimentos sociais, fatos que implicam alterações
nos modos de intervenção estatal, especialmente nos mecanismos que o Estado
usa como dispositivos de regulação, potencialmente conflituosos. Esses
mecanismos operam por meio de arranjos institucionais e podem se configurar na
pressão pela obrigatoriedade de resultados educacionais pela via da avaliação em
larga escala.
Nesta pesquisa, uma das intencionalidades é observar os mecanismos de
regulação pela via da avaliação educacional em sua modalidade de larga escala,
assim, no capítulo seguinte, apresenta-se o contexto sociocultural e histórico de
implementação do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem (Seape/AC): o
sistema público da educação básica do Acre, especialmente naqueles aspectos
caracterizadores da política local e das suas relações com os processos de
regulação do sistema de ensino. Retratará, ainda, os mecanismos provocadores de
reajustamentos no nível micro da política em ação, descrevendo as contingências
locais para compreender os movimentos que contribuem para a implementação da
política local.
100
CAPÍTULO 3
O SISTEMA PÚBLICO ESTADUAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ACRE
Com o objetivo de situar o sistema público de ensino do Acre, contexto do
processo de implementação do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem
Escolar (Seape/AC), este capítulo aborda inicialmente um panorama geral do
Estado, a partir de uma conjunção de elementos históricos e socioeconômicos que
compõem o cenário político local, em especial o perfil dos governos que
administraram o Estado antes e após a Frente Popular do Acre (FPA),35 sobretudo
naqueles condicionantes que influenciam a formulação da política educacional, aqui
considerados elementos imbricados com a decisão pela implementação de um
sistema próprio de avaliação em larga escala.
O contexto político é descrito como anterior a 1999 e posterior a 1999. Esse
marco divisório tem como referência a FPA e não se trata apenas de uma questão
didática, mas se justifica no reconhecimento de dois momentos distintos na política
partidária acreana. Contudo, a intenção não é estabelecer comparações desses
períodos situados em conjunturas tão diferentes. Em cada fase há mediações,
dispositivos legais, dentre outros fatores que acabam por estabelecer mudanças,
incentivar o amadurecimento democrático e a qualidade no serviço e na educação
pública.
O contexto anterior a 1999 se constitui no revezamento das duas forças
componentes do tradicional bipartidarismo (PMDB e PDS) que, por um longo
período, assumiu o Poder Executivo no Estado. O contexto posterior a 1999
corresponde a uma ruptura de governo empreendida pela FPA, sobretudo pelo
esgotamento de um modo de governar, diante de um novo grupo que propõe um
projeto diferente. Esta mudança se efetiva no momento em que um conjunto de
forças sociais diferentes e, por vezes, divergentes inicia a consolidação de um novo
grupo político que tem sob a sua regência um projeto de governo com
35
A Frente Popular do Acre (FPA) é uma aliança de partidos políticos organizada para concorrer às eleições de 1998. Nessa ocasião Jorge Viana é eleito Governador (1999-2003) – 1º Mandato. Em 2015, a FPA está no 5º mandato consecutivo à frente do poder estadual acreano. Oriundos deste mesmo grupo exercem mandato os seguintes Governadores: Jorge Viana (2003-2007) – 2º Mandato; Binho Marques (2007-2011) - Tião Viana (2011-2014) – 1º Mandato; Tião Viana (2015-2018) – 2º Mandato.
101
intencionalidade de repercutir em políticas públicas de reconhecimento de direitos
sociais.
Na continuidade do texto, situa-se a política delineada para a educação
básica a partir da caracterização de seu sistema de ensino, formato de organização,
suas bases legais, dentre outras nuances da política pública de educação no âmbito
local.
3.1 Panorama do Estado do Acre: contexto histórico, condições
socioeconômicas e cenário político
A decisão por fazer uma retrospectiva da fase de consolidação do Acre como
Estado intenciona caracterizar e contextualizar a sua gênese, marcada por conflitos
e lutas, com repercussões até os dias atuais. A história acreana tem seu vínculo
inicial com o território boliviano; condição esta que se mantém até o início do séc.
XX, sendo a última área de terras incorporada ao Brasil.
Marcado pelos conflitos de fronteira e sem uma atuação direta do governo
brasileiro para resolver as contendas, articulações de lideranças como Plácido de
Castro e o jornalista espanhol Luiz Galvez se efetivaram em defesa da expansão de
terras cobiçadas, sobretudo pela ocorrência da borracha, o “ouro negro”, uma das
riquezas vegetais com forte potencial econômico. Segundo Freitas (1946), os feitos
alavancados por essas lideranças, com o suporte de um “exército” de
trabalhadores,36 proclamaram em 1889 o Estado Independente do Acre, na
sequência transformado em República, com sede de governo e exército próprios.
Em 1903, diante das pressões por parte dos bolivianos e sem condições de
enfrentamento, esse “governo local” se viu obrigado a ceder o território ao Governo
Federal.
Superado o vínculo inicial de província da Bolívia e após a tentativa de
república independente, o Acre é anexado definitivamente ao território brasileiro em
1904, por decreto do presidente Rodrigues Alves, tornando-se “o primeiro Território
Federal da história brasileira. Um sistema político-administrativo, não previsto na
Constituição, que estabelecia que o Acre deveria ser administrado diretamente pela
Presidência da República, a quem caberia nomear seus governantes e arrecadar
36
Conhecidos como “soldados da borracha”.
102
impostos.” (NEVES, 2008, não p.). Em 1962, com pouco mais de 200 mil
habitantes, assume a categoria de Estado, por meio da Lei n.º 4.070, sancionada
pelo então Presidente da República João Goulart.
O processo de sua incorporação é permeado por conflitos de luta pela terra,
pois “desde as primeiras décadas do século XIX [...] a maioria de sua população é
formada por brasileiros que exploram os seringais e não obedecem à autoridade
boliviana” (ACRE, 1999a) e esta resistência é um dos fatores determinantes que
provoca um “conjunto de enfrentamentos, principalmente com relação à Bolívia [...]
conhecido como Revolução Acreana, e garantiu a posse do Brasil sobre o território,
sendo ainda hoje fonte do forte sentimento regionalista que marca o Estado.”
(SANT’ANA JÚNIOR, 2004, p. 4).
Esses conflitos têm sua gênese na década de 1970 quando o governo militar
faz investimentos na Amazônia com vistas a integrá-la à perspectiva
desenvolvimentista nacional, suspendendo significativamente as políticas de apoio
ao extrativismo da borracha e, em substituição, fomentando projetos de pecuária e
agricultura em larga escala, sobretudo sob a forma de incentivos dos Governos
Estadual e Federal para o povoamento da região, especialmente por migrantes
sulistas e nordestinos.
Para Almeida Júnior (2006)37, a formação histórica do Estado e a atipicidade
de Território Federal contribuíram para:
a configuração de um complexo cenário institucional. De um lado, negativamente marcado pela forte presença do clientelismo, resquício dos patrões seringalistas e dos superpoderosos governadores, nomeados pelo Governo Federal. De outro, a luta pela afirmação de uma cultura renovada, com forte identidade socioambiental, nascida da rica história de luta dos povos da floresta, herdeiros de um povo que, depois de lutar para ser brasileiro, teve que continuar lutando para conquistar o direito à autonomia. (ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 49).
Essa atipicidade apontada anteriormente tem repercussões em vários campos
de atuação do Estado, sobretudo nos caminhos trilhados pelo serviço público e se
configura, sob contornos próprios, como um elemento importante no contexto do
Acre contemporâneo, como será retratado no item seguinte.
Os elementos constituidores da história do Acre têm influência na sua
37
Almeida Júnior, conhecido como Binho Marques, é referenciado neste trabalho e, também, participa como entrevistado justamente por ser um dos atores políticos importantes no processo de implementação do Seape. Este fato decorre do reconhecimento de que sua dissertação aborda elementos importantes da política educacional do Acre, ainda que seja importante fazer mediações e reconhecer que o autor representa uma das vozes da FPA.
103
expansão, fortemente marcada pela mudança no sistema de posse e concentração
de terras. Segundo Cavalcanti (1983, p. 70), de 1970 a 1975, 38% das terras
acreanas foram vendidas para apenas 284 investidores. Nesse contexto, o direito de
posse da terra às populações tradicionais que ocupavam o Acre ficou comprometido,
fato que provocou resistências e conflitos, tanto que:
A partir de 1975, povos tradicionais da floresta começaram a se organizar e a desenvolver diferentes estratégias de resistência. Essas incluíram a fundação dos primeiros STRs e a organização de “empates,” uma forma de resistência coletiva, ambas na segunda metade da década de 1970. (STONE; SCHMINK, et al., 2007, p. 8).
Na década de 1980, com a força dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
(STRs), houve conflitos armados, “onde seringueiros se postavam à frente do
maquinário utilizado para a extração madeireira. A ideia de impedir o avanço dos
tratores utilizados para a derrubada da floresta se materializou na forma dos
chamados ‘empates’” (ELLER; FUJIWARA, 2004, p. 64), fundamentais no combate
ao poderio dos seringalistas e fazendeiros que, de uma forma ou de outra, estavam
envolvidos com o poder público acreano, ao longo de toda uma trajetória política.
Na década de 1980 e nos anos iniciais da década seguinte, o Estado
brasileiro está submerso à crise institucional38 evidenciada pelo acirramento dos
conflitos sociais e, no caso do Acre, manifesta nos enfrentamentos capitaneados
pelos movimentos sindicais dos trabalhadores urbanos e, com maior força política,
por parte dos trabalhadores rurais organizados em sindicatos, ferrenhos
contrapositores dos sucessivos governos que alijaram políticas sociais, dentre elas,
a política educacional.
Após meio século do alcance da autonomia política do Estado, esta
prerrogativa não se reflete em sua autonomia financeira tendo em vista que o Acre,
ainda hoje, depende quase exclusivamente de repasses federais, sendo o segundo
estado brasileiro que mais recebe verbas da União, em termos proporcionais,
considerando-se como referência o ano de 2011. Em conformidade com dados
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010), a
participação do Estado do Acre no PIB brasileiro entre os anos de 1995 e 2008
mantém-se em 0,2%.
38
No contexto brasileiro, a crise institucional dos anos 1980 é marcada pelos seguintes fatores: instabilidade econômica, ajustamento fiscal, falência de sucessivos planos econômicos, descontrole nos índices inflacionários, endividamento externo, dentre outros.
104
Localizado no sudoeste da Região Norte do Brasil, o Acre é um dos oito
estados da Amazônia Legal39 e tem como limites os estados do Amazonas a norte,
Rondônia a leste, a Bolívia a sudeste e o Peru ao sul e oeste. É o terceiro estado do
País com o menor número de municípios, com população estimada em 733.559
habitantes (IBGE/2010), possui 22 (vinte e dois) municípios e Rio Branco é a capital
do Estado.
Em 2010, o Acre registra uma população estimada em 733.559 habitantes
(IBGE/2010), que corresponde a cerca de 0,38% da população total do País, sendo
49,70% mulheres e 50,21% homens. O acreano é um povo que, em sua maioria,
vive na zona urbana, num total de 72,56%, sendo 27,44% moradores da zona rural.
Com base nos dados expressos, em termos populacionais, o Acre é
considerado o terceiro estado menos povoado do Brasil. Com um total de 4,47
hab./km2. Em termos de densidade demográfica é o terceiro estado da Região Norte
com menor densidade populacional, ficando à frente apenas de Roraima e do
Amazonas. Observando os dados dos estados nortistas, o Acre está um pouco
acima da média da região, que é de 4,12 pessoas por km2, bem abaixo da média
nacional, que é de 22,43 hab./km2.
Em relação ao número de empregos formais por setor de atividade, entre os
anos de 2009 a 2012, os dados assim se distribuem:
GRÁFICO 1 – EMPREGOS FORMAIS, POR SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA, ACRE, 2009 A
2012
FONTE: organizado do ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL (2013). NOTA: Refere-se ao número de empregos formais em 31.12 de cada ano expresso.
39
Termo criado pelo Governo Brasileiro para responder à necessidade de planejamento econômico do País; corresponde a 59% do território brasileiro e engloba a totalidade de oito estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Estado do Maranhão. Estende-se também pelo território de oito países vizinhos. (IPEA, 2008, não p.).
105
Observa-se que a ocupação predominante é a administração pública, com
uma tendência de queda nos últimos anos, seguida pelo setor de serviços, com uma
propensão de incremento. Em terceiro lugar, destaca-se o comércio, sem nenhuma
alteração quanto à posição por maior ocorrência ao longo dessa série histórica. Em
quarto lugar, o setor de atividade que se destaca é a construção civil nos anos 2009,
2010 e 2012. Em 2011, essa posição é ocupada pela indústria de transformação,
apresentando uma disposição para aumento. Em quinto lugar, destaca-se o setor da
indústria de transformação nos anos 2009, 2010 e 2012, já em 2011 esta posição é
ocupada pelo setor da construção civil. (BRASIL, 2014).
A economia do Acre concentra-se no extrativismo e no setor público. Apesar
disso, as atividades que menos geram empregos formais são o setor extrativo
mineral, os serviços industriais de utilidade pública e o setor de agropecuária. Este
ramo de atividade é responsável por parte significativa da produção no Acre muito
embora, em termos de emprego com carteira assinada, o setor agropecuário não
alcance destaque, ainda assim, emprega mais que o extrativismo e que a indústria
de utilidade pública juntas. E, nesse sentido, pode-se inferir que os direitos sociais
na zona rural chegam com bem menos intensidade do que na zona urbana e que a
necessidade de articulação por direitos seja mais intensa.
Em relação ao nível de instrução da população, o Estado destaca-se entre os
cinco estados brasileiros (Acre, Amazonas, Amapá, Rio de Janeiro e São Paulo) e o
Distrito Federal que possuem mais de 25% da população na faixa etária entre 25 e
64 anos, com pelo menos 11 anos de escolaridade. A média nacional é de 22,8%
(SEEC/INEP/MEC, 2000).
3.2 Contexto anterior a 1999
Nos anos 1990, a conjuntura do Acre é marcada por certa instabilidade
política, responsável pelo sucateamento ou mesmo pela extinção de várias
empresas estatais como a companhia de Saneamento do Acre (Sanacre), a
Companhia de Laticínios do Acre (Cila) e a falência do Banco do Estado do Acre, o
Banacre, responsáveis por processos de endividamentos dos cofres públicos e por
escândalos políticos de significativa repercussão estadual e, até, nacional
106
provocando consequências irreparáveis. A instabilidade da política evidenciava-se
em:
conflitos sociais que assolavam o Acre desde os anos 70, e a esse respeito não custa lembrar que o assassinato de Chico Mendes se deu em 1988, bem como escândalos que envolviam a malversação de recursos públicos parece ter sido decisiva para a volta da direita ao poder em 1990 com Edmundo Pinto. Direita que se manteve no poder também por dois mandados consecutivos até 1998, caracterizando um dos períodos mais problemáticos da história do Acre devido ao crescimento e a institucionalização do crime organizado e a desestruturação completa das instituições públicas. (NEVES, 2012, não p.).
Aqui cabe observar que a descrição acima pauta-se em um discurso
ideológico, circunstanciado na visão de um grupo que ascende ao poder. O trecho
anterior evidencia a contraposição do novo, representado pela FPA, com o velho,
representado pela “direita continuísta”. Com essa força ideológica da inovação, o
discurso traz consigo a retórica recorrente da mudança que agrada e mobiliza
adesão popular, muitas vezes, acatado sem que se percebam as lacunas ou o não
detalhamento dos fatos.
No contexto anterior a 1999, o órgão gestor estadual da educação que
acompanha as ações empreendidas nas escolas públicas se limita a aplicar
investimentos esparsos em estruturas escolares, fiscalização do cumprimento da
carga horária docente, controle do material de consumo e da merenda escolar e em
outros mecanismos vinculados à rotina administrativa e burocrática das unidades
escolares, como ilustra este trecho de entrevista cedida para esta pesquisa:
em 99 quando a gente assumiu, eu assumi o Ensino Fundamental, eu lembro que os diretores iam à Secretaria de Educação prá pegar a vassoura, o pano de chão, etc... então, você administrava essas coisas da secretaria, era um negócio maluco, era algo inconcebível porque você se ocupava com esse mundo, virava almoxarifado das escolas e o fundamental que era prá você tratar as políticas prá melhorar a qualidade do ensino, fazendo que o menino aprenda no tempo em que fica na escola, isso ficava em segundo plano. Então, nós começamos a criar também o Programa Dinheiro na Escola, passando um recurso prá escola e aí a cada ano nós fomos aperfeiçoando isso e aperfeiçoando, acoplando com essas outras coisas, passando recurso, mas também tem que ter um controle, tem que ter um acompanhamento, tem que saber como é que a escola está gastando o dinheiro. (Informação verbal, grifo nosso).
40
Ainda que seja importante localizar a fala da fonte entrevistada como a
expressão de um grupo que assume o Governo do Estado em 1999, em oposição às
forças políticas até então estabelecidas, há de fato uma ausência de planejamento
40 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
107
governamental para a educação nesse contexto que gera a política do “apagar
incêndio”, com ações esparsas e descontinuadas.
A própria organização do trabalho não conseguia dar agilidade aos serviços
prestados e havia morosidade para soluções das mais simples às mais complexas.
A história institucional do Estado e da vida funcional dos servidores públicos não
eram preservadas, inclusive com registro de perdas de documentos dos servidores
da educação e de outras secretarias. As rotinas administrativas se ocupavam com
questões micro, em detrimento das tomadas de decisões macro ou sistêmicas.
Nessas circunstâncias, o monitoramento diz respeito ao formato tradicional de
controle burocrático.
O controle burocrático, anteriormente descrito, é bem diferente do autêntico
controle social a que se referem Darling-Hammond e Ascher (2006). Para essas
autoras, no campo educacional, para além das normas e regulamentos, os
mecanismos são criados com intencionalidades previamente delineadas,
considerando-se as complexidades das estruturas educacionais. Seguindo essa
linha de raciocínio, nos sistemas de ensino o genuíno controle social envolve não
somente gestores, professores e demais membros da comunidade escolar, como
também a responsabilidade dos pais que mandam seus filhos à escola. É assim que
o controle social é compreendido como “a prática responsável e responsabilidade
para com o usuário [e mais que isso] um sistema de controle é um conjunto de
compromissos, políticas e práticas” (DARLING-HAMMOND, ASCHER, 2006, p. 9-10)
com finalidades políticas e pedagógicas bem definidas.
No início dos anos 1990, a Secretaria de Educação e Cultura (SEC/AC)41 era
o órgão gestor do sistema estadual de ensino no Acre, responsável por toda a
educação básica, inclusive as creches. Muito embora o início do processo da
estabilidade da economia no contexto nacional enfraquecesse no debate da década
perdida,42 localmente o termo se adequa ao contexto sociopolítico e econômico
conturbado, agravado pela crise da educação pública na qual se registrava baixa
remuneração dos trabalhadores em educação, atrasos constantes dos salários
41
Atualmente nominada Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE). 42
Termo utilizado no âmbito da economia para retratar a queda vertiginosa do crescimento e o desenvolvimento na América Latina dos anos 1980, marcado pela estagnação econômica, retração da produção industrial, aceleração da inflação, aumento dos níveis de desemprego e consequente diminuição do poder de compra. No contexto local, este termo é amplamente utilizado no discurso oficial e massificadamente veiculado como crítica aos governos anteriores à FPA.
108
(neste aspecto atingindo todo o funcionalismo público), dentre outras questões
estruturais que não garantiam as condições mínimas de atendimento da oferta
educacional em muitos dos seus estabelecimentos escolares.
Acerca do perfil dos governos que administraram o Estado, no início da
década de 1990, Romildo Magalhães assume o cargo de Governador em 1992, logo
após o assassinato de Edmundo Pinto43, do qual era vice. Como Governador,
Magalhães44 tem uma administração conturbada e sofre tentativa fracassada de
impeachment, pois o processo é derrotado na Assembleia Legislativa do Acre, onde
esse governo detinha a maioria da bancada. A principal acusação constante nos
autos do processo se reporta ao fato do Governador não cumprir a obrigatoriedade
do recolhimento para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).45
O mandato de Romildo Magalhães foi conduzido sem projeto definido e sua
gestão foi considerada abusiva, uma vez que sob si pairava suspeitas de pagamento
extra à maioria dos deputados para que houvesse aprovação de seus “mirabolantes”
projetos, dentre estes se destacam um de caráter assistencialista denominado
Sopão enche Bucho. Como Governador, Magalhães também faz ampla distribuição
de sacolões, havendo indícios de que esses programas se constituíam pano de
fundo para desvio de recursos públicos.
Nesse período, muito embora o Estado tenha concedido aumento de 59% aos
funcionários públicos há sucessivos e sistemáticos atrasos de salário, tanto que no
fim do mandato desse governo os professores e os demais servidores públicos do
Estado tinham três meses de salário em atraso (novembro, dezembro e 13º) e,
também, o mesmo descaso é vivenciado pelos sindicatos que, igualmente, recebiam
seus repasses com atrasos nesse período, gerando descontentamentos e
enfrentamentos acirrados no campo político.
No campo educacional, o destaque dá-se na construção de creches em todo
o Estado. Por outro lado, a falta de planejamento e ingerência dos recursos públicos
é evidente no período, assim, obras de prédios escolares são iniciadas e
43
Edmundo Pinto (PDS), aos 38 anos é assassinado em São Paulo, a menos de 48 horas antes de depor na CPI do Congresso Nacional que investigava corrupção envolvendo verbas públicas no Acre. Por esse motivo, uma das hipóteses do crime apontava para “crime político, motivado por disputas partidárias no Acre”. As investigações sobre o caso são inconclusas. (Informação publicada originalmente no Folha de S. Paulo, conforme referências).
44 O mandato de Magalhães vai de 17 maio de 1992 até 1º de janeiro de 1995.
45 O recolhimento do INSS, previsto na Lei Complementar n.º 39/1993 que institui o Estatuto dos
Servidores Públicos Civis do Estado da Administração Direta, das Autarquias e das Funções Públicas criadas e mantidas pelo Poder Público estadual.
109
abandonadas, como ocorreu com a Escola Tiradentes46, uma unidade escolar
inacabada no Município de Feijó, cidade natal do então governador Romildo
Magalhães.
Analisando a questão da oferta da educação básica da época, a professora
Maria Corrêa assim se posiciona:
ao ver a questão da oferta de ensino nos surpreendemos às vezes porque a gente via que diziam “não, não tem vaga” porque o município quase sempre pedia pro estado ajudar na construção de escolas, que faltava escolas. Então, quando a gente começava a olhar as vagas disponíveis tanto na rede estadual, quanto nas redes municipais, você via que sobrava vagas porque estavam sendo subutilizadas, às vezes uma escola ao lado da outra oferecendo o mesmo nível de ensino, duplicando a oferta e não tendo aluno para as duas escolas. (Informação verbal).
47
Nota-se que a crise política, econômica e social que assolava o estado no
início da década de 1990, afetava sobremaneira o campo educacional que, além de
não ter um projeto político definido, não conseguia operacionalizar as matrículas de
forma a garantir vagas nas escolas de que o Estado dispunha. Para a comunidade,
garantir uma vaga na escola, sobretudo na capital onde o contingente populacional é
maior, representava o desafio inicial e isso se agravava na medida em que as vagas
eram disputadas nas escolas mais centralizadas da capital, consideradas pelo senso
comum da população como as melhores.
Nesse tempo, um dos maiores desafios educacionais era garantir vagas: “o
caos estava estabelecido, pessoas dormiam três dias nas filas para conseguir uma
vaga”, como registra o ex-Diretor de Ensino da SEE/AC. (Informação verbal).48
No governo seguinte, Orleir Cameli (1995-1998), seringalista, pecuarista,
empresário, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul,49 oriundo da antiga Arena/PDS, é eleito
em 1994 pela coligação PPR-PP, no 2º turno com 53,7% dos votos. No mandato de
Cameli não há nenhuma forma de rompimento com práticas conservadoras de
partidos que sempre ganharam eleições no Acre50, já que nessa gestão não se
observa nenhuma reforma administrativa ou estruturante e o desafio inicial deste
46
Informação obtida em matéria intitulada Escola fantasma, escrita por Antônio Messias Neves e publicada no dia 23.06.2013 no Jornal Feijó Notícias, conforme referências.
47 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
48 CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o contexto anterior a 1999. Rio Branco, 2014. Entrevista.
49 Município localizado no Vale do Juruá, no noroeste do Estado, a 632 quilômetros da capital. É a
segunda cidade mais habitada do Acre e o segundo maior colégio eleitoral acreano. Do ponto de vista econômico, tem uma significativa relação com Manaus, a capital do Amazonas, através do Rio Juruá e pela BR 364 com Rio Branco.
50 Antes de Cameli, o PMDB alternava o governo com o PDS.
110
Governo consiste na atualização dos salários atrasados e em tentativas de ajustes
das contas públicas.
A situação em que o Estado se encontrava nesse período conturbado tem
repercussão em denúncias impetradas pelo Ministério Público Federal (MPF) junto
ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)51 que são destaques na imprensa local e
nacional52 e, inclusive, no Congresso Nacional, como consta em pronunciamento do
então Senador Nabor Júnior (PMDB/AC), em plenária, no ano de 1995, ressaltando
que, no âmbito do estado do Acre, este foi o primeiro governador, eleito em 1982,
pelo sufrágio universal após a abertura democrática no País. Na ocasião, dentre
outras denúncias de desmandos administrativos e corrupção, o Senador Nabor
Júnior apresenta acusações que vão desde sonegação fiscal e superfaturamento de
obras públicas até desvio de recursos públicos e corte de repasses descontados dos
salários dos funcionários para os sindicatos. (BRASIL, 1995).
O referido pronunciamento trata-se de denúncias advindas da parte de um
político da base oposicionista ao Governo Cameli e, ainda que as acusações tenham
repercutido em outros canais oficiais e na mídia local e nacional, as denúncias do
referido Senador, ex-Governador do Acre na década de 1980, não é prova
inconteste da verdade e faz parte de um jogo político, em que as disputas estavam
afloradas.
Mesmo diante de todas as denúncias apresentadas e, por mais que os
movimentos sociais organizados e os sindicatos fizessem inserções de tentativas de
impedimento de continuidade do governo, Cameli mantém-se no poder até o final do
mandato, por vários motivos, dentre eles o fato de que a bancada de sustentação do
Governo era maioria na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) e, com esse suporte,
conseguiu interpor a tentativa de impeachment.
O Governo de Cameli enfrenta muitos desafios, dentre eles, a necessidade de
investimentos na formação docente. Conforme dados do Censo Escolar 1995, nesse
período a formação docente era precária, como pode se observar na tabela
seguinte.
51 Como registra o site oficial do Superior Tribunal de Justiça, em matéria do dia 05.02.2004 intitulada
“STJ recebe denúncia contra ex-governador do Acre Orleir Cameli”. Disponível em: <
http://ns2.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=368&tmp.texto=74381>.
Acesso em 26 de jun./2015. 52 A título de ilustração, ver matéria publicada no Jornal Folha de S. Paulo, sob título: Deputado conta
que votou pela reeleição por R$ 200 mil. Disponível em: <
http://acervo.folha.com.br/fsp/1997/05/13/2/>. Acesso em: 26 jun. 2015.
111
TABELA 1 – FUNÇÕES DOCENTES POR GRAU DE FORMAÇÃO, ACRE, 1995
Formação
Ensino Fundamental Ensino Médio
Absoluto Percentual Absoluto Percentual
Fundamental incompleto 483 9,323 0 0,00
Fundamental completo 854 16,483 0 0,00
Médio complete 2.899 55,954 92 13,143
Superior compl. sem licenciatura 33 0,637 40 5,714
Superior compl. com licenciatura 912 17,603 568 81,143
TOTAL 5.181 100,000 700 100,00
FONTE: Organizada do CENSO ESCOLAR 2005 - MEC/INEP/SEEC. NOTAS: 1) o mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de
um estabelecimento; 2) os destaques em amarelo dizem respeito aos professores considerados leigos.
Ao se considerar o corpo docente lotado no Ensino Fundamental, ao
proceder o somatório de 9,32% de professores com ensino fundamental incompleto
e 16,48% com fundamental completo, totaliza-se 24,39% de professores
considerados leigos53 nesse nível de ensino. Mais da metade, o correspondente a
55,95%, tinha apenas nível médio e apenas 18,24% dos professores tinham nível
superior e, destes, 17,60% possuíam licenciatura. No ensino médio, a situação era
um pouco melhor, pois quase 87% dos professores tinham concluído o ensino
superior, muito embora 18,86% ainda fossem considerados professores leigos.
Tem-se aí, claramente, uma questão estrutural de não atendimento à
legislação uma vez que no ano de 1995 a lei em vigor (LDB/1971) exigia ensino
médio (à época nominado 2º Grau) para o professor trabalhar no ensino fundamental
(à época sob a terminologia de 1º Grau) e formação superior, com licenciatura ou
complementação pedagógica (para os bacharéis), para ministrar aulas no ensino
médio. No que diz respeito à formação inicial do docente, a capacidade instalada
não é suficiente para o atendimento da demanda.
No mandato de Cameli, entre as ações governamentais de maior robustez na
área educacional destaca-se o registro de mais de 26 mil matrículas no ano de 1998,
conforme dados do Censo Escolar desse ano, o que representa significativa
repercussão nos índices de matrícula. A ação de maior expressão trata-se do
53
Todo e qualquer professor que trabalha no magistério sem formação específica, seja a formação mínima nos moldes definidos pela Lei n.º 5.692/1971 magistério de nível médio, então, aquele professor que, mesmo graduado, não é licenciado, no caso dos bacharéis que são professores na educação básica.
112
Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (Paja), uma espécie de versão local
do Programa Alfabetização Solidária, vinculado ao Ministério da Educação e, por
esse motivo, com grande aporte de recursos54, refletida em abundância de recursos
didático-pedagógico, assim como ampla distribuição de fardamento e material
escolar.
As ações empreendidas no Governo Cameli têm um caráter de
descontinuidade, pragmatismo e populismo, estes três elementos constituíam a
marca mais evidente da política governamental. Afora ações pontuais, observa-se
carência de professores com formação, como já evidenciado, e a maior expressão
dessa problemática encontra-se nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Segundo consta no Plano Plurianual (PPA: 1996-1999)55 (ACRE, 1995), o
Sistema Educacional do Acre registrava patamares preocupantes em relação aos
índices de repetência e evasão escolar, que chegavam a totalizar 47,1% no Ensino
Fundamental. O mesmo documento aponta que: a) a cobertura de atendimento de
crianças na faixa etária de quatro a seis anos, com educação pré-escolar, era de
apenas 28,1%; b) serviços como merenda e distribuição de material didático
dificilmente chegavam a todas as unidades escolares; c) havia carência de
bibliotecas, dentre outras problemáticas.
Como reflexo e consequência da situação anteriormente exposta, até 1998 as
ações relativas ao campo educacional acreano se limitavam a um controle
centralizado na então Secretaria de Educação e Cultura, com um poder concentrado
no gabinete do secretário. As ações que compunham a política educacional eram
esparsas e descontinuadas e, no geral, reproduzia-se e executava-se as políticas
advindas do Governo Federal.
Ainda assim, como aponta Carvalho (2013), nesse contexto anterior a 1999
há algumas conquistas na educação acreana, dentre as quais aqui são destacadas:
1) aprovação do primeiro Plano de Cargos, Salários, Benefícios do Magistério
(ACRE, 1987);
2) realização do primeiro concurso público de provas e títulos para ingresso
no magistério em 1987;
54
A repercussão local do Paja possibilitou que, em 1998, Alércio Dias, ex Deputado Federal (PDS/1983-1991) e Secretário de Estado de Educação (de dezembro de 1995 a abril de 1998) na Gestão do Governador Orleir Cameli, concorresse pelo PFL, às eleições para o Executivo Estadual, na qual Jorge Viana (FPA) sai vencedor.
55 Este PPA é publicado por meio da Lei n.º 1.162, de 27 de outubro de 1995, pelo Governador Orleir
Cameli.
113
3) “transformação da antiga Diretoria de Educação e Cultura em Secretaria de
Educação e Cultura em Secretaria de Estado.” (CARVALHO, 2013, p. 69);
4) “realização das primeiras eleições diretas para escolha dos diretores de
escola em 1985 e 1987” (ibid, 2013, p. 73);
5) regulamentação do princípio constitucional da gestão democrática com a
sua regulamentação no Estado pela Lei 1.201/96, anterior a LDB/1996.
3.3. Contexto posterior a 1999
A formação da Frente Popular do Acre (FPA), tomada neste texto como um
conjunto de fatores que contribui para compor a conjuntura mais recente, remete à
necessidade de pontuar dois aspectos: 1) a formação de frente popular não é inédita
no Brasil e, nessa perspectiva, a aliança formada no Acre tem inspiração na Frente
Brasil Popular (FBP)56; 2) não é a primeira vez que essa ideia se efetiva na esfera
estadual.
A atual FPA é oriunda do embrião da Frente Popular do Acre fundada em
1978 no âmbito do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), naquela época partido
de oposição à Aliança Renovadora Nacional (Arena). A Frente do fim dos anos 1970
congregava movimentos sociais e populares e, nessa conjuntura, caracterizava-se
como uma composição de opositores do Regime Militar, aliás, sob este mote, nas
eleições municipais de 1985, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB) elegeu o prefeito de Rio Branco, a capital do Acre e de todos os 10 (dez)
municípios acreanos existentes à época.
Em 1990, na sua segunda edição, a FPA se reorganiza e se firma como
opositora ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) que, ainda sob a
nomenclatura MDB (Movimento Democrático Brasileiro), havia abrigado e estimulado
sua primeira edição em 1978.
Em meio a esse acontecimento, o Partido dos Trabalhadores (PT) é fundado
em 1980 no Estado do Acre,57 fundamentalmente, a partir do movimento dos
seringueiros (FERNANDES, 1999). A conjuntura política do Acre contemporâneo é
56
Em 1988 a Frente Brasil Popular (FBP) constitui-se de uma coligação que, com a saída do Partido Verde (PV), congrega três partidos: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 1989, com Lula (PT) à frente, a FBP disputa as eleições presidenciais. Lula é derrotado nesta e nas duas eleições subsequentes.
57 O PT nacional também é fundado neste mesmo ano. em 1980.
114
fruto do movimento de luta pela terra, dos movimentos de caráter
ambiental/ecológico, da força de alguns movimentos sociais que passam por um
processo de debate fomentado pela conjuntura nacional/local – sobretudo aqueles
oriundos dos movimentos estudantil, docente, indígena e de associação de
portadores de doenças – e por outras expressões de origem popular, uma vez que a
ascensão do PT está intimamente relacionada a esse contexto local de luta e com o
processo de redemocratização do país, mais marcante na década de 1980. Dez
anos depois, em 1990, o PT concorre as eleições para Governo do Estado. Nessa
ocasião, Jorge Viana perde as eleições para Edmundo Pinto (1991-1992).
O PT assume o Governo do Estado pela primeira vez em 1999 com a Frente
Popular do Acre (FPA). A história desta composição partidária como grupo político
começa a consolidar-se oficialmente em 1992 quando Jorge Viana ganha a eleição
para Prefeito de Rio Branco. No contexto local e, nessa ocasião, o Partido dos
Trabalhadores ganhou sua primeira eleição para um cargo majoritário, “sendo que o
fato de administrar o município poderia influenciar decisivamente a sobrevivência
política do projeto de governo dos partidos que compunham a chamada Frente
Popular do Acre” (VERÇOSA, 2011, p. 2), como, de fato, ocorreu.
Assim, em 1998 a força oposicionista da militância do PT alia-se a um
conjunto de 11 partidos (PSDB, PCdoB, PDT, PSB, PPS, PV, PMN, PTB, PL, PSL,
PTdoB) reorganizando a Frente Popular do Acre (FPA) e vence em primeiro turno as
eleições para o cargo majoritário do Estado com 57,7% dos votos, com uma chapa
composta pelo petista Jorge Viana58, Governador, e pelo seu vice, Édison Cadaxo59,
do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), vencendo os demais opositores
que “representavam os grupos políticos que tradicionalmente se revezavam no
governo estadual e assumiam os principais cargos eleitorais do Estado” (SANT’ANA
JÚNIOR, 2004, p. 11). Para Melo (2010, p. 59), “rompia-se, assim, um ciclo de
58
À época, Jorge Viana já conhecia o Poder Executivo por dentro, uma vez que foi Secretário de Ciência e Tecnologia, durante o Governo do Pmdebista Flaviano Melo (1986 a 1989). Nas eleições de 1990 foi considerado “traidor” do PMDB, pois se candidatou a Governador, na ocasião alcançando o feito de ser o primeiro candidato do PT a chegar a disputar um segundo turno para Governo de um estado brasileiro, sendo derrotado no 2º turno pelo então Deputado Estadual Edmundo Pinto (PDS).
59 Édison Simão Cadaxo, falecido em 2002, era considerado um político experiente, tendo assumido
vários cargos eletivos (dentre eles, vice Governador e Governador quando o titular do PMDB renunciou para concorrer ao Senado). Era natural de Cruzeiro do Sul, 2º maior colégio eleitoral do Estado.
115
alternância binária do poder representado por intermédio do PTB ou PSD, ARENA,
PMDB e PDS/PPR/PPB/PP”.
Apesar de o PSDB ser de uma orientação ideológica bem diferente do PT e
de ambos serem rivais na disputa presidencial de 1998, na ocasião liderada por
Fernando Henrique Cardoso (FHC, do PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva, o início do
ciclo político da FPA é marcado pela aliança destes partidos por várias questões que
se explicam tanto no aumento de tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e
na TV quanto na experiência política de Édison Cadaxo (PSDB) unida à força jovem
do ex-prefeito de Rio Branco, Jorge Viana, que assim explica:
"Não tinha como governar o Acre se não houvesse uma aliança com setores até mesmo conservadores mas que têm dignidade e não estavam ligados ao crime organizado. Fizemos uma opção de, sem abrir mão dos princípios, fazermos uma aliança ampla. Não descaracterizamos a administração do PT, estamos conseguindo desmontar o crime organizado, mudar um pouco o perfil da economia e construímos uma condição melhor de governabilidade." (AZEVEDO, 2001, não p.).
Nesse texto, compreende-se que a constituição de uma coligação partidária
como a frente popular é fruto da articulação de grupos diametralmente opostos,
programaticamente divergentes, mas que numa conjuntura específica, avaliam a
situação local a partir de intencionalidades comuns. “Alianças” dessa natureza são
repletas de contradições. As vantagens são obtidas na proporção da força de cada
partido, expressa na capacidade de negociação, na popularidade e no prestígio de
cada grupo que compõe a coalizão de forças.
O sucesso da campanha de 1998 provém dos descontentamentos gerados
pelas sucessivas crises enfrentadas no contexto local e do forte apelo midiático
utilizado no slogan “a vida vai melhorar”60, com o qual as jovens lideranças da
Frente Popular do Acre aliam-se às forças consolidadas localmente e empolgam
com sua propaganda colorida, festiva e com forte apelo cívico e emocional.
Os reflexos desse sentimento regionalista são largamente explorados pelos
diferentes governos da FPA, especialmente na mídia, e constituem as bases
fundantes de uma identidade acreana, forjada numa ideologia que se reveste em
benefícios político-partidários que, até hoje, inflam os discursos dos grupos que
60
Uma promessa inspirada em um trecho da música do cantor e compositor Martinho da Villa, que virou o jingle da campanha.
116
ocupam o poder e, de certa forma, apropriada pela oposição, que almeja retomar a
condução do Poder Executivo do estado.
