Rio Fechado

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Reflexões sobre a cidade carioca.

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Ser que a cidade perdeu, para mim, todas as suas possibilidades?

Olho pro Rio de Janeiro hoje e no vejo qualquer oportunidade de expanso pessoal. Como se a cidade estivesse truncada, a cada dia devorando a si mesma, diminuindo os espaos possveis, impedindo meus movimentos.

De repente o CCBB no significa nada, nem os Arcos ou o Circo. Da Zona Sul ainda me chamam as praias, talvez tambm alguma coisa que eu no sei explicar mas que existe, passando sorrateira, latente, entre a arquitetura, a qualidade das lojas, bares e produtos venda. Mas na mente permanece o questionamento de se estes motivos so suficientes. Fica difcil me entregar ao meu cada vez mais comum estado contemplativo quando a injustia se apresenta materializada. Os carros, a inacessibilidade financeira de seus apartamentos de luxo, a carter preconceituoso e separatista de muitas (mas no todas!) as pessoas. Caminhar por Ipanema sempre sentir uma sensao de impossibilidade e proibio, proibio porque me vetado o acesso quilo que me desperta interesse, porque l tudo oferecido s pessoas que carregam consigo o status de Very Important Person e que validam sua posio com sua aparentemente ilimitada identificao cedular.

Como amalgamar com a cidade se ela e no eu quem escolhe o meu lugar?

Procuro no me relacionar se a via do encontro no for o amor. Preciso poder me perder inteiramente no interior do outro. A cidade linda, toda ela. A poesia que me acompanha no me permite perder qualquer expresso admiravelmente bela da cidade, do mar ao trem lotado que se desloca de Campo Grande Central do Brasil. Ora, se a cidade me veta essa beleza sob o pretexto de eu no estar apto a contempl-la em um determinado espao que lhe pertence, me vetada tambm a possibilidade de expressar o meu amor. Metade de mim se inacessibiliza.

Mas qual cidade do mundo atual no carrega tamanha separao em algum grau?

E ainda assim, o entruncamento da cidade no aparece por causa do desnvel social existente, mas da minha relao onde ela pode ser analisada e percebida com propriedade, onde eu fao o contato desejado. Concluo que mesmo que a cidade fosse toda acessvel para mim, ela ainda estaria se devorando, fechando pra mim suas possibilidades.

E se eu for todas as cidades do mundo e todos os espaos me parecerem claustrofbicos e insuficientes, o que devo concluir? Sou eu grande de mais para caber no mundo ou demasiadamente medocre para querer mais do que o mundo, meu mundo, pode me dar?

Ser que sou s eu?