REY - Parasitologia - 28

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28. SIFONÁPTEROS: AS PULGAS. 28. SIFONÁPTEROS: AS PULGAS. PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

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28. SIFONÁPTEROS: AS PULGAS.28. SIFONÁPTEROS: AS PULGAS.

PARASITOLOGIA MÉDICA

PARASITOLOGIA MÉDICA

Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de

Medicina e Saúde”, de

Luís ReyFundação Oswaldo CruzInstituto Oswaldo Cruz

Departamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

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SIPHONAPTERASIPHONAPTERA

As pulgas

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As pulgasInsetos sem asas da ordem

Siphonaptera e com aparelhobucal de tipo picador-sugador.

O corpo é achatado no senti-do látero-lateral, com osescleritos bem quitinizados eos segmentos (metâmeros)distintos e imbricados.

As pernas estão adaptadaspara o salto.

Na fase adulta são hemató-fagos, vivendo sobre o corpode aves ou mamíferos, sejacomo parasitos seja comomicro-predadores.

Participam na transmissãoda peste bubônica e do tifomurino. Elas são hospedeirasde alguns cestóides.

A grande maioria das pulgassão pequenos organismos quemedem 1 a 3 mm de compri-mento, sendo os machos umpouco menores que as fê-meas.

A cabeça é uma cápsulaquitinosa que além do achata-mento lateral, está divididapor um sulco oblíquo onde sealojam as antenas.

Pulex

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Organização Organização das pulgas (1)

O sulco antenal separa, nacabeça, as regiões frontal egenal (f) da região occipital (i).

As antenas (h) são curtas etêm apenas 3 segmentos(escapo, pedicelo e clava).

Um par de olhos simples (g)pode estar presente adiante dosulco antenal.

O conjunto das peças bucaiscompreende:

- labroepifaringe;- um par de mandíbulas (b);- um par de maxilas (d), com

os respectivos palpos maxila-res (c);

- hipofaringe; e- palpos labiais (a) que juntos

protegem o conjunto quandoem repouso.

Pulga macho, onde se vêem: a, palpolabial; b, mandíbula; c, palpo maxilar; d,maxila; e, ctenídio genal; f, fronte; g, olho;h, antena; i, occipício; j, esternopleura doprotórax; k, ctenídio pronotal; l, suturamesopleural; m, metanoto; n, urotergito do1o segmento abdominal; o, cerdaantepigidi-al; p, pigídio; q, clásper; r, 8o

esternito; s, mesoesterno; t, coxa; u,trocânter; v, fêmur; x, tíbia; y, 5 segmentostarsais; z, garra.

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Organização Organização das pulgas (2)

Diversas cerdas implantadasna cabeça servem, com outrosdetalhes para a sistemáticadesses insetos.

São importantes, nesse senti-do alguns espinhos muito quiti-nizados e dispostos em filacomo os dentes de um pente:são os ctenídios frontal, genal(e) e pronotal (k).

No tórax, cada segmentoconserva sua independência,podendo-se distinguir dorsal-mente o pronoto, o mesonoto eo metanoto (m). O pronotopode trazer um ctenídio (k).

Nas pernas, a coxa e o fêmursão segmentos longos e robus-tos. A tíbia e o tarso vão se a-longando do 1o ao 3o par e ter-minam sempre por 2 garras.

O abdome é formado por 10segmentos imbricados.

No 7o tergito há um par decerdas maiores que as outrase ditas cerdas antepigidiais(o), porque, a seguir, encon-tra-se uma placa sensorialeriçada de pêlos - o pigídio ousensílio (p).

No 10o tergito está o ânus.

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Organização Organização das pulgas (3)

Em seguida às peças bucais,o sistema digestório é consti-tuído por:

- faringe (f), onde se inseremos músculos dilatadores quepromovem a sucção;

- esôfago (g) por onde o san-gue é impulsionado até o:

- proventrículo (h), que é for-rado de espinhos quitinososfuncionando como um meca-nismo valvular;

- estômago (i), que digere eabsorve os produtos nutritivosdo sangue;

- o intestino posterior, que noinício recebe os tubos excreto-res de Malpighi (q) e, depois,dilata-se para formar a ampolaretal k), e se abre no ânus (l).

