RIBEIRO a Expansão Da Organização Para a Cooperação de Xangai Uma Coalizão Anti Hegemônica

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Trabalho apresentado no I Seminário Internacional de Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Ciência Política/UFRGS.

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  • I Seminrio Internacional de Cincia Poltica Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

    A Expanso da Organizao para a Cooperao de Xangai (OCX):

    Uma Coalizo Anti-Hegemnica?

    Erik Herejk Ribeiro1

    Resumo

    Este estudo tem por objetivo discutir os aspectos securitrios da expanso da Organizao para a Cooperao de Xangai

    (OCX), decorrentes da incluso de ndia e Paquisto em julho de 2015. Argumenta-se que este movimento representa

    uma nova fase da Organizao, com o aprofundamento da coalizo entre China e Rssia contra a hegemonia dos EUA

    no Sistema Internacional. A proposta de incluso de ndia e Paquisto na OCX promove e traz complexidade

    integrao regional e regionalizao da segurana, estimulando a coordenao multilateral para questes envolvendo o

    Afeganisto e o restante da massa continental eurasiana. Alm disso, a OCX promove o contedo tico do Esprito de

    Xangai para a ordem internacional, que se coloca como alternativa normativa ao Neoconservadorismo Unilateral dos

    EUA. Destaca-se o respeito soberania e construo de capacidades estatais. O estudo analisa os fundamentos da

    hegemonia americana, a contestao desta ordem, a proposta e o funcionamento da OCX e os desafios securitrios

    enfrentados em suas diferentes fases. Palavras-chave: Organizao para a Cooperao de Xangai; Hegemonia; Segurana Regional; Relaes Internacionais

    da sia.

    Introduo

    Este estudo apresenta uma anlise sobre a Organizao para a Cooperao de Xangai (OCX)

    e sobre sua importncia para a Segurana Internacional. Argumenta-se que o aprofundamento da

    coalizo2 e a incluso de novos membros (ndia e Paquisto, em julho de 2015) ocorre como uma

    reao hegemonia dos Estados Unidos e representa uma nova fase institucional da OCX.

    Esta hegemonia, que ser objeto de anlise na seo seguinte, baseada em aspectos

    materiais e ideolgicos. Os EUA buscam a primazia militar e a manuteno da capacidade de

    interveno decisiva na massa continental eurasiana. No entanto, observa-se que a emergncia de

    capacidades militares assimtricas dos demais pases desafia o planejamento de guerra dos EUA. A

    ausncia de uma Grande Estratgia3 que se adapte a esta realidade tem se mostrado

    problemtica, pois tem sido substituda por conceitos tcnico-operacionais preemptivos na esfera

    1 Mestre e Doutorando em Estudos Estratgicos Internacionais/UFRGS. E-mail: [email protected]. Bolsista

    CAPES. 2 Considera-se que a OCX representa uma coalizo e no uma aliana, pois baseada em objetivos especficos como o

    combate a ameaas no tradicionais, no prev um tratado abrangente de defesa mtua entre seus membros e no

    direcionada contra nenhum pas ou bloco de pases. 3 Grande Estratgia a conjuno de todos os fatores de poder nacional (sociais, econmicos, institucionais e militares)

    de um pas para atingir objetivos da esfera da Estratgia, que compreende a relao entre a poltica e a guerra.

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    militar e pelo Imperialismo (Liberal ou Neoconservador) na esfera ideolgica. Em relao ao

    Imperialismo, os estadunidenses apostaram no efeito fsico e psicolgico das Guerras de

    Demonstrao e das guerras encobertas para promover a democracia e o capitalismo liberal nos

    pases perifricos. Especificamente, a ascenso do Neoconservadorismo Unilateral4 (a partir de

    2001) aprofundou a desestabilizao do Afeganisto e do Iraque, aumentando a insegurana

    regional e o papel da insurgncia islmica.

    Em resposta ao Neoconservadorismo Unilateral, a Carta da OCX (2002) traz um contedo

    tico conhecido como Esprito de Xangai, que promove uma filosofia diferente na conduo da

    ordem internacional. Este contedo tico procura reforar a construo dos Estados locais, a

    consolidao da soberania e a busca pelo consenso multilateral e pela integrao econmica (sob a

    liderana dos pases de maior expresso). Argumenta-se que, no longo prazo, a promoo do

    Esprito de Xangai tem potencial para proporcionar uma alternativa normativa para as relaes

    interestatais e para a conduo dos assuntos de Segurana Internacional.

    Num primeiro momento, China e Rssia procuraram distender suas relaes no ps-Guerra

    Fria, criando um espao de influncia conjunta na sia Central. Posteriormente, a Guerra ao Terror

    acentuou os processos regionais de securitizao e a expanso de redes extremistas. Alm disso, a

    invaso do Iraque em 2003 demonstrou o interesse dos EUA na remodelao (ou, nos termos de

    Mearsheimer, engenharia social) de Estados frgeis considerados como no democrticos.

    A partir de ento, a OCX melhor instrumentalizada para promover a estabilizao dos

    Estados membros e a coordenao militar contra ameaas no convencionais. Os interesses de seus

    membros convergem em pontos especficos, nomeadamente a estabilidade securitria regional, o

    combate a ameaas no-tradicionais, a cooperao econmica e um contedo tico que valoriza

    (entre outros fatores) a soberania e a no interveno.

    Atualmente, num contexto de retirada dos EUA no Afeganisto, a Organizao expande seu

    escopo de atividades para lidar de forma mais decisiva com a instabilidade afeg. A iniciativa de

    aceitar ndia e Paquisto como pases membros tem como uma de suas finalidades o gerenciamento

    da situao no Afeganisto, que no pode ser resolvida sem a aquiescncia dos servios

    paquistaneses e o apoio indiano. Alm disso, a distenso das relaes indo-paquistanesas, mediada

    informalmente pela OCX, traria benefcios para todos os pases da regio. A perspectiva de

    4 Embora no haja consenso sobre suas caractersticas, pode-se citar: interveno militar unilateral, promoo coercitiva

    da mudana de regime, imposio do liberalismo poltico e econmico, crena na universalidade dos valores

    Ocidentais, viso de mundo sob a tica de conflitos civilizacionais.

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    distenso reforada pela inteno em reunir em torno da OCX os projetos de integrao

    regional promovidos pela China (Rota da Seda) e pela Rssia (Unio Eurasiana). Por conta da

    magnitude destes fatores, argumenta-se que a Organizao entra em uma nova fase, marcada pela

    promoo de novas normas de interao securitria (o Esprito de Xangai), pela integrao

    econmica regional e pela regionalizao da segurana atravs do gerenciamento dos dois maiores

    focos de instabilidade na poro central da massa eurasiana.

    As sees seguintes trazem as seguintes anlises: Em primeiro lugar, discute-se a percepo

    estadunidense sobre os fundamentos de sua hegemonia, nomeadamente a busca pela primazia

    militar e a capacidade de intervir na massa Eurasiana a partir de suas extremidades (Europa, Oceano

    ndico e Oceano Pacfico). Posteriormente, contextualiza-se a mudana de postura dos EUA em

    direo ao Neoconservadorismo Unilateral e a reao dos pases perifricos e semiperifricos,

    dentre as quais se destaca a OCX na esfera securitria. As trs sees sobre a OCX abordam

    respectivamente: o contedo tico e normativo da Organizao; a proposta de atuao e a resposta

    da OCX aos desafios securitrios regionais e, por ltimo, o significado da incluso de ndia e

    Paquisto como membros plenos.

    A hegemonia dos Estados Unidos no ps-Guerra Fria

    O argumento elaborado nesta seo aponta que a hegemonia5 estadunidense, conquistada

    aps a derrocada da Unio Sovitica6, passa por um momento de forte contestao. Ressaltam-se

    dois motivos principais na esfera poltico-securitria: a emergncia de Estados capazes de colocar

    em dvida o sucesso da projeo de fora dos EUA e o fracasso do neoconservadorismo unilateral.

