RIBEIRO Mulheres Educadas Na Colônia
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8/16/2019 RIBEIRO Mulheres Educadas Na Colônia
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ORG NIZ DORES
Eliane Marta Teixeira Lopes
Luciano Mendes Faria Filho
Cynthia Greive Veiga
NOS
DE
EDUC ~ O
NO BRASIL
a
Autentica
Belo Horizonte
3
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MULHERES EDU D S
N OLONI
ARILDA INES MIRANDA RIBEIRO
.
urante
anos
- de
I :i 1500 a 1822 -, periodo
em que 0 Bt;asilfoi coloma de Portu-
gal, a educa<;aofeminina ficou geral-
mente restrita aos cuidados com a
casa, 0 marido e os filhos. A instru<;ao
era reservada aos filhos /homens dos
indigenas e dos colonos. Esses Ulti-
mos cuidavam dos neg6cios do pai,
seguiam para a universidade de Co-
imbra ou tomavam-se padres jesuitas.
Tanto as mulheres brancas, ricas ou
empobreddas, como as negras escra-
vas e as indigenas nao tinham acesso
a arte de ler e escrever.
Essa questao nos remete
a
tra-
di<;aoiberica, transposta de Portugal
para a colonia brasileira: as influen-
cias da cultura dos arabes naquele
pais, durante quase 800 anos, consi-
deravam a mulher urn ser inferior. 0
sexo feminino fazia parte do
imbeci
litus sexus ou sexo imbed . Uma ca-
tegoria a qual pertenciam mulheres,
crian<;ase doentes mentais. Era mui-
to comum 0 versinho declamado nas
casas de Portugal e do Brasil que di-
zia: mulher que sabe muito e mu-
lher atrapalhada, para ser mae de
familia, saiba pouco ou saiba nada .1
Os poetas daquele periodo nao
valorizavam a instru<;aofeminina, na
medida em que concretizavam e en-
carnavam as ideias da supremacia
masculina. Gon<;aloTrancoso, poeta
portugues muito lido pelos homens
lusos entre 1560e 1600,afirmava que a
mulher nao tinha necessidade de ler e
escrever e, se possivel, nao deveria fa-
lar: Afirmoque e born aquelerifrao
que diz: a mulher honrada deve ser
sempre calada .2 0 poeta aconselhava
tambem que quando andassem nas
ruas nao chamassem aten<;aosobre si:
as mo<;asnao falem, nem alcem os
olhos do chao quando forem pela rua
e se ensinem a nao tomar brio de ve-
rem e serem vistas, que a mim me pa-
rece muito bem'',3
Sendo tambem urn alfabetiza-
dor, Trancoso foi procurado certa vez
por uma dama da sodedade portu-
guesa que the pedia que a ensinasse
a ler, ja que suas vizinhas liam os li-
vros de rezas na missa e ela nao. Res-
pondeu-lhe 0 poeta que como ela nao
tinha aprendido a ler na casa dos pais
durante a infancia, e agora ja passa-
va dos 20 anos de idade, deveria con-
tentar-se com as contas do rosario de
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anos de educafao no Brasil
ora<;6es.No entanto, ele enviava-Ihe urn abecedario moral, em
que cada letra do alfabeto continha implicito 0 padrao de com-
portamento desejado na sociedade seiscentista. Por exemplo,
a letra A significava que a mulher deveria ser amiga de sua
casa, H humilde a seu marido, M mans a, Q quieta, R regra-
da, S sizuda, entre outros. Encerrava dizendo que se ela cum-
prisse esse abecedario saberia mais do que aquelas senhoras
que liam livros religiosos. Era essa, portanto, a mentalidade
da epoca sobre a instru<;ao feminina em Portugal, e que foi
amplamente difundida no Brasi1.4
ALFABETIZA<;Ao DA
INDIGENA - POR QUE NAO?
Entretanto, por ironia, a primeira reivindica<;aopela ins-
tru<;aofeminina no Brasil partiu dos indigenas brasileiros que
foram ao Pe. Manoel de Nobrega pedir que ensinasse suas mu-
lheres a ler e escrever.5 0 Padre, sensibilizado, mandou urna
carta a Rainha de Portugal, Dona Catarina, ainda no inicio da
coloniza<;ao,solicitando educa<;aopara as indigenas. Alegavam
que, se a presen<;ae assiduidade feminina era maior nos cursos
de catecismo, porque tambem elas nao podiam aprender a ler e
escrever? 0 proprio Pe. Jose de Anchieta escrevia nas cartas de
Piratininga que, nos encontros de conversao da catequese, 0
concurso e freqiiencia das mulheres e maior. 6
o indigena considerava a mulher urna companheira, nao
encontrando razao para as diferen<;asde oportunidades edu-
cacionais. Nao viam, como os brancos os preveniam, 0 perigo
que pudesse representar 0 fato de suas mulheres serem alfa-
betizadas. Condena-Ias ao analfabetismo e a ignorancia lhes
parecia uma ideia absurda. Isso porque 0 trabalho e 0 prazer
do homem, como os da mulher indigena, eram considerados
eqiiitativos e socialmente \1teis.Os cronistas do Brasilquinhen-
tista se admiravam da harmonia conjugal existente entre os
indigenas brasileiros. 0 mesmo Pe. Anchieta escreveria em
seus relatos: Sempre andam juntos ?
Nobrega achou a ideia muito boa. Isso poderia desenca-
dear urn processo de respeito pelas mulheres que viviam na
colonia, ja que a miscigena<;aoimposta pelo branco grassava
em quase todas as aldeias, ocasionando nascimentos desvincu-
lados de amor e respeito. JoaoRamalho, por exemplo, teve mais
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Mulheres educadas na colonia - rilda lm s Miranda Ribeiro
E
preciso nao esquecer que nes-
sa epoca 0 colono imigrava sozinho
para 0 Brasil deixando a mulher e os
filhosern Portugal. Elevinha ern busca
do lucre facil. A ausencia da faID11ia
incitava a dorninac;aosexual masculi-
na na colonia. Para que os abusos ate-
nuassem Nobrega achava que 0 acesso
a instruc;aopelas indigenas poderia co-
laborar de forma positiva. Os padres
jesuitas tinharn 0 desejo de fundar re-
colhirnentos para as mulheres no Bra-
sil. Para eles a educac;aofeminina na
coloniaMOera apenas urn requinte de
erudic;aohumanista. Era urna questao
mais grave: tratava-se de lanc;arabase
para a obra de moralizac;aoe tambem
urna forma eficiente na formac;aode
familias brasileiras.
