REVOLUÇÃO TÉCNICO-AMBIENTAL E FINANCEIRA DO SECTOR AGRO-PECUÁRIO AÇORes

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CAMINHO DO JARDIM, Nº 3 9880 – 314 SANTA CRUZ DA GRACIOSA CONTRIBUINTE Nº 102 316 724 TELEF – FAX - 295 712192 E-MAIL - [email protected] - [email protected] Caros Colegas, Estou para vos escrever desde a data em que foi realizado o Congresso da Carne na ilha Graciosa, no ano de 2005, promessa feita a alguns lavradores na altura. Os anos foram passando e só agora arranjei disponibilidade para cumprir o prometido, o que, na verdade, faço com enorme prazer. Como vos disse na altura, tenho como agricultor e como técnico uma visão diferente de quase tudo o que se está a fazer no campo da agro-pecuária nos Açores. Entretanto, e antes de vos dizer quais são as minhas ideias no que se refere a uma agricultura e pecuária modernas e competitivas, vou primeiro contar-vos um pouco do meu passado, acompanhado de alguns considerandos. 1 1

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REVOLUÇÃO TÉCNICO-AMBIENTAL E FINANCEIRA DO SECTOR AGRO-PECUÁRIO AÇORIANO

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Caros Colegas,

Estou para vos escrever desde a data em que foi realizado o

Congresso da Carne na ilha Graciosa, no ano de 2005, promessa feita a

alguns lavradores na altura.

Os anos foram passando e só agora arranjei disponibilidade para

cumprir o prometido, o que, na verdade, faço com enorme prazer.

Como vos disse na altura, tenho como agricultor e como técnico

uma visão diferente de quase tudo o que se está a fazer no campo da

agro-pecuária nos Açores.

Entretanto, e antes de vos dizer quais são as minhas ideias no

que se refere a uma agricultura e pecuária modernas e competitivas,

vou primeiro contar-vos um pouco do meu passado, acompanhado de

alguns considerandos.

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“REVOLUÇÃO TÉCNICO-AMBIENTAL E FINANCEIRA DO SECTOR

AGRO-PECUÁRIO AÇORIANO”.

Índice:

CAPÍTULO – 1 – INTRODUÇÃO – Quem sou, como aqui cheguei! – pág. – 3

CAPÍTULO – 2 – Os Açores Agro-pecuários – pág. – 18

CAPÍTULO – 3 – A “estabulação livre” – pág. – 25

CAPÍTULO – 4 – Ambiente e Energia – pág. – 31

CAPÍTULO – 5 – A agricultura dos Açores e o mundo em que vivemos – pág.

– 37

CAPÍTULO – 6 – O futuro é nosso – pág. – 42

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CAPÍTULO – 1

INTRODUÇÃO – Quem sou, como aqui cheguei!

Tenho, presentemente, a bonita idade de 73 anos e desde os

meus 14 anos que estou ligado à agro-pecuária, pois foi com esta idade

que fui estudar para a Escola de Regentes Agrícolas de Santarém.

Lá formei-me com o curso de Eng. Técnico Agrário, tendo,

posteriormente, feito estágio no Instituto Superior de Agronomia, em

Lisboa, sobre leite e lacticínios e na Fábrica de Tabaco da Maia, em S.

Miguel, sobre a cultura do tabaco e sua industrialização.

Decorria o ano de 1959 quando comecei a trabalhar na União das

Cooperativas Agrícolas de Lacticínios em S. Miguel, hoje UNILEITE,

tendo como Direcção o Sr. Eng. Emiliano Carneiro, o Sr. Roberto Faria

e Maia e o Sr. João Pereira de Morais.

Cabe aqui informar os colegas Lavradores de que o Sr. João

Pereira de Morais, meu cunhado, tinha na altura, há 48 anos, na sua

exemplar lavoura, na ilha de S. Miguel, vacas a produzir 9.000 Lts. de

leite por ano (nessa data, há, portanto, quase meio século, os Serviços

Oficiais já faziam o “contraste leiteiro” embora mais rudimentar do que

agora e já se procedia à “selecção genética” da manada de alguns

lavradores). O Sr. Jacinto Fernando Gil Júnior, pai do meu colega e

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amigo Jacinto Gil, também em S. Miguel, tinha, tal como o meu

cunhado, vacas a produzir bastante bem.

Faço notar que naquela data não havia os chamados

concentrados, era sim, feito um bom pastoreio, utilizando em

complemento, milho grão, maçaroca, milheiros e polpa de beterraba,

além de que era feita somente uma ordenha diária.

Recordo-me de dizer a este meu cunhado, por várias vezes e por

brincadeira, que ele tratava as vacas como se fossem atletas de alta

competição. Aqui o segredo estava no maneio da exploração onde,

quando o tempo estava mau, as vacas recolhiam à “arribana”, e não

andavam constantemente a comer erva molhada e a apanhar chuva,

frio e vento (era já executado o “bem estar animal”).

Passado um ano de trabalho na U.C.A.L, em Ponta Delgada,

concorri para a Companhia União Fabril, tendo sido admitido para

trabalhar na Divisão de Produtos para a Agricultura (adubos e

pesticidas) no Continente.

Foi, para mim, um trabalho gratificante, tratando-se da maior

empresa do país, e em doze anos consegui um sem número de

conhecimentos técnicos, além de ter podido observar as mais variadas

transformações na agro-pecuária continental. Recordo-me da

implantação de novos pomares de pereiras, macieiras e pessegueiros

nos anos sessenta.

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Tudo se passou como em qualquer país desenvolvido, ou seja, os

Serviços Agrícolas do Estado, no caso a Estação Frutícola de Alcobaça,

chefiada pelo Eng. Agrónomo Prof. Vieira da Natividade, procederam à

mais variada experimentação de campo e obtiveram determinados

resultados positivos, que difundiram pelos técnicos e agricultores. Assim

nasceu, nos princípios dos anos sessenta, a moderna fruticultura

continental que acompanhei a par e passo, com produções, na altura,

da ordem das 40 toneladas por Ha. (hoje atingem - se as 60 toneladas

por Ha ).

Não posso aqui deixar de fazer referência a um episódio passado

na ilha Graciosa, em Setembro do ano de 2006. Fui convidado pelo Sr.

Deputado Paulo Casaca para um jantar com esclarecimento aos

lavradores da Ilha Graciosa, das ajudas comunitárias para os anos de

2007/2012, tendo como oradora a Sr.ª Directora Regional dos Assuntos

Comunitários da Agricultura, Eng.ª Fátima Amorim. Como estes Srs.

Técnicos e Políticos não tiveram tempo nem possibilidade de visitar um

pequeno pomar de macieiras “golden” que eu gostaria de lhes ter

mostrado, acabei por lhes enviar umas fotografias por e-mail, e em que

lhes tecia vários comentários, entre eles este: “VERDADEIRAMENTE

IMPRESSIONANTE E VERDADEIRAMENTE DEMONSTRATIVO DE

COMO A RIQUEZA AÇORIANA AINDA PASSA PELO RIGOROSO

APROVEITAMENTO DA NOSSA AGRO-PECUÁRIA, PODENDO,

COMO SEMPRE TENHO AFIRMADO, FACILMENTE DUPLICAR OU

MESMO TRIPLICAR O PRODUTO AGRÍCOLA BRUTO AÇORIANO.”

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Foi com muita pena minha que não me perguntaram como fazia

para alcançar tal desiderato.

Também escrevi, na altura, ao Sr. Deputado Paulo Casaca para

que informasse os Srs. Engenheiros que lhe disseram que não se pode

produzir maçã golden nos Açores, que estavam enganados. Aliás,

desde a minha infância que fui alimentado na minha Ilha Graciosa com

toda a variedade de fruta (pêra, maça, damasco, uva, figo, laranja,

pêssego, tangerina, banana, etc.,etc.,.) produzida localmente e sem

qualquer tipo de tratamento para conservação.