O entusiasmo regionalista, manifesto na acreanidade, é propalado no:
discurso oficial que tenta forjar uma “sociedade florestal”, que adviria da vivência dos povos da floresta nas matas de seringa. Enquanto discurso identitário, é construído uma ideia de “convivência harmoniosa” na floresta entre índios e seringueiros, entre os povos da floresta, os verdadeiros acreanos, ao longo de mais de cem anos de Acre. (MORAIS, 2008, p.27).
Sob o prisma do “orgulho de ser acreano” e da permanente capacidade de
luta do povo exaltados no Hino Acreano61, essas ideias são largamente exploradas
pelos Governos da Frente Popular em atos e eventos oficiais e até apropriadas por
empresas locais como estratégias de marketing e, ainda, com o incremento da ideia
presente no discurso oficial de que o Acre é o único estado da federação que lutou
para ser brasileiro. Esse discurso tem um forte viés ideológico e, muitas vezes, é
naturalizado por boa parte da população acreana, sobretudo pelo seu forte apelo
emocional e cívico.
Para Bezerra (2006), os simbolismos presentes na linguagem utilizada no
Hino Acreano e em outros símbolos oficiais do Estado são repetidos nos momentos
oficiais como expressão de ritualização do passado e ressignificação diante dos
embates do presente. Para a historiadora:
O discurso cristão-católico e patriótico do Estado brasileiro republicano está presente na construção do Acre brasileiro. E, assim como o sangue de Cristo nos liberta de todo o mal, o derramamento do sangue dos acreanos os torna não só heróis, mais imunes ao mal, predestinados ao progresso. Os acreanos são divinizados por sua coragem, audácia e brasilidade. (BEZERRA, 2006, p. 71, grifo no original).
Ao explorar essas questões, o Programa de Governo da FPA:
trazia grandes expectativas de melhorias na condição de vida dos acreanos, pois estava assentada em duas das grandes questões que tinham a ver diretamente com o cotidiano das pessoas, ou seja, a geração de emprego e renda e habitação. (FRANÇA, 2006, p. 89).
E, assim, tão logo o PT vence as eleições, passa a conduzir o Governo com o
propósito de desencadear um processo de reformas do estado, inicialmente com
forte crítica ao projeto neoliberal em ascensão no contexto nacional e, 61
“Que este sol a brilhar soberano/Sobre as matas que o veem com amor/Encha o peito de cada acreano/De nobreza, constância e valor [...] Invencíveis e grandes na guerra/ Imitemos o exemplo sem par...” (Trecho do Hino Acreano, com letra de Francisco Mangabeira, médico e poeta. Criação da música pelo músico amazonense Mozart Donizeti).
117
consequentemente, travando mudanças fundantes do sistema estadual da educação
pública acreana, sem ser imune às influências da agenda nacional ou mesmo sem
deixar aflorar as contradições entre o projeto de governo e as práticas efetivas.
Liderada por Jorge Viana, a FPA no primeiro mandato (1999-2003),
reorganiza a administração pública, descrita sob a forma da Lei Complementar n.º
63/1999 (ACRE, 1999b) que, dentre outras medidas, define e organiza as diretrizes
administrativas priorizando um amplo sistema de planejamento e, por esse motivo,
com uma nítida ênfase na Secretaria de Planejamento, uma espécie de
“supersecretaria” com a função de orientar os demais setores na “sistematização de
coleta, agregação, circulação de informações, capacitação de pessoal e uso de
equipamentos para essas atividades.” 62 (ACRE, 1999, não p.). Na linha de trabalho
adotada se expressa uma ênfase na racionalização dos recursos e no controle dos
gastos públicos.
Em face da descentralização de poder previsto na CF/1998, a Lei Estadual n.º
20/2000 modifica o Art. 197 da Constituição Estadual objetivando aumentar o
investimento anual com educação de 25% para 30%, da receita resultante de
impostos, inclusive a proveniente de transferências constitucionais da União (ACRE,
2000a).
Como na sua origem a FPA tem uma base de sustentação oriunda do
movimento do campo que destaca na luta pela terra, suas lideranças posicionam-se
a favor dos seringueiros e reconhecem a educação indígena como política de
Estado, enfim, assumem posturas que se contrapõem a uma cultura tradicional,
patrimonialista e clientelista própria do contexto anterior a 1999.
Com a FPA no Governo do Estado há um evidente conflito de interesses, no
qual peças antagônicas não se encaixam, ou seja, com um governo de esquerda
não mais disposto a atender às demandas da mesma forma que muitos cidadãos já
estavam acostumados, os interesses divergentes afloram.
Além disso, observa-se uma característica inerente aos governos de
esquerda ao assumir o poder: algumas das lideranças advindas dos sindicatos, que
antes assumiam claramente seu papel de estabelecer contrapontos e fazer
oposição, agora compõem o quadro administrativo da gestão estadual e isso incita
crises nos movimentos sociais. É perante esse quadro que o grupo da FPA se vê
62
Como consta no parágrafo único, do Art. 32 da referida Lei.
118
diante de um choque de interesses, sob a pressão de sua base de sustentação e da
lógica da reforma do Estado em âmbito nacional que está posta no governo dos
anos 1990.
Ao apresentar alguns elementos que circunscrevem a história acreana e que
incidem sobre as políticas educacionais, Melo (2010) aponta que o contexto histórico
do Acre é marcado:
por conflitos sociais, políticos e econômicos relacionados com os interesses e possibilidades da biodiversidade, sendo seu espaço habitado historicamente por sujeitos que representam interesses antagônicos, como é o caso dos indígenas, seringueiros, posseiros, fazendeiros, agricultores, religiosos, missionários, ecologistas, cientistas, etc. (MELO, 2010, p.38).
O primeiro mandato da FPA ficou conhecido como Governo da Floresta. Esse
novo momento político tem uma identificação com os interesses da classe
trabalhadora, mas não sem contar com forças políticas de direita, sejam estas
provenientes da conjuntura nacional ou dos mecanismos de influências de ricos
comerciantes e empresários de renome no Acre.
De todo modo, cabe destacar que “o governador eleito e os membros de sua
administração tinham vínculos políticos fortes e antigos com o movimento dos
seringueiros e com os conflitos que ocorreram em torno de Xapuri” (STONE;
SCHMINK, et al., 2007, p. 6) que repercutiram mundialmente em face do
assassinato de Chico Mendes, liderança seringueira vinculada ao Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Xapuri, em 1988. Esse marco na luta pela terra e pela
preservação ambiental é intensamente projetado como símbolo das disputas, assim,
investe-se na repercussão mundial da morte de Chico impondo-lhe magia e ares de
mito, uma vez que essa fama é fartamente capitaneada como estratégia político-
partidária para consolidar a força política do Governo da FPA.
Entretanto, no contexto de modernização da gestão no Acre, ainda que a
política local dialogue com a filosofia de participação popular que se relaciona com a
trajetória do PT nacional, sua atuação tem marcas dos pressupostos orientadores
das reformas educacionais dos anos 1990. Nos demais campos de atuação, já
nesse primeiro mandato observa-se um distanciamento dos partidos que compõem
a FPA em relação aos movimentos sociais e populares, distanciamento evidenciado,
sobretudo, pela dificuldade de acesso ao Governador Jorge Viana, que não
consegue estabelecer o diálogo na mesma proporção do esperado pelas
119
associações de bairro, pelos movimentos comunitários e mesmo pelo funcionalismo
público.63
Os projetos políticos da FPA são permeados pela agenda do governo federal,
que era nos anos 1990 divergente da agenda do PT nacional naquele momento. Na
sua origem, a agenda local identifica-se com a projeção de canais de interlocução
com a sociedade, na defesa de uma perspectiva mais radical dos trabalhadores,
expressa em práticas institucionais democráticas.
Nesse sentido, as contradições observadas nos governos da FPA se
assentam em, pelo menos, duas questões: a primeira diz respeito à alta
dependência financeira que o Estado tem em relação à União que, muitas vezes,
implica adesão a programas e projetos sem fazer a crítica e a adequação ao
contexto local; a segunda se assenta numa prática iniciada pela FPA que trata da
formulação própria do texto da política local, mas que, ao longo das gestões, vai se
distanciando dos seus princípios originários, o que pode ser um indício de que a
política não estava consolidada.
Nas eleições subsequentes, em 2002, o PT disputa o segundo mandato para
Governo do Estado. Desta vez:
a Frente Popular do Acre foi recomposta, sem a presença do PSDB, e tendo Arnóbio Marques de Almeida Júnior – Binho (PT) como candidato a Vice-Governador. Jorge Viana foi reeleito Governador para o mandato de 2003-2006. O formato da aliança eleitoral que o elegeu para o primeiro mandato foi formalmente alterado, em função da acentuada contraposição entre PT e PSDB a nível nacional e de uma modificação na regulamentação eleitoral do país, que proibia coligações estaduais que não seguissem a coligação feita na eleição para Presidente da República. (SANT’ANA JÚNIOR, 2004, p. 15).
Nesse contexto, liderada novamente por Jorge Viana, a FPA, recomposta
com sete partidos (PT, PL, PC do B, PV, PMN, PSDC, PT do B), concorre ao seu
segundo mandato no executivo estadual (2003-2006). A ruptura com o PSDB se
efetiva em um cenário em que o PT finaliza sua primeira gestão no Governo (1999-
2003) marcada pela reorganização da máquina administrativa e pela retomada dos
investimentos públicos, de forma que já tem as condições políticas para fazer outras
composições para a disputa político-eleitoral de 2002.
63
Um dos marcos deste 1º governo da FPA se constitui no início da moralização do serviço público. Muitos funcionários cedidos para secretarias distintas de sua lotação de origem são remanejados e aqueles que estavam recebendo salário sem trabalhar se vêm obrigados a assumir seus postos de trabalho e isso, ao mesmo tempo em que organiza e moraliza a máquina pública, para muitos gera descontentamentos incorporados como “perseguição” aos servidores.
120
Como representante de uma força hegemônica política em ascensão, nos
mandatos subsequentes, Jorge Viana e seu grupo conseguem ampliar sua
hegemonia política ao fazer seus sucessores ao cargo majoritário no Estado: Binho
Marques (2007-2010)64 e Sebastião Afonso Viana Macedo Neves, conhecido como
Tião Viana (2011-2014), Senador da República, irmão de Jorge Viana, eleito em
2010 e reeleito em 2014 para o mandato subsequente (2015-2018).
Ao se tomar como referência o ano de 1999 em que Jorge Viana assume o
executivo estadual e o ano de 2015 em que Tião Viana inicia o seu segundo
mandato de Governador do Estado, são 16 (dezesseis) anos do Partido dos
Trabalhadores (PT) à frente do executivo estadual. No total são cinco mandatos
exercidos, numa clara expressão da força política da Frente Popular do Acre (FPA).
Os sucessivos mandatos têm como pano de fundo a reconfiguração do papel
do Estado e a necessidade de o PT acreano se reinventar em sua forma de
governar e, mais que isso, uma demonstração à sociedade de que é “possível um
projeto diferenciado, de desenvolvimento para o Acre” (FRANÇA, 2006, p. 78) ou, na
visão da oposição, um caso explícito de falta de alternância de poder que incita
revoltas contra os novos gestores denominados, inicialmente e pejorativamente, de
“meninos do PT”, dada a jovialidade de parte significativa das primeiras equipes de
governo, muitos deles oriundos dos movimentos sociais.
Diante do contexto anteriormente caracterizado, o final da década de 1990
consiste na estruturação de um projeto político para o Acre e para a educação,
sobretudo pautado pela necessidade de estabilidade política. Aqui, é importante
situar o contexto político educacional do Acre e os fatores que são determinantes na
estruturação de seu sistema público de ensino, partindo do preceito de que é a
histórica reconfiguração da função social do Estado que impõe a necessidade de
descentralização administrativa, política e financeira que se assenta na profusão de
novas formas de regulação e controle.
64
Anteriormente Binho Marques foi Secretário Municipal de Educação de Rio Branco (1993-1996),
Secretário Estadual de Educação (1999-2002) e Vice-governador (2003-2006).
121
3.3.1 Políticas educacionais no Acre no contexto pós-1999 e Sistema Público
de Ensino da Educação Básica: caracterização, bases legais e formato
de organização
Pautadas na necessidade de modernização da gestão, as políticas
empreendidas no campo educacional ao longo das quatro administrações estaduais
da Frente Popular do Acre fazem uma junção da política local aliada a uma releitura
das políticas implementadas em nível nacional. Essas políticas se efetivam por meio
de ações continuadas que contribuem para legitimar as mudanças no eixo da
administração pública em que são lançadas as principais bases constituintes da
consolidação do sistema de ensino público do Acre e do seu sistema próprio de
avaliação em larga escala, o objeto de estudo desta tese.
No caso do Acre, a avaliação em larga escala se constitui numa forma de
avaliar as políticas educacionais implementadas. É este o sentido assumido pela
gestão educacional em promover e aprimorar um sistema próprio de avaliação com
a ponderação de que “um sistema desse não vai te dar uma leitura macro para você
balizar todas as políticas educacionais do estado, mas te dá muitos elementos para
você colocar o foco, para você começar a rever políticas e a construir novas
políticas.” (Informação verbal).65
Observa-se que o Seape/AC é concebido com essa intencionalidade inicial:
subsidiar as políticas educacionais e mais, especificamente, a gestão do sistema
público de ensino (ACRE, 2010a), contudo, na continuidade da política, no seu
processo de implementação e no decorrer das suas edições, é permeado por
disputas e interesses de diferentes sujeitos. Dessa forma, o Seape/AC assume
outras finalidades que foram investigadas nesta pesquisa e que, serão ao longo do
texto, pormenorizadas.
As políticas educacionais assumidas pela FPA, efetivadas em ações, são aqui
expostas de forma panorâmica para apontar o Seape/AC como integrante de um
conjunto de políticas e situar esse sistema próprio de avaliação no contexto da
educação local. Sendo assim, as ações que se destacam são as seguintes:
65
SILVA, Maria Corrêa da. Sobre a utilidade das informações obtidas via Seape/AC. Rio Branco,
2014. Entrevista.
122
reformulação do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração dos
Profissionais do Ensino Público (PCCR)66, com progressão a cada três anos. Entre
1999 e 2000 o piso salarial do professor com nível superior avança de R$ 500,00
para R$ 1.200,00. Atualmente, o salário inicial de um professor efetivo é de R$
2.010,00 e do professor temporário é R$ 1.809,00 (30 horas);
os primeiros governos da FPA preservam algumas práticas que
contribuíram para caracterizar a filosofia de uma gestão oriunda de movimentos
populares, dentre elas, o fomento aos fóruns de discussão. No caso do CEE, este é
considerado uma espécie de “conselheiro”67 das ações de maior envergadura no
campo educacional;
reestruturação e reorganização da rede pública em cinco regionais
(instituídas por Lei Estadual),68 isto proporcionou fazer um controle mais efetivo das
matrículas, a considerar o agrupamento de escolas;
participação do Estado na educação indígena, “antes limitada ao esforço
solitário das ONGs, especialmente da Comissão Pró-Índio” (ACRE, 2002, não p.),
experiência com investimento na “capacitação de professores índios, com formação
inicial, incluindo o Magistério Indígena” (ACRE, 2002, não p.), segundo o mesmo
documento. Essa política de acesso ao ensino básico das populações mais isoladas
é destacada nos documentos examinados como um dos avanços mais significativos
na gestão educacional no Estado. Aqui cabe uma observação: o “lugar” e a
intencionalidade do documento, um plano de governo em que os propositores o
definem como um projeto de desenvolvimento para o Acre e que justifica a sua
elaboração com a intenção de inverter a lógica dominante por décadas no Acre
(ACRE, 2002);
organização dos diferentes níveis e modalidades de ensino, considerando
as características próprias da educação de jovens e adultos, do ensino rural, da
educação infantil, do ensino fundamental etc.;
adoção de um padrão próprio para construção e reformas das escolas de
forma a se adequar às especificidades culturais, climáticas, dentre outros aspectos,
bem como adequação do mobiliário escolar, em conformidade com cada nível de
66
O PCCR é instituído pela Lei Complementar n.º 67, de 29 de junho de 1999. (ACRE, 1999c). 67
Essa postura já foi assumida pela SEE/AC em eventos e solenidades na área de educação, alguns dos quais esta pesquisadora já vivenciou.
68 Lei Complementar n.º 126, de 29 de dezembro de 2003. (ACRE, 2003a).
123
ensino, adequando às demandas da escola infantil, do Ensino Fundamental,
segundo necessidades dos anos iniciais e finais, assim como a definição de um
formato específico para as escolas de ensino médio, para as escolas indígenas e
para aquelas da zona rural, em conformidade com o tamanho e as necessidades
das comunidades que se distinguem entre si. Isso se fazia necessário, pois:
quem não conhece a realidade do Acre tende a não entender porque a gente tem nas escolas rurais escolas de uma sala, escolas de duas salas, é porque a nossa população é muito rarefeita na zona rural, além do mais ela muda muito de lugar na zona rural. Então, nas nossas escolas da zona rural teríamos que atender aquela comunidade pequena, então às vezes a escola tem uma sala, tem escolas de duas salas porque a comunidade é muito pequena e muito isolada, então nós definimos também o padrão de escolas de uma sala, escolas de duas salas e escolas maiores para aquelas comunidades maiores, onde você já tem uma comunidade mais estruturada. (Informação verbal).
69
merenda escolar com acompanhamento nutricional e cardápio delineado
para valorização da culinária regional;
implantação do Programa Saúde na Escola (PSE),70 com adaptações às
demandas locais na área de saúde de crianças e adolescentes da educação básica;
aqui é importante registrar mais uma vez que, no que tange à adesão dos
programas nacionais, o sistema de ensino do Acre tem uma significativa
participação;
implantação do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE),71 com foco na
autogestão e na melhoria da infraestrutura física e pedagógica das escolas;
investimento em programas de formação inicial e continuada para
professores da educação básica. Esse investimento é para a política educacional
acreana estabelecido como uma prioridade;
e, por fim, na visão de Almeida Júnior (2006), os principais esforços se
concentraram no estabelecimento de: implantação sistemática e continuada do
Planejamento Estratégico da Secretaria de Estado de Educação e Esporte do Acre
(PES); descentralização de recursos (dinheiro direto nas escolas); melhoria na
69 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre a estruturação das escolas. Rio Branco, 2014. Entrevista. 70
O PSE é uma ação do Ministério da Educação instituída em 2007 e executada a partir de 2008,
fruto do Decreto Presidencial n.º 6.286/2007. 71
O PDDE é uma política do MEC implementada desde 1995 e regulamentada pela Lei n.º 11.947/2009.
124
infraestrutura das instituições escolares; mapeamento das escolas;72 gestão
responsável dos investimentos; “rompimento com uma tradicional cultura de
empreguismo e clientelismo” (ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 71); recadastramento e
re-lotação de funcionários “classificados por uma pontuação conforme critérios
técnicos estabelecidos de tempo de serviço e qualificação profissional” (loc. cit.);
criação de um novo plano de carreira; e, por fim, referindo-se à necessidade de
avaliação externa, o mesmo autor aponta a necessidade de “realização de avaliação
de rendimento escolar universal, no lugar da amostragem, com o objetivo de
apresentação dos resultados por escola com orientação e modelagem de projetos
específicos.” (ibid, p. 31, grifo nosso).
Para o enfrentamento dos problemas identificados na educação pública
acreana, algumas mudanças na gestão educacional são experienciadas de forma
mais ampla e sistemática a partir de 1999. Para ilustrar o quadro educacional
acreano, até 1998 somente oito municípios ofertavam na zona urbana o Ensino
Médio no formato regular, nas demais cidades do interior esse nível de ensino
funcionava em regime modular, “com atendimento de apenas 9,54% da população
de quinze a dezenove anos” (ACRE, 1995, não p.).
Os documentos oficiais apontam que “no Estado do Acre, a educação é
considerada uma área estratégica para o desenvolvimento local” (ACRE, 2014, p.
212). Desde o primeiro mandato da FPA, “a política educacional do Estado do Acre
passa a ser orientada por um rico processo de planejamento estratégico [que] foi o
condutor de significativas mudanças no curso da educação no Acre” (ALMEIDA
JÚNIOR, 2006, p. 20) e por um conjunto de reformas73 que destacam a educação na
agenda política do Estado.
Sem perder de vista a gestão de resultados, assumida publicamente no seu
site oficial, que vai se delineando para garantir um “produto” de qualidade, a SEE/AC
investe na aproximação com os diretores de escolas. Nesse prisma, a Lei n.º
1.513/2003 (ACRE, 2003b) elenca, dentre outros, os seguintes princípios: (1) gestão
de resultados com processos definidos de acompanhamento e avaliação
permanentes; (2) gestão descentralizada com autonomia para as unidades de
72
Esse trabalho concluiu que “mais de 100 escolas simplesmente não existiam. Perto de 80 escolas do Acre estavam no Amazonas e 3 estavam fora do mapa do Brasil.” (ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 57), questão emblemática do caos instalado na gestão do sistema de ensino.
73 Sobre reformas na educação no contexto do Acre, ver Damasceno (2010) e Melo (2010), dentre
outros.
125
ensino elaborarem e implementarem seus projetos pedagógicos, políticos e
administrativos.
Ao mesmo tempo em que essa lei dispõe sobre “autonomia para as unidades
de ensino elaborarem e implementarem seus projetos pedagógicos, políticos e
administrativos” (Inciso II, Art. 2º), prevê um exame final de certificação “cuja
concepção de formação é baseada em valores e princípios gerencialistas voltada
para o desenvolvimento de competências próximas as exigidas dos gerentes
executivos de empresas privadas” (DAMASCENO, 2010, p. 69).
Isso se explicita claramente nos Incisos V e VI do Art. 35 que,
respectivamente, atribuem ao gestor escolar: “estabelecer a cada semestre e
pactuar com a SEE/AC, metas de rendimento escolar a serem atingidas” e
“encaminhar bimestralmente ao Conselho Escolar e à SEE/AC relatórios sobre
rendimento escolar.” (ACRE, 2003, não p.). Observa-se que o eixo é o controle da
produtividade, o resultado, e não as peculiaridades dos processos que compõem a
aprendizagem e o desempenho dos alunos. Nessa perspectiva de foco nos
resultados, as funções dos diretores são exaltadas e merecem atenção especial da
SEE/AC:
Nós [referindo-se à equipe gestora da SEE/AC] estamos colocando um outro elemento na cabeça do diretor: que ele tem que liderar a equipe para poder garantir a qualidade para todos e para cada um e aí com isso a gente já tá dizendo o seguinte essa equipe liderada por esse diretor que, portanto tem que mudar as características do que era no passado, não tô dizendo que não eram bons diretores, mas eles têm que assumir outras tarefas que é de olhar cada um dos alunos e, a partir disto, criar estratégias para cada
um dos alunos. (Informação verbal).74
O posicionamento do gestor expressa a preocupação com a formação de uma
outra mentalidade de gestor que se adeque a uma gestão de resultados com foco na
“qualidade para todos” expressa em indicadores de desempenho escolar. Na
verdade, tal questão reforça a visão gerencialista apontada por Damasceno (2010).
Para Gracindo (2007), a gestão de resultados como “forma de gestão passa,
então, a propor ‘modelos’ e ‘fórmulas’ para o processo educativo que,
aparentemente, viabilizam o sucesso escolar” (GRACINDO, 2007, p. 43) e, com a
força do discurso dessa intencionalidade, fica difícil haver contrapontos, pois o que
se quer da educação, como bem público, é que ela tenha caráter universal e que
74
CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o processo de implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
126
contribua para a consolidação da cidadania e se a gestão de resultados se coloca
como um meio capaz de viabilizar este “sucesso”, o produtivismo advindo das
filosofias empresariais adentra fácil o campo educacional.
A perspectiva da SEE/AC ao adotar a gestão de resultados é fazer a escola
assumir a responsabilidade pelo desempenho dos alunos. Se antes a vigilância sob
a escola se dava por meio da supervisão escolar e por diligências da SEE/AC às
escolas, o controle agora se dá pelo controle por resultados, uma regulação que se
efetiva por meio dos dados e informações obtidos via Seape/AC, dentre outros
dispositivos de controle. Assim, o gestor da escola é um articulador estratégico, um
elo importante entre a Secretaria de Estado, gestora do sistema público de ensino, e
a comunidade escolar, como já mencionado neste estudo.
Além da ênfase do gestor como intermediador, a SEE/AC vem investindo em
estratégias informatizadas como o Sistema de Acompanhamento da Gestão Escolar
(Sage), um software educacional que se constitui numa ferramenta para qualificar as
práticas de gerenciamento educacional que monitora a gestão, o ensino e os
recursos. O Sage permite que tanto a escola identifique seus problemas, sua
situação no todo ou em partes (turmas, por exemplo), assim como possibilita que a
SEE/AC enxergue as escolas a partir da própria Secretaria. A depender do uso que
se faz de um instrumento dessa natureza, um sistema integrado de informação pode
ser positivo, especialmente, se contribuir para promoção do suporte necessário para
o bom funcionamento das unidades escolares, pois pode otimizar tempo e recursos.
Essa ação ancora-se na necessidade de modernizar a gestão das escolas e
apoiar o gestor na tomada de decisões. O Sage, por meio de um acompanhamento
bimestral, consolida informações sobre rendimento escolar (aprovação e
reprovação) por série, disciplina, turma e turno. Também acompanha a vida
funcional dos profissionais da escola e dos alunos, contabiliza dias letivos,
horas/aula, controle do uso dos espaços escolares, acompanhamento dos
programas educacionais, da frequência escolar e, por fim, tem uma conexão com o
Sistema de Gerenciamento Escolar (Sige) e com o próprio Sistema Estadual de
Avaliação Pedagógica (Seape/AC).
Mais recentemente, o Sige é substituído pelo Sistema Integrado de
Monitoramento e Avaliação Educacional do Acre (Simaed), assim anunciado na
Agência de Notícias do Acre, um dos veículos oficiais do Governo do Estado:
127
Unindo a tecnologia aos procedimentos de gestão escolar, a Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), em parceria
75 com o Centro de
Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed) da Universidade Federal de Juiz de Fora, realizou nesta sexta-feira, 28 [de março], o lançamento do Sistema Integrado de Monitoramento e Avaliação Educacional do Acre (Simaed). (CARNEIRO, 2014, não p.).
Implantada em 2014, a plataforma do Simaed, desenvolvida pelo Centro de
Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed/UFJF), prevê um conjunto de
ferramentas que, ao longo do processo de implementação, permitirá a
operacionalização de vários serviços e demandas educacionais como, por exemplo,
possibilitar aos professores preenchimento de diários de classe, para isso, eles
serão capacitados, assim como os secretários das escolas que já participaram de
treinamentos específicos para operar o programa.
Praticamente o Simaed tem as mesmas funcionalidades que o Sige tinha, só
que de uma forma aprimorada e ampliada, sendo que o antigo funcionava sem
necessidade de acesso à internet e o atual é on line; para isso, as escolas estão
com acesso à internet por meio de banda larga, com uma qualidade compatível de
velocidade para operar a ferramenta.
Pelo Simaed, os trabalhadores em educação lotados nas escolas podem
efetuar serviços como: abertura e tramitação de processos administrativos, emissão
de documentos como históricos escolares, ficha individual, transferências, boletins,
certificados; além disso, essa plataforma permite:
a realização de matrículas on-line e a consulta, por pais e alunos, de seu respectivo desempenho escolar pela internet. Além de trazer a facilidade de poder exportar os dados, de forma automática, ao sistema EducaCENSO, do INEP/MEC, base oficial de dados das estatísticas educacionais em todo o país. O sistema atualmente utilizado não permite tal funcionalidade, exigindo que os gestores alimentem o sistema local e, em duplicidade, o sistema nacional, do INEP/MEC, gerando retrabalho desnecessário. (ZEN, 2014a, não p.).
Por enquanto, seu acesso é restrito por senha aos gestores escolares que,
num primeiro momento, são responsáveis por alimentar o sistema com as
informações que caracterizam a instituição, e ao pessoal lotado na secretaria da
escola, que cadastra os alunos, matricula, enturma, enfim, opera todas as
funcionalidades do sistema e, até, lança as notas até que os professores sejam
treinados para o serviço e acessem o sistema para efetivar os registros necessários.
75
Interessante notar que a nominada “parceria” com o Caed tem retorno financeiro para esta instituição. Trata-se, portanto, da venda e compra de serviços.
128
Na continuidade da implementação, o sistema prevê o acesso dos alunos e pais
para que estes acompanhem o desempenho dos escolares.
Um dos focos de investimento nas escolas da rede estadual de ensino dá-se
na construção e estruturação de escolas modelos consideradas “vitrines” da política
local, aquelas que são destaques na mídia local, nos eventos promovidos pela
SEE/AC e que objetivam excelência em áreas de visibilidade, como esportes e artes,
como é o caso do Colégio Estadual de Ensino Médio Armando Nogueira (Cean) que
possui a única piscina olímpica do Estado do Acre e da Escola Estadual de Ensino
Médio Glória Perez, ambas inauguradas em 2003.
A questão é que em relação a essas e outras instituições de ensino
consideradas modelos no âmbito do estado, não se consegue manter a perenidade
do padrão em que foram planejadas e, muito menos, universalizar esses modelos de
estrutura. Nessas escolas, as disputas por vagas são acirradíssimas, assim como
não é fácil uma vaga para lotação docente, mesmo para aqueles professores do
quadro efetivo.
A SEE/AC promove uma autonomia relativa às escolas, uma autonomia
controlada. A gestão do sistema educacional transfere responsabilidades para as
escolas, como explicita o texto da Lei Complementar n.º 171/2007 (ACRE, 2007a),
que dispõe sobre a nova estrutura administrativa do Poder Executivo do Estado do
Acre. Nesse texto legal, o Capítulo IV, mais especificamente no Art. 22, que trata
das competências dos Órgãos da Administração Direta (como a SEE/AC),
estabelece como competência do órgão gestor da educação: “promover a autonomia
das escolas através de programas de transferências de recursos e
responsabilidades” (ACRE, 2007a, não p.), dentre outras atribuições.
No aspecto dessas normativas legais, assim como em outras questões
abordadas ao longo do texto, percebe-se que, ao mesmo tempo em que o governo
da Frente Popular no Acre se constitui, na sua origem, com um projeto de esquerda,
pautado em princípios democráticos – por exemplo, faz orçamentos participativos,
gere políticas públicas de incentivo à formação de conselhos com a participação da
sociedade civil organizada – absorve práticas políticas educacionais de caráter
gerencial, como se explicita na mencionada Lei da Gestão Democrática, na qual,
sem reserva, há um posicionamento acerca da necessidade de uma gestão de
resultados. Essa contradição observada reflete-se tanto em práticas de
enfrentamento à forma tradicional de fazer política como revela uma adesão à pauta
129
nacional das reformas educacionais dos anos 1990, bem à semelhança do Governo
Federal.
Diante desses argumentos, há ambiguidades em relação às mudanças, como
também é identificado nos estudos de Damasceno (2010). Ao mesmo tempo em que
o governo da FPA implementa políticas de valorização dos trabalhadores, adota
propostas e medidas que não compõem a essência de um projeto democrático de
ensino, e isso implica reconhecer que o projeto em curso no Acre, muito embora se
constitua por forças democráticas, é todo permeado pelas teses hegemônicas
nacionalmente reconhecidas sob dualidades que vão compondo a gestão da política
educativa no estado.
De forma análoga e numa aproximação com as ideias de Bernstein
apropriadas por Ball (2005), questões dessa natureza podem ser consideradas
como expressões de “novas pedagogias invisíveis de gerenciamento, realizadas por
meio de avaliações, análises e formas de pagamento relacionadas com o
desempenho, ‘ampliam’ o que pode ser controlado na esfera administrativa” (BALL,
2005, p. 544-545), de uma forma sutil, nominada de responsabilização branda
(CARNOY; LOEB, 2002; BROOKE, 2006).
Essas contradições são expressas tanto em políticas oriundas nacionais de
educação, seguidas pela gestão local, quanto daquelas instituídas pela gestão do
sistema de ensino acreano e se evidenciam em práticas que controlam os agentes
públicos. Como Ball explica “os desempenhos de sujeitos individuais ou de
organizações servem de parâmetros de produtividade ou de resultado, ou
servem ainda como demonstrações de ‘qualidade’” (BALL, 2005, p. 543). Nessa
esteira de demonstração de “qualidade”, o Governo do Acre institui práticas
meritocráticas expressas, por exemplo, em três prêmios, sendo o primeiro
implementado pelo Governo Federal e os demais pelo Executivo local:
1) o Prêmio Gestão Escolar (PGE), criado em 2008 pelo Conselho Nacional
de Secretários de Educação (Consed) em articulação com várias instituições.76
Segundo informação constante no site oficial da SEE/AC, este prêmio serve de
76
Prêmio efetivado por meio da articulação conjunta do Consed, com seguintes organizações: União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Ministério da Educação (MEC), Fundação Roberto Marinho (FRM), Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Movimento Brasil Competitivo, Todos Pela Educação e Grupo Gol (CONSED, 2010). Em 2011, fazem adesão à concessão do Prêmio o Instituto Razão Social, a Fundação Itaú Social e o Grupo Gerdau (CONSED, 2011).
130
“estímulo à melhoria do desempenho das escolas e ao sucesso de aprendizagem
dos alunos [...]. A premiação tem como principal objetivo valorizar e motivar as
escolas públicas no desenvolvimento de uma gestão democrática e de qualidade.”
(ACRE, 2014, não p.). O PGE movimenta a gestão escolar que é avaliada pelos
resultados educacionais, pela participação, pela demonstração do grau da unidade
da equipe escolar, além da forma como conduz o gerenciamento pedagógico, os
serviços prestados e os recursos;
2) o Prêmio Anual de Valorização e Desenvolvimento da Gestão (VDG),
instituído77 em 2009 (ACRE, 2009c) pela SEE/AC contempla diretores,
coordenadores de ensino, coordenadores administrativos e secretários escolares e
leva em consideração os resultados da unidade de ensino, com o critério do
cumprimento de 90% (noventa por cento) das metas estabelecidas pela escola na
elaboração de seu Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE); não é incorporado
aos vencimentos e nem serve de base de cálculo dos proventos de aposentadoria;
3) o Prêmio Anual de Valorização e Desenvolvimento Profissional (PAVDP),
incluído na relação de rendas dos professores com o nome Prêmio VDP,78 instituído
em 2009. Ainda que haja uma concepção comumente orientada para esse tipo de
bonificação no sentido de efetivar prêmios à responsabilização do professor e ao
desempenho discente, sem contribuir com a carreira docente, no caso do Acre
inicialmente o VDP realizava-se apenas por meio da avaliação de desempenho
docente como critério de distribuição do bônus, sem vinculação direta com os
resultados das avaliações, como demonstra pesquisa realizada por Nogueira e Cruz:
a política do Estado do Acre não se fundamenta nos resultados do desempenho do aluno, apesar da existência do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape), mas no cumprimento de metas estabelecidas pelo sistema estadual. (NOGUEIRA; CRUZ, 2013, p. 21).
Mesmo que na fase inicial de implementação o VDP não tivesse vinculação
com os resultados do Seape/AC, com a continuidade da política de bonificação,
77
Previsto no Art. 23, da Lei Complementar n.º 67/1999 (ACRE, 1999c). 78
O VDP contempla aqueles professores que têm lotação integral e ininterrupta em sala de aula. Não tem incorporação aos vencimentos e nem serve de base de cálculo dos proventos de aposentadoria. É pago em duas parcelas semestrais, nos meses de junho e dezembro, com base no alcance das metas estabelecidas pela SEE/AC relativas ao período.
131
mais recentemente o Governo do Estado publica uma instrução normativa79
determinando que os resultados das avaliações em larga escala, obtidos pelo seu
sistema próprio de avaliação, sejam utilizados para cálculo do Índice de
Desenvolvimento da Educação do Acre (Idea), que tem como um dos indicadores o
Prêmio Anual de Valorização e Desenvolvimento Profissional.
Quando uma gestão educacional ao mesmo tempo em que investe num
sistema oficial de avaliação com vista a ter elementos para diagnosticar o
desempenho escolar e ter informações para subsidiar a condução da política
educacional e, junto a isso, assume o discurso da inclusão, da universalização do
direito à educação, da garantia da qualidade do ensino para todos os cidadãos e,
por outro lado, incentiva a lógica do mérito, explicita contradições e provoca
distanciamento de projetos que visam ao fortalecimento democrático. Nessa direção,
é assim que Zakia Sousa (2009) se posiciona: “políticas educacionais formuladas e
implementadas sob os auspícios da classificação e seleção incorporam,
consequentemente, a exclusão, como inerente aos seus resultados, o que é
incompatível com o direito de todos à educação.” (SOUSA, 2009, p. 34).
Embora o Prêmio VDP possa ter sido concebido inicialmente como estratégia
para garantir a permanência do docente no efetivo exercício da regência de classe e
que, de algum modo, possa contribuir para o professor não faltar às aulas, ainda
assim, ao assumir pela primeira vez em um texto oficial a vinculação entre
resultados e bonificação docente, o Governo explicita o contraditório do “prêmio por
resultado”, como anunciado no site oficial da SEE/AC e concebe a avaliação “como
elemento catalisador da gestão de resultados e eixo orientador das políticas
educacionais na busca da eficiência e da produtividade.” (ACRE, 2014c, não p.).
Em relação ao cumprimento da jornada de trabalho docente, independente da
contrapartida ou do regime de trabalho, incluem-se horas em sala de aula e horas de
atividade, cumpridas preferencialmente na escola.
Essas horas de atividades correspondem a vinte por cento do total da jornada
de trabalho (parágrafo 2º do Art. 13 da Lei Complementar n.º 67/1999c) e incluem as
seguintes contrapartidas: planejamento das aulas (atividades, avaliações etc.);
reuniões pedagógicas; participação em cursos de formação continuada; atividades
79
Trata-se da Instrução Normativa n.º 06, de 22 de abril de 2014 que regulamenta o Seape/AC, publicada na pág. 9. Caderno único. Diário Oficial do Estado do Acre (DOEAC) de 23 de abril de 2014.
132
constantes no calendário escolar (aniversário da escola, Dia do Estudante etc.);
colaboração com a administração da escola; elaboração de projetos; articulação
com a comunidade, dentre outras, em conformidade com a proposta pedagógica da
escola, com o calendário escolar e com o Plano de Desenvolvimento da Escola
(PDE).
A regulação se efetiva pelas “regras do jogo” (normas, injunções), porém os
dispositivos regulatórios também podem criar uma cultura que se estabelece para
além da regra e dos preceitos legais, alguns deles elencados neste texto e aqui
utilizados como um dos elementos para efeito de caracterização de um sistema de
ensino. De todo modo, um viés por meio do qual se acionam as formas de controle
institucionais é, de forma bem concreta, o regulamento, pela força que a normativa
tem, sobretudo nas sociedades contemporâneas.
O Artigo 1º da Lei 1.694/2005) concebe o Sistema Público da Educação
Básica como:
conjunto de instituições públicas que desenvolvem ações integradas para a elaboração e execução de políticas e normas que regulamentam e definem a oferta e a qualidade do ensino público da educação básica, a organização da gestão escolar, o quadro dos profissionais da educação básica e a utilização dos recursos financeiros, tecnológicos e materiais. (ACRE, 2006, grifo nosso).