Infelizmente a Rainha de Por-
tugal Dona Catarina negou a inicia-
tiva qualificando-a de ousada devido
as Uconseqiiencias nefastasU que 0
acesso das mulheres indigenas a cul-
tura dos livros da epoca pudesse re-
presentar. No seculo XVI na propria
metropole nao havia escolas para
meninas. Educava-se ern casa.As por-
tuguesas eram na sua maioria anal-
fabetas. Mesmo as mulheres que
viviam na Corte possuiam pouca lei-
tura destinada apenas aos livros de
rezas. Por que entao oferecer educa-
c;aopara mulheres Uselvagens ern
urna colonia tao distante e que so exis-
tia para 0 lucre portugues?
Apesar da negac;ao da metro-
pole algumas indigenas conseguiram
burlar as regras. Catarina Paraguas-
su tambern conhecida como Mada-
lena Caramuru parece ter sido a
prirneira mulher brasileira que sabia
Catarina Paraguassu a
primeira mulher brasileira que
aprendeu a ler e escrever
r
escrever. Alguns autores afirmam
que essa brasileira era filha de Diogo
Alvares Correia 0 Caramuru corn a
india Moema ou Paraguassu. Outros
afirrnam que seria a propria esposa
tarnbem chamada de Catarina Para-
guassu.9 No dia 26 de marc;ode 1561
ela escreveu uma carta de proprio cu-
nho ao Pe. Manoel de Nobrega.lO
A educac;ao UletradaU no en-
tanto estaria reservada ao sexo mas-
culino e a incumbencia de tal fato foi
de responsabilidade exclusiva dos
padres da Companhia de Jesus. Ate
1627 somente duas mulheres de Sao
Paulo sabiam assinar 0 nome. Eram
Leonor de Siqueira viuva de Luiz
Pedroso sogra do Capitao-MorPe-
dro Taques de Almeida e Madalena
Hoisquor viuva de Manuel Vandala
de origem flamenga.n
81
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SOOanos de educafao no rasil
No
Brasil
coloniala
mulher pouco
saia de casa Os
padres eram os
unicos homens
albn do proprio
esposo que lhe
podiam fazer
companhia
A CUST6DIA DAS PREDESTINADAS
A colonia brasileira do seculo XVI tinha poucas mulhe-
res portuguesas. Em fun<;aodisso foicriado, no periodo, 0 mito
da mulher branca. Sua representa<;ao social aumentou 0 pre-
conceito com rela<;ao as mulheres de outras etnias - negras e
indigenas -, de condi<;oessubmissas ao portugues. Com 0
aumento da popula<;ao de mesti<;os(os mamelucos e os mula-
tos, que viriam a ser os brasileiros), os jesuitas e a metropole
preocuparam-se em importar para 0 Brasillevas de mulheres
brancas com 0 intuito de reprodu<;ao e fixa<;aodo padrao
etnico europeu/branco.
Nao tinha importancia se na metr6pole fossem orias,
ladras, prostitutas, alc06latras, mentalmente incapacitadas etc.
Na colonia brasileira elas seriam as responsaveis pela perpe-
tua<;aodo dominio europeu, por meio da procria<;aodos por-
tugueses. Em 1552,Nobrega escrevia ao Rei dizendo que os
homens viviam em pecado e insistentemente pedia que Vos-
sa Alteza mande muitas orphans e si nao houver muitas, ve-
nham mistura dellas e quaesquer .12
Fica claro, pelas palavras de Nobrega, que as mulhe-
res brancas seriam meras reprodutoras dos varoes portugue-
ses na colonia, e que a sua educa<;aoexistia com esse objetivo.
Nos casamentos, nao haveria la<;osafetivos e sim contratos
economicos acertados pelo pai e, na falta desse, pelo irmao
mais velho.
No Brasil-colonia, 0 homem decidia as a<;oes.Era ele
quem domina va, por meio da famflia patriarca . Alias,
a
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Mulheres educadas na colonia - rilda Ines Miranda Ribeiro
palavra familia vem de
famulus
wna
expressao latina que quer dizer: escra-
vos domesticos de wn mesmo seOOor.
Ou seja: todos deviam obediencia ao
senhor patriarcal. Sua esposa e filhas
tambem. Blas0 chamavam de senhor
meu marido; senhor meu pai .
A mulher branca colonial das
camadas abastadas casava-se muito
cedo. Quando ocorria a primeira
menstrua~ao com 11 ou 12 anos as
meninas estavam prontas para 0 ca-
samento com homens de 40 ou 50
anos. Isso porque demorava muito
tempo para que essesportugueses con-
seguissem acwnular fortunas ou ashe-
ran~as patemas. Essas mo~ viviam
geralmente escondidas nas casas-
grandes e a virgindade era vigiada
pelo pai e pelos irmaos. 0 homem ti-
OOade ter certeza de que os filhos ge-
rados eram dele para herdarem osseus
bens. Luccock viajante do seculo XIX
observou que a reclusao feminina ain-
da predominava nessa epoca afirman-
do que as mulheres portuguesas
raramente saiam de casa. 0 pouco
contato que os costwnes com elas per-
mitem dentro em breve pOem a nu a
sua falta de educa~ao P
A PEDAGOGIA
SEXUAL DA COL6NIA
As mulheres brancas na sua
maioria tambem eram sexualmente
ignorantes. Quando casavam-se se-
guiam para a lua-de-mel despossuidas
de informa~6es sobre 0 sexo. Muitas
vezes conheciam 0 noivo dias antes
do casamento acertado entre os ho-
mens. Na hora da rela~ao entre os se-
deixando-o escuro. A claridade nao
combinava coma fecunda~ao. As noi-
vas cobriam-se com urn len~ol que
possuia wn drculo aberto em cimados
orgaos sexuais. Feito isso 0 noivo
adentrava 0 recinto e sobreposto a sua
esposa copulava. Alias a Igreja cato-
lica nao lhes permitia 0 prazer sexual.
