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PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA 20. ENTEROBÍASE E TRICURÍASE 20. ENTEROBÍASE E TRICURÍASE Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

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PARASITOLOGIA MÉDICA

PARASITOLOGIA MÉDICA

20. ENTEROBÍASE E TRICURÍASE 20. ENTEROBÍASE E TRICURÍASE Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia

Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos deMedicina e Saúde”, de

Luís ReyFundação Oswaldo CruzInstituto Oswaldo Cruz

Departamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

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EnterobíaseEnterobíase

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Enterobius vermicularisEste nematelminto (outrora denomi-

nado Oxiurus vermiculares) é agenteetiológico da enterobíase (ou oxiuríase)parasitose intestinal peculiar à espéciehumana e freqüente, em crianças.

A fêmea cilíndrica e com extremi-dades afiladas (A) mede cerca de 1 cm.A cutícula lisa forma 2 expansõescervicais (a).

O macho (B) muito menor, tem aextremidade posterior enrolada ventral-mente.

O hábitat dos vermes adultos é aregião cecal do intestino grossohumano e suas imediações, onde vivemaderidos à mucosa.

A, fêmea; B, macho; e C, ovo de Enterobiusvermicularis; a) aletas cervicais; b) esôfago; c)intestino; d) útero; e) vagina; f, ovário; g) reto eânus; h) canal ejaculador; i) testículo.

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Fisiologia e ciclo do enteróbioOs enteróbios têm um esôfago

com bulbo posterior (flexa) e umintestino simples.

Ovário, oviduto e útero sãoduplos e a vagina abre-se nolimite entre terço anterior docorpo e o médio; o ânus fica noinício do terço posterior.

A fêmea fecundada, quandocheia de ovos no útero, relaxa suainserção e é arrastada para forado intestino sendo exprimida noânus, razão pela qual expulsagrande quantidade de ovos napele em torno.

A morte da fêmea, ao fim de 35-50 dias, também libera ovos.

Extremidade anterior de Enterobius vermicularisonde se vê o esôfago com um bulbo dotado demecanismo valvular (flexa) e parte do útero comovos.

Enterobiusvermicularis

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Fisiologia e ciclo do enteróbioOs ovos são característicos, medindo

50 a 60 µm de comprimento por 20 a 30µm de largura.

São mais achatados de um lado e, alémde sua dupla casca, contêm uma larva L2já formada por ocasião da postura.

Os ovos só se tornam infectantes apóscontato com o O2 no períneo ou no meioambiente.

Na temperatura da pele (30ºC) essamaturação faz-se em 4 a 6 horas.

Quando ingeridos, eclodem no intestino delgado do novohospedeiro (ou do próprio paciente: é a auto-infecção),desenvolvendo-se as larvas até vermes adultos, enquantomigram lentamente até o cecum. Não há ciclo pulmonar.

No hábitat definitivo copulam e as fêmeas começam aproduzir ovos.

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Patologia e clínica da enterobíaseA ação patogênica é,

principalmente, de naturezamecânica e irritativa, aoproduzirem os vermes peque-nas erosões da mucosa ondese fixam.

Ou ao provocarem umainflamação catarral quando oparasitismo for intenso.

Só em casos extremosestão presentes milhares devermes; pois, geralmente,eles são muito poucos.

Em geral apenas uma decada dez crianças infectadasapresenta sintomas, podendo-se encontrar uma ou algumasfêmeas, no períneo, a cadamanhã.

O principal sintoma é oprurido na região anal, queleva o paciente a coçar-se echega, mesmo, a produzirescoriações.

O períneo fica vermelho econgesto, podendo dar lugar ainfecções.

Também podem surgir le-sões na mucosa retal.

Em meninas soe haver pru-rido vulvar.

Fenômenos de hipersensi-bilidade devem estar presen-tes pois os pacientes sentemtambém prurido nasal.

Crises de urticária não sãoraras.

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Diagnóstico da enterobíaseIrritabilidade, distúrbios

do sono ou insônia podemresultar do parasitismo.

Na esfera genital, a irrita-bilidade local leva, even-tualmente, a um exageradoerotismo, masturbação ouninfomania.

No parasitismo intenso,instala-se uma colite crô-nica, com fezes moles oudiarréia e inapetência.

Em conseqüência, há umemagrecimento do pacien-te.

Pensa-se em enterobíase noscasos de prurido anal que seagrava à noite, com eosinofilialigeira (4 a 15% de eosinófilos)e sem outras causas.