O mesmo princípio em destaque é previsto na Constituição do Estado do
Acre, datada de 1989, quando estabelece no Art. 190, Inciso X, a “garantia do
padrão de qualidade de ensino.” (ACRE,1989, não p., grifo nosso). Então, nos textos
legais, como poder público, o Estado se compromete com a qualidade do ensino
público, contudo, sob modelos de gestão centrados em resultados que podem
induzir à utilização de indicadores educacionais identificados pela avaliação externa.
A Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC) é o órgão central do
sistema, responsável pela elaboração e execução das políticas educacionais no
Estado. Sua atual estrutura organizacional é regulamentada pelo Decreto n.º
3.674/2012 (ACRE, 2012a). O Gabinete do Secretário de Estado de Educação e
Esporte é o primeiro nível da hierarquia. Tem sob sua subordinação imediata dois
gabinetes que possuem a mesma escala hierárquica, quais sejam: Gabinete do
Secretário Adjunto de Educação e Gabinete do Secretário Adjunto do Esporte.
Vinculadas diretamente ao Gabinete do Secretário de Estado de Educação e
Esporte estão algumas estruturas relativas às assessorias técnica e jurídica, além de
133
três Divisões (Planejamento e Orçamento; Estudos e Pesquisas Educacionais;
Processo Administrativo Disciplinar).
Ao Gabinete do Secretário de Estado de Educação e Esporte, ainda vinculam-
se diretamente quatro diretorias: Diretoria de Inovação; Diretoria de Recursos;
Diretoria de Gestão Estratégica e Relações Institucionais; e Diretoria de Ensino, na
qual se encontra a Coordenação de Avaliação Escolar.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem uma Coordenação, assim
como as demais modalidades de ensino, sem hierarquia entre elas (ensino
fundamental; médio; ensino rural; educação especial; educação indígena etc.) e
todas juntas integram a Diretoria de Ensino.
A Diretoria de Gestão Estratégica e Relações Institucionais, dentre outros
setores, é responsável pela Coordenação de Apoio aos Núcleos da SEE/AC nos
Municípios e Articulação entre os Sistemas de Ensino das Redes Municipais. Essa
Coordenação é o canal de ligação da SEE/AC com os municípios. A SEE/AC possui
núcleos em todos os 22 (vinte e dois) municípios do Estado, com uma dinâmica de
encontros a cada trimestre que, de acordo com o site oficial do Governo, “os
coordenadores de núcleo reúnem-se com o Secretário de Educação e os chefes dos
departamentos da SEE/AC para definir novas políticas educacionais e avaliar as
ações realizadas.” (ACRE, 2014a).
Constituem, ainda, o sistema público da educação básica espaços de
decisões para as políticas públicas os seguintes Fóruns: 1) Fórum Estadual de Apoio
à Formação de Professores (Fepad)80; 2) Fórum da Educação de Jovens e Adultos;
3) Fórum da Educação Profissional e Tecnológica; 4) Fórum Permanente das
Relações Étnico-Raciais; 5) Fórum Estadual de Educação; 6) Fóruns Municipais de
Educação. Esses Fóruns têm inspiração no regime de colaboração previsto no Art.
211 da Constituição Federal de 1988, na EC n.º 14/1996 e no Art. 8º da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996) e se constituem em
estratégias legais que, dentre outras prerrogativas de efeito democrático, em tese,
possibilitam a fiscalização de recursos financeiros entre os entes federados.
Na atual estrutura organizacional há tanto uma dilatação do trabalho e
maiores possibilidades de atender ao sistema, como um aumento dos gastos
públicos com a gestão do sistema educacional, uma vez que isto implica
80
Neste Fórum o Secretário de Estado de Educação é presidente e a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Universidade Federal do Acre (Ufac) assume a Vice-Presidência.
134
pagamentos para mais funções gratificadas e a retirada de muitos professores da
sala de aula para compor a equipe da SEE/AC.
Ao tratar da estrutura administrativa do poder executivo do Estado, a Lei
Complementar n.º 247/2012 (ACRE, 2012b), no seu Art. 16 vincula à SEE/AC: a
Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour (FEM); a Fundação de
Desenvolvimento de Recursos Humanos, da Cultura e do Desporto do Estado do
Acre (FDRHCD) e o Instituto Dom Moacyr Grechi (IDM), este último antes vinculado
à Gerência de Educação Profissional (GEPRO). Desde 2005 o IDM é responsável
pela política pública de educação profissional no Estado, estando sob a sua
responsabilidade a execução de cursos técnicos, de formação inicial e continuada
por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec)81.
Integram, ainda, o sistema público da educação básica no Estado do Acre,
além da Secretaria de Estado de Educação e Esporte, as Secretarias Municipais de
Educação que optarem por compor o Sistema Único de Educação,82 o Conselho
Estadual de Educação, órgão normativo, consultivo e deliberativo do Sistema e os
Conselhos Municipais de Educação. Compõem, ainda, o Sistema Estadual de
Ensino:
II - as instituições de educação, de todos os níveis e modalidades, criadas e mantidas pelo poder público estadual; III - as instituições de ensino fundamental, médio e superior, criadas e mantidas pela iniciativa privada; IV - a instituição pública responsável pela coordenação das políticas culturais no Estado; e V - as entidades que atuam na área da educação. (ACRE, 2006).
Para dimensionar o sistema público da educação básica do Acre no contexto
posterior a 1999, a partir deste ponto tomou-se o recorte temporal de 1999 a 2013.
O ano de 1999, como já mencionado, correspondente ao início do primeiro mandato
da FPA no Governo do Estado. E 2013 é o ano seguinte à quarta edição do
Seape/AC e ano do último Censo Escolar disponível quando do início da coleta de
dados para esta pesquisa. Por uma decisão de cunho didático-metodológico,
apresentam-se os dados de dois em dois anos e a caracterização do sistema de
público ensino efetiva-se a partir de alguns elementos aqui explicitados de uma
forma abrangente. 81
Criado pelo Governo Federal (Lei 11.513/2011) com o objetivo de expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no país, além de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público.” (BRASIL, 2011e, não p.).
82 Em conformidade com o Inciso I, do Art. 3º da Lei Complementar n.º 162, de 20.06.2006.
135
Em relação às escolas distribuídas por localização, apresenta-se o seguinte
demonstrativo:
GRÁFICO 2 – DEMONSTRATIVO DE ESCOLAS PÚBLICAS POR LOCALIZAÇÃO (RURAL/URBANA), ACRE, 1999 A 2013
FONTE: Organizado da SINOPSE ESTATÍSTICA DA EDUCAÇÃO – MEC/INEP (1999-2013).
Considerados os intervalos de anos dispostos no gráfico anterior, a taxa de
crescimento médio de escolas foi de 3,98% na zona urbana. Na zona rural83 houve
crescimento até 2009 e, a partir deste ano, um decréscimo de 0,32%. Ao se
considerar a totalidade de escolas públicas em 1999 com o ano de 2013, nota-se um
crescimento de 3,42%.
Em números reais, isso equivale ao fechamento de 35 (trinta e cinco)
unidades escolares na zona rural e à construção de 89 (oitenta e nove) escolas na
zona urbana no período. Em termos percentuais, isso representa uma diminuição de
2,70% na zona rural e um incremento de 31,12% na zona urbana.
A necessidade por mais escolas na zona rural dá-se porque os espaços são
ocupados de forma bem esparsa e a população distribuída de forma bem rarefeita,
no geral, as turmas são pequenas e os alunos são concentrados em salas
multisseriadas. O acesso se dá por ramais sem pavimentação asfáltica, alguns ficam
intrafegáveis no período chuvoso, iniciado em meados de novembro e estendendo
até meados de abril, com uma intensidade maior entre os meses de janeiro a março.
83
Neste texto, a opção pelos termos rural e urbano dá-se pelo fato de que, no cenário do sistema público de ensino do Acre, estas são as terminologias utilizadas para caracterizar a localização das escolas, inclusive a SEE/AC tem a Coordenação de Ensino Rural vinculada à Diretoria de Ensino. Outra razão se deve ao fato de que o Censo do IBGE e os dados do Inep/MEC se reportam a esses termos. Assim, não se trata de uma decisão baseada em cunho teórico.
136
Em algumas áreas rurais, ainda que haja investimentos em transporte
escolar, os atoleiros impedem a passagem dos veículos, pois se chega a cavalo, a
pé, ou mesmo de motocicleta por meio de varadouros. Em outras comunidades, o
trajeto é realizado exclusivamente por rios que se alternam entre períodos de cheias
(alagações intensas) e secas rigorosas que, somente barqueiros experientes e
conhecedores da região conseguem pilotar as pequenas embarcações.
Vale registrar também que um mesmo professor é responsável pela matrícula
e guarda da documentação dos escolares e, até mesmo, da merenda escolar, seja
aquela distribuída pelo governo, seja aquela doada e improvisada por meio de
partilha pelas próprias famílias dos alunos. Quando não há professor na
comunidade, profissionais se deslocam até a comunidade e moram, por temporadas,
na própria escola ou em espaços cedidos pelos moradores da localidade. Por tudo
isso, as escolas rurais são consideradas como de difícil acesso, o que dificulta o
atendimento pedagógico.
Ao se tomar como referência o mesmo período (1999-2013), tem-se o
seguinte demonstrativo de escolas, por dependência administrativa:
TABELA 2 – DEMONSTRATIVO DE ESCOLAS PÚBLICAS, POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA
(ESTADUAL/MUNICIPAL), ACRE, 1999 A 2013
Dependência Administrativa
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
Estadual 761 774 703 703 675 796 818 877
Municipal 820 901 921 978 1.002 1219 1256 1299
TOTAL 1581 1675 1624 1681 1677 2015 2074 2176
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA DA EDUCAÇÃO MEC/INEP(1999-2013) .
Ao se observar a totalidade de escolas em 1999 com o ano de 2013, nota-se
um incremento: a) de 15,24% na Rede Estadual; b) de 58,41% no conjunto das
escolas das escolas das redes municipais; e, ainda, de 37,63% ao se tomar como
referência o agrupamento das Redes Estadual e Municipais.
No decurso da série histórica, observa-se um crescimento médio de 1,79% na
rede estadual e de 5,92% nas redes municipais de ensino público que se justifica
porque os municípios absorvem a maior extensão do ensino obrigatório e, também,
porque a partir de 2009, a obrigatoriedade da educação básica passa a se estender
dos 4 aos 17 anos de idade, contemplando também aqueles que não tiveram acesso
na idade própria, em conformidade com o que determina a Emenda Constitucional
n.º 59/2009.
137
Ainda em relação à caracterização do sistema público da educação básica, é
importante registrar que até 2011, funcionava apenas uma escola federal, o Colégio
de Aplicação da Universidade Federal do Acre (CAP/Ufac), em Rio Branco. A partir
de 2012, seis escolas federais foram instaladas sob a responsabilidade o Instituto
Federal do Acre (Ifac), na capital Rio Branco (duas unidades), Cruzeiro do Sul; Sena
Madureira, Tarauacá e Xapuri, cada um destes municípios com 1 (uma) unidade
instalada.
Ao se considerar as ações empreendidas na formação de professores, cabe
registrar que a LDB/1996 passou a pressionar os governos no sentido de que estes
titulassem seus professores. Como o Acre tinha um número considerável de
professores leigos, justifica-se nessa determinação legal o principal motivo para que
o Estado respondesse à demanda por meio de programas emergenciais,84 em
parceira com o Governo Federal, a Universidade Federal do Acre (Ufac) e, por
adesão, com diversas Prefeituras Municipais.
Os efeitos desses investimentos são notados na tabela abaixo:
TABELA 3 – DEMONSTRATIVO DE PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL, POR
FORMAÇÃO, ACRE, DE 1999 A 2013
Ensino Fundamental
Formação 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
Fundam. Incompleto 237 191 56 52 - - - -
Fundam. Completo 1181 1268 100 125 184 237 257 243
Médio completo 3375 3695 5241 4651 4909 4952 3844 2197
Superior comp. s/ licenc. - - - - 342 212 402 220
Superior comp. c/ licenc. 1573* 1795* 1567* 2286* 3894 4165 5508 4422
TOTAL 6366 6949 6964 7114 9329 9566 10011 7082
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA MEC/INEP/SEEC (1999-2013). NOTAS: 1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de
um estabelecimento; 2) os destaques em amarelo dizem respeito aos professores considerados leigos (sob a determinação do Art. 62 da Lei n.º 9.394/1996, a partir de 2006 para ministrar aulas na educação básica os professores devem ter habilitação em nível superior/licenciatura).
LEGENDA: - Dados não apresentados na sinopse estatística do referido ano. * A sinopse estatística não apresenta a modalidade da formação superior.
84
Alguns deles: Programa de Formação de Professores em Exercício (Proformação 1 e 2); Programa de Licenciaturas para os Municípios Isolados ou de Difícil Acesso, o Profir (destinado aos professores da Zona Rural); os Programas Especiais de Formação de Professores para a Educação Básica (PEFPEB) – PEFPEB/Licenciatura Específicas; PEFPEB/Curso Modular de Licenciatura em Pedagogia; PEFPEB/Zonal rural, Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), Plano Nacional de Formação Docente (Parfor), dentre outros.
138
Ao se considerar o período em análise, vale salientar que entre 1999 a 2005 a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996) ainda admitia
professores, que, no exercício do magistério e que tivessem ensino médio,
ministrassem aulas para o Ensino Fundamental. Assim, em 1999, o percentual de
professores leigos era de 22,27%. Sob a mesma orientação legal preconizada na
LDB/1996 e após dois mandatos da FPA no Governo do Estado, em 2005 este
percentual decaiu para 2,49%.
A partir de 2006, a obrigatoriedade estabelecida pela mesma LDB/1996
determina que professores a serem contratados para a educação básica,
obrigatoriamente, teriam de ser habilitados em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena. A partir desse novo parâmetro, em 2007 o
percentual de professores leigos eleva-se para 58,26% e, ao final da série em
estudo, em 2013, diminui para 37,56%.
No Ensino Médio, a formação docente assim se apresenta:
TABELA 4 – DEMONSTRATIVO DE PROFESSORES NO ENSINO MÉDIO, POR FORMAÇÃO,
ACRE, DE 1999 A 2013
Ensino Médio
Formação 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
Fundam. Incompleto - - - - - - - -
Fundam. Completo 1 - - - - 1 - 3
Médio completo 85 79 219 29 87 202 140 188
Superior comp. s/ licenc. 62 35 92 114
Superior comp. c/ licenc. 934* 1128* 1216* 1435* 1060 1280 1514 1729
TOTAL 1020 1207 1435 1464 1209 1518 1746 2034
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA MEC/INEP/SEEC (1999-2013). NOTAS: 1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de
um estabelecimento; 2) os destaques em amarelo dizem respeito aos professores considerados leigos (sob a determinação do Art. 62 da Lei n.º 9.394/1996, a partir de 2006 para ministrar aulas na educação básica os professores devem ter habilitação em nível superior/licenciatura).
LEGENDA: - Dados não apresentados na sinopse estatística do referido ano. * A sinopse estatística não apresenta a modalidade da formação superior.
Ao se considerar os dados expressos na tabela anterior, observa-se no
Ensino Médio (EM) uma situação um pouco mais cômoda do que no Ensino
Fundamental (EF). Em 1999, no EM o percentual de professores leigos era de
8,43% (no EF era de 22,27%). Em 2005, a taxa de professores leigos no EM era de
1,98%, sem muita variação em relação ao EF que, nesse mesmo ano, esta taxa era
de 2,46%.
139
Isso não significa que os investimentos no EM devam ser menores, pois esta
etapa da educação básica requer atenção especial justificada pelo preocupante
conjunto do fluxo escolar (aprovação, reprovação e abandono), como será
evidenciado adiante.
Em 2007, sob a determinação do novo parâmetro de que professor para
assumir sala de aula na Educação Básica precisa ser licenciado, a situação se
inverte, ou seja, a situação no EF é melhor do que no EM. Lembrando que em 2007
o EF tinha 1,97% de professores leigos, enquanto o EM registra 12,33% sem a
formação mínima indicada pela LDB/1996. Em 2013, esta taxa alcança 14,99% de
professores leigos no Ensino Médio, mais de 11% em relação ao EF no mesmo ano.
Um outro elemento aqui considerado relevante para a caracterização da atual
política educacional no Acre diz respeito ao número de matrículas, aqui cotejado
com a evolução dos dados nacionais e regionais. Com essas intenções, eis a tabela
seguinte:
TABELA 5 – EVOLUÇÃO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL NO ENSINO
FUNDAMENTAL, ACRE, DE 1999 A 2013
Localização
Matrícula/Ensino Fundamental
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
Brasil 36.059.742 35.298.089 34.438.749 33.534.561 32.122.273 31.705.528 30.358.640 29.069.281
Norte 3.293.266 3.272.305 3.316.896 3.348.370 3.286.500 3.293.438 3.256.268 3.195.061
Acre 144.284 145.959 148.007 153.317 153.929 166.068 166.217 163.294
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA MEC/INEP(1999-2013).
Ao se debruçar sobre esses dados, algumas tendências mais gerais são
assim observadas: redução nas matrículas em nível nacional, um leve decréscimo
nos registros da Região Norte (mas com pouca variação) e um crescimento de
matrículas no Estado do Acre. No período em análise, em termos percentuais, as
taxas médias de matrículas apresentam-se dessa forma: Brasil: redução média de
2,66%; Região Norte: decréscimo médio de 0,38%; Acre: incremento médio de
1,56%.
Ao se tomar o mesmo período de análise (1999-2013), dividindo-o em
intervalos de dois em dois anos, é possível observar melhor a evolução das
matrículas em âmbito nacional, regional e local:
140
TABELA 6 – TAXA DE EVOLUÇÃO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL NO
ENSINO FUNDAMENTAL, DE 1999 A 2013 (EM%)
Períodos Taxa de Crescimento Médio entre os Anos
Brasil Região Norte Acre
1999-2001 - 2,11 - 0,64 1,16
2001-2003 - 2,43 1,36 1,40
2003-2005 -2,63 0,94 3,59
2005-2007 - 4,21 - 1,85 0,40
2007-2009 - 1,30 0,21 7,89
2009-2011 - 4,25 -1,13 0,09
2011-2013 - 4,25 - 1,88 -1,76
Taxa média de matrícula - 3,04 - 0,49 1,83
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA MEC/INEP/SEEC (1999-2013).
LEGENDA: Redução na matrícula
Observa-se que o percentual na matrícula nacional apresenta decréscimo em
todos os intervalos de anos. Em termos do decréscimo nos períodos, a variação
mínima é de 1,30% observada entre 2007 e 2009 e a variação máxima foi uma
redução de crescimento de 4,25% entre 2009-2011 e entre 2011-2013.
No caso do Acre, apenas no interstício entre 2011-2013 houve redução de
1,76%. Nos demais períodos, houve impulso no número de matrículas, variando
entre o menor aumento que correspondente à média de 0,09% (entre 2009-2011) e
o maior registrado no período entre 2007-2009, equivalente a um percentual positivo
de 7,89%.
Em relação às matrículas por etapa de ensino, apresenta-se o seguinte
demonstrativo:
TABELA 7 – TAXA MÉDIA DE EVOLUÇÃO LOCAL DA MATRÍCULA TOTAL, POR ETAPA DE
ENSINO, ACRE, DE 1999 A 2013 (EM%)
Períodos
Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio
EJA
Creche
Pré-Escola
Anos Iniciais
Anos Finais
EF EM
1999-2001 20,93 89,17 -103,03 91,03 92,55 48,73 46,37
2001-2003 88,26 88,64 -100,65 94,93 86,96 -104,55 67,43
2003-2005 79,96 92,31 97,61 92,62 90,71 -127,06 86,96
2005-2007 95,88 89,61 99,98 99,15 -102,13 -147,81 -138,42
2007-2009 77,74 -111,00 94,66 88,27 86,80 -123,68 -106,87
2009-2011 83,71 95,82 -106,05 91,35 89,72 42,60 -158,65
2011-2013 70,19 95,92 -103,35 -107,35 93,93 -198,39 94,70
Taxa média de matrícula
73,81 78,72 -17,26 64,28 62,64 -87,16 -15,49
FONTE: Organizada da SINOPSE ESTATÍSTICA MEC/INEP/SEEC (1999-2013).
LEGENDA: Redução na matrícula
141
Conforme ilustra a tabela anterior, o crescimento médio mais intenso de
matrículas registra-se na educação infantil. Ao comparar-se creche com pré-escola,
verifica-se um maior crescimento médio na pré-escola. Esta é uma tendência
nacional, especialmente após a edição da Emenda Constitucional n.º 53/2006, que
assegura essa etapa de ensino, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade.
Em relação ao Ensino Médio (EM), nota-se que a taxa média de matrículas é
positiva em termos de oferta no ensino regular e negativa na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), muito embora nos três primeiros e no último
período da série histórica (1999 a 2013) a EJA tenha obtido uma taxa média
positiva.
O gráfico seguinte apresenta a taxa líquida de matrícula em âmbito nacional,
regional e local:
GRÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DA TAXA LÍQUIDA DE MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO EM ÂMBITO NACIONAL, REGIONAL E LOCAL, DE 1999 A 2013 (EM%)
FONTE: Organizada do ANUÁRIO BRASILEIRO DA EDUCAÇÃO BÁSICA (2014; 2015).
Em relação à taxa líquida de matrícula,85 o Ensino Médio do Acre fica abaixo
da média nacional em toda a série analisada e um pouco acima da média da Região
Norte em quase todos os anos, à exceção dos dois últimos (2011 e 2013).
85
A taxa líquida de matrícula é também nominada de taxa de frequência líquida. Corresponde à proporção de pessoas que, numa determinada faixa etária, está na fase de escolarização recomendada oficialmente. Exemplo: crianças de 6 a 14 anos que estão cursando o Ensino Fundamental, em relação à população existente nesta fase da vida.
142
Com base na população do último Censo (2010), ao considerar o número total
de matrícula daqueles alunos com a idade recomendada para está na Educação
Infantil (de 0 a 5 anos), a cobertura líquida é de 31,74%. No Ensino Fundamental, o
percentual de matrícula em relação à população da faixa etária (pessoas de 6 a 14
anos) é de 98,94%, neste caso, pode-se considerar que o alcance da
universalização do ensino está bem próximo. No Ensino Médio, a cobertura da oferta
é de 79,80%, considerando o número de jovens entre 15 a 17 anos.86
A taxa de aprovação, como um dos índices de rendimento, é apresentada no
gráfico a seguir em dados percentuais:
GRÁFICO 4 – TAXA DE APROVAÇÃO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999 A
2013 (EM%)
FONTE: Organizado de ACRE EM NÚMEROS (1999-2005); INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS (2007-
2013) – MEC/INEP.
NOTA: Os dados de 1999 a 2005 são referentes à taxa total de matrículas e de 2007 a 2013 apenas
à rede publica.
Ao observar o gráfico anterior, algumas constatações mais gerais podem ser
apresentadas em relação às taxas de aprovação na educação básica no Acre:
muito embora as taxas de aprovação do sistema educacional acreano apresentem uma melhora mais evidente entre 2005 e 2009, nos anos
86
A memória do cálculo da Matrícula líquida, com base na população do último Censo (2010) é a seguinte: 1) Educação Infantil são 29.950 matrículas/ 94.369 crianças de 0 a 5 anos x 100 = 31,74%; 2) Ensino Fundamental são 151.366 matrículas/ 152.980 pessoas de 6 a 14 anos x 100 = 98,94%; 3) Ensino Médio são 38.631 matrículas/ 48.412 pessoas de 15 a 17 anos x 100 = 79,80%.
143
subsequentes, há uma certa estabilidade nos dados expressos, alcançando um percentual um pouco melhor em 2013 (à exceção do EM);
quando se analisam as diferenças das taxas de rendimento entre as etapas de ensino, há uma variação significativa;
ao se observar os extremos, as menores taxas ocorrem nos anos iniciais do EF entre os anos de 1999 a 2003, aliás esta etapa só alcança a casa dos 80% a partir de 2009 e nesta faixa se mantém ao longo dos anos subsequentes;
na outra extremidade, ou seja, a etapa que apresenta as maiores taxas em todos os anos da série é a dos anos finais do EF, mantendo uma média de aprovação acima dos 80%, à exceção dos dois primeiros anos da série apresentada em que há dois registros na faixa dos 70% e em 2013 em que essa fase de ensino alcança a casa dos 90%, sendo a única etapa a alcançar este patamar;
o EM apresenta as menores taxas de aprovação a partir de 2005, mantendo-se na faixa dos 70% ao longo de toda a série em análise. Em 1999, juntamente com os anos finais do EF, o EM alcança 73,4% de aprovação, mas isto se confirma como a exceção, pois esta fase final da educação básica é a única que não atinge a faixa dos 80%, visto que todas as demais alcançam este patamar e, assim, o contexto local segue a tendência nacional neste aspecto.
A taxa de reprovação, como um outro índice de rendimento, é apresentada no
gráfico a seguir em dados percentuais:
GRÁFICO 5 – TAXA DE REPROVAÇÃO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999
A 2013 (EM%)
FONTE: Organizado de ACRE EM NÚMEROS (1999-2005); INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS (2007-
2013) – MEC/INEP. NOTA: Os dados de 1999 a 2005 são referentes à taxa total de matrículas e de 2007 a 2013 apenas
à rede publica.
144
Ao considerar ano por ano em todo o período tomado como referência, o
maior registro de taxa de reprovação é identificado em 2005 nos anos iniciais do
Ensino Fundamental (EF) correspondente ao patamar de 16,39% e a menor ocorre
em 1999, no Ensino Médio (EM) que alcança 4,9%.
Nesse decurso de tempo, as taxas mais altas de reprovação são verificadas
nos anos iniciais do EF, numa oscilação que varia de crescimento entre 1999 e
2001, para um leve decréscimo em 2003, voltando a subir de forma significativa em
2005 e, a partir de 2007, melhorando as taxas de retenção escolar, ainda que
chegue em 2013 com a maior taxa registrada neste ano ao se observar todas as
etapas da educação básica.
Ao se cotejar as demais etapas da educação básica, observa-se que as taxas
de reprovação:
são mais preocupantes no EM, uma vez que se manifesta sempre crescente no período de 1999 a 2007, com um decréscimo de 1,3% entre 2007 e 2009, voltando a crescer 0,3% entre 2009 e 2011 e mais 2,8% entre 2011 e 2013;
nos anos finais do EF, há um decréscimo ao longo de quase toda a série, de 1999 até 2011, com um leve acréscimo de 0,2% entre 2011 e 2013.
No geral, em relação à taxa de reprovação há uma tendência de queda no EF
e aumento no EM, isso pode ter uma intrínseca ligação com duas questões: a
dificuldade de o aluno trabalhador conciliar seu tempo e como elemento que pode
estar até associado com a questão da mudança dos alunos do EM regular para o
Programa Especial de Ensino Médio (PEEM/Poronga) uma vez que muitos deles, a
partir dos dezessete anos, em que se encontram em distorção ou defasagem
idade/ano escolar, migram do ensino médio regular para o esse programa de
aceleração que possibilita a conclusão dessa etapa de ensino em 18 meses, por
meio da metodologia do Novo Telecurso, adotada pela Secretaria de Estado de
Educação e Esporte (SEE/AC) desde 2002, inicialmente num envolvimento formal
do Governo do Estado do Acre com a Fundação Roberto Marinho e, paulatinamente,
sendo incorporada como política do governo da FPA, ou seja, uma política adotada
como temporária vem se mantendo perene.
Em 2002, ano de implantação do Projeto Poronga no Estado, a distorção
idade série alcançava um índice de 57% dos alunos matriculados no Ensino Médio
(ACRE, 2004). Em 2013, levando-se me consideração os três segmentos da
145
educação básica, o índice geral de distorção idade-série no Acre é de 30,4% em
2013. (ACRE, 2013a).
A taxa de abandono, o último índice de rendimento aqui considerado, é
apresentada no gráfico a seguir em dados percentuais:
GRÁFICO 6 – TAXA DE ABANDONO POR ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, ACRE, DE 1999 A
2013 (EM%)
FONTE: Organizado de ACRE EM NÚMEROS (1999-2005); INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS (2007-2013) – MEC/INEP.
NOTA: Os dados de 1999 a 2005 são referentes à taxa total de matrículas e de 2007 a 2013 apenas à rede publica.
As maiores taxas de abandono são registradas no EM. Em 1999 esta etapa
atinge 21,7%, o maior índice em toda a série histórica. Contudo, ao cotejar os dados
dessa etapa consigo mesma, há um decréscimo entre 1999 a 2003, subindo 2,7%
entre 2003 e 2005; ainda assim, voltando a apresentar decréscimo de abandono a
partir de 2007. De um modo geral, o EM deu um salto positivo, reduzindo no período
a taxa de abandono de 21,7% em 1999 para 10,5% em 2013 em que, face dos
outros desafios enfrentados por jovens e adultos nesta etapa, ainda são bastante
altos.
As menores taxas de abandono são registradas inicialmente nos anos finais
do EF, entre 1999 a 2003, mas a partir de 2005, a etapa que mais perde alunos são
os anos iniciais do EF.
Como estratégia de combate ao analfabetismo, em 2014 a SEE/AC determina
que “cada uma das escolas da rede estadual deverá definir, em seu Projeto Político
Pedagógico, ações para alfabetizar, no mínimo, 30 (trinta) jovens e adultos de sua
comunidade com 15 anos ou mais.” (ZEN, 2014b, não p.). De um modo ou de outro,
146
a questão não tem sido ignorada, uma vez que em todos os Planos Plurianuais
(PPAs) dos últimos anos a temática tem sido pautada na agenda política local.
Ao que tudo indica, ao longo dos anos, os índices revelam um avanço na
qualidade do ensino público, especialmente quando se verificam investimentos em
uma educação mais inclusiva, quando paga o piso salarial, melhora a infraestrutura
das escolas, investe na formação do professor etc., e os resultados constituem um
incremento à educação básica.
Em que pese todos esses investimentos, com a Frente Popular no comando
do Executivo estadual, a questão de se melhorar os índices também passa pela
capacidade que:
nós [o governo] tivemos que nos reinventar dentro de um governo de continuidade, porque não dar prá fazer 12 anos ou 16 anos, sei lá quantos você permanece no governo, fazendo o mesmo e as mesmas coisas, né? Porque os desafios, à medida em que você vai respondendo aquelas demandas iniciais, vão surgindo novas demandas e essas novas demandas requerem novo planejamento, nova maneira de se trabalhar. (Informação verbal).
87
Sobre esse “governo de continuidade” é importante pontuar alguns
elementos. Mesmo se constituindo sob uma mesma denominação política – Frente
Popular do Acre – e mesmo ao se considerar o fato dessa coligação contabilizar
cinco mandatos na condução do Executivo Estadual, entre um governo e outro há
modos diferentes de conduzir as políticas, aqui consideradas sob duas matizes
diferentes. A primeira delas marcada pelas três primeiras gestões do PT no Acre
(primeiro e segundo mandato do Governo Jorge Viana e o subsequente sob a
condução do Governo Binho Marques) pautava-se sob os mesmos propósitos e
estavam perfiladas em um mesmo ideal: atribuir um grau de importância à
educação.
Na segunda matriz, a julgar pelo próprio perfil da gestão da SEE/AC e pelo
trabalho que as equipes subsequentes passaram a desenvolver posteriormente nas
duas gestões de Tião Viana, imprime-se uma outra lógica denominada pelo Governo
como gestão de resultados, onde não se mantém a coerência com a condução dos
três primeiros mandatos da FPA. Isso significa que as influências das primeiras
gestões não foram seguidas, ainda que estas tenham se firmado sob raízes muito
fortes, a considerar o longo período de manutenção da FPA no poder e as
87
SILVA, Maria Corrêa da. Ao responder sobre para que servem as informações obtidas via Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
147
conquistas alcançadas em termos educacionais. Nos três primeiros mandatos havia
uma interlocução significativa com a política educacional. Nessa segunda matiz, o
popular passou a se configurar como elemento de retórica.
A contar de 2009, são sete edições do Seape/AC realizada em 2015 e três
mandatos de Governo que conduzem as avaliações externas. Cada governador e
suas respectivas equipes, em cada área da administração pública, imprimem uma
forma de conduzir a política. Entre um governo e outro, a FPA vai se reinventando e
a política local envereda sob novos contornos.
Um elemento desse processo de reinvenção, pontuado pela entrevistada,
trata-se do estabelecimento e da ampliação de parcerias. Em janeiro de 2011, o
Governo do Estado do Acre publica no Diário Oficial o Decreto n.º 646 (ACRE,
2011b), que estabelece com os Municípios o Pacto pela Educação do Acre,
objetivando definir metas conjuntas para melhorar os respectivos indicadores
educacionais do Município de Rio Branco e das 21 (vinte e uma) cidades acreanas88
que aderiram ao Pacto. Segundo informações contidas no site oficial da SEE/AC,
trata-se de um “modelo de gestão educacional integrado, que vem sendo aplicado
com sucesso entre a prefeitura de Rio Branco e o Governo do Estado [...] o
programa é composto por um conjunto de ações de melhoria educacional.”89
A ideia do Pacto é unir esforços e consolidar ações que contribuam para
resolver problemas de transporte escolar e de infraestrutura das escolas. O pano de
fundo é o regime de colaboração (LDB/1996) e os resultados do Estado do Acre em
relação ao Índice da Educação Básica (Ideb), visto que o pacto direciona-se para a
melhoria da gestão, na diminuição da evasão e repetência escolar, na
universalização do ensino para crianças de 4 e 5 anos até 2016, na garantia da
alfabetização adequada a todas as crianças até os oito anos e redução abaixo de
5% em relação à distorção idade-série.
No campo do currículo, desde 1999 o Acre reforça sua proximidade com o
MEC. Nessa direção, realiza inserções e parcerias mais sistemáticas por meio dos
Parâmetros em Ação, assumido pela SEE/AC, sobretudo por meio de:
88
O Acre tem 22 municípios. 89
Informação disponível em: <http://www.see.ac.gov.br/portal/index2.php?option=com_content&task=emailform&id=181&itemid=9>. Acesso em: 2 ago.2013.
148
um trabalho de formação continuada prá implantação da nova estrutura curricular em âmbito nacional. Tinha críticas pro sistema [nacional], mas no caso do Acre não tínhamos muita alternativa ou nós trabalhávamos com aquilo ali fazendo a crítica e discutindo no processo e foi isso que nós fizemos, nós adotamos o programa do Ministério de formação continuada de professores. (Informação verbal).
90
Em face da adoção dos PCN como referenciais, a orientação da SEE/AC é
que o processo de ensino e aprendizagem seja planejado a partir de competências e
habilidades, sendo o currículo proposto por áreas de conhecimento, porém sua
organização se dá por seriação e disciplinas.
Outro elemento a destacar na atual conjuntura trata-se do estreitamento da
relação entre Estado e Universidade Federal do Acre (Ufac) que, aos poucos vem se
consolidando, sobretudo pelas experiências e trocas estabelecidas a partir dos anos
2000 com a formação inicial de professores para a educação básica.
Apesar dessa aproximação da educação pública superior com a gestão da
educação básica, o Estado do Acre em 2008 elabora os Cadernos de Orientação
Curriculares (COCs) à luz destes dos PCN, a partir da contratação91 do Instituto
Abaporu de Educação e Cultura92 objetivando a realização de três serviços: 1)
revisão dos Referenciais Curriculares do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries e
Ensino Médio do estado do Acre; 2) elaboração e reprodução de cadernos para
formação de técnicos, diretores, coordenadores de ensino e professores; 3) curso de
formação de 64 horas com foco no alcance das competências e habilidades na
avaliação e planejamento. Segundo informações oficiais do Abaporu, uma
associação privada, os principais projetos desenvolvidos com a Secretaria de Estado
de Educação e Esporte (SEE/AC) são os seguintes:
Elaboração de materiais de apoio didático-pedagógico para professores e alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio e turmas com defasagem idade-série; Produção de livros didáticos de Alfabetização, Língua Portuguesa e Matemática, destinados a turmas regulares e com defasagem idade-série; Organização do Programa Asas da Florestania Infantil (em que agentes de educação atendem crianças de 4 e 5 anos das comunidades de difícil acesso em suas casas); Formação continuada de professores de
90
SILVA, Maria Corrêa da. Ao contextualizar a 1ª experiência de avaliação externa no Acre. Rio Branco, 2014. Entrevista.
91 Essa contratação efetivou-se pelo tipo de licitação menor preço por item, licitada por meio do
Pregão Presencial n.º 121/2008. Informação disponível em: <http:\\www.licitacao.ac.gov.br/cpl/sie/arquivos/retificacoes/1Notificação Pregão Presencial n.º 121 2008. CPL 02 SEE Referenciais Curriculares.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013.
92 Conforme informações contidas no site oficial desse Instituto, o mesmo desenvolve projetos
educacionais e sociais em diferentes instituições e estados do país, nas seguintes áreas: assessoria a instituições educativas; projetos sociais; e publicações. Informações disponíveis em:
http://www.institutoabaporu.com.br/>. Acesso em: 13 jun. 015.
149
todos os segmentos da Educação Básica (INSTITUTO ABAPORU, 2015, não p.).
Aliado ao currículo, a implementação de um sistema próprio de avaliação
possibilitaria tanto um olhar mais amplo no sistema como poderia contribuir para
organizá-lo e reafirmar ou estabelecer novos formatos de política. Na visão dos
gestores, se um sistema estadual de educação não conhecesse a si próprio, ficaria à
deriva das políticas nacionais, sem uma identidade própria e sem elementos para
propor e conduzir as mudanças necessárias no contexto local. Ainda mais na
intencionalidade de definir uma coloração local para a política educacional no
contexto de um governo de esquerda que pretendia definir uma forma de governar
diferente da trajetória política anterior a 1999.
Ao abordar aspectos caracterizadores do contexto e do sistema de ensino
acreano, este capítulo consistiu em compreender alguns elementos da conjuntura
local que são importantes para situar o processo de implementação do sistema
próprio de avaliação da educação básica, objeto deste estudo, que será analisado
no capítulo seguinte.
150
CAPÍTULO 4 SISTEMA ESTADUAL DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
(SEAPE): PRINCÍPIOS, CONCEPÇÕES, IMPLEMENTAÇÃO E AJUSTES DA
POLÍTICA EM AÇÃO
Este capítulo situa o processo de estruturação do Sistema Estadual de
Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) delineado a partir de um conjunto de
práticas locais articuladas com a política nacional de educação. Inicialmente discorre
sobre os antecedentes do processo de implementação do Seape/AC, com a
intenção de considerar quais fatores colaboraram e interferiram para o quadro atual
desse sistema próprio de avaliação e de que forma integra as ações educacionais
no enfrentamento a problemas conjunturais e estruturais do ensino.
Em seguida, apresenta as finalidades e os objetivos do Seape/AC, como
componente integrante da agenda política educacional acreana, numa interlocução
com as intencionalidades do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Depois, explana sobre a configuração e abrangência desse sistema próprio de
avaliação da educação básica, descrevendo a composição dos testes do Seape/AC,
as escalas de proficiência, o potencial de acesso e a apropriação dos resultados.
No item seguinte, o capítulo aborda os principais ajustes e desvios da política
em ação, bem como as formas pelas quais a avaliação tem servido como suporte da
gestão de resultados. Em seguida, apresenta algumas estratégias para legitimação
e consolidação da política, as formas de publicização de resultados e como o Estado
mobiliza a opinião pública.
Por fim, discute o potencial do Seape/AC e demonstra algumas possibilidades
de uso dos resultados por meio de exercícios ilustrativos e alternativas de análises
dos dados oriundos dessa avaliação externa.
Intenciona responder as questões norteadoras desta pesquisa, quais sejam:
1ª) como a política de avaliação externa é concebida e implementada pelo
Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape)?