    Esta seo traz trs discusses relacionadas hegemonia dos Estados Unidos a partir da

    dcada de 1990. A primeira procura compreender a percepo estadunidense sobre as fundaes de

    sua hegemonia, quais sejam: A busca pela superioridade militar decisiva (primazia) e a capacidade

    de interveno em todas as regies da Eursia. A segunda versa sobre a natureza cambiante desta

    5 Adota-se aqui como base o conceito gramsciano de hegemonia: coero e consenso. A coero seria a faceta ou

    manifestao material da hegemonia atravs da violncia ou ameaa de uso da fora. O consenso seria a capacidade de

    introduzir em outros pases um conjunto de valores, crenas e projees simblicas que conformam uma determinada

    tica de conduta (FARIA, 2013). Embora seja totalmente reconhecida a importncia de aspectos econmicos,

    tecnolgicos e financeiros da hegemonia, a proposta atual limita-se a analisar as faces securitria e ideolgica. 6 A derrocada da URSS vista como um marco para o incio da hegemonia americana por proporcionar, pela primeira

    vez, trs vitrias de nvel verdadeiramente global: a superioridade militar incontestvel, a vitria ideolgica e a adeso

    global s instituies mundiais criadas com a liderana dos Estados Unidos aps a Segunda Guerra Mundial.

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    ordem hegemnica, que passou do liberalismo multilateral ao neoconservadorismo unilateral a

    partir de 2001. Por fim, sero elencados os elementos que indicam uma contestao crescente

    hegemonia americana nas esferas militar e poltica.

    No plano estratgico, os Estados Unidos buscam a primazia nuclear, que definida pela

    capacidade de destruio completa do arsenal nuclear inimigo sem que haja capacidade de contra-

    ataque (LIEBER; PRESS, 2006). Eliminando a possibilidade de dissuaso7, os estadunidenses

    teriam no somente a capacidade de vencer guerras, mas de assegurar sua inviolabilidade, de

    promover seus interesses e de moldar a ordem internacional (HUNTINGTON, 1993, p. 70). Apesar

    de contarem com grande arsenal nuclear, os Estados Unidos esbarram nas capacidades de contra-

    ataque (ou segundo ataque) de China e Rssia8. Os EUA optaram, ento, pela construo de

    Sistemas de Msseis Balsticos de Defesa (BMD) nos pases da Organizao do Tratado do

    Atlntico Norte (OTAN) e no Japo (PICCOLLI, 2012; RIQIANG, 2013). Conforme alertam

    Martins e Cepik (2014, p. 16), o eventual comissionamento pelos Estados Unidos de msseis

    hipersnicos antibalsticos9 colocaria em cheque a capacidade retaliatria de China e Rssia, pois

    impediria que os msseis lanados atingissem ativos ou o prprio solo americano (ou aliado).

    No entanto, mesmo que os EUA obtenham futuramente a primazia nuclear (a pesados custos

    econmicos10

    ), a observao de aspectos puramente tcnicos negligencia a prpria subordinao da

    guerra poltica e evidencia a ausncia de uma Grande Estratgia clara dos Estados Unidos para o

    Sculo XXI. Por trs do discurso defensivo do BMD, encontra-se uma lgica de guerra

    preemptiva11

    (ou mesmo preventiva), onde os EUA se propem a neutralizar uma ameaa antes que

    7 Dissuaso significa o uso da ameaa de retaliao para convencer a outra parte a no tomar a iniciativa militar.

    8 Estes dois pases possuem msseis de longo alcance em bases fixas e mveis, configurando a chamada trade nuclear

    de lanadores em terra, mar (submarinos) e ar (bombardeiros). Suas capacidades incluem os Msseis de Reentrada

    Mltipla Independentemente Direcionados (MIRV), que potencializam sua trade nuclear. 9 As armas hipersnicas so mais velozes (acima de cinco vezes a velocidade do som) e sua trajetria alcana camadas

    exteriores da atmosfera. Sua principal vantagem a possibilidade de alterar sua trajetria final, sendo menos vulnervel

    interceptao. O programa estadaunidense Prompt Global Strike (2003) deu origem pesquisa e ao desenvolvimento

    destas armas, sob a justificativa da necessidade em construir um sistema baseado em solo estadunidense que pudesse

    penetrar qualquer defesa e atingir qualquer alvo em menos de uma hora. 10

    importante notar as crticas de Drezner (2013) e de Martins e Cepik (2014) acerca dos custos excessivos da

    primazia militar. Estes autores apontam que, do ponto de vista econmico e poltico, a busca pela primazia se mostra

    contraproducente. 11

    Segundo Colin Gray (2007), a preempo ocorre quando um Estado ataca primeiro na iminncia ou durante a

    conduo de um ataque inimigo. A guerra preventiva (como foi o caso do ataque ao Iraque em 2003) ocorre quando um

    Estado ataca primeiro, pois teme que a correlao de foras se altere de forma desfavorvel no futuro. O autor aponta

    que, embora no seja um equvoco considerar a utilizao destes instrumentos, o governo George Bush (2001-2008)

    substituiu conceitos estratgicos como conteno e dissuaso para adotar um conceito que meramente operacional,

    utilizado apenas ocasionalmente conforme a necessidade estratgica.

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    ela rena condies (ou iniciativa) para ataca-lo. No caso da sia-Pacfico, esta lgica

    materializada pelo conceito de Batalha Aeronaval (Air-Sea Battle12

    ), que prev ataques em

    profundidade para destruir as redes eletrnicas, capacidades retaliatrias e bases adversrias,

    prostrando o adversrio. A questo que h altos custos humanos em uma guerra nuclear e chance

    de reconstruo e de retaliao futura pelo inimigo. Alm disso, no h como garantir sucesso na

    esfera das operaes ao invadir China ou Rssia, por exemplo (CEPIK; VILA; MARTINS, 2009;

    MARTINS; CEPIK, 2014).

    Se a obteno da primazia nuclear no suficiente para sustentar o pilar securitrio da

    hegemonia estadunidense, recorre-se geopoltica como elemento explicativo. Embora no caiba

    um esforo abrangente para abordar as alternativas de Grande Estratgia para os EUA13

    ,

    necessrio analisar os elementos geopolticos que sustentam a ordem internacional hegemnica.

    Barry Posen (2003) coloca no centro da hegemonia americana o conceito de Comando dos Comuns

    (comando do mar, do espao e do ar). Segundo Posen, o elemento fundamental para a manuteno

    da hegemonia a superioridade militar dos EUA no acesso e na negao do acesso de terceiros s

    reas comuns. O comando dos mares habilita a projeo de fora para todos os continentes, o

    comando do espao d conscincia de situao para atuar nas massas terrestres e no mar, o

    comando do ar possibilita ataques de preciso e de profundidade nos territrios adversrios.

    Acompanhando a lgica do Comando dos Comuns, Brzezinski (1997, p. 23) afirma que a

    hegemonia americana a primeira de cunho verdadeiramente global, calcada na sua capacidade

    mpar de projeo de fora nas extremidades da Eursia (Europa e Pacfico) e no Golfo Prsico

    (Oceano ndico). Segundo Brzezinski (1997, 2012) a chave para a hegemonia global o tabuleiro

    da Eursia. Embora parea um relativo contrassenso, os Estados Unidos dependem do

    gerenciamento de um espao geograficamente distante, do qual no fazem parte. Portanto, o que

    mantm a hegemonia americana sua capacidade de intervir em todas as regies da Eursia e,

    principalmente, de impedir que haja a confluncia entre Grandes Potncias que possa ameaar seu

    acesso extracontinental, seja a partir da Europa, do Oceano ndico, ou do Pacfico (BRZEZINSKI,

    1997, p. 35).

