Riscava a palavra dor no quadro negro + poesia reunida

15
Riscava a palavra dor no quadro negro Luis Quintais I Um dia não entrarás em casa, uma chave partida, uma fechadura bloqueada Ficarás à porta, no largo perímetro entre a gramática de luz e cimento, escutando o vento nas poucas árvores, sentindo o calor afagando-te a respiração. Observarás com rigor o pequeno pássaro a morrer sob a laje, os olhos semicerrando-se, também eles presos ao abandono e à espera. II Deixar-te-ás guiar por essa música da mente, um restolhar de folhas sobre a mesa cobrindo-se de areia. “Estranha imagem”, dirás, e haverá um deus nessa confusão de folhas em movimento e tinta indecifrável a preencher cada espaço do incriado, até já nada sobrar, nem sequer a estéril ideia de que esperamos e somos esperados no perímetro do que fomos. III Acreditámos que o poço era inexorável, que essa água haveria de nos dessedentar sempre. Afinal, éramos incapazes de ver, presos a uma cegueira armadilhada.

description

Poemas de Luís Quintais

Transcript of Riscava a palavra dor no quadro negro + poesia reunida

Riscava a palavra dor no quadro negro Luis Quintais

I

Um dia no entrars em casa,

uma chave partida, uma fechadura bloqueada

Ficars porta, no largo permetro

entre a gramtica de luz e cimento,

escutando o vento nas poucas rvores,

sentindo o calor afagando-te a respirao.

Observars com rigor o pequeno pssaro

a morrer sob a laje, os olhos semicerrando-se,

tambm eles presos ao abandono e espera.

II

Deixar-te-s guiar por essa msica da mente,

um restolhar de folhas sobre a mesa cobrindo-se de areia.

Estranha imagem, dirs, e haver um deus

nessa confuso de folhas em movimento

e tinta indecifrvel a preencher cada espao

do incriado, at j nada sobrar, nem sequer

a estril ideia de que esperamos e somos esperados

no permetro do que fomos.

III

Acreditmos que o poo era inexorvel,

que essa gua haveria de nos dessedentar sempre.

Afinal, ramos incapazes de ver, presos

a uma cegueira armadilhada.

Tudo era repetio, mas repetio para l do tempo

que nos fora dado viver. De resto, poucas coisas

iriam ainda ser repetidas no tempo que era nosso.

Duas vezes a memria de dedos que se convertem

espessura da gua. Uma vez repetida a lio

do vazio no desmedido territrio junto sombra abandonada

Uma vez repetida a abrasiva velocidade de um deserto.

Somos iluso e carne, e a violncia

do outro lado da fronteira imagina-nos,

e sem assentimento, ns vamos.

IV

Uma rigorosa fuga ao vazio,

isto nos fala, como se em cada objcto

abandonado sobre a terra habitasse ainda

um desmedido sonho.

Um pouco adiante irias comparar mitologias,

a mesma vontade de memria, o mesmo repetido gesto

que em ti recusaste ocultamente.

Uma rvore dobra-se como nica imagem do possvel

no esquecido mapa onde desenhas todo o movimento.

Uma rvore sem espessura, prxima do canto, dobrando-se

sob a luz que julgramos ausente.

No lamentes o abandono, a viagem sem regresso.

Uma rigorosa fuga ao vazio interpela-nos.

V

O que podemos projectar

que no seja o desenho

do nosso futuro incompleto?

Tudo revisitao nessa caixa escura

onde clulas se movem e se escutam

mutuamente, como se esperassem

por um acontecimento primeiro,

uma revelao atenta do sangue

e do plasma, da msica que te fez cego

e que trouxe as enumeraes do sensvel,

a evidncia de uma cor extrema queimando

os signos e a gramtica desenhada.

O que podemos projectar agora?

VIPara a Gaia e para o Antnio

Numa rua de Turim retomarei

a memria de um suicida que num quarto de hotel

se ausentou definitivamente do amor e da treva.