Aquando do lançamento dos adubos compostos da CUF, foi-me

destinada a tarefa de percorrer o país fazendo sessões de

esclarecimento quanto às culturas das diversas regiões e respectivas

práticas culturais, tendo como principal finalidade a aplicação dos

melhores sistemas de adubação.

Em determinada altura fui dizer ao meu Director, Sr. Eng. José

Nigra, que para desempenhar tal trabalho era necessário ser

enciclopédico, de tal modo que pudesse falar com profundidade das

culturas das diversas zonas do país. Respondeu-me: “estude que

consegue!!!” E assim aconteceu, com muito esforço e dificuldade, dadas

as variadíssimas culturas espalhadas por todo o país.

Foi, como atrás disse, um trabalho gratificante, numa empresa

que, na altura, tinha o seu corpo de técnicos investigadores de campo e

de laboratório nos mais variados sectores do saber na agro-pecuária,

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com publicação de resultados em revista técnica própria. Foi para mim

um trabalho devidamente compensador e no qual tive muito orgulho de

ter colaborado numa empresa em que, para ser admitido, já nos anos

sessenta, tinha de se passar nos exames psico-técnicos.

A CUF tinha, distribuídas pelo país, as chamadas “Quintas Piloto”

onde os técnicos da empresa levavam grupos de agricultores para

observarem como eram realizadas determinadas culturas, sendo-lhes

explicado tanto o aspecto técnico como o económico, ou seja, o

lavrador ficava a saber como e quanto custava fazer um kg. de carne,

trigo, tomate, pêssego, etc.

Chamo, aqui, a atenção dos colegas lavradores de que tenho

perfeito entendimento e certeza de que na agro-pecuária somos todos

como S. Tomé: “VER PARA CRER”.

Infelizmente, na nossa Região a experimentação no campo e

respectivas “contas de cultura” são praticamente nulas e sem estas é

impossível ter uma Agricultura ou Pecuária moderna e competitiva.

Tenho-o dito, desde que para cá vim, em 1972, fazer vinha mecanizada

com introdução de novas castas e utilizando os mais modernos

processos culturais existentes no Continente Português.

É deveras chocante que, neste campo de actividade, a agro-

pecuária, se passe ao largo do essencial, como é a experimentação no

campo (tanto na agricultura como na pecuária). Até já houve um

responsável político que me disse que será tarefa para as Associações

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Agrícolas. Ignorância, pois como todos sabemos as Associações não

têm meios técnicos nem financeiros para o fazerem.

Em qualquer parte do mundo desenvolvido, compete ao Estado

e/ou às Universidades fazer experimentação e divulgação de

resultados.

Fala-se muito em que os técnicos dos Serviços de

Desenvolvimento Agrário devem vir para o campo dizer como se faz, ou

seja, pôr em execução a chamada “extensão rural”. Mas, vir para o

campo dizer como se faz o quê?, se os próprios Serviços não têm

experimentação, nem sequer uma única “conta de cultura”. Esta (“conta

de cultura”) é indissociável da experimentação, ou seja, o técnico tem

de demonstrar e dizer ao lavrador quanto custa fazer um quilo ou litro

de determinado produto agrícola.

Caríssimos colegas, para que os meus amigos façam uma ideia

do que é um agricultor e ao mesmo tempo técnico a “PREGAR NO

DESERTO” nesta Região, basta dizer-vos que quando o meu colega

Ezequiel Moreira da Silva foi Secretário da Agricultura já eu lhe dizia

que achava ser boa política mandar fazer experimentação de campo

nas culturas de pomares de pereiras, macieiras e pessegueiros nas

diversas ilhas (já lá vão mais de vinte e cinco anos).

Outra das experimentações a fazer - e que eu acho fundamental

para a modernização e respectiva competitividade da Lavoura - é

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determinar qual o sistema de exploração mais eficaz para gado bovino

de leite e carne, se “estabulação livre”, se “pastoreio.”

A este propósito vou contar-vos uma história passada na minha

adega aqui na Ilha Graciosa. Veio um Grupo Parlamentar no ano

passado visitar a minha adega, talvez umas dez pessoas e, conversa

puxa conversa, caímos nas “vacas”, ao que eu disse ter a suspeita de

que o pastoreio nos Açores, sendo feito pelo menos em 50% dos dias

do ano com erva molhada, não deveria ser o mais aconselhável (temos,

na Região, ilhas em que chove mais do que 182 dias por ano).

Resposta pronta de um senhor deputado: que não, pois as vacas

necessitam de muita água e portanto eu estava enganado. Respondi-

lhe que não era especialista na matéria, mas que, com quase toda a

certeza, a água que a vaca comia com a erva naturalmente sairia por

trás e não por baixo como seria o pretendido. O senhor deputado, um

jovem por sinal, ficou muito aborrecido com a minha resposta e então

disse que eu poderia perceber muito de vinhos mas que de vacas não

sabia nada. Podia ter-lhe dito que antes de ele nascer já eu tinha feito

vacas, mas não, deixei-o com a sua pseudo-ciência agronómica, o que

aliás é muito vulgar na nossa classe política e não só.

Recordo-me, já lá vão muitos anos, era Secretário o Sr. Eng.

Germano Domingos em que certo dia lhe disse que não discutia, por

exemplo, medicina ou outra qualquer matéria porque não estava

preparado para tal, mas que com os técnicos formados em agricultura

e/ou lavradores tinha sempre todo o gosto em trocar ideias.

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Quando estudei Zootecnia fiquei a saber que na alimentação do

gado bovino há a ração de conservação (para se manter) e a ração de

produção (para produzir) Ora, se um animal para produzir um

determinado número de litros de leite ou quilos de carne necessita

ingerir um determinado número de unidades forrageiras, necessário

para a ração de conservação e/ou para produção, ingerindo

constantemente água não pode produzir o que devia.

Outra grande dúvida que eu tenho é saber qual a razão da

enorme percentagem de gado bovino existente na Região com diarreia.

Será devido ao excesso de água ingerida? Penso que sim.

Outra das minhas funções na CUF, durante um determinado

tempo, foi visitar agricultores para lhes prestar assistência técnica.

Visitava quer pequenos quer grandes e, alguns destes, com técnicos ao

seu serviço, quando se tratava de grandes propriedades. Era curioso

constatar que muitos dos agricultores mais pequenos nos diziam que só

faziam as mesmas culturas e utilizavam as mesmas técnicas tal qual os

seus vizinhos grandes agricultores, porque os grandes é que sabiam

como fazer e o que estava a dar. Isto passava-se no Ribatejo, por

exemplo, na Chamusca com os pequenos agricultores vizinhos do Sr.

Dr. Rafael Duque, na altura, Ministro das Finanças.

Uma das directivas que tínhamos na empresa para o trabalho de

campo era seleccionar, por Concelho, um ou dois lavradores para, nas

suas terras e culturas, fazer ensaios de tratamentos fitossanitários e

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adubação, para lhes demonstrar os melhores resultados e para que

estes lavradores na sua área de residência servissem como pontas-de-

lança na divulgação das melhores técnicas de cultura e,

consequentemente, alcançassem os maiores rendimentos.

Também no Ribatejo, por exemplo, na Casa Agrícola dos irmãos

Raposo em Salvaterra de Magos, fizemos ensaios de adubação

localizada em vinhas.

Aqui, e relacionado com o descrito atrás, lembro-me de, quando

vim para a minha ilha Graciosa fazer vinha mecanizada, ter sofrido toda

a espécie de atropelos técnicos e políticos, quando deveria ter sido

acarinhado e ajudado, tendo servido também como ponta-de-lança na

modernização da vitivinicultura Graciosense. Não deixarei de lembrar,

que vim para a ilha Graciosa munido das castas e conselhos dos meus

colegas técnicos de uma das maiores vinhas da Europa, na altura, cuja

produção anual era na ordem das 15.000 pipas de vinho e cujo

proprietário, era o meu grande amigo Rogério Ribeiro, de Vila Chã de

Ourique - Cartaxo, por quem manifesto aqui o meu enorme e profundo

pesar pelo recente falecimento. Foi ele que me ofereceu todas as varas

para enxertia necessárias para a implantação das minhas vinhas. Era e

é anedótico, ver e ouvir os técnicos e políticos nos Açores ligados às

vinhas e vinhos. Neste sector de actividade o sub–desenvolvimento

ainda perdura, com o abandono de muitas centenas de Ha de boa terra

na Graciosa e com uma Adega Cooperativa há mais de 10 anos falida e

sempre “pendurada” no Governo Regional com quem anda a “brincar às

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casinhas” como diz um comentador no blog terceirense “Biscoitos”

(Setembro/Outubro de 2006).

