Risco e prevenção aula 27-05-13

54
Risco: conceitos e aplicações para a medicina de família e comunidade Michael Schmidt Duncan Adelson Guaraci Jantsch 1

Transcript of Risco e prevenção aula 27-05-13

Page 1: Risco e prevenção   aula 27-05-13

1

Risco: conceitos e aplicações para a medicina de família e

comunidade

Michael Schmidt DuncanAdelson Guaraci Jantsch

Page 2: Risco e prevenção   aula 27-05-13

2

Conceitos

• Risco: Probabilidade de ocorrer um desfecho indesejado.

• Fatores de Risco: Características que estão associadas a um aumento no risco.

F D

Page 3: Risco e prevenção   aula 27-05-13

3

Aplicações

• Etiologia• Diagnóstico• Tratamento

– Estratificação de risco– Riscos do tratamento

• Prognóstico• Prevenção

Page 4: Risco e prevenção   aula 27-05-13

4

Modelo da causa suficiente

Page 5: Risco e prevenção   aula 27-05-13

5

Modelo da causa suficiente

Page 6: Risco e prevenção   aula 27-05-13

6

Modelo da causa suficiente

Page 7: Risco e prevenção   aula 27-05-13

7

Modelo da causa suficiente

Page 8: Risco e prevenção   aula 27-05-13

GENÉTICAAMBIENTECOMPORTA

MENTO

HIPERTENSÃOOBESIDADEDESNUTRIÇÃO

DOENÇAS CARDÍACAS DIABETES

INTERVENÇÕES PROMOCIONAIS, PREVENTIVAS CURATIVAS E

REABILITADORAS

DETERMINANTES DISTAIS

FATORES DE RISCOS

PROXIMAISRISCOS

FISIOLÓGICOS DANOS E DOENÇAS

FATORES SÓCIO-

ECONÔMICOS

MORTALIDADEMORBIDADEINCAPACIDADE

MODELO DE INTERVENÇÃO NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES E

NO DIABETES

FONTE: WORLD HEALTH ORGANIZATION (2004)

RESULTADOS

Page 9: Risco e prevenção   aula 27-05-13

9

Causas proximais e distais: mortalidade infantil

Causas distais

Causas proximais

RendaEscolaridade maternaCobertura de serviços de saúde

Cuidados de pré-natalAcompanhamento de puericulturaTabagismo na gestação

Baixo peso ao nascerInfecções respiratórias e gastroenteritesDesnutrição

Page 10: Risco e prevenção   aula 27-05-13

O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E A MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL

• AUMENTO DE 10% NA COBERTURA DE EQUIPES DE PSF IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 4,6% NA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL

• AUMENTO DE 10% NO ACESSO A AGUA IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 3,0% DA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL

• AUMENTO DE 10% NOS LEITOS HOSPITALARES IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 1,3% NA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL FONTE: MACINKO ET ALII (2005)

Page 11: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Determinantes da Saúde

Walgren e Whitehead

Page 12: Risco e prevenção   aula 27-05-13

12

Fatores que dificultam o estudo do risco

• Pode haver longo período de latência• Exposições muito comuns• Baixa incidência de doenças• Causas e efeitos múltiplos• Os fatores de risco não precisam ser causais• Causas e efeitos múltiplos

Page 13: Risco e prevenção   aula 27-05-13

13

Causas e efeitos múltiplos

FATORES DE RISCOHipercolesterolemiaHistória familiarDeficiência de tiaminaDoença vascularInfecção viralFumoDiabetesÁlcool

HipertensãoInsuficiênciacardíacacongestiva

DOENÇASAteroscleroseAVCInsuficiência renalInfarto do miocárdio

Page 14: Risco e prevenção   aula 27-05-13

14

Medidas de efeito

Page 15: Risco e prevenção   aula 27-05-13

15

Medidas de efeito

Page 16: Risco e prevenção   aula 27-05-13

16

Ferramentas de predição de risco

• Combinam diversos fatores de risco em um escore

• Auxiliam na estratificação de risco• Avaliação das ferramentas:

– Calibração: quão bem a ferramenta determina as proporções de pessoas que irão ou não desenvolver a doença (E/O)