Sistema digestório e genital feminino: a)glândulas salivares; b) palpos; c) mandíbu-las; d) epifaringe; e) palpos maxilares; f)faringe; g) esôfago; h) proventrículo; i)estômago; j) ovário; k) intestino e ampolaretal; l) ânus; m) bolsa copuladora; n) orifí-cio genital; o) vagina; p) espermateca; q)tubos de Malpighi.

O sistema reprodutor femini-no é formado por ovários (j)ovidutos e vagina (o), que secomunica com a bolsa copu-ladora (m) e a espermatecade paredes quitinizadas, fácilde observar (p).

A terminália dos machospossui pinças (cláspers) parafixação à fêmea.

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Fisiologia e comportamentoAs pulgas vivem parte do

tempo sobre os animais deonde retiram seu alimento eparte nos ninhos e lugares depermanência deles.

Aí põem seus ovos e desen-volvem-se as larvas e pupas.

Xenopsylla cheopis põe 2 a 6ovos por vez e, durante todasua vida, 300 a 400. Eles eclo-dem em cerca de 16 dias.

As larvas lembram as demoscas, movem-se facilmentee se nutrem dos detritos orgâ-nicos que encontra. Após 2mudas pupam e, com mais 1-2semanas, nascem os adultos.

Fêmeas e machos adultos ali-mentam-se exclusivamente desangue, mas suportam 1 a 2semanas de jejum.

Há espécies que resistemmais tempo.

Cada uma tem seu hospe-deiro preferido, mas na faltadele buscam qualquer outro.

Alimentadas, as pulgas dorato (Xenopsylla) vivem 100dias, as do cão (Ctenocepha-lides) 200 dias e a das casas(Pulex irritans) mais de 500dias.

Cada refeição dura 15 a 20minutos. Em geral, picam 2 a3 vezes ao dia.

Larva e pupa de uma pulga

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Principais espécies de pulgasDe mais de 2.000 espécies existen-

tes, apenas algumas são de interessemédico. No domicílio humano são:

- A pulga das casas, Pulex irritans (B).- As pulgas Xenopsylla cheopis (A),

Nosopsyllus fasciatus (C) e Leptopsyllasegnis (D), encontradas em ratos e ca-mundongos.

- As pulgas Ctenocephalides canis (E)e C. felis (F) são encontradas indistinta-mente em cães e gatos.

Nas zonas rurais, a pulga do porco(Tunga penetrans) vive no peridomicílio.

Pulex e Xenopsylla não possuem cte-nídios. Nosopsyllus possui ctenídio pro-notal. Leptopsylla possui 3 (pronotal,genal e um pequeno, frontal). As Cteno-cephalides, apresentam um pronotal eoutro genal.

Cabeça e protórax da pulgasencontradas nos domicílios;c, cerda anteocular; s, suturamesopleural; v, disposiçãoem V das cerdas occipitais.

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Pulex irritansA pulga do homem ou das

casas – Pulex irritans – écosmopolita.

Vive no domicílio humano,onde se encontra bem adap-tada e chega a ser abundante,tendo preferência pelo sanguehumano.

Pode alimentar-se no cão e,mais raramente, em outrosanimais. Ela só procura umhospedeiro para alimentar-se.

A saliva que injeta produzirritação local, com halo erite-matoso e forte prurido, poden-do sensibilizar os pacientes eperturbar-lhes o sono.

Mas, em geral, essa pulganão transmite doenças.

Como vive na poeira dochão e aí põe seus ovos e criasuas larvas e pupas, o contro-le é feito com inseticidas epela remoção da poeira (depreferência com aspirador).

Pulex irritans

Notar a ausência de ctenídios e de uma sutura na mesopleura (seta).

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As pulgas de cães e gatosNo gênero Ctenocephalides encon-

tram-se 2 espécies que vivem indistin-tamente sobre cães e gatos:

1. Ctenocephalides canis.2. Ctenocephalides felis.Onde existem esses animais domésti-

cos, elas chegam a ser mais abundan-tes no domicílio que a Pulex irritans.

A primeira espécie é mais encontradaonde a temperatura e a umidade sãomais elevadas (como, p. ex., Manaus ouSalvador).

A segunda predomina em climas sub-tropicais, como no Sudeste do Brasil.

Ctenocephalides canis

Ctenocephalides felis

C. canis tem a região frontal bastante encurvada e o 1ºdente do ctenídio genal bem menor que o 2º.

C. felis tem a cabeça mais alongada, com perfil menos ar-queado, e os dois primeiros dentes do ctenídio genal sãoquase iguais.