A produtividade e técnicas culturais são absolutamente miseráveis

e obsoletas, aliás como na agro-pecuária. Nesta, basta saber que

estamos a fazer o apuramento genético há meio século e que na

verdade temos, neste campo, animais de excelente nível mas que na

prática as 100.000 vacas leiteiras da Região produzem anualmente

530.000.000 de litros de leite. (5.300 Lt/ano). No Continente a média de

produção é de 6.200 Lt /ano e na União Europeia a 27 países é de

5.400 Lt/ano.

No ano passado os viticultores ligados à Adega Cooperativa da

Graciosa, com uma área de 4,58 Ha entregaram cerca de 8.000 kg de

uva. Uma produtividade miserável de 1.750 kg por Ha. O que é mais

cómico e escandaloso, é que o Governo paga todos os anos as uvas

pelo mesmo preço tenham 8º ou 15º graus e até mesmo que a Adega

Cooperativa não venda vinho algum.

Importa aqui dizer que, no ano passado, com o surgimento das

“ilhas de valor” e por me considerar um verdadeiro Açoriano e

Graciosense, que nunca, em qualquer circunstância, procurei olhar para

o meu umbigo, propus ao Sr. Secretário da Agricultura e Florestas a

junção da minha Adega, a Adega Cooperativa e a Ilhas de Valor.

Resposta do Sr. Secretário: “temos noivo mas não temos noiva”. Bom

proveito lhe faça, a falta de noiva, mas o que lhe peço é que deixe de

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me fazer concorrência desleal como vem acontecendo desde há muitos

anos.

Entretanto, e relacionado com os atropelos de pseudo técnicos e

pseudo políticos, acrescido de disputas de ilha com manobras

ignorantes e maldosas, constatamos que em 1994 a Região produzia 8

milhões de litros de vinho e em 2006 produziu 2,5 milhões, o que

significa que a Região importa anualmente cerca de 5,5 milhões de

euros em vinhos, se considerarmos 1 litro de vinho com o valor de 1

euro. Mais lamentável, ainda, é o facto de nem sequer se vislumbrar

uma possível reviravolta, a não ser o brincar às vaidades,

possivelmente com viticultores de barro.

Posso, também, dizer que esses atropelos têm sido de tal ordem

que se chegou a legislar sobre a indústria vinícola de tal forma que eu

não pude, na altura, recorrer a apoios comunitários, assim como, mais

recentemente, também se legislou sobre a criação de vinhos VQPRD

com castas que não existem na Graciosa, sem valor enológico, e

ignorando o meu trabalho e castas por mim introduzidas. Agora,

chegou-se ao desplante de pretender criar legislação para atribuir

20.000€/Ha para implantação de vinha na zona classificada da Ilha do

Pico. Isto além dos 3.500 € por Ha por ano.

Enfim, os restantes viticultores dos Açores pagam para se

produzir um produto, que, no mercado, lhes vai fazer concorrência. É a

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nossa estafada concorrência desleal, que, aliás, não é aceitável a não

ser por meia dúzia de “chicos espertos”.

Na nossa Região, tratando-se de minifúndio, as situações atrás

apontadas, no que se refere ao pequeno lavrador copiar o que faz o

maior, não poderiam acontecer, razão mais do que suficiente para se

atribuir aos Serviços Oficiais a obrigatoriedade de mostrar e divulgar

como fazer uma agro-pecuária moderna e competitiva.

Quando trabalhava no Continente era isso que se fazia nos

Serviços Oficiais, com as suas Direcções Regionais distribuídas por

todo o país.

Qualquer colega lavrador no Continente, que esteja interessado

em saber quanto custa fazer um determinado produto agrícola (“conta

de cultura”) basta pedir aos Serviços Geográficos Cadastrais, em

Lisboa.

Uma das afirmações que vulgarmente se ouve por toda a nossa

Região é que temos condições especiais para produzir pecuária. Isso é

correcto, mas não é só! Lembro-me sempre de dizer, desde os tempos

em que andava na Escola Agrícola, que nos Açores poderia fazer duas

ou três culturas no mesmo ano, e na mesma terra, o que se traduz num

enorme potencial a explorar. Por vezes as pessoas mostravam-se

incrédulas, mas como todos sabemos, é a realidade.

Além desse enorme potencial de produzir, também é uma

realidade que ao compararmo-nos com o Continente temos muito

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menos pragas e doenças, razão pela qual não necessitamos de usar

tanta quantidade de pesticidas.

Tenho a satisfação de dizer aos colegas que já fiz quase todas as

culturas usuais da nossa Região, incluindo carne e leite, algumas delas

com resultados muito bons. Dois pequenos exemplos: em 1972, quando

instalei os primeiros 60 alqueires de vinha mecanizada, fiz na mesma

terra alhos, tendo tido uma produção de 13 toneladas. Hoje é

absolutamente impossível devido à falta de mão-de-obra e aos actuais

salários. Quando faço batata, está totalmente mecanizada, raramente

produzo menos de 30 toneladas por Ha, tendo já chegado às 37

toneladas.

Ainda quando andava a trabalhar, por terras do Ribatejo, recordo-

me de dizer ao meu colega António Paulino que tratasse de convencer

a sua entidade patronal a vir para os Açores fazer desidratação de

produtos hortícolas. Este meu colega e amigo era técnico de uma firma

alemã, instalada no Cartaxo, que tinha uma certa dificuldade em

conseguir que os produtores, com quem estabelecia contratos de

fornecimento, fizessem determinadas culturas como a salsa, o

cebolinho, etc.

Também acompanhei uma indústria de secagem de luzerna, na

Cooperativa Agrícola do Vale do Sorraia/Coruche, onde o meu colega

António Claudino tinha enorme dificuldade em conseguir dos

agricultores matéria-prima devido a condições de clima. Lembrava-me

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sempre das condições excepcionais da minha Ilha Graciosa para

produzir luzerna, a rainha das ervas forrageiras. Na verdade, é uma

cultura que pode atingir as 120 toneladas de matéria verde por Hectare,

quando em cortes com 5% de floração, mas que, se for em pastoreio

directo, não atinge nem metade daquela produção.

Acrescento aqui que a ilha Graciosa é a ilha da Região com maior

percentagem de terra, cerca de 90%, abaixo dos 300 metros,

possuindo, portanto, uma grande capacidade de diversificação de

culturas.

Nessa mesma época tive a oportunidade de contactar, no Ribatejo

e Algarve, com vacarias montadas em “ estabulação livre”, equipadas

com silos HARVESTORE. Estes são silos que têm um pulmão,

permitindo que sejam recarregados em qualquer altura e que ,com um

simples premir de botão, se possa alimentar várias centenas de vacas

ao mesmo tempo. Mais adiante voltarei a este assunto.

Não posso terminar este capítulo sem tornar a lembrar a alguns

de vós quais as razões que me levaram a afirmar, aquando do

Congresso da Carne, na Ilha Graciosa, que viria a expor a minha visão

sobre o possível desenvolvimento rural, tanto mais que, na altura,

comentei que a produtividade dos três lavradores dados como exemplo

era absolutamente miserável, mas que os Serviços de Desenvolvimento

Agrário fizeram questão de distribuir, pelas centenas de lavradores

presentes, um folheto explicativo com área de exploração, mão de obra,

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número de animais vendidos, peso, etc. Enfim, uma vergonha em

termos de rendimento (+/- 300 euros/ha).