    12

    Em 2015, o conceito foi renomeado para Joint Concept for Access and Maneuver in the Global Commons (JAM-

    GC). Supostamente, o novo conceito deve promover maior incluso das foras terrestres nas operaes. 13

    Para um debate sobre a Grande Estratgia dos EUA, ver Posen e Ross (1996) e Brown et al (2000). Em geral, os

    argumentos se dividem entre engajamento seletivo (POSEN, 2014) e a primazia (BROOKS; IKENBERRY; WOHLFORTH, 2013).

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    Passando para o segundo enfoque, a hegemonia americana passou por transformaes

    polticas desde a dcada de 1990, influenciando as percepes dos outros pases e, por

    consequncia, afetando suas bases ideolgicas. Com o fim da Guerra Fria, a poltica externa dos

    Estados Unidos prezou pela promoo da democracia liberal e dos valores ocidentais, buscando

    planificar e padronizar governos estrangeiros e normas internacionais. Os EUA se promoveram

    como a superpotncia benigna capaz de garantir a estabilidade global, a cooperao institucional e a

    funcionalidade das economias e dos mercados. Por trs deste discurso, havia a inteno de controlar

    atravs das instituies globais, das mudanas de regime poltico e do liberalismo econmico os

    pases sujeitos ordem liderada pelos estadunidenses.

    Como bem observa Mearsheimer (2011), esta Grande Estratgia j imperial no seu

    ncleo: segundo seus proponentes, os Estados Unidos teriam o direito e a responsabilidade de

    interferir na poltica interna dos pases. A mudana dos anos 1990 para os anos 2000 no diz

    respeito a uma mudana de mentalidade, seno de postura. Os imperialistas liberais acreditam que

    as engenharias sociais no exterior podem ser feitas pela conjuno entre aliados, instituies

    internacionais e pela ao militar. J os neoconservadores em ascenso a partir do governo

    George W. Bush (2001-2008) acreditam muito mais na fora militar e no unilateralismo, pois os

    Estados Unidos possuem poder incomparvel e irrestrito, logo, no h necessidade em

    comprometer-se com aliados e instituies que drenam os esforos estadunidenses

    (MEARSHEIMER, 2011, p. 19).

    O neoconservadorismo unilateral do governo W. Bush teve como principais elementos o

    lanamento da Guerra ao Terror e a escolha de pases prias pertencentes ao eixo do mal (Coreia

    do Norte, Ir, Iraque, Mianmar, Sria), que teriam em comum a tirania e uma suposta

    irracionalidade, que impediria a simples dissuaso por parte do Ocidente (NASSER; TEIXEIRA,

    2010). Aps o 11 de Setembro, o Afeganisto foi o primeiro escolhido para a ao militar exemplar,

    seguido em 2003 pelo Iraque de Saddam Hussein. A ocupao estadunidense nestes dois pases

    aumentou o antiamericanismo e escancarou a debilidade da mudana de regimes fora

    (MEARSHEIMER, 2011, p. 21-22).

    Os Estados Unidos tambm no deixaram de lado seus dois principais competidores

    estratgicos: China e Rssia. No caso russo, o principal desenvolvimento foi a expanso da OTAN

    para o Leste Europeu, assediando Estados ps-soviticos como a Gergia e a Ucrnia. Ao mesmo

    tempo, as chamadas Revolues Coloridas (mudana de regime) invadiram o espao ps-sovitico

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    na sia Central e Leste Europeu, Mianmar (Revoluo do Aafro em 2007) e Taiwan (Revoluo

    dos Girassis em 2014). O prprio Mearsheimer (2014) reconhece que no segredo o apoio da

    CIA e de agncias americanas a grupos pr-democracia em pases escolhidos para a engenharia

    social. As revoltas rabes de 2011 fizeram parte deste mesmo processo (MONIZ BANDEIRA,

    2013). Por isso no surpreende a revelao de documentos do Departamento de Defesa dos EUA

    que analisam o Estado Islmico nascido dos escombros da Guerra Civil Sria como um possvel

    ativo estratgico, ainda em 2012 (BHADRAKUMAR, 2015).

    Dado que o neoconservadorismo essencialmente uma estratgia imperialista, necessrio

    recorrer a duas anlises crticas sobre o imperialismo americano. Em primeiro lugar, pode-se fazer

    uma analogia com a abordagem de Mike Davis (1985) sobre a Guerra Fria, chantagem nuclear e a

    Nova Direita (neoconservadores). Segundo o autor, a centralidade do conflito bipolar no dizia

    respeito Europa onde j havia diviso das esferas de influncia mas sim ao Terceiro Mundo.

    Hoje, a periferia do Sistema Capitalista que est em disputa. Logicamente, no pode haver ordem

    internacional sem seguidores e sem adeso hegemonia estadunidense. Em um mundo cada vez

    mais complexo, globalizado e avanado tecnologicamente, a ascenso dos pases do Sul coloca a

    ordem atual em questo.

    Devido falta de impeditivos ou restries ao militar estadunidense, a chantagem

    nuclear e o guarda chuva nuclear para apoiar as contrarrevolues no Terceiro Mundo foram

    substitudos pela Guerra de Demonstrao. Na anlise de Ellen Wood e Larry Patriquin (2012), o

    Imperialismo estadunidense assumiu a real forma do Capitalismo: no h mais conquista colonial e

    sim dominao econmica extraterritorial. Aqueles que no se submeterem ordem econmica

    liberal ou tiverem caminhos de desenvolvimento prprios estaro sujeitos interveno. Assim, os

    EUA realizam papel de polcia mundial e garantem um imprio sem fronteiras atravs do poder

    psicolgico (interno e externo) e do terror exemplar. O problema central, no entanto, a falta de

    objetivo estratgico, negligenciando a subordinao da guerra poltica (WOOD; PATRIQUIN,

    2012, p. 256-260).

    Ao longo dos anos 2000, emergiram elementos de contestao continuidade da hegemonia

    estadunidense. Argumenta-se que h mudanas na dinmica internacional, traduzidas em maior

    distribuio de capacidades militares, na reao da periferia e semiperiferia ao neoconservadorismo

    e no retorno das identidades nacionais.

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    Ao longo dos anos 2000, enquanto os Estados Unidos estavam imersos nas duas guerras

    mais longas de sua histria, emergiam competidores polticos e securitrios. Embora os EUA ainda

    tenham o Comando dos Comuns, Grandes Potncias como China e Rssia e Potncias Regionais

    como o Ir j so capazes de, na esfera das operaes, criar Zonas Contestadas, onde a vitria

    estadunidense passou a ser incerta (POSEN, 2003). Sua inteno no era competir com o vasto

    poder americano, mas criar estratgias assimtricas de autodefesa, capazes de inviabilizar os custos

    de uma invaso e colocar seu sucesso em questo. Posteriormente, as estratgias assimtricas

    ficaram conhecidas como Negao de rea e Antiacesso14

    (A2/AD).

    A digitalizao da guerra tambm se constitui num fenmeno central para a horizontalidade

    de capacidades militares, pois o processo de assimilao tecnolgica colocou principalmente China

    e Rssia em condies de empregar a guerra informatizada (VILA; CEPIK; MARTINS, 2009). A

    ndia tambm se aproxima da autonomia militar e tecnolgica, ao empregar sistemas de satlites

    indgenas, ao iniciar a operao de sua trade nuclear e ao modernizar suas capacidades

    convencionais. Portanto, mesmo que no seja de seu interesse contestar a hegemonia americana de

    forma frontal, a ndia tem cada vez mais capacidade de ao autnoma na esfera securitria.

