Ricardo Reis - Não tenhas nada nas mãos

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  • 8/7/2019 Ricardo Reis - No tenhas nada nas mos

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    Agrupamento de Escolas de Seia Secundria de Seia

    PortugusTrabalho realizado por: Brbara Gonalves e Diana Duarte

    Ricardo Reis

    Ricardo Reis um dos trs principais heternimos de Pessoa.Nasce no Porto, a 1887, onde estudou num colgio de Jesutas. Doutorou-se

    em medicina, embora nunca tenha exercido.

    Dos trs o mais pragmtico e o que escreve mais correctamente.

    Tem uma personalidade analtica, formal, fria e racionalista, abstraindo-se

    das emoes. sempre objectivo e exacto, no seu pragmatismo.

    Por causa das suas convices monrquicas, exilou-se no Brasil.

    Este exlio d-se desde o ano de 1919.

    preciso ainda denotar que Reis um discpulo de Caeiro outro dos trs

    principais heternimos de Pessoa. Este no deu uma data para a morte de

    Ricardo, ficando a sua biografia oficial sem este dado. No entanto, Saramago

    situa a sua morte em 1936, no seu livro O ano da Morte de Ricardo Reis.

    Caractersticas temticas

    A nvel de caractersticas temticas, Reis tem uma em principal, o

    Classicismo que, no fundo engloba todas as outras.

    O Classicismo tem com grande influncia a Antiguidade Clssica, utilizando-

    a como padro de excelncia do sentido esttico.

    Os artistas que se regem por este estilo procuram alcanar a pureza formal

    e o rigor.

    Dentro desta temtica podemos dizer que Reis baseia-se ainda pelo

    Horacianismo, pelo Helenismo e pelo Paganismo para escrever os seus

    poemas.

    O Horcianismo uma filosofia de vida, comeada por Horcio (da o

    nome), com uma forte influncia romana. Esta filosofia centra-se no Estoicismo

    e no Epicurismo.

    Sendo que o Estoicismo uma doutrina filosfica, fundada por Zeno de

    Ctio, centrada no ser e na razo, excluindo tudo o que lhe externo. Procura

    assim, viver de acordo com a natureza e atingir a harmonia interior.

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    J o Epicurismo, filosofia de Epicuro, procura atingir a tranquilidade, vivendo

    dos prazeres modestos, libertando-se dos medos e do sofrimento corporal.

    Adopta a filosofia Carpe diem (aproveita o dia).

    O poeta um semi-helenista autodidctico, e ao contrrio de Horcio, tem

    uma influncia grega e no romana. por causa destas duas correntes

    (horacianista e helenista), que se encontre na poesia de Ricardo Reis tantas

    referncias a figuras mitolgicas.

    Ele tem ainda uma preferncia pelo paganismo, relacionado com a

    mitologia, a f tradicional ou histrica. A religio pag acredita em diversos

    deuses, como as culturas greco-romanas acreditavam.

    Caractersticas estilsticas

    Monlogos estticos. Dramatizao de pensamento. Uso regular de hiprbatos, latinismos, assonncias, rima interior,

    aliterao, metforas, eufemismos e comparaes.

    Rigor formal. Ritmo como unidade de sentido. Irregularidade mtrica. Utilizao do gerndio, do imperativo e das frases subordinadas. Estilo laboriosamente construdo, pensado.

    Poema: No tenhas nada nas

    mos

    Este poema no tem um ttulo dado pelo autor, pelo que adquire como

    titulo o primeiro verso do poema: No tenhas nada nas mos. Assim, o ttulo

    do poema chama-se Incipit, devido a esta pequena particularidade.

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    Glossrio

    Para que no haja dvidas na interpretao do poema:

    bolo ltimo moeda dada aos mortos para poderem pagar apassagem para outro mundo.

    tropos (do grego, sem retorno) uma figura mitolgica queregia os destinos conhecida como Morta , Inevitvel e Inflexvel.

    Minosrei da ilha de Creta, filho de Zeus e Europa, quandomorreu tornou-se o juiz dos mortos, ouvindo as suas confisses e

    atribuindo a pena conforme a sua culpabilidade.

    Duplicidade

    Na poesia as palavras nem sempre adquirem um significado comum ou

    nico, por isso colocmos aqui as palavras com duplo sentido para que na

    anlise do poema possam dar importncia aos seus sentidos ocultos.