2ª) quais políticas educacionais decorrem da implementação do Seape/AC no
sistema público de ensino no Acre?
3ª) e que associações e tensionamentos são estabelecidos entre as políticas
decorrentes da avaliação em larga escala e as formas de regulação e controle
151
empreendidos pelo órgão gestor da educação básica no contexto educacional
acreano?
Ao se considerar a política de educação no âmbito da educação básica
brasileira, o Seape/AC compõe o panorama de implantação e disseminação de
sistemas de avaliação descentralizados, ou subsistemas de avaliação. Como
apontam Sousa e Oliveira (2010), nos anos 1990 intensifica-se o processo de
implementação e expansão dos sistemas estaduais de avaliação e, nos anos 2000,
há uma profusão de sistemas próprios de avaliação em larga escala, fato que
contribui para a consolidação de uma cultura avaliativa, difundida com as
configurações contemporâneas desde os primeiros anos do século XXI.
O caso da experiência própria de avaliação educacional no Acre tem uma
sintonia com as políticas públicas de avaliação nacional, aliás, “o Sistema Nacional
de Avaliação do Ensino Básico criado pelo Inep no princípio da década de 1990 está
na raiz de todos os sistemas estaduais de avaliação.” (GAME, 2011, p.22). Na linha
de compreensão desse argumento, confirma-se a influência do Ministério da
Educação (MEC) na criação dos sistemas estaduais de avaliação em larga escala
no Brasil. No caso do Acre, há esse efeito indutor, pois o Governo do Estado, por
meio da Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC), que coordena o
Seape/AC, adota a metodologia dos padrões nacionais para avaliações em larga
escala.
4.1 Antecedentes do processo de implementação do Sistema Estadual de
Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape)
Além do Seape/AC integrar um conjunto de políticas empreendidas no
contexto da educação estadual a partir de 1999, outros elementos são considerados
relevantes no que diz respeito aos antecedentes desse sistema próprio de avaliação
em larga escala, mencionados aqui sem ordem de importância.
O primeiro deles trata-se da criação da Coordenação de Avaliação Escolar,
no início da década de 1990, inicialmente vinculada à Diretoria de Planejamento da
Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC), mais associada à estatística
escolar e, posteriormente, à Diretoria de Ensino, dessa vez com um foco maior nas
questões do ensino.
152
O segundo fator é marcado pela inserção do Acre desde as primeiras
experiências de avaliação educacional, na perspectiva sistêmica em âmbito
nacional. Segundo consta no relatório final da pesquisa realizada pelo Grupo de
Avaliação e Medidas Educacionais (Game):
Em 1999, com uma parceria entre MEC, Inep e Secretaria de Educação do Acre, é realizada, de modo censitário, a avaliação dos alunos da 4ª série do Ensino. Fundamental nesse estado. A parceria realizou nova avaliação em 2003, também de forma censitária, com os alunos de 8ª série do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio, além dos alunos de 4ª série do Ensino Fundamental novamente. Houve uma orientação às escolas baseada nos resultados da avaliação. O retorno para as escolas se deu por meio de relatórios individualizados e produzidos no estado, que foram apresentados em seminários com diretores e coordenadores pedagógicos (GAME, 2011, p.28).
Sobre essa experiência pioneira de 1999 não se encontraram os
supramencionados relatórios individualizados ou outros documentos nos sites
oficiais das instituições envolvidas e nem a SEE/AC os disponibilizou para subsidiar
esta pesquisa. De todo modo, essa inserção em processo avaliativo tem
continuidade, pois dois anos depois, em 2001, por iniciativa própria, a SEE/AC
realiza uma avaliação com todo o universo de alunos da 3ª série (4º ano)93 do
Ensino Fundamental (EF).
Essa avaliação foi realizada exclusivamente em todas as escolas estaduais
localizadas em Rio Branco, sob a responsabilidade dos próprios técnicos da
secretaria gestora da Educação no Estado, a partir de itens cedidos pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e, também,
com a inclusão de questões que possibilitassem identificar, principalmente,
habilidades de leitura e escrita, pois pelos acompanhamentos pedagógicos
realizados nas escolas, pelas reuniões pedagógicas e demais formas de inserção da
SEE/AC nas instituições que compunham a rede, havia uma desconfiança de que
muitas crianças chegavam ao 4º ano sem saber ler e que, principalmente por esse
motivo, não apresentavam o desempenho esperado nas avaliações externas.
Segundo a ex-Secretária de Educação, essa avaliação se fez necessária:
por que como é que nós iríamos enxergar o efeito das políticas que nós estávamos definindo, todas essas políticas, como iríamos enxergar se não tivéssemos o sistema de avaliação, podíamos contar com o sistema do Ministério, o Saeb, mas era uma avaliação feita de dois em dois anos e,
93
A partir de 2006, o Ensino Fundamental passa a ser composto por 9 anos, assim a 4ª série converte-se em 5º ano, pois a lei incluiu as crianças de 6 anos nesta etapa. A partir daqui o texto vai referir-se sempre à denominação atual 5º ano e 9º ano.
153
também, enxergávamos o macro, vamos dizer assim, a floresta, não enxergávamos a árvore e nós precisávamos enxergar além da floresta, nós precisávamos enxergar a árvore que isso esse sistema de avaliação hoje permite, permite que você enxergue o aluno na sala de aula. (Informação verbal).
94
A experiência de 2001, apesar de ter sido realizada em todas as escolas de
Rio Branco, a capital do Estado, foi considerada pela SEE/AC como uma avaliação
diagnóstica, sem a conotação de larga escala, uma vez que tinha como foco avaliar
a aprendizagem, como demonstra o ex-Diretor de Ensino:
mas ela cumpriu o seu papel, mas ela não teve esse rigor científico. Se
você perguntar assim: qual foi a teoria de avaliação?, não teve uma teoria
de avaliação, era uma questão de identificar quem sabia e quem não sabia
ler. Uma boa prova, com consistência, mas ela não estava no mesmo
padrão de larga escala, se nós tivéssemos cópia dessa prova iríamos
verificar que tinha uma conotação diferente, apesar da equipe ter feito um
grande esforço, nós coordenamos a aplicação destas provas nas escolas a
partir dos coordenadores e foi identificado, naquele momento, que 75% dos
alunos que estavam na 3ª série não sabiam ler nem escrever. (Informação
verbal).95
Essa experiência é considerada pela SEE/AC como o embrião do Seape/AC.
Nessa avaliação de 2001 não se definiu um índice da rede de ensino, visto que o
objetivo inicial consistia em que, apenas, cada escola enxergasse a si própria e,
nessa linha de pensamento, a própria escola poderia ter planejado a sua avaliação,
uma vez que não exigia grande capacidade técnica instalada, nem tratamentos
estatísticos sofisticados. Mesmo assim, com todas as limitações:
foi a partir dessa avaliação que a gente [equipe da SEE/AC] verificou a
necessidade da gente fazer mais investimento, isto foi fato e a necessidade
porque a gente começou a perceber e a verificar que a gente não conseguia
se enxergar e nem as escolas enxergavam o que, de fato, elas estavam
fazendo. (Informação verbal).96
Além dessa necessidade de melhor enxergar a rede, havia outros fatores que
mobilizavam o Estado a fazer inserções próprias em experiências de avaliações em
larga escala, dentre estes:
o Saeb apenas oferece pistas para a boa escola, o gestor do sistema não tem como utilizá-las como ferramenta precisa para o seu planejamento.
94
SILVA, Maria Corrêa da. Sobre os antecedentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista. 95
CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o contexto anterior à implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
96 CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o contexto anterior à implementação do Seape/AC. Rio
Branco, 2014. Entrevista.
154
Servem mais como um conjunto de boas intenções, porém muito genéricas, válidas para qualquer sistema educacional. (ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 151).
Em 2003, a Secretaria de Estado de Educação e Esporte não só reedita a
avaliação externa, como também participa de um projeto piloto do Inep, desta vez
ampliando a participação com as escolas dos municípios, com maior ênfase nas
instituições de ensino da capital, que possui a maior rede municipal. Nessa edição,
aplicam-se provas no 5º e 9º anos do Ensino Fundamental (EF) e 3º ano do Ensino
Médio (EM), na perspectiva de uma avaliação de larga escala da rede estadual, com
a participação do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
(Caed/UFJF) que estava nos anos iniciais de sua criação e junto com o próprio MEC,
conforme aponta o ex-Diretor de Ensino Médio, intencionava “ajudar os estados no
desenvolvimento dos sistemas estaduais de avaliação no Brasil.” (Informação
verbal).97
A ideia originalmente proposta pelo MEC não consistia tanto em efetivar uma
avaliação, mas oportunizar que “os professores se apropriassem dos mecanismos e
da filosofia da avaliação em larga escala”. (Informação verbal).98 Essas inserções do
sistema público da educação básica do Acre em experiências pilotos de avaliação
possibilitaram intercâmbio de experiências, bem como estabelecer contatos
importantes na área da avaliação educacional, aplicar uma oficina de elaboração de
itens contemplando a inclusão de aspectos culturais do Acre, atividade que
possibilitou capacitar professores das áreas de Língua Portuguesa e Matemática,
com a finalidade de que esses profissionais viessem a colaborar com os itens da
avaliação nacional.
Na visão da SEE/AC, essa experiência lança as bases fundantes do
Seape/AC, pois não se tinha “uma expertise dentro da gestão do sistema e isto é
uma autocrítica que nós temos que fazer, para utilizar estes dados das avaliações,
porque nem os diretores conseguiam compreender, nem nós da secretaria
conseguíamos compreender” (Informação verbal)99 as relações e contribuições dos
dados da avaliação e da realização de todo o processo avaliativo.
97
CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o projeto piloto do MEC na avaliação em larga escala, no Acre. Rio Branco, 2014. Entrevista.
98 CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre as experiências que antecederam o Seape/AC. Rio Branco,
2014. Entrevista. 99
CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre as experiências que antecederam o Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
155
A partir de 2008, mesmo diante da histórica resistência à terceirização100 por
parte de movimentos sociais que se opunham à redução das responsabilidades do
Estado (sobretudo, naquilo que lhe compete como serviço público de interesse da
coletividade), a SEE/AC transfere a avaliação do sistema para a Abaquar
Consultores e Editores Associados, uma empresa privada que à época estava
iniciando seus trabalhos. Criada em 2005, a equipe de consultores da Abaquar havia
trabalhado com o Inep e se define como “um grupo interdisciplinar de especialistas
em avaliação educacional em larga escala capaz de realizar pesquisas e promover
ações inovadoras decorrentes de suas experiências.”101
Nesse mesmo ano, a equipe Abaquar é contratada pela SEE/AC para coletar
dados de desempenho da educação básica por meio de aplicação de provas no 3º,
4º e 8º ano (EF) e no 2º ano (EM), na perspectiva de que o aluno faz a prova, mas a
avaliação é concernente à escola. Essa experiência é denominada Avaliacre
(Programa de Avaliação do Ensino) e se há registros documentais acerca desse
programa, não estão disponibilizados para pesquisadores no momento. Essa
questão é aqui considerada como limitação e desafio para a realização desta
pesquisa. Provavelmente, não há registros circunstanciados sobre esta experiência
avaliativa no Acre, uma vez que eles foram reiteradamente solicitados sem que
houvesse atendimento aos pedidos oficiais. Desta e de outras lacunas decorreu a
necessidade de se definir pela entrevista como estratégia de campo.
Por meio das entrevistas realizadas, pode-se constatar que, muito embora os
itens constantes nas avaliações fossem similares aos utilizados pelo Inep e a teoria
de sustentação convergisse, “a escala que foi usada foi diferente [e por esse motivo
houve] dificuldades com os dados e tratamento das informações.” (Informação
verbal).102
Nessa mesma contratação, a Abaquar Consultores ministra o Curso de
Formação Continuada para Professores do Ensino Médio, em Rio Branco, capital do
100
Essa resistência é reflexo da luta pela manutenção dos serviços essenciais à população no contexto nacional, no sentido de que o Estado continuasse responsável pelos serviços até então sob a sua responsabilidade.
101 Disponível em: http://www.abaquarconsultorel.com.br/asp/avaliacao_monitoramento.asp. Acesso em: 20 mar. 2013.
102 CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre as experiências que antecederam o Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
156
Estado do Acre, com base no conceito de Letramento103 e, também, em Cruzeiro do
Sul, município localizado na Região do Juruá104. A referida empresa é contratada via
regime de menor preço global para realizar os serviços105 descritos a seguir:
1-Consultoria técnica especializada para elaboração das Matrizes de Aprendizagem do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série e Ensino Médio do Estado do Acre. 2-Elaboração de cadernos de orientação para acompanhamento do coordenador pedagógico. 3-Oficina de avaliação nos pólos de Rio Branco e Cruzeiro do Sul para construção de itens de avaliação, leitura de resultado e construção e planejamento de intervenção para: professores e coordenações. 4-Oficina de planejamento para Diretores, coordenadores e professores. [...] 5-Caderno de Orientação de construção de sequências didáticas. (ACRE, 2008, não p.).
De todo modo, para o ex-Diretor de Ensino, há frutos do trabalho com a
Abaquar, tanto no campo da avaliação como no processo de formação continuada
de professores e do currículo. Assim sendo, na visão da SEE/AC, a partir dessa
experiência, os resultados positivos são assim destacados:
percepção da necessidade de aproximar o currículo da escola com as
matrizes de avaliação;
inserção dos conceitos de letramento matemático, em leitura e em ciências,
competências e habilidades trabalhadas nos planejamentos escolares e nas
metodologias de ensino;
construção das novas orientações curriculares, a partir da avaliação;
definição do princípio epistemológico de que o conhecimento é para ser
utilizado;
melhor domínio da tecnologia da avaliação em larga escala;
percepção da necessidade de se fazer mudanças na sala de aula não em
função da avaliação, mas em função da necessidade de aprendizagem do aluno.
(Informação verbal).106
Apesar de todos os elementos, acima listados, considerados como positivos
pela SEE/AC, no ano seguinte, em 2009, houve dispensa de licitação e o Governo
103
Dentre outros teóricos, Madga Soares compreende o letramento como o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita no contexto social, visando à inserção do sujeito nas práticas sociais que exigem tais habilidades (SOARES, 2002).
104 O Acre divide-se em duas mesorregiões: Região do Juruá, a oeste, e do Vale do Acre, a leste. Depois da capital, Cruzeiro do Sul é a cidade mais populosa, sendo considerada estratégica do ponto de vista econômico e político.
105 Esses serviços são mencionados na 1ª retificação pregão n.º 121/2008.
106 CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre as experiências que antecederam o Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
157
do Estado contrata o Caed/UFJF. Com a saída da Abaquar, o trabalho passa por
uma reconfiguração. Segundo o mesmo representante do Governo do Estado do
Acre, por intermédio da SEE/AC procedeu-se a:
uma dispensa de licitação, nós recebemos uma proposta do Caed e sempre foi nossa vontade ter essa parceria com o Caed [que] estava estabelecendo essa possibilidade de criação de um sistema maior, mais consolidado, mais completo, porque a Abaquar, como eu disse, tava iniciando, o Caed e a Universidade Federal de Juiz de Fora já tinham um know-how, então nós fizemos essa opção de troca, também tivemos problemas operacionais, mas nada que denegrisse a empresa, poderíamos ter continuado, poderíamos ter aperfeiçoado o programa, mas era muito mais seguro prá nós naquele momento adotar essa parceria com o Caed e aí, nos outros anos, a gente conseguiu colocar, a gente institucionalizou o Seape, nós fizemos a criação do Seape e aí, a partir daí, a gente começou a ter um uso mais efetivo. (Informação verbal).
107
Ao considerar-se o ano de 1999 como a primeira inserção da SEE/AC numa
experiência de avaliação externa, portanto embrionária de um sistema próprio de
avaliação, e o ano de 2012, marco da quarta edição do Seape/AC, transcorre-se um
pouco mais de uma década daquela experiência piloto. Nessa linha de tempo, o
Estado do Acre, seja de uma forma descontinuada num primeiro momento, seja de
uma forma sistemática nos anos subsequentes, consolida a avaliação em larga
escala como prática incorporada à dinâmica da política de educação no contexto
local.
4.2 Finalidades e objetivos do Seape/AC: um componente integrante da agenda
política educacional acreana
O Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) realizou
a sua primeira edição no ano de 2009, a partir de uma decisão do Governo do
Estado do Acre, num contexto de plena expansão da oferta de ensino, de
estruturação e institucionalização de uma cultura de planejamento institucional
assumida pela SEE/AC desde 1999.
Como política pública educacional, o Seape/AC integra e se estabelece no
bojo de um conjunto estruturado e articulado de ações que compõem a agenda
local. Sua finalidade principal “consiste em diagnosticar o sistema de ensino e, ao
mesmo tempo, servir de instrumento de monitoramento das políticas públicas de
107
CALIXTO, Josenir de Araújo. Sobre o processo de implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
158
educação.” (ACRE, CAED/UFJF, 2014, não p., grifo nosso). Nota-se que na
intencionalidade inicial do Seape/AC há uma articulação entre diagnóstico e
monitoramento; assim, infere-se que este sistema oficial de avaliação, nos limites
que os testes de proficiência podem identificar, institui um mecanismo permanente
de monitoramento que possibilita diagnosticar indicadores de desempenho dos
escolares da educação básica no Acre.
Trata-se de uma sistemática que, antes, era realizada de forma
descontinuada e sem grandes sofisticações pela Coordenação de Estatística Escolar
que acompanhava o sistema de ensino por meio de indicadores de acesso,
permanência e fluxo escolar, não contemplando dados e informações mais
específicas do processo de escolarização, como já evidenciado.
A finalidade do Seape/AC é assim expressa em seu documento instituidor:
Art. 3º O Seape tem como finalidade produzir informações sobre os níveis de proficiência e sobre os resultados da aprendizagem obtidos dos alunos, nas escolas da rede pública estadual de ensino, com o objetivo de orientar os gestores do sistema e das escolas, no monitoramento das políticas voltadas para a melhoria da qualidade educacional. (ACRE, 2013b, não p.).
Na parte preliminar que anuncia o supramencionado ato oficial, o documento
preceitua quatro considerandos, expressos em razões ou motivos para
institucionalizar o sistema próprio de avaliação em larga escala no Acre:
1) é dever do Estado oferecer Educação Básica de qualidade para a população que nele reside; 2) o conhecimento dos processos e resultados dos sistemas educacionais permite identificar e corrigir os problemas detectados no âmbito do espaço escolar; 3) um sistema de aferição dos resultados da Educação Básica se constitui num importante instrumento para subsidiar a formulação e o monitoramento das políticas educacionais e sua prestação de contas à sociedade; 4) necessidade de dotar o Estado do Acre de um sistema que permita identificar e corrigir as deficiências na aprendizagem da Educação Básica. (ACRE, 2013, não p.).
Fica claro que as intencionalidades oficiais se assentam na oferta de uma
educação de qualidade e na superação das falhas identificadas no percurso da
educação básica. Para atingir essas finalidades, a perspectiva do Seape/AC como
sistema que permite identificar e corrigir as deficiências na aprendizagem, prevê
“monitoramento das políticas educacionais” e “prestação de contas à sociedade” que
remete às políticas que primam pela responsabilização, tanto no processo da
execução das ações públicas quanto nos resultados. Em outras palavras, a
responsabilidade do Estado em prestar contas de uma das suas funções públicas
159
diz respeito à devolução dos investimentos dos contribuintes por meio da oferta da
educação pública.
Com base nos documentos oficiais, pode-se realizar uma análise comparativa
entre os objetivos do Saeb nacional e do Seape/AC local. No objetivo do sistema
nacional destacam-se as seguintes expressões:
tem como principal objetivo avaliar a Educação Básica brasileira e contribuir para a melhoria de sua qualidade e para a universalização do acesso à escola, oferecendo subsídios concretos para a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas voltadas para a Educação Básica. (BRASIL, 2014, não p., grifos nossos).
Com base nos materiais de divulgação do Seape/AC, é possível delinear o
quadro seguinte que expressa os objetivos gerais desse sistema avaliativo, nas
quatro edições anuais pesquisadas.
QUADRO 2 – OBJETIVOS GERAIS DO SEAPE/AC, POR EDIÇÃO (2009 A 2012)
Edição/ano Objetivos Gerais
1ª edição 2009
Objetivo inicial: “utilizar os resultados dessa avaliação como subsídio para intervenções destinadas a garantir o direito do estudante a uma educação de qualidade” (ACRE, 2009, p. 9, grifos nossos);
Intencionalidade inicial: obter “diagnósticos precisos da realidade educacional para, a partir daí, definir políticas e estratégias de curto, médio e longo prazo” (ACRE, 2009, p. 5, grifos nossos).
2ª edição
2010
diagnosticar o desempenho dos estudantes em diferentes áreas do conhecimento e níveis de escolaridade, bem como a subsidiar a implementação, a (re)formulação e o monitoramento de políticas educacionais, contribuindo ativamente para a melhoria da qualidade da educação no estado (ACRE, 2010, p. 15, grifos nossos).
3ª edição 2011
(Replica-se o mesmo objetivo da edição efetivada no ano anterior).
4ª edição
2012
“é necessário reunir informações concretas sobre a população atendida e o ensino ofertado para, deste modo, implementar ações que visem a atingir o objetivo traçado” (ACRE, 2012, p. 8, grifo nosso).
FONTE: Organizado dos BOLETINS E REVISTAS DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO – SEAPE/AC (2009-2012).
NOTAS: 1) para fins de análise, os termos em negritos são considerados de significação, aqui registrados sob a forma de palavras-chave; 2) na edição de 2012 não há um objetivo explicitado em um item em separado, como no material divulgado nos anos anteriores.
Ao se comparar os objetivos do Saeb (nacional) com aqueles expressos no
Seape/AC (local), há dois pontos comuns: a melhoria da qualidade do ensino e o
monitoramento das políticas públicas. Então, nesses pontos, replica-se a
intencionalidade da política nacional na política local. Ao se considerar apenas os
objetivos divulgados em ambos os sistemas avaliativos, não fica muito claro em que
aspecto o Seape/AC difere do Saeb, uma vez que o desenho do sistema local
replica a configuração do modelo nacional.
160
Apesar da replicação desses aspectos nos objetivos, o desenho próprio do
sistema oficial de avaliação do Acre se configura na periodicidade anual das
edições, no envolvimento da equipe da SEE/AC possibilitando a participação de
gestores e de técnicos oriundos do quadro funcional desta Secretaria no processo
de concepção e execução, o estabelecimento de metas e estratégias educacionais
mais adequadas às necessidades e potencialidades locais, dentre outros elementos
que, aqui, permitem delinear uma resposta preliminar para a primeira questão desta
pesquisa: como a política de avaliação externa é concebida e implementada pelo
Seape/AC? De forma análoga ao sistema nacional, mas contemplando aspectos
específicos e, sobretudo, tendo sob o seu domínio um conjunto de dados que
possibilitam conhecer, de forma mais amiúde, o sistema de ensino público acreano,
ao mesmo tempo em que dá abertura para os técnicos da SEE/AC intercambiar
conhecimentos e experiências sobre processos de avaliação em larga escala.
Assim sendo, na leitura comparativa dos objetivos verificam-se semelhanças
nas intencionalidades, muito embora os caminhos para o ponto de chegada sejam
diversos e um tanto quanto diferenciados, sobretudo na questão de que os bancos
de dados e informações ficam sob a tutela da SEE/AC, possibilitando manejos e
exercícios de análise mais ao alcance da equipe gestora do sistema que, a cada
edição, adquire know how nas formas de avaliar o sistema, ainda que continue sob a
dependência do Caed/UFJF para realizar o processo, conforme consta nas
entrevistas. Considerar essa questão da posse do banco de dados por parte da
Secretaria não se constitui um argumento suficiente para justificar a necessidade de
um sistema próprio de avaliação da educação básica.
Ainda em relação aos objetivos expostos nos materiais de divulgação do
Seape/AC, observa-se que, no geral, não há mudanças significativas entre as suas
edições e, do ponto de vista da coerência entre as proposições de cada ciclo, as
similaridades observadas contribuem para a formação de séries históricas e para a
manutenção dos propósitos inicialmente traçados.
Nos objetivos do Seape/AC e em todo o seu material de divulgação, quando
se faz referência ao monitoramento do desempenho do aluno, muito embora a
perspectiva apontada seja o sistema, ou seja, a política educacional de uma forma
macro, observa-se que o foco do acompanhamento dá-se nas escolas, nas turmas,
nos alunos, nos professores e não se evidenciam formas de monitoramento da
gestão administrativa do sistema ou das redes estadual e municipais. Esse pode ser
161
indício de que a responsabilização não recai sobre o sistema e por extensão sobre a
gestão deste, mas sim, sobre as escolas e os professores das redes estadual e
municipais.
Quanto à capacidade gerencial que o Estado tem para intervir, esta é mais
contundente nos objetivos explicitados na 1ª edição. Essa “autoridade reconhecida”
chama para si a responsabilidade para intervir na manutenção do direito à educação
de qualidade. Há uma afirmação categórica quanto aos resultados na tríade
intervenção/políticas/estratégias.
Como forma de visualizar melhor a intencionalidade oficial descrita em cada
edição do Seape/AC, delineia-se o quadro seguinte:
QUADRO 3 – PALAVRAS-CHAVE DOS OBJETIVOS DO SEAPE/AC, POR EDIÇÃO
Edição
Palavras-chave identificadas nos objetivos do Seape
Intervenção qualidade diagnóstico política estratégia monitoramento Informação
1ª X X X X X
2ª X X X
3ª X X X
4ª* X X
FONTE: Elaborado a partir de documentos oficiais de divulgação do Seape/AC. NOTA: na 4ª edição não há um objetivo explicitado em um item em separado, como no material
divulgado nos anos anteriores.
Nas três edições que explicitam seus objetivos, o termo diagnóstico se repete
em todas elas (1ª, 2ª e 3ª). O termo qualidade perpassa todos os objetivos e todo o
material de divulgação do Seape/AC 2012, inclusive na fala do Secretário de Estado
de Educação e Esporte108 que compõe a publicação do Caed intitulada Revista do
Sistema. Com essa incidência, reitera-se a intencionalidade de utilizar o Seape/AC
para diagnosticar o sistema público de ensino acreano, com vistas a adquirir
subsídios norteadores para uma política voltada para a qualidade do ensino.
Os termos intervenção/política/estratégia manifestam-se apenas nos objetivos
da 1ª edição. Já o vocábulo informação apresenta-se somente na 4ª edição.
O monitoramento é expresso no objetivo da 2ª edição, que se replica na 3ª.
Ainda que este termo não apareça no objetivo traçado para a 1ª edição, expressa-se
de uma forma aproximada com o termo diagnóstico. Se inicialmente o Seape/AC
108
Em 2012, Daniel Zen era o Secretário de Estado, ficando à frente da SEE/AC por três anos, saindo do cargo para candidatar-se a Deputado Estadual pelo Estado do Acre, cargo para o qual foi eleito em outubro de 2014.
162
não objetiva monitorar as políticas, com vistas a subsidiar práticas pedagógicas mais
eficazes, essa intencionalidade se revela claramente na partir da 2ª edição.
4.3 Configuração e abrangência do Seape/AC
Como integrante da política educacional mais ampla, o sistema avaliativo da
rede pública do Acre provém de uma iniciativa da Secretaria de Educação e Esporte
(SEE/AC), em contrato firmado entre o Governo do Estado com o Centro de Políticas
Públicas e Avaliação da Educação (Caed/UFJF)109, contratado como serviço de
consultoria para realizar avaliação externa do desempenho escolar. O contrato
renova-se a cada edição e mantém-se desde a primeira, sendo efetivado seu quarto
ciclo em 2012, com a regularidade de realização anual.
Na 1ª edição do Seape/AC, em 2009, as séries avaliadas foram as seguintes:
5º e 9º ano do Ensino Fundamental (EF) e 3º ano do Ensino Médio (EM). Verifica-se
o desempenho dos alunos da Educação Básica em duas áreas de conhecimento:
Língua Portuguesa e Matemática. A partir da 2ª edição, realizada em 2010, inclui-se
o 3º ano do EF.
Nas edições seguintes, 2011 e 2012, mantêm-se essas mesmas disciplinas e
séries avaliadas. Cabe destacar que tanto o Decreto n.º 6.393/ 2013 (ACRE, 2013b),
documento instituidor do Seape/AC, como a Instrução Normativa n.º 06/2014
(ACRE, 2014b), que o regulamenta, preveem a inclusão dos demais componentes
curriculares da educação básica nesta avaliação externa. Mesmo assim, as
disciplinas avaliadas são, desde a sua primeira edição, Língua Portuguesa e
Matemática.
Ao se configurar como uma avaliação em larga escala, o Seape/AC é
implementado na rede estadual e nas redes municipais de ensino que, juntas,
compõem o sistema público de ensino. No Acre, não há nenhum sistema municipal
de avaliação em larga escala, assim, todos os 22 (vinte e dois) municípios acreanos
participam das quatro primeiras edições do Seape/AC, sem nenhuma contrapartida
financeira ou mesmo contribuições relativas à concepção desse sistema oficial de
avaliação. Nas experiências antecedentes a este sistema próprio de avaliação, a
109
O fundador e coordenador do Caed é Manuel Palácios, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em 2015 é nomeado Secretário de Educação Básica (SEB/MEC).
163
participação das escolas estaduais inicialmente dá-se por adesão, mas à medida
que a avaliação se constitui uma política pública, ela passa a ser obrigatória.
Essa participação das redes municipais contribui para responder à primeira
questão da pesquisa: como a política é implementada? O sistema próprio de
avaliação é implementado em articulação com todos os municípios do Estado, uma
vez que todas as redes municipais participam do Seape/AC, uma política pública
oriunda de uma ação do Governo do Acre que se efetiva em articulação com os
municípios, independente da administração, ou seja, sem fazer distinção partidária,
ou mesmo sem levar em consideração as dificuldades de acesso às localidades,
sejam aqueles em que é possível chegar por estradas, ou aqueles em que só se
chega por via aérea, inclusive àqueles em que não há voos regulares.
Pelos dados coletados, tem-se um dimensionamento do sistema público de
ensino e possibilita-se identificar a localização de focos de problemas, com vistas a
superá-los e garantir políticas voltadas para a qualidade da educação ofertada pelo
sistema público educacional.
No Seape/AC, o aluno é avaliado sob duas dimensões: a partir do
desempenho por meio de testes cognitivos (aplicação de provas objetivas com
questões de múltipla escolha) e, de forma amostral, a partir dos fatores associados
ao desempenho escolar (questionários contextuais), que têm a finalidade de
investigar o perfil socioeconômico e a trajetória escolar dos estudantes. Assim, a
configuração do Seape/AC dá-se neste formato:
164
FIGURA 2 – CONFIGURAÇÃO DO SEAPE/AC
FONTE: Organizado a partir do material de divulgação do Seape/AC.
A constituição do Seape/AC origina-se com a intencionalidade de imprimir
uma coloração local e com o propósito de atingir todo o ensino público da educação
básica no Acre. Com esse direcionamento, o Governo vem implementando seu
sistema próprio de avaliação educacional. Em 2009, essa relação é oficializada por
meio do Contrato/SEE n.º 696/2010 (ACRE, 2010b), financiado por empréstimo do
Banco Mundial110 objetivando: contrato de serviços de consultoria para realizar
110
Fruto do Acordo de Empréstimo n.º 7625/BR-BIRD, assinado em 19.12.2008, junto BIRD, com vigência de seis anos, em que dos 150 milhões de dólares (30 milhões de dólares corresponde à contrapartida do Governo do Acre), 53,3 milhões de dólares são destinados para a educação.
provas objetivas (Língua Portuguesa e Matemática)
questionários contextuais
estudantes
medidas de proficiência
estudantes, diretores e
professores
Seape
dimensões avaliadas
desempenho
fatores associados
a desempenho
instrumentos
resultados
fatores contextuais
165
avaliação externa do desempenho escolar, totalizando o montante de R$
1.361.718,54.
Vale frisar que a Lei n.º 8.666/1993, que trata de normas para licitações e
contratos da Administração Pública, no seu Art. 42, permite que os órgãos
brasileiros utilizem as regras do Banco Mundial, assim o Contrato/SEE n.º 696/2010
efetiva-se sob o método de seleção intitulado Seleção Baseada na Qualidade e
Custo (SBQC), um processo competitivo entre empresas especializadas que leva em
consideração estes dois elementos (qualidade e custo), sendo este amplamente
detalhado no Convite e Termo de Referência e financiado pelo Acordo de
Empréstimo n.º 7625-BR/BIRD, assinado em dezembro de 2008, direcionado para
três grandes áreas de intervenção: educação, saúde e produção sustentável.
Assim, a contratação do Caed, vinculado à Universidade Federal de Juiz de
Fora, é efetivada via Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e
Extensão (Fadepe/UFJF)111, por meio do Convênio 751.180/2010 – Acre (ACRE,
2010c), com vigência entre 17.12.2010 a 31.10.2012.112
Os recursos investidos para realizar o Seape/AC são os seguintes: TABELA 8 – INVESTIMENTO GERAL NO SEAPE E RECURSOS APLICADOS EM EDUCAÇÃO
(PAGAMENTO DE PESSOAL, MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO) – ACRE, 2010 E 2012
EXER-CÍCIO
DETALHAMENTO DOS INVESTIMENTOS POR FONTE INVESTIMENTO
NO SEAPE RECURSOS PRÓPRIOS
CONVÊNIOS FUNDEB OPERAÇÕES DE CRÉDITO
TOTAL
2010 194.289.189,05 18.555.737,51 329.226.920,07 55.271.819,34 597.343.665,97 1.361.718,54
2012 227.100.803,61 23.688.133,91 434.164.993,40 9.661.512,21 694.615.443,13 700.000,00
TOTAL 421.389.992,66 42.243.871,42 763.391.913,47 64.933.331,55 1.291.959.109,10 2.061.718,54
FONTE: Organizado do DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO ACRE (2010; 2012).
Ao se considerar o montante investido em educação nos anos de 2010 e
2012, os recursos dispendidos com o Seape/AC no mesmo período correspondem a
0,16%. Em face do potencial político-pedagógico que tem a avaliação de um sistema
educacional, esse montante não representa um dispêndio, mas um investimento que
pode reverter-se em benefícios para a comunidade escolar, a depender de como a
política é conduzida e como a capacidade de retorno do investimento é utilizada.
111
Segundo informações da própria Fundação, trata-se de “uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa e financeira, que atua como parceira da Universidade Federal de Juiz de Fora desde 1995”. Informação disponível em: < http://www.ufjf.br/fadepe/institucional/historico/>. Acesso em: 22 jul.2015.
112 Por meio de termo aditivo, publicada no DOE/AC em 07.05.2013, o Governo do Acre prorroga o prazo do mencionado convênio para 31.12.2012.
166
De acordo com o Relatório de Gestão e Prestação de Contas 2012 (UFJF,
2011, p. 238), em 2010 não houve desembolso por parte do Governo do Estado do
Acre. No ano de 2012, a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino,
Pesquisa e Extensão (Fadepe/UFJF) informa em Relatório que foi creditado o
montante de R$ 305.171,71 para a execução do Seape/AC, correspondentes à
edição de 2012 (FADEPE, 2012, p. 12). Então, considerando apenas o que foi
desembolsado em 2012, tomando-se como referência este valor informado pela
Fadepe (= R$ 305.171,71) e o valor total despendido com a educação no Acre em
2012 (= R$ 694.615.443,13), tem-se 0,4% dos recursos destinados para o Seape/AC
em 2012.
Quando o Acre faz a opção por uma empresa para executar seu sistema de
avaliação em larga escala, assume que não há capacidade técnica instalada e que
há uma reciprocidade de satisfação entre contratante e contratada, como declarado
nas entrevistas. Ao considerar os limites impostos nesta pesquisa, estes são os dois
motivos evidenciados no processo decisório da contratação do Caed, ressaltando
que não há outros elementos que sejam suficientes para fazer inferências a respeito.
Em relação aos recursos públicos empregados, naquilo que é assumido pelo
Governo do Estado do Acre nos documentos instituidores do Seape/AC, a
expectativa do Executivo é de que os investimentos expressem em retorno
educativo e social, pois o discurso oficial expressa a finalidade de melhoria do
ensino
A respeito do apoio financeiro, a título de empréstimo, para realizar o
Seape/AC, segundo consta nas informações obtidas via entrevistas, das cinco
edições desse sistema, aqui se considerando o período empreendido entre 2009 e
2012, duas delas “foram com recursos próprios do estado, e duas foram com
recursos do Banco Mundial (BM), por dentro do Projeto Proacre.”113 (Informação
verbal)114 que, em última instância, constitui dinheiro do Estado, uma vez que o
empréstimo não é a fundo perdido.
O primeiro contrato firmado com o Caed (Contrato/SEE n.º 696/2010)
contempla dois elementos de despesa: 1) Serviço de Consultoria; e 2)
Desenvolvimento e Aperfeiçoamento de Processos e Materiais Pedagógicos.
113
O Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Acre (Proacre) envolve quatro grandes áreas: Educação, Saúde, Produção Sustentável e Fortalecimento Institucional. (ACRE, 2007b).
114 CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
167
A 1ª fase, correspondente a 30% de todo o trabalho, constitui-se no desenho
da avaliação – Planejamento, momento em que a empresa contratada faz uma
“apresentação de um plano de execução e controle de todas as etapas do Processo
de Avaliação” (ACRE, 2014, não p.). É nessa fase que o Caed elabora materiais
necessários às avaliações, faz uma pré-testagem dos instrumentos e, por fim,
procede à “definição, análise e validação, em conjunto com as equipes da área
pedagógica e de avaliação da SEE/AC, dos itens que irão compor o instrumental de
avaliação” (ACRE, 2014, não p.). Nesse momento inicial, organizam-se todos os
instrumentos necessários à articulação e logística como cartas de apresentação,
formulário de controle para aplicação dos testes, visando assegurar compromisso do
aplicador e do coordenador. Nessa fase, também há a “definição, em articulação
com a SEE/AC, de critérios para seleção e capacitação dos recursos humanos
(Coordenadores e Aplicadores) envolvidos nas atividades de levantamento de
dados.” (ACRE, 2014, não p.).
Na 2ª fase, equivalente a 40% – Execução. Essa etapa é constituída pelo
treinamento dos coordenadores e aplicadores, bem como a aplicação e correção
dos instrumentos de avaliação, seguida da tabulação, sistematização dos dados
obtidos nas avaliações, culminando com a elaboração de relatórios dos resultados.
Na 3ª fase procede-se à apresentação dos Resultados – corresponde ao
momento em que o Caed emite os relatórios e, juntamente com a SEE/AC,
dissemina os indicadores de desempenho à comunidade escolar por meio de
oficinas e encontros pedagógicos com gestores escolares e professores.
Além das etapas anteriormente mencionadas, delineiam-se um rigoroso
detalhamento da avaliação e o monitoramento da consultoria contratada para
realizar avaliação externa do sistema. Vale registrar que o Caed, dentre outros
trabalhos, “desenvolve programas de avaliação sobre o rendimento escolar dos
alunos de escolas públicas, promovidos pelas Secretarias Estaduais de Educação”.
(CAED, 2015, não p.). Em levantamento realizado no site do Caed, em junho de
2014, esta instituição concebe e implementa 24 programas de avaliação em larga
escala, sendo 1 do Sistema S,115 2 avaliações de programas de aceleração de
115
Expressão utilizada para nominar o conjunto de nove instituições, estabelecidas exclusivamente pela União sendo estas “de interesse das categorias profissionais ou econômicas” (Art. 149, da CF/1988). Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); etc. Disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s. Acesso em: 22 out. 2014.