O exame de fezes (comenriquecimento) só revela 5 a10% dos casos.

O diagnóstico é fácil quandoas pessoas que cuidam dascrianças encontram os vermesno períneo, na roupa íntima oude cama.

Fêmeas adultasde Enterobius(com 1 cm) en-contradas noperíneo ou naroupa íntima.

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Diagnóstico da enterobíaseO melhor método para o

diagnóstico é a busca de ovos (ouvermes) no períneo, de manhã antesdo banho, pela técnica da fita adesiva:

Um segmento desta (a) é dispostoem volta de uma lâmina de mi-croscopia com a parte colante parafora (A).

Colocada contra o ânus (B) e,depois, aproximando-se as nádegas,os parasitos da pele aderem à fita queé em seguida colada sobre a lâmina(C).

Examinar a lâmina ao microscópio.Tiras de papel (b) foram previamente coladas aos

extremos da fita adesiva para facilitar seu manejo e permitiranotações sobre a identificação do paciente, data etc.

C

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Tratamento da enterobíaseO tratamento é feito com

um dos medicamentosseguintes, de largo espectro,que agem também contraoutros helmintos intestinais:

Albendazol, dose única (400mg), por via oral, a repetir 2semanas depois.

Mebendazol, 100 mg duasvezes ao dia, durante 3 dias.

Pamoato de pirantel, doseúnica (10 mg/kg) por via oral,a repetir após 15 dias.

Piperazina (50 mg/kg), to-mar durante uma semana).

Mais específico e igual-mente eficiente é o pamoatode pirvínio (5 a 10 mg/kg emdose única, por via oral).

A expectativa de cura comum só tratamento é de 80 a90%. Com dois, aproxima-sede 100%.

Apesar da curta vida doshelmintos, o parasitismo duraem geral muitos anos devidoà facilidade com que ocor-rem as reinfecções.

Donde ter-se que tratar, aomesmo tempo, toda a famíliaou os grupos inteiros nasescolas, asilos e orfanatos.

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Epidemiologia da enterobíaseO mecanismo de transmissão

é explicado por acumularem-seos ovos no períneo, sobretudodurante a noite, passando daípara os lençóis, pijamas e aroupa íntima.

De manhã, ao movimenta-rem-se os lençóis, onde osovos se haviam acumulado,ao despir ou trocar de roupa,(puxando-a pela cabeça),eles são facilmente suspen-didos no ar, como aspoeiras.

E são então aspirados.Fato semelhante ocorre,

também, quando os pacien-tes vão ao toalete.

A escola constitui lugar defácil transmissão.

A população escolar é amais parasitada, seguida dapré-escolar e das pessoasque cuidam das crianças.

Circulação de ovos de Enterobius.

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Epidemiologia da enterobíaseA atmosfera de dormitórios

e banheiros freqüentados porpessoas parasitadas costumaser rica de ovos embrionados.

Quando aspirados e deglu-tidos com as secreçõesbrônquicas, esses ovos,contendo larvas L3, passam ainfectar as pessoas susce-tíveis.

Isso explica não só ashétero-infecções, mormenteentre os que dormem namesma cama ou no mesmoquarto, como as re-infecçõesque se prolongam por anos.

Além da transmissão porvia aérea, ela pode dar-sepelas mãos sujas de outrasou da mesma pessoa; ou pelacontaminação de alimentos eobjetos que vão à boca.

A super-infecção pode serconseqüência do ato de coçar(relacionado com o intensoprurido anal), fazendo comque um número considerávelde ovos se acumule sob asunhas.

Crianças que chupam dedoe pessoas que roem unha,são as mais expostas.

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Epidemiologia da enterobíase

Em meados do século XX, estimava-seexistirem 200 milhões de pessoas parasita-das no mundo, sendo maior a prevalêncianos países de clima frio (mesmo se ricos).

Lá, onde se vive meses em ambientesfechados, se toma pouco banho e as mudasde roupas são menos freqüentes, asreinfecções e superinfecções são facili-tadas.

Em outros lugares, a vida ao ar livre, o usode pouca roupa e os banhos freqüentes(inclusive os de rio) reduzem os riscos deenterobíase.

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Controle da enterobíase Controle da enterobíase (1)(1)

Nenhuma medida isolada é suficiente parainterromper a transmissão desta helmintíase.

Mas, quando aplicada a todos os membros deuma família ou de um grupo em causa, aterapêutica é a mais eficaz.