Tudo isso, hoje, no outra coisa

seno o eco de outra coisa ainda,

um sortilgio de intransigncias e abandonos.

O mundo se aclara para se escurecer de novo.

A densa tela vai adquirindo riscos,

vestgios de um silncio grave.

Algum escreveu no livro de visitaexposto na minha mente.

Uma janela abre-se de par em par.

Paredes liquidas espelham medos.

Algum toma notas,

Considera a estranha museologia perene.

A morte vir, mas no ter os teus olhos.VII

O esboo na pgina

profunda do que no escreverei

aquilo a que chamam de poema,

um mapa da cidade sem mapa,

da cidade irreal, da cidade cortejo de morte

e esquecimento, da cidade-fria-lmina

acercando-se do que est no vidro da mente

como um reflectido imprio antigo.

Para esse lugar de leveza ingrata,

transporto os impossveis

que a biografia disse

necessrios e urgentes.

VIII

Houve algum que encontrou mapas,

esquemas, modelos, a marca dgua

de uma linha na profuso da mente.

Isso, o vestgio que arruinava

a visibilidade de todas as metforas,

no era uma cidade, antes a selva

crepuscular que, sedutora, nos envolve

quando queremos morrer.

E no querers tu morrer

quando desapareces na ininteligvel

exposio metafrica do mundo?

A carne das coisas tem

um brilho de cristal, mas esse

brilho engana, o efeito apenas

de uma luz sem origem, a luz

do desespero. Tudo o que pode salvar,

se ainda legtima a deciso

que est a, no trao que, espesso,

reclama a impressiva nostalgia

daqueles que se atribuam ao infortnio

numa encruzilhada de gratificaes,

de frutos amargos e de poesia,

tudo o que pode salvar

um eco do que salva.

Tudo o que podemos amar

um eco desse eco,

o drama dos espelhos outra vez.

IX

E permanecia preso ao muro da linguagem.

No advento da invisvel chegada do sentido,

uma terra queimada, ou simplesmente um acordar

triste, como se uma aflio guardada

me tomasse o sangue

e aereamente nesse sangue circulasse,

como as razes viradas do avessocirculam no ar. Haver metforas, outra vez,

o smile perfeito, a ironia acabada; por exemplo,

a metfora do vento que destri a regra

ou to-s a alucina. Toda a terra se incendeia

sob a tempestade, a guerra de lava e metal

que se abate sobre as cidades pequenas

de que no sei o nome, cujo nome

no ser gritado, distorcido, medido

sob a rgua fria que finos dedos ponderam.

Hoje, cheguei a casa, e a porta ter-se-

Aberto, mas a contragosto, e senti todo o peso

do mundo abater-se sob a minha mesa,

a mesa onde pensamentos dispersos

se dispersam ainda mais. E um intervalo

de tempo mal medido caiu sobre mim

como cortina pesada.

Preferia ter adormecido.

X

(L.W. intensamente negro sobre quadro riscado) Desprezasse o conhecimento

e o terrvel sentir de uma palavra moral.A guerra consigo mesmo,esse combate mortal, jogava-se, no nas trincheiras(as trincheiras seriam apenas um expediente

para o vazio que em si parecia contempl-lo)mas no seu oco, nessa incerteza que o percorria,que merecia ser ferida, golpeada,

numa espcie de dio de si mesmoque lhe diziam envenenar a alma vienense,cujos golpes seriam um desviopara outra coisa, um degrau abandonado,uma clareza consentida e de partilha improvvel.Riscava a palavra dor no quadro negroque intensamente lhe tomava o olharquando escutava um dos dilectos,ele que sempre odiara discpulos, e aquiestava ele, a avaliar a dor do mundoatravs de um relance sobre a inviolvelgramtica da perplexidade.XI

De um livro antigo, lido na remota juventude:

Hoje o mundo desabou, houve um retrocesso metafsico,

um sobressalto na ordem dos objectos dispostos sobre a mesa.