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Tunga penetrans e tungíasePopularmente é a “pulga-da-

areia”, a “pulga-do-porco” ou o“bicho-do-pé”, cuja fêmea, de-pois de fecundada, parasita apele do porco ou, eventualmen-te, a das pessoas.

É natural da América tropicalmas propagou-se para a África.

É a menor das pulgas (1 mmde comprimento) e tem a regiãofrontal com uma ponta agudaque lhe permite furar a pele e aíintroduzir-se.

As mandíbulas são longas,largas e serrilhadas.

Os 3 segmentos do tórax sãomuito curtos. Não há ctenídios.

Os adultos, machos e fê-meas virgens, vivem no soloarenoso, quente e seco doschiqueiros e imediações.

Alimentam-se de preferên-cia sobre porcos, mas su-gam também outros animais,inclusive o homem.

Quando a fêmea fica grávi-da penetra na pele do porcoou do homem.

Tunga penetrans

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Tunga penetrans e tungíase

Na pele fica completamenteenterrada, deixando apenas aextremidade posterior expos-ta ao ar, para respirar.

Enquanto aí permanece, ali-mentado-se de sangue, seuabdome vai sendo progressi-vamente distendido pela mas-sa de ovos que acumula, atéalcançar o tamanho de umaervilha ao fim de uma semana.

Uns 100 ovos são, então,expelidos e a fêmea, agoramurcha, é expulsa pela rea-ção inflamatória desenvolvi-da em torno dela.

No solo, os ovos eclodem eproduzem larvas que se ali-mentam de detritos e após 2ecdises passam a pupas.Estas darão insetos adultosao fim de 17 dias ou mais.

A fêmea de Tunga cheia de ovos.Macho de Tunga penetrans e a fêmea

no ato de penetrar na pele.

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Tunga penetrans e tungíaseAs localizações mais freqüentes das tungíases

são: a planta dos pés, os artelhos, os espaçosentre eles e sob as unhas.

Cada lesão assemelha-se a um furúnculo e onúmero delas varia de uma única a centenasocorrendo ao mesmo tempo.

Nos casos mais favoráveis os sintomas sereduzem a um prurido tolerável. Mas a reaçãoinflamatória pode tornar o local tumefeito edificultar ou impedir a marcha, se o número deparasitos for grande.

O perigo é que essas feridas abertas e em contato com osolo, em pacientes que andam descalços, podem contaminar-se com o bacilo do tétano (Clostridium tetani).

Também podem infectar-se com Clostridium perfringes ououtras espécies responsáveis pela gangrena gasosa.

Outro risco é a blastomicose devida a Paracoccidioidesbrasiliensis.

O tratamento é feito com aplicação de inseticidas na pele.A prevenção requer o uso constante de calçado e aspersãode inseticidas nos lugares suspeitos.

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Xenopsilla cheopisÉ a pulga mais encontrada

em ratos domésticos no Brasil(D). Em alguns lugares, podeser ultrapassada em freqüên-cia por Xenopsylla brasiliensisou por Leptopsylla segnis.

Sua evolução de ovo a adultoleva um mês, no verão, e 2 a2,5 meses no inverno, vivendoo adulto 3 meses ou mais.

Encontra-se em regiões tropi-cais e em algumas regiõestemperadas (como os EUA).

Nas Américas deve ser dis-tinguida de Pulex irritans (A) ede Xenopsylla brasiliensis (G),com as quais se parece.

A importância de sua identifi-cação está em ser ela a princi-pal transmissora da pestebubônica.

Distinção entre: (A) Pulex irritans, semsutura mesopleural e (D) Xenopsylla cheo-pis, com sutura mesopleural (a) e disposi-ção em V das cerdas occipitais (b).

B e C - Terminália do macho e esperma-teca da fêmea de P. irritans.

E e F - Em X. cheopis, a cerda antepigidialinsere-se em tubérculo baixo e a cauda daespermateca é maior que o corpo (d, e).

G e H - X. brasiliensis difere de X. cheopispela cerda antepigidial sobre tubérculo alto.

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A peste na antigüidadeDesde o Império

Romano a pestebubônica percorreuo mundo em ondasepidêmicas.

Durante 50 anos,no século VI, elaaterrorizou o impé-rio de Constantino;e dizimou um quar-to da população daEuropa durante osséculos XIV, XV eXVI.