168
estudos, 4 municipais e 17 estaduais. A avaliação compõe a lista de serviços de
Caed e os sistemas avaliativos sob a sua responsabilidade têm semelhanças.
Para a SEE/AC, a avaliação em larga escala “surge no cenário educacional
como um mecanismo de estímulo à mudança, tanto no que concerne à organização
do sistema de ensino, como na definição de metas em busca de se garantir as
necessidades básicas de aprendizagem ao indivíduo.” (ACRE, 2012c, p. 8).
Interessante notar que, numa primeira leitura, transpõe-se unicamente este estímulo
à mudança para o contexto político educacional implementado nas reformas
empreendidas no Estado do Acre, sobretudo a partir da ascensão da Frente Popular
do Acre (FPA) ao Executivo Estadual. No entanto, o Caed replica o desenho dos
sistemas avaliativos e o próprio texto em vários programas de avaliação sob a sua
responsabilidade. Dessa forma, o trecho anteriormente citado aparece na
contextualização do Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo
dos anos iniciais do Ensino Fundamental (Paebes Alfa), criado em 2008, e do
Programa Alfabetiza Rio, criado em 2010, no Rio de Janeiro.
Com essa replicação do texto, esse aspecto da mudança não diz respeito a
uma forma específica de fazer política no Acre, ainda que o sistema estadual de
avaliação se efetive num contexto de mudanças empreendidas no Governo da
Frente Popular, marcado pela implementação de um conjunto de políticas
educacionais.
O Prof. Binho Marques, em entrevista concedida para este trabalho, afirma:
o Seape não surge apenas como mais um sistema de avaliação. Ele surge como uma necessidade, em um contexto de mudanças e implementação de políticas educacionais que se pretendia fossem duradouras e com impacto na ação principal da escola que é promover aprendizagens. (Informação verbal).
116
Ao que tudo indica, a política de avaliação educacional mantém esse aspecto
duradouro, mas o foco na gestão de resultados, mais evidente e assumido pelo
Governo atual, não vem assegurando esse “impacto na ação principal da escola que
é promover aprendizagens”, pois, ao que parece, ao se tomar como eixo principal o
resultado em si, há um deslocamento de intencionalidade em relação ao projeto
inicial do Seape/AC (escrito na gestão Binho Marques).
116
ALMEIDA JÚNIOR, Arnóbio Marques de. Sobre os principais motivos que levaram o Governo do Acre a implementar o Seape/AC. Brasília, 2015. Entrevista.
169
Nos arranjos institucionais empreendidos pelo Estado, a avaliação dos
sistemas não é o único componente. Nessa lógica, a avaliação se constitui como um
passo significativo na:
consolidação de uma política de fortalecimento de gestão do sistema, porque ajustando o sistema e as escolas, pensando numa perspectiva mais da administração, você só gerencia aquilo que você pode medir, aquilo que você não pode medir, você não gerencia [...]. Do ponto de vista da gestão das escolas, acho que aí [falando do Seape] foi o embrião da necessidade de mudar a gestão da escola. (Informação verbal, grifos nossos).
117
A importância atribuída à avaliação do desempenho escolar, à medida que se
incorpora à política educacional, pode também ser tomada como referência para a
própria gestão administrativa do sistema educacional avaliar o Seape/AC e o próprio
trabalho desenvolvido pelo órgão gestor da educação. Os dados evidenciam que um
dos pontos fortes que este sistema avaliativo tem é o fortalecimento da gestão do
sistema, e esta ação decorrente da política tem, dentre outros aspectos, uma íntima
relação com o percurso empreendido pelos técnicos da SEE/AC que incorporaram a
linguagem e o próprio campo da avaliação. Esse potencial há que ser considerado
nas tomadas de decisão dos vários setores que compõem a SEE/AC, desde o Setor
de Lotação, até as questões que envolvem o financiamento educacional, como
avalia o professor Josenir Calixto.
Ao considerar-se a abrangência do Seape/AC pelo número de alunos
avaliados, a situação é a seguinte:
TABELA 9 – ABRANGÊNCIA DE ALUNOS PARTICIPANTES DO SEAPE/AC
EDIÇÃO
ALUNOS SÉRIES
DISCIPLINAS
MUNICÍPIOS PREVISTOS AVALIADOS
(1ª) 2009
30.910
24.323
5º e 9º ano (EF) e 3º ano (EM)
Língua
Portuguesa e Matemática
22 (2ª) 2010 46.455 35.020 3º, 5º e 9º ano (EF) e 3º ano (EM) (3ª) 2011 45.447 36.991
(4ª) 2012 46.391 36.470
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). NOTA: Nestes 22 municípios há a participação das redes públicas nos âmbitos estadual e municipais.
Na 1ª edição do Seape/AC aplicaram-se testes para 24.323 alunos. A meta
inicial explicitada no Termo de Referência para Contratação de Consultoria era de
39.997 alunos, que representa 60,81% da meta inicialmente prevista neste
documento.
117
CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a participação dos professores no Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
170
Entre as edições, a participação de alunos é crescente nas três primeiras
edições, com um decréscimo de 1,41% na quarta edição. Observa-se um
crescimento médio de 10,66%.
Entre as duas primeiras edições (2009 e 2010) houve um incremento de
43,98% de alunos avaliados. Entre a 2ª e a 3ª edição (2010 e 2011) observa-se um
aumento de 5,63% de alunos e isso evidencia que não houve a mesma fluidez na
participação observada nos primeiros ciclos.
Em relação às escolas, tem-se a seguinte abrangência:
TABELA 10 – ABRANGÊNCIA DE ESCOLAS PARTICIPANTES DO SEAPE, ACRE, 2009 A 2012
EDIÇÃO
ESCOLAS TOTAL
ESCOLAS TOTAL MUNICIPAIS ESTADUAIS CAPITAL INTERIOR
(1ª) 2009 97 202 299 117 182 299
(2ª) 2010 111 221 332 129 203 332
(3ª) 2011 123 222 345 128 217 345
(4ª) 2012 116 223 339 126 213 339
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009-2012). NOTAS: 1) a quantidades de escolas tem como referência a disciplina de Língua Portuguesa; 2) na
planilha utilizada para organização desta tabela, informa-se apenas escola por dependência administrativa, mas não se informa escola por localização (urbana e rural).
Desde a primeira edição do Seape/AC, há uma participação crescente de
escolas nas três primeiras edições, com um decréscimo de 1,74% na 4ª edição. O
crescimento médio de escolas que realizam a avaliação é de 3,19%.
Entre as duas primeiras edições (2009 e 2010), houve um incremento de
11,04% de escolas participantes. Entre a 2ª e a 3ª edição (2010 e 2011), observa-se
um aumento de 3,91% de alunos, e isso evidencia que não houve a mesma fluidez
na participação observada nos primeiros ciclos.
Em todas as edições pesquisadas há uma predominância das escolas
estaduais em comparação à participação das escolas das redes municipais no
Seape/AC. Ao se considerar o número total de escolas avaliadas no Seape/AC, nas
quatro edições pesquisadas (2009 a 2012), em termos percentuais a participação da
rede estadual corresponde a 66% e as redes municipais alcançam 33,99%. O
crescimento médio de participação das escolas municipais foi de 4,57% e das
escolas da rede estadual foi de 2,5%.
Ao se observar que 299 escolas participaram da 1ª edição e ao se comparar
com o número total de escolas existentes nas redes estadual e municipais em 2009,
171
que corresponde ao total de 2.015 unidades de ensino, verifica-se que o percentual
de participação é de 14,88% nesse ano de lançamento do Seape/AC.
O crescimento médio da participação de escolas do interior do Estado é de
4,01% e o da capital é de 1,87%.
A evolução do número de escolas é menos expressiva que a participação do
número de alunos, e isso pode indicar que a formalidade da adesão institucional é
evidente, porém as articulações para aumentar a adesão de alunos não alcançam a
mesma proporcionalidade. Dizendo de outro modo: o fato de a escola formalmente
aderir ao Seape/AC não significa que haja sensibilização na mesma medida para
motivar os alunos a realizarem os testes.
Em termos de localização das escolas, a taxa média de crescimento na
participação do Seape/AC é de 0,37% na zona urbana é de 4,9% na zona rural,
como se denota a partir dos dados constantes na tabela seguinte:
TABELA 11 – ESCOLAS PÚBLICAS AVALIADAS NO SEAPE, POR LOCALIZAÇÃO, ACRE, 2009 A 2012
EDIÇÃO/ANO
ESCOLAS
URBANAS RURAIS
ACRE
SEAPE
% DE PARTICIP.
ACRE
SEAPE
% DE PARTICIP.
(1ª) 2009 357 237 66,39 1371 64 4,67
(2ª) 2010 358 272 84,08 1328 48 3,61
(3ª) 2011 363 244 67,22 1324 103 7,78
(4ª) 2012 368 248 67,39 1662 94 5,66
FONTE: Organizado do(a) BASE DE DADOS DO SIADE ACRE PADRÃO 2009; BANCO DE DADOS AVALIAÇÃO 2010 DADOS INSTITUCIONAIS; CADASTRO BASE DE DADOS SEAPE 2011; BASE DE DADOS SEAPE 2012.
NOTA: as bases de dados que apresentam as escolas por localização são diferentes da Planilha de Dados Brutos do Seape em que é possível identificar, apenas, escolas por dependência administrativa.
Uma das intencionalidades do Seape/AC é conhecer de uma forma mais
amiúde o sistema público da educação básica no contexto local. Os dados apontam
que, em relação à proporção de escolas avaliadas, o desafio é avançar no que diz
respeito às escolas municipais e àquelas localizadas na zona rural.
De forma amostral e com a finalidade de traçar o perfil dos profissionais da
educação do Estado do Acre, as condições de infraestrutura das escolas, bem como
investigar fatores associados ao desempenho escolar, aplicam-se questionários
contextuais aos professores e aos alunos das disciplinas e séries avaliadas. Esse
instrumento também levanta informações junto ao diretor, neste o coordenador da
escola só responde na ausência do mesmo.
172
Nas edições de 2009, 2010 e 2011 houve um questionário específico para
avaliar as condições de infraestrutura da escola que, também, foi respondido pelo
gestor escolar. Neste instrumento, as informações coletadas em 2009 e 2010 são
oriundas de 54 perguntas. Em 2011 o mesmo questionário foi composto por 92
questões. Esse aumento significou uma maior amplitude no levantamento das
informações sobre infraestrutura e condições de trabalho no interior das escolas. Na
1ª edição 74,1% das escolas que participaram do Seape/AC responderam ao
questionário contextual, nas edições subsequentes (2010 e 2011) esta participação
decai para 48,48%. No ano de 2012, este questionário da escola é extinto.
Em relação aos dados contextuais, no site do Caed estão disponíveis para
consulta apenas os resultados aqueles relativos a 2009 e 2010 e, ainda, de forma
muito concisa. Apenas no acesso às informações de 2009, dentre outros elementos,
apresenta-se o Índice Socioeconômico Médio118 no qual é possível comparar as
condições socioeconômicas da Escola com o Munícipio onde a instituição é
localizada, com a Regional (num total de cinco: Baixo Acre; Alto Acre; Juruá; Purus;
Tarauacá/Envira).
Em relação aos questionários contextuais aplicados aos alunos, tem-se o
seguinte cenário:
TABELA 12 – QUESTIONÁRIOS CONTEXTUAIS: ALUNOS, SEAPE, ACRE, 2009 A 2012
EDIÇÃO
RESPONDENTES
QUESTÕES CONTEXTUAIS
DP IE EE TQ
2009 24.328 6 (14,28%) 16 (38,09%) 20 (47,61%) 42
2010 33.146 5 (11,62%) 14 (32,55%) 24 (55,81%) 43
2011 37.057 3 (4,61%) 42 (65,61%) 20 (30,76%) 65
2012 36.488 4 (6,15%) 41 (63,15%) 20 (30,76%) 65
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS CONTEXTUAIS. LEGENDA: DP = Dados Pessoais; IE = Intraescolares; EE = Extraescolares; TQ = total de questões.
Comparando-se o número de alunos participantes dos testes objetivos com o
número de respondentes do questionário contextual, a participação neste último tipo
de instrumento é maior em três das edições pesquisadas (2009, 2011 e 2012).
Assim, em 2009, há 5 respondentes a mais no questionário contextual em relação
118
Segundo informações disponíveis no Boletim Contextual, o “Índice Socioeconômico é calculado e padronizado de modo que a média de todos os alunos avaliados na edição de 2009 do Seape se iguale ao valor 100. Esse valor por si só não tem interpretação, mas serve de referência para observarmos quais são as condições socioeconômicas da sua Regional e Escola. Valores acima de 100 indicam melhores condições socioeconômicas, enquanto valores abaixo disso indicam piores condições em relação à média obtida para o Estado”. Informação disponível em:<http://www.seape.caedufjf.net/revista-contextual/>. Acesso em: 25 ago.2015.
173
aos participantes dos testes. Do mesmo modo, em 2011 são 66 respondentes a
mais e em 2012 são 18 alunos a mais que participaram respondendo o questionário
contextual. Apenas no ano de 2010 o número de participantes nos testes objetivos
foi maior do que os respondentes do questionário contextual, numa diferença de
1.874 alunos a mais. As informações disponibilizadas para esta pesquisa não são
suficientes para explicar este fato de que há mais respondentes no questionário
contextual do que de alunos avaliados nos testes de proficiência.
Em relação às perguntas direcionadas aos alunos no questionário contextual,
em 2009 foram 6 questões relativas aos dados pessoais (DP), diminuindo para 5 em
2010, 3 em 2011 e em 2012 foram lançadas 4 perguntas sobre: sexo, cor, idade,
estado civil e se o aluno tem filhos.
Nas edições de 2009 e 2010, prevalecem as questões que contemplam
indicadores extraescolares (IE), variando entre 47,61% e 55,81% do total de
questões direcionadas aos estudantes. As questões IE dizem respeito aos seguintes
aspectos: escolaridade da mãe, do pai ou do responsável do aluno, levantamento
das condições sobre a rua e a casa onde mora, contemplando desde aspectos sobre
a trafegabilidade, energia elétrica até fornecimento de água potável, saneamento
básico e coleta de lixo.
Contempla, ainda, outras questões socioeconômicas como: recebimento do
benefício nominado como Bolsa Família, existência de banheiro, rádio, geladeira, TV
em cores, máquina de lavar roupa, aparelho de DVD, automóvel (carro/moto),
computador, se a família dispõe de empregada doméstica ou faxineira, dentre
outros. Investiga inserção do aluno em processos de letramentos por meio de
perguntas sobre acesso a jornais diários de notícias, revistas de informação geral,
dicionário e livros existentes na residência (sem considerar os livros escolares,
jornais e revistas).
Muitas dessas informações eram coletadas no ato do preenchimento da ficha
de matrícula. Mais recentemente, esse documento de entrada oficial do aluno na
escola foi reduzido, permanecendo apenas informações relativas a endereço,
contatos telefônicos, condições gerais sobre saúde e o pré-requisito da escolaridade
anterior em relação à série atual. Considerando que nem todos os alunos fazem a
avaliação do Seape/AC, com essa mudança na ficha de matrícula, o sistema deixa
de coletar informações contextuais sobre a maior parte dos estudantes.
174
A respeito das informações intraescolares (IE), a maioria das perguntas do
questionário contextual dos alunos nas edições de 2011 e 2012 diz respeito às
condições sobre o local onde ocorrem os processos de ensino e de aprendizagem,
bem como questões mais atinentes ao trabalho dos professores e às perspectivas
de projetos futuros dos estudantes.
Os questionários também contemplam questões sobre: tempo em que o aluno
estuda na escola, conquista de amizades no âmbito escolar, grau de satisfação em
relação às condições materiais da escola, cumprimento de normas, nível de
interesse e expectativa dos professores em conhecer seus alunos e tratá-los com
respeito etc. O clima escolar também é investigado a partir de indicadores dispostos
nas seguintes questões que compõem as edições de 2011 e 2012 (mas não
apareciam nas edições anteriores):
Os professores favorecem alguns alunos mais do que outros. Acho que vale a pena estudar nesta escola. Os professores nunca conversam com os alunos sobre nossos planos para o futuro. Os professores me incentivam a fazer coisas novas. A minha escola incentiva seus alunos a serem criativos. Os alunos são punidos frequentemente por coisas que não fizeram. As punições na escola sempre são justificadas. Os alunos são castigados por qualquer motivo. Perdemos muitas aulas porque os professores faltam com frequência. Os professores sempre começam as aulas na hora certa. Os professores têm dificuldade para fazer os alunos entrarem na sala para o início das
aulas. Quando os professores pedem silêncio, os alunos obedecem rapidamente. Muitos alunos durante as aulas ficam do lado de fora da sala fazendo barulho. Quando faço algo correto, os professores sempre me incentivam e elogiam. Por qualquer motivo, os alunos são colocados para fora de sala de aula. Eu me dou bem com meus colegas de sala.
Numa escala de concordância crescente, as questões dispunham de quatro
alternativas (concordo; concordo pouco; discordo pouco; discordo muito) as quais
foram atribuídos diferentes valores e distribuídas numa escala de 0 a 10. Esse
procedimento é descrito na Revista da Gestão Escolar de 2013. Ao se tomar como
referência a Edição Seape/AC 2012, explica-se:
Através da escala, três grupos de respostas foram criados, de acordo com a percepção dos alunos em relação ao clima escolar, em sua dimensão normativa. Os grupos de percepção são: »Percepção de que o contexto normativo do clima escolar é ruim, segundo os alunos. »Percepção de que o contexto normativo do clima escolar é razoável, segundo os alunos. »Percepção de que o contexto normativo do clima escolar é bom, segundo os alunos. (ACRE, 2013c, p. 24).
175
Como mecanismo facilitador da análise dos resultados de 2012:
as escolas foram divididas em três grupos diferentes, de acordo com o valor que agregaram a seus alunos. O valor agregado de cada escola foi estabelecido de acordo com a comparação entre o desempenho médio esperado para a escola, tendo em vista a condição socioeconômica de seus alunos e professores, e o desempenho, de fato, obtido pela escola, com base nos resultados de 2012 do Seape. Os grupos de escolas por valor agregado são: »Escolas sem valor agregado: são aquelas cujo desempenho esperado para elas é menor ou igual ao desempenho que elas, efetivamente, obtiveram nas avaliações [...]; »Escolas com baixo valor agregado: são aquelas cuja diferença entre o desempenho observado e o desempenho esperado para elas é maior do que zero e menor do que 25 pontos de proficiência (meio desvio padrão da escala) [...]; »Escolas com alto valor agregado: são aquelas cuja diferença entre o desempenho observado e o desempenho esperado para elas é maior do que 25 pontos de proficiência. (ACRE, 2013c, p. 24).
Esse valor agregado considera a comparação entre o desempenho médio
esperado para a escola, a condição socioeconômica do quadro docente e discente e
os indicadores de desempenho alcançados pela instituição. Ao se tomar como
referência a 4ª edição do Seape/AC, realizada em 2012, tem-se a seguinte
constatação:
quanto melhor a avaliação que este contexto do clima apresentava, maior o percentual de escolas que agregavam alto valor ao aprendizado dos alunos. Esses dados levam à conclusão de que é importante que o gestor fique atento ao cumprimento das normas de sua escola. (ACRE, 2013, p. 25).
As conclusões apontadas pelas análises realizadas pelo Caed a respeito do
clima escolar recomendam a necessidade de foco no trabalho do gestor escolar. Tal
questão indica que a forma de operar os dados pende muito mais para
responsabilizar o gestor escolar e, consequentemente, a escola pelos resultados
identificados na avaliação. Essa tendência de responsabilização ressalta muito mais
as semelhanças com a condução do sistema avaliativo em nível nacional do que
uma coloração local ao Seape/AC.
As demais questões do questionário contextual dos alunos que compõem os
aspectos intraescolares se atêm a identificar o perfil da gestão no interior das
escolas. São estas as questões:
Na sua escola há alguma eleição para representante de turma? Esse representante de turma participa de reuniões com os professores e a direção da
escola? Na sua escola, as opiniões dos alunos chegam até a direção? Na direção da escola sempre sou atendido com respeito e paciência. Posso contar com a direção da escola para resolver meus problemas.
176
Tais indagações retratam a necessidade de se investigar se a gestão da
escola é ativa, democrática e se tem um grau de envolvimento considerado eficiente
na resolução dos problemas vivenciados pelos alunos.
O questionário contextual é um instrumento com potencial para captar a
dinâmica do contexto do sistema de ensino público local, contudo, nas quatro
primeiras edições do Seape/AC (2009 a 2012), com base nos documentos enviados
às escolas, nas Oficinas de Apropriação dos Resultados, nos meios de comunicação
local, no site da SEE/AC, nas publicações do Seape/AC, enfim, em todas as formas
de divulgação deste sistema avaliativo, as informações sobre os fatores intra e
extraescolares são muito pouco exploradas, bem como pouco se exploram as
possibilidades de cruzamento dos dados quantitativos com as informações coletadas
pelos instrumentos contextuais. Assim, trata-se de um instrumento com potencial
significativo de uso, mas pouco explorado efetivamente.
No Boletim Contextual informa-se que, além desse instrumento de divulgação,
há um outro nominado Boletim Técnico de Análises Contextuais, publicação
endereçada exclusivamente à SEE/AC na qual, segundo o Caed, constam todas as
perguntas apresentadas nos questionários, com informações mais detalhadas. Tais
elementos subsidiam análises e discussões por parte dos técnicos da Secretaria,
sob a consultoria do Caed. Este boletim mais detalhado não foi disponibilizado para
esta pesquisa, mas as informações contextuais foram repassadas numa planilha
com as perguntas e as respectivas respostas tabuladas. Tanto este Boletim Técnico
como esta planilha sobre as informações contextuais não são socializados com a
escola.
Ao cruzar as informações constantes no questionário contextual que dizem
respeito à origem social e às questões econômicas do aluno e de sua família, as
condições em que ele estuda, relacionando os resultados educacionais dos mesmos
ou as condições materiais da escola, pode-se identificar um passo importante no
cumprimento daquilo que é anunciado como principal objetivo da pesquisa
contextual, integrante do Seape/AC:
mais do que informar aos educadores e à comunidade escolar a importância dos fatores associados ao desempenho, é chamar a atenção para o fato da escola ter significativa importância no aprendizado dos estudantes e poder, assim, fazer uma grande diferença em suas vidas. (ACRE, 2009, p. 7).
177
As escolas podem ser um diferencial na vida dos estudantes, contudo esta
questão depende de uma conjugação de fatores tais como: as condições de
estrutura e materiais didáticos disponíveis, a valorização docente, o grau de
democracia da gestão, dentre outros elementos inerentes à gestão do sistema e à
dinâmica escolar que, inclusive, algumas dessas informações são coletadas no
questionário contextual e que precisam ser melhor exploradas e interpretadas.
Ao investigar fatores associados ao desempenho, a intenção é que as
informações coletadas sirvam como ferramenta para a gestão escolar e para a
prática pedagógica. Contudo, quando a SEE/AC apresenta os resultados de cada
edição do Seape/AC, o foco vem sendo o desempenho dos alunos; assim, nas
apresentações formais dos secretários de educação119 exploram-se os padrões de
desempenho eminentemente quantitativos, como nos exemplos:
comparações de resultados de participação (alunos previstos/alunos
avaliados) por ano/série e edição entre a rede estadual e municipais;
padrões de desempenho estudantil por disciplina e série avaliada.
Esses são aspectos bastante explorados pela SEE/AC por ocasião da
apresentação dos resultados às escolas, como se pode observar nos gráficos
seguintes:
GRÁFICO 7 – DISTRIBUIÇÃO DO PERCENTUAL DE ALUNOS POR PADRÃO DE DESEMPENHO –
2009/2010/2011 - LÍNGUA PORTUGUESA - REDE ESTADUAL
FONTE: SEE/AC, 2011 (cedido à autora em mídia digital).
119
Como pesquisadora, participei como ouvinte de duas apresentações do Ex-Secretário de Educação, Daniel Zen e uma do atual Secretário, Prof. Marcos Brandão, e ambos os materiais (em mídia) me foram disponibilizadas ao final em pen-drive.
178
Evolução das Proficiências Médias, por edição; GRÁFICO 8 – EVOLUÇÃO DAS PROFICIÊNCIAS MÉDIAS – 2009/2010/2011 – MATEMÁTICA - 4ª
SÉRIE/5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL - REDE ESTADUAL/MUNICIPAL
FONTE: SEE/AC, 2011 (cedido à autora em mídia digital).
Nota-se que no formato de divulgação dos resultados, o foco é a evolução
dos indicadores de desempenho, apresentada desvinculada dos dados de contexto,
nesse sentido, não difere da configuração que a imprensa local dá aos resultados do
Seape/AC.
Como os dados são apresentados com um foco nos resultados dos testes,
nas ocasiões em que a SEE/AC apresenta os resultados às escolas desconsidera os
indicadores como, por exemplo, o número de alunos por turma, o acervo
bibliográfico disponível na escola, a carga horária e as condições de trabalho
docente, a efetivação e o fortalecimento dos mecanismos democráticos da gestão
escolar, o nível socioeconômico dos alunos, dentre outros aspectos. Todos eles
colocariam a avaliação como a culminância de um trabalho que se inicia no
planejamento, há todo um investimento de esforços na execução, precisa passar
por um monitoramento que se expressa nos dados da avaliação, mas que não se
encerra nos resultados, uma vez que todo o processo é retroalimentado por ela.
Os dados e as informações coletados são indicadores e não verdades
incontestáveis, assim, os seus usos podem ser empregados na “forma de
instrumentos de produção de mudanças” (WERLE; MANTAY; ANDRADE, 2009, p.
141), sem desconsiderar a complexidade do campo educacional e seus múltiplos
processos de regulação, que podem ser conduzidos tanto de forma a considerar o
179
processo e respeitar a dinâmica do contexto educativo como podem reduzir-se a
indicadores quantitativos numa perspectiva de supervalorização deles.
4.3.1 Composição dos testes do Seape/AC
Elaboradas pelo Caed, as provas são compostas por questões objetivas120,
de forma contextualizada – este aspecto é assegurado nas entrevistas e visualizado
em algumas questões ilustrativas que são apresentadas no material de divulgação
do Seape/AC e nas oficinas de apropriação dos resultados –, cada uma relacionada
a uma capacidade/descritor.
No seu conjunto, esses descritores compõem a matriz de referência ou área
de conhecimento de cada disciplina e série avaliada. Nesse formato de organização,
é possível identificar, por edição do Seape/AC, a pontuação obtida em cada
descritor e a média de cada ano, possibilitando comparações de desempenho e
intervenções pedagógicas específicas para cada tipo de aprendizagem. Dos quatro
entrevistados, dois deles trazem à tona um caso singular que se destacou porque o
desempenho dos alunos em geometria, num determinado ano, foi considerado na
avaliação como abaixo do básico:
Eu lembro muito bem, esse caso da geometria que chamou atenção porque foi muito baixo o desempenho dos alunos nesse aspecto, então tínhamos que trabalhar com todas as escolas naquele momento e começar a pensar numa formação continuada prá geometria, com foco na geometria, então você tem toda uma leitura dentro da secretaria prá poder pensar o macro e depois divulgar os resultados prás escolas, nós íamos aos municípios também juntando as equipes da secretaria estadual e dos municípios prá discutir isso e, a partir daí, definir as demandas tipo formação continuada em quê, quando, mas com certeza toda a discussão de formação continuada passou a ser oriunda desse trabalho, então, à medida em que íamos enxergando os problemas, íamos também pensando numa formação continuada com mais foco, porque não é por falta de formação continuada que a educação não vai bem, sempre teve, ocorre que quase sempre você pensava na secretaria uma formação continuada uniforme. (Informação verbal).
121
Então, uma das ações decorrentes do Seape/AC é não uma formação
continuada definida de forma genérica aos docentes, mas fundamentada em
necessidades específicas de atualização de conteúdos em que os alunos mais
120
As provas do Seape têm a seguinte configuração: no 3º ano do EF são 28 itens, sendo 14 de LP e 14 de MAT; no 5º ano do EF são 44 itens, sendo 22 de LP e 22 de MAT; no 9º ano do EF são 52 itens, sendo 26 de LP e 22 de MAT; e no 3º ano do EM são 52 itens, sendo 26 de LP e 22 de MAT.
121 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre ações decorrentes do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
180
demonstraram dificuldades. Além disso, os resultados identificados pelo Seape/AC
possibilitam uma maior proximidade da gestão da rede estadual com as redes
municipais, dada a capacidade instalada que o Estado tem em responder às
demandas específicas de formação em serviço.
Segundo os entrevistados, a ideia não é que a avaliação realizada pelo
Seape/AC se sobreponha à Prova Brasil, mas ampliar o número de
questões/descritores avaliados e, até, viabilizar comparações. Como no Saeb, o
sistema acreano tem como metodologia de análise estatística de dados a Teoria de
Resposta ao Item (TRI).
Enquanto a Prova Brasil é realizada a cada dois anos, a avaliação do
Seape/AC é anual, como já mencionado, e ambas se efetivam de forma censitária.
Nesse aspecto, quando indagados sobre as razões de se manter um sistema próprio
de avaliação mesmo com a aplicação da Prova Brasil, a partir de 2005, efetivando-
se de forma censitária (antes disso, o Saeb era amostral), os entrevistados assim se
posicionam: o Seape/AC “é uma radiografia mais clara da situação” (informação
verbal),122 além do fato de uma complementar a outra.
Além disso, com uma sistemática efetivada em cada ano letivo tem-se a
“perspectiva de criar intervenções rápidas” (Informação verbal)123 e há a
possibilidade de se construir “as alternativas de superação dos problemas e,
também, gerando elementos para o planejamento de ensino” (Informação verbal)124
com o ano letivo ainda em curso.
Segundo informações da Coordenação de Avaliação Escolar, geralmente as
aplicações de provas do Seape/AC duram uma semana125 e as duas provas (Língua
Portuguesa e Matemática) são aplicadas na última semana de novembro ou na
primeira de dezembro. Normalmente, a divulgação de resultados ocorre nos
primeiros meses do ano letivo do ano subsequente.
Para que os professores tenham conhecimento das questões
contextualizadas, no Boletim de Resultados da Escola, publicado após cada edição
do Seape/AC, são apresentados alguns itens que compuseram os testes, a fim de
122
GUILHERME, Maria Cristina Maia. Sobre as razões de manter o Seape após a Prova Brasil ser censitária. Rio Branco, 2014. Entrevista.
123 CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
124 SILVA, Maria Corrêa da. Sobre a implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
125 Segundo a Coordenação de Avaliação da SEE/AC, responsável pela logística, este é o tempo necessário para que a avaliação seja realizada.
181
que esses profissionais, e demais interessados, possam tomar algumas questões
como parâmetro e compreendam os intervalos de padrões de desempenho
alcançados pelos alunos.
O professor participa da elaboração de alguns itens, mas não trabalha
diretamente no processo de aplicação das provas do Seape/AC. Como se trata de
uma política delineada pela equipe gestora que compõe o Governo, ainda que o
Seape/AC avalie o desempenho do aluno e nisto estejam incluídas questões de
natureza pedagógica, as avaliações externas são pensadas de fora para dentro da
escola, não há nenhuma nuance que tenha sido oriunda do ideário dos docentes.
Em algum momento, o docente precisa ser ouvido, sob pena de serem
implementadas políticas deslocadas do contexto em que a educação se realiza.
Supõe-se que, se a ausência do professor se mantém em relação à
apropriação dos resultados e as decorrências oriundas das avaliações externas, o
risco poderá ser a exclusão dos docentes na definição do currículo e dos demais
aspectos que implicam a condução e a qualidade da educação, ainda que o
currículo também seja definido pelas normas institucionais em que os professores
estão inseridos e se possa definir outras em conjunto com a equipe gestora da
escola e, também, o fato desses profissionais se configurarem como atores
importantes na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) das instituições
escolares.
4.3.2 Escalas de proficiência, potencial de acesso e apropriação dos
resultados
No Seape/AC o desempenho dos alunos é demonstrado numa medida
específica denominada escala de proficiência, um instrumento de referência própria,
que varia de 0 (zero) a 500 (quinhentos) e se expressa em quatro padrões de
desempenho, que definem a média de desempenho do grupo avaliado distribuída
em ordem ascendente, desta forma: abaixo do básico, básico, adequado e
avançado126. Assim, procura-se traduzir a medida em diagnósticos qualitativos.
126
Muito embora o Seape/AC utilize a mesma escala do Saeb (à exceção do 3º ano do EF), no caso deste sistema nacional estes grupos são organizados por níveis numerados de 0 a 12 em Língua Portuguesa (LP) e de 0 a 13 em Matemática (MT). No 5º e 9º ano do EF os níveis são distribuídos de 0 a 9 em LP e de 0 a 12 em MT; no 3º ano do EM os níveis são expressos de 2 a 11 em LP e de 6 a 13 em MT.
182
A correspondência de cada um desses níveis de proficiência tem uma
calibração de referência diferente em cada série e disciplina avaliada; assim, o grau
de desenvolvimento das habilidades e competências127 associadas à expressão da
régua numérica (de 0 a 500) é assim expresso nos dois quadros seguintes, sendo o
primeiro deles relativo à disciplina de Língua Portuguesa:
QUADRO 4 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, LÍNGUA PORTUGUESA – ESCALA DO
5º E 9º DO EF E DO 3º EM
Padrões de Desempenho
LÍNGUA PORTUGUESA
5º F 9º F 3º M
Abaixo do Básico até 125 até 200 até 225
Básico de 125 a 175 de 200 a 250 de 225 a 275
Adequado de 175 a 225 de 250 a 300 de 275 a 325
Avançado acima de 225 acima de 300 acima de 325
FONTE: Organizado das REVISTAS PEDAGÓGICAS DO SEAPE/AC.
Na disciplina de Matemática a escala organiza-se dessa forma: QUADRO 5 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, MATEMÁTICA – ESCALA DO 5º E 9º DO
EF E DO 3º EM
Padrões de Desempenho
MATEMÁTICA
5º F 9º F 3º M
Abaixo do Básico até 150 até 225 até 250
Básico de 150 a 200 de 225 a 275 de 250 a 300
Adequado de 200 a 250 de 275 a 325 de 300 a 350
Avançado acima de 250 acima de 325 acima de 350
FONTE: Organizado das REVISTAS PEDAGÓGICAS DO SEAPE/AC.
Nesse formato, observam-se alguns elementos: 1º) para cada etapa de
escolaridade exige-se um grau de proficiência maior, pois ela é comparativa na
mesma régua (na escala de 0 a 500); 2º) no 9º ano EF a escala inicia-se pelo padrão
considerado adequado na etapa de escolarização anterior, indicando que para estar
numa série mais avançada, o esperado é que o aluno atinja um grau proficiência
aceitável em relação à série anterior; 3º) no 3º ano EM a escala inicia-se pelo padrão
considerado básico no 9º ano EF.
No geral, o Seape/AC utiliza a mesma escala do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb/Inep/MEC), fato que possibilita que as notas de
desempenho identificadas sejam comparáveis entre estes dois sistemas avaliativos
ao longo das séries históricas. Nesse caso, a diferença entre as escalas do Saeb e
127
Não há consenso na utilização dos termos competências e habilidades que têm uma íntima relação com a necessidade de adequar a escola ao mundo do trabalho, uma vez que seus significados estão próximos à competição e competitividade. Sobre esta questão ver Silva (2003).
183
do Seape/AC dá-se em relação ao 3º ano do EF. Em Matemática utiliza-se a mesma
escala adotada pelo Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do
Sul (SAERS). Em Língua Portuguesa utiliza-se a mesma Escala de Proficiência em
Leitura do Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa) que compõe o Sistema
Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave/MG)128, conforme demonstrado
no quadro a seguir:
QUADRO 6 – PADRÕES DE DESEMPENHO, SEAPE/AC, MATEMÁTICA E LÍNGUA PORTUGUESA
– ESCALAS DO 3º ANO EF
PADRÕES DE DESEMPENHO
MATEMÁTICA
LÍNGUA PORTUGUESA
Abaixo do Básico até 725 até 400
Básico de 725 a 800 de 400 a 450
Adequado de 800 a 850 de 450 a 500
Avançado acima de 850 acima de 500
FONTE: Organizado das REVISTAS PEDAGÓGICAS DO SEAPE/AC.
O material pesquisado não indica os motivos para essa decisão de utilizar
uma escala diferenciada para o 3º ano do Ensino Fundamental. Como nos exames
nacionais, há escalas diferentes nas duas disciplinas avaliadas, contudo, na
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA)129 é diferente, pois nesta avaliação a
escala é definida em níveis de aprendizagens (de 1 a 4). Na ANA, em Língua
Portuguesa, além das escalas serem diferentes, há uma para a escrita e outra para
a leitura.
O Seape/AC apresenta as seguintes possiblidades de acesso aos resultados:
edição: (nesse caso, anual: 2009/2010/2011/2012);
rede: (estadual e municipais);
ano/série): 2ª série/3º ano EF; 4ª série/5º ano EF; 8ª série/9º ano EF; 3º
ano EM;
regional: 1) Baixo Acre; (2) Alto Acre; (3) Juruá; (4) Purus; (5)
Tarauacá/Envira;
por município: (com a adesão da totalidade dos 22 munícipios acreanos);
por escola;
128
Ambos, Simave e SAERS, são sistemas de avaliação educacional realizados a partir de contratação do Caed.
129 Essa avaliação, criada em 2012 e iniciada em 2013, no ano de 2015 é cancelada. O corte de gastos é o principal motivo alegado pelo Governo Federal. Informação disponível em: < http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,governo-federal-cancela-avaliacao-de-alfabetizacao-para-cortar-gastos,1723094>. Acesso em: 9 out.2015.
184
por turma;
por aluno - neste caso, o acesso do usuário tem proteção por login e
senha. Os demais acessos são de domínio público no site do Caed/UFJF.
É possível, por exemplo, acompanhar a evolução da escola ao longo das
edições do Seape/AC, podendo-se estabelecer comparações a partir do
desempenho dela mesmo, ou em relação à rede que ela pertence. O desempenho
pode ser definido por uma média expressa em indicadores, como forma de sintetizar
os resultados da escola, do Município, da Regional e do Estado. Também é possível
identificar o percentual de alunos em cada nível de proficiência e o percentual de
participantes.
4.4 Ajustes e desvios da política em ação: avaliação como suporte da gestão
de resultados
A avaliação em larga escala não é uma mera certificação da qualidade, uma
vez que pode retroalimentar o planejamento e contribuir para definir políticas
educacionais. Contudo, no paradigma da gestão pública orientada para resultados,
assumido publicamente pela SEE/AC no seu site, os indicadores, e inclusive os
indicadores mais recentes, são tomados como a expressão do desempenho e não
um, dentre tantos outros, indicativo da qualidade.
Do planejar até a avaliação, o foco nos resultados pode comprometer a
necessidade de se olhar mais detidamente o processo educativo. Ainda assim, a
construção do plano (2011-2014) e do mapa estratégico da SEE/AC considera estas
as etapas da gestão pública orientada para resultados: 1) planejamento; 2)
execução; 3) monitoramento, acompanhamento e supervisão; e 4) avaliação.
O monitoramento, o acompanhamento e a supervisão são instrumentos que
podem ser considerados aliados do processo de execução; no entanto, com a
orientação para resultados pode-se desfocar o sentido pedagógico da avaliação em
larga escala e considerá-la como a culminância do processo educativo, numa
espécie de círculo, em que se avalia para se avaliar de novo.