o orgasmo era entendido como coisa
do demonio. 0 corpo feminino era wn
templo de purifica~ao nao devia ser
visto pelo marido. Servia apenas para
reprodu~ao dos filhos de Deus. Nesse
sentido as rela~6es sexuais entre os
portugueses muitas vezes eram ver-
dadeiros estupros. 0 prazer sexual
para 0 senhor patriarcal ficava a car-
go das negras escravas que alem de
servi-Io nas tarefas da casa deveriam
satisfaze-Io na cama. Mesmo explora-
das no seu trabalho produtivo e no seu
proprio corpo contraditoriamente
com 0 tempo as negras escravas do-
minaram 0 senhor tomando-o escra-
vo do prazer sexual. Raul Dunlop
conta 0 caso de urn homem que para
excitar-se diante da noiva branca pre-
cisou nas primeiras noites de casado
levar para a alcova a camisa llinida de
suor do cheiro de sexo da sua escrava
amante.14 A dependencia sexual do
homem branco a sua escrava 0 levava
a vender muitas vezes escravos vi-
gorosos e rentaveis para 0 seu enge-
000 por causa dos cillines. Preferia ter
prejuizos economicos a disputar a
aten~ao da negra com 0 rival.
TRANSGREDINDO
A ESFERA DOMESTICA
Comoja evidenciadoem pagi-
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500 anos de educa~ao no Brasil
epoca colonial deveria ser passiva, calada, regrada, submissa.
Mas esses atributos destinados ao sexo feminino aconteciam
apenas em tempos de calmaria. Quando 0 dominio dos por-
tugueses era amea<;ado, elas assumiam cargos tidos como
masculinos, ocupando outros espa<;os. Nesses period os,
aprendiam rapidamente como administrar uma proprieda-
de ou mesmo um territ6rio politico. Muitas tiveram de ul-
trapassar a esfera domestica para a publica. Das capitanias
doadas no seculo XVI, as unicas que deram certo, Sao Vicen-
te e Pernambuco, foram governadas por mulheres.
A capitania de Sao Vicente foi administrada por D.Ana
Pimentel, esposa de Martin Afonso de Souza, que, ao con-
cluir sua instala<;aona Vila de Sao Vicente em 1533, retornou
a Portugal:
(00') transmitindo os poderes de que se achava investido a sua
mulher, D. Ana Pimentel, dama das mais altas qualidades e
do mais subido valor ('00)15
Mllitas IIllllheres
tiueral11 de ultrapassar
a esfera dOlllcstiea
para a pI bUea
Sem a presen<;ado marido, D. Ana, durante a sua gestao,
mandou trazer ao Brasil as primeiras mudas de laranja, de arroz
e do gado vacum , responsaveis hoje por
grande parcela da economia do Brasil.Du-
rante 0 seu governo, os indios gauchos,
oriundos no Rio Grande do Sul, visitaram
a governadora e um deles apaixonou-se por
uma de suas damas de companhia. Casan-
do-os, Ana Pimentel deu-lhes um lote de gado vacum, que leva-
ram aosuIdo pais, reproduzindo-os em grande escala.16Tambem
foi no seu governo que Bras Cubas recebeu de suas maos uma
extensao de terras (sesmaria) entre a serra de Cubatao e 0 mar,
hoje denominada cidade de Santos.
D. Beatriz ou Brites de Albuquerque, esposa de Duarte
Coelho, governou Pernambuco quando 0 marido foi para Por-
tugal com os seus filhos: Ficava em seu lugar sua molher Don-
na Beatriz de Albuquerque que a todos tratava como filhos ,17
Durante a sua administra<;ao, ajudou a apaziguar 0 conflito
entre os portugueses colonizadores e os temiveis indios boto-
cudos que tinham 0 habito da antropofagia. Essas mulheres
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Mulheres educadas na co nia
-
Arilda Ines Miranda Ribeiro
A AUSENCIA DA
EDUCA<;AO DO CORPO
As atividades fisicas para as
mulheres das camadas favorecidas
eram desestimuladas. Alem do pre-
conceito pelo trabalho manual que
implicava imobilidade, as portugue-
sas assimilaram da tradi<;aomoura 0
costume de nao praticarem 0 habito
de caminhar ou cavalgar. Andavam
sempre em cadeirinhas ou liteiras).
Em casa, viviam quase sempre deita-
das ou sentadas. Quando queriam
urn copo de agua, esse era trazido por
uma escrava. Engravidavam conti-
nuamente, 0 que deformava 0 corpo
rapidamente. Tambem adquiriram 0
habito de comer muitos doces a<;uca-
rados, 0 que as tornava obesas. No
discurso de posse do Governador
Mauricio de Nassau, e possivel encon-
trar urna descri<;aosobre a indisposi-
<;ao fisica das portuguesas: De
ordinario as mulheres, ainda mo<;as,
perdem os dentes, e pelo costume de
estarem continuo sempre sentadas,
nao sao tao ageis
.19
Outro costume
assimilado dos mouros foi a utiliza-
<;aodas baetas, urna manta negra para
cobrir a cabe<;a,muitas vezes usada
como recurso para burlar a vigiHincia
que a sociedade impunha.