    Trono conquistas Louros gloria de outros tempos Sombra lembrana do homem morto Noite e fim de estrada morte Flores sentimentos do leitor Sol a vida Abdica ideia de recusa Rei tomar as prprias decises

    Anlise a nvel semntico

    Recursos estilsticos presentes so: metfora e eufemismo. Sinnimos: tirar/fanar Antnimos: sol/noite; sombra/sol; colher/largar

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    Este poema tem como tema a morte/a passagem para outro mundo.

    No se divide em partes lgicas, uma vez que um todo , sendo que o

    contedo das estrofes se interligam.

    O sujeito potico agarra-se iluso, escrevendo este poema para tentar

    afastar a dor do inevitvel, acreditando sempre na sua liberdade enquanto

    sujeito.

    Esta liberdade uma liberdade espiritual e emocional, no interferindo com

    a crena que o destino imutvel. Apenas acredita que por mais que o

    destino esteja traado, tudo o que o sujeito pensa e quer ou no sentir da

    sua responsabilidade.

    No tenhas nada nas mos

    Nem uma memria na alma,

    Que quando te puserem

    Nas mos o bolo ltimo,

    Ao abrirem-te as mos

    Nada te cair.

    Neste excerto, Ricardo Reis mostra a sua personalidade moralista, ao dizer

    que o momento da morte deve ser a encarado sem apoio, resistindo dor e

    ao sofrimento.

    Acreditando que se nada possuirmos, nada nos podem tirar.

    Que trono te querem dar

    Que tropos to no tire?

    Que louros que no fanem

    Nos arbtrios de Minos?

    O sujeito potico acha que tudo o que o leitor tem na vida, desde objectos

    pessoais, as conquistas profissionais, pessoas queridas e o dinheiro que possu,

    lhe retirado na hora da morte.

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    Por isso, segundo ele deve-se renunciar em vida a tudo para no fim da

    estrada nada perder. Este acto deve ser encarado com nobreza.

    A efemeridade da vida e a inevitabilidade do destino emerge atravs de

    interrogaes retricas presentes.

    Que horas que te no tornem

    Da estatura da sombra

    Que sers quando fores

    Na noite e ao fim da estrada.

    Evidencia-se, nestes dsticos, a presena de palavras com sentido

    conotativo, sendo a sombra a lembrana do homem morto (sombra do

    homem que foi), j a noite e o fim da estrada so um eufemismo metafrico

    para a morte.

    Colhe as flores mas larga-as,

    Das mos mal as olhaste.

    Senta-te ao sol. Abdica

    E s rei de ti prprio.

    O poeta apela moderao das emoes renunciando ao prazer, ao

    desejo e vontade, atravs da abordagem s flores, baseando-se nos seus

    ensinamentos da filosofia epicurista.

    A passagem senta-te ao sol, traz consigo o conselho para a vivencia de

    uma vida em plenitude, adquirindo uma atitude contemplativa.

    Segundo a filosofia horaciana devemos aproveitar o momento presente,

    evitando perturbaes.

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    Anlise a nvel fnico

    Estrofes constitudas por dois versos (dsticos). Mtrica: Irregular. Rima: Livre/ verso solto ou branco (versilibrismo). Presena de imensas anforas ao longo do poema

    nomeadamente repetio n e que.

    Anlise a nvel morfossinttico

    Predominam os nomes evidenciando o seu estilo de escrita(classicismo e paganismo), fazendo a ligao a essas culturas com

    referncias a personagens e smbolos gregos e pagos.

    As figuras de sintaxe presentes so: anforas, paralelismos,hiprbato, transporte e interrogaes retricas.

    Impacto do Poema nos elementos do grupo

    Numa primeira anlise achamos o poema confuso, pois as suas refernciasliterrias eram-nos desconhecidas. Numa segunda anlise, conseguimos

    apreender o sentido, no entanto, achamos que rebuscado e antiquado, no

    se enquadrando nos nossos gostos literrios.

    O tema em si no apela nossa sensibilidade, contudo consideramos que

    est bem redigido, denotando o seu rigor formal e o seu sentido de ritmo,

    nunca fugindo s correntes literrias com as quais se rege o poeta.

    Concluso

    Com este trabalho aprendemos muita coisa, nomeadamente:

    Estilo e vida de Ricardo Reis Interpretao de poemas Conhecimento de outras correntes literrias Trabalhar em grupo Identificar a articulao de recursos a nvel semntico, fnico e

    morfossinttico.