Acresce que se forem feitas as contas e compararmos o PAB

(produto agrícola bruto) da ilha Graciosa com o PAB da Região,

chegamos à triste conclusão de que o valor produzido por Ha na Região

é cerca de 2,5 vezes mais do que o valor produzido por Ha na ilha

Graciosa. E mais decepcionante se torna quando sabemos que esta é,

sublinho, das ilhas açorianas com terras de melhor qualidade.

Esta triste conclusão faz-me lembrar de quando vim para a

Graciosa (1972) implantar 120 alqueires de vinha por processos nunca

vistos nos Açores e de ter dito numa reunião com o Presidente do

Governo na altura, Sr. Dr. Mota Amaral: “temos petróleo na Graciosa, o

que é preciso é saber explorá-lo!”. Referia-me, claro está, à produção

de vinho com qualidade e a preços concorrenciais porque podíamos

mecanizar a cultura como na realidade eu próprio fiz. Note-se que um

trabalhador agrícola numa vinha mecanizada produz tanto ou mais do

que 10 trabalhadores numa vinha tradicional.

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CAPÍTULO – 2

Os Açores Agro-pecuários

A melhor política agrícola é aquela que visa tirar da terra o maior

rendimento possível, tendo em atenção o respeito pelas práticas

ambientais e, por outro lado, reconhecendo que com a globalização

impõe-se-nos produzir com qualidade e aos mais baixos preços.

Chamo a atenção para a ideia - muito propalada pelos

governantes - de que devemos começar a produzir qualidade e

certificar, é errada. Em agro-pecuária, para haver qualidade tem que

haver quantidade e para haver quantidade, tem que haver técnica,

mercado, e preços concorrenciais. Depois sim, pode-se certificar. Não

se pode pensar que à partida se produz, se certifica e que se pede logo

mais dinheiro.

A manter-se o estado actual da exploração pecuária na Região, a

qualidade de vida do lavrador, principalmente do mais pequeno, será

sempre precária.

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É impressionante o número de lavradores que pretendem o

“resgate leiteiro” mesmo com as várias condicionantes. É, na verdade,

um sintoma de mal-estar na profissão que escolheram. Dizem que em

Espanha chamam-lhe a “escravatura branca”. Lembro-me sempre do

meu pai, que também teve vacas leiteiras, me dizer que ter animais

representa ter que lhes dar de comer todos os dias.

Aqui, acrescentaria que sou muito mais apologista em aplicar as

verbas destinadas ao resgate leiteiro - neste caso 4 milhões de euros -

na modernização e experimentação da agro-pecuária, até porque

distribuir 2% (10 milhões de litros de leite) na quota de 500 milhões

pouca eficácia tem. Não sei até se, com perspectivas de melhoria nos

rendimentos do lavrador, o resgate terá razão de ser.

Antes de vos dizer o que entendo necessário para reformular todo

o nosso tecido agrário, informo os caros colegas de que estou

absolutamente convencido que o Governo, seja ele qual for, terá de ter

em atenção de que possíveis investimentos, acompanhados das

respectivas reformas estruturais para a obtenção de criação de riqueza

na nossa Região, passam, sem dúvida, pelo sector primário, onde

muito, mas mesmo muito, há a inovar e a realizar. Sendo uma realidade

incontornável que devemos ter sempre presente que as ajudas

comunitárias irão acabar, e que, como todos sabemos;

PRESENTEMENTE, SEM ELAS, QUASE TODO O NOSSO SECTOR

AGRO-PECUÁRIO FECHARIA AS PORTAS.

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Por esta e outras razões técnicas e económicas, devemos ter em

atenção o que dizem os “ experts” na matéria, tal como referiu o distinto

Professor Catedrático; Sr. Eng. Francisco Avillez, que, creio, também se

deve aplicar aos Açores: “É indispensável que o Governo português

tenha uma visão estratégica sobre o futuro da agricultura e do meio

rural e desempenhe o seu papel de orientador”. Fica a mensagem.

Por outro lado, é, também, bom não esquecer que o Ex-

Comissário Europeu da Agricultura, Franz Fischer, quando esteve nos

Açores sugeriu que os agricultores açorianos apostem no

desenvolvimento de produtos de valor acrescentado que identifiquem as

potencialidades da Região, além de reduzirem as dificuldades de que

ela padece. Sugeriu, também, que devem encontrar um elemento

mediador para conversações entre investigadores, governo, agricultores

e indústria. Pois, em conjunto será possível obter alguns resultados. “Se

continuarem de costas voltadas, nada será possível”.

Afirmou, também, em entrevista concedida ao jornal “A União”

que, “continuará a ser mais rentável produzir comida nos Açores, do

que importá-la do exterior”. E, em relação à elevada taxa de importação

de produtos básicos, como legumes e fruta, “devemos ver esta questão

como mais uma nova oportunidade. A questão é como capturar estas

oportunidades. Para isto, é preciso iniciativa, apoio e, sobretudo,

agricultores empreendedores” .

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A este respeito direi que, no minifúndio para haver um efectivo

empreendedorismo é fundamental que haja garantias de técnica e de

mercado. Só assim será possível realizar o dito empreendedorismo,

acompanhado de um cooperativismo saudável e não politiqueiro. Assim

poder-se-á prever uma maior atracção das novas gerações para a

actividade agrícola, dignificando a profissão, pois que acompanhada de

melhores rendimentos.

Importa, aqui, dizer aos colegas que não tenho pretensões, não

sou iluminado e não tenho certezas de nada, mas como diz Jules

Verne; “Tudo o que alguém possa imaginar, outros poderão tornar

realidade.”

Poderei, talvez, ser optimista em demasia, mas penso que está

mais do que na hora de a Região sofrer uma verdadeira revolução na

sua agro–pecuária, dando passos seguros na sua modernização,

mesmo que, para tal, seja necessário ir buscar a técnica onde ela

exista.

Continuo a pensar que, qualquer que seja o Governo a

administrar esta nossa Região, terá de ter sempre em atenção que, se

quiser administrar bem, e quiser, portanto, fazer crescer o PIB regional,

que penso será sempre uma das suas ambições, terá de reconhecer

que com o sector agro-pecuário pode vir a equilibrar a balança

comercial dos Açores, aumentando as exportações e diminuindo as

importações.

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Sabendo que os lavradores da Região dão diariamente

concentrado às vacas leiteiras, que varia na ordem de 1 kg a 8 kg por

lavrador e por vaca, concluímos que se deve importar anualmente

cerca de 40 milhões de euros em cereais e concentrados, verba esta

necessária para se conseguir produzir os 530 milhões de litros de

leite/ano.

Com as últimas notícias sobre os preços dos cereais, a nível

mundial, com tendência para aumentarem, ficamos cada vez mais sem

preços de leite e carne competitivos, se não for possível alterar o

sistema produtivo, como espero que se consiga.

Por outro lado, assistimos a uma determinação política

consensual que devem ser mantidas as quotas leiteiras para os Açores

e até, se possível, para além de 2015.

Ora, se o valor bruto dessa quota é sensivelmente de 156 milhões

de euros, a pergunta que se impõe é: para que servem as verbas do

programa PRORURAL, no valor de 275 milhões de euros para

aplicação nos anos de 2007 a 2013? Não fará sentido nenhum se não

for para duplicar ou triplicar o Produto Agrícola Bruto da Região.

Argumentar que as quotas leiteiras, previamente estabelecidas,

protegem a sustentabilidade do sector leiteiro, sendo este o sector em

que os Açores têm maior dimensão de mercado, maior vocação

produtiva e condições naturais é como dizer que não temos

possibilidades de produzir em quantidade e a preços competitivos.

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A sustentabilidade, muito na moda, aplicada na agro-pecuária,

nesta altura torna-se perversa e, até, ofensiva. Pois, a produtividade na

Região é muito baixa; do bolo das ajudas comunitárias a dividir pelos 27

países, caber-nos-á uma fatia muito mais pequena e basta ver as

nossas produções a diminuir aceleradamente. Essa alegada

sustentabilidade acaba por se revelar num não acreditar na técnica nem

no investimento reprodutivo.