Nos bailes, os poucos que ha-
via, e nas festas religiosas, quando era
possivel, dan<;ava-sefigurativamente
e os pares apenas trocavam urna ou
outra palavra rapida. Nos jantares de
familia, as mulheres ficavam a mesa
em frente aos homens, quietas, ouvin-
do a conversa constrangida dos mes-
mos, que esperavam que se retirassem
A LINGUAGEM
DAS FLORES
o flerteentre ossexosocorria fre-
qiientemente dentro das igrejas,no he-
rario-CIa missa. 0 padre rezava em
latim, de costas para os devotos. As
mulheres ficavam sentadas, amouris-
tica, no grande salao, e os homens da
sociedade colonial sentavam-se nas la-
terais. Nessa posi<;ao,muitas mo<;as
flertavam com 0 sexo masculino e en-
tabulavam liga<;6esafetivas proibidas.
Como elas eram, na sua maioria, anal-
fabetas, nao podiam mandar bilhetes
secretos aos seus amores. Criaram, en-
tao, outras formas de comunica<;ao.
Utilizavam-se, por exemplo, da cor-
respondencia amorosa das flores, ou
linguagem das flores, que era urna es-
pecie de codigo, resultante da combi-
na<;ao engenhosa de interpreta<;ao
simbolica das diferentes flores, cons-
truindo urna expressao codificada. Por
exemplo, quando urna mo<;ase apai-
xonava por urn rapaz indesejado pela
famIlla, ela enviava, por meio de sua
mucama, urna combina<;aode rosa ver-
melha com urn ramo de trigo, que sig-
nificava que ela 0 amava muito. Ou
quando 0 ser amado a traia, amo<;aen-
viava urna camelia com urn ramo de
alecrim, que poderia significar seu ar-
rependimento e odio pela trai<;ao.Essa
linguagem manteve-se como substitu-
ta das letras durante decadas. Com 0
tempo, os jovens namorados envelhe-
ceram e tomaram-se pais e a linguagem
teve0 seu codigocomprometido. Essa
cifficia, transmitida assim de gera<;ao
a gera<;ao,tomou-se objeto de mofa
quando os progressos da educa<;aofe-
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S anos de educafao no rasil
MULHERES DESPROTEGIDAS
Por nao saberem ler e escrever mulheres afortunadas
ficaram expostas a enganac;ao dos homens - pais maridos e
filhos - que muitas vezes as espoliavam e roubavam suas
propriedades por meio de falsificac;6estestamentais ou escri-
turais.22 De 1578 a 1700 450 inventarios foram levantados e
neles apenas duas mulheres sabiam ler e escrever.23
Mas 0 abuso nao era apenas financeiro; a questao mo-
ral aspecto importante nesse perfodo foi por vezes motivo
de desgrac;a de muitas senhoras da sociedade colonial. Em
urn perfodo em que ao homem pertencia 0 poder absoluto a
instrw;ao nao ajudava 0 sexo feminino a reagir a resistir a tais
abusos. Exemplo disso e 0 caso do estupro citado por C. R.
Boxer ocorrido em 1611 com uma dama brasileira de nome
Margarida de Mendonc;a. Como sabia ler e escrever enviou
uma petic;ao de proprio punho a Coroa pedindo que 0 Rei
obrigasse 0 suposto marido a casar-se legalmente com ela
caso contrario se tornaria uma mulher desonrada. Na carta ao
monarca conta detalhadamente que Nuno da Cunha disse
querer casar-se com ela mas que deveria ser em segredo. Ju-
rando numa Ermida na frente da imagem de Cristo e dizen-
do-se cristao fez os votos do casamento. E na mesma hora
nao querendo esperar se entregou de mi e me forc;ou: gri-
tando eu me deu e me rompeu 0 fato dizendo era eu sua
mulher e se gritasse me mataria as punhaladas... .24 Depois
disso pegou coisas de sua casa forc;ou-aa assinar urn papel e
fugiu. Nessa petic;aoenviada ao Rei a justic;aque D.Margarida
Roupas usadas
pelas mulheres
brancas durante
0
periodo coloni l
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Mulheres educadas na colonia -Arilda Ines Miranda Ribeiro
pedia nao se referia ao abuso nem ao
logro mas
a
volta do homem que a de-
florou porque naquele periodo urna
mulher desvirginada so tinha urn ca-
minho a seguir: a prostitui~ao.
o Rei ao que tudo indica nao
atendeu a reivindica~ao de urna mu-
lher letrada. Nos relatos de Boxer pa-
rece que Nuno da Cunha morreu
solteiro em Sena como govemador de
Mo~ambique em 1623.Nurn contexto
socialem que os interesses economicos
eram muito mais importantes do que
a dignidade de urna dama da socieda-
de colonial a instru~aorevelada na car-
ta de D. Margarida foi de pouca valia.
Contudo desde que tivessem
dotes era possivel as mulheres da
epoca colonial escolher uma altema-
tiva para se esquivar dos pais e dos
maridos indesejaveis: 0 ingresso nos
conventos. Tambem era essa a Unica
altemativa para as que quisessem es-
tudar. Se optassem pelo celibataris-
mo seriam estigmatizadas pela
sociedade colonial como solteiro-
nas por causa da necessidade da re-
produ~ao dos varoes. Uma mulher
que nao se casasse ou nao fosse para
urn convento era considerada enca-
lhada . Criava-se dessa forma 0 es-
timulo ao casamento: com os homens
de Cristo ou com 0 proprio Cristo no
caso das freiras.
EDUCANDO NOS
CONVENTOS: RECLUsAo
E NOVA APRENDIZAGEM
Os conventos surgiram no Bra-
sil apenas na segunda metade do se-
culo XVII e normalmente 0 ensino
da leitura e da escrita era ministrado
ao lado da musica do cantochao do
orgao e dos trabalhos domesticos
principalmente 0 preparo de doces e
de flores artificiais. Nao havendo urn
sistema formal de educa~ao para as
mulheres foi nos conventos que pas-
saram a ser educadas.