    As instituies multilaterais15

    foram seletivamente ignoradas pelos estadunidenses nas

    ltimas dcadas. Por consequncia, os pases emergentes da periferia e semiperiferia buscaram no

    somente democratizar a ordem internacional vigente, mas tambm criar e reforar suas prprias

    pontes regionais e inter-regionais, desconcentrando a governana global (CEPIK, 2013, p. 314).

    Estava em curso um movimento cada vez maior de contestao de uma ordem hegemnica

    unilateral, baseada no contedo tico do neoconservadorismo (interveno militar, mudana de

    regime, imposio do liberalismo poltico e econmico, a universalidade dos valores Ocidentais,

    conflitos civilizacionais).

    As Guerras de Demonstrao, apesar de inicialmente terem algum sucesso, logo

    evidenciaram a fragilidade do projeto de mudana de regime pela fora externa. Da mesma forma,

    as Revolues Coloridas fracassaram e trouxeram maior instabilidade poltica. Ao final de contas,

    14

    De forma resumida, as operaes A2/AD em terra so feitas por artilharia, foguetes e msseis de curto ou mdio

    alcance. No mar, h o emprego de msseis antinavio (cruzadores ou balsticos) e de submarinos dotados com torpedos

    ou msseis cruzadores. Mais prximo costa, h o emprego de minas martimas, de submarinos de menor alcance, de

    pequenos navios torpedeiros e de lanchas de ataque rpido. Pelo ar, avies caa, bombardeiros e helicpteros podem

    possuir msseis antinavio e antissubmarino (KREPINEVICH, 2010, p. 10). 15

    Pode-se citar, por exemplo, o Conselho de Segurana da ONU e regimes comerciais, ambientais, de controle de

    armas e de energia nuclear.

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    percebeu-se que o Imprio causava mais terror do que prosperidade. Como o prprio Brzezinski

    (2012, p. 64) reconhece, a Amrica deveria repensar seriamente se explorou de forma inteligente a

    oportunidade extraordinria do fim pacfico e geopoliticamente favorvel da Guerra Fria.

    Nota-se que houve uma mudana nas identidades dos pases do BRICS (Brasil, Rssia,

    ndia, China e frica do Sul) justamente a partir da desiluso com o modelo estadunidense e com o

    ressurgimento de seus poderes e valores nacionais (MIELNICZUK, 2013). Todos os novos

    agrupamentos liderados por pases do Sul (BRICS, G20, IBAS) apontam para o desejo de

    multipolaridade e de um Sistema Internacional mais justo nas esferas econmica e poltica. neste

    contexto que a OCX, formalizada em 2001, representa uma rejeio ao neoconservadorismo e

    ordem hegemnica unilateral.

    Contestando a hegemonia: O contedo tico da Organizao para a Cooperao de Xangai

    A questo da tica um elemento essencial da poltica internacional contempornea. Em

    jogo esto disputas ideolgicas e polticas sobre os rumos das sociedades e sobre o papel do

    conjunto sobre as unidades. Seguindo a interpretao weberiana16

    , o neoconservadorismo

    representaria a tica das finalidades. Ou seja, os meios duvidosos da guerra aberta e encoberta

    contra Estados considerados como no democrticos tem o objetivo de levar a verdadeira

    democracia a estas sociedades. Esta lgica baseou-se na interpretao extremamente equivocada

    presente na obra O Fim da Histria, de Francis Fukuyama. Ali foi fabricada a ideia de que o

    futuro seria de inevitvel progresso e que todas as sociedades atingiriam prosperidade e estabilidade

    ao seguirem os princpios da democracia liberal e do livre mercado. Os neoconservadores tomaram

    para si a misso de cumprir o destino vislumbrado por Fukuyama, negligenciando qualquer

    experincia histrica, cultural e poltica de outros modelos de sociedade.

    O contedo tico da OCX vai de encontro hegemonia estadunidense exatamente por adotar

    uma viso balanceada entre meios e fins. No possvel adotar um modelo de ao com sucesso

    que desconsidere a experincia histrica, seja no vis das Relaes Internacionais ou da Sociologia.

    16

    Weber distingue dois tipos de tica: a tica das ltimas finalidades absoluta, com nfase em princpios e nos

    meios empregados e a tica da responsabilidade, que recai sobre os resultados finais. No entanto, emergem paradoxos nos dois casos: como criar uma tica moralmente pura em seus meios, se a violncia recorrente nas

    relaes humanas e sociais? O que seria uma finalidade boa e quando esta justificaria o emprego de meios duvidosos? O ideal, portanto, seria o uso complementar da tica dos fins e dos meios, no considerando parmetros pr-

    estabelecidos ou se apegando puramente a princpios (NEGRI, 2003, p. 83-85).

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    A grande falha do neoconservadorismo foi aceitar que vivemos num mundo plano, totalmente

    globalizado e que facilmente adaptvel institucional e economicamente a modelos importados.

    Outra falha de igual proporo foi acreditar que governos sem o monoplio da fora e sem

    legitimidade interna poderiam assumir a tarefa de construo do Estado. Assim, a tica da OCX se

    coloca como uma alternativa filosfica unipolaridade ideolgica propagada pelos EUA.

    China e Rssia, os dois pilares da Organizao, publicaram pelo menos trs documentos

    conjuntos (1997, 2001 e 2005) enfatizando a promoo da multipolaridade; o respeito diversidade

    cultural, econmica e poltica; o direito escolha do prprio caminho de desenvolvimento; a

    igualdade de soberania e o respeito lei internacional. Por sua vez, a Carta da OCX (2002)

    apresenta seus princpios no Artigo 2. Em sntese, h o respeito mtuo soberania e integridade

    territorial; no interferncia em assuntos internos; igualdade de todos os Estados membros;

    resoluo pacfica de conflitos; no utilizao da OCX contra outros Estados ou Organizaes e

    preveno de atos ilegtimos contra membros da OCX.

    Por trs das normas compartilhadas por seus membros, a OCX proporciona uma via de

    fortalecimento das elites nacionais, assistindo no seu processo de construo do Estado, no

    desenvolvimento econmico conjunto e na manuteno da integridade territorial (ARIS, 2009). O

    Esprito de Xangai, como chamado este conjunto de normas e princpios, se tornou um modelo

    a ser seguido pelos pases da sia e da periferia em geral. A Rssia, por exemplo, j expressou seu

    desejo em transformar a plataforma da OCX num mecanismo de resoluo de conflitos

    internacionais. Parte do projeto de incluso de ndia e Paquisto passaria, portanto, pela adoo do

    Esprito de Xangai de respeito mtuo e de coexistncia pacfica (LU, 2015).

    Os crticos norte-americanos e europeus Organizao apontam que seus mecanismos

    acabam por reforar intencionalmente regimes polticos e prticas ditatoriais. O elemento que

    escapa anlise destes crticos justamente a fragilidade da coeso social, econmica e poltica de

    sociedades que ainda lutam para chegar modernidade. Samuel Huntington (1968) j argumentava,

    h quase 50 anos, que no existe sistema poltico eficiente (democrtico ou no) sem que haja

    ordem e estabilidade. Ainda, se observarmos a prpria sociologia histrica da formao dos Estados

    europeus, veremos que o conflito interestatal, as guerras entre vizinhos e a busca pela sobrevivncia

    foram suas prioridades por centenas de anos (TILLY, 1990). A comunidade de segurana e o

    compartilhamento de soberania se consolidaram apenas na dcada de 1990. Como aponta Ayoob

    (2002, p. 40), o desafio dos Estados do Terceiro Mundo no transcender o Estado Westfaliano,

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    mas fortalecer sua eficincia e legitimidade para que haja ordens polticas domsticas estveis e

    uma participao positiva no Sistema Internacional.