Ironizando, é como quem diz temos muito bons jogadores,

jogamos muito bem, mas não metemos golos.

O investimento, no sector agro-pecuário, tem sido, ao longo dos

anos, de milhões e milhões de euros, mas a realidade é que em termos

de produtividade, entre os anos 2000 e 2004 produzimos a mesma

quantidade de leite; cerca de 505 milhões de litros anuais e nas culturas

tradicionais - dizem as estatísticas, que do ano de 1994 até 2004

produzimos menos:

53.260 toneladas de silagem;

3.423 toneladas de chicória;

1.475 toneladas de cebola;

428 toneladas de feijão;

990 toneladas de inhame;

3.515.900 litros de vinho.

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A produção de carne também tem vindo a cair com 85.000

animais em 2002 (gado exportado + gado abatido nos Açores) para

72.400, no ano de 2007.

A fruta também está com a mesma tendência de quebra.

Por outro lado, também se argumenta que para a Região, perante

um eventual desmantelamento do regime de quotas leiteiras, deverá

haver medidas de protecção e compensação. Enfim, permitam-me o

sarcasmo; temos bons jogadores e não metemos golos; não ganhamos

jogos e não substituímos o treinador, mas pedimos para não descer de

Divisão.

Aquando da visita dos dirigentes da Unileite, Cooperativa Agrícola

Bom Pastor e da ARDE a Bruxelas, foi-lhes dito, pelo Presidente da

Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural do Parlamento

Europeu, Sr. Neil Parish, que “a produção leiteira açoriana deve

procurar obter vantagem das condições climatéricas e da aptidão dos

solos para a produção de erva e outras forragens, procurando diminuir,

da melhor forma possível, a sua dependência da evolução dos preços

dos cereais no mercado internacional. Ter de importar, a custos

acrescidos, as matérias-primas, transformá-las nos Açores e voltar a

exportar o produto final, com novos custos, é uma condicionante

evidente nos Açores.”

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Aqui acrescento que a minha perspectiva é coincidente com o que

disse o Sr. Parish, produtor de leite durante mais de 20 anos no Reino

Unido.

CAPÍTULO – 3

A “estabulação livre”

Nos anos sessenta, a Alemanha implementou em determinadas

Regiões, a exploração pecuária em regímen Cooperativo e pelo sistema

de “estabulação livre”.

Os pequenos lavradores juntavam-se em Cooperativa e

comprometiam-se a entregar, na vacaria colectiva, a quantidade de

unidades forrageiras, em erva, necessárias para alimentar o número de

cabeças de gado que eram propriedade sua. Quando, por qualquer

motivo, não o conseguiam fazer, sofriam uma penalização.

Este era, na verdade, um sistema que reduzia, em muito, a mão-

de-obra, atingindo níveis de produtividade maiores, mas que no nosso

caso seria deveras complexo para gerir.

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Penso que nos pode servir de exemplo para o adaptarmos às

nossas condições de propriedade minifundiária, muito retalhada, e, até

mesmo, ao nosso clima demasiadamente chuvoso. Além de que, como

todos sabemos, é demasiadamente trabalhoso manter, em pastoreio o

gado - que tem de ser mudado de parcela quase diariamente -

acompanhado da água, silagem, máquina de ordenha, etc.

Julgo que é utópico continuarmos a pensar em emparcelamentos

e é demasiadamente dispendioso, no minifúndio, levar água e luz a

todas as parcelas agrícolas.

Por todas estas razões e, fundamentalmente, porque acho ser

tecnicamente mais aconselhável com a obtenção de rendimentos muito

superiores, deve-se fazer a exploração leiteira ou de carne em

“estabulação livre”, em regime cooperativo, quando se trata de

pequenos lavradores, ou até mesmo com lavradores maiores.

Esta modalidade de exploração devia ser realizada com silos

HARVESTORE que são silos, como disse atrás, que recebem erva a

qualquer hora desde que não estejam cheios, e obedecem a certas

condições técnicas de corte da erva, humidade, etc.

Julgo ser um sistema em que os animais, de carne ou leite dão

maiores rendimentos porque lhes são administradas, diariamente, as

unidades forrageiras de que necessitam, sendo, portanto,

acompanhados de um constante “bem-estar animal”.

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É, por assim dizer, levar a erva ao animal e não o animal à erva.

As vantagens são enormes, a começar pela maior quantidade de

matéria verde que se obtém por Ha de terra, com cortes na altura

própria, e com a erva com as melhores propriedades alimentícias.

Calculamos em 50% para mais do peso da matéria verde, do que se

fosse feito o pastoreio.

Por outro lado, a mão-de-obra é muito menor, ficando com

disponibilidade de tempo e lugar para fazer culturas nos limites das

parcelas, ou seja, junto das paredes, havendo, decerto, muito mais

atracção da juventude, para a actividade agrícola e pecuária, com

possibilidades de conseguirem maiores rendimentos do que

actualmente.

Cumpre aqui informar que, pelos cálculos feitos, na Ilha Graciosa,

se um lavrador entregasse toda a sua erva na unidade de “estabulação

livre” e cultivasse estrelícias junto das paredes dos prédios, ao fim de

quatro anos poderia começar a ter um rendimento anual semelhante ao

valor do leite ou carne.

Há, tanto quanto sei, muitas culturas que se podem realizar junto

das paredes, desde a fruta às hortícolas.

O lavrador tem preferido fazer leite porque recebe todos os meses

o produto do seu trabalho, razão por que a carne e outras culturas,

como a fruta, não são tão apelativas, embora talvez mais rentáveis.

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Entendo que, com sistema de “estabulação livre”, com

possibilidades de fazer cultura junto das paredes divisórias, poder-se-á

acumular duas ou mais culturas. Penso que existe a ideia de que para

fazer fruta são necessárias grandes protecções com sebes ou paredes,

mas o curioso é verificar que aqui na Ilha Graciosa - a mais baixa em

altitude e das mais ventosas - os viticultores tinham, e alguns ainda têm,

pereiras a produzir sem qualquer abrigo, uma vez que as mesmas estão

acima dos muros de protecção das vinhas, nos “currais” . Aliás, é fácil

explicar uma vez que as ditas pereiras só começam o ciclo vegetativo

depois dos grandes ventos ou seja de Abril/Maio em diante, além de

que, hoje se pode optar por fruteiras “ananicantes”.

No caso de se tratar de exploração leiteira todo o leite produzido

por ser refrigerado será todo de 1ª qualidade, e, no caso da carne,

poderá ser uma IGP com acabamento e muitíssimo mais barata.

Haverá vantagens acrescidas para as Unidades Industriais de

lacticínios no que se refere à recolha do leite e à qualidade, pois, como

sabemos, o leite saído do ubre da vaca, não sendo refrigerado,

passadas 3 horas começa a perder qualidade.

Haverá, também vantagens num controlo sanitário mais eficiente,

como por exemplo brucelose, mamites, etc., a sazonalidade acaba, o

lavrador tira maiores rendimentos e a propriedade valoriza-se.

Com este sistema de exploração “estabulação livre”, conforme

documentação em anexo, creio que, se for bem conduzido e com

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demonstração na prática, qualquer lavrador adere, pois basta pensar

que deixará de andar atrás do gado 10/12 horas todos os dias,

domingos e feriados inclusive, e haverá, até, uma muito maior

motivação e , consequente, chamamento de jovens para o sector com

bons resultados económicos.

No caso de se tratar de lavradores que já possuem ordenha fixa,

pensamos que bastará adquirir os necessários silos Harvestore. Estes

silos são semelhantes aos que estão implantados na fábrica da antiga

“Sociedade Açoriana de Sabões”, na vila da Lagoa/S. Miguel, mas com

outra estrutura interior.

Penso que seria interessante este sistema poder ser explorado

por parcerias entre Associações de Lavradores ou grupos de lavradores

em Cooperativa e as Câmaras Municipais. Estas, quase todas,

possuem os seus veterinários, que podem ter um papel muito

importante na supervisão da parceria.

Julgo saber que a Região tem cerca de 120 veterinários o que,

para o caso presente, é uma mais-valia muito importante.