Ate esse periodo as mais abas-
tadas seguiam para Portugal para es-
tudar. Havia casos raros como 0 de
D. Tereza Margaridada Silva e Orta
a primeira romancista brasileira. Irma
de Matias Aires ela escreveu em 1752
o livro
Aventuras de Di fanes
atri-
buido erroneamente durante muitos
anos a Alexandre de Gusmao.25 No
Convento de Trinas em Portugal ins-
truiu-se em musica artes poesias e
algumas no~oes de Astronomia. Do-
rothea era 0 anagrama utilizado por
Tereza e seu livro obteve quatro edi-
~oes todas rarissimas tanto em Por-
tugal como no Brasil. Apesar de ser a
primeira obra a compor a historia da
literatura colonial feminina e muito
pouco conhecida. Mas Tereza alem
de pioneira na arte do romance bra-
sileiro era uma mulher decidida
destemida e de personalidade mar-
cante. Em tomo de sua historia pai-
ra urn misterio: foi prisioneira do
Marques de Pombal durante 0 seu
govemo por crime de lesa-magesta-
de. Ficou em cela onde nao via luz
de sol nem luz da lua por mais de
seis anos. Que crime Tereza teria co-
metido? Conspira~ao?26
o primeiro convento fundado
no Brasil foi em 1678 denominado San-
ta Oara do Desterro na Bahia. Foi con-
siderado 0 mais luxuoso e 0 mais
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5 anos de educarao no Brasil
pois algumas freiras IIvestem por baixo de seus habitos cami-
sas bordadas ...) cal~ao e meias de sed a ligando-as commu-
mentecomfivellasdeDurOcravadasde diamantes .Z7Apouca
religiosidade era explicada por diversas raz6es: muitas mulhe-
res eram intemadas sem nenhuma voca~aodefinida e com pou-
ca idade. Ospais que tivessem gerado muitas filhastrancafiavam
a rnaioria nos conventos, com receio de terem de dividir suas
propriedades com os futuros genros. Tambem era para os con-
ventos que os maridos enviavam as esposas que os traiam, ou as
que eles queriam trair, quando mo a assassinavam. Nesse senti-
do, essas institui~6eseram reconhecidas como IIpris6esmisticas .
A prisao mistica servia tanto as farnilias como as pr6prias
decis6es do govemo local.Asmo~asque
II
erravam eram envia-
das para 0 convento. Foi 0 caso da esposa do comerciante Ma-
noel Jose Fr6es, que movia uma a~aode separa~ao contra 0 seu
marido e IIfoirecolhida a pedido deste ao convento da Lapa por
ordem do Arcebispo .28Nao eram somente osmaridos, os pais e
o govemo que usavam 0 convento comopenitenciarias, tambem
os irmaos, que no momenta da partilha da heran~a preferiam
nao repartir os bens com suas irmas. Muitas dessas mulheres
fugiram da clausura, apesar da vigilancia apurada. Outras, en-
tretanto, trataram de administrar a institui~ao de forma produti-
va.Mesmo atre1adasaopoder daIgreja, iniciaramuma pedagogia
de iniciativa empresarial ern moldes bem estruturados.
Mais do que educa~ao formal, os conventos foram re-
flexo daquilo que a sociedade colonial tinha como base fun-
damental: a questao economica, a questao do comercio.
Esabido que durante 0 Brasil-colonia nao havia bancos
ou agencias de credito. Os conventos desempenharam esse pa-
pel em fun~ao do acUrnulo de dotes e doa~6es que recebiam.
Na realidade, as freiras emprestavam dinheiro a juros aos pro-
prietarios de terra, aqueles mesmos que as haviam trancafiado
nos conventos. Como muitos nao conseguiam saldar suas divi-
das ern fun~ao de falencias ou problemas no engenho, seus bens,
algumas vezes, eram entregues aos conventos como forma de
pagamento. Assim, 0 patrimonio das freiras foi aumentando.
No convento do Desterro, na Bahia, elas se revelaram ta~ boas
gestoras que, alem de emprestarem dinheiro a~s senhores,
compravam, vendiam e arrendavam propriedades. Nesse
sentido, fica evidenciado que apenas teoricamente existia re-
m1ncia a vida material: convento do Desterro fazia empres-
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Mulheres educadas na colonia -Arilda Ines Miranda Ribeiro
A condi~ao economic a estabe-
lecia a posi~ao social da popula~ao
feminina dentro do convento: as
mais ricas eram as freiras de veu pre-
to, seguidas das de veu branco, das
educandas que pagavam para estu-
dar, e das servas, que durante muito
tempo deveriam ser brancas. Sabe-
se. que as recolhidas de veu branco
eram pessoas de prestigio, mas nao
prestavam votos e seu dote s6 che-
gava a metade das freiras de veu pre-
to. (00 )s6 em 1720as servas puderam
ser negras ou mulatas. 3o
PROPOST AS DE
EDUCA<;Ao DE MULHERES
Depois da expulsao dos jesui-
tas (1759) e da implanta~ao da Re-
forma Pombalina da Educa~ao, em
Portugal e em suas colonias, a ins-
tru~ao feminina pouco mudou. 0
portugues Luis Antonio Verney, que
escreveu 0 verdadeiro metodo de
estudar na Italia, dedicou urn apen-
dice a educa~ao das mulheres. Sua
proposta tinha como objetivo 0 lar, a
serventia domestica. Alem da tarefa
de educar os filhos, que antes era ta-
refa da mae-preta, amulher cabia na-
quele momenta a arte de prender
o marido em casa. Verney prop6e que
as maes, ou na impossiblidade dessas
as governantas, ensinassem as meni-
nas. Criticava duramente a falta de
instru~ao das mulheres portuguesas,
e indiretamente, das brasileiras: ler e
escrever Portugues... isto e 0 que rara
mulher sabe fazer em Portugal (...)or-
tografia e pontua~ao nenhuma conhe-
ce .31Sugeria a leitura da hist6ria, de
Retrato de Maria Quiteria de Jesus
Medeiros que Iutou peia consolidariio da
Independencia do Brasil distinguindo se
com bravura em quase todos os combates
no Reconcavo Baiano. Foi condecorada
com a Insignia de Cavaleiro da Ordem
pelo Imperador
D.