Ela deve ser repetida a curtos intervalos –cerca de 20 dias – para que não se complete ociclo biológico do parasito. Medidas que devemacompanhar a quimioterapia são:

– Banhos matinais diários de chuveiro.– Lavagem cuidadosa das mãos depois de

defecar, antes de comer e de prepararalimentos.

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Controle da enterobíase Controle da enterobíase (2)(2)

Recomenda-se também:– Manter as unhas curtas e limpas com

escova. Impedir a coçagem, com pomadaantipruriginosa, e vestindo macacões nascrianças para dormir.

– Mudar freqüentemente a roupa de cama, ade dormir e a de baixo, lavando-as comaquecimento a 55ºC ou fervendo-as.

– Evitar superlotação dos quartos, arejá-losbem e remover a poeira (se possível comaspirador).

– Manter os sanitários limpos, aplicardesinfetantes e promover a educação sanitáriados usuários.

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e e Trichuris trichiuraTrichuris trichiura e e outros tricurídeosoutros tricurídeos

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Os TrichuroideaSão vermes redondos de tamanho

pequeno ou médio, que são filiformesem sua porção anterior e fusiformesposteriormente.

As espécies que habitualmenteparasitam o homem são Trichuristrichiura, cosmopolita, e Trichinellaspiralis, inexistente no Brasil.

T. trichiura é também denominadotricocéfalo (nome antigo).

A infecção recebe os nomes detricuríase, tricurose e tricocefalose.

Estimou-se existirem no mundo350 milhões de indivíduos com essaparasitose, dos quais 30 milhões naAmérica tropical (Stoll, 1947).

A, fêmea; B, macho.a) vagina; b) útero; c) ovário; d)reto e ânus; e) faringe; f) canaldeferente; g) espículo; h) cloaca; i)testículo.

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Trichuris trichiura: o parasitoAs fêmeas adultas medem 3 a 5 cm

de comprimento sendo os machos umpouco menores. O segmento delgadoanterior é mais longo que o posterior.

Os órgãos bucais são rudimentares eo esôfago, formado por uma coluna decélulas secretoras (esticócitos), semmusculatura, que apresenta delgadocanal atravessando todo o segmentodelgado do corpo. O conjunto é oesticossomo.

Os órgãos reprodutores são muitosimples e singelos tanto no machocomo na fêmea.

A extremidade posterior do macho éenrolada ventralmente em espiral e, dacloaca, projeta-se um longo espículoenvolvido por uma bainha cuticularrecoberta de minúsculos espinhos.

Extremidade posteriordo macho, mostrando oespículo e sua bainhaexteriorizados (seta).

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Trichuris trichiura: o parasitoO ciclo de Trichuris trichiura

requer apenas um tipo dehospedeiro: do gênero humano.

Os vermes adultos habitamem geral o cecum, poucasvezes o apêndice, o cólon ou asúltimas porções do íleo.

Alimentam-se aí do líquidointersticial, do sangue e detecidos lisados.

O número de parasitosalbergados por um pacienteestá geralmente entre 2 e 10,mas varia consideravelmentepodendo chegar a centenas,em casos raros.

Desenho que representa aimplantação de alguns Trichurisna mucosa do intestino grosso.

Eles podem viver 6 a 8anos.

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Trichuris trichiura: o parasitoCada fêmea fecundada

elimina entre 3.000 e 7.000ovos por dia.

Os ovos têm forma muitocaracterística, elíptica, comcasca tripla, de tonalidadecastanha; medem 50-55 µmde comprimento por 22-24µm de largura e contêm umacélula ainda não dividida.

Nos extremos do ovo, há 2tampões polares de aspectohialino, por onde se dará aeclosão da futura larva.

Os ovos não embrionam en-quanto no interior do intes-tino.

A formação de uma larvatem lugar no meio exterior, aofim de 11 dias em tempera-tura de 35ºC; de 3-4 semanasa 26ºC e só ao fim de 4 a 6meses se a 15ºC.

O ovo

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TricuríaseNo laboratório os ovos

permanecem infectantes cer-ca de 5 anos.

Mas em condições naturaisdevem resistir, pelo menos,durante vários meses.

Quando ingeridos, chegamdiretamente ao intestinogrosso, sem migrações poroutros órgãos.

Aí, as larvas deixam o ovopor um de seus pólos e sefixam à mucosa, mergulhan-do nesta seu segmentodelgado.

Tornam-se vermes sexual-mente maduros ao fim de 1 a3 meses.

Na grande maioria dasvezes, o parasitismo é assin-tomático, não se sabendo apartir de quantos vermes ossintomas aparecem.