No preâmbulo da Instrução Normativa n.º 06/2014, alguns argumentos são
elencados, e aqui há um destaque para dois deles:
185
CONSIDERANDO a avaliação da aprendizagem dos alunos eixo para a definição das políticas públicas dos sistemas de educação e para a elaboração do Plano do Desenvolvimento da Escola – PDE; CONSIDERANDO a necessidade de a SEE desenvolver, em parceria com as escolas, procedimentos e instrumentos de avaliação da aprendizagem dos alunos, concebida como elemento catalisador da gestão de resultados e eixo orientador das políticas educacionais na busca da eficiência e da produtividade. (ACRE, 2014, não p., grifo nosso).
Além de o Seape/AC constituir um eixo orientador na definição de políticas
públicas e suporte nos planos e planejamentos educacionais (potencial pedagógico),
é instrumento que possibilita dinamizar a gestão de resultados, claramente assumida
pelo Governo, além de estimular a eficiência e a produtividade. Note-se que um dos
pontos fortes da gestão do sistema de ensino no Acre é, desde o primeiro mandato
da Frente Popular do Acre (FPA) nos idos de 1999, o planejamento das ações e,
como decorrência dos sucessivos planejamentos estratégicos, o estabelecimento de
metas que culminam na política de gestão de resultados.
Observa-se que no texto da política não há evasivas, assim, a gestão de
resultados é a tônica assumida pelas estruturas de poder da gestão estadual e que
alguns dos avanços alcançados e largamente propagandeados pelo Governo são
concessões e estratégias de cooptação ao projeto da Frente Popular do Acre (FPA)
que, ao mesmo tempo em que dialoga com a sociedade por meio dos fóruns
populares (sobretudo nas primeiras gestões da FPA), compromete-se com um
modelo gerencial, ainda que sob um novo formato, se não é a competitividade do
mercado instalada, é a pressão expressa pela cobrança por produtividade.
As ações desencadeadas por uma gestão, sejam elas dos sistemas de
ensino, sejam de iniciativa da gestão escolar, pressupõem monitoramento de ações.
E esse monitoramento é facilitado quando o Seape/AC, ano a ano, coleta dados por
escola ou mesmo por turma, neste último caso, é possível, inclusive, monitorar o
professor ou a escola de uma forma amiúde:
dentro da escola a gente começava a fazer um identificador do desempenho de alunos com determinados professores, então se você tem quatro turmas, três turmas estão dentro do mesmo padrão, é sinal de que elas têm ali uma unidade pedagógica e se tem um desvio, aí você precisava identificar qual era a razão deste desvio: poderia ser a turma com maior índice de distorção idade-série? Poderia ser a turma com maior índice de pobreza? Poderia ser uma turma que o professor não fosse tão qualificado quanto os demais? Poderia ser uma turma que tivesse um problema maior de vulnerabilidade social? Então você começava a levantar hipóteses, então na
186
medida em que você conseguia enxergar e levantar hipóteses, você começava a fazer essas informações. (Informação verbal, grifo nosso).
130
Nessa linha de compreensão expressa anteriormente pelo ex-Diretor de
Ensino da SEE/AC, atingir o padrão médio de desempenho apontado pela avaliação
em larga escala significa que o aluno “iniciou um processo de sistematização e
domínio das habilidades consideradas básicas e essenciais ao período de
escolarização em que se encontra” (ACRE, 2012, p. 18). Observa-se que o
posicionamento do gestor retrata um compromisso com o desempenho dos
estudantes e a necessidade de compreensão do contexto em que eles estão
inseridos. Na visão do gestor, quando há o “desvio” do padrão previamente definido,
significa que o aluno não alcançou as metas educacionais definidas pela gestão do
sistema educativo e, sendo assim, há uma propensão em intensificar-se o
monitoramento da qualidade do ensino.
Paulatinamente, a avaliação vai se consolidando e adquirindo uma
centralidade na definição de regulamentos e dispositivos de regulação que se
estabelecem no sistema de ensino, justificada na necessidade de expansão da
oferta e da qualidade do ensino público. Assim, um dos aspectos que contribuem
para responder à segunda questão desta pesquisa – quais políticas decorrem da
implementação do Seape/AC? – diz respeito ao fato de que as informações e os
dados coletados municiam e justificam as tomadas de decisões na política em
sintonia com a gestão de resultados assumida pelo Governo do Estado do Acre.
Em entrevista concedida, o ex-governador Binho Marques (2007-2011)
analisa o momento inicial de institucionalização do Seape/AC, implementado no seu
mandato, da seguinte forma:
A efetivação dessa política se deu como consequência de todo o trabalho que até então o Estado vinha desenvolvendo como forma de garantir a todos uma educação com qualidade. Naquele momento a SEE contava com uma equipe que havia adquirido uma boa base de qualificação para implementar o sistema e o governo aprovava o Proacre, programa de financiamento do Bird, com o objetivo de desenvolver áreas estratégicas do Estado, dentre elas a educação. Nesse contexto e, a partir de um processo licitatório, o Caed foi a instituição responsável pela implementação do sistema. (Informação verbal).
131
130
CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a participação dos professores no Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
131 ALMEIDA JÚNIOR, Arnóbio Marques de. Sobre a implementação da política de avaliação em larga escala via Seape/AC. Brasília, 2015. Entrevista.
187
Com a ampliação de sentido e importância, a avaliação se estrutura
inicialmente como ferramenta para a gestão do sistema público de ensino, ainda que
haja alguns direcionamentos para que o uso dos seus resultados se oriente para
questões ligadas mais diretamente à dinâmica da sala de aula. As evidências
demonstram que o Seape/AC tem um início marcado pela perspectiva diagnóstica
do sistema, no sentido de obter dados para dimensionar melhor e intervir de forma
mais propositiva nas redes de ensino, mas vai paulatinamente servindo de subsídio
para questões mais localizadas ao espaço da sala de aula:
ao mesmo tempo que nós estávamos pensando num sistema de avaliação, nós estávamos implantando políticas públicas prá interferir dentro do sistema e começar a mudar, ou seja, a superar determinados problemas que nós havíamos identificado, seja problemas de gestão, problemas de ensino, problemas de recursos. (Informação verbal).
132
Concebida, desenvolvida e controlada pela SEE/AC, a avaliação adentra as
unidades escolares por meio da gestão de resultados assumida pelo Governo do
Estado. Além do controle dos indicadores escolares via Seape/AC, o controle do
cumprimento de metas efetiva-se por meio do Plano de Desenvolvimento da Escola
(PDE), das pressões por resultados nas reuniões com os diretores de escolas no
sentido de que se cumpram as metas previamente definidas. Tais questões são
indícios de que o Seape/AC compromete sua dimensão educativa e pedagógica, ao
se distanciar de sua concepção como instrumento de controle social, para um
instrumento de pressão por resultados.
Como essas pressões se dão numa correlação desigual de poder, as partes
que ocupam as posições mais altas na hierarquia da gestão do sistema de ensino
pressionam por produtividade, num discurso que se constitui em um mecanismo de
responsabilização branda, não no sentido de responsabilidade compartilhada, mas
na perspectiva de obrigação de resultados por parte da gestão das escolas, dos
coordenadores de ensino e dos professores.
Justamente pelo fato de a gestão escolar ser considerada um ponto central na
gestão de um sistema de ensino focado em resultados, ela ocupa lugar de destaque
quando o assunto é avaliação. Sobre os gestores escolares recai boa parte da
expectativa da equipe da SEE/AC, sobretudo, no sentido de garantir que a referida
“qualidade para todos” seja expressa nos resultados do desempenho dos alunos no
132
SILVA, Maria Corrêa da. Sobre a implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
188
Seape/AC. Contudo, nenhum sistema avaliativo é uma radiografia completa, uma
vez que os resultados do desempenho dos alunos são apenas indicadores de
qualidade. A literatura aponta que desconsiderar isso é exagerar o poder das
avaliações.
Outro elemento que evidencia as ações decorrentes do Seape/AC se
manifesta no tratamento dado às escolas que apresentam os melhores indicadores
de desempenho: a estas é dado um destaque diferenciado, de forma sutil como, por
exemplo, quando essas instituições são convidadas a apresentarem suas
experiências exitosas nos eventos promovidos pela SEE/AC, ou mesmo quando
participam de momentos culturais que são efetivados sob o destaque de trabalhos
desenvolvidos por escolas que alcançaram os melhores desempenhos no
Seape/AC. Assim, as escolas com melhor desempenho são festejadas, com ampla
cobertura pela imprensa local e no site oficial do Governo do Acre:
Nesta semana, o secretário da SEE, Marco Brandão, durante suas agendas de visitas, esteve na Escola Estadual João Mariano da Silva, que obteve o melhor desempenho na rede pública estadual de ensino nos resultados do Seape. “É gratificante e nos enche de orgulho perceber o empenho e a dedicação dos profissionais da escola pela educação. O que vocês estão fazendo eleva a autoestima das crianças e constrói, além dos conhecimentos científicos, valores morais”, disse o secretário. A escola também superou, nos seus resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), as projeções para 2017 (no 5º ano do ensino fundamental) e para 2019 (no 9º ano do ensino fundamental). Para a gestora da Escola João Mariano, Eliete Maia, “tudo vem da dedicação com que fazemos o nosso trabalho”. (ACRE, 2014, não p.).
Esse discurso de exaltação da competência considera que os bons índices
alcançados é um mérito da escola que soube aproveitar os investimentos aplicados
pelo Governo e, nesse sentido, na comemoração133 dos melhores resultados, a festa
acaba por colocar as escolas com os piores índices em uma posição sem evidência
e num espaço de menor prestígio. Tudo isso sem levar em consideração os dados
de contexto coletados pelo próprio sistema oficial de avaliação do Estado.
A concepção inicial de avaliação, constante do projeto básico134 do
Seape/AC, considera a avaliação em sua perspectiva diagnóstica. Tal
133
O título sugestivo da matéria é Secretaria de Educação comemora resultado do Seape. (ACRE, 2014d).
134 O projeto básico compõe o Termo de Referência redigido com o intuito de definir as orientações à empresa terceirizada que viesse a firmar contrato com o Governo do Estado. Este documento é encaminhado via Ofício 0894/2009, datado de 21 de dezembro de 2009, endereçado à Secretaria de Planejamento do Estado. Trata da abertura de Processo Licitatório tendo como objeto Contratação de Consultoria para realizar avaliação externa do Sistema Estadual de Ensino.
189
intencionalidade se assenta numa definição ampla de avaliação e de política pública.
Se essa lógica inicial tivesse sido mantida, o Seape/AC poderia ter mais condições
de subsidiar as ações realizadas por meio de um monitoramento mais propositivo.
Assim, a política avaliativa poderia contribuir tanto com a gestão do sistema de
ensino como com aspectos mais voltados para a melhoria do desempenho escolar,
sem focar excessivamente na gestão de resultados, exaltada de tal forma que
prioriza a observância das metas previamente traçadas, sem observar as devidas
mediações inerentes ao caráter educativo da avaliação.
O modo de operar a avaliação definido nesse Projeto Básico tem a seguinte
descrição: “uma forma conjunta de trabalho que possibilite a construção dos itens
dos professores da rede e permita aos técnicos da SEE/AC participar da pré-
testagem e validação dos mesmos” (ACRE, 2009a, p. 8). Esse documento inicial do
Seape/AC sinaliza a participação docente e o trabalho conjunto; contudo, quando
indagados sobre a participação dos professores e demais profissionais da escola
nesse sistema avaliativo, um dos entrevistados assim se posicionou:
Essa é uma questão que a gente [referindo-se à equipe gestora da SEE/AC] precisa avançar porque os professores eles precisam se apropriar da avaliação como ferramenta, não do Seape, mas de todo o processo de avaliação [...]. Os professores devem ter uma participação maior no Seape, já tem alguns, alguns participam na elaboração de itens, mas é um número muito reduzido, então nós fazemos oficinas de elaborações de itens para nossos professores, então nossos professores elaboram itens e esses itens são utilizados na avaliação, e alguns itens nossos são utilizados em outros estados, mas a principal apropriação, a principal colaboração que os professores têm que fazer é de como essa ferramenta, como toda as ferramentas que chegam na escola [...] e ele precisa fazer uma crítica ao Seape, no sentido de como é que o Seape... como é que a gente vai poder aproximar aquilo que tá sendo ensinado, daquilo que tá sendo avaliado, quando a gente fala aproximar não significa que é preparar para o Seape, é preparar para a avaliação externa, mas garantir que determinadas competências que são tão elementares, sejam de fato, adquiridas. (Informação verbal, grifos nossos).
135
Aqui, percebe-se a distância entre a compreensão dos gestores a respeito da
condução do processo avaliativo do sistema e o envolvimento dos docentes e
demais profissionais que trabalham na escola. Tal questão confirma a tendência nos
estudos da área: a etapa do uso dos resultados pelos professores é a mais frágil,
ressaltando que esta questão não se trata de uma problemática exclusiva do
sistema oficial de avaliação do Acre.
135
CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a participação dos professores no Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
190
Ao se considerar que o Seape/AC tem potencial para identificar indicadores de
desempenho educacional, o professor como um dos agentes públicos mais próximos
do processo de ensino e de aprendizagem precisa se apropriar desta ferramenta.
Sobre a questão a respeito de como os professores e demais profissionais da escola
participam do Seape/AC? obteve-se a seguinte resposta:
só ficando só sabendo, ele não aplica as provas, ele só vai trabalhar os resultados depois. Da logística ele não participa, só como apoio na escola porque a gente não pode tirar professor da sala de aula prá fazer aplicação. Então a participação dele é com relação aos resultados. Ele até pode ficar na sala, mas não é obrigado e não pode manusear o material. (Informação verbal).
136
O fato de os professores não poderem manusear o material se justifica na
questão de que os itens utilizados nos testes são sigilosos, exatamente por
comporem o banco de dados das séries históricas e que, por isso mesmo, podem
ser reutilizados para efeito de comparabilidade ao longo de séries históricas. Ainda
assim, quando a escola participa da concepção de uma política educacional pode-se
ter uma possibilidade maior de que as ações sejam desencadeadas por meio de um
diálogo mais efetivo com a comunidade escolar e maior agilidade na compreensão e
incorporação dos processos e procedimentos das proposições no âmbito educativo.
Com base nos indicadores de qualidade identificados pelo Seape/AC, o
controle que o Estado exerce na educação básica configura-se como um
monitoramento que se materializa pela via da regulação institucional do sistema
público de ensino, quer por meio de instrumentos legais, quer sob formas mais
brandas de responsabilização.
Como contraponto ao controle e à vigilância efetivados pelo poder de mando
da autoridade reconhecida do Estado, é possível estabelecer vínculos entre
avaliação e gestão democrática. A esse respeito, Mota (2003) aborda a questão da
participação autêntica nas administrações públicas da seguinte maneira: “participar
não implica necessariamente que todas as pessoas ou grupos opinem sobre todas
as matérias, mas implica necessariamente algum mecanismo de influência sobre o
poder.” (MOTTA, 2003, p. 371). Essa participação autêntica pode resultar numa
regulação educacional que seja capaz de contribuir para articular um controle social
propositivo sob um formato de política regulatória que assegure direitos.
136
GUILHERME, Maria Cristina Maia. Sobre a participação dos professores no Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
191
Segundo o ex-Diretor de Ensino da SEE/AC, a política de avaliação externa é
concebida como:
um recorte do currículo, nós não vamos ensinar os nossos alunos nós não vamos fazer uma preparação para a prova, mas temos que dar o conteúdo de maneira ampla para formá-los, garantir o acesso dos alunos aos conteúdos conceituais, conteúdos procedimentais, conteúdos atitudinais que é isso que levaria ao pleno domínio do conhecimento. (Informação verbal).
137
A base sob a qual se assenta a concepção inicial do Seape/AC fundamenta-
se na perspectiva de assegurar direitos, em especial, a qualidade da educação
pública que implica, dentre outros aspectos, a relação entre o órgão gestor da
educação com as unidades escolares, bem como apropriação dos resultados da
avaliação em duas direções: da parte gestão do sistema de ensino e, na segunda
direção, por parte das próprias escolas, no sentido de que estas se apropriem tanto
da dinâmica como dos resultados da avaliação. Em relação a esses dois aspectos,
ao que parece, o Seape/AC avança na primeira direção, ou seja, no fortalecimento
da gestão do sistema, como registra o mesmo entrevistado ao ser indagado sobre o
que representa a implantação deste sistema próprio de avaliação:
a partir de 2009 eu penso que foi um fortalecimento da gestão do sistema, eu tô falando do sistema e não da escola, porque o sistema começou a se apropriar desses instrumentos da avaliação, o sistema começou de fato a fazer uma gestão claramente voltada para assegurar direitos, direito nosso, é direito do aluno aprender. (Informação verbal, grifo nosso).
138
Na continuidade da política, as ações têm um direcionamento para a
apropriação de “resultados bem sucedidos”, como apontam as recomendações e
tomadas de providências constantes no Relatório denominado Acre: fortalecimento
de políticas públicas para a melhoria da prestação de serviços – empréstimo para
políticas de desenvolvimento:
É importante adotar alternativas capazes de superar as deficiências na capacitação dos professores anterior ao serviço, especialmente nos aspectos relacionados a métodos didáticos, conhecimento do conteúdo, tempo na tarefa e gestão da sala de aula. Com o objetivo de enfrentar tais problemas, a SEE organizou cursos de treinamento contínuo para professores, coordenadores educacionais e diretores de escola, os quais produziram resultados bem-sucedidos, embora ainda exista certa
137
CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre as experiências adquiridas via Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
138 CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a implementação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
192
resistência à inovação na educação por parte de alguns professores. (BIRD, 2013, p. 20).
Esse Relatório n.° 81327-BR139 corresponde ao Projeto de Inclusão Social e
Econômica do Acre, financiado pelo Banco Mundial,140 que objetiva “aumentar a
eficiência da administração do setor público, especialmente nas áreas de educação
e igualdade de gêneros.” (BIRD, p. v.). Como se denota na citação anterior, o agente
financiador internacional trata da necessidade de capacitação docente e de
questões relativas à gestão da sala de aula. A rigor, essas questões atinentes ao
ensino decorrem de prerrogativas do trabalho docente, ou seja, a opção teórica e a
liberdade metodológica próprias do trabalho em sala de aula, amplamente
respeitadas em gestões democráticas. O referido documento também sinaliza
resistência dos professores em relação à inovação, contudo, não aprofunda análise
a este respeito.
Do ponto de vista da gestão da SEE/AC:
a tendência é que haja uma diminuição nessa resistência e, claro, vai depender muito de como a secretaria utiliza, então se você faz, como alguns países, a cultura de avaliar por avaliar, aí você vai gerar de fato resistência, mas se você utiliza a avaliação nessa perspectiva de usar a avaliação, prá... prá conferir os resultados das tuas políticas e fazer as mudanças necessárias, com os ajustes adequados aos problemas que foram verificados, isso dá uma relevância maior e acaba minando essas resistências. (Informação verbal).
141
O que o ex-gestor destaca é a perspectiva de se utilizar a avaliação para
subsidiar as mudanças necessárias no sistema educacional. No entanto, também se
denota a necessidade de que todos os atores envolvidos no processo educativo
sejam ouvidos no processo. No documento anteriormente citado, Relatório n.°
81327-BR, o Seape/AC é considerado como um dos programas delineados e
implementados pelo Governo do Acre destinado a melhorar a gestão do setor
público e a qualidade da prestação de serviços, sobretudo para:
139
Esse documento, datado de 5 de novembro de 2013, é integrante de um programa para uma proposta de empréstimo para políticas de desenvolvimento, no montante de 250 milhões de dólares para o Estado do Acre. Relatório disponível em: <http://www-wds.worldbank.org/external/default/WDSContentServer/WDSP/IB/2015/05/08/090224b0828bf415/1_0/Rendered/PDF/Brasil000Acre00s0de0Desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 21 jul.2015.
140 Nomeado posteriormente e de uma forma mais simplificada a partir deste ponto do texto como Banco.
141 CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre o nível de aceitação do Seape/AC. Rio Branco, 2014. Entrevista.
193
introduzir melhorias nos processos de aprendizagem escolar e no monitoramento das políticas públicas de educação promulgadas pela Secretaria Estadual de Educação e Esporte. A implementação do Seape em base regular também permitirá a definição de metas escolares, o desenvolvimento da avaliação do desempenho dos professores e o monitoramento do desempenho escolar no correr dos anos, bem como a identificação de políticas mais eficientes para apoiar escolas retardatárias que atendem às populações mais vulneráveis. (BIRD, 2013, p. 20, grifos nossos).
A gestão de resultados assumida publicamente pela Secretaria de Estado de
Educação e Esporte se expressa na definição de metas, na avaliação de
desempenho de professores – no caso do Acre, ainda não implementada – com
critérios definidos de fora para dentro da escola, por meio de políticas públicas com
forte aparato jurídico expresso nas regulamentações (normativas, decretos, leis etc.)
que, no discurso oficial, visam à melhoria da gestão do sistema e,
consequentemente, a melhoria no desempenho escolar. Estas são contrapartidas
que o Banco solicita do Estado ao financiar, dentre outras ações, o Seape/AC.
Assim informa o ex-Diretor de Ensino da SEE/AC:
a contrapartida que o Banco Mundial nos solicitou basicamente é a melhoria da gestão do sistema, basicamente. Eles não nos impuseram nenhuma medida, nenhuma política, a única política que eles nos impuseram, tive que usar essa informação, mas que nós também nos impusemos, não porque o Banco pediu, mas porque era necessidade de melhorar a eficiência no sistema. Então, o que Governo do Estado fez a partir dessa relação com o Banco Mundial, dentro desse financiamento do projeto que está dentro do Projeto do Proacre foi garantir a melhoria do sistema. O que o Banco tem nos apontado, os especialistas em educação do Banco têm nos apontado é algumas questões, prá gente melhorar o sistema. (Informação verbal, grifo nosso).
142
O que se evidencia na fala do gestor é que o agente financiador indica a
revisão das políticas de gestão do sistema, mas não impõe qual é a política a ser
efetivada. Além do retorno financeiro relacionado à quitação do empréstimo, por
meio do projeto pactua-se com o Banco não somente a execução do Seape/AC em
si, mas também a universalização do “acesso à educação de qualidade em todo o
Estado, trabalhando em colaboração com Secretarias, Escolas e Conselhos
Municipais.” (ACRE, 2007b, p.12). E, para alcance desta meta há a orientação de
cinco eixos de ação: 1) garantia de acesso às populações mais isoladas; 2) melhoria
da qualidade do Sistema de Ensino; 3) fortalecimento da autonomia da escola; 4)
modernização da gestão escolar; e 5) correção da distorção do fluxo idade-série.
142
CALIXTO, Josenir Araújo. Sobre a contrapartida do Banco Mundial. Rio Branco, 2014. Entrevista.
194
Note-se que estes cinco eixos têm a avaliação como suporte de monitoramento e
controle dos resultados.
Nessa linha assumida pelo Estado, o aumento da eficiência do setor público
passa também pela melhoria da educação e, nesse sentido, há orientação de
monitoramento do desempenho escolar. Além de o Estado demonstrar capacidade
instalada para pagamento dos empréstimos contraídos junto ao Banco, assume um
controle focado no cumprimento de metas educacionais.
É justamente nesse ponto que as contradições emergem no sentido de
conceber a educação sob o prisma da pressão por resultados, e isso numa gestão
conduzida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), um partido com posições políticas e
ideológicas originadas na defesa de processos formadores de consciência crítica.
Nessa esteira, assim postula Afonso:
[...] nos países capitalistas ocidentais, as políticas de avaliação foram ganhando um carácter relativamente indiferente às concepções político-ideológicas de diversos governos, alcançando, em decorrência disso, uma certa imunidade ou indiferença às realidades e especificidades nacionais em que os diferentes dispositivos avaliativos se têm instalado e desenvolvido. É, aliás, esta aparente consensualidade que vem ampliando a eficácia legitimadora da avaliação e tornando mais difícil desocultar a sua propalada cientificidade e pretendida neutralidade (ética, política, social...). (AFONSO, 2008, p. 14).
A aceitação de um processo avaliativo externo, sem questionamentos e
adotado como prática integrante da cultura escolar, passa pela consensualidade
com que a política de avaliação foi absorvida pelo sistema público de ensino. Tal
uniformidade e anuência dos profissionais que trabalham no interior das escolas
podem implicar a naturalização dos processos, fortalecendo a avaliação como um
mecanismo regulador para alcançar os resultados educacionais que o governo
define.
No geral, os professores do sistema público de ensino143 têm uma aceitação
tácita ao Seape/AC. Muito mais que uma política de ensino, trata-se de uma política
de gestão de resultados que adentra a cultura escolar de uma forma tão calcada em
regulamentos que, independente do governo que esteja conduzindo o processo,
preserva-se essa espécie de “aparente consensualidade”, como denominou Afonso
(2008).
143
Ainda que não seja foco dessa pesquisa investigar o nível de aceitação do Seape no âmbito da escola, esta afirmação decorre da minha experiência como professora efetivada ao sistema estadual de ensino acreano desde 1992.
195
4.5 Estratégias para legitimação e consolidação da política
Algumas estratégias foram utilizadas para consolidar a política de avaliação
externa na agenda educacional no Acre. Com um olhar nas ideias de Palumbo
(1994), nota-se que, inicialmente, a questão foi colocada em pauta na agenda oficial
do Estado pelo próprio Governo e assumida como política pública, de modo que os
investimentos realizados e as estratégias utilizadas para legitimação e consolidação
dessa política educacional – ainda que mude o grupo político que está no poder –, a
regulamentação e demais condições para continuidade do Sistema Estadual de
Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) estarão assegurados.
De um modo geral, dentre as ações e condições favoráveis à consolidação da
política estão: a construção de uma base política de apoio, sobretudo com um foco
na aproximação com as equipes gestoras das unidades escolares; constituição de
um arcabouço legal marcado por uma ampla regulamentação e legitimidade jurídica;
e, por fim, o amplo destaque à avaliação nos planos, programas e projetos do
governo como, por exemplo, no Plano Estadual de Educação/decênio 2015-2024 no
qual se prevê o fortalecimento do Seape/AC, a melhoria no desempenho do Pisa -
Programa Internacional de Avaliação Comparada - e nas metas do Ideb (ACRE,
2015).
Entre os fundamentos144 da política e planejamento educacional constantes
no Planejamento Estratégico da Secretaria de Estado de Educação do Acre (2011-
2014), a Avaliação compõe um dos sete Pilares das Políticas Públicas para a
Educação, ao lado dos seguintes itens: Desenvolvimento Profissional; Currículo;
Gestão e Governança Escolar; Sistemas de Educação, Pacto Federativo e Regime
de colaboração; Qualidade e Equidade; e Educação Integral.
A segunda fase de compreensão da política proposta por Palumbo (1994) diz
respeito à formulação e legitimação da política, nesse sentido, uma outra estratégia
utilizada trata-se da divulgação dos resultados do Seape/AC nos sítios eletrônicos
da SEE/AC e do Caed, bem como nos jornais locais, possibilitando amplo acesso à
144
Esses fundamentos foram expostos pelo então Secretário de Estado de Educação, Sr. Daniel Zen, em Aula Inaugural do Mestrado Profissional Em Letras – Profletras – da Universidade Federal do Acre, realizada no Campus Universitário, em Rio Branco-AC, no dia 23 de agosto de 2013. Essa aula teve como temática Panorama das Políticas Educacionais no Acre e o material de exposição foi cedido pelo expositor em mídia digital à pesquisadora, a pedido.
196
informação, ainda que o foco seja o ganho político decorrente desta ação,
destacando-se as escolas com maior desempenho.
A Secretaria de Estado de Educação e Esporte também divulga os resultados
em reuniões ou seminários com diretores e coordenadores pedagógicos que são
orientados a multiplicar as informações para o conjunto do seu quadro docente no
âmbito das escolas. E, nessa mesma linha, o resultado é divulgado e trabalhado nos
municípios, sob a responsabilidade da SEE/AC, dentre outros formatos de
disseminação dos resultados.
No processo de divulgação, especialmente nos documentos oficiais, a
referência em relação aos usos dos resultados efetiva-se na direção da política de
formação continuada dos profissionais que trabalham nas escolas e, no âmbito
destas, para que os resultados sejam utilizados nos planejamentos e nas
intervenções pedagógicas.
Outra ação realizada no processo de divulgação e apropriação dos resultados
do Seape/AC diz respeito às Oficinas de Apropriação dos Resultados, realizadas
entre os meses de março a abril de cada ano, sendo estas uma realização do Caed,
a empresa contratada, e da SEE/AC, que convoca as escolas para participar. Essas
oficinas objetivam: 1) analisar, interpretar e utilizar os resultados do sistema próprio
de avaliação visando ao “re(planejamento) das ações pedagógicas implementadas
em sala de aula” (ACRE, 2011c, não p.); e 2) “promover o debate sobre o
desempenho dos alunos, elaborar e implementar estratégias para enfrentar os
problemas identificados e refletir sobre as práticas de avaliação em curso nas
Escolas.” (ACRE, 2014b, não p.).
Ao investigar como a gestão escolar e os professores se apropriam dos
resultados das avaliações externas (Seape/AC e Ideb), Silva (2015)145 apresenta o
seguinte ponto de vista a respeito das Oficinas de Apropriação dos Resultados
promovidas pela SEE/AC:
os técnicos da Secretaria apresentam os resultados gerais do Estado e do município e repassam a cada uma das unidades escolares os seus resultados, responsabilizando-as pelo tratamento que delas o órgão central do sistema espera, no que se refere à gestão desses. (SILVA, 2015, p. 78).
145
A pesquisa de Silva (2015) trata-se de um estudo de caso, realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Normandia, localizada no município de Cruzeiro do Sul/AC.
197
Fundamentado na percepção de gestores e coordenadores escolares o
pesquisador explicita que o repasse das informações se constitui em reflexos dos
mecanismos de responsabilização, entendendo-os como autonomia das instituições
envolvidas no processo (SILVA, 2015, p. 54). Num contraponto, Braga (2003)
defende que a regulação consiste em compromisso social e relaciona-se com o
princípio da corresponsabilidade.
Após cada edição do Seape/AC, publica-se material explicativo
disponibilizado no formato digital, em mídia e disponível para download no site do
Caed/UFJF, e, também, em impressos que são distribuídos nas unidades escolares.
Nessas publicações, há sempre um discurso motivador do gestor da SEE/AC
direcionado aos educadores acreanos e, também, de alguns gestores escolares,
sobretudo, daquelas escolas que alcançaram os melhores indicadores de
desempenho.
Em todo o desenho e o formato de apresentação dos resultados utiliza-se as
cores da plataforma de gestão do Governo do Estado. As revistas, os boletins, os
cartazes, enfim, todo o material de divulgação é ilustrado com fotos de alunos da
educação básica, estes com traços bem marcados da região, o que sugere que a
divulgação compõe parte das estratégias de promoção da popularidade do próprio
governo da FPA.
O Boletim de Resultados da Escola é apresentado em volumes conforme
cada série e disciplina avaliada e informa, a cada unidade escolar, os resultados de
proficiência, com a respectiva interpretação qualitativa desses, por meio da Escala
de Proficiência. Além disso, traz os padrões de desempenho e a análise pedagógica
dos itens dos testes. Já o Boletim Contextual aborda de forma panorâmica os fatores
intra (como a questão da liderança estudantil) e extraescolares (como o nível
socioeconômico da família dos alunos) associados ao desempenho escolar.
O Boletim de Resultados Gerais, que trata dos resultados das provas
aplicadas, por disciplina e série avaliadas, por Regional, Município, Escola, muito
embora seja mencionado no Boletim do Sistema de Avaliação, não é uma
publicação impressa, mas uma forma de acesso on line aos resultados.
Na 2ª edição do Seape/AC, em 2010, o Caed reedita o Boletim do Sistema de
Avaliação. Neste, apresenta os resultados gerais do Estado, das cinco Regionais, do
Município e da Escola. Além dessa publicação, renomeia o Boletim de Resultados
da Escola para Revista da Escola em que apresenta os resultados gerais de
198
participação dos alunos por redes de ensino, regionais, municípios, escola e, aqui,
por etapa de escolaridade e disciplina.
Em 2011, a coleção é composta por Revistas, do Sistema, do Gestor (Rede
Estadual e Municipal) e Revista Pedagógica (por disciplina e série avaliada). A
Revista do Sistema tem o mesmo formato e função do Boletim do Sistema de
Avaliação.
Souza e Engler (2011) analisam a forma de divulgação dos resultados
identificados pelo sistema de avaliação de São Paulo da seguinte maneira:
assim que a imprensa divulga os resultados das melhores e das piores escolas classificadas pelo Saresp, as melhores escolas fazem a divulgação dos resultados com muita pompa, em muitos casos oferecem viagens e presentes aos alunos, situação inversa ocorre com as escolas mal classificadas, que ocorrem em alguns casos, de alunos que mudam de escola buscando uma melhor colocada na classificação do Saresp. (SOUZA; ENGLER, 2011, p. 16-17).
Verificando-se a constatação desses autores, observa-se que há uma
semelhança com o caso do Acre em relação à forma de divulgação dos resultados
do sistema próprio de avaliação em larga escala. Pompas, presentes e viagens e os
demais aspectos elencados anteriormente também podem ser verificados no caso
em estudo. Como o Acre é um Estado de tríplice fronteira (Brasil/Peru/Bolívia), há
registros de viagens internacionais como prêmio, promovidas pelo Governo do
Estado. A informação veiculada na imprensa repassa ao leitor do jornal que a
“possibilidade de intercâmbio faz média escolar aumentar em escola pública em Rio
Branco”:
Após a divulgação de que os alunos que atingirem as melhores médias do ano participarão de um intercâmbio internacional, a equipe de gestão e os professores da escola José Rodrigues Leite foram surpreendidos pelo aumento da média de todos os alunos. Para a viagem ao Peru serão selecionados os 40 alunos no final do ano. (LOPES, 2014, não p.).
Outra estratégia utilizada para consolidar o Seape/AC diz respeito à
destinação de 5 das 120 vagas no Curso de Mestrado Profissional em Gestão e
Avaliação da Educação Pública, promovido pelo Centro de Políticas Públicas e
Avaliação da Educação (Caed/UFJF), contemplando via processo seletivo cinco
199
educadores acreanos. Em matéria publicada na Agência de Notícias do Acre, o
Diretor de Ensino146 à época assim se manifesta a respeito:
“Esta é a primeira vez que o Acre participa do programa. Trata-se de uma oportunidade única oferecida aos profissionais da educação do nosso Estado, visando melhorar nossas metodologias e nosso ensino público. Com estas ofertas, conseguimos engrandecer e qualificar o profissionalismo da comunidade escolar local”, avaliou Josenir Calixto. (CARNEIRO, 2015, não p.).
Observa-se que há investimentos na qualificação de docentes e de técnicos
do quadro funcional da SEE/AC como ações decorrentes da contratação do Caed.
Além disso, os benefícios para a formação de quadro qualificado são oriundos dos
investimentos aplicados em cada edição do Seape/AC, mesmo porque um dos
motivos que levou o Acre a terceirizar seu sistema oficial de avaliação externa
decorre do fato de que a SEE/AC não dispunha, em seus quadros funcionais, de
profissionais habilitados em avaliação educacional e nas demais áreas necessárias
à implementação de um sistema desta natureza.
Muito embora o Seape/AC tenha sido criado em 2009, é somente quatro anos
depois que esse sistema próprio de avaliação oficializa sua instituição por meio de
um Decreto n.º 6. 393/2013 (ACRE, 2013b), que estabelece em seu texto legal um
direcionamento inicial às escolas da rede pública estadual de ensino, não obstante
sua operacionalização contemple os municípios, como já evidenciado.
Mais recentemente, em 2014, a Secretaria de Estado de Educação e Esporte
lança a Instrução Normativa n.º 06/2014 (ACRE, 2014b) que regulamenta o Sistema
Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape), nas unidades de ensino
da rede estadual. Nessa normativa, a avaliação externa é considerada como “um
dos principais instrumentos para garantir a equidade na Educação, ao verificar se o
direito de aprender está garantido a todos os alunos” (ACRE, 2014, não p., grifo
nosso). Observa-se que essa normativa, além de regulamentar a política de
avaliação, é, ela própria, um instrumento disseminador da política educacional
representada pela SEE/AC.
Alguns elementos são aqui elencados como mais fortes para a legitimação da
política de avaliação educacional: 1) divulgação de informações com ênfase na
melhoria de desempenho dos alunos; 2) as festividades em torno do desempenho
146
Diretor de Ensino na 4ª gestão da Frente Popular do Acre (FPA), tendo Tião Viana (2011-2014) como Governador do Acre.
200
das escolas e municípios que mais se destacaram; 3) vinculação dos resultados
como a expressão da qualidade do ensino; 3) avaliação como uma das prioridades
na agenda da política; 4) continuidade da política; 5) apropriação do campo
conceitual e analítico da avaliação por parte da equipe da SEE/AC; 6) formalização
da política; dentre outros veiculados no contexto intra e extraescolar. Essas
estratégias remetem ao sentido material da regulação.
Muito embora os instrumentos de medida utilizados pelo Seape/AC possam
ser representativos dos currículos escolares, as matrizes de referência utilizadas não
englobam todo o currículo escolar. Este reconhecimento é pacífico na compreensão
tanto da empresa contratada como da Secretaria.
4.6 Publicização de resultados e mobilização da opinião pública
Um dos princípios básicos do Sistema Estadual de Avaliação da
Aprendizagem Escolar (Seape), anunciado no texto147 que regulamenta essa política
educacional, é a garantia da equidade da educação e da democratização do acesso
à informação da educação pública que implica, dentre outros aspectos, o
monitoramento das políticas voltadas para a melhoria da qualidade educacional.
Nessa proposição, o Governo considera a sistemática da avaliação em larga
escala como uma forma de “democratizar o acesso à informação sobre a Educação
pública, como um eficiente e eficaz instrumento de ampliação da participação da
sociedade e dos profissionais da Educação na gestão da Escola Pública” (ACRE,
2014, não p.), contudo, o conjunto de leis que normatiza o Seape/AC composto pelo
Decreto n.º 6.393/2013 (ACRE, 2013b) e Instrução Normativa n.º 06/2014 não faz
nenhuma referência direta à Lei da Gestão Democrática (Lei n.º 1.513/2003).
Para a equipe da SEE/AC, idealizadora do Seape/AC junto com o Caed, a
participação da comunidade escolar nas ações educacionais perpassa pela gestão
democrática, definida na Revista da Gestão Escolar (2012) como:
uma forma de inserir, no processo de construção das diretrizes da escola, sejam elas administrativas ou pedagógicas, os diversos atores envolvidos e interessados nesse processo, como os professores, os pais, os alunos, os funcionários e a própria comunidade que envolve a escola. (ACRE, 2012e, p. 14).
147
Instrução Normativa n.º 06, de 22 de abril de 2014, que regulamenta o Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar – Seape (ACRE, 2014b).
201
Nessa lógica, o mesmo material de divulgação do Seape/AC indica: “para que
as ações sejam concretizadas em prol da excelência do sistema educacional, faz-se
necessário que gestores, professores, alunos e comunidade escolar conheçam,
entendam e se apropriem de seus resultados.” (ACRE, 2012, p. 8-9). De acordo com
o parágrafo 2º, Art. 4º da Instrução Normativa n.º 06/2014 que regulamenta o
Seape/AC, a mobilização dos alunos e a sensibilização da comunidade são
responsabilidades da equipe escolar.