Pedro 1.
no~6es de aritmetica, de linguas, da
dan~a, entre outros. No entanto, pou-
cos reflexos dessa proposta educacio-
nal chegaram ao Brasil. De forma
concreta, apenas 0 livro de Jose Lino
Coutinho Cartaa Corae os estatutos
do Recolhimento de Nossa Senhora da
Gl6ria, em Olinda.32
Ate 1808, a educa~ao de uma
maneira geral continuou a mesma.
Com a vinda de D.Joao VI, as mud an-
~as culturais nao atingiriam de ime-
diato as mulheres. Debret dizia que
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anos de educafao no Brasil
desde a chegada da Corte ao Brasil tudo se preparara mas
nada de positivo se fizera em prol da educac;ao da jovem
brasileira. Esta em 1815 se restringia como antigamente a
recitar preces de cor e a calcular de memoria sem saber es-
crever ou fazer as operac;oes. 33
Os conventos continuaram a crescer e os escandalos tam-
bem. 0 proprio filho do Rei D. Pedro I teve urn romance com
urna freira sineira em Angra dos Reis Rio de Janeiro e da rela-
c;aoentre eles nasceu urn filho ja depois do Imperador estar au-
sente.Viveu quatro ou cinco anos apenas.340 que comprova 0
longo caminho que ainda percorreriam as mulheres para serem
compreendidas como seres atuantes na sociedade brasileira.
Maria Quiteria e a Imperatriz Leopoldina destacaram-
se na passagem do Brasil-colonia para 0 Brasil independente.
A Imperatriz Leopoldina teve participac;ao decisiva no dia
do Fico quando seu esposo vacilante nao decidia se ia para
Portugal ou ficava no Brasil. Tambem atuou na proclamac;ao
da Independencia quando enviou em comum acordo com Jose
Bonifacio uma carta ao marido para que ele tomasse a atitu-
de de rompimento com 0 Reino Portugues. Foi sua missiva
que desencadeou 0 gesto historico as margens do Rio Ipi-
ranga em Sao Paulo.35
Quanto a Maria Quiteria participou de diversas ba-
talhas FeiaIndependencia: vestida de homem seu sexo nunca
foi revelado ate que seu pai 0 comunicasse ao seu oficial co-
mandante da Infantaria. Recebeu de D. Pedro I elogios e me-
ritos pela bravura e cora gem de atuar como urn brasileiro.
Maria Graham 36que pintou 0 seu retrato e a admirava men-
cionou: ela e iletrada mas inteligente. Sua compreensao e
rapida e sua percepc;ao aguda. Penso que com educac;ao
ela poderia ser uma pessoa notavel .37
NOTAS
1
Luis Edmundo brasileiro foi escritor e jomalista de 1880a 1961.Escreveu varios livros
sobre a cultura e os costumes dos brasileiros. 0 texto citado encontra-se em: A Corte do
Rio de Janeiro p. 299 citado por DIAS Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder
em Sao Paulo no seculo XIX.Ana Gertrudes de Jesus. Sao Paulo: Brasiliense 1984 p. 26.
2 Gon~aloTrancoso e considerado 0 primeiro contista portugues. Viveu no seculo XVI.
Escreveu
Contos e hist6rias de proveito e exemplo
em 1569 e publicado pela primeira vez
em 1575. Seu trabalho foi uma das obras mais lidas no periodo. Era versado na li~ao da
hist6ria profana e nas ciencias da astronomia. Foi preceptor e caligrafista de meninos. A
vida literaria desse homem inicia-se sobre as ruinas da grande epidemia que em 1569
com~ou a grassar Lisboa. Perdeu na Peste Grande a filha e 0 filho urn neto e a esposa.
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Mulheres educadas na col6nia
-
Arilda Ines Miranda Ribeiro
Ver: TRANCOSO, Gon~alo Fernandes. Contos e historias de proveito e exemplo. Prefa-
cio por Joao Palma Ferreira. Lisboa: Imprensa Nacional, 1974 conforme edi~ao de 1624).
3
Ibdem, p. 82.
4
Esteestudo centra-se na educa~aoda mulher branca das camadas abastadas; as informa-
~oes referentes as mulheres negras e indigenas sao rarfssimas no perfodo colonial brasi-
leiro.
5N6brega era 0 chefe designado da primeira missao jesuitica enviada ao Brasil em 1549.
Procurou adaptar-se e a catequese e aos costumes nativos, respeitando os valores do
povo colonizado. E, junto com Anchieta, urn dos fundadores da cidade de Sao Paulo,
com a cria~ao da Aldeia de Piratininga em 1553. Deixou os textos
Informaroes das terras
. do Brasil
1549) e
Didlogo sobre a conversao do Gentio 1556-7 .
6
Poeta, gramatico e catequista, chegou ao Brasil em 1553. Deixou vasta obra, inclusive
autos teatrais Auto da Festa de Sao Louren~o), representados pelos indios e escritos
numa mistura de espanhol, tupi-guarani e portugues, que marcam 0 infcio do teatro
no Brasil.
7HOORNAERT,Eduardo et alii.Hist6riadaIgreja Brasil.Trad. Bertholdo Klinger. Rio
de Janeiro: Vozes, 1979.
8
Darcy Ribeiro cita Joao Ramalho como urn dos primeiros moradores do Brasil. Tinha
muitas mulheres, filhos e netos descendentes das indfgenas brasileiras. RIBEIRO, Darcy.
p v
brasileiro.
Sao Paulo: Cia. das Letras, 1997,p. 84.
9 Diogo Alvares Correia, denominado 0 Caramuru, ja se encontrava na Bahia antes da
chegada do governador-geral Tome de Sousa. Foi incumbido pelo rei de auxilia-Io na
coloniza~ao.
]0 Ahistoriografia ainda nao conc1uiusobre quemseria de fato amulher que alfabetizou-se
nos prim6rdios do Brasil-colania. Chamada de Catarina Paraguassu, tambem e reco-
nhecida como Madalena Caramuru. ou Paraguassu. Otto Scheneider refere-se a Madalena
Paraguassu como a primeira mulher alfabetizada, mencionando a carta como prova p.20).