Até o começo do século XX ameaçou todos os povos, comogrande pandemia. A última ocorreu no período de 1894 a 1914.

Interior de um hospital para pestosos, em Hamburgo 1764, segundo o gravador C. Fritzch.

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A então chamadapeste negra impres-sionou de tal modo asociedade e os artis-tas da época quemuitos deles sededicaram a retratara dramática situaçãoexistente.

Ao lado, vê-se umaparte do quadropintado em março de1656 por DomenicoGargiulo, sobre apeste em Nápoles.

A PESTE E A ARTE

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A PESTE E A ARTE

A peste em Nápo-les. Outro quadro deDomenico Gargiulo.

A quantidade dedoentes, com elevadataxa de mortalidade,assombravam a po-pulação que nãosabia o que fazer.

Utilizavam todos osrecursos da terapêu-tica tradicional e,sobretudo, os proce-dimentos mágicos ereligiosos.

A igreja de SantaMaria da Saúde, emVeneza, foi construí-da com esse objetivo.

Inutilmente.

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Xenopsilla cheopis e a pesteA doença chegou aos portos do

Brasil em 1899, como peste urbana,transmitida por ratos e Xenopsyllacheopis.

A partir de 1906, penetrou nointerior do país, e instalou-se emáreas rurais como enzootia deanimais silvestres, transmitida porsuas pulgas, principalmente as dogênero Polygenis.

Controlada a doença nas cidades,com enérgicas medidas contra osratos, é a peste silvestre queresponde, agora, pelos raros casosregistrados anualmente no país.

Cabeça e tórax da pulga dosratos, Xenopsylla cheopis,desprovida de ctenídios masapresentando sutura namesopleura (a) e disposiçãoem V das cerdas occipitais(b). Possui também umacerda anteocular.

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Focos de peste silvestre

Áreas suspeitas (cinzas) e focoscomprovados de peste silvestrenas Américas (negros).

Os focos de peste silvestre encon-tram-se no Nordeste (Serras da Ibia-paba, Baturité e Triunfo, Chapadasdo Apodi e da Borborema); na Bahia(Planalto Oriental, Serra do Formo-so, Chapada Diamantina e Planaltoda Conquista); em Minas Gerais(Vales do Jequitinhonha e do RioDoce) e no Rio de Janeiro (Serra dosOrgãos).

No período 1970-1997, o númerode nossos casos chegou a 2.234com 59 óbitos. Agora está abaixo de20 por ano, sem nenhum óbito.

Focos residuais encontram-se emvários países americanos (inclusivenos EUA), na África e na Ásia.

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Peste bubônica (1)Etiologia e patologia

O agente etiológico é umcocobacilo, a Yersinia pestis(=Pasteurela pestis), cuja pa-togenicidade esta relacionadacom o antígeno capsular F1, oantígeno V/W e a toxinapestosa.

Yersinia pestis pode sobre-viver infectante, nas fezesdessecadas da pulga, durante16 meses.

Injetadas pela picada daspulgas, os cocobacilus sãolevados pelos linfáticos aoslinfonodos regionais que infla-mam formando os bubões.

Além da linfadenite dolorosae que tende a supurar, osbacilos que ultrapassam oslinfonodos vão produzir lesõesparenquimatosas de tipo he-morrágico e necroses, no fíga-do, baço, pulmões e meninges.

A forma pulmonar transmite-se diretamente de uma pes-soa a outra por perdigotos.

Yersinia pestisem punção de

lifonodo.

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Peste bubônica (2)Normalmente o período de

incubação é de 2 a 6 dias,dependendo do inóculo inje-tado pela pulga.

Os sintomas aparecemsubitamente, com mal-estar,febre, taquicardia, dores pelocorpo e nas extremidades.

Os bubões localizam-se emgeral na região inguinal em66% dos casos; nas axilas,em 20% e na região cervicalem 10% deles.

Na forma septicêmica, logosobrevêm prostração, delírioe choque, com morte em 3-5dias. A forma pneumônicamata 100% dos pacientes em3 dias.

Diagnóstico e tratamento

É feito pela pesquisa dosbacilos em punção ganglio-nar, nas secreções brôn-quicas ou em hemocultura.

O tratamento, que deveser precoce e prolongado,é feito com estreptomicinaintramuscular ou intrave-nosa.

Também com gentamici-na, doxiciclina ou cloranfe-nicol, intravenosamente.