Pensa-se que eles sãodevidos a um irritação dainervação local, com refle-xos sobre o peristaltismo e aabsorção intestinal, ou afenômenos de hipersensibi-lidade.

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TricuríaseTricuríaseDiagnóstico

Qualquer método de examede fezes é adequado para odiagnóstico, dada a abundân-cia de ovos nas fezes dospacientes e sua forma carac-terística.

Para se avaliar a cargaparasitária utilizam-se técni-cas como a de Stoll (depreferência) ou a de Kato-Katz.

Nas infecções leves hámenos de 5.000 ovos porgrama de fezes.

Nas pesadas, há mais de10.000 ovos/grama.

Em crianças, pode haverapenas nervosismo, insônia,inapetência e eosinofilia.

Mais vezes, ocorrem diar-réias, dor abdominal, tenes-mo e perda de peso.

Outros distúrbios digesti-vos podem estar presentes.

Em crianças pequenas, aprodução de diarréia persis-tente tende a gerar umquadro de desidratação.

E uma irritação intestinalintensa, por elevada cargaparasitária, chega a produ-zir prolapso retal.

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Tratamento da tricuríase

Vários anti-helmínticos são eficazes parao tratamento da tricuríase.

As preferências atuais são para:Mebendazol – A dose é de 100 mg, duas

vezes ao dia, durante 3 dias (600 mg nototal). Também podem ser usados oalbendazol e o flubendazol.

Pamoato de oxantel – Nos casos leves,administrar 10 mg por quilo de peso dopaciente, em dose única, por via oral. Nosdemais, dar essa dose duas vezes ao dia,durante 3 dias.

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Epidemiologia da tricuríaseA tricuríase é doença cosmopolita,

com distribuição semelhante à daascaríase.

A prevalência oscila entre 30 e80% da população geral, incidindoprincipalmente em crianças.

No Brasil a prevalência é próximade 30%, sendo mais elevada naAmazônia e na faixa litorânea, declima equatorial e chuvas distribuí-das pelo ano todo.

Em Alagoas 71% das pessoasexaminadas, no período 1974-1976,eram positivas; em Sergipe 80%.

As crianças apresentam as cargasparasitárias mais altas e assintomatologias mais pronunciadas. A - Prevalência da tricuríase

segundo a idade. B - Cargaparasitária segundo a idade(Bundy & Cooper, 1989).

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Epidemiologia e controle Epidemiologia e controle da tricuríaseda tricuríase

As únicas fontes deinfecção são as humanas,cabendo às crianças emidade pré-escolar a maiorresponsabilidade na trans-missão da tricuríase.

O peridomicílio é a áreamais afetada, devido àpoluição fecal do solo,onde as condições desaneamento e de higienesão precárias.

Os ovos dos trícuros sãomais sensíveis à desidra-tação que os de áscaris,razão pela qual é nos solosúmidos e sombreados ondepermanecem mais tempovivos.

As medidas de controlesão aquelas recomendadasem relação à ascaríase edemais parasitoses trans-mitidas pelo solo (geo-helmintíases).

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Capilaríase e Capilaríase e triquinelosetriquinelose

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CapilaríaseCapilaríaseCapillaria hepatica é um

tricurídeo muito freqüentecomo parasito de ratos e deoutros roedores (presente em40-90% dos Rattus norvegi-cus); e podendo ser encon-trado em outros mamíferos,como cães e gatos.

A fêmea mede 2 cm decomprimento e o macho 1 cmapenas.

Habitam o parênquimahepático, onde depositamseus ovos que formam aglo-merados visíveis a olho nu.

Os ovos se parecem comos de Trichuris, mas têm acasca externa com canalícu-los que lhes emprestamaspecto estriado.

Medem 50 a 68 µm de com-primento por 30 µm de largo.

Para a transmissão do para-sito é necessário que umroedor infectado seja comidopor um carnívoro e este eli-mine os ovos de Capillaria emsuas fezes.

No meio externo, os ovoslevam 2 meses para embrio-nar e tornarem-se infectantespara outros roedores.

Ovo de Capillaria hepatica

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CapilaríaseCapilaríaseA infecção humana é muito

rara, causando hepatite,hepatomegalia acentuada edolorosa, com fibrose.

Nos casos graves, háfebre, anorexia, vômitos,anemia e eosinofilia elevada(até 80% de eosinófilos). Opaciente apresenta grandeastenia.

Nas formas mais benignas,os sintomas são discretos ea evolução pode terminarpela cura espontânea.