– Discriminação: quão bem a ferramenta identifica os indivíduos que irão ou não desenvolver a doença (estatística-C)

Page 17: Risco e prevenção   aula 27-05-13

17

Fatores de risco vs. Fatores prognósticos

• Perfis diferentes de pacientes• Desfechos diferentes• Taxas diferentes• Os fatores podem ser diferentes

Page 18: Risco e prevenção   aula 27-05-13

18

Risco reduzido de morte

Risco aumentado de morte

Fatores de risco e fatores prognósticos no primeiro infarto

0

1

2

3

4

5

Fato

res

de ri

sco

Razão de chances ajustada (IC 95%)

0,5 1,0 1,5 2,0

Page 19: Risco e prevenção   aula 27-05-13

19

O que é anormal?

• Anormal = incomum• Anormal = associado a doença• Anormal = tratar a condição leva a um melhor

desfecho clínico

Page 20: Risco e prevenção   aula 27-05-13

20

Reduzindo o risco: atividades preventivas

• Quando fazer?• Como fazer?• Há limites?

Page 21: Risco e prevenção   aula 27-05-13

21

Ideias de Geoffrey Rose

• Contínuo de risco e severidade

• Estratégia Preventiva de Alto-Risco

• Estratégia Preventiva de Amplitude Populacional

Page 22: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 22

Contínuo de Risco e Severidade

• Doenças: o que são?

• O que mudou no conceito de doença nas últimas décadas?

• Hepatite A• AVC• Neoplasias

Page 23: Risco e prevenção   aula 27-05-13

O que é uma pessoa saudável?

• É alguém que ainda não foi avaliado completamente…

Meador CK. The Last Well Person. NEJM. 1994

Page 24: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Identificando uma pessoa saudávelO que é paradoxal na nossa grande capacidade

diagnóstica é que ainda não há um teste que distinga uma pessoa saudável de uma pessoa doente. Ser saudável é uma condição que não

pode ser rastreada. Não há substância no sangue ou na urina cujo nível seja

confiavelmente elevado ou baixo em pessoas saudáveis.

Page 25: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Identificando uma pessoa saudávelNenhuma sombra ou imagem radiológica

indica alguém saudável. Não há tecido que possa ser submetido a biópsia para provar

que uma pessoa está bem. Estar saudável é algo que não pode ser medido, e ainda

assim, buscamos avaliá-lo com métodos analíticos.

Page 26: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Em que nível deve-se intervir?

MEDICALIZAÇÃO

Page 27: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 27

Page 28: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 28

Aprendizado

• ‘Um grande número de pessoas sujeitas a um pequeno risco gera mais casos de doenças do que um pequeno número de pessoas sujeitas a um grande risco’ (Rose, 2010)

Page 29: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 29

Estratégia Preventiva de Alto Risco

Vantagens 

Desvantagens

Apropriada ao individuo  

Dificuldades e custo do rastreamento

Sujeito mais facilmente motivado 

Paliativo e temporário – não radical

Profissionais de saúde mais facilmente motivados 

Potencial limitado: a) individual b) populacional

Custo efetivo 

 

Relação risco benefício favorável 

Comportamentalmente inapropriado

Page 30: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 30

Page 31: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 31

Page 32: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 32

Estratégia Preventiva de Amplitude Populacional

Vantagens 

Desvantagens

Radical  

Pequeno benefício individual

Tem grande potencial para a população como um todo 

Baixa motivação dos indivíduos

Comportamentalmente apropriada 

Baixa motivação dos profissionais de saúde

  Relação risco benefício ‘desfavorável’

Page 33: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 33

Paradoxo da Prevenção

• A medida preventiva que traz maior benefício a população oferece pouco benefício a cada indivíduo participante.

Page 34: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 34

Estratégia de Amplitude Populacional eEstratégia de Alto Risco

• No contato com o paciente individualmente, o médico precisa abordar aqueles com alto risco, mas nas políticas de saúde a ênfase deve ser sobre a exposição da população como um todo;

Page 35: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 35

Geoffrey Rose

• Whitehall Study I foi produzido

para ser o “Framingham Britânico”.