Nas formas graves, fazero tratamento presuntivo,sem esperar a confirmaçãodo diagnóstico.

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Epidemiologia da peste urbanaReservatórios da peste

O ecossistema em quecircula Yersinia pestis, emáreas urbanas, requer po-pulações abundantes deratos domésticos e desuas pulgas, Xenopsyllacheopis, principalmente.

As espécies envolvidas,todas exóticas, são:

A - Rattus rattus,B - Rattus norvegicus,C - Mus musculus ou ca-

mundongo.A quantidade de ratos é

função da disponibilidadede alimentos, nas casas,depósitos e armazens.

A

B

C

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Epidemiologia da peste urbanaTodos os ratos são originá-

rios da Ásia e se tornaramcosmopolitas a partir do sé-culo XVIII, viajando a bordodos navios.

Rattus norvegicus é encon-trado, até hoje, de preferên-cia em cidades portuárias.

Todos têm os mesmos hábi-tos predatórios, onívoros, e amesma fecundidade.

As fêmeas parem 4 a 5vezes por ano ninhadas com 5a 10 filhotes. Estes, 6 mesesdepois, já estão aptos para areprodução.

A gestação dura cerca de20 dias.

As pulgas infectam-se aosugarem um animal em fasesepticêmica.

X. cheopis é o vetor maiseficiente porque a passagem doseu proventrículo para o estô-mago é muito estreita.

A reprodução das bactérias aesse nível logo bloqueia a pas-sagem e impede a pulga de sealimentar. Ela então tenta sugarrepetidas vezes, no mesmo ouem outros hospedeiros – even-tualmente nas pessoas.

A cada vez, depois de vio-lentos esforços de sucção, osmúsculos esofágicos relaxam eo sangue aspirado é reinjetadona circulação do novo hospedei-ro. Agora, demistura com as Yersinia pestis.

Proventrículo bloqueado (h) por colônias de bactérias.

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Epidemiologia da peste urbanaA transmissão da peste

pode ser feita mecanicamen-te por qualquer pulga que aosugar um rato infectado e,sendo perturbada, passa pa-ra outro ou para uma pessoa,com as bactérias nas suaspeças bucais.

As outras pulgas do ratoparticipam da transmissão,durante os surtos epidêmi-cos; mas, por sua distribui-ção restrita e pela menorprobabilidade de bloqueio,têm importância secundária.

A capacidade de transmis-são da peste por X. cheopis élimitada a 1 ou 2 semanas,pois o bloqueio impede-lhesde se nutrirem.

As epizootias causam ele-vada mortalidade entre osratos, e então suas pulgasfamintas têm que buscaroutros hospedeiros, inclusiveo homem.

A, ciclo epizoótico da peste; B,transmissão da pulga para o homem eentre os humanos por pulgas; C,transmissão direta entre humanos noscasos de peste pneumônica.

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Epidemiologia da peste silvestreDepois que a peste urbana

chegou às zonas rurais, pas-sou a contaminar roedoressilvestres, a partir do perido-micílio, onde a mortalidade deratos pela doença era alta.

Quase uma vintena de ani-mais passou a ser incluída noecossistema que mantém acirculação de Yersinia pestis,destacando-se, entre eles, omocó, o preá e os ratospixuna e punaré.

A transmissão da zoonosesilvestre passou a ser feitapelas pulgas desses animaise sobretudo pelas do gêneroPolygenis.

Polygenis bohlsi é a maiscomum no Nordeste, aopasso que Polygenis jordanio é no Sudeste do Brasil.

Os hospedeiros silvestrestambém morrem da infec-ção, mas suas tocas eninhos permanecerão maisde um ano contaminadoscom Yersinia pestis, queinfectará outros mamíferosque vierem a ocupar o lugar.

Mocó (Kerodon rupestris)

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Controle da peste (1)A suscetibilidade à infecção

é geral e os que se curam ad-quirem apenas uma imunida-de temporária.

Portanto, nas áreas derisco, a vigilância epidemioló-gica é essencial.

Ela se baseia em:- Inquéritos periódicos so-

bre as populações de animaishospedeiros (ratos etc.) esuas pulgas.

- Exame bacteriológico dosanimais capturados, paradetectar eventual epizootia.

- Notificação obrigatóriaàs autoridades sanitárias doscasos ocorridos ou de casossuspeitos.

- Avaliação da eficácia dasmedidas de controle em uso.