De fato, em relação à articulação com os pais, os profissionais que trabalham
no âmbito das escolas são os mais indicados para estreitar relações com os
responsáveis pelos alunos. Em termos da avaliação externa, a questão está em
como garantir a participação direta da família na escola quando o Seape/AC se
efetiva por meio de uma ação centralizada da SEE/AC, por meio de uma consultoria
privada que vende “um pacote” de avaliação pouco afeito a explorar os dados de
contexto e que, portanto, a coloração local não imprime um tom de diálogo capaz de
envolver os pais no processo da avaliação.
Como o campo de estudo da avaliação em larga escala é incipiente no Acre,
não há pesquisas que demonstrem, dentre outros aspectos atinentes ao tema, se os
pais estão atentos aos resultados das avaliações externas e se elas têm peso na
escolha da escola ao matricularem seus filhos. Aqui, apenas infere-se que, dada a
regularidade do Seape/AC e das demais avaliações externas, imprime-se uma
cultura de avaliação dos resultados das avaliações externas e estas podem acabar,
de algum modo, se tornando uma referência para os pais no ato da matrícula dos
seus filhos.
Ao coletar os dados e as informações por meio do Seape/AC não se tem
registro de que a SEE/AC ausculta os demais membros da comunidade escolar para
além dos questionários contextuais, pois o trabalho é realizado de modo bem
diretivo, sobretudo, por meio de comunicações direcionadas aos professores de
Língua Portuguesa e Matemática, as disciplinas diretamente focalizadas pelas
avaliações externas.
Nos comunicados oficiais da SEE/AC para as escolas que compõem a rede
estadual de ensino, mais especificamente naquelas convocatórias que tratam das
formações continuadas, geralmente recomenda-se que os diretores convoquem os
professores, salientando-se que as capacitações integram o “processo de melhoria
da qualidade dos índices de aprendizagem dos alunos [...] e que a mesma faz parte
202
do cumprimento da carga horária do professor, estabelecida em contrato, sendo,
portanto, necessário a presença de todos.”148
Para além da constatação da obrigação contratual, especialmente no que diz
respeito à contrapartida do professor no cumprimento de horas de atividade
extraclasse, há uma pressão pela melhoria dos índices de desempenho docente e
discente. Um destes mecanismos destaca-se na publicação da Lei n.º 2.538/2012
(ACRE, 2012d), que dispõe sobre a afixação de placa informativa com o resultado
da última apuração do Ideb:
Art. 1º - Ficam as escolas da rede pública de ensino obrigadas a afixar placa informativa com o resultado da última apuração do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb, objetivando divulgar, permanentemente, aos pais, alunos e à comunidade, as seguintes informações: I – um esclarecimento, em síntese, sobre o que representa o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb, a partir de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep; II – o indicador obtido pela respectiva escola, quando da última apuração do Ideb; III – o maior indicador obtido por estabelecimento de ensino do Estado no último IDEB; e IV – a média obtida pelos estabelecimentos de ensino do Estado no último Ideb. (ACRE, 2012, não p.).
Nessa regra categórica, em que pese a indicação oficial de um
ranqueamento, postura bem controversa ao Projeto Básico do Seape/AC e mesmo
aos princípios assumidos pelo Inep/MEC, no parágrafo 1º desse mesmo artigo, há
também a indicação de que na placa em questão deve ainda constar a seguinte
informação: Contribua para o desenvolvimento escolar de seu filho e para a
qualidade da educação do Estado.
Sob o impacto de informações veiculadas dessa maneira, movida pelo senso
comum, a opinião pública tende a valorizar a informação mais recente, sem
considerar o percurso (séries históricas) ou o conjunto dos fatores que são
importantes (fatores intra e extraescolares), uma vez que a nota em si pode camuflar
elementos significativos que compõem o processo educacional, principalmente
quando os meios de comunicação entram em cena com a sua força, aumentando
ainda mais as chances de que as informações veiculadas sejam tomadas como
única forma válida para interpretação do desempenho das escolas.
148
Essa informação em específico é oriunda do OF.CIRC./CEM/SEE/N.º 015/2009, de 07.04.2009.
203
A linguagem utilizada nos materiais de divulgação do Seape/AC é específica
para o entendimento dos profissionais do campo educativo, tal questão não impede
que os respectivos sejam “traduzidos” ou mesmo acessados pela comunidade
externa à escola. Sem essa “tradução”, a apropriação dos resultados do Seape/AC
ainda não alcançou a comunidade externa, dentre eles, os pais de alunos.
Além desse obstáculo, a questão é ainda mais complexa quando se
observam resultados apresentados de forma desarticulada do contexto, como
explicitado anteriormente, sem dialogar com as informações oriundas da realidade
socioeconômica dos alunos e de sua família. Disponibilizar as informações nos sites
ou distribuir as revistas e demais publicações às escolas participantes não basta,
como também não basta ampliar a divulgação nesse formato que não tem alcance
de entendimento junto à comunidade em geral.
A placa em questão expressa um poder de mando deslocado da dinamicidade
do contexto escolar; poder que se assenta na pressão, na vigilância e no controle.
Essa lógica pode gerar competição entre as escolas, ou constranger os alunos e
profissionais das unidades de ensino que apresentam os menores desempenhos. Ao
se comparar às antigas formas de controle, um sistema de avaliação como o
Seape/AC se fundamenta numa concepção diferente, uma vez que mantém o
controle das ações empreendidas pelas escolas, mas ancorado na substituição do
modelo burocrático anterior que, antes, focava-se na supervisão escolar e em
diligências dos técnicos da Secretaria nas escolas, que foram extintas, passando a
assumir uma nova forma de controle que focaliza:
na maior responsabilização dos professores e da escola pelos resultados do desempenho dos alunos, pondo em prática uma nova regulação educativa baseada em novas formas de controle, de vigilância e de autoverificação, com base na cobrança de resultados fixados a partir de metas educacionais. (DAMASCENO, 2010, p. 24).
Trata-se de uma reinvenção das formas de monitoramento e controle, por
vezes praticadas de maneira velada ou traduzida no formato do controle por meio de
objetivos e metas previstos nos planejamentos e planos educacionais. Assim, nesse
novo formato de regulação, monitora-se por meio de metas, execução de planos e
padrões de desempenho.
Nessa direção, Darling-Hammond e Ascher (2006) pontuam que os dados das
avaliações são importantes, contudo, constituem uma pequena parte do processo de
controle, que inclui desde a forma de contratação, avaliação e suporte da equipe
204
escolar até como a instituição lida com as atividades diárias, como toma suas
decisões, como se relaciona com pais e alunos, dentre outros aspectos que
possibilitam a melhoria contínua da escola.
Um controle social efetivo depende, ainda, de como os resultados são
apresentados, apreciados e discutidos: se de uma maneira mais focada nos
números e estatísticas decorrentes, sem uma análise conjugada com as condições
materiais da escola e outros elementos agregados ao desempenho estudantil, como
acontece no caso do Seape/AC, ou se os resultados são apresentados de forma
articulada com o contexto e, ainda, se as informações são veiculadas em uma
linguagem simples, de forma que sejam compreendidas tanto pela comunidade
interna como pela comunidade externa às escolas.
Como preceitua o ato normativo que institui esse sistema avaliativo, um dos
pressupostos do Seape/AC “funda-se e justifica-se no dever constitucional de o
Estado garantir a todas as crianças, jovens e adultos igualdades de oportunidades
educacionais, independente de quaisquer distinções de local de moradia, origem
social, gênero ou etnia” (ACRE, 2014, não p.). Nota-se que o desafio anunciado é
significativo e o que se denota é que as várias ações conectadas com essa política
intencionam apoiar o gestor na tomada de decisões.
Esses componentes são apontados na Instrução Normativa n.º 06/2014 que
regulamenta o Seape/AC. O documento ainda anuncia “a necessidade de dotar o
Estado do Acre de um sistema que permita identificar e corrigir as deficiências na
aprendizagem da Educação Básica” (ACRE, 2014, não p.). Ao prever essa
intencionalidade pedagógica e, ao mesmo tempo, mesclar a avaliação com a
perspectiva produtivista (gestão de resultados), o uso que se faz desta ferramenta é
bem diversificado, uma vez que sua concepção envolve desde sua utilização “na
sala de aula, como uma ferramenta do professor para fazer com que os alunos
avancem” (ACRE, 2012, p. 12) até “prestar contas à sociedade sobre a eficácia dos
serviços educacionais oferecidos à população.” (ACRE, 2012, p. 12).
Outro princípio assumido por esse sistema oficial de avaliação da rede pública
acreana de educação básica é que os seus resultados sirvam para reorientação do
ensino e, nesse sentido, o compromisso anunciado é com a apropriação pedagógica
dos resultados das avaliações. Tal direcionamento é expresso na Revista
Pedagógica do Seape/AC 2012:
205
A avaliação em larga escala deve ser concebida como instrumento capaz de oferecer condições para o desenvolvimento dos alunos e só tem sentido quando é utilizada, na sala de aula, como uma ferramenta do professor para fazer com que os alunos avancem. O uso dessa avaliação de acordo com esse princípio demanda o seguinte raciocínio: por meio dos dados levantados, é possível que o professor obtenha uma medida da aprendizagem de seus alunos, contrapondo tais resultados àqueles alcançados no estado e até mesmo à sua própria avaliação em sala de aula. (ACRE, 2012, p. 8-9).
Essa conexão entre avaliação em larga escala e avaliação da aprendizagem
é apontada por Dirce Nei Freitas (2007) e por Fernandes (2009), dentre outros
estudiosos. Além dessa conexão entre estes dois tipos de avaliação, Luiz Carlos de
Freitas (2007) aponta a avaliação institucional como “ponto de encontro entre os
dados provenientes tanto da avaliação dos alunos, feita pelo professor, como da
avaliação externa dos alunos, feita pelo sistema” (FREITAS, 2007, p.978). Assim, a
avaliação institucional é, na visão deste pesquisador, uma articulação necessária ou
um ponto de mediação que possibilita o comprometimento com melhorias concretas
na escola, tanto por parte da comunidade escolar como por parte do Estado, com o
critério de que seja democrática, com a voz ativa da escola.
Para a SEE/AC, o desenho do Seape/AC:
não deve ser pensado de maneira desconectada com o trabalho do professor. As avaliações realizadas em sala de aula, ao longo do ano, pelos professores, são fundamentais para o acompanhamento da aprendizagem do aluno. Focada no desempenho, a avaliação em larga escala deve ser utilizada como um complemento de informações e diagnósticos aos fornecidos pelos próprios professores, internamente. (ACRE, 2013d, p. 13).
Em 2004, cinco anos antes de implantar o Seape/AC, ao estabelecer
diretrizes administrativas e pedagógicas no âmbito das Escolas da Rede Estadual de
Ensino149, a Secretaria de Estado de Educação e Esporte oficializa a
intencionalidade de investimento numa política educativa voltada para o
aprimoramento do trabalho docente e para o cumprimento de metas previamente
estabelecidas. Como suporte ao trabalho do professor, prevê, no Art. 6º da Instrução
Normativa n.º 04/2004, que o trabalho do Coordenador de Ensino150 tenha como
foco:
149
Essas diretrizes são descritas na Instrução Normativa n.º. 04, de 13 de abril de 2004. 150
Cargo previsto na Lei n.º 1.513/03, que dispõe sobre a gestão democrática do sistema de ensino público do Estado do Acre. Conhecida como Lei da Gestão Democrática. (ACRE, 2007).
206
a aprendizagem do aluno e ocorrerá em três dimensões: I - Diagnose – leitura da realidade do ensino na escola. II - Intervenção – atuação planejada e sistemática sobre a realidade. III - Proposição – projeção para o desenvolvimento da escola a partir das metas alcançadas. (ACRE, 2004, p. 4).
Para o cumprimento destas funções, o Coordenador de Ensino tem, dentre
outras, as seguintes atribuições previstas na supramencionada Normativa:
a) Utilizar os dados disponíveis (Censo Escolar, Regimento Interno, Projeto Pedagógico, avaliação do Saeb, avaliações da SEE, avaliações realizadas pela escola, PDE e outros) para construir as informações sobre a realidade do ensino na escola, semestralmente; b) Identificar, bimestralmente, as áreas críticas para a intervenção; c) Destacar, bimestralmente, as áreas em que a escola atua bem para potencializá-las. (ACRE, 2004, p. 4-5).
Nota-se que a política de resultados é calcada em estruturas de
responsabilização necessárias para que a garantia de processos padronizados e
obrigatórios seja mantida nos graus de eficiência almejados tanto pela SEE/AC
como pela própria escola em seus documentos internos como, por exemplo, o Plano
de Desenvolvimento da Escola (PDE) e o Projeto Político Pedagógico (PPP). Não é
de “uma hora para outra” que a política focada em resultados se estabelece, ela é
gestada antes do Seape/AC, mas é a partir dos dispositivos de regulação acessados
por meio deste sistema avaliativo que ela se revela mais nitidamente, por exemplo,
na pressão exercida sobre os gestores escolares, sobretudo, na apresentação dos
resultados do Seape/AC.
O sistema próprio de avaliação da educação básica do Acre compõe a
agenda da política educacional e integra-se a um conjunto de medidas que se
propõem a melhorar a prestação dos serviços educacionais. E isso, na visão do
governo, implica uma gestão de resultados, com toda uma visão estratégica de
controle e de vigilância hierarquizada no interior das instituições de ensino, numa
espécie de onipresença do Estado ou regulação exercida à distância, ou seja, a
equipe gestora da escola representa a via de controle que a gestão do sistema tem
sobre os professores imediatamente subordinados à gestão escolar.
Uma das formas de legitimação da política de gestão por resultados consiste
na elaboração de normativas oficiais que vêm sendo consolidadas desde o terceiro
mandato da Frente Popular do Acre (FPA)151 por meio da Lei Complementar n.º
151
O 1º e o 2º mandatos da FPA no Executivo Estadual correspondem ao período em que Jorge Viana é Governador. O 3º mandato subsequente da FPA tem sob o seu comando Binho Marques (2007-2011).
207
171/2007, que dispõe sobre a nova estrutura administrativa do Poder Executivo do
Estado do Acre. Essa normativa menciona a intencionalidade de redução das
desigualdades regionais e a melhoria dos indicadores sociais. Nesse documento,
dentre os seis fundamentos políticos-institucionais assumidos pela administração
pública estadual, destacam-se dois: o alinhamento de planejamento, gestão e
controle e a modernização de procedimentos, respectivamente incisos II e III do
Artigo 2º da supramencionada Lei que, ainda, descreve no Art. 4º:
A administração pública estadual rege-se pelos princípios gerais previstos nas Constituições Federal e Estadual, e tem como instrumentos precípuos o planejamento, a coordenação, a delegação de competência, a cooperação, o controle, a supervisão e a gestão por resultado. (ACRE, 2007, não p., grifo nosso).
Na continuidade, o mesmo documento define esse modelo de gestão por
resultado no parágrafo 9º do Art. 4º da seguinte maneira: “conjunto de metodologias,
estratégias e ações funcionais para a efetividade e eficácia das políticas públicas,
com ênfase na redução das desigualdades regionais e sociais e no desenvolvimento
emancipatório.” (ACRE, 2007, não p.).
Pautadas em obrigação de resultados, as políticas públicas delineadas no
contexto do sistema educacional acreano têm um paradoxo: ao mesmo tempo em
que assumem em um texto legal questões sociais mais amplas (“desenvolvimento
emancipatório”), agem sob uma orientação produtivista que se revela nas pressões
por resultados no âmbito da administração pública e, também, no campo educativo.
Ainda que essas políticas estejam situadas num contexto considerado
democrático em que o controle da efetividade das ações empreendidas acontece de
uma forma a evitar protestos (não que eles não existam) e, até, rejeições mais
contundentes, a avaliação se estabelece como um mecanismo capaz de traduzir
metas em resultados, por meio de mecanismos de coordenação indireta, em
substituição à burocracia, com certo grau de autoritarismo que se explicita, por
exemplo, quando a SEE/AC retira disciplinas do currículo, muda as normas de
organização das notas na avaliação da aprendizagem e diminui carga horária sem
discutir com o professor, ainda que chancele determinadas ações em fóruns como o
Conselho Estadual de Educação.
Essa dinâmica influencia a padronização de procedimentos e insere-se
“profundamente nas culturas, práticas e subjetividades das instituições do setor
público e de seus trabalhadores, sem parecer fazê-lo” (BALL, 2004, p. 1116), pois se
208
trata de uma responsabilização em um formato brando. Esse formato brando de
responsabilização inclui concessão de autonomia às escolas, controle da qualidade
do ensino por meio da indicação de padrões de desempenho e indicadores de
qualidade, dentre outros componentes característicos deste tipo de modelo.
Desde os antecedentes do Seape/AC, expostos neste capítulo, fica claro que,
no âmbito do ensino público acreano, a implementação de um sistema próprio de
avaliação provém de uma continuidade de experiências embrionárias de avaliação
em larga escala. Além do mais, essa ferramenta não se constitui em uma ação
isolada das demais políticas implementadas pela gestão educacional, não se
constituiu ao acaso, nem descolada das outras políticas estruturais da educação
pública estadual, mas efetiva-se a partir de intencionalidade clara e definida: “tornar
mais profissional o debate sobre o planejamento escolar, a formação continuada e a
qualidade do ensino no âmbito da escola, tendo como ponto de partida um relatório
objetivo do desempenho de seus alunos.”(Informação verbal).152 Nota-se que as
intencionalidades declaradas e os documentos analisados demarcam a origem do
Seape/AC no âmbito de uma gestão que se propõe a elevar a qualidade do ensino e
a demonstrar isso via resultados educacionais.
No desenho da política de avaliação do Seape/AC não se expressa a
intencionalidade de colocar as instituições escolares em determinado ponto de uma
hierarquia, ou como responsabilização unilateral das unidades de ensino pelo
fracasso escolar. Quando isso acontece, “os dados podem até ter legitimidade
técnica, mas lhes faltará legitimidade política” (FREITAS, 2007, p. 979). De todo
modo, os usos que a imprensa, espontânea ou paga, faz da avaliação, destoam o
seu cunho pedagógico e investem em ganhos políticos para o governo, assim eis
alguns trechos de matérias jornalísticas que ilustram essa questão:
em matéria intitulada Desempenho dos estudantes do Acre sobe no
ranking nacional, observa-se o uso político partidário que se faz da avaliação:
O governador Tião Viana também comemora os índices apresentados e os contextualiza na história recente do estado: “Esses números demonstram que, durante esses doze anos, trabalhamos no caminho certo. O Acre teve importantes conquistas na área da educação, saindo do 27º no ranking nacional, em 1999, e alcançando o 9º lugar em 2011. Esse resultado é fruto do trabalho feito pelos ex-governadores Jorge Viana e Binho Marques, com
152
ALMEIDA JÚNIOR, Arnóbio Marques de. Sobre os principais motivos que levaram o Governo do Acre a implementar o Seape/AC. Brasília, 2015. Entrevista.
209
o apoio do presidente Lula, e que priorizamos manter, ampliando os avanços com o apoio da presidenta Dilma.” (QUEIROZ, 2012, não p.).
No geral, as matérias publicadas na Agência de Notícias do Acre, um portal
oficial do Governo do Estado do Acre, são replicadas nos jornais locais e nos sites
de órgãos do Governo local. Assim, massificam-se as informações oficiais, numa
linguagem simples, ilustradas com fotografias bem representativas da cultura local,
mas de uma forma simplista, como se os indicadores do Seape/AC, por si só,
fossem a expressão única da qualidade de todo o ensino público.
Em Qualidade do ensino acreano vem crescendo nas avaliações estaduais,
texto jornalístico publicado na Agência de Notícias do Acre destaca-se:
O sucesso nos resultados só está sendo possível graças às ações implementadas para garantir a universalização, permanência e qualidade do ensino, identificando e monitorando o trabalho realizado pelas equipes escolares.” (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO ACRE, 2 de mai.2014).
Para compreender a qualidade do ensino, é necessário analisar “uma
variedade de fenômenos relativos à avaliação das aprendizagens que ocorrem nos
contextos reais das salas de aula e das escolas” (FERNANDES, 2009, p. 154), e
isso implica pensar a avaliação com profundidade, como aponta o autor, caso
contrário:
Quando os resultados desses estudos são divulgados, em geral, de forma muito negativa e até alarmista, surgem invariavelmente duas posições que, a meu ver, em nada contribuem para a discussão fundamentada e esclarecedora que se impõe. Uma é a rejeição pura e simples dos resultados dos estudos, com base numa ou mais de suas conhecidas limitações. Outra é a de aceitá-los como indicadores incontestáveis e absolutos das falhas da escola dominada pelos excessos das pedagogias. (FERNANDES, 2009, p. 151)
O formato de divulgação dos resultados do Seape/AC, em que pese os
esforços da SEE/AC para demarcar seu caráter pedagógico, parece corresponder
mais a esta forma alarmista a que se refere o autor supracitado do que à perspectiva
de entender a qualidade do ensino no Acre de forma contextualizada, como os
documentos do Seape/AC propõem. Ainda assim, o foco constante no material de
divulgação e apropriação de resultados é o pedagógico. Na Oficina de Apropriação
de Resultados 2011, a ênfase dada diz respeito à apropriação dos resultados pelo
professor; nessa direção são expostos os seguintes pontos:
intervenção pedagógica;
elaboração de projetos especiais;
210
foco nos alunos com dificuldades;
ações de reforço escolar;
planejamento das ações de sala de aula;
visão proativa quanto ao desenvolvimento de habilidades e competências
ao longo da educação básica. (ACRE, 2012f, não p.).
Todas essas seis atividades elencadas no material da supracitada oficina diz
respeito aos usos dos resultados tendo como foco a responsabilidade direta do
professor, ainda que os gestores das redes de ensino e da própria escola também
sejam integrantes do sistema e responsáveis diretos pela execução das políticas
públicas necessárias para o alcance das metas delineadas pelos próprios órgãos
gestores como, por exemplo, a formação continuada dos professores e, no caso da
gestão escolar, de uma forma mais próxima das situações reais de aprendizagem, o
monitoramento da qualidade de ensino.
A Oficina de Apropriação de Resultados 2013 menciona o uso do Seape/AC
por parte do gestor do sistema de ensino, especialmente no que concerne a:
planejamento e execução de políticas públicas; criação de metas de qualidade e equidade educacionais; implementação de medidas de responsabilização; políticas de incentivos diretos ou indiretos; ações de formação continuada de professores. (ACRE, 2012f, p. 32).
Sobre as “medidas de responsabilização”, importa saber em quais princípios
se assentam e qual o caráter assumido, se pela via propositiva na perspectiva da
garantia de direitos ou se pelo caráter meramente punitivo.
Outra questão, relacionada à “criação de metas”, diz respeito a quem
determina estas metas e sob quais condições. Em decorrência dos Empréstimos
para Políticas de Desenvolvimento (DPLs) contraídos pelo Estado junto ao Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), algumas metas são
definidas pelo Governo do Estado do Acre com vistas ao cumprimento dos acordos
firmados e como respostas às garantias necessárias à concessão dos empréstimos.
Como registrado no Relatório n.° 81327-BR, que descreve uma proposta de DPL em
duas parcelas no montante de US$ 250 milhões para o Estado do Acre:
O objetivo desta operação é aumentar a eficiência da administração do setor público, especialmente nas áreas de educação e igualdade de gênero. Esta meta será alcançada mediante o seguinte: (i) melhoria do planejamento, monitoramento e avaliação dos programas de desenvolvimento, a fim de aumentar sua orientação para resultados e introduzir práticas transparentes de aquisições e gestão de ativos; e (ii) melhoria do monitoramento do desempenho da aprendizagem dos alunos
211
das escolas públicas do estado e alinhamento da política de gênero e da estrutura institucional do estado com as reformas de políticas de gênero no nível nacional. (BIRD, 2013, não p., grifo nosso).
Como decorrência dessa política marcada por resultado, instala-se um
produtivismo, como já evidenciado neste texto, e com ele a competição entre
escolas, as cobranças e o controle burocrático que destoam de uma gestão
democrática. Contrariamente à postura democrática, os números tendem a
expressar os parâmetros quantitativos que as agências de fomento preceituam e,
como decorrência, termos peculiares às relações contratuais de empresas são
transplantados para o campo da política educacional, numa velocidade que sequer
dá tempo para maturar as reflexões tão necessárias no campo educacional.
Quando se acionam mecanismos de cobrança em relação aos resultados
identificados por esse sistema avaliativo, há uma tendência a supervalorizar as
escolas com desempenho satisfatório. Nesse sentido, o uso político-pedagógico da
avaliação é, por vezes, substituído pelo uso político com pretensões de propaganda
dos feitos do Governo. Quando o desempenho é observado como baixo, os
mecanismos de controle são acionados na direção do gestor escolar e do professor.
4.7 Potencial do Seape/AC: usos dos resultados, exercícios ilustrativos e
alternativas de análises
Ao se tomar como referência apenas o desempenho escolar, mais
especificamente a média da proficiência, em face das especificidades inerentes à
cada rede de ensino, é necessário separar o conjunto das escolas por dependência
administrativa e, também, por série avaliada (escalas diferentes).
Em relação aos resultados educacionais, o Seape/AC identifica os seguintes
padrões de desempenho na Rede Estadual:
212
TABELA 13 – MÉDIA DOS RESULTADOS DO SEAPE, POR EDIÇÃO E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA,
REDE ESTADUAL, ACRE, 2009 A 2012
EDIÇÃO
SÉRIES
DISCIPLINAS
PROFICIÊNCIA MÉDIA ATINGIDA*
NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA %
Participação AB B AD AV
2009 (1ª)
5º EF Língua
Portuguesa
183,9 6,2 38,2 39,2 16,4 87,2
9º EF 228,2 26,6 42,2 26,1 5,1 79,2
3º EM 242,9 34,9 41,1 21,0 3,0 64,8
5º EF Matemática
192,2 13,7 46,5 31,8 8,0 87,2
9º EF 234,7 43,2 39,4 14,9 2,4 79,2
3º EM 249,7 51,6 33,9 12,1 2,3 64,8
2010 (2ª)
3º Língua
Portuguesa
477,8 19,2 15,8 23,9 41,1 77,1
5º EF 179,7 6,8 41,1 39,3 12,9 82,2
9º EF 226,0 29,1 41,1 25,1 4,8 74,6
3º EM 241,8 36,8 39,5 20,0 3,7 63,5
3º Matemática
738,1 40,6 49,5 9,0 1,0 77,2
5º EF 185,6 18,8 47,0 28,0 6,1 82,2
9º EF 229,7 46,9 37,1 14,2 1,8 74,6
3º EM 244,2 56,5 31,1 10,8 1,5 63,5
2011 (3ª)
3º Língua
Portuguesa
488,3 16,7 16,7 21,7 44,8 82,6
5º EF 188,0 5,1 34,9 40,9 19,1 84,6
9º EF 234,1 22,5 41,0 29,7 6,8 84,2
3º EM 255,5 26,7 38,7 28,3 6,4 71,7
3º Matemática
743,3 37,5 49,9 11,2 1,4 82,6
5º EF 196,5 12,9 42,2 34,0 10,9 84,6
9º EF 240,0 35,5 45,4 17,4 1,8 84,2
3º EM 256,0 44,9 38,5 14,6 2,0 71,7
2012 (4ª)
3º Língua
Portuguesa
499,7 14,1 15,5 21,6 48,8 83,2
5º EF 189,5 6,4 32,5 40,0 21,2 86,2
9º EF 236,3 22,4 38,2 31,3 8,1 79,9
3º EM 251,2 30,0 37,8 26,7 5,5 63,3
3º
Matemática
756,7 27,5 51,3 20,3 0,9 83,2
5º EF 202,2 11,4 40,2 33,2 15,2 86,2
9º EF 240,0 35,4 45,3 17,1 2,2 79,9
3º EM 252,2 49,0 34,6 14,3 2,1 63,3
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). LEGENDA: AB = Abaixo do Básico; B = Básico; AD = Adequado; AV = Avançado. NOTA: a proficiência média atingida diz respeito ao grau ou nível de aproveitamento na avaliação.
Nas redes municipais, os indicadores de desempenho são identificados no
Seape/AC da seguinte maneira:
213
TABELA 14 – MÉDIA DOS RESULTADOS DO SEAPE/AC POR EDIÇÃO E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA, REDES MUNICIPAIS, ACRE, 2009 A 2012
EDIÇÃO
SÉRIES
DISCIPLINAS
PROFICIÊNCIA MÉDIA
ATINGIDA*
NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA
%
Participação AB B AD AV
2009 (1ª)
5º EF Língua Portuguesa
177,0 8,5 43,2 35,9 12,4 84,1
9º EF 214,4 39,7 41,4 16,3 2,7 73,6
5º EF Matemática
189,4 15,9 46,5 29,6 8,0 84,2
9º EF 224,5 52,7 35,3 11,7 0,4 73,6
2010 (2ª)
3º Língua
Portuguesa
464,7 23,1 17,8 23,9 35,2 74,4
5º EF 171,8 9,3 47,0 35,3 8,4 81,3
9º EF 217,0 37,3 38,6 21,6 2,4 71,7
3º Matemática
732,5 45,3 46,6 7,2 0,9 74,4
5º EF 180,3 23,0 47,8 24,2 5,0 81,2
9º EF 224,6 51,0 35,1 13,12 0,7 71,7
2011 (3ª)
3º Língua
Portuguesa
471,0 20,4 21,4 22,4 35,8 82,4
5º EF 179,4 6,4 41,9 39,3 12,4 85,2
9º EF 226,4 26,9 45,8 22,8 4,5 77,7
3º Matemática
735,0 45,4 44,4 9,1 1,1 82,4
5º EF 190,6 16,6 45,1 29,6 8,6 85,2
9º EF 236,7 39,2 45,1 14,2 1,4 77,7
2012 (4ª)
3º Língua
Portuguesa
480,5 19,9 18,3 21,0 40,9 80,8
5º EF 185,7 7,6 34,4 40,2 17,8 83,5
9º EF 224,6 29,6 42,8 23,7 4,0 65,6
3º Matemática
747,2 35,8 46,9 16,7 0,5 80,8
5º EF 199,0 14,0 38,3 33,9 13,8 83,5
9º EF 233,0 42,4 42,6 14,3 0,7 65,6
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). LEGENDA: AB = Abaixo do Básico; B = Básico; AD = Adequado; AV = Avançado. NOTA: a proficiência média atingida diz respeito ao grau ou nível de aproveitamento na avaliação.
Nas quatro edições do Seape/AC, os indicadores de desempenho da rede
estadual são melhores em relação às redes municipais. Em relação à participação
de alunos, a presença das redes municipais é mais marcante nas três primeiras
edições e somente em 2012 a rede estadual alcança um percentual um pouco
melhor do que as escolas que compõem a rede municipal.
De um modo geral, o desempenho médio em Língua Portuguesa é melhor do
que a proficiência média atingida na disciplina de Matemática. Ao considerar-se
apenas o desempenho médio, não houve nenhuma ocorrência de padrão abaixo do
básico em Língua Portuguesa, enquanto em matemática houve 3 (três) registros,
sendo 2 (dois) no 9º ANO (EF) das Redes Municipais e 1 (um) no 3º ANO (EF) da
Rede Estadual. Estes elementos podem ser melhor observados no quadro seguinte:
214
QUADRO 7 – NÍVEIS MÉDIOS DE PROFICIÊNCIA ATINGIDA, SEAPE, ACRE, 2009 A 2012
LÍNGUA PORTUGUESA
EDIÇÕES/PROFICIÊNCIA MÉDIA ATINGIDA
2009 2010 2011 2012
3º ANO (EF) - Rede Estadual - 477,8 488,3 499,7
3º ANO (EF) - Redes Municipais - 464,7 471,0 480,5
No 3º ano, tanto a Rede Estadual quanto as Redes Municipais alcançam o nível básico em toda a série avaliada.
5º ANO (EF) - Rede Estadual 183,9 179,7 188,0 189,5
5º ANO (EF) – Redes Municipais 177,0 171,8 179,4 185,7
Em toda a série em análise, o 5º ano (EF) encontra-se no padrão adequado na Rede Estadual. Nas Redes Municipais, em 2009, o 5º ano está no padrão adequado. Em 2010, o 5º ano decai para o padrão básico e nos anos subsequentes alcançam o padrão adequado.
9º ANO (EF) - Rede Estadual 228,2 226,0 234,1 236,3
9º ANO (EF) – Redes Municipais 214,4 217,0 226,4 224,6
Em toda a série em análise, o 9º ano (EF) encontra-se no padrão básico, tanto na rede estadual como nas redes municipais.
3º ANO (EM) - Rede Estadual 242,9 241,8 255,5 251,2
3º ANO (EM) – Redes Municipais - - - -
O 3º ano (EM), ofertado exclusivamente na Rede Estadual, alcança padrão básico em toda a série em análise, sem grandes variações entre uma edição e outra.
MATEMÁTICA
3º ANO (EF) - Rede Estadual - 738,1 743,3 756,7
3º ANO (EF) - Redes Municipais - 732,5 735,0 747,2
No 3º ano (EF) o padrão básico predomina em todas as edições analisadas, tanto na Rede Estadual como nas Redes Municipais.
5º ANO (EF) - Rede Estadual 192,2 185,6 196,5 202,2
5º ANO (EF) – Redes Municipais 189,4 180,3 190,6 199,0
Nas Redes Municipais o padrão básico predomina no 5º ano (EF). Na Rede Estadual, o padrão básico é registrado nas 3 (três) primeiras edições, mas em 2012 alcança o padrão adequado.
9º ANO (EF) - Rede Estadual 234,7 229,7 240,0 240,0
9º ANO (EF) – Redes Municipais 224,5 224,6 236,7 233,0
Nesta série/ano predomina o padrão básico na rede Estadual e nas Redes Municipais, nas duas primeiras edições (2009 a 2010) registra-se o padrão abaixo do básico e nas edições subsequentes, o padrão básico.
3º ANO (EF) - Rede Estadual 249,7 244,2 256,0 252,2
3º ANO (EF) – Redes Municipais - - - -
O 3º ano (EM) atinge o padrão básico em 2009, decai para o padrão abaixo do básico em 2009 e retoma o padrão básico em 2011 e 2012.
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). NOTAS: 1) As escalas são diferentes em cada série avaliada. 2) Na média de proficiência não houve nenhum registro do padrão considerado avançado.
LEGENDA: Abaixo do Básico Básico Adequado
215
Ao explorar os resultados do Seape/AC a partir de dados de desempenho e
de dados contextuais, podem-se agregar algumas variáveis relativas à situação
socioeconômica do aluno utilizando-se como parâmetro elementos existentes na
residência dele, tais como: banheiro, computador, rádio, geladeira, televisão,
máquina de lavar louça e automóvel.
Ao se organizar essas variáveis num intervalo de 0 (zero) a 1 (um), o
parâmetro é de que o pior caso seria o aluno não possuir nenhum desses bens, o
que representa 0 (zero), e ter 3 (três) destes itens ou mais representa o maior nível
econômico e, portanto, alcança nesta escala a melhor situação representada pelo
número 1 (um). Dentre tantas outras possibilidades, esse exercício trata-se de uma
escala para pensar o nível socioeconômico do aluno, um potencial de análise que o
banco de dados do Seape/AC dispõe, como se demonstra na tabela seguinte:
TABELA 15 – NÍVEL SOCIOECONÔMICO DE ACORDO COM O QUARTIL DE PROFICIÊNCIA
MÉDIA, POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA E SÉRIE DOS ALUNOS, ACRE, 2012
Dependência administrativa
Ano
Nível Socioeconômico Proficiência
Média N.º Total Média Nível N.º Total
Estadual 3º (EF) - 7816 756,72 B 7816
5º (EF) ,37 7258 202,18 AD 7258
9º (EF) ,40 10549 239,96 B 10549
3º (EM) ,40 8349 252,19 B 8349
Municipal 3º (EF) - 5770 747,24 B 5770
5º (EF) ,34 5419 199,05 B 5419
9º (EF) ,33 1230 232,98 AB 1230
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). LEGENDA: AB = Abaixo do Básico; B = Básico; AD = Adequado; AV = Avançado. NOTA: Considerou-se a proficiência média atingida na disciplina de Matemática.
A tabela expressa que, a partir dos parâmetros aqui considerados, no ano de
2012, os melhores níveis socioeconômicos registram-se em alunos da rede
estadual, assim como é nas escolas vinculadas a essa dependência administrativa
que se apresentam os melhores rendimentos em termos de média de proficiência.
Observa-se também que as médias identificadas se mantêm em valores
intermediários (,33; , 34...), bem distanciados daquilo que seria registrado como a
melhor situação (representado pelo número 1) .
Ao se cotejar o desempenho em relação ao nível socioeconômico,
considerando-se as séries/anos possíveis de serem comparadas (justamente por
estarem situadas na mesma escala de proficiência), tem-se a seguinte situação:
216
QUADRO 8 – NÍVEIS MÉDIOS DE PROFICIÊNCIA ATINGIDA DE ACORDO COM O QUARTIL DE
PROFICIÊNCIA MÉDIA, POR DEPENDENCIA ADMINISTRATIVA E SÉRIE DOS ALUNOS, SEAPE, ACRE, 2012
Ano/ Série
Dependência Administrativa
Média de Proficiência
Padrão de Desempenho
Nível Socioeconômico
5º (EF) REDE ESTADUAL 202,18 ADEQUADO ,37
5º (EF) REDE MUNICIPAL 199,05 BÁSICO ,34
9º (EF) REDE ESTADUAL 239,06 BÁSICO ,34
9º (EF) REDE MUNICIPAL 232,98 ABAIXO DO BÁSICO ,33
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012).
A tendência observada é que, quanto melhor o nível socioeconômico, maior a
taxa média de proficiência, ainda que as médias identificadas a partir das variáveis
consideradas (televisão, computador, automóvel etc.) não apresentem grandes
disparidades, sobretudo no 9º ano (EF).
Um elemento importante para se considerar na definição de políticas
educacionais é a questão do perfil dos alunos. O banco de dados do Seape/AC
possibilita observar esta e outras variáveis e relacioná-las à média de desempenho,
como, por exemplo:
TABELA 16 - MÉDIA DA PROFICIÊNCIA SEGUNDO COMO O(A) ALUNO (A) SE CONSIDERA,
ACRE, 2012
Alternativas Média da proficiência Número de casos
Branco(a) 220,94 4969
Pardo(a) 231,07 12979
Negro(a) 220,66 3751
Amarelo(a) 226,69 1771
Indígena 209,19 522
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012).
A menor média de proficiência dá-se naqueles alunos que se declararam
indígenas e a maior naqueles que se consideram pardos, numa variação de 21,88
pontos em relação ao desempenho entre um ponto e outro. Outra duas questões
merecem ser observadas na tabela anterior: o número de casos daqueles que se
consideram pardos é a maioria; o melhor desempenho na edição de 2012 dá-se
naqueles que se declararam pardos e isto não é uma tendência em nível nacional,
portanto, este elemento merece estudos posteriores.
Relacionar a média de proficiência atingida com a escolaridade da mãe dos
alunos é uma outra forma de explorar o potencial do banco de dados do Seape/AC,
217
especialmente junto aos professores que mais têm a proximidade com a família dos
alunos, especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como no exemplo
TABELA 17 – MÉDIA DE PROFICIÊNCIA EM RELAÇÃO À ESCOLARIDADE DA MÃE (OU DA
RESPONSÁVEL PELO ALUNO) ACRE, 2012
Alternativas Média Proficiência
N.º Total
Nunca estudou. 211,35 1355
Entre a 1ª e a 4ª série / 1º e o 5º ano do Ensino Fundamental. 221,26 5128
Entre a 5ª e a 8ª série /6º e o 9º ano do Ensino Fundamental. 221,38 3459
Entre a 1ª e a 3ª série do Ensino Médio. 239,31 4791
Até a Faculdade (Ensino Superior). 240,24 3634
Não sei. 218,81 5606
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012).