Este sistema de exploração, seria apontado e apoiado pelos silos

“HARVESTORE”, que são americanos, e poderiam ser adquiridos pelo

Governo Regional, como troca pelas contrapartidas devidas pelo acordo

da Base das Lajes, assim como a assistência técnica na condução das

instalações dos mesmos e na prestação de apoio dos respectivos

técnicos nutricionistas da firma fabricante.

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Finalmente, penso que - dadas as nossas condições de fraco

investimento reprodutivo e de ausência de outras formas de criação de

riqueza no arquipélago - esta solução de “estabulação livre” é uma das

formas mais expeditas e inteligentes de contrariar a desertificação nas

Ilhas pequenas e a deslocação da população para as cidades nas ilhas

maiores, acrescendo que haverá, paralelamente, uma efectiva

valorização das pessoas e da propriedade, com aumento muito

significativo do produto agrícola bruto (PAB).

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CAPÍTULO 4

Ambiente e Energia

O modelo de exploração bovina nos Açores; “o pastoreio”, causa

impactos negativos ao meio ambiente, de tal modo que pode atribuir-se

uma característica muito peculiar à nossa Região, podendo ser

considerada A MAIS POLUIDORA DO MUNDO POR METRO

QUADRADO, em gases com efeito estufa ou aquecimento global do

planeta, proveniente da raça bovina, lançando “metano” para a

atmosfera, metano esse que é 21 vezes mais poluente do que o CO2

(dióxido de carbono).

Refiro-me à quantidade de dejectos produzidos e espalhados,

diariamente, na Região pelo nosso efectivo pecuário que é de cerca de

265.000 cabeças, pastando numa pequena área de terreno com 2.322

km2 e com uma SUF, (superfície agrícola útil) de 122.000 Ha.

Os prejuízos ambientais são ainda maiores quando esses

resíduos orgânicos (os dejectos) são arrastados para os cursos de

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água, pois possuem alta DBO (demanda bioquímica de oxigénio),

reduzindo o teor de oxigénio na água. Além disso, os diversos

nutrientes contidos nos resíduos, principalmente N (azoto) P (fósforo) e

K (potássio), estimulam o crescimento de plantas aquáticas e a

EUTROFIZAÇÃO dos corpos de água (Schroeder,1977).

O manejo inadequado desses dejectos, ricos em matéria–orgânica

e agentes patogénicos, pode ser responsável pela poluição das águas

superficiais e subterrâneas, devido ao carreamento desse material pela

acção das chuvas (Doran & Linn, 1979).

Esses dejectos são compostos orgânicos de alto teor energético,

com macro e micro nutrientes que oferecem água, abrigo e temperatura,

sendo preferidos por inúmeros micro e macro vectores, de grande

importância sanitária, como nicho ecológico. Esses vectores estão

associados à transmissão de inúmeras zoonoses, além de doenças

respiratórias, epidémicas e intestinais (Pereira Neto, 1992)

Fezes bovinas têm sido identificadas como principal reservatório

de ESCHERICHIA COLI, sendo um potente veículo de transmissão para

o ambiente, para o gado, e para os alimentos. (Wang, 1996), resultando

em doenças como: salmonlose, leptospirose, febre aftosa, hepatite, etc.

No que se refere ao ar, os impactos ocorrem devido à emissão de

vários odores e de gases nocivos (metano, dióxido de carbono, amónia,

sulfureto de hidrogénio, etc.) resultantes da decomposição biológica da

matéria orgânica presente nos dejectos (Cecília Sousa).

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No que se refere à EUTROFIZAÇÃO das nossas lagoas, Sete

Cidades, Furnas, etc., estou convicto de que o principal motivo dessa

catástrofe, têm sido os resíduos orgânicos dos dejectos bovinos que

têm sido arrastados pelas águas das chuvas.

A adubação de pastagens em maiores quantidades é mais

recente e não é normal fazerem-na com fósforo. Este, o fósforo, é muito

pouco móvel no solo, por isso se aconselha que o mesmo seja colocado

ao alcance das raízes (culturas perenes) e nas culturas anuais deve-se

enterrá-lo por uma lavoura. Aliás, quem desejar ter uma certeza no que

afirmo - e que se refere à intensa EUTROFIZAÇÃO das águas pelos

dejectos dos bovinos - pode vir à Ilha Graciosa e verificará que os

“pauis”, situados no centro da vila de Santa Cruz , estão completamente

eutrofizados, mostrando algas e água esverdeada, devido às águas das

chuvas que lavam as estradas carregadas de dejectos e os transportam

para os “pauis”. Aqui não há qualquer adubo químico a contribuir para a

EUTROFIZAÇÃO, fenómeno relativamente recente, preocupante em

termos ambientais e que se compreende facilmente devido à

quantidade de bovinos que actualmente andam na estrada, devido ao

facto de o lavrador ter que mudar a manada de pastagem com muita

frequência.

A principal razão da nova lei do licenciamento das explorações

bovinas é, sem dúvida, a questão ambiental resultante dessa actividade.

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Sem ter feito referência à questão ambiental, nos capítulos

anteriores, penso, contudo, que esta vem reforçar a teoria exposta de

que se deve caminhar para o sistema de exploração bovina em

“estabulação livre”.

A implementação deste sistema, poderá conduzir a um

aproveitamento dos dejectos bovinos e transformá-los em “biogás”

O biogás é um tipo de mistura gasosa constituída por cerca de 65% de

metano e 35% de dióxido de carbono, produzido pela digestão

anaeróbica, pela acção de bactérias em matérias orgânicas (dejecto,

urina, etc.) que são fermentadas dentro de equipamentos chamados

biodigestores, dentro de determinados limites de temperatura, humidade

e acidez.

O biogás pode ser utilizado como combustível que, por norma, é

queimado em geradores de gás, produzindo electricidade e calor que

pode garantir a independência das explorações.

A electricidade pode ser vendida aos distribuidores (EDA) e o

efluente que sai do biodigestor, com propriedades fertilizantes, pode ser

usado directamente em adubações.

Em S. Miguel está em funcionamento uma unidade produtora de

biogás; a “Agraçor”, que recicla os resíduos da sua exploração

suinícola, com 18.000 suínos.

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Na Califórnia e na Suécia, o biogás também já é utilizado como

combustível em veículos, o que penso poder vir a acontecer nos

Açores, ficando-se, então, com transportes rodoviários chamados

“verdes” e mais amigos do ambiente.

Na Alemanha, Suiça, Áustria e Dinamarca foram constituídas

cooperativas energéticas, por associações de lavradores, para a

instalação e exploração do biogás.

Por esta razão, entre outras, aqueles países produzem leite e

carne a preços competitivos, e não por terem condições excepcionais

para fazerem agro-pecuária, pois basta saber quantos meses no ano

eles podem fazer agricultura (na Suiça são quatro meses). E também

não é por terem cereais mais baratos, pois estes com a globalização

têm preços internacionais, não podendo, como nós, também utilizar

cereais geneticamente manipulados.

Não sei quais as directivas dos nossos Governantes nesta

matéria, mas a realidade é que os objectivos da Comissão Europeia,

relativos ao quadro comunitário de apoio 2007-2013 são:

COMPETITIVIDADE

INOVAÇÃO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CRIAÇÃO DE EMPREGO.

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Não podemos, de modo algum, pôr de lado o factor tecnológico -

que já devia ter sido implementado - pois os recursos humanos e

materiais existem, basta saber pô-los a funcionar e, consequentemente,

a criar riqueza de que bastante necessitamos.

Um metro cúbico de biogás, equivale energeticamente a:

1,5 m3 de gás de cozinha

0,6 lt de gasolina

0,9 Lt. de álcool

1,43 kWh de electricidade

2,7 kg de lenha (madeira queimada)

Contas feitas, posso dizer que o potencial da nossa Região, em

biogás e biofertilizante, é qualquer coisa como 50 milhões de euros

anuais, quase tanto como a receita anual do Sector Hoteleiro da Região

(55 milhões).