    Portanto, o contedo tico da OCX (o Esprito de Xangai) se ope forma como a

    hegemonia estadunidense vem sendo conduzida aps o trmino da Guerra Fria. Primeiramente,

    atravs da promoo de diferentes normas e princpios entre seus membros e, concomitantemente,

    no discurso externo de promoo da igualdade de soberania, da multipolaridade e da rejeio ao uso

    unilateral da fora. Alm disso, atravs do documento SCO Strategy Towards 2025, a

    Organizao se ope competio estratgica entre Grandes Potncias, caracterizada pela

    militarizao do espao e pela construo de sistemas unilaterais de defesa antimssil. Sua noo de

    direitos humanos tambm foi esclarecida neste documento, contrapondo a noo de universalidade

    e enfatizando o direito ao desenvolvimento. Os pases declararam que respeitaro diversidades

    nacionais e que lutaro contra a politizao dos fruns sobre direitos humanos (KUCERA, 2015).

    Outra questo mais profunda, que demanda maior investigao, a capacidade de liderana

    e de promoo do Esprito de Xangai, principalmente por parte de China e Rssia. Assim como na

    esfera material, onde estes pases j possuem protagonismo regional e so capazes de contestar a

    hegemonia estadunidense, haver tambm um encontro de projetos na esfera ideolgica. Assim

    como na Guerra Fria, provavelmente a competio se dar na periferia do Sistema. Resta saber,

    neste caso, se o Esprito de Xangai valer de forma seletiva ou se atuar como uma nova plataforma

    de relaes interestatais.

    Aqui nos caro o conceito de liderana pela autoridade humana, de Yan Xuetong (2011).

    Yan aponta que os EUA so o nico pas capaz de exercer liderana global. No entanto, esta

    liderana tem ocorrido por meio de hegemonia, utilizando padres duplos ao favorecer aliados e ao

    contrariar inimigos. Entre 2001 e 2008, a liderana dos EUA teve aspectos de tirania ao desrespeitar

    suas prprias normas. A liderana pela autoridade humana, por outro lado, ocorre atravs [...] do

    exemplo e da adeso. o poder por meio da virtude, da prtica e da transmisso de valores aceitos

    como superiores, do ponto de vista moral (PITT, 2014, p. 63). A soluo para a China, em longo

    prazo, seria ter capacidade de liderana pela autoridade humana, se transformando internamente

    para adotar um sistema de princpios e de valores passvel de adeso pelos demais Estados. Este

    modelo pressupe, ao mesmo tempo, que haja algum grau de hierarquia internacional, onde os

    pases mais fortes assumem mais responsabilidades do que os mais fracos (PITT, 2014, p. 63). Ou

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    seja, por exemplo, caberia s Grandes Potncias as tarefas de prover bens pblicos e de estabilizar

    focos de conflito militar atravs de solues aceitas pelos demais.

    Neste caso, a atuao no gerenciamento da segurana regional (especialmente do

    Afeganisto) e na incluso possivelmente turbulenta de novos membros na OCX (ndia e Paquisto)

    so dois desafios capacidade de liderana chinesa e tambm russa.

    Desafios poltico-securitrios e a resposta da OCX

    Esta seo analisar a resposta da OCX s ameaas no tradicionais e tentativa dos EUA

    em alterar o panorama estratgico do mundo muulmano, desde o Oriente Mdio at a sia Central.

    Inicialmente, o objetivo da OCX era a busca por maior cooperao e estabilidade regional,

    combatendo os trs males: terrorismo, separatismo e extremismo. No entanto, a projeo dos

    interesses dos Estados Unidos para a sia Central alterou seu significado (VISENTINI, 2013, p.

    210).

    Para alm dos atentados de 11 de setembro, a nova Estratgia de Segurana Nacional

    (setembro de 2002) dos Estados Unidos enfatizava a existncia de um Arco de Instabilidade, que

    abrangia desde o Oriente Mdio at o Nordeste da sia, tendo a sia Central como eixo. A partir de

    ento, houve maior engajamento militar e de inteligncia dos Estados Unidos e o estabelecimento

    de bases de operaes em quase todos os pases desta regio (BURGHART, 2007, p. 10).

    Pode-se observar que a invaso do Afeganisto e a Guerra ao Terror acabaram por legitimar

    a luta antiamericana e pan-islamista dos extremistas islmicos. Suas aes reverberaram no

    somente no Afeganisto-Paquisto (Af-Pak) ou na sia Central, mas nas prprias periferias de

    China, ndia e Rssia (Xinjiang, Caxemira e Chechnia, respectivamente). No plano da mudana de

    regime atravs da subverso, destacaram-se as Revolues no Quirguisto, Uzbequisto e no Leste

    Europeu/Cucaso. Quanto s intervenes militares, observa-se a instrumentalizao das revoltas

    rabes para derrubar regimes na Lbia e na Sria. Como resultado, houve a aproximao dos

    interesses de China, ndia e Rssia, de modo que o separatismo e as mudanas de regime por via

    externa se tornaram temas securitrios centrais, figurando em discursos do alto escalo poltico e

    em documentos oficiais (SONG, 2015; ANTONOV, 2015; RAGHAVAN, 2014, p. 68-69).

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    Segundo Marcel de Haas (2007, p. 07-10), a evoluo institucional da OCX17

    pode ser

    dividida em trs perodos: 1) Medidas de construo de confiana e de segurana (1996-2001)

    reduo dos contingentes de fronteira e das tenses herdadas do conflito sino-sovitico; 2)

    Segurana regional contra os trs males (2001-2004) Estabelecimento de secretariado permanente,

    exerccios conjuntos antiterrorismo e criao da Estrutura Regional Antiterrorista (do ingls,

    RATS); 3) Organizao internacional abrangente (2004-presente) busca por reconhecimento

    internacional e por interao com outras organizaes, admisso de Estados observadores

    (Monglia, ndia, Paquisto e Ir), exerccios militares anuais.

    De forma efetiva, a cooperao dentro da OCX se d por intermdio dos mecanismos de

    fortalecimento da coordenao securitria interagncias; fornecimento de armas e recursos

    militares; estmulo ao crescimento econmico por meio de ajuda, investimentos e projetos de

    infraestrutura. A primeira observao diz respeito abordagem holstica da OCX. Ao evitar o

    envolvimento externo em conflitos internos, os pases membros retiram elementos de legitimidade

    dos grupos insurgentes. Da mesma forma, a busca pela superao do atraso econmico auxilia na

    consolidao do Estado central. Alm disso, as relaes prximas da China com o Paquisto e a

    crescente aproximao da Rssia com o Sul da sia visam a diminuir o papel passivo e ativo

    paquistans nas aes terroristas (NEVES, PICCOLLI, 2012, p. 113-114).

    O desafio de estabilizao do Afeganisto um exemplo da oposio entre o projeto

    hegemnico estadunidense (calcado no intervencionismo estrangeiro) e a regionalizao da

    segurana (NEVES, PICCOLLI, 2012). necessrio mencionar que, de imediato, todos os pases

    prximos ao Afeganisto demonstraram certa aquiescncia da necessidade em responder aos

    atentados do 11 de Setembro com uma invaso militar. Por outro lado, logo ficou claro que o

    objetivo no era apenas derrotar a Al Qaeda e o Talib. Em 2002, o Ir foi colocado na lista do Eixo

    do Mal e, no ano seguinte, o Iraque foi invadido. Devido incerteza sobre os objetivos

    estadunidenses e falta de vontade dos EUA em criar uma iniciativa regional para o Af-Pak, pases

    como China, ndia, Ir e Rssia adotaram uma abordagem de aguardar os resultados e de evitar

    maior envolvimento (CHANDRA, 2015, p. 183-185).

    A partir do governo Obama (2009-presente), os Estados Unidos comearam a reduzir sua

    presena militar no pas, diante da dificuldade em manter o custeio de operaes e em assegurar o

    17

    Em 1996 formou-se o grupo Cinco de Xangai (China, Rssia, Cazaquisto, Quirguisto e Tadjiquisto). Apenas em

    2001, com a adeso do Uzbequisto, o grupo transformou-se na OCX.