Mas, em geral, a infecçãoleva o paciente à morte.

Os ovos não aparecem nasfezes dos pacientes.

DiagnósticoÉ feito por biópsia ou na

mesa de autópsia.A ingestão de fígado de

caça pode fazer com que osovos, sem eclodir, apareçamnas fezes de pessoas sadias,simulando uma infecção.

Admite-se que a origem dainfecção humana decorra daingestão de ovos dissemina-dos por cães e gatos quecaçaram roedores infecta-dos, tendo esses ovos em-brionado no meio ambiente.

A prevenção requer a elimi-nação dos ratos e as demaismedidas já recomendadaspara o controle das geo-helmintíases.

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Trichinella spiralis e triquineloseA triquinelose é doença

relacionada com o consumoda carne de porco crua oumal cozida e seus produtosderivados.

Ela é também chamada tri-quinelíase, triquiníase ou tri-quinose.

Seu agente principal é aTrichinella spiralis (super-família Trichuroidea, famíliaTrichinellidae) cujas larvas seencontram na carne do porcoe, sendo ingeridas, migrampara os tecidos do homem,onde se encistam.

Os parasitos circulam entreratos (que são canibais) eporcos, que por vezes comemratos, vivos ou mortos.

A doença é cosmopolita econstitui problema na EuropaOriental e Meridional, na Amé-rica do Norte e em algunsfocos da África e América doSul. Não foi registrada noBrasil.

Em algumas regiões os pa-sitos pertencem às espéciesT. nelsoni e T. nativa, quecirculam entre animais silves-tres.

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Trichinella spiralisOs vermes adultos são muito peque-

nos: as fêmeas (B) medem 3-4 mm e osmachos (A), 2 mm de comprimento.

A boca é simples; o esôfago émuscular em sua parte inicial e o restoformado pelo esticossomo.

O ânus terminal é dotado de duaspapilas cônicas, no macho, por entreas quais projeta-se a parede da cloacadurante a cópula.

Os helmintos vivem ao longo dointestino delgado, presos à mucosa ouem sua espessura, mas não noscólons.

Depois da fecundação os machossão eliminados e as fêmeas aprofun-dam-se nos tecidos. Elas são vivíparas.Trichinella spiralis:

A, macho; B, fêmea.

B

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TriquineloseAs fêmeas parem de 350 a 1.500

larvas de primeiro estádio, durante 2a 16 semanas.

Parte das larvas são eliminadascom as fezes, enquanto a maioriainvade a circulação sanguínea oulinfática sendo disseminada peloorganismo.

Apenas as que se localizarem namusculatura esquelética poderãoevoluir. No interior das fibras sofremtrês mudas e crescem de 0,1 mm a1 mm, em um mês.

Aí se enrolam e são isoladas poruma cápsula fibrosa segregada pelohospedeiro.

Nos tecidos humanos, podem per-manecer vivas 5 a 10 anos, sem evo-luir.

Duas larvas encistadas de Trichinella spiralis,

no músculo.

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Triquinelose: patologia (1)Se a carne triquinada do

porco for consumida crua oumal cozida, as larvas serãolibertadas no estômago, peladigestão, invadirão a mucosaduodenal (onde terá lugar a4ª muda) e 2 a 3 dias depoiscompletam sua maturaçãosexual.

A produção de larvas teminício 4 a 7 dias depois.

Somente os vertebrados desangue quente podem serinfectados; e isto só ocorrecom os de hábitos carnívorosou onívoros.

A imunidade aumenta coma idade e nas reinfecções,mas parece obedecer amecanismos complexos.

PatologiaOs casos variam de assin-

tomáticos a benignos ougraves, segundo a cargaparasitária e as condiçõesdo indivíduo.

Na fase de invasão, quedura uma semana, as mani-festações dependem donúmero de larvas infectan-tes, podendo causar duode-nite e jejunite, com náuseas,vômitos, cólicas e diarréia.

Na fase migratória, muitosembriões são destruídos nosmais diversos tecidos, sobre-vivendo apenas os quechegam aos músculos es-queléticos.

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Triquinelose: patologia (2)Os grupos musculares mais

atingidos são os de maioratividade, como o diafragma,os masseteres, os linguaisetc.

As manifestações clínicas,causadas por inflamações eedemas localizados, são asmais variadas.

Podem surgir de repentenas pálpebras superiores,nas têmporas ou nos ladosdo nariz.