Grande percentagem daquele valor poderá ser realizável, e está

na Região (o biogás), não sendo necessário gastar milhões em

incentivos e publicidade, mas tão só demonstrar e apoiar a lavoura,

mostrando que é possível ganhar dinheiro na exploração do referido

combustível, com valor acrescentado na produção de leite ou carne.

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CAPÍTULO – 5

A agricultura dos Açores e o mundo em que vivemos

Num passado recente houve uma grande preocupação com o

BURACO NA CAMADA DO OZONO da atmosfera. Em face desse

problema desaconselha-se a utilização dos CFCs (cloro-flúor-carbono).

Actualmente são os gases - dióxido de carbono, proveniente da

queima de combustíveis fósseis; METANO, GERADO NA

AGRICULTURA E PECUÁRIA e aterros sanitários; óxido nitroso,

decorrente de veículos; e hidrofluorocarbonos, perfluorocarbonos, e

hexafluoretos de enxofre, resultantes de outros processos industriais -

que provocam O AQUECIMENTO GLOBAL OU SEJA OS

DESASTROSOS EFEITOS DE ESTUFA, já abundantemente

comprovados pelos cientistas.

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Face às evidências crescentes do fenómeno global das alterações

climatéricas, em 1997, foi adoptado, como todos sabemos, o Protocolo

de Quioto, em que a União Europeia ficou, como um todo, obrigada a

reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) face ao ano

base (1990).

Portugal assumiu o compromisso de limitar o aumento das suas

emissões em 27% no período de 2008-2012, referente ao ano base.

O Ministro do ambiente afirmou em 2007-11-22 que estão

definidos três pilares pelos quais Portugal cumprirá os seus

compromissos internacionais.

De entre eles foi criado o Fundo Português de Carbono, pelo qual

se investirá 348 milhões de euros até 2012 para a aquisição de créditos

de redução de emissões.

Como o Protocolo de Quioto prevê os chamados “mecanismos de

flexibilidade”, através dos quais as empresas poluidoras podem adequar

as suas fábricas na redução de gases, ou comprar créditos (chamados

os créditos de carbono), às empresas que possuem projectos de

“mecanismo de desenvolvimento limpo” (MDL).

Por exemplo, as empresas eléctricas nacionais vão ser obrigadas

a reduzir as emissões de CO2 em mais de 30% entre os anos 2008 e

2012. Se não conseguirem, terão de comprar créditos de carbono, no

mercado internacional.

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Assim, aparece o interesse das empresas europeias, e não só, em

recorrerem ao “mecanismo de desenvolvimento limpo” (MDL) investindo

em projectos de energias renováveis, como é o caso do aproveitamento

de dejectos bovinos na produção de biogás, gerando créditos de

carbono.

O mercado de venda de carbono é recente e está em formação,

com crescimento acentuado com o decorrer do tempo, na medida em

que alguns países europeus, entre outros, obrigados à sua redução,

têm é a tendência para crescer em emissões de gás carbónico.

São exemplo desta problemática o Japão e o Canadá, que já

estão a comprar créditos no Brasil.

Sabemos que existem vários sistemas de incentivos da

Comunidade para as instalações de “biodigestores”, produtores de

biogás, mas o que será deveras interessante é podermos vir a utilizar a

enorme fonte de receita, os créditos de carbono, como já estão a ser

utilizados no Brasil, com centenas de “biodigestores” montados por

firmas estrangeiras que necessitam de créditos, e que pertencem ao

grupo de países industrializados que deverão reduzir as suas emissões.

Pelo facto de Portugal pertencer ao grupo dos Países

industrializados, o chamado Anexo I, não tenho a certeza em como os

Açores podem vender “créditos de carbono”, mas como temos a

REGIÃO MAIS POLUIDORA DO MUNDO, POR M2, EM DEJECTOS

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BOVINOS, pensamos que o Governo Regional facilmente conseguirá

esse objectivo.

A Região não tem grandes instalações com emissões

provenientes da queima de combustíveis fósseis, excepto a EDA, que

os está a reduzir com a energia geotérmica, além de que Portugal terá,

necessariamente, de comprar “créditos de carbono” ao estrangeiro.

Considero que a Região Açores não deveria estar incluída no

Anexo I do Protocolo de Quioto, assim como não estão as nações em

desenvolvimento e algumas ilhas pertencentes a nações do Anexo I.

No Brasil, o interesse pelos “créditos de carbono” é tal que, em

diversas propriedades com bovinos, a instalação dos biodigestores está

a ser financiada, a custo zero, por empresas internacionais, em que o

proprietário recebe parte dos lucros da comercialização do carbono e,

ao fim de 10 anos, o biodigestor fica a pertencer-lhe.

Portugal tem uma dotação financeira do Fundo Português de

Carbono no valor de 348 milhões de euros, tendo a Comissão Europeia

reiterado que a aquisição créditos, pelo Governo Português, através do

Fundo, constituía uma medida fundamental para o cumprimento do

objectivo de Portugal no Protocolo de Quioto.

Saibamos nós, açorianos, demonstrar que parte significativa dos

348 milhões de euros pode vir a ficar nos Açores e não caminhar para o

estrangeiro para compra de “créditos de carbono”, uma vez que a

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Região os poderá ter disponíveis, desde que a produção de biogás seja

uma realidade.

Toda esta entusiástica teoria - que creio poder vir a ser

implementada na nossa Região; com o aproveitamento dos dejectos

dos bovinos, que de causadores de problemas ambientais, passarão a

produtores de rendimentos em combustível, fertilizante e créditos de

carbono – será, porventura, uma maneira prática e inteligente de

aumentar o rendimento do efectivo pecuário.

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CAPÍTULO – 6

O futuro é nosso

Estou a escrever-vos esta carta, caros colegas, precisamente na

semana da vossa grande luta com as Indústrias para que vos seja pago

um preço justo pelo litro de leite.

Tenho acompanhado todo o desenrolar do processo e estou, de

certa forma, desejoso de contribuir para que a faca e o queijo, que neste

momento se encontra na posse dos industriais, possa vir a passar para

as mãos da produção.

Este assunto é, quanto a mim, um problema de oferta e procura, e

o Governo Regional não servirá como intermediário, na medida em que

não é parte interessada. Este, como disse no início desta carta, tem,

sim, de contribuir fortemente, com apoio técnico à produção, de forma a

que esta possa ter preços concorrenciais e produtos de qualidade. São,

sem dúvida, as atribuições primeiras, que entendo deverem ser os

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técnicos dos Serviços de Desenvolvimento Agrário, da Secretaria de

Agricultura e Florestas a desempenhá-las junto do Lavrador.

Como atrás referi, temos uma importação de cereais e

concentrados na ordem dos 40 milhões de euros anuais. Poderemos,

certamente, produzir mais barato pelo sistema que acabo de expor, a

“estabulação livre”, mas a lavoura açoriana terá de procurar ser menos

dependente dos cereais e concentrados que, como todos sabemos, não

tendem a descer de preço, mas sim a aumentar.

A subida dos preços dos cereais na produção, neste último ano,

tem sido uma realidade que se mantém, embora se saiba que em 1990

o quilo de milho e trigo pago em Portugal era de cerca de 26 cêntimos,

sensivelmente o mesmo que é pago hoje.

O que aconteceu foi que, durante os últimos anos, houve sempre

uma baixa de preços que agora recuperou com uma especulação

motivada pela utilização no fabrico dos agro-combustíveis, não se

prevendo um fim próximo para tal situação.

Ao mesmo tempo, e comparativamente, aumentaram muitíssimo

os preços da maioria dos factores de produção, como o gasóleo, os

adubos e rações, que vêm, assim, estrangular financeiramente a

produção.

Pelas razões apontadas e porque há muito que penso que

poderíamos dar um novo rumo à nossa agro-pecuária, procurei saber

quais as disponibilidades de combustível, chamado “o rejeitado” da

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SOGEO SA para secagem de forragens, frutos e legumes, etc. Fiquei

estupefacto quando soube que poderiam disponibilizar um caudal de

fluido de 400 Tn/hora a uma temperatura de 87º e 95º.