Algo nos termos sem contexto a que apelar,

sem aprecivel matria com que reunir os fragmentos dispostos ,

te sugere uma feliz renncia;

talvez seja somente um aviso,

um sortilgio a que se recusa entrada,

como uma fico que se no deseja;

um mistrio sem mistrio, etc.

No ideias sobre a matria, luz sobre a matria,

apenas a luz e o desgnio sem mapa dessa luz.

Todos os livros lidos se desfolham agora

sobre a mesa do sangue.

Nada se retoma, e toda

a memria fico inconquistada.

XII

A tua mente uma figura de sombra

Sublinhando os teus olhos, uma partcula

de grafite depositada numa plpebra,

ou ainda a morada de ar dos teus dedos

tocando o teclado, a geometria difusa e incompleta

do incompleto universo desta praa de papel.A tua mente esse arco vegetal

tocando o teclado, debruando-se sobre

o rosto liso da linguagem, transparecendo-se

como em gua o reflexo

que, na tua ausncia, desfila uma e outra vez,

aparecendo, desaparecendo.

XIII

Ns somos frgeis, de ossos e consentimento somos frgeis. Tocamos os dias e os dias tocam-nos, como se fssemos dos dias o mapa. Podemos depois enaltecer a espuma que esses dias fazem na pele, verges de algum espancado, adormecido nossa porta, sem remisso, sem entrada. A mente no a mente no a mente. A difusa clareza que a preenche preenche-nos

a sala na antecipao da nossa morte, e tudo antecipao do repetvel e do diferente, como imagem, semelhana de animal ferido. A beleza foi esconjurada sob o cristal desse territrio sem som.Sem som, escuta-se a um grito, um grito visual

armadilhado, com a expresso do degelo

tomando-se de lama, arrastante. A tua mente,

que eu amo, precipita-se liquidademente,

invade as ruas da nossa cidade, afoga as crianas

desenhadas a poucos traos da rua em frente,

despede-se de mim e regressa numa aguda

memria do que no sei.

A mente no a mente no a mente.

XIV

Lenta passagem, evocao de uma cidade:

o que te esclarece o movimento do brao,

o gesto que nada diz arrasta somente

a memria e o seu peso, e rene depois

novas ciladas, e faz ecoar a morte da cidade,

a linha que percorre o exterior permetro

e cujo tema a destruio do sentido.

Uma descrio do que no teve lugar ocorre a,

uma descrio dobrada pelo ilegvel

que a devora.

Tudo baldio. As vozes antigas sim, os antepassados

j no so esperadas, permanecem tapadas pela aflio escura.

Move o brao,

o voo comear onde no houver sentido.

XV

Palavras profetizam-se no urbano desespero metlico.Uma aluso a cinza cobre o asfalto,

ou uma noite sem apelo ou simetria,

ou uma vaga que se abate sobre a matria do pensar,

ou uma insnia por onde te contemplas sem virtude,

ou a sonmbula farsa.

Agita-se o corpo e o ecr virtual

em que o desdobras.

Ces no longe desesperam as alucinaes

da madrugada. Um som strobe bate no vidro.

Os prdios parecem alvoroar-se, negros, matricos

de tanta juventude. Tu foges descrio do tecido abstracto

com que compes o fluxo que circula veloz no pensar.

Haver uma manh onde os passos

se iro medir prudentes, permanentes.

Haver uma manh de aluses e declinaes

sem registo. Tu esperars, esperars ainda

pela desenhada aventura da insnia,

e o invisvel trar as suas sombras e as suas folhas.XVI

Tudo so mquinas, a luciferina inteno

de cortar, pela janela, o desenho interrompido,

ou ento, tudo so mquinas ainda, quando

a boca se desenha presa s palavras

enunciadas desde o comeo da biografia

(que biografia, se s haver farrapos?):

fantasmas enunciando-se pressa

e que a cidade rene nos muros que a no cingem j.

Tudo so mquinas prestes a incendiar mapas,

a eliminar traos, a apagar vestgios.