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    controle do governo local sobre o territrio afego. No entanto, os EUA no abandonaram o projeto

    imperial (seja liberal ou neoconservador) no Oriente Mdio, mesmo que haja certo interesse em

    dividir os custos da ocupao com Europa, China, ndia e Rssia. possvel que o recente acordo

    nuclear assinado pelo Ir seja o ponto de partida para uma estratgia de balana de poder regional

    (FRIEDMAN, 2015), possibilitando o direcionamento para a sia-Pacfico e o engajamento

    seletivo. Ainda assim, por mais que o governo Obama tenha interesse no Piv para a sia, existem

    setores muito fortes no lobby pr-Imperial, a exemplo de Robert Kaplan (2015).

    De qualquer modo, China, Rssia e o prprio conjunto da OCX j sinalizaram que a

    estabilizao do Afeganisto ser a prioridade securitria regional nos prximos anos. Com a

    retirada das tropas americanas, a OCX est disposta a desempenhar um papel mais ativo no

    Afeganisto, embora ainda no esteja claro de que forma isto ocorrer. Em termos conjunturais,

    destacam-se as iniciativas da China ao promover a conciliao entre elementos moderados do

    Talib e o governo de Kabul.

    Reeves (2014) realiza um esforo de identificao de futuras ameaas e do possvel papel da

    OCX num contexto ps-ocupao dos EUA. O autor observa que o ressurgimento do radicalismo

    poderia reviver projetos de unificao do Vale do Fergana sob um Estado Islmico, abarcando os

    pases da sia Central e o Afeganisto. Em primeiro lugar, o arcabouo da OCX possibilita a

    reduo dos refgios separatistas e extremistas em pases vizinhos que no seriam alvo destes

    grupos em especfico. Tambm poderia haver maior coordenao no combate ao narcotrfico.

    Em contrapartida, devido s aes prvias da Organizao, improvvel que ela intervenha

    diretamente nos assuntos internos do Afeganisto. Ainda no ano de 2000, mesmo com o

    transbordamento das aes do Talib para a vizinhana, o Grupo de Xangai decidiu no intervir.

    Mesmo em pases membros, a OCX falhou em mobilizar recursos para intervir na crise interna do

    Quirguisto (2010), apesar do pedido de ajuda. Ainda cabe mencionar as intervenes da Rssia na

    Gergia (2008) e na Ucrnia (2014), que foram recebidas com cautela e apreenso pelos outros

    membros18

    (REEVES, 2014, p. 9-10).

    O Afeganisto, apesar de no ser um pas to grande em populao ou territrio, carrega um

    carter simblico e geopoltico central para a Eursia. Em primeiro lugar, foi uma das principais

    passagens da Rota da Seda, um caminho de conexo logstica terrestre entre a Europa e a sia.

    18

    Cabe mencionar, no entanto, que a ndia foi um dos primeiros pases a reconhecer a legitimidade dos interesses

    russos na Crimeia. O governo indiano tambm se ops a qualquer tipo de retaliao econmica ou poltica Rssia.

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    Durante o Sculo XIX, desenvolveu-se o Grande Jogo de diplomacia, incurses e espionagem entre

    o Imprio Britnico e o Imprio Russo. O Afeganisto foi o ponto de choque entre imprios,

    tornando-se um tampo aps a Conveno Anglo-Russa (1907). Atualmente, a China retoma a

    viso da Rota da Seda atravs do projeto One Belt, One Road (OBOR), buscando retomar as rotas

    terrestres para a Europa e concretizar o sonho moderno de uma Eursia interconectada e

    interdependente (KHANNA, 2008, p. 65-70).

    Neste sentido, a segunda resposta da OCX aos desafios poltico-securitrios ocorre na esfera

    econmica. Diferentemente do perodo do Grande Jogo, os projetos das atuais potncias

    continentais da sia parecem estar progressivamente se alinhando. Como mencionado

    anteriormente, a China tem destinado cada vez mais recursos ao OBOR, inclusive por intermdio da

    OCX, para os pases da sia Central. Os projetos visam realizar o potencial energtico, logstico, de

    recursos naturais e de servios destes pases. A Rssia aposta na Unio Econmica Eurasiana,

    composta por Armnia, Bielorrssia, Cazaquisto e Quirguisto. Ambos os projetos tm

    apresentado sinergia e algum grau de coordenao (KARAGANOV, 2015).

    Neste contexto, tambm necessrio mencionar os planos futuros da OCX. Durante a 15

    Cpula da OCX, em julho de 2015, China e Rssia concordaram em alinhar progressivamente a

    Rota da Seda/OBOR e a Unio Econmica Eurasiana. Existe a noo de que qualquer arranjo

    securitrio entre os membros deve ser ancorado pelo desenvolvimento econmico comum19

    (LU,

    2015). Houve tambm uma discusso sobre a criao de um banco de desenvolvimento da OCX.

    No entanto, o grande acontecimento da Cpula foi o incio do processo de adeso da ndia e do

    Paquisto como membros plenos. Ainda, foram aceitos como parceiros de dilogo: Armnia,

    Azerbaijo, Camboja e Nepal. Argumenta-se que a OCX pode estar entrando em uma nova fase,

    caracterizada pela sua incorporao de novos membros e pela expanso de seus objetivos

    econmicos, polticos e securitrios.

    Uma nova fase para a OCX: ndia e Paquisto como membros plenos

    Nesta seo ser feita uma anlise mais conjuntural, alicerada nos elementos conceituais e

    histricos apresentados nas sees anteriores. Buscar-se- responder quais os possveis interesses

    19

    Em contraste, ao longo dos ltimos anos, os Estados Unidos tm desenvolvido uma verdadeira guerra comercial

    contra a ndia que supostamente seria um dos grandes parceiros no Piv para a sia em assuntos relacionados a propriedade intelectual.

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    dos membros da OCX ao aceitarem dois novos membros de grande magnitude regional. Ainda,

    sero analisadas possveis implicaes da expanso desta Organizao para a Segurana

    Internacional, em especial para a sia. Como resultado, pode-se observar que a OCX embarca em

    uma nova fase distinta das anteriores. Os dois novos elementos determinantes desta fase seriam: 1)

    A busca pela integrao continental na sia; 2) tentativa de estabilizao de dois temas centrais

    para a segurana regional a guerra civil no Afeganisto e a rivalidade ndia-Paquisto.

    Embora os elementos trazidos nesta seo sejam historicamente recentes e, portanto, sujeitos

    a reviravoltas ou reinterpretaes, analisa-los no significa tentar predizer o futuro. Pelo contrrio,

    aqui so retomadas as ideias da hegemonia estadunidense exercida por intermdio do

    Imperialismo e do contedo tico da OCX (ou Esprito de Xangai) como elementos explicativos

    para o fenmeno em questo.

    Em primeiro lugar, conforme exposto, os Estados Unidos no possuem mais a garantia de

    sucesso na projeo de fora para todas as regies, condio da qual usufrura no incio deste

    sculo. Logo, sua capacidade de moldar os eventos em regies distantes como os oceanos ndico e

    Pacfico est reduzindo e, cada vez mais, sujeita interferncia de potncias militares regionais,

    como China, ndia e Rssia. Seguindo nesta linha, seu comportamento deve ser progressivamente

    moderado pelos interesses das potncias regionais.

    A ndia frequentemente citada como um aliado natural dos Estados Unidos devido a sua

    rivalidade com a China. Apesar de existir uma parceria estratgica Indo-Americana, equivocado

    assinalar um alinhamento automtico entre as partes. A ndia um pas ps-colonial

    subdesenvolvido, que partilha de valores asiticos e tem um histrico de no alinhamento e de

    autonomia estratgica. Na mesma linha do Esprito de Xangai, a ndia deseja um mundo

    policntrico (multipolar), numa ordem que no seja hierrquica e nem baseada em valores

    universais. Mesmo sendo democrtica, a ndia no promotora da democracia em suas relaes

    externas (CHACKO; DAVIS, 2015, p. 6-14).