Adalzira Bittencourt relata a baiana Madalena Caramuru como a filha de Caramuru e a
primeira mulher a ler e escrever no Brasil p. 51). Ignez Sabino refere-se a Catarina
Paraguassu. Ver: BlTTENCOURT,Adalzira. A mulherpalliista nahistoria.Rio de Janei-
ro: Livros de Portugal, 1954. SABINO, D.
Ignez.Mulheres illustres
doBrazil.Florian6polis:
Das Mulheres, 1996. SCHENEIDER, Otto.
Curiosidades brasi/eiras.
Rio de Janeiro:
Pongetti,1954.
11Alcantara Machado escreveu sobre a vida privada do bandeirante: familiar, religiosa,
econamica e social. Deixando de lado a epopeia dos desbravadores, foi em busca dos
fatos. Nao nos gestos her6icos que passaram a hist6ria, mas nos atos quotidianos que
alicer~am e explicam os outros. Ver: MACHADO,Alcantara. Vidae mortedo bandei
rante.Sao Paulo:Martins, 1965,p. 101.
12Foidurante a gestao daRainha Catarina que foram enviadas as6rfas para a povoa~aoda
Colania brasileira. Ver: RODRIGUES, Leda M P
A instrurao feminina em Sao Pallio.
Sao Paulo: Sedes Sapientae, 1962, p. 30.
]3John Luccockresidiu no Brasilno infciodo serolo XIX 1808-1818).EscreveuNotassobre
Rio deJaneiroeaspartesmeridionaisdoBrasil tomadas durante uma permanencia de dez
anos nesse pais. HAHNER,
J
A mlliher no Brasil.
Rio de Janeiro: Civiliza~ao Brasileira,
1978,p. 32.
]4 Gilberto Freyre, soci610go,defendeu em 1922,na Universidade de Columbia, a tese
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500 anos de educafao no Brasil
e Senzala Foi varias vezes premiado como autor de obra basica sobre rela~oes inter-
raciais. De acordo com Ronaldo Vainfas, dentre os varios autores que falaram das mulhe-
res brasileiras, talvez 0 melhor tenha sido ele, mesmo com a arte incomparavel das gene-
raliza~oes nem sempre exatas. Fa~a-se, no entanto, alguma justi~a a Gilberto Freyre: ele
viu como ninguem diferen~as entre as mulheres, atento as diversidades de culturas ou,
como querem alguns, de cor e de ra~a. Ver: VAINFAS, Ronaldo. Homoerotismo femini-
no e 0 Santo Oficio . In: PRIORE, Mary Del, Histaria das mulheres no Brasil Sao Paulo:
Contexto, 1997, p. 115.
15Jose Torres de Oliveira escreveu urn artigo sobre a funda~ao da Capitania de Sao Vicente,
atribuindo apenas Martin Afonso de Souza as iniciativas realizadas durante 0 seu go-
verno. Em 1530, Martin Afonso vistoriava 0 litoral brasileiro para implanta~ao do nu-
cleo ocupacional. Em 1534, 0 Rei the concedia a capitania. Nessa fase, 0 Oriente, com
suas especiarias, convidava muito mais que 0 Brasil. Terminada a tarefa de coloniza~ao,
Martin Afonso seguiu para a Europa, deixando sua mulher no seu lugar. Ver: OLIVEI-
RA, Jose Torres de. Martin Afonso de Souza e a funda~ao de Sao Vicente . In:
Revista
Instituto Histarico e Geogrtificoda Bahia
n° 4, 1918, p. 123-138.
16
E
preciso cuidado com asobras ufanistas dos feitosfemininos.Mas nao podemos deixar
de considerar suas informa~oes e tentar cruza-Ias com outras fontes. Adalzira Bittencout
ilustra com detalhes esses fatos.
17
Dona Beatriz foi governadora de Pernambuco duas vezes. Seu irmao, Jeronimo de
Albuquerque, ajudou-Ihe a dividir os problemas que enfrentava na capitania. Raras saD
as informa~oes sobre a sua pessoa. Ver: SALVADOR, Frei Vicente. Historia do Brasil.
(Duarte Coelho). In: Annaes da BibliotecaNacional XIII, 1888, p. 44-63.
18 0 papel pioneiro de algumas mulheres no Brasilcolonial, principalmente aquelas de
condi~oes economicamente baixas, que romperam com as determina~oes socialmente
constituidas frente a educa~ao feminina preponderantemente restrita aos misteres do-
mesticos ainda esta por ser escrita.
19
Diferentemente das europeias do periodo Renascentista, que tinham 0 habito de caval-
gar ou de caminhar pelos campos, as mulheres brasileiras mantiveram 0 costume de nao
se exercitar. As negras, contudo, mantinham-se ageis e com 0 corpo bem delineados, em
fun~ao das tarefas diarias que eram obrigadas a exercer, como escravas ou negras de
ganho. Ver: PINHO, Jose Vanderley Araujo. Revista do Arqllivo Geografico de
Pernambuco Torno 34, 1887, p. 174.
20 Mantinha-se a mesma atitude do Brasilseiscentista. Asmulheres deveriam ouvir cala-
das, com os olhos baixos, mantendo certa distancia do sexo masculino. Ver: TAUNAY,
Affonso D E. 0 enclaustramento das mulheres . Capitulo IV.Annaes doMllsell Paillista
1,1922, p. 320-9.
21
Jean Baptiste Debret (1768-1848), pintor e desenhista frances, veio para 0 Brasil em 1816
com a Missao Artistica Francesa e aqui introduziu 0 neoclassicismo nas artes plasticas.
Lecionou na Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro e escreveu
Viagempitoresca
e
hist6rica ao Brasil
em que incluiu varias pinturas sobre 0 quotidiano dos brasileiros.
DEBRET, Jean Baptista. Viagem pitoresca e histarica ao Brasil 6. ed. Sao Paulo: INL,
1975. 2 vols.