Comear o mundo depois do mundo acabado,

escreveste no caderno.

de lixo lrico, a paisagem, humano resduo.

As mquinas que escrevem, escrevem na pele.

Tudo so mquinas. O mundo ir comear

dentro de momentos, prepara-te.

XX

Cendrados cus, de novo, assim, sem metforas,

como o voo sem predicados da andorinha

quase colidindo comigo ali, perto do cu. Colidiria?

Desviei-me a tempo, por mvel parfrase do seu voo,

alimentado por uma memria densa

que as guas negras do instinto fazem ainda inromper

por entre a cegueira. O eco do meu

rosto afilou-se num aguilho defensivo.

Como pedras sobreaquecidas pela memria evolutiva,

palavras foram lanadas da minha boca

por um movimento de braos-asas.

Fugi do inumano de tudo isso, e balbuciei.

XXIII

No sei ler mapas, toda a geografia interior,

crepuscular, de uma espessura necessria voz

do sangue. Assim, agarro, mos-lminas, este livro,

Miroir de LAfrique, e o territrio do sangue

que ele desenha, uma linha

que eu irei falhar, porque nada separa ou rene

o caudal do sangue nas infinitas pginas

onde, ainda agora, escutei um rumor

de perigos e falsias. Sensvel, as mos perto

da consagrao destrutiva das suas pginas,

o livro abre-se como uma confisso, um sopro

de inumana espuma que a voz, ainda presente,

desse autor, a invisvel cilada das mos

dispondo-se ameaadoras em torno da sua cintura. XXX

Tudo matria do pensar, os gritos, o trfego,

a sbita msica que destri o sentido

e a navegao das palavras sob a luz,

a cidade acolhendo os seus dias, as suas rvores,

os seus exlios, as suas lminas rombas

desenhando violncias sob a espuma do corpo abandonado.

Hoje, fechada a porta, algum forou a porta:

o inverno declinava divertimentos, tomava

de assalto as casas com o frio espesso da memria.

Dentro desta casa, o vento levantava as folhas

nocturnas do pensar e do acontecer, outra vez.

Os amigos retiravam-se, numa anotao

de staccato e sorriam. Era tarde para descrever

o real, a dura categoria que nos iria levar

em direo ao fim estendendo-secomo branco pano sobre o rosto.

A indecisa forma far o resto,

a segura forma far o resto.

Escreveremos com a mala e os papis, e ningum

vir perturbar o sangue que corre, corre

to espesso e to claramente

com sua orgnica, viva cor.

H sempre um lugar onde as coisas comeam. uma hiptese improvvel, esta. Uma conveno apenas dizendo-nos que tempo e espao se enlaam na experincia e que a linguagem corre, se precipita para algum lado, um lugar onde tudo adquire um sentido ltimo e primeiro, outra vez. Trata-se de uma conveno que me fundamentalmente alheia. Gostaria de acreditar que os poemas no surgem dessa seta claramente transposta, e que, impregnados densos de sentido, acabam afinal por no ter sentido. Porm, no gosto de dizer que esto do lado do som. Prefiro a ideia de eco. O som ter acontecido, e o mundo na sua materialidade de que a linguagem faz parte devolve-me o som. O som da minha voz? Da corrente de conscincia que em mim circula como um vento que espalha aquilo que sou? Os poemas no so vectoriais, so escalares. Uma parte considervel do que escrevi prende-se com uma concepo da experincia que a faz presa sujeitando-se devorao de uma atmosfera. Estou a falar da inescapvel condio que se prende com o dado de eu no poder fazer outra coisa seno interrogar, no o incio, como disse, mas um princpio de ordem. No impresses de ordem, mas ideias de ordem, para usar uma reflexo que gravita volta de Hume e gravita volta de Stevens. Assim, a atmosfera, que um escalar como o medo ou Angst que quis convocar , armadilha-me a vida, e eu respondo, devolvo o seu eco, transfiguro a poderosa e invencvel cilada. Uma forma de poder sobre a vida. Em grande medida, tudo isto revisitao. As palavras no so a linguagem, e o que ofereo a um leitor simplesmente o vestgio, a biografia. No seu melhor, o poder sobre a vida essa reaco devorao uma forma do encantamento, uma tecnologia que encanta. Talvez o incio possa ser assimilado a uma outra conveno: a de que me libertei ou estou em processo desse sono dogmtico que tende a ver em princpios de ordem lugares de origem contra os quais a indigncia do real quotidiano merece reprovao ou fuga. O que me interessa est sempre a jusante, no delta do rio, no na nascente. As palavras que se renem sob os sortilgios desse jogo de linguagem que a poesia servem uma ideia de ordem, disse. So a rgua e o esquadro da experincia que no pode ser metrificada, que no mensurvel. Talvez seja este o sentido flutuante da poesia.