    A elevao da ndia a Grande Potncia no mbito militar no um sinal de que ela agir

    como as Grandes Potncias europeias do Sculo XX, repetindo a rivalidade Franco-Alem contra a

    China. Pelo contrrio, exatamente pelo histrico colonial e pela disparidade socioeconmica entre a

    sia e o Ocidente, indianos e chineses tm sido cada vez mais pragmticos em suas relaes

    bilaterais. Embora nenhum dos dois pases mais populosos do mundo descarte um cenrio de

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    confrontao, sabido que, por hora, ele altamente indesejvel20

    . Alm disso, ambos claramente

    defendem a regionalizao da segurana, em contraposio ao intervencionismo externo.

    Levando em considerao certo grau de estabilidade estratgica nas relaes entre China e

    ndia, a dinmica que ambos os Estados no conseguem controlar justamente o Arco de Crises

    que abarca boa parte do mundo muulmano e parte destes dois pases. A ascenso recente do Estado

    Islmico e sua expanso (at mesmo para o Afeganisto) tambm elemento de preocupao

    conjunta. A dinmica afeg retroalimentada pela fragilidade estatal e pela ambiguidade do

    Paquisto, onde setores da burocracia flertam com a radicalizao poltica, a despeito da relativa

    laicidade do Exrcito e das elites polticas civis. Alm disso, o cenrio de guerra interestatal mais

    provvel da regio seria justamente entre ndia e Paquisto, que enfrentam crises periodicamente.

    A Rssia, por sua vez, sente que vem perdendo espao para a China em sua esfera de

    influncia tradicional. Assim, a incluso de membros da grandeza de ndia e Paquisto seria uma

    forma de equilibrar os interesses regionais. No se pode negligenciar, tampouco, que a Rssia tem

    sido pressionada pelo Ocidente a tomar atitudes indesejveis no Leste Europeu. A crise da Ucrnia

    reforou ainda mais a noo de que as oportunidades diplomticas e econmicas para os russos se

    encontram na sia. A OCX confere Rssia uma capacidade de liderana internacional que

    dificilmente teria ao agir de forma isolada. Vladimir Putin no surpreende quando afirma que deseja

    tornar a OCX numa plataforma internacional de resoluo de conflitos para alm de seus membros.

    Principalmente no caso da China, a incluso de ndia e Paquisto est condicionada adeso

    destes aos projetos da Rota da Seda. Em abril de 2015, a China anunciou investimentos da ordem de

    US$ 45 bilhes em energia e infraestrutura para o Paquisto. No ms seguinte, assinou

    investimentos num total de US$ 22 bilhes para a ndia. Ao contrrio dos paquistaneses, a ndia

    ainda no est segura se ir participar de forma plena do projeto de integrao regional da China.

    Ainda existe um debate interno sobre as vantagens e desvantagens em aceitar a maior insero

    econmica da China no Oceano ndico (MOHAN, 2014). Ao aderir OCX, entende-se que a ndia

    ao menos se prope a participar do debate sobre a integrao econmica deste espao. Isto, por si

    s, j merece destaque. Para o Paquisto, participar de um projeto de integrao com a presena de

    20

    Se colocarmos em termos da teoria realista e da balana de poder, tambm haveria nexo neste comportamento:

    teramos aqui uma contradio entre a balana regional onde China e ndia estariam em lados opostos e a balana global, onde a ndia estaria em uma posio de bandwagoning evoluindo para o soft-balancing em relao aos Estados

    Unidos.

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    China e Rssia acaba por diluir o receio de subordinar-se a uma ordem hegemnica indiana no sul

    da sia.

    O segundo eixo de atuao a estabilizao do Afeganisto e a distenso do conflito Indo-

    Paquistans um desafio de ainda maior magnitude. O Paquisto o epicentro de ambos e,

    portanto, sua entrada na OCX um evento emblemtico. Logo nos primeiros anos de sua existncia,

    o Paquisto embarcou numa aliana com os Estados Unidos, participando de um cinturo de

    conteno URSS. Ainda no final da dcada de 1970, Estados Unidos e Arbia Saudita proveram

    todo tipo de ajuda para os paquistaneses treinarem guerrilhas mujahidins e formarem o Talib para

    resistir invaso sovitica (1979-1989). Como resultado, o prprio Talib, com apoio paquistans,

    assumiu o governo afego na dcada de 1990, em meio a uma prolongada guerra civil.

    Aps o 11 de setembro, os EUA compeliram os paquistaneses a unirem esforos na Guerra

    ao Terror, apesar de sua relutncia em abandonar os antigos aliados. Ao longo dos anos, ficou cada

    vez mais claro que o Estado paquistans se encontrava dividido entre elementos que desejavam

    liderar o mundo islmico adquirindo assim profundidade estratgica para enfrentar a ameaa

    indiana e elementos que desejavam estabilizar e modernizar o Paquisto (FAIR, 2011).

    Percebendo que a soluo do conflito no Afeganisto passaria necessariamente pelo combate aos

    refgios no noroeste paquistans, os Estados Unidos iniciaram uma srie de ataques a esta regio,

    muitas vezes sem consentimento do governo local. Neste sentido, a ocupao estadunidense e o

    advento da guerra feita por robs (drones) tm efeitos poltico-estratgicos negativos em longo

    prazo: o governo paquistans entra em crise de legitimidade, aumenta o sentimento antiamericano e

    mais radicais so recrutados (RASHID, 2012; AHMAD, 2014).

    A rivalidade Indo-Paquistanesa, por sua vez, baseada numa disputa civilizacional e de

    identidade. Os dois Estados surgiram de uma violenta partilha do Raj Britnico e enfrentam muita

    dificuldade para consolidarem sua legitimidade, seja por questes socioeconmicas ou pelos grupos

    insurgentes regionais. A questo da Caxemira central para a manuteno de ambas as ordens

    sociais. Desde a Guerra Sino-Indiana (1962), formaram-se relaes triangulares entre a ndia e a

    parceria China-Paquisto (RIBEIRO, 2015, p. 47-52).

    A China tem se mostrado cada vez mais incomodada com as dificuldades em lidar com o

    Paquisto. A ingovernabilidade de certas regies tem afetado os negcios chineses e colocado em

    risco seus projetos logsticos no pas. Alm disso, a China tem promovido a aproximao com a

    ndia, mas os indianos desconfiam de suas histricas relaes especiais com os paquistaneses.

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    Mesmo assim, a cooperao possvel porque as duas potncias temem que o Paquisto se

    radicalize. Este cenrio dificultaria qualquer distenso com a ndia e abriria espao para a expanso

    de redes Uigures (populao nativa do Xinjiang) ou mesmo do novo Estado Islmico da Sria e do

    Iraque.

    Outra questo fundamental foi a reaproximao do Paquisto com a Arbia Saudita nos

    ltimos anos, com rumores de que os paquistaneses estavam compartilhando tecnologia militar

    sensvel, inclusive armas nucleares. Percebendo o risco desta movimentao, China e Rssia

    tomaram atitudes na mesma direo: os Russos retiraram o embargo venda de armas para o

    Paquisto e os Chineses compeliram os paquistaneses (nos bastidores) a no enviarem tropas para

    combater na Guerra Civil do Imen. Em relao ao Afeganisto, observa-se que chineses e russos

    tm favorecido a aproximao entre o governo central (agora liderado por Ashraf Ghani), o Talib e

    a inteligncia paquistanesa (Intelligence Services Directorate).