22
Paes Leme conta 0 caso de D. Isabel Pires Monteiro, que do primeiro casamento tivera
uma filha e herdara uma fortuna. Casada novamente com Joao Fernandes de Oliveira,
que tambem tinha urn filho, viu-se lesada pelo proprio marido. Ver. RODRIGUES, Leda
Maria. Histaria da ducaflio eminina
em S aulo
p 38
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Mulheres educadas na col6nia
-
Arilda Ines Miranda Ribeiro
23Essesdocumentos vinham acompanhados de urna frase que revelava 0 analfabetismo e,
conseqiientemente, a dependencia feminina: se declarava 0 motivo de ser 0 ato assina-
do por outrem a pedimento da ourtorgante: por ser mulher e nao saber ler. Ver: MA-
CHADO, Alcantara. Vida e morte do bandeirante p. 101.
24
Romper 0 fato , na expressao da epoca, significava desvirginar, romper 0 rumen da
mulher. BOXER,C. R. Women in Iberianexpansionoverseas(1415-1815).Somefacts
fanciesand personalities.
New York: Oxford University Press, 1975,p. 113.
2SFilha de JoseRamosda Silvae D.Catarina de Horta, nasceu emSaoPaulo e casou-se aos
dezesseis anos de idade, contra a vontade paterna, com 0 maranhense Pedro Jansen
Moller van Praet. Seu livro revela a influencia dos iluministas e de Fenelon. ENNES,
Ernerto ORTA, Thereza Margarida da Silva e. Primeira escritora paulista e primeira
romancista brasileira (1705-1787) . In:
ep r t do VolumeXXXV daRevistadoInstiltt
to Hist6rico e Geogrtificode Slio Paulo. Sao Paulo, 1938, p. 78.
26Durante a minha pesquisa em Lisboa, persegui alguns documentos que trouxessem pistas
sobre os motivos do 6dio do Marques de Pombal por D. Tereza Margarida da Silva e Orta,
assim como ja 0 fizeram outros pesquisadores. No entanto, 0 silencio ainda prepondera.
27
E
preciso nao se esquecer de que as meninas,muitas vezes, ingressavam contra a vonta-
de, com pouca idade e sem nenhuma voca-;ao para a clausura e a pobreza. Agiam nessas
institui-;6es como meninas com desejos de adere-;os, modismos etc. PINHO, Jose
Vanderley de Araujo. Costumes monasticos na Bahia. Freiras e recolhidas. In: Revista
do Instituto Hist6rico de Slio Paulo
XLI, 1942, p. 12-13.
28 Ibdem, p. 133.
29Susan Soeiro fez urn amplo estudo sobre 0 Convento de Santa Clara do Desterro. Escre-
veu A baroque nunnery: the economic and social role of Colonial Convent Santa Clara
do Desterro entre outros. Indica-;6es da Funda<;ao Carlos Chagas, na pesquisa Mulher
brasileira.Bibliografia Anotada. Sao Paulo: FCC, Torno I , 1980, p. 67.
30 Idem.
31 Filho de Dionisio Verney, frances, e Maria da Concei-;ao Amaut, portuguesa, desde a tenra
idade, Luis Antonio Verney foi colocado aos cuidados de urn capelao para ensinar-lhe os
primeiros rudimentos. Aos 23 anos concluiu os estudos de Teologia em Evora. Em 1746,
endividou-se para publicar suas ideias iluministas pedag6gicas com 0 titulo 0 verda
deiro metodo de estudar
utilizado amplamente pelo Marques de Pombal. VERNEY,
Luis Antonio. Verdadeiro metodo de estudar. Edi-;ao organizada por Antonio Salgado
Junior. Lisboa: sa da Costa, 1952, 5 v, vol. V, p. 128.
32
Jose Uno Coutinho, professor de medicina, escreveu em 1849
Cartas sabrea eduCJl~ode
Cora que era sua filha. Seu trabalho revela seme1han<;ascom 0 de Verney quando enfatiza
a educa-;ao na infancia, os exercicios ffsicos, que ate entao nao eram estimulados, incu-
tindo habitos morais e amor itverdade. Nesse sentido, eles ultrapassavam as esferas de
urn livro de rezas, diferindo dos moldes introjetados nos conventos. In: PEIXOTO, Afra-
nio. A eduCJl~oda mulher. 5ao Paulo: Nacional, 1936,
p. 107.
33 DEBRET,JeanBaptiste.Op. cit. v. p. 11.
34
A crian<;apassou pela roda dos expostos e recebeu 0 nome do Imperador. Foi enterrada
junto aoAdro da se. PINHO,JoseVanderlei de Araujo.Op. cit., p. 133.
:fi
A contribui-;ao de D. Leopoldina e muito pouco estudada nos manuais de Hist6ria Brasi-
leira da Independencia do Brasil, sobretudo no ensino fundamental brasileiro. Com a ini-
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500 anos de educa~o no Brasil
ciativa do Consulado Geral da Austria, a obra de Johanna Prantner, Imperatriz Leopoldina
do Brasil, recupera com maestria essa lacuna historiognifica. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
36Maria Graham, educadora inglesa, viveu no Brasil no tempo da Imperatriz Leopoldina.
Colaboradora de Martius, viajante, na Flora brasiliensis. Escreveu sobre 0 Brasil. Ver:
LEITE, Miriam L.M. Livros de viagem 1803-1900 . Rio de Janeiro: UFRJ, 1996, p. 49.
37Estetexto e parte da disserta~ao de mestrado na Unicamp (1987) e de pesquisas realiza-
das posteriormente em urn p6s-doutoramento na Universidade de Lisboa em 1996, cujos
resultados foram publicados em:
RIBEIRO, Arilda. A educa,iio da mulher no Brasil Colonia. Sao Paulo: Arte Ciencia,
1997. RIBEIRO, Arilda InEs Miranda. A educa~o jeminina durante 0 seculo XIX: 0 Co-
legio Florence de Campinas (1863-1889). Campinas: Area de Publica~Oes do Centro de
Mem6ria/Unicamp, 1996. (Col~ao Campiniana, v. 4)
RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres e cidadania: conquistas de cada dia. In: Perez,
Zizi Trevisan. QuestOesde Cidadania. sao Paulo: Cliper, 1998.
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