Poesia revisitada (1995-2010) Lus QuintaisA INTIL POESIA

Eu no vivo numa bolha de ar em Hartford.

Como posso ser fiel aos fiis poemas

de Stevens

sem trair essa cilada?

Milosz sabe que a histria tudo que temos

e que as traies maiores

so cometidas contra a histria,

mas tambm em nome dela.

Como podemos ns

recuperar o sopro

que exaspera domnios no escuro,

a inumana beleza de um pavo

que abre a sua cauda

na noite iluminada,

e dizer depois

na rasa voz de que abandonou

a inflexo retrica da sua voz,

Varsvia, Treblinka, Celan, aldeiascujos nomes esquecemos

e sintomtico que os tenhamos esquecido

onde lminas aceradas esquartejam

a eternidade de um rosto,

lugares porque em cada nome

h um lugar onde outros nomes se perfilam

num vrtice de tempos que se abrem sobre tempos

e gritos que se abrem sobre gritos,

e ptalas que se expem ao mortal apuro de se ter

sobre os ombros a herana da qual

no h despedida, somente um cobarde desvio,

um conluio de silncio e sangue?

Como esquecer? Como no esquecer?

Stevens, Milosz: uma corda de gua

dana entre duas margens.

A corda invisvel

e eu procuro-a

sem mtodo.

Aquele que me l

dever acreditar:

dever acreditar

que eu vivo

perscrutando as guas

mas dentro delas.

TERRA SIGILLATA

Para Bruno QuintaisPor detrs de uma vitrina do Museu

Regional da Guarda,

fragmentos de cermica

descrevem o secreto arco do passado.

A cor rubra onde o annimo nome foi escrito,

e que ao longo de sculos

a luz reuniu, nada me diz das mos do ceramista

que at mim viajam.

O sonho da linguagem desperta

o misterioso espelho do que passa.

A imaginao inicia o seu ofcio.

Saberei pronunciar a palavra certa?

Sitiarei os vocbulos que das mos se desprendem?

Regresso no primeiro comboio da tarde.

A velocssima paisagem

que sobre a janela se debrua

vai fazendo assentar o p

sobre a indecifrvel pgina.

Chegar a noite, estarei em Lisboa,

onde o que vi ser eloquncia apenas,

o chamamento que a linguagem far escutar.

COMO O POEMA

Passei pela casa do coleccionador de bizarrias e textos apcrifos.

Matara h uns anos a mulher, o filho ainda infante, o gato.

Matara-se depois, completando assim o opaco gabinete de curiosidades.

Passei pela casa e a porta permanecia selada e as janelas cegas de cortinas

sujas humana interrogao. Nada devo dizer sobre isto,

nada quero saber, notcia alguma, justificao nenhuma.

Aqui acaba a palavra, a nomeao, a prosdia, o regozijo pelo temvel,

tudo o que se procura como matria de alegria perversa,

contida nos receptculos da semntica e do grito.

Espessa a memria do acontecido.

Caixa de cimento, esquife selado, monlito, cofre sem abertura

Retardada sequer, como o poema. Publicado originalmente em Duelo (2004).

Publicado originalmente em Lamento (1999).

Publicado originalmente em Canto onde (2006).