É, CARÍSSIMOS COLEGAS, A ENORME OPORTUNIDADE QUE

A LAVOURA AÇORIANA TEM PARA MANDAR NOS SEUS

DESTINOS; PODER VIR A TER UMA EXCEPCIONAL ALTERNATIVA

NA AGRO-PECUÁRIA E, CONSEQUENTEMENTE, RECEBER O

PREÇO JUSTO PELO SEU LEITE.

Tanto quanto soube da Administração da SOGEO SA, esta não

tem qualquer compromisso de fornecimento do fluido, “o rejeitado” e o

preço será sempre muito competitivo em relação aos demais.

Assim, entendo que a decisão a tomar é: avançar já.

Avançar já com uma fábrica de desidratação de forragem e com

instalação de secadores rotativos de grandes dimensões, de tal modo

que possam fabricar uma centena de toneladas, ou mais, de farinha ou

granulado de forragem por dia, para suprir em grande parte a

importação de cereais e concentrados.

Se a lavoura de S. Miguel dá cerca de 300 gramas de

concentrado às vacas, por litro de leite, serão necessárias 92.400

Tn/ano de ração (250 Tn/dia), que em parte poderá ser substituída pela

farinha ou granulado de forragem.

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A matéria-prima não faltará: luzerna, trevos, milho, azevens,

etc.,etc.,e o combustível está mesmo ali, junto ao parque industrial da

Ribeira Grande. Como disse será decerto a muito bom preço e

encontra-se em quantidades apreciáveis, por assim dizer quase

inesgotáveis.

Estou a falar numa possível instalação em S. Miguel, o que

poderá vir a acontecer também na Ilha Terceira quando houver

disponibilidade de combustível (“o rejeitado”). A não ser que seja

possível a SOGEO, SA dispensar fluido (“vapor”) uma vez que, tanto

quanto sei, ainda têm de ser abertos mais furos para depois pôr em

processo de exploração a energia geotérmica que, depois, poderá

dispensar o tal “rejeitado”.

[EM CASO DE POSSIBILIDADE DE CEDÊNCIA DE “VAPOR”, PARA

ABREVIAR TAMBÉM JÁ UMA INSTALAÇÃO DE DESIDRATAÇÃO DE

FORRAGEM, FICARIAM OS LAVRADORES TERCEIRENSES COM

UMA FORTE ALTERNATIVA PARA A SUA PECUÁRIA, COM

NATURAIS REFLEXOS NOS PREÇOS DO LEITE].

No que se refere ás restantes Ilhas da Região, que não explorem

a energia geotérmica e por conseguinte não tenham disponibilidade de

“regeitado”, poderão vir a ser instalados desidratadores de forragem que

funcionarão com queimadores de “biogás”, desde que já exista a sua

produção.

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Como sabemos, a farinha de luzerna, nesta altura, tem um preço

de cerca de 300 €/Tn, vinda de Espanha, sendo, contudo, de fraca

qualidade. Este preço tem tendência a subir, uma vez que o seu fabrico

é feito com desidratadores que trabalham a fuel, tal como em qualquer

outro país da Europa, uma vez que não têm disponibilidade de

“rejeitado” e/ou matéria-prima todo o ano (caso da Irlanda).

Para se conseguir um quilo de farinha de luzerna ou de outra

forragem são necessários cerca de quatro quilos de matéria verde.

(talvez valha mais vender à fabrica de desidratação do que dar à

vaca!!!?).

Não existe, em Portugal, qualquer indústria de desidratação de

forragens. Apenas a Companhia das Lezírias faz secagem ao ar livre,

havendo mesmo um subsídio da comunidade para fabricantes de

forragem. (33 €/Tn)

Tanto quanto sei uma indústria deste tipo, por se tratar de uma

inovação, consegue apoios Comunitários, na ordem dos 90% a fundo

perdido.

É interessante constatar que em toda esta possível, e mais que

necessária realização, pode ter-se à disposição matéria-prima, mercado

garantido na Região e, até, para exportação. Note-se que muitas das

Fábricas de Concentrados adquirem farinha de luzerna ou de forragens

desidratadas para composição dos vários tipos de ração que fabricam.

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De salientar também que existe uma diferença abissal, no que

respeita à substituição de concentrados por farinhas de luzerna ou

forragens, em termos de possível leite ecológico ou carne IGP.

Nos Estados Unidos, existem Estados onde é feita a exploração

da energia geotérmica, e que estes vendem o fluido (“rejeitado”) para

fábricas de secagem de alho, cebola, etc., que fornecem às grandes

cadeias de fast-food.

Não posso deixar de vos falar também no potencial que a nossa

Região tem na produção de hortícolas durante todo ano e que, por isso,

temos todas as condições para avançar na possível produção,

desidratação e exportação dos mesmos.

Cabe igualmente dizer que, por norma e como é de todos

conhecido, o lavrador só avança em produzir em quantidade, desde que

apoiado por contrato de fornecimento.

Atrás fiz referência a uma produção que tive de 13 toneladas de

alhos. Antes de iniciar a cultura desses alhos já estava garantida a sua

venda à Junta Nacional das Frutas, na altura chefiada pelo meu bom

amigo, já falecido, Eng. Fernando Monteiro.

Penso que poderá ser uma realidade a futura Indústria de

Desidratação de Produtos Hortícolas, desde que a Lavoura Micalense,

ou Terceirense, em parceria, ou não, com a SOGEO, S.A., vão

demandar uma firma especializada no ramo, que estou certo não

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conhecerão o potencial açoriano em matéria-prima e combustível muito

mais barato do que o fuel.

A título de exemplo, e numa rápida busca na Internet, encontrei a

TOUL- Sociedade Portuguesa de Desidratação, Azambuja – Portugal.

Torna-se urgente analisar e discutir toda a problemática da nossa

agro-pecuária e termino como disse há muitos anos ao Sr. Dr. Mota

Amaral “temos petróleo, é preciso é saber explorá-lo.”

Entretanto, não deixarei de dizer que espero resistências,

daqueles que se sentirem ultrapassados, tal como aconteceu aquando

da minha vinda para os Açores, em 1972, para implantar vinha

mecanizada com novas castas europeias. Os resultados estão à vista.

Também sei que poderá, eventualmente, haver aqueles que - não tendo

a ideia – deixem passar algum tempo e depois chamar-lhe-ão sua. Não

me preocuparei com este aspecto, desde que elas se realizem, tal como

aconteceu com o 1º programa comunitário “LIDER”, uma vez que fui eu

o primeiro açoriano a falar no referido programa que existia a nível da

Comunidade, mas que não foi aproveitado na Região por

desconhecimento.

No início, fiz referência ao duplicar ou triplicar o produto agrícola

bruto (PAB) na Região, e penso que consegui, de alguma forma,

demonstrar a sua possível viabilidade, embora não seja um “expert” em

todas as matérias focadas.

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Fico, ansiosamente, na expectativa de que as ideias focadas se

tornem uma realidade, para satisfação dos colegas e benefício de todo

povo açoriano, voltando a afirmar a frase atribuída a Einstein, como o fiz

aquando do Primeiro Simpósio Vitivinícola dos Açores: “Quando um

problema é bem equacionado, pode considerar-se meio resolvido.”

Também afirmo estar convicto de que, pôr em prática as ideias

expostas neste trabalho, será dar lugar ao que poderei chamar de

“REVOLUÇÃO TÉCNICO-AMBIENTAL E FINANCEIRA DO SECTOR

AGRO-PECUÁRIO”. Facilmente se compreenderá que estão garantidos

todos os ingredientes fundamentais para o aumento do PIB regional; a

saber: diminuir importações, aumento das exportações e aumento do

consumo das populações. Consequentemente estamos a falar no bem-

estar dos Açorianos.

Um abraço, caros colegas, acompanhado, se possível, com um

cálice da BOA AGUARDENTE TERRA DO CONDE.

Graciosa, Abril de 2008

Raúl Machado da Costa

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