Ricardo Reis - resumo II Português - 12º Ano 2016 … · O estoicismo e epicurismo percorreram...

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RICARDO REIS Ricardo Reis é o poeta clássico, apologista da vida calma e serena do campo, é aquele que reconhece a fugacidade da vida e como tal, a necessidade de viver o momento de forma natural, sem grandes envolvimentos. Este poeta, defende a procura de uma felicidade relativa que só conseguirá através da indiferença à perturbação, isto é da ataraxia. Para Ricardo Reis a cedência ao prazer é algo que poderá trazer dor, logo na sua perspetiva não se pode ceder muito aos instintos imediatos. O estoicismo e epicurismo percorreram toda a sua obra poética, pois Ricardo Reis procura através destas doutrinas provar que se pode alcançar a felicidade aproveitando o momento. Este poeta vive o drama -transitoriedade da vida – vive perseguido pelo destino, sente medo da velhice. Para Ricardo Reis, não existe nem passado, nem futuro, privilegiando o momento. Tal como Pessoa é o poeta da razão, consciente de que o pensar traz dor. Este heterónimo é sem dúvida um portador de egoísmo epicurista. Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação. A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia. Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica: - “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade; 1/3 Português - 12º Ano 2016-2017 Ricardo Reis - resumo II

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RICARDO REIS

Ricardo Reis é o poeta clássico, apologista da vida calma e serena do campo, é

aquele que reconhece a fugacidade da vida e como tal, a necessidade de viver o

momento de forma natural, sem grandes envolvimentos. Este poeta, defende a procura

de uma felicidade relativa que só conseguirá através da indiferença à perturbação, isto é

da ataraxia.

Para Ricardo Reis a cedência ao prazer é algo que poderá trazer dor, logo na sua

perspetiva não se pode ceder muito aos instintos imediatos.

O estoicismo e epicurismo percorreram toda a sua obra poética, pois Ricardo Reis

procura através destas doutrinas provar que se pode alcançar a felicidade aproveitando o

momento.

Este poeta vive o drama -transitoriedade da vida – vive perseguido pelo destino,

sente medo da velhice.

Para Ricardo Reis, não existe nem passado, nem futuro, privilegiando o momento.

Tal como Pessoa é o poeta da razão, consciente de que o pensar traz dor. Este

heterónimo é sem dúvida um portador de egoísmo epicurista.

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade

epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as

coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria”

ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro

aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e

sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela

indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do

momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos

dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar,

considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do

epicurismo e uma filosofia estóica:

- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como

caminho da felicidade;

 

 

 

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Ricardo Reis - resumo II

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- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);

- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);

- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade

(sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva

um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam

todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a

fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero.

Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino

inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e

serena, “sem desassossegos grandes”.

A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e

da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do

classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode,

o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a

inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e

disciplinadas.

Epicurismo - busca da felicidade relativa - moderação nos prazeres - fuga à dor - ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)

Estoicismo - aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica, nada deixa e nunca regressa.”) - indiferença face às paixões e à dor - abdicação de lutar - autodisciplina

Horacianismo - carpe diem: vive o momento - aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro)

Paganismo - crença nos deuses - crença na civilização da Grécia - sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia

Culto do Belo, como forma de superar a efemeridade dos bens e a miséria da vida Intelectualização das emoções Medo da morte Quase ausência de erotismo, em contraste com o seu mestre Horácio

Neoclassicismo - poesia construída com base em ideias elevada - Odes (forma métrica por excelência)

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

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CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS - Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita - Estrofes regulares de verso decassílabo alternadas ou não com hexassílabo - Verso branco - Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração - Predomínio da subordinação

- Uso frequente do hipérbato - Uso frequente do gerúndio e do imperativo - Uso de latinismos (astro, ínfero, insciente...) - Metáforas, eufemismos, comparações, imagens - Estilo construído com muito rigor e muito denso

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

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