Mostrou que os marcadores

tradicionais (hipertensão,

colesterol, diabetes, obesidade,

etc) explicavam apenas 1/3 da

diferença de morbimortalidade

entre os servidores públicos

situados no topo do organograma

administrativo e aqueles que

ocupavam níveis mais baixos da

mesma instituição pública.

Page 36: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 36

Whitehall Study II (década de 80)• População alvo: servidores públicos de 20

departamentos do Whitehall

• Homens e mulheres

• Idade de entrada: 35 a 55 anos

• Amostra alcançada: 10.308 3.413 (M); 6.895 (H)

• Função: auxiliares administrativos (clerical) e outros profissionais de apoio; executivos intermediários e executivos seniores

Page 37: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 37

Page 38: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 38

Page 39: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 39

Principais resultados do WH II

• Foi possível confirmar a relação inversa entre a posição socioeconômica e DAC, DM e Síndrome Metabólica

• Forneceu evidência adicional de processos específicos fisiopatológicos, comportamentais e psicológicos – incluídos mecanismos neuroendócrinos, inflamatórios e homeostáticos – que contribuem para a iniquidades em saúde.

Page 40: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 40

Michael Marmot O baixo controle sobre o processo de trabalho é um preditor de Doença Arterial Coronariana (DAC), independentemente do status social, e é responsável por metade do gradiente social para doenças cardiovasculares.

Para Marmot, três principais fatores influenciam o gradiente social em saúde: o senso subjetivo de controle sobre suas circunstâncias de vida (laboral e familiar), o grau de coesão social e a rede de suporte (família, amigos e/ou colegas de trabalho).

Segundo ele, quanto maior a coesão social, melhores os desfechos em saúde, tanto para ricos como para pobres. Nas sociedades menos desiguais, o senso de pertencer, de coesão social e de segurança são maiores e por isso, os efeitos benéficos sobre a saúde ocorrem também para os mais ricos nestas sociedades.

Page 41: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 41

Page 42: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 42

Page 43: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 43

Page 44: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 44

Page 45: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 45

Page 46: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 46

Page 47: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 47

Page 48: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 48

• Perigo?

• Risco?

• Medo?

Page 49: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Armando Norman 2013 49

Perigo, Risco, Medo!!!

• Entre as comunidades rurais nigerianas existe um antigo costume de esfregar esterco de gado no coto umbilical dos recém-nascidos, apesar de 1/3 deles morrerem de tétano

• Nas comunidades modernas ocidentais ainda persiste o costume de se comer de forma muito imprudente, apesar de 1/3 da população morrer de doenças cardiovasculares;

• O comum tem sido confundido com o saudável e por vezes o comum pode ser doentio.

Page 50: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Paradoxo da popularidade

• O paradoxo da popularidade:

• Quanto maior o sobre-diagnóstico e sobre-tratamento, mais as pessoas acreditam que devem sua saúde ou mesmo suas vidas ao programa.

NNT

Page 51: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Medidas de efeito

51

Page 52: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Aprendizado

• ‘Um grande número de pessoas sujeitas a um pequeno risco gera mais casos de doenças do que um pequeno número de pessoas sujeitas a um grande risco’ (Rose, 2010)

Armando Norman 2013 52

Page 53: Risco e prevenção   aula 27-05-13

Se você não parar de fumar você vai ter um

INFARTO!

De acordo com nossas previsões o risco de você ter uma evento cardíaco em 10 anos é de 20%!

Se você não tratar a pressão você

pode ter um derrame!

Armando Norman 2013 53

Page 54: Risco e prevenção   aula 27-05-13

BARBARA STARFIELD:

“É útil ainda esse conceito de prevenção cada vez mais focado em uma doença em particular e fatores de risco, do que na saúde em seu aspecto geral?”

“Se ainda muitas pessoas carecem de acesso aos serviços de saúde quando sentem a necessidade de buscá-lo, é justificável que consultas de rotina para check up constituam quase metade das consultas médicas nos Estados Unidos?” The concept of prevention: a good idea gone astray?

J Epidemiol Community Health 2008; 62:580-583