No maior nível de proficiência encontram-se alunos cuja mãe tem formação
superior e no menor aqueles cuja mãe nunca frequentou uma escola. Essa
tendência identificada contribui para reforçar o argumento de que o bom
desempenho se efetiva a partir de uma conjunção de fatores, dentre eles, o
acompanhamento dos pais, mais especificamente da mãe, na vida escolar dos
estudantes. Procedimento semelhante pode ser realizado em relação à escolaridade
do pai (ou do responsável) pelo aluno.
Há várias outras possibilidades de se explorar o potencial de dados
contextuais do Seape/AC, por exemplo, identificar quais escolas e municípios mais
contribuem para elevar a qualidade do ensino público do Estado e relacionar dados
de desempenho com outras variáveis contidas em outras bases de dados já
disponíveis como, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos
municípios e dados sobre formação docente, dentre outras referências importantes
para compreender o contexto e a trajetória escolar, inclusive fatores considerados
até bem subjetivos como a expectativa em relação ao futuro, como se denota na
tabela seguinte:
TABELA 18 – MÉDIA DA PROFICIÊNCIA SEGUNDO A RESPOSTA DO(A) ALUNO (A) À
PERGUNTA TENHO MUITOS SONHOS PARA O MEU FUTURO, ACRE, 2012
Alternativas Média Proficiência
N.º Total
Concordo muito 230,14 20123
Concordo um pouco 215,95 1884
Discordo um pouco 201,41 676
Discordo muito 200,69 714
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012).
218
Ao se verificar essa relação sonho/média de proficiência, mais de 80% dos
respondentes concorda muito a respeito de ter sonhos para o futuro e esta maioria é
aquela que apresenta o melhor desempenho. O inversamente também é verdadeiro,
aqueles que discordam muito sobre ter muitos sonhos para o futuro são os que
apresentam a menor média de proficiência, no caso evidenciado.
Ao se explorar o desempenho de forma interna aos dados, pode-se verificar o
tamanho da dispersão (da menor para a maior variação de desempenho) e cotejar o
desempenho com o indicador de participação dos alunos, como na tabela seguinte:
TABELA 19 – REDE ESTADUAL, LÍNGUA PORTUGUESA, 5º ANO, ACRE, 2010
Município Escola Proficiência
Média
Padrões de Desempenho
Indicação do Padrão de
Desempenho
% de Participação
AB B AD AV
Cruzeiro do Sul
Esc. Presbiteriana de Cruzeiro do Sul
209,6 1,5 20 38,5 40 Adequado 95,6
Rio Branco Esc. Raimundo
Gomes de Oliveira
209,5 1,5 17,9 40,3 40,3 Adequado 93,1
Rio Branco
Esc. Neutel Maia 206,3 0 23,5 47,1 29,4 Adequado 85
Rio Branco
Esc. Nova Esperança
137,4 40 40 20 0 Básico 50
Rio Branco
Dalva de Souza Neves
132 50 50 0 0 Básico 28,6
Rio Branco
Dr. Augusto Monteiro
124,9 50 50 0 0 Abaixo do
Básico 66,7
FONTE: Organizado da PLANILHA DE DADOS BRUTOS DO SEAPE/AC (2009 A 2012). LEGENDA: AB = Abaixo do Básico; B = Básico; AD = Adequado; AV = Avançado. NOTA: dados organizados de forma a explicitar os 3 (três) maiores e os 3 (três) menores indicadores
de desempenho.
No caso em análise, nota-se que os maiores percentuais de participação
estão naquelas escolas que apresentam os melhores indicadores de desempenho,
mas esta não é uma tendência que se confirma em outros casos (ano, edição, rede).
Mesmo no caso expresso nessa tabela, observa-se que nas 3 (três) escolas com
maior desempenho, o percentual de participação diminui à medida que há menor
participação. Contudo, ao se verificar os menores indicadores de desempenho,
neste caso em específico, essa tendência não se confirma.
Quando se observam os dois maiores indicadores de proficiência média, há
uma variação de 0,1 de diferença e, ambas, as escolas (Esc. Presbiteriana de
Cruzeiro do Sul e Esc. Raimundo Gomes de Oliveira) estão no padrão considerado
adequado. Ao se cotejar a maior dispersão com a menor, há uma diferença de 84,7
219
pontos. A escola que apresenta o menor indicador de desempenho apresenta 50%
dos estudantes no padrão abaixo do básico e 50% no padrão básico, mas na
indicação de desempenho é considerada como abaixo do básico. Além de a medida
ser baixa, não há estudantes com proficiência adequada. Caso semelhante ocorre
com as Escolas Nova Esperança e Dalva de Souza Neves; contudo, estas são
identificadas na tabela como padrão de desempenho básico. Essa forma de
organizar os dados trata-se de uma padronização inerente à composição dos dados,
um jeito de ler a média que remete à necessidade de que a “lente” da avaliação seja
aproximada na intenção de olhar os dados “por dentro”, articulando-os com os
fatores de desempenho para que os dados sejam mais significativos, e tais questões
justificam a necessidade de se explorar os dados de contexto.
O objetivo das ilustrações aqui apresentadas é, apenas, demonstrar que é
possível apresentar resultados do Seape/AC e interpretá-los conforme cada
contexto, sejam eles relacionados a fatores intraescolares, sejam eles vinculados às
condições socioeconômicas e culturais dos alunos ou, ainda, se constituíam na
junção do conjunto destes elementos, sendo importante observar as condições
materiais da escola, dentre outras inúmeras possibilidades de explorar os dados
identificados pela avaliação em larga escala, oriundos das redes de ensino que dela
participam. E deve-se ter claro que a avaliação é um dos indicadores, que ela não se
realiza de forma responsável se distanciada das discussões sobre currículo, sobre
gestão democrática, sobre formação e valorização docente, dentre outras questões
atinentes ao campo educativo; campo este multirregulado, que tem uma
dinamicidade e historicidade próprias.
Uma parte dos resultados de desempenho é explicada por questões culturais
que dependem do nível socioeconômico. Nessa direção, o Seape/AC poderia ser um
sistema muito mais robusto, dado o investimento e a perspectiva de regulação que
ele tem, pois não há como pensar políticas públicas sem se levar em consideração o
contexto.
Se os mecanismos de regulação se efetivam de diferentes maneiras e por
diversas formas, como aqui defendido, a mesma avaliação que pode estabelecer
uma relação hierárquica entre governantes e governados também pode se constituir
em mecanismos de diálogos, de abertura, de subsídios expressos em evidências
daquilo que o campo educacional vem conseguindo responder e naquelas questões
que se constituem, ainda, em desafios que precisam ser assumidos nos processos
220
regulatórios que têm na avaliação algumas das respostas para os problemas que a
educação enfrenta.
221
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da política de avaliação em larga escala como mecanismo de
regulação do sistema público da educação básica do Acre trouxe consigo uma gama
de desafios, dentre eles: captar um alvo em movimento, como postula Palumbo
(1994).
Nessa pesquisa, captar este movimento significou trilhar pelo campo da
política educacional em que tudo é articulado, imbricado, onde a questão está em
dizer como são estabelecidas as “regras do jogo” (MAROY, 2011): permeadas por
processos regulatórios interligados a outros componentes da agenda pública. E isto
implicou perceber a arena das disputas reais e simbólicas, a correlação de forças e
os ajustes dos processos constitutivos da implementação do Sistema Estadual de
Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape).
A avaliação em larga escala é uma política educacional desafiadora, com
inúmeras possibilidades de olhar. Política gerada na necessidade de dimensionar
melhor os sistemas de ensino público, conectada com os direitos dos cidadãos à
educação, uma vez que a escola é, para muitos, um lugar privilegiado de
assimilação e de produção de conhecimentos.
Neste estudo, tomou-se como pressuposto que as informações obtidas pela
avaliação em larga escala podem se prestar à regulação dos sistemas de ensino.
Com essa suposição, no Capítulo 1 apresentou-se as bases conceituais da
avaliação em larga escala e as primeiras aproximações entre os termos avaliação e
regulação.
Suas conexões se estabelecem no sentido de que a avaliação, além de ser
um dispositivo considerado na definição de políticas educacionais (principalmente na
formação continuada de professores, como evidenciado ao longo do texto) é um
mecanismo de regulação por meio da intervenção estatal. E este é um dos
interesses do Estado na avaliação, uma vez que este dispositivo contribui para
coletar informações que se convertem em um importante instrumento de regulação
dos sistemas de ensino. Dito isso, a pesquisa evidenciou que, no Planejamento
222
Estratégico da Secretaria de Estado de Educação e Esporte do Acre (2011-2014), a
avaliação compõe um dos Pilares das Políticas Públicas para a Educação153.
A Avaliação em larga escala assume diferentes funções, manifestas ou
latentes, como afirma Afonso (2009). Comumente denominada como externa, a
avaliação é gestada de forma centralizada no Estado, este ente que define e regula
política pública, num campo marcado pelo contraditório e pela dinâmica social
capazes de transformar aquilo que foi inicialmente delineado.
No decurso do processo da pesquisa, o levantamento de documentos, as
informações absorvidas nas entrevistas e os demais procedimentos de análises
(banco de dados, materiais expostos em eventos educacionais no âmbito local etc.)
foram importantes para estabelecer conexões entre a avaliação em larga escala, a
definição de políticas educacionais no âmbito estadual, as associações e
tensionamentos estabelecidos entre as políticas decorrentes e, ainda, as formas de
regulação e controle empreendias pelo órgão gestor da educação básica no
contexto local.
No que diz respeito à história do Seape/AC – e, certamente em outras
políticas públicas –, um ponto notado foi em relação às fontes documentais,
sobretudo nos antecedentes e nos momentos iniciais da política há lapsos que
seriam muito mais evidentes não fosse a memória daqueles que contribuíram para
colocar a política em ação, alguns deles entrevistados nesse estudo. Depreende-se
que situações dessa natureza tratam-se das dificuldades na elaboração do texto da
política (alguns registros podem não ter sido elaborados), no arquivamento
apropriado dos documentos (isso ficou evidente em uma das escolas que cedeu os
ofícios circulares) ou outras razões pelas quais a pesquisa não alcançou por
insuficiência de elementos para análises mais contundentes a esse respeito.
De todo modo, uma das características de uma gestão pública focada em
resultados trata-se da quantidade de ações que são realizadas ao mesmo tempo e
numa velocidade tal que, algumas das questões tão importantes como esta (o
registro e a guarda de documentos), pode dificultar a realização de pesquisas e,
ainda, não se ter tempo e material suficiente para avaliar a avaliação e as ações
decorrentes da política.
153
Os demais são constituídos pelos seguintes pontos: Desenvolvimento Profissional; Currículo; Gestão e Governança Escolar; Sistemas de Educação, Pacto Federativo e Regime de colaboração; Qualidade e Equidade; e Educação Integral.
223
O objetivo central desta tese consistiu-se em analisar como o sistema próprio
de avaliação do ensino público acreano é concebido, identificando seus princípios,
concepções, ajustes, indicadores (processos) e motivações que contribuíram para
que a avaliação em larga escala fosse definida e colocada na agenda da política
local.
O Seape/AC é concebido a partir de uma decisão do Governo do Estado do
Acre, sem a participação da comunidade escolar na concepção do seu projeto
básico, compondo um conjunto de ações articuladas entre si, na direção de
dimensionar os sistemas públicos de educação em nível local.
Sua motivação inicial vem ao encontro de conhecer melhor (perspectiva
diagnóstica) esses sistemas e, também, em consonância com algumas mudanças
ocorridas no contexto local que fomentaram a necessidade de avaliar as próprias
políticas que estavam em curso no contexto posterior a 1999. Nessa direção, o
Capítulo 3 teve este propósito: situar o sistema próprio de avaliação em larga escala
no contexto do ensino público acreano.
Nas informações que caracterizam o contexto é possível identificar, por
exemplo, no documento Termo de Referência para Contratação de Consultoria a
afirmação de que a Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE/AC)
desenvolve um “conjunto de ações articuladas que tem como objetivo estratégico
oferecer às escolas e educadores as condições necessárias para que todos os
alunos possam ter uma aprendizagem de qualidade.” (ACRE, 2009a, p. 6). Em
seguida o texto aponta que “os resultados surgem após anos de investimentos
contínuos” (ibid) e, nesse aspecto, o monitoramento das políticas educacionais é
uma das ações decorrentes do Seape/AC, no contexto dos governos de
continuidade da Frente Popular do Acre (FPA).
Os dados evidenciaram que a perspectiva diagnóstica foi, paulatinamente, se
diluindo, até porque, com o tempo, o montante de avaliações realizadas ano a ano,
vão acumulando informações significativas para diagnosticar os sistemas de ensino.
As séries históricas congregam um arsenal de dados sobre indicadores de qualidade
e elementos profícuos de análises, muitos deles ainda não explorados,
especialmente aquelas informações levantadas pelos questionários contextuais,
aliás, o potencial pedagógico e as possibilidades de pesquisa destes instrumentos
são bastante robustas.
224
No contexto da política local, demarcado pela gestão de resultados, os
instrumentos delineados para avaliar o desempenho e os indicadores expressos em
números ou em padrões de desempenho, ainda que relevantes, não são suficientes
para serem tomados como a expressão mais significativa da qualidade na educação.
Há outros elementos a serem considerados, alguns deles até coletados no
questionário contextual e não evidenciados na divulgação dos resultados, as
condições materiais da escola, por exemplo. Tomadas como elemento de análise
tais condições poderiam evidenciar se os investimentos realizados em termos de
infraestrutura e equipamentos têm relação com os indicadores de desempenho.
Como suporte teórico-metodológico, optou-se pela teoria da regulação
social, delimitada no campo da regulação educacional. Para definir que elementos
comporiam o Capítulo 2, neste, o maior esforço consistiu no sentido de compreender
a abordagem e, ao mesmo tempo, considerar o tempo e o lugar onde os teóricos se
situaram e se posicionaram para evitar transposições automáticas entre uma e outra
conjuntura, afinal há especificidades na política educacional brasileira e no contexto
do Acre onde o objeto estudado foi constituído e colocado em ação.
No contexto brasileiro, uma dessas especificidades é que o País não possui
um sistema único de educação, assim há vários sistemas que, justamente pelo fato
de que não devam ser concorrentes entre si (pacto federativo), estabelecem
cooperação e intercambiam formas de conexões bem próprias do contexto nacional,
ainda assim há um efeito indutor do Ministério de Educação e Cultura sobre as
políticas regionais no âmbito dos estados e municípios. Este efeito indutor confirma-
se na política educacional no Acre, seja pela dependência financeira, seja pela
articulação do grupo político local com o Executivo no âmbito federal.
A base teórica foi importante para identificar e compreender as formas pelas
quais os mecanismos de regulação influenciam as diretrizes de ações pensadas e
executadas no âmbito da política avaliativa da educação básica empreendida no
Estado, desde o seu processo de elaboração, até a implantação de práticas
decorrentes da avaliação em larga escala. Nesta tese, o conceito de regulação foi
compreendido como um mecanismo de controle acionado tanto para garantir
direitos, como para ativar mecanismos de responsabilização, na perspectiva de
obrigação de resultados.
Na perspectiva de assegurar direitos, em especial o direito à qualidade do
ensino público (marcante nas intencionalidades iniciais do Seape) o termo regulação
225
se aproxima do controle social, assumido como prestação de contas à sociedade.
Nessa esteira, a avaliação em larga escala é um mecanismo que possui as
condições básicas de se efetivar, por exemplo, através de regulamentos
educacionais e na própria normatização do Seape/AC, quais sejam: 1) o Decreto n.º
6.393/2013 que institui o Seape – “um sistema de aferição dos resultados da
Educação Básica se constitui num importante instrumento para subsidiar a
formulação e o monitoramento das políticas educacionais e sua prestação de contas
à sociedade” (ACRE, 2013b, não p.); 2) a Instrução Normativa n.º 06/2014 que
considera “a avaliação externa como um dos principais instrumentos para garantir a
equidade na Educação, ao verificar se o direito de aprender está garantido a todos
os alunos.” (ACRE, 2014b, não p.).
No processo de divulgação dos resultados do Seape/AC evidencia-se a
perspectiva de prestação de contas, bem como os mecanismos de
responsabilização branda ou de baixo impacto como, por exemplo, a aproximação
da SEE/AC com os gestores escolares que, ao receberem os “seus” resultados
devem retornar para as “suas escolas” e socializá-los com vistas a traçar estratégias
para o alcance das metas estabelecidas pelo próprio sistema, ou pela unidade
escolar no Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) como uma espécie de canal
de comunicação com a SEE/AC. Se o Seape/AC não investe na aproximação com
os professores diretamente, o faz indiretamente por meio dos gestores escolares,
naquilo que denominamos de efeito dominó ou controle exercido à distância.
Como mecanismo de responsabilização, na perspectiva de obrigação de
resultados, o documento normatizador do texto da política é muito objetivo ao
afirmar que o Seape/AC decorre da:
necessidade de a SEE desenvolver, em parceria com as escolas, procedimentos e instrumentos de avaliação da aprendizagem dos alunos, concebida como elemento catalisador da gestão de resultados e eixo orientador das políticas educacionais na busca da eficiência e da produtividade. (ACRE, 2014b, não p., grifo nosso).
Os indicadores de qualidade do ensino foram utilizados para definição de
outras políticas focadas em resultados e que, ainda, há muito a se explorar em
termos de potencial pedagógico do Seape/AC, em especial, os dados contextuais.
Ainda assim, da avaliação decorrem elementos importantes para as tomadas de
decisões políticas no campo educacional. Dentre as ações decorrentes a que mais
226
se projetou foi a formação de professores, neste aspecto, confirmando-se a
avaliação como indutora de políticas públicas.
Corroborando com o controle que a avaliação em larga escala exerce à
distância, há um elemento que se ressalta como justificador da política: a autonomia
das escolas. E esta é uma questão demonstrativa da capacidade que avaliação tem
ao fortalecer ou instaurar novas formas de regulação.
A avaliação em larga escala possibilita que o estado, ao mesmo tempo em
que legitima a autonomia das escolas, se mantenha como autoridade reconhecida
(MAROY, 2005), capaz de regular e, ainda, de atuar como agente mediador entre os
prestadores de serviço público e os usuários, demandantes e receptores do serviço
público.
Nessa lógica, há um campo fértil para potencializar as relações de
dominação, competição e mecanismos de responsabilização através dos sistemas
avaliativos em larga escala. Entre a oferta, a procura e a qualidade do ensino
público, entra em cena uma espécie de agente regulador/protetor dos serviços que o
usuário necessita receber: o Estado.
A avaliação externa da educação é uma política que, ainda que tenha
adentrado o campo educacional e, atualmente, faça parte dela, não estabelece
vínculos tão substantivos com os princípios da gestão democrática, amplamente
assegurados no plano legal. Nessa esteira, a avaliação empreendida pelo Seape/AC
se consolidou sob o viés do exercício de poder.
Esse sistema próprio de avaliação não se estabelece em formas de
participação, ele se estabelece por meio de uma regulação institucional, capaz
acionar mecanismos de regulação que adentram o contexto escolar de uma forma
sutil (branda), como se compusesse a dinâmica interna da escola, influenciando
processos, mas com um foco nos resultados.
O Seape/AC se estabelece como um mecanismo de regulação, capaz de
acionar controles justificados nos seguintes princípios norteadores da política: direito
à informação (publicidade) – neste aspecto, preserva-se uma das facetas das
gestões democráticas, a depender do formato e das intencionalidades da divulgação
–, legalidade (o Estado é uma autoridade legítima e com autonomia para definir
políticas), diagnóstico da qualidade educacional (princípio e fim da educação
nacional); com estas bases a avaliação em larga escala ganha expressão e se
consolida.
227
Entre os fundamentos da política e planejamento educacional constantes no
Planejamento Estratégico da Secretaria de Estado de Educação do Acre (2011-
2014), a Avaliação compõe um dos sete Pilares das Políticas Públicas para a
Educação, ao lado dos seguintes itens: Desenvolvimento Profissional; Currículo;
Gestão e Governança Escolar; Sistemas de Educação, Pacto Federativo e Regime
de colaboração; Qualidade e Equidade; e Educação Integral.
A política avaliativa educacional não é deslocada do conjunto das políticas
públicas educacionais. Nesse sentido, no Capítulo 3 buscou-se caracterizar o
sistema público de ensino do Acre, em especial naqueles aspectos que
contextualizassem essa conexão com as demais políticas públicas. No panorama
apresentado priorizou-se o contexto sociocultural, histórico e político para que se
pudesse compreender o processo de implementação de um sistema próprio de
avaliação da educação básica no Acre.
Após caracterizar o contexto de implementação do Seape, o Capítulo 4 tratou
de evidenciar os antecedentes do Seape/AC, seu processo de estruturação, suas
finalidades e objetivos, sua configuração e abrangência, bem como os ajustes e os
desvios da política em ação, dentre outras questões que permitissem buscar
respostas para as questões norteadoras dessa pesquisa.
Muito embora essas questões orientadoras tenham sido organizadas e
apresentadas em separado, elas estão interligadas. Dito isso, o diálogo estabelecido
entre regulação, avaliação e seu papel na definição de políticas educacionais no
âmbito estadual possibilitou encontrar algumas das respostas que, aqui, são
retomadas, relacionando-as com as temáticas das questões da pesquisa:
Na concepção e implementação da política – dos antecedentes até a
realização das primeiras edições do Seape/AC, confirma-se o caráter indutor do
Ministério de Educação e Cultura, como já evidenciado, no entanto, a coloração local
que se apresenta na 1ª hipótese desse estudo se confirmou de forma mais
contundente apenas nesses momentos iniciais da concepção e implementação da
política, conectada com o entusiasmo pela mudança, marcante nos primeiros
governos da Frente Popular do Acre (FPA). Marcado por fatores históricos, políticos
e socioeconômicos, esse contexto contribuiu para que o sistema de ensino público
fosse reorganizado e a necessidade de uma avaliação externa fosse colocada na
pauta da agenda local.
228
Como a avaliação do sistema de ensino se trata de uma proposição
constituída em um governo de continuidade, a cada gestão, a forma de se manter no
poder precisa ser reinventada154, assim, os contornos que a avaliação foi tomando
desvirtuaram da perspectiva diagnóstica, orientadora e definidora de políticas para
intencionalidades mais próximas de uma política calcada em resultados e em
responsabilização branda como, por exemplo, a exaltação do discurso da
competência e as premiações para os “melhores”.
Nesse movimento, pode-se afirmar que o Estado se apropriou muito mais
do Seape/AC para fortalecer a sua gestão de resultados, do que explorou seu
potencial pedagógico. E este aspecto tem uma espécie de “efeito dominó” por um
conjunto de dispositivos de regulação que provocam pressões por resultados em
cadeia. Estes aspectos permitem que se retome a tese anunciada no sentido de
reafirmá-la: o Seape/AC amplia as possibilidades de o Estado exercer sua regulação
e contribui para a gestão focada em resultados no contexto do sistema público de
ensino acreano.
Ainda assim, algumas intencionalidades do projeto inicial do Seape/AC se
mantém: a) a ação continua na agenda da política, fortalecendo uma cultura de
avaliação; b) as articulações com os municípios que tanto dependem do aparato
institucional do Estado; e c) a melhoria dos indicadores de desempenho dos alunos
avaliados, com uma ressalva que não é o Seape/AC em si que assegura isto, mas o
conjunto articulado de políticas públicas e ações efetivadas nessa direção.
Dentre as políticas educacionais decorrentes do Seape, a pesquisa
evidenciou que a avaliação coleta dados importantes para o planejamento das
formações continuadas de professores e aponta efeitos positivos dos investimentos
realizados na formação inicial destes profissionais. Contudo, também decorre das
avaliações externas a política de bonificação, bem na contramão de alguns dos
princípios assumidos pelo Seape/AC, mais bem aproximada da concepção da
gestão de resultados.
Em relação às associações e tensionamentos entre as políticas decorrentes
e as formas de regulação, uma questão que se destaca são os regulamentos. O
Seape/AC tem todas as condições legais para continuidade, ainda que o Governo
154
Esta ideia de reinvenção na forma de governar, necessária para a continuidade de um mesmo grupo no poder, é originária da professora Maria Corrêa da Silva, uma das entrevistas nesta pesquisa.
229
mude: decreto de criação, normativa, previsão de fortalecimento no Plano Estadual
de Educação etc. Outra questão em relação às políticas decorrentes do Seape se dá
na direção da aceitação do Seape/AC (isto em termos quantitativos, como expresso
no Capítulo 4), contudo sobre este ponto há que se tensionar mais em outros
estudos, visto que este não foi o foco deste.
No que concerne à regulação do sistema de ensino, a responsabilização tem
um foco bem evidenciado na gestão de resultados. Os números que expressam
indicadores de desempenho são fartos nos documentos e isso não chega a se
constituir em um problema, mas os formatos de publicização dos dados geram
inquietações, especialmente ao cotejá-los com os objetivos do projeto básico do
Seape/AC.
Os bancos de dados (tanto oriundos dos testes, como dos questionários de
contextualização) podem ser explorados a partir de outros enfoques, diferentes
daqueles expressos nas publicações do Seape/AC e desses trabalhados nessa
pesquisa. Os dados têm potencial tanto para o dimensionamento do sistema público
de ensino com vistas a compreendê-lo para além do “sucesso” nos testes, como tem
potencialidades pedagógicas não exploradas e, também, para subsidiar futuras
pesquisas.
Ao final de cada edição do Seape/AC, como apontam as entrevistas, uma
espécie de comitê estratégico da SEE/AC se reúne para, internamente, avaliar o
processo e os resultados alcançados. Um dos limites dessa pesquisa diz respeito a
não se encontrar (ou não se disponibilizar) os registros desses momentos.
A partir dos pontos discutidos em torno das questões da pesquisa,
retomados nesta parte do texto, outras considerações são aqui elencadas a título de
reflexão e/ou indicações de temáticas que podem se constituir em desdobramentos
de futuras pesquisas ou estudos absolutamente novos a respeito da política
avaliativa na conjuntura local:
1) não se tem claro o prazo de validade do “pacote” adquirido com a
empresa contratada para realizar o Seape/AC, os documentos não evidenciam esta
questão e este se constitui um dos limites dessa pesquisa;
2) ainda que contratante e contratado estejam satisfeitos, como se
demonstra em algumas das entrevistas realizadas, há que se investigar o nível de
compreensão e satisfação da comunidade escolar a respeito deste investimento e a
ampliação do uso pedagógico dos resultados;
230
3) outro aspecto que pode ser explorado em futuros estudos diz respeito à
dimensão educativa (ou outra dimensão) de alguns dos termos vinculados à
implementação do Seape/AC e de outros sistemas avaliativos, tais como:
cumprimento de metas, prêmios, produtividade, competição e outros;
4) as várias políticas educacionais - educação de jovens e adultos,
zoneamento escolar, financiamento educacional, currículo, formação de professores,
valorização profissional, gestão escolar etc. - podem dialogar com a avaliação da
educação pública, pois o que se separa em programas e projetos diz respeito a um
mesmo contexto. Ademais, nas entrevistas, sinalizou-se que os setores internos da
SEE/AC podem dialogar mais com os dados do Seape/AC, em especial: setor de
lotação e financeiro;
5) o “padrão de qualidade” não diz respeito apenas àquelas escolas que
recebem prêmio. Nem sempre uma escola “de sucesso” é uma escola que se sai
bem no teste, isto a literatura da área já aponta;
6) ao verificar o desempenho de uma escola, as séries históricas das
avaliações são importantes. Considerar o dado mais recente como o mais relevante,
ou supervalorizar determinados domínios do currículo em detrimento de outros pode
diminuir a possibilidade de uma leitura mais contextualizada, aliás o Seape/AC não
avalia com base no currículo, sua avaliação considera matrizes de referência;
7) o Seape/AC avalia as escolas. Há que se definir quem avalia e quais os
mecanismos para se avaliar a gestão da educação no contexto local. Isso está
relacionado à questão da descentralização de poder e com os princípios
democráticos.
O Seape/AC fortaleceu a gestão do sistema, dimensionou e contribuiu para
o Estado organizar a sua rede de ensino, contribuiu para intensificar e qualificar os
processos de formação continuada. Passos importantes foram dados e, como toda
política em ação tem desafios: tornar mais compreensível os dados a todos os
envolvidos e a todos os interessados; resgatar os significados educativos da
avaliação e nisto consiste em explorar o potencial pedagógico em todas as etapas
da avaliação. O caráter externo da avaliação em larga escala, não significa que,
como política educacional, ela seja estranha e controversa à dinâmica da escola.
A avaliação do próprio Seape/AC é, possivelmente, um dos pontos
necessários para a superação de mecanismos verticalizados de responsabilização,
validados por meio da (des)construção de processos de autonomia pedagógica dos
231
trabalhadores em educação que, se ignorados ou perdidos no emaranhado dos
sistemas avaliativos externos, podem comprometer sua atuação como sujeitos
capazes de realizar uma reflexão crítica do trabalho docente e sobre os demais
elementos que constituem um ensino de qualidade.
Isso pode ser o início de um exercício de responsabilidade compartilhada
(DIAS SOBRINHO, 2008) pelos resultados das avaliações externas, seja no nível
macro da gestão, seja no interior da gestão escolar. Tal perspectiva poderia se
constituir em um passo importante no reconhecimento do caráter público da
educação: ao invés de verticalizar as responsabilidades, horizontalizá-las e
compartilhá-las.
Refletir sobre uma política é assumir a intencionalidade de fomentar o
debate, de está aqui (na reflexão, na ação) e está lá (como projeção) ao mesmo
tempo.
232
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255
APÊNDICE 1155
ROTEIRO DAS TRÊS PRIMEIRAS ENTREVISTAS
Data de realização da entrevista: I. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO: Nome completo do (a) entrevistado (a): Idade: Formação acadêmica: Cargo, Instituição e data de admissão: Função atual assumida no Governo do Estado: Forma de provimento: Exerce outra função/trabalho além deste? II. ANTECEDENTES DO SEAPE Professor(a) você se sente suficientemente esclarecida quanto ao termo que acabamos de assinar? 1) Em 2001, por iniciativa própria, a SEE-AC realiza sua primeira experiência de
avaliação em larga escala. O que você sabe sobre esta experiência pioneira? 2) Em 2003, a Secretaria de Estado de Educação reedita a avaliação do sistema,
nos mesmos moldes de 2001. O que você sabe sobre esta 2ª experiência? 3) A partir de 2008, a SEE-AC transfere a avaliação do sistema para a Abaquar
Consultores e Editores Associados. Quais os frutos desta parceria tanto no campo da avaliação, como no processo de formação continuada de professores? Por que não houve continuidade com esta parceria no ano seguinte?
II. SOBRE O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SEAPE 4) Em 2009, o Governo do Estado do Acre estabelece parceria com o Centro de
Políticas Públicas e Avaliação (Caed), da Universidade Federal de Juiz de Fora, implementando a 1ª edição do Seape. Na sua avaliação, o que representa este novo momento?
5) Quais foram os principais motivos que levaram o Governo do Estado do Acre a implementar um sistema próprio de avaliação em larga escala?
6) Como você conceitua ou caracteriza o Seape ou quais as principais influências norteadoras deste sistema próprio de avaliação?
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Segundo consta em UFPR, 2015, p. 52: “esta recomendação difere da ABNT, que determina que os apêndices recebam letras.”
256
7) O Governo do Estado conta com algum apoio financeiro para realizar o Seape? Qual a contrapartida que o Governo oferece para quem financia, ou seja, quem financia pede o quê do Estado?
8) Quem participou ativamente do processo de elaboração do texto que institui o
Seape? E das decisões políticas? 9) Qual a participação dos professores e demais profissionais da escola no Seape? 10) Quem são os aplicadores das avaliações do Seape e como é realizado o processo de capacitação destes? 11) É possível acessar as provas aplicadas? 12) Como você avalia a relação entre o sistema próprio de avaliação acreano e o sistema nacional de avaliação? 14) Quais as nuances e perspectivas do trabalho pedagógico é possível perceber via Seape? E quais lacunas ainda é possível perceber a partir deste sistema avaliativo?
15) Após cada edição do Seape, realiza-se avaliação deste sistema? De que forma? Que estratégias são pensadas e utilizadas para monitorar os resultados da política implementada? Quem participa desta fase? 16) Qual o nível de aceitação do Seape? 17) Por que ou para ranquear as escolas? Em nenhum momento eu li que é objetivo do Seape divulgar isso, não tá posto, mas salvo engano em 2012, tem uma lei estadual que determina que as escolas publiquem no seu mural os resultados do Ideb e isso acaba, de algum modo, ranqueando. A imprensa também faz muito isso, no sentido de que quando divulga a notícia acaba ranqueando, como é que você ver esta questão? 18) Como os resultados da avaliação externa são apresentados para as escolas? E para a sociedade como um todo?
257
APÊNDICE 2
ROTEIRO DA QUARTA ENTREVISTA
Data de realização da entrevista: I. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO(A) ENTREVISTADO(A): Nome completo do entrevistado: Formação acadêmica (resumida, contemplando principalmente formação inicial e atual): 1) Quais foram os principais motivos que levaram o Governo do Estado do Acre a
implementar um sistema próprio de avaliação em larga escala?
2) Quais foram os preparativos que antecederam a implantação do Seape em 2009?
3) Em linhas gerais, como a política de avaliação em larga escala foi implementada no Sistema de Ensino do Estado do Acre, via Seape?
4) O Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape/AC) foi implantado no seu mandato de Governador, assim como foram realizadas suas três primeiras edições (2009, 2010 e 2011). Nesse contexto, qual a importância do Seape para a educação acreana?
5) Em termos de gestão do sistema estadual de ensino, como a equipe gestora da educação se mobilizava para enfrentar os problemas identificados?
6) Muito embora seja uma tendência dos sistemas próprios de avaliação, em nível estadual e municipal, guardarem algumas semelhanças com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), quais aspectos dão uma coloração local ao Seape?
7) De que forma o Seape contribui para superar os desafios educacionais no Acre?
8) Quais informações coletadas e dados obtidos via Seape são mais utilizados?
9) A partir das informações coletadas e dados obtidos (resultados) via Seape, quais trabalhos eram realizados com as escolas?
10) Considerando que a aplicação da Prova Brasil dar-se de forma censitária, quais
as razões de se manter um sistema próprio de avaliação?
11) Que ações decorrem dos resultados observados via Seape? Dizendo de outro modo: no conjunto das políticas da educação básica do estado do Acre, que ações derivaram dos processos de avaliação empreendidos via Seape?
12) Pela sua experiência, o que pode ser melhorado no Seape?
258
APÊNDICE 3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Através deste termo, você está sendo convidado(a) a participar, como
voluntário(a), da supramencionada pesquisa SISTEMA ESTADUAL DE AVALIAÇÃO
DA APRENDIZAGEM ESCOLAR (SEAPE-AC – 2009-2012): uma política pública de
avaliação em larga escala, no caso de você concordar em participar, favor assinar ao
final do documento. Esclarecemos que sua participação não é obrigatória e que, a
qualquer momento, você poderá desistir de participar e solicitar a anulação do seu
consentimento. Por fim, lembre-se que a recusa não trará nenhum prejuízo em sua
relação com a pesquisadora ou com a instituição.
Destacamos que uma cópia deste termo ficará com você e que nele consta o
telefone e endereço da pesquisadora, assim a qualquer tempo você poderá tirar dúvidas
sobre o projeto e/ou sobre sua participação.
Titulo da Pesquisa: SISTEMA ESTADUAL DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR (SEAPE-AC – 2009-2012): uma política pública de avaliação em larga escala Pesquisadora Responsável: Rivanda dos Santos Nogueira (doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná) Instituição a que pertence a Pesquisadora Responsável: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Linha de Pesquisa: Políticas Educacionais Orientadora: Professora Doutora Andréa Barbosa Gouveia Endereço da Pesquisadora Responsável: Av. Recanto Verde, 371, Bairro Conjunto Mariana, Rio Branco, Acre, CEP: 69.919-182 Contatos: (XX) XXXX-XXXX/ (68) XXXX-XXXX E-mails: [email protected] (1ª opção) ou [email protected] (2ª opção)
Esta pesquisa tem como objetivo identificar e analisar como o Sistema Estadual de
Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape-AC) é concebido, quais seus princípios,
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suas concepções, seus indicadores e seus efeitos na política educacional do Acre,
considerando o processo de elaboração e implementação dessa prática avaliativa.
Caso você concorde em participar da pesquisa, você precisará em determinado
momento, responder verbalmente a um roteiro de entrevistas sobre o Sistema Estadual
de Avaliação da Aprendizagem (Seape-AC), principalmente no que diz respeito aos
antecedentes do Seape, questões sobre o processo de implementação e implantação
desse sistema de avaliação e perguntas relativas aos indicadores propriamente
ditos. Destaca-se que o local e horário para a realização da entrevista serão
previamente agendados, de forma a garantir que sejam respeitados a questão de
agenda profissional e pessoal.
Os dados coletados servirão de subsídios para responder a três questões
norteadoras da pesquisa, quais sejam:
1ª) como a política de avaliação externa é concebida e implementada pelo Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape-AC)?
2ª) o que os dados do Seape revelam sobre a educação no Acre?
3ª) quais políticas educacionais decorrem da implementação do Seape e quais ações passaram a ser efetivadas a partir dos dados observados por esse sistema avaliativo?
Diante dos objetivos e procedimentos metodológicos que foram pensados para a
realização deste estudo, cabe destacar que, não conseguimos vislumbrar possíveis
riscos e/ou prejuízos que poderão surgir em decorrência da sua participação nesta
pesquisa. Caso, no entanto, isso ocorra, trabalharemos para minimizar seus impactos,
priorizando o bem-estar físico e moral do colaborador.
No que diz respeito a custos, importa destacar que os sujeitos da pesquisa não arcarão
com nenhum gasto decorrente da sua participação. Por outro lado, deixa-se claro
também que os sujeitos da pesquisa não receberão qualquer tipo de reembolso ou
gratificação devido à participação na pesquisa.
Rio Branco, Acre, ________/ ________/2014.
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Nome e assinatura do(a) entrevistado(a)
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Nome e assinatura da Pesquisadora Responsável
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________________________________,
portador(a) do RG n.º ______________________, declaro ter sido informado(a) dos
procedimentos que serão utilizados para realização da entrevista sobre o Sistema
Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape-AC).
Reconheço que estou sendo adequadamente informado(a) e esclarecido(a) sobre o objetivo
e questões norteadoras da pesquisa, riscos e desconfortos, concordando em autorizar as
informações por mim fornecidas para fins de publicações.
Declaro que foi assegurado amplo acesso aos dados por mim fornecidos e aos
resultados da pesquisa, estando ciente de que não poderei requerer qualquer ônus pela
minha participação.
Declaro ainda que me foi garantido o direito de retirar o consentimento a qualquer momento,
sem que isso resulte em qualquer penalidade. Por fim, declaro ter recebido uma cópia desse
Termo de Consentimento (páginas 1, 2 e 3 desse documento).
Rio Branco, Acre, ________/ ________/2014.
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Nome e assinatura do(a) entrevistado(a)
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Nome e assinatura da Pesquisadora Responsável