Há febre remitente, aumen-to dos linfonodos, das glân-dulas salivares e eosinofiliaentre 20 e 70% ou mais deeosinófilos no sangue.

Depois, aparecem mialgiasde tipo reumático, dificulda-des respiratórias, de degluti-ção, de mastigação e da fala.

Em alguns casos há parali-sias espásticas dos membrose miocardite.

As fibras musculares para-sitadas degeneram e sãocercadas por uma inflama-ção difusa.

Outras manifestações quepodem ocorrer nesse períodosão exantemas, urticárias,bronquites e pneumonites.

A mortalidade em geral ficaabaixo de 1%; mas nasepidemias chega a 35%.

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Triquinelose: patologia (3)Por esse tempo as fêmeas

já deixaram de produzir maislarvas, cessando a parasite-mia. Elas não tardarão a mor-rer ou a serem eliminadascom as fezes, ao fim de 1 ou2 meses.

A evolução pode ser para acaquexia e a morte ou para aregressão progressiva dasmanifestações e cura dopaciente.

Aos 6 meses muitos cistoscomeçam a calcificar-se, aomesmo tempo que as larvas.

Mas algumas larvas resis-tem vivas um ano ou mais.

No sistema nervoso osquadros são ainda maisvariados, indo das cefaléiasaté as alucinações e ocoma.

O envolvimento cardíacopode levar ao óbito.

Período de encistamento:A partir dos 20 ou 30 dias,

o organismo desenvolve umareação inflamatória em tornode cada larva.

Donde resulta uma fibrosee formação de um cisto queisola os parasitos. Em seumaior diâmetro o cistomedem cerca de 0,4 mm.

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Triquinelose: diagnóstico

Em todos os casos, odiagnóstico desta parasito-se é sempre difícil.

Os quadros mais suges-tivos apresentam:

- febre alta e irregularque dura 1 a 9 semanas (em92,5% dos casos);

- edema palpebral supe-rior (em 95,2%) e

- distúrbios intestinaisnas primeiras semanas.

Depois, mialgias (em90% dos pacientes);

- hiper-eosinofilia (em98,6% deles) e

- hemorragias linearessob as unhas.

Como antecedente, háconsumo da carne de porcoou de seus derivados crusou mal cozidos.

A biópsia muscular -tricnoscopia - mostra apresença de larvas L3.

Mas falha no início dainfecção ou quando oparasitismo for muito baixo.

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Triquinelose: diagnóstico e tratamento

Os métodos imunológicostardam em positivar-se, sen-do mais precoces os quedetectam IgM.

Atualmente o mais utiliza-do é o de ELISA.

Mas, nas áreas endêmicas,grande parte da populaçãojá apresenta anticorpos,devido a infecções benignasanteriores.

Em animais o diagnósticoé feito pela tricnoscopia oupela digestão de tecidossuspeitos.

Tratamento

É feito com o mebendazol(200 mg durante 5 dias), oalbendazol (400 mg durante 3dias ou o pirantel (10 mg/kgde peso, 5 dias).

Os sintomas regridem em24 ou 48 horas.

Eles podem ser melhora-dos com o uso se cortisonaou de outros medicamentosanti-inflamatórios.

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Epidemiologia e controleAs principais áreas endêmi-

cas estão fora dos trópicos.Na África, alguns casos

estavam relacionados com oconsumo de carne de “javali”.

Os ratos são os principaisreservatórios de T. spiralis eseu canibalismo assegura atransmissão de rato a rato.

Mas, os animais que se ali-mentam habitual ou ocasio-nalmente destes roedoresparticipam da cadeia detransmissão, como sucedecom os porcos.

Nos matadouros chilenos atricnoscopia era positiva em0,33% dos suínos.

No Brasil, o problema mere-ce investigação.

A prevenção exige a lutacontra os roedores, a criaçãode porcos em condiçõessanitárias e a cocção da car-ne de porco ou derivadosantes do consumo.

O rato e o porco são as fontes de risco para a infecção humana (modificado de Jones & Jones,

1967).

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Leituras complementares

ACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedadestransmisibles comunes al hombre y a los animales. 2aedição. Washington, Organización Panamericana de la Salud,1997.

JONES, A.W. & JONES, A.D. – Introduction to parasitology.Ontário, Addison-Wesley Publ. Co., 1967.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas eParasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].

REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro,Editora Guanabara, 2002 [380 páginas].

REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, EditoraGuanabara, 2001 [856 páginas].

THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. –Diagnosing helminthiasis by coprological examination.Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986.