    Tendo esses fatores em mente, a entrada do Paquisto na OCX tem como objetivo fortalecer

    os setores que favorecem a normalizao das relaes exteriores do pas, seja em relao ndia ou

    ao radicalismo islmico. Observando os elementos fundamentais da Organizao, o Paquisto

    deveria seguir uma postura de reduo do apoio a grupos insurgentes na Caxemira, por exemplo. A

    ndia, por sua vez, tambm realiza operaes encobertas, a exemplo de 1971, quando auxiliou os

    bengalis na libertao de Bangladesh. Atualmente, acredita-se que a inteligncia indiana esteja em

    contato com a etnia balchi, que habita o sul do Paquisto. A mitigao da desconfiana mtua

    poderia ser auxiliada por um arcabouo multilateral dentro da prpria OCX.

    A exemplo do Frum Regional da ASEAN21

    , onde as duas Coreias encontraram um

    mecanismo de dilogo informal, a OCX poder prover um espao de dilogo e resoluo de

    conflitos interessado primeiramente na diplomacia e na estabilidade. Ainda, dentro das condies

    institucionais atuais, ndia e Paquisto tero oficiais trabalhando em conjunto na Estrutura Regional

    Antiterrorista (o RATS) e, possivelmente, participaro de exerccios multilaterais e de outras formas

    de comunicao entre elites militares. Na questo da legitimidade, a no interferncia direta dilui a

    retrica nacionalista ou pan-islmica dos insurgentes. A possvel distenso Indo-Paquistanesa

    poderia abrir os canais de comrcio regionais, colocando o Paquisto na encruzilhada logstica entre

    ndia, China e sia Central.

    21

    Associao das Naes do Sudeste Asitico. Seu frum regional conta com os dez pases da regio e todos os

    principais pases da sia-Pacfico.

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    Obviamente, h de se ressalvar a complexidade das geometrias de poder varivel que

    acometem uma sia em rpida transformao. Aqui foi traado um dos perfis de coalizo regional

    atravs da OCX, que tem combinado vises de estabilizao securitria e de integrao econmica.

    Se observarmos os interesses de cada pas individualmente, possivelmente nenhum estar disposto a

    assinar uma aliana militar duradoura com qualquer de seus parceiros dentro da Organizao. Sendo

    assim, a coalizo da OCX serve para explicar um alinhamento temporrio em torno de temas de

    interesse comum, que possui, ao mesmo tempo, elementos de longa durao, como a integrao

    regional e a regionalizao da segurana.

    A questo central desta explanao justamente atentar para a convergncia de interesses na

    estabilizao do continente asitico e de suas imediaes. Pases como China, ndia e Rssia

    desejam a multipolaridade no somente porque acreditam em sua estatura individual ou porque

    desejam reconhecimento de seu status, mas tambm porque discordam da forma como a hegemonia

    estadunidense foi conduzida nas ltimas dcadas. Ao contrrio do que muitos esperavam, os EUA

    no foram uma potncia benevolente, e sim agiram de forma auto-interessada e seletiva. A coalizo

    da OCX responde filosoficamente e praticamente a questes que a hegemonia estadunidense no foi

    capaz de produzir resposta adequada. Em muitos casos, inclusive, os problemas existentes foram

    acentuados. A emergncia do Estado Islmico um exemplo claro deste ponto.

    Por fim, no podemos esquecer que o sinal verde para a entrada de ndia e Paquisto na

    OCX veio de China e Rssia. Os dois pases do sul da sia j haviam se candidatado h alguns

    anos, mas sua entrada no era aceita. Em termos estratgicos, cabe refletir se a entrada destes pases

    na OCX no uma resposta da China possibilidade de uma doutrina militar ofensiva dos EUA no

    Pacfico (baseada no conceito de Batalha Aeronaval) e da Rssia tentativa de expanso da OTAN

    para a Ucrnia. A coalizo da OCX e seu aprofundamento tambm so decorrncia prtica da falta

    de flexibilidade diplomtica dos EUA nestas duas questes.

    Concluso

    Nesta seo, sero retomados os argumentos principais da anlise e a correlao entre a

    hegemonia dos EUA e a proposta de atuao da OCX. Em primeiro lugar, parece claro que a

    hegemonia estadunidense passa por um momento de incertezas, seja em termos materiais

    (capacidades militares) ou ideolgicos (capacidade de liderana). Neste sentido, a contestao

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    ordem hegemnica depende, por um lado, da capacidade estratgica e operacional em dissuadir a

    ao unilateral dos EUA na massa eurasiana. Sem o lastro militar e a criao das Zonas

    Contestadas, o fundamento da hegemonia estadunidense permanece, mesmo que no haja a

    aquiescncia de boa parte dos outros pases. Por esse motivo, o prprio estudo das Relaes

    Internacionais e da Segurana Internacional deve estar em constante dilogo com os Estudos

    Estratgicos. O ponto de vista poltico e ideolgico, por sua vez, tambm indispensvel por prover

    modelos alternativos de governana do Sistema Internacional, sem os quais teramos uma discusso

    estril.

    Conforme visto anteriormente, a forma pela qual os Estados Unidos exercem sua hegemonia

    alimenta a instabilidade securitria de diversas regies, especialmente na Eursia. Em parte, o

    comportamento imperialista (seja neoconservador ou liberal) poderia ser explicado pela ausncia de

    desafiantes capazes de dissuadir a potncia hegemnica e pela transformao do poder militar em

    poder psicolgico-ideolgico (o terror exemplar). Este comportamento baseado no contedo

    tico do Neoconservadorismo, que coloca os fins (democracia, liberalismo econmico) acima dos

    meios (interveno militar e guerra encoberta). Todos estes fatores so produto da falta de uma

    Grande Estratgia dos EUA para o Sculo XXI. Por isso, a ascenso de competidores (China e

    Rssia) tem suscitado respostas de carter potencialmente ofensivo e preemptivo por parte dos

    Estados Unidos. A postura assertiva dos EUA em relao a seus competidores e a incapacidade em

    assimilar diferentes interesses tem fortalecido a coalizo China-Rssia.

    A OCX pode ser considerada como o principal produto desta coalizo, que adaptou sua

    atuao e suas expectativas conforme China e Rssia sentiam a necessidade em promover

    estabilidade por meio da regionalizao da segurana. Ao mesmo tempo, os dois pases utilizam a

    Organizao para avanar em seus projetos de integrao econmica regional, que tambm se

    constitui num pilar de mitigao de conflitos entre pases vizinhos.

    A deciso em expandir a OCX pode ser considerada como uma nova fase da Organizao e

    tambm um ponto de inflexo na coalizo entre estes dois pases. A partir da anlise feita na seo

    anterior, conclui-se que China e Rssia compreendem que o problema da governana na sia

    Central depende essencialmente da estabilizao do Sul da sia. Na esteira da questo securitria,

    ambos os pases esto alinhando tambm seus projetos de integrao econmica regional. Alm

    disso, existe claramente uma ambio de mudana do ordenamento global em dois sentidos: 1) Por

    meio do gerenciamento de conflitos sensveis ao Sistema Internacional (guerra civil no Afeganisto

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    e tenses entre ndia e Paquisto); 2) Proporcionando uma viso de mundo alternativa e o poder do

    exemplo ao gerenciar conflitos que a hegemonia estadunidense no foi capaz de solucionar.

    Em termos geopolticos, a confluncia de interesses e a coalizo entre China, ndia e Rssia

    tem srias implicaes para os Estados Unidos, que podem prosseguir com seu perfil atual ou

    responder de forma elaborada e consciente contestao destas Grandes Potncias. Nenhuma das

    trs potncias se ope participao securitria dos EUA em suas regies prximas. No entanto, h

    forte contestao a sua filosofia de atuao, que carece de perspectiva estratgica vivel e erode

    qualquer expectativa de estabilidade em uma ordem hegemnica unipolar.

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