Em caso de epidemia, ospacientes devem ser isola-dos, tratados imediatamente,e suas roupas desinsetiza-das.

Todos os contatos recebe-rão tratamento profilático epermanecerão sob vigilânciaepidemiológica.

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Controle da peste (2)Nas áreas urbanas, as

medidas preventivas são:Combate aos roedores

Privar esses animais deacesso aos alimentos, cui-dando para que os depósitos,armazens e casas os tenhamprotegidos por telagem, con-teiners, armários e recipien-tes bem fechados.

Usar rodenticidas, que semostram muito eficazes.

Eles podem ser de açãorápida; isto é, iscas commisturas de substâncias tóxi-cas, que matam logo, seingeridas em quantidade sufi-ciente.

Mas, se a dose ingerida forpequena, os animais sesentirão mal e passarão aevitar as iscas.

A outra opção consiste emutilizar os rodenticidas anti-coagulantes, que vão seacumulando no organismo doroedor e provocam hemorra-gias fatais ao atingirem certaconcentração no sangue.

A quantidade de anticoagu-lante nas iscas é baixa, sóproduzindo seu efeito hemor-rágico após o animal ter-sealimentado várias vezes comelas.

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Controle da peste (3)O uso de ratoeiras só é útil

quando o número de roedo-res for pequeno ou paraeliminar os últimos sobrevi-ventes de um programa decontrole.

Controle das pulgasA longo termo, é o desapa-

recimento de suas fontes dealimentação - os roedores -que asseguram sua elimina-ção.

O controle com inseticidasé considerado emergencial,para prevenir ou controlarum surto epidêmico.

Ou para reduzir a quanti-dade dessas pragas nodomicílio.

Em certas ocasiões podeser o único meio rápido paraproteger uma comunidade dorisco de infecção pela peste.

Os inseticidas devem seraplicados nas casas e nosdepósitos de alimentos, nopêlo dos animais domésticose nos locais freqüentadospelos roedores.

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Controle da peste (4)

Vacinação e medicação preventiva

As vacinas empregadassão de germes atenuados,que aumentam a resistênciaàs infecções; ou de germesmortos, que exigem revacina-ção anual para assegurarimunidade.

Pessoas que estiverem emcontato com doentes ou commaterial infectante devemtomar antibióticos: estrepto-micina (1 g/dia/3 a 5 dias) ousulfas de ação prolongada,durante 5 dias.

Educação sanitáriaDeve orientar a população

sobre medidas que impeçam aproliferação de ratos, medianteproteção dos alimentos, desti-no adequado ao lixo e aos de-jetos humanos ou de animais.

Impermeabilização do piso ecolocação de telas ou grades aprova de roedores, nas aber-turas de depósitos de alimen-tos, cereais, sementes etc.

Esclarecimento sobre o riscode peste na região e sobre ocontrole de pulgas nas casas enos animais domésticos.

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OUTRAS DOENÇAS OUTRAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR PULGASTRANSMITIDAS POR PULGAS

Tifo murinoÉ doença infecciosa aguda

causada pela Rickettsia tiphi.Constitui uma zoonose pró-

pria de ratos, sendo transmiti-da entre esses animais pelaXenopsylla cheopis, ou maisraramente por outras pulgasdo rato.

A transmissão se dá pelasfezes da pulga e não pelapicada.

Os homens infectam-se es-poradicamente ao trabalharem ambientes onde ratos epulgas são abundantes.

Depois de contraída a viro-se, a propagação da infecçãopode ser feita de um indivíduoa outro pelos piolhos do corpo– Pediculus humanus.

O quadro clínico aproxima-se do das outras rickettsiosese as medidas de controle sãoas mesmas que para a peste.

HelmintíasesAs pulgas são hospedeiros

intermediários de Dypilidiumcaninum e de Hymenolepisdiminuta.

Participam do ciclo vital aspulgas do rato, as do cão e,por vezes, a do homem.

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Leituras complementaresLeituras complementaresMINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias.

Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].MINISTÉRIO DA SAÚDE, DNERu – Endemias Rurais. Métodos de trabalho

adotados pelo DNERu. Rio de Janeiro, MS/DNERu, 1968 [278 páginas].REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora

Guanabara, 2002 [380 páginas].REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a edição,

ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003 [950 páginas].REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001

[856 páginas].WORLD HEALTH ORGANIZATION – Vector Control in International Health.

Geneva, WHO, 1972.